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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE HISTÓRIA

WANDERSON RAMONN PIMENTEL DANTAS

“PIAUIENSE, SENTIDO! A VOZ DA PÁTRIA SE FEZ OUVIR!”


Adestramento e mobilização de soldados para o 25º Batalhão de
Caçadores durante a Segunda Guerra Mundial

TERESINA-PI
2018
WANDERSON RAMONN PIMENTEL DANTAS

“PIAUIENSE, SENTIDO! A VOZ DA PÁTRIA SE FEZ OUVIR!”


Adestramento e mobilização de soldados para o 25º Batalhão de
Caçadores durante a Segunda Guerra Mundial

Monografia apresentada ao
Departamento de História do Centro de
Ciências Humanas e Letras da
Universidade Federal do Piauí, para
obtenção do título de Licenciado em
História.
Orientador: Prof. Dr. Johny Santana de
Araújo.

TERESINA-PI
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello
Branco Serviço de Processamento Técnico

D192p Dantas, Wanderson Ramonn Pimentel.


“Piauiense, sentido! a voz da pátria se fez ouvir!” : adestramento e
mobilização de soldados para o 25º Batalhão de Caçadores durante a
Segunda Guerra Mundial / Wanderson Ramonn Pimentel Dantas. --
2018.
91 f. : il.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Piauí, Centro de


Ciências Humanas e Letras, Licenciatura em História, Teresina, 2018.
“Orientação: Prof. Dr. Johny Santana de Araújo.”

1. Segunda Guerra Mundial - Piauí. 2. História Militar - Piauí. 3. 25º


Batalhão de Caçadores. I. Título.

CDD 940.53
Elaborado por Thais Vieira de Sousa Trindade - CRB-3/1282
WANDERSON RAMONN PIMENTEL DANTAS

PIAUIENSE, SENTIDO! A VOZ DA PÁTRIA SE FEZ OUVIR!


Adestramento e mobilização de soldados para o 25º Batalhão de
Caçadores durante a Segunda Guerra Mundial

Monografia apresentada ao Departamento


de História, do Centro de Ciências
Humanas e Letras da Universidade Federal
do Piauí, para obtenção do título de
Licenciado em História
.

Aprovado em 29/06/2018.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Prof. Dr. Johny Santana de Araújo
Orientador

______________________________________________________
Prof. Dr. Francisco de Sousa Nascimento
Examinador

_______________________________________________________
Profª. Dr. Antônio Melo Filho
Examinador
Dedico este trabalho ao meu pai e
minha mãe. Foram para mim, uma só
fortaleza cuja estrutura permitiu que
essa pesquisa se concretizasse.
AGRADECIMENTOS

A Deus, senhor do céu e da terra, que através da sua grande benevolência,


concede-me a graça de lutar e concretizar mais um passo na minha vida pessoal e
acadêmica.
A vida! E, pelos sofrimentos por ela proporcionados. Pelos que ainda serão
proporcionados, pois através dos sofrimentos aprendi que a vida é um eterno combate.
Além do mais, diariamente precisamos lutar batalha por batalha para ganhar a guerra.
Aos meus mestres do curso de História, pessoas cuja admiração é nutrida todos
os dias pelos ensinamentos transmitidos que não se restringiram somente à vida
acadêmica ao qual sou aprendiz, mas também servirão para a vida.
A meus pais, Abel Nunes e Maria das Graças, por terem sido minha fortaleza,
meu afago e meu auxilio em todos os momentos bons e nos dificultosos.
Ao querido professor Johny Santana de Araújo: pelas conversas interessantes
que nos levaram a efetivar o projeto. Ele foi um grande amigo e um grande orientador
que me incentivou a amar intensamente a mais completa das ciências humanas.
A meus amigos, Isabelle Cantanheide, Lívia Mello, Rebeca Passos, Aline Lima,
Miguel Pinheiro, Francisco Filho, Diego Mateus e todos aqueles com quem discuti
pontos, compartilhei das minhas alegrias, das minhas tristezas ao longo de nossa
amizade. Meu muito obrigado, pois a sua ajuda foi de enorme importância para o
projeto.
Aos militares do 25º BC, os tenentes-coronéis Marcos Gomes Paulino e Nixon;
tenentes Constantino, Iran, Cortez; sargentos Fernandes, Jamy, Elias; soldados
Pereira, Matheus, José Carvalho, Rocha; igualmente agradeço ao tenente-coronel
Ronald e ao cabo Taryk da 26ª CSM, pela disponibilização de locais para pesquisas
além da ajuda com o rastreamento dos documentos e com boas conversas sobre o
trabalho, a vocês, meu mais tenro agradecimento.
Aos amigos de sala de aula: Santos, Sebastião, Gaby, Andrea, Cairo, Chico, José
Ribeiro, José Arimatéia, Lucas, Marcelo, Fábio, Martinho, Santiago, Ítalo, Seu
Reginaldo, Flávio, Guilherme, Sebastião, Natália Viviane, Natália Ferreira, Jefferson,
Lívia, Seu Henrique, Isabela, Teresa, e todos aqueles que enfrentaram juntamente
comigo seminários e provas no referido curso. Muito obrigado a todos!
RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo trabalhar com os piauienses na Segunda


Guerra Mundial. Com a declaração de guerra do governo brasileiro ao Eixo em 1942,
os piauienses deveriam ser preparados para combater na linha de frente, como também
na produção para a guerra. Dessa forma, a pesquisa primará pelo vértice da formação
do civil como militar. A instituição responsável por esse trabalho no Piauí era o 25º
Batalhão de Caçadores cujo intuito era preparar um exército profissional e atuar na
defesa do litoral piauiense. Logo após os citados, será problematizado de que forma a
guerra interferiu no cotidiano dos praças e, como ela foi refletida na mudança da
estrutura da guarnição federal para o efetivo de guerra. Em seguida a pesquisa
abordará a questão da propaganda militar e os efeitos dela sobre a população
masculina jovem do Piauí visando mobilizá-los para servir no exército e cumprir com
o dever patriótico estipulado nos periódicos da época, os responsáveis pela campanha
de mobilização. Por fim a pesquisa tem intuito de adentrar profundamente no universo
dos praças da época, ao tentar compreender os desdobramentos da Missão Militar
Francesa no treinamento da disciplina e no adestramento de combate. Sob a ideia de
que precisava formar o corpo da pátria frente aos valores sociais da época.

Palavras-chave: Nova História Militar, 25º Batalhão de Caçadores, Mobilização,


Segunda Guerra Mundial.
RÉSUMÉ

La présente recherche vise à travailler avec les piauienses dans la Déuxieme Guerre
Mondiale. Avec la déclaration de guerre du gouvernement brésilien à l’axe en 1942, les
piauienses devraient être prêts à se battre dans front line ainse que dan la production
pour la guerre. De cette façon, la recherche primaire par le sommet de la formation
civile en tant que militaire. L’institution responsable de ce traveil était le 25e bataillon
de chasseurs dont le but était de préparer une armée profissionelle et d’agir pour la
défense de la côte piauiense. Aprés les points mentionnés, seron problématisé e quelle
maniére la guerre interféré dans la vie quotidienne des soldadts et, comment il se refléait
dans le changement de la structure de la garnison fédérale à l’effectif de la guerre. Alors
la recherche se penchera sur la question de la propagande militaire et ses effets sur la
population jeune mâle de Piauí, a fin de les mobiliser pour servir dans l’armée et
remplir le devoir patriotique stipulé dans le périodique de l’epoque, le responsables de
la campangne de mobilisation. Enfin, la recherche vise à pénétrer profundément dans
l’univers des soldats du temps, en essayant de comprendre les remifications de la
Mission Militaire Française dans l’entraînement de la discipline et de la formation sur le
combat. Sur l’idée qu’ils avaient besoin de former le corps de la patrie face aux valeur
socieales de l’époque.

Mot-clés: Nouvelle Histoire Militaire, 25e Bataillon de Chausseurs, Mobilisation,


Déuxieme Guerre Mondiale.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 lista de víveres 69


Tabela 2 instruções dos oficiais 74
LISTA DE ABREVIATURAS

BI Boletim Interno

BC Batalhão de Caçadores

Cia. Companhia

CMB Companhia de Metralhadoras do Batalhão

CR Circunscrição de Recrutamento

CSM Circunscrição de Serviço Militar

DIP Departamento de Imprensa e Propaganda

DEIP Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda

ER Enfermaria Regimental

FEB Força Expedicionária Brasileira

FV Formação Veterinária

FSR Formação Sanitária Regimental

HGV Hospital Getúlio Vargas

JMS Junta Militar de Saúde

MG Ministério de Guerra

NPOR Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva

PE Pelotão Extranumerário

TG Tiro de Guerra

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

RISG Regulamento Interno e Serviço Gerais

RDE Regulamento Disciplinar do Exército

RM Região Militar
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

2. O EXÉRCITO É O POVO PORQUE O POVO SE FAZ SOLDADO:


ESTRUTURA DO EXÉRCITO DURANTE O PERÍODO DE GUERRA ............. 18

2.1. O 25º Batalhão de Caçadores em foco: funcionamento e estrutura da guarnição 18

3. O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER: A


MOBILIZAÇÃO PARA O SERVIÇO MILITAR NO 25º BATALHÃO DE
CAÇADORES. .............................................................................................................. 38

3.1. A guerra dos periódicos: os informes do front externo ....................................... 39


3.2. Convencer para mobilizar: representações da guerra nos periódicos .................. 44

4. EVOCAI O ESPÍRITO DOS FORTES, FORTALECEIS A VÓS MESMOS:


MENTES, CORAÇÕES E CORPOS VOLTADOS PARA COMBATE? .............. 60

4.1. Meia volta, volver: disciplina e hierarquia como missão .................................... 61


4.2. Dificuldades para formar um batalhão profissional: falhas no processo de
formação do soldado ................................................................................................... 68

5. CONCLUSÕES......................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 86
“[...] o bom historiador se parece com o
ogro da lenda. Onde fareja carne humana,
sabe que ali está a sua caça.”
(Marc Leopóld Benjamin Bloch)
12

1. INTRODUÇÃO

A guerra é um fenômeno antigo. Ela ultrapassou eras continuamente modificando-


se com os aspectos culturais.1 Cada época vislumbrou o conflito se adequar as
condições do momento. Através dos tempos o ser humano vem aperfeiçoando
gradativamente as formas de combate. Basta olharmos para a nossa atualidade e,
entender como essas mudanças foram consolidadas. Ela é o resultado do horror que o
conflito das massas provocou a uma geração. A Segunda Guerra Mundial, a maior
conflagração que o mundo já viu, tornou-se o exemplo cabal do conceito que surgiu no
século XX: guerra total. Essa categoria exige que o esforço não fique só restrito ao
front. Impele na participação de todos, porque a tecnologia, a velocidade, a produção
foram exigências a toda nação que desejasse a vitória. A mobilização igualava todos os
civis como soldados, ou melhor, soldados da produção. Todos esses atributos, fazem
dela a maior guerra da história.
A relação entre a Guerra e História no primeiro momento, consistiu em grande
intimidade porque aquela carece desta para perpetuar as batalhas e os grandes líderes.
Esse padrão de escrita da história permaneceu por muito tempo e gradualmente
modificou-se sob império das mudanças de concepções da crise epistemológica.2 Nesse
momento as bases da estrutura de análise histórica sofrem mudanças importantes nos
objetos de análise.
O foco da Nova História se apropriou do fruto de reflexão de outrora sobre o
homem: Marc Bloch, o historiador e capitão da infantaria do exército francês, que
entendeu basicamente como devíamos compreender os eventos pelos homens. Ademais,
o fator humano é o papel circunstancial para compreendê-los.3 Ele foi um dos
pouquíssimos contemplados que pode viver duas guerras e compreender que a relação
entre a História e a guerra foi mais intrínseca do que poderíamos especular. Sua obra A
estranha derrota4 é a principal consequência do que ele adquiriu com as duas guerras.

1
KEEGAN, John. Uma história da guerra. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. P. 17
2
CHARTIER, Roger. A História hoje: dúvidas, desafios, propostas. Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol. 7, n. 13, 1994. p. 1-2.
3
BLOCH, Marc Leopóld Benjamin. Apologia da história, ou, O ofício do historiador. Trad. de André
Telles. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001. p. 10.
4
BLOCH, Marc Leopóld Benjamin. A estranha derrota: testemunho escrito em 1940. Trad. de Eliana
Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
13

Os homens são testemunhas dos fatos que presenciam. Nesse sentido o conflito
adquiriu importante lugar na história mundial pela amplitude que tomou. No entanto, o
fato de sentir a guerra ou contar a experiência contraída por ela, caracterizar-se-á de
forma diferente. Essa percepção foi sentida com as consequentes mudanças importantes
nas reflexões metodológicas. A guerra, como objeto da história, passou por mudanças
profundas e elas abalaram os alicerces históricos. Ora, o confronto bélico no século XX
passou abranger a sociedade na participação do conflito. De acordo com Johny Santana
de Araújo, a
[...] sociedade que homens e mulheres prestam serviço militar,
portanto, ela é a provedora das forças armadas, por outro lado é da
sociedade que a opinião popular confere legitimidade ao governo que
lidera o Estado. As forças armadas não são uma corporação a parte, ao
contrário, é componente da sociedade em que vive. Dessa forma os
militares são projeção da sociedade não havendo, portanto, distinção
entre sociedade civil e militar.5
Desse modo, não podemos restringir as análises somente ao campo de batalha. As
guerras do século XX são diferentes por proporcionar igual sofrimento a civis e
militares.
O cerne da Nova História Militar é a própria sociedade.6 Nesse sentido, ela é
inovadora porque possibilita e elenca dispositivos conforme a necessidade de
compreender um microcosmo. Ao exercer esse papel, o historiador assemelha-se ao
investigador porque os indícios são importantes para a compreensão dos porquês que
certas pessoas agiram em certo momento. Desse modo, o conhecimento da história é
individualizante porque ele contempla a análise micro-histórica.7. As clivagens culturais
diferem-se de um lugar para outro porque dependem exclusivamente a esse. A
particularidade dos lugares sempre estará presente no raciocínio histórico porque a
história é uma operação.8 Em suma, a função de trabalhar a guerra é mais complexa do
que imaginamos.
Ainda há muito a ser explorado com relação a participação do Brasil na Segunda
Guerra Mundial. O volume de obras escritas pelos combatentes, filhos deles,
comandantes e acadêmicos é considerável, abordando sobre a questão da Força

5
ARAÚJO, Johny Santana de. Para uma nova História Militar: repensando uma abordagem até então
esquecida. In: ARAÚJO, Johny Santana de; LIMA, Frederico Osanan Amorim; et al. História entre
fontes, metodologias e pesquisa. Teresina: EDUFPI, 2011. p. 28.
6
Idem, idem, p. 27.
7
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. Trad. de Federico Carotti, 2. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 178-179.
8
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2000. p. 65-66.
14

Expedicionária Brasileira. Atualmente, ou melhor, dos anos 90 aos dias atuais, a


proporção de pesquisas historiográficas sobre a participação dos brasileiros na guerra
está em processo de ascensão. No contexto da FEB, há outra possibilidade de trabalhar
com a temática do cotidiano da durante o período de guerra. A perspectiva trabalhada
consta na questão do ambiente político, ou seja, na barganha diplomática do Brasil na
Segunda Guerra Mundial, assim como a posição confusa no que diz respeito as atitudes
que foram tomadas
O pioneiro no trabalho com a memória da guerra e o cotidiano foi Roney
Cytrynowicz9 observando os desdobramentos da guerra na memória das pessoas de São
Paulo. A pesquisa de relevância – e referência sobre a participação dos piauiense na
guerra – sobre a mobilização interna com o intuito de potencializar a produção, como a
mobilização militar no Piauí foi a Ma. Clarice Helena Santiago Lira10.
Nesse ínterim, cabe-nos localizar a pesquisa. Não pretendemos abordar o tema das
discussões diplomáticas do envolvimento do Brasil na guerra. O que pretendemos é
particularizar e problematizar a mobilização militar, as representações e apropriações da
imagem do 25º BC na sociedade piauiense. Além do mais, pretendemos explicar um
pouco mais sobre a vida no quartel piauiense no período de guerra e como/se atingiu os
militares a ponto de favorecer maior e melhor treinamento por parte dos oficiais.
Pouco conhecemos sobre o cotidiano no período de guerra. Além do mais, menos
ainda conhecemos sobre o papel do 25º BC no conflito. Teoricamente, nossa guarnição
deveria ser a primeira defesa do Estado contra as ações bélicas. Certamente, essa
pesquisa tem como objetivo penetrar no microcosmo do batalhão no intento de
compreender o que os soldados faziam, porque faziam, como eram treinados e acima de
tudo entender se a guarnição estava preparada para a função de proteção do território
que lhe cabia.
A péssima qualidade de vida nos quartéis pelo Brasil possui lugar comum nas
narrativas como também nas memórias que abrangem o contexto do Exército durante a
década de 40. Desse modo, a pesquisa objetiva acometer intensamente à questão
partindo de pressupostos micro. No campo de pesquisas acadêmicas relacionadas aos

9
CYTRYNOWICZ, Roney. Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a
Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Geração Editorial, 2000.
10
Um trabalho referência do qual se trata de uma pesquisa dos pracinhas piauienses no qual esse trabalho
pretende usar como fonte na sua construção por ter lançado questões importantes para a problematização
desses personagens. Para conhecer melhor a obra, ler: LIRA, Clarice Helena Santiago. O Piauí em
tempos de guerra: mobilização local e as experiências dos contingentes da FEB. Dissertação. 159p.
Teresina. UFPI, 2008.
15

militares nosso foco de estudo está entre os silêncios da história. Pouco há de


informação sobre o 25º BC, sobre a situação estrutural, a participação dos praças na
vida política e cotidiana da capital, Teresina. Pesquisas que apontem mais sobre a
característica do serviço militar na década de 40. A proposta adentrar profundamente na
relação do 25º BC com a cidade.
A partir das considerações anteriores, surgem outros objetivos específicos que
intercalados nesse interim, compõem o objetivo principal do projeto como:
problematizar como se realizava o adestramento11 e seleção de efetivo na guarnição
federal, e qual era a funcionalidade do treinamento dos soldados do 25º BC. Outro
objetivo consiste analisar a mobilização para o Exército Brasileiro, como também
problematizar a viabilização da propaganda no Estado Novo, como instrumento de
instigação para que as linhas sejam preenchidas, além de também trabalhar com respeito
a instituições militares que trazem os civis para elas.
O Exército atualmente está inserido no campo de pesquisa que tem ganhado
notoriedade nas ciências humanas, em especial a Antropologia, História e Ciência
Política. A interdisciplinaridade entre as áreas permite vários tipos de abordagem que
vão desde o Corpo de Tropa à instituição do Exército. Por exemplo, Celso Castro12 a
trabalhar a Academia Militar das Agulhas Negras13, Vagner Camilo Alves14 ao abordar a
questão política. Nossa análise ao estudar o 25º BC com objetos de análise
antropológicos, pretende problematizar de uma percepção mais horizontal, segundo
Clifford Geertz, “do ponto de vista dos nativos”. Na sua análise, o etnógrafo ao estudar
um grupo particular de pessoas, necessita realizar-se duas perguntas aspirando a
compreensão do “nativo” imerso na sua estrutura.15
Alongamos o recorte para abranger o ano de 1942. Ele é crucial para compreender
o primeiro comportamento do 25º BC na guerra. Dessa forma, analisamos o ano de
1942, 1943, 1944 e meados de 1945 para compreendermos basicamente os pontos
abordados sobre a guerra. Para fins analíticos, o trabalho exigiu um considerável

11
Adestramento é a forma como é nomeado pelos militares a viabilização de treinamento para o combate.
12
CASTRO, Celso. Em campo com os militares. In: ______; LEIRNER, Piero de Camargo; et al.
Antropologia dos militares: reflexões sobre pesquisas de campo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p.
13-30
13
Ver mais em: CASTRO, Celso. Exército e nação: estudos sobre a história do exército brasileiro. Rio
de Janeiro: FGV, 2012. p. 128-129.
14
ALVES, Vagner Camilo. Da Itália a Coréia: decisões sobre ir ou não à guerra. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2007.
15
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista dos nativos”: a natureza do entendimento antropológico. In: O
saber local: novos ensaios de antropologia interpretativa. Trad. de Vera Joscelyne. 14. Ed. Petrópolis:
Vozes, 2014. p. 61-62.
16

arcabouço de documentação. O Estado Novo tinha forte presença do caráter militar no


cerne. Consequentemente a temática requer do pesquisador recorrer a fontes tanto de
cunho militar como civil. Afinal, para a pesquisa é salutar não se restringir somente a
abordar ou lidar com essas fontes, sem fazer questionamentos corretos, de forma que as
fontes digam o que o pesquisador de certa forma as questiona.
Ao problematizar a questão da mobilização e das relações que instituições civis
mantinham com os militares, ponto importante que em periódicos como a Gazeta, o
Diário Oficial, Revista Zodíaco, e a Voz do Estudante, são importantes porque elas vão
assumir o papel de ajudar na mobilização militar no Piauí. O Departamento de Imprensa
e Propagada16 que é responsável pelo controle ideológico das publicações. Seria
importante analisar até que ponto a propaganda atingia os leitores.
Quanto as fontes militares, os boletins internos são viabilizados dentro do 25º
Batalhão de Caçadores. O Regulamento Disciplinar do Exército, Regulamento Interno e
Serviços Gerais, a Lei do Serviço Militar são documentos complementares para
compreender as ações do comando em relação aos praças do batalhão. O Exército
brasileiro era basicamente regido por regulamentos. Eles serão presentes para fortalecer
a disciplina e fortalecer o poder da hierarquia. Fontes pouco exploradas e ricas sobre o
cotidiano do quartel, com relação aos homens na corporação. Além do mais, por serem
fontes quase não exploradas, os Relatórios do Ministério da Guerra, que são ricas
também com relação a forma como esse soldado era preparado para a guerra. Como já
foi explanado, a Missão Militar Francesa era predominante na forma de treinamento do
Exército Brasileiro.
A metodologia de trabalho servirá de contribuições para compreensão de alguns
pontos da pesquisa, como o cotidiano, as contribuições de Michel de Certeau 17 e Erving
Goffman18 para compreender como se organizam as instituições totais. Ao referir-se a

16
“A partir de 1937, o Governo ditatorial de Getúlio Vargas pensa em organizar órgão especifico, que é o
DIP, que substitui o Departamento de Propaganda e difusão cultural. O DIP se tornará cada vez mais
poderoso, pois ele é quem regula a censura, permite a saída de novas revistas e jornais, tornando-se assim
órgão coercitivo máximo contra a liberdade de pensamento e expressão. Além disto, no decorrer destes
anos, o DIP publica livros e revistas de elogio ao Estado Novo. Por sua vez, nos Estados existem
ramificações denominadas de Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), que exercem
também a censura local e editam publicações”. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A cidade sob o
fogo: modernização e violência policial em Teresina (1937-1945). 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2015. p. 37.
17
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. A arte de fazer. 20. Ed. Trad. Eprahim Ferreira
Alves. Petrópolis, Vozes, 2013.
18
GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Trad. de Dante Moreira Leite. São Paulo:
Perspectiva, 1974.
17

representações, a contribuição de Roger Chartier19 também será de grande ajuda. No


trato das fontes periódicas que serão trabalhadas as contribuições de Tânia de Luca20
será uma alternativa para a discussão. Entre outras obras em conjunto com a
documentação proporciona a compreensão do tema exposto.
Dessa forma, o trabalho está dividido em cinco partes:
1 Introdução. Na parte dois, “O exército é o povo porque o povo se faz soldado:
estrutura do exército durante o período de guerra”, abordará basicamente estrutura do
25ºBC sobre a hierarquia e órgãos essenciais de funcionamento da guarnição visando
torná-la uma instituição total. Também serão realizadas algumas explicações pontuais
no que diz respeito à organização militar e estrutura de um corpo de tropa. Abordar o
caráter da dos efetivos e a influência da guerra no batalhão.
Na parte três, “o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever: a mobilização
para o serviço militar no 25º Batalhão de Caçadores”, problematizará a questão da
mobilização de praças para o Exército brasileiro. Tratará de trabalhar as mobilizações
de praças e como eles eram sorteados – já que, a lei do sorteio militar imperava no
tempo – como as dificuldades de para a arregimentação desses reservistas e civis que
ingressariam no serviço militar. Nesse capítulo será trabalhado a relação do exército
com as entidades civis e com a mídia. A presença de publicações militares nos
periódicos da época reforçando o valor que os praças e principalmente a instituição do
exército teria dentro da sociedade teresinense.
Na quarta parte, “Evocai o espírito dos fortes, fortaleceis a vós mesmos: mentes,
corações e corpos voltados para combate?”, busca trabalhar basicamente como era o dia
a dia do treinamento dos pracinhas na guarnição. A questão da instrução dos soldados
quando entram no quartel como também a necessidade de treinamento para combate. A
instrução dos soldados para que adquiram preparo físico e se tornem o corpo da pátria e
as táticas da vida cotidiana dos soldados que se põem do outro lado da disciplina e
consomem conforme os princípios da vida cotidiana. Ao fim, “5 Conclusão” e logo após
as referências.

19
CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. Trad. de
Jefferson Luiz Camargo. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 211-238.
20
DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi
(org.), et al. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 111-143
18

2. O EXÉRCITO É O POVO PORQUE O POVO SE FAZ SOLDADO:


ESTRUTURA DO EXÉRCITO DURANTE O PERÍODO DE GUERRA

O 25º Batalhão de Caçadores assumiu função importante como agente histórico


no Piauí durante o Estado Novo. O papel exercido pela guarnição é respeitável na
História do Exército brasileiro como hoje conhecemos, porque será personagem
essencial da problemática memória de guerra no Piauí. Não pretendemos aqui fazer uma
longa exposição da sua história em todos os anos do regime. Essa tarefa de trabalhar
com a enorme gama de documentação inóspita, fica aos historiadores corajosos
posteriormente. A priori, a recomposição da memória relacionada à Segunda Guerra
Mundial, faz jus ao recorte escolhido.
O capítulo contemplará os militares piauienses como “nativos” no 25º BC.
Procuraremos compreendê-los no período de guerra e os seus reflexos no contexto. Em
primeiro lugar, esclarecimentos de alguns pontos relacionados ao discurso, como
também algumas informações técnicas sobre a organização do batalhão. Ora, muito
pouco conhecemos sobre os militares e sua vida no quartel. Pesquisas relacionadas a
esse tema foram mais elaboradas pela historiografia militar exclusivamente escrita por
militares, do que o viés acadêmico. Há uma longa explicação para isso, contudo, esse
não é o objetivo da pesquisa. O que será focado nesse capítulo: o funcionamento da
guarnição. Quanto isso, as problematizações e explicações privilegiaram o veio
antropológico e microanalítico da guarnição.

2.1. O 25º Batalhão de Caçadores em foco: funcionamento e estrutura da


guarnição.

