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Introdução

Macroeconomistas Marxistas e pós-Keynesianos, se viram em lados opostos por


boa parte dos anos 70-80 quando tratado o regime de demanda das economias capitalistas,
se por um lado Marxistas retomando aos clássicos (incluindo-se Marx) apontavam uma
relação contrária entre participação dos salários e crescimento econômico, pós-
Keynesianos apoiados sobretudo pelos escritos de Kalecki e Steindl, apontavam o
contrário, onde aumentos na participação dos salários na renda levariam a um maior nível
de utilização e por sua vez uma maior taxa de crescimento econômico. Uma vasta
literatura em torno dos chamados regimes 1 do tipo liderado pelos salários (wage-led) e
do tipo liderado pelos lucros (profit-led) rapidamente desenvolveu-se, repercutindo e
gerando trabalhos científicos relevantes até os dias mais recentes.
Podem ser apontados dois objetivos a serem alcançados neste ensaio: um
primeiro relacionado a apresentação do contexto histórico dos artigos teóricos
fundamentais sobre o tema, e um segundo objetivo ligado a uma apresentação resumida
de dois modelos considerados canônicos pelos Keynesianos neste contexto. O ensaio
divide-se em duas partes, uma primeira composta do apanhado histórico, recuperando e
contextualizando a discussão assim como apontando trabalhos fundamentais no debate, e
uma segunda parte onde são apresentados mais detalhadamente os modelos considerados
na literatura como canônicos.

Uma perspectiva histórica


(M. Lavoie,2017,1995; Blecker, 2015)
Se o debate sobre estagnação secular e desacelerações nas atividades econômicas
por vezes e há muito tempo são atribuídas a participações mais altas ou baixas dos salários
na renda, podendo ser encontrado apontamentos desta natureza até mesmo nos trabalhos
de Marx e posteriormente nos trabalhos de Sweezy e Steindl, por outro lado a origem
moderna das controvérsias wage-led e profit-led sendo a abordagem Keynesiana,

1
Deve ser enfatizado que termo wage-led ou profit-led regime, pode ser aplicado para pelo menos três
diferentes categorias. Uma primeira onde assume-se que aumentos da participação dos salários na renda,
levariam a incrementos na capacidade utilizada (logo, uma maior taxa de crescimento econômico). Uma
segunda categoria relacionaria incrementos nas participações dos salários, ou dos salários reais,
resultariam em diminuição ou incrementos na produtividade (ou na taxa de crescimento da
produtividade), neste caso chamados de regimes de produtividade profit-led ou wage-led. E por fim, uma
terceira categoria que estaria preocupada com efeitos da participação dos salários na renda e o nível de
emprego da economia, neste caso neste caso chamados de regimes de emprego profit-led ou wage-led.
utilizando-se de certo nível de arbitrariedade, encontram-se na literatura dos anos 80. O
artigo fundador provedor de suporte empírico para regimes de profit-led seria o trabalho
de Boddy e Crotty (1975).
Boddy e Crotty argumentavam através de evidências empíricas que para além
das fases do ciclo de negócios, depressão e expansão, uma divisão na fase de expansão
levaria a apontamentos interessantes relacionados ao comportamento de salários, lucros
e taxa de juros. Sendo a primeira parte da expansão, seu início até seu ponto médio, a
segunda parte sendo o restante da fase de expansão até o ponto de produto máximo, e a
terceira parte do ciclo a depressão. Salários tipicamente subiriam na segunda parte da
expansão, e o achatamento dos lucros nos termos discutidos por Marx ocorreria. De modo
que o declínio nos lucros ocorreria antes mesmo do final da expansão. Na primeira parte
da expansão, um declínio na participação dos salários ocorreria via uma diminuição dos
custos de trabalho relativas aos preços, sendo atribuído tal efeito a própria evolução da
taxa de desemprego, que reduziria a capacidade de militância laboral.
Weisskopf (1979), expandindo a ideia de se dividir o ciclo de negócios em três
partes, encontrou complementarmente que participações dos lucros (adotando a equação
r = umv, sendo r a taxa de lucratividade, u a capacidade de utilização, m a participação
dos lucros e v a taxa de capacidade em relação ao capital) são decrescentes na parte
recessiva do ciclo, aumentam na primeira parte da expansão e são novamente decrescente
na segunda parte da expansão, provendo suporte a visão de um achatamento de lucros.
Estes apontamentos são o cerne da chamada SSA school – the social structure of
accumulation school – que aponta estagnação observada na economia americana após os
choque do petróleo e conflitos distributivos dos anos 70, em contraste com a Grande
Depressão, derivava de uma crise do lado da oferta, ou seja, uma crise de achatamento
dos lucros trazido pelo demasiadamente logo período de expansão econômica, e de
condições de baixa taxas de desemprego. Quedas nas taxas de lucratividade, levariam a
uma queda na taxa de investimento tão logo a desaceleração econômica observada nos
anos 70. Se durante a Grande Depressão um processo de redistribuição de renda em
direção ao trabalho poderia estimular a demanda e findar a crise, nos anos 70-80 tal
solução não seria possível 2. Tais artigos fazem parte do arcabouço do modelo (neo-

