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APARECIDA DE GOIÂNIA
2017
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS – IFG
CAMPUS APARECIDA DE GOIÂNIA
DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS
CURSO BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL
APARECIDA DE GOIÂNIA
2017
ii
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
51 f..: il.
As barragens são obras civis de suma importância na gestão dos recursos hídricos, já que
armazenam água no período de chuvas para suprir demandas nos períodos de escassez. A
existências de pequenas barragens de terra é muito comum e na maioria das vezes são
construídas sem a elaboração de projeto, colocando em risco a obra e as pessoas e
ocasionando prejuízos financeiros. Em Goiás tal prática é comum, fato este relacionado a
ocorrências de rompimento de barragens com significativos danos. O projeto construtivo de
barragens de terra deve ser feito por profissionais capacitados, com base em estudos,
análises e critérios adequados. O objetivo deste trabalho foi desenvolver e analisar o projeto
construtivo de uma barragem de terra de pequeno porte no Córrego da Cava, em
Morrinhos/GO. O projeto foi desenvolvido a partir do detalhamento das etapas de escolha da
local da barragens, levantamento topográfico, estudos hidrológicos e dimensionamento
hidráulico e estrutural da barragem propriamente dita. Ao final o projeto foi submetido a
simulação de estabilidade do maciço de terra através do programa Geostudio 2016 –
SLOPE/W, considerando as dimensões de cálculo e atribuição de valores esperados aos
parâmetros de análise. Os resultados obtidos se demonstraram satisfatórios para as
condições simuladas, remetendo a estabilidade adequada do maciço de terra da barragem
projetada.
iv
ABSTRACT
OLIVEIRA, M. G.; TEIXEIRA, R. L. Construction project of a small earth dam in the Cava
Stream, in Morrinhos - Goiás. 2017. 51 p. Completion of Course Work (Graduation in Civil
Engineering) - Department of Civil Engineering, Federal Institute of Education, Science and
Technology of Goiás, Campus Aparecida of Goiânia, 2017.
The dams are civil works of great importance in the management of water resources, since
they store water in the rainy season to meet demands during periods of scarcity. The existence
of small earth dams is very common and most of the time they are built without the elaboration
of project, putting at risk the work and the people and causing financial losses. In Goiás such
practice is common, a fact related to occurrences of rupture of dams with significant damages.
The constructive design of earth dams should be done by trained professionals, based on
studies, analyzes and appropriate criteria. The objective of this work was to develop and
analyze the constructive project of a small earth dam in the Cava Stream, in Morrinhos / GO.
The project was developed from the detailed steps of choosing the location of the dams,
surveying, hydrological studies and hydraulic and structural design of the dam itself. At the
end, the project was submitted to simulation of stability of the land mass through the program
Geostudio 2016 - SLOPE / W, considering the dimensions of calculation and assignment of
expected values to the parameters of analysis. The results obtained were satisfactory for the
simulated conditions, referring to the adequate stability of the earth mass of the projected dam.
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – (a) barragem de gravidade; (b) barragem de arco; (c) barragem de contrafortes; (d)
barragem de terra. ............................................................................................................... 17
Figura 2 – (a) barragem homogênea; (b) barragem zonada com núcleo central impermeável;
(c) barragem zonada com camada impermeável a montante. .............................................. 18
Figura 3 – (a) planta baixa de barragem de terra; (b) corte transversal de barragem de terra.
............................................................................................................................................ 27
vi
LISTA DE QUADROS
vii
LISTA DE TABELAS
viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
DN Diâmetro Nominal
FS Fator de Segurança
IDF Intensidade-Duração-Frequência
ix
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
2. OBJETIVOS......................................................................................................... 15
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................ 16
4. METODOLOGIA .................................................................................................. 29
x
4.6.2 Vazão de Projeto.................................................................................................... 32
4.6.2.1 Bacia de Contribuição ........................................................................................ 32
4.6.2.2 Tempo de Concentração .................................................................................... 33
4.6.2.3 Intensidade de Precipitação ............................................................................... 34
4.6.2.4 Vazão de Projeto................................................................................................ 34
xi
1. INTRODUÇÃO
Hoje existem grandes barragens, focadas na geração de energia, que são construídas de
terra ou concreto. Já as barragens menores são construídas predominantemente de terra
devido sua facilidade construtiva. Segundo a FAO (2011), as barragens de terra são
encontradas em todo o mundo e consistem em estruturas simples onde a massa de terra
compactada, ou seja, o barramento, resiste ao deslizamento e tombamento.
12
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 1997).
O que se tem observado na prática é que as pequenas barragens de terra, muitas das vezes,
estão sendo construídas sem a elaboração de projetos e estudos que são fundamentais para
a implantação desse tipo de empreendimento. Neste sentido o presente trabalho visa
desenvolver um projeto específico de uma barragem de terra para acumulação de água para
irrigação, com o detalhamento dos critérios adotados para construção de uma obra segura.
13
1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO
O presente trabalho foi desenvolvido em 6 capítulos, sendo que o primeiro capítulo apresenta
uma introdução sobre as barragens. No segundo capítulo foram estabelecidos os objetivos a
serem alcançados com o desenvolvimento do trabalho.
