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ALSINA, Miquel Rodrigo. A construção da notícia. Petrópolis: Vozes, 2009.

Parte II – A
produção da notícia.

Resenha1 “A produção da notícia – Miquel Rodrigo Alsina”


Adriana Queiroz

Em “A construção da notícia”, o pesquisador espanhol Miquel Rodrigo Alsina


apresenta estudos sobre as três fases do processo de construção da notícia: a
produção, a circulação e o consumo. Nesta resenha, vamos explorar a segunda parte
do livro que trata da produção da notícia.
De modo geral, Alsina questiona o discurso de que o jornalismo é apenas
transmissor das informações, espelho da realidade e tem como principal argumento de
legitimação a ideia de objetividade. Para ele, a notícia é uma representação social da
realidade. Esse entendimento é importante não só para o campo jornalístico como
também para sociedade, pois ao expor a complexidade da produção da notícia, o
jornalista contribui para que o leitor possa fazer uma análise mais crítica e coerente
desse conteúdo jornalístico.
Para o autor, a produção da notícia é um processo complexo e institucional. Em
um primeiro momento, é feita a análise de como o acontecimento se torna notícia e
depois da profissionalização do jornalista e a questão da objetividade.
No processo de produção noticiosa, o jornalista precisa, primeiro, reconhecer e
selecionar um acontecimento, para depois transformá-lo em notícia. Esse processo vai
depender da atribuição de sentido, que é variável em cada cultura, em cada sociedade.
Para explicar como começa todo esse processo, desde o reconhecimento de um
acontecimento, Alsina apresenta as premissas do acontecimento: 1) os acontecimentos
são gerados através de fenômenos externos ao sujeito; 2) os acontecimentos não
fazem sentido longe dos sujeitos, pois são os sujeitos que conferem sentido aos
acontecimentos; 3) os fenômenos externos que o sujeito percebe tornam-se
acontecimento por causa da ação deste (sujeito) sobre aqueles (fenômenos). Os
acontecimentos se compõem das características dos elementos externos nos quais o
sujeito aplica seu conhecimento.
Conforme o autor, “o acontecimento é um fenômeno social e está determinado
histórica e culturalmente. É claro que, cada sistema cultural vai concretizar quais são os

