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AULA 01
TEORIA DO FATO JURÍDICO
Sumário
Sumário .................................................................................................... 1
Considerações Iniciais ................................................................................ 2
3 - TEORIA DO FATO JURÍDICO ................................................................... 3
3.1 – O mundo fático e o fato jurídico........................................................ 3
3.2 – Estrutura ....................................................................................... 5
3.3 – Classificação................................................................................... 7
3.4 – Invalidades dos atos jurídicos......................................................... 11
3.4.1. Nulidades .................................................................................... 12
3.4.2. Anulabilidades ............................................................................. 16
3.5 – Eficacização: condição, termo e encargo ......................................... 28
4. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA................................................................ 31
4.1 – Distinção...................................................................................... 31
4.2 – Interrupção, impedimento e suspensão da prescrição ....................... 36
4.3 – Regras de prescrição ..................................................................... 37
4.4 – Regras de decadência .................................................................... 38
5. PROVAS .............................................................................................. 40
5.1. Noções gerais................................................................................. 40
5.2. Espécies de provas ......................................................................... 40
Lista de Questões da Aula ......................................................................... 45
Considerações Finais ................................................................................ 50
Considerações Iniciais
Na aula passada, traçamos as linhas gerais de compreensão do Direito Civil. Com
aquelas noções, fica muito mais fácil entender como algumas das questões do
Exame de Ordem são elaboradas e como respondê-las.
Agora, na Aula 1, veremos a segunda parte da Parte Geral do Código. Como o
Código Civil é dividido numa Parte Geral e numa Parte Especial, esta subdividida
em 5 livros, é necessário deixar bem claro o funcionamento dos institutos
fundamentais do Direito Civil para que possamos trabalhar com tranquilidade as
noções que virão mais à frente, relativamente a cada um dos livros da Parte
Especial.
Isso porque a Parte Geral, como o próprio nome diz, foi pensada para a
generalidade do Código, isto é, para servir de guia no funcionamento dos demais
institutos jusprivatísticos. Em outras palavras, o Código Civil nos apresenta, na
Parte Geral, as peças do quebra-cabeça que vai montar ao longo dos livros da
Parte Especial.
Por isso, a compreensão dessa aula é tão importante. Com ela, as demais
aulas tornam-se muito mais simples; sem ela, ao contrário, é necessário
decorar muita coisa, pois as linhas gerais não ficam muito claras. Falo isso de
cadeira, pois ao longo da docência nesses últimos anos, sinto que as maiores
dificuldades que os alunos têm estão, exatamente, na ausência de compreensão
da Parte Geral.
Essa aula, portanto, é como o projeto de uma obra. Sem ele é possível construir
o edifício, mas provavelmente, em algum momento, você sentirá falta do projeto,
pois não vai entender a razão de o construtor posicionar uma janela aqui e não
acolá, ou a razão de determinado corredor ser tão estreito.
Ao final, inclusive, tratarei de um tema bastante polêmico no Direito Civil: a
prescrição e a decadência. Esses dois temas costumam cair com frequência nas
provas da primeira fase, seja no Direito Civil, seja no Direito do Consumidor, que
tem uma regulação própria.
Então vamos lá!
Só para você ver, nos últimos 20 Exames, tivemos 9 questões envolvendo
o tema “Fato jurídico, prescrição e decadência”, com questões nos Exames
II, IV, V, VI, VIII, X, XI, XIII, XIV e no penúltimo, o XIX. No XX Exame, não
tivemos questões sobre os temas da aula de hoje. Em geral, elas não são muito
exigentes, para o nível esperado de uma prova da OAB. No entanto, não é
incomum que a OAB faça questões “decoreba” e, às vezes, traga algumas
“pegadinhas” mais maldosas!
se SF
deve ser P
(suporte então (preceito)
fático)
3.2 – Estrutura
1. Suporte fático
O fato (evento ou conduta). Em cada ramo do direito nós temos nomes diferentes
para essa mesma coisa: fattispecie, fato gerador, fato imponível, tipo legal,
pressuposto de incidência.