O terceiro capítulo é constituído de revisão bibliográfica acerca dos temas de interesse para
o trabalho, com a abordagem sobre o histórico e tipos de barragens existentes, com o
aprofundamento nas barragens de terra. Foram abordadas as ocorrências de acidentes com
barragens registradas no Estado de Goiás e o cenário de regularização e aprovação de
projetos para a construção de barragens. Por fim, foi apresentada a base legal e necessidades
quanto a elaboração de projeto construtivo para as barragens de terra e os principais critérios
e elementos a serem abordados e estudados.
O quarto capítulo apresenta a metodologia detalhada de projeto para uma barragem de terra
com a demonstração dos dados e equações adotadas. O quinto capítulo apresenta os
principais resultados e a discussão do dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem,
além da análise das condições de estabilidade e segurança. No sexto e último capítulo foram
descritas as conclusões e considerações finais do trabalho.
14
2. OBJETIVOS
15
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo apresenta o estado da arte relacionada as barragens, contendo o histórico das
barragens, os principais tipos, os acidentes com barragens de terra com foco em ocorrências
no Estado de Goiás. Também são apresentados os principais elementos de uma barragem,
seus conceitos, bem como os aspectos, estudos e critérios que são abordados no âmbito do
projeto de pequenas barragens de terra.
3.1 AS BARRAGENS
16
material natural e podem ser construídas com equipamentos simples. Devido a essa facilidade
construtiva, as barragens mais antigas conhecidas foram feitas de terra (MATOS, SILVA,
PRUSKI, 2012).
De acordo com Carvalho (2008), existem vários tipos de barragens que são classificadas pelo
tipo de construção e material empregado. Os principais tipos de barragens são descritos a
seguir e mostrados na Figura 1:
(a) (b)
(c) (d)
Figura 1 – (a) barragem de gravidade; (b) barragem de arco; (c) barragem de contrafortes;
(d) barragem de terra.
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As barragens de terra homogênea ou simples (Figura 2a) são aquelas construídas com um
único tipo de material, sendo recomendadas quando o solo do local da barragem oferece
condições adequadas para construção e impermeabilização. Já as barragens de terra
heterogêneas ou zonadas são constituídas por um núcleo central impermeável (Figura 2b) ou
por uma camada impermeável externa sobre o talude de montante (Figura 2c), geralmente
construído com material argiloso de boa compactação, complementando o maciço da
barragem com material de maior permeabilidade, com o emprego de areia, cascalho ou
fragmentos de rocha, ou uma mistura desses materiais.
(a)
(b)
(c)
Figura 2 – (a) barragem homogênea; (b) barragem zonada com núcleo central impermeável;
(c) barragem zonada com camada impermeável a montante.
18
projeção e construção, fragilidade devido à má compactação, necessidade de manutenção
contínua evitando infiltrações, erosões e outros danos (CARVALHO, 2008).
Para Matos, Silva, Pruski, (2012), pequenas barragens de terra são aquelas com até 10
metros de altura. Carvalho (2008) registra que a anos atrás as pequenas barragens de terra
eram recomendadas para alturas inferiores a 15 metros, porém, com a modernização das
técnicas de projeto e construção, recomenda-se que as barragens de terra não ultrapassem
os 25 metros de altura, atendendo a critérios de segurança.
Quando devidamente projetadas, as pequenas barragens de terra podem ser constituídas por
uma grande variedade de solos naturais. A capacidade de adequação a grandes
deformações, sem ruptura, e a elevada relação largura da base/altura que as caracteriza são
fatores que recomendam este tipo de barragem para qualquer tipo de fundação, pois as
tensões aplicadas ao terreno são bastante reduzidas, e o trajeto da água infiltrada através da
fundação é necessariamente longo (BRASIL, 2016).
As pequenas barragens de terra, por mais simples que sejam, são importantes obras de
engenharia que devem ter a sua segurança gerenciada ao longo de sua vida. Segundo Mello
(2011), a ruptura de barragens é uma hipótese pouco provável e de baixíssima probabilidade
de ocorrência quando os aspectos de projeto, construção e operação são tratados com
seriedade. Todavia, o potencial de perdas de vida, danos ambientais e perdas econômicas
decorrentes de uma eventual ruptura, deixa claro a grande responsabilidade de proprietários,
de engenheiros e dos órgãos governamentais quanto à preservação da segurança das
barragens, no sentido de minimizar a possibilidade da ocorrência de eventos desta natureza.
De acordo com Daker (1987), as causas de colapso de pequenas barragens de terra são:
19
• Desmoronamentos no talude de jusante devido a compactação inadequada e saída
da linha de saturação no maciço de terra.
As causas de ruptura de barragens, na maioria dos casos, podem ser atribuídas não apenas
a falhas de projeto, mas devido à falta de acompanhamento durante sua construção. Em
ambos os casos pode-se afirmar que o projeto não foi elaborado e executado por profissional
experiente ou por empresa devidamente habilitada. Ainda, erros podem ser atribuídos à falha
humana durante as fases preliminares das investigações para o projeto (investigação
geológica e geotécnica simplificada), dados e critérios de projeto deficientes, fiscalização
deficiente, operação inadequada, erros de interpretação de dados do monitoramento e devido
à operação indevida das estruturas hidráulicas, etc. (Medeiros, 1999 apud Menescal, 2005).
