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Fundamentos da Educação
Interdisciplinar
Fundamentos da Educação
3ª Edição
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC
Sumário
Apresentação Institucional 5
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram
o desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como
modalidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais
seleto o acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN
está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando
cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando
o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o
conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE
O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
Vôo livre pelos
caminhos da Educação
Aula
1
Apresentação
N
esta primeira aula da disciplina Fundamentos da Educação, nada melhor do que irmos
à raiz das questões. Assim, pensamos em iniciar nossos estudos sobrevoando (como
o fazem os passarinhos quando miram um alvo) em torno de alguns conceitos e
terminologias que nos serão úteis no decorrer da disciplina. Esse sobrevôo tem por finalidade
tentar analisar as nuanças que circundam o termo educação e, assim, compreender a prática
educativa no contexto da escola e da sala de aula.
O que seria então a educação? Você pode dizer: essa é fácil de “matar”. Todos nós
(adultos) temos um conceito formado sobre educação. A questão que se coloca aqui é saber
se estamos certos em simplesmente definir educação a partir do senso comum, da experiência
vivida ao longo de nossa formação acadêmica ou se deveremos ir um pouco mais além e
perguntar: será que existe uma teoria educativa? Caso a resposta seja positiva, quais seriam
seus fundamentos? Em quais princípios ela se apóia? Como está organizada? Você, por acaso,
já se preocupou com essas questões? Pois bem, todas elas circundam a discussão sobre a
educação. Daí iniciarmos esta aula da disciplina refletindo acerca do que pensamos sobre a
Educação, para depois aprofundarmos a compreensão de como ela se organiza e como é posta
em prática. Nesse sentido, entendemos que para compreender o processo do qual decorre e
se completa a formação docente, será necessário compreender o sistema no qual a Educação
está inserida, pois, somente a partir disso o profissional poderá emergir no universo do seu
trabalho, conciliando teoria e prática.
Objetivos
Apresentar a educação como processo universal e
1 civilizatório.
E
ssa pergunta pode parecer despretensiosa e desinteressante para você ou para qualquer
outro que pense, de imediato, saber a resposta. Mas, adiantamos desde já que, ao
contrário do que possa sugerir a leitura rápida e o impulso imediato para expressar
a primeira resposta, tal questão exige e pressupõe uma reflexão consistente sobre os
fundamentos nos quais se apóia e se desenvolve a dimensão teórica e prática da Educação.
Convidamos, pois, você para refletir conosco sobre essa e outras interpretações que
compõem o universo da Educação.
Assim, o que você acha de iniciarmos nossa investigação pensando e refletindo sobre
a importância do conteúdo que envolve a questão proposta: o que é a Educação? Ora,
vamos, não se assuste! Apenas estamos propondo que o caminho investigativo comece pelo
esclarecimento sobre a necessidade de discutirmos os fundamentos do que o senso comum
Essas aspas são um sinal de que mesmo adotando nossa sugestão como estratégia de
abordagem, ainda poderemos ter turbulências durante o vôo. Por outro lado, acreditamos que
não será algo complicado e perturbador a ponto de nos tirar do objetivo principal que é o desejo
de conhecer a Educação de modo mais consistente e significativo. Nesse sentido, devemos
ir além da idéia comum de educação, ainda que encontremos pelo caminho argumentos
reforçando a tese de que a formação contemporânea se basta ou se completa apenas com
os conhecimentos dos sofisticados meios de comunicação e dos seus infinitos recursos
tecnológicos.
A primeira providência é lembrar que investigar uma pergunta do tipo o que é Educação,
já desgastada pelo seu uso indiscriminado e pouco reflexivo, poderá nos forçar a reconhecer
que se torna desnecessário e improdutivo insistir nisso para aprofundar a compreensão dos
seus fundamentos. Isso porque nosso termômetro ingênuo de sabedoria, o senso comum,
indicaria que já sabemos a resposta na sua completude, o que ela é na sua mais profunda
dimensão e o que representa em termos de importância social, política e cultural na escala
evolutiva e racional que a raça humana atingiu até chegar a nossa sociedade.
Por outro lado, assim como uma moeda tem dois lados, cara e coroa, distintos e
complementares entre si, acreditamos que uma análise rigorosa da questão, como a que
estamos propondo aqui, não se limitará à garantia de sabermos o que é a Educação a partir
da evolução histórica do conhecimento humano, baseando nossos argumentos simplesmente
na estreita visão ocidental que temos do homem no mundo, ou seja, esquecemos de ampliar
as informações além dos referenciais que delimitam a fronteira do nosso modo de ver as
coisas. Esse caminho de fato limitaria o conhecimento de outras experiências e, portanto, de
interpretações possivelmente diferentes das nossas.
Olhando por outro lado, o raciocínio que acabamos de apresentar contrasta, ou choca-
se de frente, com pelo menos uma outra perspectiva que radicaliza (no sentido de ir às
raízes) a questão que queremos investigar. Estou me referindo à problemática que a questão
Que tal fazermos um exercício reflexivo e expressar, no papel, nosso primeiro conceito
de Educação? Pois bem, se já sabemos o que é a educação, então, nada mais oportuno do que
expormos esse saber, não é mesmo? Ele será resultado do que nossa experiência ingênua nos
sugere acrescido do breve conteúdo exposto até o momento.
Atividade 1
Procure agora definir o que é educação.
De outro modo, para expressar bem o que já sabemos sobre Educação, ou, para,
paradoxalmente, investigar sobre o que não sabemos, teremos que nos esforçar para identificar
o que caracteriza e justifica a ação educativa. Portanto, qualquer que seja o caminho investigativo
escolhido por nós, o primeiro passo será unir forças e interesses para compreender e apreender
os fundamentos do que se esconde no ato de educar. Com isso, a partir de agora faremos de
conta, melhor dizendo, assumiremos como pressuposto investigativo a idéia de que já sabemos
de fato o que significa educação e que apenas estamos interessados em compreender os
desdobramentos do ato de educar como garantia de boa formação do indivíduo e do pleno
exercício de sua cidadania. Combinado?
Atividade 2
Exercite sua habilidade de “pescador” para lançar a rede sobre as
1 definições anteriormente citadas. Em seguida, selecione entre as idéias
pescadas aquela que melhor enfatiza a principal preocupação de cada
uma das concepções dadas.
Como exercício crítico-reflexivo, sugerimos que leia mais uma vez sua definição de
educação, elaborada na primeira atividade, e compare-a com as definições vistas objetivando
encontrar semelhanças entre elas. Algo semelhante a uma idéia básica, implícita nas entrelinhas
de uma das concepções, que poderá servir como referencial discursivo para nós. Veja, por
exemplo, se concorda que é possível admitirmos como primeiro ponto de apoio para nossa
investigação o entendimento de que a educação, em seu sentido amplo, é um meio de
promoção do homem. Concorda?
Pois bem, este será nosso primeiro referencial. Na seqüência, buscaremos identificar o
desdobramento da promoção do homem através dos jogos de interesses em vários contextos
e situações das políticas públicas da educação brasileira.
Libâneo (2004) e Ghiraldelli Júnior (2001) nos oferecem indicações das concepções de
educação na perspectiva de promoção humana, a qual aparece no centro de um emaranhado
de interesses sociais, políticos econômicos e culturais. Os autores apresentam quatro projetos Pedagogia
distintos (descritos a seguir) para a educação brasileira, que se identificam com movimentos Tradicional
b) Liberais – Composto por intelectuais que manifestavam desejos por um país Basicamente constituído
de intelectuais que nos
construído sob as bases urbano-industriais democráticas. Esses manifestantes
anos 20 propuseram várias
defendiam uma Pedagogia Nova para a educação. reformas educacionais e,
em 1932, publicaram o
c) Governistas – Numa situação aparentemente neutra, de livre trânsito entre os Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova.
liberais e os católicos, o Governo Federal colocou em execução uma política
de educação diferente dos outros dois projetos, distantes dos princípios
democráticos que o país apresentava para o contexto.
Pedagogia Nova
É bom não esquecer que os fundamentos da Educação que estavam sendo propostos
John Dewey
no Brasil tinham suas raízes em teses e teorias da Educação e da Sociologia, mais elaboradas,
Filósofo da Educação,
fora do país. Estamos nos referindo principalmente às idéias de John Dewey (1859-1952), que
grande entusiasta da
Pedagogia Nova. influenciaram fortemente o pensamento de Anísio Teixeira, e ao sociólogo Émile Durkheim (1858-
1917), o qual influenciou diretamente o modo de pensar de Fernando Azevedo. Duas posturas
diferentes de ver e projetar a educação, ainda que sob uma mesma base: a Pedagogia Nova. Para
Anísio Teixeira Anísio Teixeira, a escola seria controlada pela comunidade e aberta a todas as camadas sociais.
Defendia uma escola
Enquanto Fernando de Azevedo, procurando conciliar a proposta pedagógica de Dewey com a
democrática, única, e o visão sociológica de Durkheim, assumiu uma visão elitista para a educação. Para ele, a escola
ensino profissionalizante. deveria ter um papel de formadora de elites e a educação serviria para rearranjar os indivíduos na
sociedade de acordo com suas aptidões. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001).
Émile Durkheim Vemos, pois, a linha de ruptura entre o tradicional e o novo aprofundar-se através da
perspectiva modernizante da educação ao se apresentar como a dimensão pedagógica, crítica,
Dedicou grande parte de
seus estudos sociológicos ativa e atuante, que permitirá a promoção humana através da formação social e política dos
a transformar a sociologia jovens. Desse modo, acreditamos ter chegado ao nosso segundo ponto de apoio: a promoção
em ciência autônoma:
humana implícita na perspectiva de formação educacional poderá ocorrer em nome de
como disciplina rigorosa
e objetiva. interesses econômicos, políticos e ideológicos associados à racionalização instrumental,
através da qual a educação assume a dimensão de instrumento das mudanças sociais, urgentes
e necessárias para acomodar o “novo”, a racionalidade científica e tecnológica que se encontra
à frente das transformações contemporâneas.
Desse modo, admitir que sabemos o que é a educação, é no mínimo uma ousadia
imprecisa. Pois, tal questão pressupõe uma sintonia com o emaranhado jogo de interesses
de concepções ideológicas, políticas e econômicas, as quais se transformam em decisões e
se transportam para o social como normas, princípios e diretrizes que, inseridos no processo
educativo, passarão a indicar os caminhos pelos quais deverá ocorrer a formação político-social
dos indivíduos. Daí que, para pensar e admitir a educação como algo diferente, capacitada a
percorrer uma via formativa mais rigorosa e profunda, teremos que nos remeter aos gregos
antigos. Estes, de fato, nos legaram uma educação forte e consistente, idealizada para ser
desenvolvida sem interferências danosas dos interesses referidos. Os gregos compreenderam Paidéia
a educação como Paidéia, ou seja, como uma formação integral do homem em sua dimensão A palavra grega Paidéia
cultural mais sensível e intelectual possível. aproxima-se do termo
cultura com significado
Vemos, portanto, meu caro aluno, a distância que estamos dos gregos e da idéia de educação de formação individual,
que eles tiveram. É claro que não pretendemos entrar em clima de saudosismo com essa referência. com base nas “boas
artes”, aquelas que são
Apenas objetivamos mostrar a dinâmica que altera o movimento conceitual da resposta para nossa próprias do homem e que
questão principal. Nesse sentido, chegamos ao nosso terceiro ponto: não é possível responder ou o diferencia de todos os
saber “o que é educação”. Ou melhor, para tal questão existe uma infinidade de respostas, quantas outros animais. Nas “boas
artes”, estava incluída a
forem possíveis identificar através de um levantamento histórico dos modos ditos civilizatórios, sobre poesia, a eloqüência, a
a organização social, política e cultural dos povos. filosofia, a matemática, a
música etc. (ABBAGNANO,
Agora, como forma de melhor fixar o conteúdo sistematizado e desenvolvido até o 1982, p.209).
momento, faremos nossa terceira atividade.
a. o que é educação?
Depois desse nosso vôo livre pelos caminhos da Educação, não devemos concluir que a
caminhada investigativa não valeu a pena. Que não adiantou nada procurar os fundamentos da
Educação. Ou seja, que já sabemos tudo sobre educação e que investigar seus fundamentos,
de fato, nos levou e levará à frustração. Não podemos raciocinar dessa forma. O fato de não
termos chegado a uma resposta precisa para a questão posta não justifica uma interpretação
errônea e desqualificada para o conteúdo tratado.
Nossa conclusão indica a rica dimensão conceitual que envolve a pergunta: o que
é educação? O que, de certa forma, traduz a difícil tarefa que nós educadores temos em
compreender o movimento atual das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais,
para oferecer uma perspectiva educacional, sintonizada com as mudanças contemporâneas
e, principalmente, integrada a uma formação crítico-reflexiva que promova no homem uma
visão além do senso comum. Uma visão privilegiada dos acontecimentos do seu tempo e o
pleno exercício de sua cidadania.
Agora que você já tem uma compreensão consistente do ato de educar e conhece como
sua comunidade pensa e assume as ações educativas, tem condições de assumir uma visão de
educação mais cuidadosa, criteriosa, com base no seu aguçado senso crítico. Que tal fazermos
neste momento o caminho inverso ao que realizamos anteriormente?
[...] vista em seu vôo mais livre, a educação aparece sempre que há relações entre pessoas
e intenções de ensinar-e-aprender. Intenções, por exemplo, de aos poucos “modelar a
criança”, para conduzi-la a ser o “modelo” social de adolescente, para torná-lo mais
adiante um jovem e, depois, um adulto. Todos os povos traduzem de alguma maneira
esta lenta transformação que a aquisição do saber deve operar. [...] Não é nada raro que
tanto na cabeça de um índio quanto na de um de nossos educadores ocidentais, a melhor
imagem de como a educação se idealiza seja a do oleiro que toma o barro e faz o pote. O
trabalho cuidadoso do artesão que age com o tempo e sabedoria sobre a argila viva que é
o educando. [...] Quando o educador pensa a educação, ele acredita que, entre homens, ela
é o que dá a forma e o polimento. Mas, ao fazer isso na prática, tanto pode ser a mão do
artista que guia e ajuda o barro a que se transforme, quanto a forma que iguala e deforma.
[...] A educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controle da
aventura de ensinar-e-aprender. (BRANDÃO, 1991, p.24).
Leituras Complementares
ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Summus, 1985.
GUDSDORF, Georges. Professores para quê? São Paulo: Martins Fontes, 1987.
Rubem Alves, de modo simples e cativante neste livro, lança convite a todos os
educadores para reverem aspectos importantes da prática de educador, e da relação
ensino-aprendizagem. Ao mesmo tempo em que sinaliza para o cultivo de uma dimensão
crítico-sensitiva no ensinar e aprender.
Resumo
Este breve sobrevôo teve por finalidade apresentar e analisar as nuanças que
circundam o termo educação, para depois compreender a prática educativa no
contexto da escola e da sala de aula. A idéia central foi desenvolvida em torno
da problematização dos argumentos direcionados para responder à questão
O que é Educação. Nosso propósito foi demonstrar que costumeiramente
banalizamos ou simplifi camos nossa explicação pela atividade ingênua
do senso comum e, por isso, corremos o risco de não percebermos a
beleza e a profundidade da questão, que está além dos argumentos que
fundamentam e justificam um processo de formação e evolução civilizatória,
como é o caso específi co da educação. Durante o vôo, demonstramos a
importância de buscarmos os fundamentos históricos, políticos e culturais
para os desdobramentos do ato de educar, a serviço da boa formação do
indivíduo para o pleno exercício de sua cidadania. Ultrapassamos opiniões
do senso comum com as teorias oferecidas por Libâneo, como referência
para chegarmos a uma resposta à questão inicial. Entre os vários conceitos e
definições para a educação, a identificamos como constante reconstrução ou
reorganização da nossa experiência, visando a uma transformação direta da
qualidade da nossa experiência. É uma atividade cultural dirigida à formação
dos indivíduos, mediante a transmissão de bens culturais que se transformam
em forças internas no educando. Por fim, admitimos que o universo conceitual
do termo educação varia conforme o entendimento e a experiência em torno
dos processos de formação e desenvolvimento humano. Desse modo,
concluímos que uma resposta apressada oferecida pelo senso comum, na
qual admitimos saber o que é a educação, poderá constituir-se apenas como
uma ousadia imprecisa da nossa vã sabedoria.
[...] a educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência a
comunidade. [...] a educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu
destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma
vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valores que regem a vida
humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação
dos valores válidos para cada sociedade. (JAEGER, 1986, p.40).
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos para quê? São Paulo: Cortez, 2004.
Aula
2
Apresentação
N
a aula anterior, tratamos de alguns aspectos introdutórios da disciplina Fundamentos
da Educação e, ao final de sua apresentação, dissemos que a formação docente se
completa quando o formando compreende o sistema no qual está inserido. Isso
justifica-se pela necessidade que tem qualquer profissional de conciliar teoria e prática ao
ingressar no universo de trabalho. Pois bem, nesta aula, tentaremos aprofundar as definições
e terminologias já apresentadas na aula anterior. Sendo assim, nos reportaremos à dinâmica de
organização e composição conceitual, em conformidade com os aspectos históricos, políticos,
econômicos, sociais e culturais que envolvem o processo educativo.
Certamente, não trataremos das bases conceituais com a profundidade que merecem,
visto que nossa disciplina, por ser apenas de caráter introdutório, não dispõe do espaço
necessário e suficiente para tal abordagem, a qual fica a cargo de disciplinas específicas.
No entanto, mesmo abordando apenas o necessário para entender a dinâmica do processo
educativo, focalizaremos aspectos interessantes e instigantes que perpassam todo o conteúdo
que envolve a base conceitual da Educação.
Objetivos
Proporcionar o entendimento teórico da Educação
1 constituída em alicerces conceituais.
Vemos, pois, que a Legislação Educacional Brasileira expressa um entendimento que não
é apenas nosso, mas, universal. Ela expressa o sentimento universal de valorização da vida e da
promoção humana. Essa perspectiva indica que nossa educação é melhor do que as outras?
A nossa Legislação Educacional reflete de fato os anseios do nosso povo? Calma! Calma! No
momento, só estamos demonstrando que a lei que rege nossa educação amplia os limites e
perspectivas de formação local e nacional para uma dimensão universal. Ou seja, estamos lhe
mostrando que a educação brasileira encontra-se pautada ou fundamentada numa visão universal
de homem, o que oferece uma perspectiva além da sua condição de indivíduo e cidadão.
