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Pe, AUGUSTO FERRETTI, S. J.

0s Santos Anjos da Guarda


deta « deg
R. vetuozo

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IMPRIMI POTEST
‘Tuubaté, 25 do janciro do 1945
Pe, Jovephus Poggel 8. C. J.
Praepos. Prov. Bras, Merid.

NIWIL OBSTAT
Taubsté, 25 de janeiro de 1945
‘Pe. Prederico Bangder 8. 0. J.

IMPRIMATUR
‘Taubaté, 25 de janciro do 1945
D. Franciseo Borja do Amaral
Bispo Diocesano,

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ay
Parte I
Fundamento dogmitico e aplicacées praticas

INTRODUGAO
Deus eosfiow aos seus anjos o guardar-ts om todos
‘8 tous eaminhor”
(Salmo X0, 11)
E’ uma verdade de fé, diz 0 eximio tedloga
Francisco Suarez, que Deus, em sua inefivel pro-
vidéncia, confiou os homens, enquanto peregrinam
por éste mundo, & guarda dos Santos Anjos. E é
igualmente doutrina catéliea, que a cada homem,
desde 0 primeiro instante do seu nascimento, &
assinado umanjo em especial como seu particular
quardador. “Singulis hominibus ab ort nativita-
lis suae singulos angelos ad custodiam esse depu-
latos, assertio catholica est’. (1)
Este ensinamento ¢ fundado sdbre a autori-
dade da Sagrada Escritura e dos santos Padres.
Quanto a Escritura, um dos textos sobre que p
cipalmente se apdia, é 0 versiculo, que ha pouco
citamos do salmo nonagésimo: “Deus confiou aos
seus anjos o guardar-te em todos os teus caminhos.
(@) De Angelis, lib. VI, cap. XVIL, a, 68,

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6 P, AUGUSTO FERRETTI, s, J.
Angelis suis Deus mandavit dete, ut custodiantte
in omnibus viis tuis”.
E’ éste yersiculo rico de doutrina. Cada uma
de suas palavras merece ser meditada. E nés 0
faremos seguindo as pegadas do doutor melifluo,
S. Bernardo, que assimas vai comentando: “Quem
confiou? a quem? Quefoi confiado? a respeito de
quem? Ohquegrande reveréncia te ndo deve ins-
pirar umatal disposi¢do da Providéncia de Deus,
quanta devoeio infundir, quanta confianga tra-
zer! Reveréncia, pois assim o exige a presenca,
certa de fé, dos santos anjos; devocio emretérno
dos heneficios que te dispensam,e confianga pelo
fato de estares sob os cuidados de tais guardado-
res". (Sermo XII in ps. XC.)

. Capiruno T
A QUEM DEVEMOS A PROTEGAO DOS ANJOS
Indaguemos: 0 cnidado dado aos anjos, de
velar sdbre nés, por quem foi dado? Quis man-
davit? Somente por Aquéle de Quem sao os anjos
stiditos obedientes e zelosos ministros. Mas quem
6 aquéle, segue interrogando S. Bernardo, de quem
so stiditos os anjos? E de quem sio ministros?
Do Senhor, Deus Altissimo, Foi portanto Deus
que deu sos anjos a ordem de proteger-nos em
toda a nossa vida, E nesta ordem, como observa
© serafico doutor S. Boaventura, manifesta-se 0
seu poder supremo,a sua sublime sabedoria, a sua
paternal bondade.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 7

1 — Nitmero € poder dos Anjos


Conforme a doutrina dos santos e doutores da
Iyreja, cada homem, ao naseer, recebe um Anjo
para guarda seu e seu protetor particular.
Igualmente tem seu Anjo da Guarda cada na-
cio, tem-no igualmente cada provincia, cada eida~
die, cada casa, cada familia, cada comunidade, cada
templo, cada altar. “Serviam a Deus milhares de
milhares”, diz 0 profeta Daniel.
De forma que contamos com a protecéo nao
sdmente do nosso Anjo particular, mas também
com a daqueles que presidem as comunidades de
que somos membros.
E’ exatamente por éste motivo que diz a Es-
critura: “aos seus Anjos Deus ordenou que te
juardassem ete.”.
Diz “aos seus Anjos” no plural, porque, como
explica 8, Roberto Bellarmino, protege-nos ndo sd-
ente 0 nosso Anjo da Guarda, mas também os
Anjos protetores da nossa patria, da nossa pro-
vineia, da nossa cidade, ete.
Sio, portanto, inumeravel multidio os Anjos
deputados para a guarda dos homens.
E se a éste ainda ajuntarmos os que assistem,
constantemente perante 0 trono de Deus E se a
(ules ainda somarmos aquéles que Deus envia &
lorra em missdes especiais ou que pendem do seu
wandado para cumprir cada uma de suas ordens?
(2), Ver Petavio, do Ang. 1. TT, e. VIII. Suarer, do Ang. 1.
Vi, &. XVIE, u, 22; "Perrone, de Deo Creatore, part. I, e 11,
49,
8 P, AUGUSTO FERRDTTI, 8. J.
Entaoatingirao o incaleulavel. Foi indicando
ésse miimero sem niimero que o profeta Daniel ex-
clamou: “milhares de milhares 0 seryiam e mil
milhées junto a fle assistiain: “Millia millium mi-
nistrabant ei, et decies millies centena millia assis-
tebantei". (Dan. VII, 10).
Niimero portentoso, na yerdade, que no dizer
do autor do livro sdbre a Celeste Hierarquia, ex-
cede todosos calculos e computos humanos (3).
Quem pode calcular o numerodas estrélas do
céu e de todos os séres materiais que povoam 0
universo: homens, animais, plantas, insetos, pei-
x¢5, ete. ele.? Pois hem, “a multidao dos Anjos,
diz’. Tomds de Aquino, ¢ ainda superior 4 mul-
tiddos séres materiais”.
Tal é 0 nimero dos Anjos. Quanto ao seu
poder, exalta-o a Escritura a cada passo. “Bendi-
zei o Senhor, diz 0 real Profeta, todos os seus An-
jos, poderosos em valor, fiéis executores de sua
palavra (Es. C I 20). E mimerosos sfio os exemplos
em quetal poder resplandece, como se pode ver
na segunda parte desta obrazinha,
Mas, além disto, patenteia-se bemo seu poder
no mesmo poder daqueles que muitas vézes eram
instrumentos seus — os santos. Causa espanto, na
vida dos santos, 0 édio com que se armaya os de-
ménios contra éles, € as infernais coligacdes que
entre si faziam para perdé-los e arruinar a sua
obra. Vemo-los, entretanto, impassiveis ante os
(8) Cael. Hier, cap. XIV. fste livzo era geralmente atri-
Unido a S. Dionisio Arcopagita pelos eacolisticns. Estudos eri
ticos mostram que © devemos atribuir a outro autor do soc, V
fou do principio do sec. VIB’ cortamento um livro de grands
fautoridade. — Ver, 8, Tom. J, pq. Le a 3.
08 SANTOS ANIOS DA GUARDA 9
assaltos dos espiritos das trevas e tio poderosos
que um instante Ihes bastaya para dispersar e por
emfuga os exéreitos da infernal nequicia.
Quemera, pois, que Ihes incutia tio grande
valor? Os Anjos de Deus, a cuja protecdo sempre
recorriamos santos. “Nao poderia a nossa fraque-
za, como diz 8. Hilirio, resistir A perversa acio dos
spiritos infernais se'n&o fésse confortada pelo
poder dos Anjos (4). “E’ fora de duvida, diz S.
Bernardo, que ndo podemos resistir ao impeto dos
piritos malignos, se de nés se afastam os bons
piritos” (5).
E’ forca pois, confessar, que sio poderosissi
mosos Anjos, pois vencem a tio poderosos inimi-
os quais os deménios.
E ¢ forca, também, confessar, que onipotente
& Aquéle Senhor a que obedece to grande mult
dio de principes celestiais, e cujo mandado pron-
fae fielmente executam. “Na verdade nio ha
quem seja sémelhante a ti, 6 Senhor; tu és grande,
© grande empoder é 0 teu nome(Jer. X 6)”.

2 — 0sOficios dos Anjos


E’ com cuidado que um rei ou chefe de go-
yérno considera os seus stidilos, para eleva-los,
conforme a capacidade de cada um, aos cargos
da administracao oficial, Corresponde, entio, per-
amente, a excelsitude da dignidadee & jurisdi-
cio do seucargo, a exceléncia dos dotes que néles
(4) In Pealm, CXXX1V, m, 17,
(5) Serm, “VET in cant. 'n. 4
10 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J,
descobre. E’ assim que a uns conserva junto de
si, a outros envia como embaixadores; a uns en-
carrega o govérno das provincias a outros a di-
recao de cidades; a uns confia as pequenas comar-
cas, a outros as comunidades ¢ pessoas particula-
res. Desta prudente e sibia distribuicao de cargos,
correspondentes as aptidées de cada um, é que
resulta 0 bom govérno do estado ¢ a salisfacio
do povo.
Ora hem,isto & o que faz Deus Nosso Senhor,
com sabedoria infinitamente superior, com relacao
aos seus anjos — criaturas suas excelentissimas ©
santissimas. Néles a mullidio nada tem de desor-
dem ou confusio; nem poderia hayer lugar para
a desordemnas obras de Deus.
Segundo a doutrina dos santos Padres fun-
dada nas sagradas Escrituras, constituem os anjos
uma millcia ou exército comandado por nobili:
mos generais (6): estio divididos em trés hierar
quias ¢ cada qual consta por sua vez de trés ordens
ou coras.
A primeira hierarquia se compdedos Serafins,
dos Quernbins, dos Tronos; a segunda das Domi-
nacdes, das Virtudes ¢ das Polestades; a terccir
dos Principados, dos Areanjos ¢ dos Anjos (7).
Cada hierarquia, porsua vez, 6 ornada de dotes
(G)_Ver 8. Tomds, 1 p,q OVITT; Saree op. eit. LT,
cap. KIT ¢ XIV. — Alguiig nomen, Wlavon angélicon gee
os eo conliecidos, Miguel, nome quo tlgnifiea "quem com Deus?
Gabriel — Fortalcra de Deus Rafael = Medicina do. Devs,
(7) Sciondun, assim faln 8 Grogirle Maguo, quel de.
petorum vocadulum’ nomen est offiois, non naturue, "0 yoekbulo
Anjo exprimo nao j4 a naturesa, mat 0 oficlo, @ ministério. Por
isso ‘pode ser empregado de um’ modo eral om relagio a todo
9s eoros, ¢ em particular, ao intimo,

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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA u
peculiares conforme a posi¢o que the di Deus na
Uistribuigdo dos cargos do seu reino celestial.
Interessa-nos, no momento, ssmente a tercei-
n hierarquia, pois a ela é¢ que estconfiada, con-
forme a doutrina do angélico S. Tomas, a prote-
gio e a guarda dos homens em particular e da
humana sociedade (8). Eis como vemisto discri-
nado pelo santo doutor: a guarda de cada ho-
‘memparticular & confiada ao siltimo dentre
vs coros angélicos — ao eOro dos Anjos; a guarda
sal da comunidade hamana ao pri-
meiro e6ro — o dos Principados, ou talvez dos
Arcanjos. (In I p, q. CXHL a 3).
Nao € que Deus assim haja feito por nao ser
eapaz de porsi s6 reger as stias criaturas... Tal
icontece com os soberanos € os chefes das nacdes
tas de nenhummodo com sér onipotente, onis-
ciente ¢ infinito em todos os seus atributos. As-
sim, entretanto, fle procede, porque os diversos
ueaus de séres por Ble criados trazem sempre éste
cunho de harmoniosa ‘correspondéncia entre si.
mem vista fins altissimos que a nossa mente
nao atinge. Mas ao par déstes fins altissimos pre-
ende Ble também, sem diivida, tornar mais suave
6 seu govérno e mais consentaneo & natureza hu-
mana. Cén_e terra assim — e 6 ésie um outro
yrande e belo motivo — formam umsé reino de
(8) Bde notar agai com Sunrex com quanta sabedoria Deus
roworva a ineumbéncia da guarda dos homens no <dro dos Anjos.
Texte e6ro, pelo fato de ser fnfime, 6 0 quo mais se aproxima
0 homem, e tem por isto imedista relagho com gle. E', por
iawguinte, segundo a Tispesigdo da divina Providéncia 0’ mais
fiteyundo A guarda de eada Homem em particular, Op. elt. 1
Vi, ¢. XVI, n. 6.
12 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
perfeitissima caridade, em que criaturas superio-
res e jd bem-aventuradas, como os anjos, prestam
direefo ¢ ajuda a criaturas inferiores e ainda pe-
yegrinas nesle mundo, prestando-thes estas em
troca a homenagemde umgrato amor e de uma
décil_ submissio (9).
Ah! verdadeiramente tudo fizeste com sabe-
doria (Salm. CHI. 24); omnia in sapientia fecisti.
— 0 que séo os anjos de nés
Os Anjos sio junto de nds exatamente aquilo
que os preceplores sio junto dos seus discipulos.
Os preceptores, como era de costume antiga-
mente, deviam transformar a crianca em um per
feito cidadio: para isto deviam dar-Ihe modos,
instrui-Ja, acompanhi-la em suas viagens, ampa-
ré-la, conforti-la,
Diante dos Anjos, Espiritos sapientissimos, so-
mosde fato criancas que devemos ainda formar-
nos nos bons modoscristaos, e que muito lemos
que aprender da doutrina divina que Jesus veio
ensinar aos homens.
Sioporisto éles, de fato, os nossos precepto-
res.
Assim os chama_a santa Igreja emseus hi:
nos, assim os santos Padres, quer gregos quer la-
tinos, o5 apelidam em suas admiraveis obras de
apologética ou de instrucéo catequética.
(0) “Somos com os Anjos, dit & Agortiuho, uma 96 cidade
ae Dene... de que wma parte, que somos és, poregrina por bats
niundo, © @ outra parte, que so precisamente os Anjos, esta
route’ a socorrer-nos”. —- De eivit, Dei, LX, ¢. 7.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 13
S. Gregério Taumaturgo,S, Basilio e S. Joo
Criséstimo, dizem que sio os “pedagogos e edu-
owlores das criangas S. Manasio chama-os for-
inalnente de preceptores dos homens ¢ S. Bernar-
dose compraz em cham-los de “os constantes se-
quidores de nossa alma”. No, pensar, portanto,
dénses grandes representantes da elogiiéncia sa-
jrada das primitivas igrejas, grega ¢ latina, sio
ow santos Anjos da Guarda os guias, os guardas,
oy lutores e a maior ajuda e mais constante valia
lox que demandam, neste mundo, a patria ce-
loutial.
“O' amor imenso e (odo inspirado na mais
pura caridade! exclama S. Bernardo: “O vere
mayna dilectio charitatis!” Que solicitude, a do
nosso Pai do Céu pelos filhos que erram neste
mundo Tonge da casa paterna! E’ bem, portanto,
(jue nos apropriemos das palavras do Arcanjo
Nafuel quando se manifeston a Tobias: “Bendizei
Deus do Céu, e dai-Lhegloria diante de todos
on viventes, pois quefez resplandescer sobre vés a
Wii miserieérdia”, (Tob. XIIL,6).
Admiracio, portanto, Iouvore béneao é 0 que
loves, earo jovem, a Deus, por tio maravilhosa
jnunifestacio do seu poder, de sua sabedoria, dé
Win paternal bondade, deputando para junto de ti
\ Coses prineipes de sua cérte, a essas criaturas de
muravilhoso poder e santidade, que so os anjos.
14 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
E reflete que isto é um dogma de fé: dia e
noite yela por ti, dia e noite junto de ti assiste
um anjo, maravilhoso do poder e santidade, pres-
tes a socorrer-te sempre que o invoques, pronto a
ajudar-te sempre que recorras 4 sua protecio.

Carireto IT
A NATUREZA ANGELICA
Gostarias de certo, caro jovem, de yer ao teu
Jado o teu anjo da guarda, Tudo darias para po-
der contempli-lo em sua celestial formosura, em
sua atitude de habitante da patria celeste, naquela
feicfio peculiar € cheia de majestade dos séres su-
periores,
Seisto, por ora, te ndio é dado, nada impede
que o contemples a luz dos ensinamentos da teo-
logia catdlica.
Que sao, pois, os santos Anjos? — Nao é fa-
cil responder. Mag sabemos decerto que — sao
purosespfritos — que sio sumamenteprivilegia-
dos dentre todos os séres criados — que tém tam-
bém uma histéria como a nossa.

1 — 0sanjos sdo puros espiritos


© Anjo, diz S. Gregério Magno, é espirito, ¢
so espirito, enquanto que o homem é espirito e
carne (10). Nao sao, portanto, séres corpéreos,
(10) Moratium 1. TV, e. 1, a. &
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 15
comoas eriaturas que povoam éste mundo que ha-
hitamos. Nao sao, também, compostos de es
rilo € corpo, como somos os homens. Sao séres
simples e puramente incorpéreos sem que em sua
lituiefo fisiea entre matéria de espécie al-
ia, por leve € etérea que seja. imitil dizer que
ho inacessiveis aos nossos sentidos: nem os po-
tlemos ver, nem os podemostocar. Assim fala, a
propésito, 'o IVConcilio de Latrao: “Com seu
poder onipotente tiron (DEUS) do nada, no prin-
cipio, juntamente a uma e outra criatura, a espi-
vilual © a corporal, a saber, a crialura angélica
eriatura terrena, e em seguida a humana, como
composta que é de espirito e de carne” (11). E
por sua vez, 0 Coneilio do Vaticano adota a mesma
doutrina, transladando a citada passagem para
una de suas “Constituigses” (12).
obstante bastas yézes deram-se a mostrar
\s anjos sob forma visivel. Viram-nos déste modo
Abrado e Lé, Jaeé e Tobias e inimeros outros
personagens biblicos. Foi, pois, para Ihes poder
folar, que tomaram forma humana, para poder
xuis-los (como no caso de Tobias), para poder
«mpenhar-se em porfiada Iuta, como aconteceu
‘omJacé. Tal, entretanto, nao era o seu estado
natural, §, Rafael Areanjo, por exemplo, depois
le revelar-se a Tobias, teve 0 cuidado de notar-
Ihe isto. “Eu parecia, disse-lhe éle, que de fato
comia contigo e contigo bebia. Na realidade ou-
{ro € 0 meualimento, outra a minha bebida, in-
(11) Cap. Kirmiter.
(12) Const, Dei Filius esp. 1.
16 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
visiveis ambos aos olhos humanos". (Tobias,
‘XID 19).
Por motivo semelhante os representamos em
nossas imagens sob figura humana. Damo-lhes
a forma humana,para indicar quanto éstes nobi-
lissimos espiritos sejam amavelmente propensos
aos homens; damo-lhes feiedes de belissimos jo-
vens, para indicar que as sas forcas e prerogati-
‘vas jamaisse deslustram ou afeiam, permanecen-
do eternamente lougas ¢ inteiras; damo-lhes asas
para significar quanto éstes excelsos ministros de
Deus Altissimo estejam_prontos para executar as
suas ordens; e os vestimos de vestes candidissi-
mas para designar, como diz Gregorio Nazian-
zeno, a sua natural pureza, ad designandam natu-
ralem ipsorum puritatem. (Catecismo do Con:
lio de Trento).
2 — Privilégios da natureza angélica
Percorramos a escala dos séres criados por
Deus: os minerais, que apenas existem, mas que
no vivem; os vegelais, que vivem, mas que néo
gozam da vida sensitiva (que hes seria facultada
por sentidos como os dos animais) ; os animais que
véem, cheiram, ouvem, etc. mas que no tém co-
nhecimentos intelectivos; 0 homem, que goza de
vida intelectiva, mas que a goza dependentemente
do cérebro, que é matéria; e enfim os anjos, que
gozam da vida intelectiva’ independentemente da
matéria,
Rstes so, portanto, os séres mais perfeitos
jamais saidos das méos de Deus, assim como os
03 SANTOS ANIOS DA GUARDA 17
minerais, que abremessa escala de séres, sio os
muis imperfeitos, ou por outra, os que gozam de
menos perfeicdes.
Emtodos ha umatal ou qual semethanca com
seu Artifice: o simples sér, a simples vida, a
vida cognoscitiva, a vida intelectiva, sio semelhan-
cus do sér, da vida e do modo de conhecimentos
slivinos, Mas somente do homem estd escrito: foi
criado & imageme semelhanga de Deus. E? ver-
slade que 0 homemdentreos séres déste mundo é
© que mais se aproxima de Deus pelo seu mara-
vilhoso sér, A uma material e espiritual, mas_o
wnjo ainda atinge maior perfeicao, ¢ ainda mais,
por conseguinte, se assemelha a seu Criador, —
Into devido & sua mesmaesséncia, que é de todo.
mples e espiritual. E em razio desia simplici
slade de esséncia, Deus, melhor que no homem,
reflete no Anjo a sua natureza perfeitissimamente
vimples e espiritual. E, conseqitentemente, mais
no pode achegar emperfeicao a inteligéncia de
Deus, a inteligéncia do Anjo, ¢ ao poder de Deus
© marayilhoso poder do Anjo.
Quanto & inteligéncia, é sabido que a dos maio-
res génios da humanidade n&o podem nemsequer
comparar-se A sua; e quanto ao poder, um Anjo
nimente mais poderoso que um exéreito de ho-
mens
A propésito, enérgica ¢ a expressio de S. Gre-
(rio Magno, aludindo a uma passagem do pro-
lela Ezequiel. Se o homem,diz éle, feito & seme-
Manca de Deus, o anjo é sélo (e como que sincte)
de semelhanca; na verdade, quanto mais imaterial
(uma natureza qualquer, tanto mais vivamente
z em si estampada (ai estd a idéia de sélo) a
18 P, AUGUSTO FERRETTI, 5. J.
imagem do Artifice supremo:.., “signaculum si-
militudinis dicitur” (13).
jo, portanto, os Anjos, séres maravilhosos,
naturezas superiores, de indizivel perfeicao, suma-
mente privilegiados de Deus Nosso Senhor.
Masisto no é ainda toda a verdade.
Oanjo, como o homem, foi elevado & ordem
sobrenalural. E que quer dizeristo? Quer dizer
que Ihe infudin no sér Deus Nosso Senhor a graga
santificante, dom seu inefavel. efetivamente, a
graca santificante umto grande domde Deus as
suas criaturas intelectuais, que as eleva acima de
todo sér criado e acima de toda perfeicao natural.
A criatura que tal graca recebe torna-se, de modo
inefavel, participante ¢ consorte da mesma natu-
reza divina, como diz 0 apéstolo S. Pedro (2, I, 4).
Nela, de entiio em diante — enquanto permanecer
emestado de graca — habita Deus N. Senhor, pre-
sente a ela de modoparticular. Quem podera en-
tio medir a estreita unifo e intima amizade de
tal criatura com seu Criador?.
Desde entéo, como conseqiiéncia, fica a cris
tura téda outra, enriquecida pelas virtudes sobre-
naturais e com direilo a contemplacio da mesma
esséncia divina, a conhecer a Deus tal como Ble
é em si mesmo, como diz o apéstolo e evangelista
S. Joao: “videbinus Deumsicuti est.”.
Ora, quidquid recipitur, ad modum recipientis
recipitur: aquilo que se recebe, ¢ recebido confor
meas disposicdes do que recebe. Sendo assim ne-
nhum sér seria mais apto & recepedio da graca san-
tificante do que 0 anjo, pela exceléncia e dotes na-
(23) In Evang. L I, hom. XXXIV, n. 7.
0g SANTOS ANJOS DA GUARDA 19
luvais de sua natureza espiritual. E, por conseguin-
{¢, uenhum sér, como 0 anjo, se alcou sobre si mes
in € como que se transfigurou sob a maravilhosa
Jnfluéneia da graga santifieante,
Sao os anjos, verdadeiramente, na manha da
rived, os seus primeiros astros, conferindo-Ihes
Deus a graca ao mesmo tempo que Ihes infundia
© sir: “Simul eis, como diz 8. Agostinho, et con-
dens naturam, et largiens gratiam”, (De Civit.
Dei, L XIE e. TX).
— A histéria dos santos anjos
Terao os anjos, também, a sua histéria?
ém-na, tal como o homem. Como o homem
foram criados, como o homem enriquecidos de so-
herbos dons de natureza e de graca, e como 0 ho-
em sujeitos a uma prova, que decidiria da sua
ndmissdo ou nao a visio intuitiva de Deus.
© que foi essa prova, s6 poderiamos saber
por conjeturas fundadas em passos da Escritura.
Mas nada de certo sabemos. E’ 0 menos. E’ certo.
entretanto, que passaram por esta prova. Assim
o exigia a’ stia natureza intelectual e livre, e por
quis Deus N. Senhor que passassem para que
recessem o céu. Durou-lhes um instante essa
prova, e ésse instante deu-lhes a eterna e imuti-
vel bem-aventuranca — como aos que nela su-
cumbiram, a condenacio.
Eis a propésito o que diz S. Gregorio: “vendo
os santos anjos que uma parte dentre éles havia
eaido, tanto mais firmemente resistiram, quanto
20 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
mais humildemente” (14). Sabemos, pela Escritu-
ra, que capitaneava os bons S. Miguel Arcanjo, e
os maus Lucifer, anjo de grande formosura e en-
riquecido de maravilhosos dotes naturais. Ao seu
grito de rebeliao, opés o anjo fiel 0 seu Quis ut
Deus: “quem hi semelhante a Deus?”... ‘S6 Fle
€0 autorde téda formosura e poder,de toda gran-
deza e exceléncia, Islo era o que proclamava o
Arcanjo. Litcifer, pelo contrario, endeusado na
prépria exceléncia, penson poder dispensar o seu
Criador... Sér magnificamente dotado pela mao
criadora, julgou-se, entretanto, grande demais pa-
sar-se_devedor, a outrem, de tudo quan-
. Reeusou-se assim, a prestar a Deus
‘© seu louvor, atribuindo-he 0 préprio sér ¢ os
préprios predicados. Ble, portanto, teria emsi
mesmo,a raziode sua existéncia ¢ de sua grandeza
— le éra Deus!... E como Liieifer, pensaram os
seus sequazes, assim como o mesmo pensar que
Miguel, tiveramos seus seguidares — dois tér-
¢08, a0 que se conjetura, dos puros espiritos cria-
dos por Deus.
Salvou-os, portanto, a humildade, que é 0 re-
conhecimento do préprio nada diante do_Criador.
Salvou-os 0 reconhecimento para com Deus, pe-
los beneficios que reconheciam ter recebido de
sua mao, E em recompensa, diz ainda S. Agosti-
nho, mereceramreceber o devido prémio: “os seus
anjos, diz Nosso Senhor no Evangelho, referindo-
se as criancas, sempre véem a face do meuPai’
Foi esta, precisamente, a recompensa. ES. Gre-
gorio: “que lingua humana ha que possa exprimir
(A) Dialog. 1. TH, cap. XIV.
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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA oy
somo, na posse da beatitude, sejam bem-aventura-
los; Como, na contemplacdo da eternidade, sejam
10s; como, junto & verdadeira luz, se fenham
tornado luz; como, na visdo da imutabilidade, se
tenham tornado imutdveis?”... (In. Ezech. 1. 1.
VII).
E a Igreja reconhece-Ihes a grandeza a san-
ule e a exceléneia, dando-lhes, na sagrada litur-
xia, 0 primeiro Iugar apés a Virgem Santissima,
Mie daquele que é nosso Rei e é, igualmente, Rei
los Anjos.
E nada, jamais, os poder arrancar dessa ex-
colsitude, nada dessa eterna e imutdvel bem-aven-
nea. &-thes parle da recompensa, diz S. Ag
linho, a impossibilidade em que estio de ser
ios a Deus e pecar: praemium est non posse
peeeare, (Contr. duas epist. Pelagii, 1. 3. c. 7).

