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O FIM DOS TEMPOS


Manual de Escatologia - Interpretando o Apocalipse

Por Daniel Conegero

1ª Edição 2016

USO DO MATERIAL
É proibida qualquer tipo de distribuição desde material sem a
prévia autorização do autor.

"Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua


vinda e do fim do mundo?"
(Mateus 24:3b)

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SUMÁRIO
PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

O QUE É ESCATOLOGIA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O QUE SIGNIFICA ESCATOLOGIA? ................................................................................11

A ESCATOLOGIA GERAL E A ESCATOLOGIA INDIVIDUAL .............................................11


PROFECIA DE MÚLTIPLA REFERÊNCIA ..........................................................................12

AS DI FERENTES POSIÇÕES ESCA TOLÓGI CAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14


PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO .........................................................................................14

PRÉ-MILENISMO DISPENSA CIONALISTA CLÁSSICO ......................................................15


PÓS-MILENISMO............................................................................................................16

AMILENISMO .................................................................................................................17
AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VISÕES ESCATOLÓGICAS ...............................18
AS DIFERENTES OPI NIÕES ACER CA DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO ..........................21

PRÉ-TRIBULACIONISMO ............................................................................................21
MESO-TRIBULA CIONISMO .........................................................................................22

PÓS-TRIBULA CIONISMO ............................................................................................23


COMO DEVEMOS NOS POSI CIONAR DIA NTE DAS DIFERENÇA S?..................................23

O SERMÃ O ESCA TOLÓGI CO DE JESUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25


AS DIFERENTES INTERPRETA ÇÕES SOBRE O SERMÃO ESCATOLÓGI CO .....................25

A ORGANIZAÇÃO E EXPLICA ÇÃO DO SERMÃO ESCATOLÓGICO ..................................26


A DESTRUI ÇÃO DE JERUSALÉM E DO TEMPLO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO .........27

O PRINCÍPIO DAS DORES NO SERMÃO ESCATOLÓGICO ..........................................28


A GRANDE TRIBULAÇÃ O NO SERMÃ O ESCA TOLÓGI CO ...........................................29

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO ..................................31


O LIVRO DO APOCA LIPSE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA "APOCA LIPSE"? ..............................................................33


QUEM ESCREVEU O APOCALIPSE? ...............................................................................33

DATA E CONTEXTO HISTÓRICO DO APOCALIPSE .........................................................33


DIFERENTES INTERPRETA ÇÕES SOBRE O LIVRO DO APOCALIPSE ...............................35

INTERPRETA ÇÃO PRETERISTA DO APOCA LIPSE .......................................................36


INTERPRETA ÇÃO HISTORICISTA DO APOCALIPSE ....................................................36

IINTERPRETA ÇÃO IDEALISTA DO APOCALIPSE .........................................................37


INTERPRETA ÇÃO FUTURISTA DO APOCALIPSE .........................................................37

QUAL O MELHOR ESTILO DE INTERPRETA ÇÃO PARA O APOCA LIPSE? ........................38


POSIÇÕES ACER CA DO MILÊNIO ..................................................................................38

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LEITURA DE RECAPITULA ÇÃO OU SUCESSÃ O NO APOCALIPSE? .................................39

LEITURA LI NEAR ........................................................................................................39


LEITURA DE RECAPITULA ÇÃO ...................................................................................39

ESBOÇO DO LIVR O DO APOCALIPSE ............................................................................40

QUAL O MELHOR MÉTODO DE LEITURA?......................................................................41


AFI NAL, COMO ESTUDAR O APOCALIPSE? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

ATENÇÃO AO TÍTULO DO APOCALIPSE ........................................................................43


ATENÇÃO AO CONTEXTO HISTÓRICO DO APOCALIPSE ...............................................43

ATENÇÃO AO PROPÓSITO E AO TEMA DO APOCALIPSE ...............................................44


ATENÇÃO A ORGANIZA ÇÃO DO CONTEÚDO DO APOCALIPSE .....................................45

ATENÇÃO AO SIMBOLISMO NO APOCA LIPSE ...............................................................45


ATENÇÃO AOS NÚMER OS NO APOCA LIPSE .................................................................47

AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


POR QUE SETE IGREJAS?..............................................................................................49

QUAIS SÃO AS SETE IGREJAS DO APOCA LIPSE? ..........................................................50


OS SETE CASTIÇAIS E AS SETE ESTRELAS ....................................................................50

QUEM SÃO OS ANJOS DAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE? .......................................50


A ESTRUTURA DAS SETE CARTAS .................................................................................51

AS CARACTERÍSTI CAS DE CADA IGREJA NAS SETE CARTAS ........................................52


QUAL O SIGNIFICA DO DAS SETE IGREJAS DO APOCA LIPSE? .......................................53

A VISÃO DO TRONO DE DEUS NO APOCALIPSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56


JOÃO RECEBE UM CONVITE .........................................................................................56

QUEM SÃO OS VINTE E QUATR O ANCIÃOS? .................................................................58


QUEM SÃO OS QUA TRO SERES VIVENTES? ..................................................................58

A IGREJA TAMBÉM ADORA AO CORDEIRO ...................................................................60


O COR DEIRO EXALTA DO E O LIVR O SELA DO ...............................................................60

O LIVRO SELA DO COM SETE SELOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63


O LIVRO SELA DO SE REFERE AO PERÍODO DE GRANDE TRIBULAÇÃ O ........................63

O LIVRO SELA DO SE REFERE À ERA DA IGREJA ...........................................................65


POR QUE A ABERTURA DOS SELOS SE REFEREM À ERA DA IGREJA? ..........................65

PRIMEIRO SELO: O CAVALO BRANCO ...........................................................................67


SEGUNDO SELO: O CAVALO VERMELHO ......................................................................70

TERCEIRO SELO: O CAVA LO PRETO .............................................................................71


QUARTO SELO: O CAVALO AMARELO ...........................................................................73

CONSIDERA ÇÕES A CERCA DOS QUATRO PRIMEIROS SELOS ......................................74


QUINTO SELO ...............................................................................................................75

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SEXTO SELO..................................................................................................................75

O INTERLÚDIO DO CAPÍTULO 7.....................................................................................76


SÉTIMO SELO ................................................................................................................76

QUEM SÃ O OS 144 MIL SELA DOS NO CAPÍTULO 7? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

INTERPRETA ÇÃO DOS TETEMUNHAS DE JEOVÁ ...........................................................78


INTERPRETA ÇÃO DOS PRÉ-MILENISTAS DISPENSA CIONA LISTAS .................................79

INTERPRETA ÇÃO DAS DEMAIS ESCOLAS ESCATOLÓGICAS .........................................80


QUAL A INTERPRETA ÇÃO MAIS COERENTE? ................................................................82

AS SETE TROMBETAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
AS TROMBETAS SE REFEREM AO PERÍODO DA GRANDE TRIBULAÇÃ O ........................84

AS SETE TROMBETAS SE REFEREM À PRESENTE DISPENSA ÇÃO ..................................85


PRIMEIRA TROMBETA....................................................................................................87

SEGUNDA TROMBETA ...................................................................................................87


TERCEIRA TROMBETA ...................................................................................................88

QUARTA TR OMBETA .....................................................................................................88


QUINTA TROMBETA ......................................................................................................89

SEXTA TROMBETA .........................................................................................................91


INTERLÚDI O DO CAPÍTULO 10 E 11 ...............................................................................93

SÉTIMA TROMBETA .......................................................................................................93


QUEM SÃ O AS DUAS TESTEMUNHAS NO APOCA LIPSE?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

QUAL A INTERPRETA ÇÃO MAIS COERENTE? ................................................................98


A MULHER E O DRAGÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

QUAL É A MELHOR INTERPRETA ÇÃO? ........................................................................ 103


A DESCRIÇÃ O DA MULHER ......................................................................................... 106

A DESCRIÇÃ O DO FILHO DA MULHER......................................................................... 107


A DESCRIÇÃ O DO DRAGÃO ........................................................................................ 107

A BESTA QUE SUBIU DO MAR E A BESTA QUE SUBIU DA TERRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110


QUEM SÃO AS DUAS BESTAS? .................................................................................... 110

A BESTA QUE SUBI U DO MAR .................................................................................. 110


A BESTA QUE SUBI U DA TERRA ............................................................................... 118

MAR CA DA BESTA E O NÚMER O 666 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122


AS DIFERENTES INTERPRETA ÇÕES SOBRE A MARCA DA BESTA ................................ 122

AFINAL, O QUE É A MARCA DA BESTA? ...................................................................... 123


O QUE SIGNIFICA O NÚMERO 666? ......................................................................... 129

O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE A MARCA DA BESTA? ....................................... 130


O A NTICRISTO SEGUNDO A BÍBLIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

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O QUE SIGNIFICA A PALAVRA "ANTI CRISTO"? ............................................................. 133

O ANTICRISTO NO LIVRO DE DANIEL .......................................................................... 134


O ANTICRISTO NO SERMÃO ESCATOLÓGI CO DE JESUS ............................................ 135

O ANTICRISTO NAS EPÍSTOLAS DE JOÃO ................................................................... 135

O ANTICRISTO NAS EPÍSTOLAS DE PAULO ................................................................. 136


O ANTICRISTO NO APOCA LIPSE ................................................................................. 137

QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO ANTICRISTO? ......................................................... 138


AS SETE TAÇAS DA IRA DE DEUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

COMO ENTENDER AS SETE TA ÇAS? ........................................................................... 141


A RELAÇÃO ENTRE AS SETE TA ÇAS E AS SETE TROMBETAS ...................................... 144

O DERRAMAMENTO DAS SETE TA ÇAS ........................................................................ 145


PRIMEIRA TAÇA ....................................................................................................... 145

SEGUNDA TAÇA ...................................................................................................... 146


TERCEIRA TAÇA ....................................................................................................... 146

QUARTA TA ÇA ......................................................................................................... 147


QUINTA TAÇA .......................................................................................................... 147

SEXTA TAÇA ............................................................................................................ 148


SÉTIMA TAÇA ........................................................................................................... 150

O QUE É A BATALHA DO ARMAGEDOM?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151


O QUE SIGNIFICA A PALAVRA ARMAGEDOM? ............................................................ 151

AS DIFERENTES INTERPRETA ÇÕES SOBRE A BATALHA DO ARMAGEDOM ................. 151


COMO I NTERPRETAR A BATALHA DO ARMAGEDOM? ................................................. 153

A GRANDE BABILÔNIA DO APOCA LIPSE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157


BABILÔNIA: A MÃE DAS MERETRIZES ......................................................................... 157

QUÉM É ESSA BABILÔNIA? ...................................................................................... 157


A DESCRIÇÃ O DA GRANDE BABILÔNIA ................................................................... 160

A QUEDA DA GRANDE BABILÔNIA .............................................................................. 164


A CEIA DA S BODAS DO CORDEIR O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

AS BODAS DO COR DEIRO E AS DIFERENTES CORRENTES ESCATOLÓGICAS ............ 167


AS BODAS DO COR DEIRO E O PRETERISMO ........................................................... 167

AS BODAS DO COR DEIRO E O PRÉ-TRIBULA CIONISMO .......................................... 168


AS BODAS DO COR DEIRO E O PÓS -TRIBULACIONISMO.......................................... 169

QUAL A INTERPRETA ÇÃO MAIS COERENTE SOBRE AS BODAS DO CORDEIRO? ........ 170
O QUE É O MILÊNIO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

AS PRINCIPAIS INTERPRETAÇÕES SOBRE O MILÊNIO ................................................ 173


O AMILENISMO E O MILÊNIO ................................................................................... 174

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O PÓS-MILENISMO E O MILÊNIO .............................................................................. 174

O PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO E O MILÊNIO ........................................................... 175


O PRÉ-MILENISMO DISPENSA CIONALISTA E O MILÊNIO ......................................... 175

COMO I NTERPRETAR O MILÊNIO? ............................................................................... 176

O MILÊNIO E A RECAPITULA ÇÃO NO APOCALIPSE ..................................................... 182


O MILÊNIO E O SIMBOLISMO NO APOCA LIPSE ........................................................... 184

A PRISÃO DE SATANÁS POR MIL ANOS ....................................................................... 185


O REINADO DOS SA NTOS NO MILÊNIO ....................................................................... 188

O MILÊNIO, A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO E A SEGUNDA MORTE ................................ 188


O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE O MILÊNIO? ...................................................... 192

GOGUE E MAGOGUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193


GOGUE E MAGOGUE NO ANTIGO TESTAMENTO ........................................................ 193

GOGUE E MAGOGUE NO APOCALIPSE ....................................................................... 193


GOGUE E MAGOGUE NAS DIFERENTES CORRENTES ESCA TOLÓGI CAS .................... 194

COMO I NTERPRETAR A EXPRESSÃO GOGUE E MAGOGUE? ....................................... 195


A GRANDE TRIB ULA ÇÃO E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199

A IGREJA PASSARÁ PELA GRANDE TRIBULA ÇÃO? O ARREBATAMENTO SERÁ


SECRETO? ................................................................................................................... 200

ANALISANDO ALGUNS TEXTOS ESPECÍFI COS ......................................................... 205

O ARREBATAMENTO DA IGREJA SERÁ UM EVENTO VISÍVEL ....................................... 210


EXISTE ALGUMA FORMA DE MARCAR UMA DA TA PARA A VOLTA DE CRISTO? .......... 212

O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE A GRANDE TRIBULA ÇÃO E A SEGUNDA VINDA DE


CRISTO? ...................................................................................................................... 213

O JUÍZO FINA L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215


O JUÍZO FINAL E AS DIFERENTES CORRENTES ESCATOLÓGICAS .............................. 215

QUA NTOS JUÍZOS FINAIS OCORRERÃO? .................................................................... 216


QUA NDO OCORRERÁ O JUÍZO FINAL? ........................................................................ 218

QUAL SERÁ A DURAÇÃO DO JUÍZO FI NAL? ................................................................ 220


ONDE OCORRERÁ O JUÍZO FINA L? ............................................................................. 220

QUEM SERÁ O JUIZ NO JUÍZO FINA L?......................................................................... 221


QUEM PARTI CIPARÁ DO JULGAMENTO FI NAL? .......................................................... 222

QUEM SERÁ JULGADO NO JUÍZO FINA L? ................................................................... 222


O QUE SERÁ JULGADO NO JUÍZO FINA L?................................................................... 224

QUAL SERÁ O CRITÉRIO DE JULGAMENTO NO JUÍZO FINAL? .................................... 225

OS GALARDÕES NO JUÍZO FINA L ............................................................................... 227


QUAIS SÃO OS PROPÓSITOS DO JUÍZO FINAL? POR QUE ELE TEM QUE OCORRER? . 228

QUAL O SIGNIFICA DO DO JUÍZO FI NAL? .................................................................... 229

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O INFER NO SEGUNDO A BÍBLIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230

O QUE É O INFERNO? O INFER NO É REAL? ................................................................. 230


O QUE SIGNIFICA INFERNO? ....................................................................................... 231

O SIGNIFICA DO DE SHEOL ...................................................................................... 231

O SIGNIFICA DO DE HA DES ...................................................................................... 233


O SIGNIFICA DO DE TÁRTARO .................................................................................. 234

O SIGNIFICA DO DE GEHENNA ................................................................................. 235


COMO É O INFER NO? .................................................................................................. 236

O DIABO GOVER NA O INFER NO? ................................................................................ 238


DEUS ESTÁ PRESENTE NO INFERNO? ......................................................................... 238

ONDE FICA O INFERNO? ............................................................................................. 239


COMO É O CASTIGO NO INFER NO? ............................................................................ 239

TODOS RECEB EM O MESMO CASTIGO NO INFERNO? ............................................. 241


O CASTIGO NO INFER NO É ETER NO? ...................................................................... 242

O INFER NO NO ESTA DO INTERMEDIÁRIO E FINA L ...................................................... 243


A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA SOBRE O INFER NO ................................................... 244

O NOVO CÉU E NOVA TERRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246


QUA NDO OCORRERÁ O SURGIMENTO DO NOVO CÉU E NOVA TERRA? ..................... 246

COMO SERÁ CRIADO O NOVO CÉU E NOVA TERRA? .............................................. 246


COMO SERÁ O NOVO CÉU E NOVA TERRA? ............................................................ 247

AS REFERÊNCIAS SOBRE O NOVO CÉU E NOVA TERRA ............................................. 249


COMO VIVEREMOS NO NOVO CÉU E NOVA TERRA? ................................................... 251

QUAL SERÁ O PAPEL DOS ANJOS NO NOVO CÉU E NOVA TERRA? COMO ELES SE
RELACIONARÃO COM A IGREJA? ............................................................................ 252
COMO SERÁ O NOSSO CORPO NO NOVO CÉU E NOVA TERRA? ............................. 253

O CRISTÃO E A PROMESSA ACERCA DO NOVO CÉU E NOVA TERRA ......................... 253


A NOVA JERUSALÉM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255

AS DIFERENTES INTERPRETA ÇÕES A CERCA DA NOVA JERUSA LÉM .......................... 255


O QUE É A NOVA JERUSALÉM? ................................................................................... 256

A DESCRIÇÃ O DA NOVA JERUSALÉM ...................................................................... 257


TEXTOS COMPLEMENTARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFI CAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310

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PREFÁCIO
A escatologia certamente é a área mais debatida da teologia, e
também a que mais desperta curiosidade entre os cristãos. Diante de tantos
questionamentos, surgiram muitas especulações e teorias fantasiosas acerca
deste assunto, e, infelizmente, dia após dia as pessoas acabam consumindo
informações que não condizem com o ensino bíblico.

Nos cursos que já tive a oportunidade de lecionar, percebi que a


grande maioria dos cristãos possui pouco ou nenhum conhecimento
escatológico. Isso é muito triste, pois estamos falando, principalmente, sobre a
doutrina bíblica acerca do futuro.

Percebi também que às vezes ficamos tão acostumados às salas de


aula dos seminários teológicos, que acabamos cometendo o erro de ensinar a
nossa congregação local como se estivemos ensinando acadêmi cos e
estudiosos da área.

Foi então que resolvi colocar neste material as dúvidas mais


frequentes que já recebi sobre escatologia. Tentei manter ao máximo uma
abordagem descomplicada e informal, embora consciente de que em alguns
pontos é praticamente impossível evitar a complexidade do tema. Não me
prendi tanto em detalhes técnicos, principalmente de termos gregos ou
hebraicos, para que a leitura não ficasse cansativa.

Tentei também passar um panorama geral das principais correntes


escatológicas, pois penso ser extremamente injusto o fato dos cristãos serem
doutrinados numa determinada linha escatológica sem nem ao menos saber
que existem outras posições sobre o assunto.

Resolvi publicar este material em formado digital pois fiquei muito


animado com a possibilidade de expansão que um e-book nos proporciona,
ao contrário de um livro impresso. Se Deus assim permitir, em breve pretendo
ampliar ainda mais o conteúdo desde e-book.

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Agradeço imensamente a Deus que me proporcionou a oportunidade


de compor este material, pois sem a capacitação do Espírito Santo que
ilumina o nosso entendimento, eu não teria escrito nem mesmo a primeira
frase. O privilégio de ensinar as Escrituras é extraordinário.

Meu desejo sincero é que este material seja muito útil para os seus
estudos da Palavra de Deus, e que possa servir de benção para a sua vida.
Espero que você também entenda que meu objetivo neste e-book não é
debater a escatologia, mas tentar expô-la, com toda humildade e respeito, da
maneira que considero ser a mais coerente com o ensino bíblico sobre o
tema.

Que Deus vos abençoe grandemente!

DANIEL CONEGERO

Um pecador que foi alcançado pela


maravilhosa graça de Deus. Casado com
Ana Glaucia Conegero, formado pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
professor de teologia, músico e autor do
blog Estilo Adoração.

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O QUE É ESCATOLOGIA?
A escatologia é a divisão da teologia sistemática que estuda as
profecias bíblicas sobre o nosso futuro individual, e o futuro do mundo. A
escatologia é o clímax da revelação divina, nela é explicada a principal razão
da criação do mundo material, e o cumprimento dos propósitos eternos de
Deus para a humanidade.

É importante saber que a escatologia bíblica aborda tanto as profecias


que já se cumpriram, como as que ainda se cumprirão, ou seja, tudo o que
era “profeticamente futuro” na época em que foi escrito pode ser entendido
como escatológico. Isto nos leva ao que na teologia geralmente se chama de
"escatologia inaugurada" e "escatologia futura".

Na escatologia inaugurada é abordado a fase atual do reino de Deus


e as bênçãos presentes desfrutadas pelos crentes, bem como as várias
profecias presentes no Antigo Testamento que se cumpriram na pessoa de
Cristo em sua primeira vinda. A escatologia futura, como o próprio nome já
diz, aborda os eventos futuros.

O QUE SIGNIFICA ESCATOLOGIA?


O termo "Escatologia" começou a ser utilizado no século 19 para
designar essa área da Teologia. Esse termo é derivado da união de duas
palavras gregas: eschatos e logos. A primeira palavra significa "último". Já a
segunda palavra grega significa "palavra" ou "dissertação", isto é, a palavra
escrita ou falada. Assim, o termo "Escatologia" pode ser entendido como a
dissertação ou doutrina sobre as últimas coisas.

A ESCATOLOGIA GERAL E A ESCATOLOGIA INDIVIDUAL


Podemos dividir a escatologia em dois segmentos: geral e individual.
A escatologia geral trata acerca do futuro do mundo, enquanto a escatologia
individual trata do futuro individual do homem. Na escatologia geral temas
relacionados ao fim da presente dispensação são discutidos, como por

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exemplo, a segunda vinda de Cristo, a ressurreição geral e o juízo final. Já na


escatologia individual é o fim da vida do homem que é discutido, como a
morte física, imortalidade, e o estado intermediário dos mortos.

Podemos citar dois textos bíblicos como exemplos de escatologia


geral e escatologia individual: 1 Tessalonicenses 5:1-11 e Salmo 90. Em 1
Tessalonicenses, o apóstolo Paulo trata da escatologia geral, enquanto no
Salmo 90 Moisés fala a respeito da escatologia individual.

PROFECIA DE MÚLTIPLA REFERÊNCIA


Quando se fala em escatologia, entender o conceito de múltipla
referência no cumprimento de determinadas profecias bíblicas é fundamental.
Podemos classificar uma profecia como sendo de múltipla referência quando
ela se refere a dois momentos distintos, isto é, seu cumprimento não se
esgota num determinado evento, mas em dois ou até três eventos. Assim, a
profecia alcança seu cumprimento pleno e final em períodos diferentes da
História.

No Antigo Testamento, notamos que a perspectiva profética que os


profetas tinham acerca de alguns eventos escatológicos assemelha-se ao
modo com que avistamos uma paisagem no horizonte. É comum vermos duas
montanhas bem longe e pensarmos que ambas as montanhas estejam bem
próximas, se não juntas. Mas quando vamos nos aproximando delas,
percebemos que uma está bem distante da outra, e a ilusão sobre a
proximidade que tivemos, se dá pelo fato da segunda montanha ser bem
maior do que a primeira.

É exatamente dessa forma com que muitas profecias do Antigo


Testamento se referem a eventos escatológicos futuros. Os profetas
frequentemente avistavam dois eventos distintos como sendo um único
evento, mas conforme o tempo foi passando, o cumprimento da profecia foi se
revelando pertencer a eventos históricos diferentes. Isso de forma alguma
representa um erro, ao contrário, reflete apenas a perspectiva profética
daquele momento.

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Como exemplo do que estamos falando, podemos citar o livro do


profeta Malaquias:

Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho


diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem
vós buscais; o Anjo da Aliança, a quem vós desejais, eis que ele
vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da
sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele
será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. E
assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os
filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao
Senhor trarão oferta em justiça (Malaquias 3:1-3).

Perceba que o profeta Malaquias vê a primeira e a segunda vinda de


Cristo como se elas fossem um único evento, ou seja, parte dessa profecia
obviamente se cumpriu na primeira vinda de Cristo, mas seu cumprimento
pleno e final se dará na segunda vinda dEle. Outro exemplo de profecia de
múltipla referência está em Miquéias 4:1-8, onde da mesma forma uma única
profecia se refere ao período de tempo após a restauração do povo de Deus
do exílio e também as duas vindas de Cristo.

No sermão escatológico de Jesus no Novo Testamento (Mt 24; Mc 13;


Lc 21), também encontramos esse mesmo princípio, quando Jesus falou
acerca da destruição de Jerusalém e, na mesma profecia, se referiu ao
período total da presente dispensação e a consumação desta era com sua
segunda vinda e o julgamento final. No ensino de Jesus percebemos que a
destruição de Jerusalém e do Templo, ocorrida em 70 d.C., de alguma forma
prefigura o período de angústias que haverá antes de sua vinda.

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AS DIFERENTES POSIÇÕES
ESCATOLÓGICAS
A escatologia bíblica é considerada por muitos a área mais difícil da
teologia sistemática. Essa dificuldade ocorre, principalmente, por ela se referir
a coisas que ainda não aconteceram, ou seja, por se tratar de eventos futuros,
surgiram muitas divergências entre os estudiosos, de modo que originou-se
diferentes posições (escola, visões ou correntes) acerca dos temas principais
abordados pela escatologia.

Essas diferentes posições, basicamente discutem a cronologia dos


eventos escatológicos, sendo o milênio o principal deles. Embora se dividam
em quatro escolas principais, dentro de cada uma delas ainda há diferentes
interpretações de pontos específicos por seus adeptos. A seguir, teremos um
resumo do que prega cada uma destas posições escatológicas.

PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO
O Pré-Milenismo Histórico defende que a segunda vinda de Cristo
acontecerá em um evento único após o período de tribulação (grande
tribulação), ou seja, no Pré-Milenismo Histórico a Igreja estará na Terra
durante esse período de tribulação intensa, e ao final deste período então
ocorrerá a segunda vinda de Jesus.

Na segunda vinda de Cristo, os justos ressuscitarão e os salvos que


estiverem vivos terão seus corpos transformados. Na ocasião, o Anticristo será
destruído, Satanás será preso e Cristo reinará durante mil anos literais na
Terra, cujo período será de grande benção, paz e prosperidade. Ao final dos
mil anos, Satanás será solto por um curto período de tempo e tentará fazer
uma guerra contra Deus, porém será derrotado definitivamente e lançado para
condenação eterna no Lago de Fogo. É também nesse momento que os
ímpios serão ressuscitados para serem julgados e condenados juntamente

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com Satanás e seus anjos. Após esse acontecimento começará o estado


eterno.

Existe também alguns pré-milenistas históricos que defendem que o


Anticristo se manifestará após o milênio e não antes dele. O Pré-Milenismo
Histórico vem sendo ensinado provavelmente desde o século I d.C., porém as
primeiras evidências desse ensino datam do século II com Justino Mártir e
Irineu.

PRÉ-MILENISMO DISPENSACIONALISTA CLÁSSICO


O Pré-Milenismo Dispensacionalista é bem diferente do Pré-Milenismo
Histórico. Embora também tenha uma visão pré-milenial da segunda vinda de
Cristo, o Pré-Milenismo Dispensacionalista divide esse evento em duas fases
distintas.

Primeiramente ocorrerá o arrebatamento da Igreja de forma secreta, e,


juntamente com o surgimento do Anticristo, será dado início aos famosos sete
anos de grande tribulação na Terra. Para a base dessa cronologia, é utilizada
uma interpretação da profecia das setenta semanas de Daniel (no caso esse
período seria a septuagésima semana) combinado com um esquema de
leitura do livro de Apocalipse (sobretudo do capítulo 13). No arrebatamento da
Igreja ocorrerá apenas a ressurreição dos justos. No período de sete anos de
tribulação a Igreja estará com Cristo no céu.

Após os sete anos de tribulação, haverá a batalha do Armagedom e


Cristo retornará para destruir o Anticristo e os inimigos de Israel. As nações
serão julgadas, e as que tiverem apoiado Israel participarão do milênio, que
será também um reino literal de mil anos de Cristo na Terra, tal como defende
a visão anterior.

Haverá também a ressurreição dos judeus após os sete anos de


tribulação. Os que se voltaram contra Israel serão destruídos e aguardarão o
último julgamento para condenação eterna. No reino milenar, o Templo terá
sido reconstruído e Cristo se assentará no trono de Davi, para que se cumpra

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todas as profecias pendentes a Israel (nesse sistema existe a completa


distinção entre Israel e Igreja).

No final do milênio, Satanás será solto por um período de tempo,


enganará as pessoas e fará uma rebelião contra Cristo e a Nova Jerusalém,
porém Satanás será derrotado e lançado no Lago de Fogo. Haverá também a
ressurreição dos ímpios para o grande julgamento, para que sejam lançados
no Lago de Fogo.

O Pré-Milenismo Dispensacionalista é com certeza a corrente


escatológica mais complexa, e surgiu recentemente, em meados do século
19.

É importante ressaltar também que existe o Dispensacionalismo


Progressivo (ou Novo Dispensacionalismo) uma visão que difere bastante do
Dispensacionalismo Clássico. Nesse sistema, a Igreja não representa uma
interrupção no plano de Deus para Israel como no modelo clássico, e sim uma
parte integral desse plano, ou seja, é uma progressão desse plano. O
Dispensacionalismo Progressivo, em sua maioria, defende a vinda de Cristo
em um evento único pós-tribulacional.

PÓS-MILENISMO
A visão Pós-Milenista defende que a segunda vinda de Cristo ocorrerá
após o Milênio. Dentro do próprio Pós-Milenismo existem diferentes opiniões
sobre como se dará esse período milenar.

Alguns acreditam que se trata dos últimos mil anos antes da volta de
Cristo, enquanto outros defendem que o milênio é o período que compreende
desde a primeira até a segunda vinda de Cristo. O Pós-Milenismo afirma que
nesse período ocorrerá uma completa evangelização no mundo, e que a
maioria das pessoas serão convertidas, o que ocasionará um grande
desenvolvimento global em todos os aspectos (social, econômico, político e
cultural).

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Entre o imenso número de convertidos, estarão também muitos judeus


que reconhecerão Jesus como o Messias. No final desse período, Cristo
voltará, acontecerá a ressurreição tanto dos justos quanto dos ímpios, o
julgamento final e o estado eterno será estabelecido.

AMILENISMO
Embora o termo Amilenismo literalmente signifique "sem milênio" ou
"não milênio", o Amilenismo de forma alguma nega o milênio. O Amilenismo
entende que o capítulo 20 do Apocalipse, onde é mencionado o milênio, se
refere ao período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, ou seja, os "mil
anos" são simbólicos e não estão relacionado a um período de paz e
prosperidade na Terra, mas ao caráter espiritual do Reino de Cristo.

Alguns defendem que o Reino de Cristo acontece, sobretudo, com os


salvos que já morreram e estão nos céu reinando com Cristo até a segunda
vinda, enquanto outros acreditam que também existe uma conexão com a
Igreja e a pregação do Evangelho na Terra, porém essa evangelização não
será acompanhada de paz e prosperidade, mas de sofrimento terreno, o qual
a Igreja de Cristo sempre enfrentou ao longo de sua História.

No Amilenismo, o fato de já estarmos no milênio e, portanto, Satanás


estar amarrado, não significa que ele está totalmente inoperante no mundo,
pelo contrário, ele está agindo no presente momento, porém está limitado e
incapacitado de barrar o avanço da pregação do Evangelho na Terra.

Os Amilenistas também defendem um período final de tribulação sem


precedentes em que Satanás será solto, ou seja, Deus permitirá que ele
engane novamente as nações, e é nesse período que a Igreja passará por seu
momento mais difícil na Terra. Então Cristo voltará com poder e glória, haverá
a ressurreição geral (santos e ímpios), o último julgamento e o estado eterno
com novo céu e nova terra.

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AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VISÕES ESCATOLÓGICA S


Termos como: Amilenismo, Pré-Milenismo Histórico, Pós-Milenismo e
Pré-Milenismo Dispensacionalista, certamente confundem muita gente, ainda
mais sabendo que a escatologia está longe de ser algo de fácil compreensão.

Para facilitar o nosso entendimento, vejamos abaixo as principais


diferenças entre estas visões escatológicas nos principais pontos da
escatologia bíblica.

Segunda Vinda de Cristo:

1. Amilenismo: a segunda vinda de Cristo é um evento único e visível a


todos, ou seja, não existe o conceito de arrebatamento secreto. No
Amilenismo a segunda vinda de Cristo em glória e o arrebatamento são
uma coisa só.
2. Pré-Milenismo Histórico: a segunda vinda de Cristo e o arrebatamento
são o mesmo evento, tal como no Amilenismo.
3. Pós-Milenismo: igual às visões anteriores, Cristo volta de forma visível e
em glória em um único evento.
4. Dispensacionalismo Clássico: a segunda vinda de Cristo será dividida
em duas fases, sendo a primeira para arrebatar secretamente a Igreja,
e a segunda de forma visível e em glória após os sete anos de grande
tribulação.

Ressurreição dos Mortos:

1. Amilenismo: ressurreição geral de salvos e ímpios na segunda vinda de


Cristo. Os salvos para reinarem com Deus e os ímpios para
condenação eterna.
2. Pós-Milenismo: da mesma forma como no Amilenismo, salvos e ímpios
ressuscitaram de forma geral na segunda vinda de Cristo.
3. Pré-Milenismo Histórico: apenas os salvos ressuscitarão na segunda
vinda de Cristo para reinarem com Ele no milênio, enquanto os ímpios
só ressuscitarão no final do milênio para a condenação eterna.

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4. Dispensacionalismo Clássico: o Dispensacionalismo exige pelo menos


três ressurreições:
a) A primeira dos salvos no arrebatamento da Igreja;
b) A segunda dos judeus após os sete anos de grande tribulação
(alguns também defendem que os salvos do período da grande
tribulação também ressuscitarão nesse momento, enquanto
outros acreditam que somente após o milênio eles
ressuscitarão);
c) A terceira dos ímpios após o milênio.

O Anticristo:

1. Amilenismo: muitos anticristos se levantaram ao longo da História,


porém haverá um último indivíduo que será o Anticristo escatológico
que surgirá no período de grande tribulação, e regerá um sistema
mundial que será contra a Igreja de Cristo. Alguns acreditam apenas
em um "sistema anticristo" (governo) e não necessariamente em um
indivíduo específico.
2. Pré-Milenismo Histórico: um indivíduo específico que será o inimigo da
Igreja no período de grande tribulação (para alguns ele surgirá no
período após o milênio).
3. Pós-Milenismo: o anticristo é qualquer pessoa que persegue e se
opõem ao crescimento do domínio da Igreja na terra.
4. Dispensacionalismo Clássico: um indivíduo que surgirá no período da
grande tribulação e que aterrorizará o mundo e perseguirá aos que não
negarem o nome de Jesus, porém ele não fará nada contra a Igreja que
já terá sido arrebatada.

A Grande Tribulação:

1. Amilenismo: somente após o período de grande tribulação é que


ocorrerá a segunda vinda de Cristo, ou seja, a Igreja passará pela
grande tribulação.
2. Pré-Milenismo Histórico: a Igreja passará pela grande tribulação.

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3. Pós-Milenismo: a tribulação é experimentada na presente era. Existem


Pós-Milenistas que acreditam em um período final de grande apostasia
e tribulação antecedendo a volta de Cristo, e existem outros que
defendem que quando Cristo voltar o mundo estará em plena paz e
prosperidade. Isso acontece devido a visão sobre o milênio que essa
corrente escatológica defende.
4. Dispensacionalismo Clássico: A Igreja será arrebatada antes da grande
tribulação, ou seja, não passará por ela.

O Julgamento:

1. Amilenismo: julgamento geral (juízo final) de todas as pessoas na


segunda vinda de Cristo.
2. Pré-Milenismo Histórico: julgamento na segunda vinda de Cristo e
também após o milênio.
3. Pós-Milenismo: julgamento geral de todas as pessoas na segunda
vinda de Cristo.
4. Dispensacionalismo Clássico: três julgamentos, sendo eles:
a) Julgamento das obras dos salvos no arrebatamento;
b) Julgamento de judeus e de alguns gentios no final da grande
tribulação;
c) Julgamento geral dos ímpios após o milênio.

Igreja e Israel:

1. Amilenismo: a Igreja é o verdadeiro Israel de Deus, e Deus tem apenas


um só povo.
2. Pré-Milenismo Histórico: a Igreja é o Israel espiritual, ou seja, o novo
Israel no Novo Testamento, porém Deus tratará com Israel
separadamente concernente algumas promessas no milênio.
3. Pós-Milenismo: a Igreja é o verdadeiro Israel.
4. Dispensacionalismo Clássico: para Deus, Israel e Igreja são povos
completamente diferentes. A Igreja é um "parêntese" no plano de Deus

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para Israel que foi suspenso, mas será retomado após o arrebatamento
secreto da Igreja.

Milênio:

1. Amilenismo: o milênio não é um período literal de mil anos. No


Amilenismo o milênio é espiritual, onde os salvo reinam com Cristo no
céu e sobre a terra. Assim, o milênio começou na primeira vinda de
Cristo.
2. Pré-Milenismo Histórico: é reconhecido o Reino de Cristo na presente
era com a Igreja, porém haverá também um reino milenar e literal no
futuro após a segunda vinda de Cristo, com Jesus reinando sobre as
nações do mundo (talvez não necessariamente o período seja de mil
anos).
3. Pós-Milenismo: conforme o Evangelho for sendo pregado será iniciado
o milênio, onde o mundo inteiro será evangelizado e a maioria das
pessoas serão convertidas. O cristianismo será o padrão e não a
exceção, ou seja, a plantação será de trigo e não de joio (a referência a
parábola de Jesus é usada para defender esse conceito).
4. Dispensacionalismo Clássico: milênio futuro e literal após a segunda
fase da segunda vinda de Cristo.

AS DIFERENTES OPINIÕES ACERCA DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO


Creio que nesse ponto seja possível perceber que não é apenas o
milênio que causa debate entre os cristãos, mas também como se dará a
segunda vinda de Cristo. Sobre essa questão existem três opiniões diferentes,
sendo elas: Pré-Tribulacionismo, Pós-Tribulacionismo e Meso-Tribulacionismo.
A seguir, conheceremos de forma bem objetiva cada uma destas diferentes
opiniões. Todavia, o mais importante nessa discussão é que Cristo voltará, e
sobre isto, as três interpretações concordam, embora discordem da
cronologia do evento.

PRÉ-TRIBULACIONISMO
Essa visão defende que a volta de Cristo se divide em duas etapas:
(a) secretamente para buscar a Igreja; (b) em glória, sendo visível a todos
após o período de grande tribulação. É por conta desse arrebatamento

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secreto antes da grande tribulação que essa posição é chamada de Pré-


Tribulacionismo.

O Pré-Tribulacionismo está diretamente ligado ao Dispensacionalismo


Clássico, e ao método futurista e literal de interpretação das principais
passagens escatológicas da Bíblia, embora nem todos que os adotam o
método futurista sejam dispensacionalistas clássicos. Existem muitos futuristas
que são pré-milenistas pós-tribulacionistas. Sobre o método de interpretação
chamado "futurista", falaremos sobre ele num capítulo posterior.

Geralmente no Pré-Tribulacionismo existe uma completa distinção


entre a Igreja e Israel. Basicamente Jesus veio para os judeus, porém os
judeus o rejeitaram, e, então, ele suspendeu temporariamente seus planos
para Israel, e é aí que aparece a Igreja, como uma espécie de "parêntese" na
História. Portanto, como existe um plano especial para Israel, a Igreja será
tirada da terra antes da grande tribulação, que será um período onde a ira de
Deus será derramada sobre os ímpios que ficarão na terra, e também um
momento especifico no tratamento de Deus com Israel.

No Pré-Tribulacionismo, como existe essa distinção entre os dois


povos e a Igreja não tem nada a ver com o tratado de Deus a respeito de
Israel, ela não poderá estar na terra nesse momento de grande tribulação para
Israel. Esse período de grande tribulação durará sete anos, conforme já
falamos anteriormente.

Os textos mais utilizados para defender o arrebatamento pré-


tribulacional são: Romanos 8:1, 1 Coríntios 15:51, 1 Tessalonicenses 1:10;
4:17;5:9 e Apocalipse 3:10. Outro argumento muito usado é que, após o
capítulo 3 do livro do Apocalipse, a palavra "Igreja" não é mais encontrada até
aparecer novamente no final do livro. Dentro dessa linha de interpretação,
durante o período de grande tribulação a Igreja estará no céu participando
das bodas do Cordeiro.

MESO-TRIBULACIONISMO
O Meso-Tribulacionismo defende que a Igreja será arrebatada no meio
da grande tribulação. Sendo a tribulação um período de sete anos, então
haverá três anos e meio de paz e três anos e meio de muita dificuldade.

Esse sistema tem muita similaridade com o Pré-Tribulacionismo,


porém se difere na ideia de que o arrebatamento ocorrerá quando os três
anos e meio de paz terminarem. Existem meso-tribulacionistas que defendem
que a grande tribulação não terá necessariamente sete anos de duração.

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A principal defesa do Meso-Tribulacionismo é uma cronologia dada


em 2 Tessalonicenses 2:1-3, onde o Anticristo parece ser revelado antes do
arrebatamento da Igreja, além de uma combinação entre a trombeta de 1
Coríntios 15:52 com a trombeta de Apocalipse 11:15.

PÓS-TRIBULACIONISMO
O Pós-Tribulacionismo defende que o arrebatamento e a segunda
vinda de Cristo tratam-se de um único evento, e que ocorrerá após o período
de grande tribulação. Nesta interpretação, a Igreja passará pela grande
tribulação, um período que não precisa ser, necessariamente, de sete anos.
Dentro do Pós-Tribulacionismo existem amilenistas, pós-milenistas e pré-
milenistas que defendem tal posição.

Os principais argumentos dos pós-tribulacionistas se baseiam em: (a)


Jesus em seu sermão escatológico nos Evangelhos de Mateus (24), Marcos
(13) e Lucas (21), deixou claro que só voltaria após o período de grande
tribulação; (b) em 2 Tessalonicenses 2:3 Paulo afirma que antes de Cristo
voltar o Anticristo se manifestará; (c) 2 Pedro 3 também descreve a volta de
Cristo como um evento único; (d) o livro do Apocalipse em nenhum momento
menciona duas fases da volta de Jesus, e quando a segunda vinda é descrita,
ela ocorre após o período de tribulação.

COMO DEVEMOS NOS POSICIONAR DIANTE DAS DIFERENÇAS?


Como vimos acima, existem varias interpretações diferentes, e
respeitadas autoridades teológicas se posicionam de "lados" apostos quando
o assunto é escatologia. Também é verdade que, de uma forma ou de outra,
cada um de nós se encaixa dentro de uma dessas quatro visões. Até mesmo
os cristãos que não sabem que essa divisão existe pertencem a um dos
grupos apresentados.

Isso acontece porque cada denominação necessariamente adota um


posicionamento teológico a respeito do assunto, e consequentemente acabam
discipulando seus membros dentro dessa visão específica. Por exemplo: a
maioria das Igrejas Pentecostais (principalmente as Assembleias de Deus
históricas) e muitas Igrejas Batistas adotam o Pré-Milenismo
Dispensacionalista como posição oficial, enquanto a Igreja Presbiteriana e
outras Igrejas Reformadas adotam o Amilenismo como posição oficial. Isso

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não significa que todo assembleiano seja pré-milenista dispensacionalista,


nem mesmo que todo presbiteriano seja amilenista.

Portanto, é bastante comum encontramos muitos cristãos que se


espantam quando ouvem uma posição escatológica com a qual não estão
acostumados. Porém, é necessário que se diga que todas as diferentes visões
sobre o assunto são defendidas por cristãos verdadeiros, comprometidos com
a Palavra de Deus, e que têm a Bíblia como a verdadeira regra de fé e prática.

Também vale ressaltar que não devemos considerar uma ou outra


posição diferente da que defendemos como uma heresia, visto a dificuldade
do assunto, mas apenas como um erro de interpretação, ou uma incoerência
teológica. Particularmente penso que uma posição herege seria aquela que
negasse algumas verdades fundamentais, como: a segunda vinda de Cristo, o
juízo final, a condenação eterna dos ímpios juntamente com Satanás e seus
anjos, e a bem-aventurança eterna dos redimidos com Cristo no novo céu e
nova terra. Apesar das diferenças, nenhuma das interpretações apresentadas
negam tais princípios. Por exemplo: existem algumas seitas que negam a
doutrina bíblica do castigo eterno. Já neste caso devemos denunciar tal
entendimento escatológico como uma heresia grave.

Ademais, independente da posição escatológica que resolvemos


adotar, o importante é que a esperança que nos une é muito maior do que as
pequenas diferenças que nos separam, e essa esperança não é outra se não
a gloriosa volta do nosso Senhor Jesus Cristo. Se Ele fará isso antes ou depois
do milênio, em uma ou duas etapas, isso é algo que descobriremos
pessoalmente naquele dia maravilhoso. Assim, devemos tratar com todo
respeito os irmãos em Cristo que pensam diferente de nós nos detalhes
secundários da escatologia bíblica.

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O SERMÃO ESCATOLÓGICO DE
JESUS
O sermão escatológico de Jesus também é conhecido como "sermão
do Monte das Oliveiras", devido ao local em que foi proferido. Esse sermão
pode ser encontrado nos Evangelhos de Mateus (cap. 24), Marcos (cap. 13) e
Lucas (cap. 21).

Para muitos estudiosos, o sermão escatológico de Jesus é como um


"pequeno Apocalipse". A verdade é que qualquer estudo escatológico que
seja coerente com as Escrituras, obrigatoriamente precisa considerar o
sermão escatológico de Jesus. Assim, antes de estudarmos o livro do
Apocalipse é importante meditarmos sobre os preciosos ensinos de Cristo
nesse sermão.

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE O SERMÃO


ESCATOLÓGICO
Reconheço que a interpretação desse sermão está longe de ser fácil e
unânime, isso devido à variedade de eventos descritos e o período que as
profecias de Jesus abrangem, algumas com dupla ou até tripla implicação
dependendo do tipo de interpretação.

Basicamente existem cinco interpretações predominantes sobre o


sermão escatológico de Jesus, sendo:

1. Todo o sermão trata da destruição de Jerusalém em 70 d.C., portanto


já se cumpriu totalmente;
2. Todo o sermão trata da destruição de Jerusalém e do início da Igreja
no dia de Pentecoste, portando praticamente tudo já foi cumprido
restando apenas a consumação da pregação do Evangelho no
mundo;

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3. A maior parte do sermão se refere à destruição de Jerusalém que já


se cumpriu, porém a última parte se refere à segunda vinda Cristo que
ainda se cumprirá;
4. Todo o sermão trata da segunda vinda de Cristo e do julgamento final,
portanto nada se cumpriu;
5. O sermão compreende o período desde a primeira vinda de Cristo,
referindo-se à destruição de Jerusalém, até a segunda vinda de Cristo
no fim dos tempos com o julgamento do mundo.

Particularmente creio que a interpretação mais coerente biblicamente


seja a última interpretação apresentada acima. A seguir, entenderemos melhor
essa questão.

A ORGANIZAÇÃO E EXPLICAÇÃO DO SERMÃO ESCATOLÓGICO


Para analisarmos o conteúdo desse sermão, vamos utilizar o texto
presente no Evangelho de Marcos no capítulo 13, pois ele apresenta uma
organização um pouco mais clara que facilita o nosso entendimento. Porém, a
leitura dos textos de Mateus 24 e Lucas 21 é importantíssima para um estudo
mais profundo, pois, juntamente com Marcos 13, eles se complementam.

Primeiramente vamos considerar que esse sermão abrange desde a


primeira vinda de Cristo, com sua morte e ressurreição, até a sua segunda
vinda. Logo, vamos dividi-lo em três períodos que são abordados nos relatos
de Jesus:

1. Período inicial que vai desde sua primeira vinda até a destruição de
Jerusalém e do Templo na década de 70 d.C.;
2. Segundo período chamado de "princípio das dores" que abrange
desde a destruição de Jerusalém até o início da grande tribulação;
3. Terceiro período conhecido como "a grande tribulação" que terminará
na segunda vinda de Cristo e o julgamento do mundo.

Embora em alguns versículos haja profecias que se referem a dois


períodos simultaneamente, conforme a organização proposta acima podemos

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fazer um esboço do sermão escatológico de Jesus em Marcos 13 da seguinte


forma:

 Marcos 13:1-4: A destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C.


 Marcos 13:5-13: O princípio das dores.
 Marcos 13:14-23: A grande tribulação pré-figurada na destruição de
Jerusalém.
 Marcos 13:24-27: A segunda vinda de Cristo e o julgamento final.
 Marcos 13:28-37: Exortação à vigilância.

A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM E DO TEMPLO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO


Conforme podemos notar no esboço apresentado no tópico anterior,
existem referências à destruição de Jerusalém e do Templo em outras seções,
principalmente em profecias de múltiplo cumprimento. Logo, Jesus também
usou a destruição de Jerusalém para tipificar os momentos associados a sua
segunda vinda, de maneira que nem sempre é fácil separar minuciosamente
cada detalhe desse sermão. Considerando essa particularidade, podemos
pontuar esse evento da seguinte forma:

 Jerusalém seria sitiada: esse cenário era bastante improvável para


qualquer habitante da época porque se tratava de um momento de
grande paz com o Império Romana garantindo a tranquilidade.
 Jerusalém seria destruída: a cidade seria queimada e sua população
dizimada. Esse evento seria o juízo de Deus sobre aquela geração.
Após pouco mais de três anos de cerco, o exército romano invadiu
Jerusalém e à destruiu. Estima-se que mais de 600 mil judeus foram
massacrados.
 O Templo seria destruído: Herodes havia começado a reconstruir o
templo (uma espécie de reforma) por volta de 19 a.C., e nessa época
ele estava em fase de acabamento, com abundancia de ouro,
mármore e madeiras finas entalhadas. Era uma construção realmente
imponente (vers. 1), mas Jesus afirmou: "Não ficará pedra sobre
pedra". Tal como já havia acontecido em aproximadamente 153 a.C.

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com Antíoco IV Epifânio, mais uma vez o templo seria profanado e


destruído. Até hoje existe em Roma o Arco de Tito, erguido pelos
romanos para comemorar esse evento, onde é retratado em
ilustrações o Templo sendo saqueado.
 Dispersão: os sobreviventes desse momento terrível seriam
espalhados pelo mundo todo e ficariam dispersos.

O PRINCÍPIO DAS DORES NO SERMÃO ESCATOLÓGICO


Jesus relatou os acontecimentos que caracterizariam o período que
Ele denominou como "princípio das dores" da seguinte forma:

 Falsos profetas e falsos cristos: apareceriam muitos que supostamente


falariam em nome de Cristo, quando não, afirmariam ser eles mesmos
um tipo de messias conseguindo enganar a muitos. A mensagem
principal desses impostores será que o fim do mundo chegou. Essas
pessoas começaram aparecer desde a época dos apóstolos e
perduram por toda a História do cristianismo.
 Guerras e desastres naturais: depois que Jesus disse que haveria
guerras entre as nações, sempre, em algum lugar do mundo, houve
uma guerra. Nunca mais existiu na terra um período de paz. Jesus
também alertou sobre desastres naturais, além de fome e pestes que
assolariam a humanidade.
 Pregação do Evangelho no mundo: nesse período chamado de
princípio das dores também haveria a pregação do Evangelho por
todo o mundo. Isso não significa que o Evangelho seria pregado a
todas as pessoas, mas que seria anunciado a todos as nações. O
termo grego usado nesse caso é ethne, e pode ser traduzido como
"etnias", "nações" ou "tribos". Essa propagação do Evangelho começou
ainda com os apóstolos e, hoje, praticamente em todas as nações, até
mesmo nas mais fechadas ao cristianismo, existem missionários
anunciando o Evangelho.
 Perseguições: Jesus também disse que os cristãos seriam
perseguidos, e que haveria grande ódio para com eles, sendo que

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muitos seriam levados à morte por causa do nome de Jesus. Tais


perseguições poderiam ser tão intensas que os próprios familiares
ficariam uns contra os outros e entregariam quem professasse o nome
de Cristo.

O interessante é que, mesmo com todas essas coisas, Jesus alertou


que ainda não seria o fim. Esses acontecimentos seriam como contrações de
parto e, conforme o fim fosse se aproximando, essas contrações ficariam mais
intensas. Por isso a expressão "princípio de dores" descreve perfeitamente
esse período.

A GRANDE TRIBULAÇÃO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO


Apesar de Jesus também se referir ao cerco e destruição de
Jerusalém, a qual essa parte da profecia já se cumpriu de forma primária
incluindo o abominável da desolação, período de grande aflição na Judeia e o
surgimento de falsos profetas e messias já naquela época, Jesus também se
referiu aos eventos do fim dos tempos que antecedem sua segunda vinda, ou
seja, os eventos que já se cumpriram no primeiro século pré-figuram um
período futuro. Assim, essas mesmas profecias apontam para eventos que
ainda ocorrerão, como: a grande tribulação, o surgimento do Anticristo e a
própria volta de Cristo.

Segundo o cronograma dado por Jesus em seu sermão, após o


princípio das dores haverá a grande tribulação. Vejamos alguns pontos
importantes sobre isso:

1. Abominável da Desolação: citando o livro do profeta Daniel, Jesus fez


referência a três eventos distintos: 1) Antíoco IV Epifânio por volta de
150 a.C.; 2) Destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos
comandados pelo general Tito em 70 d.C.; 3) Surgimento do Anticristo
escatológico no período da grande tribulação. Nesse caso, essa
profecia apresenta tripla aplicação. Todos os judeus conheciam a
profecia do profeta Daniel sobre a abominação que causa desolação,
e também acreditavam que tudo já havia sido cumprido em 150 a.C.

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quando Antíoco IV Epifânio invadiu Jerusalém e profanou o Templo


sacrificando porcos no altar e colocando estátuas pagãs. Porém,
falando aos seus discípulos, Jesus explicou que novamente aquilo
aconteceria (Jerusalém e o Templo seriam destruídos - quando isso
aconteceu o paganismo romano e o culto ao imperador foi imposto
aos judeus) e ainda fez uma terceira referência da mesma profecia,
que será cumprida no período que antecede a sua segunda vinda,
isto é, o abominável da desolação do fim dos tempos é o que
conhecemos como o Anticristo. Falaremos sobre ele em um capítulo
mais à frente.
2. Sofrimento nunca visto: não podemos desconsiderar o tamanho
sofrimento enfrentado pelos judeus em 70 d.C., que, de acordo com
algumas informações históricas, seguramente podemos dizer que foi o
sofrimento mais intenso que eles já haviam experimentado até então,
superando inclusive os períodos de exílio. É verdade também que os
judeus já experimentaram um período ainda mais terrível que a
década de 70 d.C. com o Nazismo liderado por Adolf Hitler, onde um
número muito maior de judeus morreram. Isso serve para nos mostrar
que, embora a destruição de Jerusalém tenha sido um período muito
difícil, apenas tipifica um período futuro imaginavelmente pior, no caso
o período final da presente era, isto é, a grade tribulação. Esse
período será curto, porém não sabemos ao certo quanto durará. Se for
considerado o capítulo 13 do Apocalipse, pode-se inferir que esse
período durará 42 meses (três anos e meio de um total de sete anos),
porém, conforme veremos mais à frente, os números presentes no livro
do Apocalipse são simbólicos, o que acaba tornando impossível
afirmar com certeza quanto tempo durará tal período, até porque se
soubéssemos ao certo sua duração, também seríamos capazes de
determinar a data da segunda vinda de Cristo. O que sabemos é que
o Senhor irá abreviar aqueles dias por causa de seus eleitos (Mc
13:20).

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3. A situação da Igreja: a declaração de Jesus no versículo 20 parece


contradizer o ensino seguido por boa parte dos cristãos que defende
o entendimento de que a Igreja não passará por esse período de
grande tribulação. Diante disso, muitas explicações já foram dadas,
sendo a principal delas a de que tal versículo não se refere a Igreja,
mas sim ao povo de Israel. O problema é que se tomarmos como
certa essa explicação, fatalmente haverá uma segregação de textos
bíblicos, ora direcionados para a Igreja ora para os judeus, que será
quase impossível de ser resolvida. A interpretação natural do próprio
texto é a de que, segundo a organização de ventos estabelecida por
Jesus, a Igreja estará na terra durante esse período, sendo que este
será um momento muito difícil para os cristãos, onde só irá perseverar
aquele que é verdadeiramente salvo em Cristo Jesus. Claro que nesse
ponto há um intenso debate entre pré, meso e pós-tribulacionistas.
Sobre isto, teremos mais à frente um capítulo dedicado a essa
questão.

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO


Após o período de grande tribulação, Jesus afirmou que ocorrerá a
sua segunda vinda (Mc 13:24). Esse momento será de grande alegria para a
Igreja e de grande terror para os ímpios. Nesse período, o Anticristo e seu
sistema estará exercendo um domínio mundial e perseguindo violentamente a
Igreja, porém Jesus declarou que por causa dos eleitos aqueles dias serão
abreviados (Mc 13:20). O apostolo Paulo descreveu o fim do período de
grande tribulação com Cristo matando o Anticristo com o sopro de sua boca
(2Ts 2:8).

Jesus também esclareceu que esse momento será visível a todos,


pois Ele virá com grande poder e glória, e o mundo não resistirá, sendo que o
sol escurecerá, a lua não brilhará mais, as estrelas cairão e as forças dos céus
serão abaladas (Mc 13:25). Então, Ele enviará os seus anjos e reunirá todos os
escolhidos. Sobre esse momento Paulo afirmou que o Senhor descerá do céu
com grande brado, e os mortos em cristo ressuscitarão, e os que estiverem

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vivos terão seus corpos transformados (1Ts 4:16,17). As palavras de Jesus


também parecem confrontar o ensino sobre um arrebatamento secreto, porém
sobre isto também falaremos num capítulo mais à frente.

Discussões à parte, o importante é que, embora muitos falsos profetas


já tenham tentando marcar a data da volta de Cristo, o próprio Jesus afirmou
que a hora somente o Pai conhece (Mc 13:32). Quanto a nós, precisamos
estar vigilantes, aguardando ansiosamente esse momento tão glorioso (Mc
13:35).

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O LIVRO DO APOCALIPSE
O livro do Apocalipse certamente é considerado por muitos cristãos
como o livro mais difícil de interpretar na Bíblia. Realmente sua interpretação
não é das mais fáceis, porém muita gente desconhece os princípios básicos e
as características principais sobre esse livro. Ao contrário do que muita gente
pensa, há muito mais no livro do Apocalipse do que apenas um tipo de
"manual sobre o futuro".

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA "APOCALIPSE"?


O título do livro, Apocalipse, vem do grego Apokalypsis, e significa
"revelação" ou "desvelamento". Seu estilo literário contém muitos elementos
simbólicos, como também ocorre em algumas partes de outros livros bíblicos,
como os livros dos profetas Ezequiel, Daniel e Zacarias.

QUEM ESCREVEU O APOCALIPSE?


No capítulo 1 o autor se identifica como João e, desde o século 2 d.C.,
acredita-se que esse João se trata do apóstolo João. É verdade que existe
uma critica sobre essa afirmação, e alguns estudiosos defendem a ideia de
que o apóstolo João e o autor do livro do Apocalipse sejam pessoas
diferentes.

O primeiro a levantar essa possibilidade foi Dionísio no século 3 d.C.,


após comparar o estilo literário do Apocalipse com o Evangelho Segundo
João. Apesar dessa crítica, a opinião mais aceita, e também mais provável, é
que realmente tenha sido o próprio apóstolo João o seu autor.

DATA E CONTEXTO HISTÓRICO DO APOCALIPSE


Existe uma discussão sobre a data em que o livro do Apocalipse foi
escrito. Alguns estudiosos entendem que Apocalipse foi escrito antes de 70
d.C., entre 54 e 68 d.C., durante o governo do imperador romano Nero C ésar.
Geralmente são os preteristas que adotam uma data anterior a 70 d.C., pois
atribuem boa parte do livro a destruição de Jerusalém.

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Outros estudiosos defendem que o Apocalipse foi escrito após 70


d.C., entre 81 e 96 d.C., durante o governo de Tito Flávio Domiciano. A
interpretação mais aceita é que o Apocalipse tenha sido escrito na década de
90 d.C. Independente da data, a verdade é que o livro do Apocalipse foi
escrito em um período muito difícil para os cristãos.

Embora a maioria das pessoas abra o livro do Apocalipse querendo


enxergar apenas acontecimentos futuros, o contexto histórico do livro é
muitíssimo importante para compreendê-lo com coerência e sensatez. Aplicar
uma interpretação estritamente futurista ao Apocalipse é cometer um erro
básico de hermenêutica e desconsiderar a própria História do cristianismo.

O livro foi escrito por João enquanto prisioneiro na ilha de Patmos, e


inicialmente é dirigido as sete igrejas da Ásia Menor (atual região ocidental da
Turquia), sendo elas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e
Laodicéia.

Naquela época havia muita perseguição contra os cristãos, e, na


própria carta à igreja de Esmirna no capítulo 2, é alertado que ainda mais
perseguições haveriam de acontecer. Além disso, falsos mestres estavam
ensinando heresias que minavam o entendimento de alguns e se alastravam
entre os cristãos, como por exemplo o Gnosticismo.

Tais ensinamentos heréticos tentavam aproximar o paganismo e o


cristianismo. Combinado a tudo isto, ainda existia a perseguição física e moral
por parte do Império Romano. Após a queda de Jerusalém, foi imposto o culto
ao imperador, e os oficiais romanos tentavam forçar os cristãos a adorarem o
próprio governante romano. Como sabemos, esse foi um período complicado
e de muitos mártires.

É no meio desse cenário que Cristo dá uma série de revelações a


João. No capítulo 1 e versículo 19, podemos notar que o propósito do livro do
Apocalipse abrange os acontecimentos presentes da época e os
acontecimentos que ainda iriam ocorrer.

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Basicamente, a mensagem do livro do Apocalipse para as sete igrejas


é a de que Cristo estava ciente das condições que os cristãos estavam
enfrentando, e os exorta a continuarem firmes, resistindo a todas as tentações
e dificuldades, pois a vitória já foi garantida pelo próprio Jesus, e em breve
Satanás será destruído definitivamente em condenação eterna, e a Igreja
reinará eternamente com Deus.

É por esse aspecto que podemos observar o propósito principal do


livro do Apocalipse, e entendermos que o conteúdo do livro não está restrito
apenas àquelas igrejas, mas é uma mensagem endereçada a todas as igrejas
de todos os períodos até o fim dos tempos, ou seja, mostra o reinado de Deus
sobre toda a História, culminando em um final triunfante em Cristo. Sem
dúvida o Apocalipse aborda o passado, o presente e o futuro.

DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE O LIVRO DO APOCALIPSE


Os estudiosos discordam entre si sobre a maneira correta de
interpretar o livro do Apocalipse e as demais passagens escatológicas da
Bíblia, como o próprio sermão escatológico de Jesus. Dessas discordâncias
surgiram quatro estilos de interpretação:

1. Preterista: praticamente tudo já se cumpriu na destruição de


Jerusalém e na queda do Império Romano;
2. Historicista: as revelações vão se cumprindo no decorrer da História
da Igreja até a segunda vinda de Cristo;
3. Idealista: as revelações não descrevem eventos específicos, mas
princípios espirituais que se aplicam a toda História da Igreja;
4. Futurista: praticamente tudo será cumprindo em um período final que
antecede a volta de Cristo.

A seguir, conheceremos um pouco mais sobre estes quatro estilos


interpretativos. Antes, vale ressaltar que tais estilos de interpretação não se
aplicam apenas ao livro do Apocalipse, mas também à outros textos bíblicos
que apresentam conteúdo profético.

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INTERPRETAÇÃO PRETERISTA DO APOCALIPSE


O método preterista considera, sobretudo, o contexto histórico na
interpretação do Apocalipse, ou seja, muito do simbolismo presente no livro
está relacionado aos acontecimentos contemporâneos da época em que foi
escrito. No Preterismo, muitas das profecias do Novo Testamento também
foram cumpridas na destruição de Jerusalém em 70 d.C. e em eventos do
período da igreja primitiva.

Dentro da interpretação preterista existe uma classificação que


podemos chamar de Preterismo Moderado e Preterismo Radical (ou
Hiperpeterismo). Basicamente a diferença entre moderado e radical é a
totalidade do cumprimento das profecias.

O Preterismo Radical, por exemplo, acredita que tudo foi cumprido em


70 d.C. na destruição de Jerusalém e depois na queda do Império Romano,
negando até mesmo fundamentos básicos da fé cristã, como a literalidade da
segunda vinda de Cristo. Por conta disto, o Preterismo Radical geralmente é
considerado por muitos como um ensino herético.

Já o Preterismo Moderado acredita que algumas profecias ainda se


cumprirão, como por exemplo, as profecias em relação a segunda vinda de
Cristo, ressurreição dos mortos e julgamento final.

Falando do Apocalipse, os preteristas, pelos menos em sua maioria,


identificam a besta como sendo o Império Romano, o falso profeta como
sendo os sacerdotes responsáveis pelo culto ao imperador, e a grande
meretriz como sendo a cidade de Roma ou a própria Jerusalém apóstata.

INTERPRETAÇÃO HISTORICISTA DO APOCALIPSE


No Historicismo, as profecias do livro do Apocalipse (e outras
profecias bíblicas relacionadas aos assuntos escatológicos), são interpretadas
como se fossem se cumprindo ao longo da História. Dessa forma, muitas
profecias já se cumpriram, outras estão em pleno cumprimento, e também há
aquelas que ainda se cumprirão, ou seja, muitas profecias, incluindo as

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profecias do Apocalipse, formam um esboço da História da Igreja desde o


século I até a segunda vinda de Cristo.

