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1 Introdução 5
1.1 Dimensões, magnitudes e escalas caracterı́sticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Teoria e empirismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Metodologia de solução de problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5 Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 Revisão de fundamentos 19
2.1 Equilı́brio Termodinâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 O estado gasoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.1 Equação de estado dos gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.2 Mistura de gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3 Comportamento de gases não-ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3 O estado lı́quido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.1 Equação de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.3.2 Equilı́brio lı́quido-vapor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4 O estado sólido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4.1 Sólidos cristalinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4.2 Sólidos amorfos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.5 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.7 Na WEB: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3
4 ÍNDICE
6 Formulário 215
6 ÍNDICE
Capı́tulo 1
Introdução
“Science can amuse and fascinate us all, but it is engineering that changes the world.“
Isaac Asimov, Book of Science and Nature Quotations, 1988.
Os sistemas naturais e construı́dos pela engenharia apresentam grandes variações de escalas car-
acterı́sticas de comprimento, tempo, massa e temperatura. Os fenômenos de transporte estão
presentes em diversas escalas, dependem de fenômenos fı́sicos e quı́micos que ocorrem nas menores
escalas e são descritos por modelos que relacionam os fenômenos que ocorrem nas menores com
os fenômenos que ocorrem nas maiores escalas. O reconhecimento destas escalas caracterı́sticas
permite uma apreciação da variedade de fenômenos que podem ser descritos pelo mesmo conjunto
de princı́pios, da flexibilidade necessária àqueles interessados em entender os fenômenos de trans-
porte que ocorrem na natureza e na engenharia, e permite antever a necessidade do uso de modelos
concentuais e técnicas matemáticas diferentes dependendo do objetivo do estudo.
Observe nas tabelas abaixo a grande variedade de escalas caracterı́sticas de comprimento, tempo,
massa e temperatura observadas na natureza e na engenharia. Nestas tabelas, são apresentados
os valores caracterı́sticos de várias grandezas nas unidades tradicionais ou de uso cotidiano e nas
unidades no Sistema Internacional de Unidades (SI). Observe como os sistemas geológicos e do
meio-ambiente, como a atmosfera, os oceanos, rios e lagos podem ter dimensões entre dezenas de
metros e milhares de quilômetros. O estudo das correntes atmosféricas ou oceânicas, os escoamentos
no manto terrestre e nos rios exige a necessidade de observar os movimentos de grandes massas de
fluidos, sujeitas a grandes forças motoras dos movimentos observados. Existem técnicas adequadas
para realizar essas observações, como a fotografia por aeornaves ou por satélites, a observação
por radar, ou por balões e bóias de sondagem. No outro extremo dos sistemas naturais, nos
organismos biológicos existem escoamentos com dimensões caracterı́sticas de micrometros, tı́picas
de células, vasos capilares e bronquı́olos pulmonares. Esses escoamentos estão na fronteira entre os
escoamentos contı́nuos que estudaremos aqui e os escoamentos moleculares, estudados em outras
disciplinas da fı́sica e da engenharia. Embora as técnicas de solução dos modelos de fenômenos
de transporte possam ser diferentes, dependendo da tradição e conveniência da área aplicada, os
modelos fundamentais são os mesmos. O mesmo grupo de 3 ou 4 equações fundamentais, ou
princı́pios de conservação, são os mesmos e são amplamente aplicados no estudo dos fenômenos
citados. Algumas das aplicações dos modelos que desenvolveremos são citadas na próxima seção.
7
8 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Comprimento:
Tempo:
Massa:
Temperatura:
Zero absoluto 0K
Mı́nima temperatura já medida (ordem de) 10−5 K
Temperatura residual (de fundo) do universo 2,3 K
Ebulição do hélio 4, 216 K
Ebulição do hidrogênio 20, 28 K
Ebulição do nitrogênio 77, 35 K
Fusão do gelo 0o C 273, 15 K
Ebulição da água 100oC 373, 15 K
Fusão do alumı́nio 933, 52 K
Temperatura de uma chama adiabática de metano e ar 2200 K
Centro da terra 4000 K
Superfı́cie do sol 5780 K
Plasmas 104 a 107 K
Centro do sol 2 × 107 K
Fissão do urânio 235 5 × 107 K
Fusão do deutério (isótopo de hidrogênio) 4 × 108 K
Temperatura no momento do Big-Bang 1032 K
10 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Nas tabelas anteriores, você percebeu que alguns valores são expressos de forma mais compacta
utilizando múltiplos das respectivas variáveis. Por exemplo, a massa da terra é 5, 98 × 1024 kg.
Esse valor corresponde ao número 5,98 acompanhado de 24 zeros. Uma forma alternativa e mais
compacta de apresentar-se esse valor é obtida quando se usa um múltiplo da unidade kg, por
exemplo, através do prefixo zetta: 1 zetta = 1021 . Assim, poderia-se expressar a massa da terra
como 5,98 Zg (lê-se ”zettagrama”). A Tabela (1.b) no Apêndice mostra os prefixos utilizados no
sistema internacional de unidades (SI).
Exemplo:
Segundo o Balanço Energético Nacional, uma edição anual da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), do Ministério de Minas e Energia do Brasil (MME), na sua edição de 2015, a oferta
de energia no Brasil foi de 305589 mil tep. A unidade tep significa Tonelada Equivalente de
Petróleo e equivale grosseiramente à energia contida em 1 tonelada (1000 kg) de petróleo. A
unidade tep é bastante útil para expressar os valores de energia utilizados pelos paises nas suas
diversas formas, permitindo uma comparação direta entre várias formas de produção e consumo. A
unidade equivalente internacional é o toe, ton of oil equivalent. Considerando a tabela de conversão
fornecida abaixo, converta esse valor para o prefixo que permitiria uma expressão mais compacta
nas unidades cal, J e W-h.
Solução:
Da tabela acima, 1 tep equivale a 41,87 GJ, ou seja, 41,87 ×109 J. Assim, a oferta interna de
energia no Brasil em 2014 na unidade J torna-se:
Portanto, a oferta interna de energia no Brasil no ano de 2014 equivaleu a 12,80 ×1018 J, ou seja,
12,80 EJ (lê-se ”exajoule”).
Para as outras unidades sugeridas, seguindo procedimento semelhante, a oferta interna de energia
no Brasil no ano de 2014 pode ser expressa como:
Exemplo:
Uma molécula de DNA (ou ADN, ácido desoxirribonucleico) é um polı́mero formado pela repetição
de monômeros denominados nucleotı́deos. O nucleotı́deo é formado por uma base (adenina,
tiamina, guanina ou citosina), ligada a uma molécula de pentose (C5 H8 O5 ) e um radical fos-
fato (PO−34 ). Cada nucleotı́deo apresenta diâmetro aproximado de 3,3 angstroms (0,33 nm). As
células humanas apresentam grande variação em tamanho e forma, dependendo da sua função.
As hemácias presentes no sangue estão entre as células mais abundantes e apresentam diãmetro
aproximado de 8 µm. Considere uma indivı́duo com estatura de 1,7 m. Estabeleça uma escala que
1.2. APLICAÇÕES 11
facilite a compreenção das dimensões mencionadas acima. Para isso, assuma que um nucleotı́deo
seja ampliado até atingir o diâmetro de uma bola de tênis de mesa, ou seja, 40 mm. Quais seriam
os tamanhos da hemácia e do indivı́duo humano?
Solução:
Inicialmente, converteremos todas as dimensões fornecidas para o m. Assim, tem-se
1 [m]
dnucelotı́deo [m] = 0, 33 [nm] × = 3, 3 × 10−10 m
109 [nm]
1 [m]
dhemácia [m] = 8 [µm] × 6 = 8 × 10−6 m
10 [µm]
Lindivı́duo [m] = 1, 70 m
dhemácia 8 × 10−6 8
= = × 104 = 2, 4 × 104 = 24.000
dnucelotı́deo 3, 3 × 10 −10 3, 3
Lindivı́duo 1, 7 1, 7
= = × 1010 = 5, 2 × 109 = 5.200.000.000
dnucelotı́deo 3, 3 × 10−10 3, 3
Portanto, se um nucleotı́deo for ampliado até o tamanho de uma bola de tênis, a hemácia seria
um disco com aproximadamente 960 m de diâmetro, ou seja, o equivalente a um prédio de 300
andares, e um indivı́duo teria a altura de 208.000 km, ou seja, a metade da distância entre a terra
e a lua.
Comentário: Esse exemplo expressa a grande diferença entre as escalas geométricas tı́picas dos
problemas na nanotecnologia quando comparados com os problemas na escala da percepção hu-
mana.
1.2 Aplicações
Alguns exemplos de sistemas e processos onde fenômenos de escoamento são importantes:
sucessos, becos sem saı́da e perı́odos de estagnação. Os avanços empı́ricos obtidos na antiguidade
na produção de alimentos, metais, abastecimento de água, saneamento e construção permitiram
a fixação e crescimento das cidades. A ciência nessa época, quando existiu momentaneamente,
preocupava-se em determinar os mecanismos de funcinamento da vida e do universo sem se pre-
ocupar de fato em observar a própria vida e o universo. No pensamento ocidental, uma grande
quebra desse modelo ocorreu quando Kepler, seguindo desenvolvimentos de Compérnico e Ticho
Brahe, documentou as primeiras observações quantitativas das trajetórias dos movimento dos plan-
etas. Nesse momento, a ciência deixou de ser uma atividade intelectual e contemplativa, para se
basear na quantiicação de fenômenos, como forma objetiva de observar o universo. Um segundo
momento marcante foi o trabalho de Galileu em correlacionar as medições das trajetórias dos plan-
etas e aquelas realizadas em experimentos com o movimento dos corpos na forma de leis naturais,
com o objetivo de ligar matematicamente causas e efeitos e permitir a previsão de comportamen-
tos. Essa etapa se mostrou um divisor de águas, pois sugeria que o trabalho dedicado de medição
e correlação permitiria conhecer e prever os movimentos no universo. Porém, o maior desen-
volvimento ocorreu pioneiramente com Newton que, pela primeira vez, mostrou que, com alguns
poucos conceitos fundamentais sobre a natureza do movimento, seria possı́vel extrair conclusões
ainda mais amplas, a partir do estabelecimento de teorias. A revolução industrial se beneficiou do
estabelecimento das bases da dinâmica e da termodinâmica clássicas e alimentou essas ciências ao
provocá-las com as novas necessidades e realizaçãos de máquinas térmicas, elétricas e mecânicas, as
quais passaram a ser aplicadas em larga escala. O intenso desenvolvimento da fı́sica e da quı́mica a
partir do século 19 passou a favorecer o modelamento teórico fundamentado em idéias, observações
e medições quantitativas, como a base do desenvolvimento de novos conceitos, processos e produ-
tos. Atualmente, a construção e teste de protótipos desenvolve-se em paralelo com a aplicação da
teoria, baseia-se no estado atual de conhecimento teórico sobre o assunto e visa obter comprovação
qualitativa e quantitativa das previsões baseadas em modelos conceituais. A busca de inovação
não admite mais a dissociação entre conhecimento técnico teórico e prática de engenharia.
Historicamente, a necessidade de entendimento e modelamento de fenômenos em diversas escalas
levou ao surgimento de descrições fı́sicas desde as escalas atômicas até descrições do comportamento
das substâncias como meios contı́nuos. A descrição formal em uma escala usualmente independe
dos argumentos usados em outras descrições ou outras escalas. Porém, o entendimento fı́sico dos
processos não corre nenhum risco ao se beneficiar de conceitos provenientes de diversas descrições.
Esta disposição em mudar os pontos de vista e referências dinamicamente é uma atitude tecnica-
mente saudável e incentivada. Para nós, será um hábito e uma ferramenta.
Devemos lembrar também que o avanço técnico e cientı́fico não segue uma linha contı́nua de
descobertas e melhorias em antigas teorias. Na realidade, os modelos que utilizamos atualmente
foram desenvolvidos algumas vezes em paralelo. Informações obtidas nas análises e experimentos
serviram de inspiração, sustentação ou refutação que deu origem a outras análises, que por sua
vez puderam modificar ou confirmar os conceitos nos quais foram baseadas. Assim, em alguns
casos é normalmente difı́cil estabelecer uma ordem de precedência nos conceitos fı́sicos e é quase
sempre impossı́vel dissociar o conceito fı́sico da observação objetiva da natureza. Por exemplo,
a relação entre temperatura de um gás e a sua energia interna nasceu da observação, mas foi
somente explicada de maneira satisfatória com o desenvolvimento de um modelo molecular para
o gás. Em face da aparente falta de continuidade linear entre conceitos, o que realmente importa
é a capacidade de entender as relações e limitações dos vários modelos e conceitos e daı́ extrair o
conhecimento necessário.
situação de interesse e seja capaz de fornecer o que se espera a partir daquilo que se conhece ou se
pode intuir. Este modelo fı́sico é, no princı́pio, apenas uma idéia que pode ser expressa verbalmente.
A partir da clareza do entendimento do problema fı́sico, esta idéia é expressa em termos de teorias
fı́sicas. Esta enfoca apenas nos apectos relevantes ao problema e busca-se simplificar ou eliminar
aspectos acessórios através de hipóteses simplificativas. Em mecânica dos fluidos, este modelo fı́sico
normalmente se baseia em uma teoria de conservação e transporte de alguma propriedade fı́sica e
em relações para o comportamento das substâncias. A seguir, o modelo fı́sico é expresso através de
um modelo matemático, ou seja, o princı́pio fı́sico é expresso pela linguagem da matemática. Esta
linguagem traduz o modelo fı́sico em expressões sintéticas e com um significado exato, desenvolvidas
de forma lógica e cujas soluções e implicações fornecem os comportamentos para as diferentes
faces do fenômeno. A atividade de escrever um modelo matemático é equivalente a traduzir-
se uma história expressa na sua lı́ngua natal para outra lı́ngua, mais sintética, porém lógica e
organizada segundo regras que permitem avançar em deduções e consequências, temporariamente
esquecendo-se o texto inicial. Ao final do processo, volta-se à história original e verifica-se se
as conclusões obtidas são realmente pertinentes à natureza do problema. Esta é a atividade de
verificar se a solução obtida está correta e satisfaz os objetivos iniciais. Inicia-se por conferir se os
cálculos estão matematicamente corretos, se as unidades obtidas estão coerentes e se os resultados
possuem ordem de magnitude correspondente às nossas espectativas sobre a resposta. Caso estas
espectativas não sejam satisfeitas, é hora de rever o método de solução, ou então, rever as próprias
espectativas com base no novo conhecimento adquirido. Frequentemente, perguntamos se o modelo
fı́sico foi adequado ou se as hipóteses simplificativas foram adequadas. Se tudo parece correto, falta
conferir se a solução pode ser aceita como realidade. Na prática, a teoria deve permanecer correta,
ou precisaremos revisar a prática, a teoria, ou ambas! Neste momento, projetos de produtos
ou processos usualmente requerem testes experimentais ou testes com modelos, em escala real,
ou modificada (reduzida ou ampliada). Os testes experimentais podem tanto verificar aspectos
especı́ficos do problema, ou o próprio sistema analisado na sua integridade. Testes com modelos
são utilizados quando a construção de um protótipo apresenta custos proibitivos ou envolve um
risco inaceitável, financeiro, técnico ou de segurança. Por exemplo, testes com modelos são comuns
na indústria da mobilidade (automobilı́stica, naval e aero-espacial). Caso os testes confirmem as
predições anteriores, o modelo é aceitável. Senão, nova iteração é iniciada até atingir-se o objetivo
formulado no inı́cio (ou rever-se o próprio objetivo!). Em algum momento, os riscos tornam-se
aceitáveis e a tomada de decisão é possı́vel. O trabalho do engenheiro não se encerra ainda, pois
seguem-se as etapas de planejamento da manufatura, manufatura, acompanhamento, diagnóstico,
formulação de melhorias, venda, pós-venda etc., completando a cadeia de lançamento e consolidação
de um produto. A menos de projetos com um escopo reduzido, dificilmente o mesmo engenheiro
atuará de forma significativa em todas estas etapas.
Neste texto, enfoca-se os primeiros momentos do processo da engenharia: a definição do problema
e a análise na busca de soluções. Alguns poucos exercı́cios de sı́ntese serão possı́veis, mas dentro de
um escopo limitado. Outras disciplinas utilizarão os conceitos desenvolvidos na sı́ntese de sistemas
mecânicos mais complexos.
1.5 Escopo
O objetivo dessas notas de aula é fornecer uma introdução à Mecânica dos Fluidos, com ênfase nas
aplicações e na interação com as diversas áreas da engenharia. Para este fim, serão explorados os
conceitos fı́sicos e matemáticos da disciplina, sua aplicação na solução de problemas de engenharia,
os fundamentos da utilização de aproximações e empirismo e o uso inovativo destes conceitos e
ferramentas na busca de soluções de problemas.
Os problemas de mecânica dos fluidos possuem como objetivos principais determinar as relações
entre as forças aplicadas, ou para prover a movimentação de um fluido, ou como reação ao movi-
mento do fluido, e as acelerações e velocidades observadas. O fluido é um meio deformável. No
interior dos escoamentos, o fluido é comprimido, estendido, sofre cisalhamento, rotação e translação.
As moléculas que formam a substância em escoamento, em contı́nua agitação térmica, são trans-
16 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
portadas e misturadas. Em um fluido formado por uma mistura de moléculas diferentes (imagine
uma mistura de tintas azul e vermelha; ou água salgada e água potável, ou fumaça de exaustão
e o ar ambiente), isento da ação de forças de corpo, isso implica em homogenização da sua com-
posição. Em um fluido já molecularmente homogêneo, as diferentes moléculas trocam de lugar e,
embora cada molécula individualmente possa se deslocar a distâncias muito grandes ao longo do
tempo, principalmente quando em fase gasosa, a composição local permanece constante ao longo
do tempo. Para a análise de um problema dinâmico do ponto de vista molecular, mesmo que
estático macroscopicamente, precisamos definir o nosso foco de análise, o objeto que identificamos
como o foco da análise, por exemplo, pintando-o, e então, precisamos acompanhá-lo a medida que
ele sofre as suas transformações. Esse menor objeto de análise, o ponto de partida das análises, é
denominado de partı́cula de fluido. No próximo capı́tulo, realizaremos uma descrição mais cuida-
dosa das propriedades da partı́cula de fluido. No momento, basta imaginá-la como uma porção de
fluido que pode ser identificada, rastreada e ter a sua posição e forma determinada a cada instante
de tempo e cujas forças aplicadas sobre ela ou por ela, possam ser continuamente quantificáveis.
A Figura 1.5 mostra uma partı́cula de fluido com massa m = ρV , expressa na unidade kg (kg ≡
kg/m3 × m3 ) sob a ação da força resultante FR = F1 + F2 + F3 , expressa na unidade Newton
do Sistema Internacional de Unididades, SI (1 N = 1 kg-m/s2). Como resultado da aplicação da
força FR , a partı́cula de fluido é acelerada com aceleração a, expressa em (m/s2 ) e adquire uma
velocidade instantânea v, expressa em (m/s).
F2
Partícula de fluido m=rV
a
FR
F1
v
F3
Figura 1.1: Aceleração a e velocidade v da partı́cula de fluido que resulta da aplicação da resultante
de forças externas FR = F1 + F2 + F3 .
A segunda lei de Newton expressa uma relação entre a força resultante, a massa e a aceleração
da partı́cula de fluido. Observe que essa relação envolve apenas três unidades fundamentais: Uma
unidade de massa, m, uma unidade de comprimento, L, e uma unidade de tempo, t. A temperatura,
T, pode ser uma variável importante nos problemas, por exemplo, nos quais a massa especı́fica do
fluido varia ao longo do escoamento. A unidade de massa, a qual expressa a inércia da partı́cula de
fluido, pode ser substituı́da pela unidade de força como unidade fundamental, sem prejuı́zo para
as análises. Aqui, adotaremos a unidade de massa como fundamental. No Sistema Internacional
de Unidades, SI, as unidades fundamentais são o quilograma (kg), o metro (m), o segundo (s) e
o Kelvin (K). Essas quatro unidades fundamentais permitirão expressar as unidades de todas as
variáveis importantes para os escoamentos que encontraremos ao longo desse texto. A Tabela 1
apresenta algumas variáveis e as suas respectivas unidades. Algumas dessas variáveis ainda não
foram apresentadas a você, mas serão definidas no momento adequado.
Por exemplo, para expressar uma força usamos a unidade N que equivale a kg-m/s2 . Para a
pressão, usamos Pa que equivale a N/m2 , ou, kg/m-s2 . Certamente, o produto de pressão por
uma área produz uma força, como as unidades indicam. Ainda, todo o problema terá valores
caracterı́sticos de massa, comprimento e tempo, os quais nos fornecerão os valores caracterı́ticos
1.5. ESCOPO 17
das forças, aceleraçoes, velocidades etc.. Identificar esses valores caracterı́sticos para cada problema
depende de experiência e habilidade, mas, quando possı́vel, essa identificação nos permite conhecer
como o escoamento responderá às variações nas suas condições, como por exemplo, como a força
responde às variações de velocidade ou vice-versa.
Nessa parte, são apresentados os conceitos fundamentais relacionados aos fluidos e ao seus escoa-
mentos. Um fluido, em contraste com um sólido, será definido através do seu comportamento
quando submetido à uma força de cisalhamento. Quando um sólido é sujeito a um esforço cisal-
hante, este apresenta uma deformação finita ou se rompe, dependendo da magnitude do esforço
aplicado. Por outro lado, quando um fluido sofre um esforço de cisalhamento, ele se deforma con-
tinuamente. A dinâmica dos fluidos visa estabelecer relações entre velocidades, acelerações, forças
e energias em um fluido em escoamento. Os princı́pios fundamentais de conservação da massa,
energia e quantidade de movimento são empregados para descrever os escoamentos e quantificar a
interação do fluido com as superfı́cies e ambiente que o envolve.
O estudo dessa parte será dividido nos seguintes capı́tulos:
mente, a análise dimensional permite definir, a priori, os grupos de variáveis que determinam
as magnitudes da velocidade, aceleração, força e energia caracterı́sticas de um determinado
escoamento. Esses grupos de variáveis, ou, grupos adimensionais, podem ser utilizados para
prever e interpretar de uma forma generalizada as caracterı́sticas, ou regimes caracterı́sticos,
dos escoamentos.
4. Escoamento invı́scido: Ao invés de postular o padrão dos escoamentos, deseja-se prevê-los a
partir das condições que existem na sua origem e contornos. Nesse capı́tulo, o movimento das
partı́culas de fluido são mapeadas em termos das suas trajetórias e o campo de velocidade
correspondente é mapeado nas suas linhas de corrente. A partir da definição do campo
de aceleração de um fluido e da sua relação com o balanço de forças definido anteriormente,
obtém-se as relações diferenciais que modelam o comportamento de escoamentos para os quais
os efeitos da viscosidade não são dominantes. Essas relações são convertidas em equações
aplicáveis na direção ao longo e normal às linhas de corrente. Obtém-se a equação de Bernoulli
e discute-se a sua relação com a conservação da energia em um escoamento. As soluções de
alguns escoamentos potenciais são analisadas.
5. Escoamento viscoso: Nos escoamentos viscosos, os efeitos de viscosidade se tornam domi-
nantes e as equações obtidas no capı́tulo anterior devem ser estendidas de acordo. Inicia-se
analisando os movimentos de rotação e deformação a que são sujeitas as partı́culas de fluido
durante o escoamento. O campo de tensão é definido e sua relação com o campo de taxa
de deformação é postulado. Desenvolve-se o balanço de força incluindo os efeitos viscosos e
compõe-se as equações gerais para a análise de escoamentos, ou equações de Navier-Stokes.
Essas equações são aplicadas na descrição de escoamentos simples que são analisados em
termos das forças resutlatnes e da conversão de energia mecânica. Analisa-se as causas e
caracterı́sticas da transição e desenvolvimento do escoamento turbulento. Apresenta-se o
tratamento semi-empı́rico dos escoamentos internos e externos.
Os capı́tulos a seguir visam cobrir os conteúdos e conceitos de uma forma construtiva e indutiva.
Embora a apresentação dos capı́tulos siga uma sequência construtiva de teorias e modelos, cada
capı́tulo é escrito em uma forma que visa minimizar sua dependência dos anteriores. As con-
struções matemáticas mais elaboradas são acrescentadas para maior complitude e formalismo, mas
podem ser suprimidas sem prejuı́zo ao entendimento fı́sico dos fenômenos e solução dos exemp-
los de aplicações. Exemplos resolvidos e exercı́cios com resposta são incluı́dos para encorajar o
aprendizado independente e possibilitar a utilização
As pricipais referências, disponı́veis em lı́ngua portuguesa e adequados para o ensino de graduação,
utilizadas na preparação deste material estão indicadas abaixo. Encoraja-se a leitura de trechos
extraı́dos destas referências para complementar o material aqui apresentado e permitir o contato
com os textos mais utilizados na área de fenômenos de transporte em geral. Acredita-se que esta
prática estimulará o desenvolvimento de uma atitude de aprendizado independente e contı́nuo.
1.6 Referências
Termofı́sica
1. Atkins, P., Fı́sico-Quı́mica - Fundamentos, 3a. Edição, LTC Editora, 2003.
2. Kaviany, M., Fundamentals of Heat Transfer Physics, Cambridge, 2008.
3. Kittel, C., Thermal Physics, Wiley, 1989.
Ciências Térmicas:
1. Schmidt, F. W., Henderson, R. E. e Wolgemuth, C. H., Introdução às Ciências Térmicas,
Editora Edgard Blücher, 1996.
Termodinâmica:
1.6. REFERÊNCIAS 19
Revisão de fundamentos
“ Zeroth: You must play the game. First: You can’t win. Second: You can’t break even. Third:
You can’t quit the game.“
Charles Percy Snow, fı́sico inglês, sobre as Leis da Termodinâmica.
O objetivo deste capı́tulo é mostrar os modelos termodinâmicos utilizados para a descrição das pro-
priedades dos gases, lı́quidos e sólidos. A modelagem dos fenômenos de escoamento, transferência
de calor e transporte de massa requer relações matemáticas para as propriedades termodinâmicas
das substâncias. Embora a descrição da energia potencial e cinética nos átomos e moléculas fornece
uma visão de como ocorrem e se mantém as ligações quı́micas, estas relações somente ainda não
permitem prever o comportamento observado macroscopicamente na substância quando esta es-
coa, é aquecida, ou tem a sua pressão subtamente reduzida. Para o estudo destes processos (e
outros) precisa-se de relações que descrevem a influência das energias potencial e cinética, atômica
ou molecular, nas propriedades observadas macroscopicamente, como a pressão, a temperatura e
o volume ocupado por uma substância. Ainda, precisa-se de um modelo consistente que relacione
as diferentes propriedades macroscópicas observadas. Este é o objetivo da termodinâmica. Os
modelos descritos neste capı́tulo são modelos de equilı́brio e nos próximos serão descritos modelos
de não equilı́brio (transporte).
A Termodinâmica, clássica e estatı́stica, descreve as relações entre propriedades das substâncias
em equilı́brio. A Termodinâmica visa:
21
22 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
sistema permanece constante, apenas a composição de mistura varia. A energia do sistema decresce
devido à transferância de calor para o bloco do motor.
Vizinhança:
Tudo que está localizado fora do sistema, mas tem relação com o seu comportamento.
Exemplo: Para o sistema formado pela mistura ar-combustı́vel no interior do cilindro de um motor
de combustão interna, sua vizinhança é formada pelos ambientes nas câmaras que precedem a
entrada da válvula de admissão e que se seguem ao orifı́cio de descarga, e pelas superfı́cies do
cilindro, cabeçote, pistão, vela e bico injetor (se existir injeção direta).
Estado termodinâmico:
As caracterı́sticas do sistema, determinadas por configurações e interações microscópicas (de origem
atômica ou molecular), mas que manifestam-se macroscopicamente, podendo ser inferidas através
de medições.
Exemplo: Para uma substância pura, compressı́vel (ar, por exemplo), a medição da sua pressão
p(Pa), temperatura T (K) e volume ocupado V (m3 ) determina o seu estado termodinâmico.
Coordenadas termodinâmicas:
São as variáveis macroscópicas que se relacionam (e determinam) o estado do sistema.
Exemplo: Uma substância pura, compressı́vel, descrita pela sua pressão p(Pa), volume V (m3 ) e
temperatura T (K). A especificação de duas destas coordenadas (p e T , por exemplo) determina o
valor da terceira (V , por exemplo) e o estado termodinâmico do sistema, em especial, sua energia
interna U (J).
1. Um vapor de uma substância pura, como água, que é o fluido de trabalho em uma central
termelétrica de geração de energia elétrica, cuja energia carregará as baterias de um veı́culo
elétrico.
5. Uma barra de metal homogênea sendo deformada pela ação de uma força externa.
6. A superfı́cie de uma emulsão polimérica sendo expandida para ocupar o volume de uma
cavidade.
2.1. EQUILÍBRIO TERMODINÂMICO 23
7. Uma célula eletroquı́mica irrevesı́vel (ou bateria) ou uma célula a combustı́vel alimentada
por hidrogênio.
A descrição de todos estes processos terá em comum a identificação do sistema, da vizinhança, das
coordenadas apropriadas e das interações e seguirá através da aplicação dos princı́pios básicos.
Exemplo: Uma substância pura, compressı́vel (ar, por exemplo), experimenta um processo de
expansão adiabática. Os valores de pressão p(Pa) e volume V (m3 ) do gás ao longo do processo
podem ser representados em um diagrama p − V conforme a figura a seguir. Note que o aumento
de volume causa a redução da pressão. Como o processo é adiabático, durante a expansão, a
temperatura também decresce.
Sistema
p
1
• Mecânicas: por exemplo, por ação de uma força aplicada na sua superfı́cie.
• Térmicas: por tranferência de calor com uma fonte a temperatura diferente em contato com
a fronteira do sistema.
• Quı́mica: por transferência de massa com um corpo com composição diferente em contato
através de uma membrana permeável.
Quando o sistema, ao ser liberado, não sofre mudança de estado, ele estará em equilı́brio:
• Mecânico: quando não existem forças desbalanceadas nem internamente, nem externa-
mente.
24 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
• Térmico: quando não existem diferenças de temperatura internamente ou entre este e sua
vizinhança.
• Quı́mico: quando não existe difusão de espécies quı́micas nem internamente, nem para
dentro ou fora do sistema (isto é descrito pela propriedade denominada potencial quı́mico).
Quando o sistema encontra-se em equilı́brio termodinâmico nem ele, nem a vizinhança sofrem
mudança de estado. A Termodinâmica não se preocupa com a taxa na qual os processos ocorrem,
apenas com o ponto de partida, o caminho e o ponto de chegada de um processo. Em uma análise
termodinâmica, assumimos que, em cada instante do processo, as propriedades do sistema são
homogêneas no seu interior. Isto requer que o sistema ou esteja ”bem misturado” ou então que ele
seja suficientemente pequeno para que variações nos valores das propriedades no seu interior sejam
negligenciáveis.
Exemplo: Uma barra metálica em cujo interior ocorre transferência de calor por condução.
T, oC Distribuição de
temperatura inicial
T1
T2
x, m
Sólido
Lado Lado
quente frio
L
Figura 2.2: Ausência de equilı́brio local: Uma barra metálica é aquecida à temperatura T1 na
extremidade x = 0 e resfriada à temperatura T2 na extremidade em x = L. A parte superior
da figura apresenta um gráfico de temperatura T versus distância x que mostra a distribuição de
temperatura ao longo da barra metálica.
Considere uma barra na qual existe uma variação linear de temperatura, com temperatura T1 =
100o C em uma extremidade e T2 = 20o C na outra. Esta barra é então completamente isolada
do ambiente e sofre um processo de equalização de temperatura na direção do equilı́brio térmico.
Imaginemos dois cenários possı́veis. No primeiro cenário, a barra é feita de cobre puro, o qual
possue elevada condutividade térmica. Neste caso, após, digamos 10 s, as duas extremidades da
barra estarão respectivamente a T1 = 61o C e T2 = 59o C. A diferença de temperatura sobre toda
a barra é de apenas cerca de 2o C. Podemos então obter a energia interna da barra, com boa
aproximação, somente como
U = U (t, T̄ )
onde T̄ = 60o C.
Neste segundo cenário, consideremos uma barra feita de aço carbono, o qual possui condutividade
térmica cerca de 6 vezes menor que a do cobre puro. Após, digamos 10 s, as duas extremidades
da barra estarão respectivamente a T1 = 90o C e T2 = 30o C. A diferença de temperatura sobre
toda a barra é de cerca de 70o C. Neste caso, não podemos utilizar apenas uma única temperatura
para caracterizar o estado termodinâmico da barra (e calcular a energia interna). Porém, podemos
pensar que sobre pequenas regiões, onde as diferenças de temperatura não são maiores que cerca
de 1o C ou 2o C, a energia interna é termodinamicamente bem definida e para estas regiões podemos
aproximar a energia interna por unidade de massa como
u = u(t, T (x))
2.2. O ESTADO GASOSO 25
onde T (x)(o C) é a temperatura ”local” na posição x que identifica a região de análise. Neste caso,
a energia interna total para a barra é
Z
U= ρu(t, T (x))dV
V
A descrição das mudanças de estado de um sistema requer um modelo que defina a natureza
particular da substância e do sistema em análise. Este modelo expressará as diferenças importantes
existentes estre os gases, os lı́quidos e os sólidos.
pV = constante (2.1)
2. Charles (1787) e Gay-Lussac (1802): para uma dada massa e pressão constante, o volume
ocupado pelo gás cresce linearmente com a temperatura:
V = Vo (1 + aT ) (2.2)
3. Para uma dada massa e volume constante, a pressão do gás cresce linearmente com a tem-
peratura:
p = po (1 + bT ) (2.3)
4. Avogadro: Para qualquer gás perfeito, a constante dos gases possui o mesmo valor se a mesma
quantidade de moléculas do gás é considerada. Este valor é Ru = 8314 J/kmol-K.
26 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
5. Dalton: a pressão exercida por uma mistura de gases é equivalente a soma das pressões
exercidas por cada gás atuando sozinho. Para Ng gases, tem-se
Ng
X
p= pi (2.4)
i=1
A partir destas evidências empı́ricas, pode-se escrever uma equação de estado para uma quantidade
equivalente a 1 kmol de substância como
pV = Ru T (2.5)
pV = nRu T (2.6)
Lembrando que a massa especı́fica ρ(kg/m3 ) relaciona-se com o número de moles n(kmol) por
m Mg n
ρ= = (2.7)
V V
onde Mg (kg/kmol) é a massa molar do gás, pode-se escrever
Ru Ru
p=ρ T = ρRg T ; Rg = (2.8)
Mg Mg
A Eq. (2.6) é chamada equação de estado dos gases ideais. A Figura 2.2.1 mostra em forma
gráfica a superfı́cie definida no diagrama p-V -T . Neste diagrama, os eixos horizontais representam
a temperatura T e o volume V e o eixo vertical representa a pressão p calculada pela equação dos
gases ideiais. Embora a equação de estado estabeleça relações entre p, V e T , obtidas a partir de
observações experimentais, estes conceitos não sugerem nenhuma relaçao entre estas propriedades
macroscópicas e propriedades mais fundamentais dos gases. A teoria cinética dos gases é um
modelo para estas relações.
Figura 2.3: Superfı́cie pVT para um gás ideal e as projeções em dois planos: Pressão p versus Vol-
ume V e Temperatura T versus Volume V (Fonte: ChemWiki - The Dynamic Chemistry Hypertext.
Section 6.2: Ideal Gas Model: The Basic Gas Laws).
onde a velocidade média quadrática das moléculas hc2 i (m/s) é dada por
∞
! ∞
2 n1 c21 + n2 c22 + ... 1 X
2 1X
hc i = = P∞ n i ci = ni c2i (2.10)
n1 + n2 + ... i=1 n i i=1
n i=1
(Observe que nesta seção n e m são definidos de forma diferente do que no restante do texto). A
existência de grupos de moléculas ni com velocidades entre ci e ci + dci , onde dci é tão pequeno
quanto se queira, implica na existência de uma distribuição de probabilidade de velocidades. Esta
distribuição é denominada de distribuição de velocidades de Maxwell-Boltzmann e não será desen-
volvida explicitamente por enquanto. Por enquanto, basta que esta distribuição exista e seja bem
definida.
Embora o modelo assuma que não há colisão mútua entre as moléculas do gás, são as colisões que
garantem que o sistema atingirá uma configuração de equilı́brio. Esta aparente contradição não
causará um problema maior se assumirmos que não é nosso interesse descrever o que acontece no
momento da colisão, mas apenas observar os resultados obtidos quando as moléculas do gás já se
encontram com uma distribuição de velocidades definida estatisticamente. Em particular, mesmo
negligenciando as colisões entre moléculas, estas irão colidir de forma elástica com as paredes do
recipiente que as contém. A quantidade de movimento linear de uma partı́cula é definida como o
produto mi ci . A velocidade ci terá componentes nas direções x, y, e z identificados por u, v e w.
Durante uma colisão elástica, existe conservação da quantidade de movimento do sistema formado
pela molécula e pela parede. Se tentarmos manter a parede estacionária durante a ocorrência
deste impacto, deveremos aplicar uma força nas suas costas equivalente à variação da quantidade
de movimento da molécula que chocou-se com ela. Esta força que usamos para impedir que a
parede se mova com este choque, dividida pela área da parede, é chamada de pressão, ou seja, a
pressão que o gás exerce sobre a parede. Observe que o valor desta pressão independe da orientação
da parede, mas deve depender de parâmetros como a velocidade média das moléculas do gás e a
28 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
onde
∞
1X
hu2 i = ni u2i (2.13)
n i=1
Observa-se que a velocidade das moléculas possui direção aleatória e todas as direções são igual-
mente prováveis. Denotando v e w as velocidades moleculares nas direções y e z, respectivamente,
pode-se assumir para um número grande de moléculas que
1 2
hu2 i = hv 2 i = hw2 i = hc i (2.14)
3
Portanto, tem-se
1
p= nmhc2 i (2.15)
3
onde n é o número total de moléculas por m3 ocupando um volume V = l3 e m é a massa de
uma molécula. Esta expressão relaciona a pressão termodinâmica exercida pelo gás com a energia
cinética média das moléculas do gás. Nota-se que pode-se escrever
2
p= nEc (2.16)
3
Sendo N o número total de moléculas de gás e n = N/V , pode-se escrever
1
pV = N mhc2 i (2.17)
3
Considerando uma quantidade de mistura equivalente a 1 mole, N = NA onde NA é a constante
de Avogadro. Assim, pode-se escrever
1
pV = NA mhc2 i (2.18)
3
Comparando esta equação com a equação de estado dos gases ideais para 1 mole de mostura,
pV = Ru T (2.19)
e
2
pV = NA Ec , (2.22)
3
ou seja, a temperatura do gás é proporcional à energia cinética média das moléculas e o produto
pV é proporcional à energia cinética total das moléculas do gás. Observa-se que neste modelo
simplificado nem a temperatura T nem o produto pV dependem diretamente da massa da molécula
de gás, mas no produto mhc2 i.
Ainda, da Eq. (2.21), pode-se escrever
1/2
3Ru T 3Ru T 3Ru T
hc2 i = = ⇒ c = hc2 i1/2 = (2.23)
NA m M M
onde M = NA m é a massa molar do gás (kg/kmol) (em um modelo mais refinado substitui-se a
constante 3 por 8/π (Bird, 1960)).
A Tabela 2.1 apresenta valores calculados de velocidade média para alguns gases a T = 273 K.
Observa-se os valores altos de velocidade média molecular atingidos pelas moléculas com menor
massa molar.
Tabela 2.1: Velocidade média molecular para alguns gases a T = 273 K (Ru = 8314, 33 J/kmol-K).
Gás M , kg/kmol c, m/s
H2 2,016 1838
He 4,002 1304
O2 31,998 461
Argônio 39,948 413
vapor de benzeno (C6 H6 ) 78,114 295
vapor de mercúrio (Hg) 200,59 184
Da Eq. (2.21) observa-se que a energia cinética por molécula na temperatura de referência 298
K é da ordem de 10−21 J. A energia quântica para a primeira transição eletrônica do átomo de
neônio é cerca de 5 eV (1 elétron-volt = 1, 602177 × 10−19 J), ou seja, da ordem de 10−18 J.
