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Lucila Pesce ∗
Claudia Barcelos de Moura Abreu ∗∗
RESUMO
ABSTRACT
* Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Pós-doutora em Filosofia e História da
Educação pela Universidade de Campinas (Unicamp). Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unifesp. Endereço para correspondência:
Estrada do Caminho Velho, 333. Bairro dos Pimentas – Guarulhos – São Paulo. CEP: 07252-312. lucila.pesce@uniesp.br /
lucilapesce@gmail.com
** Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professora do Departamento de Educa-
ção da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIFESP.
Endereço para correspondência: Estrada do Caminho Velho, 333. Bairro dos Pimentas – Guarulhos – São Paulo. CEP: 07252-
312. claudia.abreu@unifesp.br / claudia.bar.moura@gmail.com
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humanos. Nesse processo, o vivido e o experien- apreensão do fenômeno de segunda mão: os relatos
ciado assumem uma centralidade. As pesquisas dos sujeitos de pesquisa. À guisa de capturar, tanto
desenvolvidas com base na Fenomenologia estão quanto possível, a essência do fenômeno observa-
especialmente preocupadas com a análise dos re- do, o pesquisador fenomenológico lança mão do
latos e as descrições dos sujeitos que vivenciaram círculo hermenêutico (compreensão – interpreta-
o fenômeno em tela. A Fenomenologia questiona ção – nova compreensão) no momento da redução
a premissa positivista de que o pesquisador deve fenomenológica.
buscar a neutralidade, salientando que tal premissa Graças à redução fenomenológica, o pesquisa-
não considera as crenças e os valores presentes nos dor consegue aproximar-se, tanto quanto possível,
pensamentos e nas ações do investigador. da essência do fenômeno observado. A redução
É comum assumir a ideia de que o método feno- fenomenológica é desenvolvida por meio de duas
menológico é particularmente indicado nos casos etapas: a análise ideográfica e a análise nomotética,
em que o método científico clássico não consegue oriunda da rede de significados dos depoimentos
apreender o fenômeno, em toda sua complexidade analisados. Na análise ideográfica, o pesquisador
e inteireza. As pesquisas que contemplam a análise levanta as unidades de significado dos depoimentos
de fenômenos subjetivos têm como premissa a dos sujeitos de pesquisa e, consequentemente, as
ideia de que as verdades essenciais sobre uma dada asserções articuladas à linguagem desses sujeitos.
realidade amparam-se na experiência vivida. Por Na análise nomotética, o pesquisador elabora a
essa razão, é comum que as investigações desen- rede de significados, articulando as asserções de
volvidas com base na Fenomenologia voltem-se acordo com três indicadores: por convergência,
à análise dos relatos e das descrições dos sujeitos divergência e transcendência. Esse movimento
que vivenciaram o fenômeno. de análise possibilita ao pesquisador apreender a
Diferentemente das pesquisas positivistas, a parcela invariante da experiência vivida comum a
investigação com base na Fenomenologia não todos os sujeitos. Dessa apreensão, o pesquisador
lida com o conceito de hipóteses (que devem ser levanta as temáticas comuns aos participantes, que
verificadas), mas sim com o conceito de suposições podem ser tomadas como categorias de análise, e
(que devem ser respondidas, com base na análise os depoimentos singulares (idiossincráticos) dos
dos relatos dos sujeitos). sujeitos de pesquisa sobre o fenômeno.
