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PROJETO VERDENOVO

2014

PORTUGUÊS
Teoria

Nome:

Realização:
PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

GRAMÁTICA

Apresentação

Caro estudante do VerdeNovo, fizemos esta apostila de revisão pensando em você.


Nela estão contidos, em caráter de revisão, os principais tópicos de Gramática da Língua
Portuguesa abordados no Ensino Médio e demandados pelos vestibulares. Procuramos
desenvolver o material da maneira mais informal possível, tentando estabelecer um tipo de
conversa com o leitor (você!), para que a leitura não seja tão cansativa. Além disso, buscamos
relacionar sempre a questão da gramática com o Texto. Consideramos que é muito mais
importante que você entenda como os recursos da gramática auxiliam na construção de
sentido nos textos. A ideia não é jogar milhões de nomes para você decorar.
Toda a gramática explicada aqui se refere à gramática da norma padrão ou culta do
português. Nas situações mais formais da vida (incluindo o vestibular), é esta a gramática que
será cobrada de você. Não que o que falamos no dia a dia é ruim ou pior. Mas a ideia aqui é
dizer para você que existem situações nas quais usar algumas formas do português é
inadequado. No vestibular, então, é inadequado não utilizar a norma padrão.
Destacamos que é fundamental o apoio do professor no trabalho conjunto de análise
dos textos propostos. Essas análises poderão suprir as informações que não pudemos
acrescentar, dado o pequeno espaço disponível. Muita atenção às explicações e não hesitem
em perguntar, hein!
No mais, desejamos uma ótima revisão. Queremos que esta apostila auxilie o projeto
VerdeNovo a realizar seu objetivo: fazer com que você tenha mais chances de acesso a uma
universidade pública de qualidade. Esperamos que, no próximo ano, possamos chamá-lo de
estudante universitário!

GRAMÁTICA E TEXTO

Introdução

Nesta apostila, vamos falar de algo fundamental para o vestibular e para a nossa vida:
o português. Vamos abordar dois aspectos da língua: a gramática e o texto.
Sobre a gramática, pretendemos falar das principais questões que envolvem seus
compartimentos. São quatro as partes da gramática (mas não falaremos diretamente da
primeira): a fonética e a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica. Além disso, falaremos
de algumas regras gerais que sempre criam dúvidas na hora de usar a norma padrão:
ortografia, pontuação, dúvidas mais frequentes...
Sobre o texto, a ideia que temos é de revisar alguns pontos que certamente vão ajudar
você a lê-los e interpretá-los de forma mais eficiente. Selecionamos alguns tópicos como
intertextualidade, coerência, coesão e estratégias de leitura.
Leia a apostila não como um compêndio de regras que precisam ser decoradas.
Esforçamo-nos aqui para deixar a gramática da forma mais leve possível e sempre relacionada
ao texto. Avante!

Linguagem e Funções da Linguagem

A linguagem é a representação do mundo por meio de símbolos. No caso da


linguagem verbal, os símbolos são as palavras de uma determinada língua. No caso da
linguagem não-verbal, podem ser desenhos, gestos etc. É pela linguagem que interagimos
com os outros. Nessa interação, temos a presença de seis componentes.
1. Canal: O meio pelo qual a mensagem é passada.
2. Locutor ou Emissor: é quem emite a mensagem.
3. Interlocutor ou Receptor: é quem recebe a mensagem.
4. Mensagem: aquilo que é passado por meio da linguagem.
5. Referente: aquilo sobre o que se fala.
6. Código: o que se usa para passar a linguagem (a língua portuguesa, por exemplo).

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Conhecendo os elementos da linguagem é possível compreendermos suas funções,


pois o que as define é o elemento em que está centrada. São seis as funções da linguagem:
1. Função emotiva: centrada no emissor, é característica de textos subjetivos, pessoais,
que falam do próprio emissor. Traz opiniões, sentimentos, vontades daquele que fala.
2. Função referencial: centrada no referente, é típica de textos informativos, em que o
que importa é o conteúdo, a informação. A objetividade e imparcialidade são características
dessa função.
3. Função apelativa: centrada no receptor, é muito comum em textos publicitários, em
que a intenção é convencer o leitor de algo.
4. Função metalinguística: centrada no código, ocorre em textos em que o assunto é a
própria linguagem, como em dicionários ou esta apostila.
5. Função fática: centrada no canal, está presente naquelas falas em que a intenção é
apenas manter a comunicação, como “Oi”, “Tudo bem?” ou “Como está quente, não?”.
6. Função poética: centrada na mensagem, ocorre em textos nos quais há uma
preocupação grande com a forma, como poesias.
Atenção! É importante lembrar que na maioria dos textos há mais de uma função da
linguagem, mas sempre uma delas se destaca, é a mais evidente.

Morfologia

Introdução

Comecemos nosso estudo da linguagem verbal cujos símbolos são as palavras de


nossa língua, o português. O primeiro dos estudos de gramática é o da morfologia. Essa
palavra vem do grego e significa “estudo da forma”. Então já dá pra imaginar o que vamos fazer
aqui: estudar a forma como as palavras se apresentam, como elas surgem e como são
classificadas.

Processos de Formação de Palavras

 Morfemas
Antes de falarmos dos diferentes processos pelos quais as palavras podem ser
formadas, precisamos fazer um breve aparte e discutir os morfemas, ou seja, as unidades que
as formam. Basicamente, as palavras são formadas por:

1. Radical: é a principal parte de significado da palavra. As palavras cognatas são as


palavras de mesmo radical.
2. Afixos: são unidades agregadas ao radical para formar novas palavras. Podem ser
de dois tipos: sufixos, que vêm depois do radical, ou prefixos, que vêm antes do radical.
3. Desinências: unidades cuja função é indicar a flexão de nomes ou verbos. Podem
ser de dois tipos: nominais (agregadas ao nome), que indicam número e gênero, ou verbais
(agregadas ao verbo), que indicam número, pessoa, modo e tempo.
4. Vogal temática: indica a conjugação verbal e liga o radical aos demais morfemas.
5. Tema: é a união de radical e vogal temática.
6. Vogal ou Consoante de Ligação: têm como função melhorar a sonoridade das
palavras.

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Olhe a palavra “cantávamos”. Temos um radical (“cant-“), uma vogal de ligação (“-á-”),
uma desinência de modo e tempo (“-va-”) e uma desinência de número e pessoa (“-mos”).
Agora a palavra “infelizmente”. Temos um radical (“feliz”), um prefixo (“in-”) e um sufixo (“-
mente”). Tranqüilo, não?

 Processos
Agora, sim! Vamos descobrir como são formadas as palavras? Existem vários
processos por meio dos quais uma palavra pode ter sido formada. Alguns deles podem se
dividir em dois grupos maiores e principais, que são:

1. Derivação: engloba os processos de formação de novas palavras através da


modificação de uma palavra pré-existente. São eles:
Derivação prefixal: adição de um prefixo ao radical. Pense por um momento na
palavra “incrível”. Ela é formada por derivação: o radical “crível” (aquilo em que se pode crer)
acrescido do prefixo “in-” (negação); assim, “incrível” é aquilo em que não se pode crer.
Derivação sufixal: adição de um sufixo ao radical. Um exemplo disso é o termo
“rapidamente”, formado pelo radical “rapid-“, a vogal de ligação “-a-” e o sufixo “-mente”.
Derivação parassintética: Adição de um prefixo e um sufixo ao radical; neste caso,
retirando um dos afixos, a palavra não tem sentido. Ocorre este tipo de derivação em
“amanhecer”: o radical “manh-” é acrescido do prefixo “a-” e do sufixo “-ecer”. Sabemos que se
trata de uma derivação parassintética e não de uma derivação prefixal e sufixal porque, sem o
sufixo, esta palavra não existiria: o resultado seria “manhecer”.
Derivação prefixal e sufixal: Adição de um prefixo e um sufixo ao radical; neste caso,
retirando um dos afixos, a palavra ainda tem sentido. Um exemplo simples deste caso é
“deslealdade”, um termo formado pelo prefixo “des-” associado ao radical “leal”, por sua vez
associado ao sufixo “-dade”. Retirando qualquer um dos afixos, notamos que a palavra ainda
existiria: “desleal” ou “lealdade”.
Derivação regressiva: cria nomes de ação a partir da fórmula: VERBO -
TERMINAÇÃO + A/E/O. Alguns exemplos são o verbo “comprar” (- ar + a) que origina o nome
de ação “compra” e o verbo “atacar” (- ar + e) que origina o nome de ação “ataque”
Derivação Imprópria: a palavra passa a ter o valor de outra classe gramatical (já
veremos), sem alteração na sua forma. Se dizemos “O belo deve ser admirado.” temos então
um caso de derivação imprópria, pois “belo” é um adjetivo que está sendo empregado com
valor de substantivo.

2. Composição: engloba os processos de formação de novas palavras através da


junção de duas ou mais palavras pré-existentes. São eles:
Justaposição: união de palavras sem alteração de som ou forma. “Girassol” é uma
palavra formada pela justaposição dos radicais “gira” e “sol”, pois notamos que o som de
ambos se mantém na nova palavra, assim como sua forma (o acréscimo de um “s” é realizado
apenas para que os sons não se modifiquem).
Aglutinação: União de palavras com alteração de som ou forma. “Pontiagudo” é um
caso de aglutinação de “ponte” e “agudo”, tendo havido modificação no som e na forma de
“ponte”.

Outros processos são:


3. Hibridismo: combinação ou união de palavras de idiomas diferentes. “Biologia” é
junção dos radicais grego e latino “bio” e “logia”.

4. Abreviação: palavra reduzida através do corte de um segmento. “Cinema” para


“cine”, por exemplo.

5. Estrangeirismo: palavra estrangeira empregada no português. “Coffee break” e


“Download” são exemplos. Na escrita, marcamos essas palavras por aspas.

6. Neologismo: palavra nova ou palavra usada com um novo sentido, que surgem a
partir dos processos de formação de palavras da nossa língua. São muito interessantes os
casos de neologismo, porque eles mostram como nossa língua não é estática, está sempre em

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mudança. Na literatura, Guimarães Rosa é um dos grandes autores que produziram diversos
neologismos. Quem não se lembra de “mensalão”? É um neologismo formado por derivação
sufixal (“mensal” e o sufixo “-ão”).

7. Sigla: combinação das iniciais das palavras de um nome. “AIDS”, “MST”...

Classes de Palavras

Agora, um tema visto muito conhecido: as classes de palavras. São dez classes de
palavras. Vamos começar pelo mais básico: o SUBSTANTIVO. Os substantivos são palavras
que nomeiam seres. E, para aprendê-los, uma tabela classificatória:

Primitivos Derivados

dão origem a outros originam-se de outros

Simples Compostos

formados por uma única palavra formados por mais de uma palavra

Próprios Comuns

designam um determinado ser designam qualquer ser

Concretos Abstratos

têm existência própria tem existência dependente

Coletivos

designam um conjunto de seres

Os substantivos sofrem três tipos de flexão: flexão de gênero (masculino ou feminino),


de número (singular ou plural) e de grau (aumentativo e diminutivo).

Os ADJETIVOS são os modificadores do substantivo e acrescentam qualidades a ele.


Sofre os mesmos tipos de flexão que o substantivo, além do acréscimo do sufixo –íssimo.

Passemos aos ARTIGOS: os artigos são palavras que determinam os substantivos.


Podem ser de dois tipos: definidos, ou seja, aqueles que determinam com precisão o
substantivo a que se referem, ou indefinidos, aqueles que determinam de modo vago o
substantivo a que se referem

DEFINIDOS INDEFINIDOS

O, a Um, uma

Os, as Uns, umas

Sua flexão, como se pode notar, é apenas de gênero e número.

Os NUMERAIS dispensam muitas apresentações, de modo geral. Mas podem ser de


quatro tipos, cada qual com sua função:
1. Ordinais: são numerais cuja função é expressar ordem, posição, por exemplo:
primeiro, décimo-quinto;
2. Cardinais: são numerais cuja função é expressar quantidade, ou seja, quantificar,
por exemplo: um, quinze;

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3. Multiplicativos: sua função é expressar múltiplos, por exemplo: dobro, triplo;


4. Fracionários: sua função é expressar frações, por exemplo: meio, terço.
Quanto à flexão, cada classe de numerais é diferente das outras: os ordinais sofrem
flexão de gênero e número; os cardinais apenas de gênero e somente no caso do numeral dois
(dois, duas) e um (um, uma); os multiplicativos sofrem flexão de gênero e número, assim como
os adjetivos; os fracionários, apenas de número.

Agora, uma nova classe: os PRONOMES. Existem duas classes de pronomes: os


substantivos, que substituem os nomes, e os adjetivos, que acompanham os nomes.
1. Pessoais: são pronomes que substituem o nome. Veja:
Caso reto Caso oblique

EU ME, MIM, COMIGO

TU SE, SI, CONTIGO

ELE(A) SE, SI, CONSIGO, O, A, LHE

NÓS NOS, CONOSCO

VÓS VOS, CONVOSCO

ELES(AS) SE, CONSIGO, OS, AS, LHES


1. Indefinidos: se referem ao substantivo de modo vago. Podem ser variáveis se sofrem
flexão (todo, algum, nenhum) ou invariáveis se não sofrem (tudo, alguém, ninguém).
2. Possessivos: indicam posse, como meu, seu e teu.
3. de Tratamento: indicam formas de tratamento para diferentes figuras. Alguns
exemplos são Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Senhor e Você.
4. Interrogativos: indicam frase interrogativa, como quem, quando e como.
5. Demonstrativos: situam termos no espaço, tempo e no texto. Para facilitar o
entendimento, mais uma tabela:
Pessoa Pronomes Espaço Tempo Texto

1ª este, esta, isto próximo a quem presente


fala

2ª esse, essa, isso Próximo ao passado recente já foi dito


interlocutor

3ª aquele, aquela, distante de quem passado distante


aquilo fala

6. Relativos: retomam o termo antecedente, evitando repetições.

Uma classe de palavras extremamente importante é o VERBO, palavras variáveis que


exprimem fatos, situando-os no tempo.
1. Estrutura: o verbo é formado basicamente de tema (radical e vogal temática) e
desinência.

2. Classificações: o verbo pode ser classificado de várias maneiras, segundo critérios


diversos.
2.1 Segundo a função do verbo na locução verbal:
Verbo principal Verbo auxiliar

expressa a ideia principal não possui o sentido próprio

fica na forma nominal é conjugado

2.2 Segundo a forma nominal:

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Infinitivo Gerúndio Particípio

-R -NDO -ADO/-IDO

2.3 Segundo a flexão:

Pessoal Impessoal

flexionado não flexionado

2.4 Segundo a conjunção:

Regulares Irregulares Anômalos Defectivos Abundantes

seguem modelo não seguem alterações têm conjugação têm várias formas
de conjugação modelo de profundas no incompleta de conjugação
conjugação radical

O verbo pode sofrer 4 tipos de flexão: pessoa (1ª, 2ª e 3ª), número (singular e plural),
modo (indicativo, que exprime um fato certo, subjuntivo, que exprime um fato incerto, e
imperativo, que exprime ordem ou pedido) e tempo (basicamente pretérito, presente e futuro).

Os ADVÉRBIOS são termos que expressam as circunstâncias em que um fato ocorre,


modificando o verbo, advérbio, adjetivo que acompanham ou a própria sentença. Podemos
dizer que são “os adjetivos do verbo”. Vejamos então de que tipos podem ser os advérbios:

Tempo hoje, ontem, amanhã, cedo, tarde...

Modo a maioria dos que terminam em -mente,


melhor, pior, devagar, depressa, com calma, em
silêncio...

Lugar aqui, ali, lá, cá, fora, dentro, encima,


embaixo...

Afirmação sim, decerto, com certeza, sem dúvida...

Negação não, nem, de modo algum, de jeito


nenhum...

Intensidade muito, pouco, mais, menos, bem, mal...

Dúvida talvez, quiçá, acaso, por ventura...

Algo muito importante de que não podemos nunca nos esquecer acerca dos advérbios
é o fato de que eles são invariáveis, ou seja, não sofrem flexão.

Agora, passemos às PREPOSIÇÕES. As preposições têm como função ligar dois


termos, de forma que o sentido do primeiro é completado pelo segundo. São termos
invariáveis, que podem se unir a outras palavras através de contração, havendo perda de som,
ou combinação, não havendo perda de som. Expressam lugar, direção, modo, tempo, posse,
distância, instrumento, causa, companhia ou finalidade. Outras classes de palavras podem
exercer o papel de preposição, sendo então chamadas de preposições acidentais.

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Próximas às preposições, temos as CONJUNÇÕES. As conjunções ligam orações ou


palavras de função semelhante numa mesma oração. Podem ser de dois tipos, cada um
subdividido em várias categorias conforme a tabela abaixo:

Coordenativas Subordinativas

ligam orações de sentido completo ligam oração principal e oração


(coordenadas) subordinada

aditivas, adversativas, alternativas, comparativas, condicionais, causais,


conclusivas, explicativas conformativas, consecutivas, concessivas, finais,
temporais, proporcionais

Por fim, temos a INTERJEIÇÕES. São palavras que exprimem emoções, sensações,
estado de espírito ou apelo como: cuidado, ai, nossa, parabéns, tchau, que pena, e muitas
outras.
Saber as características das palavras e saber identificá-las é importante. Conhecer um
pouco sobre suas funções num texto também é. Escolher o melhor substantivo e adjetivo para
um texto permite que aquilo que você deseja passar ao leitor não tenha mal-entendidos. Falar
“menino”, “garotinho” ou “moleque” tem sentidos diferentes, concorda? A mesma coisa em dizer
“bonito”, “belo”, “maravilhoso”.

O uso dos artigos define e especifica de quem se fala. Experimente falar perto de sua
namorada “Essa é a Júlia, uma namorada que eu tenho” e veja o que acontece...
Os numerais conferem credibilidade ao seu argumento. Além disso, são expressão de
frieza. Dizer que 67% dos brasileiros usa o Facebook é mais forte do que dizer que muitos
deles o utilizam.

Pronomes evitam que haja muita repetição em seus textos. Utilizá-los com equilíbrio
funcionam muito bem.

O verbo e os advérbios, assim como substantivos e adjetivos, se selecionados


adequadamente, produzem grande efeito no seu texto. Pense um pouco no uso deles antes de
escrever.
As preposições e conjunções, apesar de parecerem tranquilas, trazem sentido. Tente
usá-las de acordo com aquilo que você pretende dizer.

Por fim, as interjeições, quando bem utilizadas, podem reforçar um argumento ou


enriquecer a fala de uma personagem numa narrativa, por exemplo.

Sintaxe
Introdução
 O que é sintaxe?
Vamos lá. Agora que você terminou o estudo da morfologia, começamos o estudo da
sintaxe do português brasileiro. Mas o que é a tal da sintaxe? Sintaxe é o conjunto de regras
finitas que estabelece as relações entre as palavras numa sentença. É a sintaxe que permite
que um falante de português diga, por exemplo:
I) Ontem fui à festa com João.
Ou:
II) Com João, fui à festa ontem.
É ela também que não permite que se fale:
III) * Festa à João com ontem fui (o asterisco em frente à sentença indica que ela não é
possível em nossa língua).
Você vai perceber que falaremos aqui da nomenclatura clássica dos termos de uma
sentença. Contudo, uma ressalva: o mais importante é que você entenda como os recursos

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da sintaxe auxiliam na construção do sentido do texto. Mais importante do que saber os


nomes é perceber que sentidos uma determinada construção sintática traz.

 Sentença, frase, oração e período


Antes de tudo, é necessário que você entenda alguns termos a que nos referiremos
durante todo o estudo da sintaxe.
 Sentença – palavra (ou palavras) que contém sentido e que se subdivide em:
- Frase – sentença que contém sentido.
- Período – frase que contém verbo(s). Pode ser:
> Período simples – período que contém um verbo apenas. Também conhecido como
oração.
> Período composto – período que contém dois ou mais verbos, ou seja, duas ou mais
orações.
“O cachorro late sem parar” é uma sentença, uma frase e uma oração que forma um
período simples, pois contém um verbo. “O cachorro que late o dia todo me mordeu” é uma
sentença, uma frase e duas orações que formam um período composto, porque tem dois
verbos.
Obs. Em “Estive andando pela Avenida Paulista o dia todo”, estive andando é uma
locução verbal e conta como um só verbo. A sentença é, portanto, um período simples.

Sintaxe do período simples

 Sujeito e predicado
A primeira divisão básica de uma sentença é entre sujeito e predicado. O segundo é
formado pelo verbo, mais eventuais complementos. Calma, nós vamos falar mais sobre eles
daqui a pouco.
A ordem clássica desses termos é sujeito + verbo + complementos. No entanto, às
vezes eles podem trocar de lugar.
O verbo sempre concorda com o núcleo (palavra mais importante) do sujeito. E preste
atenção: nunca se separa, com vírgula, o sujeito do predicado.
Aqui trazemos a definição clássica de sujeito e predicado, para que você relembre:
sujeito é o termo sobre o qual recai uma afirmação do predicado; predicado é o termo que
afirma algo sobre o sujeito.

