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Data de recebimento: 14/11/2017
Data de Aceite: 14/03/2018
Editora Executiva: Lara Jansiski Motta
Editora Científica: Sonia Monken
Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação
1
Cleiton Bueno da Silva
2
Mercia Pandolfo Provin
3
Tatyana Xavier Almeida Matteucci Ferreira
RESUMO
Os modelos de gestão público/privado, como as Organizações Sociais de Saúde, propostas pela Reforma Gerencial
Brasileira da década de 1990, dividem opiniões entre pesquisadores, gestores, trabalhadores e usuários dos serviços
de saúde. Com base nesse cenário, o presente estudo objetivou analisar comparativamente os Serviços de Farmácia
Hospitalar (SFH), segundo o modelo de gestão de hospitais públicos. Trata-se de um estudo comparativo,
transversal do tipo analítico-descritivo. Foram incluídos na pesquisa 4 hospitais localizados na região Centro-Oeste
do Brasil, sendo dois de administração pública direta (G1APD) e dois administrados por Organizações Sociais de
Saúde (G2OSS). Os quatro hospitais selecionados são responsáveis por 43,9 % do total de leitos da região adstrita.
Os SFH do G1APD apresentaram resultados mais heterogêneos, e, nesse grupo, a estruturação só foi mais completa
que no G2OSS em um dos doze componentes analisados. A diferença entre os grupos foi mais expressiva no
tocante ao gerenciamento e aos quatro componentes da logística; de modo particular, no atendimento às boas
práticas de armazenamento e dispensação. Pode-se inferir que, com relação à estrutura, a maior adequação às
recomendações, bem como o melhor nível de formalização dos processos inerentes ao serviço, ocorre devido à
presença de exigências legais que devem ser cumpridas para a manutenção dos Contratos de Gestão celebrados
entre as OSS e o Poder Público. Constatou-se que o modelo de Gestão influencia o SFH e, provavelmente, outros
subsistemas hospitalares.
1
Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Goiás - UFG, Goiás (Brasil). Atualmente é Farmacêutico
do Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO) e tutor da área de farmácia no Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da SES-GO, Goiás, (Brasil). Email: cleitonbuenosilva@gmail.com
2 Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás – UFG, Goiás (Brasil). Professor adjunto
da Universidade Federal de Goiás – UFG, Goiás (Brasil). Email: merciap@gmail.com
3 Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás – UFG, Goiás (Brasil). Preside a Comissão
de Serviços Farmacêuticos Clínicos do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás, Goiás (Brasil). Email:
tatymatteucci@gmail.com
Rev. Gest. Sist. Saúde, São Paulo, v. 7, n. 1, pp. 56-72, janeiro/abril, 2018
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Cleiton Bueno da Silva, Mercia Pandolfo Provin & Tatyana Xavier Almeida Matteucci Ferreira
ABSTRACT
The management models present today in the field of Brazilian public health, from the Managerial Reform of the
1990's, still share opinions among researchers, managers, workers and users of health services, especially regarding
the performance of so-called Social Health Organizations (OSS, in Portuguese). Based on this scenario, the present
study aimed to comparatively analyze the Hospital Pharmacy Services (SFH). It is, therefore, a comparative,
transversal study of the analytic-descriptive type. Four hospitals located in the Center-West region of Brazil were
included in the study, two of them being of direct public administration (G1APD) and two administered by Social
Health Organizations (G2OSS). These hospitals selected for the survey accounted for 43.9% of the total hospital-
beds in the region. The group of direct public administration (G1APD) presented heterogeneous results, and in this
group, the structuring was only more complete in one of the twelve components analyzed. It is pointed out that the
difference between the groups was numerically more expressive regarding the management and the four
components of logistics; in particular, in meeting good storage and dispensing practices. It can be inferred that in
relation to the structure, the greater adequacy and compliance with the recommendations, as well as the better
formalization of the processes inherent to the service, occur due to the presence of legal requirements that must be
fulfilled for the maintenance of the Management Agreements concluded between the OSS and the Public Power.
