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Sinédoque

4 Rua
A alma encantadora do Calçadão

14 Trem
Uma história de ferro em três atos

24 Relógio
Se for viajar no tempo, faça com estilo

32 Quarto
A mulher que sempre esteve lá
Sinédoque
Os passos do
flâneur nas páginas da
Sinédoque
Essa turma escreveu tão bem que ma. No entanto, em algum momen-
me deixou com uma responsabili- to, nós jornalistas ficamos apressa-
dade enorme para apresentá-los. dos demais (que não se confunda
Após a aventura da primeira edi- pressa com agilidade, esta uma ca-
ção, percebeu-se que a Sinédoque racterística essencial do trabalho
precisava reforçar a sua identidade. jornalístico) e a nossa capacidade
Impor um tema para os alunos seria de olhar uma segunda vez para a re-
uma solução intrusiva demais. Não alidade ficou um pouco embotada.
que o exercício não seja válido, mas Nossa intenção foi recuperar um
vai de encontro ao espírito experi- pouco desse jeito antigo.
mental da revista. Revisitar o passado não significa
Porém, no regulamento imaginá- necessariamente andar para trás. É
rio da Sinédoque, que guia todas as importante saber de onde viemos
decisões editoriais, não existia ne- para seguirmos em frente, diz o jar-
nhuma restrição quanto à perspec- gão, e nós assinamos embaixo. Da
tiva das reportagens. Elas poderiam mesma forma, propomos um mer-
partilhar um método, uma visão de gulho em mais de uma dimensão.
mundo. Sim, o flâneur da Sinédoque esteve
A ideia surgiu durante uma via- presente na aula sobre a Teoria da
gem de estudos na qual houve uma Relatividade e também se desloca
palestra sobre o flâneur. Decidimos, no tempo. Ele é incansável na busca
naquele momento, que os repórte- por pistas e referências. O resultado
res da Sinédoque seriam investidos de todas essas andanças vocês po-
das características do flâneur, ou dem conferir nas páginas a seguir.
seja, circulariam pelas ruas em bus- A Sinédoque continua com a
ca da matéria-prima de suas repor- percepção de que a realidade não é
tagens. Com isso, não inventamos a uma faixa estreita, mas que pode ser
roda, é importante dizer. Repórter e afunilada ou ampliada conforme o
flâneur são figuras que se confun- nosso olhar.
dem na história do jornalismo, vide Embarque nessa aventura que a
o exemplo clássico de João do Rio. boa leitura os alunos do Curso de
Os espaços e as funções da repor- Jornalismo da Unicruz garantem.
tagem podem mudar ao longo do
tempo, mas a arte continua a mes- Prof. Diego Eduardo Dill
A alma
encantadora
do Calçadão
Mais do que o centro comercial e coração da cidade, o calça-
dão de Cruz Alta é também um inventário cultural, artístico e
histórico, onde pessoas simples são conhecidas como poetas e
prédios em ruínas ainda lembram Paris

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Reportagem e fotos: Fernando Batista e Matheus Abreu

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“Somente um tolo é capaz de entediar-se em meio à
multidão.” (Costantin Guys)

O sociólogo Walter Benjamin tica foi importante por muitos séculos


identificou na Paris do século XIX para o desenvolvimento da comunica-
personagens que representam a sua ção humana, e hoje está fadada ao de-
época. Os mesmos elementos podem saparecimento pela ascensão digital.
ser identificados no calçadão de Cruz O porão onde a Gráfica União fun-
Alta. Através das vitrines das lojas, as ciona é apenas uma das peculiaridades
mercadorias parecem vertigens. Como da fábrica em relação a outros estabe-
efeito, o olhar dos passantes é captu- lecimentos. Situada no mesmo local
rado pelos produtos expostos no inte- desde 1983, a história da oficina sub-
rior e no exterior das inúmeras lojas. terrânea se entrelaça com a da família
De certa forma, podemos pensar em Spanemberg. O primeiro proprietário,
uma relação invertida: as mercadorias Antônio Spanemberg, legou ao filho
parecem espreitar os consumidores Jairo a continuidade do trabalho, e hoje
que passam. Como na obra de Walter transmite aos filhos Ciro e Sarita os en-
Benjamin, as mercadorias embriagam sinamentos necessários para que a prá-
e inebriam a multidão. tica não se perca no contexto atual.
Estratégias mercadológicas à parte, - Acima dos lucros, nosso objetivo é
o comércio do calçadão é heterogêneo dar continuidade ao legado que come-
e concentrado em nichos. Ele é for- çou com meu avô. Hoje a gráfica está
mado por dois quarteirões localizados no meu nome e dos meus irmãos, mas
entre os números 617 e 911 da Rua Pi- com certeza a história não vai parar
nheiro Machado - nome que homena- por aqui - afirma Sarita, filha do pro-
geia um dos políticos mais influentes prietário do local.
da República Velha, nascido em Cruz A Gráfica União é a principal res-
Alta, quando a “Rua do Comércio” tro- ponsável pela confecção dos Trabalhos
cou os paralelepípedos por lajotas. de Conclusão de Curso dos alunos da
Universidade de Cruz Alta. O procedi-
Oficina Subterrânea de Ideias mento manual, com a prensa de chapas
em alto relevo é preferencial para este
Mas não são apenas mercadorias processo. A infinidade de tipos gráfi-
que circulam no calçadão. O espaço cos - letras, sinais e símbolos de todos
os formatos e tamanhos utilizados nas

Canon EOS REBEL T3i f/13 1/10s ISO 100


também é um local de circulação de
ideias. A Gráfica União é a única na ci- chapas de metal -, garante uma fideli-
dade que ainda utiliza a tipografia na dade aos detalhes não vista em méto-
produção de materiais gráficos. A prá- dos mais modernos de impressão.

