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A condição humana de
Hannah Arendt
Marciano Guerra*
Isso significa que aquilo que o ser humano cria ou que toca sua
vida acaba por assumir um caráter de condição da existência humana.
Ao mesmo tempo, os homens acabam por se condicionarem às coisas.
Sem elas a existência humana não teria sentido; nem as coisas o teriam
se não fossem condicionantes da existência humana. Tudo que adentra
o mundo humano torna-se parte da condição humana e é sentida como
força condicionante (ARENDT, 2003, p. 17). O importante aqui é levar
em conta que Arendt concebe o mundo enquanto objetivo e circundante
de cada pessoa sem o qual essa pessoa não teria sentido e nem mesmo
poderia ser imaginada sem o que está ao seu redor. Exatamente por isso
são condições de sua existência.
Usando a expressão condição humana, Arendt não está falando
em natureza humana. Os aspectos que ela apresenta como constitutivos
da existência humana como trabalho, labor, ação, razão e pensamento
não podem ser chamados de características essenciais, sem as quais o
ser humano deixaria de sê-lo. Mesmo vivendo em outro planeta – uma
possibilidade visualizada hipoteticamente por ela em meados do século
passado – as características citadas acima perderiam sentido; permane-
ceria como parte da natureza dos seres humanos apenas o fato de que
são condicionados. Apesar de poder demonstrar, conhecer e definir to-
O labor
1 Arendt atribui essa noção da ciência a invenção do telescópio que permitiu ao ho-
mem, mesmo com os pés nesse planeta, pensar de modo universal. Assim, ações na
terra poderiam ser moldadas a leis cósmicas (2003, p. 276).
2 Segundo C. Lafer, o termo labor indica uma ideia de tarefas penosas, que cansam.
Etimologicamente, a palavra trabalho parece designar melhor o que Arendt chama
de labor. Trabalho viria do latim tripalium derivativo de tres e palus (três paus), um
aparelho que se destinava a ferrar animais que não queriam se sujeitar. Portanto,
tripaliare (trabalhar) significava torturar com o tripalium. Outro sentido que vem
do baixo latim é trabaculum, do latim trabs que significa trave ou viga também
usada para ferrar animais. De qualquer forma, conclui Lafer, o termo labor se re-
fere a trave “que todos nós carregamos na penosa e sisífica labuta de lidar com a
necessidade” (1979, p. 30).
O trabalho
A ação
A esfera da casa
A esfera política
3 O termo polis é utilizado para designar esse espaço, nas palavras de Aristóteles,
de co-participação de atos e palavras. Ela tem duas funções: possibilitar que haja
mais oportunidade de se obter fama imortal e remediar a futilidade da ação e do
discurso, presente antes da polis existir. Para Arendt, a polis não é, a rigor, “a cidade
estado em sua organização física”. Mas se trata da organização da comunidade no
agir e falar juntos, não importa onde estejam. A frase “não importa onde vás, serás
uma polis”, além de expressar uma afirmação sobre a colonização grega, expressa
a ação e o discurso entre pares que pode situar-se em qualquer tempo e espaço
(ARENDT, 2003, p. 209-211).
Referências bibliográficas