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Aula 6 – Movimentos Argumentativos

Apresentação

Na aula anterior, abordamos os aspectos estruturais do texto


argumentativo e os pressupostos teóricos das sequências textuais,
enfocando, detalhadamente, a sequência argumentativa prototípica.
Nesta aula, vamos estudar acerca dos movimentos argumentativos de
aprovação, refutação e concessão. Para você melhor compreender, a
aula está assim subdividida: “Movimento argumentativo de aprovação”,
“Movimento argumentativo de refutação” e “Movimento argumentativo de
concessão”. Esclarecemos que não exaurimos as várias discussões sobre
os temas abordados, portanto, é importante que você pesquise outras
referências teóricas.

Objetivos

 Definir movimento argumentativo.


 Reconhecer os movimentos argumentativos de aprovação, refutação e
concessão.

Movimento Argumentativo
Os movimentos argumentativos, como sabemos, definem a direção geral
de uma argumentação, sinalizando o posicionamento do sujeito em relação aos
argumentos que lhe são expostos. Este posicionamento pode ser de
concordância, parcial ou total, como também refutação de uma dada
proposição, assim, no processo de argumentação é preciso a transformação de
estados de julgamento do interlocutor. Para tanto, faz-se necessário que se
organize, do estado de pensamento 1 ao estado 2 (E1  E2), um movimento
argumentativo global, ou seja, uma escolha e uma articulação dos argumentos
por meio de conectores específicos que determinem a orientação e a força
argumentativas. É necessário atentar para o fato de que a presença de um
movimento argumentativo global presente num texto, não exclui a participação
de outros movimentos no interior desse mesmo texto. Podemos ter um texto
com um propósito argumentativo de refutação, mas encontrarmos presentes
nesse mesmo texto, os movimentos de aprovação ou concessão localizados,
dependendo de como se efetivou a estruturação argumentativa do texto.
Certamente um dos movimentos vai prevalecer, mas não impossibilita a
presença de outro movimento.
Para tanto, três movimentos de argumentação podem ser estabelecidos:
o primeiro, o movimento de aprovação, consiste em reforçar a proposição
inicial por meio de argumentos; o segundo, o movimento de refutação, que se
passa da formulação de uma contra-argumentação à afirmação de uma
argumentação e o terceiro, o movimento de concessão, fundamenta-se na
existência de uma contradição aparente que será resolvida. Veremos a seguir
cada um destes movimentos separadamente.
MOVIMENTOS ARGUMENTATIVOS

MOVIMENTO DE
APROVAÇÃO
MOVIMENTO DE
REFUTAÇÃO
MOVIMENTO DE
CONCESSÃO

Movimento argumentativo de aprovação


O movimento de aprovação consiste em reforçar a proposição inicial por
meio de argumentos, na expectativa de manter um acordo de posicionamentos,
um consenso. Parte-se do pressuposto de que a pressuposição, o enunciado, a
posição do seu oponente em relação à verdade ou não do conteúdo da
sentença não é tão evidente, assim, ao invés de se discutir, contestar,
questionar um ponto de vista, este é defendido, problematizado.
O sujeito, nessa perspectiva, se apodera da mesma posição do seu
oponente, ele pode não pretender se implicar argumentativamente, pode não
ter conhecimento o suficiente para questionar ou confrontar-se a uma dada
proposição ou pelo valor de verdade da proposição, ele prefere não
problematizar, mantendo-se a distância. Nesse sentido, no movimento de
aprovação não se estabelece um painel de questionamento. O sujeito,
portanto, pode ou não se engajar em relação a uma dada proposição.
Para Charaudeau (2012, p. 230), há um tipo de argumentação em que “o
sujeito pode escolher não se implicar pessoalmente na argumentação”
chamada de argumentação demonstrativa, este tipo descrito pelo autor é
bastante semelhante ao movimento de aprovação, em ambos o sujeito não
contesta a proposição posta, temos assim, um processo de não engajamento,
pois o sujeito escolhe não se envolver na argumentação, mas mantê-la à
distância. Alguns elementos linguísticos estão presentes nesse tipo de
argumentação, conforme Charaudeau (2012, p. 230)

• qualificações objetivas, verificáveis e precisas.


• uma descrição das operações de pensamento (operações
ditas cognitivas) as quais se dedica o sujeito que demonstra:
“observar, examinar, postular que, fazer a hipótese que,
etc.”.
• o emprego de frases impessoais, que apagam a presença do
sujeito que argumenta: “convém dizer”, ‘o problema aqui
colocado e o seguinte’, “é logico que”, etc.
• o uso de citações e de referências sob forma de parênteses,
notas, remissões, etc. (CHARAUDEAU, 2009, p. 230).

