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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR CHAVES & OLIVEIRA

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DISCIPLINA: EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA

Curso: Licenciatura em Pedagogia

Professor responsável : Antonio Thyeleson Marques da Silva


EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA

Kassia Luisi Nogueira[2]


Maria Inês Barreto da Costa[3]
Patrícia Rodrigues Moura[4]

O direito à educação inclusiva no Brasil tem avançado com o passar dos anos. A
escolarização de pessoas com deficiências ou necessidades especiais que, no início do
século passado ainda era extremamente segregadora e elitista, acabou se difundindo para
toda a sociedade, principalmente a partir da promulgação da Constituição de 1988.
Entretanto, muitas dessas leis acabam por ser letra morta se não aplicadas à realidade do
povo brasileiro.
A principal medida que colaborou para estabelecer como deve evoluir o panorama
educacional foi a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE) que, vinculado à LDB,
visa dar as estratégias e ferramentas para que a educação no Brasil rompa com as
barreiras impostas, seja política, econômica ou socialmente. A meta 4 proposta pelo PNE
se refere à educação especial inclusiva, que visa universalizar o acesso à educação e
proporcionar para essas pessoas o direito de desenvolver-se intelectualmente.
LEGISLAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL
A legislação a respeito do direito à educação de pessoas com deficiência é extensa [1]. A
discussão sobre o tema se mostrou uma preocupação mundial desde a Declaração
Universal dos Direitos Humanos da ONU no ano de 1948. Entretanto, no Brasil, o maior
desenvolvimento se deu a partir da Constituição Federal (1988) nos artigos 28 e 205. Nos
anos seguintes o direito foi ainda mais debatido em outros diplomas: Conferência Mundial
sobre Educação para todos na Tailândia (1990); Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990); Conferência de Salamanca na Espanha (1994); Política Nacional de
Educação Especial (1994); Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB/1996);
Convenção de Guatemala (1999); Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência (1999); Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica;
Declaração de Montreal sobre Inclusão (2001); Resolução CNE/CEB nº 2/2001; Plano
Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001; Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (ONU/2006); Plano de Desenvolvimento da Educação –
PDE/2007 e, mais recentemente, no Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015).
Destes diversos documentos, vale destacar o disposto na Constituição Federal[2], nos
artigos 28 e 205, e no Estatuto da Pessoa com Deficiência, no artigo 27.

Constituição Federal Brasileira de 1988:


Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 28. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de
atendimento educacional especializado, aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. (Grifo nosso)
Estatuto da Pessoa com Deficiência:
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema
educacional inclusivo em todos os níveis de aprendizado ao longo de toda vida,
de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades
físicas, sensoriais intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.
PARÁGRAFO ÚNICO: É dever do Estado, da família da comunidade escolar e da
sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a
salvo de toda forma de violência.
Os avanços na implementação da inclusão escolar na última década foram significativos.
Na década de 1970, o atendimento a estudantes com necessidades educacionais
especiais se dava com base em conceitos de individualização e segregação. Na rede
pública de ensino, a escolarização desses alunos acontecia em instituições especializadas,
em classes especiais, cujas turmas eram formadas somente por estudantes com
deficiência [3]. Este foi o perfil definido pela LDB de 1961 (lei Federal 4.024) [4], primeira
regulamentação brasileira a abordar a educação especial no Brasil, nos termos de seus
artigos 88 e 89. Nesse contexto social, a escolarização dos alunos com necessidades
especiais era compartilhada com as instituições privadas especializadas, dependendo do
grau de comprometimento do aluno e da opção da família.
“Art. 88. A educação de excepcionais deve no que fôr possível, enquadrar-se-á no sistema
geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade.

Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de
educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos
tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções.”

Na década de 1990, o processo de integração começou a ser revisto sob a perspectiva de


Inclusão, em defesa do direito de todos alunos de estarem juntos, aprendendo e
participando, sem nenhum tipo de discriminação. A LDBEN/96 já determinava, em seu art.
58, § 1º, que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, em escola
regular para atender as peculiaridades da clientela de educação especial” [5]. Estabelecia,
também, nos arts. 9º, 10 e 11, que a União, os Estados e o Distrito Federal deveriam
elaborar seus respectivos Planos de Educação, em colaboração e coerentes entre si,
conforme preconiza o art. 214 da CF.
O Decreto 7611/2001, que “Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional
especializado” [6], define como público alvo da Educação Especial (art. 2º, § 1º) os
estudantes com deficiências, transtorno global do desenvolvimento (TGD) e altas
habilidades ou superdotação (AH/SD). E impõe ao Estado (art. 1º) o dever de garantir um
sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades, bem como
combater as práticas de exclusão. O termo “deficiências” abrange as deficiências físicas,
intelectuais, múltiplas e sensoriais. E o termo “transtorno global do desenvolvimento”
abrange os diferentes transtornos do espectro Autista; as Síndromes de Asperger, de
Kanner e de Reet e as psicoses infantis [7].

