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UNIVERSIDADE PAULISTA

ÁLVARO DA SILVA PEREIRA BASTOS

O CONTROLE OU FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE NA


CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E NA CONSTITUIÇÃO ANGOLANA COMO
GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

SÃO PAULO

2015
ÁLVARO DA SILVA PEREIRA BASTOS

O CONTROLE OU FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE NA


CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E NA CONSTITUIÇÃO ANGOLANA,
COMO GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de Bacharel em
Direito apresentado à Universidade
Paulista-UNIP.

Orientadora Prof.ª Mestre Sonia Regina de


Andrade e Silva

São Paulo
2015
ÁLVARO DA SILVA PEREIRA BASTOS

O CONTROLE OU FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE NA


CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E NA CONSTITUIÇÃO ANGOLANA,
COMO GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Aprovado em:

Banca Examinadora

_________________________ / __ /__

Prof. (a): Sonia Clemente

Universidade Paulista - UNIP

_________________________ / __ /__

Prof. (a):

Universidade Paulista - UNIP

_______________________ / __ /__

Prof. (a):

Universidade Paulista – UNIP


DEDICATORIA

Dedico este trabalho a minha família pelo apoio incondicional, em


especial ao meu Pai, cuja busca pelo saber nos separou eternamente,
sem nem poder dá-lo adeus à sua última morada.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela benevolência singular a este pequeno


ser. Agradeço imensamente a minha família na figura de meu Pai, Esperdião da
Gama Pereira Bastos, que Deus o tenha, em nome da minha Mãe, Teresa Julião
Francisco da Silva Bastos e de meus Irmãos pelo incentivo material e moral ao longo
dessa jornada, saibam que todo esforço sem vocês não seria possível.

O meu muitíssimo obrigado a Professora Sonia primeiro por aceitar o pedido


de me orientar e segundo pelo fato de que, desde o inicio do curso sempre se dispôs
a ajudar e semear o conhecimento aos seus alunos.

E nesta empreitada me orientou com presteza e sapiência perspicaz tornando


possível e cabal esta monografia.
RESUMO

O constitucionalismo vem sofrendo mudanças ao longo dos tempos


acrescente-se a isso, o fato de que em cada país ele se apresenta com
características próprias que o distinguem mormente de um ordenamento para outro.

O controle ou a fiscalização da constitucionalidade nos ordenamentos


jurídicos modernos de alguma forma conserva muitas características comuns.
Grande maioria dos países adota o controle jurisdicional da constitucionalidade das
leis e atos normativos, por outro lado, determinados países possuem um controle ou
fiscalização da sua constitucionalidade eclética, e ainda existem aqueles cujo
sistema adotado para verificar a constitucionalidade é atribuído a um órgão político.
O instituto do controle ou fiscalização da constitucionalidade no Brasil e em Angola
apresenta-se nas suas constituições como elemento central e fundamental para a
manutenção coerente do ordenamento jurídico em que estão integrados. Têm como
elemento comum a atribuição da verificação da compatibilidade das normas
infraconstitucionais em relação à constituição ao tribunal, isto é, nos dois sistemas
jurídicos o modelo de controle ou fiscalização adotado é o jurisdicional. Entretanto,
no Brasil convivem praticamente todos os modelos de fiscalização da
constitucionalidade, diga-se o jurisdicional e o politico, por essa razão é considerado
um sistema eclético ou misto. Em angola a realidade é totalmente diferente, naquele
ordenamento jurídico a fiscalização da constitucionalidade é atribuída somente a um
órgão jurisdicional. O objetivo deste trabalho foi o de realizar um estudo em campo
de controle ou fiscalização da constitucionalidade nos dois ordenamentos jurídicos,
trazendo a estrutura total para a materialização do mesmo nos dois sistemas. Para
esse feito, usamos o método comparativo constitucional, e percebemos que os dois
sistemas adotam métodos semelhantes, embora conservem suas características,
para alcançarem a sanidade constitucional, a partir da verificação de compatibilidade
das leis ordinárias em relação as suas Constituições.

Palavras chaves: constitucionalismo moderno; Fiscalização da


constitucionalidade; Diferença nos dois sistemas jurídico Angolano e brasileiro.
ABSTRACT

Constitutionalism has undergone changes over the time to add to this the fact
that in each country it has its own characteristics that distinguish mainly of an order to
another.
The control or supervision of the constitutionality in modern legal systems
somehow retains many common characteristics. Most countries adopt judicial review
of the constitutionality of laws and normative acts, on the other hand, some countries
have a control or monitoring its eclectic constitutionality, and there are still those
whose system used to verify the constitutionality is assigned to a political body.
Control of the institute or review of constitutionality in Brazil and Angola is presented
in their constitutions as the central and fundamental element for the consistent
maintenance of the legal system in which they are integrated. Have as a common
element the assignment of checking the compatibility of infra-constitutional norms
regarding the Constitution the court, that is, in both legal systems adopted the control
model or supervision is the national. However, in Brazil live virtually all models of
review of constitutionality, tell the court and the political, for that reason is considered
an eclectic or mixed system. In Angola the reality is totally different in that law the
review of constitutionality is assigned to a court only. The objective of this study was
to conduct a study in control field or constitutionality of supervision in both
jurisdictions, bringing the overall structure for the realization of the same in both
systems. For that purpose, we use the constitutional comparative method, and
realized that the two systems adopt similar methods, although they retain their
characteristics, to achieve the constitutional sanity, from the verification of
compatibility of ordinary laws regarding their Constitutions.

Key words: Modern constitutionalism. Review of constitutionality. Difference in the


two legal systems Angolan and Brazilian.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 10

2 DESENVOLVMENTO................................................................................................................ 12

2.1 Historia Constitucional ..................................................................................... 12


2.1.1 Angola enquanto colônia portuguesa ............................................................ 12
2.1.2 Brasil enquanto colônia portuguesa .............................................................. 13

2.2 Origem dos atuais sistemas de controle da constitucionalidade das leis ... 13
2.2.1 O precedente Norte Americano..................................................................... 14
2.2.2 O precedente grego, Atenas. ........................................................................ 15

3 O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL ....................................... 18

3.1 Origem E Evolução Histórica ........................................................................... 18


3.1.1 O controle na constituição Imperial ............................................................... 18
3.1.2 O controle na constituição de 1891. .............................................................. 18
3.1.3 O controle na constituição de 1934 ............................................................... 19
3.1.4 O controle na constituição de 1937 ............................................................... 20
3.1.5 O controle na constituição de 1946 ............................................................... 21
3.1.6 O controle de constitucionalidade abstrato e a Emenda constitucional nº
16/1965 .................................................................................................................. 21
3.1.7 O controle na Constituição de 1967/1969 ..................................................... 22
3.1.8 O controle de constitucionalidade na Constituição de 1988 .......................... 22

3.2 Pressupostos do controle ................................................................................ 23


3.2.1 A Rigidez E Supremacia Da Constituição ..................................................... 23
3.2.2 Espécies de controle de constitucionalidade no Brasil .................................. 23

3.3 Modelo de controle adotado e seus fundamentos ......................................... 25

3.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A MATERIA DO CONTROLE NA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 88 ...................................................................................................... 26

3.5 O Supremo Tribunal Federal e a Defesa Da Constituição e Da


Constitucionalidade ................................................................................................ 27
3.5 1 Enquadramento histórico e sua evolução Contemporânea ........................... 27
3.5.2 Supremo Tribunal Federal na Constituição de 1988 ..................................... 30
3.5.2.1 Composição ............................................................................................ 31
3.5.2.2 Investidura .............................................................................................. 31
3.5.2.3 Competências do Supremo Tribunal Federal ......................................... 31
3.5.2.4 Supremo Tribunal Federal e a Proteção Da Constituição E Sua
Constitucionalidade ............................................................................................ 32

4 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NA CONSTITUIÇÃO DE ANGOLA


DE 2010 ............................................................................................................................................. 35

4.1 Enquadramento histórico do instituto em Angola ......................................... 35

4.2 O Controle na Lei Constitucional De 1975 ...................................................... 36

4.3 O controle na Lei Constitucional nº 12/91 ....................................................... 37

4.4 O controle na Constituição angolana de 2010 ................................................ 38


4.4.1 Princípios que regem a matéria nesta Constituição ...................................... 40
4.4.2 O Tribunal Constitucional e defesa da Constituição e da Constitucionalidade
em Angola .............................................................................................................. 41
4.4.2.1 Enquadramento histórico ........................................................................ 41
4.4.2.2 O TC e a defesa da Constituição e da Constitucionalidade. ................... 43

5 INFLUÊNCIAS NOS DOIS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE DEFESA DA


CONSTITUIÇÃO ............................................................................................................................. 46

5.1 A influência portuguesa no Brasil e em Angola. ............................................ 46

5.2 A Influência norte americana ........................................................................... 46

5.3 A influência francesa e alemã no sistema de controle da


constitucionalidade nos dois países. .................................................................... 47
5.4 A Importância Do Controle De Constitucionalidade Das Leis E Atos
Normativos Como Garantia Dos Direito Fundamentais. .................................. 48

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 50

REFERENCIA E BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 52


10

1 INTRODUÇÃO

Dentre os objetivos gerais deste projeto, pretende-se analisar o controle da


constitucionalidade das leis e atos normativos nos dois sistemas jurídicos, tendo
como base seus aspectos gerais e específicos, bem como os elementos essenciais
a sua existência e manutenção. Obviamente, a afronta à constituição nos sistemas
em tela é uma possibilidade, pois que, com diferentes interpretações chega-se a
conclusões contrarias, ainda que se trate de um mesmo ordenamento jurídico.

