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Direito Penal
Fabio Roque
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ANALISTA JUDICIARIO DE TRIBUNAIS
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O princípio da anterioridade pode também ser pudor foi revogado e o art. 213 passou a ter a
chamado de princípio da irretroatividade da lei seguinte redação:
penal ou de princípio da retroatividade
benéfica da lei penal. Lembrando que a lei “Constranger alguém, mediante violência ou
penal só retroage para beneficiar o réu. grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique
Importante destacar que, quando falamos em outro ato libidinoso”:
princípio da anterioridade, estamos nos
referindo à lei no sentido material ou formal. Assim, aquilo que era atentado violento ao
Não pode, por exemplo, haver decreto, pudor também se tornou estupro. Então,
resolução, portaria, medidas provisórias, etc., houve abolitio criminis do atentado violento ao
que definam condutas criminosas. Acerca do pudor? Não! Abolitio criminis é quando a
tema, a Constitucional Federal, no art. 62, conduta deixa de ser criminosa. No caso em
prevê, expressamente, que Medida Provisória tela, houve a revogação do tipo penal atentado
não pode tratar de direito penal. violento ao pudor, mas a conduta não deixou
Doutrinariamente há quem entenda que de ser criminosa. Assim, a conduta que outrora
medidas provisórias poderiam ser aplicadas na se chamava atentado violento ao pudor hoje é
esfera penal desde que venha a beneficiar o uma das hipóteses de estupro.
réu (é o posicionamento, por exemplo, de Luiz A abolitio criminis ocorreu, por exemplo, com o
Flávio Gomes), mas trata-se de um adultério, a sedução, o rapto consensual. O
entendimento minoritário.
adultério era crime até 2005. Isso não significa
Ainda sobre o princípio da anterioridade, dizer que o adultério foi legalizado. Ele apenas
cumpre lembrar que no Brasil a lei retroage deixou de ser um ilícito penal, continuando a
para beneficiar o réu a qualquer tempo! ser um ilícito de natureza cível, por exemplo.
Inclusive após o trânsito em julgado de uma Surge, então, a seguinte indagação: qual a
eventual condenação. Exceto quando a pena conseqüência da abolitio criminis? A abolitio
já foi extinta, nesse caso, não há mais de se criminis faz cessar os efeitos penais da
falar em retroatividade da lei benéfica, porque condenação!
não há mais punibilidade.
Atenção: é possível que caia na prova que a
Lembre-se que ocorre a abolitio criminis abolitio criminis faz cessar todos os efeitos da
quando a lei deixa de considerar determinada
condenação. Essa afirmação não está correta!
conduta como criminosa. A abolitio criminis faz cessar os efeitos
Não devemos confundir, contudo, a abolitio PENAIS de uma eventual condenação.
criminis com a revogação de tipo penal. Por Assim, se o sujeito estava sendo investigado
exemplo: até 2009, o art. 213 do Código penal
em inquérito policial por conduta
tinha a seguinte redação para o crime de posteriormente abolida do ordenamento penal,
estupro: “constranger mulher, por violência ou esse inquérito será encerrado. Se ele
grave ameaça, a manter conjunção carnal”. E respondia ação penal, o processo será extinto
o art. 214, que tratava do atentado violento ao (trata-se de hipótese de extinção da
pudor, previa que: “constranger alguém, punibilidade prevista no art. 107 do Código
mediante violência ou grave ameaça, a Penal). Se ele já foi condenado e está
praticar ou permitir que se pratique ato aguardando julgamento de recurso, da mesma
libidinoso diverso da conjunção carnal”. Em forma, haverá extinção desse processo.
2009, o tipo penal do atentado violento ao Contudo, se o sujeito já foi condenado e a
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sentença penal condenatória já tiver transitado crime, tão pouco a teoria da ubiqüidade, vez
em julgado, ou seja, se o processo já estiver que esta, diz respeito ao lugar, não ao tempo.
em fase de execução penal, sobrevindo a
abolitio criminis, a aplicação da lei nova que 2. DO LUGAR DO CRIME
beneficia o réu ficará a cargo do juiz da O art. 6º do Código Penal assim dispõe:
execução. Frise-se que não é o juiz que
sentenciou, e sim, o juiz da execução penal, “Considera-se praticado o crime no lugar em
conforme preleciona o Súmula 611 do STF: que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria
“TRANSITADA EM JULGADO A produzir-se o resultado”.
SENTENÇA CONDENATÓRIA, COMPETE
AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES A APLICAÇÃO Portanto, no que se refere ao lugar do crime, o
DE LEI MAIS BENIGNA”. art. 6º do Código penal não aderiu à teoria da
atividade e nem à teoria do resultado e sim, à
Pensemos na hipótese em que, já na fase de teoria da ubiquidade. Assim, no que se refere
execução, sobreveio a abolitio criminis do ao lugar do crime, é importante ter
adultério. Como visto, a abolitio criminis cessa conhecimento de quando se considera
os efeitos penais. O primeiro dos efeitos penais ocorrido o crime.
é o cumprimento da pena (se o sujeito
estivesse preso, seria posto em liberdade, se A teoria da ubiquidade é aplicada nos crimes à
fosse obrigado a pagar multa, seria extinta distância. Crimes à distância, por sua vez, é
essa exigência etc.). Outro efeito penal da aquele em que a ação é realizada em um país,
abolitio criminis é o de que o sujeito volta a ser e o resultado ocorre em outro.
portador da primariedade, ou seja, se ele
praticasse um novo fato delituoso não seria Os manuais de direito penal costumam
considerado reincidente. exemplificar a teoria da ubiqüidade, no caso de
uma pessoa que mora em Brasília e manda
Os efeitos extrapenais da condenação não uma carta bomba para Buenos Aires. Nesse
cessam! Um dos principais efeitos extrapenais caso, qual o local do crime? O Brasil (onde
da condenação é o de tornar certa a obrigação ocorreu a ação) e a Argentina (onde se
de indenizar a vítima. Esse efeito não cessa, produziu, ou deveria se produzir o resultado).
por ter natureza cível, logo, por ser extrapenal.
Outro exemplo, é quando uma pessoa, no
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO Brasil, ameaça de morte outra pessoa que está
E NO ESPAÇO na Argentina. Do mesmo modo, com base na
teoria da ubiquidade, o lugar do crime será o
a) Teoria da Atividade Brasil (onde ocorreu a ação) e a Argentina
b) Teoria do resultado (onde se produziu o deveria se produzir o
resultado).
c) Teoria da ubiqüidade.
1. DO TEMPO DO CRIME
CONCEITO ANALÍTICO OU
O tempo do crime, no direito penal brasileiro, é EXTRATIFICADO DO CRIME
o tempo da atividade, ou seja, é o tempo da
ação ou omissão. Assim, não se aplica a teoria A doutrina majoritária no Brasil trabalha com
do resultado no que se refere ao tempo do um conceito tripartido, no qual divide o crime
em três elementos, fato típico, antijurídico e
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penal não prevê o crime de furto na agente atira nas costas do seu desafeto.
modalidade culposa. Qualquer que seja o resultado (se a vítima
morrer ou se ficar tetraplégica, por exemplo) o
A.1) DOLO: O código penal divide o dolo em satisfaz.
dolo direto e dolo eventual.
A.2) DA CULPA
Dolo direto
Culpa consiste na inobservância de um dever
Dolo direto de 1º grau objetivo de cuidado. Ou seja, culpa significa
Dolo direto de 2º grau que o sujeito não adotou as cautelas devidas.