2
“no such happy coincidence of short-term material interests and longer-term radical objectives is
associated with the type of supply-side crisis which results when the capitalist class is too weak. The most
obvious exit from the crisis is that pointed to by the right: strengthen the capitalist class, restore profits
and rekindle the capitalist accumulation process”. Weisskopf et al. (1985)
)Marxista. Conclusão similar também apresentada por economista mais inclinado a
abordagem Keynesiana, pelo menos neste primeiro momento, Marglin (1984), aponta a
lucratividade como a fonte para investimentos, por consequência a participação dos
salários na renda em uma economia capitalista sempre estaria coagida 3.
Taylor (2004), a partir do grupo de modelos mais relevantes dos modelos
estagnicionista keynesiano, mais recentemente parece transmitir o mesmo aviso 4, em
parte pela existência de algum conjunto empírico provendo suporte para um regime de
demanda do tipo profit-led (para um conjunto considerável de países), sobretudo nos
períodos posteriores aos anos 70. Expandindo seu pensamento, ao se levar em conta os
efeitos do trabalho intensivo, prevalecem os resultados previstos pela teoria clássica,
baixos salários estão ligados a um alto nível de atividade econômica. De modo que,
mesmo se investimentos e exportações forem tidos como exógenos, mudanças nos seus
custos unitários, ou seja, aumentos nos salários reais, em um primeiro momento levariam
ao aumento na demanda agregada, entretanto eventualmente tal movimento induziria uma
queda no produto e lucratividade, a queda na lucratividade no momento de troca de sinal,
demandara uma redução do emprego.
O modelo neo-Kaleckiano apresentado e expandido por Rowthorn (1981), Dutt
(1984), Taylor (1985) incorporam o argumento da capacidade não utilizada como
elemento mediador entre participações de salários na economia e demanda agregada.
Capacidade não utilizada no modo de produção em massa passa a ser a regra não a
exceção do processo, como (re)postulado por Nell (1985) 5, em sua crítica do artigo de
1984 de Marglin, ele expande: “o aumento na capacidade se dando em contraparte a
incrementos na demanda, sendo esta, a essência do processo multiplicador-acelerador,
expressado pelo princípio de ajustamento de estoque de capital, é contrastado pela a
proposição fundamental da tradição Keynesiana, não existiriam razões nem no curto
prazo nem no logo para se supor que em um cenário de mercados descentralizados o