Os sujeitos podem ser classificados como:


1. Determinado Simples – possui um núcleo.
I) As grandes andorinhas pardas migram todo verão para o Sul.
1.1 As grandes andorinhas pardas – sujeito
Andorinhas - núcleo
2. Determinado Composto – possui mais de um núcleo.
II)Fome, doenças e guerrilha são os grandes problemas do continente africano.
Fome, doenças e guerrilha – sujeito.
Fome – núcleo 1
Doenças – núcleo 2
Guerrilha – núcleo 3
3. Determinado Oculto – o sujeito está omitido, mas pode ser inferido.
III) Não sei nada sobre DST.
Apesar de não existir um sujeito explícito, podemos inferi-lo pela desinência verbal.
Quem conjuga “sei” é um “eu” (eu sei), uma primeira pessoa do singular. Portanto, o sujeito é
“eu”.
(Eu) Não sei nada sobre DST.
4. Indeterminado – Há um sujeito, mas ele não pode ser inferível pela desinência
verbal.
IV) Viram a Dani ontem no cinema com o Carlinhos...
V) Precisa-se de vendedor experiente.
Quem conjuga “viram” é um “eles” (eles viram). Entretanto, não podemos definir quem
é “eles”. Assim, existe sujeito, mas ele é indeterminado. Veja que este recurso é muito
interessante para omitir um sujeito que pode até ser conhecido. No exemplo IV, a pessoa que
fala pode até saber quem foi que viu Dani com Carlinhos, mas não quis dizer quem foi,
indeterminando o sujeito.

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Obs. Não é sempre que existe um verbo na 3ª pessoa do plural que existe sujeito
indeterminado. Às vezes, podemos identificá-lo pelo contexto.
A partícula “se” com um verbo transitivo indireto (calma de novo! Veja logo adiante!)
também indetermina o sujeito, como em V.
5. Inexistente – Não existe sujeito. Neste caso, a sentença só possui predicado.
Ocorre quando falamos de fenômenos da natureza e com o verbo “haver” na 3ª pessoa do
singular.
VI) Trovejou a noite toda.
VII) Havia uma pista crucial para o caso nesta sala.

 Termos associados ao verbo


Os termos associados ao verbo são os termos que se ligam intrinsecamente ao verbo
da oração, respondendo a perguntas que possam ser feitas a ele.
Se dissermos “O presidente quer” fora de contexto, seremos levados a perguntar: o
presidente quer o quê?
Poderíamos dizer “O presidente precisa”, e, novamente: o presidente precisa de quê?
Além disso, podemos perguntar: como o presidente quer, quando o presidente precisa,
onde o presidente quer etc..
Para responder a esses tipos de perguntas existem os termos associados ao verbo.
1. O complemento que responde a uma pergunta do tipo “o que, quem, qual” é
chamado Objeto Direto (OD). O verbo ao qual se associa um OD é um Verbo Transitivo
Direto (VTD).

2. O complemento que responde a uma pergunta do tipo “de que, de quem, de qual, a
que, a quem, à qual, em que, em quem” é chamado Objeto Indireto (OI). O verbo ao qual se
associa um OI é um Verbo Transitivo Indireto (VTI).
I) O presidente quer medidas rápidas e eficientes.
Quer – VTD
Medidas rápidas e eficientes – OD
II) O presidente precisa de medidas rápidas e eficientes.
Precisa – VTI
De medidas rápidas e eficientes – OI
Há verbos que não precisam de objetos. São os Verbos Intransitivos (VI).
III) O presidente morreu.
Por outro lado, há verbos que precisam dos dois objetos. São os Verbos Transitivos
Diretos e Indiretos (VTDI).
IV) O presidente enviou donativos aos refugiados do Oriente Médio.
Enviou – VTDI
Donativos – OD
Aos refugiados do Oriente Médio – OI
Observe que podemos adicionar mais informações à sentença:
V) Ontem, o presidente enviou rapidamente donativos aos refugiados do Oriente
Médio.

3. As perguntas que esses termos respondem são do tipo “enviou quando?”, “enviou
como?”. São os Adjuntos Adverbiais (AAdv). Exprimem circunstâncias de realização do
verbo.
No caso, temos:
Ontem – AAdv de tempo
Rapidamente – AAdv de modo
Finalmente, o Agente da Voz Passiva. Para tanto, precisamos observar o que é Voz
Passiva.
VI) Os bombeiros apagaram o incêndio do prédio.
Esta sentença está na Voz Ativa. “Os bombeiros” é o sujeito agente (aquele que faz a
ação) da sentença.
Os bombeiros – Sujeito Determinado Simples (Agente)
Apagaram – VTD
O incêndio do prédio – OD
Poderíamos reescrever transformando OD em sujeito.
VII) O incêndio do prédio foi apagado pelos bombeiros.

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Esta sentença está na Voz Passiva. “O incêndio” é o sujeito paciente (aquele que
recebe a ação) da sentença.
O incêndio – Sujeito Determinado Simples (Paciente)
Foi apagado – VTD
Pelos bombeiros – Agente da Voz Passiva

4. O Agente da Voz Passiva é o sujeito agente da Voz Ativa.


Reiteramos: mais do que saber os nomes, é necessário entender como essas
estruturas sintáticas produzem sentidos. Os objetos, muitas vezes, definem o próprio sentido
do verbo.
VIII) Zeca pegou uma gripe danada.
IX) Zeca pegou a garota ontem na festa.
X) Zeca pegou o lápis do estojo.
Em cada uma das ocorrências do verbo “pegou”, temos um sentido diferente atribuído
pelos objetos que o complementam.
Os adjuntos acrescentam circunstâncias aos verbos.
XI) O carro anda pelas ruas da cidade.
XII) O carro anda rapidamente pelas ruas da cidade.
A passagem da voz ativa para a voz passiva muda o destaque dado para determinado
termo da sentença.
XIII) Um verdadeiro exército de obreiros está ocupando a minha casa: os pedreiros
estão derrubando paredes; o carpinteiro, removendo o madeiramento; o eletricista está
trocando os fios; o encanador, substituindo o encanamento.
XIV) No momento, minha casa está em verdadeira desordem: as paredes estão sendo
derrubadas; o madeiramento está sendo removido; os fios elétricos estão sendo trocados; o
encanamento sendo substituído.
Em XIII, o destaque é dado a quem faz a ação, no caso, os pedreiros, o carpinteiro etc.
Em XIV, o destaque é dado para quem recebe a ação: as paredes, o madeiramento etc..

 Termos associados ao nome


Os termos associados ao nome ligam-se, obviamente, aos nomes da sentença,
qualificando-os, temporária ou definitivamente.
Veja as sentenças abaixo:
I) O professor bêbado deu aula.
II) O professor deu aula bêbado.
Em I, o professor é sempre bêbado e deu aula (característica definitiva). Em II, o
professor deu aula e, especificamente quando deu aula, estava bêbado (característica
temporária). Dizemos que, em II, uma característica é atribuída ao nome por intermédio de um
verbo (no caso, “deu”).
Mais duas sentenças:
III) A flor é belíssima.
IV) A flor belíssima está murcha.
Em III, a flor é “belíssima” por intermédio do verbo “é”. Em IV, a flor é “belíssima” sem
intermédio de verbo, e é “murcha” por intermédio de “está”.
1. O termo que se associa ao nome sem intermédio de um verbo é um Adjunto
Adnominal (AAdn).

2. O termo que se associa ao nome por intermédio de um verbo é um Predicativo. Se


o nome ao qual o termo se associa está no sujeito, é um Predicativo do Sujeito (PS); se está
no objeto, é um Predicativo do Objeto (PO).
A maioria dos verbos que intermedia um predicativo é um Verbo de Ligação (VL).
Normalmente, expressam estados. Formam a famosa lista: ser, estar, permanecer, ficar,
continuar, parecer.
Veja agora outras sentenças:
V) O envio de dinheiro é importante.
VI) O envio de dinheiro à Angola é importante.
“De dinheiro” caracteriza “envio”. É um envio de dinheiro (e não de caminhões, tropas,
remédios). É, pois, um adjunto adnominal.
“Importante” caracteriza “envio” por intermédio do verbo “é”. É predicativo do sujeito.

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“À Angola” também caracteriza “envio”. Entretanto, é um alvo, algo ao qual se destina o


envio.

3. O termo que se associa ao nome e que caracteriza um alvo, algo ao qual o nome se
destina, é um Complemento Nominal (CN).
Obs. Todos os artigos que acompanham os nomes também são AAdn, pois
caracterizam intrinsecamente o nome.
Façamos uma análise sintática completa de uma sentença:
IX) O juiz considerou o réu inocente culpado.
O juiz – Sujeito Determinado Simples
Considerou o réu inocente culpado – Predicado
O – AAdn de juiz
Juiz – Núcleo do sujeito
Considerou – VTD
O réu inocente – OD
Inocente – AAdn de réu
Culpado – PO de réu
Por fim, veja a sentença:
X) O Amazonas, maior rio do mundo, contém uma rica biodiversidade.
“Maior rio do mundo” explica “Amazonas”.

4. O termo que se associa ao nome explicando-o (e que vem, geralmente, entre


vírgulas) é chamado Aposto.
Pelo fato de darem qualidades aos nomes, os termos associados a ele sempre
acrescentam informações essenciais para o texto, e novos efeitos de sentido.
XI) O carro anda pelas ruas da cidade.
XII) O carro veloz anda rapidamente pelas ruas estressantes da cidade irrequieta.
O uso dos adjuntos adnominais em II traz a ideia de que a cidade não para, mantém-se
numa velocidade extasiante. Num texto em que quiséssemos marcar esse fato, o uso desses
termos é fundamental.
Outro ponto muito importante relacionado aos termos ligados ao nome é a
ambiguidade. Saber que, às vezes, um termo mal colocado pode gerar sentidos inesperados
evita que façamos isso.
XIII) O presidente solicitou o envio de tropas ao Brasil.
Se “ao Brasil” se liga ao verbo e é um OI, temos que “o presidente solicitou ao Brasil”.
Se, no entanto, liga-se ao nome, é um CN, e o sentido é de que “as tropas devem ser enviadas
ao Brasil”.

 Vocativo
O Vocativo é um termo que não se liga a nenhum outro da sentença. Traz um
chamamento (“vocare”, por sinal, vem do latim e significa “chamar”), algo que chama a atenção
do interlocutor (aquele com quem se fala).
I) Mãe, posso ir à casa do Márcio?
“Mãe”, na sentença I, é um vocativo.
Veja que a forma como você se dirige ao interlocutor, ou seja, como usa o vocativo,
pode indicar a maneira como você enxerga esse interlocutor, ou mesmo apresentar uma forma
de argumentação.
II) Mamãezinha querida, posso ir à casa do Márcio?
Em II, a probabilidade de a mãe deixar o emissor (aquele que fala) ir à casa de Márcio
é maior.

 Partícula “se”
A partícula “se”, por conta de suas inúmeras funções, causa algumas confusões que
merecem uma atenção especial. Vamos falar aqui de cinco usos do “se”. Coragem! Os três
primeiros são absolutamente tranquilos.
I) João se lavou.
1. Esta sentença poderia ser reescrita como “João lavou João”, ou “João lavou a si
mesmo”. Neste caso, “se” é um Pronome Reflexivo.
II) Eles se chutaram.

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2. Esta sentença poderia ser reescrita como “Eles chutaram uns aos outros”. Neste
caso, “se” é um Pronome Recíproco.
III) Se você não fizer a tarefa, vai ficar de castigo.
3. “Se” estabelece uma condição. Portanto, é uma Conjunção Condicional
Os dois últimos casos criam um pouco mais de confusão, mas também são tranquilos.
Vamos a eles.
IV) Vende-se esta casa.
Dizemos que esta frase está na Voz Passiva Sintética. Observe o raciocínio:
V) Eu vendo esta casa. (Voz Ativa)
VI) Esta casa é vendida por mim. (Voz Passiva)
VII) Esta casa é vendida. (sem o Agente da Voz Passiva)
VIII) Vende-se esta casa.

4. Quando conseguimos realizar todas estas passagens, dizemos que o “se” passa a
sentença para a Voz Passiva. “Esta casa” é sujeito, “Vende” é VTD e “se” é Partícula
Apassivadora.
O “se” como partícula apassivadora não interfere na existência do sujeito da oração.
Assim, o verbo sempre continua concordando com o sujeito.
IX) Vendem-se estas casas.
A Partícula Apassivadora acontece somente com VTD.
Observe, agora, a sentença:
X) Precisa-se de advogado.
É impossível fazer o raciocínio feito anteriormente.
XI) Eu preciso de advogado.
XII) * De advogado é precisado.
5. Neste caso, a partícula “se” indetermina o sujeito da sentença “Precisa-se de
advogado”. Sabe-se que alguém precisa de um advogado, mas não podemos inferir quem.
Assim, “se” é Índice de Indeterminação do Sujeito (IIS).
Se o sujeito é indeterminado, o verbo não concorda com ele e fica na 3ª pessoa do
singular.
XIII) Precisa-se de advogados.
O IIS acontece com VTI e VI.
Exercícios de vestibular que trazem a questão da partícula “se” podem trazer placas de
rua com desvios da norma padrão. Ficar atento ao uso considerado correto é uma boa
estratégia para não escorregar neles.

1.2 Sintaxe do Período Composto


Agora faremos a análise do período composto, ou seja, das sentenças compostas por
mais de uma oração, ou mais de um verbo. Você vai perceber que há um número enorme de
tipos de orações coordenadas e subordinadas. Entretanto, várias delas retomam conceitos do
período simples e outras trazem no próprio nome seu significado. Mais uma vez, a ideia não é
que você decore todos os tipos de orações do período composto, mas que possa entender que
sentidos elas trazem nos textos. Vamos a elas.

 Orações Coordenadas
As orações coordenadas são orações que se justapõem sem nenhum tipo de relação
de dependência. Se quisermos separá-las em dois períodos, podemos fazê-lo sem problemas.
I) Gosto de maçã. (período simples)
II) Gosto de banana. (período simples)
III) Gosto de maçã e (gosto) de banana. (período composto por coordenação)
As orações coordenadas podem ou não conter síndetos, ou conjunções. Assim, elas
se subdividem em:
1. Orações Coordenadas Assindéticas (OCA)
Não possuem síndeto.

2. Orações Coordenadas Sindéticas (OCS)


Possuem síndeto.
Em III, temos uma OCA (Gosto de maçã) e uma OCS (e [gosto] de banana).
As OCS, por sua vez, subdividem-se em:
2.1 OCS Aditiva

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Ideia de Adição: Gosto de maçã e de banana.


2.2 OCS Adversativa
Ideia de Oposição: Gosto de maçã, mas não gosto de banana.
2.3 OCS Alternativa
Ideia de Alternância: Quero tomar suco de maçã ou de banana.
2.4 OCS Explicativa
Ideia de Explicação: Gosto de maçã, pois ela tem gosto azedo.
2.5 OCS Conclusiva
Ideia de Conclusão: Gosto de frutas azedinhas, portanto, gosto de maçã.

 Orações Subordinadas Substantivas


As Orações Subordinadas (OS) estabelecem uma relação de dependência em
relação a uma Oração Principal (OP). As OS Substantivas têm valor de substantivo.
I) Maria quer que você faça a lição porque não tem tempo.
Em I, a oração principal é “Maria quer” e as subordinadas são “que você faça a lição” e
“porque não tem tempo”. Veja que as orações têm verbo. Não se esqueça disso. Três verbos,
três orações.
II) Todos desejavam sua recuperação.
III) Todos desejavam que você se recuperasse.
Tosas as OS Substantivas possuem uma Conjunção Integrante (que/se) e podem ser
substituídas por isso/isto.
III pode ser substituída por:
IV) Todos desejavam isto.
Elas se subdividem em:

1. OSS Subjetiva
Tem valor de sujeito: Convinha-nos que você comparecesse.
2. OSS Objetiva Direta
Tem valor de OD: Todos desejavam que você se recuperasse.
3. OSS Objetiva Indireta
Tem valor de OI: Ninguém se opôs a que todos participassem.
4. OSS Predicativa
Tem valor de PS: O problema é que a população está aumentando.
5. OSS Completiva Nominal
Tem valor de CN: Tenho dúvida de que o dólar caia.
6. OSS Apositiva
Tem valor de aposto: Só quero uma coisa: que você seja feliz.
Um ponto importante que vale não só para as subordinadas substantivas, mas para
todos os períodos compostos: as orações podem ser acrescentadas indefinidamente.
Entretanto, isto resulta em um período muito longo, que dificulta a compreensão. O ideal é
utilizar este recurso com equilíbrio. IV e V exemplificam um mau uso e um bom uso de
coordenadas e subordinadas, respectivamente.
IV) É preciso considerar que a guerra, que começou há alguns dias e que deve
terminar logo, está atingindo todos os países que se levantaram contra o ditador cuja família
ainda é refém de seus inimigos, mas que pode muito bem, neste momento, estar morta, uma
vez que os contatos entre eles não acontece desde o mês passado.
V) É preciso considerar que a guerra, que começou há alguns dias e que deve terminar
logo, está atingindo todos os países que se levantaram contra o ditador. Sua família ainda é
refém de seus inimigos. Entretanto, uma vez que os contatos entre eles não acontecem desde
o mês passado, pode muito bem estar morta.

 Orações Subordinadas Adjetivas


As OS Adjetivas têm valor de adjetivo.
I) Encontrei a solução satisfatória.
II) Encontrei a solução que satisfazia a todos.
Todas as OS Adjetivas possuem um Pronome Relativo, que pode ser que, o(a)(s)
qual(is), cujo(a)(s), onde, quando.

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Quando a OS Adjetiva vier com “que”, é interessante tentar substituí-lo por “o qual”
para identificar a oração como adjetiva.
Elas se subdividem em:
1. OS Adjetiva Restritiva
III) As crianças que brincam com fogo fazem xixi na cama.
A oração sublinhada restringe o grupo “crianças”: não são todas as crianças que fazem
xixi na cama, somente aquelas que brincam com fogo.

2. OS Adjetiva Explicativa
IV) As crianças, que brincam com fogo, fazem xixi na cama.
A oração sublinhada explica o grupo “crianças”: todas as crianças brincam com fogo, e
todas fazem xixi na cama.
Identificar a diferença entre uma adjetiva restritiva e outra explicativa é o mais
importante sobre este tópico.
 Orações Subordinadas Adverbiais
As OS Adverbiais têm valor de advérbio.
I) Chegamos ao litoral tarde.
II) Chegamos ao litoral quando entardecia.
Elas se subdividem em:
1. OSAdv Causal
A assembleia foi suspensa porque ninguém compareceu.
2. OSAdv Condicional
Desde que concordem, os lugares serão mudados.
3. OSAdv Conformativa
Venceu o partido de esquerda, conforme previram as pesquisas.
4. OSAdv Concessiva
Ainda que ele falasse baixo, ouviram bem a palestra.
5. OSAdv Consecutiva
Ela era tão alto que batia no teto.
6. OSAdv Comparativa
A inflação foi mais baixa que a (inflação) do mês passado (foi).
Os portões se abriram para que todos passassem.
8. OSAdv Temporal
Depois que terminou da festa, voltou para casa.
9. OSAdv Proporcional
Quanto maior for o cargo, maior a responsabilidade.

O principal com relação às subordinadas adverbiais é prestar muita atenção nas


conjunções que aparecem nos períodos, buscando identificar que tipo de relação elas
estabelecem dentro da sentença. São muito comuns exercícios que exploram justamente o
trabalho com as conjunções: substituição, acréscimo, correção. As conjunções são a chave
para entender o sentido das orações adverbiais.

Sintaxe de Colocação

Falemos um pouco sobre como colocar os pronomes numa sentença. A colocação do


pronome oblíquo pode seguir três modelos: próclise, se for empregado antes do verbo (“o
encontrarei”, por exemplo), mesóclise, se for empregado no meio do verbo (“encontrá-lo-ei”), e
ênclise se for empregado depois do verbo(“encontrarei-o”).
Cada um destes empregos é utilizado observando determinadas circunstâncias. Elas
são, resumidamente:

1. O pronome proclítico é empregado se houver uma partícula negativa, pronome


indefinido, pronome interrogativo, advérbio, conjunção subordinativa ou pronome relativo e
orações coordenadas aditivas ou alternativas.
I) Não o intimide, por favor!
II) Quem o chamou aqui?
III) Gostamos de música clássica e o chamamos aqui.

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2. O pronome enclítico é empregado se houver uma frase iniciada por verbo, verbo no
imperativo, no gerúndio ou no infinitivo impessoal.
IV) Faça-me um favor: suma daqui.

3. O pronome mesoclítico é empregado se houver um verbo no futuro do presente ou


no futuro do pretérito.
V) Se eu tivesse um doce, comê-lo-ia agora.

Regências Verbal e Nominal

A palavra regência, que dá o nome ao fenômeno linguístico que você vai estudar,
deriva do verbo reger, que, dentre outras acepções, significa governar, guiar. Dessa forma,
pode-se afirmar que o fenômeno da regência (tanto verbal quanto nominal) nada mais é do que
uma ralação de poder que há na frase, em que um termo governa e o outro se submete às
tais “ordens”. Quando dizemos: “a assembleia concordou com as propostas da direção do
sindicato”, percebemos que antes de “propostas” usou-se a preposição “com”. Isso acontece
porque “propostas” é complemento de concordar, o termo que governa e sua exigência é que
se coloque a preposição com antes de seu complemento. Aprender regência ajudará você,
principalmente, a não cometer gafes ao redigir sua redação!

