As epístolas parecem ser de fácil interpretação. Afinal de contas, quem precisa de ajuda especial para entender que “todos pecaram” (Rm 3.23), que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) e que “pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2.8)? Embora pareça encontrar certa facilidade na compreensão das epístolas, há dificuldades que precisam ser consideradas para não tomarmos como base ensinos enganosos. “Como a opinião de Paulo (1Cor 7.25) deve ser tomada como sendo a palavra de Deus”? “Qual relacionamento há entre a excomunhão do irmão no capítulo 5 e a igreja contemporânea, especialmente porque ele pode simplesmente atravessar a rua para outra igreja”? “Como podemos evitar a clara implicação em 1Cor 11.2-16 de que as mulheres devem ter a cabeça coberta quando oram ou profetizam – ou a clara implicação de que devem orar e profetizar na reunião da comunidade para a adoração”? Percebe-se que não são tão fáceis a sua interpretação. Por isso, algumas palavras gerais acerca de todas as epístolas (Todo o Novo Testamento, exceto os 4 evangelhos, atos e apocalipse): 1º As epístolas não são uma carta homogênea. Há muitos anos atrás fez-se uma distinção entre Cartas e Epístolas. Cartas eram escritas para uma pessoa ou grupo de pessoas específicas. Ou seja, elas tratavam de assuntos específicos daquele grupo e contexto. Embora as cartas do Novo Testamento sejam inspiradas pelo Espírito Santo e tenha validade em todos os tempos, é preciso tentar descobrir o contexto em que aquela carta foi enviada. Inicialmente ela foi escrita somente para aquele grupo. As epístolas já tem um caráter mais geral, sendo escritas para o público e tendo validade mais abrangente. Nas epístolas encontramos tratados teológicos que não são específicos daquele contexto. Entretanto, outros estudiosos afirmam a necessidade de cautela deste tipo de abordagem. Na prática o que vemos é que algumas cartas são mais pessoais do que outras, especialmente as de Paulo. Percebemos que 2 Pedro e 1 João são mais próximos das epístolas. Vejamos os modelos de cartas do mundo antigo, assim como temos nosso modelo atual: 1. O nome do escritor (e.g., Paulo) 2. O nome do endereçado (e.g., à Igreja de Deus em Corinto) 3. A saudação (e.g., Graça a vós outros e paz da parte de Deus nosso Pai...) 4. Oração: um desejo ou ações de graças (e.g., Sempre dou graças a Deus a vosso respeito...) 5. O corpo do texto 6. A saudação final e despedida (e.g., A graça do Senhor Jesus seja convosco). O elemento variável é o de número 4. Contudo, em algumas cartas do Novo Testamento percebemos a ausência de alguns destes itens que caracterizam uma carta. Isto se dá em Hebreus, 1 João, Tiago e 2 Pedro, o que os configura mais próximos de epístolas, ou seja, foram escritos para a igreja de modo geral. Entretanto, vale ressaltar que estas cartas (epístolas) mencionadas tinham um público específico como podemos perceber no desenvolvimento da carta. Portanto, é fundamental a compreensão de que de certa forma algumas cartas e epístolas se misturam e que há uma coisa que todas as epístolas têm em comum: todas são “Documentos Ocasionais”, isto é, surgindo de uma ocasião específica e visando a mesma e são do séc. I. Sua natureza ocasional deve ser levada a sério. Nas epístolas temos as respostas fornecidas pelo autor, mas frequentemente não sabemos as perguntas que foram feitas nem os problemas levantados. O fato de serem ocasionais que dizer que não são em primeiro lugar um tratado teológico. A teologia está inserida ali, mas são antes de tudo respostas e práticas cristãs para determinada situação. É sempre teologia a serviço de uma necessidade específica. Por isso, algumas perguntas são importantes para compreensão mais específica da epístola. Vamos levantar algumas perguntas acerca de Corinto, mas que valem para todas as outras epístolas. Vamos tentar fazer uma reconstrução da situação que o autor está falando. O que estava acontecendo em Corinto que levou Paulo a escrever 1 Coríntios? Como veio a ficar sabendo da situação deles? Que tipo de relacionamento e contatos anteriores tivera com eles? Que atitudes eles e ele refletem na carta? 1º) você precisa consultar na introdução da sua bíblia (caso ela forneça) para descobrir acerca de Corinto e seu povo. Coletar informações para entender o contexto e a finalidade da carta naquele contexto. 2º) Desenvolver o hábito de ler a carta inteira do começo ao fim numa só sentada. Você não precisa entender os significados dos textos, mas apenas ter uma vista panorâmica. Leia, releia e conserve os olhos abertos. É importante fazer algumas notas breves enquanto lê para coletar alguns dados: 1. O que você percebe a respeito dos próprios endereçados; e.g., se são judeus ou gregos, ricos ou escravos, seus problemas, suas atitudes, etc. 2. As atitudes de Paulo (do autor da carta) 3. Quaisquer coisas específicas mencionadas quanto à ocasião específica da carta 4. As divisões naturais e lógicas da carta É importante lê-la primeiro e depois somente uma leitura superficial para coletar estes dados. A maioria é de Gentios. Presença de Judeus. Gostam de Conhecimento e são arrogantes. Vários problemas internos. Paulo repreende, faz apelos e exorta. Tem Informações da casa de Cloe. Também recebeu carta. Responde os itens da carta quando repete a expressão “com respeito a...”. Chegada de Estéfanas, Fortunato e Acaico. Os capítulo 1-6 são respostas daquilo que foi relatado ele. No capítulo 7 Paulo passa a responder a carte deles. Seguindo as divisões dos blocos a partir da leitura feita, temos a primeira parte que é do cap. 1.10 a 4.21, em que o assunto tratado será o problema da divisão na Igreja. Aqui, a tarefa é ler ao menos duas vezes esta seção, do cap.1 ao 4. Aliste num caderno tudo quanto conseguir achar que lhe diga algo sobre os endereçados e seu problema.