Movimento argumentativo de refutação


Refutar é negar a relevância do ponto de vista dado pelo adversário. O
objetivo da refutação é a destruição do discurso atacado, objetiva tornar
insustentável um discurso.
Para Plantin (2008), do ponto de vista científico, uma proposição é
refutada se for provada que ela é falaciosa, interrogável, contraditória em suas
previsões; já do ponto de vista dialogal, faz referência à contradição existente
na realidade. Assim, refutar é colocar em discussão a verdade ou não das
proposições emitidas em relação a um fato, um objeto, um evento, uma
pessoa.
No movimento da refutação, passa-se da formulação de uma contra-
argumentação à afirmação de uma argumentação: anulam-se os argumentos
contrários à tese defendida dados na cena enunciativa (os contra-argumentos),
salientando-se o aspecto errôneo do julgamento inicial (não é verdade que... /
mas isso não...), ou coloca-se em dúvida a validade dos argumentos,
assinalando consequências inevitáveis (mas isso não parece verdadeiro neste
momento...), para em seguida, apresentar novos argumentos em favor de uma
nova conclusão, ou seja, traz elementos novos na tentativa de influenciar o
posicionamento do outro.
A refutação é uma medida reativa, que pressupõe sempre um ato prévio
da afirmação de que ele se opõe. A refutação sempre reage a um ato
representativo. Se a relação entre o conteúdo de uma contraprova e a
afirmação anterior é uma relação de oposição, isto significa que existe uma
divergência entre as partes. Mas a refutação pode ser estabelecida também
polifonicamente como relação conflituosa entre dois pontos de vista
enunciativos (TUTESCU, 2005).

Alguns marcadores de refutação

a negação

alguns verbos: refutar, discordar, contestar, opor-se, etc.

algumas expressões metalinguísticas: é falso que..., não é verdadeiro


que...,... etc.

alguns lexemas: você cometeu erros, ledo engano, você deve estar
enganado, mas isso não confere...

alguns operadores argumentativos: ao contrário, mesmo assim etc.

algumas conjunções adversativas: mas, entretanto, porém, não obstante,


contudo..

Veja um exemplo do movimento argumentativo de refutação no artigo


retirado da sessão Tendências e Debates, publicada todos os sábados no
jornal Folha de São Paulo. Nessa sessão, são apresentados dois artigos, um
com resposta positiva e outro com resposta negativa para uma pergunta que é
lançada, geralmente sobre um assunto polêmico, em evidência na mídia,
durante a semana. A pergunta que gerou o texto analisado foi:

Exemplo 1

As universidades estatais devem reservar vagas para alunos de escolas


públicas?

NÃO. A ilusão das cotas.

O projeto da reserva de vagas aprovado pelo Senado tem tudo para receber a
aprovação popular. Dá a impressão de resolver uma grave injustiça social e parece
mesmo que equilibram ricos e pobres nas universidades públicas, que vêm sendo
descritas ultimamente como um universo de privilegiados. Entretanto ele nada resolve
e muito menos equilibra; ao contrário, multiplica os problemas e amplia, se não
aprofunda, as discriminações. Poderia, neste curto espaço, afirmar que o projeto fere a
autonomia universitária, garantida em Constituição. Pouco adiantaria esse argumento
num país que deixa a educação superior transformar-se em negócio, e negócio
movido pelo ânimo exclusivo do lucro. A visão estreita do que seja ensino superior
público costuma abolir as diferenças, como se a homogeneização das universidades,
desde o acesso dos estudantes, as fortalecesse como provedoras do mercado.
Qualquer pessoa medianamente informada sabe qual vai ser, em futuro muito
próximo, o custo de tamanha estreiteza: o agravamento das assimetrias entre o Brasil
e os países mais avançados, o aprofundamento da dependência, a cultura reflexa (que
nada tem de “cultura”) etc. Subdesenvolvimento vai ser pouco. O projeto, se
consolidado, vai castigar todas as famílias que, a contragosto e, na maior parte, com
sacrifícios, foram compelidas a matricular os filhos em escolas privadas de ensino
fundamental e médio, por acreditar que, nestas, a instrução de boa qualidade se alia a
processos formativos integrais e totalizantes, desenvolvidos em ambiente saudável e
seguro. Os perfis socioeconômicos dos matriculados em universidades públicas e
disponíveis nestas mostram com clareza essa opção forçada que os pais fizeram por
saberem ou sentirem que nessas universidades o ensino será de melhor qualidade,
porque nelas se cultiva ainda a ideia de que devem ser o lugar dos melhores alunos.
Infelizmente, o projeto demonstra, por vias travessas, a falência do ensino público
fundamental e médio; mais ainda, dá sinais de descrença em todos os projetos do
governo que formulam a possibilidade de recuperação desses níveis de ensino.
Propondo-se a reserva de vagas, confirma-se o desconhecimento que muitos políticos
têm das universidades públicas. Imaginam eles que as universidades são fábricas de
profissionais demandados pelo mercado. Esquecem-se das funções que as
universidades públicas desempenham com diferentes grau e natureza, por razões
históricas e geográficas; esquecem-se principalmente, no quadro dessas funções,
daquela que as centraliza no Brasil: a pesquisa científica e tecnológica. Como abrigar
alunos fora das exigências de qualidade? Fazendo isso, não se estará praticando o
inverso do pretendido pelo projeto, ou seja, não se estará aumentando o índice (já
elevado) de evasão de alunos? Que tal um projeto de investimento maciço e
necessariamente prioritário na qualidade do ensino público fundamental e médio? Se
isso ocorresse – e estou convicto de que as universidades públicas se empenhariam
na sua concretização –, em pouco tempo teríamos estudantes egressos de escolas
públicas competindo em pé de igualdade com os das escolas privadas nos processos
seletivos para o ensino superior; e, depois de mais algum tempo, a desvantagem seria
do outro lado, a começar do fato de que poucas escolas privadas subsistiriam. Que
famílias iriam procurá-las se o ensino público gratuito fosse de boa ou de melhor
qualidade?

Antônio Manoel dos Santos Silva, 57, professor de literatura brasileira, é reitor da Universidade
Estadual Paulista (UNESP) e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais
Paulistas (CRUESP).