 Verbos e suas “ordens”


1. Aspirar
a. Como VTD, significa inspirar, sorver: Doente, ele foi aspirar o ar das montanhas.
b. Como VTI, significa almeja, desejar (usa sempre a preposição A) : O executivo
ambicioso aspira ao cargo de presidente da empresa.
2. Assistir
a. Como VTD, significa prestar assistência, socorrer: Os bombeiros assistiram os
feridos.
b. Como VTI (usa sempre a preposição A), pode significar: ver, presenciar : Assistimos
às aulas com muita atenção; caber, competir: A educação é um direito que assiste a todos os
cidadãos.
c. como VI, significa morar, residir: Hoje, ela assiste em um local mais calmo.
3. Proceder
a. Como VTI ( usa sempre preposição A ou DE), pode significar: iniciar, dar andamento,
dar sequência: Os professores procederam à aula; originar-se , provir (nesse caso é
acompanhado pela expressão de algo ou de algum lugar): Seus antepassados procediam da
África.
b. Como VI, pode significar: ter fundamento: Viu que seus argumentos não procediam;
agir, comportar-se( nesse caso será acompanhado um adjunto adverbial de modo): Nas
situações de emergência, os marinheiros devem proceder com calma.
4. Visar
a. Como VTI( sempre usa preposição A), significa objetivar, ter em vista: O governo
decretou medidas que visam ao controle dos preços dos combustíveis.
b. Como VTD, ele pode significar: assinar, dar visto: O gerente visou o cheque; mirar,
apontar: O atirador de elite visou apenas o sequestrador.
5.Informar
Admite duas construções:
a. A COMVEST informa os locais das provas aos candidatos. Observe que o OD
representa a “coisa” informada e o OI (com preposição A), a “pessoa” informada.
b. A COMVEST informou os candidatos sobre os/ dos locais da prova. Veja que, agora,
o OD representa a “pessoa” informada e o OI ( com preposição SOBRE ou DE), a “coisa”
informada.
Obs: Têm a mesma regência que informar os verbos: avisar, notificar, certificar e
cientificar.
6. Esquecer/lembrar
a. Quando pronominais, são VTI( com preposição DE): Ela nunca se esqueceu do
primeiro beijo.
b. Quando não são pronominais, são VTD: Ela nunca esqueceu o primeiro beijo.
7. Chegar/ir: Chegou cedo ao colégio (VI+ preposição A).
8. Obedecer/desobedecer: Hoje os filhos não obedecem aos pais. (VTI).

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9. Implicar (no sentido de acarretar): O descaso governamental implica mais violência.


(VTD).
10. Preferir: Eu prefiro as obras de Machado de Assis às de Paulo Coelho.(VTI com
preposição A).
11. Simpatizar/ Antipatizar: O eleitorado paulistano simpatiza mais com a direita,
segundo pesquisas.(não pronominal).
12. Pagar/Perdoar
Não perdoou os erros do amigo.(OD= “coisa”).
Não perdoou ao amigo pelos erros. (OI=“pessoa”).
Nesse registro distingue-se, pela regência, o alvo do pagamento ou do perdão: a “coisa
“ é representada pelo OD; a “pessoa” pelo OI (com preposição A).
ATENÇÃO: Os VTI não admitem voz passiva! Portanto, frases como “O filme foi
assistido por 1 milhão de pessoas” são incorretas, de acordo com a norma padrão.

 Nomes e suas “ordens”


Você perceberá que a regência nominal não se distancia da fala diária, sendo possível
confiar na sua intuição. Aqui colocamos alguns exemplos para que, em caso de dúvidas, você
os consulte.
1.acessível, adequado, alheio, análogo, avesso, benéfico, conforme, desatento,
desleal, fiel, grato, idêntico, inerente, obediente, peculiar, pernicioso e visível são nomes que
usam preposição A
2.ansioso, ávido, cobiçoso, comum, contemporâneo, curioso, devoto, digne, fraco,
inocente, menor não é “de menor” e sim menor de), natural, nobre, orgulhoso, pálido, passível,
pobre, temeroso e vazio são nomes que usam a preposição DE
3.afável, amoroso, aparentado, compatível, conforme, cruel, cuidadoso, descontente,
ingrato, liberal, misericordioso e orgulhoso são nomes que usam preposição COM
4.desrespeito, manifestação e queixa são nomes que usam preposição CONTRA.
5.constante, cúmplice, diligente, entendido, erudito, exato, fecundo, fértil, fraco, forte,
hábil, indeciso, lento, morador, perito, sábio, sito e único são nomes que usam preposição EM
6.convenio e união são nomes que usam preposição ENTRE.
7.bom, essencial, incapaz, útil e inútil são nomes que usam preposição PARA
8.afável, amoroso, capaz, cruel, intolerante e orgulhoso são nomes que usam
preposição PARA COM.
9.ansioso e responsável são nomes que usam preposição POR
10.dúvida, influencia e triunfo são nomes que usam preposição SOBRE

Obs: Há nomes que regem duas ou mais preposições como, por exemplo: próximo (de
ou a), furioso (de ou com), parecido (a ou com), rente (de, a ou com), pronto (em ou para),
respeito (a, de ou por), querido (de ou por), apto (a,para).
ATENÇÃO: Observe as construções abaixo:
- Os tiros de que o garoto foi vítima vieram do morro.
- Os tiros que vitimaram o garoto vieram do morro.
Em ambas, que é pronome relativo, já que pode ser substituído por dos quais e os
quais, respectivamente. Observa-se que, na primeira frase, ele está preposicionado e na
segunda, não. Isso ocorre porque a regência de cada um: na primeira, o pronome relativo que
é regido pelo nome vítima e, que exige preposição de (vítima de algo); na segunda, quem o
rege é o verbo vitimar, que, como VTD, dispensa preposição.

Concordância Verbal

A regra geral que você, certamente, já conhece é a que diz que o verbo e o núcleo do
sujeito sempre concordam em número (singular e plural) e pessoa (primeira, segunda e
terceira). Ex: O aluno acredita no sucesso que terá nos vestibulares.
CASOS ESPECIAIS: Como já foi visto em sintaxe, alguns casos merecem destaque.

1. O agente passivador: estará sempre ligado a VTD e VTD e I. Fará parte de uma
oração cujo sujeito será sempre determinado, com o qual o verbo concordará na terceira
pessoa do singular ou do plural. Ex: Julgaram-se os indiciados do assassinato da freira.

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O se índice de indeterminação do sujeito: estará sempre ligado a VTI, VI e VL. Fará


parte de uma oração com sujeito indeterminado e o verbo ficará sempre na terceira pessoa do
singular. Ex: Tratava-se de problemas estruturais.

2. Verbos impessoais: sem sujeito, ficam na terceira pessoa do singular. São exemplos
muito usados:
Haver no sentido de existir, acontecer. Ex: Houve muitos casos semelhantes ao seu.
Verbos que indicam fenômeno da natureza (chover, ventar, amanhecer) quando
usados no sentido literal. Ex: Amanheceu mais cedo ontem.

3. Sujeito constituído por núcleos no singular que dão ideia de plural (a maioria, a maior
parte, uma porção, um bando, etc.).
- Se o núcleo estiver seguido de uma expressão no plural, o verbo pode ficar no
singular ou no plural. Ex: A maioria dos moradores votou/votaram a favor da nova medida de
segurança do prédio.
- Se o núcleo NÃO estiver seguido de expressão no plural, o verbo fica no singular.
Ex: A maioria, segundo a pesquisa, ainda não escolheu seus candidatos.

4. Sujeito composto
A) Posposto ao verbo, admitem-se duas construções:
- Verbo no plural: Subiram no palanque o prefeito, a primeira dama e os vereadores.
- Verbo concorda com o núcleo mais próximo: Subiu no palanque o prefeito, a primeira
dama e os vereadores.
B) De pessoas diferentes: o verbo vai para o plural, prevalecendo a pessoa de
número mais baixo. Ex: Eu, tu e tua família viajaremos no mesmo ônibus.

5. Se o sujeito é um nome próprio que só tem plural (Estados Unidos, Minas Gerais,
Andes, etc.), o verbo ficará no singular caso não tenha um determinante procedendo-o. Se
houver ele deverá ficar no plural. Exemplos: Estados Unidos ameaça intervir na Colômbia. Os
Estados Unidos ameaçam intervir na Colômbia.

6. Se o núcleo do sujeito for porcentagem e estiver seguido de um substantivo, o


verbo deve concordar com este último. Caso não esteja seguido de um substantivo, o verbo
deve concordar com o número. Exemplos: 1% dos entrevistados disseram que não sabem em
quem votar. 25% da categoria não aderiu à greve; 1% fez o projeto enquanto, 29%
beneficiaram-se da nota.

7. Nas expressões cristalizadas que indicam quantidade como é muito, é pouco, é


bastante, é suficiente, o verbo fica invariável. Ex: Dez candidatos num debate é muito.

8. Sujeito é pronome de tratamento: o verbo fica sempre na 3ª pessoa (do plural ou do


singular). Ex: Vossa Excelência encontrou os documentos que estava procurando?

Concordância Nominal

Os determinantes (artigo, numeral, adjetivo...) devem concordar em número


(singular/plural) e em gênero (masculino/feminino) com o nome a que se ligam. Ex: O pequeno
município tinha muitas ruas arborizadas.

CASOS ESPECIAIS
1. Um adjetivo para qualificar dois ou mais substantivos.
1.1 Se o adjetivo estiver posposto aos substantivos, há duas possibilidades:
a) O adjetivo fica no plural prevalecendo o masculino caso um dos substantivos seja
desse gênero. Ex: O aluno demonstrou talento e inteligência fabulosos.
b) O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo apesar de referir-se a todos.
Ex: O aluno demonstrou talento e inteligência fabulosa.
Obs: Apesar de correta gramaticalmente a construção de (b) não são muito claras, uma
vez que o leitor pode julgar que a qualidade esteja referindo-se ao ultimo elemento. Por isso,
aconselhamos que se use a primeira opção de concordância, a qual não dá margem a dúvidas.

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1.2 Se o adjetivo estiver anteposto aos substantivos, deve concordar com o mais
próximo.
Ex: Você escolheu má hora e lugar para a reunião.
Obs: Neste caso, se os substantivos forem nomes próprios o adjetivo ficará
obrigatoriamente no plural (desde que, obviamente, a qualidade se estenda a todos). Ex: O
professor expulsou os bagunceiros João e Pedro da sala de aula

2. Um substantivo qualificado por dois adjetivos.


2.1. O substantivo fica no singular e se repete o artigo antes de cada substantivo. Ex: O
intelectual estudou muito, para sua tese, a literatura grega e afrancesa.
2.2. O substantivo vai para o plural e o artigo não se repete antes de cada substantivo.
Ex: O intelectual estudou muito para sua tese as literaturas grega e francesa.

3. Palavras que causam dúvidas


Palavras que podem se comportar, dependendo do contexto, ora como adjetivo
(quando se ligam a substantivos) e ora como advérbio (quando não se ligam a substantivos);
tais como meio, bastante, só, muito, pouco, etc. Ex: As alunas chagaram meio cansadas da
prova.

4. Nas expressões compostas pelo verbo ser e um adjetivo (é proibido, é bom etc.). Se
o núcleo do sujeito não estiver precedido de um determinante, estas expressões ficaram
invariáveis. Caso contrário, concordam com o sujeito. Ex: Proibido entrada de crianças.
Proibida a entrada de crianças.

Exercícios
16 – (FUVEST) “Mas aquele pendão firma, vertical, beijado pelo vento do mar, veio
enriquecer nosso canteirinho vulgar com força e uma alegria que fazem bem.” (Rubem Braga)
Suponha que o início desse período seja: ”Mas aqueles...”. Reescreva o período
fazendo apenas as alterações que se tornarem gramaticalmente necessárias.

17 – Reescreva as frases abaixo fazendo as correções necessárias.


“As despesas dos transportes ou quaisquer ônus decorrente do envio do produto para
troca corre por conta do usuário.”
“Haviam bastante razões para confiarmos em teu amigo.”

Ortografia

 Introdução
O objetivo deste item é comentar um pouco sobre a importância da ortografia nas
provas dos vestibulares. Bom, primeiro, o básico: o que é ortografia? Olha só, a palavra tem
origem grega e quer dizer “escrita correta”. Para nós, então, dizer que uma palavra está
ortograficamente correta significa dizer que ela está escrita de acordo com a norma padrão ou
norma culta.
Portanto, amigo, lembre-se daquilo que falamos na introdução desta apostila: o
vestibular, sendo um meio no qual se espera um uso formal da linguagem, também
espera o uso da ortografia padrão do português. Assim, nada de escrever no meio da prova
da mesma forma que a maioria das pessoas escreve no Messenger ou no Orkut. Veja só:
esses locais são meios em que o uso de uma escrita não ortográfica é permitido. No vestibular,
não.
Vamos falar de três casos específicos que podem ajudar você na hora de escrever
ortograficamente nas provas. Falaremos um pouco das influências da oralidade na escrita,
da origem das palavras e da acentuação.
Atenção! Discutiu-se muito neste ano sobre o acordo ortográfico. Procure se informar,
pois os vestibulares adoram fazer perguntinhas sobre assuntos recentes.

 Influências da oralidade na escrita


A oralidade pode ser resumida na maneira como falamos as palavras. É claro que
quando falamos uma coisa e quando escrevemos essa mesma coisa, existem semelhanças.
Mas também existem diferenças. A escrita não é igualzinha à fala, e problemas podem ocorrer
quando misturamos essas duas formas de utilizar a linguagem verbal.

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

O primeiro fato é óbvio: na fala, nós usamos gestos e expressões para ajudar a passar
ao outro aquilo que queremos. Também nos valemos da prosódia, ou seja, da maneira como
pronunciamos uma palavra ou sentença (podemos falar baixo, falar alto, de forma mais rápida,
mais pausada, em tons que denunciem nosso humor...). Na escrita, a pontuação (de que
falaremos mais tarde) tenta representar algumas dessas marcas de prosódia.
Mas vamos nos deter ao modo como falamos algumas palavras em específico. Você já
reparou que nós trocamos as letras “e” e “o” por “i” e “u”? Veja bem, pronuncie as sentenças:
I) Vendemos motores e tratores.
II) Os meninos mataram os mosquitos.
Temos uma tendência a dizer algo como:
III) Vendemusmotoris e tratoris
IV) Usmininus mataram usmusquitus.
Chamamos esse fenômeno de elevação de vogal. Não há problema algum em fazer
isso na fala, mas, na escrita, devemos manter o “e” e “o” bonitinhos. Prestar atenção nisso na
hora de escrever já é um ótimo começo.
Outra influência da oralidade na escrita é que costumamos “comer” algumas letras
enquanto falamos. Às vezes somente não as pronunciamos e outras podemos até mesmo
substituí-las por outras. A frase II poderia muito bem ser dita assim:
V) Usmininumatarusmusquitu.
Mais uma vez: não há problemas quando isso acontece na fala. Há, sim, quando
passamos essas características para a escrita. Primeiro, há a questão da concordância do
artigo e do substantivo: ela precisa ser mantida, o “s” não pode ser omitido na escrita. Depois,
veja que mudamos “mataram os” por “matarus”. Atente para isso quando for escrever. Você vai
perceber que grande parte dos problemas de ortografia acontece por isso. O mesmo acontece
no final de verbos. Olhe aí:
VI) Preciso cortar o papel.
Costumamos falar:
VII) Preciso cortá o papel.
Além desses dois casos, há também o da troca de letras. Algumas variedades
lingüísticas do português (daqui a pouco falamos melhor delas) mudam a forma como dizem
algumas palavras. Há também casos em que várias letras representam o mesmo som. Abaixo
há uma tabela com alguns exemplos:

Sal Sau
Filme Firme
Açougue Assogue
Exagero Ezagero
Jeito Geito
Trabalho Trabaio

Veja que todos os exemplos trazem problemas de ortografia que surgem por um dos
motivos: ou falamos de forma diferente ou existem muitas letras para representar o mesmo
som. É por isso que algumas pessoas escrevem “chicrete” ao invés de “chiclete”; “ezalstor” por
“exaustor”. Aí não tem muito jeito. É necessário um trabalho para reconhecer quando usamos
uma letra ou outra ou quando falamos de acordo com uma variedade que não é baseada na
escrita. A leitura e a prática ajudam nesse momento. Não tem receita mágica.

 Origem das palavras


A origem das palavrinhas muitas vezes nos ajuda a identificar como escrevê-la de
acordo com a ortografia. Conhecer alguns prefixos e sufixos que formam palavras também
presta um enorme serviço.
Pensemos nas palavras “assíduo” e “assiduidade”. Sabemos que a segunda vem da
primeira, por um processo de derivação. Caso tivéssemos dúvida sobre se “assiduidade” é com
“ss”, com “c”, “sc”, poderíamos recorrer a sua palavra de origem. O contrário também é
possível. O que queremos dizer é que tentar observar que palavra(s) lembra(m) outra(s),
apesar de parecer bobo, salva vidas na hora de redigir um texto, responder a alguma pergunta.
Conhecer prefixos e sufixos, como dito acima, é outra forma de ajudar a ortografia. O
sufixo formador de substantivos “-eza”, por exemplo, é sempre com “z”. Assim: “belo”, “beleza”,
“fraco”, “fraqueza”, e por aí vai... mas atenção! “Calabresa” não veio de nenhum adjetivo, por

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

isso não tem por que ser com “z”. Outro exemplo: os prefixos de origem grega como “mini” e
“extra” sempre vêm grudadinhos à palavra. Assim: “minibiblioteca”, “extracorporal”.

 Acentuação
Por fim um assunto absolutamente simples mas que causa as maiores confusões por
pouco. Como acentuar as palavras?
Primeiro: todas as palavras do português têm acento, ou seja, têm uma sílaba que é
pronunciada de maneira mais forte. O que precisamos saber é quais dessas palavras têm um
sinal gráfico que marca essa sílaba mais forte, também chamada de tônica. Esses sinais
gráficos são os acentos agudo (agulhinha da vovó - ´), circunflexo (chapeuzinho do vovô - ^)
e grave (agulhinha da vovó ao contrário - `). O til (~) e o trema (¨) não são acentos. Vamos
aqui nos concentrar nos dois primeiros.
As sílabas tônicas das palavras do português podem se encontrar na última sílaba
(palavras oxítonas), na penúltima sílaba (palavras paroxítonas) ou na antepenúltima sílaba
(proparoxítonas). Se você tem problemas em identificar a sílaba tônica, experimente gritar o
nome e notar que sílaba sai mais forte: “BRUxa! liquidificaDOR! LÂMpada!”. Identificar a sílaba
tônica é o principal. Agora vamos ver quais delas são marcadas por sinais gráficos.

Tipo de palavra Regra Exemplos


Acentuam-se as
Oxítona Chá, sofás
terminadas em “a(s)”;
Em “e(s)”; Café, português
Em “o(s)”; Cipó, robôs
Em “i” e “u”, quando
Baú, Tatuí
forem hiatos;
Em ditongos. Chapéu

Acentuam-se as
Paroxítona Túnel
terminadas em “l”;
Em “i”; Táxi
Em “n”; Abdômen
Em “u(s)”; Bônus
Em “r”; Fêmur
Em “ã”; Órfã
Em “x”; Tórax
Em “ão”; Órfão
Em ditongos. Episódio, páreo

Âncora, rápido,
Proparoxítona Todas próximo, ânimo, límpido,
rústico, esquizofrênico

Há, sem dúvida, outros casos e exceções. No entanto, acreditamos que aqui temos
algumas regras que cobrem a maioria dos casos. Quanto às paroxítonas, que possuem o maior
número de regrinhas, lembre-se do amigo LINUS RÃXÃO.

Novas regras de Ortografia e Gramática – Reforma Ortográfica 2009

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa objetiva unificar e simplificar o uso do


português nos países que falam e escrevem a língua. Além do Brasil e Portugal, as mudanças
também atingem Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste.
A unificação do português utilizado no Brasil e nas outras sete nações vai garantir
maior visibilidade ao idioma, que atualmente é a sétima língua mais falada no mundo, ficando
atrás apenas dos idiomas chinês, hindi, inglês, espanhol, bengali e árabe.

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

Criado em 1990, após a decisão de representantes das oito nações em simplificar a


grafia e unificar as regras, o acordo só entrou em vigor em 2009 após a ratificação dos termos
da proposta por três países, que só ocorreu em 2006.
As regras do acordo foram estabelecidas pelo o decreto de No. 6583, publicado em 29
de setembro de 2008, que promulgou no Brasil o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
O Acordo é resultado de uma negociação longa entre a Academia de Ciências de
Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, que teve início da década 80.
Até dezembro de 2012, os países terão que se ajustar às novas regras. Nesse período,
serão consideradas corretas as duas formas ortográficas.

Alfabeto:
- O alfabeto ganha três letras (k, y e w)
Antes: 23 letras
Depois: 26 letras

Trema:
- O trema cai, de vez, em desuso, exceto em nomes próprios e seus derivados. Grafado nos
casos em que o “u” é átono e pronunciado (que, qui, gue, gui), o sinal não será mais utilizado
nas palavras da língua portuguesa.
Antes: tranqüilo, conseqüência, cinqüenta
Depois: tranquilo, consequência e cinquenta

Hífen:
- O sinal não poderá ser mais usado quando a primeira palavra terminar com vogal e a
segunda começar com consoante.
Antes: anti-rugas, auto-retrato, ultra-som
Depois: antirrugas, autorretrato, ultrassom
- O hífen também não deve ser grafado quando a primeira palavra terminar com letra diferente
da que começar a segunda
Antes: auto-estrada, infra-estrutura
Depois: autoestrada, infraestrutura
- O sinal deverá ser usado quando a palavra seguinte começa com b, h, r, m, n ou com vogal
igual à ultima do prefixo
Antes: anti-imperialista, super-homem, inter-regional
Depois: anti-imperialista, super-homem, inter-regional
- Outro caso que se faz necessário o uso do hífen é quando a primeira palavra terminar com
vogal ou consoante igual à letra que começar a segunda
Antes: microônibus, contraataque, microondas
Depois: micro-ônibus, contra-ataque, micro-ondas

Acento agudo:
- Os ditongos abertos “éi” e “ói” das palavras paroxítonas não serão mais acentuados
Antes: assembléia, apóio, platéia, européia
Depois: assembleia, apoio, plateia, europeia
* As palavras herói, papéis e troféu continuam sendo acentuadas porque têm a ultima sílaba
mais forte
- O acento some também no “i” e no “u” tônicos quando vierem depois de ditongo em palavras
paroxítonas
Antes: feiúra, bocaiúva
Depois: feiura, bocaiuva

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

* O acento permanece se o “i” ou o “u” estiverem na última sílaba, a exemplo de Piauí e tuiuiú
- Na letra “u” dos grupos que, qui, gue e gui o acento também deixa de existir
Antes: apazigúe, averigúe
Depois: apazigue, averigue
- O acento diferencial também some em alguns casos
Antes: pára, péla, pêlo, pólo, pêra
Depois: para, pela, pelo, polo, pera
* O acento diferencial não deixa de ser usado em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde
(pretérito) / pode (presente). Fôrma também continua sendo acentuada para ser diferenciada
de forma.

