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Aula 2 – O texto argumentativo I: características

Apresentação
Olá, aluno(a), nesta aula, você sistematizará conhecimentos sobre as
características de um texto argumentativo e sua abordagem em uma perspectiva
enunciativa e dialógica. Para você compreender com mais clareza, a aula estará
assim subdividida: uma apresentação do que se concebe, atualmente, sobre o
texto argumentativo; uma caracterização do texto argumentativo; alguns exemplos
de textos argumentativos e atividades que o(a) auxiliarão a sistematizar o
conteúdo. Ressaltamos, também, que é importante você pesquisar outras
referências que serão indicadas durante a aula.

Objetivos
 Sistematizar conhecimentos sobre o texto argumentativo.
 Reconhecer a estrutura do texto argumentativo.
 Analisar, com proficiência, textos argumentativos em seus aspectos
estruturais e enunciativo-pragmáticos.

O texto argumentativo: a construção do ponto de vista

Na primeira aula, você estudou as origens históricas da argumentação e deve ter


sistematizado conhecimentos sobre como a argumentação foi sendo abordada ao
longo da história. Nesta aula, iremos tratar do texto argumentativo e como se apresenta
a sua estrutura enunciativo-pragmática, ou seja, como ele se estrutura discursivamente
e a que objetivos ou intenções comunicativas ele visa a atender.
Vamos iniciar essa aula, procurando responder a pergunta: o que é argumentar?
Podemos responder, primeiramente, afirmando que, para existir a argumentação é
necessária a existência de uma questão que nos solicita um posicionamento sobre ela.
Assim, vários pontos de vista são construídos, pois os sujeitos, certamente, defenderão
pontos de vista diversos sobre diferentes questões. Pense em como são diversos os
posicionamentos sobre temas polêmicos tais como a legalização do aborto, a
legalização da pena de morte no Brasil, a redução da maioridade penal. Sobre este
último tema, veja como alguns textos veiculam diferentes posicionamentos:

Texto 1

07 de Maio de 2013 - 07:00

MAIORIDADE PENAL
Redução de 18 para 16 anos voltou à agenda por conta dos atos em conflito com a lei
praticados por adolescentes

O presidente da OAB nacional, Marcus Vinícius Furtado, que é contra a redução da maioridade

penal de 18 para 16 anos, admitiu pela primeira vez, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo",

que o plenário do Conselho Federal vai discutir o tema. Ele observou, e não é o único que pensa

assim, que, a despeito da polêmica, a discussão é atual, resultado do envolvimento cada vez

maior de menores de 18 anos em atos em conflito com a lei. Os crimes bárbaros praticados por

adolescentes, como foi o caso de uma dentista queimada viva em São Bernardo do Campo,

reforçaram a discussão, sobretudo nas redes sociais.

Se apelar para a opinião das ruas, os números são claros. Recentes pesquisas apontam que

mais de 90% dos entrevistados são favoráveis à redução. E aí que entra a parte crítica da

questão. As opiniões são elaboradas em cima de fatos do dia a dia, tendo, pois, forte viés

emocional. Não há garantias de mudança de cenário com a redução. A questão da violência tem

várias frentes, não se fixando apenas na política de prender. O ex-presidente da Colômbia César

Gavíria, membro da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia - em que também

atua o ex-presidente Fernando Henrique -, em entrevista ao mesmo jornal, garantiu que tais

atitudes, assim como o internamento compulsório, não resolvem nada.

Mas não dá para ficar alheio ao que se passa na cabeça dos brasileiros, jogando o tema para

debaixo do tapete. Sendo a favor ou contra, o momento é de discussão, o que deve ser feito

pelos vários segmentos. O silêncio que hoje marca o tema é o pior dos mundos, uma vez que, aí
sim, cria-se a verdadeira sensação de impunidade. Por força da inimputabilidade, menores de 18

anos têm sido utilizados como massa de manobra de adultos infratores, sendo eles autores e

vítimas da maioria das ocorrências.

Entre as várias propostas, a mais propícia passa pelo aumento das medidas sociais, hoje

definidas, no máximo, em três anos para crimes contra a vida. O jornalista Elio Gaspari, em sua

coluna de fim de semana nos jornais "O Globo" e "Folha de S. Paulo", defendeu o método

americano, que dá ao adolescente três chances de se recuperar. Se incorrer em crime numa

terceira ocasião, passa a ser tratado como maior. Trata-se de mais uma opção para entrar na

pauta.

Disponível em: http://www.tribunademinas.com.br/opini-o/editorial/maioridade-penal-1.1273136.


Acesso em 3.5.13.

Texto 2

Disponível em: http://www.ivancabral.com/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-


03:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-03:00&max-results=50. Acesso em 3.5.13.

Texto 3
Disponível em: http://ujspotiguar.com.br/wp-content/uploads/2013/05/cartaz-maioridade-
1.jpg. Acesso em 19.6.13.
Texto 4

Disponível em: http://blogpolifonia.files.wordpress.com/2013/05/internautas-participam-de-


corrente-a-favor-da-reduc3a7c3a3o-da-maioridade-penal-no-facebook.jpg. Acesso em
27.6.13.

Como você pode observar o mesmo tema “Redução da maioridade penal”

suscitou pontos de vista ou posicionamentos diferentes no editorial, na charge e

nos cartazes (textos 3 e 4) reproduzidos acima. No texto 1, que é um editorial, o

jornal defende o ponto de vista de que “não dá para ficar alheio ao que se passa na

cabeça dos brasileiros, jogando o tema para debaixo do tapete. Sendo a favor ou
contra, o momento é de discussão, o que deve ser feito pelos vários segmentos.”.

Para comprovar sua tese ou ponto de vista, o jornal faz uso dos seguintes

argumentos: os crimes bárbaros praticados por adolescentes, como foi o caso de

uma dentista queimada viva em São Bernardo do Campo, reforçaram a discussão,

sobretudo nas redes sociais; as recentes pesquisas que apontam o fato de que

mais de 90% dos entrevistados são favoráveis à redução”; o silêncio reforça a

sensação de impunidade; as medidas sociais são mais propícias para o problema.