It was verified that the Management model influences SFH and, probably, other hospital subsystems.
INTRODUÇÃO
Por mais protagônico que seja o sistema Cardoso (FHC), que incluía privatizações,
de atenção domiciliar e ambulatorial, os hospitais publicizações e terceirizações do fundo público
cumprem papel fundamental nas redes de atenção (Ministério da Administração Federal e Reforma
à saúde, pois sempre haverá condições que exijam do Estado [MARE], 1995).
o cuidado hospitalar, sendo neles referendados e As Organizações Sociais em Saúde
atendidos os casos de média e alta complexidade (OSS), um tipo de OPNE, já são realidade em
(Rosa, 2014). inúmeros hospitais pelo país. Sua implantação
No entanto, nas últimas décadas, vem se sempre é acompanhada de intenso debate político
observando problemas financeiros, estruturais e e social entre aqueles que as defendem e os que
organizacionais vividos pelos hospitais as repudiam. Isso porque, de modo geral, quando
brasileiros, principalmente os públicos, com avaliadas sob a ótica da gestão orçamentária e
repercussões na assistência, na formação dos financeira, as vantagens do modelo das
profissionais da saúde e no desenvolvimento de organizações sociais são significativas e apontam
pesquisas. Esses transtornos vividos pelos para uma vantagem sobre o modelo de
hospitais públicos podem ser atribuídos, em parte, administração direta (AD).
ao elevado custo da assistência, somados aos No entanto, quando avaliadas com base
limitados recursos destinados à área, ao reduzido na lógica da legitimidade pública e social, as
controle social, ao clientelismo para ocupação de instituições sob administração direta mostram-se
cargos de gerência, à corrupção, entre outros preferíveis, evidenciando a não consensualidade
fatores (Azevedo, 1995; Bonacim & Araujo, do tema. (Cardoso, 2012; Ribeiro, 2012; Banco
2011). Mundial, 2010; Souza & Almeida, 2010)
Diante desse cenário, alguns entes Percebe-se, então, que o melhor formato
públicos passaram a adotar a gestão dos hospitais para administrar os serviços de saúde divide
públicos por meio das organizações públicas não- opiniões; porém, a necessidade de
estatais (OPNE). Essa forma de gestão surgiu em aperfeiçoamento da gestão do Sistema Único de
meados da década de 1990, com a finalidade de Saúde (SUS) é um entendimento comum. Nesse
promover e transformar o Estado brasileiro. Tal sentido, a busca por excelência faz com que os
proposta fazia parte de um conjunto de reformas subsistemas hospitalares, independentemente do
apresentadas pelo governo Fernando Henrique modelo de gestão institucional adotado, tenham
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Módulo 5
– Boas práticas de estocagem
(Roteiro 1)
Módulo 6
– Boas práticas de distribuição
práticas, distribuídos em 56 itens ou tarefas
Observação direta (Roteiro 2)
que deveriam ser seguidas ou estar presentes,
em campo
em consonância com as normas e resoluções
– Preparações orais (Roteiro 3)
da legislação vigente.
Módulo 9
– NPT (Roteiro 4)
Quadro 2 – Distribuição das variáveis estudadas por componente e módulo analítico segundo
instrumento empregado.
Módulo Componente Variáveis
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Figura 1 – Caracterização geral dos hospitais públicos em duas capitais da região Centro-Oeste
brasileira e de seus respectivos serviços de farmácia hospitalar, Brasil, 2016. Legenda: G1- Hospital
público sob Administração Direta, G2- Hospital Público sob Administração de Organizações Sociais de
Saúde.
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Figura 2 – Localização dos serviços de farmácia hospitalar nos organogramas dos hospitais públicos de
duas capitais localizadas na região Centro-Oeste brasileira, 2016. Legenda: G1- Hospital Público sob
Administração Direta; G2- Hospital Público sob Administração de Organizações Sociais de Saúde.
Quadro 3 – Características das etapas da logística dos medicamentos desenvolvidas pelo serviço de
farmácia hospitalar de hospitais públicos de grande porte em duas capitais da região Centro-Oeste
brasileira, 2016.