Acento circunflexo:
O acento circunflexo some nas palavras terminadas em “êem” e “ôo”
Antes: crêem, vêem, lêem, enjôo
Depois: creem, veem, leem, enjôo

Estratégias de Leitura

 Introdução
Neste item vamos comentar algumas coisas relacionadas ao modo como devemos nos
preparar para ler os textos do vestibular. Na verdade, o que falaremos aqui traz algumas
orientações para que você leia textos diversos, não só os da prova.
Procure praticar um pouco essas estratégias de leitura. Todas as provas são antes de
tudo, provas que avaliam a capacidade de leitura do candidato. Isso quer dizer que, para
responder às questões, utilizar seus conhecimentos e escrever redações, é fundamental que
você saiba interpretar os textos que aparecem.
Há diversas estratégias de leitura que fazemos quando temos um texto na nossa
frente. Vamos nos concentrar aqui em três estratégias: a formulação de hipóteses, a relação
entre linguagens e a identificação de referenciais.

 Formulação de Hipóteses
Sempre, quando lemos, fazemos hipóteses sobre o texto. Isso significa que, antes de
ler, já temos uma ideia, por exemplo, do tema do texto, de como uma história vai continuar
(no caso de uma narrativa), das opiniões que serão apresentadas. Além disso, podemos
fazer hipóteses a partir do contexto no qual o texto circula. Em que época ele apareceu? Em
que veículo de comunicação circula (TV, internet, jornal, revista, livro)? De que gênero de
texto se trata (um artigo de opinião, uma notícia, uma crônica)? Podemos começar a ler e a
interpretar um texto sem observar todas as palavras que o constitui. Isso é muito importante!
Fazer essa pré-leitura do texto permite que sua interpretação seja muito melhor. Experimente
se fazer essas perguntas antes de começar a ler.
Outra estratégia de leitura que ajuda muito é observar o título do texto. Que ideia ele
traz? Sugere algum tipo de opinião? Apresenta personagens ou fatos? Às vezes o título
pode ser até um resumo de um acontecimento. Há situações em que o título traz algo
chamativo para conseguir a atenção do leitor. Jornais fazem isso com muita frequência.
O exemplo a seguir foi retirado do site www.vitaminasecia.hpg.ig.com.br. Vamos lá: o
nome do site já nos diz sobre o que o texto vai falar: “Vitamina e Cia” provavelmente vai tratar
dos inúmeros benefícios que vários alimentos podem trazer. O título do texto especifica que
trará basicamente informações sobre o abacate. Como ele circula pela internet, o uso de
imagens é interessante para chamar a atenção do leitor. Abaixo, no item “Receitas”, pode-se
ver um link, recurso da internet. Enfim, este é um exemplo de como podemos realizar uma pré-
leitura antes de observar todo o conteúdo do texto.

Abacate
Rico em gorduras e proteínas, o abacate é excelente para pessoas fracas e
desnutridas porque facilita o processo de digestão, elimina dores e acaba com a prisão de
ventre.
Apesar de rico em gordura vegetal, ele não ataca o fígado, eliminando a sensação de
peso no estômago.

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

O abacate contém muito Fósforo, que ajuda na formação dos ossos e dentes e evita a
fadiga mental.
Como remédio, o abacate tem grande utilidade. O caroço moído e queimado, e
misturado ao leite, resolve problemas renais, desinterias e doenças do aparelho reprodutor
feminino (corrimentos).
Suas folhas, tomadas sob a forma de chá, são altamente digestivas, estimulantes e
normalizam irregularidades, como a menstruação. O chá combate também infecções da
garganta, elimina a rouquidão e a tosse. Bom também é mastigar as folhas de abacate frescas
para curar afecções da boca, estomatites, ânsias, além de fortificar as gengivas e os dentes.
Na cozinha, o abacate mostra-se muito versátil. Dá uma salada de excelente aparência
quando cortado em cubos e misturado a rodelas de ovos cozidos, cebola, temperado com sal,
vinagre e pimenta do reino. Pode ainda se transformar em sorvete, bastando para isso batê-lo
no liquidificador com suco de limão, açúcar e leite e levá-lo ao congelador em forminhas.
Importante é saber que ele se conserva na geladeira por 2 a 4 semanas, quando de
boa qualidade.
Seu período de safra vai de fevereiro a agosto.
Cem gramas de abacate fornecem 162 calorias.

Receitas
Pratique em casa antes da prova. Leia textos buscando fazer uma pré-leitura utilizando
essas estratégias. Não vai cair um exercício específico no vestibular perguntando sobre as
estratégias. Mas elas são pré-requisito para que você entenda os textos das provas.

 Relação entre linguagens


Hoje em dia é muito difícil você encontrar um texto que seja formado somente por
escrita, ou só por imagens, figuras ou desenhos. Não que eles não existam, mas são muito
mais comuns textos que mesclem a linguagem verbal e a linguagem não-verbal. A
linguagem verbal é a que usa o português, falado ou escrito. A não-verbal é a que se utiliza de
imagens, figuras, desenhos, melodias, vídeos, gestos. Pense em alguns textos que misturam
as duas formas de linguagem: músicas, filmes, notícias de jornal, quadrinhos, tirinhas, quando
conversamos.
Fazer uma leitura eficiente desses textos exige que você saiba relacionar as duas
linguagens. Elas se complementam para criar o sentido. Abaixo você vai ver um exemplo de
texto no qual as linguagens se relacionam, e como elas trabalham juntas para a construção do
significado.

http://tirinhasdogarfield.blogspot.com/2006/09/garfield-e-o-rato.html

Note a relação entre imagem e texto: No primeiro quadrinho Jon fala para Garfield de
seu interesse por uma das banhistas. Observe como a imagem da cara de Garfield demonstra
tédio pelo que seu dono diz – provavelmente é a décima vez que Jon se interessa por uma
mulher e Garfield sabe que não vai dar certo. O estilo de Jon é do típico sujeito que não se dá
bem com o sexo feminino; seu calção de banho chega ao umbigo.
Se a imagem fosse colorida, você veria no segundo quadrinho que a palavra tubarão,
que já está destacada, está em vermelho, o que reforça o fato de que o homem gritou para
todo mundo ouvir. A expressão de Garfield mudou, passando agora para surpresa.
Finalmente, no terceiro quadrinho, o humor surge porque Jon chama a atenção de
todos os banhistas e não só da “gatinha” pela qual se interessou. O desenho da expressão das
pessoas correndo (assustadas, com os olhos esbugalhados) reforça o efeito humorístico.

 Identificação de Referenciais

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

A última estratégia de que falaremos é a de identificar referenciais num texto. Você já


viu acima que um dos recursos de coesão é o uso de mecanismos que retomam um referente.
I) João foi ao cinema. Ele não gostou do filme.
Em I, “ele” retoma o referente “João”. É a anáfora. Há, também, outras formas de
referenciação.
II) Marquinhos jogou vídeo game o dia todo. O menino comprara um jogo novo super
empolgante. [ ] Foi dormir mais de meia noite.
Temos uma expressão sinônima e uma elipse em II. Elas retomam “Marquinhos”.
Pois bem, fazer isso nas sentenças é tranqüilo. Entretanto, quando temos um texto
maior, podemos nos perder. Por isso, adquirir a prática de ler prestando atenção a quais
referências são feitas no texto garante uma leitura melhor.
Mais do que isso. As expressões sinônimas, especialmente, podem mostrar o ponto
de vista do autor do texto.
III) Neide casou-se com o velho e herdou a fortuna quando ele morreu. A pilantra logo
se casou de novo com Douglas, outro alpinista social.
As expressões que fazem referência a “Neide” e a “Douglas” revelam a opinião do
autor: ele acha que ambos não prestam, casam-se somente pelo interesse no dinheiro de seus
parceiros.
IV) Neide casou-se com o velho e herdou a fortuna quando ele morreu. A boa e
resignada moça logo se casou de novo com Douglas, seu verdadeiro amor.
Em IV as coisas são diferentes. Agora Neide provavelmente é uma boa mulher e
esposa, que fez um sacrifício ao se casar com o velho, mas que logo foi em busca de seu amor
verdadeiro, Douglas. Percebe como podemos alterar completamente o sentido de um texto ao
usar expressões deste tipo? Atente para elas em suas leituras.

Pontuação

Vamos lá, colega, força. Sabemos que há muita coisa, mas infelizmente é necessário.
Agora vamos falar de pontuação. Felizmente, este é um assunto que não traz tantos
problemas. Pra começar, existem dez sinais de pontuação em nossa língua: ponto final (.),
ponto de exclamação (!), ponto de interrogação (?), vírgula (,), ponto-e-vírgula (;), dois
pontos (:), reticências (...), aspas (“”), parênteses (()) e travessão (-). Falaremos de dois
deles, os que mais trazem dúvidas na hora de escrever ou compreender um texto. A vírgula e
as aspas.
Pra começar: vírgula significa pausa, sim, mas não como a nossa professora da
primeira série dizia: “sempre que você der uma respiradinha pra falar”. Na verdade, existem
normas para emprego de vírgula específicas na escrita, e elas têm poucas semelhanças com a
fala. Existem casos em que a vírgula não pode ser colocada, casos em que ela deve ser
colocada e casos em que ela pode ser colocada. Por questões de espaço, mais uma vez,
vamos nos restringir a alguns exemplos.

1. A vírgula não pode ser colocada:


- Entre o sujeito e o predicado.
I) * A menina, anda rapidamente.
- Entre um verbo e seu(s) objeto(s).
II) * João comprou, uma flor.

2. A vírgula deve ser colocada:


- Em complementos grandes deslocados na oração, ou seja, em complementos que
não estão de acordo com a ordem clássica de sujeito + verbo + complementos.
III) Com suas pernas fortes e atléticas, ele corria.
- Em OS Adjetivas Explicativas.
IV) Os cactos, que são plantas extremamente resistentes, conseguem sobreviver ao
clima desértico.
- Em termos intercalados na oração.
V) Gosto de ósculos, ou seja, beijos.

3. A vírgula pode ser colocada:


- Em complementos pequenos deslocados na oração.

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VI) Ontem, fui à festa à fantasia.


Ou:
VII) Ontem fui à festa à fantasia.
- Entre algumas OP e OSAdv.
VIII) Vocês poderão conferir suas provas, desde que paguem a tarifa correspondente.
Existem outros casos, mas julgamos estes como os mais importantes a serem
comentados nesta apostila de revisão.

Agora vamos às aspas. Existem quatro situações nas quais você pode utilizá-las:
1. Quando você faz citações de textos que não são seus. Tanto faz se forem trechos de
textos escritos ou falas, se o que for dito não vier de você, use as aspas. Ah, vale lembrar que a
citação deve ser exatamente igual a que foi dita.
I) O presidente, ontem, deu seu veredicto: “Não vamos diminuir os juros até o final do
ano”.

2. Quando você se refere a títulos de jornais, músicas, notícias, revistas, filmes etc..
II) O filme “O Senhor dos Anéis” é baseado num livro muito famoso de Tolkien.

3. Quando você utilizar termos estrangeiros, expressões regionais e gírias.


III) Você sabe que sempre tentei dar um “upgrade” em minha carreira. Por isso, “mano”,
não reclame se fui promovido antes.

4. Quando aquilo que você diz é irônico.


IV) Se há uma coisa que podemos dizer sobre aquela sessão de cinema em que todos
dormiram é: o filme era absolutamente “interessante”.

Para finalizar, uma dica para o uso de exclamação e interrogação. Limite-se a colocar
somente um desses sinais quando for o caso. Nada de colocar seqüências com cinco, seis
sinais juntos.
V) Uma coisa de que esse país precisa é educação!
E não:
VI) Uma coisa de que esse país precisa é educação!!!!!

Coerência e Coesão

Este tópico traz dois dos critérios mais discutidos sobre um texto. Na apostila de
redação, você verá algumas discussões mais aprofundadas sobre o tema. A nós, aqui, cabe
falar sobre como isso influencia na compreensão do texto. Há exercícios no vestibular que
pedem para que você identifique quais problemas existem na coesão e/ou na coerência de um
texto. Conhecer um pouco sobre esses critérios permite que você passe por esses exercícios
sem grandes problemas. Vamos começar com a coesão.

Coesão

A coesão pode ser definida como a habilidade que um texto tem de ser uno,
interligado. Se um texto tem conexão entre suas partes, entre palavras, sentenças e
parágrafos, dizemos que ele é coeso.
Há recursos lingüísticos que permitem a coesão de um texto. Vamos falar deles:

 Anáfora
Não se assuste com os nomes. A anáfora é a referência que fazemos a um termo do
texto depois que ele aparece. Geralmente, as anáforas surgem por meio de um pronome e
evitam a repetição dos termos.
I) Joana e Cláudia sempre gostaram de cavalos. Elas praticam hipismo desde os seis
anos. Vê-las cavalgar pelo campo traz uma sensação de liberdade muito boa.
Em I, os termos sublinhados retomam “Joana e Cláudia” por meio de anáforas.

 Catáfora

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A catáfora também retoma um termo por meio de pronomes, mas o termo aparece
depois.
II)Ele caminhava sem medo. Passou por diversos indivíduos, que o olhavam com
profundo respeito. Enfim, o ancião chegou a seu destino. Finalmente resolveria o problema.
Em II, os pronomes retomam “ancião”, que só aparece depois.

 Elipse
Elipse significa omissão, ocultamento. Assim, ela se caracteriza pelo apagamento de
um termo que é óbvio pelo contexto. Tome cuidado ao construir elipses! Às vezes elas podem
trazer ambigüidades desnecessárias. O exemplo II também traz elipses, que retomam “ele” ou
“o ancião”. Marcamos abaixo com [ ].
III) Ele caminhava sem medo. [ ]Passou por diversos indivíduos, que o olhavam com
profundo respeito. Enfim, o ancião chegou a seu destino. Finalmente [ ] resolveria o problema.

 Expressões sinônimas
As expressões sinônimas auxiliam na construção de coesão de um texto, na medida
em que evitam a repetição e acrescentam informações àquilo sobre o que se fala. Também têm
um papel na construção da argumentação de um texto, já que podemos, por meio delas,
atribuir qualidades positivas ou negativas ao referente (falaremos mais disso em estratégias de
leitura).
IV) Qualquer um conhece algo sobre os Estados Unidos. Maior economia do planeta, o
país gosta de impor sua vontade sobre os outros, principalmente aqueles que oferecem algum
recurso de que ele não dispõe. As guerras, por exemplo, que a potência egoísta tem liderado
no Oriente Médio, são por conta do petróleo, recurso que este capitalista selvagem considera
essencial. Na verdade, a hegemonia tem petróleo, mas deseja conservá-lo para o futuro.
No exemplo IV, observe que o uso das expressões sinônimas, dentre outros recursos,
revela a posição desfavorável em relação aos Estados Unidos.

 Conectores
Por último, os conectores. Na verdade, os conectores são as conjunções que você
deve utilizar no texto pra estabelecer relações. É muito importante que você perceba que o uso
inadequado de uma conjunção cria um problema no texto, já que a relação estabelecida será
diferente da que se espera. Usar uma conjunção de oposição, por exemplo, quando se quer
usar uma conclusiva, altera completamente aquilo que será lido pelo leitor. Existem muitos
exercícios que lidam justamente com essa questão nas provas. Atente para isto. Abaixo um
exemplo de como as relações são afetadas pelos conectores.
I) Kelly gosta de andar de carro, mas seu namorado dirige muito mal.
II) Kelly gosta de andar de carro porque seu namorado dirige muito mal.
Em I, Kelly gosta de andar de carro mas, provavelmente, não anda com seu namorado
porque ele não dirige bem. Já em II, o fato de Kelly gostar de andar de carro é uma
conseqüência para o fato de que seu namorado não dirige bem. Provavelmente ela foi obrigada
a gostar porque sempre precisa dirigir no lugar dele.

Coerência

Um texto coerente é aquele que faz sentido dentro de um determinado universo. Ele
tem uma espécie de acordo entre aquilo que diz e aquilo que se tem na realidade. Uma notícia
que corra na “Folha de S. Paulo” e que diga, por exemplo, que o Brasil é a maior potência
econômica mundial, descartando um efeito de humor, certamente é incoerente, porque traz
uma informação que não condiz com nossa realidade. Por outro lado, o livro “Alice no País das
Maravilhas” traz acontecimentos que só fazem sentido para o mundo que Lewis Carroll criou,
ou seja, são coerentes de acordo com o universo criado pelo autor.
Às vezes podemos quebrar a coerência de um texto de propósito, para criar um efeito
de humor, de ironia, de crítica. No entanto, fazer isso exige um grau de elaboração textual
avançado. Fazer isso no vestibular é bastante arriscado, uma vez que temos muito pouco
tempo para produzir um texto naquele espaço. Sugerimos que não você treine esta habilidade
no dia da prova, limitando-se a identificar e responder de forma eficiente exercícios que tratem
dessa questão.
Há dois tipos de coerência: a interna e a externa.

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 Coerência Interna
A coerência interna fala do acordo que deve haver entre as partes do texto. Se dizemos
no começo de um texto que uma personagem se chama Márcia, não podemos mudar o nome
dela pra “Luciana” no meio do caminho. No exemplo abaixo existem dois casos de incoerência
interna. Veja se consegue encontrá-los.
“Ontem foi meu primeiro encontro com Carolina. Foi tudo muito perfeito: o passeio pelo
shopping, o sorvete do McDonald’s, o cinema... tudo muito simples, mas inesquecível porque
era com ela. Como é bonita! Seus olhos têm um ar de mistério muito intrigante, o que só me faz
ficar mais apaixonado. Hoje, quinze anos depois, lembro-me ainda com ternura daquele
primeiro encontro naquela prainha paradisíaca.”

 Coerência Externa
A coerência externa, por outro lado, define o acordo que deve existir entre o texto e a
realidade à qual pertence. No exemplo abaixo estamos supondo uma narrativa que acontece
em nosso mundo e há uma incoerência. Identifique-a também. Não é difícil.
“Não agüentava mais aquela vida. Pulei. Durante os cem metros de que despenquei,
não parava de pensar nela. Por que fizeram comigo o que nunca tinha feito com qualquer
outro? Não era possível, por mais que dissesse que não me amasse, os fatos provavam o
contrário. Decidi-me. Assim que cheguei ao chão, levantei-me e fui falar com ela.”
Identificar uma incoerência de um texto sempre pressupõe certo conhecimento de
mundo. Por isso, mais uma vez, leitor: informe-se para realizar as provas. Saber que coisas
acontecem a seu redor evita que você seja pego desprevenido, ok?

Intertextualidade

A intertextualidade, ou relação entre textos, é um assunto que também sempre cai nas
provas do vestibular. O que se entende por textualidade é a idéia de que um texto sempre traz,
em seu conteúdo, conteúdos, idéias, opiniões de outros textos. A própria prova de redação que
você fará nos vestibulares é um exemplo de intertextualidade. Ao usar a coletânea, você fará
referência a outros textos e, assim, teremos intertextualidade.
Existem dois tipos de intertextualidade, a explícita e a implícita. Vejamos.

 Intertextualidade Explícita
A intertextualidade explícita acontece quando fazemos uma referência direta no texto.
As citações de fala do outro são exemplos de relações intertextuais explícitas.
“O presidente do Banco Central disse ontem aos jornalistas que não vai baixar as taxas
de juros. ‘O país passa por um momento crucial em sua economia. Baixar as taxas de juros
agora seria um ato muito arriscado”, afirmou.

 Intertextualidade Implícita
Um pouco mais difícil de identificar, a intertextualidade implícita exige do leitor certo
conhecimento de mundo, para que ele reconheça um outro texto dentro do que lê. Não por
acaso, a intertextualidade implícita é mais demandada nas provas. Os textos de humor utilizam
bastante este recurso.
“A “Universidade X” ADVERTE: ESSA PALESTRA FAZ BEM À SAÚDE.”
Essa propaganda traz uma relação intertextual implícita com a propaganda do
Ministério da Saúde sobre o cigarro: “O Ministério da Saúde adverte: fumar faz mal à saúde”.

Variedades Linguísticas

As variedades linguísticas são um tópico que, invariavelmente, cai no vestibular.