Fonte: “A lei dos crimes hediondos deve ser revogada?” (Folha de São Paulo - 3 out.
1999). Acesso: 30 de junho de 2013.

O artigo em questão revela uma resposta negativa para a pergunta


lançada1. Nele observamos de que forma a organização linguística do
movimento de refutação foi estabelecida, a saber:
 O artigo busca se posicionar negativamente em relação a um
projeto, na época aprovado pelo Senado, que prevê a reserva de
vagas nas universidades estatais para alunos de escola pública.
 1º momento
Texto com um propósito argumentativo de refutação, mas
encontramos presentes nesse mesmo texto, o movimento de
aprovação localizado: no início do texto observa-se uma
concordância parcial com a ideia do projeto, o autor procura
envolver o interlocutor nas suas ideias:

“O projeto da reserva de vagas aprovado pelo senado tem tudo para receber a
aprovação popular. Dá a impressão de resolver uma grave injustiça social”.

 2º momento
Coloca-se em dúvida a validade dos argumentos: após
parecer concordar parcialmente, ocorre a refutação da ideia,
através de uma negação frontal:

“ele nada resolve e muito menos equilibra; ao contrário, multiplica os


problemas e amplia, se não aprofunda, as discriminações”.

1
As análises aqui expostas foram adaptadas do artigo intitulado: A refutação no gênero artigo de opinião,
de Clemilton Lopes Pinheiro, Revista Letras, Curitiba, n. 65, p. 173-189, jan./abr. 2005. Editora UFPR,
 3º momento
Apresenta-se novo argumento em favor de uma nova
conclusão, na tentativa de influenciar o posicionamento do
leitor: apresenta um primeiro argumento que poderia justificar a
refutação, mas o próprio locutor assume que esse argumento não
é pertinente para o caso. O fato de o locutor refutar o próprio
argumento constitui uma forte estratégia argumentativa.

“Poderia, neste curto espaço, afirmar que o projeto fere a autonomia


universitária, garantida em Constituição. Pouco adiantaria esse argumento num
país que deixa a educação superior transformar-se em negócio, e negócio
movido pelo ânimo exclusivo do lucro.”

 4º momento
Apresentação de uma sequência de argumentos colocando
em discussão a verdade das proposições emitidas: se o
projeto “fere a autonomia universitária, garantida em
Constituição”, e isso não serve como argumento que justifique a
sua reprovação é porque esse projeto trará para o país
consequências muito mais sérias. Ao longo do texto, o locutor vai
apresentando outras justificativas para sua refutação:

“o agravamento das assimetrias entre o Brasil e os países mais avançados, o


aprofundamento da dependência, a cultura reflexa (que nada tem de “cultura”)
etc. Subdesenvolvimento vai ser pouco” [...]

 Conclusão: Ao longo do texto, o locutor vai apresentando outras


justificativas para sua refutação e para concluir, ele apresenta
uma forma alternativa de resolver o problema. O artigo expõe,
portanto, dois movimentos: um de recusa e outro de justificação
dessa recusa. O movimento de recusa se manifestada
linguisticamente por meio de uma força negativa aplicada à
asserção, que é retomada por “o projeto” e por “a reserva de
vagas”. Para imprimir essa negação são usados o operador
argumentativo “ao contrário” e as locuções “vai castigar”,
“demonstra falência”, “dá sinais de descrença”, as quais são
empregadas também para encadear os componentes
argumentativos.
Atividade 1
Veja o artigo a seguir retirado da sessão Tendências e Debates,
publicada no jornal Folha de São Paulo e, a partir da análise anterior, faça
uma apreciação de como se efetivou o movimento de refutação, destacando os
principais marcadores usados para colocar em discussão a verdade ou não das
proposições emitidas em relação ao fato.

A cobrança de pedágio urbano é uma boa alternativa para o trânsito?

NÃO. Rua, a maior expressão do bem público.

A Constituição, ao disciplinar as limitações ao poder de tributar, em seu artigo 150, V,


