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;JUAN ALFREI>ó CÉSAR MULLER

Alt1uimia Moderna
( '1.'rnnspsicologla)

llll>l'róHA CUPOLO LTDA. - S. PAUU>


Direitos Autorait Reservados
fNDICE

Falando de um a.migo ...

PRIMEIRA PARTE
Capil•los Págs.

1 - Meu encontro com o Magistcr Regiomontanus 15


II - Que é o tempo 19
Ili - Que é psique? ?3
IV - Que são os sonhos 25
V - Como inter-atua o plano da; realidade humana e a psique Zl
VI - O plano arcaico de comunicação 29
VII - Formas de comunicação ditas lúdicas 33
VIII - As formas coletivas de expressão dos afetos 39
IX - A doutrina Zen 45
X - Que é a Homeopatia? 49
XI - Relação entre a kinestesia lúdica Zen e os cacoetes 51
XII - Função dos círios e das "comidas-de-santos" 53
XIII - Que ó a Astrologia? 57
XIV - Que é Mágia? 6S
XV - Plano de pesquisa dos Test 71
XVI - Topografia dinâmica da Homeopatia 75
XVII - Que é a Parapsicologia 85

SEGUNDA PARTE

XVIII - O problema da realidade 89


XIX - O diagn6stico e a clínica 91
XX - Experiências clínicas 99
XXI - Caso li 107
XXII - As neuroses metagênicas 123
Epílogo 133
A Ruth, meu simbi<ótico sinfônico essencial

Ao meu Professor L. Szondi, continuador de Freud.,


criador de um sincretismo didático na Psicotera­
pia, e do teste que leva seu nome.

Ao meu iniciador na Homeopatia, Dr. Carlos Armando


de Moura Ribeiro

o AUTOR
Setembro 1967
FALANDO DE UM AMIGO . . . O AUTOR

Prólogo, prefácio, ou apresentação de um livro, nada


representam, a não ser pela homenagem do autor a um dileto
amigo, ou pela necessidade de alguém melhor colocado no
campo de investigação, robustecer a opinião geral, frente
àquela levantada pelo autor. Não estou em condições de estar
entre os segundos, e ainda que o estivesse, renunciaria, para
colocar-me entre os primeiros.
Não fôra mesmo estar em condições de sentir o trabalho
do Prof. Müller, pela densidade de conteúdo, nos diversos
campos em que se atua, mas pela validade de suas afirma­
ções, jamais teria aceito escrever estas palavras surgidas
mais do desvanecimento, da alegria e da amizade que nos
une.

Conheço Juan Alfredo César Müller há alguns anos, e


foi tempo suficiente para saber o quanto de seu valor, trans­
cende o comum dos Psicólogos, para colocar-se um pouco
além, dentro dos problemas da psiquê humana. O seu tra­
balho tange, por muito que ali venha uma intenção pro­
funda dentro do campo da Psicologia Clinica, aos limites
sempre permeáveis de uma psicologia filosófica, e formula­
ções independentes de "TRANSPSICOWGIA", como êle
próprio o intitula.
O livro causou-me admiração desde o início. No diálogo
fecundo surgindo, com seu "antepassado" Johannes Müller
- REGIOMONTANUS - o cerne do trabalho saltou-se aos
olhos diante da conceituação de Psicoterapia: "Psicoterapia
10 JUAN ALFREDO C�SAR MÜLLER

é a conceituação da problemática huma111L vivenciada afetiva


e intelectualmente". Logo de pronto· então, sobreveio-me
aquela opinião que já mantinha do Prof. Müller, de ser êle
tão amplo em suas concepções, como o são as comunicações
existentes entre o homem e a imensa 111Ltureza cósmica.
Se falo de um amigo, cabe-me o direito de sentir em
palavras o que senti ao ler seu trabalho. ToT111Lr-me-ia longo
demais e por certo carente de espontaneidade, se tecesse aqui
comentários técnicos e cientificas a respeito de suas concep­
ções. Porém, não posso furtar-me ao desejo de considerar a
amplitude com que êle aborda o problema da comunicação
nos diversos planos, elaborando fundamntos válidos para
uma nova e ampla posição, no campo da terapia psicológica.
A comunicação arcaica, lúdica e coletiva, uma vez bem ma­
nipulada pelo terapêuta, fornece sem dúvida uma verdadeira
corrente simbólica de possibilidades a111Lllticas.
Müller, formado 1llL escola de Szondí, que tão bem soube
colocar - sincretismo didático na Psicoterapia - o homem
dentro de uma dependência genética, da evolução da libido
(Freud) e da Psicologia AMlítica (Jung), concebeu-lhe grande
bagagem eclética, para hoje, no seu trabalho, ressurgir a pro­
blemática huma'lllL colocada sob diversos prismas conceptuais.
Cabe ainda acrescentar que o Prof. Müller é profundo conhe­
tedor de Astrologia, Grafologia, e de um cabedal invejável
dentro da Homeopatia, agregando ainda a sua excelente for­
mação cultural, que hoje atinge até o campo da eletrônica,
onde seus lustros não são poucos. Apaixonado de problemas
da Magia, desenvolveu através de observação direta, e os
conhecimentos profundos que possui sôbre a Parapsicologia,
novas visões convergentes nos problemas de distúrbio da
perso111Llidade e da neurose, levando-o a uma posição real­
mente interessante que merece observação e continuidade de
investigações.
Resumir-se-ta portanto que o Prof. Müller, Psicólogo Cli­
nico atuante, com apreciável conhecimento 1llL matéria citada
ALQUIMIA MODERNA 11

no pardgrafo anterior, chegasse a um caminho tlÕllO · dentro


da Psicologia, e procurasse apoiado na sua continua preo­
cupação de a;udar a criatura humana a vi"87' melhor e mat.
feliz, apresentasse um t rabalho como o litlTO que o lettor tem
pela frente.
A Zettura é dijfcil, mesmo aos especialistas não famtlla­
rizados com a cultura astrológica, homeopdttca, parapsicoló­
gica. Vou del:rar aq ui uma sugestão ao meu amigo Miiller
que volte a publicar um trabaJ.ho onde as concepções por êle
levantadas, se;am elaboradas mais detalhadamente e onde o
conhecimento sôbre cada matéria se;a o mínim o, a quem
ttvesse interêsse em ampliar as pesquisas dentro dêsse campo..
O paralelismo levantado entre as concepções analíticas da
psicoterapia contempor(jnea, c om a fenomenologia apresen­
tada, vem despertar um interêsse nôvo, chegando a admitir
como principio, que tanto a neurologia, fisiologia, antropo··
logia, e a própria psicologia, estão ainda no início e que me·
recem um aceite provisório, a fim de que surja elaboração­
de novas apreciações.
Simbiótico sintônico e Simbiose de Carência, são posi­
ções bem aceitáveis se quiséssemos colocar o assunto hoje
nas lides da terapia em nivel "psi". O trabalho de Jan Ehren­
w ald, em "New Dimensiona of Deep AnaJ.ysis" e as últimas
pesquisas relatadas no trabalho "HaJ.lucinogenic Drugs And
Their Psychotherapeutic Use", "The Proceedings of the Quar­
tely Meeting o/ the Royal Medico-Psychological Association",
London, Feb. 1961, demonstram já existirem as possibilidades
de agregamento da Percepção Extra Sensorial (ESP) dentro
das consi derações clinicas. O homem é uma unidade, ao
mesmo tempo que uma micro-unidade em comunicação con­
tínua com os fenômenos da natureza cósmica. Sem dúvida
que a Psicologia Científica, tem que manter uma posição
nomotética (procura das leis universais). Para o cientista, o­
indivíduo singular é l'.l.penas o ponto de intersecção de algu­
mas variáveis q uan ti tativas, afirma H. J. Eysenck, em "The
12 JUAN ALFREDO cnSAR MULLER

Sctentific Study of Personality'', N.Y. MacMillan, 1952. Não é


essa a posição geral da Psicologia, ou melhor de alguns se
seus representantes, mas muitos são aquêles que hoje, tentam
uma investigação de maior amplitude, onde o homem possa,
além de sua singularidade pessoal, encontrar leis mais am­
plas. É o caso da sincronictdade, levantada por Jung. Os
casos clinicas apresentados pelo Prof. Müller, são poucos
para estabelecer conceituação, mas não é isso que êle pre­
tende, embora possa dentro de sua grande experiência clínica,
relatar e expôr muitos outros, a fim d.e fornecer material d.e
tnvestigação aos mais dogmáticos. Quem com êle porém, já
sentiu os resultados cllnicos, sem dúvida estaria bem mais
perto do aceite de sua posição.
Novamente voltamos a dizer que nossa posição não é de
eritica, e para aquêles que por ventura fôr, caberia acres­
eentar que o trabalho clinico do Prof. Müller é perfeitamente
válido dentro dos cdnones estabelecidos pela sua técnica, e se
tôda a exposição da primeira parte do livro leva a tramita­
ções outras que não aceitas pela Psicologia clássica, fica por
eonta das investigações futuras que provarão ou não, suas
hipóteses.

Trabalho pioneiro, de grande coragem, elaborou o caro


amigo Mii.ller. Sua posição filosófica, dentro do campo da
:Psicologia, levada a entender definições do homem numa
totalidade completa, não é nova, e bastaria verificarmos o
quanto hoje, surge nova tendência a globaliaar conhectmentos
dos diversos campos do conhecimento da natureaa humana,
em favor de uma perspectiva mais ampla da grandeza da
psiquê, dentro de um contexto ainda maior da magnitude
humana, na infinitude universal.
Os três planos de comunicação - arcaico, lúdico e cole­
ttvo - elaborados por Mii.ller é de uma grandeza tal, que
mal podemos deixar de conceber o quanto as ligações da
personalidade humana, deixa de estabelecer vínculos com o
mundo do qual é participe integrante. "Simbiose de Comuni-
ALQUIMIA MODERNA 13

cação e Expressão", fornece um entendimento global daqutla


que hoje é apenas considerado como fenómenos de ordem
psico-social. O homem é representapção universal, e é e será
sempre a matéria prima necessária à sua compreensão e um
melhor enqu.adramento da criatura no seu mundo atuante.
O Prof. Müller, quer queiram ou não, as fontes oficiais
da Psicologia, é homem nascido para cumprir uma missão
Virtuosa, na qual se desvenda através do seu livro, as pri­
meiras linhas mestras. Não despre2a e nem abandona nada
daquilo que a sabedoria humana despejou na história, e lê-se
claramente na sua intenção, o aceite pleno da vida tal como
ela é - sem cair no exagêro de um determinismo histórico
- procurando compreendê-la, e tirando da experiência Viven­
ciada, conclusões particulares, que somente são aplicáveis em
parte à unicidade de cada ser humano.
Perdôe-me o leitor, não encontrar o esclarecimento que
normalmente se busca num prefácio, e excuse-se o amigo
Müller por estar em parte ausente, na complexidade de seu
saber. Entretanto, pouco ou muito, estou conVicto de que ê
preciso mais sabedoria daqueles que lidam com a psiquê
humana, deixando que l1t2es aparentemente invisíveis ilumi­
nem também o seu saber.
Venha, caríssimo Müller, que as réstias de luminosidade
de seu livro formarão, senão hoje, por certo amanhã, novas
clareiras, onde o homem podercf ver-se mais reali2ado e
melhor compreendido.

Nélson Cassiano
Professor de Pskologia. da Personalidade, da
Faculdade de Filosofia de Mogi das Cnues,
O.M.E.C. (Organiaofijo Mogiana de Ed0<ação
e Culh<ra).
PRIMEIRA PARTE

CAPÍTULO I

MEU ENCONTRO COM O MAGISTER REGIOMiONTANUS

Um sábado de setembro de 1950. Cidade de Zollikon,


perto de Zurich . Estava em casa de meu professor de Acon:
selhamento Psicológico, Max Pfister, autor do teste das Pi­
râmides Coloridas, preparando a tese que me daria o diplo ma
de psicólogo.
Sua casa, além de me fornecer uma vasta biblioteca,
ainda me proporcionava o ensejo de trocar, tôdas as noites,
valiosas impressões com o Professor e com meu dileto
-colega e amigo, Ulrich Moser, atual catedrático de Psicolo­
.gia da Universidade de Zurich e que na ocasião também
era hóspede de P.fister.
Aos sábados, ambos colaboravam no acabamento de
meu trabalho sôbre o teste de van Lenepp, estruturalmente
'Semelhante ao TAT (1) e jantávamos juntos. &ta noite,
porém, parecia mais importante que as outras; foi o que
deduzi das p·alavras de Pfister: "coloque mais um copo
·à mesa e o melhor vinho do Reno, pois teremos uma visita".
Com efeito, logo tocaram a campahinha e a·pareceu à
porta um personagem majestoso, chapéu cinza à c abe ça
distintivo dos médicos - e trajando vestes medievais.

(1) TAT - Themattc Apperception Test - Teste pl!llcológlco


à base de lâminas em braneo e .prêto, sõbr e aa qua.is o testado deve
·narrar hietórfas, partindo de conteó.d<J1 proJet1Tot
16 JUAN ALFREDO Cl>SAR MüLLER

- Servus Magisler : já o esperávamos, disser am Moser


e Pfister ao recém-chegado, que, assi m que se instalou.
di rigiu-se ·a mim num alemão medie� al - que se entendia
bem por ser muito semelhante ao dialeto falado ainda hoje
em Zurich - dizendo :

- "Sou Johannes Müller, e por ser seu ant epa s sado


lenho especial interêsse por você. Vim para responder
suas perguntas e melhor o encaminhar nas sendas da
Psicologia."

Johannes Müller ensinara Matem á tica e Astrologia em


Heildefüerg (de onde proveio seu cognome REGlOMON­
TANUS, lati ização de Heildelbe r g, dedi cando-se, mais
tarde, à Medicina. Quando catedrático naquela Universida­
de, publicara um import ante trabalho, ensinando a domi­
ficar os hor óscopos, isto é, considera r a hora e o local de
nascimento em su a interpretação.
R egiomon tanus começou dizendo:
"Eu era alquimista. Um pisocólogo, como se diz hoje,
Ja que ambos tentam dominar a arte da destil ação- Os
alquimistas procuram a purificação, destilando elixires; os
psicó logos usam a Psicoterapia como destilador e também
fazem magi a mental ".
"O pensame n to que você chama de moderno é dicotô­
mico, nã o unifi cado ou unificante . Por isso, se faz neces­
sário o eonhecimento de ciências não oficiais , assim co1no
a matéria médica hom eopática, a Astrologia, a Alquimia e
correlatas. Sómente assim se atinge um sincretismo cu l tur al
e sabedoria é sincretismo do mundo do conhecimento".
"No momento da união dual Mãe-Filho, o universo
é mágico, universalista e tal é o método de pensamento
apl icado na Homeopati·a . Mais tarde com a cisão do ego,
que originou o "tu" e com a iden tificação diversificada
com a Mãe e com o Pai nasceram as ciências analiticas,
ALQUIMIA MODERNA 17

ditas modernas, inclusive a Psicologia, química do mundo


do espírito. Portanto, é preciso reunificar êste universo
do conhecimento, agora seccionado, fazê-lo renascer e
transportar o conjunto do lastro histórico para um alvo
transcendente".

"&te é o seu dever e é para auxiliá-lo que estou aqui,


_pronto para responder tôdas as suas perguntas, muito em­
bora seja êste um caminho que deve ser percorrido a sós."

"Psicoterapia é a conceituação da problemática huma­


na vivenciada afetiva e intelectualmente."

"Você aprendeu que a neurose pode ser o produto de


um trauma de ordem pessoal. Para mim, no entanto, neu­
l'OKI\ ó umu menliru esquecid a , mas na qual aind� acredi­
lumos. Bmn e Mui, Verdade e Mentira são, dentro do mundo
do pensamento, meros pontos de vista. Assim, crescer e
não revisar as lembranças e pontos de vista é propiciar o
surgimento de neuroses. Pois o que ontem era verdade
hoje é mentira. Desta maneira, a responsabilidade da neu­
rose ca:be sómente ao próprio neurótico e não à mãe pouco
cuidadosa ou ao pai muito severo. Não existem culpas,
mas sim necessidades não atendidas ou negligenciadas. A
diferença está na coragem, mas o que é a coragem? . . •

Sinceramente, não sei explicar".

"No seu trabalho não há julgamentos possíveis. Julgar


é lentar ajudar e esta atitude cria ohrigaçõC6 que vão além
d11 finalidade de seu trabalho. Porém, se fôr indispensável
um julgamento, perdoa em seguida. É melhor fazer, mesmo
"rrundo. Além do mais, julgar outra coisa não é senão vi­
suulizur um problema particuJ.ar, tendo como referência
uossu própria concepção do mundo e não da pessoa em
questão. E isto, como é fácil de ver, seria uma injustiça."
"Nunca se utilize de testes para medir a capacidade
intelectual. A inteligência não representa a totalidade do
·
ser, mas apenas uma das atividades dedutivas do intelecto".
18 JUAN ALFREDO C:l!SAR MtlLLER

"Digo isso em seu próprio benefício e em beneficio de


sua evolução. Confesso que eu mesi:no estou em processo
evolutivo e por isso prêso ao mundo da verbalização."
"Verbalizar é errar, pois nada resiste a uma análise
profunda. A análise destrói o objeto observado, exatamente
como a 1uz destrói as moléculas no Jajcroscópio eletrôni­
co. Sàmente a manipulação de simbolos evita essa destrui­
ção - razão pela qual eu me utilizo dêles. Também a
Astrologia trabalha em profundidade sem, porém, querer
chegar ao âmago das coisas. O mesmo acontece quando se
utiliza o LSD-25 (1), conforme é do seu conhecimento.
Com sua aplicação, muitas vêzes alcança-se a terapia,
dispensando-se a verbalização. Eventualmente, a psicote­
rapia em nível "psi" pode provocar um fenômeno idêntico;
símbolo não verbalizado, transmitido telepàticamente."

(1) LSD-25· Acido LiHrglco - paicotr6pico pslco-dletéptico que


11ode provocar alucinações, aumenta a atividadie do Inconsciente, pro­
jetando-o no consciente em forma de afm.boloe. Elxf.ste a suspeita, por
paranóias provocadas por seu uso constante, que o mesmo lesione as
neuronas. Pelo menos "m. vitro" cria lesões.
CAPÍTULO II

QUE É O TEMPO

- Magister, disse eu: gostaria que me explicasses o


IJUe é o TEMPO.

- "Aprendeste que o tempo é uma dimensão. Mu êle


é energia, que vivemos, vectorializando-a em forma de
movimento Como temos necessidade de projetar esta
energia num determinado plano da consciência, ela
passa a ser vivida como dimensão não espacial. O tem­
po astronômico possui um desenrolar continuo, que
devemos chamar de lógico e é usado pelo setor da
personalidade que chamamos "ego"; êste tempo ainda
poderia ser confundido com uma dimensão. Mas o in­
dividuo não é apenas o que êle conhece de si mesmo
e que chama de "EU"; existem várias formas de cons­
ciência e, a cada uma, corresponde uma forma de per­
ceber a passagem do tempo e de usar esta energia.

"O tempo astronômico ilusôriamente é confundido


com o tempo chamado de tempo comparado. O tempo
nomporado é medido em função do desenrolar de fatos
no ptnno biológico ou psicobiológico. É como se subisse
o clt!Ml'Ull de uma escada, considerando-se cada degrau como
1111111 fração de tempo total. As vivências que chamamos de
pHh111lcnH ou afetivas desenrolam-se no plano do tempo
20 JUAN ALFREDO Cl!SAR MULLER

comparado; sendo tôda vivência uma comJmicação impli­


cita, podemos agora compreender porque o tempo subje­
tivo não desenvolve sua velocidade em forma constante.
Uma alegria, se não fôr excessiva, o acelera; um trauma o
detém. Supomos que o tamanho do corpo fisico e as batidas
do coração podem ter alguma· relação com esta avaliação."
"Em todo caso, os traumas detêm o tempo comparado.
t.ste fenômeno explica o porquê das vivências traumatizan­
tes que, atuando por muito tempo, criam neuroses, embora
na sequência de tempo astronômico tenham sido vividas
em poucos segundos. As personalidades com imagos (su­
perego) desenvolvidos de forma adequada constituem
as melhores proteções ante os fatos traumáticos; a racio­
nalização de situações que poderiam constituir-se em trau­
máticas podem também evitar a neurose; é por isso que
os adultos, mais aptos a racionalizações, são menos per­
meáveis que as crianças às neuroses."

Na escola homeopática existem psicotrópicos, (aliás.


todos os produtos da Homeopatia o são); é o caso de "Can­
nabis indica", receitada quando o tempo parou. O "con­
ceito" de tempo comparado, porém, não pode ser aplicado
nos casos de regressão vivencial, tal como acontece com a
hipnose e o Iisérgico, usado experimentalmente."

"Note que minha forma de expressão é uma sintese


de atividade intelectual dedutiva e de formas analógicas
de expressão. O sistema analógico, que a Psicanálise con­
sidera infantil e "mágico", é imprescindível como método
de pesquisa, evitando que caiamos num racionalismo inú­
til. Só poderemos abandonar os métodos analógicos quando·
os conhecimentos técnicos o permitirem. Agiremos como
uma grande companhia americana que exportava abaca­
xis do H;avai; os abacaxis deviam amadurecer a tempo de
em:barcarem nos navios; a principio utilizaram-se os bons
serviços de um feiticeiro, que. com rituais de magia, obti­
nha o resultado desejado; posteriormente foi descobe.rto
ALQUIMIA MODERNA 21

,lll ac os hormônios da planta fôssem bem dosados pro-


ll11 v.kiom o mesmo efeito; resolveu-se, então, através da
r[1 1hnico , o problema do tempo astronômico e comparado
dnH nbncaxis. Por isso penso que os maiores progressos
111 J11Cdicina estão nas mãos dos químicos e biólogos, que
1111h1·11vum os campos do futuro."

"O mecanismo psíquico, que conceítualiza, vectorializa


vivência-tempo, ao mesmo tempo que efetua o seu
contrôle afetivo é o EOO &!te mecanismo, ponte entre
o instinto e o intelecto, como ensina seu mestre Szondi,
tem a função da historicidade pessoal."

"Identificando o corpo físico com o tempo lógico, não


1•hlll{ llmos a notar a existência do tempo comparado, que
lijmpo subjetivo, inconsciente, e é êste tempo comparado
qu e provoca os desvios da paranormalidade, observado por
Houl e Cavernei.
As capacidades humanas se encontram em nossa es-
r~ru divin a e não no nosso intelecto. Vistas as coisas por
ÔHll\ tlngulo, não existem mais dicotomias, pois o ego pas-
Hou o 80 1.' m~ órgão sem qualidades e assim não mais uma
) IJ'<)j1 1~·1lo, l<lt\tlo por funçíio coordenar a "vivênda-tempo"
11111 1111 l'flt\lJ Qtl, conforrn<l UM necessidades conceptuais, so-
11l11lu 1111 11follv11ij do codo ser. Esta coordenação produz
l lOMH ll IJJHl.1\l•fi\ Ml!fJj IJVt\."
CAPITUID III

QUE� PSIQUE?

- Magister, que é PSIQUE?

- "Assim como o "EU" é o órgão que coordena 11. vi­


vência, isto é, a energia, a psique a fornece. Ele é tudo
o que ignoramos em nós. A psique não coordena, não
avalia, por não ser um órgão de bistoricid·ade e con­
trôle com o "EU", mas altera, via ego, o plano de
expressão destas energiae. A energia transformada re­
cebe o nome de símbolo; sím bolo é o aspecto homeo­
mórfico de uma rea li dade psíquica.

Você deve lembrar de ter-se deparado, em seus estudos


de term odin âmica, com a TOPOLOGIA, e; geomet ria de
Poincaré, a qual incluía mais de um plano de realidad e
em seuscálculos. Por exemplo: uma esfera que p asse de
uma dimensão para outra deix a na primeira t ão-somente
uma linha curva; esta linha curva é o aspecto homeomór­
fico da esfera, ou seja, o seu símbolo. Suponha agora que
osta esfera seja energia armazenada em outro plano e que,
<1onforme as solicitações de ordem lógica ou analóg ica e
com a intervenção do ego, passe a ser utilizada pela psi qu e.
V11mos assim que a psique é um transformador de energia
11 1.101110 tal não recebe a atu ação da psicoterapia; esta, ao
1•1111lrt\rio, vai a tuar sôbre o ego, reescrevendo sua história,
24 JUAN ALFREDO C�SAR MULLER

alterando a codificação de suas manifestações. Consegue-se


a alteração de codificação, recriando, para oada caso, cir­
cunstâncias de dependência afetiva iguais àquelas que cer­
caram os fa.los, ou seja, cri-ando situações de transferência,
como diz você; sómente .assim será possível apagar uma
manifestação e criar outra. Manifestação é história, tempo
comparado, ego. Psique é energia incomensurável em si e
merece os •&:tributos de onipotente, onisciente e onipresente
que nós atribuimos a Deus. Deus não tem atributos, como
já explicou o meu colega Meister Eckehart. Tudo é energia
e nada mais; logo, tudo é "psíquico"; não é impossivel que
a psique possa governar a ma té ria, como acontece na te­
lekinesia, pois, embora em planos dimensionais diferentes,
também a matéria é energia; energia com tempo su.bcritico,
diria eu para ironizar. Psique é matéria feita luz, matéria
co� velocidade critica, se você puder aceitar que veloci­
dade é tempo expressado."
CAPÍTULO IV

QUE SÃO OS SONHOS

- Magíster, e os sonhos que são?


- "Quando o ego equaciona as vivências, compensa-
tórias ou não, sem a interferência de contrôle que o inte­
lecto e o tempo objetivo exercem sôbre êle, estamos so­
·nhando, ou temos uma alucinação.

O sonho é uma fase igual à hipnogógica, isto é, de


introjeção e correição da programação do ego, é ati­
vidade compensatória também porque altera as exi­
gências e capacidades, ou as fornece simbólicamente.