DADOS CENSITÁRIOS PARA O PÚBLICO ALVO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Como visto, a legislação brasileira é extensa e prolixa nas garantias do acesso à educação
aos portadores de algum tipo de deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. No entanto, dados do Censo Escolar 2018 (Inep)[8] mostraram
que a presença desses alunos ainda está aquém do projetado. São 1,1 milhões de alunos
especiais num universo de 48,6 milhões de alunos matriculados na Educação Básica
brasileira, representando apenas 2,2% dos discentes.

No total de 1,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiras, entre 4 e 17 anos com


alguma deficiência física, motora ou intelectual, apenas 1,1 milhões (~83%) estavam
matriculados no sistema escolar [8].
Mas o Censo Escolar 2015 já registrava um crescimento expressivo nas matrículas de
alunos com deficiências na rede regular de ensino, contabilizando 698.768 estudantes
especiais matriculados em classes comuns. De acordo com a publicação na página
GovBR, de 2015, “Em 1998, cerca de 200 mil pessoas estavam matriculadas na educação
básica, sendo apenas 13% em classes comuns. Em 2014, eram quase 900 mil matrículas
e 79% delas em turmas comuns.” [9]. Por outro lado, há uma drástica redução no número
relativo de deficientes cursando o ensino médio. Apesar de, em uma década, ter-se
triplicado a quantidade de alunos com alguma deficiência cursando o ensino médio, o
resultado não chega a ser nem 1% das matrículas nessa etapa do ensino básico, como
aponta o Censo Escolar de 2015 [10].

Um dado relevante do Censo de 2010, apresentado na Cartilha: Pessoas com Deficiência,


em 2012, foi a baixa escolaridade da população deficiente. Dos 45,6 milhões de deficientes
no Brasil, apenas 14,2% possuíam o ensino fundamental completo, 17,7% concluíram o
ensino médio e 6,7% obtiveram um grau superior. A dura realidade é que 61,1% das
pessoas com deficiência não possuem instrução ou fundamental incompleto [11].

A META 4 DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO


O PNE de 2001 – Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/2001)- foi o resultado de duro
embate, durante 2 anos no Congresso Nacional, entre duas propostas ideologicamente
opostas: de um lado a sociedade civil organizada, progressista (PL 4.155/98), de outro a
argumentação neoliberal predominante na época (PL 4.173/98) [12]. Saindo vencedora a
proposta governamental, ficou mantida a atuação conveniada da iniciativa privada, da
escola especial, segregadora, fora do contexto da escola inclusiva. Sob sua vigência foram
implementados diversos mecanismos de inclusão escolar, porém, não foram alcançadas
todas suas metas (Constitucionais) nem, tampouco, o estabelecido no seu art. 2º (assim
como na LDBEN/96) que determinava a elaboração dos Planos Estaduais e Distrital de
Educação.
O PNE 2014-2024 (Lei 13.005/2014) [13]foi editado a partir do documento “Planejando a
Próxima Década – Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação” [14], o qual
reafirma e amplia as diretrizes definidas na CF, trazendo no texto de seu art. 2º:
I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III -
superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e
na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da
educação; V - formação para o trabalho e cidadania, com ênfase nos valores morais e
éticos; VI - promoção do princípio da gestão democrática; VII - promoção humanística,
científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de
recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto, que assegure
atendimento às necessidades de expansão, com qualidade e equidade; IX - valorização
dos (as) profissionais da educação; X - promoção dos princípios do respeito aos
direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade. (Grifo nosso)
Dentre as 20 metas que compõem o documento, a de número 4 preconiza o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado na rede regular de ensino.

“Meta 4: Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o
acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente
na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de
recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou
conveniados”

Para o cumprimento da Meta 4, o PNE relaciona estratégias, das quais destacamos as que
impactam sobremaneira o orçamento em Educação.