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Poeta
As tantas palavras e ideias que pas- - Por força do destino, me tornei po- entrada do banheiro não chama tanta
saram pela Gráfica ao longo dos mais eta. Na prisão, não queria me envolver O Calçadão e la bohème atenção como o aviso pendurado na
de 30 anos são contundentes em outro com o que acontecia lá. Encontrei re- parede desgastada. “É proibido fumar
personagem do calçadão. fúgio nos livros e, após várias leituras, O calçadão abriga diversos bares e durante o almoço.” A lei que proíbe o
surgiu a ideia de escrever poesia. Foi cafés. Entre todos os estabelecimentos, fumo em lugares fechados é descarta-
O Flâneur do Calçadão um recomeço. apenas um faz menção ao local que o da, os antigos cinzeiros, por sua vez,
De alguma forma, o poeta lembra abriga. O Calçadão Lanches carrega a emprestam charme às mesas, lembran-
Um morador de rua conhecido Baudelaire e sua aura de maldito. As homenagem (ou falta de criatividade) do as antigas tavernas parisienses.
como Poeta é uma das figuras mais semelhanças decorrem tanto pela rua na escolha do nome. Tendo uma vez O local fica aberto até às quatro ho-
conhecidas do Calçadão de Cruz Alta. ser sua “casa” quanto por sua vida, posto lá o pé, o cliente tem uma visão ras da manhã. Nesse horário, é o único
Jorge Roberto Nunes - este é seu nome ociosa e boêmia, não lhe trazer lucro de como viviam os homens do círculo estabelecimento a funcionar no calça-
verdadeiro - hoje sobrevive da reci- enquanto poeta. Sua poesia, reconhe- de vida descrito por Walter Benjamin, dão. A quietude que ocupa o lugar du-
clagem e da contribuição de comer- cida em Cruz Alta, pode ser ouvida em na Paris do Segundo Império, o qual rante o período matutino, é substituída
ciantes. O olhar do “Poeta das Ruas” meio ao calçadão por algumas moedas. ele denominou como la bohème. à noite pela algazarra, familiar aos que
- como prefere ser chamado - revela O repertório traz assuntos que com- As diversas bebidas em destaque de- lá encontram a maneira ébria de cons-
os muitos anos de luta e a vivacidade preendem a luta social, a condição de nunciam a principal especialidade do pirar contra os problemas individuais.
das suas ideias. Ele afirma já ter escrito poeta e de ser humano. local. A uma solicitação de café, a aten- Mas essa não é a única forma de
mais de 300 poemas ao longo dos seus Poeta sabe de cor apenas seis dos dente reage com espanto. O relógio na conspiração existente no calçadão.
58 anos. seus poemas. Ele revela não possuir
Singular em meio aos transeuntes uma boa memória, por isso está sem-
tomados pela pressa no calçadão, o Po- pre com seu caderno. Em uma vida Canon EOS REBEL T3i f/5.6 1/4s ISO 100
eta traz consigo uma história de queda marcada por tantas passagens contur-
e redenção que procura traduzir para badas, o esquecimento talvez seja uma
os seus versos. A voz calma do já grisa- boa opção.
lho homem é contrastada com sua his- No calçadão de Cruz Alta não fal-
tória de vida, marcada por muitos des- tam lugares para o Poeta distrair-se de
caminhos e uma passagem pela cadeia. seus problemas.

“Para a vida serei


sempre o rei das palavras!
Mas na realidade
sou um corpo que cai
no vácuo criado por uma lágrima.”
(Poeta das ruas)

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Conspiradores e Barricadas

Existe outra classe de conspirado-


res que se encontra em um dos muitos
bancos de concreto existentes no cal-
çadão – exatamente o primeiro deles,
vizinho da prefeitura, que parece evo-
car as barricadas parisienses, símbolos
da Revolução Francesa em Baudelaire.
Os homens de idade lá reunidos, con-
juram decisões políticas e contestam os
descontos em suas aposentadorias.
Existe um horário em que eles cos-
tumam chegar, que, ironicamente,
coincide com a abertura das empresas
bancárias. Por volta das 10h da manhã,
o tom de voz cansado e já sem mui-
ta eloquência ressoa frente ao banco
que demarca o início do calçadão. As
discussões invectivas contra o gover-
no - assunto de destaque - colocam a
consciência política em segundo plano,
uma vez que a revolta é o principal ar-
gumento.
- A minha aposentadoria vem sendo
descontada há quatro meses. A culpa é
desses larápios que precisam tirar dos
pobres para fazer viagens ao exterior -
profere algum deles.
Samsung Galaxy Win