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cinto de segurança, etc.) e uma pessoa se atira que, com suas habilidades, esse resultado não
diante do carro com a intenção de suicidar-se. irá se consumar.
Nesse caso, não há de se falar em dolo ou
culpa, porque, de acordo com a conduta do Perceba que há uma linha muito tênue entre a
agente, não é previsível se que se espere um culpa consciente e o dolo eventual. Na culpa
resultado criminoso. consciente o agente acha que poderá evitar o
resultado. Já no dolo eventual o agente é
Assim, se não é possível se vislumbrar o indiferente para com o resultado.
resultado, não há de se falar em dolo ou culpa.
Lembrando, ainda, que dolo e culpa integram A.3) DO CRIME PRETERDOLOSO
a conduta humana, (já que conduta humana é, É a junção do dolo e da culpa: preterdolo
por sua vez, toda ação ou omissão dolosa ou
ocorre quando o agente possui dolo na
culposa), e que, esta, encontra-se dentre os conduta e dano no resultado, ou seja, ele
elementos do fato típico. Dessa forma, a queria praticar a conduta, mas não tinha a
ausência de dolo ou culpa torna o fato atípico. intenção de que sua conduta produzisse
Então, para que haja culpa o resultado deverá determinado resultado. É o caso, por exemplo,
ser previsível. Ser previsível não é a mesma da lesão corporal seguida de morte. O agente
coisa que previsto. não tinha a intenção de matar a vítima, mas
tinha a intenção de praticar a lesão corporal.
Se o fato foi PREVISTO, a culpa é consciente. Outro exemplo é o aborto quando há morte da
Se não foi previsto, a culpa será inconsciente. gestante. Ou a tortura seguida de morte.
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seria: se o agente não tivesse atirado, a vítima Por exemplo: um agente efetuou disparos e a
não estaria na ambulância logo, não sofreria vítima foi levada até o hospital, mas, por conta
com o acidente de trânsito e não morreria. do grande engarrafamento, acaba falecendo
Assim, esse agente responderia penalmente antes de ser socorrido. Nesse caso, não
pelo homicídio consumado. O que não ocorre. podemos afirmar que o agente faleceu por
conta do engarrafamento, ou seja, não é
O art. 13, § 1º do Código Penal, ao tratar da possível se falar em causa relativamente
causa relativamente independente e independente e superveniente. O mesmo
superveniente, adotou a TEORIA raciocínio se aplica no caso de a vítima contrair
CAUSALIDADE ADEQUADA. uma infecção hospitalar, após ser vítima de
Perceba que a regra para a averiguação do disparos. Nesse caso, há um desdobramento
nexo de causalidade é a teoria da condição natural da conduta criminosa, logo, o agente
sine qua non, a exceção é a teoria da responderia por homicídio consumado,
causalidade adequada, esta, só será aplicada aplicando-se, pois a regra da teoria da
nos casos em que houver uma causa condição sine qua non.
relativamente independente e superveniente. INSTITUTOS RELACIONADOS AO ITER
Pela teoria da Causalidade Adequada, só é CRIMINIS
causa aquilo que produziu o resultado “por si Iter Criminis, literalmente, seria o “itinerário do
só”, ou seja, causa é aquilo que, isoladamente, crime”, o caminho produzido pelo crime. Trata-
produziu o resultado. se, pois, das fases do crime.
Dessa forma, o art. 13, § 1º afirma que,
ocorrendo a causa relativamente
independente e superveniente que, por si só O crime passa por até cinco fases. Nem todos
produziu o resultado, o agente responde os crimes vão passar pelas cinco.
apenas pelos atos até então praticados.
1ª FASE: Cogitatio ou, simplesmente,
cogitação – É o planejamento do crime.
Cogitatio não pode ser punida. A simples
“Art. 13 - O resultado, de que depende a vontade de praticar um crime não significa
existência do crime, somente é imputável a praticá-lo.
quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não 2ª FASE: Preparação – Em regra, os atos de
teria ocorrido. preparação também não são punidos. Diga-se
“em regra”, por que há vezes em que os atos
§ 1º - A superveniência de causa relativamente de preparação são tão graves que a lei os
independente exclui a imputação quando, por considera como crimes autônomos. Por
si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, exemplo, adquirir arma de fogo é um ato
entretanto, imputam-se a quem os praticou”. preparatório para um homicídio, mas, se o
Portanto, no exemplo da ambulância, o agente sujeito não tiver porte de arma, ele já praticou
responderia, apenas pelos disparos por ele um crime. A emissão de moedas falsas é um
efetuados, ou seja, pela tentativa de homicídio. crime, mas a utilização de instrumentos para a
falsificação de moeda (o que se classificaria
Importante destacar, contudo, que há como ato preparatório), já é outro crime.
situações em que não se aplica a causa
relativamente independente e superveniente.
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A relativa ineficácia do meio ocorre quando o a) Teoria unitária (adotada pelo Código
meio empregado naquele caso concreto não Penal)
conseguiu consumar o crime, mas poderia ter
b) Teoria diferenciadora (adotada pelo
consumado. É o caso de o agente ter
Código Penal Militar)
ministrado veneno na vítima, contudo a dose
não foi a suficiente para matá-la, nesse caso, a) TEORIA UNITÁRIA: Para esta, toda
não há crime impossível e sim, tentativa. hipótese de estado de necessidade é
justificante, ou seja, é uma excludente de
SÚMULA 145 DO STF: FLAGRANTE
ilicitude.
PREPARADO – ocorre quando o policial
provoca o agente para que este pratique o b) TEORIA DIFERENCIADORA: Esta
crime para poder prendê-lo, o STF entende diferencia o estado de necessidade entre
esse crime seria impossível, por que nesse justificantes e exculpante, ou seja, ela pode
caso, há uma absoluta ineficácia do meio. excluir a ilicitude ou a culpabilidade.
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Na situação de perigo, portanto, não há um ato carro com a porta aberta, basta apenas fechar
de violência humana, poderá ser ato produzido a porta, ou seja, há uma alternativa para
por um animal, por um evento da natureza ou, salvar-se, portanto, se, nessa hipótese, o
até mesmo, uma conduta humana que, agente matar o animal, não incorrerá em
indiretamente, possa vir a afetar a esfera de estado de necessidade.
direitos de outrem, mas não há uma agressão
direta, um ato de violência humana dirigida 4. Direito próprio ou alheio: Caberá
diretamente contra alguém. estado de necessidade de terceiro. Por
exemplo, o agente dispara tiros sobre o cão
Assim, se um cão raivoso avança sobre uma raivoso que avança sobre outra pessoa.
pessoa e esta mata o animal, ela comete um
fato típico (maus tratos aos animais constitui 5. Cujo sacrifício, naquelas
uma infração penal, de acordo com a lei de circunstâncias, não se poderia exigir.
crimes ambientais), mas recairá na excludente No estado de necessidade, basicamente, a
de ilicitude “estado de necessidade”. pessoa sacrifica algum bem jurídico para
Diferentemente, se uma pessoa vier para
salvaguardar outro. Um exemplo clássico
agredir outra e esta ultima a repele, será o ocorre quando, em um naufrágio de navio, e
caso de legítima defesa. tendo apenas uma tábua para salvar-se, uma
pessoa mata a outra.
Importante destacar também, que o perigo Importante destacar que, para que haja
deverá ser ATUAL (cuidado na hora da prova, exclusão da ilicitude o bem jurídico sacrificado
por que, na legitima defesa o Código fala em deverá ser de igual ou menor importância se
“agressão atual ou iminente”). comparado ao bem que se deseja salvar.