Além disso, o texto ainda se reporta a outras vozes e opiniões (presidente da OAB

nacional, Marcus Vinícius Furtado; O ex-presidente da Colômbia César Gavíria,

membro da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia e O jornalista

Elio Gaspari, colunista dos jornais "O Globo" e "Folha de S. Paulo") deixando

evidente que a argumentação se constrói em um processo dialógico com diferentes

vozes em cena.

No texto 2, por sua vez, o chargista expõe um ponto de vista polêmico e

crítico com relação à temática que podemos resgatar pela imagem de uma criança

no monitor com uma tarja preta encobrindo seus olhos. Tal recurso sempre foi

utilizado com a finalidade de preservar a identidade do menor para que este não

fosse identificado. O ponto de vista do chargista pode ser explicitado pelo jogo

discursivo com as palavras verbo/verba, uma vez que o problema não estaria na

concordância verbal inadequada no enunciado “nós é de menor”, mas sim, no uso

da verba. Para uma leitura proficiente que recuperaria o ponto de vista do

chargista, o leitor precisaria acionar seu conhecimento de mundo sobre todos os

problemas nacionais que envolvem o uso dos recursos e das verbas públicas,

principalmente, aquelas concernentes a um trabalho que vise a minimizar os

problemas sociais advindos da ausência de políticas públicas para a educação,

para a infância, para a contenção da violência. Como podemos ver, enquanto o


editorial defende o ponto de vista de que é necessário discutir o tema da

maioridade penal; a charge critica o uso de verba que podemos depreender como

sendo o mau uso do dinheiro público.

No texto 3, o enunciador claramente expõe o seu posicionamento: “Redução da

maioridade penal não”. Tal posicionamento é corroborado pela imagem impactante de

um menor com um revólver na mão e com a afirmação de que “Alguém deu uma

oportunidade a ele e não foi o estado brasileiro”. Nessa direção, o ponto de vista é

apresentado e também se argumenta que o estado brasileiro não tem oferecido

oportunidades ou não tem se preocupado com a infância ou com a juventude.

No texto 4, o posicionamento claramente explícito é aquele favorável à redução

da maioridade penal para 16 anos. Atente para a imagem agigantada do número 16

sobre o Congresso Nacional: tal recurso visual deixa evidente que se espera que isso

seja foco do interesse dos políticos que ali estão. Ainda se espera a adesão de outrem

para o ponto de vista apresentado quando se solicita que “Se você é a favor

compartilhe”.

Portanto, você viu com esses exemplos aqui apresntados que um mesmo tema

pode suscitar diferentes posicionamentos e isso se dá por que os sujeitos são

heterogêneos, ocupam lugares diferentes na sociedade, têm visões de mundo diversas.

Tal diversidade de pontos de vista sobre os mais variados fatos da realidade faz com

que os posicionamentos também sejam diversos e nem sempre concordantes ou

consensuais.

Assim, para você sistematizar melhor o que foi apresentado até aqui nesta aula,

faça a atividade abaixo.

Atividade
Analise comparativamente as capas das revistas, em anexo, considerando o
posicionamento assumido por cada uma delas acerca da redução da maioridade
penal. Atente para a relação dialógica entre as imagens e o texto verbal, pois isso
reforça os posicionamentos assumidos.
CAPA 1

Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2013/05/capa-


veja-orfaos-impunidade.jpg. Acesso em 19.6.13.

CAPA 2

Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/-_xo_5u4jHD8/UX6j1cCX7SI/AAAAAAAAPhk/r---


mc2z-tc/s400/528328_4096804998461_1420444745_n.jpg. Acesso em 19.6.13.

Como você deve ter concluído, um tema, quase sempre, suscita pontos de vista

diversos, por isso, concordamos com Mosca (2005, p. ) quando afirma que “Não há o

que discutir e argumentar onde reina o consenso. É exatamente o dissenso seu campo
de atuação.” Com esses exemplares de diferentes gêneros discursivos (editorial, charge,

cartaz, capa de revista) confirmamos que, mesmo em torno de um mesmo tema, os

pontos de vista não são consensuais nem concordantes. Também você ter concluído

que posicionamentos e argumentos (elementos próprios do texto argumentativo)

também se fazem presentes em outros gêneros discursivos tais como: capa de revista,

charge, cartaz que estão presentes nesta aula e em outros aqui não apresentados:

poema, ensaio, peça teatral, conversa corriqueira, diálogo entre pai e filho, conselho,

debate de ideias em uma parada de ônibus.

Assim, podemos concluir que a argumentação é atividade de linguagem e

constitui nossas ações verbais em diversas situações. Nesse sentido, a argumentação

se concretiza, então, nas diversas práticas sociais em que somos impelidos a defender

nossos posicionamentos, a nos posicionarmos frente a questões que estão em pauta na

sociedade, seja em situações formais ou informais. Nessa atividade, entramos em

diálogo com o ponto de vista e com os argumentos alheios, os quais nem sempre são

concordantes com o nosso: para uma prática cidadã precisamos considerar, então, que

o nosso ponto de vista pode não ser o único correto e que os outros também têm direito

de defender posições divergentes e até conflitantes com aquilo em que acreditamos.

A partir disso, podemos, então, refletir sobre a argumentação considerando-a

como:

 Operação que se apoia num enunciado aceito, o argumento, para conduzir a um

enunciado menos aceitável, a conclusão;

 sustentação de certo ponto de vista com as razões que o fundamentam;

 confrontação, de modo polêmico ou cooperativo, de um discurso e de um

contradiscurso orientados para uma mesma questão, o que põe, em última

análise, o problema de que os argumentadores entendem o discurso do outro

(discurso polifônico);
 domínio da opinião: do provável, do verossímil (da doxa); nunca, o do verdadeiro;

 processo dialógico que coloca em jogo os julgamentos de valor; por isso não é

desprovido de ambiguidades.

Além disso, precisamos considerar que o público-alvo da argumentação são os

auditórios particulares, mas que esta visa, frequentemente, ao auditório universal (ideal

argumentativo).