Desse modo, as diretrizes que regem a educação brasileira incorporam uma perspectiva
ampliada de formação social e cultural, ao preocupar-se com o desenvolvimento das
capacidades físicas, mentais, intelectuais, morais, éticas e estéticas dos seres humanos, de
modo a lhes permitir viver dignamente, em todos os sentidos, sua existência. De outro modo,
a legislação brasileira de educação também define as perspectivas locais e institucionais ao
afirmar que “[...] a educação, direito fundamental dos cidadãos, é dever do estado e da família,
com a colaboração da sociedade” (BRASIL, 1990, p.12.).
Surge, então, para todos nós a pergunta: o que podemos observar como direcionamento
futuro para a nossa prática educativa e de ensino, além do que a história nos oferece como
reflexão? Ao que nos parece, é visível a distância entre o que legislamos como compreensão,
explicação e justificativa e a realidade traduzida pelo conflito das relações e interesses, na qual
desejamos interferir. Por outro lado, essa dificuldade não é identificada apenas na Educação, mas,
é possível encontrar indicadores de tal distanciamento em todas as áreas de conhecimento. A
própria história do conhecimento revela-nos facetas das difíceis relações envolvendo o binômio
conhecimento e poder, o qual atrai interesses para a não aplicação do modo mais correto e justo
do conteúdo das legislações.
No caso, a questão saber e poder, na educação, em que essa relação demonstre o predomínio
do poder frente ao saber, o resultado poderá ser a origem de um vírus ideologicamente forte e de
caráter quase indestrutível, diluído por todo o corpo administrativo e executivo, infectando todos
os processos educativos por onde passa, a partir do acesso aos pacotes e práticas educativas
impostas como políticas e ações dirigidas à educação. Parte dos resultados dessa infecção
virulenta poderá ser vista em estudos e pesquisas que identificam e ressaltam o quanto a elite
nacional tem dificuldades em compreender o acesso à educação como um direito de todos.
A perspectiva que se forma em prol do Ensino Básico não é nova, remonta ao século
XIX. De lá para cá, foram criados e desenvolvidos muitos projetos e programas de suplência
educacional. Observamos que a partir dos anos trinta, a discussão sobre o acesso ao sistema
de ensino ganhou muito espaço entre os técnicos, que passaram a traduzir suas preocupações
em ações teóricas e práticas. Nos anos cinqüenta, foi implementada uma série de campanhas de
alfabetização, destinadas aos marginalizados do campo e das cidades. Para alguns estudiosos,
essa tendência à elitização do ensino decorre das nossas raízes, ou melhor, da herança recebida
dos colonizadores, mais especificamente, da influência das idéias de Educação elaboradas
Companhia de Jesus
pelos portugueses em sintonia com os ideais cristãos da Companhia de Jesus.
Congregação jesuítica
que chegou ao Brasil do Vemos, pois, ao longo do processo de institucionalização, as influências teóricas,
período Colonial com a metodológicas e ideológicas de diversas ordens, assim como pressões políticas nacionais e
finalidade de catequizar
internacionais no embate travado entre os defensores da universalização do ensino e os da
os índios e organizar os
processos de ensino- educação de classe. Essa discussão ainda se encontra presente na história recente do país.
aprendizagem. O plano de Se ampliarmos o leque de influências teórico-metodológicas, identificaremos concepções de
estudos foi denominado
educação orientadas por idéias de instrumentalização e de tecnização.
de Ratio Studiorum e
publicado em 1599, com
As descobertas técnicas e científicas são incorporadas aos processos produtivos a partir
a finalidade de unificar os
métodos e as atividades das exigências políticas, financeiras e econômicas da sociedade. Depois, como conseqüência
desenvolvidas na da lógica do desenvolvimento, são postas como necessidades para a educação, no sentido de
educação formal.
acompanhar as mudanças e os rumos propostos para a sociedade contemporânea.
Nesse sentido, podemos dizer que a educação brasileira se organiza, em termos conceituais,
em duas frentes de apoio: a primeira privilegia uma formação moral, com fundamentos de ética
e estética, ainda que sob a inspiração de princípios religiosos; a segunda privilegia aspectos
técnicos e instrumentais, por influência recebida do movimento do laissez-faire, significando
o saber fazer, o realizar tarefas, em função das novas organizações de redes e sistemas
operacionais que se interligam aos vários processos do trabalho na atualidade.
Você deve lembrar que, na aula anterior, nós apresentamos e discutimos o movimento
das transformações políticas e econômicas, e suas várias tentativas de adequação às
Essas questões deverão servir como momento reflexivo, de modo a facilitar a ligação entre
os pontos principais do que até agora você leu e do que ainda vai ter. Portanto, fique ligado e
atento aos elementos importantes no movimento das transformações políticas e econômicas
que de alguma forma passam a influenciar mudanças nos processos educativos.
Desse modo, como conclusão parcial, deveremos ficar com a idéia de que a educação
brasileira, ao longo dos processos de organização, formação e consolidação, passou por
mudanças metodológicas e de operacionalização, mas conservou, ao nível do discurso, a
definição de bem público universal e de promoção do homem. É, exatamente, nesse nível que
reside o fundamento mais importante do processo educativo.
Atividade 2
Faremos agora uma breve parada para você exercitar seu potencial reflexivo e
investigativo, respondendo às questões a seguir.
No contexto do Brasil colonial, a classe dominante entendia a educação como uma forma
de concentração de poder – idéia que não é de todo equivocada – e que, por isso mesmo,
fez com que a educação brasileira fosse, durante muito tempo, prioridade exclusiva dos que
detinham o poder. Nesse sentido, Romanelli chama nossa atenção para o fato de que
Vemos, pois, a partir do que nos diz a autora, que do período da colonização aos nossos
dias, o processo educacional brasileiro sofreu influências de diferentes ordens e segmentos
classistas, internos e externos. Entretanto, é possível perceber também que, concretamente,
em seu movimento evolutivo, a educação brasileira continuou sendo permeada pela luta que
separava as classes sociais, ficando assegurado às elites econômicas um ensino, se não de
qualidade, pelo menos coerente e eficiente com esse segmento.
De outro modo, para aprofundar ainda mais nossa abordagem, destacamos o movimento
que se projetou como caminho de combate a essa tendência elitista. Tal movimento surgiu a
partir de 1930, ressaltando a importância de discutir o tema da universalização do ensino. Ora,
por essa via discursiva, o interesse maior manifestado era o de evidenciar a contradição que
se apresentava entre os encaminhamentos locais e a tendência mundial de democratização do
ensino, sobretudo, aquelas inspiradas na reforma francesa, que se encontravam alicerçadas
na igualdade dos direitos.
Como vemos, das origens até os dias atuais, a questão do acesso ao sistema de
educação e ensino formal no Brasil é emblemática. Por volta dos anos noventa, essa questão
foi superficialmente resolvida com a privatização do ensino em todos os níveis. Veja que essa
perspectiva da privatização nos conduz à questão proposta no início desta aula, lembra? Foi
a discussão que articulamos sobre a questão da promoção humana. Pois bem, recolocada
essa questão, nos perguntamos: como fica então a promoção social dos indivíduos que, ao
nascer do lado dos menos favorecidos economicamente, foram, e continuam a ser, impedidos
de terem acesso à escola?
Estamos falando do chamado Movimento dos Pioneiros, liderado pelo educador mineiro
Fernando de Azevedo, o qual formalizou um documento assinado por 26 educadores de
Movimento dos
Pioneiros diferentes regiões do país. O teor do documento indicava o surgimento de uma nova postura
frente à educação nacional, qual seja: a educação é um bem público e, sendo assim, constitui
Movimento constituído
em sua maioria por direito de todos. Nessa perspectiva, Janiel Cury afirma em texto escrito para a abertura da
intelectuais que, nos anos II Conferência Brasileira de Educação, realizada em Minas Gerais, em junho de 1982, evento
20, propuseram várias
comemorativo dos cinqüenta anos do Manifesto dos Pioneiros:
reformas educacionais e,
em 1932, publicaram o
[...] Creio não podermos rememorar 1930, 1931, 1932 [...] cabe-nos rememorar uma
Manifesto dos Pioneiros
postura que 26 corajosos educadores assumiram de se expor e dizer às claras que, no
da Educação Nova,
apontando novas bases final de contas, bem ou mal, a coisa pública, enquanto escola pública, era uma tarefa
de reformulações para as político-pedagógica que, sem práxis, não seria construída. (CURY, 1988, p. 6).
políticas educacionais.
Queremos destacar neste momento, que ficam evidenciadas as bases conceituais na
configuração das concepções de educação como bem público e como promoção humana.
A essas duas concepções são incorporadas as responsabilidades do Estado, evidenciando a
perspectiva de promoção humana, sobretudo, no que diz respeito ao acesso da população que
não tem como prover o seu ingresso ao sistema formal de ensino e educação.
Nesse sentido, lembramos que nos profícuos anos 30 surgiu no Brasil um sentimento
de que algo deveria ser feito em prol da educação nacional, notadamente em relação à
alfabetização de adultos. Tal sentimento revela a face da população que historicamente
ficou fora do sistema formal de ensino, entregue a sua própria sorte numa época em que a
educação era meio de ascensão social e a escola cumpria esse papel.
Denominação utilizada
Antes de passarmos a discutir essa nova dimensão educativa, deveremos compreender para caracterizar os
o que se entende por “popular” no Brasil. Do ponto de vista erudito, esse termo é utilizado processos educativos que
quando se faz referência ao povo, quando se quer designar uma ação ou um movimento se preocupavam mais
enfaticamente, em termos
realizado pela massa. Portanto, não existe consenso para essa terminologia. de métodos e conteúdos,
com a classe trabalhadora
Entre as muitas definições, reportamo-nos ao conceito estudado por Brandão (1994) em e os menos favorecidos.
seu livro Lutar com a palavra, no qual ele analisa as questões da educação popular no Brasil.
Vejamos o que diz o autor sobre a concepção de educação popular:
[...] o povo são os povos: índios, negros, caipiras. Não são nomes próprios, a não ser
por acidente. A não ser quando um ou outro faz alguma coisa notável contra o senhor
branco [...] Mas a cultura dos livros é a do povo. Nominada, quando consegue ser
a de um aleijadinho (em geral os pobres têm apelidos) ou anônima, quando é a dos
mulatos que fizeram o que existe por debaixo da música erudita do Barroco Mineiro.
Ela é principalmente a “cultura brasileira” dos “tipos” de gentes que a cultura livresca
tipificou: bahiana, jangadeiros, cantadores de cordel, gaúchos, caipiras e tantos outros.
Uma vaga cultura de “tipos” que são geralmente folclorizados (gaúchos, bahiana) ou
gentes raciais (o branco, o negro o índio). Raros são povos (grupos tribais, nominados
através de suas tribos e nações com a indicação das diferenças culturais) e, menos ainda,
classes populares. (BRANDÃO, 1994, p. 68).
A partir da segunda metade dos anos cinqüenta, a questão tomou fôlego e alguns
programas de educação popular foram desenvolvidos. Alguns deles se impuseram como
alternativa de ensino para os marginalizados do sistema. Esses programas serviram também
para provocar o debate sobre a estrutura formal no seio da estrutura social. Por fim, queremos
destacar que esses movimentos acabaram vinculando a Educação à ótica do movimento político
nacional – desenvolvimentista, sem perder, contudo, o vínculo com o ideário religioso dos
movimentos de base, desenvolvidos sob a responsabilidade da Igreja Católica.
Nesta obra, o autor reúne uma série de textos que mostram os fundamentos da Educação,
seguindo orientações que visam aprofundar questões inerentes à prática educativa na
perspectiva de sair do senso comum, para uma concepção filosófica.
CURY, Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez, 1988.
Resumo
A concepção de promoção do homem, na Educação, é recorrente da noção de
elevação humana. Na história da educação brasileira, encontramos indicadores
de uma prática educativa desenvolvida sob a inspiração e direção dos interesses
estabelecidos pelas elites social e econômica. Na investigação que fizemos
acerca das bases conceituais da educação brasileira, ficou clara a influência
que recebemos dos colonizadores, em específico dos valores portugueses
incorporados aos ideais cristãos difundidos pelos Jesuítas. Nesse contexto,
destacamos o embate entre os defensores da universalização do ensino e os da
educação de classe. A partir de 1932, ocorreu o primeiro grande movimento em
defesa da reconstrução da educação pública no Brasil.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Lutar com a palavra. São Paulo: Brasiliense, 1994.
CURY, Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez, 1988.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
SAVIANI, Dermeval. Do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1989.
Aula
3
Apresentação
N
esta aula, veremos como o desenvolvimento do país e as transformações pelas quais
passaram a política e a economia a partir dos anos cinqüenta provocaram modificações
na concepção e nos objetivos da Educação, que durante quatro séculos permaneceu
praticamente sem mudanças estruturais. Somente na segunda metade do século XX, observou-
se o aparecimento de movimentos políticos organizados em defesa da crescente demanda
por acesso ao ensino gratuito e de qualidade. Movimentos legítimos em razão dos níveis
de crescimento do país e as mudanças na base produtiva, notadamente a transformação da
produção agrícola, predominante até os anos sessenta, em produção industrial, a qual se
consolida como força produtiva a partir dos anos setenta no Brasil.
Objetivos
Compreender as políticas de desenvolvimento que
1 influenciaram e ainda hoje influenciam a educação
nacional, quebrando resistências e conservadorismo em
nome do progresso econômico e social.
C
aro aluno, assim como muitos acreditam no poder das preces para vencer ou encontrar
clareza no que dizer ou fazer para alcançar determinado objetivo, nós acreditamos que
a indagação, quando bem articulada, pode ser um caminho viável para projetar não
apenas nossas dúvidas, mas, fundamentalmente, para criar um vínculo investigativo entre o
que acreditamos saber e o que de fato desejamos conhecer.
Sendo guiado por essa perspectiva, queremos lhe estimular a fazer uma ou várias ações
reflexivas sobre os saberes já organizados até o momento, a fim de encontrar, ou não, uma
relação entre o que se entende por educação e política. Nesse sentido, iniciaremos nossas
discussões com uma pequena atividade reflexiva.
Veremos, nesta aula, que não importa a opinião que se tenha sobre a vinculação da
política com a educação; as duas, enquanto instituições de instâncias deliberativas na sociedade
civil, são autônomas. Mas, na dinâmica dos processos organizacionais da economia, da
sociedade, da educação e até mesmo da cultura, elas se entrelaçam e, em alguns casos, são
Movimento dos
interdependentes. Como isso é possível? É o que veremos a partir de agora.
Pioneiros
Começaremos, portanto, por reforçar a tese já apresentada em aulas anteriores, nas quais Movimento constituído
defendemos que para compreender os fundamentos da Educação, especificamente a brasileira, em sua maioria por
intelectuais que, nos anos
torna-se necessário nos debruçar sobre os acontecimentos históricos, políticos, sociais e
20, propuseram várias
culturais que influenciaram e continuam a influenciar direta ou indiretamente o processo reformas educacionais e,
educativo e de ensino. Sendo assim, confrontaremos, nesta aula, nossos julgamentos sobre em 1932, publicaram o
Manifesto dos Pioneiros
a questão com a dinâmica das relações que são estabelecidas entre a educação e a política.
da Educação Nova,
apontando novas bases
Tomaremos como ponto de partida o contexto e o conteúdo do chamado Movimento
de reformulações para as
dos Pioneiros, ocorrido em 1932, para continuar a caminhada investigativa pelas trilhas políticas educacionais.
que fundamentam a educação. Lembramos também que já citamos tal movimento em aulas
anteriores. Em seguida, veremos como as idéias de gratuidade e universalização do ensino
Acerca desse momento político, alguns estudos, como os de Luis Antônio Cunha
(1985), Jamil Cury (1982), Willington Germano (1992), Moacir de Góis (1980), Carlos
Rodrigues Brandão (1982), dentre outros, dão conta da mobilização e da organização das
massas nos movimentos populares. A respeito da crescente participação popular, Otaíza
Romanelli diz que:
[...] é no século XX que o povo brasileiro aparece como categoria política fundamental.
Em particular, é depois da primeira Guerra Mundial – e em escala crescente a seguir
– que os setores médios e proletários urbanos e rurais começam a contar mais
abertamente como categoria política. Por isso, pode verificar-se que a “revolução
brasileira”, em curso neste século, é um processo que compreende a luta por uma
participação cada vez maior da população nacional no debate e nas decisões políticas
e econômicas. (ROMANELLI,1998, p. 55).
Lembra-se daquela dimensão conceitual que destacamos nas aulas anteriores, aquela
que projetava a educação como bem público e direito de todos? Pois bem, queremos que
você entenda que os movimentos populares, de dimensões político-sociais, fizeram fortalecer
as tendências que defendiam tal postura para a educação nacional. Por sua vez, aqui, faz-se
necessário analisar a questão do ponto de vista da intervenção do capitalismo internacional
na economia nacional, numa perspectiva de inovação.
[...] O setor educacional absorve muito rapidamente esse ideário inovador, pelo fato de
lhe atribuírem a responsabilidade pelo atraso técnico e científico, provado pelos altos
índices de mão-de-obra desqualificada, analfabeta, e pelo precário quadro de docentes
que compunha o sistema educacional do país, notadamente no nordeste brasileiro.
Por sua vez, o fato de não ser apoiada pelas políticas do Estado colocava a educação popular
na condição de marginalização. Portanto, uma primeira conclusão a que deveremos chegar é
a de que a educação popular já nasceu como um tipo de educação de segunda categoria. Por
outro lado, se você pensa que a polêmica acerca da educação popular se encerra aí, engana-se.
Pois, mesmo a terminologia “popular” que se encontra agregada ao termo educação e cultura,
segundo Marilena Chauí (1994, p.10), é “de difícil definição”, diz ela:
[...] Seria a cultura popular do povo ou a cultura para o povo? A dificuldade, porém, é maior
se nos lembrarmos de que os produtores dessa cultura, as chamadas classes “populares”,
não a designam com o objetivo “popular”, designação empregada por membros de outras
classes sociais para definir as manifestações culturais das classes ditas “subalternas”. Assim
trata-se de saber quem, na sociedade, designa uma parte da população como “povo” e de
que critérios lança mão para determinar o que é e o que não é “popular”.
Desse modo, fica evidente que a discussão em torno da educação dita popular comporta
uma possível distinção de classe. O contexto dessa discussão traz à tona a contradição reinante
na estrutura. Vejamos que elementos Marilena Chauí nos oferece sobre tal contradição, a fim
de melhor compreendermos o processo e o produto da educação no Brasil.
[...] No Brasil, fala-se, por exemplo, em música popular para designar todo o campo
musical que escapa da chamada música erudita, mas nem sempre compositores e
ouvintes pertencem às chamadas “camadas subalternas” e sim à classe média urbana
[...] Enfim, do ponto de vista oficial ou estatal, “popular” costuma designar o regional,
o tradicional e o folclore. [...] Numa perspectiva que considere primordialmente os
produtores e seu público, guiando-se pelas idéias de regional, tradicional e típico,
seriam populares a Marujada, a Congada, a Ciranda, o Bumba-meu-Boi. Todavia,
resta saber o principal: por que regional, tradicional e típico designaria o popular?