2. Que não provocou por sua vontade: Assim, não há estado de necessidade quando
nesse trecho, leia-se: perigo que não provocou o bem jurídico sacrificado é mais importante do
dolosamente! Então, se, por exemplo, no caso que o salvaguardado. Por exemplo, é possível
dos náufragos, o agente provocou o naufrágio haver o sacrifício de uma vida para salvar
da embarcação e, depois, matou outrem para outra, ou de um patrimônio para salvar a vida.
salvar-se, não incorrerá em estado de Contudo, não é possível o sacrifício de uma
necessidade por que, em que pese o perigo vida para se salvar um patrimônio, neste ultimo
ser atual, foi produzido dolosamente pelo caso, não haverá excludente de ilicitude
agente. amparada no estado de necessidade, mas
poderá haver uma hipótese de diminuição de
Contudo, se o perigo foi provocado pena.
culposamente, poderá caber o estado de
necessidade. O § 1º do art. 24 estabelece que “aquele que
tem o dever legal de enfrentar o perigo não
3. Nem podia de outro modo evitar: Ou pode invocar o estado de necessidade”.
seja, o agente não tinha alternativa para
salvar-se. Se havia alternativa, ou seja, em 2) DA LEGITIMA DEFESA
havendo outro meio de se evitar o resultado, Está em legítima defesa quem repele agressão
não há de se falar em estado de necessidade. injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou
Assim, se, por exemplo, um cão raivoso alheio, utilizando-se, moderadamente dos
avança sobre uma pessoa que está dentro do meio necessários.
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1. Repele agressão injusta: Agressão, agressor tentar bater na vítima e esta, a fim de
como já vimos, é um ato de violência humana. repelir a agressão, revida e continua a
Ela deverá ser injusta, assim entendida como agressão quando não há mais necessidade.
aquela agressão que não possui um Excesso intensivo é uma reação que não se
fundamento idôneo para legitimá-la. A legítima estende, ela é imediata, contudo, é muito mais
defesa, por exemplo, é uma agressão justa, gravosa do que o necessário para repelir a
por que há um fundamento jurídico idôneo que agressão. Ocorre, por exemplo, quando uma
a legitima. E é por esse motivo que não cabe, pessoa franzina agride um campeão de vale-
em regra, a legítima defesa da legítima defesa, tudo e este, podendo repelir a agressão
salvo se houver excesso por parte daquele que tranquilamente, se excede e dispara tiros
está repelindo a agressão. contra o agressor.
Importante destacar que, conforme vimos, não 2. Agressão atual ou iminente: Não existe
é cabível a “legítima defesa real da legítima legítima defesa de agressão pretérita. Do
defesa real”. Contudo, é perfeitamente cabível mesmo modo, não existe legítima defesa de
a “legítima defesa real da legítima defesa agressão futura, salvo o futuro iminente.
putativa”. Putare é imaginar, logo, legítima Iminente é o futuro imediato, que está prestes
defesa putativa significa legítima defesa a ocorrer. Na agressão iminente a pessoa não
imaginária. tem tempo de recorrer ao Estado.
Ocorre a legítima defesa putativa naquela Ocorre agressão futura, por exemplo, quando
hipótese em que o sujeito imagina estar em um sujeito liga para a casa do outro o
legítima defesa quando, na verdade, não há ameaçando de morte. Essa ameaça não dá o
agressão. Cite-se, como exemplo, uma pessoa direito de a pessoa matar quem a ameaçou
que dispara tiros em outra achando que esta alegando legítima defesa.
possuía uma arma em mãos, mas na verdade,
a vítima não havia sacado uma arma e sim, 3. Direito próprio ou alheio: Da mesma
sua carteira. Neste caso, a legítima defesa é forma que existe o estado de necessidade
putativa e a vítima poderá repeli-la já que, para próprio ou de terceiro, também existe a
ela, há uma agressão injusta. Esse seria um legítima defesa própria ou de terceiro.
caso de legítima defesa real de uma legítima 4. Moderação e necessidade: Significa o
defesa putativa. emprego dos meio que estão à disposição da
Não devemos confundir o direito de repelir uma vítima da agressão e que sejam suficientes
agressão injusta com o direito de revidar, de para fazer cessar a agressão. Moderação
revanche. O direito que existe é o de apenas significa “a exata medida do repelir”. Uma
se defender. Se a vítima repele a agressão e reação imoderada é aquela que extrapola o
continua a reagir, será hipótese de excesso, que seria suficiente para repelir a agressão. No
não havendo mais de se falar em legítima Brasil, era muito comum, por exemplo, a
defesa, vez que o excesso é punível no Direito “legítima defesa da honra”, em que a pessoa
Penal. Esse excesso, por sua vez, poderá ser: matava a outra por motivo de adultério. Hoje,
tal legítima defesa não se aplica no
a) Doloso ou culposo ordenamento jurídico, por que não há
necessidade e nem moderação.
b) Extensivo ou intensivo: o excesso
extensivo é aquele em que a reação de 3) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER
estende, se protrai. Por exemplo, se um LEGAL
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Logo, quando o sujeito é menor de 18 anos a Perceba que no caso da doença mental o
lei presume que ele não possui aptidão critério não é puramente biológico, ele é
psíquica. Trata-se de uma presunção absoluta biopsíquico.
(já que beneficia o réu), não admitindo,
portanto, prova em sentido contrário. Não há como se dizer, a priori, qual a doença
mental que vai ensejar a inimputabilidade.
Importante destacar que o critério etário da Para saber se o sujeito é inimputável, ou não,
imputabilidade está previsto no Código Penal devemos analisar o caso concreto.
e na Constituição Federal, no art. 228. Assim,
perceba que um projeto de lei não pode reduzir Perceba que a doença mental, por si só, não é
a maior idade penal. Para a doutrina o suficiente para se afirmar que a pessoa é
majoritária uma emenda constitucional poderia inimputável ou não. É necessário, então, que
prever tal redução. De acordo com essa haja a doença mental (critério biológico) e, em
corrente, a diminuição etária da imputabilidade razão dela, tal pessoa não possa entender o
não é inconstitucional por que ela não estaria caráter ilícito do fato ou determinar-se de
abolindo um direito, mas apenas reduzindo-o. acordo com esse entendimento (critério
psíquico). Por isso é fundamental que se faça
uma perícia no caso concreto.
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converter essa pena em medida de segurança quis dizer que são proibidas as sanções penais
se entender que essa conversão é mais de caráter perpétuo, e não apenas as penas
conveniente para o tratamento do semi- (interpretação extensiva). E sanção penal é
imputável. gênero, que possuem como espécies, as
penas e as medidas de segurança. Dessa
Antes da reforma de 1984 vigorava o sistema forma, o STF empregou como limite máximo
do duplo binário. Era um sistema que permitia para o cumprimento da medida de segurança
aplicar, ao semi-imputável, a pena cumulada o prazo de 30 anos, por conta de uma
com a medida de segurança. Nosso sistema aplicação analógica do art. 75 do Código Penal
atual deixou de ser duplo binário e passou a que, por sua vez, afirma que o limite máximo
ser o VICARIANTE. para o cumprimento da pena é de 30 anos.
Pelo sistema Vicariante aplica-se, ao semi-
imputável, a pena OU a medida de segurança!
Não é possível que haja a cumulação. 2. Medida de tratamento ambulatorial:
nesta, o tratamento psiquiátrico não necessita
MEDIDA DE SEGURANÇA de internação.
