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ANALISTA JUDICIARIO DE TRIBUNAIS

Direito Penal
Fabio Roque

DIREITO PENAL Por exemplo, nos crimes patrimoniais sem


violência ou grave ameaça praticados entre
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE cônjuges na constância do casamento e se a
Trata-se do primeiro artigo do Código Penal vítima não tiver idade superior a 60 anos,
que assim estabelece: “não há crime sem lei haverá a chamada escusa absolutória, ou seja,
anterior que o defina. Não há pena sem prévia é crime, mas não há a respectiva pena. Neste
cominação legal.” caso, a união estável é perfeitamente aplicável
a tal instituto, haja vista trata-se, aqui, de uma
Encontra-se, também, inserto no art. 5º, analogia in bonam partem, já que o réu será
XXXIX, da Constituição Federal brasileira, o beneficiado.
que significa dizer que, tal princípio, estando
Em contrapartida, uma pessoa casada que,
no rol dos direitos e garantias fundamentais, é
acobertado pelo rol das cláusulas pétreas, nos sem desconstituir o primeiro vínculo conjugal,
termos do art. 60, §4º, IV, da respectiva Carta. torna a se casar, comete o crime de bigamia.
Mas se o sujeito é casado e, sem desfazer
A legalidade é um princípio que exige uma lei esse primeiro vínculo matrimonial, passa a
escrita, certa e anterior, nos termos em que viver em união estável com uma segunda
seguem: pessoa, também praticará a bigamia? Não. Por
que, neste caso, a comparação da união
1º LEI ESCRITA: Significa dizer que os estável ao casamento seria prejudicial ao réu
costumes não podem definir a conduta (analogia em malam partem).
criminosa e estabelecer uma respectiva
sanção penal. Tal entendimento, porém, não 2º LEI CERTA: Também chamado de princípio
retira a característica dos costumes como da taxatividade, princípio da certeza ou, ainda,
fonte do direito. O que não é possível é os princípio do mandado de certeza.
costumes sejam fontes de incriminação penal.
O papel dos costumes, enquanto fonte do De acordo com esse princípio a lei penal não
direito, é o de influir na interpretação da poderá ter incriminações vagas, imprecisas.
Não é possível que haja lei, por exemplo, que
legislação penal.
estabeleça como crime “violar a ordem pública
A analogia não pode definir conduta criminosa e os bons costumes”. O que seria a ordem
e cominar respectiva sanção penal. pública? Tratar-se-ia de uma incriminação
vaga, sujeita à livre discricionariedade do
Válido ressaltar que a analogia é perfeitamente julgador.
aplicável na órbita penal, desde que seja
benéfica ao réu. É o que a doutrina denomina 4º LEI ANTERIOR: Princípio da anterioridade
de analogia in bonam partem. Não cabe, é uma decorrência direta da legalidade.
assim, uma analogia em malam partem, ou Legalidade sem anterioridade não faz sentido.
seja, não será cabível uma interpretação Isso porque, a idéia da anterioridade é a de
analógica que venha a prejudicar o réu. limitar o poder de punir do Estado e dar a
certeza ao cidadão de que ele não será punido
Exemplificando: no direito penal, a união senão por uma circunstância previamente
estável se equipara ao casamento? Depende. estabelecida em lei. Portanto, a lei,
Serão aplicados os institutos do casamento à necessariamente, deverá ser anterior, ou seja,
união estável se esta analogia vier a beneficiar ela não poderá retroagir para incriminar um
o réu. fato passado.

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O princípio da anterioridade pode também ser pudor foi revogado e o art. 213 passou a ter a
chamado de princípio da irretroatividade da lei seguinte redação:
penal ou de princípio da retroatividade
benéfica da lei penal. Lembrando que a lei “Constranger alguém, mediante violência ou
penal só retroage para beneficiar o réu. grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique
Importante destacar que, quando falamos em outro ato libidinoso”:
princípio da anterioridade, estamos nos
referindo à lei no sentido material ou formal. Assim, aquilo que era atentado violento ao
Não pode, por exemplo, haver decreto, pudor também se tornou estupro. Então,
resolução, portaria, medidas provisórias, etc., houve abolitio criminis do atentado violento ao
que definam condutas criminosas. Acerca do pudor? Não! Abolitio criminis é quando a
tema, a Constitucional Federal, no art. 62, conduta deixa de ser criminosa. No caso em
prevê, expressamente, que Medida Provisória tela, houve a revogação do tipo penal atentado
não pode tratar de direito penal. violento ao pudor, mas a conduta não deixou
Doutrinariamente há quem entenda que de ser criminosa. Assim, a conduta que outrora
medidas provisórias poderiam ser aplicadas na se chamava atentado violento ao pudor hoje é
esfera penal desde que venha a beneficiar o uma das hipóteses de estupro.
réu (é o posicionamento, por exemplo, de Luiz A abolitio criminis ocorreu, por exemplo, com o
Flávio Gomes), mas trata-se de um adultério, a sedução, o rapto consensual. O
entendimento minoritário.
adultério era crime até 2005. Isso não significa
Ainda sobre o princípio da anterioridade, dizer que o adultério foi legalizado. Ele apenas
cumpre lembrar que no Brasil a lei retroage deixou de ser um ilícito penal, continuando a
para beneficiar o réu a qualquer tempo! ser um ilícito de natureza cível, por exemplo.
Inclusive após o trânsito em julgado de uma Surge, então, a seguinte indagação: qual a
eventual condenação. Exceto quando a pena conseqüência da abolitio criminis? A abolitio
já foi extinta, nesse caso, não há mais de se criminis faz cessar os efeitos penais da
falar em retroatividade da lei benéfica, porque condenação!
não há mais punibilidade.
Atenção: é possível que caia na prova que a
Lembre-se que ocorre a abolitio criminis abolitio criminis faz cessar todos os efeitos da
quando a lei deixa de considerar determinada
condenação. Essa afirmação não está correta!
conduta como criminosa. A abolitio criminis faz cessar os efeitos
Não devemos confundir, contudo, a abolitio PENAIS de uma eventual condenação.
criminis com a revogação de tipo penal. Por Assim, se o sujeito estava sendo investigado
exemplo: até 2009, o art. 213 do Código penal
em inquérito policial por conduta
tinha a seguinte redação para o crime de posteriormente abolida do ordenamento penal,
estupro: “constranger mulher, por violência ou esse inquérito será encerrado. Se ele
grave ameaça, a manter conjunção carnal”. E respondia ação penal, o processo será extinto
o art. 214, que tratava do atentado violento ao (trata-se de hipótese de extinção da
pudor, previa que: “constranger alguém, punibilidade prevista no art. 107 do Código
mediante violência ou grave ameaça, a Penal). Se ele já foi condenado e está
praticar ou permitir que se pratique ato aguardando julgamento de recurso, da mesma
libidinoso diverso da conjunção carnal”. Em forma, haverá extinção desse processo.
2009, o tipo penal do atentado violento ao Contudo, se o sujeito já foi condenado e a

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sentença penal condenatória já tiver transitado crime, tão pouco a teoria da ubiqüidade, vez
em julgado, ou seja, se o processo já estiver que esta, diz respeito ao lugar, não ao tempo.
em fase de execução penal, sobrevindo a
abolitio criminis, a aplicação da lei nova que 2. DO LUGAR DO CRIME
beneficia o réu ficará a cargo do juiz da O art. 6º do Código Penal assim dispõe:
execução. Frise-se que não é o juiz que
sentenciou, e sim, o juiz da execução penal, “Considera-se praticado o crime no lugar em
conforme preleciona o Súmula 611 do STF: que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria
“TRANSITADA EM JULGADO A produzir-se o resultado”.
SENTENÇA CONDENATÓRIA, COMPETE
AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES A APLICAÇÃO Portanto, no que se refere ao lugar do crime, o
DE LEI MAIS BENIGNA”. art. 6º do Código penal não aderiu à teoria da
atividade e nem à teoria do resultado e sim, à
Pensemos na hipótese em que, já na fase de teoria da ubiquidade. Assim, no que se refere
execução, sobreveio a abolitio criminis do ao lugar do crime, é importante ter
adultério. Como visto, a abolitio criminis cessa conhecimento de quando se considera
os efeitos penais. O primeiro dos efeitos penais ocorrido o crime.
é o cumprimento da pena (se o sujeito
estivesse preso, seria posto em liberdade, se A teoria da ubiquidade é aplicada nos crimes à
fosse obrigado a pagar multa, seria extinta distância. Crimes à distância, por sua vez, é
essa exigência etc.). Outro efeito penal da aquele em que a ação é realizada em um país,
abolitio criminis é o de que o sujeito volta a ser e o resultado ocorre em outro.
portador da primariedade, ou seja, se ele
praticasse um novo fato delituoso não seria Os manuais de direito penal costumam
considerado reincidente. exemplificar a teoria da ubiqüidade, no caso de
uma pessoa que mora em Brasília e manda
Os efeitos extrapenais da condenação não uma carta bomba para Buenos Aires. Nesse
cessam! Um dos principais efeitos extrapenais caso, qual o local do crime? O Brasil (onde
da condenação é o de tornar certa a obrigação ocorreu a ação) e a Argentina (onde se
de indenizar a vítima. Esse efeito não cessa, produziu, ou deveria se produzir o resultado).
por ter natureza cível, logo, por ser extrapenal.
Outro exemplo, é quando uma pessoa, no
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO Brasil, ameaça de morte outra pessoa que está
E NO ESPAÇO na Argentina. Do mesmo modo, com base na
teoria da ubiquidade, o lugar do crime será o
a) Teoria da Atividade Brasil (onde ocorreu a ação) e a Argentina
b) Teoria do resultado (onde se produziu o deveria se produzir o
resultado).
c) Teoria da ubiqüidade.

1. DO TEMPO DO CRIME
CONCEITO ANALÍTICO OU
O tempo do crime, no direito penal brasileiro, é EXTRATIFICADO DO CRIME
o tempo da atividade, ou seja, é o tempo da
ação ou omissão. Assim, não se aplica a teoria A doutrina majoritária no Brasil trabalha com
do resultado no que se refere ao tempo do um conceito tripartido, no qual divide o crime
em três elementos, fato típico, antijurídico e

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culpável. Mas há alguns autores que 5. Consentimento do ofendido – causa


defendem o critério bipartido, no qual crime supralegal.
seria fato típico e ilícito. Para esses autores,
culpabilidade não seria elemento do crime e 3º DOS ELEMENTOS DA CULPABILIDADE
sim, mero pressuposto de punibilidade. 1. Imputabilidade
Portanto, para a doutrina majoritária crime 2. Exigibilidade de conduta diversa.
possui três elementos: fato típico, ilícito e
culpável. 3. Potencial consciência da ilicitude.

Importante observar que ilicitude e Observações: Lembrando que a coação moral


antijuridicidade são consideradas elementos irresistível ou a obediência hierárquica são
sinônimos para o Direito Penal! modalidade da inexigibilidade de conduta
diversa. E o erro de proibição é uma
1º DOS ELEMENTOS DO FATO TÍPICO excludente da potencial consciência da
1. Conduta humana penalmente ilicitude. Excludentes da culpabilidade que
relevante: Será uma ação ou omissão, dolosa serão analisados adiante.
ou culposa. 1. FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS:
2. Resultado: a conduta humana deverá A) CONDUTA HUMANA - CRIMES
produzir um resultado.
DOLOSOS E CULPOSOS: Dolo e culpa
3. Nexo causal: Também chamado de constituem elementos subjetivos da conduta
relação de causalidade: É o elo entre a humana. Também chamados de elementos,
conduta e o resultado. psicológicos, volitivos, de vontade etc.

4. Tipicidade Dolo é a vontade de praticar a conduta e de


produzir o resultado. A culpa se diferencia
2° EXCLUDENTES DO FATO ILÍCITO. porque a intenção não é a de produzir o
resultado, apenas a de praticar a conduta.
Antes de tudo é importante termos em mente
que o fato típico é presumivelmente ilícito. Dolo é elemento subjetivo por excelência.
Ocorre que essa presunção é relativa. Assim, Culpa é elemento subjetivo por exceção. Ou
o fato típico deixa de ser ilícito se estiverem seja, quando o tipo penal descreve a conduta,
presentes algumas de suas excludentes. ali está descrita uma conduta dolosa. Porque o
Quais sejam: O estado de necessidade, a dolo é elemento subjetivo por excelência, é a
legítima defesa, o estrito cumprimento do regra. Assim, quando o art. 121 explana “matar
dever legal, o exercício regular de um direito. alguém”, trata-se de tipificação de uma
Essas excludentes estão previstas no art. 23 conduta dolosa.
do Código penal. Mas há, ainda, uma causa
supralegal: o consentimento do ofendido.

1. Estado de necessidade Conduta culposa é a exceção. Só existe crime


na modalidade culposa quando houver
2. Legítima defesa expressa disposição na lei. Assim, há
homicídio na modalidade culposa porque o art.
3. Estrito cumprimento do dever legal 121, no § 3º dispõe acerca dessa
4. Exercício regular de direito possibilidade. Mas, por exemplo, o Código

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penal não prevê o crime de furto na agente atira nas costas do seu desafeto.
modalidade culposa. Qualquer que seja o resultado (se a vítima
morrer ou se ficar tetraplégica, por exemplo) o
A.1) DOLO: O código penal divide o dolo em satisfaz.
dolo direto e dolo eventual.
A.2) DA CULPA
Dolo direto
Culpa consiste na inobservância de um dever
Dolo direto de 1º grau objetivo de cuidado. Ou seja, culpa significa
Dolo direto de 2º grau que o sujeito não adotou as cautelas devidas.

Dolo Indireto Essa inobservância dos deveres objetivos de


cuidado pode ocorrer mediante Imprudência,
Dolo Indireto eventual Negligência ou Imperícia. Logo, podemos
afirmar que imprudência, negligência e
Dolo indireto alternativo imperícia são modalidades de inobservância
dos deveres objetivos de cuidado.
a) DOLO DIRETO DE 1º GRAU: É o dolo
clássico, que se divide em dois binômios: a) IMPRUDÊNCIA: É a inobservância de
consciência e vontade. Consciência do que se um dever objetivo de cuidado que ocorre por
está fazendo e vontade de produzir o meio de uma ação. Assim, imprudente é
resultado. aquele que fez o que não deveria fazer.
b) DOLO DIRETO DE 2º GRAU: Ocorre b) NEGLIGÊNCIA: É o contrário da
quando o agente não quer, diretamente, imprudência. Nessa modalidade, o agente não
praticar o resultado, mas a sua conduta torna fez aquilo que deveria fazer. Então, negligente
o resultado inevitável. é, por exemplo, o pai que, de forma
descuidada, não adota as cautelas devidas
c) DOLO INDIRETO EVENTUAL: O código diz
para retirar a arma do alcance do filho menor.
que ocorre o dolo eventual quando o sujeito
assume o risco de produzir o resultado. Em c) IMPERÍCIA: Poderá ocorrer mediante
direito penal, “assumir riscos” significa ser ação ou omissão. Trata-se da inobservância
indiferente para com o resultado. O lema do de um dever objetivo de cuidado que diga
dolo eventual é: “der no que der, não deixo de respeito à arte, ofício ou profissão. Um erro
agir”. Logo, no dolo eventual, o agente é médico, por exemplo.
indiferente ao resultado, apesar de não ter
certeza exata de qual será o resultado de sua A culpa poderá ser inconsciente ou consciente.
conduta, por isso se afirma que ele assume o
risco de produzir o resultado. Risco, então, é
zona de incerteza. Primeiramente, é importante afirmar que, para
que haja culpa, o resultado deverá ser sempre
previsível. Logo, se o resultado é imprevisível
d) DOLO INDIRETO ALTERNATIVO: é não há de se falar em dolo ou culpa.
uma classificação que muitos autores já não
trabalham. É hoje considerada uma espécie de Cite-se, como exemplo, um motorista de
dolo eventual. Dolo alternativo ocorre quando trânsito que está dirigindo de acordo com todas
o agente tem mais de um resultado possível e as normas previstas, (respeitando o limite de
qualquer deles o satisfaz. Exemplificando: o velocidade, obedecendo a sinalização, com o

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cinto de segurança, etc.) e uma pessoa se atira que, com suas habilidades, esse resultado não
diante do carro com a intenção de suicidar-se. irá se consumar.
Nesse caso, não há de se falar em dolo ou
culpa, porque, de acordo com a conduta do Perceba que há uma linha muito tênue entre a
agente, não é previsível se que se espere um culpa consciente e o dolo eventual. Na culpa
resultado criminoso. consciente o agente acha que poderá evitar o
resultado. Já no dolo eventual o agente é
Assim, se não é possível se vislumbrar o indiferente para com o resultado.
resultado, não há de se falar em dolo ou culpa.
Lembrando, ainda, que dolo e culpa integram A.3) DO CRIME PRETERDOLOSO
a conduta humana, (já que conduta humana é, É a junção do dolo e da culpa: preterdolo
por sua vez, toda ação ou omissão dolosa ou
ocorre quando o agente possui dolo na
culposa), e que, esta, encontra-se dentre os conduta e dano no resultado, ou seja, ele
elementos do fato típico. Dessa forma, a queria praticar a conduta, mas não tinha a
ausência de dolo ou culpa torna o fato atípico. intenção de que sua conduta produzisse
Então, para que haja culpa o resultado deverá determinado resultado. É o caso, por exemplo,
ser previsível. Ser previsível não é a mesma da lesão corporal seguida de morte. O agente
coisa que previsto. não tinha a intenção de matar a vítima, mas
tinha a intenção de praticar a lesão corporal.
Se o fato foi PREVISTO, a culpa é consciente. Outro exemplo é o aborto quando há morte da
Se não foi previsto, a culpa será inconsciente. gestante. Ou a tortura seguida de morte.

