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Como

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2

Qualquer um pode zangar-se isso é fácil. Mas zangar-se com a


pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo
e da maneira certa não é fácil.

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco


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Obrigado:

Carlos
Ana
Armando
Armando João
Isabel
Joana
Fausto
4

Biografia
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Ricardo Cardoso nasceu em Leiria em 1979. Filho de uma professora do 1º ciclo e de um gráfico ligado à imprensa.
Tem dedicado toda a sua vida à educação parental e à relação pais - filhos. Começando desde cedo a ocupar fun-
ções de coordenação pedagógica em centros educativos e associações desportivas. Antes mesmo de acabar a sua
licenciatura em psicologia já se dedicava a projectos de discussão (”Conversas com pais”e “Diálogos de família”)
sobre as técnicas de educação parental e os problemas de relação educativa.
Enquanto estudante de psicologia fundou o jornal ”infopsi”, um jornal de âmbito académico.
Em 2005 licencia-se em Psicologia Social e das Organizações, desenvolvendo um projecto de aquisição de com-
petências sociais e pessoais através do desporto. Tendo apresentado esse projecto em congressos nacionais e in-
ternacionais. Ainda nesse ano desenvolve um projecto sobre educação emocional, fazendo várias apresentações
nas escolas do distrito de Leiria.
No ano de 2006 é convidado para ocupar as funções de psicólogo na CERCILEI - Cooperativa de Ensino e Reabilita-
ção de Cidadãos Inadaptados de Leiria, para a valência lares residenciais, função que ocupa com grande emoção
e profissionalismo.
Em 2009 desenvolve o projecto “E-Clips” – Clínica de psicologia on-line, assumindo o cargo de director clínico.
Faz ainda o Curso de pós-graduação” Entrenamiento Psicologico en el Deporte”, no centro Codex – Vigo, Espanha.
O convite da “Tentativa - Centro Educativo de Leiria” chega no ano de 2010, para desenvolver o seu projecto de
educação emocional com crianças.
Ricardo Cardoso escreve todas as semanas para o Diário de Leiria tendo sido cronista do jornal Região de Leiria,
Jornal da Batalha. É convidado para várias palestras e workshops sobre educação parental em escolas e grupos
de pais.
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Ilustrações
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Catarina Gonçalves
Aveiro, 8 de Janeiro de 1986
Licenciada em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2008. Com o
Curso Profissional de Fotografia 2009-2011, realizado no Instituto Português de Fotografia do Porto.
Colabora com ilustrações para os textos do profissional Ricardo Moita Cardoso, publicados no Diário
de Leiria.
Realizou um estágio nos Laboratórios de Fotografia da Faculdade de Belas Artes da Universidade do
Porto, de Maio a Julho de 2011.
Com Participação na exposição colectiva “Salão Corporativo” em 2008, no Plano B, no Porto, e em
2009 na II Bienal de Milheirós, na Maia.
Para além da fotografia analógica preto e Branco e cores, em 2009 começa a estudar processos
alternativos na fotografia como Goma Bicromatada, Estenopeica (Pin-hol), e Cianotipia. Faz parte
de um projecto onde realiza workshops de Cianotipia, dando a conhecer o processo e realizando
cianotipias de grandes formatos.
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Prefácio
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“Como ser mau pai” é dizer do contrário das coisas feito exercício de inteligência subtil. A ironia é um
risco que Ricardo Cardoso assume com a naturalidade apenas possível àqueles que sabem bem do
que falam e parece ser o caso.
Tive o privilégio de privar com o fazedor desta provocação ao pensamento e sempre olhei o Ricardo
com atenção: pela pertinência das intervenções, pelo opinar cuidadoso, pela minúcia do saber e, so-
bretudo, pelo profundo sentido humanista e preocupação ética que colocava em cada comentário.
Modesto, sempre, contudo. Confesso que gostei que a vida me desse a oportunidade de me cruzar
com ele. Não é todos os dias que encontramos gente generosa.
E agora mandou-me este conjunto de textos que reflectem as preocupações recorrentes à prática
clínica no que concerne ao processo vinculativo entre pais e filhos, ainda por cima com o atrevimento
de me pedir que teça o comentário sobre eles. Eu seria lá capaz!
São reflexões que nos batem certeiras como murros no estômago, sem aviso prévio. E assim devia ser
tudo, sem panaceias, sem dizeres floridos que nada trazem ao saber e ao conhecimento, sem receitas
ou soluções mágicas para bem-fazer. Apenas murros, fortes, intensos, a despertar memórias que traze-
mos connosco e que amiúde esquecemos. Cuidadosas e fundamentadas, contudo, sempre a recordar
que o processo educativo é relação, é sentir, é ser-se verdadeiro e próprio para que ao futuro dos
nossos filhos caiba herança que mereça ser vivida.
“Como ser mau pai” é um jogo de espelhos, reflexos que urge contrariar.

João Lázaro
Psicólogo Clínico
Director Artístico do Te-Ato
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Nota
Introdutória
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È com muita satisfação que acedo ao pedido do Ricardo Cardoso para escrever esta nota introdutória
sobre este conjunto de crónicas. Tenho pelo Ricardo (perdoai-me a informalidade) um grande apreço e
consideração. Admiro a forma apaixonada como se envolve numa variedade de projectos com intenção
de ajudar o próximo. Este conjunto de crónicas é o reflexo desta sua forma de estar na vida.
O tema da parentalidade é sempre actual. Ser pai (ou mãe) é uma tarefa complexa muitas vezes enten-
dida socialmente como “normal,” mas frequentemente está associada a receios e ansiedades. Implica
muitas responsabilidades e compromissos que nem sempre são fáceis de gerir. Dai, ser fácil ser um “mau
pai.” O difícil (e impossível diria mesmo) é ser um “pai perfeito.” Assim, considero que “Como ser um mau
pai” constitui um desafio para uma reflexão sobre as nossas práticas parentais quotidianas. E isto é o mí-
nimo que devemos exigir a nós próprios. O Ricardo propõe-nos exactamente isso, através de um estilo
provocador, com humor e mesmo alguma dose de ironia que lhe permite despertar a atenção do leitor.
Este não precisa de concordar com todas as opiniões expressas nestas crónicas, mas com certeza pode
reflectir sobre o assunto de uma forma aberta e descomprometida.
Obrigado Ricardo por nos pores a pensar, quando muitas vezes vivemos a vida demasiado depressa sem
pararmos para reflectir.