Sonhar é autoterapia como pode ser motivo de uma


-doença, se sua atividade obriga posteriormente -0 ego a
·não mais poder se verificar na existência do tempo astro­
·nômico.
A verbalização terápica é um equivalente onírico cria­
do (1), porque durante o trB!balho de terapia a "ficção"
-do sonho (2) se repete, é tomada como realidade, levando

(1) A televlalo, o cinema, o teatro, alo tamb6m equivalentes


i0nírico11 poHm dirigtdos sem uma finalidade ter.iplca concreta, com
exceção de alguns grand-es tra balboa. Em ffl, o lh'ro mala fàcilmBnte
l)ode alcançar esta flnaUdade dirigida.
(2) O sonho ' .. tlcglo ,; para o Intelecto, para o lnconaolente é
11ma realldade.
26 JUAN ALFREDO C�SAR MüLLER

o ego a nova programação por mudança dos objetivos. Na


terapia, a função intelectual de contrôle, comparação his­
tórica, e observação do tempo objeÜvo é projetada para
junto do psicoterapeuta, assim o paciente vive num "sonho"'
durante êste tempo de trabalho.
A segurança, durante o sonho desagradável, de "es­
tarmos sonhando", chama-se na terapia confiança no te­
rapeuta. Por isso sempre repetirei que o que cura é a trans­
ferência afetiva, é ela que permite novas formas de intro­
jeção.
Também por êste motivo os encontros não devem ser
por regra mais frequentes do que uma vez por semana,
porque a sua excessiva frequência vai levar o ego doente
a não mais querer trabalhar e assim precisar "sempre" do
abjeto transferencial para o autocontrôle e comparação
dos dois tempos, das duas realidades, o que acontece às
vêzes nas uniões duais, onde todo o contrôle é feito por
uma das partes, mãe-filho, por exemplo.
Tempo real é a instância que obriga o ego a equacionar
os seus objetivos de contrôle da energia fornecida pela
psique, tanto "in natura" como via slmbolo.
A atividade intelectual faz parte do supercontrôle, é
parte do superego (é a comunicação coletiva, figura de
filogênese moderna, se comparada com a comunicação ar­
caica). As regras do conhecimento intelectual não são rea-·
!idades em si, porém realidades válidas para determinado
momento histórico. Paranormalidade é a capacidade de
criar um mundo autoplástico e real, embora diferente, po­
ré� respeitando a objetividade em si, fornecida pela ob­
servação do mundo exterior. Por isso a realidade é algo­
diferente para o pal'anormal. Q paranormal não resiste à
tentação de utilb;ar o sistema an!llógico de pensamento, pois
para êle é um mundo "lógico" também."
CAPÍTULO V

COMO INTER-ATUA O PLANO DE REALIDADE

HUMANA E A PSIQUE

- Magister, como interatua o plano da realidade hu­


mana e a psique?
� "Os fatos p síquicos são vividos pe.I os homens como

afetos. Os afetos podem ser diferenciados num plano ar­


caico, num lúdico e num coletivo. Esclareço que, por agora,
não incluí no con tex to as vivências m is ti cas ou religiosas,
por motivos de ordem prática.
O mecanismo que ordena a exteriorização das energias .
encontra-se no ego, e a ps ique, além de .fundir os planos
de comunicação, que nós separamos, complementa simbo­
licamente as faltas com a imaginação. Observe que a co­
municação, para chegar à sua perfeição e prop iciar a fe•.
lieidade individual, necessita de alguns requisitos; o ser
unitário necessí tu ter a sensação de domínio da coisa co-.
munieada ; necessita a ex i stênc ia de um simbiótico siu­
tônico que possa e queira receber a comunicação emitida.
A simbiose siutônica se efetua, criando um verdadeiro.
cordão umbilical. Você conhece êstes fenômenos através
das .Palavras "transferência" e "projeção"; êstes novos
conceitos, porém. querem introduzir uma nova verdade.
isto é, consideram que nenhum ser é unitàriamente alguma
28 JUAN ALFREDO caSAR MULLER

coisa e que todos, para viver, necessitam estar em simbiose


1'omunitária, tal como os planêtas que giram na dependên­
cia da massa de outros corpos.
Cada tipo de comunicação possui a sua própria uni­
dade de percepção, pois não creio que sbmeute os cinco
sentidos sejam suficientes para determinar as· corqplexas
aüvidade11 cerebrais, que nos permitem sobreviver."
CAPÍTULO VI

O PLANO ARCAICO DE COMUNICAÇÃO

- Magister, que é plano arcaico de comunicação?

- "É urna das grandes manifestações da psique: o


sexo. Optei pelo nome arcaico, porque já a vida fetal
se acha regulada pelos hormônios sexuais, além de
êstes permitirem a propagação da vida física.

No adulto, ou seja, no ser que tem consciência do sexo,


l\ste se manifesta corno um.a fôrça perene e que pode ser
descarregada temporáriamente. A descarga pode ser feita
uxo ou auto-eroticarnentc. No segundo caso a psique forne­
mm\ os componentes inexistentes, através da imaginação.
O intercâmbio é intensíssimo e, além de hormonal e
motor, possui tôda uma gama de exalações elétricas e per­
fumadas que o acompanham.
Não condeno o auto-erotismo, por ser u m a manifestação
normal da personalidade em desenvolvimento, embora
creia ser uma forma deficitária de provocar uma descarga;
além do mais, quando reprimida, pode apresentar-se com<>
um verdadeiro cacoete, dificultando o desenvolvimento
harmônico da personalidade. No Egito a masturbação era
proibida entre os religiosos, o que me parece acertado, já
que usavam o sexo para rituais de magi a sexual. Mais tar­
de, os judeus generalizaram esta proibição, que alcançou
30 JUAN ALFREDO CtSAR MVLLER

os nossos dias. No Japão, não existe qualquer restrição a


respeito, o "Giri" indica o quantum permitido. (1)
O individuo normal não desej a outra forma de comu­
nicação arcaica que a heterossexual. Qual quer outra for­
ma deve ser vista num plano de experiência ou de fixação
perversa, caso se repita com frequência até tornar-se ha­
bitual.
Todavia, não p ode e nem deve existir qualquer avalia­
ção negativa da expressão homossexual, quando fôr so­
cialmente aprovada, ·fruto das necessidade eco nômicas de
uma região. Lembro-me, por exemplo, do deus nigeriano
GNO, o deus da chuva, que não permitia contatos entre
marido e mulher, a não ser três anos após o parto. Assim,
maridos e espôsas viviam com os cunhados, a fim de
manterem os laços tribais vivos, mas de forma homosse­
xual· &ta medida possibilitou manter a população estável
até que o desenvolvimento tecnológico permitisse resolver
os problemas de alimentação e manutenção (2). Aliás, êstes
problemas nigerianos são os nossos de hoje, com relação
ao aumento da taxa de natalidade, não acompanhada de­
vidamente pelo progresso técnico e aplicação de capitais."
"A comunicação arcaica total é feliz e por isso não é
necessário que os sêres nesse estado precisem da promis­
cuidade sexual para se satisfazerem, já que os vincul as
comunicatórios profundos são sempre estáveis."
"A poli g amia , que você postulava anteriormente, não

(1) "Giri" á dlffcll expUcar o que -é, dlgamoa para abreviar que
' a parte dlo superego que regulamenta a lealdade do lndivf.duo com
ê!la mesmo.
(2) A guerra do "Mau-Mau", que oa nlgerlanoa levaram contra
os colonos inglêsea, era justamente .para reimplantar o reinado do deus
GNO, e permitir assim ao pafa um desenvolvimento econOmlco har­
mOnlco. A pflula antlconcepclonal faz êate culto agora desnecessário.
Mala uma vez, a clêncla provoca no aeu tmpa.eto uma. mudança desa­
culturante e salvadora.
ALQUIMIA MO DERNA 31

e aceitavel por razões econômicas; qu·ando, porém, os


métodos anticoncepcionais estiverem mais desenvolvi­
dos, existirão menos barreiras a respeito. A moral social
prende-se, meramente, a uma questão de sobrevivência e
é imposta pelos grupos que chefiam um conjunto de tribos.
E importante notar que não devemos identificar sobrevi­
vência com atividade econômica, pois ela não se restringe
sómente a isso."
"O prazer do sexo é importante, e é bom que você,
como futuro sexólogo, saiba disso, porque permite que ·a
comunicação arcaica se torne realidade e seja ao mesmo
tempo descarregada. Existe, porém, mais de um forma de
110H rx1>rimirmos arcaicamente: é a forma que Freud cha�
1111111 do sublimação do sexo. O tempo comparado, no ser
com m1mlfeslnção bio-sexual, torna-se, neste caso, atem­
poral e, portanto, transcendente. Os animais:, tal como o
"homo-rru:uniferus", são transcendentes ao terem um filho,
Mns todos nós ambicionamos uma tl'anscendência superior
à biológica."
"O sexo, para ser sublimado, requer algumas praticas
que foram por tüo longo tempo cuidadas que o público
as desconhece. O mesmo não acontece com a Santa Igreja
que as repete simbõlicnmcnle na Missa. E ela não ensina
uslus praticas aos padres que não estiverem iniciados nos
Grandes Mistérios, para cvitur sua .profanação."
"O calice (cheio de vinho) simboliza: o rosto ·humano;
a testa é representada pelo corpo do cálice; o nariz é re­
presentado pelo suporte do cálice (pênis) ; a base simbo­
liza o bôca (os genitais femininos) que da à luz o Verbo;
êste deve subir, como as energias que se encontram em­
baixo, nas gónadas e devem elevar-se, sublimar-se. Inde­
pendente da verdade mística na transformação do vinho
em sangue de Cristo, a simbologia nos lembra que devemos
transformar o sexo em atemporal e transcendente. Sômente
isso, adequadamente ·realizado, permite a castidade e não
32 JUAN ALFREDO çgsAR MULLER

por um esfôrço intelectual, já q·ue o intelecto I'C!ge uma


parte mínima do ser. Castidades f"rçadas fazem surgir
sintomas neuróticos. Simbioses sintônicas arcaicas religam
o corpo sociaf ao plano individual e criam, também, uma
certa forma de transcendência."
"Agora você compreende que perante os qµe têm o
conhecimento pua sublimar o sexo, os que ainda precisam
do coito para sobreviver são encarados por êstes· como
um adulto encara o ato auto-erótico. Tudo é transição, tu­
do é devenir· ''
"Quando reprimida a descarga do sexo, exacerba o
desejo de posse do individuo em outros planos e êste pre­
cisará ter excesso de poder, dinheiro, roupa ou comida,
o que se constitui numa manifestação de desequilibrio vi­
vencial."
"Você me dirá, então, que os alquimistas vivendo em
castidade, à procura da pedra filosofal ou da transmutação
dos metais, o fazem com uma finalidade compensatória.
Direi que não, pois a transmutação da matéria sômente é
possível quando o ser já se encontra transIIUJlado dentro
dêle; o alquimista .procura apenas um sinal exterior que
demonstre ó seu desenvolvimento."
"Parece-me que a com1micação arcaica se encontra
relacionada com a atividade táctil em concomitância com
a atividade olfativa. Sôbre os demais centros de percepção
falaremos em outra ocasião."
CAPITULO VII

FORMAS DE COMUNICAÇÃO DITAS LúDICAS

- Mn11leter, quais as formas de comunicações ditas


h'111lc11•?
"Co111ldei'O l11du1, ou seja, jôgo, tudo aquilo que
não pe1·tcnça no liól'h\lllllro orcoico e não seja atividade
econômica. l�x11n1h)Afülo mola profundamente, veremos
que as ativllbul11M hmnunas de tipo fo.mlliar, como conver­
sar, ler um ,lm•nul ou re v ista para "matar o tempo", ter
um hobby q11nlq11er, participar de competições esportivas,
jogar cartas ou xu.ckez, ir •ao teatro ou ao cinema são
meros jogos, CJllll 06 adullos h'ansformam em "sérios",
para diferenciá-los cios das crianças, colocando-se, assim,
o adulto em outro pl11110 social."
"ltste tipo de comunlcuçllo, ass im como a sexual, não
J>rcclsam de verbalizaçil.o para serem vividos; o silêncio
é ludus, como o falar pode sl!-lo tam!hém. A sim.pies pre­
sença, os movimentos hn11el'Ceptíveis formam. juntamente
com o simbiótico-sin tõnico, o ludus. Diferente do plano ar­
caico, aqui não existe eclosão e a satisfação é alcançada
pela perenidade da comunicação.Seu órgão me parece ser
o ouvido e sua expressão kinestésica. Esta atividade situa
socialmente o individuo dentro do contexto social com um
rol e um espaço."
"Dizemos, portanto, que a vivênvia gregária é efetuada
dentro do plano lúdico não organizada·. A atívidad.e lúdica
34 JUAN ALFREDO C�SAR MULLER

organizada é semelhante à não orga.nizada, com apenas


uma diferença : a primeir a é a encontrada na vida fami­
liar, numa roda de amigos etc., a segunda no trabalho.
Neste existe necessidade de organização, sua finalidade fo.
ge à alçad a dos participantes lúdicos e ao mesmo tempo
vemos a repetição da estrutura familiar: os pais (diretores)
vivendo num mundo diferente do nosso e tomando deci­
sões, irmãos mais velhos a quem devemos obedecer e irmãos
mais novos que nos devem obediência. E ainda mais, cria­
mos, com os que trabalham conos<:o, laços genéticos, pois
a s profissões selecionam as personalidades de acôrdo com
seus mais profundos interêsses; e, se temos os mesmos
interêss es, temos ·a mema constitu ição g e n ética de acôrdo
com Szondi, e por isso nossos companheiros de trabalho
são nossos irmãos, Além do mais os esforços de adap­
tação podem ocasionar deformações profis sionais, o mes­
mo pode acontecer nas familias, criando neuro ses seme­
lhantes, por convivência · "
- Magister, quer dizer que o salário é um mero aci­
dente na vida de trabalho do empregado?
- "Sim, o salario faz parte da estrutura social de
jôgo, enquanto a atividade econômica da familia é reali­
zada:, nesta civilização, pela espôsa ou pela· mãe, quem
compra enfim. Em, tôda& as estruturas sociais onde a. maio­
ria das pessoas têm atividade emp regaticia, os vínculos do
emprêgo são mais fortes que os familiares; as famil i as se
d esagregam por um processo de de&aculturação provocado
pelas técnicas de a c ultu ração .ao trabalho."
Nas civilizações onde ha grandes excedentes econô­
micos aparecem os passatempos ou "hobbyes"; êstes serão
importantes, na medida em1 que se puder exibir o que se
fêz; quem estiver em condições de admira-lo sera seu pa­
rente lúdico . "

"A finalidade das terapias ocupacionais é tentar re­


criar um ambiente lúdico, no mesmo seI1tido compe-
ALQUIMIA MODERNA 35

titivo da vida familiar; no entanto, as terapias, tais


como são efetuadas hoje, apresentam falhas, pois es-
quecem que os materiais usados não têm relaciona-
mento simbólico com todos os comunicantes lúdicos.
Não é possível fazer terapia ocupacional em massa.

"A ,a tividade lúdica tenta diferenciar cada ser, tanto


pela atividade como pela passividade. O triunfo não tem
valor econômico, mas sim de diferenciação lúcida. Uma
viúva solitária, por exemplo, precisará possuir ao menos
um animal que catalize sua atividade lúdica, isto é, afeti-
va; do mesmo modo, o solteirão, saindo do emprêgo, acha-
rr\ sons Ri'mbióti cos sintônicos, simbólicos ou não, no bar,
'""'" f111'1\, 110 monoA com os copos, um ruído que possa
•l' I' p 11 1·«1·h do 1H' lo l(ílrçiio, seu simbiótico complementar; e
11gir{1 ll 8H i111, IJOI' niio Mo r o gnrçíio seu verdadeiro comple-
mento, jlt que cumpre uma atividade econômica com re-
111~'.lio ·ao freguês. (1)"

(1) A vinculação afetiva com ae má-quinas é lúdica e, portanto,


nudt ttvn. A máquina escrevendo, o motor andando, fazem ruido, co-
Juu11lcnm ~ oo conosco, n ão nos sentimos sóe dentro do munclio.

On 111o(l ornoa co mputadores, que são quase ellenc1osos, precteam


111 hu11'" uno lndLau cm o que estão tazend,o, com êles nos relacionamos
11n t1l11H1. vlnuu.I (colollvn ), e não mate l\ldlcamente. Mas aparece um
f1111r111111110 omvommlór lo: a música estridente, exagerada, orquestras
f0111 fn •Om tu.nto rum o como um tear com tanç&dtetra de ferro. E a
1p11t11r 111non.o [o.m111o.r , u dopondêncta eim·biótica, ee faz vestindo roupa
• 1 1 t! lfl l! 1l.{!1~ <1uo diz .quo o aou portad~r pratica o tê·iê·lê.
11 1n I OMtõ é a revolta contra o maquinismo que, além de nos roubar
l 1 't111d ho, o [az etlencioeamente, ttrando·nos o contato afetivo. (Ao
11110~ 0111 ln111J)o ó o símbolo da vkla. urobana, só poBSJ:vet por causa destas
0111111rt1111ul11m) .
''" K~ 11IQ11 dn lâmpada de Ala.dlm trabalhavam ,em total ellên-
1111 , , ltow ó o (luo d á torça mágica ao relato; .por isso a magia, por
)1 11 t 111• !HHltc llld1ca , atemoriza como boje o faz um computador, um
t"i lur, 1; l •~n tOtJ outros aparelhos.
36 JUAN ALFREDO Cf!SAR MULLER

"Os club� são centros lúdicos e aparecem com a de­


sagregação da vida familiar. Os gritos da criança são con­
tatos lúdicos, como o chôro, e quando esta não tem para
quer rir ou chol'ar se transf'ormará em esquizofrênica,
pois será, ao mesmo tempo, ator e expectador de seus atos,
por miecanismo de complementaçã o psíquica."
"O salário é o vínculo coletivo, isto é, a simbiose com­
plementar é realizada via dinheiro."
"O único que tem vinculação real com o dinheiro é o
dono da firma, na atividade lúdica organizada. Na fami­
lia, o mesmo padrão se repete. 11: o senhor da casa que é
responsável pelo dinheiro, não para gastá-lo, mas para
fornecê-lo."
"Isso quer dizer que, após o parto, ·a dependência gre­
gária do ser se amplia. Inicialmente é mantida e até arn­
piiada através da união telepática com a mãe, forma que
vai cedendo lugar à verbalização. Por motivos culturais,
o adulto não aprende a voltar às formas de expressão pré­
verbais, telepáticas, com tôda gama de percepções e capa­
cidades; estas formas de expressão são as estudadas pela
parapsicologia."
"O campo da expressão lúdica da ,personalidade é o
campo das psicoses; é o mundo de Szondi, de Adler, Bleu­
ler, Minkowski, Gebsattel, Wettley, Wirsch, Kuhw, Storch,
Nijhoff e muitos outros- O do Freud é o campo arcaico.
Kraepelin separou as psicoses dentro de urna objeti­
vação lúdica da vida, por aquilo que o ser não era capaz
de fazer no plano lúdico. Freud recebeu a influência dêste
conceito, quando dava por curada a pessoa que tivesse
bom relacionamento lúdico com a família de origem; com
a adquirida e com o ambiente de trabalho."
"A doutrina ZEN e a Escola de Hahnemann têm-se
distanciado dêste conceito, corno você verá."
"Neste plano (de atividade lúdica) não é importante
o que é dito, mas sim o que fica subentendido; .é o mundo
ALQUIMIA MODERNA 37

11 11 ll1111Mu Kocial, dos imponderáveis, expressos numa mi-


1111 h h 111MfOH!11 ou numa macro-movimentação."
' 111rn11 IJ1•ó•HO que, além dos sons, é a movimentação
llllM l'll liu' c1no expressa a simbiose neste plano. A escola
111 '1'11 , 1\link, que analisa as neuroses pela rigidez mus-
11 1111 , 111pdvulc á medicina tibetima, que cega seus médi-
·11 {Jll •'n melhor poderem diagnosticar, através da pcrcep-
•n11 1111 situação muscular. Percebo que você pensa que,
1111d o o sexo eclodido por meio de movimentos, é também
1'111!00 ; Isto é verdade, já que o ser é uma unidade total e
1H [ 1 11110 ~ separando as funções por razões de ordem peda-
1\1111·11."
CAPÍTULO Vlll

AS FORMAS CDLETIVAS DE EXPRESSÃO DOS AFETOS

- Magister, qual a forma coletiva de expressão dos


nfetos?
- "A comunicação coletiva é a atividade econômica,
vivida simbiôticamente por aquêle que vende com quem
compra. No entanto, qu em vende deve ser o proprietário
da mercadoria ou sentir-se como tal e quem compra deve
fazê-lo pai:ia uso próprio ou da familia, pois se não um
ou os dois teriam uma atividade lúdica e não coletiva.
A comunicação arcaica leva os sêres a um entendi­
mento mútuo unitário, não podendo, na verda de, ser vi­
vida em forma plural, apesar dos es.forços retirados de
muitos. A comunica ção lúdica mantém uma familia unida,
p o den do e•ta ser a de erigem, adquirida ou a do traba­
lho. Mas nem uma nem outra mantém a unidade gregária
da humanidade, como ·acontece através do afeto expresso
pelo comércio. A simbiose complementar ludus-coletiva
se faz quando uma das partes encara sua atividade como
profissional; é o caso do garção, que já citamos e da pros­
tituta, que estabeleoe a ponte arcaica-coletiva, pois sua
atividade é profissional.
Os tra ta dos ínterpovos serão verdad eiros na med ida
que incluírem alguma motivação comercial: verdadeiro
elo entre os povos ou tribos, se se quiser ver em cada na­
ção uma t ribo .
40 JUAN ALFREDO CÉSAR MULLER

Neste plano encontramos a atividade intelectual dedu­


tiva e, como órgão, a visão. A cegueira impede a manifes­
tação coletiva, mas não a vida familiar; já a foJta, de en­
tendimento auditivo impede êste plano de vida, enquanto
é impossível o sexo sem o tato.
E note-se que a atividade cientifica, quando verdadei­
ra, tem sempre por fim uma finalidade econômica, e não
ideológico. A ideologia cabe no plano lúdico por não ser
cientifica e dedutiva, mas afetiva- A propaganda tem fina­
lidades coletivas e estabelece a comunicação via ludu6.
Temos agora a ponte que une cada plano estudado ao an­
terior.. Marx entendeu muito bem a união dos proletários
do mundo, através da comunicação coletiva; esqueceu, po­
rém, que sómente a posse, o domínio da mercadoria per­
mite que a comunicação seja verdadeira. Em ordem de
importância, a posse coletiva é mais importante que a
comunioa Ção lúdica e esta é mais importante que a sexual
nos sêres maduros e machos. Para as fêmeas, as atividades
lúdicas e sexuais são mais relevantes que as coletivas, o
que diferencia socialmente o homem da mulher, além da
fixação feminina no pênis paterno como ressaltam os freu­
dianos.
O comunismo e o socialismo, portanto, não permitem
a comunicação masculina mais im,portante, o que torna os
homens infelizes e inativos. Por isso, predigo o desapare­
cimento dês te sistema e conômi co , dei�ando, quem sa!be, u1n
lastro: a liberdade de pensamento e de oportunidades.
A ideologia suíça de 1291 equivale à tentativa france­
sa de igualdade, que se exacerba neuroticamente no comu­
nismo, o qual não permite o domínio da coisa comunicada,
obrigando seus seguidores a encetarem outras funções,
como a do impossível domínio político do mundo. Observe
que o gesto de saudação comunista - levantar o braço com
a mão fechada - simboliza rejeição coletiva, mmpensada
pelo mecanismo da camaradagem. Hoje, na Rússia, já se
ALQUIMIA MODERNA 41

ptirmitem algu mas formas de expressão coletiva, (a co­


uwrcial) mas restringiram ao mesmo tempo a total liber•
<lnde arcaica, válvulà que antes se tinha aberto para com­
p"11Hnção.
Compare o gesto comunista ao nazista: no segundo se
1micura, com a mão aberta, o contato com o arquétipo
ideal, com o superego, da mesma forma que os norte-ame­
ricanos tentam fazer, bebendo leite; mas, aqui, a procura é
filogenéticamente mais antiga, pois se procura a Mãe e
não o Pai.

Que são as crises econômicas se não discordâncias en­


tre o tempo astronômico real e o tempo comparado dêste
plano? Inflação e deflação são mecanismos que muito têm
a ver com isso e falo assim esquecendo a minha época,
onde as crises tinham, quase sempre, motivações higiêni­
cas - pestes - e 'escassez de produção. Os progressos da
atividade dedutiva da época atual permitem equilibrar,
cada vez mais, os problemas desta faixa.

{)s simbolos que compõem o plano sexual já os estu­


daste na Psicologia; os que compõem o plano Indico são
representados pelas etiquêtas sociais. O do plano coletivo
é o dinheiro, ou melhor, o ouro, já que o dinheiro é o
sim.bolo do símbolo. A sua ciência chama-se hoje Econo­
mia, embora seja o reino da Psicologia.

Quer dizer que o ser se movimenta na vida, pela es­


colha, (real ou simbólica) porém há 1J1hrigação de es­
colher, e isso prov ém de coerções fisiológicas (fome,
sexo etc-) ou por motivos de comunicação ·afetiva (ati­
tividade lúdica). O afeto é, portanto, a projeção de um
fato externo ou interno, sendo que esta instância é
ineludivel, e, não sendo convenientemente resolvid.a,
criará uma doença - na d oença "sobra!' a atividade
mal exforiad.a, que a percebemos como falta.
42 JUAN A·LFREDO CSSAR MtlLLER

- Magister, embora não o tenha dito, parece dedu­


zir-se do que falamos que os traumatismos registrados pelo
ego são os que provocam um comportamento menos gregá­
rio ou menos a propriado à estrutura social ou física do
ser em questão e que, quando a neurose infeli cita o individuo,
chamamos êste mal-estar de neurose pro priamente dita;
mas quando o problema caus·ado por um comportamento
anti-social ou antieconômico. afeta em p rimeira linha a
sociedade, em lugar de afetar principalmente o próprio
ser, chamamos de psi cose, criminalidade etc.

