Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
contemporâneo
Jean-Pierre Ryngaert
Mart/ns Fontes
Complementada por uma antologia,
um dicionário de autores e noções
fundamentais, e também por uma
cronologia, esta obra constitui o
instrumento de referência
indispensável a todos os estudantes e
ao público interessado por teatro.
J.-P. Ryngaert faz o balanço dos anos
cinqüenta e do nouveau théâtre que
abalou profundamente o panorama
da criação. Autores como Samuel
Becket ou Eugène Ionesco continuam
a marcar nossa época. No entanto,
seguindo a linha deles ou ao lado de
seus textos, novos autores exploram
outras formas. O desaparecimento
das ''grandes narrativas", o
nascimento de uma "'dramaturgia do
1
fragmento ', a fragmentação do
espaço e do tempo, a modificação
das formas do diálogo e o
questionamento do status da
personagem colocam o leitor em
uma relação diferente com os textos.
Jean-lHerreRyngaert,professordeestudos
teatrais na universidade de Nantes, também é
diretor. Além disso, é autor de obras e artigos
relacionadosprincipalmenteàencenação
teatral e às dramaturgias barrocas e
contemporâneas.
Ler o teatro
contemporâneo
1
.1 ;
r
• ^ ^
f- ! , i * Í -
r
•_ _
Ler o teatro
contemporâneo
Jean-Pierre Ryngaert
o
Tradução
ANDRÉA STAHEL M. DA SILVA «a
3'
Unimontes - Sistema de Bibliotecas
:
000058510*
Martins Fontes
São Paulo I998
Lsta obra fui publicada on_etna!r>iefirc em francês ivm o ülmo
LlRE LE THÉÁTRE CONfEMPORAÍN por Éditions Duiwtl Pún\
Copyright t> Dunod Paru, J993
Cop\ri$hx © Li\ rtina Maritn.\ For/ies Ediwra Lida .
São Püulit. ftyQH, paru ti presente edição
Í998
Tradução
ANDRLA STAHEL M DA SILVA
Revisão gráfica
Ana Lmitt Erunt^u
Produção gráfica
Geraldo Aires
l. Crílita J. Título. IL
9S-2778 CDE>-8O9r2
r
índice
Introdução XI
TEMAS E ESCRITA
I. Os avatares da narrativa 83
1. A perda da grande narrativa unificadora 84
2. A escrita dramática descontínua e os limites
do gosto pelo fragmento 85
3. A voga dos monólogos e o teatro como narrativa 89
4. Variações em torno do monólogo: entrecruza- e
mentos e alternâncias 94
5. A alternância de monólogos e diálogos 98 « i
ANTOLOGIA DE TEXTOS
I. Contextos 183
Théâtre Populaire - Retomar o teatro do Grande
Comentário 183
Travail Théâtral - Definir, com a maior exatidão
possível, o núcleo da criação teatral 184
Théâtre Public - Analisar seu tempo, questionar-
se e debater 186
L* Art du Théâtre - A obra dramática é um enig-
ma que o teatro deve resolver 187
ANEXOS
Ci
gindo espanto por serem tomados pelo que são, isto é, atores
interpretando personagens. Esses mesmos personagens se
inquietam ou se alegram por ver atribuído um sentido à "re-
presentação da vida" que eles se esforçam para reviver ma-
quinalmente sob o olhar dos espectadores. Esse sistema em
trompe l 'oeil* nega à representação o direito de ser outra coisa
que não o que ela é, um simulacro, no próprio momento em
que ela se dá como tal e em que se correria o risco de tomá-la
por "verdade" dando-lhe sentido demais.
Dar sentido demais ou não dar o suficiente é, já de início,
o problema do leitor confrontado com os textos atuais. O tea-
tro não são idéias, mas será que ele ainda pode ser pensamento
nascente? "Suas obscuras clarezas, suas incompreensíveis
luzes", como diz Valère Novarina sobre Rabelais, é uma for-
mulação que gostaríamos de retomar ao comentar os textos.