A compreensão uma unidade de infantaria torna-se possível por meio de três


documentos: Boletim Interno do 25º Batalhão de Caçadores, do Regulamento
Disciplinar do Exército21 e o Regulamento Interno e Serviços Gerais22. A vida dos

21
BRASIL. Congresso. Senado. Decreto nº 8.835, de 23 de fevereiro de 1942. Aprova o Regulamento
Disciplinar do Exército. Coleção de Leis do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, v. 002, p.4, col. 1, 31
de dez. 1942. Disponível
em:<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoSigen.action?norma=414742&id=14452667&idBinar
io=15782072&mime=application/rtf>. Acessado em: 22 de abril de 2017.
22
BRASIL. Decreto nº 6.031 de 26 de julho de 1940. Aprova o Regulamento Interno e dos Serviços
Gerais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 26 de jul. de
19

militares na guarnição será pautada por regulamentos, pois são essenciais aos padrões e
funções de oficiais, graduados e praças23. O BI irá prezar pela descrição do cotidiano no
batalhão, o RDE será o documento que regulará o comportamento dos militares e RISG
pautará por discriminar a função de cada militar na sua função e cada dever deles com o
Corpo de Tropa, respectivamente. Acima de tudo, os regulamentos pautaram pela
disciplina e respeito à hierarquia. Eles serão, simultaneamente, os pilares importantes ao
reger a vida dos militares.
O 25º BC era a única guarnição piauiense do Exército Brasileiro durante toda a
duração da guerra. Sua inauguração foi no dia 2 de janeiro de 1918.24 Historicamente,
obteve posição significativa no Nordeste ao considerarmos o papel exercido na
participação nos mais variados conflitos no Brasil até a Segunda Guerra Mundial.
Os BI’s são ricos em detalhes de campanhas cujas informações abordam muito
conteúdo histórico, afinal, é um documento essencial na vida do batalhão. Porque
assume a incumbência registrar a movimentação de entradas e saídas. Informa qualquer
tipo de ação relacionada ao treinamento do corpo, mobilização, informações do
batalhão, das subunidades e até mesmo reproduzir informações do Boletim do Exército
e modificações nas leis referentes à vida militar. Basicamente a prática escriturística tem
como função narrar todas as sociabilidades presentes no quartel. Procedimento bem
característico de instituições que Erving Goffman classifica como instituições totais.
Segundo o autor,
uma instituição total pode ser definida como um local de residência e
trabalho onde um grande número de indivíduos com situação
semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente
administrada [...].25
Ou seja, seria uma instituição fechada para a sociedade. O 25º BC era uma
instituição reservada e controlada pela equipe dirigente que tinha como chefe o
Comandante do Corpo. Os regulamentos somados ao controle constituíram o modus
operandis do mecanismo de autoridade pautado pela disciplina. Os parâmetros de
controle pretendem fundamentar a obediência a um chefe, logo ao início da vida como
praça; o respeito a hierarquia, ao Comando.

1940. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D6031impressao.htm>.


Acessado em: 22 de abril de 2017.
23
Adentrando ao cotidiano brasileiro da década de 30, percebemos uma certa coloquialidade no que diz
respeito aos soldados que adentravam ao Exército. Era bastante comum, falar que o jovem “sentou praça
no Exército”. A partir dessa expressão, era muito comum chamá-los popularmente de pracinhas.
24
PIAUÍ. Livro Histórico do 25º Batalhão de Caçadores. Teresina, Arquivo do 25º BC, p. 1.
25
GOFFMAN, Irving. op. cit., p. 11.
20

Ao concretizar-se, o processo incide em moldar a estrutura do “eu” civil


manipulando a essência do indivíduo e assim torná-lo um “eu” militar26. Não basta
somente desfigurar sua essência. É preciso desenvolver no indivíduo o sentimento de
pertencer ao Corpo de Tropa. O cotidiano rotineiramente passaria por ritos
estrategicamente dispostos pelo Comando. Tanto que, o elementar momento do
expediente começa quando o oficial responsável pela subunidade realiza a leitura do BI
aos comandados durante a primeira revista da manhã. Nesse momento o oficial
subalterno27 também passa instruções aos praças os direciona a seus trabalhos. A
presença do praça é requisito importante para o dia da subunidade. Caso houvesse
alguma ausência por força de qualquer circunstância, aplicar-se-ia a primeira punição do
dia, pena essa que tramita entre repreensão até a detenção.28
O BI é determinado pelo RISG e consiste em quatro partes: Instrução, Assuntos
gerais e Administração, Justiça e Disciplina. Além dos Serviços Diários, ele segue
moldes de organização com influência máxima e burocrática – no sentido militar da
coisa – das informações dispostas. O controle é exercido peculiar e ostensivamente pelo
Comandante do Corpo29, com o propósito de mantê-lo informado das ocorrências sem
escapar nenhum detalhe.
O MG realizava rodizio de Comandantes das unidades militares de todo Brasil.
Muito raramente haverá algum deles que permaneça mais de 2 anos no cargo. Por
Exemplo, o Comandante do Corpo no de 1942 é o tenente-coronel Rosemiro Freitas
Marinho30, em 1943 será o tenente-coronel Fernando Pires Besouchet31, tenente-coronel
Joaquim Manoel Guedes32 em 1944. Nenhum BI é ratificado, consequentemente sem o
crivo do Comandante ou do Subcomandante do Corpo33. Exemplifica ainda mais o
domínio estratégico sobre a guarnição.34

26
Irving Goffman entende que a partir do momento que o internado entra na instituição, o afastamento do
mundo externo é a primeira condição de mortificação do “eu”. Há uma modificação na estrutura do “eu”.
Esse processo, segundo o autor, é algo muito comum no Exército. Idem, ibidem. p. 24.
27
2º tenentes, Aspirantes à oficial e subtenentes. Essa organização entre oficialidade e suboficialidade
estará disposta toda no RISG.
28
Nesse caso, isso é considerada uma transgressão do dever militar. Punido prudentemente pelo
Regulamento justamente pela natureza da gravidade, os crimes são enquadrados no art. 12. Idem, 1942, p.
3
29
O RISG é o regulamento que definirá como devem ser realizados os trabalhos de acordo com a patente.
Ele confere 2 artigos e mais de 50 parágrafos discernindo as funções do Comandante do Batalhão. Cf.
Idem, 1942, p. 35.
30
Idem, s/d., p 4.
31
PIAUÍ, Op. cit., p. 10
32
PIAUÍ, Loc. cit.
33
Durante o ano de 1942, o subcomandante do 25º BC é o major José Figueiredo Lobo. PIAUÍ. loc. cit.
34
CERTEAU, Michel de. op. cit., p. 94.
21

A sua função é o emprego dos soldados no combate em terra. Faz parte de uma
Grande Unidade, ou seja, consiste no Corpo de Tropa35 de ampla quantidade de
soldados empregados na/para guerra. tal organização permite que o Exército
estrategicamente disperse-se com base na dimensão do território brasileiro. Dessa
forma, as guarnições encontram-se distribuídas entre as capitais e cidades importantes
dos Estados. A medida é propositalmente pensada para espalhar as unidades e intuito de
proteger toda parte do território. O Estado-Maior do Exército fica responsável por traçar
diretrizes da doutrina de guerra visando organizar essas unidades para formação de
Regiões Militares.
A Região configura-se como o sistema composto de guarnições, mantidas sob
gerenciamento do general de brigada ou general de divisão. O Piauí está inserido no
sistema de defesa que é basicamente disposto em Regiões Militares. Sua principal
função é organizar defesas para uma eventual guerra. desse modo, projeta-se para
converter o batalhão na fração de um GU que, sob comando desse oficial superior
anteriormente especificado, mobiliza as guarnições para assumir os papéis de defesa na
área estabelecida. Na casualidade de uma agressão conquanto a integridade do território
brasileiro seja ameaçada, a ordem fundamental consiste em mobilizar-se para defender-
se.36
Durante os fatos que corroboraram com a anuência do Brasil à guerra, o Piauí
encontra-se sob tutela da 7ª Região Militar, liderada pelo general João Batista
Mascarenhas de Morais37, futuro comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária
que posteriormente trilharia a Itália.38 Ele comandou até o final de 1942. Ao início de
1943, integra-se o Estado a 10ª Região Militar39 juntamente aos Estados do Ceará e do

35
Batalhão, regimento ou brigada.
36
Enquanto o Piauí esteve vinculado à 7ª Região Militar, ele foi agregado a 7ª Divisão de Infantaria
segundo diretrizes do comandante. Cf: PIAUÍ. BI n. 42, 25º BC 20 de fevereiro de 1942, p.175
37
Falamos da 1ª DIE, também nos referimos a FEB. Afinal de contas, no plano original, eram para ser
concebidas um Corpo de Exército composto de 3 Divisões de Infantaria. Cf. MORAES, João Baptista
Mascarenhas de. A FEB pelo seu comandante. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1947. P 23;
CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1960. p. 124-5.
38
No interessante fato, encontramos algo bem cômico com leves tons de ironia. O tenente Antônio de
Andrade Poti, após o envio da FEB para a Itália, foi condecorado pessoalmente pelo referido
generalíssimo em Porreta Terme. Na íntegra ele relata: “o Gen Mascarenhas me perguntou de onde eu
era; eu respondi-lhe que era de Teresina-PI; ele, então, com aquele sorriso amigo, retrucou-me: ‘e onde
fica esse raio de curva torta?’”. Perturbador o questionamento do “raio de curva torta”, principalmente por
ser lugar onde exerceu comando. BRASIL. Entrevista com o Tenente-Coronel Antônio de Andrade Poti.
In: História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial. Tomo 2. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 2001. p. 66.
39
No início do ano de 1943 foi extinta a 3ª Brigada de Infantaria e remete o Piauí ao domínio da 10ª RM.
PIAUÍ. BI n. 20, 25º BC, 26 de janeiro de 1943, p. 95
22

Maranhão. Assumiu como Comandante o general Francisco Gil Castelo Branco 40. A
função do Comandante da Região Militar como referido anteriormente é agregar
juntamente com outros Estados do Nordeste no objetivo de formar uma Brigada41 ou
uma Divisão de Infantaria42. Além da liderança da liderança do Comandante da região,
estriam sob o crivo do Inspetor de Regiões Militares43, do Ministro da Guerra e ao
Presidente da República segundo a ordem de hierarquia do comando. O curioso é que a
Divisão só foi criada posteriormente a Brigada, e não houve nenhuma menção
relacionada às manobras dessas GU’s formadas. Em momento algum elas aglomeraram-
se para isso.
O Exército Brasileiro historicamente não era dotado de grande efetivo, ao
considerarmos que a última guerra externa foi a Guerra do Paraguai. Segundo então
tenente-coronel Manoel Thomaz Castello Branco, que serviu como oficial de
informações da Força Expedicionária Brasileira, o efetivo era de pouco mais de 60 000
homens, justamente por ser compatível com o tempo de paz. Ou seja, é preciso que
houvesse um determinado número de praças para a reconstrução do Exército no
momento que o curso dos acontecimentos exigisse a convocação e, nos momentos
desesperadores, a ampla mobilização pelo voluntariado44. A necessidade exigia que
mesmo trabalhando, o civil deveria ser convocado.
O 25º BC foi remanejado para a 10ª RM, em seguida passou a assumir papel
importante na defesa do Nordeste. Seria o baluarte defensivo do litoral piauiense. O

40
Sua imagem foi explorada pelos periódicos por vinculá-lo ao Piauí pelo parentesco do sobrenome
bastante comum localmente. PIAUÍ. BI n. 26, 25º BC, 2 de fevereiro de 1943, p. 114
41
PIAUÍ, BI n. 155, 25º BC, 02 de julho de 1942, p. 641; o comandante da brigada a qual o 25º BC está
vinculado, era o tenente-coronel Alexandre José Chaves, cf. PIAUÍ. BI n. 12, 25º BC, 26 de janeiro de
1943, p. 65
42
Segundo Alfredo Souto Malan: “A DI é quaternária, composta de 2 Brigadas de Infantaria, cada uma a
2 Regimentos (Regimento a 3 Batalhões). Possui mais 1 Brigada Artilharia, 1 RCD, 1 Batalhão de
Engenharia e 1 Esquadrão de Aviação.” MALAN, Alfredo Souto. Missão Militar Francesa de instrução
junto ao Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. p.126.
43
As Inspeções de armas e serviços é o órgão através do qual o alto comando e seus departamentos
essenciais exercem seu poder sobre todos os comandos e forças: sua ação é preventiva e verificadora, com
vistas a assegurar o bom funcionamento dos negócios militares, o progresso da instrução, a solidez da
disciplina, a administração competente, os procedimentos adequados por parte dos responsáveis, o estado
de organização da tropa, sua preparação e eficácia em caso de guerra. À frente das Inspeções, está um
inspetor oficial general. BELLINTANI, Adriana Iop. O Exército Brasileiro e a Missão Militar
Francesa: instrução, doutrina, organização, modernidade e profissionalismo (1920-1940). Tese
(Doutorado em História Social). 698p. Brasília, PPGH UnB, 2009. p. 87-127.
44
Importante fazer algumas considerações sobre o voluntariado. A abertura de 1942 e 1943 foram visadas
para que fossem preenchidos os claros no 25º BC e outras unidades que obtivessem claros. Cf. PIAUÍ. BI
n. 150, 25º BC, 5 de julho de 1943, p. 816; PIAUÍ. Abertura de Voluntariado. Diário Oficial, Teresina,
26 set. de 1944, p. 39. O único voluntariado especial foi observado no ano de 1944 referente à
constituição de tropas para a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Cf. LIRA, Clarice Helena Santiago.
Op. cit., P. 100-110; PIAUÍ. BI n. 186, 25º BC, 10 de agosto de 1944, p. 1155.
23

medo real das autoridades militares brasileiras estava na premissa de invasão naquela
área.45 A prioridade estava na defesa do litoral. A Marinha de guerra americana
juntamente, brasileira e a Força Aérea foram responsáveis por realizar o patrulhamento
da costa46, e quanto ao Exército, o general Estevão Leitão de Carvalho foi o mentor do
plano de defesa do Nordeste. Posteriormente, foi nomeado Comandante do Teatro de
Operações da região. Segundo Manoel Thomaz Castello Branco, o plano consta no “[...]
esforço da defesa na manutenção dos portos e bases de fortaleza, Luiz Côrrea
(Amarração) e S. Luiz, no território da 10.ª RM”.47 À frente, o autor completa:
Nos principais portos a defesa apresentava certa consistência, contudo,
nos demais pontos não possuía mais do que simples postos de
vigilância, do valor de pelotões e grupos de combate, espalhados ao
longo da extensa fimbria marítima, na maioria das vezes sem apoio
adequado e sem comunicações eficientes.48
Contudo, o que vimos na documentação difere diametralmente do que realmente
aconteceu. No recorte de anos que foram analisados, os BI’s não apresentam nada
específico, ou que tenha a mínima relação ao envio de praças do 25º BC para Luís
Correia. Clarice Helena Santiago Lira confirmou essa desconfiança levantada pela
leitura do BI. A guarnição ainda não participou ativamente da defesa do litoral.
No Piauí, a Força Policial assumiu esse dever, sendo responsável por
vigiar a ‘[...] área que vai das Ilhas Canárias ao Cajueiro, antigo
povoado da Amarração [...]’. O envio dessa tropa, cerca de 150
homens, tinha como principal objetivo guardar o litoral piauiense
contra prováveis ataques nazistas, como também da presença de
estrangeiros.49
Em fevereiro de 1942, o 25º BC foi informado o rompimento de relações do
Brasil com os países do Eixo. Estranhamente, ele ficou legado a uma pequena instrução
na 3ª parte do BI, sem nenhum discurso patriótico cujo interesse remete a data e nada
especifico que fizesse alguma ou qualquer tipo de menção ao momento até o mês de
agosto.50 Interessante constatação ao compararmos por exemplo, com o Diário Oficial
que foi bombardeado de discursos enaltecendo o papel do Exército, e particularmente,
do 25º BC.

45
FERRAZ, Francisco César Alves. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005. p. 46.
46
BONALUME NETO, Ricardo. A Nossa Segunda Guerra: os brasileiros em combate, 1942-1945. Rio
de Janeiro: Expressão e cultura, 1995. p. 55-119
47
CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. op. cit., p. 114.
48
Ibidem, p. 115.
49
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 77.
50
PIAUÍ. BI n. 36, 25º BC, 12 de fevereiro de 1942, p. 148.
24

Contudo, fica a pergunta: será que os Comandantes de Corpo e das subunidades se


dirigiram aos seus comandados para falar sobre o momento? Essa pergunta permeia o
ponto nevrálgico na análise do espectro da guerra e da representação no imaginário e
cotidiano dos praças. Portanto, o que podemos entender por meio da discussão é que
com a guerra em curso, a posição vacilante não seria somente do alto comando, mas das
guarnições também. A documentação mostra que nada alarmante estava sendo versado
no BI. No entanto, há um não-dito por trás dessa omissão. Ele pode basicamente
significar que o Comandante deve ter alertado os comandados pessoalmente.51
No entanto, constatou-se uma posição de incomodante equidistância.52 Segundo
Vagner Camilo Alves, o general Góis Monteiro em reunião com o Secretário americano
Frank Knox, em outubro de 1942 apresentou um plano de mobilização em menos de 24
horas planejando mobilizar com ajuda dos possíveis armamentos americanos.53 Esse e
mais outros episódios conferem plena consciência do despreparo dos brasileiros, pois
até o final de 1942, o 25º BC não tinha conseguido obter preenchimento de claros nem
para as suas necessidades mais urgentes. O que percebemos é que o 25º BC permanecia
em aguardo ao desenrolar dos fatos porque os aumentos não foram identificados
instantaneamente.
O efetivo do 25º BC sofrerá pequenas modificações no decorrer da guerra.
Somente para efeitos analíticos, haverá a divisão da análise em dois momentos. Desse
modo, consideraremos como primeiro recorte o ano de 1942 como o momento pré-
declaração de guerra até 22 de agosto de 1942 e o restante compreenderá o momento da
guerra. Ao haver qualquer atividade que caracterizasse como ação bélica, em tese o
efetivo deveria aumentar obrigatoriamente, porque passaria de um efetivo de tempos de
paz para um efetivo de guerra.
Em tempos de paz, o efetivo permite que o batalhão funcione com quantidade
menor de praças e graduados. Eles serão o esqueleto da unidade em ampliação para
mobilizar-se. Ou seja, consistirá nos oficiais e soldados de carreira. Após a saída de

51
Infelizmente, não conseguimos localizar em tempo hábil, algum ex-combatente ou ex-soldado que
tenha servido na guarnição durante esse tempo. É uma tarefa que fica para um momento posterior, no
entanto, a documentação conseguiu suprir dúvidas com preciosas informações.
52
Uma instrução um pouco mais voltada para o despertar patriótico dos soldados do 25º BC será escrito
pelo major Figueiredo Lôbo ao remeter um adiantamento de BI em homenagem ao Marechal Osório. Que
os soldados estivessem preparados para o que acontecesse com o Brasil. Contudo, nada tão significativo.
Cf. PIAUÍ. BI n. 118, 25º BC, 23 de maio de 1942, p. 509.
53
ALVES, Vagner Camilo. Armas e Política: O Exército e a constituição da Força Expedicionária
Brasileira (FEB). In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPOCS, 30, 2006, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
Janeiro: Encontro Anual da ANPOCS. p. 4.
25

alguns com o término do serviço, a rotação dos praças realiza-se periodicamente pelo
sorteio militar54. Foi o método de ingresso nas Forças Armadas. No entanto, mesmo que
a quantidade de praças não fosse suficiente, temos que observar que a organização dos
batalhões não foi elucubrada para agregar grandes contingentes, implicitamente
decorrente da organização militar herdada do modelo de organização francês. A outra
questão são os recursos. O 25º BC é uma unidade do Nordeste que sofria por estar longe
dos grandes centros militares. Na longa estrada de modernização, o batalhão não
começou nem a trilhá-la durante a guerra.
Convém-nos explicar o funcionamento da unidade militar. Segundo o Ministro da
Guerra, a composição dos contingentes da arma da infantaria segue a organização
estrutural que tem como núcleo fundamental de todas corporações, o grupo de
combate.55 O grupo de combate é o organismo armado conveniente para incursões como
pode ser útil no intuito de guarnecer cada secção e dependências do batalhão. Os
dirigentes do Corpo de Tropa consideravam como prerrogativa fundamental baseada na
extrema disciplina que os comandantes em relação aos subordinados.56 Eles
organizavam-se de homens que servem, protegem e alimentam uma arma automática, e
consta de um terceiro sargento, um primeiro cabo e oito soldados, formando duas
esquadras.57
Essa formação foi utilizada para rondar a cidade no intuito de buscar e apreender
os praças que infringissem as disposições do RDE e como o 25º BC também
determina.58 A ressalva estará na arma automática para esse fim.59 Todavia, haviam
casos que requeriam força desse vulto.
A posteriori, essas incursões passaram ser realizadas por um grupo menor,
estipulado pelo RISG. O comando dessa pequena formação era concedido ao Cabo do
dia60 com alguns praças. Eram todos responsáveis por realizar a ronda em horários

54
O sorteio militar contemplava todos que moravam no Piauí. A grande maioria dos que eram
selecionados pela 26ª Circunscrição de Recrutamento eram quase todos oriundos do interior do Piauí.
Caso houvesse um pedido de indeferimento do alistamento, isso deveria ser dirigido para lá para que
fosse julgado conforme as circunstâncias. Ver mais no PIAUÍ. BI n. 3, 26ª CR, 3 de janeiro de 1942, p. 5.
55
BRASIL. Ministério da Guerra. Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados
Unidos do Brasil pelo general de divisão Eurico Gaspar Dutra Ministro de Estado da Guerra. Rio
de Janeiro. Imprensa Militar. 1940. 199p. p. 37.
56
GOFFMAN, Erving. Op.cit., p. 98.
57
BRASIL, Ministério da Guerra. Loc. cit.
58
Qualquer um pego deve ser trazido sob escolta, informado ao oficial do dia para que tome as devidas
ações. PIAUÍ, BI n. 119, 25º BC, 25 de maio de 1942, p. 514.
59
Armas desse porte raramente saíam do 25º BC.
60
Responsável pelo cumprimento do serviço de guarda do Batalhão. Há disposições no RISG sobre a
função desse praça para unidade.
26

específicos, planejados pelo oficial do dia61. Ele era fundamental ao batalhão porque
coordenava as ações do batalhão. Era o homem requisitado em todos serviços realizados
obtinha o dever zelar pela ordem, ser incisivo para resolver os problemas do batalhão de
forma rápida. Era a principal “engrenagem” que permitia o funcionamento do
“mecanismo” interno de funcionamento da unidade. Os 1º e 2º tenentes que geralmente
se submetiam a essa tarefa tinham de ser extremamente competentes. Afinal, tudo era
verificado e orientado pelo Comandante do Corpo.
O 25º BC possui espaço de fronteiras limitadas justamente por representar o
núcleo de defesa da pátria, por isso sempre precisa ser guarnecido. O BI sempre
discrimina a forma do efetivo na patrulha, assim como no serviço de sentinelas.
Diferentemente das patrulhas, o serviço de sentinela seria gerido por um 2º ou 3º
sargento como comandante e, por outro lado haveria o cabo como subcomandante dos
praças. Nesse caso, não havia nenhuma prerrogativa que estabelecesse uma quantidade
de praças. Ela deveria ser preenchida pela necessidade. A guarda é destinada para
vigilância dos praças desordeiros na prisão ou na detenção.62 Tanto o serviço de
sentinela quanto as patrulhas poderiam ser organizadas de praças oriundos do mesmo
pelotão, ou até mesmo poderiam ser soldados das diferentes pelotões e companhias.
O oficial do dia tinha prerrogativa da chefia administrativa da patrulha e da fração
de tropa responsável pela defesa do Batalhão. Ora, ele era responsável pelas entradas e
saídas. Os homens ao seu serviço deveriam servir plenamente para informá-lo e auxiliá-
lo no controle do espaço porque o Comandante do 25º BC deveria ser informado de
toda movimentação.63 Ele seria ajudado pelo sargento do dia64, seria ele a conexão do
oficial do dia com as subunidades. Caso um ou outro não possa realizar o serviço dentro
da escala, cabe o Comandante regular o serviço de Oficial, sargento e cabo do dia65
discriminar o militar responsável da função.
Seguindo o esquema basicamente terciário ou quaternário, o pelotão seria
composto por três grupos de combate. O pelotão, segundo o RISG, deve ser

61
O oficial do dia é contato direto do Comandante do Corpo e do Subcomandante com a tropa. Afinal, é
também ele quem deve zelar pelo asseio e pelo comportamento dos praças dentro da unidade assim como
velar para que o batalhão seja completamente controlado nas entradas e saídas.
62
Deverá sempre ser comandada por um 2º ou 3º sargento. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 60
63
Ele é o primeiro contato do BC antes de haver contato com o comandante. Sejam civis ou militares,
todos precisam passar pelo crivo do oficial do dia.
64
Segundo o artigo 209, a função de Sargento de dia à unidade é função cuja determinação é para que
seja auxiliar direto do oficial do dia. Ver mais em: BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 39.
65
As patrulhas de forma mais prática, passaram a ser reduzidas a um cabo e três soldados. Cf. PIAUÍ. BI
n. 157, 25º BC, 7 de agosto de 1942, p. 660.
27

comandando pelo 2º tenente. Aspirantes a oficial66, subtenente67 e/ou sargentos


assumem o comando, em circunstâncias completamente excêntricas a regra, durante os
anos de guerra, a mudança constante de oficiais como promoções e ausências
modificaram bastante o cargo. A 3ª Cia. foi quem mais sofreu com mudança constante
de oficial, justamente por ser uma subunidade recém-criada. A subunidade não poderia
ficar sem um comando.
Dessa forma, urge explicar como é constituída a Cia. Segundo o Relatório do
Ministério da Guerra ela
apresenta-se com dois tipos diferentes, conforme a natureza da secção
extranumerária que a compõe:
- Companhia de Fuzileiros tipo I: secção extranumerária tipo I e 3
pelotões de fuzileiros;
- Companhia de Fuzileiros tipo II: secção extranumerária tipo II e 2
pelotões de fuzileiros (sic).68
A Cia. basicamente era composta por até 170 homens69 sob ordens de um 1º
tenente ou um capitão. Os comandantes das subunidades têm o dever de prover a
instrução militar dos agregados e velar pela conduta, punindo e saudando nas
oportunidades devidas. A função consiste fazer crescer o devotamento à Pátria.70 Eles
serão fundamentais na organização do Batalhão que é composto de duas cias. de
fuzileiros71 e uma CMB72 e um PE73, fora as secções de oficiais do Estado Maior que
ficavam responsáveis por gerir as atividades do 25º BC.
Os comandantes das subunidades eram responsáveis pela instrução, seja ela de
tiro ou Educação Física. O pelotão é uma subunidade, mas sempre aparece no seio da

66
Alunos formados nos Núcleos e Centros de preparação de Oficiais da Reserva. Eles podem realizar
funções semelhantes a um 2º tenente.
67
Eram responsáveis por serviços administrativos das subunidades, uma espécie de almoxarife das
subunidades.
68
BRASIL, Ministério da Guerra. Loc. cit.
69
Passagem para o efetivo “tipo B”, o único efetivo que efetivamente não cresceu foi o pertencente ao
Pelotão Extranumerário, estabelecido em 141 homens e, ainda por cima, deveriam ter praças realocados
para as demais unidades. PIAUÍ. BI n. 260, 25º BC, 2 de novembro de 1942, p. 1053.
70
A partir da leitura dos BI’s como parte do cotidiano dos praças, era necessário que fosse realizada a
leitura e que o comandante ministrasse instrução de forma que despertasse nos seus comandados o amor
pela pátria e pelos símbolos nacionais.
71
O nome Cia. de Fuzileiros é uma companhia de homens voltada para o combate com fuzil e voltados
para tomar de assalto posições estabelecidas pelos comandos.
72
As Cia. De Metralhadora eram companhias destinadas ao manejo de metralhadora de forma que essas
metralhadoras atuassem como base de fogo para o avanço da infantaria com o combate de aproximação.
Lembremos, que a organização da Missão Militar Francesa desconsiderava que houvessem metralhadoras
como parte integrante das Cias. De Fuzileiros. Isso só foi acontecer muito depois da FEB, com uma
modificação das estratégias e táticas de batalha.
73
Era subunidade de reserva do batalhão, e sua forma de comando é diferente das demais, porque ela é
comandada diretamente pelo subcomandante do 25º BC. A reserva seria uma quantidade de homens
destinada a emprego, caso houvesse perda de algum homem das unidades acima referidas em campo de
batalha, ou situações extremas.
28

Cia. Cada subunidade é avaliada dentro dos critérios do RISG visando fortalecer o
desenvolvimento das subunidades, especificamente de praças e graduados. Durante o
recorte os balanços sempre eram emitidos ao final do ciclo de seis meses.
O BI informa o resultado do balanço dos praças das cias., analisado pelo
Comandante do Corpo em conjunto com os comandantes de cada pelotão. São
averiguados vários quesitos, sob o nome de “ramos da instrução”: ordem única, que
consta a avaliação da disciplina da subunidade; armamento, condições de asseio do o
armamento e perfeito funcionamento; tiro, a condição de acerto dos tiros realizados no
estande; Combate e S. da Cia., relativo a manobra da baioneta74 e combate corporal
portando o fuzil; instrução geral e moral, é a parte que se dedica a avaliar como o praça
realiza o trabalho que foi designado no serviço do dia como também como o praça se
porta dentro do batalhão; e a maneabilidade também referente a análise disciplinar dos
praças, mas agora é em relação com seus convivas na subunidades. Cada quesito tem
distinguido um juízo de valor que compreende do “ruim” ao “ótimo”. A melhor
subunidade nos primeiros seis meses foi a CMB.75 Nada deixava de ser analisado no
batalhão, reavivando o que falamos sobre as instituições totais. Dessa forma o controle
visa analisar e agir sobre o praça de forma que satisfaça as condições comportamentais
adequadas mediante as instruções do comando, eleva subunidade como colaboradora76
das diretrizes impostas pela Guarnição.
Após realizarmos a descrição das subunidades que compõem o 25º BC, podemos
afirmar que o seu contingente, comprovadamente, girava em torno de 500 homens em
tempos de paz.77 O efetivo será aumentado e, conforme a mudança, será definido o
número do efetivo nas dependências. Podemos perceber que após a declaração de
guerra, especificamente em meados do ano de 1943, o efetivo do batalhão sofre
modificações em torno de mais de 200 a 300 homens porque a convocação da reserva e
o sorteio terá algum efeito sobre a quantidade. O BI informava sobre o mapa de efetivo
da guarnição, contudo, esses documentos eram remetidos ao MG. Não foi encontrado
nenhuma cópia desse documento.