A pesquisa desenvolvida com base na Feno- Feita a análise, o investigador parte, então,
menologia postula a existência de dois mundos: o para a coleta, reflexão e interpretação dos dados
mundo da aparência e o mundo da essência. O mun- do mundo vivido, procurando os significados ma-
do da aparência relaciona-se à dimensão objetiva, nifestos na situação de análise, sem lançar mão do
a qual se refere às manifestações dos sujeitos de seu marco teórico. Na Fenomenologia, tal atitude
pesquisa, ou seja, ao que eles fazem e dizem sobre é denominada status de suspensão ou epoqué. A
o fenômeno observado. Por essa razão, o mundo da epoqué advoga a ideia de que a compreensão do
aparência é passível de ser identificável pelo pesqui- fenômeno não emana dos fundamentos teóricos
sador (observador externo). Por sua vez, o mundo da preconcebidos pelo investigador sobre o fenômeno
essência refere-se à dimensão subjetiva, relacionada estudado; ao contrário, deve emergir da compre-
à experiência, às emoções, aos pensamentos, às ensão do pesquisador, conforme este vá imergindo
sensações. Por isso, para a Fenomenologia, o mundo no fenômeno observado. Por isso, o pesquisador
da essência – ou sentido – dos fenômenos pode ser que se vale da vertente fenomenológica busca
compreendido a partir do modo como ocorrem na colocar suas pressuposições entre parênteses. A
experiência. A essência mostra-se, até onde é pos- ação que advém do processo fenomenológico de
sível ao observador compreendê-la, no modo como investigação consubstancia-se como nova compre-
os fenômenos vividos se manifestam. Diante dessa ensão, revelada como proposta, em forma de novo
circunstância, o investigador fenomenológico busca questionamento.
ir além das aparências e se aproximar, tanto quanto As duas vertentes filosóficas da pesquisa quali-
possível, da essência do fenômeno, por meio da tativa – Dialética e Fenomenologia – consubstan-
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ciam-se como instâncias basilares dos princípios gação” (tradução livre do original “Basic Beliefs
desta abordagem metodológica. Corroborando (Metaphysics) of Alternative Inquiry Paradigms”)
este entendimento, o quadro de Guba e Lincoln – aponta a Dialética como uma das raízes de duas
(1994, p. 109) – intitulado “Crenças Básicas (Me- vertentes da pesquisa qualitativa: o Construtivismo
tafísicas) dos Paradigmas Alternativos de Investi- e a Teoria Crítica.
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te um fato à experimentação, trabalhando com tais investigações seguem um padrão que se apoia
condições de controle, mensurando a constância na observação, na formulação e na verificação de
das incidências e das exceções. De acordo com hipótese, bem como na predição e na explicação
os pressupostos positivistas, tudo deve ser feito científica. Nesse intento, a pesquisa experimental
sem que o pesquisador influencie a realidade que lança mão da quantificação (quando estabelece
observa. Para o Positivismo, o conhecimento cien- frequência das ocorrências, por meio de tratamento
tífico caracteriza-se como o modo de conhecimento estatístico) para estabelecer o determinismo fun-
que não é imediatista, uma vez que nega qualquer cional. Essas pesquisas pressupõem um modelo
perspectiva de superficialidade. Ao mesmo tempo de investigação que emana das ciências naturais,
procura atender ao princípio da generalidade, de que segue a lógica indutiva para estabelecer leis,
forma que o resultado de uma pesquisa seja válido por intermédio de verificações objetivas que se
a distintas situações. Nessa perspectiva, o conheci- fundamentam na análise estatística.