- "Efetivamente, o jul gamento que fazemos dos sê­


res têm um valor lúdico; julgamos no piano lúdico até o
ladrão, pois êste nos tira objetos de u tili dade lúdica. Não
existe latrocínio no plano arcaico, porque o que nos é rou­
bado é o companheiro ou companheira lúdica, não o ob­
jeto sexual.

Assim, no plano do homem comum, a atividade reli­


giosa também é lúdica; as igrejas são ofician tes lúdic os, es­
pécies de clubes com finalidade religiosa, ou melhor, de
procura de fenômenos paranormai s, sem uma inv es tigação
racional , já que a análise cultural e fenomenológica· do
aspecto re l igioso é uma ati v idad e nova nesta civiliz·ação.
C a da seita religiosa atua como uma sociedade científica ou
um clube de futebol. Precisamos do simbiótico sintônico
especializado para podermos estabelecer uma comunicação
eficiente. Na igreja dos p ai ses católicos, a comunicação
es.pecfalizada é obtida através da diferenciação das ordens,
que atuam no conjunto exatamente como seitas ou clubes
diferentes, degladiando-se pelo poder central, número de
igrejas, número de " s óci o s" etc, o que absolutamente não
li l'a o valor terapêutico da atividade destas congregaçõe s.
Penso, inclusive, que cada congregação religi o sa atrai, em
função de sua estrutura, fenômenos paranormais diferen­
tes e especializados. A especializa ção seria fruto dos as-
ALQUIMIA MODERNA 43

pectos de apresentação ou capac id ade esp ecifica do in­


consciente reunindo os p arentes gen ético s.
Estas palavra s podem provocar uma que da em sua
religiosidade; todavia considero isso necess ã rio para que
recons truamos a religião em um nível muito mais elevado;
entenderemos e ntão que Deus nos fornece., diàriamente,
milhares de bençãos, que a vida é séria e deve ser apro­
veitada, mas que a: responsabilidade é inteiramente nossa
e não de Deus. Quando responsabilizamos Deus p el as coi­
sas que acontecem, estamos fazendo uma· cômoda projeção;
criando um,i. dep endência injusta para com o Todo-Pode­
roso e não nos eximindo de nossas culpas . A confi ssão exi­
me quem confessa de suas culpas num plano psíquico; toda­
via, nã o o faz num pl an o de comunicação ou de real id a d e.
Mas, por êste motivo mesmo, a comissão é, verda deira ­
mente, necessãria; ela amenim a culpa psíq uica e nos
permite recons trui r o que devemos reconstruir. Pois, dià­
riamente temos nov.as oportunidades. O arre p e n d imento é
uma oportun idad e para fazer melhor."
"Deus é n osso amo, mas vivemos na naturez a e esta
nã o tem amo: rege-se pelos princíp ios que lhe são pró prios·
Nós, sêres humanos, que vivemos na natureza, dentro do
mundo tridimension al, l emos que aprender a conhecê-la
para poder dominã-la. C onhe ce r é a tivi dade do pl ano co­
letivo e todo s os benefícios dê st e plano vão-se refletir nos
outros. A si� ologia do al quimista, que sabe fabricar ouro,
s ign ifica que, pelos seus conhecimentos, êle tem capacid a de
de se defender no plano coletivo. Isso não quer dizer, po­
rém, que o a lqui mis t a que sabe f.a zer o uro sej a livre, pois
po d e ter fortes tendências a se proj e t ar; é, j ustament e, o
que você de ve evi tar : proj e ções , i dentificações, para, afi­
nal, ser livre . A i nd ependên cia farã de você me s mo, não
mais transmutável, porém transmutante catalítico."
CAPÍTULO IX

A DOUTRINA ZEN

- Magister, fale-me sôbre a doutrina Zen.

O importante nesta seita religiosa do Ja.pão é a exis­


tência de um sinal externo nos que atingiram sua mela
suprema; seria,. na sua linguagem,as pessoas livres
de neuroses. :&!te sinal - O SATORI - manifesta­
se por uma i ntensa explosão psicomotora; riso, chôro, .

transpiração e até câimbras. Deve ser observado por


uma pessoa de hierarquia maior que a da que sofre o­
Satori. Sómente aquêles que tenham passado por Sa­
toris visíveispodem chegar a ser bispos de uma igreja :

Zen. Como nos siste:mas psicológicos ocidentais não


existem tais sinais, utilizamo-nos de a test ados ; não po­
demos por isso falar do aproveitamento da psicotera-·
pia, em têrmos de expressão individual. Em nosso sis-.
tema, a capacidade comunicatória nos trê s planos já
exp licados é que constituem sinais de equilibrio. Para
o discípulo Zen, no entanto, saber dormir e acordar na,
hora que quiser, ter saúde objetiva e subjetivamente,
e ter sorte, isso e, não sofrer ·acidentes, é que consti-·
tuem sinais de equi!ibrio. Para o Zen, a sorte se ex-·
pressa na capaci dade de se salvar de um acidente; esta·
sorte seria considerada na Igreja Ocidental como obrâ:
46 JUAN AILFREDO CliSAR MULLER

do Anjo da G11:arda. Mas Você, como psicólogo, embora


não negue a existência do Anjo da Guarda, já que
acredita em Anjos e, se não acredita, deveria f·azê-lo,
pois .poderia vê-los durante a Missa, sabe que a pro­
teção é abl"a do inconsciente.

O saber dormir e acordar, quando se tem vontade, prova


o domínio fisico do corpo, e, portanto, diminui a predispo­
sição para as doenças psicossomáticas· As pessoas que
desenvolveram esta capacidade libertam-se do absurdo
cultural, que é precisarmos dormir oito horas para gozarmos
de saúde. O sono deve ser regulado ,por motivações de tem­
po comparado, como todos os mecanismos psiquices e,
portanto, oito horas de sono pode ser demasiada em algu­
mas ocasiões e pouca em outras. Você também já deve ter
observado que é possivel dornúr "depressa" ou "devagar".
Ter saúde significa ler o organismo em ordem; e isso é
importante quando existe um motivo místico para se ser
saudável, e não um econômico. A suprema contemplação
só pode ser feita quando o corpo físico se encontr.a em
ordem e quando houve um entendimento unitário do con­
junto do ser; não se enxergam o figado, os rins ou o san­
gue, mas se entende que cada célula do corpo é um; ser
vivo e que tôdas .as células em trabalho ordenado formam
o corpo humano, da mesma forma que muitos corpos hu­
manos formam o corpo social de uma nação. A vivência
que você teve com o ácido lisérgico, sentindo que milhares
de homiúnculos saíam de seu corpo antes de você morrer
subjetivamente e retornavam quando você renascia, tem
o mesmo significado; a representação das células de seu
corpo sob a forma de pequenos homens vem do falo de
você ler Goethe assiduamente; se você fôsse discípulo da
escola Zen teria visto pequenos Bodas,
Ter sorte significa saber proteger o corpo fisico de
possíveis acidentes. Existem inúmeros motoristas, por
ALQUIMIA MODERNA 47

�urnmplo, que provocam acidentes por motivos inconscien·


li'�; mas sefôssemos examinar a vitima do acidente cons­
l11l11riamos sua estrutura é muito semelhante à do
que
·1'.1H1sador do fato. As pessoas que se queimam quando co­
�lnbnm, resfriam-se ao menor vento, torce m o pé ao saltar
do ônibus etc. dão indícios de falta de saúde psíquica, de
neurose; já os Zen definem êstes acidentes como falta de
·sorte, utilizando, pelo menos, uma palavra mais feliz que
a palavra neurose, a qual não tem mais razão de ser, pois
exprime um sintoma e uma origem que não mais existem
-e, q u em sabe, nunca: existiram.

Os japonêses utilizam a Magia para conseguir "ter


"
·HOl'le ; meditam sempre de olhos abertos, para evitar os
�levaneios da mente, sendo que algumas seitas fixam a pa­
rede; utilizam-se também de um instrumento, como o arco
� a flecha, as flôres, o chá, o judô e a espada; o instru­
mento não di\, val idade à autop esquisa, mas facilita a atua­
.çüo da simbologia inconsciente e permite vigiar a t erapia ,

pdo8 J>Ollições tomadas, de modo muito mais simples que


nlruvés doe com)llicados testes modernos, O culto Zen é
mais refi nado 11ue os cultos africanos - macumbas - e
menos idealista que o Oc iden tal - o qual se contenta em
usar como instrumento uma v ela , assemelhando-se, neste
uspecto, às rodas tibetanas de orar. Esta terapia oriental
:alua sem necessidade de verbalizar, evita·ndo os perigos
de uma inflação psíquica e, ao mesmo tempo, enfatizando
'° fator transferência, que é o próprio fator de cura. A
transferência é como o calor do corpo da mãe que vivifica
uma criança doente, e, através do chá ou do arco e flecha
·se chega a uma tran&ferência intensa, dirigida não sõmente
·ao terapeuta, mas também ao instrumento. Quando se acre­
dita que um abjet o poderá nos auxiliar a alcançar uma
meta, está-se fazendo magia. A Yoga física é magia tam­
·

'bém, embora não se possa dar uma explicação racional e


fisiológica sôbre o efei to das ginásticas. O corpo é o . ins-
48 JUAN A·LFREDO �SAR MULLER

trumento da Yoga física. A Yoga não pode ser utilizada


pelo homem comum, porque seus frutos advêm, após mui­
tas horas seguidas de aplicação e as nações ocidentais em­
pregam por enqwanto seu tempo empreendendo o domínio
da matéria.
Fiz o elogio da doutrina Zen, mas não o aconselho em
sua vida de tra bal h o . O Zen é ainda oriental; todavia o
seu conhecimento detalhado terá imensa utilidade no ace­
leramento das terapias, .pois trabalha mais em nivel psi
que em nível de verbalização.
C APÍTULO X

QUE É A HOMEOPATIA?

- M:nRIHl11r, 'l'"~ ,6 11 Homeopatia?

llomoopníi-11 não é o fato de ela en-


O l111pol'l111il11 n11
cio sc111olhnu tc din omizado, roas sim
1111111• 11 ouro. 11.ll:nvóH
1ull Hêl' li pdm h·u• nllvl<lu<lo rn6cllcn que dá mais ênfase
/\8 11t1 lxllS do 'paciente 11ue à reolidudc objetiva, embora
l\1110 n o 9 jo., de forma alguma" negligenciada. Ela atende
o 11.Htüdo mcnt.o.l da mesma form-.. que a Psicologia clínica,
mnij :to ollzo a doença de uma angulação lúdica, econômica
í1tc. Paro a medicina oficial, doença que não tem coinpro-
VnQllO objetiva não é doença; cai no plano da: inveracidade
1111 1h1 psiquiatria, conforme os sintomas. Na HoID1eopa.Ua
1111 •'NlJódios possuem uma intelequia mental; é sim'bolo
111111 H!I roi•nece para curar arquétipos inexistentes, ou seja.
1111 llOÓJ'(IO com esta · interpretação, doença é um,a carên-
11111 11 li o mn excesso. Além do mais, tal como a Psicologia
11llul1•11, seu campo de ação é ilimitado. O julgamento
h11uiluJ do homeopata é, tainbém, igual ao do psicólogo;
11111))09 nílo acreditam que o fígado ·e o coração estejam
1lo11lll!1H, mns sitn que o ser unitário é que necessita de
rillMlllu; OR liomeopatas falam que tal paciente está pre-
11ltt11111lo ele corbo ou beladona·, porém não dizem que se
11111111111!·11 t1m n hlpotensüo febre alta, tal como o psicó-
h1 11 Jr•11fo1'] 1·ú dizei' que paciente precisa de uma terapia
48 JUAN A·LFREDO dlSAR MULLER

trumento da Yoga física. A Yo ga não pode ser utilizada


pelo homem comum, porque seus frutos advêm , após mui­
tas horas seguidas de aplicação e as nações ocidentais em­
pregam por enquanto seu tempo empreendendo o dominío
da matéria .

Fiz o elogio da doutrina Zen, mas não o aconselho em


sua vida de trabalh o . O Zen é ainda oriental; todavia o
seu conhecimento detalhado terá imensa utilidade no ace ­

leramento das terapias, .pois trabalha mais em nível psi


que em nivel de verbalização.
CAPÍTULO X

QUE É A HOMEOPA'I1IA?

Mn!jlHlel', Cj\lll é a Homeopatia?

tu1po1•tn11l11 nu Hcunuopufi.i� níio é o fato de ela en­


O
cc•lnr u curo. ulruvéH do scmclhanlc dinamizado, mas sim
por ser a primeira· atividade médica que dá mais ênfase
ús queixas do ·paciente que à realidade objetiva, embora
esta não seja, de forma alguma, negligenciada. Ela atende
o mundo mental da mesma forma, que a Psicologia clinica,
mas focaliza a doença de uma angulação lúdica, econômica
etc. Para a medicina oficial, doença que não tem compro­
vação objetiva não é doença; cai no plano da inveracidade
011 da psiquiatria, conforme os sintomas. Na Ho�opa.Ua
OH remédios .possuem uma intelequia mental; é símbolo
ciuo se fornece para cura r arquétipos inexistentes, ou seja:
cio acôrdo com esta interpretação, a doença é um,a carên­
cia e não um excesso. Além do mais, tal como a Psicologia
clínica, seu campo de ação é ilimitado. O julgamento exis­
tencial do homeopata é, também, igual ao do psicólogo;
ambos não acre ditam que o fígado ·e o coração estejam
doentes, mas sim que o ser unitário é que necessita de
auxílio; os homeopatas falam que tal paciente está pre­
cisando de carbo ou beladona, porém não dizem que se
encontra com hipotensão ou febre alta, tal como o psicó­
logo preferirá dizer qu e o paciente precisa de uma terapia
50 JUAN AiLFREDO CliSAR MULLER

de apoio, nova orientação profissional ou uma psicotera­


pia, ·a dar um diagnóstico. Para um conhecimento univer­
salista é impossivel diagnosticar. &te tipo de diagnóstico,
pró,prio dos alopatas, é conveniente aos dentistas, aos os­
·teólogos, que trabalham com a parte mecânica do corpo
humano, com estruturas rigidas, mas não aos psicólogos
que manobram com os afetos e, portanto, com a mente.
.O diagnóstico não existe para a forma de pensamento
universalista; o que seria para o alopata um diagnóstico
é para o homeopata e para o ,psicólogo moderno um( prog­
nóstico. Devemos pensar em têrmos de prognósticos e não
de diagnósticos, porque as fluências são constantes; nada
é definitivo; nunca sabemos qual a ingerência psi do nosso
trabalho ou da oração de alguém que tenta ajudar uma
pessoa que se encontra em dificuldades. E neste plano,
as orações, que são da alçada psi, também funcionam,
porém .com uma diferença: as orações pertencem ao plano
lúdico e o trabalho de psicoterapia pertence ao plano co­
letivo de comunicação, de ingerência. A Homeopatia é
importante para criarmos, mais tarde, uma nova topogra­
fia psiquica.
CAPÍTULO XI

llli:LAÇAO ENTRE A KINESTESIA LúDICA ZEN E OS


CACOETES

Mttultt hll', 11M lnl'oçu-me se a kineslesia lúdica do Zen


·111111 11 1n ·11ul11d1·0 ·om os cacoetes, já que ambos são movi-
U llltl\' QH com valor simbólico.
··- "O cacoete é uma ·autodefesa já muito bem estu-
<IU; todavia, você tem razão em pensar que, além do
tttiu valor simbólico, o cacoete produza, conforme o mús-
culo q ue estiver sendo movimentado, uma determinada
substl\ncia qulmica, ainda desconhecida por nós, e que
'iíquilibra outra substância, produzida pelos conflitos da
mente. Assim, a movimentação ordenada da musculatura,
:11ue as práticas Zen sabem provocar, iriam acumulando no
organismo determinada substância que lhe permitiriam se
iJiber tar de outras. Esta mesma doutrina, levada mais lon-
ge, nos permite ~nsar que as demências serão um dia curá-
veis com a mera ingestão de um produto apropriado. Aliás
é êste o pensamento da Acopunt·ura que cura modificándo
a condução energética no corpo. Também esta medicina é
de um valor inestimável e, na sua teoria, aparentada com
a Homeopa·U.a. A Acopuntura pensa em têrmos de energia
desequilibrada, quando a Homeopatia o faz igual falando
em miasmas. Também esta medicina atinge o psiquismo
intensamente. Em troca, a não movimentação de áetermi-
52 JUAN A>LFREDO Cl!SAR MtlLLER

nadas posições da Yo g a estariam, no plano lúdico, ao par


das comunicações silenciosas, tal como Moser, agora que,
mesmo sem falar coisa alguma, se comunica conosco uni­
camente por sua presença. Assim, existem cacoetes por
carência, por impossibilidade de fazer um determinado
movimento. As neuroses ditas não clinicas, sem sintomas
motores, fora m geralmente mal observadas; elas são "sê­
cas", p o is impedem um movimento, que ta lvez pud esse ser
alcançado através do Zen. Assim como o arqueiro sagrado
- o Mestre Zen nes&a arte - pode penetrar profundam ente
no centro do alvo, mesmo estando desnorteado e no es­
curo você também deverá educar seu incons c i ente para
acertar o alvo do mal, prov o cando a sua remoção, espe­
cialmente as neuroses que afetem as atitudes que for m em
o grande destino. E iss o não ·é obtido pelo conhecimento
concreto das mais variadas formas de auxiliar os outros,
embora sejam indispensável&, mas sim através da iniciação,
da aquimia. Dentro de vinte anos, declarar-se as trólogo ou
alquim,ista não será mais prova de ignorância ou incapa­
cida�e. Os tempos mud am e no ano de 1950 entr amos em
um nõvo ciclo, que aceitará estes verdades esquecidas, que,
se forem negligenciadas, é porque não eram necessárias no
momento. Quen!lo precisam o s de alguma coisa, Deus a

fornecerá, permitindo que alguém volte a descobri-Ia."


CAPÍTULO XII

FUNÇÃO DOS C1RIOS E DAS " COMIDAS-DE-SANTOS"

- Magister, entendi o que é o Zen e a Yoga e. agora


tl<'Hcjaria que me explicaS6e a função dos círios e das "co-
111idas-de-santos".
- Nos dois sistemas que vimos antes, se quer alcan-
111u: a perfeição de uma meta alterando a forma de vivên-
clt\, assemelhando-se (neste polito). à psicoterapia, onde o
paleólogo acha que o templo é ·o homem em si. Quem
queima círios ou oferece alimentos utiliza o lado homeo-
mól'fico dos slmholos aromáticos, os quais têm tarito valor
q\111111•> on «ilnbolo·a gráficos e são mais comuns em civi-
l l~11~1lfott 't111l tll'llll'o~ 1l forma coletiva - visual - de ex-
l)l 't1~ttn u . AmhoK Oíl sistemas são olfativos, (semelhante à
([Uul n1u de Incenso) têm uma forina de expressão arcaica
e não intelectual e nelas o ser projeta o seu inconsciente,
criando fora de. si os deuses ou o Deus. Com -isso não
quero dizer que não existem os deuses, mas é difícil que
um ser normal entre em contato com êles; o mais comum,
dentre os fenômenos psíquicos, é a projeção do incons-
ciente familiar, pessoal ·o u coletivo, que se identifica com
uma "entidade", como falam os espíritas. É frequente, em
se falando da projeção de uma parte inconscienl.e, que
um artista, por exemplo, crie uma imagem de Nossa Se-
nhora e depois se identifique com ela, achando que· a ima-
54 JUAN A·LFREDO CBSAR MtlLLER

gem lhe fala. &te é um caso de autofagia psiquica: o


criador é devorado pela sua própria obra. Da mesma for­
ma, quem acredita que acendendo uma vela conseguirá o
que deseja, deverá fazê-lo, pois isso pode funcionar inclu­
sive como uma auto-hipnose di' rigida para um determinado
fim. Além do mais, não podemos fazer aqui a separação
do que é mistice e do que é psiquice, pois demandaria
explicações alongadas. Verifique que a Medicina utiliza me­
dicamentos para curar, espera ajuda de fora, como nas
religiões em que o Deus é externo e não interno. F.quivale
a acender uma vela ou pedir conselhos a uma entidade.
O Zen, o Yoga, o alquimista, o psicólogo pretendem
modificar os planos internos do ser para que êste se en­
caminhe à sua meta, sem necessidade de projeções. O me­
dicamento age enkineticamente como a psicoterapia em
nível psi ou, como um círio.
Um sisfema que você também deveria conhecer, por
seus resultados efetivos, é o sistema Kuhne de banhos es­
peciais, que se inclui entre as yogas ocidentais. Os resul­
tados alcançados atMvés dêste sistema para com os pro­
blemas psíquicos são importantes. As bases filosóficas para
a hidroterapia não foram aventadas por seu autor.
A medicina pretende remover os sintomas. Com isso
está curando. Não quero criticar. . . Apenas desejo obter
um quadro de audiência com a necessária participação afe­
tiva. Lembre-se do efeito Doppler, que deforma o som da lo­
comotiva que passa correndo ao nosso lado; o mesmo acon­
tece com a atividade dos outros que se cruzam conosco: o
apito do nosso trem também não é ouvido por êles, conforme
nós o emitimos, porque o nosso trem e o do outro estão
ativos, correndo, atendendo ao chamado da vida, que é
continua luta."
- Magister, então as "entidades" dos espiritas e os
Anjos da Guarda são apenas projeções?
- "Não. &tes sêres existem. Os primeiros são sêres
ALQUIMIA MODERNA 55

111111 descarnaram há pouco tempo e ainda se encontram


11111 plu nos próximos ao físico. Os segundos
se aproximam
1111 nosso plano para nos ajudarem, atuando seguramente
1111 plano psíquico e são pressentidos por seu lado homeo-
1111'11"fico. Se você acredita na história de Tobias, que se en-
1•1111lra na Bíblia, não é necessário que eu fale coisa alguma.

- É verdade. Lembro-me que o Anjo que acompanhou


Tobias fêz com que êle queimasse o fígado de um peixe
<� utilizasse sua gordura como proteção aos maus influxos
da prima longínqua; fêz magia aromática - olfativa -

e também táctil, através da sensação da gordura no corpo.


Utilizou-se de um sistem11 arcaico de defesa contra o in­
consciente da futura espôsa. Hoje, teríamos aconselhado
uma psicoterapia para ·a mulher, a fim de descobrir a mo­
tivação que lhe fazia rejeitar os maridos e matá-JÓll tele­
kinesicamente.

- "Telekinesia e enkinesia são palavras do vocabu­


lário parapsicológico. A primeira estuda a propriedade do
inconsciente de nwvimentar, atuar s&bre a matéria sem
necessidade de um veiculo físico. A se·gunda se ocupa do
fato de as "doenças serem palpáveis", serem objelos psí­
quicos e poderem ser transferidas de um ser para outro.
Os curandeiros trabalham enkineticamente; quando curam
uma pessoa passam a sentir nêles mesmos a moléstia, salvo
se usarem al gum animal. O "mau-olhado" ou "ôlho-gor­
do" e outras formas populares de e·xpressar a pallSagem
de uma coisa má de uma pessoa a outra baseia-se no mtesmo
fato enkinético, com conotações negativas mas, nem por
isso, deixando de ser real. Para o psicólogo mediúnico
l\ste fato é muito importante, inclusive porque a enkinesia
llàmente pode existir como tal quando houver parentesco
f!Cnético:no estilo da escola de S.Zondi. Assim sendo, a
pergunta que se ouve normalmente do cliente, isso é, se o
psicólogo não fica com o mal do paciente, corresponde a
111110 verdade, que a medicina ou a psicologia não parapsí-
56 JUAN A•LFREDO C�SAR MULLER

quicas deixam de reconhecer, por não haver uma motiva­


ção econômica que permita o estudo dêste ·assunto.
Ela, a enkinesia, também atua como uma egrégora,
(isto é, uma unidade psiquica de fôrça, criada pela mente
humana). Poderíamos utilizar a bandeira de um pais no
lugar de um santo, um medicamento ou um passe: o re­
sultado, possivelmente, seria semelhante se se acreditasse
nisso. A fé, em têrmos de psicologia, consiste numa trans­
ferência p osi t iva com alguma coisa, até com uma idéia.
E ja dissem,os que a transferência é o melhor remédio, pois
ela permite enkinesias e telekinesias."
CAPÍTUW XIII

QUE É A ASTROLOGIA?

- Magister, o que é a Astrologia?

- "É uma ciência antiga que interpreta a pos1çao


dos astros na predição ou retrogressão. Disse ciência porque
ela, como a Estatística, a Agricultura, a Meteorologia e
tôdas as outras, têm por finalidade a tentatíva de predizer
o resultado de um esfôrço, indicando um possível caminho.
Quando um engenheiro calcula uma estrutura de concreto
prediz que, para que a construção não desabe, é necessário
tais e tais medidas. Tôda ciência pode ser conside­
rada como tal quando puder predizer com uma mnrgem
calculada de êrro. Na Astrologia não é possível predizer
com uma margem determinada de êrro porque é preciso
utilizar fatôres paranormais para sua interpretação cor­
reta e a paranormalidade é fator inconsciente, não gover­
nável pelo intelecto· Um dia ficará demonstrado que êste
fator intervém em tôdas as atividades humanas. Por isso
mesmo, a Astrologia é também uma arte, como o são a
de curar e tantas outras. Quando uma atividade humana
é arte e também ciência, podemos ter certeza que é com­
plexa, harmônica e subjetiva.

A Astrologia é uma linguagem que tenta descrever o


arquétipo individual, tendo em conta os .fatôres que
58 JUAN ALFREDO Cl!SAR MULLER

tecem o destino humano. Definamos as palavra "lin­


guagem" tal como fará Herdan dentro de alguns anos:
"língua é uma população, da qual o discurso é uma
amostra; ela combina um número finito de símbolos
- energias homeomórficas - para formar uma ca­
deia infinita de combinações logarítmicas e unidimen­
sionais. As suas regras estatísticas não se acham
regidas pelas leis de causa e efeito mas pela teoria do
acaso com variante, a lei Bose-Einstein".