Sempre há uma ou duas questões que tratam deste tema nas provas. É interessante saber
algumas coisas sobre elas para que você não fique boiando na hora de responder os
exercícios.
A ideia principal sobre as variedades linguísticas é de que as línguas não são únicas.
Elas variam. Isso que dizer que aquilo que chamamos de português é formado por diversas
variedades. Isso não é muito difícil de entender: é só pensar que a língua de que estamos
tratando nesta apostila é a que chamamos de padrão ou culta. Ela é bem diferente daquela que
falamos no dia a dia, com nossos amigos. A língua que nossos avôs e avós falam também não

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

é igual àquela que os jovens utilizam. Se você foi para outros estados ou assistiu a algum filme
ou novela que mostre pessoas que não são de São Paulo, percebeu que elas também têm
particularidades na forma como falam e escrevem. Mas não precisa sair de São Paulo: se
observarmos a forma como as pessoas do interior e as pessoas da capital utilizam a língua,
vemos que também é diferente.
Enfim, todas essas formas diferentes de que fazemos uso do português constituem
variedades linguísticas. Outra ideia super importante sobre as variedades é a de que não
existe uma melhor que outra, mas a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, fala e
escreve bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situação e
consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.

Abaixo vamos listar alguns tipos de variedades linguísticas. Mais uma vez, não se
prenda aos nomes. O importante é que você saiba identificar a variedade e descrever as
diferenças na hora de responder questões.

 Variedades Históricas
A língua varia de acordo com a época. Se você tiver a oportunidade de ver uma versão
da carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal na descoberta do Brasil, verá que
as diferenças são enormes. Mas não precisamos ir tão longe. É fácil perceber que a camada
mais jovem da população usa uma língua diferente daquela usada pelos mais velhos. Hoje
chamamos uma mulher bonita de “gatinha”. Nossos avôs diziam “broto”... Enquanto nós
falamos que uma coisa é “legal”, “da hora”, escutamos “do balacobaco” ou “supimpa” dos mais
velhos. Tudo isso são exemplos de variedades históricas.

 Variedades Regionais
Percebemos que pessoas vindas de diferentes regiões do país têm um vocabulário
específico e um tipo de pronúncia (sotaque). É o que caracteriza as variedades regionais.
Alguns falam “mexerica” e outros “tangerina”. Um caso clássico é o do “r” falado em diferentes
regiões do país. O “r” caipira é falado no interior de São Paulo, diferente do “r” falado na capital
e diferente também do “r” dito no Rio de Janeiro.

 Variedades Sociais
As variedades sociais são aquelas que definem as falas das pessoas das diferentes
classes. A maioria das pessoas mais pobres fala de forma diferente da maioria das pessoas
mais ricas. Algumas diferenças se caracterizam pela troca de letras (“bicicreta” e “bicicleta”) e
pela concordância (“nóis vai” e “nós vamos”).
Esse tipo de variedade é a que causa mais problemas devido ao preconceito
lingüístico. Algumas pessoas costumam atribuir valor às variedades, dizendo que a fala das
pessoas mais ricas é melhor, mais bonita, enquanto que a fala das pessoas mais pobres é
“tosca”, de gente “burra”. Veja só, isso não passa de preconceito e ignorância. As pessoas que
falam dessa forma conseguem se comunicar perfeitamente nos locais em que ela se mostra
utilizável. Por isso, não há problemas no uso dentro de seu contexto. Podemos dizer que há
situações nas quais o emprego dessa variedade é inadequado, mas afirmar que ela é pior ou
que demonstra a falta de intelecto das pessoas é bastante limitado.

 Variedades Situacionais
Se alguém vai fazer uma entrevista para conseguir um emprego, certamente falará de
modo diferente com o entrevistador do que quando fala com seus amigos. Isso mostra que a
língua também varia de acordo com o grau de formalidade da situação. Podemos falar e
escrever de maneira mais ou menos formal, ou seja, com mais cuidado e vigilância (formal) ou
de modo mais espontâneo e menos controlado (informal). Aqui você já percebe que tipo de
variedade terá de escolher para o vestibular, não?
Digamos que essas são as causas das variações. Agora, vamos especificar tipos de
variedades de acordo com critérios lingüísticos.

 Variedades Fonético-Fonológicas
São as variedades que se evidenciam pelo som. O sotaque é a forma mais comum
dessa variedade.

 Variedades Lexicais

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

São as variedades relacionadas ao uso de palavras diferentes. O mesmo caso da


mexerica/tangerina e bicicleta/bicicreta, citados acima.

 Variedades Sintáticas
Dizem respeito às variedades que têm diferença na concordância, por exemplo. “As
pernas” e “as perna”, “nós vamos” e “nóis vai” são exemplos.

Semântica

É a parte da gramática que estuda o sentido e a aplicação das palavras em um


contexto. Assim como as figuras de linguagem, a semântica ajuda no entendimento de um
texto.
1. Polissemia: consiste no fato de uma mesma palavra possuir diferentes significados.
Ex:“A manga da camisa estava rasgada.” e “Comeu três mangas depois do almoço”. “Manga” é
polissêmica.
2. Denotação: A palavra possui por si só expressa um significado, com seu valor
objetivo. Ex: “Ele cai sempre que anda de patins.”
3. Conotação: a palavra possui um sentido figurado, subjetivo, que depende da
interpretação. Ex: “Esse assunto cai no vestibular.”
4. Sinonímia: é a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que
apresentam significados iguais ou semelhantes. Ex: “cômico”, “engraçado”, “hilário”.
6. Antonímia: é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras de
significados contrários. Ex: “Economizar – gastar”; “bem- mal”.
7. Homonímia: É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem
significados, são iguais no som ou na forma. Ex: “concerto” e “conserto”; “banco” (de lugar pra
sentar) e “banco” (de instituição financeira).
8.Paronímia: É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem
significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita. Ex: “cavaleiro” e
“cavalheiro”.

Exercícios
28 – (FUVEST – adaptada) Observe este texto, criado para propaganda de
embalagens:
“Ao final do processo de reciclagem, aquele lixo de lata vira lata de luxo, embalando as
bebidas de que todo mundo gosta, da marcas em que todo mundo pode confiar.” Transcreva do
texto um trecho em que a presença de um recurso de estilo torne a mensagem mais expressiva.
Explique em que consiste esse recurso.

29 – (UNICAMP 2007 – adaptada) Em 26 de outubro de 2006, um jornal de S. Paulo


veiculou a seguinte propaganda: “Se, no Brasil, ninguém paga caro por mentir, por que você vai
pagar caro pela verdade? Assine o Jornal X, a partir de R$ XX,XX.”
a) A propaganda explora dois sentidos de pagar caro. Quais?
b) A propaganda quer construir certas imagens para o jornal. Quais?

Figuras de Linguagem
Elas servem para dar sentidos figurados, novos, diferentes da língua. Aprendê-las
ajudará você a interpretar os textos presentes no vestibular, além de ser um bom artifício para
enriquecer o conteúdo de sua redação.

 FIGURAS DE PENSAMENTO: consistem em expressar uma ideia, um


pensamento de formas diferentes, inovadoras.
1. Antítese: Consiste no confronto de ideias opostas entre si, o qual não produz um
absurdo lógico. Ex: “Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria” (Manuel Bandeira).
2. Paradoxo: Consiste num confronto de ideias opostas entre si, que produzem um
absurdo lógico. Ex: “É um contentamento descontente” (Camões).
3. Ironia (ou antífrase): consiste na expressão de uma ideia que, no contexto, assume
significado oposto ao seu significado habitual. É utilizado para ridicularizar ou satirizar uma

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

pessoa, uma instituição ou um comportamento. Ex: “Era tão esperto que se deixou enganar
três vezes.”
4. Eufemismo: Consiste em amenizar uma ideia chocante. Ex: “Seu pai passou desta
para uma melhor.”
5. Hipérbole: Consiste em exagerar uma ideia para destacá-la. Ex: “Te liguei mil vezes
ontem.”
6. Gradação: Consiste em expressar um raciocínio através da disposição de ideias em
ordem gradativa (do maior para o menor ou vice-versa). Ex: “Ela disse, gritou, e berrou que te
amava.”
7. Prosopopeia ou personificação: Consiste em atribuir características de seres
animados a seres inanimados ou características humanas a animais ou objetos. Ex: “O vento
gosta é de cantar: quem faz letra para a canção do vento?” (Mário Quintana).

 FIGURAS DE CONSTRUÇÃO: consistem em subverter, de alguma forma, a


estrutura canônica de nossas orações e períodos.
1. Pleonasmo: é a repetição de uma ideia ou palavra já pressuposta ou aplicada no
texto. Ex: “E rir meu riso e derramar meu pranto” (Vinícius de Moraes).
Obs. Não é aconselhável usar pleonasmo em seus textos. Na maioria das vezes são
considerados como erro.

 FIGURAS DE PALAVRAS: consistem na utilização de uma palavra com sentido


de outra.
1. Comparação: Consiste em substituir uma palavra pela outra, porque entre ela ha
pelo menos um traço em comum de significado, usando, para isso, um elemento comparativo
explícito (como, feito, igual, tal qual). Ex: “A minha alma partiu-se como um vaso vazio.”
(Fernando Pessoa)
2. Metáfora: É uma comparação sem o elemento comparativo explícito. Ex: “Você é
luz, é raio, estrela e luar.”
3. Sinestesia: Consiste em reunir sensações de originárias de diferentes órgãos do
sentido, por suposta semelhança que haja entre eles. Ex: “Clâmides frescas, de brancuras
frias” (Cruz e Souza).
4. Metonímia: Consiste em substituir uma palavra por outra porque elas estão muito
próximas ou implicadas. Isso ocorre quando se substitui:
a) o conteúdo pelo continente. Ex: Durante a reunião, ele tomou cinco xícaras de
café.
b) a obra pelo autor. Ex: Cai Guimarães Rosa na prova de literatura da Unicamp.
c) o produto pela marca. Ex: Ele nem tinha gilete para fazer a barba.
d) a causa pelo efeito. Ex: Pago tudo que consumo com o suor do meu emprego.

Dúvidas mais frequentes sobre o uso da norma padrão


Aqui foram selecionadas palavras e expressões que mais causam dúvidas na hora de
escrever e de falar de acordo com a norma.

 O uso dos “porquês”


1. Por que:
a) Em frases interrogativas (diretas ou indiretas): fica subentendido a palavra razão. Ex:
Por que [razão] não me pediu ajuda?
b) Em substituição a palavra pelo qual (e suas variações). Ex: As ruas por que
passamos eram sujas.
2. Porque: é usado em frases afirmativas e respostas. Pode ser substituído por pois.
Ex: Não te pediu ajuda porque fico com vergonha.
3. Por quê: usa SEMPRE nos finais de frase, próximo ao sinal de pontuação. Ex: Ele
não veio por quê?; Ele não veio não sei por quê.
4. Porquê: trata-se de um substantivo e pode ser substituído pela palavra motivo. Ex:
Não sei o porquê de sua vergonha.

 O verbo fazer
É necessário tomar cuidado com o sentido que ele tem em determinadas frases, pois
poderá ser pessoal ou impessoal. “Fazer” é impessoal quando tem sentido de tempo decorrido,

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

portanto sempre ficará na 3ª pessoa do singular. Ex: Faz dez dias que não o vejo; Fazia anos
que estava naquela cama.
Obs: Quando os verbos impessoais estiverem acompanhados de um verbo auxiliar, a
sua impessoalidade se transfere para o auxiliar. Ex: Devia fazer umas duas horas que o
paciente estava esperando.

 Mal/mau
- Mau só pode ser adjetivo (é o contrário de bom), admitindo o emprego no feminino, no
plural conforme o nome que caracteriza. Ex: Eles sempre foram maus exemplos para os filhos.
- Mal pode ter três classificações:
a) Conjunção temporal: pode se substituído pó “assim que”. Ex. Mal iniciou a gravidez,
ela já sentia enjoos.
b) Advérbio de modo (é invariável, não esqueça!). Ex: As bailarinas passaram mal
antes da apresentação.
c) Substantivo: pode ter artigos e ser passado para o plural (é o antônimo de bem). Ex:
Foi condenado porque praticou o mal.

 Mas/mais
Mas: Pode ser substituído por “porém’. Ex: Eu li, mas não compreendi.
Mais: Emprega-se como antônimo de menos. Ex: Ela sempre foi a aluna mais aplicada.

 Onde x em que
Onde só se usa em referência a lugar. Nas demais situações, usamos “em que”. Ex: O
Brasil é o país onde vivemos; A sociedade em que vivemos é muito desigual.

 Ao encontro de x de encontro a
Ao encontro de: Dá ideia de similaridade, afinidade. Ex: Meu pensamento vai ao
encontro do seu. De encontro a: Choque, confronto. Ex: O carro foi de encontro ao poste.

 A princípio x em princípio
A princípio: Inicialmente, no princípio. Ex: A princípio, tudo são flores; depois, só
dissabores.
Em princípio: Teoricamente, hipoteticamente. Ex: Em princípio, todos são bons alunos –
ao menos, até a primeira prova...

 À medida que x na medida em que


À medida que: Equivale a: à proporção que, ao mesmo tempo que. Ex: O barulho
aumenta à medida que nos aproximamos da porta.
Na medida em que: Equivale a: uma vez que, tendo em vista que, porque. Ex: A nossa
mente é enriquecida na medida em que a exercitamos.

 Próprio, anexo, incluso, quite e obrigado


São palavras que se comportam como adjetivos sendo, portanto, variáveis. Ex: As
alunas mesmas carregaram aqueles objetos. Enviei anexa a nota fiscal que você me pediu; As
telefonistas disseram “obrigadas” antes de desligarem.

Referências Bibliográficas:
http://www.reformaortografica.net/acordo-ortografico/
http://www.livrariamelhoramentos.com.br/Guia_Reforma_Ortografica_Melhorame
ntos.pdf
http://www.comvest.unicamp.br/

LITERATURA

Introdução

Literaturas de Língua Portuguesa

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

Como qualquer outra forma de arte, a Literatura é uma criação humana. Até hoje não se
encontrou uma definição capaz de compreender a Literatura em todas as suas formas de
expressão e seu significado para as diferentes sociedades nas diferentes épocas. No entanto,
não podemos negar a importância dessa forma de expressão artística que, através das letras,
nos permite entrar em contato com um grande acervo cultural acumulado ao longo de séculos.
Nesta apostila, esperamos que você possa “VerdeNovo” o conteúdo de Literaturas de
Língua Portuguesa (Brasil e Portugal) exigido pelo vestibular da Unicamp e de outras
universidades brasileiras. Para aqueles que deixaram passar algum conteúdo importante, aqui
está a chance de verem em tempo para a prova, e de, principalmente, aprenderem.
A Literatura, como todas as outras formas de expressão artística, reflete as relações do
homem com seus semelhantes e com o mundo. Na medida em que tais relações foram se
modificando historicamente, a Literatura acompanhou essas transformações. Assim, as obras
de cada período histórico possuem características que as identificam, ainda que cada uma
possua suas particularidades; por isso é tão importante estudarmos o contexto histórico em que
uma obra foi produzida. É levando em conta as características comuns às obras de
determinado período que dividimos toda a história da Literatura em escolas literárias/
movimentos literários.
Nesta apostila você vai encontrar todas as escolas literárias tradicionais que dividem a
literatura portuguesa. Nossa ideia é que você estude as características de cada uma,
analisando com a ajuda do professor, ao final, uma obra representativa do momento. Além
disso, o material traz os livros que serão utilizados pelos vestibulares da USP e da Unicamp
neste ano. Cada livro se encontra dentro da escola literária em que se inscreve. Por exemplo,
“Dom Casmurro” está dentro do tópico que fala do Realismo.
Abaixo, seguem as competências necessárias para que a análise seja feita de maneira
eficiente. Avante!

Viagens na minha terra – Almeida Garrett

A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre


1845 e 1846, sendo editada em livro apenas em 1846. Tida como obra única no Romantismo
português por sua estrutura e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para
a moderna prosa portuguesa e um importante documento de referência para entender a
decadência do império português.

Aspectos importantes da obra

Foco narrativo

A obra é narrada em primeira pessoa e o narrador é o que conhecemos por “narrador-


protagonista”. Ou seja, a história é contada por um dos personagens principais (no caso, o
autor-narrador que viaja pelo país) em primeira pessoa. Dessa forma, a história tem um ponto
de vista fixo, centrado nessa personagem. Além disso, esse narrador-protagonista está quase
inteiramente confinado a seus pensamentos, sentimentos e percepções.

O que sabemos a respeito das outras personagens (incluindo seus pensamentos e


sentimentos), ou nos é passado através dela mesma, ou através de outra personagem que
conta algo ao narrador (em Viagens temos Frei Dinis contando o drama de Carlos e Joaninha).
Essas informações podem ser, ainda, inferências feitas pelo narrador-protagonista.

A viagem como busca do autoconhecimento

O tema das viagens sempre foi parte integrante da literatura portuguesa, desde o século XIV
quando os navegadores portugueses registravam suas histórias de navegação. Eles produziam
uma literatura que não ficava restrita aos acontecimentos da viagem, mas que continha
também os motivos que os levavam a se deslocar de um local a outro e as descrições em
forma narrativa sobre as terras e os homens que encontravam. Assim, pode-se dizer, que a
literatura de viagem não fica restrita ao desejo de conquistar novos territórios, mas, através do
contato com outros povos e culturas, pensar de uma nova maneira o seu próprio eu.

Almeida Garrett faz parte dessa tradição literária ao escrever Viagens na minha terra. Nessa

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

novela, a viagem não serve apenas para entrelaçar os fatos ali tratados, mas serve em si como
elemento temático fundamental. A viagem como tema da obra está assinalada desde o primeiro
capítulo, onde o autor-narrador deixa claro que vai “nada menos que a Santarém”, tornando
sua novela uma crônica-ensaio. Através da viagem pelo interior do próprio país do autor-
narrador, busca-se a fonte do que é ser português em um momento de drásticas mudanças no
país.

O pano de fundo em Viagens na minha terra é a Revolução Liberal. Grosso modo, as ideias
liberais surgiram como oposição ao monarquismo, ao mercantilismo e ao domínio religioso.
Portugal, na época um país monarquista com fortes raízes católicas, via qualquer ideia
liberalista como antinacional.

O país já estava enfrentando diversas crises (as invasões de Napoleão e crise do colonialismo
no Brasil) e o embate entre Miguelistas (favoráveis ao monarquismo absolutista de então) e
Liberais acabou por gerar uma guerra civil, em 1830. O embate terminou com uma vitória dos
Liberais e a restauração da monarquia constitucional.

Almeida Garrett, que sempre lutou pelos ideais liberais, mantém nas Viagens este propósito,
através da narração de fatos do presente e do passado, sempre denegrindo àquele em favor
do outro. Para tanto, brinca-se também com a questão do verossímil, criando-se a ilusão do
verdadeiro através do uso de um tom calculadamente coloquial e uma aproximação com o
quotidiano.

Dessa forma, as digressões do narrador sobre os mais diversos temas, da literatura à política,
servem para demarcar ideologicamente a obra. O discurso do autor-narrador revela o caótico
estado em que se encontra Portugal, a corrupção da sociedade, a aristocracia decadente e o
modelo familiar burguês corrompido por atitudes individualistas. Assim, pode-se dizer que para
o narrador a crise moral coletiva tem origem na moral individual.

A personagem protagonista Carlos, aparece como símbolo deste embate entre tradição
(monarquismo) e modernidade (ideias liberais). Carlos não consegue se decidir entre Joaninha
(que representa o velho Portugal) e Georgina (representante do novo Portugal). Por fim, o
protagonista acaba por desistir de ambas, perdendo sua identidade e sua moral. Carlos termina
como uma representação de uma sociedade alienada e degradante.

Assim, a preocupação de Garrett em Viagens na minha terra é tentar despertar na nação


portuguesa a consciência da situação em que o país se encontrava e que direção pode ser
tomada para tentar mudar o rumo decadente que Portugal estava tomando. Porém, o próprio
autor-narrador não vê perspectivas de melhora, pois a imagem que o homem português tem de
si mesmo não é positiva. Dessa forma, apesar de conseguir enxergar um caminho para a
recuperação de Portugal, Garrett termina a obra com um tom pessimista.

Resumo da Obra

A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas
impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais
diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre
as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luis de Camões,
Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas,
temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama amoroso
que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem como pano de fundo as lutas
entre liberais e miguelistas (1830 a 1834).

O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de partir em uma viagem de
Lisboa à Santarém. Chegando a seu destino, o narrador começa a tecer comentários através
da observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de amor entre Joaninha e
Carlos.

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó, D. Francisca.
Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca,
Carlos. Ele está ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei
Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.

Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e volta para
Santarém dois anos depois, como frei. O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer
um poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.

Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra após
desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele reencontra sua prima
Joaninha. Eles trocam um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos tem
uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar ou não
a verdade para sua prima.

Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha. Após se
recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba
contando que Frei Dinis é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já morreu.

Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa. Porém, Georgina diz ter
ouvido de Frei Dinis toda a história de amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o
marido. Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha, porém, Georgina não o
aceita de volta.

Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das personagens: Carlos larga as
paixões e começa sua carreira na política como barão, mas depois de um tempo desaparece.
Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa. “Santarém
também morre; e morre Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.

Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões filosóficas,


reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto
modernos, e suas obras.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco.
Romântico, Deus me livre de o ser - ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa
palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa
passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo
“fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao
público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento
modernista.

Personagens

As personagens de "Viagens na Minha Terra" funcionam como uma visão simbólica de


Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do Império Português. O final do
drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão, representa
a própria crise de valores em que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar
um ciclo de mutações de caráter duvidoso e instável.

Temos, então, as seguintes personagens e suas possíveis interpretações simbólicas dentro da


obra:

Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações amorosas,

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida Garrett.


Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão ingênua, que escolhe a
reclusão religiosa como justificativa para não participar dos dilemas e conflitos históricos que
motivaram sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica heroína campestre do
Romantismo. Simboliza uma visão ingênua de Portugal, que não se sustenta diante da
realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a imprudência e a falta de
planejamento com que Portugal se colocava no governo dos liberalistas, levando a nação à
decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que no entanto, não é
mais capaz de justificar-se sem uma revisão de valores e de perspectivas.

Contextualização do romance – Romantismo Brasileiro

No caso do Brasil, tal estilo de época apresenta uma questão fundamental, que se
relaciona diretamente com o momento histórico (Independência) no qual se firmou: a
construção da identidade nacional. Nesse sentido, os autores da época descrevem
(inventam) um país dotado de uma natureza própria, exuberante e tropical, na qual os
portugueses colonizadores e os índios brasileiros se movimentam e relacionam, num processo
de ligação política, cultural e também étnica.

 Momento Histórico do Romantismo no Brasil: Grandes transformações políticas


marcam a história brasileira na primeira metade do século XIX. Num período de menos de
cinquenta anos vimos a transferência da família Real para o Rio de Janeiro (1808), a elevação
do Brasil à categoria de reino (1816), a independência (1822), um primeiro reinado (D. Pedro
I, 1822-1831), um período de regência (durante a menoridade de D. Pedro II, 1831-1840) e o
início de um longo segundo reinado, que se estenderia até 1889. Para o estudo do
Romantismo brasileiro é essencial que se compreenda o espírito que dominava esse primeiro
período da nova nação: a insatisfação com o alcance das reformas introduzidas por D. João
VI; o orgulho nacional despertado pela independência; os projetos de construção do novo
país; a luta pela manutenção da unidade nacional; os conflitos entre liberais e conservadores
na busca do modelo político; o conjunto, enfim, de embates e sentimentos de luta nacional
pela consolidação da autonomia.
Na segunda metade do século, já consolidada a independência e a unidade nacional, o
país conheceu um surto de desenvolvimento com a ampliação do comércio exterior e da
imigração europeia; o aumento da exportação de café e o início da industrialização. Duas
grandes campanhas envolveram os autores da última fase do Romantismo: a campanha
republicana (o Partido Republicano foi fundado em 1870) e a campanha abolicionista.
A implantação do Romantismo no Brasil está ligada ao projeto de construção nacional.
Os autores que se encarregaram da renovação dos padrões literários fizeram-no como quem
cumpria uma missão civilizadora, contribuindo para dotar o novo país de uma expressão
original e legítima dos sentimentos nacionais. O Romantismo teve uma duração de
aproximadamente meio século, evoluindo por três gerações de poetas. O ano de 1881, com a
publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e de O Mulato, de
Aluízio de Azevedo, é considerado o marco inicial do Realismo-Naturalismo.

 Conceitos do Romantismo: Imaginação criadora; capacidade artística de criar


mundos imaginários; idealização; amor à pátria; nacionalismo; evasão pela morte, pessimismo,
solidão; heroísmo; indianismo; culto ao passado heroico; medievalismo; religiosidade;
byronismo, condoreirismo; relativa liberdade de forma; sonoridade.

 Principais Características:

*Idealização: O escritor romântico não aceita a realidade tal como ela se apresenta, por isso
ele a idealiza, constrói um mundo perfeito habitado por seres perfeitos. É nesse sentido que
concebe o amor e a mulher. Lembrando a tradição lírica medieval, o ente amado surge como
um ser inatingível a que o poeta somente contempla. É o amor contemplativo ou platônico.

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PROJETO VERDENOVO 2014 - PORTUGUÊS

*Amor à pátria – Nacionalismo: A idealização volta-se também para a natureza e para a


pátria, como na poesia Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, revestida do mais puro
nacionalismo.
*Evasão pela morte, Pessimismo, solidão: Muitas vezes a idealização não dá conta dos
anseios do escritor, exasperando-o. Na incapacidade de permear o real de maneira lúcida, o
poeta evade-se, foge para um mundo construído à sua imagem e semelhança, ou foge para a
morte, para o sonho, para o mistério. Mostra-se um ser profundamente egocêntrico e
pessimista, isolado em si mesmo, consciente de sua completa solidão.
*Heroísmo: Embora os personagens românticos possam ser pessoas próximas da realidade, a
idealização acaba por torná-los diferenciados – muitas vezes, seres belos, fortes, valentes,
altivos, capazes de atitudes sublimes e até mesmo extremadas.
*Indianismo: Ainda ligado ao tema heroísmo, bem como a questão do nacionalismo, destaca-
se a linha indianista que, inspirada nas teorias do “bom selvagem”, conjuga a valorização da
gente americana com a idealização do índio como herói.
*Culto ao passado heroico: Os românticos sentem-se muito atraídos pelas origens nacionais,
cultuando um passado mítico, pleno de grandiosidade e heroísmo. Na Europa, há uma
revalorização da Idade Média e seus heróis (o cavaleiro medieval). No Brasil, pela razão óbvia
da não-existência de uma Idade Média, pouco dela se fala de forma direta, em substituição à
época medieval, cria-se o mito de uma época colonial de dimensões épicas, como se observa
nos romances de José de Alencar.
*Religiosidade: O Romantismo, opondo-se ao racionalismo da época anterior, pretendeu ser a
expressão profunda dos sentimentos humanos. Assim, acabou por ser uma literatura
impregnada de religiosidade, a qual é vista não apenas enquanto manifestação de fé, mas
também como válvula de escape para as agruras do mundo real. Em vários romances
românticos, a vida religiosa (o seminário, o convento) é uma alternativa às desilusões
(normalmente amorosas) dos personagens.
*Byronismo: Às vezes, os problemas do mundo real levam os românticos a uma atitude de
descaso pela realidade ou de rebeldia social, valorizando o “mau” comportamento e o lado
“satânico” da existência- vida boêmia, vícios, etc. A fonte inspiradora dessa atitude era
sobretudo a poesia de Byron.
*Condoreirismo: Uma atitude romântica que não pode ser confundida com a rebeldia
byroniana é aquela de efetiva luta por mudanças ou transformações sociais, visando a criação
de um mundo melhor. A poesia de Castro Alves é orientada para os deserdados, ou os
miseráveis, da sociedade – os escravos.
*Relativa Liberdade de Forma: Contrapondo ao rigor formal dos clássicos, os românticos
produzem uma obra menos rígida, o que leva a uma livre organização de estrofes, à
valorização dos ritmos varáveis e à quebra da “monotonia das rimas regulares”, com a
valorização dos versos brancos.

Til – José de Alencar

Estrutura do romance
A ação de Til ocorre na Fazenda das Palmas, localizada na região de Campinas, interior do
estado de São Paulo, e transcorre temporariamente a partir de 1826.

O livro é dividido em duas partes. A primeira serve como apresentação das personagens e das
tramas e é nela que conhecemos Berta, personagem central do romance e típico arquétipo da
heroína romântica. Nessa primeira metade da obra, o que mais chama a atenção é a
contrariedade do comportamento de Berta (cujo apelido é Til): sempre movida por boas
intenções, ela usa de sua influência e bondade para manipular as outras personagens.

Já na segunda metade do romance temos o desembaraço das tramas apresentadas e suas


revelações. Os cenários deixam de ter uma descrição objetiva e material para adquirir um
significado mais subjetivo, relacionado ao passado oculto das personagens. É nessa parte do
livro que acompanhamos Berta em seu descobrimento sobre a morte de sua mãe e suas
consequências. Em um final surpreendente, Berta abre mão de sua própria felicidade em prol
das demais personagens.

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Foco narrativo
O romance é narrado em terceira pessoa e o narrador é onisciente neutro, ou seja, ele conhece
todos os pensamentos e planos das personagens e os revela ao leitor, mas não há
intromissões autorais diretas (o autor falando com uma voz impessoal, na terceira pessoa,
dentro do próprio romance). A característica principal da onisciência é que o narrador sempre
descreverá a narrativa, mesmo em uma cena, da forma como ele a vê, e não como suas
personagens a veem.

Tempo
O tempo é predominantemente psicológico, ou seja, o romance não segue uma narrativa linear
e o narrador manipula o tempo conforme as circunstâncias. Assim, o narrador pode ir ao
passado e ao futuro sem obedecer às ordens do tempo cronológico.

Um retrato do Brasil rural do século XIX


A obra de José de Alencar pode ser dividida em quatro grupos. O primeiro deles, os romances
indianistas, produziu grande parte das maiores obras, não só de sua carreira, como da
literatura brasileira. Dentre elas, podemos citar Iracema, O Guarani e Ubirajara.

Já no segundo grupo, o dos romances históricos, encontram-se obras como Minas de Prata e
Guerra dos Mascates. O terceiro grupo nasce da vivência nas grandes cidades e da luta entre
o espírito conterrâneo e a invasão estrangeira: são os chamados romances urbanos de
Alencar. Dentre eles, podemos citar Lucíola, Diva e A pata da Gazela.

Por fim, temos o quarto grupo de romances do escritor: os romances regionalistas. Dentre as
obras deste período, podemos citar O Gaúcho, O Tronco do Ipê e Til. Esta nova fase na obra
de José de Alencar nasce da busca de uma nova identidade nacional. Após a independência
política do Brasil, os escritores românticos param de buscar na figura idealizada do índio o
modelo de brasilidade. Agora, o “ser brasileiro” não se encontra mais na floresta, entre rios e
animais selvagens, mas sim nas cantigas do povo, nas fazendas e até mesmo na corte.

Assim, a literatura romântica teve um papel social importantíssimo no processo de


independência do Brasil. Alencar, consciente da função social da literatura, buscou em seus
romances traçar um retrato no tempo (romances indianistas e históricos) e no espaço
(romances regionalistas e urbanos). Dessa forma, podemos dizer que Til, como um dos mais
destacados romances regionalistas de Alencar, é um retrato do Brasil rural do século XIX.

Porém, como autor romântico, Alencar não deixa de idealizar a realidade, em maior ou em
menor grau, em todas as suas obras. Assim, tanto nos romances históricos, quanto nos
indianistas e regionalistas, temos em comum o desejo de fuga da realidade presente para
outros tempos e outros lugares mais felizes.

Da mesma forma, as personagens principais de Alencar (com exceção talvez dos romances
urbanos) têm um porte heroico. São personagens inteiriças, que encarnam todas as virtudes
físicas e morais do herói. Assim, a personagem central de Til também não poderia escapar
desse arquétipo: Berta é a meiga e bela heroína, que atrai o carinho e a atenção de todos.
Sempre com a decisão e força de todo bom herói, não mede esforços para conseguir realizar
seus intentos e não hesita em se sacrificar pelo bem dos outros.

Outro ponto interessante que podemos tratar a respeito de Berta é que ela é um arquétipo das
virtudes cristãs: a caridade, a solidariedade, a fraternidade, entre outras. Moça simples e
bondosa, não tem nenhuma atitude estudada para ganhar proveito próprio. Sua influência
sobre as demais personagens da obra são reflexo de personalidade franca e atenciosa. Dessa
forma, Berta surge como elemento de ligação e fraternidade entre todos. Outro dado que

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sustenta esta interpretação é o fato de Berta ensinar rezas a Brás, sempre com a atitude
compassiva própria de uma freira.

Em seus romances regionalistas, José de Alencar tenta caracterizar melhor os grupos sociais
do Brasil do século XIX detalhando melhor alguns aspectos culturais. Dessa forma, vemos em
Til os costumes, festas e comemorações dos negros, que dançavam animadamente nas
senzalas, e do povo rural. Essa vivacidade da vida no campo contrasta diretamente com o
abandono e marginalização que sofrem esse povo.

Apesar de Alencar defender uma ideia de que o campo é que é uma área propícia para se
desenvolver uma cultura autenticamente brasileira, ele sabe que o futuro se dará nas cidades.
Tanto que, ao final de Til, todas as personagens vão embora para a cidade e Berta, que em sua
bondade resolve ficar para amparar os marginalizados (Jão, Brás e Zana), resta sozinha:

“Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os
esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria,
que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça. Era a flor da caridade, alma sóror”.

Resumo da Obra

Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão,
jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça
corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois
ela é pobre.

Influenciada por seu pai, Besita acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de
núpcias, parte em viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e
fica anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região, Luis procura
Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse encontro nasce Berta.

Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar sua esposa com uma filha, descontrola-se e
assassina Besita. Jão não consegue evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que
passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita,
enlouquece após presenciar o assassinato desta. Jão torna-se capanga dos ricos da região,
cometendo várias mortes e tornando-se o temido o Jão Fera.

Quinze anos depois de assassinar sua esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de
Barroso. Com o propósito de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o
reconhece. Porém, Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis.

Em uma segunda tentativa, dessa vez com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das
Palmas, Ribeiro incendeia o canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada
na cabeça. Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que
mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro.

Após isso, Jão Fera é preso em Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma
outra vingança, dessa vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse
momento chega Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho
de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada e João,
sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a polícia.

Convém neste ponto relatar a relação entre Brás e Berta. O jovem Brás possui problemas
mentais e é completamente excluído em sua família. Apesar de Brás ser apaixonado por Berta,
ela não pode corresponder aos sentimentos do rapaz, resolvendo então ensinar o abecedário e
rezas a ele. Porém, o menino tem grandes dificuldades em aprender, tendo apenas decorado o
acento "til", que o encantava. Para facilitar o aprendizado, Berta se autonomeia Til e passa a
ensinar Brás relacionando cada coisa com nomes de pessoas que ele conhecia.

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Em certo momento, Luis decide contar toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um
primeiro momento ela se entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve
reconhecer Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as
partes desagradáveis.

Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua
esposa escondem algo, ela implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua
mãe Besita, o que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele
sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai.

Luis quer que Berta vá morar com ele, mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem
e Berta fica na fazenda com Jão Fera e Brás.

Personagens

As personagens de Til são arquétipos da sociedade brasileira do século XIX: os escravos, os


aristocratas, o povo pobre. A sociedade da época estava estruturada basicamente em duas
camadas sociais: de um lado os aristocratas, grandes latifundiários e escravocratas, e de outro
lado estavam os escravos e a gente humilde do campo. Tanto na região rural, onde se passa o
romance, quanto nas grandes cidades quase não há classe média.

Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão
com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a
viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de
todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é
personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro.

Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá,
como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se
casar com Linda.

Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a
juventude, é sempre protegido por seu "capanga" João Fera.

Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de
Berta e Miguel, jovens de camada social inferior.

Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se
apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue.

Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar
Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe.

Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era
apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas.

Zana: negra que trabalhava para Besita e que elouquecera após presenciar o assassinato de
Besita.

Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica
anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina
Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta.

D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão.

Memórias de um Sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida

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Memórias de um Sargento de Milícias (“Memórias” a partir de agora, para simplificar.


Não confunda com Memórias Póstumas de Brás Cubas) é um romance romântico controverso,
pois possui muitas características que destoam do jeito romântico de ser. Manuel Antônio de
Almeida conseguiu criar uma obra excêntrica, que aponta para as primeiras manifestações do
próximo movimento literário, o Realismo.
A história de Memórias acontece nos tempos do rei D. João VI, e fala sobre
Leonardinho Pataca, filho de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça. A narrativa conta os
disparates de Leonardinho em sua vida desregrada, relacionando-se com muitas mulheres e
enfrentando a polícia local. No fim da história, Leonardinho faz as pazes com o Major Vidigal e
casa-se com sua primeira namorada, Maria Regalada.
Alguns elementos da história são românticos por excelência: a vitória do primeiro amor
e o final feliz são dois deles. Entretanto, o que mais nos chama a atenção são as
características que fogem ao padrão romântico. A história não envolve personagens da classe
dominante, retrata o cotidiano corriqueiro. Leonardinho não é um herói romântico, mas um anti-
herói, um malandro. As cenas descritas não são idealizadas e nem moralistas, ou seja, a visão
maniqueísta (isto é, existe um bem super bondoso e um mal super maldoso, sem meio termo)
inexiste. Finalmente, o sentimentalismo romântico é substituído pelo humor.
Para entender o espaço da obra Memórias de um sargento de milícias dentro do
Romantismo brasileiro, precisamos prestar atenção justamente a estes elementos que fogem
do padrão estabelecido na época.

Aspectos importantes da obra

Entre 1852 e 1853, Manuel Antônio de Almeida, publica Memórias de um Sargento de


Milícias em forma de folhetim na Pacotilha, suplemento humorístico do jornal Correio Mercantil.
A produção vem assinada com o pseudônimo Um Brasileiro. Memórias de um Sargento de
Milícias se assemelha às atuais telenovelas pela pluralidade de ações que contém, pelo
suspense criado pelo narrador, pela breve síntese de fatos anteriores feita em alguns capítulos,
pelas intrigas. Graças à vertiginosa secessão de cenas, acontecimentos e tipos sociais o
romance de Manuel Antônio de Almeida é difícil de ser resumido, no entanto, pode-se
considerar que todas as ações são amarradas pela história de Leonardo e Luisinha – um casal
que se forma após superadas as fatalidades. São narradas as memórias de Leonardo; porém,
não é ele o narrador delas. Mesmo porque há fatos e atos que somente o narrador onisciente
poderia fornecer aos leitores. E esse narrador observador, que “amarra” todos os
acontecimentos, não faz parte da história.
A novela escrita por Manuel Antônio de Almeida é considerada, por traduzir tendências
pouco associadas ao Romantismo, precursora do Realismo. Imparcial no tratamento das
personagens torna-as mais dinâmicas, menos suscetíveis de descrições como a que está
sujeitas as personagens românticas. Limita as ações a um espaço – geográfico e social – e um
tempo. Fica no Rio de Janeiro do primeiro quartel do século XIX (“Era no tempo do rei”) e no
ambiente suburbano dos barbeiros e comadres.
Dentro desse meio são possíveis as aventuras de Leonardo. Foi moleque, coroinha
serviçal do rei, soldado, e só depois encontrou a felicidade no casamento. Como a felicidade é
estática e a mola do livro é o movimento, o casamento encerra as travessuras do herói. O
romance de costumes tende para a norma, para caracterização de tipos mais do que para
análises de pessoas. As personagens carecem de essência psicológica, são desprovidas de
aprofundamentos; uma vez caracterizadas, não apresentam surpresas. Leonardo é definido
uma vez, aos quatro anos e, desde as primeiras até as ultimas páginas, é o mesmo: traquinas,
esperto, malcriado, simpático e ágil. As Memórias são vazadas em linguagem simples e direta;
contam casos de maneira imparcial e, por isso, conseguem captar os costumes de forma
objetiva, longe das distorções românticas.
Sob o olhar divertido, irônico e “neutro” do narrador, desfilam os tipos do mundo da
ordem e do mundo da desordem. A amoralidade de suas personagens, que oscilam à vontade
por polos opostos, permitiu que a narrativa fosse classificada como “romance sem culpa”. A
malandragem que o povoa é irreal: não trabalha, não passa fome. A sociedade que a contém é
permeável à ascensão social, pois nela tudo é móvel, tudo é provisório. A então realidade do
trabalho escravo é omitida: nem uma passagem do livro consagra alusão a esse problema.
Tudo é festa e patuscada nesse adorável Rio de Janeiro em que o bom barbeiro, padrinho
dedicado, é também ladrão e perjuro; o temível e rigoroso Major Vidigal sabe, ao mesmo

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tempo, ser generoso e humano; Leonardo, o respeitável sargento de milícias, é leal com os
malandros; e por aí afora.
No romance de Manuel Antônio, a psicologia das personagens é sacrificada em prol
das situações coletivas. A ação de um tipo é semelhante à de outro. “ Tipo” porque muitas das
personagens, sem nome, têm como referência algo do físico ou de sua profissão. O apelido,
ligado ao prenome, é outra maneira de distinção – costume do Rio imperial da época de D.
João VI. Disso nascem o compadre barbeiro, a comadre parteira, Maria da Hortaliça, Maria
Regalada, etc.
A observação de Manuel Antônio de Almeida é aguda. Seu romance é pleno de
realismo – não aquele ortodoxo e cientificista do século XIX. É um livro inclassificável, por
conter elementos do Romantismo, então no auge, e algo mais.

Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis

Ao criar um narrador que resolve contar sua vida depois de morto, Machado de Assis muda
radicalmente o panorama da literatura brasileira, além de expor de forma irônica os privilégios
da elite da época.

Narrador
A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um
defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida
contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o
narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as
memórias da forma como melhor lhe convém.

Foco Narrativo
Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-
observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus
sentimentos e o que pensa da vida. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos
permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX.

Tempo
A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse
modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à
revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do
nascimento e dos fatos da vida.

No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância,


adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo
título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro,
ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste
em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que
é capaz de escrever.

O pacto de verossimilhança sofre um choque aqui, pois os leitores da época, acostumados com
a linearidade das obras (início, meio e fim), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum
situação.

Não-realizações
Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do
século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios
antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos
linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.

O romance não apresenta grandes feitos, não há um acontecimento significativo que se realize
por completo. A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás
Cubas não se casa; não consegue concluir o emplasto, medicamento que imaginara criar para
conquistar a glória na sociedade; acaba se tornando deputado, mas seu desempenho é
medíocre; e não tem filhos.

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A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam
sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o
vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são
narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim,
esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do
século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um
representante.