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Atividade da Disciplina “Teorias do Jornalismo” ministrada pelo Prof. Dr. Mário Luiz Fernandes (UFMS).
fenômenos que merecem ser considerados como acontecimentos e quais passam
despercebidos”. É por isso que “nem sempre, ao longo da história da comunicação, a
mídia levou em conta o mesmo tipo de acontecimentos sociais” (p.116).
A influência de elementos sociais e as diferenças históricas na seleção do que é
um acontecimento ficam claras quando o autor identifica as características de cada fase
da evolução dos acontecimentos. A primeira se refere aos acontecimentos antes da
imprensa de massa, entre os séculos XIV e XIX. Nesta época, o acesso à informação
era restrito às classes dominantes e aos burgueses, que precisavam das informações
sobre transações comerciais. Entre os motivos para este cenário estão o analfabetismo
da população em geral e a intenção dos poderes instituídos e das religiões em controlar
o conhecimento do acontecimento, não apenas por meio da censura, mas também da
criação de acontecimentos “convenientes”. Para essas classes, era preciso negar o
acontecimento para manter o equilíbrio social, pois “da mesma forma que a verdade, o
acontecimento é sempre revolucionário” (p.199). O autor observa ainda que a imprensa
poderia ser instrumento de desenvolvimento da cultura e do comércio, mas logo se
tornou instrumento das lutas religiosas, tanto que o primeiro livro impresso foi a Bíblia.
O segundo momento é da grande imprensa de massa, entre os séculos XIX e
XX. Aqui, a imprensa é a principal fonte de transmissão de acontecimentos para a
sociedade. O conteúdo passa por um processo de politização, ou seja, é produzido em
função de uma ideologia. Com o intuito de aumentar a venda de jornais, surge o
jornalismo sensacionalista. Há também o surgimento da rádio. “A imprensa e a rádio são
instrumentos para o melhor e para o pior: são meios de informação e cultura ou são
meios para a manipulação”. Essa observação de Alsina, na verdade, pode ser aplicada
a todos os tipos de meios de comunicação, inclusive para a internet, que, como vimos
nessa eleição de 2018, transformou-se mais em um instrumento de manipulação que de
promoção do diálogo e da democracia, contrariando as expectativas de alguns teóricos
como Jürgen Habermas. Voltando à reflexão do autor, o uso da mídia como propaganda
política, tanto pelos regimes fascistas da Europa quanto da ex-União Soviética, também
marca esse período.
A última fase é a do acontecimento e a comunicação de massas, do século XX
até a atualidade. Para Alsina, é a sociedade “que faz acontecer”. Há uma multiplicação
de acontecimentos que acabam gerando o efeito contrário, a desinformação. Nesse
caos informativo, a sociedade é atropelada por notícias a cada minuto e já não se sabe
o que é verdadeiro ou falso em meio a tantos “acontecimentos”.
O autor aponta fatores que levaram a essa multiplicação de acontecimentos. O
primeiro é que agora uma opinião sobre uma informação se torna outro acontecimento,
ou seja, a declaração de uma autoridade ou até mesmo um tweet do futuro presidente
do Brasil, Jair Bolsonaro, sobre determinado fato torna-se notícia.
Alsina faz ainda uma análise da natureza do acontecimento, começando pela
diferenciação entre acontecimento e notícia. “O acontecimento é uma mensagem
recebida enquanto a notícia é uma mensagem emitida. Ou seja, o acontecimento é um
fenômeno de percepção do sistema, enquanto que a notícia é um fenômeno de geração
desse sistema” (p.133).
Outro ponto que o autor chama atenção é a importância da estrutura funcional
das instituições da comunicação para estudar os acontecimentos na mídia, uma vez
que “a notícia é produto da mediação da instituição comunicativa” (p.135). Também
destaca a interação entre mídia e sociedade, na qual “todo fato social é um
acontecimento em potencial para mídia e toda notícia é um acontecimento em potencial
para a sociedade” (p.134). Sobre as características gerais do acontecimento, o
pesquisador espanhol indica dois elementos:
a) variação perceptível do ecossistema (mundo exterior) ou do entorno. Para que
o acontecimento seja identificado é preciso haver o “desvio” das normas estabelecidas
(pontos de referência) pelo ecossistema. Essa variação precisa ser perceptível e
comunicável. Ou seja, não pode ser um acontecimento secreto (não comunicado).
b) uma imprevisibilidade por parte do ocupante do ecossistema. Essa
característica diz respeito ao grau de previsão do sujeito quanto à variação. O
jornalismo trabalha com a imprevisibilidade, mas esta não é imprescindível. Há eventos
previsíveis, como as datas históricas e comemorativas, a visita de uma autoridade, etc.
Assim, Alsina afirma que “o acontecimento jornalístico é toda variação
comunicada do ecossistema, através da qual seus sujeitos podem se sentir implicados”
(p.139) e apresenta como elementos essenciais a variação do ecossistema, a
comunicabilidade do fato e a implicação dos sujeitos.
As normas de um ecossistema são fundamentais para definir um fato como
acontecimento. Desta forma, a variação no ecossistema pressupõe a ruptura da norma.
Essa ruptura pode estar relacionada ao tempo, à velocidade que impõe uma data de
validade ao acontecimento ou ao imprevisível, o espetacular.
A comunicabilidade do fato também é outro fator fundamental, uma vez que algo
não comunicável, não pode ser um acontecimento para a construção da notícia. O autor