(CHAUÍ,1994, p. 10).
Ao nosso ver, o que estamos caracterizando como educação popular pode ser
compreendido como designação – ainda que preconceituosa e desqualificante – das
manifestações e expressões legítimas do povo, da massa, do cidadão comum, visto que a
autora finaliza colocando os elementos fundamentais para a compreensão do termo e dos
movimentos oriundos da população. Nesse sentido, Marilena Chauí (1994, p.10) afirma:
Para esclarecer ainda mais a questão, Paiva fez referência aos escritos de Corbusier,
datados de 1952, nos quais o autor expressou suas preocupações com questões ligadas
à pedagogia. Disse Corbusier: “Se a sociedade nos educa, a pedagogia se identifica, sem
a política, com a missão da comunidade de formar os ‘homens de acordo com os ideais e
valores da cultura de que é portadora’” (CORBUSIER, 1952 apud PAIVA, 1980, p. 45). A autora
complementa o entendimento do que foi exposto, dizendo que:
[...] Ora, por um lado a fragmentação do mundo moderno destruiria a eficácia da pedagogia
e, por outro, a democracia liberal permitiria substituir a pedagogia pela propaganda: o
resultado era a massificação característica do mundo contemporâneo, o mundo da técnica
e dos meios de comunicação de massa. Em tal mundo, em que assistíamos à “rebeldia das
massas”, a organização pedagógica se via prejudicada pela “crise de confiança nas crenças
e valores sobre os quais nos assentamos”. (PAIVA, 1980, p. 47).
No início dos anos sessenta, a onda nacionalista que advinha dos movimentos populares
contra as investidas do capital internacional na economia nacional, fez eclodir vários movimentos
de mobilização popular, dentre os quais se destacam os círculos de cultura popular da UNE
(União Nacional de Estudantes). Esse movimento influenciou outras iniciativas de educação,
como a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, sob a responsabilidade do
governo de Djalma Maranhão, na prefeitura do Natal, e o Movimento Nacional pela erradicação
do analfabetismo.
Por fim, é interessante ressaltar que a importância das experiências populares não
se encontra apenas na sua abrangência (nas massas populares), mas no fato delas terem
desenvolvido metodologias de educação e ensino diferenciadas do tradicionalismo academicista
que se pauta no que Paulo Freire chamou de “educação bancária”. A expressão assumiu o
sentido de depósito de informações, pois não havia contextualização dialógica do conteúdo,
o que permitiria a aproximação da compreensão da realidade, principalmente, da classe dos
menos favorecidos. No período pós 64, o conceito de educação no Brasil passou por diversas
transformações até assumir a conotação desenvolvimentista.
Para fechar a abordagem desta aula, queremos concluir com os mesmos indicadores com
que iniciamos. Ou seja, oferecendo-lhe um espaço para indagações e reflexões a fim de que melhor
compreenda os intricados caminhos que compõem o universo dinâmico da educação.
Atividade 2
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Saber e ensinar: três estudos de educação popular. Campinas:
Papirus, 1994.
Este livro reúne três estudos de Brandão sobre a educação popular na América Latina
e, em especial, no Brasil. O autor aborda questões ainda hoje pertinentes para quem deseja
conhecer mais sobre a história da educação.
Paulo Freire expressa suas idéias na forma de proposição lógica, dialógica e metodológica
para falar sobre o papel do educador e da perspectiva da educação para a classe menos
favorecida. Nesta obra, o autor demonstra que o pensar e o ensinar deverão ser trabalhados
a partir das vivências e relações oferecidas pela realidade. Nesse sentido, ensinar se identifica
com tomada de consciência, por quem ensina e por quem aprende.
Resumo
No âmbito da política, seja no campo ou na cidade, houve um crescente
movimento em defesa da reconstrução nacional. Os impactos dessas discussões
foram sentidos na sociedade, na cultura e na educação a partir do final dos
anos cinqüenta, dado o fato do ideário liberal ter atrelado o progresso e o
desenvolvimento econômico à elevação da escolaridade da população e dos
padrões de educação da sociedade. A dimensão popular da educação foi
fortalecida pelas campanhas e pelos movimentos populares. Aos poucos, o
movimento de cultura e educação popular passou a ser referência no quadro da
discussão do nacionalismo-desenvolvimentista. Na relação política e educação,
há vários fatores que se misturam na ampliação dos conceitos de gratuidade
e universalização. Entre tais fatores, encontra-se o fato de que, na segunda
metade dos anos cinqüenta, a educação foi inserida no pacote dos projetos
de desenvolvimento como parte das discussões em torno das questões da
industrialização brasileira. Outro fator advém das implicações com o processo
migratório do homem do campo para as emergentes cidades, sobretudo, no
centro-sul do país.
Referências
BRANDÃO, Carlos R. Lutar com a palavra. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
CUNHA, Luis Antonio. O golpe na educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
CURY, Carlos R. Jamil. Comemorado o manifesto dos pioneiros da educação nova /32. Revista
Educação e Sociedade, São Paulo: Cortez, n. 12, 1982.
CRUZ, Vilma Vitor. Pioneirismo educacional no RN: realidade ou mito? (1960/1984). Natal:
UFRN, 1990. (Dissertação de Mestrado em Educação. Programa de Pós-graduação em
Educação – UFRN).
GOIS, Moacir de. De pé no chão também se aprende a ler: uma escola democrática
(1961/1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 21.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
Aula
4
Apresentação
A
partir da segunda metade dos anos sessenta, observa-se que o conceito de educação
e cultura no Brasil segue o direcionamento dos organismos internacionais –
financiadores – do nosso desenvolvimento. Após a instauração do governo militar
(1964), o discurso sobre o desenvolvimento e a necessidade de impulsionar o progresso do
país, na perspectiva de transformá-lo em uma grande nação, muda o eixo do nacionalismo,
que passa a ser funcional no sentido de fazer avançar as forças produtivas para consolidar
o emergente mercado econômico nacional. Assim, o ideário socioeducacional brasileiro
passou a incorporar, de fato e de direito, os direcionamentos firmados nos convênios de
cooperação internacional para o desenvolvimento do país.
Objetivos
Apresentar a relação entre educação e desenvolvimento
1 como partes de um amplo processo conjuntural.
Pelo que se anuncia como “a galinha dos ovos de ouro”, a industrialização, que estava
apenas se iniciando, ainda seria objeto de amplos conflitos e acirradas disputas políticas e
econômicas, pela divisão dos lucros. A esse respeito, Ghiraldelli diz que:
No raiar dos anos 60, o Brasil deixou, efetivamente, de ser um país “predominantemente
agrícola”. A população urbana começou a ultrapassar a população rural em número. O
país passou a contar com um parque industrial diferenciado e muito produtivo. A bandeira
da industrialização deixou de unir as forças sociais; o que entrou em jogo foi a disputa pelo
controle da divisão de lucros proporcionados pelo processo de desenvolvimento industrial.
[...] a burguesia buscou consolidar seu poder, as forças de esquerda, radicalizando a
ideologia nacionalista-desenvolvimentista, agitavam a sociedade com novas bandeiras:
as célebres Reformas de Base (reformas tributárias, agrárias, financeiras, educacionais
etc.), que deveriam democratizar os lucros do processo de desenvolvimento até então
conseguido. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001, p.119).
A frustração com a aprovação da Lei 4.024/61 pelas forças mais progressistas pautou-se
principalmente na perspectiva de que ela teria sido articulada para responder a necessidades
de um contexto brasileiro de dimensões políticas e sociais ainda pouco urbanizadas. Uma
Na base teórica e prática desses movimentos, estava implícita a busca por uma
dimensão libertadora de educação. Algo que representasse ao mesmo tempo o potencial
humano de ler e aprender a conhecer o mundo a partir das lutas e das experiências diárias
que davam o sentido maior da própria existência humana; uma teoria educativa gerada com
a prática organizativa do povo, em sintonia direta com o movimento de transformação do
homem no mundo.
Outro destaque foi a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, a qual nasceu de
um projeto do prefeito da cidade do Natal, Djalma Maranhão, seguindo princípios do movimento
nacional pela erradicação do analfabetismo. Os Movimentos de Educação de Base e a campanha
pé no chão também se aprende a ler foram indicadores de uma tendência do poder público em
reconhecer a importância e legitimar os movimentos populares de educação.
Vemos, pois, que no quadro contextual exposto, a educação passou a ser vista como
instrumento de libertação do homem em seu amplo sentido, bem como um meio propulsor de
assumir o desenvolvimento e a construção de um novo país. No entanto, como sabemos, essa
perspectiva foi interrompida pelo Golpe Militar que ocorreu em 31 de março de 1964 e perdurou
por 21 anos no Brasil.
O Golpe Militar, como era de se esperar, projetou uma educação nos mesmos princípios em
que se fundamentava a formação militarista. No período pós-64, a educação foi reordenada sob
inspiração militarista, economicista e desenvolvimentista. Desse modo, o seu conceito passou por
transformações e assumiu um direcionamento voltado para a defesa da internacionalização da
economia. É bom lembrar que esse redirecionamento pressupõe mudanças de visões de mundo,
valores e atitudes individuais e coletivos.
Outro destaque no campo da educação foram reformas impostas pelas leis 5.540/68
Lei 5.540/68 e
5.692/71 e 5.692/71. A primeira era dirigida ao ensino superior e a outra dirigia-se ao ensino de 1° e
2° graus, e vieram incorporadas ao projeto de desenvolvimento nacional como prioritário
Lei 5.540/68 – criou a
departamentalização e a e emergencial. Em seguida, foi criada a Lei 7.044/82 que modificou a Lei 5.692, no que diz
matrícula por disciplina respeito ao ensino profissionalizante para o 2°grau. Enfim, o registro que se faz no meio
e instituiu o curso em
acadêmico sobre a educação brasileira, no período ditatorial, é que ela foi um desastre total.
sistema de créditos.
Adotou o vestibular
Passado o tenebroso período da ditadura, a educação brasileira passou a incorporar
unificado e classificatório.
A Lei 5.92/71 implementou novas idéias e valores teóricos e práticos, a fim de encontrar sentidos mais consistentes
a profissionalização para o para as ações educativas no novo modelo de sociedade que estava sendo configurado pelas
ensino secundário.
Outras perspectivas que podemos destacar entre os novos rumos da educação brasileira
dizem respeito às Associações de Educação, que começaram a despontar pelo Brasil como
uma forma de organização e luta pelos princípios democráticos historicamente conquistados
antes e depois do golpe aplicado pela ditadura militar. Entre essas associações, destacamos a
ANDE – Associação Nacional de Educação, criada em 1979, para defender, entre outras coisas,
o ensino público, gratuito, obrigatório, universal, laico e de boa qualidade.
Ainda no rol das entidades que foram criadas para refletir, discutir e propor ações para
a educação no Brasil, destacamos o CEDES – Centro de Estudos Educação e Sociedade
que, junto com a ANDES, passou a promover a partir de 1980 as Conferências Brasileiras
de Educação. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001).
Para finalizar, queremos reforçar os objetivos desta aula, no que diz respeito às relações
que se apresentam entre educação e desenvolvimento como partes interligadas de um
processo conjuntural no qual, a cada dia, fica mais visível a interferência da economia
nos processos de organização da educação e do ensino. Desse modo, reforçamos nosso
importante papel de educadores e educandos de não ficarmos apenas esperando chegar
até nós as conseqüências de tal processo conjuntural, deveremos também ocupar nossos
espaços e lutar em prol de uma educação e de um ensino de dimensões ético-política, social
e cultural mais justas e humanas.
2. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Neste livro, Paulo Freire propõe condições e métodos para que ninguém seja mais excluído
ou posto à margem da vida nacional. A proposta fundamenta-se na necessidade de superar o
discurso oco e o verbalismo vazio sobre a educação.
Resumo
No contexto de modernização do processo produtivo e da organização do trabalho,
alteraram-se as relações de produção em função da mediação operacionalizada
pelas máquinas, incorporada aos setores produtivos e sociais. No Brasil, na
década de 60, tivemos uma intensa movimentação em torno do tema “cultura
popular”. O Movimento de Educação de Base (MEB) projetou-se como participante
da Arquidiocese de Natal nesses movimentos. No período pós 64, a educação
foi reordenada sob inspiração militarista, economicista e desenvolvimentista. O
conceito de educação passou por transformações e assumiu um direcionamento
voltado para a defesa da internacionalização da economia.
Autoavaliação
Reflita sobre o conteúdo das duas questões anteriores e procure comentar
com seus colegas os possíveis argumentos para responder à pergunta que
lhe foi apresentada no início desta aula: Que educação se projeta com o
desenvolvimento brasileiro?
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Anotações
Aula
5
Apresentação
N
esta aula, abordaremos elementos teóricos e metodológicos que orientam a aplicação
conceitual da educação no processo universal e civilizatório. A dinâmica de construção
e desenvolvimento do conteúdo oferecerá uma visão teórica e prática das discussões no
campo da Educação, principalmente no que diz respeito às questões de estratégias e adequação
do ensino e da aprendizagem às dimensões política e social que compõem a ação educativa.
A abordagem aqui retratada está pautada em uma perspectiva dialética, através da qual
procuramos ressaltar parâmetros de ensino e aprendizagem que visam à emancipação pela
educação. O caráter emancipatório que destacamos como dimensão teórico-metodológica, na
educação, pressupõe aplicações das políticas de ensino, em sintonia com o desenvolvimento
civilizatório, gerando programas, conteúdos, atividades e interpretações teóricas importantes
para a formação política, cultural e social dos indivíduos.
Objetivos
Demonstrar aspectos teóricos e metodológicos na
1 padronização do ensino.
N
ossa discussão ocorrerá em torno da questão “Por que precisamos da educação?”.
Nosso exercício reflexivo caminhará na perspectiva de descobrir os argumentos que
justificam as estratégias teórico-metodológicas com a finalidade de conduzirem da
melhor forma a relação ensino-aprendizagem. Entraremos cuidadosamente pelos vários campos
dos conhecimentos que interagem na composição dos fundamentos da Educação. Faremos
um planejamento estratégico para definir o caminho que iremos assumir como pressuposto
investigativo, e, a partir da idéia de educação, compreenderemos os desdobramentos teóricos
e metodológicos do ato de educar.
Para tanto, investigaremos as questões que se entrecruzam no caminho das teorias que
difundem os ingredientes para a boa formação dos indivíduos. As respostas encontradas
serão reapresentadas na forma de definições conceituais, a fim de percebermos os caminhos
percorridos pelas concepções teóricas para acomodar, na Educação, as inquietantes reflexões
epistemológicas. Nosso objetivo maior será, de fato, identificar nos fundamentos da Educação
o que dá sentido e representação ao homem no mundo, em meio às relações que comportam
transformações entre os dois, homem e mundo.
Nesse sentido, não podemos nos esquivar de enveredar por essas questões, pois é nesse
complicado contexto que são geradas as teorias explicativas da realidade e, especificamente,
as metodologias que conduzem e regulam a relação de ensino-aprendizagem. Desse ambiente,
surgem políticas para a educação com a função de predeterminar a formação política,
cultural e social dos indivíduos, as quais, em sua grande maioria, apresentam fundamentos e
pressupostos estruturados em teses e teorias elaboradas fora do país.
Essa breve introdução aos pressupostos teóricos e práticos das ações educativas ressalta
o papel de teorias que, fundamentalmente na Educação, não assumem o caráter de neutralidade
na produção do conhecimento. Posto que, tanto na sua elaboração quanto na sua aplicação,
os conhecimentos na forma de teorias ou políticas para a educação são concebidos com a
finalidade de adequar a ação pedagógica aos diversos valores, já constituídos ou em fase de
construção, em função dos quais será pensada e instituída uma formação.
Desse modo, vale ressaltar a tese que admite a história da educação essencialmente
condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade. Assim, as teorias e
metodologias poderão ser vistas como importantes instrumentos interpretativos e explicativos
das diversas modificações submetidas à realidade. Reforçamos aqui a importância de pensar e
assumir um planejamento para a educação que mostre a aplicação de programas e conteúdos
atuando como estratégia de interpretação e superação do conhecimento e dos valores de uma
dada época ou estágio civilizatório.
A condução das atividades educativas pautadas em teorias tradicionais toma por base a transmissão
verbal dos valores e princípios conservadores da moral e da cultura e um dos seus princípios é
não alimentar a discussão em torno da questão da compatibilidade entre os resultados obtidos e o
desenvolvimento do pensamento. Assim, a educação pode ser assumida dentro das políticas que se
alimentam das teorias tradicionais, tendo por objetivo trabalhar conteúdos estabelecidos em torno de
idéias e ideais que serviram a um passado historicamente determinado. A idéia é que a aplicabilidade de
tais conteúdos deverá servir, ainda hoje, para iluminar os conflitos da formação presente.
Vemos, pois, que a Pedagogia Tradicional reivindica um sentido mais forte e rigoroso
para o processo de formação dos indivíduos, defende a tese de que ao mestre cabe transmitir
o conhecimento, porque ele sabe, e ao aluno cabe apenas a obrigação em adquiri-lo, porque
ignora. Com esses ingredientes, os adeptos da postura tradicional acreditam que é possível
garantir uma educação de qualidade.
Veremos agora alguns ilustres teóricos e seus respectivos métodos de aplicação da postura
tradicional na educação, ainda que com pequenos ajustes acadêmicos e institucionais para efetivar
de modo mais consistente o método em questão. Tomaremos como referência informações
oferecidas por Louis Not (1981), em seu estudo sobre as pedagogias do conhecimento.
Percebe-se, pois, na teoria social de Durkheim, o papel central que o conceito de sociedade
exerce sobre os demais. Isso porque ele assume a idéia de sociedade como a construção de
Neste momento, poderemos nos perguntar: como de fato é possível a construção desse
modelo de formação? Onde se encontram os princípios e os instrumentos ordenadores dessas
fases de desenvolvimento? Ora, responderá Durkheim, a resposta para essas perguntas nós
encontraremos na educação. Ela é a responsável pela ação que as gerações adultas exercem
sobre as crianças e os jovens, com a responsabilidade de formá-los para a vida social.
[...] trata-se de enxertar neste ser natural (a criança) um ser social conforme o modelo
definido pelas aspirações e necessidades da sociedade. [...] É preciso realizar o homem
tal qual a sociedade quer que seja. [...] A educação cognitiva se inscreve no processo de
transmissão de geração a geração e se atualiza de indivíduo a indivíduo. Os mestres são
os delegados da sociedade; [...] O ensino visa inserir o aluno no movimento para frente
caracterizado pelo conhecimento, mas a princípio tudo vem do mestre, que transmite o
saber já constituído em tradição. (NOT, 1981, p.40).
