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RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo pesquisar a possível origem psíquica da dor física,
especialmente na fibromialgia. Procuramos, com base em pesquisa bibliográfica, encontrar ligações
entre as manifestações de dor e o conflito psíquico do sujeito. Estudamos que o mecanismo psíquico da
pulsão busca uma forma de satisfação e, não a encontrando, descarrega essa energia no orgânico,
manifestando-se no corpo, sendo a fibromialgia um possível destino dessa energia pulsional, que busca
ser satisfeita, podendo ser entendida como sintoma psicanalítico.
Fibromyalgia: a Psychoanalyticsymptom
ABSTRACT: The objective of this study is to of pain research in his psychic conception. Through
literature searches, we seek to find links between the manifestations of chronic pain and psychic
conflicts faced by the individual at present. Through the studies carried out we try to understand how
the psychic mechanism of the drive seeks a source of satisfaction and, not finding it, discharges this
energy into the organic, manifesting through the body through the symptoms, fibromyalgia being a
possible destination of this drive energy that seeks to be satisfied, can be understood as a
psychoanalytic symptom.
RESUMEN: El presente trabajo tiene como objeto de pesquisa el dolor en su concepción psíquica.
Buscamos, atrás de pesquisas bibliográficas, encontrar una unión entre las manifestaciones de dolor
crónico y los conflictos psíquicos enfrentados por el individuo en la actualidad. A través de estudios
realizados buscarnos entonces comprender cómo el mecanismo psíquico de pulsión procura una fuente
de satisfacción y, por no encontrar, descarga esa energía en lo orgánico, manifestando por el cuerpo, a
través de síntomas, siendo la fibromialgia un posible destino de esa energía punzante que busca ser
satisfecha, pudiendo así ser entendida como un síntoma psicoanalista.
Palabra
Palabras
Palabra
Palabra clave: Pulsión.
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Palabras Clave:
clave: Recalcó. Inconsciente. Síntoma. Dolor crónico. Fibromialgia.
1. Introdução
Neste trabalho, procuramos pesquisar a origem psíquica da dor física e sua representação no
corpo, de forma a verificar se existe possibilidade de a fibromialgia ser uma resposta de conflito
psíquico. Para isso, estudamos o caminho percorrido pela pulsão, desde sua origem até sua busca pela
satisfação. Além disso, abordamos sobre o mecanismo de recalque e suas fases, a formação do
inconsciente e o sintoma.
O presente trabalho foi elaborado com base em pesquisas bibliográficas, em sites científicos,
como Pepsic, Scielo, entre outros; foram encontradas centenas de artigos e dezenas de obras sobre o
tema, de diversos autores.
Este artigo está dividido em capítulos, iniciando pelo conceito e origem da pulsão, passando
pelo recalque e suas fases, conceito e origem do inconsciente, o sintoma psicanalítico e, finalmente,
uma breve conceituação da fibromialgia, doença física escolhida para representar uma possível resposta
ao conflito inconsciente.
O interesse pela fibromialgia, como representante da dor física de origem psíquica, efetivou-se
pelo fato de que, nos últimos tempos, tem-se ouvido muito sobre a dor crônica sem origem orgânica,
demonstrada por exames. Durante os estudos sobre as formações do inconsciente, surgiu o
questionamento sobre a ligação dessa doença ao sintoma psicanalítico.
2. Discussão
2.1 Pulsão
Conforme Garcia-Roza (1984), o termo pulsão só aparece na obra Freudiana em 1905, mas,
desde o Projeto para uma psicologia científica, de 1895 (1996a), Freud já expõe a ideia de excitações
externas e internas, as quais devem ser descarregadas assim que oscilem o princípio de estabilidade.
Nós poderíamos fugir das excitações externas, mas não das internas e nisso se baseia a mola pulsional
dos mecanismos psíquicos.