No Brasil, só se aplica a medida de segurança d) Inimputabilidade por embriaguez
nos casos de inimputabilidade por doença completa e fortuita
mental.
Primeiramente é importante destacar que
O fundamento da medida de segurança é a quando o Código Penal trata da embriaguez,
periculosidade do inimputável. O Estado não ele não se refere apenas à embriaguez
impõe a medida de segurança por reprovação decorrente do álcool e sim, de qualquer
(se não há culpabilidade, não há de se falar em substância que afete a capacidade
“reprovabilidade”), e sim, por inaptidão mental psicomotora do indivíduo.
do indivíduo para o convívio em sociedade.
Doutrinariamente há 05 (cinco) modalidades
Existem dois tipos de medidas de segurança: de embriaguez, quais sejam:
1. Medida de internação: nesta, o sujeito 1) Embriaguez preordenada
fica internado no HCT (Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico). Essa internação 2) Embriaguez voluntária (ou dolosa)
possui um prazo mínimo de 01 a 03 anos.
Portanto, a sentença fixará o prazo mínimo e, 3) Embriaguez involuntária (ou culposa)
passado esse prazo, o sujeito será submetido 4) Embriaguez fortuita
a uma nova perícia, se essa perícia atestar que
cessou a periculosidade do indivíduo, a 5) Embriaguez patológica
medida de segurança será extinta.
Ao falar em embriaguez, é imprescindível que
Perceba que a medida de segurança não se mencione a TEORIA DA AÇÃO LIVRE NA
possui um prazo máximo. A dúvida é, e se a CAUSA (ou teoria da actio libera in causa):
periculosidade do indivíduo não cessar? Em quando falamos em culpabilidade, devemos
que pese a lei não ter previsto o prazo máximo analisar se o agente tinha o livre arbítrio (o
para a medida de segurança, o STF entende doente mental, por exemplo, não possuía livre
que, quando a Constituição fala que “são arbítrio, por isso ele é inimputável), dessa
proibidas as penas de caráter perpétuo” ela forma, o sujeito que está totalmente
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A embriaguez preordenada além de não Importante destacar que é possível que haja
excluir a culpabilidade, agrava a pena é, pois, exclusão da culpabilidade do embriagado
causa agravante!! patológico ainda que este não esteja sobre o
efeito da substância, por que se trata de
2) Embriaguez voluntária (ou dolosa): é aquela hipótese de excludente da imputabilidade em
em que o sujeito quer ingerir a substância, quer razão de doença mental, não em razão da
se embriagar, mas não quer praticar o crime. embriaguez propriamente dita. Cite-se, como
exemplo, um dependente químico que esteja
Nesse caso, também de acordo com a teoria em estado de abstinência e que, para
da ação livre na causa, não haverá a exclusão conseguir a substância, agride o pai.
da culpabilidade por que, o ato de ingerir a
substância e de se embriagar (ou seja, a causa Encerramos o estudo das excludentes da
que deu ensejo ao crime) foi de livre vontade imputabilidade que, como vimos, é um dos
do agente. elementos da culpabilidade. Passaremos
agora para o segundo elemento da
3) Embriaguez culposa: O agente quer ingerir culpabilidade, qual seja, a exigibilidade de
a substância, mas não quer se embriagar e, conduta diversa.
muito menos, cometer o crime.
2. DA EXIGIBILIDADE DE CONDUTA
Também não haverá de se falar em exclusão DIVERSA
da culpabilidade por que a ação do agente
(ingerir a substância) foi livre. De início, importante que se diga que o Código
Penal não empregou a expressão
4) Embriaguez fortuita: É aquela em que o “exigibilidade de conduta diversa”. Contudo, tal
sujeito não quer ingerir a substância. É aquela diploma trouxe duas hipóteses de
hipótese em que alguém coloca drogas na
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sabe (e não poderia saber) é que esta conduta Essa exclusão do dolo e condenação pela
é considerada ilícita pelo ordenamento modalidade culposa, admitida no erro de tipo,
jurídico. é chamada de CULPA IMPRÓPRIA.
O erro de proibição inevitável exclui a potencial O agente, por engano, pratica o crime sobre
consciência da ilicitude. Já o erro de tipo exclui pessoa diversa da qual ele pretendia.
o dolo e permite a condenação pela Assim, o agente mata B acreditando estar
modalidade culposa se houver previsão para matando A. Nesse caso, ele vai responder pela
tanto. Se não houver previsão de modalidade morte de A. É um caso de ficção jurídica. Ele
culposa, não haverá conduta penalmente
responde pela morte de uma pessoa que, na
relevante e o fato será considerado atípico. verdade, está viva.
No exemplo narrado acima, não há previsão Ou seja, no erro sobre a pessoa, o agente
legal de furto na modalidade culposa, logo, o responde de acordo com o seu dolo, com a sua
fato será considerado atípico. vontade.
Mas, se, por exemplo, um sujeito está em uma Cite-se, como exemplo, uma mãe que, sob
caçada, avistou um animal em um arbusto,
influência do estado puerperal, vai ao berçário
dispara tiros e depois descobre que não era
para matar o próprio filho. Ocorre que, ela se
um animal, mas um ser humano esta será uma enganou e matou o filho de outra pessoa. Se
hipótese de erro de tipo, já que o agente tem essa mãe responder pela morte do recém-
consciência de que “matar alguém” é uma nascido, que ela de fato matou, incorrerá em
conduta típica, mas não sabe que está homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos).
praticando esta conduta (é um erro sobre a Mas, como se trata de hipótese de erro sobre
situação fática). Nesse caso, como há previsão a pessoa, ela responderá como se tivesse
legal de homicídio na modalidade culposa, o matado o seu filho, ou seja, como se tivesse
dolo será excluído e essa pessoa responderá cometido infanticídio, cuja pena é de 02 a 06
por homicídio culposo. anos.
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que deseja matar o próprio pai, para ficar com 1.1. Homogêneo: Crimes iguais. Ex.: Dois
a herança, mas se engana e mata o tio. Nesse homicídios
caso ele responde como se tivesse matado o
próprio pai, incorrendo em homicídio por 1.2. Heterogêneo: Crimes distintos. Ex.
motivo torpe. Homicídio e lesão corporal
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O concurso formal também poderá ser Importante destacar, contudo, que poderá ser
homogêneo ou heterogêneo. Será homogêneo aplicado o critério do cúmulo material se este
quando a ação praticada pelo agente for mais benéfico para o réu que cometeu o
ocasionar vários crimes semelhantes (ex.: uma crime formal próprio. Nesse caso, afasta-se o
bomba que mata várias pessoas). O concurso critério da exasperação e aplica-se o critério do
formal heterogêneo ocorre quando o agente cúmulo material.
pratica crimes distintos mediante uma ação
(ex.: o agente aciona uma bomba que mata
pessoas e fere outras). Portanto, para o concurso impróprio aplica-se
O concurso formal também poderá ser dividido sempre o critério do “cúmulo material”. Mas se
em próprio ou impróprio. o concurso é próprio, o critério a ser aplicado
será o do “cúmulo material benéfico”.
a) Concurso formal impróprio: Há
concurso formal impróprio quando existem Em síntese, no concurso formal próprio, a priori
desígnios autônomos. Significa dizer que o será aplicado o critério da exasperação,
agente, desde o início, tinha a intenção de contudo, aplica-se o critério do cúmulo material
praticar mais de um crime com a sua ação. se este for mais benéfico ao réu.