Imaginemos o exemplo de uma pessoa que B) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE


passa todos os dias por determinada rodovia
com um limite de velocidade superior ao É também chamada de relação causal, ou
permitido em lei, não havendo radares que nexo causal.
controlem essa conduta e que essa prática Trata-se do elo entre a conduta e o resultado.
seja comum dentre todos os motoristas que Estudar a relação de causalidade é analisar
por ali trafegam. Ocorre que, em determinado qual foi o motivo que acarretou em
dia, esse agente atropela e mata uma pessoa. determinado resultado. Lembrando que
Esse fato é previsível. Mas é previsto? Não. resultado, no direito penal, pode também ser
Porque o sujeito fazia esse trajeto todos os
chamado de evento.
dias há anos, nessa mesma velocidade, e em
momento algum imaginou que haveria a No que concerne à relação de causalidade, o
possibilidade de matar alguém. Trata-se, pois, Código Penal, no caput do seu art. 13, adotou
de hipótese de culpa inconsciente. a TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS
ANTECEDENTES, também chamada de teoria
Já na culpa consciente o resultado é previsto, da conditio sine qua non.
mas não é aceito, ou seja, o agente não
assume o risco de produzir o resultado. Logo, De acordo com essa teoria, causa é tudo
na culpa consciente, o agente sabe da aquilo que contribuiu para a ocorrência do
possibilidade de produzir determinado resultado. Assim, o Código Penal não adotou
resultado, mas acredita que poderá evitá-lo. É a teoria da concausa. Já que tudo aquilo que
o caso, por exemplo, de um atirador de facas. contribuiu para o evento é causa.
Ele tem consciência de que poderá atingir a
pessoa (o resultado é previsto), mas acredita Então para saber se determinada conduta é a
causa do evento danoso devemos trabalhar

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com o critério de eliminação hipotética. Ou resultado é causa, poderá haver o


seja, para saber se a conduta é causa do REGRESSUS AD INFINITUM, já que, por
resultado, vamos eliminar determinada exemplo, se o fabricante de armas não tivesse
circunstância e nos perguntar se o resultado feito aquela arma utilizada por A, o crime não
teria ocorrido com essa eliminação. teria ocorrido da forma como ocorreu. Da
mesma forma, se a mãe de A, não o tivesse
Assim, imagine que A matou B: Antes de A gerado, o crime também não teria ocorrido da
matar B, adquiriu a arma, a munição e, antes forma como ocorreu, e assim,
de chegar na residência da vítima, ele parou sucessivamente.
para almoçar. Chegando à residência de B, A
armou uma emboscada e deflagrou os Então, para não chegarmos ao infinito, essa
disparos. Nesse caso, devemos nos perguntar: teoria precisa de um limite que seria os
o que é causa do resultado? De acordo com a ELEMENTOS SUBJETIVOS DOLO OU
teoria da equivalência dos antecedentes, tudo CULPA.
o que contribuiu para que o resultado tivesse
ocorrido, é causa. Então, devemos eliminar Dessa forma, por que a mãe de A não vai
hipoteticamente cada uma das circunstâncias responder pelo crime? Porque o fabricante da
a fim de chegarmos à causa. Então, vejamos: arma não vai responder pelo crime? Por que
estes não tiveram o elemento subjetivo (dolo
1. Se A n tivesse comprado a arma, o ou culpa) necessários para influírem no
resultado teria ocorrido da forma como resultado.
ocorreu? Não. É possível que A tivesse
matado B, mas não com aquela arma. Ou seja, Importante destacar, ainda, que a teoria da
se A não tivesse comprado a arma o resultado equivalência dos antecedentes possui uma
não teria ocorrido da forma como ocorreu. exceção. A exceção reside na causa
Assim, podemos afirmar que “comprar a relativamente independente e superveniente.
arma”, é causa que contribuiu para o resultado. Da Causa relativamente independente e
O mesmo raciocínio se aplica à compra de superveniente:
munição, já que, sem esta, A não teria
efetuado os disparos.

Trata-se de uma causa que acontece depois


da conduta. O exemplo mais emblemático é
2. Parar para almoçar não é causa do aquela hipótese em que, um sujeito deflagra
resultado, já que essa ação não teve qualquer um disparo em alguém e essa pessoa é
influência no crime. socorrida. Ocorre que, no caminho para o
3. Se ele não tivesse armado a pronto socorro a ambulância acaba colidindo
emboscada o resultado não teria ocorrido da com algum outro veículo e a pessoa que
forma como ocorreu. Importante lembrar, estava sendo socorrida morre em razão desse
inclusive, que emboscada é causa acidente. Perceba que o acidente com a
qualificadora do crime de homicídio. ambulância é uma causa independente ao
disparo e superveniente a este.
4. Sem os disparos o resultado também
não teria ocorrido da forma como ocorreu. Quando há uma causa relativamente
independente e superveniente a teoria da
O grande problema dessa teoria é que, ao condição sine qua non não será aplicada. Se
afirmar que tudo o que contribuiu para o essa teoria fosse aplicada a linha de raciocínio

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seria: se o agente não tivesse atirado, a vítima Por exemplo: um agente efetuou disparos e a
não estaria na ambulância logo, não sofreria vítima foi levada até o hospital, mas, por conta
com o acidente de trânsito e não morreria. do grande engarrafamento, acaba falecendo
Assim, esse agente responderia penalmente antes de ser socorrido. Nesse caso, não
pelo homicídio consumado. O que não ocorre. podemos afirmar que o agente faleceu por
conta do engarrafamento, ou seja, não é
O art. 13, § 1º do Código Penal, ao tratar da possível se falar em causa relativamente
causa relativamente independente e independente e superveniente. O mesmo
superveniente, adotou a TEORIA raciocínio se aplica no caso de a vítima contrair
CAUSALIDADE ADEQUADA. uma infecção hospitalar, após ser vítima de
Perceba que a regra para a averiguação do disparos. Nesse caso, há um desdobramento
nexo de causalidade é a teoria da condição natural da conduta criminosa, logo, o agente
sine qua non, a exceção é a teoria da responderia por homicídio consumado,
causalidade adequada, esta, só será aplicada aplicando-se, pois a regra da teoria da
nos casos em que houver uma causa condição sine qua non.
relativamente independente e superveniente. INSTITUTOS RELACIONADOS AO ITER
Pela teoria da Causalidade Adequada, só é CRIMINIS
causa aquilo que produziu o resultado “por si Iter Criminis, literalmente, seria o “itinerário do
só”, ou seja, causa é aquilo que, isoladamente, crime”, o caminho produzido pelo crime. Trata-
produziu o resultado. se, pois, das fases do crime.
Dessa forma, o art. 13, § 1º afirma que,
ocorrendo a causa relativamente
independente e superveniente que, por si só O crime passa por até cinco fases. Nem todos
produziu o resultado, o agente responde os crimes vão passar pelas cinco.
apenas pelos atos até então praticados.
1ª FASE: Cogitatio ou, simplesmente,
cogitação – É o planejamento do crime.
Cogitatio não pode ser punida. A simples
“Art. 13 - O resultado, de que depende a vontade de praticar um crime não significa
existência do crime, somente é imputável a praticá-lo.
quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não 2ª FASE: Preparação – Em regra, os atos de
teria ocorrido. preparação também não são punidos. Diga-se
“em regra”, por que há vezes em que os atos
§ 1º - A superveniência de causa relativamente de preparação são tão graves que a lei os
independente exclui a imputação quando, por considera como crimes autônomos. Por
si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, exemplo, adquirir arma de fogo é um ato
entretanto, imputam-se a quem os praticou”. preparatório para um homicídio, mas, se o
Portanto, no exemplo da ambulância, o agente sujeito não tiver porte de arma, ele já praticou
responderia, apenas pelos disparos por ele um crime. A emissão de moedas falsas é um
efetuados, ou seja, pela tentativa de homicídio. crime, mas a utilização de instrumentos para a
falsificação de moeda (o que se classificaria
Importante destacar, contudo, que há como ato preparatório), já é outro crime.
situações em que não se aplica a causa
relativamente independente e superveniente.

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3ª FASE: Execução – Em regra a punibilidade exemplo, podemos citar o crime eleitoral de


se inicia nos atos de execução. “votar ou tentar votar no lugar de outrem”.
Nesse caso, a consumação e a tentativa
4ª FASE: Consumação – Ocorre quando todos possuem a mesma penalidade.
os elementos do tipo penal estão preenchidos.
A natureza jurídica da tentativa é a de causa
5ª FASE: Exaurimento – Ocorre quando o tipo de diminuição de pena prevista na parte geral
penal prevê uma hipótese além da do Código Penal.
consumação. Por exemplo, crime de
corrupção de funcionário público: o funcionário Classificação doutrinária da tentativa:
público que solicita vantagem indevida já
praticou, por si só, um crime. Logo, se ele a) TENTATIVA BRANCA OU
receber aquilo que solicitou estará apenas INCRUENTA – É aquela em que a vítima sai
exaurindo um crime que já estava consumado. ilesa. Exemplo: o agente deflagra disparos de
arma de fogo na vítima, mas não a atinge.
Existem cinco institutos relacionados ao Iter
Criminis, quais sejam: b) TENTATIVA VERMELHA OU
CRUENTA – É aquela em que a vítima sai
1. Tentativa lesionada.

2. Desistência voluntária c) TENTATIVA PERFEITA, TENTATIVA


ACABADA OU CRIME FALHO – Ocorre na
3. Arrependimento eficaz hipótese em que o agente exauriu a sua
4. Arrependimento posterior potencialidade lesiva e, ainda assim, não
conseguiu consumar o crime. Por exemplo, o
5. Crime impossível agente deflagrou todo o arsenal que possuía,
ou utilizou de toda a dose veneno de que
1. CRIME TENTADO dispunha, enfim, ele fez tudo o que estava ao
seu alcance para consumar o crime.
Ocorre quando, iniciado os atos de execução,
o crime não se consuma por circunstâncias d) TENTATIVA IMPERFEITA: O sujeito
alheias à vontade do agente. não exauriu a sua potencialidade lesiva, ele
não fez tudo o que estava ao seu alcance. Por
Assim, há a tentativa quando o indivíduo inicia
exemplo, ele deflagrou o primeiro disparo, mas
a terceira fase (fase de execução), mas não
a vítima conseguiu fugir ou alguém o conteve.
alcança a quarta fase (de consumação) em
razão de circunstâncias alheias à sua vontade. e) TENTATIVA ABANDONADA – Muito
cuidado com essa classificação por que, o que
A consequência do crime tentado: O Código
a doutrina denomina de tentativa abandonada,
Penal nos diz que quando o crime é tentado o
em verdade, é a desistência voluntária.
juiz vai aplicar a pena do crime consumado
diminuindo-a de 1/3 a 2/3, salvo nos casos f) TENTATIVA INIDÔNEA – Trata-se, na
previstos em lei. verdade, do crime impossível! Nesta, não há a
possibilidade de haver efetivação do delito.
Excepcionalmente, porém, o Código (ou a
legislação extravagante) prevê um crime em DAS INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO
que a consumação e a tentativa possuem a ADMITEM A TENTATIVA
mesma pena. São os chamados crimes de
atentado ou crime de empreendimento. Como

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1. As contravenções penais. 5. Crimes pretedolosos: crime


Primeiramente, é importante lembrar que as preterdoloso é aquele em que há dolo na
infrações penais são gênero, cujas espécies conduta e culpa no resultado. Se o resultado é
são os crimes e as contravenções. O Decreto produzido culposamente, não há de se falar
– lei nº 3688/1941 (lei de contravenções em tentativa.
penais) dispõe expressamente que não há a
possibilidade de tentativa nas contravenções. Obs.: Existe uma divergência doutrinaria
Trata-se, então, de uma opção do legislador. acerca da possibilidade de cabimento da
tentativa nos crimes de dolo eventual. A maior
2. Crimes omissivos próprios (ou parte da doutrina entende que a tentativa só é
omissivos puros): são aqueles em que o tipo cabível para os casos de dolo direto, não se
penal prevê a possibilidade de omissão. A aplicando, pois, ao dolo eventual.
ação pode ser fracionada em vários atos, a
omissão, por sua vez, é um ato só, o agente Obs. 2: Há quem diga que não cabe a tentativa
praticou ou não praticou. No crime de omissão nos crimes de empreendimento ou crime de
de socorro, por exemplo, o agente não tem atentado (aquele em que a consumação e a
como “tentar não prestar o socorro”. tentativa são punidos da mesma forma). Na
verdade, a questão é que, nos crimes de
3. Crimes Unissubsistente: É aquele em empreendimento a tentativa não possui
que a ação, ou omissão, não pode ser nenhuma aplicabilidade prática, já que será
fracionada. Os crimes omissivos são punida da mesma forma.
unissubsistentes. Contudo, há crimes
comissivos que também não podem ser DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
fracionados, é o caso, por exemplo, dos crimes
praticados verbalmente, a exemplo da ofensa
à honra. Perceba que os crimes de ofensa a
honra praticados por escrito podem ser
fracionados, por exemplo, o agente pode É também chamada, doutrinariamente, de
mandar um email calunioso e a vitima não tentativa abandonada. Contudo, a desistência
recebê-lo por que está com a sua caixa de voluntária se difere da tentativa por que nesta,
email lotada. Nesse exemplo, houve o crime o crime não se consuma por circunstâncias
contra a honra em sua modalidade tentada, já alheias à vontade do agente. Já na desistência
que não houve a consumação por razões voluntária, o ato não se consuma por vontade
alheias à vontade do agente. do agente, ou seja, ele pode prosseguir na
execução do crime, mas desiste de fazê-lo.
4. Crimes culposos: Tentativa pressupõe
dolo! Por que, de acordo com a definição de Franklin, um teórico alemão, cunhou uma
tentativa, o crime não se consuma por fórmula para distinguir a tentativa da
circunstâncias alheias à vontade do agente, desistência voluntária, qual seja:
logo, o agente tinha a intenção (dolo) de
• Tentativa – Quero, mas não posso
produzir o resultado. Existe uma exceção a
prosseguir na execução.
essa regra nos casos de CULPA IMPRÓPRIA
(por extensão ou por assimilação). A culpa • Desistência Voluntária – Posso
imprópria (que será estudada mais a frente) prosseguir na execução, mas não quero.
nada mais é do que a culpa que deriva do erro
de tipo. Nesse caso, caberá a tentativa. Válido ressaltar que a desistência é voluntária,
mas não necessariamente ela é espontânea!

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Por exemplo, o agente pode ser aconselhado Conseqüência do arrependimento eficaz: É a


a não prosseguir no crime. mesma da desistência voluntária, ou seja, o
agente responderá apenas pelos atos
O espontâneo, como se percebe, é mais do praticados até aquele momento.
que o voluntário, por que não apenas exige um
ato de vontade como essa vontade deve partir • Desistência voluntária: O agente pode
do agente, sem interferências externas ou de prosseguir, mas não quer.
terceiros.
• Arrependimento eficaz: O agente
Conseqüência da desistência voluntária: Diz o prossegue no ato (exaure a sua potencialidade
art. 15 do Código Penal que, na desistência lesiva) e depois se arrepende e envida
voluntária o agente responde apenas pelos esforços para evitar o resultado.
atos praticados até o momento dessa
desistência. Ou seja, ele não responde pela Natureza Jurídica da desistência voluntária e
tentativa (que diminui a pena de 1/3 a 2/3). do arrependimento eficaz: Em outras palavras,
o que significam esses institutos para o direito?
Assim, se, por exemplo, o agente está
apontando a arma para a vítima, mas desiste Primeiramente é importante lembrar que, a
de atirar, ele responderá pelo crime de natureza jurídica da tentativa é a de uma causa
ameaça. Se esse mesmo agente, podendo de diminuição de pena prevista na parte geral.
matar a vítima, desiste de fazê-lo, e atira
apenas em seu braço, ele não responde por
tentativa de homicídio e sim, por lesão Para a doutrina majoritária, a desistência
corporal. voluntária e o arrependimento eficaz
constituem CAUSA DE ATIPICIDADE
RELATIVA DA CONDUTA!
ARREPENDIMENTO EFICAZ Atipicidade é quando o fato deixa de ser típico.
Nesta, o agente já exauriu toda a sua Essa atipicidade poderá ser absoluta, (quando
potencialidade lesiva, ou seja, ele não pode a conduta era criminosa e passou a não ser),
mais desistir por que ele já fez tudo o que podia como poderá ser relativa, quando a conduta
para consumar o crime. A diferença está que, seria um crime e passou a ser outro.
após fazer todos os atos necessários para Nesses termos, se, por exemplo, a intenção
consumar o crime, o agente se arrepende, e
inicial do agente era a de matar a vítima, mas,
evita, de todos os modos, a consumação.
desiste (ou se arrepende eficazmente), a
Por exemplo, ocorre o arrependimento eficaz conduta típica deixa de ser a de homicídio e
se o agente, após desferir disparos na vítima, passa a ser a de ameaça.
a leva ao hospital e a salva. Perceba, portanto, ARREPENDIMENTO POSTERIOR (art. 16 do
que o arrependimento deverá ser eficaz! Ou
Código Penal)
seja, os esforços do agente para evitar a
consumação devem surtir efeitos. Caso Não devemos confundir arrependimento eficaz
contrário, o arrependimento será ineficaz e o com arrependimento posterior. Dos 05 (cinco)
agente reponderá pela conduta delitiva. No institutos do inter criminis, o arrependimento
exemplo narrado, ele responderia pelo crime posterior é o único em que há a consumação.
de homicídio.