Cruz Alta, a pequena Paris

Assim como os bancos que rememo-


ram as barricadas parisienses, a arqui-
tetura encontrada no calçadão também Tendo uma vez ajustado

Canon EOS REBEL T3i f/13 1/4s ISO 100


possui forte ligação com a capital fran-
cesa. Tendo uma vez ajustado o olhar o olhar acima das fa-
acima das fachadas, qualquer pessoa
– cruz-altense ou não -, transcende à
chadas, qualquer pessoa
época de ouro da cidade, onde alguns transcende à época de
ousavam chamá-la “Pequena Paris”. A
mescla de estilos arquitetônicos, famo- ouro da cidade
sa na capital francesa na Belle Époque,

10 11
A mescla de estilos arquitetônicos, famosa na
capital francesa na Belle Époque, também
pode ser admirada no calçadão de Cruz Alta

também pode ser admirada no calça- sidera um visionário, com a vida nas
dão de Cruz Alta. mãos e muitos projetos. O sotaque car-
O ecletismo arquitetônico, estilo regado e os ornamentos em seu hotel -
que mistura outros para a criação de o mais caro de Cruz Alta - revelam sua
uma nova manifestação, ainda sobre- origem grega.

Canon EOS REBEL T3i f/5.6 1/40s ISO 100


vive nas edificações do calçadão. Pre- Anthimos afirma possuir duas lojas
dominantes no período clássico da e algumas propriedades no calçadão,
cidade, por volta de 1826 até 1930, os mas não fala em números.
principais exemplares desta arquitetu- - Anthimos não é Dono do Calça-
ra hoje tornaram-se parte das fachadas dão. Um de meus projetos era moder-
das lojas. nizá-lo, mas a prefeitura não aceitou.
Neste mesmo contexto, as novas Agora eles não precisam mais saber do
construções civis também dão as caras, meu conhecimento – afirma.
criando um contraste arquitetônico Uma das únicas certezas sobre An-
no calçadão. O que para alguns é vis- thimos é o seu comportamento esqui-
to com estranheza, para o professor do vo. Como o calçadão de Cruz Alta,
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Anthimos é um personagem contra-
Unicruz, Cláudio Mello, é intrínseco ditório: julga que possui sua vida em
ao momento vivido por estes antigos Cruz Alta nas mãos, mas parece ser o
prédios - alguns sucumbindo aos efei- coração de Cruz Alta que o algemou.
tos do tempo.
- As novas construções podem e de- Saibamos fazer pausas para ob-
vem coabitar com as antigas, desde que servar a cidade
contextualizadas com o entorno urbano
imediato. Se não tivermos essa com- Os cidadãos cruz-altenses preferem
preensão, corremos o risco de ter uma adotar um tom crítico em relação ao
paisagem cultural empobrecida, acarre- Calçadão. Poucos compreendem que a
tando uma despersonalização e perda antiga rua do comércio é a alma da ci-
da memória da cidade - afirma Cláudio. dade. Ela está presente nos passos dos

Canon EOS REBEL T3i f/5.6 1/40s ISO 100


trabalhadores, nos versos do poeta, nas
O Calçadão e suas contradições discussões políticas e nos traços de sua
arquitetura.
Muitos destes edifícios do calçadão Às vezes, é preciso saber parar e ob-
têm um mesmo proprietário - que al- servar os seus primorosos detallhes.
guns alegam ser o “dono do Calçadão”. Como Baudelaire, é preciso andar pela
Anthimos Diamantopoulos se con- cidade a fim de experimentá-la.

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Uma história Para Karl Marx, os operários são homens de vanguarda: assim
como as máquinas, eles são uma invenção da Modernidade.

de ferro em Em Cruz Alta, o trem e o operário são os protagonistas do


passado, os anônimos do presente e a esperança do futuro

três atos
Reportagem e fotos: Davi S. Pereira e Oscar van Riel

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A cidade e o ferro
Em todo horário de pico, no Se para muitos o trem em Cruz Alta
cruzamento das ruas Domingos Ve- hoje simboliza atraso e decadência, no
ríssimo e General Câmara, nas ime- passado representou a chegada do de-
diações da antiga Estação Férrea, uma senvolvimento. A Estação Ferroviária

