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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo


FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – Novembro de 2018
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Fake News: um fenômeno epistemológico


e comunicacional

Ivo Henrique Dantas1


Heitor Costa Lima da Rocha2

Universidade Federal de Pernambuco

Resumo: O presente artigo discute o fenômeno das Fake News a partir de duas perspectivas. A
primeira posiciona a questão epistemológica do construtivismo, em contraponto ao paradigma
agonístico e ao discurso da pós-verdade. A segunda demonstra como as Fake News tiveram seus
impactos potencializados pelas características dos usos sociais que fazemos das tecnologias
digitais, inseridas em um contexto de redefinição da relação entre espaços públicos e privados,
com a consequente fragmentação da Esfera Pública e surgimento das bolhas informacionais.

Palavras-chave: Fake News; Bolhas Informacionais; Esfera Pública; Jornalismo; Opinião Pú-
blica.

1.Introdução

Na Quarta-feira (09) de novembro de 2016, o mundo observou estarrecido o re-


sultado das eleições presidenciais americanas. Ao contrário do esperado por boa parte
da grande mídia global e agências de notícias, as urnas declararam Donald Trump o 45º

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Pesquisador doutorando na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre em Comunicação pela
UFPE. E-mail: hclrocha@gmail.com;
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Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutor em Comunicação pela
UFPE. E-mail: hclrocha@gmail.com;

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presidente norte-americano. Não demorou para que a vitória de Trump lançasse luz so-
bre a disseminação das Fake News pelo ambiente digital. Desde então, diversos estudos
têm se debruçado sobre o tema, na tentativa de explicar e combater esse fenômeno.
O presente artigo procura contribuir com tais discussões propondo uma reflexão
acerca das bases epistemológicas e comunicacionais que possibilitaram que as Fake
News atingissem tamanha relevância no debate público e acadêmico.
Iniciamos, contudo, ressaltando que a disseminação de notícias falsas não deve
ser vista como um fenômeno inédito. O historiador Robert Darnton (2017) tem constan-
temente pontuado que a circulação de informações falsas com objetivo de influenciar
disputas políticas remonta aos tempos antigos, com casos marcantes como o do histori-
ador bizantino Procópio.
Nesse sentido, a defesa que se faz neste trabalho é de que, assim como outros fe-
nômenos sociais, as Fake News tiveram seus impactos potencializados pelas caracterís-
ticas dos usos sociais que fazemos das tecnologias digitais, inseridas em um contexto
ideológico de disputa entre paradigmas epistemológicos e redefinição da relação entre
espaços públicos e privados.
Para tal, trazemos uma discussão acerca dos paradigmas positivista e construti-
vista, ressaltando o papel da noção de verdade vista como algo elaborado deforma defi-
nitiva acima e além do cotidiano do mundo da vida do ser humano, proveniente da men-
te transcendental concebida pela filosofia do sujeito, no caso da ideologia epistêmica
tradicional, ou do consenso da comunidade de comunicação de forma transcendentali-
zada e humanizada, de acordo com a filosofia da linguagem na perspectiva construtivis-
ta, ou mesmo como produto de disputas agonística. Seguimos nosso trajeto argumenta-
tivo por uma necessária reflexão acerca da dimensão epistemológica do jornalismo en-
quanto mediador do conhecimento acerca do mundo social.
Já na última parte do artigo nos debruçamos sobre as mudanças sofridas pela es-
fera/espaço público e suas consequências diretas no fluxo informacional. Acreditamos,
dessa forma, ser possível identificar as bases epistemológicas e comunicacionais que
fizeram com que as Fake News ganhassem tamanha dimensão ao longo dos últimos
anos.