Luis Calmeiro
University of Durham –
Reino Unido
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Nunca
gaste tempo
com os seus filhos
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Muitos são os pais que se queixam de não ter tempo factor de enorme importância.
para estar com os seus filhos. Será que esse tempo é A dedicação exclusiva, o sentido da culpa por não ser
assim tão importante na relação afectiva e educativa perfeito, a verdade inequívoca em relação ao aprovei-
dos progenitores? tamento do pouco tempo com o seu filho e a postura
Todos os pais sentem que a falta de tempo não per- de que tem que estar com ele hoje porque amanhã
mite realizar todas as tarefas que gostariam. Por outro pode já não estar cá são sem dúvida factores que po-
lado, os filhos ocupam muito do tempo livre dos pais, dem contribuir para o vosso insucesso como maus
por esse facto os pais sentem o peso da culpa, embo- pais. Não pense nisso, limite-se apenas a estar com ele
ra vão encontrando “desculpas” diárias para diminuir quando isso surgir, não gaste todo o seu tempo nesta
as suas angústias. Não devem procurar a culpa, de- causa, a dedicação ao seu filho pode ser um erro em
vem sim melhorar o vosso tempo livre e esquecer um termos da sua postura educativa.
pouco os tempos que partilham com os vossos filhos. Não perca tempo com dramas sobre não ter tempo,
A importância do tempo em que estão com eles é sendo certo que entre as vossas tarefas diárias vão
irrelevante, para se ser mau pai não se precisa de per- encontrar muitos períodos a rentabilizar, no entanto
der muito tempo com os filhos. Estabelecer um elo nunca dediquem parte desse tempo aos vossos fi-
empático de comunicação com os vossos filhos é lhos, pois de seguida irão sentir uma grande frustra-
sem dúvida um erro grave para um mau pai. ção na vossa vida.
Nunca dispense muito tempo ao seu filho, pois corre Podem começar por gastar algum tempo com coi-
o risco de ficar mais irritado com ele e de se sentir cul- sas que acarretam valor para si, é melhor gastar
pado pelo tempo que perdeu, sem resultados. dez, quinze minutos a fazer compras e só depois
Muitos pais acham que o tempo que se passa com os ir buscá-los levando um chocolate ou outra coisa
filhos pode contribuir para melhorar o controlo dos como recompensa. Pois ao levar os seus filhos con-
comportamentos. Isso está longe de ser verdade para sigo teria que perder tempo em estabelecer regras
um mau pai, pois quem sabe controlar os comporta- de comportamento e adequação aos novos espaços,
mentos dos filhos, não são aqueles pais que perce- desgastando-se mais, após o seu dia cansativo de
bem os sentimentos e as emoções que rodeiam os trabalho. Nos momentos difíceis não desespere, reaja
comportamentos, mas sim aqueles que pela força e a rapidamente e mostre quem tem o poder através de
intimidação conseguem dominar os comportamen- afirmações firmes e sem diálogo, caso contrário vai
tos dos seus descendentes. estar muito tempo sem resultados na alteração do
É sem dúvida relevante saber que o tempo é algo comportamento dos vossos filhos. Um dos factores
que não chega para tudo e que é importante fazer fundamentais da gestão do tempo é a capacidade de
opções. Muitas vezes, mais vale ir para a actividade agir rapidamente e sem hesitações. Lembre-se, quem
de lazer sozinho ou com alguém do vosso agrado, manda é você tendo ou não razão, compreendendo
do que com o vosso filho. Só assim os pais têm o ou não a razão do comportamento.
seu momento de descanso. Fazer com que os filhos Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
participem nas vossas actividades de lazer, elevando atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
assim a comunicação e as ligações afectivas, pode ser todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
um grande erro, pois ao partilharem o vosso espaço melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e me-
estão a valorizar a existência do vosso progenitor. nos autónomas.
Esquecendo assim o tempo livre para você que é um
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Corrija
os seus filhos
em público
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Corrigir publicamente uma pessoa é o primeiro passo que eles possam aprender com os erros. Chamar “bur-
para essa mesma pessoa (criança) se sentir intimidada ro” ou comparar em público os seus resultados com
com o que está a acontecer e retrair o seu comporta- os dos colegas é uma forma de desvalorização, que
mento. provoca uma emoção de desilusão e incapacidade
Dizer-se que a exposição pública origina traumas que o irá marcar para o resto da sua vida. Esta memó-
complexos e cria sensações de humilhação é acre- ria ficará alojada para sempre no seu “cérebro” fazen-
ditar que os filhos não devem, nem podem ser cor- do com que ele aja condicionado por esta lembrança.
rigidos ou castigados em frente dos seus amigos e Sendo que esta actuação parental tem outro tipo de
colegas. Todos nós sofremos pequenas humilhações vantagens, pois todos os outros gestos ou situações
e nos sentimos mais ou menos perturbados com isso. idênticas àquela que foi corrigida em público vão ser
Não é por isso que as pessoas se sentem melhor ou comparados e identificados como semelhantes, con-
pior em determinadas situações, nem ganham me- dicionando assim o comportamento do filho. Para
dos de enfrentar situações expositivas de julgamento além do mais, ele pode desenvolver uma situação de
público. alarme, proporcionando o desvio do comportamento
Os pais devem dar sempre mais atenção e valor ao tipo e tudo aquilo que ele ache estar associado a ele.
erro do que propriamente à criança. O educando Pensar que esta forma de educar pode criar traumas
pouco importa, pois sem dúvida que o problema é o tão grandes de dimensão imprevisível que vai modi-
seu comportamento. Muito embora o comportamen- ficar por completo a personalidade do seu filho e que
to só aparece porque a criança existe. Mesmo assim ele pode tentar o suicídio, por se sentir inferior, com
devem sempre centrar-se no erro e nunca em quem baixa auto-estima, incapaz de resolver os problemas
errou. por mais pequenos que sejam, é sem dúvida um ca-
Pensar-se que os pais só devem intervir publicamente minho completamento oposto ao de um mau pai.
quando um jovem ofendeu ou feriu alguém em pú- Corrigir o seu filho calmamente em particular, expli-
blico, é o mesmo que acreditar que os filhos podem cando o erro e questionando o seu engano, o seu
compreender os erros sem que se recorra à humilha- mau comportamento, pode sem dúvida não levar ao
ção ou desvalorização social. caminho que acabei de descrever. Todos os colegas
Identificar os defeitos ou os erros dos filhos nome- e amigos do filho devem ter armas para o gozarem e
ando-os junto do seu grupo de pares é, sem dúvida, humilharem, deixando uma marca inesquecível. Por
uma boa estratégia para que ele altere de vez o seu isso mesmo não se esqueça de contribuir para essa
comportamento e comece a desenvolver um outro guerra.
tipo de comportamento, mais recatado e envergo- Quem corrige com carinho, afectividade e compreen-
nhado, podendo até chegar à desvalorização da sua são vai falhar no objectivo de ser mau pai.
personalidade. No entanto, só assim é que vamos ter
a certeza que os seus hábitos vão mudar.
Todos nós sabemos que a memória é um sistema
muito importante no processo de aprendizagem, por
isso devemos causar emoções fortes aos filhos para
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Deve ser um
incessante crítico
do seu filho
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Muitos são os pais preocupados com o futuro dos frustração ou desagrado.
filhos, com a forma deles encararem as suas respon- Cada nota da escola, cada prova na actividade extra-