Canon EOS REBEL T5 f/5 1/8s ISO 100


cena já conhecida dos cruz-altenses se de Cruz Alta já foi o coração da cidade:
repete: o trânsito para e impaciente- um local de convivência, onde merca-
mente aguarda o fim da manobra do dorias e pessoas circulavam pela plata-
trem. Os trilhos se estendem por 15,3 forma de embarque enquanto um co-
quilômetros dentro do perímetro ur- mércio formal e informal se estabelecia
bano, quebrando o ritmo frenético do nos arredores da estação. A ferrovia
trânsito atual da cidade. estava presente até nas relações com o
De acordo com o último levanta- tempo, pois os cruz-altenses tinham os
mento do Instituto Brasileiro de Geo- horários de chegada e saída dos trens
grafia e Estatística, realizado em 2013, como referência.
Cruz Alta possui 64.126 habitantes e – Os antigos, principalmente os que
17.707 automóveis, ou seja, um carro moravam no interior, ouviam a buzina
para cada três pessoas. Um trânsito do trem pela manhã e diziam: ‘é hora
expressivo para uma cidade de médio de acordar’ – , recorda o “Seu” Adão.
porte. A Cruz Alta do século XXI não O universo da Ferrovia está presen-
para e a presença do trem, que já foi si- te em diferentes espaços da cidade, mas
nônimo de velocidade ao ser chamado nenhum tem presença mais marcante
de “cavalo de ferro”, é vista por muitos do que o bairro que cresceu do outro
como sinônimo de atraso. De tempos lado da estação: a Vila Ferroviária.
em tempos, o debate de tirar os trilhos Muitas cidades são dividas em Ci- Na medida em que se avança
do meio da cidade ressurge entre a po- dade Alta e Cidade Baixa, ou Cidade no interior do Bairro Per-
pulação. Nova e Cidade Velha. Mas Cruz Alta é pétuo Socorro, na Grande
- É a cidade que cresce em volta da peculiar, pois cada quarteirão em que Ferroviária, revelam-se casas
ferrovia, não a ferrovia que é coloca- se caminha revela um cenário diferen- de madeira com fachadas
da dentro da cidade –, comenta Adão te, cada bairro tem seu próprio espírito. trabalhadas e pintadas em
Oliveira, ferroviário aposentado de 67 E quando o trem passa no cruzamento cores vivas, em contraste
anos, 27 deles em cima dos trilhos, tes- entre a Domingos Veríssimo e a Gene- com o tom acinzentado que
temunhando o crescimento das cida- ral Câmara, abre-se a passagem para predomina na estação. As
des ao longo das margens das estradas um lugar único da cidade. Do outro moradias dos antigos ferrovi-
de ferro gaúchas. Em Cruz Alta não foi lado do muro da Estação, a cidade é ários da Viação Férrea do Rio
diferente. feita de ferro. Grande do Sul foram constru-
ídas ao redor da capela Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro.
A igreja possui um sino de

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/8s ISO 100


ferro e cores que estão sempre
em harmonia com o azul do
céu, ajudando a compor uma
cena impressionista, como se
16 fosse uma pintura de Monet.
Futebol entre o sol, a sombra e
os trilhos
O imperialismo inglês no século pavilhão social do Arranca, o primei- Em mais um final de semana de Copa do Mundo no Brasil, Colômbia e Costa do Marfim
XIX deixou dois legados para a Amé- ro clube da cidade. Para o ex-jogador jogam no Estádio Nacional de Brasília, sob o olhar de 50 mil pessoas à sombra da cober-
rica Latina: a ferrovia e o futebol. Para Lino Ceretta, memória viva do futebol tura do estádio e de outros milhões de olhares ao redor do mundo. Longe das câmeras, a
o escritor uruguaio Eduardo Galeano, de Cruz Alta, o incidente foi o pres- partida dos meninos é tão cheia de opções quanto ao jogo que passa na televisão: se um
no livro Futebol ao Sol e à Sombra, o ságio do fim do time. Mas em 1929, deles avança pela direita como um ponteiro à moda antiga, outro se prepara para dar o
esporte pode ser considerado um pro- operários da Viação Férrea se unem bote e partir em um contra-ataque que só para nas redes imaginárias ou na ponte cons-
duto de exportação tão tipicamente para criar um novo time. A funda- truída pelo pequeno goleiro, curiosamente chamado de Barbosa. Os diálogos dão ritmo
britânico quanto as estradas de ferro e ção do Grêmio Riograndense marca a ao jogo: “Vem de novo!”, ordena um. “Manda Luquinhas!”, responde outro, enquanto os
os tecidos de Manchester. Se o futebol convergência definitiva entre dois uni- dois mais novos, alheios à partida, digladiam-se em pontapés, socos e tapas na beira do
chegou às capitais da América do Sul versos que já andavam lado a lado no campo. Mas a atitude dos jogadores é outra quando nos aproximamos com a câmera:
através dos portos, em Cruz Alta ele cotidiano da cidade. O estádio Alcides “Porque vocês estão tirando fotos?” perguntam. Então, assim como os profissionais fazem
nasce às margens dos trilhos. Brasil Siqueira Borges, também conhe- em partidas televisionadas, tentam jogadas de efeito, dribles mais bonitos e lançamen-
Em 1927, uma faísca produzida por cido como “Estádio da Vila Famosa” e tos mais difíceis, até que um desses passes forçados faz com que a bola caia no pátio da
um trem que manobrava na chama- inaugurado em 1954, foi erguido nesse vizinha. Cada partida de moleques suburbanos tem suas próprias regras e peculiaridades,
da Volta da Pera, na Vila Ferroviária, mesmo local onde tudo começou. mas o temor de que a bola não volte é universal. No futebol profissional de Cruz Alta, a
causou um incêndio que destruiu o Localizado no fim da Rua 20 de se- bola nunca mais voltou. Mas no jogo dos garotos ela sempre volta e o jogo continua.