Carireto HT
0 OBJETO DOS CUIDADOSDOS SANTOSANJOS.
E’ bem que reflitamos aqui: seré o homem
dligno objeto, da tao assidua solicitude désses no-
hilissimos espiritos?
E’certo, de £8, que somos objeto detal soli-
cilude: “Deus mandavit de te". Objeto, pois, dos
cus cuidados € 0 nosso corpo com todosos seus
sentidos e a nossa alma com as suas poténcias.
E por que? Porque Deus quer salvar-nos.
2 P, AUGUSTO FERRETTY,s. J.

1 — A nossa alma
Aproximemosa nossa alma do anjo: que dife-
renca enire uma ¢ outro? Apenas que a alma foi
criada para o corpo ¢ 0 anjo nao. Mas ela tio
preciosa como éle, debaixo do ponto de vista da
sua origem — criada & semelhanca de Deus e
do seu destino, a visio de Deus, tal como o anjo.
E’ verdade que ha uma diferenga essencial en-
tre a alma e 0 anjo: o anjo é umsér completo em
si mesmo, e a alma nao. A alma foi criada para
0 corpo, diz relacio essencial para com o corpo
que informa, que anima, que yivifica. A alma
constitui, juntamente com o corpo, um nico sér,
que é0 homem, A alma, portanto, ndo é um sér
completo em si mesmo. E? como queparte de um
sér — ainda que parte precipua e que traz em si
a especificacio da natureza que ela integra,
O ponio de vista sobrenatural, entretanto, é
‘© que mais nos interessa aqui. Que diferenca ha,
pois, debaixo déste ponto de vista, entre o anjo e
‘© homem? A sua origem ¢ 0 seu fim, jA 0 disse-
mos, sio idénticos. Hi, entretanto, una diferenca
profunda, entre anjo prevaricador e o homem.
pecador. O anjoprevaricadoré castigado imedia-
tamente apés a preyaricacdo, e é desviado para
sempre do seu fim. Para éle nao ha mais perdido,
nem possibilidade de consegui-lo. Q homem pe-
cador é também castigado imediatamente apés 0
seu pecado, mas nao com umcastigo eterno. Nem
tio pouco foi desviado para sempre do seu fim.
Para éle hayeré ainda perdio. Umasé palavra,
dita de coragio, exprimindo a dor d’alma por ha-
0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 23
ver ofendido a Deus, pode reavid-lo. Quando Davi
yeconheceu 0 seu pecado disse somente esta pala-
peceavi, pequei. E, imediatamente, 0 pro-
feta: “e 0 Senhor tirou o teu pecado”. Estisper-
doado. Estis novamente a caminho do céu.
Certamente contribui para esta diferenca de
jratamento de Dens para comuns € outros a mes-
nia natureza do anjo e do homem. Mas, nao pode-
nuos menos deduzir dai a preciosidade da alma
humana, que Deus se empenha tanto em salvar.
Seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senor, fez-se nosso
resgate, E que resgate!... Que resgate pagou ao
Pai celeste para reaver-no:
Mas outras consideracdes ha mais consenté-
yeas ao assunto. A alma humana esta entregue &
yuarda de umprincipe da corte celeste. “Oh como
¢ grande a dignidade das almas, exclama S. Jerd-
nimo, confiadas, desde o primeiro instante do seu
nascimento, a um anjo, especialmente delegado
pura quardé-ta!” (In Matth.).
Como é grande a sua dignidade, e como é
yrande a sua preciosidade! Pela dignidade e posi-
cio da guarda se pode avaliar a preciosidade do
objeto guardado. Os chefes de govérno andamcer-
cados das mais allas patentes do seu exército, ¢ os
hancos usam de tédas as precauedes para ter em
seguranca as suas casas fortes, Por que? Porque
tum chefe de govérno é algo de precioso para uma
naeo, e os depdsitos dos bancos dio aos bancos
» valor que tém. Assim a nossa alma. Inimeras
slo as precaugdes que a Santa Igreja toma para
couserva-la em estado de graca e poder conduzi-
-ln ao én, imtimeras as ajudas que 0 préprio Cria-
dor Ihe concede.
oy P, AUGUSTO FERRETTI,s. J.
A ti, jovem cristo, a ti, congregado mariano,
cabe aproveitar dessas preeaugdes ¢ ajudar-te dés-
ses auxilios, No ignoras quanto é preciosa a tua
alma. Pois bem, se por ti s6 nio podes salva-la,
salvacla-as se quiseres aproveitar dos meios que
Deuste oferece paraisto. Dentre éstes, um dos mais
sélidos e proficuos é a devocao ao teu anjo da guar-
da, que sabes estar constantemente junto de ti. Que
faras para Ihe teres verdadeira deyocdo? E 0 que
te diremos em outra parte déste livrinho.

2— Deus quer salvar-nos


“Mais do que tu mesmo, diz S. Joao Crisésto-
mo, mais do que tu mesmo, deseja Deus que vivas
imune de pecado; nem se pode comparar o que
desejas. para o bem da tua alma, com o que Ble
se empenha emfazer pela tua salyacao.E isto, é
com os fatos que éle o demonstra”.
Umapassagem de S.Paulo, referente aos san-
tos Anjos, vem aqui a propésito: “Nao sao todos
éles, diz ‘0 Apéstolo, espiritos que administram
(administratores spiritus), destinados ao ministé-
rio de ajudar aos que hao de receber a heranca da
salvacio?”. “Nonne omnes sunt administratores
spiritas, in ministerium missi propter eos, qui he-
reditatem capient salutis?” (15) Estiio, portanto,
empenhados em nossa salyacao todos (omnes) os
anjos de Deus. A todos éles podemosrecorrer, a
todos invocar, certos de que nos socorrerao solici-
(15) Hobe. 1, 14. — eto paso 6 um’ dos prineipais com
que fo prova e guarda dos santos Anjos,
0S SANTOS ANJOS DA GUANDA 25
(os, € como que1a estio na mansio de sua bem-
uventurada & espera da nossa oraga0, para nos
virem em auxilio. Nao é isto apenas umafria con
sidleracdo. E? a palayra do apéstolo S. Paulo, E
8. Paulo eserevia para a instrucio dos primeiros
vristdos: tinha pois uma especial assisténcia do
Hspirito Santo, e portanto nao podia errar.
Logo, nfo temos de que nos queixar, quando
wntimos os efeitos das tentacdes do demonio. 'Tém
éxtes, no ha ditvida, 0 poder de nos armarcila
lus, de suscitar em nossa imaginacao representa~
yes que nos seduzam, e uma infinidade de mo-
los dese nos insinuar com seus perversos intentos.
Mas, em nosso favor temos os exércitos angélicos,
sempre prontos a socorrer-nos, se ha quem mere-
a ser objeto de queixa em nossas quedas, somos
nds mesmos. Julgamos que, por vézes, pode ex-
cusar-nos umpouco a violéncia das tentacdes, Se-
J). Mas 0 que é certo é quetal violéncia nao pode
le todo eximir-nos de culpa. Um examesincero
le nossa atitude na luta, nos diré se tinha razao
5. Jodo Criséstomo, quando disse que mais se em-
peuha Deus em nossa salvacio que nés mesmos.
(uantas vézes, na tentacdo no esta a voz de Deus
i chamar-nos, a mover interiormente a nossa von-
lade para longe do pecado, nés resistimos a esta
voz, afastamos os santos pensamentos que fle
nos suscita nalma, para nos entregar aos pensamen-
los do peeado e aos conseqiientes 2tos pecami-
nosos!
“Ao deménio, diz S, Pedro, devemos resistir
fortes na £8: fortes in fide”. FE” avivar, portanto,
4 £8 nessa espléndida verdade da existéncia dos
wuntos anjos, do sew papell de mediador entre
6 P, AUGUSTO FERRETTT, 8. J.
nds ¢ Deus, do seu papel de ministros da nossa
salvac&o: in ministerium missi propter eos qui he-
reditatem capient salulis, Confortados por esta
fé, “ainda que um exército se levante contra nés,
nao temera 0 nosso coracdo”,

3 —A inescusdvel desidia dos que se perdem.


Uma diivida: admitindo que os exéreitos an-
gélicos lidam em nosso favor, que sio poderosos,
isto muito mais que os deménios, como é possi-
vel crer que éstes nos possam levar & perdieao?. ..
‘Antes de mais nada ¢ preciso que nos lembre-
mos que jamais cairemos noinferno se por nds
mesmos néo caminharmos para li, “Quem ora,
se salva, quem nao ora se condena”, é a conhe-
cida afirmacao de S. Afonsode Ligério. “Ajuda-te,
que Déuste ajudara”, diz a sabedoria popular. Por
tanto, se nds mesmos nao cooperamos com Deus
€ os seus santos e anjos, de nada nos servird que
eslejam a nosso dispor, no Céu, inumeraveis exér-
citos de espiritos bem-aventurados.
E a razio disto, est radicada em nossa mes-
manatureza. Somos séres racionais e livres, ca-
pazes de nos determinarmos a nés mesmos a es-
colha disto ou daquilo. A nossa natureza, por-
tanto, comotal, nao podeser constrangida a le-
ger isto ou aquilo, a se determinar por éste ow
aquéle caminho.
As criaturas inferiores ao homemna eseala dos
séres, estas cumprem fatalmente a sua finalidade,
pela forca das leis fisicas. Com o homemnao é
assim, Ble deve liyrementeatingir a sua finalidade
de completa felicidade, na gléria do seu Criador.

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0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 7
Avleis que o devemreger no o induzemfatalmen-
lctrilhar o eaminho que Ihe marcou a mao de
Nous, Deus Thas apresenta, fé-lo ciente delas pela
\wx intima da conseiéneia (Lei natural), e tam-
hin expressa exteriormente, pelo magisiério dos
hous enviados, dos seus representantes na terra (a
loi eserita).
O regime e 0 govérno dos anjos, sobre nés,
loin portanto que se conformar com a nossa natu-
tora de séres livres. Ble cooperam conosco, dito-
wus a mao, facilitando o eaminho, quando pelo
hom caminko é que queremos andar. Os anjos da
{\qurda so como executores da Divina Providén-
vin comrespeito aos homens, diz S. Tomas: Cus-
lodia Angeli est quaedam executio divinae Prov
ventiae, circa homines facta”. (I p. q. CX, a 6)
Nonde se segue que assim como a Divina Provi
di ia néo exclui o exereicio do livre arbitrio,
tiem nos necesita fisieamente a evitar 0 pecado,
ussim também nao é tal coisa que havemos de es-
yerar do ministério dos Anjos junto de nds.
E! portanto inescusivel desidia a de quem, sa-
hendo que vive constantemente lado a Jado com
\unt Anjo de Deus, vive e morre em pecado, O mes-
mo Anjo que Ihe devia ser auxilio, hiz, protecio,
orna-se-Ihe testemunha e acusador notribunal de
Deus.
Capiruro IV
© MANDATO QUE CUMPREM
De que se ocupamprecisamente junto de nés,
8 nossos Anjos da Guarda? Que fazem, em nos-
wfavor? — Ocupam-se naquilo de que Deus os
28 P, AUGUSTO FERRETTI, , J.
encarregou, cumprem com o mandato que Deus
Ihes deu. E que mandatofoi éste? “Quete guar-
dem em todos os teus caminhos: ut custodiantte
in omnibus viis tuis”. Que te guardem — nas jor-
nadas do ten espirito através dos perigos espiri-
tuais — nas jornadasdo teu corpoatravés dos pe-
rigos materiais — enfim em tudo, e sempre, por
toda a tua vida.

1 — Protecdo a alma
A alma, comoespirilual que ¢nto pode ser
atingida pelas desgracas ¢ acidentes materiais dé:
te mundo, O seu perigo 0 perigo moral do pe-
eado e, como consegiiéucia déste, a condenag
eterna,
Mas, ha real perigo de condenaymo-nos? E?
Jesus Cristo que o diz: “larga é a porta e espacosa
é a estrada que leva 4 perdicio, ¢ muitos siio os
que tomam por elas. Que apertada ¢ a porta que
Jeva A vida, que estreita a sua estrada, e como sio
poucos os que por elas trilham!” Ha, pois, real pe-
rigo de condenarmo-nos. Nao é pois de admirar
que em {io constante perigo de trilharmos o mau
caminho, nos tenha dado Deus Nosso Senhor um
anjo da sua cdrte celeste para proteger-nos, guiar-
nos, conduzit-nos!
Além disto pode ser que nao sejamos tio es-
pirituais que prefiramos a vida sobrenatural_ aos
prazeres do mundo, e que por outra parte nos falte
Animopara seguir pela estreita senda do céu. Por
outro lado a experiéneia dos esforcos passados, nos
pode desanimar. Sempre a entrar no bom cami-
nho, e sempre a déle ver-se afastado! Nao obstante,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 29
de pé a sentenca do divino Mestre: s6 sera sal-
vo quem perseverar até o fim.
,Pois bem, para animar-nos no bom caminho,
para reconduzir-nos a Ele, quando transyiados, é
que nos deu Deus o santo Anjo da Guarda. Essas
consolagdes espirituais que sentes na pritica da
virlude, no exereicio da mortifieacao, na remincia
wos desejos da carne, quem é queie infunde? O
leu Anjo da Guarda, que assim te quer snimar a
prosseguires no bom caminho. E de quem é essa
voz que te chama quando transviado, que te repre-
onde no intimo do teu coragio, que te admoesta e
como que te conyida a tornar ao bom caminho?
Dolew Anjoda Guarda. Fis o que faz juntode tua
alma o tex Anjo da Guard;
E pode ser que perseveres no bom caminho
mas que sofras terriveis assaltos do deménio. O
dleménio, como diz 0 apéstolo S. Pedro, como um
lio a rugir ronda por perto, & procura de uma
presa para devorar. Far-lhe-i frente o teu Anjo
(la Guarda (desde que tu mesmo te nao entregues
ioinimigo), po-lo-4 emfuga, enché-lo-4 de temor
por sua virlude sobrenatural, livrar-te-i das suas
malhas, enfim ser o teu eseudo, o teu defensor,
©teu libertador.
Particularmente encantadoras, dentre os mais
comuns exempiares da arte erista, sf0 as imagens
los santos Anjos. Que beleza sobrenatural nao res-
numbra nessa pinturas, e como vém vivamente
expressos ai os trés oficios do santo Anjo da Guar-
— de guarda, arrimoe escudo, ou seja, de gui
protetor e defensor! E° guia, pois aponta para o
, e indica 0 caminho que para li nos leva; é
urrimo, pois di o apdio de seu potente braco 20
30 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
inexperiente infante que conduz; é defensor ¢ li-
bertador, pois com seu simples olhar fulmina ao
horrivel dragdo que a ameagi-los se lhes atraves-
sa no caminho, (16)
As oracdes da Igreja assinalam ésses mesmos
irés oficios dos Anjos. A oragio do Anjo da Guar-
da, que nos ensina o catecismo, é uma das mais
elas que compés a piedadecristi — toda repleta
de sentimentos de confianga, reconhecimento da
bondadede Deus ¢ humilde submissao. Confianea:
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador; re-
conhecimenio da bondade de Deus: j& que a ti
meconfion a piedade divina; humilde submissao
sempre me rege, guarda, governa e ilumina,
Amém. E ai eslio’ expressos, ao mesmo tempo, 08
trés oficios do Anjo da Guarda; é éle com efeito,
‘© zeloso guardador, que rege, que governa, que
ituinina,
E digamospor iltimo que, como verdadeiro
guarda, guia e apdio, os anjos de todos se dedica-
To e socorrer-te “tomando-te nos bragos”, como:
enérgica e belamente o exprimea S. Escritura, pa
ra quenao (e venhas a magoar nas pedras do ca~
minho: in manibus portabuntte, ne forte offendas
ad lapidem pedem tuum (ps. XC).

