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O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944):

mito e politica, luto e senso comum


Civitella in Val di Chiana
é uma comuna italiana da região da Toscana, província de Arezzo, com cerca
de 8.612 habitantes. Faz fronteira com Arezzo, Bucine, Laterina, Monte San
Savino, Pergine Valdarno.

As tropas alemãs ocupavam o vilarejo de Civitella e executam no dia 29 de


junho de 1944 115 civis O texto de Portelli trata de relatos de moradores
sobreviventes do massacre do povoado de Civitella, ocorrido conforme a data
supracitada. O relato inicial é: ”Ouvi fortes estampidos, batidas nas portas com
mosquetes e ordens bruscas. De repente nossa porta foi sacudida por violentas
batidas. Fui abri-la e dois alemães entraram na casa com rifles abaixados;
inspecionaram cada cômodo e ordenaram que saíssemos. Em meio a
estampidos de tiros e gritos comecei a andar, deixando o povoado
acompanhada de meus filhos. Deparei-me com um espetáculo chocante!
Muitos homens já eram apenas corpos, banhados no próprio sangue, as casas
ardiam em chamas, mulheres e crianças seminuas saíam das casas
empurradas pelos alemães. Refugiamo–nos na mata, com outras mulheres
cujos maridos, irmãos ou pais haviam sidos mortos” (Ana Cetoloni, viúva
Caledelli)
Conforme o texto, essa retaliação aconteceu devido a morte de três soldados
alemães por membros da Resistência, os partisans no vilarejo de Civitella em
18 de junho de 1944.
O historiador Giovani Contini descreve que esses acontecimentos geraram a
“Memória dividida” Contini identifica, por um lado uma “memorial oficial” (p.
105) que diz que a culpa pelo massacre é dos alemães e os sobreviventes do
massacre dizem que a culpa é da própria resistência. Mesmo a maioria
concordando em culpar os alemães os sobreviventes culpam a Resistência,
pois os alemães “só revidaram”
Na opinião do sobrevivente do massacre e atual pároco de Civitella, Padre
Daniele Tiezzi a Resistência agiu com “extrema irresponsabilidade” e culpa os
partisans de desorganizados, não politizados. Matar os alemães dentro dos
muros do povoado e não removendo os corpos, envolveu toda a população,
piorando a situação.
O Padre Tiezzi enfatiza também “quem puxou o gatilho, foram os alemães”,
sendo assim os atos irresponsáveis dos membros da Resistência, não podem,
de maneira alguma diminuir ou justificar a responsabilidade dos alemães
Para Portelli, essas duas memórias, da Resistência e da população entraram
em choque muitas vezes no passado e até mesmo em choque corporal, pois a
população local entendia as celebrações oficiais da Resistência uma violação
de suas memórias e perdas (uma afronta as vítimas do massacre)
Em 1994, em uma tentativa de reparar a memória da Resistência, foi criada por
acadêmicos com tendências esquerdistas a “Conferencia Internacional In
Memorian: por uma Memória Europeia dos Crimes Nazistas, essa conferência
foi uma tentativa de manter viva a memória menosprezada da cidade.”
Portelli alega que as narrativas deixam qualquer historiador estarrecido.
Contudo, reforça que ao tratar de memória dividida, a tarefa do historiador é ser
crítico na analise dos fatos mantendo o respeito às pessoas envolvidas nas
situações.
Como tentarei demostrar, na verdade, quando falamos numa memória dividida,
não se deve pensar apenas num conflito entre a memória comunitária pura e
espontânea e aquela “oficial” e “ideológica” de forma que, uma vez desmontada
esta ultima, se possa implicitamente assumir a autenticidade não mediada da
primeira. Na verdade estamos lidando com uma multiplicidade de memórias
fragmentadas e internamente divididas, todas, de uma forma ou de outra,
ideológica e culturalmente mediadas.
Dessa forma, a memória sofre alterações tanto pelos relatos dos membros da
Resistência, quanto pelos depoimentos da população que culpa a própria
Resistencia pelo Massacre. Além disso, a emoção constante, a dor e a
dramaticidade prevaleceram sobre a análise e interpretação do ocorrido,
gerando assim, contradições nos depoimentos.
Portelli afirma que, embora Giovanni Contini tenha analisado as contradições
nos depoimentos dos membros da Resistência, ninguém fez o mesmo com os
dos sobreviventes. Isso é necessário de ser feito, se não para questionar sua
credibilidade, ao menos para investigar a estrutura e o significado das
construções narrativas do evento.
“O que todos os civitellini contam é verdade: não se pode contar, não se pode
explicar, não se pode fazer os outros entenderem. Alguém que nunca tenha
passado por uma experiência desse tipo jamais conseguirá sentir o que as
pessoas de Civitella carregam dentro de si” (Valeria Di Piazza)
Portelli afirma que o pensamento religioso, sobretudo o pensamento católico,
também não está isento de tal contradição. As narrativas das testemunhas
estão apoiadas no sentimento comunal que de certa forma são mediados pela
religiosidade e pela política. No entanto, essas narrativas também merecem
apuração crítica.
Pietro Clemente, professor de antropologia cultural da Faculdade de Letras da
Universidade de Florença chama a atenção ao fato que a memória coletiva dos
sobreviventes não só recusavam a considerar-se membros da Resistência,
como também contestavam e acusavam os integrantes de serem responsáveis
pelo massacre. Ele também menciona que alguns órgãos oficiais do Vaticano
já teriam culpado a Resistência, pois em outra ocasião, um outro massacre
nazista em que 335 civis também foram executados na cidade de Roma em
retaliação a morte de 33 soldados alemães.
Para Clemente a historiografia da Resistência falha em nunca ter considerado
o senso comum com a devida seriedade, pois foi isso que manchou a imagem
dos partisans na arena politica atual.
Conforme Portelli, tanto os depoimentos dos sobreviventes do massacre
quanto dos membros da Resistência, sofrem modificações com o tempo.
Nos relatos coletados dos sobreviventes de Civitella logo após o massacre, não
se culpava os membros da Resistência de forma aberta e direta. Após
cinquenta anos, percebe-se que os relatos foram se modificando e podemos
notar que a culpa dos partisans pelo massacre foram tomando proporções
maiores nos relatos coletivos. Ficando explícito o desprezo em relação aos
alemães analisados nos depoimentos dos sobreviventes em 1946 se
transformam em narrativas carregadas de mágoa contra a Resistência em
1994. (p.110)