Ocorre, por exemplo, quando uma pessoa
3. CRIME CONTINUADO (ou
aciona explosivos em um carro sabendo, continuidade delitiva)
desde o inicio, as pessoas que estariam nele.
Nesse caso, o indivíduo tinha a intenção de Ocorre quando existem mais de um crime, da
matar as pessoas que estavam naquele carro. mesma espécie, praticados nas mesmas
circunstâncias de tempo, lugar, modo de
Quando o concurso é impróprio serão execução ou outras circunstâncias. Neste
aplicadas as mesmas regras do concurso caso, os crimes subseqüentes são
material, ou seja, haverá cumulação de penas. considerados meras continuações do mesmo
Nesse caso, o agente responderia pelos dois crime. Trata-se de uma ficção jurídica.
crimes, com as penas somadas.
Exemplo: imagine um empregado que comete
b) Concurso formal próprio: não existem pequenos furtos, em pequenos espaços de
desígnios autônomos. O agente não tinha a tempo, na empresa em que trabalha. Nesse
intenção (o dolo) de praticar mais de um crime.
caso, não haverá a soma das penas de furto
O concurso formal será próprio se, por por tratar-se de hipótese de crime continuado.
exemplo, o agente aciona o explosivo no carro
da vítima acreditando que ela estaria sozinha, Conseqüência: aplica-se o critério da
e acaba matando outra pessoa, o que não era exasperação, de modo que será aplicada a
a sua intenção. Ou seja, não havia o dolo de pena do crime mais grave (se forem crimes
praticar dois crimes. diferentes), aumentando-a de 1/6 a 2/3.
Quando o concurso é próprio, em regra, aplica- Contudo, se a regra do cúmulo material for
se o critério da exasperação (e não do cúmulo mais benéfica ao réu, esta será aplicada.
material). De acordo com esse critério, a pena
será somada de 1/6 até 1/2. Portanto, haverá O STJ defende que “as mesmas
a aplicação da pena mais grave e a circunstâncias de lugar” deve ser entendida
exasperação desta, de 1/6 até 1/2. como a mesma municipalidade.
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que A é autor do crime assim como C, mas não delitiva) até o local onde a vítima se encontra,
há concurso entre eles. etc.
Importante destacar que esse vínculo Importante destacar, ainda, que não existe
psicológico deverá ser anterior ou participação culposa em crime doloso. Dolo é
concomitante à conduta criminosa! Ocorre o consciência e vontade, assim, se o autor tiver
vínculo anterior quando os agentes planejam, agido com dolo só haverá partícipe se este
previamente, praticar o crime. Já o crime também tiver agido com dolo. Logo, se A
concomitante ocorre quando alguém adere a vende munição para B e este pratica,
uma conduta criminosa que já se iniciou, por dolosamente, o crime de homicídio, A só será
exemplo, uma pessoa que vê o amigo considerado partícipe se tiver consciência da
espancando alguém e, ao invés de evitar a intenção de B. Mas se A tiver agido com culpa,
conduta criminosa (no caso, a lesão corporal), ou seja, se ele tiver sido imprudente ao vender
passa também a espancar a vítima. Logo, o a arma, mas não tinha consciência da vontade
vínculo subjetivo jamais poderá ser posterior à delitiva de B, ele não poderá responder como
conduta. partícipe no crime de homicídio.
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pelo crime de corrupção ativa. Outro exemplo Para a teoria objetivo-formal, aquele que
ocorre no caso de aborto. A gestante que vai praticou a lesão será o autor e aquele que
até a clínica a fim de fazer o aborto responde praticou o induzimento seria o partícipe. Já
por um tipo de aborto cuja pena é de 1 a 3 para a teoria objetivo-material, os dois seriam
anos, já o médico, que é um terceiro, responde autores, já que, de acordo com esta, não há
por outro tipo de aborto, cuja pena é de 1 a 4 diferença entre autoria e participação. Para a
anos. Outra exceção é o crime de contrabando teoria subjetiva, no entanto, o autor seria
ou descaminho auxiliado por funcionário aquele que tinha o interesse pessoal em
público, neste caso, o particular responde pelo praticar a lesão corporal, (ainda que não tenha
tipo penal contrabando (art. 334 do Código sido ele a praticar o crime), e partícipe seria
Penal) e o funcionário público responde pelo aquele que tinha o interesse alheio na conduta.
crime de facilitação ao contrabando, art. 318.
d) Teoria do domínio do fato (que trabalha
5. Teorias sobre a autoria (Conceitos de autor) com um conceito chamado de “objetivo-
subjetivo): É a teoria consagrada pelo
Analisando quem é o autor, chegamos ao ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com
partícipe já que este pode ser definido como o entendimento do STF. Surgiu com o objetivo
aquele que contribui com o crime sem ser o de suprir algumas deficiências da teoria
autor. objetivo-formal e a principal delas repousa na
a) Teoria objetivo-formal (que trabalha questão do “mandante”.
com um conceito restritivo de autoria): Durante Assim, de acordo com a teoria objetivo-formal,
muito tempo, foi a teoria majoritária no Brasil. se A contrata B para matar alguém, apenas B
Para esta, autor é aquele que realiza o núcleo seria o autor do crime, já que só ele praticou o
do tipo (o verbo do tipo penal). Dessa forma, o verbo do tipo (matar) e A, apesar de ser o
autor do homicídio é aquele que realiza o verbo mandante, responderia penas como partícipe.
“matar”, o autor do furto é quem realiza o verbo
“subtrair”. Nesse caso, partícipe é qualquer um Com o objetivo de suprir essa lacuna, a teoria
que tenha contribuído, de alguma forma, para do domínio do fato propugna a idéia de que
o crime sem realizar o verbo. autor não é apenas aquele que realiza o núcleo
do tipo e sim aquele que tem pleno domínio
b) Teoria objetivo-material (que trabalha sobre o desdobramento causal da conduta
com um conceito extensivo de autoria): Nunca criminosa, ou seja, é aquele que domina “se o
foi acolhida no Brasil. Essa teoria não crime vai ocorrer”, “como vai ocorrer” e
diferencia autores e partícipes. Assim, “quando vai ocorrer”.
qualquer pessoa que tenha colaborado para o
crime seria autor. 6. Teorias da Acessoriedade (são as teorias
acerca da punibilidade do partícipe):
c) Teoria Subjetiva: Também nunca foi
adota no Brasil. Para esta, autor é aquele que a) Teoria da acessoriedade Mínima: Para
quer o crime como próprio e partícipe é aquele esta, o partícipe será punido se o autor praticar
que quer o crime como alheio. “Querer o crime um fato típico.
como próprio” é ter o interesse pessoal na
conduta criminosa. b) Teoria da acessoriedade limitada: O
partícipe será punido se o autor praticar um
Dessa forma, imaginemos a hipótese de uma fato típico e ilícito. Essa é a doutrina adotada
pessoa que deseja se vingar da outra e para no Brasil. Assim, o partícipe não responde pelo
isso, induz alguém a praticar lesão corporal. crime se o autor praticar um fato típico, mas
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amparado por uma das excludentes de responder pelo crime menos grave, mas
ilicitude. Contudo, o partícipe responde de haverá um aumento de pena de, até, a metade.
acordo com a sua culpabilidade e não com a
culpabilidade do autor. Assim, se, por 8. Comunicabilidade das condições pessoais
exemplo, A instiga B a matar alguém, A do agente
responderá como partícipe do crime ainda que Reza o art. 30 do nosso Código Penal, que as
o autor seja menor de idade. Ou seja, nesse condições pessoais de um agente não se
caso, o autor cometerá um fato típico, ilícito, comunicam ao outro (ao co-autor ou partícipe)
mas não-culpável (já que menoridade é uma salvo se forem elementares do crime.
das hipóteses de excludente da Condição pessoal é aquela que diz respeito ao
imputabilidade), e A responderá como criminoso, e não ao crime.
partícipe no crime de homicídio.
