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Apresentação
Olá, aluno(a), nesta aula, você sistematizará conhecimentos sobre as
características de um texto argumentativo e sua abordagem em uma perspectiva
enunciativa e dialógica. Para você compreender com mais clareza, a aula estará
assim subdividida: uma apresentação do que se concebe, atualmente, sobre o
texto argumentativo; uma caracterização do texto argumentativo; alguns exemplos
de textos argumentativos e atividades que o(a) auxiliarão a sistematizar o
conteúdo. Ressaltamos, também, que é importante você pesquisar outras
referências que serão indicadas durante a aula.
Objetivos
Sistematizar conhecimentos sobre o texto argumentativo.
Reconhecer a estrutura do texto argumentativo.
Analisar, com proficiência, textos argumentativos em seus aspectos
estruturais e enunciativo-pragmáticos.
Texto 1
MAIORIDADE PENAL
Redução de 18 para 16 anos voltou à agenda por conta dos atos em conflito com a lei
praticados por adolescentes
O presidente da OAB nacional, Marcus Vinícius Furtado, que é contra a redução da maioridade
penal de 18 para 16 anos, admitiu pela primeira vez, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo",
que o plenário do Conselho Federal vai discutir o tema. Ele observou, e não é o único que pensa
assim, que, a despeito da polêmica, a discussão é atual, resultado do envolvimento cada vez
maior de menores de 18 anos em atos em conflito com a lei. Os crimes bárbaros praticados por
adolescentes, como foi o caso de uma dentista queimada viva em São Bernardo do Campo,
Se apelar para a opinião das ruas, os números são claros. Recentes pesquisas apontam que
mais de 90% dos entrevistados são favoráveis à redução. E aí que entra a parte crítica da
questão. As opiniões são elaboradas em cima de fatos do dia a dia, tendo, pois, forte viés
emocional. Não há garantias de mudança de cenário com a redução. A questão da violência tem
várias frentes, não se fixando apenas na política de prender. O ex-presidente da Colômbia César
atua o ex-presidente Fernando Henrique -, em entrevista ao mesmo jornal, garantiu que tais
Mas não dá para ficar alheio ao que se passa na cabeça dos brasileiros, jogando o tema para
debaixo do tapete. Sendo a favor ou contra, o momento é de discussão, o que deve ser feito
pelos vários segmentos. O silêncio que hoje marca o tema é o pior dos mundos, uma vez que, aí
sim, cria-se a verdadeira sensação de impunidade. Por força da inimputabilidade, menores de 18
anos têm sido utilizados como massa de manobra de adultos infratores, sendo eles autores e
Entre as várias propostas, a mais propícia passa pelo aumento das medidas sociais, hoje
definidas, no máximo, em três anos para crimes contra a vida. O jornalista Elio Gaspari, em sua
coluna de fim de semana nos jornais "O Globo" e "Folha de S. Paulo", defendeu o método
terceira ocasião, passa a ser tratado como maior. Trata-se de mais uma opção para entrar na
pauta.
Texto 2
Texto 3
Disponível em: http://ujspotiguar.com.br/wp-content/uploads/2013/05/cartaz-maioridade-
1.jpg. Acesso em 19.6.13.
Texto 4
jornal defende o ponto de vista de que “não dá para ficar alheio ao que se passa na
cabeça dos brasileiros, jogando o tema para debaixo do tapete. Sendo a favor ou
contra, o momento é de discussão, o que deve ser feito pelos vários segmentos.”.