mento científico é autocrítico, pois a comunidade Entretanto, a complexidade do ser humano e das
científica julga suas próprias produções, já que não sociedades que o acolhem dificilmente é passível de
há conhecimento absoluto e definitivo. Por fim, ser plenamente analisada segundo os indicadores
caracteriza-se como atividade metódica, por meio positivistas. As particularidades humanas põem
da qual as ações poderão ser reproduzidas. às claras a inadequação, em boa parte das vezes,
Todavia, assumir o princípio de verificação dos pressupostos positivistas para o estudo dos fe-
como demonstração de verdade aparta das ciências nômenos sociais. Ao menos esse tem sido o cabal
humanas distintos conhecimentos que não podem argumento das duas grandes vertentes que põem em
ser comprovados pela via do experimento. Os cheque o Positivismo: a Dialética e a Fenomenolo-
diversos valores culturais e as distintas circunstân- gia. Com tal questionamento, essas correntes reivin-
cias sociais e históricas, a flexibilidade da conduta dicam um estatuto epistemológico e metodológico
humana, a impossibilidade de o investigador não próprio, considerando as especificidades do fenô-
influenciar o fenômeno que observa são fatores que meno humano como objeto de estudo das Ciências
inviabilizam a almejada objetividade positivista. Sociais. Como adverte Santos (1988), a ação huma-
De acordo com Santos (1988), as Ciências na é eivada de subjetividade; por essa razão não há
Sociais acolhem diversas tendências. A vertente como explicá-la, na sua completude, tão somente a
positivista busca tomar para si os pressupostos partir dos cânones positivistas, que se fundamentam
das ciências naturais. De acordo com o referido em características exteriores e objetiváveis. Razão
sociólogo, as pesquisas fundadas no Positivismo pela qual a pesquisa qualitativa ampara-se em outros
adotam um modelo que imprime ao conhecimento princípios, como a não neutralidade do observador,
um estatuto utilitário e funcional, por se apoiarem posto tratar-se de sujeito imerso em circunstâncias
em conceitos como: a) o rigor científico a ser aferido historicamente datadas. Bogdan e Biklen (1994, p.
pelas medições; b) a importância de o investigador 51) também chamam atenção para isso: “O processo
buscar a neutralidade, para não interferir no fenô- de condução da investigação qualitativa reflecte
meno que observa; c) a relevância de os resultados uma espécie de diálogo entre os investigadores e os
da investigação poderem ser generalizados para respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados
distintas situações de análise; d) a importância da de forma neutra”.
coleta de dados ater-se à amostra estatística (igual ou A Ciência como prática social esclarece a ideia
superior a 10% do universo observado); e) a necessi- de que, na escolha do processo de pesquisa, a
dade de um dado trabalho ser desenvolvido com dois construção de conhecimento vale-se da compre-
grupos: o grupo controle e o grupo experimental. ensão e da interpretação dos significados cons-
Chizzotti (2006) lembra que as investigações no truídos socialmente pelo investigador. Ou seja, a
campo das ciências humanas desenvolvidas sob a construção do conhecimento ocorre em condições
lógica das ciências naturais têm sido genericamente historicamente datadas das teorias e métodos, assim
denominadas de pesquisas quantitativas, positi- como da temática de pesquisa. Em outros termos,
vistas ou experimentais. Segundo o pesquisador, o método científico é mais do que a descrição dos
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passos da pesquisa. Daí as escolhas no processo que é uma solução proposta para um problema. Fatos
de pesquisa emanarem de princípios ontológicos e levantados, dados descobertos por procedimentos de
epistemológicos do investigador e fundamentarem pesquisa e ideias avançadas, se articulam justamente
o modo pelo qual a pesquisa deverá ser desenvol- enquanto portadores de razões comprovadas daquilo
que se quer demonstrar. E é assim que a ciência se
vida. Ao falarmos da natureza do conhecimento
constrói e se desenvolve.
científico, devemos ter em mente que embora a
produção de conhecimento seja uma prática social No tocante ao rigor inerente a todo e qualquer
e histórica – fato que, a princípio, poderia indicar estudo científico aliado a aspectos éticos, Chizzotti
algumas tendências –, o que ocorre é a convivência, (2006, p. 58) acrescenta:
nem sempre pacífica, de distintas visões de ciência Cresce, porém, a consciência e o compromisso de
e de abordagens metodológicas. Ou seja, em um que a pesquisa é uma prática válida e necessária na
mesmo momento histórico, nem todos os investi- construção solidária da vida social, e os pesquisa-
gadores apoiam-se nos mesmos pressupostos, em dores que optaram pela pesquisa qualitativa, ao se
função de distintos modos e de diferentes aborda- decidirem pela descoberta de novas vias investiga-
gens de pesquisa, as quais, por sua vez, acolhem tivas, não pretenderam nem pretendem furtar-se ao
diferentes visões de sociedade, de ser humano e rigor e à objetividade, mas reconhecem que a expe-
de conhecimento. riência humana não pode ser confinada aos métodos
Por essa razão, os momentos preliminares de nomotéticos de analisá-la e descrevê-la.