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tembro e aos fundos da Estação, é o via perde gradativamente a importân-
menor dos três estádios da Cruz Alta. cia na cidade e o futebol profissional
Dos tempos de futebol profissional e
de mobilização da torcida operária, só
dá os seus últimos passos, quando
definitivamente para em 2001. O Rio- Tudo que é ferro
resta a estrutura de ferro das torres de grandense completou 85 anos de fun-
iluminação e das arquibancadas. Assim
como a ferrovia, o futebol cruz-altense
dação no último dia 30 de julho e a
data sequer foi lembrada. Mas ao
desmancha no tempo
também viveu sua época de ouro, com contrário dos outros campos, a bola
disputas entre Guarany, Nacional e continua rolando em seu estádio, gra-
Riograndense pelo título de Campeão ças aos garotos da “Vila Famosa” que A ferrovia chegou a Cruz Alta no e, como muitos de sua vizinhança, ex-
Citadino entre as décadas de 50 e 60, ainda aproveitam tardes ensolaradas e ano de 1894 e aquela que até então era -ferroviária. Ela e o marido João Peres,
além de participações e títulos em es- espaços vazios para protagonizar uma somente mais uma cidade provinciana, 67 anos, vieram de famílias ferroviárias
taduais. típica cena suburbana: uma partida de experimenta um surto de desenvolvi- da região de Santa Maria e se conhe-
Mas os anos 90 chegaram: a ferro- futebol. mento. Com o trem também chega a ceram no trabalho da estação de Cruz
modernidade europeia. No entorno Alta, Maria como Agente de Estação e
da estação, cafés, restaurantes, clubes João como Condutor de Auto de Linha.
bares e hotéis agitavam a vida social e Embora ambos já estivessem aposenta-
a cidade ganhou o status de “Pequena dos, sentiram a situação de amigos que
Paris”. Ao longo dos anos, a relação da sofreram com a onda de desemprego
ferrovia com a economia local se for- que foi desencadeada:
talece: - Ferroviário só sabia ser uma coisa:
- Os comerciantes nos faziam pedi- ferroviário. De repente, muitos de nós
dos de pequenas quantidades pessoal- precisávamos achar outra forma de vi-
mente. Era como um bolicho: você vai ver – relata dona Maria Eneida. – Ela
lá quando precisa – relembra Adão de chegou a ficar doente com tudo que
Oliveira, um entusiasta do trem, que aconteceu –, diz o marido, revelando
mesmo com a aposentadoria continua os fortes laços de amizade e a relação
um ferroviário convicto. quase familiar cultivada pelos ferroviá-
Mas apesar de impulsionar o desen- rios ao longo dos anos de trabalho.
volvimento de Cruz Alta , ao longo do Se o transporte rodoviário e a indús-
Século XX a ferrovia vai perdendo for- tria automobilística ofuscou o brilho
ças, assim como um trem prestes a pa- da ferrovia, por outro lado ela continua
rar: a Viação Férrea do Rio Grande do dentro da cidade. Para alguns é somen-
Sul foi extinta em 1959, quando foi en- te um transtorno para o trânsito, mas
Canon EOS REBEL T3i f/6.3 1/125s ISO 100

campada pela Rede Ferroviária Federal para outros, como Seu Adão, é parte da
S.A; o transporte de passageiros aca- vida de Cruz Alta que deve ser preser-
bou em 1983; por fim, em 1997, o Go- vada:
verno Federal decide pela privatização - A ferrovia não precisa sair do cen-
da Rede Ferroviária. Foi um impacto tro. Por que não investirmos em viadu-
na economia, mas que também abalou tos e pontes? Isso melhoraria inclusive
identidades e o cotidiano da cidade. a infraestrutura do trânsito da cidade!
- Nós achávamos que como tudo - sugere, enquanto esboça a ideia em
era de ferro, nunca ia acabar – con- uma folha.
fessa Maria Eneida Quevedo, 66 anos Segundo o secretário de desenvolvi-

20 21
mento econômico de Cruz Alta, Fran- empresas para o município e poten-
cisco Noronha, a necessidade de tirar cialize o agronegócio local, gerando
os trilhos do centro é convicção do po- empregos e renda. Até mesmo o des-
der público, mas esbarra no alto valor locamento de vagões seria mais ágil: a
envolvido: ferrovia opera numa bitola de trilhos
- São R$ 2,8 milhões para cada qui- maior e o trem pode atingir uma velo-
lômetro de trilho. Mas com a chegada cidade de até 80 Km/h.
da Ferrovia Norte-Sul, esperamos que Exatamente 120 anos depois, os
a mudança seja possível - afirma o se- cruz-altenses têm na chegada de ou-
cretário. Opiniões à parte, a expectati- tra ferrovia a esperança da cidade vi-
va em torno da Ferrovia Norte-Sul une ver novamente uma onda de desen-
a todos. Seu Adão, por exemplo, faz volvimento, não a ponto de voltar a
questão de explicar através do mapa da ser a “Pequena Paris”, pois as relações
malha ferroviária que possui por onde sociais, culturais e econômicas são
a ela deve passar. diferentes. O senso comum diz que
O traçado da nova ferrovia a ser Cruz Alta parou no tempo e tem no
construído deve ligar o extremo oeste fim da Rede Ferroviária o marco para
paulista ao porto de Rio Grande. De a estagnação. Mas, na verdade, Cruz
acordo com Noronha, o investimen- Alta recorre ao passado para salvar o
to gira em torno de R$ 500 milhões a futuro. Apesar do incômodo, o trem
R$ 2 bilhões e a construção, que deve precisa continuar correndo em suas
iniciar em 2016, movimentará mais de veias de ferro. A cidade ainda respira
mil trabalhadores. Espera-se também o Século XX, o último século da Mo-
que a nova infraestrutura atraia novas dernidade.

