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Ricardo Piglia
Da Casa
(1940-2017)
Da Casa
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Literatura e respiração: Ricardo Piglia (1940-20... http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/...
é voltar os ouvidos ao engenho que mantém viva a voz dos que foram
expulsos. Aquilo que a teoria dialética chamaria de contraideológico revela-
se o produto da imaginação dos que já não cabem na cidade. O exílio é a
condição da poesia, pelo menos desde que a política foi usada para se
pensar a vida na cidade, quando a verdade passou a ser um problema
filosófico, no embate pelo direito de se sustentar a voz em praça pública.
Ricardo não era um platônico, mas tinha fascinação pelos discursos que se
desenvolviam à margem da celebridade. Em sua literatura, tudo o que é
demasiado evidente sofre a torção do ficcional: numa estória, há sempre
duas estórias, algo que não se revela imediatamente. Ao mesmo tempo, o
flerte com o gênero policial é a crença no papel duplicador da narrativa:
algo real se desenrola sob nossos olhos sem que o notemos, ou sem que
saibamos como e por quê. No entanto, o detetive de Piglia não é um
Sherlock que, movido por um pó mágico e pela racionalidade mais
delirante, chega ao desnudamento da verdade. Menos excepcional, ou
talvez menos heroico, mas ainda assim moderno, Renzi é prosaico nas
suas aventuras, nunca completamente embarcado nelas, como se um
Bartleby o perseguisse e ele estivesse sempre prestes a dizer que não vale
a pena chegar ao fim de tudo.
Foi um exercício difícil, nos últimos dias, revisitar os e-mails que troquei
com Ricardo. Há pouco menos de dez anos, quando ganhei permanência
no quadro docente da universidade, ele me enviou uma mensagem
parabenizando-me. O título é como um convite a pensar, e cala fundo:
“Permanencia y fluidez”. Ou então, a curiosidade e o pedido de indicação de
três jovens (“o no tan jóvenes”) narradores brasileiros, porque suas “últimas
referencias son Osman Lins, Silviano Santiago, Clarice Lispector, etc.” Ou ainda,
quando combinávamos a entrevista que faríamos com ele, antes que
voltasse a Buenos Aires, ele contava a Paul Firbas, copiando-me, que
estivera com James Irby, e que este recordara com emoção uma conversa
sobre Lezama Lima (“¿O era sobre Vallejo?”, pergunta Piglia). Ricardo era
assim: conversas e mensagens rápidas invariavelmente vinham com um
pequeno gesto, um aceno literário mais ou menos enigmático, o carinho
condensado em uma ou duas linhas.
Piglia nunca foi à Flip, mas adorou a Fliporto. Seu forte era pelas margens,
como lemos em outro e-mail, de 2010: “En Recife espero encontrarme con los
espectros de Osman Lins y de Clarice”. Em 2011, quando já editávamos a
entrevista que fizéramos, ele nos escreve, a mim e a Paul Firbas: “la
entrevista quedó muy bien, muy fluida, con resonancias múltiples. Tiene la
virtud de fijar los pensamientos todavía no pensados, que son los mejores y los
más intrigantes. Produce además la ilusión de una conversación, como si no
estuviera grabada y filmada. Aparte de esta ilusión de inmediatez y de
improvisación (a la manera del jazz) me gustaría revisarla o en todo caso
ajustar algunos detalles (los subrayados en verde), pero no tengo mucho
tiempo en estos días. Ya me dirán qué planes tienen con la conversación. Por
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Literatura e respiração: Ricardo Piglia (1940-20... http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/...
muchísimo... Espero que vayan pasando con calma el verano y que anden bien.
Yo estuve una semana en Caracas donde todo está muy acelerado y muy
caótico”.
O que significa que Ricardo tenha seguido escrevendo, cada vez mais
envolvido pelas máquinas? Está claro que havia uma pequena legião de
pessoas em torno dele, dos enfermeiros e assistentes aos que
simplesmente o amavam. Mas que sentido há em manter a “voz”, como
último recurso e instrumento, já completamente encapsulada no grão do
olhar, por meio desse gesto único de mirar um teclado e disparar as
letras?
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