Reivindicaríamos para o teatro o que Christian Prigent louva
nos textos de Francis Ponge, uma "obscuridade homeopática",
que mostra que:
l."Leschaises"
Eugène Ionesco
(estreada em 1952; Gallimard, 1954)
2."Catelier"
Jean-Claude Grumberg
(estreada em 1979; Actes Sud Papiers, 1985)
Cena 1, A felicidade
Um caminho florestal declina.
A auto-estrada, ao fundo, avança,
Um R8 e um velho Peugeot
Dois casais e uma criança.
Almoço sobre a reiva... pode-se dizerpiquenique.
Trata-se da trucagem um pouco fraca de uma fotografia?
Talvez do cinema sobre fundo de tela pintada... Sobretudo
palavras: gelados... longínquos.., geológicos.
UM
O TRAFICANTE
O CLIENTE
1. Entrar no texto
I
p
•i
48 f
LER O TEATRO CONTEMPORÂNEO tf?
ú
11
simples . Os autores que chegavam muito perto daquele co-
tidiano deviam tomar cuidado com as conseqüências da
perda de toda distância. Atingidos por seus assuntos, não
contariam nada mais que anedotas sem perspectiva. Tam-
bém não deviam sucumbir ao conforto de uma posição de
entomologistas na qual, promovidos a observadores da vida
"dos outros", não escapariam às armadilhas do desprezo e
do que Vinaver chama de "sobrelevação", que ocorre quan-
do pretendemos olhar de perto mas nos colocamos de tal
maneira que olhamos do alto. Finalmente, se a perspectiva
política não devia prevalecer sobre o "assunto", também
poderia se revelar problemático evacuar qualquer consciên-
cia política ou histórica.
1. O texto e a cena
exercem mais sua ditadura. Mas, uma vez que tudo é permi-
tido, eles não dispõem de nenhuma garantia sobre o devir
cênico de seu texto se este não vai além do simples status de
matéria da representação.
HISTÓRIA E TEORIA 75
?•*
I
Rumo a urna nova imagem do autor dramático?
II
TEMAS E ESCRITA
Bertolt Brecht afirmava a necessidade "de se apropriar
dos novos assuntos e de representar as novas relações de
uma nova forma dramatúrgica e teatral". Ele afirmava:
4
a mulher evoca seu pai dirigindo-se a um personagem pre-
sente-ausente (a ela mesma?) que o jogo dos pronomes con-
T '
1
pois, continuar a viver sem sexo, sem mão, sem pais, sem ini-
migo, sem amor e expor essa situação sem um patético ex-
cessivo? A necessidade desses relatos de vida monologados
passa, contudo, pelo acontecimento agregador que se trata de
nomear em definitivo. É a guerra, portanto, que é narrada de
viés por personagens que a viveram, mas eles narram após o
acontecimento, sem que o drama da situação imediata seja
mostrado em cena. Esses relatos de vida sucessivos cons-
tróem uma história comum na História, aqui literalmente "-
depois da batalha".
Com uma inspiração bem diferente, Jean-Pierre Sarra-
zac cruza em ecos cerrados, em Les inséparahles [Os inse-
paráveis] (Théâtrales, 1989), dois monólogos, o do "Velho
homem na cozinha" e o do "Velho homem no quarto", que
se alternam e se respondem como por acaso graças ao efeito
de montagem. Um está esperando a visita do filho, o outro
está acordando, os dois se dedicam a suas ocupações na casa
separada em dois e aparecem progressivamente como duas
faces de um mesmo personagem à espera da morte.
A utilização dos monólogos após o acontecimento ou
fora dele exclui as situações fortes demais, diminui ou eli-
mina o que ele tem de dramático. A pessoa que narra pode
reviver com força o que viveu se isolando, no entanto, do
que seu passado impunha de mais patético. A montagem de
vários relatos de vida impõe um tempo teatral do ajuste, da
reflexão e do distanciamento.
1. Desregramentos do tempo
2. Aqui e agora
* No original, l^pour une íongue-vue, c 'est une longue vuz". jogo de palavras
que se perde na tradução para o português - longue-vue = luneta, longue vue -
longa visão. (N. do T.)
