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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002125-97.2014.8.26.0244 e código RI000001RBYI5.
Registro: 2019.0000591520

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 0002125-


97.2014.8.26.0244, da Comarca de Iguape, em que é apelante CARLOS EDUARDO
FARIA LOURENÇO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO ao recurso.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALCIDES MALOSSI JUNIOR, liberado nos autos em 30/07/2019 às 18:05 .
COMUNIQUE-SE, respeitado prazo de eventuais "Embargos", recomendando o apelante
na unidade prisional onde se encontra, com atenção à modificação da causa do
encarceramento, agora por sentença condenatória confirmada em Segundo Grau. Expeça-
se GUIA DE EXECUÇÃO (se necessário), preservando-se, se o caso, eventuais decisões
em Execução Provisória. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SÉRGIO


COELHO (Presidente) e SILMAR FERNANDES.

São Paulo, 25 de julho de 2019

ALCIDES MALOSSI JUNIOR


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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São Paulo

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APELAÇÃO CRIMINAL nº 0002125-97.2014.8.26.0244.
Apelante: CARLOS EDUARDO FARIA LOURENÇO (Advogados, Dr.
Alexandre Crepaldi e Dr. Marcos Milan Gimenez).
Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo.
Sentença técnica: Juiz de Direito Dr. Guilherme Henrique dos
Santos Martins.
Comarca: Iguape.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALCIDES MALOSSI JUNIOR, liberado nos autos em 30/07/2019 às 18:05 .
VOTO Nº 14.906.

PENAL. PROCESSUAL PENAL.


APELAÇÃO. HOMICÍDIOS
QUALIFICADOS, CONSUMADO E
TENTADO. CONDENAÇÃO. RECURSO
DEFENSIVO.

Pretendida anulação do julgamento por


manifesta contrariedade às provas no
tocante às qualificadoras, com pleitos
subsidiários pela redução das penas
iniciais e provisórias, bem como da fração
da tentativa. Impertinência.

1. Inviabilidade da pretendida anulação do


julgamento. Manifesta contrariedade do
veredicto às provas. Tese defensiva que
não se deve albergar. Viabilidade da tese
eleita. Prevalência diante da norma
constitucional relativa à soberania dos
veredictos. Respaldo em provas
testemunhais. Qualificadora da surpresa.
Inexistência de prévio liame entre as
vítimas e o réu, cuja arma de fogo, oculta

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debaixo do banco do veículo, foi
empregada repentinamente. Entendimento
dos jurados, que decidem com base na
íntima convicção, afastando os aludidos
disparos para o alto como fator de
mitigação da qualificadora. Palavra do réu,
não corroborada por nenhuma
testemunha, de forma assertiva.
Qualificadora do perigo comum. Evidência
lógica e apoio nas provas. Interrogatórios
do réu e testemunhos confluentes acerca

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de disparos contra grupo de pessoas que
deixava as dependências do espetáculo
musical. Irrelevante que o número
indeterminado possa ser adstrito a apenas
parte da multidão ali presente.
Interpretação técnica do conceito, na linha
defensiva, que ora não se acolhe.
Qualificadoras mantidas, porque
pertinentes em vista do teor das provas.
Pedido de anulação ora indeferido.

2- Adequado dimensionamento das penas.


A) Pena-base. Elevação. Correta
individualização das penas. Condenação
pretérita por crime eleitoral. Maus
antecedentes como fator idôneo a justificar
o incremento das penas iniciais. B)
Elevação das penas intermediárias.
Fração adequada. Cabimento. Alusão à
agravante do art. 61, II, “c”, do CP, na
sentença técnica, que ora se mantém,
porque corresponde à qualificadora do art.
121, § 2°, IV, do CP. Incremento adequado
e, por isso, preservado. C) Homicídio
tentado contra D.U.C.P.. Fração redutora
em 1/3. Proporcionalidade. Vítima, que
nem avançara contra o réu, alvejada na
testa, onde se alojou o projétil, como
mostram as provas orais e periciais. Maior
grau de proximidade com a consumação
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delitiva. Diminuição mínima que ora se
confirma. Penas inalteradas.

Negado provimento.

VISTO.

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Trata-se de “APELAÇÃO CRIMINAL”,
interposta pelo acusado CARLOS EDUARDO FARIA
LOURENÇO, contra r. sentença técnica, apoiada no veredicto
condenatório do Tribunal do Júri, proferida pelo Juízo de
Direito da 1ª Vara Judicial da Comarca de Iguape (cf. certidão de
publicação da sentença, em plenário do júri que se realizou em 1°/10/2018 fls.

888/891).

Consta que o réu Carlos Eduardo (qualificado


indiretamente a fls. 80) foi, inicialmente, denunciado por dois
homicídios qualificados, um consumado, outro tentado,
porque, em 30/05/2014, por volta das 03h50min da
madrugada, no Centro de Eventos de Iguape, localizado na

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Rua Saldanha Marinho, bairro Canto do Morro, na cidade e
Comarca de Iguape, agindo com intenção homicida (“animus
necandi”), instilado por motivo torpe, por meio de conduta
que gerou perigo comum, e mediante recurso que
dificultou ou impossibilitou a defesa das vítimas, efetuou
disparos de arma de fogo contra Orlando Simão Junior, os

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quais se provaram causa eficiente da morte deste (cf. laudo

necroscópico fls. 48) e, ainda, no mesmo contexto, efetuou


disparos de arma de fogo contra Danilo Ubiracy Costa Pupo,
produzindo-lhe ferimentos constitutivos de lesões corporais
de natureza grave (cf. laudo pericial de exame de corpo de delito fls.

132), só não se consumando o resultado letal por razões


alheias à vontade do acusado (conforme denúncia fls. 1d/4d,

recebida na data de 20/10/2014 fls. 100/105). De acordo com a


incoativa, no local dos fatos, realizaram-se espetáculos
musicais, cujo pináculo fora a apresentação do cantor
popular Luan Santana. Carlos Eduardo fazia-se
acompanhar por sua namorada Tamiris Pereira da Silva
Santos. Outra frequentadora do Centro de Eventos citado era
Elen Mara Domingues, ex-companheira do acusado. Por
razões pouco elucidadas, Tamiris e Elen, após possíveis
provocações mútuas, lançaram-se em uma altercação
corporal. Carlos Eduardo interveio em favor de Tamiris,
agredindo Elen com chutes, socos e tapas. Em virtude dessa

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diatribe, outros frequentadores, ainda que sem relação
pessoal direta com os envolvidos, puseram-se entre os
contendores, para que cessassem as agressões. Ainda
segundo o Ministério Público, o acusado irritou-se com o
apaziguamento. Logo na sequência, dirigiu-se até seu
automóvel, estacionado em uma área próxima ao alambrado

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(zona reservada a autoridades públicas, como era o caso de Carlos Eduardo,
conhecido na região, inclusive em Iguape, por suas atividades políticas, tanto que

exercia o cargo de Vereador do Município vizinho de Ilha Comprida). Municiou-

se de uma arma de fogo, de calibre .38 (como se aferiria


posteriormente, quando da apreensão do projétil que alvejou Danilo laudo

pericial de fls. 98/99), não apreendida, e, de pronto, desfechou


alguns disparos, dos quais um atingiu Orlando,
transfixando a caixa craniana, e um, Danilo, também na
cabeça. Orlando agonizou por alguns instantes, porém
acabou falecendo antes de chegar ao pronto-socorro. Danilo,
mesmo ferido, logrou abrigar-se e clamar por socorro,
sobrevivendo a seus ferimentos. Carlos Eduardo retornou
ao automóvel, e, na companhia de Tamiris, deixou o local em
fuga, homiziando-se em local desconhecido. Alertada sobre
os fatos, a Polícia Militar empreendeu diligências, que
culminaram na localização do automóvel. No interior, foram
localizados a jaqueta de couro trajada pelo réu (um dos fatores

de reconhecimento do acusado) e um papelote de cocaína,


devidamente apreendidos (cf. auto de exibição e apreensão fls. 10/10-
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v; exame toxicológico definitivo fls. 67). Uma vez que apresentada a
“notitia criminis”, deflagrou-se a persecução penal contra o
acusado.