sabilidades e promoverem as suas atitudes, perante curricular, cada movimento mal dado, deve ser fonte
uma sociedade sempre em modificação e cada vez de crítica, só assim o filho vai poder aprender a viver e
mais egoísta. a vingar na sua vida.
É a escola que expulsa os fracos, responsabiliza os Deve exercer uma crítica obsessiva e insuportável
bons e manda eliminar os diferentes. São as activi- frente aos amigos do seu filho, fazendo com que ele
dades desportivas que só premeiam aqueles que ga- se sinta humilhado pelo comportamento praticado,
nham medalhas e que apresentam resultados com- evitando a sua repetição.
petitivos. É neste cenário que todos os pais querem Comparar o comportamento do seu filho com o dos
ver os seus filhos brilharem, sendo os mais éticos, os colegas e amigos é uma forma de ele perceber o erro
mais sérios e os mais responsáveis. Por todas estas e valorizar o que os outros fazem de bem. Não pense
razões utilizam a crítica como grande arma na edu- que ele vai ficar deprimido ou a pensar que os pais
cação. “Criticar sempre para uma boa educação” é o não gostam dele, ou até que não faz nada bem na sua
lema de muitos dos pais de hoje em dia. vida. A pressão da crítica é a melhor forma de educar
Este assunto é da máxima importância não apenas o filho a estar no local certo à hora certa e com o com-
pelo lado psíquico, mas também pelas relações so- portamento certo.
ciais que o tema envolve. É quase total o consenso Um mau pai nunca deve deixar o seu filho sofrer ou
quanto à dificuldade absoluta de qualquer pessoa experimentar situações de falhanço, um mau pai deve
tolerar ou aceitar uma determinada crítica. A mesma estar ali para o proteger de tudo e de todos, criticando-o
é vista como um ataque directo a tudo aquilo que sempre que ele pise o risco amarelo.
a pessoa adquiriu por um longo tempo e com uma Este é o preço a ser pago para conseguirmos desobs-
dose de muito sacrifício e renúncia. A crítica pode truir a limitada percepção. Todos enfocam a distinção
tanto reforçar a auto-estima no seu potencial, como entre crítica positiva e negativa, esquecendo que o
exacerbar uma convicção irreal ou totalitária, ou tirar aspecto mais importante é dizer algo para alguém
completamente a auto-estima. Esta é sem dúvida a com hipótese de mudança, e a grande tarefa é aferir
dicotomia máxima no assunto. Até se atingir o ponto profundamente quando isso é possível. Criticar é sem
genial de uma crítica opinativa atravessamos todo o dúvida alguma um dos mais puros actos de amor e
tormento e mal-estar de nos sentirmos humilhados e compaixão, na medida em que mostramos ao outro a
traídos. possibilidade não apenas de um novo caminho, mas
No entanto, e apesar da crítica ser perigosa, todos os o fim de uma procura infinita na sua vida. Criticar de-
pais a devem usar e aqueles que querem mesmo ser veria ser visto como mostrar a coisa mais séria num
maus pais, devem-na usar quase sempre, todos os relacionamento ou comportamento humano.
dias a cada actividade ou movimento que o filho faça. A crítica dos pais aos filhos deve ser entendida como
O filho não deve cometer erros nem falhas. Não deve uma das melhores formas de educá-los.
também cometer excessos, a linha recta deve ser o Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
seu caminho. atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
Pode ter a oportunidade de brincar com os outros, todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
de jogar com outros, no entanto tem de ser sempre melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e me-
o melhor e o mais correcto. Não cai, não se suja, não nos autónomas.
comete erros e se possível não exprime emoções de
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Não deixe
os seus filhos
serem autónomos
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São muitos os pais que acham que os filhos não de- tarefa, tornando-a mais fácil, diminuindo assim a res-
vem crescer e tornarem-se outros pais. São muitos ponsabilidade e encargos para ele.
os pais que acham que os filhos serão toda a vida Todos os pais devem ajudar os seus filhos em todas
dependentes deles. Na verdade os filhos são uma as tarefas, estabelecendo assim laços de dependência
mera extensão dos pais, pois nos primeiros anos as executiva para toda a vida.
primeiras actividades exercidas pelos filhos são, sem Se por algum acaso ele quer começar a comer sozi-
dúvida, a extensão de movimentos, e comportamen- nho, no caso de uma criança ou no caso de um ado-
tos dos pais. Por isso mesmo, quando as crianças dão lescente se quer decorar e arrumar o quarto ao seu es-
o primeiro chuto na bola, ganham a primeira corrida, tilo, sem dúvida que os pais devem intervir e explicar
ou simplesmente participam numa actividade nova, que eles é que devem decidir se come sozinho ou se o
estas são vividas pelos pais como sendo eles próprios quarto pode ser arrumado pelo seu utilizador. Muitas
a desempenharem esse mesmo papel, vivendo o su- mães com filhos de trinta anos ainda continuam a ar-
cesso e o insucesso de uma forma bastante intensa. rumar o quarto do deu progenitor, mostrando assim
Ser filho passa por ser apenas mais um membro do o seu afecto e carinho que têm pelo filho dependente.
nosso corpo. Onde a opinião e o seu próprio dinamis- Outro dos assuntos importantes a ser abordado é a
mo acrescenta pouco à sua própria vida. A normalida- questão financeira. Os filhos tornam-se mais autóno-
de é os pais escolherem o que é melhor e pior para o mos e independentes quando começam a ter poder
filho, tomando decisões por ele. económico. Por isso enquanto pode dominar estar
Educar não é dar autonomia. Nem ser capaz de perce- parte, não participe no ensino e incentivo de organi-
ber que os filhos vão fazer as suas escolhas, tendo os zação e gestão monetária. Responsabilizar os filhos
pais apenas uma pequena participação nisso. Educar pelos seus próprios gastos, deixando-os decidir onde
é perceber que este tipo de comportamento pode le- eles querem gastar o dinheiro, é sem dúvida uma má
var a muitos desagrados na relação, os filhos não vão decisão para quem quer educar um filho na perspec-
fazer o que os pais acham que está certo, vão errar, tiva de ser uma extensão dos pais. Alguns pais usam
contradizer os pilares e os valores da família, por isso, a estratégia da mesada, pensando que estão a contri-
quanto maior for a participação dos pais, menor é o buir para uma maior autonomia e responsabilização
risco dos filhos fazerem as suas opções de uma forma dos filhos. No entanto esquecem que os filhos podem
autónoma e arriscada. gastar esse dinheiro em coisas menos propícias.
Depois da infância e com a entrada na adolescência, O dinheiro pode trazer novos vícios, proporcionar ou-
a conquista da autonomia por parte do filho pode ser tro tipo de comportamentos, por isso o melhor é não
mais intensa e mais explícita. O desafiar a autoridade participar nestas estratégias pedagógicas. Se quer ser
será quase constante, os pedidos de liberdade e par- um mau pai, utilize a autoridade e o poder económi-
ticipação em actividades sem os pais vão ser cada vez co para mostrar ao filho que ele depende de si e que
maiores. assim é que é a normalidade.
Mas não se esqueça, que para ser um mau pai, não Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
deve ceder nem um milímetro daquilo que sempre atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
quis para o seu filho. Se ele começa a querer fazer todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
actividades sem a sua ajuda, não deixe, explique-lhe melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e me-
que se participar na actividade dele vai facilitar-lhe a nos autónomas.
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Não deixe os seus


