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ESPECIAL SALDO POSITIVO | MARICULTURA

A boa colheita
Q uem visita Florianópolis tem
a oportunidade de conhecer
três bairros de raro encanto
na parte insular da cidade.
Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa,
debruçados sobre o mar da Baía Norte,
e Ribeirão da Ilha, na Baía Sul, preser-
Em três décadas Santa Catarina
desenvolveu uma nova atividade
econômica, com uma
contribuição fundamental, em
seu início, de pesquisadores da
UFSC, apoiados pela FAPEU.
Hoje o estado é responsável
As políticas de apoio abrangem da
transferência de tecnologia ao forneci-
mento de insumos; da capacitação aos
intercâmbios; da promoção de eventos
à formalização. Entre os atores relevantes,
destacam-se a Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), a Empresa de Pes-
vam casarios coloniais que remetem à pela quase totalidade da quisa Agropecuária do Estado (Epagri), a
cultura açoriana desembarcada na se- produção dos moluscos Companhia Integrada de Desenvolvimento
gunda metade do século 18. A beleza comercializados no país. Agrícola (Cidasc), a Prefeitura de Floria-
cênica e o pôr-do-sol de cinema har- nópolis e o Serviço de Apoio à Micro e
monizam com um atrativo gastronômico Pequena Empresa (Sebrae). A FAPEU tam-
à parte: os restaurantes de frutos do bém tem contribuído com essa história
mar, que são abastecidos pela produção Uma inusitada conjunção de fatores por meio de sua expertise em suporte
local das fazendas marinhas. resultou na invenção da maricultura administrativo e financeiro aos projetos
Santa Catarina é responsável por como negócio, a começar pela geografia de ensino, pesquisa e extensão.
95% da produção brasileira de molus- e pela história. Com 531 km de extensão, Os passos iniciais foram dados no
cos. Em 2017, os 552 maricultores de o litoral catarinense tem inúmeras baías início dos anos 1980, com os experi-
dez municípios litorâneos entre Palhoça e enseadas que oferecem abrigo e nu- mentos da equipe do professor da UFSC
e São Francisco do Sul venderam 13,6 trição aos moluscos. O hábito de consumir Carlos Rogério Poli em parceria com al-
mil toneladas de mexilhões, ostras e mexilhões faz parte do cotidiano das guns pescadores de Santo Antônio de
vieiras, movimentando um valor esti- comunidades costeiras. E a decadência Lisboa e Sambaqui. Em 1987, os pesqui-
mado em R$ 66,2 milhões, segundo a da pesca artesanal fez com que muitos sadores fizeram a introdução bem suce-
Empresa de Pesquisa Agropecuária e pescadores buscassem outras formas de dida da ostra-japonesa, ou ostra-do-pa-
Extensão Rural do Estado (Epagri). diversificar a renda. Essa demanda social cífico (Crassostrea gigas) ao habitat da
Quase 2 mil trabalhadores têm parti- motivou um longo e profícuo trabalho Ilha de Santa Catarina. Originária do
cipação direta na cadeia produtiva. O de fomento à maricultura envolvendo leste asiático, ela ocorre em regiões de
mais surpreendente desses números é instituições públicas e privadas compro- alta salinidade e tem rápida maturação
que a atividade econômica inexistia metidas com a atividade (veja a linha sexual, o que a torna uma das espécies
60 no estado há três décadas. do tempo, nas páginas seguintes). mais cultivadas de moluscos no mundo.

Revista FAPEU  Vol. 11  Número 11  Ano XI  2019


MARICULTURA EM SANTA CATARINA
Movimento econômico, 2016
Vieiras
R$ 5,6 milhões
Ostras
R$ 19,1 milhões 8%

29%

63%

Mexilhões
R$ 41,5 milhões

Fonte: Síntese
Informativa da
Maricultura 2017,
Epagri.