O que está em jogo é se esses caprichos vão ou não ser realizados. Alguns exemplos: a
hesitação ao começar a obra pelo fim ou pelo começo; comparar suas memórias às sagradas
escrituras; desqualificar o leitor: dar-lhe um piparote, chamá-lo de ébrio; e o próprio fato de
escrever após a morte. Se Brás Cubas teve uma vida repleta de caprichos, em virtude de sua
posição de classe, é natural que, ao escrever suas memórias, o livro se componha desse
mesmo jeito.

O mais importante não é a realização ou não dessas veleidades, mas o direito de tê-las, que
está reservado apenas a uns poucos da sociedade da época. Veja-se o exemplo de Dona
Plácida e do negro Prudêncio. Ambos são personagens secundários e trabalham para os
grandes. A primeira nasceu para uma vida de sofrimentos: “Chamamos-te para queimar os
dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado pro outro,
na faina, adoecendo e sarando…”, descreve Brás. Além da vida de trabalhos e doenças e sem
nenhum sabor, Dona Plácida serve ainda de álibi para que Brás e Virgília possam concretizar o
amor adúltero numa casa alugada para isso.

Com Prudêncio, vê-se como a estrutura social se incorpora ao indivíduo. Ele fora escravo de
Brás na infância e sofrera os espancamentos do senhor. Um dia, Brás Cubas o encontra,
depois de alforriado, e o vê batendo num negro fugitivo. Depois de breve espanto, Brás pede
para que pare com aquilo, no que é prontamente atendido por Prudêncio. O ex-escravo tinha
passado a ser dono de escravo e, nessa condição, tratava outro ser humano como um animal.
Sua única referência de como lidar com a situação era essa, afinal era o modo como ele
próprio havia sido tratado anteriormente. Prudêncio não hesita, porém, em atender ao pedido
do ex-dono, com o qual não tinha mais nenhum tipo de dívida nem obrigação a cumprir.

Os personagens da obra são basicamente representantes da elite brasileira do século XIX. Há,
no entanto, figuras de menor expressão social, pertencentes à escravidão ou à classe média,
que têm significado relevante nas relações sociais entre as classes. Assim, "Memórias
Póstumas de Brás Cubas", além de seu enorme valor literário, funciona como instrumento de
entendimento desse aspecto social de nossas classes, como se verá adiante nas
caracterizações de Dona Plácida e do negro Prudêncio.

A sociedade da época se estruturava a partir de uma divisão nítida. Havia, de um lado, os


donos de escravos, urbanos e rurais, que constituíam a classe mandante do país. Estão
representados invariavelmente como políticos: ministros, senadores e deputados. De outro, a
escravidão é a responsável direta pelo trabalho e pelo sustento da nação e, por assim dizer,
das elites. No meio, há uma classe média formada por pequenos comerciantes, funcionários
públicos e outros servidores, que são dependentes e agregados dos favores dos grandes
privilegiados.

Resumo da obra

A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época,
é marcada por privilégios e caprichos patrocinados pelos pais. O garoto tinha como “brinquedo”
de estimação o negrinho Prudêncio, que lhe servia de montaria e para maus-tratos em geral.
Na escola, Brás era amigo de traquinagem de Quincas Borbas, que aparecerá no futuro
defendendo o humanitismo, misto da teoria darwinista com o borbismo: “Ao vencedor, as
batatas”, ou seja: só os mais fortes e aptos devem sobreviver.

Na juventude do protagonista, as benesses ficam por conta dos gastos com uma cortesã, ou
prostituta de luxo, chamada Marcela, a quem Brás dedica a célebre frase: “Marcela amou-me

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durante quinze meses e onze contos de réis”. Essa é uma das marcas do estilo machadiano, a
maneira como o autor trabalha as figuras de linguagem. Marcela é prostituta de luxo, mas na
obra não há, em nenhum momento, a caracterização nesses termos. Machado utiliza a ironia e
o eufemismo para que o leitor capte o significado. Brás Cubas não diz, por exemplo, que
Marcela só estava interessada nos caros presentes que ele lhe dava. Ao contrário, afirma
categoricamente que ela o amou, mas fica claro que, naquela relação, amor e interesse
financeiro estão intimamente ligados.

Apaixonado por Marcela, Brás Cubas gasta enormes recursos da família com festas, presentes
e toda sorte de frivolidades. Seu pai, para dar um basta à situação, toma a resolução mais
comum para as classes ricas da época: manda o filho para a Europa estudar leis e garantir o
título de bacharel em Coimbra.

Brás Cubas, no entanto, segue contrariado para a universidade. Marcela não vai, como
combinara, despedir-se dele, e a viagem começa triste e lúgubre.

Em Coimbra, a vida não se altera muito. Com o diploma nas mãos e total inaptidão para o
trabalho, Brás Cubas retorna ao Brasil e segue sua existência parasitária, gozando dos
privilégios dos bem-nascidos do país.

Em certo momento da narrativa, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor.
Enamora-se de Virgília, parente de um ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no
casamento com ela um futuro político. No entanto, ela acaba se casando com Lobo Neves, que
arrebata do protagonista não apenas a noiva como também a candidatura a deputado que o pai
preparava.

A família dos Cubas, apesar de rica, não tinha tradição, pois construíra a fortuna com a
fabricação de cubas, tachos, à maneira burguesa. Isso não era louvável no mundo das
aparências sociais. Assim, a entrada na política era vista como maneira de ascensão social,
uma espécie de título de nobreza que ainda faltava a eles.

Personagens

Brás Cubas: filho abastado da família Cubas, é o narrador do livro; conta suas memórias,
escritas após a morte, e nessa condição é o responsável pela caracterização de todos os
demais personagens.

Virgília: grande amor de Brás Cubas, sobrinha de ministro, e a quem o pai do protagonista via
como grande possibilidade de acesso, para o filho, ao mundo da política nacional.

Marcela: amor da adolescência de Brás.

Eugênia: a “flor da moita”, nas palavras de Brás, já que era filha de um casal que ele havia
flagrado, quando criança, namorando atrás de uma moita; o protagonista se interessa por ela,
mas não se dispõe a levar adiante um romance, porque a garota era coxa.

Nhã Lo Ló: última possibilidade de casamento para Brás Cubas, moça simples, que morre de
febre amarela aos 19 anos.

Lobo Neves: casa-se com Virgília e tem carreira política sólida, mas sofre o adultério da
esposa com o protagonista.

Quincas Borba: teórico do humanitismo, doutrina à qual Brás Cubas adere, morre demente.

Dona Plácida: representante da classe média, tem uma vida de muito trabalho e sofrimento.

Prudêncio: escravo da infância de Brás Cubas, ganha depois sua alforria.

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O Cortiço - Aluísio de Azevedo

Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas,
que explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e
do momento histórico.
Ao ser lançado, em 1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica, chegando a
obscurecer escritores do nível de Machado de Assis. Isso se deve ao fato de Aluísio de
Azevedo estar mais em sintonia com a doutrina naturalista, que gozava de grande prestígio na
Europa. O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de
pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do século XIX.
Evidentemente, como obra literária, ele não pode ser entendido como um documento histórico
da época. Mas não há como ignorar que a ideologia e as relações sociais representadas de
modo fictício em O Cortiço estavam muito presentes no país.

Rigor Científico
Essa criação de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance
L’Assommoir, do escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor científico na
representação da realidade. A intenção do método naturalista era fazer uma crítica
contundente e coerente de uma realidade corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio combatem,
como princípio teórico, a degradação causada pela mistura de raças.
Por isso, os dois romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem
desvalidos de várias etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance.
O narrador compara o cortiço a uma estrutura biológica (floresta), um organismo vivo que
cresce e se desenvolve, aumentando as forças daninhas e determinando o caráter moral de
quem habita seu interior.

Narrador

A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento
de tudo), como propunha o movimento naturalista. O narrador tem poder total na estrutura do
romance: entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se
fosse um cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico.
O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o
narrador se apartasse, à semelhança de um deus, do mundo por ele criado. No entanto, isso é
ilusório, porque o procedimento de representar a realidade de forma objetiva já configura uma
posição ideologicamente tendenciosa.

Tempo

Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho


da narrativa. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. Há, no
entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o
enriquecimento de João Romão.

Espaço

São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de


casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e
a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão
a pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do
comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século
XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a
exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral
americano funciona como elemento corruptor do homem local.

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Enredo

O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para


acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus
objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o
ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem
estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja
comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de
relações entre os dois.
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão
trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um
fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de
barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar
uma posição social reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao
teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.
No Cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira.
Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o
romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português
Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se
uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão
e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival,
João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se
transformar na Vila João Romão. O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede
a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por
Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens
acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia
a sua donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada,
Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.

Alegoria do Brasil

Mais do que empregar os preceitos do naturalismo, a obra mostra práticas recorrentes


no Brasil do século XIX. Na situação de capitalismo incipiente, o explorador vivia muito próximo
ao explorado, daí a estalagem de João Romão estar junto aos pobres moradores do cortiço. Ao
lado, o burguês Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu
palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cortiço. Por isso pode-se dizer que O
Cortiço não é somente um romance naturalista, mas uma alegoria do Brasil.
O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era provar, por
meio da obra literária, como o meio, a raça e a história determinam o homem e o levam à
degenerescência.
A obra está a serviço de um argumento. Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de
raças em um mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa
degradação humana. Mas, para além disso, o livro apresenta outras questões pertinentes para
pensar o Brasil, que ainda são atuais, como a imensa desigualdade social.

A Cidade e as Serras - Eça de Queirós

Eça de Queirós empreende grandes mudanças no estilo da prosa portuguesa, ao


introduzir diversas alterações na sintaxe e no vocabulário de suas obras, tentando modernizar
o modelo antigo de escrever. Dizemos que o autor passa por três períodos de sua produção
literária: um primeiro momento na juventude, ainda influenciado pelo Romantismo; o segundo
momento com seus romances mais críticos à sociedade burguesa e uma terceira fase

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composta por um realismo mais suave, com mais elaboração artística, em que procurava
entender a sociedade burguesa ainda de forma crítica, mas sem o elemento naturalista (veja
logo adiante) que caracterizou a segunda fase. “A Cidade e as Serras” faz parte deste último
momento.
Muito resumidamente, a história trata de Jacinto de Tormes, fidalgo português
riquíssimo cujo palacete é repleto das mais espetaculares maravilhas que o mundo moderno
pode oferecer. José Fernandes, um velho amigo (e narrador) vai visitá-lo um dia e descobre
que Jacinto passa por uma tristeza profunda. O fidalgo é dono de terras no interior de Portugal
e precisa visitá-las. Chegando lá, descobre os encantos de uma vida rural e simples, longe das
turbulências e da artificialidade da sociedade urbana.
Apesar de mostrar uma forte idealização da vida rural, a obra não deixa de criticar a
vida completamente estéril na cidade, em oposição à felicidade que pode ser encontrada no
campo.

Contextualização do Romance – Naturalismo Português

A palavra naturalismo vem do latim e significa crença no natural. Esta escola literária surge
praticamente em concomitância com o realismo e é muito difícil falarmos delas separadamente.
Em 1857, no mesmo ano em que no Brasil surgia O guarani, de José de Alencar, na França foi
publicado Madame Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da
literatura universal.
Em 1867, Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.

Tem início, assim, uma nova vertente no campo das artes, genericamente denominada
Realismo, voltada para a análise da realidade social, em nítida oposição à arte romântica, de
gosto burguês.

É muito comum o emprego dos termos Realismo e Naturalismo associados. Algumas vezes,
são termos sinônimos; outras vezes, aparecem como duas estéticas literárias muito próximas
uma da outra. No entanto, existe uma fronteira entre uma coisa e outra: é possível perceber
algumas diferenças entre a prosa realista e a naturalista, apesar do grande número de pontos
em comum.

Alguns preferem ver o Naturalismo como uma espécie de prolongamento mais forte do
Realismo. Sob esse ponto de vista, o Naturalismo seria um Realismo exacerbado. Seria uma
forma mais aprofundada de encarar o homem.

Os naturalistas sempre estariam vendo o lado patológico do homem, o seu envolvimento com
um destino que ele não consegue modificar; as situações de desequilíbrio muito fortes; o
homem que se comporta como um animal, obedecendo a instintos; o homem condicionado ao
meio em que vive, subjugado pelo fator da hereditariedade física e patológica, que determina o
comportamento dos personagens.

Aspectos Importantes da obra A Cidade e as Serras

Publicado em 1901, no ano seguinte ao da morte de Eça de Queirós, o romance A Cidade e as


Serras foi desenvolvido a partir da ideia central contida no conto Civilização, datado de 1892.
Esta obra pertence ao período naturalista do autor e prevalece a ideia de que deve haver um
equilíbrio entre a vida pacata das serras de Portugal e a vida corrida e boemia da Cidade Luz.
Na obra, a apologia da natureza não pode ser confundida com o elogio da mesmice e
da mediocridade da vida campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se de agigantar o espírito
lusitano, em seu caráter ativo e trabalhador. Assim, podemos afirmar que depois da tese (a
hipervalorização da civilização) e da antítese (a hipervalorização da natureza), o protagonista
busca a síntese, ou seja, o equilíbrio, que vem da racionalização e da modernização da vida no
campo.

Um argumento para tal interpretação está no fato de que, quando se desloca para a serra,

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Jacinto sente uni irresistível ímpeto empreendedor, que luta inclusive contra as resistências dos
empregados ao trabalho.

Personagens
Uma particularidade da personagem José Fernandes está na importância que dá aos instintos,
sobrepondo-os à sua capacidade de sentir ou de pensar. Assim, tanto desilusões amorosas
quanto preocupações sociais são tratadas com almoços extraordinários. Ao longo do romance
ele procura provar o engano que as crenças civilizatórias de seu amigo, Jacinto de Tormes,
podem conduzir, embora o admire exageradamente.

Jacinto de Tormes é filho de uma família de fidalgos portugueses, mas nascido e criado em
Paris. Se cerca de artefatos da civilização e de tudo o que a ciência produz de mais moderno.
Entretanto, o excesso de ócio e conforto o entedia, a ponto de fazê-lo perder o apetite, a sede
lendária, a robustez física e a disposição intelectual da juventude. Levado pelas circunstâncias
a conhecer suas propriedades nas serras portuguesas, apaixona-se pelo campo, lá
introduzindo algumas inovações.

Mesmo em contato com a natureza, Jacinto não abandona alguns de seus hábitos urbanos.
Desenha futuras hortas, planeja bibliotecas na quinta, traz banheiras e vidros desconhecidos
dos habitantes do lugar. Por fim, manda instalar uma linha telefônica nas serras, o que
comprova que no fundo não houve grandes modificações em suas crenças.

Ele representa não apenas uma crítica do escritor à ultracivilização, mas também a utopia de
um novo Portugal, uma nova pátria, capaz de modernizar-se, sem perder as tradições e as
particularidades nacionais.

Trata-se, enfim, de um D. Sebastião atualizado pelo socialismo e pelo positivismo. A trajetória


percorrida pelo protagonista Jacinto de Tormes deve-se em grande parte, às instâncias e
insistências de José Fernandes, que ao mesmo tempo é contador da história e um de seus
personagens principais.

Os personagens ligados à vida no campo caracterizam-se por atitudes simples e transparentes,


embora tradicionalistas. Um exemplo pode ser o avô de Jacinto, Gatão, cuja ligação ancestral
com o referido ambiente manifesta-se pela total devoção à realeza absolutista, que o leva a
abandonar Portugal depois da expulsão de D. Miguel. Entretanto, a melhor representação
desse grupo de personagens da obra pode ser atribuída a Joaninha, a mulher por quem Jacinto
se apaixona, graças a seus atributos naturais e sua simplicidade de espírito.

Vidas Secas - Graciliano Ramos

Vamos relembrar algumas características marcantes de Vidas Secas, do Graciliano


Ramos? Bom, em primeiro lugar, o Graciliano tem aquele estilo sem adjetivos, com frases
curtas e bem, hm... seco. Ele é bem crítico, e mostra a relação do domínio da linguagem
com o poder. É sempre legal lembrar o caso do Fabiano com o Soldado amarelo, que o rouba
no jogo mas que acaba levando a melhor porque o Fabiano não consegue argumentar. As
personagens têm uma dificuldade muito grande de se comunicar, e aqui a cena marcante
é aquela em que, em volta de uma fogueira, a família de Fabiano fica fazendo alguns grunhidos
ao invés de conversar de fato. O que isso lembra? Homens das cavernas! O próprio Fabiano
bate no chão em um certo momento no livro e diz “você é um bicho, Fabiano!” E outra coisa
muito importante em relação ao estilo de Graciliano é que ele usa o discurso indireto livre,
ou seja, em vários momentos a fala do narrador (de terceira pessoa) se confunde com os
pensamentos ou falas da própria personagem!

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Contextualização do Romance – Modernismo Brasileiro


Segunda geração modernista 1930-1945

A geração de 30, cuja produção literária tem como característica fundamental a


conciliação entre elementos da tradição e elementos de modernidade, nacionalismo e
universalismo. Em 1942, numa espécie de “balanço” da Revolução Modernista de 1922, Mário
de Andrade ressalta três grandes conquistas dela recorrentes: “o direito permanente à pesquisa
estética, a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência
criadora nacional”. Por outro lado denuncia, como ponto negativo, uma distância entre o fazer
literário e as multidões, a realidade político-social do Brasil.
Os anos de 1930 e 1945 são tomados como marcos temporais da segunda geração
modernista. Do ponto de vista histórico e político, o ano de 1930 inaugura um novo período no
Brasil. Com o desgaste da política do café-com-leite, que caracterizou a Primeira República, os
conflitos gerados pelas insurreições militares (Tenentismo e Coluna Prestes), a crise política
das oligarquias e a “quebra” da Bolsa de Nova Iorque (1929), entre outros fatores, deflagra-se a
Revolução de 30 e, com ela, abre-se um espaço de mudanças.
É o início da Era Vargas, marcada pela preocupação em promover a conciliação entre
os setores agrários e os urbanos e em diversificar o capital, até então concentrado no café. A
tendência à industrialização acentua-se, remodelando nossa estrutura econômica
agroexportadora. A modernização dos engenhos açucareiros do Nordeste faz parte desse
quadro geral de mudanças e constitui um dos grandes temas da prosa neo-realista da época.
Em termos culturais amplos, trata-se de um momento de busca de novos caminhos:
filosóficos, sociais, políticos, existenciais. Na literatura, a segunda geração do Modernismo é a
expressão desse momento.

A prosa neo-realista no Brasil

A segunda geração do Modernismo brasileiro correspondeu a um estado adulto e


amadurecido de nossa literatura moderna. Com relação à prosa, uma multiplicidade de
tendências ganha espaço. Na maioria dos casos, trata-se de escritores que aproveitam a
tradição de análise psicológica e social herdada do século XIX, alguns apresentando enfoque
metafísico e não menos agudo senso dramático dos problemas humanos.
Nesse panorama destaca-se a prosa regionalista do Nordeste. Esta foi a tendência que
alcançou maior repercussão e importância na época, por ter assumido uma visão crítica das
relações sociais, focalizando os problemas da seca, do coronelismo e da decadência do
modelo oligárquico patriarcal, com a extinção dos antigos engenhos açucareiros.
Denominamos Neo-Realismo o tipo de Realismo em que o caráter cientificista e determinista
do Naturalismo do século XIX é substituído por um enfoque político, de problemas regionais
como a condição e os costumes do trabalhador rural, a seca, a miséria etc. Tais problemas,
vistos na perspectiva da luta de classes, da opressão do homem pelo homem que caracteriza a
sociedade capitalista, ganham conotação universal e intemporal, saindo do pitoresco e do
localismo tradicionais em nossa produção regionalista.
Graciliano Ramos é o escritor que incorporou a realidade nordestina em seus relatos.
Consegue mostrar as condições subumanas do caboclo sertanejo, as suas reações devidas à
estreita relação com a paisagem agreste e árida e a passividade ante os mais poderosos. Por
outro lado, coloca o sentido trágico da existência tanto nos personagens regionais como nos
urbanos. É importante acrescentar que, ao lado da profunda análise social, ele investiga o
psicológico, focalizando os dramas de cada um e conferindo uma dimensão universal à sua
obra. Utiliza linguagem clara, correta, precisa, vocabulário escolhido e reduzido ao essencial.
Vidas Secas é um romance composto de quadros, tendo como personagens o
camponês nordestino, Fabiano, sua mulher Sinhá Vitória e seus filhos, o menino mais velho e o
menino mais novo, além de uma cachorra chamada Baleia. O autor retrata a condição
subumana dessa família, começando o romance com os protagonistas fugindo da seca. Retrata
um período de breve estabilização, numa propriedade abandonada, e quando a seca ameniza,
os donos da terra os expulsam, terminando o livro com uma nova retirada.

Aspectos importantes da obra Vidas Secas

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Publicado em 1938, Vidas Secas aborda a problemática da seca e da opressão social,


é uma narrativa em terceira pessoa. A obra tem um caráter fragmentário e, por isso, houve
durante algum tempo certa controversa quanto a sua classificação. Houve quem a
considerasse novela, devido ao fato de se tratar de um conjunto de “quadros”, ou seja,
coletânea de episódios, que mantêm entre si relativa independência.
A secura prevalece no livro: não são apenas as vidas das personagens e as paisagens
que são atravessadas pela seca, mas também a linguagem do livro. As frases são curtas,
lacônicas, o vocabulário é mínimo, a própria “montagem” da narrativa é exígua, espécie de
coleta de quadros que se reduzem a si mesmos, sem se articular no desenho mais amplo de
uma história a que falta substância suficiente para o qualitativo “Romance”.