Portanto, a condição pessoal de um dos
c) Teoria da acessoriedade máxima: o agentes não se comunica ao outro, salvo se for
partícipe será punido se o autor praticar um uma condição elementar do crime. Elementar,
fato típico, ilícito e se tiver culpabilidade
por sua vez, é aquilo que integra o tipo penal
d) Teoria da hiperacessoriedade: Só há como parte essencial, ou seja, elementar é
punição do partícipe de o autor praticar um fato aquilo que, se retirado, o tipo penal não
típico, ilícito, culpável e punível. sobrevive.
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motivo fútil e, ao mesmo tempo, de relevante armados que praticam crime a pretexto de
valor social. garantir a segurança dos indivíduos.
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a vítima seja menor ou estiver em situação de em aborto, vez que antes da dilatação do colo
vulnerabilidade, essa pena será duplicada. do útero a vida é intra-uterina.
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Importante salientar que, para se falar em autor da brincadeira poderá até responder na
calúnia, a imputação deverá ser de um fato esfera cível, mas não responderá penalmente
definido como crime, ou seja, não há calúnia já que, tal animus afasta o dolo nos crimes
se, por exemplo, uma pessoa imputar à outra contra a honra excluindo-se, assim, a sua
um fato definido como contravenção. aplicabilidade.
Portanto, afirmar, falsamente, que um Outra hipótese que exclui o dolo nos crimes
funcionário público está envolvido em práticas contra a honra é o animus narrandi (intenção
de jogos de azar, não constitui calúnia, mas de narrar um fato). É um argumento muito
difamação (já que a prática desses jogos não invocado pelos jornalistas.
se qualifica como crime e sim como
contravenção). Neste caso, não é possível se Em síntese, o animus jocandi e o animus
falar em analogia, já que a pena da calúnia é narrandi excluem a aplicabilidade dos crimes
maior do que a pena da difamação e no Direito contra a honra.
Penal, não é cabível a analogia em malam Cabe a calúnia contra pessoa jurídica? É
partem.
importante lembrarmos, primeiramente, que o
Não existem crimes contra a honra praticados único crime que a pessoa jurídica pode
na modalidade culposa. praticar, no Brasil, é o crime ambiental.
Portanto, só caberá calúnia contra pessoa
Portanto, para haver a calúnia faz-se jurídica quando alguém imputa falsamente fato
necessário que o agente tenha consciência da definido como crime ambiental.
falsidade de sua imputação criminosa, ou seja,
ele sabe que o que ele está dizendo é mentira. Na calúnia é possível que haja a exceção da
Dessa forma, se ele acredita na veracidade de verdade (exceptio veritatis). Por exemplo, se A
sua afirmação, não será hipótese de calúnia, afirma que B praticou o crime de peculato e
por que não há dolo. Nesse caso, a vítima este o processa por calúnia, A (agora réu)
poderá processar esse agente na esfera cível, poderá se defender provando que estava
mas não será cabível nenhuma imputação falando a verdade.
penal. Não será cabível a exceção da verdade
O dolo dessas condutas é também chamado quando o agente imputa fato criminoso a
de animus: Presidente da República ou a chefe de
governo estrangeiro. Ou quando a vítima já foi
1. Animus caluniandi absolvida pelo fato que lhe foi imputado.
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Neste, o agente imputa a outrem um fato que 2 INJÚRIA REAL: É aquela praticada
não é definido como crime. Portanto, caberá mediante lesão corporal ou “vias de fato”. A
difamação se o fato imputado for uma injúria real é aquela que pressupõe uma
contravenção penal (prática de jogos de azar, agressão física, ou seja, na injúria real um
por exemplo), ou fatos que não sejam sujeito bate no outro para humilhá-lo.
condutas típicas, por exemplo, dizer que uma
pessoa pratica atos de prostituição, por O que diferencia a injúria real da lesão corporal
exemplo, que não é conduta típica. é o dolo. Se o agente agrediu o outro com a
intenção de humilhá-lo, será uma hipótese de
Não cabe, em regra, a exceção da verdade. Ou injúria real. Neste caso, esse agente responde
seja, na difamação o agente responde pelo pela injúria sem prejuízo de responder,
crime ainda que o fato por ele imputado seja também, pela lesão corporal.
verdadeiro.
3. INJÚRIA QUALIFICADA: É
Portanto, calúnia pressupõe que o ato seja chamada, doutrinariamente, de injúria
falso, a difamação não, ou seja, ainda que o preconceituosa. É aquela ofensa à honra em
fato imputado seja verdadeiro, se houver a que se faz menção à raça, cor, etnia, origem,
intenção de ofender a honra da vítima, incidirá religião ou condição de pessoa portadora de
o crime de difamação. É por isso que, em deficiência ou de idade superior a 60 anos.
regra, cabe exceção da verdade na calúnia, e
não cabe exceção da verdade na difamação. No que concerne ofensa causada pela raça,
parte da doutrina a denomina, também, de
Contudo, caberá exceção da verdade na injúria racial.
difamação se o ato imputado disser respeito a
funcionário público no exercício das suas Existe diferença entre injúria racial e racismo.
funções eu em razão delas. Assim, se, por Na injúria racial existe a ofensa à honra por
exemplo, o agente afirmar que determinado intermédia de alusão à raça. Já no racismo, o
funcionário público está praticando ato de agente impede a prática de algum direito da
prostituição durante o horário de expediente, vítima em razão da raça. Racismo, é não
este agente poderá invocar exceção da contratar pessoa por ser de determinada raça,
verdade. é não permitir que ela estude em determinada
instituição de ensino, etc. Tal diferenciação é
3) INJÚRIA de fundamental importância haja vista que, o
racismo é crime imprescritível e inafiançável, a
É um crime contra a honra subjetiva. injúria racial, não.
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Injúria simples é aquela que não se enquadra devendo ingressar com uma queixa crime, por
nem na injúria real e nem na injúria qualificada. intermédio de advogado com poderes
específicos para ingressar no feito.
Existem duas hipóteses de perdão judicial na
injúria simples: Contudo, os crimes contra a honra serão de
ação penal pública condicionada à requisição
1) Na hipótese em que a vítima provocou do Ministro da Justiça quando for praticado
a injúria de forma reprovável contra o Presidente da República ou chefe de
2) Revide imediato: quando a vítima governo estrangeiro.
responde, de forma imediata, ofensa a honra Os crimes contra a honra serão de ação penal
proferida primeiramente contra ele. pública condicionada à representação do
É importante deixar claro, para finalizar, que os ofendido quando for o caso de injúria
crimes contra a honra são de menor potencial qualificada. Portanto, a injuria qualificada é
ofensivo. A calúnia tem pena de 06 meses a 2 crime de ação penal pública condicionada à
anos; A difamação de 03 meses a 1 ano; a representação do ofendido!
injúria simples de 1 a 06 meses. Lembrando A Súmula 714 do STF afirma que, se o crime é
que infração de menor potencial ofensivo são contra a honra do funcionário público em razão
as contravenções penais e os crimes com das suas funções, ele poderá ser de ação
pena máxima de até 02 anos. penal privada ou poderá ser de ação penal
Contudo, o único crime contra a honra que não pública condicionada à representação do
é de menor potencial ofensivo é a injúria ofendido.
qualificada, cuja pena é de 1 a 3 anos. SÚMULA 714, STF: “É CONCORRENTE A
Essas penas podem ser majoradas: LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE
QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO,
1) Quando o crime é praticado contra o CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO
Presidente da República ou chefe de governo OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR
estrangeiro. CRIME CONTRA A HONRA DE SERVIDOR
PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE
2) Quando praticado contra funcionário SUAS FUNÇÕES”.
público em razão de suas funções.