20
De acordo com os dados do Quadro 1, entre 2009 e 2016 a SECIMA possui 19 registros de
ocorrências a barragens de terra utilizadas para acumulação de água. Estas ocorrências
tratam-se de autos de advertências, autos de infrações, auto de embargo e interdição,
denúncias e registros de informação. Dos 19 registros, 6 referem-se a barragens com risco
de rompimento, enquanto 13 são de rompimento de barragem. Em 2014 foram 5 registros de
rompimento de barragem, ou seja, o ano com o maior número de ocorrências registradas pela
secretaria.
Entre as ocorrências citadas, as que tiveram uma maior divulgação foram: o rompimento de
uma barragem de terra na zona rural de Uruana/GO, próximo ao distrito de Uruíta, em 05 de
março de 2014, onde um carro foi arrastado pelas águas e duas pessoas que estavam no
veículo morreram; em 20 de fevereiro de 2016 uma barragem de terra se rompeu na zona
rural de Itaberaí/GO, causando também o rompimento de trecho da rodovia GO-070, que
gerou um custo de 2,7 milhões para reconstrução, segundo a Agência Goiana de Transportes
e Obras (AGETOP); em 02 de março de 2016 o rompimento de duas barragens em série, no
município de Santa Helena de Goiás/GO, provocou a morte de 7 toneladas de peixes.
21
• Reconhecimento do terreno de fundação por meio de poços ou sondagens e
análise de amostras indeformadas e ensaios in situ para determinação das
características de resistência ao cisalhamento e de permeabilidade;
• Estudo dos locais de empréstimo de solos para construção do aterro e a avaliação
dos respectivos volumes, ensaios laboratoriais de identificação e de compactação;
• Dimensionamento estrutural com a geometria da barragem (cotas, borda livre,
inclinação dos taludes, altura da barragem e características e dimensões dos
diferentes tipos de maciços constituintes, detalhamento dos elementos, etc.) e a
proposta de um plano simplificado de segurança da barragem;
• Levantamento e caracterização da zona a jusante da barragem, afetada por uma
eventual ruptura;
• Medidas mitigadoras dos impactos ambientais, que incluam a recuperação das
áreas de empréstimo, a proteção do reservatório em relação ao assoreamento e a
alteração da qualidade da água.
Segundo a DEMA (2016), cerca de 90% das barragens do Estado são clandestinas, ou seja,
não possuem licença/autorização e possivelmente foram construídas sem projeto. Dados
obtidos junto a SECIMA comprovam este cenário, conforme apresentado no Quadro 2.
Descrição Quantidade
Solicitações de Outorga de Água para Barramento 4.380
Barramentos Outorgados 2.429
Solicitações de Licenciamento para Barragens 1.448
Processos Licenciados 177
O Quadro 2 mostra que a SECIMA recebeu 4.380 pedidos de outorga do direito de uso da
água para barragens, sendo que destes, 2.429 outorgas foram emitidas, que corresponde a
55,5% dos pedidos de outorga. Com base na legislação vigente, todas as barragens devem
obter outorga de uso da água e licenciamento, no entanto, os dados mostram uma outra
realidade. A secretaria recebeu 1.448 pedidos de licenciamento de barragens, que equivale a
59,6% do número de outorgas emitidas (2.429). Já as 177 barragens licenciadas
correspondem a 12,2% dos pedidos de licenciamento (1.148) e a 7,3% em relação ao número
de outorgas emitidas (2.429).
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de autorizações junto aos órgão ambientais e de recursos hídricos, há ainda a necessidade
do dimensionamento e elaboração de projeto técnico da barragem, levando-se em
consideração, além do maciço de terra, obras tais como: extravasor, dissipadores de energia,
reservatório, controladores de nível, etc. assim, a construção de uma barragem de terra requer
a elaboração de um projeto técnico baseado em conhecimentos de diversas áreas da
engenharia, de forma a atender tecnicamente todas as partes da barragem, incluindo a
preservação ambiental (CARVALHO, 2008).
Os projetos de barragens devem ser elaborados por engenheiros com capacidade técnica,
registrados no CREA, com a emissão de ART. Estes projetos devem conter, de forma
organizada, memorial descritivo, memorial de cálculo e desenho técnico, necessários para
justificar o dimensionamento e definir completamente a obra (BRASIL, 2016).
Segundo Lopes e Lima (2008), o local ideal para a construção do barramento deverá possuir
as seguintes características:
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• Dar preferência aos locais de solo argiloso, seco e profundo, evitando os solos
arenosos e alagados. Caso seja necessário, procurar área de empréstimo que
possua solo adequado para a construção do aterro, principalmente para o núcleo
impermeável, se for o caso;
• Ser no local mais estreito possível da calha do manancial, formando uma garganta
natural, diminuindo o volume do aterro e, consequentemente, os custos de
construção;
• O local deverá ser espraiado, aberto e com pouca declividade para se acumular
um maior volume de água.