Assim, percebe-se que a energia desenvolvida em choques frontais entre duas moléculas de neônio
na temperatura ambiente é provavelmente muito pequena para promover transições eletrônicas nos
átomos. Também, a energia de ligação covalente entre dois átomos de hidrogênio é da ordem de
10−19 J. Assim, é também pouco provável que haja uma considerável dissociação da molécula de
hidrogênio à temperatura ambiente. Por isso, em temperaturas baixas é uma boa aproximação
tratar a molécula de um gás como uma esfera rı́gida, que não possui uma estrutura interna capaz
de absorver energia. Em temperaturas altas, aumenta a probabilidade de dissociação da molécula
e de transição nos nı́veis eletrônicos, requerendo modelos mais completos. Estes modelos requerem
uma descrição quântica, ao invés de uma descrição clássica.
Este é o modelo mais simples possı́vel, o qual considera que todas as outras moléculas estão
estacionárias quando a primeira se desloca. Ao levar em consideração o √
movimento relativo entre
as moléculas, obtém-se que a expressão acima é reduzida por um fator 2. Assim, utilizando-se
também a equação de estado dos gases ideais, obtém-se
1 1 1 1 kB T
λm = √ 2 = √ 2 (2.25)
π 2 dm n π 2 dm p
Observa-se que o espaçamento médio instantâneo entre moléculas é da ordem de
1/3 1/3 1/3
l3
1 kB T
lm = = = (2.26)
N n p
Na verdade, então, o caminho livre molecular médio é maior que o espaçamento médio entre as
moléculas do gás. Como exemplo, para o ar atmosférico (principalmente composto de N2 e O2 )
a p = 1 atm = 101325 Pa e T = 273 K, o diâmetro médio molecular é cerca de dm = 0, 35 nm e
obtém-se lm = 3, 34 nm e λm = 68, 30 nm. Assim, o caminho livre molecular médio é cerca de 20
vezes a distância instantânea entre moléculas e é cerca de 200 vezes o diâmetro médio molecular.
Estas escalas permanecem semelhantes para outros gases em pressão e temperatura próximas às do
ambiente. Observa-se também que a razão entre o caminho livre molecular médio e o espaçamento
médio entre moléculas é da ordem de 1 para os lı́quidos e é muito menor que 1 para os sólidos.
A Tabela 2.2 apresenta alguns valores de dm e λm para alguns gases para p = 1 atm e T = 300 K.
Também, mostra-se a relação entre o caminho livre molecular médio e o diâmetro da molécula.
Tabela 2.2: Valores de diâmetro molecular dm e caminho livre molecular médio λm para p = 1
atm = 101325 Pa e T = 300 K (1 nm = 10 A = 10−9 m).
Gás dm , A λm , nm λm /dm
H2 2,74 122,5 407
N2 3,68 67,9 168
H2 O 4,60 43,5 86
CO2 4,59 43,7 87
O2 3,61 70,2 176
CH4 4,14 53,7 118
ar atmosférico padrão 3,50 75,1 195
Quando a menor dimensão de um sistema macroscópico L for muito maior que o caminho livre
molecular médio λm podemos tratar este sistema como formado por substâncias que se comportam
de maneira contı́nua, denominadas de meio contı́nuo. A relação entre a dimensão caracterı́stica
do sistema e o caminho livre molecular médio é chamada de número de Knudsen,
λm
Kn = (2.27)
L
Assim, a hipótese de meio contı́nuo é aplicável quando Kn ≪ 1. Em caso contrário, devemos
utilizar uma abordagem molecular na solução dos problemas de transporte (Kaviany, 2010).
Um questão que permanece é quanto a hipótese de ausência de colisões e de tamanho negligenciável
afeta as previsões da teoria cinética desenvolvida. A existência de colisões faz com que moléculas
pertencentes a algum grupo de velocidade ni passem para outro grupo nj após a colisão, alterando
a distribuição de velocidades dos dois grupos. No entanto, ao mesmo tempo, moléculas de outros
grupos também passarão para o grupo ni após colisões. Se o número de moléculas e de colisões
for alto, a variação lı́quida das moléculas de um grupo será nula e a distribuição de velocidade
permanecerá a mesma. Assim, pode-se considerar que a distribuição de velocidades na presença
de colisões se mantenha a mesma que a obtida quando considerados os grupos isoladamente, e
a presença de colisões não altera a teoria mais simples. Com relação ao volume ocupado pelas
2.2. O ESTADO GASOSO 31
moléculas, é possı́vel definir um volume efetivo livre para as moléculas que é igual ao volume total
subtraı́do do volume ocupado pelas moléculas. Esta idéia será desenvolvida na análise dos desvios
de idealidade, quando desenvolveremos expressões pas a equação de estado para gases não ideiais.
Com relação ao modelo de esferas rı́gidas observa-se que a curva de energia potencial intermolecular
sugere que a grandes distâncias existem forças de atração, mesmo que pequenas, fazendo com que
a trajetória das moléculas seja alterada e aumentando o número de colisões que de fato ocorrem
quando comparado com o modelo de esferas rı́gidas. Este efeito é particularmente importante em
baixas temperaturas, nas quais as forças de interação são significativas quando comparadas com
a energia cinética. Neste caso a seção transversal de colisão torna-se levemente maior. Por outro
lado, o potencial de repulsão que existe em pequenas separações varia de forma mais suave do
que o previsto pelo potencial de esferas rı́gidas. Desta forma, em temperaturas altas, as moléculas
podem atingir distâncias mais próximas sem que de fato ocorra uma colisão, resultando em uma
diminuição da seção transversal de colisão. Esta correção pode ser modelada, através da constante
de Sutherland, por exemplo, e levada em consideração no cálculo do diâmetro de colisão efetivo
(Tabor, 1995).
Por fim, no modelo de esferas rı́gidas são negligenciados os graus de liberdade internos (rotação,
vibração e eletrônico). Estes graus de liberdade absorvem ou devolvem parte da energia cinética
durante a colisão. Esta troca de energia entre mecanismos é fundamental para que todos os
mecanismos de absorção interna de energia permaneçam em estado de equilı́brio termodinâmico
interno antes e após colisões.
Velocidade do som
Ao contrário de sólidos e lı́quidos, os gases suportam apenas ondas longitudinais, ou seja, as ondas
que se propagam como uma sucessão de rarefações e sobrepressões. A velocidade de propagação
das ondas longitudinais é
2 −V dp
a = (2.28)
ρ dV
O valor de −V dp/dV é o módulo de elasticidade do gás que indica o aumento de pressão do gás
quando seu volume é decrescido. Como mostrado acima, da equação de estado dos gases ideiais,
1
pV = N mhc2 i.
3
O som é uma onda longitudinal adiabática. Assumindo no momento a propagação de uma onda
isotérmica, obtém-se,
−1 N mhc2 i −1 N mhc2 i
dp
V =V 2
= = −p (2.29)
dV T 3 V 3 V
Assim, para uma onda isotérmica,
1 N mhc2 i
p V 1
a2T = = = hc2 i = hu2 i (2.30)
ρ 3 V Nm 3
ou seja,
aT = hu2 i1/2 (2.31)
Observa-se portanto, que a velocidade de uma onda longitudinal isotérmica aT é igual à raiz
quadrada da velocidade quadrática média (velocidade rms) das moléculas do gás em uma direção.
O valor de hu2 i1/2 é muito proximo de u, o que implica que a velocidade de uma onda isotérmica
é aproximadamente a velocidade média molecular em uma direção.
Observa-se agora que o som é na verdade uma onda longitudinal adiabática. Com a passagem da
onda, o gás sofre transformações de estado que são adiabáticas e reversı́veis, portanto, isentrópicas.
Neste caso,
dp
V = −γp (2.32)
dV S
32 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
Como cada componente é um gás ideal, pode-se expressar a pressão parcial do componete i por
Ru
p i = ρi T (2.35)
Mi
onde a massa especı́fica ρi relaciona a massa mi do componente i com o volume total da mistura
V por
mi
ρi = (2.36)
V
Substituindo a equação de estado para os componentes na equação para a pressão total tem-se
Ng
X ρi
p = Ru T (2.37)
i=1
Mi
tem-se a identidade
N
X
Yi = 1 (2.42)
i=1
2.2. O ESTADO GASOSO 33
mi = n i M i (2.44)
Estas unidades práticas são úteis para expressar concentrações molares muito pequenas comuns,
por exemplo, quando se descreve poluição ambiental.
Em propriedades molares, a equação de estado dos gases perfeitos pode ser escrita para a mistura
como
p = cRu T (2.49)
e obtém-se a massa molar da mistura M como
N
X
M= Xi M i (2.50)
i=1
Um exemplo de mistura de gases ideiais é o ar seco nas condições da atmosfera ao nı́vel do mar.
O ar seco padrão possui a composição aproximada mostrada na Tabela 2.3. Nota-se que além do
oxigênio e do nitrogênio, o argônio e o dióxido de carbono completam os componentes principais.
Tabela 2.3: Composição aproximada do ar seco padrão Xi (ppm) e do ar seco padrão simplificado
Xi , (kmol/kmol).
Espécie quı́mica Xi (ppm) Mi , kg/kmol Xi , kmol/kmol Xi /XO2
O2 209500 31,998 0,2095 1
N2 780900 28,012 0,7905 3,773
Argônio 9300 38,948
CO2 300 40,009
Ar seco padrão 1000000 28,962 1,0000 4,773
34 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
Exemplo: Uma sala com volume V = 200 m3 contém ar seco na temperatura T = 300 K e pressão
p = 101325 Pa. Obtenha a massa de ar da sala considerando que o ar é uma mistura com 21% de
oxigênio e 79% de nitrogênio (em volume).
Solução: Assumindo que o ar comporta-se como gás perfeito,
Ru
p=ρ T
M
onde
m
ρ=
V
Tratando o ar seco padrão como uma mistura de gases perfeitos, obtém-se
N
X
M= Xi Mi = 0, 21 × 32 + 0, 79 × 28 = 28, 8 kg / kmol
i=1
Assim,
Ru 8314 3
ρ = p/ T = 101325/ × 300 = 1, 17kg /m
M 28, 8
A massa de ar seco é portanto
m = ρV = 1, 17 × 200 = 234kg
Exemplo: A mesma sala do exemplo anterior é agora preenchida com ar úmido com umidade
relativa de 80%. Obtenha as massas de ar e água no ambiente da sala. Assuma que as massas
moleculares do vapor e do ar seco são Mv = 18 kg/kmol e Ma = 28, 8 kg/kmol, respectivamente.
Assuma comportamento de gás perfeito para ambos o vapor e o ar seco.
Note que quando uma substância pura na fase lı́quida está em equilı́brio termodinâmico com o
seu vapor, existe uma correspondência unı́voca entre a temperatura e a pressão do sistema em
equilı́brio. Esta condição de equilı́brio é chamada de equilı́brio de fase. A equação de Clapeyron
fornece uma relação entre a pressão e a temperatura de saturação na forma (este aspecto será
explorado com mais detalhe logo adiante)
dp 1
∼ −d
p T
vice-versa. Para as misturas de ar e vapor, a umidade relativa φ fornece a razão entre a pressão
parcial do vapor na mistura e a pressão de saturação da água na temperatura da mistura, ou seja,
pv
φ=
psat (T )
Assumindo que o vapor comporta-se como gás perfeito (a pressão de vapor é suficientemente baixa
para que esta hipótese seja válida)
Ru 8314
ρv = p v / T = 2862, 4/ × 300 = 0, 021kg /m3
Mv 18
ma = ρa V = 1, 14 × 200 = 228kg
Note que este valor é cerca de 6 kg menor que o valor calculado no exemplo anterior e estes 6 kg
de ar seco foram substituı́dos por 4,2 kg de vapor de água.
onde Rg = Ru /M .
Os desvios da idealidade podem ser explicados através do volume ocupado pelas moléculas e pela
existência de forças intermoleculares. Estas forças são também responsáveis pela transição aos
estados lı́quido e sólido.
A evidência experimental mostra que a transição do estado gasoso para o estado lı́quido pode
ocorrer quando um gás a uma certa temperatura é comprimido. Por exemplo, o CO2 possui com-
portamento que pode ser aproximado como de gás ideal para temperaturas acima de 50o C em uma
grande variação de pressão (a 50o C a aproximação de gás ideal fornece valores com desvio menor
que 10 % no cálculo da massa especı́fica, quando comparada com o valor considerando desvios da
36 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
idealidade, para pressões até 2480 kPa). A 21o C, no entanto, o desvio da idealidade aumenta e
a compressão do CO2 causa a sua transição de gás para lı́quido quando a pressão, aumentando,
atinge o valor aproximado de 5857 kPa. Na temperatura de 31,1o C, embora o comportamento
do gás afaste-se consideravelmente do comportamento de gás ideal, não há transição para a fase
lı́quida com o aumento de pressão. A uma temperatura levemente inferior, a 30,9o C, a transição
para fase lı́quida ocorre na pressão de 7357 kPa. Portanto, existe um valor limite de temperatura
para o qual não há transição para a fase lı́quida quando a pressão é aumentada. Esta temperatura
limite é denominada de temperatura crı́tica Tc . Para temperaturas inferiores à temperatura crı́tica,
o aumento de pressão causa a transição para a fase lı́quida. Esta transição ocorre exatamente a
uma determinada pressão caracterı́stica. Para pressões maiores que esta, a substância está no
estado lı́quido e para pressões menores que esta, a substância está no estado gasoso. A temper-
atura crı́tica marca o limite deste comportamento. A pressão correspondente a esta temperatura,
que marca o limite de presssão para a transição lı́quido-gás, é denominada de pressão crı́tica pc .
A partir da pressão e da temperatura crı́tica pode-se calcular o volume especı́fico crı́tico vc . As
constantes crı́ticas para o CO2 são Tc = 31, 05oC, pc = 7376 kPa e vc = 4, 137 m3 /kg (ρc = 0, 2417
kg/m3 ). A Tabela 2.2.3 mostra as constantes crı́ticas para algumas substâncias.
Tabela 2.4: Constantes crı́ticas para algumas substâncias (Reid et al., 1986).
Substância M , kg/kmol Tc , K pc , MPa Vc , m3 /kmol Zc ω
Ar 39,948 150,8 4,874 0,0749 0,291 -0,004
He (4) 4,002 5,3 2,26 69,3
H2 2,016 33,2 1,297 0,065 0,305 -0,22
N2 28,013 126,2 3,394 0,0895 0,290 0,040
O2 31,999 154,8 5,046 0,0732 0,288 0,021
CO2 44,010 304,2 7,376 0,0940 0,274 0,225
CH4 16,043 190,6 4,600 0,099 0,288 0,008
H2 O 18,015 647,3 22,048 0,056 0,229 0,344
NH3 17,031 405,6 11,28 0,0724 0,242 0,250
ar (padrão) 28,97 132,5 37,2
A temperatura crı́tica pode ser entendida se recordarmos a forma da energia potencial entre um
par de moléculas idênticas. Para que as moléculas sejam separadas, a energia interna destas deve
exceder o valor ∆Ep . A energia cinética média é proporcional a kB T . Assim, por maior que seja a
pressão aplicada, a molécula sempre se afastará do seu par quando kB T > ∆Ep . Portanto, pode-se
relacionar a temperatura crı́tica como Tc ∼ ∆Ep /kB . Este resultado bastante simples permanece
essencialmente o mesmo se a interação das outras moléculas vizinhas for levada em consideração.
cujo centro passe por uma distância dm do centro desta. Assim, cada molécula carrega um volume
excluı́do com raio dm , o qual equivale a 4πd3m /3 = 8(πd3m /6) = 8vm . Assumindo somente colisões
entre pares de moléculas, isto implica que para cada duas moléculas exclui-se um volume 8vm .
Portanto, para NA /M moléculas por unidade de massa, o volume excluı́do é b = 4NA vm /M .
Gases não ideais são caracterizados por forças de interação entre moléculas. Estas forças fazem
com que a pressão medida em uma superfı́cie seja diferente da pressão existente no interior do
gás longe da superfı́cie. A razão desta diferença é que na superfı́cie o campo de forças ao redor
das moléculas encontra-se desbalanceado devido à ausência de moléculas no lado da superfı́cie.
Para atingir a superfı́cie, parte da energia cinética da molécula é gasta para escapar da atração das
moléculas próximas à superfı́cie. Desta forma, a energia cinética da molécula ao atingir a superfı́cie
é menor do que ela teria no interior do gás. Denominando esta perda equivalente de pressão por
∆p, a pressão na parede é pid − ∆p. Assim, escrevendo a equação de estado para a pressão próxima
à parede tem-se
(p + ∆p)(v − b) = Rg T (2.55)
A perda de pressão é proporcional à quantidade de moléculas colidindo com a parede e proporcional
à quantidade de moléculas existentes no interior do gás. Assim, ∆p ∼ ρ2 = 1/v 2 . Assim, pode-se
aproximar ∆p = a/v 2 e a equação de estado torna-se
a
(p + )(v − b) = Rg T (2.56)
v2
O termo a/v 2 pode ser entendido como a energia de coesão das moléculas. Como não há nada na
teoria que identifica o estado da substância, esta equação também pode ser aplicada para lı́quidos.
Para água lı́quida a T = 20o C e densidade ρ = 1000 kg/m3 , a pressão resultante da energia cinética
do lı́quido é pid = 1312 atm, enquanto que a atração interna resulta em ∆p = 1311 atm. Assim, a
pressão resultante na superfı́cie é p = pid − ∆p = 1312 − 1311 = 1 atm.
A equação de van der Waals pode ser aplicada às condições no ponto crı́tico e obtém-se uma relação
entre os parâmetros da equação e as condições no ponto crı́tico,
a 8a
vc = 3b; pc = ; Tc = (2.57)
27b2 27Rg b
Tabela 2.5: Constantes de van der Waals para algumas substâncias (Sander, 1999).
Substância a, Pa m6 /kmol2 b, m3 /kmol
He (4) 0,00346×106 2,376×10−2
6
H2 0,0248×10 2,660×10−2
N2 0,1368×106 3,864×10−2
6
O2 0,1381×10 3,184×10−2
6
CO 0,1473×10 3,951×10−2
6
CO2 0,3658×10 4,286×10−2
6
CH4 0,2303×10 4,306×10−2
6
H2 O 0,5542×10 3,051×10−2
6
NH3 0,4253×10 3,737×10−2
A equação de van der Waals é denominada uma equação de estado cúbica porque esta reduz-se a
um polinômio de terceiro grau no volume especı́fico v. Ela serviu de modelo para outras equações
que receberam termos adicionais com o intuito de melhor reproduzir valores medidos. Dentre estas,
as mais utilizadas são as equações de estado de Redlich-Kwong, de Soave e de Peng e Robinson.
38 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
Existe uma grande quantidade de dados disponı́veis para o uso destas equações, como por exemplo,
para a equação de Peng e Robinson (Sander, 1999). Outras equações ainda mais completas são
também disponı́veis, como a equação de Benedict, Webb e Rubin. Para uma análise do uso das
equações de estado e valores dos parâmetros, consultar Reid et al. (1986).
A equação de van der Waals pode ser reescrita em termos do fator de compressibilidade obtendo-se
Z 3 + αZ 2 + βZ + γ = 0 (2.60)
onde
bp ap abp2
α = −1 − ; β= ; γ=− (2.61)
Rg T (Rg T )2 (Rg T )3
Outras equações de estado cúbicas (como as citadas acima) podem ser escritas da mesma forma
geral, apenas os parâmetros α, β e γ terão valores diferentes. O fato de que diferentes equações
quando aplicadas a diferentes substâncias podem ser escritas da mesma forma geral sugere a
possibilidade de uma generalização. Verificando a equação de van der Waals aplicada ao ponto
crı́tico, obtém-se
pc vc 3
Zc = = ≃ 0, 375 (2.62)
Rg Tc 8
Podemos então escalonar as propriedades p, T e v usando os valores para o ponto crı́tico, definindo
as variáveis reduzidas
T p v
Tr = ; pr = ; vr = (2.63)
Tc pc vc
Em termos das veriaveis reduzidas, a equação de van der Waals torna-se
3
pr − 2 (3vr − 1) = 8Tr (2.64)
vr
Esta equação sugere então que todos os fluidos cujo comportamento pode ser modelado pela
equação de van der Waals, podem ter o comportamento descrito em termos de variáveis reduzidas
por uma única equação somente, ou seja, pelo mesmo conjunto de curvas pr − vr − Tr . Do ponto
de vista molecular, isto implica em escolher parâmetros moleculares tı́picos que expressão as en-
ergias potencial e cinética média das moléculas como parâmetros de escalonamento. Por exemplo,
a energia cinética média é da ordem de kB T . A curva de energia potencial pode ser caracterizada
aproximadamente pelo valor do diâmetro molecular dm como parâmetro tı́pico de comprimento e
a energia no ponto de equilı́brio ∆Ep como parâmetro caracterı́stico de energia potencial. Assim,
pode-se escolher como escalas de pressão, temperatura e volume
modelo de estados correspondentes seja uma aproximação interessante, ele dependerá do tipo de
interação entre moléculas e não será exatamente geral.
Observa-se que a equação de van der Waals não apresenta bons resultados para grande parte das
substâncias, Por exemplo, para o ponto crı́tico van der Waals retorna Zc ≃ 0, 375 enquanto que
para a maioria das substâncias este valor está na faixa entre 0,23 a 0,31, como indica a Tabela
5. Porém, a mesma forma de representação em termos de propriedades reduzidas pode ser obtida
com equações de estado mais completas (Sander, 1999). A figura abaixo apresenta um diagrama
generalizado para o fator de compressibilidade Z. Observa-se que Z → 1, ou seja, a substância
aproxima-se do comportamento de gás ideal quando a pressão diminui e quando a temperatura
aumenta. Nas condições próximas à transição para a fase lı́quida o desvio do comportamento de
gás ideal amplia-se consideravelmente.
Observou-se, ao comparar com medições experimentais, que o valor de Zc varia para as substâncias
e que uma melhor generalização é possı́vel quando este parâmetro é levado em consideração. Assim,
correlações na forma Z = Z(pr , Tr , Zc ) tem sido obtido a partir de medições de pvT para várias
substâncias e um comportamento médio generalizado tem sido observado. Outros parâmetros
podem também ser utilizados também além de Zc . Um exemplo destes parâmetros é o fator de
acentricidade, definido como
psat (Tr = 0, 7)
ω = −1 − log10 (2.66)
pc
Os lı́quidos apresentam valores baixo de compressibilidade isotérmica. Por exemplo, para a água a
1 atm, κ =4,6×10−10 Pa−1 e a variação de volume da água quando submetida a uma variação de
pressão é muito pequena. Assim para as substâncias nos estados sólido e lı́quido, quando submeti-
dos a pressões moderadas, usualmente assume-se que sua massa especı́fica permanece constante.
Desta forma, a equação de estado pode ser simplificada para
ρ = constante (2.68)
Exemplo: Calcule a variação percentual na massa especı́fica da água lı́quida quando essa é sub-
metida a uma variação de pressão de 1 atm para 250 atm. Assuma que a compressibilidade
isotérmica a 1 atm, κ =4,6×10−10 Pa−1 , permanece constante.
Solução:
Da definição de κ,
dρ
= κdp
ρ
Integrando de ρ = ρo a p = po = 1 atm até ρ(p), assumindo κ =contante, tem-se
Z ρ Z p
dρ
= κ dp
ρo ρ po
ρ
ln = κ(p − po )
ρo
ρ
= exp[κ(p − po )]
ρo
Assumindo para efeito de estimativa que ρo = 1000 kg/m3 , tem-se
ρ = 1000 × exp 4,6 × 10−10 (250 − 1)101325
3
= 1012kg /m
Exemplo:
A pressão de saturação de substâncias pode ser aproximada usando uma equação de Antoine na
forma (adaptado de Elliot e Lira, 2000),
b
ln [psat (Pa)] = a −
T (K) − c
onde as constantes a,b e c são ajustadas a fim de melhor reproduzir valores medidos. Para a água
e para o etanol, as constantes a,b e c são dadas na tabela abaixo:
2.4. O ESTADO SÓLIDO 41
a b c
água 23,4776 3984,923 39,724
etanol 23,5718 3667,705 46,996
Mostre graficamente como a pressão de saturação da água e do etanol variam com a temperatura.
Solução:
A figura abaixo mostra graficamente o valor da pressão de saturação em kPa em função da tem-
peratura apresentada em o C. Os valores de pressão são apresentados em um eixo com escala
logaritmica.
Figura 2.4: Pressão de saturação em kPa (1 kPa = 1000 Pa) em função da temperatura em o C
para água e etanol utilizando a equação de Antoine, representada em um gráfico semi-log.
Observa-se que o etanol apresenta maior pressão de saturação indicando o seu maior potencial de
evaporação em relação à água, quando colocado nas mesmas condições.
2. A energia é armazenada na forma de vibrações dos átomos na rede cristalina. Quanto maior
a temperatura, maior a amplitude de vibração dos átomos. Se a energia entregue aos átomos
for maior que a energia da ligação fı́sica com os vizinhos mais próximos, as ligações se rompem
e o átomo é liberado da rede cristalina.
42 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
3. O calor latente de mudança de fase tem relação direta com a energia das ligações quı́micas.
Para a sublimação de um sólido, pode-se escrever
1
∆hsv = NA r∆Ep (2.69)
2
onde o fator 2 ocorre para que cada ligação não seja tomada duas vezes. ∆hsv é o calor
latente de sublimação por mol de substância.
2.5 Referências
1. Atkins, P., 2001, Fı́sico-Quı́mica - Fundamentos, 3a. edição, LTC Editora.
3. Reid, R. C., Prausnitz, J. M. e Poling, B. E., 1986, The properties of gases and liquids, 4a.
edição, Mc-Graw-Hill, New York.
4. Sandler, S. I., 1999, Chemical and engineering thermodynamics, John Wiley, New York.
5. Tabor, D., 1995, Gases, liquids and solids and other states of matter , 3a. edição, Cambridge
University Press, Cambridge.
2.6 Exercı́cios
Ao final deste capı́tulo, você deve ser capaz de reponder às seguintes perguntas:
1. Como é armazenada a energia intena em moléculas nos estados gasoso, sólido e lı́quido?
2. Qual a relação entre pressão, volume, temperatura e a energia cinética média das moléculas
de um gás ideal?
1. Calcule a massa de gás oxigênio (O2 ) que ocupa um volume de 0,8 m3 na pressão de 20 atm
e temperatura 25o C?
2. Calcule o caminho livre molecular médio para o ar ambiente na pressão de 1 atm e temper-
atura de 500 K. Você poderia adotar hipóteses de meio contı́nuo para o escoamento do ar
nesta temperatura e pressão em uma fresta com 0,01 µm de espessura?
2.7 Na WEB:
1. Simulação da distribuição de Maxwell-Boltzmann: na teoria cinética dos gases, desenvolve-se
a distribuição de velocidades de Maxwell-Boltzmann, a qual especifica a probabilidade de se
encontrar uma molécula a uma dada velocidade.
Na página http://www.sas.upenn.edu/rappegroup/education/MB/mb.html, clique em ”Ap-
plet ”, clique em ”Go”, especifique a temperatura do gás e o número de moléculas utilizado
na simulação e clique ”Start”. Observe a distribuição de velocidade e observe como a ve-
locidade calculada para as moléculas (bolinhas) aproxima-se da previsão da distribuição de
Maxwell-Boltzmann.
Outra página: http://www.chm.davidson.edu/vce/kineticmoleculartheory/Maxwell.html
2. Outro programa, o qual você pode instalar no seu computador, está disponı́vel aqui
http://www.physics.umd.edu/rgroups/ripe/perg/software/thermo.html
2.8 Exercı́cios
Problema 1: Unidades
Realize a conversão das unidades abaixo:
1000 cm3 m3
20 ft2 m2
80 km/h m/s
1 g/cm3 kg/m3
0,1 MPa Pa
25 atm Pa
Problema 2: Escalas
Dados da safra de cana de açúcar de 2015 mostram que:
A energia contida em cada kg de etanol (o poder calorı́fico) é 26, 95 MJ/kg e a sua densidade é
789 kg/m3 .
(a) Determine a energia total gerada em etanol no Brasil em mil tep no ano de 2014.
(b) Considerando que o consumo total de energia no setor de transporte em 2014 foi de 83312 mil
tep (Balanço Energético Nacional, 2015), determine a fração desse valor que foi consumida
como etanol.
(c) Considere que o restante da energia consumida nos transportes deva ser gerada com etanol.
Assuma que exista uma paridade de eficiência energética dos sistemas utilizados em trans-
porte, seja com combustı́vel fóssil ou com etanol, e que o balanço energético de produção dos
44 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
combustı́veis seja igual. Assuma que quando a cana de açucar é utilizada integralmente para
produzir etanol seja possı́vel obter 80 litros de etanol por ton de cana de açúcar. Determine
a quantidade de área adicional em km2 que seria necessário para o plantio de cana de açúcar.
Mostre a dimensão desse valor em relação à área do território do estado de Santa Catarina.
Use: 1 hectare = 10000 m2 ; 1 tep = 41,87 GJ; 1 milhão = 106 ; 1bilhão = 109 .
Respostas: (a) 14728 mil tep, (b) 18 % do total consumido em transporte.
Problema 3: Mecânica, integração e unidades
Em um modelo de um corpo que se move em linha reta, assume-se que o corpo parte da posição
x = 0 no tempo t = 0 com uma velocidade inicial Vo = 1 m/s e que a sua velocidade seja
proporcional à distância instantânea em relação à linha de chegada que se situa na posição L = 1
m. Vamos denotar a posição do corpo por X (m). A velocidade do corpo é dada por v = dX/dt
(m/s). Como a velocidade é proporcional a L − X, podemos escrever:
dX X
= Vo 1 −
dt L
Essa é uma equação diferencial ordinária, de primeira ordem, com coeficientes constantes. Assuma
que o corpo tem massa m = 1 kg.
1. Integre a equação da velocidade e encontre uma função para X(t), ou seja, a função que
descreve como a posição do corpo varia com o tempo. Represente graficamente como se
comporta a função X(t) (m). Em que instante de tempo o corpo atingirá a posição X = 1
m?
2. A aceleração do corpo é dada por a = dv/dt = d2 X/dt2 , ou seja, a derivada segunda da
posição em relação ao tempo. Obtenha uma equação para a aceleração em função do tempo
a(t). Represente graficamente como se comporta a função a(t). Qual a unidade de aceleração?
3. Conforme descrito pela Segunda Lei de Newton, a redução de velocidade observada ocorre
devido ao somatório de forças aplicadas sobre o corpo. Considere que a força resultante
aplicada sobre o corpo seja F = ma onde m (kg) é a massa do corpo. Obtenha uma equação
para a força aplicada sobre o corpo em função do tempo F (t). Qual é a direção e sentido
dessa força? Represente graficamente como se comporta a função F (t). Qual a unidade de
força?
4. O trabalho executado sobre o corpo para ele realizar esse movimento entre x1 = 0 e x2 = X
é dado por Z x2
W = F dx. (2.70)
x1
Obtenha uma equação para o trabalho aplicado sobre o corpo em função do tempo W (t).
Represente graficamente como se comporta a função W (t). Qual a unidade de trabalho?
5. A potência gasta durante esse movimento é dada por P = dW/dt. Obtenha uma equação
para a potência em função do tempo P (t). Represente graficamente como se comporta a
função P (t). Qual a unidade de potência?
6. Realize a seguinte operação:
Z 0.9
I= F v dt
0
O que representa o valor de I? Represente graficamente essa integral.
Problema 4:
Considere a seguinte afirmação: ”Uma esfera de aço com 100 kg caindo de uma altura de 100 m,
atinge o solo ao mesmo tempo que uma esfera de 1 kg caindo de uma altura de 1 m.” Ambas as
2.8. EXERCÍCIOS 45
esferas partem com velocidade nula e deslocam-se linearmente na direção do solo sob a ação da
gravidade.
A fim de explicar essa afirmação, poderı́amos avançar, especulativamente, dois argumentos sobre
a queda de corpos sob ação da gravidade:
(a) Estabeleça equações matemáticas para a velocidade do corpo v a partir das proposições 1 e
2.
(b) Relacione a velocidade v com o deslocamento x. Integre as equações e obtenha como a posição
do corpo x varia com o tempo segundo as duas proposições.
(c) Utilize esses resultados para testar a afirmação acima e verifique se ela é satisfeita por alguma
das proposições. Discuta os seus resultados com base no seu conhecimento sobre a gravitação.
Essa situação foi de fato discutida por Galileo Galilei na sua obra ”Discursos e Demonstrações
Matemáticas sobre Duas Novas Ciências” de 1638. Nessa obra, escrita na forma de uma conversa
entre três personagens, que se passa durante um perı́odo de 4 dias, Salviati defendia o ponto de
vista de Galileo, Simplicio defendia o ponto de vista Aristotélico e Sagredo julgava os argumentos
de ambos. O debate acima ocorre no primeiro dia. Você poderia identificar quais seriam os autores
das proposições 1 e 2?
Problema 5:
Assista na internet o video ”Slow motion: crater formation by drop impact on sand” no endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=6swY05e2iT4
Discuta: Qual a diferença fundamental que distingue um fluido de um sólido?
46 CAPÍTULO 2. REVISÃO DE FUNDAMENTOS
Capı́tulo 3
A estática dos fluidos, que é o assunto deste capı́tulo, trata da distribuição de pressão em um
fluido em repouso ou em movimento de corpo rı́gido. Nesta situação o fluido está sujeito apenas
às distribuições de tensões normais como resultado das forças de corpo e acelerações aplicadas. O
equilı́brio de forças em um elemento diferencial do fluido fornece o que se denomina de equação da
estática dos fluidos.
1663, Pascal publicou o livro intitulado Descrição do grande experimento relaconado ao equilı́brio de fluidos.
47
48 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
água no recipiente. O nı́vel da água determina a pressão na superfı́cie da rolha e esta determina a
força que o fluido exerce sobre a rolha.
Figura 3.1: Considerações de Pascal sobre hidrostática (Blaise Pascal, Treatise on the Equilib-
rium of Liquids and Treatise on the Weight of the Mass of the Air , 1663). (Disponı́vel em:
http://www.iihr.uiowa.edu/about/iihr-archives/rare-book-collection/blaise-pascal/)
cadas sobre o elemento de fluido. As forças são vetores e para fazermos o desenvolvimento do
balanço de forças vale a pena representá-las em um diagrama de corpo livre.
A Figura 3.1.1 mostra um copo contendo água. Do interior da água extraı́mos um elemento de
fluido que será o foco da análise. Identificamos o elemento por uma linha tracejada e estabelecemos
a orientação dos eixos coordenados. A Figura 3.1.1 mostra uma seção bidimensional, paralela ao
plano (x, z), de uma partı́cula com forma cúbica. O eixo z é escolhido como sendo paralelo ao vetor
aceleração da gravidade e apontado na direção contrária. As dimensões do elemento nas direções x
e z são, respectivamente, ∆x e ∆z. O eixo y entra na página e a espessura do elemento na direção
y (não mostrada) é ∆y. O volume do elemento de fluido é ∆V = ∆x∆y∆z. Aplicamos sobre o
elemento as forças com origem externa e, assim, obtemos o diagrama de corpo livre mostrado na
Figura 3.1.1 .
g
z
Fp,2
Fp,3 Fp,4
Dz
Fg
Fp,1
Dx
A força de gravidade, ou força peso, atua na direção do vetor aceleração da gravidade e apresenta
módulo
Fg = mg = ρg∆V = ρg∆x∆y∆z (3.2)
onde ρ é a massa especı́fica média do fluido no elemento.
As forças de pressão atuam em cada face do elemento e apontam na direção normal à face, de fora
para dentro. Para cada uma das faces do volume de controle pode-se escrever
Fp,1 = p1 ∆x∆y
Fp,2 = p2 ∆x∆y
Fp,3 = p3 ∆y∆z
Fp,4 = p4 ∆y∆z (3.3)
Aplicando um balanço de forças na direção x, obtém-se
Fp,3 − Fp,4 = 0
p3 ∆y∆z − p4 ∆y∆z = 0, (3.4)
ou seja,
p3 = p4 . (3.5)
Esse resultado indica que a pressão é uniforme ao longo de uma superfı́cie que é localmente normal
ao vetor aceleração da gravidade, como é o caso da superfı́ce xy. Esse resultado bastante impor-
tante explica porque a superfı́cie livre de um fluido (na superfı́cie da Terra) sempre adquire uma
orientação horizontal quando em repouso, excluindo os efeitos de tensão superficial.
50 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Fp,1 − Fp,2 − Fg = 0
p1 ∆x∆y − p2 ∆x∆y − ρg∆x∆y∆z = 0, (3.6)
ou, ainda,
p1 = p2 + ρg∆z. (3.7)
Esse resultado indica que a pressão na face inferior da partı́cula p1 é igual à pressão na face superior
p2 adicionada ao peso da partı́cula Fg = ρg∆x∆y∆z dividido pela área ∆x∆y.
Ainda, dividindo todos os termos da Eq. (5.72) por ∆V = ∆x∆y∆z, tem-se
p2 − p1
− − ρg = 0 (3.8)
∆z
Esta equação expressa um balanço macroscópico de forças por unidade de volume. O primeiro
termo, é o balanço entre forças de pressão nas duas faces normais ao eixo z expresso por unidade
de volume. O segundo termo, é a força devido à ação da gravidade na direção z, a força peso,
expressa por unidade de volume. O sinal negativo neste termo é resultado da escolha da orientação
do eixo z em relação à orientação do vetor aceleração da gravidade (g = −gk).
Observa-se que existe uma certa dificuldade na obtenção da massa especı́fica que aparece no balanço
macroscópico. Esta deve ser um valor médio para o elemento de fluido, mas a obtenção de um
valor médio subentende que se conhece a sua variação ao longo do elemento. Devemos ser capazes
de calculá-la pelo menos em alguns pontos e para isto precisamos conhecer a pressão e a temper-
atura nestes pontos. O balanço macroscópico não permite calcular a pressão em todos os pontos
no elemento, mas somente os valores médios nas suas superfı́cies. Dependendo da dimensão do
elemento, a massa especı́fica pode variar fortemente e esta variação pode não ser linear.
A fim de resolver este problema de indeterminação do valor da pressão e, por consequência, da
massa especı́fica local, é necessário buscar uma formulação para o balanço de forças que seja válida
em cada ponto no fluido. Deseja-se obter um balanço microscópico, ou, diferencial . Para que isto
seja possı́vel, deve-se admitir:
1. O meio é contı́nuo, ou seja, a menor dimensão de análise de interesse deve conter um número
suficientemente grande de moléculas, conforme discutido no capı́tulo 2. Com isto, assume-se
que o fluido deforma-se continuamente no espaço.
2. As variáveis de interesse são funções de campo, ou seja, são definidas em cada ponto (x, y, z)
no tempo t. Pode-se indicar este comportamento por ρ = ρ(x, y, z, t) e p = p(x, y, z, t).
3. As variáveis são funções contı́nuas, ou seja, os gráficos das funções não apresentam pontas ou
buracos (a continuidade requerida, no sentido matemático, inclui até a derivada segunda).
Para obter o balanço microscópico, torna-se a dimensão do elemento de fluido infinitesimal, ou seja,
o elemento de fluido macroscópico é encolhido para se tornar um elemento de fluido microscópico.
Para isso, determina-se o limite da equação de balanço macroscópica quando ∆z tende a 0, ou
seja,
p2 − p1
− lim − lim (ρg) = 0 (3.9)
∆z→0 ∆z ∆z→0
3.1.2 Aplicações
Integração da equação da estática dos fluidos
Consideremos que um fluido possua pressão p(z = 0) = po e deseja-se conhecer a pressão p(z = h),
conforme mostrado na Figura 3.1.2.
z
g
z=h
z=0
p(z = h) p(z = 0) p
A integração da equação da estática dos fluidos depende agora de como as variáveis ρ e g variam com
z. Aqui, assumiremos que g seja essencialmente constante, o que se constitui em uma boa hipótese
a menos de variações muito grandes de altitude. Com relação à massa especı́fica ρ, inicialmente
consideraremos as seguintes situações gerais bastante comuns:
1. A densidade do fluido varia com a pressão: Este é o caso tı́pico, por exemplo, quando o fluido
é um gás. Integrando equação da estática dos fluidos, obtém-se
Z p Z h
dp
=− gdz
po ρ 0
52 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
p
dp
Z
= −gh (3.15)
po ρ
onde a solução da integral depende da equação de estado ρ = ρ(p, T ) para o fluido.
2. A densidade do fluido é uma função da posição z: Isto ocorre, por exemplo, quando existe
estratificação, ou seja, quando existe uma variação de temperatura ou composição do fluido
variando espacialmente a sua massa especı́fica. Integrando equação da estática dos fluidos,
obtém-se Z p Z h
dp = − ρgdz
po 0
Z h
p − po = −g ρdz (3.16)
0
onde a solução da integral depende da função que descreve a variação de ρ com z.
