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TERESINA-PI
2018
WANDERSON RAMONN PIMENTEL DANTAS
Monografia apresentada ao
Departamento de História do Centro de
Ciências Humanas e Letras da
Universidade Federal do Piauí, para
obtenção do título de Licenciado em
História.
Orientador: Prof. Dr. Johny Santana de
Araújo.
TERESINA-PI
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello
Branco Serviço de Processamento Técnico
CDD 940.53
Elaborado por Thais Vieira de Sousa Trindade - CRB-3/1282
WANDERSON RAMONN PIMENTEL DANTAS
Aprovado em 29/06/2018.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Prof. Dr. Johny Santana de Araújo
Orientador
______________________________________________________
Prof. Dr. Francisco de Sousa Nascimento
Examinador
_______________________________________________________
Profª. Dr. Antônio Melo Filho
Examinador
Dedico este trabalho ao meu pai e
minha mãe. Foram para mim, uma só
fortaleza cuja estrutura permitiu que
essa pesquisa se concretizasse.
AGRADECIMENTOS
La présente recherche vise à travailler avec les piauienses dans la Déuxieme Guerre
Mondiale. Avec la déclaration de guerre du gouvernement brésilien à l’axe en 1942, les
piauienses devraient être prêts à se battre dans front line ainse que dan la production
pour la guerre. De cette façon, la recherche primaire par le sommet de la formation
civile en tant que militaire. L’institution responsable de ce traveil était le 25e bataillon
de chasseurs dont le but était de préparer une armée profissionelle et d’agir pour la
défense de la côte piauiense. Aprés les points mentionnés, seron problématisé e quelle
maniére la guerre interféré dans la vie quotidienne des soldadts et, comment il se refléait
dans le changement de la structure de la garnison fédérale à l’effectif de la guerre. Alors
la recherche se penchera sur la question de la propagande militaire et ses effets sur la
population jeune mâle de Piauí, a fin de les mobiliser pour servir dans l’armée et
remplir le devoir patriotique stipulé dans le périodique de l’epoque, le responsables de
la campangne de mobilisation. Enfin, la recherche vise à pénétrer profundément dans
l’univers des soldats du temps, en essayant de comprendre les remifications de la
Mission Militaire Française dans l’entraînement de la discipline et de la formation sur le
combat. Sur l’idée qu’ils avaient besoin de former le corps de la patrie face aux valeur
socieales de l’époque.
BI Boletim Interno
BC Batalhão de Caçadores
Cia. Companhia
CR Circunscrição de Recrutamento
ER Enfermaria Regimental
FV Formação Veterinária
MG Ministério de Guerra
PE Pelotão Extranumerário
TG Tiro de Guerra
RM Região Militar
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
5. CONCLUSÕES......................................................................................................... 83
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 86
“[...] o bom historiador se parece com o
ogro da lenda. Onde fareja carne humana,
sabe que ali está a sua caça.”
(Marc Leopóld Benjamin Bloch)
12
1. INTRODUÇÃO
1
KEEGAN, John. Uma história da guerra. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. P. 17
2
CHARTIER, Roger. A História hoje: dúvidas, desafios, propostas. Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol. 7, n. 13, 1994. p. 1-2.
3
BLOCH, Marc Leopóld Benjamin. Apologia da história, ou, O ofício do historiador. Trad. de André
Telles. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001. p. 10.
4
BLOCH, Marc Leopóld Benjamin. A estranha derrota: testemunho escrito em 1940. Trad. de Eliana
Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
13
Os homens são testemunhas dos fatos que presenciam. Nesse sentido o conflito
adquiriu importante lugar na história mundial pela amplitude que tomou. No entanto, o
fato de sentir a guerra ou contar a experiência contraída por ela, caracterizar-se-á de
forma diferente. Essa percepção foi sentida com as consequentes mudanças importantes
nas reflexões metodológicas. A guerra, como objeto da história, passou por mudanças
profundas e elas abalaram os alicerces históricos. Ora, o confronto bélico no século XX
passou abranger a sociedade na participação do conflito. De acordo com Johny Santana
de Araújo, a
[...] sociedade que homens e mulheres prestam serviço militar,
portanto, ela é a provedora das forças armadas, por outro lado é da
sociedade que a opinião popular confere legitimidade ao governo que
lidera o Estado. As forças armadas não são uma corporação a parte, ao
contrário, é componente da sociedade em que vive. Dessa forma os
militares são projeção da sociedade não havendo, portanto, distinção
entre sociedade civil e militar.5
Desse modo, não podemos restringir as análises somente ao campo de batalha. As
guerras do século XX são diferentes por proporcionar igual sofrimento a civis e
militares.
O cerne da Nova História Militar é a própria sociedade.6 Nesse sentido, ela é
inovadora porque possibilita e elenca dispositivos conforme a necessidade de
compreender um microcosmo. Ao exercer esse papel, o historiador assemelha-se ao
investigador porque os indícios são importantes para a compreensão dos porquês que
certas pessoas agiram em certo momento. Desse modo, o conhecimento da história é
individualizante porque ele contempla a análise micro-histórica.7. As clivagens culturais
diferem-se de um lugar para outro porque dependem exclusivamente a esse. A
particularidade dos lugares sempre estará presente no raciocínio histórico porque a
história é uma operação.8 Em suma, a função de trabalhar a guerra é mais complexa do
que imaginamos.
Ainda há muito a ser explorado com relação a participação do Brasil na Segunda
Guerra Mundial. O volume de obras escritas pelos combatentes, filhos deles,
comandantes e acadêmicos é considerável, abordando sobre a questão da Força
5
ARAÚJO, Johny Santana de. Para uma nova História Militar: repensando uma abordagem até então
esquecida. In: ARAÚJO, Johny Santana de; LIMA, Frederico Osanan Amorim; et al. História entre
fontes, metodologias e pesquisa. Teresina: EDUFPI, 2011. p. 28.
6
Idem, idem, p. 27.
7
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. Trad. de Federico Carotti, 2. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 178-179.
8
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2000. p. 65-66.
14
9
CYTRYNOWICZ, Roney. Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a
Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Geração Editorial, 2000.
10
Um trabalho referência do qual se trata de uma pesquisa dos pracinhas piauienses no qual esse trabalho
pretende usar como fonte na sua construção por ter lançado questões importantes para a problematização
desses personagens. Para conhecer melhor a obra, ler: LIRA, Clarice Helena Santiago. O Piauí em
tempos de guerra: mobilização local e as experiências dos contingentes da FEB. Dissertação. 159p.
Teresina. UFPI, 2008.
15
11
Adestramento é a forma como é nomeado pelos militares a viabilização de treinamento para o combate.
12
CASTRO, Celso. Em campo com os militares. In: ______; LEIRNER, Piero de Camargo; et al.
Antropologia dos militares: reflexões sobre pesquisas de campo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p.
13-30
13
Ver mais em: CASTRO, Celso. Exército e nação: estudos sobre a história do exército brasileiro. Rio
de Janeiro: FGV, 2012. p. 128-129.
14
ALVES, Vagner Camilo. Da Itália a Coréia: decisões sobre ir ou não à guerra. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2007.
15
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista dos nativos”: a natureza do entendimento antropológico. In: O
saber local: novos ensaios de antropologia interpretativa. Trad. de Vera Joscelyne. 14. Ed. Petrópolis:
Vozes, 2014. p. 61-62.
16
16
“A partir de 1937, o Governo ditatorial de Getúlio Vargas pensa em organizar órgão especifico, que é o
DIP, que substitui o Departamento de Propaganda e difusão cultural. O DIP se tornará cada vez mais
poderoso, pois ele é quem regula a censura, permite a saída de novas revistas e jornais, tornando-se assim
órgão coercitivo máximo contra a liberdade de pensamento e expressão. Além disto, no decorrer destes
anos, o DIP publica livros e revistas de elogio ao Estado Novo. Por sua vez, nos Estados existem
ramificações denominadas de Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), que exercem
também a censura local e editam publicações”. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A cidade sob o
fogo: modernização e violência policial em Teresina (1937-1945). 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2015. p. 37.
17
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. A arte de fazer. 20. Ed. Trad. Eprahim Ferreira
Alves. Petrópolis, Vozes, 2013.
18
GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Trad. de Dante Moreira Leite. São Paulo:
Perspectiva, 1974.
17
19
CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. Trad. de
Jefferson Luiz Camargo. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 211-238.
20
DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi
(org.), et al. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 111-143
18
21
BRASIL. Congresso. Senado. Decreto nº 8.835, de 23 de fevereiro de 1942. Aprova o Regulamento
Disciplinar do Exército. Coleção de Leis do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, v. 002, p.4, col. 1, 31
de dez. 1942. Disponível
em:<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoSigen.action?norma=414742&id=14452667&idBinar
io=15782072&mime=application/rtf>. Acessado em: 22 de abril de 2017.
22
BRASIL. Decreto nº 6.031 de 26 de julho de 1940. Aprova o Regulamento Interno e dos Serviços
Gerais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 26 de jul. de
19
militares na guarnição será pautada por regulamentos, pois são essenciais aos padrões e
funções de oficiais, graduados e praças23. O BI irá prezar pela descrição do cotidiano no
batalhão, o RDE será o documento que regulará o comportamento dos militares e RISG
pautará por discriminar a função de cada militar na sua função e cada dever deles com o
Corpo de Tropa, respectivamente. Acima de tudo, os regulamentos pautaram pela
disciplina e respeito à hierarquia. Eles serão, simultaneamente, os pilares importantes ao
reger a vida dos militares.
O 25º BC era a única guarnição piauiense do Exército Brasileiro durante toda a
duração da guerra. Sua inauguração foi no dia 2 de janeiro de 1918.24 Historicamente,
obteve posição significativa no Nordeste ao considerarmos o papel exercido na
participação nos mais variados conflitos no Brasil até a Segunda Guerra Mundial.
Os BI’s são ricos em detalhes de campanhas cujas informações abordam muito
conteúdo histórico, afinal, é um documento essencial na vida do batalhão. Porque
assume a incumbência registrar a movimentação de entradas e saídas. Informa qualquer
tipo de ação relacionada ao treinamento do corpo, mobilização, informações do
batalhão, das subunidades e até mesmo reproduzir informações do Boletim do Exército
e modificações nas leis referentes à vida militar. Basicamente a prática escriturística tem
como função narrar todas as sociabilidades presentes no quartel. Procedimento bem
característico de instituições que Erving Goffman classifica como instituições totais.
Segundo o autor,
uma instituição total pode ser definida como um local de residência e
trabalho onde um grande número de indivíduos com situação
semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente
administrada [...].25
Ou seja, seria uma instituição fechada para a sociedade. O 25º BC era uma
instituição reservada e controlada pela equipe dirigente que tinha como chefe o
Comandante do Corpo. Os regulamentos somados ao controle constituíram o modus
operandis do mecanismo de autoridade pautado pela disciplina. Os parâmetros de
controle pretendem fundamentar a obediência a um chefe, logo ao início da vida como
praça; o respeito a hierarquia, ao Comando.
26
Irving Goffman entende que a partir do momento que o internado entra na instituição, o afastamento do
mundo externo é a primeira condição de mortificação do “eu”. Há uma modificação na estrutura do “eu”.
Esse processo, segundo o autor, é algo muito comum no Exército. Idem, ibidem. p. 24.
27
2º tenentes, Aspirantes à oficial e subtenentes. Essa organização entre oficialidade e suboficialidade
estará disposta toda no RISG.
28
Nesse caso, isso é considerada uma transgressão do dever militar. Punido prudentemente pelo
Regulamento justamente pela natureza da gravidade, os crimes são enquadrados no art. 12. Idem, 1942, p.
3
29
O RISG é o regulamento que definirá como devem ser realizados os trabalhos de acordo com a patente.
Ele confere 2 artigos e mais de 50 parágrafos discernindo as funções do Comandante do Batalhão. Cf.
Idem, 1942, p. 35.
30
Idem, s/d., p 4.
31
PIAUÍ, Op. cit., p. 10
32
PIAUÍ, Loc. cit.
33
Durante o ano de 1942, o subcomandante do 25º BC é o major José Figueiredo Lobo. PIAUÍ. loc. cit.
34
CERTEAU, Michel de. op. cit., p. 94.
21
A sua função é o emprego dos soldados no combate em terra. Faz parte de uma
Grande Unidade, ou seja, consiste no Corpo de Tropa35 de ampla quantidade de
soldados empregados na/para guerra. tal organização permite que o Exército
estrategicamente disperse-se com base na dimensão do território brasileiro. Dessa
forma, as guarnições encontram-se distribuídas entre as capitais e cidades importantes
dos Estados. A medida é propositalmente pensada para espalhar as unidades e intuito de
proteger toda parte do território. O Estado-Maior do Exército fica responsável por traçar
diretrizes da doutrina de guerra visando organizar essas unidades para formação de
Regiões Militares.
A Região configura-se como o sistema composto de guarnições, mantidas sob
gerenciamento do general de brigada ou general de divisão. O Piauí está inserido no
sistema de defesa que é basicamente disposto em Regiões Militares. Sua principal
função é organizar defesas para uma eventual guerra. desse modo, projeta-se para
converter o batalhão na fração de um GU que, sob comando desse oficial superior
anteriormente especificado, mobiliza as guarnições para assumir os papéis de defesa na
área estabelecida. Na casualidade de uma agressão conquanto a integridade do território
brasileiro seja ameaçada, a ordem fundamental consiste em mobilizar-se para defender-
se.36
Durante os fatos que corroboraram com a anuência do Brasil à guerra, o Piauí
encontra-se sob tutela da 7ª Região Militar, liderada pelo general João Batista
Mascarenhas de Morais37, futuro comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária
que posteriormente trilharia a Itália.38 Ele comandou até o final de 1942. Ao início de
1943, integra-se o Estado a 10ª Região Militar39 juntamente aos Estados do Ceará e do
35
Batalhão, regimento ou brigada.