(16) Asses offetos dos Anjos da Guarda assim so diseri


‘minados por virios autores: © 'Aajo da Guarda a progredir no
om — a no eair em peeado — se néle so eair, a déle lovan-
tarse — se dilo no so levantar, allo cair tio freqientemente
para vuina propria e alhela, Bate sltimo efelto da guarda dos
Anjos vem ainda uotedo por §, Tomis, I, p. q. OXIIL, a 4, ad 3.
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA BL

2— Protecdo ao corpo
‘Também 0 nosso corpo esta exposto a pe-
tiyos neste mundo e por isto também éle é objeto
\los cuidados dos santos Anjos da Guarda. Nao sb-
mente de luz das almas e sua guarda “illuminato-
vs animarum, castodes earum”, os apelidaram os
ilores eclesiasticos, mas também de zeladores
\los, nossos corpos e defensores dos nossos bens
“selatores corporum, defensores bonorum”. (17)
Sao freqiientes os passos da Sagrada Escritura
im que 08 anjos aparecem protegendovisivelmen-
Ww _vida,'os haveres ou a fama dos seus devotos.
Mas éste nao é 0 modo mais comumdeprote-
jer-nos. Igual protecao éles nos dispensamsem que
ne Hos mostrem aos olhos do corpo. E.é tao eficaz
« salutar quanto & que dispensayam fazendo-se
Visiveis e palpaveis. E’-lhes, pois aplicdvel a sen-
enea de Seneca, a saber, que faz parte do benefi-
vio, 0 oculto e 0 segrédo em que éle é feito.
Cheia, com efeito, esta a nossa vida désses
veultos favores. Quantas e quantas vézes, princi-
jalnente em nossa mais tenra idade, nao arrosta-
hes perigos de que ainda nao sabemos como sai-
mos ilesos! A quematribuir tio manifesta, ainda
que oculta proteedo? Aquele Anjo Anjo de Deus
{jue conosco esti para proteger-nos a alma e 0
worpo.
E,de certo que uma das grandes satisfacées que
loremos no eéu sera a de conhecer éste oculto e
tante amigo de t6da a nossa vida, assim como
ntimeros beneficios que nos fizeram, E como
(G7) Assim 0 autor dos sormées ad fratr. in er, sorm, 48.
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32 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
erescera entdo a nossa amizade para com éste bem-
-aventurado espirito! Que duleissima e eterna ami.
zade, sob os olhares do Pai Celeste, em companhia.
de todosos santos de Deus!
!
3 — Protegdo em ludo, e sempre, por téda a nossa
vida
y
O desabrochar de uma vida!... Grande mis-
tério, maravilhosa coisa!,.. Comecar a existir &
comegar a tomar parte nas lutas desta vide, é can
didatar-se a umtrono no céu, é expor-se ao perigo
das encruzilhadas que nos podem fazer transviar.
E 6 no coméco do caminhar que se escoihe ©
caminho a seguir. E’ claro que a crianca nao esta
emcondigées de poder escolhé-lo, Escolhem-nos
os pais — oh que grande responsabilidade! Os
pais sio os anjos visiveis da crianca. Os Anjos da’
Guarda sio 0s Anjos invisiveis, Ambos velam por’
esta tenra vidinha que comeca — e oxald saibam.
6s pais cooperar com o Santo Anjo de Deus!
Para éles nao hi essa inyersio de valores
muita vez adotada pelos pais, em que os interésses:
espirituais da crianea, que sio os de maiores con-
seqiiéncias para a vida e para a morte, sio pos-
postos aos interésses simplesmente materiais e na~
turais da vida.
Apenas ubre os olhos o pequenito & luz do
anundo, pde-se-Ihe a0 lado o amvivel protetor, a
cered-lo dos cuidados que inspirama sua fraqueza’
€ pequenez. Mas nfo se limita a proteger-the a)
vida do corpo, Ble sabe que hi uma vida infinita
mente mais valiosa: a vida sobrenatural, que &
participacao da mesma vida de Deus. Ble sabe que!
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 33
jancinha pode participar dessa yida, in-
wirporando-se pelo santo batismo, a Cristo, que de
\liveito a possui, Da sua parte faz 0 que lhe é possi-
Vel para que, aquiescendo a suas inspiragdes, le-
\ein-no Togo os seus pais & pia batismal.
Mas eis que ja desponta a luz da razio,E’ en
lin que se the apresenta 0 Anjo de Deus como guia
© jlustrador dessa mentezinha que entao comeca a
efletir, como orientador qdaquele coragiozinho
(we comeca a tomar consciéneia de que ama, A
wi) mente ha de procurar 0 Autor da Vida, eo seu
do ha de amé-lo comtédas as suas foreas. O
vuminho por onde leva 0 seu protegido é 0 cami
hho do bem, que é sempre ladeado pelas barreiras
dle uma edueacio de todo sdlidamente erista,
E para_as lutas do espirito, que com o uso da
‘ioj4 prineipiam, arma-o comas armas do eris~
lio, armas espirituais que Ihe sfo ministradas no
eramento da Confirmacao, Mas 0 mundo € se-
(lutor, e hoje como nos dias de Sodoma a carne
‘ompe o caminho do homem. ..
Um impulso natural no homem,radicado nas
jrofundezas do seu sér, ameaca o adolescente que
hinda ignora os recursos de vida, que em si possui,
e que pode deixar-se arrastar aovicio e & vida des-
regrada, Observando 0 Santo Anjotudo isto, e a
imperigo tao intimo éle opde um remédio igual-
iente intimo, que desea ao émago do coracio hu-
mano e ai ponha a virtude e a inclinacao a todo
hem. E éste remédio & a Eucaristia,
E. ao par da Eucaristia, esta a devogiu a Ma-
via Santissima. Inspirando-Ihe © amor de Maria,
» Santo Anjo Ihe inspira um remédio igualmente
lulimo e duravel, que the purifica os afetos, Ihe
34 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
transforma interior da alma em taberniculo de
Jesus.
‘Vem os trabalhos, os dissabores, as lutas pelo
pio quotidiano. E j4 um consélo o sabermos que
temos ao nosso lado um Anjo de Dens, e que éle
J4 possui, o que possuiremos depois dos trabalhos
da vida. Mas, alémdisto, que fortalezasde animo
nio inspiram aos homensde fé sincera os Santos
Anjos da Guarda! Que paz na velhice, que sere-
nidade na illima enfermidade, que conformidade
na morte!
E 6 éste 0 caminho por onde, desde a sua ju-
ventude, vai o Anjo da Guarda levando o seu pro-
tegido: Proverbium est: udolescens iuxta viam
suam, etiam cum senuerit, non recedet ab ea. 0
adolescente, ainda depois de velho, nao se afasta-
ra daquele caminho que tomouem sua juventude.
Felizes portanto, daqueles que desde a sua juven-
inde seguem pelo bom caminho,figis as inspira
goes do Santo Anjo da Guarda!
Elogiientemente S. Bernardo: solicitos tomam
parte emnossas alegrias, confortam-nos em nos-
sas penas, instruem-nos em nossa ignorancia, em
nossos riscos nos protegem, a tudo prévidos aten-
dem: sollicite congaudent, confortant, instruunt,
protegunt, providentque omnibus, omnes in omni-
bus. (18)
Felizes de nds se desta verdade nos soubésse-
mog persuadir! Que ventura {é-los ao nosso lado
nas viagens, como companheiro, na enfermidade
como médicos, como amigos na adversidade, como
sapientes conselhciros nas dividas e perplexid
(18) Ep. LXXVITE, ad Sugerium.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 35
lox, poderosa ajuda nas fadigas e desinimos da
vijvada que trilhamos, qualquer que seja ela!
Jovem cristo, jovem congregado, € a ti, so-
hvvtudo, que me dirijo. Invoca o teu Anjo da Guar-
lu was dificuldades dos teus estudos, ¢ aos demais
lilulos, seus para contigo, éle ajuntara mais éste
Aly celeste preceptor e mestre teu!
Mas nao é tudo. Nao ha durante o dia ocup
civ alguma, em que naonos assista 0 Santo Anjo
‘iy Guarda,’ Esta foi a ordem que éle recebeu de
Hieus: guardar-nos em todosos nossos eaminhos —
in omnibus viis, Neste mesmoinstante em que Iés,
joyem carissimo, contigo 0 Santo Anjo seinclina
wibre esta piedosa leitura, e te ajuda a torni-la
proveitosa para a tua vida pratica. E depois desta
leilura iras porventura reerear-te de alguma for-
jna: contigo estara o Santo Anjo. Contigo éle ira
ho teu colégio, contigo estara & mesa, ¢ velando o
few sono permanecera quando te deitares a dor-
mir. E. dormir: e despertarés manba se-
xuinte... E de joehos em terra, fards a tua ora~
‘i9. E quem a Tevara ao trono de Deus? O teu An-
j da Guarda, tal como foi visto por S. Jofo em
luna de suas visdes.
A oracio nos une a Deus, nos aleanga as gra
gas necessirias & nossa salvagio. Nao ha, por éste
tivo, ato Hosso em que mais se compraza o ca-
rilativo espirito celeste, Dizem-nos os santos que
quando rezamos nunca estamos 56s: assistem-nos
0s Anjos de Deus, rejubilantes sobremodo, na exul-
do de sua celeste alegria! Sendo assim, continua
nera_a alegria dos Anjos, se continua for a nossa
oracdo, conforme ao ensinamento de Cristo nosso
Kedentor: “& preciso sempre orar e nunca deixar
36 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
de fazé-lo”, Na verdade nada mais desejam os
Santos Anjos, com tanta solicitude, do que trans-
formara nossa vida emumacontinua oracao. (19)

Carireto V
REVERENCIA DEVIDA AOS SANTOS ANJOS
Sao guia, ajuda, defesa nossa os nossos Anjos
da Guarda, Um tal fato, tio magnifico, tio certo,
tao fecundo para 2 nossa vida espiritual, é justo
que tenha a devida repercussio na nossa atitude
perante éles, e em geral na nossa conduta. Qual,
pois, deverd ser a nossa conduta perante os Santos
Anjos? S. Bernardo: devemos reverenciar-lhes a
presenca, corresponder comsincera devoeiio sua
benevolente dedicacdo, ¢ ter absolula confianca na
sua protecdo — “reverentia pro custodia, devolio
pro benevolentia, fiducia pro custodia”.
Nao podia resumir melhor o Santo doutor as
nossasobrig: para com os anjos de Deus. Que
saoéles, na yerdade? Em si mesmossao espirilos
nobilissimos; com relacio a Deus, sio supremos
ministros seus — e por isto Ihes devemos reverén-

(19) Trée “vine distinguem o autores a


ort, ripria doe plncipantn na vida petal tant
va, prépria dos que jé vio aproveltando nos eaminhos do
capivito e a unitiva, propria dos perfeton, “Hm cada uma destae
Yias trazem osdosAnjos
Purgando-os seus 2 defeltos;
sua ajudaaosaosproficientes,
homens. Acsfluminando-os
incipientes,
com sibios ensinimentos; aos perfeites corroborando-lhes a per-
Feigho com seu validissimo coufdrto, Ah! bem é vordade que
‘minhes! A estas tres vias
|. Hierareh., no eap. TIT,

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0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 37
‘in, Com relagio a nés mesmos, vimos que sio
Jioxsa guarda, nosso apdio, nosso escudo: e poristo
Iliws devemos devocdo e confianea,
‘Trés pequenos pardgrafos: continua presenca
ly Santo Anjo — reveréncia que de nds requer
‘sa presenga — modo pratico de jamais faltar-
lies a0 respeito,

1 — Continua presenga do Santo Anjo


Nao é s6 pela vista, diz S, Bernardo, que nds
comprovamosa presenca das coisas”.
E’ isto precisamente 0 que se passa com os
ntos Anjos. Estio-nos presentes, sempre ¢ em
(ida_a parte, ¢ jamais os podemos ver, Mas nem
hor isto estao-nos menos presentes! Alias, que de
wwisas, ainda materiais —e nao espirituais, como
os Anjos — nos sao inatingiveis & vista! Quem ja-
mais vin o oxigénio ou o hidrogénio do ar? Senti-
io-los, & verdade, passar em yoos desabalados €
fustigar-nos a face... Nao obstante, n&o os vemos.
Muitas vézes, também, passam junto de nds os ¢s-
pirilos celestes que baixamA terra em embaixadas
le paz e amor... Nao os vemos, Mas podemos per-
vebé-los comas faculdades de nossa alma e a sen-
sibilidade do nosso psiquismo: ora so as inspira-
(des a mover-nos ao bem, ora umcerto aumento de
feryor, de fé, de esperanga, que nos dizem da pre-
wnga dos amévels mensageiros de Deus.
Ha, entretanto, um Anjo, cuja missio & ficar
constantemente junto de nds: é 0 Santo Anjo da
Guarda, Nao o pereebemos, de continuo, como
lambém nao pereebemos 0 ar quieto que nos en-
38 P, AUGUSTO FERRETTI, s. 3.
volye. Nao ousariamos, entretanto, por ésse sé
motivo, negar a presenca de um ou de outro. A’
existéncia do oxigénio, sabemos pela eiéncia. A do
Santo Anjo da Guarda, pela f¢ — que é algo de
mais certo que a mesma eiéncia humana. Alias,
quantossao, dentre os que admitem as assercdes da
ciéneia, os que nao as admitem por um verdadeiro
alo de fé na palavra da ciéncia? Quantos ha que
jevem averiguacao do préprio raciocinio as ver-
dades que lhes propée a ciéneia?... Ora bem, mais
digna de crédito é a palavra de Deus que a palavra.
do homem.
E’, pois, consultar a fé, Que nos diz a £6? Diz~
-nlos que 08 Anjos nos eslao presentes, sempre &
emtodaa parte, pois de Deus receberam a incum-
béncia de assistir-nos, e de assistir-nos em todo
lempo.e lugar, ora, uma tal incumbéncia exige-
-Ihes a presenga. “Quomodo, interroga S. Ambré=
sio, longestant, qui ad aiumentum sunt attribuli?”
Comopodemestar longe de ndsséres que nos sto
Wados por Deus para nossa continua ajuda e de-
fesa (In Is, 37, n. 43).
Bemcurta, na yerdade, & a visio do nosso es-
pirilo! Bem languida a nossa fé! Praza a Deus se
nos lorneela mais viva, Que magnifico espetdculo,
enido, aos olhos da nossa mente! Onde quer que
vejamos um homem, ai veriamos igualmente um
Anjo de Deus! Anjos de Deus a encher-nos o lar
emque vivemos com nossos pais e irmaos, Anjos
de Deus a encheros seus santos templose altares,
Anjos de Deus nas escolas, tao numerosos quantos
os discipulos e mestres. Anjos de Deus, santos
de sobre-humana nobreza onde quer que se ajun-
temcriaturas humanas! Ao lado do nosso pai um
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 39
Anjo, a0 lado de nossa mie, ao lado de nosso’ ir-
iuiivs, ao lado dos nossos condiscipulos, ao lado dos
wossos amigos ¢ companheiros,
Que magnifico espetaculo, que sublime visto
ule£8!
E! 0 caso de dizer comS. Paulo: “viestes ao
‘onte de Sido e a Jerusalém cidade do Deus vivo,
© A companhia de muitos milhares de Anjos. Ac”
istis ad Sion montem ef multoram miilium
Angelorumfrequentiam”. (Hebr. XII, 22).
— Reveréncia que de nés requer a presenca
dos Anjos
Nao ¢ dificil compreender a nossa obrigacio
de reveréncia respeiio pare com os SantosAnjos.
Justard umato de £é na presenca do excelso men-
sugeiro de Deus junto a nés, para nos virmos na
obrigacdo de nos compormose de reverenciar-lhe a
presenga, Com efeito, é assim, que procedemos
te daqueles que témlugar de destaque na hie~
varquia social. Por outra parte, também a sant
sjade impéerespeito, reveréncia, devocao. Diante
(los magnatas do mundo como diante dos santos
sle Deus, instintivamente nos mostramosrespeito-
sos, alenciosos, educados.
Ora, os Anjos da nofsa Guarda ocupam o
mais destacadolugar na hierarquia da eriacdo, €
sio de (Ao excelente santidade que nenhum dos
ndes santos da Igreja se Ihes pode comparar,
Os anjos, dizem-nos a porfia os santos dou-
lores, so os domésticos de Deus, cidadios do céu,
excelsos em santidade, eximio em t6da ciéncia,
sapientissimos poderosissimos. Formam a bem-
40 P, AUGUSTO PERRETTY, 8. J.
aventurada cérte do Altissimo sio seus ministro:
administratorit spiritus — como ja nos disse S,
Paulo — in ministerium miss’. Que profundo res-
peito, portanto, e que perfeita modéstia nao é
devida A sua presenca! “Vela sobre ti, diz S. Ber-
nardo, pois a ti estio os Anjos presentes: caute
ambula, ut videlicet cut adsunt Angeli, in omnibus
viis tuis". Em todos os teus caminhos: portanto,
sempre ¢ em {oda parte, quando sozinho ou quan
do acompanhado, em lugares piiblicos, nos tem-
plos ou em tua casa. Reverencia o teu anjo da
guarda onde quer que estejas, no que quer que
le ocupes: “in quovis diversorio, in quovis angulo,
Angelo tuo reverentiam habe".
3 Modo prético de jamais faltar o respeito
2 ao Santo Anjo
avenda nobis eorum offense", diz S. Ber-
nardo: devemosevitar tudo aquilo que pode ofen-
der aos Santos Anjos. Ora, uma coisa somente
ha que thes ofende realmente a imaculada visio:
© pecado (20). Na verdade, a ofensa feita a nos-
so préprio pai é a que mais nos ofende, e o desres-
peito & autoridade a cujo servico nos dedicamos,
nos enche de dor ¢ indignacdo. Nada, igualmente,
pode ofender aos Santos Anjos, fora daquilo que
ofende aquele Altissimo Senhor, de que sio éles
zelosos ministros. Evvitar, pois, 0 pecado, é evi-
tar a ofensa dos nossos Anjos da Guarda, é con-
servar-nos reverentes e respeitosos & sua presenca.
(20) 8, Pedro Damo: “In _Angolorum eonspocta, ull sor
aidum il foctet obec, i vitium eb peceatum ’,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA a
E’ exigir demais? Nao, certamente, atentos
os meios de que dispomos, na Igreja, para evita-lo.
A mais, a mesma fé, avivada, na presenca dos
Swutos Anjos, jé é de per si um poderoso meio
juva evitar qualquer espécie de pecado, “E’ im-
jossivel que nao desista do propésito de pecar,
‘liz S. Ambrésio, aquéle que, algando ao céu os
olhos de sta mente, considere que a tudo enchem
ile sua presenca os anjos: o ar, a terra, o mar,
ns igrejas que éles presidem (21). “E’ ousards
vos, retoma S, Bernardo, fazer na presenca do
yosso Anjo da Guarda, aquilo mesmo que nao
ousarieis fazer perante umaalta personagem ter-
vena... ou mesmo perante um homem’ vulgar
qualquer?”
Devemos, portanto, fugir do peeado, nfio em~
tal ou qual momento, ndo neste ou naquele lugar
somente, mas sempre ¢ em toda parte, de dia ou
de noite, em lugar patente ou escuro, em lugar
wlitario ou povoado. Sempre e em,téda parte
io podemos deixar de prestar ao Santo Anjo da
(garda aquela reveréncia que The é devida, pois
wimpre e em tda parte temo-lo a nosso lado, ze~
luso pelo nosso bem, como mensageiro de Deus
Altissimo: “in omniloco sedulus pedisequus ani-
mae (22).

(21) Pxpos, iu pa, OVINE, serm. Toa. 9.


(22) Serm, XXXT in eant, — Com esas polavras & Ber
rdo compara ‘9 Anjo a um serve, a seguir os passos do cu
Houhir, nemisto, eonforme no que ais em outrd sermio, deve
Dpirccst
lore ndoinerivel, pols @ mesmo Criador e Rel dos Anjos, vem A
34 a ser servido “nas sim a servi ea dara sua vida
ios Homans” (In feato 8, Michaelis).
42 P, AUGUSTO FERRETTI,8, J.

Caviruco VI
O QUE SINGULARMENTE OFENDE 0S
SANTOS ANJOS
Nao ha pecado, evidentemente, que nfo ofen=
da os Anjos da nossa Guarda, Nao ha pecado,
portanto, que por nds nao deva ser evitado por
respeito A presenca do Santo Anjo de Deus. H,,
entretanto, alguns pecados que os ofendem mais
gravemente. E? mister aborrecé-los profundamen-
te e eviti-los com todo o cuidado para nao des-
gostar ao amiyel protetor nosso e zeloso gu:
de nossa alma.
E’ facil compreender que pecadossejaméstes,
se consideramos os Santos Anjos de Deus sob os
irés aspectos seguintes: com respeito a Deus, se
Criador e Senhor, com respeito a éles mesmos, €/
comrespeito a. nés, os homens.
Com respeito a Deus, sio ministros zelosis-
simos seus: espirito administradores... ‘Todo p
cado, portanto, que ofende diretamente a majes-
tade de Deus, éIhes igualmente profundament
injurioso e profundamente os ofende.
Com respeito a si mesmos sio purissimos es
piritos. Quer isto dizer que, no sendo, como os
homens, compostos de carne e espirito, sio de
todo isentos dos atos carnais e sensuais inerenti
& natureza humana. Todo ato sensual, portanto,
nfo permitido por Deus Nosso Senhor, todo ato
carnal nao dirigido pela razao, de todo repu,
a sua purissima e toda espiritual natureza.
Enfim com respeito aos homens sio os se
guardas e nada tém mais a peito do que a sua sal
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 43
vacio: “mist propter cos qui hereditatem capient
wulutis”. Ora, hi um pecado que se opde a essa
iissio dos Anjos: é 0 pecado de escdndalo, O
eseandaloso leva as almas A perdicaéo como os
os da Guarda salvagao. Eis, portanto, a ter~
‘a espécie de pecado que os Anjos grandemen-
lv abominam.

1 — Injiirias que diretamente ofendem


a majestade de Deus
De dois modos é possivel injuriar a Majesta-
de de Deus. Primeiramente, de modo indireto, e
como que por conseqiténcia, violando deliberada-
Inenle os seus preceitos ou proibiedes, tal como
ucontece no homicidio, na detracio, no édio para
com o préximo. Emsegundo lugar, diretamente,
© per se, tendo por alyo dainjuria, imediatamen-
\c, a mesma divindade sacrossanta, ou ainda os
ulributos infinitos, tal como se da na blasfémia
‘ou quando com insensata ousadia se maldiz a sa-
pientissima providéneia sua, Se zomba de sua
santa Teligido, se rebela contra os seus santos dog-
mas. Sao estas tiltimas, injiirias de lesa Majes-
lade divina, e sdo sumamente ofensivas aos An-
jos, zelosos ministros seus.
Qual é, com efeito, 0 oficio dos Santos Anjos
com respeito.a Deus? Como indica 0 mesmo vo-
wibulo grego “angelos” so éles mensageiros ¢ mi
nistros de Deus. Ora bem, que ministro verda~
deiramente fiel a seu senhor solicito de seus in-
lerésses, ndo vibra de indignacdo contra o acinte
We quem o insulla em sua mesma presenca, nfo
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a4 P. AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
toma como suas as injuirias feitas ao seu Senhor,
nfo se afoila chefo de zélo & pressio do ofensor
e & vinganca do ofendido? Assim fazem os fiéis
servidores dos senhores da terra. Como nio fa~
rao, enldo ésses supremos minisiros de Deus al-
tissimo?
E’ por vézes_mentirosa, instivel em todo o
caso, e interessada, a fidelidade do homem ao
homem; mas a fidelidade dos Anjos a seu Cria~
dor 6 leal, sincera, constante, acompanhada de
z0lo ardoroso,
Por outra parte, vai infinitamente menos do,
servo ao senhor, por grande que seja, desta ter-
ra, do que do Anjo a Deus, sér infinilo que Ihe
deu o sér e tudo o que éle’ tem. E’ pois, para 0)
Anjo, a Majestade divina, algo de tremendo, al
Uissima e adorabilissimo. ‘Dai todo o zélo, désse:
seus ministros e servidores. S6 na misericérdi:
divina, com que se conformam os Anjos, se pode
achar a razio pela qual nao vingam éles inconti-
nente ¢ implacvelmente as ofensas feitas & di-
vina Majestade. Deus, que ¢ Pai de Misericérdia,
ainda oferece a ésses pecadores 0 auxilio de sua
graca; também os Anjos continuamprestando-lhes:
assisténcia, e como médicos compassivos todos
empenham para que os infelizes se reaviem m
caminho do céu. Mas quem poderd dizer a in:
dignacdo suma dos bem-aventurados espirito:
obrigados a ser testemunhos de tio horriveis ex-
cessos?
‘Sanctum et terribile nomen ejus”: & santo
terrivel, 0 nome do Senhor, diz o Salmista. Res
peita-o pois, para que nao yenhas a ofender
sua divina Majestade ¢ para que nfo causes ai
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 45
hom Anjo da Guarda o desgésto de assistir a tao
horrenda injiria do seu Criador e Senhor.
“Nem digas diante do Anjo: no ha provi-
\iiuicia, para que nao aconteca que irado 0 Se-
vhor com tal falar, néo faca perecer (das as
whvas de tuas maos: neque dicas coram Angelo
jn est providentia, ne forte iratus Deus contra
wrmones tuos dissipet cuncta opera manuum tna-
jn" (Eccl. V, 5) Guarda-te, pois, de tal falar,
‘imo te adverte o Espirito Santo. Nao digas que
| vosso Pai celeste nao é bom ou nao é justo. Nao
fugas da sua santa religiio objeto dos teus grace~
jos € muito menos das tuas zombarias. Submete
4 seus santos dogmas, que Deus se dignou reve-
lar-the, 0 teu intelecto, certo de que Deus te guia
hu senda da verdade, sem o minimo perigo de
iransviar-te,
fim, tudo o que se refere a Deus de um
iuodo especial, & digno de yeneracdo e respeito
pur tua parte: objetos, lugares, pessoas consagra-
‘iis a0 seu divino culto ou ao seu sagrado servico,
(uarda-te, portanto, de toda irreveréneia na igre-
jn e de todo desrespeito para com os minisiros
lo santuario ou as sagradas ceriménias que ai se
vwalizam. Os Anjos, como diz §. Teodoro Studi-
\u, sfo os guardas que velam pelos altares e pelos
Wuimplos de Deus: “per angelos altaria Dei custo-
diuntur et fideliumtempla servantur”, Nao é, por
outra parte, por respeito aos Anjos, que S. Paulo
preceitua que as mulheres deyem’ conservam-se
com o yéu sobre a cabeca na igreja? Com que
plhos no verao, pois, ésses Anjos queai assistem,
© infeliz que faz da'casa de Deus nfo sé teatro
46 F, AUGUSTO FERRETTI, S. J.
para seu diyertimento, mas lugar de licenga e
escandalo? (23).
Hi, entretanto, um momento em que todo res-
peito de tua parte é pouco no templo de Deus: &
‘© momento da santa Missa,» Lembra-te que a ela
assistem multiddes de espirilas celestiais profun-
damente reverentes, e como que transidos de san-
to temor ante 0 altissimo mistério que ali se
cumpre.
E comoremate de todas estas consideracde:
que_deves tomar comoinspiradas pelo teu Anjo,
da Guarda, ¢ como que saidas de sua béca, guarda.
emteu coracio estas palavras de S. Gregorio Na-
zianzeno, que te fardo venerar e respeitar 0s sa-
cerdotes de Deus, e quicd te movam a seguir-thes
a carreira: “os mesmos Anjos, diz éle, puros ado-
radores de Deus purissimo, & provavel que vene-
rem o sacerdécio como coisa bem digna do seu
culto: sacerdotium ipsi quoque Angeli, puri pu-
rissimi Dei cullores, tanquam ipsorum cultui mini:
meimpar, fortasse veneratione prosequuntur” (24).
se queres uma palavra de autoridade divina que
eleve o sacerdote a uma comoidentificacao com
© proprio Cristo, guarda esta breve e profunda pa-
Javra dita aos apdstolos e seus sucessores pelo di-
vino Mestre: “quem vos ouve, é a mim que ouve;
e quemvos despreza, é a mim proprio que despre~
za; qui vos audit, me audit, qui vos spernit, me
spernit”.
(28) Na oragdo in sonctos Angelos, n. Migne Patrol. Graca)
tomo XCIXp. 730. — 8, Jerdnimo eoimenta o texta do S. Paulo
‘8 que aludimios sos Coment, in Math, 1. IIT.
(24) Orat, XVI, m. 12,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA a7