filhos sonharem…
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Muitos são os pais que querem ver os sonhos dos seus filhos nho e acreditar no seu potencial é sem dúvida um engano no
realizados, fazendo quase tudo para que isso seja conseguido. caminho que quer tomar como pai.
Outros porém, percebem que esse comportamento pode ser o Algumas pessoas íntimas podem achar que você é rigoroso em
maior erro na educação parental. demasia que não está a respeitar o seu filho, que quer sim al-
Destruir a esperança e os sonhos dos filhos pode ser um alerta guém parecido a uma máquina. Na verdade essas pessoas não
para a realidade social em que vivemos. Dizer que o sonho e a sabem nada sobre como ser mau pai. O mau pai tem que aca-
esperança leva a uma melhor estabilização emocional e maior bar com a esperança e os sonhos dos filhos, tem que ensinar a
motivação na definição de objectivos futuros dos filhos, é sem racionalidade da vida, projectando-a no rigor e na metodologia
dúvida acreditar que o sonho comanda a vida. que o caminho exige Nestes momentos pode vir à tona a raiva, a
Na realidade, acreditar que incutir o conceito de esperança, cria- insensatez, a crítica obsessiva. Este tipo de comportamento está
tividade e sonho, o filho vai desenvolver uma maior capacidade presente com maior ou menor grau em todas as pessoas, mes-
para nos momentos difíceis ultrapassar as dificuldades e traçar mo nas mais sensatas. Todos temos tendência a ferir as pessoas
novos objectivos, auto-motivando-se e sendo empreendedor, é que mais amamos. Mas não podemos concordar com isso. Caso
a mesma coisa do que acreditar que a disciplina só é importante contrário, corremos o risco de destruir os sonhos e a esperança
se for comedida. das pessoas que mais nos são gratas.
O futuro do seu filho é o mais importante, ele tem é que ser bom Muitos são os psicólogos e psiquiatras que afirmar que: “Os jo-
nos aspectos práticos da vida. O método, a exigência e a cruel- vens que perdem a esperança têm enormes dificuldades para
dade da realidade económico-social devem ser os pilares para o superar os seus conflitos. Os que perdem os sonhos serão opa-
seu desenvolvimento. cos, não brilharão, gravitarão sempre em torno das suas adver-
O que importa? Ser um filho emocionalmente equilibrado e so- sidades emocionais e das suas derrotas. Crer no mais belo ama-
nhador quando na escola os resultados não demonstram a sua nhecer depois da mais turbulenta noite é fundamental para ter
aptidão intelectual? Ou ser ágil à mudança, seja ela de ambiente saúde psíquica.” Mas na verdade a saúde psíquica não alimenta
ou de comportamento? o que alimenta é a realidade de um trabalho cheio de sacrifício,
Ter iniciativa e produzir novidades é mais importante que a pro- isso sim é sem dúvida o mais importante de se passar a um filho.
dução rigorosa e exímia de produtos ou materiais. Pensar que não importa o tamanho dos obstáculos, mas sim a
Desenvolver a paciência e a tolerância à falha, aumentar a capa- quantidade de motivação que temos para superá-los. É o mes-
cidade de enfrentar a frustração, através da não concretização mo que acreditar que o importante não é a gravidade de uma
dos sonhos ou mesmo da reformulação desses sonhos, não pa- doença, seja ela uma depressão, fobia, ansiedade ou fármaco-
rece ser uma peça fundamental para o bom desenvolvimento dependência, mas sim a passividade de cada um.
do seu filho. Uma criança passiva, sem esperança, sem sonhos, triste, resigna-
Não tolerar o mínimo de desânimo, destruir a esperança, o do aos seus problemas, pode morrer sem os resolver. Uma crian-
sonho, desencorajá-lo, mostrar frieza e distância são algumas ça activa, bem-disposta, ousada vai de certo aprender a gerir
estratégias importantes para se ser um mau pai. Dizer: “Tu com os seus sentimentos e pensamentos, de modo a ultrapassá-los,
esse tipo de comportamento, não vais ser nada”, “Vais tornar-te conquistando os seus objectivos.
num marginal”,”Agora tudo parece fácil, mas daqui a uns anos Os passivos serão os menos problemáticos para os pais e futuros
vais ver como elas te mordem”,”vai sonhando vai, quando acor- patrões, facilmente aceitam as injustiças e falhas de ética. Logo
dares até vai doer”, e muitas outras expressões que se tornam os activos serão aqueles mais complicados de educar e menos
importantes os filhos ouvirem, pois só assim vão conseguir preteridos pelos patrões.
entender que o sonho e a esperança são dois sentimentos abs- Os pais têm o papel fundamental de educar o seu filho para
tractos que não servem em nada para nos ajudar na nossa vida. aquilo que prevêem como futuro. O sonho só comanda a vida
Pensar que por este seu comportamento o seu filho vai sentir-se quando os pais assim o querem. Tendo em conta que o suicídio
mais triste, menos entusiasmado com o seu percurso de vida, só acontece quando os sonhos acabam, façam assim a melhor
que por causa de si não vai ser capaz de encontrar o seu cami- opção para a vossa educação parental.
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Nunca castigue
o seu filho!
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A predisposição para educar os filhos com palmadas é relação mais democrática. Todos ficaram mais felizes, os
transmitida de geração em geração. Especialistas cal- filhos porque podem fazer quase tudo e os pais porque
culam que 70% dos pais que batem nos filhos sofreram não têm que dizer não aos filhos e puni-los pelos seus
violência na infância. erros. Elevando a premissa de que castigar nunca! Todos
A grande questão é: De onde vem o hábito para lá do temos o direito de errar e voltar a errar até quando qui-
questionável de castigar os filhos? “As crianças aprendem sermos.
com o exemplo dos pais ou neste caso operam “genes da Não se esqueça que castigar pode criar traumas aos seus
violência”?” diz Dario Maestripieri, da Universidade de Chi- filhos, que eles podem, sem dúvida, aprender a castigar
cago, que investigou respostas para estas perguntas num os seus netos, certamente não é isso que quer, por isso
estudo com macacos resos. O pesquisador trocou os re- nunca castigue.
cém-nascidos de diferentes macacas: colocou filhas gera- Não seja um pai ou uma mãe castigadora, pois os seus
das por mães violentas entre fêmeas pacíficas e vice-versa. filhos não vão gostar, pelo menos até serem adultos.
“Nove entre 16 fêmeas que sofreram violência na sua Nunca imponha regras nem limites ao seu filho, pois por
juventude também maltratavam as suas crias - indepen- muito que ache que lhe está a dar uma boa educação,
dentemente de serem descendentes de uma mãe violen- essa não é a verdade, está sim a prender um artista, um
ta. Por outro lado, de 15 animais com pais adoptivos não autodidacta, nem que por muitas vezes ele parece ser o
violentos, nenhum usou a força bruta. Foi então a experi- prefeito pré-delinquente.