Podemos ainda identificar dois casos particulares de importância para nós:
1. O fluido é incompressı́vel , ou seja, sua densidade não varia com a pressão: Da Eq.(3.16),
obtém-se
p = po − ρgh (3.17)
Este último caso representa uma aproximação para a pressão atmosférica sob a limitação de tem-
peratura uniforme. Na realidade, a atmosfera não possui temperatura uniforme.
Outras expressões matemáticas são obtidas quando outras hipóteses são assumidas acerca da
variação da massa especı́fica ρ com a direção z. Exemplos de estratificação são a variação da massa
especı́fica da água dos oceanos como função da variação de salinidade entre as regiões próximas à
superfı́cie e próximas ao fundo e a variação de massa especı́fica em um fluido contendo um material
particulado que sofre decantação. Outro exemplo interessante são as variações de massa especı́fica
devido à diferenças de temperatura no fluido, causando um escoamento com transferência de calor
denominado de convecção natural ou convecção livre.
Digamos que este experimento seja realizado ao nı́vel do mar e que, após a estabilização da altura da
coluna, obtenha-se h = 760 mm. Rearranjando a equação e considerando que a massa especı́fica do
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 53
psat(T)
g
d
h
patm
fluido manométrico:
mercúrio
Portanto, nestas condições a pressão atmosférica teria o valor de 101325 Pa. Na realidade, o valor
de fato medido depende da posição na superfı́cie da terra (latitude e longitude) e depende muito
das condições atmosféricas locais, podendo variar em milhares de Pa entre dias chuvosos e dias
ensolarados. No entanto, adota-se o valor 101325 Pa para a pressão atmosférica padrão ao nı́vel
do mar (1 atm = 101325 Pa).
Aparelhos como o barômetro de Torricelli indicam a pressão absoluta em um determinado local. No
caso de se adotar uma outra escala, na qual a origem corresponda ao valor da pressão atmosférica
local, a pressão indicada nesta nova escala é chamada de pressão manométrica. Como exemplo,
considere a expressão para a pressão determinada para um fluido incompressı́vel cuja pressão no
nı́vel z = zo é po ,
p = po − ρgh
Quando po representa uma pressão absoluta, esta equação fornece a pressão absoluta do flu-
ido, ou seja, a pressão do fluido medida em relação à condição de vácuo absoluto. A pressão
manométrica é a pressão do fluido medida em relação à pressão da atmosfera no local. Assim, a
pressão manométrica equivalente à pressão absoluta dada acima é
Muitos equipamentos de medição de pressão (como os manômetros tipo Bourdon, por exemplo)
indicam a pressão manométrica.
mostra-se uma possı́vel montagem do manômetro, munido de duas válvulas de bloqueio: uma
separando o manômetro do fluido no interior da tubulação e outra separando o manômetro do ar
atmosférico.
(a) (b)
tubulação extremidades válvula
abertas tubulação fechada g
pA pA
patm patm
d d
a válvula válvula
fechada aberta
h h/2
nível de equilíbrio
inicial
h/2
Na Figura 3.5(a), mostra-se a situação inicial na qual o manômetro está conectado à tubulação, mas
ainda não em contato com o fluido que escoa no interior dela. Nesta condição, as extremidades do
manômetro estão abertas à atmosfera. Ambas as superfı́cies do fluido manométrico encontram-se
à mesma pressão e, portanto, estão em um mesmo nı́vel. Esta posição encontra-se a uma distância
a(m) abaixo da linha de centro da tubulação e é denominada de nı́vel de equilı́brio de referência.
Agora a válvula que conecta a extremidade do lado esquerdo à atmosfera é fechada e a válvula que
conecta com o fluido no interior da tubulação é aberta. O fluido manométrico irá se deslocar e,
após um perı́odo de escoamento, atingirá a posição de equilı́brio mostrada na Figura 3.5(b). Nesta
condição, o fluido manométrico está estacionário e as duas superfı́cies apresentam um desnı́vel
relativo h(m), o qual é cuidadosamente medido. Neste caso, na extremidade do manômetro aberta
à atmosfera, a superfı́cie do fluido manométrico encontra-se à pressão barométrica local. A outra
superfı́cie, porém, encontra-se a uma pressão diferente. Para relacionar a pressão no interior da
tubulação com o desnı́vel h(m) marcado pelo manômetro, aplica-se a equação da estática dos
fluidos.
Nesta análise, assumiremos que, nas pressões tı́picas do manômetro, ambos os fluidos possam ser
considerados incompressı́veis. Na figura 3.1.2 mostra-se novamente a situação de equilı́brio final
para a qual alguns pontos foram identificados por números de 1 a 5. Nesta análise, obteremos
a pressão em cada um destes pontos através da aplicação sucessiva da equação da estática dos
fluidos.
O fluido no interior da tubulação possui massa especı́fica ρ(kg/m3 ) e o fluido manométrico possui
massa especı́fica ρm (kg/m3 ). A aceleração da gravidade é g(m/s2 ) e a pressão atmosférica é
patm (Pa). Da equação da estática dos fluidos obtém-se
p1 − p2 = 0
p2 − p3 = −ρg(a + h/2)
p3 − p4 = 0
p4 − p5 = ρm gh
Somando-se algebricamente os lados esquerdo e direito do sistema de equações acima, obtém-se
p1 − p5 = −ρg(a + h/2) + ρm gh
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 55
tubulação
g
pA 1 2
patm
d
a
5
h h/2
nível de equilíbrio
de referência
h/2
3 4
fluido manométrico
Quando ρm ≫ ρ, e considerando que a não é um valor muito grande, nota-se que o primeiro termo
é muito menor que o segundo e poderia ser negligenciado. Nesse caso terı́amos pA ≃ patm + ρm gh.
Outra forma de se obter o mesmo resultado consiste em partir da constatação de que p3 = p4 .
Formulando o valor de p3 , através da aplicação da equação da estática dos fluidos no lado esquerdo
do manômetro, tem-se
p3 = pA + ρg(a + h/2)
Analogamente, formulando para p4 no lado direito do manômetro tem-se
p4 = patm + ρm gh
ou,
pA = patm − ρg(a + h/2) + ρm gh
Ambas as formas de obter-se o resultado final podem ser aplicadas. Porém, quando você sente que
tem ainda pouca experiência no assunto, sugere-se a primeira forma.
Em sı́ntese, ao resolver probemas de obtenção da pressão em um ou mais fluidos incompressı́veis
dentro de tubos conectados, sugere-se:
3.1.3 Generalização
Nesta seção, visa-se desenvolver uma equação mais geral para o balanço de forças em um fluido
estático, utilizando o que se convenciona chamar de formulação integral , ou, balanço macroscópico.
Um fluido é considerado estático na ausência de taxa de deformação. Para uma situação ainda mais
restritiva, qual seja, a ausência de movimento do fluido (vetor velocidade do fluido u(x, y, z, t) = 0),
ausência de interfaces e quando a única força de corpo é a força gravitacional, a conservação da
quantidade de movimento linear do fluido em um volume de controle com volume V reduz-se a um
balanço entre forças de superfı́cie causadas pela pressão e a força de corpo causada pela ação da
gravidade, ou seja,
{Forças de pressão} + {Força de gravidade} = 0.
Dito de outra forma, existe um equilı́brio de forças de pressão e de gravidade no elemento macroscópico,
ou volume de controle, de fluido. A pressão exerce uma força de superfı́cie no volume de controle,
enquanto que a aceleração da gravidade exerce uma força de corpo. Matematicamente, escreve-se
Z Z
− pndA + ρgdV = 0 (3.21)
A V
onde p é a pressão exercida sobre a superfı́cie de controle com área superficial A, ou seja, está
apontada na direção de fora para dentro do volume de controle, n é o vetor normal à área, apontado
na direção de dentro para fora do volume de controle, e g é o vetor aceleração da gravidade no
local. Observe que pressão×área é equivalente a força. A integral da pressão na área fornece a
força causada pela pressão sobre a superfı́cie do volume de controle. Esta força possui a mesma
orientação do vetor normal n. A integral de volume da densidade multiplicada pela aceleração da
gravidade fornece o peso do fluido dentro do volume de controle. Esta força peso está apontada
na direção do vetor g. A Eq. (3.21) é válida para um elemento qualquer de fluido, qualquer que
seja a sua dimensão. Denominaremos esta equação de formulação integral .
Agora, tomaremos a Eq.(3.21), dividiremos pelo volume do elemento de fluido ∆V e obteremos o
limite quando este elemento torna-se muito pequeno, sem, no entanto, violar a hipótese do contı́nuo.
Matematicamente,
R R
pndA ρgdV
− lim A = −∇p ; lim V = ρg (3.22)
∆V →0 ∆V ∆V →0 ∆V
Assim, pode-se escrever
−∇p + ρg = 0 (3.23)
Em coordenadas cartesianas, o vetor gradiente da pressão equivale a
∂p ∂p ∂p
∇p = i+ j+ k (3.24)
∂x ∂y ∂z
onde i, j e k são os vetores unitários nas direções x, y e z e ∂p/∂x é a derivada parcial da pressão
com a coordenada x, a qual retém o significado usual da derivada, ou seja,
∂p px+∆x − px
= lim (3.25)
∂x ∆x→0 ∆x
A Eq.(3.23) é denominada formulação diferencial . Note que esta, assim como a formulação integral,
é também uma equação vetorial e tem, portanto, três componentes. Para o caso tı́pico onde x e y
acompanham a superfı́cie da terra e z aponta para cima, o vetor aceleração da gravidade torna-se
g = −gk, e as três componentes da Eq.(3.23) tornam-se:
∂p
− =0 (3.26)
∂x
∂p
− =0 (3.27)
∂y
∂p
− − ρg = 0 (3.28)
∂z
Estas equações são as mesmas obtidas anteriormente.
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 57
3.1.4 Exercı́cios
Problema 1:
Ao final desta seção, você deve ser capaz de definir e expressar matematicamente:
4. Fluido incompressı́vel;
Problema 2:
Considere o volume de controle bidimensional no plano x-y com lados a e b. Mostre que a igualdade
R
− A pndA
lim = −∇p
∆V →0 ∆V
é correta. (Problema difı́cil. Tente se você quiser obter um conhecimento maior dos aspectos
matemáticos envolvidos nas derivações).
Problema 3:
Mostre que para um gás perfeito isotérmico a pressão em uma altura h em relação ao nı́vel zero é
−g
p = po exp h
Rg T
g
patm
aberto à atmosfera
h1
h2
mercúrio
água
Problema 6:
Calcule a pressão manométrica na tubulação A, pA , quando ∆h = 10 cm, h1 = 20 cm e h2 = 300
cm. Assuma os fluidos incompressı́veis com densidades ρa = 1, 5 kg/m3 (ar), ρl = 1000 kg/m3
(água) e ρHg = 13500 kg/m3 (mercúrio). O manômetro está aberto para a atmosfera.
tubulação g
ar patm
pA aberto à atmosfera
h2 d
h1
Dh
água
fluido manométrico
(mercúrio)
Resposta Pr.6 :
pA = patm + (ρHg ∆h − ρa h2 − ρl h1 ) g.
Problema 7:
Um tanque fechado é pressurizado no topo na pressão pA (Pa). O tanque contém óleo até um nı́vel
h1 = 2 m. Um manômetro é instalado na posição mostrada, sendo h2 = 0,4 m, h3 = 1 m e h4 =
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 59
0,8 m. Assuma que a pressão atmosférica é patm = 101325 Pa, a aceleração da gravidade aponta
para baixo e tem módulo g = 9,8 m/s2 e que os fluidos são incompressı́veis com densidades ρo =
850 kg/m3 (óleo) e ρa = 1000 kg/m3 (água).
2. Obtenha uma expressão para a distribuição de pressão manométrica p(z) (man.) ao longo
da parede vertical do lado esquerdo do tanque.
ar
p(z) g
óleo
pA
patm aberto à atmosfera
h2
d água
h1
h3
h4
Resposta Pr.7 :
1. pA = patm + ρa gh4 − ρo g (h2 + h3 ) .
2. p(z) = pA + ρgz, 0 ≤ z ≤ h1 .
Problema 8:
A figura abaixo mostra dois tubos transportando água conectados através de um manômetro em U
feito com um tubo com diâmetro constante. Antes da conexão do manômetro, o nı́vel de equilı́brio
estava a uma altura a = 1 m em relação ao nı́vel dos tubos. Para as situações mostradas abaixo
nas figuras (a) e (b), calcule a diferença de pressão entre os tubos A e B se o desnı́vel anotado é
h = 20 cm. Utilize: ρℓ = 1000 kg/m3 (água) e ρm = 13000 kg/m3 (mercúrio). A aceleração da
gravidade é g = 9, 81 m/s2 e θ = 60o .
Resposta Pr.8 :
(a) : pA − pB = (ρm − ρl ) gh
Problema 9:
Um tanque de aço inox com diâmetro D = 10 cm é munido de um visor de nı́vel (externo) na forma
de um tubo de vidro com diâmetro d = 1 cm. Na situação (a), este tanque é preenchido com água
até um nı́vel de equilı́brio de referência, o qual é anotado na superfı́cie do visor de nı́vel. Então, na
situação (b), o tanque é alimentado lentamente com com uma certa massa de um óleo mineral com
densidade ρo = 800 kg/m3 (óleo). Após atingir-se a nova situação de equilı́brio, o nı́vel final da
água no visor de nı́vel está a uma altura ∆h = 25 cm do nı́vel de equilı́brio de referência. Ambos o
tanque e o visor permanecem abertos à atmosfera e o óleo não se mistura com a água. Determine
a massa de óleo adicionada ao tanque. Dados: ρa = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 81 m/s2 (aceleração
da gravidade), patm = 101325 Pa (pressão atmosférica).
60 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
tubulação g tubulação g
pA pB pA pB
d d
d
a a
h h/2 h
nível de equilíbrio nível de equilíbrio
de referência de referência
h/2
fluido manométrico
q
deslocamento final do deslocamento final do
fluido manométrico fluido manométrico fluido manométrico
Resposta Pr.9 :
πD2 d2
ρm ∆h
m o = ρo ho , ho = 1+ 2
4 ρo D
Problema 10
A figura abaixo mostra um micromanômetro feito com um reservatório vertical com diâmetro d1
= 40 mm conectado a um tubo inclinado em um ângulo θ = 60o com diâmetro d2 = 16 mm. Esse
manômetro, que contém água como fluido manométrico com massa especı́fica ρm = 1000 kg/m3 ,
é utilizado para medir a diferença de pressão entre os pontos A e B em duas tubulações paralelas,
nas quais escoa óleo com massa especı́fica ρo = 800 kg/m3 . A tubulação do manômetro acima
do fluido manométrico é preenchida com óleo e não há a presença de bolhas de ar. Quando o
manômetro está aberto à atmosfera, o nı́vel de referência inicial situa-se a uma distância a = 60
cm do ponto A. Após a conexão às tubulações, o manômetro passa a acusar um deslocamento de
L = 15 cm no tubo inclinado.
dL
S=
d∆p
(a)
d22
∆p = pA − pB = (ρm − ρo ) g + senθ L
d21
ar
D D
óleo
Dh
nível de equilíbrio
de referência
d d
água água
(b)
dL 1
S= =
d∆p d22
(ρm − ρo ) g + senθ
d21
Problema 11:
A figura abaixo mostra um micromanômetro feito com um tubo vertical com diâmetro D = 3
cm conectado a outro tubo inclinado em um ângulo θ = 45o com diâmetro d = 9 mm. Este
manômetro, que contém álcool como fluido manométrico com massa especı́fica ρm = 850 kg/m3 , é
utilizado para medir a diferença de pressão entre os pontos A e B da tubulação inclinada, na qual
escoa ar com massa especı́fica ρa = 1,5 kg/m3 . A tubulação é inclinada em um ângulo θ = 30o e
os pontos A e B são separados por uma distância h = 20 cm. Quando o manômetro está aberto
à atmosfera, o nı́vel de referência inicial situa-se a uma distância a = 40 cm do ponto A. Após
a conexão à tubulação, o manômetro passa a acusar um deslocamento de L = 10 cm no tubo
inclinado. Determine a diferença de pressão entre os pontos A e B, pA − pB (Pa). Utilize g = 9,8
m/s2 para a aceleração da gravidade.
Resposta Pr.11 : 2
d
pA − pB = ρgh + (ρm − ρ) g + senθ L
D2
tubulação g
fluido presente
pA na tubulação pB
d2
a
L
d1
nível de equilíbrio
de referência
deslocamento final do
fluido manométrico
q
fluido manométrico
aeronave, na qual a resultante das forças aplicadas pelo fluido determinarão, entre outros aspectos,
a magnitude da massa total que pode ser sustentada pela asa. Nesta seção, desenvolve-se uma
aplicação mais restrita deste tipo de cálculo pois se considera que o fluido esteja em repouso.
Neste caso, o campo de tensões no fluido em contato com a superfı́cie se resume a um campo de
pressão estática. A força resultante será obtida através de uma integração das forças de pressão
exercidas sobre a área de contato entre o fluido e a superfı́cie de interesse. O cálculo desta força
possui relevância em aplicações de equilı́brio estático em superfı́cies submersas, como em barragens
e comportas, e na flutuação e estabilidade de corpos flutuantes. O cálculo destas forças é uma
aplicação direta da equação da estática dos fluidos. Este cálculo também ilustra a aplicação do
caso mais geral de integração de um campo de tensões ao longo de uma superfı́cie.
∂p
− =0 (3.29)
∂x
∂p
− =0 (3.30)
∂y
∂p
− + ρg = 0 (3.31)
∂z
A integração das Eqs.(3.29) e (3.30) fornece
Para a integração da equação na direção z, considere que o fluido é incompressı́vel , ou seja, sua
densidade não varia com a pressão, possui pressão po na coordenada z = 0 e deseja-se conhecer a
pressão p na coordenada z. Para este caso,
dp = ρgdz
Z p Z z
dp = ρgdz
po 0
Z z
p − po = gρ dz
0
p = po + ρgz (3.32)
Note que a pressão é uma função linear de z.
(a) (b)
g y
x
y
DFp 1
2
3
4
Fp zo z 5 Dz
6
7
z N=8
h
w w
Figura 3.15: (a) Superfı́cie submersa e sistema de referência utilizado. (b) Placa plana mostrando
sistema de referência local e divisão em N elementos de área.
a própria definição de integração, ou seja, o módulo da força aplicada pelo fluido contra a superfı́cie
torna-se
N
! Z
X h
′
Fp = lim p i w∆z = pwdz ′ (3.35)
∆z →0′
0
i=1
Nota-se que esta força é aplicada do fluido para a superfı́cie na direção normal à superfı́cie.
A seguir, desenvolve-se algumas aplicações do cálculo de força sobre superfı́cies planas.
3.2.3 Aplicações
A solução da integral de superfı́cie da pressão depende da forma e orientação da superfı́cie. As-
sumiremos que o fluido seja incompressı́vel e consideraremos alguns exemplos a seguir. Na solução
destes exemplos adotaremos um sistema de referência (x, y, z) cujo eixo z é alinhado com a direção
do vetor aceleração da gravidade. Neste sistema, p = po no ponto z = 0 e a pressão não varia
com as coordenadas x e y. Em todos os exemplos, a superfı́cie é plana com comprimento L(m)
e largura w(m) (na direção y saindo da página). Ainda, adotaremos um segundo sistema de re-
ferência (x′ , y ′ , z ′ ) com origem em um ponto na superfı́cie e sendo o eixo z ′ alinhado com a superfı́cie
plana de interesse. A Figura 3.2.3 mostra as configurações analisadas. Estas figuras apresentam a
projeção no plano x − z.
1. Superfı́cie plana retangular com comprimento L e largura w alinhada com o plano horizontal
e posicionada a uma profundidade h no fluido [Figura 3.2.3(a)]. Neste caso, a distribuição
de pressão é uniforme na superfı́cie e obtém-se
Z Z
Fp = (po + ρgh)dA = (po + ρgh) dA = (po + ρgh)Lw (3.36)
A A
z z
h L
(c) g (d) g
patm patm
zo zo
x x
z z z z
L
L h
q
z = z ′ sen(θ) (3.44)
Como
dA = w dz ′ (3.45)
e utilizando a Eq. (3.32) tem-se
Z L Z L
Fp = (po + ρgz)wdz ′ = [po + ρgz ′ sen(θ)] wdz ′ (3.46)
0 0
cuja solução é
ρgL2 sen(θ)w
Fp = po Lw + (3.47)
2
Nesta configuração, po = patm + ρgzo e, assim,
ρgL2 sen(θ)w
Fp = (patm + ρgzo )Lw + (3.48)
2
Novamente, observa-se o efeito de uma pressão constante aplicada sobre a placa, (patm +
ρgzo )Lw, superposto ao efeito da pressão variável com a profundidade que pode ser interpre-
tado como
ρgL2 sen(θ)w
Lsen(θ)
≡ ρg Lw (3.49)
2 2
ou seja, novamente, a pressão média (ρgLsen(θ)/2) multiplicada pela área da superfı́cie (Lw).
Inúmeras outras configurações são possı́veis quando a superfı́cie é curva e apresenta uma orientação
qualquer. Nota-se também que a força resultante na superfı́cie é dada pelo somatório de forças na
superfı́cie. Se a pressão po atua por exemplo em ambos os lados da superfı́cie seu efeito resultante
é nulo (você é capaz de mostrar isto?).
Mo = −F r j′ (3.50)
(a)
F1
F3
F2 o
Mo
(b)
F x
x y
y z
z o
o Mo
L r
z F
o
y Mo
Figura 3.17: (a) Exemplos de forças que originam momento (F1 ) e forças que não originam momento
(F2 e F3 ) em relação ao ponto O, (b) Geração de momento em relação ao ponto O por uma força
F e diagrama vetorial.
O vetor momento está alinhado com o eixo y ′ e o sentido pode ser obtido pela regra da mão direita.
Observa-se que na equação acima a pressão deve também ser expressa em termos de z ′ . Para isto,
usa-se a transformação
z = zo + z ′ (3.54)
para escrever
p = po + ρgz = po + ρg(zo + z ′ ) = p′o + ρgz ′ (3.55)
68 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
(a) (b) y
g
x z
y o
DFp 1
2
3
o z 4
Fp o 5 Dz
6
7
z N=8
h
w w
Figura 3.18: Obtenção do momento exercido pelo fluido em relação a um eixo passando pelo ponto
O.
Assim,
Z h
Mp = z ′ (p′o + ρgz ′ ) w dz ′ (3.56)
0
3.2.5 Aplicações
A solução da integral de superfı́cie da pressão depende da forma e orientação da superfı́cie. A
Figura 3.2.5 apresenta alguns exemplos de configurações para uma superfı́cie plana retangular com
comprimento L e largura w (saindo da página). Assumiremos que o fluido seja incompressı́vel e
resolveremos os exemplos listados.
1. Superfı́cie plana retangular com altura L e largura w alinhada com o plano horizontal e
posicionada a uma profundidade h no fluido. Neste caso, para a coordenada z ′ ao longo da
superfı́cie com origem no eixo O, tem-se que
dA = w dz ′ (3.57)
cuja solução é
L2 w
Mo = (po + ρgh) (3.59)
2
Esta expressão pode ser reescrita como
L
Mo = (po + ρgh)Lw (3.60)
2
ou seja, a força de magnitude (po + ρgh)Lw aplica um momento com braço de alavanca L/2.
Neste caso, po = patm .
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 69
z z
h L
z z
o
o
L
(c) g (d) g
patm patm
zo zo
x o x
z z z L
L h
z
q
o
Figura 3.19: Configurações tı́picas para o cálculo de momento em superfı́cies planas submersas.
2. Superfı́cie plana retangular com comprimento L e largura w alinhada com o eixo z sendo o
eixo O posicionado em uma profundidade L. Neste caso
dA = w dz ′ (3.61)
L = z + z′ (3.63)
e assim
Z L
Mo = [po + ρg(L − z ′ )]z ′ wdz ′ (3.64)
0
cuja solução é
L2 w ρgL3 w
Mo = (po + ρgL) − (3.65)
2 3
ou,
L2 w ρgL3 w
M o = po + (3.66)
2 6
Neste caso, po = patm . Nota-se nessa expressão a contribuição de duas parcelas. A primeira
parcela é uma força uniforme po Lw aplicada no centro da superfı́cie exercendo um momento
através do braço de alvanca L/2. A segunda parcela, é um momento realizado por uma força
distribuı́da com resultante (ρgL/2)Lw aplicada em um braço de alvanca de L/3.
70 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
3. Superfı́cie plana retangular com comprimento L e largura w alinhada com o eixo z sendo o
eixo O posicionado em uma profundidade zo . Neste caso
dA = w dz ′ (3.67)
Utilizando a Eq. (3.32)
Z L
Mo = (po + ρgz)z ′ wdz ′ (3.68)
0
Nota-se que agora tornou-se mais interessante posicionar o eixo z em zo de forma que a
relação entre z e z ′ torna-se
z = z′ (3.69)
Assim Z L
Mo = [po + ρgz ′ ]z ′ wdz ′ (3.70)
0
cuja solução é
po L2 w ρgL3 w
Mo = + (3.71)
2 3
Esta expressão é semelhante a anterior, porém, agora
po = patm + ρgzo (3.72)
cuja solução é
L2 w ρgL3 sen(θ)w
Mo = (po + ρgh) − (3.77)
2 3
e, considerando que h = L sen(θ),
L2 w ρgL3 sen(θ)w
M o = po + (3.78)
2 6
Esta expressão também apresenta uma primeira parcela que corresponde a um componente
constante de força de pressão realizando momento e uma segunda parcela que corresponde a
uma força distribuı́da com resultante [ρgL sen(θ)/2]Lw realizando momento através de um
braço de alavanca de L/3. Ainda, neste caso,
po = patm + ρgzo (3.79)
Inúmeras outras configurações são possı́veis quando a superfı́cie é curva e apresenta uma orientação
qualquer. Nota-se também que o momento resultante na superfı́cie é dado pelo somatório de
momentos na superfı́cie. Se a pressão po atua por exemplo em ambos os lados da superfı́cie seu
efeito resultante é nulo.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 71
3.2.6 Generalização
Esta seção é acrescentada com o objetivo de obter uma dedução mais rigorosa e generalizada. Seja
a superfı́cie submersa apresentada na Figura ??. Deseja-se determinar a magnitude, direção e linha
de ação da força atuante sobre a face superfior desta superfı́cie e do momento em relação a um eixo
passando pelo ponto O. O sistema de coordenadas é escolhido de modo que o eixo y acompanhe a
aresta superior da superfı́cie y ≡ y ′ .
(a) (b)
x
z y
g zo
zo
y
L z
o
Fp h = L sen q
zo q
h b = L cos q
w w
z
q z
Figura 3.20: Calculo de forcas e momentos sobre uma superficie submersa plana.
Força
Definindo a normal unitária à superfı́cie apontada na direção do fluido por n, a força (um vetor)
causada pela pressão em uma superfı́cie submersa é dada por
Z
Fp = − p n dA (3.80)
A
O produto da pressão (um escalar) com a normal unitária n (um vetor) indica que a força causada
pela pressão atua na direção normal à área e o sinal negativo indica que esta é dirigida do fluido
para a superfı́cie. O módulo da força aplicada pelo fluido sobre a superfı́cie é portanto dado por
Z
Fp = |Fp | = p dA. (3.81)
A
Esta é uma força de superfı́cie porque atua na interface do fluido em contato com a superfı́cie.
Pode-se expressar a pressão em termos da variável z fixando a referência em zo ,
Z z
p = p(zo ) + ρ g dz (3.82)
zo
Z z′
p = p′ o + ρ g sen(θ) dz ′ . (3.83)
0
Observa-se que a pressão uniforme p′ o exerce uma força com módulo equivalente ao produto p′ o A
na direção da normal n. O segundo termo expressa a força exercida pela pressão que varia ao longo
da superfı́cie. Define-se a coordenada do centróide da superfı́cie como
1
Z
zc′ = z ′ dA (3.86)
A A
ou seja, o produto zc′ A representa o momento de área de primeira ordem. Assim, obtém-se:
Para o cálculo da coordenado do centróide zc′ , a geometria da superfı́cie plana é expressa em termos
das coordenadas (z ′ , y ′ ). Assumindo que a função W(z ′ ) define a largura da superfı́cie na direção
y ′ , o elemento de área, dA, pode ser expresso como
dA = W(z ′ ) dz ′ (3.90)
L
1 1 wL2 L
Z
z ′c = z ′ w dz ′ = = (3.94)
A 0 wL 2 2
Momento
Definindo a normal unitária à superfı́cie apontada na direção do fluido por n, o momento (um
vetor) causado pela pressão em uma superfı́cie submersa em um fluido em relação a um eixo O é
dado por Z
Mo = − p r × n dA (3.96)
A
onde p é a pressão exercida sobre cada elemento de área superficial dA, r é o vetor posição sobre a
superfı́cie com origem no eixo O e o sinal × indica o produto vetorial. O produto vetorial do vetor
posição r com a força de pressão normal à superfı́cie −p n dA fornece o momento em uma direção
normal a ambas as direções de n e r.
Utilizando a distribuição de pressão para um fluido incompressı́vel,
p = p′ o + ρ g z ′ sen(θ),
O módulo do momento aplicado pelo fluido sobre a superfı́cie em relação ao eixo O torna-se portanto
o que resulta em
z ′ p,u = z ′c . (3.110)
Para a parcela variável, tem-se
o que resulta em
Iyy
z ′ p,u = . (3.112)
z′cA
Esse resultado pode ser particularizado para a superfı́cie plana retangular, inclinada em um ângulo
θ e submersa em uma proundidade zo . Para a parcela uniforme, obtém-se
L
z ′ p,u = . (3.114)
2
Portanto, a parcela uniforme da pressão causa uma força distribuı́da uniforme cuja resultante é
aplicada na coordenada z ′ = L/2. Para a parcela variável, tem-se
3.2.7 Exercı́cios
Problema 1
Responda:
1. Quais são as forças que se manifestam em um fluido estático? Explique a origem dessas
forças e como essas podem ser expressas para um elemento de fluido com forma cúbica com
arestas ∆x, ∆y e ∆z.
3. Qual a origem da força causada por um fluido sobre uma superfı́cie submersa? Em que
direção essa força se aplica? Do que depende a força resultante sobre a superfı́cie?
Problema 2
Considere uma superfı́cie triangular equilátera com lados com dimensão a submersa verticalmente
em um fluido em repouso. Sendo po a pressão no ápice do triângulo (ponta superior), mostre que
a aplicação da Eq. (3.81 ) fornece para a força horizontal
√ √ !
a2 3 3
Fy = po + ρga
4 3
(Dica: Use a simetria exibida pelo triângulo para definir a função W (z)).
z
g
po
Fy
a
x
Problema 3
O tanque mostrado abaixo possui água com densidade ρ(kg/m3 ) até o nı́vel indicado, sendo o
restante preenchido por ar. Um manômetro no topo do tanque indica uma pressão manométrica
pA (Pa). Obtenha expressões para a força resultante exercida: (a) no lado esquerdo, (b) no lado
direito, (c) na tampa e (d) no fundo do tanque. A pressão externa é atmosférica patm (Pa) e o
tanque está hermeticamente vedado ao ambiente externo. Assuma que o ar no topo do tanque tem
pressão uniforme. O vetor aceleração da gravidade, com módulo g(m2 /s), aponta para baixo na
direção vertical.
Problema 4
Um reservatório pressurizado possui uma tampa retangular com altura L(m) e largura w(m),
inclinada em um ângulo θ em relação à horizontal. O fluido, com nı́vel h(m) acima da tampa,
possui densidade ρ(kg/m3 ). A pressão externa é atmosférica patm (Pa) e o topo do tanque contém
ar com pressão absoluta pA (Pa). O vetor aceleração da gravidade, com módulo g(m2 /s), aponta
para baixo na direção vertical. Para os tanques (a) e (b) mostrados abaixo, obtenha expressões
para (i) As componentes horizontal e vertical da força resultante exercida pelo fluido sobre a tampa,
76 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
g pA
patm a
h
(a) (b)
g pA pA g
patm h h patm
L L
q q
O O
e (ii) O momento resultante exercido em relação ao ponto O. Que semelhanças você observa entre
as duas soluções?
Resposta:
O módulo da força resultante é o mesma nas partes (a) e (b):
FH = FR sen(θ), FV = FR cos(θ)
ρg sen(θ)wL2
FR = (pA − patm + ρgh)wL +
2
Para o momento:
Parte (a)
wL2 ρg sen(θ)wL3
Mo = (pA − patm + ρgh) +
2 3
Parte (b)
wL2 ρg sen(θ)wL3
Mo = (pA − patm + ρgh) +
2 6
Problema 5
A comporta inclinada com comprimento L e largura w mostrada abaixo separa dois fluidos incom-
pressı́veis, um fluido com massa especı́fica ρ2 (kg/m3 ) e outro com massa especı́fica ρ1 (kg/m3 ). A
comporta possui peso Fg (N) e densidade uniforme. Para a situação mostrada na figura:
1. Admitindo que a resultante do momento na articulação O seja nula para o instante mostrado
na figura, obtenha uma expressão para o peso da comporta em função da massa especı́fica ρ2
e nı́vel h2 do fluido 2, massa especı́fica ρ1 e nı́vel h1 do fluido 1 e das dimensões da comporta.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 77
Lembre que o peso da comporta aplica um momento no ponto O igual ao produto entre o peso e
a distância do centro de gravidade até o ponto O, que é igual a L/2.
g comporta
patm
L
h2
h1
q
Resposta:
gw
Fg = (ρ2 h32 − ρ1 h31 )
3L cos(θ) sen2 (θ)
gw
FR = (ρ1 h21 − ρ2 h22 ) , FH = FR sen(θ), FV = FR cos(θ) + Fg
2 sen(θ)
Problema 6
Calcule o valor da massa M (kg) do contrapeso necessária para abrir a comporta quando o nı́vel da
água no reservatório atingir a cota h = 1 m. A comporta tem comprimento total L = 2 m, largura
w = 1 m e forma um ângulo com a horizontal igual a θ = 60o . Desconsidere o peso da comporta
e assuma que a água encontra-se estática e possui densidade ρ = 1000 kg/m3 . A aceleração da
gravidade aponta de cima para baixo com módulo g = 9,8 m/s2 .
comporta
g
patm
M
h L
q
Resposta:
ρh3 w
M=
3 sen(θ) cos(θ)[L sen(θ) − h]
Problema 7
Uma comporta rı́gida contendo uma articulação (pino) no ponto O mantém a água represada
dentro de um reservatório, conforme a figura abaixo. O topo da comporta é ligado a uma massa
M (kg) através de uma roldana sem atrito. Negligencie a massa da comporta e determine o valor
do nı́vel h(m) de água no reservatório que faria a comporta abrir.
78 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
comporta móvel
g
L
Massa M(kg)
água
h
articulação
o q
fundo fixo
g comporta
patm
h1
h2
q
Resposta:
h2 < h1 sen2/3 θ
Problema 9
A figura abaixo mostra uma comporta com seção transversal em V, com ângulo interno θ = 60o ,
presa a uma articulação A no fundo do reservatório. A comporta possui massa negligenciável e está
em contato com fluidos diferentes nos dois lados. O fluido 2 possui densidade ρ2 = 1000 kg/m3 e
nı́vel h2 = 1 m. O fluido 1 possui densidade ρ1 = 1100 kg/m3 .
1. Calcule o valor do nı́vel h1 do fluido 1 para o qual o lado esquerdo da comporta permaneceria
vertical, ou seja, para o qual não haveria movimento de rotação da comporta.
2. Como você poderia utilizar esta comporta como detector de nı́vel dos fluidos 1 e 2? Explique.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 79
Resposta:
1/3
ρ1 sen2 (θ)
h2 = h1
ρ2
Problema 10
Calcule o nı́vel da água h(m) que faria o bloco de concreto tombar para o lado direito (ou seja, que
causaria um momento negativo ao redor do ponto O). As dimensões indicadas são b = 40 cm, a = 2
m; o fluido é incompressı́vel com densidade ρ = 1000 kg/m3 (água); o bloco possui densidade ρb =
2100 kg/m3 ; assuma que a pressão atmosférica é patm = 101325 Pa e a aceleração da gravidade
aponta para baixo e tem módulo g = 9,8 m/s2 .
Bloco de concreto
a
h
o
b
Resposta:
1/3
3ab2 ρb
h=
ρ
Problema 11
A figura abaixo mostra uma comporta rı́gida retangular com comprimento L(m) e largura w(m)
presa a uma parede vertical fixa através de uma articulação (dobradiça) separando dois reser-
vatórios. No reservatório da esquerda, existe um fluido com ρ1 (kg/m3 ) e nı́vel h1 (m) em relação
à dobradiça. No reservatório da direita, existe outro fluido com densidade ρ2 (kg/m3 ) e nı́vel h2
(m) em relação à dobradiça. A comporta possui massa M (kg) e o ângulo de inclinação com a
horizontal é θ. Obtenha uma expressão para a altura h1 mı́nima necessária para que a comporta
permaneça fechada (ou seja, uma expressão para h1 em função de h2 e das outras variáveis para a
situação de equilı́brio de momentos).
h1
h2
L o
Comporta
Resposta:
ρ2 ρ2 2L senθ M cos θ
h1 = h2 + −1 −
ρ1 ρ1 3 ρ1 LW
Problema 12
A figura abaixo mostra uma comporta rı́gida retangular com comprimento L = 1, 2 m e largura
w = 0, 7 m presa a uma parede vertical fixa através de uma articulação colocada na posição L/2
(ponto O) No interior do reservatório existe água suja com ρ1 = 1100 kg/m3 e nı́vel h1 = 1, 5 m
em relação ao fundo do tanque coberta com uma camada de óleo pesado com ρ2 = 900 kg/m3
com espessura h2 . A comporta forma um ângulo θ = 60o em relação à horizontal e possui um
contrapeso com massa M (kg) preso na extremidade. Estime a massa necessária para o contrapeso
de forma que a comporta se abra quando a espessura da camada de óleo atingir exatamente h2 = 30
cm. Negligencie a massa da comporta e utilize para a aceleração da gravidade g = 9, 81 m/s2 .
Contrapeso
h2
o
h1 L/2
L
q
Comporta
Resposta:
ρ1 g sen(θ)wL3
1
M= po L 2 w +
4gL cos(θ) 3
L sen(θ)
po = ρ2 gh2 + ρ1 g h1 −
2
Problema 13
A figura abaixo mostra uma comporta rı́gida formada por duas placas de aço soldadas e articuladas
no ponto O. A comporta é retangular e tem largura w (m) (normal à folha). (a) Encontre a
equação para o momento resultante no instante de abertura da comporta. (b) Determine o valor
do momento resultante para as variáveis abaixo.
Dados: a = 2 m, H = 5 m, w = 1 m, θ = 30o , ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 ,
patm = 101325 Pa.
Resposta:
ρgw 3
h − 3ha2 − 2a3 senθ , h = H − a senθ
(a) MR =
6
Problema 14
A figura abaixo mostra uma comporta móvel presa a uma estrutura fixa através de uma articulação
no ponto O. A comporta possui largura w = 0,8 m, comprimento L = 2,0 m e está apoiada no
fundo do reservatório formando um ângulo θ = 60o com a horizontal. No interior do reservatório
existe água com massa especı́fica ρ = 1000 kg/m3 e nı́vel localizado na cota h = 3,0 m em relação
ao fundo do reservatório. Uma massa M (kg) é presa por uma corrente de aço à ponta inferior
da comporta, como mostra a figura. Estime o valor da massa M necessária para abrir a comporta
quando a água atingir exatamente a altura h mostrada. Assuma que a articulação não apresenta
atrito. Utilize g = 9,8 m/s2 para a aceleração da gravidade.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 81
H o a
Massa M(kg)
água
estrutura fixa
h O
L
articulação
q comporta móvel
fundo fixo
Resposta:
ρwL h L senθ
M= − (3.117)
cos θ 2 6
Problema 15
Determine qual densidade ρs (kg/m3 ) o material do bloco deve possuir para se manter estável
na posição mostrada na figura abaixo. As dimensões do bloco são a(m) e b(m) e o fluido tem
densidade ρ (kg/m3 ). O bloco tem largura w (m) na direção normal à página. A aceleração da
gravidade é g (m/s2 ).
a
o
b
ρs a2
Resposta: = 2 +1
ρ 3b
82 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
3.3 Flutuação
A força de empuxo em um corpo em contato com um fluido resulta do campo de pressão aplicado
pelo fluido na superfı́cie do corpo. Como exemplo, considere um corpo na forma de um prisma
retangular com altura a (m) e área da base b2 (m2 ), parcialmente submerso até uma profundidade
c (m) em um fluido incompressı́vel, conforme mostra a Figura 3.3. Deseja-se obter uma expressão
que permita estimar o valor de c em função das massas especı́ficas do fluido ρ(kg/m3 ), do corpo
ρs (kg/m3 ) e das demais dimensões. A Figura 3.3. mostra tembém o diagrama de corpo livre. As
forças na direção x aplicadas nas superfı́cies laterais por ação da pressão do fluido sobre o corpo
(Fp,1 e Fp,2 ) se anulam mutuamente por agirem na mesma direção (direção x) mas em sentidos
opostos.
g
patm corpo flutuando
x
a
água c
z
b
Fp,c
Assumindo que a atmosfera exerce uma pressão uniforme em toda a superfı́cie do corpo e do fluido,
a força que age na superfı́cie superior do corpo, que está exposta à atmosfera, é dada por
A força que age na superfı́cie inferior do corpo depende da pressão atmosférica e do efeito da coluna
de fluido com profundidade z = c, sendo dada por
Sendo conhecida a densidade média do material que compõe o corpo, a força peso pode ser calculada
por
Fg = ρs gb2 a. (3.121)
Assim, do balanço de forças na direção vertical obtém-se
Este resultado, que pode ser expresso como ”o peso aparente do corpo quando submerso em um
fluido é igual à diferença entre o peso do corpo e o peso do fluido deslocado pelo corpo”, é conhecido
como Princı́pio de Arquimedes. O lado esquerdo da Eq. (3.122) é a força de empuxo Fe (N), ou
seja,
Fe = Fp,c − Fp,o = ρgb2 c. (3.123)
Portanto a força de empuxo é resultante do desbalanceamento da pressão aplicada pelo fluido nas
duas faces horizontais. O módulo da força de empuxo é igual ao peso do volume de fluido deslocado
pelo corpo, a direção da força de empuxo é a direção de g e o sentido é oposto ao de g .