2 — Os pecadoscontrarios a virtude angélica
Tais pecados, comoficou dito, sumamente re-
Piinam A purfssima natureza angélica, Conse-
jvnlemente, ndo podem éles deixar de abomind-
jy sumamente.
Suponhamos um preceptor, de Animosingular-
jwonle sereno, de atitudes constantemente paci
EY fora de duivida, que tal preceptor, se em-
ponhara, sobretudo, em tornar_o seu discfpulo
mente paciente, calmo, pacifico. E tanto mais
(-nmara quanto mais éle se conformar com o seu
(xemplo e ensino. Ea razdo disso, é clara: ama-
hos aquéles que tém tracos de carter semelhan-
Io 908 nossos, € sentimos averséo pelos que nos
0 notavelmente dissemelhantes.
Os Anjos, portanto, nada devem aborrecer
iuais do que os pecados contrarios 4 virtude da
pureza. E isto pela razio explicada. A sua na-
wreza purissima os leva a amar os que lhe saose-
iwlhantes, e a aborrecer tudo aquilo que the é
posto.
Hi, portanto, uma grave ofensa aoceleste Anjo
\jue nos acompanha, em todo ato dessa natureza.
¥ quemdeseja viver de sua £8, isto 6, admitir,
jwiticamente, a constante presenca désse bem-
jiventurado espirito, deve por isso mesmo evitar
hiloaquilo que Ihe pode afetar a pureza dos cos-
hues.
8. Basilio usa de uma comparac&o que nos tor-
iin assaz sensivel o que asseveramos. “Assim como
4 fumaga, diz éle, afugenta as abelhas, ¢ assim
(mo um'mau odor pée em debandada as cindi-
48 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
das pombinhas, assim ésse lastimavel e nauseante
pecado repele o Santo Anjo de Deus, guarda da
nossa vida (25).
E’ certo que nfo nos abandona 0 Santo Anjo
da Guarda, depois que 0 ofendemos, como tam-
bémnao deixa de nos estar presente o préprio
Deus, no proprio ato pecaminoso. Deus continua,
presente, como ser Onipotente, mas nao daquela
formapeculiar, vivificando-nosda sua mesma vida
divina. 0 Anjo da Guarda também continua pre-
sente... Mas é claro que os lagos de caridade que
© prendem a nds se tornam mais fracos... Por
owtra parle, sendo piores as nossas disposicées,
menos Ple nos podera ajudar espiritualmente,
No entanto, ao amor sucede a compaixio. Bl
© bom Anjo de Deus, entdo, se empenhara emnos
reconduzir ao hom caminho, por meio de suas ins~
piracdes e mocoes interiores,
Jovem que melés, faze por conservar-te digno
do amor do teu Anjo da Guarda, fazendo-te se~
melhante a éle pela pureza dos teus costumes. Se,
no entretanto, suceder que yenhas a tornar-te in
digno até dos seus olhares, presta ouvido as suas
inspiragdes, € volla, pressuroso, aos bracos do
amavel e celeste companheiro do teu peregrinar.
E se neste momento em que me Iés, reconheces
que nio ¢s digno do amor do santo Anjo, da-lhe,
porventura pela primeira vez, 0 prazer de ver-te
de novo puro comoéle, e digno como éle, do amor
de Deus!
Oh, quefeliz a vida do mogo puro, amayel ac
Anjos, admirado ¢ respeitado dos homens! “0 h
(25) “Zacrimorum pecostum™, diz 8. Brasilio: 0 peeade,
provosador de Igrimas... — Tn Ps, XXIII n, 5.
| 0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 49
mem puro, diz S. Bernardo, faz-se de homem,
Anjo. O Anjo, e 0 homem que leva a vida ilibada,
diz éle, so, de certo, diferentes; mas nio pela
virtude, e sim pela felicidade ou exceléncia da na~
lureza:’ “differunt..., sed felicitate naturae, non
irtate” (Epist, XXIV).
Podemos,pois, por virlude, ser 0 que os Anjos
wio por natureza,
Sejamo-lo, ja que de nés depende,
Sejamo-lo, comoverdadeirosseguidores de Je~
sus, Cordeiro sem mancha,lirio dos convales, como
perfeitos filhos de Maria, Mae purissima, Rainha
us Virgens, coneebida sem pecado,
a ‘omoofende aos Anjos o eseéindalo
Muito se fala de escandalo, mas poucos sabem
«que se entende por essa palavra. Dar escindalo
é, na definicdo da ascese catélica, nada mais que
ferecer a outros acasido de pecado. “Isto, diz S.
‘omas, de dois modos se pode fazer: on direta-
iuente, ou indiretamente” (2, 2. q. XLII).
O escdndalo direlo quando 0 escandaloso
lem em vista a ruina espiritual do proximo.
E’indireto quando nao se tem em mente tao
perversa intenco, mas apenas se prevé que acdes
palavras sio ao préximo,ocasido de ruina es-
pirilual, € nio obslante se faz tal acto ou dizem
is palavras, sem que para isto haja uma justa
razao.
Em ambos os casos, entretanto, 0 resultado ow
fim, intencionado ou nao, do ato escandaloso, & a
ruina do préximo. E assim é 0 escandalo o maior
dos males que a éle podemos fazer.
50 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
§ pior é matar-Ihe a alma e tirar-Ihe a vida
sobrenatural, que Ihe custou o Sangue de Cristo,
do que privaé-lo da yida natural, que lhe custow
simplesmente um ato de sua onipotente yontade,
© escandaloso é um assassino de almas e um
esbanjador do Sangue de Cristo. 0 escandaloso
deita a perder tudo o que Cristo sofreu de ago-
nias ¢ dores, de lormentos e injirias, de injusti-
¢as € esciirneos.
Se se podessemver as almas mortas, a muitas
delas veriamos cobertas das feridas deixadas pelo
punhalassassino do escandaloso.
Ora, 0 que nao véem os nossos olhos, por n&o
perceberem o que é espiritual, yéem-no os Anjos
de Deus, que sao da mesma natureza de nossas al-
mas. O seu horror, entdo, pelos que escandalizam:
os inocéntes, é bem semethante ao de Jesus Cristo,
que pronunciou severissimas palavras a ésse re:
peito, Perguntaram-lhe certa feila os seus disci
pulos quemera 0 maior noreino dos céus. Cha-
mou entio, Jesus, a uma criancinha, colocou-a em
meio déles ¢ Ihes disse que 0 maior no reino dos
céus seria o que fizesse como aquela crianca. E
ajuntou depois: “aquéle que escandalizar a uma
dessas erianeinhas, seria hem que fosse lancado
no fundo do mar com uma pedra de moinho atada
20 pescogo”.
A enérgica expressio de Nosso Senhor Jesus!
Cristo, traduz bem todo o horror que as almas
santas sentem pelo escandaloso. Ora, os Anjos,
10 as criaturas mais santas que Deus ja criouy
excetuada Maria Santissima. Quanto, pois, 0 pe
cado de escindalo os ofenda, bem se pode com=
preender.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 51
Mas, além disso, ainda outros motivos mais
purliculares hd pelos quais o escindalo seja ofen-
\vo aos Anjos. E éstes motiyos sio os meios de
que usa 0 escandaloso, 0 chefe a cujos servigos se
hoe eo fim que tem em vista. Um, 0 Anjo, quer
i wilvagao do homem, outro (0 escandaloso)'a sua
tina e condenacao. Um, para ésse efeito, suge-
rwcastos pensamentos, excita santos afetos, esti-
jwula a fugir do pecado e a praticar o bem, ¢ 0
oulro procura infundir nas almas perversas idéias,
dosperia as paixdes mais vergonhosas nos coragoes,
judo faz para desencaminhar os bons.
Por fim, um é mensageiro de Deus, seu mi-
nistro € embaixador, outro sequax do principe das
lnevas, seu agente e representante.
Portanto, foge, aborrece, abomina com tédas
us tuas fOreas ao pecado de escindalo, sumamente
injurioso a Cristo, e ofensivo ao santo Anjo da
Guarda,
E guarda-te, sobretndo, de escandalizar 08 ino-
contes, pois, diz Cristo Nosso Redentor: “os seus
Anjos, no céu, sempre véem a face de meu Pai,
que esta Angeli eorum, in coelis, semper
nident faciew Patris mei, qui in coelis est (26).

(26) at. , 10, — ste Iugar da Baeritura 6 um dos


ols \ovideator © efivases para dsmonetear a verdade da guarda
Mus Santos Ansis, "*Que endu el de Cristo ‘soja asestido por
lum Anjo, diz 8. Basilio, tal como de um preceptor e pastor a
Mn roger’ vida, nliguém @ peers eontradiger, se Jembrar das
painvrus ot, quando disse:
Kuno. 7,do TLSen ote, — Cont.
52 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.

Cariruno VIL
0 AMOR QUE DEVEMOSA BSSES NOSSOS
CELESTES PROTETORES
Umamigo verdadeiro nio é somente aquéle que
nos néo ofende, E? sobretudo aquéle que com ami~
zade afetuosa paga a amizade que Ihe votamos.
Se quisermos viver da nossa fé e fazer do esplén-
dido dogma da guarda dos Santos Anjos um apoio
poderoso da nossa vida espiritual, ¢ indispensavel
pagar-Ihes com amor a amizade que éles nos de-
dicam,
Os trés pequenos paragrafos que seguem —
© amor que os Anjos nos tém; o que Ihe devemos;
ca sua’ alegria emse verem correspondidos — pre-
iendem ajudar-te, com 0 auxilio de Deus, a pagar
essa divida de amor.
1 — 0 amor que 0s Anjos nos tém
Ha duas espécies de amor. O amorde con-
cupiscéneia e 0 de benevoléncia, Pelo de con-
eupiseéneia procura, o que ama, nao o bem do
sér amado, mas o bem, a yantageme a ulilidade
propria, E pelo de benevoléncia inicamente o
hom, proveilo © vantagem de sér amado.
Ora, nem os Santos Anjos (como dizia Séneca
a respeito de Deus (de benef. IV, c. 9) precisam
dos nossos favores, nem nés Ihos’ podemos fazer.
“Nee ille collato eget, nec nos ei quidquam con-
Jerre possumus”.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 53
Na yerdade, os Santos Anjos sfio bem-aven-
dos em Deus, no eéu: de que mais podempre-
cisar?_ que utilidade ou vantagem de nés, miseros
mortais, podem auferir? Portanto o seu amor para
nosco é um purissimo amor de benevoléncia, e
ids sOmente amor, de nossa parte, lhes podemos
lar
“Os Santos Anjos nos amam,diz S. Agostinho,
por trés motivos ou causas: por causa de Deus,
por nossa causa, e por causa de si préprios. Por
causa de Deus, porque Deus nos ama também, e
comtais extremos; por nossa causa, porque Thes
somos semelhantes na nalureza racional; por cau
a déles préprios, porque nos querem sentados na-
quueles tronos supernos dos Anjos que prevaricaram
(S. Ag. De dilig. Deo, cap. 3; S. Bernardo, Sermo
I, in festo S, Michaelis, n. 4).
A estas razées do sett amor, ainda outras Ihes
podemos juntar, Amam-nos, porque é grande a
ayersio que sentem pelos demédnios, capilais ini-
migos da natureza humana, Amam-nos porque nos
yéemto amados de Maria Santissima, queridissi-
ma Rainha sua. Amam-nos, porque intensamente
nos ama Jesus, nosso Redentor, e Rei dileto seu.
“Se 0 nosso Rei — assim faz Origenes falar os
Anjos — 0 Unigénito Filo do Padre, desceu do
céu e desceu revestido de um corpo humano, se
Ge de mortal carne se vestiu, levou a sua cruz €
morreu pelos homens; que mais esperamos nés,
nés, (Anjos seus), setis ministros, que faremos?
(Hom. I in Ezech,
Maravilhoso espeticulo aos olhos de quem sabe
contemplar! Trés fontes purissimas de amor, de
que prorrompe, intenso e veemente, o amor dos
Bd P, AUGUSTO FERRETTI, 8. 5.
Anjos para com os homens! E’ um amor nio de
merosdesejos, naode estéreis afetos, mas de obras,
mas constante, duradouro comoa vida, longo como
a eternidade!
Naoinsistiremos mais nos fatos que provam.
© amor dos Anjos para com os homens. Apenas
citaremos ainda uma profunda observacao de S.
‘Tomas, que se resume nisto: Tédas as obras sa-
lutares e meritérias que fazemos, sio outros tan-
los favores dos Santos Anjos, pois sem a sua ajuda
e cooperacéo ndo as lograriamos fazer. Mas ¢
as textuais palavras do santo e angélico douto
“o homem pode, por si mesmo, cair em pecado,
mas nao pode produzir obras meritérias, sem 0
auxilio divino, o qual lie é dado mediante 0 mi-
nistério dos Anjos. Eles, porlanto, concorrem para
iddas as nossas boas obras (I. p. g. CXIVa. 3).
2— A nossa divida de amor
umacoisa que a mesma natureza nos ensi
(lei natural) que aquéle que ama e faz bene-
jos a outros, deve encontrar, nestes tltimos,
amore reconhecimento, E quem transgride a tio
sagrado preceito, manifesta seu proprio coracao
vasio de afeicdes, “sine affectione”, como diz S.
Paulo (II, Tim.), E sem amor, tido como ingrato,
é de todos aborrecido. Nada, na verdade, mais
natural.
Mas 0 amor crisido, abrange no s6 os amigos
mas também os inimigos.
E se aos inimigos devemos amat, quanto mais
aos amigos!
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 55
Se aquéles, assim argumenta S, Agostinho,
(ue sao objeto das nossas obras de misericérdia
su de cujas obras nés préprios somos objeto, sio
vhamadosjustamente nossos préximos, é claro que
iio, preceito, que nos foi imposto, de amar o nosso
proximo,também estdo incluidos os Santos Anjos,
pois éles cotidianamente exercemjunto a nés inu-
eis atos de misericérdia” (De doctr. Christ.).
Ainda mais longe podemos ir, ¢ ajuntar que
éss¢ preceito compreende especialmente os Santos
Anjos, pois sio, depois da bendita Mae de Deus e
Mae nossa, Maria, os nossos mais assiduos e libe-
rais benfeitores.
Véem-se por vézes certos santos cultuados com
ma constante € nunca satisfeita devoeio, por cer-
los devotos, que se confessam objetos das mais
ussiduas ¢ estimayeis gracas e favores, Mas creio
(ue se pode afoitamente afirmar que nenhumsan-
10 do céu pode ter de nés ewidado mais assiduo
© operoso do que 0 que de nds tem aquéle Anjo
que foi destinado por Deus a ser junto de nés, em
toda a nossa vida, 0 nosso fiel guardador. E’justo
portant, que a nossa correspondéncia e amor, a
hossa devocdo é gratidao para com o Santo Anjo
(la Guarda nao seja em nada inferior & devocio
© amor para com qualquer outro dos santos de
Deus.
Mas sejamospriticos. A prova do amor sio
s obras. Ora, a epistola da festa dos Anjos da
(Guarda nos oferece um belo conselho: & preciso,
para corresponder a0 amor do bom Anjo de Deus,
ouvir a sua voz. Isto resumetudo, Mas eis a dita
lico: “Assim disse 0 Senhor Deus: Eis que en-
iarei o meu Anjo; éle te precedera ¢ te protegeré
56 P, AUGUSTO FERRETTI, . J.
no caminho e te introduzira no lugar que eu te
preparei, Respeita-o ¢ escuta a sua vor, e guarda-te
de 0 desprezar; porque éle nao te perdoaré quan-
do pecares, pois néle 0 meu nome (autoridade)
esta. Se esculas a sua voz e fazes o que te digo,
eu serei o inimigo dos teus inimigos e afligirei os
quete afligem, pois 0 meu Anjo caminhara adian-
te de ti",
Na verdade bem freqiientemente nos fala 0
Santo Anjo ao coracao. Entio é preciso ouvir a
sua voz.
Vivos raios de Inz, muitas vézes atravessam a
obscuridade das nossas faculdades mentais, e, de
siibito, se nos descobre ao conhecimento as ver-
dades elernas e o nada das coisas da terra: ¢ a
voz do Santo Anjo.
Outras vézes sio nodes interiores que nos
queremarrancar do pecado, afastar das suas oca-
sides, levar A prdtica do bem, a oragio, aos sa-
cramentos, 2 obediéncia, ao estudo —
tantas vozes do Anjo da Guarda. Oucamo-las, por-
que, como diz S. Ambrésio, as internas vozes dos
Anjos saooutrostantos convites e ordens de Deus,
de Quem sao éles obedientes ministros: “Angelo
rum verba mandaia sunt Dei” (De Virginit).
Ha um caso, sobretudo, em que ¢ mister estar
hem atento a essa yor do Santo Anjo, ¢ bem dé-
cil as suas mogoes: é 0 caso do chamadoaoestado
sacerdotal ou simplesmente ao estado religioso.
Com efeito, pode o cristo ser chamado a dois
estados de perfeicio: ao sacerdotal, simplesmen-
te, ou seja ao estado de padre secular (que nio
pertence a nenhuma ordem ou congregacio reli-
oe
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 37
iilosa), e a0 de religioso, nas congregacdes e ordens
religiosas,
‘Num como noutro o homem se consagra e
prende a Deus com vineulos especiais. No. pri-
mciro estado, além de fazer voto de castidade,
contrat o sacerdote a obrigacdo de trabalhar no
hem das almas, debaixo da obediéncia do bispo
le sua diocese.
No 2: estado, de religioso (que pode ser tam-
him sacerdotal, ou nao), abracam-se_plenamente
os trés grandes’ conselhos evangélicos, que sio a
vondigao do estado religioso, e a0 mesmo tempo
os eaminhos mais seguros para a perfeicio, Isto,
6, 0 religioso imola a Deus as proprias riquezas,
com 0 voto de pobreza; 0 préprio corpo, com o
volo de castidade; e a propria vontade com o
dle obediéncia.
Nao ha diivida que so grandes os sacrificios
que acompanham éstes dois estados, e especial-
inente o segundo. Mas aquéle que se vir chamado
por Deus Nosso Senhor, tenha por certo que a
ca do Senhor e a assisténcia do Santo Anjo
se unirgo para aplainar qualquer dificuldade, e
suavizar qualquersacrificio. Além disso se Deus
pede o sactificio & porque pode compensé-lo com
as_mil vézes mais preciosas: “todo aquéle
que deixar a sua casa, ou os irmaos, ou asirmas,
out 0 pai, ou a mae, ou a esposa ou os filhos,
suas terras, por causa do met. nome (por
ha causa), receberé o céntuplo (em recompen-
na), e possuira a vida eterna’. (S. Mat. XIX, 29)
Avalie-se agora se vale a pena fazer tal sacri-
ficio.

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3B P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.