Se eu disse que o destino é um1 arquétipo individual.


você deverá entender que êle deverá ser inexoravelmente
cumprido, mas não necessariamente no mundo da reali­
dade (1) : pode ser atendido dentro do quadro simbólico
e isso de duas formas distintas:

a) Vivendo parte do nosso destino na pessoa de al­


guns dos nossos simbióticos sintônicos especializa­
dos - parente; profissão ou
b) vivendo simbólicamente o mandato arquetipal.
através da psicoterapia ou de medicamentos, des­
fazendo-se dêle na medida que tiver sido cumprido.
conforme o alcance do símbolo.

Agora você pode compreender porque disse que a


transferência é a causa principal da cura. Ela é percebida,
intelectualmente por nós, na forma de um entendimento.
A vivência simbólica, porém, é a transferência que nos per-·
mite esta•belecer um contato com um simbiótico sintônico
e, através dêle, modificar o nosso destino. O mesmo fenô­
meno pode se dar quando o paciente melhorar após ter

(1) Realidade 6 tudo aquilo que. oa nossos sentidos perceptivos.


nos obrigam a aceitar como tal, at' que um entendimento superior·
nos mostre a Grande Realidade. Esta definição kantla.na a reveremos.
depois.
AI.QUJMIA MODERNA 59

nnnHnllado um m ed iu m ou qu ando a vivência dolorosa é


lr1111HJ10l'tada e nkine ticam ente para o taumaturgo ou para
11111 m edicam ent o. Pode-se também adquirir um nôvo ar-
11uélipo ·através da lavagem cerebral.
A família é u m arquétipo familiar que une seus mem­
hi'08 a través da comunicação lúdica e cad a membro da
f11111Uia é um ag ente que vive uma parte especi aliz ada do
destino familiar por intermédio de seu arquétipo individu al.
Quando se diz numa familia que " fulano " é tão bom, mas
Hr.11 irmão é mau'', isso signif i ca que o que é "mau" se d i s­
pôs a cu�prir esta �te do arquétipo familiar socialmente
Inconveniente. Vemos, com frequência, que quando um dos
membros de um casal faz psicoter a pia há uma alter ação
na expressão comunicatória, deixando o outro em crise. In­
lerpret· o isso como fruto da in terrupção par cia l de uma
comunicação simhiótica, porque ela se estabeleceu em "L"
11m lugar do "I" costumeiro. (1)

Motivos políti cos e cu lturai s influiram no ap arente de­


Hnparecimento da Astrologia nas Universidades. No entanto,
no Europa renascentista, as quatro «/:'te& superiores eram:
A rit m éti ca, Geometria, Música e Astrologia. O Concilio de
Nicea a proi!biu, mas a tradição católica a conservou como
e le m e nto im portante do saber· Astrólogo reputado no Vati­
r.1mo é o bispo da Groenltmdia, bibliotecário da Igreja Ca­
tólica. Morin, astrólogo do cardeal Richellieu, era também
muito afamado. Por uma questão de orgulho, que também
possuo, lembro que a . domificação, que permite individua­
lizar o horóscopo pela hora, latitude e longitude do lugar
du nas cimento, foi criação minha, baseada na tr adiçã o de
1 Icrmes. Deveríamos qu alificar a Astrologia como um teste
111•ojetivo, tal como as pranchas de Szondi, TAT. Rorschacb,

(1) "L" e •11" alo denomlnacGes também da Parapsicologia.


Quando em "L". quer ae dtser, com a l)llrUcipaçlo d-e três sêrea,
M&nd.o o do m-eio vefculo dos outros dois.
CiO JUAN ALFREDO cgsAR MULLER

com a diferença que a Astrologia estuda uma personalidade,


sem a sua participação. Sob êste aspecto a Grafologia se
iguala à Astr�logia e por isso ambas são consideradas como
"ocultas". Muitas vêzes o "oculto" significa que estas ciên·
cias são difíceis de serem aprendidas e aplicadas, pois seu
sistema de pensamento e interpretação diferem do clássico,
aquêle utilizado no presente momento histórico.

Para fazermos total justiça ao conjunto dos testes de


personalidade, deviamos incluir também o I GING chinês.
Note que do �u ponto de vista sincrético e ·aculturante
nascerá um ponto de vista mais amplo sôbre os testes em
geral, imprencindivel ao bom desenvolvimento do trabalho
clinico. Não defendo, porém, uma técnica particular; cada
uma tem o valor que o especialista quer dar; é a projeção
do técnico e do paciente sôbre a capacidade de um sistema
qualquer que determinam a sua eficácia no trabalho de
desvendar a personalidade hum,ana. Diria, então, que a
Astrologia, como teste, é o mais completo, porque permite
saber o passado e o futuro do cliente com a mesma clareza
dos outros; para sua utilização clinica, porém, seria neces­
sário empregar computadores para analisar se são acerta­
das as formas de interpretação indicadas pelas antigas tra­
dições. Todavia, você não deve prender-se à Astrologia,
embora deva conhecê-la, já que tem uma forma analógica
de pensamento que é, pràticamente, a mesma da Psicotera­
pia.

Disse anteriormente que a história é tempo comparado,


função do ego: vejamos como poderemos interpretar astro­
lôgicamente êste fato, muito embora eu saiba que. você está
prêso • a tôda sorte de projeções que o ligam a determinada
forma de pensamento. O homem adulto, livre, que não se
acha prêso a nenhuma seita dentro do seu trabalho, sabe
pensar e admite que se possa pesquisar em qualquer plano.
Faça o mesmo: estude e verifique o que lhe é útil. A huma­
nidade sempre tateou na busca das grandes verdades;
ALQUIMIA MODERNA 61

hnpossível que não haja verdade num ciência que tem mi­
llmres de anos; caso contrário, já teria sido rejeitada.
Disse que a História tem um tempo astronômico objetivo
'' um tempo comparado subjetivo; o tempo comparado re-
1'1•1·c-se à velocidade angular do planêta em relação à terra
1• o astronômico à translação do mesmo dentro de sua
1\rbita. O tempo subjetivo é vagaroso, quando sofremos o
impacto vivencial de um planêta afastado da terra, é rá-
11ido quando contece recebermos, por exemplo, o impact0c
de Marte ou Vênus. Esta interpretação tenta reunir o pen­
samento da "escola antiga" de Duns Scott e da "escola.
nova" de Guilherme de Occam. A primeira acreditava na
inexorabilidade do destino humano; a segunda, na liberda-·
de. Sob o impacto das novas descobertas, ora nos declaramos.
a f.avor de uma, ora de outra. Por exemplo, quem havia·
contraído síd'ilis antes de Ehrlich (1909) acreditava que êste
era seu destino; qepois da de scoberta do 606, no entanto,
passou-se a •acreditar na liberdade de ação
. e na inexistência
do Destino.
Magister, me diga se a adivinhação faz mal.
Adivinhar é consultar o in co nsciente para futurição.
Futurir é uma atividade hUDllla
lil normal; ela é mesmo in­
dispensável para o equilibrio lranscendental.
A Igrej .a, ao falar do alé� faz futurição ; Heidegger,
no falar do - AN SICH SEIENDES - une implicitamente
o presente ·ao futuro. A Logoterapia de Frank! é um pro­
(:esso também semelhante, onde porém não existe a forma
oracular de expressão, mas sim a forma intelectual.

Definamos, então, adivinhação, diz e ndo que ela o é


quando predizemos analàgicam;ente: prediz e r é fruto
de uma atividade lógica - adivinhar, de uma inter­
pretação analógica.

A forma mais antiga de adivinhar era feita pelos povos


cnçadores que antes de saírem para uma nova viagem co-
432 JUAN ALFREDO C�SAR MüLLER

lhiam ao acaso várias pedrinhas ou !ocos de madeira num


saquinh o.- Ao fim do dia o abriam e contavam: vai ser uma
caçada feliz, não vai ser, vai ser. . . como no jôgo das pé­
talas das margarid·as, Dali para a interpretação das víscerás,
da fumaça, das nuvens, do trovão, do fogo, é um trecho
curto. Cada povo, teve sua forma predileta de adivinhação.
Os chineses, verificando as linhas dos pés, depositando uma
brasa no peito de uma tartaruga, verificando o caminho
percorrido por uma barata em mesa especial, ou pelo
1-Ging. O 1-Ging é um livro de oráculos, que .precisa de 64
espigas de arroz ou trigo para poder receber uma resposta ,
É a forma mais avançada de adivin h ação, porque, além de
descrever uma situação, fornece um conselho, para mudar
os fatos desagradáveis ou para manter os que são agra­
dáveis.
Os jude u s utilizavam os baralhos. Os árabes, a escritura
.e as lin�as das mãos. Os etruscos, o trovão, os romanos, o
nomem, isto é, o nome ou as vísceras. Os Caldeus, a •astro ­
logia. Tibetanos e Normandos, a bola de cristal· Os gregos
·preferiam a vidência direta e a resposta oracular que é
ambivalente, e que se adapta bem à estrutura ambivalenle
da lingua.
O Papa Bonifácio fêz adivinhação ao subir num
jumento e deixá-lo ir, para que o animal decidisse. Se to­
m,asse o caminho de Roma, seria .porque Deus queria que
-êle fôsse Papa.
Lembrando as investigações feitas em tôrno do cavalo
·sáibio, induzimos que o próprio movimentou de forma in­
consciente a sua musculatura, orien tando o cavalo manso.

Adivinhar faz e não faz mal. Vejamos: faz mal quando,


qualquer forma que foi utilizada para consu l t ar, o é com
excessiva frequência, quebrando a indepe n d ência pessoal;
mais que uma vez por ano, por exemplo. A Igreja que não
'P ermi te a adivinhação, tolera várias superstiç ões em tôrno
.disso, no dia de São João, pela forma que estOura a pipoca,
ALQUIMIA MODERNA 63

1111hHliluindo ela os búzios da Africa, ou na Missa do Ano


Nl\vo, pelo tipo de pessoa que vemos à saída da Igrej a , ou
110 nos levantarmos cedo etc.

O paranorm a l que faz adivinha ções, jai o dissemos,


(!recis a fazê-lo para achar o seu próprio equilíbrio. Também
()Je não deve adivinhar, em média, mais do que uma vez por
&emana, se não quiser errar. Adivinhar mov�nta inte nsa ­
mente o inconsciente, produz inflação psiquiea; é, portanto,
um risco t écnico, da mesma forma que o Rorschach - que
também movimenta o inconscient e e pode, em determinados
pacientes, provocar mal-estar. É também mais faicil que o
futuro, que foi verbalizado, se possa cumprir, simplesmente
llorque o consciente tenta programar o que foi s ugerido
durante a sessão de adivinhação; vai dai a res pons abilidad e
extra que o paranormal toma sõbre si.
Os que consult am adivinhos são em geral também pa­
ranormais, e no estado de percipiência precognitiva estão
mais indefesos a influxos que outros consulentes deixam
no local, podendo "sair melhores", "mais leves", como, ao
contrário, doentes d a consulta.
Sabendo que o destino pod e ser cumprido sim!bàlica­
ment�, quem, quiser melhorai-lo deve fazer uma psicotera-
11ia. Conhecê-lo é uma vaidade. Porém não é errar nem é
vnldade tentar com o intelecto construir um edifíc io con-
111•010 que permita uma entelequia do devenir, que nos ex-
11llque a morte, o outro lado, porque o homem é êle e seu
ruturo, passa do e futu ro, os dois juntos formam a histo­
ricidade do ego.
Os adivinhos orientais cobram pouco .pelo seu trabalho,
1>orque julgam que se fôrem caros comprariam ao mesmo
tempo uma parte do destino, do qual o eonsulente gostaria
de desfazer-se - e, conhecendo a enkinesia dos paranor­
mais, s ab emos que se êles ao trabalharem tiverem a minima
dose de sentimento de culpa, isso poderia acontecer.
O Rei Seul, diz a Bíblia, mandou m a tar a todos os
64 JUAN ALFREDO cnSAR MULLER

adivinhos e videntes, até que, desesperado ante suas derro­


tas, descobre ainda uma velha que se salvou do massacre,
e lhe prediz o que lhe •aconteceu efetiva�nte.
Resumindo, é licito fazer uso de alguma forma de adi­
vinhação, se isso não fôr feito com excessiva frequência -
porém, a adivinhação em si é mais pobre do que uma psico­
terapia, porque, mesmo que estivesse certa, não resolve as
angústias ou as dores previstes; então melhor é ignorá-111$.
Nos casos que julgues que o teu cliente merece a assistência
de uma futurição, usa a Astrologia que é -a mais racional e
realista das artes de adivinhar, mas faz uso dela só quando
as noticias fôrem agradáveis; no contrário cala-te, que para
ID!ás noticias semp11e há tempo.
CAPITULO XIV

QUE É MAGIA?

- Ma·gister, existe, acaso, a Magia·?

Ekam Sat (sânscrito - só um existe)

"Sim, a Magia é uma tentativa de transcendência exis­


tencia l expressa sob formas tecnológicas ou vivências."
(Magis, em latim - m.ais, acréscimo).

Para se fazer magia é necessário um i ns trumento que


otue como símbolo: seja o próprio corpo, como na Yoga,
Mcj am velas, orações ou alimentos. A ID!l!nte atua no plano
l'IKico, pelo princípio da telekinesia, e no plano mental do
[il'ilprio execut·ante do ato mági co ou sôbre um terceiro
lnmbém. A psicoterapia e muitas técnicas medicamentosas
Hno formas de magia; atuam P 2!'.- transp osição .<}e símbolo:
tlftHenho�yerbalizados (sons) ou IJerfumes. Talvez um dia
posBamos explicar a própria produçã.o de eletricidade por
geradores {1) a través de um conh e cimento mágico. A té c­
nica já foi chamada, por alguns, de magia consciente .

( i.) Diz Isso, porque se ignora exatamente o motivo da aeele­


rl\Qtio tnnlca que produz eletricidade.
66 JUAN ALFREDO O!SAR MULLER

Picco della Mirandolla definiu em 1530, aproximada­


mente, dois tipos de magia: uma positiva e digna de louvo!'
e outra chamada de feitiçaria negra que devia merecer a
condenação eterna.
Estas palavras de Picco della Miraodolla receberam
muita atenção durante a Renascença, quando a projeção de
Mefisto era muito intensa. Hoje, provàvelmente, fariam rir;
mas o caso é que muito poucos se ocuparam seriamente da
magia negra, já que havia uma proibição a respeito. Toda­
via, ainda hoje, muitos há que atribuem; seus males. ao .pen­
samento negativo de alguém que lhes queira mal; consul­
tam então os ,paranormais, que o mais das vêzes não têm
conhecimentos suficientes, mas que realizam os contra-ri­
tuais, que podem ter resultado positivo, dependendo da fé
do consulente.

Resumindo, vimos que, primeiramente, generalizamos a


palavra magia, para indicar uma técnica que quer alterar
nosso mundo vivencial de alguma forma; é, portanto, um
ato psíquico ordenado, que age através de símbolos. Em
seguida, vamos reduzir o tamanho da palavra, dizendo que
existem magias menores, como o "mau olhado", que são
projetadas nas pessoas sem ritual e as magias maiores, ou
seja, ou rituais organizados para um determinado fim.
Nas magias menores, trata-se de um,a transferência
enkinética e involuntária de ambas as· partes que têm pa­
ranormalidade e parentesco genético. Foi efetuado um
transporte energético de alguma coisa "negativ·a", deixando
a vitima sonolenta e confusa, pois quando se trata de alguma
coisa "positiva" falamos de uma bênção recebida.
Quanto às magias maiores já vimos que se trata de
rituais. Aliás, êstes rituais são muito frequentes nas reli­
giões africanas, como a umbanda, cujos deuses são pessoais
e se entra em contáto com êles através de um corpo mediu­
nizado.-O deus exige para si uma recompensa, pelo fato
'
de haver aparecido, ou por um auxílio prestado, através
ALQUIMIA MODERNA 67

de um titual. Devemos considerar o deus pessoal como uma


projeção de um setor da personalidade do próprio médium,
tanto que, cada Ogum possui uma caracterização especial
para cada médium que o encarna. Por outro lado, o con­
fôrto que esta religião oferece, dando a seu11 membros o
poder de "falar" com deuses, ;fará com que ganhe ainda
mais prosélitos nos pró ximos .a·nos. P.ara que. exercitar as
virtudes ou prat i car abstinências, cuja finalidade poucos
entendem? Voltamos às religiôell gregas com outros nomes.
E é nestas religiões que encontramos a magia virulenta. Ela
deve atuar enkinetieamente mas, desta vez, projetando um
arquétipo determinado; outr.as vêzes, pode atuar, talvez, por
um efeito de hipnose Y distância. {1)
No entanto, estas religiões podem trazer beneficias, re­
solvendo os trabalhos pedidos por alguém; mas hoje
poucas vêzes atuam realmente, talvez por razões de maior
individualização. da hum anidade. Em todo caso, a psicote­
rapia resolve definitivamente êstes impactos, mesmo que,
de fato, tenham acontecido: a ordem pós-hip nótica de não
obedecimento à ordem de "coisas feitas" também tem aju­
dado.

Além do ma is , o ambiente normal da magia das reli­


giões africanas se encontra entre aquêles que, não tendo
grande capacidade econômica, ·acabam encontrando na re­
ligião um derivativo. Todavia, é preciso lembrar que a
magia d e s t a s religiões pode agir, como tudo aquilo no que
acreditamos. E age muitas vêzes porque não temos padrões
de medida para estabelecer o contrário e distorcermos a
verdade em beneficio da nossa tranqüilidade ou intran-
1 1ü il i dade.

( 1) Os estudos do profesaor baiano Vitor Mattoe são a re&-


1•Hito muito elucidativos, provando que em ·Principio existe uma re­
lnçft.o matemática entre o ritmo da eletrlcid&de cerebral e o ritmo do
l.1Lmhor, sendo êste o fator externo desencad1eante da medlunlda.de.
68 JUAN ALFREDO C2SAR MOLLER

A magia, portanto, existe, mas a época dos feiticeiros


já passou. Os poucos que sabem realmen te aig uma coisa
não se entretêm com o comum dos mortais .

O a l o transcendente de transferência arquetipal, qu e


hoje é ob ti do através da psicoterapia, era, anti gamente, ob­
tido pela magia. A m is sa pode ser considerada como exem­
plo de magia. Todavia, o povo em geral tem uma. idéia
errônea de magi a, pois a Igreja Católica considera Iode>
fenômeno p al'.anormal , como a pré-cognição, levitação, me­
diunidade etc., como aspectos da ação do demônio, a não
ser que êstes fenômenos se ajustem às suas ne cess idades d1>
momento.
Não negamos a existência do demônio, porém, i nsi sti ­
mos que, dentro do aspecto psicológico, é uma proje­
çãode um setor da personalidade, chamado por Jung de·
SOMBRAÕ Conhecendo a virulência do incons cien te, pode­
mos imaginar a virulência do "demonius Ecclesiae". Talvez:
consigamos um dia fu nd os independentes para a investiga­
ção d ês tes fa!l>S, como J. B· Rhine que pôde inci ar assim
o eshldo da Parapsicologia; então muitas ·coi&as e&quecidas
, ,

jogadas no fundo do porão proibido, serão, para· as gerações


futuras, fatos norm'8is. E poderemos levantar um túmulo
ao feiticeiro desconhecido que morreu vi tima de sua época,
sem ser feiticeiro mas, apenas, um doente.

Ao falar de um túmulo para esta vitima, lembro-m e


que, entre 1428-29, em Wallys, na Suiça, foram mortas du­
zentas pessoas por estarem supostamente pra.ticando a fei­
tiçaria . Em 1486 os Padres Insislores e Affetibus foram in­
cu mb id os pela Bula Papal "Summis Desideranles Affelibus",
de I no cêncio VIII, de acabar com a magi a . Ji'.stes m esmos
padres escreveram em defesa do trabalho efetuado o livro
Malleus Malleficorum, descrevendo os efeitos da feitiçaria
que não eram nada mais que quadros hisleriformes e pa­
ranoídeos, que pertencem muito mais ao quadro da psi­
quiatria q ue ao da religião.
/\ 1. U ll 1 M l A MODERNA 69

<l111110H 1lc11cn!pu1· slu nliludc cultural por vários mo-


l t lHl t'Hüí1lll\1ílo do fcilicciro• é uma distração, como o
lOH &tudos Unidos u P"•·scguição aos pretensos comu-
·u ·, <>0\110 os pu'iscs comunislus perseguem os burgueses,
tl\ Culvino mulou Furrcl e depois Castellio por serem
111<\llcos. O motivo muis imporlnnte é que o pai tribal não
1111'llllle a emissão de slmbolos comunicatórios transcenden-
llH, sem a sua autorização, caso contrário chl!mará esta
1 1tl.(iu de negra. O dinheiro, slmbolo de comunicação, a sua
•j ·01~i.io para uso pessoal é magia negra e quem o fizer
(l11ttllgado, da mesma forma que ·a Santa Inquisição
nrt f>(l il'ht quem fabricasse um amuleto que, pretensamente,
11 1•111 o seu proprietário rico. A diferença estrutural entre
1111lioH (o falso moedeiro e o feiticeiro) se explica pelo fato
111 1111e a realidade econômica nunca foi encarada pela
t·cj a; ela abarca sõmente a realidade psíquica, esquecendo
1ue ambas são planos de comunicação e fazem parte da
•ealidade in.tegral do ser. Esta dicotomia tem uma raiz his-
órica : durante todo o despertar do mundo cristão as pos-
sibilidades econômicas eram pequenas e assim convinha
apregoar um paraíso perleito e, ao mesmo tempo, que -a
busca de bens materiais era neglígenciável, não fazendo por-
tanto parte do plano psíquico (1).
O titulo universitário é a aprovação implícita de efetu·a r
atos determinados de magia e isso não sõmente com os
médicos mas também com os outros títulos acadêmicos,
;pois que é um petitório juridico, se não uma entrevista
com um deus todo-poderoso, o juiz, que tem direito de vi-
da e -morte sôbre nós?
A Espanha de 1850 vivia ainda numa estrutura medie-
;val e seus doentes, portanto, tinham expressões patológicas

(1) A bula do Papa Pio VI "Populorum Progresslo" publicada


após êste trabalho Já ter sido escrito, contradiz as palavras acima e
nos mostra uma nova Igreja, amantfaetma e coletivamente carldoaa.
70 JUAN ALFREDO CJ!SAR MULLER

igualmente medievais, como constatamos, por exemplo, em


Goya que era possuído por alucinações comuns na Alema­
nha três séculos antes. Antes da perturbação total de sua
personalidade, invadida· pela paranóia, Goya ainda pin­
tava e o Museu do Prado, felizmente, guardou êste teste­
munho da sua demência. No início dêste século os doentes
mentais imaginavam instrumentos à base de eletricidade
que os martirizavam; agora imaginam microfones micros­
cópicos que foram, secretamente, .alojados no interior de seus
corpos. Ain da bem que êste tipos de alucinações não são
considerados: da faixa da magia. Nihil obstant, a magia
existe e, é praticada, às mais das vêzes por uma tradição
inconsciente, que se perde na noite da História (2). Ainda
hoje existem magos que praticam rituais, porém, com todos
os seus conhecimentos já não têm ínterêsse em prejudicar
ninguém, assim como o médico nunca operaria para fazer
mal; se assim agisse estaria· praticando magia negra, com
ou sem a autorização do pai tribal.

(2) :f: o caso do ferreiro que bate na bigorna três vêzes, antes
de iniciar o ae.u trabalho. Está conclamand"O Apolo, para ajudá-lo
e .no tempo em que o .ferro valia mala que o ouro era natural que as­
Blm ae fizesse - bojei é um ato de magia incon ie !! feita sem
sc nte
Dber-ae o porquê.
CAPITULO XV

PLANO DE PESQUISA DOS TEST

Magister, falando em test, poderíamos definir o plano


de pesquisa que cada um abarca?
Vimos anteriormente que Test é uma tentativa de ace­
lerar, por diversos meios, o entendimento que preci&amos
possuir intelectualmente a respeito de cada ser; é uma
forma projetiva -de expressar a nossa Weltanschauung e
onde ambos, técnico e cliente acreditam na sua eficácia.
Por isso o numero de test é enorme, infinito, diríamos. E
você quer que eu defina em poucas palavras o plano de
cada um? Cada um tenta estudar um setor especializado
da conduta no seu asp ecto de epifenômeno do ego, já que
o endofenômeno fica no plano da conversão psíquica das
fôrças atuantes.
Comentarei aquêles test que você mais aprecia, reite­
rando que há outros válidos também.
Grafologia: interpreta o movimento da personalidade
em suas minli.cias; sendo o estudo do movimento, é um
test lli.dico ou ao menos um test que estuda as interrelações
Ili.dicas da personalidade. Nos países católicos, onde a Igre­
ja é o grande oficiante lli.dico, a Grafologia não tem muitas
possibilidades de chegar aos pínc a ros da aceitação publica.
Também, por ser possível estudar uma personalidade sem
sua: participação ativa, foi posta ao lado da Astrologia e,
como ela , mal compreendida,
72 JUAN ALFREDO C�SAR MULLER

Quer dizer que Astrologia é também um test?


Sim, o único completo e total da personalidade, já o
disse, e dispenso mais detalhes sôbre isso.
E o Rorschach?
rue estuda o epifenômeno reativo da personalidade
ante as viscicitudes da vida, onde o fornecimento das vis­
cicitudes é feito em forma de símbolos, contornos, sombras,
e nós medimos com êle as reações que o sujeito é capaz
de provacar ante as mesmas. Nêle encontramos, se bem
trabalhado, os .três planos básicos de comunicação e ain­
da poderíamos achar o plano místico também.
E o teste do Szondi?
É semelhante ao Rorschach, por medir o mecanismo
de adaptação às exigências exteriores, porém êle também
mede as exigências mais ocultas da personalidade e a for­
nta com que o ser precisaria poder expressar estas exigên­
cias. Por . sua profundidade é um parente da Astrologia,
inclusive pelo sintético que êle é, exigindo também para­
normalidade para sua interpretação correta.

E os test que tentam medir o quociente intelectual?