Entretanto, proponho-me a estudar este instituto jurídico comparadamente,


utilizando-se da hermenêutica jurídica, aplicando os métodos clássicos de
interpretação, quanto à origem, o meio e a finalidade da mesma, para analise das
normas constitucionais de controle da constitucionalidade, bem como a interpretação
constitucional e suas particularidades, a saber: superioridade hierárquica, natureza
da linguagem, o conteúdo especifico e o carácter político.1
Basear-me-ei ainda, em métodos clássicos de interpretação constitucional,
levando em consideração a sua classificação quanto à origem:
Interpretação legislativa: aquela efetuada pelo Poder Legislativo, quando
aplica o procedimento adequado para a elaboração da norma jurídica, verbi gratia,
os atos realizados pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça);
A interpretação judicial: aquela realizada pelo Poder Judiciário na aplicação
da lei a um fato concreto, ou mesmo na jurisdição constitucional, quando o órgão
judicial efetua o controle da constitucionalidade ou processa os remédios
constitucionais;
A interpretação Administrativa: aquela efetuada pelo Poder Executivo
(administração direta), quando determinado órgão administrativo (administração
indireta) deixa de aplicar determinada norma por entender inconstitucional;
A interpretação doutrinária: aquela feita por estudiosos das ciências jurídicas.
Esta será de grande valia para a prossecução cabal deste trabalho.
Quanto ao meio a interpretação constitucional poderá ser:

1MORAES, Guilherme Peña de. Curso de direito constitucional, págs.112 e 113 2º edição revista
atualizada.
11

A interpretação gramatical: este modo de interpretativo leva em consideração


o texto constitucional a semântica das palavras que o compõem, a pontuação e a
etimologia das mesmas, para a extração coerente do real conteúdo da norma;
A interpretação Histórica: esta se baseia nos antecedentes históricos da lei
constitucional, por meio da busca dos precedentes legislativos, condições culturais e
psicológicas que resultaram na elaboração ou reforma da norma constitucional;

A intepretação Sistemática: esta parte do pressuposto de que a constituição é


um sistema, e visa entende-la, por meio do estudo do posicionamento da norma no
sistema, estabelecendo uma relação de coordenação ou subordinação no
ordenamento jurídico;

A interpretação Lógica: considera a compatibilidade e a concordância das


normas constitucionais, com base em raciocínio logico.

Assim, tendo como base esses elementos far-se-á o estudo comparativo dos
sistemas jurídicos, no que tange a matéria do controle ou fiscalização da
constitucionalidade e sua importância como garantia dos direitos fundamentais,
visando estabelecer um elo comum entre eles, independentemente da
nacionalidade, respeitando as características essenciais de cada ordenamento
jurídico.
12

2 DESENVOLVMENTO

2.1 Historia Constitucional

2.1.1 Angola enquanto colônia portuguesa

Angola enquanto colônia era considerada Província Ultramarina de Portugal,


nos termos do Ato Adicional de 1852, instrumento jurídico que regia as colônias
portuguesas em África. Tal matéria foi objeto de abordagem na Constituição
Portuguesa de 1911, promulgada depois da proclamação da República, nos termos
do art. 67°, bem como na Constituição de 1933, com a implantação do Estado Novo,
com um regime fascista, que se manteve até 1951, quando o ato colonial (diga-se
ato adicional) foi integrado á Constituição Portuguesa com título próprio, designado
por Ultramar Português.

No artigo 2° afirma o ato colonial que ‘’ é de a essência orgânica da nação


portuguesa desempenhar função histórica de possuir e colonizar domínios
ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendam,
exercendo também a influencia moral que lhe é adstrita pelo Padroado do Oriente’’.
O artigo 3° por seu lado estabelecia que ‘’ os domínios ultramarinos de Portugal
denominam-se colônias e constituem o Império Colonial Português.

No ano de 1962 é promulgada a Lei Orgânica do Ultramar, que trazia a


desenvoltura da constituição portuguesa e estabelecia os princípios fundamentais e
a estruturas do governo das colônias. Neste mesmo ano, o Ministério do Ultramar
aprova o Estatuto Politico-Administrativo da Província de Angola.

Com o advento da revisão constitucional operada em 1971, Portugal se


afirmava como um estado unitário e regional, passando a designar as províncias
ultramarinas como regiões autônomas e a conceder-lhes o título honorífico de
Estado. Angola só veio então a ser considerado Estado em novembro de 1975, data
da sua independência depois de uma longa luta contra a dominação colonial
portuguesa.
13

Entretanto, a nação recém-criada só teve a sua primeira constituição


republicana em 1992, ela teve um caráter emergencial e se propunha a organizar as
eleições no país.

2.1.2 Brasil enquanto colônia portuguesa

A colonização do Brasil pelos portugueses começou efetivamente com a


organização e posterior divisão do país em Capitanias Hereditárias, sistema que
consistia na divisão do território em 12 porções irregulares, todas confrontando com
o oceano, e sua doação a particulares escolhidos entre a melhor gente portuguesa,
que estivessem decididos a morar no Brasil e fossem suficientemente ricos para
colonizá-lo e defendê-lo. Com a ideia de doação das porções, ocorreu em 10 de
março de 1534 a primeira concessão a qual se deu por carta de doação expedida
por D. João III em favor de Duarte Coelho, a quem coube à capitania de
Pernambuco.

Efetivada a colonização do Brasil e sua posterior divisão em capitanias,


surgiram outras varias formas de divisões em que determinadas regiões se tornaram
autônomas.

Mas dentro deste processo de colonização do Brasil interessa-nos tratar da


fase Monárquica, esta se inicia de fato com a chegada de D. João VI ao Brasil no
ano de 1808, e vai-se efetivando aos poucos. Contudo em 1815, o Brasil é elevado
pela lei de 16 de dezembro daquele ano á categoria de Reino Unido a Portugal,
tendo como consequência o fim do Sistema Colonial e Monopólio da Metrópole.
Passo á frente foi a proclamação da independência em 7 de setembro de 1822, da
qual surgiu o estado brasileiro sob a forma de governo imperial, que perdurou até 15
de novembro de 1889.

É importante frisar que o Brasil enquanto colônia portuguesa as normas que


regiam a sociedade eram oriundas de Portugal.

2.2 Origem dos atuais sistemas de controle da constitucionalidade das leis


14

Este capitulo é dedicado a origem histórica dos diferentes sistemas


de controle da constitucionalidade das normas infraconstitucionais em
relação a Constituição. Trata-se simplesmente, de referencias
exemplificativas, e o seu objetivo é apenas o de mostrar como, ainda que
na diversidade de situações concretas e dos sistemas jurídicos em que
são adotados para resolver questões pertinentes a compatibilidade das
normas com a constituição, a necessidade de impor um limite ao próprio
legislador, e de torná-lo efetivo através de um órgão, é uma necessidade
profundamente radicada na historia das antigas civilizações humana.2

2.2.1 O precedente Norte Americano

Este assunto ganhou visibilidade nos EUA e posteriormente em outras partes


do mundo, quando em 1803, um membro do poder judiciário apreciou o
cumprimento vertical de determinada norma infraconstitucional em relação à
constituição norte americana á época. Trata-se do famoso caso Marbury vs
Madison. No qual William Marbury havia sido nomeado juiz de paz do Distrito de
Columbia por intermédio do Midnigth Judges Act em 13-02-1801 no final do mandato
do presidente Adams. Tendo Thomas Jefferson assumido a Presidência da
República, o Secretário de Governo, James Madison, negou a entrega da devida
comissão à Marbury, dando ensejo à impetração perante a Suprema Corte norte
americana do mandado de segurança em 16 de dezembro de 1801.

Neste contexto, o juiz John Marshall, em 24 de fevereiro de 1803, declarou a


inconstitucionalidade da norma veiculada pelo art. 13 da Lei Judiciária norte
americana, que atribuía a Suprema a Corte a competência para o processo e
julgamento do respetivo writ (mandado). Ainda neste julgamento o juiz John Marshall
afirmou o seguinte na celebre sentença que fez história:

‘’ se uma lei for em oposição à Constituição, e se ambas, a lei e a


Constituição, se aplicam a um caso particular, as cortes devem
decidir, nesse caso, se aplicam a lei, deixando de aplicar a Constituição,

2 CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito comparado.


15

ou se conformam com a Constituição, deixando de aplicar a lei. A


corte, portanto deve determinar qual das duas normas conflitantes
deve reger o caso. Isso é da própria essência da função jurisdicional. Se,
pois, as Cortes devem zelar pela Constituição, e se a Constituição é
superior a qualquer lei ordinária editada pelo legislativo, a Constituição,
e não a lei ordinária deve reger o caso ao qual ambas, a lei e a
Constituição, se aplicam’’.

A Suprema Corte dos EUA voltou a declarar a inconstitucionalidade de


alguma lei federal em relação à Constituição na segunda metade do século XIX, o
que se deu no caso Scott v.s. Sanford em 1857.

Ante ao exposto pelo grande professor Mauro Cappelletti, com o intuito de


demonstrar que a tese de James Grant não é historicamente correta. Ele afirma que,
embora não expressa de fato e conscientemente configurada como ‘’ supremacia da
constituição’’ em relação às leis ordinárias, existiu, no entanto, também em outros e
mais antigos sistemas jurídicos, uma espécie de supremacia de uma dada lei ou de
um dado corpo de lei, que em terminologia moderna, poderemos exatamente
chamar de ‘’ leis constitucionais ‘’, ou’’ fundamentais’’ em relação as outras leis, que
em terminologia moderna, poderemos chamar de ‘’ leis ordinárias ’’. O exemplo
escolhido dos muitos existentes vem da Grécia antiga, Atenas para ser mais exato.

2.2.2 O precedente grego, Atenas.3

No direito ateniense, se fazia a distinção entre certas leis, diga-se entre o,


nómos, isto é, a lei em sentido estrito e o psefisma, que poderia significar em
linguagem moderna o decreto ou resolução etc.

Os nómos, isto é, as leis, possuíam características que se aproximavam das


modernas leis constitucionais, isto não só pelo fato de preverem normas que
regulamentavam a organização do Estado e a convivência social. Mas, pelo fato de
que a alteração ou modificação das leis vigentes, não poderiam ser feitas por

3Antecedente citado por Mauro Cappellette (cfr. O controle judicial de constitucionalidade das leis no
direito comparado).
16

qualquer outra norma, diga-se, inferior, mas sim por um procedimento especial,
cujas características se aproximam muito dos modernos sistemas de revisão
constitucional.

Ugo Enrico Paoli, estudioso do direito ático, escreveu que ‘’ foi um conceito
comum a todos os estados gregos o de que a lei devesse ser algo fixo imutável,
retirado das tumultuarias vicissitudes da vida politica e das decisões improvisadas
das assembleias’’.

Contudo, em Atenas existia desde muito tempo atrás, um complexo


procedimento de revisão das leis, o mesmo justifica-se porque para eles, a mudança
de uma lei era tida como uma providencia muito grave, a qual teria que estar
cercada das garantias mais prudentes possíveis e estranhas, como a
responsabilidade criminal para quem propusesse uma revisão a determinada lei e
que no final não fosse aprovada, ou ainda por se entender inoportuna ao longo de
determinado tempo. Fica claro que naqueles tempos, o poder de mudar as leis era
retirado das assembleias populares (Eclésia).

