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HOMICÍDIO
Homicídio simples
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de ou-
tro crime:
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
O direito à vida não é absoluto, uma vez que o agente pode matar alguém em legítima defesa,
etc e a Constituição admite a pena de morte por meio de fuzilamento.
Quando começa a vida intrauterina? Pela nidação, ou seja, pela fixação do óvulo na parede do
útero.
Quando começa a vida extrauterina? A partir do início do parto. No parto normal se dá com a di-
latação do colo do útero preparando-se para a expulsão do feto. Pelo parto cesariana tem início com o
rompimento da membrana amniótica.
Lembre-se que o Código Penal adota a teoria da atividade... (momento da ação, pouco importan-
do resultado).
SUJEITOS DO CRIME
O crime de homicídio é um crime comum. E na hipótese dos chamados xifópagos ou irmãos sia-
meses? Homicídio praticado por um dos xifópagos. O gêmeo responsável pelo delito deve ser condena-
do, mas a pena fica suspensa até sua prescrição ou até que o irmão pratique um delito. Na hipótese de o
agente querer matar um dos irmãos, mas acaba produzindo a morte de ambos, na medida em que eles
têm órgãos em comum, responderá por dois crimes de homicídio em concurso formal impróprio. Há cor-
rente em sentido de que não pode ser punido, tendo em vista o respeito da liberdade individual do outro
irmão.
Concurso material o agente por meio de duas ou mais ações ou omissões pratica dois ou mais cri-
mes. – critério do cúmulo material (as penas são somadas).
Concurso formal o agente mediante uma ação ou omissão pratica dois ou mais crimes. No caso de
crimes de roubo praticados no interior, trata-se de uma única ação desdobrada em vários atos.
Próprio (art. 70, caput, 1ª parte): critério da exasperação da pena, pois ela tem que ser aumentada de
um sexto até a metade.
Impróprio (art. 70, caput, 2ª parte): ocorre quando o agente tem vontade de praticar cada um dos deli-
tos, porém o faz mediante uma só ação ou omissão. – critério do cúmulo material -
Crime continuado praticar duas ou mais ações ou omissões tipificados em crimes da mesma espécie
com homogeneidade de circunstâncias (tempo, lugar, modos operandi, etc.). – critério da exasperação
da pena – a Súmula 605 do STF está ultrapassada diante da nova redação do parágrafo único do
art. 71.
Se matar a autoridade chefe dos poderes? Quando o sujeito passivo do crime de homicídio for o
chefe de cada um dos poderes e desde que o crime tenha sido praticado por motivos políticos, responde
o agente pelo crime do art. 29 da Lei 7.170/83.
É um crime material. Crime material que deixa vestígios deve ter sua materialidade comprovada
por exame de corpo de delito. Porém, quando desaparecerem os vestígios, a prova testemunhal poderá
suprir a ausência do exame direto. – art. 158 e 167 do CPP –
Consumação do homicídio: Com a morte. Esta ocorre, de acordo com a Lei 9.434/97, quando há a ces-
sação da atividade encefálica.
É possível a tentativa no crime de homicídio, pois é crime plurissubisistente, que admite o fracio-
namento da execução em vários atos.
Mas isso ocorre mesmo no caso de dolo eventual? Para a maioria da doutrina sim. Isso porque querer ou
aceitar o crime, ambos denotam a vontade do agente.
O homicídio simples é hediondo? Pode ser, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio.
Art. 1.º da Lei 8.072/90. A chacina é um exemplo de grupo de extermínio.
Mas quantas pessoas devem compor o grupo de extermínio? A primeira corrente afirma que devem ser
três pessoas, não se confundindo com bando ou par. A segunda corrente afirma que grupo deve ser equi-
parado a bando (hoje associação criminosa), ou seja, deve haver no mínimo quatro pessoas (Essa cor-
rente perde força com a Lei 12.850). A terceira corrente diz que o crime é aquele praticado por três pesso-
as.
Paulo Rangel afirma que homicídio praticado em atividade de extermínio não pode ser qualifica-
do como homicídio simples. Assim, na prática tal é inalcançável.
Esse homicídio com grupo de extermínio era chamado por Mirabete de homicídio condicionado,
porque há uma condição necessária para que se torne hediondo. O homicídio é indeterminado ou impes-
soal em relação à vítima. A vítima simplesmente pertence a determinado grupo ou classe social ou racial,
sendo impessoal. A verificação desse fato compete ao juiz presidente, não devendo ser apresenta-
do quesito específico aos jurados (matéria referente à aplicação da pena).
O genocídio não é crime contra a vida, pois o bem jurídico tutelado pelo genocídio é a
existência de grupo racial ou étnico, ou religioso. Matar apenas é uma forma de praticá-lo. Caso o
agente mate dez índios com homogeneidade de circunstâncias deverá responder pelos 10 crimes de ho-
micídio (em continuidade delitiva) e em concurso formal impróprio com o delito de genocídio. – não é pos-
sível a aplicação do princípio da consunção, na medida em que os bens jurídicos são distintos. – compe-
tência criminal para julgar genocídio contra índio é da Justiça Estadual (Súmula 140 STJ). Porém, caso o
delito envolva direitos indígenas (art. 231 CR) a competência será da justiça federal. Quem na justiça fe-
deral julga? É o juiz singular é quem julga o genocídio. No entanto, caso o agente pratique o genocídio
pelo meio matar, por força atrativa o genocídio é atraído pelo crime de homicídio e julgado pelo Tribunal
do Júri Federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime conexo de genocídio (STFRE351487).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a
destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados no artigo
anterior:
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o art.
1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa.
Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido
o crime por governante ou funcionário público.
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respectivas penas a tentativa dos crimes defini-
dos nesta lei.
Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão considerados crimes políticos para efeitos de
extradição.
Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da Independência e 68º da República.
Homicídio privilegiado:
Art. 121 (...) § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
vocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Pode ser chamado de privilegiado qualificado, pois o quesito relativo ao privilégio antecede o
quesito relativo às qualificadoras. Por outro lado, também pode ser usado homicídio qualificado privilegia-
do, pois as qualificadoras prevalecem diante das causas de diminuição ou aumento de pena.
Há nesse dispositivo três privilegiadoras, causas de diminuição de pena:
a) praticar o crime impelido por motivo de relevante valor social: Relevante valor social significa ma-
tar para atender a interesse da coletividade. A doutrina elenca como exemplo o fato e se matar um traidor
da pátria ou perigoso bandido que aterroriza a comunidade. O valor aqui deve ser relevante. Caso não
seja relevante, não há o privilégio.
b) matar impelido por motivo de relevante valor moral: Significa matar alguém para atender interesse
particular, porém ligado aos sentimentos de compaixão, misericórdia ou piedade. Ex: eutanásia. Inclusive,
está na exposição de motivos do CP. O valor aqui deve ser relevante. Caso não seja relevante, não há o
privilégio.
ELEMENTARES CIRCUNSTÂNCIAS
São dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode gerar uma São dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica. Po-
atipicidade absoluta ou relativa. dem aumentar ou diminuir a pena, mas não interferem no crime.
Elementares se comunicam ao terceiro, desde que ele tenha cons- Não se comunicam ao terceiro.
ciência dela.
Homicídio qualificado:
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidio-
so ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que difi-
culte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei
nº 13.142, de 2015)
b) motivo fútil:
É uma qualificadora subjetiva. Fútil: o móvel do crime apresenta real desproporção entre o delito
e a sua causa moral. É a pequeneza do motivo. Ex: briga de trânsito.
Não se pode confundir motivo fútil com motivo injusto. Injusto todo crime é. A injustiça é própria
de qualquer delito.
A ausência de motivos qualifica o crime? - a primeira corrente diz que se o motivo fútil qualifica,
também qualifica o crime com ausência de motivos, com mais razão ainda. Ora, se o motivo pequeno
qualifica, o que dirá matar sem motivo algum. Essa corrente prevalece na jurisprudência. - a segunda cor-
rente afirma que motivo fútil não se confunde com ausência de motivos. Assim, se se quiser abranger a
ausência de motivos, está-se fazendo uma analogia in malam partem, já que o dispositivo legal não prevê
o homicídio cometido por ausência por motivos.
O professor entende que na ausência de motivos, o homicida é semi-imputável, já que louco.
c) meio cruel:
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
É uma qualificadora objetiva.
Aqui, também há uma interpretação analógica, já que o legislador dá exemplos e termina o inciso
de forma genérica.
O crime com emprego de veneno é chamado de venefício. Veneno é a substância, biológica ou
química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo huma-
no.
Magalhães Noronha entende que o açúcar para o diabético é um veneno. Ainda, qualquer subs-
tância a que a vítima seja alérgica.
Só incide a qualificadora do veneno se este for ministrado insidiosamente, sem que a vítima sai-
ba.
O agente chega no bar, coloca a arma na cabeça da vítima e manda ela tomar um veneno. O homicídio é
simples ou qualificado? Não há a qualificadora do emprego de veneno, mas incide a que dificultou a defe-
sa da vítima. Logo, continua o homicídio sendo qualificado, mas por outro motivo que não o emprego de
veneno. A vítima não pode saber que está sendo envenenada.
d) modo surpresa
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne im-
possível a defesa do ofendido;
É uma qualificadora objetiva. Aqui, o legislador também utilizou da interpretação analógica.
A premeditação qualifica o crime de homicídio? Por si só, não qualifica.
Matar criança de tenra idade ou idoso, gera essa qualificadora? Não, porque o que qualifica é o
recurso utilizado pelo agente. A idade da vítima não é um recurso do agente, mas uma qualidade dela.
Assim, a idade da vítima, tenra ou avançada, por si só, não qualifica o crime, pois não é recurso procura-
do ou utilizado pelo agente.
O homicídio premeditado, por si só, não qualifica o homicídio.
e) fim especial:
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
É uma qualificadora subjetiva. Aqui, é o caso do homicídio qualificado pela conexão. O agente
mata pensando em outro crime. Há os seguintes tipos de conexão:
- teleológica: o agente mata para assegurar a execução de crime futuro.
- consequencial: o agente mata para assegurar vantagem, impunidade ou ocultação de crime passado,
pretérito.
Exs: agente mata segurança de modelo para estuprá-la. É o caso de homicídio qualificado pela
conexão teleológica. Mas se o agente, depois de estuprá-la, a mata, é o caso de homicídio qualificado
pela conexão consequencial.
O Brasil pune a conexão ocasional? Não significa matar para assegurar crime, mas matar por
ocasião de um crime, sem vínculo finalístico entre o homicídio e o outro crime. A conexão ocasional não
qualifica o homicídio.
Para qualificar o crime pela conexão teleológica ou consequencial, o crime tem que ser ou ter
sido praticado pelo homicida, ou seja, deve ter a mesma pessoa cometido os dois crimes? Tal não é im-
prescindível. Pode-se matar para assegurar o cometimento de crime futuro que será cometido por outrem.
Não se precisa reunir a autoria dos dois crimes na mesma pessoa.
Para incidir a conexão teleológica, o crime futuro deve necessariamente ocorrer? O que qualifica
o homicídio nesse caso não é a ocorrência do crime futuro, mas a finalidade que levou o agente a al-
guém. Assim, dispensa-se a ocorrência do crime futuro para qualificar o homicídio. Aliás, se ocorrer o cri-
me futuro, haverá concurso material de crimes.
Se o agente mata para assegurar a execução de uma contravenção penal, não incide esta quali-
ficadora, mas podem incidir outras, como o motivo fútil ou o motivo torpe.
É correta a expressão “homicídio dupla ou triplamente qualificado”? Não, o homicídio ou é sim-
ples ou qualificado. Este, pode ter a incidência de várias qualificadoras. No caso de incidirem várias quali-
ficadoras, há divergência na doutrina:
- uma corrente entende que as demais qualificadoras devem incidir como circunstancias judiciais desfavo-
ráveis. É a posição do STF.
- outra corrente entende que as demais qualificadoras devem ser utilizada como agravantes, pois todas
estão previstas no artigo 61 do CP.
O juiz usa uma qualificadora para aplicar a pena do homicídio qualificado e, quanto às demais,
adota uma das duas correntes acima explicadas.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)
A qualificadora do feminicídio
A Lei nº 13.104/2015 alterou o Código Penal com escopo de criar uma nova qualificadora ao cri-
me de homicídio: o Feminicídio.
Tecnicamente é um erro grosseiro repetir a linguagem da imprensa afirmando “que foi criado um
crime de feminicídio”. Em realidade, o crime continua sendo de homicídio, sendo que o feminicídio é uma
qualificadora do crime de homicídio.
Não se deve confundir as terminologias. Vejamos:
a) femicídio: morte de uma mulher;
b) feminicídio: morte de uma mulher por razões de gênero ou pelo menosprezo ou discriminação
à condição de mulher que é qualificadora do homicídio;
c) uxoricídio: assassinato em que o marido mata a própria esposa;
d) parricídio: assassinato pelo filho do próprio pai;
e) matricídio: matar a própria mãe;
f) fratricídio: matar o próprio irmão;
g) ambicídio: quando as mortes decorrem de um pacto.
Conceito de feminicídio:
O feminicídio pode ser definido como uma qualificadora do crime de homicídio motivada pelo
ódio contra as mulheres, caracterizado por circunstâncias específicas em que o pertencimento da mulher
ao sexo feminino é central na prática do delito. Entre essas circunstâncias estão incluídos:
Os assassinatos em contexto de violência doméstica/familiar;
Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Os crimes que caracterizam a qualificadora do feminicídio reportam, no campo simbólico, a des-
truição da identidade da vítima e de sua condição de mulher.
Também conhecido como “crime fétido”, vem a ser uma expressão que vai além da compreen-
são daquilo designado por misoginia, originando um ambiente de pavor na mulher, gerando o acossa-
mento e sua morte. Compreendem as agressões físicas e da psique, tais como o espancamento, suplício,
estupro, escravidão, perseguição sexual, mutilação genital, intervenções ginecológicas imotivadas, impe-
dimento do aborto e da contracepção, esterilização forçada, e outros atos dolosos que geram morte da
mulher.
Razões de gênero
A qualificadora do feminicídio não poderá ser provada por um “laudo pericial” ou exame cadavéri-
co, porque nem sempre um assassinado de uma mulher será considerado “feminicídio”.
Para ser configurada a qualificadora do feminicídio, a acusação (Ministério Público, assistente ou
querelante, no caso de Júri privado) a prova deve ser incontestável de que o crime foi cometido contra a
mulher, “por razões da condição de sexo feminino”.
A própria Lei nº 13.104/2015 definiu objetivamente que “razões de gênero” ocorrem quando o cri-
me envolve:
a) violência doméstica e familiar;
b) menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
As espécies de feminicídio
a) Feminicídio “intra lar”: Ocorre quando as circunstâncias fáticas indicam que um homem assas-
sinou uma mulher em contexto de violência doméstica e familiar.
b) Feminicídio homoafetivo: Ocorre quando uma mulher mata a outra no contexto de violência
doméstica e familiar.
c) Feminicídio simbólico heterogêneo: Ocorre quando um homem assassina uma mulher, motiva-
do pelo menosprezo ou discriminação à condição de mulher, reportando-se, no campo simbólico, a des-
truição da identidade da vítima e de sua condição em pertencer ao sexo feminino.
O STJ admitiu a aplicação da Lei Maria da Penha (11.340/06) numa agressão contra mulher pra-
ticada por outra mulher (relação entre mãe e filha). Isso porque, de acordo com o art. 5º da
Lei 11.340/2006, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão base-
ada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patri-
monial em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendi-
da, independentemente de coabitação. Da análise do dispositivo citado, infere-se que o objeto de tutela
da Lei é a mulher em situação de vulnerabilidade, não só em relação ao cônjuge ou companheiro, mas
também qualquer outro familiar ou pessoa que conviva com a vítima, independentemente do gênero do
agressor. Nessa mesma linha, entende a jurisprudência do STJ que o sujeito ativo do crime pode ser tan-
to o homem como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade caracterizado por
uma relação de poder e submissão. (HC 277.561-AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/11/2014).
d) Feminicídio simbólico homogêneo: Ocorre quando uma mulher assassina outra mulher, moti-
vada pelo menosprezo ou discriminação à condição feminina.
Considerando que o homicídio pode ser cometido nas 4 (quatro) hipóteses supracitadas, ainda
poderemos ter:
e) Feminicídio aberrante por aberratio ictus (erro na execução): O feminicídio aberrante por aber-
ratio ictus, quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o homem ou a mulher, ao invés
de atingir a mulher que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, respondendo, portanto, como se tivesse
praticado o crime contra aquela.
No caso de feminicídio aberrante por aberratio ictus, não são consideradas as qualidades da víti-
ma, mas da mulher que o agente pretendia atingir. O feminicídio aberrante por aberratio ictus, divide-se
em:
a) Feminicídio aberrante por aberratio ictus com resultado único.
Casos exemplificados:
1-“Tício” atira em “Tícia” e acerta “Petrus”, que morre em consequência do tiro. Solução? Solu-
ção jurídica: “Tício” responde por homicídio doloso qualificado e também majorado pelo feminicídio (como
se o agente tivesse matado a vítima virtual).
2- “Tício”, com animus necandi, atira em “Tícia” e acerta “Petrus”, que sofre lesões corporais em
consequência do tiro. Solução? Solução jurídica: “Tício” responde por tentativa de homicídio doloso quali-
ficado e também majorado pelo feminicídio (como se a vítima virtual tivesse sofrido a lesão).
b) Feminicídio aberrante por aberratio ictus com duplicidade de resultado.
Casos exemplificados:
1- Imagine-se que “Tício” deseja matar “Tícia”, que está perto de “Petrus”. “Tício” atira e mata
os dois. Qual a solução? Solução jurídica: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso consumado
qualificado e majorado pelo feminicídio, aumentada a pena de um sexto (1/6) até metade, em face do
concurso formal (art. 73, 2ª parte, do Código Penal).
2- “Tício”, com animus necandi, atira em Tícia e lesiona gravemente “Tícia” e “Petrus”. Solu-
ção? Solução jurídica: “Tício” responde por uma tentativa de homicídio (doloso) qualificado e majorado
pelo feminicídio, com o acréscimo na pena de um sexto (1/6) até metade (art. 73, 2ª parte).
3- “Tício”, com animus necandi, atira, mata “Tícia” e lesiona “Petrus”. Solução? Solução jurídi-
ca: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso consumado qualificado e majorado pelo feminicí-
dio, com pena acrescida de um sexto (1/6) até metade, diante do concurso formal (art. 73, 2ª parte).
4- ”Tício”, com animus necandi, atira em Tícia. Fere “Tícia” e mata “Petrus”. Solução? Solução
jurídica: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso consumado qualificado e majorado pelo femi-
nicídio, com o acréscimo na pena de um sexto (1/6) até metade (art. 73, 2ª parte), pois não são conside-
radas as qualidades da vítima, mas, sim, de “Tícia”, mulher que o agente pretendia atingir.
A Lei nº 13.104/2015 determinou a alteração na lei nº 8.072, que passou a vigorar com a seguin-
te redação: “Art. 1º. I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º. I, II, III, IV, V e VI)”. Lembre-
se que depois virá uma nova alteração por conta do inciso VII.
O tema tratamento penal e processual penal desigual entre homens e mulheres foi debatido na
ação declaratória de constitucionalidade (ADC 19), e na ação de inconstitucionalidade (Adin 4424), nas
duas ações, o STF considerou constitucionais todos os dispositivos da Lei 11.340/2006, que estabelecem
o tratamento jurídico diferenciado.
Posição do STF: Nos votos, houve destaque para posição da Ministra Cármen Lúcia Antunes
Rocha:
Depende da organização judiciária de cada Estado, pois existem alguns entes federativos em
que há na lei de Organização Judiciária previsão para julgar, em caso de crimes dolosos contra a vida
praticados no contexto de violência doméstica, a Vara de Violência Doméstica. Assim, a Vara de Violência
Doméstica passa a instruir o feito até a fase de Pronúncia e depois faz o seu encaminhamento para Vara
do Tribunal do Júri.
Posição do STF:
Segundo o STF, a Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do pro-
cedimento do Júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica, em caso de crimes
dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá
usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente
dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri (Conferir: STF. 2ª
Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014. Info 748).
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
Posição do STJ:
A neocolpovulvoplastia e o feminicídio
Tema muito novo, mas já antecipamos que haverá 3 (três) posições, pois a doutrina elaborará 3
(três) critérios para identificar a mulher com escopo de aplicar a qualificadora do feminicídio.
3º posição: o critério biológico: Entende-se que deve ser sempre considerado o critério bioló-
gico, ou seja, identifica-se a mulher em sua concepção genética ou cromossômica. Neste caso, como a
neocolpovulvoplastia altera a estética, mas não a concepção genética, não será possível a aplicação da
qualificadora do feminicídio.
O critério biológico identifica homem ou mulher pelo sexo morfológico, sexo genético e sexo en-
dócrino:
a) sexomorfológico ou somático: resulta da soma das características genitais (órgão genitais ex-
ternos, pênis e vagina, e órgãos genitais internos, testículos e ovários) e extragenitais somáticas (caracte-
res secundários – desenvolvimento de mamas, dos pelos pubianos, timbre de voz, etc.);
b) sexo genético ou cromossômico: é responsável pela determinação do sexo do indivíduo atra-
vés dos genes ou pares de cromossomos sexuais (XY – masculino e XX - feminino) e;
c) sexo endócrino é identificado: nas glândulas sexuais, testículos e ovários, que produzem hor-
mônios sexuais (testosterona e progesterona) responsáveis em conceder à pessoa atributos masculino
ou feminino.
O grande problema à utilização do critério psicológico para conceituar “mulher”, reside no fato de
que o mesmo é formado pela convicção íntima da pessoa que entende pertencer ao sexo feminino, crité-
rio que pode ser, diante do caso concreto subjetivo, algo que não é compatível com o Direito Penal mo-
derno.
O critério jurídico cível, data venia, também não pode ser aplicado, pois as Instâncias cível e pe-
nal são independentes; assim, a mudança jurídica no cível representaria algo que seria usado em prejuí-
zo do réu, afrontando o princípio da proibição da analogia in malam partem, o corolário da legalidade proí-
be a adequação típica “por semelhança” entre fatos. Ademais, o legislador, mesmo sabendo que existem
outros gêneros sexuais, não incluiu os transexuais, homossexuais, gays ou travestis, sendo peremptório
ao afirmar:
a) Hermafroditas: Também chamadas de intersexuais ou sexo dúbio, são pessoas que pos-
suem órgãos sexuais dos dois sexos. Usando o critério biológico, entendemos que a qualificadora do fe-
minicídio só pode ser aplicada se o órgão feminino for prevalente.
b) Vítima homossexual ou o travesti: Não haverá feminicídio, considerando que o sexo bio-
lógico continua sendo masculino.
c) Vítima lésbica: Haverá feminicídio, considerando que o sexo biológico sendo feminino.
d) Vítima transexual que realizou o procedimento de neocolpovulvoplastia: Não haverá
feminicídio, considerando que sob os aspectos morfológico, genético e endócrino, continua sendo do
sexo masculino.
A majorante do feminicídio
Aplicada a causa de aumento de pena prevista no artigo 121, § 7º, não será possível, sob pena
de afronta ao princípio ne bis in idem, aplicar as agravantes genéricas do artigo 61, inc. II alíneas “e” e “H”
do Código Penal, in verbis:
A Lei nº 13.104/2015 que entrou em vigor no dia 10/03/2015, por ser mais gravosa não terá efei-
tos retroativos; assim, quem cometeu homicídio contra mulher nas condições descritas no artigo 121 § 2º,
inciso VI e artigo 121 § 7º, até o dia 09/03/2015, não responderá por homicídio qualificado ou majorado
pelo feminicídio.
Segundo dispõe a primeira parte do artigo 121, § 7º, inciso I, do Código Penal, quando o homicí-
dio é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, “durante a gestação”, a pena do
feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade.
Entendemos que a supracitada majorante não tem a mínima possibilidade de ser aplicada no Di-
reito Penal, por dois motivos:
Primeiro: princípio da responsabilidade subjetiva: Inexiste no Direito Penal a tenebrosa res-
ponsabilidade objetiva, pela qual o agente ativo responde, independentemente de ter agido com culpa ou
dolo. A responsabilidade é subjetiva, isto é, deve-se sempre averiguar se o agente agiu com dolo ou cul-
pa. Se a resposta for negativa, o fato é atípico.
STF: O sistema jurídico penal brasileiro não admite imputação por responsabilidade penal objeti-
va. (STF - Inq. 1.578-4-SP)
STJ: (...) inexiste em nosso sistema responsabilidade penal objetiva. (STJ HC 8.312-SP – 6ª T
4.3.99 – p. 231)
Não sendo possível o estabelecimento de uma responsabilidade penal objetiva, a majorante do
artigo 121, § 7º, inciso I (primeira parte), do Código Penal (durante a gestação), somente pode ser aplica-
da se mesma ingressou na esfera de conhecimento do autor do feminicídio. Ou seja, o autor sabia (dolo
direto) ou tinha condições de saber (dolo eventual) que a mulher estava grávida, para que o crime se con-
sumasse.
Segundo: o princípio do ne bis in idem: O princípio possui duplo significado:
1º) processual: ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pelo mesmo fato delituoso.
2º) penal material: ninguém pode sofrer duas penas em face do mesmo crime.
Neste sentido, não é possível ao praticar o feminicídio o agente ativo incidir em homicídio qualifi-
cado majorado e também no crime de aborto, pois ao matar ou tentar matar uma mulher grávida pagaria
duas vezes, pela majorante e pelo crime de aborto. Assim, considerando que o autor do feminicídio
conhecia a gravidez da vítima, teremos no contexto prático as hipóteses a seguir delineadas.
Caso forense prático nº 01: Tício, por mera discussão na convivência familiar, atira em Tícia.
Por circunstância alheias a vontade do agente, Tícia e o feto sobrevivem. Solução jurídica: Tício deverá
responder pela tentativa de homicídio qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, c.c artigo 14,
inc. II, do CP), e pela tentativa de aborto, sem o consentimento da gestante (art. 125 do CP, c.c. art. 14, II,
do CP) em concurso formal (art. 70 do CP).