Podemos dizer que até o século 19, a interpretação historicista era a


interpretação predominante dentro do protestantismo, sendo superada em
números quando surgiu o Dispensacionalismo, com uma interpretação
essencialmente futurista.

IINTERPRETAÇÃO IDEALISTA DO APOCALIPSE


A interpretação idealista pode ser definida como totalmente simbólica,
na medida em que interpreta toda descrição presente no livro do Apocalipse
como símbolos, verdades ou ideais espirituais, ou seja, nada precisa ocorrer
realmente de forma literal e histórica, mas completamente de maneira
espiritual.

De forma resumida, o Idealismo interpreta o Apocalipse como um


símbolo da luta entre o bem e o mal, entre a igreja e o paganismo dominado
pelo poder satânico. Sendo assim, verdades espirituais são ensinadas para
que cristão possam aplicá-las em diversas situações. Existem alguns
idealistas que interpretam a segunda vinda de Cristo e o juízo final também
como algo simbólico, caindo no mesmo erro dos hiperpreteristas.

Observação: é muito comum uma posição que combina o Historicismo


e o Idealismo, entendendo então que as profecias do Apocalipse, além de
serem descritas de forma simbólica, também se cumprem historicamente.

INTERPRETAÇÃO FUTURISTA DO APOCALIPSE


No Futurismo quase tudo no livro do Apocalipse está relacionado aos
acontecimentos futuros do fim dos tempos - para alguns, com exceção
apenas dos três primeiros capítulos. A interpretação futurista se popularizou
com o surgimento da posição escatológica conhecida como Pré-Milenismo
Dispensacionalista, e que se tornou a visão escatológica mais comum entre os
cristãos.

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A interpretação futurista (em sua maioria) crê que haverá um


arrebatamento secreto da Igreja antes de um período de sete anos de grande
tribulação. Crê também que a besta mencionada no Apocalipse é,
principalmente, um líder político que liderará um governo mundial. O falso
profeta seria uma espécie de ecumenismo religioso, talvez liderado também
por uma figura pessoal, e que influenciará o mundo no governo do Anticristo.
Ao final, Cristo voltará para livrar o povo de Israel e as pessoas que se
converterem na grande tribulação, e estabelecer um reino literal de mil anos
(milênio) na terra.

QUAL O MELHOR ESTILO DE INTERPRETAÇÃO PARA O


APOCALIPSE?
Penso que a maneira mais correta de interpretar o livro do Apocalipse
seja uma combinação dos quatro estilos de interpretação acima. Sob esta
perspectiva, podemos dizer que muitas passagens de Apocalipse possuem
três aplicações:

1. Fazem referência a eventos específicos do século I;


2. Fazem referência a momentos ao longo da História da Igreja, de modo
que mantém a mensagem do livro atual a qualquer geração e também
nos ensina princípios espirituais claros;
3. Fazem referência ao período de crise final que antecede a segunda
vinda de Cristo.

Apesar de combinar os quatro estilos, é evidente que neste esquema


existe uma ênfase um pouco maior na junção da interpretação idealista e
historicista.

POSIÇÕES ACERCA DO MILÊNIO


O período de mil anos descrito no capítulo 20 do Apocalipse, talvez
seja o ponto mais discutido do livro. Sobre isto, já vimos que existem
diferentes posições sobre o assunto: Pré-Milenismo (Histórico e
Dispensacionalista), Pós-Milenismo e Amilenismo.

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LEITURA DE RECAPITULAÇÃO OU SUCESSÃO NO


APOCALIPSE?

Já sabemos que a leitura do livro do Apocalipse não é uma tarefa


considerada das mais fáceis. Para ajudar na compreensão do Apocalipse,
basicamente existem duas formas de ler e organizar o seu conteúdo: Leitura
Linear (ou Leitura Sequencial) e Leitura de Recapitulação (ou Paralelismo
Progressivo).

A Leitura Linear organiza o conteúdo do Apocalipse como eventos


sucessivos cronologicamente. Já a Leitura de Recapitulação divide o
conteúdo do livro em seções que recapitulam os mesmos eventos. A seguir
veremos um pouco melhor cada uma delas.

LEITURA LINEAR
Como o próprio nome já exemplifica, neste método o conteúdo do
Apocalipse é organizado de forma sucessiva, ou seja, os eventos descritos no
livro representam uma ordem de sucessão sequencial e, sobretudo, referem-
se a momentos distintos historicamente. Por exemplo: os sete selos, as sete
trombetas e as sete taças são eventos distintos entre si, e que basicamente
ocorrem em momentos diferentes da História.

Geralmente quem adota a Leitura Linear admite que, embora os


eventos se iniciem e ocorram em momentos diferentes, eles estão
profundamente sincronizados, ou seja, o último selo engloba as trombetas e a
última trombeta as taças.

LEITURA DE RECAPITULAÇÃO
A Leitura de Recapitulação, também conhecida como Paralelismo
Progressivo, divide o livro do Apocalipse em seções que recapitulam os
mesmos eventos, ou seja, a mesma história é contada várias vezes, porém em
cada repetição novos elementos são adicionados intensificando a narrativa.

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De forma mais simples, podemos dizer que João contou a mesma história de
ângulos diferentes.

Analisando a Bíblia de forma geral, a recapitulação é amplamente


utilizada, desde Gênesis até o Apocalipse. Logo, para uma boa hermenêutica,
identificar as ocorrências de recapitulação nos textos bíblicos é fundamental.

Na Leitura de Recapitulação, geralmente o livro do Apocalipse é


dividido em sete seções paralelas e progressivas conforme veremos no
próximo tópico.

Também é válido dizer que há quem adote uma Leitura de


Recapitulação do Apocalipse, porém entende que entre os capítulos 19 e 20
ocorre uma sucessão de eventos e não uma recapitulação, isto é, o capí tulo
20 continua o capítulo 19.

ESBOÇO DO LIVRO DO APOCALIPSE


Como vimos, dependendo do tipo de leitura adotado para organizar o
conteúdo do Apocalipse o esboço pode sofrer diversas modificações. Mas
bem resumidamente, um esboço simples e objetivo do livro do Apocalipse
seria o seguinte:

 Capítulos 1 a 3 – Prólogo e as Cartas as Sete Igrejas: Cristo no meio


dos Sete Castiçais;
 Capítulos 4 a 7 – Os Sete Selos (início da série de visões celestiais);
 Capítulos 8 a 11 – As Sete Trombetas;
 Capítulos 12 a 14 – O nascimento de Cristo e o Dragão perseguidor: A
Mulher e o Dragão;
 Capítulos 15 a 16 – As Sete Taças;
 Capítulos 17 a 19 – A Queda da Babilônia e das Bestas;
 Capítulos 20 a 22 – O Reino dos Santos e o Juízo Final (incluindo as
exortações finais e o encerramento).

Esse esboço serve tanto para a Leitura Linear quanto para a Leitura
de Recapitulação. A diferença é que a primeira entende que são eventos

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sucessivos e cronológicos (com exceção do capítulo 12), e a segunda


entende que em cada seção a mesma história está sendo contada.

QUAL O MELHOR MÉTODO DE LEITURA?


Existem teólogos conceituados de ambos os lados. Quanto a mim,
reconheço que ambos os sistemas de leitura não solucionam todas as
dificuldades de interpretação do livro do Apocalipse, porém creio que a
Leitura de Recapitulação é a que possui menos problemas e propõe uma
hermenêutica mais adequada do Apocalipse.

Uma das maiores evidencias de que e Leitura de Recapitulação é a


mais coerente, é que, em todas essas seções, temos referências à volta de
Cristo e ao juízo final (Ap 1:7; 6:12-17; 11:15; 14:14,15; 16:20; 19:11,12; 20:11-
15). Portanto, se o livro não apresenta esse paralelismo progressivo, então
fatalmente o mundo irá acabar pelo menos sete vezes. Esse sistema de
recapitulação não é uma exceção do Apocalipse, ao contrário, ele é
amplamente encontrado em toda a Bíblia, do Antigo Testamento ao Novo
Testamento.

Um fato que também devemos levar em consideração é que na época


João escreveu apenas uma única carta, e que foi lida em todas as sete igreja
da Ásia Menor. Para isto, reunia-se a congregação e um orador ficava
responsável por lê-la ao demais irmãos que ficavam atentamente escutando. É
por isto que no livro encontramos a seguinte informação:

Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta


profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o
tempo está próximo (Apocalipse 1:3).

Compreendendo esta característica, a Leitura de Recapitulação


logicamente se mostra a melhor estratégica de comunicar e enfatizar uma
determinada mensagem. Se o livro mostrar eventos sequencialmente
cronológicos, então possivelmente os irmãos daquelas igrejas tiveram
dificuldades em entendê-lo. Realmente eu não creio nesta possibilidade.

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Essa questão ficará mais clara conforme avançarmos na interpretação


de alguns textos específicos do Apocalipse nos capítulos seguintes deste e-
book.

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AFINAL, COMO ESTUDAR O


APOCALIPSE?
Sei que o que vimos até agora pode parecer muito confuso e
complicado. De fato realmente é. Portanto, neste capítulo quero fazer uma
revisão do que já vimos, e aplicar todo esse conteúdo de forma prática numa
introdução ao estudo do livro do Apocalipse. Este será um capítulo curto e
objetivo, um pouco repetitivo, porém necessário.

ATENÇÃO AO TÍTULO DO APOCALIPSE


Muitas pessoas já abrem o livro do Apocalipse como um tipo de
código criptografado acerca dos eventos futuros. Desenham mapas, criam
fórmulas, encontram elementos ocultos e, claro, se perdem num tipo de
"neurose escatológica". Esse tipo de obsessão contradiz totalmente o título do
livro que é simplesmente "Apocalipse".

A palavra "Apocalipse" vem do grego "apokalypsis" e significa


"revelação", no sentido de "tirar o véu", "tirar aquilo que encobre", ou seja, é o
conceito oposto do "oculto" e do "escondido". O primeiro versículo do livro já
nos ensina muito sobre isto:

Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos
seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo
seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo (Apocalipse 1:1).

O livro do Apocalipse não esconde, ao contrário, ele revela. Note que


a revelação vem de Deus, e o objetivo é mostrar aos seus servos o que Ele
quer que estes saibam. Portanto, encare o Apocalipse com essa simplicidade
inicial, e isto irá lhe servir de grande ajuda na compreensão do livro.

ATENÇÃO AO CONTEXTO HISTÓRICO DO APOCALIPSE


É impossível compreender corretamente o livro do Apocalipse se for
desconsiderado o contexto histórico em que o livro foi escrito. O escritor do

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livro se apresenta apenas como João. Penso que o único João que poderia
escrever para sete igrejas da Ásia Menor, e que naquela época dispensava
maiores apresentações, é o apóstolo João.

Já falamos que o livro provavelmente foi escrito entre 95 e 96 d.C.,


durante o governo do imperador romano Domiciano. Esse foi um período onde
a Igreja foi duramente perseguida. Todos os apóstolos já haviam sido mortos,
com exceção de João, que era o único apóstolo ainda vivo, porém estava
prisioneiro do Império Romano.

O imperador havia se declarado deus e senhor, e o culto ao imperador


tinha sido instituído no império. Os cristãos estavam sendo perseguidos,
torturados, presos e mortos. Muitos corpos de cristãos serviam como tochas
humanas para iluminar a noite romana.

Não tão distante, segundo a tradição cristã, eles presenciaram Paulo


sendo decapitado, Pedro crucificado de cabeça para baixo, e agora o último
apóstolo, uma liderança importante para a Igreja Primitiva, estava exilado na
Ilha de Patmos. O cristianismo estava sendo massacrado, e este parecia ser o
fim da Igreja. É exatamente nesse cenário que Deus revela a João o conteúdo
do livro do Apocalipse.

ATENÇÃO AO PROPÓSITO E AO TEMA DO APOCALIPSE


Conforme já vimos aqui, considerando o contexto histórico do livro é
impossível classificarmos o Apocalipse como um "manual sobre o futuro". A
Igreja de Cristo naquela época estava enfrentando uma tribulação muito
grande e precisava de uma resposta.

Imagine você a satisfação e a esperança daqueles irmãos quando


tiveram notícias de que o apóstolo João havia tido revelações da parte de
Deus, registrado tais revelações, e enviado o conteúdo para eles.

Não faz sentido algum entender que as revelações a partir do capítulo


4 se referem exclusivamente a um período futuro. Eles esperavam por
respostas e consolo da parte de Deus. Eles não estavam interessados na

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situação do Oriente Médio, na política da Europa e na influencia da América


dois mil anos depois. Digo isto porque, através de códigos e mapas, muitos
encontram no Apocalipse as empreitadas de Napoleão, o nazismo de Hitler,
profecias de ataques terroristas, as eleições presidenciais americanas e o
comportamento da Rússia na geopolítica atual. Obviamente este não é o
propósito verdadeiro do livro do Apocalipse.

O objetivo principal do livro é confortar a Igreja de Cristo diante das


provações neste mundo, mostrando que Deus está atento a suas lágrimas e
aflições, e que existe uma guerra espiritual muito maior do que se imagina,
porém a vitória de Cristo e de Sua Igreja sobre Satanás, seus agentes e
seguidores é garantida. O livro do Apocalipse ensina para a Igreja que não há
o que temer.

Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá,


porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que
estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis (Apocalipse 17:14).

ATENÇÃO A ORGANIZAÇÃO DO CONTEÚDO DO APOCALIPSE


É muito importante organizar o conteúdo do livro do Apocalipse para
que possamos estudá-lo corretamente. Vimos que existem duas maneiras de
organizar o livro: a Leitura de Recapitulação e a Leitura Linear.

Conforme já falamos, a melhor organização é aquela que divide o livro


em sete seções paralelas e progressivas, utilizando a Leitura de
Recapitulação. Assim, a mesma história é contata várias vezes, porém de
ângulos diferentes, ou seja, é uma organização cíclica, de forma que em cada
seção a narrativa vai se intensificando, adicionando novos elementos e nos
revelando em detalhes a consumação da História com a segunda vinda de
Cristo, o juízo final e o estado eterno com novo céu e nova terra.

ATENÇÃO AO SIMBOLISMO NO APOCALIPSE


Outra coisa muito importante é perceber os simbolismos utilizados no
livro do Apocalipse, e estar atento para não interpretá-los de forma literal. A

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maioria das pessoas que consideram o Apocalipse um livro aterrorizante e


confuso, não se atentam para os símbolos do livro, o que acarreta em um
entendimento bastante fantasioso.

No primeiro capítulo do livro, já encontramos uma clara advertência de


que as visões dadas ao apóstolo João seriam carregadas de simbolismo:

E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete


castiçais de ouro; E no meio dos sete castiçais um semelhante ao
Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e
cingido no tórax com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos
eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como
chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como
se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz
de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua
boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o
sol, quando na sua força resplandece (Apocalipse 1:12-16).

Agora perceba como é interessante o último versículo do mesmo


capítulo:

O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete
castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e
os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas (Apocalipse 1:20).

Note que o versículo 20 interpreta a simbologia contida nos versículos


anteriores, onde temos uma descrição simbólica de Jesus, e que, obviamente,
não deve ser interpretada de forma literal. Cada detalhe dessa simbologia
descreve a majestade do nosso Senhor.

Os cabelos brancos como a alva lã simbolizam a eternidade; os olhos


como chamas de fogo mostram que os olhos do Senhor penetram cada
coração, cada lugar não ficando nada escondido; os pés de bronze mostram
o juízo do Senhor que pisa o iníquo; a espada de dois gumes que sai de sua
boca é a própria Palavra de Deus, que penetra, divide, separa e nada pode

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lhe resistir; e seu rosto como sol mostra todo o esplendor e resplandecência
d'Ele, tão intenso e glorioso que ao homem é impossível olhar.

Assim, entendemos claramente que essa figura é um símbolo de


Cristo, e não Sua descrição literal. O versículo 20 parece nos dar um aviso
claro dizendo: Preste atenção! Perceba a simbologia! Não interprete tudo de
maneira literal, pois se não, você não entenderá nada!

ATENÇÃO AOS NÚMEROS NO APOCALIPSE


Este mesmo princípio simbólico é aplicado aos números encontrados
no livro do Apocalipse que aparecem tanto explicitamente quanto
implicitamente.

Bem resumidamente, podemos dizer que o número mais significativo


do Apocalipse é o numero 7, sendo aplicado explicitamente 54 vezes no
Apocalipse além de várias aplicações implícitas. Por exemplo: podemos
destacar que temos sete seções que divide o conteúdo (já apresentado), sete
referências diretas a iminência da segunda vinda de Cristo e o juízo que virá
em breve (Ap 1:1; 2:16; 3:11; 22:6,7,12,20), sete bem-aventuranças (Ap 1:3;
14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7; 22:14), sete referências à Palavra de Deus (Ap
1:2; 1:9; 6:9; 17:17; 19:9; 19:13; 20:4), sete vezes ocorre a afirmação de que
Deus é Todo-Poderoso (Ap 1:8; 4:8; 11:17; 15:3; 16:7; 19:6; 21:22), dentre
outras.

Também encontramos o número 4, sendo utilizado principalmente


para simbolizar eventos terrenos e a criação divina (ex. Ap 4:6; 7:1,2; 9:13,14;
20:8).

É possível encontrar o número 3, tanto implicitamente (ex. Ap 1:4,5,8;


4:8) quando explicitamente (ex. Ap Ap 6:6; 8:13; 9:18; 16:13,19; 21:13). Já o
número 10 sempre aparece ligado às forças do mal (ex. Ap 2:10; 12:3; 13:1;
17:3,12), enquanto o número 12 e seus múltiplos sempre aparecem ligados ao
povo de Deus (ex. Ap 7:5-8; 12:1; 21:12,14,16; 22:2).

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Por fim, o número 6 também é registrado, e quando ele ocorre, ou está


ligado ao juízo de Deus sobre o mal (ex. Ap 6:12-17; 9:13-21; 16:12-16) ou
está ligado diretamente ao próprio Satanás. Se o número 7 é o número divino,
o 6 pode mostrar o como Satanás e seus seguidores tentam ser parecido com
Deus, porém fracassam e nunca conseguirão atingir o que querem. O número
666, um triplo 6, é um exemplo claro desse princípio.

Realmente a muito que ser dito sobre o livro do Apocalipse, e é


necessário constante estudo e oração para entender não só ele, mas toda a
Palavra de Deus. O principal ao estudar esse livro tão maravilhoso, é perceber
sua simplicidade, sempre considerando a mensagem como um todo, focando
a promessa de que o nosso Senhor voltará, julgará o mundo e para sempre a
Igreja viverá com Ele. Entendendo isto, as figuras simbólicas e os detalhes
presentes no Apocalipse serão mais facilmente interpretados.

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AS SETE IGREJAS DO
APOCALIPSE
As sete igrejas da Ásia Menor, são, originalmente, as destinatárias do
livro do Apocalipse. Essas igrejas ficaram popularmente conhecidas como "as
sete igrejas do Apocalipse". É importantíssimo para um estudo correto do livro
do Apocalipse conhecermos um pouco mais sobre essas igrejas.

POR QUE SETE IGREJAS?


Como já vimos, o número "sete" é muito representativo na construção
do livro do Apocalipse, onde encontramos referências como: as sete igrejas,
sete estrelas, sete espíritos, sete selos, sete trombetas, sete taças e etc.

Basicamente, o número sete no Apocalipse representa a totalidade,


algo completo. Sendo assim, uma boa explicação sobre o porquê de "sete
igrejas" é a indicação de que o livro é atual para todas as igrejas de todas as
épocas, porém sem desconsiderar que as sete igrejas descritas são as
destinatárias primárias.

É importante dizer que na Ásia Menor existiam outras igrejas, como


por exemplo, a igreja em Colossos. Isto nos leva à outra pergunta: qual foi o
critério de escolha das sete igrejas? Para esta pergunta, definitivamente não
existe uma resposta conclusiva.

Uma explicação utilizada por alguns estudiosos é que as sete igrejas


escolhidas estavam próximas uma das outras (no máximo 55 km) e
interligadas por boas estradas romanas, o que facilitaria a troca de
correspondência. Outro fato interessante é que em todas essas cidades
existia uma corte romana, o que naquela época representava grandes
problemas para os cristãos. Inclusive em Éfeso, Esmirna e Pérgamo, havia
templos onde era celebrado o culto ao imperador.

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Também não devemos nos esquecer de que a ordem sobre as igrejas


destinatárias do livro do Apocalipse partiu particularmente de Cristo (Ap 1:11),
e, para mim, isto já é o suficiente.

QUAIS SÃO AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE?


A relação das sete igrejas pode ser encontrada facilmente logo no
capítulo 1 do livro do Apocalipse (Ap 1:11), sendo elas: Éfeso, Esmirna,
Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, e Laodicéia. Vale saber que a Ásia Menor
é atualmente a região ocidental da Turquia.

OS SETE CASTIÇAIS E AS SETE ESTRELAS


Após receber a ordem de escrever o livro para as sete igrejas, João
teve uma visão de Cristo andando no meio de sete castiçais (ou candeeiros),
e, entre outras características, Ele tinha em Sua destra sete estrelas.

No próprio capítulo 1 temos a explicação sobre este simbolismo. Os


sete castiçais de ouro representam as sete igrejas, e as sete estrelas
representam os anjos das sete igrejas.

QUEM SÃO OS ANJOS DAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE?


As cartas são endereçadas ao anjo de cada igreja, isso fica claro no
texto. Existem duas interpretações sobre quem seriam os anjos das sete
igrejas.

A primeira interpretação defende que se trata de seres celestiais, ou


seja, literalmente anjos. Esta interpretação busca algumas referências no
Antigo Testamento onde seres celestiais eram designados a ajudar e proteger
um determinado povo. Porém, porque João escreveria para anjos, sendo que
eles estão constantemente na presença de Deus? Como seria possível
escrever uma carta e enviar a um anjo? Estas e outras objeções são as
maiores fraquezas desta posição.

A segunda interpretação considera, principalmente, o fato de que a


palavra "anjo" significa literalmente "mensageiro", que pode ser tanto um ser
celestial como um humano. Sendo humano, a palavra "anjo" cabe

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perfeitamente aos lideres das igrejas. Uma fraqueza desta posição é que em
nenhum outro lugar da Bíblia líderes da Igreja (presbíteros, bispos, pastores)
são identificados como "anjos".

Reconheço que ambas as interpretações possuem problemas, porém,


particularmente, prefiro a última posição.

A ESTRUTURA DAS SETE CARTAS


É importante entender que o livro do Apocalipse é uma unidade, e seu
conteúdo como um todo foi destinado às sete igrejas, embora dentro do
próprio Apocalipse temos de forma claramente dividida sete cartas às sete
igrejas. Isto não significa que foram escritos sete livros individuais, mas, muito
provavelmente, um único livro que foi lido em cada uma das sete igrejas,
tendo na seção inicial uma carta individual a cada uma delas.

Em cada uma dessas cartas individuais dentro do Apocalipse,


podemos notar um padrão de organização do conteúdo. Willian Hendriksen,
na obra Mais Que Vencedores, destaca esse padrão da seguinte forma:

1. Saudação e destinatário: "Ao anjo da Igreja em Éfeso..." (2:1,8,12,18;


3:1,7,14).
2. Autodesignação de Cristo: "Aquele que conserva na mão direita as sete
estrelas... " (2:1,8,12,18; 3:1,7,14). Note que existe um paralelo entre
quase todos esses títulos com a descrição simbólica de Cristo no
capítulo 1 (vers. 12-20).
3. Aprovação: "Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua
perseverança... " (apenas a igreja de Laodicéia não recebe aprovação).
4. Condenação: "Tenho, porém, contra ti... " (as igrejas de Esmirna e
Filadélfia não possuem nada condenável).
5. Advertência e ameaça: "Lembra-te, pois, de onde caíste... se não..." (as
igrejas de Esmirna e Filadélfia não recebem advertências).
6. Exortação: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas."
7. Promessa: "Ao vencedor dar-lhe-ei de comer da árvore da vida... ".

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AS CARACTERÍSTICAS DE CADA IGREJA NAS SETE CARTAS


1. Éfeso: a Igreja de Éfeso é elogiada por seu bom trabalho, por rejeitar o
mal, por sua perseverança e por ser paciente. A crítica fica por conta
do esfriamento de seu primeiro amor. A recomendação é que a igreja
se arrependa e volte a praticar as primeiras obras. Éfeso recebe como
promessa a árvore da vida.
2. Esmirna: a Igreja de Esmirna é elogiada por suportar o grande
sofrimento a que estava sendo submetida. Esmirna não recebe
nenhuma critica. A recomendação é de que sejam fiéis até a morte e
resistam à perseguição. Esmirna recebe como promessa a coroa da
vida.
3. Pérgamo: a Igreja de Pérgamo é elogiada por manter a fé e a confiança
em Cristo. É criticada por tolerar a imoralidade, a idolatria e as heresias.
A recomendação é um convite ao arrependimento. Pérgamo recebe
como promessa o maná escondido e uma pedra com novo nome.
4. Tiatira: a Igreja de Tiatira é elogiada pelo amor, fé e paciência que
demonstra. Também pelo serviço prestado, e as boas obras que
melhoraram em relação ao início. É criticada por tolerar a idolatria e a
imoralidade. A recomendação é que seus membros sejam fiéis, pois o
julgamento está próximo. Recebem também a promessa de que
governarão nações e receberão a estrela da manhã.
5. Sardes: na Igreja de Sardes alguns têm sido fiéis, porém é duramente
criticada por ser uma igreja morta. A recomendação é para que se
arrependam e fortaleçam o que ainda lhes restam. Aos fiéis são
prometidos vestidos brancos.
6. Filadélfia: a Igreja de Filadélfia é elogiada por perseverar na fé, por
obedecer a Cristo e honrar seu nome. Filadélfia não recebe nenhuma
crítica. A recomendação é para que sejam fiéis. Para Filadélfia é
prometido um lugar na presença de Deus, um novo nome e a Nova
Jerusalém.

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7. Laodicéia: a Igreja de Laodicéia não é elogiada em nada, ao contrário,


é criticada por ser morna, indiferente, e por não perceber a própria
condição miserável em que se encontra. Os crentes de Laodicéia
recebem a recomendação para se arrependerem e serem zelosos, e os
que vencerem, recebem a promessa de que compartilharão do trono
de Cristo.

QUAL O SIGNIFICADO DAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE?


Nas últimas décadas cresceu a discussão sobre qual seria o
significado das sete igrejas do Apocalipse. Primeiramente é fundamental
entender a literalidade de cada igreja descrita no Apocalipse, ou seja, o
objetivo primário das sete cartas, bem como do livro do Apocalipse, foi
abordar a situação real das igrejas dentro do contexto histórico em que foi
escrito.

Apesar deste objetivo primário, as sete igrejas do Apocalipse também


possuem um significado espiritual para a Igreja de Cristo como um todo.
Basicamente existem duas interpretações principais sobre este assunto.

A primeira interpretação defende que as sete igrejas do Apocalipse


representam sete períodos sucessivos da História da Igreja. Essa
interpretação é conhecida como "As Sete Eras da Igreja". Nesta interpretação,
o significado das sete igrejas do Apocalipse é o seguinte:

1. Éfeso representa a igreja apostólica (30 - 100 d.C.);


2. Esmirna representa a igreja perseguida, a igreja dos mártires (100 -
312 d.C.);
3. Pérgamo representa a igreja que se uniu ao estado (313 - 590 d.C.);
4. Tiatira representa a igreja da Idade Média, corrupta e idólatra (590 -
1517 d.C.);
5. Sardes representa a igreja da reforma (1517- 1730 d.C.);
6. Filadélfia representa a igreja missionária (1730-1900 d.C., sendo que
alguns estendem esse período até a volta de Cristo, ocorrendo
paralelamente à Igreja de Laodicéia);

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7. Laodicéia representa a igreja apóstata (1900 d.C. até a volta de


Cristo).

A segunda interpretação defende que as igrejas do Apocalipse e, o


conteúdo de suas cartas, representam condições que se repetem muitas
vezes durante a História da Igreja, ou seja, não descrevem um período
especifico da História, mas realidades que sempre estiveram presentes na
Igreja.

Particularmente, creio que seja evidente que a última posição é a


melhor a ser adotada. Para mim, em relação à primeira interpretação,
considero que se trata de uma exegese fraca e sem lógica alguma, e que
implica em sérios problemas, como por exemplo, considerar a Igreja morta de
Sardes uma referência à era da Reforma.

A Igreja da Reforma pode significar qualquer coisa, menos uma igreja


morta. Outro problema grave é a questão da divisão dos períodos. Para
podermos dividir a Igreja em períodos específicos, precisaríamos saber a data
da segunda vinda de Cristo, e isto ninguém sabe.

Geralmente (mas não generalizando) quem prefere a interpretação em


eras específicas segue um sistema escatológico que já produziu uma série de
estudiosos que marcaram erroneamente a data da volta de Cristo, isto com
bases em mapas, fórmulas e códigos, que, segundo eles, foram tirados de
dentro da própria Bíblia.

Resumindo, seguramente podemos dizer que as características


encontradas nas sete igrejas do Apocalipse representam uma realidade
presente e repetida em todas as épocas dentro da História da Igreja, podendo
ser percebida em cada congregação local, ou seja, existem congregações
hoje que se aproximam mais das características de Éfeso, enquanto outras
ficam mais próximas da conduta de Pérgamo, como também dentro das
próprias congregações podemos perceber pessoas que possuem um

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comportamento similar aos membros da Igreja de Laodicéia, enquanto outras


claramente se parecem mais com os membros da Igreja de Filadélfia.

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A VISÃO DO TRONO DE DEUS NO


APOCALIPSE
Neste capítulo vamos começar a estudar a segunda seção do livro do
Apocalipse (caps. 4-7). Enquanto na primeira seção (cap. 1-3) João teve a
visão de Cristo no meio de sua Igreja, e registrou como Ele a conhece
profundamente, tratando de seus problemas, a protegendo e prometendo a
vitória, agora, na segunda seção, João teve a visão de como as coisas
acontecem da perspectiva do trono de Deus, registrando também as tensões
que a Noiva de Cristo enfrentará até a sua segunda vinda (o livro selado com
sete selos).

Nessa seção João descreveu todo o período entre a primeira e a


segunda vinda de Cristo, e fez uma referência direta ao juízo final, com a
condenação dos ímpios e a grande alegria dos salvos.

Neste capítulo, vamos nos concentrar apenas na visão sobre o trono


de Deus e o Cordeiro exaltado (capítulos 4 e 5), e no próximo capítulo
trataremos especificamente do livro selado com sete selos.

JOÃO RECEBE UM CONVITE


No capítulo 4, encontramos João sendo convidado à subir ao céu para
que pudesse ver "o que deve acontecer". Imediatamente João se achou em
espírito, ou seja, ele não subiu ao céu fisicamente, nem mesmo viu e ouviu
essas coisas com seus olhos e ouvidos carnais. Ninguém suportaria ver o que
João viu em corpo humano, portanto ele teve uma visão. É importantíssimo
considerar o simbolismo presente na visão, pois, se não for assim, o texto
ficará impossível de se compreender.

Então, João viu um Trono no Céu. Trono significa autoridade, domínio,


poder e honra. Aqui começa ficar clara a expressão " o que deve acontecer".
João contempla que nada acontece por acaso, que a História não está sem

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controle, ao contrário, há um trono no céu que controla todas as coisas, nele,


o Criador, Deus Todo-Poderoso, governa o universo e conduz a História
segundo os seus propósitos.

João viu que Deus está assentado sobre o trono. Lembre-se que o
livro foi primariamente escrito às sete igrejas da Ásia, cujos cristãos
enfrentavam duras perseguições. Saber que Deus está assentado sobre o
trono é certamente reconfortante. As sete igrejas, espiritualmente,
representam todas as igrejas de todas as épocas, portanto, esse consolo
também é para nós. Nosso Deus governa!

João não consegue descrever propriamente Deus, mas descreve o


seu esplendor e majestade, destacando dois de seus atributos. Ele diz que o
que viu é semelhante à pedra de jaspe (no original algo como diamante
branco e translucido) e a pedra de sardônico. A pedra branca, pura, e
cristalina, representa a santidade de Deus. Já o sardônico é vermelho vivo, e
representa o juízo de Deus. Assim, Deus é santo e justo.

João também viu ao redor do trono um arco-íris parecendo uma


esmeralda, que simboliza a graça e a misericórdia de Deus, ou seja, há uma
aliança que demonstra que, para os eleitos de Deus, a tempestade já passou,
pois Cristo é quem nos justificou.

Após o arco-íris, João viu relâmpagos, vozes e trovões, o que


evidencia o juízo e a ira, isto é, o trono de Deus é um trono de juízo. Diante do
trono estavam acessas sete tochas de fogo, que simbolizam o Espírito Santo,
que é sábio, que tudo vê, que é fogo consumidor contra os ímpios, e
santificador em relação aos santos.

Note que o arco-íris é visto antes dos relâmpagos, vozes e trovões.


Isto quer dizer que a graça antecede o julgamento. Deus derrama a sua
misericórdia, mas também derrama sua ira em juízo. Aqueles que rejeitam a
graça de Deus não poderão escapar da justiça d'Ele.

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João viu algo como um mar de vidro, claro como cristal. Talvez uma
boa interpretação seja que, simbolicamente, isso representa o poder
santificador, ou seja, o sangue purificador do Cordeiro, em quem os santos
lavaram suas vestes (Ap 7:14).

QUEM SÃO OS VINTE E QUATRO ANCIÃOS?


João viu vinte e quatro tronos, e assentados neles vinte e quatro
anciãos. Alguns sugerem que os vinte e quatro anciãos são seres celestiais,
isto é, anjos. Outra interpretação defende que os vinte quatro anciãos
representam o povo fiel de Deus, a Igreja em sua totalidade representada
diante de Deus, ou seja, a Igreja do Antigo Testamento (simbolizada pelos
doze Patriarcas) e a Igreja do Novo Testamento (simbolizada pelos doze
Apóstolos). Penso que esta seja a melhor interpretação.

Perceba que os anciãos estão vestidos de roupas brancas que


demonstram a justificação, estão sentados em tronos para reinar e julgar e
possuem coroas de ouro que representam a posição de honra e prestigio, isto
é, os vencedores são coroados (Ap 2:10; 3:11). Tudo isto está de acordo com
passagens bíblicas que afirmam que os eleitos de Deus são reis e sacerdotes
(1 Pe 2:9). Por fim, aos fiéis foram prometidas vestes brancas (Ap 3:4). Já que
não há justificação para os anjos, os vinte quatro anciãos não podem ser
anjos, mas são uma referência aos homens redimidos.

QUEM SÃO OS QUATRO SERES VIVENTES?


João viu quatro seres viventes no meio e ao redor do trono, cobertos
de olhos. O primeiro se parecia com leão, o segundo com novilho, o terceiro
com rosto de homem e o quarto parecia uma águia voando.

Algumas interpretações sobre quem são estes quatro seres viventes


são sugeridas:

1. Eles representam os quatro Evangelhos: segundo quem defende esta


posição, o leão representa Jesus como Rei no Evangelho de Mateus, o
novilho mostra Jesus como servo em Marcos, o homem mostra Jesus

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como homem perfeito em Lucas e, a águia, mostra Jesus como aquele


que veio do céu e volta ao céu no Evangelho de João.
2. Eles representam a totalidade da natureza: o número quatro no livro
do Apocalipse sempre está ligado à criação, portanto, os quatro seres
viventes representam toda a grandeza da natureza. O leão representa
os animais selvagens, o novilho os animais domésticos, a águia todas
as aves, e o homem a coroa da criação de Deus. Algumas referências
bíblicas também são utilizadas para declarar que toda a criação louva
ao Senhor (Sl 19:1-2; 103:22; 148).
3. Eles representam seres angelicais: os quatro seres viventes são
querubins, uma ordem superior de anjos. A canção que cantam é a
canção dos anjos (Is 6:1-4). A descrição como leão, novilho, homem e
águia representa fortaleza, capacidade para servir, inteligência e
rapidez. Essa posição estabelece um paralelo incrível com o capítulo
1 de Ezequiel, além de se apoiar que tais características são
amplamente atribuídas aos anjos na Bíblia (Sl 103:21,21; Hb 1:14; Dn
9:21; Lc 12:8; 15:10).

Creio que dentre as interpretações citadas, a mais fraca é a primeira.


Particularmente prefiro a última interpretação, pelo simples fato de que parece
haver uma distinção no capítulo 5 entre os quatro seres viventes e a criação
representada (Ap 5:13), mas não considero a segunda interpretação um
problema, ao contrário, grandes teólogos aderem à segunda interpretação
que de fato também é muito boa.

Penso que o importante aqui é ressaltar que os quatro seres viventes


adoram a Deus sem cessar e, em seus cânticos, eles declaram que Deus é
santo, onipotente e eterno.

Dia e noite repetem sem cessar: "Santo, santo, santo é o Senhor, o


Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir" (Apocalipse
4:8).

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A IGREJA TAMBÉM ADORA AO CORDEIRO


Juntamente com os quatro seres viventes, os vinte quatro anciãos
também adoram ao que está assentado sobre o trono. Como os vinte quatro
anciãos representam a Igreja de Cristo, podemos perceber claramente como
a verdadeira Igreja adora o Deus Todo-Poderoso:

 Eles se prostram diante daquele que está assentado no trono.


 Eles lançam suas coroas diante dEle em sinal de completa submissão,
pois suas coroas não vieram por seus próprios méritos.
 Eles declaram que o que está assentado no trono é Senhor e Deus, o
Criador de todas as coisas, e Soberano em Sua vontade.

O CORDEIRO EXALTADO E O LIVRO SELADO


Continuando a visão, João viu na mão direita daquele que está
assentado no trono (Deus Pai), um rolo (pergaminho) escrito por dentro e por
fora. Esse livro representa o plano eterno de Deus, o decreto d'Ele sobre todas
as coisas. O fato de ter sido escrito por dentro e por fora significa que nada foi
esquecido, nada foi omitido.

O livro selado por sete selos representa que, na visão, o livro está
totalmente selado e ninguém no céu, nem na terra, nem mesmo debaixo da
terra pode desatar os seus selos. Lembre-se que o número sete em
Apocalipse é muito representativo no sentido de "totalidade", "algo completo".
João então se desesperou ao saber que ninguém seria capaz de abrir o livro.

Logo João foi consolado, pois o Leão de Judá, a Raiz de Davi, venceu
e é capaz de abrir o livro e desatar os sete selos. O Cordeiro recebeu o livro
da mão direita daquele que estava assentado no Trono. Isso mostra que Jesus
tem o livro da História em suas mãos, e que, apenas através d'Ele, a História
faz sentido. A referência ao "Cordeiro digno de desatar os sete selos " significa
que Ele é o único que revela e pode cumprir o plano de Deus.

O livro, agora aberto, demonstra que o universo é governado no


interesse da Igreja, e o propósito da redenção passa a ser conhecido, de

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forma que o plano de Deus é executado no decorrer da História. Deus


governa o universo por meio do Cordeiro.

O Cordeiro é descrito como quem "parecia ter estado morto ", e isso
representa a sua marca, a vitória conquistada na cruz. Ele possui sete chifres.
Chifres em toda a Bíblia simbolizam poder e força. Como a descrição diz que
Ele tem sete chifres, isso significa que Ele é totalmente forte e poderoso, Ele é
onipotente. Ele também possui muitos olhos que simbolizam sua onisciência.
Ele está de pé no meio do trono, ou seja, Ele tem autoridade e poder, e o livro
da História está em suas mãos. Tanto para a Igreja perseguida da época
quanto para nós na atualidade, à certeza de que nosso Deus tem todo o
controle em Suas mãos é algo extraordinário.

Essa visão que João teve é sobre a coroação de Cristo. Cristo, na sua
ascensão ao céu, foi coroado e recebeu autoridade para governar todo o
universo, segundo o decreto eterno de Deus. Ele recebeu do Pai o reino, Ele
foi exaltado, e lhe foi dado um nome que é sobre todo nome (Sl 2; Sl 110; Dn
7:9-14; Lc 19:12; Hb 2:8-9; Fp 2:6-11). A coroação do Filho não implica que o
Pai deixou o trono, mas que Ele se assenta juntamente com Seu Pai (Ap 22:1),
pois Ele é igualmente e totalmente Deus.

João relata que assim que o Cordeiro pega o livro e assume o reino,
ocorre uma explosão de adoração. Os quatro seres viventes e os anciãos se
prostram diante dEle. Cada um dos vinte quatro anciãos possui uma harpa,
um instrumento de música usado no louvor, e taças de ouro repletas de
incenso, que simbolizam as orações dos santos. Eles cantavam um novo
cântico:

Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste


morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda
tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes
para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra (Apocalipse
5:9,10).

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Os milhares de milhares e milhões de milhões de anjos rodeavam o


trono, bem como os seres viventes e os anciãos. Em alta voz eles cantavam:

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza,


sabedoria, força, honra, glória e louvor! (Apocalipse 5:12).

A cena final descreve uma adoração total. Todas as criaturas


existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar diziam:

Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a


honra, a glória e o poder, para todo o sempre! (Apocalipse 5:13).

Para nós, Igreja de Cristo, a mensagem é muito clara: nós somos


invencíveis! Somos comprados pelo Cordeiro, e o Cordeiro tem o livro da
História em Suas mãos. Certamente somos mais que vencedores!

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O LIVRO SELADO COM SETE


SELOS
No capítulo anterior já fizemos uma pequena introdução ao significado
do livro selado com sete selos. Neste capítulo, iremos então nos aprofundar
um pouco mais sobre a visão acerca desse livro selado. Dada a dificuldade
de alguns textos que veremos a partir de agora, algumas coisas se tronarão
um pouco repetitivas, mas creio que desta forma seja a melhor maneira de
assimilar o conteúdo.

Para muitos, o livro selado com sete selos no capítulo 6 do Apocalipse


é uma das passagens mais difíceis de interpretar dentro do livro. Diversas
posições interpretativas surgiram com o propósito de debater o conteúdo do
livro selado com sete selos. Para se ter uma ideia, as opiniões são tão
controversas a respeito do primeiro selo, por exemplo, que interpretações
antagônicas são defendidas, como: para uns o cavalo branco e seu cavaleiro
representa Cristo, enquanto para outros o mesmo cavalo representa o
Anticristo.

De forma geral, basicamente existem duas interpretações em relação


ao significado do livro, o conteúdo dos selos e ao período que ele descreve.
Neste capítulo veremos as diferentes opiniões sobre o assunto, e qual delas é
a mais coerente com o texto bíblico.

É importante entender esse princípio antes de discutir a abertura dos


selos, pois, a interpretação de cada selo, será completamente dependente da
posição adotada acerca do período a qual os relados desse livro se destina.

O LIVRO SELADO SE REFERE AO PERÍODO DE GRANDE


TRIBULAÇÃO
Na interpretação futurista, o livro selado com sete selos descreve o
período final da presente era, ou seja, a grande tribulação. Esta interpretação

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entende que a partir do capítulo 4 do Apocalipse, os textos se referem aos


tempos futuros, principalmente ao período especifico da grande tribulação.
Essa interpretação geralmente é utilizada por quem defende o Pré-Milenismo
Dispensacionalista Clássico, que assume a posição Pré-Tribulacionista, onde
a Igreja é tirada da terra antes de um período de sete anos de grande
tribulação.

Hoje, podemos dizer que a maioria dos cristãos segue essa linha
escatológica, principalmente devido ao grande número de livros best-sellers,
e filmes já produzidos que defendem essa posição. Entretanto, essa posição
está longe de ser a mais tradicional dentro do cristianismo histórico. De forma
oficial, o Pré-Milenismo Dispensacionalista começou a ser ensinado apenas no
século 19.

Assim, como já dissemos, segundo essa interpretação os sete selos


se referem a eventos futuros que acontecerão no período de grande
tribulação, e, de forma geral, a interpretação dos sete selos é a seguinte:

 Primeiro Selo: no primeiro selo o cavalo branco com seu cavaleiro


representa o Anticristo que seduzirá as nações.
 Segundo Selo: no segundo selo o cavalo vermelho com seu cavaleiro
representa as guerras que ocorrerão nesse período futuro, talvez até
uma grande guerra mundial, culminando na perseguição dos judeus.
 Terceiro Selo: no terceiro selo o cavalo preto com seu cavaleiro,
representa uma grande fome que assolará a terra, e quem não tiver a
marca da besta, ou seja, o controle proposto pelo Anticristo, não
poderá comprar nem vender.
 Quarto Selo: o quinto selo mostra o cavalo amarelo com seu cavaleiro,
que representa o grande número de mortes que ocorrerão na grande
tribulação pelas mais diversas causas.
 Quinto Selo: no quinto selo João vê os mártires da grande tribulação,
ou seja, os cristãos que morreram nesse período especifico em
decorrência da perseguição imposta pelo Anticristo.

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 Sexto Selo: o sexto selo mostra terríveis desastres naturais como:


grandes terremotos, eclipses, queda de estrelas (segundo quem
defende essa posição poderiam ser cometas e meteoros) e muitas
pessoas morrerão por conta disso.
 Interlúdio: entre o sexto e o sétimo selo, João vê judeus que se
converterão na grande tribulação e serão selados, isto é, protegidos
por Deus durante esse período, e também os mártires de todas as
nações que morrerão em decorrência da perseguição do Anticristo.
 Sétimo Selo: O sétimo selo se refere ao agravamento da tribulação,
com os anjos tocando sete trombetas, que representam mais sete
acontecimentos que assolarão o mundo.

O LIVRO SELADO SE REFERE À ERA DA IGREJA


Dentro dessa posição, o livro escrito por dentro e por fora, selado com
sete selos, a qual apenas o Cordeiro é capaz de abri-lo e desatar os seus
selos, representa o período que vai desde a morte, ressurreição e ascensão
de Cristo ao céu, até o seu retorno glorioso.

Essa interpretação é a mais histórica dentro do cristianismo, sendo


defendida por grandes teólogos durante a História da Igreja, e geralmente é
adotada por Amilenistas, Pós-Milenistas e por muitos Pré-Milenistas Históricos.
Ainda no decorrer desde capítulo, falaremos sobre como essa posição
interpreta os sete selos. Antes, quero explicar o porquê a considero a mais
coerente com o texto bíblico.

POR QUE A ABERTURA DOS SELOS SE REFEREM À ERA DA IGREJA?


Como já dissemos, o livro do Apocalipse não é um dos livros mais
fáceis de interpretar na Bíblia, o que fica evidente pela variedade de
interpretações disponíveis. Sei que isso acaba assustando um grande número
de cristãos. Até mesmo entre os teólogos mais gabaritados, o livro do
Apocalipse é alvo de intensos debates. Por isso, é preciso muito respeito com
quem pensa diferente de nós.

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Quanto a mim, creio que a posição mais coerente biblicamente,


considerando o estilo literário do livro do Apocalipse, é a interpretação que
defende que o livro selado com sete selos descreve a presente dispensação.
Sendo assim, o conteúdo dos capítulos estudados são visões que tratam da
perseguição à Igreja e do juízo de Deus sobre os seus inimigos.

Particularmente, não vejo qualquer possibilidade de interpretar o livro


do Apocalipse como uma sequência cronológica e linear de eventos futuros.
Interpretar o Apocalipse dessa forma é ignorar a organização natural do
conteúdo do Apocalipse, e anular complemente o contexto histórico do livro.

Embora muitas pessoas se esqueçam, o livro do Apocalipse teve


destinatários primários: as sete igrejas da Ásia Menor. Como já falamos,
aqueles irmãos estavam sendo duramente perseguidos, e clamavam por uma
resposta de Deus. Sem condições humanas nenhuma, eles desafiavam o
maior império que esse mundo já viu: o Império Romano.

O livro do Apocalipse é a resposta de Deus, tanto à Igreja do século I,


quanto a Igreja de todas as épocas. Aqueles irmãos souberam que a vitória
pertence a Cristo, e que eles, mesmo com tantas provações, eram mais do
que vencedores. Essa resposta também é atual para nós, e devemos saber
que, juntamente com o Cordeiro, venceremos todas as investidas do mal.

Não faz sentido algum entender que a partir do capítulo 4 do


Apocalipse o livro é exclusivo sobre eventos futuros que ocorrerão no fim dos
tempos. Penso que o livro do Apocalipse relata sim, por várias vezes, os
eventos futuros que acorrerão, porém abrange todo o período da História da
Igreja, até a segunda vinda de Cristo, o juízo final e, por fim, o estado eterno,
com novo céu e nova terra.

Uma dica que dou para quem quer estudar o livro do Apocalipse é dar
atenção especial aos capítulos 4 e 5. Com a visão do trono de Deus que João
descreveu, podemos perceber a soberania do nosso Deus que governa todas

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as coisas, e que está atento ao que acontece com sua Igreja, garantindo, de
forma incontestável, que no final Cristo vence, e, com Ele, sua Igreja também.

Desta forma, entendemos que a História está nas mãos do Cordeiro,


Ele é quem abre os selos, e conforme os selos são abertos no céu,
diretamente a terra é impactada. Um auxílio para entender o capítulo 6 do
Apocalipse, é perceber que ele possui muitos detalhes paralelos ao Sermão
Escatológico de Jesus (Mt 24; Mc 13; Lc 21).

Antes de falarmos sobre cada selo, também é importante ressaltar que


o livro do Apocalipse possui uma grande ligação com o Antigo Testamento, ou
seja, há muito material de livros do Antigo Testamento dentro do Apocalipse.
Observar esse detalhe torna a didática do livro muito mais fácil.

Um exemplo do que estamos falando pode ser visto na abertura dos


quatro primeiros selos, onde aparece a utilização simbólica de cavalos e
cavaleiros. O livro do Apocalipse não é o único a utilizar essa linguagem,
antes, no livro de Zacarias, por exemplo, podemos perceber o mesmo recurso
sendo utilizado (Zc 1:8; 6:1). Um simbolismo semelhante também aparece no
livro do Profeta Ezequiel (Ez 5:17; 14:21). Na Bíblia, a figura do cavalo é
geralmente utilizada para representar o conceito de força, guerra, terror e
conquista, sendo que no Apocalipse, o mesmo padrão é seguido (Ap 9:7;
14:20; 19:11).

PRIMEIRO SELO: O CAVALO BRANCO


E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele
tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para
vencer (Apocalipse 6:2).

Dos quatro cavalos, certamente esse é o mais complicado de se


interpretar, como já citamos, existem posições antagônicas acerca dele, pois
ao longo dos anos, grandes teólogos sugeriram diferentes interpretações.
Vejamos as principais delas:

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1. O cavalo branco e seu cavaleiro representa o Anticristo: geralmente


esta interpretação é defendida por quem entende que o conteúdo do
livro selado com sete selos se refere a eventos futuros que ocorrerão
no período da grande tribulação. Essa é a interpretação predominante
dentro do Pré-Milenismo Dispensacionalista. O principal argumento
para esta defesa é o fato do Apocalipse utilizar imagens duplas para
fazer contrastes, por exemplo: a Noiva e a prostituta, a Nova
Jerusalém e a Babilônia e etc. Dessa forma, o cavalo branco
representa o Anticristo se contrapondo ao Cristo, ou seja, ele se
apresentará como um pacificador, e ganhará muitas vitórias. Ele
seduzirá as nações e, com seu domínio mundial, será aclamado como
invencível.
2. O cavalo branco representa o poderio militar: nesta interpretação o
cavalo branco e seu cavaleiro representa as grandes conquistas
militares que ocorreram ao longo da história, desde o Império Romano
até os nossos dias. Na época, era costume que o imperador montasse
em um cavalo branco quando saía para uma guerra. Nesta
interpretação, os cavalos que se seguem após o branco, são
consequências trágicas que sempre acompanham as conquistas
militares.
3. O cavalo branco representa a pregação do Evangelho pelo mundo:
nesta interpretação o Evangelho é pregado vitoriosamente pelo mundo
inteiro, triunfando sobre as mais terríveis perseguições. Sempre
tentaram parar a pregação do Evangelho, aprisionando, condenando
os cristãos a morte e fechando igrejas, porém, o Evangelho
permanece sendo pregado, e segue "vencendo e para vencer". Assim,
após Cristo ser exaltado, sua primeira ação é prover as condições
para que o Evangelho seja pregado vitorioso em todo o mundo.
4. O cavalo branco representa Cristo: nesta interpretação o cavalo
branco e seu cavaleiro representa o próprio Cristo. Note que, diferente
dos outros cavalos, no cavalo branco não temos nenhuma descrição

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de maldição. As punições ocorrem na sequência, com os outros


cavalos, ou seja, as maldições que os outros cavalos trazem é
consequência da saída do primeiro cavalo. Isso significa que sempre
que Cristo aparece, Satanás fica ocupado, e as provações para o
povo de Deus acontecem. Outra característica importante são os
detalhes desse cavalo e seu cavaleiro. A cor é branca, ele possui uma
coroa e saiu "vencendo e para vencer". No livro do Apocalipse é
preciso estar muito atento à importância da simbologia. A cor branca
no Apocalipse sempre aparece associada com o que é santo e
celestial, ou seja, nunca é utilizada para fazer referência a Satanás ou
qualquer um de seus agentes. No Apocalipse temos as vestes
brancas, a nuvem branca, o trono branco, a pedra branca, cabelos
brancos, etc. O cavaleiro recebe uma coroa, e isso está de acordo
com o capítulo 14, onde Cristo estava usando uma coroa de ouro,
além de parecer ser uma sequencia natural da principal mensagem
do capítulo 5, onde o Cordeiro é coroado, glorificado, exaltado e
recebe do Pai o reino para governar. Ainda em Apocalipse 3:21 e 5:5,
vemos que a vitória é atribuída ao cordeiro. Em Apocalipse 19:11 é
descrito alguém montado em um cavalo branco, e, explicitamente, nos
é revelado que o cavaleiro é Cristo. Os pequenos detalhes diferentes
entre as duas descrições não podem servir para enfraquecer este
argumento, aliás, é natural que existam detalhes já que a perspectiva
da narrativa é outra. Esse argumento está em completa harmonia com
o tema principal do livro do Apocalipse, que é a vitória de Cristo e de
sua Igreja (Ap 1:13; 2:26,27; 3:21; 5:5; 6:16; 11:15; 12:11; 14:14;
17:14; 19:11). Essa identificação também reforça o que o próprio
Jesus disse em Mateus 10:34, de que Ele traria a espada, isto é,
conflitos e perseguições aconteceriam por amor ao Evangelho,
inclusive dentro dos próprios lares. O cavalo vermelho, que segue
logo após o cavalo branco, representa justamente essa perseguição.
Por último, a expressão "vencendo e para vencer" no original, introduz

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a ideia de plena invencibilidade, e esse conceito é aplicado apenas a


Cristo, sendo que todos os seus adversários, incluindo Satanás e o
Anticristo, são derrotados.

Posso dizer que das interpretações citadas acima, a terceira e a


quarta são muito boas e possuem base escriturística. Particularmente, creio
que a última interpretação leva certa vantagem sobre a terceira, mas há quem
faça um tipo de combinação entre ambas, defendendo que não há como
separar o aspecto vitorioso do Evangelho do próprio Cristo. Seja como for,
uma verdade incontestável é que Cristo, através de Seu Evangelho, vence.

SEGUNDO SELO: O CAVALO VERMELHO


Então saiu outro cavalo; e este era vermelho. Seu cavaleiro recebeu
poder para tirar a paz da terra e fazer que os homens se matassem
uns aos outros. E lhe foi dada uma grande espada (Apocalipse 6:4).

Existe uma interpretação que considera que o cavalo vermelho


representa as guerras e conflitos de forma geral. Porém, ao analisarmos
cuidadosamente o texto bíblico, veremos que o cavalo vermelho representa a
perseguição religiosa que o povo de Deus é submetido ao longo da História
da Igreja. Isso significa que os santos são mortos por causa do nome de
Jesus, o que está plenamente de acordo com o sermão escatológico de Jesus
(Mt 24; Mc 13; Lc 21). Quem persegue a Igreja é o mundo.

Ao cavaleiro foi dada uma grande espada. No original, essa espada é


diferente da espada dada ao cavaleiro do cavalo amarelo. A espada do
cavaleiro vermelho no grego é machaira, e era o cutelo sacrificador, ou seja, a
adaga usada geralmente em sacrifícios. Na Septuaginta (tradução do Antigo
Testamento para o grego), a mesma palavra é utilizada em Gênesis 22:6-10,
na história do sacrifício de Isaque.

Outro argumento muito favorável a essa interpretação é a abertura do


quinto selo, onde João vê "as almas daqueles que tinham sido mortos por
causa da Palavra de Deus ". Na frase "que os homens matassem uns aos

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outros", a palavra traduzida como "matassem" é a mesma palavra no original


utilizada para descrever o assassinato das almas do quinto selo, e,
geralmente, é o termo mais utilizado por João, em todos os seus escritos
(evangelho e epístolas), para se referir ou à execução de crentes ou a
execução do próprio Cristo na cruz.

Por fim, essa interpretação faz todo sentido quando consideramos que
Jesus, no Apocalipse, está falando aos cristãos que na ocasião em que o livro
foi escrito estavam sendo duramente perseguidos até a morte. Assim, o
cavaleiro do cavalo vermelho não é uma guerra específica, nem mesmo todas
as guerras, ou uma pessoa em particular. Sempre que Cristo com seu
Evangelho aparece (o cavaleiro do cavalo branco), segue-se o cavaleiro do
cavalo vermelho (Mt 5:10; 11; Lc 21:12; At 4:1; 5:17).

Em todas as épocas da História da Igreja o cavalo vermelho sempre


esteve presente. O mundo sempre perseguiu a Igreja, pois a espada é
sempre trazida por Cristo e seu Evangelho, e, assim, a paz é retirada da terra
(Mt 10:34).

TERCEIRO SELO: O CAVALO PRETO


Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente
dizer: "Venha! " Olhei, e diante de mim estava um cavalo preto. Seu
cavaleiro tinha na mão uma balança. Então ouvi o que parecia uma
voz entre os quatro seres viventes, dizendo: "Um quilo de trigo por
um denário, e três quilos de cevada por um denário, e não
danifique o azeite e o vinho!" (Apocalipse 6:5,6).

Esse cavalo representa a pobreza, opressão, a exploração e a


corrupção devido à injustiça. O texto diz que uma medida de trigo (cerca de
um litro) é vendida por um denário. O denário era o salário pela diária de um
trabalhador da época, ou seja, tudo que ele ganhou no dia não seria suficiente
para sustentar toda sua família. A cevada aparece com preço mais baixo (três
medidas por um denário), porém a cevada era o alimento geralmente utilizado
para alimentar os animais.

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Com tudo isto, o azeite e o vinho não foram danificados. Isso


representa que o modo de vida luxuoso dos ricos e poderosos sempre é
garantido. Os opressores vivem suas vidas normalmente, com toda regalia.
Aqui, alguns estudiosos sugerem que João utilizou como exemplo um
episódio que havia ocorrido alguns anos antes do livro do Apocalipse ser
escrito, onde houve uma grande escassez de trigo no Império Romano, e foi
sugerido um decreto que desapropriasse algumas vinícolas e refinarias de
azeite, afim de que mais trigo fosse plantado. Porém, houve grande
resistência e protesto por parte da população mais rica, o que acabou
impedindo o projeto.

Claro que podemos ver esse padrão de injustiça social como uma
verdade que assola todas as gerações até os dias de hoje, porém, mais uma
vez devemos dar atenção especial aos destinatários do Apocalipse. João
escreveu para os cristãos, que, naquela época, representavam a classe mais
pobre da sociedade.

Ao lerem esse texto, os irmãos do primeiro século imediatamente


entenderam o símbolo. Não era raro alguém ter seus bens confiscados, seus
negócios fechados e ser impedido de realizar qualquer transação financeira
quando se convertia ao cristianismo.

Essa era mais uma forma de perseguição. Para ser financeiramente


ativo, era preciso negar suas convicções religiosas, se corromper ao sistema
pagão do Império Romano, prestar culto ao imperador e preferir ser um
cidadão romano ao invés de ser um cidadão do céu. Era preciso ter a "marca
da besta" para poder comprar e vender (Ap 13:17).

Podemos ver nitidamente esse mesmo princípio atravessando os


séculos seguintes a essa profecia, e chegando até os nossos dias. Quantos
cristãos verdadeiros (não falo dos hipócritas, falo dos verdadeiramente salvos
em Cristo) perdem seus empregos, ou passam por terríveis dificuldades
financeiras por não aceitarem práticas que desagradam a Deus? Enquanto
alguns cristãos morrem por sua fé, outros são forçados a uma vida de pobreza

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e privações. O cavalo preto espalha opressão, injustiça e dificuldade


econômica através de toda a História da Igreja.

QUARTO SELO: O CAVALO AMARELO


Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro
chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado
poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome,
por pragas e por meio dos animais selvagens da terra (Apocalipse
6:8).

Originalmente a cor desse cavalo não é bem o amarelo, mas sim uma
cor pálida, que lembra doença e morte. O cavalo amarelo representa uma
provação universal, ou seja, não é apenas a Igreja que está focada aqui, mas
todas as pessoas do mundo.

A Igreja passa por essas provações simplesmente por ainda estar no


mundo. No sermão escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 21), Jesus também adverte
que haveria tribulações que atingiriam a todos, ou seja, existem provações
que a Igreja especialmente é submetida, e outras a qual o mundo todo é
submetido.

O nome do cavaleiro é Morte, e significa a morte no sentido geral, em


suas mais diversas causas. Também é dito que o Hades (ou inferno em
algumas traduções) o seguia. Isso quer dizer que a morte ceifa, enquanto o
Hades recolhe os mortos. Hades aqui se refere ao estado de existência
desencarnado, onde o corpo desce à sepultura, mas a alma continua viva.

Esse selo traz a morte pela espada, pela fome, com pestilências e
pelas bestas feras. A espada utilizada nessa descrição é diferente da espada
do segundo cavaleiro. No original, essa espada vem do grego rhomphaia, que
se refere à espada de guerra. Sendo assim, aqui realmente trata-se de
guerras mesmo, nações contra nações, povos contra povos, conflitos civis e
todas as outras violências que causam morte.

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Também lhes é permitido matar pela fome. Devemos entender essa


fome de forma geral como: problemas sociais que causam misérias pelo
mundo, escassez de alimentos, fome causada por consequências das
próprias guerras e conflitos, injustiças, etc.

As pessoas também morrerão devido à pestilência, que são pragas,


doenças e contaminações. Por fim, também é dito que pessoas morrerão
pelas bestas feras da terra, ou seja, mortes ocasionadas por animais. Juntas,
estas quatro descrições (espada, fome, pestilências e bestas feras),
representam todas as desgraças que atingem o mundo e causam mortes.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS QUATRO PRIMEIROS SELOS


É importante ressaltar que a descrição dos quatro cavalos é feita da
perspectiva de seus efeitos sobre o Reino de Deus. Após o último cavalo (o
cavalo amarelo), fica mais clara a interpretação dos cavalos anteriores.
Podemos dizer que o segundo e terceiro cavalos simbolizam a perseguição
do mundo contra a Igreja, enquanto o quarto cavalo representa as desgraças
comuns que atingem toda a humanidade.

Resumidamente, na abertura dos quatro primeiros selos, podemos


entender que o mundo perseguirá os eleitos de Deus de todas as maneiras
possíveis. Alguns pela espada, outros pela fome, outros pela injustiça e outros
pelo preconceito. Porém, isso não foge do controle de Deus, ao contrário,
esses cavalos são instrumentos nas mãos dEle. Ele é quem abre os selos. O
cristão hipócrita fatalmente não resistirá, e negará sua fé fingida. Mas o cristão
verdadeiro jamais negará a fé salvadora, e, a este, será dado o poder de
sofrer pelo nome de Cristo.

Para o cristão verdadeiro, todas essas dificuldades e perseguições só


servem para aproximá-lo ainda mais de Deus, e fazer com que ele se sinta
completamente dependente dEle.

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QUINTO SELO
E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos
que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do
testemunho que deram.E clamavam com grande voz, dizendo: Até
quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o
nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a
cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que
repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se
completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que
haviam de ser mortos como eles foram (Apocalipse 6:9-11)

Nesse selo o cenário da visão é muda. Ao invés da terra, João agora


passa a ver o céu. Antes, João viu o efeito na terra do que é causado no céu,
agora, João vê o efeito no céu do que é causado na terra. João viu um altar, e
as almas dos mártires que morreram pela sua fé como uma espécie de
sacrifício. Cada um desses que foram sacrificados, recebem vestes brancas,
simbolizando justiça, pureza, santidade e alegria. Eles esperam descansando
de suas fadigas terrenas, até que o número dos mártires se complete.

Quando o último mártir for sacrificado, então virá o Dia do Senhor. É


importante entender que essas almas não estão inconscientes, mas estão
lúcidas e pedindo vingança, não pessoal, mas da justiça divina. Esse clamor
do quinto selo é o clamor da Igreja diante de tantos massacres a qual já foi , e
ainda é submetida.

SEXTO SELO
E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande
tremor de terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua
tornou-se como sangue; E as estrelas do céu caíram sobre a terra,
como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada
por um vento forte. E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e
todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. E os reis
da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e

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todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas


rochas das montanhas; E diziam aos montes e aos rochedos: Caí
sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado
sobre o trono, e da ira do Cordeiro; Porque é vindo o grande dia da
sua ira; e quem poderá subsistir? (Apocalipse 6:12-17).

