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FIBROMIALGIA: UM SINTOMA PSICANALÍTICO?

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo pesquisar a possível origem psíquica da dor física,
especialmente na fibromialgia. Procuramos, com base em pesquisa bibliográfica, encontrar ligações
entre as manifestações de dor e o conflito psíquico do sujeito. Estudamos que o mecanismo psíquico da
pulsão busca uma forma de satisfação e, não a encontrando, descarrega essa energia no orgânico,
manifestando-se no corpo, sendo a fibromialgia um possível destino dessa energia pulsional, que busca
ser satisfeita, podendo ser entendida como sintoma psicanalítico.

Palavras-chave: Pulsão. Recalque. Inconsciente. Sintoma. Dor crônica. Fibromialgia.

Fibromyalgia: a Psychoanalyticsymptom

ABSTRACT: The objective of this study is to of pain research in his psychic conception. Through
literature searches, we seek to find links between the manifestations of chronic pain and psychic
conflicts faced by the individual at present. Through the studies carried out we try to understand how
the psychic mechanism of the drive seeks a source of satisfaction and, not finding it, discharges this
energy into the organic, manifesting through the body through the symptoms, fibromyalgia being a
possible destination of this drive energy that seeks to be satisfied, can be understood as a
psychoanalytic symptom.

Keyword: Repression. Unconscious. Symptom. Chronicpain. Fibromyalgia.

Fibromialgia: un síntoma psicoanalítico?

RESUMEN: El presente trabajo tiene como objeto de pesquisa el dolor en su concepción psíquica.
Buscamos, atrás de pesquisas bibliográficas, encontrar una unión entre las manifestaciones de dolor
crónico y los conflictos psíquicos enfrentados por el individuo en la actualidad. A través de estudios
realizados buscarnos entonces comprender cómo el mecanismo psíquico de pulsión procura una fuente
de satisfacción y, por no encontrar, descarga esa energía en lo orgánico, manifestando por el cuerpo, a
través de síntomas, siendo la fibromialgia un posible destino de esa energía punzante que busca ser
satisfecha, pudiendo así ser entendida como un síntoma psicoanalista.

Palabra
Palabras
Palabra
Palabra clave: Pulsión.
clave:
clave:
Palabras Clave:
clave: Recalcó. Inconsciente. Síntoma. Dolor crónico. Fibromialgia.

1. Introdução

Neste trabalho, procuramos pesquisar a origem psíquica da dor física e sua representação no
corpo, de forma a verificar se existe possibilidade de a fibromialgia ser uma resposta de conflito
psíquico. Para isso, estudamos o caminho percorrido pela pulsão, desde sua origem até sua busca pela
satisfação. Além disso, abordamos sobre o mecanismo de recalque e suas fases, a formação do
inconsciente e o sintoma.

O presente trabalho foi elaborado com base em pesquisas bibliográficas, em sites científicos,
como Pepsic, Scielo, entre outros; foram encontradas centenas de artigos e dezenas de obras sobre o
tema, de diversos autores.

Este artigo está dividido em capítulos, iniciando pelo conceito e origem da pulsão, passando
pelo recalque e suas fases, conceito e origem do inconsciente, o sintoma psicanalítico e, finalmente,
uma breve conceituação da fibromialgia, doença física escolhida para representar uma possível resposta
ao conflito inconsciente.

O interesse pela fibromialgia, como representante da dor física de origem psíquica, efetivou-se
pelo fato de que, nos últimos tempos, tem-se ouvido muito sobre a dor crônica sem origem orgânica,
demonstrada por exames. Durante os estudos sobre as formações do inconsciente, surgiu o
questionamento sobre a ligação dessa doença ao sintoma psicanalítico.

A importância da temática da dor física, como representante do conflito psíquico para a


Psicanálise, é inquestionável. Tal afirmativa é feita por Freud (1976, p. 302), ao expressar, no artigo
Tratamento Psíquico ou Mental: “[...] é em geral verdadeiro que ao formarmos um julgamento das
dores (que são normalmente considerados fenômenos físicos) devemos ter em mente sua inequívoca
dependência em relação a determinantes mentais”. Os leigos, segundo Freud (1976, p.302), gostam de
rotular essa espécie de influências mentais como “imaginação” e inclinam-se a demonstrar “[...] pouco
respeito por dores devidas à imaginação em contraste por ferimentos, doença ou inflamação. Mas isto é
claramente injusto. Como quer que as dores sejam causadas – mesmo pela imaginação – elas próprias
não são menos reais nem menos violentas por isto”.