O suporte fático divide-se em dois elementos:
1. subjetivo: o suporte fático tem de referir-se a um sujeito de direitos.
Parte importante é que se o sujeito do fato não for o sujeito da norma não há
incidência. Assim, por exemplo, eu não pago IPVA porque não tenho carro, ou
não devo IPVA porque o carro não está no meu nome, pelo que não há suporte
fático suficiente para que eu me enquadre no suporte de contribuinte.
Igualmente, o Banco do Brasil SA não pode ser considerado consumidor, porque
não consegue se incluir no suporte fático de uma relação de consumo;
Suporte Fático
a. sujeito:
capacidade, b. objeto: licitude, c. forma: prescrita
legitimação e possibilidade, ou não defesa em
perfeição da determinação lei
manifestação
3.3 – Classificação
Um suporte fático pode conter inúmeros fatos jurídicos diferentes ou um único
fato jurídico ser uma complexidade de fatos que seja unitária. A classificação é
feita pelos os elementos nucleares do fato:
1. a conformidade ou contrariedade com o direito;
2. a presença ou não de ato humano de vontade.
Vale lembrar que o cerne tratado aqui é o elemento nuclear do suporte fático
hipotético previsto na norma jurídica e não o suporte fático advindo do mundo
real. Ou seja, não importa o nome que as pessoas dão a esse fato no
mundo real, mas como o Direito o classifica. Assim, a compra e venda de
um bem sem a previsão de preço não torna aquele contrato um contrato de
compra e venda; ele será um contrato de doação. Não existe contrato de compra
e venda sem preço, e ponto.
Igualmente, não interessam outros fatos, por mais importantes que
sejam, mas que nada têm a ver com a incidência da norma. Por exemplo,
a causa da morte não interessa à transmissão da propriedade aos herdeiros.
Morreu, transfere, e ponto. Porém, a causa da morte pode ser relevante para
outros fatos jurídicos, como para a anulação de uma doação do morto pela pessoa
que o matou (art. 557, inc. I do CC/2002).
Partindo daquela classificação, vejamos cada um dos fatos jurídicos. Vamos nos
ater aos fatos jurídicos conforme o Direito, ou seja, as espécies lícitas.
Espécies lícitas
Fato jurídico em sentido estrito
É todo fato que independe da conduta humana na composição do suporte
fático. Cuidado! A conduta humana pode estar presente, mas ela não
interessa. Por exemplo, a frutificação de uma árvore ou o nascimento de uma
criança, a maioridade e a morte.
Em qualquer caso, o ato humano não é elemento necessário à composição do
suporte fático suficiente, daí nominá-los de eventos, pois ocorrerão
independentemente da vontade humana, naturalmente. Cuidado! Geralmente se
chamam esses fatos de “naturais”. Não confunda com atos da natureza, eles são
naturais pode são independentes da vontade humana.
Atos-fatos jurídicos
Outros fatos dependem de conduta humana para a concreção do suporte fático.
Nos fatos jurídicos em sentido estrito não existia conduta humana nenhuma;
aqui, existe conduta humana, mas a vontade humana não é relevante,
pelo que não condutas avolitivas (sem vontade ou com vontade irrelevante).
Temos, por exemplo, a caça ou a pesca. Precisa-se de uma conduta humana, ou
o peixe ou o pássaro não se tornarão propriedade de ninguém, mas a vontade
não interessa. Se eu queria apenas retirar o peixe do rio, mas não tomá-lo como
minha propriedade isso não importa; se eu pesquei, pesquei e ponto.
Espécies lícitas
Espécies ilícitas
Em resumo, as espécies ilícitas são idênticas às lícitas, exceto em relação à
conformidade/contrariedade com o Direito.
Ou seja, eu não tenho nada a ver com o fato de um pedaço de terra ter se
grudado ao meu, mas ainda assim eu terei de indenizar (fato ilícito).