3
“Under capitalism, profits are indeed the geese that lay the golden eggs…. A Left program must
therefore accept limitations on real wages” Marglin (1984)
4
“wage increases as advocated by people on the Left cannot restore aggregate demand if it is in fact
profit-led” Taylor (2004)
5
“Effective demand is not a matter of short-run vagaries: it is a matter of investment, i.e., of capital
accumulation. The growth of capacity must keep in step with the growth of demand. This is the essence of
the multiplier-accelerator process, more generally expressed as the capital stock adjustment principle
….By contrast, the fundamental proposition of the Keynesian tradition is that neither in the short run nor
in the long run is there any reason to suppose that this balance will be achieved at full capacity by the
unregulated market, except by accident, or as a temporary phase in a cyclical movement” Nell (1985)
equilíbrio seja atingido e a capacidade total seja alcançada, exceto por acidente, fase
temporária ou movimento cíclico.
Abandonando-se o pressuposto de plena capacidade de utilização produtiva e
endogenizando o mesmo para modelos de crescimento resultaria em uma função
investimento que dependeriam não somente da taxa de lucratividade, mas também da taxa
de utilização do capital, neste arcabouço o regime de crescimento é “necessariamente”
liderado pelos salários. Esta “necessidade” posteriormente é abandonada uma vez que
trocas internacionais fossem acrescidas ao modelo, como apresentado por Blecker (1989).
Estes modelos serão mais bem abordados na próxima seção.
A apresentação das visões de regimes profit-led versus wage-led como uma
batalha intelectual entre Marxistas e pós-Keynesianos é uma deturpação do real embate.
O primeiro modelo neo-Kaleckiano de crescimento e distribuição foi elaborado por um
economista que apresenta muito mais afinidades com o campo Marxista do que
propriamente Keynesiano, Rowthorn (1981). Um considerável número de economistas
Marxistas não adotaram a visão do achatamento de lucros promovidos pela SSA, assim
como alguns pós-Keynesianos transitam entre os regimes, Taylor (1991), Palley (2011),
chegam em um relação idêntica onde uma economia estaria em um regime de emprego
do tipo wage-led para salários reais baixos e do tipo profit-led para salários reais altos.
Movimento parecido realizado por Bowles, Gordon and Weisskopf (1984), que
após apontar o caráter liderado pela oferta (profit-led) da crise dos anos 70, acabam por
sugerir regimes econômicos baseados no princípio da produtividade liderada pelos
salários (wage-led). Altos salários contribuem para a produtividade, uma vez que estes
constituem uma importe fonte de motivação, forçando empregadores a se modernizar ou
serem expulsos do mercado. Somando-se ao argumento, a conjunção da expansão da
demanda agregada promovida por maiores salários com efeitos de Kaldor-Verdoon
(incrementos na produtividade relaciona-se a escala do produto). Sendo particularmente
difícil observar uma diferença com as proposições de economistas pós-Keynesianos
defensores de políticas de crescimento do tipo wage-led. Existindo por fim, uma
aproximação de autores Marxistas promotores da SSA em direção da visão Kaleckiana-
Keynesiana.
Por fim, o modelo desenvolvido por Bhaduri and Marglin (1990) permitiu uma
(parcial) reunificação macroeconômica heterodoxa entre Marxista e pós-Keynesianos,
por vezes este modelo é chamado de pós-Kaleckiano como uma forma de diferenciação
dos antigos modelos. Os autores argumentam que a taxas de lucros podem ser
decompostas em dois componentes, taxa de utilização e participação dos lucros, de modo
que, investimentos por consequência dependeriam também destes dois componentes. Este
modelo também será mais bem explorado nas próximas seções.
A grande vantagem apresentada pelo modelo, diz respeito a capacidade de
explicação de modelos particulares desenvolvidos por diferentes correntes dentro da
própria heterodoxia, dentre eles os modelos de “capitalismo cooperativo” apresentado por
Keynesianos social-democratas de esquerda, modelos de “achatamento de lucros”
apresentados por Marxistas e modelos mais conservadores que apontam estímulos pelo
lado da demanda através de alta lucratividade e baixos salários reais, utilizando-se de um
arcabouço teórico Keynesiano, de modo que o conjunto de modelos heterodoxos passam
a ser variações particulares do modelo pós-Kaleckiano.
Após a determinação da possiblidade regimes de demanda liderados tanto por
salários e ou lucros, Blecker (1989), Bhaduri and Marglin (1990), toda uma geração de
pesquisa empírica vem tentando determinar dentre os vários países a sua natureza wage-
led ou profit-led 6. Entretanto os estudos empíricos, não usualmente quando referente ao
campo da economia, apresentam resultados conflitantes. As discussões econométricas e
metodológicas são os aspectos mais contundentes sobre regimes de demanda após o
estabelecimento do modelos pós-Kaleckiano. Blecker (2015) trata de forma transversal
destes confrontos e avanços no campo empírico/metodológico.
Nas próximas seções abordarei de forma mais detalhada os chamados modelos
canônicos neokaleckiano de primeira e segunda geração como organizados por Oreiro
(2018), apresentando os principais elementos de cada modelo, explicitando diferenças e
contribuições de cada um.