Estes medem a memória e a posição social ao mesmo
tempo e, por isso, já o disse �ambém, são de valor duvi­
doso no trabalho clinico, porém; de um enorme valor co­
mercial, pois afinal de contas o comércio e a indústria
querem sa·ber justamente sôbre isso, para êles não inte­
ressa alterar a personalidade, porém aproveitá-la. O êrro
é de utilizá-los, para fins clínicos ou pedagógicos. No mes­
mo plano se encontram todos os aparelhos utilizados pela
psicotécnica. Felizes dos .psicotécnicos, êles que eram donos
do mundo, pois nessa época (1925) os sêres humanos eram
mesuráveis com uma mera régua e quase nem se preci­
sava da estatística, não existi-am mistérios, os inecanismos
eram simples. . . porém tôda moda errada pouco tempo
dura. A durabilidade de um determinado sistema de pen­
samento é o melhor padrão para sabermos da sua verda-
ALQUIMIA MODERNA 73

1fi111•n veracidade, mesmo que seja uma veracidade parcial,


11ult 11r1.1l e não final.
:it preciso desculpar êste movimento, porque foi fruto
1 1 ~ ulguns erros de outros pensadores que não dos psico-
fl\(IJ1icos. Explico-me melhor, dizendo: a Psicologia clínica
J11tHceu da idéia de tratar sómente do homem doente, não
l6tiu inicialmente uma Psicologi:a clinica do homem
"uormal", por isso ela estava prêsa a uma form;a médica
1lc atividade e não a uma forma filosófica de entendimento
<111 personalidade, e o êrro deve-se prender ao fato histórico
de ser opinião da época, que o ho·mem neurótico, melhor
dito neurastênico, o era por um problema de auto-erotis-
mo, confundindo culpa por auto-erotismo. Por extensão
mágica, analógica, dêstes conceitos sôbre o perigo do ·auto-
erotismo, todo pensamento que pudesse ser colocado no
plano do infantil onanista era ·analógico e, portanto, ina-
ceitável. Tal a intensidade da rejeição do pensamento de
expressão aparentemente infantil, que até pessoas com boa
formação intelectual, como Zulliger por exemplo, não se
puderam desidentificar do quadro comentado. Assim nos
relata em seu livro sôbre o Test "Z" que, após várias pe-
ripécias, um garôto que sofria de um desequilíbrio da per-
sonalidade por um problema masturbatório e de culpas,
·portanto, ficou finalmente internado numa escola-clinica
para tratar da sua associalidade. Por êste motivo infantil,
infantil da parte dos herdeiros do pensamento freudiano,
rejeitam o pensamento fantástico como anormal e anor-
mal, porque é analógico e é símbolo de auto-erotismo para
êles. Porém hoje já existe um número suficiente de sêres
esclarecidos que discordam. E nasceu ·a psicotécnica, jus-
tamente em Berlim e Genebra, para estudar a personalida-
de lúdica, pois em Berlim havia uma proibição formal de
estudar-se a "psicologia dos judeus" e em Genebra: a· psi-
cologia universitária era justamente rela tiva à infância.
É incontestável o impacto histórico de Nieztsche na
74 JUAN ALFREDO Ct!SAR M tlLLER

época freudiana. No entanto os pensadores desta época nã<>


quiseram lembrar ao seu predecessor, (estou pensando em
Vahinger com a sua "Filosofia do como sim", onde nos
mostra como raciocínios tais como somar, multiplicar.
problemas de geometria cartesiana etc., se acham monta­
dos numa estrutura de pensamento nitidamente infantil,
isto é, analógica, parcial, e fazendo, como se faz no cinema.
achando soluções impossiveis, porém que funcionam no
contexto total). Boss e antes Binszwanger sairam por fim
com uma nova orientação Heideggeriana, permitindo que
vejamos ,as coisas em si. E quando o são em si, não existe
mais a psicotécnica.
"O mesmo pensamento desaculturante foi trazido pela
escola analitica com relação ao que hoje chamamos Parap-·
sicologia e também com relação à religião. Porém desa­
culturação é mudança,
meramente. Não queremos cri­
·
ticar nenhuma destas formas de interpretar o universo.
o
Precisam s poder observá-las e tirar um proveito: o pro­
veito é saber que nós mesmos também estamos cometend<>
erros culturais, frutos de pontos de vista de ordem pessoal.
que originarão outros, até que seja corrigido tudo por um
retôrno, como Rousseau queria."
CAPÍTULO XVI

TOPOGRAFIA DINAMICA DA HOMEOPATIA

Magíster, falando da Homeopatia mencionou-se a to­


pografia dinâmica; seria possível dizer algumas palavras
sôbre isso?
A topografia dinâmica, deveríamos realmente chamá-Ia·
topogra fia clínica, embora a palavra topografia seja <>
têrmo exato para um geógrafo, ou um anátomo patologis­
ta, não para um psicólogo. Mas sómente o conservaremos
para mostrar a idéia.
Freud era neurólogo, isso é, microtopógrafo das célu­
las, e todo o seu pensamento assim estava ordenado. Você
é um alquimista e entende que a disposição das instâncias
energéticas que aparecem sob o nome de psique não po­
dem ser estratificadas em esquemas, mas em formas de
pensamento' de aspecto dinâmico e inestável. A idéia a to­
mamos da Homeopatia. Ela fornece ao experimentador
determinada quantidade de uma substância alquimicamen­
te pura, até que surjam sintomas de intoxicação com as
características próprias do medicamento. Por exemplo,,
experimentando com dez pessoas diferentes o efeito de
Lachesis (veneno da jararaca), se observará que Lachesis
atua como se tivesse bebido muito, o colarinho incomoda.
é invejoso, tem sensação de estar sendo psiquicamente do­
minado por alguém mais forte, tem mania religiosa e
'76 JUAN ALFREDO CllSAR MULLER

verborragia - enfim, um quadro de paranóia que melhora


no frio do inverno, embora, com o frio, eventuais males
físicos aumentem, inversão das conversões. Achamos que
••paciente" de Lachesis apresenta "Ko" no Szondi, e a per­
·turbação tem antecedentes familiares, com frequência. -

No entanto o medicamento dinamizado ou a interpretação


analítica fornecerá o remédio exato. (1)

Opinamos QUE UMA SUBSTANCIA ALQUlMICAMEN­


TE PURA E UMA CIRCUNSTANCIA EMOCIONAL
SÃO EQUIVALENTES RECtPRQOOS. O impacto da
ingestão de um corpo estranho equivale ao impacto de
uma emoção da história da familia do paciente ou da
história pessoal dêle. Ambos são equivalentes, com upa-

( 1) sem·pre lembrar el o dia em que fui ·vfaitar um amigo oculista


em sua residência. Pouco depois de ter -eu chegado� comec ei & s en­
tir uma coceira insuportável, em tôrno da b6c&. A comtcão se es­
tendia até a boch-echa. Não tendo m o tiv oa para produzir éates sinto­
mas, achei que não eram meus e .pergu nteJ: 11quem n esta casa. tem
êstes e êstes si ntomas ? Ao que a espõsa do visitado me (\tase: "eu
que sofro disso, :lá ar ranq uei os dentes , operei a garganta, aplicaram
'1"&dioterapta e fiz 6 meses de .psicoterapia, além de ter visi tad o os
curandeiros - mas na lua cheia ' assim mesmo."
Tome Lachesls0200, 1 dos e. diase-lhe eu - que o que tem é
11ma toxina. A-notou e pro meteu tomar, embora sem muita fé (eu era
maJs um curandeJro que ti nha surgkJ.o).
Semanas depois, a.pareceu o cas al em minha casa, justUieando a
visita com um r amalh ete de flõrea em agradecimento: a minha "pa­
.eiente" estava curada.
Pol"ém, disse-me o m arid o : "como farmacêutico f ormado pela
Universidade, não sairei até saber o nome qulmico de Lachesls.
"''Quimicam ente deve ser uma. pro tefna " - disse-lhe - &lqulmicamente
� o ve neno da. jararaca... Aí a espõsa me interrompeu disendo: "mas
eu fu i i;nordida por uma jararae& com 16 anos, e a go ra lembro que
-desde então tive isso".
:m a senhora ag üentou fiO a nos esta tortura, em lugar de to mar o
sfmbolo do veneno p ara se curar?
ALQUIMIA MODERNA 77

r�ncia estrutural diversa. A seleção cuidadosa de um


conjunto de sintomas que possuam um denominador­
comum no sentido homeopático da palavra nos permi­
tirá um entendimento topográfico, agora num plano de­
clinica piscológica e não de homeopatia. O símbolo .for­
necido pelo entendimento da próp ria história é equiva­
lente ao do medicamento ho m eo pá tico . (2)

Isso nos leva ao entendimento alq uímic o de que a idéia·


filosófica em si po ssu i wn " m i asm a" igual a uma substância
pura. Exis te um inter-relacionamento do mundo psíq ui co e·
da matéria. Amb as são, em última análise, energia, com um
ordenam:ento relativo, dentro de um determinado eixo. (3)
A topografia clínica nos permite orientar a pesquisa dai
motivação inconsciente, a brangen do amplo setor. (4) Quan-·

( 2) Sen<l� às ·'Vêzea recomendàvel o uso da!. duas.


( 3) O eixo aqulm atuaria como fator de ordenamento, com0i
vemos o Aeido Dl�iN. q uando o tt..xamos estàti-camente.
(4) Quando estudlava. Nux Võmtca de homeopatia., lembrava-me­
de .pensar que foi uma sorte que Sz ondi não a conhecesse, ·pois iDeste caso,
te>do o im"Pério intelectual que êle criou ante o impacto cognitivo que
relata nlio teria tido mo tllva ção. Conta-nos Szondi que foi visltad&
na clínfoa qu e dirt..gia em Budapeste por um casal, so frend o a esposa
de mêdo de cheg ar a. matar os filhos que naturalmente amava, pro­
voca..n.do-lhe ês te .pensamento a mata espantosa depressão. Não po­
den<lo curã.-la, (nesse :tempo), dfsse-lh-e que si nto ma in­
não -er& um
comum, e que êle szondt tinha uma outra clt ente (distante a 200 km
da '(}apital) com os mesmos sintomas. Ai o marido interrom.peu e dis­
se: "essa cltente sua é ·minha mãe, doutor."
Meditou então Szondi, sobre qual seria o motiwo que lev o u um
bom-em a casar s õme nte com essa determinada mulher que anos de­
pois terta os sintomas d e sua mãe. Assim nasceu a -escola de anállee-·
do -cJestfno, funde.mental no atual estágio da Psfoolog1a.
Se Szondi ttveese c onheci-O.o o efeito espec ífico da i nges-tão de
Nux VOmfca dinamizada, não terfamo& o prazer de estudar seus li­
v r o s, porque Nux VOmfca, além da tnestaibilidade vegetativa e afeti­
va., é deIJresslva e teme mata.r seus filhos - ela é da -tamUia da.
Cicu t a - os gregos já o conheciam .
'78 JUAN ALFREDO diSAR MULLER

do um ser nos consulta, êle vem para que lhe digamos quem
é, e porquê o é assim e não de outra forma. A angústia é
provocada por não se entender, simplesmente, por não sa­
ber da sua história, e na medida que orientamos as per­
.guntas, fazemos terapia, mesmo antes de recebermos as
·respostas, quanto mais, quando as recebemos no exato
plano em que foram feitas.
Interessa fornecer também a medicação homeopática,
·embora a escolha do produto deverá ser decidida pelo
profissional, que nem sempre abserva o paciente sob o
prisma da. psicologia, porém os drenadores são precisos
oe atuam, acelerando muitas vêzes o desenvolvimento de
um nôvo ego.

Vimos que uma substância pura e uma emoção de­


terminada são equivalentes. As substâncias têm cheiro, for­
·mas, e estas são unidades com aspectos diferentes, e tôdas
·elas, por serem formas de energia, atingem o ego, porque
tudo é simbolo, lado homeomórfico das outras coisas. Po­
rém, sem a experimentação homeopática não ficamos co­
nhecendo o inter-relacionamento dinâmico dos fatos, abre­
viando com o seu uso a psicoterapia, que além do mais
fica orientada dentro de um pressupôsto de tra.balho
objetivo.
Na psicanálise, são utilizados principalmente o estudo
dos sonhos, os atos falhas e as transferências. Isso é um
.circunlóquio técnico, que remove os sintomas, porém nunca
podendo predizer qual será o primeiro removido· Orien­
tando ativamente o estudo, teremos, por intermédio da
topografia clinica, aumentada e acelerada a possibilidade
de remoção de sintomas determinados. Porque podemos
saber, com a topografia dinâmica, as atitudes genéricas e
globais de cada paciente, e, sem necessidade de que o
·mesmo as relate, seremos nós que perguntaremos, se ne­
cessário, para lembrá-lo.
O Natrium Muriaticum da homeopatia tem, por exem-
ALQUIMIA MODERNA . 79

plo, no Szondi, um h!!!, o que revela uma tensão sexual


incomum, uma sensibilidade extrema a s irenas e demais
ruídos, tem fortes dores de cabeça, .periodicamente, a se­
creção nasal é aquosa ou esbranquiçada assim que entra
em depr-essão, e, fato importante, precisa olhar embaixo
da cama antes de deitar para ver se um ladrão escondeu-se
ali. Assim a coriza do h!!I ou do Natrium Muriaticum tem
por origem uma tristeza amorosa provocada por obediên­
cia. a posteriori, isso é, uma instância da educação que não
lhe permitiu viver o carinho, quanto mais o sexo, com de­
t erminada pessoa. O ladrão embaixo da cama, .analitica­
mente e sabidamente, não vem para roubar, mas para vio­
lentá-lo, para satisfazê-lo. Perguntando a um Natrium Mu­
rinticnm, com firmeza, qual foi a lembrança que tem, por
desilusão ou por não ter podido receber o carinho q ue al­
mejava, eventualmente, ap ó s negar, lembrará, e o conjunto
de sintomas descritos vão desaparecer assim que tiver·
compreendido a motiva çã o de obedi ênci a que o levou a
is so. A pergunta forneceu Natrium Muriaticum dinâmico.
O h ! 11 transforma-se em ho para sair depois num negativo
ou posi tivo, conforme a estrutura pessoal . Porém, sem a
existência de uma forma transferencial intensa, é p ossível
que não queira ou não p06Sa lembrar dos fatos, porque a
tôda barreira intensa ( 1 f !) das necessidades comunicat ó ­
rias existe uma igual para comunicá-las. (1) T emos a van­
tagem de saber que ela existe, e ·a acharem.os, quem sabe,
tr azendo a lembranç a de um ruido desa gradável, aos quais
Natrium Muriaticum é tão sensível.
A sensibilidade ao ruido tem também a su a história
para ser relatada e entendida; muitas vêzes é a lembrança

( 1) Um traço importante d·o Natrium Mur!at!eum é !lcar na


cama pensando em todas as coisas d·-esagradávets que passou, isto é,
Natrium Murfaticum lembra de mais coisas desagradáveis do .que
outros doentes. á um onanista poten-cial, é h ! ! !•
80 JUAN ALFREDO Cl!SAR M OLLER

do ruído dos pais em coito - e determinados ruídos des­


pertam um desejo sexual incontido, por isso incomodam
tanto - outras vêzes o ruido lembra o trabalho, servidão,
e são procurados, simbólicamente por intermédio de uma
paixão artificial com um empregado doméstico, por exem­
plo, o mesmo que gostaria poder encontrar - ou temeria
ter que encontrá-lo, embaixo da cama (1). Natrium Muria­
ticum melhora ficando deitado de costas, e descobre que
a posição decúbito dorsal lhe traz também excitação se­
xual que reprime aguentando o mal-estar, saindo dessa
posição. Anseia por poder participar de bacanais, porque
oão pode satisfazer o seu sexo, existe uma severa proi­
bição para iS110 - e um desejo igualmente intenso. En­
contraremos introjeções de diversas formas de autoridade
além dos pais, que permitem manter um equilibrío social
aparente, porque Natrium. Murialicum tem um sexo desen­
volvido e sempre também insatisfeito por ter que atender
ao superego.
A psicoterapia relaxa as exigências somáticas e o su­
perego também.
Sendo Natrium Muriaticum um paciente arcaico e lú­
dico, é preciso que além da pesquisa pessoal se faça uma
do plano genealógico no estilo Szondiano, para aceitação
dos impulsos familiares. Natrium Muriaticum foge às ho­
ras mercadas com o terapeuta, tem um pronunciado dom
adivinhatório e paranormal cjue se amJeDiza quando en­
gorda um pouco pela psicoterapia.
O dom adivinhatório, a precognição, é um fenômeno

(1) O quadtro emocional do Na.trium Murlaticum se acha aqui


complementado .peià nossa inter1>retagã.o, utilizan·do o sistema. ex.pe­
rimental de Szondi, com personalidades Natrlum M.urla.tiéum. embora
o quadro leve a pensar em Mur.ex, Sepla - a ipróprla dld.mica
deeeatabUiza o uso de um só medicamento - idéia - Uniclsmo é
um êrro estático, projeção da "firmeza" dos nossos �
c nbeclmentos.
ALQUIMIA MODERNA 81

puranormal, muito embora su a intensidade excessiva faça


RUpor que serve como expressão de um traumatismo pes­
s o al, é sistema de defesa, com estrutura semelhante a re­
si
morsos an acá t co s. A sua irrupção constante dificulta a
vida de relacionamento e não tem utilidade. :estes sêres
devem a p r en der a per mitir uma explosão paranorm al só­
mente quando isso lh es fôr oportuno, por exemplo imi­ ,

tando os p si có logos, que excitam êste fator no momento


de pm cisar interpretar � teste, tendo o resto do tempo
11111u ativi da de inconsciente "normal", dentro de um en­
h•1ulimento c o l e ti v o da palavra. Por ém também nunca
poclemos proibir a atividade paranormal, isso deixa o ser
doente. Os espíritas aconselham habitualmente aos para­
normais, para que se desenvolvam com trab alhos de mesa,
ou seja, UIDia vez por semana, usem e exercitem a p ara­
normalidade de forma ordenada, a fim de voltarem à saú­
de. rues interpretam o "trabalho" como caridoso e que a
.
doença aparece por não dá-Ia. Realmente, o que se faz
não é caridade, mas expor à luz, por um tempo, as sombras
descritas por Jung e Szondi, e formas paranormais de
percepção, por serem mecanismos inc ons cient es , fazem
parle de nossa sombra.

Cartomantes e videntes, dentro dêsle entendimento,


aluam por u ma necessidade intima, assim como aquêles
que os consu lta m; da mesma forma que não é prostituta
quem quer e sim quem p recis a sê-lo. Por isso, a sua per­
s eg ui ção é ab su r da e inútil. Muito mais acertada é a maneira
de se atender e êsles fenômenos e suas implicações socfais
na Suiçe. Nos cantões de Besiléia e Apenzell IR., .por exem­
plo, é suficiente uma aprovação e registro médico-policial,
para atuar legalmente como adivinhador. ou curandeiro;
os notóriamente desequilibrados são banidos. Perto de
Zoug existe um povoado inteiro de paranormais chamados
de feiticeiros. Para· morar lá, é preciso dar provas in­
contestáveis de ter capacidade telekinética - o u�o do
_82 JUAN ALFREDO çgSAR MULLER

pêndulo é uma sui>forma adivinhatória com uso também


desta capacidade.
Quem sabe, no futuro, para as atividades do campo
terapêutico, ao invés de a- seleção para a admissão à Uni­
versidade ser feita somente pelos conhecimentos teóricos, se
possa também incluir, como capacidade importante, a tau­
matúrgka do candidato, que, aliada aos conhecimentos obje­
tivos, permitirá um desempenho excepcional na vida prática.
Faltam para isso testes seguros neste plano nôvo, porque
faz pouco tempo que esta civilização aceitou êste setor do
inconsciente. Por agora, cada paranormal aceita como "real"
o plano da sua própria motilidade extra-sensorial. As lf'n­
das religiosas onde se atua também curativamente não são
uma solução séria, porque muitas vêzes a ignorância dos
responsáveis é excessiva - a tradição antiga fornecia ao
médico uma iniciação rel igiosa equivalente ao Diaconato
da Igreja, tradição que continua vivendo nestas tendas re­
ligiosas.
Voltemos, porém, para a topografia dinâmica, que es­
quecemos no caminho ao falar de paranormalidade- Com
ela voltamos a encontrar um denominador comum e dinâ­
mico, para os mecanismos psíquicos, voltamos ao sistema
linear de combinação de simibolos unitários que vimos na
linguagem e na astrologia.
Na topografia dinâmica, as realidades psiquices intro­
jetadas possuem um paralelo somático .atual, uma expli­
cação genética e outra histórica pessoal. -Os fenômenos
psíquicos já tinham sido explicados com o sistema: intro­
jeção - projeção por Ferenczi, ID-ES Superego por Freud,
porém a sua concomitância e seu entendimento global ain­
da não era bem claro. Esta clareza é fornecida pelo expe­
rimentador homeopata, que nos relata o paralelismo na
aparição dos fenômenos subjetivos. A topografia dinâmica
nada explica; porém permite observa r melhqr. Ela não nos
diz o porquê, mas nos diz onde ir buscar - quem sabe
/\ J, U 11 1 M 1 /\ M 111 > /'; H N /\ 83

11111 11i'>vo <>xcu1plo lc fu\�U JullÍti cluro, n1ufa viHivd n i<U�ín.


1l1111111•rnott o caso de Zinco inclúlico.
:l1h1co pensa em morte, tem "os pés .ugitudos", sofre de
dun"' 110 n1úsculo trapezio. Poderíamos in dica r Zinco como
l111111<•1111111in e a depressão passaria, as dores nas costas tam-
111'111, poró1U, a origem do mal mental continuaria. Per­
Hlllli111nos, então, após constatar também vários símbolos de
l 11 fl nito na letra, (n.° 8 deitado é o símbolo) : qual foi a
morte que tanto o afetou no decurso da vida? Isto nos
fornece uma chave de ruptura das barreiras do inconscien­
te, q ue servirão para uma pesquisa ampla e orientada. Tô­
das as as sociaç ões lev.am a um entendimento dos sintomas
que narramos, é terapia dirigid a. O curioso, porém, é que
u unidade mental de Zinco, e assim de muitos outros pro­
dutos homeopáticos, encontram um nôvo paralelo na As­
trologi a , embora com palavras diferentes, trazendo os
mesmos sintomas. Zinco metálico simboliza para o alqui­
mista o deus Mercúrio (1) que tem asas (pés inquietos no
lugar das asas pequenas, dor no lugar das asas grandes).
êle é o mensageiro dos dois reinos (vivos e mortos) e assim
pensa muito em morte, tal qual a personalidade de Zinco
tem notórios interêsses comerciais ou intelectuais. É, as­
trológicamente, uma personalidade instável, que fica ver­
melha (ou pálida) com facilidade, isso é, que a sua ne­
cessidade de comunicação é tão intensa que precisa ser a
verbalização acompanhada de um espasmo de movimento
p r é-verbal e que substitui, às vêzes, a motoricidade habi­
tual de braços ou especialmente das pernas. A falta de
Zinco Metálico pode então ser constatada astrológicamente,
homeopática ou analiticamente, conforme o setor do es-

(1) A lã Uloaofal utilizaàa por Paraceleo é o óxido de zinco,


e deve ter sido "·decobe:rto" pelo uso das analogia.e empíricas, con­
trariando o sistema hanemantano que utUiza analogias concretas para
dec1<1ir pela virtude curativa de algum produto.
84 JUAN ALFREDO Ci!SAR MULLER

tudo que nos interêsse. A ponte objetiva e subjetiva, para


quem puder aceitar êste pensamento unificante, -existe ago­
ra. Necessário é, porém, que pua se opinar, se conheça Ho­
meopatia e Astrologia também, e não rej eitar a priori êstes
conhecimentos.
CAPÍTULO XVII

QUE É A PARAPSICOLOGIA

- Magister, que é a Parapsicologia?


- Tô da for ma p síquica de percepção ou de atuação
no mundo fisíco com regras que escapam ao domínio da
fisica mecânica perte ncem à Parapsicologia. Dominio tran­
sitório, pois mais tar de será incluída na psicologia. Quand o
a psicologia seja totalm;ente intelectual, alquimista será o
parapsicólogo, porque alquim ista é aquêle que se encontra
na vanguarda cult ural .
Magíster, quer dizer que o amor a Deus, o misticismo,
é uma atividade do plano de es tudo da parapsicologia?
Não; voltarmos a doutrina de ser Deus u ma introjeção,
uma forma de apresentação do superego, é risivel. Não
esqueçamos que sou cabalista, e como tal opino que Deus
é i manifesto e assim .a reli gi osidade ser ia a forma de ex­
pressarmos o nos,<;o desejo a rquetipal de voltar mos a ÉLE,
o único que existe. Mas a religiosidade é um sentimento e
a religião é ativida d e lúdica ordenada, apresentando fe­
nômenos ou motivações ou experiências paranormais. As­
sim o místico é aquêle que tenta voltar a ÉLE vi a expe­
riência paranormal, ou por métodos que excitem a p ara­
normalidade. A cabala, que melhor se diz CABALAH, mos­
tra os caminhos para se chegar ao Supremo (Kether) como
tentarei explicar, porém antes me é necessário dizer' o que
86 JUAN ALFREDO OSAR MtlLLER

e Cabala. É um esquema de meditação e de interrelações


com dez Arcanjos, ou Centros de fôrça, ou Mandalas, ou
Astros. É um sistema antigo para a meditação profunda, e
não foi inventado pelos j udeus durante o meu tempo, como
dizem alguns, ela já devia existir antes de estarem prontas
as Pirâmides. Nêle, cada ponto de fôrça se encontra unido
ao anterior e ao seguinte, por um caminho. &te caminho
deve ser percorrido primeiramente pela mente e mais tarde
pelo corpo não físico. Não e um caminho simbólico; quando
estamos nêle e real (como e real a nossa vida física) e,
portanto, existe um certo risco, porque os mesmos proble­
mas que vivemos na terra os vivemos lá, porem de forma
muito mais acelerada. É, portanto, psicoterapia intensa.