O que seria, então, um auditório? Podemos afirmar que o auditório, segundo Abreu

(200_) é o conjunto de pessoas que queremos persuadir e convencer. O tamanho de um

auditório pode variar, uma vez que pode ser um país (uma comunicação em rede

nacional), um grupo de pessoas de uma escola ou apenas uma pessoa a quem se

pretende convencer. Assim, um auditório pode ser tanto universal quanto particular. Um

auditório universal é aquele conjunto de pessoas sobre as quais não temos controle de

todas as variáveis. Podemos exemplificar tal auditório como aquele que assiste a um

programa de televisão em rede nacional: são homens e mulheres de todas as classes

sociais; de profissões diversas; de idades diferentes e de regiões diversas. Um auditório

particular, por sua vez, é aquele composto por diferentes pessoas e de cujas variáveis

temos maior controle: uma sala de aula de um curso de Letras, por exemplo. Nesse

caso, temos um conjunto de informações mais preciso de idade, de grau de instrução,

de interesses, de região. Assim, conhecer o auditório é tarefa necessária para aquele

que vai argumentar, pois um argumento que pode convencer um auditório mais

particular (seu grupo de amigos ou de sua igreja) pode não ser eficaz para um auditório

universal.

Dessa forma, quem argumenta precisa conhecer os valores de seu auditório ou

como ele os hierarquiza para ter a adesão desse grupo a quem se dirige o

posicionamento. Segundo Abreu (, p. ), “As hierarquias de valores variam de pessoa


para pessoa, em função da cultura, das ideologias e da própria história pessoal. É

conhecido o provérbio que diz que não se deve falar em corda na casa de um

enforcado.” Por isso, conhecer os valores do auditório é essencial na argumentação,

pois rejeitar seus valores pode comprometer todo o processo de convencimento ou de

adesão que se almeja alcançar.

Como se consegue, então, rehierarquizar os valores do nosso auditório?

Podemos fazer isso utilizando algumas técnicas conhecidas desde a Antiguidade e que

recebiam o nome de “lugares da argumentação”. Esses lugares da argumentação são,

portanto, premissas de ordem geral usadas para reforçar a adesão a determinados

valores (ABREU, ). O nome “lugares” era utilizado pelos gregos para nomear locais

virtuais facilmente acessíveis, onde o orador pudesse ter argumentos à disposição, em

momento de necessidade. Eis alguns lugares da argumentação com os quais lidamos

atualmente:

1 lugar de quantidade

2 lugar de qualidade

3 lugar de ordem

4 lugar de essência

5 lugar de pessoa

6 lugar do existente

Vejamos, agora, detalhadamente, cada um deles para que você os compreenda

melhor.

1 lugar de quantidade: nesse lugar se afirma que qualquer coisa vale mais que outra

em razão de questões quantitativas. Segundo o lugar de quantidade, um bem que serve

a um número muito grande de pessoas tem mais valor do que um bem que serve

apenas a um pequeno grupo. Da mesma forma, um bem mais durável é superior a um


bem menos durável e assim por diante. É no lugar de quantidade que encontramos

alguns dos fundamentos da democracia: a maioria é quem decide a eleição ou se uma

lei vai ser aprovada. A forte presença de números ou de percentuais nos leva a inferir

que o argumentador faz uso do lugar da quantidade em seu texto. Veja o cartaz abaixo

reproduzido no qual quem o produziu faz uso do lugar da quantidade a fim de garantir a

eficácia da argumentação: “O Brasil tem 31 milhões de crianças negras e indígenas. A

maioria sofre com discriminação racial, sem ter acesso à educação, à saúde e ao

desenvolvimento.” Veja como o número (31 milhões) confere maior fundamento ao que

se quer defender.

Disponível em: Disponível em: http://www.onu.org.br/unicef-e-governo-do-distrito-federal-lancam-


campanha-contra-racismo-na-infancia/. Acesso em 27.6.13.

2 lugar de qualidade: Valoriza o único e o raro; contrapõe-se ao lugar de quantidade,

pois contesta a virtude do número. Assim, tenta determinar a essência de alguma coisa,

para tanto, faz uso dos seguintes elementos linguísticos: apenas, único, somente,

principalmente, o maior, o menor e correlatos. Com essa estratégia, em alguns

momentos fazemos valer o nosso ponto de vista: valorize a vida, pois ela é única;

devemos preservar alguns animais, pois são exemplares em extinção; tal peça de arte
vale milhões, pois é um exemplar único de tal artista. Ademais, ao contestar o valor da

quantidade, procura valorizar o único, o raro, o precioso, o diferente. Veja o texto abaixo

de uma campanha do Greenpeace pela preservação da Amazônia. Nesse texto, o lugar

da qualidade é utilizado a fim de conseguir a adesão para a defesa do precioso, daquela

que é considerada a maior floresta brasileira com um número inestimável de espécies e

algumas delas em extinção como é o caso do mico leão dourado.

Disponível em: http://blog.ypsilon2.com/fp-content/images/104_greenpeace2.jpg. Acesso em


5.7.13.

3 lugar de ordem: O lugar de ordem demarca a superioridade do anterior sobre o

posterior, das causas sobre os efeitos, dos princípios sobre as finalidades etc. Ademais,

funciona como elemento hierarquizador e se constitui como fundamento da

competitividade. No discurso, O lugar/valor da ordem é muito utilizado como elo

sinalizador na hierarquia discursivo/textual, pois limita partes do discurso e estrutura seu

encadeamento (em primeiro lugar, em segundo, logo depois, então). Veja como esse

lugar é utilizado na publicidade de uma cerveja, pois para vender o produto é

incontestável o valor de ser o primeiro, de ser pioneiro(a), de ser o fundador(a) em

qualquer área:
Disponível em: http://www.caitasupermercados.com.br/hotsite/clubedacerveja/wp-
content/themes/clubecerveja/images/site/cervejas/tradicionais/lista/cerveja_bohemia.jpg. Acesso
em 3.7.13.