fala sobre a possibilidade de a mídia criar e destruir acontecimentos. Ambas hipóteses
podem ser verdadeiras. No primeiro caso, na ausência de acontecimentos
comunicáveis, “surgirão outros acontecimentos que se tornarão notícia por causa da
falta de acontecimentos” (p.144), os chamados “factoides”. Na segunda situação, ao dar
visibilidade a um determinado acontecimento a mídia pode destruir o outro, a falta de
exposição midiática pode provocar um sentido/uma sensação para a sociedade de que
determinado fato não aconteceu. É o que vemos em situações polêmicas da política.
Por exemplo, a mídia dá destaque às discussões sobre a tramitação do projeto Escola
Sem Partido, que “rende” muita polêmica e interesse tanto de quem é contra quanto de
quem é a favor, mas enquanto isso o aumento de salário para ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) é aprovado.
Por fim, temos a implicação dos sujeitos que ocorre em diferentes graus: 1)
Implicação direta e pessoal, quando as notícias atingem diretamente a vida cotidiana do
indivíduo; 2) Implicação direta e não pessoal, quando atingem diretamente e de forma
emotiva ou ideológica, mas sem muita relevância na vida cotidiana da pessoa; 3)
Implicação direta, quando atingem a notícia como algo distanciado, que ocorre com o
outro; 4) Ausência na implicação, quando atingem um público indiferente em relação à
notícia.
Outro ponto de reflexão do pesquisador espanhol é a relação acontecimento-
mídia. Para começar o debate, destaca a seguinte citação de Hausser (1973): “o jornal
não se adapta ao acontecimento, é o acontecimento que é levado a se adaptar ao
jornal”. Na opinião de Alsina, a relação acontecimento-mídia é, na verdade, mais
interativa. Existe uma negociação para a determinação dos acontecimentos, e para que
estes se tornem notícia há a influência de fatores estruturais, rotinas produtivas e
critérios de noticiabilidade. Assim, a seleção do que é notícia é um fenômeno
negociado. No entanto, há acontecimentos excepcionais que se impõem à “complexa
burocracia” dos meios de comunicação.
Sobre as regras de seleção do acontecimento, é feita uma reflexão sobre a
listagem de Galtung e Ruge (1980) que apresenta uma série de valores-notícia:
Frequência; Limiar (Desfecho); Ausência de ambiguidade; Significação (Relevância);
Consonância (Expectativa em relação à audiência); Imprevisibilidade; Continuidade;
Composição (Equilíbrio do noticiário) e Valores Socioculturais. Esses critérios não são
aplicados de forma mecânica, mas são importantes para compreensão para o processo
de seleção das notícias. O autor destaca ainda que os acontecimentos se tornam
notícia a partir de características que “serão consideradas tanto pelos produtores
quantos pelos consumidores de notícias” (p.161).
Dentro dos estudos sobre a construção da notícia, Alsina apresenta ainda uma
análise do conceito de objetividade jornalística, que é usado até hoje como forma de
legitimação do campo jornalístico, mas sofre críticas desde os anos 1960. Segundo o
pesquisador, a ausência de objetividade não é culpa dos jornalistas, nem dos meios de
comunicação, mas dos seguintes fatores: a) o acontecimento excepcional oculta a
regularidade e o efêmero se potencializa sobre o duradouro; b) a fragmentação
potencializa, exagerando-a, a objetiva variedade e pluralidade de posições,
estabelecendo uma recomposição fictícia com a primazia do sistema político; c) o efeito
de verdade dessa não verdade gerada pela mídia é bem forte, já que se encontram
encobertos a maioria dos mecanismos de produção.
De acordo com Alsina, há uma variação temporal e espacial do conceito de
objetividade. “A objetividade é um conceito social e diferente segundo as culturas
pesquisadas” (p.241).
Nos anos de 1970, o surgimento “novo jornalismo” provocou uma das crises da
objetividade jornalística. Um modelo de jornalismo mais subjetivo, com maior interesse
pelos pequenos fatos, pelo cotidiano e com grande intencionalidade literária. A ausência
dos jornalistas nas coberturas, a descoberta de reportagens falsas e as guerras também
contribuíram para essa crise. O autor lembra que, na primeira Guerra do Golfo, “o
jornalismo bélico adquiriu características muito publicitárias” (p.242) e apresenta
algumas táticas da estratégia informativa militar para o controle da informação: a) Dar
informação que não informa, isso significa que nem sempre informação é sinônimo de
conhecimento, a saturação de informação indiscriminada, anedótica e espalhafatosa
gera mais confusão que conhecimento; b) Não dar informação, a censura ao meio de
comunicação e a autocensura do meio de comunicação, o jornalista que cobre uma
guerra sob a “proteção” do Exército dificilmente vai expor as falhas e/ou o lado negativo
das ações militares, há uma certa “cumplicidade” que prejudica a qualidade da notícia;
c) Dar informação falsa, a dependência de fontes oficiais pode gerar propaganda; d) Dar
informação confiável, a extensão da informação favorável sobre um grupo e
desfavorecer para o inimigo.
Todas essas estratégias geram uma desconfiança do leitor quanto ao conteúdo
dos meios de comunicação.
Alsina segue na análise sobre o conceito de objetividade e destaca uma citação
de Tuchman (1980): “a objetividade tem a ver com os procedimentos de rotina, os quais
podem ser considerados como sendo características formais. [...] Que protegem os
profissionais dos erros e das críticas. Destaca o fato, de que o termo “objetividade”, é
utilizado como um ritual estratégico de defesa”. Ou seja, a objetividade está no método,