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2019  Ano XI  Número 11  Vol. 11  Revista FAPEU


“Nos primeiros cinco anos nós tes-
tamos a viabilidade do cultivo”, conta
um dos pesquisadores pioneiros, Nelson
Silveira Júnior. “Depois um grupo de
pescadores artesanais formou um con-
domínio e a antiga casa da colônia de
pesca virou um laboratório para pro-
duzir as primeiras sementes”. Pouco
mais de uma década depois, o agrôno-
mo sairia da UFSC para montar, com
sócios, a fazenda marinha Atlântico
Sul. Além além de fornecer ostras para
o mercado de outros estados, a empresa
presta serviço de inspeção sanitária
aos demais produtores.
Outro marco para atividade foi o
ano de 1993, quando a UFSC firmou o
Shellfish Technology Transfer Program
(STTP), programa de transferência de  Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC
tecnologia com a Agência Canadense
de Desenvolvimento Internacional (Cida, 2002 o STTP ganhou um prêmio de Nos anos seguintes, a maricultura
na sigla em inglês). Na avaliação do excelência da Cida”, recorda. Poste- catarinense experimentou uma rápida
oceanógrafo Jack Littlepage, professor riormente os canadenses tentaram re- evolução no volume comercializado
da Universidade de Victoria e respon- plicar a experiência em outros estados (veja gráfico) e também na aceitação
sável pela iniciativa, o apoio à UFSC e costeiros por meio do Brazilian Mari- do público. Vários produtores aperfei-
à Epagri ao longo de três programas culture Linkage Program (BMLP), mas çoaram a gestão do negócio e conquis-
por quase vinte anos foi um sucesso. os resultados foram menos expressivos taram clientes em outros estados. O
Nesse período, diversos pesquisadores do que os obtidos pelo programa em Laboratório de Moluscos Marinhos
brasileiros estudaram no Canadá. “Em Santa Catarina. (LMM), inaugurado em 1995 pela UFSC

Linha do Tempo 1980


1983
DESENVOLVIMENTO
Aprofundamento das investigações e identificação das oportunidades.

1987 1989
A Universidade Federal UFSC introduz a ostra- Oceanógrafo Jack
de Santa Catarina japonesa em Santa Littlepage visita o

1970
(UFSC) cria laboratório Catarina e inicia laboratório da UFSC em
INVESTIGAÇÃO para pesquisas de experimentos para Sambaqui e propõe à
Prospecção de possibilidades e busca de informações. cultivo de ostra-do- verificar a viabilidade Agência Canadense de
mangue. biológica do cultivo. Desenvolvimento
Internacional (Cida, na
Anos iniciais Crédito e Assistência (Crassostrea gigas) 1985 1988 sigla em inglês) um
Primeiras experiências Pesqueira de Santa no Brasil, pelo Instituto Laboratório de Moluscos Criado o Condomínio de projeto de apoio à
consistentes de cultivo Catarina (Acarpesc). de Pesquisas da Marinhos (LMM) da Pesca e Maricultura da atividade.
de bivalves no Brasil, Marinha, no litoral de UFSC cria Projeto Ostra, Baía Norte, o primeiro
com a ostra nativa ou do Cultivo de ostra do Cabo Frio (RJ). voltado para o cultivo de do Brasil, marco na
mangue (Crassostrea mangue em Itaparica ostra-do-mangue de relação entre os
rhizophorae) nos (BA) pela Universidade 1975 forma consorciada com pescadores da região e
estados da Bahia, São Federal da Bahia (UFBA). Início de pesquisas na camarão. os pesquisadores da
Paulo e Santa Catarina, região de Cananeia (SP) UFSC.
sem grande êxito. 1974 com indivíduos
Primeira importação e importados do Japão,
Cultivo de ostra do introdução da ostra-do- pelo Instituto de Pesca
mangue em Florianópolis pacífico ou de São Paulo.
(SC) pela Associação de ostra-japonesa