36
Enquanto o Piauí esteve vinculado à 7ª Região Militar, ele foi agregado a 7ª Divisão de Infantaria
segundo diretrizes do comandante. Cf: PIAUÍ. BI n. 42, 25º BC 20 de fevereiro de 1942, p.175
37
Falamos da 1ª DIE, também nos referimos a FEB. Afinal de contas, no plano original, eram para ser
concebidas um Corpo de Exército composto de 3 Divisões de Infantaria. Cf. MORAES, João Baptista
Mascarenhas de. A FEB pelo seu comandante. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1947. P 23;
CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1960. p. 124-5.
38
No interessante fato, encontramos algo bem cômico com leves tons de ironia. O tenente Antônio de
Andrade Poti, após o envio da FEB para a Itália, foi condecorado pessoalmente pelo referido
generalíssimo em Porreta Terme. Na íntegra ele relata: “o Gen Mascarenhas me perguntou de onde eu
era; eu respondi-lhe que era de Teresina-PI; ele, então, com aquele sorriso amigo, retrucou-me: ‘e onde
fica esse raio de curva torta?’”. Perturbador o questionamento do “raio de curva torta”, principalmente por
ser lugar onde exerceu comando. BRASIL. Entrevista com o Tenente-Coronel Antônio de Andrade Poti.
In: História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial. Tomo 2. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 2001. p. 66.
39
No início do ano de 1943 foi extinta a 3ª Brigada de Infantaria e remete o Piauí ao domínio da 10ª RM.
PIAUÍ. BI n. 20, 25º BC, 26 de janeiro de 1943, p. 95
22
Maranhão. Assumiu como Comandante o general Francisco Gil Castelo Branco 40. A
função do Comandante da Região Militar como referido anteriormente é agregar
juntamente com outros Estados do Nordeste no objetivo de formar uma Brigada41 ou
uma Divisão de Infantaria42. Além da liderança da liderança do Comandante da região,
estriam sob o crivo do Inspetor de Regiões Militares43, do Ministro da Guerra e ao
Presidente da República segundo a ordem de hierarquia do comando. O curioso é que a
Divisão só foi criada posteriormente a Brigada, e não houve nenhuma menção
relacionada às manobras dessas GU’s formadas. Em momento algum elas aglomeraram-
se para isso.
O Exército Brasileiro historicamente não era dotado de grande efetivo, ao
considerarmos que a última guerra externa foi a Guerra do Paraguai. Segundo então
tenente-coronel Manoel Thomaz Castello Branco, que serviu como oficial de
informações da Força Expedicionária Brasileira, o efetivo era de pouco mais de 60 000
homens, justamente por ser compatível com o tempo de paz. Ou seja, é preciso que
houvesse um determinado número de praças para a reconstrução do Exército no
momento que o curso dos acontecimentos exigisse a convocação e, nos momentos
desesperadores, a ampla mobilização pelo voluntariado44. A necessidade exigia que
mesmo trabalhando, o civil deveria ser convocado.
O 25º BC foi remanejado para a 10ª RM, em seguida passou a assumir papel
importante na defesa do Nordeste. Seria o baluarte defensivo do litoral piauiense. O
40
Sua imagem foi explorada pelos periódicos por vinculá-lo ao Piauí pelo parentesco do sobrenome
bastante comum localmente. PIAUÍ. BI n. 26, 25º BC, 2 de fevereiro de 1943, p. 114
41
PIAUÍ, BI n. 155, 25º BC, 02 de julho de 1942, p. 641; o comandante da brigada a qual o 25º BC está
vinculado, era o tenente-coronel Alexandre José Chaves, cf. PIAUÍ. BI n. 12, 25º BC, 26 de janeiro de
1943, p. 65
42
Segundo Alfredo Souto Malan: “A DI é quaternária, composta de 2 Brigadas de Infantaria, cada uma a
2 Regimentos (Regimento a 3 Batalhões). Possui mais 1 Brigada Artilharia, 1 RCD, 1 Batalhão de
Engenharia e 1 Esquadrão de Aviação.” MALAN, Alfredo Souto. Missão Militar Francesa de instrução
junto ao Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. p.126.
43
As Inspeções de armas e serviços é o órgão através do qual o alto comando e seus departamentos
essenciais exercem seu poder sobre todos os comandos e forças: sua ação é preventiva e verificadora, com
vistas a assegurar o bom funcionamento dos negócios militares, o progresso da instrução, a solidez da
disciplina, a administração competente, os procedimentos adequados por parte dos responsáveis, o estado
de organização da tropa, sua preparação e eficácia em caso de guerra. À frente das Inspeções, está um
inspetor oficial general. BELLINTANI, Adriana Iop. O Exército Brasileiro e a Missão Militar
Francesa: instrução, doutrina, organização, modernidade e profissionalismo (1920-1940). Tese
(Doutorado em História Social). 698p. Brasília, PPGH UnB, 2009. p. 87-127.
44
Importante fazer algumas considerações sobre o voluntariado. A abertura de 1942 e 1943 foram visadas
para que fossem preenchidos os claros no 25º BC e outras unidades que obtivessem claros. Cf. PIAUÍ. BI
n. 150, 25º BC, 5 de julho de 1943, p. 816; PIAUÍ. Abertura de Voluntariado. Diário Oficial, Teresina,
26 set. de 1944, p. 39. O único voluntariado especial foi observado no ano de 1944 referente à
constituição de tropas para a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Cf. LIRA, Clarice Helena Santiago.
Op. cit., P. 100-110; PIAUÍ. BI n. 186, 25º BC, 10 de agosto de 1944, p. 1155.
23
medo real das autoridades militares brasileiras estava na premissa de invasão naquela
área.45 A prioridade estava na defesa do litoral. A Marinha de guerra americana
juntamente, brasileira e a Força Aérea foram responsáveis por realizar o patrulhamento
da costa46, e quanto ao Exército, o general Estevão Leitão de Carvalho foi o mentor do
plano de defesa do Nordeste. Posteriormente, foi nomeado Comandante do Teatro de
Operações da região. Segundo Manoel Thomaz Castello Branco, o plano consta no “[...]
esforço da defesa na manutenção dos portos e bases de fortaleza, Luiz Côrrea
(Amarração) e S. Luiz, no território da 10.ª RM”.47 À frente, o autor completa:
Nos principais portos a defesa apresentava certa consistência, contudo,
nos demais pontos não possuía mais do que simples postos de
vigilância, do valor de pelotões e grupos de combate, espalhados ao
longo da extensa fimbria marítima, na maioria das vezes sem apoio
adequado e sem comunicações eficientes.48
Contudo, o que vimos na documentação difere diametralmente do que realmente
aconteceu. No recorte de anos que foram analisados, os BI’s não apresentam nada
específico, ou que tenha a mínima relação ao envio de praças do 25º BC para Luís
Correia. Clarice Helena Santiago Lira confirmou essa desconfiança levantada pela
leitura do BI. A guarnição ainda não participou ativamente da defesa do litoral.
No Piauí, a Força Policial assumiu esse dever, sendo responsável por
vigiar a ‘[...] área que vai das Ilhas Canárias ao Cajueiro, antigo
povoado da Amarração [...]’. O envio dessa tropa, cerca de 150
homens, tinha como principal objetivo guardar o litoral piauiense
contra prováveis ataques nazistas, como também da presença de
estrangeiros.49
Em fevereiro de 1942, o 25º BC foi informado o rompimento de relações do
Brasil com os países do Eixo. Estranhamente, ele ficou legado a uma pequena instrução
na 3ª parte do BI, sem nenhum discurso patriótico cujo interesse remete a data e nada
especifico que fizesse alguma ou qualquer tipo de menção ao momento até o mês de
agosto.50 Interessante constatação ao compararmos por exemplo, com o Diário Oficial
que foi bombardeado de discursos enaltecendo o papel do Exército, e particularmente,
do 25º BC.
45
FERRAZ, Francisco César Alves. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005. p. 46.
46
BONALUME NETO, Ricardo. A Nossa Segunda Guerra: os brasileiros em combate, 1942-1945. Rio
de Janeiro: Expressão e cultura, 1995. p. 55-119
47
CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. op. cit., p. 114.
48
Ibidem, p. 115.
49
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 77.
50
PIAUÍ. BI n. 36, 25º BC, 12 de fevereiro de 1942, p. 148.
24
51
Infelizmente, não conseguimos localizar em tempo hábil, algum ex-combatente ou ex-soldado que
tenha servido na guarnição durante esse tempo. É uma tarefa que fica para um momento posterior, no
entanto, a documentação conseguiu suprir dúvidas com preciosas informações.
52
Uma instrução um pouco mais voltada para o despertar patriótico dos soldados do 25º BC será escrito
pelo major Figueiredo Lôbo ao remeter um adiantamento de BI em homenagem ao Marechal Osório. Que
os soldados estivessem preparados para o que acontecesse com o Brasil. Contudo, nada tão significativo.
Cf. PIAUÍ. BI n. 118, 25º BC, 23 de maio de 1942, p. 509.
53
ALVES, Vagner Camilo. Armas e Política: O Exército e a constituição da Força Expedicionária
Brasileira (FEB). In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPOCS, 30, 2006, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
Janeiro: Encontro Anual da ANPOCS. p. 4.
25
alguns com o término do serviço, a rotação dos praças realiza-se periodicamente pelo
sorteio militar54. Foi o método de ingresso nas Forças Armadas. No entanto, mesmo que
a quantidade de praças não fosse suficiente, temos que observar que a organização dos
batalhões não foi elucubrada para agregar grandes contingentes, implicitamente
decorrente da organização militar herdada do modelo de organização francês. A outra
questão são os recursos. O 25º BC é uma unidade do Nordeste que sofria por estar longe
dos grandes centros militares. Na longa estrada de modernização, o batalhão não
começou nem a trilhá-la durante a guerra.
Convém-nos explicar o funcionamento da unidade militar. Segundo o Ministro da
Guerra, a composição dos contingentes da arma da infantaria segue a organização
estrutural que tem como núcleo fundamental de todas corporações, o grupo de
combate.55 O grupo de combate é o organismo armado conveniente para incursões como
pode ser útil no intuito de guarnecer cada secção e dependências do batalhão. Os
dirigentes do Corpo de Tropa consideravam como prerrogativa fundamental baseada na
extrema disciplina que os comandantes em relação aos subordinados.56 Eles
organizavam-se de homens que servem, protegem e alimentam uma arma automática, e
consta de um terceiro sargento, um primeiro cabo e oito soldados, formando duas
esquadras.57
Essa formação foi utilizada para rondar a cidade no intuito de buscar e apreender
os praças que infringissem as disposições do RDE e como o 25º BC também
determina.58 A ressalva estará na arma automática para esse fim.59 Todavia, haviam
casos que requeriam força desse vulto.
A posteriori, essas incursões passaram ser realizadas por um grupo menor,
estipulado pelo RISG. O comando dessa pequena formação era concedido ao Cabo do
dia60 com alguns praças. Eram todos responsáveis por realizar a ronda em horários
54
O sorteio militar contemplava todos que moravam no Piauí. A grande maioria dos que eram
selecionados pela 26ª Circunscrição de Recrutamento eram quase todos oriundos do interior do Piauí.
Caso houvesse um pedido de indeferimento do alistamento, isso deveria ser dirigido para lá para que
fosse julgado conforme as circunstâncias. Ver mais no PIAUÍ. BI n. 3, 26ª CR, 3 de janeiro de 1942, p. 5.
55
BRASIL. Ministério da Guerra. Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados
Unidos do Brasil pelo general de divisão Eurico Gaspar Dutra Ministro de Estado da Guerra. Rio
de Janeiro. Imprensa Militar. 1940. 199p. p. 37.
56
GOFFMAN, Erving. Op.cit., p. 98.
57
BRASIL, Ministério da Guerra. Loc. cit.
58
Qualquer um pego deve ser trazido sob escolta, informado ao oficial do dia para que tome as devidas
ações. PIAUÍ, BI n. 119, 25º BC, 25 de maio de 1942, p. 514.
59
Armas desse porte raramente saíam do 25º BC.
60
Responsável pelo cumprimento do serviço de guarda do Batalhão. Há disposições no RISG sobre a
função desse praça para unidade.
26
específicos, planejados pelo oficial do dia61. Ele era fundamental ao batalhão porque
coordenava as ações do batalhão. Era o homem requisitado em todos serviços realizados
obtinha o dever zelar pela ordem, ser incisivo para resolver os problemas do batalhão de
forma rápida. Era a principal “engrenagem” que permitia o funcionamento do
“mecanismo” interno de funcionamento da unidade. Os 1º e 2º tenentes que geralmente
se submetiam a essa tarefa tinham de ser extremamente competentes. Afinal, tudo era
verificado e orientado pelo Comandante do Corpo.
O 25º BC possui espaço de fronteiras limitadas justamente por representar o
núcleo de defesa da pátria, por isso sempre precisa ser guarnecido. O BI sempre
discrimina a forma do efetivo na patrulha, assim como no serviço de sentinelas.
Diferentemente das patrulhas, o serviço de sentinela seria gerido por um 2º ou 3º
sargento como comandante e, por outro lado haveria o cabo como subcomandante dos
praças. Nesse caso, não havia nenhuma prerrogativa que estabelecesse uma quantidade
de praças. Ela deveria ser preenchida pela necessidade. A guarda é destinada para
vigilância dos praças desordeiros na prisão ou na detenção.62 Tanto o serviço de
sentinela quanto as patrulhas poderiam ser organizadas de praças oriundos do mesmo
pelotão, ou até mesmo poderiam ser soldados das diferentes pelotões e companhias.