Caso forense prático nº 02: Tício, por mero menosprezo à condição de mulher, atira em Tí-
cia. A mulher e o feto morrem. Solução jurídica: Tício deverá responder por homicídio consumado, qualifi-
cado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI do CP) e pelo de aborto consumado sem o consentimento
da gestante (artigo 125, do CP), em concurso formal (art. 70 do CP).
Caso forense prático nº 03: Tício, por mera discussão na convivência doméstica atira em Tí-
cia. A mulher morre e o feto sobrevive. Solução jurídica: Tício deverá responder por homicídio consuma-
do, qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI do CP) e pela tentativa de aborto sem o consenti-
mento da gestante (art. 125, do CP) em concurso formal (art. 70 do CP)
Caso forense prático nº 04: Tício, por mera discriminação à condição de mulher, atira em Tí-
cia. A mulher sobrevive e o feto morre. Solução jurídica: Tício deverá responder por tentativa de homicídio
qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, c.c art. 14, inc. II, do CP) e pelo aborto consumado
sem o consentimento da gestante (artigo 125 do CP), em concurso formal (artigo 70 do CP).
Observe-se que, em nenhuma das hipóteses supracitadas, é juridicamente possível a apli-
cação da majorante da primeira parte do artigo 121, § 7º, inciso I, do Código Penal. (Quando o homicídio
é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, durante a gestação).
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela
Lei nº 13.142, de 2015)
A Lei alterou, ainda, o art. 129, acrescentando ao tipo um novo parágrafo (§ 12), majorando a
pena da lesão corporal (dolosa, leve, grave, gravíssima ou seguida de morte) de um a dois terços quando
praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrên-
cia dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa con-
dição.
Por fim, foi alterada a Lei 8.072/90. O homicídio e a lesão corporal gravíssima ou seguida de
morte, quando praticados contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em ra-
zão dessa condição passam a ser etiquetados como hediondos.
A justificativa apresentada pelo Congresso para aprovar a novel Lei pode assim ser resumida:
tentar prevenir ou diminuir crimes contra pessoas que atuam na área de segurança pública, pessoas que
atuam no “front” no combate à criminalidade. A mudança, de acordo com a Casa de Leis, é crucial para
fortalecer o Estado Democrático de Direito e as instituições legalmente constituídas para combater o cri-
me, em especial o organizado, o qual planeja criar pânico e o descontrole social, quando um ator do com-
bate à criminalidade é vítima de homicídio.
A Lei 13.142/15 alterou o § 2º do art. 121 para nele inserir o inciso VII, que qualifica o homicídio
se cometido contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integran-
tes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decor-
rência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º. grau, em razão dessa
condição. A justificativa apresentada pelo Congresso para aprovar a novel Lei pode assim ser resumida:
tentar prevenir ou diminuir crimes contra pessoas que atuam na área de segurança pública, pessoas que
atuam no front no combate à criminalidade. A mudança, de acordo com a Casa de Leis, é crucial para for-
talecer o Estado Democrático de Direito e as instituições legalmente constituídas para combater o crime,
em especial o organizado, o qual planeja criar pânico e o descontrole social, quando um ator do combate
à criminalidade é vítima de homicídio.
Trata-se de norma penal em branco, pois deve ser complementada pelos artigos 142 e 144 da
Constituição Federal, que nos indicam alguns dos agentes de segurança pública cujo homicídio faz incidir
a qualificadora:
a) o art. 142 da CF/88 abrange as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e
pela Aeronáutica, instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem;
b) o art. 144 disciplina os órgãos de segurança pública: polícia federal, polícia rodoviária federal,
polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Vejamos as circunstâncias que justificam a punição mais severa. O agente deve praticar o crime
de homicídio ou lesão corporal contra:
a) autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal
O art. 142 da CF/88 abrange as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à ga-
rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Já o art. 144 disciplina os órgãos de segurança pública: polícia federal, polícia rodoviária federal,
polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Abrange os guardas civis (municipais ou metropolitanos)? Entende-se inicialmente que sim.
Percebam que os arts. 121, § 2o., VII e 129, §12, se referem a crimes praticados contra autoridades ou
agentes descritos nos arts. 142 e 144. O art. 144, mais precisamente no seu § 8o, descreve os guardas
como atores de segurança pública, anunciando competir aos Municípios o poder de constituir guardas
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Desde de
2014 temos o Estatuto Geral das Guardas Municipais. Esse importante documento, no seu art. 5º, parág-
rafo único, dispõe que, no exercício de suas competências, a guarda municipal poderá colaborar ou atuar
conjuntamente com órgãos de segurança pública da União, dos Estados e do Distrito Federal ou de con-
gêneres de Municípios vizinhos. Entretanto, uma segunda corrente defende a impossibilidade por se tra-
tar de analogia “in malam partem”.
ATENÇÃO:
Nos três casos, a qualificadora pressupõe que o crime tenha sido cometido contra o agente no
exercício da função ou em decorrência dela.
Suponhamos que um policial, no seu dia de folga, encontra-se num bar assistindo a transmissão
de uma partida de futebol disputada pelo seu time. Quando vibra com a vitória da sua equipe, um torce-
dor fanático do time derrotado, sabendo que se trata de um policial, saca uma arma de fogo e contra ele
desfere 5 disparos, que causam a morte do policial. Percebam que o homicida matou um policial, agente
de segurança, condição esta conhecida do executor. Contudo, no exemplo proposto, o crime não foi co-
metido estando a vítima em serviço, nem sequer tem nexo com a sua função.
Incidirão, no caso, outras qualificadoras (motivo fútil e recurso que dificultou a defesa do ofendi-
do), mas não a do inc. VII.
Os crimes de homicídio e lesão serão punidos mais severamente, de acordo com a Lei
13.142/15, quando cometidos contra o cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau dos
agentes descritos nas alíneas anteriores. Alerta o legislador, entretanto, ser indispensável que o crime te-
nha sido praticado em razão dessa condição, ou seja, que o homicida escolheu matar aquela vítima exa-
tamente por ser ela parente de policial.
O inciso VII do § 2º do art. 121 é a única dentre as qualificadoras do homicídio que não tem cor-
respondente agravante no art. 61 do Código Penal.
Normalmente, quando alguém comete um homicídio com a incidência de mais de uma qualifica-
dora, sustenta-se que uma delas sirva para qualificar o delito e as demais sejam consideradas na segun-
da fase de aplicação da pena. Se, no entanto, em conjunto com a qualificadora do inciso VII incidir outra,
utilizada pelo juiz para qualificar o delito, o fato de o sujeito ativo ter matado agente de segurança pública
deverá ser considerado na aplicação da pena base (circunstâncias do crime).
Por fim, alerta-se que esta circunstância qualificadora tem natureza subjetiva, incompatível com
o privilégio. Efetivamente, não se pode imaginar a possibilidade de que alguém mate um agente de segu-
rança pública no exercício da função ou em decorrência dela, ou mesmo que mate um familiar desse
agente em razão da condição de parentesco, e o faça por motivo de relevante valor social ou moral. É im-
pensável que este homicídio seja movido pela manutenção dos interesses da coletividade (aliás, é bem o
oposto) ou por sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão. E mesmo no homicídio cometido sob o
domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima, acredito ser impossível a
coexistência da qualificadora.
Vamos, enfim, a algumas ponderações acerca do homicídio funcional:
Conceito legal: Matar autoridade ou policial no exercício da função ou em razão dela, ou seu
cônjuge, companheiro ou patente consanguíneo até terceiro grau. O crime continua a ser homicídio, sen-
do, porém, qualificado pela nova circunstância.
Denominação: Ao contrário do que ocorreu com a Lei n. 13.104/2015, que denominou de femi-
nicídio o fato criminoso descrito, a lei nova não deu nomen juris à morte dolosa de autoridade, policial,
agente, cônjuge ou parente. A doutrina, porém, o chamará de policídio, policialicídio e homicídio funcional.
Data da entrada em vigor da Lei n. 13.142/2015 (art. 4º): 7 de julho de 2015, dia de sua publi-
cação.
Lei no tempo: Por ser mais gravosa, é irretroativa, de acordo com os arts. 5º, XL, da Constitui-
ção Federal (CF) e 2º, parágrafo único, do CP (novatio legis in pejus), não se aplicando a fatos cometidos
antes de 7.7.2015.
Natureza jurídica do tipo: Trata-se de uma circunstância de natureza subjetiva (“no exercício da
função”, “em decorrência dela” ou “em razão dessa condição” (CP, art. 121, § 2o, VII), não se relacionan-
do com o meio ou modo de execução do fato, casos nos quais seria objetiva.
Sujeitos do delito
Homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º): É incompatível com o tipo qualificado do novo inciso
VII do § 2o do art. 121 do CP.
Concurso de pessoas: a circunstância é incomunicável ao coautor ou partícipe (art. 30 do CP),
salvo quando tenha ingressado na esfera de conhecimento do agente.
Erros do agente:
1. erro sobre pessoa (CP, art. 20, § 3o);
2. erro na execução (aberratio ictus, art. 73 do CP).
Nos dois casos o agente responde por homicídio qualificado tentado ou consumado como se ti-
vesse atingido a pessoa que pretendia ofender.
Pena: Reclusão, de 12 a 30 anos.
Hediondez: O homicídio praticado contra autoridade, agente policial, seu cônjuge ou parente,
consumado ou tentado, nas situações da Lei n. 13.142/2015, configura crime hediondo (alterado o art. 1o,
I, da Lei n. 8.072/90 com o acréscimo do inc.VII do § 2º do art. 121 do CP).
Consequências da hediondez
a. O crime não admite graça e indulto;
b. é inafiançável;
c. prisão temporária: 30 dias;
d. progressão de regime: primário: cumprimento de 2/5 da
pena; reincidente: 3/5;
e. regime prisional inicial: fechado;
f. livramento condicional: 2/3 da pena; se reincidente específi-
co, inadmissível;
g. fiança: inadmissível;
h. prisão preventiva: é possível (art. 2º, I e II, da Lei n.
8.072/90).
Homicídio culposo:
Seja o homicídio do CP, seja o homicídio do CTB, o resultado é o mesmo, mas as penas são distintas. O
desvalor do resultado, que é o mesmo nos dois crimes, como pode originar penas diversas? Tal é consti-
tucional? Se se analisar a questão somente sob a ótica do desvalor do resultado, há flagrante inconstituci-
onalidade. Mas a constitucionalidade passa a existir quando se analisa o crime sob a ótica do desvalor da
conduta. Ora, o desvalor da conduta é mais grave no trânsito do que fora dele. A conduta no trânsito gera
mais perigo do que fora dele. O que é pior? O legislador aqui atentou para questões de estatísticas.
O § 4.º do RT. 121 traz o homicídio majorado:
A primeira parte do dispositivo só traz majorantes para o homicídio culposo, não podendo ser
aplicada ao homicídio doloso. A segunda parte traz majorantes restritas ao homicídio doloso, não poden-
do ser aplicadas ao homicídio culposo.
Majorantes do homicídio culposo: No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o cri-
me resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão
em flagrante.
- se o crime resulta de inobservância de regra técnica para o exercício arte, ofício ou profissão : Essa ma-
jorante não se deve confundir com imperícia, porque na imperícia o agente não domina as técnicas para o
exercício de profissão, arte ou ofício. Na causa de aumento, o agente domina a regra, mas deixa de em-
pregar no caso concreto. Há, pois, um erro profissional.
Prevalece o entendimento de que a presente causa de aumento só tem incidência em crime cul-
poso praticado por profissional (Culpa profissional).
Ex: mulher chega no hospital com problema no lado esquerdo e o médico opera o lado direito.
Há homicídio culposo majorado. Difere do caso do pediatra que faz uma lipo, quando não domina essa
técnica.
- omissão de socorro: O agente deixa de prestar socorro à vítima, podendo fazê-lo. Nesse caso, não inci-
de o art. 135 do CP, para não gerar bis in idem.
Não incide a majorante quando a vítima já está morta (o autor do delito não é dotado de poderes
advinhatórios para prever se a vítima vai ou não morrer – Gilmar Mendes, mesmo morto incide) para ou
quando o agente não tem condições de prestar o socorro, mediato ou imediato.
Ex: se o agente fosse prestar socorro iria ser linchado.
Não exclui a majorante o fato de o agente achar que o socorro é inútil. O STF, recentemente, de-
cidiu acerca dessa matéria. Se o autor do crime, apesar de reunir condições de socorrer a vítima (ainda
viva), não o faz, concluindo pela inutilidade da ajuda em razão da gravidade da lesão provocada, não es-
capa do aumento de pena do art. 121, § 4.º. Vide, HC 84.380/MG do STF.
- não diminuir s consequências do ato: A doutrina afirma que se o agente não tente diminuir as
consequências do ato, na verdade, há omissão de socorro e vice-versa.
- fuga para evitar o flagrante: A doutrina afirma que incide essa majorante porque o agente demonstra in-
sensibilidade moral, ausência de escrúpulo, bem como prejudica a investigação.
Há doutrina que entende ser essa majorante inconstitucional, já que proíbe o agente de não pro-
duzir prova contra si mesmo, o que seria suficiente para demonstrar a não recepção desse dispositivo
pela CF/88. Aqui, ocorre o mesmo caso do bafômetro, quando não é o agente obrigado a fazer prova con-
tra si próprio.
Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de
2003)
Aqui, não importa se o homicídio é doloso simples, privilegiado ou qualificado.
Quando o crime é praticado contra a pessoa menor de quatorze anos ou pessoa maior de ses-
senta anos.
Nem sempre o momento em que o crime é praticado coincide com o momento do resultado. Se
o crime é praticado quando a vítima tem menos de quatorze anos e morre quando já tem mais dessa ida-
de, incide esse aumento? O crime se considera praticado no momento da conduta. Logo, é nesse mo-
mento que se tem que analisar a idade da vítima. Assim se o crime foi praticado quando a vítima era me-
nor de quatorze anos, incide a majorante, ainda que tenha a vítima falecido quanto já completara 14
anos.
Para incidir o aumento, é imprescindível que o agente conheça a idade da vítima, para seja evi-
tada a responsabilidade penal objetiva.
Mas deve-se ressaltar que o CP adotou a primeira corrente, sendo a sentença condenatória.
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos
de reincidência.
Esse artigo só tem razão de existir se a sentença for condenatória. Assim, o artigo 120 deve ser
interpretado da seguinte maneira: a sentença que conceder perdão judicial, apesar de condenatória, não
será considerada para efeitos de reincidência. Se a intenção do legislador fosse de ser a sentença decla-
ratória, não haveria a necessidade do art. 120, pois a sentença declaratória não gera reincidência.
Cabe perdão judicial no homicídio culposo previsto no art. 302 do CTB? Se houver expressa pre-
visão legal, sim. O perdão judicial constava do art. 300 do CTB, o qual foi vetado pelo Presidente da Re-
pública. As razões do veto, entretanto, remetem as razões do perdão judicial do CTB para o CP. Logo, se
aplica o art. 121, § 5.º do CP ao art. 302 do CTB. Aplica-se, pois, o perdão judicial ao homicídio cul-
poso previsto no CTB.
É possível homicídio qualificado privilegiado? O privilégio está no § 1.º do art. 121, enquanto que
as qualificadoras estão no § 2.º.
As causas de privilégio são três:
a. Motivo de valor social;
b. Motivo de valor moral;
c. Domínio de violenta emoção.
Os privilégios são todos subjetivos.
Já as qualificadoras são sete:
a. Motivo torpe;
b. Motivo fútil;
c. Modo surpresa;
d. Meio cruel;
e. Fim especial
f. Feminicídio (2015);
g. Homicídio profissional (2015).
São subjetivas o motivo torpe, fútil, fim especial, feminicídio e homicídio profissional, sendo o
meio cruel e o modo surpresa objetivos.Logo, é possível homicídio qualificado privilegiados, desde que as
qualificadoras sejam objetivas. Logo, jamais haverá homicídio qualificado privilegiado se se tratar de moti-
vo torpe, fútil ou fim especial.
Quando a qualificadora é incompatível com o privilégio este é quem predomina, devendo as qua-
lificadoras ser afastadas. Isso ocorre porque os jurados votam primeiro o privilégio. Ao reconhecerem, au-
tomaticamente, afastam as qualificadoras objetivas.
Em síntese, se o homicídio for qualificado pelo meio cruel ou modo surpresa, podem incidir os
privilégios do § 1.º do art. 121 do CP.
O homicídio qualificado privilegiado é hediondo? - a primeira corrente diz que é hediondo, pois a
Lei 8.072/90 não o excepciona.- a segunda corrente entende que não é crime hediondo, pois o privilégio,
sendo subjetivo, prepondera sobre a qualificadora, objetiva.
Em decisão sobre o tráfico de drogas, o STF chegou a se pronunciar que o tráfico privilegiado
continua sendo hediondo. Entretanto, não se anota manifestação quanto ao crime de homicídio.
Essa corrente trabalha com uma analogia in bonam partem, com o artigo 67 do CP:
PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o
faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a
três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resis-
tência.
Suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Nelson Hungria dizia que era impres-
cindível a vontade direta de o agente querer se despedir da vida.
Suicídio não é crime. Logo, a tentativa de suicídio não induz qualquer pena ao agente. Esse dis-
positivo pune a participação no suicídio mediante induzimento, instigação ou auxílio.
É um crime comum, não se exigindo qualidade especial do agente.
A induz B a auxiliar C a se suicidar. C efetivamente morre. Qual o crime que foi praticado por A?
B, por óbvio, pratica o crime de participação em suicídio. A é participe do crime previsto no art. 122 do CP.
A conduta de A é acessória e a de B a principal.
O sujeito passivo do crime de participação em suicídio é qualquer pessoa capaz.
Se a vítima for um incapaz, o crime será o de homicídio e não de participação em suicídio. Isso
porque a incapacidade passa a ser tratada como instrumento do crime. É também imprescindível que a
vítima seja determinada. Logo, quando o agente induz o suicídio de pessoas indeterminadas o há crime,
pois o fato é atípico.
Ex: banda de rock que faz música induzindo o suicídio. Se um fã que
ouve a música e se suicida não há crime, pois o fato é atípico. Isso
porque suicídio não é crime, logo não se pode falar em apologia ao
crime.
O art. 122 do Código Penal possui três núcleos: induzir, instigar ou auxiliar.
Induzir: o agente faz nascer na vítima a vontade e a ideia mórbida.
Instigar: o autor reforça a vontade mórbida que já existe.
Auxiliar: prestar assistência material para o cometimento do crime. Ex: emprestar a corda ou dar
o veneno. Não é possível a intervenção em atos executórios de matar alguém, sob pena do agente res-
ponder pelo crime de homicídio. É justamente neste ponto que a eutanásia vira homicídio.
Nas duas primeiras hipóteses, tem-se o que é chamado pela doutrina de participação moral. Já
na terceira há participação material no suicídio de outrem.
Se o agente induz, auxilia e instiga a pessoa a se matar, pratica um só crime, já que se trata de
um crime plurinuclear ou de ação múltipla. Assim, se praticado mais de um núcleo dentro de um mesmo
contexto fático, o crime continua sendo único. O juiz é quem irá considerar a pluralidade de núcleos na fi-
xação da pena base.
Existe auxílio por omissão? - a primeira corrente entende que, dizendo o tipo “prestar-lhe auxí-
lio”, quer abranger somente as condutas comissivas, ou seja, não existe o crime por omissão. - a segun-
da corrente entende que é possível o auxílio por omissão, desde que o omitente tenha o dever jurídico de
evitar o resultado. É a chamada omissão imprópria. É a corrente que prevalece.
O auxílio é sempre comportamento secundário, acessório, cooperação secundária. Jamais o au-
xílio pode se misturar com a execução da morte. Se o auxílio passar a ser a própria execução, o crime
será de homicídio e não de participação em suicídio.
Se o agente auxilia uma pessoa a se matar e esta, quando da execução do crime, se arrepende
e demonstra isso ao agente. Se este não socorrer a vítima, o crime é de homicídio, ficando absorvido o
crime de participação em suicídio.
Art. 146, § 3.º, II: Não se considera constrangimento ilegal a coação para se evitar o
cometimento do suicídio.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
II - a coação exercida para impedir suicídio.
O crime do art. 122 é punido a título de dolo, tão somente, não podendo incidir a modalidade cul-
posa. O dolo pode ser direto ou eventual.
E se o pai, negligentemente, deixa veneno de rato próximo da filha que sabia ter tendência ao
suicídio. Nesse caso, há duas correntes:
- o auxílio culposo deve ser tratado como homicídio culposo.
- a segunda corrente, que é a que prevalece, diz que responderá, conforme o caso, por omissão
de socorro, senão fato atípico.
Consumação do crime de participação em suicídio:
Doutrina clássica (Nelson Hungria) Doutrina moderna (Mirabete) Cezar Roberto Bittencourt
O crime se consuma quando o sujeito in- Quando o agente induz, instiga ou auxilia Quando o agente induz, instiga ou auxilia
duz instiga ou auxilia. Mas a punibilidade alguém a se matar, não consuma o crime, alguém a se matar, não consuma o cri-
depende da morte da vítima, onde a pena apenas o executa. Somente no caso da me, apenas o executa. A consumação
é de dois a seis anos ou da lesão grave na morte ou lesão grave é que o crime se depende da morte, cuja pena é de dois a
vítima, onde a pena é de um a três anos. Es- considera consumado. A consumação seis anos. Se ocorrer lesão grave, cuja
ses resultados não consumam o crime, ape- depende da morte ou da lesão corporal. É pena é de um a três anos, há tentativa.
nas condicionam a punibilidade. Há a cha- o resultado naturalístico necessário para
mada condição objetiva de punibilidade. a consumação.
Agente induz a vítima a se matar e ela mor- Agente induz a vítima a se matar e ela Agente induz a vítima a se matar e ela
re: art. 122 consumado, com pena de dois a morre: art. 122 consumado com pena de morre: art. 122 consumado, com pena
seis anos e punível o crime. dois a seis anos. de dois a seis anos e punível o crime.
Agente induz a vítima a se matar e ela sofre Agente induz a vítima a se matar e ela Agente induz a vítima a se matar e ela
lesão grave: art. 122 consumado, com sofre lesão grave: art. 122 consumado sofre lesão grave: art. 122 tentado, com
pena de um a três anos, sendo punível o com pena de um a três anos. pena de um a três anos, sendo punível o
crime. crime. Diz ser uma tentativa sui generis.
Agente induz a vítima a se matar e ela não Agente induz a vítima a se matar e ela Agente induz a vítima a se matar e ela
morre e não sofre lesão grave: art. 122 con- não morre e não sofre lesão grave: fato não morre e não sofre lesão grave: fato
sumado, mas não punível. atípico. atípico.
Para essa corrente, o crime não admite ten- Para essa corrente, o crime não admite Para essa corrente, há a possibilidade de
tativa, sendo esta juridicamente impossível. tentativa, sendo esta juridicamente impos- tentativa, desde que haja lesão corporal.
sível. É um crime material plurissubsisten-
te que não admite tentativa.
Essa corrente erra porque denomina condi- Essa corrente erra porque diz que o fun-
ção objetiva de punibilidade dois resultados damento se encontra no próprio artigo
que fazem parte do dolo do agente. quando fala que da tentativa resulta le-
são corporal. Ora, mas o suicídio não é
crime, então como cabe tentativa?
Em primeira fase, deve-se adotar a doutrina moderna. Na segunda fase, devem-se elencar as
três correntes. O crime do art. 122 com resultado lesão grave é um crime material plurissubsistente que
não admite tentativa.
Duelo americano, roleta russa ou ambicídio:
Duelo americano: há duas armas, com apenas uma carregada. Em dado momento, cada um
dos agentes pega uma arma e, ao mesmo tempo, atira na própria cabeça. O sobrevivente responde pelo
art. 122. Se cada um atirasse na cabeça do outro o crime seria de homicídio.
Roleta russa: há apenas uma arma e o tambor possui apenas um projétil. O agente que sobrevi-
ve responde pelo art. 122.
Ambicídio: é o pacto de morte. Um dos agentes inicia o modo de execução (liga a torneira, por
exemplo, em crime de morte por afogamento). Se o agente que ligou a torneira sobrevive, praticou o art.
121, porque praticou um ato executório. No mesmo exemplo, quem praticou o ato executório morre e o
outro agente sobrevive. Este pratica o crime do art. 122 do CP.
Se ambos os agentes não morrerem, o que praticou atos executórios pratica tentativa de homicí-
dio. O agente que não praticou o ato executório, responde pelo art. 122 se o outro agente sofreu lesão
grave. Se não sofreu sequer lesão grave o fato é atípico.
Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto
ou logo após: Pena – detenção, de dois a seis anos.
* Sujeito ativo: somente a mãe pode ser sujeito ativo do crime. Trata-se, portanto de um crime próprio.
Estado puerperal: é o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno.
Provoca profundas mudanças físicas e psíquicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem ple-
nas condições de entender o que está fazendo.
Puerpério: é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez.
* Concurso de agentes? A jurisprudência admite, pois “sob a influência do estado puerperal” é uma ele-
mentar do art. 123, razão pela qual se comunica, desde que o agente tenha consciência (art. 30 do
CP).
* Sujeito passivo: é o próprio filho, abrangendo o nascente ou o recém-nascido. Assim, também é um cri-
me próprio quanto ao sujeito passivo.
O crime do art. 123 é, portanto, bipróprio.
* A mãe mata outra criança pensando ser o seu filho, responderá por infanticídio? Sim. É infanticídio ape-
sar de não ser o próprio filho, pois aconteceu erro sobre a pessoa. O agente responde considerando-se
as condições da vítima virtual.
“Sob a influência do estado puerperal”: toda mulher, após o parto, tem o estado puerperal. Entretanto, 3
possibilidades podem ocorrer:
a) O estado puerperal não produz qualquer alteração: se matar, responde por homicídio.
b) O Estado puerperal provoca alterações que fazem com que a mãe venha a matar o filho: res-
ponde por infanticídio.
c) O Estado puerperal é tão grave que produz na parturiente uma doença mental: se suprimir a
capacidade de discernimento, ela será inimputável (absolvição imprópria – será absolvida, mas
cumprirá medida de segurança).