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na Barra da Lagoa, em Florianópolis,
tornou-se elo fundamental da cadeia
ao desenvolver a tecnologia de cultivo
de sementes de ostras, mexilhões e
vieiras. Sua equipe é formada por 45
pessoas, entre técnicos e alunos.
Uma das pesquisas recentes do LMM
é o melhoramento genético para reforçar
a resistência da ostra-japonesa ao au-
mento da temperatura do mar. “Sele-
cionamos em torno de 60 casais que
sobreviveram ao verão para se repro-
duzirem, com cuidado para evitar o
acasalamento endogâmico (entre pa-
rentes)”, conta o supervisor do labora-
tório, professor Cláudio Melo. O sistema
de produção de sementes é fechado,
isto é, não recebe novos indivíduos do
exterior. Em 1998, uma normativa fe-
deral proibiu a importação da espécie,
por motivos sanitários. “Essa restrição
 Sementes de ostras, produzidas no LMM/UFSC é uma vantagem, pois no Brasil não te-
mos doenças de notificação obrigatória
como em outros países”, explica.

1990
1990
CRESCIMENTO
Aumento vertiginoso da produção.

1994 Internacional (Cida na Grande, Palhoça e


Anualmente o LMM produz cerca de
45 milhões de sementes de ostra-japo-
nesa para abastecer as fazendas mari-
nhas catarinenses, a maioria delas, con-
Epagri inicia UFSC inicia as obras de sigla em inglês). Governador Celso centradas em Florianópolis. “O cresci-
experimentos de campo construção de moderno Ramos). mento da produção tem sido maior
com ostra-japonesa. laboratório para Empresa Moluskus, de que a nossa capacidade de suprimento,
produção de sementes Palhoça (SC), é a Capacitação dos por isso às vezes ocorrem alguns atrasos
1991 de ostras na Barra da primeira planta de maricultores de Santa
Criação da Epagri – Lagoa, Florianópolis, processamento de Catarina em
nas entregas, mas conseguimos atender
Empresa de Pesquisa com recursos da Cida e ostras a obter registro cooperativismo. a todos”, informa o oceanólogo Claudio
Agropecuária e Extensão apoio da FAPEU. do Serviço de Inspeção Blacher, gestor dos projetos do LMM.
Rural de Santa Catarina, Federal (SIF). Organizado o Segundo Ele explica que os recursos obtidos com
incorporando os órgãos Treinamento de técnicos Encontro de Produtores a venda de sementes são gerenciados
estaduais de extensão do LMM/UFSC nos Primeiro mapeamento de Moluscos de Santa
rural, pesquisa, crédito e Estados Unidos e de áreas propícias à Catarina.
pela FAPEU e investidos pela UFSC em
assistência pesqueira e Canadá. maricultura no litoral melhorias no laboratório.
de fomento à apicultura. catarinense, realizado 1999 A Epagri também teve papel funda-
Início do Laboratório de pelos pesquisadores PMF (Prefeitura de mental na transferência de tecnologia,
Primeira produção Maricultura da Francisco Manoel de Florianópolis) e Epagri pesquisa científica e mapeamento de
comercial com registros Universidade do Vale do Oliveira Neto (Epagri) e organizam a primeira
estatísticos. Itajaí (Univali). Vitor Dutra (Ibama). edição da Festa
áreas de cultivo, conta o gerente do
Nacional da Ostra Centro de Desenvolvimento em Aqui-
1993 1995 1998 (Fenaostra). cultura e Pesca (Cedap), Fabiano Müller.
Aprovado o projeto Em agosto, o LMM/UFSC Epagri e Banco Houve forte apoio do governo federal à
Shellfish Culture inaugura na Barra da Interamericano de Primeira linha de organização da produção durante a exis-
Technology Transfer Lagoa, Florianópolis, Desenvolvimento (BID) microcrédito concedida
Program (Programa de estrutura física de firmam convênio para ao setor aquícola
tência do Ministério da Pesca, entre
Transferência de laboratório para monitoramento da água catarinense (PMF e 2009 e 2015. Com a sua extinção, a atri-
Tecnologia da produção em escala de e dos moluscos em todo Epagri). buição passou por órgãos de outros mi-
Maricultura) pela formas jovens de o litoral catarinense. nistérios, o que prejudicou a continuidade
agência canadense Cida. bivalves. Projeto de Maricultura catarinense das políticas públicas. “Santa Catarina
transferência de Construção de quatro fecha o ano com
Organizado o Primeiro tecnologia desenvolvido unidades de produção de 10.066
quer trazer para o Estado essa gestão,
Encontro de Produtores em parceria com a beneficiamento de toneladas, um pois é difícil fazer o ordenamento da
de Moluscos de Santa Agência Canadense de ostras e mexilhões crescimento de 5.200% atividade a partir de Brasília”, afirma.
Catarina. Desenvolvimento (Bombinhas, Canto na década. Investir em inovações tecnológicas
é uma das prioridades da Epagri. Um 63