74
Mesmo estando em uma época de guerra, em que o poder de fogo de um soldado aumentou
consideravelmente, a baioneta é o recurso utilizado para o combate corpo a corpo. As baionetas eram em
forma de sabre.
75
PIAUÍ, BI n. 102, 25º BC, 6 de maio de 1942, p. 426.
76
GOFFMAN, Irving. Op.cit., p. 160.
77
A passagem para o efetivo do Estado de guerra de algumas unidades passou de forma muito lenta.
Claro, as determinações foram pensadas e consideradas na segunda metade do ano de 1942, porém, ela
não conseguiu ser tão efetiva como no ano de 1943 em que seria incorporado os primeiros convocados
para o serviço militar, pertencentes a 1ª e a 2ª categoria. PIAUÍ, BI n. 104, 25º BC, 8 de maio de 1942.
29

As informações sobre os efetivos não se encontram distinguidas claramente no BI.


Há informações esparsas relacionadas ao rendimento dos praças ou relacionado a
inscrição em algum curso. Entretanto, há rastros na documentação ao falar do Rancho
porque o 25º BC não tinha funcionários civis, só arranchavam os militares. Dessa
forma, podemos auferir a quantidade de praças do 25º BC. As informações financeiras a
respeito dos pagamentos do pessoal comprovam a inexistência de civis, além comprovar
que esse tipo de mão de obra era aproveitado pela sede da RM em Fortaleza e pelo MG.
Poucos praças poderiam arranchar fora do 25º BC. Todas as permissões eram
regulamentadas pelo RISG, por exemplo, caso haja algum praça casado, ele pode pedir
permissão do Comandante para arranchar fora, ou até mesmo qualquer outro serviço
realizado por qualquer ente fora das dependências.
A alimentação servida no 25º BC é adquirida no comércio local78. Para isso, a RM
disponibiliza uma quantia considerável para adquirí-la mediante cotação realizada pelo
auxiliar do aprovisionamento e o cozinheiro. Todos são auxiliares diretos do furriel79.
Da mesma forma que a sociedade teresinense, o 25º BC sofreu com as medidas de
racionamento impostas pelo governo no intuito de fomentar o clima de guerra.
O cozinheiro é auxiliado diretamente por um cabo e quatro soldados que são
direcionados pelo oficial do dia para o serviço. O cozinheiro é responsável pela
qualidade das quatro refeições distribuídas para todos. Agora, fica a responsabilidade do
arranchamento de todos no mesmo horário pelo oficial do dia. Cada horário deve ser
seguido rigorosamente e só serão abertas exceções em momentos que o serviço exigir
maior expediente da tropa.
Quanto ao Rancho, a definimos como a cozinha do batalhão. 80 O asseio era
importante nas refeições. Qualquer tipo de problemas causados não impedia alguns
praças de ser presos por causar problemas no Rancho, por exemplo, não comer
determinado tipo de refeição era algo passível de punição. Todos teriam que alimentar-
se em qualquer estado.81 Quanto à distribuição da “bóia”, ficou constatado que oficiais
não se alimentavam juntamente aos graduados e praças. Oficiais não se mesclavam aos
praças no 25º BC. Oficial algum deveria realizar refeições junto dos seus subordinados,

78
Nos balancetes, são dispostos o tanto que é gasto com o aprovisionamento de alguns víveres do
batalhão. É descrita a razão social do comércio quanto a quantia.
79
Responsável por toda a movimentação econômica do batalhão.
80
MENDES, Ubirajara Dolácio. Soldado com fome não briga. In: ARRUDA, Demócrito Cavalcante de;
MORAIS, Berta; et al. Depoimento de oficiais da reserva sobre a F.E.B. 3. ed. Rio de Janeiro:
COBRACI, s/d. p. 263
81
PIAUÍ, BI n. 119, op. cit., p. 514.
30

portanto, para eles tinham um lugar reservado para fazer suas refeições em que a
liderança da mesa é sempre condicionada pelo oficial antigo ou com patente superior.82
A lotação de soldados no BC foi variou bastante durante a guerra por diversas
motivações. Sofreu aumento em alguns momentos, noutros sofreu algumas baixas. O
número raramente se mantinha o mesmo. Por exemplo, o efetivo de janeiro de 1942 era
506 homens83. Mesma coisa não encontraríamos no mês seguinte. Durante o período de
alerta, o efetivo sofrerá algumas modificações que caracterizadas por constantes
tentativas de aumentá-lo, ou até diminuí-lo. O processo pode ser explicado pelo
licenciamento de alguns militares que não tinham condição de continuar no serviço 84,
assim como o transito de praças que culminará no começo da mobilização para o
preenchimento de claros nas linhas.85 Até meados do ano de 1943, a quantidade de
praças baixados estacionava na casa das quatro dezenas. Com a guerra, a necessidade de
transferências de praças para cobertura de claros emergenciais para cobrir a demanda
em outras unidades. Dentre os destinos possíveis, os praças eram mais direcionados às
guarnições do 24º BC ou o 23º BC.86
A nova Cia. de Fuzileiros aproveitando os reservistas de 2ª categoria do Tiro de
Guerra n.79, será o aumento do efetivo.87 Com a efervescência da guerra, o Ministro
objetiva utilizar as reservas para preenchimento de claros nas guarnições, declara que os
alunos do TG passam para a condição de reservistas de 2ª categoria.88 A ausência de
reservas com a convocação no início de 1943 não restabeleceu quadros de praças
necessárias. No entanto, a incorporação não foi imediata da nova Cia.
A primeira mudança de efeito imediato na estrutura do 25º BC aconteceu na
organização da companhia de fuzileiros: a redução da quantidade de homens no PE.
Nesse período era constante até remanejamento de praças para as companhias do
próprio 25º BC. Além disso, todos os reservistas teriam que passar por exames médicos

82
Ver art. 267. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 25.
83
PIAUÍ. BI n. 7, 25º BC, 9 de janeiro de 1942, p. 34
84
Licenciamento de sargentos com mais de 55 anos de idade. PIAUÍ. BI n. 168, 25º BC, 26 de julho de
1943, p. 922.
85
Essa primeira fase de convocação foi destinada aos reservistas de 2ª categoria. PIAUÍ. BI n. 18, 25º
BC, 22 de janeiro de 1942, p. 79.
86
Como era realizado os transportes paras as unidades de São Luís e Fortaleza respectivamente. Cf. Idem,
2008, p. 114.
87
PIAUÍ. BI n. 85, 25º BC, 14 de abril de 1942, p. 761.
88
Ver artigo 120. BRASIL. Congresso. Senado. Decreto nº 1.187, de 4 de abril de 1939. Dispõe sobre o
Serviço Militar. Diário Oficial [da] República do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 11 de abril de
1939. Seção 1, p. 8205. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-
lei-1187-4-abril-1939-349238-publicaçãooriginal-72193-pe.html>. Acessado em: 22 de abril de 2017.
31

na Junta Médica89 para lotá-los nas subunidades. Mesmo depois do ter sido criada a 3ª
Cia. de Fuzileiros, o efetivo do BC tornou-se menor do comparado ao início do ano com
485 homens.90 Essa constatação deve-se ao fato de que uma companhia precisa para
esses de soldados para determinadas funções, sendo assim, os soldados foram
cadastrados nas instruções pelo Comandante do Corpo para que se especializassem.
Frequentemente abririam vagas para os cursos de instrução para sinaleiros91,
columbófilos92, sapadores93, radiotelégrafos94, armeiros95, etc. O efetivo aumentará
oportunamente na passagem do ano de 1943 chegando ao cume dos 803 homens96, e o
máximo que foi encontrado no Boletim no ano de 1944 foi de 806 homens97.
Havia outro serviço que movimentava bastante o número de praças do 25º BC
para a manutenção dos praças in corpore sano na realização de atividades do BC. A
Formação Sanitária Regional (ou Formação de Saúde Regional, no ano de 1944) fica
responsável pela saúde de todos na guarnição. Ela é encabeçada por um 2º tenente-
médico e por um sargento-enfermeiro. São todos responsáveis por toda escrituração,
confere as informações das baixas obtidas na guarnição. Ainda mais, devem realizar
cuidados médicos aos praças que se encontram baixados na Enfermaria Regimental.
Vários motivos explicam o porquê da grande quantidade lotados na ER. Podemos
enumerar a falta de higiene dos soldados antes de prestar serviço militar; as moléstias
adquiridas durante o tempo de serviço militar, os acidentes durante as marchas;
problemas com álcool constantemente recorrentes; acidentes relacionados à monta das
cavalariças; durante o treinamento com tiro, ou até mesmo nos desentendimentos entre
os praças que houvesse luta corporal. O quadro mostra que alguns dos baixados
demandavam bastante atenção, ao considerar o grau da moléstia. Alguns davam entrada
por reincidência da mesma enfermidade. A higiene e os cuidados com a saúde não

89
Ela também fazia exames de praças que eram destinados para a 8ª RM. PIAUÍ. BI n. 66, 25º BC, 20 de
março de 1942, p. 272.
90
PIAUÍ. BI n. 102, 25º BC, 6 de maio de 1942, p. 427
91
Caracteriza-se como função exercida por praças do 25º BC na execução de trabalhos com as
transmissões recebidas e enviadas da unidade para outras guarnições, MG e RM.
92
Os columbófilos caracterizam-se como outros tipos de sinaleiro, no entanto, se diferem no cuidado e no
uso dos pombos-correios como principal via de transmissão de informações.
93
Essa função encarrega os praças de realizar pequenos trabalhos de engenharia militar, principalmente
quando diz respeito a utilização dos morteiros de 81 mm que haviam na guarnição.
94
É uma atividade nova no processo de modernização do 25º BC, em que esses praças ficariam
responsáveis por transmitir informações radiotelegráficas de outras unidades e vice-versa, ao Comandante
da Tropa.
95
Responsáveis por limpar, corrigir imperfeições e lubrificar as armas do paiol do 25º BC para que elas
estejam em perfeito funcionamento.
96
PIAUÍ. BI n. 102, 25º BC, 7 de maio de 1943, p. 515.
97
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 11 de janeiro de 1945, p. 43.
32

estavam no rol das preocupações da camada pobre da sociedade piauiense, quanto mais
no quartel. Não seria tão assustador o quadro apresentado dessa forma no 25º BC,
principalmente a considerar que estavam sendo preparados ali, os corpos da pátria para
combater o inimigo.
O BI informava a quantidade de praças baixados na Enfermaria. Quanto a análise,
destacamos um ponto importante com relação à quantidade e a reincidência dos praças
baixados. No ano de 1942, sempre havia de 20 a 30 praças baixados na ER. A
quantidade dos baixados cresceu vertiginosamente ao impelir a necessidade de mudar a
Enfermaria para um outro lugar, localizada na Praça Saraiva.98 O objetivo era aumentar
o lugar para que atender as carências de leitos que não existiam no 25º BC. Houve até
mesmo edital disposto no Diário Oficial para quem desejasse empreitar a construção
sob patrocínio da Unidade.99
O ano de 1943 foi mais movimentado que 1942. A reincidência de praças era
muito grande, por exemplo, um expedicionário que embarcou para a Itália, o sargento
João Paulino Torres, abordado no trabalho de Clarice Helena Santiago Lira, teve entrada
mais de três vezes na ER, sendo que houve duas reincidências longas no ano de 1943.
Em um dia chegava-se a 46, no outro a quantidade aumentava vertiginosamente. A
contagem cessou em 1944 até meados de 1945, porque os dados passaram a ser
camuflados.100 Anteriormente, informavam sobre praças e oficiais baixados pela
discriminando-os por subunidade. Compreendemos que a situação especifica no 25º BC
que era quadro visível nas demais guarnições, fica incumbido de enviar os praças para
os hospitais civis no intuito de acelerar o tratamento de praças e oficiais do Exército.
Diante de tantas baixas no 25º BC, era dever do oficial-médico instruir seus
comandados auxiliando-os com medicina preventiva, ao invés procurar corrigir o erro
quando constatado.101 Porém, acreditamos que, por mais que houvesse rigidez nesse
sentido, muitos transgrediam porque a profilaxia como o Exército pregava não se
configurou. Nesse momento, se encontrava a tática dos praças. Falaremos disso ao
abordarmos a questão do treinamento para combate. Dessa forma, os praças que muito
permaneciam na ER processava-se a reavaliação no intuito de auferir se havia condição

98
PIAUÍ. BI n. 105, 25º BC, 7 de maio de 1943, p. 509.
99
PIAUÍ. Construção de uma enfermaria para o 25º BC. Diário Oficial, Teresina, 2 jul. 1942, p. 4.
100
Não sabemos o porquê de não dispor mais o número de praças durante esses dois anos. Até o momento
a única possibilidade plausível se encontra na quantidade de praças baixados.
101
Ver art. 340. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 60.
33

para continuar com o serviço militar. Caso contrário eram licenciados102 e desligados do
BC na condição de reservistas103.
O 25º BC possuía o serviço próprio de farmácia, que segundo o RISG, deveria
constituir-se departamento da FSR.104 A medicação era ministrada nos praças conforme
o conhecimento das drogas no tratamento das intempéries furtivamente atacando os
praças. O BI informa a enorme quantidade drogas medicinais entraram durante o recorte
analisado, todas elas oriundas da RM em caixotes trazidos pelo transporte marítimo ao
Piauí.
Eram discriminadas pelo oficial do dia os caixotes em que condicionados esses
medicamentos para serem descartados pelo serviço de farmácia da RM. A constatação
corrobora com a informada falta de enfermeiros na Região. Não havendo pessoas
responsáveis para cuidar da farmácia, como zelar para esses medicamentos não perder a
validade? Esse era o motivo de descarte de tantos medicamentos em grandes
quantidades. A necessidade foi constatada por farmacêuticos civis admitidos no 25º BC
mediante após a circular do Ministério.105 Em suma, explica o porquê de o MG baixar
uma portaria determinando que o auxílio da medicina civil poderia ser utilizado pelos
militares caso houvesse necessidade.
A medida foi extremamente benéfica para o 25º BC. O benefício se encontra
justamente na construção do Hospital Getúlio Vargas106 que surgiu como necessidade de
modernização no âmbito da saúde na medicina piauiense, a criação de uma ala que
atendia somente a ocorrências militares atendeu a uma necessidade de mobilidade
complicada para a guarnição porque o Hospital Militar mais próximo da guarnição
ficava na sede da 10ª RM, em Fortaleza.
Os balanços realizados no BI apresentavam somas de cruzeiros destinadas ao
HGV107. O 25º BC no ano de 1943 chegou a pagar 112 diárias de hospitalização. 108
Havia necessidade de instrução para a medicina de guerra. Foram dirigidos estudos no
campo acadêmico no tratamento não só das feridas da guerra, como também na

102
Dispensa do serviço militar.
103
A reserva do exército é uma condição na qual o militar é dispensado do serviço. Na condição de
dispensa, esse civil será remanejado a condição da reserva para que seja utilizado em algum momento,
como na guerra, ou numa necessidade de serviço.
104
Ver art. 88. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 25.
105
PIAUÍ. BI n. 35, 25º BC, 11 de fevereiro de 1942, p. 233.
106
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Op. cit., p. 67-168.
107
PIAUÍ. BI n.158, 25º BC, 14 de julho de 1943, p. 895.
108
PIAUÍ. BI n. 178, 25º BC, 6 de junho de 1943, p. 981.
34

adaptação física e psicológica dos corpos.109 Contudo, não houve demanda nenhuma que
obrigasse o HGV a tratar de feridos de guerra. Nem guerra direta que gerasse tal
demanda. Pelo contrário, o HGV como um grande empreendimento do Estado Novo,
como o símbolo da modernidade para atender uma nova demanda em que mais estava
presente a preocupação com a saúde dos militares.
A Formação Veterinária foi outra necessidade do 25ºBC pela grande presença de
muares e cavalos. Para o Exército que se pretendia moderno, ou melhor, um Exército
Profissional, a existência de viaturas hipomóveis parecia uma ironia. Os BI’s analisados
do recorte mostram exatamente a predominância dos muares e cavalos, de uso durante
todo o dia, nos vários serviços de transportes, de cavalariças e nas guardas realizadas ao
redor do batalhão diuturnamente.
A necessidade do serviço de hipomóveis demandava de formação de veterinários
no BC, principalmente na competência do chefe da FV cuja organização se articula
semelhantemente a FSR. A grosso modo, a FV é composta por um 2º tenente-
veterinário, auxiliado por um sargento-enfermeiro e um soldado ferrador que mudavam
anualmente conforme necessidades ou transferências para outras unidades. Eles eram
responsáveis por preservar a saúde do animal potencializando seu desempenho.
Constantemente eram avaliados por sua capacidade física para o serviço militar. Caso o
diagnóstico constatasse a incapacidade física para o serviço, eram vendidos. O cuidado
com os muares era interessante pelo fato de que eles eram alimentados justamente no
momento em que a tropa arranchava.
A RM disponibilizava de quantia em dinheiro para compra de alimentação dos
equinos. O 25º BC comprava muares e também com ajuda da Prefeitura que indicava os
criadores ao redor da cidade de Teresina. Assim, ficava a cargo do 2º tenente-veterinário
por analisar a condição física, além das características dos muares. Deveriam ser
robustos e com dorso forte. Deveria verificar também a envergadura do animal e altura
média estipulada como altura 1, 40 m.110 O atributo destinaria o animal ao serviço de
cavalariças111. Ele é regulamentado pela escala de serviço do 25º BC para a guarda
montada. Geralmente essa função é realizada pelo cabo da guarda auxiliado por um
soldado. O Comandante recomendava que as viaturas fossem verificadas antes de

109
Ver mais em: PARANAGUÁ, Correntino Nogueira. Tratamento atual das feridas de guerra. In:
Revista da Associação Piauiense de Medicina, Teresina, 1941, pp. 5-11. Arquivo Público do Piauí.
110
PIAUÍ. BI n. 73, 25º BC, 28 de março de 1942, p. 297.
111
Art. 239. A guarda das cavalariças é parte integrante do serviço interno da subunidade, sendo
constituída por um cabo e pelos soldados indispensáveis ao serviço. BRASIL. Congresso. Senado. op.
cit., p. 69.
35

saírem. Essas viaturas tinham tendências a dar problemas quando os eixos não estavam
devidamente lubrificados.112
Saídas de praças depois das 22 horas era completamente vedada113. As cavalariças
exerciam o patrulhamento da cidade durante a noite nas áreas de lazer e de meretrício da
cidade onde muitos praças transgressores eram encontrados, quando menos
perambulando pela cidade. Isso será abordado eventualmente no terceiro capítulo.
O contato de praças e graduados com a sociedade em tese, deveria ser mínimo.
Em todo caso, as aparições deveriam ser circunstanciadas pela devida paramentação as
roupas e que momento deveriam ser usadas eram condições estabelecidas pelo RISG.114
Nesse período ser militar não era somente vestir uma farda, era usar a sua segunda pele.
Cada comandante de subunidade deveria velar por seus comandados para que não
andassem na rua descaracterizados, até mesmo se o praça for a barbearia para cortar o
cabelo é obrigatório o uso da farda.115 Entretanto, essa medida tinha importância para
identificar os praças transgressores.
Para o serviço de guarda, o policiamento da Força Policial atuava em anuência
com o 25º BC também disponibilizando força para conter contraventores. O
Comandante determina os afastamentos do 25º BC, por exemplo: soldados
ordenanças116, o almoxarife, pessoal do aprovisionamento, pessoal da tesouraria, de
ordens, correspondência, padioleiros de serviço, os soldados do rancho em serviço e o
enfermeiro em serviço. Eles podem sair sempre com a observância do oficial do dia, do
sargento adjunto ou do chefe das cavalariças.
O escopo do 25º BC era tornar-se uma unidade do Exército Profissional.
Entretanto, como ser moderno e profissional, se não havia na sociedade piauiense
homens instruídos para esse fim? Existia um contraponto gravíssimo ao pretender
alcançar o patamar técnico e fortemente adestrado. A mobilização não corrigiu o
problema com a convocação117, ou muito menos com o voluntariado118. Mesmo
estabelecendo o desejo de homens alfabetizados, muitos poucos deles se dispunham ao

112
PIAUÍ. BI n. 34, 25º BC, 10 de fevereiro de 1942, p. 148.
113
Considera-se como Transgressão disciplinar pelo RDE. Está disposta no item 43 do art. 13. Idem,
1942, p. 5.; PIAUÍ. BI n. 123, 25º BC, 2 de junho de 1943, p. 653.
114
PIAUÍ. BI n. 183, 25º BC, 7 de agosto de 1944, p. 1137.
115
PIAUÍ. BI n. 112, 25º BC, 16 de julho de 1942, p. 476.
116
Um soldado que se encontra às ordens de um oficial, comandante da tropa ou comandante de
subunidade. Ver art. 244: BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 70.
117
Foram realizadas várias convocações durante a guerra. Primeiro convocou-se os oficiais: PIAUÍ. BI n.
35, 25º BC, 11 de fevereiro de 1942, p. 141.
118
PIAUÍ, BI n. 150, 25º BC, 5 de julho de 1943, p. 816
36

serviço militar. Isso será explicado no próximo capítulo. Contudo, era responsabilidade
que o 25º BC deveria assumir com os praças que adentram ao serviço no Exército
pertencentes aos extratos mais baixos da sociedade. A medida poderia auxiliar os praças
nos serviços que requereriam o mínimo de instrução, isto é, ao para realizar trabalhos
condizentes com uma Tropa profissional.
Os praças eram matriculados pelos oficiais das subunidades. Eles eram
direcionados à Escola Regimental que funcionavam nos despojos do Batalhão. Quanto a
Escola, os resultados eram bons. Pouco se aproveitava os cursos de instruções que o 25º
BC matriculava alguns praças. Eram destinados e dias depois apareciam notificações ao
Batalhão do praça matriculado com o cancelamento da inscrição por não frequentar as
instruções, ou por não obter grau de suficiência para continuar no curso. Enquanto isso,
o 25º BC improvisava alguns praças em serviços com cursos emergenciais dispostos
pelo Comandante do Corpo.119
A motorização do 25º BC se consolidou de forma gradativa e bem lenta depois da
guerra. Chegaram as primeiras viaturas ainda em 1942, contudo só sua presença não era
o bastante. Era preciso haver praças para guiá-las. Era preciso praças capazes para
realizar manutenção. Tudo que havia na guarnição era um manual que instruía como
realizar a manutenção.120 A cota de combustível no período de guerra foi estabelecida
para consumo por ano para cada uma dessas viaturas. Era necessidade haver maior
movimentação no território piauiense. Houve uma grande dificuldade de efetivação do
serviço pela falta de condutores para guiar as viaturas. Dessa forma, voltava-se à estaca
zero.
Durante a guerra, podemos perceber que ela pouco afetou a organização do
Batalhão. A estrutura do 25º BC refletia a situação brasileira durante a guerra. As
despesas do governo com os militares sempre foram irrisórias se comparadas a dos
países beligerantes. No fundo, os militares brasileiros careciam de preparo porque a vida
do praça no quartel seguia outro rumo ao rumo da modernidade. O 25º BC era uma
tropa da qual as ideias e a doutrina da Missão Militar Francesa estão firmemente
cimentadas na estrutura das subunidades, na hierarquia e nos órgãos que fazem parte da
guarnição. Os conceitos são básicos, mas nos expostos permitem mostrar o porquê que
o Exército ainda não era preterido pelos jovens. No fundo, toda a tentativa de

119
Atividade comum. O necessário era ter praças preparados para os novos serviços a demandar mão de
obra profissional para o funcionamento.
120
PIAUÍ. BI n.184,25º BC, 8 de agosto 1944, p. 1143.
37

mobilização esbarrava em problemas de cunho estrutural. A propaganda patriótica atuou


como uma contramedida, no entanto não podemos afirmar que ela aconteceu segundo os
jornais. Quanto a isso, o próximo capítulo se responsabiliza em explicar.
O fato da guerra não ter despertado reações mais enérgicas nos BI’s não se
tornam incompreensíveis. Mesmo a par da situação internacional, a possibilidade de
participação direta na guerra desconsiderava-se com o tempo. O Brasil não sofreu uma
intervenção direta. Os soldados não foram afetados pela guerra de forma que se torna
uma lembrança comum. O cotidiano do batalhão durante a guerra pouco modificou-se.
Não seria ironia que, ao lermos o livro histórico da guarnição, fosse encontrado a
descrição “vida normal” nos três anos de guerra do Brasil.
38

3. O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER: A


MOBILIZAÇÃO PARA O SERVIÇO MILITAR NO 25º BATALHÃO DE
CAÇADORES.