uma investigação – em que o pesquisador traça o A seu turno, Severino (1996, p. 117), ao tecer
diagnóstico da realidade a ser observada, o modo considerações acerca da natureza do conhecimento
de organizar os dados coletados e a delimitação da científico, deflagra a relação dialética entre teoria
problemática de investigação – são feitos sempre a e dados empíricos:
partir da materialidade histórica do pesquisador e
Com efeito, a ciência depende da confluência dos
das suas escolhas teóricas e metodológicas. dois [movimento teórico e movimento empírico,
O que será pesquisado? Qual a relevância cien- grifo nosso] que, considerados isoladamente, só têm
tífica e/ou social do que será pesquisado? Onde a sentido formal. Só a teoria pode dar ‘valor’ científico
pesquisa será desenvolvida? Junto a quem? (quando a dados empíricos, mas, em compensação, ela só gera
a pesquisa envolve sujeitos)? De que modo (em ter- ciência se estiver em interação articulada com esses
mos de delineamento do método, de esclarecimento dados empíricos.
das fontes de informação, de instrumentos de coleta
Chizzotti (2006) sinaliza que a investigação
de dados e de perspectiva de análise e interpretação
científica é crivada pela combinação de várias
dos dados)? Essas são questões imanentes a todo
concepções de mundo e de distintos pressupostos
e qualquer trabalho científico. Todavia, os pressu-
teóricos, que se revelam no método escolhido pelo
postos teóricos e metodológicos variam, a depender
da cosmovisão do pesquisador. pesquisador. Entretanto, seja qual for a vertente
Vale destacar que, a despeito das diferentes adotada, a investigação científica ergue-se em
vertentes de pesquisa científica, todas se ancoram meio ao trabalho sistemático (definido segundo
na busca por rigor, por meio de estudo sistemático, critérios claros, bem estruturados e amparados
consistente, que procure plausibilidade e profundi- em uma vertente teórica e em uma perspectiva
dade, quando do ato de investigar. metodológica) de explicação ou compreensão dos
Em relação a isso, Severino (1996, p. 117) nos dados observados.
ensina: Até agora esclarecemos a existência de distintas
abordagens da pesquisa científica e consideramos
Mas, qualquer que seja a forma do trabalho cien-
sobre alguns indicadores da pesquisa positivista,
tífico, é preciso relembrar que todo trabalho desta
natureza tem por objetivo intrínseco a demonstra- também chamada de pesquisa quantitativa ou
ção, o desenvolvimento de um raciocínio lógico. experimental. Sabemos que grande parte das pes-
Ele assume sempre uma forma dissertativa, ou seja, quisas em ciências humanas e sociais, incluindo-se
busca demonstrar, mediante argumentos, uma tese, o campo da Educação, é desenvolvida sob a égide
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da pesquisa qualitativa. Diante disso perguntamo- Descrever significa assumir a ideia de que os
-nos sobre quais seriam as suas características dados são recolhidos em forma de palavras ou
fundamentais. Os autores acima citados anunciam imagens e não de números. Isso porque há dados,
que a pesquisa qualitativa abarca diversos tipos de como transcrições de entrevistas, notas de campo,
investigação, tal como a pesquisa bibliográfica, a fotografias, vídeos, documentos pessoais, me-
pesquisa documental, a pesquisa etnográfica, a morandos e outros registros oficiais, que não são
pesquisa histórica, a pesquisa ação, a pesquisa passíveis de serem reduzidos a símbolos numéricos.