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Só é cabível o arrependimento posterior para • Absoluta impropriedade do objeto


os crimes praticados sem violência ou grave material do tipo penal.
ameaça à pessoa. Ex.: furto, estelionato,
apropriação indébita, crime de dano, • ou ineficácia do meio.
corrupção, etc. Nessas hipóteses, o sujeito irá 1) Absoluta impropriedade do objeto material:
reparar o dano, ou restituir a coisa, antes do
recebimento da denúncia ou queixa crime. Objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a
qual recai a conduta criminosa. Diferencia-se,
Conseqüência do arrependimento posterior: assim, do objeto jurídico do crime, este, refere-
será a mesma conseqüência da tentativa, ou se ao bem jurídico. Por exemplo, no crime de
seja, haverá uma diminuição da pena de 1/3 a homicídio, o objeto jurídico é a vida humana e
2/3.
o objeto material é a pessoa que foi morta. No
É importante destacar que, no arrependimento furto, o objeto jurídico é o patrimônio, o objeto
posterior também há uma conduta voluntária material é a coisa subtraída.
do agente, mas não necessariamente Falar-se em absoluta impropriedade do objeto
espontâneo. material significa dizer que o objeto material
Natureza jurídica: é a mesma natureza jurídica não existe. Ou seja, a pessoa ou a coisa sobre
da tentativa, qual seja, a de CAUSA DE a qual recairia a conduta criminosa não
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NA existem! À exemplo de um agente que dispara
PARTE GERAL DO CÓDIGO. tiros sobre uma pessoa que já estava morta.
Nesse caso, o objeto material, no caso, a
Há casos, porém, em que a própria lei concede pessoa que seria assassinada, não existe, por
um benefício maior do que o arrependimento que não há mais vida humana.
posterior. Cite-se, como exemplo, o crime
tributário, se o agente pagar o tributo antes da Recentemente a OAB cobrou uma questão
denúncia ou queixa, haverá a extinção da que tratava de um caso em que o agente, na
punibilidade. Perceba que, nesse caso, não se intenção de roubar um cadáver (crime de
aplica o arrependimento posterior por que a vilipêndio a cadáver), descobre, ao abrir o
própria lei concede um benefício maior ao caixão, que não havia corpo. Trata-se de mais
agente. Outro exemplo em que a lei concede um exemplo de crime impossível, em razão da
um tratamento mais benéfico é o caso do absoluta impropriedade do objeto.
peculato culposo, neste, se o agente se 2) Absoluta ineficácia do meio
arrepende e restitui a coisa até a sentença,
haverá a extinção da punibilidade. Portanto, Trata-se do meio empregado para a prática do
nesses casos, não há de se falar em crime. A doutrina costuma citar o exemplo de
arrependimento posterior por que a lei foi mais um agente que tenta matar uma pessoa
benéfica do que esse instituto. envenenada e, sem saber, acaba ministrando-
lhe açúcar, ao invés do veneno.
CRIME IMPOSSÍVEL (art. 17, do Código
Penal). Obs.: Perceba-se que só há crime impossível
quando a impropriedade do objeto ou a
Ocorre quando é impossível se consumar o ineficácia do meio são absolutas. Se forem
crime, e é por isso que doutrinariamente esse relativas, não podemos falar em crime
instituto é chamado de tentativa inidônea. impossível e sim, em tentativa!!!
É impossível se consumar o crime por:

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A relativa impropriedade do objeto material é 4. Exercício regular de direito


quando o objeto material existe, mas ele não é
alcançado. Então, se, por exemplo, um agente O Consentimento do ofendido é considerado
tenta furtar uma pessoa, colocando a mão em uma causa supralegal, já que o Código Penal
seu bolso, e não encontrar nada, será uma não fez menção a tal instituto.
hipótese de crime impossível por absoluta As excludentes de ilicitude são também
impropriedade do objeto. Porém, se essa chamadas de JUSTIFICANTES ou CAUSAS
pessoa possuía bens no outro bolso, a DE JUSTIFICAÇÃO.
impropriedade do objeto é relativa, por que a
coisa sobre a qual recairia a conduta criminosa 1) DO ESTADO DE NECESSIDADE (art. 24)
existe, mas não foi alcançada. Nesse caso,
não é crime impossível e sim, hipótese de Há duas teorias que versam acerca do estado
tentativa. de necessidade:

A relativa ineficácia do meio ocorre quando o a) Teoria unitária (adotada pelo Código
meio empregado naquele caso concreto não Penal)
conseguiu consumar o crime, mas poderia ter
b) Teoria diferenciadora (adotada pelo
consumado. É o caso de o agente ter
Código Penal Militar)
ministrado veneno na vítima, contudo a dose
não foi a suficiente para matá-la, nesse caso, a) TEORIA UNITÁRIA: Para esta, toda
não há crime impossível e sim, tentativa. hipótese de estado de necessidade é
justificante, ou seja, é uma excludente de
SÚMULA 145 DO STF: FLAGRANTE
ilicitude.
PREPARADO – ocorre quando o policial
provoca o agente para que este pratique o b) TEORIA DIFERENCIADORA: Esta
crime para poder prendê-lo, o STF entende diferencia o estado de necessidade entre
esse crime seria impossível, por que nesse justificantes e exculpante, ou seja, ela pode
caso, há uma absoluta ineficácia do meio. excluir a ilicitude ou a culpabilidade.

“NÃO HÁ CRIME, QUANDO A O art. 24 define o estado de necessidade


PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE PELA dizendo que, “em estado de necessidade está
POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL A SUA quem atua, para salvar de perigo atual, que
CONSUMAÇÃO”. não provocou por sua vontade e nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio cujo
Fim do inter criminis!!!
sacrifício, naquelas circunstâncias, não era
HIPÓSTESES DE EXCLUDENTES DE razoável exigir-se.”
ILICITUDE
1. Salvar de perigo atual: Uma das
O Código Penal, no seu art. 23, previu 04 grandes diferenças entre o estado de
hipóteses de excludentes de ilicitude, quais necessidade e a legítima defesa é que, na
sejam: primeira, a intenção do agente é salvar de
PERIGO. Na legítima defesa o agente quer
1. Estado de necessidade repelir uma agressão. Agressão é um ato de
violência humana, ao passo que perigo, não se
2. Legítima defesa relaciona à uma conduta humana.
3. Estrito cumprimento de um dever legal

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Na situação de perigo, portanto, não há um ato carro com a porta aberta, basta apenas fechar
de violência humana, poderá ser ato produzido a porta, ou seja, há uma alternativa para
por um animal, por um evento da natureza ou, salvar-se, portanto, se, nessa hipótese, o
até mesmo, uma conduta humana que, agente matar o animal, não incorrerá em
indiretamente, possa vir a afetar a esfera de estado de necessidade.
direitos de outrem, mas não há uma agressão
direta, um ato de violência humana dirigida 4. Direito próprio ou alheio: Caberá
diretamente contra alguém. estado de necessidade de terceiro. Por
exemplo, o agente dispara tiros sobre o cão
Assim, se um cão raivoso avança sobre uma raivoso que avança sobre outra pessoa.
pessoa e esta mata o animal, ela comete um
fato típico (maus tratos aos animais constitui 5. Cujo sacrifício, naquelas
uma infração penal, de acordo com a lei de circunstâncias, não se poderia exigir.
crimes ambientais), mas recairá na excludente No estado de necessidade, basicamente, a
de ilicitude “estado de necessidade”. pessoa sacrifica algum bem jurídico para
Diferentemente, se uma pessoa vier para
salvaguardar outro. Um exemplo clássico
agredir outra e esta ultima a repele, será o ocorre quando, em um naufrágio de navio, e
caso de legítima defesa. tendo apenas uma tábua para salvar-se, uma
pessoa mata a outra.

Importante destacar também, que o perigo Importante destacar que, para que haja
deverá ser ATUAL (cuidado na hora da prova, exclusão da ilicitude o bem jurídico sacrificado
por que, na legitima defesa o Código fala em deverá ser de igual ou menor importância se
“agressão atual ou iminente”). comparado ao bem que se deseja salvar.

2. Que não provocou por sua vontade: Assim, não há estado de necessidade quando
nesse trecho, leia-se: perigo que não provocou o bem jurídico sacrificado é mais importante do
dolosamente! Então, se, por exemplo, no caso que o salvaguardado. Por exemplo, é possível
dos náufragos, o agente provocou o naufrágio haver o sacrifício de uma vida para salvar
da embarcação e, depois, matou outrem para outra, ou de um patrimônio para salvar a vida.
salvar-se, não incorrerá em estado de Contudo, não é possível o sacrifício de uma
necessidade por que, em que pese o perigo vida para se salvar um patrimônio, neste ultimo
ser atual, foi produzido dolosamente pelo caso, não haverá excludente de ilicitude
agente. amparada no estado de necessidade, mas
poderá haver uma hipótese de diminuição de
Contudo, se o perigo foi provocado pena.
culposamente, poderá caber o estado de
necessidade. O § 1º do art. 24 estabelece que “aquele que
tem o dever legal de enfrentar o perigo não
3. Nem podia de outro modo evitar: Ou pode invocar o estado de necessidade”.
seja, o agente não tinha alternativa para
salvar-se. Se havia alternativa, ou seja, em 2) DA LEGITIMA DEFESA
havendo outro meio de se evitar o resultado, Está em legítima defesa quem repele agressão
não há de se falar em estado de necessidade. injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou
Assim, se, por exemplo, um cão raivoso alheio, utilizando-se, moderadamente dos
avança sobre uma pessoa que está dentro do meio necessários.

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1. Repele agressão injusta: Agressão, agressor tentar bater na vítima e esta, a fim de
como já vimos, é um ato de violência humana. repelir a agressão, revida e continua a
Ela deverá ser injusta, assim entendida como agressão quando não há mais necessidade.
aquela agressão que não possui um Excesso intensivo é uma reação que não se
fundamento idôneo para legitimá-la. A legítima estende, ela é imediata, contudo, é muito mais
defesa, por exemplo, é uma agressão justa, gravosa do que o necessário para repelir a
por que há um fundamento jurídico idôneo que agressão. Ocorre, por exemplo, quando uma
a legitima. E é por esse motivo que não cabe, pessoa franzina agride um campeão de vale-
em regra, a legítima defesa da legítima defesa, tudo e este, podendo repelir a agressão
salvo se houver excesso por parte daquele que tranquilamente, se excede e dispara tiros
está repelindo a agressão. contra o agressor.

Importante destacar que, conforme vimos, não 2. Agressão atual ou iminente: Não existe
é cabível a “legítima defesa real da legítima legítima defesa de agressão pretérita. Do
defesa real”. Contudo, é perfeitamente cabível mesmo modo, não existe legítima defesa de
a “legítima defesa real da legítima defesa agressão futura, salvo o futuro iminente.
putativa”. Putare é imaginar, logo, legítima Iminente é o futuro imediato, que está prestes
defesa putativa significa legítima defesa a ocorrer. Na agressão iminente a pessoa não
imaginária. tem tempo de recorrer ao Estado.

Ocorre a legítima defesa putativa naquela Ocorre agressão futura, por exemplo, quando
hipótese em que o sujeito imagina estar em um sujeito liga para a casa do outro o
legítima defesa quando, na verdade, não há ameaçando de morte. Essa ameaça não dá o
agressão. Cite-se, como exemplo, uma pessoa direito de a pessoa matar quem a ameaçou
que dispara tiros em outra achando que esta alegando legítima defesa.
possuía uma arma em mãos, mas na verdade,
a vítima não havia sacado uma arma e sim, 3. Direito próprio ou alheio: Da mesma
sua carteira. Neste caso, a legítima defesa é forma que existe o estado de necessidade
putativa e a vítima poderá repeli-la já que, para próprio ou de terceiro, também existe a
ela, há uma agressão injusta. Esse seria um legítima defesa própria ou de terceiro.
caso de legítima defesa real de uma legítima 4. Moderação e necessidade: Significa o
defesa putativa. emprego dos meio que estão à disposição da
Não devemos confundir o direito de repelir uma vítima da agressão e que sejam suficientes
agressão injusta com o direito de revidar, de para fazer cessar a agressão. Moderação
revanche. O direito que existe é o de apenas significa “a exata medida do repelir”. Uma
se defender. Se a vítima repele a agressão e reação imoderada é aquela que extrapola o
continua a reagir, será hipótese de excesso, que seria suficiente para repelir a agressão. No
não havendo mais de se falar em legítima Brasil, era muito comum, por exemplo, a
defesa, vez que o excesso é punível no Direito “legítima defesa da honra”, em que a pessoa
Penal. Esse excesso, por sua vez, poderá ser: matava a outra por motivo de adultério. Hoje,
tal legítima defesa não se aplica no
a) Doloso ou culposo ordenamento jurídico, por que não há
necessidade e nem moderação.
b) Extensivo ou intensivo: o excesso
extensivo é aquele em que a reação de 3) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER
estende, se protrai. Por exemplo, se um LEGAL

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Primeiramente, é importante que se diga que o Não há de se falar em estrito cumprimento do


Código Penal não definiu o estrito dever legal no caso de troca de tiros entre
cumprimento do dever legal, há apenas policial e algum criminoso. Nesse caso, haverá
menção dessa hipótese de exclusão da hipótese de excludente de ilicitude amparada
ilicitude. Dessa forma, coube a doutrina definir na legítima defesa.
tal espécie de excludente.
4) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
Para o entendimento majoritário, o estrito
cumprimento do dever legal é uma hipótese de A conduta é típica, mas ao praticá-la, a pessoa
exclusão da ilicitude aplicada apenas aos estará exercendo um direito. Explica-se: por
funcionários públicos! que o boxeador não responde por lesão
corporal? Por que as práticas esportivas
Estrito cumprimento do dever legal é aquele constituem um exercício regular de direito,
dever imposto em lei ou em ato infralegal. desde que nos limites das regras do esporte e
Portanto, haverá estrito cumprimento do dever da necessidade.
legal não só para as leis em sentido estrito
como também, por exemplo, no cumprimento O pai que castiga o filho. Ele está no exercício
de decretos, portarias etc. Logo, o dever legal, regular de direito, desde que amparado nos
enquanto excludente de culpabilidade, poderá limites da necessidade e da razoabilidade.
ser interpretado de forma ampla. Espancar o filho é excesso, o pai será
responsabilizado penalmente.
Não devemos confundir: pelo princípio da
legalidade, a norma penal incriminadora OFENDÍCULOS: São aqueles instrumentos
deverá ser uma lei em sentido material e colocados para a proteção da propriedade. Ex:
formal, ou seja, decretos ou portarias, por cerca eletrificada. A doutrina majoritária
exemplo, não poderão definir uma conduta entende que a utilização de ofendículos é uma
criminosa e cominar a respectiva sanção hipótese de exercício regular de direito.
penal. Ocorre que, no estrito cumprimento do Para que a utilização de ofendículo caracterize
dever legal o que se objetiva é definir norma
exercício regular de direito é imprescindível
NÃO INCRIMINADORA, uma norma que esse proprietário torne esse ofendículo
permissiva, nesse caso, a legalidade não VISÍVEL!
precisa ser estrita.
5) CONSENTIMENTO DO OFENDIDO –
No estrito cumprimento do dever legal (assim CAUSA SUPRA LEGAL DE EXCLUDENTE
como em qualquer excludente de ilicitude) o DA ILICITUDE.
excesso será punível! Por exemplo: o policial
possui o dever legal de prender em flagrante e, REQUISITOS:
para isso, ele poderá utilizar-se da violência
NECESSÁRIA para fazer cumprir o seu dever 1. Bem jurídico Disponível:
legal. Neste caso, portanto, a violência será um Ninguém pode consentir a lesão a um bem
fato típico, mas não será ilícito, pois incorrerá jurídico indisponível. Por exemplo, não é
na excludente de ilicitude do “estrito possível que haja o consentimento do ofendido
cumprimento do dever legal”. Contudo, se ao bem jurídico “vida”. Cite-se como exemplo
esse policial vier a se exceder, responderá uma pessoa que pede para que a matem.
pelo crime. Quem cometeu o homicídio poderá alegar
consentimento do ofendido e, assim, excluir a
sua culpabilidade? Não. Por que a vida é um

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bem jurídico indisponível. Já o patrimônio, por A culpabilidade é um juízo de reprovação que


exemplo, é um bem jurídico disponível. Logo, recai sobre o autor do fato típico e ilícito. Esta
se uma pessoa autoriza outra a destruir o seu culpabilidade é constituída por 03 elementos:
carro, não haverá crime de dano, por que
houve consentimento do ofendido. 1. Imputabilidade

A integridade física, para a 2. Exigibilidade de conduta diversa


doutrina majoritária, é um bem jurídico 3. Potencial consciência da ilicitude
disponível no caso de lesões leves. A exemplo
do tatuador. 1. DA IMPUTABILIDADE

2. Que haja manifestação anterior Imputar é “atribuir algo a alguém”. Imputável é


ou concomitante à conduta criminosa: O aquele a quem eu posso atribuir alguma coisa.
consentimento após a prática do fato não Como aqui estamos falando em
exclui a ilicitude. “imputabilidade penal”, podemos dizer que
imputável é aquele a quem podemos atribuir
uma responsabilidade penal.
3. Capacidade para consentir: A
liberdade sexual, por exemplo, é um bem
disponível. Porém, o menor de 14 anos não Hipóteses de exclusão da imputabilidade (ou
possui a capacidade para dispor de sua seja, hipóteses em que não é possível se
liberdade sexual. atribuir uma responsabilidade penal ao
indivíduo):
Importante destacar que essa
capacidade não está ligada à capacidade civil. a) Menoridade
Ela será analisada de acordo com o caso
concreto. b) Doença mental

4. Legitimidade para consentir: Só c) Embriaguez completa e fortuita.


haverá excludente de ilicitude se o
a) Menoridade:
consentimento for realizado pelo titular do bem
jurídico. Assim, por exemplo, só o dono do Menor de 18 anos é inimputável, ainda que ele
patrimônio poderá consentir que o depredem. tenha sido emancipado civilmente. Isso quer
dizer que o critério para a aferição da
imputabilidade, de acordo com a idade, é
5. Esse consentimento deverá ser
puramente biológico, também chamado de
manifestado sem vícios, ou seja, sem erro,
cronológico ou etário.
dolo ou coação.
Em alguns países o critério para se definir a
CULPABILIDADE
idade é biopsíquico, em que há o limite etário,
Trata-se do terceiro elemento do crime. contudo, há a possibilidade de se fazer
Lembrando que há uma parcela minoritária da exames psicológicos no indivíduo para saber
doutrina que defende que a culpabilidade não se ele possui imputabilidade psíquica, hipótese
é elemento do crime, mas apenas mero em que caberia a imputabilidade do menor. No
pressuposto para a aplicação da pena. Brasil isso não ocorre, o critério é puramente
etário, não psicológico.