O oficial do dia tinha prerrogativa da chefia administrativa da patrulha e da fração
de tropa responsável pela defesa do Batalhão. Ora, ele era responsável pelas entradas e
saídas. Os homens ao seu serviço deveriam servir plenamente para informá-lo e auxiliá-
lo no controle do espaço porque o Comandante do 25º BC deveria ser informado de
toda movimentação.63 Ele seria ajudado pelo sargento do dia64, seria ele a conexão do
oficial do dia com as subunidades. Caso um ou outro não possa realizar o serviço dentro
da escala, cabe o Comandante regular o serviço de Oficial, sargento e cabo do dia65
discriminar o militar responsável da função.
Seguindo o esquema basicamente terciário ou quaternário, o pelotão seria
composto por três grupos de combate. O pelotão, segundo o RISG, deve ser
61
O oficial do dia é contato direto do Comandante do Corpo e do Subcomandante com a tropa. Afinal, é
também ele quem deve zelar pelo asseio e pelo comportamento dos praças dentro da unidade assim como
velar para que o batalhão seja completamente controlado nas entradas e saídas.
62
Deverá sempre ser comandada por um 2º ou 3º sargento. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 60
63
Ele é o primeiro contato do BC antes de haver contato com o comandante. Sejam civis ou militares,
todos precisam passar pelo crivo do oficial do dia.
64
Segundo o artigo 209, a função de Sargento de dia à unidade é função cuja determinação é para que
seja auxiliar direto do oficial do dia. Ver mais em: BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 39.
65
As patrulhas de forma mais prática, passaram a ser reduzidas a um cabo e três soldados. Cf. PIAUÍ. BI
n. 157, 25º BC, 7 de agosto de 1942, p. 660.
27
66
Alunos formados nos Núcleos e Centros de preparação de Oficiais da Reserva. Eles podem realizar
funções semelhantes a um 2º tenente.
67
Eram responsáveis por serviços administrativos das subunidades, uma espécie de almoxarife das
subunidades.
68
BRASIL, Ministério da Guerra. Loc. cit.
69
Passagem para o efetivo “tipo B”, o único efetivo que efetivamente não cresceu foi o pertencente ao
Pelotão Extranumerário, estabelecido em 141 homens e, ainda por cima, deveriam ter praças realocados
para as demais unidades. PIAUÍ. BI n. 260, 25º BC, 2 de novembro de 1942, p. 1053.
70
A partir da leitura dos BI’s como parte do cotidiano dos praças, era necessário que fosse realizada a
leitura e que o comandante ministrasse instrução de forma que despertasse nos seus comandados o amor
pela pátria e pelos símbolos nacionais.
71
O nome Cia. de Fuzileiros é uma companhia de homens voltada para o combate com fuzil e voltados
para tomar de assalto posições estabelecidas pelos comandos.
72
As Cia. De Metralhadora eram companhias destinadas ao manejo de metralhadora de forma que essas
metralhadoras atuassem como base de fogo para o avanço da infantaria com o combate de aproximação.
Lembremos, que a organização da Missão Militar Francesa desconsiderava que houvessem metralhadoras
como parte integrante das Cias. De Fuzileiros. Isso só foi acontecer muito depois da FEB, com uma
modificação das estratégias e táticas de batalha.
73
Era subunidade de reserva do batalhão, e sua forma de comando é diferente das demais, porque ela é
comandada diretamente pelo subcomandante do 25º BC. A reserva seria uma quantidade de homens
destinada a emprego, caso houvesse perda de algum homem das unidades acima referidas em campo de
batalha, ou situações extremas.
28
Cia. Cada subunidade é avaliada dentro dos critérios do RISG visando fortalecer o
desenvolvimento das subunidades, especificamente de praças e graduados. Durante o
recorte os balanços sempre eram emitidos ao final do ciclo de seis meses.
O BI informa o resultado do balanço dos praças das cias., analisado pelo
Comandante do Corpo em conjunto com os comandantes de cada pelotão. São
averiguados vários quesitos, sob o nome de “ramos da instrução”: ordem única, que
consta a avaliação da disciplina da subunidade; armamento, condições de asseio do o
armamento e perfeito funcionamento; tiro, a condição de acerto dos tiros realizados no
estande; Combate e S. da Cia., relativo a manobra da baioneta74 e combate corporal
portando o fuzil; instrução geral e moral, é a parte que se dedica a avaliar como o praça
realiza o trabalho que foi designado no serviço do dia como também como o praça se
porta dentro do batalhão; e a maneabilidade também referente a análise disciplinar dos
praças, mas agora é em relação com seus convivas na subunidades. Cada quesito tem
distinguido um juízo de valor que compreende do “ruim” ao “ótimo”. A melhor
subunidade nos primeiros seis meses foi a CMB.75 Nada deixava de ser analisado no
batalhão, reavivando o que falamos sobre as instituições totais. Dessa forma o controle
visa analisar e agir sobre o praça de forma que satisfaça as condições comportamentais
adequadas mediante as instruções do comando, eleva subunidade como colaboradora76
das diretrizes impostas pela Guarnição.
Após realizarmos a descrição das subunidades que compõem o 25º BC, podemos
afirmar que o seu contingente, comprovadamente, girava em torno de 500 homens em
tempos de paz.77 O efetivo será aumentado e, conforme a mudança, será definido o
número do efetivo nas dependências. Podemos perceber que após a declaração de
guerra, especificamente em meados do ano de 1943, o efetivo do batalhão sofre
modificações em torno de mais de 200 a 300 homens porque a convocação da reserva e
o sorteio terá algum efeito sobre a quantidade. O BI informava sobre o mapa de efetivo
da guarnição, contudo, esses documentos eram remetidos ao MG. Não foi encontrado
nenhuma cópia desse documento.
74
Mesmo estando em uma época de guerra, em que o poder de fogo de um soldado aumentou
consideravelmente, a baioneta é o recurso utilizado para o combate corpo a corpo. As baionetas eram em
forma de sabre.
75
PIAUÍ, BI n. 102, 25º BC, 6 de maio de 1942, p. 426.
76
GOFFMAN, Irving. Op.cit., p. 160.
77
A passagem para o efetivo do Estado de guerra de algumas unidades passou de forma muito lenta.
Claro, as determinações foram pensadas e consideradas na segunda metade do ano de 1942, porém, ela
não conseguiu ser tão efetiva como no ano de 1943 em que seria incorporado os primeiros convocados
para o serviço militar, pertencentes a 1ª e a 2ª categoria. PIAUÍ, BI n. 104, 25º BC, 8 de maio de 1942.
29
78
Nos balancetes, são dispostos o tanto que é gasto com o aprovisionamento de alguns víveres do
batalhão. É descrita a razão social do comércio quanto a quantia.
79
Responsável por toda a movimentação econômica do batalhão.
80
MENDES, Ubirajara Dolácio. Soldado com fome não briga. In: ARRUDA, Demócrito Cavalcante de;
MORAIS, Berta; et al. Depoimento de oficiais da reserva sobre a F.E.B. 3. ed. Rio de Janeiro:
COBRACI, s/d. p. 263
81
PIAUÍ, BI n. 119, op. cit., p. 514.
30
portanto, para eles tinham um lugar reservado para fazer suas refeições em que a
liderança da mesa é sempre condicionada pelo oficial antigo ou com patente superior.82
A lotação de soldados no BC foi variou bastante durante a guerra por diversas
motivações. Sofreu aumento em alguns momentos, noutros sofreu algumas baixas. O
número raramente se mantinha o mesmo. Por exemplo, o efetivo de janeiro de 1942 era
506 homens83. Mesma coisa não encontraríamos no mês seguinte. Durante o período de
alerta, o efetivo sofrerá algumas modificações que caracterizadas por constantes
tentativas de aumentá-lo, ou até diminuí-lo. O processo pode ser explicado pelo
licenciamento de alguns militares que não tinham condição de continuar no serviço 84,
assim como o transito de praças que culminará no começo da mobilização para o
preenchimento de claros nas linhas.85 Até meados do ano de 1943, a quantidade de
praças baixados estacionava na casa das quatro dezenas. Com a guerra, a necessidade de
transferências de praças para cobertura de claros emergenciais para cobrir a demanda
em outras unidades. Dentre os destinos possíveis, os praças eram mais direcionados às
guarnições do 24º BC ou o 23º BC.86
A nova Cia. de Fuzileiros aproveitando os reservistas de 2ª categoria do Tiro de
Guerra n.79, será o aumento do efetivo.87 Com a efervescência da guerra, o Ministro
objetiva utilizar as reservas para preenchimento de claros nas guarnições, declara que os
alunos do TG passam para a condição de reservistas de 2ª categoria.88 A ausência de
reservas com a convocação no início de 1943 não restabeleceu quadros de praças
necessárias. No entanto, a incorporação não foi imediata da nova Cia.
A primeira mudança de efeito imediato na estrutura do 25º BC aconteceu na
organização da companhia de fuzileiros: a redução da quantidade de homens no PE.
Nesse período era constante até remanejamento de praças para as companhias do
próprio 25º BC. Além disso, todos os reservistas teriam que passar por exames médicos
82
Ver art. 267. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 25.
83
PIAUÍ. BI n. 7, 25º BC, 9 de janeiro de 1942, p. 34
84
Licenciamento de sargentos com mais de 55 anos de idade. PIAUÍ. BI n. 168, 25º BC, 26 de julho de
1943, p. 922.
85
Essa primeira fase de convocação foi destinada aos reservistas de 2ª categoria. PIAUÍ. BI n. 18, 25º
BC, 22 de janeiro de 1942, p. 79.
86
Como era realizado os transportes paras as unidades de São Luís e Fortaleza respectivamente. Cf. Idem,
2008, p. 114.
87
PIAUÍ. BI n. 85, 25º BC, 14 de abril de 1942, p. 761.
88
Ver artigo 120. BRASIL. Congresso. Senado. Decreto nº 1.187, de 4 de abril de 1939. Dispõe sobre o
Serviço Militar. Diário Oficial [da] República do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 11 de abril de
1939. Seção 1, p. 8205. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-
lei-1187-4-abril-1939-349238-publicaçãooriginal-72193-pe.html>. Acessado em: 22 de abril de 2017.
31
na Junta Médica89 para lotá-los nas subunidades. Mesmo depois do ter sido criada a 3ª
Cia. de Fuzileiros, o efetivo do BC tornou-se menor do comparado ao início do ano com
485 homens.90 Essa constatação deve-se ao fato de que uma companhia precisa para
esses de soldados para determinadas funções, sendo assim, os soldados foram
cadastrados nas instruções pelo Comandante do Corpo para que se especializassem.
Frequentemente abririam vagas para os cursos de instrução para sinaleiros91,
columbófilos92, sapadores93, radiotelégrafos94, armeiros95, etc. O efetivo aumentará
oportunamente na passagem do ano de 1943 chegando ao cume dos 803 homens96, e o
máximo que foi encontrado no Boletim no ano de 1944 foi de 806 homens97.
Havia outro serviço que movimentava bastante o número de praças do 25º BC
para a manutenção dos praças in corpore sano na realização de atividades do BC. A
Formação Sanitária Regional (ou Formação de Saúde Regional, no ano de 1944) fica
responsável pela saúde de todos na guarnição. Ela é encabeçada por um 2º tenente-
médico e por um sargento-enfermeiro. São todos responsáveis por toda escrituração,
confere as informações das baixas obtidas na guarnição. Ainda mais, devem realizar
cuidados médicos aos praças que se encontram baixados na Enfermaria Regimental.
Vários motivos explicam o porquê da grande quantidade lotados na ER. Podemos
enumerar a falta de higiene dos soldados antes de prestar serviço militar; as moléstias
adquiridas durante o tempo de serviço militar, os acidentes durante as marchas;
problemas com álcool constantemente recorrentes; acidentes relacionados à monta das
cavalariças; durante o treinamento com tiro, ou até mesmo nos desentendimentos entre
os praças que houvesse luta corporal. O quadro mostra que alguns dos baixados
demandavam bastante atenção, ao considerar o grau da moléstia. Alguns davam entrada
por reincidência da mesma enfermidade. A higiene e os cuidados com a saúde não
89
Ela também fazia exames de praças que eram destinados para a 8ª RM. PIAUÍ. BI n. 66, 25º BC, 20 de
março de 1942, p. 272.
90
PIAUÍ. BI n. 102, 25º BC, 6 de maio de 1942, p. 427
91
Caracteriza-se como função exercida por praças do 25º BC na execução de trabalhos com as
transmissões recebidas e enviadas da unidade para outras guarnições, MG e RM.
92
Os columbófilos caracterizam-se como outros tipos de sinaleiro, no entanto, se diferem no cuidado e no
uso dos pombos-correios como principal via de transmissão de informações.
93
Essa função encarrega os praças de realizar pequenos trabalhos de engenharia militar, principalmente
quando diz respeito a utilização dos morteiros de 81 mm que haviam na guarnição.
94
É uma atividade nova no processo de modernização do 25º BC, em que esses praças ficariam
responsáveis por transmitir informações radiotelegráficas de outras unidades e vice-versa, ao Comandante
da Tropa.
95
Responsáveis por limpar, corrigir imperfeições e lubrificar as armas do paiol do 25º BC para que elas
estejam em perfeito funcionamento.
96
PIAUÍ. BI n. 102, 25º BC, 7 de maio de 1943, p. 515.
97
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 11 de janeiro de 1945, p. 43.
32
estavam no rol das preocupações da camada pobre da sociedade piauiense, quanto mais
no quartel. Não seria tão assustador o quadro apresentado dessa forma no 25º BC,
principalmente a considerar que estavam sendo preparados ali, os corpos da pátria para
combater o inimigo.