3 — Alegria do Santo Anjo quando corresponde-


mos ao seu amor
Nada ha que nos cause tanta tristeza como
ver-nos mal correspondides em nossa dedicacio
por alguém, e nada que mais puramentenos ale-
gre do que ver que a nossa dedicacao provoca
reconhecimento é 0 nosso afeto correspondéncia,
Exemplo frisante é a alegria de um pai e de
wa mie que véem os préprios filhos a crescer
déceis a seus desejos e mandados, morigerados
¢ estudiosos; € o do mestre que vé crescer cada
dia mais em saber os discipulos pelos quais se
dedica.
Bemsabem, os que o experimentam, como é
doce colher os frutos da prépria fadiga e indistri
Quanto @ alegria dos Anjos em se veremcor-
respondidos, fala a teologia caislica por boca de
S. Toms de Aquino, um dos seus mais autoriza-
dos porta-voz. “A alegria dos Anjos, diz éle, pode
aumentar por motivo da salvacio dos que se sal-
vam por seu angélico ministério... Mas esta ale-
gria pertence ao prémio acidental, e comotal pode
aumentar até o dia do juizo” (27). Logo, ale-
gram-se os Santos Anjos de Deus como nosso bem
espiritual.
Por outra parte, diz N.S. J, Cristo, no Eyan-
gelho: “alegria havera no céu, entre os Anjos de
Deus, pela peniténcia e arrependimento de um
pecador que seja”.
De duas espécies de bem-aventuranea, portan
to, gozam os Anjos de Deus no céu: uma essencial,
(27) Tp qEXT, «qed 8.
OS SANTOS ANJOS DA GUARDA 59
vonsiste na visio e no amor de Deus, e outra aci
ilental, & resultado do conhecimento que podem
ler acérea de outras coisas fora de Deus. Tal é a
wlegria pela conversio de um pecador, tal a ale-
ria de se verem correspondidos em seu zélo jun-
lo de nés.
A tua vida, portanto, leitor amigo, pode ser
vuutsa dessa felicidade acidental dos Santos Anjos.
1; por certo que ja é uma grande felicidade ser a
outrem causa de felicidade! Quefelicidade, a de
suber que os nossos pais, os nossos mestres, os
ossos superiores, so felizes porque somos 0 que
‘les esperavam de nds! Pois bem, estejamos cer-
lux que, se formos bons, também os Anjos serao
felizes, e isso por nossa causa. Que motivo de
legria para nés!
Haainda uma outra coisa sobre que deves re-
fletir, O mesire que vé os seus esforcos corres-
pondidos, mais ainda se animaa levar o seu disci-
pulo sempre a maiores conhecimentos, e a Ihe des-
vendar os segredos da ciéneia que 20 comum dos
seus alunos éle nao revela, De modoigual proce-
We todo aquéle que tem poroficio o dirigir, o guiar,
0 educar, seja nas ciéncias, seja nas artes, seja na
vida em geral. O educando que corresponde aos
cuidados do seu educador, merece os cuidados es-
peciais de que é alyo ulteriormente.
Podes, portanto, merecer especiais cuidados do
leu Anjo da Guarda, e podes nao merecé-los.
No primeiro caso, podes contar com um mui-
lo especial auxilio nos perigos do nosso longo ca-
minhar sdbre a face da terra,
No segundo, ainda que de certo estar pronto
© bomAnjo a socorrer-te quando 0 invocares, con-
60 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
tudo, jA ndo mereceras ésse auxilio todo especial
de que porventura necessitards,
Enfim, pensa no seguinte.
© Anjo da Guarda tem direito a essa alegria
de se yer correspondido, do mesmo modo que
quem trabalha tein direito & remuneracao corres-
pondente ao seu trabalho. Se nao fores bom, por-
tanto, e nao corresponderes aos cuidados do teu
bom Anjo, priva-lo~ts de uma coisa a que éle tem
direito.
E os males a que te exporis entéo? As boas,
arvores dio bons frutos, e as més, maus. Quer
isto dizer que o mal acarreta o mal; ¢ o bem o
bem. Isto é natural, Das tuas acdes mas, s6 se
podera seguir o mal, a infelicidade de ser morto
sobrenaturalmente, a desgraca de te perderes, tal-
vez, elernamente.
E das tnas agdes boas se seguira o bem, toda
sorte de bempara tua alma, — e¢ é em tua alma.
quereside a (ua verdadeira’felicidade, e nao no
teu corpo.
Comoforamfelizes os santos, ¢ como os cer-
caramos Anjos de cuidados! Decerto que ja ad-
miraste, em suas vidas, éste sinal do agrado do
sea Anjo da Guarda. Pois bem, podes tornar-te
digno de iguais favores. A nao ser que queiras ser
inimigo de tua alma — hostes animae mostrae,
dizia 0 Arcanjo S. Rafael — e entéo nao ha que
atribuir a culpa da tua miséria espiritual seno
a ti mesmo.

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0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 61

Cavireco VII
AINDA A NOSSA DIVIDA DE AMOR
Duas partes compreende a nossa divida de
imor: amor de reconhecimento ¢ amor de repa-
magia.
Do amor de reconhecimento ja falamos no ca-
pitulo anterior, Resta-nos 0 amor de reparacio.
EY éle necessirio?
Basta fazer um exame de consciéncia servin-
dlo-nos da leitura que fizemos até aqui, Temos
sido para com o Santo Anjo da Guarda aquilo
que, deveriamos ser? Correspondemos, do modo
devido, ao beneficio da sua continua assisténcia?
‘Yemo-lo amado? Temo-lhe dadoalegria? ‘Temos
inerecidoos seus especiais euidados, ou, pelo con-
Inivio, temos desmerecido alé os seus enidados
juais comuns?....
Reparar é pagar ou restituir amor. Deviamos
‘mor aos Anjos e nao Tho pagamos no tempo opor-
luno; pagé-lo-emos agora pela reparacio.
Capacitar-te-és da necessidade desta restitui
(io pensando na nossa ma correspondéncia para
comog Santos Anjos, na sua paciéncia para co-
huseo, € em como Thes podemos pratieamente dar
wilisfacdo,
1
1 — A nossa md correspondéncia aos cuidados do
Anjo da Guarda
, P ‘
Um rapido olhar a nossa vida passada nos
1
conveneera de uma coisa: que os nossos pecados
62 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. 5.
foram {io numerokos que nos seria impossivel
conti-los. Mais ficil nos fora contar as estrélas
do céu,
Masvamos restringir 0 campo de visio do nos-
so passado. Assestemos os dculos de alcance de:
nossa _meméria para as fallas de omissio somen-
te. Aparecerio como enormes rombos no batel
do nosso viver, rombos tio numerosos que teriam
sido suficientes para nos fazer naufragar.
E, no cntretanto, houve alguém que previ 0
perigo e procurou eviti-lo, procurou advertir-nos,
procurot’ mesmo mover-nos da nossa inéreia com
fas suas mogoes interiores: foi 0 nosso bom Anjo
da Guarda. Nao lhe prestamos ouyides. Fizemos_
com éle © que nao fariamos com os nossos amigos,
quando, interessados pelo nosso bem. Porque a
éstes, pelo menos, damosouvidos, prestamos aten-
co As suas razdes, Mas para com o Santo Anjo,,
nemisto fizemos!
Ouiros rombos, ainda menores, yeremos ainda
so as imperfeicdes cometidas nas boas obras,
oracdo, assistéucia A Santa Missa, e outros deve
res piedosos. Ese tais imperfeicdes nao foras
simples resultado da fraqueza humana, mas mi
voniade, que ofensa para o Anjo da Guarda! Ni
verdade, {do grande ofensa & no fazer um favi
como fazé-lo de ma vontade.
Mas mais ha que ver nas faltas de comissi
pecados positivos, de pensamentos, palavras
obras, Que pesada carga para o nosso pobre bi
lel. Realmente, se nao socobrou foi s6 devido
misericordia de Deus, ¢ a nosso fiel guardador!
E os pecados de escindalo? Quantas vé
no fomos nds os eulpados dos pecados alheik
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 63
\jliantas vézes naofizemos o bastante para causar
1 ruinespiritual do nosso préximo?
Como é grande, portanto, a nossa diyida de
wr reparador! Quanta alegria nao roubamos
iv quem justamente a merecia! E’ 0 caso de dizer
com o santo J6: peceavi et vere deliqui. Realmen-
wl. pequei, e muito pequei! Se o meu Anjo
(i Guarda fésse capaz de tristeza, eu Ihe teria
enchidode dor ¢ pranto os dias de sua missio jun-
{oa mim!
— O amorpaciente e benigno com que nos
folerou-o Santo Anjo da Guarda
“Pequei e muito pequei, e no recebi 0 que
merecia emcastigo: et uf eram dignus non recepi”.
Nem sequer nos faltou, depois de lantas faltas, a
imizade do Anjo da Guarda. No entanto, uma
ujiitia smente basta para separar velhos amigos,
converter em ddio a antiga amizade,
E isto por que? Porque a amizade humana
\ motivos humanos se fundamenta, e éstes sto
iustiveis, Nao assim a amizade que nos tém os
Anjos. Fundamenta-sé em motivos iespirituais,
{nis como o amor de Deus, de quem somosfilhos
ile adocdo, 0 preco de nossa alma, que foi o San-
sue de Cristo — ¢, éstes motivos sto constantes,
lnutiveis. Constante ¢, portanto, a amizade que
hos tém os Anjos, apesar das nossas culpas. Nao
Ini diivida que estas enfraquecem a sua amizade
pura conoseo, tanto mais quanto maior fora nossa
nilpabilidade, e menores as atenuantes da falta.
Entretanto é sempre verdade o que diz S. Pe-
ro Damiao: “Todos os dias ¢ de muitas manel-
64 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
ras que ofendemos aos nossos Anjos da Guarda,
4 ofensa acreseentamos muitas vézes a negtigéne
cia em arrepender-nos. les, porém, ainda qu
freqiientemente sofram de nés tantas injuirias, (
Jeram-nos, nio obstante, e de ndés se compade-
com (28).
Bemsabe o médico paciente tolerar as inj
ring do frenético que nao se quer deixar tratar,
a éle volta muitas vézes, apesar das afrontas, até
yé-lo de todo curado. Assim procede para cono:
co o santo Anjo da Guarda: assiste-nos, exort
nos, move-nos interiormente, e jamais se apa
do nosso lado, agenciando diante de Deus a ni
salvacio. "Oh prodigio de caridade, excla
o mesmo Pedro Damiao, prodigio de todo ina
dito entre os homens!...”
A garidade, diz 0 Apéstolo, & paciente, &
nigna: carilas patiens est, benigna est. Ora,
é na verdade a caridade do santo Anjo para
nosco, caridade paciente, caridade benigna: p
liens ‘est, berigna est; Tudo sofre, tudo suport
omnia suffert, omnia sustinet.

3 — Modo pritico de reparar as nossas ofens


Reparar semum sincero desejo de n&o torn:
a comeleras injuirias feitas no é reparar. E’ al
var a culpa.
A culpa é umroubo e o fruto déste roubo
irrestituivel.
‘A reparacio ¢, portanto, a compensacio qi
se dé em face da impossibilidade da restituica
(28) Serm, I de Bxoltat, Crocs
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 65
Supde o desejo de restituir o que se roubou, caso
fosse possivel. Ora, a disposicdo de restituir o
roubado & incompativel com a de praticar outro
youbo. Dai a necessidade de resolucao de nao tor-
ar & ofensa, em quem quer que queira realmente
reparar,
Isto, por sua vez, supde 0 arrependimento da
ofensa feita, Arrependimento, portanto, e resolu-
cio de emenda é condigio sine qua non em lida
verdadeira reparacdo,
Masisto, ainda que indispensavel, é apenas a
iedo. Nao é tanto a reparacao mesma, quanto
© primeiro passo na vida de reparacio ou, me-
lor ainda, a cessa¢io da vida de ingratidao.
A reparacéio mesma,diz S. Bernatdo que con-
sistira em fazer sobretudo todos aquéles atos que
wibemos serem do agrado dos Anjos: in his maz
me exercendum nobis, in quibus novimus Angelos
delectari,
Na verdade,s6 assim compensaremosa dor da
ofensa pelo prazer do obséquio, a injiria pela hon-
ra, 0 desaeato pelo mais dedicadoculto de devocio.
“Muitossioos alos, continua S. Bernardo, que
iu éles_agradam ou que Ihes agrada ver emnos.
‘YVais so a sobriedade, a castidade, a pobreza vo-
lintéria (que praticam os religiosos), os freqiten-
les suspiros pelo eéu (jaculatérias, santos desejos),
© aoracdo acompanhada de ligrimas ¢ de afetos
Jervorosos do coracdo. Mais, todavia, que tudo, exi-
yemde nés os Anjos da paz, a concdrdia e a paz
que convém entre irmaos” (29).
(29) 8 Bomardo af alnde as palavras, “Angeli pacia™
Anjos de paz, que se Iéem ne profecia do Isafas, XXXIM, 7.
66 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Os Anjos sio habitadores da patria celeste, e
vivem totalmente da vida sobrenatural, que ¢ a
yerdadeira vida —assim como nds vivemos total-
menteda vida natural, que no é a yerdadeira vida,
pois é vida mortal, e a verdadeira vida é 0 gézo
perfeito, o conhecimento perfeito da yerdade, 0
amorperfeito do beme tudo isto, eterna e imor-
redouramente, ‘Todos os atos, portanto, ¢mvalor
de vida verdadeira somente enquanto ‘participam
dessa vida sobrenatural. Tudo o mais’ que assim
nio for é realmente perdido. Poristo dizia S.
Paulo: quer comais, quer hebais, tudo fazei para
a gloria de Deus. motivo sobrenatural da nossa
She,

agao é que Ihe da valor.


Tudo isto vemexpresso nas palavras do Ar-
canjo S. Rafael a Tobias: A oracdo com o jejum:
€ a esmala (todos atos de valor para a vida sobre-
natural) é melhor do que o trabalho de ajuntar
tesouros (atos meramente naturais, sem valor, pe~
recedouros). Se, portanto, queres agradar os An-
jos, jovem que me lés, estima sobretudo a vida
sobrenatural, pratica a caridade, vence as tuas
paixdes, reza, comunga, ouye as Missas que pu-
deres.
Tudo 0 que fizeres ao préximo por amor de
Deus, sera esmola, toda mortifieaeao, todo sacrifi-
cio sera jejum, tédacleyacio da alma a Deus, todo
pensar emDeus ¢ a fle amarser oracdo, Assim
dizem os santos doutores que com estas trés ope>
racdes: oracdo, jejum, esmola, 0 homem total
mente se oferece a Deus. Com_a oracio ofer
The os bens da alma, com o jejum os bens d
corpo, € com a esmolaos seus bens exteriores di
fortuna.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 67
Entretanto ha um tempo em que poderds pra-
liewr o jejum da acepcao propria déste térmo. E”
tempo em que a Igreja o prescreve. Aproveita-te
lamente desta ocasiio de agradar ao santo
Anjo da Guarda, e enriquece a tua alma de bens
whrenaturais, fila gozar sempre mais daquela
Vida que vale a pena viver, porque é a vida ver-
dindeira,
Da as coisas déste mundo o aprego que elas
merecem. Sabe renunciar discretamente ainda ao
que & licito, dizendo com S. Estanislan Kostk:
“ndo nasei para as coisas da terra, e sim para os
do céu; para estas hei de viver, e ndo para aque-

tac <= te
Sé, enfim, como Jesus, 0 grande amigo de to-
dos os que sofrem, de todos os enfermos,de todos
5 aflitos, levando-Ihes 0 teu consdlo, a tua ajuda,
Sé apéstolo, faze com que as tuas palavras ¢ os
leus exemplos s6 possam conduzir ao bem. Faze,
sobretudo, com que tenhas imitadores nesta sélida
devoedo aos Anjos, reparte com os leus irmaos em
isto o fruto que dela colhes. Assim, muitos, por
(uaindustria, prestarao aos santos Anjos a honra
que tu Lhe roubaste com as tuas ofensas. Oh, en-
\iofaras condigna reparacao, entio poderas estar
sequro de que vendo em ti o santo Anjo acdes tio
contrarias As que antes havias praticado, de todo
se esquecer do passado, tal como se nunca o pas-
nado houvesse existido (30).

(80) Torem, XXXT, 4, — A Gate paseo alnde 8, Paulo,


Hobe, XX, 17.
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68 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.

Caviruto 1X
“SANTO ANJO DO SENHOR,
EU TENHO CONFIANCA EM Vos!”
0 yerdadeiro devoto do santo Anjo da Guarda
tem néle, naturalmente, a mesma confianca que a
criancinha, pequenina, tem em sta Mamie, Su-
pérfluo é estarmos a exortar a uma crianga a que:
tenha confianga em seus pais.
Da mesma forma, ao que cré na presenca do
seu Anjo, e sabe pela 18 que ésse espirito celestial
vela sobre as nossas almas com 0 afeto e solicitude:
de uma mie, supérfluo nos parece ainda exorti-lo
a essa confianca.
Ora’ quem confia se entrega, E’, pois, nosso
dever entregar-nos ao santo Anjo da Guarda e
confiar-nos & sua solicitude.
E’ o Santo Anjo o melhor guarda de nossa
alma — a confianga que néle devemos depositar
6 sem limites —comespecial confianca devemos
a éle recorrer em algumas ocasiées — eis o que
exporemos neste capitulo.

1—0 santo Anjo é 0 melhor quarda de nossa alma


© melhor guarda é 0 guarda mais fiel. Por
isto foi que o velha Tobias disse a0 filho quando
© enviou ao pais dos medos: vai, e procura pri
meiro um homemfiel que te acompanhe: inquire-
re libi aliquem fidelem virum (Tob. V, 4).
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 69
Mas a fidelidade deye vir acompanhada ainda
\\prudéncia, O guarda fiel, mas imprudente, pode
perder-se, e mais aquilo que éle guardar,
Enfim, de que vale ser fiel, ser prudente, mas
wio ter o poder necessirio para evilar o mal que
« prudéncia manda evitar, para executar 9 que a
fidelidade exige que se execute?
Ora bem, os Anjos, diz S. Bernardo, “sio fidis,
slo prudentes, sio poderosos”. Ou, melhor, so fi-
‘iclissimos, prudentissimos, poderosissimos. E? ne-
cessario ainda insistir sobre isto?... Nao basta,
para disto nos convencermos recordar o queji dis-
mossobre a natureza angéliea, 0 seu amor para
conosco, a solicitude com que nos guardam, 0 amor
que tém a Dens, de quemsomos criaturas ¢ ima-
gens?
Nas jornadas perigosas, um bom pai s6 en-
lrega o seu filho ao melhor, a0 mais prudente, ao
mais poderoso dos guardas. Assim o Pai celeste.
Os perigos desta vida terrena exigiam de seu pa-
lerno Coracio um guarda tal que de fato nos va-
lesse, nos defendesse, nos dirigisse. Confiou-nos
enlo ao Santo Anjo da Guarda.
“Aquéles que invisivelmente guardam os ser-
vos de Cristo, diz S. Ambrésio, mais os guardam
que os que os guardamvisivelmente”,
classis 1. sermo e. Aux. n. 11).
2—Confianca irrestrita no Santo Anjo de Guarda
Duas coisas nos poderiam abalar a confianga
no Anjo da Guarda: o temor excessivo do perigo
a diivida do seu socorro.
70 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Em ambas as atitudes grande injiria fariamo;
ao Santo Anjo. Seria admitir ou falta de fidel
dade da sua parte, ou de sabedoria e prudénei
ou de poder.
Alids, a ofensa tem aleance inda mais con
deravel. Vai alingir 0 mesmo coragio paterno d
Deus, que nos teria assim confiado a um guard
incapaz de proteger-nos.
Nao é lal a atitude do verdadeiro crente €
deyoto do Santo Anjo da Guarda, Muito pelo con-
iririo, le faz suas as palavras de S. Bernardoy
“Que podemos nds temer sob a protecdo de ta
grandes guardas?” — Quid sub tantis custodibus
timeamus?
Comodiz 8. Inacio de Loyola em sens “Exe
cictos Espirituais’, © deménio espalha os se
satélites por todo o mundo, néo deixando pe
‘em particular sem o seu especial tentador. Es
doulsina de um especial tentador de cada h
mem, estt fundamentada_na opiniio de algu
dos Santos padres (31). Entretanto, em nada el
nos deve atemorizar, pois, como diz S. Tomas dt
Aquino, bem pode ser que os deménios que n
ientam pertengam a um_grau de hierarquia mait
elevado que 9 nosso Anjo da Guarda. Mas mai
poder tem éste que aquéles pelo simples fa
de serem instrumentos da todo-poderosa justi
divina (82).
(81). Origenes, Hon, TY, ef XXXV in 8, Lue, — 8, Gre
Nisseuio do vita Moysis, — Vor Suarez op. eit, 1, VII, ¢ XX
30,
(32) Angelus, diz 8 Toms, gut ext inferior ordine nat
pracest aacnonibut, quamicis superioribus ordine naturae,
birtus divtuae justitiae, oul inharento Dont Angel, potior ext, gi
birds naturatie Angelorun,
05 SANTOS ANJOS DA GUARDA n
E’preciso, entretanto, ndo confundir confian-
ga com. presuncio.
Aquéle que, confiado no poder de seu Anjo
la Guarda, deixa, por assim dizer, (da a iniciati-
va da luta’ao Santo Anjo, ndo recorre fervorosa-
mente a éle, nao pede o seu auxilio em fervente
oragdo, — éste ndo tem confianga, tem presuncdo.
Da mesma forma a confianca que nos leva a
expor-nos ao perigo, nao € confianca, é presuncao.
Repitamos aqui que a protecio dos Anjos se-
ye ¢ imita a divina Providéncia, de que efeito,
Ora a Providéneia de Deus, ainda que vele
sobre nés, exige entretanto que a Ela recorramos
yela oracio, como eriaturas livres que somos.
Pedi e recebereis” diz o Evangelho.
E também esti escrilo, apesar de haver Pro-
videneia a velar sébre nds: “Quem ama perigo,
dle perecera”,
Da mesmaforma protegem-nos os Anjos, mas
exigem orag3o e fuga dos perigos. Nao somos
sulématos, que se deixam yuiar cegamente por
outros, Nao séo os Anjos os chau/fenrs de nossas
almas: sto nossos protetores, nossos guardas, nos-
sos iluminadores, mas(udo de acdrdo coma nossa
natureza racional e livre.
Diz S. Bernardo que Deus ordenou aos seus
Anjos que nos guardassem “em todos os nossos
cuminkos” e nio em nossos precipicios. Por isto,
diz ée que quando o deménio disse a Jesus que
se Taneasse do alto do templo, citou o versiculo da
Pserittira: ‘aos seus anjos Deus ordenou que te
iuardassem”, mas calou a parte que diz: “em to-
«los os teus caminhos" (Sermo XIV in. ps. XC).
E por que?
ory P, AUGUSTO PERRETTY, 5. J.
Porque caminhos no sio precipicios. E’ ne-
cessirio que na vida andemos por caminhos, mas
nao porprecipicios. E quemnéles se mete, néles
perecerd, por soberba presungao.
Livros maus e mas companhias, lugares ¢ es-
peticulos maus, ocasides, numa palayra, de peca~
do — eis os precipicios a que te nao deves expor,
caro congregado, querido jovem que me Iés. Se
emperigo, porém, te vires sem culpa tua, invoca
© teu Anjo da Guarda ¢ éle te protegera em teus
caminhos, pois nao foste tu que te expuseste a0
perigo, mas foi o perigo que se pos em teu cami-
nho. E o teu Anjo, instrumento da todo-poderosa
Justica divina, pora em fuga os deménios tenta-
ores.