O sexto selo mostra o dia da ira do Cordeiro. É o dia do juízo, e não há


como escapar. João usa como símbolo desse dia o universo sendo
completamente sacudido, e os homens tentando se esconder, não desse
aterrorizante cenário, mas das mãos do Deus irado. Note que eles procurarão
a morte física, mas nada os livrará do dano da segunda morte. Perceba que
todas as classes de pessoas terão de comparecer diante do julgamento de
Deus.

O INTERLÚDIO DO CAPÍTULO 7
Antes do sétimo selo acontece um interlúdio, onde a mesma cena do
capítulo 6 é descrita, porém de outra perspectiva, ou seja, não é uma
sequência cronológica de eventos, mas o mesmo evento visto de outro
ângulo.

João vê que tudo está pronto para que o juízo de Deus seja
derramado, porém o que está impedindo que isso aconteça é a selagem dos
eleitos. Quando todos os eleitos forem selados (tal qual no capítulo anterior
onde o número de mártires deveria ser completado), Cristo voltará. O capítulo
6 termina mostrando o grande terror dos ímpios diante do juízo que terão de
enfrentar. Já o capítulo 7 termina mostrando a grande alegria e a glorificação
dos remidos na segunda vinda de Cristo.

SÉTIMO SELO
O sétimo selo é aberto no capítulo 8, e inicia a sequência dos sete
anjos tocando sete trombetas. Não há sucessão cronológica, ou seja, não se
trata de sete eventos novos. Aqui, a mesma cena é mostrada, e a mesma
história é contata, porém de uma nova perspectiva.

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Lembre-se que o livro do Apocalipse é organizado em sete seções


paralelas e progressivas, e que abrangem desde a primeira até a segunda
vinda de Cristo, ou seja, cada vez que a história é recontada, a narrativa vai se
intensificando, de modo que as cenas vão ficando mais claras.

De forma bem resumida e direta, os selos mostram o sofrimento da


Igreja perseguida pelo mundo, enquanto as trombetas mostram o sofrimento
do mundo em resposta às orações da Igreja. Note que da mesma forma que
os selos são interrompidos por um interlúdio (cap. 7), as trombetas também
são interrompidas por um interlúdio (caps. 10 e 11). Mais à frente,
estudaremos exatamente as sete trombetas na abertura do sétimo selo.

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QUEM SÃO OS 144 MIL SELADOS


NO CAPÍTULO 7?
Antes de avançarmos no estudo do Apocalipse com as sete
trombetas, não poderíamos passar pelo capítulo 7 sem mencionar os 144 mil
selados que aparecem nesse capítulo. Este é um dos assuntos mais
debatidos dentro do Apocalipse. Existem várias interpretações, defendidas
tanto por cristãos quanto por adeptos de seitas.

A referência sobre os 144 mil selados aparece pela primeira vez no


capítulo 7 do livro do Apocalipse. Nesse capítulo, João teve a visão de quatro
anjos nos quatro cantos da terra, retendo quatro ventos. Isso significa que um
juízo universal estava para desabar, de modo que ninguém seria capaz de
escapar. Esse juízo, porém, foi impedido até que os servos do Senhor fossem
selados, e o número dos selados é de 144 mil.

E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do


Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora
dado o poder de danificar a terra e o mar, dizendo: Não danifiqueis
a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos selado nas
suas testas os servos do nosso Deus. E ouvi o número dos selados,
e eram cento e quarenta e quatro mil selados, de todas as tribos
dos filhos de Israel (Apocalipse 7:2-4).

Em seguida João faz uma relação modificada das doze tribos de


Israel, onde, de cada uma, aparecem 12.000 selados. Digo "relação
modificada", porque as tribos de Efraim e Dã foram omitidas, e no lugar foi
citado Levi e José.

INTERPRETAÇÃO DOS TETEMUNHAS DE JEOVÁ


A interpretação da seita Testemunhas de Jeová é uma das mais
conhecidas sobre este tema. Segundo eles, os 144 mil é uma espécie de elite

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da Igreja, formada por homens e mulheres que foram ungidos por Deus para
serem "reis e sacerdotes" no reinado vindouro de Cristo, a qual apenas estes
irão morar no céu, enquanto o restante das pessoas que terão parte na Igreja
recebendo a vida eterna, viverá nesta terra sob o governo de Cristo. Para eles,
essa contagem começou no dia do Pentecostes. É claro que não é preciso
quase nenhum esforço para percebemos que não há qualquer base bíblica
para esse argumento.

INTERPRETAÇÃO DOS PRÉ-MILENISTAS DISPENSACIONALISTAS


Entre os cristãos, certamente a interpretação mais comum e
conhecida é a do Pré-Milenismo Dispensacionalista. Apenas para
entendermos um pouco melhor, é preciso lembrar que essa corrente
escatológica defende a visão pré-tribulacionista do arrebatamento, ou seja, a
Igreja será arrebatada antes da grande tribulação. Essa conclusão vem de um
estilo de organização e interpretação das profecias bíblicas, o
Dispensacionalismo, que basicamente divide a forma com que Deus trata com
a humanidade em sete dispensações cronologicamente sucessivas.

Para os pré-milenistas dispensacionalistas, Deus tem dois povos


distintos, Israel e a Igreja, ou seja, existe completa distinção nos planos de
Deus, no tempo e na eternidade, para estes dois povos. Em relação à
interpretação do livro do Apocalipse, o Dispensacionalismo adere ao estilo
futurista, que, como já citamos, defende que a partir do capítulo 4 o livro
descreve eventos futuros, que ocorrerão, sobretudo, no período de sete anos
da grande tribulação.

Geralmente para os pré-milenistas dispensacionalistas, os 144 mil


serão israelitas que estarão vivendo no período da grande tribulação, e que se
converterão após o Arrebatamento da Igreja. Esses 144 mil serão evangelistas
durante esse período, e, juntamente com as duas testemunhas, serão
fundamentais para um grande avivamento que converterá muitas pessoas,
tanto judeus quanto gentios.

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Alguns dispensacionalistas acreditam que esses judeus serão


marcados (selados) de forma visível em suas frontes, para que o governo do
Anticristo não possa tocá-los. Para outros, eles receberão um selo em suas
frontes, mas não será literal. De qualquer modo, praticamente todos os
dispensacionalistas concordam que os 144 mil selados serão poupados dos
juízos que virão.

Os dispensacionalistas também se dividem sobre o que ocorrerá com


os 144 mil selados. Há quem defenda que esses judeus aguardarão como
remanescentes a segunda vinda de Cristo em glória na terra, quando Jesus
destruirá o Anticristo e implantará o reino milenar, enquanto outros defendem
que eles serão arrebatados em algum momento antes da segunda vinda, para
se harmonizar com o que é descrito em Apocalipse 14. Segundo esta última
interpretação, então estamos falando de pelo menos dois arrebatamentos
antes da vinda de Cristo em glória. Para tentar evitar problemas entre os
capítulos 7 e 14, alguns dispensacionalistas entendem que os 144 mil do
capítulo 7 são judeus, mas os 144 mil do capítulo 14 representam um número
simbólico dos mais consagrados e fieis entre o povo de Deus de todos os
tempos e de qualquer nacionalidade.

Os pré-milenistas dispensacionalistas defendem que, apesar das


tribos terem se perdido, Deus as conhece (Is 11:11-16), e preservará um
remanescente (At 1:6), e, após o tempo da plenitude dos gentios, Deus voltará
suas atenções ao povo de Israel (Lc 21:24; At 15:14; Rm 11:25). Eles também
argumentam que as ausências das tribos de Dã e Efraim nessa lista é devido
aos casos de idolatria e corrupção mencionados no Antigo Testamento. Sobre
a tribo de Dã, segundo alguns deles, possivelmente será a tribo de origem do
Anticristo.

INTERPRETAÇÃO DAS DEMAIS ESCOLAS ESCATOLÓGICAS


Para os amilenistas, muitos pré-milenistas Históricos e alguns pós-
milenistas, o número 144 mil é simbólico, e não deve ser interpretado de forma
literal ou como uma estatística.

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É importante saber que para os Pré-Milenistas Históricos, Amilenistas


e Pós-Milenistas, Deus tem apenas um povo, a Igreja, formado por judeus e
gentios, ou seja, a Igreja é o Israel de Deus (Gl 6:16; Rm 9:6 -8).

Nessa linha de interpretação, também existe algumas diferenças entre


seus defensores. Alguns consideram que os 144 mil realmente são apenas
judeus cristãos, mas não se trata de um número literal, ou seja, os 144 mil
representam todos os judeus convertidos, mostrando que eles também fazem
parte da Igreja, como um só povo. Essa conclusão é derivada do fato de que
no próprio capítulo 7 parece existir uma distinção de multidões, isto é, uma
com 144 mil e outra com número incontável.

Essa distinção não significa uma separação de povos como no


Dispensacionalismo, mas apenas uma ênfase para mostrar que Deus tem
seus escolhidos tanto em Israel quanto em todo o mundo, isto é, Deus tem
salvos em todas as nações do mundo, mas também tem salvos em Israel,
sendo que esses salvos judeus são salvos em Jesus Cristo, e pertencem à
Igreja (Rm 9:27).

Outros estudiosos defendem que os 144 mil representam toda a


Igreja, do Antigo e do Novo Testamentos, formada por judeus e gentios. Esse
número é obtido da multiplicação de doze vezes doze. Conforme já foi dito, a
simbologia dos números no Apocalipse é muito importante, e o número doze
sempre aparece associado ao povo de Deus. Logo, doze patriarcas
representam a Igreja do Antigo Testamento, e doze apóstolos a Igreja do Novo
Testamento, ou seja, a Igreja do Antigo Testamento e a Igreja do Novo
Testamento formam uma única Igreja.

Isso parece evidente na descrição simbólica da Nova Jerusalém que


tem doze portas com o nome das doze tribos e doze fundamentos com o
nome dos doze apóstolos, e seu muro tem a altura de cento e quarenta e
quatro côvados (Ap 21:9-17).

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O resultado da multiplicação de doze vezes doze é cento e quarenta e


quatro, e este número é multiplicado por um mil, resultando no número 144
mil, que significa a totalidade da Igreja. Para explicar a descrição de duas
multidões na visão do capítulo 7, os intérpretes defendem que do ponto de
vista do céu os eleitos de Deus tem um número exato, isto é, Deus conhece
cada um dos que são seus (2Tm 2:19), e o simbolismo do número 144 mil é
utilizado para este fim.

Já a outra multidão são os mesmos 144 mil, porém do ponto de vista


da terra, isto é, Deus conhece o número exato, mas sob os olhos dos homens
a Igreja é uma multidão incontável. Essa multidão é formada por pessoas de
todos os povos, tribos, línguas e nações, incluindo os judeus convertidos (Ap
7:9).

QUAL A INTERPRETAÇÃO MAIS COERENTE?


A resposta desta pergunta vai depender da linha escatológica que
cada um adota, por isso sempre veremos uns defendendo uma coisa e outros
defendendo outra coisa.

Particularmente penso que a interpretação mais coerente com as


Escrituras é a interpretação que considera os 144 mil como símbolo da
totalidade da Igreja de Cristo, o Israel espiritual que, aos olhos de Deus, tem
um número exato, mas aos olhos humanos é uma multidão incontável, são
como a areia do mar.

Para mim, esse número não pode ser literal, porque isso ignoraria o
padrão literário do Apocalipse. Também não pode ser aplicado às tribos de
Israel, pois isso implicaria na distinção entre Igreja e Israel que já foi abolida
incontestavelmente nas Escrituras. Deus não tem dois povos. Deus tem
apenas um único povo, formado por judeus e gentios, a Igreja, o verdadeiro
Israel de Deus (Gl 6:16; Rm 9:6-8). Todos que são de Cristo são descendentes
de Abraão (Gl 3:29), ou seja, Abraão é o pai de todos os que creem em Jesus,
judeus ou não (Rm 4:11), já que segundo o apóstolo Paulo, os verdadeiros
judeus não são os descendentes físicos de Abraão, mas os descendentes

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espirituais (Rm 2:28,29). Logo, aquele que serve a Deus em espírito, e se


gloria em Jesus Cristo não confiando na carne, é a verdadeira circuncisão (Fp
3:3).

Também é importante considerar que desde o cativeiro Assírio, dez,


das doze tribos, se perderam, e as duas últimas tribos do sul também se
dispersaram após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Outro fator que complica
a aplicação desse número às doze tribos é a ausência das tribos de Dã e de
Efraim, sem nenhuma explicação bíblica convincente para isso, ou seja,
entender que o Anticristo virá de uma dessas tribos, e por isso foram omitidas,
é muito mais uma "achologia" do que uma hermenêutica sólida.

Fato é que, essa ordem trocada das tribos, não pode ser encontrada
em nenhum outro lugar da Bíblia. Para finalizar, o capítulo 14 do Apocalipse
mostra claramente que os 144 mil foram comprados de toda a terra, e não
apenas dentre os judeus. Tentar estabelecer uma distinção entre os 144 mil
do capítulo 7 com os 144 mil do capítulo 14 como alguns dispensacionalistas
fazem, é algo completamente incoerente.

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AS SETE TROMBETAS
As sete trombetas do Apocalipse é mais um dos temas amplamente
discutidos dentro da escatologia bíblica. Devido às diferentes posições e
estilos de leitura do livro do Apocalipse, diversas interpretações são
defendidas entre os estudiosos.

Seria impossível considerar em apenas um único texto todas as mais


variadas sugestões de interpretação, até porque a cada dia que se passa
surge uma nova. Portanto, iremos considerar apenas as duas principais
interpretações sobre o assunto.

AS TROMBETAS SE REFEREM AO PERÍODO DA GRANDE


TRIBULAÇÃO
Geralmente quem adota a visão futurista do livro do Apocalipse,
entende que o conteúdo do livro é linear, ou seja, os capítulos sucedem uns
aos outros de forma cronológica, sendo que, como já falamos, a partir do
capítulo 4 começa a descrição de uma série de eventos que ocorrerão
principalmente no período final da presente era, conhecido como a grande
tribulação. Também é verdade que a maioria dos estudiosos que defendem
essa posição, acredita que esse período final terá a duração de sete anos, e
iniciará após o arrebatamento secreto da Igreja.

Sob esse pensamento, as sete trombetas se referem a acontecimentos


que ocorrerão em algum momento dentro do período de tribulação,
sequencialmente após a abertura dos selos do capítulo 6 do Apocalipse.
Também é importante dizer que essa interpretação considerará, em sua maior
parte, o sentido literal do texto, e não seu sentido simbólico.

Nessa interpretação, as trombetas normalmente representam o


seguinte:

1. Primeira trombeta: mostra a vegetação sendo queimada por conta de


uma chuva de saraiva e fogo misturado com sangue.

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2. Segunda trombeta: mostra a mortandade da terça parte dos peixes


que vivem no mar.
3. Terceira trombeta: mostra a contaminação da terça parte dos rios e
das fontes das águas.
4. Quarta trombeta: mostra o espaço sideral sendo abalado, de modo
que será alterada a duração do brilho do dia na Terra.
5. Quinta trombeta: mostra uma praga de criaturas semelhante ao
gafanhoto que, segundo alguns futuristas, literalmente picará as
pessoas durante cinco meses trazendo-lhes grande sofrimento. Vale
dizer que muitos estudiosos dessa linha de interpretação, de forma
mais coerente, entendem que tais figuras simbolizam demônios.
6. Sexta trombeta: mostra a soltura de anjos terríveis que estavam presos
no rio Eufrates, a fim de matarem a terça parte dos homens.
7. Sétima trombeta: abrange os julgamentos descritos nas sete taças, ou
seja, os últimos eventos que se estendem até a volta de Cristo em
glória para estabelecer seu reino milenial na Terra.

Particularmente penso que essa interpretação não é a mais adequada


ao livro do Apocalipse, pois ignora o estilo literário, a organização natural do
conteúdo arquitetada pelo próprio autor (João), e o contexto histórico do livro.
Outro grande problema dessa visão é tentar interpretar literalmente
referências que são claramente simbólicas.

AS SETE TROMBETAS SE REFEREM À PRESENTE DISPENSAÇÃO


Geralmente os estudiosos que defendem essa interpretação adotam
um sistema de recapitulação na organização e leitura do livro do Apocalipse,
que, conforme já mencionamos aqui, trata-se do Paralelismo Progressivo.
Relembrando esse sistema, o livro do Apocalipse tem sete seções paralelas
que abordam o período desde a primeira até a segunda vinda de Cristo. Isso
significa que a mesma história é contata várias vezes (paralelismo), porém
progressivamente, ou seja, à medida que vamos avançando na leitura do livro,
percebemos que a narrativa vai se intensificando e que a mesma história é

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contada de perspectivas diferentes, de modo que as cenas vão ficando cada


vez mais claras. Logo, embora as sete trombetas apareçam após os sete
selos, é importante entender que isso não representa uma sucessão
cronológica.

Especificamente sobre as trombetas, podemos dizer que elas falam


de um juízo parcial sobre o mundo. É o sofrimento do mundo incrédulo em
resposta às orações da Igreja. As trombetas expressam a advertência de
Deus sob o mundo que persegue a Igreja. A seção das sete trombetas
termina com um anúncio do fim (Ap 11:15).

Resumidamente, podemos dizer que os selos mostram o sofrimento


da Igreja perseguida pelo mundo, ou seja, conta toda a história da presente
era até a volta de Cristo, dando ênfase ao sofrimento da Igreja. Já as
trombetas contam a mesma história, porém mostrando o sofrimento do mundo
incrédulo sob a advertência de Deus, em resposta às orações da Igreja.

Nas sete trombetas o juízo é parcial, já que o juízo total é descrito na


seção das sete taças da ira de Deus. A seção dos selos é interrompida por
um interlúdio (cap. 7), da mesma forma também acontece com a seção das
trombetas (caps. 10,11).

Um detalhe interessante é que as trombetas são divididas em dois


grupos, onde, as quatro primeiras trombetas tratam de catástrofes naturais
que atingem a terra, e as três últimas trombetas tratam de sofrimentos que
atingem diretamente os homens, e também são chamadas de "ais" (Ap 8:13).
Em outras palavras, podemos dizer que as primeiras quatro trombetas
atingem os ímpios em seu ser físico, e as três últimas atingem os ímpios de
forma tão direta e pessoal que trazem terrível angústia espiritual. As trombetas
indicam uma série de calamidades que ocorrem muitas vezes repetidamente
e simultaneamente durante toda a presente era.

O fato das trombetas trazerem o juízo parcial demonstra que o objetivo


principal dessa série de juízos é chamar o homem ao arrependimento, ou seja,

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é a ira misturada com a graça, porém mais adiante no livro do Apocalipse,


vemos que os ímpios, mesmo sendo assolados pelo sofrimento, não se
arrependem (Ap 9:20). A seguir veremos a interpretação de cada uma das
sete trombetas sob essa perspectiva.

PRIMEIRA TROMBETA
E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo
misturado com sangue, e foram lançados na terra, que foi
queimada na sua terça parte; queimou-se a terça parte das árvores,
e toda a erva verde foi queimada (Apocalipse 8:7).

Na primeira trombeta é descrita uma tempestade de saraiva, fogo e


sangue. Essa é uma descrição simbólica para se referir aos diversos
desastres que afligem a terra para castigar o pecado dos ímpios, e anunciar
que não se pode perseguir a Igreja impunemente.

Esses desastres ocorrem desde a primeira até a segunda vinda de


Cristo. Note no versículo 7 a expressão "e foram lançadas à terra ", significando
que essas calamidades são controladas do céu, e são utilizadas como
instrumentos nas mãos do Senhor que governa.

SEGUNDA TROMBETA
E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma coisa
como um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a
terça parte do mar. E morreu a terça parte das criaturas que tinham
vida no mar; e perdeu-se a terça parte das naus (Apocalipse 8:8,9).

Aqui João descreve simbolicamente uma montanha ardendo em


chamas sendo lançada ao mar. Na primeira trombeta o juízo atinge a terra
seca, agora, na segunda trombeta, o juízo de Deus também atinge o mar.

Essa trombeta descreve todos os desastres que ocorrem no mar, e


esse julgamento se mostra ainda mais severo que o primeiro, pois um terço do
mar é duramente atingido, ocasionando a mortandade de um terço dos seres
marinhos e a destruição de um terço das embarcações.

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Essa descrição mostra a amplitude da destruição da segunda


trombeta, pois ocorrem desastres ecológicos, econômicos e um grande
número de mortes dos tripulantes e passageiros que, juntamente com suas
embarcações, naufragam nas águas.

TERCEIRA TROMBETA
E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande
estrela ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos
rios, e sobre as fontes das águas. E o nome da estrela era Absinto,
e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens
morreram das águas, porque se tornaram amargas (Apocalipse
8:10,11).

Nessa trombeta vemos que o Senhor utiliza as águas doces como


instrumento contra o iníquo. Na primeira trombeta a vegetação da terra seca é
atingida, na segunda o mar é atingido, e agora na terceira trombeta é a vez
das fontes de água potável.

A simbologia utilizada aqui é de uma estrela caindo, o que significa


algo realmente impactante e assombroso. O nome da estrela é Absinto,
símbolo de remorso amargo (Lm 3:19). Isso significa que um sentimento de
aflição amargo tomará o coração dos homens, pois esse juízo é mai s severo
do que os dois primeiros, pois a morte de pessoas é explicitamente
mencionada.

QUARTA TROMBETA
E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do
sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a
terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não
brilhasse, e semelhantemente a noite (Apocalipse 8:12).

Na quarta trombeta um terço do sol, da lua e das estrelas é atingido.


Aqui estão incluídos todos os males ocasionados pelo funcionamento anormal
dos corpos celestes durante toda a presente era. Da mesma forma como

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acontece com a vegetação, com o mar e as águas doces, os astros também


são instrumentos nas mãos de Deus e anunciam o Seu juízo.

QUINTA TROMBETA
E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu
caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o
poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma
grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceu-se o sol e o
ar. E da fumaça vieram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado
poder, como o poder que têm os escorpiões da terra. E foi-lhes dito
que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem
a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm nas suas
testas o selo de Deus. E foi-lhes permitido, não que os matassem,
mas que por cinco meses os atormentassem; e o seu tormento era
semelhante ao tormento do escorpião, quando fere o homem. E
naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão; e
desejarão morrer, e a morte fugirá deles. E o parecer dos
gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a
guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas
semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de
homens. E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus
dentes eram como de leões. E tinham couraças como couraças de
ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando
muitos cavalos correm ao combate. E tinham caudas semelhantes
às dos escorpiões, e aguilhões nas suas caudas; e o seu poder era
para danificar os homens por cinco meses. E tinham sobre si rei, o
anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abadom, e em grego
Apoliom (Apocalipse 9:1-11).

Antes do capítulo 9, ainda no versículo 13 do capítulo 8, João vê e


ouve uma águia (anjo em algumas traduções) voando muito alto, para que
seja vista por todos. A mensagem da águia é muito clara: "Ai, ai, ai dos que

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moram na terra, por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que
hão de ainda tocar".

Esse anuncio declara que as trombetas que se seguem representam


juízos ainda mais severos do que os juízos anteriores. Quando o anjo toca a
quinta trombeta, João vê uma estrela que cai dos céus na terra. Essa queda
está de acordo com o relato de Jesus em Lucas 10:18: " Eu via a Satanás
caindo do céu como um relâmpago".

Essa expressão demonstra claramente a condição de Satanás, e onde


ele habita no presente. Ele está na terra. O aviso de que foi lhe dado a chave
do poço do abismo, significa que ele incita o mal, e recebeu permissão para
fazer com que os demônios assolem a terra com suas operações malignas.

Aqui os gafanhotos não são algum tipo de inseto ou qualquer nova


praga literal que aparecerá nos últimos tempos. Estes gafanhotos simbolizam
demônios que atingem o coração e a alma do homem com grande assombro,
malignidade e horror, deixando-o em um estado de aflição tão profundo
aponto de o homem buscar a morte na tentativa de aliviar suas dores de
opressão, mas não a encontra, pois nem mesmo a morte pode livrá-lo desse
tormento.

O sofrimento causado por esses demônios é pior do que a morte.


Esses gafanhotos atingem apenas os ímpios, os homens que não possuem o
selo de Deus, aqueles que com seus pensamentos e atitudes demonstram a
plenitude da marca de Satanás em suas vidas.

Note que quando o poço do abismo é aberto, uma grande fumaça


toma a atmosfera a ponto de escurecer o sol. Isso simboliza a densidade da
escuridão moral e espiritual promovida pelas forças do mal. Porém, por pior
que seja esse cenário, não se trata de algo sem controle, pois o tempo de
atuação desses demônios foi limitado por Deus.

Eles agirão por cinco meses. Esse número também é simbólico para
demonstrar que essa atuação maligna tem hora certa para acabar. Muito

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provavelmente os cinco meses foram utilizados por João por se referir ao


tempo de vida de um gafanhoto, isso considerando desde seu tempo como
larva. Quem conhece as características dos gafanhotos entende que a
simbologia utilizada foi perfeita. Os gafanhotos são insetos insaciáveis, e
devastam tudo pela frente.

SEXTA TROMBETA
E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das
quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus, a qual
dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos, que
estão presos junto ao grande rio Eufrates. E foram soltos os quatro
anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano, a
fim de matarem a terça parte dos homens. E o número dos
exércitos dos cavaleiros era de duzentos milhões; e ouvi o número
deles. E assim vi os cavalos nesta visão; e os que sobre eles
cavalgavam tinham couraças de fogo, e de jacinto, e de enxofre; e
as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e de suas
bocas saía fogo e fumaça e enxofre. Por estes três foi morta a terça
parte dos homens, isto é pelo fogo, pela fumaça, e pelo enxofre,
que saíam das suas bocas. Porque o poder dos cavalos está na
sua boca e nas suas caudas. Porquanto as suas caudas são
semelhantes a serpentes, e têm cabeças, e com elas danificam. E
os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se
arrependeram das obras de suas mãos, para não adorarem os
demônios, e os ídolos de ouro, e de prata, e de bronze, e de pedra,
e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar. E não se
arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem
da sua fornicação, nem dos seus furtos (Apocalipse 9:13-21).

Na sexta trombeta podemos ver claramente como as coisas vão se


agravando ainda mais, no sentido em que o juízo de Deus avança para um

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desfecho final. Se a quinta trombeta traz grande aflição, a sexta trombeta trás
morte.

Já no versículo 13 vemos que é a oração dos santos que desencadeia


o juízo que será derramado sobre os ímpios. A voz vinha das quatro pontas do
altar de ouro que estava diante de Deus. Esse juízo descrito na sexta trombeta
é executado pelos quatro anjos que estão atados junto ao rio Eufrates. Esses
anjos não são os mesmos do capítulo 7, pois aqui trata-se de anjos maus,
encarregados de executar o juízo de Deus.

O objetivo desses anjos é incitar a humanidade à guerra. Eles se


deleitam nisso. O número quatro no Apocalipse simboliza o mundo, a criação.
Isso significa que esse juízo tem proporção global. Os anjos estão presos
junto ao rio Eufrates. O rio Eufrates representa a Assíria e a Babilônia, ou seja,
o mundo iníquo.

O profeta Isaías já havia utilizado uma enchente do Eufrates para


simbolizar uma invasão do rei da Assíria (Is 8:7). Contudo, João nos informa
que esses anjos do juízo não podem fazer nada sem a permissão de Deus,
porém, quando Deus permite que sejam liberados, esses anjos maus trazem a
guerra como advertência de Deus aos ímpios.

Após isto, João viu os exércitos no campo de batalha. Ele ouve o


número: duzentos milhões. Esse número também não deve ser entendido
como literal, mas simbólico, representando um grande exército, quase
humanamente incontável.

Os cavalos e seus cavaleiros tinham apenas um objetivo: destruir. A


descrição dos cavaleiros e seus cavalos também não deve ser interpretada de
forma literal, mas simboliza os artefatos e armas de guerra de todo tipo. Eles
matam um terço da humanidade.

A sexta trombeta não representa uma guerra específica, mas todas as


guerras, do passado, do presente e do futuro, que ocorrem ao longo do
espaço de tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Essa sexta

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trombeta tem o propósito de oferecer aos homens uma chance de


arrependimento antes que a sétima trombeta seja tocada. Contudo, no
versículo 20 podemos notar que ainda assim os incrédulos não se
arrependem.

INTERLÚDIO DO CAPÍTULO 10 E 11
Da mesma forma como ocorre na seção anterior entre o sexto e o
sétimo selo, com um interlúdio no capítulo 7, aqui, entre a sexta e a sétima
trombeta, também ocorre um interlúdio que inclui o capítulo 10 e parte do 11.
O que é descrito nesse intervalo não representa uma sucessão cronológica,
mas a mesma história que compreende a presente dispensação sendo
recontada de outra perspectiva.

Esse interlúdio é dividido em duas cenas, onde ambas se referem ao


papel do povo de Deus e seu testemunho durante a presente era. Na primeira
cena João recebe um livrinho, que significa que ele recebeu as mensagens
proféticas, e é comissionado a proclamá-las (Ap 10:1-11). Aqui percebemos
alguns paralelos com passagens do Antigo Testamento, como Daniel 10:5,6 e
o relato sobre a convocação de Ezequiel (Ez 2:1-3:11).

Na segunda cena encontramos a descrição da história das duas


testemunhas (Ap 11:1-14). Sobre isto falaremos no próximo capítulo. De forma
geral, podemos dizer que o interlúdio do capítulo 7 enfatiza a segurança e a
glória da Igreja perseguida. Agora, neste interlúdio, a ênfase está sob o
sofrimento, poder, dever e a vitória final da Igreja.

SÉTIMA TROMBETA
E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes
vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. E os vinte
e quatro anciãos, que estão assentados em seus tronos diante de
Deus, prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus,
dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e
que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder, e

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reinaste. E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos


mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão
aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu
nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que
destroem a terra. E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca da
sua aliança foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e
trovões, e terremotos e grande saraiva (Apocalipse 11:15-19).

A sétima trombeta introduz o juízo final, não se trata de uma descrição,


mas de uma introdução. As próximas seções do livro do Apocalipse serão
responsáveis por lançar mais luz sobre esse evento.

O que essa breve introdução presente na sétima trombeta nos mostra


é que quando o dia do juízo estiver chegado, o esplendor real da soberania
de Deus será revelado em sua totalidade, pois toda oposição será destruída.
Nesse momento o reinado de Cristo será pleno, e Ele reinará vitoriosamente
para sempre.

Também é descrita a Igreja, representada na figura dos vinte e quatro


anciãos, regozijando e adorando ao Senhor. Em contra partida os povos se
enfureceram. Eles perseguiram o povo de Deus, promoveram guerra contra a
Igreja, acreditaram ter à vencido quando mataram tantos mártires, mas agora
chegou o momento da vindicação da justiça de Deus sobre eles.

Nesse momento os perseguidos receberão galardões, e os


perseguidores receberão destruição. No versículo 19 o apóstolo João vê uma
figura simbólica. Nessa figura o Templo de Deus está totalmente revelado, e
Arca da Aliança pode ser vista, então, houve relâmpagos, vozes, trovões,
terremotos e grande saraiva.

Isso significa que a arca que é revelada, representando o pacto da


graça, a comunhão entre Deus e o seu povo baseada na expiação de Cristo.
Para os salvos, essa visão da arca representa a infinita misericórdia de Deus e
a justificação que há para os seus eleitos, enquanto que para os ímpios, essa

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mesma arca é símbolo de ira, e essa ira é totalmente revelada, por isso é que
se seguem relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e saraiva. Agora, já não há
mais tempo para arrependimento, os ímpios não poderão escapar das mãos
do Deus irado.

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QUEM SÃO AS DUAS


TESTEMUNHAS NO APOCALIPSE?
As duas testemunhas do Apocalipse é outro tema bastante discutido
entre os teólogos, e que também desperta a curiosidade de muitos cristãos. O
texto onde as duas testemunhas são citadas está em Apocalipse capítulo 11.
Vejamos os versículos principais:

E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil


duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. Estas são as duas
oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra. E, se
alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca, e devorará os
seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que
assim seja morto. Estes têm poder para fechar o céu, para que não
chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para
convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de
pragas, todas quantas vezes quiserem. E, quando acabarem o seu
testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os
vencerá, e os matará. E jazerão os seus corpos mortos na praça da
grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde
o nosso Senhor também foi crucificado. E homens de vários povos,
e tribos, e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias
e meio, e não permitirão que os seus corpos mortos sejam postos
em sepulcros. E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles,
e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto
estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a
terra. E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo
de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande
temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu,
que lhes dizia: Subi para aqui. E subiram ao céu em uma nuvem; e
os seus inimigos os viram (Apocalipse 11:3-12).

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Ao longo da História do cristianismo muitas sugestões de


interpretações foram dadas para tentar determinar o significado desse texto. A
seguir, separei as principais interpretações disponíveis:

 Enoque e Elias: dentre todas as interpretações talvez essa seja a mais


popular entre os cristãos (disputando esse posto com a próxima
interpretação). Geralmente essa é a posição predominante entre os
pré-milenistas dispensacionalistas, que adotam a interpretação
futurista do Apocalipse e pré-tribulacionista. O principal ponto de
defesa para que as duas testemunhas sejam o profeta Elias e Enoque
é o fato de que eles foram os únicos homens que foram para o céu
sem passar pela morte. De certa forma, então eles foram "guardados"
para essa missão final, onde, finalmente, experimentarão a morte e,
logo depois, ressuscitarão.
 Moisés e Elias: essa posição é bem semelhante a anterior, com a
diferença de que ao invés de Enoque a outra testemunha será Moisés.
A principal defesa fica por conta de que as duas testemunhas
possuem características que lembram os dias desses homens na
terra, como " ferir a terra com toda sorte de pragas ", "poder para fechar
o céu, para que não chova " e "converter as águas em sangue ". Outro
ponto utilizado é o fato de que Elias e Moisés foram os personagens
presentes na transfiguração de Jesus (Mt 17:3). Ainda sobre Elias,
tanto essa interpretação quanto a anterior, geralmente utiliza a
profecia de Malaquias (cap. 4:5,6), para defender uma possível volta
de Elias.
 Dois cristãos desconhecidos: nessa interpretação as duas
testemunhas serão dois cristãos ainda anônimos que se levantarão no
período final durante a grande tribulação e atuarão no espírito e poder
de Elias e Moisés, algo semelhante ao que ocorreu com João Batista
(Lc 1:15-17).

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 Antigo e Novo Testamentos: essa é uma posição menos conhecida do


que as sugestões anteriores e defende que as duas testemunhas são
referências simbólicas ao Antigo e ao Novo Testamento.
 As duas testemunhas é a verdadeira Igreja: essa é a interpretação
predominante entre a posição reformada. Nessa posição, as duas
testemunhas é um símbolo que representa toda a Igreja militante ao
longo dos tempos.

QUAL A INTERPRETAÇÃO MAIS COERENTE?


Reconheço que esse tema é alvo de grandes debates, e entendo que
quem pensa diferente de mim, seja devido à corrente escatológica adotada ou
não, logicamente não concordará com minha posição, mas isso é algo comum
quando o assunto é escatologia.

Particularmente creio que a posição mais coerente é a última


interpretação citada no tópico anterior, ou seja, defendo que as duas
testemunhas no Apocalipse simbolizam toda a Igreja verdadeira. Não
pretendo fazer uma grande exposição sobre minha defesa para que este
capítulo não fique demasiadamente grande e cansativo, mas vou apresentar,
resumidamente, alguns pontos fundamentais nessa defesa:

1. O estilo literário do Apocalipse : o livro do Apocalipse é muito rico em


simbologia, esse padrão permeia o conteúdo do livro inteiro. Em uma
interpretação coerente do livro, não podemos literalizar um texto
nitidamente simbólico. No próprio capítulo 1 já temos um aviso claro
que haverá muita simbologia no livro e que não devemos tentar
interpretá-las de forma literal (Ap 1:20). A simbologia pode ser notada
até mesmo nas pequenas cartas individuais às sete Igrejas da Ásia
Menor. Outra característica marcante do Apocalipse é o extenso uso
de conteúdo do Antigo Testamento na composição do livro. João
escreveu para irmãos que conheciam as Escrituras, e que facilmente
poderiam perceber e interpretar tais ocorrências.

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2. A característica do capítulo 11: entendendo o padrão simbólico do


livro e sua fundamentação no Antigo Testamento, o capítulo 11 pode
ser interpretado de uma forma mais coerente sem apelar para algo
literal que destoa com o padrão já estabelecido. Quem interpreta esse
capítulo de forma literal, dirá que nos dois primeiros versículos João
descreve uma futura reconstrução do Templo em Jerusalém. Porém,
quando entendemos as características literárias do livro, naturalmente
se percebe que o termo "santuário de Deus" simboliza a Igreja
verdadeira. Isso está de acordo com outras referências (1Co 3:16,17;
2Co 6:16; Ef 2:21) onde essa expressão é utilizada para descrever a
Igreja. Quanto à medição do santuário, podemos concluir com base
no contexto imediato, a referência paralela (Ap 21:15) e o pano de
fundo do Antigo Testamento (Ez 40:5; 42:20; Zc 2:1), que essa
medição do santuário significa separá-lo de tudo que é profano, para
que esteja perfeitamente seguro e protegido. O santuário é aceito,
enquanto o pátio é rejeitado. Em outras palavras, essa medição
simboliza a separação do povo de Deus do povo profano. Essa
interpretação está diretamente ligada aos capítulos 7 e 9 do
Apocalipse, onde o povo de Deus é selado.
3. Os títulos da Igreja no Apocalipse: no livro do Apocalipse, a igreja é
"chamada" e representada de maneiras diferentes como: sete
candeeiros, reis e sacerdotes, 144 mil, anciãos, santuário de Deus e,
agora no capítulo 11, de testemunhas.
4. O fato de serem duas testemunhas: segundo a tradição daquela
época, para que um processo tivesse validade era necessário pelo
menos o testemunho de duas pessoas (Nm 35:30; Dt 17:6; Mt 18:16;
Hb 10:28). Logo, a referência às duas testemunhas indica a
credibilidade e veracidade de suas palavras. Essa interpretação
corresponde ao relato de Lucas 10:1, onde Jesus separou os setenta
discípulos em dupla, e enviou seus missionários dois a dois. Isso

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também demonstra que a expressão "duas testemunhas" enfatiza a


tarefa missionária da Igreja.
5. Duas oliveiras e dois candeeiros: as mesmas figuras são encontradas
no livro de Zacarias (4:1-7), onde se referem provavelmente a Josué e
Zorobabel, representando os ofícios pelos quais Deus abençoou
Israel. Aqui, as duas oliveiras e os dois candeeiros são símbolos da
Palavra de Deus proclamada pela Igreja.
6. O fogo que sai de suas bocas: outro ponto que não pode ser
interpretado de forma literal. Mais uma vez temos uma referência do
Antigo Testamento para explicá-la. Assim como o fogo do juízo e de
condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de
Deus (Jr 5:14), sendo esse fogo um símbolo da palavra pronunciada
por Jeremias, no Apocalipse o mesmo princípio é utilizado para se
referir ao fato da Igreja que, através de seus ofícios, anuncia os juízos
de Deus e condena os ímpios com base na Palavra de Deus, e essa
condenação realmente resulta em destruição (Mt 18:18).
7. O poder sobrenatural: da mesma forma com que Moisés recebeu
autoridade para ferir a terra com pragas e tornar a água em sangue
(Ex 7:20), e Elias orou para que o céu fosse fechado de modo que não
chovesse (1Rs 17:1), assim também a autoridade conferida Igreja,
através de seu ministério, expõe o mundo ímpio que rejeita a
mensagem do Evangelho ao julgamento e condenação por parte de
Deus. Isso é uma verdade real ensinada nas Escrituras. O Senhor
envia punição ao mundo iníquo em resposta às orações da Igreja (Ap
8:3-5), e assegura que a Igreja verdadeira tem autoridade, pelo ofício
de levar o Evangelho genuíno diante do mundo, trazer juízo (Mt 16:19;
18:18,19; Jo 20:21-23). O próprio versículo 5 do capítulo 11 deixa
claro que qualquer um que causar danos aos verdadeiros seguidores
de Cristo, será igualmente destruído.
8. As testemunhas são mártires: a palavra grega traduzida por
testemunha é martyria, que também significa "mártir" e "proclamador".

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Esse termo sempre é empregado ao povo de Deus no livro do


Apocalipse.
9. As testemunhas são derrotadas aos olhos dos homens: no capítulo 11
as duas testemunhas morrem, e seus corpos ficam expostos enquanto
o mundo comemora. No capítulo 13 somos informados que a besta faz
guerra contra os santos e os vence. Porém, vemos que esse período
de aparente derrota dura pouco (cf. Mt 24:22; Ap 20:7-9). Esse será o
período onde a Igreja será duramente perseguida, e como instituição
da forma como nos organizamos hoje, desaparecerá do mundo.
Nesse período os cristãos nominais mostrarão sua falsa fé ao
renunciarem o Evangelho, e os verdadeiros cristãos serão
perseguidos, presos e até mortos. Aos olhos dos homens a Igreja
estará por baixo, porém, à medida que o sangue dos santos é
derramado, acontece a vitória que os olhos ainda não veem (Ap
12:11). Esse é o período anunciado por Jesus durante o sermão
escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 21) chamado de grande tribulação, e
que o Apóstolo Paulo menciona como "a apostasia" (2Ts 2:3). O
próprio Jesus enfatiza que será um momento tão difícil que se os dias
não fossem abreviados nem mesmo os eleitos suportariam. Esse
momento acontecerá exatamente na hora determinada por Deus, no
dia em que as testemunhas terão terminado o seu testemunho (Ap
11:7). Os corpos das testemunhas serão expostos na praça da grande
cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso
Senhor foi crucificado (Ap 11:8). Essa descrição simbólica significa
que a Igreja estará "morta" no meio do mundo anticristão. Isso fica
claro pelas cidades utilizadas nesse símbolo.
10. As testemunhas ressuscitam: o mundo estará comemorando por
acreditarem ter vencido a Igreja e silenciado sua voz. O Evangelho
não os atormenta mais. É nesse cenário que as duas testemunhas são
ressuscitadas, ficam de pé e são chamadas ao céu. Compare com o
que ocorre no versículo 15, com o toque da sétima trombeta que

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anuncia a introdução do dia do juízo. Essa ressurreição simboliza de


forma maravilhosa a segunda vinda de Cristo com o arrebatamento da
Igreja aos céus. A Igreja que parecia derrotada, em meio a um mundo
completamente anticristão, agora é levantada vitoriosa e ascende ao
céu numa nuvem de glória. Note a expressão "e os seus inimigos os
viram". Não se trata de um momento secreto. Semelhante ao capítulo
6, um terremoto também precede o momento do juízo, e o pavor dos
ímpios é revelado. Eles dão glória ao Deus do céu. Essa "glória" que
eles dão não é uma conversão, ao contrário, é o terror que tomará
conta de seus corações. As duas testemunhas, que a pouco pareciam
mortas, agora são levadas ao céu. Esse é o momento descrito por
Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16,17 e 1 Coríntios 15:52. Os
perseguidores que contavam vitória se apavorarão ao contemplarem o
Deus irado que se assenta no trono, e os antes perseguidos, agora
serão glorificados, e também receberão a tarefa de participarem do
julgamento do mundo incrédulo (1Co 6:2). Nesse exato momento o
mundo estará maduro e pronto para o juízo final. Esse será o momento
do acerto de contas. Esse é o momento do terceiro ai.

Sem desrespeitar meus queridos irmãos em Cristo que adotam outro


tipo de interpretação, penso que eles, na tentativa de descobrir a identidade
dessas duas testemunhas, infelizmente acabam perdendo o prazer de
desfrutar do conforto que há nessa passagem para a Igreja de Cristo, quando
entendemos que nós, cristãos verdadeiros, povo escolhido do Senhor com a
tarefa de proclamar o verdadeiro Evangelho, é quem somos as duas
testemunhas.

Podemos ser perseguidos e até mortos pelo mundo, porém em Cristo,


somos mais que vencedores, e haverá o dia em que ressuscitaremos e
reinaremos eternamente com nosso Deus.

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A MULHER E O DRAGÃO
Chegamos na quarta seção do livro do Apocalipse. No capítulo 12 é
narrado o relato sobre a mulher e o dragão, e é um dos mais conhecidos e
debatidos desse livro. A figura do dragão como símbolo de Satanás, e a figura
do filho da mulher como sendo Jesus, é praticamente um consenso. Porém,
todo esse debate fica por conta da seguinte pergunta: Quem é a mulher em
Apocalipse 12?

Existem diversas interpretações que se propõem a responder esta


pergunta. A seguir, conheceremos algumas destas interpretações e qual
delas é a que se apresenta mais coerente com as Escrituras.

1. A mulher é Maria: essa é a interpretação defendida pela Igreja


Católica, que entende que a mulher é um símbolo de Maria. Essa é
uma das passagens mais utilizadas pelo catolicismo para defender
uma ascensão de Maria ao céu.
2. A mulher é a Nação de Israel: essa é a interpretação preferida por
quem defende o Pré-Milenismo Dispensacionalista, mas também
existem estudiosos de outras linhas escatológicas que defendem essa
posição. Nessa interpretação, os 1260 dias em que a mulher foge
para o deserto, representam o período da grande tribulação.
3. A mulher é a Igreja: essa interpretação entende que tanto no Antigo
Testamento quanto no Novo Testamento, a Igreja é uma só, logo, a
mulher é um símbolo da Igreja.

QUAL É A MELHOR INTERPRETAÇÃO?


Ate mesmo quem segue a linha futurista e entende que os eventos
descritos no Apocalipse ocorrem de forma linear, ou seja, cronológica,
necessariamente precisam assumir que neste capítulo ocorre uma
recapitulação, isto é, a história volta ao início novamente.

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Neste estudo já vimos o porquê a Leitura de Recapitulação é a mais


adequada para o Apocalipse, assim não teremos maiores dificuldades em
assumir que realmente o capítulo 12 inicia uma nova seção.

Bem, sabemos então que no Paralelismo Progressivo o Apocalipse é


organizado em sete seções. Essas sete seções também podem ser
organizadas em duas grandes seções, sendo a primeira entre os capítulos 1 e
11, agrupando três seções menores, e a segunda entre os capítulos 12 e 22,
agrupando quatro seções menores e totalizando as sete seções.

O tema de ambas as divisões maiores do livro é o mesmo, isto é, a


vitória de Cristo e de sua Igreja. Mas, enquanto a primeira grande seção nos
mostra a luta externa entre a Igreja e o mundo, a segunda grande seção nos
mostra a profundidade por trás das cenas, ou seja, nos mostra uma guerra
que os olhos carnais não podem ver. Então, enquanto na primeira seção
vemos o conflito entre a Igreja e o mundo iníquo, na segunda seção vemos
por que existe esse conflito, quando João nos informa de outro conflito: o
conflito entre Cristo e Satanás (o dragão).

Voltando às sete seções menores, na primeira seção (os sete castiçais


caps. 1-3) vemos como Cristo se revela através de sua Igreja, e como Ele a
conhece profundamente. Na segunda seção (os sete selos caps. 4-7) vemos a
perseguição clara do mundo contra essa Igreja. Na terceira seção (as sete
trombetas caps. 8-11) temos o juízo parcial de Deus, também como resposta
às orações da Igreja perseguida, sendo derramado em forma de aviso contra
o mundo perseguidor. Finalmente na quarta seção em questão (caps. 12-14)
temos o dragão e seus aliados atacando a Igreja como reflexo da luta que os
olhos não veem.

No capítulo 12 vemos que o propósito principal do dragão é destruir o


filho da mulher (Cristo). Por conta disto, a mulher é perseguida por ele, a fim
de que o nascimento do menino fosse evitado. Para entendermos melhor esse
conflito, devemos voltar aos primeiros dias da criação, lá no início, onde esse
conflito foi anunciado ainda no livro de Gênesis.

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E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua


semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar
(Gênesis 3:15).

A "semente" da mulher em Gênesis 3 é o "filho varão" em Apocalipse


12, bem como a "serpente" é o "dragão" (Ap 12:9). Podemos ver a realidade
desse conflito anunciado no primeiro livro da Bíblia e em todo o Antigo
Testamento, com a tentativa de Satanás em frustrar a promessa inicial
registrada em Gênesis.

Ainda no Antigo Testamento, temos várias referências que comprovam


que o simbolismo da mulher no Apocalipse é uma referência a Igreja (cf. Is
50:1; 54:1; Os 2:1;), e essa Igreja forma um só povo escolhido em Cristo, um
só rebanho, um só corpo, uma só esposa, uma única nação santa, um povo
de propriedade exclusiva de Deus (Is 54; Am 9:11; Mt 21:33; Rm 11:15-24; Gl
3:9-16,29; Ef 2:11; Ef 5:32; 1Pe 2:9; Ap 4:4; 21:12-14). O Apóstolo Paulo afirma
que Abraão é pai de todos os crentes, circuncidados ou não.

Com base nisso tudo, creio que já começa ficar claro qual é a posição
mais coerente sobre a identidade da mulher. O tema principal do livro do
Apocalipse é a vitória de Cristo e de sua Igreja. Portanto, não faria qualquer
sentido uma citação repentina sobre Maria ou sobre o Israel étnico. Isto
quebraria o estilo, a organização e o raciocínio do conteúdo do livro do
Apocalipse.

Além do mais, qual seria a importância prática para os irmãos das


sete igrejas da Ásia menor, que estavam vivendo uma intensa perseguição
pelo Império Romano, uma descrição de Israel ou de Maria como sendo a
mulher perseguida no capítulo 12?

Considerando o contexto histórico, não faria muito mais sentido


aqueles irmãos entenderem que a mulher é um símbolo da Igreja?

Certamente essa foi a interpretação daqueles irmãos, que puderam


ver a guerra que existe por trás da perseguição que a Igreja de Cristo sofre.

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É claro que Maria está incluída como um membro que desempenhou


um papel fundamental nesse grupo simbolizado pela mulher, bem como o
próprio Israel, a qual tivera a revelação especial de Deus (Rm 2; 3) e formava
a Igreja do Antigo Testamento, embora claramente não devemos entender que
todos os judeus do Antigo Testamento fizeram parte da Igreja. Portanto, há
uma diferença entre o Israel étnico e o Israel como Igreja do Antigo
Testamento.

Logo, a mulher é um símbolo da única Igreja de Cristo em todos os


tempos. Para uma melhor compreensão, devemos perceber que o capítulo 12
primeiramente enfatiza a Igreja do Antigo Testamento, e após o versículo 13 a
descrição passa a incluir os santos da nova dispensação, enfatizando a Igreja
do Novo Testamento. O versículo 17 deixa isto muito claro ao dizer que o
dragão "foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os
mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus". Todavia, não se trata
de duas igrejas diferentes, mas de uma só Igreja, um só povo

A DESCRIÇÃO DA MULHER
O capítulo 12 faz uma descrição da mulher. Ela está vestida de sol
(vers. 1), o que significa que ela é gloriosa e exaltada, e reflete o brilho da
glória de Deus. Ela tem a lua debaixo de seus pés (vers. 1), isto é, ela exerce
domínio pela autoridade outorgada pelo próprio Cordeiro. Ela tem em sua
cabeça uma coroa de doze estrelas (vers. 1), ou seja, ela é vitoriosa, ela é
vencedora.

A mulher está grávida (vers. 2), o que significa que ela tem uma
grande missão: dar a luz a Cristo segundo a carne (Rm 9:5). Aqui é mais uma
clara referência a Igreja do Antigo Testamento, um povo especialmente
escolhido por Deus pela qual o Messias viria ao mundo. Esse processo não foi
nada fácil. O dragão perseguiu ferozmente esse povo, essa igreja, essa
mulher, mas Deus a guardou, e na plenitude dos tempos Jesus nasceu.

Por fim, vemos também que a mulher é protegida por Deus (vers. 6,
14). O livro do Apocalipse mostra essa proteção de forma maravilhosa. Nele,

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sabemos que a Igreja é selada (Ap 7:3; 9:4), é medida e separada (Ap 11:1),
e no capítulo 12 vemos que ela recebe asas (vers. 14).

Tudo isto significa que Deus protege pessoalmente o seu povo do


poder perseguidor do dragão e de seus aliados. Durante 1260 dias, que
simboliza o período da Igreja e da pregação do Evangelho, a Igreja estará
protegida. Isso não significa ausência de problemas, ao contrário, significa
que nada pode parar o avanço da pregação da Palavra, de modo que, se for
preciso, Deus concede poder aos seus eleitos para que sejam mortos por
amor ao seu nome (Ap 6:9,11; 14:13).

A DESCRIÇÃO DO FILHO DA MULHER


Aqui não há qualquer dúvida de que o Filho da mulher é o Messias.
No versículo 5 mostra esse "Filho homem" como alguém muito poderoso "que
há de reger as nações com cetro de ferro ". Essa é uma citação do Salmo 2:9,
um salmo messiânico, inclusive aplicado pelo próprio Cristo em Apocalipse
2:27.

O versículo 5 mostra que esse Filho subiu ao céu para assentar-se no


trono. Aqui está englobado todo o processo de exaltação de Cristo, desde sua
humilhação, morte, ressurreição até sua ascensão ao céu. Finalmente o
versículo 10 deixa explicito de que o Filho da mulher se trata de Jesus, ao
dizer que "agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e
o poder do seu Cristo".

A DESCRIÇÃO DO DRAGÃO
O dragão simboliza Satanás (Ap 20:2), um ser pessoal que possui
uma grande obsessão em atacar o Filho da mulher. Ele possui sete cabeças
coroadas, que simbolizam seu domínio mundial (cf. Lc 11:20-22; At 26:18; Ef
2:2; 6:12; Cl 1:13). Essas coroas não são coroas de glória e de vitória, mas
coroas de pretensa autoridade, pois ele tenta ser um imitador do Cordeiro. Os
dez chifres simbolizam o seu poder destrutivo. O próprio Jesus disse que o
dragão "veio para matar, roubar e destruir" (Jo 10:10).

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Porém algo importante é descrito: Satanás cai. O capítulo 12 mostra


que Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão e seus anjos, e o dragão e
seus anjos não foram apenas derrotados, mas também foram expulsos do céu
e lançados à terra (vers. 9).

Aqui sabemos que, ao contrário do que muita gente pensa, a morada


de Satanás é a terra. Essa expulsão não se refere a uma queda inicial de
Satanás, mas a sua derrota no tempo da crucificação e ressurreição de Cristo
(Jo 12:31; Cl 2:15; Ap 12:12)

No versículo 10 se escuta uma grande voz no céu dizendo que "o


acusador de nossos irmãos é derrubado ". O significado dessa expressão fica
claro em Jó 1:9-10. Com a morte, ressurreição e ascensão de Cristo ao céu,
Satanás sofre uma derrota esmagadora, anulando qualquer acusação contra
aqueles que estão em Cristo Jesus. O capítulo 12 revela Satanás sendo
lançado na terra, já o capítulo 20 revela Satanás sendo lançado
definitivamente no Lago de Fogo.

Como ele falhou em destruir o Filho da mulher, agora ele volta sua
atenção para a mulher. Ele tenta afogar a Igreja com um rio de mentiras,
desilusões e falsas teorias filosóficas, e com toda sua cólera ele pelejará
contra os fiéis (vers. 17), porém Deus os protege.

Por fim, nos capítulos seguintes do Apocalipse vemos que conforme o


dragão vai sendo frustrado em seus planos, e vê suas mentiras e fraudes não
surtirem efeito diante da Igreja verdadeira, ele recruta alguns aliados para lhe
servirem nessa missão: a besta que sobre do mar, a besta que sobe da terra e
a grande Babilônia. Mas o dragão, e todos os seus aliados serão condenados
eternamente (caps. 17-20).

Para concluir, reconheço que todas as correntes escatológicas


possuem suas dificuldades, isso pelo simples fato de que a segunda vi nda de
Cristo e a consumação da presente era ainda não ocorreram. Portanto,
embora pessoalmente eu não concorde com algumas interpretações por não

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encontrar fundamentação bíblica suficiente, respeito meus irmãos em Cristo


que adotam uma posição diferente da minha. O melhor de tudo é que juntos
temos a esperança de que um dia iremos compreender todas essas coisas
definitivamente ao lado do nosso Senhor.

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A BESTA QUE SUBIU DO MAR E A


BESTA QUE SUBIU DA TERRA
As bestas do Apocalipse são descritas detalhadamente a partir do
capítulo 13. João viu duas bestas surgirem: a besta que subiu do mar e a
besta que subiu da terra (ou do abismo).

Embora trabalhem para a mesma finalidade, as duas bestas possuem


características completamente diferentes. Enquanto a primeira é descrita
como um monstro terrível, a segunda tem uma aparência inofensiva. As duas
bestas são aliadas do dragão, a saber, o próprio Satanás.

QUEM SÃO AS DUAS BESTAS?


Existem inúmeras interpretações diferentes sobre este assunto, de
forma que seria quase impossível abordarmos cada uma delas. A visão
descrita por João também é rica em detalhes, e as mais diversas aplicações
de cada detalhe já foram sugeridas.

Mais uma vez é importante chamar a atenção para a organização do


livro do Apocalipse, e fazer a leitura do capítulo 12 para uma melhor
compreensão deste assunto, pois no capítulo 13 vemos que os personagens
descritos são instrumentos nas mãos de Satanás, aliados que o dragão
recruta para atacar a Igreja de Cristo. Vimos que no capítulo 12 Satanás é
lançado à terra, e agora, a partir do capítulo 13, ele recruta seus agentes.

A BESTA QUE SUBIU DO MAR


Podemos dizer que a interpretação mais conhecida entre os
evangélicos sobre a besta que subiu do mar é a interpretação adotada
geralmente pelos pré-milenistas dispensacionalistas. Nessa interpretação, a
besta que emerge do mar significa o último governo mundial da história, sob o
controle do Anticristo escatológico.

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Tal governo será formado por dez reinos, e chegará um determinado


momento em que o Anticristo será ferido de morte e será vivificado pelo poder
de Satanás. É válido dizer que alguns entendem que a não é o Anticristo que
será ferido de morte, mas se trata de uma referência ao sistema i mperial que
retornará ao mundo.

Essa interpretação acerta ao identificar a profunda ligação dessa


visão com o surgimento do Anticristo escatológico e seu governo, entretanto,
ela falha ao desconsiderar totalmente o estilo literário do livro do Apocalipse,
bem como seu contexto histórico e sua aplicação atual independentemente do
momento histórico a qual um determinado leitor do livro está situado.

Em sua visão, o apóstolo João viu uma besta que subiu mar. Ela
possui dez chifres, cobertos de diademas, distribuídos em sete cabeças, as
quais estão escritos nomes de blasfêmia. Seu corpo é semelhante ao corpo
de leopardo, seus pés são como de urso e sua boca é como de leão.

O dragão (Satanás) concede a ela o seu poder e autoridade. João


também observa que uma das sete cabeças parece ter sido golpeada de
morte, porém essa ferida mortal foi curada e a terra inteira ficou maravilhada
rendendo louvores e adoração a besta e ao dragão que lhe deu sua
autoridade.

A besta, então, começa a falar e proferir palavras de blasfêmia, tendo


autoridade para agir durante quarenta e dois meses. Essas blasfêmias são
contra o próprio Deus e os que habitam em seu tabernáculo. A besta recebe
autoridade sobre todos os povos, tribos e nações, e poder para pelejar contra
os santos e os vencerem. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram
escritos no livro da vida do Cordeiro, maravilhados adoram a besta (Ap 13:8).

Para interpretarmos essa figura descrita por João, precisamos ter em


mente que há, aqui, bem como em todo o Apocalipse, um uso maciço de
textos do Antigo Testamento. Também precisamos considerar a simbologia
característica que permeia todo o livro do Apocalipse. Logo, devemos adotar

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um padrão interpretativo, evitando o erro comum de tentar literalizar o que


evidentemente é simbólico.

Note que a besta sobe do mar. O mar nas Escrituras representa as


nações e seus governos. Dentre vários exemplos podemos citar uma
passagem do Profeta Isaías, onde o rumor dos povos é comparado ao rumor
do mar, e a agitação das nações ao movimento das águas. Podemos
comparar essa passagem com outra no próprio livro do Apocalipse, onde
essa interpretação fica provada.

Ai do bramido dos grandes povos que bramam como bramam os


mares, e do rugido das nações que rugem como rugem as
impetuosas águas (Isaías 17:12).

E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são


povos, e multidões, e nações, e línguas (Apocalipse 17:15).

Essa besta é descrita com características animais. Aqui claramente há


uma profunda ligação com a visão que o Profeta Daniel teve, de maneira que
a besta descrita por João combina as características das quatro bestas vistas
por Daniel (Dn 7).

Na visão de Daniel, o significado das quatro bestas fica revelado


como sendo impérios que se sucedem ao longo da História. Obviamente aqui
no Apocalipse a mensagem é a mesma, de maneira que ela não simboliza
apenas um único império ou governo, mas representa todos os governos
anticristãos que já existiram.

Para entendermos melhor essa descrição da besta, precisamos


considerar também o capítulo 17 do livro do Apocalipse. A besta possui sete
cabeças e o capítulo 17 (vers. 10 e 11) nos revela que as sete cabeças são
sete colinas sobre as quais se assenta a grande meretriz, Babilônia. Ainda no
capítulo 17, o texto nos mostra que as sete cabeças também são sete reis e
seus governos que se sucedem.

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A interpretação dessa parte da visão tem sido discutida por muitos


teólogos. A Roma antiga era conhecida na literatura como "a cidade das sete
colinas". Portanto, possivelmente aqui é feita uma primeira aplicação à Roma.

Mas, como já dissemos, muito dos textos do Apocalipse possui dupla


referência, assim, as sete cabeças também são sete reis (Ap 17:10). O anjo
diz a João que cinco reis já caíram, um ainda existe, e o outro ainda não
surgiu, mas quando surgir durará pouco tempo.

Os estudiosos frequentemente entendem que esses sete reis


significam sete impérios mundiais, sugerindo então:

1. Império Babilônico primitivo com Ninrode em Babel;


2. Império Assírio;
3. Império Babilônico de Nabucodonosor;
4. Império Medo-Persa;
5. Império Greco-Macedônio com Alexandre o Grande;
6. Império Romano dos dias de João;
7. O sétimo império é muito discutido. Alguns estudiosos fazem uma
sugestão diferente dos seis primeiros impérios, e acabam afirmando
que o sétimo império é justamente o romano. Outros, que defendem a
lista aqui citada, sugerem que o sétimo império é a junção de todos os
governos que se levantaram ao longo dos anos após a queda do
Império Romano, ou seja, nenhum grande império específico, mas a
combinação de todos os governos dos últimos quase dois mil anos.

No capítulo 17, o anjo informa a João que haverá um oitavo rei. Esse
rei procede dos sete reis citados. Ele é a besta "que era, e agora não é, e
surgirá novamente" (veremos isso mais adiante). Esse oitavo rei é o Anticristo.
É a besta encarnada na pessoa dessa figura maligna que será maior do que
todos esses outros impérios citados, pois ele reunirá e carregará nele as
características dos sete anteriores.

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A besta também possui dez chifres que são coroados de diademas.


Essa descrição mostra a tamanha semelhança que há entre a besta e o
dragão. Ambos possuem sete cabeças e dez chifres. Porém, enquanto o
dragão usa os diademas em suas cabeças, a besta possuí diademas nos
chifres. Isso mostra que quem governa é, na verdade, o dragão que deu o seu
poder a besta.

No livro do Apocalipse o número dez sempre está ligado ao mal, no


sentido de representar as ações malignas no mundo. Portanto, os dez reis não
devem ser interpretados como sendo literais, isto é, uma quantidade
especifica de governantes, mas deve ser entendido no sentido de que os
poderes mundiais, todos eles, seguem a besta. Os dez chifres representam os
governantes, que recebem inspiração de Satanás e cumprem suas ordens.

Em uma aplicação direta ao período do Anticristo, a referência aos


dez reis nos mostra como os governos mundiais se unirão para oferecerem
suporte, poder e autoridade ao seu governo.

Mas o próprio texto nos conforta dizendo que isso durará muito pouco.
Eles receberão autoridade por apenas "uma hora". Novamente essa expressão
não deve ser interpretada literalmente, mas sim como uma referência ao curto
período já determinado o qual eles agirão.

Voltando ao capítulo 13, a descrição continua dizendo que uma


dessas cabeças foi ferida de forma mortal e, depois, curada. Isso significa
que um dos sete governos cessou por um pouco de tempo, mas retornará.
Aqui João está contando a mesma história do capítulo 17, porém por um
ângulo diferente.

Foram muitas as tentativas de identificar a aplicação exata da cabeça


golpeada de morte. A principal dificuldade talvez ocorre pela característica de
dupla referência dessa visão. Alguns estudiosos identificam essa cabeça
como sendo a Roma e seu governo dos dias do apóstolo. Essa interpretação

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se baseia, principalmente, no contexto histórico do livro, defendendo uma


aplicação prática para os destinatários originais.

Quando Nero estava à frente do Império Romano entre 54 d.C e 68


d.C., foi culpado de incendiar a cidade de Roma, num episódio ainda mal
explicado. Segundo historiadores, a fim de escapar de qualquer suspeita,
acabou culpando os cristãos, desencadeando uma perseguição violenta
sobre eles, que na ocasião teria levado vários apóstolos ao martírio.

A verdade é que muitos cristãos foram presos, decapitados,


crucificados e até mesmo amarrados em postes e queimados vivos para
servirem como tochas de iluminação. Em 68 d.C., não suportando a pressão
do Senado romano, Nero cometeu suicídio. Então, Roma, como perseguidora,
parecia estar acabada.