A propaganda militar do Estado Novo é viabilizada estrategicamente no sentido


de elencar a ideologia oficial nos periódicos em circulação no Piauí: o Gazeta e o
Diário Oficial. A guerra foi empregada como instrumento adequado para a propaganda
cimentar o sentimento nacionalista, consequentemente aproximar todos como
brasileiros. Nessa representação não se concebia somente o piauiense porque
particulariza-se o sujeito e, essa não era a finalidade. A referência sempre é feita
visando a união de todos em socorro à pátria como o principal requisito reivindicado
pela ideologia oficial.
O nacionalismo encontrou no momento terreno fértil para desenvolver com os
periódicos. Eric J. Hobsbawm ao estudar o fenômeno no século XX apontou que o
nacionalismo encontrou na modernização da comunicação um lugar interessante para
divulgar as ideias emanadas do Estado e voltada para seus interesses. Não basta somente
uma iniciativa massiva de propaganda, precisa-se, além de tudo, da habilidade das
grandes mídias em criar símbolos que se identificassem com os indivíduos para
unificarem o público e o privado sobre a esfera nacional.121 O discurso astuto construído
pelo DIP representara o Estado Novo. A perspicácia e a habilidade em elencar símbolos
nacionais seriam direcionados principalmente para convertê-los em símbolos militares.
Estariam todos imersos nos seus meandros cuja construção é legitimamente estratégica.
Eles estavam cientes do que se passava no front durante os anos duros de guerra
através periódicos. O Estado Novo busca incrementar na publicidade algo que favoreça
a sua causa da mobilização para o front interno e, consequentemente, a propaganda da
mobilização militar. O Brasil estava em guerra, logo, a cidade de Teresina deveria ser
peculiarmente atingida pelo clima de guerra sustentado pelos jornais. Segundo
Francisco César Alves Ferraz,
[...] a guerra foi sentida pelo cidadão comum de duas maneiras: a)
através das estratégias do governo do Estado Novo de construir um
“front interno”, no qual se visava a mobilização dos trabalhadores pela
defesa do país e pelo aumento da produção; b) através da escassez e
do encarecimento de produtos de consumo cotidiano, devido a

121
HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1870: programa, mito e realidade. Trad. Maria
Celia Paoli, Anna Maria Quirino. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 170.
39

dificuldades de importação e à especulação com os preços dos gêneros


de primeira necessidade.122
A estratégia tinha como primeira preocupação, em tese, aproximar o conflito do
imaginário social e, com o clima de guerra na capital, incentivar a mobilização de todos
para construir um front interno proporcionando produzir para a guerra. A ideia emana
do Estado e faz parte da Doutrina da guerra total.123
Primariamente, ao abordar a guerra tem como propósito de mobilizar e justificar
do Estado de Guerra. Era preciso revelar que o front externo é uma preocupação na
guerra, e tão importante quanto o front interno para a vitória. Ou seja, a construção do
front interno perpassa primeiramente por informes sobre o andamento da guerra. E, em
tudo isso, fortalecer no imaginário social da sua proximidade.
Por isso, entendemos que a leitura dos periódicos corrobora com acepção que
Diário Oficial e o Gazeta assumiram papel fundamental nas notícias da guerra, porque
são os criadores do símbolo patriótico mais explorado durante a guerra, as Forças
Armadas. Apropriar da sua imagem e representá-la como uma grande instituição
significará o fortalecimento da imagem principalmente do Exército no imaginário social
piauiense.124 Seria despretensioso pensar que a fabricação aconteceria imprudentemente.
Concorreríamos ao sério risco de cometer pesados enganos. Certamente, o Ministro da
Guerra possui motivos para solicitar que publicidade fortalecesse ideias que
concorressem ao favor das Forças Armadas brasileiras e mudar as concepções negativas
perpetuadas ao longo do tempo e que maculam a importante tarefa do Exército, como a
sagrada tarefa do cidadão.125

3.1. A guerra dos periódicos: os informes do front externo

Durante o recorte de 1939 até 1942, caberia ao Diário Oficial papel de informar
os piauienses sobre a guerra. Apontado por Francisco Alcides do Nascimento, o Diário
Oficial originalmente possuía função de ser porta-voz do noticiário oficial do Estado do
Piauí.126 Os gestores do DEIP, compreendiam a necessidade de um periódico destinado
a informar as ações do governo, mediante o muito bem observado no Estado – ou
melhor, do Brasil como todo – um déficit educacional no Brasil. O déficit combinado a

122
FERRAZ. Francisco César Alves. op. cit., p. 20-21.
123
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 87-127.
124
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 57.
125
BRASIL. op. cit., p. 8.
126
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 56.
40

necessidade desse periódico impeliu no modelo do Diário Oficial no atendimento aos


devidos fins.127 Ele acolhia toda população teresinense, tanto que o referido autor,
problematiza a importância e a vigência do periódico na cidade:
logo no início desta nova etapa do Diário Oficial, a tiragem chegava a
3.000 exemplares diariamente. Proporcional ao número de habitantes
de Teresina, assinalados pelo Censo Demográfico de 1940, que era de
62.000 habitantes, o total de leitores era relativamente baixo. Talvez
esteja nesta informação a razão para que alguém da direção do DEIP
defendesse a instalação de outro meio de comunicação de massa (o
rádio), que em tese deveria atingir parcela maior da sociedade.128
O Diário Oficial foi pensado na ausência de periódicos. Ademais, sua envergadura
só conseguiria chegar às 3.000 tiragens. Isto é, ao considerarmos que esse periódico se
propunha educativo, torna-se irônico que pouquíssimas pessoas em Teresina teriam
contato com essa fonte de informação. Ele representava a ideologia do Estado, e tudo
que o Estado defendia importante para a sociedade piauiense.
Por outro lado, o Gazeta concretizaria função semelhante àquele periódico. A
princípio, a leitura leva a crer que a distribuição era sazonal. Passou a ser periódico
diário em outubro de 1942, mediante o grande clamor da população. 129 A carência de
um periódico que tivesse função informativa que focalizasse o cotidiano fazia-se
presente, embora o Diário Oficial também realizasse isso, com o diferencial das notícias
oficiais. Aquele periódico era dirigido pelo Prof. B. Lemos poderia ser adquirido por
folha única ou por assinatura. O preço era disposto na primeira página e era tabelado
segundo a assinatura. Mediante pesquisa, o corpo do texto apresentava o valor do
periódico, ao qual constava na faixa de 0,40 Cr$.
A tessitura das informações representadas no Diário Oficial é fabricada de forma
semelhante em alguns aspectos o Gazeta, exceto quando se refere as informações
oficiais do Estado e da prefeitura. Mesmo sendo um periódico de propriedade privada, o
fato de contar com patrocínio e controle do DEIP não isentou o Gazeta da ação de
censura sob as publicações dos periódicos cujo patoá foi imposto pelo órgão.130
Montado em pequeno formato, se comparado ao anterior, a leitura do periódico
notabiliza-se pelo aspecto leve e denso. No emaranhado das palavras, algumas

127
VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural no Estado Novo. In: DELGADO,
Lucília de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge; et al. O tempo do nacional-estatismo: do início da
década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 149
128
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Op. cit., p. 57.
129
Não sabemos mesmo se houve mesmo esse grande clamor da população como foi afirmado pelo
diretor. O que podemos afirmar é que esse informe abordou essa notícia do grande clamor. PIAUÍ. Novos
Moldes. Gazeta, Teresina, 23 out. de 1942, p. 1.
130
CARONE, Edgar. A Terceira República (1937-1945). São Paulo: DIFEL, 1976. p. 48
41

informações ganham mais destaque que outras, concomitantemente as propagandas de


empresas privadas brasileiras e piauienses que se apropriam da guerra para divulgar os
produtos131. Basicamente, a sua estrutura chegava a obter quatro páginas chegando em
algumas ocasiões a seis páginas132.
Os dois assumiram o papel de mobilizar os piauienses a colaborar para o front
interno. Vale afirmar que durante o ano de 1943 a 1944, o Diário Oficial se propôs a
abordar o Exército. Quanto ao noticiário do front fica responsável o Gazeta. Até o final
de 1944, foi observado que foi reservado um espaço para falar da guerra, só que,
ironicamente, haviam poucas abordagens da guerra que a Força Expedicionária
Brasileira travava intensos combates no norte da Itália. No mínimo perturbador, assumir
o papel de mobilização dos piauienses em geral e se tornarem anônimos nas
representações dos informes. As explicações são intermitentes, entretanto não é o nosso
foco.
São reflexões que podem ser feitas futuramente sobre as formas de controle do
DIP com medidas taciturnas. Primariamente, objetivamos analisar o discurso que
aproxima a guerra dos brasileiros, de que forma ele informa-os e incentiva-os a
mobilizar-se para combater o inimigo em virtude da guerra que se desdobrava externa e
internamente. Entender o funcionamento e a organização do discurso e de que forma
eles seriam consumidos.
O Diário Oficial informava a guerra em duas colunas ou mais organizadas sob
nome de “conflagração mundial”. No primeiro momento, elas aparecem distribuídas na
manchete do dia e não raro durante a continuação do periódico. O volume de notícias é
desmesurado. Nas colunas, o periódico dispõe de informes pertinentes ao front externo
seja nas batalhas travadas no Atlântico – o que irá nos envolver indiretamente –, a
resistência da Inglaterra, o Norte da África até o início de 1943 com a invasão aliada da
Itália. A United Press seria a “municiadora” do “bombardeio” de informes presentes no
corpo do periódico. A transcrição do informe de 1942 na íntegra, convém como

131
As páginas eram recheadas de propagandas, e muitas delas até exploravam a imagem da guerra para
anunciar produtos: “Defendei a integridade da nossa queria Pátria e procurai amparar com a mesma
demonstrada bravura, o futuro da vossa família, instituindo, quanto antes, uma pensão mensal e vitalícia,
de cem a mil cruzeiros, no MONTÉPIO GERAL DE ECONOMIA DOS SERVIDORES DO ESTADO,
instituído e reconhecido de utilidade pública pelo Decreto Federal de 10 de janeiro de 1835, contanto,
assim, 108 (CENTO E OITO) anos de existência, podendo, escrever-se nele, todos os brasileiros de
qualquer profissão, de 20 a 59 anos de idade.” PIAUÍ. Montépio Geral de Economia dos Servidores do
Estado. Gazeta, Teresina, 20 jan. de 1944, p. 2.
132
A estrutura em geral consta nas quatro páginas. Quando há manchetes cujas informações são
numerosas, há o acréscimo das duas páginas a mais.
42

exemplo da organização, procurando exemplificar a barbaridade com a qual os alemães


atuavam nos países ocupados:
LONDRES, 25 (U. P.) – Os alemães de acordo com informações
fidedignas de Berlim, admitem que desde o princípio da guerra já
executaram nos países ocupados 200 mil pessoas. Com essa
informação foi plenamente confirmada a versão britânica, segundo a
qual até agora os nazistas já haviam assassinado mais de 150 mil nos
países ocupados. Salientam ainda os bárbaros germânicos que as
execuções referidas constituem represálias a atos de sabotagem e
atentados instigados pela propaganda aliada.133
O discurso do Gazeta seguia a mesma linha. Em 1942, ligeiramente, na segunda
metade do ano de 1943 até o fim da guerra, os informes ao contrário do anterior, serão
mais incisivos e numerosos em alusão às batalhas no front. No Gazeta, geralmente os
noticiários preenchiam a primeira página, às vezes a segunda e ao longo da terceira e
quarta página também eram encontrados. Tinha como fontes no exterior a
correspondente Reuters e a British News Service. No entanto, no Gazeta percebemos
algo curioso: constatou-se a presença constante de notícias abordadas minuciosamente
sobre a União Soviética. O discurso é consiste em causar comoção nacional com a
intensa e desesperada luta patriótica dos soviéticos.134 O alinhamento do Brasil na
guerra incrementa no discurso um pequeno fascínio e, isso impeliu em ressaltar o papel
das Nações Unidas na guerra. Quando o Brasil entra, o jogo era outro. Quem estava no
ataque eram os aliados e o jogo virava contra os alemães. Os soviéticos em Stalingrado
resistiam e se tornavam exemplos representados pelos periódicos. Semelhantemente aos
russos, o dever dos piauienses consistia manter-se firmes no momento de calamidade,
manter-se firmes como brasileiros.
Importante ressaltar que o Brasil não mantinha relações diplomáticas com a União
Soviética. Todos os partidos que não seguiam a ideologia corporativista do Estado Novo
foram banidos de exercer funções políticas. Sua existência sobrevivia na
clandestinidade.135 Segundo João Falcão, eventualmente, a adesão aos Aliados gerou
simpatia por reconhecer a luta dos soviéticos. Despertou ligeiro otimismo, e isso foi o
suficiente para que os periódicos fossem o fator de aproximação, justamente por serem
dois países agredidos pelos alemães.136 Dessa forma, eles compartilhavam situações

133
PIAUÍ. Os alemães já executaram nos países ocupados milhares de pessoas. Diário Oficial, Teresina,
25 set. de 1942, p. 1.
134
Não será somente com os soviéticos. Com a França acontecerá também da mesma forma. A situação
francesa demandou grande atenção por parte das revistas Zodíaco e Voz do Estudante.
135
BONALUME NETO, Ricardo. op. cit., p. 34.
136
FALCÃO, João. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial: testemunho e depoimento de um soldado
convocado. Brasília: UNB, 1999. p. 54.
43

extremas. Adiante, o exemplo traz a representação do Gazeta com a pura demonstração


do patriotismo russo ao lutar em situações adversíssimas com bravura, por amor à
pátria. Representa os soviéticos como aguerridos moldados pelo espírito do patriotismo.
A transcrição demonstra bem:
MOSCOU, 31 (Reuters) – o boletim suplementar divulgado pela rádio
local informa: Na frente ocidental as tropas prosseguem suas
operações ofensivas. Apesar da resistência oferecida pelo inimigo as
unidades russas ocuparam várias povoações inclusive o centro distrital
de Khody e a estação ferroviária de Ugoryrevkos. Em outro setor os
alemães lançaram fortes contra-ataques sendo todos repelidos.
Trezentos oficiais e soldados foram mortos, 8 tanks, 10 canhões e 22
metralhadoras capturados. Na região setentrional do Rio Donetz as
nossas tropas, em sangrentas batalhas destruíram 9 tanks e 18
caminhões militares. Uma unidade russa atacou uma aldeia ocupada
pelo inimigo e com o auxílio da população local derrotou a guarnição
nazista. Ao sul do lago Ilmen as tropas russas quebraram a resistência
nazista e avançaram sobre uma importante ferrovia. Foram destruídas
86 fortificações inimigas.137
Mesmo em condições adversas, o Gazeta aborda o quanto os russos são
aguerridos ao ponto de arrostar uma metralhadora e enfrentá-la aguerridamente no
intuito de tomar as posições. As batalhas dos periódicos são representadas pelo discurso
encorajador do sentido heroico no qual cada batalha na URSS (para eles, Rússia), seria
caracterizado pelo aspecto sangrento, e que ainda continuava firme contra os alemães.
Lembremos, cada notícia dessa não seria despretensiosa.
No entanto, o noticiário da guerra não se furtava somente aos jornais. O rádio
também foi um propagador importante. No entanto, querelas como uma grande rádio
difusora, jaziam nas ambiciosas pretensões do interventor Leônidas de Castro Mello.
Durante a guerra o Piauí não foi agraciado com uma grande rádio difusora. 138 O Piauí
estava na frequência de rádios amplificadoras que constantemente ouvidas na capital.
Por exemplo, a Rádio Nacional que tramitava em ondas longas e ondas curtas.139 No
fundo, elas também procuram aproximar os brasileiros dessa guerra distante. Perspicaz,
Fernando Lourenço Fernandes expõe seu parecer quanto
a atividade bélica na Europa e no Pacífico estava bem presente no
noticiário das emissoras radiofônicas e na imprensa, com as rotativas
despejando nas bancas duas e mesmo três edições diárias, apregoadas
pelos jornaleiros nas calcadas, nos transportes públicos, à porta dos
cinemas, dos restaurantes e teatros. Isto, para quem ouvia rádio ou lia

137
PIAUÍ. A cinquenta milhas de Smolensk. Gazeta. Teresina, 19 mar. de 1943, p. 1.
138
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 62.
139
FERNANDES, Fernando Lourenço. A estrada para Fornovo: a FEB – Força Expedicionária
Brasileira, outros exércitos & outras guerras na Itália, 1944-1945. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
Biblioteca do Exército, 2011. p. 73.
44

jornais e revistas, era um fator constante de atualização a respeito dos


acontecimentos militares e parte importantíssima do clima de
mobilização, não só alvo do interesse do Estado Novo como também
das esferas políticas dos países aliados.140
A guerra foi manchete do dia, no entanto, a declaração de guerra do Brasil ao Eixo,
seria um fator ainda mais preponderante por proporcionar a conversa cotidiana, o
murmurinho. A representação pode ter transposto as vias oficiais e entrado nas tramas
cotidianas. Comentários serão mais fortes durante todo mês de agosto vários noticiários
tomaram de conta dos tabloides do Diário Oficial, manifestando ira, sentimento de
vingança, além da movimentação popular com relação aos afundamentos.
Afinal, não havia certeza alguma sobre o que aconteceria em 1942. Será que o
Brasil entraria na guerra? Será que sofreríamos um ataque aéreo? Mais submarinos
fariam os brasileiros de vítima? Nesse clima de incerteza, a mobilização encontrou o seu
alicerce. Contudo, os aliados não tomaram conhecimento do script e invadiram a África
afastando qualquer possibilidade. Eventualmente isso não seria problema, porque
naquela ocasião os periódicos “gritavam” que o povo queria guerra.
O povo queria guerra? Essa ideia foi plenamente difundida para justificar o
primeiro momento de mobilização direcionada a participação popular. As missas, os
telegramas trocados e publicados no periódico tendo como intensão a comoção dos
piauienses.141 Os afundamentos no litoral se tornaram, guardadas as devidas proporções,
“batalha de Stalingrado” nos periódicos. As crônicas sobressaíram-se nas análises da
declaração de guerra. Submergindo nas fabricações discursivas, o DEIP busca agora
convencer os piauienses dos seus deveres como brasileiros para a vitória.

3.2. Convencer para mobilizar: representações da guerra nos periódicos

Os subsídios fornecidos pelas crônicas, apresentam uma função exercida pelos


intelectuais no Estado Novo: a responsabilidade de educar e, consequentemente, induzir
o povo a anuência da mobilização. Historicamente, o Brasil era assolado pela falta de
alfabetização. Inclusive, com as mudanças na concepção da Educação durante o Estado
Novo, essa realidade se manteve durante um longo tempo. Era praticamente dificílima
resolução problema a curto prazo. Ao entender a natureza do problema, a saída, na visão

140
idem, ibidem, p. 38-9.
141
PIAUÍ. Solenidade religiosa na Capital. Diário Oficial, Teresina, 21 ago. de 1942, p. 1.
45

de Mônica Pimenta Velloso foi abranger os intelectuais como porta-vozes da Doutrina


do Estado Novo. Além disso, o “intelectual é eleito o intérprete da vida social porque é
capaz de transmitir as múltiplas manifestações sociais, trazendo-as para o seio do
Estado, que irá discipliná-las e coordená-las [...].”142 Desse modo, o papel do intelectual
não é somente o de alfabetizar, é o de interpretar a vida social. Com a guerra as portas, o
papel dos intelectuais no momento, é de interpretar a guerra para mobilizar o povo
piauiense.
As guerras apropriadas pelos autores das crônicas abordam pelo cerne político os
símbolos como patriotismo, o nacionalismo aplicado na batalha da produção, assim
como o serviço nas Forças Armadas. As crônicas geralmente são assinadas pelo nome
completo ou por meio das iniciais. Por exemplo, a crônica intitulada de três erros
fundamentais, o autor com iniciais R.R., ao qual conseguimos identificar depois como
Ribamar Ramos. Como interprete da situação política que culminou com a guerra, o
autor constrói uma análise lúcida sobre os três eventos históricos obtiveram relevância
no conflito. A crônica está na primeira página, na coluna “panorama internacional”. Ele
descreve incialmente que
o conflito que ora convulsiona a humanidade tem as suas raízes numa
tão complexa cadeia de acontecimentos, que, ainda que fosse possível
atingí-la, nos contundiríamos com a multiplicidade e a
interdependência dos seus detalhes das suas sutilezas.143
O trecho situa o estopim a guerra. Ele entende que há uma interdependência direta
entre os acontecimentos na conjuntura perspicaz aos fenômenos isolados. A busca pela
compreensão dos fatos o impele a continuar o discurso explicando os erros e as
consequências emergentes da inércia da diplomacia europeia. Mediante a racionalização
dos acontecimentos, a forma que cada um ocorreu
colocando-nos, entretanto, dentro de um critério de julgamento
pessoal, num esforço de pesquisa histórica para condensar os fatores
mais definidos e mais próximos da tremenda crise que nos assola,
podemos restringí-los a três ocorrências, que consideramos como
sendo os êrros fundamentais da diplomacia européia, nestes últimos
tempos, e que foram: 1.º) – o reconhecimento da anexação da Etiópia
ao império italiano, com acintoso desrespeito ao princípio da
soberania nacional; 2.º) – a tácita aquiescência à insurreição do
general Franco, admitindo-se, numa perigosa precedência, a prática do
intervencionismo ítalo-germânico; 3.º) – a capitulação franco-britânica
às exigências de Munich.144

142
VELLOSO, Monica Pimenta., ibidem, p. 155
143
RAMOS, Ribamar. Três erros fundamentais. Gazeta, Teresina, 25 out. de 1942, p. 1.
144
RAMOS, Ribamar. Loc. Cit.
46

O exercício de reflexão do autor, deixa a impressão que o ímpeto expansionista do Eixo


em anexar territórios, agiu como fator importante de avanço, ainda mais, ele acredita
que é a principal consequência das escolhas políticas antibeligerantes da Inglaterra e
França por permitirem que alemães levassem a cabo suas pretensões.
A situação nacional certamente representava preocupação nas reflexões
intelectuais destinadas ao Diário Oficial. A leitura desta crônica induz compreensões a
respeito do lugar dos brasileiros na guerra. Podemos distinguir que o calor da declaração
de guerra demandou atenção especial pelas análises realizadas sobre a sociedade e o
Brasil. Ele faz considerações que evoca esses símbolos e no desfecho, o cronista José de
Araújo Mesquita deixa uma sob o papel dos brasileiros em “Salvaguarda a honra
acional” ao final da crônica.
Somos uma nação que abrange quasi a metade do Continente, maior,
porém, do que esta imensa carta geográfica é o nosso justo desejo de
permanecermos sempre livres e o nosso inabalável propósito de lavar
com o próprio sangue a honra de nossa abençoada Pátria no dia em
que porventura fôr ofendida. Na hora determinada, sob às ordens do
Chefe da Nação, saberemos defender palmo a palmo este pretencioso
patrimônio territorial e político que nos honraram a legar nossos
bravos antepassados, cujo sangue reverberante de glória, esplendente
de heroísmo, rico de dignidade, continua como marco luminoso,
indicando as fronteiras do nosso querido Brasil. Não somos um povo
destituído de sentimento patriótico. Possuímos bem nítida a
consciência dos nossos deveres para com este torrão que nos serviu de
berço. Disso temos oferecido as mais eloquentes e positivas. Assim é
que a fina flor da mocidade brasileira acorre entusiasticamente as
fileiras do nosso glorioso Exército de Caxias numa empolgante
demonstração de disciplina e de civismo, tomada do mais puro ardor
patriótico e possuída do mais acendrado amôr ao Brasil atendendo
prontamente ao chamado da Pátria.145
Mesmo por ser longo, o trecho é relevante nas explicações do discurso do autor ao
papel dos brasileiros para salvaguardar no momento crítico. A grandeza do Brasil é
enaltecida pelo diagnóstico no qual deixa claro que a dignidade dos brasileiros, como
pessoas cujo patriotismo remete ao amor ao território e, além de tudo, da pacificidade
do povo brasileiro, seria condição para reconhecer os deveres dos brasileiros como
cidadãos. A exposição não acarreta somente ideias porque ele indica direções que os
leitores seguiriam para comprar a ideia. O mais sensível aos olhos é a evocação dos
sujeitos: sempre procuram evocá-los como brasileiros. Equivale a todos como
defensores da pátria enfatizando sempre a certeza que cada brasileiro assumirá seu fardo
por amor ao Brasil, ao passo que a dignidade está manchada com os ataques realizados
145
MESQUITA, José Araújo. Salvaguarda a honra nacional. Diário Oficial, Teresina, 5 set. de 1942, p.
10.
47

aos navios da Marinha mercante no litoral brasileiro.146 Ao final, a representação bem


nítida: todo Brasileiro concorrerá para defendê-la, por gratidão a sua pátria.
Oportunamente, com a liderança de Getúlio como o grande “chefe da nação”. Ele é
quem levará a vitória, ele quem guiará o povo no momento mais crítico da grande nação
brasileira.
Há uma tentativa importante no sentido de justificar ações bélicas dos brasileiros
afundamentos147, Como afirmou Ricardo Bonalume Neto “Para muitos brasileiros, em
agosto de 1942 a honra do país só seria lavada se também fossem enviadas tropas para a
Europa, para combater os alemães e italianos em seus países.”148 É preciso reafirmar que
nenhuma escrita é despretensiosa, por trás do objetivo há sempre o não-dito, ou melhor,
o lugar.
Esses apelos também evocam evocaram lugares de memória como símbolos a
serem seguidos. Um deles equivale a Guerra do Paraguai.149 Historicamente foi o último
confronto bélico travado pelos brasileiros além das fronteiras do território brasileiro,
além disso, ela se tornará um lugar de memória importante do Exército no intuito de
destacar a personagem importante: o Duque de Caxias, o Marechal Luiz Alves de Lima
e Silva.150 O tenente-coronel Fernando Pires Besouchet sob fervor patriótico dia do
Soldado, descreve no adiantamento de BI resumidamente a trajetória do “intrépido”
Caxias no Paraguai. Segundo o comandante seria o maior guerreiro da América do
Sul.151 Ele é um lugar de memória presente no Exército justamente por ser estimado
soldado exemplo, o exímio soldado da pátria. A sua grandeza semelhante à sua memória
são símbolos do Exército. Como lugar de memória, nada mais justo que o dia de