O BI informava a quantidade de praças baixados na Enfermaria. Quanto a análise,
destacamos um ponto importante com relação à quantidade e a reincidência dos praças
baixados. No ano de 1942, sempre havia de 20 a 30 praças baixados na ER. A
quantidade dos baixados cresceu vertiginosamente ao impelir a necessidade de mudar a
Enfermaria para um outro lugar, localizada na Praça Saraiva.98 O objetivo era aumentar
o lugar para que atender as carências de leitos que não existiam no 25º BC. Houve até
mesmo edital disposto no Diário Oficial para quem desejasse empreitar a construção
sob patrocínio da Unidade.99
O ano de 1943 foi mais movimentado que 1942. A reincidência de praças era
muito grande, por exemplo, um expedicionário que embarcou para a Itália, o sargento
João Paulino Torres, abordado no trabalho de Clarice Helena Santiago Lira, teve entrada
mais de três vezes na ER, sendo que houve duas reincidências longas no ano de 1943.
Em um dia chegava-se a 46, no outro a quantidade aumentava vertiginosamente. A
contagem cessou em 1944 até meados de 1945, porque os dados passaram a ser
camuflados.100 Anteriormente, informavam sobre praças e oficiais baixados pela
discriminando-os por subunidade. Compreendemos que a situação especifica no 25º BC
que era quadro visível nas demais guarnições, fica incumbido de enviar os praças para
os hospitais civis no intuito de acelerar o tratamento de praças e oficiais do Exército.
Diante de tantas baixas no 25º BC, era dever do oficial-médico instruir seus
comandados auxiliando-os com medicina preventiva, ao invés procurar corrigir o erro
quando constatado.101 Porém, acreditamos que, por mais que houvesse rigidez nesse
sentido, muitos transgrediam porque a profilaxia como o Exército pregava não se
configurou. Nesse momento, se encontrava a tática dos praças. Falaremos disso ao
abordarmos a questão do treinamento para combate. Dessa forma, os praças que muito
permaneciam na ER processava-se a reavaliação no intuito de auferir se havia condição
98
PIAUÍ. BI n. 105, 25º BC, 7 de maio de 1943, p. 509.
99
PIAUÍ. Construção de uma enfermaria para o 25º BC. Diário Oficial, Teresina, 2 jul. 1942, p. 4.
100
Não sabemos o porquê de não dispor mais o número de praças durante esses dois anos. Até o momento
a única possibilidade plausível se encontra na quantidade de praças baixados.
101
Ver art. 340. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 60.
33
para continuar com o serviço militar. Caso contrário eram licenciados102 e desligados do
BC na condição de reservistas103.
O 25º BC possuía o serviço próprio de farmácia, que segundo o RISG, deveria
constituir-se departamento da FSR.104 A medicação era ministrada nos praças conforme
o conhecimento das drogas no tratamento das intempéries furtivamente atacando os
praças. O BI informa a enorme quantidade drogas medicinais entraram durante o recorte
analisado, todas elas oriundas da RM em caixotes trazidos pelo transporte marítimo ao
Piauí.
Eram discriminadas pelo oficial do dia os caixotes em que condicionados esses
medicamentos para serem descartados pelo serviço de farmácia da RM. A constatação
corrobora com a informada falta de enfermeiros na Região. Não havendo pessoas
responsáveis para cuidar da farmácia, como zelar para esses medicamentos não perder a
validade? Esse era o motivo de descarte de tantos medicamentos em grandes
quantidades. A necessidade foi constatada por farmacêuticos civis admitidos no 25º BC
mediante após a circular do Ministério.105 Em suma, explica o porquê de o MG baixar
uma portaria determinando que o auxílio da medicina civil poderia ser utilizado pelos
militares caso houvesse necessidade.
A medida foi extremamente benéfica para o 25º BC. O benefício se encontra
justamente na construção do Hospital Getúlio Vargas106 que surgiu como necessidade de
modernização no âmbito da saúde na medicina piauiense, a criação de uma ala que
atendia somente a ocorrências militares atendeu a uma necessidade de mobilidade
complicada para a guarnição porque o Hospital Militar mais próximo da guarnição
ficava na sede da 10ª RM, em Fortaleza.
Os balanços realizados no BI apresentavam somas de cruzeiros destinadas ao
HGV107. O 25º BC no ano de 1943 chegou a pagar 112 diárias de hospitalização. 108
Havia necessidade de instrução para a medicina de guerra. Foram dirigidos estudos no
campo acadêmico no tratamento não só das feridas da guerra, como também na
102
Dispensa do serviço militar.
103
A reserva do exército é uma condição na qual o militar é dispensado do serviço. Na condição de
dispensa, esse civil será remanejado a condição da reserva para que seja utilizado em algum momento,
como na guerra, ou numa necessidade de serviço.
104
Ver art. 88. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 25.
105
PIAUÍ. BI n. 35, 25º BC, 11 de fevereiro de 1942, p. 233.
106
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Op. cit., p. 67-168.
107
PIAUÍ. BI n.158, 25º BC, 14 de julho de 1943, p. 895.
108
PIAUÍ. BI n. 178, 25º BC, 6 de junho de 1943, p. 981.
34
adaptação física e psicológica dos corpos.109 Contudo, não houve demanda nenhuma que
obrigasse o HGV a tratar de feridos de guerra. Nem guerra direta que gerasse tal
demanda. Pelo contrário, o HGV como um grande empreendimento do Estado Novo,
como o símbolo da modernidade para atender uma nova demanda em que mais estava
presente a preocupação com a saúde dos militares.
A Formação Veterinária foi outra necessidade do 25ºBC pela grande presença de
muares e cavalos. Para o Exército que se pretendia moderno, ou melhor, um Exército
Profissional, a existência de viaturas hipomóveis parecia uma ironia. Os BI’s analisados
do recorte mostram exatamente a predominância dos muares e cavalos, de uso durante
todo o dia, nos vários serviços de transportes, de cavalariças e nas guardas realizadas ao
redor do batalhão diuturnamente.
A necessidade do serviço de hipomóveis demandava de formação de veterinários
no BC, principalmente na competência do chefe da FV cuja organização se articula
semelhantemente a FSR. A grosso modo, a FV é composta por um 2º tenente-
veterinário, auxiliado por um sargento-enfermeiro e um soldado ferrador que mudavam
anualmente conforme necessidades ou transferências para outras unidades. Eles eram
responsáveis por preservar a saúde do animal potencializando seu desempenho.
Constantemente eram avaliados por sua capacidade física para o serviço militar. Caso o
diagnóstico constatasse a incapacidade física para o serviço, eram vendidos. O cuidado
com os muares era interessante pelo fato de que eles eram alimentados justamente no
momento em que a tropa arranchava.
A RM disponibilizava de quantia em dinheiro para compra de alimentação dos
equinos. O 25º BC comprava muares e também com ajuda da Prefeitura que indicava os
criadores ao redor da cidade de Teresina. Assim, ficava a cargo do 2º tenente-veterinário
por analisar a condição física, além das características dos muares. Deveriam ser
robustos e com dorso forte. Deveria verificar também a envergadura do animal e altura
média estipulada como altura 1, 40 m.110 O atributo destinaria o animal ao serviço de
cavalariças111. Ele é regulamentado pela escala de serviço do 25º BC para a guarda
montada. Geralmente essa função é realizada pelo cabo da guarda auxiliado por um
soldado. O Comandante recomendava que as viaturas fossem verificadas antes de
109
Ver mais em: PARANAGUÁ, Correntino Nogueira. Tratamento atual das feridas de guerra. In:
Revista da Associação Piauiense de Medicina, Teresina, 1941, pp. 5-11. Arquivo Público do Piauí.
110
PIAUÍ. BI n. 73, 25º BC, 28 de março de 1942, p. 297.
111
Art. 239. A guarda das cavalariças é parte integrante do serviço interno da subunidade, sendo
constituída por um cabo e pelos soldados indispensáveis ao serviço. BRASIL. Congresso. Senado. op.
cit., p. 69.
35
saírem. Essas viaturas tinham tendências a dar problemas quando os eixos não estavam
devidamente lubrificados.112
Saídas de praças depois das 22 horas era completamente vedada113. As cavalariças
exerciam o patrulhamento da cidade durante a noite nas áreas de lazer e de meretrício da
cidade onde muitos praças transgressores eram encontrados, quando menos
perambulando pela cidade. Isso será abordado eventualmente no terceiro capítulo.
O contato de praças e graduados com a sociedade em tese, deveria ser mínimo.
Em todo caso, as aparições deveriam ser circunstanciadas pela devida paramentação as
roupas e que momento deveriam ser usadas eram condições estabelecidas pelo RISG.114
Nesse período ser militar não era somente vestir uma farda, era usar a sua segunda pele.
Cada comandante de subunidade deveria velar por seus comandados para que não
andassem na rua descaracterizados, até mesmo se o praça for a barbearia para cortar o
cabelo é obrigatório o uso da farda.115 Entretanto, essa medida tinha importância para
identificar os praças transgressores.
Para o serviço de guarda, o policiamento da Força Policial atuava em anuência
com o 25º BC também disponibilizando força para conter contraventores. O
Comandante determina os afastamentos do 25º BC, por exemplo: soldados
ordenanças116, o almoxarife, pessoal do aprovisionamento, pessoal da tesouraria, de
ordens, correspondência, padioleiros de serviço, os soldados do rancho em serviço e o
enfermeiro em serviço. Eles podem sair sempre com a observância do oficial do dia, do
sargento adjunto ou do chefe das cavalariças.
O escopo do 25º BC era tornar-se uma unidade do Exército Profissional.
Entretanto, como ser moderno e profissional, se não havia na sociedade piauiense
homens instruídos para esse fim? Existia um contraponto gravíssimo ao pretender
alcançar o patamar técnico e fortemente adestrado. A mobilização não corrigiu o
problema com a convocação117, ou muito menos com o voluntariado118. Mesmo
estabelecendo o desejo de homens alfabetizados, muitos poucos deles se dispunham ao
112
PIAUÍ. BI n. 34, 25º BC, 10 de fevereiro de 1942, p. 148.
113
Considera-se como Transgressão disciplinar pelo RDE. Está disposta no item 43 do art. 13. Idem,
1942, p. 5.; PIAUÍ. BI n. 123, 25º BC, 2 de junho de 1943, p. 653.
114
PIAUÍ. BI n. 183, 25º BC, 7 de agosto de 1944, p. 1137.
115
PIAUÍ. BI n. 112, 25º BC, 16 de julho de 1942, p. 476.
116
Um soldado que se encontra às ordens de um oficial, comandante da tropa ou comandante de
subunidade. Ver art. 244: BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 70.
117
Foram realizadas várias convocações durante a guerra. Primeiro convocou-se os oficiais: PIAUÍ. BI n.
35, 25º BC, 11 de fevereiro de 1942, p. 141.
118
PIAUÍ, BI n. 150, 25º BC, 5 de julho de 1943, p. 816
36
serviço militar. Isso será explicado no próximo capítulo. Contudo, era responsabilidade
que o 25º BC deveria assumir com os praças que adentram ao serviço no Exército
pertencentes aos extratos mais baixos da sociedade. A medida poderia auxiliar os praças
nos serviços que requereriam o mínimo de instrução, isto é, ao para realizar trabalhos
condizentes com uma Tropa profissional.
Os praças eram matriculados pelos oficiais das subunidades. Eles eram
direcionados à Escola Regimental que funcionavam nos despojos do Batalhão. Quanto a
Escola, os resultados eram bons. Pouco se aproveitava os cursos de instruções que o 25º
BC matriculava alguns praças. Eram destinados e dias depois apareciam notificações ao
Batalhão do praça matriculado com o cancelamento da inscrição por não frequentar as
instruções, ou por não obter grau de suficiência para continuar no curso. Enquanto isso,
o 25º BC improvisava alguns praças em serviços com cursos emergenciais dispostos
pelo Comandante do Corpo.119
A motorização do 25º BC se consolidou de forma gradativa e bem lenta depois da
guerra. Chegaram as primeiras viaturas ainda em 1942, contudo só sua presença não era
o bastante. Era preciso haver praças para guiá-las. Era preciso praças capazes para
realizar manutenção. Tudo que havia na guarnição era um manual que instruía como
realizar a manutenção.120 A cota de combustível no período de guerra foi estabelecida
para consumo por ano para cada uma dessas viaturas. Era necessidade haver maior
movimentação no território piauiense. Houve uma grande dificuldade de efetivação do
serviço pela falta de condutores para guiar as viaturas. Dessa forma, voltava-se à estaca
zero.
Durante a guerra, podemos perceber que ela pouco afetou a organização do
Batalhão. A estrutura do 25º BC refletia a situação brasileira durante a guerra. As
despesas do governo com os militares sempre foram irrisórias se comparadas a dos
países beligerantes. No fundo, os militares brasileiros careciam de preparo porque a vida
do praça no quartel seguia outro rumo ao rumo da modernidade. O 25º BC era uma
tropa da qual as ideias e a doutrina da Missão Militar Francesa estão firmemente
cimentadas na estrutura das subunidades, na hierarquia e nos órgãos que fazem parte da
guarnição. Os conceitos são básicos, mas nos expostos permitem mostrar o porquê que
o Exército ainda não era preterido pelos jovens. No fundo, toda a tentativa de
119
Atividade comum. O necessário era ter praças preparados para os novos serviços a demandar mão de
obra profissional para o funcionamento.
120
PIAUÍ. BI n.184,25º BC, 8 de agosto 1944, p. 1143.
37
121
HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1870: programa, mito e realidade. Trad. Maria
Celia Paoli, Anna Maria Quirino. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 170.