na técnica jornalística a partir de um determinado recorte. Seria uma estratégia
necessária para referência do trabalho jornalístico nos procedimentos de apuração e
produção da notícia.
Para o autor espanhol, se a objetividade é o que desejamos, a neutralidade nem
sequer é possível. A objetividade, divulgada pelo capitalismo, tem relação com a
desvinculação dos fatos das relações de classe. Ou seja, é mais um instrumento de
dominação que de esclarecimento. É um falso reflexo da realidade. Segundo Alsina, a
autêntica objetividade não é neutra, nem imparcial.
Para reforçar o ponto de vista da objetividade e seu caráter cultural e social, o
autor cita Marletti (1982): “a objetividade é o resultado que só pode ser atingido graças
a um determinado esforço profissional, à compreensão dos fatos, e à evolução da
tendência desses fatos, dentro da relação que existe entre a experiência e a memória
coletiva”. Também destaca o pensamento de Edgar Morin (1975) que defende a
objetividade como um processo de permanente autocrítica.
Para aprofundar esse debate, Alsina ainda propõe que “a discussão sobre a
objetividade vai muito além do fato de se um relato é mais ou menos objetivo, mas até
que ponto um relato pode, de fato, ser objetivo” (p.258). O autor destaca que o jornalista
interpreta a realidade, mas isso não quer dizer que ele poderá fazer qualquer tipo de
interpretação. Esse processo depende de diversos fatores já explorados aqui como a
percepção e seleção do acontecimento, rotinas produtivas, veículo de comunicação, e
precisa ser um executado de maneira objetiva, não sob o aspecto cognitivo, mas sob o
aspecto metodológico.
Alsina faz toda essa reflexão para falar sobre o processo de definição da notícia
e mostrar “como a produção da notícia define uma determinada aproximação da
realidade” (p.295). Questiona o conceito de notícia apresentado por alguns autores e
aponta a existência de dois grupos: um defende a notícia como espelho da realidade e
o outro como uma construção da realidade. O autor contesta a ideia de notícia como
“reflexo” da sociedade com base na afirmação de Tuchman de que, na verdade, a
notícia ajuda a constituir a sociedade como “um fenômeno social compartilhado, já que
no processo da descoberta de um acontecimento, a notícia define e conforma esse
acontecimento” (p.299).
Alsina propõe então a seguinte definição de notícia: “a notícia é uma
representação social da realidade quotidiana, produzida institucionalmente e que se
manifesta na construção de um mundo possível” (p.299). Explica ainda que “as
representações sociais são processos cognitivos e emotivos que geram sentido,
realidades simbólicas e dinâmicas. Também agem como esquemas de organização da
realidade” (p.301).
O autor cita ainda Santamaria (2002) para explicar que “essas representações
são coletivas, não só porque são compartilhadas pelos membros de um grupo, mas
porque são elaboradas, mantidas e transformadas socialmente, no seio das relações
sociais, e porque também possuem um elo estruturante dessas mesmas relações
sociais” (p.301). As representações podem mudar de acordo com as circunstâncias de
cada momento e da perspectiva dos observadores.
Nesse processo de construção social da realidade, é preciso considerar ainda a
produção institucional da notícia, ou seja, a complexidade da instituição jornalística, que
está inserida nessa realidade social e sofre influências de diversos setores e interesses,
e a legitimidade do jornalista, que cumpre “um papel socialmente institucionalizado, que
o legitima para concretizar uma determinada atividade” (p.302).
Para Alsina, o jornalista é autor de um mundo possível que se manifesta em
forma de notícia. Dentro desta perspectiva, o autor apresenta três mundos distintos e
que estão inter-relacionados: o mundo “real”, o mundo de referência e o mundo
possível. O mundo real pode ser considerado uma construção cultural (ECO, 1981),
uma correspondência com o mundo dos acontecimentos e está relacionado à produção
de sentido de “verificação”.
O mundo de referência está relacionado à explicação de um fato e vai
determinar a importância social do acontecimento. Depende de questões culturais,
sociais e até mesmo da linha editorial do veículo de comunicação. Está relacionado à
produção de sentido de “verossimilhança”. Já o mundo possível será “aquele mundo
que o jornalista construirá levando em conta o mundo real e um mundo de referência
escolhido” (p.308). O mundo possível é o responsável pela produção de sentido de
“veracidade”.
Desta forma, conforme o autor, os jornalistas realizam uma inferência lógica, que
é conhecida como abdução, para conferir sentido aos acontecimentos. Essa abdução
seria “uma espécie de hipótese, no sentido de como as coisas se concretizam” (p.305),
ou seja, uma hipótese interpretativa que explique os fatos. Assim, o jornalista é um
expectador privilegiado do “mundo real” e que, a partir do “mundo de referência” faz sua
inferência sobre o mundo possível.
As considerações de Alsina dão suporte para a compreensão de que a
construção da notícia sofre a interferências de vários fatores e de que a objetividade é
mais um método de apuração e produção do que uma característica do conteúdo
jornalístico. São reflexões importantes para rever conceitos disseminados no campo
jornalístico que tentam simplificar, algo que é tão complexo como a seleção e produção
de notícias.

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