participante, o estudo de caso e o estudo de campo, Esses dados devem ser analisados em toda a sua
dentre outros. complexidade e inteireza, considerando-se o modo
Chizzotti (2006, p. 28) refere-se às pesquisas como foram registrados ou transcritos. O relatório
designadas genericamente como qualitativas, ao de uma pesquisa qualitativa pode chegar a assumir
dizer que “[...] usando, ou não, quantificações, um caráter “anedótico”, quando a descrição e a
pretendem interpretar o sentido do evento a partir narração das situações são permeadas pela visão de
do significado que as pessoas atribuem ao que falam mundo do pesquisador e dos observados. Os autores
e fazem”. E ainda: lembram que a coleta dos dados descritivos deve
A pesquisa qualitativa abriga, deste modo, uma ser feita de forma minuciosa e o pesquisador deve
modulação semântica e atrai uma combinação de se mostrar sensível aos detalhes que observou, pois
tendências que se aglutinaram, genericamente, sob todos eles são importantes para uma compreensão
este termo: podem ser designadas pelas teorias que mais esclarecedora do objeto.
as fundamentam: fenomenológica, construtivista, • Os investigadores qualitativos interessam-
crítica, etnometodológica, interpretacionista, femi- -se mais pelo processo do que simplesmente
nista, pós-modernista. Pode, também, ser designada pelos resultados ou produtos.
pelo tipo de pesquisa: etnográfica, participativa,
pesquisa-ação, história de vida etc. (CHIZZOTTI, Para Bogdan e Biklen (1994) é primordial que o
2006, p. 30). investigador não se restrinja aos resultados obser-
Muitos são os estudiosos que se voltam ao vados, mas, ao contrário, esteja atento a questões
levantamento das características primordiais da estritamente relacionadas ao processo da pesquisa.
pesquisa qualitativa, dentre os quais destacamos Nesse sentido, investigar sobre como as pessoas
Bogdan e Biklen (1994), pelo foco na pesquisa significam um dado fenômeno ou sobre como de-
qualitativa em Educação, revelado no levantamento terminado assunto passa a integrar o senso comum
de cinco características: pode fazer uma diferença primordial no campo da
pesquisa qualitativa.
• Na investigação qualitativa a fonte direta de
dados é o ambiente natural, constituindo o • Os investigadores qualitativos tendem a
investigador o instrumento principal. analisar os seus dados de forma indutiva.
Bogdan e Biklen (1994) destacam a importância Outra questão apontada por Bogdan e Biklen
(1994) é a tendência de os dados da investigação
de o investigador comparecer ao locus da investiga-
qualitativa serem analisados com enfoque indutivo.
ção, em tempo significativo, para de fato ser capaz
Na investigação qualitativa, o pesquisador não
de elucidar as questões de pesquisa. Nesse movi-
lida com hipóteses levantadas a priori, para serem
mento, a coleta dos dados “em situação” necessita
confirmadas, ou não. Na pesquisa qualitativa, o
ser complementada por informações obtidas por
pesquisador levanta suposições no decorrer da
intermédio do contato direto do investigador com
investigação. O enfoque indutivo realiza-se em um
a situação de análise. No tocante à compreensão
movimento em que as abstrações vão sendo cons-
do contexto, os autores asseveram que os locais
truídas à medida que os dados vão sendo coletados
devem ser compreendidos no contexto da história
e agrupados. Bogdan e Biklen (1994) amparam-se
das instituições a que pertencem.
no conceito de Teoria Fundamentada de Glaser e
• A investigação qualitativa é descritiva. Strauss (1967), em que as categorias de análise,
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ao invés de serem levantadas a priori, a partir do a amostra por saturação teórica, quando os dados
quadro teórico de referência, emergem da coleta coletados passam a apresentar redundâncias.
dos dados. Dito de outro modo, a categorização
ganha forma, na medida em que o pesquisador Considerações finais
coleta e examina os dados. No enfoque indutivo,
a análise inicia-se com um foco mais amplo e, no No presente estudo bibliográfico procuramos
transcurso da pesquisa, vai se tornando cada vez destacar a noção de que o conhecimento é uma
mais específico. construção histórica. A partir desse entendimento
trouxemos algumas considerações sobre o Positi-
• O significado é de importância vital na
vismo e sobre as principais bases filosóficas da pes-
abordagem qualitativa.
quisa qualitativa: a Dialética e a Fenomenologia.