O CP (art. 26) adota o critério biopsicológico. Deve-se verificar se, ao tempo da ação ou omis-
são, o agente era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato. Não basta o fato de o agente
possuir uma deficiência mental para considerá-lo inimputável.
Não se pune o crime de infanticídio a titulo culposo. Se a mãe, estando sob a influência do estado puerperal,
mata o filho culposamente (ex.: asfixia na amamentação), responderá por homicídio culposo (nada impedin-
do a aplicação do perdão judicial).
O julgamento no júri pode ser realizado sem a presença do réu quando se tratar de crimes afian-
çáveis. Assim, considerando que o infanticídio é um crime afiançável, se a mãe não comparecer ao julga-
mento, o mesmo não será suspenso (art. 451 § 1º do CPP).
Médico, auxiliado pela parturiente em estado puerperal, mata o nascente. O que acontece? 1ª Corrente:
médico e parturiente respondem por infanticídio. Delmanto, Noronha e Fragoso. 2ª Corrente: médico res-
ponde por homicídio, enquanto a parturiente responde por infanticídio. Bento de Faria e Frederico Mar-
ques. Prevalece a primeira corrente.
Atenção: dependendo do grau de desequilíbrio fisiopsico, a parturiente pode ser considerada inimputável
(Fase oral MP/SP).
O estado puerperal exclui a culpa? 1ª Corrente: trata-se de fato atípico, pois o estado puerperal
não nos permite aferir a previsibilidade objetiva, retirando da parturiente a capacidade de agir de acordo
com o esperado pela lei e a sociedade. Damásio e minoria da doutrina. 2ª Corrente: o estado puerperal
não é capaz de excluir a culpa, respondendo a parturiente por homicídio culposo. Aqui cabe o perdão judi-
cial. Prevalece.
Não exige condição especial do Exige condição especial do Exige condição especial do
agente agente agente
1
Aborto é a interrupção voluntária da gravidez com a morte do produto da concepção, dentro ou fora do útero.
ART. 125. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSEN-
TIMENTO DA GESTANTE
- Art. 124 e 126 do CP: caso da gestante que procura uma clínica de aborto - a gestante responde pelo
aborto do 124 e o médico que aborta pelo aborto do125;
- Art. 317 e 333 do CP: corrupção passiva do funcionário e a corrupção do terceiro, que é a ativa;
- Art. 342, §1º e art. 343: falso testemunho mediante suborno x corrupção ativa de testemunha - a teste-
munha vai depor e um terceiro paga para ela mentir: a testemunha responde pelo 342 e o terceiro pelo
343;
Art. 235 e 235, § 1º - bigamia.
- Art. 318 e 334 (facilitação de contrabando – funcionário da receita – o que levou o contrabando ou des-
caminho, responde pelo 334);
- Lei 11.343: nova lei de drogas prevê 2 exceções: Art.33 (tráfico) e 36 (crime de financiamento do tráfico )
– o cidadão que financia responde pelo 36 e o traficante pelo 33; Art. 33 e 37 (“fogueteiro”): o colaborador,
antes da lei, respondia pelo tráfico, hoje ele responde pelo 37 e o traficante pelo 33.
b) Suspensão condicional do processo: cabível para os crimes cuja pena mínima seja igual ou inferir a
1 ano (art. 89 da 9.099). Assim, é cabível sursis processual no aborto do 124.
Lei 8.137/90, art. 4º - a pena mínima é de 2 anos.
O STF decidiu em 2007 que, mesmo que a pena mínima cominada seja superior a 1 ano, quan-
do a pena de multa for cominada alternativamente, será cabível a suspensão condicional do processo.
(HC 83926/RJ do STF).
A recusa injustificada de proposta de Suspensão Condicional do Processo pelo Ministério Públi-
co constitui constrangimento ilegal.
c) Aborto de gêmeos: responde por 2 crimes de aborto, em concurso formal impróprio.
Obs.:
Concurso Material (69): 2 ou mais ações → 2 ou mais crimes. Critério cumulativo. Ex.: estupro + homicídio.
Concurso formal: 1 ação ou omissão → 2 ou mais crimes. Existem em 2 espécies:
Art. 70, 1ª parte: concurso formal próprio. Critério de exasperação das penas – a pena será aumentada de 1/6
até 1/2.
Art. 70, 2ª parte: concurso formal impróprio. No concurso formal impróprio, apesar de praticar uma ação ou omis-
são, o agente tem vontade de praticar cada um dos crimes. O critério de aplicação das penas aqui será cumula-
tivo (as penas serão somadas).
Ex: ônibus assaltado – o assaltante responde por roubo/furto em concurso formal impróprio.
PRÓPRIO (exasperação)
CONCURSO FORMAL
IMPRÓPRIO (cumulo material)
d) Casuísticas:
- O agente mata com arma de fogo a mãe e o feto? Homicídio em concurso formal impróprio com aborto
do art. 125.
- O agente mata a gestante e o feto sobrevive? Homicídio e por tentativa de aborto de 125.
- Gestante que tenta o suicídio: morrendo o feto, responde pelo aborto do art.124. Se o feto sobreviver,
responde pelo aborto do art. 124 tentado.
- Gestante que pratica esportes radicais: o aborto não é punido a titulo culposo, conduta atípica.
- Marido que agride a esposa e ela aborta, não sabendo ele que ela estava grávida: responde por lesão
corporal simples, porque não existe aborto culposo. Se o marido soubesse da gravidez, agride, e ela
aborta; responderá pela lesão corporal qualificada pelo aborto.
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um
terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qual-
quer dessas causas, lhe sobrevém à morte.
1) Majorantes (vide art. 127 do CPB): somente se aplicam aos crimes dos artigos 125 e 126 do
CPB, traz hipótese de crime preterdoloso.
Exemplos de progressão criminosa: ocorre a substituição do dolo. Pelo principio da consun-
ção, o crime de homicídio absorve o delito de tentativa de aborto (mulher grávida de 8 meses pratica ma-
nobras abortivas, o feto é expulso, ainda vivo e ela o mata com facadas) ≠ crime progressivo: É crime
de passagem obrigatória. Também responde por um só crime em respeito ao principio da consunção.
O agente inicia a prática de um delito, mas devido a ocorrên- Trata-se de um crime de passagem obrigatória, ou seja, cri-
cia de não consumação por alguma circunstância alheia à me meio como caminho necessário para a prática de crime
vontade do agente criminoso, ele altera o seu dolo e pratica fim. Neste caso, o agente, em virtude do princípio da consun-
outro crime, que absorve a tentativo do crime anterior. ção, responde pelo crime fim, pois o meio é mera passagem.
Ex. Tentativa de aborto seguida de homicídio do feto. Ex. Furto para a prática do crime de roubo.
Se o agente morre e o feto sobrevive : - Capez: responde por aborto consumado qualificado pelo resul-
tado morte. Não existe tentativa de crime preterdoloso. É semelhante ao que acontece com o latrocínio.-
Prevalece: Aborto tentado qualificado pelo resultado morte. É possível a tentativa, pois o que ficou frustra-
do não foi o resultado morte, mas sim a conduta dolosa. Não se admite em crime preterdoloso quando o
que ficar frustrado for o resultado, atribuída ao agente a título de culpa.
Não se admite tentativa em crime preterdoloso quando o que frustrado for o resultado, atribuído
ao agente a título de culpa. No entanto, quanto ao crime praticado a título de dolo é plenamente possível.
b) Aborto humanitário ou ético – esta espécie foi originária das grandes guerras mundiais, o estupro
pode ter sido decorrente tanto de violência real como de violência presumida, não se fazendo necessária,
também, autorização judicial, sendo seus requisitos:
b.1) gravidez resultante de estupro – a doutrina e a jurisprudência, servindo-se da analogia, tem
entendido que o atentado violento ao pudor entra nesta regra.
b.2) prévio consentimento da gestante, ou, quando incapaz, de seu representante legal.
b.3) praticado por médico.
Obs.: Analogia – onde impera a mesma razão impera o mesmo direito. Para a doutrina deve o
médico, dentro do possível, certificar-se da ocorrência do crime sexual.
c) Aborto eugênico – ocorre, por exemplo, nos casos de anencefalia, sendo que, não faz parte do rol de
manobras abortivas permitidas no rol do art. 128 do CPB, sendo que, de acordo com a exposição de moti-
vos do CPB esta espécie abortiva configuraria como crime. Ocorre, porém, que a conduta não é culpável,
uma vez que inexiste um de seus elementos, qual seja a exigibilidade de conduta diversa, trata-se de
uma causa supralegal excludente da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa.
PROVA
A agente mesmo sabendo responde pelo crime? Não, pois está em inexigibilidade de conduta diversa.
Art. 15 da Lei de transplante (9.434). Se o dono do rim quiser vender também é inexigibilidade de
conduta diversa. E o que compra, também. Causa supralegal excludente da culpabilidade por inexigibili-
dade de conduta diversa.
Anencéfalo, isto é, embrião, feto ou recém-nascido, que, por malformação congênita, não possui
uma parte do sistema nervoso central, ou melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma parcela
do tronco encefálico. Discute-se se o feto anencéfalo tem ou não vida viável.
Abortamento de feto anencefálico é crime? Podemos responder essa pergunta por três óticas: pela
lei, pela doutrina e pela jurisprudência.
a) Lei: para lei o aborto do feto anencéfalo é crime, pois o Código Penal só permite o aborto ne-
cessário ou sentimental. Aliás, a exposição de motivos do Código Penal confirma a criminalidade desta
conduta. Tanto é crime que existe projeto de lei tramitando de lei autorizando (“de lege ferenda”).
b) Doutrina: o abortamento de feto anencefálico pode configurar hipótese de exclusão da culpabili-
dade da gestante, sendo caso de inexigibilidade de conduta diversa. É o entendimento de Cezar Roberto
Bittencourt, por exemplo. A doutrina diz que feto anencefálico não tem atividade cerebral, portanto, não há
vida uterina a proteger, ou seja, o feto não morre juridicamente. Com efeito, a doutrina ressalta ainda o
princípio da dignidade da pessoa: obrigar uma mulher à gestação de um feto anencefálico fere o princípio
da dignidade da pessoa humana.
c) Jurisprudência: admite essa espécie de aborto, desde que haja uma anomalia que inviabiliza a
vida extrauterina. Deve a anomalia estar comprovada em perícia médica, além de prova do dano psicoló-
gico da gestante. Esses requisitos são cumulativos.
Um argumento que o STF utilizou na ADPF 54 para autorizar liminarmente (Marco Aurélio) esse
abortamento foi que diante de uma deformação irreversível do feto, há de se lançar mão dos avanços
médicos e tecnológicos, postos à disposição da humanidade não para simples inserção, no dia-a-dia, de
sentimentos mórbidos, mas, justamente, para fazermos cessar.
Veja que essa questão não se resolve somente por argumentos jurídicos, aliás, o próprio STF não
utiliza argumentos jurídicos.
LESÃO CORPORAL
(art. 129 do CTB)
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de
detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
2
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado
contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
3
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
(Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
1. Bem jurídico tutelado: Fase oral da magistratura do Paraná: Qual é o bem jurídico tutelado? O bem
jurídico tutelado é a INCOLUMIDADE PESSOAL (é a saúde, sob os aspectos corporal/físico, fisioló-
gico e mental). O item 42 da Exposição de Motivos do Código Penal traz essa previsão. Um desmaio,
portanto, pode ser tido como lesão corporal. Portanto, o bem jurídico tutelado não é só a integridade físi-
ca.
2. Sujeito ativo: Quem pode praticar lesão corporal? Qual é o sujeito ativo? O crime de lesão corporal é
comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo nenhuma condição especial do
agente. Pequena parcela da doutrina afirma que nos parágrafos 9º, 10 e 11 o crime é próprio, pois exigem
uma relação entre os sujeitos. Não é que prevalece.
E se for Policial Militar quem ofende a incolumidade pessoal? R: discutia-se na doutrina se o PM
iria responder só por lesão, ou só por abuso de autoridade, ou lesão e abuso em concurso material (artigo
69), ou lesão e abuso em concurso formal (artigo 70). Prevalece que o policial militar responde por lesão
corporal e abuso de autoridade, em concurso MATERIAL (artigo 69 do CP), até porque crimes tutelas
bens jurídicos diversos.
Quem julga a lesão corporal e quem julga o abuso no caso retro? R: A jurisprudência é pacífica no
sentido de só a lesão corporal vai para a Justiça Militar, ao passo que a Justiça Comum processa e jul-
ga o abuso de autoridade. Vide súmula 172 do STJ.
Súmula 172 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
Que crime pratica uma pessoa que convence outra a se lesionar? Em regra a autolesão não é con-
siderada como crime, haja vista que, para a conduta ser assim considerada seus efeitos devem transcen-
der ao próprio autor. O direito penal não pune a autolesão. Entretanto, deve-se considerá-la quando tiver
por motivo atingir fim criminoso (fraudar seguro, por exemplo).
De acordo com o art. 184 do CPM constitui crime lesionar o próprio corpo com o objetivo de se tor-
nar inabilitado para o serviço militar.
Ao se convencer um incapaz a ferir o próprio corpo, este não cometerá crime, mas quem o induziu
pratica lesão corporal na condição de autor mediato.
Tentativa de dar um soco, no que a vítima desvia e, entretanto, escorrega, cai e quebra o braço.
Por que crime responderá o autor? R: Responderá por lesão corporal consumada. Vide artigo 13, parág-
rafo 1, a contrário senso. A fratura é concausa relativamente independente superveniente, que não por si
só produziu o resultado. Logo, o resultado será imputado ao autor do soco.
O “não por si só” está na mesma linha de desdobramento causal normal. A queda e a fratura são
eventos previsíveis.
MP/RO: que crime pratica uma pessoa que convence um doente mental a “estuprar” uma cabra ?
R: é crime ambiental (maus tratos).
4. Núcleos do tipo
O crime é ofender a incolumidade pessoal de outrem. O “ofender” pode ser praticado por ação ou
por omissão, direta ou indiretamente. Haverá lesão corporal quando alguém causa enfermidade em ou-
trem ou agrava enfermidade já existente.
É dispensável ou indispensável dor para se consumar a lesão corporal? R: A dor é dispensável.
Exemplo: provocar desmaio em alguém é lesão corporal e, desmaio não tem dor. A dor pode influenciar
na fixação da pena pelo juiz.
Cortar cabelo contra a vontade da vítima é lesão corporal (concurso de Delegado da Polícia Civil
do Rio de Janeiro)? R: A jurisprudência diverge. Uma primeira corrente entende que constitui crime de le-
são corporal desde que a ação provoque alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo, consi-
derando os padrões sociais médios. A segunda corrente entende que não é caso lesão corporal, mas tão-
somente injúria real. A duas correntes estão corretas, tudo depende do ânimo do agente. Há ainda cor-
rentes que entendem ser o fato atípico ou furto.
A pluralidade de ferimentos gera a pluralidade de crimes? R: A pluralidade de ferimentos no mes-
mo contexto fático não desnatura a unidade do crime (o crime continua único). O juiz, entretanto, conside-
rará a pluralidade de ferimentos na fixação da pena-base.
Se a vítima consente na lesão, haverá crime? O consentimento do ofendido exclui o crime quan-
do? Concurso da magistratura de São Paulo.
Consentimento do ofendido como descriminante supralegal:
1 – O dissentimento não pode integrar o tipo, senão não se terá sequer fato típico.
2 – A vítima deve ser capaz.
3 – O consentimento deve ser dado de maneira livre e consciente.
4 – O consentimento deve recair sobre BEM DISPONÍVEL.
5 – O consentimento deve ser manifestado antes e durante a execução.
6 – Deve haver manifestação expressa. Há doutrina, entretanto, que já admite mani-
festação tácita.
A integridade da pessoa é bem indisponível? R: A doutrina clássica ou tradicional entende que a in-
columidade pessoa é um bem indisponível. Se adotarmos essa corrente, a pessoa que coloca brinco ou
piercing, ainda que com autorização da pessoa, comete lesão corporal.
Por isso, que a doutrina moderna (CEZAR ROBERTO BITENCOURT) prefere tratar a incolumi-
dade pessoal como um bem relativamente disponível. Será disponível quando a lesão for leve e
não contrariar a moral e os bons costumes. Assim, o consentimento do ofendido exclui a ilicitude.
A doutrina moderna tem amparo legal, é a lei 9.099/95 que, corroborando com entendimento de
que a lesão leve é bem relativamente disponível, transformou o crime de lesão leve de ação pública in-
condicionada em ação pública condicionada a representação.
Qual a diferença entre o crime de lesão corporal e a mera contravenção penal de vias de fato? R:
As vias de fato trata-se de uma contravenção penal, e consiste na violência empregada contra a vitima
sem acarretar-lhe qualquer dano corporal. Sendo que, para os garantistas, esta conduta não deveria ser
tipificada. Na contravenção penal não existe, e sequer é a intenção do agente, dano à incolumidade pes-
soal da vítima.
De acordo com o art. 88 da Lei 9.099/95, quando a lesão corporal for de natureza leve, a integrida-
de corporal é considerada um bem disponível.
Concurso da segunda fase da Magistratura da Bahia: Como interpretar a intervenção médica, ci-
rúrgica ou reparadora, sob a ótica da teoria geral do delito (crime)? Por que o médico não responde por
lesão corporal? Há seis maneiras de se analisar a conduta do médico:
1 – Porque não há tipicidade (posição de BENTO DE FARIA).
2 – Porque não há dolo caracterizador do delito (atipicidade por outro fundamento – o dolo do
médico é de curar. É a posição de FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO – autor muito adotado nos concur-
sos mineiros).
3 – Porque o médico tem o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da
ilicitude (CEZAR ROBERTO BITENCOURT). A integridade física é bem relativamente disponível.
4 – Porque o médico está amparado na discriminante do exercício regular de direito, ou, em
caso de urgência, estado de necessidade (posição da doutrina clássica).
5 – Porque o médico está amparado pela teoria da imputação objetiva (LUIZ FLÁVIO GOMES).
Não há criação ou incremento de risco proibido.
6 – Porque o comporta a aplicação da teoria da tipicidade conglobante (ZAFFARONI). O com-
portamento do médico é um ato normativo.
Conclusão: Lesões desportivas, cirurgias transexuais, transplantes de órgãos e cirurgias, para a
doutrina tradicional, a conduta é considerada como típica, adequando-se ao art. 129 do CPB, porém não
é ilícita. Ocorre, porém, que, de acordo com a teoria da imputação objetiva, teoria mais moderna, um re-
sultado só pode ser atribuído a um agente quando ele cria um risco proibido, sendo, pois, esta conduta
considerada como atípica. Ademais, de acordo com Teoria da Tipicidade conglobante de Zaffaroni, não se
pode considerar típica uma conduta fomentada ou ordenada pelo direito.
5. Consumação: Quando é que se consuma a lesão corporal? R: Cuida-se de crime material, que se
consuma com a efetiva ofensa à incolumidade pessoal da vítima. Lembrando que dispensa a dor.
6. Tentativa Primeira fase da magistratura de São Paulo: o crime admite tentativa? R: É possível a tenta-
tiva nas lesões dolosas, não na preterdolosa ou culposa.
Quando uma lesão será considerada leve? A natureza leve da lesão nos é dada por exclusão
(quando não for grave, gravíssima ou seguida de morte). Cuida-se de crime de menor potencial ofensivo,
cuja ação penal depende de expressa manifestação do ofendido (art. 88 da 9.099/95).
A lesão corporal leve é um crime qualificado pelo resultado, não se enquadrando em nenhumas
das hipóteses arroladas nos §§ do art. 129 do CPC.
*Crime qualificado pelo resultado – é aquele em que o legislador, após uma conduta típica com to-
dos os seus elementos acrescenta-lhe um resultado cuja ocorrência irá provocar o agravamento da pena.
Uma das espécies de crime qualificado pelo resultado é o crime preterdoloso (dolo no antecedente e cul-
pa no conseqüente).
Traz hipóteses de dolo e de preterdolo. Aqui, diferentemente da leve, o legislador diz o que é lesão
grave.
§ 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
Por ocupações habituais, deve-se entender como qualquer atividade corporal rotineira, não neces-
sariamente ligada à ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral.
Prostituta pode ser vítima de lesão corporal de natureza grave se ela não puder exercer o comér-
cio corporal rotineiro? R: Sim, já que a prostituição é um exercício de atividade lícita, ainda que imoral. Já
o ladrão que fica impossibilitado de roubar não pode ser vítima.
Um bebê de 6 meses pode ser vítima dessa lesão? R: Pode sim, se não consegue fazer atividade
rotineira, como, por exemplo, “mamar”.
A mulher foi espancada e, por razões de vergonha, passa 30 dias sem sair de casa. Pergunta-se:
a lesão foi grave? R: Não, porque ela não estava incapacitada para sua ocupação habitual em razão da
lesão, mas sim pela vergonha da lesão. Assim, simples vergonha de praticar a ocupação habitual não
qualifica o crime.
Para configurar essa qualificadora, deve-se ficar incapacitado por MAIS de trinta dias. Por isso,
Nessa lesão faz-se necessário um exame pericial complementar para comprovar a incapacidade, deven-
do ser um exame realizado por meio de diagnostico, não podendo o médico se valer de adivinhações. A
ausência do exame complementar poderá suprida pela prova testemunhal.
Art. 168 - § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, §
1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias,
contado da data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
Cuida-se de prazo penal (computo o primeiro dia e excluo o último dia) ou processual penal (ex-
cluo o dia do início e computo o dia final)? Esse prazo é para tipificar crime, sendo, portanto, prazo
penal, devendo ser contado o dia do início. Supondo que a lesão foi cometida em 10/1/09, o exame
complementar deve ser realizado em 10/2/09.
Cuida-se de crime a prazo. Outro exemplo de crime a prazo (concurso do Ministério Público Fede-
ral) é a apropriação indébita de coisa achada.
§ 2° Se resulta: V - aborto:
O agente age de maneira necessariamente preterdolosa - dolo na lesão e culpa no aborto. Se agir
com dolo no aborto, responderá pelo artigo 129 c/c artigo 125. Para evitar responsabilidade penal objetiva
é necessário que o agente saiba ou pudesse saber que a vítima estava gestante.
É possível coexistência de qualificadoras? É sim possível. No parágrafo 1º, prevê-se pena de 1 a 5
anos. No parágrafo 2º, prevê-se pena de 2 a 8 anos.
É possível a vítima ficar incapacitada para as ocupações habituais e ter deformidades permanen-
tes? É sim possível. Deve-se, entretanto, aplicar a de natureza mais grave, servindo a outra como
circunstância judicial desfavorável.
Cuida-se de homicídio preterdoloso ou preterintencional. Não quis e nem assumiu o risco de pro-
duzir. Exclui-se o dolo direto e o dolo eventual.
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE: (i) há conduta dolosa dirigida à lesão corporal. (ii) Há
resultado culposo mais grave, qual seja, a morte. (iii) Há nexo causal entre conduta e resultado.
O resultado deve ser culposo; se proveniente de caso fortuito ou força maior, responderá somente
pela lesão.
Vias de fato seguida de morte configura homicídio culposo (exemplo do empurrão, em que se cai e
bate a cabeça, levando ao óbito).
E) DIMINUIÇÃO DE PENA
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou mo-
ral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da víti-
ma, o juiz pode (cuida-se de dever-poder) reduzir a pena de um sexto a um terço.
F) SUBSTITUIÇÃO DA PENA
A lei 9.714/98 fez com que esse parágrafo perdesse a utilidade, pela nova metodologia de substi-
tuição das penas.
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
A gravidade da lesão, em sendo culposa, não terá interesse. Sempre irá se ajustar ao parágrafo 6º,
independentemente da gravidade – leve, grave ou gravíssima. A gravidade da lesão só interfere na tipici-
dade quando a lesão for dolosa (poderá configura “caput”, parágrafo 1 ou parágrafo 2).
Entretanto, a gravidade na lesão culposa irá influenciar na quantificação da pena.
A lesão culposa na direção de veículo automotor deixou o CP e foi para o Código de Trânsito Brasi-
leiro (artigo 303). A pena será de 6 meses a dois anos. O artigo 129, parágrafo 6, tem pena que varia de 2
meses a 1 ano. Já o artigo 303 da Lei 9.503/97 tem pena de 6 meses a 2 anos. Foi “atropelado” o prin-
cípio da proporcionalidade.
Há minoria que diz ser inconstitucional, já que o desvalor do resultado é idêntico em um ou outro
tipo. Para rebater essa corrente, deve-se destacar que o crime deve ser observado também sob a ótica
do desvalor da conduta (no trânsito colocam-se mais vidas em perigo).
H) AUMENTO DE PENA
§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art.
121, § 4º.
§ 4o No homicídio culposo (LESÃO CULPOSA), a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício (ERRO PROFISSI-
ONAL), ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante (QUESTIONA-SE A SUA
CONSTITUCIONALIDADE, JÁ QUE NINGUÉM É OBRIGADO A PRODUZIR PROVA
CONTRA SI). Sendo doloso o homicídio (LESÃO), a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o
crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos (NÃO
É QUALQUER IDOSO – JÁ QUE NÃO ABRANGE O IDOSO COM IDADE IGUAL A 60
ANOS).
I) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Traz qualificadora quando se tratar de lesão dolosa leve. Significa que, havendo violência do-
méstica, em vez de se aplicar o “caput”, aplica-se o parágrafo 9º do artigo 129. Deixa de ser crime de me-
nor potencial ofensivo (a pena máxima suplantou 2 anos).
Traz causa de aumento para lesão grave, gravíssima e seguida de morte, quando se tratar de vio-
lência doméstica, aumentando a pena de 1/3.
Traz causa de aumento para o parágrafo 9º, em caso de violência contra as pessoas lá indicadas,
desde que deficientes. A pena aumenta-se de 1/3.