4.3) implantar, [...], salas de recursos multifuncionais e fomentar a formação


continuada de professores e professoras para o atendimento educacional especializado
nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de comunidades quilombolas;
4.6) manter e ampliar programas suplementares que promovam a acessibilidade nas
instituições públicas, para garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com
deficiência por meio da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e
da disponibilização de material didático próprio e de recursos de tecnologia
assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis e
modalidades de ensino, a identificação dos (as) alunos (as) com altas habilidades ou
superdotação;
4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e assessoria,
articulados com instituições acadêmicas e integrados por profissionais das áreas de saúde,
assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o trabalho dos (as) professores da
educação básica com os (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;

4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a exclusão do ensino regular sob
alegação de deficiência e promovida a articulação pedagógica entre o ensino regular e o
atendimento educacional especializado;
A ampliação na oferta de serviços para o atendimento educacional especializado demanda
vultosos investimentos, a longo prazo. Isso fora previsto no PNE/2015, nos termos dos
parágrafos do art. 5º, in verbis:
§ 3o A meta progressiva do investimento público em educação será avaliada no quarto ano
de vigência do PNE e poderá ser ampliada por meio de lei para atender às necessidades
financeiras do cumprimento das demais metas.

§ 4o O investimento público em educação a que se referem o inciso VI do


art. 214 da Constituição Federal e a meta 20 do Anexo desta Lei engloba os recursos
aplicados na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, bem como os recursos aplicados nos programas de expansão
da educação profissional e superior, inclusive na forma de incentivo e isenção fiscal, as
bolsas de estudos concedidas no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em
programas de financiamento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas e de
educação especial na forma do art. 213 da Constituição Federal.
§ 5o Será destinada à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, em acréscimo aos
recursos vinculados nos termos do art. 212 da Constituição Federal, além de outros
recursos previstos em lei, a parcela da participação no resultado ou da compensação
financeira pela exploração de petróleo e de gás natural, na forma de lei específica, com a
finalidade de assegurar o cumprimento da meta prevista no inciso VI do
art. 214 da Constituição Federal.
As fontes dos recursos financeiros para dar exequibilidade ao PNE/2015 também foram
definidas em sua META 20.

“Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no


mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o
(quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do
PIB ao final do decênio.”

PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA


A aprovação da PEC 241, transformada na Emenda Constitucional 95/2016 (DOU
16/12/16), que congela as despesas do Governo Federal, com cifras corrigidas apenas
pela inflação, por até 20 anos, afeta diretamente os investimentos em Educação e Saúde.
A Emenda Constitucional revoga, tacitamente, o previsto no PNE/2015, e pode impedir o
avanço já tão lento das políticas de inclusão escolar.
Outras estratégias fortemente ameaçadas pelo corte nos investimentos em Educação são
as que promovem a capacitação e a valorização dos profissionais envolvidos na execução
das metas, assim como na ampliação dos quadros de pessoal especializado. Destacamos
abaixo a estratégia da Meta 4 que se refere à capacitação profissional.

4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da educaçãopara atender à


demanda do processo de escolarização dos (das) estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, garantindo a oferta de
professores (as) do atendimento educacional especializado, profissionais de apoio
ou auxiliares, tradutores (as) e intérpretes de Líbras, guias-intérpretes para surdos-
cegos, professores de Líbras, prioritariamente surdos, e professores bilíngues;
Nesse sentido também é o conteúdo previsto na meta 17 (PDE/2015).

“Meta 17 - Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação


básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com
escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.”

O investimento, portanto, não atende apenas à reforma das instalações e adaptações do


espaço físico; à aquisição de materiais, de tecnologia assistiva e de mobiliário; ao
oferecimento de transporte; à adaptação das práticas pedagógicas inclusivas, mas,
principalmente, à formação continuada de profissionais especialistas e à valorização da
carreira dos docentes.

Ao final de 2018, surgiu outra ameaça sobre os anseios da Meta 4 do PNE e suas
Estratégias. A publicação do “Relatório de Transição de Governo 2018-2019” [15] revelou a
preocupação com os gastos do Governo, principalmente com a folha de pagamento do
pessoal civil ativo do Poder Executivo. O Relatório (texto 7/15) demonstrou que tal
preocupação atinge diretamente os salários dos professores, como a carreira de maior
impacto no orçamento público.

“Dentre as 309 carreiras, atualmente existentes, o gráfico seguinte contém o demonstrativo


das 10 carreiras com maior impacto nas despesas de pessoal, correspondendo a 47% do
desembolso da folha de pagamento de servidores ativos, aposentados e instituidores de
pensão e demais vínculos com a APF (Administração Pública Federal), considerando a
base junho/2018.”