Para comprovar sua tese ou ponto de vista, o jornal faz uso dos seguintes
sobretudo nas redes sociais; as recentes pesquisas que apontam o fato de que
Além disso, o texto ainda se reporta a outras vozes e opiniões (presidente da OAB
Elio Gaspari, colunista dos jornais "O Globo" e "Folha de S. Paulo") deixando
vozes em cena.
crítico com relação à temática que podemos resgatar pela imagem de uma criança
no monitor com uma tarja preta encobrindo seus olhos. Tal recurso sempre foi
utilizado com a finalidade de preservar a identidade do menor para que este não
fosse identificado. O ponto de vista do chargista pode ser explicitado pelo jogo
discursivo com as palavras verbo/verba, uma vez que o problema não estaria na
problemas nacionais que envolvem o uso dos recursos e das verbas públicas,
maioridade penal; a charge critica o uso de verba que podemos depreender como
um menor com um revólver na mão e com a afirmação de que “Alguém deu uma
oportunidade a ele e não foi o estado brasileiro”. Nessa direção, o ponto de vista é
sobre o Congresso Nacional: tal recurso visual deixa evidente que se espera que isso
seja foco do interesse dos políticos que ali estão. Ainda se espera a adesão de outrem
para o ponto de vista apresentado quando se solicita que “Se você é a favor
compartilhe”.
Portanto, você viu com esses exemplos aqui apresntados que um mesmo tema
Tal diversidade de pontos de vista sobre os mais variados fatos da realidade faz com
consensuais.
Assim, para você sistematizar melhor o que foi apresentado até aqui nesta aula,
Atividade
Analise comparativamente as capas das revistas, em anexo, considerando o
posicionamento assumido por cada uma delas acerca da redução da maioridade
penal. Atente para a relação dialógica entre as imagens e o texto verbal, pois isso
reforça os posicionamentos assumidos.
CAPA 1
CAPA 2
Como você deve ter concluído, um tema, quase sempre, suscita pontos de vista
diversos, por isso, concordamos com Mosca (2005, p. ) quando afirma que “Não há o
que discutir e argumentar onde reina o consenso. É exatamente o dissenso seu campo
de atuação.” Com esses exemplares de diferentes gêneros discursivos (editorial, charge,
pontos de vista não são consensuais nem concordantes. Também você ter concluído
também se fazem presentes em outros gêneros discursivos tais como: capa de revista,
charge, cartaz que estão presentes nesta aula e em outros aqui não apresentados:
poema, ensaio, peça teatral, conversa corriqueira, diálogo entre pai e filho, conselho,
se concretiza, então, nas diversas práticas sociais em que somos impelidos a defender
diálogo com o ponto de vista e com os argumentos alheios, os quais nem sempre são
concordantes com o nosso: para uma prática cidadã precisamos considerar, então, que
o nosso ponto de vista pode não ser o único correto e que os outros também têm direito
como:
(discurso polifônico);
domínio da opinião: do provável, do verossímil (da doxa); nunca, o do verdadeiro;
processo dialógico que coloca em jogo os julgamentos de valor; por isso não é
desprovido de ambiguidades.
auditórios particulares, mas que esta visa, frequentemente, ao auditório universal (ideal
argumentativo).
O que seria, então, um auditório? Podemos afirmar que o auditório, segundo Abreu
auditório pode variar, uma vez que pode ser um país (uma comunicação em rede
pretende convencer. Assim, um auditório pode ser tanto universal quanto particular. Um
auditório universal é aquele conjunto de pessoas sobre as quais não temos controle de
todas as variáveis. Podemos exemplificar tal auditório como aquele que assiste a um
particular, por sua vez, é aquele composto por diferentes pessoas e de cujas variáveis
temos maior controle: uma sala de aula de um curso de Letras, por exemplo. Nesse
que vai argumentar, pois um argumento que pode convencer um auditório mais
particular (seu grupo de amigos ou de sua igreja) pode não ser eficaz para um auditório
universal.
como ele os hierarquiza para ter a adesão desse grupo a quem se dirige o
conhecido o provérbio que diz que não se deve falar em corda na casa de um
Podemos fazer isso utilizando algumas técnicas conhecidas desde a Antiguidade e que
valores (ABREU, ). O nome “lugares” era utilizado pelos gregos para nomear locais
atualmente:
1 lugar de quantidade
2 lugar de qualidade
3 lugar de ordem
4 lugar de essência
5 lugar de pessoa
6 lugar do existente
melhor.