Após o devido processamento do feito,

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Carlos Eduardo foi pronunciado nos termos da própria
denúncia (fls. 426/437). Publicada em 1°/04/2016 (fls. 439), a
decisão não foi impugnada, tramitando o feito para a fase de
plenário (“iudicium causae”). Na segunda etapa do procedimento,
sobreveio veredicto condenatório, com relação a ambos os
crimes (termo de votação fls. 667/667-v). No entanto, em relação a
um dos homicídios, o tentado (vítima Danilo), os jurados
reconheceram o privilégio do artigo 121, § 1°, do Código
Penal, ao passo que, para o homicídio consumado (vítima
Orlando), referida causa de diminuição de pena não foi
aplicada. Sobreveio, então, sentença, condenando-se à
pena total estimada em 23 (vinte e três) anos, 07 (sete)
meses e 03 (três) dias de reclusão, em regime inicial
fechado (fls. 668/671-v). Esse primeiro julgamento foi
ANULADO. A sentença foi objurgada pelo Ministério
Público, insurgente contra o reconhecimento singular do

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privilégio apenas para o homicídio tentado (fls. 695/704). A
Defesa também apelou da sentença (fls. 721/742). Contrariados
(fls. 708/713, 745/753) e jungidos a parecer da douta Procuradoria
Geral de Justiça (fls. 755/758), a C. 9ª Câmara Criminal da E.
Corte de Justiça paulista, sob a relatoria de Sua Excelência,
Desembargador Amaro Thomé, proveu integralmente o

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recurso ministerial, negando provimento ao recurso defensivo
(fls. 771/776). Publicado em 22/03/2018 (fls. 777), o v. acórdão
passou em julgado para as partes, como consignado a fls.
779. Realizou-se novo julgamento em plenário. Os jurados
acolheram a tese ministerial, sem aplicar privilégio a
nenhum dos crimes, tendo ficado afastada apenas a
qualificadora relativa ao motivo torpe (cf. termo de votação fls.

886/886-v). Por conseguinte, o apelante Carlos Eduardo foi


condenado como incurso no artigo 121, § 2°, III e IV, do
Código Penal (vítima Orlando), assim como no artigo 121, § 2°,
III e IV, c/c artigo 14, II, ambos do Código Penal (vítima Danilo),

respectivamente às penas de 16 (dezesseis) anos e 04 (quatro)


meses de reclusão, em regime inicial fechado, e de 10
(dez) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão,
também em regime inicial fechado (fls. 888/891). A sentença
publicou-se no plenário datado de 1°/10/2018, conforme
antecipado.

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O réu Carlos Eduardo está PRESO. Por
decisão de 30/05/2014, foi-lhe decretada a prisão temporária
(fls. 34). Homiziado da Justiça, ele não foi detido então. Por
ocasião do recebimento da denúncia, o Juízo “a quo”
INDEFERIU o pedido ministerial para decretação da prisão
preventiva (fls. 100/105). A decisão foi impugnada pelo

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Ministério Público (fls. 144/123). Tal recurso, devidamente
contrariado (fls. 178/196), restou provido pela C. 9ª Câmara
Criminal desta E. Corte de Justiça (conforme informações do apenso

próprio). No entanto, na mesma época, informações prestadas


diretamente ao Ministério Público pela testemunha Luiz
Alberto Cortelazi, então assessor do réu na Câmara
Municipal de Ilha Comprida (fls. 215/217), delataram esforços
deste último em influenciar ou ameaçar testemunhas. Daí, ter-
lhe sido decretada prisão preventiva, “a posteriori”, por
decisão de 24/02/2015 (fls. 218/219), cumprindo-se o mandado
de prisão na mesma data (fls. 228-v). Como consequência, o
“habeas corpus” impetrado junto ao Colendo Superior
Tribunal de Justiça contra a decisão de provimento no
recurso em sentido estrito foi julgado prejudicado, sob a
relatoria do i. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (HC
315.270/SP apenso próprio). Em etapa processual posterior, foi
igualmente desprovido (RHC 60.436/SP fls. 395/405, apenso próprio).

Na ação penal de base, o pedido de liberdade provisória,


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formulado pela Defesa, foi também rejeitado, na decisão
datada de 04/05/2015 (fls. 280). Por ocasião da pronúncia e
dos sucessivos julgamentos perante o Tribunal Popular,
confirmaram-se, por todas as vezes, os pressupostos
técnicos de preservação da custódia cautelar, de forma que
ao increpado se indeferiu, após o derradeiro plenário, o

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apelo em liberdade.

Dos autos não consta qualquer certidão de


trânsito em julgado da sentença para a Acusação.

Via apelação, visa o réu à anulação do


julgamento, por ser manifestamente contrário às provas no
que se refere ao reconhecimento das qualificadoras perigo
comum e recurso que dificultou/impossibilitou a defesa das
vítimas. Em caráter subsidiário, pugna pela redução da pena-
base, pelo recorte da agravante (mal sopesada na sentença) do
artigo 61, II, “c”, do Código Penal, e, no caso do crime
tentado, pela exasperação da fração redutora (fls. 921/944).

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Contrarrazões ministeriais (fls. 949/955),

alvitrando o não provimento do apelo defensivo.

A d. Procuradoria Geral de Justiça alvitrou o


não provimento do apelo (fls. 958/961).

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É o relatório.

O apelo não comporta provimento.

De proêmio, de rigor analisar, em juízo de


prelibação, a questão da intempestividade do apelo
defensivo (cf. certidão da diligente Serventia fls. 945), a cargo deste
Relator, nos termos de despacho emanado da i. Presidência
da Seção Criminal, atualmente sob cura de Sua Excelência,
Dr. Fernando Torres Garcia (fls. 948). Nesse ponto, impende

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reconhecer que o apelo é tempestivo, estando ainda
presentes todos os demais pressupostos legais e de
admissibilidade do recurso, evidente que é o interesse
técnico do apelante, por sua posição processual de réu
princípio da sucumbência. Explico. Primeiro, a certidão é
clara em apontar ter havido a intempestividade na

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apresentação das razões recursais. Na ata de plenário (fls.
891), ficou consignado que os n. defensores já haviam
interposto recurso, oralmente, “in acto”, com posterior
intimação, via imprensa oficial, para carrear as razões.
Foram-no pelo Diário Oficial de 04/10/2018 (fls. 903/905).

Embora a petição de interposição tenha sido aforada apenas


em 09/10/2018 (fls. 911/912), e, o respectivo arrazoado, só em
14/01/2019 (fls. 921), muito depois do esgotamento do prazo
fixado, em oito dias, contados a partir da vista aos n.
defensores em 14/11/2018 (fls. 916), em última instância, a
interposição do apelo foi em si mesma processada
no momento do encerramento do plenário.
Prestigiando a garantia da ampla defesa, sob os auspícios do
princípio da instrumentalidade das formas, este Julgador
entende que a intempestividade das razões recursais perfaz
mera irregularidade, não se podendo reverter em prejuízo do
próprio acusado.

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Nesse sentido, já se posicionou o Colendo
Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUNAL DO JÚRI.