146
PIAUÍ. Gabinete do Interventor. Diário Oficial, Teresina, 24 ago. de 1942, p. 1.
147
Para atenuar o impacto negativo causado pelo torpedeamento, a quinta-coluna começou,
insidiosamente, a espalhar que nossos navios teriam sido afundados por submarinos aliados, com o
propósito de forçar o Brasil a entrar na guerra. [...] Os aliados nunca tiveram a intenção ou interesse de
forçar o Brasil a entrar na guerra; desejavam tão somente cooperação, ou seja, a cessão das bases do
Nordeste e o fornecimento de matéria-prima, o que já tinham, por força dos acordos assinados.
SILVEIRA, Joaquim Xavier da. A FEB por um soldado. São Paulo: Nova Fronteira, 1989. p. 40.
148
BONALUME NETO, Ricardo. Op. cit., p. 119.
149
A mobilização da guerra muito se assemelhou a empreendida pelo Estado Novo. Por esse motivo, será
uma das memórias presentes no momento atual. Ver mais em: ARAÚJO, Johny Santana de. Bravos do
Piauí! Orgulhai-vos... a propaganda nos jornais piauienses e a mobilização para a guerra do Paraguai,
1865-1866. 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2015. p. 19-24.
150
O Duque de Caxias era o Patrono do Exército. Tanto que o dia do seu nascimento é considerado dia do
Soldado. A propaganda de guerra e de exaltação dos heróis do passado aconteceu principalmente na
esfera militar. Mediante os documentos de pesquisa da autora nas corporações militares piauienses 25º
BC e 26º CR, ela pode comprovar a exaltação da figura do Duque de Caxias, despertando na sua figura a
imagem do patriota que teria contribuído em sua força de combate para o bem da pátria.
151
PIAUÍ. BI n. 198, 25º BC, 24 de agosto de 1944, p. 1224.
48

nascimento do soldado exemplo, seja o dia do Soldado Brasileiro152. A mística do dia


era comemorada por intermédio de grande formatura153 em que todos os praças e
graduados enfileirados e comandados por seus oficiais e oficiais subalternos prestariam
continência aos símbolos nacionais no 25º BC. Ora, na construção de discursos, foi uma
prática muito comum que o DEIP se apropriasse de símbolos místicos visando ressaltar
sentimentos à virtude militar. Corrobora perfeitamente quando Roney Cytrynowicz
afirma que “a ideologia do Estado Novo, enfatiza ideais militares, povo em marcha,
disciplina, bravura e lealdade, destreza e resistência muscular, desbravamento e
coragem, organização e vigilância, sacrifício e união”.154
Os porquês dos alemães estarem em guerra contra o mundo inteiro também foi
uma análise importante. O discurso aponta os alemães como povo forte, no entanto, eles
não seguem as leis divinas e os preceitos da boa moral. J. Vaz da Costa ao escrever no
Diário Oficial a “a filosofia de Satanáz” expõe ideias atestando o mal que os alemães
têm feito ao mundo. Por personificar o mal e da crueldade, são fiéis seguidores da
filosofia ao utilizar a força como arma para subjugar a todos. Diametralmente estão os
brasileiros porque
no Brasil, porém, só uma força vence e domina: – é a força do direito
e da justiça, é a força do bem, é a força que nos inspira piedade e
compaixão para os fracos, é a força que nos ensina a respeitar os
direitos de todas as nações e de todos os cidadãos que pizem em nosso
sólo hospitaleiro, é a força que nos dá a certeza da dignidade do nosso
passado e a convicção do valor com que enfrentaremos o nosso futuro,
defendendo com a própria vida, a virtude e a religião dos nossos lares,
a inocência de nossos filhos, a posse de nossos bens, o patrimônio de
nossos ideais e acima de tudo a soberania do nosso caro Brasil que
prefere assistir o extermínio completo de seus filhos a vê-los
humilhados.155
O objetivo do cronista foi interpor no discurso a representação do Brasil pacífico e do
brasileiro não-belicoso entra na conta das qualidades do povo brasileiro. A posteriori,
era necessário explicar o lado escolhido pelos brasileiros. O maniqueísmo do discurso
constrói uma imagem de brasileiros benevolentes, ao lado do direito, pela compaixão, o
Brasil estaria lutando pela justiça e pela soberania. São todos valores cristãos,
benevolentes e característicos atribuídos a um país católico. O final sempre será
marcado pelo mesmo caminho: a defesa da pátria com o ônus da vida. Os brasileiros

152
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, trad. de Yara
Aun Khoury, São Paulo, 1993. p. 22-24.
153
Segundo o artigo 247 é toda reunião do pessoal em forma armado ou desarmado. Idem, 1940, p. 71.
154
CYTRYNOWICZ, Roney. Op. cit., 2000. p. 19.
155
COSTA, J. Vaz da. A filosofia de Satanáz. Diário Oficial, Teresina, 10 set. de 1942, p. 3.
49

estavam do lado do bem e da democracia (?) contra a velha Alemanha ateísta e


maligna.156
As crônicas e os pequenos informes responsabilizavam-se de noticiar o 25º BC
nos periódicos. Sabemos que eles assumiram o papel patriótico de ajudar a mobilizar os
piauienses para a guerra. As explicações estavam em processo de racionalização,
ademais, era preciso que o trabalho de mobilização fosse mais enérgico para ganhar a
guerra.
No momento, falaremos a respeito da ligação entre os periódicos e o BI. Muitas
notícias relacionadas ao 25º BC eram informados aos teresinenses dos movimentos do
Exército pela Agência Nacional, em primeira mão divulgou informações da declaração
de guerra.157 Por exemplo, notícias arroladas a determinados assuntos que não
comprometessem a segurança nacional permaneceriam no Diário Oficial salvo algumas
informações que em hipótese alguma poderiam vasar. Em tempos de guerra, toda
medida de proteção visava segurança nacional. A informação do BI que não poderia ser
divulgada externamente viria acrescentado ao final um “vedado a imprensa”. 158 Para
exemplificar, a visita do Ministro da guerra ao Piauí no final de 1942 ficou restrita
qualquer tipo de exortação patriótica escrita, foto dele e do batalhão. No outro extremo
temos a presença do comandante da 10ª RM general Francisco Gil Castelo Branco que
foi publicada no Gazeta.159 Algo explica esse fato? A situação da guerra nos dois
momentos era distinta. No primeiro, o Brasil acaba de declarar guerra, tudo ainda era
muito nebuloso até a invasão da África do Norte ter sido bem-sucedida e o medo no
litoral ou de um bombardeio se esvaísse.
Eles também compartilhavam BI compartilhavam as comemorações do Estado
Novo. O momento exigia que as comemorações fossem campanhas cujo caráter cívico
da população e dos militares deveria funcionar em perfeita sincronia. Durante o recorte
analisado, várias datas festivas seriam aproveitadas pelo DEIP cujo discurso ideologia
do Estado Novo ressaltam símbolos patenteados pelo Estado Novo. Exemplos claros
serão o dia do soldado160 o dia do Reservista161, o aniversário da conflagração162, dentre

156
VELLOSO, Monica Pimenta. Op. cit., p. 167.
157
PIAUÍ. Estado de guerra para todo o território nacional. Diário Oficial, Teresina, 1 set. de 1942, p. 1.
158
Fica estritamente proibido fotografias, notícias por escrito ou qualquer tipo de reportagem que aborde
a visita do ministro da guerra ao 25º BC. PIAUÍ. BI n. 94, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 389; PIAUÍ. BI
n. 97, 25º BC, 29 de abril de 1942, p. 401.
159
PIAUÍ. General Francisco Gil Castelo Branco. Gazeta, Teresina, 17 abr. de 1943, p. 1.
160
PIAUÍ. O dia do Soldado. Gazeta, Teresina, 25 ago. de 1943, p. 1.
161
PIAUÍ. BI n. 62, 26º CR, 9 de junho de 1942, p. 112;
50

vários outros que foram todos organizados e planejados em conjunto pelas autoridades
como Comandante do 25º BC, da Força Policial, Prefeito de Teresina e Interventor do
Estado, e em alguns casos o Arcebispo metropolitano.
Os eventos geralmente estendiam-se durante o dia inteiro. A Semana da Pátria,
por exemplo requisitava um lugar para a concentração de todos seguindo,
posteriormente, itinerário pela cidade. Interessante que os informes indicavam até o tipo
de roupas utilizar, de forma que as mulheres e os homens fossem diferenciados. Acima
de tudo, o ápice da passeata se dá com a continência às autoridades ao passar pelo
Palácio de Karnak Ao final do dia, o grand finale era marcado pelo grande discurso
inflamado de patriotismo e fervor cuja finalidade estimular a sociedade.163
A presença maciça da juventude piauiense foi requisito máximo para consolidação
dos eventos. O objetivo era inflamar a juventude às aspirações patrióticas.164 O
momento exigia uma mobilização mais intensiva dos jovens a cumprir o dever militar.
Importante como o discurso explora a ligação do jovem com a parada militar. A
disciplina dos corpos dispostos a perfeita sincronia de marcha dos estudantes,
trabalhadores, reservistas de 1ª, 2ª e 3ª categoria, as bandas da Força Policial, do 25º
BC, em pequenos pelotões deveriam demonstrar fervor patriótico. Essa prática
corrobora com o que Nicolau Sevcenko afirmou sobre as impressões da arte italiana no
fascismo, que foi parâmetro para constituição do Estado Novo, induz a concluir que
regime de Getúlio, e mais particularmente articulado por Leônidas de Castro seguia um
importante padrão personificado, obviamente.
O conjunto dessa concepção envolveria: um líder carismático, uma
hierarquia rigidamente centralizada, a convicção e dedicação integral
dos militantes, um corpus de textos doutrinários, rituais coletivos de
confirmação, propaganda, proselitismo, manifestações públicas, ação
agressiva direta, [...].165
O padrão possuía o mesmo arremate. A organização dos eventos era publicada nos dois
periódicos onde, posteriormente as imagens estampariam as páginas.
A mobilização militar apresentou o seu ápice durante mobilização da juventude
piauiense. A tarefa de defender o território piauiense em tese deveria ser realizada com
162
PIAUÍ. O primeiro aniversário de entrada do Brasil na guerra contra os países do “Eixo”. Gazeta,
Teresina, 22 ago. de 1943, p. 1; VIANA, Benedito Soares. Trabalho apresentado na sessão de 22 de
agosto realizado pelo Grêmio Literário “da Costa e Silva” em comemoração à passagem do primeiro
aniversário da entrada do Brasil na atual conflagração mundial. In: Revista a voz do estudante, Teresina,
1942, p. 9-10. Arquivo Público do Piauí.
163
PIAUÍ. Semana da Pátria. Diário Oficial, Teresina, 2 set. de 1942, p. 3.
164
PIAUÍ. BI n. 86, 26º CR, 29 de junho de 1942, p. 163.
165
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes
anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 208.
51

armamentos modernos e viaturas mecanizadas para satisfazer as condições mínimas de


um Exército Profissional na consumação dessa tarefa. A tarefa de dispor desse material
como também dispor de homens era real naquele momento. A pergunta é: onde
encontrar civis aptos a se tornarem soldados profissionais no Piauí?
A propaganda militar reforçou-se no Estado de Guerra. O sorteio militar foi
responsável por direcionar os jovens civis ao 25º BC como também preencher claros em
outras unidades, sejam elas da região ou não. A medida estranha afinal foi a continuação
do sorteio com o Estado de Sítio. Essa ação afetaria gradativamente o efetivo do 25º BC
passaria de 500 para pouco mais de 700 como afirmado anteriormente. No Entanto, o
Exército tinha demanda especial: precisava de soldados profissionais, a quantidade
deveria refletir na qualidade. Com as ações, não era isso que se percebia.
A demanda do sorteio não conseguia preencher essas questões ao ponto do major
José Figueiredo Lôbo publicar uma pequena crônica na revista A Voz do Estudante
solicitando a presença dos jovens nas fileiras do 25º BC. A trama do discurso elenca as
grandezas do serviço militar ressaltando a honra envolvida no ato de envergar o
uniforme do Exército. Por isso ele pede “respeito e acatamento ao chamado da pátria,
[essa é] sua missão como soldado”.166 O autor tende a enfatizar no discurso os seguintes
pontos: a) a defesa da pátria como dever do jovem e b) a caserna como uma extensão do
lar. Dessa forma ele representa o Exército, principalmente o 25º BC como uma família
que defende sua pátria em perigo. O Apelo emocional assim como os direcionamentos
claros à juventude são pontos destacáveis na sua abordagem. A publicação do major,
atende ao momento da mobilização, observando o momento da construção do discurso.
Ele procura ressaltar aspectos que se aliam aos padrões sociais. O jovem deveria
despreocupar-se, que ele estaria em boas mãos.
Eram conclamados, mas os alunos do ginásio discursavam em prol da
mobilização. As páginas Zodíaco foram reservadas aos estudantes para publicar
crônicas cujo momento serviria de inspiração. Álvaro de Alencar Vieira, um aluno do 4º
ano do Ginásio Demóstenes Avelino escreve uma pequena crônica evocando a Guerra
do Paraguai, conclamando os teresinenses a se inspirarem nas ações do Exército
brasileiro no intuito de inspirá-los a tomar partido da defesa da Pátria.167 Os apelos

166
SANDES, Valdemar. 7 de setembro. In: A voz do estudante, Teresina, 1942, p. 1. Arquivo Público do
Piauí.
167
VIEIRA, Álvaro de Alencar. Um passado e um presente. In: Zodíaco, Teresina, 1944, p. 15. Arquivo
Público do Piauí.
52

patrióticos sempre farão menção à guarnição piauiense como destino dos jovens
piauienses inflamados.
Esse destino seria o serviço militar. Seria o sorteio responsável por direcionar os
jovens para o Exército. A formação do contingente para preenchimento de claros no ano
de 1943, por exemplo foi realizado na 26ª CR. Inclusive, foi digno publicizado pelo
Diário Oficial com fotografias e com explicações sobre o processo. A relevância do
evento foi considerável que contou com a presença do Interventor Leônidas de Castro
Melo, o Bispo Dom Severino, o comandante da Força Policial Evilásio Vilanova, o des.
Corrêia Lima e o prefeito Lindolfo Monteiro Rêgo. Segundo o informe
o número de conscritos relacionados foi fixado em 1.185 para o 1.º
grupo e 592 para o 2.º grupo para a formação do contingente que o
Estado do Piauí deve contribuir em número de 395 para incorporação
no Exército Nacional no próximo ano.
[...] Praticamente, essa operação consiste em se retirar do quadro de
madeira de onde as bolas numeradas se encontram depositadas tantas
bolas numeradas seguidamente, quantos nomes da relação de
alistados, introdutoras na esfera rolante. Lê-se em voz alta o nome do
alistado número 1 da relação e em seguida, tira-se da esfera a bola
numerada, cujo o número será o da sorte do referido alistado. Repete-
se a operação para o número 2 da lista e seguintes, e assim, vão
indicando para os nomes correspondentes da relação em apreço, os
números de ordem dos sorteados.168
Bem elucidativo quando aborda o processo nas especificidades. Ora, o mundo
militar e suas significações nem sempre eram dispostas. Todavia, vale ressaltar que o
processo é irônico, pelo fato Brasil estar em guerra. No entanto, vale destacar que o
sorteio era completamente inaceitável para Ministro. Diante da grande população só
alguns poucos pelo “mero capricho da sorte”, sejam selecionados para o serviço é
ultrajante.169 Desgostando ou não, foi o sorteio170 que direcionaria os homens para às
unidades até o final da guerra. Historicamente, o processo apresentou falhas graves
como comunicação do civil sorteado, e a péssima representação do Exército no
imaginário social da sociedade.
O sorteio habilitava o cidadão a apresentar-se ao 26ºCR e/ou a Junta de Serviço
Militar para repassá-lo à Junta Médica do 25º BC. Somente o resultado dela qualificaria
o jovem cidadão declarado apto ou não para o serviço militar. A partir do momento que
fosse declarado incapaz de realizar serviço no Exército, teria de ser remanejado para a

168
PIAUÍ. edital de convocação dos sorteados. Diário Oficial, Teresina, 14 set. de 1942, p. 3.
169
BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 12
170
Para mais informações sobre o serviço militar, ver o capítulo XVII que dispõe sobre como deveria
funcionar o sorteio. BRASIL. Congresso. Senado. op. cit., p. 21
53

26ª CR. Caso fosse declarado incapaz temporariamente, o futuro praça seria encostado
no 25º BC para receber tratamento médico. O tratamento seria viabilizado para tratar a
longo ou curto prazo a intempérie. Caso fosse declarado incapaz definitivamente, ele
receberia sua caderneta militar171 onde constaria a baixa e dispensa no serviço militar
onde seria remanejado para a 26ª CR onde realizariam o juramento a bandeira nacional.
Primeiramente, durante o alistamento, o indivíduo deveria informar o endereço
corretamente para ser localizado posteriormente pelos correios e telégrafos. O resultado
seria divulgado por meio de uma relação de homens nas páginas do Diário Oficial
estipulando data limite para apresentação na 26ª CR. Caso indivíduo não fosse
localizado o informe seria reproduzido geralmente até três semanas. Passado o prazo, os
que não apreciam eram declarados insubmissos. A insubmissão, da mesma forma, seria
informada no Diário Oficial com todas as características jovem no intuito de ser
rastreado pelas autoridades como a Força Policial, 25º BC e 26ª CR. Era muito comum,
como qualquer informação que fosse realizado o envio de patrulhas no encalço dos
insubmissos.172 A guerra, por seu turno, funciona como agravante da condição porque os
equivale à desertores.
A fuga do serviço militar era algo real no recorte analisado. Encontramos
considerável quantidade de fugas com a lista dos insubmissos presentes nos periódicos
reforçam que nem todos estavam dispostos a dar seu serviço militar. Todavia, a
condição de insubmissão não impedia que o civil servisse como soldado na guarnição.
Esses subterfúgios e as representações das armas no imaginário social pesavam
drasticamente na quantidade por mais que a insubmissão e deserção não fossem
toleradas pelo Exército no momento, já que a época exigia maior quantidade de civis no
Exército de Caxias que se almejava profissional. Acabou que durante o Estado Novo o
fortalecimento da Mobilização por meio da Lei de serviço militar prevaleceu sob o
auspício patriótico como expôs Clarice Helena Santiago Lira:
[...] percebe-se que, mesmo com uma legislação que obrigava o
soldado a cumprir seu dever de cidadão, que poderia implicar em
fortes danos à convivência social para aquele que não a cumprisse, e à
utilização dos meios disponíveis na produção de uma mobilização
militar, que colocava esta como imprescindível à defesa da Pátria, as
configurações históricas presentes no período da mobilização de

171
É a identificação do praça a partir do momento em que ele passa a condição de soldado.
172
No entanto, o praça ficava obrigado a apresentar-se. Ele deverá passar por exame médico e ficar
encostado em alguma subunidade aguardado pena da Justiça Militar do 25º BC. PIAUÍ. BI n. 109, 25º
BC, 13 de maio de 1942, p. 457.
54

guerra permitiam variadas vivências, muitas vezes contraditórias ao


modelo de sociedade e soldado idealizado pelo Estado ditatorial.173
Então, o piauiense não estava disposto defender a pátria? Não podemos ousar
dizer que não estavam sem realizar a devida problematização. O serviço militar pode ter
sido inspirado pelo patriotismo. Mas, por exemplo, o porquê dos estudantes dos liceus
não se dispôs voluntariamente para servir no 25º BC, cuja memória era evocada por
eles? Não houve nada semelhante a isso. Nem uma menção nas páginas dos periódicos.
Eles preferiam servir no TG fugindo a vida de caserna porque não queriam ser praças do
Exército.
E quanto aos não submissos? Os indícios prescrevem que muitos deixaram de
cumprir seu dever mesmo sendo compelidos para isso. A título de exemplo, Gazeta
publicaria uma crônica da Agência nacional sobre o caso de um reservista que comprou
sua condição sua não ida ao Exército. A crônica critica veementemente as pessoas que
fogem do serviço militar, acima de tudo, ressaltando que ricos e pobres deveriam dar
igualmente seus sacrifícios à pátria de acordo com a necessidade. O periódico chega até
pedir aos infratores à execração pública e penas militares severas. 174 Não sabemos foi
verdade tal fato. No entanto, não seria nenhum exagero afirmar que a leis se tornaram
rígidas com relação as insubmissões e deserções para coibí-las.
Ademais, algumas questões merecem problematização na compreensão da
disposição dos jovens durante a guerra. Vários apelos foram constantemente feitos, e na
maioria dos casos gerava graves problemas para o comandante da 26º CR. O governo
até percebendo a dificuldade, revogou todas as garantias geradas aos civis no sorteio.
Elas em 1943, passaram a ser prerrogativas de segurança nacional. Desejando ou não,
estavam todos obrigados a se apresentar por medida de Segurança Nacional. Por esse
motivo, os que eram encontrados seriam encostados e presos por menagem no batalhão,
e ficariam à disposição da Junta médica para ser avaliado. Logo após, responderiam
militarmente pelo crime.
Durante a guerra, a 26ª CR e a Junta Militar de Teresina foram responsáveis pelo
direcionamento dos civis ao serviço militar.175 Não havia nenhum critério que
justificasse uma seleção, o único era o “capricho da sorte”. Os militares poderiam ser
alistados pelas juntas do interior ou incorrer a capital para cumprirem com seu dever.
Foram verificados muitos casos de homens que foram sorteados por dois lugares

173
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 98
174
PIAUÍ. Coisas que não tem preço. Gazeta, Teresina, 7 jun. de 1943, p. 1.
175
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 57.
55

diferentes, como Parnaíba e Teresina.176Até bem antes da ampla mobilização, a fuga do


serviço militar poderia ser compensada pelo pagamento de multa podendo chegar até
500 mil réis.177 No entanto, o quadro geral no período de mobilização possuía pontos
fora do habitual.
Compreendemos a função das propagandas, no entanto, o não comparecimento
dos praças é a prova de que a notícia não chegava a todos, ou se chegasse não
representava preocupação aos mesmos. Outro ponto que deve ser explorado é a questão
do serviço como saída para jovens que almejassem fonte de renda. Basta lembrarmos
que a grande maioria dos conscritos eram jovens do interior do Piauí e do Maranhão.
Ou seja, a sua grande maioria era composto de jovens de áreas pobres, ou até mesmo em
situação paupérrima. A economia piauiense era extremamente voltada para as
exportações/importações, em que as chapadas e fazendas interior a fora eram
responsáveis por pela manufatura. O negócio era particularmente familiar. A maniçoba
(em pequena escala), cera de carnaúba e o babaçu voltavam a atenção do para o
mercado que no período entreguerras, aumenta vertiginosamente a demanda de
produção.178
Teresina era uma cidade cuja importância era significativa para o escoamento dos
insumos produzidos e destinados ao Exterior.179 Alguns que vinham para Teresina,
poderiam estar procurando pela conclusão dos estudos, um trabalho; ou seja, a
sobrevivência.180 Era comum que alguém empregado em alguma das casas comerciais
de Teresina não servissem. O apadrinhamento poderia ser outro motivo claro. Era
comum que esses jovens não servissem, porque poderiam até perder o emprego caso
decidissem seguir a carreira militar.181 No caso, eles somente pagariam a multa por não

176
PIAUÍ. BI n. 3, 26º CR, 8 de janeiro de 1942, p. 5
177
Em 1942 é estipulado o cruzeiro. No entanto, podemos afirmar com veemência que ao longo do
recorte nunca vimos alguém pagar mais que Cr$ 100,00 de multa por não ter se apresentado a uma
convocação e ao sorteio. Durante a guerra, a condição ficou mais difícil a esse refratário, porque qualquer
tentativa de burlar a lei, aumentava gradativamente a pena, sem falar na perca da condição de reservista.
Essa seria a mais pesada de todas as condições, que realmente impediria de seguir na sua vida civil pós-
Exército.
178
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Economia piauiense: dá pecuária ao extrativismo. 3. ed.
Teresina: EDUFPI, 2006. p. 31-50.
179
O rio Parnaíba, seria considerada uma estrada líquida fluída de escoamento dos produtos brasileiros
como também seria um vetor de comunicação do Estado com o resto do Brasil do mundo. Cf.
GANDARA, Gercinair Silvério. Rio Parnaíba... cidades-beira. Tese (Doutorado em História). 397p.
Brasília. UnB, 2008. p. 302-265.
180
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 92
181
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. op. cit., p. 129.
56

ter se apresentado quando convocado e consequentemente pediriam dispensa do serviço.


Isso era bastante comum nos BI’s da 26ª CR.182
Como afirmamos anteriormente, a representação histórica do Exército na
sociedade não era das melhores. Aquela visão oriunda da memória de alguns ex-praças
não contribuía para uma visão mais positiva.183 Outro caso seria a Instrução pré-militar
foi outra medida, a provocar ainda nas escolas, simpatia a vida ainda no período escolar.
Exemplo relacionado recai na fuga dos jovens ao dever. Haviam iniciativas que
buscavam incrementar incialmente valores militares antes da passagem da juventude à
vida adulta. Assim eles já chegariam habituados às práticas da caserna. Essa foi uma
medida a longo prazo, e muito pouco efeito obteve. Aliás, o instrutor do Ginásio
Demóstenes Avelino era o sargento Adelino de Almeida Melo.184 Isso se tornou um
problemático empecilho na formação dos praças aos moldes do cidadão-soldado.185
No outro extremo se encontram os TG’s. A instituição foi pensada para ser a
reserva do Exército em momentos de calamidade, mas o destino dela se travestiu ao
ponto de ser considerada como prática esportiva.186 A necessidade de adestramento
voltado para formação de um soldado profissional tornou-se necessidade real decorrente
pela falta de reserva nos quadros do Exército. Além disso, o ministro da guerra
recomenda que os TG empreguem morteiros, fuzis-metralhadores, e outros artifícios
mais profundos da prática militar de fazer guerra aos alunos com o intuito de
transformá-los em reservistas de 2ª Categoria.187 Tanto que, o Tiro de Guerra n. 79,
sediando em Teresina, viria a fornecer ao 25º BC, na ampliação dos efetivos, a 3ª
Companhia que foi incorporada ao longo do ano de 1943.