O modelo estagnacionista
(Oreiro,2018; Blecker, 1989; Taylor 1985; Dutt, 1984)
Como citado anteriormente um dos princípios centrais das teorias clássicas e
Marxistas de economia política diz respeito à relação inversa entre salários e lucros.
Estendendo o princípio e assumindo que, trabalhadores não poupam e uma fração dos

6
Blecker (2015) apresenta um conjunto de trabalhos empíricos que realizam este exercício (Fernandez,
2005; Barbosa-Filho e Taylor, 2006; Storm e Naastepad, 2012; Onaran and Galanis, 2012; Kiefer e Rada,
2014). Basilio e Oreiro (2015) apontam para um regime do tipo profit-led para a economia brasileira,
apontando uma tendência de constrangimentos providos da balança de pagamentos, validando a Lei de
Thirwall, como um dos fatores que levariam sobretudo economia em desenvolvimento apresentarem a
características de regimes do tipo profit-led.
lucros é poupada e investida, a taxa de acumulação do capital seria também inversamente
relacionada aos salários.
Uma diferente visão sobre distribuição de renda e crescimento econômico
emergem dos trabalhos de Kalecki (1971) e Steindl (1952). Atendidas certas condições,
a distribuição de renda em favor dos salários poderia resultar em uma maior taxa de
utilização, se a demanda por investimentos é uma função crescente tanto de lucros
realizados como da taxa de utilização, uma redistribuição de renda em direção aos salários
poderia também resultar em uma maior taxa de acumulação de capital.
Assumindo-se um modelo simples de apenas um setor, para o curto prazo, onde
a economia nacional organiza-se como de uma firma representativa que produz um único
bem industrial, o trabalho é a único insumo variável. A quantidade de produto é
proporcional a quantidade de emprego correntemente empregado, sendo a produtividade
do trabalho definido pela identidade:
𝑦𝑦 = 𝑌𝑌/𝑁𝑁, (1)
Onde, y é exógena, Y a quantidade de produto e N a quantidade correntemente
empregada.
𝑌𝑌 = 𝑢𝑢𝑢𝑢𝑢𝑢, (2)
O produto Y é dado pela taxa de utilização u, v taxa capacidade-capital, e K é o
estoque de capital. Sendo v e K constantes no curto prazo. Espera-se a capacidade de
utilização sempre abaixo de sua plena utilização: u < 1. Justifica-se tal hipótese com base
no fato de firmas em uma economia crescente constituírem investimento afrente da
demanda, este comportamento da firma é explicado tanto por questões de indivisibilidade
técnica de alguns investimentos, assim como a possibilidade de atendimento inesperados
de incrementos de demanda.
A renda Y é dívida em salários, lucros e receita tributária. Sendo os salários
definidos pela seguinte identidade:
𝑤𝑤 = (1 − 𝑡𝑡)𝑊𝑊𝑊𝑊/𝑃𝑃𝑃𝑃 = (1 − 𝑡𝑡)𝑊𝑊/𝑃𝑃𝑃𝑃 , 0 < 𝑤𝑤 < 1, (3)
Onde t é taxa do imposto de renda, W é o salário monetário (nominal) antes da
taxação, P é o nível dos preços domésticos. Salários nominais são exogenamente
definidos por contratos de trabalho. E preços são determinados pela seguinte equação:
𝑃𝑃 = 𝜏𝜏(𝑊𝑊/𝑦𝑦), (4)
Onde 𝜏𝜏 >1 é o mark-up praticada pela firma, e (𝑊𝑊/𝑦𝑦) o custo unitário do
trabalho.
Assume-se um mark-up fixo, onde incrementos nos salários nominais são
totalmente repassados aos preços, com efeitos nulos sobre salários reais ou participação
na renda. De modo que os salários reais da economia são fixados independentemente dos
salários nominais, determinados pela taxa do imposto de renda, o mark-up e
produtividade: (1 − 𝑡𝑡)𝑊𝑊/𝑃𝑃 = (1 − 𝑡𝑡)𝑦𝑦/𝜏𝜏
Em uma economia fechada com governo, o equilíbrio macroeconômico requer
que poupança S, seja idêntica a investimentos I, mais o resultado do governo (𝐺𝐺 − 𝑇𝑇)
sendo 𝑇𝑇 = 𝑡𝑡𝑡𝑡:
𝑆𝑆 = 𝐼𝐼 + 𝐺𝐺 − 𝑇𝑇, (5)
De acordo com a abordagem pós-Keynesiana, o equilíbrio entre e poupança e
investimento será estabelecido pelos ajustamentos entre taxa lucratividade assim como o
nível de produto (ou taxa de utilização).
A taxa de poupança relativa aos lucros é geralmente muito superior à taxa de
poupança relativa aos trabalhadores, sendo possível a simplificação do modelo assumindo
a poupança referentes a salários são insignificantes, de modo que, a equação de poupança
é dada por:
𝑆𝑆 = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠, (6)
Onde s é taxa de poupança referentes aos lucros e r é taxa de lucros depois da
taxação e é dada por:
𝑟𝑟 = (1 − 𝑤𝑤 − 𝑡𝑡)𝑢𝑢𝑢𝑢, (7)
A demanda por investimento ou acumulação desejada é determinada (𝐼𝐼/𝐾𝐾) pela
lucratividade esperada 𝑟𝑟 e capacidade de utilização 𝑢𝑢:
𝐼𝐼/𝐾𝐾 = 𝑎𝑎0 + 𝑎𝑎1 𝑟𝑟 + 𝑎𝑎2 𝑢𝑢 ,𝑎𝑎0 > 0 , 𝑖𝑖 = 0,1,2, (8)
R

