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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS – IFG

CAMPUS APARECIDA DE GOIÂNIA


DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS
CURSO BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE PROJETO


CONSTRUTIVO DE UMA PEQUENA BARRAGEM DE TERRA
NO CÓRREGO DA CAVA – MORRINHOS/GO, COM FOCO
NA SEGURANÇA

MATHEUS DE OLIVEIRA GOMES


RAFAEL LEMOS TEIXEIRA

APARECIDA DE GOIÂNIA
2017
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS – IFG
CAMPUS APARECIDA DE GOIÂNIA
DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS
CURSO BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

MATHEUS DE OLIVEIRA GOMES

RAFAEL LEMOS TEIXEIRA

ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE PROJETO


CONSTRUTIVO DE UMA PEQUENA BARRAGEM DE TERRA
NO CÓRREGO DA CAVA – MORRINHOS/GO, COM FOCO
NA SEGURANÇA

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia
de Goiás - Campus Aparecida de Goiânia,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil e
desenvolvido na linha de pesquisa Geotecnia
– Obras de Terra, sob orientação do Prof. Dr.
Arlam Carneiro Silva Júnior.

APARECIDA DE GOIÂNIA

2017

ii
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

T266 Teixeira, Rafael Lemos

Análise e desenvolvimento de projeto construtivo de uma pequena


barragem de terra no Córrego da Cava – Morrinhos/GO, com foco na
segurança. / Rafael Lemos Teixeira, Matheus de Oliveira Gomes. - 2017.

51 f..: il.

Orientador: Prof. Dr. Arlam Carneiro Silva Júnior.


Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Goiás: Campus Aparecida de Goiânia,
Bacharelado em Engenharia Civil, 2017.

1. Pequenas barragens de terra. 3. Projeto. 4. Segurança. I. Gomes,


Matheus de Oliveira . II. Título.
CDD 627.8
Catalogação na publicação:
Suzane Gonçalves Duarte – CRB 1/2746
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
RESUMO

OLIVEIRA, M. G.; TEIXEIRA, R. L. Análise e desenvolvimento de projeto construtivo de


uma pequena barragem de terra no Córrego da Cava – Morrinhos/GO, com foco na
segurança. 2017. 51 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) –
Departamento de Engenharia Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás, Campus Aparecida de Goiânia, 2017.

As barragens são obras civis de suma importância na gestão dos recursos hídricos, já que
armazenam água no período de chuvas para suprir demandas nos períodos de escassez. A
existências de pequenas barragens de terra é muito comum e na maioria das vezes são
construídas sem a elaboração de projeto, colocando em risco a obra e as pessoas e
ocasionando prejuízos financeiros. Em Goiás tal prática é comum, fato este relacionado a
ocorrências de rompimento de barragens com significativos danos. O projeto construtivo de
barragens de terra deve ser feito por profissionais capacitados, com base em estudos,
análises e critérios adequados. O objetivo deste trabalho foi desenvolver e analisar o projeto
construtivo de uma barragem de terra de pequeno porte no Córrego da Cava, em
Morrinhos/GO. O projeto foi desenvolvido a partir do detalhamento das etapas de escolha da
local da barragens, levantamento topográfico, estudos hidrológicos e dimensionamento
hidráulico e estrutural da barragem propriamente dita. Ao final o projeto foi submetido a
simulação de estabilidade do maciço de terra através do programa Geostudio 2016 –
SLOPE/W, considerando as dimensões de cálculo e atribuição de valores esperados aos
parâmetros de análise. Os resultados obtidos se demonstraram satisfatórios para as
condições simuladas, remetendo a estabilidade adequada do maciço de terra da barragem
projetada.

Palavras-chave: Pequenas barragens de terra. Projeto. Segurança.

iv
ABSTRACT

OLIVEIRA, M. G.; TEIXEIRA, R. L. Construction project of a small earth dam in the Cava
Stream, in Morrinhos - Goiás. 2017. 51 p. Completion of Course Work (Graduation in Civil
Engineering) - Department of Civil Engineering, Federal Institute of Education, Science and
Technology of Goiás, Campus Aparecida of Goiânia, 2017.

The dams are civil works of great importance in the management of water resources, since
they store water in the rainy season to meet demands during periods of scarcity. The existence
of small earth dams is very common and most of the time they are built without the elaboration
of project, putting at risk the work and the people and causing financial losses. In Goiás such
practice is common, a fact related to occurrences of rupture of dams with significant damages.
The constructive design of earth dams should be done by trained professionals, based on
studies, analyzes and appropriate criteria. The objective of this work was to develop and
analyze the constructive project of a small earth dam in the Cava Stream, in Morrinhos / GO.
The project was developed from the detailed steps of choosing the location of the dams,
surveying, hydrological studies and hydraulic and structural design of the dam itself. At the
end, the project was submitted to simulation of stability of the land mass through the program
Geostudio 2016 - SLOPE / W, considering the dimensions of calculation and assignment of
expected values to the parameters of analysis. The results obtained were satisfactory for the
simulated conditions, referring to the adequate stability of the earth mass of the projected dam.

Keywords: Small earth dams. Project. Security.

v
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – (a) barragem de gravidade; (b) barragem de arco; (c) barragem de contrafortes; (d)
barragem de terra. ............................................................................................................... 17

Figura 2 – (a) barragem homogênea; (b) barragem zonada com núcleo central impermeável;
(c) barragem zonada com camada impermeável a montante. .............................................. 18

Figura 3 – (a) planta baixa de barragem de terra; (b) corte transversal de barragem de terra.
............................................................................................................................................ 27

Figura 4 – Local escolhido para implantação da barragem, na Fazenda Paraíso. ............... 30

Figura 5 – Curvas do levantamento topográfico do terreno. ................................................. 31

Figura 6 – Bacia de contribuição da barragem. .................................................................... 32

Figura 7 – Representação gráfica da bacia de contribuição da barragem. ........................... 33

Figura 8 – Gráfico da cota (m) x volume acumulado (m³)..................................................... 36

Figura 9 – Perfil transversal do maciço de terra. .................................................................. 39

Figura 10 – Cut-off e núcleo central da barragem. ............................................................... 39

Figura 11 – Projeção do aterro no terreno. .......................................................................... 40

Figura 12 – Dreno de pedras no pé de jusante do aterro. .................................................... 40

Figura 13 – Blocos de ancoragem para apoio das tubulações. ............................................ 42

Figura 14 – Bueiros circulares de concreto. ......................................................................... 43

Figura 15 – Seção do canal extravasor. ............................................................................... 44

Figura 16 – Projeção da barragem com extravasor.............................................................. 44

Figura 17 – Simulação de ruptura do talude de montante. ................................................... 48

Figura 18 – Simulação de ruptura do talude de jusante. ...................................................... 48

vi
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Registros de ocorrências com barragens em Goiás. ......................................... 20

Quadro 2 – Situação de outorgas e licenciamento de barragens. ........................................ 22

Quadro 3 – Resumo do dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem. .................. 46

vii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados para cálculo de C. ................................................................................... 35

Tabela 2 – Cálculo da área inundada e volume do reservatório. .......................................... 36

Tabela 3 – Alturas de extravasor a serem adotadas em função da altura da barragem. ...... 37

Tabela 4 – Valores de folga em função da extensão do espelho d'água e profundidade da


barragem. ............................................................................................................................ 37

Tabela 5 – Inclinação dos taludes em função do material e altura do aterro da barragem. .. 38

Tabela 6 – Valores de parâmetros de solo utilizados na simulação. .................................... 45

viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AGETOP Agência Goiana de Transportes e Obras

ANA Agência Nacional de Águas

ART Anotação de Responsabilidade Técnica

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

DEMA Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente

DN Diâmetro Nominal

FS Fator de Segurança

GPS Global Positioning System

IDF Intensidade-Duração-Frequência

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

SECIMA Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos Infraestrutura,


Cidade e Assuntos Metropolitanos do Estado de Goiás

SPT Standard Penetration Test

ix
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................... 14

2. OBJETIVOS......................................................................................................... 15

2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 15

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................ 16

3.1 AS BARRAGENS ....................................................................................................... 16

3.2 TIPOS DE BARRAGENS ............................................................................................ 16

3.3 ACIDENTES COM BARRAGENS DE TERRA ............................................................ 19

3.4 CRITÉRIOS DE PROJETOS PARA PEQUENAS BARRAGENS DE TERRA ............. 21

3.5 DIRETRIZES PARA ESCOLHA DO LOCAL DA BARRAGEM .................................... 23

3.5.1 Tipo de Solo ........................................................................................................... 24


3.5.2 Topografia .............................................................................................................. 24

3.6 DEMANDA HÍDRICA E VAZÃO DE PROJETO .......................................................... 25

3.6.1 Demanda Hídrica ................................................................................................... 25


3.6.2 Vazão de Projeto.................................................................................................... 25

3.7 PRINCIPAIS ELEMENTOS DA BARRAGEM ............................................................. 26

4. METODOLOGIA .................................................................................................. 29

4.1 DADOS DO PROJETO ............................................................................................... 29

4.2 ESCOLHA DO LOCAL DA BARRAGEM..................................................................... 29

4.3 LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO ........................................................................... 30

4.4 TIPO DE SOLO .......................................................................................................... 31