Etapas da logística G1APD G2OSS
G1G G1E G2G G2E
Programação
Cálculo do lote de compra (quantidade a se comprar) X X X X
Relação de produtos para orientação do processo de compra X X X X
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Misto X X X X
Dose individualizada - - - -
Conferência da prescrição pelo farmacêutico (exclusivamente) - X X X
Notificações de psicoativos vencidos a VISA - X X X
Boas práticas de dispensação (Cheklist RDC n° 328/99):
Equipamento contra incêndios - X X X
Instalações com boas condições higiênico-sanitárias - X X -
Local limpo, sem poeira ou sujeira aparente X X X X
Placa com nome e horário de trabalho do RT - - - -
Produtos protegidos da ação direta da luz, temperatura e umidade X X X X
Geladeira e termômetro X X X X
Notificações de receita com DCB X X X X
G1APD: Hospital público sob Administração Direta; G2OSS: Hospital Público sob Administração de
Organizações Sociais de Saúde; GG: hospital geral; G E: hospital especializado; X: Presença do item no serviço
No que se refere ao Gerenciamento do pelo menos três dos seis itens contemplados na
SFH, quando observada a programação escrita investigação, quais sejam: Horário de
para capacitação ou treinamento dos recursos funcionamento; Fluxos de trabalho; Atividades
humanos, bem como sua periodicidade, os desenvolvidas pelo setor; Procedimento
hospitais especializados de cada grupo mostraram Operacional Padrão (POP) para distribuição de
evidências de tal prática: no G1APD, conforme medicamentos; POP para armazenamento; e/ou
demandas (sem cronologia), por meio de livros POP para Farmacotécnica.
tipo ata; no G2OSS, com um plano anual de Não foi constatado planejamento escrito
treinamento (Quadro 4). de objetivos e metas em nenhum dos SFH, bem
Costa e Ricaldoni (2011) sugerem que as como a presença do farmacêutico na constituição
capacitações sejam semestrais e que o do Serviço ou Comissão de Controle de Infecções
cronograma deve ser escrito, mencionando o Hospitalares (SCIH/CCIH) e nas Comissões de
assunto, os objetivos, a abordagem, o Suporte Nutricional (CSN), para o G1APD. No
responsável, a data e a forma de avaliação. Nesse G2OSS, verificou-se a participação do
quesito, apenas o SFH especializado do G2OSS farmacêutico na CSN, bem como na declaração
aproximou-se do almejado. da formalização de Responsabilidade Técnica por
Somente a farmácia de um dos hospitais meio de inscrição no conselho de classe, o que
do G1APD não possuía manual de normas e não aconteceu no G1APD. O Quadro 4 resume as
procedimentos instituídos e documentados. Tal informações.
manual, para ser considerado válido, deve possuir
Quadro 4 – Características dos processos de coordenação do setor de farmácia hospitalar dos hospitais
públicos de grande porte em duas capitais da região Centro-Oeste brasileira, 2016.
Processos de coordenação G1APD G2OSS
G1G G1E G2G G2E
Gerenciamento
Objetivos e metas (escritos) - - - -
Programação (escrita) para treinamento de RH - - - X
Número de profissionais liberados para formação profissional (2015) NI NI 1 12
Profissional farmacêutico membro da CCIH - - - -
Profissional farmacêutico membro da CSN - - X X
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Uma das maiores diferenças encontradas foi unânime. Nos Hospitais Gerais de ambos os
entre os grupos está no desenvolvimento de grupos, houve ainda a inserção da demanda e/ou
atividades clínicas, onde os hospitais do G2OSS do histórico de uso como critério ponderável.
atenderam em média a 81% dos quesitos Do mesmo modo como ocorreu com a
avaliados, enquanto que os hospitais do GAPD capacitação e treinamento de Recursos Humanos
atenderam a somente 57,1%. As OSS, por força (RH), os hospitais que apresentaram protocolos
contratual, precisam buscar a acreditação para uso de medicamentos ou grupo de
hospitalar, que é um processo de avaliação e medicamentos específicos foram os
certificação da qualidade, a presença de um especializados, em ambos os grupos (Quadro 5).