A partir do balanço de forças na direção vertical, verifica-se que o comprimento submerso do corpo
é dado por
ρs
c= a (3.124)
ρ
Observa-se que o comprimento submerso é máximo quando o corpo e o fluido possuem a mesma
massa especı́cifica. Se o corpo possuir massa especı́fica maior que a do fluido, este irá submergir
indefinidamente no fluido. Note que, no caso de uma embarcação, apesar da densidade do aço ser
cerca de 11 vezes maior que a da água, a embarcação possui espaços internos preenchidos com ar
que diminuem consideravelmente a densidade aparente da embarção como um todo, permitindo
que esta flutue.
3.3.1 Generalização
O cálculo da força de empuxo pode ser generalizada conforme segue. A força de empuxo causada
pelo fluido sobre o corpo submerso é o resultado da força resultante de pressão obtida de
Z
Fe = − p n dA. (3.125)
A
Da equação da estática,
∇p = ρg. (3.128)
Assim, Z Z Z
Fe = − p n dA. = − ρg dV = −g ρ dV = −mg. (3.129)
A V V
Portanto, a força de empuxo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo submerso e aponta na
direção contrária de g.
3.3.2 Exercı́cios
Problema 1
Responda:
1. Defina a força de empuxo. Como se calcula a força de empuxo ? Explique qual o fundamento
fı́sico do Princı́pio de Arquimedes.
2. A força de empuxo exercida por um fluido mudaria com a variação da sua temperatura?
Explique.
84 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Problema 2
A flutuação de um corpo com massa especı́fica conhecida pode ser utilizada para determinar-
se a massa especı́fica de um fluido desconhecido. Considere um corpo na forma de um prisma
triangular parcialmente submerso em um fluido incompressı́vel, conforme mostra a Figura 3.3. O
corpo encontra-se parcialmente submerso até um nı́vel c. Obtenha uma expressão para a massa
especı́fica do fluido ρ(kg/m3 ) em função da massa especı́fica do corpo ρs (kg/m3 ) (conhecida),
da dimensão c(m) medida e das demais dimensões. Explique como esse densı́metro poderia ser
utilizado.
água L
h
D
lama
Respostas Pr. 3 :
L 4mg
(a) ρm = ρ −
h hπD2
3.4. FLUIDO EM MOVIMENTO DE CORPO RÍGIDO 85
4mg h dL h
(b) L = + ρm ⇒ = . Logo, a sensibilidade aumenta com o aumento do h.
ρπD2 ρ dρm ρ
Problema 4
Um flutuador na forma de um cilindro com altura L (m) e diâmetro D (m) é utilizado como
suporte de instrumentos que devem ficar sobre a superfı́cie de um reservatório. Os instrumentos e
o cilindro apresentam massa total M (kg). A água dentro e fora do cilindro possui massa especı́fica
ρg (kg/m3 ) e o ar no interior do cilindro apresenta massa especı́fica ρa (kg/m3 ).
(a) Calcule o nı́vel de água h (m) que deve ser colocada dentro do cilindro para que esse permaneça
submerso a uma distância H (m) abaixo do nı́vel do reservatório, conforme mostra a figura.
(b) Considerando que o orifı́cio no fundo do cilindro comunica a água de dentro com a água de
fora, determine a pressão necessária ao ar na situação mostrada na figura.
(c) Você teria alguma preocupação quanto à estabilidade desse sistema? Discuta.
Dados: ρg =1000 kg/m3 , ρga =1,4 kg/m3 , D = 100 mm, M = 1,5 kg, H = 700 mm, L = 1000
mm.
g instrumentos
ar pressurizado
flutuador
água L
H
h
D
orifício água
Respostas Pr. 4 :
4M
(a) h = H −
πD2 ρ
(b) pa = patm + ρg(H − h)
∂p
= ρ(gz − az ) (3.133)
∂z
Como p = p(x, z),
∂p ∂p
dp = dx + dz (3.134)
∂x ∂z
Sobre uma superfı́cie isobárica, dp = 0. Dividindo por dx,
∂p ∂p dz
0= + (3.135)
∂x ∂z dx
Então,
dz
0 = ρ(gx − ax ) + ρ(gz − az ) (3.136)
dx
ou
dz (gx − ax )
=− (3.137)
dx (gz − az )
Portanto, a inclinação θ das linhas de pressão constante é obtida de
(gx − ax )
tan(θ) = − (3.138)
(gz − az )
O vetor gravidade aparente pode ser escrito como
ga = g − a (3.139)
e nota-se que o vetor ga forma um ângulo θ com a direção horizontal x. Como a pressão é constante
ao longo de superfı́cies normais à direção de ga , pode-se escrever uma equação para a componente
do balanço de força na direção paralela à ga . Denominando essa direção de n, tem-se
∂p
= ρga (3.140)
∂n
onde o módulo da gravidade aparente ga = ga n é
p
ga = (gx − ax )2 + (gz − az )2 (3.141)
p = po + ρga n (3.142)
3.4.1 Generalização
Agora, analisaremos a natureza da aceleração que é imposta ao elemento de fluido. Para que um
fluido execute um movimento de corpo rı́gido, em geral, ele precisa estar confinado por paredes
sólidas (como em um tanque de combustı́vel) e acelerado por um tempo suficientemente longo,
para que uma condição de equilı́brio se estabeleça. A aceleração sofrida por um corpo rı́gico tem
componentes de aceleração linear e aceleração devido ao movimento rotacional. A velocidade v do
ponto P em um corpo rı́gido que sofre translação e rotação com velocidade angular ω ao redor de
um eixo que passa pelo ponto O pode ser escrita como
v = vo + ω × r (3.143)
dvo dω
ga = g − − ω × (ω × r) − ×r (3.145)
dt dt
Para explorar a aplicação desse conceito, considere um corpo com formato esférico imerso em um
fluido, como mostra a Figura 3.4.1.
Água
g Água
g
q
Ar
g Ar g
Figura 3.38: Corpo imerso em um fluido contido em um reservatório sob aceleração linear.
Na situação (a) o corpo é metálico, com densidade ρs , e se encontra imerso em água, com densidade
ρ. Quando o reservatório está em repouso, o corpo permanece suspenso na direção vertical, ou
seja, alinhado com a direção do vetor aceleração da gravidade g. Agora, o reservatório é posto em
movimento retilı́nio e sofre uma aceleração a constante. Qual o valor do âgulo de deflexão θ do
cabo que sustenta o corpo? Qual a tensão T (N) no cabo?
Para responder essas perguntas, aplicaremos a segunda Lei de Newton para o corpo em movimento
accelerado. A Figura 3.4.1 apresenta o diagrama de corpo livre aplicado sobre o corpo. A direção
do vetor gravidade aparente ga é denominada n. Observe que as superfı́cies de pressão constante
(p1 , p2 , p3 , ...) são normais à direção n.
Aplicando a segunda Lei de Newton para o corpo com massa m(kg) sujeito à gravidade g (m2 /s)
e acelerando com aceleração a (m2 /s) tem-se
ma = Fg + Fp + T (3.146)
onde Fg (N) é a força peso, Fp (N) é a força de empuxo e T (N) é a força de tração no cabo que
sustenta o corpo.
A força de gravidade é dada pela aceleração da gravidade,
Fg = mg (3.147)
88 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
q q
T
-a
Fp p1
g-a g
Fg p2 > p1
n n p3 > p1
Figura 3.39: Diagrama de corpo livre para o corpo imerso no fluido sob aceleração.
T = −m(g − a) − Fp (3.148)
Fp = −ρV ga (3.150)
Fp = −ρV ga (3.151)
Observa-se que o sinal de Tn relaciona-se com a diferença ρs − ρ. O corpo metálico com ρs > ρ
apresenta tensão apontada no sentido contrário de ga , como mostra a Figura 3.4.1. Por outro lado,
para o balão de hélio, ρs < ρ, e nesse caso Tn é apontado no mesmo sentido de n.
3.4.2 Exercı́cios
Problema 1
Um corpo com massa especı́fica ρs = 11000 kg/m3 está suspenso por um cabo e completamente
imerso em água com massa especı́fica ρs = 1000 kg/m3 . (a) O reservatório sofre uma aceleração
a = 4 m/s2 . Determine a deflexão do cabo em relação à horizontal. (b) Determine a tensão no
cabo. (c) Se a superfı́cie do reservatório está na pressão patm = 101 kPa, determine a pressão em
uma profundidade h = 2 m.
po − patm Ω2 2
z = + r (3.156)
ρg 2g
90 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Capı́tulo 4
“ The most exciting phrase to hear in science, the one that heralds the most discoveries, is not
’Eureka!’ (I found it!) but ’That’s funny...’ “
Isaac Asimov
A análise integral permite obter informações sobre o comportamento global do escoamento partindo
apenas de informações nos seus contornos, sem a necessidade de se conhecer detalhes sobre o
escoamento no interior do fluido.
Nesse capı́tulo, assume-se que o padrão geral do escoamento é conhecido. Parte-se da definição
de um volume de controle de interesse e prossegue-se na aplicação dos princı́pios de conservação
da massa, quantidade de movimento linear e energia. Os resultados obtidos fornecerão relações
entre as velocidades e forças existentes nos contornos do escoamento e as variações de energia
experimentadas pelo fluido.
Para o desenvolvimento de formulações integrais, iniciaremos considerando situações undimension-
ais com uma entrada e uma saida. O procedimento é de construção das relações e análise dos
resultados nas suas implicações fı́sicas. Ao final, tendo obtido o entendimento da aplicação dos
princı́pios de conservação, as equações serão generalizadas para as suas formas matemáticas mais
gerais.
rp = xp i + yp j + zp k, (4.1)
onde xp (t), yp (t) e zp (t) são os componentes do vetor posição em cada instante de t. A fim de
identificar a partı́cula, frente a todas as outras que formam o fluido, pode-se utilizar a posição rp,o
que ela ocupava no tempo to como um rótulo, ou seja, rp (rp,o , t).
A velocidade da partı́cula é dada por
drp
vp = = up i + vp j + wp k, (4.2)
dt
91
92 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
z Partícula de fluido
no instante de tempo t
vp(t) Trajetória
rp(t)
rp(t+Dt)
Partícula de fluido
no instante de tempo t+Dt
x
Figura 4.1: Partı́cula de fluido em um escoamento em dois instantes de tempo diferentes.
onde up (t), vp (t) e wp (t) são os componentes do vetor velocidade em cada instante de tempo t.
A derivada no tempo do vetor posição é aplicada em cada componente individualmente. Assim,
a evolução no tempo da posição da partı́cula pode ser obtida da solução do seguinte sistema de
equações:
dxp
= up ,
dt
dyp
= vp , (4.3)
dt
dzp
= wp ,
dt
com codições iniciais xp (t = 0) = xp,o , yp (t = 0) = yp,o e zp (t = 0) = zp,o .
A descrição do movimento de todas as partı́culas que formam o fluido, através da obtenção da
solução para rp (t), certamente resultará na descrição do escoamento e de todas as suas carac-
terı́sticas. Esse procedimento é chamado de Lagrangeano. O rastreamento das partı́culas é es-
pecificamente útil quando desejamos conhecer o comportamento de partı́culas com determinadas
propriedades, por exemplo, partı́culas que carregam espécies quı́micas de interesse. Assim, essa
estratégia, embora possı́vel de ser aplicada em escoamentos em geral, pode se tornar onerosa e
não justificável. Geralmente, nos beneficiamos de soluções que possam ser obtidas mais facilmente
através de um ponto de vista denominado de Euleriano. A abordagem Euleriana fundamenta-se
na idéia de que o campo de velocidade v(x, y, z, t) descreve o valor da velocidade do escoamento
em todas as coordenadas (x, y, z) no mesmo instante de tempo t. Existe uma relação direta entre
o campo de velocidade e a velocidade das partı́culas que formam o fluido. A velocidade na posição
(x, y, z) no tempo t corresponde à velocidade da partı́cula que no tempo t ocupa a posição (x, y, z),
ou seja,
v [x = xp (t), y = yp (t), z = zp (t)] = vp (t) (4.4)
ou,
u(xp , yp , zp , t) = up (t),
w(xp , yp , zp , t) = wp (t).
O campo de velocidade pode ser unidimensional, bidimensional ou tridimensional se depende
apenas de uma, duas ou três coordenadas espaciais, respectivamente. Pode se desenvolver em
regime transiente ou regime permanente, caso dependa ou não do tempo, respectivamente.
A partir do campo de velocidade podemos definir a calcular a vazão do escoamento através de uma
superfı́cie. Para isso, partimos da observação do movimento das partı́culas que formam o fluido.
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 93
(a) (b)
t=0 t = Dt
Dx Dx
y y
u u
Dy Dy
x x
Figura 4.2: Movimento de um partı́cula de fluido através de uma superfı́cie fictı́cia em dois instantes
de tempo diferentes.
massa total das partı́culas que atravessaram a superfı́cie na unidade de tempo e pode, portanto,
ser aproximada pela soma da massa de todas as partı́culas que atravessaram a superfı́cie em cada
uma das regiões com área ∆y∆z, dividida pelo intervalo de tempo ∆t. Se todas as patı́culas tem
a mesma massa, isso se torna simplesmente um exercı́cio de contagem das partı́culas mostradas na
Fig. 4.1.2(b).
A fim de expressar essa contabilidade matematicamente, assumiremos que o escoamento da Fig.
4.1.2 seja bidimensional, ou seja, não há variação do campo de velocidade ao longo da direção z
(note que o campo de velocidade pode variar com x, mas a superfı́cie de interesse localiza-se em
uma dada posição x). Assumindo que a dimensão da tubulação na direção z seja w e identificando
cada partı́cula em contato com a superfı́cie com o subscrito i, tem-se
N
X N
X
ṁ = (∆ṁi ) = (ρuw∆yi ) (4.10)
i=1 i=1
Dx
Dy
(a) (a)
t=0 t = Dt
u y u
y
h h
x x
Figura 4.3: Movimento de um conjunto de partı́culas de fluido através de uma superfı́cie fictı́cia
em uma tubulação formada por duas placas planas paralelas.
ṁ = ρum A (4.12)
A vazão mássica lı́quida saindo do VC representa um balanço instantâneo das quantidade de massa
trocadas pelo volume de controle com o seu exterior. Quando o volume de controle é estacionário,
o balanço de massa depende apenas do componente da velocidade do fluido normal à superfı́cie de
controle.
A fim de explorar a utilização desse princı́pio, vamos aplicá-lo em um escoamento com uma entrada
e uma saı́da. Considere o volume de controle mostrado na figura (4.1.3). Nesta figura, um tanque
aberto para a atmosfera é preenchido por um lı́quido até um nı́vel h (m). O tanque recebe lı́quido
por uma tubulação de entrada com área transversal A1 (m2 ) e entrega lı́quido por uma tubulação de
saı́da com área transversal A2 (m2 ). Na escolha do volume de controle, consideramos os seguintes
fatores:
96 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
m1
m2
Figura 4.4: Conservação da massa em um tanque com superfı́cie aberta contendo uma entrada e
uma saı́da.
• Por uma questão de objetividade, ele deve ser posicionado de forma a atravessar as seções do
escoamento nas quais conhecemos o valor da vazão e àquelas nas quais desejamos conhecer
os valores de vazão. Assim, o volume de controle acompanha as paredes do tanque, pois
sabemos que as velocidades normais são nulas (não há vazamento através das paredes do
tanque).
• Nas regiões onde ocorre escoamento, a fim de facilitar o cálculo das vazões, o volume de
controle é posicionado de forma a produzir áreas de escoamento que são normais ao vetor
velocidade nessas seções. Assim, as superfı́cies de controle com áreas A1 e A2 cortam as
tubulações em direção normal ao escoamento.
O tratamento da região da superfı́cie livre merece maior cuidado. Embora possamos trabalhar
com volumes de controle que se deformam com o tempo, uma forma bastante útil de tratamento
de interfaces, consideramos que o volume de controle utilizado tenha forma constante. Assim, por
simplicidade, por enquanto escolhemos negligenciar a existência de escoamento de ar entrando ou
saindo do volume de controle.
A vazão mássica entrando no volume de controle é ṁ1 (kg/s) enquanto que a vazão mássica saindo
é ṁ2 (kg/s). Como hipóteses adicionais neste exemplo, adotaremos que (1) não existam outras
fontes ou sumidouros de massa (por exemplo, não há evaporação da água), (2) a temperatura da
água é constante e uniforme, (3) a massa especı́fica da água é constante e uniforme e (4) a massa
especı́fica do ar é negligenciável quando comparada com a da água (ρar ≪ ρágua ).
Quando o nı́vel h(m) não varia com o tempo, considerando as hipóteses (1) e (2), pode-se intuir
que a vazão de água que entra é igual à vazão que sai do volume de controle. Isto pode ser expresso
como
ṁ1 = ṁ2 (4.19)
ou
−ṁ1 + ṁ2 = 0 (4.20)
Quando se observa que o nı́vel varia com o tempo, pode-se afirmar que a quantidade de água
presente no interior do volume de controle, e portanto, sua massa m, varia com o tempo. Neste
caso, pode-se escrever que, em cada instante de tempo,
∂m
= ṁ1 − ṁ2 (4.21)
∂t
Da hipótese (4), nota-se que nesta análise negligenciou-se a massa de ar que entra ou sai do volume
de controle a medida que a água é deslocada (esta hipótese será removida mais tarde, obtendo-se
essencialmente o mesmo resultado que é obtido a seguir).
Da hipótese (3), ρ constante e uniforme implica que o fluido seja incompressı́vel e não se encontre
estratificado. Sendo também a área transversal do tanque AT (m2 ) uniforme, podemos escrever
m(t) = ρAT h(t). Portanto, tem-se
∂h ṁ1 − ṁ2
= (4.22)
∂t ρAT
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 97
Esta equação sugere que a variação do nı́vel de água no tanque está conectada, em cada instante de
tempo t, aos valores instantâneos das vazões mássicas ṁ1 e ṁ2 . Quando se observa que ∂m/∂t = 0,
diz-se que o escoamento se desenvolve em regime permanente ou estacionário. Em caso contrário, o
escoamento se desenvolve em regime transiente. Observa-se que o regime permanente não implica
necessariamente o equilı́brio mecânico, visto que podem haver acelerações presentes no interior do
volume de controle. Apenas afirma-se que a massa de partı́culas entrando no tanque por unidade
de tempo é igual à massa de partı́culas saindo por unidade de tempo. Essa formulação nada
nos informa acerca dos padrões do escoamento no interior do tanque, como sobre a existência
de recirculações, jatos, ondas, quebra da superfı́cie etc.. Na verdade, os detalhes do escoamento
podem ser bastante complicados. A única informação obtida aqui acerca do escoamento no volume
de controle é de caráter global, ou integral .
Nas tubulações de entrada e saı́da, pode-se adquirir um nı́vel adicional de detalhamento. Na figura
(4.1.3) mostra-se um volume de controle posicionado na tubulação de saı́da do tanque. O volume
de controle é posicionado em contato com as paredes da tubulação e corta a seção transversal em
direção normal ao escoamento. Utilizaremos as mesmas hipóteses listadas acima. Com relação à
hipótese (1), quando as paredes da tubulação são impermeáveis, não há escoamento através das
faces laterais do volume de controle. Portanto, só há escoamento nas faces verticais e denotamos
as vazões nestas faces por ṁ1 (kg/s) e ṁ2 (kg/s).
m1 m2
y
x
O trecho de tubulação em análise permanece constantemente preenchido por água (neste caso, a
hipótese (4) não é necessária). Assim, não há variação com o tempo da massa no interior do volume
de controle. Da conservação da massa,
4.1.4 Aplicações
Escoamento com múltiplas entradas e saı́das
Para um volume de controle com múltiplas entradas e saı́das, a extensão das idéias acima sugere
que
Ne Ns
! !
∂m X X
= ṁi − ṁi (4.27)
∂t i=1 entra i=1 sai
onde Ne é o número de entradas de fluido no volume de controle e Ns é o número de saı́das de
fluido no volume de controle. Em regime permanente, ∂/∂t = 0, tem-se
Ne Ns
! !
X X
ṁi = ṁi (4.28)
i=1 entra i=1 sai
h m3
Volume de
controle
m2
Observa-se que quando a interface divide dois fluidos que não se misturam (ou seja, o lı́quido não
evapora e o gás não sofre nem condensação nem difusão no interior do lı́quido), a velocidade do
lı́quido penetrando no volume de controle é a própria velocidade da interface, um,3 = −dh/dt.
Assim, pode-se escrever
dh
ṁ3 = ρl um,3 AT = −ρl AT (4.30)
dt
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 99
e obtém-se
dh 1
= (ṁ1 − ṁ2 ) (4.31)
dt ρl AT
Este resultado é rigoroso e conduz à solução correta para o problema. Esse tratamento da interface
é estendido para o fluido no lado superior da interface quando ele é de interesse. Por exemplo,
na figura 4.1.4, deseja-se conhecer a vazão de entrada do fluido 2 no volume de controle VC2,
ṁ4 . Fluido 1 ocupa o volume sob a interface, identificado como VC1, enquanto que o fluido 2
m4
Interface
m3,2
Fluido 2
VC2
h2 VC3
m1 VC1 -dh1/dt
m3,1
h1
Fluido 1 Volume de controle
m2 aplicado na interface
ocupa o volume sobre a interface, identificado como VC2. A interface é circundada por um volume
identificado como VC3. Conforme acima, a velocidade da interface é um,3 = −dh1 /dt. Assim, as
vazões dos fluidos 1 e 2 na região da interface são dadas por
dh1 dh1
ṁ3,1 = ρ1 AT um,3 = −ρ1 AT , ṁ3,2 = ρ2 AT um,3 = −ρ2 AT (4.32)
dt dt
onde ṁ3,1 entra no VC1 e ṁ3,2 deixa o VC2. A conservação da massa aplicada ao fluido 1, da
mesma forma que acima, fornece,
dh1 (4.34)
ṁ4 = −ρ2 AT
dt
Entendendo que a face superior do VC2 acompanha a face superior do tanque e que a altura total
do tanque h = h1 + h2 é constante, pode-se escrever
dh dh1 dh2
= + =0
dt dt dt
(4.35)
dh2 dh1
=−
dt dt
100 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Essa aplicação introduz o que se denomina balanço de interface, ou, condição de acoplamento em
uma interface. Os balanços de interface serão também utilizados em outras aplicações nos próximos
capı́tulos.
h h
x
v(x,y)
um(x)
m1
A vazão mássica na entrada é ṁ1 (kg/s). A partir de uma certa posição x = 0, a parede da direita
se torna porosa até uma posição x = L e permite a saı́da de escoamento com campo de velocidade
x
v = Vo 1 −
L
Deseja-se obter uma expressão algébrica para a velocidade média em qualquer seção transversal
ao longo da tubulação um . Assumiremos regime permanente, que o fluido se comporte como
incompressı́vel e que o escoamento seja invı́scido. A conservação da massa em um volume de
controle que se estende de x = 0 até x fornece
Na entrada, tem-se simplesmente ṁe = ṁ1 . O escoamento deixa o volume de controle em duas
regiões. No interior da tubulação, tem-se
ṁ2 = ρum,2 A2
(4.38)
= ρum,2 2hw
x2
ṁ1 = ρum,2 2hw + ρVo x − w (4.40)
2L
ou,
x2
ṁ1 Vo
um,2 = − x−
ρ2hw 2h 2L
(4.41)
x2
Vo
= um,1 − x−
2h 2L
Portanto, obtém-se o resultado que um,2 depende da posição x ao longo da tubulação na qual
posicionamos a superfı́cie 2.
Poderı́amos agora perguntar: Qual deve ser o valor de Vo para que ṁ2 (L) = 0? Utilizando a
solução acima, obtém-se
2ṁ1 h
Vo =
ρhw L
(4.42)
2ṁ1
= .
ρLw
ou seja, nessa condição, a vazão mássica atravessando a área wL deve ser igual à ṁ1 .
4.1.5 Generalização
Pode-se generalizar a aplicação do princı́pio da conservação da massa em um volume de controle
com quaisquer superfı́cies de entrada e saı́da de escoamento. Para isto, defini-se uma forma mais
rigorosa de calcular a vazão mássica atravessando uma certa seção de escoamento.
Tomando um elemento de área dA na seção de escoamento, o fluxo de massa dṁ através do
elemento de área dA, cujo vetor normal unitário n aponta para fora da superfı́cie de controle, é
dado por:
dṁ = ρ (v · n) dA (4.43)
O produto escalar (v · n) fornece o componente do vetor velocidade na direção normal à área de
escoamento. Este produto escalar pode ser interpretado da seguinte forma. Considere que o ângulo
formado entre os vetores v e n tem o valor θ em radianos. Da definição do produto escalar,
onde usa-se |v| = V para denotar o módulo do vetor velocidade v. Observa-se que, por definição,
|n| = n = 1. Assim,
v · n = V cos(θ) (4.45)
Observa-se que o sinal de cos(θ) depende do quadrante em que se encontra o ângulo θ. Como a
normal unitária n aponta para fora do volume de controle, quando o componente da velocidade
normal à área de escoamento apontar para fora, tem-se que −π/2 < θ < π/2, e assim, cos(θ) > 0.
Em caso contrário, quando π/2 < θ < 3π/2, cos(θ) < 0. Portanto, o produto escalar (v · n) será
positivo quando o componente da velocidade normal à área de escoamento apontar para fora da
102 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Note que o sinal e a magnitude do fluxo de massa em todos os pontos sobre a superfı́cie de controle
com área A determinará quando o fluxo lı́quido saindo do volume de controle será positivo ou
negativo.
A quantidade de massa dm contida em uma região infinitesimal no interior do volume de controle
é dada por
dm = ρ dV (4.47)
de tal forma que a massa total no interior do volume de controle é obtida de
Z
m= ρdV (4.48)
V
∂
Z Z
ρ dV + ρ (v · n) dA = 0 (4.50)
∂t V A
Para um tubo com área transversal ao escoamento A(m2 ), a vazão mássica ṁ(kg/s) cruzando a
área A é dada por Z
ṁ = ρm um A = ρ (v · n) dA (4.51)
A
onde um é a velocidade média normal à área A e ρm é a massa especı́fica média do fluido através
da área transversal A. Para o escoamento isocórico, ρm = ρ.
O produto ṁ” = ρv (kg/m2 -s) é chamado de vetor fluxo de massa. A vazão volumétrica escoando
na tubulação dada por V̇ = um A (m3 /s), ou
ṁ 1
Z
V̇ = = um A = ρ (v · n) dA (4.52)
ρm ρm SC
ṁ
Z
V̇ = = um A = (v · n) dA (4.53)
ρ SC
A aplicação destas equações ao problema introduzido no inı́cio da seção resulta nas equações obtidas
anteriormente.
no interior do volume de controle, não necessariamente, precisando ser uniforme. Quando não há
variação da massa no interior do volume de controle,
∂
Z
Variação da massa
= ρ dV = 0 (4.54)
no interior do VC ∂t V C
Neste caso, a equação da conservação da massa na forma integral torna-se
Z
ρ (v · n) dA = 0 (4.55)
SC
Como a massa especı́fica pode ser variável espacialmente (não uniforme), ela permanece como
variável na integração ao longo da superfı́cie de controle. Por exemplo, a massa especı́fica pode
ser diferente na entrada e na saı́da do volume de controle como resultado de variações de pressão
e temperatura. A velocidade também poderá ser não uniforme espacialmente, embora permaneça,
em cada ponto, constante com o tempo. A dimensão do integrando é (kg/s-m2 ) e portanto, esta
equação expressa que a vazão mássica lı́quida saindo do volume de controle é nula.
Escoamento isocórico
É comum encontrar-se aplicações nas quais o fluido pode ser aproximado como tendo compor-
tamento incompressı́vel, ou, mais genericamente, quando o escoamento pode ser considerado
isocórico. Esta hipótese é satisfeita quando a massa especı́fica do fluido não variar significati-
vamente com as variações de pressão e temperatura observadas ao longo do escoamento e ao longo
do tempo. Nestes casos, a massa especı́fica é uniforme na superfı́cie de controle e o fluxo lı́quido
pode ser escrito como
Z Z
Vazão mássica lı́quida
= ρ (v · n) dA = ρ (v · n) dA (4.56)
saindo do VC SC SC
A dimensão do integrando da Equação (4.124) é (m3 /s-m2 ) e portanto, esta equação expressa que
a vazão volumétrica lı́quida saindo do volume de controle é nula. Observa-se que esta equação foi
desenvolvida sem considerar que o campo de velocidade se encontra em regime permanente, apenas,
considerou-se que a massa especı́fica é uniforme e constante no volume de controle. Aplicações
desta equação em escoamentos isotérmicos ou com pequenas variações de temperatura incluem
(1) o escoamento de fluidos homogêneos que podem ser considerados incompressı́veis, como a
água em uma tubulação ou o ar sujeito a pequenas variações de pressão, mesmo que o campo
de velocidade, e por consequência o campo de pressão, estejam variando com o tempo, como nos
escoamentos pulsantes, (2) escoamentos bifásicos de particulados sólidos dispersos em um fluido,
como partı́culas sólidas em suspensão em um meio lı́quido ou poeira em suspensão em ar e (3)
escoamentos bifásicos gás-lı́quido, em regime de bolhas, com variações de pressão moderadas, como
nas misturas de bolhas de ar em água, quando a mistura for estatisticamente homogênea e não
estiver ocorrendo mudança de fase ou difusão mássica.
possa ser não uniforme, o fluido possa ter comportamento compressı́vel e possa haver variações
de velocidade e massa especı́fica com o tempo no interior do volume de controle. Nestes casos, a
massa especı́fica pode não ser uniforme na superfı́cie de controle. Porém, quando a massa total no
volume de controle for constante, tem-se
∂
Z
Variação da massa
= ρ dV = 0 (4.59)
no interior do VC ∂t V C
Esta equação foi desenvolvida sem considerar que o campo de velocidade e massa especı́fica se
encontram em regime permanente e sejam uniformes, apenas, considerou-se que a massa total no
volume de controle é constante. Aplicações desta equação incluem escoamentos nos quais a massa
especı́fica, embora constante com o tempo, apresente estratificação ao longo do volume de controle
como resultado de estratificação de temperatura, pressão ou de concentração de componentes na
mistura, o que inclui escoamentos bifásicos com partı́culas sólidas em suspensão estratificada, bol-
has de gás, e camadas superpostas de fluidos diferentes, incluindo gás, e escoamentos de misturas,
como misturas de fluidos com solubilidade completa ou apresentando substâncias dissolvidas, como
os escoamentos de água com sal. Observa-se que neste caso se requer que a massa total no volume
de controle permaneça constante, embora possa não haver regime permanente do ponto de vista
local dentro do volume de controle.
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 105
4.1.6 Exercı́cios
Problema 1:
O campo de velocidade de um escoamento pode ser representado no sistema cartesiano por uma
função vetorial do tipo v = u i + v j + w k, na qual u, v e w são os componentes do vetor
velocidade nas direções x, y e z, respectivamente. Indique se cada um dos campos de velocidade
abaixo é unidimensional, bidimensional ou tridimensional e se ele ocorre em regime permanente
ou transiente. Nas equações a seguir, C1 , C2 etc. representam constantes.
(1) v = C1 i + C2 j
v = C1 y − C2 y 2
(2) i
C1 y 2
C1 y
(7) v= i + j
x0.5 4x0.5
(8) v = (2C1 xy) i + (−C1 yz) j + C3 k
Problema 2:
Óleo escoa para baixo, numa fina camada com espessura h(m), sobre um plano inclinado, em
regime permanente. Na seção mostrada na figura, o campo de velocidade é unidimensional com
distribuição dada por v = u(y) i no qual o componente x do vetor velocidade vale
y2
u = a hy − ; (m/s)
2
sendo a = 104 (m-s)−1 . Considere que a espessura do filme é h = 6 mm e a massa especı́fica do óleo
é ρ = 800 kg/m3 . Para esse escoamento, determine: (a) a vazão mássica, (b) a vazão volumétrica,
(c) a velocidade média e (d) o módulo da velocidade máxima e a localização no eixo y onde ela
ocorre.
y
g
u(y)
filme de óleo
x
plano inclinado h
m
q
Resposta:
ρawh3 awh3 ah2 ah2
(a) ṁ = ; (b) V̇ = ; (c) um = ; (d) umax = .
3 3 3 2
Problema 3:
O tubo de venturi é um equipamento utilizado para a medição de vazão. Nesse equipamento
a tubulação com diâmetro D1 sofre uma redução de diâmetro para o valor D2 e depois volta
suavemente ao diâmetro D3 = D1 . Considere que a vazão volumétrica que escoa pela tubulação
vale Q (m3 /s). Determine os valores da velocidade média do escoamento um nas seções com
diâmetros D1 , D2 e D3 .
ar D2
Q D1 D3 patm
Resposta:
4Q 4Q 4Q
um,1 = ; um,2 = ; um,3 = .
πD12 πD22 πD32
Problema 4:
Um tanque com seção transversal circular com diâmetro D1 (m) aberto para a atmosfera sofre um
vazamento através de uma fenda com seção transversal retangular com altura 2 h (m) e largura w
(m), sendo w ≫ h. No instante mostrado, a taxa de variação do nı́vel no tanque é dL/dt (m/s). O
campo de velocidade na fenda pode ser aproximado pelo comportamento unidimensional mostrado
na figura, no qual o componente x do vetor velocidade é dado por
y 2
u=C 1− ,
h
onde C é uma constante. (a) Obtenha a relação entre C e a velocidade média do escoamento na
fenda um (m/s). (b) Obtenha a relação entre C e a taxa de variação do nı́vel no tanque dL/dt
(m/s).
h
u
m2
h
Figura 4.11: Pr. 4: Tanque com vazamento por uma fenda retangular.
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 107
Resposta:
2C 3 πD12 dL
(a) um = ; (b) C = .
3 16 wh dt
Problema 5:
Um trecho de tubulação transportando água contém uma câmara de expansão cilı́ndrica com uma
superfı́cie livre com área 2 m2 . As seções de entrada e saı́da tem ambas área de 0,1 m2 . Num dado
instante, a velocidade média na seção 1 é 3 m/s, para dentro da câmara. A água escoa para fora na
seção 2 a uma vazão volumétrica de 4 m3 /s. Ambos os escoamentos estão em regime permanente.
Determine:
(a) A taxa de variação do nı́vel da superfı́cie dh/dt (m/s).
(b) Assumindo que em t = 0 o nı́vel da água se encontre no valor ho , encontre uma equação para
o nı́vel instantâneo h em função do tempo.
m1 m2
DT
Resposta:
dh 37 37
(a) = − ; (b) h = ho − t.
dt 20 20
m1/A
m2
h
D2
Resposta:
4G1 Lw
um = .
ρπD22
Problema 8:
Um tanque cilı́ndrico aberto para a atmosfera é alimentado com óleo na vazão mássica ṁ1 e com
água na vazão mássica ṁ2 . Ao mesmo tempo, água deixa o tanque na vazão mássica ṁ3 . Assuma
que as vazões sejam constantes e encontre uma expressão para o nı́vel do óleo em relação ao fundo
do tanque h = h1 + h2 como função do tempo h(t). Assuma que as massas especı́ficas do óleo e
da água sejam, respectivamente, ρo e ρl (kg/m3 ).
m1 CV2
h2
CV1
m2
h1
m3
DT
Resposta:
dh 1 ṁ1 ṁ2 − ṁ3
= + .
dt AT ρo ρl
Problema 9:
Um tanque admite água na vazão volumétrica Ql = 0,01 m3 /s e perde gasolina na vazão mássica
ṁg = 6 kg/s. Nessas condições, determine a velocidade média do ar no respiro circular com
diâmetro D3 = 20 mm e indique a direção desse escoamento (se entrando ou deixando o tanque).
Assuma que os fluidos apresentem comportamento incompressı́vel e possuam massa especı́fica ρa
= 1,5 kg/m3 para o ar, ρg = 800 kg/m3 para a gasolina e ρl = 1000 kg/m3 para a água. Assuma
que o diâmetro do tanque é DT = 200 mm.
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 109
vm,3
D3
Ar
mg CV2
Gasolina
h2
CV1
Ql
Água
h1
DT
Resposta:
4 ṁg
vm,3 = Ql −
πD32 ρg
.
Problema 10:
Dois tanques cilı́ndricos abertos à atmosfera com diâmetros D1 e D2 estão conectados por uma
tubulação com diâmetro D3 . Assuma que a vazão através da tubulação que conecta os dois tanques
tenha velocidade média dada por
um,3 = C(h)0,5
para a qual C é uma constante positiva e h é a diferença de nı́vel entre os dois tanques. Assuma
que a massa especı́fica da água seja ρ e encontre expressões para os nı́veis de água nos tanques h1
e h2 em função do tempo. Considere que os tanques partem com nı́veis iniciais de água h1,o e h2,o .
Qual é a situação de regime permanente?
g CV1
patm
CV2
Água
h
h1
h2
D1 D3 D2
Resposta:
1/2 ρA3 C 2
h1 = h1,o − ρA3 C ho t − t
2
1/2 ρA 3C 2
h2 = h2,o + ρA3 C ho t − t
2
Problema 11:
Um tanque pressurizado com diâmetro D1 é conectado a um segundo tanque com diâmetro D2
que é aberto para a atmosfera. As vazões volumétricas entre os tanques 1 e 2, Q3 , e do tanque 2
para o ambiente, Q4 , são respectivamente
p1 − p2 0,5
Q3 = C1 ( ) , Q4 = C2 (gh2 )0,5 ,
ρ
onde p1 e p2 são, respectivamente, as pressões estáticas no fundo dos tanques 1 e 2. Nessas
equações, C1 e C2 são constantes. Determine como a pressão pA no tanque 1 deva ser variada com
o tempo para manter a velocidade de saı́da um4 constante. Considere que os tanques partem com
nı́veis iniciais de água h1,o e h2,o .
patm
CV1 pA Ar
CV2
Água h
h1
p1 p2 D4 h2
um,4
Q3
D1 D2
Resposta:
2
C2 pA − patm C2 C2
h1 = h1,o − (gh2,o )0,5 t , = h2,o − (h1,o − h2,o ) + (gh2,o )0,5 t.
A1 ρg C1 A1
Problema 12:
Em um amortecedor hidráulico, um fluido hidráulico com massa especı́fica ρ é pressionado no
interior de um orifı́cio com diâmetro D1 por um pistão com diâmetro D2 . Entre o pistão e a
parede do orifı́cio existe uma folga radial com espessura 2δ = D1 − D2 . Considere que a velocidade
de deslocamento do pistão seja up constante.
(a) Determine uma expressão para a variação do comprimento do orifı́cio L em função do tempo.
(b) Determine uma expressão para a velocidade média do escoamento um na folga radial δ.
4.1. CONSERVAÇÃO DA MASSA 111
Folga radial
Parede do orifício
Pistão
F up
D2 D1
L(t)
Resposta:
A2
L = Lo − up t , um = up .