1 lugar de quantidade: nesse lugar se afirma que qualquer coisa vale mais que outra
a um número muito grande de pessoas tem mais valor do que um bem que serve
lei vai ser aprovada. A forte presença de números ou de percentuais nos leva a inferir
que o argumentador faz uso do lugar da quantidade em seu texto. Veja o cartaz abaixo
reproduzido no qual quem o produziu faz uso do lugar da quantidade a fim de garantir a
maioria sofre com discriminação racial, sem ter acesso à educação, à saúde e ao
desenvolvimento.” Veja como o número (31 milhões) confere maior fundamento ao que
se quer defender.
pois contesta a virtude do número. Assim, tenta determinar a essência de alguma coisa,
para tanto, faz uso dos seguintes elementos linguísticos: apenas, único, somente,
momentos fazemos valer o nosso ponto de vista: valorize a vida, pois ela é única;
devemos preservar alguns animais, pois são exemplares em extinção; tal peça de arte
vale milhões, pois é um exemplar único de tal artista. Ademais, ao contestar o valor da
quantidade, procura valorizar o único, o raro, o precioso, o diferente. Veja o texto abaixo
posterior, das causas sobre os efeitos, dos princípios sobre as finalidades etc. Ademais,
encadeamento (em primeiro lugar, em segundo, logo depois, então). Veja como esse
qualquer área:
Disponível em: http://www.caitasupermercados.com.br/hotsite/clubedacerveja/wp-
content/themes/clubecerveja/images/site/cervejas/tradicionais/lista/cerveja_bohemia.jpg. Acesso
em 3.7.13.
características e/ou qualidades. Por isso, alguns indivíduos passam a ser representantes
essência da qualidade, da potência: Ferrari, BMW etc. Veja como a Apple utilizou esse
lugar em campanha de 1997 que celebra figuras históricas que mudaram o mundo por
pensarem de maneira diferente e que são gênios em diferentes áreas de atuação e nos
inspiram até hoje: Ghandi, John Lennon e Yoko Ono, Einstein, Picasso e vários outros. A
alinha-se com eles e se coloca como aquela que pensa diferente também e que pode
5 lugar de pessoa: Prioriza as pessoas em detrimento das “coisas”, por isso faz uso de
prioridade ao que é feito com cuidado, com esforço, pois isso dá visibilidade ao
o recurso a esse lugar como estratégia para ressaltar a relação da emissora com o
telespectador. Isso humaniza a empresa ao deixar claro que valoriza a pessoa e não os
voando”. Veja como tal recurso é utilizado no anúncio abaixo com a finalidade de
Disponível em:
http://www.google.com.br/search?q=mais+vale+um+p%C3%A1ssaro+na+m%C3%A3o+do+que+
dois+voando+na+publicidade&hl=pt-
BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=linaUeqrNMG10QGKoYHAAg&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw
=1600&bih=791#facrc=_&imgdii=_&imgrc=SaPG7DSG02FpqM%3A%3BmkM5aSADlpwUtM%3B
http%253A%252F%252Fi40.tinypic.com%252Ft68qkz.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fdiasquev
oam.blogspot.com%252F2009%252F03%252Fmais-vale-um-passaro.html%3B300%3B371.
Acesso em 5.7.13.
Saiba mais
Atividade
afirmação, faça uma análise dos textos abaixo reproduzidos, observando o uso desses
em 4.7.13.
Texto 2
Texto 3
Disponível em: http://farm5.staticflickr.com/4017/4326921920_47eac24c2e_z.jpg?zz=1. Acesso
em 5.7.13.
Texto 4
Texto 5
Uma primeira edição exclusiva de " Harry Potter e a Pedra Filosofal " com anotações
feitas pela autora J.K. Rowling foi vendida por um valor recorde de 150 mil libras (450 mil
reais) em um leilão de caridade em Londres, informou a Sotheby's na terça-feira.
O livro de 1997, com anotações manuscritas, 22 ilustrações originais e 43 páginas de
"segundos pensamentos" feitos pela autora, atingiu o preço mais alto até hoje para um livro
de Rowling, disse a Sotheby's em comunicado.
