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Os modos de produção Marx. Entretanto, para ele, não se tratava do fim da
evolução das sociedades.
Outro conceito importante em Marx é o de modo Eventualmente, o proletariado, grupo formado
de produção: trata-se da forma como as forças pelos trabalhadores urbanos que trabalhava nas fábricas
produtivas se organizam em relações de produção. que pertenciam aos burgueses, se tornaria a próxima
Essas relações se alteram com o tempo e se tornam tensas classe social a tomar o poder. Por meio da revolução
com o passar dos anos. Esta tensão se traduz na luta de armada instalariam uma temporária ditadura que tivesse
classes: “confronto entre duas classes antagônicas quando por objetivo o bem coletivo. Passariam a estatizar as
lutam por seus interesses de classe” (ARANHA & fábricas e as terras (ou seja, aboliriam a propriedade
MARTINS, 1993: 243). privada e passaram a deixar tudo sob o controle do
Em termos históricos, Marx identificou cinco governo) e a dividir os lucros da produção. Esse modo de
modos de produção diferentes pelos quais a humanidade já produção seria o modo de produção comunista, cuja
havia passado ou passava e ainda mais um pelo qual evolução natural seria em direção ao modo de produção
deveria passar até chegar ao último e definitivo estado. socialista. Neste, as características do comunismo seriam
Primeiro veio a sociedade primitiva, em que a posse da mantidas, mas não pais pela imposição do proletariado e
terra era coletiva e todos se beneficiavam do que era sim pelo bem coletivo.
produzido. Com o tempo, subgrupos desse grupo maior se
diferenciaram e passaram a cultivar as melhores terras, das Trabalho e alienação
quais se tornaram donos. Surgiu assim o modo de
produção patriarcal, cuja base é a propriedade familiar, a Para a filosofia, o trabalho é o meio pelo qual o
autoridade patriarcal e o surgimento do direito hereditário. homem cria a cultura, transforma o mundo que o cerca,
Esse era, por exemplo, o modo de produção típico das pois ele liberta. Para a história, trata-se de um conceito,
cidades-Estado gregas. cuja valoração é, por muito tempo, negativa. O ócio é
O modo de produção patriarcal evoluiu e algumas valorizado até o surgimento da burguesia, na Idade
dessas famílias cresceram economicamente, passando a Moderna. A partir daí, acelera-se o processo de colocação
concentrar sob seu domínio extensas propriedades. O do trabalho como ponto central na discussão social. Com
cultivo familiar já não era mais suficiente. Entretanto, as revoluções tecnológicas e o aparecimento das fábricas,
como parte dessa expansão acontecera por conta de vem o surgimento de uma classe de pessoas que dependem
guerra, o problema da mão-de-obra foi resolvida com a exclusivamente de seu trabalho para sobreviver, pois sua
utilização do trabalho dos vencidos, transformados em venda gera salário, fonte de renda. É o proletariado, cujas
escravos. Trata-se do modo de produção escravista, condições de vida são horrorosas:
típico, por exemplo, dos tempos do Império Romano. Com Para Karl Marx, o momento em que o fruto do
o tempo, esse modo de produção deu lugar a outro, o trabalho não pertence mais ao produtor, mas sim ao dono
modo de produção feudal, caracterizado ainda pela dos meios de produção, marca o acontecimento de um
grande concentração de terras nas mãos de poucos fenômeno chamado alienação. A alienação é a perda de
proprietários, mas que era gerido não por escravos e sim algo para um alheio. Em relação ao trabalho, trata-se da
por servos – os trabalhadores não estavam mais ligados alienação (perda) dos meios de produção. Saindo do
aos senhores, eram “presos” à terra. Entre senhores e campo e chegando na cidade, o trabalhador não é mais
servos, surgiu um espaço produtivo, preenchido dono das ferramentas necessárias para produzir
lentamente pela burguesia. mercadorias que interessem aos compradores. Assim, ele é
A burguesia é uma classe social cuja atividade obrigado a vender a única coisa de que dispõe, sua força
econômica está centrada na produção de bens e na sua de trabalho, sua mão-de-obra, cujo preço deve ser: “o
venda, com o objetivo do lucro que permita investir na necessário para a subsistência e reprodução de sua
produção que gere mais bens e, portanto, mais lucros. capacidade de trabalho, ou seja, alimentos, roupa,
Quando a burguesia tomou o poder dos senhores de terra, moradia, possibilidade de criar os filhos, etc. O salário
iniciou-se um período caracterizado por outro modo de deve, portanto, corresponder ao custo de sua manutenção e
produção, o modo de produção capitalista. Esse é o de sua família” (ibidem). Esse salário, porém, é
modo em que a sociedade se encontrava na época de numericamente inferior ao rendimento que sua produção
gera. Essa diferença da qual o capitalista se apropria é o
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trabalho excedente não remunerado ou a mais-valia, de Nesse sentido, podemos dizer que Weber
onde vem boa parte do lucro do capitalista. “resumiu” o debate sobre a neutralidade científica dentro
Além disso, seu lucro é aumentado pelo da Sociologia da seguinte maneira: um Cientista Humano,
surgimento de duas práticas até então inexistentes: a do para ele, deveria tentar ser o mais neutro possível em sua
consumo alienado e a do lazer alienado. É nesse sentido análise, deixando de lado suas convicções políticas e se
que define também a diferença entre consumo alienado focando em seu objeto de estudo sem nenhum tipo de
(para o bem de outros, ou seja, aquele que surge de preconceito. Entretanto, ele também tinha de tomar
necessidades criadas) e consumo não alienado (ou seja, cuidado para não exagerar e, dessa forma, cair no extremo
aquele que surge de necessidades reais e de escolhas); ou oposto do positivismo de Comte e Durkheim, ou seja,
entre lazer alienado (para o bem dos outros, ou seja, tentar estudar a sociedade como os Cientistas da Natureza
passivo, desprovido de crítica, guiado por uma “indústria” estudam os fenômenos da natureza ou leis matemáticas.