A1 − A2
Problema 13:
Um fluido ocupa o espaço entre dois discos paralelos com diâmetro D2 . A distância entre os discos
é h. Para cada uma das situações descritas abaixo, determine uma expressão para a velocidade
média de saı́da do escoamento um,2 na posição r = R2 = D2 /2.
(a) Ambos os discos encontram-se estacionários e a distância que os separa é h constante. A vazão
de entrada pela tubulação com diâmetro D1 é ṁ1 constante.
(b) O disco inferior é estacionário, enquanto que o disco superior desloca-se para baixo com veloci-
dade vp constante. A vazão de fluido que entra pela tubulação com diâmetro D1 é nula, ou seja,
ṁ1 = 0.
(c) O disco inferior é estacionário, enquanto que o disco superior desloca-se para baixo comveloci-
dade vp constante e existe vazão ṁ1 de fluido entrando pela tubulação com diâmetro D1 . Como
essa solução se relaciona com as duas anteriores?
D2
Disco superior CV
vp um,2
h(t)
Disco inferior
D1
m1
Resposta:
ṁ1 /ρ + vp πD22 /4
(c) um,2 = .
πD2 (ho − vp t)
112 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Problema 14:
Considere uma tubulação vertical com seção transversal retangular com altura 2h (m) e largura
(saindo da página) w (m). A partir de uma certa posição x = 0, a parede da direita se torna
porosa até uma posição x = L. O campo de velocidade na posição x = 0 é dado por
y2
u = C 1− 2
h
onde C > 0 é uma constante. A parede porosa permite a saı́da de escoamento com campo de
velocidade
x
v = Vo 1 −
L
(a) Obtenha uma expressão algébrica para a velocidade média em qualquer seção transversal ao
longo da tubulação.
(b) Determine o valor de Vo necessário para escoar pela parede porosa toda a vazão de água que
entra na tubulação em x = 0.
Dados: C = 6 m/s; h = 0, 1m; L = 1m; ρ = 1000 kg/m3 ; g = 9, 8 m/s2 ; p1 = 110 kPa (abs.).
p2
x
g
v(x,y)
u(x,y)
y
p1
h h
Respostas:
x2
2 Vo 8 h
(a) um = C− x− , (b) Vo = C .
3 2h 2L 3 L
Problema 15:
Determine a vazão volumétrica Q3 (m3 /s) saindo do volume de controle através da superfı́cie A-C
quando a velocidade uniforme de entrada na face à esquerda (superfı́cie A-B) é U (m/s) e o campo
de velocidade na saı́da à direita (superfı́cie C-D) é
U y y 3
u= 3 − .
2 δ δ
y m3 y
A U C U
y u u
B
D
x L
Respostas:
3
V̇3 = wδU.
8
Problema 16:
Uma tubulação distribue ar em um ambiente através de uma grelha conforme mostrado na figura
abaixo. A grelha tem comprimento L (m) e largura W (m). O ar deixa a grelha na direção vertical
com velocidade uniforme e constante Vo (m/s). Na entrada da tubulação, o campo de escoamento
pode ser considerado unidimensional e em regime permanente com campo de velocidade dado por
" 2 #
2y
u=U 1− .
h
y L
x
h
z y
u
W
h/2
u Vo
-h/2 U
Resposta:
2 2h 2
(a) um = U ; (b) Vo = U ; (c) um (x) = U (é constante com x).
3 3L 3
114 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Problema 17:
Em um queimador, um tubo perfurado distribui a mistura ar-combustı́vel com masssa especı́fica
ρ ao longo de um comprimento L com velocidade constante Vo . O tubo possui área da seção
transversal circular e a vazão de saı́da com velocidade Vo ocorre em metade do perı́metro, A2 =
πDL/2.
(a) Determine a relação entre a vazão volumétrica de entrada no queimador Q1 (m3 /s) e a veloci-
dade (uniforme) de saı́da Vo (m/s).
(b) Determine a distribuição da velocidade média no tubo perfurado um (m/s) como função de x.
Q1 y
A1
x
Vo
Resposta:
2Q1 4Q1 x
(a) Vo = ; (b) um (x) = 1 − .
πDL πD2 L
Problema 18:
Uma esteira se desloca para a direita em regime permanente, impulsionada pelos roletes com raio
R (m) e velocidade angular ω (rad/s). Um alimentador descarrega um pó sobre a esteira a uma
velocidade constante vs (m/s). O pó tem comportamento incompressı́vel e tem massa especı́fica ρs
(kg/m3 ). (a) Determine a vazão de pó na saı́da da esteira, ṁ2 (kg/s). (b) Determine uma equação
para a variação da espessura da camada de pó h(x) (m) em função da distância x (m). Assuma
que a esteira tem largura saindo da página igual a W (m).
rs, vs
h(x) m2
w R
x
L
Resposta:
vs
(a) ṁ2 = ρs vs LW ; (b) h(x) = x
ωR
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 115
Como a partı́cula, por definição, possui massa constante, a segunda lei de Newton pode ser reescrita
como
Nf
X d dvp
Fi = (mvp ) = m = map (4.63)
i=1
dt dt
onde
dvp
ap = (4.64)
dt
Esta relação expressa que a resultante das forças aplicadas sobre uma partı́cula causa uma acel-
eração, ou, inversamente, que uma variação de quantidade de movimento de uma partı́cula gera,
como efeito, uma força aplicada na direção e sentido da variação de quantidade de movimento
observada. Esta variação pode ser tanto de magnitude, como de direção, conforme veremos nas
aplicações.
Tendo definido a quantidade de movimento linear como uma propriedade das partı́culas do fluido,
podemos determinar o que entendemos por escoamento de uma propriedade.
(a) (b)
t=0 t = Dt
Dx Dx
y y
u u
Dy Dy
x x
(c) (d)
t=0 t = Dt
y u y u
h h
x x
Figura 4.25: Escoamento entre duas placas planas paralelas - Definição do escoamento de uma
propriedade do fluido.
Agora, consideraremos que essa partı́cula de fluido possua uma propriedade N , por exemplo,
a massa de uma espécie quı́mica, a energia interna, ou a quantidade de movimento linear. A
propriedade por unidade de massa é portanto η = N/m (propriedade/kg). Ao mover-se, a partı́cula
carrega em seu interior uma quantidade de propriedade igual a η∆m. Assim, a quantidade de
propriedade que escoa na unidade de tempo pela área ∆y∆z é dada por
η∆m
∆ (ṁη) = lim = η (ρu) ∆y∆z = η (ρu) ∆A. (4.66)
∆t→0 ∆t
Essa é uma equação vetorial. O vetor quantidade de movimento linear possui componentes mu,
mv e mw. Assim, as propriedades por unidade de massa em cada direção são, respectivamente,
ηx = u, ηy = v e ηz = w. Portanto, o escoamento através da área A, com fluxo de massa ρu
(kg/m2 -s), é responsável pelo transporte dos 3 componentes da quantidade de movimento linear e
para cada direção, individualmente, pode-se escrever
R
Direção x: (ṁu)A = A u (ρu) dA,
R
Direção y: (ṁv)A = A v (ρu) dA,
(4.70)
R
Direção z: (ṁw)A = A w (ρu) dA.
Quantidade de movimento Resultante das
− linear saindo do VC + forças externas
por unidade de tempo agindo no VC
A seguir, analisaremos duas aplicações em detalhe a fim de entender o tratamento de cada um dos
termos da conservação da quantidade de movimento linear.
4.2.4 Aplicações
Tubulação reta com seção transversal uniforme
Inicialmente, consideraremos uma tubulação reta com seção transversal uniforme, conforme mostra
a figura 4.2.4. A tubulação é formada por duas placas planas paralelas formando uma seção
transversal bidimensional. Assumiremos como hipóteses que (1) o fluido seja incompressı́vel, (2)
118 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
o escoamento possa ser aproximado como tendo um campo de velocidade uniforme nas seções
de entrada e saı́da com módulo da velocidade igual a U , (3) o escoamento ocorra em regime
permanente e (4) a gravidade aponte na direção normal à linha de centro da tubulação. O nosso
objetivo é obter equações para as forças que o escoamento aplica sobre a tubulação e, por meio
dessas equações, buscar um entendimento sobre a interação do escoamento de um fluido com as
paredes que limitam esse escoamento.
A conservação da quantidade de movimento linear é uma equação vetorial. Assim, iniciamos a
análise definindo:
• Um sistema de coordenadas que facilite a solução do problema,
• Um volume de controle que envolva as variáveis conhecidas e aquelas desejadas.
O sistema de coordenadas deve ser aquele que possibilite a descrição matemática mais direta do
campo de velocidade e das forças envolvidas no problema. A tubulação formada por placas planas
paralelas limita um escoamento bidimensional para o qual um sistema de coordenadas cartesiano
(x, y) é o mais adequado. Existem inúmeras definições possı́veis de volumes de controle para esse
escoamento. Provavelmente, o único aspecto em comum às várias definições seria a vantagem
obtida no cálculo da vazão quando posicionamos as faces do volume de controle em uma direção
normal ao campo de velocidade que escoa no interior da tubulação. Na análise que faremos,
optaremos por posicionar o volume de controle inteiramente dentro da tubulação, como mostra
a figura 4.2.4. Nesse volume de controle, as propriedades nas superfı́cies de entrada e saı́da do
escoamento receberão os subscritos 1 e 2 respectivamente. As superfı́cies 3 e 4 estão no interior do
fluido, mas acompanham as paredes da tubulação. A largura do volume de controle na direção z
é considerada constante e igual a w.
U A4 U
m1 A1 m2
A2
y A3
x
VC
m3 = 0
(b) Diagrama de forças na direção x: (c) Diagrama de forças na direção y:
A1 Fp,4 A2
A4 Fm,4 A2 A4
Fp,1 Fp,2
Fm,1 Fg Fm,2
y VC y VC
x x
A1 A3 A3
Fm,3 Fp,3
Quando as paredes da tubulação são impermeáveis, não há escoamento através das superfı́cies
laterais do volume de controle (ṁ3 = ṁ4 = 0). Portanto, só há escoamento nas superfı́cies 1 e 2 e
denotaremos as vazões nestas superfı́cies por ṁ1 (kg/s) e ṁ2 (kg/s). As quantidades de movimento
linear por unidade de tempo entrando e saindo do volume de controle são, respetivamente, (ṁu)1
e (ṁu)2 . Assim, o balanço de quantidade de movimento linear na direção x torna-se
Quantidade de movimento linear
na direção x saindo do VC = −(ṁu)1 + (ṁu)2 .
por unidade de tempo
A variação da quantidade de movimento linear é causada pela existência de força resultante atuando
sobre o volume de controle. Denominaremos o componente na direção x da resultante das forças
externas atuando sobre o VC como FR,x ,
Resultante das
forças externas
= FR,x .
na direção x
agindo no VC
∂
(mu) − (ṁu)1 + (ṁu)2 = FR,x (4.74)
∂t
O diagrama de forças na direção x sobre o volume de controle é mostrado na figura 4.2.4(b).
As forças podem atuar sobre a superfı́cie do volume de controle, sendo proporcionais à área da
superfı́cie de controle, ou sobre a massa contida no volume de controle, sendo proporcionais a esta
massa. As primeiras são denominadas de forças de superfı́cie e as segundas são denominadas de
forças de corpo. Uma força de corpo tı́pica é a força peso que resulta da ação da aceleração da
gravidade sobre a massa de fluido. A componente da força peso na direção x é
onde A é a área da superfı́cie de controle em contato com o fluido com distribuição de pressão p
(lembre dos desenvolvimentos no capı́tulo sobre a Estática dos Fluidos - eles permanecem válidos
120 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
aqui). Para o volume de controle da figura 4.2.4(b), a força de pressão aplicada na área A1 possui
módulo p1 A1 e aponta na direção positiva de x, enquanto que a força de pressão aplicada na área
A2 possui módulo p2 A2 e aponta na direção negativa de x. As pressões p1 e p2 são entendidas
como as pressões médias aplicadas sobre as superfı́cies 1 e 2. Assim, para a tubulação alinhada
com o eixo x, com área da seção transversal A = A1 = A2 , tem-se
As tensões de origem viscosa exercem forças normais e tangenciais sobre a superfı́cie de controle.
As forças na direção x tem origem em tensões viscosas normais nas faces verticais do volume de
controle e tensões viscosas cisalhantes nas faces horizontais do volume de controle. As primeiras
são usualmente pequenas quando comparadas com a força normal de pressão e com a quantidade
de movimento nesta área e serão negligenciadas, enquanto que as segundas serão agrupadas e
denotaremos estas forças simplesmente por Fµ,x = Fµ,3 + Fµ,4 (aponta-se a força viscosa na direção
positiva de x apenas por comodidade - não usaremos ainda uma argumentação fı́sica para intuir a
direção dessa força).
Assim, a equação da conservação da quantidade de movimento linear na direção x torna-se
∂
(mu) − (ṁu)1 + (ṁu)2 = mgx + (p1 − p2 )A + Fµ,x (4.78)
∂t
Conforme mostra a figura 4.2.4(a), o campo de escoamento adotado para esse exemplo é descrito
por v = U i, ou seja, é uniforme e possui módulo U (U não depende nem de x, nem y). Esse campo
de velocidade uniforme representa uma idealização, em geral muito útil como primeira aproximação,
na qual negligenciamos o efeito da viscosidade nos detalhes do campo de velocidade1 . Com o uso
dessa hipótese, a descrição do escoamento de um fluido incompressı́vel, em uma tubulação com
uma entrada e uma saı́da (ṁ1 = ṁ2 ) e área da seção transversal uniforme (A1 = A2 = A), leva a
(ṁu)1 = (ṁu)2 2 . Assim, usando m = ρV , obtém-se
∂
(ρV U ) = ρV gx + (p1 − p2 )A + Fµ,x (4.79)
∂t
Em regime permanente ρU 6= f (t) e assumindo que o vetor aceleração da gravidade possua com-
ponente somente na direção y, tem-se
Este resultado expressa um equilı́brio de forças na direção x mostrando que uma variação de pressão
no fluido é observada como resultado da existência de uma força de origem viscosa tangencial
aplicada pela parede da tubulação sobre o fluido. Quando p1 > p2 , a força Fµ,x aplicada pela
tubulação sobre o fluido no interior do VC aponta na direção negativa de x. Fisicamente, o fluido
aplica uma força que tende a arrastar a tubulação na direção do escoamento (direção positiva de x)
e, assim, a força aplicada pela parede para se manter estacionária é apontada na direção negativa
de x. O suporte mecânico da tubulação deve resistir a essa força viscosa gerada pelo escoamento
do fluido dada por Rx = −Fµ,x . Na completa ausência de efeitos viscosos, tem-se p1 = p2 e Rx = 0
para esse escoamento.
A conservação da quantidade de movimento linear na direção y, usando os mesmos argumentos
utilizados acima, resulta em
∂
(mv) − (ṁv)1 + (ṁv)2 = FR,y (4.81)
∂t
1 Isso não implica que os efeitos viscosos foram negligenciados integralmente na descrição que buscamos, mas
apenas que a variação da velocidade com y, e possivelmente x, tı́pica dos escoamentos viscosos não foi considerada
importante para a nossa descrição.
2 O mesmo resultado é obtido quando consideramos que o escoamento se encontra plenamente desenvolvido
fluidodinamicamente, porém, não desejamos discutir essa hipótese no momento, pois será abordada de forma mais
consistente no capı́tulo apropriado.
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 121
Em geral, as forças viscosas nas superfı́cies de entrada e saı́da do escoamento são negligenciáveis
em relação às forças de pressão e à quantidade de movimento linear. Assim, Fµ,y = 0 e, lembrando
que gy = −g, tem-se
0 = −ρV g + (p3 − p4 )A3 (4.83)
que é exatamente o balanço de forças para o fluido estático. Nota-se que V /A3 é exatamente
o espaçamento h entre as placas paralelas. A força sentida pelas paredes da tubulação Ry é
exatamente a resultante das pressões aplicadas sobre elas, ou seja,
Sendo p3 = p4 + ρgh, a força aplicada pelo fluido sobre a parede é apontada na direção negativa
de y e possui módulo igual ao peso do fluido contido no VC.
m4 = 0
U A4
m1 U m
A1 2
A2
y A3
x
m3 = 0 VC2
Fp,1 Fp,2
Fm,1 Fg Fm,2
y y VC
x x
A1 Fx,3 A3 Fy,3 A3
VC2 VC2
Os mesmos resultados obtidos acima para Rx e Ry podem ser calculados de forma mais direta
caso o volume de controle fosse posicionado ao redor da tubulação, ao invés de no interior dessa,
122 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Direção x: 0 = (p1 − p2 )A + Fx ,
(4.85)
Direção y: 0 = −ρV g + Fy ,
ou,
Direção x: Fx = −(p1 − p2 )A,
(4.86)
Direção y: Fy = ρV g.
Portanto, a força exercida pelo fluido sobre a tubulação na direção x, Rx = −Fx , possui módulo
(p1 − p2 )A e é orientada na direção positiva de x . Na direção y, a força que o fluido exerce sobre
a tubulação, Ry = −Fy , possui módulo ρV g e é orientada na direção negativa de y.
Esse problema mostra o efeito da força viscosa no balanço de forças integral em um volume de
controle e ressalta que uma escolha adequada do volume de controle pode levar a uma solução
mais direta para o problema. No próximo exemplo, avaliaremos o efeito de mudança de direção do
escoamento.
∂
(mu) − (ṁu)1 + (ṁu)2 = FR,x (4.87)
∂t
O campo de velocidade na superfı́cie de entrada A1 é dado por v1 = U i. Assim, (ṁu)1 = ṁU .
Na superfı́cie de saı́da A2 , o campo de velocidade é v2 = U cos(θ) i + U sen(θ) j. Assim, (ṁu)2 =
ṁU cos(θ).
Na configuração mostrada na figura 4.2.4, tanto as forças normais quanto as forças tangenciais
aplicadas na superfı́cie de saı́da (A2 ) possuem componentes na direção x. A contribuição das
forças viscosas na superfı́cie de saı́da, em geral, é negligenciável quando comparada com a força
normal de pressão e com a quantidade de movimento linear. As forças normais se resumem, então,
às forças de pressão. Mais importante nessa configuração é observar que a pressão p1 aplicada na
área A1 sofre oposição da pressão atmosférica aplicada na superfı́cie oposta do volume de controle,
da mesma forma que a pressão p2 também sofre oposição da pressão atmosférica na superfı́cie
oposta. Essa situação é esclarecida na figura 4.2.4. Nessa figura, as superfı́cies A1 e A2 são
projetadas no plano normal ao eixo x e subdivididas em três regiões, identificadas como (1,1),
(1,2), (2,1) e (2,2). Cada uma dessas regiões possui área que se relaciona com as áreas A1 e A2 :
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 123
A1 A4
U
m1 A2
y q
x
A3
m3 = 0
(b) Diagrama de forças: Fp,2
Fy A4 Fm,2
Fx
A2
Fm,1
Fp,1 A1 VC2
Fg
yx q
A3
A1 = A1,1 + A1,2 e, conforme mostra a figura 4.2.4(b), A2 cos(θ) = A2,1 + A2,2 . Cada uma dessas
regiões sofre o efeito de pressões nos lados esquerdo (subscrito e) e direito (subscrito d). A pressão
na superfı́cie A1 causa uma força normal que aponta na direção x. Assim, Fp,1,x = Fp,1 = p1 A1 =
p1 A1,1 + p2 A1,2 . A pressão na superfı́cie A2 causa uma força normal Fp,2 cuja componente na
direção x é Fp,2,x = Fp,2 cos(θ) = p2 A2 cos(θ) = p2 A2,1 + p2 A2,2 . Portanto, conforme indicado na
figura 4.2.4(c), a força resultante de pressão na direção x torna-se
Fp,x = (p1 − patm )A1,1 + (p1 − patm )A1,2 − (p2 − patm )A2,1 − (p2 − patm )A2,2
A3
(c) Forças de pressão na direção x:
Fe,2,2 Fd,2,2
A2,2 patm p2 A2,2
Fe,1,2 Fd,2,1
A1,2 p1 Fp,2 q A2,1
Fp,1
Fe,1,1 Fd,1,1
A1,1 A1,1
patm
−ṁU + ṁU cos(θ) = mgx + (p1 − patm )A1 − (p2 − patm )A2 cos(θ) + Fx . (4.90)
Observa-se que a força que a tubulação aplica sobre o fluido Fx é proporcional à diferença da
força de pressão e à variação da quantidade de movimento linear na direção x. A quantidade de
movimento linear que entra e sai do volume de controle possui módulo constante, porém, varia em
direção e esta variação é expressa por 1 − cos(θ). A Tabela 4.2.4 apresenta alguns casos especiais
para essa solução. Quando θ = 0, 1 − cos(θ) = 0 e recupera-se a equação para a tubulação reta.
Quando θ = π/2, 1 − cos(θ) = 1, existe a deflexão do escoamento em 90o , a pressão p2 não
realiza mais força na direção x e a deflexão completa do jato faz com que toda a quantidade de
movimento linear na direção x que entra no volume de controle, ρU 2 A, seja convertida em força
sobre a tubulação. Quando θ = π, 1 − cos(θ) = 2, existe a deflexão do escoamento em 180o, e a
força atinge o valor máximo, tendo a contribuição, tanto de p1 e p2 , como de uma dupla deflexão
da quantidade de movimento linear na direção x que entra no volume de controle, 2ρU 2 A.
Uma análise semelhante para a direção y, assumindo que gy = −g, fornece
A Tabela 4.2.4 apresenta alguns casos especiais para essa solução. Quando θ = 0, sen(θ) = 0 e
recupera-se a equação para a tubulação reta. Quando θ = π/2, sen(θ) = 1, existe a deflexão do
escoamento em 90o . A pressão p2 realiza força na direção y. A quantidade de movimento linear na
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 125
Tabela 4.1: Condições especiais para o escoamento em uma tubulação curva com área uniforme,
conforme mostrado na figura 4.2.4.
θ Fx Fy
0 −(p1 − p2 )A ρV g
direção y, que era inexistente na entrada do volume de controle, torna-se ρU A e portanto, a geração
de quantidade de movimento linear na direção y é causada pela força que a tubulação exerce sobre
o escoamento. Essas parcelas contribuem para gerar uma força da tubulação sobre o fluido que é
orientada para cima, na direção positiva do eixo y. Finalmente, quando θ = π, sen(θ) = 0, existe a
deflexão do escoamento em 180o, e a força na direção y torna-se idêntica àquela para a tubulação
reta.
As análises acima enfocaram dois escoamentos confinados e tiveram como finalidade explicitar o
tratamento dos termos de balanço de quantidade de movimento por unidade de tempo e da força
resultante de pressão. Também, discutiu-se a importância da escolha adequada do volume de
controle e da diferença entre a força aplicada pelo exterior sobre o fluido, a qual origina a força
resultante responsável pela criação ou destruição de quantidade de movimento linear no fluido, e a
força que o fluido aplica sobre o exterior, a qual é a reação à primeira. A seguir, outras aplicações
explorarão outros aspectos dos problemas de interesse. Ao final, a formulação será generalizada.
Escoamento semi-confinado
Um jato de água atinge uma superfı́cie sólida estacionária cuja saı́da forma um ângulo θ com a
direção horizontal. Assumiremos como hipótese que (1) o fluido seja incompressı́vel com massa
especı́fica ρ, (2) o escoamento possa ser aproximado como tendo um campo de velocidade uniforme
nas seções de entrada e saı́da com módulo da velocidade U , (3) o escoamento ocorra em regime per-
manente, (4) a gravidade tenha efeito negligenciável e (5) as forças viscosas sejam negligenciáveis.
O jato deixa a tubulação com velocidade uniforme com módulo V e área de escoamento A. Dese-
jamos obter os valores das componentes x e y da força que o escoamento causa sobre a superfı́cie.
A figura 4.2.4 mostra a situação em análise.
jato de água
bocal
h
U Superfície
q curva
Figura 4.30: Superfı́cie sólida curva e estacionária que recebe um jato de água com velocidade U .
propriedades nas superfı́cies de entrada e saı́da do escoamento são identificadas pelos subscritos 1
e 2, respectivamente. Na região onde o volume de controle corta a haste que suporta a superfı́cie,
aparecem as componentes Fx e Fy da força que a haste exerce sobre o volume de controle. A figura
4.2.4 mostra o volume de controle adotado e outras caracterı́sticas do escoamento.
Campo de velocidade
uniforme
jato de água U
1 2 q
VC
bocal h
h U cos q
U
Fy q Superfície
curva
Fx
Campo de velocidade
uniforme
U
Figura 4.31: Escolha de volume de controle e posição das componentes Fx e Fy da força que a
haste exerce sobre o volume de controle.
Em regime permanente (hipótese 2), a conservação da massa para o volume de controle com uma
entrada e uma saı́da resulta em
−ṁ1 + ṁ2 = 0 (4.93)
ou seja, ṁ1 = ṁ2 . A vazão na superfı́cie de entrada (1) é dada e vale ṁ1 = ρV A. Na ausência de
gravidade e de efeitos viscosos (hipóteses 4 e 5), um,1 = um,2 = U . Assim, A1 = A2 = A.
Nesse problema, a gravidade foi negligenciada (hipótese 4). A pressão que atua sobre toda a
superfı́cie do volume de controle é patm e, portanto, não há força resultante de pressão. Assim, a
única força na direção x é aquela que existe no interior da haste que suporta a superfı́cie sólida.
Então, a conservação da quantidade de movimento linear na direção x fornece
Ry = ρU 2 A senθ. (4.99)
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 127
Nota-se que a força em y cresce com o aumento de θ atingindo o valor máximo com θ = 90o .
Pode-se verificar o ângulo da força resultante na haste com relação ao eixo x. Sendo Fx e Fy as
componentes nas direções x e y, tem-se
Fy (ρU 2 A)senθ senθ senθ
tan α = = 2
= = = −tan θ (4.100)
Fx (ρU A)(cos θ − 1) (cos θ − 1) − cos θ
Logo, α = π − θ. Essa força é exatamente a resultante do vetor escoamento de quantidade de
movimento nas superfı́cies de entrada e saı́da do escoamento, FR = −(ṁv)1 + (ṁv)2 .
Percebe-se nesse problema a força gerada pela variação da direção do escoamento de quantidade
de movimento linear. O próximo exemplo mostra que o escoamento se ajusta internamente para
garantir que a quantidade de movimento linear seja conservada nas direções onde não há força
resultante.
Nessa aplicação, vamos considerar um jato plano de água atingindo uma placa plana inclinada
em um ângulo θ. O jato, com espessura inicial h1 , dividi-se em dois com espessuras h2 e h3 .
Assumiremos como hipótese que (1) o fluido seja incompressı́vel com massa especı́fica ρ, (2) o
escoamento possa ser aproximado como tendo um campo de velocidade uniforme nas seções de
entrada e saı́da com módulo da velocidade U , (3) o escoamento ocorra em regime permanente, (4)
a gravidade tenha efeito negligenciável e (5) as forças viscosas sejam negligenciáveis. O jato deixa a
tubulação com velocidade uniforme com módulo V e área de escoamento A1 . Desejamos conhecer
as espessuras h2 e h3 dos jatos de saı́da e o valor da força normal aplicada sobre a superfı́cie. A
figura 4.2.4 mostra a situação em análise.
U
jato de
água
bocal
h1
q
U
O volume de controle deve cortar as superfı́cies com escoamento em direção normal ao vetor veloci-
dade e evidenciar a força que se deseja calcular. A figura 4.2.4 mostra um volume de controle que
envolve a estrutura, dessa forma, eliminado forças causadas pela pressão. O sistema de coordenadas
acompanha a superfı́cie.
A conservação da massa fornece
−ṁ1 + ṁ2 + ṁ3 = 0
(4.101)
−ρU A1 + ρU A2 + ρU A3 = 0
que fornece a relação entre áreas de escoamento
A1 = A2 + A3 . (4.102)
U x
h2
jato de
água
y
bocal
h1
q
U
Fy
h3 Fx
U
Figura 4.33: Volume de controle e variáveis no escoamento de um jato sobre uma superfı́cie incli-
nada.
u2 = U (4.104)
u3 = −U
Ao longo da direção x, na ausência de atrito viscoso e força de gravidade, não há força resultante.
Assim,
−(ρU A1 )U cos θ + (ρU A2 )U − (ρU A3 )U = 0
(4.105)
−A1 cos θ + A2 − A3 = 0
Resolvendo para as equações 4.102 e 4.105 tem-se
A1
A2 = (1 + cos θ)
2
(4.106)
A1
A3 = (1 − cos θ)
2
Observa-se que θ = 0 implica em h1 = h2 e h3 = 0, enquanto que θ = π/2, h2 = h3 = h1 /2.
A conservação da quantidade de movimento linear na direção y fornece
−(ρU A1 )v1 + (ρU A2 )v2 + (ρU A3 )v3 = Fy (4.107)
A velocidade em cada face é dada por
v1 = −U sen θ
(4.108)
v2 = v3 = 0.
A única força na direção y é aquela provida pela haste para manter a placa estacionária. Assim,
Fy = ρU 2 A1 sen θ. (4.109)
A máxima força em y é conseguida quando θ = π/2, quando toda a quantidade de movimento
sendo transportada na direção y é destruı́da. A força exercida pelo fluido sobre a placa é a reação
à força calculada acima, ou seja,
Ry = −Fy = −ρU 2 A1 sen θ. (4.110)
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 129
Portanto, o fluido aplica uma força na direção negativa de y com módulo igual ao escoamento de
quantidade de movimento na direção y que é defletido.
jato de água
bocal
h
U Superfície
q curva
carro
Podemos determinar a tensão que o cabo aplica sobre o carro utilizando o volume de controle
mostrado na figura 4.2.4. O resultado é o mesmo obtido anteriormente, ou seja,
Campo de velocidade
uniforme
jato de água
1 2 U
VC
bocal q
h
h
U U cos q
q
Superfície
Campo de velocidade
uniforme Fx curva
U
carro
h
Figura 4.35: Volume de controle e variáveis no escoamento de um jato sobre uma superfı́cie presa
a um carro.
Agora, cortaremos o cabo. O carro acelerará e, mediante a aplicação de uma força de frenagem,
atingirá uma velocidade constante V . Desejamos obter o valor da força de frenagem requerida
para manter a velocidade V constante. A aplicação da conservação da quantidade de movimento
linear na direção x requer que se defina um sistema de coordenadas fixo no volume de controle,
portanto, deslocando-se com velocidade V . Nesse caso, as equações da conservação da massa e da
quantidade de movimento linear são formuladas em termos da velocidade relativa do escoamento,
definida como
vrel = v − V. (4.112)
130 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Campo de velocidade
uniforme
jato de água
1 2 U
VC
bocal q
h
h
U U cos q
q
Superfície
Campo de velocidade
uniforme Fx curva
U V
h
carro
Figura 4.36: Volume de controle e variáveis no escoamento de um jato sobre uma superfı́cie presa
a um carro, sob freangem.
Assim,
− [ρ(U − V )A1 ] (U − V ) + [ρ(U − V )A1 ] (U − V ) cos θ = −Fx (4.117)
ou,
Fx = ρ(U − V )2 A1 (1 − cos θ). (4.118)
Observa-se que, quando V = 0, recupera-se a solução anterior. Ainda, na ausência de força de
frenagem, Fx = 0, a velocidade terminal do carro torna-se V = U .
4.2.5 Generalização
O escoamento total da propriedade η é dado pela integração ao longo da área, ou seja,
Z
(η ṁ) = η (ρv · n) dA. (4.119)
A
Assim, o escoamento de uma propriedade N pode ser calculado da mesma forma que a vazão de
fluido é calculada em uma área de escoamento.
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 131
Novamente, convenciona-se a direção do vetor normal unitário como apontado para fora da su-
perfı́cie de controle. Assim, o produto escalar ρ(v · n)dA expressa a projeção do fluxo mássico
(kg/s-m2 ) na direção do vetor normal, ou seja, o componente do vetor fluxo mássico saindo do vol-
ume de controle através da superfı́cie de controle. Este componente de fluxo deixando o volume de
controle transporta quantidade de movimento nas três direções, incluı́das nas respectivas equações
de conservação.
Para um escoamento unidimensional na direção x, quando A é normal à direção x, tem-se
Z
(ṁu) = ρu(v · n)dA
ZSC Z
= ρuudA = ρu2 dA (4.126)
A A
132 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
Para um campo de velocidade que varie ao longo da área A, em geral, o valor de (ṁu) é diferente
de ρu2m A. Em geral, pode-se estabelecer que que
Z
(ṁu) = ρu2 dA = fu ṁum = fu ρu2m A (4.127)
A
onde
1
Z
fu = 2 ρu2 dA. (4.128)
ρum A A
Para o escoamento em trechos retos de tubulações com velocidades suficientemente altas essa
correção é usualmente próxima de 1. Esse aspecto será analisado novamente no capı́tulo sobre o
escoamento interno.
A força de corpo devido à ação da aceleração da gravidade é calculada por
Z
Fb,g = ρgdV (4.129)
VC
As equações apresentadas admitem que o sistema de referência é inercial com velocidade de deslo-
camento zero. A extensão para um volume de controle que se move com velocidade uniforme e
constante (também inercial) é obtida verificando que a vazão que de fato atravessa a superfı́cie de
controle é dada pela velocidade relativa do escoamento em relação ao volume de controle v - w,
onde w é a velocidade do volume de controle. Assim, tem-se
N
∂
Z Z X
ρv dV + ρv[(v − w) · n]dA = F (4.132)
∂t VC SC i=1
A aplicação para um volume de controle que apresenta aceleração não será revista aqui, podendo
ser encontrada nas referências.
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 133
4.2.6 Exercı́cios
Problema 1:
Uma lâmina de água com espessura uniforme h (m) e velocidade V (m/s) na origem escoa ao redor
de um pêndulo formado por uma haste reta rigidamente presa a um cilindro com diâmetro D (m)
e comprimento (na direção normal a folha) w (m). (a) Determine o valor da força na direção
horizontal Fx (N) aplicada pela lâmina de água sobre o pêndulo. (b) Determine o valor da força
na direção vertical Fy (N) aplicada pela lâmina de água sobre o pêndulo. (c) Se o atrito no pino
O for nulo, para que direção se deslocará o cilindro? Não esqueça de enunciar as suas hipóteses
simplificativas.
Dados: V = 0, 5 m/s, ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa, h = 7 mm,
w = 40 mm, D = 30 mm, θ = 45o .
V
h
O
Resposta:
(a) Fx = ρV 2 hw sen θ; (b) Fy = ρV 2 hw(1 − cos θ).
Problema 2:
Um jato de água plano, vertical, aberto para a atmosfera, com altura H(m), diâmetro d (m) e
velocidade V (m/s) atinge uma placa circular com diâmetro D = 2R (m), que é presa rigidamente
a uma haste que oscila livremente em um pino na origem O. A outra extremidade da haste aplica
uma força Ry (N) na direção vertical, conforme mostra a figura abaixo. Assuma que não há atrito
na articulação O e determine o valor da força Ry (N). Não esqueça de listar as suas hipóteses.
R a b
d
H Ry
V
Problema 3:
Um tanque pressurizado na pressão p1 (Pa) descarrega água com velocidade V2 (m/s) sobre um
anteparo na forma de um disco com o mesmo diâmetro do jato de saı́da, D2 (m). O anteparo deflete
apenas parcialmente a quantidade de movimento e o fluido deixa o anteparo como um jato plano na
forma de sino. Na borda do anteparo, o jato de saı́da forma um ângulo θ com a vertical, conforme
mostra a figura. (a) Utilizando a equação da conservação da quantidade de movimento linear na
forma integral, determine uma expressão para a velocidade V2 (m/s) de saı́da do tanque em função
de p1 , patm , ρ, g e h. (b) Conhecendo o valor de V2 (m/s) e as demais variáveis do problema,
determine uma expressão para a força na direção vertical Fy (N) que deve ser aplicada sobre o
anteparo para mantê-lo estacionário. Não esqueça de enunciar as suas hipóteses simplificativas.
D1
p1
D2
V2 H
patm
q
Fy
Resposta:
1/2
p1 − patm 1/2
(a) V2 = + gh ; (b) Fy = ρV2 A2 V22 + gH (1 − cos θ).
ρ
Problema 4:
Um tunel de vento é utilizado para medir a força de arraste causada pelo escoamento de ar sobre
um cilindro com diâmetro D, como mostra a figura abaixo. Na entrada da seção de testes, o
escoamento é uniforme e possui magnitude V1 (m/s). Na saı́da da seção de teste, as medições
mostram que o escoamento é uniforme desde a parede até a posição y = b e depois cai lineramente
a zero na linha de centro. Na parte em que ele é uniforme, a magnitude da velocidade é V2 . (a)
Obtenha o valor de V2 em função de V1 e das demais variáveis do problema. (b) Determine uma
expressão para a força de arraste por metro de comprimento do cilindro Fx /w (N/m). Assuma
que o ar se comporta como fluido incompressı́vel e que o escoamento se comporte como invı́scido.
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 135
V1 V2
h
b
b
h
Entrada Saída
cilindro
Resposta:
−1 " −2 #
b Fx 2b b
(a) V2 = V1 1 − ; (b) = ρV12 h 1 − 1− −1 .
2h 2w 3h 2h
Problema 5:
Um bomba ejetora é mostrada na figura abaixo. Nessa bomba, água na vazão volumétrica Q2 (m3 /s)
é ejetada pelo tubo ejetor com diâmetro D2 (m) no interior da bomba, na região onde a pressão
interna é p2 (Pa). Como resultado, água é succionada pelo tubo de sucção com diâmetro (D1 − D2 )
(m). A mistura dos dois escoamentos deixa a bomba com vazão volumétrica Q1 (m3/s) para o
ambiente com pressão patm (Pa). Obtenha uma expressão para a vazão volumétrica no tubo ejetor
Q2 (m3 /s) requerida para obter uma dada vazão Q1 (m3 /s) na saı́da em função das demais variáveis
do problema, ∆p = (patm − p1 ) (Pa), D1 (m), D2 (m), D3 (m) e ρ (kg/m3 ). Enuncie as hipóteses
que você utilizar.
p2
patm
água D2
Q2 D1 Q1
tubo ejetor
Resposta:
Cons. massa: V2 A2 + V3 A3 = V1 A1
Cons. Q.M.L. em x: −V22 A2 − V32 A3 + V12 A1 = −(∆p/ρ)A1
1/2
V2 ∆p A3
⇒ =1+ .
V1 ρV12 A2
Problema 6:
Um jato de água plano, horizontal, aberto para a atmosfera, com altura h (m), largura w (m) e
velocidade V (m/s) atinge o defletor de um vagão móvel que desliza pendurado em um cabo.
Na situação (1) o vagão se desloca com velocidade constante U (m/s). Para essa situação:
(a) Obtenha a força de atrito Fx (N) exercida pelo cabo sobre o vagão.
(b) Qual a velocidade máxima que o vagão pode atingir? Explique.
136 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
(c) Qual seria o valor do ângulo θ que forneceria a máxima aceleração do vagão quando esse partisse
do repouso? Explique.
Na situação (2), ao final do curso, o vagão atinge um êmbolo, comprime o ar contido no interior
de um cilindro pneumático com diâmetro D (m) e pára completamente.
(d) Se nessa situação o jato de água permanecer acionado, determine a pressão do ar no interior
do cilindro pneumático.
Não esqueça de listar as suas hipóteses.
Dados: U = 5 m/s, V = 25 m/s, h = 0, 02 m, w = 0, 1 m, D = 0, 03 m, θ = 30o , ρ = 1000 kg/m3 ,
g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa.
cabo cabo ar
U
vagão suspenso vagão suspenso
bocal bocal
h h
q q
V V
pistão pneumático
jato de água jato de água
Respostas:
(a) Fx = −ρ(V − U )2 hw(1 − cos θ)
(b) U =V
(c) θ=π
(d) p − patm = ρV 2 hw(1 − cos θ)/(πD2 /4)
Problema 7:
A figura abaixo mostra duas configurações (a e b) de uma tubulação com seção transversal circular.
A primeira configuração (a) possui diâmetro D1 (m) em ambas as seções horizontal e vertical. A
segunda configuração (b), no entanto, apresenta diâmetro D2 = 2D1 na seção vertical. A pressão
medida no começo da seção horizontal é p1 (Pa) (absoluta) e no final da seção vertical é p2 (Pa)
(absoluta). Assuma que a vazão ṁ(kg/s) que escoa nas duas configurações é a mesma e que as
massas de tubo mais fluido nas duas configurações, M (kg), também são as mesmas. Compare a
força vertical Fy (N) obtida em cada uma das duas configurações e discuta o seu resultado. Utilize
os dados abaixo e enuncie as suas hipóteses simplificativas.