Muito cuidado aqui, pois nisso o Direito Civil é radicalmente diferente do
Direito Penal, cuja ilicitude depende de
comportamento humano (noção de delito: conduta
típica, antijurídica e culpável).
Ato-fato ilícito
Ato humano cuja vontade é abstraída pela norma jurídica, ou seja, a vontade é
irrelevante. O exemplo são todos os danos causados por menores, pois,
segundo o ECA, os menores são inimputáveis, mas, para o Direito Civil, a vontade
é irrelevante, gerando-se o dever de indenizar.
Espécies Ilícitas
I. Sujeito
A manifestação de vontade em si, se livre e perfeita. Se analisará se a
exteriorização consciente de vontade se deu corretamente:
a. Capacidade de agir
A aptidão a tutelar seus próprios interesses: art. 1º do CC/2002
(possibilidade de ser titular de direitos e obrigações). Trata-se tanto da
capacidade genérica quanto das capacidades específicas (capacidade de herdar,
de negociar, de ser empresário), ou seja, a aptidão é pessoal. Por isso, pode ser
a capacidade absoluta ou relativa (o praticado pelo absolutamente incapaz é nulo
e pelo relativamente incapaz é anulável).
b. Perfeição da manifestação:
Não se questiona mais aqui a autenticidade da autoria (foi ou não foi ele, pois
isso é elemento da existência). Sim, foi aquele agente que praticou. Sim, ele é
capaz. Mas, além de ter capacidade, o sujeito tem que manifestar a vontade
de maneira hígida e íntegra, ou seja, sem vícios (erro, dolo etc.)
II. Objeto
Se o ato está de acordo com o direito e a natureza (licitude, determinabilidade e
possibilidade).
III. Forma
Atos relevantes exigem formas específicas. A regra, porém, é que todo ato
tem forma (modo de exteriorização), que a rigor é qualquer uma, desde
que seja um comportamento concludente, ou mesmo o silêncio, em certas
situações.
Assim, a falta de forma, ou a utilização de forma proibida, acarretará a invalidade
(nulidade) do ato. Esse problema é, em geral, pequeno, porque vige a liberdade
de formas (conforme os arts. 107 a 109 do CC/2002).
Vamos agora ver as invalidades em suas espécies, as nulidades e as
anulabilidades.
3.4.1. Nulidades
As nulidades têm por núcleo os arts. 166 e 167 do CC/2002.
Como regra, as nulidades podem ser alegadas por qualquer interessado,
ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir, segundo dicção do art.
168. Por isso, segundo o parágrafo único desse mesmo artigo, as nulidades
devem ser pronunciadas de ofício pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico.
Nem o juiz, nem as partes podem suprir, assim, uma nulidade. Isso
impede, também, que o negócio jurídico nulo seja confirmado pelas partes (ah,
eu sei que é nulo, mas confirmo o negócio mesmo assim!), ou convalesça pelo
decurso do tempo (prescrição ou decadência), segundo o art. 169 do CC/2002.
Há uma norma excepcional, porém, que prevê decadência de ato nulo; é o caso
do art. 48, parágrafo único do CC/2002, que vimos na aula passada:
“Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando
violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude”, “Se a
pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos
dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.”
NULIDADES
1. Sujeito
i. Capacidade de agir
A incapacidade absoluta está exposta no art. 3º do CC/2002, conforme vimos em
aula anterior, prevendo o art. 166, inc. I do CC/2002 a nulidade de atos
praticados por absolutamente incapazes. Quando vamos verificar a incapacidade
absoluta?
a. menoridade
Por razões biológicas e históricas, até os 16 é a pessoa incapaz, não podendo
praticar qualquer ato jurídico. A realização desses atos se dá pelo representante.
Cuidado! O Exame da Ordem pode questionar se todos os atos praticados
pelo absolutamente incapaz são nulos. Se lermos o art. 166, inc. I do
CC/2002 sem o devido cuidado, diríamos que sim.