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2. Razão e Verdade nos paradigmas positivista, agonístico e constru-


tivista

No modelo da filosofia da consciência, a razão é concebida como algo elaborado


por um sujeito transcendental, raciocinando de forma perfeita fora do mundo e da histó-
ria. No entanto, quando não foi mais possível asseverar de forma exaltada a crença da
filosofia de ciência positivista na teoria da verdade como correspondência perfeita entre
a representação da realidade e a própria realidade, com a presunção do objetivismo de
verificar as leis universais de causa e efeito dos fenômenos válidas para todas as pesso-
as, em todos os cantos e em todas as épocas, ou seja, a verdade absoluta, o funcionalis-
mo estrutural adotou uma postura cética com relação à capacidade de atribuir sentido ao
mundo e, através de uma teoria de sistemas fechados, passou a negar a possibilidade do
discernimento das pessoas conquistar mudanças na forma de funcionamentos dos siste-
mas funcionais do Estado, da economia e da comunicação. É importante observar que,
embora diametralmente opostas estas concepções sobre a razão resultam numa visão
instrumental do jornalismo e da comunicação de uma maneira geral, depreciando o seu
estatuto científico.
Neste contexto, o surgimento do paradigma construtivista promove uma des-
transcendentalização e humanização da base da filosofia da consciência do sujeito
transcendental para a base da filosofia da linguagem, onde a razão passa a ser concebida
como sendo elaborada na intersubjetividade das interações simbólica cotidianas. Assim,
o que se considera racional, lógico e verdadeiro deixa de ser visto como absoluto e pas-
sa ser entendido como provisório e relativo de acordo com as mudanças vividas pelas
pessoas que compõem a comunidade de comunicação.
Portanto, a reflexão sobre o papel do jornalismo tem conotações bastante diver-
sas e até diametralmente opostas, dependendo dos pressupostos teóricos das filosofias
de ciência (positivista ou construtivista) que são sempre também ideológicos. Enquanto
na perspectiva positivista a intervenção da ciência e do jornalismo na realidade social só
é concebida como forma de descrição do existente, na lógica das teorias da ação e con-
sensual da verdade do paradigma construtivista se pode vislumbrar a evolução das con-
dições e relações sociais através do entendimento resultante de uma discussão crítica,
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inclusiva e efetivamente significativa em sua diversidade social à qual somente se pode


chegar através de uma comunicação ética que não seja sistematicamente distorcida -
como, infelizmente, constatamos na atualidade em quase todo o mundo -, capaz de ga-
rantir uma deliberação democrática.
Desta maneira, é preciso superar a ideologia epistêmica positivista e sua estig-
matização da reflexão crítica com as presunções da objetividade absoluta (objetivismo),
avaloratividade científica e da neutralidade axiológica, como mecanismo de redução do
papel da ciência à mera descrição da realidade isenta de quaisquer juízos de valor, o
que, na verdade, a tornava dócil aos interesses políticos e econômicos estabelecidos
pelas elites dominantes.
Nesta perspectiva, há a visão instrumental, a mais disseminada, vinculada à epis-
temologia tradicional positivista e sua teoria da verdade como correspondência da re-
presentação com a realidade, que concebe a comunicação apenas como um meio técnico
de obtenção de coisas, recursos escassos, numa visão mercadológica.
Nesta concepção, pode-se identificar o ceticismo, implícito na visão menospre-
zada da comunicação, desde a concepção dos filósofos sofistas da Grécia antiga, que a
restringia às estratégias de persuasão desvinculando-a de suas consequências sociais e
negando sua vinculação com a verdade, mesmo que numa perspectiva consensual co-
mo veio a concebê-la a filosofia pragmática. Por isso, Adriano Duarte Rodrigues
(2011, p. 127) chama atenção para a atualidade desta discussão em face das ameaças
das fake news, observando o fato de que

(...) É ainda hoje indispensável ler o Górgias, diálogo que dá conta do


confronto entre Sócrates e o sofista. Como não verificar a perenidade des-
te confronto numa época, como a nossa, em que proliferam as estratégias
discursivas que pretendem levar os outros a aceitar opiniões falsas como
se fossem verdadeiras e a leva-los a agir, nos domínios político, profissio-
nal ou econômico, em função de interesses particulares nem sempre legí-
timos.
No sentido oposto, há a perspectiva do paradigma construtivista, fundamentado
na filosofia pragmática e na sua teoria consensual da verdade, que desloca a base da
reflexão da filosofia da consciência de um sujeito transcendental imaginado fora da his-
tória e do mundo para o espaço de intersubjetividade da filosofia da linguagem, a co-
municação passa a ser percebida como constitutiva da personalidade do ser humano, na

