Sei sulla pagina 1di 37

Direito à terra no Brasil

A gestação do conflito
1795-1824

M árcia M aria M enendes M otta

E D IÇ Ã O
Copyright © 2012 Márcia Maria Menendes Motta
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Publishers; Joana Monteleone/Haroldo Ceravolo Sereza/Roberto Cosso


Edição: Joana Monteleone
Editor assistente; Vitor Rodrigo Donofrio Arruda
Projeto gráfico; Christopher Franquelin
Diagramação; Pedro Henrique de Oliveira/João Paulo Putini
Capa: Pedro Henrique de Oliveira
Revisão: Daniela Fernandes Alarcon/Rogério Chaves
Assistente de Produção: Juliana Pellegrini
Imagem da capa: A g ru p a m en to dos índios Bororos do acam pam ento Pau seco, entre os riachos
P araguai e J a u rú . Aimé-Adrien Taunay, 1827.

CiP-BRASü-. CATALOGAÇAO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

M875d
2.ed

Moua, Márcia
DIREITO ÀTERRA N(í BRASIL! A GESTAÇÃO DO CONFLITO! 1795-1824
Márcia Maria M enendes Moita.
São Paulo! Alameda, 2012.
2.ed.
290p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7939-133-0

1. Posse da terra - Brasil - História. 2. Direito agrário - Brasil


História. 3. Sesmarias - Brasil - História. I. Título.

CDD! 333.3181
CDU! 332.2.021,8(81)

A la m ed a C asa E d ito rial


R u a C o n s e l h e i r o R a m a l h o , 6 9 4 - B e la V is ta
C E P 0 1 3 2 5 -0 0 0 - S ã o P a u lo , S P
T e l. ( 1 1 ) 3 0 1 2 - 2 4 0 0
w w w .a la m e d a e d ito r ia l.c o m .b r
A LEI DE SESMARIAS E A OCUPAÇÃO COLONIAL;
SOBRE AS LEIS

ouco discutida pela historiografia portuguesa e pouco presente na

P história lusa da época moderna, as sesmarias - é bom lembrar - fi­


zeram parte do corpo de leis das Ordenações Filipinas de 11 de janeiro de
1603 e foram discutidas e atualizadas em vários alvarás e ordens régias ao
longo dos séculos seguintes, até sua extinção.‘ Ela foi, em suma, uma lei
que. originariamente pensada para a ocupação de terras não cultivadas em
Portugal tornou-se o arcabouço jurídico para solidificar a colonização do ul­
tramar. Como se reestruturou - se de fato, houve uma reestruturação - de
uma lei interna a Portugal para uma lei que visava à colonização de novas
terras, pretensamente virgens?
As respostas não são fáceis de serem obtidas. Discute-se muito pouco
sobre a legislação de sesmarias e sua repercussão nos territórios do domínio
português; exceção feita ao trabalho de Antonio Vasconcellos Saldanha.^
Ao afirmar que a concessão de sesmarias teria sido um dos eixos do tradi­
cional sistema colonial, Saldanha se perguntara:

até q u e p o n to o recurso c on stan te ao term o sesmaria significará


n o s forais e cartas de doação de C apitanias u m a iden tificação
o u um a recep ção plena do sistem a sed im en ta d o n o sécu lo XIV,
aco lh id o nas Ordenações A fonsinas e dep ois p arcialm en te passa­
do às Ordenações M anuelinas e Filipinas}

É verdade que as O rdenações Filipinas são um a atualização das M anuelinas. "Em vez de
se refundir o antigo e o novo, acontece que os compiladores, m ecanicam ente, juntaram ,
adicionaram , leis m anuelinas e preceitos posteriores o que torna, m uitas vezes, m uito
difícil o seu entendim ento". Nuno Espinosa da Silva. História do Direito Português. Fontes
de Direito. 3“ ed. Lisboa: Fundação Calouste G ulbenkian, 2000, p. 314.
A ntonio Vasconcellos de Saldanha. As Capitanias. O regime Senhorial na Expansão Ultrama­
rina Portuguesa. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1992.
Jdem, p. 190.

129
130 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 131

A o d is c o r d a r d o s a u to r e s q u e te n d e ra m a c o n s id e ra r s u p e rf ic ia lm e n ­ 0 c e r to é q u e s u a p e r m a n ê n c ia n o te m p o n ã o s ig n ific o u u m a lin e a r id a ­
te o s is te m a u ltr a m a r in o d e s e s m a ria s , " a p re s e n ta d o - o c o m o u m m e r o e d e n a s u a f o rm a d e c o n c e s s ã o . A o lo n g o d o s s é c u lo s , p o r c a m in h o s m u ita s
n a t u r a l p r o l o n g a m e n t o d a t r a d i ç ã o s e s m a r i a l m e t r o p o l i t a n a " , “' S a l d a n h a v e z e s to r t u o s o s , e la fo i s e a d a p ta n d o à c o m p l e x id a d e d o te c id o s o c ia l, b u s ­
p r o c u r o u r e c u p e r a r "a s in g u la rid a d e d a s m o tiv a ç õ e s e a d iv e rs id a d e d o s c a n d o s e a d e q u a r à e x ig ê n c ia d e u m a s o c ie d a d e a in d a e m f o rm a ç ã o .
c a m p o s d e a p l i c a ç õ e s " .* O s d o c u m e n to s d e s e s m a ria s c o r r e s p o n d e m à s m ú ltip la s fa c e s d o A n tig o
P a r a t a n t o , o a u to r p o r tu g u ê s a p o io u - s e n o s e s c rito s d e C o s ta P o r to , R e g im e , m a s o r e q u e r im e n to e a s v á ria s in s tâ n c ia s p a r a a d e c is ã o f in a l ré g ia ,
ju r is ta b r a s ile iro q u e e s c r e v e u u m d o s p o u c o s tra b a lh o s s o b re o te m a . S e ­ s i m b o l i z a m m a i s q u e u m m e r o e x e m p l o d o v o c a b u l á r i o d a q u e l e r e g i m e . E le s
g u n d o P o r t o , e n t r e a s s e s m a r i a s p o r t u g u e s a s e a s d o B r a s il ; a n u n c ia m a te n ta tiv a d a C o ro a e m s u b m e te r à d o a ç ã o d e te r r a s a s u a d e te r m i­
n a ç ã o , c o m o p r o v e d o r a d a ju s tiç a , in s tâ n c ia ú ltim a d e d e c is ã o p a r a a c o n c re ti­
[ ...] só h a v ia m e sm o um p o n to e m com um ra e x istê n c ia d e z a ç ã o d a h a r m o n i a e n tr e o s s e u s s ú b d ito s .
so lo sem cultura, sem ap ro v eita m en to , in e x p lo r a d o . Tudo E la s - a s s e s m a r ia s - d e v e m , p o r ta n to , s e r e n te n d id a s in s e r in d o - a s
o m ais d iv e rso . D iversas, em p rim eiro lugar, as causas; n o
n u m a c o n j u n t u r a q u e d ê a lg u m s e n ti d o à s p a la v r a s a ii e x p r e s s a s . A d e s p e i­
R ein o , a in cu ltu ra resu ltan te d o d e sc a n so d o s se n h o r e s q u e ,
to d e c e rta u n ifo r m id a d e d a m a n e ira c o m o s ã o c o n c e d id o s , o s d o c u m e n to s
in d o le n te s, n e m o trabalhavam , n e m d eix a v a m o u tr o s o c u l­
tiv a sse m , d o n d e o rem ed o drástico do c o n fisc o para red istri-
s o fre m a lg u m a s a lte ra ç õ e s a o lo n g o d o p e r ío d o e s ã o m a is d o q u e m e ro s
b u içã o e n tr e o s q u e não tin h am terras, e n q u a n to n o B rasil,
d e ta lh e s s e m im p o rtâ n c ia , p o is r e v e la m o s e n s a io s d e a d e q u a ç ã o d o in s titu ­
decorria da carência de braços, da falta da p o p u la ç ã o , p o is a to ju ríd ic o à c o n ju n tu r a d o p e río d o .
C on q u ista se apresentava n u m d eserto h u m an o.* É n o c r u z a m e n to d a s f o n te s , le is e p r o c e s s o s q u e n o s a p r o x im a m o s
d a q u e le d o c u m e n to , c o n fe r in d o - lh e a lg u m a c o e rê n c ia d e te r m o s e p a la v ra s
P a r a S a ld a n h a , n o e n ta n to , se a s v á ria s c a rta s d e d o a ç ã o q u e a d q u ir e m u m n o v o s ig n ific a d o e in te r p r e ta ç ã o . A s s im , p o r e x e m p lo ,
q u a n d o d e s u a p ro m u lg a ç ã o , o te r m o s e s m e iro e x p re s s a v a a q u e le q u e d o a ­
[...] rem e tem para o dispositivo das O rd en ações em d e tr im e n ­ v a a t e r r a , o o f i c i a l d a C o r o a q u e t i n h a , p o r t a n t o , t a l e n c a r g o . P o r a q u e l a le i
to de q u a lq u er solu ção por inteiro original, é p orqu e - m a l­ o r i g i n a l , p a r a fisc a liz a r o c u m p r i m e n t o d a p o l í t i c a d e d i s t r i b u i ç ã o d o s o l o , o
grado a diversidade da realidade m etrop olitan a e a s e q u e n ­ r e i m a n d a v a q u e " f o s s e m e s c o lh id t? s , c a d a v ila , c id a d e o u c o m a r c a d o is
te in op erân cia de certos d isp ositivos fern a n d in o s e m terras h o m e n s b o n s d o s m e l h o r e s q u e a li h a v e r " , * i n c u m b i d c i s d e i n v e s t i g a r q u a i s
virgens e n u n ca possuídas - algu n s traços do o rd e n a m e n to e ra m a s te r r a s in c u lta s , o b rig a n d o a o s p ro p rie tá rio s a s e x p lo r a re m e m c e rto
v ig e n te m a n tin h a m a sua razão de ser n os n o v o s h o r izo n tes
te m p o o u a s a rre n d a re m .
q u e se abriam à colonização dos P ortu gueses, avu lta n d o s o ­
A o s p o u c o s , n a s c o lô n ia s d o I m p é r io p o r tu g u ê s , o te r m o fo i s e n d o e m ­
bre tod os o d esiderato de obstar à terra in c u lta .’
p r e g a d o p a r a d e s ig n a r a q u e le q u e r e c e b e a s e s m a ria . S e g u n d o C o s ta P o rto ,
a m o d ific a ç ã o n a a c e p ç ã o d o te r m o te r ia o c o rr id o n a c o lô n ia e in tr o d u z id a
n o s d o c u m e n t o s o f ic ia is , p r o v a v e l m e n t e a p a r t i r d e 1 6 1 2 , n a c a r ta d e 2 8 d e
s e te m b r o s o b re a c o n c e s s ã o d e t e r r a s n o R io G r a n d e d o N o r te .’
4 Ibidem.
5 Ibidem.
6 A pud Saldanha, op. cil, p. 191, 8 Costa Porto. Estudo sobre o sistema sesmarial. Recife: Imprensa Universitária, 1965, p. 34.
7 Ibidem, p. 191. 9 Idem. p. 41.
132 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 133

0 te r m o d e v o lu to é, e m s u a a c e p ç ã o p r im o r d ia l r e la tiv o à te r r a d e v o l­ u m la d o , o s o c u p a n te s o r iu n d o s d a d in â m ic a d e e x p a n s ã o d a f ro n te ir a ; d e
v id a , n ã o c u ltiv a d a , q u e r e to r n a à s m ã o s d o re i p a r a s e r d a d a n o v a m e n te e m o u tr o " o s s e s m e iro s , q u a s e s e m p r e p o te n ta d o s d e O lin d a e S a lv a d o r, p e ­
s e s m a r i a . C o n t u d o , e l e t o r n a r - s e - á u m a r e f e r ê n c i a a t e r r a s l iv r e s , c o e r e n t e d ia m a te r r a , le g a liz a v a m o d o m ín io e p a s s a v a m a g a n h a r d i n h e i r o à s c u s ta s
c o m a e x p a n s ã o e m á re a s a in d a n ã o o c u p a d a s . P o r c o n s e g u in te , a p a la v ra d o s e r t a n i s t a a n ô n i m o " . ''' O c o n f l i t o n ã o t a r d o u a s e r r e v e l a d o , c h e g a n d o
d e v o lu ta p a s s a a e x p re s s a r te r r a s n ã o a p ro v e ita d a s , n ã o p o v o a d a s , s e m c o ­ a o C o n s e lh o U ltra m a r in o q u e , p o r s u a fe ita , r e c o m e n d o u a o g o v e r n a d o r d e
n h e c im e n to d e s e u d o n o , s e m v e s tíg io d e q u e f o ra a lg u m te m p o o c u p a d a o u P e rn am b u c o q u e
o n d e n ã o s e t e m n o t í c i a d a p e s s o a a q u e m p e r t e n ç a . ’”
O m e s m o p o d e -s e se d iz e r q u a n d o c ru z a m o s o d o c u m e n to c o m o s d e ­ procurasse harm onizar os in teressad os, fa zen d o 'm u itos p olos
c re to s e a lv a r á s q u e p r o c u r a r a m r e g u la r iz a r a f o r m a d e c o n c e s s ã o . N o in íc io com por, de m aneira q u e n ã o c h e g u e m a q u ele r o m p im en to de

d a c o lo n iz a ç ã o , a le i d e s e s m a ria s é r e f e r id a ta l c o m o e m s e u e s p ír ito o r ig i­ qu e se pode tem er algum as ruínas, d a n d o -lh e s a en te n d e r q u e,


nestas suas contendas, d e v e m esperar o recurso da justiça, sem
n a l, s e m e s p e c ific a r a e x te n s ã o d a s d a ta s a s e r e m c o n c e d id a s . A o s p o u c o s ,
se valerem de m eios v io len to s q u e n e ste caso n ã o só serão p r e ­
e m e s p e c ia l a p a r tir d o g o v e r n o d o s F e lip e s , id e n tific a m - s e a s p r im e ir a s
judiciais, inas desagradáveis a S. M . e q u a n d o n ão baste esta
m e d id a s d e re s triç ã o d e á re a a s e r c o n c e d id a , e m ra z ã o d o s " a b u so s p r a ti­
insinuação para o apaziguar' faça; passar o O uvidor G eral...
c a d o s p o r J e r ô n i m o '^ â e A l b u q u e r q u e , n a d i s t r i b u i ç ã o d e s e s m a r i a s n o R io com algum g en te de que se a c o m p a n h e ... para que o s u n a e
G ra n d e d o N o r te " .” S e g u n d o C o s ta P o r to , o s m o r a d o r e s q u e ix a r a m - s e a o ponha em toda paz, e proceda contra o s cu lp ad os q u e se n ão
R e i d e " h a v e r J e r ô n im o a g id o c o m p a r c ia lid a d e e p r o te c io n is m o , f a z e n d o quiserem reduzir a o que for razão.'''
e n t r e f i l h o s e p a r e n t e s u m a r e p a r t i ç ã o m u i t o e x o r b i t a n t e e m q u a n t i d a d e " . '^
A in d a s e g u n d o o a u to r , a c o m is s ã o n o m e a d a p a r r e v e r a d is trib u iç ã o c o n ­ P a ra s o lu c io n a r a q u e re la , o R e i p r o m u lg o u a C a rta R é g ia d e 1 7 0 2 ,
c lu iu q u e a a c u s a ç ã o e ra in fu n d a d a . D e q u a lq u e r fo rm a , in a u g u r a -s e , a p ó s d e te r m in a n d o q u e o s s e s m e iro s p r o c e d e s s e m à d e m a r c a ç ã o d e s u a s t e r ­
a C a rta R é g ia d e 28 d e s e te m b r o d e 1 6 1 2 , u m e n s a io d e c o n tr o le a c e r c a d a s ras, a m e a ç a n d o so b " p e n a d e c a d u c id a d e " a q u e le q u e n ã o se d is p u s e s s e
e x te n s õ e s a s e re m c o n c e d id a s , a o m e s m o te m p o e m q u e a p a la v ra s e s m e iro a c u m p r ir o q u e e ra e n tã o d e te r m in a d o e m le i. O c o n flito a in d a a s s im
p a s s a a s ig n ific a r o b e n e h c iá r io d a s d a ta s .” n ã o se d e sfe z , a o c o n trá rio , o O u v id o r d o M a r a n h ã o - c u ja ju ris d iç ã o
É p o s s í v e l s u p o r q u e a t é m e a d o s d o s é c u l o X V I II , a s r e s p o s t a s d a C o r o a in c lu ía o te rritó rio d o P ia u í n ã o se fe z d e ro g a d o : d e c la r o u " c a d u c a s a s
e s tiv e s s e m p a u ta d a s p o r s itu a ç õ e s c o n c re ta s , re g io n a is , s e m a in te n ç ã o m a ­ d a ta s n ã o d e m a rc a d a s " . D ia n te d a r e a ç ã o d o s s e s m e iro s , o R e i d e c id iu
n ife s ta d e c o n s titu ir u m o r d e n a m e n to g e ra l p a r a to d o o te rritó rio , a c o rd a d o to r n a r s e m e fe ito a d e c is ã o d o o u v id o r q u e h a v ia tã o s o m e n te le v a d o a o
à s e s p e c ific id a d e s d a A m é ric a P o r tu g u e s a . O s p r in c íp io s g e ra is c o n s a g r a d o s " p é d a l e t r a " a q u e l a C a r t a R é g i a . '*
n a le i d e s e s m a r i a s p a r e c i a m s u f i c i e n t e s p a r a f a z e r j u s à s e x i g ê n c i a s i m p o s ­
ta s p e la C o ro a . N o e n ta n to , o a g r a v a m e n to d e c o n flito s e m a lg u m a s á re a s
to r n o u - s e p r e o c u p a n te . N a re g iã o d o P ia u í, p o r e x e m p lo , a o c u p a ç ã o e m 14 Ibidem, p. 87.

m e a d o s d o s é c u lo X V II s ig n if ic o u a s o b r e p o s iç ã o d e in te r e s s e s d iv e r s o s . P o r 15 Ibidem p. 87 e 88.
16 Ibidem. Ainda segundo Costa Porto, 'Demorando a Metrópole em solucionar os inciden­
10 Ibidem, p, 179. tes, a Câmara da Vila da Môcha, hoje Oieras, se dirige, em 1745, a D. João V, reclamando
contra 'os extraordinários danos espirituais e temporais que te havido e atualmente se
11 Ibidem, p. 83.
experimentam nesta capitania, originados da sem razão e injustiça com que os governa­
12 Ibidem.
dores de Pernambuco... deram por sesmaria e indevidamente grande quantidade de ter­
13 Ibidem, p. 84. ras a três ou quatro pessoas particulares, moradores na cidade da Bahia, que, cultivando
134 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 135

O c o n f lito n ã o te r m in a a q u i. A in d a s e g u n d o C o s ta P o rto , e m 1 7 5 3 , p e la B a h ia , S e rg ip e , A la g o a s , P e r n a m b u c o , P a r a íb a , C e a r á e P ia u í. O e s fo r ç o d e
P ro v is ã o d e 2 0 d e o u tu b ro , a q u e re la e n tr e s e s m e iro s e o c u p a n te s d o te r r i­ d is c ip lin a r a o c u p a ç ã o , p r e s e n te n o e s ta b e le c im e n to d e u m lim ite m á x im o
tó r io d o P ia u í g a n h a u m n o v o e n s a io d e s o lu ç ã o , c a lc a d o e m d u a s n o r m a s d e c o n c e s s ã o re v e la o re c o n h e c im e n to d e u m a h is tó ria p r e té rita d e o c u p a ­
p r in c ip a is . F o r a m r e v a lid a d a s a s d a ta s d o s s e s m e ir o s q u e a s h o u v e s s e m c u l­ ç ã o " s e m lim ite s " , j á q u e a im e n s id ã o d o s d o m ín io s e a q u e ix a s e r e c la m a ­
tiv a n d o , e x c lu íd a s a s te r r a s e m a r r e n d a m e n to o u a f o r a m e n to . O s s e s m e iro s ç õ e s re s u lta n te s d a s o b re p o s iç ã o d e in ú m e ra s s e s m a ria s n a re g iã o já e ra m
p o d ia m s o lic ita r n o v a s d a ta s , d e te r r a s in c u lta s e d e s p o v o a d a s , d e s d e q u e d e c o n h e c im e n to d a s a u to r id a d e s c o lo n ia is , c o m o d e m o n s tr o u  n g e lo P e s ­
n ã o e x c e d e s s e m t r ê s l é g u a s d e c o m p r i d o e u m a d e l a r g o . ’’ P o r c o n s e g u i n t e , s o a , e m s e u e s t u d o s o b r e a C a s a d a T o r r e d e G a r c i a D 'Á v i l a . ”
a P r o v is ã o r e in a u g u r a o s p r in c íp io s d a le i d e s e s m a ria s , a o r e c o n h e c e r o O C o n s e lh o U ltr a m a r in o tin h a c iê n c ia d e q u e a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s
d o m í n i o d o s s e s m e i r o s a p e n a s s o b r e a s á r e a s e fe tiv a m e n te c u l t i v a d a s , e n ã o e ra a c o m p a n h a d a d e e v e n tu a is q u e re la s e d e in te r p re ta ç õ e s c o n flita n te s s o ­
a q u e la s tr a b a lh a d a s p o r te r c e ir o s . A lé m d is s o , im p õ e u m lim ite m á x im o b re a h is tó ria d e o c u p a ç ã o d o lu g a r. T a m b é m é c o e re n te in fe r ir q u e o s c o n ­
p a r a a c o n c e s s ã o d e te rra s . s e lh e iro s d e tin h a m a in f o r m a ç ã o d e q u e o a d e n s a m e n to d o s c o n flito s e s ta v a
A p r o v is ã o d e 1 7 5 3 r e p r e s e n to u m a is u m a d a s in ú m e r a s in te r v e n ç õ e s r e la c io n a d o à im p r e c is ã o d e b a liz a s e à a u s ê n c ia d e r e g u la m e n ta ç ã o q u a n to
d o g o v e r n o P o m b a l e m r e la ç ã o a u m a p o lític a m a is s u b s ta n tiv a p a r a a c o ­ a o lim ite m á x im o d e te r r a a s e r c o n c e d id a p e lo s is te m a . H a v ia in te n to s n e s ­
l ô n ia . N e s s e s e n tid o , e la d e v e s e r c o m p r e e n d id a c o m o u m a d a s p r im e ir a s s a d ire ç ã o , m a s a in d a m u ito p o u c o e fic a z e s . J á e m 1 6 9 5 , p e la c a rta ré g ia d e
p r o p o s ta s r e f o r m is ta s d e S e b a s tiã o J o s é d e C a r v a lh o e M e lo , a n te s m e s m o 2 7 d e d e z e m b r o , o r d e n a v a - s e q u e n ã o s e p o d e r ia m c o n c e d e r m a is d e c in c o
d a s m e d id a s d e d in a m iz a ç ã o d a s a tiv id a d e s e c o n ô m ic a s d a re g iã o n o r te e lé g u a s d e te r r a s . D o is a n o s d e p o is , p e la C a rta d e 7 d e d e z e m b r o , a e x te n s ã o
n o r d e s te , c o m o a c ria ç ã o , e m 1 7 5 5 e 1 7 5 9 , d a C o m p a n h ia G e ra l d e C o ­ m á x im a e râ re d u z id a p a ra trê s lé g u a s . N o e n ta n to , a in d a q u e o s e sfo rç o s
m é rc io d o G rã o P a rá e M a ra n h ã o e d a C o m p a n h ia G e ra l d e C o m é rc io d e t e n h a m s id o d ir e c io n a d o s p a r a c o n s a g r a r u m lim ite , n a p r á tic a e ra p o s s ív e l
P e r n a m b u c o e P a r a í b a . ’® A p r o v i s ã o r e p r e s e n t a , e m s u m a , u m a t e n t a t i v a q u e d e te r m in a d o s e s m e ir o s o lic ita s s e e o b tiv e s s e te r r a s b e m m a io r e s q u e o
d e i n te r v ir e c o n tr o la r o p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o te r r ito r ia l e ta lv e z t e n h a s id o m a rc o im p o s to p o r a q u e la s n o rm a s , d a í o r e to r n o d o te m a q u a n d o d a P ro ­
p r o m u lg a d a p a ra s o lu c io n a r o s c o n flito s o r iu n d o s d a d in â m ic a d e f o rm a ç ã o v is ã o d e 1 7 5 3 e s u a r e a tu a liz a ç ã o n a s le g is la ç õ e s p o s te r io r e s .
d o p a tr im ô n io d a C a s a d a T o rre , c u ja s s e s m a ria s s e e s te n d ia m e m á r e a s d a E n te n d e - s e a s s im c o m o e p o r q u e a o b r ig a to rie d a d e d e m e d ir e d e ­
m a r c a r p ô d e s e r u m a d e n d o d e s o m e n o s im p o r tâ n c ia n o s p rim e iro s s é -
-c u io s d e c o lo n iz a ç ã o , c o m o p ô d e - j á e m f in s d o s é c u lo X V III - t o r n a r - s e
algumas delas,<)eixaram a maior parte devoluta, sem consentirem que pessoa alguma as
c o n d iç ã o p o r d e m a is e s s e n c ia l p a r a im p e d ir o s c o n flito s e d e m a n d a s p o r
povoasse, salvo quem à sua custa e com risco de suas vidas as descobrisse e defendesse
contra o gentiobárbaro. constrangendo-lhes depois a lhes pagarem dez mil reis de renda
te rra s , p r in c ip a lm e n te e m á re a s já d e n s a m e n te o c u p a d a s e p a rtic u la rm e ii-
por cada sitio’, rogando. Finalmente, fosse S. M. servido mandar 'que os ditos intrusos te ric a s c o m o a s c a p ita n ia s d e M in a s G e ra is e R io d e J a n e ir o . N e s s e s e n ti ­
sesmeiros não possam usar dos ditos arrendamentos, nem pedir renda aos moradores d o , c o m p r e e n d e - s e ta m b é m p o r q u e a s c rític a s f o r m u la d a s p o r F ra n c is c o
desta capitania dos sítios que [...] descobriram [...] mas antes se sirva ordenar que cada
M a u r id o d e S o u s a C o u tin h o , q u a n d o d a p ro m u lg a ç ã o d o A lv a rá d e 1 7 9 5 ,
uma das ditasíazendas contribua em cada um ano com algum limitado foro [...] a m e­
tade para o aumento da real fazenda e a outra metade para rendimento do Conselho da
n ã o e r a m e x te m p o r â n e a s e n e m e x p r e s s a v a m a v is ã o d e u m h o m e m a lé m
Câmara'". Üiâm. p. 88-89. d o s e u te m p o . E la s e r a m o r e s u lta d o , n ã o s o m e n te d a p e r c e p ç ã o a c u r a d a
17 Ibidem, p. 90.
18 Para uma anáSsesobrea atuação política e biografia da personagem, vide: Kenneth 19 Ângelo Emilio da Silva Pessoa. As ruínas da tradição: a casa da torre de Garcia D ’Avila. Famí­
M axwell. Ittoyuêt de Pombal: Paradoxo do iluminismo. 2 “ ed. Rio de Janeiro: Paz e lia e propriedade no Nordeste colonial. Tese de doutorado em História Social. São Paulo,
Terra, 1997. Universidade de São Paulo, 2003.
136 MXrcia M aria M enendes M oita D ireito à terra no Brasil 137

d a p e r s o n a g e m , c o m o t in h a m t a m b é m u m a h is tó r ia , r e v e la d a s n a s le is C a p it a n ia de M ina s G ér a is . E xtensão so lic it a d a


a n te r io r e s q u e b u s c a r a m d is c ip lin a r a d in â m ic a d a c o n c e s s ã o .
D e q u a lq u e r fo rm a , é p re c is o a te n ta r p a ra o fa to d e q u e a s in ú m e ra s N u m é ro d è P erc è n tü a l
E xtensão solicitada
le is p r o m u lg a d a s n o s é c u lo X V III, a té a m a is im p o r ta n t e le g is la ç ã o , o já sesm arias d o total