Conspirações e conflitos internos davam o tom de que os dias do


Império Romano como superpotência tinha chegado ao fim. Roma havia sido
atingida mortalmente na cabeça. Porém, por volta de 81 d.C., surge
Domiciano, filho de Vespasiano, e a perseguição aos cristãos iniciada por
Nero ressurge ainda mais violenta.

O golpe mortal havia sido curado. Roma, e seu imperador, novamente,


inspirados por Satanás, estavam perseguindo a Igreja de Cristo. Domiciano se
autoproclamou deus, exigindo que fosse adorado.

O culto ao imperador foi instituído no império e o não cumprimento


seria passível de pena de morte. Nesse período ocorreu, talvez, a pior e mais
sangrenta perseguição aos cristãos até agora.

Quem não adorasse o imperador tinha seus bens confiscados, eram


proibidos de participarem de qualquer transação comercial, passavam fome e
necessidades, eram presos, exilados, torturados e mortos. Os próprios
cidadãos do império delatavam os cristãos, mesmo que fossem seus
parentes.

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O mundo em geral adorou Roma e cultuou o seu imperador. A besta


estava blasfemando contra Deus e fazendo guerra aos santos, enquanto os
habitantes da terra adoravam a ela e ao dragão. Aos verdadeiros cristãos, as
seguintes palavras foram anunciadas: "Aqui está a perseverança e a
fidelidade dos santos" (Ap 13:10).

Os irmãos das sete igrejas da Ásia Menor que receberam esse livro no
século I, não tiveram dificuldade para interpretar essa visão, e, como já
dissemos, também não podemos ignorar essa aplicação primária.

Entretanto, como acontece em outras profecias bíblicas, o significado


não se esgota em um único momento específico na História. Desta forma,
embora esteja correta a interpretação acima, também há uma referência ainda
mais profunda nela.

No capítulo 17 do livro do Apocalipse, João escutou do anjo que " a


besta que você viu, era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha
para a perdição" (Ap 17:8). Isso significa que essa visão compreende
passado, presente e futuro.

Alguns estudiosos entendem que o passado se refere a ação da besta


ao longo da história antiga, que enganava o mundo e dominava com imenso
poder e opressão por meio dos grandes impérios mundiais.

Porém, com a vitória de Cristo sobre Satanás em Sua morte,


ressurreição e ascensão ao céu, a besta foi mortalmente ferida, ficando
impedida de agir, ou seja, ela não pode barrar definitivamente o avanço do
Evangelho, pois o dragão que lhe deu o poder, agora está limitado. Por isso
ela "era e já não é ".

Entretanto, em breve ela surgirá novamente. Ela subirá do abismo, da


morada do dragão. Neste ponto, quem defende essa posição afirma que é o
momento em que sua ferida mortal é curada. Esse é o momento em que a
besta é personificada na pessoa do Anticristo, e de seu último império
mundial.

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Ela se levantará para enganar novamente as nações, mas o texto já


nos esclarece que ela se levantará para caminhar para a perdição. Seu
reinado durará pouco, terá hora para começar e hora para terminar.

Foi concedido à besta agir por quarenta e dois meses. Novamente


vale ressaltar que os números no Apocalipse possuem uma importância
simbólica muito grande, portanto não devem ser interpretados como literais.
Interpretá-los de forma literal quebra totalmente a lógica, o estilo literário e o
propósito do livro do Apocalipse, tornando sua interpretação confusa e
fantasiosa.

O importante aqui é saber que a besta tem um tempo limitado de


ação. Embora os habitantes da terra proclamem que ninguém é como a besta,
e que não há quem possa com ela, a Bíblia nos conforta fazendo-nos saber
que o tempo está determinado, e que a besta, por mais poderosa que pareça
ser, não tem poder para aumentar um único dia do seu reinado tirano. A besta
age por quarenta e dois meses. Não por quarenta e um, nem mesmo por
quarenta e três, mas por quarenta e dois. O controle está nas mãos do nosso
Deus.

Mais uma vez lembre-se que no Apocalipse, assim como acontece em


outras profecias bíblicas, o significado não se esgota em um único momento
específico na História. Assim, podemos entender que a besta representa de
forma geral o poder perseguidor de Satanás operando por meio das nações
deste mundo e de seus governantes ao longo da História.

Essa besta assume várias formas, de maneira que ela está presente
em cada governo que se levanta de alguma forma contra a Igreja de Cristo,
seja com perseguições físicas, morais, retaliações diversas, aprovações de
leis contrárias aos mandamentos de Deus, dentre outros. Roma já caiu, e
tantos outros impérios já caíram, mas a besta continua atuando, se
transformando e sendo dirigida por Satanás.

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Tal como foi nos dias do apóstolo João, nos dias que antecedem a
segunda vinda de Cristo, haverá uma oposição semelhante ao culto divino
(2Ts 2:8). Embora as perseguições contra a Igreja ocorram de forma
esporádica e repetida ao longo da História, no período final, essa perseguição
se intensificará de uma forma nunca vista antes, tal como Jesus anunciou em
seu Sermão Escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 21).

No período do fim, a besta se apresentará na pessoa do Anticristo


escatológico, encarnando a perversidade característica de todos os impérios
anticristãos da história, numa completa personificação do mal.

Será o momento mais tenebroso que este mundo já viu, um período de


grande tribulação, onde a Igreja será perseguida terrivelmente, porém,
embora ela pareça estar destruída e os santos vencidos, haverá cristãos
verdadeiros na terra, aqueles cujos nomes foram escritos no livro da vida do
Cordeiro desde a eternidade (Ap 17:18). Estes não perecerão. Se necessário,
morrerão, mas não serão definitivamente derrotados, pois Deus os elegeu
desde a eternidade para a salvação na santificação do Espírito (2Ts 2:13).
Mesmo que o governo do Anticristo destrua seus corpos, suas almas não
poderão ser destruídas.

A BESTA QUE SUBIU DA TERRA


Diferente da primeira besta, a besta que sobe da terra não possui dez
chifres, nem mesmo sete cabeças. Sua aparência nem de longe lembra a
amedrontadora aparência da primeira. Essa besta possui apenas dois
pequenos chifres, como os de um cordeiro. Mas não se engane! Ela fala como
um dragão.

A segunda besta é serva da primeira, ou seja, suas ações apontam


para a outra, de maneira que ela induz o mundo a adorar a primeira besta. Se
a primeira besta é conhecida pela sua força e seu poder conquistador, a
segunda é conhecida pelos milagres que realiza e o poder sobrenatural que
demonstra.

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Ela realiza grandes proezas e milagres impressionantes, tudo para


enganar as massas. A besta que subiu da terra ordena que as pessoas
adorem a imagem da besta que subiu do mar. Depois, ela faz a imagem falar.
Também ordena que qualquer um que não adorar a besta que subiu do mar
deve ser morto. Por fim, ela ordena que todos recebam a marca da besta
sobre a mão direita ou na fronte, como sinal de lealdade.

A segunda besta tem sua identidade revelada no próprio livro do


Apocalipse, como sendo o Falso Profeta (Ap 19:20). Essa besta simboliza a
falsa religião e a falsa filosofia ao longo desta era. Sua aparência é como de
um cordeiro, chamativo e aparentemente inocente, atraindo a atenção dos
homens, mas ela esconde um dragão por dentro.

Essa segunda besta é a personificação das mentiras de Satanás, é o


próprio Diabo travestido de anjo de luz (2Co 11:14), atuando por meio de
todos os falsos profetas que agem durante toda essa dispensação, ensinando
doutrinas de demônios, tentando perverter a verdade das Escrituras, e
levando os homens a seguirem suas religiões anticristãs. O relato de João
está em completa concordância com o que Tiago escreve:

Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e


diabólica (Tiago 3:15).

Essa besta sobe da terra, é o Falso Profeta, a sabedoria anticristã,


que, segundo Tiago, é terrena, animal e diabólica. As duas bestas agem em
conjunto, de forma sincronizada. Essa, é uma verdade que podemos perceber
desde os dias dos apóstolos até os nossos dias.

Alguns estudiosos se esforçam para atribuir o significado da segunda


besta como sendo o judaísmo apóstata da época, liderado pelos escribas e
fariseus, os mesmos que crucificaram Jesus, e que, em sua maioria, se
mostrava aliado de Roma.

Entretanto, o significado dessa besta é muito mais abrangente, ela é


muito maior do que apenas o judaísmo apóstata da época. Se podemos ver

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essa besta agindo nas tramas do judaísmo contra Jesus, também podemos
vê-la em ação ao longo da História oprimindo os seguidores de Cristo e
fazendo com que os habitantes da terra adorem a besta que subiu do mar.

Isso pode ser visto nos dias de João, onde os sacerdotes pagãos
faziam o máximo para impor as mentiras de Satanás na mente do povo. Tais
sacerdotes faziam de tudo para que cada vez mais pessoas proclamassem:
"O imperador é o nosso deus! ".

Alguns historiadores escrevem que estátuas eram construídas, e no


momento do culto, os sacerdotes pagãos usavam técnicas ilusórias e
ventriloquia para que as estátuas falassem diante do povo. Estes, eram
responsáveis também por atestar quem adorava ao imperador e quem se
recusava.

Se alguém se recusasse seria certamente morto. Se alguém não


tivesse a marca da besta não poderia viver, independentemente se fosse
escravo, livre, pobre, rico, pequeno ou grande; não havia exceção.

Essa marca atravessa as épocas, de maneira que está em vigor em


nossos dias e continuará estando até o dia do juízo de Deus. Da mesma forma
com que os seguidores de Cristo são selados na fronte (Ap 7:3; 9:4), os
adoradores da besta também recebem uma ma rca. Não existe um terceiro
grupo de pessoas. Ou alguém faz parte da Noiva do Cordeiro e possui o selo
de Deus, ou é um fiel da falsa religião, adorador da besta e marcado por
Satanás. No próximo capítulo falaremos exclusivamente sobre a marca da
besta.

Perto da volta de Cristo, simulacros de milagres aparecerão de forma


cada vez mais frequente (2Ts 2:9). A falsa religião estará a todo vapor,
pregando as mentiras de Satanás e recrutando inúmeros falsos profetas. O
apelo será tão impressionante e persuasivo que, se possível fosse, enganaria
até os escolhidos. Graças a Deus isso não será possível. A Igreja verdadeira,

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mesmo em meio as terríveis tribulações, pode descansar nas palavras de


Jesus:

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me


seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e
ninguém as arrebatará da minha mão (João 10:27,28).

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MARCA DA BESTA E O NÚMERO


666
No capítulo anterior já tivemos uma introdução e até mesmo uma
resposta sobre o que é a marca da besta, porém como sei que talvez este
seja o tema mais discutido dentro do Apocalipse entre os cristãos, vou
dedicar um capítulo inteiro para falarmos sobre ele.

E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e


servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas
testas, Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele
que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.
Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número
da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis (Apocalipse 13:16-18).

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE A MARCA DA BESTA


Não é de hoje que as pessoas tentam atribuir significados a essa
marca e ao número 666. Nas últimas décadas várias coisas foram
identificadas como "suspeitas" de serem a marca da besta. Já afirmaram, por
exemplo, que a marca da besta seria o código de barras, utilizado para
identificar a maioria dos produtos, logo que essa tecnologia surgiu. Também
já foi proposto que tal marca se tratava do "www" quando a internet começou a
se popularizar. Agora, a onda da vez é o famoso microchip, que pode ser
implantado sob a pele. Muitos cristãos estão convictos disso, até que surja
uma nova tecnologia que torne essa aposta do momento obsoleta. Vídeos
conspiratórios não param de surgir na internet.

Também outras sugestões menos conhecidas já surgiram atribuindo a


marca da besta como sendo: as faces da moeda americana de 10 centavos, a
observância do domingo ao invés do sábado, etc.

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De forma geral, a interpretação mais conhecida sobre a marca da


besta é a de que tal marca será um sinal único, individual e externo, que será
implantado na fronte ou na mão direita dos homens em um momento
específico da História, a saber, a grande tribulação.

Essa marca será usada como uma forma de controle pelo Anticristo,
para identificar seus adoradores. Todos os homens deverão ser marcados.
Quem não tiver a marca da besta e não adorar ao Anticristo como deus, não
poderá comprar ou vender, sendo caçados para que sejam mortos.

Essa é a interpretação que ficou popularizada por uma série de livros


e filmes sobre o tema, adotada geralmente pelos pré-milenistas
dispensacionalistas, que, como já falamos, é a posição escatológica mais
recente dentro do cristianismo e também predominante entre os cristãos na
atualidade, principalmente devido à seu grande apelo.

É importante relembrar que essa corrente escatológica adota o estilo


futurista de leitura do Apocalipse, apontando que a partir do capítulo 4 do
livro, os relatos se destinam exclusivamente a um período futuro da história, na
maioria das vezes entendido como sendo a grande tribulação, com duração
de sete anos que será iniciado com um arrebatamento secreto da Igreja.

Outra interpretação sobre a marca da besta, essa mais tradicional


dentro do cristianismo histórico, defende que a marca da besta está presente
em todas as gerações, ou seja, Satanás sempre teve seus adoradores, os
quais são marcados por ele.

AFINAL, O QUE É A MARCA DA BESTA?


Antes de responder esta pergunta, primeiramente é necessário que se
compreenda a forma mais coerente de se interpretar o Apocalipse,
considerando seu contexto histórico, propósito, suas características e estilo
literário. Não podemos apenas isolar três versículos de um capítulo e sair
atribuindo significados e construindo teorias.

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O primeiro ponto é entender a expressão "marca da besta", e em que


João estava se baseando quando utilizou tal referência. Nos dias atuais, é
natural que o gado receba uma marca para que se identifique sua
procedência e a fazenda a qual pertence. Nos dias do Apóstolo João, os
animais também já eram marcados, porém não apenas eles, as pessoas
também eram.

Algo muito comum na época era a marcação de escravos. O objetivo


era o mesmo: servir como um sinal de propriedade, ou seja, o escravo
marcado carregava consigo a marca de seu dono.

Também é verdade que não somente os escravos recebiam uma


marca, outras classes também eram marcadas. Há indícios de que os
soldados romanos recebiam algum tipo de marca de identificação, além dos
devotos das religiões pagãs da época.

Naquela região da Ásia Menor, as pessoas mostravam sua devoção a


um determinado deus recebendo uma marca que as identificasse como
adoradoras de tal deus. Essa marca, na maioria das vezes uma tatuagem, era
exibida com orgulho por esses devotos. Portanto, "receber uma marca"
indicava que um determinado individuo cultuava, servia ou pertencia a
alguém.

Tendo entendido essa primeira parte, agora podemos citar alguns


versículos muito importantes para nossa compreensão que estão no capítulo
14 do Apocalipse:

E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém


adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou
na sua mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, que se
deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com
fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E a
fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm
repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua

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imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome (Apocalipse


14:9-11).

De forma semelhante a referência citada acima, no capítulo 20 e


versículo 4, João viu que os que morreram pelo testemunho de Cristo e pela
Palavra de Deus foram aqueles que "não adoraram a besta, nem a sua
imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos ". Assim,
de acordo com os capítulos 13, 14 e 20, receber a marca da besta significa
claramente pertencer à besta e adorá-la.

Outro ponto fundamental para entendermos essa passagem é o fato


de João utilizar frequentemente o Antigo Testamento na construção de seus
textos no Apocalipse. Logo, temos inúmeras referências dentro do Apocalipse
que estão baseadas em passagens do Antigo Testamento.

Uma coisa fundamental para se ter em mente é que a Bíblia interpreta


a própria Bíblia, ou seja, devemos comparar Bíblia com Bíblia, buscando nela
mesma as informações necessárias que nos auxiliam na compreensão de
algum texto considerado difícil.

Antes de procurarmos um vídeo conspiratório, ou um texto de quase


ficção, devemos levar em conta esse princípio básico de interpretação bíblica.
Daí, podemos nos perguntar: O que João quis dizer com ser marcado na
fronte e na mão? Será que ele usou o Antigo Testamento nessa expressão?

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois,


o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno,
estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e
levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão
por frontais entre os teus olhos (Deuteronômio 6:4-8).

Com o auxílio do texto acima, podemos perceber que a ideia de um


povo marcado na fronte ou na mão tem origem no livro de Deuteronômio.

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Também percebemos que a expressão "atarás por sinal na tua mão, e te serão
por frontais entre os teus olhos" tem um sentido figurado.

Ninguém iria atar literalmente os mandamentos de Deus na mão, ou


pendurá-los na testa entre os olhos. Se fossemos entender de forma literal
essa expressão, também precisaríamos considerar como literal a expressão
"estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração ". Creio que
ninguém iria considerar a possibilidade de uma cirurgia para que tal ordem
fosse cumprida. A mensagem nesse texto é clara: todos os nossos
pensamentos, vontades e ações devem ser guiados pelos mandamentos de
Deus.

Outro texto interessante que também pode ter sido utilizado por João
ao escrever o Apocalipse está no livro do profeta Ezequiel, onde um sinal na
testa foi usado no sentido de preservação:

E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de


Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que
suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se
cometem no meio dela (Ezequiel 9:4).

Voltando ao Apocalipse, e com o auxílio do que aprendemos no


Antigo Testamento, podemos facilmente compreender que a "mão direita"
usada por João, refere-se às obras e as ações de uma pessoa, em todos os
âmbitos de sua vida. Já a "fronte" simboliza a mente, isto é, a vida em termos
de pensamento e filosofia.

Portando, receber a marca da besta na fronte e na mão direita,


significa que uma pessoa pertence ao grupo contrário a Cristo e seus
seguidores, de modo que em tudo o que ela pensa, diz, escreve ou faz, reflete
o espírito anticristão que a governa, deixando evidente que, de uma forma ou
de outra, suas ações ou filosofias perseguem a Igreja de Cristo.

Isso se aplica as mais diversas situações, desde o perseguidor que


tortura e mata um cristão em alguma parte do mundo, até uma pessoa comum

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de uma grande cidade que apoia uma lei contrária aos mandamentos de
Deus. Ambos possuem a marca da besta, e adoram a sua imagem.

Outra coisa interessante é que no livro do Apocalipse outro povo


também é marcado:

Dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até


que hajamos selado nas suas testas os servos do nosso Deus
(Apocalipse 7:3).

E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele
cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o
nome de seu Pai (Apocalipse 14:1).

Isso nos mostra que a marca da besta é um tipo de imitação


fraudulenta que Satanás usa para imitar o selo do nome de Deus que os
santos recebem. Na verdade os santos recebem muito mais do que uma
marca, eles recebem um selo.

Esse selo indica que alguém pertence a Cristo, guarda sua Palavra,
dirige suas ações de acordo com seus mandamentos e seus pensamentos
evidenciam a mente de Cristo (1Co 2:16). Por outro lado, quem não possui o
selo de Deus possui a marca da besta.

Isso significa que o ímpio que persiste em iniquidades, e se satisfaz


em sua vida de pecado, pertence a besta e adora a Satanás. Essa marca está
presente nos homens em todas as épocas. Todos aqueles que não tiveram
seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro, desde a fundação do
mundo, são portadores dessa marca (Ap 13:8; 17:8).

Nos dias de João, os cristãos estavam sendo oprimidos violentamente


por Roma. Eles tinham seus bens confiscados, eram perseguidos, torturados e
brutalmente condenados à morte. O imperador Domiciano havia se
autoproclamado deus, e exigia adoração de todos os habitantes do império.
Qualquer um que se negasse a cumprir as ordens de Domiciano, não

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prestando-lhe culto, era delatado até mesmo por próprios parentes e, dentre
outras coisas, eram impedidos de exercer qualquer ofício e realizar atividades
econômicas.

Na cultura da época, o politeísmo era algo comum, portanto, os


pagãos não tiveram dificuldades em adorar um deus a mais. Entretanto, os
verdadeiros cristãos não aceitaram essa condição, pois aceitá-la seria negar a
fé em Cristo. Diante disso, o que poderia se esperar do conflito entre um
grupo de cristãos, em sua maioria formada por camponeses e pessoas
simples, contra o maior império do mundo? Aos olhos humanos, aqueles dias
pareciam indicar o fim da Igreja.

É diante desse pano de fundo que o livro do Apocalipse foi escrito. Foi
uma resposta de Cristo à sua Igreja, demonstrando que Ele estava atento ao
que estava acontecendo. Então, os verdadeiros cristãos foram convidados a
perseverar, não aceitar a marca da besta e não adorar a Satanás. Por conta
disso, muitos morreram, mas ficaram firmes na certeza de que reinariam com
Cristo eternamente (Ap 20:4).

O livro do Apocalipse nos adverte que possuir o selo de Deus é ter a


vida eterna, enquanto possuir a marca da besta é perecer eternamente (Ap
14:11; 20:4). Até mesmo em nossos dias, quantos irmãos não perdem
empregos, passam necessidades e são impedidos de realizarem um negócio
justo economicamente por permanecerem fieis aos seus princípios bíblicos?
Por não possuírem a marca da corrupção desse mundo, imposta por Satanás,
eles são duramente prejudicados.

As palavras do Apocalipse são tão atuais para nós hoje, como foi para
os cristãos do primeiro século. A marca da besta atravessa os anos, e pode
ser vista nitidamente em qualquer lugar ou momento histórico, a qual a besta
recruta seus súditos a uma oposição a Deus e rejeição a Cristo.

Tudo isso também prefigura um período ainda vindouro, o período


final da presente era, onde o Anticristo escatológico se manifestará, e

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perseguirá terrivelmente a Igreja de Cristo. Não sabemos quando isso


ocorrerá, mas quando ocorrer, independente da época, a mensagem será a
mesma: "Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida". "Aqui está a
perseverança e a fé dos santos" (Ap 2:10; 13:10b).

O QUE SIGNIFICA O NÚMERO 666?


Como já dissemos, o texto de João, da mesma forma que abrange
toda a dispensação da Igreja mostrando o poder perseguidor de Satanás
contra seguidores de Cristo ao longo do tempo, também possui uma
aplicação primária para os cristãos do primeiro século, os quais foram os
destinatários do livro. Estes irmãos não tiveram dificuldade alguma em
entender o significado do número 666.

Vimos a aplicação direta que a marca da besta implicava para


aqueles cristãos, e também devemos sustentar o mesmo sentido quanto ao
significado do número 666. Nos tempos antigos, as letras do alfabeto também
serviam como numerais, além de símbolos fonéticos. Um exemplo mais claro
disso são os algarismos romanos, onde as letras possuem valor numérico,
como por exemplo, o "X" que equivale ao número "10".

No grego e hebraico a mesma coisa acontecia. Devido a esse duplo


uso das letras, era comum o emprego de números escondendo nomes em
enigmas. Essa técnica era chamada pelos gregos de "isopsephia", pelos
judeus de "gimatriya", e em nossos dias ela é conhecida como "criptograma".

Ao longo dos anos, vários nomes foram sugeridos na tentativa de


decifrar o número "666". A tarefa é bastante complexa, pois é necessário
pegar um determinado nome em grego, transliterar para o hebraico, para só
então aplicar o valor numérico das letras e chegar à somatória.

Nomes como o de Nero César, Tito Flávio Domiciano (o imperador da


época), dentre outros, são as principais sugestões. Entretanto, nenhuma das
possibilidades se mostrou definitivamente eficaz na solução do problema.
Certamente, seja qual for a interpretação primária desse número, isso ficou

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apenas entre aqueles cristãos, se perdendo rapidamente, pois os pais da


Igreja que viveram cerca de 100 anos depois que o livro do Apocalipse foi
escrito, também não sabiam o significado exato.

O que podemos concluir é que Deus não permitiu que ficasse clara
para nós a identidade exata do homem que, naqueles dias, foi chamado por
João pelo número 666.

Muitos intérpretes aplicam de forma interessante um raciocínio que


considera a importância simbólica dos números no Apocalipse. Nessa
aplicação, se observa que o número seis na Bíblia é o número do homem, ou
seja, enquanto o sete é o número da perfeição, o número seis é o número
imperfeito e incompleto. Logo, quando se tem a repetição 666 é uma
referência de que o "seis" não é "sete", e jamais será. Seria algo como se o
número da besta fosse falha, sobre falha sobre falha.

De tudo isso, podemos dizer que a mensagem mais importante é que


o número da besta é número de homem, e fatalmente está condenado ao
fracasso (Ap 13:18).

O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE A MARCA DA BESTA?


Nós vimos que existem várias interpretações diferentes sobre o
assunto. Vimos também a necessidade de se considerar a própria Bíblia para
nos auxiliar na compreensão do tema, bem como o contexto histórico para
entendermos as características do momento em que o texto foi escrito.

O que fica claro é que não podemos isolar os textos do Apocalipse e


aplicá-los apenas a um momento específico no futuro, pois fazendo isso,
estaremos diminuindo a significância e a aplicabilidade das verdades
presentes na Palavra de Deus. O Apocalipse foi tão atual para os irmãos do
primeiro século, como é para nós hoje, e, mesmo tendo um significado prático
e específico para eles, a mensagem necessariamente é a mesma.

O fato de a marca da besta definitivamente não ser um chip, um


carimbo, um cartão ou qualquer outra coisa, não significa que o Anticristo

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escatológico não usará recursos tecnológicos como ferramentas para


perseguir a Igreja. Ele possivelmente utilizará tudo o que tiver ao seu alcance
para fazer com que todos os homens da terra o adorarem. Portanto, utilizar a
tecnologia será apenas uma de suas facetas. O que não podemos, é restringir
o significado de uma mensagem tão ampla e importante, apenas a um período
específico da História.

A pergunta é simples: Qual a importância para aqueles irmãos das


sete igrejas da Ásia Menor que estavam sendo perseguidos, presos e mortos,
receber uma carta falando sobre chips, códigos e cartões utilizados no século
21? A resposta também é simples: Nenhuma!

Se esse fosse o real significado das mensagens do Apocalipse,


aqueles irmãos teriam ficado decepcionados. Eles estavam sendo
perseguidos, presos e assassinados, e precisavam de uma resposta de Deus
sobre aquela situação, e não sobre o avanço tecnológico de dois mil anos
depois.

Para nós, sem sombra de dúvida a mensagem também é muita clara.


Viver em santidade, mesmo que isso custe a nossa própria vida, significa não
receber a marca da besta. Satanás está marcando as pessoas, imprimindo
nelas o padrão deste mundo, as práticas que afrontam aos mandamentos de
Deus.

O resultado é que todos estão vivendo de forma tranquila e satisfeita,


maravilhados com tudo o que o presente século os oferece. Eles estão
adorando a imagem da besta e dedicando seus pensamentos e ações às
causas dela. Esse é um alerta sério e urgente para todos nós: temos o selo de
Deus em nossas vidas, não podemos ser iguais ao mundo, não podemos ser
confundidos com os adoradores da besta.

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis


os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional; e não vos conformeis com este

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mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para


que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus
(Romanos 12:1,2).

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O ANTICRISTO SEGUNDO A
BÍBLIA
O Anticristo sempre foi tema de muitas especulações, não apenas nos
nossos dias, mas até mesmo nos primeiros séculos depois de Cristo. Mais
recentemente ele também já foi tema de filmes e livros. Mas afinal, o que
realmente a Bíblia diz sobre o Anticristo? Neste capítulo veremos alguns
pontos fundamentais que a Bíblia nos esclarece sobre essa figura tão
especulada.

Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, a Bíblia


descreve alguns aspectos do Anticristo. Antes de analisarmos algumas
dessas referências, mais uma vez chamo a atenção para a ocorrência de
profecias de múltipla aplicação, que são muito comuns nos textos bíblicos que
falam sobre o Anticristo.

Algumas profecias do livro de Daniel são exemplos desse tipo de


padrão, onde o próprio Jesus citou tais profecias em seu sermão escatológico
(Mt 24; Mc 13; Lc 21), deixando muito claro a aplicação futura de profecias
que, até então, os judeus acreditavam já terem se cumprido completamente.

Muitas pessoas também tentam estabelecer falsas previsões acerca


da identidade do Anticristo e sobre a região do mundo onde ele surgirá, além
de outras coisas mais. Porém, a Bíblia não nos permite fazer nenhum tipo de
especulação nesse sentido, mas podemos ter a certeza de que tudo o que
precisaríamos saber sobre ele nos foi revelado na Palavra de Deus.

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA "ANTICRISTO"?


O termo "Anticristo" significa "contra Cristo", "rival de Cristo" ou "no
lugar/substituto de Cristo". Logo, pode ser considerado um tipo de anticristo
qualquer um que se opõe a Cristo ou supõe estar em seu lugar.

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O ANTICRISTO NO LIVRO DE DANIEL


O Profeta Daniel teve uma visão descrita no capítulo 7 de seu livro,
onde ele vê quatro animais que subiam do mar (leão, urso, leopardo e outro
terrível e indescritível), que representam quatro reinos (Dn 7:1-18). A visão
prossegue e nos versículos seguintes Daniel fala sobre um pequeno chifre
que surge entre os dez chifres do quarto animal, e nesse pequeno chifre havia
olhos como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas (Dn 7:8).

A partir do versículo 20, temos uma descrição detalhada desse chifre


condizente com a atuação do Anticristo:

Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e


prevaleceu contra eles. Até que veio o ancião de dias, e fez justiça
aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos
possuíram o reino. Disse assim: O quarto animal será o quarto reino
na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a
terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto aos dez
chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles
se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a
três reis. E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os
santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles
serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade
de um tempo (Daniel 7:21-25).

É possível que essa profecia tenha múltiplo cumprimento, porém a


maioria dos estudiosos concorda que esse pequeno chifre simboliza o
aparecimento do Anticristo, sendo então, a primeira referência escriturística a
este personagem escatológico.

Também em Daniel 9:27; 11:31 e 12:11, em passagens onde


claramente é aplicado o principio da profecia de múltipla referência, é
provavelmente a pessoa do Anticristo que também está sendo citada, onde
sua atuação no período final da presente era foi prefigurada pela atuação do

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rei da dinastia Selêucida Antíoco IV Epifânio por volta de 167 a.C., e depois,
no cerco de Jerusalém em 70 d.C, pelo Império Romano.

O ANTICRISTO NO SERMÃO ESCATOLÓGICO DE JESUS


Já falamos aqui sobre as referências de Jesus sobre Anticristo em seu
sermão escatológico. Como anteriormente usamos o texto de Marcos 13,
agora vamos aproveitar para usar o texto de Mateus 24. Nele, vemos que
Jesus primeiramente aplica ao imperador Tito que destruiu Jerusalém e o
Templo no ano 70 d.C a figura de um tipo de anticristo (vers. 15-20). Porém,
nos versículos seguintes (vers. 21-22), o pano de fundo da profecia de Jesus
deixa de ser apenas a destruição de Jerusalém, e passa também a se referir a
um período futuro, a qual haverá uma tribulação nunca vista.

Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o


princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se
aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria;
mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias
(Mateus 24:21,22).

Depois, no próprio Novo Testamento, somos advertidos que esse


momento será o período da manifestação do Anticristo escatológico.

O ANTICRISTO NAS EPÍSTOLAS DE JOÃO


Para o apóstolo João, o espírito do anticristo sempre esteve presente
em pessoas, sistemas e governos que se levantaram contra Cristo, ou seja,
são muitos anticristos que precedem o Anticristo final. Isso fica claro em seus
textos, onde ora ele usa o termo em um sentido impessoal e ora ele usa em
um sentido pessoal. Vejamos essas aplicações abaixo:

Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?


É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho (1 João 2:22).

Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa


que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que
não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas

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este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis


que já agora está no mundo (1 João 4:2,3).

Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não


confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador
e o anticristo (2 João 1:7).

O ANTICRISTO NAS EPÍSTOLAS DE PAULO


O apóstolo Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, faz uma
descrição detalhada sobre o momento em que o Anticristo se manifestará,
bem como suas principais características:

Ora, irmãos, rogamos-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus


Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais
facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por
espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se
o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos
engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e
se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se
opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora;
de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus,
querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos
dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o
detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o
mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até
que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o
Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo
esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de
Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com
todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não
receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus
lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para

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que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes


tiveram prazer na iniquidade (2 Tessalonicenses 2:1-12).

Note que Paulo mostra que o Anticristo surgirá em um período de


grande apostasia, será uma pessoa específica e adorado pelo mundo
incrédulo, fará falsos milagres, se manifestará em um momento determinado e,
por fim, será destruído por Cristo em sua segunda vinda.

O ANTICRISTO NO APOCALIPSE
O livro do Apocalipse descreve de forma clara a atuação do Anticristo
no capítulo 13:

E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que


tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez
diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia. E a
besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de
urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder,
e o seu trono, e grande poderio. E vi uma das suas cabeças como
ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se
maravilhou após a besta. E adoraram o dragão que deu à besta o
seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à
besta? Quem poderá batalhar contra ela? E foi-lhe dada uma boca,
para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para
agir por quarenta e dois meses. E abriu a sua boca em blasfêmias
contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e
dos que habitam no céu. E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos,
e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e
nação. E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses
cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça
(Apocalipse 13:1-9).

Nos capítulos anteriores nós já estudamos essa visão de João, mas


focando exclusivamente no Anticristo escatológico, vale aqui algumas

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repetições. Perceba a incrível semelhança entre esta visão em Apocalipse e a


visão do Profeta Daniel. Na verdade o que o Apóstolo João viu foi os quatro
animais da visão de Daniel de forma unificada. Essa besta sobe do mar. Mar
nas profecias bíblicas muitas vezes significa nações, povos, o sistema
geopolítico em sua agitação. Como exemplo disto, o profeta Isaías usou o mar
para descrever as nações incrédulas:

Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar,
e as suas águas lançam de si lama e lodo (Isaías 57:20).

O Anticristo, portanto, surgirá dessa política turbulenta. Ele surgirá no


meio do caos, do meio das águas que agitam as nações, e será adorado entre
os povos. Ele incorporará todo o poder e crueldade dos grandes impérios do
passado. Note que a besta que sobe do mar possuí várias cabeças, e
representa o poder perseguidor de Satanás incorporado em todos os
governos e impérios ao longo da História. No final, o que parecia estar morto
resurge em vida, e a terra toda fica maravilhada. Essa besta toma diferentes
formas, e, no fim, ela se manifestará na pessoa do homem da iniquidade que
Paulo descreveu, o Anticristo escatológico.

QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO ANTICRISTO?


Tomando por base o capítulo 13 do Apocalipse, as principais
características sobre do Anticristo são:

1. Ele surgirá em um período de turbulência dentre as nações (vers. 1).


2. Ele será a incorporação do próprio mau (vers. 2 ).
3. Ele realizará grandes milagres (vers. 3).
4. Ele agirá e governará pelo poder de Satanás (vers. 2-4).
5. Ele será temido e reconhecido pelo mundo como alguém invencível
(vers. 4).
6. Ele será adorado (vers. 3-12).
7. Ele perseguirá a todos que se recusarem adorá-lo e fará oposição
direta a Deus e à Igreja de Cristo. Esse será o período final de terrível
tribulação descrito por Jesus (vers. 6-15).

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8. Ele será apoiado pela segunda besta, a besta que sobe da terra, o
falso profeta (vers. 11-18).
9. Ele tem um número, e seu número é 666. Como já vimos, esse é um
número de homem, o número da imperfeição, o número do fracasso.
Ele será a personificação da imperfeição, o oposto da perfeição de
Cristo.
10. Ele terá um poder limitado, um tempo determinado a qual foi lhe
permitido agir. Quando seu tempo acabar, ele será destruído por
Cristo e condenado eternamente ao lago de fogo (vers. 5; Ap 19:20).

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AS SETE TAÇAS DA IRA DE DEUS


As sete taças da ira de Deus, também chamadas de “sete flagelos”,
estão registradas nos capítulos 15 e 16 do livro do Apocalipse, em sua quinta
seção paralela e progressiva. Como não poderia ser diferente em se tratando
de escatologia, existe muita discussão sobre esse relato.

Dentre as diferentes correntes escatológicas, basicamente existem


três interpretações principais sobre esse assunto. A posição menos conhecida
é da que as sete taças se referem exclusivamente ao período específico da
época de João, anunciando o castigo e a queda do Império Romano. Essa
posição é defendida por muitos preteristas.

Já a posição mais conhecida entre os cristãos defende que as sete


taças se referem exclusivamente ao período final que antecede a segunda
vinda de Cristo em glória. Quem adota essa posição geralmente entende que
tudo isso ocorrerá de forma literal na grande tribulação, após um
arrebatamento secreto da Igreja. Como já vimos, de acordo com a visão pré-
tribulacionista a segunda vinda de Cristo seria uma segunda etapa do seu
retorno.

Essa posição é comum entre os cristãos que adotam o estilo de leitura


futurista do Apocalipse, e entendem que o conteúdo do livro segue uma
ordem cronologicamente sucessiva. É importante dizer que, para estes, a
sexta taça trata do livramento de Cristo ao povo de Israel e aos cristãos que
se converterão na grande tribulação, e a sétima taça se refere às pragas que
serão enviadas literalmente ao mundo inteiro nesse período.

Por último, há também a posição que entende que as sete taças se


referem ao período que compreende desde a primeira vinda de Cristo (sua
morte, ressurreição e ascensão ao céu) até a sua segunda vinda, de forma
que o juízo de Deus é revelado de maneira progressiva.

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Nessa posição, tanto é considerada a aplicação prática no contexto


histórico das sete igrejas da Ásia Menor quanto à aplicação para todas as
igrejas ao longo dos tempos, culminando, finalmente, numa descrição
detalhada acerca dos momentos finais da presente era, com a segunda vinda
de Cristo para livrar o seu povo (nesse caso a Igreja), a destruição das forças
do mal e o juízo final.

COMO ENTENDER AS SETE TAÇAS?


Das posições apresentadas acima, a última delas é a que se
apresenta mais coerente com a interpretação do livro do Apocalipse,
considerando sua estrutura, estilo, características e propósito.

Como já foi dito, os capítulos 15 e 16 formam a quinta seção paralela


do livro do Apocalipse, e conforme a história é recontada novos elementos e
detalhes são introduzidos, lançando luz sobre a profecia revelada ao apóstolo
João.

Nessa quinta seção será enfatizado o juízo de Deus sob a dureza do


coração do homem. Essa seção nos mostra o derramamento da ira de Deus
sobre os homens, e a triste realidade de que, mesmo diante do juízo divino, os
homens continuam endurecidos, rebeldes e blasfemos.

Essa visão registrada pelo apóstolo João nos mostra que ao longo da
História Deus sempre envia juízos parciais que avisam o iníquo sobre seu
pecado (as trombetas), mas quando esses avisos são desprezados, então
segue-se o derramamento conclusivo de sua ira (as taças). É uma ira sem
mistura, sem oportunidade para arrependimento, e que se torna completa no
dia do juízo.

João começa o capítulo 15 escrevendo sobre a cena inicial de um


culto (vers. 1-4), relembrando o culto ao redor do trono de Deus já
mencionado anteriormente nos capítulos 4 e 5 do Apocalipse. João mais uma
vez contempla o mar de vidro (Ap 4:6), porém dessa vez ele forneceu um
novo detalhe: esse mar é "mesclado de fogo" (Ap 15:2). O apóstolo também

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viu "os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome ".
Enquanto os ímpios estão nas turbulentas águas desse mundo, os vencedores
estão sob o mar de vidro, descansando na paz da transparência da justiça de
Deus que se revela como fogo para julgar o iníquo,

Esses vencedores estavam entoando cânticos numa grande adoração


a Deus (Ap 15:3,4). João faz referência ao cântico de Moisés e ao cântico do
Cordeiro. Esse cântico de Moisés é uma alusão ao cântico registrado no
capítulo 15 do livro do Êxodo, que fala sobre a libertação do povo de Israel do
Egito atravessando o Mar Vermelho. Já o cântico do Cordeiro é uma referência
à obra expiatória de Cristo na cruz, ou seja, seu sofrimento e sua vitória.

A mensagem aqui é que, tal como os israelitas no Egito, os santos são


libertados da opressão desse mundo iníquo que é castigado através das
pragas enviadas por Deus. Esses vencedores que João viu são todos os
salvos que morreram ao longo da História da Igreja, que foram fiéis e que
venceram a besta e a marca de seu nome, isto é, venceram as tentações,
perseguições e aflições desse mundo, e agora estão seguros na presença do
Cordeiro.

O cântico entoado pelos vencedores é muito importante para a


sequência da narrativa bíblica. Note a frase: "Justos e verdadeiros são os teus
caminhos" (Ap 15:3). Isso é como um aviso de que nada do que será
registrado por João será injusto. Os flagelos da ira de Deus mostrados a João
refletem a sua justiça, são verdadeiros e corretos.

O versículo 4 começa com uma pergunta muito interessante: "Quem


não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? " Em outras palavras, será
que existe alguém louco o bastante de mesmo diante de toda a grandeza de
Deus, diante do furor do seu juízo, não lhe render glória? Mais à frente o
capítulo 16 nos responderá.

João enfatiza que as taças portadas pelos sete anjos são os últimos
sete flagelos da cólera de Deus, ou seja, com o derramamento dessas taças

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consuma-se a ira de Deus sobre o mundo. Como em todo o livro do


Apocalipse, nessa seção também há um uso muito grande de referências à
textos do Antigo Testamento. Além do cântico de Moisés que já vimos, as
próprias taças se assemelham bastante com algumas pragas que castigaram
o Egito (Êx 7-11).

O mesmo podemos dizer da descrição da abertura do "Tabernáculo


do Testemunho" (Ap 15:5-8). Aqui há uma referência ao santuário que
continha a Arca da Aliança que guardava em seu interior o “Testemunho”, ou
seja, as Tábuas da Lei. Era o lugar da habitação de Deus com Seu povo (Êx
25:16-28).

A abertura do Tabernáculo nos mostra que a ira a ser revelada é a ira


do próprio Deus. O Santuário aqui é o céu, a morada de Deus. Os sete anjos
da visão saíram do Santuário, ou seja, procederam da presença de Deus.

Eles estão vestidos com vestes semelhantes aos sacerdotes. No


Antigo Testamento os sacerdotes eram uma espécie de intermediários entre
Deus e os homens. Isso significa que esses anjos são representantes da ira
do próprio Deus.

O Santuário então foi tomado de fumaça, e ninguém podia entrar nele


até que se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos (Ap 15:8). Isso também
nos faz lembrar de passagens do Antigo Testamento onde a glória de Deus
tomava o Tabernáculo/Templo, de modo que ninguém podia entrar (Êx
40:34,35; 1Rs 8:10,11).

Isso significa que no derramamento das taças não há mais


possibilidade de arrependimento, não há mais possibilidade de intercessão, a
ira de Deus está sendo manifestada e Ele não irá parar até que Seus
propósitos sejam alcançados. Aqui, o Santuário está bloqueado, ou seja, o
Deus irado tornou inacessível suas ternas misericórdias.

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A RELAÇÃO ENTRE AS SETE TAÇAS E AS SETE TROMBETAS


Entre os versículos 5 e 8 do capítulo 15, temos a preparação das sete
taças que serão derramadas. É interessante notar a profunda ligação que há
nessa narrativa com a descrição das sete trombetas nos capítulos 8 a 11 do
Apocalipse.

Mais uma vez é importante salientar a organização paralela e


progressiva do livro do Apocalipse. Com isso, devemos compreender que as
sete taças referem-se ao período de tempo que vai da primeira à segunda
vinda de Cristo.

As seções do Apocalipse ocorrem paralelamente, e não


sequencialmente. Por exemplo: as taças não sucedem cronologicamente as
trombetas, mas se encaixam, se completam, de modo que conforme vamos
avançando na narrativa do livro, percebemos que as cenas vão ficando cada
vez mais claras e completas. O juízo de Deus vai se revelando de um modo
paralelo e progressivo no livro do Apocalipse.

A diferença entre as trombetas e as taças, basicamente é que as


trombetas advertem os homens acerca do juízo de Deus, e as taças
consumam a sua cólera. As trombetas representam o juízo parcial, enquanto
as taças mostram o juízo total.

Para entender essa ideia de “juízo parcial” e “juízo total”, basta notar
que, apesar de serem paralelas, as seções são progressivas. Nas trombetas a
destruição atinge apenas um terço da terra, do mar, dos rios, do sol e dos
homens. Já nas taças a destruição atinge a totalidade, ou seja, os flagelos
destroem tudo.

Também é interessante notar a inversão que há entre as trombetas e


as taças. De sete trombetas, quatro se referem aos elementos naturais e três
aos homens. Nas taças, quatro se referem aos homens e apenas três aos
elementos naturais. Isso claramente mostra a intensificação do juízo de Deus
que está sendo revelado na profecia.

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Se com as trombetas há o juízo acompanhado do convite ao


arrependimento, com as taças não há mais oportunidade para se arrepender.
As sete taças mostram a ira de Deus sem mistura de misericórdia.

Tanto as taças como as trombetas terminam com uma cena do juízo


final. Nas trombetas temos a descrição da colheita do trigo e os ímpios sendo
esmagados no lagar da ira de Deus (Ap 14:14-20). Nas taças a descrição do
juízo é bem mais detalhada (Ap 16:15-21).

O DERRAMAMENTO DAS SETE TAÇAS


No capítulo 16 as taças são derramadas. Também é importante
lembrar que, seguindo a característica literária do Apocalipse, os sete flagelos
não devem ser interpretados literalmente, mas como uma referência simbólica
à situação dos ímpios diante do juízo de Deus.

Enquanto os santos estão adorando o Deus Todo-Poderoso, os ímpios


estão tomando do cálice de sua ira. Aqui vale dizer que a Igreja é alvo das
perseguições e tribulações promovidas pelo dragão e seus agentes, mas não
dos flagelos, ou seja, as taças não são derramadas sobre a Igreja (1Ts 5:9).
As sete taças são destinadas apenas aos homens que possuem a marca da
besta, os adoradores da sua imagem (Ap 16:2).

PRIMEIRA TAÇA
E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma
chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que
adoravam a sua imagem (Apocalipse 16:2).

A primeira taça é derramada sobre a terra, e os ímpios, os selados


pela besta, são castigados com úlceras malignas e perniciosas. Esses
homens atingidos não são apenas um grupo de pessoas no fim dos tempos,
mas são todos os incrédulos que serviram a besta durante toda esta
dispensação.

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Aqui, João está descrevendo a dor da aflição do homem sem Deus.


São castigados com úlceras malignas e perniciosas, ou seja, é algo terrível e
doloroso.

SEGUNDA TAÇA
E o segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em
sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente
(Apocalipse 16:3).

A segunda taça é derramada sobre o mar, e o mar se tornou em


sangue, e morreu todo o ser vivente que havia no mar. Se nas trombetas
apenas um terço do mar foi atingido, aqui o mar é atingido por completo. Essa
descrição é um símbolo do colapso da natureza diante do juízo de Deus.

TERCEIRA TAÇA
E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das
águas, e se tornaram em sangue. E ouvi o anjo das águas, que
dizia: Justo és tu, ó Senhor, que és, e que eras, e hás de ser,
porque julgaste estas coisas. Visto como derramaram o sangue dos
santos e dos profetas, também tu lhes deste o sangue a beber;
porque disto são merecedores. E ouvi outro do altar, que dizia: Na
verdade, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são
os teus juízos (Apocalipse 16:4-7).

Essa taça foi derramada nos rios e nas fontes das águas, e se
tornaram em sangue. É interessante que no derramamento dessa taça, o anjo
declara que os ímpios que derramaram o sangue de santos e profetas agora
são dignos de tomarem sangue. O anjo também ressalta que o julgamento de
Deus é justo.

Na abertura do quinto selo (Ap 6:9-11), temos os mártires que


morreram por causa de sua fé clamando por justiça da parte de Deus contra
aqueles que os mataram. Agora, no derramamento da terceira taça, a
vingança vem, a justiça de Deus alcança os seus algozes, a oração dos

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santos é respondida. Por isso que no versículo sete, João ouviu uma voz que
dizia: "Na verdade, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os
teus juízos".

QUARTA TAÇA
E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido
que abrasasse os homens com fogo. E os homens foram abrasados
com grandes calores, e blasfemaram o nome de Deus, que tem
poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para lhe darem
glória (Apocalipse 16:8,9).

A quarta taça é derramada sobre o sol, e os homens são queimados


com intenso calor. Se nas trombetas, quando o sol escureceu os homens não
se arrependeram, agora eles são castigados pelo intenso calor produzido pelo
sol. Talvez o escurecimento eles pudesse ignorar, mas o grande calor não há
como não sentir.

Mais uma vez vemos aqui o juízo de Deus se intensificando sobre o


mundo incrédulo. Porém, a segunda parte do versículo 9 nos mostra algo
terrível. Mesmo diante do juízo de Deus que está sendo derramado, mesmo
sendo castigado por sua perversidade o homem não se arrepende, e, ao
invés de dar glória ao Deus que tem autoridade sobre esses flagelos, ele
blasfema contra seu nome.

Você se lembra da pergunta feita no cântico registrado no capítulo 15?


"Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor?" Aqui está a
resposta. O homem é tão louco em sua perversidade que mesmo diante do
castigo blasfema contra o Deus Todo-Poderoso.

QUINTA TAÇA
E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu
reino se fez tenebroso; e eles mordiam as suas línguas de dor. E
por causa das suas dores, e por causa das suas chagas,

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blasfemaram do Deus do céu; e não se arrependeram das suas


obras (Apocalipse 16:10,11).

A quinta taça foi derramada no trono da besta, e os homens


remordiam a língua por causa da dor que sentiam. O trono da besta é o centro
do governo anticristão. Esses versículos nos fazem lembrar da oração do
Profeta Habacuque, quando ele se recordou do Êxodo e de como Deus livrou
seu povo do domínio de Faraó. Então Habacuque orou dizendo que quando o
Senhor sai para livrar o seu povo, Ele fere a "cabeça da casa do ímpio" (Hc
3:12-14).

Quando a sede do poder da besta é atacada, o sistema humano entra


em colapso e os homens incrédulos se desesperam, são tomados de
angústias e mordem a língua de tanta dor. Perceba a conexão entre os
flagelos. Aqui, no quito flagelo, os homens sentem a dor das úlceras do
primeiro flagelo.

Na quinta taça João até parece descrever a história da queda de cada


grande império que já existiu. O sistema humano, que governa sob a
influência dos poderes satânicos e, de certa forma, até parece invencível, cai
de forma patética quando o cálice da ira de Deus é derramado.

Entretanto, mais uma vez podemos ver que os seguidores da besta


blasfemam contra Deus, ao invés de se arrependerem de suas obras
malignas. Eles mordem a língua de dor, mas encontram forças para
declararem que são inimigos de Deus.

SEXTA TAÇA
E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a
sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do
oriente. E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do
falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs.
Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais
vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os

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congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-


Poderoso. Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que
vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se
vejam as suas vergonhas. E os congregaram no lugar que em
hebreu se chama Armagedom (Apocalipse 16:12-16).

A sexta taça descreve o Armagedom, o ajuntamento das forças


malignas para pelejarem contra o Cordeiro e sua Igreja. Aqui, mais uma vez
João parece ter em mente passagens do Antigo Testamento (Jz 4-5), de modo
que o Armagedom é o símbolo de toda batalha na qual o povo de Deus está
sendo oprimido frente ao grande poder do inimigo, e o próprio Deus, de
repente, revela seu poder e derrota os opressores de seu povo. No próximo
capítulo falaremos exclusivamente sobre isto.

O apóstolo João viu também três espíritos imundos sair da boca do


dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta. Esses espíritos eram
semelhantes a rãs, referindo-se a seu caráter repugnante, asqueroso e
abominável. Isso significa que os poderes desse mundo e a falsa religião
agem sob as ideias e a inspiração do maligno. São planos, projetos, métodos
e empreendimentos postos em ação contra a Igreja.

É claro que esse tipo de situação acontece em diferentes momentos


da história, mas aqui há uma referência ainda mais profunda e específica. A
sexta taça descreve o momento final de perseguição do dragão e seus
agentes contra a Igreja de Cristo. É o momento da batalha final, da grande
tribulação, dos dias que se não fossem abreviados a Igreja não suportaria (Mc
13:20).

Esse é o momento em que Cristo aparecerá, como um ladrão de noite,


para livrar o seu povo (Ap 16:15) e destruir o Anticristo com o sopro de sua
boca (2Ts 2:1-12).

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SÉTIMA TAÇA
E o sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e saiu grande voz do
templo do céu, do trono, dizendo: Está feito. E houve vozes, e
trovões, e relâmpagos, e houve um grande terremoto, como nunca
houve desde que há homens sobre a terra; tal foi este tão grande
terremoto. E a grande cidade fendeu-se em três partes, e as
cidades das nações caíram; e da grande babilônia se lembrou
Deus, para lhe dar o cálice do vinho da indignação da sua ira. E
toda a ilha fugiu; e os montes não se acharam. E sobre os homens
caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e
os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva;
porque a sua praga era mui grande (Apocalipse 16:17-21).

A sétima taça sucede naturalmente a sexta. Se a sexta taça refere-se,


principalmente, a segunda vinda de Cristo, a sétima taça é a descrição
detalhada da cena do juízo. É o momento de maior terror da História da
humanidade. É o momento do juízo final.

João ouviu uma voz saindo do santuário dizendo: "Feito está!" Essa era
a voz do próprio Deus anunciando que chegou o momento da exposição final
e completa de sua ira. O mundo então recebe a taça final do vinho do furor de
sua cólera (Ap 14:10).

João descreve a destruição do mundo, a grande Babilônia é


despedaçada, o império do Anticristo é destruído, todas as cidades e nações
são arruinadas, todas as ilhas fogem, os montes não são encontrados e
pedras desabam do céu.

Tudo isto representa o terror do dia do juízo de Deus para o iníquo. A


sétima taça é a conexão onde finda-se o tempo e a História e inicia-se a
eternidade, onde extinguem-se os céus e a terra, e surgem novos céus e nova
terra (2Pe 3:10-13).

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O QUE É A BATALHA DO
ARMAGEDOM?
No derramamento da sexta taça, conforme vimos no texto anterior,
Armagedom é o nome usado por João para se referir ao local de ajuntamento
para a batalha que ocorrerá no "Grande dia do Deus Todo-Poderoso" (Ap
16:14).

Claro que não faltam teorias fantasiosas sobre essa famosa batalha,
de modo que o termo “Armagedom” se tornou um tipo de designação geral
sobre o fim do mundo, sem necessariamente se referir ao texto do Apocalipse.
Devido a tamanha polêmica que cerca o tema, reservei este capítulo para
discutirmos um pouco melhor o assunto.

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA ARMAGEDOM?


Para entendermos o que é o Armagedom, primeiro precisamos
conhecer o significado desta palavra.

A interpretação mais antiga sobre esse termo, existente somente em


árabe, refere-se ao sentido de “lugar pisado” ou “lugar nivelado”. As
interpretações mais modernas sugerem: “montanha do Megido”, “vale do
Megido”, “cidade de Megido” e “monte da assembléia”.

Entre os estudiosos, o significado mais aceito para a palavra


Armagedom é “montanha de Megido”, derivado da junção entre o hebraico
har, “montanha”, e o grego Magedôn, “Megido”. O hebraico har aparece nos
livros do Antigo Testamento para se referir a “colina” e “região montanhosa”.

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE A BATALHA DO


ARMAGEDOM
Devido as diferentes correntes escatológicas, existem várias
interpretações diferentes sobre a batalha do Armagedom. Neste capítulo
consideraremos as principais delas.

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De modo geral, os pré-milenistas defendem que a batalha do


Armagedom será o evento que precederá imediatamente a volta de Cristo
para instituir na terra Seu reino messiânico e literal. Nessa batalha, o Anticristo
será derrotado, os ímpios serão destruídos e resultará também na prisão de
Satanás por mil anos.

Alguns pré-milenistas entendem que o nome “Armagedom” é apenas


uma referência simbólica acerca desse evento final, ou seja, não
necessariamente exigindo uma localização literal na terra de Israel. Outros,
por sua vez, defendem exatamente o contrário, isto é, o cenário será Israel,
embora a proporção da batalha seja mundial. Para estes, na ocasião Israel
estará cercado literalmente pelas forças comandadas pelo Anticristo.

Vale lembrar que dentro do Pré-Milenismo existem várias ramificações,


sendo o Pré-Milenismo Dispensacionalista o mais conhecido entre os cristãos.
Tais ramificações fazem com que haja diferentes interpretações entre os
próprios pré-milenistas.

Os pré-milenistas históricos defendem que esse aparecimento de


Cristo na batalha do Armagedom será a sua segunda vinda, ou seja, o
momento em que Jesus buscará a sua Igreja. Lembrando que os pré-
milenistas históricos defendem uma visão pós-tribulacionista do
arrebatamento, ou seja, defendem que a Igreja passará pela grande
tribulação.

Já os pré-milenistas dispensacionalistas defendem a visão pré-


tribulacionista, isto é, entendem que a segunda vinda de Cristo será dividida
em duas etapas. A primeira será para arrebatar secretamente a Igreja, e a
segunda etapa ocorrerá no final de um período de sete anos literais de
tribulação para livrar o povo de Israel e os crentes que serão convertidos
durante esse período.

Se a primeira etapa da volta de Cristo será secreta, a segunda etapa


será completamente visível. Então, nessa segunda etapa é que ocorrerá a

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batalha do Armagedom. Nesse caso, tal batalha será um confronto literal do


exército reunido pelo Anticristo contra o próprio Cristo.

Já os amilenistas e pós-milenistas, apesar de possuírem muitas


diferenças, em geral concordam que o Armagedom é uma referência
simbólica aos momentos que culminam na segunda vinda de Cristo para
buscar sua Igreja, destruir os agentes de Satanás, julgar todas as pessoas e
dar inicio ao estado eterno, com novo céu e nova terra. Muitos pós-milenistas,
pelo entendimento que possuem acerca do milênio, não seguem essa
interpretação.

COMO INTERPRETAR A BATALHA DO ARMAGEDOM?


Primeiro, precisamos sempre ter em mente que a escatologia é de fato
uma área difícil da teologia, e as diferentes correntes escatológicas são
defendidas por cristãos genuínos. Portanto, mais uma vez afirmo que é
preciso que haja respeito com quem adota uma posição diferente da que
defendemos.

Tenho repetido em todos os capítulos que a maneira mais coerente de


se interpretar o livro do Apocalipse é perceber que ele está organizado em
sete seções paralelas e progressivas, e o mesmo vale para este capítulo.

A passagem que menciona o Armagedom está registrada dentro da


quinta seção do livro do Apocalipse que compreende os capítulos 15 e 16 do
livro. No capítulo 15 temos a preparação para as sete taças. Já no capítulo 16
temos o derramamento das taças da ira de Deus. É nesse contexto que o
Armagedom é citado no sexto flagelo (ou sexta taça).

Lembrando que as taças representam o cálice da ira de Deus que vai


sendo esvaziado sobre o mundo incrédulo, resultando nas últimas pragas que
levam à segunda vinda de Cristo. Diferente das trombetas que possuem o
objetivo de advertir os homens, as taças consumam “a cólera de Deus” (Ap
15:1).

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Vimos que a palavra Armagedom faz referência à região de Megido.


No antigo Israel aquela região era muito importante, pois situava-se próximo a
uma importante rota de viagem e comércio. O caminho de Megido foi o
cenário de grandes batalhas (Jz 5:19; 2Cr 35:22).

Dando principal importância a referência do livro de Juízes (caps. 4 e


5), foi na região de Megido que ocorreu aquela famosa batal ha com a
participação de Débora, onde o povo de Deus era muito frágil perante o
exército inimigo. Na ocasião, o povo de Israel estava em grande sofrimento,
oprimido pelo exército do rei Jabim liderado por Sísera. Os israelitas não
podiam fazer absolutamente nada, a não ser se esconderem de medo (Jz
5:6). O exército inimigo era devastador.

Então Deus, através de Débora, avisou que entregaria o inimigo nas


mãos do povo de Israel (Jz 4:14). A batalha foi travada em Megido, porém,
quando tudo parecia perdido, sem solução, sem saída, Deus agiu de forma
direta e sobrenatural dando a vitória ao seu povo. O inimigo do povo de Deus
foi esmagado, de modo que foi o próprio Senhor quem os derrotou (Jz 5:20). É
exatamente sobre isso que o Armagedom se refere.

O Armagedom é mais do que um lugar, mais do que uma localização


geográfica, é na verdade um símbolo que se refere à batalha final, a triunfante
vitória de Cristo com todo esplendor e glória sobre todos os seus inimigos.

Quando tudo parecer perdido, com a Igreja sendo violentamente


perseguida, com as forças satânicas dominando todo este mundo de maneira
tenebrosa e com a apostasia operando de maneira generalizada levando os
homens ao limite da idolatria e da blasfêmia, então Cristo aparecerá como um
ladrão pegando o mundo perverso de surpresa e destruindo todos os seus
inimigos. Perceba que no versículo 15, do mesmo capítulo 16 do Apocalipse,
está registrado um aviso do próprio Senhor acerca desse momento:

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Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e


guarda as suas roupas, para que não ande despido, e não se
vejam as suas vergonhas (Apocalipse 16:15).

Satanás, diante da derrota iminente, incita os homens contra o próprio


Deus. O Armagedom é o momento da segunda vinda de Cristo. É o momento
em que Ele vem livrar a sua Igreja das terríveis perseguições promovidas pelo
dragão e seus agentes.

Pouco detalhe é dado sobre a batalha do Armagedom no capítulo 16


do Apocalipse. Entretanto, nas próximas seções paralelas encontramos mais
detalhes sobre essa batalha (caps. 19:19-21; 20:7-9). É importante perceber
que em tais referências não se tratam de três batalhas diferentes, mas de uma
única batalha, a batalha do Armagedom, o ataque final das forças satânicas à
Igreja de Cristo. No Armagedom ocorre a derrota final dos inimigos de Deus.

Embora a derrota de Satanás e seus agentes (a grande Babilônia, o


Anticristo, o falso profeta e os ímpios) seja descrita em relatos diferentes,
todos caem ao mesmo tempo, ou seja, na segunda vinda de Cristo. Lembre-
se que o Apocalipse conta a mesma história várias vezes de perspectivas
diferentes.

Não entenda a batalha do Armagedom como sendo um conflito em


que exércitos humanos medirão forças com o próprio Cristo e seu exército
celestial de forma literal. Infelizmente já escutei uma pregação em que o
pregador de forma “emocionada” criou uma fantasia acerca desse momento.

Segundo ele, todas as armas do mundo estarão apontadas para


Jesus, os tanques de guerra estarão disparando contra ele, os aviões caças
estarão soltando mísseis sobre sua cabeça, enquanto as mídias do mundo
inteiro estarão transmitindo ao vivo essa batalha. Por favor, não entenda
assim. Isso chega a ser um desrespeito com a seriedade da Palavra de Deus.

Entenda o Armagedom como o símbolo do limite em que chega a


rebelião do homem incrédulo contra Deus. Entenda o ajuntamento do

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Armagedom como uma descrição do tamanho da blasfêmia do homem para


com Deus, que mesmo diante do juízo divino, insiste, com toda sua loucura,
em afrontá-lo.

Entenda o Armagedom como uma referência a derrota definitiva dos


inimigos de Deus e de Sua Igreja, o momento em que as forças do mal serão
terminantemente esmagadas. Entenda o Armagedom como sendo o momento
em que os salvos são glorificados com Ele, e os ímpios são eternamente
condenados.

O Armagedom é o momento de lamento para a prostituta, e de imensa


alegria para a Noiva. No Armagedom a grande Babilônia cai, e a Nova
Jerusalém se levanta esplendorosamente preparada e ataviada para o Noivo.

Note que no versículo 17 do capítulo 16 é derramado o sétimo flagelo.


Se o sexto flagelo, onde é citado o Armagedom, refere-se à segunda vinda de
Cristo, o sétimo flagelo descreve o grande dia do juízo de Deus. Após o
Armagedom, após o sexto flagelo da ira de Deus, a sétima taça é derramada.
Como já dissemos, é nesse momento que termina a presente era e começa a
eternidade.

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A GRANDE BABILÔNIA DO
APOCALIPSE
Apocalipse 17 é mais um daqueles capítulos considerado por muitos
como o mais difícil de interpretar no livro do Apocalipse. É nesse capítulo que
temos a descrição da grande meretriz, também chamada de "a grande
Babilônia". Apesar de no próprio capítulo 17 haver uma interpretação sobre a
visão do apóstolo João, ainda assim é bem difícil entendê-la.

Isto ocorre porque Apocalipse 17 se assemelha muito com o estilo


literário do livro do profeta Daniel. A mistura da narrativa entre reis do
passado, presente e futuro na profecia, nos remete diretamente ao modelo do
livro do Antigo Testamento.

Como já falamos anteriormente sobre a besta que também aparece


nesse capítulo, agora estudaremos os capítulos 17 e 18 do livro do
Apocalipse, focando, principalmente, a figura da mulher descrita como a
grande meretriz, Babilônia.

BABILÔNIA: A MÃE DAS MERETRIZES


Apocalipse 17 descreve detalhadamente a figura dessa meretriz. Vale
ressaltar que a grande Babilônia é citada anteriormente no livro do Apocalipse
(caps. 14:8; 16:19). Entretanto, em tais citações ela é mencionada muito
brevemente, enfatizando apenas a predição de sua queda.

Logo, no capítulo 17 é onde encontramos as maiores informações


sobre ela. Já no capítulo 18 encontramos a narrativa detalhada de sua queda
anunciada no capítulo 17.

QUÉM É ESSA BABILÔNIA?


Sabemos que existem diferentes correntes escatológicas, e dentro
delas há várias interpretações acerca de quem é a grande meretriz do livro do

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Apocalipse. Citá-las todas aqui certamente tornaria este texto extremamente


cansativo e confuso.