APELAÇÃO DA DEFESA. TEMPESTIVIDADE.
APRESENTAÇÃO DAS RAZÕES FORA DO PRAZO.

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MERA IRREGULARIDADE. DECISÃO DO CONSELHO
DE SENTENÇA. NULIDADE. APELAÇÃO. ART. 593,
INCISO III, ALÍNEA A, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. OFENSA AO ART. 478, INCISO I, DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL NÃO CONFIGURADA. MERA
MENÇÃO DA PROMOTORIA, EM MOMENTO
ANTERIOR AOS DEBATES ORAIS, A ACÓRDÃO QUE
ANULOU A DECISÃO ABSOLUTÓRIA DO ACUSADO.
ARGUMENTO DE AUTORIDADE NÃO
CONFIGURADO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO
E PROVIDO. 1. Este Superior Tribunal de Justiça tem
entendimento firmado, em consonância com o
Supremo Tribunal Federal, que a apresentação das
razões da apelação fora do prazo constitui mera
irregularidade que não obsta o conhecimento do
apelo. Precedentes. 2. A reforma do Código de
Processo Penal realizada pela 11.689/2008, que incluiu
o inciso I do art. 478, vedando a menção à decisão de
pronúncia, por ocasião dos debates no Tribunal do Júri,
teve como escopo reafirmar a soberania do Conselho de
Sentença e a independência de suas decisões, que
devem ser prolatadas sem influências tendenciosas e
dirigidas a comprometer a imparcialidade dos jurados,
em prejuízo ou a favor do réu. 3. Nessa linha, a mera
menção ou mesmo leitura de decisão que julgou
admissível a acusação não implicam, obrigatoriamente,
a nulidade do julgamento, até mesmo pelo fato de os
Jurados possuírem amplo acesso aos autos. Assim,
somente resta configurada a ofensa ao art. 478, inciso I,

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do Código de Processo Penal, se as referências forem
feitas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado. Precedente deste STJ. 4. No
caso, a mera menção feita pela Acusação ao acórdão
que anulou a decisão do Conselho de Sentença que
absolvera o Réu, sem referir-se aos seus fundamentos,
no momento em que contestava o requerimento da
Defesa de formulação de quesito de falso testemunho
para os peritos, ou seja antes dos debates orais, não
configura a manifestação da Promotoria como
argumento de autoridade capaz de quebrar a construção

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imparcial da convicção dos jurados. 5. Recurso especial
conhecido e provido para restabelecer a decisão
condenatória do Conselho de Sentença. (RESp.
1.194.933/AC, Relatora Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma,
votação unânime, DJe 03/02/2014)

Portanto, o recurso deve ser reputado


tempestivo e, a despeito da serôdia apresentação das
respectivas razões, regularmente processado.

Passo ao mérito propriamente dito.

Autos compostos pelos depoimentos


extrajudiciais mais relevantes (fls. 12/12-v, 37/38, 40/40-v, 41/42,

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 1 4/42


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43/44, 45/46, 47/47-v, 62/62-v, 69/69-v, 70/70-v, 215/217). Base probatória
formada por: auto de exibição e apreensão da jaqueta e de
um papelote de cocaína, pertencentes (supostamente) ao réu
(fls. 10/10-v); auto de exibição e apreensão do projétil
desfechado contra Danilo (fls. 54); exame toxicológico
definitivo, confirmatório da natureza “cocaína”, relativa ao

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conteúdo do papelote (fls. 67); laudo necroscópico (fls. 48);

laudo pericial do projétil (fls. 98/99); laudo pericial do automóvel


usado pelo réu (fls. 130/131); laudo pericial de exame de corpo
de delito em Danilo (fls. 132); laudo pericial de
reconstituição (fls. 158/171). Na fase de sumário de culpa,
foram ouvidas as testemunhas Arthur Reizer Marcondes
Rampin, Claudio Luciano Bernardo de Oliveira, Fernando
Oliveira de Souza, Jenifer Silva Angelo, Luiz Alberto
Cortelazi, Osimar de Veras Matos, Renan Xavier Pereira e
Tamiris Pereira da Silva Santos (mídia, fls. 276). Na mesma
audiência, Luiz Alberto e Renan foram submetidos à
acareação. Foram ouvidas, ainda, as testemunhas (ordem
cronológica), José Roberto Santiago Gomes (mídia, fls. 299),

Amauri Silva Lopes (fls. 312) e Elen Maria Rodrigues (fls.


358/362). Da mesma forma, a vítima Danilo Ubiracy Costa
Pupo prestou depoimento nessa fase (fls. 327/331-v). Ao final, o
acusado foi interrogado (mídia fls. 377). Por ocasião do
primeiro plenário, Osimar, Renan e Luiz Alberto foram
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ouvidos novamente, a que se seguiu o primeiro
interrogatório, em plenário, do réu (mídia fls. 679). Já quando
da realização do segundo plenário, depuseram Danilo, Elen,
Jenifer, Luiz Alberto, Osmar, Renan e Tamiris, sendo o réu
Carlos Eduardo interrogado, pela terceira vez (mídia fls. 887).

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O arrazoado não chegou a inquinar como
manifestamente contrário às provas o ponto nodal do mérito,
isto é, o reconhecimento da “culpa”, propriamente dita, do
acusado (quesito n° 03, propriamente, em ambas as séries de votação fls.

886/886-v). Com efeito, o réu declarou-se autor dos disparos,


em todas as vezes em que foi ouvido. Sem dúvida, sua
narrativa obtemperou as circunstâncias, tendo sempre
asseverado que o fez em legítima defesa própria. Ademais,
além de tal relato, induvidoso quanto à identificação do
agente dos crimes, a materialidade está fartamente
demonstrada nos autos, em vista do cabedal de provas,
citado pouco acima. Destaco, nesse viés, o exame
necroscópico (fls. 48) e o exame de corpo de delito (fls. 132),

relativos às vítimas Orlando (fatal) e Danilo (sobrevivente).


Ademais, no plano da autoria, além dos interrogatórios do
réu, há diversos depoimentos relacionando Carlos Eduardo

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ao protagonismo do caso, sendo este apontado como efetivo
autor de vários disparos. Os testemunhos oculares chegam a
divergir quanto à dinâmica dos fatos, porém, todos em
uníssono fazem coro à admissão de Carlos Eduardo
como autor dos crimes.

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É compreensível, pois, que o arrazoado dos
claramente esmerados advogados se tenha detido pela
anulação do julgamento, impugnando-se, especificamente,
o acolhimento das qualificadoras dos incisos III e IV do
artigo 121, do Código Penal (repete-se: a sentença foi de parcial

procedência, tendo os jurados afastado a qualificadora subjetiva do motivo


torpe). Respeitados os argumentos lançados na peça recursal,
o apelo não merece prosperar, devendo ser improvido.

Inicialmente, lanço a premissa, sempre de


conveniente recordação, acerca da soberania dos
veredictos. Escorada em norma constitucional, logo, de
posição hierárquica privilegiada (artigo 5°, XXXVIII, “c”, da Carta

Magna de 1988), a cláusula fundamental em questão significa

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que a rescindibilidade do veredicto está atrelada à
demonstração, pelo apelante, da manifesta (clara, inequívoca,

inconcussa) contrariedade da linha técnica adotada pelos


jurados com o conteúdo das provas, inclusive no tocante às
qualificadoras (caráter autônomo do crime qualificado, aderindo as

qualificadoras aos atributos elementares). Somente em tais hipóteses,

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seria possível dissolver o julgamento alcançado pelo Tribunal
do Júri, respeitando-se a norma do artigo 593, § 3°, parte
final, do Código de Processo Penal.