farmacêutico clínico é uma exigência frequente Seguindo a tendência da era digital, todos
nos processos de acreditação. os quatro hospitais lançam mão de recursos
Embora não haja nenhuma força legal digitais e informatizados tanto no componente
que induza os hospitais de administração direta informação, quanto no conjunto de serviços
buscarem sua acreditação, essa deveria ser uma clínicos.
iniciativa natural, uma vez que a qualidade em E como suporte as decisões clínicas,
serviços de saúde deve ser primada em qualquer apenas um hospital do G2OSS dispunha, além de
instância. recursos digitais, de fontes terciárias de
Importa mencionar que um dos hospitais informação (livros texto, compêndios e
do G1APD não possuía Comissão de Farmácia e Farmacopeia).
Terapêutica (CFT) instituída e como Os SFH relataram desenvolver algum
consequência não disponibilizavam o guia tipo de atividade clínica, embora o instrumento
farmacoterapêutico. não permitisse detalhar tais atividades. Entre elas,
O objetivo da CFT é prover e zelar pelo a prestação de informações sobre medicamentos
uso racional de um arsenal farmacoterapêutico aos profissionais da instituição, no entanto
efetivo, seguro e a um custo que o hospital ou nenhum dos serviços possuía registro escrito ou
paciente possam assumir (Holloway & Green, algum tipo de formalização no que tange às
2003). informações diretamente prestadas (Quadro 5).
A inexistência da CFT pode trazer A falta de padrão e de registro das
prejuízos econômicos e assistenciais. Contudo, atividades dificulta o reconhecimento do serviço
essa situação ainda é encontrada em hospitais clínico farmacêutico, pois para se caracterizar
brasileiros, deixando o país aquém das diretrizes como exercício profissional há de se ter práticas
internacionais (Marques & Zucci, 2006). com regras, funções e responsabilidades bem
Como critério de elegibilidade para estabelecidas e é necessário o registro sistemático
relação de medicamentos selecionados, o uso das das atividades e avaliação dos resultados (Cipolle
Relações Nacional, Estadual e Municipal de & Strand & Morley, 2006).
Medicamentos (RENAME/RESME/REMUME)
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Quadro 5 – Características dos serviços clínicos desempenhados pelos serviços de farmácia hospitalar
dos hospitais públicos de grande porte em duas capitais da região Centro-Oeste brasileira, 2016.
G1APD G2OSS
Serviços Clínicos
G1G G1E G2G G2E
Seleção de medicamentos
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) - X X X
Farmacêutico como membro efetivo da CFT NA X X X
Guia terapêutico ou formulário elaborado pela CFT ou SFH - - X X
Protocolos para medicamentos específicos X X - X
Critérios para elegibilidade dos medicamentos selecionados
Relação de medicamentos essenciais X X X X
Demanda ou histórico de uso X - X -
Perfil do hospital - - X -
Custo - - - -
Educação em saúde
Palestras - - X -
Grupos de orientação - - X -
Distribuição de informação impressa - - X X
Atenção farmacêutica
Participação na visita médica X X X X
Visita ao paciente no leito (orientação) X X X X
Monitorização terapêutica de fármacos - - X -
Farmacovigilância X X X X
Registro e informações sobre o atendimento/paciente
Número de atendimentos entre out.-dez./15 150 NI 640 365
Evolução e condutas em livros, fichas, meios digitais, etc. X X X X
Cronologia na organização e acompanhamento X X X X
Informações relacionadas às condições de saúde do paciente X X X X
Alergias X X X X
Dados demográficos - - - X
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G1APD: Hospital público sob Administração Direta; G2OSS: Hospital Público sob Administração de
Organizações Sociais de Saúde; GG: hospital geral; G E: hospital especializado;| X: Presença do item no serviço;
NA: não se aplica; NI: não informado.