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Logo, quando o sujeito é menor de 18 anos a Perceba que no caso da doença mental o
lei presume que ele não possui aptidão critério não é puramente biológico, ele é
psíquica. Trata-se de uma presunção absoluta biopsíquico.
(já que beneficia o réu), não admitindo,
portanto, prova em sentido contrário. Não há como se dizer, a priori, qual a doença
mental que vai ensejar a inimputabilidade.
Importante destacar que o critério etário da Para saber se o sujeito é inimputável, ou não,
imputabilidade está previsto no Código Penal devemos analisar o caso concreto.
e na Constituição Federal, no art. 228. Assim,
perceba que um projeto de lei não pode reduzir Perceba que a doença mental, por si só, não é
a maior idade penal. Para a doutrina o suficiente para se afirmar que a pessoa é
majoritária uma emenda constitucional poderia inimputável ou não. É necessário, então, que
prever tal redução. De acordo com essa haja a doença mental (critério biológico) e, em
corrente, a diminuição etária da imputabilidade razão dela, tal pessoa não possa entender o
não é inconstitucional por que ela não estaria caráter ilícito do fato ou determinar-se de
abolindo um direito, mas apenas reduzindo-o. acordo com esse entendimento (critério
psíquico). Por isso é fundamental que se faça
uma perícia no caso concreto.

Como a menoridade é uma hipótese de Obs.: o semi-imputável (também chamado,


exclusão da imputabilidade, podemos afirmar doutrinariamente, de fronteiriço) é aquele que,
que menor não comete crime e sim, ato por perturbação mental (perceba que o Código
infracional equiparado a crime. Por que o não fala em doença mental), ou
menor não pratica crime? Porque ele pratica desenvolvimento mental incompleto ou
fato típico, ilícito, mas não possui culpabilidade retardado, não era, ao tempo da ação ou
já que, por ser menor, não é imputável e, omissão, INTEIRAMENTE capaz de entender
imputabilidade, como vimos, é um dos 03 o caráter ilícito do fato ou determinar-se de
elementos que integram a culpabilidade. acordo com esse entendimento. Portanto, o
semi-imputável tem parcial capacidade de
Com base no mesmo raciocínio, não se aplica entendimento!
pena ao menor e sim, medida educativa.
O inimputável não é condenado, já que não
b) Doença Mental (art. 26) comete crime. Aplica-se, a ele, a medida de
O critério para aferir a inimputabilidade por segurança!
doença mental é diferente do critério etário. A sentença que reconhece a inimputabilidade
Isso por que, o critério para aferir a menoridade por doença mental é absolutória. O juiz
é puramente biológico (também chamado de reconhece a inimputabilidade por doença
etário ou cronológico), já para a aferição de mental, absolvendo o indivíduo e aplicando a
doença mental, o critério é biopsíquico medida de segurança. Trata-se da chamada
Inimputável é aquele que, por doença mental, SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA.
ou desenvolvimento mental incompleto ou A semi-imputabilidade, por sua vez, é uma
retardado (critério biológico ou etiológico) não causa de diminuição de pena. O juiz reconhece
era, ao tempo da ação ou omissão, capaz de a semi-imputabilidade, condena o indivíduo
entender o caráter ilícito do fato ou de (logo, nesse caso, a sentença será
determinar-se de acordo com esse condenatória) e aplica uma pena, diminuindo-
entendimento (critério psíquico). a. Contudo, o Código nos diz que o juiz poderá

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converter essa pena em medida de segurança quis dizer que são proibidas as sanções penais
se entender que essa conversão é mais de caráter perpétuo, e não apenas as penas
conveniente para o tratamento do semi- (interpretação extensiva). E sanção penal é
imputável. gênero, que possuem como espécies, as
penas e as medidas de segurança. Dessa
Antes da reforma de 1984 vigorava o sistema forma, o STF empregou como limite máximo
do duplo binário. Era um sistema que permitia para o cumprimento da medida de segurança
aplicar, ao semi-imputável, a pena cumulada o prazo de 30 anos, por conta de uma
com a medida de segurança. Nosso sistema aplicação analógica do art. 75 do Código Penal
atual deixou de ser duplo binário e passou a que, por sua vez, afirma que o limite máximo
ser o VICARIANTE. para o cumprimento da pena é de 30 anos.
Pelo sistema Vicariante aplica-se, ao semi-
imputável, a pena OU a medida de segurança!
Não é possível que haja a cumulação. 2. Medida de tratamento ambulatorial:
nesta, o tratamento psiquiátrico não necessita
MEDIDA DE SEGURANÇA de internação.
No Brasil, só se aplica a medida de segurança d) Inimputabilidade por embriaguez
nos casos de inimputabilidade por doença completa e fortuita
mental.
Primeiramente é importante destacar que
O fundamento da medida de segurança é a quando o Código Penal trata da embriaguez,
periculosidade do inimputável. O Estado não ele não se refere apenas à embriaguez
impõe a medida de segurança por reprovação decorrente do álcool e sim, de qualquer
(se não há culpabilidade, não há de se falar em substância que afete a capacidade
“reprovabilidade”), e sim, por inaptidão mental psicomotora do indivíduo.
do indivíduo para o convívio em sociedade.
Doutrinariamente há 05 (cinco) modalidades
Existem dois tipos de medidas de segurança: de embriaguez, quais sejam:
1. Medida de internação: nesta, o sujeito 1) Embriaguez preordenada
fica internado no HCT (Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico). Essa internação 2) Embriaguez voluntária (ou dolosa)
possui um prazo mínimo de 01 a 03 anos.
Portanto, a sentença fixará o prazo mínimo e, 3) Embriaguez involuntária (ou culposa)
passado esse prazo, o sujeito será submetido 4) Embriaguez fortuita
a uma nova perícia, se essa perícia atestar que
cessou a periculosidade do indivíduo, a 5) Embriaguez patológica
medida de segurança será extinta.
Ao falar em embriaguez, é imprescindível que
Perceba que a medida de segurança não se mencione a TEORIA DA AÇÃO LIVRE NA
possui um prazo máximo. A dúvida é, e se a CAUSA (ou teoria da actio libera in causa):
periculosidade do indivíduo não cessar? Em quando falamos em culpabilidade, devemos
que pese a lei não ter previsto o prazo máximo analisar se o agente tinha o livre arbítrio (o
para a medida de segurança, o STF entende doente mental, por exemplo, não possuía livre
que, quando a Constituição fala que “são arbítrio, por isso ele é inimputável), dessa
proibidas as penas de caráter perpétuo” ela forma, o sujeito que está totalmente

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embriagado provavelmente não sabe o que substância do agente, ou alguém o obrigou a


está fazendo. ingerir a substância.

A grande questão é que, no que tange à A embriaguez fortuita vai excluir a


embriaguez, o livre arbítrio do agente não deve culpabilidade quando, além de fortuita, ela é
ser aferido no momento da prática do fato e completa!
sim no momento em que ele ingeriu a
substância. Actio libera in causa significa saber
se no momento em que o agente ingeriu a 5) Embriaguez patológica: É o vício do álcool
substância ele era livre, se poderia agir de ou da droga. É considerada uma doença
outro modo. mental.
1) Embriaguez preordenada: é aquela em que Portanto, para se averiguar a inimputabilidade
o sujeito quer ingerir a substância, quer se do indivíduo que possui a embriaguez
embriagar e quer praticar o crime. patológica devemos analisar o caso concreto.
Na embriaguez preordenada a culpabilidade Por que, como vimos, a doença mental só será
não será excluída, por que, conforme dispõe a causa de exclusão da culpabilidade quando,
teoria da ação livre na causa, o agente era livre em razão dela, o sujeito não é capaz de
para ingerir a substância, ele tinha a entender o caráter ilícito do fato ou de
possibilidade de não ingeri-la, logo, não será determinar-se de acordo com esse
caso de inimputabilidade penal. entendimento.

A embriaguez preordenada além de não Importante destacar que é possível que haja
excluir a culpabilidade, agrava a pena é, pois, exclusão da culpabilidade do embriagado
causa agravante!! patológico ainda que este não esteja sobre o
efeito da substância, por que se trata de
2) Embriaguez voluntária (ou dolosa): é aquela hipótese de excludente da imputabilidade em
em que o sujeito quer ingerir a substância, quer razão de doença mental, não em razão da
se embriagar, mas não quer praticar o crime. embriaguez propriamente dita. Cite-se, como
exemplo, um dependente químico que esteja
Nesse caso, também de acordo com a teoria em estado de abstinência e que, para
da ação livre na causa, não haverá a exclusão conseguir a substância, agride o pai.
da culpabilidade por que, o ato de ingerir a
substância e de se embriagar (ou seja, a causa Encerramos o estudo das excludentes da
que deu ensejo ao crime) foi de livre vontade imputabilidade que, como vimos, é um dos
do agente. elementos da culpabilidade. Passaremos
agora para o segundo elemento da
3) Embriaguez culposa: O agente quer ingerir culpabilidade, qual seja, a exigibilidade de
a substância, mas não quer se embriagar e, conduta diversa.
muito menos, cometer o crime.
2. DA EXIGIBILIDADE DE CONDUTA
Também não haverá de se falar em exclusão DIVERSA
da culpabilidade por que a ação do agente
(ingerir a substância) foi livre. De início, importante que se diga que o Código
Penal não empregou a expressão
4) Embriaguez fortuita: É aquela em que o “exigibilidade de conduta diversa”. Contudo, tal
sujeito não quer ingerir a substância. É aquela diploma trouxe duas hipóteses de
hipótese em que alguém coloca drogas na

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inexigibilidade de conduta diversa, muito Por exemplo, um empregador dá uma ordem


embora também não utilize essa expressão. não manifestadamente ilegal a seu
Essas hipóteses estão previstas no art. 22. empregado. Nesse caso, não podemos falar
em obediência hierárquica por que a relação é
Dessa forma, são causas de inexigibilidade de de direito privado e a obediência hierárquica é
conduta diversa: um vínculo entre funcionários públicos.

a) A coação moral irresistível Passaremos agora para o terceiro elemento da


b) Obediência hierárquica. culpabilidade. Vimos, então, a imputabilidade,
a exigibilidade de conduta diversa e, agora,
a) Coação irresistível: Coação é um dos veremos, a potencial consciência da ilicitude.
vícios da vontade. Coação irresistível ocorre
quando a vontade não é livre, quando o agente 4. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA
está sofrendo algum tipo de ameaça. ILICITUDE

O melhor exemplo de coação moral irresistível A ausência de potencial consciência da


ocorre quando uma quadrilha, com o intuito de ilicitude ocorre quando o agente não tem como
roubar um banco, seqüestra a família do conhecer a ilicitude da conduta. Ou seja, esse
gerente e o ameaça, exigindo que esse agente sabe exatamente o que está fazendo,
gerente entregue o dinheiro do banco. Perceba o seu erro não está em uma situação fática e
sim em uma situação jurídica. Ele acha que a
que, nesse exemplo, ninguém poderá exigir
desse agente uma conduta diversa. sua conduta é lícita.

Nesse caso, haverá exclusão da culpabilidade A ausência de potencial consciência da


ilicitude vai dar ensejo ao ERRO DE
da pessoa que foi coagida.
PROIBIÇÃO INEVITÁVEL.
b) Obediência hierárquica: Nesta
hipótese, o superior hierárquico profere uma Erro de proibição é a ausência de potencial
ordem ao seu subordinado e esta ordem não é consciência da ilicitude. Já o erro de proibição
manifestadamente ilegal. Obviamente, se a inevitável é quando o agente não tem
ordem é manifestadamente ilegal, consciência da ilicitude e não tinha como saber
responderão pelo crime o superior e o que a sua conduta é ilícita.
subordinado. Cite-se, como exemplo, o costume indígena de
Um exemplo de obediência hierárquica é matar, logo após o parto, crianças que tenham
quando um policial invade uma residência nascido com algum problema físico. Perceba
imaginando que há um flagrante. Nesse caso, que, nesse caso, o índio não integrado em
só quem responderá pela infração é o superior sociedade não tem como saber da ilicitude de
sua conduta. Trata-se do que Zaffaroni chama
hierárquico.
de “erro culturalmente condicionado”.
Nossa doutrina admite a existência de causas
supralegais de inexigibilidade. São hipóteses Frise-se, mais uma vez, que o erro de
em que, a depender do caso concreto, não se proibição não repousa sobre a situação fática
poderia exigir do agente outra conduta. e sim, sobre a situação jurídica. Ou seja, o
agente sabe o que está fazendo, tem
consciência de sua conduta, o que ele não

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sabe (e não poderia saber) é que esta conduta Essa exclusão do dolo e condenação pela
é considerada ilícita pelo ordenamento modalidade culposa, admitida no erro de tipo,
jurídico. é chamada de CULPA IMPRÓPRIA.

Erro de proibição é diferente de ERRO DE Lembremos que não se admite a tentativa na


TIPO. Este último é um erro sobre a situação sua modalidade culposa, salvo no caso da
fática. Ou seja, o agente sabe que determinada culpa imprópria, que é aquela que deriva do
conduta é criminosa, mas ele não sabe que erro de tipo. Então, se, no caso narrado acima,
está praticando a conduta. a pessoa que sofreu os disparos sobreviver, o
agente responderá por crime culposo (culpa
Um exemplo de erro de tipo ocorre quando imprópria) tentado.
uma pessoa pega o celular de alguém achando
que está pegando o seu. Nesse caso, o agente Portanto, a culpa imprópria é a única hipótese
sabe que furto é um ilícito penal, o que ele não em que se admite a culpa na modalidade
sabe é que está cometendo o furto (subtraindo tentada!!
para si coisa alheia). Perceba que o erro de
tipo recai sobre a situação fática, que é ERRO SOBRE A PESSOA (ou error in
elementar do crime. personae)

O erro de proibição inevitável exclui a potencial O agente, por engano, pratica o crime sobre
consciência da ilicitude. Já o erro de tipo exclui pessoa diversa da qual ele pretendia.
o dolo e permite a condenação pela Assim, o agente mata B acreditando estar
modalidade culposa se houver previsão para matando A. Nesse caso, ele vai responder pela
tanto. Se não houver previsão de modalidade morte de A. É um caso de ficção jurídica. Ele
culposa, não haverá conduta penalmente
responde pela morte de uma pessoa que, na
relevante e o fato será considerado atípico. verdade, está viva.
No exemplo narrado acima, não há previsão Ou seja, no erro sobre a pessoa, o agente
legal de furto na modalidade culposa, logo, o responde de acordo com o seu dolo, com a sua
fato será considerado atípico. vontade.
Mas, se, por exemplo, um sujeito está em uma Cite-se, como exemplo, uma mãe que, sob
caçada, avistou um animal em um arbusto,
influência do estado puerperal, vai ao berçário
dispara tiros e depois descobre que não era
para matar o próprio filho. Ocorre que, ela se
um animal, mas um ser humano esta será uma enganou e matou o filho de outra pessoa. Se
hipótese de erro de tipo, já que o agente tem essa mãe responder pela morte do recém-
consciência de que “matar alguém” é uma nascido, que ela de fato matou, incorrerá em
conduta típica, mas não sabe que está homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos).
praticando esta conduta (é um erro sobre a Mas, como se trata de hipótese de erro sobre
situação fática). Nesse caso, como há previsão a pessoa, ela responderá como se tivesse
legal de homicídio na modalidade culposa, o matado o seu filho, ou seja, como se tivesse
dolo será excluído e essa pessoa responderá cometido infanticídio, cuja pena é de 02 a 06
por homicídio culposo. anos.