Não é o que se verificou aqui, urgindo


confirmar-se a pertinência de ambas as qualificadoras.

No que diz respeito à qualificadora de


perigo comum, encontra ela respaldo lógico nas provas
como um todo. Mesmo na narrativa de Carlos Eduardo,
insulada em diversos aspectos, já se retiraria supedâneo
àquela qualificadora. Segundo o acusado, a escaramuça
inicial, provocada pela altercação física entre Elen
Domingues e Tamiris Pereira, já havia sido dissolvida por

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terceiros, que intervieram para aplacar os ânimos. Carlos
Eduardo salientou, porém, que um desafeto político, também
presente aos espetáculos musicais (cujo nome ele deliberadamente
optou por omitir em seus relatos), tomou proveito das
circunstâncias para insuflar a “multidão” contra o réu,
quando este já alcançava a passagem, via alambrado, até a

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zona de estacionamento, onde estava estacionado o
automóvel usado na ocasião (um Ford/Ecosport S 1.6, cor branca, e de
placas OWI-1743/Belo Horizonte-SP, de propriedade de Dallas Holding S/A

auto de exibição e apreensão, fls. 10/10-v; laudo pericial fls. 130/131). Ainda
em conformidade com Carlos Eduardo, ele já havia entrado
no automóvel, que “não pegou” (alegou que não estava habituado a

conduzir aquele veículo, de câmbio manual), o que o levou a


desesperadamente deduzir que seria morto pela turba. Por
isso, achando que morreria, o réu declarou que atirou a
esmo contra as pessoas, pois só queria defender-se e ir
para casa. Mais ainda, o réu admitiu ter desfechado
múltiplos disparos, dois para o alto, um ou dois para frente.
Em contraste, as provas técnicas laudo necroscópico (fls.
48) e exame de corpo de delito (fls. 132) atestam a
existência de pelo menos dois disparos contra aquele
grupo de pessoas (um alvejou Orlando mortalmente, outro atingiu Danilo
na testa). Inquirido, inclusive, de forma específica sobre isso,
Carlos Eduardo sequer conhecia os presentes, o que vale
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para as vítimas: “Não decorei os rostos, não sabia o nome de
ninguém”.

Assim, a própria narrativa do acusado revela


a fragilidade da tese esposada, até por não se amoldar ao

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conteúdo do interrogatório prestado em plenário, pelo qual
resta claro que os disparos foram, sim, dirigidos a um
número indeterminado de pessoas. É irrelevante que os
alvos estejam dispersos em uma multidão desarticulada, ou
nos termos da versão do réu concentrada em um grupo
formado, espontaneamente, com um objetivo comum (segundo
Carlos Eduardo, para matá-lo). O perigo comum deflui da própria
pluralidade de alvos humanos, esparzidos numa massa de
pessoas, aqui em maior ofensividade, por se tratar de espaço
aberto, sem restrições de obstáculos para se verem atingidos
transeuntes (“bystanders”) sem o menor vínculo pessoal
direto com a dinâmica fática, como é o caso das
próprias vítimas. Afinal, Danilo afirmou categoricamente
que nem ele, nem Orlando, se dispuseram a apartar
os contendores (o réu e as duas mulheres), nem a correr
atrás do réu, para qualquer fim (espancá-lo, matá-lo).

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Em escólios doutrinários, o perigo comum é
definido como "meio utilizado pelo agente, além de causar dano à
vítima, traz perigo a outras pessoas” (GRECO, Rogério. Curso de Direito

Penal II. Parte Especial. Niterói: Impetus, 8ª ed. 2011, p. 156).

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Não por acaso, em situação similar, assim
decidiu o C. Superior Tribunal de Justiça:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. AFASTAMENTO
DE QUALIFICADORA DE PERIGO COMUM. NÃO
MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. CABIMENTO.
AGRAVO IMPROVIDO. 1. A pronúncia constitui juízo de
admissibilidade da exordial acusatória, somente se
admitindo a exclusão de uma qualificadora quando
manifestamente improcedente ou descabida, sob pena de
violar a soberania do Conselho de Sentença. 2. Não se
constata situação excepcional apta a ensejar o
afastamento da qualificadora do perigo
comum, porquanto assentado no acórdão recorrido há
indícios de que os disparos foram realizados numa
festa, colocando em risco todas as pessoas ali
presentes. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no
AREsp 1.339.038/RS, Sexta Turma, votação unânime, DJe
04/02/2019)

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 2 1/42


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As demais provas orais demonstram ser
plausível daí a necessidade de preservação a
qualificadora do perigo comum. O policial militar Osimar
Matos trouxe relato, neste ponto, referencial ao quanto foi
informado por Danilo, confirmando que os disparos foram
desfechados em relação a um grupo de pessoas que se

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acercava do alambrado. Outro miliciano (ouvido apenas na fase

de sumário de culpa), Fernando Oliveira, foi claro, em descrever


que os tiros foram disparados em um ambiente que, até por
reunir artistas para um espetáculo musical, concentrava
muitas pessoas. Esse dado é também integrante das
estimativas do réu Carlos Eduardo: apesar de o show de
Luan Santana já ter sido encerrado, da multidão inicialmente
ali presente, ainda restavam, segundo ele, cerca de trezentas
pessoas, quando Elen e Tamiris se engalfinharam, iniciando-
se o ciclo de tragédias. E, como visto de todas as provas
orais, entre esse dado deflagrador e a sequência de disparos
feita pelo réu, transcorreu pouquíssimo tempo: nenhum dos
ouvidos estimou fração superior a cinco minutos.
Confirmando a presença do grande número de presentes,
inclusive em proximidade ao alambrado, se deram os
depoimentos de Tamiris Pereira, Jenifer Angelo e Renan
Xavier. Jenifer, por exemplo, ponderou, no segundo plenário,
que, segundo antes dos disparos, uma “multidão de umas trinta

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pessoais passou pelo alambrado”.

Logo, deve ser mantida a qualificadora


prevista no artigo 121, § 2°, III, do Código Penal.

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Idêntico desate técnico deve prevalecer para
a qualificadora do inciso IV do dispositivo legal logo acima
mencionado.

No reexame das provas, restou claro que a


decisão dos jurados, quanto ao reconhecimento da
qualificadora relativa ao recurso que dificultou (vítima Danilo) ou
impossibilitou (vítima Orlando), não poderia ser reputada
teratológica, nem incongruente com as provas. Daí não
caber o recorte pretendido pela Defesa. Alguns pontos
fundamentais devem ser sopesados. Em primeiro plano, urge
salientar o relato da vítima sobrevivente, Danilo. Trabalhava
na estrutura do espetáculo e, sem vínculos pessoais prévios

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com Carlos Eduardo, não deteria mínimas razões para faltar
com a verdade. Tampouco se demonstrou que o ofendido
teria esse intento. Estando ali a trabalho, nem Danilo, nem
Orlando, se envolveram na confusão: Danilo narrou que a
briga entre Elen e Tamiris havia se desenrolado a certa
distância deles, e, em momento algum, nenhum dos

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ofendidos tentou intervir na briga, nem aplacar os
contendores. Danilo foi claro, em narrar que Carlos
Eduardo se irritara com a intervenção dos apaziguadores,
que foram insultados e ameaçados pelo réu. Este lhes
dissera: “Vocês não sabem quem eu sou!”. Tendo caminhado até
o automóvel, Carlos Eduardo muniu-se de sua arma e
efetuou vários disparos, alvejando Danilo e Orlando. Pela
total ausência de vínculo pessoal, assim como pela concreta
circunstância de estarem dentro do espaço de eventos (com
revista aos ingressantes, para que não portem armas para o interior), já se
deduz como razoável o reconhecimento da qualificadora
objetiva telada. É fato (afirmado em uníssono por todos os ouvidos em

juízo) que a arma de fogo estava no interior do automóvel


ponto admitido pelo próprio Carlos Eduardo de forma que
o contexto em que a arma foi tomada pelo réu já evidencia
“ipso facto” a surpresa. Mesmo Tamiris, então namorada, e
hoje companheira do acusado, alegou ignorar a presença
da arma de fogo no interior do automóvel, mesmo porque,