2. Discussão

2.1 Pulsão

Conforme Garcia-Roza (1984), o termo pulsão só aparece na obra Freudiana em 1905, mas,
desde o Projeto para uma psicologia científica, de 1895 (1996a), Freud já expõe a ideia de excitações
externas e internas, as quais devem ser descarregadas assim que oscilem o princípio de estabilidade.
Nós poderíamos fugir das excitações externas, mas não das internas e nisso se baseia a mola pulsional
dos mecanismos psíquicos.

O autor ainda afirma que pulsão seria a energia psíquica contínua inespecífica, que leva a um
estado de tensão, o qual precisa ser descarregado, podendo assumir tanto a forma de um instinto quanto
de um querer, existindo antes mesmo de ambos. É algo genérico e impessoal, maior que o sujeito, algo
atemporal. Ela apenas existe, assim como o impulso de respirar, sendo a base do próprio querer, a partir
da qual se origina a necessidade, a ânsia, a vontade, o querer. Não é notado como desprazer ou como
algo desagradável, porém, torna-se angústia, se não a realizarmos, já que o objetivo da pulsão é que ela
seja satisfeita, sendo um processo dinâmico, que impulsiona o organismo em direção a um objetivo, o
equilíbrio do estado de tensão, na fonte pulsional.

Segundo Freud, a pulsão é um conceito situado na fronteira entre o psíquico e o somático, pois
ela nunca concretiza-se por si, nem a nível consciente, nem a nível inconsciente, sendo conhecida pelos
seus representantes: a ideia e o afeto – representantes psíquicos dos estímulos que se originam dentro
do organismo e alcançam as pulsões. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1996b), Freud
enfatiza que a pulsão, em si, não tem qualidade e que deve ser vista tão somente como exigência de
trabalho feita à mente. A diferença entre as pulsões é estabelecida a partir de suas fontes e alvos. Ainda
de acordo com o autor: “[...] a fonte de um instinto é um processo de excitação que ocorre num órgão e
o objetivo imediato do instinto consiste na eliminação deste estímulo orgânico” (FREUD, 1996b,
p.171) A supressão desse estímulo orgânico é algo bastante problemático para a teoria das pulsões,
senão, impossível, uma vez que a força da pulsão é constante, como está expresso em Os instintos e
suas vicissitudes (1996c).
Birman (2016) discorre a respeito de que o conceito de pulsão tem por referenciais a fonte, um
processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, a pressão, a quantidade de força que ele
representa, sendo que o objetivo é sempre a satisfação e o objeto é o fator com o qual a pulsão atinge
sua finalidade.

Segundo Garcia-Roza (1984), o alvo da pulsão é a satisfação, mas o caminho em direção ao


alvo não acontece de forma direta e imediata, já que precisa passar pelo objeto. Esse caminho esbarra
nas imposições da censura e é a razão porque Freud apresenta os destinos da pulsão como sendo
variantes da defesa contra as pulsões. No entanto, uma vez tendo surgido, ela não pode ser acabada,
pois busca a satisfação, mesmo que parcial (GARCIA-ROZA, 1984).

Assim sendo, os autores nos fazem entender que a satisfação é o objetivo da pulsão e ela só
seria satisfeita integralmente pela descarga absoluta da excitação. Isso é considerado impossível, de
acordo com a própria essência da pulsão, sendo somente possibilitada a satisfação parcial por meio dos
destinos da pulsão. Um exemplo seria o recalcamento, sobre o qual discorreremos a seguir.

2.2 Recalque

“Re” quer dizer ir de novo e “Calcar”; é deixar marcado, ou seja, a marca que fica no
inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma estratégia de fuga de conteúdos internos que
ameaçam o ego. No texto Repressão, o recalcamento é apontado por Freud (1915) como destino das
pulsões sexuais, do representante ideativo. Enquanto que a pulsão tem dois representantes psíquicos, o
representante ideativo e o afeto, o recalcamento incide apenas sobre o representante ideativo e não
sobre o afeto, que sofre uma série de variações em função do recalcamento, mas não é, ele próprio,
recalcado. O que é recalcável é o representante ideativo ao qual um afeto está ligado, mas o afeto não
pode tornar-se inconsciente. (GARCIA-ROZA, 1984).