4 lugar de essência: O lugar de essência valoriza indivíduos como representantes bem

caracterizados de uma essência. Assim, valoriza-se determinadas características de

vultos históricos, celebridades, autoridades que passam a ser representantes dessas

características e/ou qualidades. Por isso, alguns indivíduos passam a ser representantes

de determinadas essências: da beleza, da inteligência, da irreverência, da criatividade,

da rebeldia. Da mesma forma, algumas marcas de carro passam a representar a

essência da qualidade, da potência: Ferrari, BMW etc. Veja como a Apple utilizou esse

lugar em campanha de 1997 que celebra figuras históricas que mudaram o mundo por

pensarem de maneira diferente e que são gênios em diferentes áreas de atuação e nos

inspiram até hoje: Ghandi, John Lennon e Yoko Ono, Einstein, Picasso e vários outros. A

empresa, ao valorizar essas figuras como representantes de diferentes essências,

alinha-se com eles e se coloca como aquela que pensa diferente também e que pode

mudar o mundo tanto quanto eles.


Disponível em: http://www.tomorrowstarted.com/wp-content/uploads/2011/10/albert-einstein-
think-different-apple-advertising-2.jpg. Acesso em 5.7.13.

5 lugar de pessoa: Prioriza as pessoas em detrimento das “coisas”, por isso faz uso de

um tom tom humanista, emotivo. Valoriza a pessoa e não o produto, principalmente, na

publicidade esse recurso é utilizado para “humanizar” a empresa, o empreendimento, o

produto. Vincula-se à dignidade da pessoa, ao seu mérito, a sua autonomia. Confere

prioridade ao que é feito com cuidado, com esforço, pois isso dá visibilidade ao

envolvimento pessoal. A publicidade da Rede Globo, abaixo reproduzida, deixa evidente

o recurso a esse lugar como estratégia para ressaltar a relação da emissora com o

telespectador. Isso humaniza a empresa ao deixar claro que valoriza a pessoa e não os

números da audiência, afinal, “A gente se liga em você”.


6 lugar do existente: Prioriza o que existe em em lugar do que não existe; do que é

atual, do que é real em relação ao possível, ao eventual ou ao impossível. Tal recurso é

a base da argumentação no provérbio: “Mais vale um pássaro na mão do que dois

voando”. Veja como tal recurso é utilizado no anúncio abaixo com a finalidade de

persuadir o cliente a adquirir a jóia verdadeira e não a imitação:

Disponível em:
http://www.google.com.br/search?q=mais+vale+um+p%C3%A1ssaro+na+m%C3%A3o+do+que+
dois+voando+na+publicidade&hl=pt-
BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=linaUeqrNMG10QGKoYHAAg&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw
=1600&bih=791#facrc=_&imgdii=_&imgrc=SaPG7DSG02FpqM%3A%3BmkM5aSADlpwUtM%3B
http%253A%252F%252Fi40.tinypic.com%252Ft68qkz.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fdiasquev
oam.blogspot.com%252F2009%252F03%252Fmais-vale-um-passaro.html%3B300%3B371.
Acesso em 5.7.13.

Saiba mais

Entende-se por discurso polifônico aquele em que há uma heterogeneidade de


vozes, de discursos. Para você se informar mais, sugerimos a leitura do livro:
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez,
2001.

Atividade

Os lugares da argumentação são, portanto, premissas de ordem geral usadas para

reforçar a adesão a determinados valores (ABREU, ). Tomando por base essa

afirmação, faça uma análise dos textos abaixo reproduzidos, observando o uso desses

lugares como estratégia argumentativa.


Texto 1

Disponível em: http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/albarus5.jpg. Acesso

em 4.7.13.

Texto 2

Disponível em: http://healthshare.com.br/media/wysiwyg/elements/milhoes-usam-Herbalife.jpg.


Acesso em 4.7.13.

Texto 3
Disponível em: http://farm5.staticflickr.com/4017/4326921920_47eac24c2e_z.jpg?zz=1. Acesso
em 5.7.13.

Texto 4

Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/-


zv6k0AkWUVE/T6vWRC7dC5I/AAAAAAAATu8/7eKVTIjqxRI/s400/chanel5.jpg. Acesso em
5.7.13.

Texto 5

Edição rara de "Harry Potter" atinge valor recorde em leilão


Com anotações feitas por J.K. Rowling, exemplar de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" é
vendido por R$ 450 mil reais

Reuters | 22/05/2013 12:07:15

Uma primeira edição exclusiva de " Harry Potter e a Pedra Filosofal " com anotações
feitas pela autora J.K. Rowling foi vendida por um valor recorde de 150 mil libras (450 mil
reais) em um leilão de caridade em Londres, informou a Sotheby's na terça-feira.
O livro de 1997, com anotações manuscritas, 22 ilustrações originais e 43 páginas de
"segundos pensamentos" feitos pela autora, atingiu o preço mais alto até hoje para um livro
de Rowling, disse a Sotheby's em comunicado.
A casa de leilões disse que a sala do leilão ficou em silêncio durante a venda do livro, com
compradores envolvidos em uma guerra de lances pela obra cobiçado, que acabou sendo
arrematada por um comprador não identificado que fez a oferta por telefone.

"Harry Potter e a Pedra Filosofal" foi o primeiro de uma série de sete livros sobre as
aventuras de um menino bruxo vivendo em um mundo dividido entre os "trouxas" e a
magia.

Existem apenas 500 primeiras edições de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", o que faz dele
o exemplar mais raro da série, que se tornou a série de livros mais vendida do mundo e foi
adaptada em uma franquia multibilionária de filmes.

Disponível em: http://jovem.ig.com.br/cultura/livros/2013-05-22/edicao-rara-de-harry-potter-


atinge-valor-recorde-em-leilao.html. Acesso em 5.7.13.

Texto 6

Disponível em: http://www.ccsp.com.br/_img/full/anuarios/13/1062.jpg. Acesso em 5.7.13.

Passemos, agora, a tratar das finalidades da argumentação, pois toda ação discursiva

tem uma intenção, uma finalidade, um objetivo a ser alcançado.

Quais são as finalidades da argumentação?