proíbe a instituição de tributos interestaduais ou intermunicipais que limitem o tráfego
de pessoas ou bens, excetuando a cobrança do pedágio. Tal dispositivo traz ínsita a
proibição constitucional às limitações à liberdade de locomoção, como forma de
reforçar o direito fundamental de ir e vir. No entanto, a exceção prevista para a
cobrança de pedágio somente se aplica às vias interestaduais e intermunicipais, pois o
referido artigo só permite a criação dos tributos com essa natureza. Em outro dizer, o
permissivo constitucional só se refere à cobrança de pedágio em vias que extrapolem
o limite municipal, aplicando-se a regra da não tributação da locomoção no interior da
urbe. Além disso, o dispositivo constitucional em comento também estabelece que a
cobrança de pedágio serve para financiar a manutenção das rodovias. Esse ponto traz
à tona outra inconstitucionalidade do projeto proposto em São Paulo, pois a regra que
se cria é o financiamento também da própria obra, o que acaba por onerar por demais
o cidadão usuário, em contrariedade ao texto constitucional. A diferenciação de regras
para as vias intermunicipais e intramunicipais se deve ao fato de que o município é o
centro da vida ativa (ou de atividades) das pessoas. A rua é a maior expressão que se
tem de um bem público e não se pode privar ou restringir o acesso a ela, sob pena de
prejudicar drasticamente a liberdade e a vida civil dos munícipes. Ora, num país em
que as pessoas mal têm condições de arcar com os custos do transporte popular (ou
público), instituir pedágio para circular dentro da cidade é por total descabido. O
pedágio, aliás, como tributo mais antigo, é cobrado desde a Idade Média na travessia
de cidades, jamais dentro delas. A instituição do pedágio urbano num país pobre tem
consequências catastróficas. As pessoas não podem ser alijadas da liberdade de se
locomover em sua cidade, pois tal locomoção representa a execução das suas
necessidades mais básicas. E foi atento a isso que o constituinte apenas previu a
instituição de pedágios em vias intermunicipais e interestaduais. Vê-se que o
município de São Paulo, após seguidas administrações que levaram sua saúde
financeira a estado terminal, agora busca financiar a construção de ruas por meio da
iniciativa privada. Até aí, tudo bem. No entanto, a forma proposta para tapar o rombo
orçamentário só vai servir aos mais abastados, que poderão pagar mais um tributo
para poder circular com seus automóveis pela cidade. Isto é, além de pagar IPI, ICMS,
imposto sobre combustíveis, IPVA e licenciamento, terá de pagar mais um tributo para
poder circular nas vias urbanas. Tal tributação conota verdadeiro confisco, esbarrando,
então, em outra limitação ao poder de tributar, expressa no artigo 150, IV, da
Constituição Federal. Além disso, cria-se uma forma odiosa de discriminação social,
pois o rico poderá circular livremente pela via “pública” de qualidade, a qual será
mantida com a arrecadação do pedágio e terá um trânsito mais livre, enquanto o mais
pobre terá de ficar parado na via pública, que tem a qualidade que bem conhecemos.
É o poder aquisitivo diferenciando as pessoas, diante de um bem público e
demasiadamente necessário para que as pessoas gozem da forma mais rudimentar
de liberdade, que é o direito de locomoção. Trata-se de solucionar o problema
somente para as classes mais abastadas, relegando ao resto o caos hoje instaurado.
Tal fato acaba por contrariar outro dispositivo constitucional, que estabelece como
objetivo da República Federativa do Brasil a erradicação da marginalização e a
redução das desigualdades sociais, bem como a construção de uma sociedade justa e
livre. A cobrança do pedágio não representará melhoria nenhuma para os demais
cidadãos (sejam eles usuários de transporte privado ou público), uma vez que o
projeto de lei não prevê nenhuma forma de retorno das verbas arrecadadas ao
município, ficando os efeitos de tal dinheiro limitados aos usuários das vias taxadas e
à empreiteira que a administrar. O peso do erro acumulado através dos anos, que
deixou esse patrimônio negativo, tem que ser compartilhado com todos, ricos e
pobres.

Celso Ribeiro Bastos, 61, advogado constitucionalista, é professor de pós-graduação em direito


constitucional e direito das relações econômicas internacionais da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) de São Paulo e diretor geral do IBDC (Instituto Brasileiro de Direito
Constitucional). E-mail: ibdc@aldeiaglobal.com.br

Fonte: “A cobrança de pedágio urbano é uma boa alternativa para o trânsito?” (Folha
de São Paulo – 9 out. 1999). Acesso: 30 de junho de 2013.

Movimento argumentativo de concessão


O movimento de concessão é considerado um pouco mais complexo
que os movimentos de aprovação e refutação. Ele fundamenta-se na existência
de uma contradição aparente que será resolvida, apresentam-se, inicialmente,
argumentos que conduzem a uma conclusão A, para em seguida, apresentar
argumentos que negam parcialmente a conclusão A e conduzem a uma
conclusão B. Admite-se a afirmação inicial, mas contesta-se que ela possa
levar a conclusão sugerida ou subtendida. Essa conclusão é recusada ou
modificada e é frequentemente em função dessa modificação ou recusa que se
descobre o que podia ser a conclusão inicial.
O movimento de concessão realiza um movimento de argumento em
dois tempos, conforme Vigner (1996):
Em primeiro lugar, apresenta-se um argumento que vai à mesma direção
que o argumento anterior proposto por um interlocutor em relação a um
determinado ponto de vista, ou seja, há uma tentativa de estabelecimento de
um acordo, de uma negociação entre quem argumenta e quem contra-
argumenta, chegando o contra-argumentador a aceitar que em um determinado
ponto o argumento anterior é admissível e plausível.
Mas, num segundo passo desse movimento, dá-se uma mudança de
orientação argumentativa com a finalidade de guiar o interlocutor, assim, se
opõem argumentos que vai à direção oposta e tem um valor maior do que o
argumento anterior. Este contra-argumento tem a intenção de retificar o que até
então tinha sido exposto. É uma estratégia de grande poder argumentativo e
com força de convencimento intensa.
Para Charaudeau (2012, p. 2018), o raciocínio da concessão se insere
num raciocínio dedutivo, por haver uma forte analogia na formação lógica
destes dois modos de encadeamento mental de argumentos. Para o autor
“consiste em aceitar A1, em colocá-la como verdadeira (fazer uma concessão)
e ao mesmo tempo, retificar a relação argumentativa”, ou seja, inicialmente,
admiti-se a afirmação de partida, mas contesta-se que ela possa levar à
conclusão proposta ou subtendida.
Plantin (2008, p. 85) refletindo sobre o movimento de concessão, analisa
que:

pela concessão, o argumentador modifica sua posição


diminuindo suas exigências ou concordando com o adversário
em pontos controversos. Do ponto de vista estratégico, ele
recua em nome do bom funcionamento das coisas. A
concessão e um momento essencial da negociação, entendida
como discussão sobre um desacordo aberto, tendendo ao
estabelecimento de um acordo.