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 Cláudio Blacher (quarto a partir da esquerda), com a equipe do LMM/UFSC

2000
2000
APRIMORAMENTO
Estabilização da demanda e consolidação dos processos produtivos.

Firmado o primeiro LMM/UFSC ganha prêmio de cultivo e da carne das 2006 2007
Parceria tecnológica protocolo de intenções de excelência da agência ostras. Assinatura do protocolo Início do monitoramento
entre Emapa (atual Igeof, da PMF com o Instituto canadense Cida. de intenção para de algas tóxicas com a
Instituto de Geração de Francês de Pesquisas 2005 solucionar problemas da interdição de regiões de
Oportunidades de para Exploração do Mar 2003 LMM/UFSC ganha prêmio cadeia produtiva (Epagri, cultivo comprometidas
Florianópolis) e a Escola (Ifremer). Missão da PMF para Finep de Inovação PMF, Secretaria Especial (Seap, Epagri e Univali).
do Mar de La Rochelle, participar de feira de Tecnológica na categoria de Agricultura e Pesca,
França, para intercâmbio Início do intercâmbio de insumos, máquinas e Inovação Social. Sebrae, UFSC e 2009
internacional de produtores e estudantes equipamentos de produtores organizados). Transformação da Seap
produtores e estudantes entre Brasil e França. maricultura em La Publicação do em Ministério da Pesca e
Tremblade, França. Diagnóstico do Cultivo de Formação do comitê Aquicultura (MPA).
2001 Missão francesa a Moluscos em Santa gestor do Arranjo
Aprovado pela Finep e Florianópolis para Criação da Secretaria Catarina, pelo Produtivo Local (APL) Criação do Código de
Funcitec (atual Fapesc) o participar de evento Especial de Agricultura e pesquisador Francisco com representantes de Conduta de
projeto Ampliação da técnico na Fenaostra. Pesca (Seap), órgão de Manoel de Oliveira Neto todas as instituições e Desenvolvimento
capacidade de assessoria direta à (Epagri) produtores. Sustentável e
produção do LMM, 2002 Presidência da Responsável da
para incrementar a Missão técnico-científica República. Em abril, a “Carta do Início da elaboração dos Malacocultura do Brasil.
produção de larvas e de técnicos do Ifremer Campeche” foi firmada Planos Locais de
sementes de moluscos (França) a Florianópolis 2004 por mais de 200 Desenvolvimento da Seap e Epagri criam
marinhos e impulsionar a para avaliação Ampliação do pescadores e Maricultura (PLDM). Programa Estadual de
atividade em SC. oceanográfica e microcrédito para todo o maricultores de Santa Controle Higiênico e
oceanológica das áreas setor primário do setor Catarina, faz diversas Sanitário de Moluscos
PMF e Epagri criam de cultivo. (PMF e Epagri). demandas ao poder Bivalves do Estado de
Cooperativa Aquícola da público para melhoria da Santa Catarina.
Ilha de Santa Catarina Primeiro projeto atividade, entre elas o
(Cooperilha). municipal de saneamento básico.
monitoramento da água