Para Freud (1996d), o recalcamento é um processo que tem como objetivo manter inconsciente
esse representante ideativo das pulsões, cuja relação produtora de prazer afetaria o equilíbrio
psicológico do indivíduo, transformando-se em uma fonte de desprazer. O recalque é uma barreira na
qual um representante da pulsão, que prejudicaria a estabilidade psicológica, bate e volta, em um
movimento contínuo. O recalque apresenta um caráter de impedimento. Dessa maneira, ficam
inconscientes, porém, causando consequências e impondo comportamentos e atitudes: quanto maior o
conflito entre o conteúdo reprimido, que deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter
aquilo que o ameaça fora, mais se instalam consequências negativas na vida do sujeito. Trata-se de uma
força contínua de pressão que rouba muito da energia psíquica do indivíduo (FREUD, 1996d).

O recalque constitui-se em três fases distintas, sendo a inscrição (recalcamento primário), o


recalque propriamente dito (recalcamento secundário) e o retorno do recalcado (FREUD, 1996f).

Os estudos realizados presumem que existe a presença de uma inscrição sexual no consciente
original da criança, a partir do seu nascimento. Também, se entende que é impossível essa inscrição se
tornar funcional, em decorrência de um mecanismo de recalque primário instantâneo. Antes da
formação do consciente e inconsciente existem determinadas experiências e os seus significados são
inexistentes para o indivíduo, ficando fixos no sistema inconsciente, no imaginário e, assim sendo,
negados desde então, até que recebam significado, quando o sujeito se apropria da linguagem, da
verbalização. (GARCIA-ROZA, 1984).

O retorno do recalcado pode ser tanto um simples escape do processo de recalcamento, válvula
de escape funcional e útil, como os sonhos e fantasias, ou uma forma, às vezes, mais significante, como
os lapsos, atos falhos; também, pode acontecer como manifestações de verdadeiro fracasso do
recalcamento: o sintoma. Dessa forma, não é comum ao recalque que o seu mecanismo consiga impedir
que um impulso já reprimido seja reorganizado no inconsciente e possa iniciar a criação de novas
variações que, depois, venham tentar se instalar no sistema consciente.

De acordo com Freud, o processo que envolve o recalcamento é individual e característico de


cada indivíduo, ou seja, cada impulso gerado no cérebro pode ter uma vicissitude única nos sistemas
conscientes – inconsciente, modificando seu funcionamento e se tornando um ato motor. Esse retorno
não direto surge sob forma de disfarce: um deles é o sintoma. (GARCIA-ROZA, 1984).

2.3 Inconsciente

O sistema psíquico é composto pelo inconsciente e o consciente. O consciente corresponderia à


menor parte da mente humana. Nele, está tudo aquilo que podemos perceber e acessar de forma
intencional. Outro aspecto importante é que o consciente funciona de acordo com as regras sociais,
respeitando tempo e espaço. Isso significa que é por meio dele que se efetiva a nossa relação com o
mundo externo. O consciente seria, portanto, a nossa capacidade de perceber e controlar o nosso
conteúdo mental. Apenas aquela parte de nosso conteúdo mental presente no nível consciente é que
pode ser percebida e controlada por nós (PAIVA, 2011).
O inconsciente é estruturado como uma linguagem, já que precisa do simbólico; não é visto
porque não é formulado conforme seus significantes. O inconsciente é atemporal, seus conteúdos não
estão ordenados e nem sofrem a ação do tempo. O inconsciente não é um lugar físico, anatômico, mas
um lugar psíquico. Nele não estão coisas, mas as representações delas (QUINET, 1954).

Freud (1996e) nos diz que o sistema inconsciente é composto por representantes pulsionais, que
procuram descarregar sua carga energética, isto é, impulsos carregados de desejo. O sistema
inconsciente é um processo primário no qual o deslocamento e a condensação são mecanismos básicos
que caracterizam o seu funcionamento. No processo primário, a energia psíquica escoa livremente,
buscando se descarregar de forma rápida e direta, chegando à satisfação do desejo – o princípio do
prazer (FREUD, 1996e).