182
Nos BI’s tem uma parte que é informações sobre pedidos de dispensa. Há muitos só relacionado a isso,
soldados que não compareciam quando convocados e depois só pagavam a multa e iam embora.
183
Os jovens, cumprindo determinação legal, afastavam-se de suas famílias e atividades muitas vezes
importantemente rentáveis, para se apresentarem a caserna; impunha-se, e o clamor se fez quando tal não
aconteceu, que lá encontrassem instrutores e material para bem se formarem, assim como alojamentos e
suprimentos de toda ordem, necessários a um dia-a-dia compatível com a nobreza do momento que
estavam obrigados a viver. Criticava-se que o Exército não tinha competência administrativa e era carente
em recursos, não recebendo, em diversas situações condignamente, os jovens sorteados. BASTOS
FILHO, Jayme de Araújo. A Missão Militar Francesa no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
1994. p. 28.
184
Não encontramos informação semelhante no BI. Vimos uma solicitação do Liceu Industrial ao general
Mascarenhas de Moraes de um militar. Sem onerar ou querer requerer responsabilidade extra a um oficial,
ele encarrega o 3º sargento Sérgio Barreto Filho. PIAUÍ. BI n. 95, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 401.
185
Conceito trabalhado por Francisco César Alves Ferraz na construção da ideia de cidadão soldado
diferentemente da exposta por José Murilo de Carvalho. Nesse caso, a ideia de instruir militarmente cada
cidadão para torná-lo capaz de lutar quando a pátria necessitasse. FERRAZ, Francisco César Alves. op.
cit., p. 57.
186
SEVCENKO, Nicolau. Op. cit. p. 82.
187
Instruções a ser ministradas aos alunos do TG, ver mais: PIAUÍ. BI n. 85, 25º BC, 14 de abril de 1942,
p. 356.
57

Durante o recorte o houveram a abertura de períodos para convocação dos


reservistas, no qual os periódicos amplamente divulgavam. A convocação aumentaria o
efetivo do tempo de paz para o Estado de Guerra e trabalhar com a doutrina de guerra.
Os reservistas de 1ª e 2ª categoria foram convocados antes. A quantidade que se
apresentou foi pequena e não atenderam às demandas. Logo depois, para preencher mais
claros no Exército, os reservistas de 3ª categoria também foram convocados. Os que não
se apresentaram à convocação foram informados no Gazeta.188 Os convocados, por
exemplo, no primeiro momento deveriam estar livres de qualquer compromisso
empregatício. O mesmo não aconteceu com os voluntários. Durante a guerra, mesmo
com as medidas estabelecidas para elevar o efetivo do Exército no intuito de preencher
todas as carências. Só durante a guerra, a situação modificou de forma que o serviço
militar passou a ser requerido mesmo daqueles que trabalhavam. Aos que se
encontravam nesse imbróglio, o BI sempre afirmava algo em relação ao soldado quanto
aos seus vencimentos.
No caso, os filhos de famílias abastadas destinavam seus filhos a Teresina para
estudar e consequentemente o TG poderia ser uma opção para servir sem adentrar a
caserna.189As leis do serviço militar se tornaram mais rígidas ao ponto ter reflexos na
vida civil caso o jovem não se apresentasse. No entanto, era muito comum que a
juventude acadêmica piauienses usasse o Tiro de Guerra como uma possibilidade de
obter reservista sem frequentar as fileiras do Exército. Contudo, o Exército era uma
saída, mas para muitos ainda não era a melhor.190 A ideia de que o Exército era um lugar
de párias da sociedade demorou para ser desvinculada da memória, mesmo a intensa
onda de propaganda favorecendo à construção da sua boa memória.
Algumas ideias com raízes no período colonial ainda matizavam o
quadro da imagem militar do Exército e de suas relações com as
sociedade brasileira. o Exército não havia progredido de forma
significativa desde a época colonial. O pessoal ainda que prestava
serviço militar provinha do rebotalho da sociedade.191
Pode ser uma possível explicação que justifique quantidade de insubmissões
verificadas no Diário Oficial.

188
PIAUÍ. Edital de chamamento de reservistas. Gazeta, Teresina, 27 jun. de 1943, p. 3.
189
Ironicamente Petrônio Portela Nunes foi declarado incapaz para o Serviço no TG. 79. PIAUÍ. BI n.
119, 26º BC, 22 de novembro de 1943, p. 282.
190
FERRAZ, Francisco César Alves. op. cit., p. 59.
191
HAYES, Robert Ames. Nação Armada: a mística militar brasileira. Trad. de Delcy G. Doubrawa. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1991. p. 116.
58

Acima de tudo, o piauiense deveria responder ao chamado porque não faziam


questão alguma de esconder o direcionamento. A trama construída dispõe frases ao
longo das páginas dos periódicos justaposta e bem próximas do anúncio do voluntariado
ou convocação. As frases que nomeiam os capítulos e títulos são retirados dos
periódicos. São provas cabais da propaganda realizada pelo Estado Novo corroborando
com o conteúdo presente nas laudas do Diário Oficial e Gazeta. Frases breves e
destacadas eram arranjadas sob auspício do apelo patriótico. Mensagens como
“Reservista ou não, apresenta-te brasileiro! No Exército terás a sublime honra de
defender a Pátria mesmo com o sacrifício da própria vida”192; ou outra como
“Brasileiro! Comparece ao voluntariado: fardado, em posição de sentido, olhar sereno
sobre as dobras Auri-verdes, o Hino Nacional inflamará tuas virtudes militares,
tornando-te um verdadeiro cidadão, digno do solo ubérrimo de tua Pátria”193; refletem a
propaganda do serviço militar como a expressão máxima do nacionalismo, esclarecendo
reforçando o dever dos jovens piauienses no momento.
Afinal de contas, o Estado Novo conseguiu alcançar os níveis de mobilização que
requeria com as publicações? Símbolos foram criados, personagens foram moldados,
situações foram pensadas voltando-se inteiramente para a mobilização, por isso não
podemos negar a viabilização das ações por meio dos intelectuais. Contudo, não
devemos olvidar que a sociedade piauiense em contato com essas representações as
assimilaria de forma ipsis literis. Nenhum discurso disseminado pela leitura ou até
mesmo o fato de escutá-lo permite apropriação como condição sine qua non. Cada
leitura, conversação emanada do autor não é apropriada da mesma forma porque isso
demonstra o quanto o cotidiano e o imaginário social estavam presentes nas decisões.
Ademais, vale destacar que aqui não houve tanta resistência ao Estado Novo como
apontou Roney Cytrynowicz com relação a São Paulo. A memória de 1932 ainda era
muito recente, chegava até se confundir com a memória da Segunda Guerra Mundial. 194
Mas, a guerra para os piauienses ainda era algo distante, ainda era algo que não estava
presente no cotidiano.
A consolidação do Estado Novo aqui foi completamente silenciosa. O fato da
guerra não ser sentida diretamente pesava institivamente na distância que se
estabelecida entre o cotidiano e a guerra. Quanto ao serviço militar, a propaganda

192
PIAUÍ. Reservista ou não, apresenta-te brasileiro! Teresina, Diário Oficial, 3 nov. 1943, p. 4.
193
PIAUÍ. Brasileiro! Teresina, Diário Oficial, 9 out. 1943, p. 8.
194
CYTRYNOWICZ, Roney. op. cit., p. 311.
59

disseminava valores primarciais aos jovens piauienses. Quanto aos letrados, percebemos
uma ojeriza pelo controle militar rígido trabalhado a posteriori. A guerra para alguns
países beligerantes teve aspecto fundamental na sociedade. No Brasil, e especialmente
no Piauí o por mais que houvesse tentativas de aproximá-la, de alertar a todos, de
chamar atenção para mobilização efeitos diretos da guerra só eram sentidos aqui quando
o governo agia na economia tabelando os produtos, encarecendo a do piauiense por
meio dos aumentos que estavam presentes no Diário Oficial pela comissão de
mobilização econômica.
Se existiam pessoas que acreditavam e colaboravam com o estado de
guerra na cidade, obedecendo como podiam as instruções vindas das
autoridades, isso não ocorria com a totalidade da população. Havia
aqueles que percebiam os esforços para o exercício do serviço como
uma diversão, uma “teatralidade”. A “festinha do alarme”, como
recorda nosso memorialista, servia nesse período, para alguns sujeitos,
como um espetáculo produzido pelo chefe de Polícia, diretor dos
serviços no Estado, “para demonstrar que o Piauí também estava na
guerra”.195
Precisamente, tal ação chamamos de tática: nem sempre uma representação é
apropriada da forma que é disposta. Como não duvidamos que os jovens do tempo
tenham utilizado a guerra como um momento para flertar as mocinhas atraentes na
praça, ao meio de um comício público. Quem realmente duvidará? Certamente, a guerra
não teve a mesma consequência no Piauí, mesmo com todo o clima de efervescência
criado. A propaganda do Exército não conseguiu apagar as machas do passado, mesmo
ressaltando o glorioso Caxias. Mobilizar jovens voluntariamente para o Exército não
fazia sentido quando eles se recusavam a ir convocados. São outras questões que são
introduzidas para que sirva de força motriz a novas análises.
Aqui, somente os Liceus poderiam fornecer jovens especificamente para a função
descrita. Ora, até medidas que tentaram aproximar as armas do meio acadêmico, mas
não surtiu o efeito desejado. Eles ficaram concentrados na função de mobilização,
todavia, servir no Exército como praça era inconcebível. O trabalho de disponibilizar
seus serviços ao Exército por outro lado, seria o sertanejo ou o filho de família pobre,
que não tinha muitas oportunidades no interior do qual viera. Esses jovens em sua
grande maioria eram analfabetos. Não tanto diferente da pequena parte letrada, havia
uma pequena aversão ao serviço militar pelas impressões maculadas que mancharam a
imagem do Exército brasileiro diante da sociedade.

195
LIRA, Clarice Helena Santiago. op. cit., p. 28.
60

4. EVOCAI O ESPÍRITO DOS FORTES, FORTALECEIS A VÓS MESMOS:


MENTES, CORAÇÕES E CORPOS VOLTADOS PARA COMBATE?

O 25º BC ficou responsável por preparar os soldados piauienses para o combate.


Aos bravos homens piauienses evocados durante o período de mobilização militar
exercida pelos periódicos Gazeta e Diário Oficial coube defender a pátria com o
sacrifício da vida. O Exército foi, em tese, o lugar apropriado para essa tarefa que exigia
preparo dos corpos e mentes para as ações bélicas. Além disso, os piauienses também
possuíam papel militar no litoral piauiense, estabelecido pelo general Estevão Leitão de
Carvalho na defesa do Nordeste brasileiro.
A tarefa do 25º BC não seria fácil. Mas, era preciso transformar os jovens
piauienses em soldados profissionais, porque os periódicos evidenciavam a proximidade
da guerra. Além do mais, ao final de 1942, o pronunciamento emanado da 7ª RM ao 25º
BC sobre a vitória dos Aliados na África do Norte, deixa claro que as duras batalhas
travadas resultando em avanços considerados dos Aliados ressaltava a virada realizado
no desenrolar da guerra, no entanto seria um ledo engano julgá-la ganha. Os brasileiros
não poderiam desguarnecer suas posições. Afinal, a batalha foi perdida pelos alemães e
não a guerra. A subestimação para eles consiste num erro fatídico, porque sempre fazem
questão de esclarecer nos discursos que “o leão ferido ainda é mortal”. Resolutamente,
ele foi bem enfático quando afirmou que
os chefes militares responsáveis pela defesa do nosso país e pela
manutenção da tropa em estado de eficiência para a guerra, sob o
tríplice aspecto físico, moral e profissional, tem o dever de alertar seus
comandados sobre a errônea ideia de que de nós se se afasta cada
mais, digo, cada vez mais a probabilidade de integração direta no
conflito generalizado.
Cada vez mais, ao contrário das aparências, devemo-nos aprimorar
para a eventualidade da colaboração na luta.196
Os chefes militares do 25º BC durante a guerra acreditavam nisso? Talvez sim, ou não.
Impossível de prognosticar. Dessa maneira, eles sabiam que o dever era preparar a tropa
para combate. Usufruir da pouca estrutura que a guarnição dispunha para formar uma
tropa profissional. As autoridades acreditavam no sacrifício heroico, na luta até a morte
e na superioridade do militar brasileiro. Mas será que, àquela altura, os soldados
piauienses estavam preparados para agir num conflito generalizado? Esperamos
esclarecer a que conclusão chegamos.

196
PIAUÍ. BI n. 236, 25º BC, 10 de dezembro de 1942, p. 1170.
61

4.1. Meia volta, volver: disciplina e hierarquia como missão

A palavra do momento é mobilização. Ela requeria preparação do soldado para o


combate. Era dever do Exército estar preparado para o momento que viria a enfrentar.
No entanto, não foi bem o quadro encontrado. Em comparação aos beligerantes nos
conflitos mundiais os brasileiros encontraram-se despreparados. O Exército pós-Grande
Guerra recebeu o primeiro vulto de modernização assemelhando-se aos pré-requisitos
dos franceses.197 No entanto, essa modernização aconteceu segundo padrões da guerra
passada. Durante o tempo em que a missão esteve implementada no Exército, os
franceses basicamente só transmitiram noções e a mentalidade defensiva de combate.198
A criação do Estado-Maior do Exército seria medida voltada para a constante
modernização do Exército de forma que ela seria responsável por analisar a
configuração do combate, viabilizando técnicas proporcionais às transformações,
quando nos referimos as inovações tecnológicas nas e o treinamento para emprego de
homens em combate. Logo após a Missão, ao final da década 30, o Exército parou no
tempo novamente. Àquela altura, o Exército brasileiro não dispunha de grande efetivo,
gozava de péssima reputação na sociedade, sem falar que ainda era defasado, atrasado e
dependente do mercado bélico do exterior para dispor de armas.
O 25º BC foi uma consequência da experiência adquirida com Missão Militar
Francesa. Métodos de combate e emprego do efetivo são todos disponibilizados por
regulamentos. Fundamentalmente, obtinha 5 pilares: hierarquia, obediência, disciplina,
espírito de grupo e moral. Os soldados simplesmente teriam que seguir esses
pressupostos para levar a cabo a vida como militar. O serviço do praça conscrito
consistira em dois anos. Ao final do período de serviço militar obrigatório o praça
poderia licenciado199 ou então ser engajado200.

197
Foi a França quem ganhou a guerra. A lembrança de Verdun eclipsa todas as outras batalhas. O
exército francês impôs-se como o primeiro da Europa e do mundo. As instituições da França são copiadas
pela maioria dos novos Estados: a Tchecoslováquia, a Polônia e outros países adotam constituições
inspiradas no modelo político da França. Ver mais em: RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos
nossos dias. Trad. de Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 32.
198
Várias obras que abordam a questão problemática da visão defensiva dos franceses, explicaremos o
porquê a Grande Guerra marcou drasticamente o imaginário francês sobre a guerra. O melhor exercício
de reflexão sobre esse assunto foi feito por Marc Bloch. Ver mais em: BLOCH, Marc Leopóld Benjamin,
op. cit., p. 93.
199
Dispensa do serviço militar
200
Quando o soldado efetiva após o período obrigatório de serviço militar.
62

Ao prestar o serviço militar o indivíduo perde sua condição como civil. A palavra
“incorporar” representa a formação e o desenvolvimento do desenvolvimento do
espírito de corpo. Ela consistirá em apresentar o indivíduo à sua subunidade. No ato da
incorporação a mística é pautada no dever assumido com a instituição no qual Erving
Goffman nomeia de compromisso e adesão.201
Logo após, devem compreender como funciona a hierarquia. Faz parte do
processo de mortificação do seu “eu civil”. O momento consiste na instrução dos
deveres do praças como corpo da pátria, em aprender ensinamentos que são necessários
a vida do praça, ou melhor disciplina do soldado de infantaria. Quanto ao momento,
serão pensados de forma esquemática procedimentos202 para cada praça no cotidiano da
guarnição.
A hierarquia era sempre respeitada? Muitas vezes não. Mas, ela deveria ser
pautada sempre na relação entre oficial e os praças, na qual encontra-se em condição
superior ao outro, respectivamente. A grande maioria dos oficiais gozavam de boa
situação social. Na teoria, o oficial na figura de chefe deveria inspirar a admiração e
respeito dos seus subordinados. Veremos esse comportamento e concretizar, nos relatos
de disciplina. As tropas possuem um nível de indisciplina variado. Existem soldados
que eram completamente difíceis de lidar. Constantemente soldados eram detidos por
indisciplina para com seus oficiais, eram quase todas transgressões leves/médias e
algumas transgressões graves.
Precipuamente, o soldado também deveria mostrar disciplina com a destreza do
corpo, como explicitou Adriana Iop Bellintani
sempre que o serviço começa, o comandante coloca a tropa em
posição de sentido. Os exercícios feitos a pé tem por objetivo,
estimular a destreza, o vigor físico, o aumento da resistência (sic),
fazendo uso das armas no serviço de guarnição.203 (grifo do autor)
A sincronia de exercícios e posturas devem ser ensinadas aos praças no primeiro
momento que adentram a caserna. A estratégia é submeter o soldado em posição de
respeito ao oficial. A grosso modo, alguns historiadores evocam essa relação como uma
quase escravidão, como afirmou Francisco César Alves Ferraz:
as relações sociais entre oficiais e praças evocavam os tempos de
escravidão tanto na bonança quanto na tempestade. A cordialidade de

201
GOFFMAN, Erving. op. cit., p. 147-8.
202
CERTEAU, Michel de. op. cit. p. 103.
203
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243
63

tratamento era substituída, sem rodeios, pela disciplina mais rigorosa


quando os praças incorriam em faltas passíveis de punição.204
Os movimentos acima descritos ressaltavam o que foi exposto anteriormente visando
fortalecer a disciplina, não dispondo de margem alguma para a bonança.
Noutro momento, o soldado deveria compreender que o fuzil é uma extensão do
corpo porque exigiria os mesmos cuidados que o soldado profissional deveria ter para
fortalecer o corpo para o combate. Há poucos momentos de contato mais extenso com o
fuzil, salvo a realização algum serviço como o serviço de cavalariças, de sentinela assim
como serviço de guarda são serviços que requereriam o porte de armas. Sair armado do
25º BC algo inaceitável e inadmissível, salvo as permitidas pelo Comandante do Corpo
de Tropa.
A formatura é exemplo perfeito da destreza com a qual os soldados têm que
manter o seu fuzil firme e olhando inabalavelmente ao oficial durante a revista da tropa.
Os movimentos, nas suas devidas proporções, assemelham-se à ópera. Devem seguir
uma perfeita sincronia, com firmeza e destreza. Perspicaz, Adriana Iop Bellintani
abordara sobre a presença do praça mediante as ordens do comandante:
[...] o soldado deve proceder em sentido, descansar, direita (esquerda)
volver, meia volta volver, marca passo, em frente, trocar passo, entre
outros, com ou sem arma. Ensina os movimentos para tiro, uso da
espada, da baioneta, da pistola, da metralhadora e da granada de mão.
Após os homens estarem adestrados nesses movimentos e conhecerem
a forma de utilização das armas, é que passa à instrução em
conjunto.205
Os praças do 25º BC deveriam passar por todos esses processos. No primeiro
momento a função do batalhão será torná-los soldados da pátria. Educá-los e pô-los a
par dos regulamentos desenvolver o cidadão-soldado emanado da nação armada. No
entanto, nem todos praças do batalhão corroboravam com esses ideais. Muitos deles não
tinham a mínima condição de serviço porque não se adequavam ao padrão de vida dos
quartéis.
Logo após este processo, o soldado precisa aprender a atirar. Fora das
dependências do 25º BC os acampamentos representavam o stand de tiro para oficiais,
graduados e praças. Cada subunidade do da guarnição possui uma diretriz de fogo
diferentemente instruída durante a guerra. Cada tipo de tiro deve ser ministrado a sua
unidade específica. Havia diretrizes de combate para o GC ou Seção de metralhadoras –
Tiro A –, as de pelotão – Tiro B -, os tiros de combate da Seção de metralhadoras com

204
FERRAZ, Francisco César Alves. op. cit., p. 56.
205
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243.
64

base de fogo – Tiro M1 –, e tiro de base de fogo – Tiro M2. Cada um desses tipos
atendem a necessidade de tiro ou de avanço ou tiro de apoio no qual fica por
responsabilidade de transmitir as instruções pelo comandante da Cia.206
Os informes falam a respeito da linha de tiro ela nunca era fixa.207 Ao contrário da
Força Policial, o batalhão não dispunha de um lugar fixo. Certamente, o comandante
deveria ter cuidado porque o prefeito de Teresina recomenda aos oficiais que não façam
exercícios próximos de escolas. Qualquer ação nesse fim, geraria efeito negativo à
educação porque as ações poderiam tirar a atenção dos alunos.208
A hierarquia impedia que oficiais, graduados e soldados tivessem mesmos
direitos, deveres e principalmente as mesmas regalias. Muito menos poderiam misturar-
se. A relação mais próxima, nos padrões de regulamentos franceses, poderia seria algo
ruim para a liderança. Certamente, a prática de tiro reproduziria as mesmas condições
de separação. Os oficiais do Estado Maior – do 25º BC, que são diferente dos
subalternos, ligados às subunidades – praticavam tiro conforme designado pelo
Comandante do corpo de tropa.209
Com relação ao armamento, os únicos que poderiam andar munidos eram os
oficiais. Segundo o modelo francês, o oficial não poderia ser munido de
fuzil/mosquetão. A arma utilizada pelo oficial é a pistola que segundo a concepção de
John Weeks, ela é de dois tipos: revólver ou pistola automática. 210 Acreditamos que no
25º BC os oficiais manejavam dois modelos. A primeira pistola era automática de
fabricação alemã conhecida como parabellum211 com cartucho 9 mm de até 9 munições.
Era armamento de exclusivo das forças armadas, ainda por cima, estava entre as
melhores pistolas do mundo. Quanto ao revólver, acreditamos que o modelo utilizado,
por pouco tempo foi o Smith and Wesson cal. 38212 de 5 projéteis e manual. A relação de

206
Infelizmente não dispomos de informações mais precisas sobre a forma como esses treinamentos
deveriam ser mediados aos praças. PIAUÍ. BI n. 33, 25º BC, 9 de fevereiro de 1942, p. 128.
207
O BI faz menção a um acampamento que teria sido realizando na linha de tiro (que não sabemos aonde
fica) durante três dias. PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 12 de janeiro de 1942, p. 40.
208
PIAUÍ. BI n. 95, 25º BC, 26 de abril de 1942, p. 402.
209
PIAUÍ. BI n. 59, 25º BC, 12 de março de 1942, p. 241.
210
WEEKS, John, Armas da infantaria. Trad. de Edmond Jorge. Coleção História ilustrada da Segunda
Guerra Mundial, vol.7. Rio de Janeiro: Rennes, 1974. p. 23
211
Por outro lado, os oficiais alemães da Wehrmacht a chamavam de Luger. Ver mais em: Ibidem, p. 29-
30.
212
O ministro da guerra havia declarado no final do não de 1942, que deveriam ser distribuídos algumas
quantidades de revólveres disponíveis no Departamento de Material Bélico. O hilário da ação é que ele
dispõe a arma, mas não dispõe a munição. Ela ficava a cargo do oficial. Não havia munição
correspondente nos depósitos, por isso eles distribuíam no intuito de achar quem tenha munição calibre
38. PIAUÍ. BI n. 266, 25º BC, 16 de outubro de 1942, p. 1084. No entanto, ainda no início de 1943 alguns
foram recolhidos. PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 13 de janeiro de 1943, p. 19.
65

tiros posta na caderneta militar ao ser documentado e guardado durante a carreira dos
militares e até mesmo para aporte pessoal. Durante o ano de 1943 à diante vimos que a
folha de tiro passou a ser o papel que contém a informação de acertos e erros dos praças.
Com afirmamos anteriormente, a arma é extensão do corpo do soldado. Carece de
cuidado para funcionar perfeitamente com limpeza e lubrificação. Ferrugem, sujeiras de
todos os vultos ou poeira certamente agravariam o bom funcionamento da arma. O fuzil
utilizado era o Mauser M908/34 7x57mm213, referenciado no primeiro capítulo. O
sistema de ação é o ferrolho manual214 a quantidade de tiros que podem ser
acondicionados no tambor215 é de somente 5 projéteis. Toda vez que o projetil fosse
acionado, a capsula seria ejetada mediante o movimento de recuo do ferrolho de ação
em que o gás do disparo jogaria o projétil disparado para fora. O avanço dele inseriria
outro projétil. Essa arma requeria que o praça se habituasse com ela para realizar
constante e perfeitamente a dupla ação de partida do ferrolho.
Em mãos despreparadas para realizar esse esforço, a efetividade de acerto do alvo
era baixíssima. Um acessório do fuzil seria a baioneta será esse recurso no qual a
destreza com o fuzil na estocagem216 deveria “ser rápido e executado com rigor e
precisão.”217 O seu formato é de sabre: longa, um pouco mais comprida que a faca. Ela
deve ser condicionada no cinto do praça na bainha, e encaixada no cano do fuzil para
que fique na ponta, possibilitando a realização do movimento. Esse foi um dentre os
vários fuzis utilizados pelo Exército. As três Cias. de infantaria que compõem o 25º BC
usavam, por isso são conhecidas como “Cia. de fuzileiros”. Como dissemos, ele é de
inteira responsabilidade do praça e qualquer prejuízo ao fuzil, por exemplo, a quebra da
coronha, é passível de ressarcimento do praça ao bem da Fazenda Nacional
danificado.218

213
Fabricado pela Deustche and Waffen Munitionfabrik sobre licença da Mauser Werke, esse modelo é
chamado de M908 porque foi adquirido em 1908 pelo Exército Brasileiro. Quando é derivado do fuzil
utilizado pelos alemães na Primeira Guerra Mundial o infanteriegewehr M1898 O fuzil tinha
comprimento de 1, 247 m; cano de 0,742m e pesava 3, 796 kg. Cf. P. NETO, Carlos F. Fuzís Mauser no
Brasil e as Espingardas da Fábrica de Itajubá (Rev. 2). Armas on-line. São Paulo, dez. de 2015.
Disponível em < https://armasonline.org/armas-on-line/os-fuzis-e-carabinas-na-i-e-ii-grandes-guerras/>.
214
[...] os fuzis de ação manual de ferrolho (repetição), não há muita complicação, mas quando a arma
tem de realizar todo o ciclo do disparo automaticamente, uma série de dispositivos mecânicos engenhosos
entra em jogo, empregando, de uma forma ou de outra, a força da explosão para operar o mecanismo. Cf.
Ibidem, p. 16.
215
Lugar que as bolas são depositas esperando a ação do ferrolho para realização do disparo.
216
É o ato de arremeter a baioneta ao alvo.
217
BELLINTANI, Adriana Iop. op. cit., p. 243.
218
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 11 de janeiro de 1945, p. 43.
66