4.5 TIPO DE BARRAGEM ................................................................................................ 31

4.6 ESTUDOS HIDROLÓGICOS ...................................................................................... 31

4.6.1 Disponibilidade Hídrica e Demanda de Água ......................................................... 32

x
4.6.2 Vazão de Projeto.................................................................................................... 32
4.6.2.1 Bacia de Contribuição ........................................................................................ 32
4.6.2.2 Tempo de Concentração .................................................................................... 33
4.6.2.3 Intensidade de Precipitação ............................................................................... 34
4.6.2.4 Vazão de Projeto................................................................................................ 34

4.7 DIMENSIONAMENTO DOS ELEMENTOS DA BARRAGEM ...................................... 35

4.7.1 Reservatório ........................................................................................................... 35


4.7.2 Aterro ou Maciço de Terra ...................................................................................... 37
4.7.3 Dreno ..................................................................................................................... 40
4.7.4 Descarga de Fundo ou Desarenador ..................................................................... 40
4.7.5 Tomada D’Água ..................................................................................................... 42
4.7.6 Extravasor .............................................................................................................. 42
4.7.7 Dissipador de Energia ............................................................................................ 45

4.8 ESTABILIDADE DO MACIÇO ..................................................................................... 45

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 46

5.1 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E ESTRUTURAL .............................................. 46

5.2 VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE E FATOR DE SEGURANÇA .............................. 47

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 50

xi
1. INTRODUÇÃO

Desde o início da história da humanidade as barragens estão presentes e foram fundamentais


para o desenvolvimento das civilizações. Estas barragens eram construídas a partir de
conhecimentos empíricos, com a função de armazenar água para suprir a escassez nos
períodos secos. Para Morano (2006), a construção de barragens é tão antiga quanto a história
do homem e consta em praticamente todas as culturas.

Com a revolução industrial, houve a necessidade de construir um crescente número de


barragens, o que permitiu o aperfeiçoamento das técnicas de projeto e construção. No Brasil,
as primeiras barragens foram construídas na região Nordeste com a função de combater a
seca e regularizar as vazões de rios para irrigação (SOUZA, 2013). Segundo Mello (2011), a
barragem mais antiga que se tem notícia em território brasileiro é conhecida atualmente como
Açude Apipucos, construída possivelmente no final do século XVI, onde hoje é área urbana
do Recife/PE.

A técnica de barramento de um curso d'água ou represamento, nada mais é do que promover


o acúmulo de água nos períodos de chuva para seu aproveitamento nos períodos de
estiagem, mesmo que muito antiga, é reconhecidamente a mais prática e perfeita técnica de
aproveitamento múltiplo para as águas de um rio ou córrego (MORANO, 2006).

Hoje existem grandes barragens, focadas na geração de energia, que são construídas de
terra ou concreto. Já as barragens menores são construídas predominantemente de terra
devido sua facilidade construtiva. Segundo a FAO (2011), as barragens de terra são
encontradas em todo o mundo e consistem em estruturas simples onde a massa de terra
compactada, ou seja, o barramento, resiste ao deslizamento e tombamento.

As barragens de terra, compreendidas pelo barramento, reservatório e estruturas associadas,


são obras necessárias para uma gestão adequada dos recursos hídricos. No entanto, sua
construção e operação podem envolver danos potenciais para as populações e os bens
materiais e ambientais existentes no seu entorno (BRASIL, 2016), remetendo à necessidade
de um bom projeto construtivo elaborado por profissionais qualificados, a partir de estudos e
análise de todos os aspectos relacionados ao empreendimento.

Segundo a Resolução nº 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em


seu Anexo 1, as barragens são obras civis sujeitas ao licenciamento ambiental. Este mesmo
dispositivo legal, no Art. 1º define que licenciamento ambiental é o procedimento
administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,

12
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 1997).

A elaboração de um bom projeto é o primeiro passo para a implantação e operação de uma


barragem com segurança. Neste contexto, uma barragem segura é aquela que tem
capacidade de satisfazer as exigências de comportamento necessárias para evitar incidentes
e acidentes que se referem a aspectos estruturais, econômicos, ambientais e sociais. A
segurança das barragens deve ser avaliada regularmente por meio da inspeção de todas as
suas estruturas e instalações (BRASIL, 2002).

É comum a construção de barragens de terra sem a elaboração e aprovação de projeto, que,


quando elaborado, na maioria das vezes apresentam falhas como a ausência de estudo e
critérios técnicos básicos. Isso tem resultado na ocorrência de incidentes e acidentes até
mesmo com a ruptura total de barragens, provocando prejuízos financeiros, socioambientais,
entre outros.

Em matéria do Jornal Diário da Manhã, de 06 de março de 2016 (RODRIGUES, 2016), a


Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Ambientais do Estado de Goiás (DEMA) informou
que cerca de 90% das barragens do Estado são clandestinas, ou seja, não possuem Licença
de Instalação que deve ser obtida junto aos órgãos ambientais competentes, mediante a
análise técnica e legal de projetos e documentos, bem como demais tramites legais
pertinentes. Ainda segundo a DEMA, estas barragens chamam a atenção pelo risco de
provocar acidentes.

Na literatura são encontrados diversos roteiros de dimensionamento que norteiam a


elaboração de projeto para pequenas barragens de terra, com a indicação de equações e
critérios a serem utilizados. O projeto deve ser elaborado por um engenheiro especialista, com
capacidade para a escolha do melhor local e tipo de barragem, além da investigação das
condições hidrológicas e dimensionamento do empreendimento.

O que se tem observado na prática é que as pequenas barragens de terra, muitas das vezes,
estão sendo construídas sem a elaboração de projetos e estudos que são fundamentais para
a implantação desse tipo de empreendimento. Neste sentido o presente trabalho visa
desenvolver um projeto específico de uma barragem de terra para acumulação de água para
irrigação, com o detalhamento dos critérios adotados para construção de uma obra segura.

13
1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente trabalho foi desenvolvido em 6 capítulos, sendo que o primeiro capítulo apresenta
uma introdução sobre as barragens. No segundo capítulo foram estabelecidos os objetivos a
serem alcançados com o desenvolvimento do trabalho.

O terceiro capítulo é constituído de revisão bibliográfica acerca dos temas de interesse para
o trabalho, com a abordagem sobre o histórico e tipos de barragens existentes, com o
aprofundamento nas barragens de terra. Foram abordadas as ocorrências de acidentes com
barragens registradas no Estado de Goiás e o cenário de regularização e aprovação de
projetos para a construção de barragens. Por fim, foi apresentada a base legal e necessidades
quanto a elaboração de projeto construtivo para as barragens de terra e os principais critérios
e elementos a serem abordados e estudados.

O quarto capítulo apresenta a metodologia detalhada de projeto para uma barragem de terra
com a demonstração dos dados e equações adotadas. O quinto capítulo apresenta os
principais resultados e a discussão do dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem,
além da análise das condições de estabilidade e segurança. No sexto e último capítulo foram
descritas as conclusões e considerações finais do trabalho.

14
2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo principal do presente trabalho é desenvolver um projeto construtivo específico de


uma pequena barragem de terra, adotando técnicas e critérios de dimensionamento
indicados, e analisar sua estabilidade e segurança.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

São objetivos específicos deste trabalho:

• Conhecer os critérios técnicos adotados para a elaboração de projeto construtivo


para pequenas barragens de terra;
• Levantar o cenário atual das barragens de terra do Estado de Goiás, os dados de
acidentes ocorridos e as exigências de projeto;
• Avaliar e discutir sobre a segurança do projeto elaborado.

15
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo apresenta o estado da arte relacionada as barragens, contendo o histórico das
barragens, os principais tipos, os acidentes com barragens de terra com foco em ocorrências
no Estado de Goiás. Também são apresentados os principais elementos de uma barragem,
seus conceitos, bem como os aspectos, estudos e critérios que são abordados no âmbito do
projeto de pequenas barragens de terra.

3.1 AS BARRAGENS

A água é um recurso natural indispensável à vida, essencial para a sobrevivência de


ecossistemas, comunidades, cidades e nações que dela dependem tanto para existir quanto
para satisfazer suas necessidades sociais e econômicas (MACHADO, 2004).

As barragens consistem numa intervenção do homem na natureza, que exercem grande


importância no controle da vazão de água dos mananciais nos períodos de chuva, enquanto
proporcionam o acúmulo e reservação da água que será utilizada para diversas finalidades
nos períodos de escassez, atuando então, de forma direta e eficaz, na disponibilidade hídrica
para atender aos padrões demandados pela sociedade.

Segundo a Lei Federal nº 12.334/2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de


Barragens, uma barragem é “qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de
água para fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de
líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas associadas” (BRASIL, 2010).
Para Matos, Silva e Pruski (2012) barragem é o elemento estrutural construído
transversalmente à direção de escoamento do curso d’água, formando um reservatório
artificial, com a finalidade de acumular água por meio da elevação de nível.

As barragens podem ser construídas com a finalidade de produção de energia elétrica,


regularização de vazões, abastecimento doméstico e industrial, irrigação, dessedentação
animal, piscicultura, embelezamento paisagístico, lazer, entre outros fatores.