39
Durante o recorte de 1939 até 1942, caberia ao Diário Oficial papel de informar
os piauienses sobre a guerra. Apontado por Francisco Alcides do Nascimento, o Diário
Oficial originalmente possuía função de ser porta-voz do noticiário oficial do Estado do
Piauí.126 Os gestores do DEIP, compreendiam a necessidade de um periódico destinado
a informar as ações do governo, mediante o muito bem observado no Estado – ou
melhor, do Brasil como todo – um déficit educacional no Brasil. O déficit combinado a
122
FERRAZ. Francisco César Alves. op. cit., p. 20-21.
123
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 87-127.
124
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 57.
125
BRASIL. op. cit., p. 8.
126
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 56.
40
127
VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural no Estado Novo. In: DELGADO,
Lucília de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge; et al. O tempo do nacional-estatismo: do início da
década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 149
128
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Op. cit., p. 57.
129
Não sabemos mesmo se houve mesmo esse grande clamor da população como foi afirmado pelo
diretor. O que podemos afirmar é que esse informe abordou essa notícia do grande clamor. PIAUÍ. Novos
Moldes. Gazeta, Teresina, 23 out. de 1942, p. 1.
130
CARONE, Edgar. A Terceira República (1937-1945). São Paulo: DIFEL, 1976. p. 48
41
131
As páginas eram recheadas de propagandas, e muitas delas até exploravam a imagem da guerra para
anunciar produtos: “Defendei a integridade da nossa queria Pátria e procurai amparar com a mesma
demonstrada bravura, o futuro da vossa família, instituindo, quanto antes, uma pensão mensal e vitalícia,
de cem a mil cruzeiros, no MONTÉPIO GERAL DE ECONOMIA DOS SERVIDORES DO ESTADO,
instituído e reconhecido de utilidade pública pelo Decreto Federal de 10 de janeiro de 1835, contanto,
assim, 108 (CENTO E OITO) anos de existência, podendo, escrever-se nele, todos os brasileiros de
qualquer profissão, de 20 a 59 anos de idade.” PIAUÍ. Montépio Geral de Economia dos Servidores do
Estado. Gazeta, Teresina, 20 jan. de 1944, p. 2.
132
A estrutura em geral consta nas quatro páginas. Quando há manchetes cujas informações são
numerosas, há o acréscimo das duas páginas a mais.
42
133
PIAUÍ. Os alemães já executaram nos países ocupados milhares de pessoas. Diário Oficial, Teresina,
25 set. de 1942, p. 1.
134
Não será somente com os soviéticos. Com a França acontecerá também da mesma forma. A situação
francesa demandou grande atenção por parte das revistas Zodíaco e Voz do Estudante.
135
BONALUME NETO, Ricardo. op. cit., p. 34.
136
FALCÃO, João. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial: testemunho e depoimento de um soldado
convocado. Brasília: UNB, 1999. p. 54.
43
137
PIAUÍ. A cinquenta milhas de Smolensk. Gazeta. Teresina, 19 mar. de 1943, p. 1.
138
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 62.
139
FERNANDES, Fernando Lourenço. A estrada para Fornovo: a FEB – Força Expedicionária
Brasileira, outros exércitos & outras guerras na Itália, 1944-1945. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
Biblioteca do Exército, 2011. p. 73.
44
140
idem, ibidem, p. 38-9.
141
PIAUÍ. Solenidade religiosa na Capital. Diário Oficial, Teresina, 21 ago. de 1942, p. 1.
45
142
VELLOSO, Monica Pimenta., ibidem, p. 155
143
RAMOS, Ribamar. Três erros fundamentais. Gazeta, Teresina, 25 out. de 1942, p. 1.
144
RAMOS, Ribamar. Loc. Cit.
46
146
PIAUÍ. Gabinete do Interventor. Diário Oficial, Teresina, 24 ago. de 1942, p. 1.
147
Para atenuar o impacto negativo causado pelo torpedeamento, a quinta-coluna começou,
insidiosamente, a espalhar que nossos navios teriam sido afundados por submarinos aliados, com o
propósito de forçar o Brasil a entrar na guerra. [...] Os aliados nunca tiveram a intenção ou interesse de
forçar o Brasil a entrar na guerra; desejavam tão somente cooperação, ou seja, a cessão das bases do
Nordeste e o fornecimento de matéria-prima, o que já tinham, por força dos acordos assinados.
SILVEIRA, Joaquim Xavier da. A FEB por um soldado. São Paulo: Nova Fronteira, 1989. p. 40.
148
BONALUME NETO, Ricardo. Op. cit., p. 119.
149
A mobilização da guerra muito se assemelhou a empreendida pelo Estado Novo. Por esse motivo, será
uma das memórias presentes no momento atual. Ver mais em: ARAÚJO, Johny Santana de. Bravos do
Piauí! Orgulhai-vos... a propaganda nos jornais piauienses e a mobilização para a guerra do Paraguai,
1865-1866. 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2015. p. 19-24.
150
O Duque de Caxias era o Patrono do Exército. Tanto que o dia do seu nascimento é considerado dia do
Soldado. A propaganda de guerra e de exaltação dos heróis do passado aconteceu principalmente na
esfera militar. Mediante os documentos de pesquisa da autora nas corporações militares piauienses 25º
BC e 26º CR, ela pode comprovar a exaltação da figura do Duque de Caxias, despertando na sua figura a
imagem do patriota que teria contribuído em sua força de combate para o bem da pátria.
151
PIAUÍ. BI n. 198, 25º BC, 24 de agosto de 1944, p. 1224.
48
152
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, trad. de Yara
Aun Khoury, São Paulo, 1993. p. 22-24.
153
Segundo o artigo 247 é toda reunião do pessoal em forma armado ou desarmado. Idem, 1940, p. 71.
154
CYTRYNOWICZ, Roney. Op. cit., 2000. p. 19.
155
COSTA, J. Vaz da. A filosofia de Satanáz. Diário Oficial, Teresina, 10 set. de 1942, p. 3.
49
156
VELLOSO, Monica Pimenta. Op. cit., p. 167.
157
PIAUÍ. Estado de guerra para todo o território nacional. Diário Oficial, Teresina, 1 set. de 1942, p. 1.
158
Fica estritamente proibido fotografias, notícias por escrito ou qualquer tipo de reportagem que aborde
a visita do ministro da guerra ao 25º BC. PIAUÍ. BI n. 94, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 389; PIAUÍ. BI
n. 97, 25º BC, 29 de abril de 1942, p. 401.
159
PIAUÍ. General Francisco Gil Castelo Branco. Gazeta, Teresina, 17 abr. de 1943, p. 1.
160
PIAUÍ. O dia do Soldado. Gazeta, Teresina, 25 ago. de 1943, p. 1.
161
PIAUÍ. BI n. 62, 26º CR, 9 de junho de 1942, p. 112;
50
vários outros que foram todos organizados e planejados em conjunto pelas autoridades
como Comandante do 25º BC, da Força Policial, Prefeito de Teresina e Interventor do
Estado, e em alguns casos o Arcebispo metropolitano.
Os eventos geralmente estendiam-se durante o dia inteiro. A Semana da Pátria,
por exemplo requisitava um lugar para a concentração de todos seguindo,
posteriormente, itinerário pela cidade. Interessante que os informes indicavam até o tipo
de roupas utilizar, de forma que as mulheres e os homens fossem diferenciados. Acima
de tudo, o ápice da passeata se dá com a continência às autoridades ao passar pelo
Palácio de Karnak Ao final do dia, o grand finale era marcado pelo grande discurso
inflamado de patriotismo e fervor cuja finalidade estimular a sociedade.163
A presença maciça da juventude piauiense foi requisito máximo para consolidação
dos eventos. O objetivo era inflamar a juventude às aspirações patrióticas.164 O
momento exigia uma mobilização mais intensiva dos jovens a cumprir o dever militar.
Importante como o discurso explora a ligação do jovem com a parada militar. A
disciplina dos corpos dispostos a perfeita sincronia de marcha dos estudantes,
trabalhadores, reservistas de 1ª, 2ª e 3ª categoria, as bandas da Força Policial, do 25º
BC, em pequenos pelotões deveriam demonstrar fervor patriótico. Essa prática
corrobora com o que Nicolau Sevcenko afirmou sobre as impressões da arte italiana no
fascismo, que foi parâmetro para constituição do Estado Novo, induz a concluir que
regime de Getúlio, e mais particularmente articulado por Leônidas de Castro seguia um
importante padrão personificado, obviamente.
O conjunto dessa concepção envolveria: um líder carismático, uma
hierarquia rigidamente centralizada, a convicção e dedicação integral
dos militantes, um corpus de textos doutrinários, rituais coletivos de
confirmação, propaganda, proselitismo, manifestações públicas, ação
agressiva direta, [...].165
O padrão possuía o mesmo arremate. A organização dos eventos era publicada nos dois
periódicos onde, posteriormente as imagens estampariam as páginas.
A mobilização militar apresentou o seu ápice durante mobilização da juventude
piauiense. A tarefa de defender o território piauiense em tese deveria ser realizada com
162
PIAUÍ. O primeiro aniversário de entrada do Brasil na guerra contra os países do “Eixo”. Gazeta,
Teresina, 22 ago. de 1943, p. 1; VIANA, Benedito Soares. Trabalho apresentado na sessão de 22 de
agosto realizado pelo Grêmio Literário “da Costa e Silva” em comemoração à passagem do primeiro
aniversário da entrada do Brasil na atual conflagração mundial. In: Revista a voz do estudante, Teresina,
1942, p. 9-10. Arquivo Público do Piauí.
163
PIAUÍ. Semana da Pátria. Diário Oficial, Teresina, 2 set. de 1942, p. 3.
164
PIAUÍ. BI n. 86, 26º CR, 29 de junho de 1942, p. 163.
165
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes
anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 208.
51
166
SANDES, Valdemar. 7 de setembro. In: A voz do estudante, Teresina, 1942, p. 1. Arquivo Público do
Piauí.
167
VIEIRA, Álvaro de Alencar. Um passado e um presente. In: Zodíaco, Teresina, 1944, p. 15. Arquivo
Público do Piauí.
52
patrióticos sempre farão menção à guarnição piauiense como destino dos jovens
piauienses inflamados.
Esse destino seria o serviço militar. Seria o sorteio responsável por direcionar os
jovens para o Exército. A formação do contingente para preenchimento de claros no ano
de 1943, por exemplo foi realizado na 26ª CR. Inclusive, foi digno publicizado pelo
Diário Oficial com fotografias e com explicações sobre o processo. A relevância do
evento foi considerável que contou com a presença do Interventor Leônidas de Castro
Melo, o Bispo Dom Severino, o comandante da Força Policial Evilásio Vilanova, o des.
Corrêia Lima e o prefeito Lindolfo Monteiro Rêgo. Segundo o informe
o número de conscritos relacionados foi fixado em 1.185 para o 1.º
grupo e 592 para o 2.º grupo para a formação do contingente que o
Estado do Piauí deve contribuir em número de 395 para incorporação
no Exército Nacional no próximo ano.
[...] Praticamente, essa operação consiste em se retirar do quadro de
madeira de onde as bolas numeradas se encontram depositadas tantas
bolas numeradas seguidamente, quantos nomes da relação de
alistados, introdutoras na esfera rolante. Lê-se em voz alta o nome do
alistado número 1 da relação e em seguida, tira-se da esfera a bola
numerada, cujo o número será o da sorte do referido alistado. Repete-
se a operação para o número 2 da lista e seguintes, e assim, vão
indicando para os nomes correspondentes da relação em apreço, os
números de ordem dos sorteados.168
Bem elucidativo quando aborda o processo nas especificidades. Ora, o mundo
militar e suas significações nem sempre eram dispostas. Todavia, vale ressaltar que o
processo é irônico, pelo fato Brasil estar em guerra. No entanto, vale destacar que o
sorteio era completamente inaceitável para Ministro. Diante da grande população só
alguns poucos pelo “mero capricho da sorte”, sejam selecionados para o serviço é
ultrajante.169 Desgostando ou não, foi o sorteio170 que direcionaria os homens para às
unidades até o final da guerra. Historicamente, o processo apresentou falhas graves
como comunicação do civil sorteado, e a péssima representação do Exército no
imaginário social da sociedade.
O sorteio habilitava o cidadão a apresentar-se ao 26ºCR e/ou a Junta de Serviço
Militar para repassá-lo à Junta Médica do 25º BC. Somente o resultado dela qualificaria
o jovem cidadão declarado apto ou não para o serviço militar. A partir do momento que
fosse declarado incapaz de realizar serviço no Exército, teria de ser remanejado para a
168
PIAUÍ. edital de convocação dos sorteados. Diário Oficial, Teresina, 14 set. de 1942, p. 3.
169
BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 12
170
Para mais informações sobre o serviço militar, ver o capítulo XVII que dispõe sobre como deveria
funcionar o sorteio. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 21
53
26ª CR. Caso fosse declarado incapaz temporariamente, o futuro praça seria encostado
no 25º BC para receber tratamento médico. O tratamento seria viabilizado para tratar a
longo ou curto prazo a intempérie. Caso fosse declarado incapaz definitivamente, ele
receberia sua caderneta militar171 onde constaria a baixa e dispensa no serviço militar
onde seria remanejado para a 26ª CR onde realizariam o juramento a bandeira nacional.
Primeiramente, durante o alistamento, o indivíduo deveria informar o endereço
corretamente para ser localizado posteriormente pelos correios e telégrafos. O resultado
seria divulgado por meio de uma relação de homens nas páginas do Diário Oficial
estipulando data limite para apresentação na 26ª CR. Caso indivíduo não fosse
localizado o informe seria reproduzido geralmente até três semanas. Passado o prazo, os
que não apreciam eram declarados insubmissos. A insubmissão, da mesma forma, seria
informada no Diário Oficial com todas as características jovem no intuito de ser
rastreado pelas autoridades como a Força Policial, 25º BC e 26ª CR. Era muito comum,
como qualquer informação que fosse realizado o envio de patrulhas no encalço dos
insubmissos.172 A guerra, por seu turno, funciona como agravante da condição porque os
equivale à desertores.