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dos projetos desenvolvidos é o da balsa
mecanizada para a colheita de mexi-
lhões, tese de doutorado em aquicultura
defendida em 2015 na UFSC pelo enge-
nheiro agrônomo André Luís Tortato
Novaes. Ele projetou e manufaturou
um protótipo com equipamentos que
elevam a carga, extraem os mexilhões
da corda de cultivo, desagregam, lavam
e classificam. Todas as operações são
concentradas na própria embarcação.
O sistema, financiado pela Fundação
de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Estado de Santa Catarina (Fapesc), reduz
os riscos ocupacionais para a saúde
dos maricultores e amplia a produtivi-
dade da colheita.
Outra inovação pesquisada pela em-
presa é o cultivo da macroalga Kappap-
hycus alvarezii, ainda incipiente no
Brasil. Originária de regiões tropicais, a
espécie é a mais produzida do mundo.
Dela se extrai a carragenana, substância
utilizada nas indústrias farmacêutica,
alimentícia e química. “A ideia é integrar
o cultivo de algas ao de moluscos, au-
mentando o lucro das fazendas mari-
nhas”, explica o pesquisador Alex Alves
dos Santos. “As macroalgas são capazes

2010
de absorver nutrientes originários da
QUALIFICAÇÃO decomposição da materia orgânica no
Organização e regularização da cadeia produtiva, com pequeno aumento da demanda. mar e geram outra fonte de renda para
a fazenda marinha, utilizando a mesma
2011 2015 2017 2019 estrutura de cultivo”.
Licitação e demarcação Em outubro, o Ministério Em março, a área de Lançamento do Plano
de áreas de cultivo. da Pesca e Aquicultura é aquicultura e pesca Estratégico para Em 2015 o Brasil importou 1.836
extinto e incorporado ao migra para o Ministério Desenvolvimento toneladas da carragenana, ao custo de
2012 Ministério da Agricultura, da Indústria e Comércio Sustentável da US$ 16 milhões, segundo o Ministério
Criação do Programa Pecuária e (MDIC), sob fortes Maricultura Catarinense, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
Nacional de Controle Abastecimento (MAPA). críticas da cadeia previsto para o primeiro
(MDIC). A viabilidade ambiental da Kap-
Higiênico Sanitário de produtiva. semestre, com
Moluscos Bivalves. 2016 planejamento de paphycus alvarezii já foi comprovada,
Lei Estadual 16.874 Medida Provisória atividades até 2028. mas falta a liberação do Ibama para o
2013 declara a maricultura 782/2017 recria a cultivo comercial, já permitido nos es-
Novo edital licita como atividade de Secretaria Especial de A atividade retorna ao tados do Rio de Janeiro e São Paulo.
fazendas marinhas ainda interesse social e Aquicultura e Pesca, MAPA, com o nome de
Para Santa Catarina, o órgão ambiental
disponíveis. econômico em Santa vinculada à Presidência Secretaria de Aquicultura
Catarina e estabelece da República. e Pesca (SAP). solicitou como condicionante a repli-
condições para o seu cação dos estudos em outros municípios
desenvolvimento costeiros, o que será feito este ano em
sustentável. Penha e Governador Celso Ramos.
“O polvo e a macroalga serão uma
realidade comercial em muito pouco
tempo”, afirma o pesquisador. “Além
dessas espécies existem outras, nativas,
FONTES DA “LINHA DO TEMPO” que merecem maior atenção, mas, em
ANDRADE, G.J.P.O. Maricultura em Santa Catarina: a ca- POLI, C.R. Cultivo de ostras do pacífico (C. Gigas). In:
deia produtiva gerada pelo esforço coordenado Aquicultura. Experiências Brasileiras. Florianópo- virtude da equipe pequena e dos re-
de pesquisa, extensão e desenvolvimento tecnoló-
gico. Revista Eletrônica de Extensão UFSC, v.13,
lis: Multitarefa, p. 251-266. 2004. cursos limitados, reduzimos nossa atua-
Síntese informativa da maricultura. Epagri, 2016.
n.24, p.204-217, 2016; SANTOS, A.A. Maricultura em Santa Catarina: linha do ção para manter o foco da aplicabilidade
LEI 11.958, de 26 de junho de 2009. tempo (e-mail). Epagri, 2019.
BLACHER, Claudio. LMM/UFSC, 2019 (e-mail).
das pesquisas”. 65

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MARICULTURA EM SANTA CATARINA
Toneladas de moluscos 20.438 t
comercializados

15.635 t

12.126 t

190 t 2015
2000 2010
1990
Fonte: Síntese Informativa da Maricultura 2017, Epagri.
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2020
PERSPECTIVAS
Melhoria contínua dos processos produtivos, inovação em máquinas e
equipamentos, certificação e contato comercial com o mercado externo.