ência, que as influenciou e não a herança genética”. Todas as crianças fazem birras por bens materiais que na
O investigador da Universidade de Michigan Jeffrey Bin- sua grande maioria são inacessíveis para a sua família. Se
genheimer acredita que o homem funciona de forma possível dispense um pouco do orçamento da sua ali-
semelhante. Ele avaliou os dados de um estudo de cinco mentação para adquirir o bem material para o seu filho.
anos sobre o desenvolvimento de mais de mil jovens de Não crie revolta nem frustrações na sua cria. Castigue-se a
Chicago. Nesse período, um em cada oito adolescentes si, mas nunca a ele, nem sequer lhe tente explicar a razão
cometeu pelo menos um delito. Mas, estatisticamente, a pela qual não lhe pode dar o que ele tanto deseja.
pobreza, a baixa escolaridade ou características pessoais Nunca diga ao seu filho que o castigo é uma forma de
não estavam vinculadas a esses casos. Apenas a violência gostar dele, de o educar para um dia mais tarde ele perce-
com armas vivida de perto dobrava a possibilidade de ber e ter responsabilidades nos seus actos. Está a enganá-
que os jovens pegassem em armas de fogo. Na verdade lo, pois castigar faz com que ele também aprenda a cas-
antigamente, ninguém discutia o assunto. Sempre que tigar os seus filhos por terem faltado às regras impostas.
a criança cometia algum erro, respondia mal aos avós, Se o seu filho tiver uma atitude agressiva para consigo,
agredia um colega ou não queria fazer os trabalhos de não castigue, apenas explique que não o deve fazer pois
casa os pais não tinham dúvidas - agiam, corrigiam, “da- pode magoar-lhe.
vam um castigo”. Bom e para finalizar acredite sempre que o seu filho é o
Com as mudanças ocorridas durante o século XX, fomos melhor e o mais bem educado, mesmo quando faz mal,
percebendo que as crianças têm, gostos, aptidões pró- só o fez porque alguém o provocou, não tente esclarecer
prias e até indisposições passageiras - exactamente como a situação, aja de imediato, aplaudindo-o e incitando-o a
nós, adultos. uma vingança ou continuação da agressividade.
Com isso, sem dúvida, muita coisa melhorou para as Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia aten-
crianças - e, claro, para nós adultos também. O relacio- tamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se to-
namento entre pais e filhos ganhou mais autenticidade, dos quisermos ser maus pais o mundo ficará com me-
menos autoritarismo, mais liberdade de acção. O poder lhores crianças e pessoas mais manipuladas e menos
absoluto dos pais sobre os filhos foi substituído por uma autónomas.
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Nunca converse
com o seu filho!
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Muitas vezes discutimos qual a melhor estratégia são vocês quem devem escolher as actividades que
para educar um filho. Será que devemos educá-los eles podem praticar, saber e impor o que lhes faz me-
democraticamente, autocraticamente ou optar pela lhor em termos de alimentação, obrigando-os a cum-
política Lúcifer ou até anárquica. prir as vossas ordens e claro os brinquedos são os pais
Na maioria das vezes os psicólogos aconselham a que compram, logo só devem oferecer o que gostam
democrática, tendo por base a chamada liderança mais e acham que é o melhor para os vossos filhos.
participativa ou consultiva, este tipo de liderança é Algumas crianças dão pistas claras sobre o que gos-
voltado para as pessoas, havendo participação dos tam e o que não gostam. Por exemplo, pode ser que
liderados no processo decisório. Aqui as directrizes seu filho brinque sempre com o mesmo brinquedo
são debatidas e decididas pelos intervenientes (pais ou tente agarrá-lo e levá-lo até à porta da frente repe-
e filhos), estimulados e assistidos pelo líder. Os pró- tidas vezes. Nessas situações, é fácil perceber do que
prios intervenientes esboçam as medidas para atin- ele gosta, no entanto, não deve facilitar nem ceder às
gir o objectivo solicitando aconselhamento técnico suas insistências. Deve manter-se firme na sua postu-
ao líder (pai – ser humano com mais experiência) ra ignorando o comportamento do seu filho.
quando necessário, passando este a sugerir duas ou No entanto muitas vezes, parece ser preciso observá-
mais alternativas incentivando a escolha. As tarefas lo mais atentamente para descobrir as preferências
ganham novas perspectivas com o debate. A divisão dele. Desta forma, pode ser que descubra que ele
das tarefas fica ao critério de cada membro podendo gosta de saltar, correr de um lado para o outro ou ga-
escolher os seus próprios passos para desenvolver o tinhar por baixo dos móveis ainda mais do que tinha
seu trabalho/atitude. O líder procura ser um membro pensado. Por isso mesmo não perca muito tempo na
normal do grupo. Ele é objectivo e limita-se aos fac- observação do seu filho nem se preocupe em dar
tos nas suas críticas e elogios. Tudo o que um pai não atenção as estes pequenos pormenores.
deve fazer, pois todos nós sabemos que liderar é con- Firme a sua atitude e nunca entre em grandes diá-
seguir que outras pessoas façam o que queremos, é logos com o seu filho, mostre quem manda usando
influenciar os outros nas suas atitudes. sempre a autoridade e a sua pose agressiva.
Todos os pais gostavam que os seus filhos fossem Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
melhores que eles mesmos, por isso, precisam agir atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
como líderes para, assim, influenciá-los a serem como todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
desejam. Para que isso aconteça é importante esta- melhores crianças e pessoas mais manipuladas e me-
belecer pouco diálogo com eles, evitando assim con- nos autónomas.
flitos e troca de opiniões que podem trazer dissabo-
res e acções não controladas pelos pais.
Nunca devem ficar preocupados se o vosso filho pa-
rece não vos ouvir, pois os pais é que mandam. Saber
quais os brinquedos, a comida ou até as actividades
que os filhos gostam mais, não serve de nada, pois
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Nunca desconfie
do seu filho
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Muitas vezes os pais caiem no erro de não acreditar sentido na mentira. De maneira complementar, exis-
nos próprios filhos, isso pode revelar falta de seguran- tem aqueles que acreditam que as crianças mentem
ça na postura educacional ou acreditar que os filhos por insegurança, e por não compreender a gravidade
mudam a sua forma de estar nos diferentes ambien- dos seus actos, escapando assim às suas responsabi-
tes onde coabitam. lidades.
São eles, os filhos, seres humanos por quem os pais Sócrates defendia que em determinado estágio do
deixam de dormir, em quem acreditam até à última desenvolvimento, as crianças às vezes contam menti-