A casa de leilões disse que a sala do leilão ficou em silêncio durante a venda do livro, com
compradores envolvidos em uma guerra de lances pela obra cobiçado, que acabou sendo
arrematada por um comprador não identificado que fez a oferta por telefone.
"Harry Potter e a Pedra Filosofal" foi o primeiro de uma série de sete livros sobre as
aventuras de um menino bruxo vivendo em um mundo dividido entre os "trouxas" e a
magia.
Existem apenas 500 primeiras edições de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", o que faz dele
o exemplar mais raro da série, que se tornou a série de livros mais vendida do mundo e foi
adaptada em uma franquia multibilionária de filmes.
Texto 6
Passemos, agora, a tratar das finalidades da argumentação, pois toda ação discursiva
interlocutor a favor de uma certa tese (situação em que o interlocutor não crê ou crê
Saiba mais
Sugerimos que você assista ao filme “O grande desafio” de 2007. Neste filme, você verá
Inspirado em uma história real, o filme enfoca a trajetória do professor Melvin Tolson
(Denzel Washington que também é o diretor do filme) para mobilizar seus alunos
lógicos/operadores argumentativos.
Saiba mais
Atividade
Analise, comparativamente, os textos, aqui transcritos, considerando os seguintes
aspectos:
A intenção comunicativa (o objetivo, a finalidade do texto);
a situação de produção (em que momento histórico foi produzido o texto);
o perfil do público-alvo (a quem se dirige o texto);
o perfil do autor (se jornalista, se professor, se chargista, se político etc);
a titulação do texto (se o título dá pistas ou não sobre o assunto a ser
tratado);
o posicionamento assumido e as estratégias utilizadas (qual o
posicionamento que o autor defende e quais as estratégias/recursos que
utiliza para tornar seu texto eficaz).
Texto 1
Disponível em:
http://s2.glbimg.com/se7zLclYnGooI1gwXEKwvS5AjmwLsD5bC4o2_tXIfXFIoz-
HdGixxa_8qOZvMp3w/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2013/06/14/capa_786.jpg. Acesso em
04.7.13.
Texto 2
Disponível em: http://veja.abril.com.br/260613/imagens/capa380.jpg. Acesso em
5.7.13.
Texto 3
Texto 4
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/754. Acesso em 05.7.13.
Texto 5
23/06/2013 - 03h00
De modo inesperado, tomaram as ruas os netos da Marcha da Família com Deus pela
Liberdade de 1964 e da Passeata dos Cem Mil de 1968. Os filhos dos que apoiaram a
eleição de Collor em 1989 e dos que se manifestaram por seu impeachment em 1992.
Todos contraditoriamente juntos.
Setores de esquerda encantaram-se com o que lhes pareceu o início de uma revolução
espontânea, mas ficaram embasbacados com as hostilidades sofridas, não por parte da
polícia, mas de alguns anticomunistas. Adeptos do PT, percebendo que o movimento
redunda em questionamentos variados a seus governos, tendem a reduzi-lo ao caráter
fascista de certos manifestantes.
Por sua vez, os defensores de causas como a tarifa zero sonham que a multidão está
envolvida numa nova democracia horizontal e plebiscitária, pacificamente movida a
internet, mas também se assustaram com a ferocidade de alguns grupos.
Em todos os pontos de vista, há algo de verdade e mistificação. O enigma começa a ser
resolvido com a pergunta: quem se lança às ruas? Ao que tudo indica até o momento, são
principalmente setores da juventude, até há pouco tida como despolitizada, e que não
deixa de expressar as contradições da sociedade.
Parece tratar-se de uma juventude sobretudo das camadas médias, beneficiadas por
mudanças nos níveis de escolaridade, mas inseguras diante de suas consequências e com
pouca formação política.
Quanto à origem dos universitários, muitos compõem a primeira geração familiar com
acesso ao ensino superior. Outros são de famílias com capital cultural e/ou econômico
elevado, atônitos com a ampliação do meio universitário.