O erro sobre a pessoa não beneficia o réu em


todos os casos. Veja o caso de uma pessoa

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que deseja matar o próprio pai, para ficar com 1.1. Homogêneo: Crimes iguais. Ex.: Dois
a herança, mas se engana e mata o tio. Nesse homicídios
caso ele responde como se tivesse matado o
próprio pai, incorrendo em homicídio por 1.2. Heterogêneo: Crimes distintos. Ex.
motivo torpe. Homicídio e lesão corporal

ERRO NA EXECUÇÃO (previsto no art. 73 do 2. Concurso formal (ou concurso ideal) =


Código Penal e também chamado de aberratio uma ação ou omissão
ictos). 2.1. Homogêneo
Ocorre quando o agente erra na execução do 2.2. Heterogêneo
crime. Por exemplo, o agente deseja atirar em
A, mas erra o tiro e acerta B. 2.3. Próprio: O agente não tinha a intenção de
praticar mais de um crime
O erro de execução tem a mesma
conseqüência do erro sobre a pessoa! Ou seja, 2.4. Impróprio: O agente tinha a intenção de
o agente responde como se tivesse atingido a praticar mais de um crime
pessoa que realmente queria atingir. Ele
responde de acordo com a sua intenção. 3. Continuidade delitiva (ou crime
continuado)
Um exemplo muito comum de erro na
execução ocorre quando um policial, em troca 1. CONCURSO MATERIAL:
de tiros, acaba acertando uma pessoa
Ocorre quando há mais de um crime mediante
inocente que estava passando na rua. Nessa
mais de uma ação ou omissão. Ex: estupro
hipótese, haverá erro na execução e, em assim
seguido de morte. Nesse caso, são duas ações
sendo, o policial responde como se tivesse
distintas que deram ensejo a dois crimes
atirado na pessoa que ele queria acertar, no
(estupro e homicídio).
caso, o bandido que também estava atirando
nele. E, se ele tivesse acertado esse bandido, O concurso material poderá ser homogêneo ou
estaria em legítima defesa, excluindo assim, a heterogêneo. Será homogêneo quando o
ilicitude do fato. agente pratica o mesmo crime várias vezes
(ex. dois homicídios). Será heterogêneo
CONCURSO DE CRIMES
quando os crimes praticados pelo agente são
Concurso de crimes (também chamado de distintos (ex. estupro e homicídio).
concursos delictorum) se diferencia do
Consequência: “aplicação do critério de
concurso de pessoas (concursos
cúmulo material das penas”, ou seja, haverá a
deliquentium) por que, no primeiro, a
soma das penas. No exemplo narrado acima,
pluralidade é objetiva, ou seja, diz respeito a
o agente responderá pelo estupro e pelo crime
mais de um crime. Já o concurso de pessoas
de homicídio.
diz respeito a mais de um criminoso, nesse
caso, a pluralidade é subjetiva. 2. CONCURSO FORMAL (ou concurso
ideal)
O concurso de crimes pode ser:
Nesse caso, há mais de um crime praticado
1. Concurso material (ou concurso real) =
mediante apenas uma ação ou omissão.
mais de uma ação ou omissão

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O concurso formal também poderá ser Importante destacar, contudo, que poderá ser
homogêneo ou heterogêneo. Será homogêneo aplicado o critério do cúmulo material se este
quando a ação praticada pelo agente for mais benéfico para o réu que cometeu o
ocasionar vários crimes semelhantes (ex.: uma crime formal próprio. Nesse caso, afasta-se o
bomba que mata várias pessoas). O concurso critério da exasperação e aplica-se o critério do
formal heterogêneo ocorre quando o agente cúmulo material.
pratica crimes distintos mediante uma ação
(ex.: o agente aciona uma bomba que mata
pessoas e fere outras). Portanto, para o concurso impróprio aplica-se
O concurso formal também poderá ser dividido sempre o critério do “cúmulo material”. Mas se
em próprio ou impróprio. o concurso é próprio, o critério a ser aplicado
será o do “cúmulo material benéfico”.
a) Concurso formal impróprio: Há
concurso formal impróprio quando existem Em síntese, no concurso formal próprio, a priori
desígnios autônomos. Significa dizer que o será aplicado o critério da exasperação,
agente, desde o início, tinha a intenção de contudo, aplica-se o critério do cúmulo material
praticar mais de um crime com a sua ação. se este for mais benéfico ao réu.
Ocorre, por exemplo, quando uma pessoa
3. CRIME CONTINUADO (ou
aciona explosivos em um carro sabendo, continuidade delitiva)
desde o inicio, as pessoas que estariam nele.
Nesse caso, o indivíduo tinha a intenção de Ocorre quando existem mais de um crime, da
matar as pessoas que estavam naquele carro. mesma espécie, praticados nas mesmas
circunstâncias de tempo, lugar, modo de
Quando o concurso é impróprio serão execução ou outras circunstâncias. Neste
aplicadas as mesmas regras do concurso caso, os crimes subseqüentes são
material, ou seja, haverá cumulação de penas. considerados meras continuações do mesmo
Nesse caso, o agente responderia pelos dois crime. Trata-se de uma ficção jurídica.
crimes, com as penas somadas.
Exemplo: imagine um empregado que comete
b) Concurso formal próprio: não existem pequenos furtos, em pequenos espaços de
desígnios autônomos. O agente não tinha a tempo, na empresa em que trabalha. Nesse
intenção (o dolo) de praticar mais de um crime.
caso, não haverá a soma das penas de furto
O concurso formal será próprio se, por por tratar-se de hipótese de crime continuado.
exemplo, o agente aciona o explosivo no carro
da vítima acreditando que ela estaria sozinha, Conseqüência: aplica-se o critério da
e acaba matando outra pessoa, o que não era exasperação, de modo que será aplicada a
a sua intenção. Ou seja, não havia o dolo de pena do crime mais grave (se forem crimes
praticar dois crimes. diferentes), aumentando-a de 1/6 a 2/3.

Quando o concurso é próprio, em regra, aplica- Contudo, se a regra do cúmulo material for
se o critério da exasperação (e não do cúmulo mais benéfica ao réu, esta será aplicada.
material). De acordo com esse critério, a pena
será somada de 1/6 até 1/2. Portanto, haverá O STJ defende que “as mesmas
a aplicação da pena mais grave e a circunstâncias de lugar” deve ser entendida
exasperação desta, de 1/6 até 1/2. como a mesma municipalidade.

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Para a doutrina, “crimes da mesma espécie” É a pluralidade subjetiva no crime, ou seja, é a


são aqueles crimes que atingem o mesmo bem pluralidade de criminosos, de agentes, de
jurídico. É possível se falar em continuidade sujeitos ativos.
delitiva no caso de furto e estelionato, por
exemplo, já que ambos atingem o bem jurídico 1. Classificação dos crimes quanto ao
“patrimônio”. concurso de pessoas:

a) Crimes monossubjetivos (também


chamados de unissubjetivos ou crimes de
Contudo, a jurisprudência não entende da concurso eventual): é aquele em que pode
mesma forma! Para os tribunais, “crimes da haver, ou não, pluralidade de agentes. Ex. o
mesma espécie” devem ter o mesmo tipo homicídio pode ser praticado por uma ou por
penal. De acordo com esse entendimento, várias pessoas.
poderia haver crime continuado entre dois ou
três furtos, mas não seria possível a aplicação b) Crimes plurissubjetivos (Também
de tal instituto no caso de furto e estelionato, chamados de crimes de concurso necessário):
por que são dois tipos distintos. Importante é aquele crime em que necessariamente
destacar, contudo, que esse entendimento haverá concurso de pessoas. Ex. crime de
jurisprudencial foi flexibilizado em 2012, quadrilha ou bando, art. 288 do CP (tem que
quando o STJ admitiu a aplicação da haver, no mínimo, 04 pessoas), crime de
continuidade delitiva entre o crime de associação para o tráfico (no mínimo 02
apropriação indébita previdenciária (art. 168- pessoas), crime de rixa, etc.
A) e o crime de sonegação de contribuição 2. REQUISITOS
previdenciária (art. 337-A).
a) Pluralidade de agentes
Aplica-se a continuidade delitiva em caso de
sucessivos crimes contra a vida? CUIDADO! A b) Unidade delitiva: esses agentes devem
Súmula 605 do STF afirma que não cabe o praticar o mesmo crime.
instituto da continuidade delitiva no caso de
crimes contra a vida. Essa súmula não se c) Relevância causal e jurídica de cada
aplica mais! A reforma de 1984 foi clara ao uma das condutas: Para que haja o concurso
permitir a aplicação de tal regra em caso de de pessoas é necessário que mais de um
crimes contra a pessoa, e crimes contra a vida agente tenha contribuído para o crime, se
nada mais são do que espécies do gênero apenas um tiver feito absolutamente tudo, não
“crimes contra a pessoa”. há de se falar em concurso de pessoas.

Portanto, aplica-se o instituto da continuidade d) Liame subjetivo entre os criminosos: é


delitiva nos casos de crime contra a pessoa. o acordo de vontade entre os criminosos. Os
Contudo, nesse caso, é possível que haja a agentes precisam querer praticar, em
exasperação da pena até o triplo, caso a conjunto, o crime. Se, por exemplo, A,
aplicação do cúmulo material não seja mais quisesse matar B e C também quisesse matar
benéfica ao réu. a mesma pessoa, no mesmo momento, mas
não tivessem planejado praticar o crime em co-
CONCURSO DE PESSOAS (Concursus autoria, não haverá concurso de pessoas, por
deliquentium) que não há liame subjetivo entre esses
agentes. Em síntese, no exemplo narrado não
existe co-autoria e sim, autoria colateral, em

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que A é autor do crime assim como C, mas não delitiva) até o local onde a vítima se encontra,
há concurso entre eles. etc.

Importante destacar que esse vínculo Importante destacar, ainda, que não existe
psicológico deverá ser anterior ou participação culposa em crime doloso. Dolo é
concomitante à conduta criminosa! Ocorre o consciência e vontade, assim, se o autor tiver
vínculo anterior quando os agentes planejam, agido com dolo só haverá partícipe se este
previamente, praticar o crime. Já o crime também tiver agido com dolo. Logo, se A
concomitante ocorre quando alguém adere a vende munição para B e este pratica,
uma conduta criminosa que já se iniciou, por dolosamente, o crime de homicídio, A só será
exemplo, uma pessoa que vê o amigo considerado partícipe se tiver consciência da
espancando alguém e, ao invés de evitar a intenção de B. Mas se A tiver agido com culpa,
conduta criminosa (no caso, a lesão corporal), ou seja, se ele tiver sido imprudente ao vender
passa também a espancar a vítima. Logo, o a arma, mas não tinha consciência da vontade
vínculo subjetivo jamais poderá ser posterior à delitiva de B, ele não poderá responder como
conduta. partícipe no crime de homicídio.

3. MODALIDADES DE CONCURSOS DE 4. Teorias que estudam a punibilidade no


PESSOAS concurso de pessoas.

a) Coautoria: quando há mais de um autor a) Teoria Monista (também chamada de


do crime. Autor é aquele que pratica a conduta teoria unitária): Para esta, autores e partícipes
principal, ou seja, é o principal agente do respondem pelo mesmo crime, na medida da
crime. sua culpabilidade. Essa é a regra no Brasil,
conforme prevê o art. 29 do Código Penal.
b) Coparticipação: partícipe é aquele que Então, aquele que é partícipe no crime de
tem uma conduta de menor relevância. É, homicídio responderá pelo mesmo tipo penal,
portanto, o agente secundário do crime. Não ocorrendo apenas uma diminuição da pena.
existe partícipe se não houver autor (no direito
penal também vige a regra de que “o acessório b) Teoria Dualista: O autor responde por
segue o mesmo destino do principal”). Logo, se um crime e o partícipe por outro crime. Se o
A induz B a matar alguém e este comete o Brasil adotasse a teoria dualista haveria, por
crime, A será partícipe do crime de homicídio, exemplo, o crime de homicídio e outro crime
no qual B é o autor. Contudo, se A não cometer cujo tipo seria “participação no crime
o crime, apesar do induzimento de B, não homicídio”.
haverá autoria, portanto, não haverá partícipe.
c) Teoria Pluralista: Para esta teoria, há
A participação poderá ser: tantos crimes quantos forem os agentes.

b.1) Moral (também chamada de O Brasil adota a teoria monista mitigada


participação intelectual): será o induzimento ou (moderada, matizada ou temperada), já que
a instigação. Induzir é criar a idéia do crime. admite exceções. Portanto, em regra, autores
Na instigação, o partícipe reforça uma idéia e partícipes respondem pelo mesmo crime, na
pré-existente. medida de sua culpabilidade, salvo quando a
lei dispõe em sentido contrário. No crime de
b.2) Material: É o auxílio. Ex: fornecer corrupção, por exemplo, o funcionário público
munição para que o autor pratique o crime, dar corrupto responde pelo crime de corrupção
carona ao autor (sabendo de sua intenção passiva e o particular (corruptor) responderá

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pelo crime de corrupção ativa. Outro exemplo Para a teoria objetivo-formal, aquele que
ocorre no caso de aborto. A gestante que vai praticou a lesão será o autor e aquele que
até a clínica a fim de fazer o aborto responde praticou o induzimento seria o partícipe. Já
por um tipo de aborto cuja pena é de 1 a 3 para a teoria objetivo-material, os dois seriam
anos, já o médico, que é um terceiro, responde autores, já que, de acordo com esta, não há
por outro tipo de aborto, cuja pena é de 1 a 4 diferença entre autoria e participação. Para a
anos. Outra exceção é o crime de contrabando teoria subjetiva, no entanto, o autor seria
ou descaminho auxiliado por funcionário aquele que tinha o interesse pessoal em
público, neste caso, o particular responde pelo praticar a lesão corporal, (ainda que não tenha
tipo penal contrabando (art. 334 do Código sido ele a praticar o crime), e partícipe seria
Penal) e o funcionário público responde pelo aquele que tinha o interesse alheio na conduta.
crime de facilitação ao contrabando, art. 318.
d) Teoria do domínio do fato (que trabalha
5. Teorias sobre a autoria (Conceitos de autor) com um conceito chamado de “objetivo-
subjetivo): É a teoria consagrada pelo
Analisando quem é o autor, chegamos ao ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com
partícipe já que este pode ser definido como o entendimento do STF. Surgiu com o objetivo
aquele que contribui com o crime sem ser o de suprir algumas deficiências da teoria
autor. objetivo-formal e a principal delas repousa na
a) Teoria objetivo-formal (que trabalha questão do “mandante”.
com um conceito restritivo de autoria): Durante Assim, de acordo com a teoria objetivo-formal,
muito tempo, foi a teoria majoritária no Brasil. se A contrata B para matar alguém, apenas B
Para esta, autor é aquele que realiza o núcleo seria o autor do crime, já que só ele praticou o
do tipo (o verbo do tipo penal). Dessa forma, o verbo do tipo (matar) e A, apesar de ser o
autor do homicídio é aquele que realiza o verbo mandante, responderia penas como partícipe.
“matar”, o autor do furto é quem realiza o verbo
“subtrair”. Nesse caso, partícipe é qualquer um Com o objetivo de suprir essa lacuna, a teoria
que tenha contribuído, de alguma forma, para do domínio do fato propugna a idéia de que
o crime sem realizar o verbo. autor não é apenas aquele que realiza o núcleo
do tipo e sim aquele que tem pleno domínio
b) Teoria objetivo-material (que trabalha sobre o desdobramento causal da conduta
com um conceito extensivo de autoria): Nunca criminosa, ou seja, é aquele que domina “se o
foi acolhida no Brasil. Essa teoria não crime vai ocorrer”, “como vai ocorrer” e
diferencia autores e partícipes. Assim, “quando vai ocorrer”.
qualquer pessoa que tenha colaborado para o
crime seria autor. 6. Teorias da Acessoriedade (são as teorias
acerca da punibilidade do partícipe):
c) Teoria Subjetiva: Também nunca foi
adota no Brasil. Para esta, autor é aquele que a) Teoria da acessoriedade Mínima: Para
quer o crime como próprio e partícipe é aquele esta, o partícipe será punido se o autor praticar
que quer o crime como alheio. “Querer o crime um fato típico.
como próprio” é ter o interesse pessoal na
conduta criminosa. b) Teoria da acessoriedade limitada: O
partícipe será punido se o autor praticar um
Dessa forma, imaginemos a hipótese de uma fato típico e ilícito. Essa é a doutrina adotada
pessoa que deseja se vingar da outra e para no Brasil. Assim, o partícipe não responde pelo
isso, induz alguém a praticar lesão corporal. crime se o autor praticar um fato típico, mas

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amparado por uma das excludentes de responder pelo crime menos grave, mas
ilicitude. Contudo, o partícipe responde de haverá um aumento de pena de, até, a metade.
acordo com a sua culpabilidade e não com a
culpabilidade do autor. Assim, se, por 8. Comunicabilidade das condições pessoais
exemplo, A instiga B a matar alguém, A do agente
responderá como partícipe do crime ainda que Reza o art. 30 do nosso Código Penal, que as
o autor seja menor de idade. Ou seja, nesse condições pessoais de um agente não se
caso, o autor cometerá um fato típico, ilícito, comunicam ao outro (ao co-autor ou partícipe)
mas não-culpável (já que menoridade é uma salvo se forem elementares do crime.
das hipóteses de excludente da Condição pessoal é aquela que diz respeito ao
imputabilidade), e A responderá como criminoso, e não ao crime.
partícipe no crime de homicídio.
Portanto, a condição pessoal de um dos
c) Teoria da acessoriedade máxima: o agentes não se comunica ao outro, salvo se for
partícipe será punido se o autor praticar um uma condição elementar do crime. Elementar,
fato típico, ilícito e se tiver culpabilidade
por sua vez, é aquilo que integra o tipo penal
d) Teoria da hiperacessoriedade: Só há como parte essencial, ou seja, elementar é
punição do partícipe de o autor praticar um fato aquilo que, se retirado, o tipo penal não
típico, ilícito, culpável e punível. sobrevive.