Do outro lado da cerca de ferro que acompanha a rua 20 de


setembro, operários caminham entre vagões. Quando a bateria
da Gaviões da Ferrô se cala no fim do Carnaval, o barulho das
rodas em atrito com os trilhos nas manobras do trem dá ritmo
à vida na Vila Ferroviária. O sol se põe atrás da antiga Estação,
as famílias se recolhem para assistir ao telejornal, os últimos
velhinhos provocam-se por uma derradeira aposta na cancha de
bocha ou na mesa de carteado do antigo Círculo Operário. Mas

Nikon D50 f/5.6 1/4s ISO 100


o som metálico ainda continua do outro lado da cerca, no pátio
iluminado por algumas luzes esparsas. A sensação é de melan-
colia e a decadência do lugar revela gloriosos dias passados. É
como um cenário de fim de carnaval. Só que a festa nunca mais
se repetiu.

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Se for viajar
no tempo, faça
com estilo
O rock sobrevive como estilo e com lembranças em uma so-
ciedade quase desconhecida. Um nicho cultural que sobrevive
sem estardalhaço em alguns cantos de Cruz Alta. Vamos viajar
para conhecer os viajantes do tempo. Mas não se preocupe
em arrumar as malas nem em pegar as chaves do carro, afinal
para onde vamos não precisamos de estradas

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/100s ISO 200


Reportagem e fotos: Artur Azeredo e Danieli Broch

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“Tell me, doctor, where are we going this time
Is this the 50’s, or 1999…” Huey Lewis and The
News - Back in Time

No filme “De volta para o antigos a vinis e calotas, de rádios e


futuro” de 1985, Marty McFly, inter- relógios a sofás e capacetes.
pretado por Michael J.Fox, faz uma Colecionador fanático por carros
viagem no tempo com um carro, cria- antigos, Mauricio exibe no braço di-
ção do Dr. Emmett Brown, interpre- reito uma tatuagem, marca ideológica

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/10s ISO 800


tado por Christopher Lloyd. Marty da paixão, um hobby que se transfor-
volta para o ano de 1955, no auge do mou em uma forma de ganhar dinhei-
período conhecido como “Anos Dou- ro fugindo dos preceitos da indústria
rados”, época do surgimento do Rock automobilística e mergulhando em
and Roll e do estopim da indústria au- um nicho específico.
tomobilística. Durante algum tempo, a “De volta
Em Cruz Alta, a possibilidade de ao Passado” foi loja itinerante. Mau-
viajar no tempo está na oficina “De ricio viajava o país em um ônibus.
Volta ao Passado”, de Mauricio de Para fugir da fiscalização, a inscrição
Pauli. O estabelecimento, localizado no veículo era “De volta ao Passado
na Rua Juscelino K. de Oliveira, n° Show e Banda”. Há 15 anos a paixão
131, parece pequeno quando visto de virou negócio. Mauricio comerciali-
fora, exceto pelo enorme Ford Gala- za peças automobilísticas e todo tipo
xie colocado na parede em posição de antiguidades, verdadeiras relíquias
quase vertical, que faz a nossa imagi- do tempo. Grande parte dos itens está
nação voltar no tempo, quase como o anunciada no Mercado Livre, uma
DeLorean DMC-12 que levou Marty vez que o movimento no local não é
ao passado. O Galaxie já foi até carro tão intenso e o público alvo, em sua
alegórico e hoje serve de decoração. maioria, são colecionadores e restau-
No entanto, essa impressão de estabe- radores.
lecimento pequeno se mostra errada No entanto, nem tudo é comercia-
quando se entra na loja. O local lem- lizável na “De volta ao passado”. Entre

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/8s ISO 200


bra a oficina do Dr. Brown: é um espa- os objetos, está a coleção particular de
ço amplo e preenchido por milhares Mauricio e as peças à venda.
de itens colecionáveis, de chaveiros à - Se eu sei que o item não vai ter
guarda copos, de revista e televisores um bom fim, eu não vendo – afirma o

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“…’Cause I’m a lonely stranger
In this time bomb town…” Time Bomb Town -
Lindsey Buckingham
colecionador, categórico. sua coleção. Os dois se conheceram há
Cada objeto tem um valor históri- quase 20 anos trocando discos de vi-
co inestimável para os colecionadores nil. Se a paixão pelo passado os uniu,

Canon EOS REBEL T5i f/6.3 1/40s ISO 100


e quando eles acham que o comprador a camionete Ford F350 de Luis Carlos
não o valorizará da mesma forma, pre- solidificou essa amizade.
ferem guardar até que apareça alguém Aos 55 anos, Luis Carlos, conhecido
que seja realmente merecedor. simplesmente como Maier, vive como
Não é só Maurício que pensa assim: se ainda estivesse nos “Anos Doura-
o professor de Educação Física Luís dos”. Os longos cabelos grisalhos que
Carlos Maier também adota esse esti- cobrem os olhos claros e o comporta-
lo de vida e tem o mesmo carinho pela mento inquieto fazem lembrar o Dr.