Podemos destacar como principais marcadores de concessão: i) as


conjunções concessivas: embora, apesar de, mesmo que, conquanto, ainda
que, se bem que, posto...; e ii) as conjunções adversativas em algumas
construções: concordo, no entanto...; sim, mas...; você tem razão, mas...etc.

Expressões para marcar um movimento de concessão

As expressões destinadas a marcar um movimento de concessão são


muitas. Estes recursos linguísticos são muito eficazes quando utilizados para
convencer alguém. Você pode usar:

- Pode ser que...


- Não é de todo impossível que...
- A questão é se...
- Provavelmente... mas...
- Mas é claro...
- É perfeitamente aceitável... mas...

Essas expressões podem ser adicionadas a todas as formas e expressões que


são organizados da seguinte forma:

Reconhecimento dos fatos Oposição

- reconhecer, admitir, conceder - mas


- é verdade / realidade / certo / seguro - em realidade
- certamente - finalmente
- definitivamente - porém
- evidentemente - ainda
- incontestavelmente - assim mesmo
- indubitavelmente
- inegavelmente
- efetivamente

Há duas maneiras de dar o seu parecer:


1. Neutra: reconhecer os fatos e aconselhar;
2. Pessoal: começar por dar a sua opinião e reconhecer os fatos.

Fonte: Adaptado de: VIGNER, G. Écrire pour convaincre: observer... s’antraîner... écrire.
Paris Hachette Livre, 1996, p. 54-69.

Veja a seguir um exemplo do movimento argumentativo de concessão


no artigo disponível em:
<http://www.estadao.com.br/noticia_imp.php?req=impresso,embora-
excepcional-renuncia-do-papa-nao-era-imprevisivel-,1000742,0.htm> Acesso
em: 28 fev. 2013.