De acordo com os dados publicados no Relatório de Execução Orçamentária realizado


pelo Sistema Integrado de Gestão Governamental do DF nos anos de 2015 a 2017,
apresentados por LIMA [12] em sua dissertação de mestrado (Faculdade de Educação –
UnB/2017), mais de 90% de todo orçamento aplicado na educação especial se refere aos
gastos com pagamento de pessoal, docente e administrativo. Nota-se, portanto, que a
folha de pagamento tem peso significativo na execução das políticas públicas em
educação, mormente na educação inclusiva. Se o atual Governo Federal implementar
medidas de redução de gastos com a folha de pagamento dos professores, haverá forte
impacto nas três esferas administrativas, afetando a qualidade da educação e a execução
das Metas do PNE.

Durante o ano passado, uma proposta de revisão da PNEEPEI - Política Nacional de


Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, articulada pela SECADI -
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/MEC, gerou a
mobilização de diversos setores da sociedade e de entidades educacionais. A principal
crítica recaiu no fato de ter excluído do debate educadores, universidades,
pesquisadores, movimentos sociais, sindicatos e instituições que defendem a
inclusão escolar.
A proposta de reformar a PNEEPEI foi anunciada em reunião organizada pela SECADI, em
16 de abril de 2018, da qual participaram entidades que ainda defendem, em pleno século
21, a segregação escolar. De acordo com nota divulgada pela CREFONO2 [16],
“foram convidados representantes dos secretários municipais e estaduais de Educação,
dos institutos Benjamin Constant e de Educação de Surdos (Ines), do Conselho Nacional
de Pessoas com Deficiência (Conade), das organizações das Pessoas com Deficiência
(Corde), da Federação das Associações das Pessoas com Síndrome de Down (Febasd),
do Conselho Brasileiro para Superdotação (Combrasd), das Apaes, Associações
Pestalozzi e Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB).”
A proposta de revisão, intitulada “Política Nacional de Educação Especial Equitativa,
Inclusiva e ao Longo da Vida”, foi severamente criticada por alterar a concepção de
Educação Inclusiva assegurada na Lei Brasileira de Inclusão – Lei nº 13.146 (6/7/2015)
[17], tratando-a como uma modalidade escolar, num claro retrocesso ao modelo
segregatório das escolas especiais. O Ministério Público Federal, por sua Procuradoria dos
Direitos do Cidadão, publicou a RECOMENDAÇÃO Nº 1/2018/PFDC/MPF [18], de 29 de
junho de 2018, ao então Ministro Rossieli, nos seguintes termos:
“RESOLVE RECOMENDAR a Vossa Excelência que: (a) se abstenha de produzir qualquer
alteração na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
– PNEEPEI (2008) em desconformidade com os parâmetros constitucionais e legais acima
enunciados, devendo observar ainda os requisitos previstos no Comentário Geral nº 4 do
Comitê dos Direitos das Pessoas com Deficiência que estabelece os parâmetros para
aplicação da Convenção Internacional nos Estados parte, em especial no que se refere a
não considerar como educação regular aquela oferecida em ambientes separados,
concebidos ou usados para atender a uma determinada ou várias deficiências, isolados de
estudantes sem deficiência; (b) toda a alocação de recursos públicos se dê com vistas à
ampliação e melhoria da educação inclusiva na rede regular de ensino, em todos os seus
níveis; e (c) antes da submissão de qualquer proposta de alteração da PNEEPEI à
consulta pública, sejam previamente ouvidos, de formar direta, os estudantes com
deficiência, em seus diversos recortes: gênero, raça, orientação sexual, classe, região
geográfica e nível de ensino, entre outros, visando a mais ampla participação no processo
de construção da política pública.”

Para legitimar o texto da proposta revisional, a SECADI/ MEC o colocou em consulta


pública durante apenas uma semana [19].
Outra tendência que ameaça a implementação das políticas sobre educação inclusiva é a
proposta de se utilizar o sistema EAD – ensino à distância – em todos os níveis de
educação da rede pública e privada. Em entrevista publicada no Jornal O Globo [20], o
Presidente da República Jair Bolsonaro defendeu o uso da educação a distância desde
o ensino fundamental.
“— Conversei muito sobre ensino a distância. Me disseram que ajuda a combater o
marxismo. Você pode fazer ensino a distância, você ajuda a baratear. E nesse dia talvez
seja integral — afirmou o presidenciável, ao ser questionado por jornalistas sobre
propostas para a educação.”