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como precisou o acusado, ela se encontrava escondida
debaixo de um dos bancos. Mais ainda: como a própria
vítima Danilo peremptoriamente negou ter ido ao encalço
do libelado (o mesmo tendo afirmado, insisto, em relação à vítima fatal,

Orlando), tampouco teria mínimas razões para esperar que um


dos disparos viesse atingi-lo. O ofendido ainda acrescentou

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outra informação crucial: Orlando dirigia-se ao alojamento,
quando foi atingido pelo disparo que lhe tolheu a vida. A
narrativa de Danilo ganha maior robustez, por sua
coerência com a prova técnica: de fato, o laudo
necroscópico atestou que o disparo fatal atingiu Orlando de
trás para frente, em oblíquo (fls. 48). Trata-se de
constatação pericial que não somente reforça o entendimento
de que Orlando não era um alvo particularmente visado (o
que também contribui ao reconhecimento da pertinência da qualificadora relativa

ao perigo comum), como também, por ter sido alvejado


pelas costas, sequer poderia ter sido considerado uma
potencial ameaça a Carlos Eduardo (ainda que tivesse sido

admitida a versão do réu, vale dizer). Essas conclusões encontram


eco no depoimento de Arthur Rampin, que prestou pronto
atendimento a Orlando, infelizmente sem êxito para reverter
o quadro mortal. Vislumbra-se do caso, portanto, respaldo
probatório suficiente e adequado ao entendimento do
júri.
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Vou além.

Elen Domingues afirmou ter sido muito


agredida por Tamiris Pereira, que, por sua vez, alegou ter
sido provocada pela rival. Ponto comum dos dois relatos

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divergentes é a existência da própria altercação física entre
elas, “ex vi” laudo de reconstituição do caso (fls. 158/171).

Elen afirmou ter recebido inúmeros solavancos de Carlos


Eduardo (foi chacoalhada diversas vezes pelo ex-companheiro, que a

segurou firmemente pelos braços), tornando compreensível a


percepção alheia de que estava sendo agredida. O próprio
Danilo, presencial à briga, afirmou que o acusado não
interviera para apartar as mulheres; este “queria que elas
brigassem”, quando surgiram terceiros, desconhecidos (simples
frequentadores do espetáculo musical, sem vínculo pessoal direto com os

envolvidos, daí permanecerem ignoradas, até hoje, suas identidades) que


atuaram para conter a violência entre o réu e as duas
mulheres citadas. Diverge, porém, Carlos Eduardo,
narrando que os intervenientes pretendiam surrá-lo (ou algo

pior), daí ter agido impulsivamente, para se defender. Neste


aspecto, sua versão recaiu em agudo isolamento. Com
efeito, o acusado não arrolou nenhuma testemunha (Tamiris,

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por seu óbvio interesse pessoal no desfecho do caso, na qualidade de

companheira do réu, foi ouvida como simples informante) que


confirmasse seu esforço em apartar as duas mulheres, ou
mesmo, que a confusão já havia cessado e recomeçado
junto ao alambrado. Não declinou o nome do suposto rival
político que incitara a turba contra ele. Não arrolou o então
Secretário Municipal de Cultura de Iguape, que, segundo o

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réu, estava presente no momento e pediu aos presentes
“ninguém toca nele!”. Mais ainda, afirmou que foi bastante
agredido, porém não se submeteu a exame pericial, nem
fez aportar nos autos fotografias próprias das lesões
sofridas com as agressões infligidas por terceiros. Assim,
nota-se que a narrativa de Carlos Eduardo, tíbia pela
carência de elementos probatórios específicos, não acabou
sendo acolhida pelos jurados compreensivelmente. Um
elemento adicional de divergência diz respeito à zona do
alambrado: Tamiris e o próprio Carlos Eduardo chegaram a
mencionar um segurança junto ao alambrado que separava a
área de espetáculos do estacionamento privativo (reservado a

autoridades, onde o réu estacionara o automóvel), num esforço de


controle dos que por ali passavam. Portanto, pelo que se
pôde depreender da versão defensiva, haveria, quando
muito, um grupo de pessoas rumando na direção do carro
de Carlos Eduardo, mas não ao redor do veículo, vez que

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ainda deveriam vencer o obstáculo do alambrado. E,
consoante disse o próprio Carlos Eduardo: “Tinha alguém
segurando o portão!”. O próprio réu diverge da companheira
Tamiris, ao alegar que o alambrado cedeu, mas não sobre
o automóvel, como ela disse em plenário, o que
provavelmente não passou despercebido aos jurados que,

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vale ressaltar, são orientados pela convicção íntima (“ex
conscientia informata”). Ponto ainda mais crítico foi perceber que
a testemunha Jenifer Angelo (cujo depoimento contraditório chegou a
ensejar uma terceira série de quesitação, sobre possível prática de falso

testemunho em plenário, então não reconhecido fls. 886/886-v), apesar de


ter declarado estar bem próxima ao automóvel do réu, não
soube afirmar assertivamente se o alambrado chegara a
ceder ou não. Danilo, por seu turno, foi peremptório em
NEGAR que o alambrado tivesse cedido. A par das quatro
versões sobre a questão do alambrado, não houve provas
documentais ou periciais a esse respeito. A todos esses
pontos, some-se o fato de que outra testemunha, Renan
Xavier, afirmou ter visto o réu atirar, pelo menos, uma vez
“para frente”, tanto no sumário de culpa, como em juízo.
Pelo que se infere, assim, dos relatos, seria admissível
reconhecer que o alambrado não cedeu (como categoricamente
destacou Danilo, que, inclusive, trabalhava na estrutura do espetáculo

musical) e, mesmo que tivesse cedido, não o teria


imediatamente, nem caiu sobre o carro (como ponderou o próprio
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Carlos Eduardo). E ainda devo salientar: pelo que se esvurma
dos depoimentos como um todo, Carlos Eduardo,
perseguido ou não por potenciais agressores, teve tempo
hábil para entrar no carro com Tamiris, tentar acionar o
veículo, falhar em fazê-lo, descer do carro mais uma vez,
abrir a porta traseira, retirar a arma (escondida debaixo do banco

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do carro, segundo o próprio réu descreveu em seu interrogatório de plenário), e

atirar, duas vezes para o alto, e duas vezes para frente


(quando acertou suas vítimas, uma delas mortalmente). Por conseguinte,
ao mesmo tempo em que a tese da legítima defesa
possivelmente empalideceu aos olhos dos jurados,
fortaleceu-se a tese acusatória, que restou acolhida, quase
de forma integral, perante o Conselho de Sentença.

Destarte, não é possível tolher ao julgamento


a referida qualificadora, devidamente reconhecida, já que das
divergências de narrativa se tornam possíveis diversos
entendimentos sobre esse tópico, emergem, pelo menos,
duas teses finais possíveis, uma das quais dando azo ao
acolhimento da qualificadora prevista no artigo 121, § 2°,
IV, do Estatuto Repressivo. Daí não ser, aqui, tolhida. De
fato, somente o veredicto em franca contrariedade às provas

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 2 9/42


fls. 38

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autorizaria a atuação rescisória do Poder Judiciário. Não foi
esse o caso.