Quando é que se dá a violência doméstica e familiar, nos termos dos parágrafos 9º, 10 e 11? Vide
parágrafo 9º. Primeira hipótese: contra ascendente, descendente ou irmão. Pouco importa se o paren-
tesco é natural ou civil. Esses parentes precisam coabitar? A maioria da doutrina entende que dispensa
coabitação. Segunda hipótese: contra cônjuge ou companheiro. Terceira hipótese: contra (OU) quem con-
viva ou tenha convivido o agente.
GUILHERME DE SOUZA NUCCI entende essa terceira hipótese como circunstância que deve que
ser agregada às outras duas hipóteses. ROGÉRIO SANCHES, entretanto, entende como hipótese autô-
noma. Exemplo dado por FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS: república de estudantes. No caso do que
“tenha convivido”, a agressão deve estar atrelada ao convívio pretérito. Quarta hipótese: contra quem se
prevalece das relações domésticas de coabitação ou de hospitalidade. O professor critica o caso de hos-
pitalidade, por estender demais a aplicação da lei.
Vide parágrafo 10. Determina a aplicação de causa de aumento sobre o § 9º (qualificadora),
quando o resultado da violência gerar lesão grave, gravíssima ou seguida de morte.
Vide parágrafo 11. Exige condição especial da vítima (portadora de deficiência, assim considerada
na lei especial – 7.853/89).
OBS.: Os parágrafos 9º, 10 e 11 não exigem que a vítima seja mulher.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Naci-
onal de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou con-
tra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº
13.142, de 2015)
Possui íntima relação com o homicídio profissional, uma vez que o sujeito passivo da lesão deve
ser relacionado as atividades dos profissionais descritos acima, assim como de seus parentes nos moldes
da lei. O móvel do crime tem que ser o exercício da função.
Ex: agente dá soco em alguém dentro de uma boate, ela cai em cima de garrafa e morre. O soco
foi visando machucar a vítima. Mas era previsível pelo local. Assim, responde o agente por lesão corporal
seguida de morte.
Ex: cubano que deu chute no juiz nas olimpíadas na modalidade de takendoo. O cubano chutou
a cabeça do árbitro não para matar. Se o árbitro tivesse caído e batesse a cabeça num prego do tatame.
O resultado não foi ao menos culposo, pois ninguém iria prever que em um tatame houvesse um prego vi-
rado para fora. Assim, não responde por lesão seguida de morte.
Ex: agente dá empurrão na vítima, ela cai, bate a cabeça e morre, havendo uma morte culposa.
O empurrão é mera vias de fato. Assim, vias de fato seguida de morte é o caso de homicídio culposo,
com pena de um a três anos, ficando absorvida a contravenção penal.
Diminuição de pena
Essa hipótese lembra o homicídio privilegiado. Aqui, ocorre a lesão corporal privilegiada. O § 4.º
aplica-se a todos os §§ anteriores, ou seja, pode ser privilegiada a lesão leve, grave, gravíssima ou segui-
da de morte.
Trata-se de direito subjetivo do réu. Preenchidos os requisitos, o juiz é obrigado a reduzir a pena.
A discricionariedade do juiz só diz respeito ao quantum da redução, que varia de 1/6 a 1/3.
No mais, tudo o que se aplica ao homicídio privilegiado se aplica à lesão privilegiada.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção
pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
O § 5.º traz uma hipótese de substituição da pena. É exclusiva da lesão leve, ou seja, do caput
do art. 129 do CP. Mas não basta ser a lesão leve, deve ser leve e privilegiada ou as lesões são recípro-
cas.
A lesão corporal culposa tem a mesma sistemática do homicídio culposo, com a única diferença
do resultado.
OBS: quando a lesão é culposa, não importa se é leve, grave ou gravíssima, sempre se ajustan-
do ao § 6.º do art. 129. No caso de lesão dolosa a natureza da lesão pode gerar as penas do caput, § 1.º
ou § 2.º.
No caso da lesão culposa, a natureza sempre vai desembocar no § 6º não importando se é leve,
grave ou gravíssima. O juiz considera a natureza ou gravidade da lesão na fixação da pena base. Ex:
Lars Grael que perdeu uma perna em face de acidente de lancha pilotada por um piloto alcoolizado. Em-
bora a lesão tenha sido gravíssima, o autor incorreu no § 6.º do art. 129.
OBS: se o crime ocorrer na direção de veículo automotor, o crime será o previsto no art. 303 do
CTB.
O art. 129, § 6.º do CP é caso de lesão culposa e a pena é de 2 meses a 1 ano; o art.
303 do CTB também traz caso de lesão culposa e a pena é de 6 meses a 2 anos.
Há quem entenda que pelo fato de o desvalor do resultado ser o mesmo, a pena do art. 303 é in-
constitucional. Fere o princípio da proporcionalidade. Se se olhar o desvalor da conduta, ambos são dis-
tintos. O desvalor da conduta justificaria penas diferentes. A tese da inconstitucionalidade é muito usada
em provas da defensoria pública.
A lesão corporal dolosa de natureza leve tem pena de 3 meses a 1 ano. Seria melhor para o réu
alegar que a conduta foi dolosa. Assim, quando se compara lesão culposa no trânsito e lesão dolosa leve,
fica difícil defender a falta de proporcionalidade. Na prática, ainda não se tem conhecimento de tribunal
que pronunciou a inconstitucionalidade da pena da lesão culposa no trânsito.
Aumento de pena
Quando a lesão é culposa admite-se o perdão judicial. Vide comentários acerca do perdão judici-
al quando do estudo do crime de homicídio.
A pena do § 9.º é de 3 meses a 3 anos. É o caso de lesão leve que deixou de ser de menor po-
tencial ofensivo. Não é possível transação penal, sendo objeto de inquérito policial.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as in-
dicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei
nº 10.886, de 2004)
Ação penal nos crimes de lesão corporal: Em regra, a ação penal é pública incondicionada. Exceções:
a) Lesão dolosa leve (art. 129, caput): A ação é pública condicionada. Art. 88 da Lei 9.099/95.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.
b) Lesão culposa (art. 129, § 6.º): Também se aplica o art. 88 da Lei 9.099/95. No caso de violência do-
méstica e familiar, qual a ação penal? Se a vítima for homem, deve-se diferenciar o art. 129, § 9.º do art.
129, § 10, onde se tem lesão grave, gravíssima ou seguida de morte.
Se a vítima for homem e a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte, a ação é pública in-
condicionada.
No caso do § 9.º do art. 129, se a vítima for homem, a lei não impede a aplicação da lei
9.099/95, logo pode-se aplicar o art. 88 dessa lei, ou seja, será a ação penal pública condicionada. Assim,
não importa a pena, mas sim a gravidade da lesão.
Se a vítima for mulher, no caso do art. 129, § 10.º, ou seja, lesão grave, gravíssima ou seguida
de morte, a ação é pública incondicionada. O STF entendeu que até mesmo a lesão leve contra a mulher
em situação de aplicação da Lei 11340/06 é de ação penal pública incondicionada. Hoje já há Súmula do
STJ nesse sentido.
Se a vítima for mulher, no caso do art. 129, § 9.º, apesar de ser lesão leve, o art. 41 da Lei Maria
da Penha veda a aplicação da lei dos juizados. Mas há duas correntes:
- a primeira corrente afirma que é caso de ação penal pública incondicionada (STF), já prevaleceu. Traz
os seguintes argumentos:
A lei 11.340/06 veda a aplicação do art. 88 da Lei 9.099/95.
Trata-se de grave violação dos direitos humanos da mulher, incompatíveis com outra espécie de
ação penal.
A vontade da mulher pode estar viciada diante do temor de nova agressão.
Defendem essa corrente LFG e Maria Berenice Dias.
- a segunda corrente entende que a ação penal é pública condicionada. Traz os seguintes argumentos:
Quando a lei Maria da Penha veda a aplicação da Lei 9.099/95, na verdade, não quer admitir
medidas despenalizadoras (transação penal, v.g), exteriores à vontade da vítima, não abrangen-
do a representação.
O estupro é uma das formas mais graves de violação dos direitos humanos da mulher e a pena
é perseguida mediante ação pública condicionada.
Eventuais pressões para que a vítima mulher se retrate da representação ofertada, serão detec-
tadas em audiência própria.
Essa segunda corrente é defendida por Damásio de Jesus e Ronaldo Batista Pinto, além do próprio
professor Rogério Sanches Cuha.
Em 2008, o STJ adotava a primeira corrente. Já em 2009 está adotando a segunda corrente.
Duas decisões do ano passado afirmaram que a ação é pública incondicionada. Mas há uma decisão de
2009 em que o STJ entendeu que a ação é pública condicionada à representação. Ressalte-se que todas
essas três decisões são da mesma Turma. O STF agora pacificou.
CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador
da vítima.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de
2003)
OMISSÃO DE SOCORRO
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou
em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pú-
blica:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão cor-
poral de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
O crime de omissão de socorro traduz uma norma de solidariedade humana. O bem jurídico tute-
lado é a segurança do indivíduo, protegendo-se a vida e a saúde humana.
O sujeito ativo é comum, ou seja, pode o crime ser praticado por qualquer pessoa. Não precisa,
pois haver relação entre o sujeito ativo o passivo. Se houvesse relação de dependência entre vítima e
agente, este seria garantidor, podendo responder por homicídio e não por omissão de socorro.
O crime de omissão de socorro admite coautoria? Estar-se diante de um dever genérico de agir,
ou seja, atinge a todos indistintamente. Logo, não é possível coautoria, sendo cada omitente autor do cri-
me de omissão de socorro.
Se houver quatro pessoas olhando a vítima agonizando e uma delas resolve socorrer a vítima,
não há crime para os outros três agentes, pois se está diante de obrigação solidária, ou seja, quando um
agente cumpre a sua obrigação desonera os demais.
É possível omissão de socorro a distância, ou seja, o autor do crime de omissão de socorro deve
estar presente no local?
- a primeira corrente afirma que a presença do sujeito ativo é indispensável, conclusão extraída da nature-
za do delito (omisso). Adotada por Cezar Roberto Bittencourt. É a corrente que predomina.
- a segunda corrente afirma que a presença do sujeito ativo é dispensável. Se tiver condições de se des-
locar ao local do perigo, haverá crime em caso de omissão. Damásio adota essa tese.
Sujeito passivo no crime de omissão de socorro: A vítima não é comum, mas sim própria: “à criança aban-
donada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo”. Só
pode ser vítima quem ostentar essas qualidades.
Magalhães Noronha fez a seguinte indagação: e se o sujeito passivo recusar o socorro? A pes-
soa que consente e não socorre, pratica o crime? Sim, pois o bem protegido é indisponível, pois indepen-
de do consentimento da vítima. Assim, mesmo que haja oposição da vítima, deve-se insistir no socorro,
desde que não haja risco para a pessoa que vai socorrer.
O crime de omissão de socorro consiste em deixar de:
a) prestar assistência: Há uma omissão de uma assistência imediata, ou seja, pessoal.
b) não pedir socorro da autoridade competente: Há uma omissão de assistência mediata. É uma assistên-
cia subsidiária. Só se pode requerer socorro da autoridade competente quando não possa fazê-lo. Se o fi-
zer por mera comodidade, o crime será cometido.
Em ambos os casos o agente não pratica ação imposta pelo dever genérico. Está-se diante de
uma inação, ou seja, o agente não pratica a ação devida.
“Possível fazê-lo sem risco pessoal”: dessa expressão do tipo pode-se extrair o seguinte:
- se houver risco pessoal, não há crime. Isso porque não se preenche o tipo penal, havendo atipicidade.
- risco meramente patrimonial ou moral não exclui a tipicidade, mas, dependendo do caso, pode excluir a
ilicitude. Ex: Camões salvando a obra e deixando as pessoas em perigo.
É imprescindível que o omitente não tenha sido o causador doloso ou culposo do perigo. Se as-
sim o for, passa a ser garante ou garantidor. Não terá mais o dever genérico de agir, mas sim o dever ju -
rídico de evitar o resultado. Art. 13, § 2.º, “c” do CP:
O crime de omissão de socorro é punível a título de dolo. Mas quando é a sua consumação? O
crime se consuma com a omissão geradora de perigo.
Está-se diante de um crime de perigo. Mas o perigo é abstrato ou concreto? No perigo abstrato
não há necessidade de se demonstrar o perigo, pois presumido absolutamente por lei. No perigo concreto
precisa-se comprovar o perigo. No caso do crime de omissão de socorro, se for omissão de socorro a cri-
ança abandonada ou extraviada, o perigo é abstrato; se for pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou
em grave e iminente perigo, o crime é de perigo concreto, precisando ser comprovado.
OBS: há doutrinadores que questionam a constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. LFG
afirma que esses crimes não foram recepcionados pela CF. O STF também assim entende. Os argumen-
tos são os seguintes:
- Pune-se o agente sem se ter certeza da existência do perigo, ferindo o princípio da lesividade
ou da ofensividade.
- O perigo é absolutamente presumido por lei, ou seja, o réu não pode provar em sentido contrá-
rio. Logo, fere-se o princípio da ampla defesa.
O crime de omissão de socorro admite tentativa? Não, pois é crime omissivo próprio. É um crime
unissubsistente, não podendo a execução ser fracionada.
Está-se diante de majorante preterdolosa ou preterintencional. O agente age com dolo na omis-
são e culpa na morte ou lesão grave.
O crime de omissão de socorro do CP é regra geral, mas ainda há os crimes de omissão de so-
corro no CTB e no Estatuto do Idoso.
No caso do CTB, a omissão de socorro é uma majorante do crime de homicídio culposo na dire-
ção de veículo automotor.
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se ob-
ter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a
pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à víti-
ma do acidente;
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer
das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.
Se se tiver um omitente condutor não envolvido em acidente, aplica-se o art. 135 do CP.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assis-
tência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autorida-
de pública:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão cor-
poral de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
O art. 135 do CP é a norma geral, cedendo espaço para o Estatuto do Idoso, o qual, por sua vez,
cederá espaço para o CTB, se a omissão ocorreu no caso de acidente de trânsito.
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emer-
gencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guar-
da ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer pri-
vando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho ex-
cessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
RIXA
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se,
pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Conceito: É uma briga perigosa entre mais de duas pessoas, agindo cada uma por sua conta e
risco, acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas.
Quando se fala em duas ou mais pessoas deve-se ter o mesmo para dois ou mais grupos.
Ex: TUF contra cearagay não é rixa, mas sim lesão corporal, porque os grupos são determinados
e nãos mais que dois. Mas se a briga envolve as duas e a Falange, aí haverá rixa, porque há mais de
dois grupos envolvidos.
Mas pode haver rixa dentro da própria torcida, quando mais de duas pessoas brigam entre si.
O bem jurídico primário protegido pelo art. 137 do CP é a incolumidade da pessoa humana. O
bem jurídico secundário é a ordem e a paz pública. Tal consta do item 48 da Exposição de Motivos do CP.
Sujeito ativo do crime de rixa: É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Ne-
cessariamente, também será sujeito passivo. É sempre sujeito passivo.
Sujeito passivo: A vítima também é comum. Nem sempre é sujeito ativo, podendo ser um pedes-
tre, que é vítima, mas não sujeito ativo do crime de rixa.
Rogério Grecco entende que é um crime sui generis, onde o sujeito ativo também é passivo.
Em momento algum se afirma que o sujeito passivo só pode ser o contendor. Pode ser um pe-
destre, por exemplo.
Quanto ao concurso de agentes, o crime de rixa é de concurso necessário ou plurissubjetivo. É
monossubjetivo quando o crime pode ser praticado por uma ou mais pessoas. Será plurissubjetivo quan-
do só pode ser praticado por número plural de pessoas. É o crime de concurso necessário.
Qual espécie de crime plurissubjetivo é a rixa? Os crimes plurissubjetivos se dividem em três es-
pécies:
a) de condutas paralelas: As condutas auxiliam-se mutuamente. Ex: quadrilha ou bando.
b) de condutas contrapostas (umas contra as outras): Ex: rixa.
c) de condutas convergentes: As condutas buscam-se umas as outras. Ex: bigamia e antigo
adultério.
O crime consiste em participar de rixa. A participação pode ocorrer de duas maneiras:
a) material: O agente toma parte na luta. É o que a doutrina chama de partícipe da rixa.
b) moral: O agente induz, incentiva a briga, sem dela tomar parte. É um partícipe do crime de
rixa.
É dispensável o corpo a corpo? Assim, é possível rixa à distância? É possível rixa à distância,
dispensando o corpo a corpo. Ex: arremesso de objetos.
Crime de rixa é punido a título de dolo. Assim, não precisava que o tipo penal trouxesse a ex-
pressão “salvo para separar os contendores”.
Consumação: O crime se consuma com a efetiva troca de agressões geradora de perigo. Mas o
perigo é abstrato ou concreto? Prevalece que se trata de crime de perigo abstrato, ou seja, o legislador
presume o perigo. Mas o STF e LFG têm entendido que crime de perigo abstrato não foi recepcionado
pela CF.
O crime de rixa admite tentativa? Para a maioria o crime é unisubsistente (não admite fraciona-
mento na execução), não admitindo tentativa. Porém, Nelson Hungria admitia tentativa no crime de rixa.
Ex: rixa ex proposito ou de surgimento combinado. Se mais de duas pessoas combinam rixa entre si e a
polícia impede, fica configurada a tentativa.
Assim, para Hungria a tentativa é possível no caso de rixa previamente combinada. Para a gran-
de maioria da doutrina, essa tentativa caracteriza meros atos preparatórios.
É possível legítima defesa no crime de rixa? Devem-se distinguir duas situações:
a) suponha que A, B e C estão brigando um contra o outro, cada um por sua conta e risco. Essa briga
toma proporções e chega perto de D. Este começa a repeli-la. D age em legítima defesa. Assim, é possí-
vel legítima defesa no crime de rixa quando atinge terceira pessoa não participante do tumulto.
b) suponha que A, B e C estão brigando com socos e pontapés; de repente, A saca de uma arma e C per-
cebe a desproporcionalidade no comportamento de A e o mata. Nesse caso, C poderá alegar legítima de-
fesa no que concerne ao homicídio, mas não poderá fazê-lo com relação ao crime de rixa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo
fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Se da rixa resultar morte ou lesão grave em um contendor? Nesses casos, há três sistemas dis-
cutindo a punição:
a) sistema da solidariedade absoluta: Todos os participantes respondem pelo evento lesão ou morte (ho-
micídio), independentemente de se apurar o real autor do resultado.
b) sistema da cumplicidade correspectiva: Todos os participantes respondem pelo resultado lesão grave
ou morte (homicídio), sofrendo, entretanto, pena intermediária a do autor e do participe desses crimes.
c) sistema da autonomia: A rixa é punida por si mesma, independentemente do resultado agravador, o
qual, se ocorrer, somente qualificará o crime. Apenas o causador da lesão grave ou morte responderá
também por esses crimes. Foi o sistema adotado pelo CP.
Suponha que A, B, C e D participam de uma rixa. C sofre lesão grave, não se tendo apurado o
causador dessa lesão. A, B e D respondem pelo crime de rixa qualificada. C, que foi quem sofreu a lesão,
também responde por rixa qualificada e mesmo tendo sofrido a lesão, concorreu para que a rixa tenha
sido mais perigosa.
Suponha que no mesmo exemplo, C morre e o causador da morte de C tenha sido B. A e D res -
pondem por rixa qualificada. Há duas correntes para o crime de B:
- B responde por rixa qualificada e homicídio: É a corrente que prevalece. B responde por rixa
qualificada pelo maior perigo da luta e por homicídio pela morte. Não se considera a mesma circunstân-
cia.
- B responde por rixa simples e homicídio: Com B respondendo por rixa simples evita-se o bis in
idem.
Suponha que A, B, C e D estão numa luta que caracteriza rixa. As 19:00 horas C abandona a bri-
ga e as 20:00 horas D morre. C responde por rixa qualificada. Isso porque há causalidade simples. Com o
comportamento anterior, C criou o risco do resultado. Aplica-se a teoria da equivalência.
Suponha que A, B, C e D contendem. As 20:00 horas D morre. No seu lugar, entra E. E respon-
derá por rixa simples, pois entrou depois do resultado morte de D.
Serão estudados três crimes contra a honra, mais precisamente calúnia, difamação e injúria.
Antes, porém, deve ser lembrado que os crimes contra a honra têm o CP como estatuto geral, além de
leis especiais.
Ressalte-se que os arts. 20, 21 e 22 que tratam dos crimes contra a honra na Lei de Imprensa
foram declarados não recepcionados pela CR/88 na ADPF 130. O STF afirmou que esses artigos serão
suspensos e que se houver crimes contra a honra na imprensa devem ser aplicadas as disposições do
CP.
Ainda, encontram–se crimes contra a honra no Código Brasileiro de Telecomunicações; no
Código Eleitoral, onde a ação é pública incondicionada; no Código Penal Militar e na Lei de Seguran-
ça Nacional.
Conclui-se, pois, que deve ser aplicado o CP apenas nos casos em que não forem aplicados
os casos previstos em lei especial.
Imputa-se fato criminoso determi- Imputa-se fato desonroso determi- Atribui-se qualidade negativa.
nado sabidamente falso. nado, em regra não importando se
verdadeiro ou falso.
Ofende a honra objetiva, que é a Ofende a honra objetiva. Ofende a honra subjetiva, que é a
reputação do sujeito, ou seja, o que dignidade, o decoro, a auto estima
os outros pensam dele. do sujeito, o que o sujeito pensa
dele próprio.
NO CÓDIGO ELEITORAL: estão previstos os crimes contra a honra praticados durante a pro-
paganda eleitoral que são de ação penal pública incondicionada.
LEI DE SEGURANÇA NACIONAL: é imprescindível uma motivação política para que a pessoa
responda por crime contra a honra por esta lei.
Alguém diz que fulano é ladrão. Qual crime comete? Injúria. Não se está atribuindo fato ao su-
jeito, mas uma qualidade. PARA QUE A PESSOA RESPONDA POR CALÚNIA ELA DEVE IMPUTAR AO
SUJEITO FATO TIDO COMO CRIMINOSO E NÃO SOMENTE O DESIGNATIVO.
Alguém diz que fulano assaltou o BB. Qual crime comete? Calúnia, porque lhe foi atribuído fato
determinado que constitui crime.
Alguém afirma que fulana foi vista na esquina rodando bolsinha. Atribui-se fato determinado,
desonroso àquela pessoa. Como o fato não constitui crime, há difamação.
Fulano estava apontando jogo do bicho. Qual crime comete? Atribui-se fato determinado. Mas
o fato é crime? Não, é contravenção. Logo, se se imputa contravenção penal a alguém não há calúnia,
mas sim difamação.
CRIME CONTRAVENÇÃO
Calúnia Difamação
Alguém afirma que viu militar beijando de maneira lasciva colega de farda nas dependências
do quartel. Ato sexual dentro do quartel é crime, previsto no CPM. No caso, há calúnia.
Uma pessoa falou que a outra era jogadora do jogo do bicho. A pessoa se sentiu ofendida e in-
terpôs queixa, descrevendo o fato e pedindo as penas por crime de calúnia. Essa queixa deve ser recebi-
da ou não? A vítima descreveu nos fatos o crime de difamação, mas pediu a condenação por calúnia. O
juiz deve receber a queixa e na hora de aplicar a pena deve condenar por difamação aplicando a emen-
datio libelli.
Mas pela Teoria Social da Ação, o jogo do bicho foi revogado pelos costumes, logo deveria a
queixa ser rejeitada porque o fato era atípico. Essa é uma posição minoritária.
Os crimes contra a honra são crimes de dano ou de perigo? Prevalece na doutrina que se trata
de crime de dano, que dispensa, no entanto, o resultado naturalístico, sendo formal. É crime de dano por-
que o agente age com vontade de ofender, mas o crime se consuma mesmo que a vítima não se sinta
ofendida.
É possível concurso de calúnia com difamação e injúria? Em contextos fáticos distintos, é pos-
sível. Mas é possível o concurso de crimes contra a honra no mesmo contexto fático? – a primeira corren-
te afirma que é possível continuidade delitiva, pois ofende o mesmo bem jurídico. - a segunda corrente
afirma que se aplica o princípio da consunção, ou seja, o crime mais leve fica absorvido pelo crime mais
grave. A injúria fica absorvida pela calúnia, por exemplo.- a terceira corrente afirma que é possível concur-
so de delitos desde que se relativas a honras diversas, objetiva e subjetiva. Assim, não seria possível
concurso entre calúnia e difamação, sendo possível concurso entre calúnia e injúria e difamação e injúria.
Não há uma corrente predominante, mas em concursos, normalmente, se adota a segunda
corrente.
Sim, é possível continuidade deliti- Se aplica o princípio da consunção, É possível, desde que atinja hon-
va, pois atingem o mesmo bem ju- sendo a conduta menos grave ab- ras diversas (subjetiva e objetiva).
rídico. sorvida.
CALÚNIA
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irre-
corrível.
Sujeito ativo: Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo por
pessoa que desfruta de imunidade, como por exemplo, senadores; deputados federais; deputados esta-
duais; vereadores, nos limites do município que exerce a vereança.
O advogado pratica calúnia no exercício de sua profissão? O art. 7.º, § 2.º do Estatuto da OAB
afirma que a imunidade é apenas para injúria e difamação. Assim, advogado não possui imunidade profis-
sional para o crime de calúnia.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa pode ser vítima de calúnia, mesmo o desonrado. A jurisprudência en-
tende que até a prostituta pode ser vítima de calúnia. O menor de 18 anos e o louco podem ser vítimas
de calúnia? - a primeira corrente afirma que o menor e o louco não praticam crime. Logo, não podem ser
vítimas de calúnia, mas sim de difamação. - a segunda corrente afirma que a lei exige imputação de fato
definido como crime, ou seja, fato típico. Logo, sabendo que o menor e o louco praticam fato típico, po-
dem ser vítimas de calúnia. É a corrente que o STJ adota, ainda que indiretamente. Entende que o menor
podem ser vítima de denunciação caluniosa.