• Dispor de material adequado para o aterro próximo a área da barragem,
minimizando os custos com movimentação e transporte de terra;
• Evitar interferências em edificações, plantações, estradas. Verificar as condições
de ocupação a jusante da barragem.
A escolha do local para construção da barragem é uma das etapas mais importantes do
projeto, pois um local inadequado pode acarretar em riscos e problemas para o proprietário e
para o responsável pela execução da obra. Uma boa escolha do local irá possibilitar a
construção de uma barragem mais eficiente e segura.
O reconhecimento do tipo de solo da área é uma etapa fundamental, pois permite avaliar a
capacidade do solo em receber uma obra e suas condições reais de execução, podendo evitar
problemas futuros. Com o resultado gerado pela sondagem, os parâmetros necessários para
a realização da obra poderão ser obtidos, como o nível d’ água, o tipo do perfil de solo e o tipo
de fundação mais adequado.
Segundo Carvalho (2008), dentre as técnicas de sondagem, as mais usadas são: a) ensaio a
percussão, Standard Penetration Test (SPT), que através da penetração no solo de um
barrilete de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm, consegue-se obter a resistência; b) rotativa,
indicada para solos mais duros e com rochas; c) poço de visita, que consiste na abertura de
poços para a vistoria, em seu interior, por um técnico especializado. A profundidade do ensaio
de sondagem deve atingir um perfil de solo com um grau de compactação que seja suficiente
para a construção da fundação.
3.5.2 Topografia
A declividade de uma bacia hidrográfica está diretamente relacionada com vários processos
hidrológicos, como escoamento superficial, infiltração, percolação de água no solo, fluxo de
24
água subterrânea, entre outros. De acordo com Carvalho (2008), as bacias hidrográficas
situadas em locais mais altos estão sujeitas a ocorrência de maior precipitação média,
menores temperaturas e maior escoamento superficial.
A vazão de projeto depende da área da bacia de contribuição, isto é, a área da superfície que
é drenada para um ponto específico, que pode ser obtida através de cartas topográficas ou
programas especializados na obtenção da topografia de terrenos. O tempo de concentração
25
é o período de tempo, expresso em minutos ou horas, em que ocorre uma determinada
precipitação, caracterizada por sua intensidade, que por sua vez é o volume de precipitação
por unidade de tempo, obtida como a relação entre altura pluviométrica e duração, expressa
em mm/h.
Segundo Carvalho (2008), as principais partes constituintes de uma barragem de terra e seus
conceitos básicos são:
26
crista do aterro;
• Filtro: estrutura para interceptar a linha de saturação no maciço da barragem,
conduzindo-a na direção do dreno;
• Dreno: construído na projeção do talude de jusante para drenar a água do aterro.
(a)
(b)
Figura 3 – (a) planta baixa de barragem de terra; (b) corte transversal de barragem de terra.
Entre os principais critérios para a construção de um maciço de terra seguro estão o tipo de
27
solo e o processo de compactação ao qual este solo será submetido. Segundo FAO (2011),
em um aterro, a compactação do solo é indispensável, pois aumenta significativamente a
resistência do solo ao cisalhamento. Antes de iniciar a compactação do aterro deve-se realizar
o ensaio de compactação, conforme a NBR 7182 (ABNT, 2016), encontrando a curva de
compactação e a umidade ótima.
Segundo FAO (2011), para a compactação do aterro o solo deve estar úmido, mas não
encharcado e deverá ser escarificado por todo o comprimento do maciço. A compactação
pode ser realizada a cada 20 cm de solo. Os tipos de compactação mais recomendados são:
A captação da água da barragem para uso é feita por tubulação de tomada d’água que pode
ser instalada diretamente no reservatório ou através do maciço. Neste segundo caso, existe
a possibilidade de otimizar a captação devido a possibilidade de instalação da tubulação numa
cota mais baixa, próximo ao leito natural do manancial e aumentar a coluna d’água para
captação. Já a descarga de fundo ou desarenador tem função de manter pelo menos a vazão
mínima de água a jusante da barragem para manutenção ecológica, possibilidade de
esvaziamento do reservatório para reparos e eliminação de sedimentos que tendem a se
acumular no fundo do reservatório.
28
4. METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho teve por base o levantamento de informações e dados
por meio de ampla pesquisa bibliográfica em livros, artigos técnicos e científicos, periódicos,
arquivos digitais e solicitação de informações junto a órgão governamental.
A barragem de terra foi dimensionada para fins de armazenamento de água para irrigação de
140 hectares de culturas anuais plantadas na Fazenda Paraíso, na zona rural do município
de Morrinhos/GO.
29
Figura 4 – Local escolhido para implantação da barragem, na Fazenda Paraíso.
Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.