Um Plano Estratégico para organizar o crescimento

N o primeiro semestre de 2019


será publicado o Plano Es-
tratégico para Desenvolvi-
mento Sustentável da Mari-
cultura Catarinense (2018-2028), um
diagnóstico detalhado dos principais
entraves da atividade e das políticas
a quantidade de partículas em suspen-
são. O plano prevê a adoção de progra-
mas educativos para produtores, co-
merciantes e consumidores quanto aos
benefícios do comércio e do consumo
seguro de moluscos.
Um dos principais articuladores do
necessárias ao longo da próxima década. Plano Estratégico é o presidente da Câ-
O documento é resultado de um longo mara Setorial da Maricultura Catarinense,
debate envolvendo associações de ma- Leonardo Cabral Costa. Ele cultiva 100
ricultores, técnicos da Epagri, prefeituras mil dúzias de ostras por ano exclusiva-
de sete municípios e representantes de mente para abastecer o cardápio de 32
outras 16 instituições públicas e privadas. pratos de seu “boteco” – como prefere
Entre as demandas elencadas in- chamar – Freguesia Oyster Bar, em
cluem-se o saneamento básico das áreas Santo Antônio de Lisboa, com 46 fun-
de cultivo – apenas 21% da população cionários. Toda a produção é inspecio-
do estado é atendida por rede de coleta nada em frigorífico próprio. Leonardo
de esgotos –, a inclusão dos pequenos vive no ambiente da maricultura desde
produtores no processo de evolução pequeno, pois é filho de um dos pro-
tecnológica e a formalização da cadeia dutores pioneiros – Luiz Carlos Costa, o
produtiva. Atualmente, 85% de todo o “Caio”, ainda na ativa.  Leonardo Cabral Costa
mexilhão e a metade das ostras vendidas O documento destaca que a meca-
em Santa Catarina são processados fora nização, aliada à formalização da cadeia dução permitiria pensar na abertura
das unidades certificadas pelo Serviço produtiva, poderia permitir o aumento de mercados internacionais. Mas o em-
de Inspeção Federal (SIF). da produção para 150 mil toneladas preendedor vê essa perspectiva com
Os produtores também buscam o por ano em 2028. Após o processamento cautela, pois acredita que ainda há
reconhecimento de que o cultivo de da carne congelada sem concha ou muito espaço local, regional e nacional
moluscos é uma atividade ecologica- com meia concha, esse volume resul- a consolidar. “Não dá para queimar
mente correta. Por serem animais fil- taria em 40 mil toneladas/ano e em etapas”, afirma. “É preciso primeiro
tradores, os mexilhões e ostras operam um faturamento de US$ 128 milhões organizar a atividade com a participação
como “purificadores” da água ao reduzir anuais. O aumento da escala de pro- de todos os atores sociais”. 67