MENOR DE 18 ANOS E O DEFICIENTE MENTAL PODEM SER VÍTIMAS DE CALÚNIA?
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Sim, pois praticam fato típico, embora não pratiquem crimes. Não, pois eles não praticam crimes. Logo, apenas podem ser
Assim, atendem ao requisito legal da imputação de fato defi- vítimas de difamação.
nido como crime.
Pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia? - a primeira corrente afirma que pessoa jurídica não pratica
crime, nem pode ser responsabilizada penalmente. Logo, pessoa jurídica não pode ser vítima de calúnia.
Apesar de não poder ser sujeito passivo do crime de calúnia, pode ser sujeito passivo de difamação. - a
segunda corrente entende que a pessoa jurídica pratica crime ambiental, podendo ser responsabilizada pe-
nalmente. Logo, pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia. - a terceira corrente afirma que pessoa jurídi-
ca não pratica crime, mas pode ser responsabilizada penalmente em caso de infrações ambientais. Logo,
para essa corrente pessoa jurídica não pode ser vítima de calúnia. - a quarta corrente, defendida por Mi-
rabete, entende que pessoa jurídica não pode ser vítima de nenhum crime contra a honra, porque o CP
só protege a honra da pessoa física.
No STJ, prevalece a terceira corrente, não podendo pessoa jurídica ser vítima de calúnia.
O morto pode ser vítima de calúnia? O § 2.º do art. 138 afirma que é punível calúnia contra os
mortos. Logo, ele não é vítima. Basta imaginar que se pudesse ser vítima, ele próprio teria que interpor a
queixa-crime. A vítima á a família do morto, que tem interesse na manutenção de seu bom nome.
Art. 138 (...) § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Não é punível a difamação e a injúria
contra os mortos.
É crime a auto calúnia? É crime de autoacusação falsa, ou seja, a auto-calúnia é crime contra a
administração da justiça e não crime contra a honra.
Autoacusação falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Crime contra a honra do Presidente da República pode configurar crime contra a segurança naci-
onal. Mas deve haver motivação política para que esse crime seja configurado, que é a especializante do
crime.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
A calúnia é punível a título de dolo. O caput pune o dolo direto e o dolo eventual. Já o § 1.º só
pune o dolo direto e não o eventual. Essa conclusão é extraída da expressão “sabendo falsa a imputa-
ção”. Mas nas duas hipóteses, é imprescindível a vontade efetiva de ofender a honra. Algumas conclu-
sões podem ser extraídas:
- não há dolo no animus jocandi, que é a brincadeira, ainda que de mau gosto;
- não há dolo no animus consulendi, que é a intenção de aconselhar.
- não há dolo no caso do animus narrandi, que é a intenção de apenas narrar o fato, próprio de uma tes-
temunha.
- não há dolo no animus corrigendi, que é a intenção de meramente corrigir;
- não há dolo no animus defendendi, que é a intenção de apenas defender o direito.
Admite-se à defesa provar a verdade acerca da imputação? Sim, pois o § 3.º do art. 138 prevê a
exceção da verdade. Assim, a regra é que o querelado pode fazer prova da verdade, por meio da exce-
ção da verdade. Trata-se de incidente processual, forma de defesa indireta, através da qual o acusado de
ter praticado calúnia pretende provar a veracidade do que alegou.
A procedência da exceção da verdade redunda na absolvição do acusado, mas em qual funda-
mento o juiz o absolverá? Se a vítima prova que o fato não é falso, desaparece uma elementar do tipo,
que é a falsidade. Logo, o juiz absolver o acusado por atipicidade da conduta.
Mas há três hipóteses em que a lei NÃO PERMITE ao acusado fazer prova da verdade, a saber:
- se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sen-
tença irrecorrível:
Se a vítima opta por não acionar o estuprador, não compete a quem afirma que a vítima foi estu-
prada, por exemplo, oferecer a queixa-crime, pois o direito é da própria vítima. Estar-se-ia submetendo a
vítima a um constrangimento que ela não quis ter.
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141:
É o caso do Presidente da República do Chefe de Governo estrangeiro. Razões políticas e diplo-
máticas justificam essa ressalva.
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecor-
rível:
Ex: A diz que B roubou C. B foi processado, mas absolvido pelo roubo. B interpõe uma queixa-
crime por calúnia. A não pode tentar provar a ocorrência do roubo. Isso porque B já foi absolvido. Logo,
permitir a exceção da verdade nesse caso seria exumar a coisa julgada. Seria uma espécie de “revisão
criminal pro societate”.
As ressalvas do art. 138, § 3.0 foram recepcionadas pela CF? Há doutrina e jurisprudência mino-
ritárias afirmando que essas ressalvas não foram recepcionadas pela CF porque ofendem o princípio a
garantia da ampla defesa. Se o constituinte garante a defesa sem ressalvas, o legislador ordinário não
poderia restringir as hipóteses de defesa.
Imagine que Collor, na época em que era Presidente, sofreu calúnia de um cidadão. Mesmo es-
tando ele em processo de impeachment, não caberia exceção da verdade? No caso, cabe exceção de
notoriedade, prevista no art. 523 do CPP:
Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato impu-
tado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser in-
quiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em
substituição as primeiras, ou para completar o máximo legal.
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
A pessoa jurídica possui honra objetiva, devendo, portanto, A pessoa jurídica não pode ser responsabilizada por nenhum
ter sua honra respeitada. Logo, pode ser vítima de difama- crime contra a honra, pois o CP só protege a pessoa física.
ção.
Morto pode ser vítima de difamação? Morto não pode ser vítima de crime. Mas é punível a difa-
mação contra os mortos? Não é punível a difamação contra os mortos. Além disso, a previsão legal desse
tema estava na lei de imprensa.
O art. 139 difere do art. 138 porque o fato aqui deve ser desonroso. Logo, aplicam-se as disposi-
ções comuns a ambos.
O art. 138 punia a calúnia por quem caluniava e por quem propagava a calúnia. No caso da difa-
mação, entende a maioria que quem propaga também difama. Essa forma de difamar está implícita no
caput do art. 139. Assim, propalar e divulgar fato desonroso não deixa de ser também uma difamação.
O crime de difamação é punível a título de dolo, sendo imprescindível a vontade de ofender.
Logo, nos casos abaixo não há crime:
- não há dolo no animus jocandi, que é a brincadeira, ainda que de mau gosto;
- não há dolo no animus consulendi, que é a intenção de aconselhar.
- não há dolo no caso do animus narrandi, que é a intenção de apenas narrar o fato, próprio de uma tes-
temunha.
- não há dolo no animus corrigendi, que é a intenção de meramente corrigir;
- não há dolo no animus defendendi, que é a intenção de apenas defender o direito.
O crime de difamação se consuma no momento em que terceiros tomam conhecimento o
crime. Ressalte-se que o crime é formal.
O crime de difamação admite tentativa? Sim, na difamação por escrita, ou seja, no caso de carta
difamatória interceptada pela vítima. O crime de difamação admite a exceção da verdade? Em regra, não,
porque não importa se o fato imputado é verdadeiro ou falso. Mas há um caso que admite. Está previsto
no parágrafo único do art. 139:
Admite-se a exceção se a ofensa é propter oficium (exercício das funções). A procedência da ex-
ceção da verdade no crime de calúnia gera absolvição do acusado, sob o fundamento da atipicidade.
No caso da difamação, a procedência da exceção da verdade também, gera absolvição, mas
sob o fundamento da excludente especial da ilicitude. É uma modalidade especial de exercício regular de
um direito.
Ressalte-se que na difamação também cabe exceção de notoriedade. Não se precisa provar que
o fato é verdadeiro, bastando se provar que o fato é notório.
INJÚRIA
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, ori-
gem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, salvo os detentores de imunidades, lembrando que o advogado
possui essa imunidade, desde que haja o nexo com o seu mister profissional.
É possível a auto injúria? Não existe o delito de auto injúria, salvo quando a expressão ultrapas-
sa a órbita da personalidade do indivíduo. Ex: sou corno. Alguém está passando chifre, então a expres-
são sai da órbita da personalidade própria do indivíduo.
Quem pode ser vítima de injúria? Qualquer pessoa capaz de entender o caráter injurioso da ex-
pressão. Se a pessoa não tiver capacidade de entender o conteúdo da expressão, trata-se de crime
impossível.
Pessoa jurídica não pode ser vítima de injúria, porque não possui honra subjetiva, ou seja, não
possui dignidade, decoro.
Morto pode ser vítima de injúria? Morto não pode ser vítima de crime. Mas é punível injúria con-
tra os mortos? Não é punível no CP.
O art. 140 pune o fato de atribuir qualidade negativa a alguém. O crime é de execução livre, po-
dendo ser praticado por ação ou por omissão.
Exemplo de injúria por omissão: recusar um comprimento com intenção de ofender a dignidade
ou o decoro.
Trata-se daquela em que se utiliza expressão universal É aquela injúria em que o agente se vale de verbete
no sentido de ser ofensiva, ou melhor, aquela expres- ofensivo que em determinadas circunstância possui
são ofensiva por conhecimento geral. capacidade ofensiva, tais como se dá com expressões
regionais.
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Não, pois a vítima teria que processar o réu e, portanto, o Sim, pois a vítima não necessariamente tem necessidade de
conhecimento pela vítima da injúria é inevitável, tendo se ter conhecimento da injúria para que o réu seja processado,
consumado o crime. como se dá na legitimidade extraordinária decorrente do fale-
cimento da vítima.
É possível exceção da verdade no crime de injúria? Não. E exceção de notoriedade? Não, porque o art.
523 do CPP fala em fato imputado, logo se exclui a injúria. A doutrina afirma que a exceção de notorieda-
de é incompatível com a honra subjetiva ofendida.
O § 1.º traz um caso de perdão judicial, próprio da injúria. Preenchidos os requisitos, esse per-
dão é um direito subjetivo do acusado.
Nas duas hipóteses acima transcritas, o injuriado foi quem provocou a injúria. No inciso I a pro-
vocação consiste em qualquer meio que não a injúria. No caso do inciso II a provocação é uma injúria. No
inciso I a provocação pode ser um tapa no rosto, por exemplo. Nesse caso do inciso I o juiz só perdoa a
injúria e não o tapa. No caso do inciso II o juiz perdoa as duas injúrias.
Há previsão geral no CP (arts. 138 a 140), bem como em inúmeras leis extravagantes (que se
referem ao CP), tais como:
a) Lei de Imprensa (Declarada não recepcionada na ADPF 130): O STF disse que a Lei de Im-
prensa, mandando que se aplicassem os tipos previstos no CP. Com isso:
DIFAMAÇÃO (Art. 139, Imputação de fato. Outros fatos. Fato ainda que verda-
CP) deiro.
Se os crimes forem praticados em contextos diferentes, o agente responde pelas diversas infra-
ções penais em concurso material. Se, todavia, praticados num mesmo contexto fático: 1ª corrente: res-
ponde pelos delitos em continuidade delitiva (os crimes não são da mesma espécie); 2ª corrente: aplica-
se o princípio da consunção, sendo os crimes mais leves absorvidos pelos mais graves.
CONCURSO: A viu B (militar) beijando outro militar no quartel? Art. 235, CPM:
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso, homosse-
xual ou não, em lugar sujeito à administração militar: Pena – detenção, de seis meses
a um ano.
Como se trata de crime, A praticou calúnia. Prevalece na doutrina que são crimes de dano (for-
mal), mas dispensa a efetiva ofensa à honra.
É possível concurso de crimes contra honra? Ex: Fulano é ladrão, pois assaltou o BB. 1ª corrente: é
possível concurso de crimes na modalidade continuidade delitiva. 2ª corrente: não há concurso de crimes,
ficando a infração mais leve absorvida pela mais grave. 3ª corrente: é possível concurso de crimes quan-
do a conduta atinge honras diversas (objetiva e subjetiva).
1. CALÚNIA
Art. 138, CP:
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo aqueles que
ostentam imunidades. Ex: senadores, deputados, vereadores (nos limites do município onde exerce suas
funções), etc.
E o advogado tem imunidade? Art. 7º, § 2º, EAOAB: O advogado tem imunidade profissional, não
constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de
sua atividade, em Juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos exces-
sos que cometer.
Não. O STF, em recente decisão, confirmou tal dispositivo.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, mesmo as desonradas.
Menor ou louco podem ser vítima? 1ª corrente: considerando que menor e louco não praticam crimes,
no caso de ofensa serão vítima de difamação. 2ª corrente (Noronha – Majoritária): fato definido como cri-
me não se confunde com praticar crime. Menor e louco praticam fatos definidos como crime, isto é, fato
típico. Logo são potenciais vítimas de calúnia. O STJ, inclusive, admitiu menor como vítima de denuncia-
ção caluniosa.
Pessoa Jurídica pode ser vítima de calúnia? 1ª corrente: pessoa jurídica não pratica crime, nem pode
ser responsabilizada penalmente. Conclusão: não pode ser vítima de calúnia. 2ª corrente: pessoa jurídica
pratica crime ambiental, podendo ser responsabilizada penalmente. Conclusão: pode ser vítima de calú-
nia. 3ª corrente (STJ): pessoa jurídica não pratica crime, mas em se tratando de infração penal contra o
meio ambiente praticada seguindo sua ordem e seu benefício, pode ser responsabilizada penalmente.
Conclusão: não pode ser vítima de calúnia. 4ª corrente (Mirabete): pessoa jurídica não pode ser vítima de
qualquer crime contra honra, pois o CP só protege a honra da pessoa física.
Morto pode ser vítima de calúnia? Não. Na verdade, a vítima são os familiares. Art. 138, § 2º, CP: “§ 2º
É punível a calúnia contra os mortos”.
É possível auto-calúnia? Pode ser crime, mas não de calúnia, mas de administração da Justiça.
Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por ou-
trem:
Pena – detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Crime de execução livre: praticado por ação ou omissão; implícita ou explicitamente; através de
palavras, gestos ou escritos. OBS: imputar falsa contravenção configura difamação.
Haverá calúnia quando o fato imputado jamais ocorreu (falsidade recai sobre fato) ou, quando
real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o seu autor (falsidade recai sobre autoria).
A honra é um bem disponível ou indisponível? Disponível.
O fofoqueiro responde por algo? Sim. Art. 138, § 1º, CP: “§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo fal-
sa a imputação, a propala ou divulga”.
O caput pune quem inventa, o § 1º quem propala.
O Crime é punido a título de dolo. O caput dolo direto e eventual, o § 1º só direto.
É imprescindível a vontade de ofender a honra alheia (dolo de dano). Quem age como animus
jocandi (brincadeira), animus criticandi (crítica), animus consulendi (conselho), animus narrandi (próprio
de uma testemunha), animus corrigendi (correção) ou animus defendendi (espírito de defesa), não há
dolo.
Consumação: quando terceiros tomam conhecimento da calúnia, dispensando a efetiva ofensa a
honra.
Admite tentativa? Sim, quando praticada por escrito. Ex: carta caluniosa interceptada pela pró-
pria vítima, pois a carta se destinava a terceiro com o fim de propagar.
Cuidado: se for através de telegrama ou fonograma, ocorrerá crime, pois outra pessoa já tomou
conhecimento na agência.
Exceções à prova da verdade:
Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade [FINALIDADE: PROVAR A VER-
DADE GERANDO ATIPICIDADE] ou da notoriedade [FINALIDADE: PROVAR QUE O
FATO É PÚBLICO E NOTÓRIO, CRIME IMPOSSÍVEL] do fato imputado, o querelante
poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemu-
nhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às pri-
meiras, ou para completar o máximo legal.
2. DIFAMAÇÃO
Art. 139, CP: Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato [DETERMINADO] ofen-
sivo à sua reputação:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo aquela que desfrutam de imunidade. OBS: a difamação do
advogado deve fazer parte da defesa.
Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Pessoa Jurídica pode ser vítima de difamação? 1ª corrente (Majoritária): tem reputação, logo
pode ser difamada. 2ª corrente (Mirabete): pessoa jurídica não pode ser vítima de qualquer crime contra
honra, pois o CP só protege a honra da pessoa física.
É punível a difamação contra o morto? Não.
A difamação pune quem divulga? A doutrina entende que propalar ou divulgar são formas de difamar
alguém implícitas no caput.
Crime punido a título de dolo, sendo imprescindível a vontade de ofender a reputação.
Consumação: quando terceiros tomam conhecimento da difamação, sendo dispensável o efetivo dano à
reputação, bastando potencialidade.
É possível tentativa? Sim, quando praticada por escrito.
É possível exceção da verdade? Em regra, não. Há apenas 01 hipótese prevista no p. único:
EXCEÇÃO DA VERDADE
Calúnia (Regra) -------------------- Difamação (Exceção) --------------------- Injúria (Não é cabível exceção da
verdade).
3. Injúria
Não existe o delito de auto injúria, salvo quando a expressão ultrapassa a órbita de personalida-
de do indivíduo.
Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz de entender o caráter injurioso da expressão.
Pessoa Jurídica pode ser vítima de injúria? Não, pois não possui decoro, honra subjetiva.
É punível a injúria contra morto? Não.
Crime de execução livre: praticado por ação ou omissão (ignorar um cumprimento); através de
palavras, gestos ou escritos.
Qual crime configura imputar fato indeterminado (genérico, vago, impreciso)? Injúria.
Injúria Absoluta: a expressão tem por si mesma e para qualquer um significado ofensivo constan-
te e unívoco.
Injúria Relativa: a expressão assume caráter ofensivo se proferida em determinadas circunstân-
cias ou condições de forma, lugar, tempo etc.
Admite tentativa? 1ª corrente: não admite, uma vez que quem entraria com a queixa crime seria
a própria vítima, tomando sempre conhecimento do dito injurioso. 2ª corrente: admite. VER AULA
Não se admite exceção da verdade, nem da notoriedade na injúria.
Injúria Real A finalidade não é agredir, mas sim atingir a honra. A agressão é apenas meio para tanto.
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo
meio empregado, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de três meses a um ano,
e multa, além da pena correspondente à violência.
Injúria Preconceituosa
DELEGADO FEDERAL
III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ca-
lúnia, da difamação ou da injúria;
O que significa várias pessoas? 1ª corrente (Bento de Faria): basta 02 ou mais pessoas. 2ª cor-
rente (Majoritária): pelo menos 03 pessoas. Nesse número mínimo não estão incluídos coautores, partíci-
pes ou pessoas que não possuem capacidade para entender a ofensa.
O QUE VEM A SER VÁRIAS PESSOAS PARA FINS DE APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DOS CRIMES CONTRA A
HONRA?
A vítima pode ser computada? Só se for testemunha de outra vítima, que também está sendo
ofendida. A presença da própria vítima não é aproveitada para o número mínimo de testemunhas suas.
Imprensa pode ser meio que facilite.
IV – contra pessoa maior de sessenta anos ou portadora de deficiência, exceto
no caso de injúria.
O idoso igual a 60 anos está excluído. Tal aumento não incide na injúria, pois geraria bis in idem
ou pode configurar uma injúria especial do estatuto do idoso.
É imprescindível o dolo do agente, que deve saber da condição de idoso da vítima.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recom-
pensa, aplica-se a pena em dobro [OFENSA MERCENÁRIA].
Exclusão do Crime
1ª corrente (Damasio - Majoritária): causa especial da exclusão de ilicitude. 2ª corrente (Noronha): causa
de exclusão de punibilidade dos crimes. 3ª corrente (Fragoso): causa de exclusão do dolo. 4ª corrente:
Para os adeptos da tipicidade conglobante constitui fato atípico.
Causa especial de exclusão da ili- Causa de exclusão da punibilida- Causa de exclusão do dolo. Fato atípico.
citude. (majoritária) de.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difama-
ção quem lhe dá publicidade.
Retratação
Não existe a retratação extintiva em ação penal pública, mas apenas em ação penal pri-
vada.
É sempre personalíssima, portanto, incomunicável. Art. 143 – Personalíssima Art. 342, § 2° - Objetiva
(crimes contra a honra) (falso testemunho)
Pedido de Explicação
Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injú-
ria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a
dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa quando, em virtude dos termos
empregados ou do verdadeiro sentido da frase não se mostra evidente a intenção de caluniar, difamar ou
injuriar a vítima.
O pedido de explicações, que é facultativo, não suspende o prazo decadencial. O querelado
esclarece se quiser. Se alguém for forçado a esclarecer, pode se valer de HC. O rito do pedido de explica-
ções só estava previsto na Lei de Imprensa, art. 25. Como esta foi revogada, o rito é o das notificações
judiciais. Porém, do silêncio não pode ser presumida a ofensa irrogada.
Ação Penal
Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do artigo 140, § 2º (injúria real) da violência resulta lesão cor-
poral.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do
inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no
caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Códi-
go. (Red. Lei nº 12.033. de 2009)
1. Súmula 714/STF: 714. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público
em razão do exercício de suas funções [DIREITO DE OPÇÃO]. STF (HC 84659-9/MS): a opção pela via
da representação torna preclusa a queixa.
2. Caso de injúria qualificada ou racial, em que o crime é apurado mediante ação penal de inciativa pública
condicionada a representação do ofendido.
SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO
Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena – reclusão, de um a três anos.
O tempo de privação não influencia na consumação, mas Para que o delito esteja consumado é preciso que a privação
pode pesar no momento da aplicação da pena. da liberdade se dê por tempo juridicamente relevante.
Antes da Lei 11.106/2005: essa qualificadora configurava rapto violento ou rapto consensual.
Com o advento dessa lei, o rapto consensual foi abolido, ou seja, houve abolitio criminis. Já o rapto vio-
lento se transformou em qualificadora do delito de sequestro e cárcere privado. Assim, ao rapto violento
ocorreu o princípio da continuidade normativo-típica, fenômeno que não se confunde com a abolitio crimi-
nis.
A intenção do legislador é não mais considerar o fato A intenção do legislador é manter o caráter criminoso
criminoso. do fato.
Ex: Sedução e adultério que foram revogados, tanto Lei 6.368/76. O que era tráfico nessa lei passou a ser
formal como materialmente. tipificado pela Lei 11.343/06. Teve alterada a forma,
mas a matéria continuou criminosa.
Quem começou a prática antes do advento da Lei 11.106/05, mas termina o crime depois da sua
vigência, aplica-se a súmula 711 do STF, ou seja, sofre os efeitos da última lei, ainda que mais gravosa.
Súmula nº 711 - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-
manente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
E se o seqüestrador sequestrou uma pessoa e a libertou antes da Lei 11.106/05, mas o proces-
so só foi instaurado na vigência da Lei? Nesse caso, verifica-se que o fim do sequestro se deu antes da
vigência da lei penal mais gravosa. Aplica-se a pena velha, pois caso contrário estar-se-ia retroagindo
maleficamente.
Ainda, o processo se inicia mediante denúncia ou queixa? Isso porque antes da lei 11.106/05, o
crime era de ação penal pública; depois, passou a ser de ação pública incondicionada. A primeira corrente
entende que a aplica-se a regra de processo penal, ou seja, tempus regit actum. A lei vigente ao tempo
do ato processual previa que a ação era pública incondicionada. Assim, apesar de o fato ter sido pratica-
do e encerrado antes da lei 11.106/05, o ato processual inaugural ocorre na vigência da lei nova, sendo
esta a norma que deve regrar a inicial. Aplica-se o tempus regit actum, ou seja, terá que ser apresentada
denúncia e não queixa. O professor discorda. Se se disser que é denúncia, o agente que praticou o crime
na vigência da lei anterior, havia decadência, o que não mais ocorre. Quando o crime foi praticado, existia
perdão do ofendido, perempção, o que não mais ocorre. Assim, aplicar a lei nova para esse fato no que
concerne à ação, seria ampliar o direito de punir do Estado, quando na lei antiga havia limitações ao direi-
to de punir do Estado, como a decadência, a perempção ou o perdão do ofendido. - a segunda corrente,
portanto, afirma que a aplicação da lei nova a fatos praticados no passado, retira do caso hipóteses de
extinção da punibilidade (decadência, renúncia, perdão do ofendido e perempção), ampliando o direito de
punir do Estado. Logo, deve ser mantida a queixa.
Caso uma lei considere de ação pública incondicionada crime que até então era considerado de ação privada ela de-
verá incidir imediatamente por ser norma teoricamente procedimental?
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
É possível a convivência das qualificadoras do § 1.º e do § 2.º juntas? Não, aplica-se apenas o §
2.º como qualificadora. O § 1.º serve como circunstância judicial desfavorável.
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a tra-
balhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes
de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violên-
cia.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim
de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos
ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Se esse crime é praticado mediante sequestro, este fica absorvido. Esse pensamento é adotado
inclusive pelos doutrinadores que afirmam que se trata de crime contra a organização do trabalho. Isso é
uma incoerência, pois se tratam de bens jurídicos distintos.
É dispensável ou indispensável maus tratos ao empregado? Eventual sofrimento ou eventuais
maus tratos servirão para o juiz na fixação da pena-base, não sendo indispensáveis, ou seja, o crime não
pressupõe o sofrimento ou os maus tratos.
O consentimento do empregado exclui o crime? No delito de sequestro, estudou-se que a liber-
dade individual é bem disponível. Sabendo que o bem jurídico do crime de condição análoga a de escra-
vo é a liberdade individual, mesmo assim o bem é indisponível. Isso pelo grau de sujeição do agente. Não
se trata de mera restrição ou privação da liberdade individual. Nesse crime, está-se mantendo alguém à
condição análoga de escravo, sendo o grau de submissão deveras elevado.
LIBERDADE INDIVIDUAL
O crime de redução à condição análoga de escravo é punível a título de dolo. Mas só dolo ou
dolo com finalidade especial? No caso do § 1.º há o dolo com a finalidade especial, o que não ocorre com
o caput, onde há apenas o dolo. A finalidade especial é justamente manter o trabalhador no local de tra-
balho.
A consumação desse crime ocorre a partir do momento em que há a escravização de fato. Trata-
se de um crime permanente, ou seja, enquanto perdurar a escravização de fato, o crime se protrai no
tempo.