3.2 TIPOS DE BARRAGENS

Quanto ao material as barragens podem ser de terra, pedra ou enrocamento, alvenaria,


concreto ou mista. A escolha do tipo de material para construção da barragem depende das
condições geológicas e geotécnicas do local de implantação, do tipo de material disponível,
da disponibilidade de recursos para a obras, entre outros. As barragens de terra utilizam

16
material natural e podem ser construídas com equipamentos simples. Devido a essa facilidade
construtiva, as barragens mais antigas conhecidas foram feitas de terra (MATOS, SILVA,
PRUSKI, 2012).

De acordo com Carvalho (2008), existem vários tipos de barragens que são classificadas pelo
tipo de construção e material empregado. Os principais tipos de barragens são descritos a
seguir e mostrados na Figura 1:

• Barragens de Gravidade: possui forma triangular típica e sua estabilidade é


garantida pelo peso próprio da estrutura;
• Barragens de Arco: possui estrutura delgada e em arco, de concreto, apoiada em
obreiras e fundações rochosas;
• Barragens de Contrafortes: utiliza pilares de sustentação (contrafortes) a jusante e
ao longo do corpo da barragem;
• Barragens de Terra: maciço formado por solos compactados em camadas
sucessivas, com sua estabilidade garantida pelo peso próprio da estrutura.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 1 – (a) barragem de gravidade; (b) barragem de arco; (c) barragem de contrafortes;
(d) barragem de terra.

17
As barragens de terra homogênea ou simples (Figura 2a) são aquelas construídas com um
único tipo de material, sendo recomendadas quando o solo do local da barragem oferece
condições adequadas para construção e impermeabilização. Já as barragens de terra
heterogêneas ou zonadas são constituídas por um núcleo central impermeável (Figura 2b) ou
por uma camada impermeável externa sobre o talude de montante (Figura 2c), geralmente
construído com material argiloso de boa compactação, complementando o maciço da
barragem com material de maior permeabilidade, com o emprego de areia, cascalho ou
fragmentos de rocha, ou uma mistura desses materiais.

(a)

(b)

(c)

Figura 2 – (a) barragem homogênea; (b) barragem zonada com núcleo central impermeável;
(c) barragem zonada com camada impermeável a montante.

No geral, as barragens de terra apresentam vantagens como: utilização de materiais naturais


do local, projeto construtivo simplificado, menores investimentos, fundações mais simples
devido a bases largas, facilidade na construção. Já, entre as desvantagens se destacam:
maior susceptibilidade a danos e rompimento com a passagem de água, vertedouros de difícil

18
projeção e construção, fragilidade devido à má compactação, necessidade de manutenção
contínua evitando infiltrações, erosões e outros danos (CARVALHO, 2008).

Para Matos, Silva, Pruski, (2012), pequenas barragens de terra são aquelas com até 10
metros de altura. Carvalho (2008) registra que a anos atrás as pequenas barragens de terra
eram recomendadas para alturas inferiores a 15 metros, porém, com a modernização das
técnicas de projeto e construção, recomenda-se que as barragens de terra não ultrapassem
os 25 metros de altura, atendendo a critérios de segurança.

Quando devidamente projetadas, as pequenas barragens de terra podem ser constituídas por
uma grande variedade de solos naturais. A capacidade de adequação a grandes
deformações, sem ruptura, e a elevada relação largura da base/altura que as caracteriza são
fatores que recomendam este tipo de barragem para qualquer tipo de fundação, pois as
tensões aplicadas ao terreno são bastante reduzidas, e o trajeto da água infiltrada através da
fundação é necessariamente longo (BRASIL, 2016).

3.3 ACIDENTES COM BARRAGENS DE TERRA

As pequenas barragens de terra, por mais simples que sejam, são importantes obras de
engenharia que devem ter a sua segurança gerenciada ao longo de sua vida. Segundo Mello
(2011), a ruptura de barragens é uma hipótese pouco provável e de baixíssima probabilidade
de ocorrência quando os aspectos de projeto, construção e operação são tratados com
seriedade. Todavia, o potencial de perdas de vida, danos ambientais e perdas econômicas
decorrentes de uma eventual ruptura, deixa claro a grande responsabilidade de proprietários,
de engenheiros e dos órgãos governamentais quanto à preservação da segurança das
barragens, no sentido de minimizar a possibilidade da ocorrência de eventos desta natureza.

De acordo com Daker (1987), as causas de colapso de pequenas barragens de terra são:

• Extravasor construído com dimensões insuficientes;


• Infiltrações ao longo das canalizações de tomada d’água;
• Construção da barragem sem a adoção de técnicas e materiais adequados;
• Barragem assentada em local inadequado, como, por exemplo, em solo arenoso;
• Erros de projeto, inclinações impróprias de taludes ou pouca espessura de crista;
• Uso inadequado do reservatório;
• Obras de conservação insuficientes;
• Fundações fracas;
• Assentamento inadequado das tubulações de tomada d’água e descarga de fundo;

19
• Desmoronamentos no talude de jusante devido a compactação inadequada e saída
da linha de saturação no maciço de terra.

As causas de ruptura de barragens, na maioria dos casos, podem ser atribuídas não apenas
a falhas de projeto, mas devido à falta de acompanhamento durante sua construção. Em
ambos os casos pode-se afirmar que o projeto não foi elaborado e executado por profissional
experiente ou por empresa devidamente habilitada. Ainda, erros podem ser atribuídos à falha
humana durante as fases preliminares das investigações para o projeto (investigação
geológica e geotécnica simplificada), dados e critérios de projeto deficientes, fiscalização
deficiente, operação inadequada, erros de interpretação de dados do monitoramento e devido
à operação indevida das estruturas hidráulicas, etc. (Medeiros, 1999 apud Menescal, 2005).

De acordo com dados da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos Infraestrutura,


Cidade e Assuntos Metropolitanos do Estado de Goiás (SECIMA), obtidos por meio do Serviço
Eletrônico de Informação ao Cidadão, através do Pedido de Acesso a Informação - Protocolo
nº 2016.0923.183047-66, às ocorrências relacionadas as barragens, registradas a partir de
2009, são mostradas no Quadro 1.

Ano Município Ocorrência


2009 Gameleira de Goiás Rompimento de barragem
2009 Goiânia Rompimento de barragem
2011 Itaberaí Rompimento de barragem
2012 Caturaí Barragem com riscos de rompimento
2012 Hidrolândia Barragem com riscos de rompimento
2012 Nerópolis Barragem com riscos de rompimento
2013 Acreúna Rompimento de barragem
2013 Jandaia Barragem com riscos de rompimento
2013 São Luís de Montes Belos Rompimento de barragem
2014 Anicuns Rompimento de barragem
2014 Anicuns Rompimento de barragem
2014 Cromínia Rompimento de barragem
2014 Goiânia Rompimento de barragem
2014 Uruana Rompimento de barragem
2015 Catalão Rompimento de barragem
2015 Cidade Ocidental Barragem com riscos de rompimento
2016 Itaberaí Rompimento de barragem
2016 Santa Helena de Goiás Rompimento de barragem
2016 São Miguel do Passa Quatro Barragem com riscos de rompimento
Quadro 1 – Registros de ocorrências com barragens em Goiás.
Fonte: SECIMA (2016). Elaborado pelos autores.

20
De acordo com os dados do Quadro 1, entre 2009 e 2016 a SECIMA possui 19 registros de
ocorrências a barragens de terra utilizadas para acumulação de água. Estas ocorrências
tratam-se de autos de advertências, autos de infrações, auto de embargo e interdição,
denúncias e registros de informação. Dos 19 registros, 6 referem-se a barragens com risco
de rompimento, enquanto 13 são de rompimento de barragem. Em 2014 foram 5 registros de
rompimento de barragem, ou seja, o ano com o maior número de ocorrências registradas pela
secretaria.

Entre as ocorrências citadas, as que tiveram uma maior divulgação foram: o rompimento de
uma barragem de terra na zona rural de Uruana/GO, próximo ao distrito de Uruíta, em 05 de
março de 2014, onde um carro foi arrastado pelas águas e duas pessoas que estavam no
veículo morreram; em 20 de fevereiro de 2016 uma barragem de terra se rompeu na zona
rural de Itaberaí/GO, causando também o rompimento de trecho da rodovia GO-070, que
gerou um custo de 2,7 milhões para reconstrução, segundo a Agência Goiana de Transportes
e Obras (AGETOP); em 02 de março de 2016 o rompimento de duas barragens em série, no
município de Santa Helena de Goiás/GO, provocou a morte de 7 toneladas de peixes.

3.4 CRITÉRIOS DE PROJETOS PARA PEQUENAS BARRAGENS DE TERRA

Em várias propriedades rurais é comum encontrar barragens construídas sem qualquer


dimensionamento técnico, e, na maioria das vezes, construídas sem obedecer a critérios
básicos de segurança, quase sempre no intuito de reduzir custos. Entretanto, é de
responsabilidade do proprietário buscar um profissional devidamente habilitado e capacitado
para a elaboração de um projeto construtivo da barragem e sua execução, obedecendo a
normas técnicas de segurança (CARVALHO, 2008).