palavra e por quem se tornam nos pais mais atentos ras fantásticas e inacreditáveis, parecidas com a men-
e zelosos do mundo. Para os pais os filhos são os me- tira de Koko.
lhores, os mais perfeitos e raramente mentem ou es- Desconfiar de um filho pode causar desagrados, pode
condem coisas. levar à insegurança do nosso descendente. Acredite
Gostam mesmo muito daqueles pequeninos. Têm que o seu filho nunca lhe esconde nada, raramente
muito orgulho neles. Planeiam tudo cuidadosamen- lhe irá mentir, pois ele aprendeu com o seu exemplo
te, e não vão ter mais filhos para que nada falte a es- e você nunca mentiu nem escondeu nada dos seus
tes. Dão-lhes tudo. Tudo aquilo que merecem, tudo o pais.
que nunca pensaram em querer ter ou pedir na sua Não se esqueça, quando algum educador ou amigo
infância, pois os seus pais não tinham as mesmas pos- acusar o seu filho infundamentadamente de uma ac-
sibilidades que hoje eles têm. ção que ele fez, pergunte ao seu filho se é verdade e
No entanto esforçam-se para dar tudo aquilo, que acredite profundamente naquilo em que ele lhe vai
acham necessário, para o bom desenvolvimento dos dizer, nunca faça o contraditório. Perceba que o seu
seus filhos. filho não precisa de aprender a não mentir, pois você
Por vezes lutam contra regras e pessoas, simples- sempre se esforçou tanto a dar tudo aquilo que ele
mente para lhes evitar as contrariedades. Suportam quer.
calados as suas birras, os seus amuos e atendem de Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
imediato às suas exigências. Não irão repetir os erros atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
das gerações anteriores, já passou a era da autorida- todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
de, agora os tempos são outros. Querem que os seus melhores crianças e pessoas mais manipuladas e me-
filhos cresçam livres da opressão a que os seus pais nos autónomas.
os sujeitaram. Por isso acreditam sempre nos filhos,
acham que nunca mentem e que a verdade deles é
sempre a mais verdadeira e sincera.
No entanto há quem diga que as mentiras começam
cedo!!! Um “engano”, pelo menos quando falam da re-
lação pais-filhos.
As crianças aprendem pela experiência que dizer uma
“inver­dade”(mentira) pode evitar punições por maus
comportamentos, antes de desenvolverem o proces-
so cognitivo necessário para entender o verdadeiro
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Nunca estabeleça
regras aos seus filhos
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Quando falamos de “Pai do século passado” associa- de regras é importante porque promove o desenvol-
mos sempre a uma figura má sem paciência para os vimento de competências como a responsabilidade,
filhos, sem diálogo para discutir ou explicar regras. o autocontrolo, a independência e a auto-estima da
Aquele homem rude e sem modos, que bate nos fi- criança. Por seu lado, a ligação afectiva dos pais aos
lhos e na mulher sem explicação aparente. Uma famí- filhos assume um papel fulcral, uma vez que os com-
lia em que quem manda é ele e os outros obedecem portamentos parentais de compreensão e carinho
sem perceberem muito bem onde é o seu espaço. estão associados com as capacidades de cooperação
Este ambiente é tudo menos afectuoso ou educativo, e inter-ajuda dos seus filhos.
apanhar “tareia” sem perceber a razão não leva a bom Isto até pode estar correcto, mas sentir que se está a
porto certamente. perder anos de vida só por uma questão de tentar de-
Regras, falemos então de regras e limites. Estreitar as senvolver boas competências pessoais e sociais nos
acções comportamentais dos filhos através de nor- filhos, não é de todo um ponto de vista muito opti-
mas e princípios sociais, será isso importante nos dias mista e agradável de ser cumprido.
de hoje? Proteger o filho do perigo e ensiná-lo a diferenciar o
O estabelecimento de regras serve para quê? Será certo e o errado, é assim tão importante? Com a idade
valorizado no seu desenvolvimento pessoal e social? todos nós vamos aprendendo isso, mesmo que seja
Será que o filho não vai ficar traumatizado com tanta através de uma simples imitação dos amigos ou por
regra? E os pais que vida vão ter se têm que se chatear punição de alguma outra entidade.
sempre que ele passa dos limites? «A boa disciplina geralmente transforma uma crian-
Há alguns psicólogos a pensar que a imposição de re- ça egoísta num adulto maduro, consciente, respei-
gras, associada a uma proximidade afectiva dos pais tado pelos outros, assertivo, controlador dos seus
aos seus filhos, pode levar a melhores competências impulsos. O estabelecimento de alguns limites evita
pessoais e sociais nas crianças e jovens. que criemos crianças “mimadas”. A palavra “disciplina”
No entanto é importante perceber como é a relação significa ensinar e não “punir”».
familiar, durante este tempo de educação parental. Este autor, tem toda a razão, no entanto será que os
Impor regras para quê? Desgastar a relação com ne- pais não devem ter filhos mimados, crianças egoís-
gações, com o discurso desaprovador, evitar alguns tas, para que melhor se saibam defender dos perigos
ambientes em que ele ainda não está preparado, da sociedade e não acreditarem sempre nos outros?
levá-lo cedo para casa quando na verdade ainda ape- É assim tão importante ser assertivo e controlar os
tece estar na festa, só para que ele perceba os limites impulsos? Quando assistimos aos casos de bulling
impostos pelos pais. Quais são os benefícios disso existentes na escola, e onde quem sofre sempre são
para os pais? aqueles que se acham mais “bem educados” e com os
Definir regras dá demasiado trabalho aos pais e fá- valores sociais todos. Definir regras só serve para os
los perder demasiado tempo. As crianças aprendem pais perderem tempo e os filhos limitarem a sua cria-
com o tempo e com os espaços onde estão, não é de tividade e expressão. Se querem escrever ou mandar
certeza preciso serem os pais a preocuparem-se com pedras à parede do vizinho, porque não? Ele de certe-
isso. za que tem uma razão!
Definir bem os limites de actuação dos filhos, podem Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia
fazê-lo ser uma pessoa mais compreensível e emo- atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se
cionalmente próxima dos valores sociais, podendo todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com
ser assim prejudicado no seu percurso de desenvol- melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e me-
vimento. nos autónomas.
Muitas vezes vem escrito nos livros que a existência
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Seja o melhor
amigo do seu filho!
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Ser o melhor amigo do filho é um estatuto que não está ao quem os filhos podem confiar, não esquecendo que para
alcance de todos os pais. além de amigo é seu pai ou mãe e que nunca o irá trair
