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Resumo
Em nossa pesquisa de mestrado foi possível analisar as percepções dos alunos da EJA sobre o
processo de ensino-aprendizagem. Dentre os resultados obtidos, o elemento que se destacou
foi a importância da afetividade, principalmente na relação professor-aluno. Podemos inferir
que há necessidade, por parte dos educadores, de refletirem, não somente sobre o ensino dos
conteúdos escolares, mas também sobre a relevância dos aspectos afetivos na vida escolar dos
alunos. Após análise no banco de teses da CAPES e outras pesquisas científicas disponíveis
ao domínio público acerca do tema afetividade, relação professor-aluno e processo
pedagógico na EJA identificamos 16 trabalhos. Realizamos também um levantamento das
pesquisas que tem como objetos de estudos a Teoria das Representações Sociais - TRS e EJA
e foram localizados 23 trabalhos, no entanto quando articulamos a TRS, EJA e afetividade
somente 03 pesquisas foram localizadas, demonstrando um campo fecundo e pouco explorado
pelos estudiosos dos temas. Os resultados destacam que o desenvolvimento de um ambiente
afetivo influencia de forma qualitativa na construção do conhecimento, do ensino e
principalmente da aprendizagem. Cerca de 774 milhões de jovens e adultos no mundo são
analfabetos (UNESCO, 2009). O Brasil concentra um total de 14 milhões de pessoas com 15
anos ou mais que não sabem ler e escrever (IBGE, 2010). Segundo o MEC/INEP/Deed (2009)
o número de matrículas, no ensino fundamental, na EJA é de 4.639.382 alunos. Nesse
contexto, o papel do professor se torna essencial no sentido de tentar driblar as dificuldades e
desempenhar um trabalho satisfatório/significativo para os alunos que vêm dar continuidade
ao seu processo de escolarização ou para aqueles alunos que pela primeira vez freqüentam os
bancos de uma instituição escolar e que pela primeira vez, também, aprendem a escrever e a
ler, de forma sistematizada, as primeiras palavras.
Introdução
Autores como Fernandes (1991), Dantas (1992), Snyders (1993), Freire (1994; 1999a),
Codo e Gazotti (1999) entre outros, afirmam que o afeto é indispensável na atividade de
ensinar, compreendendo que as relações entre o ensinar e o aprender são motivadas pelos
desejos, pelas paixões e que é possível identificar possibilidades afetivas favoráveis que
facilitem a aprendizagem. A afetividade (o afeto) torna-se elemento importante para a garantia
do envolvimento do professor e dos alunos na tentativa de oportunizar um ensino e
aprendizagens eficientes no desenvolvimento de uma ambiente agradável em sala de aula, na
aquisição e socialização de conhecimentos e elevação de auto-estima.
TASSONI, 2008). De acordo com Espinosa (2004) em seu texto Ética fica demarcada a
grande mudança de paradigma na análise do homem:
Daí resulta que o homem consta de uma alma e de um corpo, e que o corpo humano
existe exatamente como o sentimos. [...] Pelo que precede, compreendemos não
somente que a alma humana está unida ao corpo, mas também o que deve entender-
se por união da alma e do corpo. Na verdade, ninguém poderá fazer uma idéia
adequada, ou seja, distinta dessa união, se, primeiramente, não conhece
adequadamente a natureza do nosso corpo (p. 235).
facilita compreender o indivíduo em sua totalidade, que indica as relações que dão
origem a essa totalidade, mostrando uma visão integrada da pessoa do aluno. Ver o
aluno dessa perspectiva põe o processo ensino-aprendizagem em outro patamar
porque dá ao conteúdo desse processo – que é a ferramenta do professor – outro
significado, expondo sua relevância para o desenvolvimento concomitante do
cognitivo, do motor e do afetivo (p. 09).
realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva, racional,
que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência
afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica: corresponde à sua
primeira manifestação. Pelo vínculo imediato que se instaura com o ambiente social,
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processos cognitivos. Dantas faz importantes considerações sobre a importância dos estudos
sobre a consciência do ser humano realizados por Vygotsky. Destaca que
Para Cunha (1992), a relação professor-aluno não é permeada somente pelos aspectos
afetivos, virtudes e valores do professor com relação ao aluno, mas pela intensidade desses
elementos também na forma como o professor se relaciona com a disciplina e as habilidades
de ensino que desenvolve. Vygotsky destaca, também, o importante papel do professor como
mediador do processo de ensino-aprendizagem (LEITE, 2006).
Almeida (2005, p. 108) destaca as diferenças da afetividade em crianças e adultos e a
significância e o entrelaçamento entre cognição e afetividade e que
A teoria aponta para duas ordens de fatores que irão constituir as condições em que
emergem as atividades de cada estágio: fatores orgânicos e fatores sociais. Será no
mergulho do organismo em dada cultura, em determinada época, que se
desenvolverão as características de cada estágio. A interação entre esses fatores
define as possibilidades e os limites dessas características. A existência individual
como estrutura orgânica e fisiológica está enquadrada na existência social de sua
época (MAHONEY; ALMEIDA, 2003, p. 12).
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Uma importante Teoria para as reflexões e estudos sobre as influências, relações entre
indivíduo e sociedade ou elementos orgânicos e sociais é a Teoria das Representações Sociais.
uma atividade mental pela qual o sujeito constitui uma imagem, idéia, pensamento
ou conceito do objeto. Ela está sempre ligada ao objeto, que pode ser pessoa ou
coisa. A representação possui dois sentidos que são extremamente relacionados:
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E para compreender de maneira mais profunda essas articulações, foi realizada uma
revisão de literatura sobre as pesquisas que articulam os temas EJA e a Teoria das
Representações Sociais, totalizando 23 trabalhos (02 já citados anteriormente) que
investigaram as representações sociais de alunos e professores da EJA em diferentes
contextos: alfabetização de adultos, práticas pedagógicas, educação e escola (MATOS, 1999;
SIMIONATO, 1999; NINA, 2000; ANDRADE, 2002; FERNANDES 2004b; HENN, 2006;
RODRIGUES, 2006; LIMA, 2008; FONSECA, 2009); matemática, histórias de vida (MELO,
2004; ROLOFF, 2009); inclusão de alunos com deficiências e deficiência mental
(FERNANDES, 2002; TAVEIRA, 2008); educação física (PEREIRA, 2008); gênero,
identidade étnica e afro-descendência (JESUS, 2001; AMORIM, 2007; VIEIRA, 2009);
evasão escolar, repetência e fracasso (BRITO FILHO, 2001; FERNANDES, 2004b;
CARDOSO, 2007); exames supletivos (JOUGLARD, 2002); aquisição da leitura e escrita
(PINHEIRO, 2010); história (PEDROSO, 2010).
Uma pesquisa realizada com professores da EJA é destacada como possibilidade de
diálogo com os alunos e, principalmente, com esses profissionais. Fernandes (2004b)
realizou sua pesquisa com professores e alunos. Seu objetivo era analisar as representações
sociais desses participantes sobre o processo de alfabetização que vivenciavam, utilizando
entrevistas semi-estruturadas. Os resultados, e destacamos aqui somente aqueles que dizem
respeito aos professores, demonstraram que as alfabetizadoras têm uma visão negativa
também sobre o analfabeto e desenvolvem uma baixa expectativa com relação a seus alunos,
apesar de cultivar sentimentos de piedade e compaixão por eles. As professoras têm uma
perspectiva positiva sobre a função do professor, no entanto, têm consciência da
desvalorização dos salários e desprestígio social dessa profissão. O autor chama atenção para
algumas contradições observadas ao analisar as falas das professoras. Elas afirmam gostar de
alfabetizar adultos, porém estabelecem comparações entre o alfabetizar crianças e adultos,
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Considerações Finais
representações sociais é o cotidiano das pessoas. Assim, onde houver pessoas vivenciando a
relação dialética, aqui já referida, do indivíduo-sociedade (ou indivíduo-coletivo), ali estarão
sendo produzidas representações sociais e ali estarão presentes o saber popular e o senso
comum que, de modo especial, produzem o ambiente onde se desenvolve a vida humana, a
vida em sociedade. De acordo com Dér (2004, p. 75), “conhecer a trajetória da afetividade do
aluno permite ao professor adequar seu ensino às necessidades afetivas de seus alunos nos
diferentes estágios do desenvolvimento”, promovendo mudanças qualitativas de pensamentos,
práticas pedagógicas e sociais. Esse processo de conhecimento se torna imprescindível
quando os alunos são jovens e adultos que tem um histórico maior e mais complexo de
experiências sociais e afetivas.
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