c ita d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , n ã o c a ír a m d e to d o n u m v a z io . S e s u a s m a r c a s 14 l é g u a e m q u a d r a 108 7 5 ,5 2 %
m a is d e c is iv a s r e to r n a v a m , c o m a e x ig ê n c ia d o c u ltiv o , o e s ta b e le c im e n ­ 1 lé g u a e m q u a d ra 8 5 ,5 9 %
to d o s lim ite s e a o b r ig a to rie d a d e d a m e d iç ã o é p o r q u e - a d e s p e ito d o s 2 lé g u a s e m q u a d ra 3 2 ,0 9 %
in te r e s s e s d o s s e s m e iro s - n ã o e ra p o s s ív e l fa z e r tá b u la ra s a e m re la ç ã o 3 lé g u a s e m q u a d ra 4 2 ,7 9 %
a o s a lic e rc e s d o s is te m a s e s m a ria l o u m e s m o d a f re q u ê n c ia d o s c o n fli­ 3 lé g u a s d e te rra s 20 20, 7%
to s g e s ta d o s p e lo p r ó p r io s is te m a . Q u e r e n d o o u n ã o , o s s e s m e iro s e ra m
AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramarino. Capi­
c o n s tr a n g id o s a c u m p r ir a le i o u a o m e n o s le m b r a d o s d a s s u a s b a s e s tania de Minas Gerais. 1795/1798 - Códice 164. 1798/1801 - Códice 165. 1801/1804 - Có­
c o n s titu tiv a s . A s s im , p o r e x e m p lo , d e z a n o s a n te s d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , dice 166. 1805 1 8 0 7 -C ódice 167. 1807/1823 - CÓDICE 168.
o u tro A lv a rá , o d e 5 d e ja n e ir o d e 1 7 8 5 , " d e te r m in a v a q u e "a s d a d a s o u
d a ta s d e s e s m a ria s s e m p r e f o ra m c o n c e d id a s c o m a c o n d iç ã o e s s e n c ia lís - É d ig n o d e n o ta ta m b é m q u e q u a n d o o s la v r a d o re s s o lic ita m trê s
s im a d e se c u ltiv a s s e m s u a s te r r a s " .^ “ lé g u a s , e le s s ã o c io s o s e m i n f o r m a r q u e e la s e s tã o " f o r a d o s r e g is tr o s
A lé m d is s o , v á ria s d a s C a rta s R é g ia s e A lv a rá s p r o m u lg a d o s a n te s e p a r a g e n s " , o u " p o r s e r e m d e s e r tã o " ,^ ’ p r o c u r a n d o , a o m e n o s e m
d e s s a d a ta s e to r n a r ia m p a r te s c o n s titu tiv a s d e in ú m e r a s s o lic ita ç õ e s , r e ­ te s e , r e s p e ita r a p ro v is ã o d e 2 0 d e o u tu b r o d e 1 7 5 3 , q u e lim ito u e m trê s
v e la n d o to d o e n s a io p a ra c o n s a g r a r u m in s tr u m e n to ju ríd ic o a d e q u a d o lé g u a s d e c o m p rid o e u m a d e la rg o o ta m a n h o d a s s e s m a ria s a s e re m
à v á ria s r e a lid a d e s d a s c o lô n ia s p o r tu g u e s a s , u m d is p o s itiv o m a is a n c o ­ c o n c e d i d a s .^ '* N o e n t a n t o , a o m e n o s p a r a M i n a s G e r a i s n o p e r í o d o e m
r a d o à s in ú m e r a s s itu a ç õ e s u ltr a m a r in a s . U m e x e m p lo d is s o é a P ro v is ã o te la , q u a tr o s e s m e ir o s ig n o r a r a m ta l d e te r m in a ç ã o , p o is s o lic ita r a m tr ê s
d o C o n s e lh o U ltra m a rin o d e 15 d e m a rç o d e 1 7 3 1 , e m ra z ã o d o d e s c o ­ lé g u a s e m q u a d ra .
b r im e n to d a s m in a s . P o r e s s a p r o v is ã o , e s ta b e le c e u - s e o lim ite m á x im o D e q u a lq u e r fo rm a , te n ta v a - s e c u m p r ir o e s ta b e le c id o e m le i. M a n o e l
d e m e ia lé g u a e m q u a d ro p a ra a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s é m te rra s o n d e J o a q u im d e S o u z a X a v ie r, p o r e x e m p lo , s o lic ito u , e m 1 7 8 2 , t e r r a s d e v o lu ­
h o u v e s s e m in a s o u q u e se e n c o n tr a s s e m n o c a m in h o d e la s .^ ‘ A d e s p e ito ta s n o R io d e S ã o P e d r o a c im a , d is tr ito d e M a c a é , R io d e J a n e i r o .
d o r e la tiv o fra c a s so d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , o fa to in c o n te s tá v e l é q u e a q u e la
e x ig ê n c ia p a s s o u a e s ta r e x p líc ita n o s p e d id o s d e s e s m a ria s a o lo n g o d o OProcurador da Coroa qual lhe conveio em que lhe devia con­
p e r ío d o m a r ia n o , c o m o m o s tr a m o s d a d o s o r iu n d o s d a s m é d ia s d e s o lic i­ ceder tão somente meia légua de testada, com uma de senão,
ta ç õ e s d e s e s m a r ia s p a r a a c a p ita n ia d e M in a s G e ra is , e n tr e 1 7 9 3 a 1 8 0 7 . o que não deve subsistir, por ser contra o disposto nas Reais
D a s 1 4 3 c o n fir m a d a s n o p e río d o , s ã o s o lic ita d a s a s s e g u in te s e x te n s õ e s :
22 AHU. Carta de sesmarias de Clara Leite Vieira. Ano de 1799, códice 16 5, folhas,
196/197V.
23 AHU. Carta de Sesmarias de Anselmo Lopes Vilas Boas. Ano de 1799, códice 165, folhas
187 a 188v.
20 Ordenações Filipinas, livro IV, título XLIII Das Sesmarias, p. «23, nota 4.
24 Costa Porto, op. cit., p. 73; Varela, op. cit., p. 99. Segundo estes especialistas, a provisão de
21 Laura Beck Varela. Das sesmarias à propriedade moderna: inn csiiido ile liisiória do direito 1753 e o alvará de 1795 são os dois principais marcos na legislação de sesmarias para as
brasileiro. Rio de Janeiro; Renovar, 2005, p. 95. colônias do ultramar.
138 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 139

Ordens, que determina que as sesmarias que se houverem de g a re m o q u e f o re m d e s u a ju s tiç a e e le o s e rá ta m b é íh a p o v o a r e c u ltiv a r


dar em Minas e nos caminhos para elas sejam somente de meia T al O r d e m in s titu ía a o b r ig a to r ie d a d e d e q u e e m to d a s a s v ila s d a
légua em quadra e que nos mais sertões de 3 léguas.^’ c a p ita n ia d e M in a s s e m a n d a s s e p u b lic a r p o r b a n d o e e d ita is p a r a q u e

A s e s m a ria d e M a n o e l J o a q u im fo i c o n firm a d a e m 8 d e ja n e ir o d e v e n h a a n o t íc i a d e t o d o s o s m o r a d o r e s , q u e a q u e le s q u e s e a c h a ­
1 7 9 7 , c o m o s l i m i t e s d e e x p a n s ã o im p o s to s .^ * ^ r e m d e p o s s e d e a lg u m a s t e r r a s s e m t ítu lo s , l h a s p e ç a m d e s e s ­
O m e s m o o c o r r e r a c o m A n t o n i o d a S ilv a B a s t o s e T o m a s d e A q u i n o m a r i a , p a r a s e l h e d a r e m n a f o r m a d a s O r d e n s R e a is , q u e f o r a m
D u a r t e d e S o u z a , e m 1 7 9 9 . E l e s s o l i c i t a r a m u m a s e s m a r i a d e 16 l é g u a d e n o t e r m o d e u m a n o c o m a c o m i n a ç ã o , d e q u e p a s s a n d o e le ,
t e s t a d a e u m a d e f u n d o s n o S e r tã o d o R io Im b é , C a m p o s d o s G o ita c a s e s , n i n g u é m s e p o d e r á v a l e r d a p o s s e , q u e t iv e r s e m t ít u lo d e s e s ­
m a r i a ; e s e d a r ã o a s t e r r a s a s s im p o s s u íd a s a q u e m a s p e d ir .’“
R io d e J a n e ir o . O c o n d e d e R e s e n d e a p ro v o u a c o n c e s s ã o , m a s a fir m o u ;

[ ...] n o s e r t ã o d o R io I m b é s e a c h a v a m m u ita s te r r a s s e m c u lt u r a , S e g u n d o A n g e lo G a rra ra , a O r d e m R é g ia d e 1 7 3 8 " p ro v o c o u u m v e r ­


n e m s e s m a r ia j á c o n c e d id a , a in d a q u e p e d id a s p o r v á r ia s p e s s o a s d a d e ir o l e v a n ta m e n to f u n d iá r io d a C a p ita n ia , a p a r tir d e 1 7 3 9 " .”
d e lé g u a c a d a u m a , e c o n s ta n d o a o s s u p lic a n te s q u e a c â m a r a d a A O rd e m d e 11 d e m a rç o d e 1 7 5 4 é p a rtic u la rm e n te p re s e n te e m
V ila d o s m e s m o s C a m p o s lh e fo ra d e o r d e m m in h a d e t e r m i n a d o á re a s d e n s a m e n te p o v o a d a s , c u ja te s ta d a s e e n c o n tr a r ia n u m rio n a v e ­
o a t e n d e r n a s s u a s in fo r m a ç õ e s a o g r a n d e P o v o d a q u e le c o n ti ­ g á v e l . S e g u n d o e l a , d e v e s e r r e s e r v a d a ‘/ z l é g u a d e t e s t a d a p a r a c o m o ­
n e n t e a f im d e q u e u n s n ã o f ic a re m s e m te r r a p o r f ic a r e m o u t r o s d id a d e p ú b lic a , r e s e r v a n d o " o s s ítio s d o s v iz in h o s c o m q u e m p a r t i r e s ta
c o m u m a lé g u a e m q u a d r a , o q u e s e d e v e r ia o b s e r v a r c o m a q u e ­ s e s m a ria , s u a s v e r t e n te s e lo g r a d o u r o s , s e m q u e e le s c o m e s te p r e te x to
la s s e s m a r ia s q u e a in d a n ã o s e a c h a v a m m e d id a s e d e m a r c a d a s , se q u e ir a m a p r o p r ia r d e d e m a s ia d o s e m p r e ju íz o d e s ta C â m a ra " .”
n e m a in d a t o ta l m e n te c o n c e d id a s , c o m o n o d ito s e rtã o .^ ^
E m s u m a , a o m e n o s p a r a o p e r í o d o m a r i a n o , a m e n ç ã o à le is p r e t é ­
r ita s p a r e c e c o n f ir m a r o e s fo r ç o d e r e g u la r iz a r a c o n c e s s ã o , a d e s p e ito d a
E m 2 5 d e o u tu b r o d e 1 8 0 1 , m a is d e u m a n o a p ó s o p e d id o . A n to n io s u s p e n s ã o d o A lv a rá d e 1 7 9 5 . M a s , r e s ta - n o s u m a p e r g u n ta : o s s e s m e ir o s
e T o m a s c o n s e g u ir a m a lc a n ç a r o s e u in te n to ,“ s e n d o re c o n h e c id o s c o m o r e s p o n d e r a m à s d e te r m in a ç õ e s p r e s e n te s n o A lv a rá o u e le fo i le tr a m o r ta ,
s e n h o re s d a q u e la s te rra s . c u ja in e fic á c ia já h a v ia s id o p e r c e b id a p e lo s fa z e n d e ir o s , a n te s m e s m o d e
P a r a a c a p it a n ia d e M in a s G e ra is , é f r e q u e n te a m e n ç ã o à O r d e m R é ­ s u a s u s p e n s ã o n o a n o s e g u in te ?
g ia d e 1 3 d e a b r il d e 1 7 3 8 , q u e im p õ e a o b r ig a to r ie d a d e d e d e m a r c a ç ã o O g rá fic o a b a ix o n o s e n c a m in h a p a r a u m a re s p o s ta .
" s e n d o p a r a e s te e fe ito n o tif ic a d o s o s v iz in h o s c o m q u e m p a r tir p a ra a le ­

25 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Joaquim de Souza Xavier, Códice 29 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Bento da Silva Ferreira, ano de 1799.
165, folhas 99 a 100. Códice 165, folhas 92 e 93.

26 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Joaquim de Souza Xavier, Códice 30 Apud Ângeio Alves Garrara. Contribuição para a hhtória agrária de Minas Gerais: Séculos
165, folhas 99 a 100. XVIll-XIX. Universidade Federal de Ouro Preto, Departamento de História, Núcleo de
História Econômica e Demográfica, Série Estudos 1, 1999, p. 19.
27 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio da Silva Bastos e Tomas de A(|uino
Duarte de Souza, Códice 166, folhas 12 v a 13 v. 31 Ibidem.

28 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio da Silva Bastos e Tomas de Aquino 32 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. M anoel Bento da Silva Ferreira, ano de 1799.
Duarte de Souza, Códice 166, folhas 12 v a 13 v. Códice 165, folhas 92 e 93.
140 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 141

SoUCrXAÇÕES D E T O M B O DE T E R R A (1795-1802) e e n q u a d r a d o p e l a d o u t r i n a j u r í d i c a (ius com m u n e) e p e l o s u s o s e p r á t i c a s


ju ríd ic o s lo c a is " ,” n ã o h á d ú v id a s q u e - a o m e n o s n o q u e s e r e f e r e à a p r o ­
p r ia ç ã o te r r ito r ia l - ta l d ire ito se m a te ria liz a v a n u m d o c u m e n to , a s c a r ta s
d e s e s m a ria s . E m c o n s e q u ê n c ia , é c o e re n te a fir m a r - c o n fo r m e n o s a le r to u
A r n o W e h lin g - q u e e m á re a s d e in g o v e r n a b ilid a d e d o B ra s il c o lo n ia l [ ...]
o p o d e r , i n c l u s i v e a a t r i b u i ç ã o d e j u l g a r , e r a d e f a t o e x e r c i d o p e l o s ‘p o t e n ­
t a d o s , q u e o f a z i a m d i r e t a m e n t e o u p o r s e u s a c ó l i t o s , c o m o o s 'c a p i t ã e s d e
m a to " .” N e s s e s e n tid o , o p o d e r p ra tic a d o p e lo s m a is f o r te s " r e v e lo u - s e n ã o
a p e n a s n o d o m ín i o p u r o e s im p le s d a s v o n ta d e s , m a s n o e s ta b e le c i m e n t o
d e v ín c u lo s p e s s o a is , c o m o o c o m p a d rio e a c lie n te la , q u e tin h a m u m a t r a ­
d u ç ã o ju ríd ic a , a in d a q u e in fo rm a l, m u ito d is ta n te d a ju s tiç a o fic ia l, e q u e
a trib u ía a o s e n h o r a fu n ç ã o d e á rb itro e e x e c u to r d a s e n te n ç a " .”
N o e n ta n to , o a d e n s a m e n to d o s c o n flito s e a c o n f ig u r a ç ã o d a p o s s e
c o m o c o s tu m e r e f e r e n d a d a p e la L e i d a B o a R a z ã o d e 1 7 6 9 p o d e r í a m v ir a
a m e a ç a r o p o d e r in c o n te s te d o s f a z e n d e iro s . S e g u n d o C ir n e L im a , o c o s ­
Fonte: AHU. Livro de consulta de provisões, Tombos, códice 109 (1795-1802). Códice 110 t u m e d a p o s s e p r e e n c h ia a lg u n s re q u is ito s d a q u e la le i d e 1 7 6 9 , c o m o a r a ­
(1802-1807).
c io n a lid a d e - o c u ltiv o - e a a n tig u id a d e d a o c u p a ç ã o . A lé m d is s o , c o m o já
a firm a d o , o c o s tu m e d a p o s s e e n c o n tra v a p r e c e d e n te s n a p r ó p r ia le g is la ç ã o
P a r e c e - m e c la r o q u e o s s e s m e iro s s e s e n tir a m c o n s tr a n g id o s a c u m p r ir p o rtu g u e s a , o c h a m a d o d ire ito d e fo g o m o rto , e n a tra d iç ã o r o m a n a . C irn e
a n o r m a re a l, já q u e n o a n o s e g u in te a o A lv a rá c h e g a r a m a o C o n s e lh o L im a d e f e n d e , in c lu s iv e , q u e " a a q u is iç ã o d e t e r r a s d e v o lu ta s p e la p o s s e
U ltr a m a r in o i n ú m e r a s s o lic ita ç õ e s d e to m b o s d e te r r a s , c u jo o b je tiv o e ra c o m c u ltu r a e fe tiv a se to m o u v e rd a d e iro c o s tu m e ju r íd ic o " .” E m o u tr a s
m e d ir e d e m a r c a r a s á re a s o c u p a d a s p a ra a c o n s a g ra ç ã o d e " u m títu lo le g íti­ p a la v r a s , a p o s s e p a s s o u a te r a c e ita ç ã o ju ríd ic a , c o n s o lid a n d o a te n d ê n c ia
m o " . P o r c o n s e g u in te , a d e s p e ito d a p o te n c ia l a u to n o m ia d a s c â m a ra s m u ­ d e r e c o n h e c e r , n o t e x t o d a le i , a e x i s t ê n c i a d a q u e l e q u e o c u p a v a a t e r r a , j á
n ic ip a is , d o p o d e r d o s f a z e n d e ir o s n o t r a t o d e s u a s g e n te s , o f a to in c o n te s te q u e o s v á rio s d e c re to s , re s o lu ç õ e s e a lv a rá s s o b r e a s s e s m a ria s n ã o d e ix a ­
é q u e a in d a se r e c o n h e c ia o p a p e l d a C o ro a n a d e fin iç ã o ú ltim a d e q u e m v a m , d e u m a fo rm a o u d e o u tra , d e s a lv a g u a rd a r o in te r e s s e d a q u e le q u e
e r a o le g a l o c u p a n te d e u m lu g a r. e f e tiv a m e n te c u ltiv a v a a te r r a . O r e c o n h e c im e n to d o s is te m a d e p o s s e , a
S e n a p r á tic a o s is te m a d e p o s s e c o rr o ía o s is te m a e s e tra n s fo r m a v a p a r t i r d a L e i d a B o a R a z ã o , fa z ia ju s tiç a a o s i n ú m e r o s l a m e n to s d o s l a v r a ­
n o m e c a n is m o d e e x p a n s ã o c o lo n ia l, d o p o n to d e v is ta le g a l h a v ia u m d o ­ d o r e s n ã o s e s m e iro s . Q u a n d o d a q u e ix a d a C â m a r a d a v ila d a M o c h a , e m
c u m e n t o ; a c a r t a d e s e s m a ria s , q u e a s s e g u r a v a , n o s m a r c o s d a le i, o p le n o
d o m ín io d a s te r r a s . A s s im s e n d o , se é v ç r d a d e q u e o " p o d e r r e a l p a r tilh a v a
o e s p a ç o p o lític o c o m p o d e re s d e m a io r o u m e n o r h ie r a r q u ia " ,” a C o ro a
34 Ibidem.
e r a a e x p r e s s ã o ú l ti m a d o p o d e r, p o is a e la c a b ia a c h a n c e la , r a tif ic a n d o 35 Arno Wehling; Maria José Wehling, op. cit., p. 46.
u m d o m ín io . A lé m d iss o , s e " o d ir e ito le g is la tiv o d a C o ro a e r a lim ita d o 36 Ibidem.
37 Cirne Lima. Pequena história territorial do Brasil: Sesmarias e terras devolutas. 4* ed. Brasí­
33 António Manoel Hespanha, op. cit., 2001, p. 169. lia; ESAF, 1988, p. 76.
142 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 143

1 7 4 5 , o s l a v r a d o r e s ’® r e c l a m a v a m d a s o p r e s s õ e s e p r e j u í z o s o c a s i o n a d o s a n te rio re s a 1 7 9 5 . O s trâ m ite s a d m in is tr a tiv o s a s e re m p e rc o rrid o s p a ra a


p e lo s litíg io s c o n tr a o s s e s m e ir o s e r e s s a lta v a m " o s g r a n d e s v e x a m e s n a s c o n c e s s ã o d e u m a s e s m a r ia , p o r e x e m p lo , j á h a v ia m s id o c o n s a g r a d o s p e lo
e x e c u ç õ e s d a s s e n te n ç a s q u e c o n tr a e le s a lc a n ç a ra m p a r a e x p u ls ã o d e s u a a lv a r á d e 3 d e m a r ç o d e 1 7 7 0 . N o e n ta n to , a p a r tir d e 1 7 9 5 e ta lv e z r e s u l­
f a z e n d a s , c o b r a n d o r e n d a s e fo ro s d a s d ita s te r r a s " .” ta d o d o s e s fo rç o s c o n s u b s ta n c ia d o s n a q u e le a lv a rá , a s d e te r m in a ç õ e s p a s ­
E n te n d e - s e a s s im p o r q u e o s p o te n ta d o s r u ra is o p e r a r a m c o m o A lv a rá s a ra m a e s ta r m a is e v id e n te s . E n te n d e - s e a s s im , p o r q u e o a lv a rá d e 1 7 7 0 é
d e 1 7 9 5 a o m e s m o te m p o e m q u e b u s c a v a m c o n s o lid a r s e u p o d e r. S u b m e ­ re le m b ra d o n o d o c u m e n to d e 1 7 9 5 .
tia m -s e à s d is p o s iç õ e s d a C o ro a , m a s a tra d u z ia m s e g u n d o s e u s p ró p rio s A r ig o r, o r e q u e r e n t e s o lic ita v a a o g o v e r n a d o r e a o c a p itã o g e r a l, q u e
in te r e s s e s . A o f a z e r iss o , r e c o n h e c ia m q u e h a v ia u m lu g a r, u m a in s tâ n c ia lh e fo s s e c o n c e d id a u m a s e s m a r ia n u m a d e te r m in a d a f re g u e s ia e p a ra g e m
ú ltim a d e d e c is ã o p a r a a c o n s a g r a ç ã o d e u m d o m ín io : a c h a n c e la re a l. O d a c a p ita n ia . R e c e b id o o r e q u e r im e n to , e s te e ra e n c a m in h a d o a o o u v id o r
d o c u m e n to d a í a d v in d o n ã o e ra im p o r ta n te , n e m a o m e n o s n e c e s s á rio p a ra d a c a p ita n ia p a ra , " n a q u a lid a d e d e c h a n c e le r e m in is tr o d a J u n ta d a F a ­
s e r u s a d o n a e x p u ls ã o o u m e s m o n o e x te rm ín io d e c o m u n id a d e s d e la v ra ­ z e n d a , m a n d a r p r o c e d e r à s a v e r i g u a ç õ e s e d i l i g e n c i a s d a l e i " .'“ ’ A s a l e g a ç õ e s
d o r e s p o b re s , m a s e r a f u n d a m e n ta l p a r a c o n s a g r a r s e u p o d e r, o d o m ín io e ra m b a s ta n te d iv e rs a s . E m a lg u m a s o c a siõ e s , o p le ite a n te c o m u n ic a v a q u e
s o b re a s s u a s te r r a s , n a s e v e n tu a is d is p u ta s c o n tra s e u s p a re s o u c o n tr a n ã o tin h a te rra s , m a s p o s s u ía m e io s d e c u ltiv á -la s (e s c ra v o s, s o b re tu d o );
la v r a d o r e s c o m a lg u m r e c u r s o p a r a ta m b é m s o lic ita r u m a s e s m a ria . e m o u tra s , o p e d id o v in h a a s s o c ia d o à s in fo r m a ç õ e s e m re la ç ã o à c o m jira
H á q u e se c o n s id e ra r, n o e n ta n to , q u e o c h a m a m e n to p r e s e n te n o A l­ o u h e ra n ç a d a q u e la s te r r a s e tin h a c o m o o b je tiv o ú ltim o a a q u is iç ã o d e
v a r á n ã o e r a r e s p o n d id o d e f o r m a m o n o c ó r d ia . P o r u m la d o , c o m o d iss e , " u m t í t u l o l e g í t i m o " . “" A s p r e c i s õ e s t e r r i t o r i a i s e r a m v a g a s e q u a s e s e m ­
m a lg r a d o o s i n ú m e r o s i n te r e s s e s e a s r e d e s lo c a is , s e s m e ir o s e p o te n c ia is p r e d e lim ita d a s p o r u m e le m e n to n a tu r a l: rio s , m o r r o s . E m a lg u m a s v e z e s ,
s e s m e ir o s tin h a m o m e s m o o b je tiv o : a c h a n c e la re a l p a ra a c o n s a g ra ç ã o d e p r in c ip a lm e n te q u a n d o s e c o n h e c ia o c o n fin a n te , o p e d id o v in h a a c o m p a
s e u d o m ín io . P o r o u tro , d in â m ic a s d ife r e n c ia d a s d e o c u p a ç ã o e in te re s s e s n h a d o d o s s e u s n o m e s e m r e la ç ã o à te r r a q u e s e q u e ria te r p o r s e s m a iia .
d is tin to s p r o d u z ir a m in ú m e r a s re s p o s ta s . E m o u t r a s o p o r t u n i d a d e s , o p e d i d o i n c l u í a t a m b é m a i n f o r m a ç ã o d e < |u e .t
te rra a se r c o n c e d id a d e v e ria se e s te n d e r a té o c o n h e c im e n to d e u m te rc e i­
D o encaminhamento da concessão ro , q u e a lim ita ria p o r fo rç a d e já s e r d o n o d e u m a p a rc e la c o n fr o n ta n te .
O g o v e r n a d o r e n t ã o e n c a m i n h a v a o p e d id o a o r iiín is tr o o fic ia l d a j u s t i ­
A s e x ig ê n c ia s e x p re s s a s n a s c a rta s d e m o n s tra m o e n s a io d a C o ro a e m ç a p a r a q u e d e s s e c o n h e c im e n to d e q u e o la v r a d o r h a v ia s o lic ita d o a q u e la
lim ita r e c o n tr o la r a c o n c e s s ã o d e te r r a s c o m o p ro c la m a ç ã o d e s e u p o d e r. á re a e s e p a s s a v a m d u a s v ia s d a q u e la c a rta . E ra m o u v id o s o s p r o c u r a d o r e s
M u ita s d e la s , c o m o j á d is s e , h a v ia m s id o o b je to s d e a lv a r á s e d e c re to s ré g io s ré g io s e a C â m a ra d a C id a d e , q u e s e m p r e r e f e r e n d a v a m o p e d id o . N o c a s o
d o R io d e J a n e ir o , h a v ia u m a c la r a d e te r m in a ç ã o n e s s e s e n tid o . P e la c a rta
38 Os lavradores são os que não podiam se intitular sesmeiros, já que não haviam consegui­ ré g ia d e 2 3 d e f e v e r e ir o d e 1 7 1 3 , o r d e n a v a - s e q u e " a s s e s m a ria s n a c id a d e
do um docum ento de sesmarias. Em meados do século XIX, aparecerá o termo posseiro,
d e v ia m s e r c o n c e d id a s p e la C â m a r a " .“^ A p a r t i r d o a c e ite d o s p r o c u r a d o r e s
só existente na língua portuguesa falada no Brasil. O termo nasce em contraposição à pa­
lavra sesmeiro, sendo posseiro, o lavrador sem título, independente da extensão de suas
e /o u d a C â m a ra , a c a rta e ra r e g is tr a d a n a s e c re ta ria d o e s ta d o . O p ro c e s s o
terras. Para uma análise sobre o tema, vide Márcia Motta. "Posseiros no oitocentos e a
construção do m ito invasor no Brasil. A coerção na ausência da lei'. In: Ângelo Adriano
et al (org.). Desvelando o poder. História de dominação: Estado, religião e sociedade. Rio de 40 Cirne Lima, op. cit.
Janeiro: Vício de leitura, 2007.
41 Discutirei com mais detalhe este aspecto mais adiante.
39 Porto, op. cit., p. 89.
42 Apud Cime Lima, op. cit., p. 43.
144 M árcia M aria M enendes M oita D ireito à terra n o Brasil 145