** Literalmente, "jogo de massacre^ nome de um jogo que consiste em der-
rubar joões-teimosos com bolas (Le peíit Larousse, 1995); pode ser entendido
como a tentativa de derrubar alguma coisa. (N. do T.)
1 12 LER O TEATRO CONTEMPORÂNEO
3, As contradições do presente
4. Tratamentos da História
* Jogo parecido com a bocha, mas em que o bolim é colocado mais longe
(Le grandRohert de la langue française\ 1985). (S. doT.)
120 LER O TEA TRO CONTEMPORÂNEO
• 1 , II
um personagem; esse personagem o restituí ao modo da nar-
rativa ou do psicodrama quando revive os acontecimentos
marcantes de sua história. Seus autores eliminam o que, no
acontecimento passado, seria anedótico ou deveria ser cer-
cado de demasiados detalhes concretos para continuar com-
preensível- No presente subsiste o essencial, como que apu-
rado pela memória e liberado da enfadonha necessidade de
dizer tudo,
Esse é também o regime da maioria dos textos ditos
"oníricos'', em que o personagem que sonha está liberado
dos entraves habituais da ficção; seu autor o faz viajar como
bem entende e procede às montagens temporais que lhe
convém. O intemporal é o modo preferido dos dramaturgos
do sonho que acham a liberdade de que necessitam. Mon-
tagens complexas ajudam a escapar ao que pode às vezes
aparecer como um sistema, quando personagens demais
"revivem" várias vezes ações de uma intensidade tão grande
que os autores, não querendo atacá-las de frente, sucumbem
às delícias da metáfora teatral.
TEMAS E ESCRITA 123
^
TEMAS E ESCRITA 127
U
E o diálogo que representa o modo de expressão dramá-
tica por excelência", escrevia HegeL Michel Corvin, em seu
Dictionnaire encyclopédique du théâtre [Dicionário enciclo-
pédico do teatro], salienta que "o diálogo é o sinal de reco-
nhecimento mais imediato do teatro como gênero até o fim
dos anos 60" e "(que ele) se mostra definitivamente quando
seus elementos constitutivos, as réplicas, não são mais atri-
buídos exclusivamente a personagens individualizados".
Sem dúvida foi na esfera do diálogo que o teatro mo-
derno modificou com maior freqüência as regras tradicio-
nais da fala e de sua circulação, ao ampliar o sistema de con-
venções da enunciação, A troca de falas alternada entre vários
personagens que simulam a comunicação de informações di-
rigidas, em última instância, ao leitor e ao espectador, é cha-
mada "dupla enunciação" pelos lingüistas e semiologos. Esse
sistema ílindador da comunicação teatral dificilmente pode
ser modificado em seu princípio, o de uma fala à procura de
destinatário, para retomar a formulação de Anne Ubersfeld.
No máximo, seria possível modificar algumas de suas regras,
enfraquecendo-as ou agravando-as. O verdadeiro diálogo
contemporâneo se faz cada vez mais diretamente entre o Autor
e o Espectador, por diversos procedimentos enunciativos, o
personagem enfraquecido mostrando ser um intermediário
cada vez menos indispensável entre um e outro.
136 LER O TEATRO CONTEMPORÂNEO
r-
necessidade do "dizer" cada vez mais problemática.
4 :
O enfraquecimento do personagem enunciador, sua des-
multiplicação ou sua supressão pura e simples é uma outra
modificação notável. A fala não é mais necessariamente
enunciada por um personagem construído, com identidade
observável. Ele ainda fala, mas nem sempre se sabe de onde
isso vem, por falta de referências sociais, psicológicas, ou
simplesmente de identidade afixada.
Nem sempre se sabe precisamente de onde vem a fala,
ou quem fala, e também não se sabe a quem ela se dirige.
Os entrançamentos do diálogo modificam as leis da alter-
nância e fazem com que nem sempre se saiba com certeza a
quem são destinados os discursos. Pode ser que o diálogo
se apresente sob a forma de um novelo no qual os assuntos se
entremeiam para simular os caprichos da conversa e romper
a tradição do "falso diálogo", brilhante em todas as suas pa-
lavras espirituosas e regrado como uma partida de pingue-
pongue.