3 — Ocasiées em gue devemos especialmente


recorrer ao Santo Anjo da Guarda
1°) — HA ovasides na vida em que nos senti-
mos pequenos, ou, pelo menos, desconfiados de
nossas fércas, ante a empresa’ com que vamos:
arcar.
E? claro que sobretudo nessas ocasides & pre-
ciso recorrer ao santo Anjo da Guard:
Preparas-le para fazer a Santa Comunhio?
Pedeao teu Anjo da Guarda que te ajude.
Trata-se de escother estado de vida? Suplica
ao teu Anjo que te ilumine, te dirija, te guarde
do mau caminho.
Queres cumprir bem com as tuas obrigacées
no officio que escolheste ou que te impuseram?
Faze por merecer, com oracio ¢ obséquios, a aju-
da do teu Anjo da Guarda. Enfim faze de mod
0g SANTOS ANJOS DA GUARDA 3
semelhante se te vés a bracos com um concurso,
uum exame, ou outra qualquer tarefa digna, que
(o lraga preocupado. Sempre é ao teu melhor ami-
ju, 0 santo Anjo da Guarda, que deves recorrer,
"tem confianga que de uma forma ou de ou!
ele te ajudara. Para istote foi éle dado por Deus.
I: se éle te nao pudesse valer to naoteria dado
Deus.
2°) — Em segundo lugar, sio as épocas das
lribulacdes e das graves tentacdes a outra ocasiao
cm _que deyes recorrer de modoespecial ao santo
Anjo da Guarda. Muitas vézes abandonam-nos os
umigos justamente quando déles mais precisamos:
ua ocasido das tribulacdes. E assim fazem porque
Ihes falta a fidelidade que aos santos Anjos nao
falta. Temem os amigos déste mundo, muitas vé-
“es, que a nossa desgraca a éles se comunique €
os faca também desgracados. Ou entio se enver-
yonham de nés, ou ainda nao se querem dar ao
trabalho de nos socorrer. O seu grande pecado,
entio, é a falta de caridade, Tivessemcaridade,
«com S. Paulo se haveriam de pdr como enfermos
nolado dos enfermos, e hayeriamde verter lagri-
mas pelo mesmo motivo por que as derrama 0
amigo.
Ora, os Santos Anjos de Deus so as mais ama-
veis criaturas, sio todos caridade. Haja vista a
alegria com que os exércitos celestiais anuncia-
ram aos pastores o nascimento do Nosso Salya-
Jor, e a comiseracdo com que assistiram a Jesus
emsua grande tribulaco do Jardim das Oliveiras.
Por que? Porque a sua missio é uma missio toda
de caridade, e esta tanto se alegra com 0 nosso
hem, como se compadece dos nossos males.
74 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Roguemos, pois, a Deus € aos seus Anjos,
nossas tribulagdes, e 0 Anjo do Senhor nos co
fortara, tal como 0 fez o Anjo do Horto, que con-
fortou a Jesus.
“Portanto, diz o grande doutor que vimos se-_
guindo, S. Bernardo, todas as vézes que te assall
alguna desusada tentagao, alguma graye tribul:
co, invoca 0 teu guarda, o teu guia, a tua ajuc
nos perigos, na tribulaco. Brada-lhe, e dize-Ihe:
“Senhor salvai-me, pois estou prestes a perder=
me”. Onainda (isto acrescentamos nés) dize-lhe:
“Santo Anjo do Senhor, valei-me! Eu tenho con~
fianga em vés!”
32) — Sao os santos Anjos, diz um pio aut
que nos Ievam ao pranto da contrieio e da_peni
tencia: “Ipsi sunt per quos ad fletum contritio,
et poenitentiae inducimur. (serm. fr. in er. XLVI),
FE? esta a terceira oeasiio de invocar o Sant
Anjo da Guarda, 0 tempo do retérno a Deus.
Podeser que nos tenhamos exposto a peri
que lenhamos omitido a oracdo suplicante a De
€ a seus Anjos, e que assim tenhamos caido no ps
cado, E° éste umestado perigosissimo, prineip
mente para vés, caros jovens que viveis no meio.
mundo. Mas tendeconfianea e devocio para cot
© santo Anjo da Guarda. file, apesar da tenta
de te deixares fiear em tal estado, te haverd de
conduzir ao hom caminho, por meio das lagri
da peniténcia, ov seja do’sincero arrependimes
dos teus pecados.
Mas cumpre secundara acio do teu Anjo. Gi
ve é estado em quete encontras, Lanca-te
bracos do teu bom Guarda, pede-lhe desculpas
Ihe ter injuriado a presenca, pede-lhe que te
08 SANTOS ANIOS DA GUARDA 6
vonduza a Deus, ¢ éle te aplainara o caminho, far-
le-a superar a tentacio da vergonha, da irresolu-
.& por sua verle lanearé no regaco detua Mae
do Céu, que te levardé a Jesis. Hi no final desta
obra_algumas oracdes que a isto te ajudarao.
E Jesus te dard a graca divina, e tu te tornards,
comoteu Anjo da Guarda, Filho de Deus, herdei
vo do Paraiso,
Se acaso é éste o teu estado presente, sabe que
se inclina sdbre ti o teu bom Anjo, na esperanga
Ue te ouvir invoed-lo, para reconduzir-te ao bom
caminho.
Ah, ndo o facas esperar em vio! Espera-te 0
teu melhor amigo, faze a sua voutade! Ble tem
has MAos 0 preciosissimo dom de que depende a
ua felicidade —a paz e a graca de Deus, Sem
paz nao serfs feliz neste mundo, nem sem a graca
‘ina te poderis salvar. E se até hoje sé tendes
retribuido cominjurias os beneficios do teu Anjo
dla Guarda, di-The, a0 menos desta vez, a alegria
que sabes The inunda o sér quando “am pecador
quer arrependerdosseus pecados”. “Séde oca-
de alegria aos santos Anjos, dir-te-ei com S.
Ambrésio, alegrem-se éles de te verem tornar a
Deus: esto Angelis laetitiae, gaudeant de reditu
tao”
Caviruto X
NA ALVORADA DO PARAISO
0 dia da eternidade se aproxima.
Pode ésse dia ser o dia mais helo da nossa exis-
\éncia, e tambémo mais terriyel. Para overdadei-
to devoto dos santos Anjos sem diivida que serd 0
inais belo.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/
76 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
E isto porque o santo Anjo da Guarda dispos
© seu devoto A grande provacéo, validamente o
conforta no grande conflito, caritativamente 0
acompanha na grande passagem,
1—0 Santo Anjo predispae 0 seu devoto
4 grande provacao.
Pe em ordemos teus negécios, diz 0 profe-
la Isaias, porque morrerés ¢ j no ters vida:
dispone domui tuae, quia morieris fu ef non vi
ves", (XXXVIIL, 1).
‘Ao devoto do Anjo da Guarda, como assegu-_
ram ossantos, o dia da passagem para a eternida-
de sempre os encontra prevenidos, E por que?
Previne-os o santo Anjo: “Pde em ordem a tua’
alma...” Bsse sentir dos santos 6 de todo ra.
zoivel. De certo que na visio de Deus tém o
nossos Anjos conhecimento do nosso futuro. Oray
que amigo haveré que sabendo aproximar-se w
grande ¢ {emeroso dia para o seu amigo, 0 ni
previne, 0 nfo exorla a preparar-se, o nao ajud:
em tudo na medidade suas possibilidades?
Ora, é isto o que, precisamente, no dizer dos
santos, fazem os nossos Anjos ao aproximar-se
hora de nossa morte, o dia de nossa eternidade,
© como éles nos’ previneme predispéem ¢ di
ficil precisar. Mas, ou sejam manifestagdes mais
‘ou menos claras, ou sejam vozes interiores mai
menos expressas, o fato é que acha meios o bor
Anjo de nos fazer sentir que j4 inclinamos par:
© ocaso.
E nao sio meros pressentimentos... Ao pat
de nos sugerir que nos preparemos, redobra
culdados 0 Santo Anjo para que a morte do s
0$ SANTOS ANJOS DA GUARDA rT
dlevoto seja realmente a aurora do Paraiso e nao
© ocaso que precede a uma noite eternamente te-
nebrosa,
Bem-aventurados os devotos dos santos An-
jys da Guarda, pois, quando o. vier visitar 0 Se-
nhor, Ble o achara vigilante, pronto para acom-
panha-lo ao festim do Paraiso,
Bem-ayenturados, mais uma vez, os deyotos
los santos Anjos, que os tiveram, nesta vida, por
jigos, em todos os momentos, por conférto na
hora da morte, ¢ por eternos comensais no céu!
— Vélido confério do Anjo da Guarda
no grande conflito.
Nao sem raziio chamamos de grande conflite
hora da morte, Grande pelo ardor que néle se
hula, grande pelos adversdrios que néle se em-
penkam, grande pelas conseqiiéncias que déle de-
pender.
E’ de todo natural ¢ légico que 0 deménio nao
queira perder essa iiltima batalha. Todas as vi
Wrias conseguidas em vida, ée trocaria de bom
wrado por esta iiniea vitéria. Ora, numa batalha
ilecisiva como esta, empregam-se todas as forcas
ih disposicao.
Ha, pois, uma batalha a travar na hora da
morte, A Igreja a previne solicitamente com as
oragdes da agonia, E santos houve que a susten-
luram sobremodo duras e terrificas.
Na verdade sao ai adversdrios, de um lado,
6 Anjo de Deus, a alma remida por Cristo, ¢ 0
proprio Cristo € seus santos, e do outro o espirite
das trevas, amigo de todo mal, causa de téda nos-
wu ruina,
8 P, AUGUSTO FERRETTI,8, J.
As conseqiiéncias desta luta sio tais que dela
depende o mesmovalor da propria existéncia, ou,
em térmos vulgares, dela depende o ter, ou nao,
yalido pena existir.
Perigo algum, portanto, de nossa existéncia,
se pode comparar aos perigos da hora da morte,
Inilil e alé dispensdvel fora a ajuda do Anjo da
Guarda nos perigos da vida, se ée na hora da
morte nio nos pudesse valer.
Admira-nos 0 zélo dos santos 20 socorrer os
moribundos, e © quanto se empenham para Thes
obler uma santa morte, E por que? Porque og
santos conheciam o valor da alia, amavam-na
caridosissimamente, ndo queriam ver a sua eter=
na ruina, Ora, os Anjos sio ainda mais santos,
caridosos que os proprios santos. Que nfo farao,
pela salvacio de um seu deyotol
Conférto, resignacio, consdlo pela brevidad
da agonia e eternidade do gozo, coragem exe
plo dos martires, a exemplo de Maria Santissim;
Dolorosa, a exemplo de Jesus Cristo — eis os seit
timentos que infundem os santos nos seus mori
bundos, muitas vézes gente desconhecida ei
os sentinventos que com muita maior razio_ in
fundem os santos Anjos em devotos e amigos
seus de téda uma existéncia,
Nao fallaré ao deyolo do santo Anjo arrepens
dimento dos pecados: éle tho inspirara, assi
como uma grande confianca nas chagas do Si
vador Crucificado. fle the trara um sacerdote
a éste inspira os sentimentos e palavras a si
gerir ao enférmo. Fara com que recebaosill
Sacramentos e com que, com pias jaculatérias n
labios, espire suavemente no dsculo do Sen!
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 79
Seri uma preciosa morte na presenca de Deus!
yieliosa in conspectn Domini (Ps. CXV,5).
‘0 Anjo da Guarda acompanha 0 seu devoto
na grande passagem.
No momento mesmo em que a alma se separa
lo corpo, termina para nds 0 estado de via (esta-
tii dos que esto emprovagao), e com éle termina
(wnbém, para falar com acérto, a guarda dos san-
tos Anjos,
Isto ndo necessita de esclarecimentos quando
fw (wala de uma alma que parte déste mundo me-
edora de condenacdo eterna, No lado em que
cuir a dtvore, como diz o Ecclesiastes (I, 5), ai
permanecerd eternamente, Nada mais tem’ a fazer
vom ais almas 0 santo Anjo da Guarda, De todo
vilio. abandonadas, pela propria culpa,
Quanto as almas que morrem em estado de
a, esto salvas. Ja nfo se faz necessario 0
nuxilio do santo Anjo,
Entretanto ainda alguns caritativos encargos
jomam a si os Anjos com respeito as almas daque-
lvs que protegeram em vida (33).
Antes de mais nada as acompanham ao tri-
bunal de Cristo. Como nao perturbar-se profun-
‘iimente, pergunta 8, Bernardo, se se vé sé e de-
sumparada do seu fiel guia, ‘ao sair do corpo?
Quomodo enim non vehementissime turbaretur, si
sola hine egrederetur?”
Na paribola do rico glutio e de Lazaro, 0
iendigo, diz Nosso Senhor: aconteceu que veio
norrer 0 mendigo e foi transportado pelos An-
Jos ao seio de Abraio. (Luc. XVI, 22).
(28) Ver Suares, op. cit, 1 V, e. XIX a. 0,
80 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
E’ isto, precisamente, 0 que faz o Anjo da
Guarda e ainda outros Anjos quando a alma deixa
9 tribunal de Cristo isenia de culpa.
E seainda liver cuipas que expiar no Purga-
tério, até li a acompanham os santos Anjos, ai
a vistam e consolam, ¢, para seu alivio e liberta
cdo faz com que se Tacam preces, naterra, pi
ela
“Nao deixam os Anjos de auxiliar os eleitos,
diz Sao Beda, enquanto os introduzem na pac
tria celeste”. (De templo Salomonis, cap. XI)
— Oh, que allegria a do santo Anjo, ao introduzi
no edi aquéle que protegera por toda a vidal E
fim, eis coroados de pleno éxilo os seus esforgos &
solicitude! E que aiegria a do devoto do sank
Anjo! Também éle nao cessaré de bendizera su:
ve e sdlida devoedo que o levara ao paraiso.
Beth se pode imaginar, enlio, os agradecim
tos da alma ao Anjo da Guarda, e as congratu:
lagées e amplexos déste.
De tudoisto, e de tudo quanto havemos ¢
posto, devemosconcluir com S, Bernardo: “Na
nio nos é licito ser ingralos para com os sant
Anjos, que, obedecendo tio caritativamente & 0:
dem de Deus, nos sao de ajuda em lio grand
necessidades.' Sejamos pois devotos dos Sant
Anjos, sejamos gratos a ésles nossos cclestes pri
telores. Paguemo-lhes amor com amor, honr
mo-los tanto quanto podemos, tanto quanto
vemos... Nutramos bem vivo afeto para com
Anjos do Senhor, como para com aquéles que
dia nos terdio como co-herdeiros seus no eéu, e
por ora sao junto de nés tulores e mentores an
dadospelo Pai do Céu, a fim de que nos defend:
governem”.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/
Il PARTE
‘XEMPLOS OU MANIFESTAGOES VISIVEIS
NOS ANJOS, NO VELHO E NOVO TESTAMEN-
TO E NA HISTORIA ECLESIASTICA
Cavireto T
OS ANJOS NO ANTIGO TESTAMENTO
Muitos sito os passos da Sagrada Escritura em
que se referem os favores e beneficios que os An-
jos de Deus fizeram aos homens, que so, diz a
imesma Escritura, “pouco inferiores aos Anjos:
minuisti eum paulo minus ab Angelis”.
Mais de quarenta manifestacdes de Anjos enu-
inera nos livros santos o P. Cornélio a Lipide, que
(um dos mais doutos intérpretes da Escritura. E
« Catecismo Romano diz: “Esta cheia a histéria
los santos déste género de exemplos...” (P. IV,
cup. 9). Escolheremos, dentre ésses muitos exem-
los do Velho 'Testamento, alguns mais interes
suntes € de maior edifieacdo, resumindo-os quan-
ilo conveniente,

1 — Um Anjo socorre a Agar e sew filhinho Ismael


Jd desfatecente peta séde
Agar, yendo-se obrigada a deixar a casa de®
Abraao fugiu para o deserto, Mas 0 Anjo do Se-
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/
82 P, AUGUSTO FERRETTI, 5. J.
nhor The apareceu junto a wmafonte, na estra
de Sur ¢ lhe disse: “volta para a casa de tua
nhora e submete-te as suas ordens”. Em se;
da The disse que pusesse o nomede Ismael no fil
nho que estava para dar a luz, e Ihe predisse q
@e scria um dia um grande homem,robusto,
lente e chefe de povo numeroso (Gen, XVI).
Mas, depressa teve a pobre Agar que torn
ao desert, pois Abrado, devendo escolher por
posa a Sara, leve que despedi-la de sua casa. Deu-
Ihe um bocadode pao, pos-The, 20 ombro um oK
com ‘gua, e a despediu juntamente com Ismach
que entio ji havia nascido.
Partiu a desditosa e, alguns dias, vagou
rumopelas soliddes de Bersabéia. Depressa
bou-se a agua do pequeno odre que levava e, ni
quele deserto, nao havia uma fonte que mana:
© precioso ligiido, um pouco sequer! E Ismael
crianga ainda, e desacostumado aos ardores d
séde no deserto, comecava ja a desfalecer... Qu
fazer, a quem pedir socorro? Como reanimar
aquela tenra crianca ja quase agonizante?
Aflita, atnita, sem saber que partido tom:
a pobre mie depositou o filho & sombra de um:
Arvore, ¢ correu para longe, para no assistir-th
a triste agonia. A distancia que pode aleancar
arremésso de uma flecha parou, e sentada se p
a chorar, e a solucar, ea exclamar: “ail que ni
hei de ver a agonia de meufilho, nem tenho
‘aciio para isso, Non pidebo morientem puerum!
Mas cis que The aparece o Anjo. de Deus e Il
diz: “Nao temas, pois Deus ouvin a voz do t
filho, no lugar onde esta”. Em seguida mostroi
The um pdco com Agua, e desapareceu. Depress
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 83
correu Agar, encheu 0 odre de agua ¢ a levou para
Ismael. Ismael bebeu e, saciado, comecou de novo
yiver. Depois, ajoelharam-se ambos e deram
n Deus as devidas gracas (Gen. XI).
— Dois Anjos salam Lé ¢ sua familia do
incéndio de Sodoma
Lé morava numacidade que se tornou famo-
sa pela vida infame que levavam seus habitantes.
bssa cidade se chamaya Sodoma. S6 éle perma-
hecia ileso da geral pestiléncia e desregramento
de costumes. Ora bem, como castigo de seus ne~
fandos pecados Deus Nosso Senhor, justissimo|
Juiz, condenou ao fogo a cidade comtodos os seus
habilantes, assim como trés cidades mais, peca-
doras como Sodoma. Mas Lé era inocente. Por
0 Deus quis salvi-lo antes que o fogo caisse s6-
dade. Isto se deu do seguinte modo.
Estava 15 um dia sentado as portas da cida-
de, quando avista dois jovens que para éle se en-
caminhavam. Eram belissimos, e vinham com
grande pressa. Crendo que fdssem peregrinos,
corre ao seu encontro e os conyidou, com ma-
neira afabilissimas, a passar a noite em sua casa.
Mas os peregrinos eram dois Anjos. “Nao pode-
mos aceilar, dissetam, ns temos que passar a
noite na praca”. Mas Lé tanto fez e disse que
acabasam por acellar o seu convile. Em easa de
Léos dois jovens (pois pensava Lé que ndo pas-
sevamde jovens peregrinos) tomaramalimento e
dormiram.
No dia seguinte, bem cedinho, acordaramos
Anjos. Foramter com Lé e Ihe disseram que era
84 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
preciso abandonar imediatamente a cidade. Le=
yanta-te, The disseram os Anjos, toma contigo a
tua mulher e os teus filhinhos, e vem conosco,
Saiamosda cidade para que nao venhas a perecer
nasua iniqiidade, Has-de saber que foi para des~
truir a cidade que fomos enviados, mas antes te-
mos que salvar-te a tie aos teus.
Compreende-se 0 espanto de Lé. Foipreciso
que 0s Anjos o tomassem pela mio, assim como
a mulher e aos filhos, e os fizessem sair da cidade
quase & forca, Quando,pois, estava Lé emlugar
seguro, deixaram-no os Anjos. Cain entio do céa
uma chuya de enxofre e de fogo e ineendiou a ce
dade com todos os seus habitantes (Gen. XIX).
O Anjo de Isaac
Um dia Deus, para experimeniar até onle ia
a obediéncia de Abraio, ordenou-lhe que Ihe ofe~
recesse Isaac em sacrificio sobre uma montanha,
Ora, Abrago amava ternamentea seu filhinho
Isaac. Mas, achando que devia sobretudo obedecer
a Deus, que ¢ 0 autor da nossa vida, resolveu-se
prontamente a cumprir com a ordem de Deus.Fe
umfeixe de lenha, pd-lo as cosias de Isaac, to
mou do cutclo com que o devia imolar, empu-
nhou um ticko para acender a Ienha e partiu para
© monte Moria.
Enquanto caminhavam, eis que Isaac come=
cou a perguntar: “Meu pai, a lenha e o fogo estaa
aqui; mas onde esti a vilima para ser sactifica:
da?” E Abrado respondia: “Meu filho, Deus
dara...” Depois de muito caminhar chegaram
Monte Méria, e Abraio fez um aliar de pedra
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 85
dispés a lenha sobre éle. Em seguida, ligou Isaac
com a corda, pé-lo sébre o altar... e puxou do
cutelo,
Ja estava para desfechar o golpe fatal quando
ouviu uma voz: “Abraao, Abraio!” Era um Anjo
‘le Deus. Ea voz continua: “nfo desfeches 0
yolpe sébre a crianga nem Ihe facas mal algum,
pois ja sei que temes a Deus e que nem a teu filho
finieo poupaste por meu amor”. Virou-se ento 0
obediente Abrado e viu um cabrito que estava pré-
so pelos chifres num cipoal. Agarrou-o e 0 ofe-
recen ao Senhor em lugar de isaac. Entretanto,
ainda uma vez Ihe falou o Anjo ¢ renovou quan-
tas promessas Ihe havia feito Deus e quantas bén-
cdos prometido (Gen. XXII).
,
1 — A escada de Jacé € os Anjos que por ela
subiam e desciam

_ Certa feita partiu o patriarca Jacd de Bersa~


béia com destino a Ara, Apanhado pela noite
ainda em meio da viagem, tomou uma pedra que
ayistou & beira do caminho, fez dela travesseiro
co melhor que pode, procurou conciliar 0 sono.
Assim mesmo consegitiu dormir profundamente,
mas teve uma estranha visio. Viu uma eseada tao
grande, tio comprida, que apoiava o pé na terra
tocava 0 cimo no céu. E viu que subiam e des-
ciam porela umaporcdo de Anjos. Na parte que
tocava o cét, apoiava-se o proprio Deus do Céu,
que assim falaya: “Eu sou o Senhor Deus de
Abrado teu pai, e o Deus de Isaac. Darei a ti
ea leus descendentes essas terras sdbre que re~
pousas” (Gen, XXVIII).
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0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 87
tropas em volta da cidade, de modo a ficar intei-
ramente cercada.
Na manha seguinte acorda Giesi_e vé todo
aquéle exército, earro e cavalos em volta dos mu-
ros da cidade, Cheio de espanto, corre ao profeta
¢, “Senhor,Ihedisse, que fazer? Somos poucos €
dlesarmados e teremos que lutar contra tao nu-
merosos esquadrées de gente armada!” O ho-
m de Deus limitou-se a sorrir ¢ respondeu cal-
mamente: “nfo ha motivo para temer, pois mais
slo Os que esto a nosso favor do que os que ¢s-
ldo conira nds”. Entretanto, vendo que o payor
de Giesi, no o deixava sossegar, prostou-se em
oraco, ¢ exclamou: “Senhor, abri os ollios de Gie~
si, para que éle veja”. Coisa maravilhosa! Ime-
Wiatamente aparecem aos olhos estupefatos de
iiesi todo aquéle monte, em que eslava a cidade,
coberto de numerosa cavalaria, e earros de fogo,
em volta de Eliseu,
Eram Anjos do céu, enviados por Deus em
socorro do seu profeta. Apareceram sob aquela
forma de chamas e de fogo, para indiear que as-
sim como éste depressa pega nos corpos € os de~
vora, assim também os Anjos com rapidez e for
ca irresistivel reduzem a nada os inimigos. E as-
sim foi na realidade. Os Anjos, usando do seu
poder maravilhoso sobre a natureza, feriram de
cegueira os soldadossirios e em vez de captura-
rem o profeta de Deus, foram éles que ficaram
priosioneiros do rei de Israel.
E foi assim que Giesi aprenden a ter em con-
ta ndo sé as forcas e os soldados visiveis, mas
também os exéreitos invisiveis dos Anjos, nossos
fidis guardadores. (IV, Reg. VI).
88 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.