Segundo o Guia Prático de Pequenas Barragens da Agência Nacional de Águas (ANA), os


projetos de pequenas barragens deverão conter minimamente os seguintes conteúdos
(BRASIL, 2016):

• Levantamento planialtimétrico da área a ser inundada pelo reservatório, com a


estimativa da área inundada e volume do reservatório, bem como a localização da
barragem;
• Estudos hidrológicos para a determinação da vazão disponível para barramento e
vazão máxima de cheia com base em precipitações associadas a intensidade,
duração e características da bacia hidrográfica;
• Dimensionamento hidráulico da descarga de fundo, tomada d’água e extravasor
com base nos estudos hidrológicos;

21
• Reconhecimento do terreno de fundação por meio de poços ou sondagens e
análise de amostras indeformadas e ensaios in situ para determinação das
características de resistência ao cisalhamento e de permeabilidade;
• Estudo dos locais de empréstimo de solos para construção do aterro e a avaliação
dos respectivos volumes, ensaios laboratoriais de identificação e de compactação;
• Dimensionamento estrutural com a geometria da barragem (cotas, borda livre,
inclinação dos taludes, altura da barragem e características e dimensões dos
diferentes tipos de maciços constituintes, detalhamento dos elementos, etc.) e a
proposta de um plano simplificado de segurança da barragem;
• Levantamento e caracterização da zona a jusante da barragem, afetada por uma
eventual ruptura;
• Medidas mitigadoras dos impactos ambientais, que incluam a recuperação das
áreas de empréstimo, a proteção do reservatório em relação ao assoreamento e a
alteração da qualidade da água.

Segundo a DEMA (2016), cerca de 90% das barragens do Estado são clandestinas, ou seja,
não possuem licença/autorização e possivelmente foram construídas sem projeto. Dados
obtidos junto a SECIMA comprovam este cenário, conforme apresentado no Quadro 2.

Descrição Quantidade
Solicitações de Outorga de Água para Barramento 4.380
Barramentos Outorgados 2.429
Solicitações de Licenciamento para Barragens 1.448
Processos Licenciados 177

Quadro 2 – Situação de outorgas e licenciamento de barragens.


Fonte: SECIMA (2016). Elaborado pelos autores.

O Quadro 2 mostra que a SECIMA recebeu 4.380 pedidos de outorga do direito de uso da
água para barragens, sendo que destes, 2.429 outorgas foram emitidas, que corresponde a
55,5% dos pedidos de outorga. Com base na legislação vigente, todas as barragens devem
obter outorga de uso da água e licenciamento, no entanto, os dados mostram uma outra
realidade. A secretaria recebeu 1.448 pedidos de licenciamento de barragens, que equivale a
59,6% do número de outorgas emitidas (2.429). Já as 177 barragens licenciadas
correspondem a 12,2% dos pedidos de licenciamento (1.148) e a 7,3% em relação ao número
de outorgas emitidas (2.429).

Atualmente, com a crescente preocupação com a preservação ambiental, além da obtenção

22
de autorizações junto aos órgão ambientais e de recursos hídricos, há ainda a necessidade
do dimensionamento e elaboração de projeto técnico da barragem, levando-se em
consideração, além do maciço de terra, obras tais como: extravasor, dissipadores de energia,
reservatório, controladores de nível, etc. assim, a construção de uma barragem de terra requer
a elaboração de um projeto técnico baseado em conhecimentos de diversas áreas da
engenharia, de forma a atender tecnicamente todas as partes da barragem, incluindo a
preservação ambiental (CARVALHO, 2008).

A autorização para construção de uma barragem de terra é obtida através de processo de


licenciamento ambiental, atendendo a Resolução CONAMA nº 237/1997, que estabelece os
critérios para licenciamento ambiental. No Art. 2º diz que: “A localização, construção,
instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental,
dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente”. No parágrafo 1º diz que
estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas
no Anexo 1, onde constam as “Barragens” na categoria de obras civis (BRASIL, 1997).

Em Goiás, os órgãos responsáveis pelo licenciamento de barragens são a SECIMA e as


secretarias municipais de meio ambiente nos municípios com licenciamento ambiental
descentralizado, desde que a área inundada seja inferior a 20 hectares. Segundo o Manual
de Licenciamento Ambiental da SECIMA (GOIÁS, 2017), para licenciamento ambiental de
barragens é necessário a apresentação de projeto construtivo com Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) registrada no Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA), independentemente do tipo de licenciamento (registro de licenciamento,
licença ambiental simplificada ou licença prévia e instalação) e área inundada.

Os projetos de barragens devem ser elaborados por engenheiros com capacidade técnica,
registrados no CREA, com a emissão de ART. Estes projetos devem conter, de forma
organizada, memorial descritivo, memorial de cálculo e desenho técnico, necessários para
justificar o dimensionamento e definir completamente a obra (BRASIL, 2016).

3.5 DIRETRIZES PARA ESCOLHA DO LOCAL DA BARRAGEM

Segundo Lopes e Lima (2008), o local ideal para a construção do barramento deverá possuir
as seguintes características:

• Não possuir nascentes e afloramento rochoso no local de assentamento do aterro;

23
• Dar preferência aos locais de solo argiloso, seco e profundo, evitando os solos
arenosos e alagados. Caso seja necessário, procurar área de empréstimo que
possua solo adequado para a construção do aterro, principalmente para o núcleo
impermeável, se for o caso;
• Ser no local mais estreito possível da calha do manancial, formando uma garganta
natural, diminuindo o volume do aterro e, consequentemente, os custos de
construção;
• O local deverá ser espraiado, aberto e com pouca declividade para se acumular
um maior volume de água.
• Dispor de material adequado para o aterro próximo a área da barragem,
minimizando os custos com movimentação e transporte de terra;
• Evitar interferências em edificações, plantações, estradas. Verificar as condições
de ocupação a jusante da barragem.

A escolha do local para construção da barragem é uma das etapas mais importantes do
projeto, pois um local inadequado pode acarretar em riscos e problemas para o proprietário e
para o responsável pela execução da obra. Uma boa escolha do local irá possibilitar a
construção de uma barragem mais eficiente e segura.

3.5.1 Tipo de Solo

O reconhecimento do tipo de solo da área é uma etapa fundamental, pois permite avaliar a
capacidade do solo em receber uma obra e suas condições reais de execução, podendo evitar
problemas futuros. Com o resultado gerado pela sondagem, os parâmetros necessários para
a realização da obra poderão ser obtidos, como o nível d’ água, o tipo do perfil de solo e o tipo
de fundação mais adequado.

Segundo Carvalho (2008), dentre as técnicas de sondagem, as mais usadas são: a) ensaio a
percussão, Standard Penetration Test (SPT), que através da penetração no solo de um
barrilete de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm, consegue-se obter a resistência; b) rotativa,
indicada para solos mais duros e com rochas; c) poço de visita, que consiste na abertura de
poços para a vistoria, em seu interior, por um técnico especializado. A profundidade do ensaio
de sondagem deve atingir um perfil de solo com um grau de compactação que seja suficiente
para a construção da fundação.

3.5.2 Topografia

A declividade de uma bacia hidrográfica está diretamente relacionada com vários processos
hidrológicos, como escoamento superficial, infiltração, percolação de água no solo, fluxo de

24
água subterrânea, entre outros. De acordo com Carvalho (2008), as bacias hidrográficas
situadas em locais mais altos estão sujeitas a ocorrência de maior precipitação média,
menores temperaturas e maior escoamento superficial.

Para Lopes e Lima (2008), um levantamento topográfico preciso da área da barragem, ou


seja, do aterro e reservatório, é uma das peças fundamentais e importantes na elaboração do
projeto, permitindo a definição, com maior precisão, de:

• Plantas com curvas de nível de metro a metro;


• Nível máximo do reservatório e área a ser inundada;
• Altura da crista do maciço;
• Posicionamento do maciço, extravasor e descarga de fundo;
• Calculo do volume de terra do maciço;
• Vegetação que necessita ser removida.

Existem várias formas de realizar o levantamento planialtimétrico para elaboração do mapa


topográfico do terreno da barragem. Métodos simplificados como o uso de mangueira de nível,
teodolito e cartas topográficas ainda são utilizados, no entanto, com o aprimoramento das
técnicas e equipamentos, atualmente são utilizados estação total e GPS de alta precisão,
sendo este último o mais indicado por possibilitar a definição adequada do terreno, otimizando
o dimensionamento e o projeto construtivo da barragem a ser instalada.

3.6 DEMANDA HÍDRICA E VAZÃO DE PROJETO

3.6.1 Demanda Hídrica

A demanda hídrica refere-se à necessidade de água para atender a um determinado uso ou


aplicação, como, por exemplo, o abastecimento público, geração de energia, irrigação,
dessedentação animal, etc., relacionada ao consumo ou escassez a ser suprida.

3.6.2 Vazão de Projeto

A vazão de projeto ou vazão de enchente é o volume máximo de escoamento de água que


pode passar em determinado trecho do curso d’água. Este dado tem grande importância para
o projeto, principalmente no dimensionamento das estruturas hidráulicas da barragem.

A vazão de projeto depende da área da bacia de contribuição, isto é, a área da superfície que
é drenada para um ponto específico, que pode ser obtida através de cartas topográficas ou
programas especializados na obtenção da topografia de terrenos. O tempo de concentração

25
é o período de tempo, expresso em minutos ou horas, em que ocorre uma determinada
precipitação, caracterizada por sua intensidade, que por sua vez é o volume de precipitação
por unidade de tempo, obtida como a relação entre altura pluviométrica e duração, expressa
em mm/h.