Dados: Para ambas as configurações: ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa,
ṁ =200 kg/s, M =50 kg.
Configuração (a): D1 = 0,2 m, D2 = D1 , p1 = 0, 5 MPa, p2 = 0, 60 MPa.
Configuração (b): D1 = 0,2 m, D2 = 2D1 , p1 = 0, 5 MPa, p2 = 0, 62 MPa.
Respostas:
Fy = M g − (p2 − patm )A2 − ρV22 A2 ,
Fx = −(p1 − patm )A1 − ρV12 A1 .
Problema 8:
A figura abaixo mostra um filme de lı́quido aberto para a atmosfera que escoa sobre uma parede
com velocidade V1 (m/s) e altura do nı́vel do fluido igual a h1 (m). Esse filme recebe um jato
do mesmo fluido com velocidade V2 (m/s) e largura h2 (m). Determine a altura do nı́vel do filme
h3 (m) e velocidade V3 (m/s) na seção de saı́da do filme. Negligencie o efeito da aceleração da
gravidade e liste as demais hipóteses que você utilizar.
Dados: V1 = 0,5 m/s; h1 = 4 mm; V2 = 2 m/s; h2 = 1 mm, θ = 30o , w = 10 mm.
4.2. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 137
p1 p1
m m
D1 D1
p2 p2
D2 D2
h1
q
V3 h3 V2 V1
h1
Respostas:
(V1 h1 + V2 h2 )2
h3 =
V12 h1 + V22 h2 cos θ
V1 h1 + V2 h2
V3 =
h3
Problema 9:
A figura abaixo mostra um jato de lı́quido deixando um bocal e atingindo um anteparo. O bocal
apresenta pressão p1 (Pa) na seção com diâmetro D1 (m). A seção de saı́da tem diâmetro D2 (m) e
descarrega o jato com velocidade V2 (m/s) no ambiente com pressão atmosférica patm (Pa). A saı́da
do bocal apresenta um ângulo θ com a horizontal. O anteparo é na forma de um disco com diâmetro
D (m) posicionado em posição vertical. Obtenha expressões para: (a) As componentes horizontal
e vertical da força exercida pelo escoamento sobre o bocal, e (b) As componentes horizontal e
vertical da força exercida pelo jato sobre o anteparo. Suas expressões devem ficar em função de p1 ,
patm , D1 , D2 , V2 e θ. Negligencie o efeito da aceleração da gravidade e liste as demais hipóteses
que você utilizar.
Respostas:
A1
(a) Fx = −ρV22 A2 cos θ ; Fy = (p1 − patm )A1 + ρV12 A1 1− senθ
A2
(b) Fx = ρV22 A2 cos θ ; Fy = 0.
138 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
D1
p1
jato de água
D2
V2
q bocal
placa defletora
Problema 10:
O barco mostrado abaixo se movimenta por ação de uma hélice instalada na popa. A hélice capta
ar na parte frontal e descarrega na popa através de uma nacele na forma de um bocal com diâmetro
de saı́da D2 = 2 m. O barco experimenta uma força de arraste total dada por FD = KρU 2 , onde
K = 10 m2 . Utilize a massa especı́fica do ar ρ = 1,15 kg/m3 . Determine qual velocidade U (m/s) o
barco desenvolveria em regime permanente quando a velocidade do jato em relação ao barco fosse
V = 15 m/s.
D2
U FD
Resposta:
1/2
U = V (A2 /K) .
4.3. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA 139
mp Up2
Ec = . (4.135)
2
O módulo da velocidade da partı́cula vp (x, y, z, t) é dado por
1/2
Up = |vp | = u2p + vp2 + wp2 . (4.136)
E Up2
e= = ec + ep + ei = + gz + ei . (4.138)
m 2
140 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
∂me
= (ṁe)entra − (ṁe)sai + Q̇ + Ẇ , (4.139)
∂t
ou,
∂me
− (ṁe)entra + (ṁe)sai = Q̇ + Ẇ , (4.140)
∂t
onde me é a energia contida no volume de controle e ṁe é a quantidade de energia que atravessa a
superfı́cie de controle, por unidade de tempo, nos locais onde ocorre entrada de massa, (ṁe)entra ,
e nos locais onde ocorre saı́da de massa, (ṁe)sai .
A diferença entre a quantidade de energia saindo e entrando no volume de controle por unidade de
tempo é igual ao balanço lı́quido de energia saindo através da superfı́cie de controle por unidade
de tempo. Assim, pode-se escrever de forma equivalente
Quantidade de energia
Taxa de variação da
+ lı́quida saindo do VC =
energia no interior do VC
por unidade de tempo
Taxa de transferência Taxa de produção de
+
de calor para o VC trabalho sobre o VC
A seguir, analisaremos uma aplicação em detalhe a fim de entender o tratamento de cada um dos
termos da conservação da energia.
Energia
A energia contida no escoamento possui parcelas de energia cinética, potencial e interna,
E = Ec + Ep + Ei . (4.141)
Considerando que a energia potencial resulta apenas de campo gravitacional e que o fluido forma
uma substância pura, a energia por unidade de massa torna-se
E U2
e= = ec + ep + ei = + gz + ei . (4.142)
m 2
onde o módulo do vetor velocidade é dado por
1/2
U = |v| = u2 + v 2 + w2 . (4.143)
Trabalho e potência
Forças normais e tangenciais aplicadas na fronteira do volume de controle realizam trabalho sobre
o fluido. A potência aplicada por essas forças é o produto da força pela velocidade do escoamento
na direção da força. Nas paredes sólidas em contato com o fluido a velocidade é nula e assim
não há aplicação de potência sobre o fluido nessas regiões. Nas demais regiões, duas situações são
de interesse. Nas superfı́cies sólidas móveis em contato com o fluido existe a aplicação de forças
normais e tangenciais e o fluido escoa como resultado dessas forças. A integração de todo o trabalho
realizado nessas regiões é denominado de We , ou trabalho de eixo. Exemplos de superfı́cies móveis
em contato com o fluido são os rotores de bombas, ventiladores, turbina hidráulicas ou eólicas. Nas
superfı́cies em que ocorre escoamento, tanto a pressão como as forças viscosas realizam trabalho,
denominado de trabalho de pressão Wp e trabalho das forças viscosas Wv . O trabalho de pressão é
realizado pela pressão externa sobre o VC quando o fluido em escoamento deve abrir seu caminho
para escoar para o interior do VC, ou pela pressão interna sobre o ambiente externo quando o fluido
em escoamento deve abrir seu caminho sobre o ambiente externo para escoar para fora do VC. Em
geral, nas superfı́cies com escoamento, o trabalho das forças viscosas normais e tangenciais e muito
menor que o trabalho de pressão e assim, em geral, é negligenciado. Outras formas de realização
de trabalho são possı́veis Wo , como o trabalho de forças de interface e eletromagnéticas, mas esses
serão negligenciados no momento.
A seguir, desenvolve-se expressões para as taxas de realização de trabalho.
Taxa de realização de trabalho das forças viscosas As tensões viscosas produzem forças
viscosas normais Fv,n e tangenciais Fv,t . A taxa de realização de trabalho é igual ao produto
da força pelo componente da velocidade na direção da força. Nas superfı́cies onde o volume de
controle toca a superfı́cie da tubulação, v = 0 e, assim, não há taxa de realização de trabalho. Nas
superfı́cies onde ocorre escoamento, v 6= 0, quando o campo de velocidade é normal à superfı́cie do
volume de controle, as forças tangenciais não resultam em taxa de realização de trabalho, somente
as forças normais. Porém, na ausência de gradiente de velocidade na direção normal, as forças
viscosas normais são nulas. Ainda, em geral, em trechos retos de tubulação, as forças normais
de origem viscosa são negligenciáveis quando comparadas com a pressão. Portanto, a taxa de
realização de trabalho das forças viscosas é negligenciável.
Taxa de realização de trabalho de compressão Para que haja escoamento, o fluido realiza
trabalho sobre a massa de fluido à sua frente de forma a abrir caminho para o seu escoamento.
Considere o escoamento do fluido no interior da tubulação como mostrado na figura (4.3.2).
Uma partı́cula de fluido próxima à face direita do volume de controle escoa com velocidade uniforme
u2 . Assim, no intervalo de tempo ∆t essa partı́cula de fluido desloca-se uma distância ∆x = u2 ∆t
contra o campo de pressão que possui o valor médio ao longo deste deslocamento igual a p2 . Assim,
o trabalho que o fluido em escoamento realiza contra o campo de pressão externo é
.
m1
A1 A2
Fp,1 Fp,2
u1 u2
y
x
Dx Dx
y y
u Fp u Fp
Dy Dy
x x
Figura 4.47: Conservação da energia no escoamento interno em uma tubulação reta formada por
placas planas paralelas.
Analogamente, na superfı́cie de entrada, a força de pressão realiza trabalho sobre o fluido dentro
do volume de controle com magnitude
4.3.3 Aplicações
Tubulação reta com seção transversal uniforme
Consideraremos um volume de controle posicionado no interior de uma tubulação reta com seção
transversal uniforme. A tubulação é formada por duas placas planas paralelas formando uma
seção transversal bidimensional. Assumiremos como hipóteses que (1) o fluido seja incompressı́vel,
(2) o escoamento possa ser aproximado como tendo um campo de velocidade uniforme nas seções
de entrada e saı́da com módulo da velocidade igual a U , (3) o escoamento ocorra em regime
permanente e (4) a gravidade aponte na direção normal à linha de centro da tubulação. O volume
de controle é posicionado em contato com as paredes da tubulação e cortando a seção transversal
de forma perpendicular ao escoamento, conforme mostra a figura 5.2.3. O nosso objetivo é obter
equações relacionando o transporte de energia, a taxa de transferência de calor e trabalho aplicado
sobre o fluido.
4.3. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA 143
.
m1
U A4 U .
m2
A1
A2
y A3
x
u=0
m3 = 0
(b) Diagrama de forças: (c) Taxa de transferência de trabalho e
calor externo:
VC VC
Fm,4
.
m1 Fp,1
A4 u=0
Fp,2 .
m2
.
m1
A4 u .
m2
A1 A1
U A2 U A2
y u=0 A3 y A3
x x
Fm,3
. .
W Q
A energia total por unidade de massa é representada por e (J/kg). Assim, a energia total no
interior do volume de controle é Z
(me) = ρe dV. (4.148)
V
Portanto, a variação com o tempo da quantidade de energia contida no VC é
Taxa de variação da ∂
= (me). (4.149)
energia no interior do VC ∂t
As paredes da tubulação são impermeáveis e, portanto, não há escoamento através das superfı́cies
laterais do volume de controle (ṁ3 = ṁ4 = 0). Assim, só há escoamento nas superfı́cies verticais
e denotaremos as vazões nessas superfı́cies por ṁ1 (kg/s) e ṁ2 (kg/s). A conservação da massa
requer que ṁ1 = ṁ2 = ṁ. Como o fluido é incompressı́vel e as áreas de entrada e saı́da são iguais,
a velocidade média do escoamento é a mesma nas faces de entrada e saı́da, um,1 = um,2 . Como
o fluido se desloca com campo de velocidade uniforme, u(x, y) = U . Os escoamentos de energia
entrando e saindo do volume de controle são, respectivamente, (ṁe)1 e (ṁe)2 ,
Escoamento de energia R
= A eρudA = (ṁe)1
entrando no volume de controle
(4.150)
Escoamento de energia R
= A eρudA = (ṁe)2
saindo do volume de controle
Então, o escoamento lı́quido de energia saindo do volume de controle torna-se
Quantidade de energia
lı́quida saindo do VC = −(ṁe)1 + (ṁe)1 . (4.151)
por unidade de tempo
144 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
∂
(me) − (ṁe)1 + (ṁe)2 = Q̇ + Ẇ . (4.152)
∂t
Nesta equação, o primeiro termo do lado esquerdo representa a variação com o tempo da energia
contida no fluido no interior do volume de controle, o segundo e terceiro termos representam o
balanço de energia saindo do volume de controle, carregada pelo escoamento que cruza a superfı́cie
de controle. No lado direito, encontram-se a taxa de transferência de calor e a potência entrando
no volume de controle.
Em regime permanente, pode-se escrever
Nessa forma, observa-se que, em regime permanente, o escoamento de energia para fora do volume
de controle (ṁe)2 é igual ao escoamento de energia que entrou no volume de controle (ṁe)1 somado
à quantidade de calor que entra pela superfı́cie de controle Q̇ e à quantidade de trabalho realizado
sobre o fluido na superfı́cie de controle Ẇ , na unidade de tempo. Portanto, a energia do escoamento
aumenta quando adiciona-se energia ao volume de controle nas formas de calor e trabalho.
A energia por unidade de massa é
E U2
e= = ec + ep + ei = + gz + ei . (4.155)
m 2
A taxa de realização de trabalho de pressão é
p2 p1
Ẇp = (ṁ2 ) − (ṁ1 ). (4.156)
ρ ρ
∂
(me) − (ṁe)1 + (ṁe)2 = Q̇ + Ẇe + Ẇp + Ẇv
∂t
p
p
(4.157)
= Q̇ + Ẇe + ṁ − ṁ + Ẇv
ρ 1 ρ 2
ou,
∂ p p
(me) − ṁ e + + ṁ e + = Q̇ + Ẇe + Ẇv (4.158)
∂t ρ 1 ρ 2
O lado direito da equação corresponde às parcelas de energia térmica. As forças viscosas se manifes-
tam no interior do volume de controle, não apenas na superfı́cie do volume de controle. Essas forças
não aparecem diretamente na taxa de produção de trabalho na fronteira, mas são responsáveis pela
deformação do fluido no interior do volume de controle. A taxa de deformação do fluido resulta
em conversão de energia mecânica do escoamento em energia térmica. A energia térmica gerada
pode resultar em variação de temperatura do fluido, ou seja, variação de energia interna entre
as superfı́cies 1 e 2, ou resultar em transferência de calor para o ambiente externo. Esses dois
efeitos são quantificados pelo lado direito da equação acima. Denominaremos a conversão de en-
ergia mecânica em energia térmica, também denominada de dissipação viscosa por −Ẇµ . Agora,
dividiremos a equação da conservação da energia (total) em duas partes. A primeira, resultará na
conservação da energia mecânica, enquanto que a segunda considerará a conservação da energia
térmica. O ponto de ligação entre as duas equações será o termo de dissipação viscosa. Utilizando
essas estratégia, obtemos:
Conservação da energia mecânica:
2
p U2 p U2
∂ U
m + gz − ṁ + + gz + ṁ + + gz = Ẇe + Ẇv − Ẇµ
∂t 2 ρ 2 1 ρ 2 2
(4.161)
Conservação da energia térmica:
∂
(mei ) − (ṁei )1 + (ṁei )2 = Q̇ + Ẇµ (4.162)
∂t
A dissipação viscosa Ẇµ é sempre positiva, ou seja, sempre causa a degradação da energia mecânica
em energia térmica. Portanto, é um fenômeno irreverssı́vel, ou seja, sempre se desloca na direção
de dissipação de energia mecânica até atingir o equilı́brio estático. Esse efeito é fundamental no
entendimento da perda de energia no escoamento em tubulações e na dissipação da turbulência.
Em situações de escoamentos em alta velocidade, como na reentrada de corpos na atmosfera, ou no
escoamento de fluidos viscosos sob altas taxas de deformação, como em mancais hidrodinâmicos,
o aumento da temperatura do fluido pode ser significativo, tornando-se um dos parâmetros impor-
tantes no projeto de mancais e redutores de velocidade. A taxa de realização de trabalho pelas
forças viscosas na superfı́cie de controle será negligenciada Ẇv = 0. Assim, a conservação da
energia mecânica será escrita como,
2
p U2 p U2
∂ U
m + gz − ṁ + + gz + ṁ + + gz = Ẇe − Ẇµ
∂t 2 ρ 2 entra ρ 2 sai
(4.163)
O trabalho de eixo é positivo quando entra no fluido, como no caso de bombas e ventiladores, e
negativo quando sai, como no caso de turbinas. Em regime permanente, tem-se
p U2 p U2
− ṁ + + gz + ṁ + + gz = Ẇe − Ẇµ (4.164)
ρ 2 entra ρ 2 sai
Na ausência de atrito viscoso, Ẇµ = 0 e o escoamento torna-se internamente reversı́vel. Admitindo
que haja apenas uma entrada e uma saı́da, não exista trabalho de eixo e o regime seja permanente,
pode-se escrever
p U2 p U2
− ṁ + + gz + ṁ + + gz =0 (4.165)
ρ 2 entra ρ 2 sai
146 CAPÍTULO 4. ANÁLISE INTEGRAL DE ESCOAMENTOS
ou seja,
p U2 p U2
+ + gz = + + gz . (4.166)
ρ 2 1 ρ 2 2
Essa equação indica que a soma das energias cinética e potencial com o trabalho de pressão é
constante ao longo do escoamento em regime permanente, de um fluido incompressı́vel, sem atrito
viscos (invı́scido), em uma tubulação com uma entrada e uma saı́da e na ausência de potência de
eixo e outras formas de realização de trabalho. No próximo capı́tulo obteremos a mesma equação,
denominada de equação de Bernoulli, de uma outra maneira, a qual permitirá aplicá-la com maior
generalidade.
4.3.4 Generalização
Considerando as expressões para o escoamento de uma propriedade do fluido e para o trabalho da
força de pressão na superfı́cie de controle, a equação da conservação da energia pode ser escrita
para um volume de controle estacionário como
∂ p
Z Z Z
e ρ dV + e ρ (v · n) dA = Q̇ − (ρv · n) dA − Ẇv − Ẇe − Ẇo (4.167)
∂t V C SC SC ρ
Lembrando que a enegia especı́fica possui parcelas de energia cinética, potencial e interna
U2
e= + gz + ei (4.169)
2
pode-se escrever
2 Z 2
∂ U U p
Z
ρ + gz + ei dV + + gz + ei + ρ (v · n) dA = Q̇−Ẇv −Ẇe −Ẇo (4.170)
∂t V C 2 SC 2 ρ
4.3.5 Exercı́cios
Problema 1:
Você deve ser capaz de responder às seguintes perguntas:
3. O que representa a potência de eixo Ẇe ? Quando esta será positiva ou negativa?
4. O que representa a potência relacionada às perdas por atrito viscoso Ẇµ ? O que ocorre com
a energia mecânica do escoamento que é dissipada pelo atrito viscoso?
Problema 2:
A saı́da do tubo de sucção de uma turbina hidrelétrica está a um nı́vel h = 324 m abaixo do nı́vel
do reservatório. A turbina é alimentada por uma vazão volumétrica V̇ = 19 m3 /s, a tomada de
água tem diâmetro D1 =1,5 m e o tubo de sucção tem diâmetro de saı́da D2 = 2,5 m. As perdas
por atrito viscoso da tomada d’água até a saı́da do tubo de sucção são modeladas por:
V22
Ẇµ = ṁ K
2
Barragem
Conduto forçado Linha de
Reservatório Tomada transmissão
d´água
Trafo
Gerador
Turbina h
D2
Respostas: !
V̇ 2 V̇ 2
(a) Ẇe,t = ρV̇ gh − 2 −K 2
2A2 2A2
Ẇel,t
(b) ηt =
Ẇe,t
" !# (4.173)
1 V̇ 2 V̇ 2
(c) Ẇel,b = ρV̇
gh + 2 +K 2
ηb 2A1 2A2
1/2
2gh
(d) V2 (Ẇe,t,max ) = .
3(1 + K)
Problema 3:
Uma bomba é utilizada para alimentar um reservatório sobre uma estrutura que está a uma altura
h2 (m/s) em relação à sucção da bomba. A tubulação utilizada possui diâmetro interno D = 50 mm
e o reservatório inferior está afastado uma distância horizontal b = 30 m do reservatório superior.
O nı́vel da água no reservatório inferior é h1 = 3 m e o nı́vel da água no reservatório superior é
h3 = 2 m. Deseja-se bombear água na vazão volumétrica V̇ = 0,0012 m3 /s. A tubulação apresenta
perdas por atrito viscoso que podem ser aproximadas por:
L V22
Ẇµ = ṁ f
D 2
Reservatório
superior
g
h3
patm
Reservatório Bomba h2
inferior
h1
Estrutura
b
Resposta:
V2 (b + h2 ) V22
1
Ẇel,b = ρV̇ g(h2 + h3 − h1 ) + 2 + f
ηb 2 D 2
Problema 4:
Uma bomba movimenta água com vazão ṁ de um tanque aberto para a atmosfera (tanque A)
para um segundo tanque selado (tanque B) que alimenta um equipamento. A água no tanque B
encontra-se na pressão pB (Pa) que á medida por um manômetro de tubo em U contendo mercúrio
como fluido manométrico que é instalado no fundo do tanque.
4.3. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA 149
(a) Obtenha uma formulação para a potência elétrica necessária à bomba considerando a existência
de perdas viscosas.
(b) Negligencie as perdas viscosas e determine a potência elétrica necessária à bomba.
Dados: h1 = 2, 5 m; h2 = 0, 8 m; h3 = 0, 5 m; D1 = 0, 25 m; D2 = 0, 1 m; ṁ = 3 kg/s; ηb = 0, 8;
ρ = 1000 kg/m3 (água); ρ = 13000 kg/m3 (mercúrio); g = 9, 8 m/s2 ; patm = 101325 Pa.
patm
g
Tanque B
h1
água
D1 D2 pB
Bomba
Tanque A patm h2
L1
h3
mercúrio
Resposta (a):
V2
1 pB − patm
Ẇel,b = ρV̇ − gh1 + 2 + Ẇµ
ηb ρ 2
pB = patm + ρm gh3 − ρg(h2 + h3 ).
Problema 5:
Calcule a potência elétrica Ẇel (W) necessária para um ventilador utilizado no resfriamento de
placas de circuitos elétricos. O canal formado entre as placas possui seção transversal com altura
h = 15 cm, largura w = 10 cm e comprimento L = 20 cm. Deseja-se uma velocidade média nessa
seção V2 = 5 m/s. O ventilador com seção transversal a = b = 10 cm é instalado na parede da caixa
de circuitos. A saı́da do escoamento da caixa é formada por uma grade com área de escoamento
A4 = ǫhw, onde ǫ = 0, 85. A conversão de energia por efeitos viscosos, incluindo o canal formado
entre as placas e a grade de saı́da, é estimada por
V32
Ẇµ = ṁ K
2
Caixa de circuitos
b h
w
Ventilador
L
Resposta: 2
V2
1 V4
Ẇel,v = ρV̇ +K 3
ηv 2 2
V̇ V̇
V3 = , V4 = .
wh ǫwh
Capı́tulo 5
“ Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: ”Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espı́rito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver
não é necessário; o que é necessário é criar.“
Fernando Pessoa, “Poesias“.
151
152 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
5.1.1 Exercı́cios
Problema 1
O campo de velocidade bidimensional sobre uma superfı́cie sólida apresenta componente x do vetor
velocidade igual a
Uy
u = 1/2 ,
x
onde U (m/s) é constante. Assuma que o escoamento seja incompressı́vel e determine o componente
y do vetor velocidade.
U y2
Resposta: v = 3/2 .
4x
Problema 2
Encontre sob que condição o campo de escoamento bidimensional dado por
ay bx
u=V − , v= ,
2π(x2 + y 2 ) 2π(x2 + y 2 )
Problema 3
A equação da conservação da massa pode ser escrita em coordenadas polares (r, θ, z) como
∂ρ 1 ∂ 1 ∂ ∂
+ (rρvr ) + (ρvθ ) + (ρvz ) = 0.
∂t r ∂r r ∂θ ∂z
(a) Simplifique a equação para o escoamento bidimensional, no plano (r, θ), de um fluido incom-
pressı́vel.
(b) O componente r do escoamento invı́scido, transversal, ao redor de um cilindro infinito com
raio a é dado por
a2
vr = U 1 − 2 cos θ,
r
onde U (m/s) é a velocidade de corrente livre (uma constante). Assuma que o fluido seja
incompressı́vel e determine o componente θ do campo de velocidade.
a2
Respost: vθ = −U 1 + 2 sen θ.
r
Problema 4
O componente θ do campo de velocidade para o escoamento incompressı́vel, bidimensional no plano
(r, θ) é dado por
Γ
vθ = ,
2πr
onde Γ é constante.
(a) Determine o componente r do campo de velocidade.
(b) Represente graficamente esse campo de velocidade e interprete fisicamente esse escoamento.
Resposta: Esse escoamento é conhecido como um vórtice livre linear com circulação Γ.
5.2. CINEMÁTICA DA TRANSLAÇÃO 153
Problema 5
A superposição de um vórtice livre com circulação Γ sobre o escoamento invı́scido, transversal, ao
redor de um cilindro infinito com raio a fornece uma aproximação para o escoamento ao redor de
um cilindro com rotação. O componente θ desse escoamento é dado por
a2
Γ
vθ = −U 1 + 2 sen θ − ,
r 2πr
onde U (m/s) é a velocidade de corrente livre (uma constante). Assuma que o fluido seja incom-
pressı́vel e determine
o componente r do campo de velocidade.
a2
Resposta: vr = U 1 − 2 cos θ.
r
Partícula de fluido
z no instante de tempo t
Trajetória
rp(t) ap(t)
rp(t+Dt)
A trajetória de uma partı́cula de fluido é dada pelo mapa das posições ocupadas pela partı́cula ao
longo do seu deslocamento. Consideremos uma partı́cula de fluido em um escoamento bidimensional
e que parte da posição (xp,o , yp,o ) no tempo t = 0. As posições sucessivas ocupadas pela partı́cula
são obtidas da solução do seguinte sistema de equações cinemáticas:
dxp
= up
dt
dyp (5.8)
= vp
dt
A solução dessa equação diferencial expressa na forma f (y, x) = C, onde C = f (xo , yo ), fornece a
trajetória da partı́cula que parte de (xo , yo ) a partir do campo de velocidade v(x, y, t).
Vamos agora reescrever a função que descreve a trajetória como ψ(x, y) = f (x, y) = C, sendo C
uma constante. Sobre uma linha de ψ(x, y) constante,
∂ψ(x, y) ∂ψ(x, y)
dψ = dx + dy = 0 (5.11)
∂x ∂y
ou seja,
dy −∂ψ(x, y)/∂x
= . (5.12)
dx ∂ψ(x, y)/∂y
Assim, verifica-se que a definição
∂ψ(x, y) ∂ψ(x, y)
u= ,v = − (5.13)
∂y ∂x
é a condição necessária para que a função ψ(x, y) seja tangente ao vetor velocidade. A função
ψ(x, y) é denominada de função linha de corrente. Em regime permanente, como vimos acima,
a função linha de corrente coincide com as trajetórias das partı́culas. Isso não ocorre em regime
transiente, mas, mesmo em regime transiente, a função linha de corrente mantém a sua generalidade
de ser sempre tangente ao vetor velocidade.
Para o escoamento incompressı́vel,
∂u ∂v ∂w
+ + = 0.
∂x ∂y ∂z
Substituindo a definição de ψ obtém-se
∂ ∂ψ(x, y) ∂ ∂ψ(x, y)
+ − =
∂x ∂y ∂y ∂x
(5.14)
∂ ∂ψ(x, y) ∂ ∂ψ(x, y)
− = 0.
∂x ∂y ∂x ∂y
Portanto, a definição da função linha de corrente satisfaz a conservação da massa para um fluido
incompressı́vel.
O mapa de linhas de corrente é uma ferramenta importante de análise dos escoamentos, pois
permite, em uma rápida olhada, perceber as caracterı́sticas principais dos campos de velocidade e
pressão em um escoamento.
Podemos buscar uma interpretação fı́sica do valor numérico associado às linhas de corrente se
calcularmos a vazão em um escoamento incompressı́vel utilizando as definições acima. Para mostrar
isto, retornemos ao escoamento de Couette discutido anteriormente. Inicialmente, vamos calcular
a vazão volumétrica que escoa entre a quaisquer posições y1 ≤ y ≤ y2 no escoamento. Da definição
de vazão volumétrica Z y2
ṁ
V̇ = = u(y)lz dy.
ρ y1
U 2
ψ= y + g(x). (5.17)
2h
ψ = f (y). (5.19)
As duas equações são satisfeitas simultaneamente se assumirmos que g(x) = ψo (uma constante
qualquer). Assim, a solução final torna-se
U 2
ψ= y + ψo . (5.20)
2h
V̇
= (ψ2 − ψ1 ) . (5.21)
lz
u = U,
2π
v = V cos (x − U t) . (5.22)
λ
Na figura 5.2.1, mostra-se este campo de velocidades para um determinado instante de tempo t.
Utilizou-se uma representação em vetores, de forma que cada vetor possui componentes u(x, y, t)
e v(x, y, t) dadas pelas equações acima (a escala é arbitrária).
Solução:
As linhas de corrente para este escoamento podem ser calculadas como anteriormente. Da compo-
nente u, tem-se
Z
ψ = u dy + g(x),
= U y + g(x). (5.23)
5.2. CINEMÁTICA DA TRANSLAÇÃO 157
Da componente v, tem-se
dyp 2π
= V cos (xp − U t) . (5.29)
dt λ
No entanto,
xp − U t = xp,o − U to . (5.30)
Assim,
dyp 2π
= V cos (xp,o − U to ) , (5.31)
dt λ
cuja solução, sujeita à condição inicial yp = yp,o em t = to , resulta em
2π
yp = yp,o + V cos (xp,o − U to ) (t − to ) . (5.32)
λ
Portanto, as trajetórias das partı́culas que passam por xp,o , yp,o em to são dadas pelos pares (xp , yp )
xp = xp,o + U (t − to ),
2π
yp = yp,o + V cos (xp,o − U to ) (t − to ) , (5.33)
λ
para cada instante t (nota-se que to é mantido fixo e t ≥ to ). Essas equações são equações
paramétricas no tempo t. A variação do tempo t permite mapear a posição da partı́cula dada por
(xp , yp ).
Percebe-se que as trajetórias são funções lineares do tempo. Isolando o tempo na equação para xp ,
substituindo na equação para yp e fazendo y = yp e x = xp , a fim de desenhar o gráfico no plano
(x, y), obtem-se
V 2π
y = yo + cos (xo − U to ) (x − xo ) , (5.34)
U λ
onde xo = xp,o e yo = yp,o . Verifica-se que a função y = y(x) apresenta um comportamento linear,
portanto, descrevendo o gráfico de uma trajetória linear.
Na figura 5.2.1, mostra-se as trajetórias das partı́culas que passam pelo ponto xp,o = yp,o = 0 no
tempo to > 0, ou seja, o gráfico y = y(x). As diferentes curvas representam diferentes partı́culas
que passam pela origem em instantes de tempo to diferentes. Os pontos discretos unidos por linhas
pontilhadas representam as posições das diferentes partı́culas nos mesmos instantes de tempo t > to .
5.2. CINEMÁTICA DA TRANSLAÇÃO 159
Figura 5.4: Trajetórias das partı́culas que passam pelo ponto xo = yo = 0 no tempo t = to . As
diferentes curvas representam diferentes partı́culas que passam pela origem em instantes de tempo
to diferentes (escala arbitrária). Os pontos discretos unidos por linhas pontilhadas representam as
posições das diferentes partı́culas nos mesmos instantes de tempo.
Observa-se que a primeira partı́cula a passar pela origem (partı́cula 1) atingiu uma distância maior
no escoamento.
Usando o exemplo acima, pode-se ilustrar a obtenção das linhas de tinta. Para formar, em um
determinado instante de tempo t, a linha de tinta emitida no ponto (xo , yo ), deseja-se conhecer
onde estão todas as partı́culas que passaram pelo ponto xo , yo em um instante de tempo to ≤ t. A
solução é a mesma obtida para as trajetórias, somente precisamos expressá-la como
x(xo , yo , t) = xo + U (t − to )
2π
y(xo , yo , t) = yo + V cos (xo − U to ) (t − to ) (5.35)
λ
Figura 5.5: Linha de tinta para as partı́culas que passaram pelo ponto xo = yo = 0 no tempo
to > 0 (escala arbitrária). A linha tracejada representa a trajetória de uma partı́cula que partiu
do ponto xo = yo = 0 no tempo to > 0. Os triângulos representam as posições dessa partı́cula em
três instantes de tempo distintos.
5.2.2 Exercı́cios
Problema 1:
Considere o campo de escoamento transiente de um fluido incompressı́vel dado por
u = U
2πt
v = V cos ,
τ
Resposta:
2πt
ψ(x, y, t) = U y − V cos x
τ
xp (xp,o , yp,o , to ) = xp,o + U (t − to )
τV 2πt 2πto
yp (xp,o , yp,o , to ) = yp,o + sen − sen
2π τ τ
Problema 2:
Obtenha os campos de velocidade para os escoamentos de fluido incompressı́vel descritos pelos
campos de linhas de corrente bidimensionais (x, y) abaixo. Nessas equações, a, b, c, γ, Ω são con-
stantes.
1. Escoamento cisalhante simples:
y2
ψ=γ .
2
2. Escoamento ideal em um canto com ângulo π/2:
ψ = axy.
Problema 3:
Para os campos de velocidade listados abaixo, obtenha as linhas de corrente e represente algumas
linhas de corrente no plano (x, y). Nessas equações, a, b, c, γ, Ω, U, V são constantes.
1. Escoamento cisalhante simples:
u = γy, v = 0.
162 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Problema 6:
Escoamentos invı́scidos (ideais) no plano fornecem aproximações para alguns problemas de engen-
haria. Dentre os escoamentos fundamentais bidimensionais, estão o escoamento uniforme, a fonte
linear, o vórtice linear e o doublet. Obtenha os campos de velocidade para os escoamentos ideais de
fluido incompressı́vel descritos pelos campos de linhas de corrente bidimensionais abaixo expressos
em coordenadas polares (r, θ). Nessas equações, U, q, Γ, d são constantes.
5.2. CINEMÁTICA DA TRANSLAÇÃO 163
ψ = U r sen θ.
qd sen θ
ψ=− .
2π r
Problema 7:
A solução para vários problemas envolvendo o escoamento invı́scido (ideal) bidimensional podem
ser obtidas através da superposição das soluções para escoamentos ideiais fundamentais. Obtenha
os campos de velocidade para os escoamentos de fluido incompressı́vel descritos pelos campos de
linhas de corrente bidimensionais abaixo expressos em coordenadas polares (r, θ). Nessas equações,
U, q, Γ, C são constantes.
1. Escoamento uniforme com velocidade U na direção x e fonte com vazão q:
q
ψ = U r sen θ + θ.
2π
Problema 8:
O campo de velocidade para o escoamento invı́scido, bidimensional, ao redor de um cilindro com
raio R é descrito por
R2 R2
v = Uo 1 − 2 cos θ er − Uo 1 + 2 sen θ eθ
r r
5.2.3 Aceleração
Durante escoamento, as partı́culas de fluido sofrem translação, rotação e deformação. A rotação e a
deformação ocorrem como resultado da existência de taxa de deformação, um aspecto que depende
da existência de viscosidade. Nessa seção, trataremos do escoamento na ausência de viscosidade.
Dessa forma, o movimento das partı́culas de fluido se resumirá à translação.
164 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Uo y
r
R q x
x = r cos(q)
y = r sen(q)
Partícula de fluido
z no instante de tempo t
Trajetória
rp(t) ap(t)
rp(t+Dt)
Como visto na seção anterior, a posição da partı́cula é identificada pelo vetor posição rp . A
velocidade da partı́cula é obtida de
drp
vp = . (5.38)
dt
Por consequência, a aceleração da partı́cula é obtida de
dvp
ap = . (5.39)
dt
Pela segunda Lei de Newton, a aceleração relaciona-se à resultante das forças externas aplicadas
sobre a partı́cula. O conjunto de equações dinâmicas completa a descrição Lagrangeana do escoa-
mento.
Do ponto de vista da descrição Euleriana, o campo de velocidade é formado pelo valor do vetor
velocidade em cada posição (x, y, z) em cada instante de tempo t. O valor do vetor velocidade em
(x, y, z, t) relaciona-se com a velocidade das partı́culas de fluido por
∂v ∂v ∂v ∂v
∆v = u∆t + v∆t + w∆t + ∆t. (5.44)
∂x ∂y ∂z ∂t
Dividindo por ∆t, e tomando o limite quando ∆t → 0, tem-se
dv ∂v ∂v ∂v ∂v
= u+ v+ w+ (5.45)
dt ∂x ∂y ∂z ∂t
Essa expressão para dv/dt é formada por dois componentes. Os primeiros 3 termos do lado direito
avaliam a variação da velocidade da partı́cula com as três direções espaciais mantendo o tempo
fixo. Esses três termos são denominados de aceleração convectiva. O quarto termo avalia a variação
da velocidade com o tempo para uma determinada posição (x, y, z) fixa. Esse termo é denominado
de aceleração local. A derivada d( . )/dt é chamada de derivada material.
Portanto, na descrição Euleriana do escoamento, o campo de aceleração é dado pela derivada
material do campo de velocidade, ou seja,
dv ∂v ∂v ∂v ∂v
a= = +u +v +w . (5.46)
dt ∂t ∂x ∂y ∂z
A derivada material aparecerá em todas as equações de conservação. A equação da conservação
da quantidade de movimento linear para o escoamento invı́scido, resultará na Equação de Euler.
5.2.4 Exercı́cios
Problema 1:
Um tubo poroso é inserido verticalmente (direção z) em um escoamento uniforme com velocidade
U = 10 m/s constante. O tubo injeta fluido na direção radial com vazão constante e igual a q = 10
m3 /s (comprimento w = 1 m). Assuma que a massa especı́fica do fluido é ρ = 1, 4 kg/m3 . O
campo de velocidade para esse escoamento bidimensional no plano (r, θ) é dado por
q
v(r, θ) = U cos θ + er − U sen θ eθ
2πr
(a) Obtenha o campo de linhas de corrente e apresente um esboço desse campo. Sobre o gráfico,
use setas para indicar a direção do escoamento.
(b) Obtenha a vazão volumétrica que escoa entre os pontos (r = 1, θ = π/4) e (r = 1, θ = 7π/4).
Represente essa seção no esboço do item (a).
(c) Obtenha as componentes do campo de aceleração para este escoamento e calcule o módulo da
aceleração a (m/s2 ) no ponto [r = 1/(2π), θ = π].
Problema 2:
166 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
z U y
U r
q
q
Uo y
r
R q x
x = r cos(q)
y = r sen(q)
um tubo de corrente. Como o vetor velocidade é paralelo às paredes do tubo de corrente, a
vazão volumétrica de um fluido incompressı́vel que escoa no seu interior é a mesma ao longo do
tubo. Consideremos então um tubo de corrente para o qual as forças com origem viscosa sejam
negligenciáveis. A figura (5.10) mostra um campo de linhas de corrente para um escoamento
bidimensional no plano (x, z), em regime permanente, sobre o qual identifica-se uma partı́cula de
fluido em dois instantes do seu deslocamento.
partícula
z
vp(0)
rp(0) rp(Dx)
Figura 5.10: Linhas de corrente no plano (x, z) para um escoamento. Uma partı́cula de fluido é
mostrada em dois instantes do seu deslocamento.
partícula
z
V s Fp,2
Fp,1
Dn
z z
Ds Fg
x x
Figura 5.11: Partı́cula de fluido posicionada sobre um eixo de coordenadas curvilı́neo s que acom-
panha as linhas de corrente. Para o escoamento invı́scido, a partı́cula desloca-se sobre a ação de
forças de pressão Fp e gravidade Fg .
Em regime permanente,
V2 V2
p p
+ + gz = + + gz = C, (5.59)
2 ρ 2 2 ρ 1
5.3.2 Aplicações
Pressões estática e dinâmica
A fim de definir a pressão dinâmica, considere um escoamento bidimensional ao redor de um cilindro
sólido cujo eixo é normal ao vetor velocidade. O escoamento livre possui velocidade com módulo
V1 e pressão p1 e negligenciaremos o efeito das forças viscosas. As partı́culas que se aproximam
do cilindro vindas do escoamento livre sofrem a ação do campo de pressão originado na parede do
cilindro e se desviam, ou escoando sobre a face superior, ou sobre a face inferior. Dessa forma,
o campo de escoamento livre com vetor velocidade horizontal e apontado na direção positiva de
x contorna e se ajusta à forma do cilindro. Observa-se que nesse escoamento existirá uma linha
de corrente que, partindo de uma posição (1) no escoamento livre longe do cilindro, atingirá o
cilindro em um ponto (2) localizado imediatamente na linha de centro do cilindro. Sendo o cilindro
impermeável, a velocidde nesse ponto (2) é nula, ou seja, V2 = 0. Aplicando a equação de Bernoulli
entre os pontos (1) e (2)obtém-se
ρV 2
p2 = p1 + 1 . (5.60)
2
Observa-se que a pressão que seria medida no ponto de estagnação sobre o cilindro p2 pode ser
significativamente maior que a pressão do escoamento p1 caso a velocidade V1 seja elevada.