7. Cooperação dolosamente distinta Assim, digamos que A, funcionário público no


exercício de sua função, contando com a ajuda
Neste caso, há dolos distintos: um dos agentes de B, particular, subtrai algum bem da
possui o dolo de praticar um crime mais grave repartição pública. Esse funcionário público
e o outro de praticar um crime menos grave. responderá pelo crime de peculato. Neste
caso, ser funcionário público é condição
Um exemplo muito ventilado em nossa pessoal do autor, contudo, essa condição
doutrina ocorre quando duas pessoas pessoa é elementar do crime, por que, sem a
ingressam em uma residência para furtar e, característica “funcionário público”, o crime de
acreditando que a residência estava vazia, peculato perde a sua natureza. Então, perceba
esses agentes se separam, um deles se que ser funcionário público é condição
dirigindo à região dos quartos. Chegando a um fundamental para que possamos falar em
dos quartos, um desses agentes encontra a crime de peculato. Portanto, nessa hipótese,
dona da residência dormindo e a estupra. B, particular, passa a ser tratado como
Perceba que o sujeito que estava no andar funcionário público (pois se trata de hipótese
térreo não tinha consciência de que tinha de condição pessoal elementar do crime)
alguém na casa, só tendo a intenção de incidindo, também, em crime de peculato.
praticar o crime de furto. Nesse caso, aquele
que tinha a intenção de praticar crime menos Quando a condição pessoal do agente não é
grave, reponde apenas pelo seu dolo. elementar do crime, será uma circunstância.
Portanto, circunstância do crime é aquilo que,
Contudo, digamos que, nessa mesma se for retirado do tipo penal, não o
hipótese, o agente não praticou o crime de descaracterizará. Ex.: furto mediante repouso
estupro, mas tinha consciência de que haveria noturno. O crime de furto não será
essa possibilidade, ou seja, ele quis praticar o descaracterizado se não ocorrer mediante o
crime de furto, mas sabia que o estupro era repouso noturno, ou seja, o repouso noturno é
possível, neste caso, esse agente continuará a

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mera circunstância, não é condição elementar • HOMICÍDIO


do crime.
a) Doloso:
Uma questão muito debatida em sede
doutrinária diz respeito à hipótese do a.1) Privilegiado
infanticídio, crime praticado pela mãe, durante, a.2) Qualificado (pena de 12 a 30 anos)
ou logo após, o parto, durante a influência do
estado puerperal. Se, por exemplo, a mãe, sob a.3) Simples (pena de 06 a 20 anos)
a influência do estado puerperal, se dirige ao
berçário com o intuito de matar seu filho e, lá b) Culposo
chegando, conta a ajuda de uma enfermeira,
a.1) Homicídio Privilegiado
que a auxilia na consumação do delito. Nesse
caso, ser mãe sob a influência do estado Não é uma expressão utilizada pelo
puerperal é condição elementar para a Código. Em verdade, homicídio privilegiado
configuração do crime de infanticídio, logo, nada mais é do que um homicídio (simples ou
essa condição pessoal da mãe irá se qualificado) com uma causa de diminuição de
comunicar à enfermeira e esta responderá, pena. Há duas hipóteses em que se incidem
também, pelo crime de infanticídio. Trata-se de causas de diminuição de pena:
uma solução esdrúxula do Código Penal. É por
isso que Nelson Hungria entende que o estado 1. Quando o homicídio é praticado
puerperal da mãe não é condição pessoal e mediante motivo de relevante valor social ou
sim, personalíssima, pelo que não haveria de moral
se falar, nesse caso, em condição elementar.
2. Quando o homicídio é praticado por
Ocorre que essa tese defendida pelo autor não
alguém que está sobre o domínio de violenta
vigorou em nosso ordenamento.
emoção logo após a injusta provocação da
PARTE ESPECIAL DO CÓGICO PENAL vítima.

CRIMES CONTRA A PESSOA 1. Motivo de grande valor social ou moral

1. CRIMES CONTRA A VIDA Valor social é um valor que diz respeito à


coletividade, ela não exclui a reprovabilidade
Estes se dividem em 04 espécies, a saber: da conduta, mas ameniza essa
reprovabilidade já que diminui a pena do
a) Homicídio
homicídio em até 1/3. Um exemplo de motivo
b) Infanticídio de grande valor social é “matar o traidor da
pátria”.
c) Instigação e auxílio ao suicídio
Valor moral não diz respeito à coletividade,
d) Aborto mas a valores intrínsecos ao indivíduo. Ex. Um
sujeito que mata o estuprador de sua filha.
1) HOMICÍDIO Perceba que, nesse caso, não haverá
O homicídio poderá ser doloso ou culposo. É o exclusão da ilicitude com base em legítima
único crime contra a vida que admite a defesa de outrem por que a agressão não é
modalidade culposa. atual e nem iminente. Da mesma forma, não
haverá exclusão da culpabilidade por que o
O homicídio doloso poderá ser privilegiado, Estado não confere à ninguém o direito de
simples ou qualificado. exercitar a vingança privada. Contudo, será

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uma hipótese de diminuição da pena em razão emprego de fogo, é importante distinguir o


do grande valor moral. agente que mata a vítima queimada, incidindo,
assim, em uma hipótese de qualificadora, e
2. Homicídio praticado sob o domínio de aquele que mata a vítima e depois queima o
violenta emoção logo após a injusta corpo, nesse caso, o fogo não é uma hipótese
provocação da vítima. qualificadora da pena de homicídio por que
Primeiramente, é importante destacar que o não houve a utilização deste para executar o
homicídio só será privilegiado se for praticado crime.
sob o domínio de violenta emoção, ou seja, 4. Homicídio praticado mediante
não haverá se falar em causa de diminuição de emboscada, dissimulação ou mediante algum
pena se o agente estiver, apenas, sob mera outro artifício que possa dificultar ou
influência da emoção. impossibilitar a defesa da vítima.
Outra questão que importante para se 5. Homicídio praticado para assegurar a
configurar o homicídio privilegiado é a execução, ocultação, impunidade ou
existência de provocação da vítima. Não se faz vantagem de algum outro crime.
necessário que haja agressão da vítima, a
mera provocação já configura uma hipótese de 5.1. Hipótese de homicídio praticado para
atenuação da pena. assegurar a execução de outro crime: uma
pessoa mata outra que sabia de sua intenção
a.2) Homicídio qualificado de roubar um banco.
Hipóteses de incidência: 5.2. Ocultação: O crime já ocorreu e apenas
1. Quando o homicídio é praticado uma pessoa o presenciou, para que esta não
mediante paga, promessa de recompensa ou denuncie, o agente a mata.
outro motivo torpe: A diferença entre os dois 5.3. Impunidade: é aquela hipótese em que
casos é que, na “paga” o mandante do crime já o crime já foi descoberto, mas o sujeito mata a
pagou ao executou, e na “recompensa” o testemunha.
mandante ainda irá pagar. Motivo torpe é um
motivo de maior reprovabilidade como, por 5.4. Assegurar a vantagem de outro crime:
exemplo, matar o pai para ficar com a herança. Dois ladrões roubam um banco e um mata o
outro para ficar com todo o produto do roubo.
2. Motivo Fútil: fútil é o motivo banal,
irrelevante, insignificante. Por exemplo, matar Quando não houver nenhumas das hipóteses
por dinheiro é um motivo torpe, mas matar por de qualificadora e privilegiadora o homicídio
uma quantia ínfima de dinheiro deixa de ser um será simples.
motivo torpe e passa a ser um motivo fútil,
banal. O homicídio pode ser qualificado e privilegiado
ao mesmo tempo? Sim, nas hipóteses em que
3. Homicídio empregado mediante o houver uma qualificadora objetiva, nunca
emprego de arma de fogo, veneno, asfixia, quando a qualificadora for subjetiva.
tortura, explosivo ou algum outro meio
insidioso ou cruel de que possa resultar perigo Qualificadora subjetiva é aquela que diz
comum. Como se nota, a terceira hipótese de respeito à intenção do agente. Ex.: motivo fútil,
homicídio qualificado se relaciona diretamente torpe. Não podemos afirmar, por exemplo, que
com os meios de execução. Quanto ao o homicídio praticado por um agente foi por

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motivo fútil e, ao mesmo tempo, de relevante armados que praticam crime a pretexto de
valor social. garantir a segurança dos indivíduos.

Portanto, as privilegiadoras são incompatíveis B) Homicídio Culposo


com as qualificadoras subjetivas, aquelas que
dizem respeito à intenção do agente. Primeiramente, é importante lembrar que
existe um homicídio culposo no Código Penal
Contudo, é possível haver homicídio e outro no Código de trânsito. A pena de
privilegiado com uma qualificadora objetiva. homicídio no código penal é de 01 a 03 anos,
Por exemplo, um sujeito mata o estuprador da e no Código de Trânsito a pena é de 02 a 04
vítima (motivo de relevante valor moral) e, para anos.
tanto, ele mata mediante asfixia, ou veneno,
explosivo, tortura enfim, qualquer qualificadora Para o homicídio culposo cabe o instituto do
objetiva. Neste caso, a pena do homicídio perdão judicial!
qualificado (de 12 a 30 anos) e será diminuída O perdão judicial ocorre nas hipóteses em que
em até 1/3. a lei permite que o juiz deixe de aplicar a pena
O homicídio qualificado é hediondo. quando as conseqüências do crime, por si só,
já são graves demais para o agente. Por
O homicídio simples só será hediondo em exemplo, um pai que, culposamente, mata o
apenas um caso: homicídio simples praticado filho. Neste caso, o Estado não precisa arbitrar
em atividade típica de grupo de extermínio. nenhuma penalidade à vítima, pois as
Perceba que a atividade não precisa ser de conseqüências do seu ato já são
grupo de extermínio, basta, apenas, que seja demasiadamente graves para ele.
uma atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que seja praticado por apenas uma No homicídio doloso não cabe perdão judicial!
pessoa.
2) INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO
Já o homicídio privilegiado nunca será AO SUICÍDIO (art. 122)
hediondo! Portanto, naquela hipótese em que Neste caso, o agente não é partícipe, ele é
há um crime qualificado e privilegiado, essa autor, porque a conduta criminosa é induzir,
privilegiadora retirará o caráter hediondo do instigar e auxiliar, cuja pena será a reclusão de
crime. 02 a 06 anos.
Além das qualificadoras, existem, para o
É um crime que só existe na modalidade
homicídio, algumas causas de aumento de
dolosa e só se consuma se a vítima realmente
pena. Portanto, aumenta-se a pena de se suicidar ou, quando a sua tentativa gera
homicídio quando este é praticado: lesões graves. Se as lesões forem leves, o
a) Contra menos de 14 ou maior de 60 anos. agente também não responderá pelo crime.

b) Em 2012, foi acrescido o §4º ao art. 121,


para contemplar a hipótese de aumento de A pena para o induzimento, instigação ou
pena quando o homicídio é praticado por auxílio ao suicídio é a reclusão de 02 a 06
milícia. anos. Mas se a vítima apenas sofre lesões
Milícia é uma modalidade específica de graves (não chegando a se suicidar) a pena
quadrilha (art. 288-A). Trata-se de grupos será reduzida à metade, de 02 a 03 anos. Caso

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a vítima seja menor ou estiver em situação de em aborto, vez que antes da dilatação do colo
vulnerabilidade, essa pena será duplicada. do útero a vida é intra-uterina.

Contudo, só haverá crime de induzimento, Caso a mãe, sob a influência do estado


instigação ou auxílio ao suicídio contra menor puerperal, mate, por engano, o filho de uma
de idade se este menor tiver capacidade de pessoa achando que era o seu filho, ela será
autodeterminação. Portanto, ajudar uma responsabilizada como se tivesse matado o
criança de 02 anos a pular da janela, não é próprio filho. Seria uma hipótese de erro
caso de auxílio ao suicídio e sim, uma hipótese quanto a pessoa.
de homicídio qualificado. Diferentemente
ocorre se esse auxílio for a um menor de 17 4) ABORTO
anos, neste caso, o menor possui capacidade
Existem mais de uma espécie de aborto, como
de autodeterminação. se pode observar:
Uma questão freqüente em prova diz respeito 1. Aborto praticado pela gestante
ao pacto de morte. Por exemplo, quando um (autoaborto)
casal resolve, juntos, cometer um suicídio,
mas um deles desiste ou sobrevive. Outro 2. Aborto praticado por terceiro
exemplo é a prática da chamada “roleta russa”.
O sobrevivente, nesses casos, responderam 2.1. Sem o consentimento da gestante
criminalmente pelo induzimento, instigação ou
2.2. Com o consentimento da gestante
auxílio ao suicídio, conforme o caso concreto.
Lembrando que o único crime contra a vida em
3) INFANTICÍDIO (art. 123, CP)
que se admite a modalidade culposa é o
Pratica o infanticídio a mãe que mata o seu homicídio. Portanto, só existe aborto em sua
filho durante, ou logo após, o parto sob a modalidade dolosa.
influência do estado puerperal, incidindo em
Portanto, se a gestante ingere uma substância
pena de detenção de 02 a 06 anos.
abortiva sem ter conhecimento, ela não será
É uma hipótese de crime próprio (classificação punida pelo crime de aborto já que não esse
que toma como parâmetro o sujeito ativo da tipo penal não admite a modalidade culposa.
conduta). Crime próprio é aquele que exige
O aborto praticado pela gestante (autoaborto)
uma qualidade especial daquele que o pratica,
possui uma pena de 01 a 03 anos.
no caso, a agente deverá ser a mãe.
No crime praticado por terceiro com o
A doutrina costuma se referir ao infanticídio
consentimento da gestante, esse terceiro
como um crime bipróprio, por que ele exige
responderá pelo crime de aborto com pena de
uma qualidade especial do agente e exige uma
01 a 04 anos e a gestante que consentiu
qualidade especial da vítima. Ou seja, é um
responde como se tivesse praticado o
crime em que o sujeito ativo deve ser a mãe e
autoaborto, cuja pena é de 01 a 03 anos.
o passivo (a vítima) deve ser o filho.
Se o crime é praticado por terceiro sem o
Para que se configure o infanticídio, o crime
consentimento da gestante a pena será mais
deverá ter sido praticado durante ou logo após
grave, de 03 a 10 anos. E se, em virtude do
o parto. Lembrando que o parto se inicia com
aborto, a gestante morrer, será o caso de
a dilatação do colo do útero. Antes do inicio do
aborto qualificado pela morte.
parto não há de se falar em infanticídio e sim

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Há casos de aborto que são permitidos pelo Primeiramente, é imprescindível traçarmos


nosso Código Penal. Nesses casos, o aborto uma diferenciação entre Honra objetiva e a
deverá ser realizado por médico, conforme subjetiva.
dispõe Código Penal. Contudo, se, incidindo
em alguma das hipóteses de aborto permitido 1. Honra Objetiva - Há violação da honra
no Brasil, este for realizado por outra pessoa objetiva nas hipóteses de:
que não um médico (uma parteira, por 1.1. Calúnia
exemplo), é possível que se faça uma analogia
em bonam partem. 1.2. Difamação

Hipóteses de aborto permitidas no Brasil: 2. Honra Subjetiva – Há violação da honra


subjetiva nos casos de:
a) Aborto necessário: é aquele realizado
por médico quando há risco de vida da 2.1 Injúria
gestante.
1. Honra Objetiva – É a reputação do
b) Aborto Humanitário: ocorre quando a indivíduo, a imagem que ele tem em
gravidez resulta do estupro. sociedade. “É a idéia que os outros têm de
você”. Todos os indivíduos têm honra objetiva.
Não se faz necessário uma autorização judicial Até a pessoa jurídica possui honra objetiva, já
para que se realize qualquer dessas duas que esta também possui uma reputação social
espécies de aborto permitidas pela legislação. diante de seus consumidores, sócios,
Importante lembrar, ainda, que o Supremo concorrentes, etc.
Tribunal Federal permitiu a antecipação 2. Honra Subjetiva – Diz respeito à
terapêutica da gravidez na hipótese de feto autoestima. ”É a idéia que você faz de si
com anencefalia.
mesmo”. A pessoa jurídica não tem honra
Encerramos, aqui, as hipóteses de crime objetiva por que ela não tem consciência de si.
contra a vida. Lembrando, contudo, que crimes 1) CALÚNIA
contra a vida nada mais são do que espécies
do gênero “crimes contra a pessoa”. Dessa Caluniar é imputar, falsamente, fato definido
forma, passaremos para uma outra espécie de como crime.
crimes contra a pessoa, qual seja, crimes
contra a honra. Se, por exemplo, uma pessoa se dirige a outra
e a xinga de corrupta, isso seria hipótese de
DOS CRIMES CONTRA A HONRA calúnia? Não. Porque, neste caso, não há a
imputação de um fato criminoso, a pessoa
Os crimes contra a honra podem ser estará, apenas, adjetivando outra,
praticados verbalmente, por escrito ou, até constituindo, então, crime de injúria.
mesmo, gestualmente.
Caluniar alguém é imputar um fato definido
Se os crimes contra a honra forem praticados como crime. Por exemplo, dizer que uma
verbalmente eles serão unissubsistentes e, pessoa estava em determinado local,
portanto, não são admissíveis na modalidade praticando o crime de peculato contra outra
tentada. pessoa. Nesta hipótese, não há apenas
Se tais crimes forem praticados por escrito, adjetivação (chamar alguém de corrupto), há a
neste caso já se admite a tentativa. imputação de um fato criminoso.

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Importante salientar que, para se falar em autor da brincadeira poderá até responder na
calúnia, a imputação deverá ser de um fato esfera cível, mas não responderá penalmente
definido como crime, ou seja, não há calúnia já que, tal animus afasta o dolo nos crimes
se, por exemplo, uma pessoa imputar à outra contra a honra excluindo-se, assim, a sua
um fato definido como contravenção. aplicabilidade.