No exercício argumentativo, diferentes objetivos/finalidades são acionados. Eis

alguns mais predominantes, segundo Brandão (2001):

1 Produzir uma mudança de mentalidade/comportamento: procura-se a adesão do

interlocutor a favor de uma certa tese (situação em que o interlocutor não crê ou crê

parcialmente na tese defendida pelo autor).


2 Reforçar determinado ponto de vista (quando o interlocutor já crê ou crê quase

completamente na tese que o autor defende).

3 Levar a conhecer, a compreender as razões pelas quais o autor defende

determinada tese, não objetivando, necessariamente, a adesão do interlocutor.

4 Refutar, mediante contra-argumentação, um ponto de vista do qual o autor discorda

(situação em que o autor se recusa a crer em determinada tese).

Saiba mais

Sugerimos que você assista ao filme “O grande desafio” de 2007. Neste filme, você verá

a construção da argumentação tendo em vista a participação em debate universitário.

Inspirado em uma história real, o filme enfoca a trajetória do professor Melvin Tolson

(Denzel Washington que também é o diretor do filme) para mobilizar seus alunos

(negros) a participarem de um campeonato de debates na Universidade de Harvard.

Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-57931/. Acesso em 19.6.13.

A estrutura do texto argumentativo: a tese e os argumentos


Nesta seção, você estudará a estrutura do texto argumentativo que

apresenta uma organização lógica: teses apoiadas em argumentos, cuja relação

lógico-semântica deve estar mais ou menos explicitada por conectores

lógicos/operadores argumentativos.

No texto argumentativo, é inegável a importância dos índices da enunciação

(quem fala? a quem fala?) que indicam/revelam a posição do autor em relação ao

seu enunciado: o grau de certeza (modalizadores), a natureza do julgamento

(avaliativo). Assim, o texto argumentativo tem a intenção de convencer e/ou

persuadir que mobiliza, com fins pessoais, o entrelaçamento de textos explicativos

e injuntivos: utilização parcial de exemplos, de perguntas retóricas.

Saiba mais

Denominam-se operadores argumentativos os elementos linguísticos que


associam as funções de segmentação, responsabilidade enunciativa
(gerenciamento das vozes enunciativas/pontos de vista) e orientação
argumentativa. Esse conteúdo você estudará na aula 7.
Segundo Bronckart (1999, p. 330), "os modalizadores têm a finalidade de
traduzir, a partir de qualquer voz enunciativa, os diversos comentários ou
avaliações formulados a respeito de alguns elementos do conteúdo temático”.
Esse conteúdo será enfocado nas aulas 3 e 4.
A pergunta retórica não tem como objetivo a resposta. Ela funciona como
estratégia retórica com objetivos de: fazer com que o interlocutor compartilhe ideias
e posiciomentos; manter a interlocução/interação com o interlocutor; promover a
reflexão sobre aquilo que se deseja.

Atividade
Analise, comparativamente, os textos, aqui transcritos, considerando os seguintes
aspectos:
 A intenção comunicativa (o objetivo, a finalidade do texto);
 a situação de produção (em que momento histórico foi produzido o texto);
 o perfil do público-alvo (a quem se dirige o texto);
 o perfil do autor (se jornalista, se professor, se chargista, se político etc);
 a titulação do texto (se o título dá pistas ou não sobre o assunto a ser
tratado);
 o posicionamento assumido e as estratégias utilizadas (qual o
posicionamento que o autor defende e quais as estratégias/recursos que
utiliza para tornar seu texto eficaz).

Texto 1

Disponível em:
http://s2.glbimg.com/se7zLclYnGooI1gwXEKwvS5AjmwLsD5bC4o2_tXIfXFIoz-
HdGixxa_8qOZvMp3w/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2013/06/14/capa_786.jpg. Acesso em
04.7.13.

Texto 2
Disponível em: http://veja.abril.com.br/260613/imagens/capa380.jpg. Acesso em
5.7.13.

Texto 3

Disponível em: https://sphotos-b.xx.fbcdn.net/hphotos-


prn1/s720x720/1016674_136376993227618_22532340_n.jpg. Acesso em 5.7.13.

Texto 4
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/754. Acesso em 05.7.13.

Texto 5

23/06/2013 - 03h00

Marcelo Ridenti: Que juventude é essa?

De modo inesperado, tomaram as ruas os netos da Marcha da Família com Deus pela
Liberdade de 1964 e da Passeata dos Cem Mil de 1968. Os filhos dos que apoiaram a
eleição de Collor em 1989 e dos que se manifestaram por seu impeachment em 1992.
Todos contraditoriamente juntos.

Claro, em outro contexto. Diversidade de insatisfações com sinais ideológicos misturados,


que se expressam também nas várias interpretações, cada qual identificando no
movimento a realização dos próprios desejos e tentando influenciá-lo.

Setores de esquerda encantaram-se com o que lhes pareceu o início de uma revolução
espontânea, mas ficaram embasbacados com as hostilidades sofridas, não por parte da
polícia, mas de alguns anticomunistas. Adeptos do PT, percebendo que o movimento
redunda em questionamentos variados a seus governos, tendem a reduzi-lo ao caráter
fascista de certos manifestantes.

Os conservadores -inclusive na imprensa, sobretudo televisiva- ressaltam os protestos


ordeiros contra a corrupção, tentando restringir o movimento a um aspecto pontual, como
se todas as mazelas da ordem constituída se devessem à malversação das verbas
públicas pelo PT.

Por sua vez, os defensores de causas como a tarifa zero sonham que a multidão está
envolvida numa nova democracia horizontal e plebiscitária, pacificamente movida a
internet, mas também se assustaram com a ferocidade de alguns grupos.
Em todos os pontos de vista, há algo de verdade e mistificação. O enigma começa a ser
resolvido com a pergunta: quem se lança às ruas? Ao que tudo indica até o momento, são
principalmente setores da juventude, até há pouco tida como despolitizada, e que não
deixa de expressar as contradições da sociedade.

Parece tratar-se de uma juventude sobretudo das camadas médias, beneficiadas por
mudanças nos níveis de escolaridade, mas inseguras diante de suas consequências e com
pouca formação política.