Entretanto, antes de partir para a exposição do texto bíblico, penso ser


importante citar uma interpretação muito popular sobre este tema. Alguns
defendem que essa meretriz (a grande Babilônia) representa exclusivamente
um império futuro que se levantará no fim dos tempos. Será a confederação
da Besta, ou seja, o sistema político e religioso do Anticristo que dominará o
mundo. Logo, o uso do nome “Babilônia” é apenas simbólico para se referir a
esse governo futuro.

Ainda dentro dessa interpretação, há quem defenda que a cidade da


Babilônia será literalmente reconstruída. Quem pensa dessa maneira entende
que algumas profecias do Antigo Testamento apontam para a reconstrução
futura e literal dessa cidade.

Geralmente os adeptos da interpretação acima adotam um estilo de


leitura futurista como método de interpretação do livro do Apocalipse, mais
comum na linha pré-tribulacionista. Entretanto, há muitos pré -tribulacionistas
que adotam uma visão completamente diferente desta.

O próprio capítulo 17 nos responde quem é essa meretriz. A resposta


está no versículo 18, onde nos é dito que a mulher "é a grande cidade que
reina sobre os reis da terra" , ou seja, a Babilônia.

Agora, nossa pergunta passa a ser especificamente a seguinte: Quem


é essa grande cidade chamada Babilônia no livro do Apocalipse?

Para responder tal pergunta precisamos mais uma vez recorrer ao


entendimento acerca da organização do livro e o estilo literário empregado
pelo apóstolo João em sua composição. Apocalipse 17 inicia uma nova
divisão paralela do livro do Apocalipse, ou seja, o apóstolo João irá registrar
pela sexta vez a mesma história, porém por um ângulo diferente.

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Entre os capítulos 12 e 14 na quarta seção paralela, João já havia


registrado os inimigos de Cristo e de sua Igreja: o dragão e seus aliados.
Satanás, descrito na figura de um dragão, sofreu uma derrota esmagadora na
morte, ressurreição e ascensão de Cristo ao céu.

Expulso do céu e lançado a terra, o dragão recruta três aliados: a


besta que sobe do mar, a besta que sobe da terra e a grande Babilônia.
Juntamente com os homens que possuem a marca da besta, o dragão e seus
aliados desempenham uma perseguição implacável contra a Igreja de Cristo.

Entretanto, por mais terrível que esse cenário pareça ser, o livro do
Apocalipse mostra que a Igreja é mais que vencedora, pois Cristo vence, e
nós vencemos com Ele. É justamente a partir do capítulo 17 que João
descreve a queda desses inimigos da Igreja, os aliados do dragão.

Comparando com a ordem com que foram apresentados nos capítulos


12, 13 e 14, agora o livro do Apocalipse nos mostra a queda desses inimigos
exatamente de forma inversa, ou decrescente. Aqui é importante ressaltar
que, apesar da descrição da queda desses inimigos ser registra em relatos
diferentes, todos eles caem juntos, ao mesmo tempo, na gloriosa vinda de
Cristo.

Em Apocalipse 17 encontramos a história da grande Babilônia, e no


capítulo 18 encontramos a descrição e a lamentação de sua queda completa.
Essa sexta sessão paralela continua no capítulo 19, onde vemos Cristo
derrotando definitivamente todos os seus inimigos em sua segunda vinda.

O capítulo 17 do livro do Apocalipse pode ser subdividido em três


partes: na primeira há uma descrição da grande meretriz, a Babilônia. Na
segunda parte encontramos a descrição da besta. E, por fim, a terceira parte
já nos mostra vitória de Cristo e de sua Igreja, juntamente com a interpretação
das figuras citadas durante o capítulo.

O livro do Apocalipse é um livro de contrastes. Nele, vemos Satanás, o


dragão, tentar de todas as formas imitar a Cristo. Em Apocalipse 17, na

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descrição da grande Babilônia, podemos ver mais uma vez essa


característica. No livro do Apocalipse a Igreja é descrita como uma mulher,
uma virgem, santa, digna e adornada para seu esposo. Perceba o nítido
contraste entre a Noiva do Cordeiro (Ap 12; 21:9) e a meretriz descrita nesse
capítulo.

A Noiva do Cordeiro também é uma cidade, a Cidade Santa, a Nova


Jerusalém. A prostituta igualmente é descrita como uma cidade, a mãe de
toda prostituição, a grande Babilônia. Uma é a cidade de Deus, a outra a
cidade do mundo. Enquanto a Noiva é a Igreja verdadeira, a meretriz é a falsa
Igreja que se revela na busca humana pelo prazer e a autorrealização.
Respondendo a pergunta sobre quem é essa meretriz, certamente podemos
dizer que ela é mais do que uma simples cidade.

Na verdade, ela possui muitos significados que podem ser


sintetizados em uma única, profunda e terrível verdade: a grande Babilônia é a
revelação de toda concupiscência humana, da busca do homem pelo prazer;
é a sedução do mundo. Babilônia é tudo o que demonstra o mais terrível
estado depravado e corrupto da humanidade, a apostasia escancarada, a
inimizade contra Deus.

A grande Babilônia é a descrição perfeita e detalhada do mundo à


parte de Cristo, que concentra toda sua força na busca por riqueza, luxuria e
autorrealização. A grande Babilônia possui duas funções muito claras: tentar
desviar a Igreja da santidade e manter os ímpios na incredulidade.

A meretriz é um poderoso sistema mundano a serviço de Satanás. A


Babilônia seduz a humanidade a prestar culto ao sistema satânico, a se
submeter ao dragão e adorar a besta.

A DESCRIÇÃO DA GRANDE BABILÔNIA


O Apóstolo João descreve essa mulher da seguinte forma:

1. Ela é uma prostituta (vers. 1, 5): como já dissemos, isso mostra todo o
contraste entre ela e a Noiva do Cordeiro.

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2. Ela está assentada sobre muitas águas (vers. 1): isso significa que ela
possui influência mundial. Ela está assentada sobre toda a
humanidade. O próprio versículo 15 do mesmo capítulo nos esclarece
isso ao dizer que as águas onde se assenta a prostituta "são os povos,
e multidões, e nações, e línguas". A grande Babilônia é um sistema de
proporções mundiais que demonstra uma cultura contra Deus.
3. Os reis da terra fornicaram com ela, bem como os habitantes da terra
que se embriagaram com o vinho de sua fornicação (vers. 2): os reis
da terra são os governantes deste mundo, que, juntamente com os
habitantes da terra, buscam de forma desenfreada esse prazer que é
sinônimo de prostituição. Eles se embriagam no vinho de devassidão
da meretriz. O termo grego traduzido por “devassidão” é porneia. Este
termo pode ser aplicado de maneira bem ampla, e significa
literalmente “prostituição”.
4. A grande meretriz aparece sentada sobre a besta que tinha sete
cabeças e dez chifres (vers. 3): esse animal que aparece no versículo
3 é a primeira besta mencionada no capítulo 13, a besta que subiu do
mar. Essa besta representa os governos mundiais de maneira geral,
ou seja, todo o poder econômico, político e militar. Isso nos mostra a
sincronia que há entre a besta e a prostituta, de forma com que a
busca pelo prazer é a motivação para todas as outras ações malignas
neste mundo. Juntas, a besta e a prostituta são instrumentos nas mãos
de Satanás.
5. Ela estava vestida de púrpura e escarlata, adornada de ouro, pedras
preciosas e pérolas (vers. 4): o tipo de roupa descrito por João se
refere a trajes finíssimos, caros, usualmente utilizados por senadores e
a elite da Roma da época. As pedras preciosas demonstram toda
riqueza e luxo ostentado por essa mulher. É uma descrição completa
do mundo ímpio, que vive em função de suas conquistas, riquezas,
poder e glória.

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6. Ela segurava um cálice de ouro, repleto de coisas repugnantes e da


impureza da sua prostituição (vers. 4): o cálice de ouro compõe
perfeitamente a descrição dessa mulher. Ela está vestida
glamourosamente, ostentando riquezas e luxo, e possui um cálice de
ouro em sua mão. O cálice de ouro transmite a ideia de algo desejado,
cobiçado pelo homem. Os cálices de ouro eram utilizados geralmente
para servir o melhor vinho. Mas no caso dessa mulher é diferente. O
cálice é de ouro, mas seu interior contém apenas abominações e
devassidão. Esse cálice está transbordando com a impureza de sua
prostituição. Aqui podemos perceber que todo esse modo de vida
prazeroso que o mundo oferece aos homens, é na verdade mundano
e depravado, é um modo de vida que afronta a Deus.
7. Tinha em sua testa a seguinte inscrição: “Mistério, a grande Babilônia,
a mãe das prostituições e abominações da terra” (vers. 5): no
versículo 5 João registra o nome dessa mulher. Ele escreve que esse
nome estava em sua testa. Essa descrição combina com um costume
da época em que as prostitutas do Império Romano usavam um tipo
de pequena faixa ao redor da cabeça que continha seu nome, num
tipo de exibição de sua própria desonra. O nome dessa meretriz é
Babilônia. Essa Babilônia não é literalmente a cidade histórica, nem
qualquer outra cidade especifica do mundo, muito menos uma futura
cidade que será reconstruída. Esse nome é uma referência direta a
tudo o que a Babilônia simboliza, desde sua fundação, ainda com
Ninrode na edificação primitiva dessa cidade, até seu posto de maior
império do mundo nos dias de Nabucodonosor. Babilônia, ainda como
Babel, foi edificada puramente nas bases do pecado. A própria Torre
de Babel era um símbolo direto da loucura do homem contra Deus. O
propósito da torre era eternizar o nome dos habitantes de Babel, e,
segundo o historiador judeu Flávio Josefo, caso ocorresse novamente
um dilúvio, eles poderiam subir pela torre até o céu e se vingar do
próprio Deus. Depois de Babel, Babilônia ressurge poderosa

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novamente na narrativa bíblica com Nabucodonosor exilando o povo


judeu. Logo, Babilônia representa na Bíblia tudo aquilo que é mais
perverso. Ela é o berço do paganismo, da falsa religião, da
prostituição, da busca pelo prazer e da perseguição ao povo de Deus.
Nos dias de João, essa mulher, a Babilônia, claramente podia ser vista
na cidade de Roma, uma cidade que era conhecida naquele tempo
como a cidade dos prazeres. Roma era a fonte de todo tipo de
idolatria, de modo que os cristãos verdadeiros eram chamados até
mesmo de ateus por não adorarem os muitos deuses do paganismo
romano. Eles também eram acusados de serem antissociais, pois não
participavam da vida social ofertada por aquele sistema (1Pe 2:12;
4:3,4). As influências mundanas dessa cidade corrompida estavam
entrando até mesmo dentro das comunidades cristãs, onde alguns
membros cediam às pressões e acabavam aceitando a idolatria e a
imoralidade (Ap 2:12,20; 1Co 6:12-20). Aquela Roma não existe mais,
porém hoje, onde quer que esteja a busca humana pelo prazer, seja
por vícios, pela prostituição, luxuria e ganância ali estará a Babilônia.
8. Ela estava embriagada do sangue dos santos, e das testemunhas de
Jesus (vers. 6): Que detalhe terrível é revelado no versículo 6. O
próprio Apóstolo João ficou espantado com essa visão. Imagine você
a cena que João estava vendo: uma mulher vestida sensualmente,
com vestes finas e adornada por pedras preciosas, com uma
identificação de prostituta em sua testa, montada em uma besta,
segurando um cálice de ouro transbordando abominações e, por
último, embriagada do sangue dos santos e das testemunhas de
Jesus. Ao mesmo tempo em que Babilônia oferece prazer aos
homens, ela também derrama o sangue dos seguidores de Cristo. Isso
significa que a busca pelo prazer humano sempre resulta em
perseguição à Igreja, pois a Igreja verdadeira sempre irá se opor ao
estilo de vida mundano e corrompido. Nessa descrição de João
podemos identificar mais uma vez uma referência direta a cidade de

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Roma daqueles dias, onde os cristãos eram perseguidos e cruelmente


mortos, servindo até como diversão para os poderosos do império.
Como já dissemos, Roma era a cidade do prazer que se embriagava
com o sangue dos mártires.

Resumindo, a grande Babilônia representa todo o sistema mundano


que se opõe a Igreja de Cristo, é a falsa igreja que conduz ao prazer, é o
mundo como o centro de sedução maligno, é a meretriz que sempre será o
oposto da Noiva.

Essa Babilônia nos dias de João estava personificada na figura da


capital do império, Roma. Essa Roma dos dias de João não existe mais, mas
Babilônia está presente em qualquer momento da História. Onde houver a
busca pelo prazer a qualquer custo, onde houver a perseguição aos servos
de Deus, onde houver o sangue dos mártires sendo derramado, ali estará a
meretriz com sua sedução, ali estará a Babilônia com seu cálice de
devassidão.

O texto continua com o anjo dando detalhes a João sobre a besta em


que a mulher está montada, porém já falamos sobre ela em um capítulo
anterior.

No versículo 14, vemos como esse sistema maligno juntará forças


para guerrear contra o Cordeiro, mas serão definitivamente derrotados, pois o
Cordeiro os vencerá, e vencerão com Ele os seus eleitos. Aqui o anjo informa
a João que a vitória de Cristo e de sua Igreja já está decretada.

A QUEDA DA GRANDE BABILÔNIA


No versículo 16 do capítulo 17, o anjo diz a João algo muito curioso,
algo intrigante. Ele começa a informar a queda da Babilônia, a destruição da
meretriz. O que é curioso é o modo como isso acontece.

O anjo diz que a besta, juntamente com seus governantes, odiarão a


prostituta. Eles a despiram, comerão a sua carne e a destruirão com fogo.

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Aqui vemos que os inimigos de Cristo e da Igreja destroem uns aos outros
para cumprir os propósitos soberanos de Deus (Ap 17:17).

Alguns teólogos apresentam uma aplicação primaria para essa


passagem no contexto histórico daquela época, onde os poderes predatórios
e ações do Império Romano acabaram destruindo, em última instância, a
própria cidade de Roma.

Mas aqui também claramente vemos uma profundidade maior nessa


visão. A descrição dessa cena nos mostra que a busca pelo prazer, a
sedução do mundo é autodestrutiva. No final, o homem fica desiludido com os
seus próprios prazeres, pois os prazeres do mundo são passageiros.

Os homens se frustram quando percebem que tudo o que buscaram


durante toda a vida os levaram à destruição. Nessa hora não adianta
arrependimento, não adianta lamentação. É tarde de mais, o juízo de Deus
chegou até eles.

No capítulo 18 do livro do Apocalipse temos uma descrição detalhada


da queda da Babilônia. Ao todo são sete mensagens de julgamento contra a
Babilônia. Primeiro há três mensagens angélicas de condenação (Ap 17:7-18;
18:1-3,4-8). Depois há três lamentos por parte dos homens que a admiravam e
estavam comprometidos com essa meretriz (Ap 18:9,10,11-19). Por fim, há um
aviso final e definitivo sobre a queda permanente da grande Babilônia (Ap
18:21-24).

Essa descrição está particularmente ligada aos momentos finais da


presente era e a tão gloriosa segunda vinda de Cristo. É nesse momento que
essa mulher é destruída. Enquanto Babilônia cai, a Nova Jerusalém se levanta
em grande esplendor. Enquanto a prostituta é despida e desonrada, a Noiva
do Cordeiro aparece ataviada, adornada e vestida de linho fino
resplandecente e puro. Enquanto a falsa igreja está condenada, a verdadeira
Igreja está justificada.

Para finalizar, quero destacar o versículo 4 do capítulo 18:

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Então ouvi outra voz do céu que dizia: "Saiam dela, vocês, povo
meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que
as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!" (Apocalipse 18:4).

Este versículo é um convite à santidade. É um aviso para que não


caiamos nas armadilhas da sedução do mundo. É um alerta de que a
Babilônia está empenhada em tentar destruir a pureza dos santos. Nestas
breves palavras somos aconselhados a não nos conformarmos com este
mundo, tal como o apóstolo Paulo nos escreveu em sua Carta aos Romanos
(cap. 12:2). Aqui cabe uma reflexão pessoal para cada um de nós.

Será que estamos comprando terrenos em Babilônia?

Será que estamos construindo casas em Babilônia?

Será que estamos tentando nos estabelecer sob os recursos de


Babilônia?

Será que estamos nos portando como a Noiva do Cordeiro, ou


estamos seduzidos pela prostituta?

Pergunte-se a você mesmo: Sou cidadão da grande Babilônia ou sou


cidadão da Nova Jerusalém?

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A CEIA DAS BODAS DO


CORDEIRO
As Bodas do Cordeiro é um evento descrito no capítulo 19 do livro do
Apocalipse. Apesar de nos capítulos anteriores o apóstolo João também ter
registrado algumas referências acerca desse momento, apenas no capítulo 19
é que a revelação se torna mais clara e nos fornece mais detalhes.

Devido as diferentes correntes escatológicas, a festa das Bodas do


Cordeiro é também um tema muito discutido entre os cristãos. Neste capítulo
veremos de maneira objetiva o que é esse evento, e quais as diferentes
opiniões acerca desse assunto.

AS BODAS DO CORDEIRO E AS DIFERENTES CORRENTES


ESCATOLÓGICAS
Como já vimos ao longo deste livro, existem diferentes correntes
escatológicas, e uma infinidade de interpretações acerca dos assuntos
narrados no livro do Apocalipse. Para que nosso texto não fique confuso e
repetitivo, citarei as principais interpretações acerca das Bodas do Cordeiro,
organizando-as em apenas três categorias: posição preterista, posição pré-
tribulacionista e posição pós-tribulacionista.

AS BODAS DO CORDEIRO E O PRETERISMO


A posição preterista, como o próprio nome já indica, entende que
praticamente tudo o que é relatado no livro do Apocalipse já se cumpriu, ou
seja, está no pretérito.

Entre os preteristas também é comum a fixação da data da escrita do


Apocalipse antes de 70 d.C, ao invés de meados de 95 como é mais aceito.
Para eles, a queda da grande Babilônia e as Bodas do Cordeiro são eventos
diretamente ligados a queda de Jerusalém que ocorreu exatamente nesse
período.

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Portanto, muitos preteristas defendem que a festa das Bodas do


Cordeiro faz referência a eventos que já ocorreram no século 1, embora para
alguns, ela pré-figure de alguma forma a segunda vinda de Cristo. Essa é a
interpretação menos conhecida sobre o assunto, e é mais comum entre
alguns pós-milenistas.

AS BODAS DO CORDEIRO E O PRÉ-TRIBULACIONISMO


Apesar de ser a mais recente de todas as posições, o Pré-
Tribulacionismo é a interpretação predominante entre os evangélicos atuais
que seguem o esquema do Pré-Milenismo Dispensacionalista Clássico.

A interpretação dessa visão escatológica acerca das Bodas do


Cordeiro defende que tal evento ocorrerá após a primeira fase da segunda
vinda de Cristo, ou seja, o arrebatamento secreto da Igreja antes da grande
tribulação.

A sequencia geralmente defendida entre os pré-tribulacionistas é de


que, após o arrebatamento, a Igreja passará pelo Tribunal de Cristo onde
ocorrerá um julgamento de obras realizadas. Esse julgamento não será para
condenação e sim para que os cristãos sejam galardoados.

Após os cristãos receberem os galardões, ocorrerá então as Bodas do


Cordeiro, com a celebração da grande Ceia do Senhor. Vale a pena dizer que
algumas pessoas dentro dessa corrente escatológica defendem que o
Tribunal de Cristo ocorrerá nas Bodas do Cordeiro, enquanto outros acreditam
que a ordem será inversa, ou seja, primeiro as Bodas e depois o Tribunal de
Cristo. Como já disse antes, essa diferença ocorre devido ao fato de que
dentro dessa posição escatológica existem diferentes opiniões entre seus
adeptos.

Outro ponto de discussão dentre os defensores do Pré-


Tribulacionismo acerca das Bodas do Cordeiro é sobre quem poderá
participar desse evento. Alguns defendem que somente os santos que fizeram

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parte da Igreja do Novo Testamento. Logo, os santos do Antigo Testamento


não participarão.

Outros defendem que os santos do Antigo Testamento não


participarão como Noiva, mas estarão presentes como convidados. Por fim, a
quem defenda que todos os santos, de todos os tempos, inclusive do Antigo
Testamento, participaram desse evento como Noiva, ou seja, como Igreja de
Cristo.

Há também quem afirme que a Ceia do Senhor e a festa de


casamento serão momentos distintos, onde o primeiro ocorre no céu e o
segundo na terra. Essa “confusão interna” acontece pelo fato de que o Pré-
Tribulacionismo Dispensacionalista estabelece uma distinção radical entre
Israel e Igreja, além de haver diferentes definições entre seus adeptos acerca
do número de ressurreições que esse sistema exige.

Geralmente para os pré-tribulacionistas, a festa das Bodas do


Cordeiro durará sete anos, o que corresponde ao período de grande
tribulação que estará assolando a terra, ou seja, as Bodas do Cordeiro e a
grande tribulação ocorrerão simultaneamente.

Ao final dos sete anos das Bodas, Cristo voltará mais uma vez
(segunda fase da segunda vinda de Cristo), porém agora visivelmente e
acompanhado pela Igreja e os anjos. Geralmente o período de “sete anos” é
defendido utilizando referências do livro de Daniel (profecia das setenta
semanas de Daniel) e do livro do Apocalipse. Alguns também se apoiam na
ideia de que geralmente as bodas de um casamento judaico duravam sete
dias.

AS BODAS DO CORDEIRO E O PÓS-TRIBULACIONISMO


O Pós-Tribulacionismo basicamente defende que a festa das Bodas
do Cordeiro ocorrerá na segunda vinda de Cristo, o momento do encontro
entre o Noivo e a Noiva após o período de grande tribulação, o qual Cristo
destruirá o Anticristo.

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Nessa posição escatológica, as Bodas do Cordeiro será a


consumação do relacionamento de Cristo com sua Igreja, onde não durará
apenas sete anos, mas se estenderá por toda a eternidade.

Essa posição é bem mais simples do que a anterior, e é defendida por


amilenistas e, com algumas modificações, também por alguns pré-milesnistas
históricos. Alguns pós-milenistas também entendem dessa forma.

QUAL A INTERPRETAÇÃO MAIS COERENTE SOBRE AS BODAS DO


CORDEIRO?
Sabemos que a escatologia não é um tema dos mais fáceis. Há
diferentes opiniões e posicionamentos sobre o assunto, portanto devemos
respeitar quem pensa diferente da posição que defendemos.

A Bíblia em diversas passagens descreve o relacionamento entre


Jeová e seu povo, ou entre Cristo e sua Igreja, sob o aspecto do
relacionamento que há entre o noivo e a noiva (cf. Is 50; 54; Ef 5:32; Ap 21:9).

Para compreendermos melhor esse assunto, é importante


conhecermos um pouco mais sobre co mo ocorria o casamento judaico.

Primeiro havia um contrato de casamento, um compromisso muito


mais sério do que o noivado que conhecemos na atualidade. Na presença de
testemunhas, os termos do casamento eram apresentados e aceitos e, então,
a benção de Deus era declarada sobre a união. A partir desse momento o
noivo e a noiva já eram legalmente casados.

Depois disso, ocorria um período de intervalo entre o contrato de


casamento e a festa de casamento. Era geralmente nesse intervalo que o
noivo pagava um dote ao pai da noiva (se ainda não tinha sido pago na
cerimônia de contrato).

No final do período de intervalo acontecia uma procissão. Na ocasião,


a noiva se preparava e se adornava. Então o noivo, vestido adequadamente e
acompanhado por seus amigos que cantavam e carregavam tochas acessas,

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se dirigia até o local onde o contrato havia sido firmado (geralmente a casa da
noiva).

Então o noivo recebia a noiva e a conduzia, ainda em procissão, à sua


própria casa ou à casa de seus pais. Muitas vezes as bodas ocorriam entre a
casa dos pais do noivo, a casa da noiva, e a futura casa do casal. As bodas,
que incluía a ceia, duravam entre sete e quatorze dias. Uma referência clara
aos costumes do casamento judaico pode ser encontrada na Parábola das
Dez Virgens (Mt 25).

Agora podemos claramente perceber a comparação que há entre as


bodas de um casamento judaico e a relação entre Cristo e sua Igreja. O
contrato de casamento já está firmado. Cristo, o Noivo, já pagou o dote por
sua Noiva, derramando seu próprio sangue. Já está tudo oficializado, e isso é
irrevogável.

Agora estamos no intervalo, que é o período entre a ascensão de


Cristo ao céu e sua segunda vinda. É neste período que a Noiva se prepara,
se adorna, e se veste de linho fino, ou seja, seu caráter é santificado, ela está
vestida de justiça, suas vestes foram lavadas no sangue do Cordeiro. Sua
justificação é puramente pela graça soberana de Deus.

A Noiva do Cordeiro é santa, fiel, e espera pacientemente pelo fim do


intervalo e, ansiosa, tem a certeza da vinda do Noivo. Quando o período de
intervalo chegar ao fim, o Noivo virá para receber a sua Noiva, acompanhado
por anjos de glória. Então a festa de casamento começará.

O versículo 7 do capítulo 19 do livro do Apocalipse se refere


exatamente a esse momento glorioso: "Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e
demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa
se aprontou".

É importante notar a forma com que o Apóstolo João organizou esse


texto no conteúdo do livro. O Apocalipse é organizado em sete seções
paralelas e progressivas. Os capítulos 17, 18 e 19 formam a sexta seção

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paralela do Apocalipse. Perceba o contraste tão característico desse livro.


Nos capítulos 17 e 18 temos a descrição da queda da Grande Babilônia, a
mãe das meretrizes.

Já no capítulo 19 essa descrição continua, porém agora temos os


detalhes de dois banquetes: o banquete do casamento entre a Noiva e o
Cordeiro (vers. 1-9), e o banquete da queda da prostituta e dos agentes do
Dragão (vers. 17,18). De um lado vemos o céu em grande exultação,
participando das Bodas do Cordeiro, e do outro vemos um grande terror, com
as aves sendo convidas a comerem a carne dos adoradores da besta,
aqueles que foram seduzidos pela prostituta. Enquanto a Noiva é honrada, a
prostituta é julgada. Enquanto a prostituta diz “ Ai ” a Igreja diz “Aleluia”.

Particularmente não consigo concordar com a ideia de que as Bodas


do Cordeiro durarão apenas sete anos. Esse não é o objetivo do relato da
revelação que o apóstolo João teve, ao contrário, aqui temos a nítida certeza
de que essa festa durará para sempre, a comunhão sem igual entre o
Redentor e seus redimidos nunca mais terá fim.

Esse é o momento da grande vitória do Cordeiro de Deus, é o clímax


da História, uma História que começou com a Noiva sendo escolhida em
Cristo desde a eternidade. Durante toda a dispensação do Antigo Testamento
essa grande festa foi anunciada. Então Jesus veio, pagou o dote e comprou
sua Noiva. Agora resta apenas esse momento tão esperado, onde haverá a
completa realização de todas as promessas de Deus.

As Bodas do Cordeiro deve ser o momento mais aguardado por todos


os verdadeiros seguidores de Cristo, independente da posição escatológica
adotada. Apesar de haver diferentes opiniões, a verdade é que essa festa não
será cancelada, e esse grande dia chegará, onde nosso Noivo virá e separará
as ovelhas dos bodes, o trigo do joio, os santos dos ímpios.

E você? Está preparado para esse momento? De qual banquete você


participará?

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O QUE É O MILÊNIO?
Chegamos a sétima seção do livro do Apocalipse, que compreende
os capítulo 20, 21 e 22. Sem dúvida o milênio é o tema mais debatido dentro
da escatologia bíblica entre os cristãos.

O milênio é um reino de mil anos descrito no capítulo 20 do livro do


Apocalipse, a única passagem bíblica que fala explicitamente sobre um reino
milenar. As interpretações sobre o milênio mencionado nessa passagem são
tão divergentes que levaram à formação das principais correntes
escatológicas que existem.

Além dessa divisão principal em quatro escolas distintas, cada escola


possui subdivisões, na medida em que há também divergências até mesmo
entre os defensores de cada uma delas. Portanto, torna-se praticamente
impossível abordar todas as variações de pensamentos sobre o milênio.

Muitos dos cristãos são leigos nos assuntos mais complexos da


teologia, de modo que um aprofundamento em determinados temas torna a
compreensão difícil e a leitura extremamente cansativa para muitos.

Portanto, para garantir a objetividade e a clareza deste texto,


conheceremos de uma maneira não exaustiva as principais interpretações
sobre o milênio, e também analisaremos, com muito respeito, qual a
interpretação que parece ser mais coerente com a Palavra de Deus. Peço que
você seja paciente neste capítulo, e, se possível, analise tudo de forma
imparcial, sem conceitos pré-determinados. Também é importante saber que
nenhuma das diferentes interpretações que citaremos é um tipo de heresia.

AS PRINCIPAIS INTERPRETAÇÕES SOBRE O MILÊNIO


Como já foi dito, existem quatro interpretações principais sobre o
milênio. Basicamente os pontos discutidos em tais interpretações são os
seguintes:

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1. Quando o milênio ocorrerá? Será antes ou depois da segunda vinda


de Cristo?
2. O reino milenar deve ser entendido de forma literal e física, ou
simbólica e espiritual?
3. Quem são os indivíduos citados em Apocalipse 20 que participam do
milênio?

As quatro posições que se propõem a tentar responder tais


questionamentos são: Amilenismo, Pós-Milenismo, Pré-Milenismo Histórico e
Pré-Milenismo Dispensacionalista. A seguir conheceremos brevemente o que
cada uma delas entende sobre o milênio. Aqui será necessário repetir alguns
conceitos que já citamos no início deste livro.

O AMILENISMO E O MILÊNIO
Embora o termo "Amilenismo" transmita uma ideia de que não existe
um milênio, não é isso o que essa corrente escatológica defende. O
Amilenismo entende que há um milênio descrito no capítulo 20 do Apocalipse,
entretanto não o interpreta como um reino literal de mil anos com Cristo
governando sobre a terra após a sua vinda.

O Amilenismo defende que o milênio já foi iniciado na primeira vinda


de Cristo, e terminará com a sua segunda vinda, quando haverá a
ressurreição geral dos mortos, o juízo final e o estabelecimento do novo céu e
nova terra. No Amilenismo, o milênio ocorre com o reinado dos santos com
Cristo nos céu, conectado com a expansão da Igreja e o avanço do
Evangelho na terra.

O PÓS-MILENISMO E O MILÊNIO
O Pós-Milenismo, como o próprio nome sugere, entende que o milênio
também ocorrerá antes da segunda vinda de Cristo, porém, ao contrário do
Amilenismo, o Pós-Milenismo entende que o milênio será um período de
grande paz e prosperidade resultante da pregação do Evangelho em todo
mundo.

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Logo, para o Pós-Milenismo o mundo tende a melhorar antes da volta


de Cristo, de modo que o milênio será caracterizado pela maioria dos
habitantes da terra respeitando a Palavra de Deus, numa espécie de
"cristianização do mundo". Após esse período, Satanás será solto e Cristo o
destruirá em sua segunda vinda, condenando-o eternamente.

O PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO E O MILÊNIO


O Pré-Milenismo Histórico defende um reino literal de Cristo na terra
durante mil anos que será iniciado com a sua segunda-vinda. Cristo governará
a partir de Jerusalém e será um período sem igual na terra.

No final do milênio, Satanás estará solto e enganará as nações


influenciando-as à guerrearem contra Jerusalém e o governo de Cristo. Então,
Jesus destruirá as nações rebeldes e Satanás, lançando-os em condenação
eterna. Após isso, haverá o juízo final e o início do estado eterno.

O PRÉ-MILENISMO DISPENSACIONALISTA E O MILÊNIO


O Pré-Milenismo Dispensacionalista também defende que o milênio
será literal na terra, e começara após a segunda fase da segunda vinda de
Cristo. Diferente do Pré-Milenismo Histórico, essa posição estabelece um
tratamento completamente distinto entre Israel e Igreja, ou seja, Deus possui
dois propósitos: um com relação à terra e ao povo de Israel, e outro
relacionado com o céu e a Igreja.

Para os Pré-Milenistas Dispensacionalistas, Jesus, em sua primeira


vinda, tentou estabelecer o reino de Deus na terra, porém foi rejeitado pelos
judeus. Então, Deus adiou esse plano e começou a tratar com a Igreja.

Somente após finalizar seus propósitos com a Igreja é que Ele


retomará seu plano para com Israel, e isso ocorrerá principalmente no milênio,
onde as promessas do Antigo Testamento serão cumpridas literalmente na
restauração e exaltação de Jerusalém e do povo judeu sob todo o mundo
gentio.

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Nessa posição escatológica, o milênio durará mil anos literais, e Jesus


estará governando visivelmente num trono em Jerusalém. Será então um
momento de grande paz e prosperidade sobre a terra.

As nações adorarão a Deus em um templo reconstruído em


Jerusalém, onde também haverá novamente a oferta de sacrifícios de animais,
porém não serão ofertas propiciatórias, mas ofertas memoriais em referência à
morte de Cristo pela humanidade.

As pessoas viverão normalmente nessa terra maravilhosa, haverá


nascimentos e mortes, já que o pecado e a morte ainda não estarão extintos
como ocorrerá no novo céu e nova terra. Entretanto, o mal será amplamente
restringido com a prisão de Satanás.

Durante esse reinado, a Igreja dos santos ressurretos estará habitando


a Nova Jerusalém, uma cidade celestial que estará pairando nos ares sobre a
terra (pelo menos esse é o entendimento predominante dentro dessa posição
escatológica), e, em ocasiões especificas, os crentes poderão descer à terra
para participarem de alguns julgamentos ao lado de Cristo.

No final desse período Satanás será solto, enganará as nações e fará


uma guerra final contra "o acampamento dos santos", e Cristo então os
derrotará definitivamente. Depois disso haverá o julgamento perante o grande
trono branco, onde todos os ímpios ressuscitarão para receberem a
condenação eterna no lago de fogo.

COMO INTERPRETAR O MILÊNIO?


Em todas as posições citadas acima há entre seus defensores cristãos
genuínos, que possuem compromisso com a Palavra de Deus e que também
são muito capacitados no assunto. Portanto, antes de tudo, creio que esse
tema não deva ser motivo de divisões entre os cristãos.

Com isso, quero dizer que o fato de alguém defender uma posição ou
outra, não o torna um herege, muito menos um seguidor de “seitas” como
alguns erroneamente afirmam. Este assunto é realmente muito difícil,

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sobretudo por tratar de coisas futuras, as quais não temos ainda o completo
discernimento.

Na verdade, todas as diferentes interpretações possuem suas


dificultes particulares, portanto devemos analisá-las à luz da Bíblia como um
todo, e julgar qual delas parece ser mais coerente com a Palavra de Deus.

A seguir, falarei muito brevemente qual a minha posição particular


sobre esse assunto. Tratarei esse tema eliminando posição por posição, para
que o entendimento fique mais claro.

Começando pelo Pós-Milenismo, sei que essa posição foi muito


popular durante muitos anos, e defendida por grandes homens de Deus.
Porém as guerras, sobretudo do século 20, fizeram com essa posição
perdesse espaço.

Para mim, a expectativa de um mundo maravilhoso antecedendo a


volta de Cristo contrasta com várias passagens bíblicas que afirmam a
contínua e crescente tensão entre o mundo decaído e incrédulo com os
seguidores de Cristo. O próprio livro do Apocalipse deixa isso bem claro.
Logo, me parece claro que o ensino bíblico é de que o mundo irá de mal a
pior, até que Cristo venha.

Também tenho sérias dificuldades em aceitar a forma geralmente


preterista que muitos pós-milenistas interpretam algumas passagens bíblicas.
Como esperam por um mundo melhor, geralmente os pós-milenistas
entendem que vários eventos escatológicos já estão no passado, como por
exemplo, a grande tribulação e a apostasia mencionada pelo apóstolo Paulo
em 2 Tessalonicenses 2. Também penso que Apocalipse 20 não dá qualquer
apoio à defesa dessa corrente escatológica.

Falando agora sobre as posições pré-milenistas, posso dizer que o


Pré-Milenismo Histórico é uma visão muito mais equilibrada do que o Pré-
Milenismo Dispensacionalista. Para mim, esta última posição que também é a

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mais recente dentro do cristianismo, possui sérios problemas e acaba sendo


totalmente confusa.

A distinção radical entre Israel e Igreja presente no


Dispensacionalismo, biblicamente penso ser injustificável. Sobre isto,
podemos rapidamente dizer que qualquer distinção entre judeus e gentios já
foi abolida, e Deus possui apenas um único povo, a Noiva, a Igreja (At 13:32-
39; Gl 3:28,29; Cl 3:11; Ef 2:14,19; 1Pe 2:9).

Focando agora na questão do milênio, não há base bíblica para


afirmar que Deus adiou seus planos e o estabelecimento de seu Reino. Nesse
ponto, prefiro concordar com Jó ao dizer que “nenhum dos Teus planos pode
ser frustrado” (Jó 42:2).

A questão é que o objetivo do ministério de Jesus não foi oferecer um


reino político a Israel, restaurando o reino de Davi, ao contrário, quando
quiseram fazê-lo rei, Ele se recusou (Jo 6:15). O próprio Jesus foi categórico
ao afirmar na ocasião de seu ministério que o reino de Deus não viria com
visível aparência (Lc 17:20-21).

É importante também entendermos o caráter presente e futuro do


reino de Deus, ou seja, já foi inaugurado (Mt 2:2; 4:23; 9:35; 27:11; Mc 15:2; Lc
16:16; 23:3; Jo 18:37), está em prosseguimento (Mt 24:14; Rm 14:16,17; 1Co
4:19,20; Cl 4:11) e será completamente consumado (1Co 15:50-58; Ap 11:15).

Também podemos colocar como um problema das visões pré-


milenistas, especialmente o Dispensacionalismo, a grande diferença entre o
milênio citado em Apocalipse 20 com o milênio que elas defendem, além da
falta de qualquer referência bíblica no Antigo Testamento acerca de um reino
terreno futuro de mil anos.

Sei que há muitas referências no Antigo Testamento que são utilizadas


por pré-milenistas para tentar justificar tal posição, porém eles falham na
interpretação de profecias que naturalmente se referem a volta de Israel do
exílio babilônico prefigurando algo futuro, como as benção experimentadas

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pela Igreja do Novo Testamento, ou até mesmo o novo céu e nova terra. Não
há necessidade de um reino terreno temporário para que tais profecias se
cumpram, nem mesmo a obrigatoriedade do cumprimento literal de todas as
profecias.

No Novo Testamento encontramos um ótimo exemplo sobre isso. Em


Atos 15:14-18, Tiago interpreta uma profecia registrada no livro do profeta
Amós de maneira não-literal. Em Amos 9:11,12, a profecia fala sobre o
concerto do tabernáculo caído de Davi, para que “possuam o restante de
Edom e todas nações” que são chamadas pelo nome do Senhor.

Já em Atos, Tiago entendeu que essa profecia se cumpriu quando


Deus chamou os gentios à salvação, tornando judeus e gentios um só povo
em Cristo. Outro exemplo bastante claro é o modo como o apóstolo Pedro
interpretou a profecia do profeta Joel em Atos 2:17-21 (cf. Jl 2:28-32).

Ainda no capítulo 2 de Atos, o mesmo Pedro também fez referência a


promessa veterotestamentária de que Deus jurou a Davi que um dos
descendentes dele se assentaria no seu trono:

Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca


Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua
sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia
prometido com juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos
seus descendentes (Atos 2:29,30).

Diante dessa declaração podemos então perguntar: Quando se


cumprirá isto? Será no milênio, quando Jesus se assentará no trono de Davi
como os pré-milenistas afirmam?

A resposta vem logo a seguir no mesmo texto:

Prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma


não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção. Ora, a
este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos

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testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo


recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que
vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele
próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus
pés. Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse
mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo
(Atos 2:31-36).

Creio que esteja muito claro o que o apóstolo Pedro ensinou neste
texto. Perceba que, segundo Pedro, a promessa de que um descendente de
Davi se assentaria no seu trono se cumpriu na ressurreição de Cristo. Ele
continua o texto afirmando categoricamente a verdade sobre a coroação e
exaltação de Cristo a destra de Deus (algo descrito detalhadamente por João
nos capítulos 4 e 5 do Apocalipse conforme estudamos aqui).

Perceba que Pedro entendeu que não é preciso um trono literal em


Jerusalém durante mil anos para que se cumpra as promessas feitas no
Antigo Testamento, pois a própria ressurreição de Cristo e sua ascensão ao
céu cumpre tais promessas. Logo, nem todas as profecias do Antigo
Testamento devem ser interpretadas de maneira estritamente literal.

Apesar de tudo isto já citado, para alguém os argumentos ainda


podem parecer fracos para contestar as visões pré-milenistas. Portanto, para
concluir, quero citar algumas perguntas que não consigo encontrar respostas
para elas dentro do Pré-Milenismo:

1. Se haverá um reino milenar e literal após a segunda vinda de Cristo,


por que não há qualquer referência sobre isso nos Evangelhos e nas
Epístolas do Novo Testamento?
2. Por que no sermão escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 17) Jesus
apresentou uma descrição detalhada sobre os acontecimentos que
iriam ocorrer, e não citou em nenhum momento um reino milenar
futuro?

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3. Se o reino milenar futuro diz respeito, principalmente, às promessas


feitas ao povo de Israel, por que Jesus nunca falou nada sobre ele aos
seus discípulos que eram judeus? Isso não teria os confortado de
algum modo?
4. Ainda no sermão escatológico, Jesus foi claro ao dizer: “Eis que de
antemão vos tenho dito tudo ” (Mc 13:23). Se Ele afirmou ter dito tudo
acerca do fim dos tempos, por qual motivo ele não citou o milênio?
Não creio que Ele tenha se esquecido justamente do reino milenar
futuro.
5. Pedro foi um dos discípulos que estava presente quando Jesus
pronunciou o sermão escatológico, e pessoalmente ouviu as palavras
do Mestre. Então por que em sua segunda epístola (2Pe 3), ao falar
sobre a segunda vinda de Cristo, ele não fala nada sobre um reino
milenar futuro? Será que talvez seja porque Jesus não o ensinou nada
sobre isso? Para Pedro, haverá a segunda vinda de Cristo, o
julgamento de todas as pessoas e o início do estado eterno, com o
mundo sendo “purificado” transformando-se em novos céus e nova
terra.
6. Como explicar o retorno de crentes glorificados para uma terra ainda
imperfeita, onde existe pecado e morte, mesmo que isso seja em
ocasiões específicas? Isso não seria uma violação da finalidade da
glorificação?
7. Como explicar o convívio do Cristo glorificado e de pessoas em
corpos glorificados, juntamente com pessoas ainda vivendo em
corpos de carne e sangue? Que estranha convivência haverá entre
pessoas que são imortais com pessoas ainda mortais?
8. O que acontecerá com as pessoas que morrerem no milênio literal?
Para onde elas irão? Será que ressuscitarão imediatamente?
9. Como será um mundo em que Cristo estará em um trono físico
governando? Como Satanás conseguirá manipular as pessoas a se
rebelarem contra uma presença tão visível e notória de Deus? Se isso

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de fato ocorrer, qual foi a eficácia dos mil anos de paz e


prosperidade?
10. Como encontrar base bíblica para defender a ideia de salvação após
a vinda de Cristo? As pessoas durante o milênio precisarão crer em
Jesus para serem salvas? Se sim, como alguém então não crerá
diante de um reino literal de Cristo na terra? Isso não será injusto com
quem viveu antes desse período, e não contrariará a doutrina bíblica
de que a fé é crer no invisível (Hb 11:1)?
11. A ideia da retomada dos sacrifícios durante o milênio, mesmo que
memoriais, não significa um retrocesso considerando a excelente
explanação do autor da Epístola aos Hebreus onde claramente ele
coloca todas essas coisas como algo temporário?
12. Se o reino milenar futuro exige um julgamento após mil anos da
segunda vinda de Cristo, como entender o ensino de todo o Novo
Testamento de que o juízo final segue imediatamente à segunda vinda
Cristo? Também como explicar o fato de a Bíblia se referir a apenas
um único juízo, ao contrário do que ensina o Pré-Milenismo?
13. Se o Pré-Milenismo exige pelo menos duas ressurreições (em alguns
casos até mais de três), como explicar a doutrina bíblica que haverá
apenas uma única ressurreição (Jo 5:28,29; Jo 6:39-54; 11:24)?

Estes são apenas alguns dos questionamentos que me fazem rejeitar


a posição pré-milenista, entretanto, respeito muito quem consegue ignorá-los
(ou respondê-los, quem sabe?) e, mesmo assim, defender tal posição.

Bem, se considero que o Pós-Milenismo e as formas de Pré-Milenismo


falham em ter fundamentação bíblica suficiente, só me resta agora o
Amilenismo. Sob esse ponto de vista, vamos brevemente entender alguns
pontos acerca do milênio no capítulo 20 do Apocalipse.

O MILÊNIO E A RECAPITULAÇÃO NO APOCALIPSE


Para compreendermos o milênio citado no capítulo 20 do Apocalipse,
precisamos considerar a organização e o estilo literário do próprio livro. Mais

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uma vez chamo a atenção para a forma com que o livro é organizado, ou seja,
em sete seções paralelas e progressivas.

Nesse sistema, entende-se que no Apocalipse a mesma história é


contada várias vezes de ângulos diferentes, de modo que em cada uma delas
a narrativa vai ficando mais clara e intensa.

Mas se lermos o Apocalipse entendendo que cada capítulo sucede o


outro cronologicamente, então o capítulo 20 seria a sucessão natural dos
eventos do capítulo 19. Se no capítulo 19 é descrita a segunda vinda de
Cristo, e no 20 o Milênio, então obviamente conclui-se que o milênio sucede o
volta do Senhor. O problema com essa interpretação é que, como já vimos, a
Bíblia exaustivamente ensina que o evento que sucede a segunda vinda de
Cristo é o juízo final e o estabelecimento do novo céu e nova terra. Logo, a
interpretação mais coerente é a de que no capítulo 20, a história novamente
está sendo recontada.

O capítulo 19 termina com a descrição do dia do juízo final, e o


capítulo 20 nos leva novamente ao início de nossa presente dispensação. É
exatamente a mesma coisa que acontece entre os capítulos 11 e 12 do
Apocalipse.

No capítulo 11, temos a descrição da segunda vinda de Cristo e do


dia do juízo, quando é anunciado que “chegou, porém, a tua ira, e o tempo
determinado para serem julgados os mortos, para se dar galardão aos teus
servos, os profetas, os santos e aos que temem o teu nome, tanto aos
pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra” (Ap
11:18).

Já no capítulo 12, voltamos ao início, onde é citada a Igreja no Antigo


Testamento e o período do Novo Testamento, com o nascimento, a ascensão
e a coroação de Cristo. Essa “volta” no tempo é inegável até mesmo entre os
pré-milenistas. Na verdade, se compararmos os capítulos 11-14 com o
capítulo 20, perceberemos um paralelismo muito claro. Por exemplo:

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1. A restrição do poder de Satanás (Ap 12:5-12; cf. 20:1-3).


2. Com tal restrição, há um longo período de expansão do Evangelho,
onde é notório o poder e o testemunho da Igreja (Ap 11:2-6; 12:14ss;
cf. 20:2).
3. Um breve período de intensa e terrível perseguição de Satanás contra
os seguidores de Cristo (Ap 11:7ss; 13:7; cf. 20:7ss).
4. A descrição da segunda vinda de Cristo para juízo (Ap 11:17,18;
14:14ss; cf. 20:11).

Portanto, fica fácil entender que o capítulo 20 pertence a uma nova


seção paralela que está mais uma vez recontando a história, porém agora
dando mais detalhes sobre a derrota definitiva de Satanás (Ap 20:10) e o juízo
final (Ap 20:11-15), e nos levando mais além com a descrição maravilhosa do
novo céu e nova terra (Ap 21; 22).

O MILÊNIO E O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE


Para compreendermos essa passagem, precisamos ter em mente que
o uso de simbolismos no livro do Apocalipse é predominante. Nessa
passagem do capítulo 20 não é diferente. Um exemplo claro disso é a
aplicação da palavra “corrente” com a qual Satanás foi preso. Ora, creio que
ninguém espera que Satanás seja preso literalmente com correntes, certo?

Se a descrição da prisão não deve ser entendida literalmente com


correntes, chaves e poços, por que o número exato de mil anos precisa ser?
Sabemos que os números no Apocalipse possuem uma importância simbólica
muito grande, então por qual motivo precisamos entender justamente o
número "1000" como literal?

Caso alguém ainda tenha alguma dúvida sobre o emprego da


linguagem simbólica no Apocalipse, basta responder algumas perguntas bem
simples:

 Alguém acredita que Jesus tenha a aparência literal de um Cordeiro


com sete chifres e sete olhos conforme descrito em Apocalipse 5:6?

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 Será que literalmente uma mulher grávida, vestida de sol, com a lua
debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas, foi perseguida por um
dragão (Ap 12)?
 Será que surgirá um monstro com dez chifres e sete cabeças saindo
do mar (Ap 13)?
 Será que o sangue dos ímpios escorrerá por 296 km (Ap 14:20)?

O número 1000 é utilizado no Apocalipse como símbolo de


completude, e não deve ser entendido literalmente.

A PRISÃO DE SATANÁS POR MIL ANOS


Os versículos 1 ao 3 do capítulo 20, descrevem o aprisionamento de
Satanás. Ao lermos o Apocalipse é importante nos lembrarmos dos
destinatários primários desse livro: os cristãos do século 1. Esses irmãos
estavam sendo duramente perseguidos pelo império, tinham seus bens
confiscados, eram presos, e, finalmente, mortos nos centros de espetáculos
romanos.

Olhando para a realidade desses cristãos, a impressão que temos é a


de que Satanás estava vencendo. Do ponto de vista humano, o dragão estava
realmente conseguindo destruir a Igreja.

Mas o Apocalipse traz àqueles irmãos a notícia de que há muito do


que os olhos humanos podem ver. Por mais que as coisas estavam di fíceis, a
mensagem revelada ao apóstolo é de que o Cordeiro têm o livro nas mãos, Ele
controla todas as coisas, Deus é soberano, o poder do maligno está limitado e
a Igreja é mais que vencedora.

Sei que a maior dificuldade entre os cristãos sobre esta perspectiva é


entender como pode Satanás estar preso. Segunda a Bíblia, o aprisionamento
e derrota de Satanás ocorreu com relação à primeira vinda de Cristo, ou seja,
durante seu ministério, com sua morte, ressurreição e coroação . O próprio
Jesus testificou sobre isto, ao responder aos blasfemos fariseus: “Como pode

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alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-


lo? Só então poderá roubar-lhe a casa” (Mt 12:29).

Nessa passagem, a palavra grega original para “amarrar” é


exatamente a mesma que em Apocalipse 20:2 é utilizada para a palavra
traduzida como “segurar”.

Ainda no ministério de Jesus, temos outros exemplos acerca da


derrota de Satanás. Certa vez Jesus enviou setenta discípulos com a missão
de pregar o Evangelho. Quando retornaram, eles estavam muito felizes porque
até os demônios lhes eram submetidos ao nome de Jesus. Então Jesus disse:
“Eu via a Satanás caindo do céu como relâmpago ” (Lc 10:17,18).

Perceba como Jesus relaciona a queda de Satanás com o avanço da


pregação do Evangelho. O mesmo principio pode ser notado no episódio em
que os gregos foram procurar por Jesus. Na ocasião Jesus disse: “Chegou a
hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim ” (Jo 12:31,32).

Da mesma forma como no exemplo anterior, a palavra grega para


“expulsar” no Evangelho de João é a mesma utilizada em Apocalipse 20:3
para “lançar”. Mais uma vez o Evangelho de Cristo é apontado, pelo próprio
Cristo, como a derrota de Satanás.

Antes da primeira vinda de Jesus, a revelação especial de Deus


estava restrita apenas ao povo de Israel, sendo que as demais nações
estavam presas sob as correntes da enganação de Satanás, que as
mantinham em completa ignorância.

Mas perceba que Jesus falou que com sua morte Ele atrairia a
“todos”, ou seja, não só judeus, mas gregos, romanos, etc. Com isso,
entendemos que o poder do dragão foi limitado, no sentido de que ele não
pode impedir o avanço do Evangelho no mundo segando as nações como
fazia anteriormente.

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O aprisionamento de Satanás pode ser visto no modo como alguns


poucos galileus fizeram com que o Evangelho fosse anunciado em todo o
mundo civilizado, e em poucos anos quase um milhão de pessoas já havia
escutado as boas novas da salvação.

A limitação do poder de Satanás também pode ser vista no próprio


contexto histórico do livro do Apocalipse, onde uma Igreja formada
majoritariamente por camponeses e pessoas simples, conseguiu enfrentar e
resistir ao Império Romano, o maior império do mundo. Roma caiu, mas a
Igreja continua de pé.

O apóstolo Paulo também falou sobre isso ao escrever aos


Colossenses, dizendo que Cristo triunfou sob os principados e potestades na
Cruz (Cl 2:15). Já o escritor da Epístola aos Hebreus escreveu dizendo que a
morte de Cristo destruiu o diabo (Hb 2:14; cf. 1Jo 3:8).

Também é importante entender que, apesar de Satanás estar


amarrado, ele não está completamente inoperante. Ele age dentro das
limitações impostas a ele. Ele age como tentador, é o nosso inimigo, ruge
como leão buscando a quem possa tragar, persegue a Igreja levando alguns
cristãos até mesmo à morte, mas não pode impedir que a pregação do
Evangelho seja expandida, pois as trevas espirituais que cobriam as nações
foram dissipadas, e os eleitos de todo o mundo foram atraídos à Cristo (Rm
8:30).

Entretanto, o mesmo capítulo 20 nos adverte sobre um período em


que Satanás será solto e novamente sairá à enganar as nações, recrutando os
incrédulos para uma batalha final contra a Igreja de Cristo (Ap 20:7-10).

Esse período será os dias da grande tribulação, os dias em que


haverá a grande apostasia como o apóstolo Paulo escreveu (2Ts 2:3), o
período em que o Anticristo pessoal e escatológico se manifestará. Esse
período é o que Apocalipse 20 chama de "pouco tempo de Satanás", e
precede imediatamente o retorno glorioso do nosso Senhor.

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O REINADO DOS SANTOS NO MILÊNIO


Entendemos o que significa o aprisionamento de Satanás em
Apocalipse 20. Agora resta-nos entender o que significa o reinado dos santos
citado no mesmo capítulo. Quando o livro do Apocalipse se refere a tronos,
seja o de Cristo ou o de seu povo, tais tronos estão localizados no céu, como
por exemplo, em Apocalipse 4:4. Em apenas três ocasiões o Apocalipse cita
tronos na terra, e em tais ocasiões trata-se do trono de Satanás e do Anticristo
(Ap 2:13; 13:2; 16:10).

Logo, a ênfase desse reinado está no céu e não na terra. A prova é


que os que se assentam nos tronos são as almas dos mártires, os que foram
"decapitados por causa do testemunho de Jesus ", bem como todos os outros
cristãos que já partiram no Senhor, ou seja, "tanto quantos não adoraram a
besta". Lembrando que o próprio livro do Apocalipse ressalta que essas almas
estão no céu (Ap 6:9-11).

Vale aqui uma observação sobre o versículo 4 que, no grego, não há a


expressão “vi ainda”, dando a aparente impressão de que o grupo que está
sentado no trono é diferente do grupo de almas contemplado por João.

Logo, a conexão do milênio com a terra está relacionada à prisão de


Satanás, isto é, ao período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, com
a pregação do Evangelho e a expansão da Igreja, terminando pouco antes do
retorno do Senhor, um momento que justamente coincide com o "pouco tempo
de Satanás", onde ele será solto e a Igreja será duramente perseguida.

Já no céu, esse período se estende até o exato momento da volta de


Cristo, onde as almas dos santos terão seus corpos ressuscitados.

O MILÊNIO, A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO E A SEGUNDA MORTE


Um ponto que também vale nossa atenção é a menção sobre a
primeira ressurreição feita nesse capítulo (Ap 20:5,6). Se essa ressurreição se
refere a uma ressurreição corporal, então necessariamente ela deve coincidir

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com a segunda vinda de Cristo, e nesse caso os pré-milenistas talvez


estariam certos.

O problema é que toda a Escritura aponta para uma única


ressurreição que ocorrerá quando Cristo voltar para julgar todos os homens
(Dn 12:2; Jo 5:28,29; At 24:14,15), enquanto que os pré-milenistas afirmam
que haverá pelo menos duas ressurreições separadas por mil anos uma da
outra. Na verdade, se uma pessoa ler a Bíblia inteira até o capítulo 19 do
Apocalipse, será impossível que ela chegue até este capítulo com a
percepção de que haverá mais de uma ressurreição, já que o capítulo 20 do
Apocalipse é a única passagem bíblica que parece indicar isso. Todavia, na
Bíblia não há qualquer contradição, logo, se algumas passagens dizem que
haverá apenas uma única ressurreição e outra parece indicar que haverá mais
de uma, certamente o erro está em nossa interpretação e não na Bíblia.

Uma das principais regras de exegese é que uma passagem difícil da


Bíblia deve ser interpretada à luz de outras passagens mais claras. Sem
dúvida Apocalipse 20 é uma dessas passagens difíceis, e, portanto,
precisamos interpretá-la à luz das demais passagens bíblicas sobre o
assunto. O problema do Pré-Milenismo é que, ao meu ver, faz exatamente o
contrário. Ele tenta interpretar passagens claras à luz de uma única passagem
difícil. Em outras palavras, o erro acontece quando se interpreta de forma
literal uma passagem de um livro altamente simbólico, criando uma aparente
contradição com outras passagens bíblicas.

Como já vimos, os pré-milenisttas afirmam que haverá primeiro a


ressurreição dos justos antes do milênio, e depois de mil anos haverá a
ressurreição dos ímpios. Bem, já citamos aqui passagens bíblicas que
ensinam que os justos e os ímpios ressuscitarão num único evento. Mas
apenas para concluirmos este raciocínio, se atente para o que Jesus afirmou
no Evangelho de João:

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Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o


Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último
dia (João 6:40).

Obviamente Jesus está falando da ressurreição dos santos, e, para


Ele, tal ressurreição ocorrerá "no último dia". O ensino é tão claro que Ele
repete a expressão "o último dia" como sendo a data que ocorrerá essa
ressurreição mais três vezes na sequência do capítulo (vers. 40,44 e 54).

Sobre isto, o apóstolo Paulo entendeu que esse "ultimo dia" será na
hora da segunda vinda de Cristo (1Ts 4:16; 3:20,21; 1Co 15:23). Compare
agora o que Paulo escreveu em sua Epístola aos Tessalonicenses com o que
Jesus falou no Evangelho de João:

Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que
estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito
o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o
mal, para a ressurreição do juízo (João 5:28,29).

Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz


do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em
Cristo ressuscitarão primeiro (1 Tessalonicenses 4:16).

Será que a sentença "ouvirão a sua voz" possui ligação com a frase
"grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus "? Alguém até
pode argumentar que nessa passagem de Tessalonicenses Paulo não
menciona a ressurreição dos ímpios, mas isso é completamente
compreensível dado ao contexto da exposição que Paulo estava fazendo, cujo
o objetivo era o de consolar os irmãos de Tessalônica a respeito dos santos
que partiram em Cristo.

Sobre a situação dos ímpios, Paulo em Atos 24:15 declara que "há de
haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos ". No grego, a palavra
traduzida como "ressurreição" também está no singular, anastasin, indicando
que Paulo se referia a um único evento, pois não é possível se referir a duas

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ressurreições separadas por mil anos uma da outra apenas como


"ressurreição" no singular.

Voltando ao ensino de Jesus, vimos que ele falou explicitamente que a


ressurreição dos santos ocorrerá no "último dia". Logo, a seguinte pergunta é
inevitável: Se a ressurreição dos santos ocorre, segundo o pré-milenismo,
antes do milênio, como pode esse dia ser chamado de "o último dia" já que
haverá pelo menos mil anos depois dele até que venha realmente a
consumação da presente era?

Diante do que foi exposto, é perfeitamente possível e aceitável que o


texto de Apocalipse 20 esteja estabelecendo um contraste entre a primeira e a
segunda morte. A primeira morte tem en tão um caráter corporal, e a segunda
tem um caráter espiritual, ou seja, a primeira é preliminar e a segunda é final.

Logo, a primeira ressurreição seria espiritual, e a segunda seria a


ressurreição do corpo. O próprio Novo Testamento se refere à regeneração
como um tipo de ressurreição espiritual, ou seja, o novo nascimento (Jo 5:24-
29; Jo 11:25,26; Rm 6:11; Ef 2:6; Cl 3:1-3). Portanto, quem passa por essa
ressurreição não tem parte na segunda morte, isto é, a morte espiritual com a
condenação eterna no lago de fogo (Ap 20:14).

Há também quem interprete essa primeira ressurreição no sentido de


que os santos que morreram estão vivos agora no céu com Cristo, mas penso
que, em última análise, tal interpretação também terá origem na regeneração
do individuo enquanto vivo aqui na terra.

Para resumir, podemos entender que os salvos morrem apenas uma


vez, isto é, fisicamente, mas ressuscitam duas vezes, espiritualmente e
corporeamente na segunda vinda de Cristo. Já os ímpios morrem duas vezes,
fisicamente e espiritualmente, ressuscitando apenas uma única vez para o
juízo de Deus.

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Por isso que a segunda morte não tem autoridade sobre aquele que
tem parte na primeira ressurreição, pois este está vivo com Cristo e justificado
nos méritos de sua obra na cruz.

O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE O MILÊNIO?


O milênio é uma doutrina bíblica, e a expressão “mil anos” aparece em
seis versículos do capítulo 20 do livro do Apocalipse (vers. 2-7). Portanto, de
modo algum devemos rejeitá-lo, mas também não somos obrigados a aceitar
qualquer interpretação sobre ele.

Sei que esse é um tema muito complexo, e que todas as posições,


inclusive a que eu defendo, apresentam suas dificuldades. Porém, precisamos
deixar claro acima de tudo que a Palavra de Deus é inerrante e infalível, ou
seja, não há qualquer erro ou contradição nela.

Se nossas posições escatológicas possuem dificuldades em alguns


pontos, tais dificuldades estão firmadas em nosso erro humano de
interpretação da perfeita Palavra de Deus.

Ademais, também sabemos que há mistérios que não nos foram


revelados, mas devemos ter a plena certeza de que tudo ocorre conforme a
soberana vontade de Deus, por mais que não compreendamos.

Mais uma vez ressalto que essas discussões são secundárias, e o


importante é que Pré-Milenistas, Amilenistas e Pós-Milenistas concordam que
Cristo voltará, julgará todos os homens, condenará eternamente Satanás, seus
agentes e os incrédulos ao lago de fogo, e os santos viverão eternamente com
Ele no novo céu e nova terra. Se mil anos antes, ou mil anos depois, diante de
uma eternidade inteira isso é só um detalhe.

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GOGUE E MAGOGUE
Claro que não poderíamos passar pelo capítulo 20 do Apocalipse sem
dar uma atenção especial a expressão "Gogue e Magogue". Esta é uma
expressão que aparece no livro do Apocalipse como uma referência ao
conflito final entre as forças satânicas e Cristo e seu povo. Há muitas
interpretações e teorias acerca desse evento, o que acaba gerando ainda
mais curiosidade entre as pessoas acerca desta expressão.

Neste capítulo entenderemos um pouco mais este assunto. Antes,


posso adiantar que essa é uma batalha que já estudamos neste livro, porém
anteriormente ela apareceu no Apocalipse com um outro nome. Veremos isto
a seguir.

GOGUE E MAGOGUE NO ANTIGO TESTAMENTO


Gogue e Magogue são citados em passagens do Antigo Testamento.
No livro de Gênesis, Magogue é mencionado como um descendente de Jafé
(Gn 10:2; 1Cr 1:5). Já Gogue, é citado como um rubenita, filho de Semaías
(1Cr 5:4).

Apesar dessas referências iniciais, a passagem mais importante sobre


Gogue e Magogue encontra-se no livro do Profeta Ezequiel (caps. 38 e 39).
Gogue aparece como príncipe de Meseque e Tubal, e Magogue como sendo
um povo, ou seja, a “Terra de Magogue”. Logo, a narrativa de Ezequiel
apresenta "Gogue da Terra de Magogue ".

GOGUE E MAGOGUE NO APOCALIPSE


Como já dissemos, a expressão “Gogue e Magogue” aparece no livro
do Apocalipse para descrever uma última batalha que precederá o Juízo Final
(Ap 20:7-10).

O Apóstolo João relata que acabado o milênio, Satanás será solto por
um pouco de tempo, “e saíra para enganar as nações que estão nos quatro

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cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a batalha. Seu


número é como a areia do mar” (Ap 20:8).

João continua a narrativa dizendo que as nações, persuadidas por


Satanás, cercarão “o acampamento dos santos, a cidade amada", porém um
fogo descerá do céu e as devorará, resultando ainda na condenação eterna
de Satanás no "lago de fogo que arde como enxofre ". Depois disso, João
começa a descrever em detalhes a cena do juízo final.

GOGUE E MAGOGUE NAS DIFERENTES CORRENTES


ESCATOLÓGICAS
Sabemos que existem diferentes correntes escatológicas, e cada uma
delas possui uma visão específica acerca deste assunto. Aqueles que
defendem um futuro reinado milenar e literal de Cristo na terra após a sua
segunda vinda (pré-milenistas), afirmam que essa batalha de Gogue e
Magogue ocorrerá ao término desse período, quando Satanás for literalmente
solto novamente para enganar as nações. Vale dizer também que alguns pré-
milenistas defendem que essa batalha ocorrerá antes do Milênio, porém creio
que essa afirmação seja uma contradição com o próprio pensamento que eles
defendem.