A vazão de projeto ou vazão de enchente de uma bacia de contribuição, vinculada à


segurança de uma obra hidráulica, está associada a probabilidade da ocorrência do evento –
chuva de projeto – em um ano qualquer (SÃO PAULO, 2005).

3.7 PRINCIPAIS ELEMENTOS DA BARRAGEM

Segundo Carvalho (2008), as principais partes constituintes de uma barragem de terra e seus
conceitos básicos são:

• Maciço ou aterro: é a própria estrutura da barragem, construído transversalmente


ao curso d’água, encarregado de reter a água;
• Reservatório: é o volume de água armazenada a montante do maciço, sendo sua
superfície denominada espelho d’água;
• Canal extravasor: estrutura construída para dar escoamento ao excesso de água
durante e após a ocorrência de chuvas;
• Dissipador de energia: estrutura hidráulica construída com a finalidade de diminuir
a energia cinética da água a ser restituída ao leito natural do curso d’água;
• Crista: é a parte superior do aterro, geralmente utilizada como estrada;
• Taludes: são as faces laterais inclinadas, paralelas ao eixo do aterro, sendo, talude
de montante o lado que fica em contato com a água (lado molhado) e talude de
jusante o lado de baixo (lado seco);
• Cut-Off: trincheira ou fundação construído transversalmente ao curso d’água e no
eixo da barragem. Constitui-se numa vala preenchida com terra de boa qualidade
devidamente compactada;
• Núcleo: elemento construído no centro do aterro com terra de boa qualidade
(argilosa), diminuindo a infiltração da água no corpo do aterro, para efeito de
segurança;
• Descarga de fundo ou desarenador: instalada sob o aterro, tem a finalidade de
garantir o escoamento contínuo a jusante, promover o esvaziamento da represa e
o controle de nível do reservatório;
• Nível d’água: é a altura da lâmina d’água na barragem em condições normais;
• Folga: distância vertical entre o nível d’água, quando a represa estiver cheia, e a

26
crista do aterro;
• Filtro: estrutura para interceptar a linha de saturação no maciço da barragem,
conduzindo-a na direção do dreno;
• Dreno: construído na projeção do talude de jusante para drenar a água do aterro.

A Figura 3 apresenta em planta e corte transversal, os principais elementos de uma barragem


de terra.

(a)

(b)

Figura 3 – (a) planta baixa de barragem de terra; (b) corte transversal de barragem de terra.

O reservatório é o volume de água acumulado a montante do maciço de terra, formado pela


lâmina d’água projetada sobre a topografia do terreno. O maciço é o corpo estrutural da
barragem que tem a função de reter e suportar os esforços da água acumulada a sua
montante. O maciço de terra ainda pode possuir estruturas como núcleo impermeável, filtro e
dreno que têm a finalidade de reter ou captar e conduzir o fluxo de água no interior do aterro,
conferindo maior segurança a obra.

Entre os principais critérios para a construção de um maciço de terra seguro estão o tipo de

27
solo e o processo de compactação ao qual este solo será submetido. Segundo FAO (2011),
em um aterro, a compactação do solo é indispensável, pois aumenta significativamente a
resistência do solo ao cisalhamento. Antes de iniciar a compactação do aterro deve-se realizar
o ensaio de compactação, conforme a NBR 7182 (ABNT, 2016), encontrando a curva de
compactação e a umidade ótima.

Segundo FAO (2011), para a compactação do aterro o solo deve estar úmido, mas não
encharcado e deverá ser escarificado por todo o comprimento do maciço. A compactação
pode ser realizada a cada 20 cm de solo. Os tipos de compactação mais recomendados são:

• Rolo pé-de-carneiro: recomendado para solos argilosos, a compactação deve ser


feita em camadas de solo até 20 cm de espessura bruta, obtendo densidades
satisfatórias com 6 a 12 passagens a uma velocidade de 3 a 6 km/h quando o teor
de umidade do solo é adequado;
• Rolo compactador: reduz bolsas de ar e continua a compactação de camadas
inferiores do aterro através de novas camadas, com maior eficiência. Em camadas
de espessura semelhante, e à mesma velocidade, um rolo compactador necessita
um pouco menos de passagens para obter densidades de solo semelhantes
quando comparado com um rolo de pé-de-carneiro.

A captação da água da barragem para uso é feita por tubulação de tomada d’água que pode
ser instalada diretamente no reservatório ou através do maciço. Neste segundo caso, existe
a possibilidade de otimizar a captação devido a possibilidade de instalação da tubulação numa
cota mais baixa, próximo ao leito natural do manancial e aumentar a coluna d’água para
captação. Já a descarga de fundo ou desarenador tem função de manter pelo menos a vazão
mínima de água a jusante da barragem para manutenção ecológica, possibilidade de
esvaziamento do reservatório para reparos e eliminação de sedimentos que tendem a se
acumular no fundo do reservatório.

Outra estrutura hidráulica fundamental na barragem é o extravasor que tem a finalidade de


limitar a altura da lâmina d’água na barragem e eliminar o excesso de água nos períodos de
precipitação intensa, evitando a passagem da água sobre a crista do aterro, com grande
possibilidade de provocar o arrombamento do maciço. Essa estrutura geralmente é construída
na margem da barragem na qual a ombreira apresenta melhores condições, formando um
canal que restitui o excesso de água da barragem ao manancial, a jusante do aterro. Neste
caso, a água pode chegar a calha do córrego com velocidade suficiente para provocar
erosões, devendo ser evitada com a instalação de dissipadores de energia hidráulica.

28
4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho teve por base o levantamento de informações e dados
por meio de ampla pesquisa bibliográfica em livros, artigos técnicos e científicos, periódicos,
arquivos digitais e solicitação de informações junto a órgão governamental.

A primeira etapa constituiu-se da leitura da literatura selecionada, especificamente


relacionada a diretrizes para projetos de barragens de terra de pequeno porte. Realizou-se
um levantamento do cenário atual das barragens de terra em Goiás, procurando conhecer os
critérios técnicos adequados para a elaboração de pequenas barragens de terra.

A segunda etapa foi o desenvolvimento propriamente dito do projeto construtivo de uma


pequena barragem de terra, com critérios e técnicas de dimensionamento, aplicado às
principais unidades que compõem a barragem.

Ao final foram apresentados os principais resultados do dimensionamento da barragem e


discussões relacionadas, além da análise de estabilidade do maciço de terra, possibilitando
as conclusões, em relação aos objetivos, e considerações finais que relacionam o projeto ao
alcance de uma obra segura e pontos de melhorias do projeto.

4.1 DADOS DO PROJETO

A barragem de terra foi dimensionada para fins de armazenamento de água para irrigação de
140 hectares de culturas anuais plantadas na Fazenda Paraíso, na zona rural do município
de Morrinhos/GO.

4.2 ESCOLHA DO LOCAL DA BARRAGEM

O local para a construção da barragem, ou seja, de implantação do maciço de terra e formação


do reservatório (Figura 4), foi feita em conformidade com o interesse do proprietário e com
respaldo nos critérios técnicos mais adequados para a locação da barragem. O ponto
escolhido está localizado no Córrego da Cava, nas coordenadas geográficas 17º 48’ 53,4’’ S
e 49º 07’ 15,3’’ O, sendo este o principal curso d’água que passa pela propriedade, com maior
volume de água.

29
Figura 4 – Local escolhido para implantação da barragem, na Fazenda Paraíso.
Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.

No local existe um estreitamento na seção do córrego o que diminui o volume de terra a ser
movimentado para a construção do aterro, ao mesmo tempo que a sua montante forma uma
bacia de acumulação com baixa declividade, possibilitando a formação de um bom
reservatório com um aterro de pequeno porte. Além disso, o local escolhido não possui
construções, apresenta ombreiras com boas condições para construção do extravasor, está
localizada próxima as áreas a serem irrigadas e possibilita a construção de toda a barragem
somente dentro da Fazenda Paraíso, evitando interferências nas propriedades vizinhas.

4.3 LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO

O mapa topográfico do local de implantação da barragem foi elaborado a partir de


levantamento planialtimétrico in situ, realizado por empresa especializada que forneceu estes
dados para elaboração deste trabalho.

O levantamento foi realizado com equipamento Global Positioning System (GPS) de precisão,
com sistema Receptor GNSS RTK Javad Triumph-1, que consistiu na obtenção de centenas
de pontos contendo latitude, longitude e cota. Com base na interpolação destes pontos o perfil
topográfico do terreno foi modelado por meio de ferramentas computacionais, resultando no
mapa com as curvas de nível do terreno de metro em metro (Figura 5).

30
Figura 5 – Curvas do levantamento topográfico do terreno.

4.4 TIPO DE SOLO

A elaboração de um bom projeto de barragem deve ser precedida da sondagem de solo para
o reconhecimento das condições e características do solo local. Como tal procedimento não
foi realizado, o projeto foi elaborado com a indicação do tipo de solo a ser empregado na
construção do maciço e a adoção da profundidade de 2,00 metros para alcance de solo com
baixa permeabilidade e boa resistência, a partir de onde deverá ser iniciada a fundação da
barragem. Na execução, caso haja necessidade, essa profundidade deverá ser prolongada.