Quadro 6 – Atividades de Ensino e Pesquisa, por grupo analítico, desenvolvidas pelos serviços de
farmácia hospitalar dos hospitais públicos de grande porte em duas capitais da região Centro-Oeste
brasileira, 2016.
Grupo 1 – Hospitais sob Administração Direta Grupo 2 – Hospitais geridos por OSS
Do ponto de vista logístico – grupo diferenciado por força de lei. Esse achado vem
analítico que apresentou as diferenças mais corroborar com o descrito na literatura que aponta
expressivas entre os SFH dos modelos de gestão a administração por OSS como uma boa
– foram analisados quatro subgrupos: alternativa para gestão econômica de um hospital
Programação; Armazenamento; Distribuição e (Banco Mundial, 2010). Com relação à logística
sua interface com o componente Seleção. de armazenamento e distribuição, mesmo sendo
O G1APD apresentou um menor observados múltiplos registros de estoque em
desempenho no cumprimento dos quesitos uma mesma instituição (sistema informatizado,
avaliados quando comparado ao G2OSS, mesmo Ficha kardex e Ficha de prateleira), o sistema
após a retirado do subitem aquisição, que na informatizado prevaleceu em todas as unidades.
administração direta tem lógica e processo Nos hospitais do G1APD, os sistemas utilizados
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Gráfico 1 – Distribuição dos números de itens que atenderam às boas práticas de armazenamento e
distribuição nos serviços de farmácia hospitalar dos hospitais públicos de grande porte em duas capitais
da região Centro-Oeste brasileira, 2016.
Quanto ao dimensionamento de recursos a estabilidade e o incentivo ao aperfeiçoamento.
humanos, observou-se que ambos os grupos Admite-se também, que não há uma única
atendem as recomendações de número de corrente teórica que consiga responder
farmacêuticos preconizado pela Sociedade adequadamente toda a variedade de
Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de comportamentos presentes nas organizações
Saúde (SBRAFH, 2007). (Frank & Lewis, 2004).
No entanto, uma importante diferença foi Mas que, para alguns autores, as
observada quanto à relação de assistentes/ dimensões motivacionais extrínsecas ao
número de leitos, que nos hospitais do G1APD foi trabalhador, como altos salários, são menos
inferior ao dos hospitais do G2OSS, chegando a importantes para servidores públicos em
ser seis vezes e inferior ao preconizado pela comparação aos profissionais do setor privado,
SBRAFH (Tabela 1). sendo os agentes públicos motivados por fatores
Tais dados levam-nos à reflexão acerca intrínsecos como: altruísmo, lealdade, senso de
do pensamento (depreciativo) de dever, de autonomia e responsabilidade
“improdutividade crônica”, comumente (Bowman, 2010; Houston, 2000; Perry &
associada ao serviço público, uma vez que, Hondeghem, 2008; Weibel, Rost & Osterloh,
mesmo com uma razão inferior de assistentes por 2010).
leito, os achados não foram tão discrepantes, Outro fator que contribui para entender a
remetendo-nos a um padrão assistencial, essas diferenças entre o número de assistentes
provavelmente, semelhante, com uma força de disponíveis, é o fato de os SFH no G2OSS
trabalho expressivamente menor. assumem um número maior de atividades
Inquere-se ainda que tal fato se dê às relacionadas com a programação e a aquisição de
características próprias do agente público, a citar: medicamentos, requerendo uma carga horária
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Tabela 1 – Caracterização dos os recursos humanos nos serviços de farmácia hospitalar dos hospitais
públicos de grande porte em duas capitais da região Centro-Oeste brasileira, 2016.
G1APD G2OSS
G1G G1E G2G G2E
Número de funcionários
Número total de farmacêuticos 26 8 5 16
Número de farmacêuticos por leito 1/40 1/40 1/49 1/25
Número total de assistentes 42 11 46 84
Número de assistentes por leito 1/19 1/29 1/5 1/5
Assistência do farmacêutico
Durante a semana (em horas diárias) 12 12 11 24
Durante os fins de semana e feriados 12 12 11 24
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