Equações (5)-(8) juntas implicam7 que a taxa de acumulação (𝐼𝐼/𝐾𝐾) é função


crescente da participação dos salários na renda (𝑤𝑤). Uma redistribuição em favor dos

7
Equações (5)-(8), resultam na seguinte expressão de utilização:
𝑢𝑢 = 𝑎𝑎0 /𝜑𝜑(𝑤𝑤)

onde
𝜑𝜑(𝑤𝑤) = [(𝑠𝑠 − 𝑎𝑎1 )(1 − 𝑤𝑤 − 𝑡𝑡) − 𝑔𝑔 + 𝑡𝑡]𝑣𝑣 − 𝑎𝑎2
𝐺𝐺 𝑇𝑇
a taxa de gasto do governo 𝑔𝑔 = e taxa(uniforme) tributária 𝑡𝑡 = , são exógenas e fixas. Para se garantir
𝑌𝑌 𝑌𝑌
a estabilidade do equilíbrio assim como uma taxa de utilização positiva, deve ser assumindo que 𝑎𝑎0 > 0 e
𝑑𝑑𝑑𝑑
𝜑𝜑(𝑤𝑤) > 0. Logo, a taxa de utilização é uma função crescente de participação dos salários na renda ( >
𝑑𝑑𝑑𝑑
0) enquanto 𝜑𝜑 ′ (𝑤𝑤) < 0, o que requerer que 𝑠𝑠 > 𝑎𝑎1 . De fato, esta condição pode ser assim expressa:
s > 𝑎𝑎1 + [(𝑔𝑔 − 𝑡𝑡)𝑣𝑣 + 𝑎𝑎2 ]/(1 − 𝑤𝑤 − 𝑡𝑡)𝑣𝑣
salários, incrementaria a demanda agregada e capacidade de utilização. Em uma
economia fechada, como especificada no modelo o incremento na capacidade de
utilização superaria a redução na participação dos lucros, de modo que a taxa de
lucratividade também aumentaria.
Cuidados devem ser tomados na intepretação desta conclusão, no modelo com
mark-up fixo, trabalhadores não podem atingir uma maior participação na renda via
aumento de nominal de seus salários. Salários reais somente poderão aumentar caso haja
uma redução no mark-up em parte do capital. Reciprocamente, aumentos no mark-up
representarão reduções na participação dos salários na renda, aumentando a média de
poupança da economia, entretanto diminuindo a utilização e taxa de crescimento. O termo
“estagnacionista” utilizado para determinar esta família de modelos vem das
similaridades dos modelos com a hipótese exposta por Steindl - a “concentração absoluta”
de um setor industrial levaria a um aumento das margens de lucros e uma tendência
secular a um excesso de capacidade e crescimento lento em economias capitalistas
maduras.
Entretanto a estagflação estadunidense dos anos 70, como citado na seção
anterior levantaram dúvidas sobre a este ponto de vista. Relacionando maiores salários a
períodos de menor crescimento econômico. Entretanto, um olhar mais cuidadoso sobre o
assunto pode apontar que não necessariamente existiria uma inconsistência entre a
realidade imposta no período pós choque do petróleo e a teoria pós-Keynesiana.
Para alcançar tal feito a teoria “estagnacionista” requer importantes
modificações que permitam a possibilidade de uma relação inversa entre salários e
acumulação de capital. Estes esforços foram primeiramente organizados pelos trabalhos
de Blecker (1989) e principalmente Bhaduri e Marglin (1990), sendo mais bem
explorados na próxima seção.