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dimensão ontológica, e da espécie humana como um todo, na dimensão filogenética,


bem como da própria realidade da sociedade de uma maneira geral, tendo em vista o
papel central e estratégico que desempenha na sua construção social. Assim, a comuni-
cação deixa de ser desvalorizada no seu estatuto científico e conquista a dimensão de
critério decisivo na definição da validade das proposições na comunidade dos investiga-
dores científicos, inclusive nas ciências naturais. Como assegura o físico Thomas Kuhn,
o consentimento obtido através da comunicação é o critério máximo de validação inter-
subjetiva na escolha de um paradigma. Segundo Kuhn, (2007, p. 128), para entender
como se processam as revoluções científicas, temos que “examinar não apenas o impac-
to da natureza e da lógica, mas igualmente as técnicas de argumentação persuasiva que
são eficazes no interior dos grupos muito especiais que constituem a comunidade dos
cientistas”.
Nesta perspectiva construtivista, o jornalismo pode ser reconhecido, quanto ao
seu papel social e político, pela sua condição de estuário da história em construção, es-
paço em que a sociedade pode, com seu funcionamento adequado, vislumbrar para me-
lhor o seu futuro, ou, no sentido contrário, comprometer suas boas expectativas, quando
é sistematicamente distorcida pela estrutura de poder que controla o aparelho de Estado
e as grande corporações do mercado, excluindo das discussões públicas e das delibera-
ções a maioria absoluta da humanidade (HABERMAS, 2004).
Portanto, com a Teoria da Comunicação de George Mead (1969), a Comunica-
ção supera a condição menor de mero instrumento para satisfação de interesses particu-
lares do sistema da estrutura de poder a que a Mass Communication Research a reduziu.
A Teoria da Comunicação de Mead reconhece na comunicação o elemento fundamental
e exclusivo do ser humano diante das demais espécies do reino animal, quando a huma-
nidade, no seu desenvolvimento filogenético, deixou de realizar a sua integração através
de gestos e sons para vivenciar uma integração social baseada em símbolos de signifi-
cado idêntico, ou seja, através da intercompreensão comunicativa.
Na tradição iniciada por Peirce (2000), a pragmática é uma corrente filosófica da
comunicação que presta especial atenção à relação entre os signos e os seus utilizadores,
compreendendo que, para além das dimensões sintática e semântica na análise do pro-

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cesso sígnico, há uma dimensão contextual, a qual evidencia que o signo não é indepen-
dente da sua utilização.
Desta maneira, na perspectiva pragmática, a validade de uma teoria deve ser
medida pela sua adequação para resolução de problemas práticos do mundo da vida,
sem se restringir às questões exclusivamente teóricas. A teoria consensual da verdade e
da realidade é formulada por Peirce vinculando as noções de verdade e realidade à cren-
ça de uma comunidade de comunicação, onde, nos casos em que estas se mostram
malsucedidas, a consequente dúvida vai provocar uma inquirição com o objetivo de
construir uma nova crença mais evoluída num processo de semiose ilimitada. Esta con-
cepção pioneira da teoria consensual da verdade vai se tornar a engenharia do pensa-
mento moderno, oferecendo as bases de refutação da lógica tradicional.
Importante perceber, contudo, que tais conceitos epistemológicos tratam de ní-
veis distintos de atingir a verdade. Seja porque está posta como exterior ao ser humano,
como produto de disputas ou de consensos, a verdade está no centro das discussões e,
acredita-se, seja possível estabelecer algum nível de conhecimento acerca desta.
O que vemos atualmente com o alarmado fenômeno da pós-verdade – tida como
um substantivo que “se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm
menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pes-
soais” (DICTIONARY, 2016) – vai além até da disputa de poder para conferir signifi-
cados epistemológicos, como acredita a teoria agonística.
Na concepção da pós-verdade, as crenças passam a ser mais importantes do que
as evidências ou qualquer construção social. (Por mais que seja necessário pontuar que
até mesmo tais crenças são frutos de um processo de construção social da realidade).
Trata-se do triunfo da individualidade sobre todos os aspectos epistemológicos. Da ne-
gação do conhecimento, da recusa de reconhecer a legitimidade de certos grupos sociais
como mediadores, bem como da distinção das diversas formas de conhecimento. Na
pós-verdade, são postas em risco as bases sobre as quais foram construídas as institui-
ções democráticas, dentre elas o jornalismo e a própria democracia.