No local existe um estreitamento na seção do córrego o que diminui o volume de terra a ser
movimentado para a construção do aterro, ao mesmo tempo que a sua montante forma uma
bacia de acumulação com baixa declividade, possibilitando a formação de um bom
reservatório com um aterro de pequeno porte. Além disso, o local escolhido não possui
construções, apresenta ombreiras com boas condições para construção do extravasor, está
localizada próxima as áreas a serem irrigadas e possibilita a construção de toda a barragem
somente dentro da Fazenda Paraíso, evitando interferências nas propriedades vizinhas.
O levantamento foi realizado com equipamento Global Positioning System (GPS) de precisão,
com sistema Receptor GNSS RTK Javad Triumph-1, que consistiu na obtenção de centenas
de pontos contendo latitude, longitude e cota. Com base na interpolação destes pontos o perfil
topográfico do terreno foi modelado por meio de ferramentas computacionais, resultando no
mapa com as curvas de nível do terreno de metro em metro (Figura 5).
30
Figura 5 – Curvas do levantamento topográfico do terreno.
A elaboração de um bom projeto de barragem deve ser precedida da sondagem de solo para
o reconhecimento das condições e características do solo local. Como tal procedimento não
foi realizado, o projeto foi elaborado com a indicação do tipo de solo a ser empregado na
construção do maciço e a adoção da profundidade de 2,00 metros para alcance de solo com
baixa permeabilidade e boa resistência, a partir de onde deverá ser iniciada a fundação da
barragem. Na execução, caso haja necessidade, essa profundidade deverá ser prolongada.
Para este projeto foi escolhido uma barragem do tipo heterogênea ou zonada, com a
construção de um núcleo impermeável no interior do maciço de terra. Na prática as barragens
homogêneas são mais fáceis para a execução, no entanto, necessitam de um grande volume
de solo de boa qualidade para a construção de um aterro que proporcione o controle
adequado da percolação de água através do aterro.
Para a construção da barragem poderá ser utilizado solo da região, com maior permeabilidade
(silte, areia e cascalho), em grande parte do aterro. Já no núcleo central impermeável deverá
ser empregado solo argiloso de baixa permeabilidade, associado a dreno a jusante.
31
exatamente aqueles que vão informar sobre a demanda e a disponibilidade hídrica necessária
para o funcionamento da atividade proposta. Outro cálculo fundamental é a vazão de projeto,
também conhecida como vazão de enchente, pois o valor obtido é utilizado no
dimensionamento de algumas estruturas da barragem, com destaque para o extravasor.
Após a escolha do local do eixo da barragem, a bacia de contribuição a montante deste ponto
foi levantado por meio do programa QGIS, que dispõe de uma base de dados das cotas
altimétricas do terreno e cadastro dos principais cursos d’água. Com base nestes dados a
bacia de contribuição (Figura 6 e Figura 7) de interesse foi representada graficamente e obtida
sua área de 10,41 km² ou 1.041 ha, dado este utilizado nos cálculos hidrológicos do projeto.
32
Figura 7 – Representação gráfica da bacia de contribuição da barragem.
Fonte: QGis.
Existem diversas fórmulas para o cálculo do tempo de concentração. Para este trabalho, o
tempo de concentração foi estimado segundo a equação de Ven Te Chow (Equação 1),
indicada para bacias com área de contribuição de até 25 km² ou 2.500 ha.
0,64 (1)
𝐿
𝑡𝑐 = 5,77 ( )
√𝑆𝑜
Onde:
tc é o tempo de concentração, em min;
L é o comprimento do talvegue ou curso d’água principal, em km; e
So é a declividade média do talvegue, em m/m.
33
Para o cálculo do tempo de concentração, o comprimento do talvegue foi obtido no mapa da
bacia de contribuição sendo obtido L = 5,9 km. Da mesma forma, a declividade foi obtida a
partir da diferença entre a maior cota e a cota no local da barragem (165 m) e dividindo-a pelo
comprimento do talvegue, ou seja, 5.900 metros, obtendo So = 2,8%. A partir destes dados,
foi obtido tc = 56,44 min.
𝑘𝑇𝑎 (2)
𝑖=
(𝑏 + 𝑡) 𝑐
Onde:
i é a intensidade de precipitação, em mm/h;
T é o tempo de retorno, em anos;
t é o tempo de duração da precipitação, em min; e
k, a, b, c são parâmetros da equação.
O T utilizado neste projeto foi de 100 anos (SÃO PAULO, 2005), para garantir uma maior
segurança a obra. O t, neste caso, é o tempo de concentração calculado anteriormente, ou
seja, tc = 56,44 min. Já os parâmetros k = 1.003,46, a = 0,1376, b = 10 e c = 0,7418, foram
obtidos da curva IDF para o município de Morrinhos (OLIVEIRA et al., 2005). Foi calculado
i = 84,10 mm/h.
A vazão máxima ou vazão de projeto foi estimada através do Método Racional Modificado
(Equação 3) por ser um método de fácil aplicação, bastante utilizado em estudos hidrológicos,
apresentando resultados próximos aos de outros métodos de cálculo de vazão de McMath e
Burkli-Ziegler.