Brown. No início, Maier mostra-se Mauricio ajudou com dicas e peças.


reservado, mas logo ele começa a con- Mais de 20 anos se passaram desde o
tar suas histórias e diz que um dia não planejamento até Maier começar a usu-
seria suficiente para explanar todas as fruir da camionete. Há quatro anos, ele
suas aventuras. roda com a F350 vermelha pelas ruas e
Maier não tem pressa e mostra um pelo interior de Cruz Alta.
controle rigoroso do calendário: todos O modelo da camionete original-
os feriados do ano são planejados para mente possui carroceria em madeira,
que possam ser aproveitados da melhor no entanto, a de Maier usa uma car-
forma. Ele revela um comportamento roceria adaptada da Chevrolet C-15 e
metódico e organizado no planejamen- os para-lamas traseiros do caminhão
to e execução de qualquer atividade. Ford 11000, tornando-a um utilitário.
Durante a sua vida, Maier reuniu mui- Como prova de sua idade, a camione-
tos objetos e planos mirabolantes, mas te tem os detalhes herdados dos carros
aguarda o momento certo para colocar dos “Anos Dourados”: o cromado no
as suas ideias em prática. painel e nos emblemas do capô, as sen-
- Está tudo lá guardado, o dia que eu suais curvas são marcas registradas dos
quiser vou lá e faço – afirma, com na- carros da época.
turalidade. Maier procura viver da forma sim-
Canon EOS REBEL T5i f/5 1/10s ISO 800

A Ford F350 que Maier dirige foi ples, apenas com o essencial e afastado
restaurada por suas próprias mãos a das tecnologias atuais. Ele não possui
partir de uma carroceria e um motor. celular – tornando quase impossível a

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tarefa de encontrá-lo - e gosta de ouvir fogueira, um vinho e queijo são o sufi-
música no disco de vinil. Uma das pou- ciente para que meus acampamentos se
cas exceções para o uso de tecnologia tornem confortáveis – afirma.
recente é o rádio com pen drive no pai- Uma nova geração está sendo atraída
nel da camionete, que quando ligado já por essa paixão pelo passado. Miguel, o
começa com as palavras sugestivas do filho de Mauricio, tem dez anos e gosta
Guns ‘N’ Roses: “Take me down to the de passar o tempo na oficina. Ele exibe
Paradise city, when de grass is green and com orgulho a coleção de bicicletas dos
the girls are pretty, take me home”. anos 80 do pai e explana sobre os cuida-
Apesar disso, Maier sempre encontra dos no processo de restauração de um
uma maneira de se manter informado Fusca que, depois de pronto, será seu.
sobre o que está acontecendo no mun- Como diria Bill Haley em Rock Arou-
do. Quando precisa de alguma infor- nd The Clock, hit de 1955, para esses ca-
mação da internet recorre a algum ami- ras também não tem hora, só lugar: na
go ou parente. oficina “De volta ao passado”, e de pre-
Uma de suas atividades preferidas ferência, ao som de um vinil. O estilo
são as viagens. Ele leva todo o material de vida de Maier e de Mauricio é sim-
necessário para as viagens na caçamba ples, amigos que se reúnem em torno
da F350. da música e histórias relembradas com
- Conheço praticamente todas as nostalgia, como se vivessem em uma
cidades do Rio Grande do Sul. Uma máquina do tempo.

“Take me down to the Paradise city, when de grass is


green and the girls are pretty, take me home”

Canon EOS REBEL T5i f/6.3 1/50s ISO 100


Paradise City - Guns N’ Roses

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A mulher
que sempre
esteve lá
Em um quarto de hospital qualquer nada se espera além de
leitos comuns, lençóis brancos e enfermos. Lugar onde muitas
pessoas não desejam estar e quando estão ficam aflitas para
voltar para casa. Maria Beatriz nunca voltou para casa