Assim, sempre que se depararmos com um crime permanente:
- a prescrição só começa a correr depois de cessada a permanência;
- súmula 711 do STF. Se durante a permanência sobrevier lei nova, esta será sempre aplicada, ainda que
mais gravosa;
- o flagrante pode ocorre a qualquer tempo da permanência.
Esse crime admite tentativa? A doutrina afirma que se trata de crime plurisubsistente, logo admi-
te tentativa. Mas é de difícil ocorrência na prática.
O § 2.º é um caso de majorantes, causas de aumento de pena. No caso do idoso, a pena não
aumenta, pois o inciso I não o alberga. O próprio caput do artigo já integra o idoso.
O dolo do agente deve abranger essa circunstância, ou seja, o agente deve saber que se trata
de criança ou adolescente.
No caso do inciso II, deve-se lembrar de que não abrange o preconceito sexual nem econômico.
O art. 149 não deve ser confundido com os arts. 206 e 207:
ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO
Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para territó-
rio estrangeiro. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. (Redação dada
pela Lei nº 8.683, de 1993)
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade
do território nacional:
Pena - detenção de um a três anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de exe-
cução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de
qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno
ao local de origem.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito
anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluí-
do pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
Doutrina Jurisprudência
Não gera a qualificadora, pois a conduta dirigida ao vi- Depende, pois, se for quebrado o vidro para furtar al-
dro afeta diretamente o objeto. gum bem de dentro do veículo a qualificadora incide.
Caso seja o furto do próprio veículo a qualificadora não
deve incidir.
E a ligação direta?
E a ligação direta?
1ª corrente 2ª corrente
Não é necessária a presença de dois executores, incidindo a qualificadora em qualquer hipótese de con -
curso de pessoas, podendo ser, inclusive, um deles inimputável.
Associação criminosa é a associação estável e permanente de três ou mais pessoas com o fim de prati-
car uma série indeterminada de crimes. Consuma-se o delito de quadrilha independentemente da prática dos delitos
para os quais os agentes se associaram. Se porventura tais delitos forem praticados, os agentes deverão responder
por esses crimes e pelo delito de quadrilha em concurso material.
Caso as pessoas sejam pegas já reunidas e praticando o crime de furto respondem pela quadrilha e pelo
concurso? 1ª Corrente: deve-se evitar o bis in idem, escolhendo entre um dos crimes ou furto simples e quadrilha. 2ª
Corrente: trabalha com a ideia de que o crime de quadrilha é autônomo, independente, consumando em período an-
terior ao crime de furto. Por isso pode responder pelo furto qualificado e pelo delito de quadrilha.
Para os tribunais não configura bis in idem a responsabilização por quadrilha e por roubo majorado pelo
emprego de arma. Quadrilha para a prática de crimes hediondos e equiparados é aumenta a pena de 1 a 3 anos
para de 3 a 6 anos de reclusão.
Responder por furto qualificado por concurso e formação de quadrilha não gera bis in idem?
Gera bis in idem. Justamente por isso é que o agente Não gera bis in idem, pois ambos os delitos tutelam
deve responder por furto simples em concurso materi- bens jurídicos distintos. Logo, o agente pode responder
al com o crime de formação de quadrilha. por furto qualificado por concurso e formação de qua-
drilha.
Tipo objetivo:
De troca: são os economicamente apreciável, aplicando o princípio da insignificância
Valor:
De uso: valor sentimental, razão pela qual não se aplica o princípio da insignificância.
Não há falar de aplicação deste princípio ao reincidente. STF e STJ. Uma corrente doutrinária clássica
defende que não se aplica o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública. Para o
STF é possível a aplicação de princípio da insignificância de peculato.
Sim, conforme entendimento dos Tribunais Superiores Não se aplica aos crimes contra a Adm. Pública, uma
quanto ao crimes de peculato. vez que o bem jurídico lesado é de grande expressivi-
dade.
Para o STJ não cabe HC para pedir o reconhecimento do princípio da insignificância em proces-
so suspenso, pois não há risco potencial a liberdade de locomoção. Já para o STF pode, pois o fato de o
acusado ter aceitado a suspensão condicional do processo não impede a impetração de HC buscando o
trancamento do processo em virtude do princípio da insignificância.
Coisa móvel: é tudo que possa ser objeto de deslocamento, podendo ser transportado de um
lugar para outro sem destruição.
Coisa alheia:
res desperdicta: é a coisa perdida. Crime de apropriação de coisa achada, se a pessoa não
sabe quem é o dono. Se sabe furto.
Res nullius: é a coisa sem dono. Não é objeto de furto.
Res derelictae: é a coisa abandonada. Não pode ser objeto de furto.
Sujeito ativo: O tipo não existe qualidade especial do agente, logo pode ser praticado por qualquer pes-
soa. Mas deve-se atentar para o fato de que o crime não pode ser praticado pelo próprio dono da coisa,
porque o tipo fala em “coisa alheia”.
Se houver subtração de coisa própria em poder de terceiro, o proprietário pratica qual crime?
Pode configurar exercício arbitrário das próprias razões, ou do art. 345 ou do art. 346.
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, em-
bora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena corres-
pondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede me-
diante queixa.
Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Se esse crime for praticado por funcionário público, pode-se aplicar o art. 312, § 1.º, desde que
tenha se valido da condição de funcionário.
Assim, no caso do funcionário público, deve-se atentar para o fato de que a subtração tenha sido
facilitada ou não pela qualidade de funcionário. Se se valeu, aplica-se o § 1.º do art. 312. Se não se va-
leu, praticando o crime como qualquer pessoa, há crime de furto comum. Assim caso o funcionário públi-
co se valha da facilidade do cargo ele responde por peculato furto. Caso não se valha, responde como
qualquer pessoa por furto de natureza comum.
É irrelevante qualquer consideração relativa a qualidade do sujeito passivo. Portando, quem furta
de um ladrão responde normalmente pelo delito.
Subtrair condômino, coerdeiro ou sócio, apoderando-se de coisa comum, o crime é o do art. 156
do CP:
Tipo subjetivo A vontade de furtar, associada com a vontade de apropriar-se. Elemento subjetivo espe-
cífico. E o furto de uso? Não é tipificado no Código Penal, mas sim no Código Penal Militar. Para a juris-
prudência pátria, apesar do furto de uso não ser tipificado, responde o agente pelo crime de furto caso a
coisa não seja devolvida no local em que estava e no mesmo estado.
1ª Corrente: A título de princípio da proporcionalidade e da isonomia, não pode o Poder Judiciá-
rio exercer juízo de valor sobre o “quantum” da sanção penal estipulada pelo Legislador, sob pena de vi-
olação ao princípio da separação dos poderes. 2ª Corrente: a doutrina admite, uma vez que para a mes-
ma qualificadora foram adotados critérios diferenciados pelo legislador, reclamando, portanto, sanatória.
Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a
quota a que tem direito o agente.
O furto do art. 156 somente se procede mediante representação, ou seja, é crime de ação penal
pública condicionada.
Sujeito passivo: A vítima é o proprietário, possuidor ou detentor do bem, podendo ser até mesmo uma
pessoa jurídica.
Subtrair é o apoderamento, que pode ser direto (manual) ou indireto (indireto, ex: valendo-se de
animais) de coisa alheia móvel.
O que se entende por coisa? É o objeto economicamente apreciável. E as coisas que tem inte-
resse moral ou sentimental, emocional (diário de adolescentes, por exemplo)? A doutrina moderna afirma
que coisas sem valor econômico, mas de relevante interesse sentimental ou moral, podem ser objeto ma-
terial do crime de furto. Essa posição começou a ser defendida ainda por Hungria.
Homem, ser humano vivo, é coisa? O homem vivo não poder ser objeto material de furto. Pode
ser objeto material de sequestro, cárcere privado etc., mas não de furto. No caso do cadáver, em regra,
não, salvo se o cadáver estiver destacado para uma finalidade específica de interesse econômico, como
servindo a alunos de medicina na faculdade, por exemplo.
Sabendo que deve ser a coisa alheia, coisa de ninguém pode ser objeto material de furto? Não,
pois não tem detentor, proprietário ou possuidor.
E a coisa abandonada, pode ser objeto material do furto? Coisa abandonada já teve proprietário,
não mais sendo. Como não é alheia, não pode ser objeto material do furto.
E a coisa perdida? Não deixou de ser alheia. Mas apesar de ser alheia, não há subtração, mas
sim apropriação. Logo, é crime de apropriação indébita de coisa achada, art. 169, parágrafo único, inciso
II e não crime de furto.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria , total ou parcialmente, deixan-
do de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade compe-
tente, dentro no prazo de quinze dias.
Violação de sepultura
Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
- a segunda corrente entende que se a intenção do agente é subtrair e não profanar ou vilipendiar cadá-
ver, o crime é de furto. É a corrente dominante.
O crime de furto é punido a título de dolo. Mas deve ser o dolo acrescido da finalidade especial
de apoderamento definitivo. Se o agente age com animus de uso não há crime. É por isso que furto de
uso é atípico. Não há o dolo exigido pelo tipo. O furto de uso possui os seguintes requisitos:
- intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa;
- coisa não consumível pelo uso;
- restituição imediata e integral à vítima.
Se for furtado um veículo e este é entregue, mas com o tanque de combustível vazio? Nesse
caso, há doutrina e jurisprudência entendendo que há furto porque a coisa não foi devolvida integralmen-
te. Mas deve-se olhar a coisa principal, que é o carro. Assim, apesar de haver corrente negando o furto
de uso quando o veículo é restituído com o tanque vazio, hoje vem prevalecendo que o desfalque patri-
monial deve atingir a coisa principal e não o mero acessório.
Furto famélico é crime? Furto famélico é igual a estado de necessidade, desde que:
- que o fato seja praticado para mitigar a fome;
- que seja o único e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento le-
sivo);
- que haja a subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência (deve-se
subtrair comida e não outro bem, que será vendido para se comprar a comida);
- a insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente ou impossibilidade de trabalho.
Pode o empregado que recebe salário praticar furto famélico? Sim, desde que seus re-
cursos sejam insuficientes. Ex: pai de família que ganha um salário mínimo e tem que sustentar mulher e
cinco filhos.
Quem furta caminhão de comida e dá à comunidade, pode alegar estado de necessida-
de de terceiros, em tese, mas desde que sejam observados todos os requisitos acima elencados.
Furto de remédio não é furto famélico, mas também pode caracterizar estado de neces-
sidade.
a) contrectatio: a consumação ocorre pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia, dispensando
o seu deslocamento.
b) amotio ou aprerrensio: dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do agente,
independentemente de deslocamento ou posse mansa e pacífica.
c) ablatio: a consumação ocorre quando o agente, depois de apoderar-se da coisa, consegue deslocá-la
de um lugar para outro. Ainda que a entrada na posse do agente seja por curto espaço de tempo.
d) ilatio: a coisa deve ser transportada pelo agente, mantendo-se a posse mansa e pacífica.
O STF e o STJ adotam a teoria da amotio, ou seja, a coisa subtraída deve passar para o poder
do agente, independentemente de deslocamento ou possa mansa e pacífica. Com base nessa teoria,
pode-se condenar a empregada que subtrai as joias da patroa e as esconde no sofá. Mesmo que não
consiga tirar as joias da casa, há a consumação do crime de furto.
Crime de furto e tentativa: Plenamente possível a tentativa, já que se trata de crime plurissubsistente.
Casos específicos:
a) batedor de carteira que coloca a mão no bolso da vítima, que não traz nada consigo. Nesse caso,
para Hungria, trata-se de tentativa. Já Cezar Roberto Bittencourt diferencia duas situações:
- se a vítima trazia algo em outro bolso, trata-se de tentativa; se não trazia nada em qualquer dos bolsos,
trata-se de crime impossível.
b) vigilância eletrônica em estabelecimento comercial torna o crime impossível? Prevalece que a vigilân-
cia constante (eletrônica ou não) em estabelecimentos comerciais, não torna, por si só, o crime impos-
sível, devendo ser analisado o caso concreto. O juiz deve analisar a absoluta ou relativa ineficácia do
meio. Se absoluta, crime impossível; se relativa, tentativa. Em regra, no uso de dispositivos de segu-
rança a medida é relativa.
c) Se o agente é surpreendido no interior de um supermercado ocultando-se objeto trata-se de atos pre-
paratórios enquanto não passe pelo caixa.
d) Quando houver a destruição ou perda do bem subtraído o delito estará consumado.
e) Se a vítima não traz nenhum objeto em seu poder, trata-se de crime impossível por absoluta impropri-
edade do objeto. Se o agente enfia a mão no bolso errado do agente trata-se de circunstância aciden-
tal, respondendo então por tentativa de furto.
A
violência
é dirigida
contra a
pessoa,
logo é
roubo
Subtração por arrebatamento e a trombada
Caso o agente adira à conduta do O agente não ajuda o autor, mas Responde o agente se sua conduta
autor antes da sua realização, ele é age em proveito próprio ou de ter- aderir à conduta do autor após a
partícipe de furto. ceiro, que pode ser qualquer pes- subtração.
soa menos o que furtou.
Venda fraudulenta da coisa subtraída: para a jurisprudência é absorvida pelo delito de furto, sendo
considerado mero exaurimento do delito (Princípio da consunção).
1ª corrente (Cezar Roberto Bittencourt) 2ª corrente (Nelson Hungria) 3ª corrente STF e Magalhães Noronha)
Além de dever ser habitada, a residên- Se os moradores estiverem acordados Entendem que o furto deve ser contra
cia deve estar com os seus moradores imóvel pouco importando se habitado
repousando. a majorante na incide. ou não.
Prevalece que não, pois a posição topográfica do § 1.º do art. 155 restringe o aumento ao caput.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Trata-se do furto privilegiado, que é causa especial de diminuição de pena. Também é chamado
de furto mínimo.
O furto privilegiado é um direito subjetivo do acusado e não uma faculdade do juiz, desde que
preenchidos os seus requisitos.
Requisitos do furto privilegiado:
- primariedade do criminoso: é requisito de ordem subjetiva. Para que seja o réu primário basta que não
seja reincidente. Essa questão é pacífica no STF. Pode, pois, o agente ter várias condenações no passa-
do; se não for reincidente será primário.
- pequeno valor da coisa furtada: requisito de ordem objetiva. Há um teto específico para ser a coisa de
pequeno valor? Sim, até um salário mínimo. Mister que se afirme que esses dois requisitos são cumulati-
vos, ou seja, faltando um deles não há que se falar no privilégio. Já que existe furto privilegiado, é possí-
vel se aplicar o princípio da insignificância diante do privilégio? Prevalece o entendimento que pode a in-
significância ser aplicada, pois incide sobre a tipicidade. Logo, a insignificância e o privilégio coexistem. O
privilégio diminui a pena e a insignificância exclui a tipicidade.
Decidiu o STJ que o privilégio não se confunde com a insignificância. Para a aplicação do princí-
pio da insignificância, é imprescindível a ínfima lesão ao bem jurídico tutelado, não se confundido com pe-
queno valor, lesivo ao bem jurídico (ainda que pequeno o valor, é lesivo ao bem jurídico). Essa decisão do
STJ é de 12/05/2009.
É possível furto privilegiado se qualificado?
- a primeira corrente entende que não é possível privilegiar a forma qualificada. A posição topográfica do §
2.º do art. 155 demonstra ser aplicável somente às formas anteriores, não alcançando a qualificadora
(posterior). A gravidade da qualificadora é incompatível com as benesses do privilégio.
- a segunda corrente afirma que, assim como se admite a figura do homicídio qualificado privilegiado, é
possível também o furto qualificado privilegiado.
O STF e o STJ (HC 96140) adotava a primeira corrente. A segunda turma da corte passou a ado-
tar a segunda corrente (HC 96.843, de abril de 2009).
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Trata-se de uma cláusula de equiparação. A energia genética, mecânica, térmica e radioatividade
também podem ser inseridas nesse § 3.º.
Energia genética é o sêmen de um animal, por exemplo.
Ex: Dois vizinhos tinham cachorros da mesma raça sendo que um era macho e a outra fêmea. O
dono do macho não quis cruzar os animais porque o sêmen era muito valioso. O dono da cadela,
à noite, faz com que a cadela entre na casa do vizinho e cruze com o cachorro. O sêmen do ca-
chorro foi subtraído, logo, houve furto de energia genética. Inclusive, no caso o furto foi qualifica-
do, tendo em vista que a cadela rompeu obstáculo para entrar na casa onde estava o macho.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Abuso de confiança: Pode o criminoso captar propositadamente a confiança da vítima, também, valer-
se da confiança já existente. Trata-se de confiança familiar, de trabalho, de amizade etc. Para incidir essa
qualificadora, não basta ter a confiança, sendo imprescindível que haja facilidades na execução em razão
da confiança que o agente desfruta. Essa questão é pacífica na jurisprudência.
OBS: A mera relação de emprego não induz à qualificadora abuso de confiança, sendo impres-
cindível o especial vínculo de lealdade ou fidelidade entre a vítima e o agente.
Qual a diferença do crime de apropriação indébita para o furto qualificado com abuso de confian-
ça?
O agente não tem a posse, mas mero contato com a coisa. O agente exerce a posse em nome de outrem.
Mediante fraude: Existe uma região nebulosa entre furto mediante fraude e estelionato.
O agente emprega a fraude para facilitar a subtração da coi- O agente emprega a fraude, mas para fazer com que a víti-
sa. ma lhe entregue a coisa espontaneamente.
A fraude serve para retirar a vigilância da vítima sobre a coi- A vítima enganada entrega a posse desvigiada.
sa, facilitando a subtração.
A coisa sai da vítima e vai para o agente de forma unilateral. A coisa sai da vítima e vai para o agente de forma bilateral.
Questões práticas:
Dois homens, trajados como funcionários da Telemar foram à casa de uma senhora e disseram
que o telefone estava com problema. Enquanto um mostrava o pseudo problema, o outro leva os objetos
da casa. Nesse caso, houve emprego de fraude, servindo esta para retirar a vigilância da vítima sobre as
coisas. Logo, houve furto mediante fraude.
Sujeito sai da boate e passa no guarda-volumes e requer bolsa que não a sua. A bolsa sai do
agente de forma bilateral, logo houve engano da pessoa que entregou a coisa, havendo estelionato.
Agente vai a mercantil, esvazia garrafa de água, colocando vinho branco caríssimo. Para a água,
mas sai levando o vinho. Nesse caso, há furto qualificado mediante fraude. A mulher do caixa pensou que
estava entregando água. Logo, a coisa não saiu da vítima de forma bilateral, mas sim unilateral.
Falso test-drive é furto mediante fraude ou estelionato? A coisa saiu da vítima para o agente de
forma bilateral, mas a coisa era vigiada e não desvigiada. Logo, prevalece que se trata de furto mediante
fraude. Há jurisprudência afirmando que se trata de estelionato. Quem afirma que é estelionato, esquece
que a posse é vigiada. Ora, se não há posse desvigiada não há que se falar em estelionato.
Jovem que vai na loja, experimenta roupas e sai com elas, servindo como disfarce o casaco.
Trata-se de furto mediante fraude, porque a posse das roupas era vigiada.
Auxiliar vítima no caixa eletrônico e trocar o cartão Magnético. Trata-se de furto mediante fraude,
tendo em vista que a coisa sai da vítima para o agente de forma unilateral, além de ser a posse vigiada.
Destreza:
É a peculiar habilidade física ou manual permitindo ao agente praticar o crime sem que a vítima
perceba que esteja sendo despojada de seus bens. Para existir a qualificadora, a pessoa deve trazer a
coisa junto ao seu corpo. Essa exigência é pacífica na jurisprudência. É o famoso furto do “batedor de
carteira”.
Se terceiros percebem que o batedor está retirando a carteira da vítima, ainda assim incide a
qualificadora da destreza? Sim, pois basta que a vítima não perceba para gerar essa qualificadora.
Emprego de chave falsa: Chave é todo instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a
abrir fechaduras. Ex: chave micha, arame, grampo, gazua etc.
A chave verdadeira obtida fraudulentamente configura chave falsa? Noronha entende que chave
verdadeira obtida fraudulentamente é chave falsa. É uma corrente minoritária. OBS: prevalece que liga-
ção direta não é chave falsa. Mas há jurisprudência em sentido contrário. OBS: quando se fala em chave,
a interpretação deve ser progressiva, porque a maioria dos veículos modernos são abertos por dispositivo
magnético. Quem conseguir fraudar esse dispositivo incide na qualificadora.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Para incidir essa qualificadora, é indispensável que o veículo ultrapasse os limites de um Estado
ou do nosso País. Tem, pois, como essa qualificadora ser tentada? Não, tendo em vista que o furto já es-
tava consumado. Caso a polícia prenda o carro na fronteira, o juiz deve considerar essa circunstância na
fixação da pena base.
Damásio afirma que se o veículo foi furtado e se o autor está partindo para outro Estado, ao cru-
zar a fronteira e ser pêgo, há a tentativa de furto. Mas essa corrente peca porque desconsidera a teoria
da amotio quanto ao momento da consumação do crime, que é a teoria adotada pelo STF e STJ.
Maximiliano Furer afirma que não estaria incluso o DF, tendo em vista que o DF não é Estado. É
um posicionamento isolado, porque nem a CF diferencia Estado do DF. O legislador penal utilizou Estado
unidade da Federação.
A e B subtraem um veículo. C transporta o veículo para outro Estado. A e B praticam crime de
furto qualificado pelo § 5.º. Se C estava mancomunado com A e B responde também pelo art. 155, §
5.º do CP. Mas se C não estava agindo em concurso com A e B, responde por receptação se tinha conhe-
cimento da origem ilícita do veículo.
Se C, conhecendo a origem ilícita, age para assegurar o crime dos demais agentes, responde
por favorecimento real (art. 349).
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime:MPena - detenção, de um a seis me-
ses, e multa.
ROUBO
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave amea-
ça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impos-
sibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega vio-
lência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou
a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal cir-
cunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Inc. Lei
nº 9.426, de 1996)
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a
quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos,
sem prejuízo da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90
Bem jurídico tutelado: Patrimônio e liberdade individual da vítima, logo é crime complexo, for-
mado da fusão de dois ou mais tipos penais com dois ou mais bens jurídicos tutelados.
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa, salvo o próprio proprietário da coisa. Se o proprietário
roubar coisa sua em poder de terceiro caracteriza o crime de exercício arbitrário das próprias razões. As-
sim, não existe roubo de coisa própria. No caso de exercício arbitrário das próprias razões, o crime é de
ação incondicionada, por conta da violência ou grave ameaça.
Sujeito passivo: É o proprietário, possuidor ou detentor da coisa, bem como a pessoa contra
quem se dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial. Isso justamente
porque o crime de roubo é um crime complexo.
Ex: posto de gasolina é vítima de roubo, mediante grave ameaça ao frentista. A vítima é tanto o
posto de gasolina (pessoa jurídica, representada pelo sócio-gerente ou quem lhe faça as vezes) e o fren-
tista. Este não entra no rol de testemunhas. Assim, se já se tem oito testemunhas e o frentista é arrolado,
assim o é como vítima.
Conduta: Devem ser especificadas duas espécies de roubo simples, a do caput (roubo próprio)
e a do § 1.º (roubo impróprio):
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave amea-
ça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impos-
sibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
No roubo simples impróprio, primeiro há a subtração, para, depois, empregar a violência ou gra-
ve ameaça, visando assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa.
No roubo próprio, a violência pode ser imprópria. Já no roubo impróprio não há violência impró-
pria. O roubo impróprio pressupõe o prévio apoderamento da coisa. A doutrina afirma que o roubo impró-
prio é um furto que se transforma em roubo pelas circunstâncias. Ex: agente que subtrai a televisão e
quando está saindo da casa chega o dono, o qual é agredido pelo agente do crime.
Suponha que o agente, para roubar a televisão, coloca arma na cabeça do dono da casa. Há
roubo próprio. Mas se o agente, quando ia roubar a televisão, aparece o dono; o agente agride o dono da
casa e foge. Nesse caso, há furto tentado mais crime contra a pessoa (lesão corporal ou homicídio), em
concurso material. Não há roubo impróprio porque o agente não havia se apoderado da coisa previamen-
te.
A expressão “logo depois de subtrair a coisa”: a interpretação que se dá é que a violência ou a
grave ameaça só é admissível somente até a consumação do furto. A violência ou a grave ameaça só in-
cide até a consumação do furto; ocorrendo posteriormente, trata-se de crime autônomo.
A jurisprudência é pacífica no sentido de não admitir a incidência do princípio da insignificância
no roubo, nem próprio nem impróprio.
Ainda, a jurisprudência não admite se emprestar o privilégio do furto, ou seja, se o agente é pri-
mário e a coisa de pequeno valor, mesmo assim não se empresta o privilégio do furto.
O crime de roubo só é punível a crime de dolo.
No roubo próprio, há um dolo acrescido de finalidade especial: “para si ou para outrem”. No caso
do roubo impróprio, o dolo é o seguinte: “subtrair a coisa a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa”.
Roubo de uso é crime? O roubo é formado pelo furto mais o crime de constrangimento ilegal. -
para a primeira corrente é crime, previsto no art. 157 do CP. É a posição do STF e STJ. - a segunda cor-
rente afirma que é crime de constrangimento ilegal. É a posição de Rogério Grecco. Nesse caso, o fato
não seria atípico. Sabendo que o roubo é um crime complexo formado de furto e constrangimento ilegal,
o roubo de uso faz desaparecer o furto e a pessoa é punida por constrangimento ilegal. Logo, para a mi-
noria, roubo de uso é constrangimento ilegal. É a tese a ser defendida em concursos para a Defensoria
Pública.
O roubo (furto + constrangimento ilegal) de uso é crime?
É crime. É apenas constrangimento ilegal, pois o furto (parte integrante do crime complexo de roubo) não
ocorreu.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave amea-
ça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impos-
sibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Consumação no roubo impróprio: A consumação ocorre com o emprego da violência ou grave ameaça.
Também é a posição do STF e STJ, não havendo discrepância na doutrina.