Segundo Not (1981), Alain destaca uma dimensão de educação, na qual o conceito
de homem e sua respectiva formação aparecem como elementos fundamentais para o
desenvolvimento e progresso social. Para Alain, o homem, por ser um ser pensante, deverá
ser o referencial maior de liberdade e progresso social. Para esse autor, nem a cultura nem a
verdade, tampouco a virtude, são possíveis de se transmitir. Nesse caso, Alain está propondo
substituir a transmissão do mestre pela atividade do aluno.
Assim, como conclusão parcial, podemos dizer que existe uma percepção geral de que
o movimento educacional em todos os tempos tenta dar uma direção às ações do pessoal
envolvido no processo de ensino e educação, a fim de que possam melhor formar os indivíduos
para o convívio em sociedade.
Leituras Complementares
RODRIGUES, Neidson. Da mitificação da escola a escola necessária. São Paulo: Cortez /
Autores associados, 1988.
Uma obra simples, de leitura leve e instigante que nos conduz por caminhos históricos
e complexos da educação. Nela, o autor aborda vários discursos ideológicos com os quais a
escola conviveu e ainda convive como perspectivas “ilusórias” de mudanças.
OZMON, Howard A.; CRAVER, Samuel M. Fundamentos filosóficos da educação. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
Uma obra de grande porte teórico, na qual encontramos uma leitura crítico-reflexiva sobre
as principais tendências da Educação que, em algum momento histórico, representaram ou
ainda representam vias fundamentais de formação dos indivíduos.
Autoavaliação
Identifique, no contexto educativo em que você está inserido, práticas e ações
educativas que se configurem como perspectiva tradicional (pode fazer referencia
às ações educativas que são projetadas na sua comunidade, no seu município, na
sua sala de aula). Acrescente a essa identificação um breve comentário crítico-
reflexivo sobre os reais alcances e implicações da Teoria Tradicional para a
educação contemporânea.
Referências
NOT, Louis. As pedagogias do conhecimento. São Paulo: Difel, 1981.
OZMON, Howard A.; CRAVER, Samuel M. Fundamentos filosóficos da educação. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
Aula
6
Apresentação
N
esta aula, veremos como a transformação do processo produtivo, e da economia,
influencia as transformações sociais e, particularmente, a educação e o ensino. Tratar
da modernidade da educação e das transformações do ensino é trabalhar na perspectiva
de se adequar o sistema educacional às exigências do mercado, sem, contudo, perder de vista
a formação dos indivíduos na sua totalidade.
Objetivos
Compreender como ocorreram as transformações na
1 educação e no ensino-aprendizagem na contemporaneidade.
A
ntes de tratarmos diretamente das transformações na educação e no ensino brasileiro,
torna-se necessário voltarmos um pouco no tempo para que você compreenda a origem
de tais mudanças e possa acompanhar suas implicações. Perceba que o avanço, ou
progresso, observado no mundo após a II Guerra Mundial, notadamente nos países do
hemisfério norte, deveu-se, em grande parte, ao desenvolvimento de instrumentos técnicos
e tecnológicos ligados à logística e às estratégias de guerra, como a fabricação de artifícios
bélicos, por exemplo.
É bom você atentar para o detalhe de que na literatura específica são muitos os estudiosos
que consideram tais fatores como o motor que gerou todo o desenvolvimento técnico e
científico observado no século XX. Nesse sentido, a tecnologia é vista como processo contínuo
de aperfeiçoamento, o que acabou influenciando o mercado industrial emergente e carente
de inovações. Desse impulso técnico e científico, agora com o apoio do mercado financeiro,
desencadearam-se as mudanças sociais e educacionais com alterações nos costumes, na moral,
na ética, na estética e no modo de vida dos indivíduos e grupos sociais.
A partir desses acontecimentos, a educação, que até então era vista como meio da
promoção humana e integração dos indivíduos às estruturas sociais, sofreu influências que
provocaram mudanças significativas nos processos metodológicos de ensino e aprendizagem,
a fim de atender as demandas sociais de uma educação mais flexível, livre e libertadora para
os indivíduos.
Agora, você já tem uma idéia de como e por que a revolução conceitual da educação
passou a incorporar e acompanhar as mudanças que se operavam nas estruturas econômicas,
políticas e socioculturais. Assim, visando lhe estimular a ampliar seus conhecimentos sobre
os acontecimentos do período em questão, sugerimos a atividade seguinte.
Atividade 1
Você, neste momento, deverá estar se perguntando: o que, de fato, significou essa tal
“revolução” na educação? Em que medida a mudança de concepção da educação influenciou
na formação dos indivíduos? Vejamos, então, como se deu essa evolução.
[...] Esta educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. [...] Ora, dessas
três educações diferentes, a da natureza não depende de nós; a das coisas só em certos
pontos depende. A dos homens é a única de que somos realmente senhores [...] Tudo o
que se pode fazer, à força de cuidados, é aproximar-se mais ou menos da meta, mas é
preciso sorte para atingi-la. (CABRAL, 1978, p. 14).
Que meta seria essa apontada por Rousseau? Aqui, devemos refletir um pouco mais sobre
o pensamento do autor acerca da educação. Cabral nos mostra que nas teses de Rousseau é
possível identificarmos ainda outras distinções, quando afirma que: “Um pai, quando engendra
e alimenta seus filhos, não faz nisso senão o terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie,
deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao estado”. (CABRAL, 1978, p. 14).
Ora, podemos ver que os ingredientes colocados nessa definição vão além da simples
capacidade reprodutiva dos seres humanos, pois o homem é separado da natureza, o
indivíduo separado do ser social, assim como a responsabilidade individual é separada da
responsabilidade do Estado. Essas observações permitiram a Cabral (1978) refletir sobre os
elementos que tornam os homens capazes de viver em sociedade, destacando-se dentre eles a
educação. Daí, a autora concluir que “[...] o objetivo da educação é primeiramente a formação
de homens, independentemente de qualquer sociedade e de todo e qualquer estado ou País”
(CABRAL, 1978, p. 14).
Por sua vez, o Estado passou a direcionar as ações na área da educação, no sentido
de modernizá-la de fato, propondo iniciativas e estimulando financeiramente as mudanças.
O otimismo da modernização educacional só foi confrontado com os dados da realidade que
[...] Apesar de todos os presidentes que se sucederam no poder no pós-64 terem colocado
a educação como prioridade, o que se observou foi, a exemplo de outras áreas sociais,
um reforço ao processo de discriminação e exclusão social das populações pobres.
Negando-lhes, de um lado, o saber adquirido na convivência e na luta pela sobrevivência
e, de outro, o acesso à instrução formal, à aquisição do saber letrado, forma dominante no
mundo moderno. Condenou-os ao analfabetismo, à marginalidade social, aproveitando-se
de diferentes formas para manipulá-las, criando laços de dependência política, econômica
e cultural. (CRUZ, 1990, p.134).
[...] Esse fato evidencia-se quando se constata que a rede pública cresceu nesse período
(1968–1973), em torno de 210%, enquanto a rede privada cresceu em torno de 410%,
na maioria dos casos com subsídios do governo, advindo dos fundos públicos. Aí
está embutido o direcionamento da educação nacional, numa perspectiva privatizante,
como uma mercadoria sujeita às leis de mercado. De um serviço público essencial,
a educação passa a ser tratada como investimento e o homem a ser visto como um
produto. (CRUZ, 1990, p. 111).
Isso em grande medida pressupõe estudos e pesquisas, meios pelos quais é possível
garantir organizações em níveis burocrático, industrial, comercial e financeiro. Desse modo,
assegura-se a eficiência das descobertas de novos materiais e processos de organização do
trabalho e da vida, bem como se legitimam os processos e as inovações.
Os estudos desse período apontam que somente no final do século XX é que ocorre um
esforço governamental maior de modernização do sistema de ensino, incentivando a formação
e qualificação docente, assim como investindo em infra-estrutura, melhoria do espaço físico
de algumas escolas e provendo-as com acervo bibliográfico e kits tecnológicos (TV, vídeo e
laboratórios de informática), o que, diga-se de fato, vem provocando uma mudança significativa
no modo dos professores ensinarem e dos alunos aprenderem.
Leituras Complementares
Você pode complementar essa discussão e aprofundar seus conhecimentos sobre a
modernização da educação nacional lendo as obras referenciadas a seguir. Nelas, encontrará
com mais detalhes as mudanças e os direcionamentos políticos que regem a educação nas
últimas três décadas no país.
BUARQUE, Cristovam. O colapso da modernidade brasileira. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1991.
Nesta obra, o autor analisa, dentre outras coisas, a evolução do Brasil em sua fase mais
recente e nos oferece o retrato de uma modernidade que entrou em colapso.
O autor desenvolveu essa temática destacando o hiato que existe entre o momento da
elaboração e o da implementação das políticas sociais, nas quais se inclui a educação.
O autor, nesta obra, discute implicações sociais, políticas e culturais que se manifestam
nos conflitos educacionais a partir das questões inerentes aos fundamentos e à evolução de
uma educação pautada nos princípios e na prática da democracia.
Resumo
Nesta aula, aprofundamos a discussão que vínhamos desenvolvendo sobre a
educação nacional, agora em relação ao caráter modernizador e revolucionário
do processo educacional e do ensino. Vimos que as transformações não ocorrem
a partir do pensamento de mentes brilhantes, elas ocorrem a partir da dinâmica
das estruturas econômicas, políticas e sociais. Nesse processo, entra em jogo
os interesses dos grupos e as contradições sociais. É importante observar que a
educação não se transforma em função única e exclusivamente da elevação do
espírito humano.
Autoavaliação
Como estudante, você já passou por várias etapas do sistema de ensino, certo?
Portanto, está apto a identificar, comparar e comentar os diferentes níveis de
ensino de ontem e de hoje. Faça, pois, seu comentário procurando destacar em
que aspectos a educação se modernizou.
CUNHA, Luiz Antônio; GÓIS, Moacyr. O golpe na educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. São Paulo: Ática, 1989. (Série princípios).
Anotações
Aula
7
Apresentação
S
eguiremos como orientação, nesta aula, o movimento de expansão do desenvolvimento
técnico-científico como continuidade do processo de modernização ocidental. A
referência para discorrer sobre as questões inerentes à educação contemporânea serão
os fatores ideológicos, já discutidos nas aulas anteriores, e as evidências de uma possível
ruptura entre os modelos de educação tradicional e uma perspectiva de educação tecnológica,
exigida pelas transformações econômicas como instrumento da modernização.
Objetivos
Apresentar o movimento de expansão do desenvolvimento
técnico-científico, no contexto de modernização da
1 educação.
Neste caso, conhecer, explorar e experimentar são atributos da nossa natureza interna
enquanto indivíduos, cultivados como fundamentos do espírito científico e, portanto, incorporados
como componentes da cultura tecnológica. O raciocínio lógico e metodológico que se organiza
em prol do conhecimento científico, na maioria das vezes, visa desfazer confusões interpretativas
de natureza religiosa ou de senso comum, ao explicar a dinâmica relação homem-mundo. E a
educação formal é o caminho mais indicado para a construção e a evolução desse modo de ver
e compreender o mundo e o homem em suas várias manifestações.
De outra forma, o que estamos querendo dizer é que a Ciência, no modelo descrito
anteriormente, alimenta a Educação como via interpretativa para assegurar ao sujeito a
formação teórica e o caminho metodológico para compreender a dinâmica dos processos
A esse respeito, podemos dizer que a ocorrência do desvio das “boas intenções” do
pesquisador deve-se ao fato de ele não ter conseguido sua autonomia na relação direta que
existe entre conhecimento e poder. Tal relação encontra-se, na maioria das vezes, mediada
pela perspectiva ideológica, ou seja, por jogos de interesses que desviam os resultados
científicos dos fins coletivos para fins particulares. Por isso, uma relação saudável de
produção do conhecimento pode esconder no seu íntimo interesses políticos e econômicos que
posteriormente serão traduzidos em exigências sociais e culturais e apresentados à sociedade
contemporânea, como bens de consumo.
Desse modo, o que podemos dizer de uma cultura tecnológica cujos rumos são regidos
pelos resultados científicos? Como identificar e reter os avanços degradantes da ideologia,
se ela mesma é quem se encarrega de diluir os contornos do que pode ser identificado
como cultura tecnológica? E o que resta ou está a cargo da Educação? Será que, com a
responsabilidade e a criatividade dos nossos educadores, ainda seremos capazes de projetar
na sociedade contemporânea indivíduos éticos, comprometidos com o coletivo?
Com isso, estamos querendo dizer que a cultura tecnológica que cultivamos hoje
é resultado dos níveis de relações que historicamente se apresentaram como caminhos Processo
civilizatório
interpretativos nos diversos estágios do processo civilizatório. Tais estágios se desenvolveram
na medida e na proporção da projeção das idéias, teorias e conhecimentos que se identificaram Essa expressão é
empregada aqui com
como modeladores de comportamentos.
o sentido de influência
da cultura ocidental nas
Os modeladores a que nos referimos nada mais são do que um conjunto de idéias
outras culturas, impondo
predominantes, organizadas por meio dos produtos e processos da aprendizagem, que, de seu nível de tecnologia, a
forma direta ou indireta, interferiam na estruturação do contexto social e se mostravam como natureza de suas maneiras,
o desenvolvimento de
resultado dos conflitos de interesses dos grupos mais articulados.
sua cultura científica ou
sua visão de mundo (a
esse respeito, ver ELIAS,
Norbert. O processo
civilizador. v.1. Rio de
Janeiro: Zahar, 1994. p. 23).
O século XIX e o início do século XX foram uma época de crise, um tempo em que as
pessoas se deixavam impressionar pela tecnologia e viajavam grandes distâncias para
se maravilhar com os motores a vapor nas feiras mundiais, um tempo em que os artistas
pintavam as novas forjas e fornalhas em dimensões romanticamente aumentadas. [...]
a combinação de grandes dimensões e alta complexidade, associadas aos sistemas
tecnológicos praticamente garantia que as catástrofes ocorreriam com freqüência bem
menor do que nos séculos anteriores. [...] à medida que os desastres eram controlados
no Ocidente [...] os próprios meios para preveni-los às vezes criavam o risco de desastre
ainda maior no futuro. Além disso, esses novos problemas eram freqüentemente de
natureza gradual distribuída e, portanto, muito mais difíceis de resolver do que os
problemas agudos, localizados (Tenner, 1997, p. 32).
Para reforçar o que estamos dizendo, basta ver que a idéia de colonização, por exemplo,
foi objeto de implementação por parte dos países ditos desenvolvidos, visando forjar uma
falsa autorização internacional que os permitisse destruir territórios ou roubar a identidade
cultural dos países subdesenvolvidos ou emergentes. As guerras e as imposições econômicas,
É importante observar que, apesar das conquistas científicas indicarem uma certa “segu-
rança” nos produtos da ciência e da tecnologia e gerarem uma crescente onda de aceitabilidade
da cultura tecnológica, ainda é grande o medo, o receio e o distanciamento da maioria da
população de se envolver pelos intrincados caminhos do conhecimento científico.
Você já deve ter percebido que a discussão conduzida até aqui está diretamente associada
a uma postura consciente e intencional da comunidade científica, que vincula os conceitos
de saber às estratégias de poder. Nessa discussão está inserida a perspectiva da educação
enquanto articulação formal de conteúdos e saberes que podem ser projetados como
conhecimento científico.
Saber-poder
Para compreendermos os efeitos do binômio saber-poder na organização da cultura
No momento, estamos tecnológica, adotaremos a mesma conotação com a qual esteve associada durante vários
usando essas expressões
períodos do desenvolvimento ocidental. Ou seja, associada ao conhecimento e à dominação.
no sentido mais amplo que
o termo possa oferecer: Nesse sentido, vamos retroceder um pouco na história da evolução humana para encontrar
conhecimento, dominação, traços da adequação entre o saber e o poder, inscritos nas ações aplicadas nos primórdios do
experiência individual,
modelo de dominação proposto pelo Ocidente e implícitas nas políticas de colonização que
exploração comercial
visando ao lucro excedente, foram efetivadas em nome do desenvolvimento econômico.
conhecimento técnico e
científico como visão de
A Europa seria a fábrica do universo, enquanto o resto do mundo seria fornecedor de
mundo superior etc. matérias-primas e produtos primários. Considerava-se que esta divisão ‘espontânea’
do trabalho correspondia aos dotes naturais de recursos de cada parceiro e oferecia
vantagens para todos. Ela jamais teria existido ‘naturalmente’ se a ordem colonial e
imperial não tivesse instituído pela violência aberta (abertura de mercados a tiros de
canhão, culturas obrigatórias) ou pela violência simbólica (intimidação, sedução).
(LATOUCHE, 1994, p.22).
O fato histórico anteriormente descrito nos permite perceber que além da preocupação
com a extensão territorial predominou o caráter de trocas comerciais de mercadorias que
Desse modo, a relação homem-natureza passou a ser conduzida pela Ciência, que assumiu
o papel de protagonista na reorientação do mundo em prol de uma cultura tecnológica. Assim,
o conteúdo e a forma do conhecimento, convertido em modelo do pensar moderno, avançaram
como racionalização do mundo e ganharam espaço no desenvolvimento econômico, social e
cultural. Tal dinâmica passou a adotar os padrões, o rigor e a precisão do método científico
como estratégia de legitimação do poder e do modelo ocidental de desenvolvimento.
Atividade 2
Pesquise a diferença entre os conceitos de “Modernidade” e
1 “Modernização”.
O ritmo mais intenso das mudanças, ao mesmo tempo em que revelou a audácia humana
em avançar no processo de racionalização e modernização, imprimiu uma certa comodidade
ao indivíduo, que passou a ficar à mercê das intensas e ousadas inovações da Ciência e da
tecnologia, as quais delinearam com mais sistematicidade e rapidez o amplo processo de
modernização que chegou até nossos dias.
Com isso, não estamos querendo negar a necessidade de se investir nos projetos
tecnológicos. Apenas estamos ressaltando fatores que vieram junto com as novas perspectivas
da modernização, implementados sem uma prévia formação para conviver com os novos
instrumentos que passaram a ser o referencial da cultura tecnológica.
De modo geral, o fio histórico que nos trouxe até a nossa condição humana contemporânea
possibilitou percebermos o desenvolvimento de uma formação social e cultural de vários
períodos civilizatórios, traduzindo os “avanços” de modelo de modernização que congregou
traços da racionalidade e da irracionalidade, em um amplo movimento de transformações
formado paralelamente.
Por fim, podemos dizer que a tentativa de conhecer, mesmo sem saber o que, fez o
homem descobrir e assumir a postura de morador do mundo. À medida que passou a se sentir
mais seguro no mundo, o indivíduo percebeu que poderia ser, além de morador, também,
criador, administrador, explorador, destruidor, defensor, dominador etc. Essa descoberta faz,
ainda hoje, a diferença na dinâmica das relações estabelecidas entre o indivíduo e os outros
da mesma espécie, e, entre ele e a natureza que lhe é exterior.