No que se refere às expectativas, parece haver o temor de alguns de não poder manter o
padrão de vida da família e de outros de não ver realizada sua esperada ascensão social.
E por onde andam os 70% de jovens de 18 a 24 anos que não estão na escola? Alguns, no
mercado de trabalho precarizado. Outros compõem o chamado "nem nem", nem escola
nem trabalho. Massa ressentida que em parte também integra as manifestações.
No ano que vem, completam-se os 50 anos do golpe de 1964, cuja bandeira ideológica era
o combate aos políticos e à corrupção. O risco está dado novamente? Por sorte, as
manifestações trazem também reivindicações por liberdades democráticas, busca de
reconhecimento e respeito, tocando num aspecto central: a luta pelo investimento em
transporte, saúde e educação, contra a apropriação privada do fundo público.
Após feita essa atividade, esperamos que você tenha compreendido como
se realiza a argumentação em diferentes textos. Passemos, agora, ao estudo dos
componentes do discurso argumentativo para que você aprofunde mais os
conhecimentos sobre o texto argumentativo.
argumentação:
a. a tese
b. o argumento
que a argumentação implica divergência de opinião, como você viu no início desta
aula.
emblemática: vem do latim argumentum, cujo tema argu apresenta como sentido
tese, pois se constitui como forma de investigação, forma pela qual se explica e se
1. Culpabilização do adolescente.
As estatísticas (1) demonstram que apenas 0,2% dos adolescentes (entre 12 e 18 anos) estão
cumprindo alguma medida sócio-educativa no Brasil por terem cometido crimes. Isso prova que a
criminalidade não é maior nesta faixa etária, ou seja, não há um problema específico relacionado à
maioridade penal.
2. Desvio do foco das verdadeiras causas.
A discussão sobre maioridade penal desvia o foco das verdadeiras causas do problema da violência,
colocando a culpa no adolescente. As pesquisas (2) realizadas nas áreas social e educacional apontam
que no Brasil a violência está profundamente ligada a questões como: desigualdade social (diferente de
pobreza!), exclusão social, impunidade (as leis existentes não são cumpridas, independentemente de
serem "leves" ou "pesadas"), falhas na educação familiar e/ou escolar principalmente no que diz
respeito à chamada educação em valores ou comportamento ético, e, finalmente, certos processos
culturais exacerbados em nossa sociedade como individualismo, consumismo e cultura do prazer.
3. Reações emocionais motivadas pelas "más notícias" veiculadas pela mídia.
Em geral, quando tomamos conhecimento de histórias de crimes bárbaros cometidos por jovens, temos
naturalmente um sentimento de indignação, que por sinal é muito justificado. Porém, quando tomamos
contato com números que mostram que apenas 2 em cada 1000 adolescentes se envolvem em crimes,
podemos relativizar esta indignação e não generalizá-la a todos os jovens, uma vez que esses crimes
bárbaros, apesar de serem chocantes, são casos isolados.
4. Crença de que as leis mais "pesadas" resolvem o problema.
Muitas vezes imaginamos que leis mais rigorosas poderiam combater a violência e melhorar a situação
brasileira. Mas essa idéia certamente é equivocada, uma vez que encontramos vários exemplos
históricos e atuais de regimes extremamente rígidos em diversos países, que ainda assim não
conseguiram reduzir ou resolver o problema da violência. Na verdade, não precisamos de leis mais
rígidas, mas sim de rigor e ética no cumprimento das leis que já existem. Sem contar que no Brasil é
muito comum haver injustiça e preconceito na aplicação das leis. Pobres e negros lotam os presídios
enquanto políticos corruptos continuam no poder, abusando dos seus privilégios. Se as leis forem mais
rígidas, obviamente essa rigidez também afetará automaticamente o setor excluído da sociedade e não
as camadas dominantes. Sendo mais claro: da forma como estamos, se um adolescente pobre cometer
um crime certamente será preso, mas dificilmente um filho da elite sofrerá a mesma punição.