𝐶𝑖𝐴 (3)
𝑄= 𝜑
360
34
Onde:
Q é a vazão máxima de escoamento superficial, em m³/s;
C é o coeficiente de escoamento superficial, adimensional;
i é a intensidade de precipitação, em mm/h;
A é a área da bacia de contribuição, em ha; e
φ é o coeficiente de retardamento do escoamento, calculado por: 0,278 - 0,0000034A.
De posse dos dados da Tabela 1 o C médio ou ponderado foi calculado dividindo 510,0 por
1.041, obtendo-se 0,49. O coeficiente de retardamento do escoamento foi calculado
considerando área da bacia de contribuição de 1.041 ha. A Q calculada foi de 32,71 m³/s.
4.7.1 Reservatório
𝐴𝑛 + 𝐴(𝑛 + 1) (4)
𝑉𝑝 = ( )ℎ
2
Onde:
Vp é o Volume parcial da seção, em m³;
An é a área da seção da cota n, em m²;
A(n+1) é a área da seção da cota n+1, em m²; e
h é a altura entre a cota n e n+1, em m;
35
As áreas das seções foram obtidas por meio do programa AutoCad e o volume parcial e
acumulado calculado, resultando nos dados apresentados na Tabela 2.
Curvas (m) Área inundada (m²) Volume parcial (m³) Volume acumulado (m³)
719 467,01 233,51 233,51
720 952,49 709,75 943,25
721 1.490,58 1.221,53 2.164,79
722 5.058,90 3.274,74 5.439,53
723 11.058,35 8.058,63 13.498,15
724 17.996,41 14.527,38 28.025,53
725 24.838,95 21.417,68 49.443,21
726 31.610,78 28.224,87 77.668,07
727 38.696,04 35.153,41 112.821,48
A Tabela 2 mostra que com lâmina d’água de 9,0 metros de altura, a barragem armazenará
112.821,48 m³ de água, mantendo a lâmina d’água normal da barragem na cota de 727 m.
Como a tubulação de tomada d’água da barragem deverá ficar na cota 720 m, descontando
o volume parcial de 233,51 m³, a barragem ainda fica com volume útil acumulado de
112.587,98 m³, atendendo ao volume de água demandado para o abastecimento da irrigação,
de 99.274 m³. A mostra o gráfico da cota x volume de água acumulado.
120.000
Volume acumulado (m³)
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
719 720 721 722 723 724 725 726 727
Cota (m)
Para o cálculo do volume de amortecimento foi adotado altura máxima de água no extravasor
36
de 1,00 m. Dessa maneira, num período de enchente, caso a água atinja 1,00 m de altura no
extravasor, isso significa que toda a lâmina d’água da barragem será acrescida em 1,00 m,
apresentado uma nova área inundada de 46.644,54 m² e um novo volume acumulado de
155.491,77 m³. Logo, houve um aumento de 42.670,29 m³ no volume da barragem, sendo
este o seu volume de amortecimento de enchentes.
A altura do aterro, calculada pela Equação 5, depende da altura da lâmina d’água acumulada,
da altura máxima de água no extravasor, obtida na Tabela 3, e da altura de folga, obtida na
Tabela 4.
𝐻 = ℎ𝑛 + ℎ𝑒 + 𝑓 (5)
Onde:
H é a altura do aterro, em m;
hn é a altura ou profundidade da lâmina d’água na barragem, em m;
he é a altura da lâmina d’água máxima no extravasor, em m; e
f é a altura de folga da barragem, em m;
A crista da barragem pode ser calculada pela Equação 6. Para o uso do aterro como estrada,
como neste caso, a crista deve possuir largura mínima de 6,00 m, conforme Carvalho (2008).
37
𝐻 (6)
𝐶= +3
5
Onde:
C é a largura da crista, em m; e
H é a altura total da barragem, em m.
Foram adotadas inclinações de 3,00:1 para o talude de montante e 2,25:1 para o talude de
jusante. Com base nessas informações a largura da base do aterro foi calculada através da
Equação 7.
Onde:
B é a largura da base, em m;
C é a largura da crista da barragem, em m;
Z1 é a inclinação do talude de montante, em m/m;
Z2 é a inclinação do talude de jusante, em m/m; e
H é a altura total da barragem, em m.
O B calculado foi de 63,75 m. O comprimento total do aterro, na cota da crista (729 m), é de
202,90 m. A Figura 9 mostra o perfil transversal do aterro.
38
Figura 9 – Perfil transversal do maciço de terra.
O cut-off ou fundação e o núcleo da barragem deverão ser construídos com solo argiloso de
boa qualidade. Segundo Lopes e Lima (2008), a largura mínima do cut-off e núcleo deve ser
de 1/3 da altura da lâmina d’água acima daquele ponto. Como não foi realizada sondagem de
solo no eixo da barragem o cut-off foi previsto com profundidade de 2,00 m. Caso haja
necessidade, durante o processo de construção da barragem o cut-off deverá ser prolongado
até alcançar o solo resistente, com boa condição de impermeabilização. O núcleo deverá ser
construído até a cota máxima da lâmina d’água natural (727 m), com base a mesma largura
de base do cut-off, ou seja, 4,00 m de largura e topo com 1,00 m, conforme Figura 10.