Mas a doutrina, por razões práticas, vai dizer que o
ato praticado pelo absolutamente capaz, caso de
pequena monta, é válido, ou os absolutamente
incapazes não poderiam celebrar qualquer tipo de
negócio. É só imaginar uma pessoa com 15 anos. Quer dizer que a entrada de
cinema que ela comprou é nula? Ou a roupa pela qual pagou no shopping?
Obviamente que não.
b. ausência de discernimento
Não basta estado patológico mental, há de se verificar se tal impede o
discernimento e a consciência de atuação. Por isso, por exemplo, o
psicopata, que é inimputável no Direito Penal, é capaz para determinados atos,
no Direito Civil). Apesar de o mentalmente incapaz precisar de interdição, o ato
é nulo mesmo sem que previamente tenha havido interdição. Mesmo que tenha
momento de lucidez, nulo é o ato praticado por aquele que não possui
discernimento.
Há aqui ainda uma controvérsia quanto às mudanças operadas pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência e o CPC. No entanto, como ainda não
se assentaram a doutrina e a jurisprudência sobre o assunto, resolvi
manter o item aqui.
b. simulação
O que é simulação? Na linguagem jurídica é, segundo Pontes de Miranda:
Ostenta-se o que não se quis; e deixa-se, inostensivo, aquilo que se quis.
O motivo tem que ser comum, ou seja, se um sabia e o outro não, o motivo
determinante não é ilícito.
2. Objeto
a. ilicitude
Nulidade prevista no art. 166, inc. II do CC/2002. Pode-se ter objeto ilícito
tanto diretamente (por exemplo, um contrato para que o contratado mate
alguém), quanto indiretamente (eu doo dinheiro ao matador de aluguel). O
cuidado a se ter é que se tem de analisar os atos em conjunto, pois
isoladamente são lícitos, eventualmente.
No caso de infração direta, temos as nulidades textuais, ou seja, a Lei diz
claramente que o ato é nulo, como no art. 489 do CC/2002:
Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das
partes a fixação do preço.
As nulidades virtuais, porém, são mais difíceis, já que a Lei não fala claramente
que é nulo, sendo necessário uma construção doutrinária e jurisprudencial sobre
cada caso. Exemplo disso é o art. 556 do CC/2002:
Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão
do donatário.
O artigo não menciona a sanção, mas se entende que é nulo. Ambas, nulidades
textuais e virtuais estão previstas no art. 166, inc. VII do CC/2002.
b. impossibilidade
Nulidade também prevista no art. 166, inc. II do CC/2002. São quatro as
situações de impossibilidade:
i. cognoscitiva: impossibilidade de conhecer (guardar um lugar no céu);
ii. lógica: contradição no negócio (as cláusulas ininteligíveis);
iii. física: impossível no momento da execução da prestação (carro que dirige sozinho por
qualquer lugar). Em geral, será sempre temporária, por conta dos avanços científicos, vide
os carros que estão sendo desenvolvidos pelas montadoras e pelo Google;
iv. jurídica: fisicamente é possível, mas não juridicamente, seja por lei ou por contrato. Por
exemplo, a divisão da uma parcela de terra em porção menor que o módulo rural;
fisicamente pode, mas juridicamente eu digo que não.
c. indeterminabilidade
Nulidade igualmente prevista no art. 166, inc. II do CC/2002. A indeterminação
tem de ser absoluta, ou seja, não consigo determinar a prestação, de modo
algum. Raríssima na prática, pelo que pouco importante na sua prova.
3. Forma
A lei pode exigir forma específica ou proibir outras, em determinados atos,
conforme estabelecem os incs. IV e V do art. 166 do CC/2002.
Cuidado! Não confundir forma com instrumento no
qual essa forma se realiza. Há inúmeros atos sem
instrumento, mas com forma, como numa doação
verbal, por exemplo.
a. menoridade
i. Capacidade de
agir
b. ausência de
discernimento
1. Sujeito
a. má-fé (objetiva) e
iniquidade
ii. Perfeição da
b. simulação
manifestação
NULIDADES c. Motivo
a. ilicitude
determinante ilícito
2. Objeto b. impossibilidade
c.
