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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E


CIÊNCIAS HUMANAS

Dissertação Final
Teoria das Ciências Humanas I

Razão e Dominação na “Dialética do Esclarecimento”

Nome: Daniel Sposito Coelho


NºUSP: 9339859
Turno: Tarde
Professor: Eduardo Brandão
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“A epopeia já contém a teoria correta. O patrimônio cultural está em exata correlação com
o trabalho comandado, e ambos se baseiam na inescapável compulsão à dominação social
da natureza.” (HORKHEIMER, M; ADORNO, T. Dialética do Esclarecimento, p.45)
A “Dialética do Esclarecimento” (1947), produzida em conjunto por Theodor Adorno
(1903-1969) e Marx Horkheimer (1895-1973), em meio ao nefasto período da Segunda
Guerra Mundial, possui um mote bastante claro: “descobrir por que a humanidade, em vez de
entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de
barbárie” (1985, ADORNO; HORKHEIMER, p.11). Nesse sentido, a obra é profundamente
inserida em seu contexto histórico-político, pois é completamente plausível que aquela tarefa
geral possa ser reformulada como um questionamento sobre as origens do totalitarismo
fascista que vicejava à época, de modo que compreender como “o nazismo, o extermínio
como assassinato burocrático e elevado à razão de Estado, tenha surgido no coração da
Europa dita “civilizada” é o foco perplexo que dá o leitmotiv do livro” (2004, TIBURI;
DUARTE, p.10). Contudo, se a obra possui um motivo historicamente situado, por outro
lado, a “Dialética do Esclarecimento” desdobra-se muito além do contexto do fascismo na
Europa da primeira metade do Séc. XX. Como se estivesse procurando recuperar, em meio as
mais recônditas origens do processo civilizador, um fio que levasse diretamente à barbárie
fascista, a obra pretende ser uma crítica radical que penetra e examina a história de formação
de nossa Civilização e Cultura como um todo. Os meandros e rincões dessa longa história são
abordados a partir daquela noção de “Esclarecimento” (Aufklärung), que não se deixa
compreender de imediato, pois se desloca de seu emprego usual no famigerado movimento
intelectual do século XVIII, “Idade das Luzes” ou “Iluminismo”, ampliando-se para abarcar
todo um processo que caracteriza a civilização ocidental desde seus primórdios. “Dialética do
Esclarecimento” é como chamam a história desse processo, cuja característica fundamental,
os autores querem mostrar, é a compulsão à dominação total da natureza.

O excerto em epígrafe neste texto é retirado da análise de um episódio da Odisseia de


Homero, o canto XII, que narra o encontro de Ulisses com as sereias. Para os autores há ali,
como em toda a epopeia, elementos que “pressagiam alegoricamente a dialética do
esclarecimento” (DE, p.45). Numa de suas demonstrações de astúcia, o herói homérico
arquiteta um plano de ação capcioso diante de um desafio amedrontador: para passar ileso
pelas sedutoras e perigosas sereias sem perder a experiência da beleza de seu canto, Ulisses
tampa os ouvidos de seus servidores marinheiros, enquanto ordena que o amarrem ao mastro
da embarcação, sem, todavia, estender aos seus ouvidos o mesmo expediente. Analisando
esse episódio, entre diversos outros da epopeia, os autores da Dialética desenvolvem uma
série de desdobramentos de sua tese central segundo a qual “o mito já é esclarecimento e o
esclarecimento acaba por reverter à mitologia”. (1985, ADORNO; HORKHEIMER, p.15).
De fato, esse episódio contém o que parece ser a essência do processo civilizador para os
autores, pois, nele observa-se claramente a dominação articulada contra as forças da natureza,
representadas pelas sereias, a dominação interna do homem consigo mesmo, representada por
Ulisses atado ao mastro por seu próprio comando, e também a dominação de homem sobre
homem, articulada em uma injusta divisão social do trabalho, todas intimamente conectadas a
uma racionalidade que, sob a forma da astúcia, busca adequar meios a fins com objetivo de
controlar e lograr a natureza. Neste texto, pretendemos elaborar o conceito de
Esclarecimento, bem como explorar, de modo geral, algumas características centrais de seu
desenrolar histórico, a fim de compreender melhor os sentidos desse entrelaçamento entre
Razão e Dominação, e, seguindo a tese central da mútua conversibilidade entre
Esclarecimento e Mito, alguns aspectos da leitura dos autores sobre a Odisseia, ressaltando
primariamente a noção de autoconservação atrelada a razão esclarecedora.

Para Adorno e Horkheimer, a declaração de intenções e projetos orgulhosamente


admitida pelos arautos do Esclarecimento, dentre os quais os autores elegem Francis Bacon
como o grande representante moderno, sempre fora o programa do “desencantamento do
mundo” (Entzauberung der Welt). Esse conceito é emprestado de Max Weber, que o
desenvolve a partir de uma formulação de Schiller1. No pensamento do sociólogo, a
expressão assume o sentido de um processo de “desmagificação da atitude ou mentalidade
religiosa” que explicaria o “desenvolvimento sui generis do racionalismo ocidental, ao
mesmo tempo que é, ele mesmo, um processo histórico de desenvolvimento” (id, p.59). O
emprego da noção “desencantamento do mundo” em Adorno e Horkheimer parece preservar
o aspecto procedural e histórico, contudo, afasta uma linearidade do processo, na medida em
que o inicial desencantamento capitaneado pelo esclarecimento reverte-se, quase que
ciclicamente em um movimento de contínua auto-supressão, à mitologizaçao.