Percebe-se, que esta noção de que, as leis eram algo de imutável em Atenas,
vem refletida nos escritos dos maiores filósofos da época, como Platão e Aristóteles.
Segundo Platão, a lei deve reproduzir a ordem divina, superior e imutável, e não se
apresentar segundo os interesses mutáveis dos homens ou das classes sociais;
para Aristóteles, que considerava a lei como norma acima e além das paixões
humanas e significativamente, formulava já então a doutrina da ‘’supremacia da lei’’
e da ilegitimidade da lei injusta.

Entretanto, a assembleia, isto é, a Eclésia em Atenas detinha também um


direto poder legislativo, as suas deliberações não assumiam o caráter de nómos,
mas sim o de psefisma, isto é, de decretos.

Os psefismas podiam ter um conteúdo muito variado, incluindo, por exemplo,


normas abstratas e gerais, capazes de serem impostas de forma vinculatória a todos
os cidadãos, nestes casos, elas se assemelhavam as leis, isto é, aos nómos. Apesar
de que, em certos períodos politicamente conturbados na vida da polis ateniense,
onde era tendência legislar por psefimas (decretos), era princípio fundamental
17

aquele segundo o qual o decreto, qualquer que fosse o seu conteúdo, devia ser
‘’legal, seja na forma, seja na substancia’’. Isto é, ele devia ’’ como seriamos
tentados a dizer, nós juristas modernas, ser constitucional, ou seja, não podia estar
em contraste com os nómos, vigentes, isto é, com as leis constitucionais vigentes.

‘’A consequência da ilegalidade (ou, como nós gostaríamos de dizer, da


inconstitucionalidade) dos decretos emanados da Eclésia era dúplice. Por um lado,
dela derivava uma responsabilidade penal para aquele que havia proposto o
decreto, responsabilidade que se podia materializar em um ano, mediante ação
publica de ilegalidade chamada grafé paranomom.

Por outro lado, julga-se que derivasse, ainda, a invalidade do decreto


contrario á lei, por força do principio que se encontra em Demóstenes4, segundo o
qual o nómos, quando em contraste com um psefisma, prevaleceria sobre aquele.

Os juízes atenienses, portanto, não obstante fossem obrigados por solene


juramento a julgar ‘’Kata toús nómous kaí katá psefismata’’, isto é, ‘’ segundo as leis
e segundo os decretos’’, não podiam, porém, ser obrigados a julgar de modo
inverso, isto é, segundo os psefisma, a menos que estes não fossem contrários aos
nómos, isto é, as leis.

4 DEMOSTENES, filósofo, político e grande orador grego, do séc. IV. Citado por Mauro Capellette.
18

3 O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

3.1 Origem E Evolução Histórica5

Este capitulo é dedicado ao estudo dos antecedentes do controle da


constitucionalidade no Brasil. Com o intuito de não perder o proposito deste projeto,
far-se-á uma abordagem sucinta dos antecedentes do controle no brasil até
chegarmos a constituição federal de 1988, onde então, analisaremos com maior
profundida o tem em apreço.

3.1.1 O controle na constituição Imperial

A constituição do Império de 1824, nada previa sobre um modelo que se


assemelhasse aos atuais sistemas de controle da constitucionalidade das leis e atos
normativos do poder publico. Por influencia francesa surgia no Brasil a ideia de
supremacia do Congresso, visto que, nesta a criação, interpretação, suspensão e
revogação de leis, incluindo a guarda da constituição era atribuída ao Poder
Legislativo (art. 15, nº 8º e 9º).

3.1.2 O controle na constituição de 1891.

Esta constituição, marca no Brasil o início da republica, trazendo grandes


mudanças no que concerne ao controle de constitucionalidade. Com grande
influencia do direito Norte Americano sobre grandes personalidades como Rui
Barbosa, esta constituição consagrou de modo primordial o modelo difuso de
controle da constitucionalidade, já na constituição provisória de 1890 no art. 58, § 1º,
a e b. O Decreto n° 848, de 11.19.1890 regulamentou aquela constituição e no seu
art. 3º deixou claro que a guarda e aplicação da constituição e das leis nacionais era
da competência da magistratura federal, a qual só interviria em espécie, diga-se, em
caso concreto e mediante provocação das partes. Com essa previsão legal, afirmam

5MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, 2°ed.pág. 233 e


seguintes.
19

certos doutrinadores, estava consagrado o sistema de controle por via de exceção.


Nascia assim, o julgamento incidental da constitucionalidade, já que determinava
que para tal, era necessária a provocação da parte. Esta inovação, sobre o controle
incidental no Brasil, era prevista não só pela constituição provisória, mas também
pelo citado Decreto no seu art.9º §Ú, a e b, e estendia esse controle às leis
estaduais.

Com o advento da constituição de 1891 todas essas normas previstas tanto


na constituição provisória de 1890, como aquelas previstas no decreto n° 848 de
1890 sobre o controle da constitucionalidade, foram incorporadas a ela, atribuindo
ao SFT (Supremo Tribunal Federal) a competência para rever as decisões das
justiças estaduais, em última instância, quando se questionasse a validade ou
aplicação de tratados e leis federais e a decisão do Tribunal fosse contra ela, ou
quando se contestasse a validade de leis ou atos federais, em face da constituição
ou das leis federais e a decisão do tribunal considerasse validos esses atos ou leis
impugnadas (art. 59, §1°, a e b).

Portanto, essa inovação causou perplexidade e estranheza no meio jurídico,


visando clarificar e esclarecer a inovação destaca-se o grande papel desempenhado
por grandes pilares da doutrina constitucional no Brasil, como Rui Barbosa.

3.1.3 O controle na constituição de 1934

Diferentemente das duas constituições anteriores, esta introduziu


significativas e profundas alterações em matéria de controle da constitucionalidade,
seja mantendo as já previstas na constituição de 1891, seja inovando questões
sobre o mesmo assunto. Esta constituição, determinava que a inconstitucionalidade
de uma lei somente deveria ser declarada pela maioria da totalidade dos membros
da tribuna competente, visava evitar com essa disposição a insegurança jurídica,
fruto das divergentes interpretações dos tribunais ao longo dos tempos, percebe-se
assim, que nascia a tese de reserva de plenário no julgamento de
constitucionalidade das leis federais conflitantes com a constituições, art. 179.

Seguindo com o seu leque de inovações, ela consagrou a competência ao


Senado Federal para suspender a execução, no todo em parte de qualquer lei ou
20

ato, deliberação ou regulamento que fosse declarado inconstitucional pelo Poder


Judiciário, dando efeito ‘’erga omnes’’ a decisão prolatada pelo STF, art. 91, IV e 96.
Neste diapasão, esta constituição criou uma das mais inovações fecundas já
introduzidas em uma constituição no país, ela previu a possibilidade de declaração
de inconstitucionalidade de uma lei para evitar intervenção federal, de competência
do Procurador Geral da Republica, mas de iniciativa do Senado Federal. Consistia
tal previsão, em submeter para analise do STF, a lei interventiva para aquela
declarar a sua constitucionalidade, cujo efeito era dúplice, isto é, sendo
constitucional a lei interventiva, era inconstitucional a lei estadual que ferira um dos
determinados princípios constitucionais previstos no art.7º, I, a até h. Perceba-se
que apesar de o STF (Poder Judiciário) analisar o ato de iniciativa do Senado( um
dos entes do Poder Legislativo), não se tratava de um julgamento politico e sim de
julgamento tipicamente jurídico. Esta constituição previu certas disposições, que não
foram incorporadas pelas constituições seguintes, talvez pelo conteúdo de tais
normais, um dos exemplos era a previsão contida no art. 91, II, que determinava ao
Senado Federal o poder de ‘’ examinar em confronto com as respetivas leis os
regulamentos expedidos pelo Poder Executivo, e suspender a execução dos
dispositivos ilegais’’.

Portanto, incontornável o seu caráter inovador, a constituinte de 1934,


apresentou projeto que previa a Corte Constitucional, inspirada no modelo austríaco,
criado por Hans Kelsen.

3.1.4 O controle na constituição de 1937

Nesta constituição, a matéria do controle teve um grande retrocesso. Ela


manteve certas normas que já eram previstas nas constituições anteriores, porém
inovou pejorativamente em determinado artigo. Tal inovação consistia em remeter
determinada lei declarada inconstitucional pela Corte ao Parlamento, pelo fato de o
Presidente da Republica entender que a mesma lei era necessária ao bem-estar do
povo, a promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta. Esta lei seria
votada por dois terços de votos em cada uma das casas e tornava-se eficaz, sendo
insubsistente assim a decisão do Tribunal. É importar frisar que esta lei que fora
remetida e confirmada em votação nas duas câmaras do parlamento tinha peso de
21

emenda constitucional.

Este regra estampado nesta constituição causava estranheza no meio jurídico


e doutrinário brasileiro, haja vista que, havia a possibilidade de emendar a
constituição pelo voto da maioria nas duas casas do Parlamento (art. 174).
Entretanto, estava claro para muitos estudiosos da época, que a intenção deste
principio constitucional era de validar a lei e cassar os julgados do Tribunal.

3.1.5 O controle na constituição de 1946

Esta constituição veio restaurar a já tradicional matéria do controle judicial da


constitucionalidade no direito brasileiro, tratou não só da competência de julgar
recursos ordinários, disciplinou também a apreciação dos recursos extraordinários
(art. 101, II, a, b e c). Manteve a exigência de maioria absoluta dos membros do
tribunal para o julgamento da constitucionalidade das leis, art. 200, bem como
manteve intacta a atribuição do Senado Federal para suspender a execução da lei,
declarada inconstitucional pelo STF, art. 64.

Entretanto, esta constituição também trousse algumas inovações, a principal


delas foi à nova roupagem que prestou a ação direta de constitucionalidade,
introduzida no ordenamento brasileiro pela constituição de 1934. Tal inovação
consistiu em atribuir ao Procurador Geral da Republica a titularidade da
representação de inconstitucionalidade, para os efeitos de intervenção federal, no
caso de violação dos princípios do art. 8° § único c/c o art. 7°, VII, o que na
constituição de 1934 era de iniciativa do Senado Federal.

3.1.6 O controle de constitucionalidade abstrato e a Emenda constitucional nº


16/1965

A emenda n° 16 de 26.11.1965, instituiu, ao lado da representação


interventiva, e nos mesmos moldes, o controle abstrato de normas estaduais e
federais. A implantação do sistema de controle de constitucionalidade teve o objetivo
precípuo de ‘’ preservar o ordenamento jurídico da intromissão de leis inconiventes’’
e somar aos mecanismos já existentes, um instrumento destinado a defender
diretamente o sistema jurídico objetivo.
22

Portanto, na senda de inovação desta emenda, destaca-se a possibilidade de


controle de constitucionalidade da lei municipal em relação a constituição do estado,
tal previsão no seu art. 124, XIII ‘’ outorgava ao legislador a faculdade para
estabelecer processo de competência originaria do Superior Tribunal de Justiça,
para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato do Município em conflito com
a Constituição Estadual.

3.1.7 O controle na Constituição de 1967/1969

Estas Constituição não trousse grandes inovações ao sistema de controle da


constitucionalidade, preocupou-se em manter grande parte das modalidades já
existentes e ampliou algumas, como é o caso, da representação para fins de
intervenção, atribuída ao PGR a qual foi ampliada visando a observação dos
princípios sensíveis bem como garantir a execução de lei federal.

3.1.8 O controle de constitucionalidade na Constituição de 1988

Este é o objetivo central deste trabalho, analisar o controle da


constitucionalidade no Brasil.

O controle da constitucionalidade é o juízo de adequação da norma


infraconstitucional (objeto) á norma constitucional (parâmetro) por meio da
verificação da relação imediata de conformidade vertical entre aquela e esta, com a
finalidade de impor a sanção de invalidade á norma que se revista de
incompatibilidade material ou formal com a constituição.

O controle é uma consequência das constituições rígidas. A rigidez destas


depreende-se de uma distinção primacial entre Poder Constituinte e Poderes
Constituídos, daí deriva a superioridade da constituição, obra do Poder Constituinte
Originário, sobre a lei infraconstitucional, simples ato do poder constituído, um poder
inferior, limitado e condicionado pela própria constituição.

Ele visa imunizar a constituição, visto que a atividade preventiva ou repressiva


desempenhada por órgão de natureza judicial ou politica, pode importar na
invalidação da norma infraconstitucional que contraria a forma ou a matéria das
23

normas constitucionais, em virtude da supremacia e rigidez da constituição.

As constituições rígidas são constituições em sentido formal e demandam um


processo especial de revisão ou alteração, lhe conferindo estabilidade e rigidez
superior as outras normas do ordenamento jurídico. Desta rigidez, emana a ideia da
supremacia da constituição em relação às outras leis, compondo-se assim, uma
hierarquia jurídica, isto é, uma pirâmide, em que a constituição ocupa o vértice
superior e as demais normas do sistema colocam-se abaixo dela, como afirmou
Hans Kelsen.

3.2 Pressupostos do controle

A efetividade do controle das leis e atos normativos imprescinde da


supremacia e rigidez da constituição, bem como da existência de órgão incumbido
do exercício da jurisdição constitucional. Esta que é a atividade jurisdicional de
defesa da constituição, por intermédio do desempenho do controle e proteção
processual dos direitos fundamentais.

3.2.1 A Rigidez E Supremacia Da Constituição

A rigidez da constitucional depreende-se da maior dificuldade para a sua


revisão ou alteração, em relação à alteração das outras normas do ordenamento
jurídico. Da rigidez constitucional, nasce o principio da supremacia da constituição,
pelo qual se entende que a norma constitucional ocupa o vértice superior do sistema
jurídico do país, conferindo validade as outras normas do mesmo ordenamento e
legitimando os poderes estatais na medida e proporção em que ela os reconheça e
os atribui.

3.2.2 Espécies de controle de constitucionalidade no Brasil

As espécies de controle da constitucionalidade são classificadas quanto à


natureza do órgão e o momento do controle. Assim quanto à natureza do órgão o
controle poderá ser:

a) Controle Político: aquele realizado por órgão excluído do poder


24

judiciário;
b) Controle Judicial: aquele realizado por órgão incluído no poder
judiciário.

Quanto ao momento do exercício do controle, este poderá ser:

a) Controle Preventivo: é aquele realizado sobre proposta de emenda da constituição


ou projeto de lei, isto é, realiza-se quando a norma não tenha ainda adquirido
vigência (controle politico).
b) Controle Repressivo ou Posterior: e aquele realizado sobre emenda ou
lei, quando a norma já tenha adquirido vigência, com a finalidade de
analisar a constitucionalidade da mesma, verificando a presunção de
validade relativa ou confirmar a presunção absoluta de validade
daquela em relação à constituição (controle judicial).
c) O controle de constitucionalidade judicial também varia de acordo com
a modalidade, a saber: quanto ao número de órgãos e quanto ao modo
de exercício do controle.

Quanto ao número de órgãos o controle judicial poderá ser:

a) Controle difuso: é aquele exercido por qualquer juiz ou tribunal, em


analise de um caso concreto;
b) Controle Concentrado: é aquele exercido por um órgão judicial ou
politico.

Quanto ao modo de exercício o controle poderá ser:

a) Incidental: é aquele instaurado pela via de exceção, no qual a questão


constitucional é suscitada como causa de pedir, devendo a
inconstitucionalidade ser declarada na fundamentação da decisão, não
fazendo coisa julgada material, já que a finalidade é de afastar a
aplicação de determinada lei reputada invalida no caso concreto. Neste
controle a decisão se dará de modo acidental ‘’ incidenter tantum ’’e o
seu efeito é ‘’ Inter Partes’’

b) Principal: é o controle instaurado pela via de ação direta, na qual a


25

inconstitucionalidade é suscitada como pedido, devendo a inconstitucionalidade ser


declarada no dispositivo da decisão, fazendo coisa julgada material. Neste, a
finalidade é verificar a constitucionalidade em tese da lei ou norma cuja validade é
contestada.

3.3 Modelo de controle adotado e seus fundamentos

O sistema brasileiro de controle de constitucionalidade é misto, eclético ou


hibrido, visto que convivem nele todas as espécies e modalidades admitidas em
direito comparado, verbi gratia, o controle preventivo, politico (o veto por
inconstitucionalidade feito pelo chefe do poder executivo), o incidental, o repressivo
ambos, materializado pelo poder judiciário, isto é, um órgão de natureza judicial. O
controle politico-preventivo, normalmente é efetuado sobre proposta de emenda à
constituição e projeto de lei, já o controle repressivo ou incidental é realizado sobre a
lei ou emenda à constituição já em vigor, propiciando a declaração de
inconstitucionalidade da mesma.

Alguns doutrinadores, afirmam que pode ocorrer excepcionalmente o controle


repressivo-politico- aquele materializado na hipótese de haver sustação de atos
normativos do poder executivo que, exorbitem dos limites de delegação legislativa,
com fundamento no art. 49, inciso V da CF. E de controle preventivo-judicial na
hipótese de mandado de segurança impetrado por membro do Congresso Nacional,
processado e julgado pelo STF, contra proposta de emenda ou projeto de lei que
viole limitação ao poder de reforma constitucional, ao argumento de que o
impetrante é titular de direito liquido e certo a não se sujeitar a processo legislativo
inconstitucional, com fundamento no art. 60, § 4º da CF.6

Ante a variedade de controle no ordenamento jurídico brasileiro, se faz a


distinção entre a modalidade de controle difuso-incidental, bem como do controle
concentrado-principal.

O controle difuso-incidental aquele instrumentalizado pela via de exceção,


permite a declaração de inconstitucionalidade de ou ato normativo, reclamada como

6 MORAES, Guilherme Penã de. Curso de direito constitucional, pag. 143.


26

objeto incidental da atividade de conhecimento de qualquer órgão judicial.

O controle concentrado é aquele materializado pela via de ação direta e


propicia a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, suscitada
como objeto principal da atividade cognitiva, por dois órgãos judiciais,
nomeadamente o STF e o STJ, consoante a inconstitucionalidade se tratar da
Constituição da Republica ou da Constituição Estadual respetivamente, art. 102 CF.

3.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A MATERIA DO CONTROLE NA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 88

O controle de constitucionalidade assenta sobre os princípios da rigidez


constitucional, da supremacia da constituição, bem como do principio da atribuição
de competência a um órgão, principio da compatibilidade vertical das normas, assim
temos:

a) Princípio da rigidez constitucional: este decorre da maior dificuldade


para a modificação da constituição, em relação às normas ordenarias.
As constituições rígidas são constituições em sentido formal e
demandam um processo especial de revisão, este processo, lhes
confere estabilidade e rigidez superior as demais normas no
ordenamento jurídico;
b) Princípio da supremacia da constituição: este é corolário da rigidez
constitucional, significa que a constituição se coloca no vértice do
sistema jurídico pátrio. A constituição é obra do Poder Constituinte.
Este princípio demonstra que a constituição veicula normas jurídicas de
máxima hierarquia no sistema de direito positivo e figura como
fundamento de validade de todo ordenamento normativo. Como lei
suprema do Estado é nela em que se encontra a estruturação daquele,
bem como a organização de seus órgãos, é nela que acham as normas
fundamentais do Estado. A supremacia da constituição pode ser vista
sob o aspecto formal e sob o aspeto material. A supremacia formal
demanda uma relação hierárquica entre a constituição e as demais
27

normas, haja vista, que aquela é produzida pelo poder constituinte


originário, e as outras são produzidas pelos poderes constituídos,
sendo assim, a constituição é anterior e superior àquelas. E a
supremacia material demonstra a maior importância das normas
constitucionais, já que a estrutura básica do Estado é delineada na
própria constituição.
c) A ideia de atribuição de um órgão competente para exercer o controle
de constitucionalidade, não chega a ser de fato um principio,
entretanto, é um dos pilares fundamentais para se materializar e dar
eficácia ao controle, ele varia de pais para pais, isto é, cada pais adota
o sistema ou modelo, mas as constituições rígidas demandam a
existência de um órgão que exerça o controle, seja ele uma corte
constitucional especializada, como é o caso de Angola, Portugal,
Alemanha ou um órgão politico.
d) O princípio da compatibilidade vertical das normas significa que as
normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com a
norma de grau superior, que é a constituição.

3.5 O Supremo Tribunal Federal e a Defesa Da Constituição e Da


Constitucionalidade

3.5 1 Enquadramento histórico e sua evolução Contemporânea

No Brasil a ideia de se ter uma corte instância superior de justiça remonta


desde a constituição do Império de 1824, embora não tivesse a mesma
nomenclatura e as competências que a atual o art. 151 daquela constituição previa o
Poder Judiciário independente composto por juízes, e o art. 163 fazia previsão do
Supremo Tribunal de Justiça.

O Supremo Tribunal de Justiça, integrado por 17 juízes, foi instalado em 9 de


janeiro de 1829 na Casa do Ilustríssimo Senado da Câmara, tendo subsistido até 27
28

de fevereiro de 1891.7 Nesse período a sua competência era bastante limitada.

A proclamação da República em 1889 foi de vital importância para a


introdução controle de constitucionalidade no Brasil. A denominação STF surgiu na
Constituição Provisória publicada com o Decreto nº 510, de 22 de junho de 1890, na
qual se fazia menção da composição do mesmo, que de quinze Ministros, escolhidos
entre os Juízes Federais mais antigos e cidadãos de notório conhecimento jurídico e
reputação ilibada, que fossem elegíveis pelo Senado. Os Ministros do Supremo
Tribunal Federal seriam nomeados pelo Presidente da Republica após confirmação
do Senado Federal (art. 47, § 12). Contudo, o Supremo Tribunal Federal só foi
instituído em 28 de fevereiro de 1891, data em que ocorreu a sua primeira sessão no
Rio de Janeiro, com a participação de quinze juízes.

Com a proclamação da Republica e também a promulgação da primeira


constituição Republicana em 24 de fevereiro de 1891, introduziu-se no Brasil uma
nova concepção do Poder Judiciário.

Grande parte dessa roupagem atribuída ao Poder Judiciário foi fruto da


influencia da doutrina constitucional norte americana, que contribuiu para que se
outorgasse ao Supremo Tribunal Federal a função de guardião da Constituição e da
ordem federativa. Atribuísse-lhe inclusive competência para aferir a
constitucionalidade da aplicação do direito através de um recurso especial (art. 59,
nº 3, § 1º, a e b da constituição de 1891). Foi-lhe atribuído também nesta
constituição a competência para sanar conflitos entre a União e os Estados ou entre
os Estados entre si (art. 59, §1º, c, da citada lei suprema).

Ainda sob a influência doutrinaria norte americana, o Supremo Tribunal


Federal surgiu com o papel de interprete máximo da constituição republicana, e o
controle difuso de constitucionalidade instalou-se de forma efetiva no Brasil, com a
Lei nº 221/94, a qual previa a competência dos juízes e os tribunais para analisarem
a validade das leis e regulamentos, deixando de aplica-los aos casos em questão se
estes fossem manifestamente inconstitucionais.

Nesse período, não se cogitava ainda a ideia de haver um controle de

7 Site www.stj.jus.br
29

constitucionalidade direto, entretanto, o constitucionalismo brasileiro aliou ao


tradicional controle difuso a possibilidade de o STF analisar abstratamente a
compatibilidade do ordenamento jurídico com a constituição por meio do controle
concentrado.

Com a revolução de 1930 que pôs termo à Primeira Republica derrogando a


constituição de 1891, as funções legislativas e executivas foram atribuídas
provisoriamente ao Governo Provisório (Dec. nº 19.398). Nesse período, o numero
de Ministros do STF foi reduzido de quinze para onze, dividindo-se o tribunal em
duas turmas de cinco Ministros (dec. de 3/2/1932), passava o tribunal nesse período,
por problemas de cunho politico, em função disso, foi decretada a aposentadoria
compulsória de seis Ministros do mesmo.

Com o advento da Constituição de 1934 que, estabeleceu as bases para uma


nova ordem constitucional e democrática, concebeu o STF com onze Ministros.
Previa-se no art. 12, § 2º cc V a possibilidade de intervenção federal nos Estados em
razão de afronta aos princípios fundamentais da federação expressos no art. 7º, I,
“a” a “h”). Portanto essa intervenção só ocorreria se o STF, mediante provocação do
Procurador Geral da Republica declarasse a inconstitucionalidade da lei estadual.

Percebe-se assim, que esta declaração da inconstitucionalidade da lei


estadual era feita em controle incidental, contudo, surgia assim, no âmbito das
competências do STF, ainda que embrionária, a ideia do controle concentrado de
constitucionalidade. Nesse liame, como as decisões proferidas pela Corte Suprema,
em controle incidental não tinham efeito ‘’erga omnes’’ atribuiu-se ao Senado
Federal a competência de suspender a aplicação da lei declarada inconstitucional
(art. 90, IV da Constituição de 1934). Tal competência do Senado Federal prevaleça
atualmente.

Paulo Bonavides, em seu curso de direito constitucional 6ª edição, afirmou:

‘’os historiadores constitucionais quase todos coincidem em assinalar a


importância da Constituição de 1934 como expressivo marco na
progressão do País rumo ao controle direto de constitucionalidade’’.

Com a derrogação da constituição de 1934 pelo então Presidente Getúlio


30

Vargas em 1937, e a edição de uma nova constituição em 10 de novembro do


mesmo ano, começou um momento obscuro na historia do STF. Esta constituição
conhecida como ‘’ Constituição Polaca’’ já que baseada na constituição polonesa,
acarreta no país um rompimento na sua historia constitucional. Nela criou-se a
possibilidade de se suspender por ato legislativo decisão judicial que declarasse a
inconstitucionalidade de ato normativo, era a expressão clara de um Poder
Moderador.

Com a eleição da constituinte (Lei Constitucional nº 13, de 12-11-1945) acaba


a vigência da constituição de 1937, e entra em vigor no ano seguinte a Constituição
1946. Esta nova Constituição, não trouxe significativas mudanças em matéria de
controle de constitucionalidade. Com tudo, a emenda constitucional nº 16 de 1965,
atribuiu ao STF a competência para processar e julgar originariamente a
representação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual,
apresentado pelo Procurador Geral da Republica. Tal previsão consagrou
definitivamente o controle abstrato de constitucionalidade.

A chegada dos Militares ao Poder, trouxe certas alterações na composição do


STF. O Ato Institucional nº 2 de 1965, no seu art. 14 elevou o numero de Ministros
de onze para dezesseis, tendo sido suspensas as garantias da magistratura. Em 1º
de fevereiro de 1969, o governo editou novo Ato, no qual o numero de Ministros para
onze.

Contudo, sanada as vicissitudes trazidas pelos Militares, em 1985 convocou-


se uma Assembleia Constituinte, incumbida de elaborar um Projeto de Constituição,
o qual outorgava ao STF ampla competência originaria e recursal.

3.5.2 Supremo Tribunal Federal na Constituição de 1988

Nesta constituição, ampliou-se largamente a jurisdição constitucional da Corte


Suprema, nela ganhou previsão a ação direta de constitucionalidade por omissão e
arguição de descumprimento de preceito fundamental. Finalmente, foi com a
Emenda Constitucional nº 3 de 93, que se incorporou ao ordenamento jurídico pátrio
a ação direta de constitucionalidade.
31

3.5.2.1 Composição

O STF compõe-se de onze Ministros, divididos em duas turmas de cinco


membros cada uma delas, na qual todos se encontram em igual nível hierárquico, e
o seu presidente apenas participa das sessões plenárias.

3.5.2.2 Investidura

Os ministros do STF são escolhidos livremente pelo Presidente da Republica,


após aprovação por maioria absoluta dos membros do Senado Federal. Assim,
preenchidos os requisitos constitucionais para a investidura, o Presidente da
Republica escolhe o candidato que será sabatinado pelo Senado Federal, devendo
ser aprovado pela maioria absoluta de seus membros, art. 52, III, a, e art. 101
paragrafo único todos da CF. A posse será realizada pelo Presidente do STF.

Essa escolha dos onze Ministros realizada pelo Presidente da Republica, é


feita entre brasileiros natos (art. 12, § 3º, IV) no gozo dos direitos políticos, os
mesmos devem possuir notável saber jurídico e reputação ilibada.

3.5.2.3 Competências do Supremo Tribunal Federal

Salienta com brilhantismo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, que ‘’ dois são os
papeis fundamentais que desempenha o STF. Um, o de guarda da constituição. É o
que avulta de sua competência em matéria de controle de constitucionalidade, tanto
pela via direta quanto pela via incidente. Outro, o de cúpula do Poder Judiciário.
Como mais alto órgão jurisdicional do pais, a ele são deferidas as questões que
processa e julga em ultima instancia’’.

Assim, as competências do Supremo Tribunal Federal podem basicamente


ser agrupadas em dois grupos em relação à forma de aciona-lo são: competência
originaria e a recursal. Isto é, o STF é competente como Corte constitucional e
também como representante do Poder Judiciário.

Logo, esta Corte pode ser acionada diretamente, como forma de exercer a
sua competência originaria, por meio das ações que lhe cabem processar e julgar de
32

forma oficiosa. No exercício dessa competência a Corte analisa a questão em única


instância. Ou ainda, poderá ser acionado por meio de recurso ordinários ou
extraordinários, onde atuará como última instância.

Interessa-nos aqui a sua competência prevista no art. 102 caput da CF,


nomeadamente a guarda da constituição. A qual se prende basicamente com a
originaria, visando proteger a constituição e a constitucionalidade.

No exercício de sua função precípua que é a guarda da constituição, ela se


reveste de corte constitucional, visando realizar o controle concentrado de
constitucionalidade, competindo-lhe o seguinte:

a) Processar e julgar as ações diretas de inconstitucionalidade (ADINs)


genéricas ou interventivas;
b) A ação de inconstitucionalidade por omissão;
c) A ação declaratória de constitucionalidade (ADECON).

As materializações destas competências têm o intuito de garantir a


supremacia da constituição bem como de suas normas em relação as demais do
ordenamento jurídico, bem como controlar a regularidade do regime democrático e
do Estado de Direito, o respeito ao equilíbrio entre o Estado e coletividade, em
relação a proteção e garantia aos Direitos Fundamentais, o bom funcionamento dos
poderes públicos e a separação de Poderes e o controle de constitucionalidade das
leis e atos normativos.

3.5.2.4 Supremo Tribunal Federal e a Proteção Da Constituição E Sua


Constitucionalidade

A própria noção de controle da constitucionalidade esta intimamente ligada à


ideia de supremacia da constituição em relação a todas as outras normas do
ordenamento jurídico, a existência de hierarquia entre as mesmas, bem como a ideia
de rigidez constitucional, para proteção dela mesma e dos direitos fundamentais.

Em razão disto, esta corte suprema, no uso de suas competências, qual a


primordial, isto é, nos dizeres da Constituição Federal, a sua função precípua é a
guarda da constituição, ele não só a guarda como também fiscaliza a regularidade
33

do cumprimento de todos os seus preceitos e normas. Para tal, eles se atem em


analisar o cumprimento dos seus requisitos formais e materiais, tanto na criação das
leis como na execução das mesmas.

Assim, ao realizar a guarda da constituição efetuando o controle da


constitucionalidade, a Suprema Corte verifica a regularidade e compatibilidade das
normas infraconstitucionais em relação aos mandamentos da Norma Mater, isto no
âmbito formal e no material.

Por exemplo, em relação à elaboração legislativa, os requisitos formais, a


própria constituição prevê as regras e princípios básicos que não podem ser
excluídos de forma alguma da sua apreciação na elaboração das leis. O princípio da
legalidade previsto pela constituição ‘’ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei’’ faz com que o processo de elaboração
das leis, sejam de fato consequência dele, isto é, as leis deverão ser elaboradas
segundo os moldes do regramento constitucional para esse feito, art. 59 a 69 da CF.

Quanto aos requisitos materiais, ou seja, ao conteúdo das normas e atos


normativos, a Corte em analise também se desdobra em materializar o controle de
constitucionalidade visando garantir o respeito à supremacia dos princípios, direitos
e garantias constitucionais. Por exemplo, a elaboração de Medida Provisória pelo
Poder Executivo deve estar dentro dos limites previstos pela norma constitucional,
tanto material como formal.

Portanto, pode-se dizer que o STF no ordenamento jurídico brasileiro,


desempenha um papel duplo e extensivo, sem, no entanto, ser confuso, explico.

A ele se reservou a função de proteger a Constituição Federal, nessa função


ele se reveste de uma característica paternalista quanto ao controle da observância
dos princípios, direitos e garantia dos direitos fundamentais previstos pela mesma
norma que distribui todas as competências no ordenamento jurídico, para isso,
dispõe de meios contundentes para sanar qualquer mácula atentatória aos
regramentos emanados da constituição.

Por outro lado, ele se faz representar como expoente máximo do Poder
Judiciário, organizador e regulador da distribuição dos tribunais e funções
34

correlatadas a materialização e aplicação das leis em todo o território nacional.

Nesse liame, percebe-se que poderia ser diferente, sem ser, no entanto,
melhor ao que se tem atualmente no Brasil, a Corte constitucional local, se assim
podemos chamar, detém características próprias e um ativismo e ousadia sem igual
no continente americano, diferentemente do que ocorre com a corte constitucional
sobre a qual me debruçarei nesse labor acadêmico também.
35

4 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NA CONSTITUIÇÃO DE ANGOLA


DE 2010

4.1 Enquadramento histórico do instituto em Angola

Angola é um país novo, que ainda busca se encontrar como sociedade, cuja
independência se proclamou em 11 de novembro de 1975, assim este minúsculo
trabalho trará a baila as referencia sobre controle da constitucionalidade com base
nos seus antecedentes históricos e contemporâneos.

Após de Revolução de 25 de abril de 1974 ocorrida em Portugal, na qual se


determinou por meio da Lei nº 1/74 a destituição do Presidente da Republica, a
exoneração das funções do Presidente de Conselho de Ministros, dos Ministros,
Secretários de Estado e Subsecretários, a dissolução da Assembleia Nacional bem
como do Governo. Os poderes passarão a ser para uma Junta de Salvação
Nacional.

Essa Junta no exercício dos poderes de Estado efetuou grandes mudanças


que necessariamente repercutiram em Angola, já que aquela era colônia portuguesa
a altura desses eventos históricos.

Em agosto de 1974 é estabelecido um regime transitório para a colônia de


Angola, formalizado na Lei nº 6/74. Com base nela, as funções de governador geral
de Angola passam a ser exercidos por uma Junta Governativa. Em setembro, o
Decreto nº 460/74 determina a constituição do Governo de Angola. Em novembro do
mesmo ano a Lei nº 11/74 alterou o regime de governo em Angola, com a qual a
representação da soberania portuguesa passou a competir a um Alto Comissário, os
secretários e subsecretários Estado, reunidos em conselho, formam o Governo
Provisório de Angola, o qual exercia todas as funções de Estado.

Em janeiro de 1975 são celebrados os Acordos de Alvor, documentos nos


quais se reafirma pela parte de Portugal o reconhecimento do direito do povo de
angolano à independência, e Angola como entidade una e indivisível, bem como a
previsão de que a independência e a soberania plena de Angola seriam
proclamadas em 11 novembro de novembro de 1975. Até então, o poder soberano
36

em no país passou a ser exercido pelo Alto Comissário e por um Governo de


Transição. Este governo era presidido e dirigido por um Colégio Presidencial, do
qual faziam parte os três partidos políticos ou movimentos de libertação de Angola
nomeadamente a FNLA (Frente de Nacional de Libertação de Angola), UNITA
(União Nacional para a Independência Total de Angola) e o MPLA (Movimento de
Popular de Libertação de Angola) que haviam assinado os Acordos de Alvor (Lei nº
1/75 e Decreto Lei nº 2-A/75.

Ainda dentro do citado já citado acordo, houve divergências, no que tange a


representatividade das outras partes angolanas signatárias do mesmo.

Nesses termos, em 11 de novembro de 1975, proclama-se a independência


de Angola pelo Presidente do MPLA em um momento de guerra. O país passou a
usar a nomenclatura de Republica Popular de Angola. Nessa altura entra em vigor a
Lei Constitucional e a Lei da Nacionalidade.

Portanto, surgia à primeira Constituição de Angola como Estado independente


e se iniciava uma guerra entre os angolanos, com uma componente estrangeira,
frutos da guerra fria levados a cabo pelo Bloco Socialista e o Bloco Ocidental
(Capitalista).

4.2 O Controle na Lei Constitucional De 1975

Esta lei tinha como função principal a ‘’ total libertação do colonialismo e da


dominação e opressão do imperialismo e a construção de um país próspero e
democrático em que as massas populares pudessem materializar as suas
aspirações’’ como se lia no art. 1º da Lei Constitucional de 1975.

Nesse período, implantou-se no país um regime socialista, fruto da influência


dos princípios políticos da III Internacional, e as concepções Marxista-leninistas,
estavam refletidas integralmente nesta constituição, traduzindo a ideia de Partido-
Estado Nação.

Entretanto, esta Lei Constitucional sofreu algumas alterações a saber:

a) Lei nº 71/1976, de 11 de novembro (alterou vários artigos da citada lei


37

constitucional de 1975 e teve como escopo principal reforçar o Poder e


o papel do Presidente da Republica...);
b) Lei nº 13/1977, de 7 de agosto (alterou o art. 32º da citada lei e visou
reforçar o poder do Presidente da Republica);

Em 7 de fevereiro de 1978 foi publicada uma nova Lei constitucional depois


das duas alterações anteriores. Entretanto, tanto a Lei constitucional pós-
independência e suas alterações, bem como a Lei constitucional de 1978 nada
estipulavam sobre o controle de constitucionalidade das normas e atos normativos
do Poder Publico.

Com o advento da lei constitucional de 1978, que veio a ser alterada em


janeiro do ano seguinte por determinação do Comitê Central do MPLA, e varias
outras que se seguiram nos anos seguintes, isto é, em 23/09/1980 (alteração
determinada por Resolução do Comitê Central do Partido, com o objetivo de criar os
órgão de Poder Popular , Assembleia do Povo e as Assembleias Populares locais),
01/02/1986 (alteração realizada pela Assembleia do Povo Lei nº 1 daquele ano, com
o intuito de criar o cargo de Ministro de Estado), e em 31/01/1987 (alteração lei nº 2
daquele ano, alterou o artigo 50 da Lei Constitucional de 86, com o objetivo de dar
nova redação à Composição da Comissão Permanente integrada pelo Presidente da
Republica).

Reprise-se que todas as alterações feitas as Leis Constitucionais a época,


nenhuma tratou do controle de constitucionalidade, e devemos nos ater ao fato de
que o regime implantado nesse período era monopartidário, isto é, só havia Partido
Único no País.

4.3 O controle na Lei Constitucional nº 12/91

Em março de 1991 realizaram-se mudanças profundas na Lei Constitucional


daquele ano, caracterizada por muitos juristas como sendo uma nova Constituição, o
que de fato foi.

A Constituição de 1992 de Angola, Lei nº 23/92, foi um grande divisor de


águas, comparada com as Leis Constitucionais anteriores, pois ela rompeu
38

nitidamente qualquer aparência com as anteriores.

Continha em si, as mudanças necessárias para o país deslanchar rumo ao


desenvolvimento no âmbito jurídico, econômico, social e político. Esta Constituição
antecedeu aos Acordos de Paz, nos quais estavam previstas a realização de
eleições gerais multipartidárias com base no sufrágio universal, direto e secreto para
a escolha do Presidente da Republica e dos Deputados à Assembleia Nacional.

Foi nesta Constituição inovadora e até certo ponto revolucionaria, que surgiu
pela primeira vez no ordenamento jurídico angolano, sob o Capitulo V, Secção III o
Tribunal Constitucional, no art. 134 da CRA, bem como a previsão constitucional de
Garantias e Revisão da Lei Constitucional, sob o Título V, Capitulo I com o título Da
Fiscalização da Inconstitucionalidade. De alguma forma, estava se evidenciando o
caráter inovador desta norma constitucional em Angola, visto que esta trouxe as
ideias chaves para a implementação do controle ou da fiscalização da
constitucionalidade das leis e atos normativos, com a competência para tal atribuída
a um órgão, diga-se o TC (Tribunal Constitucional).

4.4 O controle na Constituição angolana de 2010

Esta Constituição foi publicada depois de um longo período de guerra civil que
abalou e atrasou grandemente o país em todos os níveis, ante o fracasso na
implementação das propostas trazidas pela Constituição de 1992.

Os Acordos de Paz firmados em 1991 pelos partidos políticos do MPLA,


UNITA E FNLA, bem como a promessa firmada naqueles para realização de
eleições gerais e multipartidárias, se realizaram em parte e com alegadas fraudes ao
escrutínio eleitoral e isso foi o estopim para o inicio da guerra que perdurou até
meados de fevereiro de 2002.

Contudo, a atual Constituição angolana publicada em janeiro de 2010 se


insere historicamente como a terceira constituição de Angola, que visa materializar
todos os anseios explícitos e implícitos da sociedade angolana atual, bem como
39

trazer o desenvolvimento em todas as suas vertentes, não descurando jamais das


experiências passadas, muito pelo contrario, ela colhe dela grande aprendizado e
disposta a traçar um futuro cada vez melhor para o país.

Quanto a matéria do controle ou fiscalização da constitucionalidade da lei e


atos normativos, bem como as garantias da constituição, ela materializou tudo o que
já foi prevista na Constituição de 1992, sem, entretanto, trazer alguma inovação
nesse campo. Assim, ela prevê a fiscalização da constitucionalidade no capitulo I art.
226 da C.R.A.

O modelo de controle ou fiscalização adotado em Angola e seus fundamentos

Usando-se de preceitos hermenêuticos, em linhas de interpretação literal da


norma descrita no art.180º da Constituição da Republica de Angola e suas alinhas,
conclui-se que:

a) O modelo de Controle ou Fiscalização da Constitucionalidade adotada


(o) neste país africano é o Judicial, no qual a competência é atribuída
expressamente a um órgão especializado, diga-se, o Tribunal
Constitucional (TC), art. 180º, nº 2, a da CRA. Entretanto,
implicitamente esta competência se estende aos tribunais ordinários,
como se depreende da leitura do art.180º, nº 2, alinhas d e e da CRA,
in litere, (grifos nossos):

Art. 180 Tribunal Constitucional:

1. Ao Tribunal Constitucional compete, em geral, administrar a


justiça em matéria de natureza jurídico-constitucional, nos
termos da Constituição e da lei.

a. Apreciar a constitucionalidade de quaisquer normas e demais atos do


Estado;
b. Apreciar preventivamente a constitucionalidade das leis do Parlamento;
c. Exercer jurisdição sobre outras questões de natureza jurídico-
constitucional, eleitoral e político-partidária, nos termos da Constituição e da
lei;
d. Apreciar em recurso a constitucionalidade das decisões dos demais
Tribunais que recusem a aplicação de qualquer norma com
40

fundamento na sua inconstitucionalidade;

e. Apreciar em recurso a constitucionalidade das decisões dos demais


Tribunais que apliquem normas cuja constitucionalidade haja sido
suscitada durante o processo.

O sistema adotado encontra raízes seguradoras na própria Lei Magna, como


expressão da vontade do Poder Constituinte.

4.4.1 Princípios que regem a matéria nesta Constituição

Os princípios que norteiam a fiscalização e ou controle da constitucionalidade


das leis e atos normativos do Poder Publico, parecem ser universais, isto é,
independem do ordenamento jurídico, entretanto apresentam-se sempre com
diferentes e ou sinônimas terminologias, acabando por convergir semanticamente
para o mesmo fim, embora cada Constituição tenha os seus valores nucleares
essenciais, o modo de materializá-lo, a sua eficácia que os torna particulares na
esfera constitucional global.

Nesse liame, os princípios que dão sustentabilidade a fiscalização da


constitucionalidade na norma constitucional angolana, são os seguintes:

a) Princípio da supremacia constitucional: a constituição é a norma


suprema no ordenamento jurídico angolano, sendo ela a fonte de
produção normativa, e tem um valor hierarquicamente superior em
relação às demais normas do ordenamento jurídico pátrio;
b) Princípio da Rigidez constitucional: esse informa que a Revisão da
Constituição demanda um processo especial, com iniciativa e quórum
de aprovação (verbi gratia 2/3 dos Deputados em efetividade de
funções, art. 234º, nº 1 da CRA) e promulgação diferenciadas, isto é,
nos dizeres de J.J.Gomes Canotilho, este princípio traduz exigências
de ordens formais e materiais ‘’ agravadas ou reforçadas’’8 em relação
às leis ordinárias.
8CANOTILHO, J.J.Gomes, Direito constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição 2003, Almedina
Editora.
41

c) Princípio da conformidade com Constituição: este determina que todos


os atos do Estado, da Administração Pública e Poder Local dependem
de sua conformidade com as normas constitucionais, art. Art.226, nº 1
da CRA. Estes atos devem estar conformes substancial e formalmente
com as normas emanadas da Constituição.
d) Princípio da vinculação constitucional dos poderes públicos: sendo a
constituição a Norma Mater do ordenamento jurídico, os poderes do
Estado só têm validade e legitimidade, se estiverem prescritos e em
conformidade com ela, já que é ela que atribui e distribui os poderes
dos entes públicos.

4.4.2 O Tribunal Constitucional e defesa da Constituição e da Constitucionalidade


em Angola

4.4.2.1 Enquadramento histórico9

Como já exposto acima, no item 3.3-o controle de constitucionalidade na Lei


Constitucional nº12/91, no segundo parágrafo, o Tribunal Constitucional, ou seja, a
jurisdição constitucional em Angola surgiu em 1992, fruto das revisões e ou
alterações realizadas à Lei nº 12/91, que culminaram para a aprovação da Lei
Constitucional nº 23/92 que previa no art. 134 e seguintes o Tribunal Constitucional,
e suas respetivas competências.

Entretanto, este Tribunal não foi institucionalizado no ano de seu nascimento,


por razões administrativas, politicas ou até econômicas, que inviabilizaram a sua
implementação de fato. Contudo, as competências a ele atribuídas legalmente,
foram exercidas no período de 1992 a 2008, pelo Tribunal Supremo, conforme
disposto no art. 5º da Lei Preambular do Tribunal.

Nesse período, todos os litígios de ordem jurídico-constitucional eram


apreciados e julgados pelo Tribunal Supremo, nas vestes de Tribunal Constitucional.

9 www.tribunalconstitucional.ao, link Historia pesquisa realizada em 15/05/2015.


42

Com a aprovação da Lei n.º 2/08, de 17 de junho – Lei Orgânica do Tribunal


Constitucional e da Lei n.º 3/08, de 17 de junho – Lei Orgânica do Processo
Constitucional, estavam reunidos os pressupostos legais para a criação efetiva do
Tribunal Constitucional.
Assim, no dia 25 de junho de 2008, foi institucionalizado o Tribunal
Constitucional tendo os seus Juízes Conselheiros tomado posse perante o
Presidente da República. Nesta data, tomaram posse sete Juízes Conselheiros
sendo quatro homens e três mulheres.
A corte do Tribunal Constitucional era, à luz do artigo 135.º da Lei
Constitucional, integrada por sete Juízes, para um mandato de sete anos não
renovável.
O Tribunal Constitucional foi criado em véspera da realização das eleições
legislativas de 2008. Assim sendo, após a sua entrada em funcionamento, este
Tribunal realizou a tarefa de verificar e validar as candidaturas dos Partidos Políticos
e Coligações de Partidos concorrentes às mencionadas eleições.
Por determinação legal, ao Tribunal Constitucional recaem as competências
relacionadas com o processo de apreciação e validação de candidaturas às
eleições, o contencioso do registo eleitoral, bem como o contencioso eleitoral. Os
exercícios de funções de fiscalização do processo eleitoral abarcaram os seis
primeiros meses de início de funcionamento do Tribunal Constitucional.
Os processos de natureza constitucional que estavam a tramitar no Tribunal
Supremo (nas vestes de Tribunal Constitucional) foram transferidos para o Tribunal
Constitucional para posterior decisão.
Transitaram, de igual modo, para este Tribunal, vários processos cujo objeto
era o litígio interno dos Partidos Políticos que derivavam da interpretação e aplicação
dos seus Estatutos. A resolução destes processos constituiu grande parte dos
Acórdãos exarados pela corte constitucional de Angola.
A Lei do Processo Constitucional atribui ao Tribunal Constitucional, um vasto
leque de competências em matéria constitucional e de tutela dos direitos
fundamentais. Tendo este diploma legal consagrado o recurso extraordinário de
constitucionalidade de qualquer decisão de órgãos do poder público vários foram os
processos desta natureza julgados por este Tribunal.
43

Em 2010, com a aprovação da Constituição da República de Angola – CRA, a


corte constitucional foi alargada de sete para onze Juízes Conselheiros, tendo sido
alterado o seu modo de indicação, nos termos do artigo 180.º n.º 3 da CRA, ficando
o Tribunal com a seguinte constituição:

a) Quatro juízes designados pelo Presidente da República, incluindo o


Juiz Presidente do Tribunal;
b) Quatro juízes eleitos pela Assembleia Nacional, por maioria de 2/3 dos
Deputados em efetividade de funções, incluindo o Vice-Presidente do
Tribunal;
c) Dois juízes eleitos pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial;
d) Um juiz selecionado por concurso público curricular, nos termos da lei.

Conforme estabelecido no artigo 243.º da Constituição da República de


Angola, a designação dos Juízes Conselheiros deve ser feita de modo a evitar a sua
total renovação simultânea, nos termos a serem fixados no regulamento interno do
Tribunal.
Os quatro Juízes Conselheiros, que completaram a corte do Tribunal tomaram
posse em maio de 2012, perante o Presidente da República.
Com a convocação das Eleições Gerais para o dia 31 de agosto de 2012,
pelo Presidente da República, ao Tribunal Constitucional recaiu a tarefa de proceder
à verificação e validação das candidaturas concorrentes às referidas eleições, o que
foi feito em estrito cumprimento dos prazos legais, tendo este processo iniciado no
dia 31 de maio e terminado no dia 6 de julho de 2012 com a entrega oficial das listas
das candidaturas admitidas à Comissão Nacional Eleitoral.

4.4.2.2 O TC e a defesa da Constituição e da Constitucionalidade.

Nos dizeres do art. 180º da Constituição angolana, ao TC compete, em geral


administrar a justiça em matéria de natureza jurídico-constitucional, nos termos
determinados por ela mesma e pela lei, entretanto o TC em na sua função de
protetor da norma Superior ele preserva os mandamentos previstos por ela, bem
44

como realiza a fiscalização da aplicação formal e material em relação aos poderes


públicos.

Para tal, ele se utiliza de meios postos a sua disposição para o necessário e
eficaz desempenho da sua função. Assim, para manter a sanidade e intangibilidade
constitucional de suas normas, a constituição prevê formas de exercício da
fiscalização ou do controle das normas e demais atos públicos, nomeadamente a
fiscalização abstrata preventiva a fiscalização abstrata sucessiva, e o controle ou
fiscalização abstrata por omissão, bem como elenca as entidades legitimadas a
solicitar a analise de compatibilidade constitucional das normas atentatórias do
núcleo normativo constitucional.

Assim, é importante definir o que vem a ser a fiscalização ou controle abstrato


preventivo, sucessivo e também a fiscalização ou controle abstrato por omissão.

Fiscalização ou controle abstrato preventivo da constitucionalidade:

a) Este é o controle comumente chamado na doutrina brasileira de


controle prévio. Este consiste na verificação de constitucionalidade dos
projetos de lei ou atos normativos, antes que estes se transformem em
leis ou atos normativos perfeitos e definitivos, art. 228º, nº 1 e 2 da
CRA.

São legitimados para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade


o Presidente da Republica e 1/10 dos Deputados à Assembleia Nacional em
efetividade de funções, art. 228º, nº 1 e 2

Este se justifica pela vontade de se manter a intocável a ordem constitucional,


evitando que normas inconstitucionais sejam criadas e possam assim vigorar
maculadas de inconstitucionalidade.

Fiscalização ou controle abstrato sucessivo:

a) Este é controle é similar ao chamado controle principal ou por via de


ação na doutrina brasileira e portuguesa.10

10 CANOTILHO, J.J. Gomes, ob.citada, pág.981


45

Consiste, na verificação da constitucionalidade das normas de determinada lei


ou ato normativo do poder estatal em relação às normas constitucionais, por meio da
competente ação principal, com o objetivo de declarar com força obrigatória geral
(efeito ‘’erga omnes’’) a inconstitucionalidade das normas incompatíveis com a lei
Magna, art. 230º, nº 1 da CRA. Um ponto interessante a ser observado neste
controle, é a possibilidade de repristinação, como efeito da declaração de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral, ex tunc, da norma em análise.

São competentes para requerer a declaração de inconstitucionalidade, art.


230º, nº 2 e suas alinhas:

a) O Presidente da República;
b) 1/10 dos Deputados à Assembleia Nacional em efetividade de funções;
c) Os Grupos Parlamentares;
d) O Procurador-Geral da República;
e) O Provedor de Justiça;
f) A Ordem dos Advogados de Angola (O.A.A).

Fiscalização ou Controle abstrato por Omissão:

Este controle ou fiscalização consiste em verificar não a violação por


incompatibilidade de determinada lei ou ato normativo publico em relação à
constituição, mas a inconstitucionalidade causada pela não produção de
determinada norma, pelo Poder Legislativo. Por existirem no ordenamento jurídico
normas com um carácter programático e abertas, portanto pendentes de
normatização externa do órgão competente, isto é, precisam de complementação
para que possam resguardar direitos, art. 232º, nº 1,2 da CRA.

São legitimados para requerer a declaração de constitucionalidade por


omissão: Presidente da Republica, 1/5 dos Deputados à Assembleia Nacional em
efetividade de funções e o Procurador-Geral da Republica, art. 232º, nº 1

Portanto, a fiscalização difusa da constitucionalidade, a constituição deixa


evidente que ela existe implicitamente, ao afirmar no seu art.180º, nº 2, alinha d,
haja vista ser esta a função direta e indireta do juiz ao aplicar a norma ao caso
concreto.
46

5 Influência nos dois sistemas constitucionais de defesa da constituição

5.1 A influência portuguesa no Brasil e em Angola.

Portugal como potência colonizadora desses dois países, desempenhou


obviamente um papel importante e influenciador na formação constitucional dos
mesmos. Assim, no Brasil tem-se como grande resquício da influencia lusa, as
Ordenações Manuelinas e Afonsinas que vigoraram por certo período no
ordenamento jurídico brasileiro, entretanto ao longo dos anos essa influencia no
brasil vem diminuindo ante o crescimento e maturidade alcançada por este pais no
ramo das ciências jurídicas, podendo afirmar-se hoje como detentor de uma
identidade constitucional, cujos precedentes foram os diferentes processos históricos
que viveu ao longo desses anos.

Em Angola, a influência lusa é muito evidente, compreende-se tal fato pelo


motivo de que, grande parte dos seus juristas constitucionais têm sua base de
formação a Universidade de Coimbra, acrescente-se a isso o fator colonizador que
Portugal exerceu sobre o país africano. Tal influencia esta patente até mesmo na
Constituição angolana de 2010, a qual mais parece uma reprodução adaptada da
constituição portuguesa feita pelo constituinte angolano.

5.2 A Influência norte americana

Para muitos estudiosos do direito, o controle de constitucionalidade nasceu


nos Estados Unidos, com o famoso caso Marbury vs Madison, em que determinado
juiz declarou em sentença a superioridade da constituição américa em relação as
leis ordinárias. Com o desenvolvimento do constitucionalismo americano alavancou-
se imensamente a difusão da ideia de controle judicial da constitucionalidade das
leis em quase todas as nações civilizadas.

No Brasil, a presença do controle judicial da constitucionalidade é claramente


fruto da influencia norte americana, que se difundiu ao dos tempos. Estudiosos como
47

Rui Barbosa e outros grandes nomes desta nação beberam daquela fonte.
Logicamente o modelo de controle norte americano em relação ao brasileiro
conserva suas diferencias e peculiaridades.

Em Angola o constitucionalismo norte americano neste quesito teve alguma


influencia, sim, porém não muito expressiva, pois o controle desenvolvido naquele
ordenamento jurídico difere e muito do modelo tipicamente americano.

5.3 A influência francesa e alemã no sistema de controle da


constitucionalidade nos dois países.

O modelo francês de controle da constitucionalidade é singular em relação a


qualquer outro citado neste trabalho, aquele pais adota um modelo bifurcado, em
que existem dois órgãos colegiados (Conselho de Estado da França, para a
jurisdição administrativa e a Corte de Cassação para a jurisdição judicial) com poder
de veto sobre a matéria constitucional e um Conselho Constitucional). Neste modelo,
nenhum juiz tem competência para analisar a constitucionalidade de uma lei
ordinária em relação a constituição.

Diferentemente do modelo adotado no Brasil e em Angola, tem-se, portanto,


que o sistema de controle de constitucionalidade francês pouco teve de influencia
nos dois sistemas de controle em estudo.

A influência alemã, ou melhor, dizendo, do sistema europeu de controle da


constitucionalidade nos dois países foi muito maior em relação ao francês.

Para o estudo da matéria controle na Europa e não só, é incontornável da


figura do famoso constitucionalista austríaco Hans Kelsen, para muitos o fundador
da teoria do controle da constitucionalidade da lei por um órgão especializado,
independente do Poder judiciário. No Brasil existe um sistema de controle de
constitucionalidade misto, convivendo assim harmonicamente a influencia americana
(controle difuso) e a influencia alemã (controle concentrado ou abstrato). Um dos
grandes estudiosos do sistema alemão de controle da constitucionalidade no Brasil é
Gilmar Ferreira Mendes, Ministro do STF, torna evidente a grande relação intrínseca
entre os dois sistemas.
48

Em Angola a influência do sistema alemão de controle é inexpressiva,


entretanto existem pontos comuns nos dois sistemas. Visto que, na Alemanha
qualquer juiz pode analisar a constitucionalidade de lei em relação a constituição,
porém só cabe ao Tribunal Constitucional Federal a declaração de
inconstitucionalidade. Em angola também se aplica essa regra, os juízes podem
desaplicar determinada lei com fundamento na sua inconstitucionalidade, sendo
competente para declará-la em recurso o Tribunal Constitucional.

5.4 A Importância Do Controle De Constitucionalidade Das Leis E Atos


Normativos Como Garantia Dos Direito Fundamentais.

Os direitos fundamentais representam uma categoria especial de direitos nas


constituições modernas, que exigem uma proteção diferenciada em cada
ordenamento. Eles têm como antecedente inseparável o jus naturalismo ou direito
natural, por esses traços as constituições modernas os tornaram constitucionais e
fundamentais ante as suas características, de universalidade, inalienabilidade,
irrenunciabilidade.

Nos dizeres de Gomes Canotilho:

‘’a constitucionalização destes direitos, tem como consequência mais


notória a proteção dos direitos fundamentais mediante o controlo
jurisdicional da constitucionalidade dos atos normativos reguladores destes
direitos. Por isso e para isso, os direitos fundamentais devem ser
compreendidos, interpretados e aplicados como normas jurídicas
vinculativas e não como trechos ostentatórios ao jeito das grandes
declarações de direitos. ’’

A evolução constante e necessária destes direitos fez com que os modernos


ordenamentos jurídicos os elevassem a categoria de normas constitucionais e mais,
com aplicabilidade direta e imediata. Esse nível de importância a que se elevou os
direitos fundamentais faz com que todos os atos do poder publico devem estar em
conformidade com eles, visto se tratarem de normas constitucionais.

Nesse liame, é perceptível a importância do controle de constitucionalidade


como garantia aos direitos fundamentais, já que a constituição vincula todos os
49

órgãos públicos e privados a sua observância e assim também ás suas normas.


50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nestas derradeiras linhas, imagino ter compreendido que os dois


ordenamentos jurídicos e seus respetivos institutos de controle ou fiscalização da
constitucionalidade evoluíram bastante ao longo dos tempos, inovando e tornando
eficaz cada vez mais os seus instrumentos.

Saliente-se, entretanto, que é de suma relevância estreitar


constantemente a aproximação dos estudantes em relação à ciência jurídica
comparativa, face a tendência global de evolução das sociedades, bem como o
contato entre realidades distintas, porém que se aproximam por razões naturais,
politicas, sociais e até mesmo históricas ou antropológicas.

A realidade equidistante entre os dois sistemas faz com que os seus institutos
e instrumentos saneadores da inconstitucionalidade os torne único, porém com
pontos comuns, fruto da indissociável relação entre as ciências sociais na
modernidade. Disso resulta que atos ações atentatórias ao bloco de
constitucionalidade que caracteriza as constituições modernas sejam reprimidas com
medidas pontuais nos diferentes países.

A pertinência da temática aqui exposta é corolário da aproximação forçada


entre as duas nações, não só pelo colonizador, mas também pela necessidade de
tornar acessível o entendimento sobre o instituto do controle nos dois sistemas
jurídicos.

O estudo dos diferentes sistemas de controle ou fiscalização da


constitucionalidade proposto nas linhas deste trabalho não tem o intento de esgotar
o assunto, ante a dinâmica da ciência jurídica e assim também a evolução dos
conceitos trazendo novos desafios aos estudantes das ciências jurídicas exigindo
um preparo cada vez melhor e mais coerente com a realidade dos tempos. Muito
pertinente seria a criação de mecanismos jurídicos para que ao cidadão também
fosse atribuído o direito de quebrar a inércia dos órgãos judiciais competentes para a
51

interposição de ação, cujo pedido imediato seja a verificação da constitucionalidade.


Constatou-se que nos dois ordenamentos jurídicos não existe nada de semelhante,
isto é, com acesso direto aos tribunais superiores.

Portanto, os dois sistemas jurídicos estudados, têm nas suas constituições


elementos bastantes, sem, no entanto, serem suficientes, para proteger suas
constituições e o seus blocos de constitucionalidade visando garantir a real
efetivação dos direitos fundamentais para que possam alcançar efetivamente
aqueles a quem os mesmos se dirigem.
52

REFERENCIA E BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, W. M. História do direito constitucional brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Max


Limonad, 1954.

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comparado. Edição em Língua Portuguesa. Editor Sergio António Fabris, Porto Alegre,
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MORAES, G. P. de. Curso de direito constitucional. 2ª ed. Niterói: Impetus, 2008.

DAMIÃO, João. Conheça a constituição da Republica de Angola: contributos para sua


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LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 17ª ed. São Paulo: Saraiva,
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ANGOLA. Tribunal Constitucional de Angola: História.


Disponível em: http://www.tribunalconstitucional.ao. Acesso em 15/05/2015.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal: Histórico.


53

Disponível em: http://www.stf.jus.gov.br. Acesso em 15/05/2015.

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