Dados do MEC apontam que há hoje cerca de 7 milhões de universitários. O acesso ao


ensino superior praticamente dobrou em uma década. Em 2000, eram admitidos
anualmente 900 mil calouros. Em 2011, quase 1,7 milhão. Dois terços no ensino privado.

A título de comparação, tome-se a década das manifestações estudantis. Em 1960, havia


35.909 vagas disponíveis no ensino superior, número que saltou para 57.342 em 1964,
ano do golpe de Estado, chegando a 89.582 no tempo das revoltas de 1968, a maioria no
ensino público. Em termos absolutos, a evolução foi enorme. Não obstante, apenas 15%
dos brasileiros com idade para estar na faculdade cursam o ensino superior.

Quanto à origem dos universitários, muitos compõem a primeira geração familiar com
acesso ao ensino superior. Outros são de famílias com capital cultural e/ou econômico
elevado, atônitos com a ampliação do meio universitário.

No que se refere às expectativas, parece haver o temor de alguns de não poder manter o
padrão de vida da família e de outros de não ver realizada sua esperada ascensão social.

Produziu-se uma massa de jovens escolarizados, com expectativas elevadas e incertezas


quanto ao futuro, sem encontrar pleno reconhecimento no mercado de trabalho nem
tampouco na política. Ademais, detecta-se insatisfação com o individualismo exacerbado.

Em suma, um meio social efervescente em busca de causas na era da i(nc)lusão pelo


consumo, em meio à degradação da vida urbana.

E por onde andam os 70% de jovens de 18 a 24 anos que não estão na escola? Alguns, no
mercado de trabalho precarizado. Outros compõem o chamado "nem nem", nem escola
nem trabalho. Massa ressentida que em parte também integra as manifestações.

No ano que vem, completam-se os 50 anos do golpe de 1964, cuja bandeira ideológica era
o combate aos políticos e à corrupção. O risco está dado novamente? Por sorte, as
manifestações trazem também reivindicações por liberdades democráticas, busca de
reconhecimento e respeito, tocando num aspecto central: a luta pelo investimento em
transporte, saúde e educação, contra a apropriação privada do fundo público.

Chegaram ao limite as possibilidades de mudança dentro das estruturas sociais


consolidadas no tempo da ditadura e que não foram tocadas após a redemocratização?
Será possível aperfeiçoar a democracia política, também num sentido social? Abre-se um
tempo de incertezas.

MARCELO RIDENTI, 54, é professor titular de sociologia na Universidade Estadual de Campinas e


autor de "O Fantasma da Revolução Brasileira".
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/06/1299690-marcelo-ridenti-que-
juventude-e-essa.shtml. Acesso em 05.7.13.

Após feita essa atividade, esperamos que você tenha compreendido como
se realiza a argumentação em diferentes textos. Passemos, agora, ao estudo dos
componentes do discurso argumentativo para que você aprofunde mais os
conhecimentos sobre o texto argumentativo.

Os componentes do discurso argumentativo

O discurso argumentativo apresenta dois componentes que estruturam a

argumentação:

a. a tese

b. o argumento

O que é uma tese? É uma proposição admitida como verdadeira. É a Ideia

que defendemos; é a posição que assumimos, necessariamente polêmica, uma vez

que a argumentação implica divergência de opinião, como você viu no início desta

aula.

E o que é o argumento? Etimologicamente, a palavra argumento é

emblemática: vem do latim argumentum, cujo tema argu apresenta como sentido

primeiro "fazer brilhar", "iluminar“; é a mesma raiz de "argênteo", "argúcia",

"arguto”. Nesse sentido, o argumento “ilumina” o ponto de vista, a tese, usando,

para tanto, a argúcia. Portanto, o argumento é a prova que fornece sustentação à

tese, pois se constitui como forma de investigação, forma pela qual se explica e se

defende um posicionamento (tese).

Analisemos o manifesto do Instituto Não-Violência, abaixo reproduzido,


considerando a organização da argumentação (estrutura argumentativa: tese do
autor/argumentos). Veja que podemos afirmar que a tese proposta no manifesto é
“Somos contra a redução da maioridade penal”. As dez razões apresentadas
funcionam como argumentos que dão sustentação à tese: são as provas (dados
estatísticos, resultados de pesquisas, fatos da realidade, documentos legais e
argumentos de ordem subjetiva) pelas quais se explica e se defende o
posicionamento (a tese).