5. Satanização da adolescência pela sociedade.
Quando queremos reduzir a maioridade penal parece que há um discurso implícito que diz mais ou
menos o seguinte aos adolescentes: "nós desconfiamos de vocês... se não andarem na linha, nós
vamos puní-los com rigor!" Ou seja, passamos a cultivar um espírito de desconfiança, tratando os
adolescentes como se fossem nossos inimigos. No entanto, sabemos que a adolescência é uma fase em
que o ser humano é tomado por diversos conflitos e um forte sentimento de insegurança, de maneira
que nossa desconfiança pode ter o poder de acentuar ainda mais as dores de um período por si só
doloroso. Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para construção de
uma sociedade melhor, e não como vilões que estão colocando a nação em risco.
6. Crença de que os jovens terão medo da punição e cometerão menos crimes.
Por que temos medo de receber uma punição como a prisão? Certamente porque gostamos de viver a
vida em liberdade, temos uma boa rede de afetos (família e amigos), temos uma rotina que de alguma
forma tem atividades estimulantes, das quais não queremos abrir mão. Então, se um adolescente tiver
auto-estima baixa, pouca referência afetiva e uma vida muito difícil, será que ele vai se importar com
um punição mais rigorosa? Será que terá tanto medo quanto nós temos, a ponto de deixar de fazer
alguma coisa para não ser punido? E não são justamente estes adolescentes que cometem crimes mais
graves, os que já não têm uma vida digna a prezar? Muitos já arriscam a própria vida todos os dias
convivendo com traficantes, chefes de quadrilhas e gangues, então, por que então terão medo da lei?
As punições só podem causar medo e impedir o crime quando aprendemos a gostar de viver e sentimos
a necessidade de lutar pela vida que ganhamos e construímos. Até mesmo a morte não causará medo
em pessoas que não têm perspectiva.
7. Crença de que a prisão educa.
Reduzindo a maioridade penal, adolescente vão para a prisão. E daí? Depois de tudo o que sabemos
sobre as condições dos presídios brasileiros, como ainda acreditamos que um adolescente poderá
aprender alguma coisa e se reeducar num sistema que não oferece nenhuma condição de educar
ninguém?
8. Crença de que a lei atual é "mole" e o ECA enfatiza apenas os direitos.
Para quem pensa desta forma, o desafio é ler o Estatuto da Criança e do Adolescente. Esta lei foi criada
para proteger os menores de 18 anos de comportamentos gravíssimos cometidos por adultos, como
negligência, espancamento e abuso sexual. Mas, ao mesmo tempo que protege, garantindo os direitos,
a lei também exige os deveres e prevê reparações de erro, trabalho comunitário, tratamento e até
mesmo privação de liberdade para o caso de jovens em conflito com a lei. Assim, mais uma vez o
problema não é a lei que é frouxa, mas o fato das leis existentes não serem cumpridas ou serem
cumpridas de maneira inadequada. Muitos adolescentes que são privados da sua liberdade, por
exemplo, não ficam em instituições efetivamente preparadas para reeducar estes jovens e acabam
reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. Um ambiente adequado para cumprimento de
medidas sócio-educativas precisa contar com profissionais preparados e recursos adequados para
recuperar o ser humano.
9. Dificuldade de admitirmos a nossa parcela de responsabilidade.
O ser humano, em geral, tem a tendência de olhar muito facilmente a culpa do outro, o erro do outro,
o mal que o outro causa, e uma imensa dificuldade em olhar para si e enxergar a sua própria culpa, os
seus próprios equívocos, o seu próprio mal. É a velha e sábia história: olhamos para o cisco no olho dos
outros e não retiramos o cisco que se encontra em nossos próprios olhos. Assim, defendendo a redução
da maioridade penal corremos o risco de olhar apenas para o adolescente e esquecer o nosso próprio
egoísmo, nossa falta de solidariedade, nossa indiferença social, nosso consumismo, nossa ostentação...
fatores que reforçam a desigualdade social e contribuem para deixar os jovens mais desamparados e
perdidos em termos de valores. Não podemos simplesmente querer punir jovens que cometem crimes
sem lembrar que dos pequenos crimes de descaso que cometemos no dia-a-dia.