De rigor, em suma, afastar o pleito principal


de anulação do julgamento.

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Passo às penas, analisando os pleitos
subsidiários da Defesa.

Trilhando as regras do modelo trifásico (artigo 68


do Código Penal), assim foram dosadas as sanções penais (fls. 889-
v/891): “A- Crime de homicídio qualificado consumado contra a vítima O.S.J.: O
acusado é portador de maus antecedentes (cf. certidões de fl. 24/25, do apenso
próprio, dando conta de condenação pela prática de crime eleitoral previsto no
artigo 299, do Código Eleitoral, ocorrido anteriormente aos fatos ora tratados,
7/10/2012, com trânsito em julgado para a Defesa posterior, em 5/9/2016). A
culpabilidade revelou-se ordinária à espécie criminosa. A personalidade e a
conduta pessoal do agente não o desabonam. Os motivos, circunstâncias e
consequências do crime também não extrapolaram o regular. O comportamento da
vítima não influenciou na prática delitiva. Logo, atendendo aos critérios norteadores
do artigo 59, do Código Penal, fixo a pena base em 1/6 (um sexto) acima do
mínimo legal, ou seja, em quatorze anos de reclusão. Na segunda fase, inexistem
causas atenuantes não havendo, neste ponto, que se falar em reconhecimento

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 0/42


fls. 39

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da atenuante da confissão espontânea, uma vez que o acusado confessou apenas
parcialmente a prática delitiva, sustentando ter agido em legítima defesa, tese
refutada pelo E. Conselho de Sentença , estando presente, no entanto, a
qualificadora referente ao recurso que dificultou a defesa do ofendido, que será
usada como agravante, nos termos do artigo 61, II, “c”, do Código Penal, enquanto
a outra qualificadora (meio que resultou perigo comum) fora empregada para
qualificar o crime, motivo pelo qual agravo a pena em um sexto (1/6) chegando em
dezesseis anos e quatro meses de reclusão. Na terceira fase, inexistem causas de

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aumento ou de diminuição, de modo que sua pena resta definitiva no patamar
acima descrito. B- Crime homicídio qualificado tentado contra a vítima D.U.C.P.. O
acusado é portador de maus antecedentes (cf. certidões de fl. 24/25, do apenso
próprio, dando conta de condenação pela prática de crime eleitoral previsto no
artigo 299, do Código Eleitoral). A culpabilidade revelou-se ordinária à espécie
criminosa. A personalidade e a conduta pessoal do agente não o desabonam. Os
motivos, circunstâncias e consequências do crime também não extrapolaram o
regular. O comportamento da vítima não influenciou na prática delitiva. Logo,
atendendo aos critérios norteadores do artigo 59, do Código Penal, fixo a pena
base em 1/6 (um sexto) acima do mínimo legal, ou seja, em quatorze anos de
reclusão. Na segunda fase, inexistem causas atenuantes não havendo, neste
ponto, que se falar em reconhecimento da atenuante da confissão espontânea,
uma vez que o acusado confessou apenas parcialmente a prática delitiva,
sustentando ter agido em legítima defesa, tese refutada pelo E. Conselho de
Sentença , estando presente, no entanto, a qualificadora referente ao recurso que
dificultou a defesa do ofendido, que será usada como agravante, nos termos do
artigo 61, II, “c”, do Código Penal, enquanto a outra qualificadora (meio que resultou
perigo comum) fora empregada para qualificar o crime, motivo pelo qual agravo a
pena em um sexto (1/6) chegando em dezesseis anos e quatro meses de reclusão.
Na terceira fase, inexistem causas de aumento, estando, contudo, presente a causa
de diminuição decorrente da tentativa (artigo 14, II, do CP), que, devendo ser
considerados, para a aferição do patamar adequado de incidência, o iter criminis
percorrido pelo acusado, bem como os atos por ele efetivamente praticados. Com
efeito, o disparo de arma de fogo desferido pelo réu atingiu a vítima na testa, região

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extremamente sensível e vital do corpo, ocasionando-lhe lesão corporal de
natureza grave em decorrência do afastamento de suas atividades habituais por
mais de trinta dias e perigo de vida diante da necessidade de pronta intervenção
cirúrgica, de acordo com o laudo de exame de corpo de delito da vítima D.U.C.P.
juntado aos autos (fl. 132). Por tais motivos, reduzo a pena no patamar mínimo, em
um terço (1/3), resultando em dez anos, dez meses e vinte dias de reclusão,
patamar que, ausentes outras circunstâncias, torno definitivo. Diante do concurso
material entre as infrações, decorrentes de ações distintas, ainda que

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subsequentes, as penas deverão ser somadas, resultando em vinte e sete anos,
dois meses e vinte dias de reclusão. Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE
PROCEDENTE o pedido acusatório para: (1) CONDENAR CARLOS EDUARDO
FARIA LOURENÇO, RG nº 17.797.652 por infração aos artigos 121, § 2º, incisos III
e IV, do Código Penal (vítima O.S.J.), e aos artigos 121, § 2º, incisos III e IV, e 14,
inciso II, ambos os do Código Penal, tudo na forma do art. 69, do mesmo diploma
(vítima D.U.C.P.), à pena de vinte e sete anos, dois meses e vinte dias de reclusão;
e (2) ABSOLVER a testemunha JENIFER SILVA ÂNGELO da imputação da prática
do crime previsto no artigo 342, § 1º, do Código Penal. Fixo, para início de
cumprimento da pena, o regime fechado, tendo em vista a hediondez dos delitos
(Lei nº 8.072/90, art. 1º, I), a quantidade total de pena aplicada e também as
circunstâncias judiciais desfavoráveis em relação a ambos os delitos, de acordo
com o art. 33, parágrafo 2º, “a”, e parágrafo 3º, do Código Penal. Por força do § 2º
do art. 387 do CPP, com a nova redação dada pela Lei nº 12.736/12 - “O tempo de
prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no
estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena
privativa de liberdade” deverá o Juiz da esfera de conhecimento, após fixar a
pena definitiva e o regime inaugural de cumprimento da expiação, dedicar um novo
capítulo na sentença condenatória para a análise de eventual progressão de
regime. Entrementes, o desconto imposto pela novel legislação deve ser ponderado
à luz das regras insculpidas na Lei de Execução Penal, e não como mero cálculo
aritmético isolado, sob pena de permitir ao condenado uma progressão de regime
imprópria, ou seja, com lapsos temporais reduzidos e desconhecimento completo
de seu mérito pessoal, em total arrepio às regras existentes, as quais, diga-se de

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passagem, não foram revogadas. Em outras palavras, o período de detração para
fins de progressão de regime prisional já na fase de conhecimento, além de
corresponder às frações de 1/6 (crimes comuns) ou 2/5 ou 3/5 (crimes hediondos
primários ou reincidentes), não tem o condão de desautorizar o Juiz na aferição do
mérito do sentenciado, o que será verificado pelo atestado de comportamento
carcerário e, em alguns casos, de parecer criminológico, notadamente quando
houver necessidade de um exame mais acurado sobre o progresso de
ressocialização, caso dos autos. Cumpre registrar que a inovação legislativa