Portanto, afirmar, falsamente, que um Outra hipótese que exclui o dolo nos crimes
funcionário público está envolvido em práticas contra a honra é o animus narrandi (intenção
de jogos de azar, não constitui calúnia, mas de narrar um fato). É um argumento muito
difamação (já que a prática desses jogos não invocado pelos jornalistas.
se qualifica como crime e sim como
contravenção). Neste caso, não é possível se Em síntese, o animus jocandi e o animus
falar em analogia, já que a pena da calúnia é narrandi excluem a aplicabilidade dos crimes
maior do que a pena da difamação e no Direito contra a honra.
Penal, não é cabível a analogia em malam Cabe a calúnia contra pessoa jurídica? É
partem.
importante lembrarmos, primeiramente, que o
Não existem crimes contra a honra praticados único crime que a pessoa jurídica pode
na modalidade culposa. praticar, no Brasil, é o crime ambiental.
Portanto, só caberá calúnia contra pessoa
Portanto, para haver a calúnia faz-se jurídica quando alguém imputa falsamente fato
necessário que o agente tenha consciência da definido como crime ambiental.
falsidade de sua imputação criminosa, ou seja,
ele sabe que o que ele está dizendo é mentira. Na calúnia é possível que haja a exceção da
Dessa forma, se ele acredita na veracidade de verdade (exceptio veritatis). Por exemplo, se A
sua afirmação, não será hipótese de calúnia, afirma que B praticou o crime de peculato e
por que não há dolo. Nesse caso, a vítima este o processa por calúnia, A (agora réu)
poderá processar esse agente na esfera cível, poderá se defender provando que estava
mas não será cabível nenhuma imputação falando a verdade.
penal. Não será cabível a exceção da verdade
O dolo dessas condutas é também chamado quando o agente imputa fato criminoso a
de animus: Presidente da República ou a chefe de
governo estrangeiro. Ou quando a vítima já foi
1. Animus caluniandi absolvida pelo fato que lhe foi imputado.

2. Animus difamandi CALÚNIA X DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

3. Animus injuriandi Para começar, importa destacar que a calúnia


é um crime contra a honra, já a denunciação
Isso significa que deve existir o dolo de ofender caluniosa é um crime contra a administração
a honra. Por conta disso, afirma-se em sede da justiça. Consequentemente, a calúnia é um
doutrinária que não há crimes contra a honra crime de ação privada e a denunciação
na hipótese de animus jocandi. caluniosa é um crime de ação pública
O animus jocandi é a “intenção de brincar”, incondicionada.
trata-se de um argumento muito utilizado por Na denunciação caluniosa o agente imputa a
humoristas a fim de se eximir de qualquer alguém fato definido como crime e, em virtude
imputação criminal referente à honra. Assim, o

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dessa imputação falsa, é instaurado um Injuriar é adjetivar negativamente outrem.


processo ou uma investigação (ex. inquérito Portanto, na injúria não há imputação de fato,
policial, processo, administrativo, ação de há, apenas, a adjetivação.
improbidade etc.). Por conta disso, a
denunciação caluniosa é mais do que um A injúria poderá ser de 3 formas:
crime contra a honra porque o agente, além de 1. Injúria simples
ofender a honra da pessoa ainda prejudicará a
administração da justiça. 2. Injúria real

2) DIFAMAÇÃO 3. Injúria qualificada

Neste, o agente imputa a outrem um fato que 2 INJÚRIA REAL: É aquela praticada
não é definido como crime. Portanto, caberá mediante lesão corporal ou “vias de fato”. A
difamação se o fato imputado for uma injúria real é aquela que pressupõe uma
contravenção penal (prática de jogos de azar, agressão física, ou seja, na injúria real um
por exemplo), ou fatos que não sejam sujeito bate no outro para humilhá-lo.
condutas típicas, por exemplo, dizer que uma
pessoa pratica atos de prostituição, por O que diferencia a injúria real da lesão corporal
exemplo, que não é conduta típica. é o dolo. Se o agente agrediu o outro com a
intenção de humilhá-lo, será uma hipótese de
Não cabe, em regra, a exceção da verdade. Ou injúria real. Neste caso, esse agente responde
seja, na difamação o agente responde pelo pela injúria sem prejuízo de responder,
crime ainda que o fato por ele imputado seja também, pela lesão corporal.
verdadeiro.
3. INJÚRIA QUALIFICADA: É
Portanto, calúnia pressupõe que o ato seja chamada, doutrinariamente, de injúria
falso, a difamação não, ou seja, ainda que o preconceituosa. É aquela ofensa à honra em
fato imputado seja verdadeiro, se houver a que se faz menção à raça, cor, etnia, origem,
intenção de ofender a honra da vítima, incidirá religião ou condição de pessoa portadora de
o crime de difamação. É por isso que, em deficiência ou de idade superior a 60 anos.
regra, cabe exceção da verdade na calúnia, e
não cabe exceção da verdade na difamação. No que concerne ofensa causada pela raça,
parte da doutrina a denomina, também, de
Contudo, caberá exceção da verdade na injúria racial.
difamação se o ato imputado disser respeito a
funcionário público no exercício das suas Existe diferença entre injúria racial e racismo.
funções eu em razão delas. Assim, se, por Na injúria racial existe a ofensa à honra por
exemplo, o agente afirmar que determinado intermédia de alusão à raça. Já no racismo, o
funcionário público está praticando ato de agente impede a prática de algum direito da
prostituição durante o horário de expediente, vítima em razão da raça. Racismo, é não
este agente poderá invocar exceção da contratar pessoa por ser de determinada raça,
verdade. é não permitir que ela estude em determinada
instituição de ensino, etc. Tal diferenciação é
3) INJÚRIA de fundamental importância haja vista que, o
racismo é crime imprescritível e inafiançável, a
É um crime contra a honra subjetiva. injúria racial, não.

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Injúria simples é aquela que não se enquadra devendo ingressar com uma queixa crime, por
nem na injúria real e nem na injúria qualificada. intermédio de advogado com poderes
específicos para ingressar no feito.
Existem duas hipóteses de perdão judicial na
injúria simples: Contudo, os crimes contra a honra serão de
ação penal pública condicionada à requisição
1) Na hipótese em que a vítima provocou do Ministro da Justiça quando for praticado
a injúria de forma reprovável contra o Presidente da República ou chefe de
2) Revide imediato: quando a vítima governo estrangeiro.
responde, de forma imediata, ofensa a honra Os crimes contra a honra serão de ação penal
proferida primeiramente contra ele. pública condicionada à representação do
É importante deixar claro, para finalizar, que os ofendido quando for o caso de injúria
crimes contra a honra são de menor potencial qualificada. Portanto, a injuria qualificada é
ofensivo. A calúnia tem pena de 06 meses a 2 crime de ação penal pública condicionada à
anos; A difamação de 03 meses a 1 ano; a representação do ofendido!
injúria simples de 1 a 06 meses. Lembrando A Súmula 714 do STF afirma que, se o crime é
que infração de menor potencial ofensivo são contra a honra do funcionário público em razão
as contravenções penais e os crimes com das suas funções, ele poderá ser de ação
pena máxima de até 02 anos. penal privada ou poderá ser de ação penal
Contudo, o único crime contra a honra que não pública condicionada à representação do
é de menor potencial ofensivo é a injúria ofendido.
qualificada, cuja pena é de 1 a 3 anos. SÚMULA 714, STF: “É CONCORRENTE A
Essas penas podem ser majoradas: LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE
QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO,
1) Quando o crime é praticado contra o CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO
Presidente da República ou chefe de governo OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR
estrangeiro. CRIME CONTRA A HONRA DE SERVIDOR
PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE
2) Quando praticado contra funcionário SUAS FUNÇÕES”.
público em razão de suas funções.
Encerramos aqui os crimes contra a honra e,
ainda dentro de crimes contra a pessoa,
iniciaremos os estudos dos crimes contra a
3) Quando praticado por meio que facilite
liberdade individual.
a divulgação.
CRIMES CONTRA A LIBERDADE
4) Contra pessoa maior de 60 anos ou
INDIVIDUAL
portador de deficiência, desde que o crime não
seja a injúria qualificada. São 04 os crimes contra a liberdade individual:
AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A 1) CONSTRANGIMENTO ILEGAL (art.
HONRA 146)
Os crimes contra a honra, em regra, são de 2) AMEAÇA (art. 147)
ação penal de iniciativa privada, ou seja, o
próprio ofendido é o titular da ação penal,

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3) SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO Se praticada por escrito, o crime será


( plurissubsistente, por que a conduta poderá
ser fracionada (escrever o email, por exemplo,
4) REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA é um ato preparatório, enviá-lo é um ato de
A DE ESCRAVO execução, mas se por acaso a vítima não
1. DO CONTRANGIMENTO ILEGAL chegar a ler esse email, ou seja, se a
mensagem não chegar ao destinatário, o crime
Constrangimento ilegal ocorre quando o não se consumará por circunstâncias alheias à
agente obriga uma pessoa, mediante violência vontade do agente, configurando, pois, a
ou grave ameaça, a fazer aquilo que a lei não tentativa).
manda, ou a proíbe de fazer aquilo que a lei
Portanto, a ameaça poderá ser
permite.
unissubsistente ou plurissubsistente, a
Trata-se de um crime subsidiário, ou seja, ele depender da forma de execução da conduta
só ocorre quando a conduta criminosa não se típica.
enquadra em um tipo penal mais grave. Por
exemplo, obrigar uma pessoa a manter 3. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO
conjunção carnal não poderá ser crime de (art. 148)
constrangimento ilegal, e sim crime de estupro; Trata-se de um crime à liberdade individual,
outro exemplo, é obrigar uma pessoa a dar mais precisamente, à liberdade ambulatorial
dinheiro à outra, nesse caso, também não (de ir e vir).
haveria de se falar em constrangimento ilegal,
mas em extorsão. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO X
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO: A
Importante destacar que a intervenção extorsão mediante seqüestro é um crime muito
cirúrgica de emergência não constitui mais grave do que o seqüestro e cárcere
constrangimento ilegal. Da mesma forma, privado, primeiramente por que o primeiro é
impedir o suicídio, ainda que mediante crime hediondo.
violência ou grave ameaça também não
constitui hipótese de constrangimento ilegal. A principal diferença entre esses tipos penais
repousa no fato de que, na extorsão mediante
2. AMEAÇA (art.147) seqüestro existe o cerceamento da liberdade
Ameaça é a promessa de um mal futuro. com um pedido de resgate, ou seja, o objetivo
Contudo, não é qualquer promessa de mal da extorsão mediante seqüestro é a obtenção
futuro que configura a ameaça. Tal promessa da vantagem econômica indevida, trata-se,
deverá ter aptidão para incutir temor à vítima. pois, de um crime de finalidade patrimonial.

É um crime de menor potencial ofensivo. De No seqüestro há apenas o cerceamento da


ação penal pública condicionada à liberdade ambulatorial da vítima, não há a
representação do ofendido. exigência de pagamento financeiro.

O crime de ameaça poderá ser praticado Importa mencionar que é cabível habeas
verbalmente, por escrito ou gestualmente. corpus contra ato de particular. Então se, por
exemplo, um hospital proíbe uma pessoa de
Se praticada verbalmente será um crime sair enquanto esta não pagar a conta, haverá
unissubsistente não admitindo, portanto, a o crime de seqüestro e cárcere privado
tentativa. praticado pelo responsável por essa

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autorização (o responsável não poderá ser o não haveria de se falar em bis in idem por que
hospital já que pessoa jurídica só comete crime são dois atos diferentes.
de natureza ambiental), nesse caso, será
cabível a impetração de habeas corpus. O § 2º do mesmo diploma legal (art. 148),
haverá uma outra hipótese de majoração de
Qual a diferença entre seqüestro e cárcere pena, no caso de o seqüestro ou cárcere
privado? No Código Penal, seqüestro e privado resultar em grave sofrimento físico ou
cárcere privado comportam um tipo só. moral à vítima. Nesse caso, a pena será de 02
Contudo, há alguns doutrinadores que a 8 anos.
defendem a idéia de que, no cárcere privado o
cerceamento da liberdade ocorre de forma Lembrando que se houver exigência de
mais restrita. Com base nesse raciocínio, resgate, não será hipótese de crime contra a
trancar uma pessoa dentro de sua casa é uma liberdade individual e sim, de crime
hipótese de seqüestro, mas trancafiá-la dentro patrimonial, mais precisamente o da extorsão
de um armário, é caso de cárcere privado. mediante seqüestro, prevista no art. 159.

Apesar dos diferentes entendimentos 4. REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA


doutrinários, o Código Penal não faz nenhuma A DE ESCRAVO (ART. 149)
distinção entre o seqüestro e o cárcere
O art. 149 estabelece possibilidades de reduzir
privado. alguém à condição análoga a de escravo,
Qualificadoras do crime de seqüestro (nestas quais sejam:
hipóteses, elencadas no §1º do art. 148, a 1) Submetendo a trabalhos forçados ou a
pena será de 02 a 05 anos): jornada exaustiva
1) Se a vítima é ascendente, 2) Sujeitando a condições degradantes de
descendente, cônjuge, companheiro do agente
trabalho
ou maior de 60 anos.
3) Restringindo, por qualquer meio, a sua
2) Se o crime é praticado mediante locomoção em razão de dívida contraída com
internação da vítima em casa de saúde ou o empregador ou preposto.
hospital.

3) Se a privação da liberdade dura mais


de 15 dias: Esta é uma modalidade de crime a Trata-se de hipóteses alternativas, não
prazo, que só se consuma depois de cumulativas, ou seja, qualquer das hipóteses
determinado tempo. configura a redução a condição análoga a de
escravo. É o que a doutrina denomina de tipo
4) Crime praticado contra menor de 18 misto alternativo.
anos.
Tipo penal misto é aquele em que há mais de
5) Se o crime é praticado com fins uma conduta descrita, no caso em questão, as
libidinosos: não precisa ter havido a pratica do condutas são: SUBMETER a trabalhos
ato sexual. Basta haver a finalidade de praticar forçados; SUJEITAR a condições degradantes
o ato libidinoso. Dessa forma, se o ato sexual de trabalho; RESTRINGIR sua locomoção. No
forçado se consumar, o agente responderá tipo misto alternativo, portanto, o sujeito pode
pelo seqüestro e pelo crime sexual, nesse caso praticar qualquer das condutas descritas, ou
várias delas, incorrendo em apenas um crime.

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Com base nesse raciocínio, o agente poderá sentido ou função; quando há o aborto, o
submeter o indivíduo a trabalhos forças E perigo de vida, a debilidade permanente.
sujeitá-lo a condições degradantes e, ainda
assim, responderá por apenas um tipo penal. A lesão corporal admite a modalidade culposa.

Pena: Reclusão de 02 a 08 anos e multa, além A lesão leve (se não cometida no âmbito
da pena correspondente à violência. residencial ou domiciliar) e a culposa são
infrações de menor potencial ofensivo.
O § 1º trata da figura equiparada à condição
análoga a de escravo, quais sejam: LESÃO CORPORAL

I - Cercear qualquer meio de transporte por 1. DOLOSA


parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no 1.1. Leve
local de trabalho.
1.2. Grave
II – Manter vigilância ostensiva no local de
trabalho ou se apoderar de documentos ou 1.3. Gravíssima
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho. 2. CULPOSA

5. CRIME DE LESÃO CORPORAL CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

A lesão corporal poderá ser dolosa ou culposa. 1. CRIME DE FURTO DE COISA


A dolosa, por sua vez, poderá ser leve, grave CONVENCIONAL (Art. 155, CP)
ou gravíssima.
Furto é subtrair para si ou para outrem coisa
A lesão corporal leve possui pena é de 06 alheia móvel. Trata-se de um crime de ação
meses até 01 ano, contudo, se praticada no penal pública incondicionada.
âmbito doméstico ou familiar a pena será
elevada para até 03 anos, lembrando, ainda,
que essa lesão praticada em ambiente Importante lembrar que não é crime o
domiciliar não será apenas contra mulher, chamado “furto de uso”, que é aquela hipótese
como ocorre mais precisamente na lei Maria da em que o sujeito subtrai, mas não para si ou
Penha. para outrem, e sim para usar e devolver.

A lesão grave é de natureza qualificada e a a) Sujeitos:


pena máxima atinge 05 anos. Um exemplo de
lesão grave ocorre quando, em decorrência a.1) Sujeito ativo: quem pode praticar o crime
desta, o sujeito fica inabilitado de exercer as de furto? Qualquer pessoa. Logo, podemos
suas funções por até 30 dias, quando dessa afirmar que o furto é um crime comum, o que
lesão resulta aceleração do parto, quando há significa dizer que ele não é um crime próprio
debilidade de membro, órgão ou função. (aquele crime que exige uma qualidade
especial do agente) e nem crime de mão
O código fala, ainda, de uma outra modalidade própria (que, além de exigir uma qualidade
de lesão qualificada cuja pena poderá chegar especial do agente, não admite a coautoria).
a 08 anos. Essa modalidade foi denominada
pela doutrina de lesão gravíssima. Ocorre a a.2) Sujeito passivo direto: é o proprietário ou
lesão gravíssima, por exemplo, quando, em possuidor da coisa.
decorrência desta há a perda do membro,

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a.2) Sujeito passivo indireto: Para todo e 2. A coisa alheia não é “coisa de ninguém” (res
qualquer crime, o sujeito passivo indireto nullius): então, coisa que não tem dono não
sempre é o Estado. poderá ser objeto material de crime de furto.

b) Objetos 3. Res delericta ou coisa abandonada: a coisa


abandonada também não poderá ser objeto
b.1) Objeto jurídico: É a posse e a material do crime de furto.
propriedade.
ESPÉCIES DE FURTO:
b.2) Objeto material: É a coisa alheia móvel.
Objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a 1. SIMPLES: É aquele que não é nem
qual recai a conduta criminosa. No caso do privilegiado e nem qualificado. A pena, para
furto, o objeto material recai sobre uma coisa, esse tipo de furto, será de reclusão de 01 a 08
é a “coisa alheia móvel” que é subtraída. anos e multa. Sobre esse furto simples poderá
incidir uma causa de aumento de pena se o
Coisa móvel: Para o direito penal, o crime for praticado durante o repouso noturno!
conceito de mobilidade é puramente material.
Dessa forma, coisa móvel é qualquer coisa 2. PRIVILEGIADO: Ele possui dois
passível de remoção, assim, não importa se a requisitos, que são cumulativos.
coisa é adquirida pela transcrição do registro Primeiramente, a coisa subtraída deverá ser
ou pela tradição. de pequeno valor e, em segundo lugar, o réu
deverá ser primário.
Ainda sobre o tema, é importante destacar que
o Código Penal equipara à energia elétrica, A doutrina vem sedimentando o entendimento
bem como outras energias de valor de que coisa de pequeno valor é aquela inferior
econômico, a coisa móvel. Então, existe o a um salário mínimo, o que se diferencia de
crime de furto de energia elétrica, por exemplo. valor insignificante, este, deverá ser analisado
Contudo, o STF entende que o sinal de TV a de acordo com cada caso concreto.
cabo não é coisa móvel e nem é energia
equiparada a coisa imóvel. Então, a subtração Dessa forma, no furto de coisa de valor
do sinal de TV a cabo não é crime de furto, insignificante, o aplicador da pena irá aplicar o
para a suprema corte essa subtração é fato princípio da insignificante e afastar a tipicidade
atípico. material, tornando o fato atípico.