Leituras Complementares
BURKE, James; ORNSTEIN, Robert. O presente do fazedor de machados: os dois gumes da
história da cultura humana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
Os autores criaram uma história imaginativa e brilhante que nos mostra elementos
significativos dos processos de desenvolvimento da cultura humana.
Autoavaliação
Aproveite sua perspectiva do futuro, expressa na Atividade 3, e imagine-se na
condição de um educador. Agora, descreva suas possíveis ações educativas
acreditando que estaria fazendo o melhor, enquanto educador, inserido numa
cultura tecnológica.
Anotações
Aula
8
Apresentação
N
a aula 7 (Cultura tecnológica e Educação), vimos que o movimento de expansão do
desenvolvimento técnico-científico favoreceu o processo de modernização e gerou
o que hoje conhecemos por cultura tecnológica. Na área educacional, houve uma
ruptura com o modelo de educação tradicional em prol de uma educação tecnológica, a qual
se apresentou como exigência das transformações econômicas.
Ainda no que diz respeito ao conteúdo da aula anterior, tomamos como referencial,
para entender as alterações conceituais de interface entre cultura tecnológica e Educação, os
processos educativos que foram redimensionados na perspectiva dos conhecimentos técnico-
científicos. Tal redimensionamento nos fez ver que no espaço educativo começa a surgir uma
nova dimensão formadora, a qual se mostra com a finalidade de compor e justificar uma
perspectiva tecnológica cuja função é acomodar conflitos de ordem política, social e cultural,
a fim de solidificar as bases do sistema capitalista contemporâneo.
Objetivos
Apresentar a relação direta entre o desenvolvimento
A
captação e a compreensão das implicações da cultura tecnológica nas escolas brasileiras
Dessacralização nos leva a percorrer caminhos, teóricos e práticos, pelos quais encontraremos
do mundo influências do produto tecnológico e da aceitação ou não da sua aplicabilidade no
Estamos aqui nos
cotidiano dos professores e dos alunos. Esse produto e suas respectivas implicações no
referindo aos processos contexto do educador e da educação brasileira, se bem analisado, nos ajudará a identificar os
teórico-metodológicos encantos e desencantos com os novos rumos dos processos educativos.
que a Ciência moderna
assumiu como alternativa
O esforço analítico a que nos referimos pode ser dimensionado ao compreendermos as
para explorar o mundo, o
homem e as relações entre transformações ocorridas a partir das invenções humanas realizadas no decorrer dos anos,
os dois, sem a interferência através do aprimoramento da técnica e da ciência que, como vimos em aulas anteriores,
da dimensão “divina”
resultou no que hoje chamamos de cultura tecnológica. De outro modo, a produção do
ou “sagrada” que se
evidenciou na Idade Média. conhecimento historicamente constituída seguiu os padrões de rigor do método científico, o
qual prioriza em sentido amplo a dessacralização do mundo.
Ora, sabemos que as informações, dependendo da forma como são veiculadas, poderão
esconder conflitos e interesses, principalmente, quando envolvem questões políticas e econômicas
que as fomentaram. Chamamos essa camuflagem, em aulas anteriores, de perspectiva ideológica.
Desse modo, os cursos de capacitação podem perfeitamente incorporar, sem discussão ou
demonstração de conflitos e divergência de interesse, as diretrizes da cultura tecnológica. Estas,
por sua vez, apontam para a idéia de modernização que se encontra sedimentada no uso dos
computadores, pondo de lado a própria discussão do que torna possível e melhor a organização
do trabalho educativo pelos educadores.
O desvio ideológico ao qual nos referimos anteriormente ocorre pelo discurso, segundo
o qual a informatização da escola é tomada como condição suficiente de melhoria na qualidade
do ensino. Nesse discurso, destaca-se o esforço e o empenho do poder público em apresentar
respostas à sociedade e se escondem os questionamentos em torno da aplicabilidade crítico-
reflexiva dos conteúdos e recursos oferecidos pela máquina.
Queremos deixar claro que não estamos defendendo a tese da não-informatização das escolas.
Estamos apenas chamando a atenção para o fato de que, talvez antes da informatização, seja
necessário reorientar o discurso e a prática política e pedagógica, visando implementar dinâmicas
mais efetivas nas instituições educativas, a fim de favorecer um amplo processo de análise,
discussão e avaliação da aplicabilidade dos recursos humanos, materiais e tecnológicos.
Atividade 1
Faça uma lista de palavras e objetos do mundo tecnológico, usados no
1 seu cotidiano, que represente, para você, “o ser moderno”.
Reflita sobre a lista que fez no item anterior e veja o que você conhece
2 da história dos objetos listados; em seguida, elabore um texto relatando
o que cada um deles mudou na sua vida a partir de sua aquisição.
Essa inversão de valores é visível na educação, que deixou de ser vista como protagonista
de um conhecimento consistente e indispensável à evolução do homem. Ela, a educação, não
aparece mais no cenário mundial como condutora de metas e princípios valorativos a serem
seguidos e atingidos, como referência de uma boa formação cultural. A formação contemporânea
nos chega hoje pelos instrumentos técnicos conectados às redes de fibra ótica, via satélite. Isso
nos impressiona pelo formato impresso, visual ou oral, em que as informações são vinculadas,
na forma de sedutores pacotes prontos para serem consumidos compulsivamente.
Quanto às respostas, parte delas já foi apresentada também em aulas anteriores. O foco
principal da questão nos remete à reflexão sobre os gastos com programas educativos que são
implementados a cada governo que assume e diz ter sob controle o rumo das mudanças sociais,
culturais, políticas e econômicas.
Nesse ponto de conflito social, é cobrada uma política de educação, pois, a sociedade assusta-
se ao ver a massa “descontrolada”. Passa a ser necessário reativar urgentemente um mecanismo
de controle para a situação emergencial. Nesse caso, parece ser mais fácil e rápido retomar a
velha educação com uma roupagem diferente. Daí porque, no cerne das questões mundiais,
vemos a racionalidade técnica e científica ser envolvida pelo crescente desenvolvimento econômico
e a educação ser alvo de grande atenção, principalmente por parte das nações consideradas
emergentes, como é o caso do Brasil.
Mas, o que vemos na nossa realidade se apresentar como “nova” formação pedagógica é
apenas uma troca de roupagem tecnológica. Pois, basta uma pequena incursão pelas escolas do
O novo ambiente anunciado como modernização das escolas, no qual os educadores são
convocados a configurar seu cotidiano educativo, encontra-se apenas no discurso político do
governo, responsável direto pela nova dinâmica de ensino e formação global do indivíduo. A
forma leve, descontraída e mais ativa para a educação em todos os níveis é difundida graças
aos encantos produzidos pelos instrumentos tecnológicos.
Atividade 2
Você conseguiria viver, hoje, sem os produtos da tecnologia? Procure
1 refletir e responder à questão, fazendo uma referência às mudanças
ocorridas na educação sob a influência direta da tecnologia.
Nesse sentido, percebemos que entram em cena os velhos e mesmos discursos de falta
de verbas para a educação. No entanto, o diferencial, hoje, é que o discurso que justifica a
urgência e necessidade da informatização na escola, é aceito sem questionamentos por ser
condição (para alguns) imprescindível de melhoria na qualidade do ensino. Evidenciam-se
desse modo o esforço e o empenho do poder público em apresentar respostas apressadas e,
portanto, vazias de conteúdo, à sociedade.
A conclusão, parcial, a que chegamos, nesta aula, aponta como alternativa para a
atual modernização da educação uma ação integrada por parte de órgãos governamentais
e entidades da sociedade civil organizada, na qual haja um re-direcionamento político e
pedagógico dos programas de informatização da educação. Essa reorientação se daria
na própria estrutura técnica e pedagógica do programa, através da descentralização das
Leituras Complementares
SETZER, Valdemar W. Meios eletrônicos e educação: uma visão alternativa. São Paulo:
Escrituras, 2001. (Coleção Ensaios transversais).
Nesta obra, o autor articula reflexões teóricas e ações cotidianas em busca de uma melhor
compreensão para o tema que relaciona as implicações da tecnologia na educação.
LEITE, Lígia Silva (Org.). Tecnologia educacional: descubra suas possibilidades na sala de
aula. Petrópolis: Vozes, 2003.
Este livro oferece discussões sobre alternativas e possibilidades que surgem com a
presença da tecnologia na sala de aula, apoiado numa visão crítica do uso dos instrumentos
tecnológicos.
Autoavaliação
Faça uma reflexão sobre a influência da tecnologia na sua formação
profissional e, em seguida, escreva um texto em que você disserte sobre tal
influência. Tome como referencial reflexivo e dissertativo a seguinte questão:
“Qual o papel da educação na sociedade contemporânea?”.
PACHECO, Elza Dias (Org.). Televisão, criança, imaginário e educação. Campinas: Papirus, 1998.
SETZER, Valdemar W. Meios eletrônicos e educação: uma visão alternativa. São Paulo:
Escrituras, 2001.
Anotações
Aula
9
Apresentação
A
lgumas questões que tratam da formação docente estão postas já há algum tempo.
Entretanto, as que tratam da emergente cultura tecnológica são tímidas e vistas, de um
certo modo, com desconfiança, embora muita coisa a esse respeito já tenha sido dita.
Tais como: em que mundo nós vivemos? Quais os comportamentos que cultivamos? Como
nos portamos neste mundo? Onde e como aprendemos determinados comportamentos?
Essas questões rondam os homens desde quando eles se identificaram como seres pensantes
e organizadores do espaço, do tempo e das manifestações de sua cultura. Portanto, o nosso
modo de ver e de viver este mundo, assim como nossas explicações para compreendê-lo,
acompanha os movimentos que regem determinadas épocas.
Deu para sentir que não estamos falando de uma sociedade qualquer e que não existem
formulas mágicas para encará-la de frente. Vemos que as questões nos levam a um grau
de complexidade tal, que somente uma análise mais aprofundada nos daria a dimensão
da sociedade na qual vivemos atualmente. Assim, sem pretensões de dar conta de toda a
complexidade que envolve essa estrutura, tentaremos nesta aula compreender um pouco mais
a dinâmica da formação da cultura tecnológica, sua vinculação com a educação e a formação
pedagógica que prepara os indivíduos para se integrarem melhor a esse contexto.
Nesse sentido, queremos que você se perceba como sujeito histórico que, no presente, vive
em um mundo cujas relações de trabalho, sociais e de lazer são intermediadas pela ação direta
dos sistemas tecnológicos, uma vez que você se move, age, reage e interage com máquinas
modernas através dos mais variados recursos tecnológicos. Dessa forma, é que as questões
anteriormente abordadas servem como estímulo investigativo para você se perceber enquanto
indivíduo contemporâneo, preocupado em conhecer seu espaço e o seu papel nesta sociedade.
Assim, você pode se questionar sobre como a educação poderá acompanhar e ajudar nas
novas relações de convivência que se estabelecem no momento atual, viabilizadas pelos amplos
recursos e meios tecnológicos que regem a vida moderna. É com essa intenção que iniciamos
nossa abordagem sugerindo que você responda às questões seguintes.
Agora que você respondeu às questões propostas, deve ter observado que nos
relacionamos com a tecnologia de diferentes maneiras e em diferentes níveis. Alguns
mais avançados e sofisticados, outros menos avançados e sem qualquer sofisticação,
outros, ainda, que não tiveram oportunidade de acesso a nenhum desses sistemas. Mas,
mesmo existindo essas diferenças, não podemos negar que para a sociedade, já foi
disponibilizado o consumo dos recursos tecnológicos. Portanto, em tese, a tecnologia e os
A essa altura, você também já deve ter notado que, na economia, o uso das novas
tecnologias é determinante para consolidar produtos já existentes e ampliar os novos rumos
das relações sociais de produção. Uma rápida olhada a nossa volta é o suficiente para
compreendermos por que a tecnologia se encontra na base de produção da existência humana:
justamente porque ela está em produtos que vão do alimento ao vestuário, na medicina, na
indústria farmacêutica, nos serviços em geral e, particularmente, nos prestadores de serviço
público ou privado.
Desse modo, lojas comerciais, bancos e repartições públicas reforçam a idéia de que hoje
nada é feito ou produzido sem a intermediação da maquinaria. Outra referência à influência
que a tecnologia exerce nas nossas vidas está na base da estrutura em que se encontram os
procedimentos da comunicação de massa e do sistema informacional. Os meios que nos permitem
enviar e receber mensagens foram alvo dos interesses público e privado e, por isso, conquistaram
espaços de destaque na sociedade contemporânea. Isso ocorreu graças às pesquisas nas ciências,
na eletrônica e na telefonia fixa e móvel, que resultaram em produtos tecnológicos inovadores na
área das comunicações, como o advento da Internet e do telefone celular.
Essas e outras questões poderão nos ajudar a compreender nosso papel na sociedade
contemporânea, bem como facilitar uma possível tomada de decisão para o uso que faremos
dos ricos recursos incorporados aos produtos tecnológicos a que temos acesso. Nesse sentido,
sugerimos que continue sua investigação crítico-reflexiva e procure canalizar suas idéias para
compreender o uso possível dos processos e recursos da tecnologia no âmbito da educação.
Por outro lado, a questão que se apresenta hoje está associada ao fato do homem continuar
interferindo na natureza, sendo que, agora, não mais com fins específicos de sobrevivência,
mas com finalidades de maximização dos lucros e reprodução de capital. Nessa perspectiva,
queremos que você compreenda que a racionalidade contemporânea, na sua versão tecnológica,
tem o importante papel de ampliar o controle e a dominação do mercado de trabalho e dos
Ora, a questão que se coloca hoje não é mais a da aceitação ou não da razão sistêmica, científica
e tecnológica como organização dos sistemas. Ou mesmo a discussão sobre qual racionalidade se
encontra embutida nos processos e recursos que movimentam as máquinas, mas, sim, a forma
de convivência pacífica e criativa com toda a parafernália tecnológica. De resto, no dizer de George
Simodon (1985), sobram apenas a “ignorância e o ressentimento”.
Com isso, destacamos que ignorar a cultura técnica nos períodos da primeira e da segunda
revolução capitalista, como se fez no Brasil, foi um grande equívoco do processo educativo. Acreditava-
se que formar bacharéis em direito e letrados generalistas, em detrimento das ciências e das técnicas,
era sinal de desenvolvimento. Na realidade, o que vimos foi o desenvolvimento tecnológico influenciar
a vida em todas as suas dimensões e em escala global, o que implicou compreender a razão técnico-
científica e tecnológica como uma realidade que possui forma própria de se instalar e se reproduzir.
Lembramos que esse fato teve, e ainda tem, implicações diretas na formação dos indivíduos.
Isso se justifica porque é a educação que permite a formação, a especialização e o aperfeiçoamento
dos indivíduos para operar os sistemas de maximização das estruturas econômica e social.
Já sei, você agora está curioso para saber como se dá esse processo, não é?
Não esqueça que estamos tratando aqui da revolução ocorrida no mundo do trabalho e do que
influencia diretamente as mudanças no sistema de ensino e de educação. A dinâmica e o ritmo das
mudanças contemporâneas não esperam mais que o jovem passe por uma formação escolar de 20
ou 25 anos para ingressar no mercado de trabalho. Por outro lado, ainda é necessário reter uma elite
Espero que você esteja acompanhando o nosso raciocínio e entenda que não estamos
mais falando de uma sociedade primária, aquela na qual as relações eram estabelecidas de
maneira simples, direta e, via de regra, executadas com base na improvisação. Também não
estamos nos referindo a sua sucessora, a sociedade técnica, composta de homens com
uma certa destreza motora e alguns rudimentos de leitura, contagem e escrita, os quais se
colocavam diante das máquinas e as operavam mecanicamente.
[...] Alguém nos convenceu que genialidade é improviso, é inspiração, nasce por
arroubos criativos, que rigor e método é coisa para quem não tem talento. Balela:
Picasso dominava as técnicas clássicas, Bethoven rabiscava as partituras, os
acrobatas do cirque de soleil se esfalfam o dia inteiro para poder dar uma pirueta
graciosa (PAULA JUNIOR, 2005, p. 60).
Vemos, portanto, que a sociedade que possui grau de complexidade maior precisa ser
compreendida a partir das transformações ocorridas ao longo do tempo, como as que foram
expressas na citação anterior e as que podemos captar no seguinte depoimento de Dominique
Gellec e Pierre Ralle, em entrevista ao Jornal Le Monde.
Esse pensamento também foi corroborado por Michel Lent Schwartzman, designer
gráfico e mestre em telecomunicações interativas (TI), que trabalha no ramo de informática
desde 1995:
Atividade 2
Como você vê a preparação de professores para lidar com as novas
1 tecnologias em ambiente de ensino?
Aqui devemos nos questionar como as escolas e os professores foram incorporados à lógica
da cultura tecnológica e quais meios e recursos do mundo da informação e da comunicação são
melhores para serem usados em sala de aula. Essa incorporação existe e se deu ao longo de mais
de trinta anos de políticas públicas voltadas para o uso racional da tecnologia no processo de
Percebemos, pois, que muito já foi feito e muito ainda está por fazer. Isso não significa
dizer que a educação deve ajustar-se às regras do jogo de mercado (embora esse seja o desejo
dos empresários), mas que deve ficar atenta às necessidades dele e, sobretudo, dos jovens
que necessitam de preparação para esse ambiente competitivo, o qual exige do profissional e,
conseqüentemente, da escola cada vez mais qualificação para preencher novas funções.
Como, então, fazer isso com um sistema de ensino altamente academicista e/ou teórico?
Daí, nos perguntarmos qual a função de um processo educacional cujas bases de formação
não respondem à emergência de um projeto de desenvolvimento. Ora, sabemos que desde os
anos cinqüenta vem sendo feito um esforço para enquadrar a educação nacional às políticas
desenvolvimentistas, entretanto, as forças conservadoras centralizaram o pensamento educacional
e de ensino no âmbito das letras e humanidades, deixando na marginalidade o ensino técnico e
científico. Isso porque se pensava que o ensino técnico profissional tinha menor valor em relação
ao aprendizado das letras. Nesse sentido, quando o ensino profissional foi criado estava destinado
aos pobres e/ou filhos da classe trabalhadora, enquanto o ensino letrado restringia-se às elites, que
podiam ainda complementá-lo no exterior do país.