O autor ainda afirma que pulsão seria a energia psíquica contínua inespecífica, que leva a um
estado de tensão, o qual precisa ser descarregado, podendo assumir tanto a forma de um instinto quanto
de um querer, existindo antes mesmo de ambos. É algo genérico e impessoal, maior que o sujeito, algo
atemporal. Ela apenas existe, assim como o impulso de respirar, sendo a base do próprio querer, a partir
da qual se origina a necessidade, a ânsia, a vontade, o querer. Não é notado como desprazer ou como
algo desagradável, porém, torna-se angústia, se não a realizarmos, já que o objetivo da pulsão é que ela
seja satisfeita, sendo um processo dinâmico, que impulsiona o organismo em direção a um objetivo, o
equilíbrio do estado de tensão, na fonte pulsional.
Segundo Freud, a pulsão é um conceito situado na fronteira entre o psíquico e o somático, pois
ela nunca concretiza-se por si, nem a nível consciente, nem a nível inconsciente, sendo conhecida pelos
seus representantes: a ideia e o afeto – representantes psíquicos dos estímulos que se originam dentro
do organismo e alcançam as pulsões. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1996b), Freud
enfatiza que a pulsão, em si, não tem qualidade e que deve ser vista tão somente como exigência de
trabalho feita à mente. A diferença entre as pulsões é estabelecida a partir de suas fontes e alvos. Ainda
de acordo com o autor: “[...] a fonte de um instinto é um processo de excitação que ocorre num órgão e
o objetivo imediato do instinto consiste na eliminação deste estímulo orgânico” (FREUD, 1996b,
p.171) A supressão desse estímulo orgânico é algo bastante problemático para a teoria das pulsões,
senão, impossível, uma vez que a força da pulsão é constante, como está expresso em Os instintos e
suas vicissitudes (1996c).
Birman (2016) discorre a respeito de que o conceito de pulsão tem por referenciais a fonte, um
processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, a pressão, a quantidade de força que ele
representa, sendo que o objetivo é sempre a satisfação e o objeto é o fator com o qual a pulsão atinge
sua finalidade.
Assim sendo, os autores nos fazem entender que a satisfação é o objetivo da pulsão e ela só
seria satisfeita integralmente pela descarga absoluta da excitação. Isso é considerado impossível, de
acordo com a própria essência da pulsão, sendo somente possibilitada a satisfação parcial por meio dos
destinos da pulsão. Um exemplo seria o recalcamento, sobre o qual discorreremos a seguir.
2.2 Recalque
“Re” quer dizer ir de novo e “Calcar”; é deixar marcado, ou seja, a marca que fica no
inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma estratégia de fuga de conteúdos internos que
ameaçam o ego. No texto Repressão, o recalcamento é apontado por Freud (1915) como destino das
pulsões sexuais, do representante ideativo. Enquanto que a pulsão tem dois representantes psíquicos, o
representante ideativo e o afeto, o recalcamento incide apenas sobre o representante ideativo e não
sobre o afeto, que sofre uma série de variações em função do recalcamento, mas não é, ele próprio,
recalcado. O que é recalcável é o representante ideativo ao qual um afeto está ligado, mas o afeto não
pode tornar-se inconsciente. (GARCIA-ROZA, 1984).
Para Freud (1996d), o recalcamento é um processo que tem como objetivo manter inconsciente
esse representante ideativo das pulsões, cuja relação produtora de prazer afetaria o equilíbrio
psicológico do indivíduo, transformando-se em uma fonte de desprazer. O recalque é uma barreira na
qual um representante da pulsão, que prejudicaria a estabilidade psicológica, bate e volta, em um
movimento contínuo. O recalque apresenta um caráter de impedimento. Dessa maneira, ficam
inconscientes, porém, causando consequências e impondo comportamentos e atitudes: quanto maior o
conflito entre o conteúdo reprimido, que deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter
aquilo que o ameaça fora, mais se instalam consequências negativas na vida do sujeito. Trata-se de uma
força contínua de pressão que rouba muito da energia psíquica do indivíduo (FREUD, 1996d).
Os estudos realizados presumem que existe a presença de uma inscrição sexual no consciente
original da criança, a partir do seu nascimento. Também, se entende que é impossível essa inscrição se
tornar funcional, em decorrência de um mecanismo de recalque primário instantâneo. Antes da
formação do consciente e inconsciente existem determinadas experiências e os seus significados são
inexistentes para o indivíduo, ficando fixos no sistema inconsciente, no imaginário e, assim sendo,
negados desde então, até que recebam significado, quando o sujeito se apropria da linguagem, da
verbalização. (GARCIA-ROZA, 1984).