3. A dimensão epistemológica do jornalismo

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No sentido oposto ao da tendência, infelizmente, ainda muito forte de menospre-


zo pela teoria e de absolutização da prática, se pode constatar a complexidade intelectu-
al envolvida no ofício de selecionar e codificar as notícias, com a constatação das impli-
cações epistemológicas e metodológicas que não podem ser dissociadas das tarefas mais
elementares deste ofício de atualizar as referências com que os cidadãos embasam seus
posicionamentos na vida cotidiana.
O papel desempenhado pelo jornalismo, contudo, não é geralmente o que se po-
deria esperar de melhor para a sociedade, como o vislumbrado no seu papel positivo de
fortalecer o sentido do consenso social e contribuir para a evolução do processo civiliza-
tório. Em seu desempenho mais comum, o conhecimento produzido pelos jornalistas
apresenta limitações lógicas decorrentes não só dos condicionamentos culturais históri-
cos, mas também dos problemas estruturais de sua configuração industrial, monopoliza-
da pelo grande capital, o que acarreta uma comunicação sistematicamente distorcida.
Neste sentido, a manipulação ideológica desenvolvida pela indústria das notícias
deve ser vista como uma estratégia do grande capital de supressão das notícias impor-
tantes, como já denunciava em 1901 Edward Ross (2008, p. 92): “(...) o jornal diário
está suprimindo constantemente notícias importantes, como consequência de sua co-
mercialização e de sua frequente submissão a interesses externos”. Com admirável
perspicácia, previa que a supressão das notícias continuaria “acontecendo com maior
frequência no futuro (ROSS, 2008, p. 88).
Na mesma época, Robert Park (2008) também observava que, quando a Institui-
ção do Jornalismo, no desempenho da sua função social de articulação e mediação da
discussão pública, não cumpre suas obrigações de apurar, investigar, interpretar e cobrar
a responsabilidade diante dos valores morais e éticos vigentes na sociedade, não possi-
bilita a formação do tribunal da opinião pública e, por conseguinte, o funcionamento
pleno das instituições democráticas. Neste caso, o jornalismo abdica do poder de influ-
enciar a “formação de opinião pública mobilizando a comunidade para a ação política”
(PARK, 2008, p. 71). Pois, para ele, o papel da imprensa não é simplesmente orientar o
público a respeito das questões envolvidas, pois, além disso, precisa “criar um desejo
coletivo e um poder político o qual, à medida que mobiliza a comunidade, tende a fina-
lizar a discussão. Isso é o que constitui o poder da imprensa” (PARK, 2008, p. 72).