e ra d e s p a c h a d o p e lo C o n s e lh o U ltra m a rin o , q u e a tra n s c re v ia . P o s te rio r­ S e g u n d o M a r i a B e a t r i z N i z z a d a S i lv a , d e s d e o s é c u l o X V I , a C o r o a p r e ­


m e n t e , e la r e c e b e r ia a c h a n c e la d a C o r o a .“’ o c u p o u - s e " e m re g is tra r a s m e rc ê s c o n c e d id a s a o s v a s sa lo s n u m a te n ta tiv a
A s c a rta s d e s e s m a ria s p r e s e n te s n o s liv r o s d e r e g is tr o s s ã o a c ó p ia in te g r a l n ã o s ó d e e v ita r f ra u d e s c o m o d e c o n tr o la r u m p o s s ív e l e x c e s s o e m r e la ç ã o
d o s p e d i d o s a n t e r i o r m e n t e f e i t o s a o g o v e r n a d o r . N o s d o c u m e n t o s a v u l s o s , ““ a d e t e r m i n a d o s s ú d i t o s " . “^ A p ó s a c o n c e s s ã o , a s d o a ç õ e s e m e r c ê s t i n h a m
n o s q u a is se e n c o n tr a m o s v á rio s r e q u e r im e n to s , e n c o n tr a -s e ta m b é m u m a q u e s e r re g is tr a d a s p e lo e s c riv ã o d a C h a n c e la r ia e p a g o s o s e lo o u o s d ire ito s
e s p é c ie d e p a r e c e r d o ju iz lo c a l, q u e a te s ta q u e m e d iu , d e m a r c o u e d e u p o s s e a li e x ig id o s . A in d a s e g u n d o a a u to r a , a s m e r c ê s f o r a m r e g u la m e n ta d a s p e lo
a o s e s m e iro . E m o u tra s o c a s iõ e s , h á u m p a r e c e r d o c a rtó rio in fo r m a n d o q u e R e g im e n to d e M e rc ê s d e 1 6 7 1 , c o m p le ta d o p e lo A lv a rá d e 1 5 d e a g o s to d e
c o n s ta m d o re g is tro a m e d iç ã o e a d e m a r c a ç ã o d a s e s m a ria . 1 7 0 6 e ta m b é m p e lo A lv a rá d e 2 8 d e a g o s to d e 1 7 1 4 , r e ite r a n d o o re g is tro
O d o c u m e n to d a C h a n c e la ria r e la tiv o à c o n c e s s ã o d e s e sm a ria s e x ­ o b r i g a t ó r i o " p a r a q u e n ã o s e p e r c a a m e m ó r i a d e t o d a s a s m e r c ê s q u e f iz e r ,
p re s s a o v o c a b u lá rio d o A n tig o R e g im e . " H e i p o r b e m fa z e r-lh e m e rc ê d e n e m a m i n h a F a z e n d a n e m a s p a r t e s t e n h a m p r e j u í z o a l g u m " . “®
c o n f ir m a r c o m o p o r e s ta c o n f ir m o ... M a n d o a o m e u v ic e R e i... p r o v e d o r E m n o m e d a C o ro a , in s titu ía -s e u m d o c u m e n to d e p r o p rie d a d e , s e m
d a R e a l F a z e n d a , m a is M in is tr o s e P e s s o a s ... q u e c u m p r e m e g u a rd e m c o m p r o v a ç ã o a lg u m a e m re la ç ã o à m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o d a s te r r a s e
e s ta M in h a C a r ta d e C o n f i r m a ç ã o e a f a ç a , c u m p r i r e g u a r d a r " .“’ A c h a n ­ o c u ltiv o , a p e n a s u m p a re c e r a n e x a d o a o r e q u e r im e n to , n o q u a l o ju iz
c e la e ra , a s s im , o c u lm in a r d e u m p r o c e s s o b u r o c r á tic o p a r a a c o n c e s s ã o o u ta b e liã o a te s ta v a a m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o d a s te r r a s a n te r io r m e n te
d e te rra s . fe ita s . O e n c a m in h a m e n to b u ro c rá tic o h a v ia p r e s s u p o s to q u e o s e s m e i­
O R e g is tro d a s M e rc ê s fo i in s titu íd o p e lo A lv a rá d e 3 1 d e d e z e m b r o d e r o tiv e s s e d e f a to c u m p r id o a s d e te r m in a ç õ e s d o s a lv a r á s e p r o v is õ e s
1 5 4 7 p a r a q u e fic a s s e m a s s e n te s e m liv r o s to d a s a s r é g ia s . E m o u tr a s p a la v ra s , a C h a n c e la r ia r e c o n h e c ia u m d ir e ito e r e ­
fe re n d a v a u m p ro c e sso a n te rio r q u e , e m te s e , c o rre s p o n d ia a o c u m p r i­
d o a ç õ e s d e t e r r a s , a l c a i d a r i a s - m o r e s , r e n d a s , j u r is d iç õ e s , c a r ta s m e n to d a s d e te rm in a ç õ e s e x p re s s a s n a le i. N e s s e s e n tid o , a d e s p e ito d o
e p r o v is õ e s d e c o m e n d a s , c a p it a n ia s , o f íc io s e c a rg o s d a j u s t iç a a d e n s a m e n to d o s c o n flito s e d a s d e n ú n c ia s q u e c h e g a v a m a o C o n s e lh o
e d a f a z e n d a , t e n ç a s , p r iv i lé g i o s , l ic e n ç a s p a r a s e v e n d e r e m e U ltr a m a r in o , a c o n c e s s ã o m a n tin h a - s e a in d a a tr e la d a à n o ç ã o d e q u e e la
t r e s p a s s a r e m o f íc io s e t e n ç a s a o u t r a s p e s s o a s , f il h a m e n t o s d e e ra - a n te s d e tu d o - u m a c o n c e s s ã o p o lític a , e n ã o te r r ito r ia l. A C o ro a
f ilh o s , p a r e n t e s e c r ia d o s , a c r e s c e n t a m e n t o s d e f o r o s e m o r a ­
c o n s a g ra v a u m d o c u m e n to - a c a rta d e s e s m a ria - , e x p re s s ã o d o p o d e r
d ia s , a ju d a s d e c a s a m e n t o , q u i t a s e m e r c ê s d e d i n h e i r o .““
d o s te r r a te n e n te s q u e , a o se s u b m e te re m a o s p r o c e d im e n to s le g a is p a ra
a c o n c e s s ã o , tiv e ra m p o r g ra ç a u m d o c u m e n to d e p r o p rie d a d e .
N u n c a é d e m a is le m b ra r ta m b é m q u e o p ro c e s s o d e m e d iç ã o e ra u m a
43 A Chancelaria era um "serviço da Secretaria onde eram elaborados e expedidos os diplo­ t a r e f a e x t r e m a m e n t e o n e r o s a . “’ N o p r i n c í p i o d o s é c u l o X V n i , u m a c a r t a r é g i a
mas régios, desde o início da monarquia. As amplas e variadas atribuições do chanceler-
e n v i a d a a o s o f ic i a i s p a r a o s o f ic i a i s d a C â m a r a d o P a r á i n f o r m a v a :
-mor foram definidas nas 'Ordenações Afonsinas' e nas 'Manuelinas'". José Serrão st a l
Roteiro de fontes de historia portuguesa contemporânea, vol. 1. Lisboa: Instituto Nacional de
Investigação Científica, 1984, p. 159.
44 Refiro-me ao fundo documental do Arquivo Histórico Ultramarino, ()ue c dividido por ca­ 47 Maria Beatriz Nizza da Silva. Ser nobre na colônia. São Paulo; Editora Unesp, 2005, p. 77.
pitanias, nos quais estão presentes os requerimentos. São esses os docuiiienlos digitalizados 48 Ibidem.
pelo Projeto Resgate, com exceção dos do Rio de Janeiro, ainda em fase de conclusão.
49 Ainda nos anos 50 do século XIX, quando das percepções sobre o fracasso da Lei de
45 ANTT. Chancelaria de D. Maria I livro 50, p. 226V a 227 V. Terras, muitos insistiam neste ponto: a ausência de agrimensores para demarcar antigas
46 ANTT. Secretaria das Mercês/Registo Geral de Mercês, llisloii.i A<liMÍnlslialiv.i. sesmarias e terras ocupadas por posse. Para tanto, vide Márcia Motta. Nas fronteiras do
146 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 147

Eu, El-Rey vos envio muito saudar. Viu-se a vossa Carta de oito a n te r io r . A e x ig ê n c ia d e d e m a r c a ç ã o p r e s e n te n a c a r ta in te g r a d a a o liv r o
de março deste ano em que representas os inconvenientes que d e r e g is tr o im p u n h a u m a a ç ã o q u e e m te s e já d e v e r ia te r s id o c u m p r id a
se vos oferecem para se medirem por corda as datas das terras q u a n d o d o e n c a m in h a m e n to d o r e q u e r im e n to . A s s im , e m m u ito s c a so s e ra
de sesmaria dessa Capitania pelas margens dos Rios assim pela o q u e h a v ia s id o fe ito , a in d a q u e , c o m o s a b e m o s , s e m a in d ic a ç ã o d e té c ­
dificuldade que há para se pôr em prática como pelos grandes
n ic o s p a r a a d e lim ita ç ã o p r e c is a d o lo c a l d a s e s m a ria s o lic ita d a . E m m u ito s
gastos que as partes são de fazer nesta forma de medir por se­
o u tro s , n o e n ta n to , a o p e d id o d e c o n firm a ç ã o n ã o v in h a a n e x a d o q u a lq u e r
rem partes aonde só os índios naturais podem andar descalços
e muitas vezes com a água pela cintura.’® d o c u m e n to q u e a te s ta s s e a m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o .
E m 1 7 9 8 , p o r e x e m p lo , Q u ité r ia M a ria d e J e s u s s o lic ito u u m a lé g u a e m
q u a d r a e m C a c h o e ir a d e M a c a c u , R io d e J a n e ir o . S e g u n d o a s d is p o s iç õ e s
E n te n d e - s e a s s im c o m o e r a p o s s ív e l r e f e r e n d a r - n o lim ite - u m d ir e ito
ré g ia s , " e a n te s d e to m a s p o s s e d e la s a s f a r á m e d ir e d e m a r c a r ju d ic ia lm e ii-
s e m a te n ta r p a ra a s d ife re n ç a s e n tr e o p e d id o in id a l d a c o n c e s s ã o e o d e c i­
te , s e n d o p a ra e s s e e fe ito n o tif ic a d a s a p e s s o a s c o m o q u e m c o n f r o n ta r " .’ '
d id o p e la C h a n c e la ria . E m 1 8 d e n o v e m b r o d e 1 7 9 0 , p o r e x e m p lo . D o m in ­
O s p a re c e re s m u ita s v e z e s p r e s e n te s q u a n d o d o e n c a r a in h a m e n io d o
g o s d e S o u z a M a ia s o lic ito u u m a s e s m a ria e m te r r a s d e v o lu ta s e m P a r a íb a
p e d id o d e c o n c e s s ã o i n f o r m a v a m q u e a te r r a h a v ia s id o m e d id a e d e m .ii
N o v a , d a p a r te d o N o rte d o R io G a v iã o . S u a c a r ta d e c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ­
c a d a . A s s im , p o r e x e m p lo , A n a F e lic ia n a d e P a iv a r e q u e r e u , c m I8 (H , a
ria lh e fo i c o n c e d ia e m 1 4 d e d e z e m b r o d e 1 7 9 5 .’' N o a n o s e g u in te , e m 1 3
c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ria s d e te r r a s q u e h a v ia m s id o c o n c e d id a s p e lo g o
d e a g o s t o d e 1 7 9 6 , e l e r e c e b e u a c h a n c e l a r e a l , c o n c e d e n d o - l h e u m a lé g u a
v e r n a d o r d e M in a s , s ita s n o te r m o d e S a b a rá . S e u r e q u e r im e n to fo i a io m
e m eia d e te sta d a e d u a s d e f u n d o s , q u a n d o e l e h a v i a s o l i c i t a d o u m a lég u a de
p a n h a d o p e lo p a re c e r e m itid o p e lo ju iz d e m e d iç õ e s d e s e sm a ria s . T o m a s
testada c o m o s m e s m o s f u n d o s . ” O q u e e s t a v a e m c a u s a e r a q u e D o m i n g o s
C o e lh o B a c e lla r, " f o r m a d o p e la U n iv e r s id a d e d e C o im b r a " , q u e in f o r m o u
M a ia h a v ia c u m p r id o o p r o c e d im e n to b u r o c r á tic o , a c e ite p o r u m a v ia d e
q u e , e m 2 5 d e s e t e m b r o d e 1 8 0 1 f o i a f a z e n d a d o L e i t ã o d o C u r v e l o , .liilg .i
m ú ltip la s m ã o s ; o g o v e rn a d o r g e ra l, o p r o c u r a d o r d a C o ro a , a C â m a ra d a
d o P a p a g a i o e a l i " m e d i u , d e m a r c o u e e m p o s s o u A n a F e l i c i a n a n a s u t i . is
C id a d e e o C o n s e lh o U ltra m a r in o . A s d ife r e n ç a s e n tr e a e x te n s ã o s o lic ita d a
c o n c e d i d a s e m s e s m a r i a s " . ’''
n o p e d id o e a q u e la r e f e r e n d a d a p e la C h a n c e la r ia n ã o m e r e c e r a m n e n h u m
E m 1 7 9 9 , A n to n io G o n ç a lv e s d e F ig u e ire d o d e m a n d o u u m a s e sm a
c o m e n tá rio q u a n d o d a c o n c e ssã o .
r i a d e m e i a l é g u a e m q u a d r a n a p a r a g e m P a c i ê n c i a , n o t e r m o d a v i la d e
H a v ia , n o e n ta n to , d e te r m in a ç õ e s m u it o v is ív e is n a s c a rta s d e c o n c e s ­
S ã o J o s é , c o m a r c a d o R io d a s M o r te s . J u n to a o s e u r e q u e r im e n to , h á u m
s õ e s. A p r im e ir a é o b v ia m e n te a e x ig ê n c ia d e s e p r o c e d e r a m e d iç ã o e d e ­
d o c u m e n t o d o t a b e l i ã o p ú b l i c o e j u d i c i a l c e r t i f i c a n d o q u e a q u e l a s l e r r .i s
m a r c a ç ã o d a á r e a s o li c it a d a , r e i t e r a n d o a l g o j á p r e s e n t e e m l e g i s l a ç õ e s a n ­
h a v ia m s id o m e d id a s j u d ic ia lm e n te e m 2 6 d e a g o s to d e 1 7 9 3 .” E n tr e la n
te r io r e s e o a r g u m e n to c e n tr a l d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , c o m o v im o s n o c a p ítu lo
lo s p e d id o s , e ra r e c o r r e n te a a p r e s e n ta ç ã o d e a lg u m tip o d e a te s ta d o q u e

poder: Conflito e direito à terra no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro; Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro/Vício de Leitura, 1998.
50 IHGB. Carta régia aos Offidaes da Camara do Pará sobre os inconvenientes que propoem 53 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Quitéria Maria de Jesus. Códice 165, fullM'.
para se medirem por corda as datas de terras de sesmaria daquella Capitania os quaes se 131/132.
lhe não admitem. Lisboa, 28/10/1705 {Arq. 1,2.25 - Tomo VI, p. 87], 54 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Requerimento de Ana Feliciana dos Santos. CI > 04 9
51 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Domingos de Souza Maia. Códice 164, folhas 151 0441.
115 V a 116. 55 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Requerimento de Antonio Gonçalves de Figueircdii
52 ANTT. Chancelaria D. Maria L Livro 50, p 226 V a 227 V. CD 044 0524.
148 MAr c u M aria M enendes M otta
D ireito à terra n o Brasil 149

c o n fir m a s s e q u e h a v ia m s id o c u m p r i d a s a s d e te r m in a ç õ e s r é g ia s r e f e r e n te s c o n s id e r a r q u e a e x ig ê n c ia d e d e lim ita r e d e m a r c a r a s t e r r a s v a i e s ta r p r e ­


à m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o d a s te r r a s s o lic ita d a s e m s e s m a ria s . s e n te e m to d a s a s s e s m a ria s d o p e río d o . N a m a io r ia d a s c a rta s , in c lu s iv e , h á
Q u a l a ra z ã o p a r a d e s c o n f ia r d o s p a re c e r e s d e ju íz e s e ta b e liã e s e m c la ra a le g a ç ã o d e q u e d e v e m s e r n o tif ic a d o s o s v iz in h o s . E m 2 5 d e o u t u b r o
re la ç ã o a o c u m p r im e n to d e m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o ? N ã o e s ta r ia m e le s a d e 1 7 9 6 , p o r e x e m p l o , M a n o e l B e n t o d a S i l v a F e r r e i r a s o l i c i t o u íó l é g u a d e
fa z e r ju s a o s s e u s c a rg o s , a te n to s a o s p r o c e d im e n to s re la tiv o s à a ç ã o d e t e r r a e m q u a d r a , n a f r e g u e s i a d e S . M i g u e l , t e r m o d a V ila N o v a d a r a i n h a ,
m e d ir e d e m a rc a r? p a r a g e m R i b e i r ã o d a B o a V is ta , M i n a s G e r a i s . S e g u n d o a c a r t a , e l e e r a " '[ . . . l
S e le m b r a r m o s d a s ila ç õ e s d e F r a n c is c o d e S o u s a C o u tin h o p o d e m o s a o o b rig a d o a d e m a rc á -la d e n tr o d e u m a n o a c o n ta r a d a ta d e s ta [ ...] s e n d o
m e n o s d e s c o n f ia r d a e fic á c ia d a q u e la s d e m a r c a ç õ e s . O s p a re c e r e s a n e x a d o s p a r a e s te e fe ito n o tific a d o s o s v iz in h o s c o m q u e m p a r tir p a r a a le g a r e m o q u e
a o s p e d id o s m u ita s v e z e s a p e n a s i n f o r m a v a m q u e fo i f e ita a m e d iç ã o e d e ­ fo r p o r b e m d e s u a ju s tiç a " .“ T a n to n e s s a s o lic ita ç ã o c o m o e m ta n ta s o u tr a s ,
m a r c a d o o t e r r itó r io , m a s n ã o h a v ia q u a l q u e r in d ic a ç ã o d e q u e h a v ia s id o o r e q u e r im e n to r e c o r d a v a o e s ta b e le c id o e m le i, c o n s a g r a d o p e la s O r d e n a ­
iililiz a d a té c n ic a j á c o n h e c i d a p e la g e o m e t r i a , n o s e n tid o d e p r e c is a r a á r e a ç õ e s F i l i p i n a s , o u s e ja , " o s s e s m e i r o s q u e t a i s t e r r a s o u b e n s d e s e s m a r i a h o u ­
a s e r d e m a r c a d a . A s s im , o s d o c u m e n to s r e v e la v a m u m a in te n ç ã o , o u m e ­ v e r e m d e d a r, s a ib a m p r im e ir o q u a is s ã o o u f o r a m o s s e n h o r e s d e la s .
lh o r, o c u m p r im e n to d e u m d e v e r q u e c a b ia a o ju iz , m a s n ã o a g e ô m e tr a s . A s e g u n d a e x ig ê n c ia r e c o r r e n te é a d o r e g is tr o n a C o n ta d o r ia d a .J u n ta
() q u e F ra n c is c o d e S o u s a C o u tin h o h a v ia d is c u tid o e r a q u e m e s m o q u e a d a R e a l F a z e n d a , e m o b s e rv â n c ia a o A lv a rá d e 3 d e m a r ç o d e 1 7 7 0 . T al e x i­
d e te r m in a ç ã o ré g ia fo ss e c u m p r ia d a , e la n ã o e r a c a p a z d e d is c r im in a r a s g ê n c ia e x p re s s a v a , s e m s o m b ra d e d ú v id a , a in te n ç ã o p r im e ir a d e a r r e c a d a r
le t ra s d o a d a s d a s a in d a liv re s o u j á c o n c e d id a s a o u tr e m . im p o s to s q u a n d o d o re g is tro d a c o n c e s s ã o .
A lg u n s g o v e r n a d o r e s p r o c u r a v a m d is c u tir a q u e s tã o . A n o s a n te s d a r e ­ O u tr a d e te rm in a ç ã o e v o c a d a é a q u e s e r e f e r e a o d ire ito a o s c a m in h o s
d a ç ã o d a p r o p o s t a d e F r a n c i s c o d e S o u s a C o u t i n h o , D i o g o L o b o d a S i lv a , p ú b lic o s e a p re s e rv a ç ã o d e m a d e ira s p a r a a c o n s tr u ç ã o d e n a u s . T h e o d o r a
e n tã o g o v e r n a d o r d e M in a s G e ra is , e m i t ir a u m p a re c e r , e m 1 7 6 4 , s o b re a M a r ia A lv e s d e O liv a e s e u s filh o s s o lic ita r a m , e m 1 3 d e s e te m b r o e m 1 7 9 7 ,
i r p r e s e n t a ç ã o d o s o f ic ia is d a C â m a r a d e V ila N o v a d a r a i n h a , a r e s p e ito d e te r r a s n a c a p ita n ia d o M a ra n h ã o , q u e lh e f o r a m c o n c e d id a s n o a n o s e g u in ­
s e s m a ria s . O d o c u m e n to e n v ia d o a o g o v e r n a d o r re v e la v a a p re s s ã o e a s d i­ te . N o e n ta n to , a s s im c o m o o s o u tro s s e s m e iro s , T h e o d o r a d e v e r ia d a r
fic u ld a d e s q u e o s o fic ia is e n c o n tr a v a m q u a n d o p r o c u r a r a m d e m a r c a r a s t e r ­
r a s d e s e s m a r ia s .“ U m a n o a n te s , r e p r e s e n t a n t e s d o s o f ic ia is d a C â m a r a d a [...] caminhos públicos e particulares aonde forem necessários
(fid a d e d e M a r ia n a ta m b é m h a v ia m e n v ia d o u m d o c u m e n to p e d in d o e s c la ­ para pontes, fontes, portos e pedreiras e havendo o sítio pedido
r e c im e n to s s o b re a f r o n te ir a te r r ito r ia l d a s te r r a s d is tr ib u íd a e m s e s m a ria s .” Rio Navegável que necessite de canoa, ou barca para sua pas­
M a s h á a in d a q u e s e d e s ta c a r o s e m b a te s e n tr e p o d e re s q u e se c o n s u b s ­ sagem ficará Uvre de uma das margens que tocar as terras dos
ta n c ia v a n a l u ta p o r f a z e r v a le r u m a d e te r m i n a d a p r e c is ã o te r r ito r ia l. A s s im , suplicantes meia légua de terra para uso público que se demar-
se p o r u m la d o h a v ia p a re c e r e s in f o r m a n d o q u e a s m e d iç õ e s e d e m a rc a ç õ e s
h a v ia m s id o r e a liz a d a s , p o r o u t r o h a v ia s e s m e ir o s q u e s o lic ita v a m o to m b a -
m e n to d e s u a s te rra s , r e c o r r e n d o d ir e ta m e n te à C o ro a . N o e n ta n to , é p re c is o
58 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. M anoel Bento da Silva Ferreira. Códice 165,
folhas 92 a 93.
56 AHC Projeto Resgate. Minas Gerais. Carta de Luis Diogo Lobo da Silva, 1764. Cx. 83,
59 Ordenações Filipinas, título XLIII: Das Sesmarias, p. 823. E mais adiante; "[...] e não
doc. 23.
podendo os Sesmeiros saber quais são so senhores das ditas terras e bens, façam apregoar
57 AHC Projeto Resgate. Minas Gerais. Representação dos Ofidais da Câmara da Cidade de nos lugares onde os bens estiverem, como se hão de sar de sesmaria, declarando onde
Mariana, 1763. Cx. 8 1 , doc 232. estão e as confrontações deles [...p .
ISO m á r c ia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 151

cará ao tempo da posse por uma corda e braças, craveiras como É p o s s ív e l q u e o le ito r c o n c lu a q u e a o c o rr ê n c ia c o n s ta n te d e e x ig ê n ­
é estilo e S. Majestade manda c ia s le g a is p r e s e n t e s n a s s o lic ita ç õ e s a p ó s 1 7 9 5 c o n f i r m e o c a r á t e r m o n ó ­
to n o d a s c a rta s d e s e s m a ria s . N o e n ta n to , p a ra a lé m d e s u a a p a re n te in s i­
B o n ifá c io d e O liv e ira Q u in ta n ilh a ta m b é m re c e b e u a in fo rm a ç ã o d e p id e z , e la s n o s r e v e la m a s p e c to s b a s ta n te e lu c id a tiv o s p a r a e n te n d e r m o s
q u e d e v e r ia r e s e r v a r p a r te d e s u a s te r r a s p a r a o s c a m in h o s p ú b lic o s . E m a s " le itu r a s " p o s s ív e is d a le i. É o q u e v e r e m o s a s e g u ir .
1 7 9 9 , e le s o lic ito u Vi lé g u a e m q u a d ra n o s ítio d o R io G r a n d e , f re g u e s ia d e P a ra e n te n d e r m o s e s te p o n to , é p re c is o e s q u a d r in h a r a s c o n c e s s õ e s d o
S a n to A n to n io d e S á , R io d e J a n e ir o . A n te s d e to m a r p o s s e d e la , n ã o s o ­ p e río d o m a r ia n o . P a ra ta n to , s e rá n e c e s s á rio r a s c u n h a r e m p rim e iro lu g a r
m e n t e d e v e ria m e d ir e d e m a r c a r ju d ic ia lm e n te , c o m o d e v e ria n o tif ic a r a s d if e r e n ç a s r e g io n a is e m r e la ç ã o à s s o lic ita ç õ e s e e x p lic a r o e n c a m in h a ­
m e n t o p a r a a s c o n c e s s õ e s . A p a r tir d a í, s e r á p o s s ív e l r e s s a lta r o s m ú ltip lo s
as pessoas com que confrontar, como deveria [preservarias ta- in te re s s e s p r e s e n te s n a s c a rta s .
pinhas e parobas deixando de as cortas para outro algum uso se
"que não seja da construção de naus [...] e cuidar das planta­
ções [...] naqueles mesmos lugares em que já as houverem ou
forem mais próprios para a produção das mesmas".

E le p r e c is a v a ta m b é m

[...] fazer os caminhos de suas testada com Pontes e estivas


onde necessário for e descobrindo-se nela rio caudaloso, que
necessite de barca para atravessar ficará reserva de uma das
margens dela meia légua de terra em quadra para comodidade
pública

O u tr a d e te r m in a ç ã o r e c o r r e n te é a q u e se re fe ria à r iq u e z a d o s u b s o lo .
A d a ta d e s e s m a ria e x c lu ía d a c o n c e s s ã o o s v iv e iro s o u m in a s d e q u a lq u e r
g ê n e r o d e m e t a l q u e f o s s e m a li d e s c o b e r t o s . A s d i s p o s i ç õ e s e x p r e s s a s v i ­
n h a m a c o m p a n h a d a s d e in tim id a ç õ e s p o r c o n ta d o d e s c u m p r im e n to . A s ­
s im , c a s o a s t e r r a s n ã o f o s s e m c o n fir m a d a s n u m p e r ío d o q u e v a r io u d e d o is
a q u a t r o a n o s , s e r ia m ju lg a d a s d e v o lu ta s . A lé m d iss o , o d e s c u m p r im e n to
d e ta is e x ig ê n c ia s c o rr e s p o n d e ria à a m e a ç a d e tra n s fe rê n c ia d a q u e la s te r r a s
a o s q u e h a v ia m d e n u n c ia d o a irre g u la rid a d e .

60 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Theodora Maria Alves de Oliva e menores.