39
Figura 11 – Projeção do aterro no terreno.
Fonte: Google Earth (2017). Adaptada pelos autores.
4.7.3 Dreno
40
𝑉𝑎𝑐 (8)
𝑄𝑒𝑑 = + 𝑄𝑛
𝑇
Onde:
Qed é a vazão escoada pelo desarenador, (m³/s);
Vac é o volume de água armazenado na represa, em m³;
T é o tempo de esvaziamento da represa, em s; e
Qn é a vazão média, em m³/s).
O Vac é de 112.821,48 m³, o T adotado foi de 3 dias ou 259.200 s e a Qn adotada foi de 0,203
m³/s, sendo a vazão média anual do manancial, obtida no estudo de viabilidade hídrica do
projeto de irrigação, elaborado por empresa especializada. A Qed calculada foi de 0,638 m³/s.
A partir destes dados e considerando a execução do desarenador com tubulação de ferro
fundido novo, com C = 130, seu diâmetro foi calculado pela Equação 9 apresentada, de
Hazen-Williams.
0,38 (9)
𝑄
𝐷=( )
0,279 𝐶 𝐽 0,54
Onde:
D é o diâmetro da tubulação, em m;
Q é a vazão escoada pelo desarenador, em m³/s;
C é o coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams, adimensional; e
J é a perda de carga unitária, em m/m.
A perda de carga unitária na tubulação foi calculada pela Equação 10, considerando, neste
caso, a altura de água na barragem igual a 9,00 metros e o comprimento da tubulação da
descarga de fundo de 70 metros, atravessando todo o maciço da barragem.
𝐻𝑛 (10)
𝐽=
2𝐵
Onde:
J é a perda de carga unitária, m/m;
Hn é a atura de água na barragem, acima da tubulação, em m; e
B é o comprimento da tubulação do desarenador, em m.
41
O D do desarenador calculado foi de 0,38 mm devendo ser utilizado Diâmetro Nominal (DN)
de 400 mm. A junção entre os tubos deverá ser apoiada sobre blocos de ancoragem em
concreto (Figura 13) para se evitar a movimentação da tubulação e vazamentos no interior do
maciço. A jusante do maciço, no final da tubulação, deverá ser instalado um registro a ser
mantido aberto para saída da vazão mínima/ecológica para manutenção de fluxo constante
no córrego, conforme parâmetros de outorga.
A tubulação de tomada d’água da barragem para a irrigação também deverá ser em ferro
fundido novo, instalado ao lado do desarenador, apoiada em blocos de ancoragem. Seu
diâmetro foi obtido pela Equação 9, considerando Q = 0,140 m³/s, obtida de Estudo de
Viabilidade Hídrica, C = 130 e J calculado pela Equação 10 considerando Hn = 8,00 m e B =
70 m. O diâmetro calculado foi de 0,21 cm devendo ser utilizado o DN 250 mm.
4.7.6 Extravasor
Onde:
Ver é o volume total entrante no reservatório, em m³;
Qmer é a vazão máxima entrante no reservatório, em m³/s; e
tc é o tempo de concentração, em s.
42
𝑉𝑒𝑠 = 𝑉𝑒𝑟 − 𝑉𝑎 (12)
Onde:
Ves é o volume escoado, em m³; e
Va é o volume de amortecimento, em m³.
2𝑉𝑒𝑠 (13)
𝑄𝑚𝑒𝑒 =
3𝑡𝑐
Onde:
Qmee é a vazão máxima escoada pelo extravasor, m³/s; e
tc é o tempo de concentração da bacia, em h.
A Qmer considerada para cálculo foi a mesma obtida pela Equação 3, de 32,71 m³/s, e o tc
de 3.386,5 s, obtendo-se Ver = 166.142,21 m³. Como Va = 42.670,29 m³, o Ves obtido foi de
123.471,92 m³. Por fim a Qmee calculada foi de 24,31 m³/s.
Para a proteção do aterro no extravasor, a saída da água da barragem deverá ser por 03
bueiros circulares de concreto em paralelo (Figura 14), instalados na cota 727 m. O diâmetro
dos bueiros foi calculado pela Equação 9, de Hazen-Williams, e Equação 10, de perda de
carga unitária. Considerando a Qmee = 24,31 m³/s, o C do concreto igual a 130, B = 7,00 m
e Hn = 1,00 m, foi obtido diâmetro igual a 0,97 m. Logo deverão ser instaladas 3 sequencias
de tubos de concreto em paralelo DN 1000 interligando a lâmina d’água ao canal extravasor.
43
canal extravasor trapezoidal foram calculadas pela Equação 14 apresentada a seguir.
𝐴 = (𝑏 + ℎ𝑒𝑦) 𝑦 (14)
Considerando A = 4,00 m², he = 1,00 m e z = 1,5 m/m, foi obtida b = 2,50 m (Figura 15). O
canal extravasor será de aproximadamente 100 m de comprimento, conforme traçado
indicado na Figura 16.