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Historicamente, é preciso registrar que Edward Ross e Robert Park foram perse-
guidos pela ideologia conservadora que respaldou a chamada Mass Communication
Research (MCR), o primeiro sendo demitido da Universidade de Stanford a pedido da
viúva do milionário Stanford e o segundo afastado da direção do departamento de socio-
logia da Escola de Chicago devido à influência do funcionalismo estrutural de Talcott
Parsons (1974), como forma de excluir a filosofia pragmática e o interacionismo simbó-
lico dos estudos acadêmicos sobre a comunicação. Este retrocesso veio significar a
transformação da concepção de controle social exercido pela opinião pública como pos-
sibilidade de regulação dos cidadãos sobre a atuação dos representantes políticos na
mera instrumentalização dos meios de comunicação pela estrutura de poder dos grupos
políticos controladores do aparelho de Estado e das grandes corporações do mercado.
Elizabeth Noelle-Neumann (2003), completando a reflexão de Park, chama a
atenção para a pressão que o tribunal da reputação da opinião pública exerce para indu-
zir as pessoas e governos à conformidade com os valores éticos e morais existentes, sob
pena de serem condenados à desaprovação e ao isolamento social. Segundo Noelle-
Neumann, isto constitui um controle social que se manifesta através do medo do isola-
mento que constrange as pessoas a se manterem em silêncio ao se perceberem contrárias
a um posicionamento tido como majoritário.
A estudiosa alemã desenvolveu também o conceito de “clima de opinião” para
dar conta da complexidade que os veículos de comunicação de massa acrescentam ao
entendimento da noção que o indivíduo tem das tendências do seu meio social. Para
Noelle-Neumann, ao apresentarem um posicionamento minoritário como majoritário, os
meios de comunicação podem induzir os seus apoiadores a manifestarem entusiastica-
mente seus pontos de vista em público, enquanto as demais pessoas, ao se sentirem mi-
noritárias, são pressionadas a se manterem caladas com medo do isolamento social.
Esta distorção na forma de funcionamento das instituições midiáticas expressa
uma tendência anômica que desautoriza os valores éticos e morais imprescindíveis à
vida democrática. Elizabeth Noelle-Neumann (2003, p. 206), exemplifica seu
entendimento relatando o assassinato de um fiscal federal ocorrido na Alemanha em
1977, quando a cobertura midiática foi fraca e não conseguiu articular o tribunal da
opinião pública para condenação do crime:

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Apesar de comentários editoriais tibiamente condenatórios, que apenas ocul-


tavam uma aprovação subjacente, a publicidade produziu uma impressão de
que se podia estar secretamente satisfeito por saber que um fiscal federal ha-
via sido assassinado e que isto podia se expressar publicamente sem correr o
risco de isolamento. Algo semelhante acontece sempre que uma conduta tabu
seja apresentada publicamente – pelo motivo que seja – sem que a qualifi-
quem de má, de algo que se deve evitar ou condenar. É muito fácil saber se
nos encontramos com uma notoriedade que estigmatiza ou com uma que per-
doa um comportamento. Dar a conhecer uma conduta que viola normas sem
censurá-la energicamente a faz mais adequada socialmente, mais aceitável.
Todos podem ver que esta conduta já não isola.

Assim, acreditamos que esta concepção ética da função da instituição jornalística


precisa ser aplicada não só aos veículos tradicionais, mas também ao webjornalismo e à
articulação das discussões desenvolvidas nas mídias digitais, especialmente para enten-
dimento do fenômeno das bolhas informacionais e a disseminação das Fake News.

4. Jornalismo, mediação e construção de consensos na esfera pública


fragmentada

Desde a concepção do termo Esfera Pública por Habermas em Mudança Estrutu-


ral da Esfera Pública que diversos autores têm se empenhado em identificar a evolução
do conceito. O próprio Habermas, ainda na década de 90, revisou diversos aspectos da
proposição original, em resposta às críticas recebidas, na tentativa de esclarecer pontos
polêmicos acerca de sua teoria. Assim, o conceito não apenas continuou em evidência
no universo acadêmico, como é de extrema relevância para compreendermos os fenô-
menos das bolhas informacionais e, consequentemente, das Fake News. Partimos da
concepção original de Esfera Pública como o espaço da vida social em que pessoas pri-
vadas fazem uso público da razão para discutir temas de natureza política. É, deste mo-
do, o espaço de formação da opinião pública. Tal definição leva em conta um momento
histórico específico, a revolução burguesa em países como França e Inglaterra.
Importante salientar que, posteriormente, Habermas (1997, p.92) incluiu em seu
conceito a ideia de esferas públicas plurais “como uma rede adequada para comunicação
de conteúdos, tomada de posição e opiniões; nela os fluxos de comunicação são filtra-
dos e sintetizados a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas
específicos”.

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Uma constelação de espaços comunicativos na sociedade, que permitem a


circulação de informações, ideias, debates – idealmente de forma não-
filtrada, e também a formação da vontade política (opinião política). Esses
espaços em que a comunicação de massa e agora, a nova mídia interativa fi-
guram proeminentemente, também servem para facilitar a criação de links
comunicativos entre cidadãos e os detentores de poder na sociedade
(DAHLGREN, 2005, p.148, tradução nossa).