Nos caminhos Sagrados, nos purificamos, e encontra­


mos o saber, porque os predecessores deixaram escrito
sôbre pedras, árvores e muros, as suas observações. Quem
entrar no· mundo caballstico não duvida mais d a existên­
cia de Deus, que ·ago1'a não se chama Kether, mas ZAIN,
a terceira forma de imanifestação. A Cabala nos fornece
todos os símbolos de cada plano de fôrças e de cada uni­
dade de fôrça. O sistema numeral arábico de dez unidades.
o e assim por causa dêste método de meditação. Por serem
tantos os caminhos e tantas as coisas que devemos obser­
var, e chamado de árvore de meditação e tem três troncos.
O caminho do centro e o do Amor; no seu terceiro estágio
já achamos o CRISTO. É uma viagem curta, que a alcan­
çamos renunciando e orando e nos outorga grande capaci­
dade parapsiquica e a paz . .. Porem entre Cristo e Kether,
o Deus Pai, se encontra um abismo que não e transponlvel
seguindo por êste caminho. &te abismo e chamado de.
DAAT, a Sabedoria- Sem "saber", não chegamos ao final
da trajetória mistica. Os outros dois troncos são os da.
Justiça e o da Implacabilidade, têm que ser percorridos
alternados com o primeiro p ara chegarmos à essência,
DAAT. Dizem os iniciados que quem puder transpor DAAT
111.\jlJIMI/\ MODERNA 87

( 11 uc• mmcu foi deecnhudo por ser considerado o fato da


""" •.•xielêncin, o grande scgrêdo) não p re cisa viver m ai s
1111 r.,rra. O nlqnimista procurou êste caminho, que é o m ai s
longo. Os mlsti cos procuram o do centro, pois lhes foi en-
11ln11do que o Cristo em nós é o supremo ideal ; no entan to,
Cristo, visto por Kether, é a criança Deus, nos braços da
nossa Virgem. Visto por Yesod, é o homem adulto ...
nquí Regí omonta nu s entrou em longa medi tação mística,
pelo fato d e est ar a falar de CRISTO ...

Vimos lá fora uma carroça medieval , coberta co m a p li­


ca çõ es de ouro, puxada por quatro cavalos batendo nas po­
ç as da primei ra neve. O cocheiro e o lacaio estavam na
berlinda, cobertos e quietos. Pensamos que não seria opor­
tuno incomodar h.óspede tão ilustre e o deixamos.
SEGUNDA PARTE

CAPÍTULO XVIII

O PROBLEMA DA REALIDADE

Realidade é a comparação entre o tempo real e o


tempo subjetivo, é a ponte que une êsses conceitos.
Kant, Fichte, Husserl, Simmel, Ferrater Mora e assim
tantos pensadores meditaram sôbre êste tremendo pro­
blelllJl da Filosofia, e não o resolveram. Parece que
não puderam nos a proxim ar dela exp lica n do-a, por­
que não existe. É uma projeção que sõmente p ode ser
considerada válid·a, se tivermos suficientes simbióti­
cos si nt ôni cos d'ispos tos a comparti-la.

Isso explica a futilidade de um diagnóstico, quando


êste envolve realidade, a i man en ci a e a transcendência,
a
palavras que não são ôcas, mas que fogem à nossa capa­
cidade de explicação i nt el e ct ual. Elas como outras são
aspectos do inconsciente. Diríamos qu.e existe uma reali­
dade mística, uma do plano coletivo, outra do lúdico e
uma do plano arcaico. O homem atual, (dicotômico) pode
viver sem utilizar-se de comunicação, num dos 4 planos
90 JUAN ALFREDO CSSAR MULLER

mencionados, ou seja, ignorando 1/4 da realidade, que os


mecanismos de compensação poderão, mesmo assim, equi­
librar o conjunto, o que não pode acontecer com a mesma
eficiência no homem que não goza da proteção que a ci­
vilização lhe dá. Os "primitivos" que não têm a capacidade
de vivência afetiv a ou comunicatória total, morrem, exceção
feita ao médico d·a tribo, por não viverem intensamente a
realidade. Por isso, os pesquisadores na Psicologia antro­
pológica comprovam o elevado indice de normalidade ou
realidade dos primitivos, os sahreviventes. &tes não
precisam de um psicólogo."
CAPÍTULO XIX

O DIAGNôSTICO E A CLINICA

ll: impossível distanciar realmente uma neurose de


uma psicose num dia gnós tico diferencial. As primeiras sã0t
da faixa a rcaica e as psicosell', da faixa lúdica. Ambas são
formas de obe di ência, umas da h istóri a pessoal, as outra8'
da história familiar, que nã o se ad apt am à realidade co­
let iv a. Bioquimicamente falando, são provocadas por subs­
tâ ncias que cham amos de toxinas ou im pul s os elétricos
deficientes. A psicoterapi a reverte o fenômeno antilúdico.
até um certo grau sàmente, mesmo com co adjuvan tes quí­
micos ou homeopáticos, por ém com ajuda do intelecto é
possível que o paciente aceite os seus i m pulsos e, por não.
mais estarem na sua sombra, os possa dominar. Quer dizer
que a capacidade intelectual de cada sujeito vai determi­
nar em p rimeira linha o resultado efetivo da terapia.
do plano lúdico. Isso corrobora a tese de ser a "inteligên­
cia" um fator do plano coletivo, e a t erapia uma tentativa
de ajuste no mesmo plano. A hebefrenia , a idiotia etc. são.
pelo momento "incuráveis", porque têm falta de lastro in­
telectual onde se poderia apoi ar o tr.abalho do psicólogo_
Também não se pode por agora medir o verdadeire>
quociente intelectual, no psicótico o u neurótico , p orque as
suas formas mesuráveis se encontram prejudica das pe,lo
próprio mal. A medição será distorcida. Além do m ais, fa-
92 JUAN ALFREDO �SAR MULLER

lendo de ambas, neuroses e psicoses, temos sempre que


atender ao fato d a autoterapia provocada pelo operotro­
pismo, isso é, pelo trabalho apropriado à estrutura par­
ticular, pelo erototropismo, (amor sexual e lúdico) e as­
sim por tôdas as realidades externas que obrigam a nunca
�e fazer um diagnóstico, e muito menos um diagnóstico
negativo. O fato de o paciente receber cuidados intensos,
medicamentosos ou verbalizados, a nossa certeza em poder
melhorá-lo, que também é transmitida telepàticamente, e
tôda a gama do amor ao próximo, permitirá que fiquemos
num prognóstico didático p ar a auto-orientação, porém nun­
ca num sentido pejorativo, e nem definitivo. Quem fizer
um diagnóstico definitivo ignora o tamanho do nosso uni­
verso, já não somente do universo interno, porém também
do externo. Tudo é curável, se fornecermos o símbolo fal­
tante, adequado. Não existem doenças, mas doentes. Por­
que não existe um ser e su a doença, vemos um paciente e
seu universo comunicatório, dois universos, portanto, o
dêle e o do seu meio. Se um jôgo de xadrez, com tão poucas
figuras, tem tal número de combinações que não é sempre
possível que o intelecto perceba tôdas, como poderemos
ver o conjunto da vida em seus detalhes?
Se a atividade terápica utiliza o intelecto, por parte
do paciente, devemos dar-lhe a máxima oportunidade p ara
êle ficar tenso e ativo durante éste trabalho. (1) O rela­
xamento provocado pelo divã é ótimo p ara se obterem as
associações que permitirão fornecimento de material, po-

(1) Por muito que tentemos a.profundar no -caminho da cura,


sempre acharemos, para explieã-1.a, que os fatôrea inconscientes
são tão i m por tan te s quatl'to a técnica. .Certamente devem existir co­
nheclm-entos técnicos, poftm êstea não explicam o milagre que é fei­
to dià.riam. ente . E quant o mais soubermos, mais -humildes ficare­
mos, porque tõdas as explicações explicam tudo parcialmente. Afinal
é o psicólogo, e não a sua técnica., quem trabalha. A té�nlca é o ponto
fixo d·e orientação consciente. Não é o dlploma que faz a cura.
ALQUIMIA MODERNA 93

r1\m, se utilizamos o sistema direcional da homeopatia, o


mnterial é pràticamente fornecido (in grosso) pelo tera•
peuta ativo, portanto interessa mais o trabalho intelectual
que uma cadeira facilita e um divã dificulta. E a análise
transmuta-se em aulas individuais minuciosamente dirigi­
das, de psico-orien lação.
'
A atividade intelectual exacerbada diminui o impacto
da transferência, tanto positiva como negativ a ; a mesma é
racionalizada, além d e permitir o fato de o cliente ficar
na frente do terapeuta, de poder conwará-lo e servir como
figura inlrojetiva, um exemplo no verdadeiro sentido pe­
dagógico da palavra.
É verdade que êste sistema não permite chegar nas úl­
timas profundezas da alm a, nem é tão prolixo quanto o
'Jistema psicanalítico. Mas como o nosso ponto de vista
é tentar fornecer alguma coisa de prático e no menor es­
paço possível de · tempo, achamos os incovenientes menos
falhos do que as eventuais desvantagens. A psicanálise seria
a técnica que o psiColerapeuta deveria seguir no aprendi­
z a do didático. Porém fique claro que ter desej o de ser­
vir não quer dizer ter pressa ao ponto de ser superficial
ou psicologizante. Afastamos a hipnose por considerá-la
apropriada para um grupo reduzido de pessoas.

A alternação de um sofá próprio para r elaxar com


uma cadeira para estudar , será então o melhor método de..
tra1balho. Porém se a posição do cliente é a do escolar, D
psicólogo deverá sempre trabalhar o mais relaxado possi­
'•el, primeiro, para poder bem suportar muitas horas de
trabalho seguidas, também para mostrar que não tem mais
do q ue .prazer em ouvir, e não mostrar o esfôrço que está
fazendo.
As grandes des cobertas de ordem pessoal, e que ne­
cessitaram de muitas h ora s de trabalho p ara achá-las,
devem ser sempre revistas sob diversos ângulos. Se a !les­
coberla foi feita, por exemplo, durante o tempo que uti-
$4 JUAN ALFREDO cnSAR MULLER

lizávamos a livre associação freudiana, deveremos reinter­


pretá-la também conforme a técnica de Adler, depois fa­
remos a revisão no campo de Jung, de Szondi, de Frank!,
de Boss e assim por diante. Szondi foi o primeiro a de­
fender êste método, e a prática mostrou sobradamente a
sua realidade, pois permite integrar uma sombra, em todos
�s seus planos.
Em alguns casos, é admissível se utilizar também da
astrologia, para o entendimento total de Ulll/ grande trau­
ma, sempre que o paciente possa aceitá-Ia, e isso depende
da sua formação e da transferência que foi conseguida.
Astrologia é mecânica celeste interpretada. Se mostrarmos
que houve um fato exterior ineludível por não ser vivido
simbólicamente, que criou tal traumatismo, se pudermos
mostrar que essa mesma fôrça em outro aspecto forneceu
uma ajuda incomparável, o paciente entenderá que as
mesmas -energias que o faziam sofrer as .poderá utilizar
para seu benefício, e aplicará isso na sua vida da mesma
forma.
O agravamento dos sintomas é um fato conhecido para
o médico homeopata, é o Il\'llÍs seguro indicio de êle estar
no caminho certo. O agravamento "homeopático" também
existe na psicoterapia, é o seu momento mais importante.
Quando os sintomas voltam com mais intensidade (se o
paciente tiver sido avisado disso terá a coragem de con­
tinuar, caso contrário mudará de terapeuta com o conse­
quente prejuízo), estamos no fim do nosso trabalho. Por
exemplo Boss, tão agudo observador, caiu nesta armadilha,
e não viu que o que levou ao bom final o tratamento do
médico esquizofrênico foi isso. (1) Imaginou, pelo que diz,
que foi a su·a técnica que permitiu o bom resultado, não

(1) Refere-se ao caso relatado no seu livro -de psicanãlise e:ds­


tencial, onde o ,paciente cal em transe catatõnlco total durante
uns dias, para mais tarde, construir uma nova personalidade sadia.
ALQUIMIA MODERNA 95

w•ndo que foi êle em primeiro lugar e depois a técnica,


<1ue levou ao fim desejado de um agravamento "homeopá­
tico". Freud e Ferenczi observaram o fenômeno e indica­
ram que não se devia dar apoio eletivo ao agravamento,
porém não o descreveram textualmente.
Com a técnica orientadora que a homeopatia fornece
para a análise ·ativa, é fácil governar estas instâncias. O
contrôle, nos momentos que antecedem ao "perigo", pode
ser feito com grafologia ou melhor com o teste de Szondi. O
Rorschach é •arriscado, porque um silêncio de HD nunca
pode ser interpretado, e um silêncio - e - de Szondi é um
aviso. O perigo do agravamento não parte do cliente e sim
do seu meio ambiente que o pressiona para abandonar o
técnico que não trabalha a contento. Aliás êste ponto de vista
.é razoável, porque a alopatia não conhece o gravamento
desde que e1a trata os sintomas e não a personalidade e
também não observa e nem se interessa pelo valor da mu­
<lança de sintomas - neste plano cura-se uma diarréia in­
tensa detendo-a, mas o mal ·aparece em outro lugar, o co­
ração, um eczema - que é tratado com outro especialista.
O psicólogo, porém, .além de cientista, é responsável
pela felicidade que os cliente vêm procurar junto a êle,
por isso, conforme a estrutura do paciente e sua. famíli ,
deve planejar ou não uma mera mudança de sintomas em
lugar de curar realmente. Os clientes que descendem de
familias ilustres e muito ricas não suportam o "agrava­
mento homeopático", não querem sofrer. Os mais pobres
são iguais. A classe média alta concorda em sofrer, porque
sabe que só em pleno rendimento poderão manter a po­
-sição.
A toxina lúdica (psicose) parece ser inalisável (a não
ser simbàlicamente), sem assistência paralela do campo
homeopático. Com ela, paranoias, epilepsias, catatonias às
vêzes se transformam em neuroses, dando-se o mesmo. com
()Utras psicoses,. não exigindo cuidados especiais, além da
96 JUAN ALFREDO <:nSAR MULLER

p si co terapi a corriqueira já descrita; dai termos dito que


não as podemos separar.
Pela nossa muito pequena experiência, os sinto m as das
neuroses não são curáveis com a me dica ção hqmeopática
sàmente, elas vol t am a ssi m qu e ho uver aparec id o o hábito
do medicamento ou c ircu nstânci a agravante, o qu e às vê­
zes aco ntece em pouco dias, mesmo em casos onde se uti­
lizam doses altissimas. Parece que a ho meop·at ia fornece
quase sempre o símbolo faltante atávico, porém raramente
o moderno. A todo desequilíbrio ·atávico sempre existe um
outro moderno junto. - Sem, po dermos agora fornecer
detalhes minuciosos sôbre o tema, temos po di d o constatar
que a doutrina homeopática de d oe nça s fundamentais é
exata, precisando estendê-la e dizer que esqui z ofren ia é
irmã menor das três grandes doenças; tubercul os e , câncer.
lepra, e também de uma menor, a gordura excessiva nos
quadris. Já as escolas velhas s·abiam que o tuberculoso ana­
lisado ficaria esquizofrênico, a psiquiatria conhece quan­
tas vêzes ambas estão j u n t a s. Alguns tipos de câncer me­
lhoram com psicote rap ia . Os regimes violentos aco mp anha­
dos de hormônios p ara o emagrecimento d os quadris
levam muitas vêzes o pacie nte a perder o seu equilíbrio,
que volt a quando engorda. São as psico ses somatogênicas
de Frankl. A escolha de um ti po excessivo de gordl1l'a
localiza da no lugar de outra do ença deve partir d e mo­
tivos co ns titucionai s e i nconscientes que desconhecemos.
Porém é falo que, com tratamento paralelo com a Homeo­
p atia, é possível analisar um tub ercul oso , sem riscos; é
possivel também equilibrar o intercâmbio adiposo, levande>
o corpo à sua normalidade, sem gra nd e s r egi m es e sem
riscos.

S&bre a psicot erapia do ca nce roso ou lep ro so não po­


demos ainda fornecer dados sérios em volume suficiente,
mas vai aqui a sugestão. É fato interessante, ppr exemplo.
Anacardium de homeopatia tanto é rem édi o do leprose>
ALQUI M IA M O DE R N A 97

quanto do esquizofrênico que ouve vozes, e êste medica­


mento é um drenador do Tuberculinium. (1) Qualquer
discussão clinica neste plano é inútil e extemporânea. Tem
aqui a finalidade de comentar um caminho para outros o
trilharem - é da alçada de um médico e não de um psi­
cólogo. Isto é p ara quando os médicos estudarem psicologia
e os psicólogos, medicina. Co� dissemos, quem sabe se
crie uma faculdade onde a paranormalidade terapêutica
seja condição para estudar, e onde as duas ciências se
fusionem, criando um/ estudo só, acompanhando a Socio­
logia, a Filosofia, a Literatura e Religião. Assim voltaria a
haver 5 faculdades somente: Teologia, Medicina, Direito,
Física-matemática (Engenharia) e Artes. E haveria cursos
com grau técnico para curandeiros e adivinhos, legalmente
reconhecidos.

( 1) A DrL M.L. 8alomão, lendo eetaa provas, acrescentou ser


a difteria, do mesmo círculo, pela sua pesquisa.
CAPÍTULO X.X

EXPERI�NCIAS CLINICAS,

CASO 1

Era uma senhora dos seus 40 anos, enfermeira de pro­


fissão, que me trouxe indicação do Dr. Vannier para· eu
atender a filha. Sentaram à minha frente, ficando uma
escrivaninha entre nós. O fato de uma enfermeira procu­
rar um médico homeopata me fêz pensar que a mesma
deveria ter um alto nível intelectual. Relatou que a sua
filha, fazia dois meses, grudava-se a ela, mãe, desde que
voltava do trabalho e roia muito as unhas. Mesmo à noite
precisava dormir ao lado da mãe.
Durante o tempo que trabalhava no hospital, a filha
se grudava a um torneira com água correndo, mergulhando
um a das mãos na água. Nem se podia pensar em levá-l a
à escola. Pedi à m ã e q u e esperasse lá fora, para eu con­
versar com a filha, ao que a garôta de 12 anos recusou
terminantemente. Concordei em que ficassem juntas e
passei a ouvir. O pai, disse a mãe, era um neurótico de
guerra que, após voltar dela, não conseguiu mais atender
a barbearia d· a qual era dono, porque tinha pânico de lu­
gares fechados. Recebeu o internamento e tratamento
com eletrochoques, porém sem re&ultado, passou a ser
pintor de muros exteriores, porém em obras ond e pu-
100 JUAN ALFREDO �SAR MULLER

desse ir de bicicleta, porque também não podia entrar em


ônibus, tendo esta situação obrigado a mãe a voltar à sua
antiga profissão, ficando a garôta, filha imica, aos cuida­
dos de uma irmã que morava perto. A mãe apresenta um
quadro muito tenso mas normal, algo viscoso, e diz que o
marido tem um mau-gênio horrivel, muito destrutivo, tan­
to que já nem mais camas inteiras tinham em casa. Quanto
mais se falava do pai, mais a garôta se prendia à mãe.
O pai dela enfermeira, leve os mesmos sintomas do ma­
rido, queria saber se êste mal era contagioso e, se não,
porque não era curável. Disse-lhe que era curável, porém
demorado.
Expliquei que o el e tro ch oqu e é um remédio de última
instância, que tem a finalidade de acalmar e que a mo der­
na psiquiatria pouco uso faz dêle, porque os riscos são
bastantes.
A menina linha começado a primeira menstruação no
di:a anterior. Era .aluna de um colégio católico. ·O quadro
de pânico, olhar desconexo, e uma ausência que se deu
durante a visita, faziam pensar em algum quadro prog­
nosticamente grave. Foi impossivel efetuar U:m lest, como
impossível conseguir um pouco de letra dela, nem aos rogos
da mãe. No plano teórico do diagnóstico achei que o que fal­
tava era uma imagem do pai desde qu e , condizente com
o desejo da m ã e, não tinha ela onde fixar a transferência
(da falta de pênis) . Se tinham aumentado os sintomas nas
últimas semanas antes da menstruação, era porque o pro­
blema devia estar no plano arcaico e não no lúdico, mesmo
porque o pai não apresentava quadro psicótico, pareceu­
me. Se assim fôsse, deveria ou intervir num plano não
verbalizado, forçando a fixação do Imago Pai com a minha
figura, pois, pelo fato de estar sendo consultado pela mãe,
já era de tanto um "pai". Mas tinha de ser um pai cari­
nhoso e edipal, ao contrário do ideal rejeitado. A profis­
.
são do pai, barbeiro e da mãe infermeira de sala de ope-
AL Q U I M I A MOD E RN A 101

rações .falava de um "S" pius e um " P " plus, se tivesse


podido fazer um levantamento com o teste de Szondi. Por
motivos de distância, não poderiam me visitar com fre­
quência, assim deveria deixá-Ia fixada com a transferência
que eu criasse, para se constituir num nôvo superego mais
brando. Corria o risco d e criar uma inflação, que destruis­
se a personalidade. E deveria achar uma saida operotrópi­
ca. Lembrei d a Escola Religiosa e pensei que não seria di­
fícil que ensinasse o catecismo, êste atuaria de um lado
como válvula do P plus .e do outro lado o próprio catecismo
introj etado (K Minus) endureceria as funções do superego
nos setores que não poderia controlar por falta de visitas.
Queria, s a bendo dos riscos, atuar a curto prazo. Assim de­
cidi continuar conversando com a mãe e namorar de leve
a filha na sua presença, piscando um ôlho, ou j ogando
quase um beijo dissimulado. A mãe logo entendeu que era
tratamento, e não que quisesse conquistar ·a· filha , porque,
no inicio, quando a garôta me via com gestos tão inespe­
rados, el a que visitara tantos sisudos profissionais, ficava
com vergonh a e ocultava o rosto, me d ando t empo para
um sinal de entendimento com a enfermeira. Assim agindo,
estava fazendo terapia nos vetores "h" e " e ", criando uma
nova imagem. Ao fim d e uma hora inteira de trab alho, sem
el a o perceber, jã se tinha desgrudado da mãe para poder
se grud ar em mim simbàlicamente. Pedi-lhe que não dei­
x asse tentar ensinar o catecismo, e, antes de os despedir
para nova consulta um mês depois, elogiei exageradamente
a belez a da garôta, Não sei se por isso, ou porque ela j á
n ã o estivesse mais grudando n o braço d a mãe, esta tam­
bém entrou em tran11ferêncfa e precisou me relatar, a sós
agora, o s horrores que sofreu com o ma.ido. Deci di ouvi-la,
porém, sem tentar uma terapia de apoio sequer, p ara não
criar u m conflito mãe-filha; não .poderiam:os ficar muito
l " m po u sós pa11a que a filha não ficasse com ciumes dela,
1 11i\", des truindo o trabalho efetuado.
102 JUAN ALFREDO �SAR MULLER

Quando voltaram, a garôta me cumprimentou mostrando


as unhas pintadas e com comportamento totalmente normal,
tendo conseguido passar de ano e sendo já professôra j uve­
nil de catecismo. Desta vez, entrou sozinha a falar comigo.
Propus que tentássemos analisar os motivos que teve para
produzir os sintomas. Após explicar que o auto-erotismo não
é pecado aos olhos da psicologia, disse que me parecia que
ela queria evitar a sua frequência excessiva, ficando
grudada
à mãe ou à torneira, num caso castigando-se ao roer as
unhas, no oíitro ao usar a água, lavando-11 e do pecado
cometido. Sorriu com um largo sorriso, e disse : " depois
que vim a primeira vez, j á não precisei mais disto ". O meu
coração diz que o sr. está certo na interpretação, e de agora
em diante se tiver um problema, eu mesma irei ten t ar en­
tendê-lo n a sua forma de p ensar". A forma adulta de se
expressar, tendo 12 anos , confirmou uma pós-neurose- Vol­
taram seis meses depois. Foi a última vez, tudo normal.
Fiquei com receio de que a fixação excessiva em mim não
lhe p ermitisse ter um namorado, do outro lado achei que
se cancelasse futuros encontros p ara contrôle, sozinha ela
me idealizaria e poderia ter um namorado real Quem sabe
tenha feito dela uma futura psicóloga por c ausa da fixa­
ção, dentro de um terreno P com tantos antecedentes fa­
miliares. A posição P ·foi reforçada, criando antes d a vi­
sita urna proj e ç ão positiva , por ter dito o dr. Vannier que
eu s eri a o único que poderia curá-la.

Em vista d a int ensidade da simbiose que obj e tivamen­


te existia entre mãe e fi l ha , é possível que tenha concor­
rido ou outro mecanismo além do expôsto e que explica­
ria a durabilidade do fenômeno transfereneial e de terapia
instantânea e positiv a .