Essa realidade começa a mudar somente nos anos setenta com a implantação da lei 5.692/71
que obriga todo o Ensino Fundamental a tratar da questão do trabalho, propondo uma terminalidade
na 8º série do 1º grau, assim como no ensino técnico profissional de 2º grau. Essa obrigatoriedade
não foi acompanhada pela iniciativa privada, a qual continuou fazendo ensino propedêutico e
preparando os indivíduos para o ingresso no Ensino Superior. Nas escolas públicas, alguns projetos
pilotos foram implementados, mas as condições precárias dessas escolas e a realidade financeira da
educação obrigaram o governo a liberar o sistema, retirando a obrigatoriedade do ensino profissional
em todo país. Esse recuo deveu-se à realização de avaliações de cunho oficial no final dos anos
setenta, nas quais o MEC reconhecia a falência do ensino, apesar dos esforços e da expansão
qualitativa ocorrida. Diante dos índices de rendimento considerados muito baixos, isso era indício
de que tinha ocorrido um aumento significativo dos níveis de seletividade do ensino, assunto já
tratado em aulas anteriores da nossa disciplina.
O entendimento era o de que as causas da baixa qualidade do ensino e dos elevados índices
de repetência e de analfabetismo haviam sido provocados por uma formação inadequada dos
docentes. Esse argumento era suficiente para justificar uma série de experimentos educacionais,
dentre os quais se destacam o Programa de Melhoria do Ensino Médio (PREMEM), o Programa
de Assistência aos Municípios (PAEN) e o Programa de Ações Sócio-Educativas e Culturais para
as populações carentes da cidade e do campo (PRODASEC URBANO E RURAL).
Como vimos, as ações naquele momento tentavam dar conta da precariedade das escolas
e de questões macro-sociais, como o empobrecimento da população, o analfabetismo e
o enfraquecimento cultural. No final dos anos oitenta e início dos anos noventa, o avanço do
capitalismo em escala mundial e a nova ordenação da economia baseada no desenvolvimento
técnico e científico impulsionaram os governos a continuarem com as ações educativas em
Assim, surgem os programas e/ou projetos que dotam as escolas com aparelhos da
comunicação de massa para fins de educação e ensino. Outros projetos tratavam da capacitação
de professores. Dentre esses programas, encontram-se os de educação a distância que tinham sido
criados na década de setenta. O telecurso de 2º grau se revitalizou e se ampliou dando origem ao
telecurso de 1º grau, consolidado como modalidade de educação a distância no Brasil.
Nos anos noventa, dando prosseguimento à política de inclusão das escolas no mundo
tecnológico, o governo lança o programa TV escola, cuja finalidade era a capacitação de
professores e o uso didático em sala de aula da Educação Básica. Já o Programa Nacional de
Informática (Proinfo) foi criado como alternativa para introduzir novas tecnologias de informação
e comunicação nas escolas públicas e para atualizar os professores frente à realidade tecnológica
dos tempos modernos.
Como vemos, o Estado numa certa medida tem feito a sua parte para dotar as escolas
com equipamentos da modernidade da comunicação e qualificar docentes para o uso
racional da tecnologia de ensino em ambiente escolar. Resta saber se o que tem sido feito
é suficiente para oferecer aos professores competência técnica e científica no trato com
as novas tecnologias na educação.
Leituras complementares
PIRES, João Maria. Do mito à realidade: da gênese da modernidade a gênese da informatização
da educação no Rio Grande do Norte. Dissertação (mestrado em educação) – Programa de
Pós-graduação em Educação, UFRN, Natal, 2000.
Autoavaliação
Pesquise e comente com os colegas, ou com os professores, como se deu no
passado e como ocorre no presente os modos de ensinar e aprender. Em seguida,
enumere e descreva vantagens e desvantagens de alguns recursos tecnológicos
que você conhece e que são aplicados na educação.
PAULA JUNIOR, René de. Design em revista. Revista Webdesign, Rio de Janeiro, n. 24, p. 60,
dez. 2005. p. 60.
SIMODON, Gilbert de. Du mode d´existence des objects techniques. Paris: Aubier –
Montaigne, 1969.
Anotações
Aula
10
Apresentação
E
sta disciplina ao longo das aulas, vem tratando de aspectos superestruturais, conjunturais,
políticos, históricos, filosóficos e sociológicos que fundamentam a e/ou influenciam a
educação e o ensino no Brasil. Tenta-se, assim, identificar suas definições, natureza,
normas e regulação e o que orienta suas ações no âmbito escolar e sociocultural. Nesta aula,
veremos que apesar das críticas feitas à precarização da escola pública, à sua objetivação
metodológica e à tecnização do ensino no país, a escola constitui-se numa instituição necessária
ao emblemático mercado de trabalho, assim como à elevação da capacidade técnica e de
socialização dos indivíduos.
Essa compreensão nos coloca numa posição de alerta para fazer avançar a universalização
da escola pública – ampliação física e qualitativa das escolas, melhoria didático-pedagógica
e elevação da capacidade ténico-pedagógica dos professores –, atentando para o respeito à
diversidade socioeconômica e cultural da população, à pluralidade metodológica e à diversidade
do pensamento que fundamenta a educação hoje.
Objetivos
Diferenciar educação idealista e realidade
1 educacional.
P
ara iniciar nossa caminhada investigativa, partiremos do princípio de que não existe um
país que tenha atingido bons níveis de crescimento econômico e desenvolvimento social
sem o aumento dos níveis de escolaridade e das capacidades técnicas dos indivíduos.
Acrescentemos a esse princípio o fato de que não se atinge níveis de bem-estar social, moral
e ético, sem que uma parcela significativa da população tenha acesso aos bens socialmente
construídos. Como vemos, o nível de escolaridade e a capacidade técnica dos indivíduos são
dois aspectos mais do que suficientes para percebermos o que ainda precisa ser feito em nosso
país a fim de que a escola cumpra seu papel de fomentadora do desenvolvimento.
Esse debate deixou de ser tomado como um ponto localizado, regionalizado, nacionalizado
e ganhou destaque em esfera global. Algumas regiões como a América Latina, por exemplo,
foram beneficiadas com esse debate, pois os indicadores negativos do crescimento econômico
em países mais desenvolvidos serviram de alerta para evitar os mesmos erros e problemas com
o crescimento econômico de outros países. Recentemente, a China e a Índia se destacaram por
terem atingindo patamares de crescimento econômico surpreendentes. Dentre os fatores para
esse crescimento, citados por alguns especialistas, encontra-se uma planificação a longo prazo
do aumento das capacidades individuais, combinando programas e reformas educacionais
com investimentos em infra-estrutura.
A referência aos tigres asiáticos não foi feita por acaso. Trata-se de dois países, a China
e a Índia, tão populosos como o Brasil, e igualmente recebedores de direcionamentos e
financiamentos de organismos internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional)
e o Banco Mundial, que visam implementar políticas de desenvolvimento em diferentes áreas
(habitação, transporte, saúde, saneamento e educação).
O que estamos querendo destacar nessa questão é que, diferentemente do Brasil, a China e
a Índia vêm desafiando os gigantes mundiais. Enquanto o crescimento global, em 2006, atingiu
4,3%, a China cresceu 8,2% e a Índia 6,3%, ultrapassando os EUA, com 3,3%, a União Européia,
com 1,8% e Brasil, com 3,5% (PINHEIRO, 2006, p. 12). A pergunta vem naturalmente: qual o
segredo desses países para atingir níveis tão expressivos de crescimento? A resposta poderá
estar relacionada ao fato de que a planificação pensada e executada por esses países focaliza a
combinação de investimentos em infra-estrutura e educação (investimento em mão-de-obra),
fatores necessários ao sucesso do desenvolvimento e do crescimento econômico.
A repórter Márcia Pinheiro, da revista Carta Capital, cita em sua reportagem o economista
Gustavo Ioschpe. Segundo a repórter, o economista afirmou que “41% dos alunos que
freqüentam o nível secundário na China estão em programas de formação profissional”. Ainda
segundo Ioschpe, “as universidades desse país dividem-se em três tipos: as abrangentes
(destinadas à carreira acadêmica), as politécnicas e as profissionalizantes de nível básico”.
Assim, a partir dessas informações, identificamos no conjunto das ações desenvolvidas por
esses países uma visão desenvolvimentista que se preocupa ao mesmo tempo com as questões
econômicas e com as questões sociais, por isso, talvez, colhem agora os benefícios. Gustavo
Ioschpe complementa seu pensamento dizendo que:
[...] Isso ocorre porque há clareza das autoridades: a educação não pode estar dissociada
do processo de desenvolvimento. China e Índia pensaram as grades curriculares para
atingir uma meta de crescimento de longo prazo. E não é apenas uma questão de recursos
[...] a China gasta 2% do PIB com educação, ante o dispêndio do Brasil 4,5% [...] O nosso
país tem uma taxa de repetência de 32% na primeira série do primeiro grau. Simplesmente
Faremos agora uma pequena pausa reflexiva para aguçar o instinto investigativo e ampliar
a compreensão em torno dos novos e possíveis rumos que a contemporaneidade reserva para
a educação. Tomaremos, pois, como ponto de reflexão e instrumento de análise a música
Cidadão, de Lúcio Barbosa (atenção à letra com grafia coloquial).
Cidadão
Letra: Lúcio Barbosa
1 Criança de pé no chão
Tá vendo aquele edifício moço? Aqui não pode estudar
Ajudei a levantar Esta dor doeu mais forte
Foi um tempo de aflição Porque eu deixei o norte
Eram quatro condução Eu me pus a me dizer
Duas pra ir, duas pra voltar. Lá a seca castigava,
Hoje depois dele pronto Mas, o pouco que eu plantava
Olho pra cima e fico tonto Tinha direito a comer.
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, 3
tu tá aí admirado Tá vendo aquela igreja moço?
Ou tá querendo roubar? Onde o Padre diz amém
Meu domingo tá perdido Pus o sino e o badalo
Vou pra casa entristecido Enchi minha mão de calo
Dá vontade de beber Lá eu trabalhei também
E pra aumentar o meu tédio Lá sim valeu a pena
Eu nem posso olhar pro prédio Tem quermesse, tem novena
Que eu ajudei a fazer. E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
2 Rapaz deixe de tolice
Tá vendo aquele colégio moço? Não se deixe amedrontar.
Eu também trabalhei lá Fui eu quem criou a terra
Lá eu quase me arrebento Enchi o rio fiz a serra
Pus a massa fiz cimento Não deixei nada faltar
Ajudei a rebocar Hoje o homem criou asas
Minha filha inocente E na maioria das casas
Vem pra mim toda contente Eu também não posso entrar.
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
[...] existem nesses países algumas variáveis fundamentais que atraem capitais. As suas
dimensões certamente são um ponto forte, aliado às enormes populações. Isto porque
as companhias visam se estabelecer em um lugar com mercado interno consumidor
pujante. (PINHEIRO, 2006, p. 12).
É importante destacar que essas variáveis citadas são idênticas às existentes aqui no
Brasil. Mais uma vez, a pergunta vem naturalmente: por que será que a Índia se concentra na
terceirização e no domínio da tecnologia da informação e de softwares? Márcia Pinheiro, autora
Para encontrar evidências desse argumento, basta ver que parte dos recursos
destinados à educação é gasto com projetos de suplência. Tais projetos, por sua vez, servem
para suprir as lacunas deixadas naqueles que não tiveram acesso ao sistema de ensino,
ou naqueles que entraram nesse sistema e depois o abandonaram, seja por repetência ou
necessidade de sobrevivência. Para nós, a educação talvez tenha servido mais como elemento
de manipulação político-ideólogico do que como meio fundamental para o desenvolvimento
econômico e social do Brasil.
Desse modo, entendemos que é impossível ingressar nessa sociedade sem formação
acadêmica, técnica e profissional, em níveis elevados, pela própria competição que o mercado
econômico e financeiro oferece como parâmetro regulador das relações nacionais e internacionais,
se tomarmos como base o nível dos países produtores de conhecimento e tecnologia.
Ora, sabe-se que o Brasil conseguiu saltar da octogésima economia mundial para a oitava,
graças à importação de tecnologia. Com isso, aceleram-se setores produtivos, comerciais e
financeiros, enquanto no campo educacional a formação básica e profissional foi colocada
em segundo plano para privilegiar o Ensino Superior. Noutro momento, foram adotadas
políticas compensatórias para a educação, visando minimizar o problema do analfabetismo,
da repetência e da evasão escolar.
Você percebe agora que, nessa nova fase, o capitalismo revoluciona o processo
produtivo ao integrar conhecimento e inteligência às máquinas. Basta ver que os processos
de automação dispensam a força bruta dos homens, desloca-os para atividades de
programação, gestão e controle dos processos operacionais, o que requer dos profissionais
não só destreza motora, mas, fundamentalmente, conhecimento da área de atuação. Essa
reviravolta no processo produtivo tem implicações diretas no processo de formação da
mão-de-obra em todos os níveis.
Por fim, podemos dizer que toda a mediação do conhecimento, imposta pela sociedade
dos objetos técnicos, imprime mecanismos metodológicos que transformam e ao mesmo tempo
exigem uma transformação do ambiente escolar, bem como da própria relação de ensino-
aprendizagem e da educação em geral. Os alunos são submetidos a processos de aprender,
participando do processo de ensino em ambiente descontraído de jogos e brincadeiras. Na
verdade, o que constatamos é a emergência de uma nova formação, potencializada pela relação
lúdica com os jogos eletrônicos, manipulados cada vez mais cedo no ambiente social. Nesse
sentido, o ensino, hoje, não pode prescindir da mediação dos conhecimentos que foram
integrados à maquinaria disponível para fins educacionais, notadamente os advindos dos
recursos midiáticos.e complexos de dados; uma boa competência para operar e sistematizar
conhecimento, utilizando os recursos disponíveis em sociedade.
Por fim, podemos dizer que toda a mediação do conhecimento, imposta pela sociedade
dos objetos técnicos, imprime mecanismos metodológicos que transformam e ao mesmo
tempo exigem uma transformação do ambiente escolar, bem como da própria relação de
ensino-aprendizagem e da educação em geral. Os alunos são submetidos a processos
de aprender, participando do processo de ensino em ambiente descontraído de jogos
e brincadeiras. Na verdade, o que constatamos é a emergência de uma nova formação,
potencializada pela relação lúdica com os jogos eletrônicos, manipulados cada vez mais
cedo no ambiente social. Nesse sentido, o ensino, hoje, não pode prescindir da mediação
dos conhecimentos que foram integrados à maquinaria disponível para fins educacionais,
notadamente os advindos dos recursos midiáticos.
Nesse sentido, a urgência que destacamos como caminho viável para a educação
brasileira, na contemporaneidade, é a implementação de um programa de ensino que
aumente a capacidade produtiva tanto dos indivíduos quanto das corporações. Ora, sabemos
que desde os anos cinqüenta, necessidades, e, até mesmo alternativas, para o sistema de
ensino brasileiro, vêm sendo colocadas por todos os governantes, diante do precário quadro
educacional do país. A esse respeito, constatamos que as dificuldades são atribuídas a vários
fatores, quais sejam:
De outro modo, apesar das críticas que se faça ao crescimento econômico no continente
asiático, no que diz respeito ao meio ambiente e às questões referentes aos direitos humanos,
observa-se que uma das fórmulas adotadas pelas autoridades, para o crescimento da nação,
foi a de “tomar partido da globalização sem a submissão a arcabouços desfavoráveis a um
projeto de construção nacional”. Dando continuidade ao seu pensamento, pontua o professor
da UFRJ, João Sicsu: “[...] os países em desenvolvimento que têm alto grau de sucesso, como
a China e a Índia, fizeram uma total inserção no comércio global sem se render à voracidade
dos capitais financeiros” (PINHEIRO, 2006, p. 16).
Voltando, portanto, ao que podemos denominar por saídas para a educação nacional,
não podemos perder de vista a dimensão interna do sistema. Estamos chamando a atenção
para os aspectos da autonomia e da liberdade, que deverão ser aplicados em todos os níveis
da administração pública, a fim de corrigir problemas estruturais que impedem a educação de
melhor responder às exigências da atual conjuntura. Entendemos, pois, que assim permitiremos
aos indivíduos desenvolverem capacidades necessárias para uma melhor colocação no mercado
de trabalho, ao mesmo tempo em que estaremos dotando as empresas e a sociedade de
competências para suprir suas necessidades.
Leitura Complementar
RIBEIRO, Vitória Maria Brant. A questão da qualidade do ensino nos planos para o
desenvolvimento da educação: 1955/1980. Revista em aberto, Brasília, n. 44, out./dez.1989.
Autoavaliação
Para complementar as informações sobre os diferentes níveis e interpretações
de educação que foram apresentados, sugerimos que você navegue pelos
sites do MEC/INEP, IBGE, DIEESE, BIRD, UNESCO e Banco Mundial. Como
atividade específica, construa um quadro da situação educacional do seu
município, destacando os níveis de formação, qualificação e remuneração dos
docentes no seu município. Se possível, compare-os com dados nacionais
e até mesmo internacionais.
CANO, Wilson. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des)ordem internacional. São Paulo:
Editora da UNICAMP, 1993.
PINHEIRO, Márcia. Expresso oriente. Carta Capital, São Paulo, ano XII, n. 337, p. 10-16,
25 jan. 2006.
Anotações
Aula
11
Apresentação
A
questão da universalização da educação só poderá ser discutida se nos voltarmos
para a análise da mentalidade das elites, de um lado, e da população em geral, de
outro, a fim de compreender as relações de classe social, assim como o papel da
educação no desenvolvimento econômico e social. Nas aulas anteriores, tratamos um
pouco da dificuldade que tem a elite brasileira em admitir que a educação é um bem social
e, como tal, é um direito ao qual todos, independentemente de classe, raça, sexo e credo
religioso, devem ter acesso gratuitamente. Essa concepção sobre o direito à educação é
universal, mas é implementada pelos países de maneira diferenciada, o que significa dizer
que em algumas nações ela é ignorada; em outras, parte da população tem acesso a um
ensino de qualidade duvidosa, enquanto outra parcela significativa fica de fora do sistema,
já os que podem pagar, estes sim, têm acesso a uma educação de qualidade. Como vemos,
a universalização no âmbito educacional está ligada à discussão da elitização. Vejamos
então como se dá essa dinâmica na educação nacional.
Objetivos
Identificar a relação existente entre universalização e
1 elitização da educação nacional.
H
istoricamente, a discussão sobre a elitização da educação nacional remonta às origens
da nossa formação econômica e social. Desde o período colonial, a história da educação
nacional foi marcada por fatos que evidenciam a luta da população mais pobre para
ingressar no sistema formal de ensino. Essa mobilização nacional traduz-se como a luta pela
democratização da educação e do ensino no Brasil. Em meados dos anos noventa, Manoel
Cardoso de Melo, professor de economia da Universidade de Campinas, São Paulo, em
conferência sobre o capitalismo tardio e o neoliberalismo, disse que “A sociedade brasileira
nos últimos quinze anos, assistiu à liquidação de seu mecanismo fundamental de integração
social” (CRUZ, 1998, p. 90). Ora, diante de uma afirmação dessa natureza, a primeira coisa a
fazer é nos perguntarmos sobre que mecanismo seria esse e o que teria causado tal processo
de “liquidação” da integração social na sociedade brasileira.