Portanto, seguindo esse raciocínio, haverá então duas grandes


batalhas finais: a batalha do Armagedom antes do milênio e descrita no
capítulo 19 do Apocalipse, e a batalha de Gogue e Magogue após o milênio e
descrita no capítulo 20 do Apocalipse.

Entre os defensores dessa posição há muitas divergências acerca


desse evento, de modo que seria impossível citar cada uma delas. As mais
comuns entendem que essa batalha de Gogue e Magogue se refere ao
ajuntamento de várias nações para atacar Israel no futuro.

As teorias sobre isso são tão específicas que até mesmo nomes de
nações já foram sugeridos, entre elas: Rússia, Irã, China, Japão e Índia.

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Já quem não defende um futuro reinado literal de Cristo na terra,


entendendo que o milênio precede a segunda vinda de Cristo como vimos
exaustivamente no capítulo anterior, geralmente afirma que essa batalha é a
mesma já descrita no capítulo 19, isto é, o Armagedom.

COMO INTERPRETAR A EXPRESSÃO GOGUE E MAGOGUE?


Como vimos, a interpretação acerca dessa batalha dependerá da
maneira com que interpretamos e entendemos o livro do Apocalipse e alguns
eventos escatológicos descritos nele, sobretudo o milênio.

Antes de falarmos sobre o Apocalipse, precisamos voltar ao livro do


profeta Ezequiel. Primeiro, é necessário compreender que o livro de Ezequiel
possui um intenso uso de elementos simbólicos em suas profecias, num tipo
de linguagem apocalíptica.

Os capítulos 38 e 39 do livro de Ezequiel, que nitidamente são


proféticos, realmente apresentam algumas dificuldades de interpretação. Os
estudiosos se dividem em diferentes opiniões. Como já mencionamos, muitos
especulam até mesmo sobre nomes de nações contemporâneas dentro
destes capítulos.

Talvez uma das teorias mais conhecidas seja aquela que identifica
Meseque e Tubal como as cidades russas de Moscou e Tobolsk, e o “príncipe
de Rôs” citado no versículo 2, como sendo o “príncipe da Rússia”, ou seja,
Gogue seria o comandante russo que atacará Israel no futuro.

Não precisamos nem dizer que esse tipo de interpretação não


encontra qualquer fundamentação bíblica. Outros identificam Gogue como
sendo Guigues, um rei da Líbia, conhecido nos textos acadianos do século 7
a.C. como um vassalo dos assírios.

Uma boa interpretação sobre este assunto sugere que a profecia de


Ezequiel se refere ao poder dos selêucidas, especialmente com Antíoco IV
Epifânio, inimigo terrível do povo judeu, cujo centro do seu reino ficava
localizado no norte da Síria.

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Ao norte, o domínio dos selêucidas incluía Meseque e Tubal, distritos


da Ásia Menor. De acordo com essa interpretação, a perseguição imposta por
Gogue de Magogue, refere-se, em Ezequiel, à dura perseguição imposta pelo
governador da Síria, Antíoco IV Epifânio, sob o povo de Deus.

Como disse, considero essa uma boa interpretação, entretanto não


creio que a profecia de Ezequiel se esgote nesse período da História. Penso
que Ezequiel também se refere, de forma geral, a batalha final contra o povo
de Deus, de maneira que o ocorrido com Antíoco IV Epifânio tipifica uma
perseguição ainda maior.

É interessante o uso específico de “Meseque e Tubal”. Sempre que as


ameaças a Israel são descritas no Antigo Testamento, tais ameaças vêm do
norte, geralmente referindo-se a Assíria, Babilônia e Pérsia. Quando Ezequiel
fez referência a “Meseque e Tubal” ele utilizou tribos que viviam nos limites
dos reinos do norte, no sentido de mostrar que haveria uma oposição ainda
mais difundida contra o povo de Deus.

Portanto, creio que a profecia de Ezequiel se cumpriu em Antíoco IV


Epifânio, mas também se cumpre em todos os poderes orquestrados contra o
povo de Deus.

Voltando agora ao Apocalipse, podemos compreender que João tinha


em mente esse terrível período de dor e aflição quando usou a expressão
“Gogue e Magogue”. A grande opressão que o povo de Deus suportou na
antiga dispensação serve de símbolo para a maior opressão que o povo de
Deus precisará suportar na nova dispensação.

Logo, a expressão "Gogue e Magogue" se refere ao ataque final das


forças anticristãs lideradas por Satanás contra a Igreja de Cristo. João
identifica Gogue e Magogue como "as nações que há nos quatro cantos da
terra", ou seja, não se trata de uma nação específica, mas a totalidade do
mundo, isto é, a perseguição do mundo iníquo contra a Igreja.

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João ressalta que o exército dessa batalha é muito numeroso, tanto


como a areia do mar. Nos dias do governo de Antíoco IV Epifânio, o povo de
Israel parecia indefeso diante do poder do exército sírio. Da mesma forma,
nos últimos dias que precedem a volta de Cristo, a opressão será tão grande
que a Igreja parecerá indefesa diante do poder perseguidor do mundo.

Outro fato interessante é que, apesar de intenso e severo, o domínio


de Antíoco IV Epifânio teve breve duração, tal como será o curto período de
tempo de grande tribulação sobre a terra, conforme Jesus alertou em seu
sermão escatológico (Mc 13:20; cf. Ap 11:11).

Também vale ressaltar que a derrota das forças da Síria foi


surpreendentemente inesperada, ou seja, foi uma interferência direta de Deus.
Da mesma forma ocorrerá nos momentos finais da presente era com o retorno
de Cristo.

Portanto, o capítulo 20 do Apocalipse não descreve um conflito entre


nações, mas um conflito entre a Igreja e o mundo. Esse conflito de Gogue e
Magogue é o mesmo já citado em outras partes do próprio Apocalipse (cf. Ap
16:12ss; 19:19).

Note que em Apocalipse 16:14 lemos a expressão "a fim de reuni-los


para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso". Já em Apocalipse
19:19, a expressão é a seguinte: “para batalharem contra aquele que estava
assentado sobre o cavalo, e ao seu exército ”.

Finalmente em Apocalipse 20:8, somos informados de que Satanás


sairá "a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue
e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha ".
No original, lemos em todos estes casos a expressão "a peleja".

A descrição que João faz acerca da batalha do Armagedom (Ap


19:17-21) é uma clara evidencia de que se trata da mesma batalha do capítulo
20 do Apocalipse. Perceba que no capítulo 19 João também faz referência a
mesma passagem do livro de Ezequiel (Ez 39:17-20). Em ambas as

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passagens as aves do céu se fartam da carne e do sangue dos poderosos da


terra.

Devemos nos lembrar de que o livro do Apocalipse está organizado


em sete seções paralelas e progressivas, ou seja, a mesma história é contada
e recontada com perspectivas diferentes, de modo que a narrativa vai se
tornando mais intensa e detalhada conforme avançamos para o final do livro.

O detalhe particular do capítulo 20 acerca dessa mesma batalha já


mencionada e que as outras referências ainda não haviam esclarecido, fica
por conta da descrição do que acontece com Satanás, ou seja, nas outras
referências João já havia descrito a queda dos ímpios e a queda dos aliados
do dragão (a besta, o falso profeta e a grande Babilônia), e faltava apenas ele
descrever a queda do dragão. Como Satanás é o maior oponente de Cristo,
naturalmente sua queda é narrada por último. Isso é exatamente o que ocorre
no capítulo 20.

Gogue e Magogue é o Armagedom, é o pouco tempo de Satanás, é a


grande tribulação, é o período mais terrível da História, onde o dragão e seus
aliados perseguirão duramente o povo de Deus. Todavia, o livro do
Apocalipse nos mostra que todos estes inimigos de Cristo e de sua Igreja
caem juntos, ao mesmo tempo, em um único evento, em uma única batalha.
Todos são destruídos na segunda vinda de Cristo, onde o Cordeiro virá para
livrar o seu povo, onde a cólera de Deus será derramada, onde o juízo de
Deus estará completo. Esse dia será maravilhoso para uns e aterrorizante para
outros.

Para concluir, quero dizer que embora existam diferentes opiniões


sobre o assunto, o importante é que todas elas concordam que nessa batalha
Satanás será condenado eternamente no lago de fogo e enxofre, e de dia e de
noite, juntamente com seus aliados, será atormentado.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO E A
SEGUNDA VINDA DE CRISTO
Apesar dos capítulos 19 e 20 do Apocalipse trazerem referências
detalhadas sobre a grande tribulação e a segunda vinda de Cristo, confesso
que fiquei com muita dúvida sobre onde este capítulo deveria ser
posicionado, se no começo deste livro ou exatamente onde ele está agora. Eu
estava considerando o começo por entender que seria melhor que o leitor
tivesse a clara noção acerca deste assunto antes de começar a estudar o
Apocalipse. Por outro lado, pensei que se o leitor compreendesse o
Apocalipse, naturalmente neste ponto ele já entenderia o ensino sobre a
grande tribulação e a segunda vinda de Cristo.

Sei que para alguns há muitas dúvidas aqui, principalmente em


relação a situação da Igreja frente à grande tribulação e ao ensino tão comum
acerca de um arrebatamento que antecede tal tribulação.

Sabemos que existe muito debate sobre esse momento da História.


Para quem defende a visão pré -tribulacionista, a grande tribulação é o período
onde Deus castigará o mundo ímpio, ou seja, é o derramamento da ira de
Deus sobre o mundo impenitente, um período onde haverá um tratamento
direto de Deus para com Israel, e a Igreja já estará fora da terra. Assim, a volta
de Cristo será dividida em duas etapas: a primeira num arrebatamento secreto
para buscar a Igreja, e a segunda visível a todos para livrar Israel e os
convertidos da grande tribulação.

Já para os pós-tribulacionistas, a grande tribulação é o período em


que o mundo ímpio, liderado por Satanás, persegue ferozmente a Igreja. É
neste cenário que Cristo volta, em glória e poder, para livrar o seu povo e para
abreviar os dias difíceis. Além do sermão escatológico de Jesus já citado no
começo deste livro, creio que o Apocalipse demonstra claramente que a
segunda interpretação é a mais coerente.

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A Igreja sofre perseguições em toda a sua História, porém no período


final que antecede a volta de Cristo, tais perseguições se intensificarão. É
claro que Deus castiga o mundo derramando a sua ira sobre os incrédulos,
sobretudo em resposta às orações da Igreja como pudemos ver ao longo do
Apocalipse, mas sua ira será completamente consumada no dia do juízo que
ocorrerá por ocasião da segunda vinda de Cristo.

A IGREJA PASSARÁ PELA GRANDE TRIBULAÇÃO? O


ARREBATAMENTO SERÁ SECRETO?
Tais perguntas certamente já tiraram o sono de muita gente. Muitos
afirmam que a Igreja não passará pela grande tribulação e defendem um
arrebatamento secreto e pré-tribulacionista, enquanto outros afirmam
exatamente o contrário, e defendem um arrebatamento visível e pós-
tribulacionista. Há ainda quem fica em cima do muro, e acredita que o
arrebatamento ocorrerá no meio da grande tribulação.

Diante de tantas opções, logo surge a pergunta: Quem está certo?

Não gosto de tratar essa questão como certo ou errado, pelo simples
fato de que trata-se de um evento que ainda não ocorreu. Prefiro então
analisar pela coerência, ou seja, qual posição é mais coerente com as
Escrituras (apenas com ela; não vale consultar livros de ficção científica).

Particularmente, creio que a posição que mais condiz com o ensino


bíblico é o Pós-Tribulacionismo, ou seja, a Igreja passará pela grande
tribulação.

Como acredito na inerrância da Bíblia, não posso considerar que ela


se contradiz em determinados textos e, considerar o arrebatamento como um
evento que antecede a grande tribulação, fatalmente ocasionará uma série de
contradições que precisariam de um verdadeiro "malabarismo teológico" para
serem contornadas.

Para mim, o texto bíblico que descreve de forma mais simples e


objetiva o período do fim é o sermão escatológico de Jesus o qual já

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estudamos brevemente aqui. Nele, Jesus anuncia detalhadamente os últimos


dias, e deixa claro que a sua vinda será após "aquela tribulação" (Mc 13:24).

Em nenhum momento Jesus considera a ideia de que os salvos não


estarão mais na terra, antes, adverte-os que serão dias de muito sofrimento,
um sofrimento como nunca foi visto (Mc 13:19), mas que, por amor aos santos,
aqueles dias serão abreviados (Mc 13:20).

Além disso, quando Jesus descreve o momento da segunda vinda,


Ele não se refere a nenhum evento secreto, nem mesmo dá indícios de que a
Igreja já estaria com Ele, e, na ocasião, também retornaria à terra. Ao invés
disso, Jesus descreve esse momento como um momento de grande glória, de
muita alegria para os salvos, e de terror para os ímpios, onde todos "verão o
Filho do Homem" (Mt 24:30).

Talvez alguém pergunte: Como os pré-tribulacionistas não percebem


esse ensino no sermão escatológico de Jesus?

A respostas para esta pergunta está na maneira equivocada com que


eles dividem o sermão de Jesus. Pegando como exemplo o texto de Mateus, a
maioria dos pré-tribulacionistas faz o seguinte esboço:

1. Mateus 24:4-12 se refere à era da Igreja.


2. Mateus 24:13-29 se refere à nação de Israel.
3. Mateus 24:30,31 se fere à segunda vinda de Cristo em glória
(acompanhado da Igreja).
4. Mateus 24:32-35 é uma referência à Israel no período da era da Igreja.
5. Mateus 24:36-25:30 se refere ora ao arrebatamento secreto e ora à
segunda vinda em glória.

Creio que não é preciso muita coisa para percebermos o quão


confusa é tal organização. No esboço acima, parece claro que a leitura do
texto é feita já com pré-supostos muito bem estabelecidos, de modo que o
texto é manejado para poder se adequar aos conceitos previamente

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estabelecidos, anulando completamente o entendimento natural do próprio


texto.

Na Epístola de 2 Pedro capítulo 3, o apóstolo descreve o momento da


vinda de Cristo como sendo visível, estrondoso e impossível de não ser
percebido. Em 2 Tessalonicenses 2, Paulo exorta sobre as mesmas coisas e,
tal como Jesus em seu sermão, e Pedro em sua epístola, ele faz advertências
à Igreja que estará na terra nesse momento.

Basicamente, se Paulo esperasse o arrebatamento antes da grande


tribulação, ele não teria alertado sobre o surgimento do Anticristo e sobre uma
grande apostasia como eventos que precedem a volta de Cristo, afinal, para
que alertar sobre tais coisas já que a Igreja não estaria mais aqui? Ele poderia
ter escrito: "Será difícil, mas fiquem calmos, a Igreja não estará mais na terra ".
Vale mencionar também que há quem defenda que Paulo, nesse texto, esteja
se referindo a eventos que já ocorreram no primeiro século, como uma
conspiração em Roma e a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Essa é a
principal interpretação entre os preteristas.

Mesmo se analisarmos os textos mais utilizados para defender o


arrebatamento antes da grande tribulação, veremos que o encontro da Igreja
com Cristo em glória e o juízo sobre os incrédulos, acontecerão no mesmo dia
e no mesmo evento, e não após uma temporada de sete anos da Igreja no
céu.

Em 1 Tessalonicenses 1:10 e 5:9 as expressões "Jesus, que nos livra


da ira vindoura" e "Deus não nos destinou para a ira" se referem ao juízo divino
sobre os ímpios que resultará na condenação eterna. Em outras palavras, pela
justificação que há em Cristo Jesus, os salvos não entrarão em condenação
(Rm 8:1). Logo, a Igreja será guardada pelo próprio Deus, de modo que não
será atingida por sua ira que será derramada no dia do juízo.

Em 2 Tessalonicenses, o próprio apóstolo Paulo faz uma descrição


precisa sobre essa ira vindoura:

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Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos


que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso
conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com
os anjos do seu poder, com labareda de fogo, tomando vingança
dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo,
padecerão eterna perdição, longe da face do Senhor e da glória do
seu poder (2 Tessalonicenses 1:6-9).

Na referência do capítulo 5 de 1 Tessalonicenses, podemos perceber


que no dia descrito como "o dia do Senhor" (um evento público de acordo com
2 Pedro 3:10), que é o mesmo dia citado no versículo acima, tanto os santos
quanto os ímpios estarão na terra. Daí vem o alerta: vigiai!

Vale também dizer que não há qualquer possibilidade biblicamente


aceitável para tentar encontrar diferenças entre "o dia do Senhor", "o dia de
Cristo", "o dia do Senhor Jesus Cristo " e "o dia de Deus", como alguns pré-
tribulacionistas fazem. Por exemplo: em 2 Pedro 3:12, o apóstolo fala sobre a
vinda do "dia de Deus", e em Atos 2:19-20, o mesmo apóstolo faz uma
descrição sobre o "dia do Senhor". Comparando os dois textos, fica evidente
que Pedro se referiu ao mesmo evento. Os pré-tribulacionistas tentam
estabelecer essa distinção pois é comum entre alguns defensores dessa
escola escatológica o entendimento de que a grande tribulação é "o dia do
Senhor". Porém, nos mesmos dois textos citados no exemplo acima,
percebemos que "o dia do Senhor" ocorrerá após a grande tribulação. Isso
também fica claro quando lemos tais textos à luz do sermão escatológico de
Jesus.

Paulo chama a atenção (como também Jesus fez no sermão


escatológico) para que a Igreja esteja vigilante e pronta, pois esse dia será de
repentina destruição, e os ímpios serão surpreendidos como por um ladrão
que vem de noite. Expressões como "abrir e fechar de olhos", "relâmpago que
sai do oriente e se mostra no ocidente " e "vir como ladrão" originalmente não

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trazem o sentido de velocidade, mas de surpresa, algo repentino e inesperado


para os incrédulos e os que não são verdadeiramente salvos (ainda falaremos
mais sobre isto).

Também em 1 Tessalonicenses 4:17, outro texto utilizado para


defender um suposto arrebatamento secreto, Paulo está consolando as
pessoas que estavam tristes com a morte dos irmãos que já haviam falecido.
O objetivo nesse versículo não é traçar uma ordem cronológica, mas afirmar
que tantos os salvos que já morreram, quanto os que estiverem vivos, todos
estarão presentes no dia da volta de Cristo e , para sempre, viverão com Ele.

Apocalipse 3:10 talvez seja o texto mais utilizado para defender o


arrebatamento antes da grande tribulação. A afirmação "te guardarei da hora
da provação" não está se referindo ao fato da Igreja ser tirada do mundo
nesse momento, mas de ser preservada em meio ao sofrimento que virá sobre
a terra e, sobretudo, da perseguição do mundo iníquo. Uma passagem
correlata a essa é Gálatas 1:4 onde Paulo escreve que o Senhor Jesus "se deu
a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau ".

É interessante considerarmos também a oração de Jesus em João 17,


onde Ele pede para o Pai guardar os que são seus, porém Ele mesmo explica
que isso não significa "tira-los do mundo" mas apenas que o Pai "os guarde do
mal" (Jo 17:15). Chamo a atenção para essa passagem porque aqui a palavra
grega para "guardar" é a mesma utilizada no texto de Apocalipse 3:10. Logo,
se em João 17:15 o termo grego não significa "tirar do mundo", apesar do
contexto ser praticamente o mesmo, isto é, a perseguição sobre os
seguidores de Cristo, por que em Apocalipse tal termo necessariamente
precisa ser no sentido de "sair/tirar do mundo"? É evidente que a mensagem
original que está sendo transmitida se refere ao fato de que a Igreja sofrerá
perseguições estando neste mundo iníquo, porém Deus nos guardará, de
modo que poderemos suportar as provações, pois em Cristo somos mai s que
vencedores. Essa mesma promessa também é encontrada em 2 Pedro 2:9.

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ANALISANDO ALGUNS TEXTOS ESPECÍFICOS


Creio que já vimos várias referências bíblicas sobre o fato de que a
Igreja passará pela grande tribulação. Agora veremos de maneira um pouco
mais detalhada algumas destas referências utilizadas geralmente para se
referir ao arrebatamento secreto.

A volta de Jesus será como um relâmpago:

Foi o próprio Jesus no sermão escatológico que definiu sua vinda


como um relâmpago (Mt 24:27; Lc 17:24). O problema é que muitas pessoas
interpretam esse texto de maneira equivocada, e acreditam que Jesus estava
ensinando que sua vinda será tão rápida como um "relâmpago que sai do
oriente e se mostra no ocidente ", e, logo, o evento será invisível, imperceptível
e secreto. Porém não é isso que o texto está dizendo.

Quando Jesus ensinou que sua vinda seria como um relâmpago, Ele
não estava querendo dizer que ninguém iria perceber esse momento, ao
contrário, Ele utilizou o exemplo do relâmpago para trabalhar duas verdades
sobre sua vinda: ela será repentina e visível.

A volta de Jesus será repentina, assim como o relâmpago, que em


uma tempestade todos sabem que pode ocorrer, mas ninguém consegue
prever exatamente quando e onde ocorrerá. Às vezes somos surpreendidos
por um raio caindo em um local próximo a nós e, geralmente, ficamos
surpresos e assustados pois foi repentino, porém isso não implica que esse
acontecimento foi secreto e invisível. É fundamental então percebermos que
"repentino" não é a mesma coisa que "secreto".

É lamentável que alguém interprete essa passagem da maneira


errada, pois contradiz o principal objetivo de Jesus ao dar esse exemplo. Para
entendermos isto, basta considerarmos o versículo anterior a este, e que levou
Jesus a usar tal exemplo:

Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais.
Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis (Mateus 24:26).

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Note que Jesus alerta que muitos estarão anunciando que o Cristo
estará em diversos lugares, mas isso será mentira, porque quando Ele
realmente vier todos perceberão, pois será como um relâmpago. O exemplo
do relâmpago é muito claro e fácil de entender, já que é impossível comparar
o aparecimento de um relâmpago com algo imperceptível e secreto. Quando
um relâmpago aparece no céu ele se mostra esplendoroso, visível a todos,
ilumina o céu até mesmo quando ocorre durante o dia, seu barulho é
estrondoso e, para grande parte das pessoas, ele é apavorante. Não há como
não perceber um relâmpago quando ele ocorre. Diante desses aspectos é
que Jesus usa tal expressão. Por fim, no original a expressão de Jesus remete
ao sentido de evidência, um evento perceptível e sem ambiguidade, porém,
sobretudo, repentino.

A volta de Jesus será como um ladrão:

Essa é outra expressão que muitas vezes é mal compreendida.


Novamente Jesus utilizou em seu sermão um exemplo que demonstra a
natureza inesperada de sua vinda, e em nada tem a ver com um evento
secreto.

O apóstolo Pedro, que inclusive estava presente nesse sermão de


Jesus, também utilizou o mesmo exemplo em sua segunda epístola:

O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão


com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor,
e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada (2 Pedro 3:10).

Podemos claramente notar que Pedro usa o exemplo do ladrão para


afirmar como esse momento será inesperado (ver 2 Pe 3:3-4), porém
totalmente visível. Não existe a menor possibilidade de o evento descrito no
versículo acima ser secreto.

Para quem ainda não se convenceu, também podemos considerar a


versão do apóstolo Paulo sobre esse momento, a qual ele utiliza o mesmo
exemplo do ladrão:

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Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-


lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor
virá como ladrão à noite. Quando disserem: "Paz e segurança",
então, de repente, a destruição virá sobre eles, como dores à
mulher grávida; e de modo nenhum escaparão. Mas vocês, irmãos,
não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão
(1 Tessalonicenses 5:1-4).

No texto aos Tessalonicenses, Paulo ensina primeiramente que não


adianta marcar datas e fazer previsões, pois a vinda de Cristo será
inesperada, assim como o ladrão à noite, porém quando esse momento
chegar será de grande destruição para os ímpios. No versículo 4 ele explica
que os verdadeiros cristãos não serão surpreendidos, isto é, a vinda de Cristo
será como um ladrão apenas para os ímpios, e não para os salvos.

Num abrir e fechar de olhos:

1 Coríntios 15:51-53 também é utilizado para tentar defender um


arrebatamento secreto, e a frase preferida é: "num abrir e fechar de olhos ".
Considerando principalmente o texto em grego (idioma em que ele foi escrito
originalmente), o que Paulo está tratando é a questão da imortalidade e o
caráter sobrenatural e misterioso do momento da volta de Cristo, ou seja, ele
está dizendo que não há uma explicação humana para o que ocorrerá, será
incompreensível, pois em frações de segundos pessoas que já morreram
terão seus corpos ressuscitados instantaneamente, revestidos de
incorruptibilidade, ao soar da trombeta, juntamente com quem estiver vivo na
ocasião. Paulo por mais de uma vez escreveu exortações de consolo aos
cristãos que estavam tristes com a perda de seus entes queridos, e também
para esclarecer que os que já morreram não estavam em desvantagem diante
da volta de Cristo.

O encontro com o Senhor nos ares:

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Escrevendo aos Tessalonicenses, Paulo, mais uma vez, fala


exatamente sobre o mesmo momento descrito na Epístola aos Coríntios:

Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que


estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor,
certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a
ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o
próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com
o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.
Consolem-se uns aos outros com estas palavras (1 Tessalonicenses
4:15-18).

É fácil perceber que Paulo está falando do mesmo evento de 1


Coríntios 15, e neste texto aos Tessalonicenses, fica ainda mais claro o
objetivo de confortar os cristãos acerca da morte. Por incrível que pareça esse
texto é talvez o mais utilizado para defender o arrebatamento secreto,
principalmente sob a frase "para o encontro com o Senhor nos ares ", que
segundo quem defende essa teoria, Cristo ficará nas nuvens e não tocará a
terra.

Sobre isto, primeiramente precisamos dizer que a afirmação de que


Cristo virá nas nuvens é uma informação que encontramos amplamente em
outras passagens bíblicas (Dn 7:13; Mc 13:26; 14:62; Ap 1:7) e nenhuma
dessas passagens ensina qualquer coisa relacionada a um arrebatamento
secreto ou invisível. Se pegarmos a referência de Marcos 13:26, veremos que
o próprio Jesus afirma que todos "verão vir o Filho do homem nas nuvens ". O
apóstolo João também estava presente nesse sermão e entendeu
perfeitamente as palavras de Jesus, sendo que em Apocalipse 1:7 em nada
ele contradiz o que Jesus já havia falado.

Sobre o fato de a Igreja encontrar com o Senhor nos ares, a forma


grega utilizada para descrever essa situação (eis apantesin tou Kyriou ) é uma

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expressão antiga para se referir as boas vindas cívicas de uma visita


importante, ou para saudar a entrada triunfante de um soberano na cidade.
Por exemplo: quando alguém de muita autoridade visitava uma cidade, os
principais cidadãos saiam ao seu encontro para acompanhá-lo na última
etapa do caminho. A mesma expressão é utilizada na Parábola das Dez
Virgens, onde as virgens saíram ao encontro do noivo. Pelo costume da
época, o noivo ia durante a noite até à noiva e as virgens encontravam o noivo
no caminho com uma recepção festiva, acompanhando-o de volta até onde
estava a noiva.

No versículo 16 Paulo não deixa dúvida de que não se trata de um


momento secreto e invisível, pois será "dada a ordem, com voz de arcanjo e o
ressoar da trombeta de Deus ". O ressoar da trombeta, a ressurreição dos
mortos em corpos ressurretos, o ajuntamento dos que estiverem vivos tendo
seus corpos transformados e a recepção festiva ao nosso Senhor nos ares,
conforme vimos acima, em nada me parece um momento secreto, invisível e
instantâneo.

Um será levado e outro será deixado:

Essa passagem pode ser encontrada em Mateus 24:40, e, embora


essa passagem também seja utilizada para supor um arrebatamento secreto,
não é isso que o texto está dizendo. Se lermos atentamente, perceberemos
que no versículo 39 Jesus usa como exemplo os dias de Noé, onde as
pessoas tinham seus afazeres até que veio as águas do Dilúvio e levou a
todos eles, e somente Noé e sua família foram salvos.

Note que quem foi levado não foram os justos (Noé e sua família), mas
os ímpios, pelo Dilúvio, ou seja, o que o texto está descrevendo é o juízo de
Deus, onde será separado o justo do ímpio. No mesmo capítulo 24 de Mateus,
no versículo 51, após uma pequena parábola, Jesus responde como será
essa separação e para onde estes serão levados, no caso, a um lugar de
pranto e ranger de dentes. Na passagem correlata em Lucas 17 no versículo
37 Jesus também ensina o mesmo principio.

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O ARREBATAMENTO DA IGREJA SERÁ UM EVENTO VISÍVEL


Biblicamente não resta dúvida de que a volta de Cristo será um
momento incomparável, um evento de proporções inimagináveis, de grande
glória e visível a todos.

No sermão escatológico, Jesus não fez referência alguma a um


arrebatamento secreto, pois se fez, então realmente foi secreto porque não
podemos encontrar no texto. Paulo e Pedro também, em nenhum momento,
ensinaram essa doutrina. Por fim, em Apocalipse, o apóstolo João nem se
quer cita tal possibilidade (ele também entendeu os ensinos de Jesus).

Além do mais, os termos gregos parousia (vinda, presença), harpazo


(capturar, raptar com força - geralmente utilizado pelos pré-tribulacionistas
para se referir ao arrebatamento secreto), apiphaneia (aparecimento,
manifestação) e apokalypsis (revelação), são usados de forma
intercambiáveis, e, dependendo do contexto, no máximo se complementam,
isto é, não sugerem nenhuma distinção de eventos entre um sendo "secreto" e
outro "visível".

Por exemplo: em 1 Tessalonicenses 4:15 o termo utilizado por Paulo


(gr. parousia) para descrever, segundo os pré-tribulacionistas, o
arrebatamento secreto, é o mesmo utilizado por Paulo em 1 Tessalonicenses
3:13 para descrever o que eles mesmos definem como sendo a segunda fase
da vinda de Cristo. Um caso semelhante também ocorre em 1 Coríntios 1:7 em
comparação com 2 Tessalonicenses 1:7,8 onde as palavras gregas são
utilizadas sem a intenção de criar algum tipo de divisão de fases. Logo, no
original não é possível fazer qualquer distinção de eventos.

Apesar de parecer estranha para muito cristãos, a posição pós-


tribulacionista é a mais antiga e tradicional dentro do cristianismo, sendo
ensinada por mais de 1.800 anos. Já me perguntaram algumas vezes que tipo
de "nova doutrina" eu estava defendendo quando, em algumas ocasiões,
preguei sobre a posição pós-tribulacionista.

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A reação das pessoas geralmente é a mesma: "Eu sempre aprendi


assim. Sempre foi ensinado que a Igreja não passará pela grande tribulação e
será arrebatada secretamente ". Se entendermos que esse "sempre" se refere
aos últimos 190 anos, então tudo bem. Se houvesse um cristão vivo hoje no
mundo com 190 anos de idade, certamente ele olharia para o pré-
tribulacionismo e falaria: "Essa doutrina apareceu ontem".

De forma oficial, a origem do Pré-Tribulacionismo está em meados do


século 19. Antes disso, alguns defendem que há indícios de que Efraim da
Síria, no século 4, ensinou algo parecido, e que talvez um padre jesuíta e um
pastor batista no século 18, também tenham produzido algum material nesse
sentido, mas nada de forma realmente oficial.

Foi porém, principalmente com J. N. Darby, membro dos chamados


Irmãos de Plymouth, que a doutrina pré-tribulacionista realmente ganhou força
no século 19. J. N. Darby é o maior expoente do Dispensacionalismo, e o
ensino pré-tribulacionista se encaixou perfeitamente nesse método de se
interpretar a Bíblia. Alguns estudiosos da História do cristianismo, alegam que
algumas pessoas naquela época se orgulhavam do Pré-Tribulacionismo como
sendo uma nova revelação do Espírito Santo para a Igreja. Quanto a isto, não
sabemos ao certo se tal alegação é verdadeira, todavia é fato que entre os
séculos 19 e 20 uma série de supostas revelações sobre um arrebatamento
secreto pré-tribulacional foram registradas, inclusive sendo publicadas em
revistas, jornais, livros e discos.

Seja como for, J. N. Darby se dedicou bastante em ensinar o


Dispensacionalismo através de viagens, livros e artigos. Também vale dizer
que com a publicação, e as milhões de cópias vendidas da Bíblia de
Referência Scofield de C. I. Scofield, a visão pré-tribulacionista se tornou
mundialmente popular.

Sinceramente eu gostaria muito que os irmãos pré-tribulacionistas


estivessem certos, porém não consigo encontrar fundamentação bíblica sólida
para defender essa posição. Posso prometer também que, se caso Cristo

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voltar antes da grande tribulação, garanto que não será eu quem irá reclamar.
Também prefiro ensinar uma igreja a estar preparada para passar por um
período de grande tribulação do que ensinar que seremos arrebatados antes
dela e, de repente, nos vermos em pleno período da grande tribulação.

Se eu ensinar que a Igreja não passará pela grande tribulação e


acabar passando, sei que as pessoas me cobrarão. Se eu ensinar que ela
passará e o arrebatamento ocorrer antes, então acredito que no novo céu e
nova terra ninguém se lembrará de me cobrar sobre isso. De qualquer forma,
o Pós-Tribulacionismo é a melhor interpretação em todos os cenários.

Posso concluir dizendo que considero o Pré-Tribulacionismo bastante


incoerente, mas não uma heresia. Para mim, uma heresia seria uma visão que
negue a volta de Cristo, e isso o Pré-Tribulacionismo não faz. Também
acredito que isso não deva ser motivo de divisão entre os cristãos, pois maior
é o que nos une: a esperança de que Cristo voltará! Que Deus nos guarde, e
que possamos estar sempre vigilantes.

EXISTE ALGUMA FORMA DE MARCAR UMA DATA PARA A VOLTA DE


CRISTO?
Infelizmente muitas pessoas insistem na tentativa de marcar
datas para a volta de Cristo. Nas últimas décadas, pelo menos sessenta
tentativas oficiais foram feitas.

As mais recentes tentativas de marcar uma data para a volta de Cristo


foram feitas, principalmente, com base num trecho do sermão escatológico de
Jesus:

Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos


se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão.
Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está
próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que todas estas coisas aconteçam (Mateus 24:32,33).

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Entendendo que Israel é a figueira, e que a figueira floresceu em 1948,


ano em que foi fundado o Estado de Israel, muitos estudiosos começaram a
prever a volta de Cristo para o ano 1988, quando se cumpre o período de uma
geração que, segundo eles, compreende o período de 40 anos. Livros foram
escritos com essa data, porém obviamente nada aconteceu. Depois fizeram
uma revisão na conta, e entenderam que a figueira só floresceu em 1967, na
Guerra dos Seis Dias. Assim, a nova data foi marcada para 2007, porém
novamente foi um erro. Mais uma vez o cálculo foi refeito, e chegou-se a
conclusão de que uma geração não são 40 anos, mas pouco mais de 51
anos. Assim, a nova data possível para o arrebatamento foi definida para
aproximadamente 2018.

É incrível como as pessoas permanecem nessa prática típica de falsos


profetas. Desde a época dos apóstolos falsos ensinos sobre a tentativa de
estipular a data da volta de Cristo transitavam na Igreja Primitiva.

Diante de tudo isto, prefiro fielmente permanecer atento as palavras


do Senhor Jesus:

Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas
unicamente meu Pai (Mateus 24:36).

O QUE PODEMOS CONCLUIR SOBRE A GRANDE TRIBULAÇÃO E A


SEGUNDA VINDA DE CRISTO?
Podemos dizer que biblicamente a grande tribulação será um período
muito difícil e de grande sofrimento para a Igreja de Cristo. Vimos neste
capítulo que no sermão escatológico de Jesus podemos encontrar uma
detalhada descrição sobre esse período, onde Jesus, profetizando acerca da
destruição de Jerusalém e do Templo, também se referiu aos eventos do fim
dos tempos, de modo que o grande sofrimento enfrentado pelos judeus no
século 1 pré-figura um período ainda mais terrível haverá de acontecer.

No livro do Apocalipse, também podemos perceber o sofrimento da


Igreja de Cristo sendo perseguida por esse mundo maligno, porém também

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percebemos os juízos divinos que são derramados sobre os inimigos da


Igreja, e como ela triunfará no final juntamente com Cristo.

Algo característico na grande tribulação será o aparecimento do


Anticristo escatológico, do qual já falamos aqui. Vimos que muitos anticristos
já surgiram ao longo da história (1 Jo 2:18; 4:3), sendo que os próprios irmãos
que foram os destinatários primários do livro do Apocalipse, reconheceram o
"sistema anticristo" como sendo o Império Romano, violento e opressor,
liderado pelos imperadores que se intitulavam "deuses" ( Dominus et Deus),
mas haverá um último, e pior de todos: o homem do pecado, filho da
perdição, o abominável da desolação (Mt 24:15; Mc 13:14; 2 Ts 2:4).

Esse agente de Satanás conduzirá um sistema maligno que se


levantará contra a Igreja. Apesar disto, a Igreja será guardada por Deus, isto
é, conseguirá suportar e se levantará gloriosa para encontrar com o Cordeiro.
Nesse momento, todo esse sistema cairá diante da majestosa vinda de Cristo.

O dia da volta de Jesus deve ser, para nós, o momento mais


aguardado de nossas vidas. Esse momento será o clímax do plano soberano
do nosso Deus, será a consumação da História, um dia de grande alegria
para os santos e de assombroso terror e desespero para os ímpios.

Naquele dia, tanto os que já partiram para o Senhor quanto os que


estiverem vivos, todos, serão transformados, e o que é corruptível se revestirá
de incorruptibilidade, seremos glorificados, isto é, será removido de nós todo
o pecado e seremos colocados em um estado de perfeita comunhão com
Deus. Realmente será um momento sem precedentes na História do mundo, e
nem mesmo se usássemos todas as palavras que conhecemos, ainda assim,
não seriamos capazes de descrever esse momento.

Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho;


mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então,
conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente
conhecido (1 Coríntios 13:12).

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O JUÍZO FINAL
O juízo final é amplamente referenciado em toda Bíblia, com particular
detalhe no livro do Apocalipse, sobretudo na passagem onde é descrito "o
grande trono branco" no capítulo 20. Certamente este é um dos temas que
mais desperta curiosidade, dúvida e debate entre os cristãos.

Neste capítulo conheceremos um pouco mais sobre o que a Bíblia nos


diz a respeito do juízo final, e consideraremos alguns pontos fundamentais
sobre esse evento que todos os cristãos verdadeiros devem conhecer.

O JUÍZO FINAL E AS DIFERENTES CORRENTES ESCATOLÓGICAS


Quanto ao juízo final, cada uma das correntes escatológicas que já
vimos neste livro interpreta de maneira diferente o tema de acordo com o
entendimento que possuem acerca dos eventos finais descritos na Bíblia.

De maneira geral, juntas elas concordam que todas as pessoas serão


julgadas, embora discordem acerca do momento em que acontecerá tal
julgamento, e da quantidade de julgamentos que ocorrerão, conforme
veremos a seguir:

 Amilenismo e Pós-Milenismo: embora tais correntes escatológicas


possuam muitas diferenças, ambas concordam que haverá um único
julgamento geral de todas as pessoas, e ocorrerá imediatamente após
a segunda vinda de Cristo.
 Pré-Milenismo Histórico: geralmente seus defensores entendem que
haverá dois julgamentos, sendo o primeiro na segunda vinda de
Cristo, e o segundo, no caso o juízo final, após a última revolta de
Satanás que ocorrerá ao fim do reino milenar e literal de Cristo na
terra, o milênio.
 Pré-Milenismo Dispensacionalista: esta posição é a mais complicada,
pois mesmo entre seus defensores há muitas opiniões divergentes.
Embora alguns dispensacionalistas cheguem em até sete

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julgamentos, a maioria deles entende que haverá três julgamentos


diferentes, sendo eles:
1. Julgamento por ocasião do arrebatamento da Igreja: ocorrerá
na primeira fase da segunda vinda de Cristo, ou seja, o
arrebatamento secreto da Igreja, e será o julgamento das obras
do salvos, também denominado como "tribunal de Cristo", onde
os santos serão galardoados.
2. Julgamento de judeus e gentios no final da grande tribulação:
ocorrerá na segunda fase da segunda vinda de Cristo, sete
anos após a primeira fase, isto é, ao término da grande
tribulação, e servirá como base para determinar questões
acerca do milênio. Esse julgamento também é chamado de
"julgamento das nações".
3. Julgamento geral dos ímpios após o milênio: esse será o juízo
final, o julgamento do grande trono branco. Ele ocorrerá após a
última revolta de Satanás que se dará ao fim do milênio. Muitos
dispensacionalistas entendem que nesse julgamento, além dos
anjos caídos, apenas os ímpios serão julgados, ou seja, será
um julgamento exclusivo para condenação. Já para outros,
também serão julgados os santos que morrerão durante o
milênio.

Apesar das divergências, todas as correntes escatológicas


concordam que após o juízo final se dará início ao estado eterno, com os
ímpios condenados eternamente ao lago de fogo, e os santos reinando com
Deus no novo céu e nova terra.

QUANTOS JUÍZOS FINAIS OCORRERÃO?


Bem, como vimos anteriormente, há muita discussão a respeito da
quantidade de julgamentos, e, dependendo da resposta dada a essa
pergunta, automaticamente uma determinada posição escatológica passará a
ser defendida.

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Todavia, acredito que esse não deva ser um motivo de divisão entre
os cristãos, ao contrário, devemos nos unir fielmente na esperança da
chegada desse grande dia. Precisamos agir com respeito por quem pensa
diferente de nós, lembrando que também são cristãos genuínos que amam a
Palavra de Deus.

Para mim, considero herege apenas aqueles que negam a realidade


do juízo final, a condenação eterna dos ímpios, e a eternidade dos santos com
Deus. Quanto as outras questões, as considero como pontos secundários.

Respondendo a pergunta acerca da quantidade de julgamentos,


particularmente entendo que a Bíblia sempre se refere ao juízo final como um
único evento diretamente ligado a vinda de Cristo e a ressurreição geral dos
mortos (Dn 12:2; Mt 7:22; 11:22; 12:41,42; 25:31-46; Jo 5:28,29; At 17:31;
24:14,15; Rm 2:5; 2Ts 1:7-10; 2Tm 1:12; 4:1,8; 2Pe 3:7; Jd 14; Ap 20:11-14).

Qualquer tentativa de se estipular dois, três ou mais julgamentos não


encontra fundamentação bíblica. Geralmente tais argumentos são construídos
valendo-se de versículos isolados.

Muitos pré-milenistas dispensacionalistas insistem em afirmar que


passagens como Mateus 25:31-46 e 2 Coríntios 5:10 se referem a julgamentos
diferentes do julgamento do grande trono branco mencionado no capítulo 20
do Apocalipse.

Sobre a referência no Evangelho de Mateus, eles afirmam que se trata


do julgamento das nações para o início do milênio, e quanto à referência da
Epístola aos Coríntios, defendem que o tribunal de Cristo é um julgamento
exclusivo para os crentes, onde suas obras serão julgadas.

Primeiro precisamos admitir que no capítulo 25 de Mateus a ênfase no


tema do juízo é notória. Entretanto, em tal passagem nada é dito acerca do
milênio, e o fato das nações estarem reunidas perante o trono de Cristo,
apenas mostra a completude e alcance desse julgamento, pois todos estarão

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diante d'Ele, isto é, ninguém escapará. Fica claro também que o julgamento é
individual, ou seja, as ovelhas são separadas dos bodes.

Já na passagem de 2 Coríntios 5:10, o apóstolo Paulo não está


estabelecendo uma distinção entre “dias de julgamentos”. Entender assim é
desconsiderar o contexto em que o capítulo está inserido, além de
desconhecer o objetivo do próprio texto, onde Paulo está tratando acerca da
habitação dos santos com o Senhor.

Em relação à referência ao julgamento presente no capítulo (vers. 10),


Paulo não está falando sobre quando será o julgamento ou sobre a
quantidade de julgamentos, mas sim sobre quem e o que será julgado. Na
verdade, o próprio apóstolo nitidamente esperava um único dia de juízo (At
17:29-31; Rm 2:5-16; 2Ts 1:7-10; 2Tm 1:12).

Existem temas difíceis na Bíblia, e este é um deles. Porém, apesar de


algumas coisas não estarem muito claras nas Escrituras, o que não há nelas
são erros e contradições. A Bíblia sempre se refere a esse momento como "o
dia do juízo", não "os dias dos juízos".

Portanto, não podemos isolar e forçar um texto bíblico


desconsiderando todas as outras passagens acerca do assunto, a fim de
construirmos um posicionamento teológico, pois isso resultaria numa aparente
contradição. Como a Palavra de Deus é inerrante e infalível, certamente o erro
está em nossa interpretação.

QUANDO OCORRERÁ O JUÍZO FINAL?


Depois que entendemos que haverá apenas um único juízo final,
naturalmente surge a pergunta acerca de quando esse julgamento ocorrerá.
Antes de falarmos sobre isso, vale dizer que num certo sentido as pessoas
são julgadas já no presente, isto é, de acordo com a resposta delas ainda em
vida à Cristo.

Isso foi o que Jesus ensinou a Nicodemos no Evangelho de João, ao


dizer que "quem crê nele não é condenado, mas quem não crê já está

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condenado". No original, o termo traduzido como “condenado” também


significa “julgado”. Logo, quem não crê no nome do unigênito Filho de Deus já
está julgado.

Isso implica na ideia de que o juízo de Deus já recai no presente sobre


os incrédulos, porém isso não anula a verdade de que a Bíblia aponta para
um julgamento futuro e final, que ocorrerá no fim da História.

Sobre esse julgamento futuro, a Bíblia nos ensina que ele acontecerá
no final da presente era, “no último dia” (Jo 12:48), precedendo imediatamente
o estabelecimento do estado eterno.

Na Parábola do Trigo e do Joio, Jesus explicou que o julgamento se


dará “na consumação deste mundo ” (Mt 13:40). Segundo o próprio Jesus,
esse momento ocorrerá por ocasião de sua segunda vinda, quando “Ele se
assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua
presença, e ele separará uns dos outros…” (Mt 25:31,32).

O apóstolo Paulo também apontou exatamente para esse mesmo


momento escrevendo à igreja em Tessalônica (2Ts 1:7-10). Segundo Paulo,
esse será o dia em que o Senhor Jesus se manifestará desde o céu com os
anjos do Seu poder, "com labareda, tomando vingança dos que não
conhecem a Deus".

O apóstolo Pedro também falou sobre esse momento. Para ele, “os
céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como
tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos
homens ímpios” (2Pe 3:7).

No versículo 10 do mesmo capítulo 3, Pedro esclarece que esse


evento acontecerá no dia da vinda do Senhor, um dia que pegará o mundo
iníquo de surpresa, pois "vira como ladrão". Nesse dia se encerrará a presente
era, e começará a eternidade com "novos céus e nova terra, em que habita a
justiça".

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Apesar da Palavra de Deus nos esclarecer de maneira geral a ordem


dos eventos, ela não nos revela o momento exato em que isso ocorrerá. Sobre
isso, Jesus falou que “daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu,
mas unicamente o Pai ” (Mt 24:36).

Embora não possamos estabelecer uma data, somos confortados de


que a hora já está marcada. No Evangelho de João lemos: “Não vos
maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos
sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da
condenação” (Jo 5:28,29).

QUAL SERÁ A DURAÇÃO DO JUÍZO FINAL?


Algumas pessoas possuem essa curiosidade. É claro que essa
pergunta é impossível de ser respondida sob os padrões de medida de tempo
que conhecemos. A Bíblia se refere a esse momento apenas como “o dia do
juízo” (Mt 11:22), “aquele dia” (Mt 7:22; 2Ts 1:10; 2Tm 1:12) e “o dia da ira”
(Rm 2:5).

Apesar de a Bíblia deixar claro que se trata de um único dia como já


vimos anteriormente, nós não sabemos como o tempo funcionará nesse
momento. Em outras palavras, não devemos entender esse dia como um dia
necessariamente de 24 horas, além do que, a Bíblia também usa a palavra
“dia” para se referir a períodos mais longos.

Sobre isso, o importante é que haverá tempo suficiente para que todos
sejam julgados, de modo que tal julgamento acontecerá sem interrupções,
imprevistos, recessos e adiamentos. Esse julgamento só terminará quando
todos os ímpios estiverem no lago de fogo, e os salvos acolhidos na bem-
aventurança de Deus.

ONDE OCORRERÁ O JUÍZO FINAL?


Essa é outra pergunta bem difícil de responder. A Bíblia esclarece que
o juízo final ocorrerá diante de um grande trono branco (Ap 20:11), e isso é

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incontestável. A dificuldade se dá em dete rminar onde estará este trono


branco.

Alguns estudiosos sugerem que estará na terra, enquanto outros


defendem que estará no céu (ou nos ares). Os que preferem a terra,
argumentam que isso seria mais lógico considerando a ressurreição dos
mortos.

Já os que argumentam em favor das alturas, consideram que no livro


do Apocalipse o trono de Deus e do Cordeiro sempre está no céu, não na
terra, além de que dificilmente haveria lugar na terra para comportar todas as
gerações que alguma vez viveram deste que o mundo foi criado, de modo
que se apresentem todas juntas diante do trono do juízo.

Outros fazem um “combinado” das duas possibilidades, ou seja,


defendem que os mortos ressuscitados estarão na terra e o trono branco
estará nos ares, pairando sobre eles.

Particularmente prefiro a sugestão de que o julgamento ocorrerá nas


alturas, isso por considerar o momento de colapso e renovação em que o
mundo a qual conhecemos estará submetido. Seja como for, o importante é
que o julgamento ocorrerá, embora a Bíblia não determine claramente o local
em que se dará.

QUEM SERÁ O JUIZ NO JUÍZO FINAL?


Essa é outra pergunta que causa certa dúvida em alguns cristãos. Em
algumas passagens bíblicas, o juízo é atribuído ao Pai (1Pe 1:17; Rm 14:10;
cf. Mt 18:35; 2Ts 1:5; Hb 11:6; Tg 4:12; 1Pe 2:23). Entretanto, de forma geral o
Novo Testamento aponta que Cristo será o Juiz.

No Evangelho de João, lemos que “o Pai ninguém julga, mas ao Filho


confiou todo o julgamento ” (Jo 5:22). O apóstolo Paulo no livro de Atos dos
Apóstolos, disse aos atenienses que Deus “estabeleceu um dia em que há de
julgar o mundo com justiça por meio de um varão que destinou e acreditou
diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:31; cf. 2Co 5:10).

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Não há qualquer contradição acerca desse assunto. Basta nos


atentarmos para a verdade bíblica de que nas obras divinas da criação,
providência, redenção e finalmente o juízo, as três Pessoas da Trindade
cooperam.

Logo, Deus Pai, por meio do Cordeiro, Jesus Cristo, será o juiz, ou
seja, a honra de julgar os vivos e os mortos foi conferida a Cristo, que julgará
todos os homens em nome de Seu Pai (Dn 7:13; Mt 13:40 -43; 25:31,32,41-46;
26:64; 28:18; Jo 5:22-27; At 10:42; 2Co 5:10; Fp 2:9,10; 2Tm 4:1; Hb 9:27;
10:25-31; 12:23; 2Pe 3:7; Jd 6,7; Ap 20:11-15). Isso está de acordo com o fato
de que foi Cristo quem se encarnou, morreu e ressuscitou.

Os salvos são aqueles que creem nEle, e os condenados são aqueles


que rejeitam a Ele. Por isso é mais apropriado que Ele mesmo julgue tais
pessoas. Isso também será um tipo de recompensa por seu trabalho realizado
como Mediador, e a exaltação final de seu triunfo maior. Esse será o momento
em que o Cordeiro consumará todas as coisas, subjulgará todos os seus
inimigos e entregará o Reino a Deus Pai (1Co 15:24).

QUEM PARTICIPARÁ DO JULGAMENTO FINAL?


A Bíblia claramente afirma que os anjos estarão associados a Cristo
no juízo (Mt 13:41,42; 24:31; 2Ts 1:7,8; Ap 14:17-20). O papel desempenhado
por eles será o de reunir os ímpios para o juízo diante do trono e os lançar no
lago de fogo.

Outras passagens bíblicas também afirmam que os santos, em seu


estado glorificado, também participarão ativamente do julgamento (Sl 149:5-9;
1Co 6:2,3). A Bíblia não é muito clara sobre como será essa participação,
porém é muito provável que seja no sentido de louvar e reconhecer a
integridade dos juízos de Cristo (Ap 15:3,4).

QUEM SERÁ JULGADO NO JUÍZO FINAL?


Em diferentes textos a Bíblia nos informa que todos os anjos caídos
serão julgados (Mt 8:29; 2Pe 2:4; Jd 6). Além dos anjos caídos, todos os seres

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humanos, de todas as épocas e gerações, também comparecerão diante do


grande trono branco para serem julgados.

Apocalipse 20:12 deixa claro que não haverá nenhuma exceção, pois
todos, “os grandes e os pequenos” estarão diante de Deus. Considerando
que não haverá outro julgamento, e que todas as pessoas estarão diante do
trono branco, logicamente os santos também estarão.

O ensino que afirma que os salvos não comparecerão nesse


julgamento não encontra base bíblica. O Novo Testamento ensina
explicitamente que os ímpios e os santos serão julgados no mesmo dia de
juízo.

No Evangelho de Mateus Jesus disse aos escribas e fariseus


incrédulos que os ninivitas que se arrependeram nos dias do profeta Jonas se
levantarão juntamente com eles no juízo, com a diferença de que eles não
receberão condenação, ao contrário, condenarão os ímpios daquela geração
(Mt 12:41,42).

Relembrando a passagem já citada aqui de 2 Coríntios 5:10, o


apóstolo Paulo foi claro ao dizer que "todos devemos comparecer ante o
tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por
meio do corpo, ou bem, ou mal ".

Como já discutimos, Paulo não está falando de um outro dia de juízo,


mas apenas do único dia de juízo pela qual ele aguardava. Lembrando que
ele sempre se refere a esse julgamento como “aquele dia” (2Ts 1:6-10; 2Tm
4:1,8; cf. At 17:31).

Na Carta aos Romanos (cap. 14:10), o mesmo Paulo escreve que


"todos compareceremos perante o tribunal de Deus". Já Tiago, em sua
epístola, adverte sobre a responsabilidade que está sobre aqueles que
ensinam a Palavra de Deus, pois estes serão “julgados com maior rigor” (Tg
3:1). Na Epístola aos Hebreus (cap. 10:30) lemos que “o Senhor julgará o seu
povo” (cf. 1Pe 4:17).

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Outro fato que nitidamente demonstra que os salvos também estarão


participando desse julgamento é a abertura do livro da vida (Ap 20:12,15). O
livro da vida será aberto e mostrará de uma forma indiscutível a diferença
entre os salvos e os incrédulos, entre as ovelhas e os bodes.

Os que não têm o nome registrado no livro da vida serão lançados no


lago de fogo, que é a segunda morte. Somente os salvos é que terão seus
nomes escritos nesse livro (Fp 4:3; Ap 13:8; 17:8; 20:15; 21:27; cf. Lc 10:20).

Apesar de a Igreja comparecer diante do tribunal de Cristo, ela não


deve temer o dia do juízo. Conforme vimos acima, os nomes dos santos estão
escritos no livro da vida, ou seja, não há qualquer condenação para aqueles
que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).

O Apóstolo João, em sua primeira epístola, nos ensina que aqueles


que estão em Deus podem ter confiança no dia do juízo (1 Jo 4:17). Além
dessa passagem também reafirmar que os salvos serão julgados, ela explica
que para eles não há o que temer.

O dia do juízo será de terror para uns e de grande alegria para outros.
Enquanto os ímpios receberão a condenação eterna, os santos serão salvos
pelos méritos de Cristo no “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus ”
(Rm 2:5). Jesus é quem nos livra da ira futura (1Ts 1:10).

O QUE SERÁ JULGADO NO JUÍZO FINAL?


No juízo final serão julgadas todas as coisas que foram feitas durante
a vida presente, quer sejam más, quer sejam boas (2Co 5:10). Esse “todas as
coisas” inclui:

 As obras: o livro do Apocalipse deixa isso muito claro ao dizer que “ os


mortos foram julgados segundo as suas obras, conforme o que se
achava escrito nos livros” (Ap 20:12). O mesmo ensino encontramos
em várias outras referências bíblicas (Mt 25:35-40; Ef 6:8; Hb 6:10; cf.
1Co 3:8; 1Pe 1:17; Ap 22:12). Aqui também podemos incluir a questão

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da omissão, ou seja, as vezes que erramos por deixarmos de fazer


algo.
 As palavras: Jesus foi claro ao dizer que “de toda palavra frívola que
proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo” (Mt 12:36).
 Os pensamentos: o apóstolo Paulo escreveu dizendo que quando o
Senhor vier, “não somente trará à plena luz as coisas ocultas das
trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações ” (1Co 4:5;
cf. Rm 2:16).

Resumindo, podemos dizer que no dia do juízo final não há nada que
agora esteja escondido que não será revelado (Lc 12:2; Mt 6:4,6,18; 10:26;
1Tm 5:24,25). O julgamento de todas as coisas feitas pelos homens em vida,
enfatiza a realidade da responsabilidade humana ensinada na Bíblia.

QUAL SERÁ O CRITÉRIO DE JULGAMENTO NO JUÍZO FINAL?


Primeiramente precisamos ressaltar que a eternidade ao lado de
Deus, ou a condenação eterna no lago de fogo, dependerá exclusivamente se
a pessoa estará vestida com a justiça de Cristo, ou seja, sem a justificação
pela fé em Cristo Jesus será impossível ser absolvido desse julgamento.

Em outras palavras, em nenhuma hipótese há qualquer salvação fora


de Cristo (Jo 3:16; 14:6; At 4:12; 1Co 3:11). O critério para a salvação não são
as obras, mas a graça.

Apesar de as obras serem julgadas no juízo final, fica clara a intima


ligação entre fé e obras, no sentido de que a verdadeira fé revela a si própria
nas obras, ou seja, as obras são a evidência da fé. Logo, se alguém possui a
fé verdadeira, necessariamente produzirá boas obras (Mt 7:21; Tg 2:18-26).

Estabelecido esse princípio, agora podemos dizer que o critério será


basicamente a vontade revelada de Deus. A Bíblia nos mostra que algumas
pessoas receberam uma revelação maior da vontade de Deus do que outras
(Mt 11:20-22).

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Essa verdade nos leva ao fato de haverá graus de castigos e também


graus de glória. Jesus falou exatamente sobre esse ponto no Evangelho de
Lucas ao ensinar que “o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se
aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos
açoites; mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos
açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá,
e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12:47,48).

Perceba que Jesus ensinou que quanto maior a revelação que alguém
recebe acerca da vontade de Deus, maior será a sua responsabilidade. Se a
passagem acima revela que haverá graus de sofrimento para os perdidos,
outras passagens também revela que haverá graus de gloria para os santos,
como por exemplo, em 1 Coríntios 3:10-15, onde o apóstolo Paulo trata da
questão dos galardões.

Portanto, as pessoas serão julgadas com base na quantidade de


conhecimento que receberam acerca da vontade de Deus, e como reagiram
ao conhecimento que receberam.

Dando um exemplo prático, uma pessoa que teve a revelação da


vontade de Deus apenas no Antigo Testamento será julgada de acordo com
sua reação ao Antigo Testamento. Vale lembrar que o Antigo Testamento
aponta para Cristo, e que naquele tempo homens de Deus, no Espírito de
Cristo, pregaram a justiça (1 Pe 1:10,11; 3:18-20; 4:6).

Já quem recebeu a revelação completa da vontade de Deus, isto é,


tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, será julgado por sua
reação a toda a Escritura. Logo, os santos da antiga dispensação viveram
pela fé na promessa que haveria de vir, e nós, da nova dispensação, vivemos
pela fé no cumprimento da promessa. De igual modo, todos nós seremos
julgados por isso.

Há também aqueles que não receberam nem a revelação da vontade


de Deus encontrada no Antigo Testamento, nem a encontrada no Novo

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Testamento. Paulo fala sobre essas pessoas em sua Carta aos Romanos, e diz
que todos eles são indesculpáveis, pois, apesar de não terem recebido a
revelação especial de Deus, ignoraram a clara revelação d'Ele na natureza, e
não O honraram como Deus (Rm 1:18-21).

OS GALARDÕES NO JUÍZO FINAL


Como pudemos ver, no juízo final o ímpio receberá sua condenação
com diferentes graus de castigo, e o santo receberá seu galardão com
diferentes graus de glória.

Falando rapidamente sobre os galardões, a Bíblia em várias


passagens afirma que os salvos serão galardoados (Mt 5:11,12; 6:19-21;
25:23; Mc 9:41; Lc 6:35). Os galardões serão distribuídos segundo as obras
de cada um. Isso é o que o apóstolo Paulo afirmou em 1 Coríntios 3:10-15.

Nessa passagem, Paulo utilizou seis materiais para exemplificar a


forma com que os santos constroem suas obras, sendo eles: ouro, prata,
pedras preciosas, madeira, feno e palha. Paulo também deixou claro que o
fundamento sobre o qual todos devem construir é um só: Jesus Cristo. Depois,
Paulo falou que a obra de cada um será testada pelo fogo, uma clara
referência ao dia do juízo de Deus.

O apóstolo completa dizendo que “se permanecer a obra de alguém


que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de
alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia,
como que através do fogo” (1Co 3:14,15).

Paulo está falando exatamente sobre o fato de que cada cristão terá
de prestar contas do que fez com a revelação de Deus em seu Filho. O cristão
fiel e aplicado, que serve a Deus com diligencia e comprometimento, será
graciosamente recompensado por Deus com galardão.

Já o cristão que age com negligência, será punido, sofrerá dano e terá
suas obras queimadas. Apesar disso, por sua infinita graça, Deus lhe concede
o dom da salvação. Note que o tipo de material com que cada um construiu

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foi importante para o recebimento do galardão, mas o determinante para a


salvação foi o fundamento sobre o qual os edificadores construíram, ou seja,
ambos são salvos pela graça, pois de nada adiantaria construir com ouro
sobre outro fundamento que não seja Cristo.

Outro ponto importante é entender que os galardões são dons da


graça de Deus, ou seja, são presentes dEle para nós, e não conquistas
nossas, pois por melhores que pareçam ser as nossas obras, aos olhos de
Deus nenhuma delas é digna de honra (Lc 17:10).

Se receberemos galardões, isso também é graça. Calvino falou algo


muito interessante sobre isso: “Tendo assim nos recebido em seu favor, Ele
aceita graciosamente também as nossas obras, e é dessa aceitação
imerecida que o galardão depende ”.

QUAIS SÃO OS PROPÓSITOS DO JUÍZO FINAL? POR QUE ELE TEM


QUE OCORRER?
Podemos citar alguns propósitos principais que explicam a
necessidade acerca do juízo final:

 Mostrar a soberania de Deus e a sua glória na revelação do destino


eterno de cada pessoa que já existiu sobre a face da terra, e no
desfecho final da presente era. Na condenação dos ímpios, a justiça
de Deus será exaltada, bem como sua graça será exaltada na
salvação dos santos.
 Será o momento em que Cristo e seu povo serão publicamente
vindicados. Todos os homens verão aquele a quem crucificaram em
grande esplendor e glória. Agora, aquele a quem julgaram os julgará.
 Revelar o grau de punição ou de gloria (galardões) que cada um vai
receber.
 Designar cada pessoa ao devido lugar em que passará a eternidade,
isto é, ou o novo céu e nova terra ou o lago de fogo.

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QUAL O SIGNIFICADO DO JUÍZO FINAL?


O juízo final significa, sobretudo, que a História não é conduzida pelo
acaso. Nada do que acontece escapa do conhecimento de Deus, pois Ele é
soberano, e é Ele quem governa a História.

O dia do juízo mostrará o triunfo final de Deus e de sua obra


redentora, ou seja, a conquista final e decisiva sobre todo mal e a revelação
máxima da vitória de Cristo, o Cordeiro que foi morto. O juízo final revelará e
provará ao mundo que a vontade de Deus será executada perfeitamente, e
que nenhum de Seus planos poderá ser frustrado.

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O INFERNO SEGUNDO A BÍBLIA


Após aprendermos sobre o juízo final, necessariamente precisamos
entender o que a Bíblia diz acerca do inferno. O inferno é um lugar de intenso
sofrimento que, segundo a Bíblia, serve de habitação para todos aqueles que
foram condenados ao castigo eterno.

A Bíblia se refere ao inferno tanto em seu estado atual, onde os ímpios


já estão sob tormento enquanto aguardam a ressurreição de seus corpos,
como em seu estado final, também chamado de “lago de fogo”, onde os
ímpios juntamente com o diabo e seus anjos serão eternamente castigados
após o julgamento final.

Existe muita discussão e algumas dúvidas entre os cristãos acerca


deste assunto. Portanto, neste capítulo iremos analisar alguns pontos
importantes a respeito do que a Bíblia diz sobre o inferno.

O QUE É O INFERNO? O INFERNO É REAL?


A doutrina bíblica acerca da realidade do inferno é muito clara, e por
mais que pareça aterrorizante não deve ser negada.

Ao mesmo passo em que a Bíblia ensina que a vida eterna dos


redimidos ao lado de Deus no novo céu e nova terra será tão gloriosa que é
inimaginável para nós na atualidade, ela também ensina que o tormento
eterno dos ímpios no inferno é tão terrível que foge à nossa compreensão.

Existem realmente muitas referências bíblicas que apontam para o


inferno como um lugar real onde os ímpios e os anjos caídos serão
atormentados.