6 — Os trés jovens na fornalha ardente e Daniel


na cova dos ledes

Esses dois fatos apresentamo-los juntos por
que tém grande semelhanca entre si
Houve um rei de Babilonia, tao poderoso ¢
tio soberbo, que ordenou que todosos seus sitdi-
tos prestassem honras divinas A sua estatua de
ouro, que Jevantara nos campos de Dura, Bsle 80-
berbo rei chamava-se Nabucodonosor.
Houve também um rei dos medos, igualmente
soberho, que ordenou que pelo espaco de 30 dias
a nenhum deus se fizesse oracdes ou sacrificioz
linicamente em sua honra deviam ser feitas todas
as oracdes e sacrificios. Eo nome déste rei dos
medosera Dario.
Nabucodonosor, ordenou que todo aquéle que
transgredisse as suas ordens fosse lancado em uma
fornalha em fogo; e Dario, que os desobedientes
aos setts decretos féssem atirados A caverna dos
ledes.
Ora, havia trés jovens hebreus em Babildnia,
chamados Sidrac, Misac e Abdénago, todos éles
ocupando altos cargos piblicos. Estes, nao obs-
tante os seus cargos publicos, desobedeceram a Na~
bucodonosor ¢ disseram que nao adorariam a sua
estitua, pois a adoracio sé ao Deus do céu é
devida.
Com igual firmeza Daniel, que também ocupa-
ya o clevado cargo de sitrapa do reino, nao deu
importincia ao régio mandato e, como de costu-
me, trés vézes por dia punha o joelho em terra
para adorar a0 Deus do Géu ¢ agradecer-the os
heneficios.
0$ SANTOS ANJOS DA GUARDA 89
Nabucodonosor, sabendo da desobediéncia dos
irés jovens hebreus, mandou acender a fornalha
sete Vézes mais intensamente que de costume
mandouatirar ao fogo Sidrac, Misae & Abdénago.
De modo semelhante ordenou Dario, que Daniel
fOsse lancado aos ledes. Mas eis como Deus Nos-
ho Senhorveio em socorro dos setts servos fiéis.
Um Anjo desceu em meio as chamas da for-
nalha, afastou as chamas ¢ fez correr no meio da
fornaiha umabrisa fresea e suave, de modo que
nem sequer néles tocou o fogo nem thes fez mal
‘nigum, Ao ver tal prodigio 0 rei Nabucodonosor
exclamou cheio de espanto: “vejo os quatro man-
ccbos que, soltos e livres, caminham no meio das
chamas, sem que estas Ihe facam mal algum; e
© quarto mancebo & semelhante a um Anjo de
Deus”. Isto dito, mandou que os trés jovens sais-
sem da fornalha. Saidos que foram, eerearam-nos
todos os que ali estavam, admirados de que 0 fogo
nao tivesse tido nenhum’ poder sobre os seus cor
pos. Nenhum cabelo de suas cabecas estaya quei-
mado, as suas vestes eram como se niotivessem
passado pelo fogo, e nem sequer o cheiro da fu-
maga Ihes ficara nos corpos. No entanto, dizem
os livros santos, que tal era o fogo da fornalha
quesuas linguas Ihe saiam devoradoras pela hoca
a fora, Trés dos servos, que deviam langar nas
chamas aos trés hebreus, descuidaram-se e foram
carbonizados por essas linguas de fogo.
Foi também assim que Daniel foi salvo da
morte.
Um Anjo desceu do cét e fechou a béca dos
ledes. Bstes submissos, mansos, nenbum malfi-
zeram a Daniel. Pelo contrario, vieram deilar-se
a seuspés,
90 P, AUGUSTO FERRETTI, S.J.
Testemunhou tio grande milagre 0 préprio |
Dario, que debrucado sdbre a entrada da caverna,
assim falou: “Daniel, seryo de Deus vivo( o teu
Deus, a Quemserves {do fielmente, pode livrar-te |
dos dentes dos lees?” Daniel respondeu de li
de dentro: “O meu Deus enviou 0 seu Anjo e ésle
mesalvou”. Depressa foi Daniel tirado para fora,
e viram todos com espanto, que os ledes o haviam:
deixadoileso.
Bste milagre se tornou mais patente com 0
que acontecen depois. Pois foram lancados aos
ledes, em lugar de Daniel, os seus acusadores pe~
rante o rei, ¢ éstes, antes que chegassem ao fun
do, ja haviam sido estragalhados pelos esfomea-
dos dentes daquelas feras (Dan. Ill e IV).
Naofoi esta, entretanto, a tinica vex que Da-_
niel foi, langado aos ledes, e que escapou por meio
de um’ Anjo, Em outra ocasido, destruira éle 0
idolo, chamadoBel, e matara um monstro que 08
babilnios adoravam como Deus, Cheios de édio
foraméstes a Ciro, que entio governava, e disse
ram: “entrega-nos Daniel, ou mataremosa ti e a
tua familia”. Grandemente atemorizado com t
ameaca, entregou-lhes Daniel. De posse do profet
foi o povo a uma caverna de ledes e 14 o langarat
Hayia muito tempo que os ledes_passay:
fome, e seis dias deixaram com éles a Daniel. Mat
© Anjo o salyou tambémdesta feita daquelas fer:
¢ Ihe deu de comer da maneira, nfo menos mara
vilhosa, que passamos a narrar.
Moravanesse tempo na Judéia umprofeta chas
mado Abacuc. Tinha éste uma lavoura e mui
servos nela trabalhavam, Umdia, aprontou
alméco para os seus trabalhadores, pi-lo em um
0S SANTOS ANIOS DA GUARDA 1
cesta e partiu para a lavoura. Ora, no caminho
apareceu-The um Anjo do Senhore the ordenou
que levasse aquéle alimento a Daniel, que estava
cmBabilonia, na caverna. dos ledes. “Respondeu-
the Abacue que nem sabia onde era Babilonia e
nem em que lugar de Babilénia se encontrava a
tal caverna. O Anjo nao se deu por achado. To-
nou a Abacue pelos cabelos, levou-o pelos ares,
«© depositou as bordas da caverna dos ledes em
tabilénia. E feita a entrega do alimento a Da-
de novo leyou a Abacuc para o lugar de onde
wwia tirado.
Quando ja sete dias haviam passado desde
que Daniel fora langado & caverna, foi o rei com
sua comitiva ver que haviamfeito do profeta aqué-
les terriveis e esfomeados animais. B? fiicil ima-
yinar o seu espanto ao yer o profeta sao e salvo.
Mandoutira-lo da caverna e em seu lugar mandou
ar a ela aquéles que haviam tramado » sua
te. Foram incontinente devorades, ali, debai-
xode suas vistas (Dan. XIV).

7 — Favores do Arcanjo Rafael aos dois Tobias ¢


a Sarafilha de Raquel
Era Tobias da tribo e cidade de Neftali. Como
diz a Biblia, foi um homem sabio, desde os seus
primeiros anos, e temente a Deus. Enquanto os
outros concidadaos do seu povo, andavam a ado-
yur os bezerros de ouro que o rei Jerobofio havia
mandado erigir, dirigia-se Tobias ao templo de
Jerusalém, para adorar aos Deus de Israel nos dias
las trés principais festas judaicas, e oferecia ficl-
92 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
mente ao Senhor as primicias e os dizimos orde-
nadospela lei, E isto, desde pequenino se acos-
tumara a fazer.
Ora bem, o rei Salmanazar, Niniyita, venceu
© povo de Deus, e levou a sua populacao cativa
para Ninive, na Assiria. Também Tobias foi le-
Yvado para li com téda a sua familia, O exilio
foi a ocasido para Tobias revelar ainda mais 0
seu grande coracio: foi éle um exemplo de pa=
eiéncia em suportar os sofrimentos do destérro, €
um modélo de caridade para com os seus compa:
nheiros de infortinio, Era um edificantissimo
espetaculo yé-lo ajudar, tanto quanto podia, aos
‘seus concidadios €, & noite, ocupado na faina de
dar aos falecidos uma honrosa sepultura no seio
da terra.
Quando atingiu a idade de cingiienta e seis
anos, wna tribulacdo ainda maior velo provar a
sua virtude: uma repentina ¢ total perda da vista,
Nao se queixouda divina Providéncia nem deixou
de ser o homem temenie a Deus de sempre, reit-
dendo-Ihe gracas em todos os dias de sua vida.
Nio compreenderam, os seus amigos, 0 seu
sofrimento, e freqiientemente o censuravam ¢ ine
culpavam;’a sua mesma mulher os a:ompanhava
em {G0 injusto tratamento. Foi entao que, exae
cerbadopela dor, pediu humildemente a Deus No:
so Senhor que se dignasse liberti-lo detal sofre
Jevando-o desta vida.
Assim, fez a sun oracio a Deus, ¢ depois, e
perandoser ouvido, chamouo seu jovem filho, qu
também se chamava Tobias, e que entGo tinha vi
te e um anos, para Ihe fazer as titimas reco
dacées. Disse-lhe muitas e belas coisas, mas
OS SANTOS ANJOS DA GUARDA 93.
principais foram que fésse temente a Deus, res-
peitoso para com a sua mae, € caridoso para com
os pobrezinhos (34).
E guardou para o fim o que é o principal ar-
gumento de téda esta historia, que vern a ser:
que fosse a Rages, na Média, e cobrasse, de um
lal Gabelo, dez talentos que ha muitos anos 0 bom
velho Ihe havia tomado emprestado.
© jovenzinho respondeu pressuroso: “estou
pronto, meu pai, a executar quanto me ordenastes.
Mas como farei para conseguir ésse dinheiro se
nem conheco a Gabelo, nemsei o caminho que
leva ao seu pais?”
“Dar-te-ci, respondeu o pai, 0 quirdgrafo (es-
pécie de recibo) de Gabelo, « por meio déste éle
le reconheceré como meu fitho, e te dard o dink
ro. E, quanto & viagem, pde-te a caminho e vé
se eneontras um homem de bem fiel, que nela
ie guie e proteja”.
Partiu entio, sem mais tardanca, 0 joyem To-
hias, e pés-se a procurar umguia a que se pudes-
se confiar em tao longa viagem.
4) ‘Cob, TV. Uonra a tea uid tm todos os das da tua
vida? pols doves Tembrarte ile quanto cla sofreu por # quando
{luda nfo eras nascida... EZ em todas o= dias de ctvida tom
4Iwvado,
Deus 6mode toutransgredir
pensiriento, guardate de consentir jamaisPaze
no
0 prevsito do Senhor uossy Deus.
Fsuolaé do que tens e jamais yoltes ae costas aos pobres uo
pedeta: gagim tambénn face do Soule ufo se afustatd deth
jot pitdosfesimos comtellos, afwitow uutros,prinespalmen:
i ido “no faces w outrem © que nfo quiseris que te
— preesito de lei aatural, que tainhém 6 efien-
Hunte inewleado por N. Senhor Jesus Cristo, eomo se 1é em 8,
Mat, VIZ, 12, € 8. Lac. VI, 81.
o P. AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Ora, enquanto em Ninive levaya o velho T
bias vida tio santa tao tribulada,vivia, em umm
cidade de Média, uma piedosa jovem, ‘chamat
Sara, que igualmentepassava em lamentos os se
lutuosos dias.
E’ que porsete vézes se havia casado e po
sele vézes io mesmo dia do casamento Ihe amas,
nhecera morto, ao seu lado, o novel espéso, vie
tima da furia de um mau espirito. Mas nao
tudo. Suaaflicdo chegou ao auge com uma atro3
afronta que recebeu. Umdia, repreendida pornig”
sei que falta, uma de suas domésticas, assim The
gritou esta no rosto: “Que jamais nasca de ti nem
filho, nemfilha, oh mulher assassina dos teus ma-_
ridos! E queres também me matar a mim?”
Ao ouvir tais palavras, soltou a pobre Sa
um grito de dor e, sem proferir mais uma pala
correu'em ligtimas 4 sua camara, pds-se de joe
Thos, e emoracdo permaneceu portrés dias, 8
provar hocado de pao on gla digua em todo és
tempo. Nesses irés longos dias outra coisa nao
fez que suplicar a Deus com lagrimas e soluco
que se dignasse livrila de to grande oprobio.
E perante o trono de Deus eram apresentas
das pelos Anjos, as oragdes de Tobias em Ninive
ede Sara na Média,
E Deus Nosso Senhor atendeu As suas oracd
Expediu, entao, 0 Areanjo S. Rafael em uma imi
sio de conférto e alegria junto dos seus atribula
dos servos: missus est Angelus Domini sanctus Rae
phael ut curaret eos ambos, quorum uno tempo
suni orationes in conspectu Domini recitatae. Fe
se, pois o Santo Arcanjo encontradico a Tobias, «
saudando-o, mal éste pos o pé fora de casa, de
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96 P. AUGUSTO PERRETTY, 8. J.
devord-lo. “Salva-me,gritou Tobias” Mas Azari
respondeu: nfo temas. Abaixa-te, agarra-o pel
guelras, e puxa-o para fora dégua, Obedeceu T
bias e puxou o peixe para terra.
© Anjo, entio, Ihe ordenou que o abrisse, ti-
rasse o coracao, fel e figado, e que guardasse tudo”
isso muito bem: porque, ajuntou, so meios muito
bons para afugenlar os deménios e remédio muito
om para fazer cegos recobrar a vista,
8) Procurou-me uma boa espdsa, livrandoa
do deménio que a afligia, e enchendo de alegria
os seus pais. “Uxorem ipse me havere fecit...”
E isto assim se passou. Quando chegaram
mais ou menos nas proximidades da casa que Aza~
ria sabia ser de Raquel, disse ée a Tobias: & ali
que nos vamos alojar, ‘ dono dessacasa, conti=
nuow, fem uma filha tniea, que se chama Sa
Deus a destina para tua espésa. Por isso a pedi=
ras a seu pai, E nemte preocupes com 0 demd=
nio que Ihe fem morto os espésos... Sabe que
deménio sé tem poder contra aquéles que lancam
a Deus de sic do proprio coracdo, e se entregam
aos desregramentos da prépria vontade, (Tob.
16, 17).
Foi entio que Tobias reeebeu o prémio dest
obediéncia, conservando as entrenhas do peix
Porque, queimando estas no quarto nupcial, pow:
de escapar aotriste fim que tiveram os sete pri
meiros maridos de Sara.
E foi assim que o bom Deus, que & procel
faz suceder a calma e depois do pranto nos in:
funde nalmaa alegria, deu a Tobias uma santa
rica consorle, premiou a paciéncia com que el
tolerava as adversidades, e enfim inundou dei
dizivel alegria a téda a familia de Raquel.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 97
4) ...E 0 dinheiro que tinha que receber de
Gabelo, foi 0 préprio Azaria que 0 reeebeu: “Pe~
cuniam a Gabelo ipse recepit”.
Depois que Tobias e Sara ja estavam casados,
pediu-the esta que nao partissem ji, mas que fi-
assem ainda em casa dé seus pais ao menos duas
wemanas. Ora, Tobias tinha ainda que dirigir-se
Rages para cobrar de Gabelo o que éle devia ao
sea velho pai... Por outra parte, queria fazer
u vontade de stia novel e virluosa espdsa. Mas
como conciliar as duas coisas, e voltar a Ninive
sem fazer 0 pobre velho pai esperar demais?
a seguinte idéia. Foi, cheio de con-
m Azaria, ¢ The disse: Azaria, ir-
mao meu, rogo-te que escutes as minhas palavras.
Nem mesmo que eu me fizesse teu escravo pode-
ia compensar-te pelos beneficios que metensfei-
lv. Entretanio, tenho ainda umpedido a fazer.
FE’ que aprontes um bom cavalo, chames os servos,
¢ {e transportes a Rages, onde mora Gabelo. Mas
cu no poderei ir contigo. La chegando deves
apresentar 0 meu quirégrafo a Gabelo, A sua vis-
la éle te pagaré uma soma tu 0 convidaras para
assistir As minhas préximas mipcias. Peco-te,
Azaria, que me facas éste grande fayor, pois do
contratio, se eu me demorasse uns dias a mais,
hem podes caleular que dor profunda iré na alma
de meupai, que um por um vai contando os dias
da minha auséneia.
Falou-lhe ainda, Tobias, do pedido que the fi-
zera Raquel, e 0 bom Anjo, agradando-se dos bons
sentimentos de Tobias, partiu sem mais demora
para Rages, fez a tal cobranga, e yoltou para a
casa de Raquel. E Gabelo veio com éle.
98, P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
5) E agora, de volta, em nossa casa, foi
bém Azaria que te fez, 6 pai, ver de novo al
cintilante dos espacos. “Te’ videre fecit lume
coeli”.
Ja se haviam celebrado as mipcias de
e Tobias, e enfim Raquel mae de Sara, resolvet
deixa-los partir, pois jé duas iNemanas havia
wanscorrido (36).
Entregou ao genro a filha e com ¢la a metade
do que possuia em servos, servas, rebanhos e
nheiro. E todos, com alegria e grande acompa-
uhamento se puseram de camino para Ninive,
precedidos pelo Santo Areanjo Rafael.
J4 onze dias haviam caminhado, quando
garam a umaregio ja assaz achegada a cidad
de Ninive. Entio propés o Santo Arcanjo a To
bias uma coisa: que Sara, com seus servos e
banhos os seguissem a disidincia, lentamente, ¢
e Tobias apressassem o passo’para abreviar
hora da alegria do bom velho pai que os esperay
‘Tobias o ouviu ddcilmente, como t6das as 01
tras vézes, e assim como propds Azaria assim 9
executaram, E depressa, assim, chegaram & vist
da grande cidade.
‘A primeira pessoa que os avistou ao. Ion
foi Ana, sua mae. Todos os dias ela subia
imo de umacolina e li se quedava horase horg
aguardando a chegada do filho querido, e a to
perguntando se 0 teriam visto.
‘Avisté-lo, portanto, e corer a avisar 0
rido da chegada dofilho, foi tudo uma coisa
(80) Raquel so separon do Sara ‘Tobias com estas
yas: “0 Anjo santo do Seuhor seja eonvosco na Viagem, ©
@ salvos vos conduza dle". Tob, Xy 21,
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 99
© bom velho, arrimado emdois dos seus servos,
Ihe foi 20 encontro, abracou-o ternamente desfez-
ue em copioso pranto de alegria,
Dadoesse primeiro desafgo ao coracao, pros-
(raram-se todos emterra para dar gracas a Deus.
Depois, sentaram-se alegremente.
Foi entdo que Tobias, tomando o fel do peixe
comoThe hayia ensinado 0 Anjo, ungiu com éle os
olhos do seu pai, Todos tinham os olhos postos
no velho Tobias, e déle sé os despregaram para
po-los em Azaria, que na partida para Média,
havia dito: “Sé de bomanimo quebreve te havera
Deus de cura” (V, 3). Pois bem, chegara ésse
fulivissimo momento. Defato, 0 bom yelhoreco-
brou a vista com a uncao do fel e, ajoelhando-se
gradeceu a Deus: “Eu vos hendigo, 6 Senhor,

hias, meu ‘
Passados poucos dias chegou Sara com seus
servos e rebanhos. Nido eabem emdescricdes a
alegria, a exultacdo e giudio que nesses dias en-
sheram aquéle lar.
Mas aosdois Tobias, pai e filho, Thes parecia
que tinkam uma grande divida a saldar. Como
ugradecer e recompensar devidamente a Azaria pe-
los seus beneficios? “Que podemos dar a éste
santo homem que veio contigo?” perguntava_o
velho pai, “Que Ihe podemos dar_emproporcdo
dos seus beneficios?” replicava o filho. Por fim,
concordaram em the dar metadede tdas as rique-
zas que tinham trazido da Média.
Chamaram, entio, a Azaria, e, cominstancia,
Ihe faziam os seus oferecimentos. Mas o Santo
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03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 101
“Nao temais, disse 0 Anjo. A paz seja con-
voseo.
nquanto estive em yossa_companhia, por
Vontade de Deus estive: bendizei-o, pois, e canta
vs seus Touvores.
“Parecia-vos que eu comia e bebia convosco:
mas eu me sirvo de um alimento invisivel e de
uma bebida que nao podeser vista pelos homens.
“Mas ja & tempo de tornar aquele que me
enyiou. Quanto a v6s, bendizei a Deus e narrai
todas as suas maravilhas”, Dito isto, desaparecen
dle diante dos seus olhos.
Por trés horas ficaram Tobias e seu pai pros-
(rados por terra bendizendo e louvando a Deus.
Depois levantando-se, a todos contavam os favo-
res que Deus Ihes havia feito. Ainda viveu 0 ve-
tho Tobias quarenta ¢ dois anos. E feliz em sua
velhice, partiu empaz para a outra vida, Antes de
morrer, chamou 0 filho e sete jovenzinhos, seus
netos, € assim Ihes falou: “Ouvi, filhinhos, a
éste velho pai.
Servi, com coracio sincero, ao Senhor nosso
Deus, e procurai fazer aquilo que Lhe agrada, Re-
comendai a vossos filhinhos que fagam obras de
justicn e esmolas, que se recordem de Deus, lou-
vando-o em todo tempo com coracao sincero ¢ com
{das as suas foreas”.
Depois the aconselhou sair de Ninive e trans-
portar-se para a Média,
Assim fizeram éles. Morlos pai e mie, Tobias,
comtodos os seus se passou a casa do sogro, em
Rages, onde prosperamente viveu anos longos ©
felizes,
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0 SANTOS ANJOS DA GUARDA 103
Deus os cercou de esplendor; ¢ tiveram grande
médo.
Porém 0 Anjo Ihes disse: nfo temais, por
que eis que yos anuncio uma grande alegria, que
lera todo o povo. E’ que hoje vos nasceu, na
cidade de Davi, o Salvador, que & Cristo, 0 Se~
nhor,
E éste é¢ o sinal com que o reconhecereis:
Achareis uma criancinha envolta em panos, e dei-
tadinha numa mangedoura,
E, sibitamente, apareceu com o Anjo uma
multidao da milicia celeste, louyando a Deus,
dizendo: “Gloria a Deus, nas alturas < paz na ter-
ra aos homens de boa vontade”.