44
4.7.7 Dissipador de Energia
Para redução da velocidade de escoamento da água no canal extravasor, este deverá contar
com degraus de 0,3 m de altura a cada 3,00 m lineares. Imediatamente antes do lançamento
da água na calha do manancial, o canal deverá ter seção retangular com alargamento e a
presença de blocos de dissipação em concreto.
A estabilidade dos taludes foi analisada a partir do cálculo do Fator de Segurança (FS) pelo
Método de Bishop. A obtenção de FS maior que 1,00 indica a estabilidade da estrutura
analisada.
45
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O dimensionamento dos elementos da barragem foi feito a partir do estudo das vazões e
volumes de interesse do projeto e com base nas referências bibliográficas pertinentes, sendo
que os principais valores e características da barragem são apresentadas no Quadro 3.
Critério Valor
Área superficial da lâmina d'água 38.696,04 m²
Volume armazenado na barragem 112.821,48 m³
Volume de amortecimento de enchentes 42.670,29 m³/s
Vazão de projeto 32,71 m³/s
Vazão máxima do desarenador 0,638 m³/s
Diâmetro do desarenador DN 400
Vazão de tomada d'água 0,140 m³/s
Diâmetro da descarga de fundo DN 250
Vazão máxima no extravasor 24,31 m³/s
3 tubos DN 1000 em paralelo +
Extravasor
Canal trapezoidal em concreto
Altura da lâmina d'água 9,00 m
Altura total da barragem 11,00 m
Largura da crista 6,00 m
Largura da base 63,75 m
Volume total do maciço 41.149 m³
46
extravasamento do excesso de água para que a barragem se mantenha estável e segura.
Para escoar a vazão de extravasamento calculada foi proposta saída de água pelo próprio
aterro através de tubulação de concreto e escoamento a jusante por meio de canal trapezoidal
revestido em concreto, possibilitando maiores velocidades de escoamento e menores
dimensões do extravaso, caso o mesmo fosse construído no solo natural. O canal contará
ainda com degraus e dissipação da energia hidráulica, evitando erosões no curso d’água.
O maciço de terra poderá ser construído com solo da região, com características variando
entre areno-siltoso/argiloso, enquanto o núcleo e cut-off deverão ser construídos com solo
predominantemente argiloso, de boa qualidade, ambos bem compactados. A jusante o aterro
contará com dreno para dar escoamento a linha de saturação, minimizando a possibilidade
de ocorrência de erosão interna, que provocaria riscos a barragem.
A falta de sondagens para o conhecimento das condições reais do solo da área da barragem
foi um dos pontos negativos para a elaboração do projeto. A adoção de condições e
características genéricas de solo pode ocasionar falhas de projeto e dúvidas quanto à
segurança da obra.
47
3,172
15
10
Elevação
-5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Distância
Figura 17 – Simulação de ruptura do talude de montante.
15
10
Elevação
1,560
5
-5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Distância
Figura 18 – Simulação de ruptura do talude de jusante.
No talude de montante o Fator de Segurança (FS) calculado pelo programa foi de 3,172,
enquanto o FS do talude de jusante foi de 1,560. Os resultados apresentam coerência uma
vez que, em aspectos gerais, existe um maior risco de ruptura do talude de jusante. O FS
maior que 1,00 significa que a estrutura é estável para as condições analisadas.
48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Estado de Goiás tem sido uma prática comum a construção de pequenas barragens de
terra sem a elaboração e aprovação de projeto construtivo junto ao órgão competente, mesmo
com leis antigas com tal previsão. Essa prática tem provocado ocorrências relacionadas ao
rompimento de barragens, resultando na perda de vidas, prejuízos financeiros e um grande
desconhecimento quanto a segurança desse tipo de obra.
Diante do cenário atual em que a própria elaboração do projeto é um desafio, este trabalho
desenvolveu um projeto construtivo de uma pequena barragem de terra a ser construída no
Córrego da Cava, na Fazenda Paraíso, em Morrinhos/GO, com a finalidade de armazenar
água para irrigação de lavouras. Foi realizada a escolha do local, levantamento das
características locais e o dimensionamento hidráulico e estrutural da barragem de acordo com
as indicações técnicas indicadas para as barragens de terra de pequeno porte. O próprio
dimensionamento com base em critérios matemáticos já confere uma maior segurança a obra
a ser implantada.
Novos trabalhos poderão ser realizados a partir de uma melhor investigação do solo local e
com a aplicação de outros métodos de dimensionamento, no intuito de se estabelecer e
analisar possíveis diferenças a serem obtidas. Outra oportunidade para aprimoramento desta
pesquisa, é a comparação entre este projeto e as dimensões e condições da barragem, após
sua execução.
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAO. Manual sobre pequenas barragens de terra: guia para a localização, projeto e
construção. Roma: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
2011, 120p. (Publicação da FAO sobre Rega e Drenagem, nº 64).
MELLO, F. M. A história das barragens no Brasil, Séculos XIX, XX e XXI: cinquenta anos
do Comitê Brasileiro de Barragens. Rio de Janeiro. 2011. 524 p. il.
50
de Recursos Hídricos no Brasil. 2.ed. / [Organizador, Rogério de Abreu Menescal]. –
Brasilia: Proágua, 2005. 316p.
51