Outro aspecto primordial, no campo da inves- Também buscamos evidenciar a inexistência de
tigação qualitativa, é a importância auferida ao uma verdade única, no âmbito da Ciência, mormen-
significado construído pelos sujeitos implicados te nas pesquisas em Ciências Humanas e Sociais.
no fenômeno em estudo. O investigador tem in- Com base nessa premissa, elencamos algumas
teresse particular sobre o modo como os sujeitos características do conhecimento científico, com
dão sentido ao fenômeno em tela. Em relação a atenção às especificidades da pesquisa qualitativa
isso, Bogdan e Biklen (1994) retomam as ideias de no campo da Educação. Salientamos a coexistência
Erickson (1986) e de Dobbert (1982), para quem de distintas abordagens metodológicas de pesquisa,
o investigador de uma pesquisa participante, ao em um mesmo momento histórico, a depender da
procurar apreender as perspectivas dos sujeitos cosmovisão do pesquisador.
envolvidos, deve atentar para a dinâmica interna da Essas breves linhas a respeito das bases filosófi-
situação pesquisada. Esse movimento de apreensão cas da investigação qualitativa e de seus princípios
é absolutamente distinto daquele em que o investi- têm o objetivo de melhor fundamentar o entendi-
gador recolhe os dados em uma situação pontual, mento da especificidade de boa parte das pesquisas
como observador externo à situação estudada. desenvolvidas na área de Educação. Como prática
A investigação qualitativa também se afasta da social, a investigação, no campo da Educação,
pesquisa quantitativa, no que se refere a outros dois conclama uma abordagem epistemológica que
tópicos: generalização e amostra. perceba, cientificamente, os fenômenos próprios da
A investigação quantitativa lida com o conceito Educação, considerando suas particularidades em
de generalização estatística, por meio da qual os relação aos demais campos das Ciências Humanas
resultados da pesquisa podem ser generalizados e, mais ainda, em relação às Ciências Naturais.
a outras situações. A investigação qualitativa, a A Educação, enquanto praxis, é constituída
seu turno, lida com o conceito de generalização de intencionalidade. Por esse motivo há muitas
naturalística. De acordo com a generalização pesquisas educacionais que se erguem em meio a
naturalística, o valor do produto da pesquisa é uma intervenção política, com o objetivo de con-
percebido unicamente como fruto do processo. Por tribuir para a constituição dos sujeitos envolvidos
isso, os achados da pesquisa são passíveis de serem no processo educacional.
generalizados tão somente a situações semelhan- A investigação no campo da Educação traz
tes à estudada. A pesquisa quantitativa lida com a para si elementos simbólicos que são mediados
amostra estatística, o que equivale a dizer que a pela cultura. Os atores do universo educacional,
amostra é significativa somente quando igual ou a despeito de serem submetidos a determinantes
superior a 10% do universo observado. A seu turno, circunstanciais, interagem todo momento com
a investigação qualitativa trabalha com a amostra tais determinantes. Nesse movimento, sujeitos e
não probabilística, na qual os depoimentos dos determinantes circunstanciais interatuam e se modi-
sujeitos são compreendidos como representantes ficam mutuamente. É preciso ter isso em mente, no
de um segmento de pertença (FONTANELLA et momento de se proceder às escolhas metodológicas
al., 2008). A pesquisa qualitativa também observa das pesquisas, na área educacional.
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Lucila Pesce; Claudia Barcelos de Moura Abreu
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Recebido em 25.05.2013
Aprovado em 28.07.2013
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