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Empreendedores da maricultura
PORTAL DAS OSTRAS atividade investindo em novos equipa- “Tenho um barco de alumínio e
No final dos anos 1990, Devaldi José mentos, sempre com capital próprio. estou construindo outro de madeira
Lopes era cobrador de ônibus e manti- com um guincho para tirar as lanternas
nha um pequeno cultivo de mariscos IMPÉRIO DAS OSTRAS da água”, conta o produtor. Ele tem
na Caieira da Barra do Sul, em Floria- Não muito longe, Fábio de Espín- dois empregados haitianos e contrata
nópolis. Um dia, teve a curiosidade des- dola cultiva moluscos no Império das outros cinco ou seis freelancers aos
pertada por uma placa: “Vende-se ostras Ostras, fazenda marinha de 2,3 hectares. sábados. Sua meta é assinar a carteira
do Pacífico”. Visitou a Epagri e conversou Com um caminhão refrigerado, ele faz de seis imigrantes do país caribenho
com produtores para obter mais infor- entregas em vários bairros da capital e até o fim do ano. “Eles aprendem
mações. Decidiu então sair do emprego envia duas remessas semanais por avião rápido e levam o serviço a sério”, afir-
e, com o dinheiro obtido na venda de a São Paulo. Atento às novidades tec- ma. Um dos contratados, Grénold Dei-
um Fusca, comprou material para iniciar nológicas, Fábio fez um website e in- rilus, envia dinheiro todos os meses
a nova atividade. Hoje a fazenda marinha vestiu R$ 20 mil em uma depuradora, para a mulher, os pais e a irmã, além
Portal das Ostras é um pequeno e prós- tanque onde as ostras são conservadas de pagar a escola dos cinco filhos. Sa-
pero negócio familiar com faturamento por até dez dias à temperatura de 13 tisfeito com o emprego, ele está apren-
anual bruto próximo dos R$ 400 mil. graus. Também instalou uma máquina dendo a pilotar o barco. “Meu sonho
“Aprendi muito no olhômetro”, conta de peneirar sementes e outra para é trazer a família toda, que não vejo
o maricultor, que há cinco anos ganhou lavar a colheita. há 14 meses”, diz.
em licitação uma área de dois hectares
para cultivar os moluscos. A produção
é vendida para peixarias e clientes
avulsos da capital, além de outras ci-
dades como São Paulo, Rio de Janeiro
e Recife, em parceria com um distri-
buidor. “Temos dois barcos e sete fun-
cionários registrados, tudo gente aqui
da comunidade”.
Sua companheira Iara e a filha mais
nova, Larissa, fazem “lanternas” – cestos
de corda para as sementes – e contam
as ostras. A filha mais velha, Ariane, de
20 anos, é o “braço direito”. Estudante
de Aquicultura na UFSC, profissionalizou
a gestão por meio de planilhas de controle
da produção, de custos e do faturamento  Fábio de Espíndola, da Império das Ostras,
mensal. Devaldi pretende expandir a ao centro, com dois de seus empregados.

 Devaldi Lopes, do Portal das Ostras, é o segundo, a partir da


68 esquerda, ao lado da filha, Ariane e de alguns dos empregados.

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 Tatiana Cunha  Rita Rodrigues e Emílio Gottschalk

EMPÓRIO DO MAR gada a ostra à moda do Líbano, com


Outra maricultora que emprega hai- cachaça, mel e limão. Desde 2007,
tianos é Rita de Cássia Rodrigues. Ela Rita e Emílio têm estreita relação com
trocou a carreira de 13 anos como far- maricultores de La Rochelle, na França.
macêutica pelo desafio de empreender “Há uma proposta de construir aqui a
simultaneamente em dois negócios: Escola do Mar, para intercâmbio entre
uma fazenda marinha e o restaurante os produtores”, diz.
Empório do Mar, no Ribeirão da Ilha.
Nos primeiros anos, trabalhava sozinha ASSOCIAÇÃO DE MARICULTORES
no cultivo, encantada com a sensação Outra presença feminina atuante
de liberdade e com o balé dos peixes. no meio é Tatiana Cunha, presidente
“Foi uma guinada na minha vida”, conta. da Associação de Maricultores do Sul
“Enfrentei muito machismo, tinha que da Ilha, cujos 30 sócios produzem 60%
dar murro na mesa pra falar nos cursos das ostras de Florianópolis. A Associação
e reuniões, mas estou feliz da vida”. tem firmado convênios com instituições
Inaugurado em 2011 em parceria de fomento e pesquisa para estimular
com o sócio Emílio Gottschalk, o Em- a atividade. “Uma das nossas priori-
pório do Mar tem como carro-chefe a dades é disseminar o conhecimento”,
sequência de ostras com oito pratos: diz Tatiana. “Estamos também fazendo
in natura, ao bafo, gratinada, defu- algumas compras coletivas e buscando
mada, ao alho e óleo, à milanesa, à assistência técnica gerencial para que
bulhão pato e embriagada com vinho os produtores possam profissionalizar
branco e gengibre. Em breve será agre- o negócio”. 69

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