Na visão dos autores, o Esclarecimento propõe-se a desbancar as superstições, a


crendice, a ignorância, mediante a substituição da imaginação pelo saber, a fim de “livrar os
homens do medo e de investi-los na posição de senhores” (ADORNO; HORKHEIMER,
1985, p.19), o que se traduziu, desde os primórdios da filosofia grega antiga, até o
desenvolvimento da ciência experimental moderna, numa declaração de guerra contra o mito.

1
Há controvérsias acerca da origem do conceito na obra de Weber, como bem explora Antônio Flavio
Pierucci. Aqui seguimos a posição do autor, segundo a qual o sociólogo alemão teria se inspirado na
seguinte expressão de Schiller, pensada para condensar os nefastos impactos da modernidade sobre a
natureza: “Entgötterung der Natur”. (PIERUCCI, 2003, p.30)
Enquanto o pensamento esclarecedor é aquele que almeja a pura objetividade e neutralidade
do conhecimento, o pensamento mítico, congênere do animismo e da magia, não consegue
abstrair os elementos subjetivos do que pretende conhecer. Afirmam os autores: “Para ele o
elemento básico do mito foi sempre o antropomorfismo, a projeção do subjetivo na natureza.
O sobrenatural, o espírito e os demônios seriam as imagens especulares dos homens que se
deixam amedrontar pelo natural” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.22). É nesse sentido
que o Esclarecimento é “desmagificador” e desmistificador, ou seja, na medida em que se
pretende numa relação de disjunção completa com o mito.

O grande teor crítico da tese central dos autores, contudo, incide justamente nesse
ponto, pois ela pretende solapar qualquer pretensão de validade de uma disjunção completa
entre esclarecido e o mitológico. Apesar de demarcar diferenças importantes entre ambos2, os
autores afirmam um solo comum entre magia e ciência, mito e esclarecimento. Esse solo
parece ser o do medo “A duplicação da natureza como aparência e essência, ação e força, que
torna possível tanto o mito quanto a ciência, provém do medo do homem, cuja expressão se
converte na explicação” (idem, p.29). A explicação mítica do mundo que toma Zeus como
origem dos raios, ou a científica que os explicam pela eletrodinâmica, aproximam-se quando
compreendidas como mera expressão do medo humano para com o desconhecido e o insólito
na natureza3. Além disso, os autores enxergam aquela distinção entre subjetividade e
objetividade que por vezes ensejou as investidas do esclarecimento científico sobre o
mitológico já presente num período “pré-animista”. EXEMPLO, AI CIT P.29

Mas, tal aproximação é apenas um passo para compreender a complexa relação entre
esclarecimento e mito, afinal, sua tácita comunhão não está somente marcada por uma remota
origem comum no medo primitivo face o desconhecido, mas resplandece sob o signo da
dominação. Para Adorno e Horkheimer tanto a magia, a “técnica” do animismo mitológico no
trato com as potências naturais, quanto a própria técnica do saber científico, desdobram-se
2 Como a distinção entre “fungibilidade universal”, própria do esclarecimento científico, e a
“substitutividade específica”, própria dos ritos mágicos do mito; além da sensível diferença na abordagem
do mundo e do objeto, na medida em que a objetividade científica é garantida por um distanciamento e
uma neutralidade em relação ao que se quer conhecer e controlar, enquanto na magia há um
procedimento mimético de aproximação em relação ao objeto. (Cf. pp.24-5)
3 Dado isso, pode-se compreender porque “o esclarecimento é a radicalização da angústia mítica”

(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.29), pois a estrutura da ciência unitária ou dos grandes sistemas
filosóficos totalizantes, sintomas de que “o esclarecimento só reconhece como ser e acontecer o que se
deixa captar pela unidade” (idem, p.22), nada mais representam que o primitivo anseio obsessivo que
deseja expurgar todo o desconhecido da face do mundo, afinal “nada mais pode ficar de fora, porque a
simples ideia do ‘fora’ é a verdadeira fonte da angústia” (idem, p.29) .
sobre o registro da dominação da natureza: “O que os homens querem aprender da natureza é
como empregá-la para dominar completamente a ela e aos homens. Nada mais importa.”
(idem, p.20.), e desse modo, tanto no âmbito mítico quanto no científico “a essência das
coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato da dominação” (idem, p.24)

CHEGAR A AUTOSUPRESSÃO DO ESCLARECIMENTO


(“PERPETUO CREPUSCULO DOS IDOLOS”), A
MITOLOGIZAÇÃO DO ESCLRECIMENTO E LEMBRAR DA
COMO AUTOSUPRESSÃO DA VERDADE DEPOIS PARTIR
PRA AUTOCONSERVAÇÃO

BIBLIOGRAFIA

ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Marx. Dialética do Esclarecimento. Tradução


Guido de Almeida, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

DUARTE, Rodrigo. Adorno/Horkheimer & A dialética do esclarecimento. (2ªed). Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

TIBURI, Marcia; DUARTE, Rodrigo. (Organizadores) Seis leituras sobre a Dialética do


Esclarecimento. Ijuí: Unijuí, 2009.

PIERUCCI, Antônio. O desencantamento do mundo: Todos os passos do conceito em Max


Weber. São Paulo: Ed.34, 2003.

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