Códice 165 folhas 26 e 26 V.
61 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Bonifácio de Oliveira Quintanilha. Códice
165, folhas 132/133.
AS CONCESSÕES NO PERÍODO MARIANO;
MAPEAMENTO E INDICAÇÕES REGIONAIS

o le v a n ta m e n to re a liz a d o ju n to a o s liv ro s d e c o n f ir m a ç ã o d e s e s ­

N m a ria s , e n c o n tra m o s o n ú m e ro a p ro x im a d o d e c o n c e s s õ e s p a ra o
p e r í o d o d e 1 7 9 5 a 1 8 2 2 , o u s e ja , d o p r im e ir o a o ú l t i m o liv r o d o p e r í o d
m a r ia n o .' N e s s e ín te r im , e n tr e a s c a p ita n ia s q u e tiv e r a m c o n f ir m a d a s o s
p e d id o s d e s e s m a ria s , d e s ta c a m -s e ;

C a r ta s d e sesm a ria s confirm a da s n o C o n se l h o U l t r a m a r in o ,


POR C a pita nia (1795-1822)

Capitania Total p o r C ap ita n ia


Rio De Janeiro 304
Maranhão 287
Minas Gerais 143
Piauí 61
Sáo Paulo 42
Pará 33
AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramarino.
17 9 5 /1 7 9 8 -C ód ice 164. 1798/1801-C ódice 165. 1801/1804-C ód ice 166. 1805 1 807-C ó-
dice 167. 1 8 07/1823-C ód ice 168.

E m p r im e ir o lu g a r, u m a le rta : a d is tr ib u iç ã o , p o r c a p ita n ia , fo i c o n s ­
tru íd a n a q u e la c o n ju n tu ra , e n ã o e m u m p ro c e s s o u lte r io r d e o r g a n iz a ­
ç ã o a rq u iv ís tic a . Q u a n d o d o p e d id o d e s e s m a ria s , o p le ite a n te in f o r m a v a
o lo c a l d e s u a te r r a d e fo rm a m u ito v a g a , p e r to d a f re g u e s ia X e /o u n o
s ítio Y, d a c o m a r c a H , e / o u n o te r m o X P T O . O p e d id o e r a e n c a m i n h a d o
a o c o n s e lh o p o r u m g o v e rn a d o r d e c a p ita n ia e e ra , p o r ta n to , e le q u e
c ir c u n s c r e v ia a s o lic ita ç ã o n o â m b ito d e s u a a u to r id a d e .

1 Discutirei o período de 1807 a 1823 no próximo capítulo, quando analisar a questão das
sesmarias no processo de transíerênda da Corte e Independência do Brasil.

153
154 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 155

A Amazônia: uma re^ão a ser descoberta E m 1 7 3 7 , 0 e s ta d o d o M a r a n h ã o p a s s o u a s e r in titu la d o e s ta d o d o


G r ã o - P a rá e M a r a n h ã o , e a c a p ita l fo i tr a n s f e r id a d e S ã o L u ís p a r a B e ­
N ã o h á s u rp r e s a s e m r e la ç ã o à c a p ita n ia d o M a ra n h ã o , ta m p o u c o lé m . A c a p ita n ia d o P ia u í fo i c ria d a e m 1 7 1 8 , r e s u lta d o d o d e s m e m b ra ­
a s r e f le x õ e s s o b r e e la d e v e m e s ta r, a p r in c íp io , s e p a r a d a s d a s r e la tiv a s m e n to d o M a ra n h ã o . S e u g o v e rn a d o r, p o ré m , só to m o u p o sse e m 1 7 5 8 .
à c a p it a n ia d o P a r á .^ N u n c a é d e m a is le m b r a r q u e , c o m o r e s u l ta d o d a N e sse s e n tid o , é p r o v á v e l q u e o s p e d id o s d e c o n firm a ç ã o d e s e s m a ria s
p o lític a p o m b a lin a p a r a a c a p ita n ia d o M a ra n h ã o , d e s e n v o lv e ra m -s e a li te n h a m s id o o r e s u lta d o d a s te n ta tiv a s d o s p ia u e n s e s d e le g a liz a r s u a
n o v a s c u ltu r a s . S e g u n d o S c h w a rtz , a C o m p a n h ia G e ra l d o C o m é rc io d o o c u p a ç ã o , e m r a z ã o d o s litíg io s p o r te r r a s o c o rr id o s e m te m p o s p r e té r i­
G rã o -P a rá e M a r a n h ã o e s tim u lo u a p ro d u ç ã o d e a lg o d ã o .’ N e s s e s e n ti­ to s e p r o v a v e lm e n te r e a tu a liz a d o s q u a n d o d a n e c e s s id a d e d e tra n s m is
d o , " a c o m b in a ç ã o d e p r o d u ç ã o d e a r r o z e a lg o d ã o , n a s u a m a io r p a r t e s ã o d e p a tr im ô n io . C o m o s e s a b e , a e x tin ç ã o d e fin itiv a d a s c a p ita n ia s
b a s e a d a e m t r a b a lh o e s c r a v o , te v e o e fe ito d e tr a n s f o r m a r o a s p e c to h e re d itá ria s e o lo n g o p r o c e s s o d e r e in c o rp o r a ç a o d a s te r r a s a o p a ir im ô
s o c ia l d a r e g iã o " .“ N ã o te r ia s id o à to a , p o r ta n to , a p r o c u r a p o r p a r t e d e n io ré g io in d ic a m u m a d in â m ic a d e m a p e a m e n to e c o n tr o le d o te r r itó r io
a lg u n s s e s m e ir o s e m le g a liz a r a s p r o p r ie d a d e s a li lo c a liz a d a s . e, p o r c o n s e g u in te , d e u m a p o lític a a d m in is ta tiv a m a is a n c o ra d a n o s
É p o s s ív e l p e n s a r a in d a q u e a d in â m ic a e c o n ô m ic a d a c a p ita n ia t e ­ i n t e r e s s e s m e t r o p o l i t a n o s . N e s s e s e n t i d o , a c r i a ç ã o d a c a p i t a n i a d o P i .u n
n h a p r o p o r c io n a d o u m in c r e m e n to d a p r o d u ç ã o d e s u b s is tê n c ia e m te r r a s e s u a e fe tiv a p o s s e e m 1 7 5 8 p e lo g o v e r n a d o r J o ã o P e r e ir a C a ld a s , u m
liv re s , p o is " a e x p a n s ã o d o s e to r d a s e x p o rta ç õ e s le v o u a o a u m e n to d a s p o r tu g u ê s n a s c id o e m V a le n ç a , tiv e r a m c o m o r e s u lta d o a b u s c a d o líiu lo
á r e a s u r b a n a s e e s ta s s e rv ira m c o m o m e rc a d o s in te r n o s q u e e x ig ia m f o r n e ­ le g ítim o d o s p o te n ta d o s r u r a is a li lo c a liz a d o s .
c im e n to s à e c o n o m ia r u r a l e a o s c o m é rc io s c o lo n ia is " .’ P o r c o n s e g u in te , é Is s o s ig n if ic a d iz e r q u e n o s é c u lo X V III, a té 1 7 7 2 , o c o n ju n t o d e s t.i re
c o e r e n te s u p o r q u e a o c u p a ç ã o p o r p o s s e s d e la v ra d o re s p o b r e s te n h a s id o g i ã o c o n h e c i d a c o m o a A m a z ô n i a e r a p a r t e i n t e g r a n t e d e u m a p o l í i i i .i p .ii .i
m a is u m e l e m e n t o p a r a j u s t if i c a r a b u s c a p e la le g a liz a ç ã o d a p r o p r i e d a d e a re g iã o d o N o r te d o B ra s il. A s p o lític a s p o m b a lin a s p a r a a r e g iã o , id iu n i
p o r a lg u n s s e s m e ir o s . fic a d a s n a c ria ç ã o d a C o m p a n h ia d e C o m é r c io d o G r ã o - P a rá e M a r a n h a o ,
O c a s o d o P i a u í é p a r t i c u l a r m e n te in te r e s s a n te . N o s é c u lo X V II, a r e g iã o e n a c r i a ç ã o d a c a p i t a n i a d e S ã o J o s é d o R i o N e g r o n o m e s m o a n o , I 0 'i '. ,
e s ta v a in s e r id a n o E s ta d o d o M a ra n h ã o , q u e se c o n s titu ía n u m a u n id a d e i m p u l s i o n a r a m a r e g i ã o , i m p o n d o u m a d i n â m i c a d e o c u p a ç ã o t e r r i l o i i.il
a d m in is tr a tiv a d e s d e 1 6 2 1 , c o m p r e e n d e n d o as re g iõ e s d e M a r a n h ã o , P a rá , q u e e x p re s s a ria a o s p o u c o s in te n s a s d is p u ta s p o r te rra s .
P ia u í e C e a r á . N o p e río d o , h a v ia u m a ú n ic a o u tra u n id a d e a d m in is tr a tiv a , D e s ta c a m -s e ta m b é m o s p o u c o s p e d id o s d e c o n fir m a ç ã o p e lo g o v e n i.i
o E s ta d o d o B ra s il, c o m s e d e e m S a lv a d o r, B a h ia . d o r d a c a p ita n ia d o P a rá - F ra n c is c o M a u ric io d e S o u s a C o u tin h o . E m 2 0 d e
a g o s to d e 1 7 7 2 , o M a r a n h ã o h a v ia s e to r n a d o u m a c a p ita n ia in d e p e n d e iiie
d o P a r á . N o s a n o s s e g u in te s , o s p e d id o s d e c o n f ir m a ç ã o s e a d e n s a m p a i;i
2 Sobre o olhar ponuguês em relação ao território da Amazônia, vide Rafael Chambou-
a q u e la c a p it a n ia e m r e l a ç ã o a o P a r á , q u e s e m a n t é m c o m p o u c a p r e s e n ç .i
leyron. "Plantações, sesmarias e vilas: Uma reflexão sobre a ocupação da Amazônia seis­
centista". Nuevo Mundo Mundos Nuevos, n. 6 ,1 4 maio 2006. Disponível em; http://nuevo-
n o q u a d r o g e ra l d a s c o n f ir m a ç õ e s . T a lv e z a s c rític a s f o r m u la d a s p o r F r a n ­
mundo.revues.org/document2260.html. c is c o d e S o u s a C o u t i n h o t e n h a m c o r r e s p o n d i d o a u m a d e c i s ã o d e c o n t r o l a r
3 Stuart Schwartz. "De ouro a algodão: a economia brasileira no século XVIU". In: m a is e f e tiv a m e n te a c o n c e s s ã o d e te r r a s n a r e g iã o . A fin a l, e le f o ra a li g o ­
Francisco Bethencourt; Kirti Chaudhuri (dir.). História da expansão portuguesa, vol. III: v e rn a d o r e n tr e o s a n o s d e 1 7 9 0 a 1 8 0 3 . D e q u a lq u e r fo rm a , a c a p ita n ia d o
O Brasil na balança do Império (1697-1808). Lisboa: Círculo de Leitores, p. 95.
P a rá a in d a é p o u c o p o v o a d a n a q u e le p e r ío d o , o q u e ta m b é m e x p lic a ria a s
4 Ibidem.
p o u c a s s o lic ita ç õ e s d e c o n f ir m a ç ã o d e s e s m a ria s .
5 Ibidem, p. 101
156 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 157

P e d id o s d e c o n f ir m a ç ã o d e s e s m a r ia s - P a r á (1790/I803 e I804/1807) noas de flotilha da Guarda Costa, mandou reparar a fortaleza


de S. José do Macapá e construir fortes na barra dos rios que
P e d id o D e desaguavam na margem setentrional do rio Amazonas, mu­
Ano P e r ío d o
C o n firm ação dou a população de Mazagão para o Macapá. Paralelamente,
1 7 9 0 /1 8 0 3 13 A n o s 16 ordenou que se procedesse ao reconhecimento e levantamento
1 8 0 4 /1 8 0 7 4 A nos 17 topográfico do litoral.’
T o ta l 33
AHU. Livro de Registro de Cartas de Sestnarias confirmadas do Conselho Ultramarino. Capi­ C o m p r e e n d e - s e a s sim o s e e n s a io s d o g o v e r n a d o r e m c o n tr o la r a s
tania do Pará. 1795/1798 - Códice 164. 1798/1801 -C ó d ic e 165. 1801/1804 - Códice 166. f r o n te ir a s , p r in c ip a lm e n te a p a r tir d o f im d o s é c u lo X V III, q u a n d o d a
1805 1 8 0 7 -C ód ice 167. 1807/1823 - Códice 168.
a lia n ç a e n tr e o s in te r e s s e s e s p a n h o l e f ra n c ê s e a s in v e s tid a s e m d ire ç ã o
à A m a z ô n ia . P o r c o n ta d is s o , é ra z o á v e l s u p o r q u e F r a n c is c o M a u r íc io d e
H á q u e se c o n s id e ra r a in d a a q u e s tã o d a f ro n te ir a e o fa to d e q u e S o u s a C o u tin h o te n h a s id o c u id a d o s o n a c o n c e s s ã o d e s e s m a r ia s , d o c u ­
d u r a n te m u ito te m p o o N o rd e s te a m a z ô n ic o " fo i c o n s id e r a d o c o m o te n d o m e n to q u e c o n fig u ra ria a p ro p rie d a d e d e d e te r m in a d a á re a . É a c e itá v e l
u m v a lo r e c ó n o m ic o n u lo p a r a o s c o lo n iz a d o r e s " .^ D e q u a lq u e r f o rm a , a in d a p o n d e r a r q u e a p o lític a d o g o v e r n a d o r e n c a m i n h o u - s e n ã o n a c o n ­
o p ro b le m a d a fro n te ir a e n tr e re g iõ e s tin h a re la ç ã o d ire ta c o m o jo g o d e c e s s ã o d e s e s m a ria s , já q u e "a p re s e n ç a e u r o p e ia n ã o s e ria s u fic ie n te p a ra
p o d e r e n t r e P o r tu g a l e E s p a n h a . F o i e m m e a d o s d o s é c u lo X V III q u e a s a s s e g u r a r u m a c o l o n i z a ç ã o e s tá v e l" .'® A o s e a p o i a r n o p r i n c í p i o d o d i r e i t o
d u a s p o tê n c ia s ib é ric a s o p ta r a m p o r r e a liz a r tra n s fe r ê n c ia s d e te rritó rio s . r o m a n o p a r a le g itim a r s u a s p r e te n s õ e s n a q u e la s á re a s , o u s e ja , o d ir e ito
E x p lic a -s e a s s im a " c e d e n c ia d o S a c r a m e n to a tr o c o d a m a io r p a r te d o d e u ti po ssid etis, a C o r o a e F r a n c i s c o M a u r í c i o t r a n s f o r m a r a m o s í n d i o s
E s t a d o d o G r ã o - P a r á e p o r M a t o G r o s s o , C u i a b á , e p a r t e d e G o i á s " .^ T a l e m v a s s a lo s ( tr a n s f e r in d o - o s p a r a lo c a is t a t ic a m e n te s ig n if ic a tiv o s , s e n e ­
a c o rd o e ra o r e s u lta d o d e u m a m u d a n ç a d e p e rc e p ç ã o s o b re o N o rte A m a ­ c e s s á rio ), p a ra e v o c a r a q u e le p r in a p io r o m a n o e a f ir m a r s u a s o b e r a n ia e
z ô n ic o , a g o ra v is to c o m o u m a " f o n te in e s g o tá v e l d e r e c u r s o s n a tu r a is , a s a u to r id a d e s s o b re o te r r itó r io ."
'd r o g a s d o s e r t ã o ' o u o s f r u t o s d o P a r á , b e m c o m o d o i n t e r i o r d o B r a s i l e
d a s s u a s t e r r a s a u r í f e r a s " .®
É i m p o r ta n t e r e f le tir a in d a a c e r c a d o p a p e l d e M a u r íc io d e S o u s a C o u ti-
n h o n a c o n s a g ra ç ã o d a fro n te ira n o P a r á . S e g u n d o  n g e la D o m in g u e s ,

Na geo-política de D. Francisco Maurício de Sousa Coutinho


era vital a defesa do litoral paraense e dos rios, que vindos do
norte - da Caiena -, pudessem dar acesso ao território luso-
-brasileiro. Assim aumentou o patrulhamento da costa por ca­

Ângela Domingues. Quando os índios eram os vassalos. Colonização e relações de poder no


Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII, Lisboa: Comissão Nacional para as
Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000, p. 203. 9 Ibidem, p. 209.
Ibidem. 10 Ibidem, p. 212.
Ibidem. 11 Ibidem.
158 M árcia M ama M enendes M otta D iREITO k TERRA NO BRASIL 159

A capitania rebelde: sesmarias em Minas Gerais la d a s p e lo re i. U m o lh a r m a is a te n to re fo rç a a h ip ó te s e a q u i d e lin e a d a . A s


c o n c e ssõ e s d o s a n o s a n te rio re s e ra m o r e s u lta d o d o in te n s o p ro c e s s o d e
V e j a m o s c o m m a i s d e t a l h e s a t r a j e t ó r i a d e o c u p a ç ã o d e M i n a s G e r a is . p r o c u r a p o r o u r o . S e é c o e r e n te p e n s a r , c o m o d e fe n d e L a u r a d e M e llo e
S o u z a , q u e a c a p ita n ia d e M in a s d ife ria b a s ta n te d a s " c a p ita n ia s m a is a n ­
M a p a g e r a l d a s se s m a r ia s . M in a s G er ia s , 1768 tig a s d a A m é r ic a P o r tu g u e s a " , o p r o c e s s o d e c o n c e s s ã o d e s e s m a r ia s n ã o
p o d e r ia s e g u ir o r u m o d a s d e m a is u n id a d e s a d m in is tr a tiv a s . S e a li e r a o
m u n d o im p ro v is a d o q u e d e s p re z a v a tra d iç õ e s c o n s a g ra d a s e r e in v e n ta v a
p r o c e d i m e n t o s , '^ a s d o a ç õ e s c o r r e s p o n d i a m à c o r r i d a p o r r i q u e z a , a o p r o ­
c e s s o d e in v e n ta r a le g a lid a d e d e u m a d e te r m in a d a o c u p a ç ã o . E x p lic a -s e
a s s im u m a c o n s u lta fe ita p e lo C o n s e lh o U ltra m a r in o s o b re " a s d e s o rd e n s
c ria d a s p e lo s m in is tr o s p e la p r á tic a d e d a r p o s s e d a s te r r a s a o p ú b lic o s e m
a s f o r m a l i d a d e s " , e n c a m i n h a d a e m 1 7 6 1 , ’'* e o a l e r t a d e M a t i a s F r a n c i s c o
M e lo d e A l b u q u e r q u e q u e , c o m o j u i z o r d in á r io d a V ila R ic a , e m i t iu u m
p a r e c e r s o b r e a o c u p a ç ã o i l e g a l d e s e s m a r i a s e m M i n a s G e r a i s e m 1 7 5 9 . '''

P e d id o s d e c o n fir m a ç ã o d e s e m a r ia s , p o r r e g is t r o . M in a s G e r a is

A n o s ba se d a solicitação P e d id o s d e c on firm ação


d ò s liv ro s d e registros d e sesm arias
1795-1798 5
1798-1801 55
1801-1804 69
1805-1807 14

FONTE: AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramarino.


1 8 0 1 /1 8 0 4 - Códices 164/165/166/167.

Fonte: AHU: Projeto Resgate/Mínas mapa estatístico sobre demografia, sesmarias dízimos,
direitos das entradas, 1768. Caixa 93, documento 58. Agradeço a Francisco Eduardo Pinto 12 Souza, Laura de Mello e Souza. O Sol e a sombra. Política e administração na América
pela localização do documento. Portuguesa do século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 148.
13 Idem, p. 168.

À p r im e ir a v is ta , o s d a d o s a c im a c o n tr a ria m a s in fo rm a ç õ e s o r iu n d a s 14 AHU. Projeto Resgate/Minas Gerais. Consulta do Conselho Ultramarino. 1761. Cx. 79,
doc. 71.
d o s liv r o s d e c o n firm a ç ã o d e s e s m a ria s d o p e río d o m a r ia n o . P o r a q u e le s
15 AHU. Projeto Resgate/Minas Gerais. Carta de Matias Francisoc M elo de Albuquerque,
liv ro s , f o r a m p o u c a s a s s e s m a ria s c o n fir m a d a s e p r o v a v e lm e n te c h a n c e ­
1759. Cx. 74, doc. 65.
I<S0 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 161

E m s e u e s t u d o 'C o n t r i b u i ç ã o p a r a a H i s t ó r i a A g r á r i a d e M i n a s G e r a i s c o m é r c i o p o r t u g u ê s c o m a c o l ô n i a [e ] p e r m i t i r a m à m e t r ó p o l e r e s o l v e r o
- s é c u lo X V III e X IX " , G a r r a r a d e m o n s t r o u q u e a s c o n c e s s õ e s e m M in a s p r o b l e m a d o b a l a n ç o d e f i c i t á r i o c o m o r e s t o d a E u r o p a " . '*
d e v e m s e r c o n s id e r a d a s c o m o g a r a n tia s a p o s s e s já la n ç a d a s o u a te r r a s já D e to d o m o d o , é p o s s ív e l q u e a s o s d la ç õ e s d e d is tr ib u iç ã o d e s e s m a ria s
c o m p ra d a s . N e s s e s e n tid o , e m M in a s G e ra is t e n h a m s id o r e s u lta d o d o in te n s o p r o c e s s o d e m e r c a n ti-
l i z a ç ã o d a t e r r a n a r e g i ã o . L o g o , é f a c t ív e l c r e r q u e d e s d e c e d o s e f o r m o u
o objetivo da política adotada pelo governo da Capitania na n a r e g iã o " u m e x te n s o m e r c a d o d e te rra s , d a d a s a s c o n d iç õ e s p e c u lia re s d a
década de 1730 e 1740 (Ordem Régia de 14 de abril de 1738 c i r c u l a ç ã o m o n e t á r i a r e a l i z a d a p e l a m i n e r a ç ã o " . '^
e Bando de 13 de maio de 1738) tornando nulas todas as pos­ A i n d a s e g u n d o C a r r a r a , a s c o n c e s s õ e s d e s e s m a r i a s t i n h a m u m s ig n i f ic a d o
ses que se lançassem depois da publicação destas normas não d i f e r e n t e n o s n ú c l e o s m i n e r a d o r e s o r ig i n a is e o s c u r r a i s . N o p r i m e i r o c a s o ,
era outro senão o de legalizar as posses. Dever-se-ia atentar de
imediato para o fato de os peticionários alegarem indistinta­
as sesmarias foram instrumentos secundários de legitimação
mente ora o título de p r im e ir o p o v o a d o r (o que traduzia em bom
da propriedade, visto que a velocidade com que as terras eram
português o j u s p r i m i o c c u p a n tis ), ora o ter comprado a terra
compradas e vendidas diminuíam a necessidade de recurso às
de um p r im e ir o p o v o a d o r . Em ambos os casos, o lançamento de
petições. O ritmo da mudança dos proprietários das terras ocu­
posses estava na origem do acesso à propriedade.
padas se dava em grau máximo devido à máxima circulação de
moeda (ouro em pó) nessa região.^“
O in te n s o p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o d a q u e le te r r itó r io , i n ti m a m e n t e lig a d o
à d e s c o b e r ta d e o u r o , e x p lic a , a o m e n o s e m p a r te , p o r q u e e m M in a s , o d i­ N o s c u rra is , a c ir c u la ç ã o m o n e tá r ia e ra m e n o r , " d a í o lu g a r d ife r e n ­
r e ito d o p r im e ir o p o v o a d o r, d o a to d e to m a r p o s s e , fo i r e c o n h e c id o e m e s ­ te o c u p a d o p e la s s e s m a r ia s n e s s a s re g iõ e s : e la s c o n s o lid a v a m u m d o m ín io
m o s e s o b re p ô s à c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s , d u r a n te u m p rim e iro m o m e n to , m a is d u r a d o u r o , n a fa lta d e o u tr o s in s tr u m e n to s le g a is , c o m o a s e s c r itu r a s
p a ra se to r n a r p ro ib itiv o m a is ta r d e . O s " c a m in h o s d a s d e s c o b e rta s " , d e d e c o m p r a e v e n d a " .^ '
A n to n io R o d rig u e s A rz ã o , e m 1 6 9 3 , d e B a r to lo m e u B u e n o d e S iq u e ira , e m T a lv e z is s o n o s a ju d e a e x p lic a r o e x p r e s s iv o a u m e n t o d e p e d id o d e
1 6 9 6 , e d e B o rb a G a to im p u ls io n a r a m u m p ro c e s s o im ig ra tó rio d e e n o rm e s c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ria s p a ra a re g iã o d e M in a s n o s d e rra d e iro s a n o s d o
p r o p o rç õ e s . A in d a q u e n ã o s e s a ib a " a d a ta e o lo c a l e x a to s d a d e s c o b e r ta s é c u lo X V III e in íc io d o s e g u in te
d o p r i m e i r o f i l ã o a u r í f e r o , '^ o c e r t o é q u e a e x p e c t a t i v a d e e n r i q u e c i m e n t o E m o u tr a s p a la v r a s , a d e c is ã o d a C o ro a e m e x ig ir a c o n fir m a ç ã o ré g ia ,
le v a r a m u ltid õ e s d e p e s s o a s e m b u s c a d a c o n c re tiz a ç ã o d e u m s o n h o . A lé m v ia C o n s e lh o U ltra m a rin o , te ria o c a s io n a d o u m a m a io r p re o c u p a ç ã o d o s
d is s o , o a u m e n to d a p r o c u r a d e e s c r a v o s im p u ls io n o u e p e r m itiu a a b e r ­ s e s m e ir o s m in e ir o s e m c u m p r ir a q u e la d e te r m in a ç ã o . A lé m d is s o , ta m b é m
t u r a d e n o v o s m e r c a d o s d e c a tiv o s . A d e m a is , é p r o v á v e l q u e a C o ro a n ã o d e v e m o s c o n s id e ra r q u e a s s e s m a ria s n ã o se e te r n iz a v a m n u m a m e s m a
t e n h a tid o in te r e s s e e m e s q u a d r in h a r e c o n tr o la r o p ro c e s s o d e o c u p a ç ã o f a m ília . O s p e d id o s s ã o m u ita s v e z e s s o lic ita d o s p a r a á re a s a n te r io r m e n te
n o p e río d o , já q u e a a tiv id a d e m in e r a d o r a , a s c o n s ta n te s re m e s sa s d e o u ro p e d id a s e n ã o o c u p a d a s . H á q u e se le v a r e m c o n ta a in d a a d in â m ic a d a
e d ia m a n te s p a ra P o rtu g a l p r o p o rc io n a r a m " o g r a n d e re flo re s c im e n to d o
18 Idem, p. 171.
19 Garrara, op. tit., p, 11.
16 Ângelo Alves Carrara, op. tit., p. 11 (grifos do autor).
20 Idem, p. 12.
17 Charles Boxer. 0 império marítimo português, 1415-1825. São raiilo; ( '.(mipanhla d.is l.m as,
2002, p. 168. 21 Ibidem.
162 M árcia M aria M enendes M o ha
D ireito à terra no Brasil 163

p r o d u ç ã o d e s u b s is tê n c ia d a re g iã o , u m c o m p le x o a b a s te c e d o r c o n s o lid a d o
G e ra is . E n t r e o s a n o s d e 1 8 0 5 e 1 8 0 7 a p e n a s 1 4 p e d id o s d e c o n f ir m a ç ã o s ã o
á v i d o p o r n o v a s t e r r a s e / o u s e g u r a n ç a e m s e u a c e s s o .^ ^
e n c a m in h a d o s p a ra o C o n s e lh o U ltra m a rin o .
H á q u e se c o n s id e ra r ta m b é m q u e n o s p e río d o s c o m p re e n d id o s e n tr e
D e u m a fo rm a o u d e o u tra , a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s e ra u m a a tr ib u i­
1 7 9 9 a 1 8 0 4 h o u v e u m e x p re s s iv o a u m e n to d e c o n c e s s õ e s p a r a M in a s G e ­
ç ã o d o g o v e r n a d o r . L o g o , e la ta m b é m e s ta v a lig a d a à p e r c e p ç ã o d e c a d a
ra is , a p o n ta n d o p a r a u m a d in â m ic a d e o c u p a ç ã o m u ito d e n s a , o b v ia m e n te
u m d o s g o v e r n a n te s a c e rc a d o s is te m a . E x p re s s a v a ta m b é m o s lim ite s e a s
r e s u lta d o d o p a p e l d a c a p ita n ia n o s q u a d ro s d a e c o n o m ia c o lo n ia l. A p e n a s
p o s s ib fiid a d e s c o n c r e ta s d e c o n tr o la r a c o n c e s s ã o , c o m o p o d e m o s c o n d tiii
n o s a n o s d e 1 8 0 0 e 1 8 0 1 fo ra m c o n c e d id a s 6 5 c o n firm a ç õ e s p a ra a c a p ita ­
a n a lis a n d o a d is tr ib u iç ã o e m á re a d e o c u p a ç ã o a n tig a , c o m o a c a p ita n ia d o
n i a d e M in a s G e ra is , a s s im d is tr ib u íd a s p o r re g iõ e s : R io d e J a n e ir o .