4.5 TIPO DE BARRAGEM

Para este projeto foi escolhido uma barragem do tipo heterogênea ou zonada, com a
construção de um núcleo impermeável no interior do maciço de terra. Na prática as barragens
homogêneas são mais fáceis para a execução, no entanto, necessitam de um grande volume
de solo de boa qualidade para a construção de um aterro que proporcione o controle
adequado da percolação de água através do aterro.

Para a construção da barragem poderá ser utilizado solo da região, com maior permeabilidade
(silte, areia e cascalho), em grande parte do aterro. Já no núcleo central impermeável deverá
ser empregado solo argiloso de baixa permeabilidade, associado a dreno a jusante.

4.6 ESTUDOS HIDROLÓGICOS

Por se tratar de um projeto de barramento, os primeiros cálculos a serem efetuados são

31
exatamente aqueles que vão informar sobre a demanda e a disponibilidade hídrica necessária
para o funcionamento da atividade proposta. Outro cálculo fundamental é a vazão de projeto,
também conhecida como vazão de enchente, pois o valor obtido é utilizado no
dimensionamento de algumas estruturas da barragem, com destaque para o extravasor.

4.6.1 Disponibilidade Hídrica e Demanda de Água

Os dados da disponibilidade hídrica na bacia de contribuição e demanda de água para


irrigação não fazem parte do objetivo deste trabalho, pois foram obtidos de Estudo de
Viabilidade Hídrica elaborado e fornecido por empresa especializada. Do referido estudo
obteve-se a informação da vazão média anual no manancial de 0,203 m³/s e necessidade de
armazenamento mínimo de 99.274 m³ de água na barragem.

4.6.2 Vazão de Projeto

4.6.2.1 Bacia de Contribuição

Após a escolha do local do eixo da barragem, a bacia de contribuição a montante deste ponto
foi levantado por meio do programa QGIS, que dispõe de uma base de dados das cotas
altimétricas do terreno e cadastro dos principais cursos d’água. Com base nestes dados a
bacia de contribuição (Figura 6 e Figura 7) de interesse foi representada graficamente e obtida
sua área de 10,41 km² ou 1.041 ha, dado este utilizado nos cálculos hidrológicos do projeto.

Figura 6 – Bacia de contribuição da barragem.


Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.

32
Figura 7 – Representação gráfica da bacia de contribuição da barragem.
Fonte: QGis.

4.6.2.2 Tempo de Concentração

Existem diversas fórmulas para o cálculo do tempo de concentração. Para este trabalho, o
tempo de concentração foi estimado segundo a equação de Ven Te Chow (Equação 1),
indicada para bacias com área de contribuição de até 25 km² ou 2.500 ha.

0,64 (1)
𝐿
𝑡𝑐 = 5,77 ( )
√𝑆𝑜

Onde:
tc é o tempo de concentração, em min;
L é o comprimento do talvegue ou curso d’água principal, em km; e
So é a declividade média do talvegue, em m/m.

33
Para o cálculo do tempo de concentração, o comprimento do talvegue foi obtido no mapa da
bacia de contribuição sendo obtido L = 5,9 km. Da mesma forma, a declividade foi obtida a
partir da diferença entre a maior cota e a cota no local da barragem (165 m) e dividindo-a pelo
comprimento do talvegue, ou seja, 5.900 metros, obtendo So = 2,8%. A partir destes dados,
foi obtido tc = 56,44 min.

4.6.2.3 Intensidade de Precipitação

O cálculo da intensidade de precipitação, realizado pela Equação 2, depende do tempo de


retorno, definido de acordo com o tipo de obra, o tempo de duração da chuva e os parâmetros
da curva de intensidade-duração-frequência (IDF) do local em estudo.

𝑘𝑇𝑎 (2)
𝑖=
(𝑏 + 𝑡) 𝑐

Onde:
i é a intensidade de precipitação, em mm/h;
T é o tempo de retorno, em anos;
t é o tempo de duração da precipitação, em min; e
k, a, b, c são parâmetros da equação.

O T utilizado neste projeto foi de 100 anos (SÃO PAULO, 2005), para garantir uma maior
segurança a obra. O t, neste caso, é o tempo de concentração calculado anteriormente, ou
seja, tc = 56,44 min. Já os parâmetros k = 1.003,46, a = 0,1376, b = 10 e c = 0,7418, foram
obtidos da curva IDF para o município de Morrinhos (OLIVEIRA et al., 2005). Foi calculado
i = 84,10 mm/h.

4.6.2.4 Vazão de Projeto

A vazão máxima ou vazão de projeto foi estimada através do Método Racional Modificado
(Equação 3) por ser um método de fácil aplicação, bastante utilizado em estudos hidrológicos,
apresentando resultados próximos aos de outros métodos de cálculo de vazão de McMath e
Burkli-Ziegler.

𝐶𝑖𝐴 (3)
𝑄= 𝜑
360

34
Onde:
Q é a vazão máxima de escoamento superficial, em m³/s;
C é o coeficiente de escoamento superficial, adimensional;
i é a intensidade de precipitação, em mm/h;
A é a área da bacia de contribuição, em ha; e
φ é o coeficiente de retardamento do escoamento, calculado por: 0,278 - 0,0000034A.

O C da Tabela 1 foi obtido de Genovez (2001), considerando a declividade de 2,8%, tempo


de retorno de 100 anos e o tipo de cobertura ou ocupação do terreno, levantado através da
imagem de satélite da bacia de contribuição.

Tabela 1 – Dados para cálculo de C.

Tipo de Cobertura Área (ha) % Área C Área (ha) * C


Floresta 227,5 21,9% 0,47 106,9
Lavoura 220,5 21,2% 0,51 112,5
Pastagem 593 57,0% 0,49 290,6
Soma 1.041 100,0% - 510,0

De posse dos dados da Tabela 1 o C médio ou ponderado foi calculado dividindo 510,0 por
1.041, obtendo-se 0,49. O coeficiente de retardamento do escoamento foi calculado
considerando área da bacia de contribuição de 1.041 ha. A Q calculada foi de 32,71 m³/s.

4.7 DIMENSIONAMENTO DOS ELEMENTOS DA BARRAGEM

4.7.1 Reservatório

A altura da lâmina d’água ou profundidade do reservatório foi definida em função do volume


mínimo de água ser armazenado (99.274 m³) e a partir do levantamento topográfico da bacia
de reservação. O volume de armazenamento do reservatório foi calculado de forma parcial
(Equação 4) e acumulado.

𝐴𝑛 + 𝐴(𝑛 + 1) (4)
𝑉𝑝 = ( )ℎ
2
Onde:
Vp é o Volume parcial da seção, em m³;
An é a área da seção da cota n, em m²;
A(n+1) é a área da seção da cota n+1, em m²; e
h é a altura entre a cota n e n+1, em m;

35
As áreas das seções foram obtidas por meio do programa AutoCad e o volume parcial e
acumulado calculado, resultando nos dados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Cálculo da área inundada e volume do reservatório.

Curvas (m) Área inundada (m²) Volume parcial (m³) Volume acumulado (m³)
719 467,01 233,51 233,51
720 952,49 709,75 943,25
721 1.490,58 1.221,53 2.164,79
722 5.058,90 3.274,74 5.439,53
723 11.058,35 8.058,63 13.498,15
724 17.996,41 14.527,38 28.025,53
725 24.838,95 21.417,68 49.443,21
726 31.610,78 28.224,87 77.668,07
727 38.696,04 35.153,41 112.821,48

A Tabela 2 mostra que com lâmina d’água de 9,0 metros de altura, a barragem armazenará
112.821,48 m³ de água, mantendo a lâmina d’água normal da barragem na cota de 727 m.
Como a tubulação de tomada d’água da barragem deverá ficar na cota 720 m, descontando
o volume parcial de 233,51 m³, a barragem ainda fica com volume útil acumulado de
112.587,98 m³, atendendo ao volume de água demandado para o abastecimento da irrigação,
de 99.274 m³. A mostra o gráfico da cota x volume de água acumulado.

120.000
Volume acumulado (m³)

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

0
719 720 721 722 723 724 725 726 727
Cota (m)

Figura 8 – Gráfico da cota (m) x volume acumulado (m³).

Para o cálculo do volume de amortecimento foi adotado altura máxima de água no extravasor

36
de 1,00 m. Dessa maneira, num período de enchente, caso a água atinja 1,00 m de altura no
extravasor, isso significa que toda a lâmina d’água da barragem será acrescida em 1,00 m,
apresentado uma nova área inundada de 46.644,54 m² e um novo volume acumulado de
155.491,77 m³. Logo, houve um aumento de 42.670,29 m³ no volume da barragem, sendo
este o seu volume de amortecimento de enchentes.

4.7.2 Aterro ou Maciço de Terra

A altura do aterro, calculada pela Equação 5, depende da altura da lâmina d’água acumulada,
da altura máxima de água no extravasor, obtida na Tabela 3, e da altura de folga, obtida na
Tabela 4.