Para não perdermos a seqüência lógica do nosso tema, diremos que o conferencista,
ao fazer tal afirmação, questionava o contexto e os conflitos políticos e sociais que
predominavam no Brasil do séc. XIX, os quais passavam a ser temas das discussões que
buscavam orientações para o novo, ou seja, o século XX. O teor dessas questões era a
crescente mobilidade social como conseqüência das altas taxas de crescimento e das
modificações na estrutura de emprego.
Quando se observa como é que uma sociedade tão desigual como a brasileira pode fazer
isso, é porque ela se movia inteira, ela se mexia! se mexia! Em uma época, você tinha uma
geração, um indivíduo na zona rural, noutra geração o sujeito era operário da construção
civil, noutra seu filho é médico. Este mecanismo é na realidade o grande mecanismo e que
não existe mais. Quando nos viramos para os anos 80, evidentemente, com a estagnação
teria ocorrido mobilidade social? Bem, claro que houve mobilidade social, mas para baixo,
mobilidade social descendente (CRUZ, 1998, p. 90).
Reforçando a tese de Melo, podemos dizer que a realidade brasileira vem se alterando aos
poucos, timidamente, com as políticas afirmativas do governo de inclusão social dos portadores
de necessidades especiais, dos negros e dos índios, que são as chamadas minorias. São esses
e muitos outros os conflitos que se encontram por trás da universalização da educação e,
conseqüentemente, da sua perspectiva de elitização do ensino.
Agora, para que você se situe melhor na questão da elitização do ensino brasileiro, iremos
nos reportar às teses que tratam sobre a desigualdade social, que se encontra na raiz da
exclusão de parcela significativa da população do mundo do trabalho, do sistema de educação e
ensino e do acesso aos bens sociais em geral. Para atender nosso objetivo, faremos referência
ao estudo de Willington Germano (2000) sobre Estado Militar e a Educação no Brasil, no qual
encontramos mostras de que o desenvolvimento econômico associado à concentração de
renda e aos baixos níveis educacionais é excludente e elitista.
Segundo Germano,
Essa questão ainda é vigente, apesar de alguns esforços institucionais para vencer as
barreiras impostas pelas elites econômicas, políticas e intelectuais que ainda pensam em
educação como privilégio de poucos abastados economicamente. Para termos uma idéia de
como essa questão está presente na nossa realidade, sugerimos que responda às questões
da nossa primeira atividade, a seguir.
Atividade 1
Faça uma pequena amostra da situação educacional do seu bairro
1 a partir de uma breve pesquisa com seus vizinhos. Sugerimos que
você elabore um questionário para recolher informações por família,
contemplando as questões seguintes.
[...] Nós voltamos às análises das estruturas passadas, onde foi observada a inserção
do conceito de inovação nas políticas públicas, como meio de fazer avançar o projeto
de desenvolvimento, e ao mesmo tempo como meio de fazer retroceder as forças de
resistências que se opunham ao modelo de desenvolvimento (CRUZ, 1988, p. 235).
Ora, basta observar que quanto maior o ingresso da população no sistema formal de
ensino, menor o número de pessoas circulando na sociedade com baixo grau de escolaridade.
Esse fato tem repercussão direta na economia, pois reduz a capacidade produtiva pela ausência
de profissionais preparados, com conhecimento e competência para produzir mais e melhor.
Por sua vez, se formos analisar pelo lado do grau de exigência e refinamento social,
veremos que o não acesso à instrução formal repercute na renda da população, no poder
aquisitivo e conseqüentemente na capacidade de escolhas dos indivíduos, o que implica a
produção de mercadorias diferenciadas. De um lado, mercadorias e produtos de qualidade
elevada politicamente e, ecologicamente, corretos; do outro, produtos de baixa qualidade.
[...] O problema do acesso das crianças em idade escolar à escola fundamental brasileira
está na origem do problema, isto significa dizer que existe um fosso entre o caráter
obrigatório da constituição federal de escolaridade das crianças em idade escolar (dos
07 aos 14 anos), de democratização do ensino e as verdadeiras oportunidades de acesso
à escola. (CRUZ, 1988, p. 235).
Sugerimos que, após a leitura, identifique o que a música ressalta como positivo
e negativo do ponto de vista físico, econômico, social e educacional. Em seguida,
analise os contrastes identificados, relacionando-os com as conseqüências
socioeducativas no Brasil de hoje.
Leituras Complementares
CANO, Wilson. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des) ordem internacional. São Paulo:
Editora da Unicamp, 1993.
Esse autor analisa o quadro do Ensino Médio e a qualificação nesse nível de ensino em
um país que historicamente fez opção por privilegiar o Ensino Superior.
Autoavaliação
Para verificar o seu aprendizado nesta aula, identifique como o seu grupo familiar,
amigos de rua, de escola ou do trabalho foram incorporados ao sistema formal
de ensino. Após uma análise, aponte algumas chances de ascensão social, sua e
deles, frente àqueles que não tiveram oportunidade de ingressar nesse sistema,
ou mesmo tendo ingressado não conseguiram concluir seus estudos.
GATTI, Bernadete A. Democracia de Ensino: oma reflexão sobre a realidade atual. Revista em
aberto, Brasília: MEC/INEP, n. 44, out./dez. 1989.
GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil (1964/1985). São Paulo:
Cortez, 1993.
MELO, Guiomar Namo de; SILVA, Rose Neubaeur da. O que pensar da atual política educacional.
Revista em aberto, Brasília: MEC/INEP, n. 50/51, 1992.
MOURA, Gabriel; JOVINIANO, Jovi; JORGE, Seu. Brasis. Intérprete: Seu Jorge. In: Seu Jorge
e Ana Carolina. São Paulo: Sony/BMG, 2005. DVD gravado ao vivo.
Anotações
Aula
12
Apresentação
A
firmar que o analfabetismo no Brasil é estrutural é considerá-lo como resultado de
políticas públicas que historicamente não privilegiaram o segmento mais pobre da
população. Apesar de nas duas últimas décadas observarmos um esforço institucional
em desenvolver políticas compensatórias para atender a população de jovens e adultos à
margem do sistema educacional, essa distorção nos revela que o quadro ainda é preocupante.
Mesmo assim, devemos ainda nos preocupar com a questão do analfabetismo? Por acreditar
que a sua resposta será igual a nossa, ou seja, afirmativa, faremos juntos um desdobramento
dessa pergunta. Nossa primeira preocupação será retomarmos o caminho teórico interpretativo
das aulas anteriores e canalizar o conteúdo desta aula para uma nova investigação, a fim
de compreender as políticas, ações e programas educacionais que são referências para o
combate ao analfabetismo. Este é, portanto, nosso esquema de abordagem para esta aula:
traçaremos os fatores e motivos que influenciam indivíduos a se colocarem à margem da
educação formal, visando lhe oferecer conteúdo teórico para uma melhor compreensão da
questão do analfabetismo no Brasil.
Objetivos
Identificar caminhos e causas que levam os
1 indivíduos ao analfabetismo.
N
osso foco inicial é a busca de explicações para os motivos que levam um indivíduo a
não ter acesso ao aprendizado da leitura e da escrita, principalmente em um mundo
como o nosso, que é fundamentalmente regido por linguagens de códigos e letras.
A pergunta que fazemos como base de apoio investigativo visa identificar os problemas
enfrentados por esses indivíduos que não têm acesso, voluntária ou involuntariamente, à
cultura das letras, ou seja, à alfabetização. Quais seriam, pois, os reflexos desse fato na
estrutura social na qual esses indivíduos estão inseridos? Em busca da resposta para essa e
outras questões, veremos o quanto o analfabetismo é nocivo ao indivíduo, ao progresso da
economia e da sociedade como um todo. No capítulo III, seção I, art. 205, da Constituição
do Brasil, encontramos a seguinte afirmação:
Com isso, fica assegurado o direito constitucional à educação para todo cidadão
brasileiro, o que significa dizer que o Estado é o responsável direto pela oferta de ensino em
todos os níveis. Entretanto, observamos que apesar da Constituição expressar claramente na
A Lei 5540/68, que reformulou o ensino superior, e a Lei 5.692/71, que reformulou o
ensino de 1º e 2º graus em plena ditadura militar, não foram capazes de atender a demanda da
população por mais vaga e melhoria das condições de ensino. Assim, nas décadas de oitenta
e noventa, houve um aumento significativo da oferta de vagas no setor privado, caracterizando
o que se convencionou chamar de privatização do ensino. Esse movimento impulsionou a
sociedade civil, sobretudo o segmento dos profissionais da educação, a discutir os rumos da
educação nacional e propor mudanças no sistema, a fim de garantir o acesso da população
mais pobre ao sistema formal de ensino.
Dessa simples afirmação pode surgir uma pergunta aparentemente boba, do tipo: o
que tem isso a ver com o analfabetismo de jovens e adultos no Brasil? Veremos o quanto
essa questão é fundamental. A exemplo, Demerval Saviani, ao abordar o tema Escola e
Democracia, nos oferece algumas pistas para entender esse analfabetismo. O autor toma
por base dados sobre a América Latina e estatísticas relativas aos anos setenta para afirmar
que “[...] Cerca de 50% dos alunos das escolas primárias desertavam em condições de
semi-analfabetismo ou de analfabetismo potencial na maioria dos países da América Latina”
(SAVIANI, 1978, p. 07).
A partir dos dados oferecidos por Saviani, evidencia-se a questão do acesso à escola
pública no Brasil subordinado a uma política para o continente, embora cada país tenha
reagido de maneira diferente às políticas orientadas pelos organismos desenvolvimentistas
norte-americanos para o continente Latino-Americano. Lembramos que esse assunto foi
tratado em aulas anteriores e, no momento, estamos apenas aproveitando o espaço para
Ao que nos parece, esta é outra vertente do problema do analfabetismo entre os jovens
e adultos: o não acesso ao sistema educacional como garantia de direito constitucional. Para
Saviani, é “[...] a realidade da marginalidade relativamente ao fenômeno da educação” (SAVIANI,
1986, p. 07). Assim, identificamos que o analfabetismo antes de ser uma escolha individual
é fruto das relações estabelecidas na estrutura social. E a sua dinâmica determina quem está
apto a ingressar no sistema e nele permanecer; quem nele ingressa e não permanece. Por
fim, a dinâmica das relações sociais determina quem consegue passar no funil da elitização
imposta pelo próprio sistema.
Para fechar esta primeira parte, ressaltamos que historicamente o acesso à educação
no Brasil foi representado como a passagem por um funil, no qual nem todos que entram no
sistema educacional conseguem completá-lo, ou seja, a entrada é sempre maior do que a saída.
Ora, sabemos que um dos pontos fundamentais na questão do analfabetismo diz respeito
à melhoria das condições de emprego e renda da população, no sentido de possibilitar aos
indivíduos condições materiais mínimas capazes de não obrigá-los ao ingresso no mercado
de trabalho antes de completarem a escolarização mínima exigida.
Desse modo, defendemos a importância dos incentivos ao ensino em sua dimensão mais
ampla possível, mas fundamentalmente direcionada à permanência dos alunos no Ensino
Fundamental. Nosso desejo é de superação das metas previstas para os alunos que ingressam
no sistema educacional, através da canalização de esforços para que ele permaneça na escola
em tempo integral e complete o ciclo básico necessário e obrigatório, construindo, assim, pelo
menos o mínimo de formação exigida ao exercício pleno da cidadania.
Por fim, lembramos que a inserção histórica dos indivíduos na educação, no Brasil,
foi sempre destacada como uma mudança de nível ou passagem de estágios em que nem
sempre prevaleciam os saberes formais constituídos, mas sim os interesses predominantes
das elites econômicas e financeiras. Daí, talvez a referência ao funil para significar e justificar,
como critérios educacional e cultural, o fato de que nem todos os que entram no sistema
educacional conseguem completar seus estudos. O fato de a entrada ser maior do que a saída
reforça o desnível cultural e social no sistema de ensino formal. É nesse contexto que cabe a
análise do analfabetismo.
Leituras Complementares
CUNHA, Luis Antônio. O golpe na educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
SAVIANI, Dermeval. Análise crítica da organização escolar brasileira através das Leis 5540/68
e 5.592/71. In: GARCIA, W. E. (Org.). Educação brasileira contemporânea: organização e
funcionamento. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1976.
Autoavaliação
Identifique na sua comunidade, entre seus familiares e amigos próximos, aqueles
que não freqüentaram a escola e descubra os motivos pelos quais eles não
buscaram o sistema formal de ensino para sua alfabetização. Depois converse
com algumas pessoas que tiveram a oportunidade de ingressar nesse sistema,
mas não conseguiram completar a escolaridade mínima. Conheça os motivos que
os levaram a abandonar a escola antes do tempo e, com esses dados, construa
um pequeno texto que mostre sua análise crítico-reflexiva.
Referências
BUARQUE, Cristóvão. O colapso da modernidade brasileira: uma proposta alternativa. Rio
de Janeiro: Paz e terra, 1991.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais Ltda, 1989.
CUNHA, Luis Antônio. O golpe na educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil (1964/1985). São Paulo:
Cortez, 1993.
LUCE, Maria Beatriz Moreira. Sobre a educação no debate da integração latino-americana: alguns
pontos para reflexão. Cadernos do Cedes, Campinas: Papiurus – Unicamp, n. 31, 1993.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 1986.
_______. Educação brasileira: estrutura e sistema. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1978.
Aula
13
Apresentação
N
esta aula, como o próprio título indica, trataremos de três temas: a educação,
a tradição e a modernidade. Nossa abordagem pretende articular as três áreas
sugeridas, identifi cando o grau de pertinência de uma relacionada a outra. O
referencial teórico tomará como pressuposto o fato de que uma educação de qualidade
coloca estrategicamente o país na condição elevada de desenvolvimento econômico,
tecnológico e social. Essa condição permite que os indivíduos possam estudar o passado,
compreender o presente e projetar o futuro. Desse modo, a linha de raciocínio que
tentaremos desenvolver nesta aula seguirá na tentativa de demonstrar que é no passado
que se encontra a fonte das transformações vivenciadas no presente, e delas dependerá
o futuro da humanidade expresso no progresso e na modernidade.
Objetivos
Identificar o processo educativo como movimento social
1 dinâmico e fomentador da formação moral e ética dos
indivíduos.
Todas essas relações nos ajudam a compreender o que é o viver e como o homem se
organiza no ambiente físico e social. Portanto, não podemos tratar separadamente essas
áreas a não ser para efeito de estudo, pois é do nosso conhecimento que do saber inscrito
Nesse sentido, nossa compreensão é de que a educação cumpre papel preponderante não
só de sistematização, mas de produção de novos saberes, de formulação e difusão dos velhos e
novos conhecimentos, permitindo que idéias aflorem e que conceitos sejam reformulados, ou mesmo
transformados, e o conhecimento surgido possa ser difundido.
Com isso, queremos chamar sua atenção para o fato de que é através da educação formal que nos
preparamos para enfrentar a vida de maneira mais organizada e sistemática. Por esse caminho formativo,
deveremos aprender a lançar mão do conhecimento acumulado para progredir individualmente
e coletivamente. Como podemos ver, o tema educação deve ser assunto importante para todos os
cidadãos, pois dela depende o grau de integração dos indivíduos às estruturas econômica e social.
Alguns teóricos chegam a considerar a educação tão importante para o homem como o ar que
ele respira. Obviamente, o ser humano viverá sem ser alfabetizado, sem educação formal nenhuma,
a questão é saber como. O exagero nessa afirmação é para chamar mais uma vez sua atenção para a
importância que tem a educação na vida de cada um e na harmonização social.
Ora, se podemos dizer que o homem é um animal racional, podemos então admitir que ele não
poderá ficar entregue a sua natureza como os outros animais. Em linhas gerais, o que nos diferencia
dos outros animais pode ser a necessidade da domesticação, de alinhamento, ordenação, ou seja,
regras para não deixar o homem livre para fazer o que bem entenda. Ao que nos parece, aqui surge
um problema: a necessidade das regras. Você já imaginou como seria o mundo sem regras, sem
normas, todos dividindo o mesmo espaço sem haver respeito?
Podemos até ter uma opinião formada sobre o que seja educação e a sua finalidade, mas não
podemos nos furtar dessa discussão, pois desde os tempos antigos ela é discutida, reformulada,
transformada e adequada a cada forma de governo ou regime político. Isso significa dizer que dos
tiranos aos democratas todos se preocupam com a educação do seu povo.
Entretanto, cabe perguntar: por que a instituição educativa causa tanta preocupação?
Philippe Meirieu (2002), reportando-se ao projeto de Decreto da Organização Geral da Instrução
Pública, apresentado à Assembléia Nacional Francesa e lido por Condorcet em 1792, diz que:
Condorcet revela uma confiança absoluta nos processos de conhecimento humano pela razão
e pretende fundar uma ‘instrução pública’, colocada sob a responsabilidade exclusiva do
legislador. Nesta perspectiva, a escola deve ser particularmente ambiciosa no que diz respeito
à transmissão mais ampla do conhecimento científico. (MEIRIEU, 2002, p. 41).
Façamos, juntos com Marilena Chauí, um esforço para entender essa vinculação entre
passado e presente na educação. Arriscamo-nos a dizer que tem relação com o conceito
de cultura, você concorda? Pois bem, sabemos que a cultura se relaciona com o processo
civilizatório, ou seja, com as noções de “civil, de homem educado, polido e a ordem social”
(CHAUÍ, 1994, p. 12). A autora diz também que cultura não pode ser compreendida a partir
dessa definição restrita, mas no sentido mais amplo do termo. Para Chauí, não existe consenso
para a definição de cultura.
g) Como seria uma cidade sem nomes de rua, sem numeração, sem
regras de trânsito, sem normas e sem lei?
Hoje, nos parece óbvio admitir que é através da convivência que aprendemos
2 as boas regras do convívio social. Assim, é possível que tomemos por natural
o fato de não ser necessário nenhuma instituição social regular a escola e a
justiça, por exemplo. Mas, a propósito das regras, se alguém lhe perguntasse
por que ou para que elas existem, o que responderia? Reflita sobre a questão
com colegas e professores, fundamente sua opinião e depois faça uma
pequena composição textual, destacando a importância, ou não, das regras
na sociedade contemporânea.