*Narrador: Essa é a primeira obra de Graciliano Ramos, na qual ele usa o foco narrativo de 3ª
pessoa. Esse narrador onisciente nos revela os pensamentos, desejos e frustrações dos
personagens. Não é difícil antever que, devido à precariedade da situação em que tais
personagens vivem, eles não se encontrem em condições de grandes arroubos comunicativos.
Desse modo, portanto, fica claro que o autor lança mão do discurso indireto livre (quando há
sobreposição entre as falas do narrador e do personagem).

*Estrutura: O livro é dividido em 13 capítulos que matem certa autonomia podendo, portanto,
serem lidos isoladamente ou como narrativa completa. No entanto, ao que parece, a melhor
maneira de interpretar tal “independência entre as partes” seria como uma sugestão da
incomunicabilidade que serve de temática subjacente à obra.

*Tempo: A ação ocorre entre dois períodos de seca (apresentados no primeiro e no último
capítulos). Embora haja algumas referências cronológicas (menção de estações) presentes na
obra, há uma diluição do tempo cronológico para o predomínio do psicológico. Além disso, o
modo como o autor trabalhou o aspecto temporal (cíclico) associado à temática de fundo
(retirantes fugindo da seca) conferem certo aspecto mítico a essa obra.

*Espaço: Sertão Nordestino, Caatinga.

*Enredo: O que instiga no enredo dessa narrativa, marcado por uma escassez de enventos, é
justamente seu caráter fragmentário aliado a uma circularidade, que lhe confere propriedade
alegórica e mítica. Há no enredo de Vidas Secas uma ligação do fim com o começo, formando
um anel de ferro, em cujo circulo sem saída se fecha a vida esmagada da pobre família de
retirantes-agregados, mostrando a que a poderosa visão social de Graciliano Ramos neste livro
não depende do fato de ter conseguido criar em todos os níveis, desde o pormenor do discurso
até o desenho geral da composição, os modos literários de mostrar a visão dramática de um
mundo opressivo.

Personagens principais

Fabiano: O seu caráter isolado, sua rusticidade e o pouco vocabulário aproximam-no de um


animal, de um bicho, como ele próprio declara a certa altura: “Você é um bicho, Fabiano”. Pois,
como o narrador revela, ele “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais”. A certa
altura o narrador comenta que ele se sente mais confortável em cima de um cavalo do que
caminhando – é como se ele se fundisse à montaria. Fabiano por ser um homem sem
instrução, é vítima de todo o tipo de exploração, a começar pelo patrão, que lhe toma quase
toma quase todo o dinheiro na hora em que está negociando a compra do gado; depois vem o
episódio do soldado amarelo que, num abuso de autoridade o prende sem nenhum critério. Ele
e sua família representam pessoas sofridas que, na sua simplicidade, retratam o descaso
social evidente na sociedade brasileira.
Sinhá Vitória: Tem o desejo de adquirir uma cama de couro (como a do seu Tomás da
bolandeira). Os esforços nesse sentido parecem inúteis, pois eles têm muito pouco em que
economizar. Nesse aspecto, o narrador mostra o inconformismo de Sinhá Vitória com a sua
situação, ao contrário do marido, que aceita os fatos de forma mais passiva. Fabiano, num
dado momento, a compara com um papagaio que morrera. No entanto, ela se mostra mais
esperta que o marido, além de articular as palavras melhor do que ele.

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Menino mais novo: Caracterizado como uma criança ingênua que idealiza o pai e deseja ser
como ele. Acredita que precisa demonstrar a valentia e a destreza que percebe em Fabiano
quando esse doma bichos bravos como cavalos e bois. Perceba que esta personagem, assim
como seu irmão, é tão desumanizada pelas condições sociais opressoras que nem recebe um
nome próprio.
Menino mais velho: Demonstra certa curiosidade, tentando compreender e contextualizar
algumas expressões desconhecidas, como no momento em que tenta entender o significado da
palavra “inferno”. Para isso, recorre ao pai, que lhe ignora a pergunta. Sem êxito, dirige-se a
mãe, de quem recebe informações insuficientes sobre o que saber. Com a insistência do
menino, ela se irrita e o agride, cerceando assim o direito ao conhecimento.
Baleia: Se por um lado vê-se uma família que se degrada chegando à condição de animal, por
outro, nota-se um animal que parece humanizar-se. Baleia, muitas vezes, solidariza-se com os
retirantes, como no momento em que matou o preá e não comeu sozinha, entregou-o a
Fabiano.
Soldado Amarelo: Simboliza a autoridade governamental. Fabiano, que ao ir à cidade fazer
compras, acaba por jogar cartas com o soldado amarelo. Depois de um pequeno
desentendimento, Fabiano é preso e espancado. Ele tenta compreender a situação, mas não
consegue devido à falta de organização de seus pensamentos. Revolta-se contra a injustiça
que sofre, desejando vingança, mas acaba se conformando.

Capitães da Areia - Jorge Amado

Retrata a vida de menores abandonados. Um bando, liderado por Pedro Bala, vive no
velho trapiche. Compõe o romance a partir de seus componentes individuais – Dora, amante de
Pedro Bala; o Professor, que revela dotes artísticos; o Gato, conquistador; o Sem-Pernas,
revoltado; o Volta Seca, afilhado de Lampião. Relata o dia-a-dia das crianças à cata de
alimentos e dinheiro, acentuando os desníveis sociais que levam à marginalização.
O romance começa com uma reportagem fictícia intitulada “Crianças ladronas”. A
matéria narra minuciosamente um assalto à casa de um rico negociante, o comendador José
Ferreira. De acordo com o texto, o crime fora praticado pelos Capitães da Areia, descritos como
“o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”. Depois da reportagem,
a introdução apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são do
secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de menores a responsabilidade pelos atos
criminosos dos Capitães de Areia) e do juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir
os menores é do chefe de polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho estivera preso no reformatório, narra os horrores que
eram praticados ali contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante
personagem e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua
experiência no reformatório. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do diretor do
reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos dispensados aos menores na
instituição que dirige o que é uma hipocrisia, como se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de
matérias jornalísticas, a tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e,
ao mesmo tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja, apesar
de ser um romance, Capitães de Areia revela uma situação social real. De outro lado, as
notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais
mais ricas, podem estar permeadas de elementos mentirosos. O descaso social com os
meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado,
seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre
José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do
narrador.

Aspectos importantes da obra

Narrador: O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente (que sabe
tudo o que ocorre). Essa característica narrativa possibilita que seja cumprida uma tarefa
facilmente notada pelo leitor: mostrar o outro lado dos Capitães da Areia. O narrador, ao
penetrar na mente dos garotos, apresenta não apenas as atitudes que a vida bestializada os

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obriga a tomar, mas também as aspirações, os pensamentos ingênuos e puros, comuns a


qualquer criança. O narrador não se esforça por ser imparcial; participa com seus comentários,
muitas vezes sutis, mas sempre favoráveis aos Capitães da Areia.

Tempo: A obra apresenta tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e horas
conforme exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe dos Capitães da
Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5 anos. Hoje tem 15 anos. Há
dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia."

Espaço: A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte


Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador), no
qual, os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao
trânsito de pessoas que trabalhavam e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de
Salvador, local visado pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana,
como o comendador mencionado no início da narrativa.

Linguagem: Coloquial e regional, de discurso indireto (o narrador reproduz, apresenta a partir


de seu ponto de vista, a fala das personagens).

Enredo: Tendo como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia
trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado no cais do
porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou
fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa. Aproximadamente quarenta meninos de
todas as cores, entre nove e dezesseis anos, dormiam nas ruínas do velho Trapiche. Tinham
como líder Pedro Bala, rapaz de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto.
Durante o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade,
perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou praticando
pequenos furtos para poder comer. Esse contato precoce com a dura realidade da vida adulta
fazia com que se tornassem agressivos e desbocados. Além desses pequenos expedientes, os
Capitães da Areia praticavam roubos maiores, o que os tornou conhecidos, temidos e
procurados pela polícia, que estava em busca do esconderijo e do chefe dos capitães.
Esses meninos se pegos, seriam enviados para o Reformatório de Menores, visto pela
sociedade como um estabelecimento modelar para a criança em processo de regeneração,
com trabalho, comida ótima e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião dos menores
infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigo, preferiam as agruras
das ruas e da areia a essa falsa instituição.

Personagens

Pedro Bala: Jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da
Areia, ágil, esperto, sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios
Maloqueiros em Aracaju, depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como
perigoso inimigo da ordem estabelecida.
Professor:Intelectual do grupo deu início às leituras depois de um assalto em que roubara
alguns livros. Além de entreter os garotos, narrando as aventuras que lê, o Professor ajuda
decisivamente Pedro Bala, aconselhando-o no planejamento dos assaltos. Depois de um
tempo aceitou um convite e se tornou pintor artístico no Rio de Janeiro.
Gato: Era o mais bonito e mais elegante do bando. Candidato a malandro, tinha em caso com
Dalva, uma prostituta, que lhe dava dinheiro e por isso, muitas vezes, não dormia no trapiche.
Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as aventuras do dia. Tempos
depois foi embora para Ilheús tentar a sorte.
Volta-Seca: Admirador do cangaceiro Lampião, a quem chama de padrinho, sonha um dia
participar de seu bando.
Sem-Pernas: Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo,
individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o
objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor, depois fugia e os
Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se se atirando do parapeito do
elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.

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João Grande: Negro, mais alto e mais forte do bando. Após a morte de seu pai, João Grande
não voltou mais ao morro onde morava, pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cedo, se fez
um dos chefes do grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais
faziam para organizar os furtos. Uma pessoa boa e forte, por isso, quando chegavam
pequeninos cheios de receio para o grupo, ele era escolhido para ser o protetor deles.
Pirulito: Era magro e muito alto, cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e
pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer ao
Capitães da Areia. Quando parou de roubar, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa
paróquia distante.
Boa-Vida: Era mulato troncudo e feio, o mais malandro do grupo. Muito preguiçoso, era o único
que não participava das atividades de roubo do bando. Era um boa-vida, gostava de violão e de
ficar fazendo nada, contemplando o mar e os barcos. Seu destino foi virar um verdadeiro
malandro, que vivia a correr pelos morros compondo sambas.
Dora: Tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele.
Era uma menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Seus pais haviam morrido de
“bexiga” e ela ficou sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais
ninguém queria empregá-la, conheceu João Grande e professor que a chamaram para morar
no trapiche, e logo ela já era considerada por todos como uma mãe, irmã e para Bala uma
noiva. Morreu queimando de febre.
João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado
em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai. Ele tinha conhecido o loiro
Raimundo, estivador que tinha morrido, baleado na greve, lutando em prol dos estivadores.
Don’aninha: Mãe de santo, sempre socorria os garotos do bando em caso de doença ou
necessidade.
Padre José Pedro: Padre de origem humilde, só conseguiu entrar para o seminário por ter
sido apadrinhado pelo dono do estabelecimento onde era operário. Discriminado por não
possuir a cultura nem a erudição dos colegas, demonstra uma crença religiosa sincera. Por
isso, assume a missão de levar conforto espiritual às crianças abandonadas da cidade, das
quais os Capitães da Areia são o grande expoente.
Querido-de-Deus: Grande capoeirista da Bahia respeita o grupo liderado por Pedro Bala e é
respeitado por ele. Ensina sua arte para alguns deles e exerce grande influência sobre os
garotos.

Sentimento do mundo – Carlos Drummond de Andrade

Análise dos principais poemas do livro

"Sentimento do Mundo" - Aqui o poeta nos revela sua limitação e impotência perante o
mundo ("tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo"), mas se declara "cheio de
escravos". "Sentimento do mundo" pode ser entendido também como um poema sobre o
próprio fazer literário ("minhas lembranças escorrem"), onde os poemas ("escravos") surgem
como armas ("havia uma guerra/ e era necessário/ trazer fogo e alimento") resultantes do
"sentimento do mundo" do qual o poeta se conscientiza a partir dessa obra. Drummond revela
neste poema uma visão de mundo extremamente pessimista, com um amanhecer "mais noite
que a noite".

"Confidência do Itabirano" - A alienação e o sentimento de dispersão que aparecem no


primeiro poema do livro ("Sinto-me disperso,/anterior a fronteiras") são vistas como
consequências do isolamento geográfico e social de um eu marcado pela decadência ("Tive
ouro, tive gado, tive fazendas./Hoje sou funcionário público."). "Confidência do Itabirano" se
fundamenta em uma série de antíteses ("vontade de amar" versus "hábito de sofrer", etc.), em
um impasse poético entre o coletivo ("ferro nas calçadas") e o individual ("ferro nas almas"). A
dor do poeta não é apenas causada pela saudade da terra natal, mas também pelo destino do
país, que se modernizava e esquecia cidades como Itabira, que é "apenas uma fotografia na
parede".

"Poema da Necessidade" - as inquietações e preocupações impostas pelo ritmo frenético da


vida moderna são representados um atrás do outro por meio de repetições (anáfora). As

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necessidades que nos são impostas (ler isso, acreditar naquilo, fazer aquilo outro) contrastam
com as necessidades mais básicas e verdadeiras do homem: "É preciso viver com os
homens/é preciso não assassiná-los". A necessidade de agir de acordo com os padrões e
reprimir o ego esbarra no desejo íntimo.

"O Operário no Mar" - poema em prosa cujas imagens rompem a barreira do real
fundamentando-se em bases surrealistas. O operário, figura idealizada do movimento
socialista, aparece como um Cristo ("Agora está caminhando no mar"), mas seu corpo não é
santo ("aparentemente banal") e não há nenhuma coisa que o ajude a passar pelas
turbulências ("não vejo rodas nem hélices no seu corpo") do cotidiano. O poeta deixa claro que
há uma diferença entre o trabalho braçal do operário e o trabalho (talvez cômodo) do fazer
poético ao dizer: "Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados
pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar". Mas há um sorriso
que liga os dois e a esperança de que no futuro o eu-poético consiga compreender o operário.

"Canção do Berço" - neste poema o poeta transmite através de uma irônica amargura a
mensagem de que o futuro já está marcado desde o berço: o amor, a carne, a vida, os beijos
ou mesmo o mundo não têm importância num contexto de lucro imediato que a sociedade de
consumo impõe. Ou seja, as relações humanas não possuem significado dentro de um estilo
de vida baseado nos valores passageiros da sociedade moderna.

"Bolero de Ravel" - este poema tem como mote "Bolero", a obra mais famosa do compositor e
pianista francês Maurice Ravel (1875-1937). Ravel compôs essa música como um simples
exercício de orquestração, sendo construída em um ritmo invariável e numa melodia uniforme e
repetitiva. A única sensação de mudança que temos se dá por uma mudança na intensidade
dos instrumentos em determinadas partes da música. Essas características da obra aparecem
no poema de Drummond através de referências como "espiral de desejo", "infinita,
infinitamente" e "círculo ardente". O poema ganha significado através do contraste entre uma
"alma cativa e obcecada", e um "aéreo objeto". Esta alma, que por não tocar jamais seu objeto
de desejo (por isso "aéreo"), está presa num círculo infinito de "desejo e melancolia". Assim,
"nossa vida" está presa nesse "círculo ardente" do desejo, numa dança infinita, onde os
tambores servem para abafar a verdade de que o Imperador (o "desejo", ou aquele que impõe
o objeto de desejo) na realidade está morto.

"La Possession du Monde" - Georges Duhamel foi um escritor francês que durante a década
de 1930 e 1940 viajou pelo mundo divulgando a língua e a cultura francesa, além da ideia de
construir uma civilização mais baseada no "coração humano" do que no avanço tecnológico.
Tendo isso em mente, podemos pensar que este poema trata de questões como as qualidades
da ética num mundo denegrido por um avanço técnico-econômico megalomaníaco e as
relações secretas que ligam o desejo, o gozo (obtenção do objeto de desejo) e o "sentimento
do mundo", uma vez que a personagem do poema desdenha da "erudita dissertação científica"
ao preferir pedir a fruta amarela engraçada ("ce cocasse fruit jaune").

"Mãos Dadas" - este, que é um dos mais emblemáticos poemas de Drummond, tem como eixo
central o fazer poético e sua relação com o mundo, seu compromisso com o outro. O poeta
deixa claro seu novo sentimento e a direção que sua poesia irá tomar ao declarar que não será
"o poeta de um mundo caduco", ou seja, alienado da realidade presente ("O presente é a
minha matéria"). Embora seus companheiros estejam tristes e calados, nutrem esperanças de
dias melhores e o poeta se solidariza com eles.

"Dentaduras Duplas" - tido como um dos poemas do indivíduo mais extraordinários feitos por
Drummond, "Dentaduras Duplas" trata de um tema que percorre toda a história da poesia: o
envelhecer. Aqui, o "eu" se questiona e questiona a vida de modo mais universal, não isolado e
individualista como nos livros anteriores. O poema é quase todo composto nem versos
pentassílabos, em uma construção rítmica onde uma palavra puxa a outra. Seu final resume
em uma metáfora irônica o apetite do tempo: "mastigando lestas/e indiferentes/a carne da
vida!".

"Elegia 1938" - neste poema Drummond parece utilizar a segunda pessoa do singular, "tu",
como se falasse consigo mesmo. Este desdobramento do eu-lírico em uma outra pessoa

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aparece diversas vezes em Sentimento do Mundo, como se o poeta precisasse de uma


referência externa mais séria (embora muitas vezes irônica) para conseguir analisar a realidade
a sua volta, que parece tão errada.

"Mundo Grande" - as ruas, espaço público onde os problemas e conflitos sociais e políticos se
mostram de modo mais evidente, aparecem claramente em contraposição à alienação de uma
classe privilegiada que se encontra protegia dentro de espaços fechados: "Fecha os olhos e
esquece. Escuta a água nos vidros,/tão calma. Não anuncia nada". Ao utilizar nessa passagem
a terceira pessoa ("fecha", "escuta"), o eu-lírico está se desdobrando numa outra pessoa,
encenando assim um conflito de sentimentos e posições morais.

Resumo da obra

Publicado pela primeira vez em 1940, "Sentimento do mundo" é a terceira obra de Drummond e
reúne 28 poemas. Neste livro, o poeta abraça de vez a poesia de cunho social, refletindo o
momento de instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra
Mundial. Porém, a temática do eu (a terra natal, o indivíduo, a família etc.), muito presente nos
seus livros anteriores, ainda aparece com destaque em Sentimento do Mundo.

Os poemas deste livro foram escritos entre 1935 e 1940, época em que o mundo tentava se
recuperar da Primeira Guerra Mundial e enfrentava a ascensão de regimes totalitários: a
Alemanha de Hitler, Franco na Espanha, Mussolini na Itália e o Estado Novo de Getúlio Vargas
no Brasil. E, dentro deste contexto histórico-social, o poeta individualista de Alguma Poesia e
Brejo das Almas revê seu fazer poético e toma consciência do mundo, voltando-se para a
experiência coletiva.

Porém, mesmo o poeta estando mais preocupado em escrever poesia social, a temática do eu
continua ocupando lugar de destaque em Sentimento do Mundo, mas dessa vez com uma
pitada de ironia e com um sentido mais universal. Assim, o eu não aparece mais como um
indivíduo isolado, mas sim como alguém presente e conectado ao mundo. Aqui, o eu volta-se
para assuntos mais universais e este seria o sentimento novo da poesia drummondiana a partir
de então.

Na vanguarda do movimento modernista (que já demonstrava sinais de esgotamento em 1940),


Drummond renova sua temática existencial, buscando novos caminhos para temas como o
amor, a morte e o tempo. Ainda bebendo da fonte modernista, os poemas de Sentimento do
Mundo não possuem rima e seus versos têm as mais diversificadas métricas, tendo até um
poema em prosa ("O Operário no Mar").

Apesar de em "Sentimento do Mundo" Drummond ter tomado consciência do indivíduo num


mundo que precisa ser salvo, ele reconhece também o fatal distanciamento entre os homens.
Através da utilização constante do vocativo, como se chamasse o povo para uma união
coletiva, dá-se vazão à ânsia do eu-poético de reunir os homens.

Essa vontade de união entre os homens contrasta com a pessimista e sombria visão de mundo
do autor. Embora o eu-lírico seja completamente descrente do presente e não acredita em dias
melhores, no fundo há uma utópica esperança permeando todos os poemas do livro. Através
do uso constante do vocativo e da terceira pessoa do plural, pode-se concluir que esta
esperança de dias melhores nasce do ser coletivo, do "nós". Somente com a união entre os
homens é que se pode escapar desse presente sombrio e tenebroso.

O espaço interior aparece como símbolo de proteção, sendo intimamente associada a um


privilégio de classe. Como exemplo, temos os moradores do "terraço mediocramente
confortável" de "Privilégio do Mar", a princesa que mora numa "casa feita de cadáveres" (ou
seja, em ruínas) em "Madrigal Lúgubre" e até mesmo o eu-lírico de "Mundo Grande". Nesses
momentos é que a posição de nosso eu lírico torna-se crítica, pois será exatamente essa
atitude alienada do burguês, que busca refúgio em um espaço fechado, que Drummond
denunciará nesses e em outros poemas de Sentimento do Mundo.

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Referencias Bibliográficas:

*Novas Palavras: português, volume único: livro do professor / Emília Amaral... (et. al.). -
2. ed. - São Paulo: FTD, 2003. Outros autores: Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino
Antonio. 1. Potuguês - Literatura (Ensino Médio).

*Apostila Livros - Cooperativa do Saber: Material Extra, Análise de Obras Literárias.


Ano: 2004.

Links:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/capitaes_de_are
ia

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/

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