Embora excepcional, renúncia do papa não era imprevisível


24 de fevereiro de 2013 | 2h 05
Mario Vargas Llosa - O Estado de S.Paulo

Não sei por que razão a abdicação de Bento XVI causou tanta surpresa; embora
excepcional, não era algo imprevisível. Bastava vê-lo, fragilizado e como perdido no
meio das multidões nas quais sua função obrigava que ele submergisse, fazendo
esforços sobre-humanos para parecer o protagonista destes espetáculos obviamente
estranhos ao seu temperamento e vocação. Diferentemente do seu predecessor, João
Paulo II, que se movia como um peixe n'água entre essas massas de fiéis e curiosos
que o papa congrega em todas as suas aparições, Bento XVI parecia totalmente
alheio a esses faustos gregários que constituem tarefas imprescindíveis do pontífice
na atualidade. Desse modo compreende-se melhor sua resistência a aceitar a cadeira
de São Pedro que lhe foi imposta pelo conclave, há oito anos, e à qual, como ficamos
sabendo agora, nunca aspirou. Só abandonam o poder absoluto com a facilidade com
que ele acaba de fazê-lo aqueles raros indivíduos que, em vez de cobiçá-lo,
depreciam-no.
Não era um homem carismático nem um comunicador, como Karol Wojtyla, o papa
polonês. Era um homem de biblioteca e de cátedra, de reflexão e de estudo,
seguramente um dos pontífices mais inteligentes e cultos que a Igreja Católica teve
em toda a sua história. Numa época em que as ideias e as razões importam muito
menos que as imagens e os gestos, Joseph Ratzinger já era um anacronismo, pois
pertencia ao grupo mais seleto de uma espécie em extinção: o dos intelectuais.
Refletia com profundidade e originalidade, respaldado por uma enorme informação
teológica, filosófica, histórica e literária, adquirida na dezena de línguas clássicas e
modernas que dominava, entre elas latim, grego e hebraico. Embora concebidos
sempre dentro da ortodoxia cristã, mas com um critério muito amplo, seus livros e
encíclicas ultrapassavam com frequência o estritamente dogmático e continham
reflexões inovadoras e ousadas sobre os problemas morais, culturais e existenciais do
nosso tempo que leitores ateus podiam ler com proveito e, muitas vezes - como
aconteceu comigo - com profunda perturbação. Seus três volumes dedicados a Jesus
de Nazaré, sua pequena autobiografia e suas três encíclicas - sobretudo a segunda,
Spe Salvi, de 2007, dedicada à análise da natureza bifronte da ciência que pode
enriquecer de maneira extraordinária a vida humana, mas também destruí-la e
degradá-la - têm um vigor dialético e uma elegância expositiva que as destacam
nitidamente entre os textos convencionais e redundantes, escritos para os convictos,
que, há muito tempo, o Vaticano costuma produzir.
Período de crise. Bento XVI viveu num dos períodos mais difíceis enfrentados pelo
Cristianismo em seus mais de 2 mil anos de história. A secularização da sociedade
avança a largos passos, principalmente no Ocidente, cidadela da Igreja até poucas
décadas atrás. Esse processo se agravou com os grandes escândalos de pedofilia nos
quais estão envolvidas centenas de sacerdotes católicos, que parte da hierarquia
protegeu ou tratou de ocultar e continuam se revelando em toda parte, ao lado das
acusações de lavagem de dinheiro e de corrupção que atingem o Banco do Vaticano.
O furto de documentos perpetrado por Paolo Gabriele, o próprio mordomo e homem
de confiança do papa, trouxe à luz as lutas ferozes, as intrigas e os obscuros enredos
de facções e dignitários da Cúria Romana que o poder tornou inimigos.
Ninguém pode negar que Bento XVI respondeu a esses desafios descomunais com
valentia e determinação, embora sem sucesso. Ele fracassou em todas as suas
tentativas, porque a cultura e a inteligência não bastam para se orientar no labirinto da
política terrena e para enfrentar o maquiavelismo dos interesses criados e os poderes
fáticos no seio da Igreja, outro ensinamento trazido à luz nesses oito anos de
pontificado de Bento XVI, que foi descrito, com toda justiça, pelo jornal L'Osservatore
Romano como "um pastor rodeado por lobos".
Mas é preciso reconhecer que, graças a ele, o reverendo Marcial Maciel Degollado, o
mexicano de antecedentes satânicos, recebeu por fim um castigo oficial na Igreja e a
congregação fundada por ele, a Legião de Cristo, que até então havia recebido apoios
vergonhosos na mais alta hierarquia vaticana, está sendo reformulada. Bento XVI foi o
primeiro papa a pedir perdão pelos abusos sexuais em colégios e seminários
católicos, a se reunir com associações de vítimas e a convocar a primeira conferência
eclesiástica com a finalidade de colher o testemunho das próprias vítimas e de
estabelecer normas e regulamentos com o propósito de evitar a repetição no futuro de
semelhantes iniquidades. Mas também é certo que nada disso bastou para apagar o
desprestígio trazido para a instituição, pois constantemente continuam aparecendo
inquietantes sinais de que, apesar das diretivas dadas por ele, em muitos lugares, os
esforços das autoridades da Igreja ainda são orientados a proteger ou dissimular os
crimes de pedofilia que são cometidos, mais que a denunciá-los e puni-los.
Tampouco tiveram aparentemente muito sucesso os esforços de Bento XVI para pôr
fim às acusações de lavagem de dinheiro e de transações criminosas do Banco do
Vaticano. A expulsão do presidente da instituição, Ettore Gotti Tedeschi, próximo da
Opus Dei e protegido do cardeal Tarcisio Bertone, por "irregularidades de sua gestão",
decidida pelo papa, bem como sua substituição pelo barão Ernst von Freyberg,
ocorrem tarde demais para impedir os processos judiciais e as investigações policiais
já em andamento. Relacionadas, aparentemente, a operações comerciais ilícitas e
transações que alcançariam cifras astronômicas, só contribuirão para corroer a
imagem pública da Igreja e confirmar que, no seu interior, o terreno predomina às
vezes sobre o espiritual, e no sentido mais ignóbil do termo.
Conservador. Joseph Ratzinger pertencia ao setor mais progressista da Igreja durante
o Concílio Vaticano 2.º, no qual foi assessor do cardeal Frings e onde defendeu a
necessidade de um "debate aberto" sobre todos os temas, mas logo foi se alinhando
com a ala conservadora. Posteriormente, como prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé (a antiga Inquisição), foi um adversário decidido da Teologia da
Libertação e de toda forma de concessão em temas como a ordenação de mulheres, o
aborto, o casamento homossexual e até mesmo o uso de preservativos que, em algum
momento do seu passado, havia chegado a considerar admissível.
Evidentemente, isso fazia dele um anacronismo dentro do anacronismo que a Igreja se
tornou. Mas suas razões não eram tolas nem superficiais e os que a rechaçam devem
procurar entendê-las, por mais extemporâneas que nos pareçam. Estava convencido
de que, se a Igreja Católica começasse a se abrir para as reformas da modernidade,
sua desintegração seria irreversível e, em vez de abraçar a sua época, entraria em um
processo de anarquia e deslocamentos internos. Tudo isso acabaria transformando-a
em um arquipélago de seitas em luta entre si, algo semelhante às igrejas evangélicas,
algumas circenses, com as quais o catolicismo compete cada vez mais - e sem muito
sucesso - nos setores mais deprimidos e marginais do Terceiro Mundo. A única
maneira de impedir, em sua opinião, que o rico patrimônio intelectual, teológico e
artístico fecundado pelo Cristianismo se dilapidasse em uma barafunda revisionista e
em uma feira de disputas ideológicas seria preservando o denominador comum da
tradição e do dogma, embora significasse que a família católica foi se reduzindo e
marginalizando cada vez mais em um mundo devastado pelo materialismo, pela
cobiça e pelo relativismo moral.
Veredito. Julgar até que ponto Bento XVI agiu de maneira acertada ou não a esse
respeito é algo que, evidentemente, cabe apenas aos católicos. Mas nós, não crentes,
não deveríamos festejar como uma vitória do progresso e da liberdade o fracasso de
Joseph Ratzinger no trono de São Pedro. Ele não só representou a tradição
conservadora da Igreja como também sua melhor herança: a da ilustre e
revolucionária cultura clássica e renascentista que, não podemos esquecer, a Igreja
preservou e difundiu, por meio de seus conventos, bibliotecas e seminários, a cultura
que impregnou o mundo com ideias, formas e costumes que acabaram com a
escravidão e, distanciando-se de Roma, tornaram possíveis as noções de igualdade,
solidariedade, direitos humanos, liberdade e democracia, impulsionando
decisivamente o desenvolvimento do pensamento, da arte, das letras e contribuindo
para acabar com a barbárie e para promover a civilização.
A decadência e a vulgarização intelectual da Igreja evidenciada pela solidão de Bento
XVI e a sensação de impotência que aparentemente o rodearam nesses últimos anos
são sem dúvida fatores primordiais de sua renúncia e um vislumbre inquietante de
quão incompatível nossa época seja com tudo o que representa vida espiritual,
preocupação pelos valores éticos e vocação pela cultura e pelas ideias.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
MARIO VARGAS LLOSA, ESCRITOR PERUANO, RECEBEU O PRÊMIO NOBEL DE
LITERATURA EM 2010.
Fonte: Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticia_imp.php?req=impresso,embora-
excepcional-renuncia-do-papa-nao-era-imprevisivel-,1000742,0.htm> Acesso em: 28 fev. 2013.