C o n f ir m a ç ã o d e s e s m a r ia s p o r re g iõ es . M in a s G ê r a is <1800/1801)
A velha capitania: o exemplo do Rio de Janeiro
São Joao d ei R ei 9
F re g u esia d a C om arca
Q u e lu z 1 O c a s o d a c a p ita n ia d o R io d e J a n e i r o é p a r tic u la r m e n te in te r e s s a iile .
d o R io d a s M o rte s A s 3 0 4 s o l i c i t a ç õ e s d o p e r í o d o m a r i a n o e s t ã o a s s i m d i s t r i b u í d a s , e t i i r e o -,
S ão José 17
anos de 1795 a 1823.
R io d a s P e d r a s 3
S a b a rá 2
F re g u esia d a s Zo nas C a p it a n ia d o R io d e J a n e ir o . E x t e n s ã o s o l ic it a d a
C ongonhas do C am po 2
M in e ra d o ra s Centrais
M a ria n a 6
N ú m e ro d e P ercen tu al
I ta t ia i a 1 E x te n sã o solicitad a
sesm arias d o total
F re g u esia d a Fronteira
T am anduá 5 'Æ l é gu a e m q u a d ra 150 4 9 ,3 4 %
O c id e n ta l e M e rid io n a l
1 lé g u a e m q u a d ra 44 1 4 ,4 7 %
N ã o Id e n tific a d o 19
1 lé g u a d e te s ta d a e 2 d e s e rtã o 1 ,9 7 %
Fome; FONTE;AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ul­ 1 lé g u a d e te s ta d a e % d e s e rtã o 0 ,6 5 %
tramarino. 1801/1804 - Códice 166. A distribuição por freguesia acompanha aqui o corte
1 lé g u a d e te s ta d a e 3 d e s e rtã o s 0 ,3 3 %
alinhavado por Carrara no estudo já citado.
2 lé g u a s d e te s ta d a e 3 d e s e rtã o 0 ,3 3 %
Vi l é g u a d e t e s t a d a e 1 d e f u n d o s 2 ,9 6 %
O p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o a c o m p a n h a , o b v ia m e n te , a b u s c a p o r te r r a s
a té 1 0 0 0 b ra ç a s d e te s ta d a 21 6 ,9 0 %
liv r e s o u a r e c r ia ç ã o d e " te r r a s liv re s " e m á re a s a n te s o c u p a d a s p o r a n tig o s
S o b e jo s d e te rra s 1 ,3 1 %
s e s m e ir o s o u a n te r io r m e n te p e r te n c e n te s a o s ín d io s . O s r e s u lta d o s d is s o
Outros 66 2 1 ,7 1 %
s ã o t a m b é m c la r o s . H á u m a u m e n t o d o s c o n flito s p e la p o s s e d a te r r a e d is ­
TOTAL 304
p u ta s a c e r c a d a (i)le g a lid a d e d a o c u p a ç ã o . É d ig n o d e n o ta o d e c ré s c im o , n o
p e r ío d o im e d ia ta m e n te p o s te rio r, d e c o n c e s s õ e s p a r a a c a p ita n ia d e M in a s FONTE; AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramail
no. Capitania do Rio de Janeiro. 1795/1798, Códice 164. 1798/1801, Códice 165. 1801/1804,
Códice 166. 1805 1807, Códice 167. 1807/1823, Códice 168.
22 J. Furtado. Homens de negócio. A interiorização da metrópole e do comércio nas Minas
setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999.
164 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil i6S

O s d a d o s a c im a e x p re s s a m u m a te n ta tiv a d e r e g u la r iz a r o p ro c e s s o Uma capitania para controlar: Sao Pedro do


n u m a re g iã o d e o c u p a ç ã o m u ito a n tig a . A s fo rm a s m ú ltip la s d e e x te n s ã o Rio Grande do Sul
in d ic a m re g is tro s m a is p re c is o s, a c o m p a n h a d o s d e in fo r m a ç õ e s s o b re o s
c o n f r o n ta n te s e a c id e n te s g e o g rá f ic o s q u e , e m te s e , f a c ilita r ia m a lo c a liz a ­ H á q u e s e d e s ta c a r , p o r fim , a p o u c a p r e s e n ç a d e c o n f ir m a ç õ e s d e t e r r a s
ç ã o d a á r e a o b je to d a s o lic ita ç ã o . N o e n ta n to , n u n c a é d e m a is le m b r a r q u e n a c a p ita n ia d e S ã o P e d r o d o R io G r a n d e d o S u l. R e s u lta d o d e c o m p le x a s
o s s e s m e ir o s p o d ia m e s ta r d is p o s to s a s e s u b m e te r à s im p o s iç õ e s d a a d m i­ d is p u ta s d e f ro n te ira s e n tr e p o tê n c ia s, a re g iã o fo i o b je to d e u m le n to p r o ­
n is tr a ç ã o lu s a , c o n q u a n to e la s fic a s s e m r e s trita s à q u e la s e x ig ê n c ia s m a is c e ss o d e o c u p a ç ã o d e la v ra d o re s , p rin c ip a lm e n te a ç o ria n o s . A s d ific u ld a d e s
g e ra is , s e m a n e c e s s id a d e d e c o n f ir m a r c o m d a d o s p re c is o s o s a rg u m e n to s d a C o r o a p o r tu g u e s a e m d is c ip lin a r o p r o c e s s o d e d is tr ib u iç ã o d e t e r r a s e r a
a li a l i n h a v a d o s . f la g r a n te . C o n f o r m e s in a liz o u H e le n O z ó rio , a a d m in is tr a ç ã o lu s a r e c o n h e ­
H á, p o ré m a m a n u te n ç ã o d e c o n c e ssõ e s p a ra á re a s e n o rm e s, co m o c ia o p r o b le m a :
,is d e C a m p o s d e G o i t a c a s e s , D a s 3 0 4 s o l i c i t a ç õ e s d o p e r í o d o , 6 1 s ã o
ig u a is o u s u p e r io r e s a u m a lé g u a d e te s ta d a c o m u m a d e f u n d o . É r a z o á ­ [...] às muitas famílias de ilhéus [açorianos] que habitam este
v el s u p o r q u e m u ita s d e s sa s o c u p a ç õ e s já e ra m a n tig a s e e x p re s s a m a p e ­ Continente se lhe não tem dado nem terras que cultivem, nem
n a s o d e s e jo d e g a r a n tir o p a tr im ô n io n a c o n s a g r a ç ã o d o títu lo le g ítim o . gêneros que se lhe prometeram; e que as pessoas poderosas
M a is a d i a n t e v e r e m o s e s s e a s p e c t o c o m m a is d e ta l h e s . É t a m b é m p e r ti- e que tinham de que viver eram os governadores de muitas
terras, que já não há que repartir com os pobres; [...] também
n e n le a f ir m a r q u e h á a in d a o u tr a s c u ja s e x te n s õ e s n ã o s ã o tã o p re c is a s ,
me certificaram que há algumas terras usurpadas que os ditos
0 ( |u c p o d e r i a i n d i c a r q u e t a m b é m e r a m g r a n d e s c o n c e s s õ e s . H á a i n d a o poderosos piossuem, sem justo título.^’
1 a s o d e " s o b e jo s d e te r r a s " q u e d e f a to n ã o s ã o p e q u e n a s p a rc e la s , c o m o
a ( |u e l a s p e d i d a s e m 1 7 9 5 p o r M a n o e l M e i r i n h o d a s N e v e s , n a r e g i ã o d e
F r o n te ir a o c u p a d a p o r m u ito s e f e c h a d a p o r a lg u n s , a re g iã o n a s c e u n o
I h u a x á , C a b o F r io .” E m s u m a , m e s m o e m re g iã o d e o c u p a ç ã o tã o a n tig a
p r o c e s s o d e g e s ta ç ã o d e in te n s o s c o n flito s . E m 1 7 8 6 , a o c ritic a r a a p r o p r i a ç ã o
< |u a n t o a c a p i t a n i a d o R i o d e J a n e i r o , h a v i a p e d i d o s q u e f e r i a m o q u e
d a te r r a p o r p o u c o s , e c o m títu lo s d u v id o s o s , o p r o v e d o r d a f a z e n d a r e a l d o
e s la v a in s c r ito e m le i.
R io G ra n d e a firm a v a ; " c o m s e m e lh a n te s títu lo s e o u tro s d a m e s m a n a tu r e z a
D e to d o m o d o , n ã o n o s e n g a n e m o s , a s te n ta tiv a s d e im p rim ir u m d e -
e s tá e s te v a s to c o n tin e n te re p a rtid o , te n d o u n s tu d o e o u tr o s n a d a " .“
le rm in a d o lim ite te rrito ria l p a ra a c o n firm a ç ã o d e u m a s e s m a ria n ã o e ra m
E m s u a s M em ó ria s econômico e políticas so b re a a d m in istra ç ã o d o B ra sil,
lo in u m e n te a c o m p a n h a d a s d e p ro c e s s o s d e m e d iç ã o d e te rra s p a ra r e a ­
A n t o n i o J o s é G o n ç a lv e s C h a v e s q u e e s c r e v e u n o s a n o s 2 0 d o s é c u l o X IX ,
f irm a r c a rto g ra f ic a m e n te o e s p a ç o te r r ito r ia l p le ite a d o . A o c o n tr á rio , e m
re g iõ e s m u ito a n tig a s , o c o n flito d e te r r a já e r a u m e le m e n to e s tr u tu r a n te 25 Regimento que há de observar o Cel. José Custódio de Sá e Faria no Governo do Rio
d a r e a lid a d e lo c a l, o n d e a g e n te s s o c ia is d iv e r s o s s e e n f r e n ta v a m r e ite r a d a - Grande de São Pedro. Rio de Janeiro, 23 fev. de 1764. AHRS, Livro de Registro... n° 163,
m e n t e p a r a r e a f i r m a r : e s t e l u g a r é m e u .^ '* fl. 168. Apud Helen Ozório. "Formas de vida e resistência dos lavradores-pastores do Rio
Grande no período colonial" In: Márcia Motta & Paulo Zarth. História Social do Campesi­
nato. Formas de resistência camponesa. Visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da
23 AHU. Carta de Sesmarias. Código 164, folhas 70V a 71. História. São Paulo: Editora Unesp, 2008, p. 43-62. Regimento que há de observar o Cel.
José Custódio de Sá e Faria no Governo do Rio Grande de São Pedro. Rio de Janeiro, 23/
24 Para uma análise sobre conflito de terras em Campos de Goitacases, Rio de .Janeiro, vide
fev/1764. AHRS, Livro de Registro... n" 163, fl. 168.
Silvia Lara. "Senhor da Régia Jurisdição. O particular e o público na Vila de S.ão Salvador dos
Campos dos Goitacases na segunda metade do século XVTjr In: Silvia l.ara fi iloscli Mendon­ 26 Apud Idem. Ofício do Provedor da Fazenda Real do Rio Grande ao Vice-rei. Porto Alegre,
ça. Direitos e justiça no Brasil: ensaios de história social. Campinas; lid. d.i I inie.iiiip, .’.006. 26 de fevereiro de 1786. ANRJ, cód. 104, vol. 8, fls. 25-33.
166 M árcia M aria M enendes M o'fta D ireito à terra no Brasil 167

n ã o d e ix o u d e s in a liz a r d e q u e o s c a rtó rio s d o R io G r a n d e d o S u l e s ta v a m G o m e s , " [ ...] p o r si e c o m o t e s t a m e n t e i r o e h e r d e ir o d e s u a fa le c id a m ã e


" c h e io s d e p le ito s s o b re p o s s e s e lim ite s d e te r r a s e a o r ig e m d e s te s m a le s C ip ria n a M o n te ir o d e S o u z a e b e m a s s im o s m a is h e r d e ir o s s e u s irm ã o s
d a ta d o g o v e r n o d o te n e n te - g e n e r a l S e b a s tiã o X a v ie r" , q u e g o v e r n a r a e n tr e a f ir m a v a p o s s u ir u m s ítio n a p a r a g e m c h a m a d a C a c h o p o n é , n o R io
1 7 8 0 a 1 8 0 1 .2 " C h a p o to . D e s e ja v a , p o r ta n to , a s s e g u r a r, a tr a v é s d o d o c u m e n to ré g io e m
A d e s p e ito d e in te r e s s e s d is tin to s d e c a d a p o te n c ia l la v r a d o r e d e in ­ " c o n fo r m id a d e d a s R e a is O r d e n s " , o r e g is tr o q u e p u d e s s e c o n s a g r a r a tr a n s ­
te n ç õ e s d ife re n te s d o s g o v e rn a d o re s , o e n c a m in h a m e n to d a c o n c e ssã o e ra m is s ã o d o p a tr im ô n io o r iu n d o d o f a le c im e n to d e s u a m ã e . S u a s e s m a r ia fo i
o m e s m o . V e ja m o s c o m m a is d e ta lh e s e s s e a s p e c to p a r a e n te n d e r m o s , a c o n fir m a d a u m a n o a p ó s o p e d id o in ic ia l, e m 4 d e n o v e m b r o d e 1 7 9 9 .
s e g u ir , o q u e u n ia in te r e s s e s tã o d is tin to s . O u tr o c a s o in te r e s s a n te é o d o C a p itã o J e rô n im o P in to N e to q u e e m 3 0
d e s e te m b ro d e 1 7 9 1 s o lic ito u a c o n fir m a ç ã o d e s ü a s e s m a ria , e m C a m p o s ,
c a p ita n ia d o R io d e J a n e ir o :
As filigranas das Cartas: consagração de dom ínios
e gestação dos conflitos [...] por cabeça de sua mulher Dona Antonia Joaquina da
Cruz, Francisca Maria Bellas e Jose Maria Bellas que eles por si
A m a n u te n ç ã o d e u m m e s m o d is c u rs o p a re c e c o n f ir m a r a im p o s s ib i­ e seus pais estão de posse há mais de 60 anos de 294 braças de
lid a d e d e s e e s q u a d r in h a r a s m ú ltip la s le itu r a s a li p r e s e n te s . N o e n ta n to , terras de testada na paragem chamada Beco dos Ciganos [..,1 e
e la s , c o m o já d is s e , a n u n c ia m r a z õ e s d is tin ta s p a r a q u e o s e s m e ir o te n h a por que pertencendo o dito seu pai que se lhe passasse carta de
p r o c u r a d o le g a liz a r a s u a o c u p a ç ã o . D e te m o - n o s n e s s e a s p e c to . sesmaria das referidas terras.’"
M u ito s s e s m e iro s d e c id ira m c o n fir m a r s u a s e s m a ria e m ra z ã o d a n e ­
c e s s id a d e d e tr a n s m itir o p a tr im ô n io . A s s im , p o r e x e m p lo , T h e o d o r a M a ria E m o u t r a s p a l a v r a s , a s t e r r a s j á e r a m o c u p a d a s p o r p o s s e h á m a i s l i e (>()
A lv e s d e O liv a s e s e u s filh o s s o lic ita ra m e m 1 3 d e s e te m b r o d e 1 7 9 7 , a c o n ­ a n o s e h a v ia , p o r c o n s e g u in te , r a z õ e s c o n c r e ta s p a r a q u e o c a p itã o d e c id is s e
f ir m a ç ã o d e d u a s lé g u a s d e c o m p rid o e u m a d e la rg o n a te s ta d a d a fa z e n d a a s s e g u ra r le g a lm e n te a q u e la s te r r a s e m C a m p o s.
d a s C a ro lin a s , c a p ita n ia d o M a ra n h ã o . S e g u n d o o r e q u e r im e n to , T h e o d o ra H e r d e ir o s d e s e s m a ria s c o n c e d id a s e m o u tro s te m p o s ta m b é m b u s c a
q u e r ia v e r c o n f ir m a d a a s d ita s te r r a s c o m o " c o is a p r ó p r ia p a r a e le s e s e u s r a m a s s e g u r a r o s e u p a tr im ô n io . É o c a so , p o r e x e m p lo , d e Ig n á c ia F r a n ­
h e r d e i r o s a s c e n d e n t e s e d e s c e n d e n t e s s e m p e n s ã o , n e m t r i b u t o a l g u m " ." * c is c a , f i l h a ú n i c a d e B e n t o Á l v a r e s C a l h e i r o s . S e u p a i h a v i a a d q u i r i d o u m a
E m 9 d e a g o s to d e 1 7 9 8 , a fa z e n d e ira c o n s e g u iu te r c o n firm a d a s u a s e s m a ­ s e s m a ria c o m u m a lé g u a d e te s ta d a e trê s d e s e rtõ e s , e m 1 7 5 7 , n o s s e rtõ e s
ria p e lo C o n s e lh o U ltra m a r in o . d a s e r r a B r á s S a r d in h a , n a s c a b e c e ir a s d o s r io s P o s s iu n u n g a e O r in d i. E m
D e m e s m o te o r , e n c o n tr a m o s a s o lic ita ç ã o d o s ir m ã o s A n to n io G o m e s 1 3 d e m a r ç o d e 1 8 0 0 , a la v r a d o r a F r a n c is c a s o lic ito u u m a n o v a c a ria d e
d e C a rv a lh o , Ig n á c io A n to n io M e n d e s e J o ã o R o d rig u e s d e S o u z a , q u e e m s e s m a ria , a f im " d e r e q u e r e r a s u a c o n f ir m a ç ã o n a c o n f o r m id a d e d a s R e a is
1" d e d e z e m b r o d e 1 7 9 0 p e d ir a m a v a lid a ç ã o d e u m a s e s m a ria n a f r e g u e ­ O r d e n s " .’' U m a n o d e p o is , a h e r d e ir a te v e a s u a s e s m a ria a s s e g u r a d a p e lo
s ia d e G u a r a p ir a n g a , t e r m o d a c id a d e d e M a r i a n a , M in a s G e r a is . A n t o n i o

29 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Gomes de Carvalho, Códice 165,


27 A ntônio José Gonçalves Chaves. Memórias ecónomo-políticas sobre a administração do Brasil.
folhas 185 a 187.
4* ed. São Leopoldo: Unisinos, 2004, p. 221. Discutirei cotn mais detalhes as memórias
desse autor n o próximo capitulo. 30 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Capitão Jerônimo Pinto Neto, Códice 164,
folhas 174 e 175.
28 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Theodora Maria Alves de Olivas. Códice 165,
folhas 26 e 26 V. 31 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Ignácia Francisca. Códice 252 V a 253V.
168 M árcia M aria M enendes M otta
D ireito à terra no Brasil 169

C o n s e lh o U ltr a m a r in o . Ig n á c ia s u b m e tia - s e a s s im à s d e te r m in a ç õ e s d o A l­
lu ta s n a s M a ta s d e P iq u e i [ ...] " .” E m 5 d e ju n h o d e 1 7 9 8 C a s te lo B r a n c o
v a r á q u e o b r ig a r a a m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o d a s te r r a s c o n c e d id a s e m te m ­
c o n s e g u iu s e u d e s íg n io , s e n d o c o n firm a d a s u a s e s m a ria .
p o s p re té rito s.
O m e s m o s e d e u c o m J o a q u im J o s é d e S o u z a M e ire le s , q u e e m 9 d e
E m o u tr o s ta n to s e x e m p lo s , d e s ta c a m - s e ta m b é m * s e s m e ir o s q u e b u s ­
m a io d e 1 7 9 7 , p le ite o u u m a lé g u a e m q u a d r a n o lo c a l d o R io P r e to , v ila d e
c a v a m a c o n firm a ç ã o d e s u a s e s m a ria a d q u irid a a n te r io r m e n te p o r c o m ­
M a g é , R io d e J a n e ir o . J o a q u im in fo r m a v a q u e s a b ia d a e x is tê n c ia d e te r r a s
p r a . C a e ta n o N u n e s P e r e ir a , p o r e x e m p lo , s o lic ito u , e m 1 7 9 8 , a le g a liz a ç ã o d e v o lu ta s n a q u e le lo c a l e q u e e le j á a s e s ta v a c u ltiv a n d o " [ ...] e m b e n e f íc io
d e u m a s e s m a r ia n a f a z e n d a R o ç a G r a n d e , e m M in a s G e ra is , p o is " [ ...] se p r ó p r i o e d e s u a m a je s ta d e " .“ D o is a n o s d e p o is , s e u p e d id o fo i a te n d i d o .
a c h a [v a] d e s fru ta n d o d e u m a fa z e n d a c o m E n g e n h o q u e fo i d o d e fu n to
N e s s e s e x e m p lo s , o e le m e n to d e c is iv o p a r a o p e d id o e r a a e x is t ê n c i a
o T e n e n te C o r o n e l F r a n c is c o d e B a r r o s e j u n t o a e la s d u a s c a p o e ir a s q u e
p o te n c ia l d e á re a s a in d a n ã o o c u p a d a s e o s e sfo rç o s d e la v r a d o re s e m a d ­
c o m p r o u d e M a n o e l C a rlo s " .
q u irir p o r s e s m a ria te rra s p re te n s a m e n te s e m d o n o s .
T a m b é m fo i e ssa a p r e o c u p a ç ã o d e F ra n c is c o d e A b re u G u im a rã e s ” e O u tr o s s e s m e ir o s e n c a m in h a v a m a s o lic ita ç ã o p a r a r e f e r e n d a r a e x ­
d o P a d r e V ic to rin o d a P a ix ã o . O ú ltim o s o lic ito u e m 1 6 d e m a r ç o d e 1 7 9 3 p a n s ã o d e s u a p ro p rie d a d e . É o c a so d e A n to n io J o s é d a C o s ta B a rb o s a , q u e
a c o n f i r m a ç ã o d e u m a s e s m a r i a n a P a r a g e m Á l v a r o C o e l h o , e m V ila d e S ã o s o lic ita u m a s e s m a ria n o f u n d o d a f a z e n d a d o g o v e r n o d o R io d e J a n e ir o ,
J o ã o d e i R e i, M in a s G e r a is , c u ja s t e r r a s " [ ...] s e a c h a v a a r r a n c h a n d o e m s u a s e m 1 3 d e m a io d e 1 7 9 9 . B a rb o s a a firm a q u e " [ ...] é s e n h o r e p o s s u id o r d a
t e r r a s d e c u l t u r a [ . . . ] e a " a r r e m a t o u o s u p l i c a n t e e m P r a ç a " . ’'' E m 1 7 d e a b r i l f a z e n d a d e n o m in a d a d o g o v e rn o n o c a m in h o d e M in a s G e ra is , e m d i s t â n ­
d e 1 7 9 9 , f o i c o n f i r m a d a s u a s e s m a r i a d e V2 l é g u a d e t e r r a e m q u a d r a . c ia d e m a is d e 2 0 lé g u a s o n d e tin h a u m e n g e n h o d e fa b r ic o d e a ç ú c a r [ ...] e
H a v ia o s q u e a le g a v a m e m s u a s p e tiç õ e s q u e a s te r r a s e r a m a in d a d e ­ t in h a n o tíc ia q u e n o f u n d o d o s s e rtõ e s d a m e s m a f a z e n d a d o g o v e r n o [ ...]
v o lu ta s . N e s s e s c a s o s , o s o lic ita n te p r o c u r a v a p r e c is a r m e lh o r o lo c a l a l­ h a v ia s o b e jo s d e te r r a s " .”
m e ja d o , j á q u e s u p o s ta m e n t e e le n ã o h a v ia s id o o c u p a d o . A s s im s e n d o .
N e s s e e e m o u tr o s c a so s, u m a s e s m a ria a n te r io r m e n te a d q u ir id a a b ria
A n to n io P in to C a s te lo B ra n c o p e d iu e m 1 6 d e m a io d e 1 7 9 3 a lg u m a s te rra s .
a p o s s ib ilid a d e d e e x p a n s ã o d a á re a , c o m a a le g a ç ã o d e " s o b ra s " e " s o b e ­
P a r a ta n to , a le g o u q u e " [ ...] e le p o s s u i a lg u n s e s c r a v o s o s q u a is o c u p a n a
jo s " d e te r r a s lim ítro fe s . A im p re c is ã o d o s lim ite s é a q u i f la g r a n te e n ã o
a g ric u ltu r a e p o r n ã o te r te r r a s p r ó p ria s c u ltiv a n a s d e f o ra [ ...] " . S e g u n ­
h a v ia d is p o s iç ã o d a C o ro a e m re la ç ã o a e s te s " re s to s " d e te r r a . Q u a lq u e r
d o o s o lic ita n te , h a v ia " [ ...] n o tíc ia q u e n a r ib e ir a d o I ta ip u a s s u , c o r r e n d o s e s m e iro p o r ta n to tin h a m u ita s c h a n c e s d e c o n s e g u ir o s e u in te n to , p o is
rio a c im a d a p a r te d ir e ita e n tr e o c a m p o d e P e d r o M a r tin s e o d e F a u s tin o
re c o n h e c id o c o m o ta l, c o n s a g ra v a s u a c a rta c o m o a r g u m e n to d e a u to r i­
C a n ta n lid a p e la p a rte d e O e s te c o m o m e s m o C a m p o , u m a s te r r a s d e v o -
d a d e p a r a le g itim a r s u a e x p a n s ã o .
H a v ia m u ito s p e d id o s re v e la d o re s d a b u s c a p o r a s c e n s ã o s o c ia l p r o p i­
c ia d a p e la c o n c e s s ã o . N e s s e s c a so s, o s e s m e ir o n ã o in te n ta v a o b t e r a p e n a s
u m títu lo le g ítim o , m a s ta m b é m s e in s e r ir n a c a te g o r ia s o c ia l d e s e s m e i­
ro , e m c o n tr a p o n to a o u n iv e rs o d e la v ra d o re s , s e m títu lo s d e p r o p r ie d a d e .
32 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Caetano Nunes Pereira Códice 165, folhas
65V a 66.
35 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Pinto Castelo Branco, Códice 165,
33 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Francisco de Ahi<'U Oiiimarães, Códice 165, folhas 28 a 29.
folhas 31V a 32V.
36 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Joaquim Jose de Souza Meireles, Códice 165,
34 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Padre Victoriiu) d.i I'. i í k ,'ío , ( :<')du<- 165, folhas folhas 80 V a 81 V.
150V/151V.
37 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Jose da Costa Barbosa, Códice 165.
170 M árcia M aria M enendes M o m D ireito à terra no Brasil 171