Enfim, a palavra mantém uma relação cada vez menos
necessária ou cada vez menos codificada com a situação e a
ação. Os personagens falam "ao lado" da situação, sem dar a
TEMAS E ESCRITA 137
MEREDICK-Entre.
,«, SUZY (entrando) - Parece que ele está muito mal-humorado..-
Léopold me disse.
BASTIEN (a Suzy) - Ele também virá, está encarregado dos
^rf
ovos, achamos que fosse ele.
MEREDICK - Bom dia, Suzy!
SUZY - Bom dia, Biquet*. Ela telefonou? Por causa do aspi-
rador?
MEREDICK - Sim, ele disse que desta vez era para comprar os
sacos só no Frelon.
SU2Y - Frelon me enche o saco, vou dizer isso!
MEREDICK - Ela disse que não era para dizer.
SUZY - Essa não! Se não dissermos nada, nunca teremos o
que é bom, teremos sempre o que é ruim. Isso eu garanto!
MEREDICK (mudando de assunto) - Então, foi tudo bem?
Léopold disse...
SUZY - Mas às vezes é certo. Eu não gostei da música por
causa das gravações. Todas eram uma nulidade!
MEREDICK - Você dançou?
SUZY - MuitO pOUCO.
MEREDICK - Pelo menos eles foram gentis com você?
SUZY- Só faltava essa..-!
&
* Literalmente, "cabrítinho"; é usado como um termo afetuoso em relação a
crianças. (N. doT.)
TEMAS E ESCRITA 141
SARAH-Boa noite,
RICHARD - Boa noite.
TEMAS E ESCRITA 143
l
* Referência à frase anterior em francês Dormir a poings fermès - literal- .••
mente "Dormir com punhos fechados", mas é uma expressão que significa "Dor- \
mir profundamente". (N. doT.) |
TEMAS E ESCRITA 145
•__
3* O teatro da fala
MARTHE - e
CAMILLE •ela está louca
MARTHE tentada
CAMILLE a ir à casa dele
MARTHE com você.
plutôt par terre qui y montait après V Albert noyé dans ses
chopes. Àíors je peux dire. Ça s'est passe comme ça. On s'a
marié à Estaimpuis en Belgíque toujours. Tout Targent qu'a
été dépensé alors ça s'est divise par deux. On ir est pas parti
en voyage de noces. On a été aller coucher chez Ia famille en
France. Cest comme ça qir après on a reste à Roubaix. Oui,
Depuis que je suis été mariée ça m'avait coupée, Oui. Plus
jamais. D'ailleurs y était mort Bébert Ia chopine. [,-.]*
Théâtre populaire
Retomar o teatro do Grande Comentário
Travail theatral
Definir, com a maior exatidão possível,
o núcleo da criação teatral
Théâtre Public
Analisar seu tempo, questionar-se e debater
Trecho do editorial do n* 1 de
Théâtre Public, set-out. 1974
V Art du Théâtre
A obra dramática é um enigma que o teatro deve resolver
J
4NTOLOGIA DE TEXTOS 189
Bertolt Brecht
A vida dos homens em comum sob todos os seus aspectos
Heiner Müller
Um diálogo com os mortos
Michel Vinaver
Apreender o presente
* Em francês, k nez sur le miroir. Avoir k nez sur... ("Com o nariz em.,/')
significa estar tao perto de alguma coisa que não se consegue vê-la. (N. do T.)
ANTOLOGIA DE TEXTOS 195
Àntoine Vitez
O teatro é uma arte que fala de alhures outrora
* W
• • <t
Arthur Adamov
A imagem impressionante não é necessariamente teatral
Samuel Beckett
Não há pintura. Há apenas quadros
Jean Genet
O teatro não é a descrição de gestos cotidianos vistos de fora
Para Genet, cuja primeira peça foi Les bonnes, que provocou
escândalo, o teatro é radicalmente falso, nada do que é real nele
pode ser apreendido, A teatralidade é condição indispensável da
concretização da escrita.