Participar nas brincadeiras com os seus filhos ado- ou ter inveja (em casos de uma saudável relação familiar)
lescentes ou pré-adultos, partilhar o mesmo grupo de A criança/jovem pode encontrar no pai e na mãe o seu
amigos, ter uma atitude irreverente a roçar a irresponsa- primeiro amigo pois é o seu confidente natural, desde o
bilidade, tomar uns copos de álcool na noite, esquecer a momento em que nasceu, são as primeiras pessoas a par-
relação de respeito e autoridade que está subjacente ao tilharem a intimidade por inteiro.
papel do pai, não são atitudes que todos os pais consigam Na normalidade são os primeiros seres nos quais a criança
concretizar. confia, no entanto na maioria dos casos, isso não aconte-
Muitos são aqueles que querem ser os melhores amigos ce quando a criança chega à puberdade. Pois a mudança
dos seus filhos, orgulhando-se de que eles lhe contam de atitudes e valores sociais como a grande importância
tudo abertamente e sem qualquer tipo de complexo dada à relação de pares tornam a convivência menos obe-
hierárquico ou de fantasma parental. No entanto os pais decida e mais discutida. Os valores dos pais, as normas
não devem esquecer a importância de se ser o educador, sociais e as vivências, são interpretados de forma diferente
o objecto da relação de aprendizagem comportamental, por pais e filhos. Neste caminho o que deve acontecer é
tendo ela como base principal a imitação, a cópia de com- o pai ou mãe transformar-se no melhor amigo do filho,
portamentos. esquecendo por completo as atitudes de autoridade e
A amizade, no sentido estrito, é algo que os pais devem responsabilidade do seu papel educativo. Facilitando as-
estimular esquecendo a relação entre os papéis de pais e sim a harmonia familiar e convivência social. Os pais ficam
filhos. A troca que a amizade compromete e a intimidade mais novos e os filhos com mais amigos e com menos res-
que daí advém, implica que a esta relação seja comparada ponsabilidades para prestar aos seus progenitores, já que
à relação entre pares. O filho - criança, adolescente ou jo- todos partilham o mesmo espaço.
vem - pode chegar a confiar ao pai seus problemas e suas Acredito que a oposição entre duas personalidades, uma
mais íntimas experiências, acontecendo a atitude inversa, já construída, a outra em formação, que a tensão entre a
pois só assim os pais vão ser os melhores amigos dos filhos autoridade e a liberdade, tornam impossível que o pai seja
na verdadeira acepção do papel de melhor amigo. o melhor amigo do seu filho e o transforme simplesmente
O filho deve compreender e assimilar os problemas dos no amigo e confidente natural de seu filho adolescente.
pais, ocorrendo no perigo de aumentar os seus níveis de Pensar que ser pai já por si só é ser amigo do seu filho,
ansiedade e desenvolver atitudes emocionalmente des- que não precisa de se esquecer do seu papel educacional
concertantes, no entanto só assim pode esquecer o papel e educativo em relação à sua criança, pode ser um mau
de pai/mãe e achar que essa figura é mais um amigo que caminho para quem quer ser um mau pai. Acreditar que
tem. para uma boa educação é importante que os seus filhos
Pais e filhos terão de se transformar em pares. Apesar da não esqueçam quem são os pais e que com isso não vão
diferença de idades e das vivencias sociais e do seu pró- contar todos os pormenores da sua vida, mas sim apenas
prio papel ao nível familiar, os pais têm que transformar aqueles que realmente importam e têm significativa im-
a relação com os filhos numa relação de pares, amigos, só portância para a sua vida. É sem dúvida um caminho erra-
assim serão os verdadeiros amigos dos seus filhos. do para se ser o melhor amigo do seu filho.
Se o contrário disto acontecer, no que diz respeito a esta Muitas vezes é mais simples ser-se o melhor amigo do fi-
amizade ampla e de verdadeiro sentido o pai pode chegar lho do que exercer o poder parental, apesar do resultado
a não ser, o “melhor amigo”, mas sim apenas um amigo em ser completamente diferente.
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A importância
de ser mau pai!
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Durante mais ou menos vinte páginas, falei de como ser um mau pai, com temas como:
“Corrija os filhos em público, não gaste tempo com os seus filhos, seja o melhor amigo do seu filho, nunca
desconfie dos seus filhos, não estabeleça regras aos seus filhos.” Todos estes textos foram escritos com ironia
e vontade de vulgarizar actos que levam os pais a transformarem-se naquilo que não querem ser, “maus pais.”
A verdade é que, na grande maioria das vezes, os nossos actos são simplesmente isso, actos! Não reflectimos,
não pensamos sobre o nosso comportamento perante as pessoas ou actividades que nos rodeiam. Os pais
fazem o mesmo. Depois de um dia de trabalho a fazerem o que o patrão ou chefe mandou, sem nunca terem
descanso nem espaço para reflectirem sobre as suas acções, chegam a casa e continuam a agir mecanicamen-
te, cedendo ao que parece mais fácil e consonante.
Os pais têm de perceber que educar não é ser sempre bonzinho que não é ser simplesmente amigo do seu
filho, que não basta confiar inteiramente nele, sem nunca questionarem sobre o sentido da verdade em de-
terminada situação.
Ser pai implica que, por vezes, os filhos não gostem deles, que os achem uns monstros ou até seres vindos
de outro planeta que raptaram os paizinhos bonzinhos, e que agora torturam as suas crias até ficarem sem
alegria nenhuma.
A infelicidade momentânea dos filhos, pode ser a simplicidade de uma correcta educação.
Educar não é simplesmente agir, pois a reflexão é o início de uma educação equilibrada e futurista.
Não se deixe arrastar pelo pânico de ser pai, pense, leia e troque opiniões com outros pais, só depois estabe-
leça o seu padrão educativo.
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Notas finais
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Honra-me o convite para escrever sobre o li- vontade de termos acertado mais vezes do que
vro “Como ser mau pai”, faço-o numa atitude erramos, para que no futuro as crianças que de
de aprendiz, pois quem escreve sobre um livro alguma forma se cruzaram connosco sejam adul-
tem geralmente a postura de quem pode julgar tos que pelo menos puderam escolher o seu ca-
e avaliar, o que não é de maneira nenhuma o minho e escrever a sua própria história.
meu caso.
O livro permite momentos divertidos de per- Maria José Damásio de Oliveira Lopes
guntas, respostas e escolhas, o objectivo prin- Educadora de infância e membro da direcção da
cipal é o de oferecer elementos de reflexão aos Cercilei
pais na difícil tarefa de educar. A forma como
está escrito “obriga” a pensar – a brincar são di-
tas coisas sérias. A sua leitura será certamente
a garantia de mudança nos comportamentos e
formas de educar.