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instituiu uma interação entre as jurisdições penais de conhecimento e executiva,
propiciando ao magistrado da primeira etapa de cognição o reconhecimento de
eventual progressão de regime prisional, desde que presentes os requisitos
objetivos e subjetivos previstos na lei de regência. Pensar de forma diversa é
fornecer um tratamento não isonômico a pessoas em situação jurídica semelhante,
vaticinando, inclusive, a sua inconstitucionalidade. O novo dispositivo não quis que
a detração funcionasse como alavanca automática de progressão de regime, que
conta com requisitos legais objetivos (tempo de prisão) e subjetivos (bom
comportamento). Para a progressão de regime há uma série de fatores que devem
ser computados. E no presente caso, sequer há que se falar em progressão de
regime já nesta fase, visto que ainda não fora resgatado o lapso temporal de 2/5 da
pena ora imposta aos crimes de homicídio qualificado na forma tentada e
consumada (o que ocorrerá somente em 12 de janeiro de 2026), inexistindo
também, de outro lado, elementos que atestem possuir o réu bom comportamento
carcerário, a demostrar o preenchimento do requisito subjetivo. Estando o réu preso
desde 24/02/2015 (fls. 228/229vº), não apenas pelos fundamentos da r. decisão de
fls. 218/219, prolatada na mesma data, que se baseou na necessidade de garantia
da instrução criminal diante dos fatos ali relatados, mas também pelos fundamentos
do V. Acórdão da C. 9ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, que, em julgamento de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério
Público contra a r. decisão inicial concessiva de liberdade, datado de 2/7/2015,
reformou tal decisão para asseverar a necessidade da prisão preventiva do réu
para garantia da ordem pública (fls. 257/261, do segundo apenso do primeiro
volume destes autos), decisão esta transitada em julgado em relação a ambas as

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partes (cf. certidões de fl. 263, do segundo apenso do primeiro volume destes
autos), aos quais se soma, ainda, a fundamentação quanto à imprescindibilidade da
prisão constante da r. decisão que pronunciou o acusado constante de fl. 437
(“Destaque-se que o réu respondia solto ao processo até que veio aos autos
informação concreta de que ele estaria cooptando testemunhas em seu favor e
intimidando aquelas que poderiam lhe incriminar. Assim, deixá-lo livre no momento
mais crucial do processo representaria verdadeiro contrassenso, pondo em risco a
efetividade da persecução penal”). Ademais, não teria sentido que agora, depois de

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condenado pelo Conselho de Sentença, viesse a ser solto, persistindo a
necessidade da custódia cautelar nos termos do artigo 312, do Código de Processo
Penal, para garantir da ordem pública, que certamente estará ameaçada caso o réu
volte a atentar contra a vida e integridade física de outras pessoas. Some-se a isso,
ainda, que a prisão preventiva revela-se, neste momento processual subsequente à
condenação reconhecida pelo Conselho de Sentença, imprescindível a assegurar a
aplicação da lei penal, uma vez que o acusado teve a prisão temporária decretada
em decisão datada de 30/5/2014 (fls. 19/20, do primeiro apenso do quarto volume),
cujo mandado fora expedido na mesma data, tendo ele permanecendo foragido,
pelo menos, até a r. decisão concessiva de liberdade provisória (fls. 100/105),
datada de 22/10/2014, ou seja, por cerca de cinco meses. Há, portanto, efetivo
risco de fuga diante da conduta processual anterior do acusado, e,
consequentemente, risco concreto à aplicação da lei penal, a justificar, também por
tal fundamento, a manutenção da custódia preventiva do réu. Diante da quantidade
de pena imposta, inviável a substituição de sua prisão por penas alternativas ou a
concessão do sursis. Condeno o réu, ainda, ao pagamento de custas estaduais,
estabelecidas em 100 UFESP(s), com fundamento no artigo 4º, §9º, “a”, da Lei nº
11.608/03, ressalvado o disposto no artigo 98, § 3º, do Novo Código de Processo
Civil. Após o trânsito em julgado, seja o nome do réu lançado no rol dos culpados.
Desde já, providencie o Ofício a expedição de guia (provisória ou definitiva) ao
Juízo das Execuções Criminais para cumprimento da pena imposta. Dou esta por
publicada nesta sessão do Egrégio Tribunal do Júri da Comarca de Iguape e as

partes por intimadas.”.

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 4/42


fls. 43

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Os pleitos adicionais ao absolutório devem ser
igualmente indeferidos.

O dimensionamento original é correto e


dispensa reparo. Utilizando-se da cardinal prerrogativa de
individualização das penas, o Juiz sentenciante, ante os maus

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antecedentes do acusado (circunstância judicial legítima, até porque

escorada no artigo 59 do Código Penal), elevou as sanções iniciais, em


cada crime, na fração razoável de 1/6. Como visto na espécie,
tratou-se de crime eleitoral, o que concretamente conferiu
laivo de maior gravidade ao caso, considerando-se que o réu
exercia mandato político como vereador no Município
vizinho de Iguape, quando ocorreram os crimes, e, segundos
reiterados depoimentos de Luiz Alberto Cortelazi, ex-assessor
daquele, fazia uso de poder econômico para resolver
diversas questões (de acordo com aquele último depoente, o réu ofereceu
dinheiro à família da vítima falecida, para amainar o caso). Daí, portanto, não
se vislumbrarem motivos para acatamento do pedido de
redução das penas iniciais ao patamar legal mínimo na
primeira fase.

Do mesmo modo, na fase intermediária, bem


afastada foi a confissão, porquanto, além de buscar

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 5/42


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obtemperar as circunstâncias, rechaçando as próprias
qualificadoras, o acusado, apesar de se declarar arrependido,
sustentou, em síntese, ter agido em legítima defesa própria, o
que destitui seu relato do caráter de confissão. Por outro lado,
não houve qualquer impropriedade no posterior acréscimo,
também na segunda fase, em nova fração proporcional de 1/6,

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comum aos dois crimes. Isso porque, como visto do
veredicto, foram reconhecidas duas qualificadoras, uma das
quais (perigo comum) se prestou a como alude a denominação
“qualificar” a reprimenda, ao passo que a outra foi tomada
como agravante. Não se trata, pois, de ofensa ao princípio do
“ne bis in idem”, pois não se firmaram concentricamente
pontos de enrijecimento punitivo, pela aplicação de agravante
em relação a elementar do tipo. A alusão judicial ao artigo 61,
II, “c”, do Código Penal é substancialmente a qualificadora do
artigo 121, § 2°, II, do mesmo diploma legal (reconhecida pelos

jurados, reforce-se), a qual, por não ter sido utilizada para qualificar
o delito, opera, na estrutura do modelo trifásico, o efeito
técnico de uma agravante, mesmo porque está como bem
apontou a sentença expressamente prevista na lei penal
sob tal título.

Perfilhando tal entendimento, observe-se


precedente do C. Superior Tribunal de Justiça:
Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 6/42
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PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. DOSIMETRIA. HOMICÍDIO
DUPLAMENTE QUALIFICADO. PENA-BASE ACIMA DO
MÍNIMO LEGAL. VALORAÇÃO NEGATIVA DAS
CIRCUNSTÂNCIAS E DAS CONSEQUÊNCIAS DO DELITO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO DE DROGAS. POSIÇÃO DE LIDERANÇA. PENA-
BASE MAJORADA. MOTIVAÇÃO ESCORREITA.
VALORAÇÃO DA QUALIFICADORA REMANESCENTE NA
SEGUNDA FASE DA DOSIMETRIA DA PENA. NÃO
CONFIGURAÇÃO DE BIS IN IDEM. CONSTRANGIMENTO

