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Dissertação Final
Teoria das Ciências Humanas I
1
Há controvérsias acerca da origem do conceito na obra de Weber, como bem explora Antônio Flavio
Pierucci. Aqui seguimos a posição do autor, segundo a qual o sociólogo alemão teria se inspirado na
seguinte expressão de Schiller, pensada para condensar os nefastos impactos da modernidade sobre a
natureza: “Entgötterung der Natur”. (PIERUCCI, 2003, p.30)
Enquanto o pensamento esclarecedor é aquele que almeja a pura objetividade e neutralidade
do conhecimento, o pensamento mítico, congênere do animismo e da magia, não consegue
abstrair os elementos subjetivos do que pretende conhecer. Afirmam os autores: “Para ele o
elemento básico do mito foi sempre o antropomorfismo, a projeção do subjetivo na natureza.
O sobrenatural, o espírito e os demônios seriam as imagens especulares dos homens que se
deixam amedrontar pelo natural” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.22). É nesse sentido
que o Esclarecimento é “desmagificador” e desmistificador, ou seja, na medida em que se
pretende numa relação de disjunção completa com o mito.
O grande teor crítico da tese central dos autores, contudo, incide justamente nesse
ponto, pois ela pretende solapar qualquer pretensão de validade de uma disjunção completa
entre esclarecido e o mitológico. Apesar de demarcar diferenças importantes entre ambos2, os
autores afirmam um solo comum entre magia e ciência, mito e esclarecimento. Esse solo
parece ser o do medo “A duplicação da natureza como aparência e essência, ação e força, que
torna possível tanto o mito quanto a ciência, provém do medo do homem, cuja expressão se
converte na explicação” (idem, p.29). A explicação mítica do mundo que toma Zeus como
origem dos raios, ou a científica que os explicam pela eletrodinâmica, aproximam-se quando
compreendidas como mera expressão do medo humano para com o desconhecido e o insólito
na natureza3. Além disso, os autores enxergam aquela distinção entre subjetividade e
objetividade que por vezes ensejou as investidas do esclarecimento científico sobre o
mitológico já presente num período “pré-animista”. EXEMPLO, AI CIT P.29
Mas, tal aproximação é apenas um passo para compreender a complexa relação entre
esclarecimento e mito, afinal, sua tácita comunhão não está somente marcada por uma remota
origem comum no medo primitivo face o desconhecido, mas resplandece sob o signo da
dominação. Para Adorno e Horkheimer tanto a magia, a “técnica” do animismo mitológico no
trato com as potências naturais, quanto a própria técnica do saber científico, desdobram-se
2 Como a distinção entre “fungibilidade universal”, própria do esclarecimento científico, e a
“substitutividade específica”, própria dos ritos mágicos do mito; além da sensível diferença na abordagem
do mundo e do objeto, na medida em que a objetividade científica é garantida por um distanciamento e
uma neutralidade em relação ao que se quer conhecer e controlar, enquanto na magia há um
procedimento mimético de aproximação em relação ao objeto. (Cf. pp.24-5)
3 Dado isso, pode-se compreender porque “o esclarecimento é a radicalização da angústia mítica”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.29), pois a estrutura da ciência unitária ou dos grandes sistemas
filosóficos totalizantes, sintomas de que “o esclarecimento só reconhece como ser e acontecer o que se
deixa captar pela unidade” (idem, p.22), nada mais representam que o primitivo anseio obsessivo que
deseja expurgar todo o desconhecido da face do mundo, afinal “nada mais pode ficar de fora, porque a
simples ideia do ‘fora’ é a verdadeira fonte da angústia” (idem, p.29) .
sobre o registro da dominação da natureza: “O que os homens querem aprender da natureza é
como empregá-la para dominar completamente a ela e aos homens. Nada mais importa.”
(idem, p.20.), e desse modo, tanto no âmbito mítico quanto no científico “a essência das
coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato da dominação” (idem, p.24)
BIBLIOGRAFIA