ANTOLOGIA DE TEXTOS 203
Claude Régy
Renovar sua sensação do mundo
Eugène lonesco
A palavra tagarela
paralisia. O que é uma palavra? Tudo o que não é vivido com §>
uma intensidade ardente. Quando digo: a vida merece que se
morra por ela? também é uma palavra. Mas, ao menos, é
cômico. Todo o mundo pôde constatar o quanto os jovens da
Sorbonne, da Ecole Normale Supérieure, ensaístas, jornalis-
tas conhecidos, retóricos e outros intelectuais progressistas e
ricos falam da linguagem. Isso se tornou uma obsessão e uma
mania. Se falamos tanto da linguagem é porque estamos
obcecados pelo que nos falta. No tempo da torre de Babel
também se devia falar muito da linguagem. Quase tanto
quanto hoje. O verbo se tomou palavrório. Todo o mundo tem
direito a dar sua opinião.
A palavra não mostra mais. A palavra tagarela. A pala-
vra é literária. A palavra é uma fuga. A palavra impede o
silêncio de falar. A palavra ensurdece. Em vez de ser ação, ela
nos consola como pode por não agirmos. A palavra desgasta o
pensamento. Ela o deteriora. O silêncio é de ouro. A garantia
da palavra deve ser o silêncio. Infelizmente! é a inflação. Essa
também é uma palavra. Que civilização! Basta que minhas
angústias se afastem para que eu comece a falar em vez de cir-
cunscrever a realidade, minha realidade, as realidades, para
que a palavra pare de ser um instrumento de investigação;
contudo, professo. Também tenho o direito de opinar.
Journal en miettes, Gallimard, 1967
Nathalie Sarraute
Esse fluxo de palavras que nos fascina
Jean-Pierre Sarrazac
O silêncio, descoberta primordial
A escrita alçada
Talvez, daqui a alguns decênios, considerar-se-á que o
silêncio foi a descoberta primordial do teatro no século XX.
Mas sua utilização em cena não consistiu de imediato nesse
ANTOLOGIA DE TEXTOS 211
Jean Genet
Um ato poético, não um espetáculo
Bernard-Marie Koltès
Sempre detestei um pouco o teatro
Teatro
Vejo um pouco o palco de teatro como um lugar provi-
sório que os personagens o tempo todo têm em vista abando-
nar. E como o lugar em que se colocaria o problema: isso não
é a vida verdadeira, como fazer para escapar daqui. As solu-
ções aparecem sempre como devendo ocorrer fora do palco,
um pouco como no teatro clássico.
O automóvel para nós que somos da geração do cinema,
poderia então ser, no palco, um símbolo do inverso do teatro:
a velocidade, a mudança de lugar, etc. E a implicação do tea-
tro se torna: abandonar o palco para encontrar a vida verda-
deira. Deixando claro que não sei, de forma alguma, se a vida
verdadeira existe em algum lugar e se, abandonando enfim a
cena, os personagens não estarão novamente em um outro
palco, em um outro teatro, e assim por diante. Talvez seja essa
questão, essencial, que permita que o teatro perdure.
Sempre detestei um pouco o teatro porque o teatro é o
contrário da vida; mas sempre volto para ele e gosto dele por-
que é o único lugar em que se diz que não é a vida.
Não, não escrevo minhas peças como roteiros de filmes;
no cinema, eu contaria uma coisa bem diferente e de um
modo totalmente diferente. Não é porque um carro está esta-
cionado em algum lugar que se trata de cinema; não é a for-
ma do lugar, o cenário, os instrumentos, que fazem a diferen-
ça, é o uso que se faz deles e suas funções. Claro, escrevo pe-
ças que se passam fora de casa, porque não tenho vontade de
ANTOLOGIA DE TEXTOS 217
Autores
Acho que os diretores montam demais teatro de "reper-
tório". Um diretor se julga heróico quando monta um autor , £
atual no meio de seis Shakespeare ou Tchekov ou Marivaux
ou Brecht. Não é verdade que autores que têm cem ou duzen-
tos ou trezentos anos contam histórias atuais; sempre se
podem encontrar equivalencias; mas não, não me farão achar
que as histórias de amor de Lisette e Àrlequim são contem-
porâneas. Hoje se fala do amor de outra forma, portanto não
é o mesmo. [...] Sou o primeiro a admirar Tchekov, Shakes-
peare, Marivaux e a tentar aprender com eles. Mas, mesmo
que nossa época não tenha autores dessa qualidade, acho que
é preferível encenar um autor contemporâneo, com todos os
seus defeitos, a encenar dez Shakespeare. [...]
