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A QUESTAO DA L1NGUA: REVISITANDO
ALENCAR, MACHADO DE ASSIS
E CERCANIAS'
IA primeira versão deste texto foi publicada na revista Línguas e instrumentos lingüísticos.
Campinas, Pontes, jan.1jun 2001, n. 7. p. 33.51. O objetivo do texto é, ao recuperar
aspectos das nossas relações históricas com a língua portuguesa no Brasil, tentar enten"
der os problemas que ainda nos assombram nessa área.
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2 Em De Marco (1986), há uma boa resenha dos embates de José de Alencar com seus
críticos.
120 NORMA CULTA BRASilEIRA: DESATANDO ALGUNS NÓS. CarlosAlbertoForoco
ai será feito mais à frente por filólogos e lingüistas, sem que isso,
mesmo nos casos em que se deram passos concretos em tal dire-
ção - como no projeto Norma Lingüística Urbana Culta (NURC),
para a língua falada, e no projeto do Laboratório de Estudos
Lexicográficos da UNESP (Campus de Araraquara), para a língua
escrita - tenha produzido mudanças no discurso hegemônico que
diz a língua no Brasil - o que apenas reforça o caráter político da
questão desde seu início.
Esse fato de que "nos clássicos há para tudo" não envolve ne-
nhum mistério. Primeiro, porque as regras - como vimos acima
- foram estabelecidas arbitrariamente, sem maiores estudos ou
investigações. E, segundo, porque qualquer norma real - face à
extrema diversidade de usos sociais da língua - é necessaria-
mente caracterizada por variabilidade e flexibilidade.
A QUESTÃO DA líNGUA: REVISITANDO ALENCAR, MACHADO DE ASSIS E CERCANIAS 123
NocasodosclítiCÇlS,
foifeitoum pequenoestudo quantitativo sobretodos
os casos constantes nos dois textos. A diferença é gritante. A constituição
doimpériochegaa apresentar casosseveramente condenadospela atual
norma culta, comocomeçar a sentença peloclítico.
3 Note-se de passagem que até hoje esse discurso é repetido entre nós sem, porém,
qualquer efeito prático sobre a aceitação efetiva de inovações. Sempre haverá um autor
da norma curta a condenar os escritores de "falta de correção". Caso exemplar é o uso do
verbo ter com sentido de existir. Ele substituiu na fala culta brasileira o verbo hnver. É
tão universal seu uso na fala culta brasileira que é impossível afirmar que se trata de um
"solecismo da linguagem comum" ou uma mera "invenção da moda", O mais plausível é
admitir que é um fato de língua que vem "das fontes legítimas", Ainda hoje, porém, a
norma curta condena esse uso, Não bastou, portanto, que nosso maior poeta moderno
lhe tenha dado estatuto literário (mal parodiando, podemos dizer que ainda tem uma
absurda pedra no meio do caminho), Não estaria ele sendo um exemplo do "moderno que
vivifica"? Não bastou o filólogo Cândido J ucá (filho) dizer, em seu Dicionário escolar das
dificuldades dn língua portugllesa (p. 616), que se trata de "uso perfeitamente legítimo",
abonando '0 com exemplos de Eça de Queirós. Castilho e Pinheiro Chagas. Estes autores
128 NORMA CULTA8RASll8RA: DESATANDO ALGUNS NOS. ConosAlberto Foroco
lodos não são "fontes legítimas"? Será que bastará sua dicionarização, sem qualquer
restrição, pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciên"
cias de Lisboa? Nele se diz (p. 3545): "ter'
o ••III Em construções impessoais, significa o
mesmo que Iwver: Tem gente que nunca trabalholl. Tem leite no frigorífico",
A QUESTÃO DA ÚNGUA: REV1SITANDO ALENCAR, MACHADO DE ASSIS E CERCANIAS 129
Esse discurso, que vai se espraiar pelo século XX, está ainda
bem vivo entre nós, como mostra, por exemplo, a justificativa que
o deputado Aldo Rebelo ofereceu a seu projeto de lei n° 1.676/1999
que, exatamente, "dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e
o uso da língua portuguesa"'.
4 Em Faraco (org.) (2000, o leitor encontra uma extensa discussão desse infeliz projeto
(para o Qual o Senado Federal. numa tentativa de corrigir suas maiores aberrações,
aprovou, em 2001, por pressão dos lingüistas brasileiros, um texto substitutivo de autoria
do senador Amir Lando, materializado no PLC 50/2001, disponível na página do Senado
Federal na internet).
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F225n
Faraco,Carlos Alberto
Norma culta brasileira: desatando alguns nós I Carlos Alberto Faraco.'
Sào Paulo, Parábola Editorial, 2008.
200p. - (Ungualgem] ; 25)
Inclui bibliografia
15BN 978-85-88456-82-2
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