𝐻 = ℎ𝑛 + ℎ𝑒 + 𝑓 (5)
Onde:
H é a altura do aterro, em m;
hn é a altura ou profundidade da lâmina d’água na barragem, em m;
he é a altura da lâmina d’água máxima no extravasor, em m; e
f é a altura de folga da barragem, em m;

Tabela 3 – Alturas de extravasor a serem adotadas em função da altura da barragem.


Altura da barragem (m) Altura de água no extravasor (m)
Até 5 de 0,7 a 0,8
Entre 5 e 10 de 0,8 a 1,5
Fonte: Lopes e Lima, 2008.

Tabela 4 – Valores de folga em função da extensão do espelho d'água e profundidade da


barragem.

Extensão do espelho d'água (km)


Profundidade (m)
0,2 0,5 1 2 3 4 5
até 6,0 0,75 0,8 0,85 0,95 1,05 1,15 1,25
6,1 a 9,0 0,85 0,9 0,95 1,05 1,15 1,25 1,35
Fonte: Carvalho, 2008.

Considerando que a altura da lâmina d’água é de 9,00 m e a extensão do espelho d’água


projetado é de 460,00 m, foram adotadas hn = 1,00 m e f = 1,00 m. O H obtido foi de 11,00 m.

A crista da barragem pode ser calculada pela Equação 6. Para o uso do aterro como estrada,
como neste caso, a crista deve possuir largura mínima de 6,00 m, conforme Carvalho (2008).

37
𝐻 (6)
𝐶= +3
5
Onde:
C é a largura da crista, em m; e
H é a altura total da barragem, em m.

As inclinações dos taludes do aterro foram determinadas a partir da Tabela 5, considerado a


utilização de um solo genérico, classificado como solo areno-siltoso/argiloso.

Tabela 5 – Inclinação dos taludes em função do material e altura do aterro da barragem.

Até 5,0 m De 5,1 m a 10,0 m


Material do aterro
Montante Jusante Montante Jusante
Solos argilosos 2,00:1 1,75:1 2,75:1 2,25:1
Solos areno-siltosos/argilosos 2,25:1 2,00:1 3,00:1 2,25:1
Geral 2,50:1 2,00:1 2,50:1 2,00:1
Fonte: Matos, Silva, Pruski (2012)

Foram adotadas inclinações de 3,00:1 para o talude de montante e 2,25:1 para o talude de
jusante. Com base nessas informações a largura da base do aterro foi calculada através da
Equação 7.

𝐵 = 𝐶 + (𝑍1 + 𝑍2) 𝐻 (7)

Onde:
B é a largura da base, em m;
C é a largura da crista da barragem, em m;
Z1 é a inclinação do talude de montante, em m/m;
Z2 é a inclinação do talude de jusante, em m/m; e
H é a altura total da barragem, em m.

O B calculado foi de 63,75 m. O comprimento total do aterro, na cota da crista (729 m), é de
202,90 m. A Figura 9 mostra o perfil transversal do aterro.

38
Figura 9 – Perfil transversal do maciço de terra.

O cut-off ou fundação e o núcleo da barragem deverão ser construídos com solo argiloso de
boa qualidade. Segundo Lopes e Lima (2008), a largura mínima do cut-off e núcleo deve ser
de 1/3 da altura da lâmina d’água acima daquele ponto. Como não foi realizada sondagem de
solo no eixo da barragem o cut-off foi previsto com profundidade de 2,00 m. Caso haja
necessidade, durante o processo de construção da barragem o cut-off deverá ser prolongado
até alcançar o solo resistente, com boa condição de impermeabilização. O núcleo deverá ser
construído até a cota máxima da lâmina d’água natural (727 m), com base a mesma largura
de base do cut-off, ou seja, 4,00 m de largura e topo com 1,00 m, conforme Figura 10.

Figura 10 – Cut-off e núcleo central da barragem.

O cut-off será construído ao longo de todo o terreno de fundação e ombreiras da barragem,


até a cota do nível de água, correspondendo a 182,00 m de comprimento. Neste caso o
volume do núcleo será de 5.545 m³ de solo. Já o restante do aterro foi calculado através da
área das seções do maciço de metro em metro, obtendo-se volume de 35.604 m³ de solo,
sem o núcleo interno. Logo, o volume total do aterro será de 41.149 m³, e se considerado
coeficiente de empolamento de 1,4, o volume total de solo para o aterro será de 57.609 m³.

39
Figura 11 – Projeção do aterro no terreno.
Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.

4.7.3 Dreno

Para a linha de saturação manter-se abaixo do pé da barragem, isto é, dentro do corpo do


maciço, e reduzir a pressão hidráulica, foi previsto um dreno colocado a 1/3 da altura da lâmina
d’água, conforme Matos, Silva, Pruski, (2012), ou seja, até 3,00 m de altura, no final do talude
de jusante. Este dreno de pé do aterro (Figura 12) deve ser construído com de pedras de mão,
de modo que as água de infiltração possam sair do aterro sem causar erosão interna.

Figura 12 – Dreno de pedras no pé de jusante do aterro.

4.7.4 Descarga de Fundo ou Desarenador

Para o dimensionamento do desarenador, primeiramente foi calculada a vazão a ser escoada,


através da Equação 8 apresentada.

40
𝑉𝑎𝑐 (8)
𝑄𝑒𝑑 = + 𝑄𝑛
𝑇

Onde:
Qed é a vazão escoada pelo desarenador, (m³/s);
Vac é o volume de água armazenado na represa, em m³;
T é o tempo de esvaziamento da represa, em s; e
Qn é a vazão média, em m³/s).

O Vac é de 112.821,48 m³, o T adotado foi de 3 dias ou 259.200 s e a Qn adotada foi de 0,203
m³/s, sendo a vazão média anual do manancial, obtida no estudo de viabilidade hídrica do
projeto de irrigação, elaborado por empresa especializada. A Qed calculada foi de 0,638 m³/s.
A partir destes dados e considerando a execução do desarenador com tubulação de ferro
fundido novo, com C = 130, seu diâmetro foi calculado pela Equação 9 apresentada, de
Hazen-Williams.

0,38 (9)
𝑄
𝐷=( )
0,279 𝐶 𝐽 0,54

Onde:
D é o diâmetro da tubulação, em m;
Q é a vazão escoada pelo desarenador, em m³/s;
C é o coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams, adimensional; e
J é a perda de carga unitária, em m/m.

A perda de carga unitária na tubulação foi calculada pela Equação 10, considerando, neste
caso, a altura de água na barragem igual a 9,00 metros e o comprimento da tubulação da
descarga de fundo de 70 metros, atravessando todo o maciço da barragem.

𝐻𝑛 (10)
𝐽=
2𝐵

Onde:
J é a perda de carga unitária, m/m;
Hn é a atura de água na barragem, acima da tubulação, em m; e
B é o comprimento da tubulação do desarenador, em m.

41
O D do desarenador calculado foi de 0,38 mm devendo ser utilizado Diâmetro Nominal (DN)
de 400 mm. A junção entre os tubos deverá ser apoiada sobre blocos de ancoragem em
concreto (Figura 13) para se evitar a movimentação da tubulação e vazamentos no interior do
maciço. A jusante do maciço, no final da tubulação, deverá ser instalado um registro a ser
mantido aberto para saída da vazão mínima/ecológica para manutenção de fluxo constante
no córrego, conforme parâmetros de outorga.

Figura 13 – Blocos de ancoragem para apoio das tubulações.

4.7.5 Tomada D’Água

A tubulação de tomada d’água da barragem para a irrigação também deverá ser em ferro
fundido novo, instalado ao lado do desarenador, apoiada em blocos de ancoragem. Seu
diâmetro foi obtido pela Equação 9, considerando Q = 0,140 m³/s, obtida de Estudo de
Viabilidade Hídrica, C = 130 e J calculado pela Equação 10 considerando Hn = 8,00 m e B =
70 m. O diâmetro calculado foi de 0,21 cm devendo ser utilizado o DN 250 mm.

4.7.6 Extravasor

Para dimensionamento, primeiramente foram calculados o volume entrante no reservatório


(Equação 11) e o volume a ser escoado (Equação 12), além da vazão máxima a ser escoada
pelo extravasor (Equação 13).

Qmer . 3tc (11)


Ver =
2

Onde:
Ver é o volume total entrante no reservatório, em m³;
Qmer é a vazão máxima entrante no reservatório, em m³/s; e
tc é o tempo de concentração, em s.

42
𝑉𝑒𝑠 = 𝑉𝑒𝑟 − 𝑉𝑎 (12)

Onde:
Ves é o volume escoado, em m³; e
Va é o volume de amortecimento, em m³.

2𝑉𝑒𝑠 (13)
𝑄𝑚𝑒𝑒 =
3𝑡𝑐

Onde:
Qmee é a vazão máxima escoada pelo extravasor, m³/s; e
tc é o tempo de concentração da bacia, em h.

A Qmer considerada para cálculo foi a mesma obtida pela Equação 3, de 32,71 m³/s, e o tc
de 3.386,5 s, obtendo-se Ver = 166.142,21 m³. Como Va = 42.670,29 m³, o Ves obtido foi de
123.471,92 m³. Por fim a Qmee calculada foi de 24,31 m³/s.