A fuga do serviço militar era algo real no recorte analisado. Encontramos
considerável quantidade de fugas com a lista dos insubmissos presentes nos periódicos
reforçam que nem todos estavam dispostos a dar seu serviço militar. Todavia, a
condição de insubmissão não impedia que o civil servisse como soldado na guarnição.
Esses subterfúgios e as representações das armas no imaginário social pesavam
drasticamente na quantidade por mais que a insubmissão e deserção não fossem
toleradas pelo Exército no momento, já que a época exigia maior quantidade de civis no
Exército de Caxias que se almejava profissional. Acabou que durante o Estado Novo o
fortalecimento da Mobilização por meio da Lei de serviço militar prevaleceu sob o
auspício patriótico como expôs Clarice Helena Santiago Lira:
[...] percebe-se que, mesmo com uma legislação que obrigava o
soldado a cumprir seu dever de cidadão, que poderia implicar em
fortes danos à convivência social para aquele que não a cumprisse, e à
utilização dos meios disponíveis na produção de uma mobilização
militar, que colocava esta como imprescindível à defesa da Pátria, as
configurações históricas presentes no período da mobilização de
171
É a identificação do praça a partir do momento em que ele passa a condição de soldado.
172
No entanto, o praça ficava obrigado a apresentar-se. Ele deverá passar por exame médico e ficar
encostado em alguma subunidade aguardado pena da Justiça Militar do 25º BC. PIAUÍ. BI n. 109, 25º
BC, 13 de maio de 1942, p. 457.
54
173
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 98
174
PIAUÍ. Coisas que não tem preço. Gazeta, Teresina, 7 jun. de 1943, p. 1.
175
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 57.
55
176
PIAUÍ. BI n. 3, 26º CR, 8 de janeiro de 1942, p. 5
177
Em 1942 é estipulado o cruzeiro. No entanto, podemos afirmar com veemência que ao longo do
recorte nunca vimos alguém pagar mais que Cr$ 100,00 de multa por não ter se apresentado a uma
convocação e ao sorteio. Durante a guerra, a condição ficou mais difícil a esse refratário, porque qualquer
tentativa de burlar a lei, aumentava gradativamente a pena, sem falar na perca da condição de reservista.
Essa seria a mais pesada de todas as condições, que realmente impediria de seguir na sua vida civil pós-
Exército.
178
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Economia piauiense: dá pecuária ao extrativismo. 3. ed.
Teresina: EDUFPI, 2006. p. 31-50.
179
O rio Parnaíba, seria considerada uma estrada líquida fluída de escoamento dos produtos brasileiros
como também seria um vetor de comunicação do Estado com o resto do Brasil do mundo. Cf.
GANDARA, Gercinair Silvério. Rio Parnaíba... cidades-beira. Tese (Doutorado em História). 397p.
Brasília. UnB, 2008. p. 302-265.
180
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 92
181
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 129.
56
182
Nos BI’s tem uma parte que é informações sobre pedidos de dispensa. Há muitos só relacionado a isso,
soldados que não compareciam quando convocados e depois só pagavam a multa e iam embora.
183
Os jovens, cumprindo determinação legal, afastavam-se de suas famílias e atividades muitas vezes
importantemente rentáveis, para se apresentarem a caserna; impunha-se, e o clamor se fez quando tal não
aconteceu, que lá encontrassem instrutores e material para bem se formarem, assim como alojamentos e
suprimentos de toda ordem, necessários a um dia-a-dia compatível com a nobreza do momento que
estavam obrigados a viver. Criticava-se que o Exército não tinha competência administrativa e era carente
em recursos, não recebendo, em diversas situações condignamente, os jovens sorteados. BASTOS
FILHO, Jayme de Araújo. A Missão Militar Francesa no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
1994. p. 28.
184
Não encontramos informação semelhante no BI. Vimos uma solicitação do Liceu Industrial ao general
Mascarenhas de Moraes de um militar. Sem onerar ou querer requerer responsabilidade extra a um oficial,
ele encarrega o 3º sargento Sérgio Barreto Filho. PIAUÍ. BI n. 95, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 401.
185
Conceito trabalhado por Francisco César Alves Ferraz na construção da ideia de cidadão soldado
diferentemente da exposta por José Murilo de Carvalho. Nesse caso, a ideia de instruir militarmente cada
cidadão para torná-lo capaz de lutar quando a pátria necessitasse. FERRAZ, Francisco César Alves. op.
cit., p. 57.
186
SEVCENKO, Nicolau. Op. cit. p. 82.
187
Instruções a ser ministradas aos alunos do TG, ver mais: PIAUÍ. BI n. 85, 25º BC, 14 de abril de 1942,
p. 356.
57
188
PIAUÍ. Edital de chamamento de reservistas. Gazeta, Teresina, 27 jun. de 1943, p. 3.
189
Ironicamente Petrônio Portela Nunes foi declarado incapaz para o Serviço no TG. 79. PIAUÍ. BI n.
119, 26º BC, 22 de novembro de 1943, p. 282.
190
FERRAZ, Francisco César Alves. op. cit., p. 59.
191
HAYES, Robert Ames. Nação Armada: a mística militar brasileira. Trad. de Delcy G. Doubrawa. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1991. p. 116.
58
192
PIAUÍ. Reservista ou não, apresenta-te brasileiro! Teresina, Diário Oficial, 3 nov. 1943, p. 4.
193
PIAUÍ. Brasileiro! Teresina, Diário Oficial, 9 out. 1943, p. 8.
194
CYTRYNOWICZ, Roney. op. cit., p. 311.
59
disseminava valores primarciais aos jovens piauienses. Quanto aos letrados, percebemos
uma ojeriza pelo controle militar rígido trabalhado a posteriori. A guerra para alguns
países beligerantes teve aspecto fundamental na sociedade. No Brasil, e especialmente
no Piauí o por mais que houvesse tentativas de aproximá-la, de alertar a todos, de
chamar atenção para mobilização efeitos diretos da guerra só eram sentidos aqui quando
o governo agia na economia tabelando os produtos, encarecendo a do piauiense por
meio dos aumentos que estavam presentes no Diário Oficial pela comissão de
mobilização econômica.
Se existiam pessoas que acreditavam e colaboravam com o estado de
guerra na cidade, obedecendo como podiam as instruções vindas das
autoridades, isso não ocorria com a totalidade da população. Havia
aqueles que percebiam os esforços para o exercício do serviço como
uma diversão, uma “teatralidade”. A “festinha do alarme”, como
recorda nosso memorialista, servia nesse período, para alguns sujeitos,
como um espetáculo produzido pelo chefe de Polícia, diretor dos
serviços no Estado, “para demonstrar que o Piauí também estava na
guerra”.195
Precisamente, tal ação chamamos de tática: nem sempre uma representação é
apropriada da forma que é disposta. Como não duvidamos que os jovens do tempo
tenham utilizado a guerra como um momento para flertar as mocinhas atraentes na
praça, ao meio de um comício público. Quem realmente duvidará? Certamente, a guerra
não teve a mesma consequência no Piauí, mesmo com todo o clima de efervescência
criado. A propaganda do Exército não conseguiu apagar as machas do passado, mesmo
ressaltando o glorioso Caxias. Mobilizar jovens voluntariamente para o Exército não
fazia sentido quando eles se recusavam a ir convocados. São outras questões que são
introduzidas para que sirva de força motriz a novas análises.
Aqui, somente os Liceus poderiam fornecer jovens especificamente para a função
descrita. Ora, até medidas que tentaram aproximar as armas do meio acadêmico, mas
não surtiu o efeito desejado. Eles ficaram concentrados na função de mobilização,
todavia, servir no Exército como praça era inconcebível. O trabalho de disponibilizar
seus serviços ao Exército por outro lado, seria o sertanejo ou o filho de família pobre,
que não tinha muitas oportunidades no interior do qual viera. Esses jovens em sua
grande maioria eram analfabetos. Não tanto diferente da pequena parte letrada, havia
uma pequena aversão ao serviço militar pelas impressões maculadas que mancharam a
imagem do Exército brasileiro diante da sociedade.
195
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 28.
60
196
PIAUÍ. BI n. 236, 25º BC, 10 de dezembro de 1942, p. 1170.
61
197
Foi a França quem ganhou a guerra. A lembrança de Verdun eclipsa todas as outras batalhas. O
exército francês impôs-se como o primeiro da Europa e do mundo. As instituições da França são copiadas
pela maioria dos novos Estados: a Tchecoslováquia, a Polônia e outros países adotam constituições
inspiradas no modelo político da França. Ver mais em: RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos
nossos dias. Trad. de Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 32.
198
Várias obras que abordam a questão problemática da visão defensiva dos franceses, explicaremos o
porquê a Grande Guerra marcou drasticamente o imaginário francês sobre a guerra. O melhor exercício
de reflexão sobre esse assunto foi feito por Marc Bloch. Ver mais em: BLOCH, Marc Leopóld Benjamin,
op. cit., p. 93.
199
Dispensa do serviço militar
200
Quando o soldado efetiva após o período obrigatório de serviço militar.
62
Ao prestar o serviço militar o indivíduo perde sua condição como civil. A palavra
“incorporar” representa a formação e o desenvolvimento do desenvolvimento do
espírito de corpo. Ela consistirá em apresentar o indivíduo à sua subunidade. No ato da
incorporação a mística é pautada no dever assumido com a instituição no qual Erving
Goffman nomeia de compromisso e adesão.201
Logo após, devem compreender como funciona a hierarquia. Faz parte do
processo de mortificação do seu “eu civil”. O momento consiste na instrução dos
deveres do praças como corpo da pátria, em aprender ensinamentos que são necessários
a vida do praça, ou melhor disciplina do soldado de infantaria. Quanto ao momento,
serão pensados de forma esquemática procedimentos202 para cada praça no cotidiano da
guarnição.
A hierarquia era sempre respeitada? Muitas vezes não. Mas, ela deveria ser
pautada sempre na relação entre oficial e os praças, na qual encontra-se em condição
superior ao outro, respectivamente. A grande maioria dos oficiais gozavam de boa
situação social. Na teoria, o oficial na figura de chefe deveria inspirar a admiração e
respeito dos seus subordinados. Veremos esse comportamento e concretizar, nos relatos
de disciplina. As tropas possuem um nível de indisciplina variado. Existem soldados
que eram completamente difíceis de lidar. Constantemente soldados eram detidos por
indisciplina para com seus oficiais, eram quase todas transgressões leves/médias e
algumas transgressões graves.
Precipuamente, o soldado também deveria mostrar disciplina com a destreza do
corpo, como explicitou Adriana Iop Bellintani
sempre que o serviço começa, o comandante coloca a tropa em
posição de sentido. Os exercícios feitos a pé tem por objetivo,
estimular a destreza, o vigor físico, o aumento da resistência (sic),
fazendo uso das armas no serviço de guarnição.203 (grifo do autor)
A sincronia de exercícios e posturas devem ser ensinadas aos praças no primeiro
momento que adentram a caserna. A estratégia é submeter o soldado em posição de
respeito ao oficial. A grosso modo, alguns historiadores evocam essa relação como uma
quase escravidão, como afirmou Francisco César Alves Ferraz:
as relações sociais entre oficiais e praças evocavam os tempos de
escravidão tanto na bonança quanto na tempestade. A cordialidade de
201
GOFFMAN, Erving. op. cit., p. 147-8.
202
CERTEAU, Michel de. op. cit. p. 103.
203
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243
63
204
FERRAZ, Francisco César Alves. op. cit., p. 56.
205
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243.
64
base de fogo – Tiro M1 –, e tiro de base de fogo – Tiro M2. Cada um desses tipos
atendem a necessidade de tiro ou de avanço ou tiro de apoio no qual fica por
responsabilidade de transmitir as instruções pelo comandante da Cia.206
Os informes falam a respeito da linha de tiro ela nunca era fixa.207 Ao contrário da
Força Policial, o batalhão não dispunha de um lugar fixo. Certamente, o comandante
deveria ter cuidado porque o prefeito de Teresina recomenda aos oficiais que não façam
exercícios próximos de escolas. Qualquer ação nesse fim, geraria efeito negativo à
educação porque as ações poderiam tirar a atenção dos alunos.208
A hierarquia impedia que oficiais, graduados e soldados tivessem mesmos
direitos, deveres e principalmente as mesmas regalias. Muito menos poderiam misturar-
se. A relação mais próxima, nos padrões de regulamentos franceses, poderia seria algo
ruim para a liderança. Certamente, a prática de tiro reproduziria as mesmas condições
de separação. Os oficiais do Estado Maior – do 25º BC, que são diferente dos
subalternos, ligados às subunidades – praticavam tiro conforme designado pelo
Comandante do corpo de tropa.209
Com relação ao armamento, os únicos que poderiam andar munidos eram os
oficiais. Segundo o modelo francês, o oficial não poderia ser munido de
fuzil/mosquetão. A arma utilizada pelo oficial é a pistola que segundo a concepção de
John Weeks, ela é de dois tipos: revólver ou pistola automática. 210 Acreditamos que no
25º BC os oficiais manejavam dois modelos. A primeira pistola era automática de
fabricação alemã conhecida como parabellum211 com cartucho 9 mm de até 9 munições.