Ninguém, sobretudo os diretores, tem o direito de dizer
que não há autores. É claro que não são conhecidos, já que
não sâo montados e que se considera uma sorte extraordiná-
ria ser encenado atualmente em boas condições; ao passo
queT mesmo assim, é a coisa menos importante. Como vocês
querem que os atores melhorem se não lhes é pedido nada, se
218 LER O TEA TRO CONTEMPORÂNEO
Valère Novarina
É o ator que vai revolver tudo
Noções fundamentais
journèes entières dans les arbres [Dias inteiros nas árvores] (1971),
Eden-Cinèma [Eden-Cinema], índia song. Publicada pela Gallimard e
Editions de Minuit.
1947
1949 Criação do Conselho Europeu
Independência da Argélia
Oh les beauxjours, de Samuel Beckett Lefou d Eha [O louco por Elsa], de L. Aragon
1966
1973
1974 Queda das ditaduras (Revolução dos P, Brook se instala no teatro Bouffes
1975 Cravos em Portugal, morte de Franco du Nord
e redemocratização na Espanha)
L-P. Vincent no Théâtre National de
Srrasbur
ANEXOS 243
Offlimiis, de Ádamov
O Théâtre du Soleil se instala na Cartou- L 'etnpire des signes [O impéno dos signos],
cheric de Vincennes de R. Barthes
Mm le téméraire, de R. Kalisky
Savary no T, N. de Chaillot
Le balcon [O balcão], de L Genet, direção de Àcíeurs, des héros fragiles [Atores, frágeis
G. Lavaudant, na Comèdie Française heróis] (RevistaAutrement)
Adamov, Arthur, XI, 45, 110, Chêne Noir (Théâtre du), 113,
199-200 169
Annc, Catherine, 168 Cormann, Enzo, 84,91,92, 118
Anouilh, Jean, 42, 155
Aquarium (Théâtrc de 1'), 113 Deutsch, Michel, 11, 17-20, 53,
Arrabal, Fernando, 110 54,57,58,86, 165
Azama, Michel, 92 Doutreligne, Louise, 123
Duras, Margherite, 124-6
Barrault, Jean-Louis, 46 Durif, Eugène, 119, 167
Bcckett, Samuel, XI, XII, 3, 59,
63, 83, 90, 108-9, 111, 160, Fassbinder, 53
201-2 Fichet, Roland, 93, 118
Benedetto, André, 113, 169 Fo, Dario, 52, 89
Besnehard, Daniel, 87,100
Besset, Jean-Marie, 116-7 Gatti, Armand, 46, 52, 81, 91,
Blin, Roger, 62 92, 113,127-9,133
Boal, Augusto, 113 Genet, Jean, 43, 62, 157, 162,
Bonal, Denise, 166-7 163,202-4,213-5
Bourdet, Gildas, 112, 160 Ghelderode, Michet de, 169
Bourgeat, François, 118 Grotowski, 47
Bread and Puppet, 47 Grumberg. Jean-Claude, 11,15-7
Brecht Bertolt, XII, 43, 44, 81, Guyotat, Pierre, 176
83,85. 103, 105, 115,191-2
Hossein, Robert, 115-6
Camus, Albert 42, 155 Ionesco, Eugóne, XI, 11, 12-4,
Carteaux, Bernard, 95-6, 116 44,107, 158, 159, 170,207-8
252 LER O TEATRO CONTEMPORÂNEO