O retorno do recalcado pode ser tanto um simples escape do processo de recalcamento, válvula
de escape funcional e útil, como os sonhos e fantasias, ou uma forma, às vezes, mais significante, como
os lapsos, atos falhos; também, pode acontecer como manifestações de verdadeiro fracasso do
recalcamento: o sintoma. Dessa forma, não é comum ao recalque que o seu mecanismo consiga impedir
que um impulso já reprimido seja reorganizado no inconsciente e possa iniciar a criação de novas
variações que, depois, venham tentar se instalar no sistema consciente.
2.3 Inconsciente
Freud (1996e) nos diz que o sistema inconsciente é composto por representantes pulsionais, que
procuram descarregar sua carga energética, isto é, impulsos carregados de desejo. O sistema
inconsciente é um processo primário no qual o deslocamento e a condensação são mecanismos básicos
que caracterizam o seu funcionamento. No processo primário, a energia psíquica escoa livremente,
buscando se descarregar de forma rápida e direta, chegando à satisfação do desejo – o princípio do
prazer (FREUD, 1996e).
Dessa forma, as primeiras ideações recalcadas das pulsões originarão o aparelho psíquico que, a
partir de então, nunca para de funcionar. Freud concebe o aparelho psíquico que se constitui enquanto
aparelho de memória e de linguagem. O inconsciente, regido pelo princípio do prazer, opera segundo o
processo primário e tem uma abrangência maior que o recalcado. Entende-se que os conteúdos
inconscientes são representantes das pulsões e procuram constantemente retornar à consciência. Há
uma energia que circula livremente no inconsciente (QUINET, 1954).
As ideias, expulsas da consciência não desaparecem, não somem; elas são apenas separadas da
consciência, fundando o campo do inconsciente. Todo o conceito de inconsciente determina-se pelo
recalque e é ainda considerado por Freud como base fundamental de toda estrutura da Psicanálise
(BARATTO, 2009). A partir da escuta de seus pacientes no final do século XIX, Freud percebeu que
havia enigmas dotados de sentidos subjacentes, presentes no inconsciente, sendo um deles o sintoma,
que se manifesta pelo corpo sem o sujeito ter desejado (FREUD, 1900).
2.4 Sintoma
Segundo Moustapha (1986), ao falar de medicina, sintoma aponta uma relação entre um alerta e
seu agente etiológico, portanto, sendo um sinal de algo ou de alguma doença. Conforme o autor, para a
psicanálise, o sintoma é carregado de sentido, é o sinal e o substituto, evidência de uma pulsão que
precisa ser satisfeita e, não sendo possível alcançar seu objetivo inicial, encontra saída pelo corpo
(SAFOUAN, 1986).
Freud (1996f) supõe que o sintoma é um enigma a ser decifrado; o sintoma é expressão de um
conflito psíquico. A partir desse ponto, desenvolverá o conceito de inconsciente e a associação livre
como regra fundamental da psicanálise. O trabalho de análise consiste, então, em tornar consciente o
inconsciente, trazendo esse sentido do sintoma à luz do entendimento (FREUD, 1996f).
Partindo desse conflito psíquico, o trajeto está livre para a constituição do sintoma, que traz a
fundação de uma relação de incumbência entre as duas forças contraditórias, geradoras do conflito, ou
seja, a libido que deseja satisfação e o veto (repressão) imposto pelo ego (MAIA, MEDEIROS e
FONTES, 2012).
3. Fibromialgia
A Fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica. Tem maior incidência na faixa aproximada
dos 30 aos 55 anos e em indivíduos do sexo feminino. Pesquisadores do assunto relatam que a doença
se origina pelo fato de a disposição do sistema nervoso central produzir menos serotonina, alterações
hormonais na TPM. Também estão associados, ao perfil do portador de fibromialgia, quadros
depressivos e uma disposição excessiva ao trabalho, o que leva o corpo físico a uma sobrecarga
(CHAITOW, 2002).