Para além da estagnação


(Oreiro,2018; Stockhammer, 2017; Bhaduri e Marglin, 1990; Blecker, 1989)
Como apontado na seção anterior o modelo Kaleckiano clássico (para economia
fechada 8) apontaria que um incremento na participação dos salários sempre levará a um

8
O modelo apresentado por Blecker (1989) expande a noção do modelo estagnacionista para uma
economia aberta. Ao se introduzir no modelo a noção de competição internacional, as conclusões
apontadas para economia fechadas não podem ser replicadas, já existindo no modelo desenvolvido a
possibilidade de regimes do tipo profit-led no arcabouço keynesiano, sendo um conjunto de variáveis e
parâmetros, dentre os mesmo o nível de abertura comercial, elasticidades renda-importação-exportação e
um baixo grau de déficit na balança de pagamentos. A busca agressiva por altos salários pela classe
incremento na demanda agregada. O modelo Bhaduri-Marglin oferece uma maior
flexibilidade referente a tais resultados. Regimes do tipo wage-led e profit-led são
possíveis uma vez que são permitidos efeitos positivos dos lucros no investimento. A
questão passa a ser qual efeito prevalece no agregado macroeconômico, os efeitos
positivos do aumento dos salários no consumo, ou efeitos da queda da participação lucros
sobre o investimento, independentemente de estarmos em um modelo para economia
aberta (apesar efeitos adicionais negativos operarem através das exportações liquidas).
A renda agregada 𝑌𝑌 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 , é a soma do consumo 𝐶𝐶, do investimento 𝐼𝐼, exportações
liquidas 𝑁𝑁𝑁𝑁 e gastos do governo 𝐺𝐺. Sendo todas as variáveis em seus valores reais. Em
termos gerais, consumo, investimento e exportações liquidas são escritas como função da
renda 𝑌𝑌, a participação da renda 𝑊𝑊, e outros variáveis de controle (resumidas como z),
estas por sua vez são tidas como independentes do produto e da distribuição de renda.
𝑌𝑌 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 = 𝐶𝐶 + 𝐼𝐼 + 𝑁𝑁𝑁𝑁 + 𝐺𝐺, (1)
A função consumo assume uma hipótese básica, bastante comum as teorias do
crescimento, a classe dos trabalhadores apresentam uma propensão marginal a consumir
superior aos das classe dos capitalistas, logo incrementos no consumo são esperados com
o aumento da participação dos salários na renda.
𝐶𝐶 = 𝐶𝐶(𝑌𝑌, 𝑊𝑊, 𝑧𝑧I ), 𝐼𝐼Y > 0, 𝐼𝐼W < 0 , (2)

A função investimento é determinada pela demanda e pela participação dos


salários na renda.