O artigo em questão fundamenta-se na existência de uma contradição


aparente que será resolvida. Apresentam-se, inicialmente, argumentos que
conduzem a uma conclusão A, para em seguida, apresentar argumentos que
negam parcialmente a conclusão A e conduzem a uma conclusão B.
 O título já se apresenta com a conjunção concessiva “embora”
marcando uma contradição aparente: “Embora excepcional,
renúncia do papa não era imprevisível”.
 Como a concessão é um momento essencial da negociação,
entendida como discussão sobre um desacordo aberto (“Não sei
por que razão a abdicação de Bento XVI causou tanta surpresa”),
tendendo ao estabelecimento de um acordo, o argumentador do
ponto de vista estratégico, recua (utilizando uma conjunção
concessiva, já no título e na primeira linha do artigo) em nome do
bom funcionamento das coisas.
 Percebe-se que há uma tentativa de estabelecimento de um
acordo, de uma negociação entre quem argumenta (defendendo
que a abdicação do Papa causou surpresa) e quem contra-
argumenta (a abdicação de Bento XVI não era algo imprevisível),
chegando o contra-argumentador a aceitar que em um
determinado ponto o argumento anterior é admissível e plausível,
isso se verifica no uso da conjunção concessiva “embora”.
 A mudança de orientação argumentativa se dá através dos
articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos (KOCH,
2009). No artigo, percebemos claramente a presença de
articuladores marcando o movimento concessivo, entre eles
temos as conjunções concessivas e as conjunções adversativas,
vejamos:
“embora excepcional, não era algo imprevisível”,
“Embora concebidos sempre dentro da ortodoxia cristã, mas com
um critério muito amplo, seus livros e encíclicas ultrapassavam
com frequência o estritamente dogmático e continham reflexões
inovadoras e ousadas”.

“Ninguém pode negar que Bento XVI respondeu a esses desafios


descomunais com valentia e determinação, embora sem
sucesso...”.

“Mas é preciso reconhecer que, graças a ele, o reverendo Marcial


Maciel Degollado, o mexicano de antecedentes satânicos,
recebeu por fim um castigo oficial na Igreja...”.

“Tampouco tiveram aparentemente muito sucesso os esforços de


Bento XVI para pôr fim às acusações de lavagem de dinheiro e de
transações criminosas do Banco do Vaticano.”

Na concessão há o respeito, por parte do argumentador, de uma


validade em relação a um ponto de vista diferente do seu (a abdicação do Papa
era algo imprevisível), porém, esse reconhecimento não anula as próprias
convicções que o argumentador certamente tem consigo acerca do fato em
discussão. Ele demonstra plena certeza da sua tese (“Não sei por que razão a
abdicação de Bento XVI causou tanta surpresa”).
No texto, dá-se uma mudança de orientação argumentativa com a
finalidade de guiar o interlocutor, assim, se opõem argumentos que vai à
direção oposta e tem um valor maior do que o argumento anterior. Vejamos
alguns argumentos que fundamentam a tese e fornecem evidências para
apoiar a conclusão que o argumentador quer compartilhar:

“Bastava vê-lo, fragilizado e como perdido no meio das multidões nas


quais sua função obrigava que ele submergisse, fazendo esforços sobre-
humanos para parecer o protagonista destes espetáculos obviamente
estranhos ao seu temperamento e vocação.”
“Não era um homem carismático nem um comunicador, como Karol
Wojtyla, o papa polonês. Era um homem de biblioteca e de cátedra, de
reflexão e de estudo, seguramente um dos pontífices mais inteligentes e
cultos que a Igreja Católica teve em toda a sua história.”

“Bento XVI viveu num dos períodos mais difíceis enfrentados pelo
Cristianismo em seus mais de 2 mil anos de história.”

“Ele fracassou em todas as suas tentativas, porque a cultura e a


inteligência não bastam para se orientar no labirinto da política terrena e
para enfrentar o maquiavelismo dos interesses criados e os poderes
fáticos no seio da Igreja, [...] ”

Leitura complementar
Para maior aprofundamento sobre os movimentos argumentativos, você
pode fazer a leitura da seguinte obra:
CHARAUDEAU, Patrick. Modo de organização argumentativo. In: ____.
Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2009.
Na obra, Patrick Charaudeau apresenta de forma mais completa os
modos de organização do texto argumentativo.

Resumo

Nesta aula, sintetizamos os nossos estudos em relação aos movimentos


argumentativos de aprovação, refutação e concessão. Ressaltamos que os
movimentos argumentativos definem a direção geral de uma argumentação,
sinalizando o posicionamento do sujeito em relação aos argumentos que lhe
são expostos. Você viu como se estabelece cada movimento e que a presença
de um movimento argumentativo global presente num texto, não exclui a
participação de outros movimentos no interior desse mesmo texto.
Autoavaliação
Nesta aula, estudamos os movimentos argumentativos e sua
importância em definir a direção geral de uma argumentação, sinalizando o
posicionamento do sujeito em relação aos argumentos que lhe são expostos.
Partindo das análises feitas, leia o artigo a seguir e verifique qual o movimento
argumentativo global presente no texto e quais as estratégias e operadores
empregados para encadear o movimento argumentativo.