Fátima Pinto Interessante o conteúdo dos temas abordados.


Terapeuta ocupacional, Verdades, muitas verdades foram expostas,
técnica de serviço social e membro da direcção algumas polémicas e merecedoras de serem
da Cercilei aprofundadas, questionáveis quando se entra
no campo da reflexão.
A complexidade e individualidade do ser huma-
no, associadas aos padrões culturais, aos con-
textos e às múltiplas variáveis e imponderáveis,
tornam a função de educar uma tarefa extrema-
mente difícil e desgastante que exige, por parte
Uma leitura interessante e diferente que nos do adulto, muita disponibilidade, persistência
mantém atentos e curiosos. e determinação, sem nunca descorar a compo-
Perante o nosso olhar passam ideias e formas nente afectiva.
correctas e erradas de educar. A par da facilidade com que se descarta a res-
Boas práticas e más práticas. ponsabilidade de educar, este livro apresenta
Este livro leva-nos à reflexão: da criança que fo- algumas sugestões que ajudam a clarificar e a
mos e do adulto em que nos tornámos, nas práti- ponderar formas de actuação.
cas que usámos enquanto pais e enquanto edu- Parabéns Ricardo, continue a inquietar!
cadores com as crianças que tivemos a sorte de
encontrar no nosso caminho. Com amizade, Cristina Meireles
E ficamos com muita vontade, mesmo muita Professora e presidente da direcção da Cercilei
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“A interacção pais - filhos, como toda a relação também em função da sua imagem, portanto do
no seio familiar, passa por um processo dinâmi- juízo que os outros fazem dela. Nesse sentido, o au-
co, contraditório, gerador de conflitos e tensões. tor dá ênfase ao papel das relações sociais. É pois
É tema de colóquios e conferências com especia- apostando no “jogo do contrário” que este trabalho
listas de renome, debates televisivos por ocasião induz à reflexão, tendo em conta as preocupações
de casos mediáticos, para conclusivamente se dos pais, indo ao encontro dos seus anseios, ao
aferir de que há muito a fazer e que a problemá- mesmo tempo que apela ao controle das emoções,
tica não se esgota nessas iniciativas. no sentido da adequada gestão das variáveis que
Por um lado, não é lícito equacionar a relação condicionam a educação. “Como ser mau pai” for-
educativa como receita extraída de um fluxogra- nece aos pais a possibilidade de prevenir compor-
ma de um algoritmo, partindo da premissa: mau tamentos nas crianças, através da antecipação da
comportamento da criança gse sim gcastigo sua própria atitude para com os filhos. É a visuali-
gse não grecompensa, por outro a teorização, zação dos efeitos da sua intervenção que faculta a
ainda que a cargo de catedráticos da matéria, referida antecipação. O Dr. Ricardo Cardoso conse-
nada provou significativamente. Não podemos guiu a simbiose entre a teoria e a prática educativa,
ter a veleidade de aprender a educar numa bi- sem a pretensão de fornecer uma receita de inter-
blioteca, do mesmo modo que já não têm lugar venção, o que é de louvar.”
as nostálgicas evocações de que “o tempo da re-
guada é que era bom” com base em constatações Rui Manuel Junqueiro de Matos Veiga
vãs de que “antigamente não havia bulings”. Professor
Não é indiferente a forma como se educa. Os
efeitos repercutem-se com grande impacto nas
sociedades, condicionando as gerações futuras.
Aos educadores impõe-se a interrogação e refle-
xão acerca da sua forma de actuar. É complicado
reconhecer as imperfeições de quem intervém,
particularmente se o faz com boa intenção. Mas
esta introspecção é o primeiro grande passo para
se estar atento ao intrincado processo, com efei-
tos por vezes imprevisíveis.
“Como ser mau pai” é um forte contributo, na me-
dida em que atenta nas lacunas dos pais e educa-
dores. Não é uma crítica irónica à bonomia da ac-
tuação destes, mas sim uma chamada de atenção
para os humanos desacertos, passíveis de ocorrer
na relação educativa. Educar não é um acto isola-
do, as expectativas em relação às crianças são tidas
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Edição digital:

Autor:
Ricardo Cardoso

Ilustração:
Catarina Gonçalves

Paginação:
Carlos Cardoso

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