3. Forma
indeterminabilidade
3.4.2. Anulabilidades
O núcleo das anulabilidades está no art. 171, mas ele é incompleto, pois
faltam as anulabilidades específicas, que estão determinadas na lei e por ela
espalhadas.
Ao contrário das nulidades, as anulabilidades podem ser alegadas somente
pelos interessados, segundo o art. 177 do CC/2002. Por isso, segundo esse
mesmo dispositivo, as anulabilidades não podem ser pronunciadas de ofício
pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico.
Daí o negócio anulável poder ser confirmado pelas partes, salvo direito de
terceiro, segundo regra do art. 172 do CC/2002. Essa confirmação, inclusive,
nem precisa ser expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo
devedor, ciente do vício que o inquinava, nos termos do art. 174. Com a
confirmação extinguem-se todas as ações, ou exceções, de que contra ele
dispusesse o devedor, a rigor, pelo teor do art. 175 do CC/2002.
ANULABILIDADES
Não podem ser pronunciadas de ofício pelo Não podem ser alegadas por qualquer
juiz interessado, apenas pelas próprias partes
Vejamos as anulabilidades:
1. Sujeito
i. Capacidade de agir
a. falta de assentimento
Prevista no art. 171, inc. I do CC/2002, trata da incapacidade relativa. O
assentimento tem o sentido de aprovação, autorização. O correto não é
dizer que a incapacidade relativa traz a
anulabilidade, mas a falta de assentimento do
responsável.
Quando isso ocorrerá? Nas situações do art. 4º do
CC/2002, cuja redação foi alterada pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei 13.146/2015):
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos.
a. erro
O erro nada mais é do que “a falsa representação psicológica da
realidade”.
O erro pode se dar quando não há paralelismo nas manifestações (empresto a
caneta de ouro para o sujeito assinar um documento e ele acha que eu a doei),
quando eu utilizo uma palavra plurívoca ou equívoca (carro A “completão”),
quando minha vontade não é transmitida corretamente (pelo representante ou
num anúncio incorreto), quando o objeto não corresponde ao que se negociou,
qualitativa ou quantitativamente (brinco de ouro e folheado, obra de arte falsa),
quando a pessoa não é ou não tem as qualidades imaginadas (só para os negócios
intuitu personae: contratação de um pianista para um recital de órgão) ou mesmo
quando acabo negociando algo errado (dito uma coisa a pessoa escreve errado e
eu assinado sem ler).
Quando se verificará o erro? Seus requisitos estão nos arts. 138 a 140 do
CC/2002:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração
de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou
principal do negócio jurídico.
IV - não puder ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias
do negócio;
V - for razão determinante do negócio.
b. dolo
Dolo significa engano, embuste, traição, trapaça. É a ação ou omissão em induzir,
fortalecer ou manter o outro na falsa representação da realidade para beneficiar
a si ou a outrem, de modo que o negócio não se realizaria de outra maneira. Ou
seja, o dolo nada mais é do que “induzir alguém em erro”.
No dolo, portanto, não se exige qualquer sofisticação, basta “ajudar” o erro alheio
que é dolo. Há linha tênue entre a propaganda enganosa e a exaltação das
qualidades do produto. A doutrina e a jurisprudência entendem que o espalhafato
e o exagero não são dolo. Porém, o silêncio, a depender do caso, pode ser
considerado igualmente dolo, conforme estipula o art. 147 do CC/2002.
E precisa o dolo ser praticado diretamente? Não, se
terceiro colabora no dolo, desde que o outro
negociante saiba ou devesse saber que aquilo não
correspondia à realidade, é dolo, na dicção do art. 148.
Por exemplo, enquanto estou comprando um produto pirata uma pessoa qualquer
olha o produto e diz: “ah, esse aí é muito bom, já que é fabricado na Suíça, na
c. coação
A vontade, aqui é viciada pelo medo de dano a si, à família, a outrem ou
aos bens, segundo o art. 151 do CC/2002.