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ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. WRIT NÃO CONHECIDO. 1.
Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de recurso
próprio, a impetração não deve ser conhecida, segundo
orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal - STF
e do próprio Superior Tribunal de Justiça - STJ. Contudo,
considerando as alegações expostas na inicial, razoável a
análise do feito para verificar a existência de eventual
constrangimento ilegal. 2. É certo que a dosimetria da pena
deve ser feita seguindo o critério trifásico descrito no art. 68,
c/c o art. 59, ambos do Código Penal - CP, cabendo ao
Magistrado aumentar a pena de forma sempre fundamentada e
apenas quando identificar dados que extrapolem as
circunstâncias elementares do tipo penal básico. 3. Quanto as
circunstâncias do crime de homicídio, a valoração negativa
está devidamente fundamentada com base em elementos
acidentais e que não integram a estrutura do tipo penal,
destacando o Tribunal de origem a imensa violência e frieza da
conduta dos pacientes, revelando agressividade desmedida e
desnecessária. Salientou-se que a vítima foi raptada pelos
acusados e seus comparsas, quando saía de sua residência, e
levado para local ermo, onde foi alvejado por dois tiros na
cabeça, dez no tórax, cinco nas costas e um no braço. "Além
disso, o delito foi praticado para favorecer organização
criminosa de extrema periculosidade, a qual vem subjugando e
aterrorizando a população local por meio da utilização
ostensiva de armamentos e palavras de intimidação". 4. As
consequências do delito, as quais correspondem ao resultado
da ação do agente, também devem ser tidas por
desabonadoras, porquanto a vítima era Presidente da
Associação dos Moradores do Guandu e atuava, junto às
autoridades da região, para melhorar as condições de
segurança dos moradores e, após a ocorrência do crime em
Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 7/42
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questão, a população não mais teve outro líder comunitário, em
razão do medo que prevalece na região; transbordando, assim,
as consequências ordinárias do crime. 5. No tocante ao crime
de associação para o tráfico de drogas, o aumento da pena-
base em razão da maior reprovabilidade da conduta,
consubstanciada no fato de terem os pacientes posição de
liderança é motivação idônea para tal fim. Precedentes. 6. A
jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de
que, quando presente mais de uma qualificadora no crime
de homicídio, podem ser consideradas circunstâncias
agravantes genéricas, se previstas expressamente, ou

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podem ser sopesadas como circunstâncias judiciais
desfavoráveis, não havendo falar em ofensa ao princípio
do ne bis in idem. No caso em apreço, bem asseverou o
Tribunal de origem que "na segunda fase, não há "bis in
idem", porquanto a circunstância qualificadora prevista no
art. 121, § 2º, IV, do CP não foi considerada para o
estabelecimento da pena-base. Dessa forma, conforme
solidamente assentado na Jurisprudência (STJ: REsp nº
1411733/MG e STF:HC nº 99809), incide a agravante
genérica insculpida no art. 61, II, "c", do CP". 7. Habeas
corpus não conhecido. (HC 447.400/RJ, Relator Ministro Joel Ilan
Paciornik, Quinta Turma, votação unânime, DJe 04/04/2019)

Daí não se acolher o segundo pedido


subsidiário.

Por derradeiro, não havia fatores a serem


sopesados na terceira fase, no tocante ao crime cometido
contra Orlando. Por seu turno, no que se refere ao crime
praticado contra Danilo, a fração redutora mínima de 1/3,
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adequada ao grau de percurso do “iter criminis”, respeita a
lógica da proporcionalidade, urgindo ser mantida. Com efeito,
Carlos Eduardo logrou desfechar com precisão,
possivelmente decorrente, inclusive, de sua condição de ex-
policial militar, a ponto de alvejar a vítima sobrevivente com um
projétil de arma, calibre .38, na caixa craniana, do lado

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direito da testa. Em adendo, os depoimentos do próprio
Danilo e das testemunhas policiais Fernando Oliveira e Osimar
Matos comprovaram que a bala ficou encravada na testa,
causando lesões graves na vítima (fls. 132). Noutros termos,
por muito pouco, Danilo não teve o crânio transfixado, como
ocorrera com Orlando. Assim sendo, inviável cogitar-se, na
espécie, de fração diversa da mínima, quanto ao “conatus”
(artigo 14, II, do Código Penal).

Em suma, o terceiro e último pedido


subsidiário deve ser igualmente indeferido.

Penas somadas como consequência técnica


do concurso material (artigo 69 do Código Penal), não se
vislumbrando motivos técnicos para abrandamento do
resultado final. Em vista da quantidade final, tanto para cada
crime individualmente analisado, como no próprio total a ser

Apelação Criminal nº 0002125-97.2014.8.26.0244 - Iguape - VOTO Nº 14.906 – 3 9/42


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purgado, assim como pelos enlevos de gravidade concreta do
fato (pluralidade de qualificadoras; pluralidade de vítimas, ambas alvejadas na

cabeça, com consequências irreversíveis num dos casos) e pelo caráter


hediondo, ínsito ao homicídio qualificado, não havia regime
possível no caso, a não ser o fechado (artigo 2°, § 1°, da Lei n°
8.072/1990, c/c artigo 33, § 2°, “a”, e § 3°, c/c artigo 59, III, ambos do Código

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Penal).

Incabível, na espécie, a aplicação da


“detração” prevista no artigo 387, § 2º, do Código de Processo
Penal, porque irrelevante o período de prisão cautelar na
espécie na fixação do regime inicial de cumprimento de penas.
A apreciação de incidentes relativos à possível progressão de
regime, bem como a detração “real”, deve ser reservada, aqui,
ao Juízo das Execuções Criminais, a quem se destinam tais
matérias, por sua esfera de competência, nos termos do artigo
66, III, “b” e “c”, da Lei nº 7.210/1984.

Observo, por fim, perfeitamente adequada


expedição de mandado de prisão em decisão de 2º grau de
jurisdição (ou “recomendação” na unidade prisional respectiva), e imediata
Execução da Pena, preservada que foi, até o momento, a

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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002125-97.2014.8.26.0244 e código RI000001RBYI5.
“presunção de inocência” (STF/HC 126.292/SP, de 17.02.2016,
posicionamento confirmado em Ações Declaratórias de Constitucionalidade -

ADCs 43 e 44 - 2016). A Constituição Federal fala que “ninguém


será considerado culpado até o trânsito em julgado da
sentença condenatória” (grifei artigo 5º, LVII). Trânsito em julgado
existe quando não cabe mais recurso. A culpa, então, já se
definiu, não mais existindo recurso. Obviamente que existe

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALCIDES MALOSSI JUNIOR, liberado nos autos em 30/07/2019 às 18:05 .
possibilidade dos chamados “recursos constitucionais” (especial
e extraordinário), os quais, contudo, são exceções, como seus
próprios nomes atestam, sendo que, ainda assim, não mais
avaliam “culpa”. O “Recurso Especial”, na verdade, busca uma
uniformidade na interpretação de Lei Federal. A própria
Constituição fala em sua possibilidade em relação apenas às
causas decididas em única ou última instância, sempre pelos
Tribunais de 2º Grau. O mesmo se dá em relação ao “Recurso
Extraordinário”, cujo objetivo é a manutenção da uniformidade
da Constituição Federal. Nenhum dos dois, portanto, pode ser
considerado, tecnicamente, como “recurso de 3º instância”. O
trânsito em julgado, quando se fala de culpa, ou seja, quando
alguém é, definitivamente, considerado culpado, ocorre em 2º
instância.

Do exposto, por meu voto, NEGO


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PROVIMENTO ao recurso.

COMUNIQUE-SE, respeitado prazo de


eventuais “Embargos”, recomendando o apelante na unidade
prisional onde se encontra, com atenção à modificação da

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causa do encarceramento, agora por sentença condenatória
confirmada em Segundo Grau. Expeça-se GUIA DE
EXECUÇÃO (se necessário), preservando-se, se o caso,
eventuais decisões em Execução Provisória.

Alcides Malossi Junior


DESEMBARGADOR RELATOR

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