Momento da consuma- Apoderamento violento da coisa (teoria da Dá-se com o emprego de violência ou grave
ção? amotio) ameaça
O roubo impróprio admite tentativa? - a primeira corrente entende que não admite tentativa, pois ou a vio-
lência é empregada, e tem-se a consumação, ou não é empregada, e o que se tem é um crime de furto. É
a corrente majoritária entre os doutrinadores clássicos, como Marques, Noronha, Hungria, dentre outros. -
a doutrina moderna entende que admite tentativa, como na hipótese em que o agente, após apoderar-se
do bem, tenta empregar violência ou grave ameaça, mas é contido. É a corrente adota por Mirabete, Nuc-
ci, Bittencourt, dentre outros.
Art. 157 (...) § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa,
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
ROUBO EXTORSÃO
No delito de roubo o mal é iminente e a vantagem contempo- No crime de extorsão o mal prometido e a vantagem a que
rânea. se visa são futuros.
Prescindibilidade do comportamento da vítima, pois no roubo O agente precisa do comportamento da vítima, o crime seria
ele não é necessário. o de extorsão.
Esse dispositivo não traz qualificadoras, mas sim causas de aumento de pena. Logo, tecnica-
mente não há que se falar em roubo qualificado, mas sim em roubo majorado.
Para incidir a majorante do emprego de arma, é imprescindível o emprego efetivo da arma no roubo, ou
basta o porte ostensivo, de modo a ameaçar a vítima? - a primeira corrente afirma que para incidir o au-
mento é imprescindível o efetivo emprego da arma na subtração violenta. Não basta o porte ostensivo.
Corrente adotada por Bittencourt. - a segunda corrente entende que para incidir o aumento basta o porte
ostensivo. É a posição de Luiz Régis Prado.
Para incidir a majorante do emprego de arma, é imprescindível o emprego efetivo da arma no roubo, ou basta o porte osten -
sivo, de modo a ameaçar a vítima?
É imprescindível o emprego da arma na subtração violenta. Basta o porte ostensivo da arma de modo a intimidar a víti-
ma.
A jurisprudência está dividida quanto a esse assunto, mas há uma leve tendência para a segun-
da corrente.
O que é arma? Essa expressão gera indisfarçável controversa. Pedaço de madeira com prego é
arma? Gargalo de garrafa é arma? - a expressão arma, para alguns autores, deve ser tomada no seu
sentido próprio. Quando isso ocorre, estamos abrangendo apenas instrumento fabricado com finalidade
bélica. Ex: revólver. A expressão arma é usada no sentido restrito. É a corrente que deve ser utilizada nos
concursos da Defensoria Pública. - a segunda corrente adota a expressão no sentido impróprio, abran-
gendo todo instrumento com ou sem finalidade bélica, porém capaz de servir ao ataque ou defesa. Para a
segunda corrente, uma faca de cozinha, por exemplo, é arma. A expressão arma é usada no sentido am-
plo. É a corrente que prevalece na doutrina e na jurisprudência.
O que é arma?
Dever ser tomada em seu sentido próprio Adota a expressão em seu sentido impróprio, ou seja, qualquer instrumento
(bélico) com ou sem finalidade bélica, desde que sirva ao ataque ou à defesa.
Para incidir o aumento, a arma deve ser apreendida e periciada? Prevalece o entendimento que
não, bastando a prova que a arma foi utilizada no crime. Mas há Ministros do STF que pensam de forma
contrária.
Arma de brinquedo (simulacro de arma de fogo): Até 2002, a resposta era que gerava o aumen-
to, por conta da súmula 174 do STJ:
Súmula: 174. No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento da pena. (Cancelada)
A súmula 174 foi cancelada em 24/10/2001. Assim, a arma de brinquedo gera roubo, porém não
mais majorado.
Quais os argumentos que fundamentaram o cancelamento? - a súmula 174 ofendia os princípios
da lesividade ou da ofensividade, uma vez que o risco era presumido. - arma de brinquedo não cria o ris-
co proibido, ou seja, o risco advindo de uma arma de brinquedo não desencadeia o resultado que se bus-
ca impedir, ou seja, há a aplicação da teoria da imputação objetiva. Assim, a arma de brinquedo gera o
risco, mas este é incapaz de causar o resultado que se busca evitar com aumento de pena.
Arma verdadeira desmuniciada ou inapta para disparos gera o aumento de pena? Essa arma
gera o mesmo risco de uma arma de brinquedo. O cancelamento da súmula 174 fortaleceu a doutrina que
dizia que arma verdadeira ou inapta não gera aumento. Mas o STF decidiu já em 2009 que arma verda-
deira desmuniciada ou inapta é suficiente para gerar o aumento. O professor entende que é uma contra-
dição da corte.
É possível a denúncia por associação criminosa armada mais roubo com emprego de arma? - a
primeira corrente entende que não é possível, pois nesse caso haveria um bis in idem. Corrente adotada
por Nucci. Defensível em concursos da Defensoria. - é possível, pois não configura bis in idem. Isso por-
que se têm bens jurídicos diversos. Além disso, se tratam de crimes independentes. Por fim, na quadrilha,
pune-se o fato de ela ser armada. Já no roubo o que é punido o emprego de arma, que são duas coisas
distintas, portanto, não geram bis in idem. A segunda corrente é adotada pelo STF, mas essa questão ain-
da não foi analisada pela nova composição da corte.
É possível a denúncia por quadrilha ou bando armada mais roubo com emprego de arma?
Não, pois geraria bis in idem. Sim, pois são delitos relacionados a bens jurídicos distintos (STF)
É necessária a apreensão da arma? Arma branca: admite-se que a prova testemunhal supra a
ausência do exame direto (exame de corpo de delito indireto). Arma de fogo: posição do STF não é ne-
cessária a apreensão e realização de perícia na arma de fogo, desde que por outros meios de prova reste
demonstrado o seu potencial lesivo. Já o STJ entende que é indispensável a apreensão da arma de fogo
para que possa incidir a majorante. Nos casos em que não há a apreensão, mas a vítima e demais teste-
munhas afirmam de forma coerente que houve disparo com a arma de fogo, não é necessária a apreen-
são para constatar-se que a arma possuía potencialidade lesiva.
Não é necessária a apreensão, podendo a sua compro- É indispensável a apreensão da arma para aferir se incide ou
vação se dar por meio de exame de corpo de delito indi- não a majorante, pois é necessária a constatação da capacidade
reto. lesiva.
Não, pois geraria bis in idem. Sim, pois são delitos relacionados a bens jurídicos distintos (STF)
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior;
Essa matéria foi vista na aula 14.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº
9.426, de 1996)
Havia doutrina que colocava o sequestro relâmpago nesse inciso. O agente, para subtrair ou ga-
rantir o sucesso empreitada, restringe a liberdade de locomoção da vítima. Não se deve confundir o art.
157, § 2.º, V com o art. 157 c/c 148.
No roubo (art. 157, § 2.º, V ), a privação ocorre por tempo suficiente para garantir a ação do
agente, ou seja, é uma privação necessária. Ex: A coloca arma em B, saindo com seu veículo, deixando-o
em rodovia e largando-o em seguida.
Já no roubo em concurso com o sequestro (art. 157 c/c 148.), a privação ocorre por tempo des-
necessário para a ação do agente. Esse crime continua vigente mesmo com o advento do novo sequestro
relâmpago. Ex: A coloca arma em B, subtrai seu carro, levando-o no porta-malas. Nesse tempo, pratica
inúmeros roubos com o motorista preso no porta-malas.
A privação do agente se dá apenas pelo tem suficiente para A privação do agente se dá por tempo superior ao necessá-
a execução do crime. rio para a execução do crime.
O § 2.º do art. 157 diz que a pena deve ser aumentada de um terço até a metade. O juiz de se
basear em que para fixar o aumento? O STF decidiu que quanto mais circunstâncias majorantes, mais
próximos da metade. Assim, como há cinco circunstâncias, quanto mais houver, mais se aproxima da me-
tade. O STJ entende de forma diversa. Exige a imprescindibilidade do aumento, que não decorre neces-
sariamente da quantidade de circunstâncias.
Qual é o critério utilizado pelo juiz para variar o aumento de 1/3 até a 1/2?
Quanto mais próximo das 05 qualificadoras a pena mais Estipula que o aumento deve se dar conforme o livre convenci-
deve se aproximar da metade estipulada como limite máxi- mento motivado do magistrado,
mo do aumento.
Roubo qualificado:
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a
quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem
prejuízo da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de
25.7.90
Diferentemente do § 2.º, aqui há a incidência de qualificadora.
Há duas partes nesse dispositivo. Somente a segunda parte é chamada de latrocínio, sendo
apenas este considerado como crime hediondo - se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos,
sem prejuízo da multa.
Ainda, os resultados qualificadores (lesão grave e morte) podem advir de dolo ou culpa. Assim,
pode haver latrocínio doloso e latrocínio preterdoloso, sendo os dois considerados hediondos. A lei afirma
que “se da violência resulta”. Assim, não incide o § 3.º se a morte decorre da grave ameaça.
Para que haja qualificadora, é imprescindível que a violência seja empregada durante o as-
salto (fator tempo) e em razão dele (fator nexo). Faltando um desses fatores, não há que se falar nessa
qualificadora. Ex: A assaltou banco há duas semanas. É reconhecido pelo gerente e o mata. A morte foi
em razão do assalto, mas não durante ele. Nesse caso, responderá A não por latrocínio, mas sim por ho-
micídio e roubo. OBS: o coautor que participa do roubo armado responde pelo latrocínio, ainda que o dis-
paro tenha sido efetuado apenas pelo comparsa. Também é desnecessário saber qual dos coautores des-
feriu o tiro, respondendo todos pelo fato. É a posição do STF.
Assaltante que mata outro para ficar com o produto do crime, pratica qual delito? Responde por
roubo mais homicídio qualificado pela torpeza, não se caracterizando latrocínio.
Morte acidental de assaltante. Ex: assaltante mira a vítima, mas por erro na execução mata com-
parsa. Nesse caso, aplica-se o art. 73 do CP, respondendo por latrocínio. É caso de aberratio ictus.
No roubo qualificado, tem-se violência, com lesão grave ou morte, para subtrair. O fim, portanto,
é o patrimônio e não a vida. O meio é retirar a vida do agente. Por conta disso, latrocínio não vai a júri, já
que é crime contra o patrimônio qualificado pela morte. É o que reza a súmula 60 do STF:
Mas se a intenção do agente é matar o agente e, depois da morte, ele resolve subtrair o seu pa-
trimônio? Nesse caso, há homicídio seguido de furto.
Consumação do latrocínio: O latrocínio é formado pela subtração mais a morte. Suponha que
o agente conseguiu levar o veículo, dando o tiro, mas não o mata por circunstâncias alheias à sua vonta-
de. Nesse caso, há latrocínio tentado.
Mas atente para a súmula 610: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consu-
ma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.
O resultado final do latrocínio é sempre a vida e não o patrimônio. Se a vítima morreu, o latrocí-
nio é consumado, ainda que a subtração seja tentada.
Nos concursos da Defensoria, não se utiliza a súmula 610 do STF. Ela deve ser criticada com
veemência. Rogério Greco afirma que o latrocínio é a subtração mais morte, que são elementos do tipo.
O art. 14, I do CP diz o seguinte:
Tem-se um carro com um passageiro e com o motorista. Para levar o carro, mata-se o passageiro e o motorista. Quantos cri-
mes de latrocínio cometeu o agente?
Se se tem um latrocínio, este pode ser majorado pelo emprego de arma, concurso de agentes,
transporte de valores ou qualquer outra majorante do § 2.º do art. 155? As majorantes do § 2.º só se apli-
cam ao caput e ao § 1.º, não se estendendo ao § 3.º. Isso não impede o juiz de considerar essas majo-
rantes na fixação da pena base.
EXTORSÃO
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo
anterior. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Bem jurídico tutelado: O art. 158 é o constrangimento ilegal como meio e violação patrimonial
como fim. A diferença do art. 158 para o art. 146 é exatamente a finalidade especial, que é a lesão patri-
monial. A extorsão é, pois, um constrangimento ilegal com finalidade de lesão patrimonial.
Logo, há dois bens jurídicos tutelados: incolumidade pessoal da vítima (art. 146) e o patrimônio.
Um bem jurídico é lesado pelo crime meio e o outro é lesado pelo crime fim.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, tendo em vista que se trata de crime comum. OBS: se o sujeito
ativo for funcionário público, poderá haver o delito de concussão.
Sujeito passivo: A vítima no delito de extorsão é aquele que suporta diretamente a violência ou
a grave ameaça e que pode ser, eventualmente, pessoa diversa do titular do bem atacado (também víti-
ma). Nem sempre a vítima da lesão patrimonial coincide com a vítima da grave ameaça.
A conduta típica consiste em constranger com violência e com grave ameaça e com o fim de en-
riquecimento ilícito. A violência pode ser a física ou a moral. Esse crime não se confunde com o roubo,
onde o crime é subtrair mais violência física ou moral, com o fim de enriquecimento ilícito.
Roubo Extorsão
Assim, se alguém coloca arma na cabeça do outro e diz “passa a carteira”, é crime de roubo,
tendo em vista que a busca da vantagem é imediata, bem como nesse caso não era necessária a colabo-
ração da vítima, porque diferença não faz se o assaltante coloca a arma e recebe a carteira ou coloca a
arma e pega a carteira do bolso. Mas há jurisprudência que ignora a terceira característica.
O fato de desses dois crimes não se coincidirem não impede o concurso de delitos. Ex: A subtrai
carro de B e pede o cartão com a senha do banco. Nesse caso, há o roubo do carro e a extorsão pelo
cartão. Mas há jurisprudência no sentido de que um crime absorve o outro, tendo em vista que o bem ju -
rídico tutelado é o mesmo. É a tese que deve ser usadas na Defensoria.
O crime de extorsão é punido a título de dolo, mas com finalidade especial, que é a indevida van-
tagem econômica.
Se a vantagem buscada com o constrangimento é devida, não há extorsão, mas sim exercício
arbitrário das próprias razões.
Se a vantagem visada não é econômica, mas sim moral, o crime é o de constrangimento ilegal.
Se a finalidade é sexual, haverá estupro.
O crime de extorsão é material, formal ou de mera conduta? - a primeira corrente entende que se
trata de crime material, sendo imprescindível a obtenção da indevida vantagem econômica. - trata-se de
crime formal, dispensando a obtenção da indevida vantagem econômica (se houver a indevida vantagem
econômica, será mero exaurimento do crime). É a corrente que prevalece. Inclusive, é o que reza a súmu-
la 96 do STJ:
É crime material, pois imprescindível a obtenção da indevi- É crime formal, pois a obtenção da vantagem econômica cons-
da vantagem econômica. titui exaurimento (Súmula 96 STJ).
Se o crime é formal, se consuma com o constrangimento, começando a correr o prazo prescrici-
onal, pouco importando quando se consuma o enriquecimento indevido. Ainda, essa questão se assoma
importante por conta da possibilidade da lavratura do flagrante.
No concurso da DPU, o crime foi tido como de mera conduta. Por conta disso, a jurisprudência já
vem adotando o entendimento de que essas questões podem ser anuladas pelo judiciário.
Tentativa: O crime de extorsão admite tentativa, uma vez que é formal, ou seja, a execução
pode ser fracionada em vários atos. Ex: carta extorsionária interceptada.
No que concerne à majorante do emprego de arma, aplicam-se as disposições que foram estu-
dadas no crime de roubo.
Já a primeira majorante diz respeito ao fato de a extorsão ser cometida por duas ou mais pesso-
as. No caso do roubo, a hipótese era de concurso de duas ou mais pessoas.
Por haver utilizado a expressão concurso, o legislador quis abranger o partícipe. Já no caso do
1.º do art. 158 não há a possibilidade do partícipe, logo estes não são computados nessa majorante. No
mais, tudo o que foi estudado no roubo se aplica ao crime de extorsão praticado por duas ou mais pesso-
as.
O § 3.º do art. 158 foi acrescentado pela Lei 11.923/09. Essa Lei, na ementa, tipifica o crime de
sequestro relâmpago.
A ementa tem duas infelicidades, a saber:
- chamar um crime de sequestro relâmpago, ou seja, trazer o vulgar, o popular, para a lei. Seria a
mesma coisa que mudar o nome do homicídio para “zerar alguém”.
- o segundo erro é esquecer que sequestro relâmpago é gênero, o qual tem como espécies o art.
157, § 2.º, V; art. 159. Assim, o legislador não tipificou todo tipo de sequestro relâmpago no art. 158, § 3.º.
Mas antes dessa lei, o delito de “sequestro relâmpago” ora configurava roubo majorado, ora ex-
torsão mediante sequestro. Assim, a extorsão mediante sequestro deixou de ser crime hediondo. Logo,
se alguém foi condenado pelo art. 159 do CP, essa norma retroage.
A pena do sequestro relâmpago deveria ser a mesma do roubo majorado pela privação da liber-
dade, mas não é. A pena do sequestro relâmpago e de 06 a 12 anos. A do roubo majorado é de 04 a 10
anos. A doutrina já reclama dizendo que as penas diversas entre o roubo majorado e o sequestro relâm-
pago fere o princípio da proporcionalidade, porque as condutas são quase idênticas.
O § 3.º do art. 158 aplica as penas da extorsão mediante sequestro se do crime resulta lesão
corporal ou morte. Assim, o sequestro relâmpago não é crime hediondo, salvo se houver morte.
O agente subtrai com violência. O agente constrange com violência. O agente sequestra.
Não é crime hediondo, salvo se resulta morte. Não é hediondo, salvo se resulta morte. É sempre hediondo.
Ex: agente coloca arma na cabeça da vítima e pede o cartão e a senha, privando a vítima de sua
liberdade até zerar as contas. Mas Rogério Greco afirma que o crime é o previsto no art. 157, § 2.º, V,
tendo em vista que a vantagem é imediata e não mediata. Ainda, afirma ele que a vantagem da extorsão
é futura, o que não ocorre nesse caso. Por isso, afirma que o crime é de roubo qualificado.
O agente coloca arma na cabeça da vítima e pede o cartão e a senha, privando a vítima de sua liberdade até zerar as contas.
Qual crime comete?
Sequestro relâmpago, pois a restrição da liberdade da vítima Trata-se de roubo aumentado pela privação da liberdade da
é necessária para extorquir os valores. Além do mais, depen- vítima, pois a vantagem é imediata e não mediata, não sen-
de da sua cooperação para digitar a senha do cartão. do futura como se dá na extorsão.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de oito a quinze anos..
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é me-
nor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por
bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autorida-
de, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois ter-
ços.
O art. 157, § 3.º diz que se da violência resulta lesão grave ou morte. Já o § 2.º do art. 159 diz
que se do fato resulta lesão grave ou morte. Significa que se no roubo somente a violência geradora dos
resultados configurava a qualificadora, no art. 159, § 2.º, basta que do fato resulte a lesão, seja da violên-
cia ou da grave ameaça.
Esses resultados devem recair sobre o sequestrado ou pode recair sobre terceira pessoa (segu-
rança do sequestrado, policial que invade cativeiro etc.)? Prevalece que só haverá a incidência da qua-
lificadora se ela atinge a pessoa do sequestrado. Se atingir terceira pessoa, tem-se concurso material
do art. 159 mais lesão corporal ou homicídio. Capez sustenta essa posição. O Professor discorda, no en-
tanto.
Se qualquer dos associados denunciar às autoridades, fazia Se qualquer dos concorrentes denunciar faz jus à delação
jus à delação premiada. premiada.
Só era cabível quando praticada por quadrilha ou bando. Admite-se delação premiada no concurso de agentes.
Há três requisitos para a delação premiada: o crime deve ser cometido em concurso; deve-se
comunicar às autoridades e facilitar a libertação do sequestrado. Todos esses requisitos são cumulativos.
Mais do que delação premiada, exige-se que seja eficaz, ou seja, que se facilite a libertação do seques-
trado. Na eventualidade de ter sido pago o resgate, este não precisa ser recuperado para a concessão da
delação premiada. Não é requisito, pois se assim o fosse deveria estar expresso no tipo.
O prêmio na delação premiada é de um a dois terços, sendo direito subjetivo do sequestrador
que colaborou com a libertação do sequestrado.
O juiz dosa a redução da pena proporcionalmente ao maior ou menor auxílio prestado pelo se-
questrador que colaborou com a libertação do refém.
ESTELIONATO
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzin-
do ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar
a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gra-
vada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante paga-
mento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a al-
guém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou
a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver in-
denização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de enti-
dade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou be-
neficência.
MODALIDADES DE ESTELIONATO
Fraude no Fraude no
Disposição Alienação ou Fraude na recebimento pagamento
CO- Defraudação
de coisa oneração frau- entrega de indeniza- por meio de
MUM de penhor
alheia como dulenta de coi- de coisa ção ou segu- cheque
própria sa própria ro
Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a
recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de
que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegu-
rar vantagem indevida para si ou para outrem.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Aumento da pena
§ 1º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:
I - elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;
II - omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria
constar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros;
III - destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em com-
putador ou sistema informatizado;
IV - simula a composição do capital social;
V - destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração
contábil obrigatórios.
Contabilidade paralela
§ 2º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou mo-
vimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação.
Concurso de pessoas
§ 3º Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e ou-
tros profissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas
descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade.
Redução ou substituição da pena
§ 4º Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e
não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, po-
derá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substi-
tuí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas
de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.
Violação de sigilo empresarial: Como se vislumbra, o estelionato da nova lei de falências é bem
mias grave que o previsto no CP.
Sujeito passivo: O STF afirma que a vítima do art. 171 é tanto a pessoa lesada no patrimônio
quanto a pessoa enganada pelo agente, ainda que não tenha sido lesado patrimonialmente. Isso se refle-
te no rol de testemunhas, porque ambos são vítimas e com isso, não se computam no rol arrolado pelo
MP.
O sujeito passivo deve, necessariamente, ser determinado... OBS: a vítima do estelionato deve ser
capaz; se for incapaz, o crime será o do art. 173 do CP:
Abuso de incapazes
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexpe-
riência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qual-
quer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio
ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Assim, fraude contra incapaz não admite suspensão condicional do processo. OBS: a fraude
deve visar vítima determinada. Se a vítima for incerta, se trata de crime contra a economia popular (Lei
1.521/51). Exs: adulteração de balança, adulteração de taxímetro, adulteração de bomba de combustível
etc. OBS: a adulteração de combustível é tratada na lei 8.176/91, art. 1.º:
Artifício: Encenação material mediante uso de objetos ou aparatos aptos a enganar. Ex: bilhete
premiado, disfarces, crachás etc.
Ardil: É a conversa enganosa.
Qualquer outro meio fraudulento: Silêncio, por exemplo. É perfeitamente possível, pois, o es-
telionato por omissão. O silêncio é muito utilizado para manter a vítima em erro.
Vantagem ilícita: Se o agente emprega a fraude para obter vantagem lícita, é configurado o cri-
me de exercício arbitrário das próprias razões. A vantagem ilícita é necessariamente econômica? Preva-
lece que a vantagem deve ser de natureza econômica, tendo em vista que se trata de crime contra o pa-
trimônio. Inclusive, é a posição do STF. Bittencourt discorda, afirmando que qualquer vantagem configura
o estelionato. Alguns ministros do STF concordam com ele.
Sim, pois o crime de estelionato está classificado entre os crimes contra o Qualquer vantagem é suficiente para o crime.
patrimônio.
Em prejuízo alheio: Uso de cola eletrônica configura estelionato? A cola eletrônica visando frau-
dar o processo de seleção não configura estelionato por ausência de vítima certa e prejuízo econômico
determinado. Para o STF é fato atípico. Mesmo se há mais de três pessoas ainda não se caracteriza qua-
drilha ou bando, tendo em vista que nesse crime o fim visado deve ser ilícito e a cola eletrônica é fato
atípico.
O que ocorre se a vítima também age de má-fé? Fraude bilateral, portanto, descaracteriza o es-
telionato? - a primeira corrente afirma que o tipo não exige boa-fé da vítima. Logo, a sua má-fé não des-
caracteriza o crime. É a posição do STF. - a segunda corrente afirma que o legislador não pode amparar
a má-fé da vítima. Logo, se também agiu com fraude, desaparece o crime. É a posição de Nelson Hun-
gria.
O tipo não exige boa-fé da vítima. Logo, a sua má-fé não O legislador não pode amparar a má-fé da vítima. Logo, se
descaracteriza o crime. também agiu com fraude, desaparece o crime.
É muito comum se praticar fraude com o uso de documentos falsos. Responderá pelo esteliona-
to ou falsidade documental? Há três correntes a respeito:
- a primeira corrente afirma que o agente responde por estelionato e falsidade documental, em concurso
material de delitos. Responde pelos dois crimes porque há bens jurídicos diversos que são tutelados. É
caso de concurso material porque há duas condutas produzindo dois resultados. É a corrente adotada
pelo STJ.
- o agente responde pelos dois crimes, estelionato e falsidade documental, mas em concurso formal. O
agente responde pelos dois crimes, uma vez que os bens jurídicos são diversos. O concurso é formal por-
que há apenas uma conduta dividida em vários atos, a qual produz dois resultados. É a posição do STF.
- a terceira corrente afirma que o agente responde pelo crime de falsidade documental, o qual absorve o
estelionato, ou seja, o crime mais grave absorve o menos grave.
E a falsificação de documento no estelionato, como fica?
Afirma que o agente respon- O agente responde pelos O agente responde pelo cri-
de por estelionato e falsidade dois crimes, uma vez que os me de falsidade documen- Se o falso se exaure no es-
documental, em concurso bens jurídicos são diversos. tal, o qual absorve o estelio- telionato, o agente respon-
material de delitos. Respon- O concurso é formal porque nato, ou seja, o crime mais de somente pelo crime pa-
de pelos dois crimes porque há apenas uma conduta divi- grave absorve o menos gra- trimonial.
há bens jurídicos diversos dida em vários atos, a qual ve.
que são tutelados. produz dois resultados.