e regido por modismos) e lazer não-alienado (ativo, Por isso Weber propôs que Sociologia seguisse um
embora vise o descanso e livre, baseado em escolha). método investigativo próprio; o método compreensivo,
que seria cientificamente neutro, porém diferente do
Aula - Max Weber E a Cientificidade Da Sociologia método das Ciências da Natureza, a que ele chamava de
método explicativo.
Max Weber (1864-1920) nasceu na cidade de Frankfurt,
Alemanha, numa família de burgueses liberais. Segundo Weber, o método explicativo, utilizado
Desenvolveu estudos de Direito, Filosofia, História e pelo Cientista da Natureza é aquele que parte de inúmeras
Sociologia. Iniciou a carreira de professor em Berlim e, observações seguidas da formulação de possíveis leis
em 1895, foi catedrático na universidade de Heidelberg. universais que são testadas com experimentos concretos
Manteve contato permanente com intelectuais de sua (reproduzidas em laboratório). Se esses experimentos
época. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos confirmarem a formulação, então cabe ao Cientista da
de vista liberais e parlamentaristas e participou da Natureza expor esse processo passo a passo, explicando-o.
comissão redatora da constituição da República de Já o Cientista Humano (em particular o sociólogo, mas
Weimar (COSTA, 2005: 97). não só ele) deve proceder de acordo com o método
compreensivo: deve observar um fenômeno único, a
A consolidação do status científico da Sociologia partir do maior número possível de ângulos diferentes; em
seguida, deve juntar essas observações em um único
Max Weber foi o principal responsável pela modelo mental, o tipo ideal (porque está no plano das
concretização do status de ciência da Sociologia. idéias e não porque é “perfeito”). Esse tipo ideal funciona,
Inspirado por Comte e Durkheim e, buscando discutir com então, como uma espécie de “moldura” para a
a teoria proposta por Karl Marx, escreveu muitos textos compreensão de determinada situação que, entretanto, não
sobre o tema da cientificidade da Sociologia, dos quais os pode jamais ser testada, experimentada, reproduzida em
mais importantes são A ciência como vocação e A política laboratório.
como vocação. Em primeiro lugar, devemos lembrar que
Weber não concordava com seus predecessores franceses. A ética protestante e o espírito do Capitalismo
Para ele, as Ciências da Natureza (como a física e a
biologia) representavam um tipo de conhecimento Baseando-se nesse conceito chave de tipo ideal,
diferente daquele proposto pelas Ciências do Homem Weber empreendeu uma análise bastante complexa do
(como a Sociologia). Portanto, tentar estudar a sociedade sistema Capitalista, em sua obra A ética protestante e o
como se estuda o corpo humano seria, em sua opinião, espírito do Capitalismo. Ao contrário de Marx, o texto de
uma tentativa fútil. Entretanto, isso não significa que Weber não nasceu de uma convicção política. Para ele, a
Weber não defendesse a necessidade de um estudo pesquisa surgiu de uma observação simples: as regiões
cientificamente neutro da sociedade. Ao contrário, opôs-se protestantes do mundo (Inglaterra, Alemanha, Estados
a Karl Marx, ao defender que a sociedade não deveria ser Unidos) eram mais ricas do que as católicas (Portugal,
estudada a partir de uma crença política (a de que há uma Espanha, América Latina).
classe dominada que deve tomar o poder, por exemplo).