O parágrafo único desse artigo diz que se a coação for contra terceiro,
não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas
circunstâncias, decidirá se houve coação.
O dano tem de ser considerável, mas isso depende da análise judicial. O medo é
igualmente relativo, pois varia de pessoa a pessoa, já que há mais fracos e mais
fortes para suportar tortura psicológica, conforme estabelece o art. 152 do
CC/2002. Assim, a ameaça com arma de brinquedo é coação, ainda que não seja
suficiente para o aumento/qualificadora de pena do roubo.
Há algumas situações que não caracterizam coação, ainda que pareçam,
conforme estabelece o art. 153 do CC/2002: a ameaça do exercício
normal de um direito e o simples temor reverencial.
Tal qual no dolo, o coator pode ser terceiro, mas a parte beneficiada, para
indenizar, deveria saber ou teria o dever de saber do temor. Se não soubesse, o
terceiro coator é quem indeniza, mas o negócio continua válido, ou seja, há dever
de indenizar independentemente da validade do negócio, conforme estabelecem
os arts. 154 e 155 do CC/2002.
d. estado de perigo
Previsto no art. 156 do CC/2002:
Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou
a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação
excessivamente onerosa.
É o caso do pai que, vendo o filho ser atingido por um tiro em confronto policial
na rua, leva-o ao hospital, que exige soma excessiva para realizar a cirurgia.
Tal qual na coação, o parágrafo único estendeu a verificação do estado de perigo
a qualquer relação afetiva:
Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias.
3. Relação de causa e efeito entre o perigo e o negócio: fiz o negócio para evitar o perigo;
4. Dolo da contraparte: o outro tem que saber que eu farei o negócio a qualquer custo;
5. Excessiva onerosidade: avaliada pelo negócio em si, e não em relação ao patrimônio do
sujeito.
e. lesão
A lesão, prevista no art. 157 do CC/2002, tem dois pressupostos:
1. Prestação manifestamente desproporcional: valorada pelo juiz. Por exemplo, vende a
casa de 1 milhão por 100mil;
2. O negócio se deu por estado de necessidade ou inexperiência.
2. Objeto
a. fraude contra credores
Marcos Bernardes de Mello assim conceitua a fraude contra credores:
Constitui fraude contra credores todo o ato de disposição e oneração de bens, créditos e
direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tornado
insolvente, que acarrete redução de seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente.
As ações em relação à fraude contra credores vão variar, conforme sejam dívidas
civis (feitas por não-empresários ou por empresários em dívidas que não sejam
próprias da atividade empresarial) ou empresariais (feitas por empresários na
atividade empresarial. Quanto à dívida civil é importante mencionar a Ação
Anulatória, também chamada de Ação Pauliana (sim, eu tenho uma ação
processual com o MEU NOME!)
i. Capacidade de a. falta de
agir assentimento
a. erro
1. Sujeito
b. dolo
ii. Perfeição da
manifestação c. coação
Anulabilidades (vícios de vontade)
a. fraude contra
2. Objeto d. estado de perigo
credores
3. Anulabilidades
e. lesão
específicas
No entanto, não é qualquer condição que pode ser estipulada pelas partes. Ao
contrário, o art. 122 estabelece que a condição não pode violar a lei, a ordem
Caso não esteja previsto prazo, os negócios jurídicos entre vivos devem ser
executados logo, exceto se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou
depender de tempo (art. 134).
O encargo, ou modo, por sua vez, impõe ao beneficiário de uma
liberalidade uma dada obrigação. Por exemplo, eu doarei meu apartamento
a você, desde que você cuide do cachorro da família até sua morte; ou eu doarei
um terreno para você para que seja edificado um museu; ou eu doarei meu
patrimônio a você com a obrigação de que você não derrube a casa de meus pais.
Por isso, o encargo não suspende a aquisição nem o
exercício do direito, por força do art. 136 do CC/2002. No
entanto, há exceção: quando expressamente imposto no
negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. Aí, na realidade, a
situação mais parecerá uma condição do que um encargo propriamente dito.