Os fuzis eram antiquados e a reparação era dispendiosa e onerosa para o


Departamento de Material Bélico, porque eles eram comprados e necessitava de uma
indústria encarregada de fabricar peças de reparação. A Fábrica de Itajubá não tinha
essa capacidade, porque a produção mal supria a demanda de reparação das unidades da
capital. Dessa forma, a modernização e padronização dos praças com as novas
tendências tecnológicas eram impossíveis porque no Brasil não havia fábrica de
armamentos. E a possibilidade de compra de armamentos só era possível com uma
compra do exterior.219 Muitas vezes o mercado alemão foi a principal saída para
preencher o déficit de armas que o Exército manteve durante algum tempo.220
Quanto a munição, em hipótese nenhuma poderia exceder a cota de munição que é
disposta pela Diretoria de Material Bélico. Caso o soldado a excedesse sem acertar
nenhum tiro, em tempos normais isso seria deduzido dos seus vencimentos, no entanto,
acreditamos que durante a conflito, isso não ocorreu. Talvez, passada a guerra até a
modernização da Fábrica existente, isso não tenha acontecido. A munição era enviada
em quantias pequenas visando o racionamento para o confronto direto. A capacidade de
produção de munição antes da guerra era completamente insuficiente, durante a guerra,
ela ainda continuou era aquém das necessidades do Exército.221
O problema poderia ser mais grave do que imaginávamos porque atingiria o 25º
BC diretamente. Em 1942, quando o então capitão João Henrique Gaioso e Almendra
indaga ao Comandante da guarnição sobre a necessidade de instruir tiro aos
comandados que em breve seriam licenciados. O Comandante, em meio à economia
necessária de munição, recomenda que ele procedesse com os licenciados da mesma
forma com relação aos reservistas mobilizados. Esse foi o caso no qual foi resolvido,
mas houve casos que a escassez chegou a interromper a instrução de tiro durante três
meses, alegando-se falta de munição.222
As armas utilizadas pela CMB eram diferenciadas. Logo, segundo a doutrina
francesa de combate, as metralhadoras eram acondicionadas numa subunidade. São

219
Mas, no que tange à importante questão do suprimento de armas, que era fundamental à cooperação
militar brasileira, sérios problemas obstaculizavam uma política efetiva: legislação restritiva, a
incapacidade da indústria americana de oferecer preços e condições de pagamento competitivos com
relação às propostas alemãs, o desejo do Governo Brasileiro de conseguir o máximo em quantidade de
armas pelo preço mínimo e a oposição da Argentina. MCCANN JR, Frank D. Aliança Brasil-Estados
Unidos, 1937-1945. Trad. Jayme Taddei e José Lívio Dantas. Rio de Janeiro: Bibliex, 1995. p. 94.
220
MCCANN JR., Frank D. Soldados da pátria: a história do Exército brasileiro, 1889-1937. Trad.
Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 457.
221
Idem, ibidem, p. 449-452
222
PIAUÍ. BI n. 273, 25º BC, 25 de dezembro de 1942, p. 1121.
67

metralhadoras pesadas, com pouca mobilidade, servido apenas como apoio a infantaria.
Ao contrário de algumas armas, a metralhadora utilizada pelo batalhão é descrita
explicitamente decorrente da manutenção constante na troca do cano superaquecido pela
quantidade de tiros. Normalmente, ela será mencionada como arma automática223, ou
Hotchkiss M914224 foi adquirida durante a estadia do corpo de oficiais da Missão Militar
Francesa.225 Sua engenharia permitia pouquíssima mobilização. O campo de visão da
arma dependia da posição fixada por um tripé. Na documentação analisada não vimos
nenhuma menção sobre treinamento de tiro de metralhadoras.226
Constatamos até a presença de morteiros no 25º BC, porque configuram-se como
artilharia móvel para a infantaria. O oficial comandante da CMB instruiria os homens
no manejo e treinamento com morteiros. O manuseio de morteiros requer
conhecimentos matemáticos e físicos aplicados para modificar a trajetória dos projéteis.
Os manuais, ábacos e tabelas provenientes do Estado Maior da Região eram distribuídos
aos praças do CMB227 visando contribuir na instrução. O morteiro era o modelo francês,
o Brandt 81 mm228. Contudo, certamente a instrução com morteiros não se realizaria no
25º BC e, sim em alguma área distante da cidade, dispondo de segurança nos disparos e
ainda por cima não chame a atenção da população com os estrondos e os estampidos
decorrentes do impacto dos projéteis com o solo. E, convém salientar que a mesma
dificuldade foi verificada com a munição que deveria vir periodicamente do
Departamento de Material Bélico do Exército. Somente no final de 1942, é que se falou
algo efetivo sobre o envio de granadas.229
A reflexão da documentação lida nos leva a apurar que a instrução só aconteceu
no âmbito das subunidades. Poucas vezes foram realizadas manobras com o Corpo de
Tropa completo. À guisa da representação, o exercício de manobra de toda unidade

223
No Exército brasileiro, a metralhadora era a única arma automática existente. Ainda não havia
submetralhadoras e muito menos fuzis automáticos.
224
O Brasil utilizou a Hotchkiss M1914, que participou ativamente de conflitos como a Revolução
Constitucionalista de 1932. Os combatentes paulistas, quando a ouviam disparar, a apelidavam de “pica-
pau” devido ao ruído característico de sua baixa cadência de tiro. Cf: P. NETO, Carlos F. metralhadoras e
submetralhadoras da I e II Grande Guerra. Armas on-line. São Paulo, dez. de 2015. Disponível em <
https://armasonline.org/armas-on-line/os-fuzis-e-carabinas-na-i-e-ii-grandes-guerras/>.
225
MALAN, Alfredo Souto. Missão Militar Francesa de instrução junto ao Exército Brasileiro. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. p. 190.
226
Isso se deve também a dificuldade que o Departamento de Material Bélico apresentava com a falta de
efetividade da fabricação de munição.
227
PIAUÍ. BI n. 143, 25º BC, 20 de junho de 1942, p. 608.
228
Foi destinado ao CMB um livro escrito pelo capitão Pavel “O tiro da seção de morteiro Brandt de 81
m/m” escrito pelo capitão Pavel, provavelmente alguém da Missão Militar Francesa. PIAUÍ. BI n. 23, 25º
BC, 28 de janeiro de 1942, p. 97.
229
PIAUÍ. BI n. 263, 25º BC, 7 de dezembro de 1942, p. 1157.
68

aconteceu somente uma vez em 1942, e sem menções no restante do recorte. Nesse dia,
inclusive, todos do 25º BC saíram no início da manhã, para algum lugar não
especificado nos arredores da cidade, visando o aprimoramento de movimentos em
conjunto das companhias. Ao final de toda movimentação de tropas, eles voltaram ao
final da tarde.230
Será que nesses movimentos eles cavavam trincheiras? Cabe a um trabalho
posterior trabalhar com as especificidades desses movimentos de corpo, aos quais não
há muitas informações decisivas sobre o tipo de manobra realizada. A necessidade está
na ampla movimentação dos soldados de forma que fluíssem como uma perfeita
engrenagem. Cada soldado é uma pequena engrenagem dentro do mecanismo de ataque
da unidade. A unidade precisa de um moral elevado. O soldado precisa ser disciplinado,
e o oficial precisa ganhar o respeitado por meio da imposição da disciplina.

4.2. Dificuldades para formar um batalhão profissional: falhas no processo de


formação do soldado

O Exército brasileiro almejava ser um Exército profissional. Ao realizarmos uma


recapitulação, podemos compreender que essa era a tarefa hercúlea a ser alcançada. O
déficit educacional presente, particularmente ao Piauí exigia que primeiro o indivíduo
fosse preparado para cidadania, logo depois viria sua preparação militar. A Escola
Regimental foi a saída para o transformar pessoas analfabetas em soldados técnicos
segundo as necessidades exigidas na unidade. A grande quantidade de praças
analfabetos era um impasse na formação de um Exército Profissional no Brasil.231 Ora, a
instituição requisitava especialistas em várias funções técnicas e vitais para o
funcionamento e velocidade nas informações. Onde achá-los quando a própria
sociedade não os fornecia? O jeito mais prático de contornar essa situação era ensinar
alguns praças em cursos emergenciais e técnicos.

230
PIAUÍ. BI n. 240, 25º BC, 14 de outubro de 1942, p. 1068.
231
Entendemos por exército profissional na concepção de Charles de Gaulle, quando afirma que “as
condições modernas da ação militar exigem, pois dos homens de guerra, uma habilidade técnica
crescente. O material que a força das circunstâncias introduz nas fileiras, reclama a aptidão, o gosto, o
hábito de servi-lo. Isso é uma consequência da evolução, tão inelutável como o desaparecimento das
candeias ou o fim dos quadrantes solares. É chegado o tempo dos soldados de elite e das equipes
selecionadas.” Cf. GAULLE, Charles de. Por um exército profissional. Trad. de Urbano C. Berquó. Rio
de Janeiro: José Olympio; BIBLIEX, 1996. p. 52.
69

Tais cursos geralmente continham um número vultuoso de matrículas no início de


cada ano – com exceção do período em que foi incorporado TG à 3ª Cia – algumas
necessidades básicas como sapadores, sinaleiros observadores e telegrafistas e
radiotelegrafistas, sinaleiros columbófilos poderiam ser ministrados por algum oficial
do 25º BC. Desse modo, caberia aos oficiais a análise e avaliação do aproveitamento do
curso pelos comandados estipulando um índice para aprová-los. O resultado da
aprovação deveria obrigatoriamente sair no BI, da mesma forma que a reprovação ou até
mesmo a falta. O resultado constava as informações do indivíduo por companhia
especificando cada função. O porquê dessa medida está no aproveitamento dos cidadãos
egressos no batalhão, de forma a aproveitar esse primeiro momento na caserna para
habituá-los no serviço que cumprirão em cada função. O problema estava na solução.
Outro ponto importante: o 25º BC esbarrava no objetivo de se tornar um batalhão
técnico e moderno, quando a modernidade ainda não havia chegado. Os vultos de
modernização nas armas, na mobilidade e nas comunicações apareceram lentamente.
Por Exemplo, os aparelhos de comunicação radiotelegrafistas ainda datam das primeiras
aquisições com os franceses. Por ser uma unidade distante dos polos, geralmente o
material já havia sido utilizado por outras unidades, sendo somente repassado para a
unidade, corroborando com a reclamação de um rádio que havia chegado num caixote
sem funcionar. Ademais, ainda havia a existência de sinaleiros columbófilos para o
serviço de transmissões da unidade. Serviço de pombos-correios constitui sinônimo de
modernidade? Naquele momento não.
A modernidade pauta-se pela velocidade de informações e de deslocamento. Com
relação aos condutores, a instrução ocorreu de outro modo, com a saída de alguns praças
destinados a servir na função para Fortaleza, onde aprenderiam em logo após a
aprovação ou reprovação, seriam remanejados para Teresina. Vale lembrar que, ao final
do ano de 1942, é que começaram a chegar alguns veículos moto-mecanizados na
guarnição.
O 25º BC ainda dependia demais de muares para patrulhamento como alguns
demais serviços. A máquina seria uma novidade que somente o pós-Segunda Guerra
Mundial poderia proporcionar. A “lei do progresso” que foi muito bem observada por
Charles de Gaulle deveria ser percebida por todos os Exércitos, e precisamos entender
que as dificuldades apresentadas não se furtavam somente ao batalhão piauiense. Ao
longo de muitas unidades do interior do Nordeste, a impressão será a mesma. O
Exército sofria de deficiências estruturais graves porque compartilhava do mesmo
70

imobilismo econômico da sociedade brasileira. Esse material moderno só poderia ser


adquirido no exterior, novamente porque não havia nenhuma capacidade técnica e
tecnológica no Brasil de fabricação de tais materiais. Em suma, o 25º BC proporcionava
ação ao que lhe competia conforme o possível.
A existência da biblioteca no 25º BC reforça a importância atrelada para a
formação intelectual. A essa constatação, compreendemos que há um ponto positivo.
Contudo, será que os praças tinham contato com seu cerne, ou ao menos desejavam?
Ademais, não temos nenhuma informação se a biblioteca poderia ser frequentada por
eles, ou era o lugar somente destinado aos oficiais.232 Muitas vezes, até para efeito de
instrução, a importância da biblioteca da guarnição seja algo completamente
desconsiderada visto que não há evidências circunscritas no BI, ou até mesmo em
alguma memória pesquisada no período. Nem ao menos podemos afirmar que os
oficiais pudessem ser esses homens instruídos como imaginamos. Certamente, não
podemos ignorar que eles sabiam como funcionava e, acima de tudo, a organização dos
regulamentos. Em suma, os oficiais tinham a função quase que pedagógica com relação
aos comandados.
Deveriam fornecer o máximo de instrução possível para elevado aproveitamento
culminando na eficiência dos soldados. Os oficiais também recebiam instrução para
algumas atividades no batalhão pela constante mudança de oficiais. Ora o período de
convocação dos oficiais da reserva abriu margem ao Comando do 25º BC para capacitar
os novos oficiais, contribuindo ao máximo com a instrução dos praças do batalhão. Na
tabela a baixo, podemos perceber que todos os oficiais ministrantes de instrução são
militares de carreira. Não por outro motivo, todos os que estão dispostos atendem a
necessidade. O 25º BC durante a guerra, foi destino de muitos oficiais da reserva, e o
período de movimentação foi bastante extenso. A seguir um quadro com as instruções e
com os respectivos comandantes:
Tabela 1 – Instrução dos oficiais
Dias horas assuntos locais instrutores

Cap. Olavo Nogueira –


6-20 6 as 7 Equitação Pista do B.C.
Cap. Sub. Cmt.

11 as 11 Ten. Sadí de Almeida


3 Conferência Escola Regimental
(?) Vale.

232
Sobre os oficiais terem vínculo com a biblioteca militar. ver mais em: PIAUÍ. BI n. 31, 25º BC, 6 de
fevereiro de 1942, p. 118.
71

1º Ten. Lindomar
13 6 as 7 Ed. Física Pista do B.C. Freitas Dutra – Oficial
de Ed. Física
1º Ten. Bolívar Oscar
27 7 as 8 Armamento e tiro Escola Regimental
Mascarenhas
Cap. João Henrique
2 7 as 8 Topografia Escola Regimental Gayoso e Almendra –
Cmt. do P.E.
Cap. Olavo Nogueira –
6 10 as 11 Mobilização Escola Regimental Chefe da Secção
Mobilizadora.
Às 5ªs Major José de
9 as 10 Tática Escola Regimental Figueiredo Lôbo –
feiras
Cmt. do B. C.
Fonte: PIAUÍ. BI n. 47, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 194.
Tais treinamentos, seriam direcionados para os oficiais da reservar recém-
convocados. Os oficiais de carreira não eram suficientes para a demanda da guerra. A
necessidade de oficiais técnicos também gerou a formação do NPOR porque
encaminharia os jovens reservistas para realizar serviço militar como oficiais, exigindo-
lhes uma preparação diferenciada para lidar com as subunidades. A formação de oficiais
da reserva aqui era deficitária. Em algumas ocasiões “Não se pode aqui afirmar em que
condições se davam esses cursos, mas imagina-se que havia uma série de limitações em
relação a material, local de treinamento e instrução, como em outros quartéis do
País”.233 Na verdade, os oficiais da reserva eram vistos com bastante desconfiança, ou
melhor, eram vistos como rivais.234
E quanto aos corpos? As deficiências relacionadas ao porte físico também são
gritantes. Muitos historiadores prestaram a desvendar o tipo físico do soldado brasileiro.
Falando sobre as características do soldado brasileiro Joaquim Xavier da Silveira afirma
o seguinte:
O perfil do soldado brasileiro é bastante complexo devido à
miscigenação. Embora não haja um biótipo definido, é possível
encontrar traços comuns ou mais acentuados quando observamos os
usos, os costumes e o comportamento.235
A passagem é introdutória e pertinente para problematização. Os brasileiros são filhos
da miscigenação de outrora, mas as práticas do cotidiano foram a principal ação sobre o
perfil dos piauienses da década de 40. Ora, as condições sanitárias da população pobre
piauiense eram péssimas, mesmo que o discurso oficial ressaltasse a importância da

233
LIRA, Clarice Helena Santiago. Op. cit., p. 85
234
COLLER, Eduardo. As condições sociais e econômicas do país e a mobilização do Nordeste. In:
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op. cit., p. 475
235
SILVEIRA, Joaquim Xavier da. Op. cit., p, 92.
72

modernidade da cidade, a população pobre da cidade vivia longe dos centros. Aliás, se
incrementarmos à conta a péssima alimentação e os vícios que a grande maioria dos
piauienses carregavam, essa a situação tende a agravar-se vertiginosamente. Ele está
correto em afirmar que o soldado brasileiro tem um biótipo bastante complexo derivado
principalmente da miscigenação. Contudo, esse perfil miscigenado escondia problemas
que as vivências cotidianas do século XX proporcionaram as pessoas.
O serviço militar brasileiro herdou da tradição francesa a contemplação do
desenvolvimento físico e ainda por cima ousou na formação de um conceito de físico
exímio do tipo brasileiro. O período estado novista foi o principal vetor de concepções
de aperfeiçoamento dos corpos, principalmente concebendo-as pelo viés militar. A
velocidade das relações, como algumas atividades iam exigindo melhor preparo e a
Grande Guerra foi o melhor exemplo para os franceses de que algo deveria ser feito
para o fortalecimento dos corpos.
Simultaneamente, a metropolização, a vida se tornou corrida na urbe. O cotidiano
começava a adquirir contornos fluidos, de forma que até o descanso segue a mesma
frequência. O ritmo impele o preparo dos corpos. A educação física, o jazz, a vida
noturna, boemia e cinema serão símbolos que marcaram essa fase da sociedade.236
Muito influenciou o serviço militar brasileiro e, segundo Celso Castro, ele se consolidou
no viés militar porque o objetivo era formar o “corpo da pátria”.237
Os praças do 25º BC basicamente marchavam de 12 a 25 quilômetros carregando
pesadas mochilas com barracas, utensílios de uso pessoal, pás, cordas e o armamento ao
considerarmos um pequeno balanço das marchas realizadas. O lugar de realização
ficava a cargo do oficial responsável, tanto que, era comum aos comandantes seguirem
para diversos lugares que desafiassem fisicamente os soldados carregando tudo que
fosse possível. Como referenciou o sr. Francisco de Sousa Primo ao ser entrevistado
pela historiadora Clarice Helena Santiago Lira
[...] instrução de toda natureza corria por dentro da cidade e, naquele
acelerado, [...] umas marchas muito pesadas, acampamento de quinze
dias. No mês de abril de 1944, o inverno foi muito bom, passamos 15
dias lá para as bandas da granja centro, que hoje tudo é cidade; nesse
tempo, era mato. Aqui no Jóquei, passamos 15 dias andando nos
matos, fazendo treinamento, instrução de guerra. Acho que era até
pior do que lá na guerra, chovendo, e a gente acampado dentro dos
matos [...]. Os soldados carregando a mochila, a casa de morada, nas
costas, naquela mochila que ia coberta de lona. E a gente montava,

236
SEVCENKO, Nicolau. Op. cit., p. 278-279.
237
CASTRO, Celso. Op. cit., p. 92.
73

abria assim um jirau, e ficávamos ali deitados naquelas caminhas,


forradas com palha de pau mesmo, e embaixo a água correndo [...]
nesse período de 15 dias, e as muriçocas e os mosquitos em cima
[...].238
As condições completamente insalubres no acampamento somado aos carregados
exercícios físicos têm por objetivo instruí-los a sobreviver nas atrozes condições de
guerra. As escolhas eram feitas partindo de um princípio estratégico. Os militares
brasileiros preparavam os soldados para estarem em condições de suportar fisicamente
os augúrios da guerra. Interessante quando ele fala que “era até pior do que lá na
guerra”, porque foi o traço mais sensível a sua memória239 de tal forma que o marcou,
assim como muitos praças se queixaram do adestramento recebido. Podemos perceber
que aconteceu nos lugares mais diversos, sem falar em outros destinos como a Estrada
de Natal, Poti Velho, Buenos Aires, Estrada de Picos. Durante o recorte, verificamos
que as marchas foram mais intensas no 1942.240 Esse exercício também teve um saldo
pesado nas baixas da ER porque muitos soldados não tinham a mínima condição física
de cumpri-las. O resultado foi constatado nas constantes entradas anotadas pelo chefe da
FSR após a instrução.
Também ouve incentivo para a prática esportes. A passagem de 1942 a 1943, o
oficial de educação física agiu no intuito que os praças se praticassem algum esporte. A
prática esportiva será o auge de padronização dos corpos no Exército. O oficial de
educação física do corpo continha função de incentivar a prática desportiva. O tenente
Lindomar Freitas Dutra241 expôs ao final de 1942 um plano de incentivo ao
desenvolvimento de mais práticas esportivas. No plano, constava os horários e o tipo de
atividade aos praças das Cias. Ficava a cargo dos oficiais subalternos de indicar os
praças na formação dos times.
O Comando do batalhão, acreditava fielmente que as provas práticas de educação
física, para medir o quanto os soldados aguentam cada intensidade dos serviços

238
PRIMO, Francisco de Sousa. Entrevista concedida à Clarice Helena Santiago Lira. Teresina, 30 out.
2007. Apud LIRA, Clarice Helena Santiago. Op. cit., p. 86
239
POLLAK, Michel. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3,
pp. 3-15, 1989. p. 6.
240
CMB: PIAUÍ. BI n. 21, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 92; PIAUÍ. BI n. 60, 25º BC, 13 de março
de 1942, p. 244; PIAUÍ. BI n. 94, 25º BC, 25 de abril de 1942, p. 388; PE: PIAUÍ. BI n. 32, 25º BC, 7 de
fevereiro de 1942, p. 126; PIAUÍ. BI n. 38, 25º BC, 14 de fevereiro de 1942, p. 157; 1ª Cia.: PIAUÍ. BI n.
33, 25º BC, 9 de fevereiro de 1942, p. 131; PIAUÍ. BI n. 72, 25º BC, 27 de março de 1942, p. 234; 3ª
Cia.: PIAUÍ. BI n. 82, 25º BC, 10 de abril de 1942, p.338.
241
Durante um período ainda do ano de 1942, ele ficará ausente. O oficial que assumiu no seu lugar
acumulava também a função de oficial de informação do 25º BC: 1º tenente da Reserva convocado
Aurino Dias de Freitas. PIAUÍ. BI n. 143, 25º BC, 20 de abril de 1942, p. 608.
74

exigentes.242 O 25º BC durante esse período formou times de vôlei e basquete de


elementos oriundos das Cias para ser disputado fora do batalhão.243 O Campeonato de
atletismo por outro lado, é um campeonato realizado entre as Cias do batalhão. O oficial
de educação física deveria preparar os homens para o competir com aquiescência dos
comandantes de Cias. Os melhores seriam selecionados para participar do Regional que
aconteceria muito em breve.244
O campeonato realizado no dia 15 de julho de 1942 teve no BI subsequente o
resultado da competição no qual o saldo foi avaliado positivamente para os soldados do
PE. O Comando lamentou por não ter um troféu a altura do feito da subunidade, mas,
como premiação, o comando deu o troféu ganho no Campeonato da 8ª RM chamado do
“Pax Armèe”. Em virtude dos resultados que excederam expectativas, o Comandante
congratula-os dizendo o seguinte: “este comando congratula-se com a sub-unidade
vencedora esperando que atualmente, cresça o entusiasmo a disputa, única maneira de
transformar os soldados em verdadeiros atletas.”245
O Oficial de Educação Física na ocasião era o capitão Samuel Lobo. Ele ficou
responsável por planejar outra competição para o ano que chegava. O evento deveria
acontecer no início de 1943, justamente no aniversário do batalhão, com uma atividade
para o dia festivo do 25º BC. Ele elabora provas individuais e coletivas. As primeiras
são provas de velocidade e força e resistência, corridas 100 e 1500 metros e a prova de
vivacidade. O restante, consistiria no vôlei, basquete, lançamento de granadas por
equipe de 3 homens e demonstração de ordem unida pelo pelotão. Cada comandante de
subunidade ficaria responsável pela premiação, além do mais, seria estabelecido horário
para a prática de treinos.246
A movimentação de algo relacionado à educação física em 1944 é uma incógnita.
Somente tivemos contato com um livro do BI do 25º BC equivalente a três meses.
Nesses três meses analisados, não tivemos contato com nenhuma ação importante, a não
ser a incumbência do novo oficial de educação física o 2º tenente R-2 Pedro Luiz Diniz
Viana, de preparar os voluntários para serviço militar a se adequar fisicamente para o

242
PIAUÍ. BI n. 47, 25º BC, 26 de fevereiro de 1942, p. 194.
243
PIAUÍ. BI n. 126, 25º BC, 28 de maio de 1942, p. 593;
244
PIAUÍ. BI n. 148, 25º BC, 26 de junho de 1942, p. 626.
245
PIAUÍ. BI n. 165, 25º BC, 16 de julho de 1942, p. 589.
246
PIAUÍ. BI n. 292, 25º BC, 18 de dezembro de 1942, p. 1193.
75

serviço no batalhão.247 Contudo, haviam problemas de ordem crônica no modo de vida


de alguns soldados.
Havia alguns soldados no primor físico, no entanto esse não é o quadro geral,
porque não condiz com as baixas diárias na ER. O tabagismo, álcool e a má alimentação
está entre os principais malefícios aos praças durante a vida militar. Eles se tornavam
mais evidentes ainda com o momento de guerra, pela necessidade de praças saudáveis e
robustos para o serviço militar. Tornavam exercícios físicos mais extensos
insuportáveis, como a grande maioria das baixas da segunda metade de 1942 até o início
de 1943.
A alimentação precisaria ser um complemento importante para a formação física,
ou seja, é preciso alimentá-los. Segundo depoimento Ubirajara Dolácio Mendes, rango
não era dos melhores. Além disso, ele tece explicações sobre aspecto passivo do
soldado por não reclama da alimentação que recebe quando expõe que
[...] a alimentação que lhe dá o ‘rancho’ das unidades militares, cujo
cardápio é basicamente constituído por feijão, arroz e jabá (carne
seca). É, até mais fácil ouvirem-se reclamações quando haja falta do
feijão e do arroz mesmo quando esses dois pratos forem substituídos
por outros mais substanciosos.
De qualquer modo, entretanto, é forçoso reconhecer que a bóia do
soldado não prima pela excelência. Se nem sempre é parca
quantitativamente, é-o, não obstante, qualitativamente. Será por isso,
talvez, que raramente se vê um soldado gordo.248
E realmente não havia praças gordos nas poucas fotos que existem. Podemos
afirmar ainda que a situação agravou-se com a Comissão de Mobilização Econômica.
Foi responsável por difundir o clima de guerra no Piauí por meio racionamento e o
consequente aumento do preço alguns víveres por parte de alguns produtores que se
aproveitaram do momento.249 A 10ª RM no início de 1943, destina uma tabela com a
quantidade a ser consumido pelas unidades, inclusive o 25º BC.
Tabela 2 – tabela de víveres
Artigos Quantidade diária por homem
Açúcar 140 grs.
Arroz 160 grs.
Banha 20 grs.
Café moído 45 grs.
Carne verde (com 25% de osso) 430 grs.
Carne seca 250 grs.

247
Geralmente, esses oficiais de educação física também aglutinavam a função de oficial de transmissão
do 25º BC. PIAUÍ. BI n. 195, 25º BC, 21 de agosto de 1944, p. 1202.
248
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op. cit. p. 263-264.
249
LIRA, Clarice Helena Santiago. Op.cit., p. 38.
76

Farinha de mandioca 150 grs.


