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02/08/2019 - 05:00
Um dos principais indicadores nessa discussão é o percentual do PIB investido em educação. No Brasil, ele mostra um
esforço nada pequeno: os 5,5% que investimos são maiores do que a média dos países da OCDE (4,5%). Já no gasto por
aluno em relação ao PIB por habitante, outra métrica bastante utilizada, o Brasil também aparece acima dos outros países,
com um gasto por estudante na Educação Básica correspondente a 28% de seu PIB per capita. A média na OCDE é 26%.
Ao confrontar essas informações com o resultado no Pisa, no qual o Brasil se encontra nas últimas colocações, por vezes
conclui-se que não é preciso investir mais. Tal argumento merece ao menos dois contrapontos.
Primeiro: devido à nossa negligência histórica com a educação, acumulamos defasagens que países desenvolvidos já
resolveram há décadas. Por exemplo, apenas em 1990 atingimos a taxa de alfabetização que a Inglaterra alcançou cem anos
antes, e ainda temos 40% dos adultos brasileiros sem o Ensino Fundamental - estudos mostram o impacto da escolaridade
dos pais e responsáveis nas novas gerações. Nosso passado lega grandes desafios a nosso presente.
Segundo: o percentual do PIB investido mostra o esforço do país, mas não é a variável de financiamento que efetivamente
se relaciona com a qualidade do ensino. É o investimento por aluno que dá o parâmetro do que é possível ofertar aos
estudantes e, na educação básica brasileira, ele é 60% menor do que o valor médio dos países da OCDE. Ou seja, não é
possível falar que já gastamos demais. Por sermos um país em desenvolvimento, mesmo um percentual do PIB relevante
pode significar um gasto por aluno ainda baixo. Se quisermos chegar ao nível dos sistemas mais avançados, será preciso
continuar elevando o valor investido por estudante.
O debate, porém, não pode se restringir ao total de recursos. Uma outra tarefa fundamental é melhorar a repartição do
dinheiro destinado à educação básica pública, para que, com o montante total que o Brasil investe, todos os Estados e
municípios tenham o suficiente.
No centro dessa discussão está o Fundeb, por onde passa cerca de metade da verba destinada à área. Ele é um conjunto de
27 fundos (para cada Estado e o Distrito Federal) alimentados por recursos já vinculados ao setor, que são distribuídos
para as redes de ensino de acordo com o número de matrículas que possuem. Na prática, municípios pobres recebem
https://www.valor.com.br/imprimir/noticia/6374997/opiniao/6374997/diagnostico-e-caminhos-para-o-investimento-em-educacao 1/2
dinheiro de outros entes federados mais ricos Diagnóstico
02/08/2019 dentro do emesmo Estado.
caminhos Para ilustrar
para o investimento em seu efeito redistributivo, sem o
educação
Fundeb a cidade mais pobre do país teria menos de R$ 500 por aluno ao ano. Já com ele, passa a ter cerca de R$ 3 mil.
Apesar desse avanço, nossas análises mostram que mais de 40% das redes de ensino ainda estão abaixo de um patamar de
investimento que, somado a uma boa gestão, dê a elas condições de alcançar bons resultados de aprendizagem. E esse valor
não é exorbitante: em 2015 (último ano com indicadores mais consistentes), era de R$ 4.300 por aluno/ano. Sendo assim,
é preciso acentuar a redistribuição do Fundeb, para que todas as redes cheguem ao nível que viabiliza uma oferta
educacional de qualidade.
O Fundeb tem vigência até 2020 e discussões sobre sua continuidade e aprimoramentos têm sido feitas, felizmente, com
prioridade pelo Congresso Nacional. Nesse contexto, o Todos Pela Educação vem apresentando aos parlamentares
formulações construídas em conjunto com especialistas.
A primeira delas é deixar de fazer a distribuição de recursos do Fundeb apenas pelo número de matrículas, e passar a
considerar também o total de recursos que as redes de ensino têm disponíveis, além do nível socioeconômico dos alunos
que elas atendem.
Outra recomendação é tornar mais eficiente a complementação que a União faz ao Fundeb, fazendo com que essa verba
chegue aos municípios mais pobres, independentemente do Estado. Pelo modelo atual, municípios pobres em Estados
ricos não recebem recursos da União, enquanto municípios ricos em Estados pobres são beneficiados.
Essas duas mudanças teriam grande impacto redistributivo, mas ainda não garantiriam a todas as redes de ensino um
patamar de investimento adequado. Para que isso seja viabilizado, nossos cálculos indicam que a União deve elevar sua
contribuição, atualmente de 10% do total arrecadado pelos vinte e sete fundos, para ao menos 15%, com ampliação desse
valor de forma progressiva.
Se houver uma implementação gradual destas propostas, que acompanhe o crescimento econômico e o decréscimo
populacional na faixa etária escolar, é possível melhorar a situação das redes mais pobres sem prejudicar as mais ricas.
Mas essas alterações, isoladamente, não garantem os avanços necessários. Precisamos melhorar a eficiência do gasto,
debate que passa por três fatores: a escolha das políticas que receberão os recursos (alocação), o desenho dessas políticas, e
sua implementação - que inclui avaliação e correções. A partir da garantia a todas as redes de ensino de um patamar básico
de recursos via Fundeb, será preciso buscar mecanismos de incentivos e assistência para que esses três pilares sejam
fortalecidos em todo o Brasil.
Investir mais e melhor em educação básica é fundamental, segundo as evidências apontam, para melhorar a qualidade do
ensino nas escolas - o que deve ser visto como tão importante quanto o equilíbrio fiscal para garantir um desenvolvimento
sustentável e duradouro ao país (que inclusive permite mais investimentos em Educação e nas políticas sociais).
É, portanto, primordial repensar seu financiamento, superando os discursos simplistas. Gestão e financiamento são
indissociáveis.
Priscila Cruz e Olavo Nogueira Filho são, respectivamente, cofundadora, presidente executiva e diretor
de Políticas Educacionais do Todos pela Educação.
https://www.valor.com.br/imprimir/noticia/6374997/opiniao/6374997/diagnostico-e-caminhos-para-o-investimento-em-educacao 2/2