Apesar da doutrina acerca do inferno não aparecer tão detalhada nos


livros do Antigo Testamento como aparece no Novo, há muitos textos que
apontam para esse lugar. Um dos exemplos que podemos utilizar é a
passagem de Salmos 73:17-19, onde Asafe, num questionamento sobre o
sofrimento dos justos e a prosperidade dos ímpios, entende o quão terrível é o

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destino do ímpio quando morre, pois eles caem em ruína, são destruídos de
repente, completamente tomados de pavor. Aqui podemos entender que o
sofrimento do ímpio está sendo descrito deste o estado intermediário onde ele
aguarda o juízo final, até sua condenação definitiva no lago de fogo.

Já no Novo Testamento, encontramos várias passagens bíblicas que


falam explicitamente sobre a realidade do inferno (Mt 5:22; 8:12; 13:42,50;
18:9; 22:13; 24:51; 25:30,41-46; Lc 16:23; 1Ts 5:3; 2Ts 1:7-9; 2Pe 3:7; Jd 1:13;
Ap 20:10 e outras).

Nas passagens citadas acima, podemos notar que na maioria delas é


o próprio Jesus quem está ensinando. Portanto, negar a existência do inferno
consiste em negar o ensino do próprio Senhor. Podemos notar que os
apóstolos também ensinaram acerca do inferno, com destaque ao apóstolo
João que descreveu detalhes importantes no livro do Apocalipse.

O QUE SIGNIFICA INFERNO?


A palavra inferno é de origem latina e significa “profundezas”. Essa
palavra não aparece originalmente na Bíblia, mas foi utilizada para traduzir
quatro termos originais nas Escrituras, sendo eles: Sheol, Hades, Gehenna e
Tártaro.

Estes quatro termos possuem diferentes significados e aplicações,


porém se tratando do inferno em seu estado final, ou seja, o lugar de
condenação eterna após o juízo final, Gehenna é o termo que aparece no
Novo Testamento para designá-lo. Entretanto, é bastante interessante
conhecermos um pouco melhor do significado e aplicação de cada um destes
quatro termos na Bíblia.

O SIGNIFICADO DE SHEOL
Sheol é uma palavra hebraica utilizada mais de sessenta vezes em
todo Antigo Testamento. A raiz da qual Sheol deriva é incerta. Alguns
consideram que Sheol deriva de uma raiz que significa “interrogar”,
transmitindo a ideia de "lugar ou estado de interrogação". Outros defendem

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que Sheol deriva de uma raiz que significa “concavidade”, no sentido de


“profundeza”, transmitindo a ideia de "lugar profundo".

Seja como for, a raiz da qual o termo Sheol se origina não nos impede
de entender seu significado e aplicação nas Escrituras. Dependendo da
versão bíblica utilizada, na maioria das vezes Sheol é traduzido como inferno
(Dt 32:22; 2Sm 22:6; Jó 11:8; 26:6; 7:27; 9:18; 15:11,24; 23:14; 27:20; Is 5:14;
14:9,15; 28:15; Sl 9:17; 16:10; 18:5; 55:15; 86:13; 116:3; 139:8; Pv 5:5; Ez
31:16,17; 32:27; Am 9:2; Jn 2:2; Hb 2:5 e outras).

Entretanto, nem sempre em tais passagens devemos entender inferno


como sendo o local de tormento do ímpio, como por exemplo, em Salmos
116:3; Isaías 5:14 e Jonas 2:2. Por isso em algumas versões revisadas a
aplicação da palavra inferno é substituída por uma tradução mais apropriada
ao contexto.

Diante disso logo vem a pergunta: Como saber qual o significado


correto do termo Sheol em cada passagem bíblica, já que ele possui
diferentes significados?

Essa pergunta pode ser respondida considerando essencialmente o


contexto de cada passagem onde Sheol aparece. De maneira bem simples,
podemos dizer que Sheol é o lugar para qual uma pessoa vai, ou o estado a
qual ela se encontra, podendo ser no sentido literal ou figurado.

Obviamente esse conceito nos levará a diferentes significados, e


como já dissemos, o contexto é que decidirá qual o significado correto. Assim,
podemos dizer que nos livros do Antigo Testamento Sheol pode significar:

1. Um lugar de castigo para o ímpio, onde a ira de Deus arde como fogo
(Dt 32:22; Sl 9:17; 55:15; Pv 15:11,24).
2. A própria sepultura onde todo homem, seja ímpio ou seja justo, um dia
descerá, isto é, com seu corpo ao morrer (Gn 44:29,31; 1Rs 2:6,9).
3. O estado de morte, ou seja, a existência desencarnada da alma. É o
período em que a alma fica separada do corpo aguardando a

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ressurreição, uns para a bem-aventurança eterna e outros para a


condenação eterna. Geralmente a expressão mais utilizada para se
referir a esse período é: “estado intermediário dos mortos”.

Quanto a este último significado, devemos fazer uma observação.


Tanto os justos como os ímpios, ao morrerem, “entram” no estado
desencarnado. Porém, vale enfatizar que há uma diferença bem grande nos
dois casos.

O ímpio, em seu estado desencarnado, permanece num lugar de


tormento aguardando a ressurreição de seu corpo onde comparecerá diante
do tribunal de Deus para ser julgado e condenado eternamente ao lago de
fogo, que é o inferno em seu estado final.

Já o redimido, ao morrer, ele vai estar com Cristo no céu, onde


descansa das tribulações de sua vida terrena, e aguarda a ressurreição de
seu corpo para habitar com Deus no novo céu e nova terra durante toda a
eternidade. Falaremos isso novamente mais adiante.

O SIGNIFICADO DE HADES
Hades é o termo grego mais próximo do hebraico Sheol, utilizado
inclusive na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) para traduzir,
na maioria das vezes, o termo Sheol. Todavia, a palavra Hades é encontrada
originalmente no Novo Testamento, o qual foi escrito em grego.

Tal como o termo Sheol, Hades também possui significados diferentes


conforme o contexto determina. Na Parábola do Rico e Lázaro (Lc 16), Hades
significa um lugar de tormento para os ímpios. Assim, tal palavra pode ser
traduzida como “inferno”, desde que se entenda que não se trata do inferno
em seu estado final.

Também vale ressaltar que o Hades, nem nessa passagem nem em


qualquer outra, significa um mundo inferior (ou subterrâneo) dividido em duas
alas, onde ficavam os justos e os ímpios. O mesmo princípio também serve
para o hebraico Sheol.

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Esse tipo de pensamento tem origem na mitologia grega, onde havia o


conceito do Tartáro e do Elíseos, e que foi incorporado em alguns materi ais da
literatura apócrifa judaica, mas não encontra base bíblica alguma.

Portanto, ainda na Parábola do Rico e Lázaro, o “seio de Abraão” não


é uma versão bíblica do grego Elísios. Ao utilizar essa expressão, Jesus
estava se referindo a uma cena em que o mendigo era o convidado de honra
num banquete ao lado de Abraão, o principal patriarca dos judeus (cf. Is 25:6-
9; Mt 8:11).

No Evangelho de Mateus 11:23 e no Evangelho de Lucas 10:15,


Hades é utilizado no sentido figurado para estabelecer um contraste com o
céu. Já em Mateus 16:18, Jesus diz que as portas do inferno (ou portas do
Hades) não prevalecerão contra a Igreja. Nesse caso, Jesus está dizendo que
a própria morte não triunfará sobre o seu povo.

Em Atos 2:22-31, o apóstolo Pedro, citando Davi, diz que a alma de


Jesus não foi deixada no Hades (em algumas traduções "inferno"), e nem sua
carne viu a corrupção. Com isso, Pedro estava dizendo que Jesus não
permaneceu no estado de existência desencarnada, apontando para o fato de
que o seu corpo não viu a corrupção da sepultura, ao contrário do corpo de
Davi.

Hades também aparece no livro do Apocalipse em três passagens


(Ap 1:18; 6:8; 20:13,14), e se refere ao estado de morte, representado no
sentido figurado como se fosse um lugar ou personificado como se fosse uma
pessoa.

O SIGNIFICADO DE TÁRTARO
Em 2 Pedro 2:4, lemos a expressão “lançando-os no inferno“, que
traduz o original grego “lançar no Tártaro“. Essa é a única passagem bíblica
onde aparece essa palavra grega. Nela, o apóstolo tomou emprestada a
palavra para inferno da mitologia grega.

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Para os gregos, o Tártaro era um lugar inferior no mundo dos mortos, e


servia como habitação dos perversos, isto é, era o lugar onde os piores
homens eram mantidos em eterno tormento. Como já dissemos, na mitologia
grega o Tártaro era o oposto dos Campos Elísios, onde as pessoas bondosas
repousavam após a morte.

Entenda que Pedro, ao utilizar a palavra Tártaro em sua epístola, não


estava ensinando e nem mesmo aprovando os conceitos da mitologia grega,
mas estava apenas utilizando o termo para se expressar na linguagem de
seus leitores.

Podemos dizer que é algo semelhante ao que o apóstolo Paulo fez ao


citar, apropriadamente, versos de três poetas (Epimênides, Cleanto e Arato)
na pregação aos atenienses registrada em Atos 17:28.

Nessa passagem, o apóstolo Pedro está fazendo uma referência ao


estado intermediário de castigo dos anjos caídos, os quais também aguardam
o dia do juízo final. Considerando o contexto do capítulo onde essa expressão
aparece, Pedro está ensinando que, assim como Deus não poupou os anjos
que pecaram lançando-os no inferno enquanto aguardam o julgamento, ele
também não poupará os falsos mestres que intentam fazer com que o povo
desvie da verdade.

O SIGNIFICADO DE GEHENNA
A palavra Gehenna é usada doze vezes originalmente no Novo
Testamento. Gehenna é uma adaptação grega da palavra hebraica
Ge’hinnom, que quer dizer “Vale de Hinom”, uma terra no lado sul de
Jerusalém que pertenceu a Hinom e depois a seus descendentes.

Nesse local foi edificado um altar onde eram celebradas oferendas


humanas ao deus pagão Moloque. Os reis ímpios Acaz e Manassés, por
exemplo, ofereceram seus filhos em sacrifício ali (2Cr 28:3; 33:6). Outros
também fizeram o mesmo (Jr 32:35).

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O Profeta Jeremias profetizou acerca do juízo divino que não deixaria


impune o que ocorreu naquele lugar (Jr 7:31-34; 19:2; 32:35). Depois, o rei
Josias derrubou o altar e pôs um fim nas abominações que aconteciam ali
(2Rs 23:10), e o lugar tornou-se o local de incineração de tudo o que era
descartado em Jerusalém. Assim, sempre havia fogo queimando alguma
coisa naquele vale.

Considerando todos estes acontecimentos como pano de fundo,


podemos claramente entender porque aquele lugar se tornou o símbolo do
tormento dos ímpios. Logo, o hebraico Ge’hinnom se tornou em grego
Gehenna, o lugar de castigo sem fim, isto é, o inferno.

Em todas as doze ocorrências deste termo nos livros do Novo


Testamento, ele sempre significa inferno (Mt 5:22,29,30; 10:28; 18:9; 23:15,33;
Mc 9:43,45,47; Lc 12:5; Tg 3:6). Ainda com base nestas passagens, fica claro
que o Gehenna designa o local onde os ímpios são condenados ao tormento
eterno que castiga tanto seus corpos quanto suas almas.

Talvez agora surja a dúvida: Qual a diferença entre Hades e Gehenna,


já que Hades também pode se referir ao lugar de punição dos ímpios?

A maneira mais fácil de entender tal diferença é saber que quando o


lugar de tormento é chamado de Hades, a referência é ao lugar de punição da
alma do ímpio antes do dia do juízo final, isto é, durante o estado
intermediário. Quando esse lugar é chamado de Gehenna, a referência é ao
lugar de punição do corpo e da alma do ímpio após o dia do juízo, ou seja, é o
inferno em seu estado final.

COMO É O INFERNO?
Ao longo do tempo esta pergunta tem sido respondida com muita
imaginação e fantasia, mas pouquíssima verdade bíblica. Principalmente nos
últimos anos, com a divulgação de várias “experiências e visões” de pessoas
que alegam ter visto ou estado lá, praticamente foi desenhada a planta do
inferno, com uma riqueza de detalhes impressionante.

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Porém, tais descrições não são inéditas, ao contrário, desde a


literatura apocalíptica do século 2 d.C. já é possível encontrar relatos
semelhantes acerca do inferno. Talvez o texto mais detalhado dessa época
seja o apócrifo Apocalipse de Pedro, que trás uma descrição acerca das
bem-aventuranças no céu, e os castigos por tipo de pecados no inferno.

Vale ressaltar que o autor desse livro não é o apóstolo Pedro, e o texto
possui sérias contradições com as Escrituras, sendo a principal delas a
negação da punição eterna.

O pensamento medieval acerca do inferno foi diretamente influenciado


por esse tipo de texto, ficando explicito tanto na literatura como nas obras de
arte. É importante sabermos disso para entendermos que as “visões” que são
vendidas como best-sellers na atualidade, nada mais são do que as velhas
histórias recontadas com um pouco mais de ficção e apelo sensacionalista.

As pessoas possuem uma aptidão natural para inventar teorias que


respondam suas próprias curiosidades. Ao procurarem detalhes específicos
sobre o inferno que a Bíblia não fornece, pessoas especialistas em relatar o
macabro deram um jeito nisso, e ofereceram suas próprias “revelações
divinas”.

Todo cristão verdadeiro deve ter a convicção de que a Bíblia é a única


genuína revelação da vontade de Deus. É nossa regra de fé e prática, infalível
e inerrante. Assim, tudo o que precisava ser revelado por Deus a nós está
nela, e ela não precisa de novos apêndices, anexos ou revisões. Se tais visões
sobre o inferno contradizem claramente as Escrituras, então elas precisam
definitivamente ser rejeitadas.

Como já foi dito, a Bíblia não fornece tantos detalhes específicos sobre
o inferno, porém o que está escrito nela já é o suficiente para entendermos
tamanho terror que cerca esse lugar. A Bíblia descreve o inferno como sendo:

1. Um lugar onde o fogo nunca se apagará (Mt 3:12; 18:8; Mc 9:43; Lc


3:17; Jd 1:7).

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2. A fornalha de fogo (Mt 13:42,50).


3. Um lugar de “choro e ranger de dentes” (Mt 24:51).
4. O lugar preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25:41).
5. Um lugar onde o verme que atormenta o ímpio nunca morre (Mc 9:48).
6. O lugar da destruição eterna (2Ts 1:9).
7. O lugar das mais densas trevas (Jd 1:13).
8. Um lugar onde há tormento “com fogo e enxofre“, e a fumaça desse
tormento sobe pelos séculos dos séculos (Ap 14:9-11).
9. Um lugar onde o castigo é constante, não cessando nem de dia nem
de noite (Ap 20:10).
10. O lago de fogo que arde com enxofre (Ap 21:8).

Resumindo, podemos dizer que o inferno é real, é um lugar de terrível


lamento, de castigo e destruição eterna para os ímpios, Satanás e seus anjos.

O DIABO GOVERNA O INFERNO?


Uma das crenças mais populares acerca do inferno é a de que
Satanás é o rei e governante do inferno, onde ele manda e desmanda, domina
e atormenta as almas perdidas enquanto se diverte com o sofrimento delas.

Todavia, o ensino bíblico é exatamente o contrário. Satanás com seus


anjos não governa o inferno. Na verdade ele próprio será sentenciado ao
tormento eterno no lago de fogo (Ap 20:10).

O inferno não é um lugar que foi criado para servir de império para o
diabo, ao contrário, ele foi criado para servir como o lugar de castigo para ele
e seus agentes (Mt 25:41). No inferno, Satanás não poderá atormentar
ninguém, muito menos ser o governante do lugar, pois ele mesmo estará
experimentando um terrível castigo.

DEUS ESTÁ PRESENTE NO INFERNO?


Talvez depois do tópico acima tenha ficado uma dúvida: Se o diabo
não governa o inferno, quem é que governa? Bem, a resposta para isso, por
mais que seja chocante para alguns, é uma só: Deus!

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Algumas pessoas entendem erroneamente que o inferno é um lugar


onde Deus está ausente, mas não é isso que a Bíblia ensina. Primeiro,
devemos enfatizar que Deus é onipresente, ou seja, está presente em todos
os lugares (Sl 139:7-12).

A questão é que, nem sempre a presença de Deus em todos os


lugares é uma presença de amor. O céu é um lugar maravilhoso porque Deus
está lá em todo seu amor, e o inferno é um lugar terrível porque Deus está lá
em toda sua ira. Sim, Deus está presente no inferno, e o governa com toda
sua ira (Hb 10:31; 12:29; Ap 6:16).

ONDE FICA O INFERNO?


Durante a Idade Média surgiu um entendimento comum de que o
inferno ficava em algum lugar abaixo da Terra, ou nas próprias profundezas
da terra mesmo. Sobre isso, definitivamente a Bíblia não nos relata nada sobre
a localização do inferno. Tudo que sabemos é que ele existe, mas não
sabemos onde fica.

COMO É O CASTIGO NO INFERNO?


Antes de tudo, precisamos entender que não se deve tomar de forma
exclusivamente literal as figuras que retratam o tormento do inferno nas
Escrituras.

Muitas vezes os símbolos são utilizados na Bíblia para descrever algo


incompreensível ao nosso entendimento humano. Porém, apesar da
linguagem ser simbólica, a realidade do inferno será ainda mais terrível do
que os símbolos a descrevem.

Um exemplo disso é a própria expressão de Jesus ao dizer que no


inferno “o seu verme não morre, e o fogo não se apaga ” (Mc 9:48). Essa é
uma clara referência ao vale de Hinom, servindo como figura do tormento no
inferno. Como já dissemos, nesse vale eram queimados os entulhos de
Jerusalém, e sempre havia restos de animais que eram jogados ali para se
decompor. Assim, o verme não morria e o fogo não se apagava.

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Ainda antes de falarmos sobre o castigo no inferno, devemos salientar


que, conforme já vimos, Satanás não será o responsável por castigar os
condenados ao inferno, ao contrário, é a justiça de Deus que exige tal
punição, e a sua ira que executa a sentença.

Embora a Bíblia não descreva os detalhes da punição dos ímpios de


acordo com seus pecados, ela nos descreve de forma geral como será essa
punição. Bem resumidamente, podemos organizar da seguinte forma:

 O castigo no inferno é a exposição à ira de Deus: certamente essa é a


condenação mais terrível que pode existir. Imagine o quão
aterrorizante é passar a eternidade experimentando a ira de Deus
como um “fogo consumidor” (Hb 12:29; cf. Hb 10:27,31; Rm 2:5; Jo
3:36). O Apóstolo João nos informou que os ímpios “tomarão do vinho
da ira de Deus que se foi derramado sem mistura no cálice da sua ira;
e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e
diante do Cordeiro” (Ap 14:10).
 O castigo no inferno resulta em terrível dor: somente no Evangelho de
Mateus Jesus descreve pelo menos seis vezes os ímpios chorando e
rangendo os dentes sob o castigo no inferno (Mt 8:12; 13:42,50; 22:13;
24:51; 25:30). Obviamente eles choram, se lamentam profundamente
e rangem os dentes pela terrível dor que sentem.
 O castigo no inferno é consciente: nossos corpos atuais, geralmente
quando submetidos a uma situação de terrível dor e trauma, acabam
“apagando” (ou desmaiando). Porém isso não ocorre no inferno.
Durante o estado intermediário, isto é, o período em que os mortos
aguardam a ressurreição de seus corpos para o dia do juízo, os
ímpios são afligidos terrivelmente em suas almas estando eles
conscientes. Isso é um ensino claro na Parábola do Rico e Lázaro (Lc
16:19-31). Depois de terem seus corpos ressuscitados, os mesmo
ímpios serão condenados ao inferno em seu estado final, onde
sofrerão, tanto em seus corpos como em suas almas, o castigo pelos
seus pecados (Ap 20:11-15).

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 O castigo no inferno reflete a separação: o apóstolo Paulo,


escrevendo aos Tessalonicenses, ensinou que os ímpios ficarão em
perdição eterna, “banidos da face do Senhor e da glória do seu
poder” (2Ts 1:9). Certa vez Jesus falou que os ímpios ouvirão as
seguintes palavras: “Apartai-vos de mim” (Mt 7:23). O castigo no
inferno implica que o condenado será excluído permanentemente da
presença de Deus em graça e amor, ou seja, não terão de forma
alguma comunhão com Ele. Em Mateus 25:30, Jesus diz que os
ímpios serão "lançados nas trevas exteriores". Isso significa que eles
serão privados de tudo o que é bom, valioso e agradável (Rm 2:8-12).
Eles não participarão do banquete com Abraão, Isaque e Jacó,
ficaram de fora das bodas de casamento, baterão na porta, mas ela
não será aberta (Mt 8:11,12; 22:13; 25:10-13; Lc 13:28). Se por um
lado o castigo no inferno mostra essa terrível separação, por outro
também mostra uma difícil união. No inferno, o ímpio habitará para
sempre com o diabo e seus anjos (Mt 25:41; Ap 20:10,15).

TODOS RECEBEM O MESMO CASTIGO NO INFERNO?


A Bíblia nos diz que o castigo no inferno não é igual para todos, ou
seja, há graus diferentes de sofrimento. Esses graus de sofrimento
basicamente são determinados pela quantidade de conhecimento acerca da
vontade de Deus que uma pessoa recebeu, e as obras que praticou em vida.

Jesus deixa esse ensino claro na conclusão de uma de suas


parábolas, ao dizer: “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se
aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos
açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos
açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá,
e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá ” (Lc 12:47,48).

Em outra ocasião, Jesus ensinou o mesmo princípio de que haverá


mais rigor no julgamento de uns do que de outros (Mt 11:21-24). Isso não
significa que haverá absolvição à parte da obra de Cristo, ao contrário, até

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mesmo os que nunca ouviram o Evangelho serão condenados. Não há


inocentes diante de Deus (Sl 143:2; 1Co 15:22; Rm 5:12-19).

Na Carta de Paulo aos Romanos, lemos que os ímpios, com a


perversidade de suas obras, estão entesourando ira para si mesmos, e no dia
da revelação do justo julgamento de Deus, Ele “retribuirá a cada um conforme
o seu procedimento” (Rm 2:5,6).

A palavra “entesourando” pode ser traduzida como “acumulando” e é


a mesma expressão utilizada por Jesus quando ele aconselha os santos a
“acumular tesouros no céu” (Mt 6:20). Logo, assim como os salvos, ao
obedecerem a Deus acumulam tesouros no céu, os ímpios, ao
desobedecerem e rejeitarem a Palavra de Deus, acumulam ira para si
mesmos.

O CASTIGO NO INFERNO É ETERNO?


A resposta para essa pergunta possui conteúdo suficiente para
escrevermos um livro exclusivo sobre ela, não que a pergunta seja de difícil
compreensão, ao contrário, a Bíblia a responde claramente, mas porque
muitas seitas e pensamentos heréticos defendem exatamente o contrário do
que a Bíblia diz.

Porém, para que nosso capítulo não fique excessivamente longo,


entenderemos bem resumidamente a discussão acerca do assunto. Alguns
defendem a doutrina do aniquilismo, que prega que no final o ímpio, Satanás e
os demônios deixarão de existir. Eles serão punidos durante um tempo, mas
depois serão definitivamente exterminados.

Outros defendem a doutrina do universalismo, que consiste na ideia


de que no final Deus salvará a todos, até mesmo Satanás e seus anjos (alguns
universalistas negam esse ponto). Tal como no aniquilismo, no universalismo
os maus serão punidos durante um tempo, e depois serão salvos por Deus.

Ambas as teorias, além de interpretarem de forma completamente


equivocada a questão dos atributos de Deus, não encontram base bíblica

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alguma. A Bíblia é clara ao afirmar que a punição no inferno é eterna (Mt 3:12;
18:8; Mc 9:43; Lc 3:17; Jd 6,7; Ap 14:9-11; 19:3; 20:10; cf. Dn 12:2).

Devemos entender que quando a Bíblia diz que o ímpio será


destruído, essa destruição não significa aniquilação, isto é, que eles deixarão
de existir. O que a Bíblia ensina é que o ímpio sofrerá uma “destruição eterna”
(2Ts 1:9), ou seja, ele estará eternamente perdido em horror e desesperança,
não terá mais oportunidade, só lhe restará o lamento e o ranger de dentes,
para sempre será atormentado, e a fumaça de seu tormento subirá pelos
séculos dos séculos (Ap 14:11; 19:3; 20:10) A expressão “pelo século dos
séculos” no Apocalipse literalmente significa “pelas eras das eras”, no sentido
de que é algo infinito.

Por fim, em Mateus 25:46 temos uma passagem determinante para


este assunto. Nela, é descrito o tormento dos ímpios no inferno e a alegria dos
santos no céu. A palavra original utilizada para descrever tanto a duração da
bem-aventurança dos salvos como a duração do castigo dos ímpios é
exatamente a mesma.

Logo, se o tormento no inferno não durar para sempre, então a alegria


ao lado de Deus também não durará. Se o inferno não for eterno, o novo céu e
nova terra também não será. A eternidade do inferno é uma exigência da
justiça de Deus. Devemos nos lembrar de que através do inferno a glória de
Deus também é manifestada.

O INFERNO NO ESTADO INTERMEDIÁRIO E FINAL


Quando os homens morrem, eles entram no que chamamos de
“estado intermediário”. Esse é o estado de existência desencarnada, ou seja,
a alma é separada do corpo e fica aguardando a ressurreição.

Durante esse período, a alma dos salvos parte para estar com Cristo
no céu onde reina com Ele e descansa das tribulações terrenas (Fp 1:23),
enquanto a alma dos ímpios vai para o lugar de tormento, isto é, o inferno em
seu estado intermediário (Lc 16:19-31; 2Pe 2:9).

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A grande diferença da punição no estado intermediário e no estado


final é a ausência do corpo no estado intermediário, e a presença do corpo no
estado final.

Como já vimos, a Bíblia ensina que haverá o dia em que os ímpios e


os justos ressuscitarão para o juízo. No caso do ímpio, ao ser condenado no
juízo final, ele será lançado no inferno em seu estado final, isto é, o lago de
fogo, e será atormentado não só em sua alma, mas também no seu corpo
ressuscitado. Apesar do ímpio já experimentar o tormento no estado
intermediário, é após a ressurreição que ele receberá os graus de castigo por
ocasião do julgamento final.

Também vale ressaltar que não existe nenhuma fundamentação


bíblica para qualquer doutrina que ensine a possibilidade de escapar do
castigo no estado intermediário, como é o caso da doutrina do purgatório. A
Bíblia é suficientemente clara ao dizer que depois da morte vem o juízo (Hb
9:27; cf. Lc 16:19-31). O convite da salvação é ofertado em vida.

A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA SOBRE O INFERNO


A realidade sobre o inferno é raramente pregada na maioria das
Igrejas. Parece que existe muita relutância e pesar quando falamos sobre a
punição eterna, mas não deveria ser assim, pois apesar de ser um tema muito
difícil para nós, ele é extremamente necessário.

Aqui vale mais uma vez relembrar que Jesus, nosso Salvador, foi
quem mais pregou acerca do inferno. Também precisamos sempre ter mente
a verdade de que Deus é justo, e jamais condenaria alguém a um castigo que
não merecesse. Portanto, o castigo que o homem recebe é com base na
retidão da justiça de Deus.

As pessoas que vão para o inferno, são sentenciadas a esse destino


devido a suas próprias escolhas, pois ignoram a glória de Deus e rejeitam a
sua providencia em favor do pecado do homem através da obra de Cristo na
cruz (Jo 3:18-21; Rm 1:18,24,26,28,32; 2:8; 2Ts 2:9-12).

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Na doutrina sobre a realidade do inferno, devemos enxergar a graça e


a misericórdia de Deus que adverte o pecador a se voltar para Cristo e
encontrar nele salvação.

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O NOVO CÉU E NOVA TERRA


O novo céu e nova terra é uma promessa amplamente ensinada pelas
Escrituras. Tal doutrina está presente desde o Antigo Testamento até o Novo
Testamento. Naturalmente muitas dúvidas surgem entre os cristãos acerca de
como será esse estado futuro e eterno.

Apesar de termos muitas referências bíblicas sobre o novo céu e nova


terra, claro que muitos detalhes só serão esclarecidos quando, finalmente,
estivermos vivendo neles.

QUANDO OCORRERÁ O SURGIMENTO DO NOVO CÉU E NOVA


TERRA?
Podemos dizer que o estado eterno, com novo céu e nova terra, terá
início por ocasião do juízo final. Quando todos forem julgados, os ímpios serão
destinados à condenação eterna no lago de fogo, enquanto os santos viverão
e reinarão eternamente com Deus, no novo céu e nova terra.

O apóstolo João descreve esse momento da seguinte forma: “Vi novo


céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já
não existe” (Ap 21:1).

COMO SERÁ CRIADO O NOVO CÉU E NOVA TERRA?


Esse é um ponto que levanta algumas discussões entre os estudiosos.
Primeiro, vale ressaltar que a expressão “novo céu e nova terra” deve ser
entendida como contemplando o universo inteiro, ou seja, é uma expressão
bíblica para se referir a todo universo.

Sobre as discussões acerca de como se dará a criação do novo céu e


nova terra, alguns acreditam que o universo atual será completamente
destruído, no sentido de aniquilado, deixando de existir, e então Deus criará
novo céu e nova terra, sem continuidade alguma com o universo atual.

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Já outros estudiosos defendem que o universo atual não será


destruído, mas renovado. Será uma transformação tão profunda que refl etirá
uma nova criação, mas ainda assim será a continuidade do universo atual.

Particularmente entendo que há base bíblica suficiente para que não


haja qualquer dúvida de que, na verdade, acorrerá uma renovação. Por
exemplo: se considerarmos o texto já citado de Apocalipse 21:1, o termo
grego utilizado para descrever o novo céu e nova terra expressa uma ideia de
um “novo mundo”, e não de um “outro mundo”.

O mesmo termo também é utilizado em 2 Pedro 3:13, e trata -se do


grego kainos que significa algo novo em qualidade. Se fosse algo novo em
origem, ou seja, sem qualquer base prévia, o termo grego deveria ser neos.

Na Carta aos Romanos, o apóstolo Paulo nos diz que “a natureza


criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam
revelados” (Rm 8:19). Paulo continuou explicando que tal expectativa se dá
pelo fato de que a criação será “libertada da escravidão da decadência em
que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus ” (Rm 8:21).
Obviamente o apóstolo está dizendo que é a criação atual que será libertada
dos efeitos do pecado, e não uma nova criação.

Por fim, também penso que a aniquilação do universo atual poderia


representar um tipo de vitória de Satanás, pois ele teria conseguido corromper
de maneira irreversível a criação original de Deus, a ponto de precisar ser
completamente descartada para que outra criação seja criada.

Portanto, a renovação do universo, além de ser a doutrina bíblica


acerca do assunto, também demonstra mais um meio pela qual a soberania
de Deus será revelada, quando Ele purificar exatamente a criação que
Satanás tentou destruir, removendo todos os efeitos do pecado.

COMO SERÁ O NOVO CÉU E NOVA TERRA?


Muita gente possui uma ideia completamente equivocada acerca de
como será o novo céu e nova terra, imaginando ser um paraíso espiritual. Essa

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ideia foi difundida principalmente na idade média, onde o paraíso futuro


sempre era retratado como um lugar etéreo, entre nuvens, onde as pessoas
vestidas de branco ficariam flutuando com harpas nas mãos.

Na verdade, mesmo dentro das igrejas, alguns cristãos também


entendem desta forma, talvez por conta de expressões que remetem a ideia
de que passaremos a eternidade num tipo de céu em algum lugar no espaço.

Primeiro precisamos dizer que hoje, quando um cristão morre, sua


alma vai estar com Deus na morada dEle, isto é, no céu, um lugar de
descanso de sua vida terrena, enquanto aguarda a ressurreição de seu corpo.

Porém na eternidade todos nós teremos corpos ressurretos e


glorificados, ou seja, não seremos apenas almas. Na verdade, nós podemos
dizer seguramente que viveremos no céu, desde que entendamos o que será
o céu no estado eterno.

A doutrina bíblica é a de que haverá uma nova terra na qual


passaremos a eternidade, vivendo em corpos ressurretos e desfrutando das
belezas desse mundo transformado para a glória de Deus.

Entretanto, a Bíblia se refere a esse futuro lar como “novo céu e nova
terra”, isso porque Deus habitará conosco, ou seja, esse lugar também será a
habitação de Deus. Em outras palavras, não existirá nenhuma separação entre
o céu (a morada de Deus) e a terra, ou seja, ambos se fundirão, formando
então um único lugar.

Logo, a nova terra será o céu, e o céu a nova terra, e nós, habitando a
nova terra, também estaremos habitando o novo céu (Ap 21:1-3). Claro que
existem mistérios acerca de como tudo isto ocorrerá, mas nossa esperança é
de que chegará o dia onde compreenderemos todas estas coisas
pessoalmente.

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AS REFERÊNCIAS SOBRE O NOVO CÉU E NOVA TERRA


Como já dissemos, existem muitas passagens bíblicas em referência
ao novo céu e nova terra, do Antigo ao Novo Testamento. Praticamente em
todas elas a descrição desse futuro glorioso é feita de forma figurada, onde
uma realidade indescritível à nossa compressão humana é descrita com
símbolos que possamos entender agora.

Em muitas dessas passagens há também a ocorrência de profecias


de múltipla referência, isto é, uma única profecia se cumpre em eventos
distintos, de modo que algo que já se cumpriu prefigura o cumprimento de
algo ainda futuro.

Algumas dessas profecias se referem à restauração do povo de Deus


do exílio na antiga dispensação e/ou a vinda do Messias. Logo, muitas
profecias já tiveram um cumprimento primário na História do povo hebreu, ou
se cumprem na nova dispensação com a Igreja de Cristo, porém elas também
apontam para um momento futuro, onde serão plenamente cumpridas.

Devido as diferentes correntes escatológicas e a discussão acerca do


milênio, os cristãos discordam entre si a respeito de quando se dará esse
cumprimento futuro.

Uns defendem que tais promessas se cumprirão durante o reino


milenar futuro e literal de Cristo na terra (ainda velha terra). Outros defendem
que essas promessas encontrarão seu cumprimento no novo céu e nova terra,
ou seja, não durarão apenas mil anos, mas perdurarão a eternidade.

Se entendermos que a doutrina bíblica aponta para o novo céu e nova


terra como o lugar onde as promessas e os propósitos de Deus serão
plenamente cumpridos, então perceberemos que em toda a Escritura esse
maravilhoso lugar é mencionado de alguma forma.

Na promessa feita a Abraão (Gn 17:8), por exemplo, Deus garantiu


entregar ao patriarca e a sua descendência a terra de Canaã. Podemos dizer
que a terra de Canaã foi um tipo de símbolo que apontava para o futuro sobre

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a nova terra que está ainda por vir. Isso é o que o escritor da Epístola aos
Hebreus entendeu quando escreveu que Abraão “pela fé peregrinou na terra
prometida como se estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como
Isaque e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Pois ele esperava a cidade
que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus ” (Hb 11:9,10).

Sobre essa “cidade que tem alicerces” a qual eles esperavam, o


mesmo capítulo 11 nos mostra que não se tratava de uma cidade terrena, mas
uma cidade celestial que se encontrará na nova terra. Logo, eles entendiam
que a promessa de Deus transcendia a Canaã terrena, e buscavam uma
pátria, isto é, a "pátria celestial", uma cidade a qual Deus lhes preparou (Hb
11:16; cf. Jo 14:2).

Quando consideramos a promessa feita em Gênesis 17:8, e a


interpretamos à luz de passagens neotestamentárias como essa de Hebreus
juntamente com Mateus 5:5, Romanos 4:13 e Gálatas 17:8, entendemos que
também somos herdeiros da promessa acerca do novo céu e nova terra, pois
em Cristo somos descendência de Abraão.

No Antigo Testamento as passagens mais conhecidas e explicitas que


descrevem o novo céu e nova terra estão no livro do Profeta Isaías (caps.
65:17-65; 66:22,23). Já no Novo Testamento, existem muitas referências que
remetem ao estado eterno, mas certamente as referências de Romanos 8:21-
23; 2 Pedro 3:13 e Apocalipse 21-22 são as principais acerca do novo céu e
nova terra.

Considerando todas estas referências, podemos claramente entender


que o novo céu e nova terra será um lugar glorioso, com uma paz sem igual,
toda a criação estará restaurada e livre da maldição do pecado, onde haverá
abundância de recursos que estarão à disposição de seus habitantes, não
existirá mais a morte, a tristeza e a dor, será um lugar marcado pela justiça e,
principalmente, será a eterna habitação de Deus com Seu povo.

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COMO VIVEREMOS NO NOVO CÉU E NOVA TERRA?


Bem, como já vimos, não devemos imaginar nossas vidas na nova
terra de forma “espiritualizada”, flutuando entre nuvens e cantando durante
toda a eternidade num coral. Geralmente sobre essa questão as pessoas
costumam ter dúvidas bem específicas.

Alunos já me perguntaram coisas bem curiosas, como por exemplo,


se haverá esportes, tecnologia (incluindo a internet), e se haverá alimentação.
Ora, para dúvidas tão específicas precisaremos esperar o grande dia em que
teremos todas as respostas, pois a Bíblia não nos esclarece nada acerca
disso.

Todavia, a Bíblia (com principal ênfase no capítulo 21 do Apocalipse)


nos fala sobre o que realmente importa sabermos em relação a nossa vida
futura. A Igreja de Cristo reinará durante toda a eternidade com Deus, ou seja,
na nova terra nós desfrutaremos de comunhão eterna com nosso Senhor.
Certamente esse é o aspecto mais maravilhoso da nossa vida futura.

Como já dissemos, na nova terra não haverá mais lágrimas e


sofrimento e a morte não será mais encontrada. Todas essas coisas já serão
passadas. Na nova terra também estaremos unidos com todo o povo Deus,
juntos, numa única família.

Lá poderemos conviver durante toda a eternidade com nossos amigos


e entes queridos que partiram no Senhor, como também com grandes homens
de Deus a quem conhecemos apenas de ouvir falar, como Noé, Abraão,
Moisés, Isaías, Paulo, Pedro, João e tantos outros.

Na nova terra nós teremos ocupações. Em Apocalipse 22:3 somos


informados de que os servos de Deus o servirão. Lá descansaremos, mas não
seremos ociosos, repousaremos de nossas fadigas, mas não do nosso
serviço. Porém, será um trabalho glorioso e prazeroso, pois serviremos o
nosso Senhor.

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Ainda no texto do livro do Apocalipse lemos que na eternidade


contemplaremos a face de Deus (Ap 22:4). Com certeza esse é ponto alto da
descrição da nossa vida futura. Poderemos ver o nosso Senhor exatamente
como Ele é (1Jo 3:2).

Aqui vale ressaltar que nossa vida na nova terra será essencialmente
diferente e infinitamente superior ao que foi com Adão no Éden. Antes da
Queda, sabemos que Deus descia à terra para conversar com Adão na
viração do dia.

Obviamente isso já era maravilhoso, mas perceba que ainda existia


uma distância, pois Deus descia em alguns momentos. Os estudiosos
entendem que possivelmente essa manifestação de Deus era sob forma
humana. Mas no novo céu e nova terra não haverá qualquer distância, Deus
não nos visitará em determinados momentos, mas habitará conosco para todo
o sempre.

Além de servirmos a Deus, no novo céu e nova terra também


reinaremos com Ele pelos séculos dos séculos (Ap 22:5). Seremos servos e
reis. Devemos nos lembrar que não merecemos nenhuma destas coisas, tudo
isso é graça.

Outro aspecto interessante que a Bíblia nos esclarece é que, em


corpos ressurretos vivendo na nova terra, os santos não mais se casaram.
Pelo menos nesse ponto específico seremos como os anjos (Mt 22:30). Logo,
também não haverá mais nascimentos, pois como a morte não existirá
também não haverá mais a necessidade de reprodução.

QUAL SERÁ O PAPEL DOS ANJOS NO NOVO CÉU E NOVA TERRA? COMO ELES
SE RELACIONARÃO COM A IGREJA?
Falando nos anjos, muitas pessoas também se perguntam sobre qual
será o papel dos anjos no novo céu e nova terra, e como será o nosso
relacionamento com eles. Na verdade a Bíblia não fala nada a respeito deste
assunto.

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Todavia, ao que parece a relação entre os anjos e os redimidos


permanecerá como é atualmente. Os anjos são “espíritos ministradores,
enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação ” (Hb 1:14).

Considerando algumas passagens bíblicas que podem servir de base


para esclarecer um pouco essa questão, creio que não há dúvidas de que os
santos permanecerão sempre mais exaltados do que os anjos (1Co 6:3; Ap
5:11). Seja como for, é certo que o relacionamento entre os anjos e a Igreja
será de terna união, e juntos adorarão ao Deus Todo-Poderoso por toda a
eternidade.

COMO SERÁ O NOSSO CORPO NO NOVO CÉU E NOVA TERRA?


Também não temos todos os detalhes acerca disto, mas com certeza
o texto do apóstolo Paulo aos irmãos de Corinto é bem esclarecedor nesse
sentido (1Co 15:50-54). É preciso notar que o texto não explica a composição
física do corpo ressurreto, apenas enfatiza que seremos imortais e
incorruptíveis, ou seja, não haverá mais nada que nos debilite.

Em sua Epístola aos Filipenses, o mesmo apóstolo nos ensina que o


corpo ressurreto será semelhante ao corpo glorioso de Cristo ressuscitado (Fp
3:21).

O CRISTÃO E A PROMESSA ACERCA DO NOVO CÉU E NOVA TERRA


A doutrina bíblica acerca do novo céu e nova terra deve ser algo
presente na vida de todos os cristãos verdadeiros. As promessas sobre esse
futuro glorioso devem nos confortar na presente era, enquanto ainda vivemos
em um mundo decaído e corrompido pelo pecado.

Apesar de hoje não compreendermos todos os detalhes acerca do


estado eterno, haverá o dia em que pessoalmente não só entenderemos, mas
presenciaremos e participaremos de todas essas coisas.

Não há dúvida de que o novo céu e nova terra será algo sem igual,
nunca visto antes. Porém, entre tudo isto, nada poderá se comparar ao prazer

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de contemplar a face de Deus. Por enquanto só nos resta imaginar o dia em


que estaremos profundamente admirados diante do esplendor do Cordeiro.

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A NOVA JERUSALÉM
A Nova Jerusalém é mencionada pelo apóstolo João no livro do
Apocalipse. Apesar de ser citada uma vez no capítulo 3 (vers. 12) e outras
vezes indiretamente no decorrer do livro, finalmente nos capítulos 21 e 22 é
onde encontramos uma descrição detalhada da Nova Jerusalém.

Como praticamente todos os assuntos dentro da escatologia, a Nova


Jerusalém também é tema de debates interpretativos entre as diferentes
visões escatológicas. Neste capítulo conheceremos as diferentes
interpretações sobre este tema, além de analisarmos os capítulos 21 e 22 do
livro do Apocalipse.

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES ACERCA DA NOVA JERUSALÉM


Apesar de haver uma grande variedade de interpretações sobre a
Nova Jerusalém, principalmente em relação aos detalhes descritos no
Apocalipse, basicamente todas elas convergem em duas posições centrais,
conforme veremos a seguir:

1. Interpretação literal da Nova Jerusalém: entende que a descrição da


Nova Jerusalém no capítulo 21 do Apocalipse deve ser interpretada
de forma literal. Logo, trata-se de uma cidade edificada exatamente
como está descrito no capítulo, de modo que quando João revela que
o muro tem uma medida de 144 côvados, por exemplo, é porque
literalmente o muro da cidade possui exatamente essa altura, ou
quando é dito que a cidade possui doze portas, é porque de fato ela
possui literalmente doze portas. Há também uma interpretação muito
comum dentro dessa posição que entende a Nova Jerusalém como
uma cidade literal, mas considera que a descrição do capítulo 21 é
simbólica.
2. Interpretação simbólica da Nova Jerusalém: entende que a descrição
da Nova Jerusalém deve ser interpretada de maneira simbólica, ou
seja, a Nova Jerusalém é o símbolo de algo que está sendo

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transmitido na revelação presente no livro do Apocalipse. Vale


ressaltar que essa interpretação de forma alguma entende a Nova
Jerusalém como um tipo de utopia como alguns alegam, ao contrário,
essa interpretação considera o padrão literário do livro do Apocalipse,
onde obviamente é rico em simbologia, e percebe que a descrição da
Nova Jerusalém obedece a esse padrão, onde uma realidade
indescritível é revelada através de símbolos.

O QUE É A NOVA JERUSALÉM?


Dentre as interpretações citadas acima, particularmente considero
que a última posição é a mais coerente. Essa é a interpretação natural do
próprio livro do Apocalipse, considerando suas características e os elementos
descritos nos capítulos 21 e 22.

O livro do Apocalipse nos mostra que a Nova Jerusalém não é apenas


uma cidade, ela é muito mais do que isso. A Nova Jerusalém é a própria Noiva
do Cordeiro (Ap 19:7). Essa interpretação fica clara comparando os versículos
9 e 10 do próprio capítulo 21:

Então veio um dos sete Anjos que tinham as sete taças repletas dos
sete últimos flagelos e disse-me: Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a
esposa do Cordeiro (Apocalipse 21:9).

Perceba que João foi convidado pelo anjo para ver a Noiva, a esposa
do Cordeiro. Se você interpretar esse texto de forma literal, naturalmente você
deve esperar que João tivesse visto, de fato, a Noiva. Entretanto, no versículo
seguinte o que o apóstolo contemplou foi uma cidade:

Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a


Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus
(Apocalipse 21:10).

Essas particularidades acontecem bastante no livro do Apocalipse.


Por exemplo, no capítulo 5 do mesmo livro, João se desespera pois não havia
ninguém capaz de abrir o livro selado com sete selos. Então um dos anciãos

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conforta João dizendo que o Leão da tribo de Judá é digno de abrir o livro (Ap
5:5). De acordo com esse versículo, obviamente esperaríamos a visão do
Leão, mas o que o João vê é um Cordeiro (Ap 5:6). É exatamente esse mesmo
padrão de narrativa que encontramos na descrição da Nova Jerusalém.

Portanto, devemos entender que a Nova Jerusalém é a cidade eterna,


a cidade santa, o lar da Noiva do Cordeiro, bem como a própria Noiva, de
modo que não podemos estabelecer uma distinção entre os redimidos
(habitantes da cidade) e a própria cidade em si.

Essa cidade desce do céu, isto é, sua origem está no céu, ela vem de
Deus, pois foi escolhida por Ele, nascida do alto como resultado da obra
transformadora do Espírito Santo (Ap 3:12; 21:9; cf. Gl 4:26; Hb 11:10; 16;
12:22). Ela é muito mais do que edifícios, ela é pessoas.

A expressão “Nova Jerusalém” é claramente uma contraposição à


“velha” e terrena Jerusalém da Palestina. Desde o Antigo Testamento, a Igreja
é chamada de esposa do Cordeiro (Is 54:5 cf. Ef 5:32) e representada pelo
símbolo de uma cidade (cf. Is 26:1; Sl 48).

A DESCRIÇÃO DA NOVA JERUSALÉM


Quando João descreveu essa cidade esplendorosa, ele utilizou os
mesmos símbolos do capítulo 4 na visão do trono de Deus. Veremos a seguir
a descrição da Nova Jerusalém no livro do Apocalipse.

1. A Nova Jerusalém é a Cidade Santa (Ap 21:10,16,18): ela é revestida


da glória de Deus, e seu esplendor se assemelha a uma pedra muito
preciosa. Isso significa que a Nova Jerusalém reflete a glória de Deus,
isto é, que a Noiva reflete a glória do Noivo. Ela é santa, ela é a Noiva,
ao contrário da Babilônia, a grande prostituta.
2. A Nova Jerusalém tem doze portas (Ap 21:12,13,21,25,27; 22:14,15;
cf. Ez 43:1; 48:31-34): no livro do Apocalipse o número 12 sempre está
ligado ao povo de Deus. Nas doze portas João viu doze anjos, e nas
portas estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel. As

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portas estão distribuídas de três em três em cada direção. As portas


mostram que há abundante oportunidade de entrar nessa cidade, e
que seus habitantes provêm de todas as partes do mundo, mas os
anjos postados, cada um em uma porta, mostram que nem todos
podem entrar. Os cidadãos da Babilônia, os admiradores da meretriz
não podem pertencer a Noiva. Essa cidade é habitação apenas da
Igreja redimida, do verdadeiro Israel de Deus, dos santos da antiga e
da nova dispensação. Repare que os nomes das doze tribos estão
gravados nas portas.
3. A Nova Jerusalém tem um grande muro (Ap 21:12,17,18): ao mesmo
tempo em que a cidade tem doze portas, significando que ela é
aberta a todos, ou seja, os habitantes dessa cidade procedem de toda
língua, tribo e nação, ela também tem uma grande muralha, o que
significa que ela não é aberta a tudo. Muralha significa segurança,
proteção. O muro mede 144 côvados, ou seja, doze vezes doze, mais
uma referência ao número que representa simbolicamente o povo de
Deus. As medidas da cidade simbolizam sua associação com as doze
tribos de Israel e os doze apóstolos, uma figura dos santos da antiga
dispensação e da nova dispensação. Vimos que na cidade há portas,
e as portas estão abertas (vers. 13 e 25), mas nem todos poderão
entrar nessa cidade (vers. 27). Em cada porta tem um anjo, e a cidade
está cercada por uma muralha. Essa muralha demarca a santidade da
cidade, separa o puro o impuro. Esse muro protege os que estão
dentro e afasta os que estão de fora. O pecado não pode entrar nessa
cidade, somente os remidos, os justificados, os que tiveram suas
vestes alvejadas no sangue do Cordeiro. Apenas aqueles cujos nomes
estão escritos no Livro da Vida é que podem entrar, habitar e ser essa
cidade santa.
4. A Nova Jerusalém tem doze fundamentos (Ap 21:14,19,20): a cidade
tem doze fundamentos, com os nomes dos doze apóstolos. A Nova
Jerusalém está construída sobre o fundamento da verdade, a verdade

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revelada nas Escrituras através dos apóstolos, a qual Jesus é a pedra


angular desse fundamento (1Co 3:11). Nessa cidade os santos do
Antigo Testamento e do Novo Testamento estarão unidos (vers. 12 e
14).
5. A Nova Jerusalém é medida como um cubo perfeito (Ap 21:16): essa
cidade mede doze mil estádios, algo em torno de 2.200 quilômetros
de comprimento, largura e altura. Essa medida não deve ser
entendida de forma literal, mas simboliza tamanha plenitude conferida
a Igreja formada pelo povo escolhido de Deus durante toda a história.
Apenas esse povo é que poderá entrar nessa cidade. A medida da
cidade é um símbolo da sua majestade, grandiosidade e suficiência. A
Nova Jerusalém é algo incomparável, pois não há, nem nunca existiu
uma cidade terrena com essas dimensões. O formado da cidade, o
cubo perfeito, é o mesmo formado do Santo dos Santos no
Tabernáculo e no Templo, um lugar onde apenas o sumo sacerdote
podia entrar. Isso mostra que a Nova Jerusalém é o mais intimo lugar
de comunhão com Deus, onde o próprio Deus habita, e todos os seus
habitantes são reis e sacerdotes (1Pe 2:9).
6. A praça da Nova Jerusalém é indescritível (Ap 21:21): você já viu uma
praça de ouro puro como vidro transparente? Tenho certeza de que
não. A praça é o lugar central de uma cidade, é onde as pessoas se
reúnem. Na Nova Jerusalém as doze portas revelam a praça central,
uma praça de ouro puro, como vidro transparente. O centro dessa
cidade é puro, belo e valioso como o ouro e integro como o vidro
transparente. Nessa cidade não há nada escondido.
7. Não há santuário na Nova Jerusalém (Ap 21:22): João não viu
santuário nessa cidade. Esse certamente é o ponto alto da descrição.
Isso significa que essa cidade é o lugar de plena comunhão com
Deus. Não há mais templo, pois o próprio Deus é o seu templo, ou
seja, a Igreja habita em Deus e Deus habita na Igreja. A manifestação
da glória de Deus é tão grande nessa cidade que não há qualquer

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necessidade do sol e da lua, pois o próprio Cordeiro a ilumina. A


glória de Deus não está mais restrita ao santuário, mas manifesta -se
em todos os lugares dessa cidade.
8. Na Nova Jerusalém há um rio de água viva (Ap 22:1): a cidade
também tem um rio de água viva, claro como cristal, fluindo do trono
de Deus e do Cordeiro, no meio da praça da cidade. Esse rio
simboliza a vida eterna, a salvação pelo dom da graça soberana de
Deus. Perceba que o rio não procede de qualquer lugar, ele sai do
trono de Deus. Isso significa que nossa salvação não vem de qualquer
lugar, ela tem sua origem no trono de Deus, isto é, na vontade
soberana dEle, e nos foi conferida pelo sangue redentor do Cordeiro.
9. Na Nova Jerusalém há um parque com a árvore da vida (Ap 22:1 -3):
no meio de sua praça, de uma e outra margem do rio, há a árvore da
vida. No original grego os termos referentes à “árvore da vida”, ao “rio”
e a “praça” estão no coletivo. Isso demonstra o caráter abundante da
nossa salvação, a comunhão plena e permanente entre Deus e todos
os habitantes da santa cidade. Aqui é impossível não nos lembrarmos
do Jardim do Éden, de onde o homem foi expulso, separado de Deus,
condenado à morte por seu pecado. Mas na Nova Jerusalém o jardim
está preservado às margens do rio da água da vida, a árvore da vida
está acessível, a comunhão com Deus está restaurada, a morte dá
lugar a vida eterna.
10. O trono de Deus e do Cordeiro está na Nova Jerusalém (Ap 22:3,4):
por fim, o trono de Deus e do Cordeiro está na cidade, ou seja, a
Igreja revela a majestade e a soberania do Deus Todo-Poderoso. O
Senhor é quem governa sobre a Igreja e a Igreja O serve com alegria
e devoção.

Creio que ao lermos atentamente os capítulo 21 e 22 do livro do


Apocalipse podemos notar que a Nova Jerusalém é muito mais do muitas
pessoas imaginam. É claro que de certa forma, boa parte da descrição dessa

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cidade já se cumpre na Igreja presente, mas a totalidade de seu esplendor só


será revelada quando o Noivo vier buscar a sua Noiva.

Nesse dia, será cumprido com toda plenitude a sublime promessa


registrada no versículo 22 do capítulo 4: "Os seus servos o servirão, e
contemplarão a sua face ". Que coisa maravilhosa, não há nada que se
compare a essa promessa.

É comum vermos muitos cristãos falarem da Nova Jerusalém apenas


enaltecendo, principalmente no sentido literal, suas ruas de ouro e seus muros
de jaspes, mas se esquecendo de que muito mais do que tudo isso é a
contemplação da face de Deus.

No versículo 6 somos avisados de que "estas palavras são fiéis e


verdadeiras" e tão logo "devem acontecer". No versículo 7 somos confortados
com um aviso do próprio Noivo para a sua Noiva: "Eis que venho sem
demora".

Ainda no versículo 7 lemos: "Bem-aventurado aquele que guarda as


palavras da profecia deste livro ". Talvez alguém pergunte: Quem são estes
bem-aventurados? Certamente são os habitantes da cidade santa, os
cidadãos da Nova Jerusalém. Estes são os vencedores, os eleitos dentre
todas as nações (Ap 7:9), aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida
do Cordeiro desde a fundação do mundo (Ap 3:5; Ap 17:8; 21:27), os mesmos
que possuem o selo de Deus em suas frontes (Ap 14:1). Estes reinarão por
toda a eternidade com o Senhor.

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TEXTOS COMPLEMENTARES
Resolvi incluir nesta seção alguns textos que podem contribuir com o
entendimento geral dos temas discutidos durante este e-book. Portanto, é
extremamente recomendável a leitura de todos eles.

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JESUS DESCEU AO INFERNO E


PREGOU AOS MORTOS?
Muita gente tem dúvida se Jesus desceu ao inferno e pregou aos
mortos, e não é para menos, já que os textos bíblicos que tratam este assunto
estão entre os mais difíceis de se interpretar. Como qualquer outro texto difícil
da Bíblia, existem diversas interpretações defendidas por vários teólogos.
Porém, devido a algumas interpretações equivocadas sobre este tema, muitas
heresias foram ensinadas ao longo da História da igreja.

Antes de começarmos é preciso saber que a palavra "inferno" é


utilizada para traduzir quatro termos originais, sendo: Sheol, Hades, Gehenna
e Tártaro. A palavra tártaro é utilizada apenas uma vez (2Pe 2:4). Sheol é uma
palavra hebraica utilizada com certa frequência no Antigo Testamento, e o
grego Hades traduz o hebraico Sheol na Septuaginta (versão grega do Antigo
Testamento), e também é utilizado no Novo Testamento de forma praticamente
equivalente ao Sheol no Antigo Testamento.

Tanto Sheol quanto Hades podem assumir significados diferentes


dependendo do contexto, sendo eles: sepultura, esfera dos mortos (estado
desencarnado) e o lugar de punição dos ímpios após a morte (o inferno em
seu estado intermediário).

Já o termo Gehenna é uma adaptação grega de uma palavra


hebraica, e é utilizado no Novo Testamento para se referir ao inferno em seu
estado final, ou seja, o lugar de condenação dos ímpios e de Satanás e seus
anjos após o juízo final (o lago de fogo).

Neste texto, falaremos sobre o estado intermediário dos mortos, ou


seja, o período de existência da alma separada do corpo enquanto aguarda a
ressurreição para comparecer ao julgamento final. Logo, quando utilizarmos a
palavra "inferno" não estaremos nos referindo ao inferno em seu estado final.

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Basicamente os principais textos bíblicos utilizados nos debates sobre


este assunto são:

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo


pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na
carne, mas vivificado pelo Espírito; No qual também foi, e pregou
aos espíritos em prisão; Os quais noutro tempo foram rebeldes,
quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé,
enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas
se salvaram pela água (1 Pedro 3:18-20).

Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para
que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne,
mas vivessem segundo Deus em espírito (1 Pedro 4:6).

Não pretendo fazer uma exposição detalhada sobre o tema, pois o


texto ficaria muito longo e bastante complexo. Vejamos apenas, bem
resumidamente, as diferentes interpretações sobre o assunto.

A INTERPRETAÇÃO DE QUE JESUS DESCEU AO INFERNO PARA


PREGAR AOS MORTOS

De forma geral, essa interpretação defende que Jesus, entre sua


morte e ressurreição, desceu ao inferno para pregar aos mortos. Dentro dessa
visão, existem diferentes interpretações em relação a quem seriam esses
mortos e qual o tipo de pregação que foi feita.

1. Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que foram vitimas do
Dilúvio e se arrependeram antes da morte (neste caso trazendo
salvação).
2. Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que morreram antes
de seu ministério, dando-lhes oportunidade para arrependimento
(neste caso trazendo salvação para os arrependidos e o juízo para os
que não se arrependeram).

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3. Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que morreram no


Dilúvio e não creram na pregação de Noé (neste caso trazendo juízo).

Qualquer uma das três interpretações acima não encontra base


bíblica, porém as piores são as interpretações que defendem uma pregação
para salvação (1 e 2). Qualquer ensino que defenda uma segunda chance
após a morte é herético e deve ser rejeitado. A Bíblia claramente ensina que
após a morte só resta ao homem o juízo.

E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo


depois disso o juízo (Hebreus 9:27).

A INTERPRETAÇÃO DE QUE JESSUS DESCEU AO INFERNO PARA


LIBERTAR OS SANTOS DO ANTIGO TESTAMENTO

Nessa interpretação Jesus teria ido pregar o Evangelho e libertar aos


santos do Antigo Testamento que estavam esperando a consumação da
redenção por Jesus para serem levados ao paraíso. Em outras palavras, os
santos do Antigo Testamento morreram na promessa, e Jesus precisou
aparecer a eles para que a promessa fosse cumprida. Essa visão baseia-se
em algumas referências como Salmos 16:10 e Mateus 12:40.

Essa é a interpretação mais conhecida e ainda é a mais aceita por


muitos protestantes. Com algumas diferenças, essa teoria também é a
posição do catecismo Católico.

O problema com essa interpretação é que a Bíblia é bastante clara ao


afirmar que os santos do Antigo Testamento em nenhum momento foram para
um lugar esperar por uma consumação da salvação, mas foram estar com
Deus (Gn 5:24; Gn 5:24; 2Rs 2:11; Sl 73:23), pois eles também haviam sido
justificados (Rm 4:3; Hb 11:5).

A INTERPRETAÇÃO DE QUE JESUS DESCEU AO INFERNO PARA


PREGAR AOS ANJOS CAÍDOS

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Esta interpretação acredita que Jesus foi pregar aos anjos caídos, não
no sentido de "evangelizar", mas de proclamar vitória sobre eles em uma
pregação vindicativa. Os textos de Judas 1:6 e 2 Pedro 2:4, são os mais
utilizados na defesa dessa visão, além do texto de 1 Pedro 3:18 -20.

A questão aqui é que em nenhum lugar da Bíblia encontramos alguma


referência sobre Jesus descendo ao inferno para pregar (mesmo de forma
vindicativa) para anjos caídos. Utilizar as referências de Judas e das epístolas
de Pedro para defender essa ideia é forçar bastante os textos.

A referência de 1 Pedro, por exemplo, a todo momento está se


referindo a pessoas e não a espíritos malignos, anjos caídos ou demônios.
Portanto, o que justificaria no meio do texto ele mudar radicalmente o foco da
escrita?

Também precisamos considerar que naquela época as pessoas para


quem Pedro escreveu não possuíam uma Bíblia organizada como temos hoje,
que possibilitasse um estudo com referências cruzadas e notas de rodapé. Se
Pedro tivesse feito isso, o texto seria praticamente impossível de ser
interpretado por aqueles irmãos.

INTERPRETAÇÃO DE QUE JESUS DESCEU AO INFERNO PARA


TOMAR AS CHAVES DE SATANÁS

Esta interpretação é bastante semelhante a anterior, e diz que Jesus


desceu ao inferno para proclamar a vitória sobre Satanás e tomar as chaves
da morte e do inferno. Essa ideia também tem raízes em uma interpretação
sobre o resgate pago à Satanás na expiação de Cristo.

Essa é uma das interpretações mais absurdas que encontramos por


aí. Primeiro, temos que esclarecer que nunca foi pago resgate algum à
Satanás. O resgate foi pago à Deus, o pecado foi contra Deus, e é a justiça de
Deus que exigia tal pagamento. Qualquer coisa diferente disso é apenas
alegoria e falta de Bíblia.

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Sobre as tais chaves, a referência mais utilizada é Apocalipse 1:18,


onde lemos que Cristo tem a chave da morte e do Hades. O termo "Hades"
está sendo aplicado nesse versículo não no sentido de inferno, mas como
uma referência ao estado de existência desencarnada, isto é, o momento em
que a alma se separa do corpo, sendo o corpo conduzido a sepultura.

Quando o texto diz que Ele tem as chaves da morte e do Hades, quer
dizer que Ele tem autoridade e poder sobre a morte, para que esta não seja
um motivo de dano ao salvos, pois Ele mesmo recebe a alma dos santos no
céu, além de que, em sua segunda vinda, Ele ressuscitará os mortos que
deixarão o estado de existência desencarnada (no contexto o Hades) para
receberem corpos ressuscitados.

Não se pode interpretar esse texto de maneira estritamente literal, com


Jesus descendo à um lugar em que Satanás habita e tomando as chaves da
mão dele. Aqui, a referência é a obra de Cristo na cruz, onde, por sua morte,
Ele destruiu aquele que utilizava a morte como uma arma contra nós (Hb
2:14), ou seja, o diabo, aquele que sempre desejou a morte do homem, tanto
física como espiritual, e se apresentava diante de Deus para nos acusar (Ap
12:10; cf. Zc 3:1,2).

Entenda que Satanás cumpria o papel de acusador, mas não era o


responsável em proferir a sentença. A sentença de morte contra o homem foi
pronunciada por Deus quando Adão e Eva caíram no pecado. Jesus derrotou
Satanás na cruz. Foi ali que ele experimentou todo peso da ira de Deus pelos
nossos pecados, dando sua vida para nos libertar da maldição da morte.

Considerando o contexto histórico da passagem do Apocalipse, a


declaração de que Jesus é quem possui as chaves da morte e do Hades
representou um grande conforto para aqueles irmãos do século 1 d.C. que
diariamente eram expostos ao martírio.

Ao saber que o controle sobre a morte está nas mãos de Cristo, eles
entendiam que não era preciso temer a morte, pois se seus corpos caíssem

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aqui na terra, suas almas estariam com Cristo no céu aguardando o dia em
que, assim como Cristo ressuscitou, seus corpos também serão
ressuscitados.

A INTERPRETAÇÃO DE QUE CRISTO PREGOU AOS MORTOS


ENQUANTO ELES AINDA ESTAVAM VIVOS

Esta interpretação defende que o Espírito de Cristo, através da vida de


Noé e de outros profetas, pregou aos agora mortos, mas na ocasião vivos, a
justiça e o arrependimento.

QUAL É A INTERPRETAÇÃO MAIS COERENTE BÍBLICAMENTE?

Como pudemos ver, existem várias interpretações, porém o que temos


que considerar é que a Bíblia apresenta uma estrutura perfeita, e precisa ser
interpretada de uma forma coerente com todo o ensino presente nela, para
não causarmos contradições.