J o ã o P in to C o e lh o d e S o u z a s o lic ito u , e m 2 6 d e j u n h o d e 1 7 9 8 , te r r a s d e v o ­ c o n v e n i ê n c i a e m t e r r a s d e m a i o r l a r g u e z a " . '* “ C a s t r o G o m e s t e v e m a i s s o r t e ,


lu ta s n a f r e g u e s ia d e I n h o m e r im , R io d e J a n e ir o . S e g u n d o d iz ia , e le m o r a v a p o is v iu c o n fir m a d a u m a c o n c e s s ã o d e u m a lé g u a e m q u a d ra , e m o ito d e
n a f a z e n d a d o g o v e rn o e n ã o p o s s u ía te rra s p ró p ria s e m q u e ju n h o d e 1 7 9 9 .
N e s s e s c a s o s , a s o lic ita ç ã o d e s e s m a r ia s p o d e r ia r e f e r e n d a r a a s c e n s ã o
[...] arranchasse com sua família e trabalhar com 18 escravos d e s e ja d a , in s e r in d o o la v r a d o r n o s q u a d r o s d a c a te g o r ia s o c ia l d e s e s m e ir o .
que possui[a] e se acha[va] agregado na dita fazenda e por que M u ito s h a v ia m in ic ia d o s e u s c u ltiv o s e m te r r a s d e o u tr e m , o u tr o s in ic ia r a m
tinha notícias que nos fundos da sesmaria que tirava o falecido s u a s a tiv id a d e s a g ríc o la s a p a r tir d e o c u p a ç ã o d e te r r a s d e v o lu ta s , s u p o s ta ­
Antonio Cordeiro da Silva, nos sertões do Rio Piabanha para m e n t e s e m d o n o s . A o r o g a r p o r u m a s e s m a r ia , e le s p o d i a m s e d if e r e n c ia r
a parte oriental da dita Freguesia de Inhomerim se achavam d e s e u s p a re s , a rr e n d a tá r io s e la v r a d o re s s u b m e tid o s o u n ã o a o s g ra n d e s
terras devolutas na quadra da dita sesmarias, queria se lhe con­ fa z e n d e ir o s d a re g iã o .
ceder por sesmaria uma légua de terras de testada com outras
E m o u tr a s o c a siõ e s , a in d a m a is r a r a s , u m g r u p o d e la v r a d o re s - p r o ­
de sertão para os fundos para nelas se estabelecer cultivando e
criando toda a qualidade de criação v a v e lm e n te p a r e n te s - s o lic ita v a u m a s e s m a ria c o le tiv a m e n te . F o i o c a s o
d e J o ã o P e d ro B ra g a e m a is 1 7 p e s s o a s q u e , e m 4 d e n o v e m b r o d e 1 7 9 9 ,
p e d ir a m s o b e jo s d e te r r a s n o R io d e J a n e ir o ,
J o ã o P i n t o é a t e n d i d o e m s e u p e d i d o , g a n h a n d o Vi l é g u a e m q u a d r a ,
e m 2 3 d e a g o s to d e 1 7 9 9 . U m a s itu a ç ã o p a re c id a é a d e J o s é P e re ira G u rg e l,
[...] Rio Caçaraubu, para parte da fazenda do colégio e Pati-
m o r a d o r d e Maricá, Rio d e J a n e i r o . D i z ia t e r 1 0 f i l h o s e 1 8 e s c r a v o s
caia, freguesia de Nossa Senhora do Rio Bonito, termo da vila
de Santo Antonio de Sá [...] eles se acham estabelecidos nas
[...] com os quais estava trabalhando em terras alheias de que sesmarias das Sardinhas por compra, herança, aonde vivem
pagava excessivos forros por não ter próprias e por que tinha bastantemente apertados pela pouca quantidade de terras que
notícias que na freguesia de Ihomerim distrito da serra acima da possuíam com grande família.“*'
parte oriental da Vila de Magé se achavam terras devolutas onde
acaba a sesmaria concedida a Francisco .José Vieira [...].”
A s e s m a ria r e la tiv a " a o s s o b e jo s q u e s e a c h a r e m " fo i c o n fir m a d a e m 2 0
d e o u tu b r o d e 1 8 0 1 . N o a n o s e g u in te , J o ã o P e d ro r e c e b e u a C h a n c e la e m
F o i o u v i d a a C â m a r a d e M a g é , q u e a u t o r i z o u a c o n c e s s ã o d e Vi l é g u a
2 2 d e j a n e i r o , “^ a s s e g u r a n d o l e g a l m e n t e o s t a i s "sobejos d e terras". E m 8 d e
e m q u a d r a , c o n firm a d a p e lo C o n s e lh o U ltra m a rin o e m 8 d e ju n h o d e 1 7 9 9 .
f e v e re iro d e 1 8 1 0 , J o ã o P e d r o fo i a c u s a d o d e te r a d e n tr a d o n a f a z e n d a d o
O m e s m o fe z A n d ré d e C a s tro G o m e s q u e , e m 2 0 d e d e z e m b ro d e
c a p itã o H e n r iq u e J o s é d e A ra ú jo , " [ ...j q u e e ra d o s u p lic a n te e d e s e u s a n ­
1 7 9 6 , s o lic ito u s e s m a r ia e m C a b o F r io , n a f re g u e s ia d e S a n to A n to n io d e
t e c e s s o r e s h á m a i s d e c e m a n o s , n a V ila d e S a n t o A n t o n i o d e S á , l u g a r c h a -
S á , R io d e J a n e ir o , a le g a n d o q u e e ra " [ ...] c a s a d o h á b a s ta n te a n o s e te r
n ã o m e n o s d e 7 filh o s s e n d o p e q u e n a a d a ta d e te r r a q u e c o m p r a ra p a r a o s
e n c a r g o s d e tã o g r a n d e f a m ília e p o s s u ir 1 8 e s c ra v o s c o m q u e m p o d ia f a z e r
40 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. André de Castro Gomes. Códice 165, folhas
165 a 166.
38 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. João Pinto Coelho de Souza. Códice 165,
folhas 146V/147. 41 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. José Pedro Braga e outros. Códice 166, folhas
61v a 62 V.
39 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. José Pereira Gurgel. Códice 165, folhas
166 a 167. 42 ANTT. Chancelaria de D. Maria. João Pedro Braga e outros. Livro 66, p. 94 a 95.
172 M árcia M aria M enendes M otta D ireito á terra n o Brasil 173

m a d o C o l é g i o " . “’ N a q u e l e m o m e n t o , p o u c o i m p o r t a v a s e J o ã o P e d r o h a v i a A s d is p u ta s o u n ã o e n tr e a s á re a s p e rte n c e n te s a S a lv a d o r, Q u ité r ia e o u ­


c o n s e g u id o le g a liz a r a s u a o c u p a ç ã o , r e c e b e n d o , in c lu s iv e a c h a n c e la re a l. tro s c o n f r o n ta n te s s e ria m o r e s u lta d o d o s jo g o s d e p o d e r n a r e g iã o , c u lm i­
É c e rto q u e a c a rta d e s e s m a ria c o n tin h a e m s e u in te r io r p ro c e d im e n ­ n a n d o n u m a c o r d o p a r a a d e c is ã o d a s p a r t e s d e c a d a u m o u e m a ç õ e s m a i s
to s fo rm a is p a ra o e n c a m in h a m e n to d a c o n c e s s ã o , c o m o v im o s n o c a p ítu lo d r a m á tic a s p a r a a s d e m a rc a ç õ e s .
a n te r io r . É c e rto ta m b é m q u e e la v is a v a a tin g ir o b je tiv o s m ú ltip lo s , e m r e ­ E s s e ta m b é m fo i o c a s o d e A n to n io J o s é F e r r e ir a d e A b r e u q u e , e m
la ç ã o a o in te r e s s e d o p o te n c ia l s e s m e ir o d e a s s e g u r a r u m a p a rc e la d e te rra . 1 7 9 6 , s o lic ito u
É c e rto a in d a q u e e la e r a o r e s u lta d o d e u m a s é rie d e a lv a r á s e d e c re to s
s o b re a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s , c o n te n d o p a ra ta n to u m a r o tin a d e p ro c e ­ uma légua de testada com outra de sertão nos Sertões do Rio
d im e n to s fo rm a is , a p a r e n te m e n te e s té r e is . Preto, Magé, Rio de Janeiro onde [...] havia terras devolutas
M a s m e s m o a í, h á c l a r a s e v i d ê n c i a s d e c o n f l i t o s , o q u e n o s m o s t r a q u e , onde acabavam as sesmarias que tinham pedido os doutores
Francisco Nunes Pereira e Jose de Arede Neves queria o supli­
,u ) c u m p r i r a d e t e r m i n a ç ã o r é g i a , o s s e s m e i r o s t a m b é m t r a z i a m à l u z a p o -
cante em nome de Sua majestade se lhe conceder uma légua
le n c ia lid a d e d e e m b a te s n o a c e s s o à te r r a .
de terra de testada e outra de sertão da dita terra principiando
A lg u n s s e s m e ir o s , c o m o S a lv a d o r d a S ilv a F id a lg o , f o r a m b a s ta n te c u i­ onde acabam as ditas sesmarias.““
d a d o s o s . E le s o lic ito u , e m 1 7 9 8 , u m a lé g u a e m q u a d r a e m C a c h o e ir a d e M a -
c a c u . R io d e J a n e ir o , " c o n f r o n t a n d o e p a r t i n d o p o r o n d e c o n v ie r e f o r m a is
M a is u m a v e z , a d e c is ã o e s ta r ia a c a rg o d o s s e s m e ir o s e d o s r e p r e s e n ­
c ô m o d o c o m o u t r a s e s m a r i a d e m e i a l é g u a c o n c e d i d a a T e n e n t e J o s é d a S ilv a
ta n te s m a is p ró x im o s d a C o ro a .
l 'i d a l g o e p e l a m e s m a d i r e ç ã o d a s s e s m a r i a s m a i s a n t i g a s d a q u e l e t e r r e n o " . ““
A p o te n c ia lid a d e d o c o n flito e s te v e p r e s e n te t a m b é m n o p e d id o , fe ito
Q u ité r ia M a ria d o N a z a ré ta m b é m s o lic ito u n o m e s m o lu g a r
e m 9 d e a g o s to d e 1 7 9 5 , p o r A n to n io J o s e P e r e ir a M a y a , q u e d e m a n d o u
t e r r a s n a V ila d e N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o d e G u a p e m i r i m , E s p í r i t o
uma légua de terra de sesmaria em quadra nas ditas cachoeira,
S a n to . E la s c o n f r o n ta v a m
confrontando por um lado com a sesmaria de Salvador da Silva
Fidalgo, pela parte de cima com quem pertencer, segundo o
mesmo rumo das sesmarias mais antigas daquele terreno ou pelo Rio da povoação de Itapemirim acima termo da V. de Nos­
pertencendo a da suplicante por onde se achar terra devoluta, sa Senhora de Guarapemirim há muitas terras devolutas e por
sem prejuízos de terceiros.“” que o suplicante se quer estabelecer com fazenda da agricultu­
ra e não tem terras próprias onde o possa fazer, para o que tem
posse e cabedal [...] uma légua em quadra, sendo meia testada
de cada um dos lados do referido rio de Itapemirim, começan­
43 AN; Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro/Juízo da Corregedoria do Cível da Corte. Có­ do onde acabar a data dos últimos donatários, a quem até o
digo; 5237, Cx. 448 G C, Código de Fundo 77, Seção de Guarda: CDE. Autor: Capitão presente a tenha concedido as últimas sesmarias com légua de
Henrique José de Araújo, sua mulher Maria Bibiana de Araújo, e sogra Maria Feliciana fundo de uma a outra parte do dito Rio.“*’
Cordovil. Réu: João Pedro Braga. 08/02 /1 8 1 0 - 03/08/1816. Local: Cidade do Rio de
Janeiro/Sítio Vila Santo Antonio de Sá.
44 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Tenente José da Silva Fidalgo. Códice 165, 46 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio José Ferreira de Abreu. Códice 165,
folhas 130 e 131. folhas 141 e 142.

45 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Quitéria Maria de .lesiis. Códice 165, folhas 47 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Jose Pereira Maya Códice 165, folhas
131 e 132. 95 V a 96 V.
174 MArcia M aria M enendes M otia
D ireito à terra no Brasil 175

U m e x e m p l o a in d a m a is s ig n ific a tiv o é o p e d id o f e ito p o r M a tia s Á lv a ­ s e rv in d o u n ic a m e n te d e Q u ilo m b o s o s e s c ra v o s q u e fo g e m e d e o n d e v e m r o u ­


r e s d e B r ito d e u m a s e s m a r ia n o R io B a c a x á , C a b o F rio , R io d e J a n e ir o . E m b a r o s a n i m a i s e l a v o u r a s d o s m o r a d o r e s d a m a r g e m d o d i t o R i o " . ’“
1 7 8 8 e le a le g o u q u e e ra E m s u m a , a d e s p e ito d a in te n ç ã o d a c a rta , d e s e u v o c a b u lá rio e d o s
s e u s p r o c e d im e n to s m a is f o rm a is , h a v ia in d íc io s q u e c h e g a v a m a o C o n s e -
p o s s u i d o r d e u m a lé g u a d e t e r r a n o R io B a c a x á , c u ja s t e r r a s Ih o U ltr a m a r in o a c e r c a d a p o te n c ia lid a d e d o s c o n flito s , o r iu n d o s d e d e m a r ­
f o r a m c o n c e d i d a s p o r s e s m a r ia a L u iz F r a n c i s c o d e S o u z a n o
c a ç õ e s f lu id a s . M u ito s d e s s e s e m b a te s e r a m o r ig in á rio s d o f a to in c o n te s tá ­
a n o d e 1 7 2 6 [ ...] c o m o p a r a e v i t a r u m a m á v e r i l a n c i a ( s i d )
p o d i a o c a s i o n a r a lg u m a s d e s o r d e n s p a r a o q u e p r e t e n d i a s e l h e v e l d e q u e as c o n c e s s õ e s e ra m " e m d e m a s ia " o u e m te rra s p o te n c ia lm e n te
c o n c e d e r p o r s e s m a r ia t o d a s a s v o l ta s e e n s e a d a d o R io c o r r e s ­ já o c u p a d a s . N e s s e s e n tid o , a d e s p e ito d a s te n ta tiv a s d e lim ita r a e x p a n s ã o e
p o n d e n t e a t e s t a d a q u e o s u p li c a n te s e a c h a v a d e p o s s e c o n tr o lá - la v ia p r o c e d im e n to s ré g io s , h a v ia c a so s q u e o d o c u m e n to d e s e s-
m a ria s e rv ia p a r a a s s e g u r a r a in c o r p o r a ç ã o d e e n o rm e s lim ite s te r r ito ria is
P o r a l g u m a r a z ã o , s o m e n t e e m 1 7 9 4 , M a ti a s c o n s e g u i u o s e u i n t e n t o , m a s a u m a m e s m a fa m ília , e m r e tr ib u iç ã o a o s s e rv iç o s p r e s ta d o s à C o ro a . S e
c p la u s ív e l p e n s a r q u e o a tr a s o n a c o n c e s s ã o d a q u e la s te r r a s t e n h a s id o o r e s u l ­ o s p e d id o s n ã o f e r ir a m o q u e e s ta v a e s c r ito e m le i, n a p r á tic a o c u lta v a m o
ta d o d a s " d e s o rd e n s " , n o s e m b a te s o r iu n d o s d e lim ite s te r r ito ria is im p re c is o s . a s s e n h o r e a m e n to d e e n o r m e s e x te n s õ e s d e te r r a s p a r a u m a m e s m a fa m ília .
O u tr o e x e m p lo a in d a m a is e x p líc ito é 0 d o c a p itã o J o ã o R o d r ig u e s d e C o n tu d o , m e s m o n e s te s c a s o s a p o s iç ã o d a C o r o a n ã o fo i ú n ic a .
C a r v a lh o , q u e s o lic ito u , e m 1 7 7 7 , u m a s e s m a ria e m te r r a s q u e

h o u v e p o r t ítu lo d e p e n h o r a e a r r e m a t a ç ã o [ ...] e c o m o l h e f a l t a ­
v a o p r im o r d ia l títu lo e ra p r o v in d o d o s e s m e ir o e h e r é o s d a q u e le
c a m p o q u e p o r a n tiq u ís s im o s e n ã o d e p o s s e e p o r e v ita r d ú v id a s e
c o n te n d a s p a r a o f u tu r o q u e r ia h a v e r p o r s e s m a r ia a s d ita s te r r a s "
[ ...] q u e p o d e r ia t e r 6 0 0 b ra ç a s m a is o u m e n o s d e te s ta d a c o m o s
f u n d o s q u e s e a c h a r e m a té a s e rra d e I ta o c a ."

A p o te n c ia lid a d e d o c o n flito ta m b é m é e v id e n te q u a n d o a n a lis a m o s a s


s e s m a r ia s p e r t e n c e n t e s a A n to n io J o s é d o s S a n to s . E m 8 d e m a r ç o d e 1 8 0 3 , e le
d e m a n d o u m e ia lé g u a e m q u a d r a e m C a m p o s d o s G o ita c a s e s , R io M u r ia é . S e ­
g u in d o s e u p e d id o , e le d e s e ja v a o b te r te r r a s " p o r d e tr á s d a s e s m a ria d e B e n to
G o n ç a l v e s C a n e l l a s e d e J o s é G o n ç a l v e s T e ix e ir a [ q u e ] s e a c h a v a m d e v o l u t a s .

48 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Matias Álvares de Brito. Códice 164, folhas 22
a 22 V.
49 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Capitão João Rodrigues de Carvalho. Códice
50 AHU. Carta de Confirmação de Semairas. Antonio José dos Santos, Códice 166, folhas
164, foihas 32 a 33 V
203 a 204 V.
A COROA INTERVÉM: AS CONCESSÕES EMBLEMÁTICAS

p e d id o d e p ro v is ã o p a ra o to m b a m e n to d a te r r a e r a in ic ia d o c o m

O a a p r e s e n ta ç ã o d o s o lic ita n te , n a q u a l e ra in f o r m a d a a e x te n s ã o d e
s u a s te r r a s , o lo c a l o n d e e la e s ta v a m lo c a liz a d a s e , n a m a i o r p a r t e d a s v e ­
z e s , a c a p ita n ia c o rr e s p o n d e n te . E m a lg u m a s o c a s iõ e s , a s o lic ita ç ã o in ic ia l
já v in h a a c o m p a n h a d a d a in d ic a ç ã o d e q u e se d e s e ja v a m e v ita r " d ú v id a s e
c o n te n d a s c o m h e r é o c o n f in a n te s " . A p a r tir d a í, d e te r m i n a v a :

Hei por bem e m ando o O uvidor da C om arca... e na su a a u ­


sência o Juiz de Fora da m esm a cidade p e sso a lm e n te fazer a
m edição, dem arcação e tom bo das terras q u e p erten cerem ao
suplicante por título legítim o de com pra jud icial, extrajudical e
por carta de sesmaria confirm ada por m im .'

O u s e ja , o p e d id o e r a a c e ito , r e c o n h e c e n d o - s e q u e a c a r t a d e s e s m a r ia
- q u a n d o e r a o c a s o - j á h a v i a s id o c o n f i r m a d a .
E m m u ito s d o s p e d id o s d e p r o v is ã o e s ta v a e x p líc ito o c o n f lito . E m j a ­
n e ir o d e 1 7 9 6 , p o r e x e m p lo . D o m in g o s J o s é d e O liv e ira , f a z e n d e ir o d a C o ­
m a r c a d e S e rg ip e D e l R e y , s o lic ito u o to m b o d e s u a s te r r a s , p o is e r a

senhor e possuidor de u m e n gen h o de açúcar com terra d e ex ten ­


são e confrontação indicada na escritura de ven d a [...] e porque
parte da m esm a se acham aliadas e usurpadas por várias pessoas
em breve tem po virá o suplicante experim entar prejuízo."

O u tr o c a s o in te r e s s a n te é d o fa z e n d e iro A n to n io M o n is d e S o u z a B a r r e ­
t o A r a g ã o . E m s u a s o li c it a ç ã o d e p r o v i s ã o , e l e i n f o r m a v a q u e " e r a s e n h o r e

1 AHÜ. Livro de Registro de Provisões. Códices 109 e 110.


2 AHU. Livro de Registro de Provisões. Domingos José de Oliveira, 1796. Códice 109.

177
ivjLnjra/\ ivifiiNlilNiJlib iV lU TTA
D ireito à terra n o Brasil i79

p o s s u id o r d e u m a s o r te d e te r r a d e n o m in a d a A ra g ã o , s itu a d a n a c o m a r c a d a s ã o p a ra o to m b o d e s u a fa z e n d a .’ H a v ia ra z õ e s a in d a m a is p r o fu n d a s p a ra
B a h ia , q u e f o ra c o n c e d id a p o r D a ta e S e s m a ria a B a lth a s a r B a rb o s a P in h e i­ q u e n ã o se c o n s e g u is s e d e m a r c a r a s te r r a s d e A ra g ã o . O s jo g o s d e p o d e r e n ­
r o " . S e g u n d o B a r r e to A r a g ã o , e le " e x p e r im e n to u d o s c o n f in a n te s a lg u m a tr e s e s m e iro s , a s d ific u ld a d e s d e s e m e d ir te r r a s s e m a p r e s e n ç a d e té c n ic o s ,
in q u ie ta ç õ e s d e q u e p o d e r ã o e x e c u ta r c o n s id e rá v e is d e s o rd e n s p e la c o n f u s ã o n ã o p o d ia m s e r s o lu c io n a d o s p o r u m a C o ro a tã o d is ta n te .
d e lim ite s " . M a s o f a z e n d e ir o n ã o p e d ia a p e n a s o to m b o d e s u a s te r r a s : A d e s p e ito d a s d ific u ld a d e s , n ã o r e s ta d ú v id a d e q u e a lg u n s f a z e n d e iro s
e s p e r a v a m v e r re s o lv id a a q u e s tã o d a d e m a r c a ç ã o d e s u a s te rra s . E m 1 7 9 6 ,
pedia fosse servida conceder-lhe Provisão para um Ministro de [?] m u ito p r o v a v e lm e n te r e s u lta d o d o A lv a rá R é g io d e D . M a ria I d e 1 7 9 5 , u m
com exclusiva dos que referia por lhes serem suspeitos, proceder n ú m e r o s ig n if ic a tiv o d e f a z e n d e ir o s p e d iu p r o v is ã o d e t o m b o . C o m o s a b e m o s ,
o tombo e demarcação da dita sorte de terra comJurisdição Ordi­ e n tr e 1 7 9 5 e 1 7 9 8 - n u m e s p a ç o d e te m p o d e trê s a n o s - , fo ra m p e d id a s 2 1 4
nária para conhecer das causas do mesmo Tombo, sem suspensão s e s m a ria s . N e s s e m e s m o p e río d o , f o r a m s o lic ita d a s p r o v is õ e s p a r a 5 9 te rra s !
da Demarcação, que era menos prejudicial reformar-se de qual­ H a v ia , n o e n ta n to , d ife r e n ç a s e n tr e a s c a p ita n ia s . R e s u lta d o d e r itm o s
quer defeito, do que conservar-se a confusão de limites.’ d e o c u p a ç ã o d is tin to s , a s s o lic ita ç õ e s d e T o m b o p a r e c e m ta m b é m r e v e la r
a m a n e ira p e la q u a l o s fa z e n d e ir o s d e c a d a c a p ita n ia s e r e la c io n a v a m c o m
O f a z e n d e ir o s o lic ita v a u m ju iz q u e n ã o e s tiv e s s e e n v o lv id o n a s d is ­ a C o ro a , d e s n u d a n d o e x p e c ta tiv a s d is tin ta s e m r e la ç ã o à p o s s ib ilid a d e d e
p u ta s d a lo c a lid a d e e a c e ita v a q u e a m e d iç ã o p u d e s s e re d u z ir a s u a á re a in te rv e n ç ã o d o P o d e r.
o r ig in a l, v is to q u e a c o n f u s ã o d e lim ite s e ra u m a s itu a ç ã o a in d a p io r. E m
r e s p o s ta a s u a s o lic ita ç ã o , o s p r o c u r a d o r e s d a F a z e n d a f o ra m o u v id o s e o S o lic ita çõ es d e t o m b o p o r a n o e p o r c a p it a n ia (1795/1806>
C o n s e lh o U ltr a m a r in o c o n s u lta d o . O p e d id o d o f a z e n d e iro fo i a c e ito .
Ano C a p ita n ia Tom bos
Hei por bem conceder ao Suplicante a Provisão que pede e ou­ 1795 M a ra n h ã o 4
tro sim ordenar, como por esta ordeno ao Governador e Capi­ M a ra n h ã o 25
tão Geral da Capitania da Bahia nomeie Ministro da sua maior P e rn am b u c o 2
confiança, um daqueles que há pouco foram despachados para S e rg ip e 3
a Relação da dita cidade, ao qual confiro Jurisdição Ordinária, S ã o P a u lo 1
1796
para que a vista dos títulos que se lhe representarem, ouvidas P a ra íb a 1
as partes, lhe defira R io d e J a n e ir o 1
S a n ta C a ta rin a 1
A s s im , c o n f o r m e a d e c is ã o , a C o ro a in te r v e io d ir e ta m e n te n o p o te n c ia l S /Id e n tific a ç ã o 2
c o n flito . O s e s fo rç o s d e B a r re to A ra g ã o e m m e d ir e d e m a r c a r s u a s te r r a s , M a ra n h ã o 5
P e rn am b u c o 1
n o e n t a n t o , c o n t i n u a r a m . E m 2 4 d e a b r i l d e 1 7 9 9 , o u s e ja , q u a s e t r ê s a n o s
1797 S e rg ip e 1
d e p o is d e s e u p r im e ir o p e d id o , o f a z e n d e ir o v o lta v a a s o lic ita r u m a p r o v i ­ 1
B a h ia
S /Id e n tific a ç ã o 2

t AHU. Livro de Registro de Provisões. Antonio Monis de Souza Barreto Aragão. Códice
109, p. 148/149. 5 AHU. Livro de Registro de Provisões. Antonio Monis de Souza Barreto Aragão. Códice
4 Idem. 109, p. 152/152V.
180 M árcia M aria M enendes M otta
D ireito á terra no IIuami, 181

Ano C ap itan ia Tom bos A presença recorrente de pedidos de provisão para a capitania do M.i
Maranhão 3 ranhão (das 128 provisões, 59 correspondem àquela região) parece coii
Pernambuco 2 firmar a tendência dos sesmeiros de se remeterem diretamente à Coroa
1798 Bahia 2
na intenção de regularizar sua terra em consonância, inclusive, como a
Paraíba 1
tendência de se continuar a solicitar sesmarias diretamente ao Conselho, a
Para 1
partir de I808.‘
Bahia 5
Pernambuco 2 Interesses comuns entre sesmeiros e a Coroa poderiam denotar o "fe­
1799 Maranhão 1 char os olhos" para flagrantes usurpações de terra. Interesses divergentes,
Paraíba 1 porém, poderiam significar discutir o direito à terra de um potentado. É o
Rio de Janeiro 1 que veremos a seguir, a partir de dois casos: Ignácio Correia Pamplona e
Piauí 4 Garcia Paes Leme.
Bahia 1
Maranhão 1
1800 A Coroa e seus vassalos: Ignácio Pamplona e
Paraíba 1
Pernambuco 1 Garcia Paes Leme
S/Identificação 2
Maranhão 6 Conhecido como um dos delatores da Inconfidência Mineira, Ignácio
1801
Bahia 4 Correia Pamplona foi senhor e possuidor de extensos territórios. Um dos
Maranhão 3 inconfidentes, Cláudio Manoel da Costa era juiz das demarcações de sesma­
1802
Bahia 1 rias do termo da Vila Rica,^ mas foi o delator que conseguiu assegurar uma
Bahia 5 enorme área de terras.
Maranhão 4 Ignácio Correia Pamplona, português, nasceu em 1731 na ilha Terceira
1803 Pernambuco 3
e era filho de Manoel Correia de Melo e de Francisca Xavier de Pamplona.
Paraíba 1
Casou-se com Eugenia Luiza da Silva, que era mulata e filha de uma ne­
S/Identificação 1
Maranhão 3 gra forra, de pai desconhecido. Com ela, Ignácio teve seis filhos: Simplícia,
Pernambuco 3 Rosa, Theodora, Inácia, Bernardina e Inácio Correia Pamplona Corte Real,
1804 que se tomou padre.®
Rio de Janeiro 1
S/Identificação 1
Maranhão 3
6 Discuto esta informação no capítulo seguinte.
1805 Pernambuco 1
7 Há uma extensa bibliografia sobre a Inconfidência Mineira que não me cabe aqui discu­
Bahia 1
tir. O que importa é apenas destacar a proximidade das críticas que haviam sido feitas
Bahia 4 pelos inconfidentes à administração da Coroa, o fato de um dos inconfidentes ser juiz
1806 Pernambuco 3 de demarcação de sesmarias e de um dos delatores ter conseguido confirmar grandes
Maranhão 1 extensões de terra.