Diante desse cenário, Dahlgren (2005) nos alerta para os potenciais positivos e
negativos desse processo de fragmentação da esfera pública. Um olhar positivo nos leva
a vislumbrar tais espaços como necessários para que certos grupos tenham um ambiente
seguro (e que se sintam à vontade) para dialogar ‘entre os seus’, em nome de uma diver-
sidade e que possam achar formas de participação úteis.
Já um olhar negativo identifica, para além de uma expansão em termos de espa-
ços comunicativos diversos, uma dispersão das audiências, quando comparados à esfera
pública agrupada mediada pelos meios de comunicação massivos, como tv, jornais e
rádio. “Que a internet facilite uma comunicação heterogênea, o lado negativo desse de-
senvolvimento está na fragmentação, com esferas públicas indo em direção a se torna-
rem ilhas de comunicação política” (DAHLGREN, 2005, p.152, tradução nossa).
A existência de uma esfera pública fragmentada, carente de pontes de conexão
entre suas bolhas, acaba por impactar diretamente na construção de sentido pelo sujeito.
Tal processo assume, desse modo, papel determinante na forma como as Fake News
conseguem se proliferar nos dias atuais.
Berger e Luckmann (2009) falam de duas formas básicas de interação do sujeito
com o mundo social. A experiência pessoal, limitada pelo alcance físico do nosso corpo,
e a experiência mediada, que nos fornece a possibilidade de entrar em contato com rea-
lidades que, de outra forma, não estariam acessíveis. “Experimento a vida cotidiana em
diferentes graus de aproximação e distância, espacial e temporalmente. A mais próxima
de mim é a zona da vida cotidiana diretamente acessível à minha manipulação corporal”
(BERGER, LUCKMANN, 2009, p. 29).
Desse modo, podemos conceber que a construção dos sentidos se estabelece a
partir dessas duas formas de interação com a realidade social. Considerando essa pre-
missa, chegaremos à conclusão de que qualquer alteração nas formas de vivência dos

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espaços públicos e privados leva a uma alteração significativa nos sentidos que serão
construídos pelos indivíduos.
Não à toa, Berger e Luckmann (2012) voltam a este assunto para definir dois
termos essenciais à compreensão do fenômeno das Fake News: as comunidades de vida
e comunidades de sentido. Quando falamos do primeiro tipo, nos referimos aos círculos
sociais estabelecidos através da vivência rotineira. A família, uma ordem religiosa, o
grupo de amigos, etc. Já no segundo caso, tais comunidades não precisam fazer parte da
experiência de vida do sujeito, “podem também ser construídas e mantidas exclusiva-
mente por meio de um agir comunicável e recíproco” (BERGER, LUCKMANN, 2012,
p.30).
Desse modo, a convivência das comunidades de vida obriga a existir um mínimo
de comunidade de sentido em sua lógica interna que garanta a capacidade de algum tipo
de coesão. O contrário já não é verdadeiro. Comunidades de sentido não precisam ter
um mínimo de comunidade de vida em sua lógica, podendo existir um distanciamento
espacial e temporal da experiência do sujeito.
Os autores identificam dois tipos básicos de sociedades: um primeiro tipo de
estrutura social em que existe um sistema único de valores para diversos estratos. Im-
portante perceber que isso não significa a existência de uma única comunidade de vida,
mas que estas sociedades comunicam uma ordem de sentido reafirmada por práticas e
instituições. “Esses processos se localizam em comunidades de vida relacionadas entre
si pelo sentido e em diversos espaços sociais” (BERGER, LUCKMANN, 2012, p.33).
O segundo tipo de estrutura social é marcado pela ausência de valores comuns e
obrigatórios assegurados estruturalmente e que atinjam igualmente todas as esferas da
vida, nem consegue torna-las coesas. Se abre, desse modo, o espaço para crises de sen-
tido intersubjetivas.
Estão colocadas, neste tipo de sociedade, as bases para uma fragmentação da
esfera pública em diversas comunidades de sentido que perdem a capacidade de intera-
gir a partir de valores comuns e interpretações compartilhadas da realidade. (BERGER,
LUCKMANN, 2012).
É exatamente esse movimento que se vê potencializado com a fragmentação da
esfera pública. À medida que nossas experiências são modificadas pelas novas tecnolo-