Particularmente, acredito que a interpretação mais correta


biblicamente, que não isola textos específicos para explora-los fora do
contexto, é a de que Cristo pregou aos mortos quando estes ainda estavam
vivos (última interpretação apresentada acima).

Ao lermos a primeira Epístola de Pedro podemos perceber isso


claramente. No capítulo 1, Pedro afirma categoricamente que o Espírito de
Cristo é quem conduzia os profetas em suas pregações.

Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas


que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo
ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles,
indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo
haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir (1 Pedro
1:10,11).

Aplicando esse texto ao capítulo 3:18-20, podemos entender sem


dificuldade que Cristo, através de Noé, pregou às pessoas que

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desobedeceram naquele tempo e que agora são "espíritos em prisão", ou seja,


condenados ao juízo eterno. De forma mais clara, tais pessoas ouviram a
pregação e a rejeitaram ainda em vida, e agora estão em condenação eterna.

Sobre o texto de 1 Pedro 4:6, o mesmo princípio é válido, isto é, o


Evangelho foi pregado também aos mortos quando eles ainda eram vivos.

Outro texto bastante utilizado para defender a descida literal de Jesus


ao inferno é Atos 2:27,31, porém originalmente o texto se refere a sepultura, ou
seja, ao "estado de sepultado" literalmente. Vale lembrar que neste texto o
apóstolo Pedro está citando o Salmo 16:8-11, e interpreta uma profecia de
Davi acerca da ressurreição do Messias. Então ele aponta para o contraste
entre o tumulo de Davi em Jerusalém, e o tumulo de Cristo vazio, porque Deus
o ressuscitou dos mortos. O mesmo foi dito por Paulo em Atos 13:36,37.

Quanto ao texto de Efésios 4:9, usa-lo para defender uma descida


literal de Jesus ao inferno é forçar muito a estrutura do própri o texto, e
desconsiderar totalmente o contexto e o objetivo da mensagem que esta
sendo passada que se refere ao ministério de Cristo na terra, ao plano de
salvação e a unidade e organização da igreja como corpo de Cristo.

Também não existe uma possibilidade biblicamente aceitável de que


Jesus pregou o Evangelho para quem viveu no Antigo Testamento, para que
eles tivessem uma chance de crer. Afirmar isso é a mesma coisa de
considerar inúteis todos os profetas levantados por Deus no Antigo
Testamento. Do próprio Noé, o Novo Testamento testifica que ele foi o
"pregoeiro da justiça" (2Pe 2:5), sendo assim, só me resta concordar com
Pedro e afirmar que Cristo pregou através do ministério dos profetas.

Sobre a ideia de que Jesus precisou libertar e "alocar" os santos do


Antigo Testamento, não encontro base bíblica alguma para justificar essa
teoria. É um raciocínio muito simples. Vamos considerar Enoque e o profeta
Elias. Por que Deus tomaria ambos para si se não fosse para estar com Ele?

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Será que Deus os levaria para que eles ficassem em um local temporário
esperando uma consumação da redenção?

Bem, a Bíblia é muito clara ao dizer que eles foram estar com Deus.
Na transfiguração, por exemplo, pelo estado descrito de Moisés e do próprio
Elias, não me parece que eles estavam em qualquer outro lugar a não ser com
o próprio Deus. Outra coisa que devemos considerar é que nas passagens
que falam sobre o assunto na Bíblia o sentido de "paraíso" é sinônimo de céu,
o terceiro céu, conforme o apóstolo Paulo indicou em 2 Coríntios 12:2-4.

Também é importante saber que não existe na Bíblia, com referência a


Jesus Cristo, a expressão "desceu ao inferno". Essa expressão passou a ser
utilizada na Confissão de Fé Apostólica, talvez por volta do século IV d. C.,
pois em suas formas mais primitivas essa expressão não era encontrada.

Na verdade, ela foi utilizada originalmente para substituir a expressão


"crucificado, morto e sepultado ", o que também estaria correto, porém quando
as duas expressões começaram a aparecer juntas no Credo Apostólico por
volta do século VII é que começaram as confusões teológicas.

Outra coisa que vale ser lembrada é que o conceito de um lugar


comum, dividido em dois setores para onde iam todos os mortos, encontra
sua origem na doutrina pagã grega do Hades. No paganismo grego, todos os
mortos ficavam em um lugar chamado Hades, e dentro do Hades havia duas
alas: o Tártaro (onde ficavam todos os homens maus), e o Elísios (onde
ficavam todos homens os bons).

Como inferno é uma das traduções para tártaro, e paraíso é uma das
traduções para elísios, então já dá para saber a origem de alguns erros de
interpretação que originaram doutrinas estranhas ao ensino Bíblico. A Bíblia
claramente ensina que o ímpio, quando morre, já está em tormento enquanto
aguarda a condenação eterna no juízo final (2 Pe 2:9), e o salvo, quando
morre, vai estar com Deus aguardando a ressurreição em corpo glorioso na
segunda vinda de Cristo (Fp 1:23).

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MAS ONDE JESUS ESTAVA ENTRE SUA MORTE E RESSURREIÇÃO?

A Bíblia não fornece muitos detalhes sobre esse período, mas


sabemos com certeza que Ele foi ao céu (paraíso), o que também concorda
com o fato de Ele ter entregado o seu Espírito ao Pai, apenas quando tudo foi
consumado, ou seja, a expiação de Cristo foi concluída na cruz, e não ficou
nenhuma etapa para ser concluída no inferno ou em qualquer outro lugar.

E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no


Paraíso (Lucas 23:43).

E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E,


inclinando a cabeça, entregou o espírito (João 19:30).

E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou (Lucas 23:46).

Após a cruz, nós sabemos o que realmente importa: Ele ressuscitou!

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QUEM NUNCA OUVIU O


EVANGELHO SERÁ SALVO?
Algumas pessoas afirmam que aqueles que passaram por essa vida e
não conheceram Jesus, ou seja, nunca ouviram o Evangelho, pelo
desconhecimento serão salvas. A principal base deste argumento é o fato de
Deus ser amor, e a condenação de um possível “inocente” seria uma injustiça
por parte d'Ele. Mas será que realmente quem nunca ouviu o Evangelho será
salvo?

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE ISSO?

Para ser bem direto, a Bíblia diz que não há a mínima possibilidade de
quem nunca ouviu o Evangelho ser salvo. Não existe outra forma de obter
justificação perante o juízo de Deus se não for pelos méritos de Cristo. São
vários textos bíblicos que podemos citar, vejamos alguns:

E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu


nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos
ser salvos (Atos 4:12).

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém


vem ao Pai, senão por mim (João 14:6).

Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está


posto, o qual é Jesus Cristo (1 Coríntios 3:11).

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo


(Romanos 10:13).

Essa verdade revelada nas Escrituras de modo algum afronta a


bondade, a misericórdia, o amor ou qualquer atributo do nosso Deus.
Algumas pessoas entendem errado esse principio, e pensam que agindo

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assim, Deus estaria sendo injusto, porém é exatamente o contrário, Deus age
assim por ser plenamente justo.

NÃO EXISTEM INOCENTES DENTRE A RAÇA HUMANA

A ideia de que é injusto alguém que nunca ouviu o Evangelho ser


condenado, é facilmente derrubada quando entendemos que não existem
inocentes entre os homens (Jo 5:42; Rm 3:10-12, 23; Rm 7:18,23; Ef 4:18; 2Tm
3:2-4; Tt 1:15). Vamos citar alguns versículos que ensinam essa verdade:

E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se
achará justo nenhum vivente (Salmos 143:2).

Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem


faça o bem, não há nem um só.

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus


(Romanos 3:12,23).

Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo


pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens
por isso que todos pecaram (Romanos 5:12).

Deus, de forma alguma, é injusto, ao contrário, Ele é totalmente justo.


Após a queda do homem, lá com Adão ainda no Éden, todos os homens, sem
exceção, passaram a merecer a condenação eterna. Note que não é a
injustiça de Deus que condena a humanidade, mas sua justiça diante da
própria perversidade e desobediência do homem. Quando um pecador é
condenado ele não está recebendo injustiça da parte de Deus, ao contrário,
ele está recebendo a pura justiça de Deus.

Existem vários versículos que expressam a condição da pessoa que


nunca conheceu a Palavra do Senhor, e, em todos eles, fica claro que mesmo
sem conhecer os mandamentos de Deus, os homens perecem. Creio que um
dos versículos mais claros sobre isso está na Carta de Paulo aos Romanos:

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Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão;
e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados (Romanos
2:12).

COMO ALGUÉM PODE SER COBRADO POR ALGO QUE NUNCA


CONHECEU?

Mesmo se alguém argumentasse que nunca ouviu falar sobre a


existência do verdadeiro Deus, e se houvesse a possibilidade dessa pessoa
ser absolvida da condenação segundo a sua própria conduta, ainda assim
essa pessoa seria condenada, isso porque todos os homens, conhecedores
ou não do verdadeiro Deus, possuem um padrão moral dentro si, isto é, todos
de uma forma ou de outra julgam o que acham ser a conduta correta.

Ainda no capítulo 2, da Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo fala


sobre isso:

Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as


coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os
quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando
juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer
acusando-os, quer defendendo-os (Romanos 2:14,15).

Se alguém disser que passou a vida sob a base de que deveria fazer
o bem, praticando boas obras e amando o próximo, seria inevitável perguntar:
Essa pessoa sempre fez o bem? Em todas as oportunidades ela praticou boas
obras? Em todos os momentos de sua vida ela amou o próximo? A resposta
seria evidente: não!

Até mesmo os que conheceram a Lei não puderam ser salvos por ela,
pois a Lei veio para oficializar a incapacidade do homem em cumpri -la. Nunca
houve, e nunca haverá salvação a não ser unicamente pela graça de Deus.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de
vós, é dom de Deus (Efésios 2:8).

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Ao longo da História muitas dessas pessoas que nunca ouviram falar


de Jesus viveram suas vidas mergulhadas no paganismo e praticando uma
série de atrocidades. Não são poucos os relatos de missionários que foram
evangelizar tribos e povoados que nunca haviam escutado falar da existência
de Jesus, e que descrevem o desprezo, a rejeição e a perversidade destas
pessoas em relação ao Evangelho que estava sendo anunciado. Isso prova
que os que nunca ouviram o Evangelho não são inocentes por isso.

Uma coisa importante que também precisamos considerar é que a


Bíblia ensina que o grau de conhecimento que uma pessoa recebeu fará
diferença em seu julgamento, no sentido de ser mais brando ou mais severo,
porém isso não significa absolvição. A absolvição só pode ocorrer pela
justificação em Cristo Jesus.

Esse ensino também reflete a justiça de Deus que irá considerar o


conhecimento, oportunidades e as vantagens que alguém desfrutou nessa
vida em relação à iluminação sobre a verdade (Am 3:2; Lc 12:47,48; Hb 10:29;
Mt 11:10-24; Lc 10:12-15).

E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou,


nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos
açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites,
com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for
dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais
se lhe pedirá (Lucas 12:47,48).

Sendo assim, podemos concluir que não existe possibilidade alguma


de alguém que nunca ouviu o Evangelho ser salvo, pois isso implicaria em
outro meio de salvação, o qual não seria pelos méritos de Cristo.

POR QUE DEUS NÃO PERMITIU QUE TODOS OUVISSEM O


EVANGELHO?

Diante da realidade de que muitas pessoas nunca ouviram o


Evangelho durante a História da humanidade, muita gente não entende o

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porquê de Deus não ter permitido que todos ouvissem o Evangelho quando
passaram por este mundo.

De alguma forma, Deus é revelado a todos os homens. Isso é


chamado de "Revelação Natural". Um texto bíblico que expressa esse
princípio está no livro de Salmos:

Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra


das suas mãos (Salmos 19:1).

Basicamente o que essa referência em Salmos (como outras que


também podem ser encontradas na Bíblia) está dizendo é que o homem pode
ter uma consciência geral sobre Deus percebendo as obras da criação.
Porém, essa revelação não é suficiente para que alguém seja salvo, mas ela
escancara a condição de que todos os humanos são indesculpáveis, ou seja,
ninguém poderá chegar diante de Deus e dizer que não sabia da existência
de um Deus. Os ateus não creem na existência de Deus, mas isso é diferente
de não saber da existência d'Ele.

Na Epístola aos Romanos, aprendemos que os homens rejeitaram


essa revelação de Deus na própria natureza e por isso constituíram para si
mesmos outros deuses. Isso demonstra que não existe o conceito defendido
por muitos de que se alguém que está em uma determinada religião, mas
pratica o bem, e sua religião prega o amor, então isso é o que importa e Deus
aceitará esse tipo de conduta.

Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o


seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e
claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles
fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus
discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a
glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem

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corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis (Romanos


1:20-23).

Existe também a chamada "Revelação Especial", em que Deus se


revela através de sua Palavra, ou seja, é onde temos conhecimento dos
mandamentos de Deus, do plano de Salvação em Cristo e da promessa de
seu retorno e juízo que consumará a História desse mundo.

Não temos as respostas para todas as perguntas referentes aos


eternos propósitos de Deus, o que sabemos é que tudo acontece conforme a
justa, perfeita e infalível vontade dEle e unicamente para a manifestação de
sua glória.

Entre obedecer a Deus e praticar a iniquidade, o homem sempre


escolherá o mal, pois isso faz parte de sua natureza corrompida. Isso significa
que mesmo se todas as pessoas ouvissem o evangelho não implicaria que
mais pessoas seriam salvas, pois ao homem é impossível escolher o bem em
relação a Deus, e muito menos salvar-se a si mesmo.

É por isso que se o Evangelho é anunciado a alguém, isto é graça, e


não direito do homem. O pecado colocou o homem em divida com Deus e não
o contrário. Esta questão seria um problema se a salvação fosse resultante da
escolha do homem, pois no dia do juízo todos os que não ouviram o
Evangelho teriam o direito de protestar, alegando que se tivessem ouvido
teriam crido, ou seja, nesse caso seria uma condenação injusta.

Porém, quando entendemos que a salvação é simplesmente pela


graça de Deus, e que nosso Deus é soberano e escolheu os seus unicamente
pela sua vontade, sem ser influenciado por qualquer escolha ou mérito do
homem, então esse problema sobre os que nunca ouviram o Evangelho fica
totalmente resolvido.

Antes de tudo existir, maravilhosamente Ele escolheu os que são seus


e os “chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas

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segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus
antes dos tempos dos séculos” (2Tm 1:9).

Na Bíblia temos vários exemplos de pessoas que nos ajudam a


compreender esse tema. Jó, Melquisedeque, Abraão e tantos outros, tinham
em comum o fato de viverem em uma época onde o paganismo dominava a
humanidade, onde a sociedade era corrompida pelo politeísmo, e o culto ao
verdadeiro Deus havia sido esquecido.

Eu não sei como Jó conheceu a Deus, mas sei que ele O conheceu.
Eu não sei quem evangelizou Melquisedeque, mas sei que ele foi sacerdote
do Deus Altíssimo. Quanto a Abraão, bem, todos nós conhecemos a sua
história, e como Deus o chamou dentre sua parentela pagã. Todos estes
homens serviram o verdadeiro Deus, conheceram seus mandamentos e
creram verdadeiramente em suas promessas, confiando em sua infalível
fidelidade.

Diante disso, seguramente podemos dizer que ninguém que poderia


ser salvo será condenado porque não teve oportunidade. No livro de Atos,
temos noticias do resultado de uma evangelização, e como o Evangelho
transformou exatamente aqueles que deveriam ser transformados. Note que
os que creram foram aqueles que haviam sido designados para a vida eterna:

Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do


Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida
eterna (Atos 13:48).

Para finalizar, se os que nunca ouviram o Evangelho fossem salvos,


então a missão de evangelizar teria sido um fracasso, pois seria muito melhor
que ninguém tivesse sido evangelizado, pois assim, o número de salvos teria
sido maior.

Porém, a ordenança que recebemos do nosso Senhor é que devemos


anunciar o Evangelho a toda criatura, sendo que esse trabalho não será em
vão, pois dentre essa humanidade caída Ele tem os seus eleitos, os quais

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convêm agregar, e de uma forma incompreensível a nós, por um plano


concebido ainda na eternidade, essas ovelhas não passarão por este mundo
sem ouvir a voz do seu Pastor.

Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me
convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um
rebanho e um Pastor (João 10:16).

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AS 70 SEMANAS DE DANIEL
As setenta semanas de Daniel é como ficou conhecida pelos cristãos
a profecia registrada em Daniel 9:24-27. A profecia das 70 semanas é um dos
temas mais polêmicos e debatidos entre os estudiosos devido a sua grande
dificuldade de interpretação.

Neste texto, conheceremos alguns aspectos importantes da profecia


das 70 semanas de Daniel, e as principais interpretações sobre o assunto.

QUANDO DANIEL TEVE A REVELAÇÃO SOBRE AS 70


SEMANAS?

O capítulo 9 do livro do profeta Daniel nos mostra que o profeta havia


descoberto, estudando as profecias do profeta Jeremias (Jr 29:10-14), que o
tempo de cativeiro do povo judeu na Babilônia duraria 70 anos.

Ao fazer tal descoberta, Daniel percebeu que o momento em que


estava vivendo já era a véspera do tão aguardado fim do exílio. Daniel
percebeu ainda que o fim do exílio também estava diretamente relacionado ao
arrependimento de seu povo durante o período em que ficaram cativos.

Entretanto, ao analisar a situação de seu povo na Babilônia, Daniel


concluiu que o povo ainda estava impenitente. Então, Daniel se preocupou,
pois ele entendia a relação pactual do Senhor com seu povo, ou seja, onde
bênçãos eram vistas na obediência, e maldições na desobediência.

Foi neste cenário que Daniel orou ao Senhor. A oração de Daniel


consistiu, primeiramente, em adoração a Deus por sua fidelidade e soberania,
depois ele confessou o seu pecado e o pecado de seu povo, também
reconheceu a justiça de Deus em seu julgamento do pecado, e, finalmente,
ele fez uma grande suplica para que o Senhor, pela sua misericórdia,
restaurasse a cidade de Jerusalém tirando seu povo do exílio.

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A Bíblia diz que enquanto ele ainda orava, o anjo Gabriel veio ao seu
encontro com uma grande mensagem da parte do Senhor (Dn 9:21), onde lhe
foi revelado os propósitos de Deus acerca do futuro, e que seriam cumpridos
durante 70 semanas.

O QUE É A PROFECIA DAS 70 SEMANAS? POR QUE "70


SEMANAS"?

O anjo Gabriel falou a Daniel que 70 semanas estavam determinadas


sobre o seu povo (Dn 9:24). O próprio Gabriel, na descrição da visão,
organiza as setenta semanas em três subdivisões: primeiro 7 semanas, depois
mais 62 semanas e, por último, mais 1 semana.

Gabriel também fez referência a pelo menos dois personagens


principais: o primeiro aparece no versículo 25, e é o Ungido, também
denominado como “Príncipe” no mesmo versículo 25. Já o segundo aparece
no versículo 26, e trata-se de um príncipe que lidera um povo que destruiria a
cidade e o santuário. A identificação destes dois personagens da profecia
varia nas mais diversas interpretações sobre ela.

Basicamente, a profecia fala primeiramente acerca da restauração de


Jerusalém, e depois de uma nova destruição que haveria de acontecer.
Também são apresentados seis itens que deveriam ser cumpridos durante o
período das 70 semanas, sendo eles: cessar a transgressão, por fim ao
pecado, expiar a iniquidade, trazer a justiça eterna, selar a visão e a profecia
e ungir o Santíssimo (Dn 9:24). A forma e o período em que esses itens são
cumpridos também varia de acordo com cada corrente escatológica.

Muitos também se perguntam o porquê de serem 70 semanas. A


expressão “setenta semanas” traduz o original “setenta setes“. Muitos
estudiosos acreditam que trata-se de uma referência direta aos 70 anos de
exílio que o povo foi submetido, sendo então, estes 70 anos, multiplicados
sete vezes, de acordo com o padrão de tratamento pactual (cf. Lv
26:14,21,24,28).

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Seja como for, todos os intérpretes consideram que as 70 semanas


devem ser entendidas não como semanas de dias, mas como semanas de
anos, assim como está em Levítico 25:8. Desta forma, a profecia das 70
semanas se refere a um período de 490 anos (70×7).

Assim, a divisão das semanas estabelecida na própria profecia seria a


seguinte: 49 anos (7 semanas), 434 anos (62 semanas) e 7 anos (1 semana).

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE AS 70 SEMANAS

A profecia das setenta semanas de Daniel sempre foi muito debatida.


Antes mesmo das discussões entre as diferentes correntes escatológicas, tal
profecia já era alvo de debate entre intérpretes judeus, depois latinos e
gregos.

São tantas interpretações diferentes que seria algo quase impossível


considerar todas elas num único texto. Portanto, colocarei ênfase apenas nas
principais interpretações dentro do cristianismo, que, de alguma forma, são
defendidas pelas diferentes posições acerca da escatologia bíblica.

Não há tanta discussão entre os cristãos a respeito das primeiras 69


semanas, apenas alguns debates acerca de datas e eventos históricos. As
discussões se concentram realmente no significado da septuagésima
semana. Sobre isto, existem três interpretações principais:

Interpretação literal e futurista: interpreta as semanas de forma literal,


ou seja, representando um período preciso de tempo, a saber, 490 anos
exatos. Devido à interpretação estritamente literal, essa linha de interpretação
entende que 483 anos já se cumpriram, o que corresponde a 69 semanas
(7+62) e a última semana, no caso a septuagésima, foi adiada e transferida
para os últimos dias da presente dispensação. Assim, existe um hiato entre a
sexagésima nona e a septuagésima semana, uma lacuna de tempo, um
período indeterminado que é a era da Igreja. Finalmente, a septuagésima
semana começa quando a Igreja for arrebatada e o Anticristo revelado, e

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corresponde aos sete anos de grande tribulação. Esta é a principal


interpretação entre os pré-milenistas dispensacionalistas.

Interpretação preterista: essa interpretação entende que as 70


semanas já se cumpriram, e a septuagésima semana corresponde ao período
desde a morte de Cristo na cruz até a destruição de Jerusalém em 70 d.C.
pelo exército romano. Alguns preteristas entendem que a destruição de
Jerusalém não ocorre necessariamente dentro das 70 semanas, mas em
algum momento depois dela. Muitos pós-milenistas defendem esta
interpretação.

Interpretação simbólica: essa interpretação defende que as 70


semanas devem ser entendidas de forma simbólica. Apesar de ser simbólica,
essa interpretação se mistura com historicidade, ou seja, as 70 semanas se
cumprem historicamente, porém não existe a necessidade das datas serem
exatas. Assim, a septuagésima semana é simbólica, e se refere à época da
Igreja, ou seja, ao período que compreende desde a primeira vinda de Cristo
até sua segunda vinda. Esta é a principal interpretação entre os amilenistas.

COMO INTERPRETAR A PROFECIA SOBRE AS 70 SEMANAS?

Todas as interpretações sobre as 70 semanas de Daniel possuem


problemas. O texto de fato não é claro, de forma que em qualquer posição
que tomarmos, necessariamente estaremos defendendo uma simples
interpretação.

Sobre as “setenta semanas” e suas três divisões, muitas tentativas já


foram feitas para estabelecer com exatidão a cronologia desse período,
porém nenhuma delas se mostrou realmente eficaz. Isso acontece porque “a
conta não fecha” com precisão em nenhuma das interpretações possíveis, isto
é, sempre a data se mostra aproximada e não exata.

Para entendermos melhor as dificuldades que existem, vamos analisar


resumidamente o texto da profecia das 70 semanas.

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Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a


tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos
pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e
selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e
entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a
Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e
sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas
em tempos angustiosos (Daniel 9:24,25).

Já vimos que existem duas possibilidades de interpretarmos as 70


semanas, isto é, ou de forma simbólica ou literal. Se entendermos as setenta
semanas como literais, então temos a grande dificuldade de fazer com que os
490 anos se encaixem nas datas propostas.

Um exemplo dessa dificuldade pode ser visto na afirmação de que o


tempo deveria ser contado "desde a saída da ordem para restaurar e para
edificar Jerusalém". Sobre isto, encontramos pelo menos três decretos que
poderiam representar tal “ordem”. O primeiro foi com Ciro no século 6 a.C.,
depois temos o primeiro decreto de Artaxerxes em 457 a.C., e, por último, um
segundo decreto em 444 ou 445 a.C. (embora não tenha sido tecnicamente
um decreto e sim uma autorização).

O primeiro decreto com Ciro é praticamente inviável, pois a data


ficaria muito longe do primeiro século depois de Cristo, além de que a ordem
prioriza a reconstrução do Templo e não da cidade. Vale dizer que há
intérpretes que consideram essa data, colocando então o termino das 70
semanas no período intertestamentário, na época de Antíoco IV Epifânio.

Como discutiremos aqui apenas as principais interpretações dentro do


cristianismo, então nos sobrariam as outras duas possibilidades. Antes de
falarmos sobre isto, devemos considerar a dificuldade com relação ao tipo de
calendário utilizado para fazer este cálculo, ou seja, é possível calcular com o
calendário lunar e o calendário solar.

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Também soma-se a isto o fato de que há um erro entre 4 e 7 anos no


cálculo feito por Dionísius Exiguus no calendário que nós utilizamos hoje, cuja
contagem dividiu a História em “a.C.” e “d.C”.

Alguns afirmam que as 69 semanas, ou 483 anos, se cumprem


exatamente no ano em que Jesus começou seu ministério na Galiléia. Outros
afirmam que os 483 anos coincide no ano em que Cristo foi crucificado.
Entretanto, considerando as dificuldades que já mencionamos aqui, podemos
concluir que é impossível que seja estabelecida uma data exata para o
término das 69 semanas.

Particularmente prefiro considerar como sendo mais provável a ordem


de 444 a.C., de forma com que “os tempos angustiosos” citados na profecia,
são aqueles registrados no relato de Neemias. Assim sendo, de 444 a.C.
devem ser contados 483 anos, resultando então em 37 ou 38 d.C.
Considerando o erro de cálculo nas contas Dionísius Exiguus entre 4 e 7 anos,
então chegaremos a uma data aproximada entre os anos 31 e 34 d.C., o que
provavelmente corresponde ao período do ministério de Jesus.

Na interpretação preterista, que é a mais literal de todas, não há como


fazer encaixar o período entre a crucificação de Cristo e a destruição de
Jerusalém em 70 d.C. Assim, segue-se uma interpretação literal até a
sexagésima nona semana, e é preciso que se recorra a um arranjo para
posicionar a septuagésima semana. Como já dissemos, para resolver essa
questão geralmente os preteristas defendem que Daniel não diz que a
destruição de Jerusalém ocorreria dentro da septuagésima semana.

Já na interpretação dispensacionalista essa dificuldade não ocorre,


porém por outro lado, a septuagésima semana é adiada e inicia-se um hiato.
O problema é que o texto não faz qualquer referência sobre um possível
adiamento da septuagésima semana, nem mesmo que haveria uma lacuna de
tempo após a sexagésima nona semana.

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Assim, penso que tal interpretação não pode reivindicar uma condição
especialmente literal, pois utiliza um elemento que não esta literalmente no
texto. Logo, é possível notar uma aparente falta de padrão no estilo
interpretativo.

Outro problema também se dá pelo fato de que, se a septuagésima


semana corresponde ao período futuro de grande tribulação e esse período
deve ser interpretado de forma literal, então será possível calcular a segunda
vinda de Cristo a partir da manifestação futura do Anticristo, e não existe
qualquer base bíblica que aponte para essa possibilidade.

Talvez a melhor chance de resolver todos estes problemas é entender


que a interpretação das 70 semanas deve ser simbólica, pois assim, tais
dificuldades serão eliminadas. Vale dizer que a interpretação simbólica
considera que o texto onde a profecia das setenta semanas aparece é
apocalíptico, e, como tal, existe o uso de elementos simbólicos.

Também é preciso notar que o próprio número “7” é amplamente


utilizado com significado simbólico em textos apocalípticos da Bíblia. Assim,
os interpretes dessa posição entendem que o período de 490 anos representa
uma fórmula padrão, ou seja, a profecia não estava estabelecendo
necessariamente um cálculo exato de anos, mas segmentos de tempo
amplamente definidos.

Esse estilo de organização não era incomum na literatura judaica, e


pode ser observado em textos produzidos principalmente no período
intertestamentário, como por exemplo, o livro não canônico Jubileus, que
estrutura a História em períodos de 490 anos.

Se as setenta semanas for entendida de forma simbólica, então a


primeira divisão da profecia em 7 semanas representa um curto espaço de
tempo até que Jerusalém fosse reconstruída com a volta do povo do cativeiro.
Depois, haveria um longo período de tempo (62 semanas) até que o Messias
estivesse na terra durante os primeiros dias do primeiro século, o que também

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ocorreu em aproximadamente 434 anos depois da reconstrução de Jerusalém


como já vimos. Note sempre a condição “aproximadamente”, que, como já
dissemos, indica que não há necessidade de se estabelecer com exatidão
uma data.

Também vale dizer que alguns estudiosos entendem que o “Ungido”


(ou Messias) citado no versículo 25 pode não ser uma referência a Cristo, mas
a um rei usado por Deus como instrumento para realizar sua vontade. Neste
caso, geralmente é utilizada a data do decreto de Ciro. Todavia, creio que a
melhor interpretação é que tal citação é referente ao Messias mesmo.

Também notamos no versículo 24 os seis itens que deveriam ser


cumpridos durante as setenta semanas. Os dispensacionalistas entendem
que os seis itens só serão completamente cumpridos na segunda vinda de
Cristo e no estabelecimento de um reino milenar na terra (o milênio).

Já a outra possibilidade é a de que os seis itens já foram cumpridos


na obra redentora de Cristo, mas que, em alguns aspectos, alcançarão a
plenitude em sua segunda vinda. Observando as profecias do Antigo
Testamento à luz do Novo Testamento, percebemos que essa é a melhor
interpretação. Assim, podemos entender que a profecia das 70 semanas se
concentra em grande parte a revelar a obra do Messias em sua primeira
vinda.

E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias,


mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir,
destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma
inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as
assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na
metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a
asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e
o que está determinado será derramado sobre o assolador (Daniel
9:26,27).

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Estes dois versículos certamente são os mais difíceis. Apesar das


dificuldades, e da questão quanto à literalidade ou o simbolismo das setenta
semanas, todas as posições de certa forma concordam com o que ocorre nas
primeiras 69 semanas da profecia (7+62), ou seja, independente de ser
considerado o primeiro decreto ou o segundo de Artaxerxes, as dadas são
próximas à reconstrução de Jerusalém e aos primeiros anos do século 1 d.C.
durante o ministério de Jesus.

O texto claramente diz que "depois das sessenta e duas semanas será
cortado o Messias", obviamente uma referência à crucificação de Cristo.
Quanto a isto, praticamente todas as interpretações concordam, exceto
aqueles que entendem que o Ungido citado no versículo 25 não é o Messias.
Nesse caso, então a morte do Ungido seria uma referência ao juízo de Deus
sobre o rei levantado por Ele mesmo, e que teria ultrapassado os limites como
instrumento do seu juízo. Realmente eu não creio nessa possibilidade.

Voltando ao texto, existe um debate entre as diferentes posições sobre


quando se deu a crucificação de Cristo, se na sexagésima nona semana,
durante o hiato ou na septuagésima semana.

Alguns dispensacionalistas afirmam que a crucificação ocorreu na


sexagésima nona semana, enquanto outros afirmam que ela ocorreu após a
sexagésima nona semana, mas não na septuagésima semana, já que esta
ainda é futura. Assim, a crucificação teria ocorrido durante a lacuna de tempo.

Já as outras interpretações entendem que a morte do Messias ocorreu


na septuagésima semana. Particularmente penso que isso está claro no texto,
pois é uma interpretação lógica e natural que “depois da sexagésima nona
semana” se inicia a septuagésima semana.

Como já disse, o problema é que o dispensacionalismo introduz um


elemento estranho ao texto, isto é, o hiato. Logo, creio que o texto obviamente
está dizendo que o Messias foi morto na septuagésima semana, até porque se
não for assim não temos o registro da septuagésima semana no texto, ou seja,

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não há no texto uma expressão como “na septuagésima semana“, mas


apenas “depois da sexagésima nona semana“. É claro que ambas as
expressões se equivalem.

O versículo 26 ainda diz que "o povo de um príncipe que há de vir


destruirá a cidade e o santuário ". Aqui penso que a melhor interpretação é a
de que se trata de uma referência ao general Tito Vespasiano e ao seu
exército que destruiu Jerusalém. Alguns estudiosos também entendem que
talvez haja nesse versículo alguma menção ao grego Antíoco IV Epifânio como
precursor de Tito.

No versículo 27 lemos que uma aliança seria feita: "Ele fará firme
aliança com muitos, por uma semana ". A interpretação dispensacionalista
entende que o “ele” é uma referência ao príncipe e não ao Messias. Assim,
para o Dispensacionalismo aqui se trata do Anticristo, que fará uma aliança
com o povo de Israel durante o período de tribulação.

Ainda no Dispensacionalismo, o Anticristo então "fará cessar o


sacrifício e a oferta de manjares ", o que significa que ele proibirá a prática
religiosa entre os judeus, o que resultará na segunda metade da
septuagésima semana, um período em que haverá intensa tribulação.

Entretanto, apesar da nossa tradução em português parecer indicar


que a melhor interpretação é entender que quem faz a aliança é o príncipe e
não o Messias, no texto original é impossível determinar quem está fazendo a
aliança. Note que no versículo anterior (26) duas pessoas são citadas: o
Ungido e o príncipe que lidera um povo. Assim, o “ele” que inicia o versículo
27, gramaticalmente pode ser tanto o Ungido quanto o príncipe.

Talvez haja uma pequena vantagem, gramaticalmente falando, na


interpretação de que o “ele” se refira ao Messias, pois o assunto principal do
versículo 26 é o Ungido e não o príncipe.

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Se no texto original a identificação é praticamente impossível, penso


que quando interpretamos esse texto com base no restante das Escrituras, a
melhor interpretação certamente será a de que o “ele” se trata do Messias.

Na Última Ceia, quando Jesus tomou o cálice, Ele disse: “Este cálice é
a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que o beberdes em
memória de mim” (1 Coríntios 11:25). Compare o texto de Daniel que diz que
"ele fará firme aliança com muitos ", com o texto do Evangelho de Mateus onde
Jesus disse: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança,
derramado em favor de muitos, para remissão de pecados ” (Mt 26:28).

Sabemos que cada vez que a Igreja se reúne para participar da Santa
Ceia do Senhor, ela está recordando, e ao mesmo tempo anunciando essa
aliança. Assim, entendemos que a morte de Cristo pois fim ao sistema
sacrifical do Antigo Testamento, de forma que, conforme o escritor da Epístola
aos Hebreus escreveu, os sacrifícios levíticos eram sombras do sacrifício
perfeito e definitivo de Jesus no Calvário.

Sobre a frase “fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares ” alguns


preteristas entendem que seja uma referência à profanação e destruição do
Templo por Tito, enquanto outros entendem que seja uma referência à própria
morte de Cristo.

Como na interpretação simbólica entende-se que a septuagésima


semana representa todo o período da era da Igreja, ou seja, ela é a última
semana, "os últimos dias" conforme o apóstolo Pedro interpretou a profecia do
profeta Joel em Atos 2:17, tal semana será dividida ao meio.

A primeira metade representa o período de pregação do Evangelho


pelo mundo, onde nada poderá barrar o crescimento da Igreja de Cristo na
terra, e a aliança estará sendo pregada. Já a outra metade corresponde ao
período do “pouco tempo de Satanás” (Ap 20:3), onde o homem da iniquidade
(2Ts 2:3), o Anticristo, será revelado e haverá intensa perseguição contra a

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Igreja. Essa segunda metade refere-se ao período final, a grande tribulação


que antecede a segunda vinda de Cristo.

Ainda dentro dessa interpretação, a segunda metade não possui a


mesma duração da primeira metade, pois a semana é simbólica. A segunda
metade da septuagésima semana será um curto período de tempo, pois
conforme Jesus falou em seu Sermão Escatológico, “se aqueles dias não
fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos
serão abreviados aqueles dias ” (Mateus 24:22).

Aqui vale uma observação de que para entender completamente a


interpretação simbólica, é preciso que se conheça a posição amilenista
acerca da escatologia bíblica, sobretudo ao que diz respeito à forma de se
interpretar o milênio.

Finalmente, o versículo 27 termina dizendo que “sobre a asa das


abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está
determinado será derramado sobre o assolador” (Daniel 9:27). Os preteristas
defendem que essa frase é uma referência a destruição do Templo e queda
de Jerusalém em 70 d.C. sob as ações de Tito.

Vale também notar que Daniel utiliza expressões semelhantes a “uma


abominação que causa desolação ” em outras passagens de seu livro (Dn
8:13; 11:31; 12:11). Em Daniel 8:13, por exemplo, essa frase está diretamente
relacionada à Antíoco IV Epifânio.

Porém, devido à data do decreto que utilizamos como base para o


período das 70 semanas, obviamente a passagem que estamos estudando
não pode se referir a Antíoco IV Epifânio. Logo, podemos dizer que Daniel
pode ter usado Antíoco IV Epifânio como uma pré-figura de outro governante
que faria atrocidades.

Assim, muitos intérpretes entendem que Antíoco IV Epifânio foi um


protótipo do Anticristo escatológico. Também podemos entender que a
própria profanação promovida por Antíoco IV Epifânio, prefigurou a destruição

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promovida por Tito em 70 d.C. que, juntas, também prefiguram o período de


domínio do Anticristo escatológico.

Essa parece ter sido a interpretação de Jesus em seu sermão


escatológico (Mt 24:15; Mc 13:14). Se entendermos desta forma, então essa
frase se trata de uma profecia de múltiplo cumprimento, algo que é comum
nas profecias do Antigo Testamento.

CONCLUSÃO SOBRE A PROFECIA DAS 70 SEMANAS

Mais uma vez quero dizer que a profecia das setenta semanas
realmente se trata de um texto bastante difícil de interpretar, portanto é
preciso que haja humildade entre os que se propõe a debatê-la e respeito
para com os que pensam de outra forma.

Apesar de todas as dificuldades apontadas, vale ressaltar que na


Bíblia não há qualquer erro ou contradição, ou seja, as opiniões conflitantes
não significam que o problema esteja no texto bíblico, mas em nossas
interpretações, que buscam entender detalhes que Deus achou por bem não
nos revelar de maneira tão clara.

Por fim, penso que antes de qualquer debate sobre detalhes


específicos dessa profecia, precisamos apontar para o glorioso cumprimento
da mensagem principal que ela nos traz, a saber, a obra redentora do
Messias. Isso certamente nos leva a admirar a verdade de que somente um
Deus soberano, Senhor da História, é quem poderia revelar mistérios tão
profundos ao seu servo Daniel.

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A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS


A Parábola das Dez Virgens é uma das parábolas de Jesus mais
conhecidas pelos cristãos. Embora seja tema de muitos sermões, sem dúvida
ela é uma das parábolas mais difíceis de interpretar. Essa parábola encontra-
se exclusivamente no Evangelho de Mateus.

Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que,


tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco
delas eram prudentes, e cinco loucas. As loucas, tomando as suas
lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram
azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o
esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite
ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então
todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas
lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso
azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes
responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós,
ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas
ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas
entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois
chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor,
abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos
não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em
que o Filho do homem há de vir (Mateus 25:1-13).

CONTEXTO DA PARÁBOLA

Essa parábola está posicionada no Evangelho de Mateus


imediatamente após o sermão escatológico de Jesus. Na última parte do
sermão (capítulo 24), Jesus faz um alerta sobre a separação entre os bons e
os maus (santos e ímpios), ocasionada por sua repentina vinda.

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Já no capítulo 25 tal separação é ainda mais detalhada nas parábolas


das Dez Virgens (Mt 25:1-13), dos Talentos (Mt 25:14-30) e da Separação das
Ovelhas e dos Bodes (Mt 25:31-46).

Jesus utilizou nessa parábola a descrição de um típico casamento


judaico da época. Era costume que o noivo fosse, acompanhado de seus
amigos, tarde da noite à casa da noiva. Lá, a noiva o esperava com suas
damas de honra (as virgens), que, ao serem avisadas da aproximação do
esposo, deviam sair com suas lâmpadas para iluminar o caminho do noivo até
a casa, onde haveria a celebração das núpcias. Sobre a escolha do número
de dez virgens, acredita-se que, geralmente, esse cerimonial era composto
por dez damas, isso pelo fato de que as formalidades judaicas eram
realizadas com o comparecimento de ao menos dez pessoas, ou seja, a
quantidade de “dez” era significativa em certas ocasiões.

AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES SOBRE A PARÁBOLA

Ao longo dos anos grandes teólogos aplicaram interpretações


diferentes sobre essa parábola. Todos concordam que o Noivo seja Cristo.
Sobre o direcionamento da parábola, alguns defendem que ela se aplica
exclusivamente aos judeus, enquanto outros acreditam que ela se refira a
todos os que professam a fé cristã (verdadeiros e nominais).

O principal argumento utilizado por quem defende a aplicação


exclusiva aos judeus, é que a Igreja é a Noiva e não as "madrinhas". Também
defendem que a voz que anuncia o Noivo é a voz dos profetas que
proclamaram que o Messias viria. Sob este aspecto as virgens loucas são os
judeus que acreditavam que sua religiosidade seria suficiente e não se
prepararam para Ele, enquanto as prudentes seriam os judeus que
reconheceram que Jesus é o Cristo e, estes, pertencem então aos
remanescentes que serão salvos (Rm 9:27). Ainda dentro da linha que
defende ser esta uma parábola direcionada ao povo judeu, estão os que
acreditam que essa parábola será cumprida durante o período de grande

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tribulação, após um arrebatamento secreto da Igreja, onde haverá “ausência”


do Noivo que estará nas bodas juntamente com a Noiva (Igreja).

Dentre os que defendem que a parábola se aplica aos cristãos, existe


uma grande variação de interpretação que basicamente divergem entre si
sobre o que representa os elementos principais da parábola. Por exemplo:
alguns acreditam que as virgens loucas são verdadeiros cristãos que perdem
a salvação pela apostasia, enquanto outros defendem que não se trata de
cristãos verdadeiros, mas de crentes nominais, já que os verdadeiros não
podem se perder. A figura do azeite também é discutida, sendo que há os
que acreditam representar o Espírito Santo, outros o amor e ainda outros a
graça de Deus. O sono que acometeu as virgens para alguns se trata da
morte física, para outros momentos de fraqueza espiritual e, ainda outros,
defendem que o sono representa simplesmente a demora da volta de Cristo
provando os que O esperam.

APLICAÇÃO DA PARÁBOLA

Como vimos, existem diferentes opiniões sobre essa parábola.


Grandes expositores da Palavra de Deus ao longo da História da Igreja
fizeram sermões incríveis com pontos de vista diferentes sobre esse texto. O
interessante é que nenhum deles distorceu o verdadeiro ensino de Jesus
nessa parábola, o que talvez nos mostra tamanha abrangência do princípio
contido nela.

Creio que das interpretações citadas acima, a que mais causa


problemas e, para mim, trata-se de um erro teológico, é a interpretação que
defende que tal parábola se aplica aos judeus no período de grande
tribulação, após a Igreja não estar mais na terra. Esse tipo de ensino é
fundamentado por uma interpretação bíblica profundamente confusa e
equivocada.

Embora seja possível nessa parábola fazer alguns paralelos com os


judeus em relação à primeira vinda de Cristo na terra, penso que se

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considerarmos o capítulo anterior (capítulo 24), e naturalmente percebermos a


continuação dos ensinos apresentados nele ainda na composição do capítulo
25, será impossível não aplica-la sob as verdades do dia do juízo de Deus, da
separação entre os bons e os maus, dos cristãos verdadeiros e dos hipócritas.

LIÇÕES PRÁTICAS DA PARÁBOLA

Seja qual for a interpretação adotada nessa parábola, tais verdades


não podem ser negadas:

1. Todas eram virgens: historicamente a virgindade sempre esteve


relacionada à religiosidade e ao sagrado. Na parábola tanto as
prudentes quanto as loucas eram virgens. Isso não significa que
alguns perderão a salvação, mas que alguns nunca a tiveram. As
virgens loucas em nenhum momento foram prudentes, e as prudentes
em nenhum momento se tornaram loucas. A parábola começa e
termina com cinco prudentes e cinco loucas. Se aqui a virgindade se
refere à religiosidade, claramente podemos perceber então que tal
religiosidade não poderá salvar ninguém. Não basta ser virgem, é
preciso ter o azeite. As loucas eram virgens, tinham lâmpadas, mas
saíram sem o azeite (Mt 25:3).
2. As aparências enganam: as dez eram virgens, possuíam lâmpadas e,
pelo que o versículo 8 nos diz, saíram ao encontro do esposo com as
lâmpadas acessas. Nesse momento talvez fosse praticamente
humanamente impossível separa-las, pois aparentemente eram
idênticas. Realmente é muito difícil conseguir separar alguns crentes
nominais dos crentes verdadeiros. Eles frequentam as mesmas
igrejas, ouvem os mesmos sermões e cantam os mesmos louvores.
Alguns se destacam e acabam fazendo grandes prodígios. Eles oram
fervorosamente, pregam eloquentemente, curam doentes, expulsam
demônios e dizem levar o nome de Cristo. Eles enganam os homens,
mas não enganam a Deus. Curiosamente nessa parábola (vers. 12)
Jesus usa praticamente a mesma expressão que Ele já havia utilizado

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em Mateus 7, “[…] Nunca vos conheci; apartai-vos de mim […]” (Mt


7:23). Nosso Deus é justo, e naquele dia não haverá nenhum intruso
(Mt 22:1-14).
3. As lâmpadas apagaram: se por um lado, inicialmente é muito difícil
perceber quem são os prudentes e quem são os insensatos, há um
momento em que essa diferença se torna duramente visível: ao
apagar das lâmpadas. O cristão nominal, com sua fé histórica, não
conseguirá manter sua lâmpada acessa no momento em que o Noivo
vier. Sua hipocrisia, sua religiosidade e sua aparência podem até
iluminar o caminho de sua vida por um tempo, e de maneira tal que há
quem o siga. Quando olhamos para a lua durante a noite ficamos
admirados por seu brilho, mas logo de manhã a verdade de que ela
não possui luz alguma vem à tona. Ela reflete uma luz que não é dela.
A fé histórica é assim, brilha por um tempo, mas nunca terá o brilho
definitivo da verdadeira fé salvadora.
4. O azeite é pessoal: como já dissemos, nesse ponto os estudiosos
defendem significados diferentes para a figura do azeite, porém seja a
graça de Deus ou a presença do Espírito Santo, ambos os
significados são insubstituíveis, indivisíveis e notórios na vida do
verdadeiro salvo em Cristo Jesus. Quando a graça de Deus alcança o
pecador ele é regenerado pelo Espírito Santo e passa conhecer a fé
salvadora. Esse azeite não se pode dividir, é pessoal, suficiente
apenas para os prudentes.
5. O azeite não pode ser obtido por esforço humano: talvez as virgens
loucas da parábola não levaram consigo azeite porque acharam que o
noivo viria rapidamente. Quando perceberam que o noivo tardou em
vir, então desesperadamente tentaram comprar o azeite que lhes
faltava. A parábola termina com as virgens loucas batendo à porta do
Noivo, mas foram rejeitadas. Pode ser que elas queriam mostrar que
se “esforçaram” para estarem ali, correram em busca de azeite para

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que pudessem participar das bodas, mas seus esforços nada


puderam fazer por elas.
6. A prudência e a vigilância: muitos pregadores de maneira equivocada
pregam apenas que as virgens loucas dormiram, mas as prudentes
também dormiram. Como vimos anteriormente, existem diferentes
opiniões sobre a natureza desse sono, mas uma coisa é certa: o sono
não foi o sinal de loucura, ou seja, as virgens prudentes não passaram
a ser loucas pelo fato de terem dormido. Isso quer dizer que a
prudência não está relacionada ao sono, mas ao fato de ter ou não o
azeite, isto é, ser prudente e estar preparado é possuir o azeite. A
lição principal dessa parábola é o mandamento de “vigiar”. A
vigilância prudente é aquela que nos prepara para uma longa espera.
É fácil esperar pouco tempo. Na fila de um banco, quando o tempo de
atendimento é curto, todos permanecem esperando, mas quando a
fila é imensa e demorada muitos desistem. A demora da volta de
Cristo separa os prudentes dos loucos, os sábios dos tolos.
Precisamos ser zelosos todo o tempo de nossas vidas. O zelo
temporário pela volta de Cristo não serve para nada. Precisamos estar
prontos, e isso pode significar uma longa espera. Algumas pessoas
acham que vigiar é esperar pela volta de Cristo a qualquer momento,
mas na verdade vigiar é estar preparado para a volta d'Ele a todo
tempo. Isso até parece ser a mesma coisa, mas acredite, não é. Essa
parábola nos ensina tal diferença, as virgens néscias esperaram o
Noivo a qualquer momento, mas apenas as prudentes esperaram a
todo tempo. Elas tinham o azeite, elas estavam preparadas para uma
longa espera, elas vigiaram.

Para concluir, nada melhor do que as próprias palavras de Jesus:

Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do
homem há de vir (Mateus 25:13).

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Meu desejo sincero é que possamos, naquele dia, desfrutar do óleo,


ao invés de tentar compra-lo em sinal de loucura.

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A PARÁBOLA DA SEPARAÇÃO
DAS OVELHAS E DOS BODES
A Parábola da Separação das Ovelhas e dos Bodes (ou do Grande
Julgamento) pode ser encontrada no Evangelho de Mateus, capítulo 25 e
versículos 31 a 46. Existe uma discussão entre os intérpretes bíblicos se essa
passagem de fato pode ser considerada uma parábola.

Particularmente, creio que esse texto é muito mais uma descrição


simbólica e profética acerca do juízo final do que uma parábola, embora seja
inegável a presença de elementos parabólicos nos versículos que falam sobre
as ovelhas e os bodes. De qualquer forma, parábola ou não, a definição não
irá alterar o ensinamento de Jesus nesse texto.

Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos,


assentar-se-á em seu trono na glória celestial.Todas as nações
serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o
pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua
direita e os bodes à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que
estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam
como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do
mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e
vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram;
necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês
cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Então os
justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te
demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te
vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas
e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te
visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês
fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’. Então
ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se

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de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos.


Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e
nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me
acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive
enfermo e preso, e vocês não me visitaram’. Eles também
responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou
estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não
te ajudamos?’ Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês
deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim
deixaram de fazê-lo’. E estes irão para o castigo eterno, mas os
justos para a vida eterna (Mateus 25:31-46).

CONTEXTO DA PARÁBOLA

Esse relato de Jesus está no capítulo 25 do Evangelho de Mateus,


perfeitamente posicionado após o sermão escatológico de Jesus no capítulo
24, sendo que o capítulo 25 é uma continuação natural dos ensinamentos
contidos no sermão do capítulo anterior. No capítulo 24, Jesus descreve a
destruição de Jerusalém e do Templo, e também os eventos acerca do fim
dos tempos, culminando em sua segunda vinda e juízo final. Ainda no capítulo
24, temos alguns alertas sobre a necessidade de estarmos preparados diante
da volta repentina de Cristo, porém, é no capítulo 25 com as parábolas das
Dez Virgens, dos Talentos e da Separação das Ovelhas e dos Bodes, onde
Jesus explora mais profundamente a questão da vigilância, e também
descreve claramente o juízo final. Esse capítulo contém as últimas exortações
de Jesus sobre este tema antes de sua crucificação.

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA

É nos versículos 32 e 33 que encontramos as características de uma


parábola, quando Jesus compara os justos e os ímpios com ovelhas e bodes
respectivamente. Essa comparação utilizada por Jesus não foi por acaso, ao
contrário, serviu com perfeição ao ensino do Senhor a respeito do juízo final.

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Embora que, para muitos de nós, uma referência sobre a vida no


campo possa não parecer tão clara, isso devido ao nosso estilo de vida
urbano na atualidade, nos tempos de Jesus tais referências eram facilmente
entendidas. É comum em muitos rebanhos que os bodes fiquem junto com as
ovelhas, ou seja, no mesmo espaço de pastagem. Porém, ao entardecer, com
o chamado do pastor do rebanho, as ovelhas prontamente lhe obedecem,
mas curiosamente os bodes o ignoram. Outro fato importante é que as ovelhas
valem mais do que os bodes, isto é, sua produção de lã proporciona maiores
resultados ao pastor.

É exatamente sob esse conceito que Jesus insere essa comparação


em seu ensinamento. A lã branca das ovelhas pode ser destacada como
símbolo de pureza e justiça, ao contrário da pelagem malhada e manchada
dos bodes. Desde o Antigo Testamento a figura do bode é utilizada para se
referir ao ímpio, a conduta de pecado ou o mal. As ovelhas simbolizam os
justos, os que seguem o Salvador, com mansidão e obediência. Já os bodes
simbolizam os ímpios, com seu comportamento inconsequente, desobediente
e destrutivo.

Jesus afirma que no dia do juízo todas as pessoas, de todas as


nações, tanto os justos como os ímpios, os bons e os maus, sem exceção,
todos estarão diante do trono do grande Rei, a saber, Cristo. Sendo assim,
todas as pessoas que já viveram sobre essa terra são comparadas a ovelhas
e bodes.

Jesus prossegue o relato dizendo que as ovelhas serão colocadas à


direita, enquanto os bodes serão postos a esquerda. Com isso entendemos
que a separação será clara, evidente e sem confusão. As ovelhas e os bodes
estarão de lados opostos.

Jesus também fornece algumas características sobre a conduta das


ovelhas e dos bodes (dos justos e dos ímpios) durante suas vidas. Jesus dá
seis exemplos onde os justos agiram com piedade, e utiliza os mesmos seis

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exemplos, porém de forma negativa, para descrever a conduta desprezível


dos ímpios.

Na parábola, os justos e os ímpios, perguntaram ao Rei quando foi


que lhes fizeram o que o Rei havia descrito. O Rei respondeu dizendo que
quando fizeram (justos), ou deixaram de fazer (ímpios) a um de seus
“pequenos irmãos”, a Ele haviam feito. Estes “irmãos” descritos aqui, se tratam
dos seguidores de Cristo, dos eleitos de Deus, as ovelhas a quem o Pai deu
ao Filho e que, de maneira nenhuma, Ele, as lançará fora (Jo 10).

Essa simples expressão “meus irmãos” demonstra de forma solene a


profundidade do relacionamento entre Cristo e seus seguidores, a ponto de
que quando fazemos algo para seus discípulos neste mundo, estamos
fazendo diretamente para o próprio Jesus, da mesma forma que quando o
ímpio ignora um dos mensageiros de Cristo, e não se compraz por suas
necessidades, e consequentemente rejeitando o Evangelho, particularmente,
e diretamente, estão rejeitando o próprio Rei que será o Juiz naquele grande
dia. Jesus termina a parábola dizendo que os que foram postos do lado
esquerdo serão destinados ao castigo eterno, mas os justos, que foram postos
do lado direito, herdarão a vida eterna.

LIÇÕES PRÁTICAS DA PARÁBOLA

Podemos tirar várias lições práticas de alguns detalhes desse ensino


de Jesus, porém a mensagem principal desse ensinamento que é a realidade
do juízo sobre todas as pessoas não pode ser esquecida.

1. Apenas ovelhas e bodes, lado direito e esquerdo: de forma direta


aprendemos que não existe meio termo, ninguém ficará em cima do
muro. No dia do juízo haverá ovelhas e haverá bodes, uns ficaram do
lado direito e outros do lado esquerdo. O mundo prega que Deus é
amor, que no final tudo dará certo, como se não existissem lados.
Com certeza esse não é o ensinamento dado por Jesus. Naquele dia,

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surpresos, os ímpios perguntarão: "Quando foi que lhe rejeitamos


Senhor?" Será tarde demais.
2. Durante o dia todos convivem juntos, mas ao cair da noite a
separação ocorrerá: durante seu ministério aqui na terra, Jesus, várias
vezes, alertou sobre a separação que haverá no dia do juízo. Ele
ensinou que o joio será separado do trigo (Mt 13:30), o trigo será
juntado no seleiro enquanto a palha será queimada (Mt 3:12), os justos
serão separados dos maus (Mt 13:49,50), as virgens prudentes serão
separadas das loucas (Mt 25:12), o servo bom será distinguido do
servo mau (Mt 25:30), e, por fim, as ovelhas serão separas dos bodes.
Da mesma forma como o joio cresce no meio do trigo, mas no dia da
ceifa ele é separado e queimado no fogo, os bodes durante o dia
pastam junto com as ovelhas. Esse ensinamento é muito profundo. O
joio recebe o mesmo adubo do trigo, é regado junto com o trigo e
ambos estão dentro da mesma plantação. Os bodes também estão no
mesmo rebanho, sob a mesma pastagem das ovelhas. A diferença é
que ao final do dia o Pastor irá separar o rebanho. Nessa hora, apenas
as ovelhas atendem o chamado do Pastor.
3. Os detalhes serão lembrados: note que Jesus cita seis coisas que os
justos fizeram e que os ímpios deixaram de fazer. Dentre as seis
coisas, não podemos encontrar nenhuma grande realização. Na
parábola, quando o Rei relata as obras que os justos praticaram, nem
mesmo os próprios justos se lembraram de as terem feito. Isso mostra
que foram obras legitimas, despretensiosas, sem objetivo de
reconhecimento. Às vezes fazemos coisas que parecem ser tão
pequenas e sem importância, mas o justo Juiz não deixará com que
nenhuma delas passe despercebida. Da mesma forma, a negligência
do ímpio, por menor que ela tenha sido, será lembrada. Os justos
demonstraram fidelidade e diligência nas pequenas coisas do dia a
dia, e os ímpios, também nas coisas comuns dessa vida, mostraram
insensatez e loucura. Quem em juízo perfeito negaria um copo de

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água ao juiz responsável por julgar a sua causa? Outro fato importante
aqui, é a ênfase que Jesus deu aos pecados de omissão. Note que
nenhum pecado como a idolatria, adultério e homicídio foi citado. Com
isso, o que Jesus quis enfatizar, é o tamanho da gravidade ao se
negligenciar a mensagem do Evangelho anunciada pelos
mensageiros do Senhor.
4. O valor dos “pequenos” para Deus: quando o Rei se refere aos Seus
seguidores como “irmãos”, já fica evidente a importância destes para
o reino. Porém, ao adicionar a expressão “ o que vocês fizeram a
algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram“, Jesus torna ainda
mais maravilhosa a certeza de que até mesmo os menores dentre os
seus irmãos, O representam com tamanha importância e autoridade.
Deus está atento aos pequeninos, àqueles a quem muitos não dão o
mínimo valor, aqueles que não são julgados como importantes pelos
homens, não são temas de revistas, não aparecem em websites, não
possuem CD’s gravados, nem livros publicados, não são pregadores
renomados, nem presidentes de ministérios, às vezes nem mesmo
dentro de suas próprias congregações são reconhecidos, mas o Rei
está com seus olhos postos neles, e o favor feito a estes pequeninos,
embora esquecido por quem o praticou, será lembrado pelo próprio
Deus.
5. A herança não vem pelas obras: certamente no dia do juízo as obras
serão reveladas, porém, não serão elas que farão com que os justos
herdem o Reino. Note que o Reino já está preparado para o justo
desde a fundação do mundo (vers. 34) e não em decorrência de suas
boas obras. O Reino preparado para o justo é unicamente um ato da
vontade de Deus, concebido ainda na eternidade, que elegeu este
justo, por sua maravilhosa graça, para ser uma das ovelhas de seu
rebanho (Ef 1:4). As obras praticadas pelo justo não servem como
fundamento para sua salvação, mas servem apenas para refletir o
comportamento esperado daquele a quem Deus escolheu, e preparou

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de antemão tais obras para que este justo as praticasse (Ef 2:8-10). Se
praticamos boas obras o mérito não é nosso, mas totalmente de Cristo
que nos escolheu para seu reino antes de tudo existir, antes de
qualquer bem ou mal ter sido praticado.

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A ILHA DE PATMOS
A Ilha de Patmos é muito conhecida entre os cristãos por ter sido o
local onde o Apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse. Muitas histórias
são contatas sobre a Ilha de Patmos, porém nem todas podem ser
comprovadas, e outras não passam de pura ficção sem fundamentação
alguma. Neste texto veremos tudo o que realmente se sabe sobre essa ilha.

GEOGRAFIA DA ILHA DE PATMOS

A Ilha de Patmos esta localizada na extremidade leste do no Mar


Egeu, e é uma das ilhas que compõe o arquipélago grego do Dodecaneso
(que significa "Doze Ilhas"). Patmos fica por volta de 55 Km da costa sudoeste
da Turquia (região conhecida como Ásia Menor no tempo dos Apóstolos).

A Ilha de Patmos tem cerca de 13 Km de comprimento e uma largura


com cerca de 7 Km, o que lhe confere uma área total de 35 Km². No senso de
2002, a população de Patmos era de 2.700 habitantes.

O formato da ilha lembra uma "meia lua", devido ao fato de Patmos ser
dividida em duas partes praticamente iguais, que são unidas por um istmo
(estreito de terra cercado por águas de ambos os lados que une duas
grandes porções de terra). Em decorrência do seu formato, Patmos possui
uma baia protegida no lado leste do istmo.

A geografia da ilha é caracterizada por seu aspecto vulcânico, com


vegetação típica dessas condições. As colinas vulcânicas de Patmos
possuem em média 250 metros de altura, sendo que o monte mais alto tem
269 metros.

A ILHA DE PATMOS NO TEMPO DO IMPÉRIO ROMANO

Algumas pessoas imaginam Patmos como um lugar completamente


deserto e isolado na época dos apóstolos, sob o regime do Império Romano.
Mas a verdade é que Patmos era uma ilha prisão utilizada pelos romanos, e

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que apresentava até certo movimento naqueles dias. Evidências


arqueológicas mostram que Patmos já era habitada antes do Império Romano,
com vilarejos e até mesmo um possível templo pagão.

Alguns defendem que só eram mandados para a ilha os prisioneiros


mais perigosos, como um tipo de prisão de segurança máxima, porém não
existe base suficiente que comprove essa condição. Outra afirmação comum
é que os prisioneiros de Patmos eram submetidos a trabalhos forçados
relacionados à característica rochosa da ilha, mas também não há como
comprovar isso.

Seja como for, sabemos que pessoas eram exiladas em Patmos, e o


Apóstolo João foi uma delas, fato comprovado no próprio livro do Apocalipse
no capítulo 1.

A ILHA DE PATMOS, O APÓSTOLO JOÃO E O APOCALIPSE

É amplamente aceito que o Apóstolo João foi quem escreveu o livro


do Apocalipse. Os pais da Igreja, entre eles, Policarpo (que possivelmente foi
discípulo de João), Ireneu (que pode ter sido discipulado por Policarpo),
Clemente de Alexandria, Tertuliano, Eusébio e Jerônimo, declararam que João
foi exilado em Patmos por volta de 90 d.C. sob o governo do imperador
romano Domiciano.

No período de governo de Domiciano (tal como fora o de Nero) houve


intensa perseguição aos cristãos, principalmente ocasionada pela ambição do
imperador em restaurar e preservar a religião romana. Nesse período, e
mesmo após ele, houve um enorme número de mártires cristãos. Acredita-se
que antes de ser levado para Patmos, João vivia em Éfeso e, quando saiu da
ilha, tenha voltado para lá.

Foi na Ilha de Patmos que João teve as revelações que compõe o livro
do Apocalipse. Existe um debate se João de fato escreveu o livro na ilha ou
apenas teve as revelações em Patmos, escrevendo o livro após terminar seu

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exílio. De qualquer forma, tudo que sabemos é o que o próprio apóstolo João
nos escreveu:

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo
para torná-la conhecida ao seu servo João, que dá testemunho de
tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus
Cristo. Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no
Reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por
causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do
Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte,
como de trombeta, que dizia: "Escreva num livro o que você vê e
envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodicéia" (Apocalipse 1:1,2,9-11).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Neste e-book foram utilizados indiretamente, e de forma geral, alguns
conceitos presentes nas obras listadas abaixo, as quais também recomendo
para quem possui interesse em se aprofundar mais sobre o tema.

COMENTÁRIOS BÍBLICOS

Hendriksen W. Comentário do Novo Testamento - 1 e 2 Tessalonicenses,


Colossenses e Filemon, São Paulo: Cultura Cristã, 2ª Edição 2007.

______________, The Gospel of Matthew , Grand Rapids: Baker Book House,


1973.

______________, The Gospel of Mark, Grand Rapids: Baker Book House, 1975.

______________, More Than Conquerors - An Interpretation of The Book of


Revelation, Grand Rapids: Baker Book House Company, 2015.

______________, A Vida Futura Segundo a Bíblia , São Paulo: Cultura Cristã,


1998.

Kistemaker S. J. Comentário do Novo Testamento - Exposição da Primeira


Epístola aos Coríntios, São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

_______________, Comentário do Novo Testamento - Exposição da Primeira


Epístola aos Coríntios, São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

_______________, Comentário do Novo Testamento - Epístolas de Pedro e


Judas, São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

_______________, As Parábolas de Jesus, São Paulo: Casa Publicadora


Presbiteriana, 1992.

Hoekema A. A. A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,


1989.

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Pentecost J. D. Things to Come - A Study in Biblical Escathology, Grand


Rapids: Zondervan, 1965

BÍBLIAS DE ESTUDO

Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª Edição, São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

Bíblia de Estudo Pentecostal , Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

The New Scofield Study Bible , New York: Oxford USA Trade, 1998

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