Era armamento de exclusivo das forças armadas, ainda por cima, estava entre as
melhores pistolas do mundo. Quanto ao revólver, acreditamos que o modelo utilizado,
por pouco tempo foi o Smith and Wesson cal. 38212 de 5 projéteis e manual. A relação de
206
Infelizmente não dispomos de informações mais precisas sobre a forma como esses treinamentos
deveriam ser mediados aos praças. PIAUÍ. BI n. 33, 25º BC, 9 de fevereiro de 1942, p. 128.
207
O BI faz menção a um acampamento que teria sido realizando na linha de tiro (que não sabemos aonde
fica) durante três dias. PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 12 de janeiro de 1942, p. 40.
208
PIAUÍ. BI n. 95, 25º BC, 26 de abril de 1942, p. 402.
209
PIAUÍ. BI n. 59, 25º BC, 12 de março de 1942, p. 241.
210
WEEKS, John, Armas da infantaria. Trad. de Edmond Jorge. Coleção História ilustrada da Segunda
Guerra Mundial, vol.7. Rio de Janeiro: Rennes, 1974. p. 23
211
Por outro lado, os oficiais alemães da Wehrmacht a chamavam de Luger. Ver mais em: Ibidem, p. 29-
30.
212
O ministro da guerra havia declarado no final do não de 1942, que deveriam ser distribuídos algumas
quantidades de revólveres disponíveis no Departamento de Material Bélico. O hilário da ação é que ele
dispõe a arma, mas não dispõe a munição. Ela ficava a cargo do oficial. Não havia munição
correspondente nos depósitos, por isso eles distribuíam no intuito de achar quem tenha munição calibre
38. PIAUÍ. BI n. 266, 25º BC, 16 de outubro de 1942, p. 1084. No entanto, ainda no início de 1943 alguns
foram recolhidos. PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 13 de janeiro de 1943, p. 19.
65
tiros posta na caderneta militar ao ser documentado e guardado durante a carreira dos
militares e até mesmo para aporte pessoal. Durante o ano de 1943 à diante vimos que a
folha de tiro passou a ser o papel que contém a informação de acertos e erros dos praças.
Com afirmamos anteriormente, a arma é extensão do corpo do soldado. Carece de
cuidado para funcionar perfeitamente com limpeza e lubrificação. Ferrugem, sujeiras de
todos os vultos ou poeira certamente agravariam o bom funcionamento da arma. O fuzil
utilizado era o Mauser M908/34 7x57mm213, referenciado no primeiro capítulo. O
sistema de ação é o ferrolho manual214 a quantidade de tiros que podem ser
acondicionados no tambor215 é de somente 5 projéteis. Toda vez que o projetil fosse
acionado, a capsula seria ejetada mediante o movimento de recuo do ferrolho de ação
em que o gás do disparo jogaria o projétil disparado para fora. O avanço dele inseriria
outro projétil. Essa arma requeria que o praça se habituasse com ela para realizar
constante e perfeitamente a dupla ação de partida do ferrolho.
Em mãos despreparadas para realizar esse esforço, a efetividade de acerto do alvo
era baixíssima. Um acessório do fuzil seria a baioneta será esse recurso no qual a
destreza com o fuzil na estocagem216 deveria “ser rápido e executado com rigor e
precisão.”217 O seu formato é de sabre: longa, um pouco mais comprida que a faca. Ela
deve ser condicionada no cinto do praça na bainha, e encaixada no cano do fuzil para
que fique na ponta, possibilitando a realização do movimento. Esse foi um dentre os
vários fuzis utilizados pelo Exército. As três Cias. de infantaria que compõem o 25º BC
usavam, por isso são conhecidas como “Cia. de fuzileiros”. Como dissemos, ele é de
inteira responsabilidade do praça e qualquer prejuízo ao fuzil, por exemplo, a quebra da
coronha, é passível de ressarcimento do praça ao bem da Fazenda Nacional
danificado.218
213
Fabricado pela Deustche and Waffen Munitionfabrik sobre licença da Mauser Werke, esse modelo é
chamado de M908 porque foi adquirido em 1908 pelo Exército Brasileiro. Quando é derivado do fuzil
utilizado pelos alemães na Primeira Guerra Mundial o infanteriegewehr M1898 O fuzil tinha
comprimento de 1, 247 m; cano de 0,742m e pesava 3, 796 kg. Cf. P. NETO, Carlos F. Fuzís Mauser no
Brasil e as Espingardas da Fábrica de Itajubá (Rev. 2). Armas on-line. São Paulo, dez. de 2015.
Disponível em < https://armasonline.org/armas-on-line/os-fuzis-e-carabinas-na-i-e-ii-grandes-guerras/>.
214
[...] os fuzis de ação manual de ferrolho (repetição), não há muita complicação, mas quando a arma
tem de realizar todo o ciclo do disparo automaticamente, uma série de dispositivos mecânicos engenhosos
entra em jogo, empregando, de uma forma ou de outra, a força da explosão para operar o mecanismo. Cf.
Ibidem, p. 16.
215
Lugar que as bolas são depositas esperando a ação do ferrolho para realização do disparo.
216
É o ato de arremeter a baioneta ao alvo.
217
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243.
218
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 11 de janeiro de 1945, p. 43.
66
219
Mas, no que tange à importante questão do suprimento de armas, que era fundamental à cooperação
militar brasileira, sérios problemas obstaculizavam uma política efetiva: legislação restritiva, a
incapacidade da indústria americana de oferecer preços e condições de pagamento competitivos com
relação às propostas alemãs, o desejo do Governo Brasileiro de conseguir o máximo em quantidade de
armas pelo preço mínimo e a oposição da Argentina. MCCANN JR, Frank D. Aliança Brasil-Estados
Unidos, 1937-1945. Trad. Jayme Taddei e José Lívio Dantas. Rio de Janeiro: Bibliex, 1995. p. 94.
220
MCCANN JR., Frank D. Soldados da pátria: a história do Exército brasileiro, 1889-1937. Trad.
Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 457.
221
Idem, ibidem, p. 449-452
222
PIAUÍ. BI n. 273, 25º BC, 25 de dezembro de 1942, p. 1121.
67
metralhadoras pesadas, com pouca mobilidade, servido apenas como apoio a infantaria.
Ao contrário de algumas armas, a metralhadora utilizada pelo batalhão é descrita
explicitamente decorrente da manutenção constante na troca do cano superaquecido pela
quantidade de tiros. Normalmente, ela será mencionada como arma automática223, ou
Hotchkiss M914224 foi adquirida durante a estadia do corpo de oficiais da Missão Militar
Francesa.225 Sua engenharia permitia pouquíssima mobilização. O campo de visão da
arma dependia da posição fixada por um tripé. Na documentação analisada não vimos
nenhuma menção sobre treinamento de tiro de metralhadoras.226
Constatamos até a presença de morteiros no 25º BC, porque configuram-se como
artilharia móvel para a infantaria. O oficial comandante da CMB instruiria os homens
no manejo e treinamento com morteiros. O manuseio de morteiros requer
conhecimentos matemáticos e físicos aplicados para modificar a trajetória dos projéteis.
Os manuais, ábacos e tabelas provenientes do Estado Maior da Região eram distribuídos
aos praças do CMB227 visando contribuir na instrução. O morteiro era o modelo francês,
o Brandt 81 mm228. Contudo, certamente a instrução com morteiros não se realizaria no
25º BC e, sim em alguma área distante da cidade, dispondo de segurança nos disparos e
ainda por cima não chame a atenção da população com os estrondos e os estampidos
decorrentes do impacto dos projéteis com o solo. E, convém salientar que a mesma
dificuldade foi verificada com a munição que deveria vir periodicamente do
Departamento de Material Bélico do Exército. Somente no final de 1942, é que se falou
algo efetivo sobre o envio de granadas.229
A reflexão da documentação lida nos leva a apurar que a instrução só aconteceu
no âmbito das subunidades. Poucas vezes foram realizadas manobras com o Corpo de
Tropa completo. À guisa da representação, o exercício de manobra de toda unidade
223
No Exército brasileiro, a metralhadora era a única arma automática existente. Ainda não havia
submetralhadoras e muito menos fuzis automáticos.
224
O Brasil utilizou a Hotchkiss M1914, que participou ativamente de conflitos como a Revolução
Constitucionalista de 1932. Os combatentes paulistas, quando a ouviam disparar, a apelidavam de “pica-
pau” devido ao ruído característico de sua baixa cadência de tiro. Cf: P. NETO, Carlos F. metralhadoras e
submetralhadoras da I e II Grande Guerra. Armas on-line. São Paulo, dez. de 2015. Disponível em <
https://armasonline.org/armas-on-line/os-fuzis-e-carabinas-na-i-e-ii-grandes-guerras/>.
225
MALAN, Alfredo Souto. Missão Militar Francesa de instrução junto ao Exército Brasileiro. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. p. 190.
226
Isso se deve também a dificuldade que o Departamento de Material Bélico apresentava com a falta de
efetividade da fabricação de munição.
227
PIAUÍ. BI n. 143, 25º BC, 20 de junho de 1942, p. 608.
228
Foi destinado ao CMB um livro escrito pelo capitão Pavel “O tiro da seção de morteiro Brandt de 81
m/m” escrito pelo capitão Pavel, provavelmente alguém da Missão Militar Francesa. PIAUÍ. BI n. 23, 25º
BC, 28 de janeiro de 1942, p. 97.
229
PIAUÍ. BI n. 263, 25º BC, 7 de dezembro de 1942, p. 1157.
68
aconteceu somente uma vez em 1942, e sem menções no restante do recorte. Nesse dia,
inclusive, todos do 25º BC saíram no início da manhã, para algum lugar não
especificado nos arredores da cidade, visando o aprimoramento de movimentos em
conjunto das companhias. Ao final de toda movimentação de tropas, eles voltaram ao
final da tarde.230
Será que nesses movimentos eles cavavam trincheiras? Cabe a um trabalho
posterior trabalhar com as especificidades desses movimentos de corpo, aos quais não
há muitas informações decisivas sobre o tipo de manobra realizada. A necessidade está
na ampla movimentação dos soldados de forma que fluíssem como uma perfeita
engrenagem. Cada soldado é uma pequena engrenagem dentro do mecanismo de ataque
da unidade. A unidade precisa de um moral elevado. O soldado precisa ser disciplinado,
e o oficial precisa ganhar o respeitado por meio da imposição da disciplina.
230
PIAUÍ. BI n. 240, 25º BC, 14 de outubro de 1942, p. 1068.
231
Entendemos por exército profissional na concepção de Charles de Gaulle, quando afirma que “as
condições modernas da ação militar exigem, pois dos homens de guerra, uma habilidade técnica
crescente. O material que a força das circunstâncias introduz nas fileiras, reclama a aptidão, o gosto, o
hábito de servi-lo. Isso é uma consequência da evolução, tão inelutável como o desaparecimento das
candeias ou o fim dos quadrantes solares. É chegado o tempo dos soldados de elite e das equipes
selecionadas.” Cf. GAULLE, Charles de. Por um exército profissional. Trad. de Urbano C. Berquó. Rio
de Janeiro: José Olympio; BIBLIEX, 1996. p. 52.
69
232
Sobre os oficiais terem vínculo com a biblioteca militar. ver mais em: PIAUÍ. BI n. 31, 25º BC, 6 de
fevereiro de 1942, p. 118.
71
1º Ten. Lindomar
13 6 as 7 Ed. Física Pista do B.C. Freitas Dutra – Oficial
de Ed. Física
1º Ten. Bolívar Oscar
27 7 as 8 Armamento e tiro Escola Regimental
Mascarenhas
Cap. João Henrique
2 7 as 8 Topografia Escola Regimental Gayoso e Almendra –
Cmt. do P.E.
Cap. Olavo Nogueira –
6 10 as 11 Mobilização Escola Regimental Chefe da Secção
Mobilizadora.
Às 5ªs Major José de
9 as 10 Tática Escola Regimental Figueiredo Lôbo –
feiras
Cmt. do B. C.
Fonte: PIAUÍ. BI n. 47, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 194.
Tais treinamentos, seriam direcionados para os oficiais da reservar recém-
convocados. Os oficiais de carreira não eram suficientes para a demanda da guerra. A
necessidade de oficiais técnicos também gerou a formação do NPOR porque
encaminharia os jovens reservistas para realizar serviço militar como oficiais, exigindo-
lhes uma preparação diferenciada para lidar com as subunidades. A formação de oficiais
da reserva aqui era deficitária. Em algumas ocasiões “Não se pode aqui afirmar em que
condições se davam esses cursos, mas imagina-se que havia uma série de limitações em
relação a material, local de treinamento e instrução, como em outros quartéis do
País”.233 Na verdade, os oficiais da reserva eram vistos com bastante desconfiança, ou
melhor, eram vistos como rivais.234
E quanto aos corpos? As deficiências relacionadas ao porte físico também são
gritantes. Muitos historiadores prestaram a desvendar o tipo físico do soldado brasileiro.
Falando sobre as características do soldado brasileiro Joaquim Xavier da Silveira afirma
o seguinte:
O perfil do soldado brasileiro é bastante complexo devido à
miscigenação. Embora não haja um biótipo definido, é possível
encontrar traços comuns ou mais acentuados quando observamos os
usos, os costumes e o comportamento.235
A passagem é introdutória e pertinente para problematização. Os brasileiros são filhos
da miscigenação de outrora, mas as práticas do cotidiano foram a principal ação sobre o
perfil dos piauienses da década de 40. Ora, as condições sanitárias da população pobre
piauiense eram péssimas, mesmo que o discurso oficial ressaltasse a importância da
233
LIRA, Clarice Helena Santiago. Op. cit., p. 85
234
COLLER, Eduardo. As condições sociais e econômicas do país e a mobilização do Nordeste. In:
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op. cit., p. 475
235
SILVEIRA, Joaquim Xavier da. Op. cit., p, 92.