Dessa forma, as primeiras ideações recalcadas das pulsões originarão o aparelho psíquico que, a
partir de então, nunca para de funcionar. Freud concebe o aparelho psíquico que se constitui enquanto
aparelho de memória e de linguagem. O inconsciente, regido pelo princípio do prazer, opera segundo o
processo primário e tem uma abrangência maior que o recalcado. Entende-se que os conteúdos
inconscientes são representantes das pulsões e procuram constantemente retornar à consciência. Há
uma energia que circula livremente no inconsciente (QUINET, 1954).

As ideias, expulsas da consciência não desaparecem, não somem; elas são apenas separadas da
consciência, fundando o campo do inconsciente. Todo o conceito de inconsciente determina-se pelo
recalque e é ainda considerado por Freud como base fundamental de toda estrutura da Psicanálise
(BARATTO, 2009). A partir da escuta de seus pacientes no final do século XIX, Freud percebeu que
havia enigmas dotados de sentidos subjacentes, presentes no inconsciente, sendo um deles o sintoma,
que se manifesta pelo corpo sem o sujeito ter desejado (FREUD, 1900).

2.4 Sintoma

Segundo Moustapha (1986), ao falar de medicina, sintoma aponta uma relação entre um alerta e
seu agente etiológico, portanto, sendo um sinal de algo ou de alguma doença. Conforme o autor, para a
psicanálise, o sintoma é carregado de sentido, é o sinal e o substituto, evidência de uma pulsão que
precisa ser satisfeita e, não sendo possível alcançar seu objetivo inicial, encontra saída pelo corpo
(SAFOUAN, 1986).

Uma dessas formações é o sintoma: “Estes [sintomas] criam, portanto, um substituto da


satisfação frustrada, realizando uma regressão da libido a épocas de desenvolvimento anteriores,
regressão a que necessariamente se vincula um retorno a estádios anteriores de escolha objetal ou de
organização” (FREUD, 1976c, p. 427). Sendo assim, retorno ao somático.

Freud (1996f) supõe que o sintoma é um enigma a ser decifrado; o sintoma é expressão de um
conflito psíquico. A partir desse ponto, desenvolverá o conceito de inconsciente e a associação livre
como regra fundamental da psicanálise. O trabalho de análise consiste, então, em tornar consciente o
inconsciente, trazendo esse sentido do sintoma à luz do entendimento (FREUD, 1996f).

Conforme Freud (1996g):


O conflito surge pela frustração, em consequência da qual a libido, impedida de encontrar
satisfação, é forçada a procurar outros objetos e outros caminhos. A precondição necessária do
conflito é que esses outros caminhos e objetos suscitem desaprovação em uma parte da
personalidade, de forma que se impõe um veto que impossibilita o novo método de satisfação,
tal como se apresenta. (FREUD, 1996g, p.353).

Partindo desse conflito psíquico, o trajeto está livre para a constituição do sintoma, que traz a
fundação de uma relação de incumbência entre as duas forças contraditórias, geradoras do conflito, ou
seja, a libido que deseja satisfação e o veto (repressão) imposto pelo ego (MAIA, MEDEIROS e
FONTES, 2012).

3. Fibromialgia

A Fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica. Tem maior incidência na faixa aproximada
dos 30 aos 55 anos e em indivíduos do sexo feminino. Pesquisadores do assunto relatam que a doença
se origina pelo fato de a disposição do sistema nervoso central produzir menos serotonina, alterações
hormonais na TPM. Também estão associados, ao perfil do portador de fibromialgia, quadros
depressivos e uma disposição excessiva ao trabalho, o que leva o corpo físico a uma sobrecarga
(CHAITOW, 2002).

Segundo dados da Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica


(MYOS), a fibromialgia é uma patologia que atinge entre 2% a 5% da população adulta, dos quais 90%
são do sexo feminino. A fibromialgia não apresenta consenso na comunidade médica por não
evidenciar causas aparentemente plausíveis nem conhecidas. O portador da fibromialgia é comumente
confundido com alguém que reclama sem razão aparente. A gravidade depende da intensidade dos
sintomas, que vão desde fadiga constante, sono não reparador, dor de cabeça, dores musculares e/ou
distúrbios gastrointestinais. Indo além dos horizontes médicos atuais, a resposta para os doentes da
fibromialgia pode ser encontrada em causas emocionais (MYOS, 2018).