O ponto (2) para o qual V2 é nulo é denominado de ponto de estagnação. Percebe-se que nesse
ponto toda a energia cinética do escoamento livre foi transformada em trabalho de pressão.
Consideremos agora um ponto (1) no escoamento livre com velocidade V1 e apliquemos a equação
acima a esse ponto. A pressão estática é a pressão termodinâmica que existe no ponto (1), ou seja,
o próprio valor de p1 . Denomina-se de pressão dinâmica o incremento de pressão que seria obtido
em um ponto de estagnação localizado nesse ponto, ou seja, ρV12 /2. Finalmente, denomina-se
de pressão de estagnação (ou total) o valor da soma das pressões estáticas e dinâmica, ou seja,
equivalente ao valor da pressão que seria medida por um sensor de pressão localizado no ponto de
estagnação.
ρV 2
p1,o = p1 + p1,d = p1 + 1 . (5.61)
2
Essa definição resulta em simplificações e facilidade de interpretação na modelagem do escoamento
compressı́vel. Também permite que se projete um instrumento de medição de velocidade do escoa-
mento denominado tubo de Pitot-Prandtl.
Tubo de Pitot-Prandtl
O tubo de Pitot utiliza a medição de pressão estática e total em um escoamento com ponto de
estagnação para determinar a velocidade de corrente livre do escoamento.
Posiciona-se a linha de centro da tomada de pressão total do tubo de Pitot-Prandtl coincidente
com a linha de corrente, em cuja posição se deseja medir a velocidade do escoamento. Admite-se
que as distorções nas linhas de corrente próximas à entrada do tubo de Pitot e que as perdas de
energia por efeitos viscosos causadas pela presença do tubo sejam negligenciáveis. Assim, aplicando
170 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
a equação de Bernoulli entre o ponto (1) na corrente livre e o ponto (2) imediatamente dentro da
área de entrada do tubo de Pitot, tem-se
ρV12
p2 = p1 + (5.62)
2
A medição das pressões p1 existente na área de entrada do tubo que mede pressão estática (paralela
à linha de corrente) e p2 existente na área de entrada do tubo que mede a pressão total (normal à
linha de corrente) permite a determinação do módulo da velocidade por
1/2
2 (p2 − p1 )
V1 = (5.63)
ρ
Vamos então conectar os dois tubos a um manômetro em U contendo um fluido manométrico com
massa especı́fica ρm . Para o manômetro tem-se,
p2 − p1 = (ρm − ρ) gh (5.64)
Assim, s
ρ
V1 = 2gh −1 (5.65)
ρf
Tubo de Venturi
O tubo de venturi utiliza a queda de pressão estática através de uma restrição ao escoamento para
determinar a vazão do escoamento.
Aplicando-se a equação de Bernoulli entre os pontos 1 antes e 2 após a restrição, negligenciando-se
efeitos viscosos, tem-se
p1 V2 p2 V2
+ 1 = + 2 (5.66)
ρ 2 ρ 2
Da equação da conservação da massa
A1 D2
ṁ = ρV1 A1 = ρV2 A2 ⇒ V2 = V1 = 12 V1 (5.67)
A2 D2
A vazão obtida pelo produto da velocidade expressa pela Equação 5.69 pela área A1 representa
uma vazão ideal, tendo-se em vista as hipóteses simplificativas de escoamento ideal, embutidas na
dedução da equação de Bernoulli. Efeitos causados pela aceleração do escoamento e efeitos viscosos
resultam em uma diferença entre a vazão valométrica ideal e a que de fato escoa no interior do
5.3. ESCOAMENTO INVÍSCIDO 171
tubo de venturi. Todos os efeitos não incluidos na equação de Bernoulli são concentrados em um
coeficiente de descarga, CD , definido como
V̇real
CD = (5.70)
V̇ideal
Assim, escreve-se s
2gh (ρm /ρf − 1)
V̇real = CD A1 2 (5.71)
(A1 /A2 ) − 1
Análises semelhantes são realizadas para a placa de orifı́cio e o bocal medidor de vazão.
EXEMPLO 1:
Um tubo de pitot é utilizado para medir a velocidade de um escoamento em uma tubulação de
ar com diâmetro D1 (m) que sofre uma constrição para um diâmetro D2 (m). Um manômetro de
água ligado ao tubo de pitot acusa um desnı́vel h(mm). Na seção 3, com diâmetro D3 = D1 , a
tubulação é aberta para a atmosfera com pressão patm (Pa). Determine: (a) A vazão volumétrica
Q(m3 /s) que escoa pela tubulação, (b) a pressão p2 (Pa) (absoluta) na seção com diâmetro D2 (m)
e a (c) a pressão p1 (Pa) (absoluta) na seção com diâmetro D1 (m). Assuma regime permanente,
que o fluido se comporta como incompressı́vel e que o escoamento seja invı́scido.
Dados: D1 = 1 m; D2 = 0, 5 m; D3 = D1 ; h = 10 mm; g = 9, 8 m/s2 ; patm = 101325 Pa;
ρ = 1, 17 kg/m3 (ar); ρm = 1000 kg/m3 (fluido manométrico).
ar
D2 patm
.
V D1 D3
a
patm
h g
Solução:
(a) Aplicando a equação da conservação da massa, a vazão volumétrica é
Q = V1 A1 = V2 A2 = V3 A3
Aplicando a conservação da energia para o escoamento no tubo de venturi entre a garganta (2) e
a saı́da para a atmosfera (3), tem-se
V22 p2 p2,total
+ =
2 ρ ρ
172 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
ou seja, a pressão total na boca do tubo de pitot p2,total é igual à soma da pressão estática p2 e da
pressão dinâmica p2,dinamica = ρV22 /2.
A pressão total na boca do tubo de pitot pressiona o lı́quido manométrico. Do balanço de pressão
no manômetro ligado ao tubo de pitot,
V22 p2 1
+ = [patm + (ρm − ρ)gh] (5.73)
2 ρ ρ
Aplicando os dados fornecidos tem-se V3 = 12, 94 m/s. Portanto, a vazão volumétrica é Q =10,13
m3 /s.
(b) Da Equação (5.72),
ρ
p2 = patm + (V32 − V22 )
2
ρV32 A2
= patm + 1 − 23
2 A2
Usando os dados, obtém-se p2 = 99857 Pa. Como esperado, o venturi causa aceleração do escoa-
mento na garganta, aumentando a velocidade e reduzindo a pressão.
(c) Ora, se o escoamento é invı́scido e A1 = A3 , logo, p1 = p3 = patm .
5.3. ESCOAMENTO INVÍSCIDO 173
5.3.3 Exercı́cios
Problema 1:
Você deve ser capaz de responder as seguintes perguntas:
1. O que são as pressões estática, dinâmica e de estagnação (ou total)?
2. Como o tubo de pitot é utilizado para medir a velocidade de um escoamento?
3. Como o tubo de pitot pode ser utilizado para medir a velocidade de uma aeronave em voo ?
4. Como o venturi é utilizado para medir a velocidade de um escoamento?
5. O que é uma placa de orifı́cio?
6. O que é um bocal medidor de vazão?
7. O que é o coeficiente de descarga?
Problema 2:
Água com massa especı́fica ρ(kg/m3 ) escoa em uma tubulação horizontal com diâmetro D1 (m),
que sofre uma redução para um diâmetro D2 (m) e retorna a ter diâmetro D1 (m), como mostra
a figura abaixo. Nas seções 1 e 2 são instalados tubos verticais abertos para a atmosfera que são
usados para medir a pressão diferencial entre as regiões com diâmetros D1 e D2 . O próprio fluido
em escoamento é utilizado como fluido manométrico. Em regime permanente, a diferença entre os
deslocamentos do fluido no tubos verticais é h(m). Negligencie os efeitos viscosos, assuma que os
fluidos sejam incompressı́veis e que o escoamento ocorra em regime permanente.
(a) Obtenha a vazão volumétrica do escoamento V̇ (m3 /s).
(b) Caso a saı́da da tubulação seja aberta à atmosfera, obtenha a pressão absoluta na região com
ar no topo do manômetro.
Dados: ρ = 1000 kg/m3 (água); g = 9,8 m/s2 ; D1 = 100 mm; D2 = 75 mm; h = 200 mm; patm
= 101 kPa (absoluto).
patm
ar
h
D1 m
. D1
D2
água
Problema 3:
A figura abaixo mostra uma tubulação com diâmetro D1 (m) que termina em um estreitamento
com diâmetro D3 (m) e descarrega o fluido com densidade ρ (kg/m3 ) para a atmosfera na pressão
patm (Pa). A fim de medir a vazão do escoamento, um bocal com diâmetro de garganta D2 (m) é
instalado no interior da tubulação. Após o escoamento atingir regime permanente, o desnı́vel do
fluido manométrico, com densidade ρm (kg/m3 ), atinge o valor h (m). Negligencie efeitos viscosos
e encontre expressões para: (a) A vazão do escoamento V̇ (m3 /s). (b) A pressão estática (absoluta)
no ponto 1, p1 (Pa).
Dados: D1 , D2 ; D3 , ρ, ρm , g, h, patm . Obtenha: V̇ , p1 .
174 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
D1
. D2
V D3
patm
g
Problema 4:
Um tubo de pitot é utilizado para medir a velocidade de um escoamento em uma tubulação de
ar com diâmetro D1 (m) que sofre uma constrição para um diâmetro D2 (m). Um manômetro de
água ligado ao tubo de pitot acusa um desnı́vel h(mm). Na seção 3, com diâmetro D3 = D1 , a
tubulação é aberta para a atmosfera com pressão patm (Pa). Determine: (a) A vazão volumétrica
V̇ (m3 /s) que escoa pela tubulação, (b) a pressão p2 (Pa) (absoluta) na seção com diâmetro D2 (m)
e a (c) a pressão p1 (Pa) (absoluta) na seção com diâmetro D1 (m). Assuma regime permanente,
que o fluido se comporta como incompressı́vel e que o escoamento seja invı́scido.
Dados: D1 = 1 m; D2 = 0, 5 m; D3 = D1 ; h = 10 mm; g = 9, 8 m/s2 ; patm = 101325 Pa;
ρ = 1, 17 kg/m3 (ar); ρm = 1000 kg/m3 (fluido manométrico).
ar
D2 patm
.
V D1 D3
a
patm
h g
Problema 5:
Óleo com massa especı́fica ρo (kg/m3 ) escoa internamente em uma tubulação vertical com dâmetro
constante munida de um tubo de pitot, posicionado na linha de centro, como mostra a figura
abaixo. A tubulação possui diâmetro D1 (m) e o tubo de pitot possui diâmetro D2 (m). O tubo
de pitot é ligado a um manômetro em U contendo um lı́quido manométrico com massa especı́fica
ρm (kg/m3 ) que é conectado à tubulação a uma distância L(m) em relação à ponta do tubo de
pitot. Em regime permanente, o lı́quido manométrico apresenta um desnı́vel h(m). (a) Obtenha a
velocidade do escoamento na linha de centro da tubulação. (b) Estime a vazão de fluido Q(m3 /s)
escoando pela tubulação. Liste as hipóteses que você usou para obter esta estimativa.
Dados: ρo = 800 kg/m3 (óleo), ρm = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 , D1 = 100 mm, D2 = 2
5.3. ESCOAMENTO INVÍSCIDO 175
mm, H = 40 mm e h = 22 mm.
g
D1
H
D2
. h
V
Problema 7:
Água com massa especı́fica ρ(kg/m3 ) escoa para baixo em uma tubulação vertical com dâmetro
D1 (m), que sofre uma redução para um diâmetro D3 (m), como mostra a figura abaixo. Na seção
com diâmetro D3 existe um tubo de pitot com diâmetro D2 (m) posicionado na linha de centro.
O tubo de pitot é ligado a um manômetro em U contendo um lı́quido manométrico com massa
especı́fica ρm (kg/m3 ) que é conectado à tubulação a uma distância L1 (m) em relação à ponta do
tubo de pitot. Em regime permanente, o lı́quido manométrico apresenta um desnı́vel h(m). (a)
Obtenha a vazão volumétrica do escoamento. (b) Caso a pressão estática no ponto 3 seja p3 (Pa)
(absoluta), determine a pressão estática no ponto 1, p1 (Pa) (absoluta).
Dados: ρ = 1000 kg/m3 (água), ρm = 13000 kg/m3 (mercúrio, fluido manométrico), g = 9,8
m/s2 , D1 = 100 mm, D2 =2 mm, D3 = 50 mm; L1 = 2000 mm; L2 = 1000 mm; p3 = 101 kPa
(absoluto); h = 80 mm.
p1 D1 g
.
V
L1
D2
L2
D3
h
p3
Problema 8:
Um tanque contem água com densidade ρa (kg/m3 ) na sua parte inferior até um nı́vel H (m) e
uma camada de óleo com densidade ρo (kg/m3 ) e espessura L (m), como mostra a figura abaixo.
A parede lateral do tanque apresenta um orifı́cio que forma um jato circular com diâmetro D2
(m) aberto para a atmosfera. Um tubo de pitot é instalado no jato e é preenchido por água e por
um fluido manométrico com densidade ρm (kg/m3 ). Negligencie os efeitos viscosos, assuma que os
fluidos sejam incompressı́veis e que DT ≫ D2 .
(a) Calcule V2 (m/s).
(b) Calcule a deflexão h (m) que seria acusada no manômetro ligado ao tubo de pitot.
Dados: ρo = 800 kg/m3 (óleo); ρa = 1000 kg/m3 (água); ρm = 1800 kg/m3 (fluido manométrico);
g = 9,8 m/s2 ; D2 = 50 mm, H = 200 mm; L = 150 mm; a = 500 mm; patm = 101 kPa (absoluto).
DT aberto para
atmosfera
Problema 10:
Um tubo de venturi possui diâmetro de saı́da D1 (m) e diâmetro de garganta D2 (m). Neste tubo,
aberto para a atmosfera na saı́da, escoa ar na vazão volumétrica V̇a (m3 /s). Na garganta do venturi
é instalado um tubo de sucção com diâmetro D3 (m) que aspira um lı́quido com massa especı́fica
ρℓ (kg/m3 ) a partir de um reservatório aberto para a atmosfera e com nı́vel do lı́quido situado a
uma distância h(m) da linha de centro do tubo.
(a) Determine a pressão (absoluta) p2 (Pa) na garganta do venturi. Dica: Aplique a equação de
Bernoulli para o escoamento de ar.
(b) Estime a vazão de líquido V̇ℓ (m3 /s) que será aspirada do reservatório e a relação entre a vazão
mássica de ar e a vazão mássica de líquido na saída do venturi. Liste as hipóteses que você usou
para obter esta estimativa. Dica: Resolva os escoamentos de ar e água separadamente, um de cada
vez.
(c) Porque o ângulo de saída do venturi é muito mais suave (tipo 7o ) do que o ângulo de entrada
do venturi? Explique.
Dados: ρℓ = 1000 kg/m3 (água), ρa = 1, 4 kg/m3 (ar), g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa, h = 12
mm, D1 = 10 mm, D2 = 8 mm, D3 = 0, 5 mm, V̇a = 10−3 m3 /s.
5.3. ESCOAMENTO INVÍSCIDO 177
ar D2 patm
.
ma D1
tubo de h g
D3
sucção patm
Líquido
Problema 11:
A figura abaixo mostra um canal com profundidade h1 (m) no qual escoa um fluido com massa
especı́fica ρ (kg/m3 ). Em um certo local, coloca-se uma barreira apoiada no fundo do canal.
A barreira tem altura h2 (m). Essa barreira represa parcialmente o canal. Após a barreira, o
escoamento no canal prossegue com profundidade h3 (m). A largura do canal vale w (m).
(a) Se a vazão volumétrica no canal for V̇ (m3 /s), determine as velocidades médias do escoamento
nas seções com profundidades h1 (m) e h3 (m).
(b) Determine o valor da energia mecânica na superfı́cie das seções com altura h1 (m) e h3 (m).
Explique a diferença observada entre os valores de energia.
Dados: V̇ = 2,73 m3 /s; w = 2 m; h1 = 1,3 m; h2 = 0,48 m; h3 = 0,3 m; ρ = 1000 kg/m3 ; g = 9,8
m/s2 (aceleração da gravidade); patm = 101325 Pa (pressão atmosférica).
Barreira
.
g
V
h1
h2
h3
Fundo do canal
Problema 12:
Um tubo poroso é inserido verticalmente (direção z) em um escoamento uniforme com velocidade
U = 10 m/s constante. O tubo injeta fluido na direção radial com vazão constante e igual a q = 10
m3 /s (comprimento w = 1 m). Assuma que a massa especı́fica do fluido é ρ = 1, 4 kg/m3 . O
campo de velocidade para esse escoamento bidimensional no plano (r, θ) é dado por
q
v(r, θ) = U cos θ + er − U sen θ eθ
2πr
(a) Esse escoamento apresenta um ponto de estagnação nas coordenadas [r = 1/(2π), θ = π].
Obtenha o valor das velocidades vr e vθ nesse ponto. Interprete o seu resultado.
178 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
(b) Assuma que a pressão do escoamento em r → ∞ é pa = 100 kPa. Obtenha a pressão no ponto
[r = 1/(2π), θ = π].
z U y
U r
q
q
Problema 13:
Em um sistema de combustão, ar é aspirado da atmosfera por um ventilador e insuflado em um
ambiente através de um bocal. A tubulação de captação de ar tem diâmetro D1 (m). Um bocal
medidor de vazão com diâmetro de garganta D2 (m) é instalado na captação. O bocal de saı́da
tem diâmetro D3 (m) e é situado a uma altura H (m). O manômetro diferencial no bocal medidor
de vazão acusa um desnı́vel h (m). (a) Determine a velocidade de saı́da V3 (m/s). (b) Determine
a pressão p1 (Pa) na saı́da do ventilador.
Dados: ρ = 1,4 kg/m3 (ar); ρm = 1000 kg/m3 (água); D1 = 100 mm; D2 = 75 mm; D3 = 10
mm; H = 2000 mm; h = 200 mm; g = 9,8 m/s2 ; patm = 101 kPa (absoluto).
D3 patm
Bocal medidor
de vazão H
Ventilador
. D2 D
V 1
patm
g
h
Problema 14:
Uma tubulação vertical tem seção transversal retangular com altura 2h (m) e largura (saindo da
página) w (m). A partir de uma certa posição x = 0, a parede se torna porosa até uma posição
x = L. O campo de velocidade na posição x = 0 é uniforme e dado por
u = Uo
onde Uo é constante. A parede porosa permite a saı́da de escoamento com campo de velocidade
x
v = Vo 1 −
L
Assuma que o escoamento ocorra em regime permanente, que o fluido seja incompressı́vel e neg-
ligencie os efeitos viscosos. (a) Obtenha uma expressão para u(x) no interior da tubulação. (b)
Utilizando a equação da conservação da massa, obtenha uma expressão para v(x, y) no interior da
tubulação. (c) A pressão na entrada da tubulação (x = 0) é po (Pa). A pressão externa é ambiente
patm . Obtenha a distribuição de pressão p(x, y) ao longo do escoamento no interior da tubulação.
u(x) v(x)
v(x,y)
po y
Uo Vo
h h
Problema 15:
O campo de velocidade para o escoamento invı́scido, bidimensional, ao redor de um cilindro com
raio R é descrito por
R2 R2
v = Uo 1 − 2 cos θ er − Uo 1 + 2 sen θ eθ
r r
Uo y
r
R q x
x = r cos(q)
y = r sen(q)
(a)
D
h
(b) y U
tyx
h
Dy to
Dx x
Figura 5.25: (a) Esquema de formação de escoamento de Couette entre duas superfı́cies paralelas.
(b) Volume de controle para análise com a identificação das forças na direção x.
onde Fp,x , Fg,x and Fµ,x são as forças de pressão, gravidade e viscosas na direção x.
Para as forças identificadas na Figura 5.25(b), tem-se
Fp,x = Fp,1 − Fp,2 ,
(5.75)
Fµ,x = Fn,1 − Fn,2 + Ft,4 − Ft,3 .
onde n e t significam forças normais e tangenciais de origem viscosa respectivamente.
5.4. FUNDAMENTOS DOS ESCOAMENTOS VISCOSOS 181
onde σ indica uma tensão viscosa normal média na área ∆An e τ uma tensão viscosa tangencial,
ou de cisalhamento, média sobre a área ∆At .
Expresso em termos das tensões viscosas, o balanço de forças torna-se
onde o subscrito j indica a direção da força Fj , enquanto que o subscrito i indica a orientação da
área ∆Ai . Observa-se que a orientação da área é dada pela direção do vetor normal n̂i . Dessa
forma, considerando as direções das tensões viscosas na Figura 1, a conservação da quantidade de
movimento linear torna-se
∂p ∂σxx ∂τyx
ρax = − + ρgx + + . (5.82)
∂x ∂x ∂y
Ressalta-se que σxx é a tensão viscosa normal na direção x sobre a área cuja normal aponta na
direção x, enquanto que τyx é a tensão viscosa de cisalhamento na direção x sobre a área cuja
normal aponta na direção y. Essa equação é denominada de Equação de Cauchy 1 .
O cálculo das tensões viscosas depende agora de uma formulação para a relação entre as tensões
viscosas e o campo de valocidades do escoamento. Essa relação é denominada de relação consti-
tutiva. Para um fluido newtoniano, as tensões viscosas são linearmente proporcionais à taxa de
deformação.
Figura 5.26: (a) Partı́cula de fluido Esquema de formação de escoamento de Couette entre duas
superfı́cies paralelas. (b) Volume de controle para análise com a identificação das forças na direção
x.
A taxa de rotação, ou seja, a velocidade angular, é denominada ωz enquanto que a taxa de de-
formação é denominada de eyx , ou seja,
1 ∂v ∂u
ωz = 2 − ,
∂x ∂y
(5.89)
1 ∂v ∂u
eyx = 2 + .
∂x ∂y
Exemplo
O escoamento em um vórtice invı́scido é descrito pelo campo de velocidade (em coordanadas
cilı́ndricas θ, r)
C
v=
r
5.4. FUNDAMENTOS DOS ESCOAMENTOS VISCOSOS 183
Figura 5.27:
Define-se um sistema de coordenadas cilı́ndrico (R, Θ) fixo na ponta da partı́cula, como mostra
a figura. Em relação ao sistema de referência (r, θ) fixo no laboratório, o sistema (R, Θ) executa
um movimento de translação com velocidade v1 eθ onde v1 = C/r1 . Assim, a velocidade angular
do deslocamento do sistema de referência (R, Θ) é ω1 = v1 /r1 = C/r12 (positiva, pela regra da
mão direita). Em relação a esse sistema (R, Θ), a partı́cula sofre deformação, conforme mostrado
na figura, que resulta em um movimento de rotação com velocidade angular -Ωo . Para que o
movimento da partı́cula seja irrotacional em relação ao referencial estacionário (r, θ) temos que
mostrar que o movimento com velocidade de rotação -Ωo cancela o movimento com velocidade de
rotação ω1 , ou seja, que −Ωo = ω1 .
A velocidade pode ser expressa em relação ao referencial (R, Θ) como
V = v-v1
onde v é velocidade expressa no sistema (r, θ) e v1 é a velocidade de translação do sistema de
referência (R, Θ). Assim,
C C 1 1
V = - =C -
r r1 r r1
Analogamente, o vetor posição em relação ao sistema de coordenadas (R, Θ) é dado por
R = r-r1
Assim,
1 1
V =C -
R + r1 r1
que é o campo de velocidade do fluido expresso no sistema (R, Θ) [note que nessa expressão, r1 é
constante e identifica o local escolhido para posicionar o sistema (R, Θ)].
Da rotação em coordenadas cilı́ndricas, agora aplicada ao sistema (R, Θ), tem-se
1 ∂ 1 ∂ 1 1 C 2r1 + R
Ωz = (RV ) = C - =−
2R ∂R 2R ∂R R + r1 r1 2 r1 (r1 + R)2
Aplicando no ponto de interesse no sistema (R, Θ), ou seja, em R = 0, tem-se finalmente
−C
Ωo =
r12
como esperávamos.
Uma forma alternativa de encontrar a rotação da partı́cula de fluido no sistema (R, Θ) consiste em
aplicar a definição de rotação, ou seja,
V2 -V1
Ωo = lim
∆R→0 ∆R
184 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
onde ∆R = r2 −r1 é a espessura do volume de controle na direção R. Das definições das velocidades
nos sistema local
1 1
V2 − V1 = C -
r1 + ∆R r1
Assim,
C 1 1 −C −C
Ωo = lim - = lim = 2 .
∆R→0 ∆R r1 + ∆R r1 ∆R→0 r1 (r1 + ∆R) r1
Portanto, a partı́cula de fluido executa uma rotação com velocidade angular ω1 = C/r12 em relação
ao sistema (r, θ) que é compensada pela rotação com velocidade angular Ωo = −C/r12 , resultando
em uma rotação final nula.
σxx = 2µexx
(5.90)
τyx = 2µeyx
ou,
∂v
σxx = 2µ
∂x
(5.91)
∂v ∂u
τyx = µ + .
∂x ∂y
Substituindo na equação de Cauchy e utilizando a equação da continuidade,
∂u ∂v
+ = 0, (5.92)
∂x ∂y
tem-se
∂2u ∂2u
∂p
ρax = − + ρgx + µ + 2 (5.93)
∂x ∂x2 ∂y
Esta é a componente x da Equação de Navier-Stokes.
Exemplo
Inicialmente, esta partı́cula apresenta lados com comprimento ∆x e ∆y. Esta partı́cula é então
sujeita à ação de uma força tangencial uniforme e se deforma sob a ação desta força. Após um
tempo ∆t de aplicação da força, como resultado da deformação sofrida pela partı́cula, os lados
verticais foram inclinados em um ângulo de deformação β. Neste exemplo o esforço tangencial é
direciondo na direção x e o campo de velocidade, que ocorre como resultado da aplicação desta
força, possui apenas componente x e esta componente varia com y apenas. Assim, cada ponto
ao longo do lado do quadrado se desloca com uma velocidade u(y). Vamos definir a taxa de
deformação por cisalhamento da partı́cula como a média da variação com o tempo do ângulo de
deformação 1/2(β/∆t) (veremos mais tarde porque aqui definimos desta forma). Considerando
o triângulo A-D-D’, nota-se que sen(β) = ∆s/∆y. Para pequenos valores do ângulo β, pode-se
aproximar β ∼ ∆s/∆y. Dado o campo de velocidade u(y), vamos denominar u(y = 0) = u1 e
u(y = ∆y cos(β)) = u2 . Portanto, o deslocamento do ponto A para A’ ocorre com velocidade
u1 enquanto que o deslocamento do ponto D para D’ ocorre com velocidade u2 . Assim, pode-se
escrever ∆s = (u2 − u1 )∆t. Pode-se, então, escrever
1 β 1 ∆s 1 1 (u2 − u1 )∆t 1 1 (u2 − u1 )
= = = (5.94)
2 ∆t 2 ∆y ∆t 2 ∆y ∆t 2 ∆y
5.4. FUNDAMENTOS DOS ESCOAMENTOS VISCOSOS 185
Figura 5.28: Escoamento entre placas planas e paralelas sendo uma placa estacionária e a outra
movendo-se com velocidade constante (escoamento de Couette).JRGWMB0M.wmf
Figura 5.29: Relação entre tensão de cisalhamento e taxa de deformação para um fluido Newtoniano
(definição de viscosidade dinâmica). JRGWMB0N.wmf
Tomando o limite quando ∆y tende a zero e expressando a taxa de deformação por cisalhamento
por εyx tem-se
1 (u2 − u1 ) 1 du
εyx = lim = (5.95)
∆y→0 2 ∆y 2 dy
Os sub-ı́ndices utilizados em εyx indicam que esta taxa de deformação ocorre na direção x em um
plano que é normal ao eixo y.
A força tangencial ∆Fx é aplicada na direção x, sobre o plano xz que intercepta o eixo y no ponto
A. Defini-se a tensão de cisalhamento gerada pela força de cisalhamento por
Portanto, verifica-se que como resultado da aplicação da tensão de cisalhamento τyx ocorreu a
geração de uma taxa de deformação εyx . Pode-se expressar esta relação de forma genérica como
τyx = f (εyx ). Neste ponto, ainda não sabemos qual a magnitude de εyx quando uma determinada
tensão τyx é aplicada. Apenas intuimos a existência de uma relação funcional entre τyx e εyx .
A existência de uma relação deste tipo é comprovada por vários tipos de experimentos. Por
exemplo, vamos analisar um experimento cujo comportamento é modelado adequadamente pelas
relações mostradas acima. Considere que um fluido é mantido entre duas placas planas e paralelas.
A distância de separação entre as placas é h, a placa superior possui área superficial Ay e a
placa inferior possui área maior que Ay . A placa inferior é mantida estacionária, enquanto que
a placa superior é movida pela ação de uma força constante Fx . Após alguns segundos, a placa
superior passa a deslocar-se com uma velocidade uniforme U . Adicionando pontos de tinta ao
fluido entre as placas verifica-se que as partı́culas de fluido em contato com as placas permanecem
aderidas à estas superfı́cies. Portanto, as partı́culas de fluido em contato com a placa inferior
permanecem estacionárias enquanto que as partı́culas em contato com a placa superior movem-se
com a velocidade desta. Não é difı́cil imaginar que o campo de velocidade no interior do fluido
desenvolve-se em uma distribuição linear dada por
y
u(y) = U (5.97)
h
Portanto,
1 du 1U
εyx = = (5.98)
2 dy 2h
A tensão de cisalhamento pode ser calculada por
Fx
τyx = (5.99)
Ay
Pode-se variar o valor da força aplicada e medir o valor da velocidade de escoamento, obtendo-se
assim uma tabela de dados contendo pares τyx versus εyx . Quando estes pares são apresentados
em um gráfico obtem-se um comportamento linear.
Quando o experimento é repetido utilizando o mesmo fluido, porém, com valores diferentes de área
Ay e espaçamento h, nota-se que a mesma reta é obtida, indicando que o coeficiente angular da reta
é uma caracterı́stica do fluido. Portanto, o valor do coeficiente angular da reta é uma propriedade
termofı́sica do fluido. Esta propriedade, na verdade, a metade do valor do coeficiente angular da
186 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Figura 5.30: Comportamento da tensão de cisalhamento versus (a) taxa de deformação e (b) tempo,
para uma taxa de deformação constante, tı́picos de fluidos não newtonianos. JRGWMB0O.wmf
Figura 5.31: (a) Possı́vel realização experimental do escoamento de Couette. (b) Diagrama
mostrando o equilı́brio de forças de cisalhamento.JRGWMB0P.wmf
dimunuição da viscosidade com o tempo é observada, por exemplo, em algumas tintas onde a
aplicação de movimentos sucessivos com o pincel diminui a viscosidade e possibilita uma melhor
cobertura da superfı́cie. Uma vez que o movimento cessa, a tinta, deixada sem aplicação de esforço
cisalhante, apresenta um aumento de viscosidade e não volta a escorrer.
Um exemplo tı́pico de relação tensão-taxa de deformação utilizada para modelar o comportamento
de fluidos não newtonianos é dada por
5.4.5 Aplicações
Distribuição de velocidade em escoamento unidimensional Na seção anterior analisamos
um exemplo de deformação como resultado de uma força de cisalhamento aplicada na direção x.
Um exemplo deste tipo de escoamento é o escoamento entre placas planas paralelas, denominado
de escoamento de Couette. A figura ?? apresenta um esquema deste escoamento.
Pode-se realizar este escoamento posicionando-se dois anéis cilı́ndricos de forma concêntrica man-
tendo um espaçamento h entre as duas superfı́cies. Enquanto um anel é mantido estacionário, o
outro gira com velocidade angular constante. Quando o espaçamento h é muito menor que o raio
dos anéis R, ou seja, h ≪ R, e quando a velocidade do anel é moderada, o escoamento entre os
anéis se comporta como um escoamento entre duas placas planas paralelas. A figura 3 mostra esta
situação. Assumiremos que a placa superior se move com velocidade uniforme U , enquanto que a
placa inferior é estacionária. O eixo y tem origem na placa inferior e assim a superfı́cie superior
em contato com o fluido é posicionada em y = h. Vamos agora examinar o balanço de forças em
um volume de controle com espessura ∆y e comprimento lx posicionado no fluido. A única força
experimentada pelo fluido no volume de controle na direção x é a força de cisalhamento imposta
pela placa na superfı́cie inferior τo e imposta pelo fluido no lado de fora do volume de controle na
superfı́cie superior τyx . Como a placa se move com velocidade constante, não há aceleração nas
partı́culas de fluido. O balanço de forças na direção x pode então ser expresso como
τyx − τo = 0 (5.103)
Assumindo que o fluido seja newtoniano, podemos utilizar a Lei de Newton para expressar τyx como
função da taxa de deformação. Como este escoamento apresenta exatamente o tipo de deformação
mostrado acima, pode-se escrever
du
τo = µ (5.104)
dy
Admitindo que τo seja constante, integra-se a equação acima obtendo-se
τo
u= y+C (5.105)
µ
188 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
U
um = (5.114)
2
Observa-se que, sendo a massa especı́fica constante, a velocidade média é o valor médio da função
u(y),
Z h
ṁ 1 1 h
Z
um = = ρu(y)lz dy = u(y)dy (5.115)
ρAx ρAx 0 h 0
y
u = 2um (5.116)
h
Esta forma é frequentemente útil visto que a velocidade média do escoamento fornece diretamente
a vazão (pelo produto com a área e a massa especı́fica) e é um parâmetro que pode ser utilizado
como uma escala para a velocidade, bastante conveniente na análise de caracterı́sticas fı́sicas do
escoamento.
O vetor quantidade de movimento linear é o produto da massa pela velocidade P = mv. O
escoamento possui uma quantidade de movimento por unidade de volume que é proporcional ao
produto da sua velocidade local pela massa especı́fica. Este escoamento possui apenas velocidade
na direção x. Pode-se definir o fluxo de quantidade de movimento por unidade de massa e por
unidade de área como sendo o produto do fluxo de massa local ρu pela quantidade de movimento
linear por unidade de massa u. A partir da distribuição de velocidade, calcula-se a quantidade de
movimento linear por unidade de massa cruzando a área Ax por
h
Px
Z
ṁ = (ρu)ulz dy (5.117)
m 0
Da distribuição de velocidade,
h h
Px y y y 4lz h 4
Z Z
2
ṁ = (ρ2um )2um lz dy = ρ (2um ) lz ( )2 dy = ρu2m = ṁum (5.118)
m 0 h h 0 h 3 3
e nota-se que este valor é pouco maior que ṁum . Pode-se então escrever
Px
ṁ = fP ṁum (5.119)
m
onde fP = 4/3 indica a razão entre o fluxo de quantidade de movimento por unidade de massa do
escoamento e o fluxo de quantidade de movimento por unidade de massa avaliado com a velocidade
média do escoamento. O valor desta razão fP varia muito, dependendo do escoamento em análise.
Observa-se também que este valor é uniforme com x para este escoamento.
A segunda Lei de Newton da dinâmica estabelece que a quantidade de movimento linear é uma
variável conservada em um escoamento. Com a denominação variável conservada, deseja-se dizer
que uma equação de conservação descreve como a quantidade de movimento linear varia em um
escoamento. A quantidade de movimento linear varia devido à ação de forças externas ao escoa-
mento. Portnato, a equação de conservação da quantidade de movimento linera permitirá escrever
uma relação entre a variação da quantidade de movimento linear e as forças aplicadas em um
fluido, e esta será bastante útil na análise de escoamentos.
Pode-se inferir também o fluxo de energia que ocorre com o escoamento. Este assunto, porém, será
deixado para um capı́tulo seguine. A seguir, volta-se a analisar a viscosidade, com um olhar mais
microscópico.
190 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Figura 5.32: (a) Escoamento com velocidade u paralela ao plano Ay . (b) Modelo para a de-
scrição molecular do transporte de quantidade de movimento entre camadas adjacentes do flu-
ido.JRGWMB0Q.wmf
5.4.6 Viscosidade
O nosso senso comun entende a viscosidade de um fluido como sendo alguma propriedade rela-
cionada com a facilidade com que este escoa, por exemplo, para fora de um copo, por um orifı́cio ou
entre os dedos. Podemos, por exemplo, colocar uma gota de fluido entre as superfı́cies do polegar
e do indicador e, ao mover um dedo em relação ao outro, aplicando uma leve pressão, podemos
avaliar pelo tato a espessura do filme formado entre os dedos e a facilidade com que um dedo
desliza sobre o outro. Isto nos dá a sensação de que um óleo lubrificante é mais viscoso que a
água, o que é uma sensação basicamente correta. Embora este experimento simples seja fácil de
realizar com lı́quidos, não é fácil sentir as diferenças de viscosidade entre os gases e, obviamento,
não podemos quantificar a viscosidade desta forma. Teorias foram desenvolvidas para explicar esta
e outras caracterı́sticas dos escoamentos relacionados à existência de viscosidade e estes modelos
são abordados a seguir.
1
N= ni c̄Ay (5.120)
6
Da hipótese 2, vamos supor que a velocidade em y − λm é u1 e em y + λm é u2 . O fluxo de
quantidade de movimento linear na direção x por unidade de massa Px /m = u carregado pelas
moléculas na direção positiva de y atravessando o plano Ay é
1
Fy+ = N mi u1 = ni c̄Ay mi u1 (5.121)
6
Admitindo que a distribuição de velocidade seja linear sobre distâncias muito maiores que λm ,
vamos aproximar as velocidades u1 e u2 por
∆u ∆u
u1 = u − λm ; u2 = u + λm (5.123)
∆y ∆y
Este fluxo lı́quido de quantidade de movimento através do plano Ay resulta em uma força de
cisalhamento resultante aplicada sobre o fluido. Assim, dFy = −τxy Ay . Comparando com a
relação tensão-taxa de deformação para um fluido newtoniano, identifica-se a viscosidade dinâmica
µ(kg/m-s) do gás como
1
µ = ni mi c̄λm (5.126)
3
Observa-se que a viscosidade relaciona-se com a transferência de quantidade de movimento através
do plano Ay . Cada molécula em trajetória na direção de Ay carrega a quantidade de movimento
média do escoamento na sua própria massa através do plano Ay . Assim, existe uma entidade (o
carrier neste caso é a molécula do fluido, uma partı́cula) que existe a uma dada concentração
local (proporcional a ni ), que carrega a propriedade transportada (a própria massa contém a
quantidade de movimento linear), a uma velocidade de transporte (c̄/3), sobre uma distância média
de transporte (λm ). O caminho livre médio entre colisões (λm ) é a distância de espalhamento da
propriedade transportada antes que esta atravesse a área Ay . A viscosidade diminui a medida que
λm diminui porque as partı́culas são defletidas da sua rota antes que possam transferir quantidade
de movimento através da área Ay . Esta estrutura para o transporte molecular de propriedades
mantém-se a mesma quando analisarmos a transferência de calor e a transferência de massa.
Observa-se ainda que c̄/3 ≃ a (a é a velocidade do som definida anteriormente) confirmando que
é a molécula o mensageiro (carrier) de impulsos no escoamento. Finalmente, nota-se que quando
a pressão é muito baixa e o caminho livre molecular torna-se da ordem do espaçamento entre as
duas placas no escoamento de Couette, esta equação deixa de ser válida. Nesta condição de gás
muito rarefeito, o modelo acima precisaria ser corrigido, levando em consideração as moléculas que
atingem o plano Ay sem que tenha havido colisão com outras moléculas.
Notando que ρ = ni mi , escreve-se
1 2 1/2
µ= ρ c λm (5.127)
3
1/2
Substituindo na expressão acima as equações para c2 , λm e a equação de estado para os gases
ideais, tem-se
1/2 1/2 1/2
1 kB (M T ) −26 (M T )
µ= √ ≃ 1, 968 × 10 (5.128)
π 6 NA d2m d2m
−6
para dm expresso em m (a constante torna-se 1, 968 × 10√ para dm expresso em Å).
Nota-se que nesta expressão a viscosidade cresce com T e é independente da pressão. A in-
fluência da pressão não é observada em experimentos até pressões de aproximadamente 10 atm.
