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A escuta especializada
Muitas pessoas se perguntam qual é o propósito de consultar um(a)
psicoterapeuta quando poderia falar com igual facilidade, a um menor custo e por
mais tempo, com um(a) amigo(a). A resposta é complexa e não é possível esgotá-la.
Mas está relacionada a como há uma forma de escutar, muito particular, de um(a)
psicólogo(a) ou psicanalista.
Em primeiro lugar, não podemos compartilhar tudo com os(as) amigos(as):
por pudor, por consideração... Além disso, cada pessoa tem áreas obscuras,
sentimentos dos quais poderia envergonhar-se e também os que não consegue ter
consciência plena. Os(as) psicólogos(as) estão treinados(as) para discernir as
emoções sutis, às vezes ocultas ou contraditórias, de uma maneira mais refinada
e completa.
Outra diferença: os(as) amigos(as) podem escutar com mais atenção o que
lhes interessa e o que diz respeito a eles(as), enquanto um(a) psicólogo(a), que não
tem interesse próprio no vínculo pessoal, pode escutar tudo o que é dito com o
mesmo cuidado e sem selecionar o que agrada ou não.
Em uma relação de amizade se espera uma reciprocidade, na qual há uma
alternância. Já em uma terapia, as questões pessoais do(a) terapeuta não têm
espaço na conversação.
Terceiro, os(as) amigos(as) não têm a formação e o preparo para fazeres as
perguntas necessárias, nem para reconhecer os sintomas dos transtornos
psicológicos, nem para fazer interpretações. O(a) psicólogo(a) conduzirá a relação
para que as atitudes sejam melhor compreendidas e possam ser mudadas, para que
a comunicação se dê de forma mais clara, para que a forma de pensar e se relacionar
com as demais pessoas se transforme. Para isso, não são necessários apenas
conhecimentos técnicos especializados, mas também experiência clínica.
Em quarto lugar, o contexto da sessão de terapia promove honestidade, ou
então não haveria sentido no investimento de tempo e de dinheiro. Em relações de
amizade ou familiares, a honestidade pode não ser a prioridade, já que há outras
preocupações, como a imagem transmitida, a proteção da relação, o medo de
incomodar ou preocupar. A confidencialidade da psicoterapia aumenta a
liberdade para falar de assuntos sem temer que outras pessoas também saibam.