A exigência da realização do ensino presencial no Brasil vem determinada no art. 32, § 4º


da LDBEN/1996 [21]. Porém, a educação familiar, ou fora da escola, já é permitida para o
ensino básico nos termos descritos no rol taxativo disposto nos
arts. 8º e 9º do Decreto 9.057/2017 [22]. Deve-se ressaltar que a obrigatoriedade da
matrícula escolar permanece, permitindo apenas que seja realizada no ambiente familiar.
Decreto 9.057/2017
Art. 8º. Compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais, municipais e distrital,
no âmbito da unidade federativa, autorizar os cursos e o funcionamento de instituições de
educação na modalidade a distância nos seguintes níveis e modalidades:

I - ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro


de 1996;
II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de 1996;
III - educação profissional técnica de nível médio;

IV - educação de jovens e adultos; e

V - educação especial.

Art. 9º. A oferta de ensino fundamental na modalidade a distância em situações


emergenciais, previstas no § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 1996, se refere a
pessoas que:
I - estejam impedidas, por motivo de saúde, de acompanhar o ensino presencial;

II - se encontrem no exterior, por qualquer motivo;

III - vivam em localidades que não possuam rede regular de atendimento escolar
presencial;

IV - sejam transferidas compulsoriamente para regiões de difícil acesso, incluídas as


missões localizadas em regiões de fronteira; ou

V - estejam em situação de privação de liberdade. (Grifo nosso)

Essa tendência vai na contramão das políticas inclusivas definidas na Meta 4 do PNE, e
cujos objetivos são facilmente compreensíveis pela leitura do artigo 4º da LDBEN [5],
reproduzido abaixo.

art. 4º, inciso III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de
ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
É importante mencionar que a desarticulação de políticas assistivas (tais como o Bolsa
Família, o Plano Viver sem Limites e o Programa Brasil Carinhoso) prenuncia a diminuição
de matrículas na educação especial. Conforme dados do Censo Escolar 2015, a
participação das famílias nos programas assistenciais garante que 29,2% das crianças e
adolescentes com deficiência permaneçam na escola [11].
Por último, mas não menos importante, é a notícia da extinção da SECADI. O novo
Ministro da Educação, Vélez Rodrigues, decidiu “desmontar” a Secretaria, criando uma
Secretaria para a Alfabetização e outra subpastapara “Modalidades Especializadas”.
Para compreender essa estratégia do atual governo, é bom conhecer Carlos Nadalim, o
possível novo Secretário da Alfabetização. Dono de uma pequena escola em Londrina/PR,
ele tem um método próprio de alfabetização e defende o homeschooling, ou seja, de que
as crianças possam estudar em casa, sob a responsabilidade dos pais. Quanto à criação
da subpasta “Modalidades Especializadas”, sua nomenclatura é direta e dispensa
explicações.
Em nota para a Folha de São Paulo (on line)[23], o jornalista Paulo Saldaña apresenta a
opinião do Presidente Jair Bolsonaro sobre o desmonte da Secretaria da Diversidade,
postada em seu Twitter, de

“que o foco de seu governo é oposto ao de gestões anteriores, ‘que propositalmente


investiam na formação de mentes escravas das ideias de dominação socialistas’, e que o
objetivo é formar cidadãos preparados para o mercado de trabalho”.

É perceptível que o Brasil tem avançando nas políticas inclusivas, ao se considerar as


práticas que vigoraram no passado, quando não existia o interesse de que pessoas com
deficiências, transtornos globais ou superdotação fossem integradas na sociedade e
desfrutassem do direito à educação de forma plena. Há hoje uma evolução da sociedade,
com a valorização da integração e a redução das situações discriminatórias,
preconceituosas, excludentes que qualquer pessoa, com necessidades especiais ou não,
está exposta. Desse modo, mais do que a regulamentação, as opções políticas
apresentam um papel decisivo no desenvolvimento ou estagnação da sociedade, tendo
grande importância a maneira como os governos lidam com a educação em seus planos
de gestão.

Com a aprovação da PEC 241, que congela as despesas do Governo Federal para a
educação; com a exposição das novas políticas, descritas no Relatório de Transição de
Governo 2018-2019; com a proposta emergente de se ampliar o sistema EAD em todos os
níveis da educação; com a mudança de paradigma sobre o conceito fundamental da
Educação Inclusiva, que afetam a PNEEPEI; as perspectivas são alarmantes, se não,
temerárias, por destoarem frontalmente dos objetivos traçados na ampla legislação que
garantem direitos à universalização da educação.