Coisa alheia: Para a configuração do crime de Já o furto de coisa de pequeno valor não
furto, o objeto subtraído deverá ser alheio, enseja, por si só, uma hipótese de
logo: privilegiadora do crime, para que isso ocorra,
faz-se necessário, ainda, que o réu seja
1. A coisa alheia exclui a idéia de coisa própria, primário, se estiverem presentes,
ou seja, não é possível o crime de furto de cumulativamente, esses dois requisitos, 03
coisa própria, ainda que seja o possuidor que consequências poderão ocorrer, quais sejam:
venha a subtrair. Então, se, por exemplo, uma
pessoa alugar um carro, ela será legítima 1) O juiz poderá diminuir a pena
possuidora desse veículo, ocorre que, o 2) Substituir a reclusão pela detenção
proprietário poderá pegá-lo de volta, ainda que
sem o consentimento do possuidor, e esse ato 3) Aplicar, apenas, a pena de multa.
não configuraria crime de furto.

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3. QUALIFICADO: Primeiramente, válido Obs: As quatro primeiras hipóteses de


ressaltar que, para a nossa doutrina, não se qualificadora possuem pena de 02 a 08 anos,
aplica causa de aumento de pena para o furto já a quinta hipótese, a pena será reclusão de
qualificado. O Código Penal enumera 05 03 a 08 anos.
hipóteses de furto qualificado:
É cabível o furto qualificado e privilegiado, ao
1ª Quando o furto é praticado mediante mesmo tempo? Sim! Todas as qualificadoras
destruição ou rompimento de obstáculo à do furto são objetivas, portanto, é
coisa. Ex: arrombar um cofre, arrebentar o perfeitamente cabível, por exemplo, o furto de
vidro de um carro. coisa de pequeno valor, com réu primário mas
empregado por meio de chave falsa, por
2ª Praticado mediante emprego de chave exemplo.
falsa. O STJ entende que o crime será
qualificado quando houver o emprego de 2. FURTO DE COISA COMUM (art. 156,
qualquer instrumento equiparado à chave CP)
falsa.
O furto de coisa convencional é subtrair coisa
3ª Furto praticado mediante concurso de ALHEIA móvel. O furto comum é subtrair coisa
pessoas que também é do agente. Quem pode praticar
o crime de coisa comum: o condômino, o sócio
4ª Praticado mediante dissimulação, destreza, e o herdeiro.
escalada, fraude ou abuso de confiança, esse
abuso de confiança, porém, não poderá ser Perceba que se trata de hipótese de crime
presumido. próprio! Ou seja, não é um crime que pode ser
praticado por qualquer pessoa (como ocorre
no crime comum), o agente precisa ter alguma
qualidade especial, no caso, a qualidade de
Não devemos confundir, no entanto, o furto
mediante fraude do estelionato. Fraude é o ser sócio, condômino ou herdeiro.
engodo, fraudar é ludibriar, enganar. No É um crime de ação penal pública
estelionato também existe essa enganação. condicionada à representação do ofendido.
Ocorre que, no furto mediante fraude esta é
apenas o meio empregado para a prática da 3. ROUBO (art. 157, CP)
subtração. No estelionato, a fraude é
empregada pelo agente para que a vítima lhe Roubo é subtrair, para si ou para outrem, coisa
entre a vantagem patrimonial. alheia móvel mediante violência, grave
ameaça ou após haver reduzido a vítima à
No caso de um agente instalar um programa impossibilidade de resistência.
espião no computador da vítima e com isto,
conseguir o acesso à sua conta bancária, será O crime de roubo poderá ser próprio ou
um exemplo de furto mediante fraude ou de impróprio.
estelionato? A doutrina e a jurisprudência a) Roubo próprio: O agente emprega a
entendem que se trata de hipótese de furto violência ou a grave ameaça PARA subtrair.
mediante fraude por que, senha não é
vantagem patrimonial. b) Roubo impróprio: é aquele em que a
subtração já se iniciou e o agente emprega a
5ª Furto de veículo automotor destinado a violência ou a grave ameaça para assegurar o
outro estado ou a outro país. êxito da subtração. Ex.: O agente invade a

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casa, acreditando que ela estava vazia e, não tinha potencialidade lesiva, não incidirá a
quando estava saindo com os bens, o dono da causa de aumento.
casa chega e esse agente o agride a fim de
assegurar o êxito de sua subtração. 2ª Roubo praticado em concurso de
pessoas.
Antigamente, se entendia que havia
consumação do crime de roubo com a posse 3ª Roubo praticado mediante a
pacífica do bem, ou seja, quando o agente restrição da liberdade. Ex.: praticar o roubo e
puder usar, gozar ou dispor da coisa deixar a vítima amarrada. Importante destacar
livremente. Dessa forma, entendia-se que a que aquilo que a imprensa chama de
coisa subtraída (também chamada de res “seqüestro relâmpago” não é roubo e sim é
furtiva) teria que sair da esfera de vigilância da hipótese de extorsão.
vítima. 4ª Roubo praticado contra pessoa que
Hoje em dia, contudo, a jurisprudência do STJ está em serviço de transporte de valores,
trabalha com a teoria da apreensão (ou desde que o criminoso saiba disso
apreensio). A teoria da apreensão dispensa a 5ª Roubo de veiculo automotor
posse pacífica do bem! Logo, a coisa subtraída destinado a outro estado ou outro país.
não precisa sair da esfera de vigilância da
vítima, basta que ela saia da esfera de O §3º do art. 157, são hipóteses em que as
disponibilidade dela. Dessa forma, o agente penas mínimas e máximas do crime de roubo
que saca uma arma e subtrai a carteira da são majoradas, são, portanto, casos de
vítima, a roubou, ainda que essa vítima qualificadora da pena. Essa hipótese de
consiga que os policiais o prendam. majoração ocorre quando, do emprego da
violência, ocorre a lesão corporal grave ou a
A violência ou grave ameaça, por si só, morte da vítima.
descaracteriza o princípio da insignificância,
ainda que a coisa subtraída seja de valor Lembrando que o roubo seguido de morte é
ínfimo. Portanto, se um agente saca uma arma chamado de latrocínio! Ocorre que a
para roubar dez centavos, por exemplo, não expressão “latrocínio” não está prevista no
haverá a aplicação do princípio da Código Penal, apesar de ser empregada pela
insignificância. doutrina, jurisprudência e por outras leis
extravagantes, a exemplo da leis de crimes
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (§ 2º): hediondos.
Aumenta-se a pena do roubo (que é de
reclusão de 04 a 10 anos), (hipóteses O latrocínio é um crime hediondo!
chamadas pela jurisprudência de roubo
circunstanciado): SUMÚLA 603, STF: Afirma que o crime de
latrocínio é de competência do juiz singular, e
1ª Roubo praticado mediante o não do tribunal do júri.
emprego de arma. Arma de brinquedo não
enseja causa de aumento! Crimes que vão à júri são os dolosos contra a
vida, o latrocínio é, na verdade, crime contra o
Em relação à arma, o STJ tem uma patrimônio.
jurisprudência no seguinte sentido: 1) Não é
preciso que haja um laudo pericial para se SÚMULA 610, STF: Consumado o homicídio e
aferir a potencialidade lesiva da arma, mas se ainda que não consumada a subtração dos
houver um laudo pericial que diga que arma bens, o latrocínio será tentado, e não tentado.

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Tanto o roubo quanto o latrocínio serão crimes o agente não tem como obter a vantagem
pluriofensivos e complexos! econômica indevida se a vítima não sacar a
quantia por ele exigida.
1) Crime pluriofensivo: é aquele que tutela
mais de um bem jurídico, ou seja, é aquele que Extorsão qualificada (art. 158, § 3º):
se consuma mediante a ofensa a mais de um
bem jurídico. É a hipótese vulgarmente chamada de
seqüestro relâmpago. Ocorre quando o
2) Crime complexo: é aquele que resulta criminoso pega a vítima e a leva para sacar o
mais de um crime, mais de um tipo penal. O dinheiro contido na sua conta. É uma hipótese
roubo, por exemplo, é um furto (subtrair para si de extorsão por que, nesse caso, esse agente
ou para outrem coisa alheia móvel), somado a precisa da conduta da vítima para obter a
uma lesão corporal (mediante violência) ou vantagem patrimonial que ele deseja.
crime de ameaça (ou grave ameaça) ou
constrangimento ilegal (após haver reduzido a A extorsão é de natureza qualificada por mera
vítima à condição que impossibilite a deliberação do legislador que, em 2009
resistência). modificou a redação do § 3º do art. 158,
elevando a pena para de 06 a 12 anos.
4. EXTORSÃO (ART. 158, CP)
5. EXTORSÃO MEDIANTE
Extorsão é constranger alguém, mediante SEQUESTRO (art. 159, CP)
violência ou grave ameaça e com o intuito de
obter uma vantagem econômica indevida, a
fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça Nesse caso, há um cerceamento da liberdade
alguma coisa. A pena, nessa hipótese será de ambulatorial da vítima (sequestro) para a
04 a 10 anos. obtenção de vantagem econômica indevida, se
É um crime formal, ou seja, a extorsão se tratando, pois, de um crime patrimonial. Assim,
consuma independente da produção do ocorre o crime de extorsão mediante seqüestro
resultado naturalístico. Ou seja, é um crime quando o agente cerceia a liberdade da vítima
que se consuma ainda que o agente não e exige o pagamento de quantia para a sua
obtenha a vantagem patrimonial indevida. liberação.
Portanto, a obtenção da vantagem indevida se É um crime hediondo! É, inclusive, um dos
dará após a consumação e será mero poucos crimes em que há previsão de delação
exaurimento. premiada.
A grande diferença entre a extorsão e o roubo Delação premiada é uma hipótese de
é que, no roubo, a conduta da vítima é diminuição de pena para o delator. Não
dispensável, ou seja, o agente não precisa da confunda delação premiada com confissão
conduta da vítima para obter a vantagem ilícita. espontânea! Esta ultima é válida para todo e
Já na extorsão, o agente precisa do qualquer crime e ocorre quando o agente
comportamento da vítima para obter a confessa fato típico cometido por ele, na
vantagem indevida. delação premiada esse agente não apenas
Exemplo de extorsão: Uma pessoa se dirige à confessa o crime que ele praticou como ele
vítima, que está em um caixa eletrônico, e delata os comparsas. Além disso, a confissão
exige que ela saque todo o seu dinheiro, espontânea é mera atenuante, já a delação
ameaçando-a de morte. Veja que, nesse caso, premiada é uma causa de diminuição de pena.

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Outra diferença muito importante é que a Para a doutrina essa é uma hipótese do
delação premiada só é válida se for eficaz! Ou chamado crime de conduta mista, que é aquela
seja, só haverá a delação premiada se esta for espécie de crime em que o agente pratica uma
eficaz para a descoberta do crime. A confissão ação e uma omissão. No caso em questão, o
espontânea, por sua vez, irá atenuar a pena responsável tributário pratica a ação de
ainda que o fato confessado já esteja descontar o valor da contribuição
comprovado no processo, ou seja, a pena será previdenciária, e a omissão de não repassar
diminuída ainda que o agente confesse fato já esse valor aos cofres públicos. Contudo, a
sabido por todos. jurisprudência do STF e do STJ, esse é um
crime omissivo próprio!!!
6. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (art. 168,
CP) De acordo com a jurisprudência, no crime de
apropriação indébita previdenciária não se
Ocorre quando o criminoso tem a posse ou a exige o animus rem sibi habendi.
detenção legítima da coisa. Ou seja, não é
possível a ocorrência da apropriação indébita O § 3º do art. 168-A, trata de hipóteses que
quando o sujeito tiver empregado meios podem beneficiar o réu; nessas casos, o juiz
fraudulentos para a obtenção da posse. poderá deixar de aplicar a pena (perdão
judicial) ou aplicar apenas a pena de multa:

• Requisito subjetivo: se o agente for


Ocorre a apropriação indébita quando o primário e tiver bons antecedentes, desde que
agente adquire legitimamente a posse da
coisa, tem a pretensão de devolvê-la, mas, • Requisito objetivo: tenha promovido,
com o passar do tempo ele passa a agir com o após o início da ação fiscal e antes de
animus rem sibi habendi, ou seja, ele passa a oferecida a denúncia, o pagamento da
ter a intenção de se apropriar da coisa, de ser contribuição social previdenciária, inclusive
dono, de haver a coisa para si. Logo, o agente acessórios – Dessa forma, se o agente fizer o
muda o dolo, no início ele tinha a pretensão de pagamento antes do inicio da ação fiscal,
restituir a coisa para o dono, mas depois passa haverá a extinção da punibilidade. Se for
agir como se proprietário fosse. depois da ação fiscal mas antes de oferecida a
denúncia, será uma causa de perdão judicial
6. APROPRIAÇÃO INDÉBITA ou aplicação da pena de multa.
PREVIDENCIÁRIA (art. 168-A)
• O valor das contribuições devidas,
É um crime que envolve contribuições sociais inclusive acessórios, seja igual ou inferior
e, por isso, é de competência da Justiça àquele estabelecido pela previdência social,
Federal. administrativamente, como sendo o mínimo
O responsável tributário é aquele que tem o para o ajuizamento de suas execuções fiscais
papel de pegar o dinheiro do contribuinte e – Existe um valor mínimo a partir do qual a
repassá-lo aos cofres da previdência. Ocorre Fazendo Nacional é obrigada a fazer a
o crime de apropriação indébita previdenciária execução do devedor, atualmente esse valo é
quando esse responsável tributário desconta o de R$ 20.000,00.
valor referente à contribuição social, do salário ESTELIONATO (art. 171, CP)
do contribuinte e não repassa aos cofres da
previdência.

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Estelionato é levar, ou manter a pessoa em onde se deu a recusa do pagamento pelo


erro e, com isso, obter uma vantagem sacado”
econômica indevida.
De acordo com a jurisprudência, portanto, a
O dolo bilateral não exclui o estelionato! Ou competência para julgamento de crime de
seja, se a vítima do estelionato também estiver emissão de cheque sem fundos é o local onde
agindo com dolo, ou seja, a pretensão da houve a recusa do pagamento do cheque.
vítima de “se dar bem”, não afasta o dolo do Importante destacar, contudo, que o local da
estelionário. recusa será o local em que o estelionatário
possui a conta bancária. Assim, se, por
Existem 03 tipos de estelionato: exemplo, ele tem conta bancária em Salvador
mas emite o cheque em Sergipe, o local da
1) Art. 171, § 3º: Estelionato previdenciário
(contra a previdência social) – Ocorre, por recusa será Salvador, por que este é o local
exemplo, quando uma pessoa recebe um em que o agente possui a conta bancária. A
beneficio previdenciário ao qual não tem recusa do pagamento se dá no lugar em que o
agente titulariza a conta bancária.
direito.

O STF entende que, para quem pratica fraude, 3) Estelionato mediante falsificação de cheque
- Neste caso, o correntista é vítima do crime. O
mas não recebe o benefício, o crime é
instantâneo. Ex. funcionário do INSS q recebe foro competente para processar e julgar o
quantia para falsificar a documentação de uma crime de falsificação de cheque, é o do local
pessoa a fim de que esta receba o benefício. onde houve a obtenção da prova ilícita,
Para esse funcionário o crime é instantâneo. conforme prescreve a súmula 48, do STJ:
Mas, para quem faz a fraude e recebe o Súmula 48, STJ: “compete ao juízo do local da
benefício previdenciário todos os meses o obtenção da vantagem ilícita processar e julgar
crime é permanente!! Dessa forma, enquanto crime de estelionato cometido mediante
esse agente estiver recebendo o benefício, ele falsificação de cheque”
permanece na pretensão e criminosa e a
prescrição nem começa a correr, esta, só OUTROS ENTENDIMENTOS SUMULADOS
começará a correr no momento em que cessar ACERCA DO ESTELIONATO
a permanência!
Súmula 73, STJ: “A utilização de papel moeda
2) Emissão dolosa de cheque sem fundo – grosseiramente falsificado, configura, em tese,
Nesta hipótese, o estelionatário é o titular da o crime de estelionato, da competência da
conta. Para o STF, o pagamento do cheque até justiça estadual” – O crime de moeda falsa é
o recebimento da denúncia extingue a incompatível com o “falso grosseiro”, ou seja,
punibilidade! quando a falsificação for grosseira, não haverá
de se falar em crime de moeda falsa (cuja
Súmula 244, STJ: “compete ao foro do local da competência é da Justiça Federal) e passará a
recusa processar e julgar o crime de ser, em regra, o crime de estelionato, que é de
estelionato mediante cheque sem provisão de competência da justiça estadual.
fundos”
Súmula 17, STJ: Quando o falso se exaure no
Súmula 521, STF: “O foro competente para o estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
processo e o julgamento dos crimes de por este absorvido”.
estelionato, sob a modalidade de emissão
dolosa de cheques sem fundos, é o do local

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