Manifesto Projeto Não-Violência

10 razões porque somos contra a redução da maioridade penal

1. Culpabilização do adolescente.
As estatísticas (1) demonstram que apenas 0,2% dos adolescentes (entre 12 e 18 anos) estão
cumprindo alguma medida sócio-educativa no Brasil por terem cometido crimes. Isso prova que a
criminalidade não é maior nesta faixa etária, ou seja, não há um problema específico relacionado à
maioridade penal.
2. Desvio do foco das verdadeiras causas.
A discussão sobre maioridade penal desvia o foco das verdadeiras causas do problema da violência,
colocando a culpa no adolescente. As pesquisas (2) realizadas nas áreas social e educacional apontam
que no Brasil a violência está profundamente ligada a questões como: desigualdade social (diferente de
pobreza!), exclusão social, impunidade (as leis existentes não são cumpridas, independentemente de
serem "leves" ou "pesadas"), falhas na educação familiar e/ou escolar principalmente no que diz
respeito à chamada educação em valores ou comportamento ético, e, finalmente, certos processos
culturais exacerbados em nossa sociedade como individualismo, consumismo e cultura do prazer.
3. Reações emocionais motivadas pelas "más notícias" veiculadas pela mídia.
Em geral, quando tomamos conhecimento de histórias de crimes bárbaros cometidos por jovens, temos
naturalmente um sentimento de indignação, que por sinal é muito justificado. Porém, quando tomamos
contato com números que mostram que apenas 2 em cada 1000 adolescentes se envolvem em crimes,
podemos relativizar esta indignação e não generalizá-la a todos os jovens, uma vez que esses crimes
bárbaros, apesar de serem chocantes, são casos isolados.
4. Crença de que as leis mais "pesadas" resolvem o problema.
Muitas vezes imaginamos que leis mais rigorosas poderiam combater a violência e melhorar a situação
brasileira. Mas essa idéia certamente é equivocada, uma vez que encontramos vários exemplos
históricos e atuais de regimes extremamente rígidos em diversos países, que ainda assim não
conseguiram reduzir ou resolver o problema da violência. Na verdade, não precisamos de leis mais
rígidas, mas sim de rigor e ética no cumprimento das leis que já existem. Sem contar que no Brasil é
muito comum haver injustiça e preconceito na aplicação das leis. Pobres e negros lotam os presídios
enquanto políticos corruptos continuam no poder, abusando dos seus privilégios. Se as leis forem mais
rígidas, obviamente essa rigidez também afetará automaticamente o setor excluído da sociedade e não
as camadas dominantes. Sendo mais claro: da forma como estamos, se um adolescente pobre cometer
um crime certamente será preso, mas dificilmente um filho da elite sofrerá a mesma punição.
5. Satanização da adolescência pela sociedade.
Quando queremos reduzir a maioridade penal parece que há um discurso implícito que diz mais ou
menos o seguinte aos adolescentes: "nós desconfiamos de vocês... se não andarem na linha, nós
vamos puní-los com rigor!" Ou seja, passamos a cultivar um espírito de desconfiança, tratando os
adolescentes como se fossem nossos inimigos. No entanto, sabemos que a adolescência é uma fase em
que o ser humano é tomado por diversos conflitos e um forte sentimento de insegurança, de maneira
que nossa desconfiança pode ter o poder de acentuar ainda mais as dores de um período por si só
doloroso. Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para construção de
uma sociedade melhor, e não como vilões que estão colocando a nação em risco.
6. Crença de que os jovens terão medo da punição e cometerão menos crimes.
Por que temos medo de receber uma punição como a prisão? Certamente porque gostamos de viver a
vida em liberdade, temos uma boa rede de afetos (família e amigos), temos uma rotina que de alguma
forma tem atividades estimulantes, das quais não queremos abrir mão. Então, se um adolescente tiver
auto-estima baixa, pouca referência afetiva e uma vida muito difícil, será que ele vai se importar com
um punição mais rigorosa? Será que terá tanto medo quanto nós temos, a ponto de deixar de fazer
alguma coisa para não ser punido? E não são justamente estes adolescentes que cometem crimes mais
graves, os que já não têm uma vida digna a prezar? Muitos já arriscam a própria vida todos os dias
convivendo com traficantes, chefes de quadrilhas e gangues, então, por que então terão medo da lei?
As punições só podem causar medo e impedir o crime quando aprendemos a gostar de viver e sentimos
a necessidade de lutar pela vida que ganhamos e construímos. Até mesmo a morte não causará medo
em pessoas que não têm perspectiva.
7. Crença de que a prisão educa.
Reduzindo a maioridade penal, adolescente vão para a prisão. E daí? Depois de tudo o que sabemos
sobre as condições dos presídios brasileiros, como ainda acreditamos que um adolescente poderá
aprender alguma coisa e se reeducar num sistema que não oferece nenhuma condição de educar
ninguém?
8. Crença de que a lei atual é "mole" e o ECA enfatiza apenas os direitos.
Para quem pensa desta forma, o desafio é ler o Estatuto da Criança e do Adolescente. Esta lei foi criada
para proteger os menores de 18 anos de comportamentos gravíssimos cometidos por adultos, como
negligência, espancamento e abuso sexual. Mas, ao mesmo tempo que protege, garantindo os direitos,
a lei também exige os deveres e prevê reparações de erro, trabalho comunitário, tratamento e até
mesmo privação de liberdade para o caso de jovens em conflito com a lei. Assim, mais uma vez o
problema não é a lei que é frouxa, mas o fato das leis existentes não serem cumpridas ou serem
cumpridas de maneira inadequada. Muitos adolescentes que são privados da sua liberdade, por
exemplo, não ficam em instituições efetivamente preparadas para reeducar estes jovens e acabam
reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. Um ambiente adequado para cumprimento de
medidas sócio-educativas precisa contar com profissionais preparados e recursos adequados para
recuperar o ser humano.
9. Dificuldade de admitirmos a nossa parcela de responsabilidade.
O ser humano, em geral, tem a tendência de olhar muito facilmente a culpa do outro, o erro do outro,
o mal que o outro causa, e uma imensa dificuldade em olhar para si e enxergar a sua própria culpa, os
seus próprios equívocos, o seu próprio mal. É a velha e sábia história: olhamos para o cisco no olho dos
outros e não retiramos o cisco que se encontra em nossos próprios olhos. Assim, defendendo a redução
da maioridade penal corremos o risco de olhar apenas para o adolescente e esquecer o nosso próprio
egoísmo, nossa falta de solidariedade, nossa indiferença social, nosso consumismo, nossa ostentação...
fatores que reforçam a desigualdade social e contribuem para deixar os jovens mais desamparados e
perdidos em termos de valores. Não podemos simplesmente querer punir jovens que cometem crimes
sem lembrar que dos pequenos crimes de descaso que cometemos no dia-a-dia.
10. O ódio em alta.
O perdão e o amor em baixa. Este é o ponto mais difícil de ser tratado porque mexe com áreas muito
profundas do nosso ser. Certamente a indignação causada pelas notícias de jovens que cometem
crimes nos levam facilmente ao ódio e o ódio nos leva a procurar uma forma de vingança, despertando
o desejo de dar uma punição extremamente rigorosa aos criminosos. Quando pensamos do ponto de
vista da vítima, imaginando o sofrimento pelo qual passou e a dor que atingiu a família, é quase
natural que esse ódio seja reforçado. Porém, apesar de difícil, vale a pena o exercício de tentar pensar
no lado do criminoso. Um jovem que comete um crime bárbaro tem sua vida marcada para sempre
(sua consciência e o julgamento da sociedade são cruéis); uma vida que poderia ter se tornado mais
um brilho para dar luz ao mundo, foi apagada; uma energia que poderia ajudar na transformação do
mundo foi interrompida; uma chama criativa que poderia contribuir para melhorar a raça humana, foi
extinta, talvez para sempre. Se pensarmos assim, talvez encontremos um espaço para a compaixão e o
perdão... porque a vida que fica talvez não sofra menos do que a vida que se foi... Além disso, quando
assistimos um jovem que se envereda pelos caminhos tortuosos da criminalidade, de certa forma nos
deparamos com nosso próprio fracasso enquanto sociedade... fracasso por não termos conseguido
conduzir uma vida para sua realização plena e ética, enquanto ser humano.
(1)Fonte: Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SEDH).