O diagnóstico da fibromialgia é essencialmente clínico, não existindo mudanças laboratoriais


específicas. Atinge principalmente mulheres (20 mulheres para cada homem) e tem uma importante
prevalência na população geral. Dados epidemiológicos populacionais mostram que enfermidades
caracterizadas por dor crônica alcançam taxa superior a 46,5%. No caso específico da fibromialgia,
aponta-se uma frequência entre 1% e 4%, o que a coloca como o segundo distúrbio reumatológico mais
comum (COSTA e COLS, 2005; JACOMINI e SILVA, 2007; STUGINSKI-BARBOSA, DACH e
SPECIALI, 2007; WEIDEBACH, 2002).

Freud, no final do século XIX, depara-se com a internação de milhares de mulheres


diagnosticadas como loucas, ao atender como médico. Ouve das suas pacientes queixas de dores
associadas a inúmeros sintomas sem, contudo, apresentarem doenças físicas que justificassem essas
queixas. No seu livro Estudos sobre a histeria, cuja publicação original foi em 1893 (1996h), faz um
relato dos vários casos, apresentando os sintomas, as causas e os resultados do tratamento. Muitos
desses sintomas persistiam durante anos, apareciam e desapareciam, conforme o caso, sem, no entanto,
ser diagnosticada alguma doença orgânica. O referido autor já vinha produzindo, nesse período, uma
importante interlocução com médicos estudiosos desses fenômenos. Assim, concluiu que os sintomas
das pacientes eram a resposta do corpo àquilo que estava aprisionado na “alma” e que, por meio da
fala, da associação livre, adquiriam um sentido que apontava para a cura. Nesse ínterim, muda de
técnica e inventa a Psicanálise, que estremece os pilares do pensamento e da moral da humanidade
(FREUD, 1996h).

De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor, a FB é definida como “[...]
uma experiência sensorial e emocional desagradável decorrente de lesão real ou potencial de tecidos do
organismo. Trata-se de uma manifestação basicamente subjetiva, variando sua apresentação de
indivíduo para indivíduo” (CHAITOW, 2002 p. 07). No início da Psicanálise, Freud (1996i) trabalhou
por estabelecer a peculiaridade da experiência dolorosa, tentando separá-la da angústia e do luto. Desse
modo, por meio da investigação da histeria, o médico a retratou como uma angústia que não pode ser
disponibilizada para o consciente por mecanismos de representação da própria mente, mas que contém
uma energia que precisa se manifestar e que desponta como um sintoma físico, a qual mantém uma
relação simbólica com o conflito. Ela pode revelar-se em qualquer parte do corpo ou qualquer outro
sintoma que não encontre justificativas orgânicas.
Násio (1997), ao falar sobre a dor, revela que, quando ela aparece, acredita-se atravessar uma
fronteira. Ele destaca que a dor psíquica é como uma perda do laço íntimo com o Outro, uma
dissolução brutal daquilo que é naturalmente chamado a viver junto. Na dor, existe algo que nunca
pode ser elaborado, que é a perda traumática do Outro.

Nos textos Rascunho G (1996j) e Luto e melancolia (1996k), Freud também nos fala sobre a
dor, relacionando-a à perda de um objeto. Quando ele caracteriza melancolia e luto, faz referência à
vivência dolorosa do luto que é atribuída à necessidade de abandono de uma posição libidinal (FREUD,
1996l). A retirada de investimento do objeto que foi perdido vem acompanhada de sofrimento,
justamente pelo fato do EU ter que se separar do objeto, assim como pelo ódio contra esse objeto. É
importante ressaltar que qualquer perda para o sujeito vai pressupor uma experiência de castração, uma
vez que um vínculo, de alguma forma, teve de se romper. Nesses textos, Freud já está claramente se
referindo a uma espécie de dor que é psíquica.

Numerosos autores reconhecem o importante papel dos fatores psíquicos no surgimento da


fibromialgia. Ao mesmo tempo, a maior parte deles nega a ligação dessa doença a qualquer outra
enfermidade psiquiátrica e somente o componente psicossomático é, em alguns casos, considerado.
Uma vulnerabilidade psicológica, marcada pelo estresse, por vezes, uma hiperatividade prévia, tensão
emocional constante, ansiedade e afetos depressivos podem integrar um quadro psicológico do paciente
fibromiálgico (MENKÈS, GODEAUL, 2007).