Caso se estabeleça encargo ilícito ou impossível, ele será simplesmente
considerado não escrito. A exceção fica para o caso de o encargo ilícito ou
impossível constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se
invalida o negócio jurídico (art. 137).
Por isso, se estabeleço que doarei um carro a você
SE você por aprovado na OAB, sua aprovação é
uma condição para o negócio. Se estabeleço que
doarei meu carro a você QUANDO você fizer 18
anos, seu aniversário é um termo para o negócio. Se esbeleço que doarei
o casso a você DESDE QUE você o mantenha original, a manutenção da
originalidade consittui um encargo do negócio.
4. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
4.1 – Distinção
O que vai diferenciar prescrição de decadência?
Segundo Pontes de Miranda, a prescrição encobre os
efeitos potenciais da pretensão, ao passo que a
decadência extingue a própria pretensão.
O Código Civil, por sua vez, define a prescrição, apenas:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela
prescrição (...).
Direitos
subjetivos
Ações
Condenatórias
Constitutivas Declaratórias
l.s.
Condenatórias s.s.
Mandamentais
Executórias
Sujeitam-se à prescrição
Prescrição
Pode renunciar
Pode ser alegada apenas pelo
interessado Decadência
Pode ser conhecida de ofício pelo Irrenunciável
juiz Pode ser alegada por outrem (MP)
Admite suspensão e interrupção Deve ser conhecida de ofício pelo juiz
Não suspende nem interrompe
Aqui a prescrição está suspensa, ou seja, não corre. Imagine um corredor. Se ele
não começou a correr, a suspensão significa que não há “tempo de corrida a
contar”; ele está lá, parado na marca, esperando o tiro do juiz permitir que ele
corra. Imagine que você recebeu uma herança quando tinha 12 anos e seu pai
se desfez dela indevidamente. Você ainda não correu, porque está sob o poder
familiar; quando sair do poder familiar (maioridade ou emancipação), o “tiro” do
juiz “dá a largada” para a prescrição.
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação
do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar
o laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que
se vencerem.
§ 3º Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis,
em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o
prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto,
contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente
ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembleia geral que
dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,
ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de
seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§ 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das
contas.
§º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e
professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação
dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.
5. PROVAS
5.1. Noções gerais
Nada melhor do que falar em prova na prova da OAB! A rigor, esse é um tema
que tem pouco impacto nos exames, por duas razões.
Primeiro, essa é uma matéria essencialmente afeita ao Processo Civil, logo é lá
que caem questões mais “pesadas” sobre esse tema. Segundo, porque é um tema
relativamente fácil, depois que se estuda Processo Civil, e resto é um conjunto
meio disforme de regras com decoreba.
De qualquer forma, é relevante estudar esse tema porque ele já caiu, como
veremos adiante.
Quando falamos, no início dessa aula, sobre o plano da existência dos fatos
jurídicos, algumas coisas talvez te chamaram a atenção. Como, por exemplo, as
situações em que o fato existe na realidade social, mas não existe para o Direito,
por numerosas razões.
Uma delas é, assim, pela ausência de prova. Se você, num lugar sem câmeras,
testemunhas ou qualquer outro meio de prova, me promete um bem, estamos
diante de uma doação. Agora, na hora em que eu exijo a doação, você
simplesmente pode dizer que nunca doou. Como eu farei para demonstrar a
existência dessa doação? Por meio da prova.
Se você não confessar, nem houver situação de presunção legal, dificilmente
conseguirei provar que você efetivamente me doou algo. A doação existiu, no
mundo fático, mas não no mundo jurídico, porque a incidência da norma nunca
ocorrerá...
Mas, então, como se prova um fato jurídico? Primeiro, tenho de atentar se o
negócio jurídico não exige alguma forma especial; se exige, tenho de
observar aquela forma. Se o negócio jurídico não
exige forma especial ou em se tratando dos demais
fatos jurídicos, segundo o art. 212 do CC/2002,
prova-se mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.
