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(Wearing Wires)
Newsweek, 30/06/03
Malcom Beith
Por que a vida real não é assim? Desde os animados anos 90, os
visionários da tecnologia esperam pelo dia em que circuitos A blusa cai bem:
eletrônicos embutidos em nossas roupas e nos revestimentos dos O Prof. Sundaresan
Jayaraman prevê
nossos móveis trabalhariam como servos invisíveis, permitindo uma função médica
nos conectar com milhares de máquinas inteligentes que fariam para sua roupa
parte de uma casa moderna. Chamados de e-textiles 1, tecidos eletrônica.
que incorporam novas tecnologias, permitindo ao usuário não
apenas ficar conectado mas se tornar eletronicamente auto-suficiente. Os cientistas
trabalharam duro para embutir laptops nas mangas das blusas e TVs nas calças; eles
pensaram em câmeras de vídeo montadas sobre a cabeça e teclados de algodão
costurados em calças chinos (idéias bem legais, mas o menor rasguinho inutilizava o
circuito). Esforços voltados para plugar roupas à Internet provaram ser frutíferos: Quem
não quer um modem costurado no bolso do casaco? O que esses gurus da engenharia
não esperavam era que isso pudesse virar moda. O que precisamos, disse Maggie Orth
da International Fashion Machines (IFM), uma empresa incubadora do MIT 2 de Boston,
é de “uma estratégia completamente nova”.
1
NT: Tecidos eletrônicos.
2
NT: Uma empresa incubadora do Michigan Institute of Technology.
Nova York, planeja comercializar a camisa SmartShirt, produzida com o tecido de
Jayaraman, para aplicações médicas, como monitoramento dos sinais vitais do corpo
humano. Jayaraman espera que o produto rapidamente chegue às lojas. Um grande
número de inventores, motivados pelo tecido experimental de Jayaraman, apareceram
nos últimos tempos inspirados pelo seu lema: menos tecnologia e mais eficiência.
O tecido de Jayaraman é, diz ele, uma espécie de placa-mãe que pode ser vestida. Um
tecido interativo não faz absolutamente nada até que várias coisinhas eletrônicas
estejam interligadas. Você poderia colocar um microfone na lapela e um gravador no
bolso, ligar os headphones e um aparelho MP3 no chapéu, ou conectar um aparelho
para medir pressão sanguínea sobre o peito. Sinais eletrônicos e ópticos operam os
equipamentos, circulando através das tramas do tecido. As possibilidades ficam
limitadas apenas à capacidade de memória disponível e ao peso dos equipamentos
ligados às mangas da camisa.
O teste mais difícil enfrentado por essa nova tecnologia será o mercado consumidor,
onde as regras da moda são implacáveis. “O usuário não tem que saber quando ele está
usando um tecido eletrônico”, diz Jayaraman, e ele não precisa ser um “cientista” para
usá-lo. Para conquistar tamanha invisibilidade, cada peça desempenhará de início
apenas algumas funções. A roupa poderá monitorar a temperatura do corpo e a pressão
arterial, e uma correia no pulso poderá servir como chave da porta de casa. Um sapato
poderá ter uma interface com o alarme contra roubo, ao mesmo tempo que o outro mede
o peso do usuário. Qualquer interação mais complexa com os sensores individuais seria
coordenada por um computador externo instalado em outro ambiente. O usuário não
precisaria carregar um PC no bolso da calça.
1
NT: Federal Drug Administration, órgão americano que regula o uso de remédios e equipamentos
médicos no país.
Se a roupa agradar ao público consumidor, outros recursos médicos poderão ser
introduzidos rapidamente. Ao mesmo tempo, os militares desenvolvem suas próprias
aplicações para vestir o “soldado do futuro”, tais como uniformes conectados a
equipamentos para transmissão de dados que podem aliviar o peso carregado por um
soldado durante uma batalha.
Com certeza, mesmo que lentamente, os tecidos eletrônicos farão parte do nosso dia a
dia. Se a tecnologia de Jayaraman funcionar, no futuro não haverá uma grande
diferença entre um tecido interativo e um tecido convencional. Então por que não usar o
tecido interativo em todos os tipos de roupa? Por que não usá-lo para forrar móveis,
cortinas e carpetes também?
A maioria dos designers de tecidos high-tech acredita que é somente uma questão de
tempo até chegar o dia em que viveremos realmente aquilo que Diana Marculescu,
engenheira da Carnegie Mellon University, chama de “sistemas de ambiente
inteligentes”. As projeções mais conservadoras situam em 100 milhões de dólares as
vendas de roupas feitas com tecido eletrônico até 2006; outras acreditam que este
mercado poderá valer 1 bilhão de dólares até lá, o que poderia fazer dos tecidos
eletrônicos uma febre como aconteceu com o telefone celular nos últimos anos.
Mesmo antes desse tipo de roupa decolar, as peças desse quebra-cabeça parecem
estar se encaixando. A camisa que ativa o alarme, a sola do sapato que liga e desliga a
luz e o sofá com controle-remoto já são tecnologicamente viáveis. Daqui a poucos anos,
os técnicos dos times de basquete das escolas poderão ver seus alunos usando
camisas com tecido interativo para monitorar seus sinais vitais. E a tecnologia para abrir
a porta de casa simplesmente aproximando o punho na fechadura é quase a mesma do
mbracelet.
1
NT: bracelete “m”.