O crescimento com T é coerente, visto que ocorre um aumento de velocidade com o aumento de
temperatura, assim, aumentando a transferência de quantidade de movimento linear entre camadas
adjacentes de fluido. Em gases não ideias, porém, a existência de energia potencial de interação
192 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
entre√as moléculas faz com que este aumento com a temperatura seja mais forte que o previsto
por T . Para melhor prever o comportamento com a temperatura, o modelo deve ser melhorado,
através da substituição do modelo de esferas rı́gidas por outro modelo de energia potencial e melhor
analisando a questão do equilı́brio local durante colisões.
Na teoria denominada de modelo de Chapman-Enskog o modelo de potencial de Lennard-Jones
entre pares de moléculas é utilizado e a viscosidade dinâmica µ(Pa.s) resulta em (Rosner, 2000;
Bird, 1960)
1/2 1/2 1/2
5 kB (M T ) −26 (M T )
µ= √ 2 Ω ≃ 2, 6693 × 10 2 Ω (5.129)
16 π NA σLJ µ σLJ µ
Viscosidade de lı́quidos
A teoria cinética para os lı́quidos fornece uma descrição dos mecanismos envolvidos no escoamento
em lı́quidos e fornece também uma estimativa da viscosidade. Para a fase gasosa, a viscosidade
é uma propriedade relacionada com a transferência de quantidade de movimento entre camadas
adjacentes de fludo quando moléculas com quantidade de movimento diferentes passam de uma
camada para a outra. A camada com maior velocidade tende a ser retardada e a camada com
menor velocidade tende a ser acelerada. Uma analogia interessante (Tabor, 1995) é a de dois
trens em movimento com velocidades diferentes sobre trilhos paralelos. Quando alguém salta do
trem de menor velocidade para o de maior velocidade, ele carrega uma quantidade de movimento
5.4. FUNDAMENTOS DOS ESCOAMENTOS VISCOSOS 193
por unidade de massa equivalente à velocidade do primeiro trem e portanto, para que o outro
trem mantenha a sua velocidade, precisa-se realizar maior trabalho sobre ele. Por outro lado,
quando alguém salta do trem de maior velocidade para o trem com menor velocidade, este tende
a acelerar e portanto precisa-se diminuir a quantidade de trabalho realizado sobre este para que
ele mantenha a sua velocidade original. Para os gases, existe grande liberdade de movimento de
indivı́duos de um trem para outro. No caso dos lı́quidos, porém, esta mobilidade é muito mais
restrita. Quando uma molécula passa de uma camada adjacente para outra (ou seja, de um trem
ao outro) ela carrega a sua quantidade de movimento, mas, este efeito apenas é insuficiente para
explicar a viscosidade observada em lı́quidos. Um outro efeito é preponderante e este é resultado
da quantidade de trabalho que precisa ser executado sobre o lı́quido para se arrancar uma molécula
de uma camada e transferir para a outra. Um modelo para este efeito é mostrado a seguir.
A fase lı́quida apresenta uma ordem de curto alcance (o que equivale a um modelo de quase-sólido).
Devido à proximidade das moléculas vizinhas a uma molécula na fase lı́quida, os movimentos molec-
ulares se resumem à vibrações ao redor de um ponto de equilı́brio. Este ponto de equilı́brio pode
ser descrito como o espaçamento correspondente ao valor mı́nimo de um vale na curva de poten-
cial, com um potencial de equilı́brio equivalente a ∆Ea,o /NA (J/molécula) onde ∆Ea,o (J/kmol) é
uma energia de ativação tı́pica da barreira que circunda o ponto de mı́nimo. A Figura ?? apre-
senta uma representação do arranjo de moléculas em três camadas adjacentes em uma fase lı́quida.
Também mostra-se a curva de potencial ao longo de uma camada para o lı́quido estacionário (linha
contı́nua). O parâmetro a(m) é o espaçamento médio entre moléculas na rede de curto alcance
caracterı́stica do lı́quido. Eventualmente, a energia térmica de uma molécula é suficiente para
superar a barreira ∆Ea,o /NA e a molécula se movimenta na direção de ocupar um espaço vago
adjacente a uma distância a(m). Note que trabalho precisa ser realizado sobre a molécula para que
ela alcance o alto da barreira e na sequência a molécula devolve este trabalho na forma de calor
quando desce a outra rampa que forma a barreira.
No modelo de Eyring (Bird, 1960; Tabor 1995), o número de movimentos na direção do sı́tio
desocupado por unidade de tempo é proporcional à freqûencia natural de vibração da molécula,
dada por kB T /h onde h é a constante de Planck (h = 6, 626 × 10−34 J-s). Porém, somente
uma fração correspondente a exp (−∆Ea,o /Ru T ) possui energia suficiente para vencer a barreira
potencial. Assim, a frequência de movimentos que resultam em movimento molecular para o sı́tio
desocupado k(número de movimentos/s) é estimada por
kB T ∆Ea,o
k= exp − (5.132)
h Ru T
a a τxy Aδ a τxy vM
τxy A = = (5.133)
2 δ 2 δ 2
194 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
A diferença entre a velocidade de movimento das entre camadas adjacentes é então dada pela
frequência lı́quida de movimento para frente vezes a distância de cada movimento, ou seja,
u2 − u1 = a (kf − kb ) (5.137)
Admitindo que a distribuição de velocidade seja linear sobre distâncias muito maiores que δ (ou
seja, ∆y ≫ δ), vamos aproximar a velocidade u2 por
∆u
u2 = u1 + δ (5.138)
∆y
Assim,
∆u a
= (kf − kb ) (5.139)
∆y δ
No limite quando ∆y tende a zero
du a
= (kf − kb ) (5.140)
dy δ
A partir das equações para as taxas de movimento, obtém-se
du a kB T ∆Ea,o a τxy vM
= exp − 2 senh (5.141)
dy δ h Ru T δ 2Ru T
Observa-se um comportamento não linear tı́pico de fluido não-newtoniano. Porém, notando que
o argumento da função senh é normalmente muito menor que 1, pode-se aproximar a função por
limz→0 [senh (z)] ≃ z. Assim
du a kB T ∆Ea,o a τxy vM
≃ exp − (5.142)
dy δ h Ru T δ Ru T
ou 2
δ hNA ∆Ea,o du
τxy ≃ exp (5.143)
a vM Ru T dy
Assim, pode-se identificar a viscosidade dinâmica µ(Pa.s) por
2
δ hNA ∆Ea,o
µ= exp (5.144)
a vM Ru T
A energia de ativação pode ser obtida através do ajuste do modelo à medições de viscosidade.
Em geral assume-se δ/a ≃ 1 e obtém-se o valor de ∆Ea,o que melhor reproduza valores medidos.
5.4. FUNDAMENTOS DOS ESCOAMENTOS VISCOSOS 195
A partir dos valores obtidos verifica–se que a energia de ativação pode ser correlacionada, para
moléculas aproximadamente esféricas, com a energia interna na temperatura de saturação a pressão
de 1 atm na forma
∆Ea,o = 0, 408 M ∆uo
onde ∆uo = ug (Tsat , 1 atm) − uℓ (Tsat , 1 atm) em J/kg.
Esta correlação sugere uma outra interpretação para a barreira de movimento molecular. Pode-se
sugerir que, antes que uma molécula possa se movimentar, um espaço vazio precisa ser criado na
rede molecular. A criação deste espaço necessita portanto que a energia local kB T exceda o valor
da energia de mudança de fase.
A energia interna de mudança de fase pode também ser aproximada por
Ru Ru
∆uo = ∆ho − Tsat ≃ 9, 4 Tsat (5.145)
M M
Com estas aproximações, pode-se escrever
hNA Tsat
µ= exp 3, 8 (5.146)
vM T
Estados correspondentes
Uma forma rápida de obter uma estimativa da viscosidade de um fluido é dada pela observação
de que os valores experimentais quando plotados de forma relativa aos valores de viscosidade no
ponto crı́tico µ/µc apresentam uma boa correlação global com a temperatura e a pressão também
escalonados pelos valores no ponto crı́tico T /Tc e p/pc . A viscosidade no ponto crı́tico é dificilmente
obtida por medição direta. Assim, esta pode ser estimada a partir do conhecimento do valor das
propriedades no ponto crı́tico por
µc = 3, 543 × 10−5 M 1/2 p2/3 c T −1/6
c (5.147)
Viscosidade de misturas
A previsão da viscosidade de misturas não é simples devido à possibilidade de que misturas de
gases e lı́quidos apresentem caracterı́sticas não ideais, devido à forte associação pode existir entre
as moléculas dos componentes da mistura. Na ausência de valores mais precisos, a viscosidade de
misturas pode ser estimada por regras de mistura como
PNc 1/2
Mi X i µi
µm = Pi=1
Nc 1/2
(5.150)
i=1 Mi Xi
onde
−1/2 " 1/2 1/4 #2
1 Mi µi Mj
Φi,j = √ 1+ 1+ (5.152)
8 Mj µj Mi
A variável Φi,j é adimensional e quando i = j, Φi,j = 1.
Um estimativa pode também ser obtida a partir de um valor de viscosidade reduzida para a mistura.
Para isto, os valores dos parâmetros crı́ticos para a mistura são aproximados por (Bird, Stewart e
Lightfoot, 1960)
Nc
X Nc
X Nc
X
pc,m = Xi pc,i ; Tc,m = Xi Tc,i ; µc,m = Xi µc,i (5.153)
i=1 i=1 i=1
Esta aproximação é razoável somente para misturas cujos componentes apresentam valores próximos
de constantes crı́ticas.
controle com as superfı́cies laterais próximas às paredes da tubulação. A superfı́cie de entrada do
escoamento no volume de controle corresponde à superfı́cie 1, enquanto que a superfı́cie de saı́da
corresponde à superfı́cie 2. As superfı́cies 1 e 2 são posicionadas em direção normal ao campo de
velocidade. A superfı́cie 3 acompanha a superfı́cie interna do tubo em contato com o fluido. A
tubulação tem seção transversal circular com A1 = A2 = πD2 /4 e A3 = πDL. Dois medidores de
pressão acusam as pressões p1 em x = 0 e p2 em x = L. Desejamos calcular a perda de energia
por efeitos viscosos no trecho com comprimento L. O escoamento ocorre em regime permanente.
(a) p1 p2
A1 A3 A2
.
m
D
(b) A3
A1 A2
.
m1
p1 Ft,1 p2 .
m2
V1 V2
x
L
Figura 5.34: (a) Trecho reto de tubulação com diâmetro D e comprimento L. Dois medidores de
pressão acusam as pressões p1 em x = 0 e p2 em x = L. (b) Volume de controle com as superfı́cies
laterais próximas às paredes da tubulação e as superfı́cies de entrada e saı́da normais ao campo de
velocidade do escoamento.
ou
ṁ1 = ṁ2 . (5.155)
Reescrevendo em termos das velocidades e áreas de escoamento e considerando ρ uniforme, obtém-
se
ρV1 A1 = ρV2 A2 , (5.156)
onde V é a velocidade média nas seções de escoamento, obtida a partir das distribuições de veloci-
dade.
Para a tubulação com seção transversal uniforme, A1 = A2 , obtém-se
V1 = V2 . (5.157)
p1 − p2 Ẇµ
= . (5.160)
ρ ṁ
Assim, verifica-se que a queda de pressão no fluido é proporcional à dissipação de energia mecânica
por efeitos viscosos, ou de forma reversa, que é necessário aplicar um determinado acréscimo de
pressão a um escoamento (p1 − p2 > 0) para que ele vença os efeitos viscosos e escoe na vazão ṁ.
Este resultado permanece válido para situações mais gerais, conforme mostra o Exemplo 6.1.
EXEMPLO 6.1:
Considere o escoamento movido por energia potencial gravitacional a partir de um tanque com
a superfı́cie superior aberta para a atmosfera, conforme mostrado na Figura 5.5.2(a). O tanque
tem seção transversal cilı́ndrica com diâmetro D1 e contém água até um nı́vel h em relação à base.
Subtamente, a saı́da com diâmetro D2 é aberta formando um jato livre para a atmosfera com vazão
ṁ. A Figura 5.5.2(b) mostra o volume de controle com as superfı́cies laterais próximas às paredes
do tanque e as superfı́cies de entrada e saı́da normais ao campo de velocidade do escoamento.
Determine uma expressão para a velocidade de saı́da do tanque nas condições (a) de escoamento
invı́scido e (b) do escoamento na presença de efeitos viscosos.
Solução:
Aplicando a equação da conservação da energia mecânica ao volume de controle da Figura (5.5.2),
verificando que Ẇs = 0, obtém-se,
p V2 p V2
− ṁ + + gz + ṁ + + gz = −Ẇµ .
ρ 2 1 ρ 2 2
Observa-se que o tanque é aberto para a atmosfera e que o escoamento de saı́da é um jato livre
também para a atmosfera. Assim, p1 = p2 = patm . Assumiremos que o diâmetro do tanque seja
muito maior que o diâmetro da tubulação de saı́da (D1 ≫ D2 ). Essa hipótese implica que que o
nı́vel da água h varia muito lentamente. Nessa condição aproximada, a equação da conservação da
massa fornece ṁ1 = ṁ2 = ṁ e, sendo A1 ≫ A2 , obtém-se V1 ≪ V2 . Essa hipótese de que o tanque
é muito grande é apenas assumida para tornar a análise mais simples matematicamente. Sendo
z1 − z2 = h, , a equação conservação da energia mecânica torna-se
V22 Ẇµ
= gh − .
2 ṁ
Na hipótese de escoamento invı́scido, Ẇµ = 0 e
V2,2ideal
= gh.
2
A velocidade V2 calculada por essa expressão é chamada de ”ideal” para lembrar que foi calculada
negligenciando-se os efeitos viscoso. Essa é a solução para o item (a).
5.5. ESCOAMENTO VISCOSO INTERNO 199
(a)
Aberto para a atmosfera
A1 (b)
p1=patm
A3
m1
h D2 .
m
A2
D1 h
Jato livre
para a atmosfera D2 p2=patm
po m2
D1
Figura 5.35: (a) Tanque cilı́ndrico com diâmetro D1 , aberto para a atmosfera, contendo água até
um nı́vel h em relação à base. (b) Volume de controle com as superfı́cies laterais próximas às paredes
do tanque e as superfı́cies de entrada e saı́da normais ao campo de velocidade do escoamento.
Ainda, quando o tanque possui dimensões suficientemente grandes, pode-se assumir que a dis-
tribuição de pressão ao longo da parede oposta à saı́da é aproximadamente a distribuição de
pressão hidrostática. Assim, a diferença de pressão entre a pressão na profundidade h, identificada
na Figura 5.5.2(b) como po , e a pressão no jato livre, p2 = patm , é
po − patm = ρgh.
V2,2ideal
po − patm
= .
2 ρ
Podemos interpretar essa diferença de pressão po − patm como o potencial de pressão necessário
para acelerar o escoamento do tanque, na velocidade V1 ≃ 0, para o interior da tubulação de saı́da,
com velocidade V2 , gerando a energia cinética V2,2ideal /2 relacionada ao escoamento com vazão ṁ.
Porém, no escoamento com efeitos viscosos, parte desse potencial é convertido pelos efeitos viscosos
em energa térmica e, portanto, essa parte deixa de estar disponı́vel para acelerar o escoamento.
Assim, no escoamento com efeitos viscosos, a velocidade de fato obtida no escoamento é menor
que a velocidade determinada na ausência de efeitos viscosos.
Voltando à equação da conservação da energia mecânica na presença de efeitos viscosos, obtemos
a solução para o item (b) como
V22 Ẇµ
= gh − ,
2 ṁ
verifica-se que parte da energia potencial aplicada sobre o fluido gh é convertida em energia térmica
por efeitos viscosos Ẇµ /ṁ e o restante é utilizado para acelerar o fluido até a velocidade V2 . A
relação entre a velocidade média no escoamento e a velocidade do escoamento ideal pode, portanto,
ser expressa como s
V2 Ẇµ /ṁ
= 1− < 1.
V2,ideal gh
200 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
onde u, v e w são as componentes do vetor velocidade e ~ex , ~ey e ~ez são os vetores unitários nas
direções x, y e z. Para o escoamento laminar, em regime permanente e plenamente desenvolvido,
o vetor velocidade é alinhado com o eixo x, ou seja, as componentes v e w são nulas. Assim,
~v = u ~ex (5.174)
Para os fluidos newtonianos, as tensões são linearmente proporcionais às taxas de deformação.
A lei de Newton estabelece esta relação e define a viscosidade dinâmica µ. Para o escoamento
unidimensional entre duas placas planas, a tensão de cisalhamento na direção x aplicada em uma
camada de fluido normal à direção y é dada por
du
τyx = µ (5.175)
dy
du ∆p
=− y (5.176)
dy Lµ
∆p y 2
u=− +C (5.177)
Lµ 2
neste caso, igual a zero. Assim, em y = h tem-se que u = 0. Desta forma a constante de integração
é determinada e obtém-se
∆p 2
u= (h − y 2 ) (5.178)
2Lµ
Verifica-se que a distribuição de velocidade é parabólica, com o valor máximo na linha de centro
do escoamento e o valor zero nas paredes do tubo. O valor da velocidade máxima é
∆ph2
umax = (5.179)
2Lµ
A vazão escoando pelo tubo é
h h
ρw∆p 2 ρwh3 ∆p
Z Z Z
ṁ = ρu dA = 2 ρu w dy = (h2 − y 2 ) dy = (5.180)
A 0 Lµ 0 3 Lµ
A velocidade média do escoamento é
ṁ ṁ h2 ∆p
um = = = (5.181)
ρA ρ2hw 3Lµ
Note que esta expressão pode ser reescrita explicitando-se a queda de pressão,
3Lµ
∆p = um (5.182)
h2
ou, utilizando a Equação (5.160),
Ẇµ 3Lµ
= um (5.183)
ṁ ρh2
A expressão acima indica que a dissipação de energia mecânica por efeitos viscosos é proporcional
à viscosidade do fluido e à velocidade média do escoamento.
Para maior generalização da expressão obtida acima, estabelece-se que a dimensão caractrı́stica do
escoamento é o diâmetro hidráulico definido como:
4Au
dh = (5.184)
Pku
onde Au é área da seção transversal da tubulação e Pku é o perı́metro molhado, ou seja, o perı́metro
da seção transversal em contato com o fluido. Para o escoamento entre duas placas planas paralelas,
Au = 2hw, Pku = 2w, (5.185)
pois w ≫ h. Assim,
8hw
dh =
= 4h. (5.186)
2w
Através de um rearranjo na equação (5.182) e expressando em função de dh , obtém-se
Ẇµ 3Lµ 6µ L u2m 96µ L u2m L u2m
= u m = = = f (5.187)
ṁ ρh2 ρum h h 2 ρum dh dh 2 dh 2
onde o fator de atrito de Darcy para o escoamento torna-se
96
f= (5.188)
Redh
e o número de Reynolds expresso em função do diâmetro hidráulico é
ρum dh um dh
Redh = = (5.189)
µ ν
onde a viscosidade cinemática é ν = µ/ρ.
O fator de atrito de Darcy f para o escoamento laminar, em regime permanente, plenamente
desenvolvido, entre duas placas planas paralelas e infinitas é dado pela expressão simples mostrada
acima. Observa-se que o fator de atrito decresce com o aumento do número de Reynolds.
Este escoamento laminar causado por uma diferença de pressão é denominado escoamento de
Poiseuille.
5.5. ESCOAMENTO VISCOSO INTERNO 203
onde u, v e w são as componentes do vetor velocidade e ~ex , ~er e ~eθ são os vetores unitários nas
direções x, r e θ. Para o escoamento laminar, em regime permanente e plenamente desenvolvido,
o vetor velocidade é alinhado com o eixo x, ou seja, as componentes v e w são nulas. Assim,
~v = u ~ex (5.195)
Para os fluidos newtonianos, as tensões são linearmente proporcionais às taxas de deformação.
A lei de Newton estabelece esta relação e define a viscosidade dinâmica µ. Para o escoamento
unidimensional no tubo circular, a tensão de cisalhamento na direção x aplicada em uma camada
de fluido normal à direção r é dada por
du
τrx = µ (5.196)
dr
onde u(r) é a distribuição da componente x da velocidade ao longo do raio do tubo r.
Substituindo-se a relação (5.196) no balanço de forças (5.191), tem-se
du ∆p
=− r (5.197)
dr 2Lµ
onde ∆p = p1 − p2 . Integrando em r obtém-se
∆p r2
u=− +C (5.198)
2Lµ 2
onde a constante de integração C é determinada conhecendo-se uma condição de contorno do
escoamento. A velocidade do fluido na parede do tubo é igual à velocidade da parede do tubo,
neste caso, igual a zero. Assim, em r = R tem-se que u = 0. Desta forma a constante de integração
é determinada e obtém-se
∆p 2
u= (R − r2 ) (5.199)
4Lµ
204 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Verifica-se que a distribuição de velocidade é parabólica, com o valor máximo na linha de centro
do escoamento e o valor zero nas paredes do tubo. O valor da velocidade máxima é
∆pR2
umax = (5.200)
4Lµ
A vazão escoando pelo tubo é
Z R
(∆p)µ R 2 ρπR4 ∆p
Z Z
ṁ = ρu dA = ρu 2πr dr = ρ2π (R − r2 )r dr = (5.201)
A 0 4Lµ 0 8Lµ
A velocidade média do escoamento é
ṁ ṁ R2 ∆p
um = = = (5.202)
ρA ρπR2 8Lµ
Note que esta expressão pode ser reescrita explicitando-se a queda de pressão,
8Lµ
∆p = um (5.203)
R2
ou, utilizando a Equação (5.160),
Ẇµ 8Lµ
= um (5.204)
ṁ ρR2
As expressões acima indicam que a dissipação de energia mecânica por efeito viscoso é proporcional
à viscosidade do fluido e proporcioanal à velocidade média do escoamento. Para a tubulação com
seção transversal circular, dh = D. Assim, através de um rearranjo na equação (5.203) obtém-se
dh /a = C1 , ou, dh = C1 a
C2 (5.208)
f Redh = C2 , ou, f = .
Redh
5.5. ESCOAMENTO VISCOSO INTERNO 205
Tabela 5.1: Valores de área de escoamento, perı́metro molhado, diâmetro hidráulico e fator de
atrito para o escoamento laminar, plenamente desenvolvido, em algumas geometrias (Saberski et
al., 1989).
b b
b
a a a
Os escoamentos com número de Reynolds acima de 10000 são denominados de escoamentos ple-
namente turbulentos. Os tubos com rugosidade muito pequena, ou tubos lisos, formam o limite
inferior para o fator de atrito. Para tubos lisos, as seguintes equações podem ser usadas pela sua
simplicidade:
0,316 (Redh )−1/4 ; 3 × 103 ≤ Redh ≤ 2 × 105
f= (5.210)
0,184 (Redh )−1/5 ; Redh > 2 × 105
A primeira das equações acima foi proposta por Blasius (1913).
Para valores muito altos do número de Reynolds, o fator de atrito torna-se independente do número
de Reynolds e função somente da rugosidade relativa (e/D). Esta região é denominada de escoa-
206 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
mento em tubo completamente rugoso. Para essa região, pode-se utilizar (Rouse, 1943),
1 e
√ = 1, 44 − 2 log . (5.211)
f D
A região para número de Reynolds entre 2000 e 10000 é denominada de região de transição.
Na região de transição entre o escoamento laminar e o escoamento turbulento, o fator de atrito
dependendo das condições locais e instantâneas do escoamento.
Para tubos lisos, uma equação que se aplica a toda a faixa de números de Reynolds Redh < 1 × 106
e que é relativamente fácil de usar é (Morrison, 2013)
0,165
3170
64 0, 0304 Re
dh
f= + 0,70 . (5.212)
Redh
3170
1+
Redh
Essa equação reproduz adequadamente os valores de fator de atrito medidos por Nikuradse (1933)
para tubo lisos.
Para tubulações rugosas, recomenda-se a utilização da equação de Colebrook-White (Colebrook,
1938; White, 2006),
1 e/D 2, 51
√ = −2, 0 log + √ . (5.213)
f 3, 7 Redh f
Porém, a equação de Colebrook não é explı́cita em f . Uma equação explı́cita que fornece boa
aproximação é (Swamee and Jain, 1976)
" !#−2
e/D 5, 74
f = 0, 25 log + . (5.214)
3, 7 Re0,9
dh
Ẇµ u2
=K m (5.215)
ṁ 2
O fator K depende do tipo de acessório e do número de Reynolds do escoamento. A rugosidade
relativa não é incluı́da explicitamente na equação acima.
Uma forma melhorada de cálculo da perda de carga localizada pode ser obtido através da definição
de comprimento efetivo Le , ou seja, o comprimento de um tubo reto com o mesmo diâmetro e
material do acessório que ocasionaria o mesmo valor de perda de carga. Desta forma, a perda de
carga é calculada por
Ẇµ Le u2m
=f (5.216)
ṁ dh 2
onde f = f (Redh , e/dh ).
A Tabela (5.5.4) apresenta um resumo das equações desenvolvidas.
Exemplo 6.2:
A bomba mostrada na figura abaixo auxilia o bombeamento de água do tanque superior, aberto
para a atmosfera a patm (Pa), para o tanque inferior, cuja superfı́cie do lı́quido é pressurizada na
pressao p2 (Pa). A vazão volumétrica que deve ser bombeada é Q(m3 /s) e a tubulação tem diâmetro
D(m) e comprimento total L(m). Obtenha a potência elétrica necessária para a bomba. Assuma
5.5. ESCOAMENTO VISCOSO INTERNO 207
Tabela 5.2: Resumo das equações para o tratamento das perdas de energia por efeitos viscosos.
que os tanques possuem diâmetro muito grande, que o processo ocorre em regime permanente e
que a tubulacão possue superfı́cie lisa.
Dados: Q = 0, 06 m3 /s; p2 = 3 atm; patm = 101325 Pa; D = 0, 3 m; L = 100 m; H = 5 m; h1 = 3
m; h2 = 2 m; Ke = 0, 6; Kj = 0, 3; ηb = 0, 8; ρ = 1000 kg/m3 (água); µ = 0, 001 Pa.s, g = 9, 8
m/s2 .
Solução:
A equação da conservação da energia entre os pontos 1 e 2 obtém-se
V2
p2 + ρgh2 patm + ρgh1 Ẇs Ẇµ
+ 2 = + g (h2 + H − h1 ) + −
ρ 2 ρ ṁ ṁ
V2
p2 patm Ẇs Ẇµ
+ 2 = + gH + −
ρ 2 ρ ṁ ṁ
Ẇs p2 − patm V2 Ẇµ
= − gH + 2 +
ṁ ρ 2 ṁ
Das expressões para as perdas de carga,
V2
Ẇµ L
= 2 Ke + 2Kj + f
ṁ 2 D
Da vazão fornecida,
4Q 4 × 0, 06
V2 = 2
= = 0, 85 m/s
πD π × 0, 32
208 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
ρV2 D 1000 × 0, 85 × 0, 3
Re = = = 254648
µ 0, 001
Como Re > 2300, o escoamento é turbulento. Assim, da expressão de Blasius para tubos lisos,
0, 316
f= = 0, 014
Re0,25
Calculando a perda de carga,
Ẇµ = 101, 35 W
A potência entregue ao fluido torna-se
Ẇs = 9342 W
A potência elétrica é
Ws
Ẇel. = = 11678 W
ηb
Comentário:
Outros valores calculados: ṁ = 60 kg/s, A2 = 0, 07069 m2 , p1 = 130725 Pa, p2 = 3 atm = 303975
Pa, p3 = 323575 Pa, Ė1 = 10195, 5 W, Ė2 = 19436, 1 W, Ẇµ /ṁ = 1, 689 J/kg, Ẇs /ṁ = 155, 70
J/kg.
5.5.5 Exercı́cios
Problema 1:
Você deve ser capaz de responder às seguintes perguntas:
1. O que é a viscosidade dinâmica de um fluido?
(a) Integre a equação acima com as condições de contorno e encontre a solução para u(y).
(b) Obtenha a tensão de cisalhamento na placa, τ (N/m2 ) em y = 0.
(c) Se a placa tem área superficial As = wL, obtenha a força de atrito viscoso Fµ,x (N) sentida
pela placa.
(d) Obtenha a potência dissipada pelo atrito na placa Ẇµ . (Dica: A potência é o trabalho realizado
por unidade de tempo, e o trabalho é a força multiplicada pela distância).
(e) Obtenha a velocidade média desse escoamento, um (m/s).
(f) Determine a condição que deve ser satisfeita pela velocidade U (m/s) para que o escoamento
tenha vazão ascendente, ou seja, o fluido seja carregado pela placa em movimento.
Resposta:
ρgh2 y2
2y
(a) u = U + − , (b) τ = −ρgh, (c) Fµ,x = ρghwL, (d) Ẇµ = ρghwLU,
2µ h2 h
ρgh2 ρgh2
(e) um = U − , (f) U > .
3µ 3µ
no interior de uma tubulação com seção transversal circular com diâmetro D = 2R e comprimento
L, determinou-se que a perda de energia por efeitos viscosos é dada por
8Lµ
Ẇµ = ṁ u m .
ρR2
L u2m
Ẇµ = ṁ f
dh 2
Problema 6: Obtenha o diâmetro hidráulico dh para as seguintes geometrias: (i) Seção circular
com diâmetro D, (ii) Seção retangular com lados a (um quadrado) e (iii) Seção triangular com
lados com comprimento b (um triângulo equilátero).
Resposta: Para cada seção transversal, você deve obter:
√
(i)dh = D, (ii)dh = a, (iii)dh = a/ 3.
Problema 9: A região de transição do escoamento interno (2000 ≤ Redh ≤ 10000) pode apresentar
escoamento essencialmente laminar ou turbulento dependendo das condições. Por exemplo, é
possı́vel prolongar a existência de escoamento laminar em um tubo liso para números de Reynolds
bastante elevados. Considere o escoamento plenamente desenvolvido, de um fluido incompressı́vel
e newtoniano, com propriedades constantes, movido por gradiente de pressão (dp/dx), em um tubo
circular.
(a) Determine a relação entre os fatores de atrito de Darcy f calculados para regime laminar flam
e para regime turbulento fturb .
(b) Assuma que a tubulação é lisa, tem diâmetro D = 6 mm, o escoamento tem vazão mássica
ṁ = 5 × 10−4 kg/s, e o fluido é ar com densidade ρ = 1, 18 kg/m3 e viscosidade dinâmica
µ = 1, 85 × 10−5 Pa.s. Calcule os fatores de atrito de Darcy para as duas hipóteses, flam e fturb .
(c) Calcule as perdas por atrito viscoso nas duas hipóteses assumindo que a tubulação tenha
comprimento L = 20 m.
(d) Assuma que a tubulação seja reta e horizontal e calcule a queda de pressão no escoamento nas
duas condições. Discuta os valores de queda de pressão.
Resposta: Para as condições dadas, um = 15 m/s e ReD = 5748.
Laminar Turbulento
(a) f , adim. 0,0111 0,0363
(b) Ẇµ , W 2,09 6,83
(c) (p2 − p1 ), Pa 4931 16071
Comentários: A queda de pressão aumenta mais de 3 vezes, atingindo um valor igual a 15,8 % da
pressão atmosférica. O projeto dessa tubulação nas condições dadas seria baseado no escoamento
em regime turbulento. Dados as pressões envolvidas, essa vazão de ar deveria ser fornecida a partir
de um tanque de ar comprimido.
Considere que a vazão mássica é ṁ = 10 kg/s, e o fluido é água com densidade ρ = 1000 kg/m3 e
viscosidade dinâmica µ = 1 × 10−3 Pa.s.
(a) Determine o fator de atrito f .
(b) Calcule a perda de energia por atrito viscoso Ẇµ (W).
(c) Assuma que a tubulação seja reta e horizontal e calcule a queda de pressão no escoamento
∆p (Pa). Expresse a queda de pressão como uma altura de carga hl em mca (metros de coluna
d’água).
Resposta:
(a) f = 0,0219, (b) Ẇµ = 177,32 W, (c) ∆p = 17732 Pa.
A queda de pressão equivale a 1,8 mca (metros de coluna d’ água).
Problema 11:
Uma bomba é utilizada para alimentar um reservatório sobre uma estrutura que está a uma altura
h2 = 10 (m) em relação à sucção da bomba. A tubulação utilizada possui diâmetro interno D = 50
mm e o reservatório inferior está afastado uma distância horizontal b = 30 m do reservatório
superior. O nı́vel da água no reservatório inferior é h1 = 3 m e o nı́vel da água no reservatório
superior é h3 = 2 m. Deseja-se bombear água na vazão volumétrica V̇ = 0,0012 m3 /s. A tubulação
apresenta perdas por atrito viscoso nos trechos retos e nos acessórios (entrada e joelhos). Se a
bomba apresenta eficiência ηb = 0,8, determine a potência elétrica Ẇel W consumida pela bomba.
Assuma operação em regime permanente, fluido incompressı́vel com massa especı́fica ρ = 1000
kg/m3 (água à temperatura ambiente) e g = 9,8 m/s2 .
Reservatório
superior
g
h3
patm
Reservatório Bomba h2
inferior
h1
Estrutura
b
Resposta:
V2 (b + h2 ) V22
1
Ẇel,b = ρV̇ g(h2 + h3 − h1 ) + 2 + f
ηb 2 D 2
Problema 12:
A bomba mostrada na figura abaixo descarrega água para a atmosfera através de um bocal com
diâmetro D2 (m) instalado ao final de uma tubulação com diâmetro D1 (m). O tanque que alimenta
a bomba é aberto para a atmosfera e possui água até um nı́vel h1 (m). A velocidade no bocal de
saı́da vale V2 (m/s). Assuma que o tanque de alimentação possua diâmetro muito grande, o fluido
seja incompressı́vel, o escoamento ocorra em regime permanente, as tubulações sejam lisas e use
5.5. ESCOAMENTO VISCOSO INTERNO 213
as equações do formulário para estimar o fator de atrito de Darcy. Determine a potência elétrica
requerida para a bomba Welet (W).
Dados: V2 =25 m/s; D1 = 0,0635 m; D2 = 0,0286 m; L1 = 5 m; L2 = 30 m; h1 = 3 m; ρ =
1000 kg/m3 ; µ = 0,001 Pa.s; g = 9,8 m/s2 ; patm = 101325 Pa. Coeficientes de perda de carga
localizada: KE = 2,0 (entrada); KB = 1,2 (bocal). Eficiência da bomba: ηb = 0,85 .
patm g
D1 D1 patm
h1 Bomba D2
L1 L2
Respostas:
V1 = 5,06 m/s; ṁ = 16,03 kg/s; f = 0,0133; Ẇµ = 2160 W; Ẇs = 6699 W; Ẇelet = 7881 W.
Problema 13:
A figura abaixo mostra uma bomba que desloca um fluido do tanque inferior para o tanque superior
separados por uma distância L (m), conforme mostra a figura. Ambos os tanques estão abertos
para a atmosfera e apresentam nivel de água até a altura h1 (m) e h3 (m) respectivamente. A
tubulação que liga os tanques apresenta diâmetro D (m) e a vazão desejada é ṁ (kg/s). O fluido é
água com densidade ρ (kg/m3 ). A tubulação tem como acessórios 1 entrada, 1 joelho e 2 válvulas.
Assuma que o fluido seja incompressı́vel, que os tanques tenham diâmetro muito grande, que o
escoamento ocorra em regime permanente e que existam perdas por efeitos viscosos.
(a) Calcule a potência elétrica necessária à bomba Ẇel (W) para executar esse bombeamento
considerando que a eficiência da bomba é ηb .
(b) Se a distância entre a bomba e o fundo do tanque inferior é L1 , calcule a pressão pe (Pa)
(absoluta) na entrada da bomba.
(c) Explique em que condições poderia ocorrer cavitação na entrada da bomba.
Dados: D = 0,1 m, h1 = 1 m; h2 = 6 m; h3 = 1 m; L = 100 m; L1 = 3 m; ṁ = 8 kg/s; KE =
0,8; KJ = 0,6; KV = 2,5; ρ = 1000 kg/m3 ; µ = 0,001 Pa.s; ηb = 0,9; g = 9,8 m/s2 ; patm = 101
kPa. (Note que 1 kPa = 1000 Pa).
Problema 14:
Calcule a potência elétrica Ẇel (W) necessária para um ventilador utilizado no resfriamento de
placas de circuitos elétricos. O canal formado entre as placas possui seção transversal com altura
h = 15 cm, largura w = 10 cm e comprimento L = 20 cm. Deseja-se uma velocidade média nessa
seção V2 = 5 m/s. O ventilador com seção transversal a = b = 10 cm é instalado na parede da caixa
de circuitos. A saı́da do escoamento da caixa é formada por uma grade com área de escoamento
A4 = ǫhw, onde ǫ = 0, 85. A conversão de energia por efeitos viscosos, incluindo o canal formado
entre as placas e a grade de saı́da, é estimada por
V32
Ẇµ = ṁ K
2
h3
superfície aberta para o ambiente, patm
Válvula h2
água Bomba
h1 pe
m D
L1
L
com massa especı́fica ρ = 1,23 kg/m3 (ar à temperatura e pressão ambiente) e eficiência para o
ventilador de ηv = 0,70.
Caixa de circuitos
b h
w
Ventilador
L
Resposta: 2
V32
1 V4
Ẇel,v = ρV̇ +K
ηv 2 2
V̇ V̇
V3 = , V4 = .
wh ǫwh
Problema 15:
Um ventilador é submetido a um teste de desempenho em uma instalação em um laboratório. Para
isto, uma placa de orifı́cio é instalada na tubulação de sucção do ventilador e manômetros em U
de água são instalados na sucção e descarga do ventilador. O manômetro diferencial na placa de
orifı́cio acusa um desnı́vel de 21 mm, o manômetro na sucção do ventilador acusa um desnı́vel de
65 mm e o manômetro na descarga do ventilador acusa um desnı́vel de 30 mm (veja a direção dos
desvios na figura). Todos os manômetros possuem nı́vel de equilı́brio 40 cm abaixo da linha de
centro da tubulação. A tubulação de sucção do ventilador tem diâmetro 10 cm, a placa de orifı́cio
tem diâmetro 4 cm e a tubulação de descarga tem diâmetro 15 cm. Se o motor elétrico utilizado
para acionar o ventilador produz uma potência de 25 W, obtenha o rendimento do ventilador.
5.6. REFERÊNCIAS 215
Utilize para a água a massa especı́fica de 1000 kg/m3 , para o ar a massa especı́fica de 1,4 kg/m3
e para a pressão atmosférica 101325 Pa. Negligencie as perdas por efeitos viscosos.
5.6 Referências
Bird, R. B., Stewart, W. e Lightfoot, E., Transport Phenomena, 2a. Edição, Wiley, New York,
2002.
Blasius, P. R. H., Das Aehnlichkeitsgesetz bei Reibungsvorgangen in Flüs sigk eiten. Forschungsheft
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Colebrook, C., Turbulent Flow in Pipes, with Particular Reference to the Transition Region be-
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vol. 11, pp. 133–156, 1938.
Denn, M. M., Process Fluid Mechanics, Prentice-Hall, Englewood Cliffs, 1980.
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White, F. M., Fluid Mechanics, 6a Edição, McGraw-Hill, New York, 2006.
216 CAPÍTULO 5. ANÁLISE DIFERENCIAL DE ESCOAMENTOS
Capı́tulo 6
Formulário
Vetor velocidade:
Coordenadas cartesianas:
v=u i+v j+w k
Coordenadas cilı́ndricas:
v = vr er + vθ eθ + vz ez
Conservação da massa para um volume de controle:
∂m
− (ṁ)entra + (ṁ)sai = 0
∂t
Z
ṁ = ρum A = ρvn dA; vn = v · n
A
Conservação da quantidade de movimento linear para um volume de controle:
∂mu
− (ṁu)entra + (ṁu)sai = ΣFx
∂t
∂mv
− (ṁv)entra + (ṁv)sai = ΣFy
∂t
Z
(ṁu) = u(ρvn )dA; vn = v · n
A
Z
(ṁv) = v(ρvn )dA; vn = v · n
A
Conservação da energia mecânica para um volume de controle:
2
p V2 p V2
∂ V
m + gz − ṁ + + gz + ṁ + + gz = Ẇs − Ẇµ
∂t 2 ρ 2 entra ρ 2 sai
V2
Z 2
v
ṁ = (ρvn )dA; vn = v · n; v = |v|
2 A 2
Para as equações a seguir, o campo bidimensional de velocidade é expresso como
217
218 CAPÍTULO 6. FORMULÁRIO
p V2
+ + gz = constante
ρ 2
Wµ L u2m Wµ u2
=f ; =K m
ṁ D 2 ṁ 2
Fator de atrito de Darcy para tubo liso:
64/Re ; Re < 2300
f=
0, 316/ Re0,25 ; Re ≥ 2300
4πR3
V = ; As = 4πR2
3