Ele então se perguntou pelos motivos dessa
diferença. Para responder à própria questão, investigou
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detalhadamente a história dos Estados Unidos, que ele No século XX e XXI, diferente do que aconteceu
escolheu como objeto por se tratar de um país protestante no século XIX, dominam as chamadas pesquisas de
e um dos maiores símbolos do Capitalismo. Analisando campo. Se Durkheim, Marx e Weber escreveram seus
dados políticos, econômicos, sociais e outros relativos ao textos a partir de outras leituras e reflexões abstratas, hoje
comportamento da maioria da população norte-americana os sociólogos escrevem principalmente a partir de
(principalmente nos séculos XVIII e XIX), percebeu que observações feitas diretamente no local, com ajuda de
entre a ética (ethos, maneira de se comportar no mundo) entrevistas e questionários. Entretanto, quando se sentam à
pregada pelas religiões protestantes e a lógica capitalista frente de seus computadores para organizar os dados,
havia uma afinidade eletiva. Isso não significa dizer que devem voltar-se a uma obra teórica com a qual possa
se comportar como protestante é a mesma coisa que ser discutir seus achados. E, nesse momento, algumas vezes,
capitalista; significa apenas perceber que as duas coisas os fatos sociais ou os instrumentos de dominação de
têm características comuns e podem se ajudar; ou seja, é classe ajudam mais do que os tipos ideais.
possível ser protestante sem ser capitalista e ser capitalista
sem ser protestante, mas quando uma mesma pessoa é as Algumas curiosidades: o que é um “protestante”?
duas coisas, suas crenças religiosas e seus
comportamentos econômicos, como têm afinidade, tendem Entre 1054 e 1517, a Igreja Católica enriqueceu
a convergir. Vejamos os motivos. bastante, tanto por causa dos muitos nobres que ao
morrerem deixaram para ela suas terras e suas fortunas
O protestantismo norte americano pregava o quanto por causa do surgimento da prática da venda dos
trabalho como um valor. Para eles, o homem que perdões para os pecados. Na Igreja Católica, um pecado só
trabalhava agradava a Deus, pois, caso contrário, entregue pode ser perdoado se o fiel confessá-lo a um padre que,
ao ócio, têm tempo para pensamentos e atos pecaminosos. teoricamente, deve guiar o fiel e orar junto com ele.
Ora, quem trabalha arduamente tende a receber mais e, Naquela época, porém, a confissão tornou-se uma troca
portanto, enriquecer. Entretanto, aqueles que comercial: os padres estipulavam um preço pelo perdão.
enriqueceram e não abandonaram suas raízes protestantes, Além disso, vendiam também perdões para pecados
não esbanjaram sua nova riqueza, ao contrário, investiram. futuros e títulos de redução do tempo no purgatório.
E o investimento é a chave da reprodução do capitalismo.
Mais ainda, o lucro – e a possibilidade de investimento É claro que os clérigos que praticavam essa venda,
futuro – desses homens é maior do que o da média das não tinham mais verdadeira dedicação religiosa. E isso se
pessoas porque eles procuram uma vida frugal, ou seja, refletia também em outros comportamentos: havia padres
baseada apenas no necessário, já que a ostentação é com diversas amantes, bispos muito ricos que promoviam
também um pecado. orgias sexuais e degustativas e papas envolvidos em
escândalos financeiros, sexuais e até mesmo criminais.
Mas nem todos os padres e monges dessa época eram
A influência de Max Weber assim. Alguns ainda eram bastante religiosos e se
incomodavam com a situação. Esse foi o caso do monge
Weber se tornou um sociólogo muito influente, na alemão Martinho Lutero, que, se propôs a reformar a
medida em que ofereceu uma alternativa aos estudiosos Igreja Católica através de 99 teses que levou ao Papa.
que não se sentiam a vontade misturando seus estudos às Este, porém, não só não gostou da sugestão como também
questões políticas e que, portanto, não encontravam nas castigou ao monge, expulsando-o da Igreja Católica. Ao
idéias de Karl Marx um bom suporte teórico. Além disso, contrário do que o Papa imaginou, entretanto, Lutero não
outro motivo para Weber ter se tornado uma das maiores se abateu; ele continuou a lutar por uma religião
influências contemporâneas na Sociologia, está em seu reformada, só que agora, fora da Igreja Católica.
método compreensivo. Diferentemente de Durkheim,
Weber possibilita que se analise a sociedade sem que se a Assim, surgiu o Protestantismo (o cristianismo
compare com um organismo ou uma máquina; permite que protestava contra a Igreja Católica). A nova religião
maior humanidade ao resultado do texto. Isso não significa não impunha o celibato clerical (para Lutero, padres
que se tenha esquecido de Marx e Durkheim. Afinal, nem casados não precisavam “colecionar” amantes); não
sempre a teoria weberiana é adequada para estudar uma acreditava na confissão intermediada (o fiel deveria poder
situação sociológica. conversar “diretamente” com Deus, o que acabaria com a
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possibilidade da venda do perdão); defendia que a Bíblia
deveria ser lida por todos, em língua vernácula (local, e
não em latim, como era o costume da Igreja Católica da
época) e que todo fiel seria livre para interpretar a Bíblia
sem precisar da ajuda de um padre, como acontecia na
Igreja Católica. Essa crença explica, em parte, porque logo
surgiram muitas outras religiões protestantes, como os
calvinistas, os anabatistas e os metodistas: se todos podem
interpretar a Bíblia, pode haver discordâncias. E, se essas
discordâncias não puderem ser resolvidas, os grupos
discordantes tenderão a se separar, fundando novas
igrejas, cada uma defendendo sua compreensão.