A maioria dos textos e estudos sobre o assunto mostra a possibilidade de uma comorbidade
psiquiátrica no que diz respeito à presença de transtornos de ansiedade e depressão. A indicação de
tratamento psicoterápico é citada no recente estudo brasileiro sobre o tema, ao mesmo tempo em que os
exercícios de alongamento e assimilados (HEYMAN et al., 2010). Dessa forma, a indicação de uma
abordagem multidisciplinar para o tratamento dos casos de fibromialgia parece unanimidade na maioria
dos trabalhos da área médica, figurando tanto no recente estudo brasileiro do tratamento da
fibromialgia (HEYMAN et al., 2010) quanto no relatório da Academie Française de Médecine
(MENKÈS e GODEAUL, 2007).

4. Considerações Finais

Como visto no decorrer dos estudos e pesquisas realizados, para elaborar este trabalho, o
sintoma surge por causa de uma falha no mecanismo do recalque, como consequência desse retorno do
conteúdo recalcado, numa tentativa de resolver o conflito psíquico.

Para entendermos a fibromialgia como manifestação de um conflito psicanalítico, no qual, no


contexto de conflito, podemos incluir essa constante busca pelo objeto de satisfação plena, que foi
perdido, foi necessária a compreensão da formação do inconsciente, iniciando pelas pulsões, sua
inscrição e seus destinos. Além disso, foi preciso entender o mecanismo de recalque dessas pulsões,
que não podem ser suportadas pelo consciente, mas que precisam ser liberadas de alguma forma, já que
o mecanismo de censura do inconsciente nem sempre suporta todo o conteúdo que se esforça em vir à
tona.

Com base em pesquisas realizadas, podemos considerar a fibromialgia como um possível


sintoma psicanalítico, uma vez que, em alguns casos, a fibromialgia não tem causa orgânica específica,
podendo ser, então, considerada um transtorno de origem psicológica, com manifestação orgânica.
Portanto, ratifica o íntimo relacionamento entre mente e corpo, no processo de adoecimento físico do
sujeito.

Constatamos que, para além da doença, há um sujeito em questão e que o diagnóstico em


psicanálise é estrutural, produzindo-se a partir da posição que esse sujeito ocupa frente ao objeto. O
que, para além da dor, do que o analisando diz, comporta um falar singular. Se, na medicina, o
diagnóstico é alicerçado nos fenômenos comprovados e em uma probabilidade estatística, a psicanálise
avança para além dos fenômenos, indo aos modos de enfrentar a singularidade do sofrimento.

A fibromialgia não pode ser igual para todos, ainda que haja uma tipologia, uma peculiaridade
sintomatológica na doença; é a singularidade que dirá mais sobre aquele que sofre e sobre o uso que faz
de sua dor.

Conclusão

De acordo com as pesquisas realizadas, foi possível relacionar a origem da dor física com o
movimento de satisfação das pulsões. Sendo assim, não havendo a satisfação completa da satisfação
por um objeto especifico, buscará outros caminhos e outros destinos, podendo originar, então, o
sintoma.

A inscrição da pulsão acontece no corpo, por meio de objetos que fazem a função de satisfazê-
la. A primeira experiência dessa satisfação é completa, mas somente essa primeira. Como essa
experiência é única, tem-se o registro de que esse objeto foi perdido. Como foi somente uma ilusão de
completude, não há objetos que supram todas as necessidades. A satisfação da pulsão é sempre parcial.
Está, dessa forma, registrado o primeiro conflito psíquico.

A ideia da pulsão é recalcada e assim se funda o inconsciente. O mecanismo de recalque, em


sua segunda etapa, mantém esse conflito inconsciente, até que aconteça a terceira e última, o retorno do
que foi recalcado, por meio das formações do inconsciente.

Como nos lembrou Freud (1996), o sintoma é a regressão a estágios anteriores ao somático.

Pensando sob essa ótica, podemos considerar a fibromialgia um sintoma psicanalítico, pois é
uma doença física que, na maioria dos episódios, não apresenta causa orgânica específica e acompanha
relatos de sofrimento psíquico.

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