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gias, acabamos nos recolhendo em comunidades quase autônomas de sentido. Ao entrar


em contato com realidades contraditórias às nossas, nos fechamos cada vez mais nessas
comunidades (bolhas), na esperança de evitar uma crise de sentido. Trata-se, em última
instância, da recusa de sair de um estado natural de suspensão da dúvida, de pôr à prova
nossas convicções. É a escolha pela falsa sensação de segurança em um mundo repleto
de incertezas (BAUMAN, 2018).
Durante o processo de mediação do debate público, o jornalismo desempenhou
historicamente uma função pedagógica e de referência. A partir de enquadramentos
(TUCHMAN, 1978), o jornalista participa da construção da realidade ao nos colocar em
contato e contextualizar informações que, de outra forma, não seriam acessíveis.
O jornalista não só atua sobre a realidade como nos fornece quadros de sentido
para compreendermos o mundo social. Isso significa selecionar quais enquadramentos
serão inclusos em uma notícia segundo critérios de relevância originados da interação
entre o universo possível de interpretações acessíveis ao profissional, as restrições im-
postas pela organização para qual trabalha, a relação com outros campos sociais (nor-
malmente, incluindo as fontes) e um contrato com o público baseado nas expectativas
que se têm sobre a função institucional do jornalismo no ambiente democrático.
Em um ambiente fragmentado, isso pode significar a criação de pontes entre
comunidades de sentido diversas, articulando seus interesses na esfera pública ampla,
contribuindo para o debate e a formação crítica da opinião pública. Por outro lado, caso
esse processo se dê em um nível de comunicação sistematicamente distorcida (HABE-
RMAS, 1997), pode auxiliar na expansão do abismo na construção de sentidos entre
essas comunidades, agravando a crise democrática.
Um dos parâmetros desse exercício jornalístico no ambiente democrático tem a
ver com o caráter de filtro civilizatório a partir do Pós-Guerra (SOARES, 2018, p.9).
Mesmo tendo papel central na criação de um clima de opinião em alguns processos de
ruptura da normalidade democrática – como visto no Brasil, em 2016 – a grande im-
prensa assumiu um compromisso de não dar espaço a algumas ideias antidemocráticas.
O que pode ser visto como uma vitória no que diz respeito à ética do discurso
que passou a circular na grande Esfera Pública, também acabou criando bolhas. Tais
problemas deixaram de emergir no debate público como se tivessem deixado de existir,

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ao invés de serem combatidos. Não dar espaço para um discurso fascista, por exemplo,
não significa deixar de falar sobre ele, mas de construir um posicionamento crítico,
condizente com as funções democráticas (SCHUDSON, 2008) que, se espera, sejam
cumpridas pelo jornalismo.
Do outro lado do espectro, o mesmo pode se dizer sobre discursos minoritários,
que acabaram silenciados, sem a devida representatividade na grande imprensa tradicio-
nal. Fatores que impulsionaram uma espiral do silêncio (NOELLE-NEUMANN, 2003),
relegando-os a guetos (bolhas), que encontraram, em alguns casos, nas características de
comunicação em redes da internet as condições para se articular ao ponto de terem ca-
pacidade de influenciar em uma eleição como a de Trump, nos Estados Unidos.
As Fake News se baseiam justamente nesse processo de isolamento e silencia-
mento para prosperarem. As bolhas conseguiram se formar na internet como verdadeiras
comunidades de sentido, reforçadas por informações que “comprovavam suas crenças”.
Há de se ressaltar o papel fundamental exercido pela personalização como marca
do ambiente digital nos últimos anos. Facebook, Google, Twitter, dentre outros, têm
seus modelos de negócios atrelados ao funcionamento de algoritmos que direcionam
informações voltadas àquilo que demonstramos maior probabilidade de querermos con-
sumir (PARISER, 2012).
Uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, publicada no segundo se-
mestre de 2017, revela que 67% dos americanos possuem algum tipo de consumo de
notícias através do Facebook. Ou seja, estão diretamente impactados pelo processo de
filtragem da plataforma e seus algoritmos.
Cria-se uma cultura da personalização, em que informações são filtradas para
atender às nossas crenças e interesses. “A chance de termos uma relação próxima com
pessoas muito diferentes de nós é cada vez menor [...] e, assim, a chance de entrarmos
em contato com pontos de vistas diferentes diminui” (PARISER, 2012, p. 63).