[...] em cada mil brasileiros que nascem vivos, cerca de noventa morrem antes de cinco
anos de idade, por fome ou doenças endêmicas. Dos sobreviventes, quase cento e vinte
são excluídos desde a infância, sobreviverão marginalizados nas ruas, jamais entrarão
em uma escola, não serão beneficiados nem úteis socialmente. Dos setecentos e noventa
que restam, quinhentos não concluirão as quatro primeiras séries de estudo. Cento e
cinqüenta não concluirão as quatro séries seguintes do primeiro grau. Apenas cento e
quarenta conseguirão passar para o segundo grau. Cem anos depois de um contínuo e
intenso processo de crescimento econômico, em cada mil brasileiros que nascem, apenas
noventa atravessam as dificuldades de sobreviver e são educados até o final do segundo
grau. (BUARQUE, 1994, p. 15).
Quase cem milhões de pessoas vivem na pobreza. Destas, quase 60 milhões sobrevivem
em condições de miséria, e nada menos do que 20 milhões em total indigência. A quase
totalidade dessa população sofrerá de doenças abolidas em quase todo o mundo, lepra,
dengue, esquistossomose, tuberculose, chagas, e outras produzidas por falta de higiene,
de atendimento médico ou do mínimo nutricional. (BUARQUE, 1994, p.15-16).
Nunca o Brasil, e raramente um outro país, esteve submetido a tal desprezo e desconfiança
das demais nações: pela destruição do meio ambiente, pelo assassinato de crianças,
pelo acinte da riqueza ao lado da pobreza, pela corrupção dos quadros dirigentes, pela
manipulação política, pela violência generalizada. [...] Um século de êxito no caminho
do progresso foram cem anos de agravamento da miséria e de enfrentamento do tecido
social brasileiro. (BUARQUE, 1994, p.17).
Por fim, podemos dizer que temas como a tradição, a educação e a modernidade
contrastam e se ligam entre si pelos impactos sociais causados pela política e pela economia,
principalmente quando associados ao desenvolvimento técnico e científico que orientam as
mudanças na sociedade contemporânea. Quanto aos processos educativos, acreditamos que
por meio deles podemos identificar o fosso entre os que se apropriam dos fundamentos
técnico-científicos, com sentido de acumulação de capital, e os outros que se apropriam da
linguagem e dos instrumentos técnicos, com a simples finalidade de acompanhar a evolução
tecnológica em direção à modernização social.
Atividade 2
Selecione algumas pessoas do seu círculo de amizade para conversar
1 livremente sobre a educação e sua finalidade no contexto da sociedade
contemporânea. Após essa conversa descontraída, construa um texto no
qual você desenvolva o tema: “O papel da educação no país do futebol”.
Para finalizar esta aula, podemos dizer que as três áreas de estudo das quais tratamos
aqui, a educação, a tradição e a modernidade, encontram-se muito imbricadas nas várias
formas que seus problemas e as possíveis soluções se manifestam nas relações sociais,
culturais e econômicas que perpassam o eixo do desenvolvimento científico e tecnológico.
A universalização do conhecimento e as práticas complexas de organização e reorientação
valorativas da sociedade contemporânea retomam as discussões sobre o papel da educação
na preparação dos indivíduos a fim de que revejam e revivam os papéis que a sociedade atual
indica para a mediação e o gerenciamento das novas relações. Desse modo, o conhecimento
exigido para compreender a transição entre os valores tradicionais e os novos valores surge da
Leituras Complementares
GATTI, Bernadete A. Democracia de ensino: uma reflexão sobre a realidade atual. Revista Em
Aberto, Brasília: MEC/INEP, n. 44, out./dez. 1989.
MELO, Guiomar Namo de; SILVA, Rose Neubaeur da. O que pensar da atual política educacional.
Revista Em Aberto, Brasília: MEC/INEP, n. 50/51, 1992.
Resumo
Nesta aula, tratamos de pontos fundamentais para uma melhor compreensão
da articulação que deve existir entre educação, tradição cultural e modernidade.
Tentamos rever algumas questões trabalhadas isoladamente ao longo da disciplina,
como desigualdade social e seletividade do ensino, que evidenciam o descaso em
relação à educação pública e o fortalecimento da distância entre as classes sociais.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Lutar com a palavra: escritos sobre o trabalho do educador.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.
CANO, Wilson. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des)ordem internacional. São Paulo:
Editora da UNICAMP, 1993.
COSTA, Américo de Oliveira. Viagem ao universo de Câmara Cascudo. Natal: Fundação José
Augusto, 1969.
MEIRIEU, Philippe. A pedagogia entre o dizer e o fazer: a coragem de começar. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura? 15.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
VALLE, José Edênio (Org.). A cultura do povo. São Paulo: Cortez & Moraes / EDUC, 1979.
Aula
14
Apresentação
A
presentaremos nesta aula o processo de institucionalização da educação em relação
direta com o desenvolvimento técnico-científico no contexto da modernização. Veremos
nessa abordagem que a modernização exigiu o repensar do conhecimento técnico e
científico para projetar-se como racionalização do mundo. Partindo do contexto da expansão
do pensamento moderno, a qual ocorreu com a fusão dos conhecimentos científicos-
tecnológicos com o capital econômico e financeiro, chegaremos às bases e aos pressupostos
da institucionalização do ensino.
Objetivos
Apresentar o processo de institucionalização da educação
1 e sua relação com o desenvolvimento técnico-científico
e a modernização.
O
tema modernização, em aulas anteriores, foi tratado como uma questão que está
imbricada, ou relacionada, com vários outros temas que se constituem como
instrumentos de mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Assim, ao
contrário do que muitos imaginam, a modernização vai além do impacto causado pelos novos
instrumentos técnicos e científicos sobre o mundo. Ela projeta-se em um contexto sociocultural
de mudanças fora do modelo social organizado em torno de valores compactos e consistentes,
ou de uma dinâmica política e econômica aparentemente estável e duradoura. Com isso,
estamos querendo mostrar que as mudanças que decorreram do processo de modernização
são profundas e ainda pouco conhecidas pela maioria da população.
A nova imagem do universo ligada à modernização (a partir do séc. XVI) exigiu que
toda a produção do conhecimento até então conhecida fosse repensada. A base teórica e
prática que surgiu foi organizada em torno das preocupações com a utilização da razão
na organização e interpretação dos dados sensíveis da experiência. Tais preocupações
reforçaram as teses de duas grandes correntes filosóficas: o Empirismo e o Racionalismo.
As discussões saíram do nível de abordagem pautado na relação Deus-homem para a
relação homem-natureza. Esse fator foi importante porque abriu caminho para o acelerado
desenvolvimento da Ciência nos períodos seguintes.
Continuaremos nossa reflexão a partir das informações que Manacorda (1997) nos
oferece sobre a caracterização do ambiente no qual germinaram e evoluíram as principais idéias
pedagógicas que impulsionaram a modernização da educação. O autor em questão, em seu
levantamento histórico-evolutivo da Educação, nos ofereceu aspectos da racionalização técnica
e científica no campo social e político, com impactos também no processo educativo.
Atividade 1
Reflita e escreva sobre sua trajetória escolar procurando identificar
1 mudanças nos métodos e nos conteúdos que fizeram diferença na
sua formação.
“Os Humanistas
De um ponto de vista institucional, o século XVII marca um ponto de inflexão na história estão associados ao
do conhecimento europeu em diversos aspectos. Em primeiro lugar, o monopólio virtual Renascimento enquanto
movimento de oposição
da educação superior desfrutado pelas universidades foi posto à prova nesse momento.
ao saber convencional
Em segundo lugar, assistimos ao surgimento do instituto de pesquisas, do pesquisador
dos escolásticos, ou seja,
profissional e, de fato, da própria idéia de “pesquisa”. Em terceiro lugar, os letrados, dos filósofos e teólogos
especialmente na França, estavam mais profundamente envolvidos com projetos de que dominavam as
reforma econômica, social e política, em outras palavras, com o Iluminismo. [...] Esse universidades” (BURKE,
conjunto de termos sugere uma consciência crescente, em certos círculos, da necessidade 2003, p.40).
Acreditamos que atualmente existe uma ponte que liga os estreitos caminhos da
educação (passado-presente). A ponte, por sua vez, encontra-se corrompida na sua essência
(interpretativa) e comprometida no seu conteúdo (criticidade), desse modo não oferece
segurança no que entendemos ser o papel principal da instituição escola: propiciar o rito de
passagem do teórico-instrutivo, para a prática crítico-criativa.
O fosso ao qual nos referimos, quando visto sob as contradições geradas nas relações
dicotômicas entre o econômico e o social, a indústria e a escola, o trabalho e a instrução
reforçam a importância da educação para a compreensão das transformações atuais. Essa
compreensão ocorre por meio da educação formalizada, que cultiva a criticidade e assume
estratégias de discernimento dos conteúdos educativos difundidos pelo estreito canal de ligação
entre a ideologia e a pedagogia.
Nos séculos XVII e XVIII, a assimilação da modernidade pela educação ocorreu por força
do desenvolvimento industrial e econômico impulsionado pelo acúmulo dos grandes capitais,
constituídos, principalmente, com a exploração dos novos continentes. Com a modernização
das fábricas, ocorre a saída da fase técnica para a fase tecnológica.
Procuramos mostrar com essa incursão pelo contexto dos séculos XVII e XVIII que o
desenvolvimento cultural idealizado em nome da modernidade foi conduzido pelas inovações
técnicas, o que exigiu uma organização política e social para gerar, decodificar, assimilar e
consumir novas necessidades. Na verdade, as mudanças econômicas passaram a ocorrer em
ritmo forte e rápido e a formação social e cultural, em um ritmo frágil e lento.
Atividade 2
Esse ambiente foi constituído ao longo dos anos. Basta ver o descredenciamento atual da
instituição escolar na formação integral do indivíduo e o direcionamento das ações educativas
voltadas para atender as exigências das políticas externas que amparam o desenvolvimento
econômico. Com isso, aprofundam-se a descaracterização e o desprestígio das instituições
públicas de ensino, em nome das políticas de incentivo à privatização da educação em seus
vários níveis e áreas de conhecimento.
Nesse sentido, podemos facilmente nos deparar com políticas implementadas em prol da
educação, mas que visam apenas adequar a formação dos indivíduos aos interesses políticos e
econômicos. Tais políticas podem chegar às escolas camufladas sob o disfarce de “programas
inovadores”, fixando diretrizes como urgentes e necessárias aos novos parâmetros civilizatórios.
Em Gómez, por exemplo, encontramos uma descrição dos impactos possíveis para tal situação.
Queremos deixar claro que não estamos, aqui, defendendo um sistema educacional que
aplique e siga políticas uniformes e imutáveis, traçadas para justificar social e culturalmente um
desenvolvimento linear e inalterável. Por outro lado, não podemos deixar de ressaltar a distorção
que se apresenta entre os conteúdos desenvolvidos nas escolas e o processo assumido como
necessário e urgente às rápidas mudanças que ocorrem na esfera econômica.
Por fim, é visível que os interesses da elite empresarial encontram-se canalizados para
o sistema educacional como estratégia política para assegurar o processo de modernização
Leituras Complementares
CANO, Wilson. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des) ordem internacional. São Paulo:
Editora da Unicamp/Fapesp, 1995.
O autor nos oferece uma discussão das relações estabelecidas nos campos da política
e da economia que influenciam diretamente as decisões tomadas no campo social e cultural,
com reflexo nas políticas educacionais que chegam às escolas.
O autor faz uma análise dos caminhos da modernização para captar os componentes
políticos, econômicos e sociais que se articulam, na forma de mito-tecno-lógico, e acabam
por influenciar o projeto de modernização da educação brasileira.
Resumo
Vimos nesta aula que a modernização está ligada aos impactos dos novos
instrumentos técnicos e científicos sobre o mundo. Ela exigiu que toda a produção
do conhecimento fosse repensada. Mostramos que as origens da institucionalização
do saber organizado e desenvolvido como racionalização e modernização foram
os pressupostos básicos da institucionalização do ensino. Você percebeu que tal
institucionalização, na verdade, ocorreu a partir do aspecto formal-instrumental
dos atos de ler, escrever e contar, tratados articuladamente como conhecimento
e aprendizagem do trabalho. Fizemos uma breve caracterização da produção
intelectual do conhecimento, contrastando com os impactos sociais causados
pela distorção política e econômica do desenvolvimento técnico e científico. Por
fim, ressaltamos que no processo de institucionalização do saber a escola, em
grande parte, serviu para acomodar as mudanças ocorridas no âmbito das políticas
econômicas, assumidas como exigências sociais.
Escreva em uma folha de papel palavras e idéias que você considera diretamente
associadas ao conceito de modernização. Em seguida, escolha um tema que
associe modernização à educação. Agora, de forma criativa, disserte sobre seu
tema, refletindo criticamente acerca da influência das idéias incorporadas ao
processo de modernização que mudaram de alguma forma a educação.
Referências
BURKE, James; ORNSTEIN, Robert. O presente do fazedor de machados. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1998.
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. São
Paulo: Cortez, 1997.
Aula
15
Apresentação
N
esta aula, daremos continuidade à discussão sobre os fatores que se entrelaçam na
composição das políticas sociais, nas quais se inclui a educação, com origens no
desenvolvimento econômico, científico e tecnológico que vem ocorrendo em todo o
mundo, com o nome de modernização.
Objetivos
Apresentar caminhos assumidos pela educação no
1 desenvolvimento econômico, técnico e científico
como projeto básico da modernização.
A
preocupação atual da maioria dos teóricos é identificar o que se configura como dimensão
necessária na dinâmica das novas tendências do conhecimento contemporâneo
que despontaram principalmente entre os séculos XIX e XX, como alternativas de
interpretação para os fenômenos relacionados ao indivíduo e à sociedade.
Os processos comunicativos aos quais nos referimos, grosso modo, são componentes
básicos da nossa representação simbólica do mundo que se articulam racionalmente na
forma de linguagens visual, oral e escrita, visando compor uma prática intercomunicativa,
resultado de ações discursivas entre vários sujeitos. Sabemos que essa ação discursiva ou
comunicativa é regulada por normas e ocorre em sintonia com estratégias de interesses,
vivências e articulações necessárias à vida diária dos indivíduos.
Aqui, faremos uma breve pausa para refletirmos sobre essa relação entre educação e
comunicação e o que dela se projeta como parâmetros interpretativos para a nova realidade
da sociedade contemporânea.
Atividade 1
O que você aponta como maior mudança na educação de hoje a partir da
1 chegada dos novos produtos tecnológicos e a informatização das escolas?
Visto por esse ângulo, a contemporaneidade parece erguer-se sob novas bases de relações
e de comunicações impondo a todos nós a difícil tarefa de reconhecermos nossa realidade
e identidade de sujeitos históricos. A comunicação contemporânea, portanto, ultrapassa as
fronteiras do tempo e do espaço e dificulta a volta às origens sociais e culturais. Desse modo,
ela passa a ser vista em uma dimensão fora do real e das relações de produção, em que as
Aonde estamos querendo chegar com essas informações? Não muito longe, ou
melhor, muito mais perto do que você imagina. Apenas desejamos chamar sua atenção
para o desmantelamento que vem acontecendo com as estruturas conceituais e valorativas
tradicionais, como a escola, a família e as instituições de classes. Elas se encontram diluídas
pela dinâmica das estratégias do sistema econômico e nos deixa na difícil situação de saber
o papel e o rumo a tomar como sujeitos históricos que somos. Toda essa desmobilização
acaba dificultando o olhar e a formação crítica necessária para acompanharmos as mudanças
implementadas em nome da modernização.
Hoje, mais do que nunca, a escola e os que fazem a educação de modo direto ou indireto
buscam compreender os elementos técnicos e pedagógicos que orientam os modelos de
organização e as principais implicações da modernização social. Assim, as escolas, de acordo
com seu papel institucional, seja de centros de formação de personalidade, de difusão do
conhecimento, seja de entidades normativas, controladoras do comportamento social, não
deverão ter seus conteúdos formadores restritos e apoiados apenas nas mudanças estruturais
e tecnológicas das sociedades. Deverão investir fortemente na formação do caráter ético, crítico
e reflexivo dos envolvidos.
Em linhas gerais, podemos dizer que nosso objetivo foi entre outras coisas desenvolver
idéias na forma de conteúdos e fundamentos relacionados a dimensões conceituais amplas
de educação, de desenvolvimento, de técnica, de ciência, de tecnologia, de ideologia e
de cultura. Todos compõem o intricado campo das relações sociais nas quais se insere a
educação. Através desses conceitos, destacamos parcerias historicamente constituídas
pelo jogo dos interesses políticos e econômicos como resultado do desenvolvimento da
idéia de modernização.
Por fim, queremos dizer que a modernização nos parece inevitável no contexto atual.
Todavia, devemos evitar que ela avance pautada em papéis sociais e culturais pré-definidos
por princípios que se traduzem numa visão “purificadora”, como proposta unilateral que visa
forçar a modernização de valores sólidos e posturas conscientes somente por se encaixarem
como não-modernos. As incertezas da sociedade contemporânea não deverão contaminar
nossas expectativas em torno das ações crítico-reflexivas geradas no seio da educação
como respostas ao resgate da nossa identidade cultural e ao nosso papel ético social no
contexto da modernização.
O autor faz uma análise dos caminhos de implementação da modernização para captar os
componentes políticos, econômicos e sociais que se articulam na forma de mito-tecno-lógico.
Na seqüência, o autor mostra como essas questões influenciaram no projeto de modernização
da educação adotado no Brasil.
O autor aborda, entre outras coisas, o sentido e a função social da escola no atual contexto
das transformações econômicas, políticas e sociais. Seu estudo ressalta a dimensão da escola
como instância de mediação cultural entre os significados, os sentimentos e condutas da
comunidade no desenvolvimento das novas gerações.
Resumo
Nesta aula, você viu que os conflitos da modernização conduzem, inevitavelmente,
à educação. A partir desse pressuposto, procuramos mostrar relações entre a
racionalidade dos instrumentos tecnológicos e a irracionalidade das políticas
educacionais. Você deve ter observado que para reforçamos o papel da educação
no contexto da modernização brasileira, como conteúdo crítico-reflexivo,
educadores e educandos, como também a sociedade civil organizada, estão
permanentemente em luta pelas mínimas condições materiais que garantam
à educação chegar à grande massa dos indivíduos analfabetos encontrados
à margem do desenvolvimento econômico e social. Ainda nessa direção,
procuramos mostrar que, nas mudanças contemporâneas, o novo modelo de
sociedade está pautado fundamentalmente nas incertezas. Dessa forma, o seu,
o meu, o nosso papel na sociedade atual, principalmente no que diz respeito à
educação, pauta-se no que poderemos resgatar da nossa identidade cultural para
compor o novo contexto da modernização.
Referências
ARAPIRACA, José Oliveiro. A USAID e a educação brasileira. São Paulo: Cortez, 1982.
CANO, Wilson. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des)ordem internacional. São Paulo:
Editora da UNICAMP, 1993.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. São
Paulo: Cortez, 1997.