Documento
Pode-se provar, e é o mais comum na realidade processual brasileira pouco
acostumada e um tanto reticente à prova oral, através de documento. Os
documentos podem ser públicos ou particulares.
Quando você escuta alguém falando numa “escritura pública de compra e venda”
a pessoa nada mais está do que falando de um contrato de compra e venda feito
sob forma escrita perante uma autoridade pública investida no poder estatal de
dar àquele documento fé pública.
Quando o CC/2002 trata da escritura, ele a trata daquela, lavrada no cartório de
notas. Nesse caso, segundo o art. 215, essa escritura constituirá um
documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. A rigor, a escritura
pública deve conter:
I - data e local de sua realização;
II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido
ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;
III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais
comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento,
nome do outro cônjuge e filiação;
IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;
V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do
ato;
VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que
todos a leram;
VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu
substituto legal, encerrando o ato.
Testemunha
O NCPC revogou o art. 227 do CC/2002. Em boa hora (ainda que ainda
não vigente, só a partir do próximo Exame). Eis a redação do artigo:
Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios
jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao
tempo em que foram celebrados.
para alguém. Como você vai provar que emprestou dinheiro para o seu amigo,
se não com o testemunho do seu filho? Logicamente que o juiz analisará as coisas
com ressalvas, mas analisará.
Presunção
Existem duas presunções no Direito.
De um lado, as presunção relativas, que admitem prova em contrário.
Assim é, por exemplo, a presunção de inocência do Direito Penal; presume-se
inocente até que o MP prove que é culpado. O marido presume-se pai dos filhos
na constância do casamento, até que DNA prove que ele não é o pai.
Outro exemplo é o constante no art. 219:
As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação
aos signatários.
No entanto, o próprio parágrafo único desse artigo já traz exceção, ou seja, nem
sempre tudo o que estiver escrito presume-se verdadeiro em relação ao
signatário:
Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com a legitimidade das
partes, as declarações enunciativas não eximem os interessados em sua veracidade do ônus
de prová-las.
Além disso, outras fontes de prova como áudios, textos, imagens, vídeos
(Facebook, Whatsapp, Instagram, por exemplo), também servem de
meio de prova, conforme estabelece o art. 225 do CC/2002. Porém, a
contraparte pode impugnar essas provas, e, aí, a solução é, em geral, pericial.
De outro, existem as presunções absolutas, que não admitem prova em
contrário. O Direito Civil é pobre em presunções absolutas, assim como o Direito
em geral. Via de regra, admite-se que se prove em contrário. A presunção de
maternidade, por exemplo, era um das poucas presunções absolutas que
tínhamos: nasceu daquela barriga, aquela é a mãe. No entanto, com o
desenvolvimento científico, a barriga de aluguel fez essa
presunção absoluta se tornar relativa; se nasceu daquela
barriga, mas há maternidade por sub-rogação, ela não é a
mãe...
Perícia
Por fim, o CC/2002 tem duas regras sobre perícia, apenas.
Primeiro, diferentemente do Direito Penal, no qual o sujeito não é obrigado a
fazer prova contra si, o art. 231 estabelece que aquele
que se nega a submeter-se a exame médico
necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
É por isso que, como veremos, o pretenso pai que se nega a fazer o teste de DNA
é presumido pai, por extensão dessa regra (há regra própria em lei especial, mas
ela segue exatamente o mesmo raciocínio dessa).
Por isso, como consequência, se eu queria provar algo que depende dessa perícia
e a pessoa se nega a se submeter a ela, não preciso mais provar aquilo por outros
meios de prova:
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se
pretendia obter com o exame.
Considerações Finais
Com isso, finalizamos a Parte Geral do Código Civil, restando apenas a questão
das provas, que vai sendo tratada ao longo de nosso Curso. Na próxima aula
começaremos o primeiro dos livros da Parte Especial, com o Direito das
Obrigações.
Esse é um tema de grande incidência nos Exames, conforme dissemos na Aula
0. Se ele fosse tomado como a parte que engloba os Contratos e a
Paulo H M Sousa
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