Tendo um m arido extremamente perturbado, e sendo


ela a mãe, de ap arência normal, ou sej a que v ivi a a sua
neurose sintomática por intermédio do espôso,_ não pode­
riam tam b ém serem visto s os sintomas d a filha com uma
A l . U ll l M I A M ODERNA 103

' " o v u v "' l v 1 1 l 11 1•, rl u d n por ul u müc ? Isso não seria difi­
l ' i l , l ' "'"l '"' t• 1·11 11 cnfcrmciru, o Jider da sua célula social.
Ol 1 1 · l f! 1 1 1 u l o incon Hcicn tcmcntc a filha a dormir com ela,
l no pcdiriu o m urido a manter as relações sexuais que o ca­
ttnl precisa ter. Embora isso não tenha sido ventilado, por­
IJUC não a pude aceitar como cliente, e tendo em conta o
nmbiente sócio-sexual algo promiscuo que se encontra en­
tre os empregados de um hospital (componente h ambiva­
lente dessa profissão) poder-se-á pensar que a mãe estava
Hendo requisitada de forma, consciente ou não, por algum
colega homem ou mulher, e que ela rejeitou esta possibi­
lidade por motivos de moral religiosa, até que me viu
namorando simbólicamente a filha, da mesma forma com
que ela, quem sabe, estaria sendo namorada no local de
trabalho ou condução. Após ter feito a meu respeito um
quadro de s·alvador, p ara fugir ao In;êdo, que os sintomas
da filha lhe impunham, achou alguém que quebrou a
imagem rígida que o seu superego lhe fornecia. Finda a
tensão materna, que foi solução mais agradável do que
destruir a minha imagem e sair falando mal ao meu res­
peito, a filha, pelo mesmo processo simbiótico, ficou curada
no ato. Reforça esta idéia o fato de ela ter relatado que,
grávida do segundo filho, leve um aibôrto provocado pro­
positadamente peló marido num ataque de fúria, por
ciúme de um cunhado dela, espôsa. Na minha tentativa
de aumento da tensão transferencial da filha para comigo,
viveu simbàlicamente num namôro que o marido (supere­
go) traslado da figura paterna, não lhe permitia, e ainda
sabendo-o inócuo por ser com a filha e não com ela, isso
é, por não poder ser considerado um namôro no sentido
real da palavra, mesmo porque a sua defesa intelectual
deveria ser o suficiente como para saber que um profissio­
nal ( analisado) não se entreteria com a filha, se não tivesse
um objetivo clinico a sua .forma de trabalhar. Também
meditei s e esta família não poderia ser meu parente gené-
104 JUAN ALFREDO C!SAR MULLER

tico e que tivesse . aplicado terapia de um plano PSI, sem


outras interferências importantes. Comp arando o meu test
de Szondi, e o teórico dêles, não os achei parecidos. Su­
ponho que não houve uma contratransferênci11· PSI. Porém
os antecedentes genéticos dessa família são semelhantes
aos que conheço do Dr. Vannier. Haveria aqui uma trans­
ferência " L " ?, sendo eu mesmo um mero transportador
paranormal de uma instância desconhecida, entre o médico
primeiramente consultado e os seus pacientes ? Falaria a
favor disso o fato de o Dr. Vannier ter dito com tanta
firmeza que " eu faria o milagre" e do outro lado devemos
pensar numa forte atração genética que faz que uma en­
fermeira de hospital cirúrgico, portanto com filosofia alo­
pática, gaste o que não possui, consultando um especialista
de outra rama do saber, e se dando maravilhosamente bem.

Minha vinculação com o Dr. V:annier é coletiva e não


lúdica. Com a enfermeria e a paciente tivemos uma vin·
culação complementar lúcida com ap arente tentativa de
desejo de entrada no plano arcaico, isso é, foi despertada
a linguagem simbólica do plano ;projetivo dela com relação
a uma eventual comunicação arcaica que j á p airava na
estrutura em desenvolvimentoda garôta, e não houve cen·
sura m aior também dela e nem da mãe por causa do que
falamos.

Analisei t11mbém se por ventura tive, quando garôto,


eu mesmo o desejo de namorrar uma garotinha. Objetiva·
mente não foi o caso porque, lendo amadurecido sexual­
mente, num clima bastante frio, cheguei a conhecer os
impulsos do sexo muito mais tarde e em condições que
me são conhecidas. E uma proj eção de algum desej o sexual
meu aos 3 ou 4 ano s de idade que facultasse uma expe­
riência ])8i, talI1hém não, porque na minha retrovivência
lisérgica não apareceram êstes conteúdos.
Chega-m e a voz do Magister que diz : "o art�sta quando
pinta não pensa porque os quadros saem bons . . . "
A L QU I M I A MODERNA 105

l'.s te tipo de terap ia i nst antân e a e não verbalizada j á


111cfoi dado observar comigo e com outros colegas, várias
vbes, e nunca obtive p ara isso uma explicação teórica
razoável. Não é suficiente dizer que forneci o símbolo
complementar - qu·al foi o mesmo ?
CAPiTUW XXI

CASO II

Tinha 23 anos, precisava usar um barba compridíssimll'


e cabelos igualmente longos. Porém, o que mais chamava
a atenção era o número incrível de cacoetes que se­
sucediam num ritmo t al que era impossível que o coitado•
conseguisse trabalhar.
Aquilo dava-se mais ou menos assim : mexia ·a· cabeça
violentamente do lado esquerdo ; depois de a mesma voltar ·
à posição normal, movia· os olho s ; feito isso, levava as
mãos unidas ao nariz e as aspirav·a como se fôsse rapé,
levando-as para a esquerda e a direita, repetindo tudo·
novamente, mas, desta vez, expelindo o ar e interrompendo .
o movimento para cheimr.
Movimentava também com violência o pé esquerdo.
Tinha ainda uma subforma de, ga gueir a, transpiração.
intens a, ao menos no rosto inteiro e também m ais meia
dúzia de p equenos movimentos independentes ou, pelo me­
nos, não sincrônicos, de vários mús culos, entre êles as
narinas que se mexi am separadamente, o mesmo se dando·.
com as pálpebras.
Logo nas primeiras palavras desculpou-se de estar
com tamanha barba e cabelo , porém que não os podia
cortar de nenhum j eito. Declarou-se membro de um i:e­
manescente histórico de uma seita anabatísta (que Para-
:10s JUAN ALFREDO �SAR MtlLLER

celso comentou em seus livros, especialmente no Parami­


rum ) que imigrou aos Estados Unidos e depois voltou a
·espalhar os seus missionários pelo mundo, disse que o Dr. R.
seu médico, tinha fornecido o meu nome porque achava
oque uma terapia lisérgica o ajudaria e, além do mais, por
·me saber mislico como êle, e que não tentaria mais nada
se não desse certo comigo. Isso de não tentar mais nada
-deve ser esclarecido ; êle efetivamente não trabalhava e
era mantido pela mãe, pequena funcionária do serviço pú­
blico, e a assistência que dizia ter recebido era da medicina
socializada, que consistiu em eletrochoques, eletricidade
·estática no corpo todo, especialmente nas regiões movi­
mentadas pelos cacoetes, tranquilizantes, tentativa de hip­
nose. Nunca pesquisei se era verdade o que tinha relatado,
·porém acredito q·ue seria impossível um médico ordenar
descargas elétricas para curar cacoetes, quer me p arecer
mais possível que êle tenha imaginado isso ; disse também
que o Pastor da Igrej a dêle orava em todos os serviços
religiosos, p edindo por sua cura, porém que isso nada· tinha
'adiantado. Era dono de uma mente lúcida e com especial
-capacidade para a matemática. Imaginou que eu mesmo
·aplicaria o ácido lisérgico n o momento da visita, p ara êle
degustá-lo na sua casa e que ficaria bom com isso. (1)
Expliquei à mã e que um -caso assim t em que ser trabalha­
do milímetro a millmetro, e que o LSD 25 poderia ser
muito mais tarde um coroamente eventual, na busca de
·uma transcendência mística, porém que no momento, com
boneslidade, nada esperava dêle. No fim da: hora, com­
binamos que nos encontrariamos uma vez por semana,

(1 ) A cura mágica e inatantAnea que o Uffrgtco poderia ofe­


recer já. é sinal de um raciocínio anancástlco e não lógico. A 11.nlca
m·ediclna que 11>0derla curar màglcamente seria aquela que respondesse
t otal mente àa necessidades sim b ólica.a d o ser, e não sõmente forne­
ieendo um sím·bolo anímico. que quer parecer seria o q.ue o LSD for­
mece, por intermédio do seu e ! el t o bioquímico.
ALQUIMIA MODERNA 109

111cHmo sendo o caso dêle tão cheio de sintomas, explicando.


c r u c ao meu ver não é conveniente encontros mais frequen­
tes devi do a técnica que eu utilizava. Q uer dizer - pergun­
tou-me o rap az - o sr. é de uma escola dissidente, no.
campo da Psicoterapi a ?

� N ã o - respondi-lhe - n ã o é a escola que f a z a psi-­


coterapia, cada escola fornece ao técnico QS meios p ara
êle tentar se orientar no labirinto da psique, porém quem
faz a psicoterapi a é o psicoterapeuta, por isso, êle é um
homem que chegou aos cumes mais ·altos de si mesmo, e
não é feito pelo que êle leu, mas a leitura meditad a e a
análise didática o levou a se tl'ansform ar num hierofante,
comp era ch amado na antigui dade o Iniciador dos Gran des
Segredos (do inconsciente) e disposto a acompanhar du­
rante um tempo os seus discípulos no caminho da p erfei-­
ção.
Agora aqui estávamos a procura de uma perfeição·
clínica, mais t arde outro lhe poderia fornecer um diferente
conhecimento. Falar em escola dissidente é falar de here-­
sia, isso é, projeção do superego num desterminado cami­
nho estruturado dentro da hierarquia filosófica e não saber·
se afastar dêle por temor, incapacidade ou rotina, Expli- ­
q u ei também que eu não utilizava o divã. Seria às vêzes
necessário utilizar um s ofá reclinado para trabalhos mais
intensos, porém que o queria ver como um ser h u m a no·
frente a mim que sou outro, tendo êle todo o direito a me·
anal isar, assim como eu o analisava, com -a diferença que·
não deveríamos nunca falar a meu respeito e sim sôbre êle.
Quis a mãe, ao despedir-se, orar para tudo corresse bem.
com o meu trabalho, e pedi que assim o fizesse, porém
n a sua casa ou igrej-a, porque o filho seria curado sem·.
orações, p orém trabalhando, e, embora eu fôsse místico, oj
mis ticismo não cura uma neurose o u psicose.

Antes de preparar o plano de trabalho e forma de exe-­


cutá-lo, preferi dedicar algum-as entrevistas para o diag--
:uo JUAN ALFREDO Cl'!SAR MOLLER

·nóstico completo e ao mesmo tempo ir criando as bases


·de um trabalho meticuloso com umli. transferência positi­
'Y-a racionalizada no plano intelectual.
O test de Allport deu matemáticas, o Rorschach deu
"100 porcento G e 75 porcento F negativo com choque FB
.com a importante particularidade que as respostas incluíam
•um movimento em direção ao paciente (I, Monstro indes­
oeritivel que se vem dirigindo a mim, VII, tempestade
<enorme vindo para mim, lugar sem segurança) .
Pela · grafologia, o diagnóstico de paranoia não era pos­
'l!ivel de ser construido, porque a parte a11ancástica da
]>ersonalidade era tão visivel que ofuscava o resto. Além
do mais, estav a presente uma quase impossibilidade de
·escrever, para poder dar atendimento. aos cacoetes. O
Szondi inicial deu h ·ambiva l en te com 5 es col h as , s zero,
k e p negativos (por agora) e de .positivo.
Diagnóstico : neurose anancástica de tipo anal (d posi­
iivo, e positivo) por ém, estruturalmente nova, ocultando
'Uma psicose epilepto-p aranóidea, onde 'ªS m atem átic a s
·eram uma válvula, os cacoetes, uma contenção, assim como
<Os rituais religiosos também o eram, por proj eç ã o do su­
perego no cânon ecclesiae.
As psicoses são do en ç a s lúcidas e a ti ngiveis analitica­
·mente, sómente com ·a p sico t erapi a de Szondi ou então
·com o sistema de Mme. Sechehahay. Assim deveríamos
procurar a linguagem existencial do caso, via homeopatia,
·porque uma pesquisa diferente levaria o paciente a uma
"irrupção total da paranói a com possível internamento, vol­
tando então a ter que receber o sistema clássico, de
"insulino-terapia, eletrochoques e psicanãlise que para êle
·de nada valeria, porque não se tra ta va de diminuir os
·cacoeles e sim trabalhar p or " b aixo dêles ". A meu ver,
<0 êrro dos outros tratamentos foi o de se preocupar com
'°s sintomas, sendo ,que o sintoma não é o foco da doença.
O produto homeopático Buffo rana tem ritos · horriveis,
ALQUIMIA MODERNA 111

�.,rulm enle e m tôrno d a masturbação e com " d " positivo


terhuuos q ue imaginar ritos de tipo anal , violentos, como
hem mais t a rd e foi possivel estabelecer, quando foi obtida
uma transferência que .p ermi tiu suportar a an álise dêstes
fatos.

Bu fo, tal qual a Barita, quer ficar a sós, teme o con­


fato humano, melhora os ataques epiléticos e acaso essa
movimen t ação excessiva que os cacoetes realizavam não
era uma forma de expressar um ataque epilético no hori­
zonte, e que não era vivenciado em troca de uma mnvi­
mentação crônica? BUfo é insano, tem aspecto de idiota e
a ssim aparece às vêzes o cliente a morder e autodestruir-se.
Kent ensinou ser uma toxina psórica a que atua assim .

O pai morreu com tuberculos e quando tinha poucos


anos, confirmando a tese de a paranóia ser uma toxina
1uberculinica. Prognõsticamente, seria um caso .para vá­
·rios anos de trabalho, como efetivamente foi. Não tenta­
·riamos uma cura total do aspecto sintomático, porém o
suficiente para permitir a eclosão da parte positiva da
·personalidade e p ermitir um relacionamento lúdico que
lhe deixasse viver. Por caus a do nosso pensamento em
·Buf.fo Rane: que utilizariamos para o exame simbólico,
·pensamos em eventual epilepsia que queríamos constatar
-clinicamente e foi pedido um EEG, que deu norm a l (1) .
Para ter uma melhor idéia do caso levantou-se o horóspoco.
·Seu map a mostrou Neptúno no Ascendente, confirmando
-de um l ado a sua genialidade e, do outro, p or estar ofen­
dido, explicava o seu mal psíquico (Netuno é, com Plutão,
·representante dêste s e tor) . Aos 40 anos Neptuno entrará
em quadratura por progressão. É possivel que os seus

( 1) Deve ter da.do um resulta.do normal, porque foi utilizado


-um apa.rêlho de 4 entradas abmente.
112 JUAN A l . Ji tumo C!t8AR M U LLER

males para essa época voltem com maior i ncidência ou


·então que consiga, com ê ste aspecto, uma válvula, uma
grande de11coberta teórica, que lhe permita suportar o im­
pacto relativo a esta posição planetária. A casa 2 se en­
contrava seriamente pert ul"ha d a . Na astrologia é a casa.
do dinheiro, porém, também, ( seria Freud, em segrêdo, as­
tról ogo ?) a casa dos p robl ema s anais, assim como a terceir a
casa é a de genitalização, o primeiro cont·ato com o mundo
exterior, a v id a do homem maduro ( a primeira casa fala
d a infância: e da estrutura básica da personalidade) . No
p la no as troló gico , com a c asa doi s per t urba d a, teria pro­
blemas de dinheiro, no plano analítico pr oblemas anais -
Na suposi ção de que parte da projeção que t i n h a sido
feita desde a infância para com a Igrej a que militava seria
transferi d a para mim, pensei que não faltaria, e podería­
mos tentar um trabalho profícuo .
O nosso contato centrou-se prim eiramen t e com biogra­
fias de grandes homens do p ass ado e que tinham tido ta­
ras psicó tic as histor icam en t e regi s trad as . Como Paracelso
com delírio de gran dez a ( em bora i sso não impedis se que fôsse
um homem geni al , um dos prime iros, se não o pr imeiro
que descreveu as ab erraç õ es de alguns setores d en t r e os
anabatistas, como sendo doença digna de tra tam e nto . ) A.
" ch orea· luxuriante" de Paracelso seria par eci d a, acaso,
com o quadro que tinha na minha frente ? Ou seria mais
p are cido com o mal de São Vito de hoj e ? O fato de relatar
esta biografia assim como a de Volta, também com para·
nóia, acreditando ser o seu corpo de vidro, a de Kepl e r.
um dep ressivo e com eternos prob lemas de dinheiro, a de
Kant, cheio de cacoetes com o l e nço ; asmático e com uma
válvula maravilh osa na sua Lógica anascástica, não tinha
a finalidade de a um ent ar a sua cultura e sim a de entrar
em contato afetuoso vj.a i n tele ct o, p oder, com as digres­
sões dêle e minhas, aprofundar a anamnese sem lei.­
que angus tiá-lo, fazendo uma pesquisa específica. Também
A l . \.) l f l M I A .M <,l l l E R N A

l l u h n o l i l o 1pw u s l u s biografi as crum pu1·u '! ' "' N " v i""''•


:o 1 1 1 0 o u lros ti veram que . suportur a lula interior co 1 1 1 ,
l l l Cl l l O s lll'IUUS do IJUC êle.
Para ser gênio é necessário ob ter o consenso unânime
clu coletivi dade e isso só é possível com grandes obras. As
grandes obras se fazem iniciando com as pequenas, entre
ela� um titulo universitário é importante, é o primeiro ca-,
minho, insistia. (Mais tarde;
..
curado, cursou a Escola Su,
·
pe�ior) .
Após alguns meses com êstes · encontros semanais e ten,
do-o sempre sentado à minha frente, dando todo o supor�
te afetivo, sorrindo muito e nunca pedindo um esfôrço es,
pecial, foi possível co.r tar a barba e cabelo. Já tinha um
aspecto normal, embora após êste · corte aparecessem acne.
na face e um resfriado crônico que devia simbolizar uma,
depressão como Kant teve, dizia· êle.
Se o diagnóstico de Buffo Rana estivesse certo, o meu
primeiro simbolo 'terapêutico deveria ser um gesto para a
frente com a mão l embran do a magia egípcia dos movi­
mentos (utilizados para as maldições e para as bênçãos)
que são símbolos do .inconsciente. (1)
Assim o fiz. O efeito foi !brutal. Apoderou-se dêle um.
mêdo intensíssimo e com aparência de se encontrar em,
choque, fugiu da sala momentâneamente. Voltando ainda
tiritava e dava vagidos surdos, com movimentação clô-.
nica dos olhos como s e tivesse um mistagm.o .. Mas a ponte
que lhe p ermitiria suportar êste choque e os outros já es"
tava firmemente ancorada, sentido que tinha uma finali-,
dade curativa e assim relatou . que, no momento que fiz .. �
sinal com a mão, lembrou que quando era muito pequeno

U) O sapo não projeta 9 veneno, que se encontra no pescoço,


porém � tradição. sõbre ê�te batr�ulo diz que êle joga um veneno
que se aloja entre os olhos - (deve responder a esta tradição an�
cedeµ.tee que tgnoramoe. e que nem . por Isso dteium de funcionar. em�
·
bora inexatos no atual eatt\glc;> da ciên�la objetiva ) .
114 JUAN ALFREDO CfiSAR MULLER

e ainda não falava, a mãe o obrigava a comer uma comida


que êle achava, além de horrorosa, tortur·ante, e por isso
mexia a cabeça p ara evitar que voltassem a dar isso para
êle. E depois, tôda vez que havia qualquer · coisa desagra­
dável, precisava, movimentando a cabeça, afastá-la, e nos
últimos anos, os pensamentos desagradáveis não saíram da
cabeça e por isso mexia constantemente (1) . Neste ponto
perguntei se tinha tido o desejo de dar grandes gritos al­
guma vez, e me confirmou que, saindo de carro (apes ar
dos cacoetes que o obrigavam .a soltar a direção a todo
momento) gostava de esticar à noite •a cabeça pela· j anela,
e gritar de uma forma que .assustava a todos, e que lhe
fazia uin bem enorme. A pergunta sôbre os gritos foi
sugerida pelos vagidos que deu, quando se encontrou em
choque, é um indicio do fator " e ", melhorar ou piorar com
SOUS·
Voltou 'Ir outra semana, totalmente desapontado por­
que o cacoete não tinha desaparecido apesar de " analisado ".
Expliquei que tínhamos revivenciado uma parte dêle,
no setor· lúdico, mas que faltava ainda a análise arcaica
ou do setor arcáico de comunica·ção, que deveria ser ini­
ciada nesse mesmo dia. Para êste fim utilizaríamos o último
sonho que •teve após o ·choque provocado pelo seu movi­
mento. Os sonhos têm, ao que parece, valor coletivo e ar­
caíco, porém nãa lúdico, quer dizer, as doenças lúdicas
não são atingidas pela interpretação onirica - por agora.
O sonho era : "uma mulher de j ade que ·tinha um pênis
erecto entre os dois seios". O pênis também cospe "veneno "
tal qual o sapo e, embora· não tenha dito nada a respeito
de Buffo Rana, penso que êle tivesse percebido paranor-

(1) Outroa caaoa evidentes de Butf:o reaglr&m com a mesma


Intensidade, também acuaa.ndo-ee não da nio ·comer, mas por outros
t:onte.'lidos. O fator 11 e " de Szondi se auto-acusa, projetando a acuS&­
Gfi,o contri. ai mesmo. Até agora oS trau matismos " e " -que conhec�
moa Bão da fase pré-verbal, quando vistos pelo prisnia Buffo.
ALQUIMIA MODERNA 115

m almente a minha idéia. " A mesma mulher" também ti­


nha um p ên i s não erecto na· barriga". Aqui o quadro an­
drógino ap arece com viol ê ncia, estamos no reino do " h "
a mbiv a len t e ", que encontrou finalmente expressão, d entro
do nosso trabalho .
Assim salmos da análise simbólica, o u por mo tiva ção
simbólica e entramJOs no reino analitico, e no campo " d",
anal, onde o cacoete simbofüoa: não se sujar com o
sêmen·
Também a análise mostrou que os s ei os se transfor­
m ar am nos músculos glúteos, e que a evacua çã o era in­
terpretada como imissio penis, sendo por isso tão dura
e dolorosa. Precis a efetuá-la na frente d e um esp elho e
du ran te a madruga da, dad o o total silêncio, por ser um rito
religioso, acompa nha d o de mastui<bação. E um deus pos­
s ui ndo-s e ·a si mesmo.

Durante êste relato o k nega tivo transformou-se em k


positivo ( n arci sism o ) p foi a zero. Após ter normali­
e o
zado a evacuação, que não m elh orava com p urga ntes , o
f a t or Ir foi também a zero, produzindo um longo período
d e luta i nterna· para· ac o m od a ção a uma fal ta de sintomas.
Durante esta parada aparente d a tel'apia, foi novamente
trabalhada a p erson a li d a d e no s en ti do de se obter uma con­
j untura para um ll'abalho po st erior, assim que possivel.
Desta vez já não era a vida de grandes do ent es e sim as
p erip éc i a s no namôro unilatePal o lema central. Para mim
êste namôro er a i m por t a n te , porque uma parte da trans­
ferência era desviada à m o ç a amada, impedindo que hou­
vesse um a to t a l fixação a minha figura, que somente iria
dificultar o trabalho, já que o homossexual consciente foge
à terapia quando ela vai eclodir. Precisávamos trabalhar
em plano de h e tero s se xu a li dad e . A tendênci a heterossexual
foi racionalizada, lembran d o -o d a sua fix açã o à m ãe , em
verda deira si tuaçã o edip al , p o rém uma posição andrógina,
já que o pai faltante er a s ubstituído p el a mãe (mulher de
il.16 JUAN ALFREDO <:nSAR Mül..LER

j-ade) . Outras vêzes foi a homossexualidade latente, inter­


·pretada :racionalmen'te como um desej o an·al, por fixação
1ibidinosa anal em lugar de genitalizada tota:lmente.
<&tes desvios são importantes, até qu e se possa descohrir
a terap1a do homossexual (1 ) . Afinal, uma pequena dose
de homossexualid·ade representada por mal-estar após o
.coito, polução precoce etc. poderia ser suavizada· mais
�rde, com Kali Carbonicum, por exemplo, e não interferi­
ria no trabalho real. Julgávamos que a m,elhor genitaliza­
.ção diminuiria os sinto111 a s, o que realmente aconteceu.
Durante o tempo que o ego se manteve periclitante
�om o sintoma testológico Ko, Po, dis.se mos que não foi
.possível trabalhar (1) . Mais de uma vez o cliente achou
,que estava perdendo o tempo. Finalmente houve movimen­
tação para K+ P+ que coincidiu astrologicamente com um
-
sextil de Saturno em conj unção com a lua iluminando a
primeira casa, e, portanto, em quadratura na segunda Jú­
'piter e Netuno ofereciam um trígono a Saturno, também.
A ocasião não· poderia ser melhor, tínhamos a · casa I, da
·Personalidade, protegida e a Casa II doente, em impacto
·emocional provocado por um homem velho o psicólogo,
marcado por um saturno no ASC. (Saturno, Chro'nos, sim­
boliza o que é antigo, Vetusto) .
Disse-lhe : vamos reunir a sintomatologia que ainda
resta p ara analisar, e vej amos se podemos. achar um de­
nominador comum para tôda ela ; e conseguimos enume­
rar :

1l) ansiedade intensa, acompanhada de insônia, grito&,


delirios parciais conscientes.

(1) Não que �o ae p�B& rei;nover a homoHexualid.ade, porém


dlzem sÔ � ue a !h.âção ao alnt� J;D.S: 4 tão intensa que o cliente foge a
·um trabalho eficaz: e constante; o .que não acontece qUando nã.o exlate
"Um :postclOnam�nto tntel.'ectual à ·respeito.
A L Q U I MIA MODERNA 11'1

li) Coriza cristalina crônica e que não cedeu com nenhum


tratamento.
e) Coceira: intensa do couro cabeludo e que julga provo­
cado por não lavar diàriamente o mesmo, porque pre­
cis a usar água fria para isso.

d) Tr a nstôrno da: vontade - querer estudar ou namo­


rar e não poder.
e) Precisar beber - especialmente suco doce de beterraba
e môrno, em quantidades que excedem o volume do
estômago, produzindo mal-estar. Inicia bebendo muito
e depois aos poucos, sem sêde, continua. Disse que a
mãe acha que sendo vermielho e bom para o sangue.

f) Na angústia, movimento de olh os que acomp anham


d e certa forma o movimento dos músculos da deglu­
ti çã o.