Fonte; AHU. Livro de Registro de Provisões. Códices lOV (lyos/IHOÁ) 1 Códice UO 8 A biografia de Ignácio foi retirada da tese de doutorado de Márcia Amantino. O Mundo
(1802/1807) das Feras. Os moradores do Sertão do Oeste de Minas Gerais. Rio de Janeiro, Universida-
182 MArcia M aria M enendes M otta
D ireito à terra no Brasil 183

S e g u n d o M á rc ia A m a n tin o , n o s s o p e rs o n a g e m fo ra c o m e r c ia n te n o R e s e n d e - u m c i r u r g i ã o e u m a c o m p a n h i a d e o i to m ú s ic o s , d o s
R io d e J a n e i r o , a b a s t e c e n d o V ila R ic a e S ã o J o ã o d e i R e i. S u a v id a f o i m a r ­ q u a is u m s ó e r a b r a n c o e s e te e r a m e s c r a v o s n e g r o s d e p r o ­
c a d a p o r e x p e d iç õ e s d e c o m b a te a o s ín d io s e q u ilo m b o la s . J á e m 1 7 6 4 , e m p r i e d a d e d o m e s t r e - d e - c a m p o , c o n s t a n d o - s e a i n d a 'd o is p r e t o s
r a z ã o d o c o n v it e f e ito p e lo e n t ã o g o v e r n a d o r L u iz D io g o L o b o d a S ilv a , d e u t a m b o r e s '; c o m s u a s c a ix a s c o b e r t a s d e e n c e r a d o .'^
in íc io a u m a d a s d e z e n a s d e e x p e d iç õ e s p a ra o p o v o a m e n to d e M in a s G e ­
ra is . E m 1 7 6 5 , e m c o m p a n h ia d e v á rio s o u tro s , a d e n tr o u p e la s n a s c e n te s A p a la v r a s e r tã o e r a s e m p r e a s s o c ia d a à n o ç ã o d e v a z io , " a b a r b á ­
d o R io S ã o F ra n c is c o . P o r c o n ta d e s ta d ilig ê n c ia , o g o v e r n a d o r c o n c e d e u rie , e a s e lv a g e ria , g ra ç a s a o f a to d e s e r u m lu g a r h a b ita d o p o r ín d io s e
v á r ia s s e s m a r ia s a o s q u e p a r tic ip a r a m d a e x p e d iç ã o .’ " A c a u s a p r in c ip a l q u ilo m b o s " .* ’ C o m o u m lo c a l a s e r c o n q u is ta d o , o s e r tã o e r a o p a lc o p r iv ile ­
p a ra q u e o s r e q u e r e n te s p e d is s e m te r r a s e ra a q u e tin h a m p a rtic ip a d o d e g ia d o p a r a o s e x p lo r a d o r e s , c io s o s d e o u r o e r iq u e z a d a s te r r a s o c u p a d a s p o r
a lg u m a f o r m a n a c o n q u is ta d o s e r t ã o d e v o lu to d o R io S ã o F ra n c is c o , S e r r a a q u e le s n ã o r e c o n h e c id o s c o m o le g ítim o s o c u p a n te s . A s e x p e d iç õ e s tin h a m
d a M a r c e l a e Q u i l o m b o d o A m b r ó s i o ” .*“ S e g u n d o a a u t o r a , p a r t i c i p a r a m e n tã o o s e n tid o d a c o n q u is ta . I g n á c io P a m p lo n a , u m d o s m a is d e s ta c a d o s
d e s s a e x p e d iç ã o ; J o s é A lv e s D in iz , A fo n s o L a m o u n ie r, J o s é F e r n a n d e s d e r e p r e s e n t a n t e s d e s t a v i s ã o , a f i r m a v a q u e o p o v o a m e n t o d e s s a s t e r r a s " c r.i
L im a , A n to n io J o s é B a s to s , I n á c io B e r n a rd e s d e S o u z a , S im ã o R o d r ig u e s u m a e m p r e s a d ifíc il e q u e j á h a v ia s id o t e n t a d o m u ita s o u t r a s v e z e s c s e m
d e S o u z a , P e d r o V ie ira d e F a r ia e T im ó te o P e r e ir a P a m p lo n a . N o e n t a n t o , s u c e s s o g r a ç a s à o p o s i ç ã o d o g e n t i o b r a v o e a d e n e g r o s q u e p o r t o d o s o s la
a lé m d e I g n á c io , a p e n a s A f o n s o L a m o u n ie r s o lic ito u a c o n fir m a ç ã o d e s u a d o s c e rc a v a m e s te c o n tin e n te " .” A lé m d is s o , Ig n á c io P a m p lo n a e x p re s s a v a
s e s m a ria s , e m 1 8 0 7 , re c e b e n d o , e n tã o , trê s lé g u a s d e te rra s d e s e rtã o , n o c o m c la r e z a a s a m e a ç a s r e p r e s e n ta d a s p e lo s q u ilo m b o s , q u a n d o , e m 1 7 7 0 ,
" s e g u n d o b r a ç o d o R io d e S ã o F r a n c is c o , p a ra d e n tr o o m e s m o rio . S e r ra d a e s c r e v e a o c o n d e d e V a la d a re s p a r a in f o r m a r " q u e o s q u ilo m b o la s c s ia v a in
M a rc e lla e Q u ilo m b o d o A m b r o z io " .“ d e s tr u in d o a s f a z e n d a s , d e s tr u in d o tu d o , p o n d o - o e m m is e rá v e l e s ta d o , u l ­
I g n á c io C o r r e ia P a m p lo n a é a in d a c o n h e c id o p o r s u a d e c is iv a p a r ­ tim a m e n te le v a n d o s e u s e s c ra v o s e e s c ra v a s , se m u m só lh e d e ix a re m " .' '
tic ip a ç ã o n a e x p e d iç ã o d e 1 7 6 9 , p o r e le r e la ta d a c o m riq u e z a s d e d e ta ­ M á rc ia A m a n tin o ta m b é m a fir m a q u e d u r a n te to d a a s u a v id a , Ig n á c io
lh e s . P a r a L a u r a d e M e llo e S o u z a : C o rre ia P a m p lo n a c o n s e g u iu v á ria s s e s m a ria s , " q u a s e to d a s c o m a e x te n s ã o
d e t r ê s l é g u a s e m q u a d r a . E l e t a m b é m p o s s u í a a F a z e n d a d o s P e r d i z e s , .i
O contraste entre barbárie e civilização marca todo o relato, d o M e n d a n h a , a d o C a p o te , e u m a o u tr a n a L a g o a D o u r a d a , fre g u e s ia d o s
sugerindo ser constitutivo das expedições desse gênero e mos­ P a d r o s , c o m a r c a d o R i o d a s M o r t e s " .'* ' E m r a z ã o d a c o n q u i s t a d o B a m n i ,
trando uma face insuspeitada do cotidiano dos caçadores e qui­ C a m p o G ra n d e , c o n s e g u iu a in d a o ito s e s m a ria s , u m a d e le e a s o u tra s e m
lombolas. Não eram apenas homens destemidos e sertanistas
semifacinorosos que entravam para o sertão na busca de novos
12 Laura de Mello e Souza. "Violência e práticas culturais no cotidiano de uma expedição
achados de ouro e mocambos de escravos fugidos, ou na es­ contra quilombolas. Minas Gerais, 1769". In: João José Reis & Flávio dos Santos Gomes.
perança das sesmarias obtidas como recompensa. A comitiva liberdade por um fio. História dos Quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
tinha também um capelão - no caso, o padre Gabriel da Costa 1996, p. 199.
I 3 Márcia Amanticio, op, cü.. p. 45.
14 Apud Márcia Amantino. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional Seção de Ma­
de Federai do Rio de Janeiro, 2001.
nuscritos, 18, 2, 6, documento 7.
9 Idem, p. 192.
15 Idem, p. 147. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional Seção de Manuscritos, 18,
10 Ibidem.
2, 6 documento 65.
11 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Afonso Lamounier. Códice 167,
16 Idem. p. 193.
184 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 185

n o m e d e s e u s filh o s . E m s e u te s ta m e n to , d e 1 8 2 1 , a f ir m o u “q u e p a r a c o n ­ A s s im , p o r m e io d e s u a s filh a s e le d e m a n d o u o u tr a s " tr ê s lé g u a s " n a


s e g u ir m e d ir e d e m a r c a r to d a s e s ta s te r r a s p r e c ijo u f a z e r m u ita s d e s p e s a s m e s m a r e g iã o . T h e o d o r a C o rre ia P a m p lo n a p e d iu tr ê s lé g u a s d e te r r a s " p a r a
'c o m p ó l v o r a , c h u m b o , a r m a s d e f o g o , m a n t i i r i e n t o s , t r o p a s d e b e s t a s e a c o n q u is ta e p o v o a ç ã o d o s e r tã o d e v o lu to q u e f ic a p a r a d e n t r o d o s e g u n d o
m u ito s h o m e n s " . ; b r a ç o d o r i o d e S ã o F r a n c i s c o , t e r m o d a v i la d e S ã o J o s é " . ^ ‘
A in d a s e g u n d o M á rc ia A m a n tin o , P a m p lo n a fa z ia q u e s tã o d e re s o lv e r S u a o u tr a f ilh a le g ítim a , R o s a C o rre ia P a m p lo n a , s o lic ito u ta m b é m ,
a s p e n d ê n c ia s ju d ic ia is , p r e n d e r c rim in o s o s e m a ta r o s in im ig o s in d íg e n a s e n a m e s m a re g iã o , trê s lé g u a s d e te rra s " p a ra a c o n q u is ta e p o v o a ç ã o d o
q u i l o m b o l a s " .* * E l e e r a a i n d a m e s t r e d e c a m p o e R e g e n t e d e v á r i o s d i s t r i t o s s e r t ã o d e v o l u t o q u e f ic a p a r a d e n t r o d o s e g u n d o b r a ç o d o r i o d e S ã o
d e M in a s G e r a is . F r a n c i s c o , t e r m o d a V ila d e S ã o J o s é " . “
Q u a n d o , a n o s m a is ta r d e , p r o c u r o u le g a liz a r s u a s p o s s e s s õ e s e m r e s ­ O u tr a filh a d e Ig n á c io , S im p líd a C o rre ia P a m p lo n a , p e d iu a in d a tr ê s
p o s ta a o A lv a rá d e 1 7 9 5 , r e ite r o u o fa to d e q u e e la s e r a m o r iu n d a s d a lé g u a s d e t e r r a " p a r a a c o n q u is ta e p o v o a ç ã o d o s e r tã o d e v o lu t o q u e f ic a
c o n q u is ta o u tr o r a re a liz a d a s . E m s e u p e d id o d e c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ria s , p a r a d e n tr o d o s e g u n d o b ra ç o d o rio d e S ã o F r a n d s c o , S e r r a d e M a r c e lla e
in fo r m o u a o g o v e r n a d o r d a c a p ita n ia d e M in a s G e ra is q u e d e s d e 1 7 6 7 , Q u ilo m b o d o A m b ro z io " .“
E a in d a In á c ia C o rre ia P a m p lo n a n ã o d e ix o u p o r m e n o s , ta m b é m
que se achava possuindo avultoso número de escravos, gados, s o lic ito u n a m e s m a á re a , trê s lé g u a s d e te r r a " p a ra a c o n q u is ta e p o v o a ­
éguas [...] e por não ter terra de cultura e campo congruente ç ã o d o s e r t ã o d e v o lu t o q u e f ic a p a r a d e n t r o d o s e g u n d o b r a ç o d o r io d e
para exercício laborioso da sua possessão, fora por isso ir ao S ã o F r a n c is c o , S e r r a d e M a rc e lla e Q u ilo m b o d o A m b r o z io " .^ “ T o d a s a s
sertão da beira do Rio São Francisco, com alguma pessoa ad­ s e s m a ria s d a s filh a s d e Ig n á c io f o ra m c o n fir m a d a s n o m e s m o m ê s e a n o
junta a descobrir terra [...] a qual experimentava grandes pre- e e r a c la ro q u e h a v ia in te r e s s e p a ra a s s e g u r a r a q u e la o c u p a ç ã o , a d e s p e i­
juís-qs e fizera despesa considerável por ser sertão devolutc.’’ to d a e n o r m e e x te n s ã o te r r ito ria l in c o r p o r a d a p e la fa m ília .
B e m a r d i n a C o r r e ia P a m p lo n a , ta m b é m filh a d e I g n á c io , fo i a ú n i c a q u e
A lé m d is s o , e m r e s p e ito à s n o r m a s r é g ia s e m r e la ç ã o à e x te n s ã o m á x im a n ã o s o l i c i t o u a s t r ê s l é g u a s , e s i m " Vz d e l é g u a s d e t e r r a e m q u a d r a n o s í t i o
a s e r s o l i c i t a d a , I g n á c i o n ã o o u s o u s o l i c i t a r m a i s d o q u e e s t a v a i n s c r i t o e m le i, c h a m a d o O s a e s d o s c o rv o s , " d a p a rte d e c á d o R io d e S ã o F ra n d s c o " ^ ^ e t a m ­
s o lic ita n d o trê s lé g u a s d e t e r r a s " e m a te n ç ã o a s d is ta s d e s p e s a s " “ e r e c e b e u a b é m r e c e b e u a c h a n c e la re a l. H a v ia a in d a o u tr o p e d id o , d e J o ã o J o s é C o r r e ia
c o n fin n a ç ã o e m 5 d e ju n h o d e 1 8 0 0 .
S e m fe rir a s n o rm a s , Ig n á c io P a m p lo n a , n o e n ta n to , o p e ra v a c o m o s
d is p o s itiv o s le g a is p a r a , a o m e s m o te m p o , m a n t e r o s e u p o d e r s o b re a q u e ­
la s á re a s e s e s u b m e te r a o s d ita m e s d a C o ro a . 21 AUU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Theodoria Correia Pamplona. Códice 166,
folhas 56v a 57v.
22 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Rosa Correia Pamplona. Códice 166, folhas 58
V a 59 V.

17 Ibidem. 23 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Simplicia Correia Pamplona. Códice 166, fo­
lhas 66 V a 67 v.
18 Ibidem.
19 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Ignácio Correia 1’aiiiplona. Códice 166, folhas 24 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Ignaãa Correia Pamplona. Códice 166, folhas
69 a 70. 72 a 73.

20 AHU. Carta de Confinnação de Sesmarias. Ignácio Correia I'.niiploii.i. ( lódicc 166, folhas 25 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Bemardina Correia Pamplona. Códice 166,
69 a 70. folhas 68 a 69.
186 MArcia M aria M enendes M oita D ireito à terra no Brasil 187

P a m p l o n a , p r o v a v e l m e n t e p a r e n t e d e I g n á c i o , q u e s o l i c i t o u " Vi l é g u a d e t e r ­ d o s Ó rfã o s a o s e u filh o , o p a d r e I g n á c io n a c id a d e d e M a r ia n a " c o m s o b r e ­


r a e m q u a d r a n a v ila d e S ã o J o s é , c o m a r c a d o R io d a s M o r te s v iv ê n c ia s p a r a a s s u a s filh a s e o H á b ito d a O r d e m d e C ris to p a r a s i e p a r a
M a s n ã o e r a a s s im t ã o fá c il o p e r a r c o m o s d is p o s itiv o s r é g io s . C o m o se u f il h o " .A in d a n e s se m e s m o a n o , a o se a firm a r c o m o " re g e n te e g u a rd a
a f i r m e i , t a n t o I g n á c io c o m o s u a s f ilh a s r e c e b e r a m a c h a n c e la d e s u a s s e s m a ­ m o r d a s te r r a s e m in e r a is , Ig n á c io s o lic ita v a a J o ã o V I o h á b ito d e N o s s o
r ia s , m a s 0 e s tr a n h a m e n to e m r e la ç ã o à f o rm a c o m o a s te r r á s e r a m s o lic i­ S e n h o r d e J e s u s C r is to p a r a " s e u f ilh o e ta m b é m a p r o p r i e d a d e d e o fíc io d e
ta d a s p r o v o c o u u m a m u d a n ç a n o s p la n o s d e Ig n á c io . E le te v e s u a s e s m a ria e s c r iv ã o d e ó r fã o s p a r a a s s u a s f ilh a s " .”
c h a n c e l a d a e m 1 6 d e d e z e m b r o d e 1 8 0 1 .^ ’ R o s a t e v e s u a t e r r a c o n f i r m a d a , U m a n o d e p o is , Ig n á c io C o rre ia P a m p lo n a m a is u m a v e z se a p r e s e n to u
t a l c o m o p e d ir a , e m 3 0 d e j a n e i r o d e 1 8 0 2 .“ T h e o d o r a n ã o t e v e a m e s m a c o m o u m fie l s ú b ito d o R e i a o r e q u e r e r a u to r iz a ç ã o p a r a u s a r p is to la s e f a ­
s o r te , p o is o d o c u m e n to a o v ir e m s e g u id a a o d e R o s a , fe z v e r q u e se tr a ta v a c a s e o u tr a s a rm a s q u a n d o a n d a s s e p e lo s s e rtõ e s d a c a p ita n ia d e M in a s G e ­
d e u m a m e s m a á r e a . A C h a n c e la r ia in f o r m o u e n tã o q u e ; " E s ta s e s m a r ia é ra is , d e s p o v o a d o s e " a b u n d a n te s d e n e g r o s r o u b a d o r e s , ín d io s tr a id o r e s " .”
c o n tu d o o m e s m o q u e a r e q u e r id a lo g o a c im a d e s ta , s e m m a is d if e r e n ç a A p a r e n te m e n te , a s o lic ita ç ã o p a r e c e d e s c a b id a , já q u e é e r a m c o n h e c id a s
q u e o s n o m e s d o s s e s m e iro s , e a s s im d e v e a q u i in c o r p o r a r to d a s a té o n d e a s e x p e d iç õ e s d e I g n á c io C o r r e ia P a m p lo n a e s u a f a m a d e d e s b ra v a d o r d o
d iz J e r ô n im o J o s e C o rre ia e M o u ra .“ s e rtã o . É p o s s ív e l s u g e r ir e n tã o q u e o p e d id o a p e n a s tin h a m a n if e s ta i n te n ­
S im p líc ia p a s s o u p e lo m e s m o p r o b le m a ,, c o m a a le g a ç ã o d e q u e " e s ta ç ã o d e m o s tr a r a s u b m is s ã o d e n o s s a p e r s o n a g e m n u m p e r ío d o e m q u e e le
c a r ta é d e o m e s m o q u e a r e q u e r id a a c im a d e s ta . S ó d ife r e n o s n o m e s d o s d e s e ja v a s e r a c e ito n o h á b ito d e N o s s a S e n h o r a d e J e s u s C ris to .
s e s m e ir o s [ ...] c o m e s ta s d ife re n ç a s s e d e v e a q u i in c o r p o r a r , u s a n d o d o in - E m n o v e m b r o d e 1 8 0 5 , o e n tã o c o ro n e l Ig n á c io C o rre ia P a m p lo n a r o ­
c o r p o r a m e n t o q u e e la s e r e f e r e " .^ ” g a v a m e r c ê p o r s e u s d is tin to s s e rv iç o s . E m d e z e n a s d e p á g in a s e n c a m in h a ­
N o e n ta n to , a p e s a r d a s d ú v id a s p ro v o c a d a s q u a n d o d a a p r e s e n ta ç ã o d a s p a r a o C o n s e lh o U ltr a m a r in o , P a m p lo n a r e la ta v a s u a s e x p e d iç õ e s , s e n
d o s d o c u m e n to s p a r a a C h a n c e la ria , n ã o n o s p a r e c e q u e is s o te n h a im ­ e m p e n h o p a ra a d e s tru iç ã o d o s Q u ilo m b o s e s e u p e rc u rs o c o m o c o n q u is ­
p e d id o a in c o r p o r a ç ã o d a s te r r a s p e la fa m ília d e I g n á c io , p o is o C o n s e lh o ta d o r . E le e x p re s s a v a a s s im o e m b le m a d o s ú d ito d o re i, n a e x p e c ta tiv a d e
U ltr a m a r in o r e f e r e n d o u a o c u p a ç ã o d a q u e la s á re a s , s e m q u a lq u e r a d e n d o v e r re c o n h e c id o s u a tra je tó r ia e s u b m is s ã o .”
d if e r e n te d a s o u tr a s c o n c e s s õ e s . A C h a n c e la ria a p e n a s a c a ta v a ü m a d e c is ã o D iv e rs a fo i a t r a j e t ó r ia d e u m d o s h e r d e i r o s d e G a rc ia R o d r ig u e s P a e s .
q u e c a b ia a o C o n s e lh o e c o m o n ã o se h a v ia e x ig id o q u a lq u e r d e m a r c a ç ã o E s te ú ltim o fo ra o r e s p o n s á v e l p e la a b e r tu r a d o C a m in h o N o v o p a r a M in a s ,
p r e c is a d o s te r r itó r io s a lm e ja d o s , a d o a ç ã o ré g ia g a r a n tir a a in c o r p o r a ç ã o d e p e lo s f u n d o s d a s e r r a d o s Ó rg ã o s . A o d e s c e r p e la tr ilh a in d íg e n a n a s e rr a d a
v á r ia s lé g u a s p a r a a fa m ília d e Ig n á c io . M a n t i q u e i r a , d e s c o b r i u , p o r v o l t a d e 1 6 8 3 , u m r e m a n s o n o r i o P a r a í b a . A li
C o m o r e p r e s e n ta n te d e a m b o s o s in te re s s e s , o s e u e o d a C o ro a , I g n á ­ a b riu a f a z e n d a d a P a r a íb a , in s ta la n d o a lg u n s d e s e u s a g re g a d o s . A c re d ita -
c io C o r r e ia P a m p lo n a , já c o m o c o ro n e l d e m ilíc ia s d o r e g im e n to d o S e r tã o
d o P ia u í, a in d a r e q u e r e u , e m 1 8 0 1 , "a p r o p r i e d a d e d o o fíc io d e e s c r iv ã o
31 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Ignácio Correia Pamplona. Cx. 160 doc. 3. Cl)
047.145,0405.
26 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. João Jose Correia Pamplona. Códice 166,
32 AHU. Projeto Resgate. Minas Gçrais. Ignácio Correia Pamplona. Cx. 160, doc. 4. CD 047,
folhas 73 a 74 V.
145, 0409.
27 ANTT. Chancelaria D. Maria, livro 65, p. 668V.
33 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Ignácio Correia Pamplona. Cx. 164, doc. 37. CD 048,
28 ANTT. Chancelaria D. Maria, Livro 65, p. 267/268.
149, 0342.
29 ANTT. Chancelaria D. Maria, Livro 65, p. 268.
34 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Ignácio Correia Pamplona. Cx. 177, doc. 47. CD052,
30 ANTT. Chancelaria D. Maria, Livro 65 p. 269. 163, 009.
188 Márcia M aria M enenòrs M oita D ireito à terra n o Brasil 189

r a , e n tã o , t e r d e s c o b e r to p e d r a s p r e c io s a s e o u r o e , e m v is ta d is s o , s o lic ito u a q u e le s te r r a s h á m a is d e v in te a n o s , s e m " c o n tra d iç ã o a lg u m a , s e n d o o


u m a o r d e m re a l p a ra a a b e r tu r a d o c a m in h o . A p ó s in ú m e r a s te n ta tiv a s , q u e b a s ta v a p a r a " a d q u ir ir e m o p e rfe ito d o m ín io " . A le g a v a m a in d a q u e
e m q u e n ã o f a lta r a m v á rio s r e v e s e s , G a rc ia fo i a g ra c ia d o c o m o d o n a tá r io n ã o p a re c ia j u s t o q u e d e p o is d e te r e m fe itp c o n s id e r á v e is d e s p e s a s p a r a c u l ­
d e u m a v ila a s e r e rig id a n o " r io d a s á g u a s c la ra s " , n o s e r tã o d a P a ra íb a , tiv a r a s te r r a s e b e n e fic ia r o s c a m in h o s , o u tro s s e a s s e n h o r e a s s e m d a q u e la s
re c e b e n d o a c o n c e s s ã o d e u m a g r a n d e g le b a d e te r r a s o f ic ia lm e n te d e v o lu ­ te r r a s . E a le r ta v a m :
ta s , n o c a m i n h o p a r a M in a s . A s s im , G a r c ia R o d r ig u e s , e m 1 4 d e a g o s to d e
1 7 1 1 , fo i Porém, como toda a utilidade pública e da fazenda real convém
e é melhor que haja muito$ Sesmeiros, pois desta sorte crescem
avantajado coin uma data com a natureza de sesmarias como as lavouras e se aumentam os dízimos, convém e pode a respeito
se houvesse de dar repartidas a quatro pessoas, nas formas das desta utilidade dar-se meio para o sossego dos vassalos, cômodo
Reais Ordens, e que não seriam contíguas à Vila senão na parte de todos e para cessarem pleitos que das ditas demarcações que
em que não pudessem haver contendas e que se concederia se intentam fazer e vema ser o dito meio parecendo a V. Majes­
mais a cada um de seus doze filhos uma data.” tade; mandar reduzir cada uma das Sesmarias que se achar con­
firmada a meia légua pelo caminho e estrada que vai para Minas
N o e n ta n to , a c o n c e s s ã o o u tr o r a fe ita n ã o te ria c o n s a g ra d o o poder e a quarto de légua e as que assim se não achassem confirmadas
porque além de ser a terra que cada um pode comodamente
in c o n te s té d e G a rc ia R o d r ig u e s e d e s u a f a m ília . E m d o c u m e n t o não da­
lavrar, ficando-lhe falhas livres de uns anos para outros não tem
ta d o , s o b a g u a r d a d o I n s titu to H is tó ric o e G e o g rá fic o B r a s ile ir o , há um a
também inconveniente em terem menos de testada pela estra­
e x te n s a e x p la n a ç ã o d e m o tiv o s p a r a lim ita r a e x te n s ã o d a q u e la s te rra s . da, pois aquela pelo que nela retira com a dita redução se lhe
pode compensar quando V. Majestade seja .servido para as ilhar­
Dizem as pessoas [que] têm sesmarias no Caminho que vai do gas do sertão de uma e outra parte, dando-se-lhe nelas a mesma
Rio de Janeiro para as Minas do ouro, que na picada que abriu légua que têm, com o que veem a ficar com a mesma extensão
Garcia Rodrigues, no mesmo caminho, têm os governadores de sesmaria e assim sem prejuízo algum, ficando pelo referido
daquela capitania concedido a muitas pessoas, datas de terras, modo também a esmo dados os que estão povoados e têm fabri­
tanto do princípio da Serra dos Órgãos até o Rio da Paraíba, cado as ditas datas à sua custa em utilidade do público e da real
como do mesmo Rio para cima até as primeiras minas do Rio fazenda com a qual utilidade fica a mesma na dita redução pois
das Mortes e da facilidade com que se tem feito as ditas muitas como está dito de serem muitos os Sesmeiros resulta serem mais
datas de Terra, principalmente do princípio da dita Serra até o as lavouras e, em consequência muito acrescentados os dízimos
dito Rio da Paraíba tem sucedido darem-se muitas Sesmarias pelo que para V. Majestade lhe faça mercê mandar que na de­
de Légua de Terra em quadra, que realmente não cabem na marcação e medição se reduzam as sesmarias confirmadas por
extensão do dito caminho por serem mais as Sesmarias que as V. Majestade a meia légua e as que o não estiverem, a quarto de
léguas que há de uma e outra parte [...]. légua e que quando se entenda que não deve diminuir nas tes­
tadas pelas ilhargas do sertão de uma e outra parte [...].
N o s d o c u m e n to s , o s m o ra d o re s in fo rm a v a m s o b re a a n tig u id a d e d a
o c u p a ç ã o d e a lg u n s s e s m e iro s e a le g a v a m q u e h a v ia o s q u e c u ltiv a v a m E m 9 d e d e z e m b r o d e 1 7 9 6 , G a r c ia P a e s L e m e - h e r d e i r o d e G a r c i a
R o d r ig u e s - d irig iu a o c o n d e d e R e s e n d e , e n tã o p r e s id e n te d o C o n s e lh o
35 C.M.P.S. Ata da Sessão de 26 de janeiro de 1836. U l t r a m a r i n o , u m p e d id o e m q u e s o lic ita v a m e r c ê e m r e m u n e r a ç ã o a o s
D ireito à terra no Brasil 191
190 M árcia M a r u M enendes M oita