trabalhadora em um país, pode impedir o crescimento economia e reduzir seu nível de emprego neste
país. Entretanto os trabalhadores não podem receber a culpa pelo crescimento lento e alto desemprego, a
competição internacional entre capitalistas no mercado de bens trocáveis, compele trabalhadores em
diferentes países a competir por emprego. Em uma situação onde cortes competitivos de salários são
perseguidos em todos os países, podem potencialmente prejudicar os interesses de trabalhadores em todos
os países: salários reais serão sacrificados, enquanto mark-ups forem suficientemente flexíveis; entretanto
o nível de emprego não aumentará enquanto os ganhos competitivos de países contra países cancelarem
um ao outro. O efeito regressivo dos cortes de salários em diversos países sobre a distribuição de renda
poderia levar, levado ao extremo, uma depressão mundial de demanda e emprego. Caso o contrário
ocorra, trabalhadores de todos os países aumentarem seus salários, de modo que os efeitos da competição
internacional cancelassem entre si, a economia mundial poderia potencialmente desfrutar de um
crescimento puxado pelos salários (wage-led growth).
O processo de competição internacional contribui para o desenvolvimento desigual das economias
mundiais. Ao diminuir mark-ups de lucros ou os custos por unidade de trabalho relativos aos preços dos
importados, um país pode desfrutar de um crescimento puxado pelas exportações (export-led), entretanto
somente a custas do demais países. De modo que, a ação não planejada dos capitalistas leva a
exacerbação de conflitos distribucionais e sociais, tanto dentro das nações quanto entre as nações. Uma
vez que alto salários tornam-se incompatíveis com rápido crescimento, trabalhadores são forçados a
trocar altos salários por possibilidade de emprego, o rápido crescimento de alguns países vem às custas de
outros.
𝐼𝐼 = 𝐼𝐼(𝑌𝑌, 𝑊𝑊, 𝑧𝑧I ), 𝐼𝐼Y > 0, 𝐼𝐼W < 0 , (3)
Exportações liquidas são uma função negativa da demanda doméstica, uma
função positiva da demanda do resto do mundo e será determinado também, pelo tão
competitivo internacionalmente é a economia doméstica, sendo os custos unitários do
trabalho uma função negativa das exportações liquidas.
𝑁𝑁𝑁𝑁 = 𝑁𝑁𝑁𝑁(𝑌𝑌, 𝑊𝑊, 𝑧𝑧NX ), com 𝑁𝑁𝑋𝑋Y , 𝑁𝑁𝑁𝑁W < 0 , (4)
Os gastos do governo são considerados como uma função do produto e de
variáveis exógenas.
𝐺𝐺 = 𝐺𝐺(𝑌𝑌, 𝑧𝑧G ), 𝐺𝐺Y < 0 , (5)
No equilíbrio do mercado de bens o a renda é igual a demanda agregada 𝑌𝑌 ∗ =
𝑌𝑌 = 𝑌𝑌 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 .
𝑌𝑌 ∗ = 𝑌𝑌(𝑊𝑊, 𝑧𝑧C , 𝑧𝑧I , 𝑧𝑧NX , 𝑧𝑧G , (6)
Diferenciando 𝑌𝑌 ∗ em relação a W e demais termos:
𝑑𝑑𝑌𝑌 ∗ ℎ2
= , (7)
𝑑𝑑𝑑𝑑 1−ℎ1
𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕
onde, ℎ1 = ( + + + ) e ℎ2 = ( + + )
𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕

O termo 1/(1 − ℎ1 ) apresentado na equação 7 é um multiplicador que é sensível


a mudanças na demanda em relação ao investimento e devendo ser positivo para garantia
da estabilidade do modelo. O sinal da derivada total dependera do sinal do numerador. ℎ2
é a soma das derivadas parciais dos componentes da demanda em relação a distribuição
de renda. Esta soma é o excesso de demanda privada, isso é, a mudança na demanda
causada por mudanças na distribuição de renda dado um certo nível de renda. Sendo
𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕
impossível determinar a priori o sinal de ℎ2 uma vez que é hipotetizado, > 0, <0
𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕
𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕𝜕
e < 0, sendo a soma destes efeitos somente verificável empiricamente.
𝜕𝜕𝜕𝜕

O total efeito do incremento da participação dos salários na renda no agregado,


dependerá do tamanho relativo das reações dos componentes do PIB, consumo,
investimento e exportações liquidas em relação a mudanças na distribuição da renda.
𝜕𝜕𝑌𝑌 ∗ 𝜕𝜕𝑌𝑌 ∗
Onde, > 0 estaria ligado a um regime de demanda do tipo wage-led enquanto <
𝜕𝜕𝜕𝜕 𝜕𝜕𝜕𝜕

0, estaria ligado a um regime de demanda do tipo profit-led.


As implicações teóricas e de políticas devem ser feitas de forma distintas em
relação aos efeitos domésticos e externos. Enquanto um país individual pode aumentar
sua demanda através de incrementos na exportação, o mundo como um todo não poderá
fazer o mesmo. Se ignorarmos o setor externo, o setor doméstico neste caso é defino pelas
interações entre consumo e investimento. Caso a sensitividade de reação do consumo seja
maior que apresentada pelo investimento, a demanda doméstica será do tipo wage-led.
A abordagem macroeconômica apresentada pelos modelos neo-Kaleckianos se
distinguem de grande parte da literatura do crescimento por incorporar os efeitos da
distribuição de renda sobre o consumo e investimento. Como observado neste curto
ensaio debates interessantes desenrolaram-se ao longo da extensa história dos modelos.
Os modelos teóricos apresentados têm sua relevância na historia do pensamento
econômico e estão diretamente ligados a novas produções acadêmicas empíricas que
mantêm a discursão wage-led versus profit-led relevante, em tempos de aumento de
desigualdade.
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