(2)Sposito (2001), Zaluar & Leal (2001), Debarbieux (2001).

Disponível em: http://www.naoviolencia.org.br/sobre-manifesto-projeto-nao-violencia.htm.


Acesso em 5.7.13.

Autoavaliação

Analise o artigo de opinião abaixo reproduzido, considerando os seguintes


aspectos:

 A intenção comunicativa (o objetivo, a finalidade do texto);


 a situação de produção (em que momento histórico foi produzido o texto);
 o perfil do público-alvo (a quem se dirige o texto);
 o perfil do autor (se jornalista, se professor, se chargista, se político etc);
 a titulação do texto (se o título dá pistas ou não sobre o assunto a ser
tratado);
 o posicionamento assumido e as estratégias utilizadas (qual a tese que o
autor defende e quais os argumentos que a sustentam)
 os lugares que o autor utiliza como estratégia para tornar o seu texto eficaz
do ponto de vista da argumentação.

ROGÉRIO GANDRA MARTINS

Maioridade penal e discernimento

É uma esquizofrenia tratar o menor como capaz de entender um contrato, mas incapaz de
"discernir plenamente" um homicídio

O ponto de partida dos debates sobre a redução da maioridade penal é o Direito.

Nossa Constituição consagrou no artigo 14 que "a soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos (...) sendo o
direito ao voto facultativo aos maiores de 16 anos e menores de 18".

Por outro prisma, a Constituição estabeleceu em seu artigo 228 que "são penalmente
inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial".

A legislação especial a que faz menção o artigo veio a ser promulgada pouco após a
Constituição: O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069/90), que tratou no
campo específico do menor infrator o estabelecimento de "medidas socioeducativas" como
formas de "penas" pelos atos praticados.

Comparando o tratamento conferido ao menor caso cometa algum ato contra a lei e a
gama de direitos ao mesmo conferidos, noto uma verdadeira esquizofrenia legislativa.

O Código Civil de 2002, por exemplo, estabelece que o menor pode dispor sobre seu
patrimônio por testamento, ser mandatário em atos jurídicos, entre outras conquistas.

Quando se verifica que o menor pode por si só entender as complexidades de um contrato


de compra e venda, mas não consegue "discernir plenamente" o que é um homicídio ou
não, e caso o pratique será totalmente inimputável, conclui-se que há uma profunda
discrepância entre como os outros campos de direito cada vez mais veem o "menor" como
apto a conhecer a realidade de direitos e deveres e a legislação penal, datada de 1940,
que ainda o vê com ares de total falta de discernimento, tratando-o como uma criança de 2
anos!

Ainda do ponto de vista jurídico, não compartilho do entendimento segundo o qual a


inimputabilidade penal ao menor de 18 anos seja uma cláusula pétrea da Constituição e,
portanto, imodificável. O Direito deve ser revisto de forma urgente, caso contrário,
continuará letra morta na questão da maioridade penal.
O tema quebrou as barreiras de questionamentos acerca de classes sociais. Barbáries são
perpetradas hoje por jovens de todas as classes e a todos é necessária imperiosa
repreensão estatal.

Reconheço que a diminuição da maioridade penal não resolverá em absoluto os problemas


da criminalidade. Mas, uma vez aprovada, grande parte dos "menores sem discernimento"
parará para pensar antes de cometer atrocidades.

Não podemos ser ingênuos a ponto de imaginar que um menor que pratica um ilícito não
sabe de todo o aparato de benesses que o espera. No máximo uma condução a um
estabelecimento especial, com a aplicação de uma medida socioeducativa, prazo de
permanência ínfimo, bem como um período de prescrição da conduta mínimo.

Se adotada a medida, as técnicas do crime organizado de usar a infantaria dos "menores


inimputáveis" na primeira linha do front de guerra, a fim de que os "de maior" sejam
poupados para operações de grande vulto, seriam razoavelmente diminuídas.

O problema da criminalidade no país só será realmente analisado caso se pratiquem


contundentes medidas interdisciplinares. Um elevadíssimo investimento em educação de
altíssima qualidade, aparelhamento e condições efetivas para que as polícias possam de
fato prestar segurança à população, uma verdadeira revolução em termos de políticas
públicas a fim de retirar as populações menos abastadas dos níveis de miséria e não as
algemas eleitorais de parcas bolsas família e tantas outras bolsas.

Se 93% da população brasileira é favorável a essa redução, o mínimo que a ela se pode
ofertar é a possibilidade de exercer sua cidadania por um plebiscito.

Ou se toma uma atitude condizente com a realidade brasileira, ou o que se poderá falar
amanhã para o pai ou mãe de um filho vítima inocente de um homicídio com requintes de
crueldade? Será que aceitarão as palavras "Tenham pena do garoto, não sabe ainda o que
faz"?

ROGÉRIO GANDRA MARTINS, 43, advogado atuante em direito público, é membro do


conselho superior de direito da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços
e Turismo do Estado de São Paulo)

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/108620-maioridade-penal-e-


discernimento.shtml. Acesso em 7.7. 13.

Resumo

Nesta aula você estudou o texto argumentativo e suas especificidades. Você deve

ter sistematizado conhecimentos concernentes à estrutura da argumentaçaõ, suas

finalidades, o auditório a quem se dirige e a hierarquização dos lugares a fim de

construir a adesão do(s) interlocutor(es). Para aprofundar seus conhecimentos,

procure as referências indicadas e as leituras sugeridas.


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