10. O ódio em alta.
O perdão e o amor em baixa. Este é o ponto mais difícil de ser tratado porque mexe com áreas muito
profundas do nosso ser. Certamente a indignação causada pelas notícias de jovens que cometem
crimes nos levam facilmente ao ódio e o ódio nos leva a procurar uma forma de vingança, despertando
o desejo de dar uma punição extremamente rigorosa aos criminosos. Quando pensamos do ponto de
vista da vítima, imaginando o sofrimento pelo qual passou e a dor que atingiu a família, é quase
natural que esse ódio seja reforçado. Porém, apesar de difícil, vale a pena o exercício de tentar pensar
no lado do criminoso. Um jovem que comete um crime bárbaro tem sua vida marcada para sempre
(sua consciência e o julgamento da sociedade são cruéis); uma vida que poderia ter se tornado mais
um brilho para dar luz ao mundo, foi apagada; uma energia que poderia ajudar na transformação do
mundo foi interrompida; uma chama criativa que poderia contribuir para melhorar a raça humana, foi
extinta, talvez para sempre. Se pensarmos assim, talvez encontremos um espaço para a compaixão e o
perdão... porque a vida que fica talvez não sofra menos do que a vida que se foi... Além disso, quando
assistimos um jovem que se envereda pelos caminhos tortuosos da criminalidade, de certa forma nos
deparamos com nosso próprio fracasso enquanto sociedade... fracasso por não termos conseguido
conduzir uma vida para sua realização plena e ética, enquanto ser humano.
(1)Fonte: Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SEDH).
Autoavaliação
É uma esquizofrenia tratar o menor como capaz de entender um contrato, mas incapaz de
"discernir plenamente" um homicídio
Nossa Constituição consagrou no artigo 14 que "a soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos (...) sendo o
direito ao voto facultativo aos maiores de 16 anos e menores de 18".
Por outro prisma, a Constituição estabeleceu em seu artigo 228 que "são penalmente
inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial".
A legislação especial a que faz menção o artigo veio a ser promulgada pouco após a
Constituição: O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069/90), que tratou no
campo específico do menor infrator o estabelecimento de "medidas socioeducativas" como
formas de "penas" pelos atos praticados.
Comparando o tratamento conferido ao menor caso cometa algum ato contra a lei e a
gama de direitos ao mesmo conferidos, noto uma verdadeira esquizofrenia legislativa.
O Código Civil de 2002, por exemplo, estabelece que o menor pode dispor sobre seu
patrimônio por testamento, ser mandatário em atos jurídicos, entre outras conquistas.
Não podemos ser ingênuos a ponto de imaginar que um menor que pratica um ilícito não
sabe de todo o aparato de benesses que o espera. No máximo uma condução a um
estabelecimento especial, com a aplicação de uma medida socioeducativa, prazo de
permanência ínfimo, bem como um período de prescrição da conduta mínimo.
Se 93% da população brasileira é favorável a essa redução, o mínimo que a ela se pode
ofertar é a possibilidade de exercer sua cidadania por um plebiscito.
Ou se toma uma atitude condizente com a realidade brasileira, ou o que se poderá falar
amanhã para o pai ou mãe de um filho vítima inocente de um homicídio com requintes de
crueldade? Será que aceitarão as palavras "Tenham pena do garoto, não sabe ainda o que
faz"?
Resumo
Nesta aula você estudou o texto argumentativo e suas especificidades. Você deve
textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução Maria das Graças
Soares e outros. Revisão técnica João Gomes da Silva Neto e Luis Passeggi. São
abr. 2008.
Rodrigues, 2001.
Tradução Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: Educ, 1999.
lingüísticos. In: ______. Discurso político. São Paulo: Contexto, 2006. p. 113-184.
língua ao discurso: reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 75-
89.
______. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (Org.).
2005.
1993
PERELMAN. Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado de argumentação: a
Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008. (Na ponta da língua, 21)
SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação.