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CAPAS TRECHOS ETC

Ricardo de Almeida Rocha


FLORES TÃO CORRIQUEIRAS E RARAS

Ele decidiu deixar para trás sua antiga vida de lascívia e se mudar para uma
pequena cidade no litoral. Não pode imaginar que ali não só terá que se
deparar com esse fantasma, e mais que isso, na forma de um amor proibido.

179 páginas de Word em espaço 1.5


@ 1994

Trecho: “A senhora Rose Lens fechou os olhos. Arfava. A respiração a enchia


de vida exterior. O ar cortado pelas cigarras recém-chegadas do fundo da
terra dividia a madrugada embebida em barulho de mar. Torna-a multíplice
em sua lucidez dilacerada. O mar ao longe. Parece aqui. Dentro do quarto.
Nos pensamentos relativos ao momento imediato imprimiu-se um colorido
digressivo. No pio da ave noturna há um desenho aos pés da freira no colégio;
o raio lunar em que nasce o cântico das contrações retroage à primeira
varanda ao luar, à madrugada em que a menina sai à luz vinda do ventre de
sua mãe. E como ouvisse do lado de fora céleres os morcegos, ao som da
inspiração profunda ansiou a antiga liberdade. Mãe, mãe! Ambíguas, as
lágrimas brilhavam como nos reencontros. Minha filhinha... As reminiscências
enviaram ao corpo quieto na cama as praias da adolescência povoada de
gaivotas. Quem sou, se pergunta. Mulher, menina; mãe, filha; esposa. Esposa.
Bater de asas. O pulsar do colchão de molas havia ateado um rubor vivíssimo
às partículas de pó – assim o Verbo no principio, quando fervilham as
esperanças entre o sabor e o azedume. E permanecem por toda a noite
semelhante àquela em que a consciência fez com que ela se acovardasse e
decidisse se casar apesar da claridade gloriosa de um dia distante (o primeiro
dia do seu primeiro namoro) apenas reconhecido por certa memória
imprecisa. Ainda consegue vislumbrar a redenção, que todavia se confunde
com as preocupações da segurança material. Ai. Um arrepio na parte de
dentro das coxas. Como foi tola. O que se leva do mundo? Nada, pensou ao
levar os dedos. Então a revelação. Hoje. Espere. O gatinho sobe na cama e se
aconchega ao lado dela. Esperaria, se anteciparia até. Através da estreita
passagem, escura como a madrugada próxima ao amanhecer e, mesmo antes
da aurora, pelo sol redimida.”

ESPERANÇA
Esperança é a enfermeira do pai de uma amiga do protagonista do romance,
pela qual ele se apaixona e a partir daí espera mudar sua vida. Mas uma
descoberta a respeito dela mudará o rumo da história.

70 páginas de Word em espaço 1.5


@1990

trecho:

“Eu não podia imaginar, como quem ama geralmente não pode, haver no
mundo alguma fealdade que pudesse desafiar a beleza de nossa afeição,
avançando com a noite para a plena luz do amanhecer que combinamos
contemplar na praia. Nada existia que pudesse mudar o que ela provocava em
mim, sua singeleza e segurança, a sensualidade sem astúcia. Ela era o
cumprimento de minhas idealizações. Quaisquer imperfeições fortuitas,
causadas por influencia de passado ou destino, não poderiam, se existissem,
afastá-la da força de meu amor. Que lei ousaria proibir o que meu ser
começava a sentir, doce revelação súbita, a felicidade?”

SE DEVEREI CONTIGO HABITAR

Uma série de assassinatos impressiona os próprios investigadores, pela


expressão de horror no rosto das vítimas. Todos indícios apontam para uma
jovem. Todavia é impossível que tenha sido ela realmente: no dia do
primeiro crime, ela já estava morta.

@2010
111 páginas de Word em espaço 1.5

trecho: “Através da neblina acrescida da chuva, regressando a manhã, as ruas


cansadas, vazias, tristes, estavam cinzas. Sentada à beira da cama, correu à
lembrança onírica. Onde estavam seus nove anos? Os resplendores, a
eternidade? O espelho lhe sorriu em cambraia com busto de algodão – era essa
a transcendência perseguida? A ironia transpareceu em sua tristeza. Era uma
jovem forte que só, mas estava um pouco cansada. Mal saíra do prédio notou-
o no ponto. Que rapaz bonito e simpático, que porte... O que é isso, Gisele,
nada de perder a compostura, a única conquista que jamais perdeu. Noite
exaustiva... As olheiras sujam o redor dolorido dos olhos; e ainda dizem que
isso lhe dá um charme especial.”

LISBOA, AGOSTO DE 1988

Em situação material desesperadora e em meio a uma decepção amorosa, um


brasileiro viaja para a Europa onde tentará dar um novo sentido à vida. Lá,
em plena unificação européia, sente o peso do preconceito contra os
imigrantes e descobre que seu antigo amor está muito mais perto do que
poderia supor.

@1989
325 páginas de Word em espaço 1.5

trecho: “Ele não vê ninguém, é todo a espera. As pedrinhas no chão


declamam a chegada dela, mais perto cada vez, mais perto cada vez. É
permitido sentar na grama. Irá sentir o toque da mão em seu ombro e depois
se levantará para acompanhá-la. A noite desce no frio de dezembro, a praça
agora vazia é linda assim iluminada. Não precisa dizer nada, disse Beatrice na
rue de Turenne, quase em casa. Por que alguém diria alguma coisa depois de
escrever um livro? Não percebem o quanto andaram, ou percebem, mas
passam muito pelo prédio, estão quase na ponte. Ela só queria mostrar a
beleza da vista do rio ao anoitecer, e foi o cenário esperado. Ele realmente
nada disse, não dizia na verdade há vinte anos.”

O PREÇO DA TRAIÇÃO

Eles decidiram apressar o destino e apesar do sucesso da empreitada logo


ansiarão pela vida antiga.

@ 1996
71 páginas de Word em espaço 1.5

trecho: “Uma mulher escultural, belíssima. Os cabelos escorrem pelas faces


em movimentos de pantera. Os olhos lembram o interior de uma igreja
bizantina e, conforme a luz, mudavam de cor: no verão verdes, no inverno
tendem ao azul. O delicado septo desenha com o dorso do nariz a Ursa Menor,
brilhando como as estrelas quando ela passa creme facial. O contorno da
boca, delineado com perfeição, compreende lábios substanciais, intensa e
naturalmente vermelhos, inequivocamente femininos, mesmo quando ela fala
com a energia máscula de que é possuída quando deseja alguma coisa. Aja,
Bruno. Ele está apenas te usando. Você precisa fazer isso. Ele tem tudo. E
quanto a nós, o que temos? Bruno acredita que as coisas virão a seu tempo.
Argumenta contra as palavras da esposa. O futuro lhes reserva o melhor. O
futuro? Nunca chega sem que seja conquistado. Sabe Deus se haverá outra
chance.”
O ULTIMO HOMEM

A promessa se cumpriu. Chegou o redentor. A terra está em paz. O que


poderá abalar a justiça desses novos tempos? Talvez o ódio de um homem;
talvez o amor de uma mulher.

@1993
93 páginas de Word em espaço 1.5

Trecho: “Ninguém sabe ao certo como tudo começou. A versão mais


considerada é a de que criou um pequeno exército de 107 homens envolvidos
com levantes que precipitaram os acontecimentos. Conspiraram em escala
regional contra os coronéis e políticos por detrás do crime organizado.
Na madrugada de 5 de julho, tomaram a fazenda de um proprietário que
traficava drogas e mulheres e promovia todo tipo de orgia e corrupção. O
prefeito, o governador e demais aliados fugiram. Entregam assim o lugar aos
rebeldes que ali fizeram uma cidadela onde habitou a justiça.
Quando cercados pelas tropas oficiais, sustentaram a posição até o dia 27,
quando aderiram ao que se chamou guerra móbil, fugindo ao longo do rio até
a fronteira. Marcharam a pé e a cavalo, durante cerca de 3 anos, escapando
de cercos implacáveis e produzindo extraordinárias baixas no crime
organizado e muitos danos políticos ao Governo, livrando pessoas e fazendo o
bem por onde passaram. Suas façanhas tornaram-se possíveis, em boa parte,
pelo apoio das populações ribeirinhas, de chefes indígenas e missionários.
O prestígio de Crisóstomo se espalhou por todo o País. Os coronéis, políticos e
traficantes temiam que, preso ou morto, se tornasse um mártir cujo poder se
tornasse ainda mais devastador que o da sua luta em liberdade. E os
poderosos passaram de caçadores a caça.”

UMA NOITE NO INFERNO

Preferia acreditar que não seriam capazes de nada além das costumeiras
chacotas. Julgava-os apenas crianças. Crianças más às vezes, é verdade; mas
apenas crianças. Recusava-se a crer que pudessem fazer algum mal à sua
mulher, ainda mais acompanhada da filhinha. Não eram pessoas assim
hediondas. Mas havia mais de três horas que ela saíra para comprar
mantimentos. Da casa na encosta do monte até o vilarejo, não passava de
uma hora de carroça e outro tanto pra voltar. Trovões anunciam a
tempestade.