Concordamos que CNm os sintomas mais à vist a. São


alguns dos si nt omas de Arsenicum Alburn, conforme Kent.
Mas Arsenicum Album e a morte, 1r su a ingestão mata, se
não dinamizado· .o m otor de todo êste quadro deve estar
em tômo da morte, de ap odrecer, se o delírio do p aciente
de Arsenicum Album e de cadâver, como se vê na pros­
tração da malária, por exemjplo.
Arrisco a pergunta : por que não colocarmos na· lista o
m êdo de morrer, de apodrecer? Nôvo susto intenso e a
confissão que não tinha coragem de falar a re s peito d is to.
Cada um dos itens que mencionamos anteriormente
foram analisados sob o as-pect o d o imp acto mêdo de apo­
drecer vivo como o pai, como o avô de pleuresia e tc. O
mo vimen t o dos olhos se encontrava relacionado com ri t os
anais e para afuguent ar a figura da mãe, que se uniu a
um t u·b e rc ul oso . A coriza desapareceu e já durante a hora
de tra balh o . Deveria ser interpretada· como um exudad�
d<• toxinas m aléficas ?
118 JUAN ALFREDO Cl!SAR MÜLLER

•O transtôrno da vontade não foi estudado, simples­


mente desapareceu.
Iniciou-se uma fase calma e de grande produtividade
intelectual. Os cacoetes, bem menos intensos, continuavam
com aumento periódico, como Arsenicum Album é perió­
dico. Ago:va cabia um trabalho associativo simples, e com
êle prosseguimos lentamente. Entrou, então, numa fase de
inclinar a cabeça para o lado, mesmo de dia, e deix·ar cair
as coisas da mão. Isso é Apis mel, e sem interêsse, porque
nos tirav·a do trabalho, mas, por .prolixidade, pergunto que
lembranças tinha de picada de abelha. Ah, sim, tinha uma
casa de a:belhas silvestres na j anela da casa da avó e eu
fui picado . . . não . . . não fui ficado, a minha mãe disse que
era perigoso ser picado e tinha mêdo de o ser. Num dêstes
dias, falando do •avô, lembrei do fato e voltei a ficar com
mêdo (mêdo de ter •a tuberculose inj etada com a picada.
parece) . " Falando nisto, o cliente coça a mão, depois o braço
e me diz - curioso : para desaparecer a coceira do dorso da
mão, preciso coçar êste ponto do •braço, onde não tem re­
lação direta. Isso, disse, quer dizer que devemos analisaT
perto de onde estamos, mas em outro lugar - Quer dizer
que temos que tratar de uma picada, mas não própriamente
de abelha . . . a primeira associação trouxe o conteúdo
certo.
Logo depois de esclarecido o tema, voltou a coceira, desta
vez, porém, acalmou, coçando no lugar do prurido. Era a
prova dos nove.
Quer isso provar : em períodos ou estruturas de blo­
queio, a abertura específica do inconsciente é possíveJ
com ajuda do método dinâmico. As outras formas suple­
mentares de trabalho podem ser substituídas. Astrologia
pelo test de Szondi, ambos pela observação cuidadosa etc.
isso é, não são imprescindíveis, dependem do gôsto, da for­
mação e da capacidade.
A capacidade associativa bloquead a é um caso fre-
fl l . \J 1 1 1 M 1 A M O IJ IU! N fl 119

• 1 1 1 • • 1 1 1 1 • 1 1 1 1 11•ko l m·npi·u. O 1111clen h\ uilo sonhu, niío conse­


/l l ll' l'u l n l', prnclui.il'. Nu t>OHi\'iío dn J>Himmhlise, é questão
''" dd xnr u lí: 111w us coinun muclmn. Dtm lro cJ.11 nossa opi­
n i ii o , e l evemos 1111cbrur u bal"l"Cirn do i nconsciente, sempre
1 1 11c preciso, sem ser isso mo tivo de hábito. A m elh o r forma
de que brã -I a é com a aj uda normativa da top ogr afi a dinâ­
mica que a homeopatia oferece, ab arcando muitos sinto­
mas numa uni d a d e . Sintoma de deixar cair a cabeça d e
ludo, como Apis tem, e de ter a garganta ou a p ele inch ada
como também eta t em , não se enquadram numa unidade
lógica, porque não conhecem os a unidade das nossas ex­
periências, mas é uma unidade ana l ó gica visível e que
orienta como um farol n a n ebl i na .

A simbiose d e carência é .a que se s ub stitu i a simbiose


sintônica, isso é: a doença complementa o ser n o que lhe
falta, ela é tão parte dele quanto as suas alegri as, e, por
isso mesmo, o llliecanismo defensivo do bloqueio é p a ra
o inconsciente al go que vamos tirar, êle não j ulga, só vive
- parece uma pl an t a - e quem sabe sej a estruturalmente
tão antigo qu•anto o são as plantas, ou mais ainda ? Assim,
os mecanismos defensivos aparecem com o maior equilí­
brio psiquic o e desap arecem na intensidade de uma trans­
ferência. O bloqueio é um fator positivo.

O mesmo conceito bãsico nosso de qu e cada ser cum­


pre um destino esp ecializ a do dentro da raça, da família
e assim s u ce ss iv·am ente, precisamos estendê-lo para dizer
que cada espécie alquimies, por sua vez, ta m b ém cumpre
o seu destino especializado dentro do grande universo : a
terra, dentro do nosso universo solar, igualmente as­
sim o nosso sistema solar, átomo do cosmos. Desde as
pe d ra s a té nós, humanos, temos um tra·balho a rea li z ar. Com
isso nos distanciamos de &ondi que vê n a liberd ade •a
noss a finalidade, Nós a vemo s na nossa suj eição a uma
obediência su perior que chamamos amor a Deus - A GA­
PE, a chamavam os gregos. Assim, a psicoterapia seria uma
120 JUAN ALFRIID-0 Cll S AR M O LLER

transmutação do destino, deixando que ca da um cumpra


o seu, particular. A Apis o que é de Apis, a Lac o que é de
Lac e assim por diante. A Psicoterapia devolve a quem
pertence aquilo que não é nosso.
Se o mundo é verbo feito realidade subjetiva, não pre­
cisamos medicação para curar, na medida que somos ca­
pazes de entender a linguagem simbólica de cada ser. E se
hoj e atendemos a uma hérnia operando-a, é porque não
sabemos o que uma hérnia quer dizer·
O aspecto epileploideo da personalidade que estuda­
mos, que preferimos chamar de IXOTIMfA conforme BOHM,
aparecia com clarez a no caso. Sair p ara relaxamento, com
o carro, sem objetivo, só para andar, mandar nêle, é muito
claramente um fator " e " procurando uma válvula. Exe­
matosos, gagos, asmáticos, precisam desta válvula. :e um
se sentir rej eitado que abriga a rejeitar indo longe.
Aqui a rej eição sofrida foi imaginada, p ara poder fugir
ao incesto. Outros sintomas ixolimicos, como enxaqueca e
clep tomania não eram vividos por êle, porém pelo seu
melhor a�go, membro da mesma seita. Pensei e o tempo
provou, que na medida que êle melhorasse da homossexua­
lidade latente, o seu amigo ficada homossexual ; mais tar­
de fui visitado pelo amigo por êste motivo e por um ca­
coete desagradável. O cacoete foi removido, a homossexua­
lidade não, até. que apareceu na sua vida uma noiva que
amava e maltratava, que conheci por ler ela querido curar
uma enxaqueca comigo.
Tinha um rôslo viril e um pouco de barba. Solicitei
um exame ginecológico, pensando fôsse trasvesti, não era .
Não atendi o pedido de lhe fornecer uma psicoterapia,
pensando no equilíbrio simbiótico dêles ; era preferível que
continuassem assim, visto a complementação ser razoável.
Técnicamente, pouco podia prometer neste caso, para am­
bos. Foi lentado, por mero desencargo de consciêi:icia, uma
série de injeções com hormônios, sem resultado, natural-
A l . \) l l J M I A M O l> ll R N A 121

1 1 1 1 , 1 1 1 <., ('lll'liol'u o cspN,iulisto tivesse grandes ilusões no


I B I<'' P e n u que u m a união sudo-musoquista como era es-
1 11 tivesse um prognóstico de grande durabilidade.
n li o
O setor p ara noídeo dos sint omas, nunca nos preocu­
pou, porque l inhamos nas m atemáticas ·a válvula certa, e,
sendo expressão secundária da ixotimía, melhorou, ao di­
m inuir es t a, ou quem sabe p ela medicação ho�op ática
conjunta. Consideramos as matemáticas, como magia do
setor " p " a ss im como a música, os sons o são também ma­
gia, porém do setor " e ". Por isso insistimos que p artici­
p asse do côro da igreja, nunca porém lhe foi po ssível
a tender a isso.
Total de entrevistas p ara solução parcial do caso :
pouco mais de 70, com uma semana de intervalo em mé­
d i a . Agora se impunha uma p·ausa de um ano pelo menos ;
depois veri amas o que fazer.
Es t a p ausa, sempre com a válvula operotrópíca, ama­
dureceria o conjunto, estabilizando-o.
CAPÍTULO XXII

AS NEUROSES METAG�ICAS

(De metagnomo - par-anormal e gen, origem)

As experiências paranormais numa sociedade que não


as aceita, ou não as aceita totalmente, podem provocar
traumatismos que eclodirão quando outras circunstâncias
auffi\E!ntem a tensão. A repentina aquisição d e vidência,
por exemplo, ou mediunidade, no seio de uma família onde
êstes aspectos da personalidade são desconhecidos ou não
aceitos, criam primeiramente uma sensação de não grega­
riedade que é traumatizante, depois, o universo de dis­
curso fica forçosamente nôvo, surgindo novas pergunta s
a serem respondidas, o que não é feito por falta de conhe­
cimentos dentro da comunidade habitual - quebrando os
ím agos antigos e não po dendo reconstruir novos. Formas
mediúnicas inferiores, provocadas geralmente por proj e­
ção de um arqu étipo que se encontra na sombra, (express a
um estado regressivo) , atormentam viol entamente e, não
podendo o sujeito se libertar delas com o esfôrço da von­
tade, a·parecem ao psicólogo como neurose, ou até psicose.
Aparentemente, não existem diagnósticos diferenciais
para êstes casos. "Receitas " antigas como verificação de
eventu al miose ou mi .y'ase ante um j acto de luz, por exem­
plo, não funcionam, como não conhecemos também for-
124 JUAN ALFREDO CtiSAR MOLLER

mas cert as de d iagnostica r efeitos de p ós-hipnose , sem


aj u d a d a p ró p ri a p a ranormali d a d e .
A tu do isso, gostaríamos de ch11mar neuroses metagê­
icas.
Ce!l'areo Hosry, catedrático da Faculdade de Filosofia
de Santos, comentou que a p a rano l'II\ali d ade existe ou fica
muito aumentada, no canhoto co rregi d o - diz êle - " êstes
seres vêem e ouvem fantasmas" - na nossa termi n ol o gia
ver e ouvir fan tasmas é neurose, fruto da p ananormalida­
de, i s to é neurose, metagênica.
Consideramos est·a tese certa, é um d et alhe que todo
psicólogo deveria veri ficar com cuidado ao fazer a anam­
nese, por mo str ar um sintoma básico. - A grande semelhan­
ça d a polaridade masculina e feminina, existe entre o des­
tro e o si nistro um co n ti nuum - poucos são totalmente
canhotos e poucos, também, to ta lm ente dextros.
Historicamente, o homem analógico é o homem q ue
escrev i a com a mão es querd a, a do i ncons ci en te. O homem
moderno, lógi co, escreve com a direita. O am b i de xtro fará
a interligação de ambos. Qu em sab e, à pol ari d a de Jun­
guiana - Luz-Sombra, Intro"Extrovertido, A ni ma- A n imus,
deveriamos acrescentar destro-sinistro, .p ara termos um
quadro completo ?
Faltaria também criar uma forma de medir a i ntensi­
dade dêste fa to. Por ·ago r a observamos que o canhoto corri­
gi do confunde às vêzes esquerda e direi t a ; fuma com a
es querda , ou fica canhoto quando me diun izado, ou é ambi­
dextro, p rov a de equfübrio de personalidade.
Terí a mos , após esta pesquisa, um ponto de p a rtida
para melhor definir o fato metagênico. A homeopatia, q u e
co nhe ce do enças do lado esquerdo e do lado direito do
corpo, pod eri a, quem sabe ?, aju d ar com as suas teses, nesta
pesquisa, j unto com a microneurologia, que observaria se
exis tem lesões cerebrais .p rovo ca d a s por esta reeducação.
Porém, opinamos que nem todo canhoto corrigido tem ne-
ALQUIMIA MODERNA 125

' •sHi1 1·iomente uma neurose metagênica, nem todo canhoto


{, sonilmbulo ou paranormal, pelo menos até que fique
provado o contrário.

Contrariando a tese de Platão, d e que o homem an­


drôgino era mulher nas costas, nós acreditamos que seria
possível dizer que a nossa metade esquerda é a feminina,
masculina a outra. Pensando assim, quem sabe achemos
uma técnica terapêutica segura que permita tratar não só­
mente o canhoto corrigido como também a psicose homos­
sexual ?

Geralmente os remédios do lado esquerdo, da homeo­


patia, falam muito (Lach. Thuya) e os do lado direito são
mais quietos e sofrem em profundidade, os que os do
outro lado sofrem em extensão (Merc. Iod. Flavus, Arsen.
Alb-Lycopod) . Os remédios sem lateralidade são mais pri­
mitivos (sulf) .

Os temas astrológicos orientais (destros) fornecem ati­


vidade, os ocidentais, passividade.
A té o maravilhoso test d a Rorschach fornece dois la­
dos não totalmente iguais, para que nos identifiquemos com
êle, ao interpretá-lo.

Metagênicos são os quadros neuróticos com ou sem


sintomas clínicos, cuj a dinâmica não é explicável dentro
dos moldes da neurologia, ou da psicologia oficial, mas
que acham solução assim que encarados dentro da para­
normalidade.

Sendo a palavra paranormalidade um nome qu e reúne


um arquipélago de fatos desconhecidos, como acontece
com a pa1'avra esquizofrenia, também tem o nome " meta­
gênci a " finalidade meramente didática.

Alguns exemplos de neuroses que consideramos meta­


gências ilustrarão melhor a nossa idéia - as dividimos . em
endógenas e exógenas.
126 JUAN ALFREDO CSSAR MULLER

Caso a) - Neurose metagênica mista. Foi marcada ·a con­


sulta com extrema urgência, visto o aspecto desolador do
quadro . O médico clinico que o mandou supunha ser um
caso de "paranóia" - 14 anos com mêdo pânico de tôd'll s
as coisas, até do ruido do escapamento do ônibus, da pa­
lavra humana, do barulho de passos etc. Melhorava ficando
bem perto, encostan do o seu corpo com o da mãe ou irmã
mais velha. Não dormia quase, fazia quatro dias. Logo nas
primeiras palavras ficou o caso esclarecido : com a pri­
meira menstruação (faziam 5 dias) apareceu uma mediu­
nidade intensa, sendo tomada por diversas " entidades" (o
médico não quis interpretar a mediunidade como forma
paranormal e sim como paranóia) . O pai da mesma, ao
ficar sabendo do fato, determinou que, por ser manifes­
tação do maligno, parassem elas imediat'llm ente, sob pena
de castigo físico intenso, que chegou a aplicar (ha ! . . . a
demonologia do medievo) . O mêdo não era tanto pelo
casti go, como pelo fato de se sentir r ej eitada pela figura
do p ai , tão l ogo agora que era mulher, e mais precisav·a
da imagem que lhe reduziria a idéia da castraçã o ; ficou
sem imagem para introjetar, a não ser o da proibição, que
não era exequivel pois - "eu sempre quis ser vidente
(sic) " - Pelo fato de não me sobressaltar ante o rel atad<>
e oferecer ainda vil.rios livros para eh ficar informada,
criou-se logo uma forte transferência p ositiva, desa p are­
cendo no 'll lo Os sintomas do mêdo, podendo até sentar
normalmente sem ficar abraçada à irmã que a acompa­
nhaV'a na consulta. A família, pela irmã, pediu um conse­
lho qua n to à atitude a· tomar com o caso. Aconselhei uma
psicoterapia e dep ois ver a melhor solução (com isso to­
mei o lugar do p ai, que não queria sabê-l a vidente) . Per­
guntou-me a jovem cliente se eu poderia aumentar e ma­
dificar a paranormalidade, para ela "só receber entidades
boas e que falssem a verdade". Afirmei que si.m, (com a
aj uda do ácido lisérgico ou mescalina) p ara manter a
ALQUIMIA MODERNA 127'

transferência positiva, embora esta forma de aumento dru


mediunidade, sei, desaparece quando o tóxico foi metabo­
Iizado.
Sendo a paranormalidade hereditári a, pensei que já.
apareceriam tios ou primos com a mesma estrutura, que­
seriam espíritas ou teósofos e que a oricntarium dentro.
dos padrões familiares, muito embora nu ·nnnmncsc rápida.
não tivessem surgido. Minha aprovação anulou n palavra
trágica de p aranóia, e o mêdo (do pai e do n\édico) . Soube,
6 meses depois, por um p arente dela, que voltou n estu­
dar e que iria a um centro espirita mais tar1l<l.
É impossível se conhecerem todos os detullwH 1111ma•
única consulta, porém quer me parecer que a mcdhm i d•nde
latente eclodiu como um fenômeno relativo ante o lr u 11 1 1 1 11
da menstruação para a qual não estava avisada. E o l'n h•
em si, d e descobrir a existência da ovulação, faz pcnMn r·
nu m a escotomia neurótica em tõrno do sexo e proj eção de·
problemas de culp a do sexo p ara a mediunidade que, isl0t
sim, ela sabia que existia.
É frequente encontrar mediunidade em histórias com.
pais muito severos. Por isso, penso, a figura de Cristo é·
muito mais •amorosa e viva entre os espíritas que entre 08'
católicos, certamente para compensar carências básicas. Os'
católicos estão mais presos à figul'a da Virgem e dos San-­
tos (mãe, irmãos) fazendo pensar em fixações de outro•
tipo.

Caso b - Exemplo de neurose metagênica endógena.

Trata-se de um senhor de mais de 40 anos, com uma·


capacidade incomum de enkinesfa terapêutica.
Bastava-lhe aproximar-se de uni doente, para que asi
dores, e muitos outros sintomas, desaparecessem. Havia
suspeita d e a enkinesfa ser um sintoma do quadro " p " d0>
test de Szondi. Descobriu a sua capacidade enkinética
curativa com as plantas da sua horta, e isso lhe permitilli.
128 JUAN ALFREDO Cf!SAR MULLER

]>rogredir, comprar casa e caminhão, instalando-se como


atacadista e atravessador de legumes. Acreditava que o
-dom de curar fôsse de origem divina, que o Cristo se
achava mais perto dêle que de outros. Fazia preleções mís­
ticas. Confessou-me que s e não fôsse por causa da familia
iria morar num convento. Tempo depois, sofreu um distúr­
bio cardíaco grave que lhe impediu trabalhar e p assou a viver
quase como um monge n a sua própria casa. Atendia a ssim o
11eu desej o. Caiu vitima da sua inflação psiquica que foi pro­
duzid a por não entender a enkinesia COIJlO um sintoma, em­
bora socialmente útil e j ulga o seu mal semelhante ao que
São Francisco leve, digno de ser carregado. A própria pa­
ranóia lhe impede j ulg a r objetivamente o volume exato
do seu s u cess o, que é irregular, por ser, como aqui sem­
pre foi dito, um fenômeno inconsciente. Não· aceita uma
psicoterapi a que lhe diminuiria a doença, de mêdo penso,
-que desap areça a cap acidade enkinélica. Ei s uma vitima
d a su a p aranormalidade.

Neuroses Metagências Exógenas

Chegou trazido por parentes. Amnésia total, indife­


rença, comportamento de idiota. Era mestre p edreiro, ti­
nha um velho caminhão para o trabalho. Foi encontrado
perto da sua residência, faz i a três meses, neste estado e
sem terem achado o caminhão. Anteriormente era normal,
ativo, com cap acidade para dar à família um nível de classe
média. No dia da visita tinha saido da clinica psiquiátrica,
após ter recebido os trat amentos clássicos, sem resultado.

Pensei num acidente metagênico, porque pela anam­


nese não se descobriam na familia traços semelhantes. Im­
possível entrar em contato com o mesmo. Por desencargo
de consciência,· tentei hipnotizá-lo. Qual a m inh a surprêsa,
ALQUIMIA MODERNA 129

ao verificar qu e antes do que p ensav a, já se encontrava


em sono letárgico. João era o seu nome. Perguntei que foi.
que aconteceu ao João - respondeu, d ando risadas, que
foi por ca us a de um.a oração fei ta p or uns baianos que
pre cis ava m do caminhão dêle p ara voltar à t err a natal, e,
em obediência a ela, João entregou o ti tul o de propriedade
as sin ado , e caiu no estado que conhecíamos. Era uma or­
d em pó s-hip nó tic a , da qu al não q u eria sair, como foi cons-·
!atado depois, porque havia um lucro agres si vo ne s s e
es t ad o , di rigido contra a mulher e os filhos. Recebeu uma
ordem pós-hipnótica inversa, t ambém em form a de "reza ''"
e ao acordar tinha recuperado a sua norm;alidade.
Como se tive sse s aido de um a catatonia, lembrava dos.
fatos do seu tempo de inibi ção. Recomendei uma psicote­
rap i a para evitar que no futuro houvesse um nôvo a c i-·
dente dêste tipo, o que foi recusada sob a alegação de que,
se acontecesse, voltaria a me consultar.
Com o seu nível educacional, n ã o era po s s í v el insistir
e foi dado o caso p o r c o nclu i do.

Falsa neurose metag�nica

&te cli en te tinha um volume apreciável de neuroses:


que não precisamos agora mencionar ; a trib uí a a aj u d a
recebida nos momentos dificeis e também as várias difi-·
euldades sofridas a uma entidade que o tocava realmente
n as costas, nos momentos importantes.
Me s m o fo rçan do a p aranorma l id ade, nada distinguia-·
mos que pudesse ser int erpretado como uma entidade real..
Optamos por in dic a r um cli nico , que no exame constatou
sofrer de uma seqüela de uma antiga p l e uresia , e, conforme·
o movimento, o pulmão tocava o corpo dêle, a qu i , sim,.
realmente. Desaparecendo o s i nto m a fa lsam e nt e a tri:bu idO.
130 JUAN ALFREDO CQSAR Mm.LER

à sua sensibilidade paranormal - foi possivel inciar um


·trabalho de terapia.
:t tão perigoso não atender aos impulsos metagênicos
•como o é de imaginar fatos que não existem, ou ao menos,
fatos que a mente normal pode esclarecer sem delongas,
'Sem precisar de outras motivações ou conhecimentos.

Relato de doi·s ClMOS que fogem ao entendimento intelectual

Eram marido e mulher, êle com 29 anos, ela com algo


menos e parentes do colega Nelson Cassiano, com quem
tínhamos decidido aplica-lhes LSD 25, para obter um me­
'lhor desenvolvimento da personalidade. Ambos eram nor­
mais dentro dos padrões culturais atuais, e ambos também
·fortemente paranormais. A aplicação, como de praxe, foi
feita com ·a presença de um médico, por estar sendo apli­
cado um medicamento. Cada psicólogo trabalharia com
um dos pacientes, na mesma s ala, e com a idéia de, no de­
curso do trabalho, haver uma troca de psicólogo-p aciente.
Iniciamos às 19 hs. de um sábado, com o propósito de
não limitar a experiência no tempo. Foram aplicadas 10
gotas dinamizado I.SD-C3. Fiquei com a môça, inicial­
mente. Passada a fase hilariante que a droga cria, provo­
·quei uma regressão de idade, p edindo p ara ir crescendo
aos poucos !! relatando a vida. Os fatos imiportantes eram
analisados com a parte atual da personalidade e não a re­
gredida. Após duas horas de trl!!b alho, já com 12 anos, co­
meçou a chorar e dizer que dai em diante não queria mais
crescer, porque se assim o fizesse a sua avó morreria e
ela não queria perder a companhia de ser tão amado e
·precioso. Olha, disse-me - em lugar de eu crescer como
você quer, me dá bolachas e dinheiro para comprar um
sorvete que estou com fome. Atendi o seu desej o e aguar­
dei pacientemente. O tempo passava, ela utilizava o cor­
rimão da escada para escorregar e comia bolachas, mas
ALQUIMIA MODERNA 131

nada de crescer. O bom método me obrigou a sentá-la e


voltar a falar-lhe. Pedi que olhasse depois do falecimento
da avó e me dissesse se encontrava alguma coisa especialmen­
te feliz. Disse-me que era o noivado, com o marido. Então
vamos voUar a crescer, eu te ajudo a suportar esta morte.
Nesse momento ela desata em chôro convulsivo e fica re­
latando a p erda. Suavizada a angústia, f.alou-me : ago­
ra me deixa crescer rápido, rápido que quero ser namorada
pelo Roberto ! Começou a sorrir coquetemente e me disse : ah,
êle já está m e namorando . . .
Tô d a a vivência foi feita com os olhos abertos. A ex­
periência durou 6 horas seguidas.

Segundo caso

Terminado êste exaustivo trabalho, dediquei-me no


mari do e o colega à espôsa dêsle, conforme combin a­
d o . Assim que pedi que entrasse em rel axnmenlo, nssumiu
a atitude fetal, sentado, com a p articularidade de uni r
os p unhos decididamente e ficando em total mutis­
mo. Havi a sinais de sofrimento paralelos ao mutismo.
A pós bastante insistência e sendo amparado afetivamente,
começou a gemer e bem mais tarde disse : " sou um es­
cravo acorrentado, estou num navio negreiro. Fui enterra­
d o n a Bahia com as correntes que conserve� até agora "·
Dei-lh e sugestão de que as correntes haviam caido ; foi acei­
ta e, 'll p ós muita luta, as mãos finalmente se separaram.
Agora quero nascer branco e não prêto, disse ainda.
Nem antes, nem depois, notei qualquer sintoma que
explicasse racionalmente êste fenômeno.
EPÍLOGO
Era já dia, a p ó s uma noite que ficaria inesquecível
em minha vida. Batem na porLa, era o Magister Re­
giomontanus acompanhado por Pfisler. Quis agradecer a
noite de alucinação iniciática lruzcndo novos pontos de
·vista, quase todos dentro das fron teiras do saber ainda.
Porém Regiomontanus afastou-me, dizendo : "Não me acom­
panhes, ainda tenho que fal ar cnm Pfister. Olhou-me com
ironia e disse : você aindu é muilo ignorante, vá tomar o
seu café e estudar também hoje, você que se acha impor­
tante porque vai receber u m p ergaminho.
Os sinos da Igrej u de Zollikon b adal avam para o pri­
meiro oficio dominicnl. Misluru<ln a seu badaJ.ar ouvimos a
voz do cocheiro gri lando : d11h hu-ha, estalando o chicote.
Era um domingo de sclcmhro de 1950.

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