5. Conclusão

Apesar de não serem um fenômeno exatamente novo, as Fake News ganharam o


status atual de influência no debate político devido a aspectos que potencializaram sua

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difusão e consumo a níveis jamais vistos. Por um lado, trata-se de um fenômeno emi-
nentemente epistemológico, baseado na negação da verdade.
Embora apenas o paradigma positivista conceba a verdade como absoluta, exter-
na ao sujeito, mesmo os teóricos das linhas construtivista ou agonística admitem ser
possível, em algum nível, o conhecimento acerca da verdade, seja como um consenso
ou fruto de disputas de poder. O que o discurso da Pós-Verdade traz é a negação da
episteme em si. Para os defensores do novo paradigma, a verdade não existe nem en-
quanto realidade objetiva, construída ou fruto de disputas. A verdade é simplesmente
aquilo que se acredita como real, independente das evidências e discursos. “Acredito,
logo, existe”, diriam os defensores das Fake News, que surgem justamente nessa esteira.
Consumir informações que reforcem as crenças de cada comunidade de sentido, não
importando o quão não fundamentados sejam os dados, passou a ser uma regra.
O lado epistemológico explica a facilidade com que as pessoas consomem essas
informações sem questionar. É extremamente fácil permanecer no estado natural, com
todas as dúvidas suspensas, envoltos em bolhas de proteção que asseguram nossos sen-
tidos estabelecidos. Mas para explicar o tamanho que o fenômeno atingiu em todo o
mundo ocidental é preciso ir além. Observar os fatores comunicacionais que potenciali-
zaram as Fake News. Como visto ao longo do artigo, não podemos conceber a Esfera
Pública como algo único. Trata-se de uma constelação de espaços comunicativos, que
desaguam em um espaço maior, tradicionalmente mediado pelo jornalismo. Ora, o quão
mais fragmentados forem os espaços de criação de sentido, menor a possibilidade de
interação entre as diversas comunidades de sentido com vias a estabelecer uma constru-
ção intersubjetiva compartilhada da realidade.
Ao mesmo tempo, o jornalismo dominado pelas grandes corporações falhou sis-
tematicamente em desempenhar um papel crítico fundamental para a criação de uma
opinião pública legitimada pela autoridade do público. Fato este que só serviu para
agravar a fragmentação da Esfera Pública e impulsionar o fenômeno das bolhas infor-
macionais e Fake News.
Já a forma como empresas como Facebook e Google têm seus modelos de negó-
cio baseados na economia da atenção, com algoritmos que filtram informações para nos

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entregar apenas aquelas que reforcem nossas escolhas, entra na equação das Fake News
como o mais recente potencializador da circulação dessas informações falsas.
Defendemos, desse modo, que o papel do jornalismo deve ser fortalecido como
meio de enfrentamento ao fenômeno das Fake News, pois reitera-se a necessidade de
uma instituição para mediar o debate público de qualidade, sem o qual torna-se impos-
sível o exercício democrático. “A resposta está, não em um movimento de dissolução
do jornalismo profissional, mas na cooperação de especialistas em comunicação e os
cidadãos ordinários” (CORREIA, 2011, p. 45, tradução nossa).
Com a grande esfera pública fragmentada em menores, faz-se necessário criar
pontes para que as mesmas não acabem por se transformar em bolhas informacionais,
como as criadas pelos algoritmos do Facebook e que vêm provando suas nefastas con-
sequências para a democracia ocidental.

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