75 páginas de Word em espaço 1.5


@ 2009

trecho: “Lá dentro, as tábuas rangem. Aqui não é mais lugar nenhum. Leonard
está ali sem mais qualquer propósito. Sai. Onde? Onde a aragem substituíra o
vento, onde restara do fogo apenas vestígios cinzentos sob a luz das camadas
brancas, o ar que Diana aspira está carregado de seu alento, respirando fundo
e pedindo cuidado. Cuidado com o homem caído, não está morto e mexe em
sua arma. Um corpo se interpõe entre a bala e o corpo da moça, enquanto as
flamas vorazes minguam para dentro de uma perfumada profundeza.
Ela corre e se aproxima. Leonard... Um galo ousa cantar a manhã que se
aproxima. A expressão serena e branca, essencial, aparece em nuvens que
podem muito bem ser a névoa última, o túnel, a perfeita realidade que só se
impõe por um gesto pessoal. Leonard! – a chinesa e a filha pisam na lama que
sobe aos vestidos. A esposa abraça o corpo ensangüentado e a menina começa
a chorar.”
O que é possível dizer acerca de escrever livros? O
quanto é importante publicar ou não? Escrever não é
nada que tenha a ver com subsistência. A partir do
momento que tenha, deixa de ser a realização de
vocação. Escrever para ganhar a vida e Escrever são
coisas excludentes cujo único ponto em comum é
serem iguais no ato. É possível escrever divinamente
e não ter o essencial – a escrita de que não se pode
prescindir e sobreviver. .

Após a lei da obrigatoriedade de diploma de


jornalismo, perco o emprego mas continuo
escrevendo; quando o mercado de livros de bolso
acaba, continuo escrevendo; passando fome e frio
nas ruas, preciso tanto de um caderno e caneta
quanto de comida e teto. Vaidade dizer isso? Só se
for como a vaidade da beleza física, de cuja feitura
quem é belo não participou. Não virtude mas
condenação.

Escrevo livros. É minha justificativa pela insistência


em sobreviver.

A publicação de um autor desconhecido, no Brasil,


passa por um processo que reflete o país, onde se lê
pouco, não há Educação e, consequentemente, o
assistencialismo ainda elege presidentes. Não por
acaso há um “filho do Brasil” nas livrarias...

O mercado do livro, como outro qualquer,


naturalmente visa o lucro. Porém isso está longe de
justificar a dificuldade da publicação do primeiro
livro, ou mesmo de um segundo ou terceiro cujo
autor não possua renome. Porque o que se publica,
nesse mesmo contexto, nem sempre produz esse
resultado e o que se não publica muitas vezes dá
indícios que poderia ser muito melhor sucedido se
publicado fosse.
O avanço tecnológico escancarou o que se supunha.
Com a possibilidade de qualquer pessoa publicar
seus textos na internet, vê-se que a maior parte dos
escritos inéditos em papel não tem qualidade
literária propriamente dita, nem essa virtude das
entrelinhas de um livro que é o potencial de venda,
ainda que a qualidade seja questionável.

Se nem qualidade nem potencial de venda são


garantias, surge a “linha editorial da empresa” como
motivo de escolhas. Todavia essa linha é apenas um
eufemismo com que se aplaca o entusiasmo do
autor, que então, embora não publicado, fica
sabendo que sua obra “tem qualidade” e a única
razão de não ter sido aprovada foi a tal da linha. Mas
se um autor consagrado se oferecer àquela mesma
empresa, subitamente, a linha editorial o abarcará
feliz, ainda que nada tivessem a princípio em
comum.

Um dia descobrirão que o brasileiro lê, sim; que vale


a pena investir em livro; que os livros eletrônicos
não substituíram os de papel. Enfim, como em todo
mercado, havendo demanda, haverá oferta e,
havendo oferta, haverá a sua diversificação e, um
dia, porque há leitores para novos autores, haverá
editoras para lançar os seus livros.

Que loucos os sonhos de ser escritor!... Ou já se é ou


se jamais será.

Quando Joyce diz “Escreva, desgraçado, pra que


mais você serve?” (Giácomo Joyce) não deixa espaço
para grandes teorias. É assim e pronto, e ponto.
Quem escreve serve para escrever e olhe lá. “Nas
minhas andanças mundo afora/ Na busca de longos
anos, a esperança/ Virou fantasma incapaz de lidar
Com a alegria e o alarde do sucesso/ Já não
censurava a fonte que havia/ No coração, fracasso
alegando(...) /Dos companheiros que me
precederam:/ Fulano era tão forte, outro tão bravo,/
Beltrano iluminado; E todos perdidos (Browning,
Torre sombria). Então escreva, desgraçado.

Novembro de 2010

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