Apesar da educação demandar investimentos vultuosos é importante que, tanto o governo


quanto a sociedade, tenham plena consciência de que o investimento não é como um
simples gasto, mas sim, implica em um retorno garantido que representa uma parcela
considerável para o desenvolvimento da sociedade. Assim como disse o economista
britânico, William Arthur Lewis, ganhador do prêmio Nobel: “A educação nunca foi
despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido”.

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AS ADAPTAÇÕES CURRICULARES

Deve ser ressaltado que o conceito da Escola Inclusiva conforme as Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Especial (MEC/SEESP, 1998),…implica uma nova postura da
escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de
ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social
e sua opção por práticas heterogenias.

A escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer


educação de qualidade para todos, inclusive, para os educandos com necessidades
especiais… Inclusão, portanto, não significa simplesmente matricular os educandos com
necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades especificas, mas
significa dar ao professor e a escola o suporte necessário à sua ação pedagógica. Sendo
assim, a Educação Especial já não é mais concebida como um sistema educacional
paralelo ou segregado, mas como um conjunto de medidas que a escola regular põe ao
serviço de uma resposta adaptada à diversidade dos alunos. Foi neste parâmetro que no
Brasil, a necessidade de se pensar um currículo para a escola inclusiva foi oficializada a
partir das medidas desenvolvidas junto à Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Neste documento
explicita-se o conceito de adaptações curriculares, consideradas como: ….. estratégias e
critérios de situação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação
educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que
o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades
dos alunos na escola (MEC/SEESP/SEB, 1998, p.15) Portanto podemos falar em dois tipos
de adaptações curriculares, as chamadas adaptações de acessibilidade ao currículo e as
adaptações pedagógicas (SME-RJ, 1996).

Adaptações de acessibilidade ao currículo se referem à eliminação de barreiras


arquitetônicas e metodológicas, sendo pré-requisito para que o aluno possa frequentar a
escola regular com autonomia, participar das atividades acadêmicas propostas para os
demais alunos. Estas incluem as condições físicas, materiais e de comunicação, como por
exemplo, rampas, de acesso e banheiros adaptados, apoio de intérpretes de LIBRAS e/ou
capacitação do professor e demais colegas, transição de textos para Braille e outros
recursos pedagógicos adaptados para deficientes visuais, uso de comunicação alternativa
com alunos com paralisia cerebral ou dificuldades de expressão oral, etc…

A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o


desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que ele
possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades
individuais de todos os alunos.
De acordo com o MEC/SEESP/SEP 919980, essas adaptações curriculares realizam-se
em três níveis:
* Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focar
principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições
estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual.
* Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à
programação das atividades elaboradas para sala de aula.
* Adaptações individualizadas do currículo, que focam a atuação do professor na
avaliação e no atendimento a cada aluno. Como vemos a Educação Inclusiva, sob a ótica
curricular, significa que o aluno com necessidades especiais deve fazer parte da classe
regular, aprendendo as mesmas coisas que os demais da classe, mesmo que de maneira
diferente, cabendo ao educador fazer as necessárias adaptações. Essa proposta difere de
práticas tradicionais, pois o educador terá que garantir o aprendizado de todos os alunos.
Um currículo que leve em conta a diversidade deve ser, antes de tudo, flexível, e passível
de adaptações, sem perda de conteúdo. “Deve ser concebido tendo como objetivo geral a
‘redução de barreiras atitudinais e conceituais”, e se pautar em uma “resignificação do
processo de aprendizagem na sua relação com o desenvolvimento humano”

Não podemos esquecer que avaliação no currículo inclusivo deve ser flexível, porém
objetiva. Precisamos ter a preocupação com modelos de aprovação facilitada, pois se o
aluno com deficiência acabar passando de série sem ter necessários conhecimentos
estaremos reproduzindo os mesmos problemas do ensino especial. Por isso que estamos
buscando um novo modelo educacional.Temos que partir do pressuposto que a ação
prioritária é a capacitação de professores, visando formação teórico-metodológico, que lhe
permita se transformar em um professor que possa refletir e re-significar sua prática
pedagógica para atender à diversidade do seu alunado.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. MEC. SEE. Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva. Brasília. 2010.

[2] BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil/1988. Disponível em:


<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ConstituicaoCompilado.htm>;

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