Feijão 150 grs.
Manteiga 15 grs.
Massa para sôpa 18 grs.
Mate 10 grs.
Pão 270 grs.
Sal fino 20 grs.
Vinagre 1 ctl.
Fonte: PIAUÍ. BI n. 150, 25º BC, 5 de julho de 1943, p. 814.
Soldado com fome não lutava, obviamente. Talvez, na caserna essa quantia
constituiria o que muitos desses soldados com as suas famílias não teriam na mesa para
comer semanalmente. Todavia, o “rango” do Exército também não primava pela
qualidade, além de consistir em duvidas que houvesse toda essa variedade. As
evidências apontam que a abundância, – se é que podemos dizer que havia – poderia
estar presente nos pratos dos oficiais, decorrente des regalias do posto que ocupam. O
retrato ficou mais evidente mediante o relato dos poucos piauiense que se destinaram ao
Rio integrar do Depósito de Pessoal da FEB e muitos não foram incorporados. Males
como o da subnutrição não eram diagnosticados, e se eram, poderiam até mesmo ser
ignorados. A seleção dos praças também era incipiente.
Os praças sorteados, os convocados e os voluntários durante o Estado de guerra,
passavam pelo processo de análise incorporação. A JMS250 realizavam exames médicos
e concediam o veredito decidindo se havia condições de incorporação. Caso fosse
positivo, declaravam-nos “aptos ao serviço militar” e, “temporariamente incapazes de
serviço militar”, caso fosse constatada alguma intempérie remediável. A incapacidade é
declarada quando realmente constata-se incapacidade física, ou seja, “definitivamente
incapaz de serviço militar”. Não foi possível obter informações especificas do
procedimento, a proporcionar claramente os padrões físicos aceitáveis para o serviço
militar. O quadro só reverbera a ineficiência quando os praças egressos tão logo são
dispensados, ou obtém baixas. Na enfermaria, sempre deveria haver certa rotatividade
de praças, como recentemente muitos dos praças passarem até mais de meses na ER. O
Comando do batalhão recomenda à Junta, ao perceber a gravidade da conjuntura, que
eles sejam reavaliados confirmando-se ou não a permanência no serviço militar.
O oficial da FSR juntamente aos oficiais subalternos ficou encarregados de velar
pela saúde das subunidades. A medida tem requintes preventivos, mas não obtinha o

250
A Junta Militar de Saúde também realizava vistorias para a 8ª RM. Os civis eram aqui destinados e
logo após o veredicto eles são reenviados à unidade de onde vieram. PIAUÍ. BI n. 66, 25º BC, 20 de
março de 1942, p. 272.
77

efeito desejado. Ela tinha caráter impositivo visando controlar ao máximo ações e
horários.251 As instruções visando contribuir para o asseio no o batalhão foram
ministradas. Inclusive, houve uma sobre noções de cuidados básicos com doenças
venéreas e outras como impaludismo, febre amarela, varíola, peste, lepra, febre tifoide e
todo tipo de verminose.252 O controle asséptico seria o principal agente contra essas
intempéries. Medidas como asseio das dependências das Cias., e até ação no horário do
banho foram medidas pensadas para tentar coibir a ação de doenças. No entanto, mais
uma vez, as dificuldades da época imperavam porque não havia banheiros nos
dormitórios do quartel. Somente o aquartelamento no PE não havia banheiros e os
soldados eram remanejados para tomar banho nas Cias. Rigorosamente, o banho deveria
ser tomado das 7h30 às 8h00 e durante o período da tarde das 17h00 às 17h30. 253 Essa
recomendação vem da 10ª RM para ser cumprida duramente.254
O controle do aquartelamento muitas vezes encontrou resistência por alguns
praças. O apego dos oficiais aos regulamentos a autoridade e principalmente a completa
subserviência dos comandados embaraçava muitos praças na fase de transição da vida,
ou melhor, a passagem da infância para a juventude. Os padrões de masculinidade
seguiam o ritmo que o século XX impuseram no processo. Dessa forma, alguns vícios
como álcool e drogas, sem falar nos prazeres relacionados à vida sexual ativa, estarão
entre as preferências dos praças do 25º BC na vida noturna teresinense. Segundo Pedro
Vilarinho Castelo Branco,
outro traço caracterizador das vivências masculinas na juventude é a
participação dos rapazes nas diversões noturnas particularmente nos
pipirais (bailes de subúrbio em Teresina no final do século XIX ao
início do século XX). Esses bailes de subúrbio eram espaços
privilegiados para exercitarem a virilidade, para mostrarem aos pares
as habilidades de conquistador, utilizavam, para isso, a boa aparência
e a situação social privilegiada como armas de sedução.255

251
Muitos oficiais médicos passaram ou realizaram estágio no 25º BC. Interessante, que nenhum era de
formação militar, mas sim civis recém-formados nos cursos de medicina que eram remanejados ao
Exército. Alguns deles eram remanejados à guarnição para concluírem a fase de instrução. Ver mais em:
PIAUÍ. BI n. 17, 25º BC, 21 de janeiro de 1942, p. 76; PIAUÍ. BI n. 162, 25º BC, 13 de julho de 1942, p.
677-8; PIAUÍ. BI n. 24, 25º BC, 11 de novembro de 1942, p. 1116.
252
PIAUÍ. BI n. 285, 25º BC, 9 de dezembro de 1942, p. 1164.
253
PIAUÍ. Op. cit., p. 148.
254
O 25º BC deveria seguir as diretrizes do RISG que estabelece basicamente a função, dever e ações dos
praças considerando todas as patentes. No âmbito do batalhão, a autoridade máxima é o Comandante. Ele
baseado nessa outorga, e no RISG tem o dever de definir os horários para todas as atividades no batalhão.
Elas devem sempre acontecer na risca do ponteiro. Cf: PIAUÍ. BI n. 62, 25º BC, 18 de março de 1943, p.
284.
255
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. História e masculinidades: a prática escriturística dos
literatos e as vivencias masculinas no início do século XX. Teresina: EDUFPI, 2008. p. 92
78

Os hormônios exaltados somado aos padrões rebeldes e boêmios de alguns jovens


seriam práticas que muitos deles preservariam mesmo depois de ter entrado na vida
militar. A idade de disposição do serviço militar chocava-se com padrões de
masculinidade dos jovens como a liberdade rebeldia e o desapego. A disciplina, o
respeito e a subserviência estão na contramão. O choque evidencia principalmente um
problema muito crítico ao 25º BC com os vícios decorrentes das práticas cotidianas dos
praças e graduados. O álcool, o vício mais problemático, por exemplo foi relacionado a
faltas graves relacionadas ao como o informe do BI.
Este comando tem recomendado e aconselhado aos seus subordinados
que se privem o pais possível do uso do álcool (cachaça) ou quaisquer
bebidas alcóolicas, no entanto vem observando que praças, graduados
e até mesmo alguns sargentos apresentam-se para o início do serviço
rescendendo a essas bebidas, cumpre ao comando a repressão, o que
fará com energia com severidade, dando a cada um o castigo máximo
dos regulamentos, e do Código Penal Militar para aqueles que forem
apanhados nessa falta daqui por deante, o homem que, se alcooliza ou
se embriaga perde o respeito para si mesmo e só adquire a repulsa da
sociedade e corporações.256
Alcoolizar-se é o sinônimo de ojeriza militar. Houveram casos em que praças
chegaram ao nesse estado passam pela execração na guarnição por não contribuir com o
decoro militar. Houve preocupação visando coibir o vício o consumo de
cachaça/aguardente durante o expediente.257 Houveram casos nos quais alguns resistiam
a abordagem ou por meio de luta corporal ou até fuga.
Surpreendentemente, constatou-se uma recomendação instruindo os oficiais
médicos a agir preventivamente contra vício em maconha. Antes de mais nada, devemos
salientar: não encontramos nenhuma ocorrência dessa natureza relatada nos BI’s. O
informe tratou até mesmo de ser especifico no direcionamento porque percebeu que o
uso virtualmente seria comum no Nordeste. O general da 10ª RM, encarrega o chefe da
FSR e oficiais subalternos que combatam o uso de cachimbos ou folha de papel
destinada a “muamba”. Identificados os disseminadores e consumidores do vício, serão
todos punidos no rigor da lei.258
As localidades do divertimento noturno poderiam aproximar os praças das drogas
que cada vez mais estavam presentes em alguns estabelecimentos. A cidade de Teresina
é um espaço que comporta várias sociabilidades. Essa forma de sociabilidade encontrou

256
PIAUÍ. BI n. 26, 25º BC, 3 de fevereiro de 1943, p. 113.
257
Soldado do 23º BC que nem era lotado no 25º BC e estava somente de passagem, foi pego bebendo
aguardente no Estádio do 25º BC. Por outro lado, era comum alertas aos praças para que não bebessem
em serviço. Cf. PIAUÍ. BI n. 62, 25º BC, 18 de março de 1943, p. 284.
258
PIAUÍ. BI n. 9, 25º BC, 13 de janeiro de 1943, p. 43.
79

seu lugar nos divertimentos noturnos despertando ações indolentes dos praça em suas
ruas. O século XX, como apontou Margareth Rago, apresenta o mundo a economia dos
desejos. A abertura de casas de diversão, cafés, pensões alegres apresentou uma nova
forma de diversão padrões Europa aos brasileiros.259 A calada da noite, muitos praças
ausentavam-se do batalhão para desfrutar a bebedeira, festas noturnas e promiscuidade.
Precisamos lembrar que qualquer saída após às 22hrs era vedada, exceto alguns
destinados ao patrulhamento da capital. Os mais jovens eram assíduos na vida noturna
teresinense. Inclusive, Bernardo Pereira de Sá Filho fará menção a alguns lugares onde
Existiam alguns forrós que já era de praxe ocorrerem confusões como
o Forró do Pedro Toco, no cruzamento das ruas Barroso e Santa
Luzia, nos Cajueiros, próximo ao Barrocão. Acontecia aos sábados, e
sua clientela (cafetões, estivadores, desocupados) era constituída dos
setores mais populares da cidade e do lúmpem da periferia, oriundo
principalmente do baixo meretrício conhecido como Palha de Arroz.
(grifo do autor)260
Os praças do 25º BC eram todos assíduos frequentadores de zonas de baixo
meretrício destacada pelo autor como Palha de Arroz e Móio de Vara. Esses lugares
eram destinados a pratica de sexo com prostitutas. Eram lugares pobres da cidade, e
com condições nenhuma de asseio. Vulgarmente eram conhecidos como “perebais”
porque o sexo geralmente poderia ser um fator para contrair doenças venéreas. Mas, por
outro lado, esse tipo de relação sexual “[...] com mulheres socialmente inferiores,
contrair doenças venéreas eram demonstrações inequívocas de virilidade e macheza no
mundo patriarcal”261, para quem não tinha poder aquisitivo para frequentar onde o
consumo de cachaça e o possível contanto com os entorpecentes encontrariam os jovens
durante a vida noturna.262 Essas áreas, essas práticas eram completamente abominadas
porque essas doenças geralmente causavam várias baixas no Exército, sem falar que o
discurso do Estado Novo coibia essas práticas visando a pureza dos corpos.263
A constante presença do álcool e da prostituição acirrava os ânimos causando
brigas constantemente. Em um curto período de 1942, dois praças foram expulsos do
Exército, por se envolverem em brigas nessas áreas. Mediante a situação, o Comando
declarou:

259
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo, 1890-1930. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. p. 42-48.
260
SÁ FILHO, Bernardo Pereira de. Cartografias do prazer: boemia e prostituição em Teresina (1930-
1970). Dissertação. Mestrado em História do Brasil. Teresina: UFPI, 2006. p, 39.
261
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Op. cit., p. 193.
262
SÁ FILHO, Bernardo Pereira de. Op. cit., p. 77-80.
263
RAGO, Margareth. Op.cit., p. 133-142; CASTRO, Celso. Op. cit., p. 104-111.
80

Fica terminantemente proibidas de frequentar os cafés de baixa esfera,


denominados “Inferno Verde”, “Caenágua”, “Engancha o Carneiro” e
todos os outros que fiquem nas proximidades da zona de baixo
meretrício, desta cidade, as praças deste B. C. terão punição severa os
que forem encontrados pela patrulha do B. C. em seu serviço diário,
bem como incorrerá em grave falta a punição do sargento, cabo e
soldados da patrulha que tolerarem, sob qualquer pretexto, a
permanência ou entrada de praças nos lugares acima mencionados,
especialmente se houver desordens em que tomem parte.264
O álcool era o mal tão frequente no 25º BC que ocasionou expulsões graves como
o soldado n. 480 da 3ª Cia. saiu do serviço de guarda munido de fuzil e voltou
completamente embriagado265 ou, até mesmo o 2º tenente C.266 cuja sindicância foi
aberta por ter sido denunciado pelo Chefe da Força Policial do envolvimento do tenente
numa agressão a três pessoas em um botequim.267
O Comandante do 25º BC destaca que é comum que soldados cometam erros e
que todos são capazes de corrigir seus erros. A relegação do castigo pode ser um
artificio que ajude o praça a reencontrar o caminho da moral. O praça tem de ser o
exímio exemplo do soldado da pátria. O Brasil precisava de socorro no momento. O
dever era ressaltado diretamente nos periódicos e no cotidiano. Eles precisavam estar
preparados para a tarefa que os cabia.268 Mas, em alguns casos, em que foi impossível
manter a compreensão, o RDE agiu duramente.
O comandante outorgou aos oficiais subalternos a função de coibir essas ações
com eficácia máxima, porque o Exército de Caxias precisa de homens fortes e não
corpos marcados pela tibieza, que desrespeitam os símbolos e a hierarquia nacional. 269
No entanto, há casos que mesmo com a ação atenuante dos comandantes, são
incompatíveis com o decoro militar, tornando sua presença completamente nociva. Os
exclusos chegavam a perder até a condição de reservista.270 Já que o indivíduo não se
dispunha a seguir o decoro militar, no entendimento da alta cúpula, eles não seriam
também bons civis.

264
PIAUÍ. BI n. 119, 25º BC, 25 de maio de 1942, p. 513-4.
265
PIAUÍ. BI n. 104, 25º BC, 10 de maio de 1943, p. 525.
266
Como ele é oficial, não é disposto número da lotação. Essa forma de menção, resulta na diferença
entre oficiais e praças. No caso de oficial, faremos menção penas a primeira inicial.
267
PIAUÍ. BI n. 169, 25º BC, 27 de julho de 1943, p. 935.
268
PIAUÍ. BI n. 13, 25º BC, 18 de janeiro de 1943, p. 70.
269
PIAUÍ. BI n. 63, 25º BC, 19 de março de 1943, p. 287.
270
Importante ressaltar que o Estado Novo procurou coagir o indivíduo a dispor seus serviços às armas
brasileiros, que se por algum acaso ele perdesse a condição de reservista, perderia a de cidadão.
81

Crimes como deserção também eram bastante comuns271. Nesse caso, o


Comandante deveria agir com mais dureza ainda. O momento era de guerra! Não seria
aceitável, mediante toda a propaganda realizada que um indivíduo faltasse ao “tributo
de sangue”. Após algumas horas, percebe-se a falta do soldado, o oficial do dia e o
oficial da subunidade precisa estar de prontidão para revistar os bens do praça, revistar
os bens e constatar se algo foi furtado da Fazenda Nacional. Até porque furtos eram
bastante comuns e frequentes no 25º BC e a reposição era restituída pelo transgressor,
porque a fazenda nacional não ficaria sem seus bens.
O 25º BC, por sua vez, um reflexo do Exército de Caxias: atrasado, deficiente e
rusticamente hierarquizado. A sociedade brasileira e, sobretudo, piauiense, não estava
preparada para a guerra. O adestramento, a hierarquia, a relação com a cidade concedia
pequenas mostras do grande conjunto de desarranjos da instituição. Chega a ser
inadmissível durante a guerra que o soldado não pratique tiro por falta de munição. É
impossível preparar o soldado para combater sem atirar. O Exército deve ser bem
armado, rápido e inteligente para os padrões que a guerra moderna àquela altura exigia.
As condições de preparo para a guerra partiam de um problema estrutural do Estado
Maior brasileiro quando se viu completamente desorientado após a guerra. Não
queremos com isso falar mal do Exército. Muito menos passou por esse fim. Mas a
compreensão do momento, elenca recompor o passado de soldados de outrora, que
mesmo com todas as adversidades mostraram seu valor e sua força.
Na vida cotidiana não podemos acreditar que tudo realizar-se-ia estritamente
acordado com os regulamentos. Usos e consumos não seguem padrões. Eles jogam com
o seu lugar. Por isso não podemos pensar que a história seria assim, encaixada. Há
sempre o não-dito porque o cotidiano é moldado por mil maneiras de fazer (grifo
nosso). Ele é reinventado, manipulado pelas pessoas. A tarefa de preparar soldados para
a guerra é hercúlea, e deveria ser feita com o apoio completo da população e dos órgãos
militares. O símbolo de Caxias foi pensado como exemplo de comportamento, fossem
pensados pelo Exército, pensado cruamente nas estratégias de moldar os corpos da
pátria segundo a imagem do grande Caxias, o exímio soldado. Essa ação passaria por
outro problema grave. José Goes Xavier de Andrade abordará o problema quando
afirma que
Em todos os quartéis brasileiros, Caxias foi apresentado com um
exagero tal que o homem comum não pode compreender. Para o

271
PIAUÍ. BI n. 165, 25º BC, 22 de julho de 1943, p. 910-A.
82

soldado simples, cheio de fraquezas e falibilidades humanas, os


traços da vida cotidiana realmente predestinada do Duque de Caxias,
aquela perfectibilidade realçada numa exaltação quase mística,
tornou-se imitável, inalcançável como símbolo. [...] Todos nós
sabemos: para o soldado, ‘Caxias’ é o oficial, o sargento, o praça
exagerado, rigoroso em demasia. É o militar que vive com o dedo
nos artigos do Regulamento, sem a tolerância da equidade. (grifo
nosso)272
Para o soldado: que acaba de entrar a vida adulta, que está despertando as
masculinidades, ao novo mundo adulto, os novos valores da acelerada sociedade do
século XX irradiava suas teias aos jovens piauienses que serviram no 25º BC. A tática
está localizada no choque de dois mundos. Na forma que os praças fogem à suas
obrigações usais para usufruir e consumir das novas formas de prazer, das diversões
cotidianas que estavam presentes na sociedade teresinense. Por isso, não podemos dizer
que todos os praças foram submetidos ao controle coercitivo e ideológico do Exército.
Temos que compreender, que comportamentos e ações não se configuram como séries
controladas porque o cotidiano do indivíduo é inventado por ele mesmo, e dessa forma,
ele também constantemente reinventado. São ações e relatos que de certa forma tateiam
e zombam do discurso ‘oficial’ pondo-se ao lado das sociabilidades. Elas estão dentro
dos usos que as pessoas fazem desses atributos no seu cotidiano, de forma a manipular
ao bel prazer a rigidez dos regulamentos.

272
ARRUDA, Demócrito Cavalcante; MORAES, Berta. Et al. Op.cit., p. 311-312.
83

5. CONCLUSÕES

Ao expor as situações anteriores deixamos claro que o objetivo do trabalho


realizado não incide em falar mal do Exército, muito menos do 25º BC. Certamente, foi
essa posição empregada ao compreendermos o papel histórico da guarnição no contexto
do conflito. A função do historiador não pode se reduzir a escopos tão tíbios como falar
mal ou falar bem. Claro, dependemos de nossas subjetividades para a escrita da história,
já que ela se refere a um lugar. Todavia, a função do historiador é de recompor os fatos.
A história sobre o Exército brasileira vem em processo de ascensão. Os atributos que a
Nova História Militar tem possibilitado novos objetos, novos vieses. Dessa forma, não
seremos injustos nas análises e compreensões.
Os resultados são frutos da leitura de uma leitura rígida da documentação e de
vasta bibliografia. Não seria injustiça alguma abordar as dificuldades passadas pelo 25º
BC. Elas nada mais eram do que reflexos evidentes da situação social e econômica do
Brasil como todo, além do mais, sem deixarmos de fazer menção ao Piauí. As despesas
do Estado Novo com o Exército estavam em processo de crescimento porque a
instituição assumia um papel fundamental na solidificação do regime. Contudo, eram
quantias ainda irrisórias para as necessidades de combate, que foram provadas com a ida
da FEB à Itália. A participação deu noções do quão caro é o empreendimento da guerra
para formar um exército moderno e rápido.
Expomos algumas das dificuldades passadas pela guarnição durante a guerra.
A situação era caótica para resolver questões importantes. Podemos afirmar que o
Exército brasileiro foi privilegiado pela situação internacional? As evidências levam a
crer que sim. A guerra não esteve presente no território brasileiro. Esta questão interfere
diretamente na preparação e no treinamento do exército, porque seria utilizado para
defender as fronteiras. Nossa situação era belicosa aqui na América do Sul, mas não foi
algo que interferisse diretamente na mobilização como a FEB no final de 1943 a 1944.
Particularmente, o 25º BC enfrentou demasiadas dificuldades ao longo da
guerra. O que foi levantado mediante estudo das documentações e da bibliografia leva a
crer que o conflito pouco afetou o cotidiano dos militares lotados na guarnição,
semelhante aos poucos desdobramentos na sociedade piauiense. A tarefa de defensa do
litoral piauiense, exigia aumento de efetivos à caráter para exercer o planejamento
estabelecido pelos órgãos de Estado-Maior do Exército. A situação adquiriu tons
controversos em muitos momentos porque o efetivo mais diminuiu que aumentou no
84

momento conturbado momento internacional. A tarefa de defender não foi realizada e


os praças permaneceram no batalhão realizando treinamento do corpo e da mente para
lugar uma guerra que permanecia aquém de qualquer episódio imaginado.
O Exército pretendia se modernizar, se pretendia técnico e profissional. A
passos vagarosos caminhava para esse fim. Os militares brasileiros estavam atentos aos
desdobramentos no exterior, além do mais, sentiam a necessidade de modernização do
Exército. Apesar de não compreenderem como concretizar esse processo de
modernização. Não bastava somente comprar equipamentos, como o Estado-Maior
acreditava. Era preciso modificar estruturalmente a sociedade para contemplar a
demanda dos soldados profissionais, ademais, eles compreendiam que a guerra total nos
seus moldes exigia que o tributo de sangue do cidadão como soldado fosse ofertado. A
demanda era alta para uma oferta bastante rasteira.
A organização moderna dos Exércitos primava pela utilização do vigor da
juventude. Era preciso convencê-los de servir e de inspirar o nacionalismo para
combater pela nação. O problema esbarrava na cimentada representação do Exército na
sociedade, herança que data do início do período republicano. Ela, em suma, se
configurou num lugar de memória. O trabalho foi árduo no intuito de mudar a
representação do Exército brasileiro na sociedade, mesclado a intensificação de leis e
publicidade. O próprio 25º BC sofreu para aumentar efetivos. A propaganda viabilizada
com a guerra, visando aproximar com exortações patrióticas em momentos distintos e
estratégicos procurou convencer o jovem do seu dever patriótico para com a sociedade.
Os intelectuais responsáveis pelos textos publicavam nos periódicos que assumiram
essa parcela de responsabilidade na mobilização militar. Os efeitos não foram
satisfatórios pelo pouco alcance dos periódicos e se deve também muito ao
analfabetismo e a distância estabelecida entre o conflito e a sociedade. A situação
econômica dos jovens postulantes às armas refletiu bastante nos selecionáveis para o
serviço militar.
A persistência com o sorteio, às convocações e ao voluntariado só reforça o
que afirmamos anteriormente. Não conseguindo completar os efetivos, o 25º BC teve
que acatar a medidas emergenciais pensadas pela alta cúpula, entre elas foi a efetivação
do Tiro de Guerra como companhia do Exército. A resistência ao serviço militar existia
ao decorrer de um punhado de fatores que corroboravam para sua imagem na sociedade.
O treinamento viabilizado pelo 25º BC formatou-se para o fortalecimento dos
corpos. As medidas reiteradas e reforçadas pelos regulamentos objetivam fechar o
85

ambiente na forma de uma instituição total. O adestramento físico exigia jovens em


perfeitas condições físicas. O treinamento físico herdado da Missão Militar Francesa
primava pelo projeto de corpo da pátria. A guarnição também deveria preparar bem os
soldados para o combate corpo a corpo e com os fuzis. Nesse fim, esbarraram em alguns
problemas que só comprovaram o quanto o nosso batalhão não estava preparado para a
função que foi conferida a ele pelo comandante da 10ª RM.
O estado de saúde dos praças refletia a sociedade piauiense pela quantidade de
doenças que atacavam silenciosamente. A enfermaria permanecia cheia constantemente.
A questão cresceu a tal ponto que se recorreu aos serviços oferecidos pelo HGV para
tratamento das intempéries. Tais desdobramentos se davam até nos treinamentos: após
as marchas, alguns praças deveriam logo procurar tratamento médico para tratar-se de
problemas decorridos das situações extremas a que foram sujeitos. O mote dos
armamentos de maneira idêntica confirmara-se como problema real porquanto
elucubrava na deficiência de armamentos modernos e munição complicando ainda mais
o adestramento. A fábrica de munição não estava preparada para a demanda de guerra –
quiçá, em momentos de paz –, porque não conseguia suprir as necessidades mais
fundamentais de munição. Armamentos modernos só poderiam ser comprados no
exterior.
O 25º BC passou por grandes problemas com a indisciplina. Os soldados
basicamente estavam em sintonia com os valores da época. A vida noturna espalhou-se
rapidamente no final do século XIX ao início do XX. Com a difusão dos prazeres
sexuais alcançando consequentemente a juventude calhou bastante em acelerar o
processo de afirmação da masculinidade. O sexo desprotegido gerava problemas
médicos graves e concedia espaço para o desenvolvimento de discursos higienistas,
como os pregados pelo Estado Novo de formação do “corpo da pátria”. O consumo de
álcool foi outro mal que assolou e que pesou bastante na disciplina dos corpos.
Moralmente, soldado que vivia embriagado e brigando pelos botecos e bodegas da
cidade, em hipótese alguma poderia ser o “soldado da pátria”. Aos que se destacavam
fisicamente, atendiam aos preceitos. No entanto, os vícios e do outro lado a difusão da
vida noturna e sexual causou problemas graves com indisciplina porque chegou ao
ponto em que o Comandante do 25º BC teve de utilizar da imposição da lei para fazer
cumprir a hierarquia e a moral.
Os piauienses sabiam que uma guerra estava acontecendo. Mas, como
preocupar com algo que não está presente de forma efetiva no cotidiano? Nem na
86

produção a guerra atingia os piauienses. Ela atingia nas festas cívicas e grandes eventos,
mas a forma que os atingia, consequentemente como ela era consumida os punha em via
contrária a ideologia oficial. A vida cotidiana foi modificada pelos reflexos de uma
sociedade que estava passando por processos de mudança gradativas, talvez. Mas,
mudanças que incidiram profundamente na sociedade. Esse estudo não tratou de cobrir
tudo. Afinal, nós historiadores temos contato com uma pequena parte do que aconteceu
no passado. Ainda há muito o que escrever sobre a história militar do Piauí.

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