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/10s ISO 100


Reportagem e fotos: Mayara Batista Fagundes e Patricia
Medeiros

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Não fossem as notícias que chegam do
A imagem de Maria Beatriz la. Quando a porta do pequeno cômo-
no espelho mostra uma mulher peque- do está aberta, pode-se observar um mundo exterior, pareceria que o tempo
ambiente familiar e aconchegante, uma
na, franzina, quase triste. Mas, ao enca-
rar o espelho, ela contempla uma tra- pequena casa adaptada, com cama, rou- parou naquele quarto
jetória de vida singular marcada pelo peiro, cozinha improvisada e televisão.
abandono e pelo carinho daqueles que Através das imagens do pequeno apa-
tomou um rumo completamente inu- diferente do de qualquer outra criança
a acolheram: o reflexo mostra uma pes- relho, Beinha está sempre conectada
sitado. Acolhida pelas freiras respon- da sua idade.
soa que é, antes de tudo, feliz. ao mundo. Não fossem as notícias que
sáveis pela administração do hospital, Aos 4 anos, Beatriz foi levada para
O espelho fica no corredor de um chegam do mundo exterior, pareceria
Maria Beatriz começou a sua vida no um lar de meninas localizado na ci-
prédio anexo ao Hospital São Vicente que o tempo parou naquele quarto.
ambiente hospitalar. dade de Passo Fundo, onde passou a
de Paulo, maior hospital de Cruz Alta, De acordo com o seu documento de
Acompanhada dos médicos, enfer- infância e parte de sua adolescência.
responsável por uma área que engloba identidade, Maria Beatriz nasceu no
meiros e funcionários, Maria Beatriz Com 18 anos, Beatriz voltou para o
1,3 milhões de pessoas na região das dia 15 de maio de 1937. Os pais aban-
Kurtiz – assim registrada pela mãe Rita Hospital São Vicente de Paulo para
missões e noroeste do Rio Grande do donaram a menina no hospital, supos-
Kurtiz - deu seus primeiros passos den- entender a sua história. Lá recebeu
Sul. tamente devido ao fato de a criança
tro do hospital. Sob os cuidados dos instrução e trabalhou em vários seto-
Mas, vista da janela do quarto de ter nascido com os lábios leporinos. A
funcionários da instituição, a menina res. Mais de sete décadas depois, ela
Beinha, a rotina do hospital é tranqui- partir desse fato, o destino de Beinha,
cresceu em um ambiente totalmente continua lá.

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/10s ISO 100

Canon EOS REBEL T5i f/5 1/8s ISO 100


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Após um dia como outro qualquer, nada
melhor do que estar em casa

A fé mantém montanhas em pé ou as linhas do crochê. Extremamente


observadora, Beinha percebe a ponta
Os problemas que Beinha enfrentou do lápis quebrada enquanto a entrevis-
ao longo de sua história de vida, como tamos e prontamente consegue outro
o abandono da família, não foram sufi- para substituir. A sua vivacidade im-
cientes para tirar a sua alegria. A fé foi pressiona aqueles que convivem com
um componente importante para que ela.
ela se mantivesse em pé nos momentos A história de Beinha nos leva a ques-
de maior dificuldade. Ela adora ir na tionar o que é necessário para que uma
missa, participa da pastoral da saúde, pessoa alcance mais de sete décadas
canta no coral da Paróquia do Divino com tanta felicidade e vontade de viver:
Espirito Santo - Catedral e participa da será o apoio e o amor da família? Uma
liturgia no Asilo Santo Antonio, vizi- sala rodeada de netos? Um compa-
nho ao Hospital São Vicente de Paulo. nheiro? Boas lembranças? Talvez para
Beinha também sempre contou com a maioria da população esses possam
o apoio dos amigos que conquistou ao ser os segredos, mas Beinha construiu
longo desse tempo, entre funcionários a sua história baseada no amor de pes-
e pacientes do hospital. O passatempo soas estranhas. Quando perguntamos
favorito de Beinha é a resolução de ca- sobre seus pais, ela revela que gostaria
ça-palavras. Muitas revistas da Editora de tê-los conhecido. No entanto, conta
Coquetel podem ser vistas no seu quar- que no hospital encontrou um lar.
to. Também gosta de muito de ler, assis- Beinha nos prova que o conceito de
tir partidas de futebol – é gremista faná- família vai muito além do que nós, com
tica - e assistir a novena pela televisão. nosso senso comum estamos acostu-
Aos mãos delicadas de Beinha ain- mados a visualizar. Afinal, após um dia
da conduzem com segurança as con- como outro qualquer, nada melhor do
fecções através da máquina de costura que estar em casa.
Canon EOS REBEL T5i f/5 1/15s ISO 100

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Canon EOS REBEL T5i f/5 1/2s ISO 100
Expediente
Fundação Universidade de Cruz Alta
Presidente: Enedina Teixeira da Silva
Vice-presidente: Rosane Giacomini Pascualeto

Universidade de Cruz Alta


Reitora: Patrícia Dall’Agnol Bianchi;
Pró-Reitora de Graduação: Solange Beatriz Billig
Garces
Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão:
Diego Pascoal Golle;
Pró-Reitor de Administração: Carlos Eduardo
Moreira Tavares

Centro de Ciências Humanas e Sociais


Diretora: Maria Lourdes Backes Hartmann

Curso de Jornalismo
Coordenadora: Fabiana Iser

Sinédoque
Professor Responsável: Diego Eduardo Dill
Reportagem: Artur Azeredo, Danieli Broch, Davi S.
Pereira, Fernando Batista, Matheus Abreu, Mayara
Batista Fagundes, Oscar van Riel e Patrícia Medeiros
Projeto Gráfico: Jéssica Maiara Trennepohl e Pedro
Henrique Amarante
Agradecimentos: Jeison Ertel Costa, Vinicius
Campos, Vagner Geschwind Basso e
Jedson Fontoura

Sinédoque é uma publicação do Curso de Jornalismo


da Universidade de Cruz Alta
Ano 1 - n° 2 - 2014

sinedoque@unicruz.edu.br
https://www.facebook.com/RevistaSinedoque
@_Sinedoque

Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães -


Rodovia Municipal Jacob Della Mea, Km 5,6 -
Parada Benito - CEP 98020-290 - Cruz Alta/RS

Impressão: Gráfica Kunde


Tiragem: 500 exemplares

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