72
modernidade da cidade, a população pobre da cidade vivia longe dos centros. Aliás, se
incrementarmos à conta a péssima alimentação e os vícios que a grande maioria dos
piauienses carregavam, essa a situação tende a agravar-se vertiginosamente. Ele está
correto em afirmar que o soldado brasileiro tem um biótipo bastante complexo derivado
principalmente da miscigenação. Contudo, esse perfil miscigenado escondia problemas
que as vivências cotidianas do século XX proporcionaram as pessoas.
O serviço militar brasileiro herdou da tradição francesa a contemplação do
desenvolvimento físico e ainda por cima ousou na formação de um conceito de físico
exímio do tipo brasileiro. O período estado novista foi o principal vetor de concepções
de aperfeiçoamento dos corpos, principalmente concebendo-as pelo viés militar. A
velocidade das relações, como algumas atividades iam exigindo melhor preparo e a
Grande Guerra foi o melhor exemplo para os franceses de que algo deveria ser feito
para o fortalecimento dos corpos.
Simultaneamente, a metropolização, a vida se tornou corrida na urbe. O cotidiano
começava a adquirir contornos fluidos, de forma que até o descanso segue a mesma
frequência. O ritmo impele o preparo dos corpos. A educação física, o jazz, a vida
noturna, boemia e cinema serão símbolos que marcaram essa fase da sociedade.236
Muito influenciou o serviço militar brasileiro e, segundo Celso Castro, ele se consolidou
no viés militar porque o objetivo era formar o “corpo da pátria”.237
Os praças do 25º BC basicamente marchavam de 12 a 25 quilômetros carregando
pesadas mochilas com barracas, utensílios de uso pessoal, pás, cordas e o armamento ao
considerarmos um pequeno balanço das marchas realizadas. O lugar de realização
ficava a cargo do oficial responsável, tanto que, era comum aos comandantes seguirem
para diversos lugares que desafiassem fisicamente os soldados carregando tudo que
fosse possível. Como referenciou o sr. Francisco de Sousa Primo ao ser entrevistado
pela historiadora Clarice Helena Santiago Lira
[...] instrução de toda natureza corria por dentro da cidade e, naquele
acelerado, [...] umas marchas muito pesadas, acampamento de quinze
dias. No mês de abril de 1944, o inverno foi muito bom, passamos 15
dias lá para as bandas da granja centro, que hoje tudo é cidade; nesse
tempo, era mato. Aqui no Jóquei, passamos 15 dias andando nos
matos, fazendo treinamento, instrução de guerra. Acho que era até
pior do que lá na guerra, chovendo, e a gente acampado dentro dos
matos [...]. Os soldados carregando a mochila, a casa de morada, nas
costas, naquela mochila que ia coberta de lona. E a gente montava,
236
SEVCENKO, Nicolau. Op. cit., p. 278-279.
237
CASTRO, Celso. Op. cit., p. 92.
73
238
PRIMO, Francisco de Sousa. Entrevista concedida à Clarice Helena Santiago Lira. Teresina, 30 out.
2007. Apud LIRA, Clarice Helena Santiago. Op. cit., p. 86
239
POLLAK, Michel. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3,
pp. 3-15, 1989. p. 6.
240
CMB: PIAUÍ. BI n. 21, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 92; PIAUÍ. BI n. 60, 25º BC, 13 de março
de 1942, p. 244; PIAUÍ. BI n. 94, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 388; PE: PIAUÍ. BI n. 32, 25º BC, 7 de
fevereiro de 1942, p. 126; PIAUÍ. BI n. 38, 25º BC, 14 de fevereiro de 1942, p. 157; 1ª Cia.: PIAUÍ. BI n.
33, 25º BC, 9 de fevereiro de 1942, p. 131; PIAUÍ. BI n. 72, 25º BC, 27 de março de 1942, p. 234; 3ª
Cia.: PIAUÍ. BI n. 82, 25º BC, 10 de abril de 1942, p.338.
241
Durante um período ainda do ano de 1942, ele ficará ausente. O oficial que assumiu no seu lugar
acumulava também a função de oficial de informação do 25º BC: 1º tenente da Reserva convocado
Aurino Dias de Freitas. PIAUÍ. BI n. 143, 25º BC, 20 de abril de 1942, p. 608.
74
242
PIAUÍ. BI n. 47, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 194.
243
PIAUÍ. BI n. 126, 25º BC, 28 de maio de 1942, p. 593;
244
PIAUÍ. BI n. 148, 25º BC, 26 de junho de 1942, p. 626.
245
PIAUÍ. BI n. 165, 25º BC, 16 de julho de 1942, p. 589.
246
PIAUÍ. BI n. 292, 25º BC, 18 de dezembro de 1942, p. 1193.
75
247
Geralmente, esses oficiais de educação física também aglutinavam a função de oficial de transmissão
do 25º BC. PIAUÍ. BI n. 195, 25º BC, 21 de agosto de 1944, p. 1202.
248
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op. cit. p. 263-264.
249
LIRA, Clarice Helena Santiago. Op.cit., p. 38.
76
250
A Junta Militar de Saúde também realizava vistorias para a 8ª RM. Os civis eram aqui destinados e
logo após o veredicto eles são reenviados à unidade de onde vieram. PIAUÍ. BI n. 66, 25º BC, 20 de
março de 1942, p. 272.
77
efeito desejado. Ela tinha caráter impositivo visando controlar ao máximo ações e
horários.251 As instruções visando contribuir para o asseio no o batalhão foram
ministradas. Inclusive, houve uma sobre noções de cuidados básicos com doenças
venéreas e outras como impaludismo, febre amarela, varíola, peste, lepra, febre tifoide e
todo tipo de verminose.252 O controle asséptico seria o principal agente contra essas
intempéries. Medidas como asseio das dependências das Cias., e até ação no horário do
banho foram medidas pensadas para tentar coibir a ação de doenças. No entanto, mais
uma vez, as dificuldades da época imperavam porque não havia banheiros nos
dormitórios do quartel. Somente o aquartelamento no PE não havia banheiros e os
soldados eram remanejados para tomar banho nas Cias. Rigorosamente, o banho deveria
ser tomado das 7h30 às 8h00 e durante o período da tarde das 17h00 às 17h30. 253 Essa
recomendação vem da 10ª RM para ser cumprida duramente.254
O controle do aquartelamento muitas vezes encontrou resistência por alguns
praças. O apego dos oficiais aos regulamentos a autoridade e principalmente a completa
subserviência dos comandados embaraçava muitos praças na fase de transição da vida,
ou melhor, a passagem da infância para a juventude. Os padrões de masculinidade
seguiam o ritmo que o século XX impuseram no processo. Dessa forma, alguns vícios
como álcool e drogas, sem falar nos prazeres relacionados à vida sexual ativa, estarão
entre as preferências dos praças do 25º BC na vida noturna teresinense. Segundo Pedro
Vilarinho Castelo Branco,
outro traço caracterizador das vivências masculinas na juventude é a
participação dos rapazes nas diversões noturnas particularmente nos
pipirais (bailes de subúrbio em Teresina no final do século XIX ao
início do século XX). Esses bailes de subúrbio eram espaços
privilegiados para exercitarem a virilidade, para mostrarem aos pares
as habilidades de conquistador, utilizavam, para isso, a boa aparência
e a situação social privilegiada como armas de sedução.255
251
Muitos oficiais médicos passaram ou realizaram estágio no 25º BC. Interessante, que nenhum era de
formação militar, mas sim civis recém-formados nos cursos de medicina que eram remanejados ao
Exército. Alguns deles eram remanejados à guarnição para concluírem a fase de instrução. Ver mais em:
PIAUÍ. BI n. 17, 25º BC, 21 de janeiro de 1942, p. 76; PIAUÍ. BI n. 162, 25º BC, 13 de julho de 1942, p.
677-8; PIAUÍ. BI n. 24, 25º BC, 11 de novembro de 1942, p. 1116.
252
PIAUÍ. BI n. 285, 25º BC, 9 de dezembro de 1942, p. 1164.
253
PIAUÍ. Op. cit., p. 148.
254
O 25º BC deveria seguir as diretrizes do RISG que estabelece basicamente a função, dever e ações dos
praças considerando todas as patentes. No âmbito do batalhão, a autoridade máxima é o Comandante. Ele
baseado nessa outorga, e no RISG tem o dever de definir os horários para todas as atividades no batalhão.
Elas devem sempre acontecer na risca do ponteiro. Cf: PIAUÍ. BI n. 62, 25º BC, 18 de março de 1943, p.
284.
255
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. História e masculinidades: a prática escriturística dos
literatos e as vivencias masculinas no início do século XX. Teresina: EDUFPI, 2008. p. 92
78
256
PIAUÍ. BI n. 26, 25º BC, 3 de fevereiro de 1943, p. 113.
257
Soldado do 23º BC que nem era lotado no 25º BC e estava somente de passagem, foi pego bebendo
aguardente no Estádio do 25º BC. Por outro lado, era comum alertas aos praças para que não bebessem
em serviço. Cf. PIAUÍ. BI n. 62, 25º BC, 18 de março de 1943, p. 284.
258
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 13 de janeiro de 1943, p. 43.
79
seu lugar nos divertimentos noturnos despertando ações indolentes dos praça em suas
ruas. O século XX, como apontou Margareth Rago, apresenta o mundo a economia dos
desejos. A abertura de casas de diversão, cafés, pensões alegres apresentou uma nova
forma de diversão padrões Europa aos brasileiros.259 A calada da noite, muitos praças
ausentavam-se do batalhão para desfrutar a bebedeira, festas noturnas e promiscuidade.
Precisamos lembrar que qualquer saída após às 22hrs era vedada, exceto alguns
destinados ao patrulhamento da capital. Os mais jovens eram assíduos na vida noturna
teresinense. Inclusive, Bernardo Pereira de Sá Filho fará menção a alguns lugares onde
Existiam alguns forrós que já era de praxe ocorrerem confusões como
o Forró do Pedro Toco, no cruzamento das ruas Barroso e Santa
Luzia, nos Cajueiros, próximo ao Barrocão. Acontecia aos sábados, e
sua clientela (cafetões, estivadores, desocupados) era constituída dos
setores mais populares da cidade e do lúmpem da periferia, oriundo
principalmente do baixo meretrício conhecido como Palha de Arroz.
(grifo do autor)260
Os praças do 25º BC eram todos assíduos frequentadores de zonas de baixo
meretrício destacada pelo autor como Palha de Arroz e Móio de Vara. Esses lugares
eram destinados a pratica de sexo com prostitutas. Eram lugares pobres da cidade, e
com condições nenhuma de asseio. Vulgarmente eram conhecidos como “perebais”
porque o sexo geralmente poderia ser um fator para contrair doenças venéreas. Mas, por
outro lado, esse tipo de relação sexual “[...] com mulheres socialmente inferiores,
contrair doenças venéreas eram demonstrações inequívocas de virilidade e macheza no
mundo patriarcal”261, para quem não tinha poder aquisitivo para frequentar onde o
consumo de cachaça e o possível contanto com os entorpecentes encontrariam os jovens
durante a vida noturna.262 Essas áreas, essas práticas eram completamente abominadas
porque essas doenças geralmente causavam várias baixas no Exército, sem falar que o
discurso do Estado Novo coibia essas práticas visando a pureza dos corpos.263
A constante presença do álcool e da prostituição acirrava os ânimos causando
brigas constantemente. Em um curto período de 1942, dois praças foram expulsos do
Exército, por se envolverem em brigas nessas áreas. Mediante a situação, o Comando
declarou:
259
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo, 1890-1930. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. p. 42-48.
260
SÁ FILHO, Bernardo Pereira de. Cartografias do prazer: boemia e prostituição em Teresina (1930-
1970). Dissertação. Mestrado em História do Brasil. Teresina: UFPI, 2006. p, 39.
261
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Op. cit., p. 193.
262
SÁ FILHO, Bernardo Pereira de. Op. cit., p. 77-80.
263
RAGO, Margareth. Op.cit., p. 133-142; CASTRO, Celso. Op. cit., p. 104-111.
80
264
PIAUÍ. BI n. 119, 25º BC, 25 de maio de 1942, p. 513-4.
265
PIAUÍ. BI n. 104, 25º BC, 10 de maio de 1943, p. 525.
266
Como ele é oficial, não é disposto número da lotação. Essa forma de menção, resulta na diferença
entre oficiais e praças. No caso de oficial, faremos menção penas a primeira inicial.
267
PIAUÍ. BI n. 169, 25º BC, 27 de julho de 1943, p. 935.
268
PIAUÍ. BI n. 13, 25º BC, 18 de janeiro de 1943, p. 70.
269
PIAUÍ. BI n. 63, 25º BC, 19 de março de 1943, p. 287.
270
Importante ressaltar que o Estado Novo procurou coagir o indivíduo a dispor seus serviços às armas
brasileiros, que se por algum acaso ele perdesse a condição de reservista, perderia a de cidadão.
81
271
PIAUÍ. BI n. 165, 25º BC, 22 de julho de 1943, p. 910-A.
82
272
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op.cit., p. 311-312.
83
5. CONCLUSÕES
produção a guerra atingia os piauienses. Ela atingia nas festas cívicas e grandes eventos,
mas a forma que os atingia, consequentemente como ela era consumida os punha em via
contrária a ideologia oficial. A vida cotidiana foi modificada pelos reflexos de uma
sociedade que estava passando por processos de mudança gradativas, talvez. Mas,
mudanças que incidiram profundamente na sociedade. Esse estudo não tratou de cobrir
tudo. Afinal, nós historiadores temos contato com uma pequena parte do que aconteceu
no passado. Ainda há muito o que escrever sobre a história militar do Piauí.
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