s e u s s e r v iç o s . O c o n s e lh o d e u v is ta a o r e q u e r im e n to e s o lic ito u q u e e le Ao q u e p a re c e , o C o n s e lh o h a v ia s e p o s ic io n a d o a fa v o r d o p le ite a n te ,


f o s s e a p r e c i a d o p e lo fis c a l d a s m e r c ê s . O s p a p é is f o r a m e n tã o r e m e tid o s a o p o is n o d o c u m e n to d o M in is té r io d o R e in o h á a in d ic a ç ã o d e q u e s e r e c o ­
d e s e m b a r g a d o r F r a n c is c o F e lic ia n o V e lh o C o s ta M e s q u ita C a s te lo B r a n c o . n h e c ia a ju s te z a d o p le ito , e m r e m u n e r a ç ã o a o s s e rv iç o s p r e s ta d o s p o r G a r­
S e u p a r e c e r fo i d e q u e , o s u p lic a n te n ã o a p r e s e n to u " fo lh a s c o rrid a s , r e q u e ­ c ia P a e s L e m e . A lé m d is s o , a g r a tif ic a ç ã o s o lic ita d a r e s u l ta r ia e m " B e n e f íc io
r id a s p e lo R e g im e n to , e n q u a n t o a o s S e rv iç o s n ã o v i n h a m p r o c e s s a d o s n e m P ú b lic o d a C u l tu r a d a q u e la s t e r r a s q u e o s u p lic a n te d iz s e a c h a m d e v o lu ta s ,
l e g a l i z a d o s n a s C o n f o r m i d a d e s d a s O r d e n s d e V o s s a M a j e s t a d e " . ’"^ e rm a s e in c u lta s " .^ '
E m d e s p a c h o d e f e v e r e ir o d o a n o s e g u in te , fo i s o lid ta d o a o s u p lic a n te O C o n s e lh o in f o r m a v a a in d a q u e o s u p lic a n te iria a g r e g a r e s s a s e s m a ­
q u e a te n d e s s e à s e x ig ê n c ia s p a r a o r e c e b im e n to d a m e rc ê . O s d o c u m e n to s ria a u m a á r e a q u e já p o s s u ía p o r p a r tilh a d e p a tr im ô n io , o c o rr id a p o r f a le ­
f o r a m e n t ã o a p r e s e n ta d o s v ia C o n s e lh o U ltra m a r in o , m o s tr a n d o q u e G a rc ia c im e n to d e s e u a v ô , p a i e tio . E m 6 d e a b r il d e 1 7 9 7 , a d e c is ã o é f a v o r á v e l
R o d r ig u e s P a e s L e m e e ra F id a lg o d a C a s a d e V o ssa M a je s ta d e , n a tu r a l d e R io a G a rc ia R o d r ig u e s d e P a e s L e m e , E m 2 5 d e a g o s to d o m e s m o a n o , a c a r ta
d e J a n e i r o e s e rv iu n o p o s to d e c a p itã o d e c a v a lo s d a le g iã o d o s V o lu n tá r io s d e s e s m a r ia é c o n f i r m a d a e s e r e p e t e m o s s e rv iç o s p r e s ta d o s p o r G a rc ia ,
R e a i s , n a c a p i t a n i a d e S ã o P a u lo .* ^ m e r e c e d o r d a m e r c ê s o lic ita d a . N o e n ta n to , e m 2 6 d e n o v e m b r o d e 1 7 9 9 ,
A d e m a is , o s u p lic a n te a le g a v a te r s id o c o n v o c a d o p e lo V ic e -R e i o v ic e - re i, c o n d e d e R e s e n d e , i n f o r m a a o C o n s e lh o U ltr a m a r in o q u e G a rc ia
M a r q u e z d e L a v r a d io , p o r o c a s iã o d a g u e r r a d o S u l, e m 1 7 9 5 , e q u e e le R o d rig u e s P a e s L e m e n ã o tin h a d ir e ito a s e s m a ria p o r e le o b tid a j u n to à fa ­
" le v a n ta s s e a s s u a s c u s ta s " u m a c o m p a n h ia n a r e g iã o e q u e , e m f e v e r e i­ z e n d a d e S a n ta C ru z . A in d a s e g u n d o a c o n s u lta , n o s s o p e rs o n a g e m d e v e ria
r o d o a n o s e g u in te , e le o b tiv e r a o r d e m p a r a m a r c h a r c o m a s u a c o m p a ­ d e v o lv e r a c a rta q u e lh e f o ra c o n c e d id a U ’
n h i a , q u a r e n t a r e c r u t a s p a r a o c o n t i n e n t e d o R i o G r a n d e ” .’ ® E m m a io d a q u e le a n o , o c h a n c e l e r d a R e la ç ã o d o R io d e J a n e i r o , L u is
G a r c ia P a e s L e m e ta m b é m a le g a v a te r c u m p r id o o r d e n s d e F ra n c is c o B e ltr ã o d a G o u v e ia A lm e id a , h a v ia e n c a m i n h a d o u m o fíc io p a r a o s e c r e tá ­
d a C u n h a M e n e z e s - q u e fo ra g o v e rn a d o r d a c a p ita n ia d e S ã o P a u lo - e q u e r io d o E s ta d o d a M a r i n h a e U l t r a m a r , D . R o d r ig o , n o q u a l e x p r e s s a v a s iia
" e m to d o o te m p o d o s e u g o v e rn o , o s u p lic a n te e x e c u ta ra c o m to d a a p r o n ­ a p re e n s ã o a c e rc a d a s d ific u ld a d e s d e a d m in is tr a r a fa z e n d a re a l, re la ia m lo
tid ã o a s s u a s o rd e n s O s u p lic a n te p e d ia a s s im q u e lh e fo s s e c o n c e ­ 0 a u m e n to d o p re ç o d a s te r r a s , d a s v e n d a s m a rc a d a s p o r irre g u la rid a d e s c
d id o p o r s e s m a r ia o te r r e n o o n d e e s ta v a já e s ta b e le c id o e q u e m a n d a s s e o c o r r u p ç ã o , e e n c a m i n h a n d o d a d o s s o b r e a F a z e n d a S a n t a C r u z .'”
N a q u e le a n o , a lé m d o s in ú m e r o s p e d id o s d e s e s m a ria s , a s d e n ú n c ia s d c
Ministro da Relação do Rio de Janeiro e o Piioto de Corda que, c o n flito s c h e g a r a m a o C o n s e lh o n u m c u r t o e s p a ç o d e te m p o . J á e m m a r ç o d c
à custa do suplicante, achando certo que ali não há mais estabe­ 1 7 9 9 , 0 c a p itã o B e r n a r d o J o s é D a n te s s o lic ita v a q u e o p r o v e d o r d a f a z e n d a
lecimento que o do suplicante e que todo o mais terreno é ermo re a l d o R io d e J a n e ir o o u " q u a lq u e r m in is tr o d a R e la ç ã o d a m e s m a c id a d e
e inculto, lhe demarque e dè posse de três léguas em quadra."’ " p ro c e d e sse a o le v a n ta m e n to d o s m a rc o s d e s e u e n g e n h o J o a ry , n a fre g u e sa
d e C a m p o s d e G o i t a c a s e s . ““

41 ibidem.
42 AHU. Rio de Janeiro, tx. 179, doc. 47. Consulta do Conselho Ultramarino ao príiu'l|)c
36 ANTT. Ministério do Reino. Consulta do Conselho Ultramarino. Maço 322.
regente D. João sobre o requerimento de Garcia Rodrigues Pais Leme.
37 Idem.
43 AHU. Rio de Janeiro, cx. 177, doc. 5. Ofício do chanceler da Relação do Rio de Janeiro,
38 Ibidem.
Luís Beltrão de Gouveia de Almeida.
39 Ibidem.
44 AHU. Rio de Janeiro, Requerimento do capitão Bernardo José Dantas, cx. 173, doc. 17,
40 Ibidem. cx. 180, doc. 36.
192 MAr o a M aria M enendes M o m D ireito à terra no Brasil 193

E m s e te m b r o d o m e s m o a n o , n o d is tr ito d e C a m p o s d o s G o ita c a s e s , m a ç ã o d e q u e c a b e ría a o v ic e -re i c o m p a r a r o d o c u m e n to a p r e s e n ta d o p o r


o c a p itã o M a n o e l A n to n io R ib e iro d e C a s tro q u e ix a v a - s e d a a u s ê n c ia d e G a rc ia P a e s L e m e s .
f o r o p r ó p r io e r e la ta v a a s " d if ic u ld a d e s e m to r n o d a e s p o lia ç ã o d a s te r r a s
d e s u a m u lh e r ." “^ Como parece e o conselho expressa ao Vice-Rei convenientes
A in d a n o m ê s d e s e te m b ro , o t e n e n te d o p r im e ir o r e g im e n to d e M i­ Ordens que me consultasse não só para fazer repor na Secreta­
líc ia s d o R io d e J a n e i r o , A n to n io N u n e s A g u ia r, e n c a m i n h o u u m r e q u e r i ­ ria daquele governo a Carta de Sesmarias que obteve o supli­
m e n to a o p rín c ip e r e g e n te p e d in d o p r o v id ê n c ia s q u a n to à d e m a rc a ç ã o d e cante, mas ainda para examinar e comparar a cópia do reque­
s u a s e s m a ria n o d is tr ito d e M a c a é , in v a d id a p o r s e u v iz in h o e s e u s re s p e c ti­ rimento que se processa no Conselho e mais papéis que se hão
de remeter ao mesmo Vice-Rei, autorizando também para que
v o s e s c r a v o s q u e n e la d e s tr u ír a m c a s a s e p la n ta ç õ e s ; " te n d o e s te s id o p re s o ,
proceda e obre da Consulta ao Conselho. O conselho deve ficar
fo i s o lto , e m r a z ã o d a s u a a m iz a d e c o m o d e s e m b a r g a d o r d a R e la ç ã o , te n d o
na inteligência que as sesmarias no Brasil só se devem dar-se
v o lta d o a o m e s m o d e lito " . O te n e n te in f o r m a v a a in d a q u e s e u d e s a fe to na forma que tendo estabelecido e que semelhantes ordens só
h a v i a u s u r p a d o p a r t e d e s u a s t e r r a s . “*® as mando expedir pela competente repartição, exceto quando
E m n o v e m b r o , fo i a v e z d e D o m in g o s d e F re ita s R a n g e l, m o ra d o r d a por ordem especial for servido.“”
c id a d e d o R io d e J a n e i r o . E le d e m a n d a v a q u e fo s s e p a s s a d a p r o v is ã o p a r a
( |i i e o o u v i d o r d a c o m a r c a m e d i s s e e d e m a r c a s s e a s s u a s t e r r a s , n a f r e g u e s i a O c o n s e lh o re s p o n d ia a u m a c o n s u lta d o v ic e -re i e c a p itã o g e ra l d e
d e S ã o J o ã o d e I t a b o r a í . “^ T e r r a e M a r d o E s t a d o d o B r a s il , J o s é L u i z d e C a s t r o , 2 ° c o n d e d e R e s e n ­
A i n d a e m d e z e m b r o d a q u e l e a n o , u m o f í c i o d a C â m a r a d a v i la d o s C a m - d e , o n d e a q u e le a fir m a v a q u e " Is to n ã o s ó p a r a q u e e s te c o n s e l h o p o s s a
f)O s d o s G o i t a c a s e s e r a d i r i g i d o a D . R o d r i g o d e S o u s a C o u t i n h o , c o m u n i c a n ­ e s ta r c ie n te d a s u a R e a l R e s o lu ç ã o s o b re e s te o b je to , m a s p a r a q u e fiq u e
d o a s q u e i x a s d o s m o r a d o r e s d o s s u b ú r b i o s e d i s t r i t o s d a q u e l a v i la , c o n t r a o s p r e v e n i d o , a f i m d e n ã o a t e n d e r s e m e l h a n t e s r e q u e r im e n to s " .® ® S e g u n d o o
a b u s o s c o m e t i d o s p e l o s a d m i n i s t r a d o r e s d a s t e r r a s d o v i s c o n d e d e A s s e c a .“*® d o c u m e n t o , G a r c ia R o d r i g u e s P a e s L e m e h a v i a s o l i c i t a d o t r ê s l é g u a s d e t e r ­
T a is d e n ú n c i a s o u p e d i d o s a l e r t a v a m a o C o n s e l h o s o b r e o s r e s u l t a d o s r a s e m r e m u n e r a ç ã o a s e u s s e rv iç o s. E m a v is o d e 9 d e d e z e m b r o d e 1 7 9 6 ,
m a is n e fa s to s d a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s . A s o b re p o s iç ã o d e te rra s , a s d is ­ e x p e d id o p e la S e c re ta ria d e N e g ó c io d a M a r i n h a e D o m ín io s L f ltr a m a rin o s
p u ta s n a s f r o n te ir a s ,^ d is c u s s ã o s o b re a le g a lid a d e d a o c u p a ç ã o p a s s a v a m d e q u e " s o b a c ó p i a d a s o b e r a n a p r e s e n ç a d e V .A .R c o n t e m p l a d a e m o u t r o
a e s ta r " n a o r d e m d o d ia " . c m te rio r a v is o d e 1 2 d e a b ril d e 1 7 9 6 e f in a lm e n te b a ix o u r e s o lu ta c o m a
C o m p r e e n d e - s e a s s im p o r q u e e m fin s d a q u e le a n o o p e d id o d e s e s m a ­ p o r ta r ia n ú m e r o 3 , q u e e x p e d iu a o C o n s e lh o o s e c r e tá r io d e E s ta d o q u e fo i
r ia f e ito p o r G a rc ia R o d r ig u e s P a e s L e m e f o i c o lo c a d o e m s u s p e iç ã o . N u m d a r e p a r tiç ã o d o R e in o J o s e d e S e a b ra d a S ilv a " .
d o c u m e n to o r iu n d o d o f u n d o d o R e g is tr o d e C o n s u lta M is ta h á a in fo r- A in d a s e g u n d o o d o c u m e n to , a c o n s u lta q u e o c o n s e lh o re d ig iu a o tr o ­
n o a fir m a v a q u e e ra c o m u m d a re m -s e te r r a s v a g a s a " in d iv íd u o s q u e n ã o
45 AHU Rio de Janeiro, 1799. Ofício do capitão Manoel Antônio Ribeiro Castro, cx. 176, t ê m q u a lid a d e a lg u m a d e s e rv iç o s " , n ã o s e n d o o c a s o d o p l e i t e a n t e G a rc ia
doc. 32. R o d r ig u e s . A s s im s e n d o , n a c e rte z a d e q u e a m e r c ê p e d id a n ã o p r e j u d i c a v a
46 AHU Rio de Janeiro, 1799. Requerimento de Antonio Nunes de Agtiiar, cx. 176, doc. 34. q u a is q u e r te rc e iro s e m s e u s d ire ito s , m u it o m e n o s a R e a l F a z e n d a " q u e
47 AHU Rio de Janeiro, 1799. AHU - Requerimento de Domingos de Preitas Rangel, cx.
ISO, doc. 7.
48 AHX) Rio de Janeiro, 1799. AHU Ofício da câmara da Vila de S.'io S.ilvadoi dos C.impos 49 AHU. Consultas Mistas, códice 27.
dos Goitacazes. 50 Idem.
194 M/írcia M aria M enendes M otta
D ireito à terra n o Brasil 195

n e n h u m lu c ro p o d ia e s ta r e c e b e r d e u m a s te rra s in c u lta s e a b a n d o n a d a s
n a q u e le s s e rtõ e s " , v ira s e r ú til a o s u p lic a n te , c o n v e n ie n te a o P ú b lic o e i n ­ D o alargam ento da concessão e territorialidade
te re s s a n te à R e a l F a z e n d a " ’* a m e n c io n a d a c o n c e ssã o . E m s u a s d is p u ta s p a ra s e r r e c o n h e c id o c o m o o le g a l o c u p a n te d a q u e la s
A q u e s tã o q u e s e c o lo c a v a a p a r tir d o r e q u e r im e n to e n v ia d o p e lo te r r a s , G a rc ia P a e s L e m e a ju d a v a a tr a z e r à lu z a fa c e m a is in te r e s s a n te d a
v ic e -re i e ra o fa to d e q u e n ã o se p o d ia a s s e g u ra r q u e a s te rra s re c e b id a s c o n c e s s ã o d e s e s m a r ia s e m f in s d o s é c u lo X V III. E la s p o d e r i a m s e r d a d a s a o s
p o r G a rc ia P a e s L e m e e r a m a s m e s m a s d a s q u e já " e s ta v a m n a p o s s e s s ã o " in d iv íd u o s q u e n ã o te m q u a lid a d e a lg u m a d e s e rv iç o s " , r e v e la n d o , p o r ta n ­
d e o u tr o s te r c e ir o s ta is q u a is s ã o a fa z e n d a r e a l e q u a lq u e r o u tro q u e e s tã o to , o r e c o n h e c im e n to d e u m a d in â m ic a d e o c u p a ç ã o m a r c a d a m e n te in te n s a
d e s f r u ta n d o c o m títu lo o u s e m e le P o r e s ta ra z ã o , o C o n s e lh o e m itia e a p r o p a g a ç ã o d e s s a c o n c e s s ã o . N e s s e s e n tid o , a f la g r a n te e ó b v ia d ife r e n ç a
o p a re c e r s e g u n d o o q u a l o v ic e -re i d e v e ria r e m e te r à S e c re ta ria a e n tr e o s c u ltiv a d o re s - a lg u n s s e n h o r e s e p o s s u id o r e s d e trê s lé g u a s , e n q u a n ­
to o u tro s , d o n o s d e a lg u m a s b r a ç a s - n ã o in ib ia o f a to in c o n te s tá v e l d e q u e
a Carta de Sesmaria que obteve o sobredito Garda Paes. E que o s s e s m e ir o s o u p o te n c ia is s e s m e ir o s d e s e ja v a m u m t ítu lo le g ítim o , u m p o r to
o mesmo Vice-Rei remeta sua cópia do Requerimento que se
s e g u ro , n u m m a r d e c o n flito s e d is p u ta s p e lo a c e s s o à te r r a . O s p e q u e n o s
processou neste conselho promovam e motivam aquela Mer­
cê acompanhando-a outra igual cópia da Portaria quem manda la v ra d o re s p e rc e b ia m h a v e r c u m p rid o a s d e te rm in a ç õ e s e le m e n ta re s p a ra a
lavrar a dita carta, para que combinando um e outros papéis se c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s . E le s e r a m c u ltiv a d o r e s d e p e q u e n a s p a rc e la s d e te r ­
possa ver no conhedmento se são as mesma terras, de que ele ra s , e p o d ia m a s s im fa z e r ju s a o títu lo d e s e ja d o . O s q u e tin h a m a s s e n h o r a d o
Vice-Rei tratou no dito seu Ofício, Autorizando a V.A.Rpara que e n o rm e s e x te n s õ e s d e te r r a s ta m b é m s e s e n tia m e m c ré d ito c o m a C o ro a .
ele sendo as mesmas no todo ou erh parte faça logo caçar e aver­ N ã o s o m e n t e e le s h a v ia m c u ltiv a d o a o m e n o s p a r t e d a q u e la s te r r a s , c o m o
bar todos os registros que ali se houverem feito da dita Carta.” s e rv ira m a C o ro a e, p o r ta n to , e s ta v a m a n s io s o s p o r r e c e b e r ta l m e rc ê .
S e le m b r a r m o s d a s ila ç õ e s d e D o m R o d r ig o ,” d is c u tid a s p á g in a s a tr á s ,
O c a s o d e G a r c ia P a e s L e m e a n u n c ia e d e n u n c ia a s p o s s ív e is i n t e r v e n ­ p o d e m o s c o m p re e n d e r c o m o a s s e s m a ria s to rn a r a m - s e u m o b je to d e s e ja d o
ç õ e s e m q u e s t ã o d e t e r r a s . E m f i n s d o s é c u l o X V III, r e s u l t a d o d e u m i n t e n s o e p a s s ív e l d e s e r c o n s e g u id o p o r d is tin t o s e s tr a to s s o c ia is . M u ito s d e s s a s c o n ­
p ro c e s s o d e o c u p a ç ã o d e te rra s , a c o n c e ssã o se to rn a a o s p o u c o s m a rc a d a - c e ss õ e s e ra m , c o m o v im o s , u m a e s tr a té g ia d e s e s m e iro s p a ra e s te n d e r s u a
m e n te te r r ito ria l, a n te s d e p o lític a . N ã o à to a , c o m o v im o s , e n tr e o s a n o s d e o c u p a ç ã o p a ra a lé m d e h ip o té tic o s lim ite s o rig in a is . M a s h a v ia ta m b é m o s
1 7 9 5 a 1 8 0 6 f o r a m s o lic ita d a s 1 2 8 p ro v is õ e s r e la tiv a s à d e m a r c a ç ã o . A in d a q u e a p e d ia m p e lo q u e e la s e r a m d e f a to , o u s e ja , r e s to s d e te r r a , p e d a ç o s
q u e o n ú m e r o p a re ç a in s ig n ific a n te , n o c o n ju n to d e te rra s já in c o r p o r a d a s a in d a liv re s , f r o n te ir iç o s a o u t r a s c o n c e s s õ e s e f a z e n d a s . A s s im s e n d o , é p o s ­
(le m b re m o s a q u i q u e s ó n o p e río d o d e 1 7 9 5 a 1 8 2 3 fo ra m c o n c e d id a s 1 0 2 4 s ív e l a f i r m a r q u e j á n ã o h a v i a , e m f i n s d o s é c u l o X V I II , u m a r e l a ç ã o d i r e t a
s e s m a r ia s ) , e la s r e v e la m o e n s a io d e a lg u n s e m s o lu c io n a r o u e v ita r c o n flito s . e n t r e a m e r c ê - s e s m a r i a s - e o eth os n o b i l i á r q u i c o . O s d a d o s a b a i x o p a r e c e m
E m q u a s e to d a s e la s , o p e d id o d e d e m a r c a ç ã o v in h a a c o m p a n h a d o p o r in f o r ­ c o n f ir m a r o ra c io c ín io . V e ja m o s c o m m a is d e ta lh e s e s ta ú ltim a in fo r m a ç ã o .
m a ç õ e s re la tiv a s à s q u e s tõ e s p e n d e n te s e n tr e o s c o n fro n ta n te s .

53 "Também aqui consta que muitas vezes se tem dado no Brasil sesmarias a pessoas que
51 Ibidem. não têm meios, nem indústria para tirar partido delas, e que depois perpetuam em si um
direito que nada lhes é vantajosos, e que vem ao contrário a prejudicar ou aos vizinhos das
52 Ibidem.
mesmas sesmarias, ou aos outros que têm cabedais e que as poderiam tomar".
M arcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 197

I n f o r m a ç õ e s so b r e o s t ít u l o s d o s se s m e ir o s q u a n d o A lé m d is s o , e m f in s d o s é c u lo X V III, o I m p é r io a d q u ir i a u m a t e r r i t o r i a l i ­
DA SOLICITAÇÃO DE SESMARIAS (1795/1823) d a d e m a r c a n te e ta l p ro c e s s o im p lic a v a o r e c o n h e c im e n to d a s in ú m e r a s
g r a d a ç õ e s d e c u ltiv a d o re s , d e p e rs p e c tiv a s d is tin ta s n a a ç ã o d e o c u p a r . A
T ítu los N ú m e ro P ercen tu al p a r tir d a c h a n c e la re a l, é p o s s ív e l q u e m u ito s p a s s a s s e m a a lm e ja r o u tr a s
Capitão 14
m e rc ê s , s e n tin d o -s e c o n c re ta m e n te p r iv ile g ia d o s e m r e la ç ã o a u m a m a io ­
Alferes 09
ria q u e a p e n a s s e a m p a r a v a n o a u to - r e c o n h e c im e n to d e s e r u m le g ítim o
Tenente 06
o c u p a n te , m a s q u e n ã o p o d ia u s u f r u ir d e u m títu lo d e d o m ín io e m e v e n ­
Padre 04
Tenente-Coronel 02
tu a is q u e re la s c o m s e u s c o n fro n ta n te s . H a v ia a in d a o s q u e , a d e s p e ito d a
Capitão-Mor 01
a u s ê n c ia d e u m d o c u m e n to s u f ic ie n te m e n te le g ítim o p a r a r e f e r e n d a r s u a
Sargento-Mor 01 o c u p a ç ã o , p a s sa s s e a v e r c o m o n ã o m e n o s le g ítim o o e m p r e g o d a v io lê n c ia
Guarda-Mor 01 n a c o n sa g ra ç ã o d e su a p o sse e m d e trim e n to d e o u tre m . E m s u m a , o q u e
Ajudante 01 d e s e jo a firm a r é q u e se in titu la r s e n h o r d e u m a te r r a , c h a n c e la d a c o m o
Coronel 01 m e rc ê , e ra u m a d is tin ç ã o q u e m a n tin h a n ã o a p e n a s s u a e fic á c ia s im b ó lic a ,
Sem Indicação 257 86,53% m a s - e n q u a n to h o n ra ria - p ro d u z ia a d ife re n ç a c o n c re ta e n tr e a q u e le q u e
Total 297 tin h a o títu lo e a q u e le q u e n ã o o tin h a .
FONTE:AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultra­
marino. Capitania do Rio de Janeiro. 1795/1798 - Códice 164. 1798/1801 - Códice 165.
1 8 0 1 /1 8 0 4 - Códice 166. 1805/1807 - Códice 167. 1807/1823 - Códice 168. Ministério da
Justiça. Arquivo Nacional. Relação de Algumas Cartas das sesmarias Concedidas eni Teiriló-
rio da Capitania do Rio de Janeiro. 1714/1800. Rio de Janeiro, 1968.

A in d a q u e o s d a d o s a c im a p o s s a m e s ta r s u b e s tim a d o s , é m a is q u e r a ­
z o á v e l s u p o r q u e o s s e r v iç o s m il it a r e s n ã o e r a m u m a " v ia d e c is iv a p a r a o
r e c e b i m e n t o d e s t a m e r c ê " , n o c a s o , a s s e s m a r i a s .^ " ' É c o e r e n t e a f i r m a r a i n ­
d a q u e n o s te r r itó r io s c o lo n ia is " in titu la r - s e s e n h o r d e u m a te r r a e r a u m a
d is tin ç ã o q u e c o n fe r ia u m a g r a d u a ç ã o n o b iliá rq u ic a , e v o c a tiv a d e o u tro s
te m p o s , e m a n t i n h a a s u a e fic á c ia s im b ó lic a e s o c ia l" ,” m a s - a o c o n tr á r io
d o q u e d e f e n d e N u n o M o n te ir o - ta l títu lo e s ta v a in tim a m e n te lig a d o a u m
e x e rc íc io p r á tic o , o u s e ja , e m p o d e r s e a u to - i n ti tu l a r s e n h o r e p o s s u id o r d e
te r r a s , t e n d o c o m o b a s e u m a m e r c ê q u e lh e c o n fe r ia u m títu lo le g ítim o .

54 Apoio-mc aqui nas considerações de Nuno Monteiro, in.is sigo oiiira direção de análise.
Nuno Gonçalo Monteiro "O Ethos Nobiliárquico no lin.il do Amigo Regime: poder sim­
bólico, império e imaginário social". In: Almanack llrazUinisc, ii. 2, novembro de 2005, p.
4-12.
55 Idem, p. li.

Potrebbero piacerti anche