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Walter S. Barbosa1
Na evolução humana, a mudança tem de acontecer ao mesmo tempo na forma e no
conteúdo - elevando-se a vibração do corpo e da consciência que ele abriga - pois não se
pode ter água pura em jarra lamacenta. O sofrimento, como efeito de nossos erros, é um
meio de limpar a jarra. O conhecimento, mostrando onde erramos, evita que ela se suje. O
amor, como poder de inclusão universal, a enche de Luz.
Entretanto, é obvio que nada pode tender “espontaneamente” para a perfeição, a beleza e a
harmonia. Ao contrário, sem esforço e inteligência as coisas tendem é para o caos, como
percebemos em nossas vidas. Tudo muda, porém, se passamos a viver de acordo com as
Leis do Espírito, a exemplo dos santos. Aí o Espírito “toma conta” e a harmonia instala-se
por si mesma como acontece na natureza, sob a proteção dos Anjos e Devas.
A “mão” dos Divinos Construtores está por trás da beleza de cada flor, mas também das
circunstâncias que geram acidentes, furacões, enchentes, etc., quando o homem quebra as
regras da convivência com seu semelhante ou o planeta, fazendo atuar a Lei do Carma.
Carma, porém, não é apenas sofrimento. É, isto sim, a Lei do Equilíbrio, a mão que limpa a
jarra de nosso “pequeno eu” para que a Consciência possa brilhar dentro dele. A partir do
momento em que há mais consciência do que trevas em nós, o sofrimento perde força como
alavanca evolutiva. Quanto maior a consciência, menor o sofrimento. Tolle2 ensina como
transformar sofrimento em consciência.
O que é o alerta consciente? É vigiar “o seu espaço interior”. É “estar presente e alerta para
ser capaz de observar o sofrimento de um modo direto e sentir a energia que emana dele.
Agindo assim, o sofrimento não terá força para controlar o seu pensamento. No momento
em que o seu pensamento se alinha com o campo energético do sofrimento, você está se
identificando com ele e, de novo, alimentando-o com os seus pensamentos”.
Se, por exemplo, “a raiva é a vibração de energia que predomina no sofrimento e você
alimenta esse sentimento, insistindo em pensar no que alguém fez para prejudicá-lo ou no
que você vai fazer em relação a essa pessoa, é porque você já não está mais consciente, e o
sofrimento se tornou você. Onde existe raiva existe um sofrimento oculto”.
E mais: “O sofrimento, a sombra escura projetada pelo ego, tem medo da luz da nossa
consciência. Teme ser descoberto. Sobrevive graças à nossa identificação inconsciente com
ele, assim, como do medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive em nós”.
Toda aprendizagem é, antes de tudo, um processo de desconstrução, onde o velho deve sair
para dar lugar ao novo. Na aprendizagem quanto à nossa real natureza, a desconstrução
atinge diretamente o “porto seguro” das nossas convicções. Uma delas faz do sofrimento e
da autocomiseração uma espécie de “meio de vida” (ou de morte) inconsciente, imprimindo
em nós um padrão negativo.
Ainda que tal paz seja neste momento pequenina, muito sutil, é uma coisa legítima, imortal.
E quanto mais nos identificarmos com ela – abandonando a identificação com as realizações
do ego, embasadas em sofrimento – mais ela crescerá.
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1
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
2
TOLLE, Eckhart. Praticando o Poder do Agora, Editora Sextante.