A renúncia e as ruínas

Por Ivo Lucchesi em 26/02/2013 na edição nº 735

O ato renunciante de Bento XVI exibe, para a legião de católicos em todo o mundo,
grito de alerta e um espasmo de esmorecimento. É como se alguém dissesse: “Não
suporto mais!” A retidão ética e a resistência ortodoxa, traços marcantes na história de
sua personalidade, impedem de levar adiante o mandato vitalício. Bento XVI, ao
anunciar, em caráter irrevogável, a renúncia, sutilmente, no melhor estilo germânico,
recatado, produz a abertura necessária ao questionamento do que, realmente, ocorre
nos subterrâneos das muralhas do Vaticano, extensivo às arquidioceses espalhadas
pelo mundo.
A mídia brasileira, ciente de ter diante de si, por estatística, a maior população de
católicos no mundo, sem levar em conta de que os reais praticantes são bem menos,
adota uma postura oscilante: uma pauta mista entre a sugestão de denúncia do
renunciante e informações quanto ao possível sucessor. Nossa mídia adora uma
média! Para ela, o que importa é não perder leitores nem audiência. A verdade fica em
segundo plano.
O manto da hipocrisia
É insólito o fato histórico de, no centro pulsante do coração de Roma, haver um
Estado independente: República de San Marino. Ocorrência similar não se verifica no
judaísmo, no islamismo, menos ainda, na vertente cristã do protestantismo. Não
abordaremos, aqui, as razões históricas (ou histéricas) que firmaram o fato. Basta o
registro dele. Ao instalar-se o Estado autônomo, foi aberto o portal para práticas
delituosas, seja no plano moral, seja no âmbito econômico-financeiro, a exemplo do
escândalo que, há décadas, envolveu o Banco Ambrosiano.
É claro que matérias jornalísticas, publicadas em diversas partes do mundo, trazem
conteúdos cuja origem só pode provir de fontes internas do Vaticano. Sexo e
corrupção vêm à tona. De quem jornalistas extraem tais informações? Não será Bento
XVI a declará-las. Não, ele não quer mais desgastes. Para tanto, usou a frase: “Não
tenho mais força!” A que força Bento XVI se referiu? Física ou política? As crescentes
denúncias de corrupção e de desvios sexuais, dentro e fora das fronteiras do Vaticano,
deixam claro que a razão é política. O papa não está vendendo barato sua renúncia.
Deixa, para o sucessor, pesado fardo. O enfrentamento ou a cumplicidade silenciosa.
Enfim, a renúncia de Bento XVI envia uma mensagem, sem negociações: ou a igreja
católica assume uma estratégia de varredura, eliminando todas as vergonhas de
ordem sexual e econômico-financeiras, ou terá de se expor a sucessivos desgastes de
sua credibilidade.
Qual foi o impasse subjetivo de Bento XVI para, com sua ortodoxia, não mais levar
adiante sua função vitalícia? A rigidez germânica de suas convicções ortodoxas. Com
a renúncia, ele diz ao sucessor: “Por favor, promova as transformações necessárias!”
Quais? A principal delas, no mundo de hoje, é a de liberar o clero para constituir
família, a exemplo do que Martin Lutero, há séculos, entendeu ser a solução.
Estatísticas são reveladoras: quantos casos de desvios sexuais ocorreram na vertente
cristã protestante, em confronto com as denúncias de perversão sexual nas hostes
católicas? A diferença é assombrosa. A razão que instituiu o celibato, na Idade Média,
foi de ordem econômica. Foi o modo encontrado pelo Vaticano para manter controle
rígido e receita garantida sobre cada paróquia no mundo. Somente os mais crédulos
ainda creem que não houve união carnal entre Jesus e Madalena. Não há, portanto,
nenhum fundamento religioso, capaz de condenar uma relação amorosa.
A hipocrisia mórbida (contra si) e perversa (contra o outro) que, ainda, rege o
imaginário falido do Vaticano precisa, urgentemente, ser aniquilada. Que o sucessor
tenha a coragem e força para libertar o corpo de futuras gerações de cônegos, padres,
bispos, cardeais e papas de uma “prisão” que violenta as leis da natureza. Se o
Vaticano não libertar corpos, perderá mentes. Remover o manto da hipocrisia é a
palavra de ordem. Se, assim, não for, haverá de multiplicarem-se as ruínas, até as
muralhas se desmancharem de vergonha.
***
[Ivo Lucchesi é ensaísta, articulista, doutor em Teoria Literária pela UFRJ, professor titular de
Linguagem Impressa e Audiovisual da FACHA (RJ)]
Disponível em: <observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed735_a_renuncia_e_as_ruinas>
Acesso em 28/02/2013 12:03:42

Referências

CHARAUDEAU, Patrick. Modo de organização argumentativo. In: ____.


Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2009.
p. 201-249.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaca. Argumentação e Linguagem. 5. ed. São


Paulo: Cortez,1999.

PLANTIN, Christian. A argumentação. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

TUTESCU, Mariana. L’Argumentation: introduction à l’étude du discours.


Editura Universitátii din Bucuresti, 2005.

VIGNER, G. Écrire pour convaincre: observer...s’antraîner...écrire. Paris


Hachette Livre, 1996, p. 54-69.

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