Ressalte-se que se o falso se exaure no estelionato, o agente responde somente pelo crime pa-
trimonial. A doutrina entende que se trata de uma quarta corrente, mas não é. Na verdade, se trata da sú-
mula 17 do STJ, o qual adota a primeira corrente com uma observação. Assim, o STJ entende que o
agente responde pelos dois crimes em concurso material, salvo se o falso se exaure no estelionato.
Ex: agente falsifica uma folha de cheque e compra dada mercadoria. Responde o agente pelo
estelionato, porque o falso se exauriu no estelionato. Mas se ao invés do cheque se trata de cartão de
crédito, a súmula não deve ser aplicada, porque o falso do cartão não se exaure, continuando o agente
com a potencialidade lesiva, que é o cartão falsificado, o qual está apto a ser usado novamente.
Consumação: O estelionato é crime de duplo resultado, ou seja, não basta a vantagem, deve-se
haver também o prejuízo alheio. Logo, ambos são necessários. Se faltar a vantagem por circunstâncias
alheias à vontade do agente o crime não se consuma, havendo tentativa.
O agente emprega a fraude e consegue obter da vítima um título de crédito, mas não obtém a
vantagem por circunstâncias alheias à sua vontade. Há estelionato consumado ou tentado? - a primeira
corrente entende que, considerando que a obrigação assumida pela vítima com a emissão do título já é
um proveito adquirido pelo estelionatário, trata-se de crime consumado. Essa corrente se equivoca no
momento em que não lembra que a vantagem deve ser de natureza econômica, ou seja, enquanto esta
não existir, o crime é tentado.
- a segunda corrente entende que enquanto o título não é convertido em valor material, não há
efetivo proveito do agente, podendo configurar tentativa. É a corrente que prevalece.
O agente emprega a fraude e consegue obter da vítima um título de crédito, mas não obtém a vantagem por circunstâncias
alheias à sua vontade. Há estelionato consumado ou tentado?
O art. 155, § 2.º trata do furto privilegiado ou furto mínimo, exigindo: - primariedade; - pequeno
valor da coisa subtraída. Já o art. 171, § 1.º exige: - primariedade; - pequeno valor do prejuízo (e não da
coisa).
O § 2.º do art. 171 traz os subtipos do estelionato. Como forma equiparada, o § 2.º continua exi-
gindo nas suas seis figuras fraude, vantagem indevida e prejuízo alheio.
O furtador que vende o carro furtado como se fosse dele, pratica quantos crimes?
Afirma que o agente responde pelo art. 155 e art. 171, na Afirma que há o crime previsto no art. 155 (sendo estelionato
forma do art. 69 do CP. post factum impunível).
Se o agente, depois que vendeu coisa alheia como se fosse sua, a compra regularizando a pro-
priedade? Efetivada a alienação está consumado o estelionato, ainda que o agente regularize o domínio.
Pode haver no máximo arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP.
Aqui o agente vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria e não coisa
alheia. A grande diferença, portanto, para o inciso I é a coisa ser própria do estelionatário.
Sujeito ativo: O crime é próprio, ou seja, só pode ser praticado pelo dono da coisa. O sujeito
passivo é o adquirente de boa-fé.
Suponha que o agente possui um carro que é objeto de litígio ou imóvel gravado com cláusula
de inalienabilidade. O agente não omite essa informação. Nesse caso, o fato é atípico. Isso porque o
agente não silenciou sobre essas circunstâncias. É, pois, imprescindível que o agente, no momento da
venda, silencie sobre o litígio que há sobre a coisa.
Consumação: O crime é de duplo resultado (vantagem + prejuízo).
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
É crime material. Exige, pois, além da defraudação, a ob- É crime formal, ocorrendo com a mera defraudação.
tenção de vantagem.
O agente defrauda coisa empenhada, que configura a conduta punida pelo art. 171, § 2.º, III.
Mas se o agente defrauda coisa penhorada há a configuração de que crime? Se gera a insolvência do de-
vedor, o crime é o do art. 179 do CP:
Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simu-
lando dívidas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.
Mas se o agente, ao defraudar a coisa penhorada, não gera a insolvência do devedor, trata-se
de fato atípico. O agente é considerado depositário infiel, não mais passível nem de prisão civil.
Sujeitos ativo e passivo: Qualquer pessoa juridicamente obrigada a entregar a coisa a alguém.
O sujeito passivo é o destinatário da coisa, aquele que a recebe.
Substância é a essência da coisa. Exemplo de defraudação da substância da coisa: o agente
substitui diamantes por vidro. A qualidade é o atributo da coisa. A doutrina afirma que exemplo típico é en-
tregar arroz de segunda como se fosse de primeira.
Suponha que A leva a TV para o conserto e as peças são substituídas. Que crime comete o
agente? No art. 171, § 2.º, IV, o sujeito ativo é qualquer pessoa fora da atividade comercial. Se agente
estiver no exercício da atividade comercial, o crime será o do art. 175 do CP:
Fraude no comércio
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou
substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor;
vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualida-
de:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Esse art. 175 continua vigente diante do CDC da Lei 8.137/90, que pune crimes nas relações de
consumo? A vacatio do CDC foi maior do que a da Lei 8.137/90, a qual começou a ter vigência antes do
CDC. Por isso, a doutrina afirma que o art. 175 do CP não mais é aplicável, havendo divergência doutri-
nária sobre qual dessas leis é aplicável.
Consumação: É crime de duplo resultado.
Se a coisa defraudada é produto alimentício, aplica-se o art. 272 do CP:
Mas se a coisa é produto destinado a fins terapêuticos ou fins medicinais, é crime hediondo, pas-
sando a ser o previsto no art. 273 do CP:
É pressuposto desse crime o contrato de seguro, vigente e válido. Sendo vigente o contrato, mas
inválido, há absoluta ineficácia do meio, sendo o crime impossível.
Sujeitos ativo e passivo: O sujeito ativo é o seguro e o passivo a seguradora. É crime bi-pró-
prio.
Consumação: Esse delito é formal, ou seja, consuma-se com o emprego da fraude, indepen-
dentemente do recebimento da indenização.
Esse delito admite tentativa, sendo crime plurissubsistente.
Fraude no pagamento por meio de cheque. Há duas maneiras de se praticar esse crime, a sa-
ber:
- emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado.
- frustrar o pagamento: O agente emite cheque encerrando, em seguida, a
conta corrente.
Nos dois casos é indispensável a má-fé. É o que reza a súmula 246 do STF:
Súmula 246Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão
de cheque sem fundos.
O agente que emite cheque de conta já encerrada, pratica qual crime? Art. 171, caput.
Sujeitos ativo e passivo: É o emitente do cheque. O sujeito passivo é aquele que recebe o
cheque.
O endossante pode ser sujeito ativo? - a primeira corrente entende que o endossante não emite
o título de crédito, podendo responder como partícipe do inciso VI ou como autor do estelionato previsto
no caput do art. 171. É a corrente adotada por Nucci e a que prevalece. - a segunda corrente entende
que a expressão “emitir” deve ser tomada no sentido amplo, abrangendo o comportamento do endossan-
te, ou seja, o endosso. É a corrente adotada por Magalhães Noronha.
Que crime configura a emissão de cheque pós-datado? A emissão de cheque pós-datado sem
suficiente provisão de fundos junto ao banco sacado desnatura o cheque, deixando de ser ordem de pa-
gamento à vista, revestindo-se de promessa de pagamento (mera garantia de crédito – fato atípico).
Se o cheque já foi emitido com o agente sabendo que não teria provisão de fundos, responde
pelo art. 171 caput.
Se o emitente do cheque repara o dano antes do recebimento da denúncia, qual a consequên-
cia? Aplica-se a súmula 554 do STF, ou seja, extingue a punibilidade.
Súmula 554 O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebi-
mento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
Essa súmula extingue a punibilidade de quem emitiu o cheque sem provisão de fundos. O crime
também pune quem frustra o pagamento. A súmula não abrange essa segunda parte, mas a jurisprudên-
cia a aplica para quem frustra o pagamento e repara o dano antes do recebimento da denúncia.
A emite cheque sem fundo em SP, mas o cheque só foi recusado em BH. De quem é a compe-
tência? O crime se consumou em SP, pois houve o prejuízo e a vantagem. Pela regra do art. 70 do CPP
SP seria competente. Mas nesse caso é aplicada a súmula 521 do STF, que afirma que o foro competen-
te é o da recusa do pagamento. É, pois, uma exceção ao art. 70 do CPP.
Súmula 521 O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelio-
nato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Essa súmula não se aplica para a figura da “frustração do pagamento”. Há jurisprudência, nesse
caso, que estende, mas não é a que prevalece, diferentemente do que ocorre com a súmula 554.
Frustrar pagamento dado em dívida de jogo é crime? Não, tendo em vista que dívida de jogo não
é exigível. É o que reza o art. 814 do NCC:
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se
pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo,
ou se o perdente é menor ou interdito.
Se o direito civil não pune, quem dirá o direito penal, o qual é subsidiário. Mas há jurisprudência
em sentido contrário, embora minoritária.
Mesmo a súmula afirmando que se trata de qualificadora, é caso de majorante, causa de aumen-
to de pena.
Pessoa que pratica estelionato contra a autarquia da previdência social é crime instantâneo de
efeitos permanentes ou crime permanente? Essa discussão repercute na consumação do crime, no início
do prazo prescricional, no flagrante, se sobrevier lei nova etc.
Natureza do estelionato previdenciário:
- a primeira corrente, STJ, entende que o delito é permanente, admitindo flagrante a qualquer tempo, flu-
indo o prazo prescricional somente depois de cessada a permanência.
- a segunda corrente, STF, entende que o delito é instantâneo, de efeitos permanentes, aplicando-se a re-
gra do artigo 111, I do CP, ou seja, a prescrição começa a correr da primeira fraude e obtenção da primei-
ra vantagem em prejuízo do ente autárquico.
Deve ser analisada a súmula 107 do STJ, uma vez que nem sempre a fraude de documentos
previdenciários gera a competência da justiça federal.
Além da competência da Justiça Estadual, não incidirá a causa de aumento do § 3.º do ar.t 171.
RECEPTAÇÃO
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime: (o STJ tem desconsiderado a pena fixada e aplicado o caput
quanto ao deve saber, pois o fato é menos grave que o saber, sendo razoável, portanto a aplicação
de receptação simples).
Natureza jurídica: Delitos principais não pressupõem outros para a sua existência. Já os delitos
acessórios, por óbvio, pressupõem outros para existirem. A regra é que os crimes sejam principais. Exem-
plos de delitos acessórios: receptação, favorecimento pessoal (art. 348 do CP), favorecimento real (art.
349 do CP) e lavagem de dinheiro (art. 5.º da lei 9.613/98).
Associação criminosa é crime acessório? Não, porque se trata de crime principal, não dependen-
do de qualquer outro para existir.
Bem jurídico tutelado: É o patrimônio. Noronha afirma que está sendo tutelada, outrossim, a
administração da justiça, de forma secundária. Isso porque a atuação da justiça fica embaraçada pela
atuação do receptador, que embaraça a atuação quando da investigação.
Sujeito ativo: Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo o
concorrente do crime pressuposto, do crime anterior. Ex: A e B roubam um carro. Se um quer comprar a
parte do outro não responderá por receptação. Assim, não pode o autor ou o partícipe do crime antece-
dente responder como sujeito ativo na receptação.
Existe receptação de coisa própria? Sim, mas desde que a coisa esteja na legítima posse de ter-
ceiro. Assim, excepcionalmente, pode figurar como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o objeto este-
ja na posse legítima de terceiro. Ex: sujeito teve veículo penhorado e alguém o furta do depositário. Caso
o proprietário adquira o veículo, estará cometendo receptação, tendo em vista que o bem estava na legíti-
ma posse de terceiro.
Sujeito passivo: A vítima da receptação é a mesma do crime pressuposto, ou seja, a recepta-
ção perpetua a ilicitude.
Tipo objetivo: O caput do art. 180 tem que ser dividido em duas partes:
a) receptação própria: adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
Na receptação própria, há basicamente dois personagens: o receptador e aquele que adquirir,
receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de cri-
me.
É indispensável, pois, ajuste entre autor do crime antecedente e o receptador? Não. Muito pelo
contrário, é dispensável, prescindível, ajuste prévio entre o autor do crime antecedente e o receptador.
Ex: pessoa furta relógio e, ao fugir, dispensa o relógio. Se o receptador pegar o relógio, estará cometendo
o crime de receptação, tendo em vista que pega a coisa sabendo ser produto de crime. É um exemplo de
Magalhães Noronha.
A receptação se dá sempre por título injusto? Não. Há a cobrança de uma dívida justa. Ex: o ad-
vogado que recebe honorários consistentes em coisa que sabe ser produto de crime.
b) receptação imprópria: influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
Há o autor do crime anterior, o terceiro de boa-fé e intermediário, sendo este que será punido
pela receptação imprópria.
Não se pune o receptador, mas sim o intermediário. É a mediação criminosa. É aquela pessoa
que se coloca entre o autor do crime pressuposto e o terceiro de boa-fé. Ele terá que influir para que ter-
ceiro de boa-fé adquira a coisa.
E se o terceiro adquirente age de má-fé e não de boa-fé, ou seja, sabe que a coisa é produto de
crime? O terceiro de má-fé responde por receptação própria, e aquele que instiga (intermediário) respon-
de como partícipe desse crime de receptação própria.
É possível receptação de receptação, ou seja, receptação em cadeia? A furta veículo e o vende
para B, este sabendo se tratar de produto de crime; B vende para C, este também sabendo se tratar pro-
duto de crime e assim por diante. É, pois, possível receptação em cadeia, desde que mantida a má-fé, ou
seja, que a coisa conserve seu caráter delituoso.
Se na cadeia de receptação, caso um sujeito aja de boa-fé não há mais crime, mesmo que os
participantes posteriores estejam de má-fé. Para Nelson Hungria, é indispensável que a coisa conserve
seu caráter criminoso.
Existe receptação de coisa produto de contravenção penal? Não, pois seria analogia incrimina-
dora, in malam partem.
O crime pressuposto é necessariamente contra o patrimônio? Não. Receptação de coisa produto
de crime contra a Administração Pública. Adquirir coisa produto de peculato, por exemplo.
É possível receptação de coisa produto e contrabando ou descaminho? Não. Isso porque essa
receptação tem tipo especial, previsto no art. 334 do CP. Quando Noronha afirma que é possível recepta-
ção de contrabando ou descaminho, assim o faz antes da redação do art. 334 do CP.
A receptação abrange coisa, produto de ato infracional? - a primeira corrente entende que não
há crime, pois o artigo 180 exige crime anterior. Adolescente, portanto, não pratica crime. Corrente adota-
da por Heleno Fragoso. Críticas a essa corrente: produto de crime é a mesma coisa que dizer fato produ-
to como crime, e aí se inclui o ato infracional. A segunda corrente entende que há crime, pois quando o
art. 180 fala em crime, quer dizer fato previsto como crime, ou seja, fato típico. Adolescente, pois, pratica
fato típico. Corrente adotada por Magalhães Noronha, sendo majoritária.
É possível receptação de coisa imóvel? - a primeira corrente entende que sim. Isso porque o le-
gislador disse apenas coisa, não limitando à coisa móvel. Se o legislador quisesse restringir, ele o faria
expressamente, como o fez no caso do furto (Fragoso). - a segunda corrente limita o crime à coisa móvel.
É a posição de Nelson Hungria e Magalhães Noronha. Assim o fazem com base nos verbos nucleares, ou
seja, o crime de receptação deve preceder coisa que se locomova. É a corrente majoritária, bem como a
posição do STF.
O Prof. discorda dessa corrente. Ex: uma pessoa doa-lhe um apartamento (produto de crime) por
você ter salvado a vida dela. E depois de doado, você vende esse apartamento para outra pessoa, que
compra-o sabendo do ocorrido.
Não, pois o crime de receptação deve ser cometido contra coisa que se locomova. Sim, pois o legislador diz apenas coisa, não se limitado a coisa mó-
vel.
Se a coisa produto do crime foi alterada, transformada ou adulterada existe receptação? Ex: der-
retem a taça do mundo e fazem medalhas. Se quem adquire as medalhas sabe da transformação, pratica
perfeitamente receptação. Assim, não importa seja a coisa genuína, transformada ou alterada, adquirindo
o agente sabendo ser produto de crime, há receptação.
Tipo subjetivo: O caput do art. 180 pune o crime a título de dolo.
A expressão “que sabe” é indicativa apenas de dolo direto ou de dolo direto e dolo eventual?
Prevalece que essa expressão é indicativa apenas de dolo direto. E isso significa que em caso de dúvida
pode configurar receptação culposa - § 3º, art. 180. OBS: É imprescindível que o agente aja em proveito
próprio ou alheio, ou seja, a terceira pessoa deve ser diferente do autor do crime antecedente.
E é justamente isso que diferencia a receptação do favorecimento real (art. 349), porque neste o
autor do crime age em proveito do autor do delito antecedente.
Nelson Hungria coloca a seguinte situação: pessoa recebe carro de boa-fé e posteriormente é in-
formado saber que é produto de crime. A pessoa finge que tomará as providências, mas não o faz. Prati-
ca qual crime? - a primeira corrente afirma que o dolo superveniente não gera o crime, pois o dolo deve
ser concomitante ao momento da aquisição. É a corrente majoritária. - mas Nelson Hungria entende que
o dolo superveniente configura o crime, nesse caso.
O agente adquire o produto que inicialmente desconhece ser produto de crime. Ocorre que num futuro
próximo vem descobrir a ilicitude do produto. Como fica a situação?
A receptação própria admite tentativa. Contudo, a recepta- Ambas podem admitir a tentativa. No entanto, a receptação im-
ção imprópria (influir) não admite tentativa. própria apenas admite tentativa nos casos de interceptação de
correspondência.
Esse crime não é mais comum, mas sim crime próprio, ou seja, só pode ser praticado por quem
está no exercício do atividade comercial ou industrial. Isso justifica a qualificadora, porque tem mais pos-
sibilidades de passar a coisa a terceiros de boa-fé.
Abrange comerciante de fato, ambulante, clandestino, a vizinha que vende produtos de beleza?
Sim, esses comerciantes praticam receptação qualificada. Isso porque o §2º traz uma cláusula de equipa-
ração:
O § 1.º aumenta a pena daquele pratica o crime no exercício da atividade comercial. Ex: padeiro
compra um carro produto de crime. Sofre o aumento se compra carregamento de presunto produto de cri-
me para vender na padaria.
O art. 180, caput, fala em coisa “que sabe” e o §1º fala em coisa “que deve saber”. A expressão
“deve saber” é indicativa de quê? - a primeira corrente entende que é indicativa apenas de dolo eventual
e, por isso, é inconstitucional, porque o dolo direto é punido com pena de 01 a 04 anos e o dolo eventual
com pena de 03 a 08 anos, ferindo o princípio da proporcionalidade. É a corrente do STF (HC 92.525,
Rel. Min. Celso de Melo). Vide informativo 500. - a segunda corrente entende que é indicativa de dolo di-
reto e eventual. Não teria sentido punir o dolo direto sem punir o dolo eventual. Logo, o dispositivo é cons-
titucional. A 2.ª Turma do STF acaba de adotar a segunda corrente (HC 97.344).
É indicativa de dolo eventual, sendo inconstitucional por vio- É indicativa de dolo direto e eventual. Não teria sentido punir
lação ao princípio da proporcionalidade. Isso porque o dolo o dolo eventual sem a punição ao dolo direto.
direto previsto no caput é punido com pena inferior (01 a 04
anos) ao previsto para o crime praticado com dolo eventual
(03 a 08 anos).
Consumação: O crime se consuma com a prática de qualquer um dos núcleos. Mas alguns núc-
leos são permanentes (ocultar, transportar, ter em depósito)
Tentativa: É crime plurisubsistente, logo admite tentativa.
Receptação culposa:
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o
valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação
dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Trata-se de infração de menor potencial ofensivo. Esse crime é comum, podendo ser praticado
por qualquer pessoa e a vítima é a mesma do delito antecedente.
Há três maneiras de se praticar o crime de receptação culposa. Há, pois, três elementares indi-
cativas de negligência:
- adquirir a coisa que por sua natureza deve presumir-se obtida por meio criminoso. Ex: quadro
de Van Gogh vendido informalmente.
- adquirir a coisa que pela desproporção no preço, deve presumir-se obtida por meio ilícito;
- não a essência ou o valor, mas a condição de quem o oferece. Ex: menor de 18 anos quer ven-
der carro informalmente.
Admite-se a emendatio libelli nesse crime? Não. O MP deve realizar a mutatio libelli. Se durante
a instrução ficar descaracterizada uma causa surgindo outra, deve ser feita a mutatio libelli. Se for aplica-
da a emendatio libelli, será ferido o princípio da ampla defesa. O promotor deve aditar a inicial.
Essas causas do § 3.º são alternativas e não cumulativas, ou seja, havendo uma delas, haverá a
receptação culposa.
Consumação: Quando a coisa passa para a esfera de disponibilidade do agente.
Tentativa: É crime culposo, logo não admite tentativa.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do
crime de que proveio a coisa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
A receptação é crime acessório. Logo, pressupõe outro para a sua existência. Mas não é um cri-
me acessório quanto à punibilidade. Esta é, pois, independente e principal. É crime de existência acessó-
ria, mas de punição independente. Mesmo que isento de pena o autor do crime antecedente, a recepta-
ção será punida. É crime independente na punição.
Há dois benefícios para duas espécies de receptação diferente. A primeira parte traz o benefício
do perdão judicial. Só é cabível na receptação culposa. Tem como pressupostos a primariedade e a natu-
reza levíssima da culpa, pouco importando o valor da coisa. Assim, cabe perdão judicial em caso de re-
ceptação culposa de uma BMW. Já a segunda parte do § 5.º traz o benefício do privilégio. É cabível em
caso de receptação dolosa.
Natureza levíssima da culpa (e não pequeno valor da Pequeno valor da coisa – aqui interessa o valor da coi-
coisa) – não importa o valor da coisa que você adqui- sa.
riu.
OBS: abrange a receptação qualificada (§ 1.º do art. 180)? É possível, pois, receptação qualifi-
cada privilegiada? Sim, desde que preenchidos os requisitos. É a posição pacífica dos tribunais.
Antes, havia duas correntes:
1ª corrente: não existe privilégio se a receptação está qualificada, porque a gravidade da qualifi-
cadora é incompatível com o privilégio. O professor não concorda, porque a lei não diferenciou e não
cabe ao interprete fazê-lo.
2ª corrente: é possível privilégio na receptação qualificada, porque a lei não diferenciou. Se a lei
quisesse ela teria feito isso (como fez expressamente no § 6º - que limitou ao caput a majorante)
Não existe privilégio se a receptação está qualificada, por- É possível privilégio na receptação qualificada, porque a lei
que a gravidade da qualificadora é incompatível com o pri- não diferenciou. Se a lei quisesse ela teria feito isso (como fez
vilégio. O professor não concorda, porque a lei não dife- expressamente no § 6º - que limitou ao caput a majorante).
renciou e não cabe ao interprete fazê-lo.
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município,
empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a
pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro. (Incluído pela Lei nº
9.426, de 1996)
Não se aplica o § 6.º à receptação qualificada. Isso porque seria analogia in malam partem. O §
6.º não é qualificadora, mas sim causa de aumento de pena. Na doutrina, prevalece que se trata de
uma qualificadora.
Somente se aplica ao caput, não se aplicando aos demais dispositivos.
IMUNIDADES PATRIMONIAIS
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título,
em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil
ou natural.
Qual é a natureza jurídica dessa escusa absolutória? - a primeira corrente entende que é causa
de extinção da punibilidade (doutrina moderna). É a corrente majoritária. - a segunda corrente entende
que é causa de exclusão da punibilidade (doutrina clássica). É a posição de Frederico Marques.
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; Cônjuge separado de fato tem imunidade? Sim,
porque continua havendo a sociedade conjugal. Na sociedade de fato, ainda perduram todos os deveres
do casamento, salvo da coabitação. O convivente, na união estável está abrangido pela imunidade? Sim,
pois é caso de analogia in bonam partem. Isso porque a constituição já equipara o cônjuge ao convivente.
Do modo, por analogia in bonam partem, deve acabar por abranger a união homoafetiva.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; Cônjuges divorciados têm alguma imunidade?
Até a separação judicial eles têm imunidade absoluta (abrangendo a separação de fato). Da separação
judicial até o divórcio tem imunidade relativa. Após o divórcio não tem imunidade alguma.
(COM A EMENDA CONSTITUCIONAL DO DIVÓRCIO ABOLIU O ESTADO CIVIL SEPARADO JUDICIAL-
MENTE, RESERVANDO O DIREITO ADQUIRIDO DAQUELES QUE JÁ SÃO SEPARADOS JUDICIAL-
MENTE À ÉPOCA DA EMENDA REFERIDA).
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Tio que furta sobrinho tem imunidade relativa des-
de que eles coabitem. Não significa que o furto tem que ocorrer no local onde eles coabitem.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Inc.
Lei nº 10.741/2003). Foi acrescentado pelo Estatuto do Idoso. É a única hipótese que o CP lembrou do
idoso com idade IGUAL a 60 anos. Todos os outros falam no idoso como sendo maior de 60 anos.
Se a vítima é mulher e é furtada em seu ambiente doméstico e familiar, aplica-se essa imunida-
de? O art. 7º, IV, Lei 11.340/06 diz:
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure reten-
ção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;
Essa simples previsão impede a aplicação da imunidade da mulher que é vítima? Maria Berenice
Dias, como base no art. 7º, IV, da Lei Maria da Penha, veda a imunidade da mulher para o caso de furto
no ambiente doméstico e familiar. Ela diz: a exemplo do que já ocorre com o idoso. OBS: só que no caso
do idoso tem previsão legal. E no caso da mulher não tem previsão. Então o que ela fez foi analogia in
malan partem, o que não está correto!!! Assim, não se pode querer tirar da escusa os crimes na Lei Maria
da Penha.
A Lei Maria da Penha não vedou qualquer imunidade, diferentemente do que fez o Estatuto do
Idoso. Prevalece essa corrente.