Encerramos aqui os crimes contra a honra e,
ainda dentro de crimes contra a pessoa,
iniciaremos os estudos dos crimes contra a
3) Quando praticado por meio que facilite
liberdade individual.
a divulgação.
CRIMES CONTRA A LIBERDADE
4) Contra pessoa maior de 60 anos ou
INDIVIDUAL
portador de deficiência, desde que o crime não
seja a injúria qualificada. São 04 os crimes contra a liberdade individual:
AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A 1) CONSTRANGIMENTO ILEGAL (art.
HONRA 146)
Os crimes contra a honra, em regra, são de 2) AMEAÇA (art. 147)
ação penal de iniciativa privada, ou seja, o
próprio ofendido é o titular da ação penal,
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O crime de ameaça poderá ser praticado Importa mencionar que é cabível habeas
verbalmente, por escrito ou gestualmente. corpus contra ato de particular. Então se, por
exemplo, um hospital proíbe uma pessoa de
Se praticada verbalmente será um crime sair enquanto esta não pagar a conta, haverá
unissubsistente não admitindo, portanto, a o crime de seqüestro e cárcere privado
tentativa. praticado pelo responsável por essa
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autorização (o responsável não poderá ser o não haveria de se falar em bis in idem por que
hospital já que pessoa jurídica só comete crime são dois atos diferentes.
de natureza ambiental), nesse caso, será
cabível a impetração de habeas corpus. O § 2º do mesmo diploma legal (art. 148),
haverá uma outra hipótese de majoração de
Qual a diferença entre seqüestro e cárcere pena, no caso de o seqüestro ou cárcere
privado? No Código Penal, seqüestro e privado resultar em grave sofrimento físico ou
cárcere privado comportam um tipo só. moral à vítima. Nesse caso, a pena será de 02
Contudo, há alguns doutrinadores que a 8 anos.
defendem a idéia de que, no cárcere privado o
cerceamento da liberdade ocorre de forma Lembrando que se houver exigência de
mais restrita. Com base nesse raciocínio, resgate, não será hipótese de crime contra a
trancar uma pessoa dentro de sua casa é uma liberdade individual e sim, de crime
hipótese de seqüestro, mas trancafiá-la dentro patrimonial, mais precisamente o da extorsão
de um armário, é caso de cárcere privado. mediante seqüestro, prevista no art. 159.
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Com base nesse raciocínio, o agente poderá sentido ou função; quando há o aborto, o
submeter o indivíduo a trabalhos forças E perigo de vida, a debilidade permanente.
sujeitá-lo a condições degradantes e, ainda
assim, responderá por apenas um tipo penal. A lesão corporal admite a modalidade culposa.
Pena: Reclusão de 02 a 08 anos e multa, além A lesão leve (se não cometida no âmbito
da pena correspondente à violência. residencial ou domiciliar) e a culposa são
infrações de menor potencial ofensivo.
O § 1º trata da figura equiparada à condição
análoga a de escravo, quais sejam: LESÃO CORPORAL
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a.2) Sujeito passivo indireto: Para todo e 2. A coisa alheia não é “coisa de ninguém” (res
qualquer crime, o sujeito passivo indireto nullius): então, coisa que não tem dono não
sempre é o Estado. poderá ser objeto material de crime de furto.
Coisa alheia: Para a configuração do crime de Já o furto de coisa de pequeno valor não
furto, o objeto subtraído deverá ser alheio, enseja, por si só, uma hipótese de
logo: privilegiadora do crime, para que isso ocorra,
faz-se necessário, ainda, que o réu seja
1. A coisa alheia exclui a idéia de coisa própria, primário, se estiverem presentes,
ou seja, não é possível o crime de furto de cumulativamente, esses dois requisitos, 03
coisa própria, ainda que seja o possuidor que consequências poderão ocorrer, quais sejam:
venha a subtrair. Então, se, por exemplo, uma
pessoa alugar um carro, ela será legítima 1) O juiz poderá diminuir a pena
possuidora desse veículo, ocorre que, o 2) Substituir a reclusão pela detenção
proprietário poderá pegá-lo de volta, ainda que
sem o consentimento do possuidor, e esse ato 3) Aplicar, apenas, a pena de multa.
não configuraria crime de furto.
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casa, acreditando que ela estava vazia e, não tinha potencialidade lesiva, não incidirá a
quando estava saindo com os bens, o dono da causa de aumento.
casa chega e esse agente o agride a fim de
assegurar o êxito de sua subtração. 2ª Roubo praticado em concurso de
pessoas.
Antigamente, se entendia que havia
consumação do crime de roubo com a posse 3ª Roubo praticado mediante a
pacífica do bem, ou seja, quando o agente restrição da liberdade. Ex.: praticar o roubo e
puder usar, gozar ou dispor da coisa deixar a vítima amarrada. Importante destacar
livremente. Dessa forma, entendia-se que a que aquilo que a imprensa chama de
coisa subtraída (também chamada de res “seqüestro relâmpago” não é roubo e sim é
furtiva) teria que sair da esfera de vigilância da hipótese de extorsão.
vítima. 4ª Roubo praticado contra pessoa que
Hoje em dia, contudo, a jurisprudência do STJ está em serviço de transporte de valores,
trabalha com a teoria da apreensão (ou desde que o criminoso saiba disso
apreensio). A teoria da apreensão dispensa a 5ª Roubo de veiculo automotor
posse pacífica do bem! Logo, a coisa subtraída destinado a outro estado ou outro país.
não precisa sair da esfera de vigilância da
vítima, basta que ela saia da esfera de O §3º do art. 157, são hipóteses em que as
disponibilidade dela. Dessa forma, o agente penas mínimas e máximas do crime de roubo
que saca uma arma e subtrai a carteira da são majoradas, são, portanto, casos de
vítima, a roubou, ainda que essa vítima qualificadora da pena. Essa hipótese de
consiga que os policiais o prendam. majoração ocorre quando, do emprego da
violência, ocorre a lesão corporal grave ou a
A violência ou grave ameaça, por si só, morte da vítima.
descaracteriza o princípio da insignificância,
ainda que a coisa subtraída seja de valor Lembrando que o roubo seguido de morte é
ínfimo. Portanto, se um agente saca uma arma chamado de latrocínio! Ocorre que a
para roubar dez centavos, por exemplo, não expressão “latrocínio” não está prevista no
haverá a aplicação do princípio da Código Penal, apesar de ser empregada pela
insignificância. doutrina, jurisprudência e por outras leis
extravagantes, a exemplo da leis de crimes
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (§ 2º): hediondos.