Percebemos nos relatos que o ponto de partida para o caso foi justamente a
morte dos soldados alemães e não o próprio massacre cometido por eles.
Conforme os sobreviventes do vilarejo, até então todos viviam na calmaria e
que mesmo próximo ao campo de batalha, a população tinha uma vida
tranquila e sem a infelicidade de guerra.
Francesca Cappelletto e Paola Calamandrei explica que as narrativas são
consideradas representações de “paraíso perdido” e “era da inocência”.
Paraíso e inocência para Portelli são representações estranhas para um
povoado sob ocupação nazista, um povoado que passara pelo fascismo e pela
guerra. Todavia, a memória dos sobreviventes de Civitella está repleto de
recordações diríamos “legítima” e calcadas em uma alegria da adolescência
dos depoentes. É o que nota-se na fala abaixo.
“ A oportunidade de satisfazer alguns de nossos desejos surgiu nos primeiros
meses do ano, quando, nas redondezas do povoado, os alemães instalaram
um depósito de combustíveis e outro de munição. Começamos a fazer
incursões a estes lugares e, driblando a vigilância ostensiva dos alemães,
frequentemente conseguíamos surrupiar algumas coisas, o que nos enchia de
entusiasmo” (Alberto Rossi 15 anos na época)
Portelli vai dizer que não há nada de errado nessas brincadeiras de crianças e
que a maioria das recordações de homens e mulheres eram crianças ou
adolescentes na época. O autor discorre que o problema está quando essa
memória infantil é repetida sem mudanças pelo narrador adulto e contribui para
a memória contemporânea, Rossi por exemplo não se lembra que em abril de
1944, por causa de uma dessas brincadeiras, nesse mesmo depósito mataram
um menino de 17 ano, Giulio Cagnacci. Rossi tem o direito de esquecer, nós na
qualidade de historiadores e antropólogos temos o dever de considerar não só
a morte de Giulio como um fato e também a omissão de Rossi como uma
representação.
Para Portelii Civitella era uma cidade elitista, separada da zona rural por muros,
assim não mantinha relações com camponeses. Sua população também não
conhecia as articulações territoriais e as mobilizações de classes. Nota-se que
havia uma antipatia por parte dos moradores da pequena cidade contra os
trabalhadores e camponeses (classe que integrava o corpo da Resistência)
quando estes começaram a andar pela cidade em um contexto pré-guerra.
(p.113)
Portelli afirma que os sobreviventes do massacre, é a esquerda que causa
escândalo, por que insiste em contrariar a ordem natural das coisas, natureza,
desigualdade humana, o mercado. A própria existência da esquerda é uma
invasão, uma interferência que espalha conflito na história (p.14)
Fatos Religiosos também são encontrados nos depoimentos dos sobreviventes
de Civitella e conforme a fala de um sobrevivente do massacre, o Padre Alcide
Lazzerine implora aos alemães que o matem e salvem seu rebanho e é morto
com os demais; um soldado alemão se recusa a atirar contra as vítimas e é
morto por seus companheiros; anos mais tardes; dois alemães, um deles
veterano de Civitella, visitam o povoado e pedem perdão ao pároco, o que lhe
és concedido.
Portelli nos apresenta que “Não há por que questionar a credibilidade desses
episódios para identificar sua dimensão mítica: um mito não é necessariamente
uma história falsa ou inventada; é, isso sim, uma história que se torna
significativa na medida em que amplia o significado de um acontecimento
individual (factual ou não), transformando-o na formalização simbólica e
narrativa das auto-representação partilhadas por uma cultura. Nesse caso,
através das narrativas de sacrifício, compaixão e perdão, a comunidade de
Civitella formatiza sua relação com o evento mais dramático de sua história e
sua própria identidade de comunidade cristã. Foi por isso que o padre teve
autoridade para perdoar em nome de todos, sem consultar ninguém. (p, 121)
A função mais especificamente mítica da história, no entanto, consiste na
função clássica do mito: reconciliar os opostos neste caso, a imagem de
Civitella como uma comunidade cristã e indulgente com a implacabilidade em
relação aos membros da Resistência.
“Como em todas as imagens míticas, esta não tem apenas um significado: um
mito não é uma narrativa unívoca, mas uma matriz de significados, uma trama
de oposições: depende, em ultima análise, de o individual ser ou não percebido
como representativo do todo, ou como uma alternativa para o todo”.
Entendemos a partir das análises de Portelli que a memória não é algo fixo, ela
sofre a ação do tempo, ela se divide, elas se completam como em uma
memória coletiva...o autor nos alerta com essa obra sobre a complexidade da
memória, não é algo simples, ao historiador que trabalha com memória e
necessário ter em mente que a memória como todas as fontes historiográficas
precisa ser problematizada.

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