Para a proteção do aterro no extravasor, a saída da água da barragem deverá ser por 03
bueiros circulares de concreto em paralelo (Figura 14), instalados na cota 727 m. O diâmetro
dos bueiros foi calculado pela Equação 9, de Hazen-Williams, e Equação 10, de perda de
carga unitária. Considerando a Qmee = 24,31 m³/s, o C do concreto igual a 130, B = 7,00 m
e Hn = 1,00 m, foi obtido diâmetro igual a 0,97 m. Logo deverão ser instaladas 3 sequencias
de tubos de concreto em paralelo DN 1000 interligando a lâmina d’água ao canal extravasor.

Figura 14 – Bueiros circulares de concreto.

O extravasor será um canal trapezoidal em concreto com velocidade máxima de escoamento


adotada de 6,00 m/s (EUCLYDES et al., 2011). Dividindo a Qmee pela velocidade, pela
equação da continuidade, a área da seção necessária é igual a 4,00 m². As dimensões do

43
canal extravasor trapezoidal foram calculadas pela Equação 14 apresentada a seguir.

𝐴 = (𝑏 + ℎ𝑒𝑦) 𝑦 (14)

A é a área da seção do canal extravasor, em m²;


b é a base do extravasor, em m;
he é a altura da lâmina d’água no extravasor, em m; e
y é a inclinação da parede do extravasor, em m/m.

Considerando A = 4,00 m², he = 1,00 m e z = 1,5 m/m, foi obtida b = 2,50 m (Figura 15). O
canal extravasor será de aproximadamente 100 m de comprimento, conforme traçado
indicado na Figura 16.

Figura 15 – Seção do canal extravasor.

Figura 16 – Projeção da barragem com extravasor.


Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.

44
4.7.7 Dissipador de Energia

Para redução da velocidade de escoamento da água no canal extravasor, este deverá contar
com degraus de 0,3 m de altura a cada 3,00 m lineares. Imediatamente antes do lançamento
da água na calha do manancial, o canal deverá ter seção retangular com alargamento e a
presença de blocos de dissipação em concreto.

4.8 ESTABILIDADE DO MACIÇO

Para verificação da estabilidade do maciço da barragem, foi realizada uma simulação no


programa Geostudio 2016 – SLOPE/W. Foram atribuídos valores esperados aos parâmetros
de análise de acordo com o tipo de solo a ser utilizado e o seu comportamento, conforme
apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada..

Tabela 6 – Valores de parâmetros de solo utilizados na simulação.


Parâmetros do Solo Fundação Maciço Núcleo
Condutividade hidráulica (m/s) 10 -3 10 -4 10 -8
Peso específico (kN/m³) 18,0 18,0 20,0
Coesão (kPa) 5,0 5,0 10,0
𝜑 28º 28º 25º

A estabilidade dos taludes foi analisada a partir do cálculo do Fator de Segurança (FS) pelo
Método de Bishop. A obtenção de FS maior que 1,00 indica a estabilidade da estrutura
analisada.

45
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos a partir da aplicação da metodologia


de dimensionamento da barragem de terra detalhada no capítulo anterior.

5.1 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E ESTRUTURAL

O dimensionamento dos elementos da barragem foi feito a partir do estudo das vazões e
volumes de interesse do projeto e com base nas referências bibliográficas pertinentes, sendo
que os principais valores e características da barragem são apresentadas no Quadro 3.

Critério Valor
Área superficial da lâmina d'água 38.696,04 m²
Volume armazenado na barragem 112.821,48 m³
Volume de amortecimento de enchentes 42.670,29 m³/s
Vazão de projeto 32,71 m³/s
Vazão máxima do desarenador 0,638 m³/s
Diâmetro do desarenador DN 400
Vazão de tomada d'água 0,140 m³/s
Diâmetro da descarga de fundo DN 250
Vazão máxima no extravasor 24,31 m³/s
3 tubos DN 1000 em paralelo +
Extravasor
Canal trapezoidal em concreto
Altura da lâmina d'água 9,00 m
Altura total da barragem 11,00 m
Largura da crista 6,00 m
Largura da base 63,75 m
Volume total do maciço 41.149 m³

Quadro 3 – Resumo do dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem.

As dimensões do reservatório foram obtidas a partir de levantamento topográfico de alta


precisão, possibilitando uma ótima definição do volume de água a ser armazenado e a área
da lâmina d’água da barragem.

A bacia de contribuição apresenta características hidrológicas e de ocupação do solo que


resultam numa produção hídrica expressiva, dado seu tamanho, resultando numa elevada
vazão de projeto ou vazão de enchente, necessitando assim de boa estrutura de

46
extravasamento do excesso de água para que a barragem se mantenha estável e segura.

As tubulações de tomada d’água e desarenador foram dimensionadas para atender as vazões


passantes necessárias e deverão ser em ferro fundido devido a sua resistência. Essas
tubulações proporcionarão a captação de água da barragem, a manutenção de lâmina d’água
no córrego a jusante do aterro, mesmo nos períodos de estiagem, e o esvaziamento da
barragem para reparos, caso seja necessário.

Para escoar a vazão de extravasamento calculada foi proposta saída de água pelo próprio
aterro através de tubulação de concreto e escoamento a jusante por meio de canal trapezoidal
revestido em concreto, possibilitando maiores velocidades de escoamento e menores
dimensões do extravaso, caso o mesmo fosse construído no solo natural. O canal contará
ainda com degraus e dissipação da energia hidráulica, evitando erosões no curso d’água.

O maciço de terra poderá ser construído com solo da região, com características variando
entre areno-siltoso/argiloso, enquanto o núcleo e cut-off deverão ser construídos com solo
predominantemente argiloso, de boa qualidade, ambos bem compactados. A jusante o aterro
contará com dreno para dar escoamento a linha de saturação, minimizando a possibilidade
de ocorrência de erosão interna, que provocaria riscos a barragem.

A falta de sondagens para o conhecimento das condições reais do solo da área da barragem
foi um dos pontos negativos para a elaboração do projeto. A adoção de condições e
características genéricas de solo pode ocasionar falhas de projeto e dúvidas quanto à
segurança da obra.

5.2 VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE E FATOR DE SEGURANÇA

No programa Geostudio 2016 – SLOPE/W a estabilidade dos taludes de montante e jusante


da barragem foi analisada a partir do cálculo de FS, adotando as dimensões de aterro
conforme calculado anteriormente. As superfícies prováveis de ruptura são apresentadas na
Figura 17 e Figura 18, bom como seu FS correspondente.

47
3,172

15

10
Elevação

-5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

Distância
Figura 17 – Simulação de ruptura do talude de montante.

15

10
Elevação

1,560
5

-5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

Distância
Figura 18 – Simulação de ruptura do talude de jusante.

No talude de montante o Fator de Segurança (FS) calculado pelo programa foi de 3,172,
enquanto o FS do talude de jusante foi de 1,560. Os resultados apresentam coerência uma
vez que, em aspectos gerais, existe um maior risco de ruptura do talude de jusante. O FS
maior que 1,00 significa que a estrutura é estável para as condições analisadas.

48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho propiciou o levantamento e conceituação dos aspectos e critérios técnicos


que são adotados na elaboração de projetos para pequenas barragens de terra de pequeno
porte. Um bom projeto é o primeiro passo para a implantação de uma barragem de terra
estável e segurança.

No Estado de Goiás tem sido uma prática comum a construção de pequenas barragens de
terra sem a elaboração e aprovação de projeto construtivo junto ao órgão competente, mesmo
com leis antigas com tal previsão. Essa prática tem provocado ocorrências relacionadas ao
rompimento de barragens, resultando na perda de vidas, prejuízos financeiros e um grande
desconhecimento quanto a segurança desse tipo de obra.

Diante do cenário atual em que a própria elaboração do projeto é um desafio, este trabalho
desenvolveu um projeto construtivo de uma pequena barragem de terra a ser construída no
Córrego da Cava, na Fazenda Paraíso, em Morrinhos/GO, com a finalidade de armazenar
água para irrigação de lavouras. Foi realizada a escolha do local, levantamento das
características locais e o dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem de acordo com
as indicações técnicas indicadas para as barragens de terra de pequeno porte. O próprio
dimensionamento com base em critérios matemáticos já confere uma maior segurança a obra
a ser implantada.

O dimensionamento desenvolvido foi submetido a simulação para análise de estabilidade por


meio do programa Geostudio 2016 – SLOPE/W, o que indicou a estabilidade do
empreendimento com níveis interessantes de segurança, para as condições ensaiadas.

A realização de investigação adequadas quanto as condições e características do solo local


é o principal ponto de melhoria para os próximos projetos, garantindo maior confiabilidade e
segurança quanto ao projeto elaborado e a obra a ser implantada.

Novos trabalhos poderão ser realizados a partir de uma melhor investigação do solo local e
com a aplicação de outros métodos de dimensionamento, no intuito de se estabelecer e
analisar possíveis diferenças a serem obtidas. Outra oportunidade para aprimoramento desta
pesquisa, é a comparação entre este projeto e as dimensões e condições da barragem, após
sua execução.

49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Lei nº 12334, de 20 de setembro de 2010. Estabelece a Política Nacional de


Segurança de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à
disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais e cria o
Sistema Nacional de Informações sobre segurança de barragens.

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