Aumenta-se a pena do roubo (que é de
reclusão de 04 a 10 anos), (hipóteses O latrocínio é um crime hediondo!
chamadas pela jurisprudência de roubo
circunstanciado): SUMÚLA 603, STF: Afirma que o crime de
latrocínio é de competência do juiz singular, e
1ª Roubo praticado mediante o não do tribunal do júri.
emprego de arma. Arma de brinquedo não
enseja causa de aumento! Crimes que vão à júri são os dolosos contra a
vida, o latrocínio é, na verdade, crime contra o
Em relação à arma, o STJ tem uma patrimônio.
jurisprudência no seguinte sentido: 1) Não é
preciso que haja um laudo pericial para se SÚMULA 610, STF: Consumado o homicídio e
aferir a potencialidade lesiva da arma, mas se ainda que não consumada a subtração dos
houver um laudo pericial que diga que arma bens, o latrocínio será tentado, e não tentado.
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Tanto o roubo quanto o latrocínio serão crimes o agente não tem como obter a vantagem
pluriofensivos e complexos! econômica indevida se a vítima não sacar a
quantia por ele exigida.
1) Crime pluriofensivo: é aquele que tutela
mais de um bem jurídico, ou seja, é aquele que Extorsão qualificada (art. 158, § 3º):
se consuma mediante a ofensa a mais de um
bem jurídico. É a hipótese vulgarmente chamada de
seqüestro relâmpago. Ocorre quando o
2) Crime complexo: é aquele que resulta criminoso pega a vítima e a leva para sacar o
mais de um crime, mais de um tipo penal. O dinheiro contido na sua conta. É uma hipótese
roubo, por exemplo, é um furto (subtrair para si de extorsão por que, nesse caso, esse agente
ou para outrem coisa alheia móvel), somado a precisa da conduta da vítima para obter a
uma lesão corporal (mediante violência) ou vantagem patrimonial que ele deseja.
crime de ameaça (ou grave ameaça) ou
constrangimento ilegal (após haver reduzido a A extorsão é de natureza qualificada por mera
vítima à condição que impossibilite a deliberação do legislador que, em 2009
resistência). modificou a redação do § 3º do art. 158,
elevando a pena para de 06 a 12 anos.
4. EXTORSÃO (ART. 158, CP)
5. EXTORSÃO MEDIANTE
Extorsão é constranger alguém, mediante SEQUESTRO (art. 159, CP)
violência ou grave ameaça e com o intuito de
obter uma vantagem econômica indevida, a
fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça Nesse caso, há um cerceamento da liberdade
alguma coisa. A pena, nessa hipótese será de ambulatorial da vítima (sequestro) para a
04 a 10 anos. obtenção de vantagem econômica indevida, se
É um crime formal, ou seja, a extorsão se tratando, pois, de um crime patrimonial. Assim,
consuma independente da produção do ocorre o crime de extorsão mediante seqüestro
resultado naturalístico. Ou seja, é um crime quando o agente cerceia a liberdade da vítima
que se consuma ainda que o agente não e exige o pagamento de quantia para a sua
obtenha a vantagem patrimonial indevida. liberação.
Portanto, a obtenção da vantagem indevida se É um crime hediondo! É, inclusive, um dos
dará após a consumação e será mero poucos crimes em que há previsão de delação
exaurimento. premiada.
A grande diferença entre a extorsão e o roubo Delação premiada é uma hipótese de
é que, no roubo, a conduta da vítima é diminuição de pena para o delator. Não
dispensável, ou seja, o agente não precisa da confunda delação premiada com confissão
conduta da vítima para obter a vantagem ilícita. espontânea! Esta ultima é válida para todo e
Já na extorsão, o agente precisa do qualquer crime e ocorre quando o agente
comportamento da vítima para obter a confessa fato típico cometido por ele, na
vantagem indevida. delação premiada esse agente não apenas
Exemplo de extorsão: Uma pessoa se dirige à confessa o crime que ele praticou como ele
vítima, que está em um caixa eletrônico, e delata os comparsas. Além disso, a confissão
exige que ela saque todo o seu dinheiro, espontânea é mera atenuante, já a delação
ameaçando-a de morte. Veja que, nesse caso, premiada é uma causa de diminuição de pena.
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Direito Penal
Fabio Roque
Outra diferença muito importante é que a Para a doutrina essa é uma hipótese do
delação premiada só é válida se for eficaz! Ou chamado crime de conduta mista, que é aquela
seja, só haverá a delação premiada se esta for espécie de crime em que o agente pratica uma
eficaz para a descoberta do crime. A confissão ação e uma omissão. No caso em questão, o
espontânea, por sua vez, irá atenuar a pena responsável tributário pratica a ação de
ainda que o fato confessado já esteja descontar o valor da contribuição
comprovado no processo, ou seja, a pena será previdenciária, e a omissão de não repassar
diminuída ainda que o agente confesse fato já esse valor aos cofres públicos. Contudo, a
sabido por todos. jurisprudência do STF e do STJ, esse é um
crime omissivo próprio!!!
6. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (art. 168,
CP) De acordo com a jurisprudência, no crime de
apropriação indébita previdenciária não se
Ocorre quando o criminoso tem a posse ou a exige o animus rem sibi habendi.
detenção legítima da coisa. Ou seja, não é
possível a ocorrência da apropriação indébita O § 3º do art. 168-A, trata de hipóteses que
quando o sujeito tiver empregado meios podem beneficiar o réu; nessas casos, o juiz
fraudulentos para a obtenção da posse. poderá deixar de aplicar a pena (perdão
judicial) ou aplicar apenas a pena de multa:
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O STF entende que, para quem pratica fraude, 3) Estelionato mediante falsificação de cheque
- Neste caso, o correntista é vítima do crime. O
mas não recebe o benefício, o crime é
instantâneo. Ex. funcionário do INSS q recebe foro competente para processar e julgar o
quantia para falsificar a documentação de uma crime de falsificação de cheque, é o do local
pessoa a fim de que esta receba o benefício. onde houve a obtenção da prova ilícita,
Para esse funcionário o crime é instantâneo. conforme prescreve a súmula 48, do STJ:
Mas, para quem faz a fraude e recebe o Súmula 48, STJ: “compete ao juízo do local da
benefício previdenciário todos os meses o obtenção da vantagem ilícita processar e julgar
crime é permanente!! Dessa forma, enquanto crime de estelionato cometido mediante
esse agente estiver recebendo o benefício, ele falsificação de cheque”
permanece na pretensão e criminosa e a
prescrição nem começa a correr, esta, só OUTROS ENTENDIMENTOS SUMULADOS
começará a correr no momento em que cessar ACERCA DO ESTELIONATO
a permanência!
Súmula 73, STJ: “A utilização de papel moeda
2) Emissão dolosa de cheque sem fundo – grosseiramente falsificado, configura, em tese,
Nesta hipótese, o estelionatário é o titular da o crime de estelionato, da competência da
conta. Para o STF, o pagamento do cheque até justiça estadual” – O crime de moeda falsa é
o recebimento da denúncia extingue a incompatível com o “falso grosseiro”, ou seja,
punibilidade! quando a falsificação for grosseira, não haverá
de se falar em crime de moeda falsa (cuja
Súmula 244, STJ: “compete ao foro do local da competência é da Justiça Federal) e passará a
recusa processar e julgar o crime de ser, em regra, o crime de estelionato, que é de
estelionato mediante cheque sem provisão de competência da justiça estadual.
fundos”
Súmula 17, STJ: Quando o falso se exaure no
Súmula 521, STF: “O foro competente para o estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
processo e o julgamento dos crimes de por este absorvido”.
estelionato, sob a modalidade de emissão
dolosa de cheques sem fundos, é o do local
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