De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor, a FB é definida como “[...]
uma experiência sensorial e emocional desagradável decorrente de lesão real ou potencial de tecidos do
organismo. Trata-se de uma manifestação basicamente subjetiva, variando sua apresentação de
indivíduo para indivíduo” (CHAITOW, 2002 p. 07). No início da Psicanálise, Freud (1996i) trabalhou
por estabelecer a peculiaridade da experiência dolorosa, tentando separá-la da angústia e do luto. Desse
modo, por meio da investigação da histeria, o médico a retratou como uma angústia que não pode ser
disponibilizada para o consciente por mecanismos de representação da própria mente, mas que contém
uma energia que precisa se manifestar e que desponta como um sintoma físico, a qual mantém uma
relação simbólica com o conflito. Ela pode revelar-se em qualquer parte do corpo ou qualquer outro
sintoma que não encontre justificativas orgânicas.
Násio (1997), ao falar sobre a dor, revela que, quando ela aparece, acredita-se atravessar uma
fronteira. Ele destaca que a dor psíquica é como uma perda do laço íntimo com o Outro, uma
dissolução brutal daquilo que é naturalmente chamado a viver junto. Na dor, existe algo que nunca
pode ser elaborado, que é a perda traumática do Outro.
Nos textos Rascunho G (1996j) e Luto e melancolia (1996k), Freud também nos fala sobre a
dor, relacionando-a à perda de um objeto. Quando ele caracteriza melancolia e luto, faz referência à
vivência dolorosa do luto que é atribuída à necessidade de abandono de uma posição libidinal (FREUD,
1996l). A retirada de investimento do objeto que foi perdido vem acompanhada de sofrimento,
justamente pelo fato do EU ter que se separar do objeto, assim como pelo ódio contra esse objeto. É
importante ressaltar que qualquer perda para o sujeito vai pressupor uma experiência de castração, uma
vez que um vínculo, de alguma forma, teve de se romper. Nesses textos, Freud já está claramente se
referindo a uma espécie de dor que é psíquica.
A maioria dos textos e estudos sobre o assunto mostra a possibilidade de uma comorbidade
psiquiátrica no que diz respeito à presença de transtornos de ansiedade e depressão. A indicação de
tratamento psicoterápico é citada no recente estudo brasileiro sobre o tema, ao mesmo tempo em que os
exercícios de alongamento e assimilados (HEYMAN et al., 2010). Dessa forma, a indicação de uma
abordagem multidisciplinar para o tratamento dos casos de fibromialgia parece unanimidade na maioria
dos trabalhos da área médica, figurando tanto no recente estudo brasileiro do tratamento da
fibromialgia (HEYMAN et al., 2010) quanto no relatório da Academie Française de Médecine
(MENKÈS e GODEAUL, 2007).
4. Considerações Finais
Como visto no decorrer dos estudos e pesquisas realizados, para elaborar este trabalho, o
sintoma surge por causa de uma falha no mecanismo do recalque, como consequência desse retorno do
conteúdo recalcado, numa tentativa de resolver o conflito psíquico.
A fibromialgia não pode ser igual para todos, ainda que haja uma tipologia, uma peculiaridade
sintomatológica na doença; é a singularidade que dirá mais sobre aquele que sofre e sobre o uso que faz
de sua dor.
Conclusão
De acordo com as pesquisas realizadas, foi possível relacionar a origem da dor física com o
movimento de satisfação das pulsões. Sendo assim, não havendo a satisfação completa da satisfação
por um objeto especifico, buscará outros caminhos e outros destinos, podendo originar, então, o
sintoma.
A inscrição da pulsão acontece no corpo, por meio de objetos que fazem a função de satisfazê-
la. A primeira experiência dessa satisfação é completa, mas somente essa primeira. Como essa
experiência é única, tem-se o registro de que esse objeto foi perdido. Como foi somente uma ilusão de
completude, não há objetos que supram todas as necessidades. A satisfação da pulsão é sempre parcial.
Está, dessa forma, registrado o primeiro conflito psíquico.
Como nos lembrou Freud (1996), o sintoma é a regressão a estágios anteriores ao somático.
Pensando sob essa ótica, podemos considerar a fibromialgia um sintoma psicanalítico, pois é
uma doença física que, na maioria dos episódios, não apresenta causa orgânica específica e acompanha
relatos de sofrimento psíquico.
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