2— Fuga para o Egito


i também um Anjo de Deus 0 incumbido
de liyrar o bom Jesus, recém-nascido, do furor do
rei Herodes. Assim conta S. Mateus: “Tendo par-
tido os Reis Magos, eis que o Anjo do Senhor
aparecex em sonhos a José e The disse: Levanta~
te, toma o Menino sua Mae, e foge para o Egito.
Eli permanece até que te venha de novo avisar.
Pois o rei Herodes vai procurar a crianga para
mati-la,
Defato assim aconteceu. Herodes, iludidope-
Jos Magos, que por outro caminho que nao 0 de
Jerusalém, havia vollado para as suas terras, en-
furecido, ordenou a matanca de todas as criancas
de Belém, que tivessem menos de dois anos. In-
falivelmente, se 14 honvesse ficado, tambémo Me-
nino Jesus teria sido morto. Mas a essa hora ja
Ble estava longe de Belém, em lugar seguro —
104 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
¢ tudo por ministério de um Anjo, E’ mais um
favor que Ihes devemos.
{ Mas, passado o perigo, com a morte de He~
rodes, de novo apareceu o Anjo em sonhos a S,
José,'c Ihe disse: “Levanta-te toma a crianca ¢
sua Mie, e parte para terra de Israel, pois ja mor=
reram os que a buscavam para matar”,
E a Sagrada Familia, pode entio, com segu-
ranga,voltar pare a sua ferra natal.
3 — Jesus no deserto é alimentado pelos Anjos
Jesus quisera comecar a sua vida pitbliea por
um ato de humildade, e um de peniténcia, A
humildade, praticou-a ‘ao ser batizado em meio
20 comum do povo, como se fosse pecador como
éles. A peniténcia, praticou-a no deserto, logo_
apés o batismo, la ficando quarenta dias seguidos
no mais’ absoluto jejum,
Mas Jesus era homem como nés e sentia as
necessidades da nossa natureza. Poristo, ao fim
de to longo jejum, sentiu a necessidade de ali«
meutar-se, “teve fome”, como diz o Evangelho.
E como muitas vézes as nossas necessidades
se convertem em tentagdes, assim também o bor
Jesus quis igualmente nisto ser semelhante a nds.
Permitiu que o deménio o tentasse.
Apareceu entio o deménio, e Ihe sugeriu que
transformasse em pio aquelas pedras que ali e
tavam — assim saciaria a sua fome, e ao mesmo
tempo provaria que era o Filho de Deus.
Mas Jesus, reconheceu nisto uma tentacdo,
Tespondeu que nio é somente o alimento materi:
que nos alimenta mas também o espiritual, qu
OS SANTOS ANJOS DA GUARDA 105
fortifica a nossa alma e, concomitantemente e por
redundancia, também ayigora o corpo.
Ainda duas tentacdes permitiu Jesus que o
demonio Ihefizesse: uma quese alirasse do alto
do templo e outra que o adorasse, e éle, 0 demd-
nio, Ihe daria em trocatodosos reinos do mundo
e téda a sua gléri
E?instrutivo observar que na primeira destas
duas tentagdes o deménio citou umaspalavras jus-
lamente acérea do ministério dos Anjos junto a
nos, que dizem: “Porque foi para teu bem que
Deus mandou os seus Anjos e éles te levario em
suas mos para que nao venham a magoar os
pés nas pedras do caminho”.
Foi, portanto, pretendendo convencer a Jesus,
por meio da Escritura que o deménio the disse
que se atirasse do alto do templo. O demédnio nos
tenta, muitas vézes, até com as coisas santas.
Mas Jesus, Ihe deu a conveniente resposta, e,
apés a terceira tentacdo, ordenou formalmente que
se retirasse. O demonio, entao, afastou-se venci-
do, e os Anjos do céu vieram servir ao bom Jesus
o de que Ble necessitava.
4 — Agonia de Jesus no Horto
A agonia de Jesus no Horto é um dos mais
comoventes passos da histéria evangélica, Jesus,
na previsio do que ia sofrer, ¢diante da indife-
renga dos homens ante os sofrimentos com tanto
amor padecidos, é assediado em seu coracto de
homem de tal pavor, de tal desgdsto, de tal tris-
ieza, que cai com a face por terra em oracio a
seu Pai, e comeca a suar sangue.
106 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Jesus estava s6, inteiramente s6, naquele Ie
gar. Perto dali é verdade que estavam trés apés-
tolos, mas... também éles, com o céu da alma tol=
dado por negras nuvens de iminente tempestade,
De modo que, abatidos, como que vitimas de al-
gum enlorpecente psicolégico, nada, absolutamen-
te nada podiam fazer que confortasse Jesus e Ihe.
aliviasse o pezar.
Mas Jesus orou, e um Anjo de Deus deseen
do eéu e The trouxe 6 conférto que os seus discfpue
los no podiam dar. Onde quer que se manifeste
© Anjo, é sempre essa amdvel criatura que cor
forta, que ajuda, que nos poe a disposicao os mi
ravilhosos recursos de sua excelsa nalureza,
5 — A Ressurreigdo de Jesus Cristo
Tudo o que Jesus havia pregado seria verda-
deiro se Ble ressuscitasse, e poderia ser posto em
duvida se no ressuscitasse,
Por isto, depois de estar debaixo da terra du
noites e umdia, Ble ressuscitou.
Eis a parle que na sua ressurreigao tomar:
0s Anjos.
Contam os Evangelhos, que as Santas Mulhe
res que sempre acompanhavam a Jesus, vier
ao sepulero para ungir com perfumes seu corp
Mas, chegando1, viram que a pedra que
vendava a entrada estava removida do lugar,
que 0 corpo de Jesus nao estava no sepulero.
que um Anjo de Deus tinha descido docéu tinl
removido a pedra, justamente para que
Madalena e suas santas companheiras vissem
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108 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Entdo de tudo se recordaram elas”.
E 0 Anjo aindathes disse que fossemcontat
tudo aos apdstolos e principalmente a S. Pedro
e que Ihes dissessem que os esperaria na Galiléia,
E ai est como os Anjos sio mensageiros de
Deus, dirigem-nos, guiam-nos, instituem-nos, in-
formam-nos.
— A Ascenséo
Depois de Jesus ficar quarenta dias ainda na
terra depois da ressurreicio, subiu, cheio de ma-
jestade, ao céu. S. Lucas diz nos Atos dos Apos-
tolos que tao embevecidosficaram os apéstolos €
eérea de quinhenlos discipulos, com a majestosa
subida de Jesus ao céu, que quando a nuvem ene
eobriu a Jesus dos seus ollios se ficaram éles fis
tando 0,céu, como no conformados com ter que
olhar dé novo para a terra.
Foi preciso, mesmo, que dois Anjos thes apa-
recesseme dissessem: Por que estais, galileus, a
othar assim para o céu? £ste mesmo Jesus qi
acaba devos deixare subir ao céu, voltaré um dia,
déste mesmo modo com queo vistes a subir”.
Mas no foram sé estes dois Anjos que t
maram parte na ascensio de Jesus.
“E? coisa muilissimo digna de crédito, diz
eximio doutor Francisco Suarez, que no_glorio
dia da ascensio todos os Anjos do céu vieram at
encontro do Salvador, em homenagem e¢ reconh
cimento de sua régia dignidade,
E Ble, cheio de majestade, elevou-se sobre
Anjos e Areanjos, passou glorioso pelos Prine
dos ¢ Potestados, pelas Virludes e Dominacées, pi
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 109
los Tronos, Querubins e Serafins, ¢ foi assentar-se
A direita do mesmo Deus, Pai do Céu”.
Jesus, pois, como disseramos dois Anjos apa-
recidos aos discipnlos e apéstolos, um dia volt
ri. Serd no fim do mundo, para julgar a todos os
homens.
Entdo todos ressuscitardo com os corpos que
liveramem vide e irae ou gozar no céuou sofrer
noinferno.
Tambémos Anjos ai tro papel importante.
“Enlio, disse Jesus no Evangelho, sairdo os
Anjos e afastarao os mans do meio dos justos. Os
bons irao para a eterna felicidade, ¢ os maus para
© suplicio eterno,
— Os Anjos ¢ Maria Santissima
Também Nossa Senhora podia dispensar a
arda dos Santos Anjos. Por sua exceléncia de
jae de Deus, 0 Criador The concedeu em grau
sumo todos os privilégios que concedera aos seus
iples servos, os Santos Anjos do céu.
Por ésse motivo, ha duvida que muitos
dlésses bem-aventurados espiriios lero sido dele-
yados por Deus a assistir junto dela, ndo tanto por-
que o necessilava Maria, quanto pela reveréncia
quethe deviam os Anjos, como fala Dionisio Car
lusiano: “non tam ob indigentiam quam ob reve~
rentiam”(In cant, art. 12).
Por outra parle ndo necessitava de quem a d
fendesse dos assaltos do deménio pois j4 nopri
meiro instante de sua Conceicdo ela Ihe havia
esmagado a cabeca. E dizem os santos que ela foi
de todo isenta de tentagdes.
110 P, AUGUSTO FERRETTI,S. J.
Nas vias do espitito, o seu iluminador &
trutor era o proprio Deus, E a sua santidade pai
rava muito acima da santidade dos Anjos.
Anunciardhe, portanto, os diyinos favores, ser-
vila com seus ministérios, recreé-la com sua’ pre
senca, era tudo o de que, junto da Virgem Santis-
sima, deviamincumbir-se os Anjos.
Pelo que se deduz do pouco — pouco nas pa~
Javras e muito no sentido — que a seu respeito nos
narra o Evangelho, deve ter tido um carater dé
assiduidade e familiaridade todo especial, o trato
de N. Senhora com os Anjos.
Alguns doutores, mesmo, como S. Bernardo,
(De balismoafirmam que S. Gabriel, 0 Arcanjo da,
Anunciacdo (Lue. 1) teria sido 0 Anjo destinado
por Dens, de modoespecial, a assisti-la e servi-la.
Entretanto, deve-se ter em vista que a vida da
Virgem Santissima nao teve aquéle carater que
teve a de seu divino Filho, alvo das mais espally
das profecias do Antigo Testamenio, e objeto da
observacao dos seus contempordneos. A vida d
Jesus, teye a publicidade que condizia com a sua
missio de Mestre, Profeta, Messias, Salvad
Nosso.
A de Maria Santissima foi um vida escondida,
toda interior, téda espiritual. Maria Santissims
aparece no Evangelho, sempreem funcao de Jesu
Cristo. E’, pois, natural, que as aparicdes de Anjos,
no Evangelho,’sejam mais numerosas com relaga
a Jesus que a Maria.
© Evangelho, a respeito de Nossa Senhor:
apenas menciona uma aparicao de um Anjo, Fe
na anunciacio.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 11
“Nosexto més, (a contar da visita a S. Isabel
© concepeio de S. Joo Batista) foi enviado por
Deus 0 Anjo Gabriel a umacidade da Galiléia, de
nome Nazaré, a uma virgem desposada com ‘um
homem da casa de Davi, chamado José — e 0
nomeda virgem era Maria.
E aproximando-se dela, 0 Anjo disse: Ave,
cheia de graca, 0 Senhor é contigo, bendita és tu
entre as mulheres.
Mas ela, ouvindo isto, aténita ante tais dize-
res, ficon pensando que saudacaoseria esta,
Eo Anjo Ihe disse: nao temas, Maria, pois
achaste graca diante de Deus.
is que conceberds, e dards & luz umFilho,
por-lIhe-&s o nome de Jesus,
Ble seri grande ¢ seri chamado o Filho do
Altissimo. 0 Senhor Deus Ihe dara o trono de Da-
vi, seu pai, e Ble reinar elernamente na casa de
Jac6, e o seu reino nao tera fim.
Perguntou entio Maria ao Anjo: “como se fara
isto, pois nfo conheco varao”.
Respondeu-lhe o Anjo: “O Espirito Santo des-
cer sobre ti, e a virtude do Altissimote cobrira
com a sua sombra. :
Por isso, também 0 santo que nascer deti seré
chamadoFilho de Deus.
E eis que Isabel, tua parenta, concebeu um fi-
tho emsua velhice; ¢ éste ¢ 0 sexto més daquela
que é chamadaestéril, porque a Deus nada é im-
possivel”.
‘Tais foram as palayras do Arcanjo S. Gabriel.
E Nossa Senhora respondew: “Eis aqui a serva
do Senhor; faca-se em mim segundo a tua pala-
vra”.
112 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.

8 — Os Anjos e us Santos Apéstolos (37)


a) A bela histéria de Cornélio, cemturiao ro~
mano.
Havia, na cidade de Cesaréia, na Palestina, um
gentio chamado Cornélio, e que era o centuridio,
ou seja comandante de uma centiria,
Era Cornélio homem sumamente piedoso, as-
siduo na oracio como nas obras de caridade. E
téda a sua familia The seguia o exemplo.
Ora, um dia, ai pela nona hora, Ihe aconteceu
uma coisa extraordinaria, Viu que um Anjo de,
Deus vinhapara éle, e o chamava pelo nome: Cor-
nélio!
AtOnito com tio inesperada aparigao, respon-_
dou: “Senhor que ¢ que quereis significar com
isto?”
‘Mas o Anjo continuou: “As tuas oragdes ¢ as
luas esmolas subiram até a presenea de Deus, E,
pois, mister, que envies alguém a Jope, a cham:
Simao,cognominado Pedro, que mora com um eer
to curtidor Simao na yizinhanca do mar. Ble te
dira o que deves fazer” — E 0 Anjo desapareceu,
Cornélio, portanto, mais que depressa chama_
a dois dos seus servos, tudo Ihes conta, e 0s manda’
com um soldado de sua coorte a Jope.
Ora, enquanto éstes caminhavam S. Pedro, em
Jope, estava em oracao, e teve também éle uma.
marayilhosa visio.
Por (87) Jesus & osNosso
AnjosReinose Senhor, comoconservos
também dos
éste motivo, consideram seu Anjos,
relagia a Jeaus Cristo: aervo como ti, disso um nj
oso, como tu como teus irmlos, que do festemunho de Jes
(apse. XTX, 10).
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 13
Vin que pendia do céu, sdbre a terra um gran-
de leneol, suspenso pelas quatro pontas. E éste len
col estava cheio de animais, de téda casta: mesmo
queles cuja carne os judeus sio proibidos de
comer.
E_ao mesmo tempo S. Pedro ouviu uma voz,
que dizia: “levanta-te, Pedro, mata-os ¢ come-os.
Ora, 8. Pedro, julgava que nao podia comerassim
todos os animais, indistintamente, pois a lei ju-
daica nio 0 permitia. Por isto responden: “Longe
ile mim tal coisa! Pois nunca comi animal imundo
(que a lei considerava imundo)”.
Mas a mesma voz de novo falo “nfio chames
de imundo o que Deus purificou”.
Aconteceu isto por trés vézes. Depois se re~
colheu ao eéit 0 lencol.
Impressionado, quedou-se S. Pedro pensativo,
procurandointerpretar to estranha revelacio. Mas
os fatos Iha vieram explicar.
A ésse tempo, exalamente enquanto pensava S.
Pedro, & sua porta batiam os trés enviados do Cen-
luriao romano e perguntavam se naoera ali que
moraya um tal Simdo, cognominado Pedro.
Falou entao, o Espirito Santo a S, Pedro: “es-
10 ai trés homens que te procuram. Levante-te,
portanto,e desce, e deixa-te levar, pois fui Eu quem
os envion”,
Enquanto isto, estaya em sua casa ansioso Cor-
nélio, esperando com téda a familia reunida, pela
volta dos seus.
Estes ficaram aquela noite com 8. Pedro, e sé
partiram no dia seguinte. ES. Pedro levow tam~
bém consigo alguns discipulo:
Chegado que foi Cesaréia, deitou-se-the Cor-
nélio aos pés, como para adori-lo. Mas S. Pedro.
14 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
© levantou, dizend “levanta-te, que também
sou homem mortal”.
Emseguida, £¢-lo Cornélio entrar em sua casa,
Entrou pois, S, Pedro, e vendo ali reunidos tantos
gentios, disse: “bem sabeis quanto abominam os
judeus comunicar-se ou aproximar-se dos gentios,
Mas Deus me mostrou em uma visio que a nine.
guém me é permitido chamar de imundo(e indigno
das relacio de um juden)”.
Depoisperguntou comofora que tivera Corné-
lio a idéia de o chamar. E lhedisse Cornélio, que
devido a aparicdo de ui Anjo.
Porministério de um Anjo se convertia assim,
ao cristianismo,um pagio, primicias da conversa,
de todo o mundo pagio — de que também nés, em
nossos antepassados, faziamos parte.
Mas, tal como a contam os Atos dos Apésto=
los, é bela por demais esta histéria para deixi
inacabada em todos os pormenores.
Onvindo, pois, Pedro, a narragio de Cor
lio acérea da aparicdo que tivera, exclamou
verdade, acabo de compreender que para Ds
nfo existe acepedio de pessoas, Quem quer que
tema, seja éle quem for, e que pratique as obrs
das justica, Ihe é aceito”.
E em seguida falou-Ihe de Jesus Cristo:
como havia pregado por toda a Judéia a paz
reino de Deus, havia sido batizado por Joao
tista, passara a sua vida semeando o bem, curand|
os doentes, liberlando os possessos dos maus espi-
ritos — e que, nao obstante, havia sido crucifica
pelos judeus. Falou-lhes também de sua ressi
reigio’e de comoéle, Pedro, e os demais apéstolo;
haviam até comido e bebido com Jesus depois
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 115
ressuscitado; de como Jesus 0s mandara a pregar
a0 povo, e, enfim, que tudo estava predito pelos
profetas, conforme se 1é nos livros santos.
“Ainda Pedro falava — diz S. Lucas nos Atos
dos Apéstolos — quando desceu o Espirito Santo
sobre todos os que o ouviam.
© ficaram admirados os figis circuncisos (ju-
deus) que haviam vindo com Pedro. Pois viam
que tambémnos geutios se derramava a graca do
Espirito Santo, pois os ouviam falando linguas e
exaltando a bondade de Deus”.
E S. Pedro, tendo-os batizado, ainda ficou al-
guns dias com. éles, para Thes satisfazer a devo-
eho.
b) UmAnjo liberta a 8. Pedro do edrcere de
Herodes Agripa, quebrando-thes as correntes.
Hi sete anos reinava na Judéia Herodes Agri-
pa, quando resolveu perseguir os eristiios. Para
isto, mandou degolar S. Tiago, irmao de S. Joao
Evangelista, e vendo que tal ato agrava aos ju-
deus, passou adiante: prendeu também a S. Pedro.
Era nas vésperas da Pascoa. Herodes pret
dia apresenjar 0 seu noyo préso ao poyo depois
dessa grande festa. Por isso mandou que o guar-
dassem quatro piquetes, cada um de quatro sol-
dados.
Mas enquanto S. Pedro estava no carcere, es-
tavam os cristios rezando por éle sem cessar.
Ora, na mesma noite em que Herodes 0 ia
apresentar ao povo, dormia S. Pedro entre dois
soldados, atado com correntes duplas. E os guar-
das, & porta, vigiavam o cdrcere.
E eis que yeio um Anjo do Senhor, e umaluz
resplandeceu na prisio. E tocando em S. Pedro,
116 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
despertou-o 0 Anjo ¢ disse: levanta-te depressa’
E cairam as correntes das maos de S. Pedro.
Disse-lhe 0 Anjo: “pde o cingulo e calca a
sandilias”. E assim fez,
E depois: “pde a tua capa, e segue-me”,
E saindo, Pedro o seguia sem compreender que
era realidade o que se fazia por intervengio de um
Anjo, pois julgava ter uma visio.
Passando a primeira e segunda guarda chega-
ram & porta de ferro que conduz & cidade, a qual
se Ihes abriu por si mesma,
E saindo, passaram um quarteirio, ai se
apartou 0 Anjo de S. Pedro.
Entio S. Pedro, tornando a si, disse: “Agot
sei_verdadeiramente que 0 Senhor enviou 0
Anjo e me livrou das mios de Herodes e de toda,
-expectacio do povo dos judeus”.
Assim dizendo, dirigiu-se S. Pedro para a ea
sa de Maria, mae de Joao, de sobrenome Ma
‘onile muitos figis se haviam reunido para rezar.
Batendo,pois, S. Pedro, & porta dessa ca
Rodes, mocinha que la estava, foi ver quem era.
Ficou fora de si de alegria, ao ouvir a voz dé
S. Pedro. E em vez de abrir a porta, ansiosa_p
dar a nova, foi dizé-lo aos figis. Mas éstes dis
ram: “estés doida?...” E ela insistia ¢ afirma
que s6 podia ser éle. E os figis: “no, niio &
mas 0 Anjo déle”,
Enfim, continuandoS. Pedroa bater, foram
porta e deram com 0 Santo Apéstolo! Ficaram a
mirados.
Fez-lhes S, Pedro sinal que calassem, e conto
-lhes comofora livrado pelo Anjo.
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118 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.

Cariroco UI
EXEMPLOS TIRADOS DA HISTORIA
ECLESIASTICA
0 Cristianismo, no decorrer de sta histéria, fiel
& doutrina biblica e aos ensinamentos dos apésto-
Jos, tambémnos fornece belos ¢ numerosos exem=
plos de manifestagdes dos santos Anjos emfavor
dos homens.
Deixamosde lado a devogdo dos grandes eris-
tdos e dos santos em geral pelo Anjo da Guarda,
pois isto, de comum,se encontra em quase todas as
vidas edificantes que nos legaram os nossos ante
passados.
Quanto aos favores obtidos pelos santos dos
seus Atrjos, apenas mtencionaremos os principals.
Assim, foi um Anjo que livrou do cireere a S,
Felix de Nola, e 0 conduziu sio ¢ salvo ao santo.
bispo Maximo, Os Anjos confortam aos santos
fonio e Respicio em seus tormentos, quandoa él
condenados naperseguicao de Bitinia. O grandeSi
medo Estilita, que obedecendo a uma inspiraea
do alto, passava a sua vida de peniténcia no
de uma coluna, é assistido na Ultima lula, & hore
da morte, por um amabilissimo Anjo do Senho1
Segundo narra Joao, o didcono, um Anjo,
forma de peregrino, ajuntou-se aos doze pol
que S. Gregério Magno,fazia sentar & sua mesa
servia, quando ja eleito para a cadeira de S. Pe
E proprio S. Gregério nos conta em seus diailo,
numerosos exemplos de protecdo dispensada pel
Anjos em favor dos seus devotos. Um Anjo d
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 9
perta do sono aS. Raimundo de Penaforte e 0 con-
vida a rezar; serve de guia a S. Domingos e o re-
conduz ao conyento; indica 0 caminho a S, Feliz
Benicio e o reconforta abundantemente com um
maravilhosoalimento.
Na vida de S. Nicolau de Tolentino se narra
uma coisa maravilhosa, a saber: alguns meses an-
tes de sua morte ouvia tédas as manhds as melo-
dias celestiais dos Anjos, ¢ assim foi advertido de
sua morte proxima, E nos trinta e quatro anos de
enfermidade de S. Ludwina, bastas vézes Ihe apa-
receram os Anjos. Néo menos maravilhoso ¢ 0 que
se 1é nas revelacdes de grandes santos, tais como S.
Brigida ¢ S. Maria Madalena de Pazzi, a saber: que
os santos Anjos da Guarda nao somente nosassis-
temdurante a vida, mas também nos acompanham
ao tribunal de Deus, visitam-nos ¢ nos consolam
nas chamas do Purgatorio,
Entretanto, pelo interésse que despertame pe-
la autoridadehistérica dos autores que os narram,
os exémplos seguintes merecem ser para aqui
transladados comos seus pormenores.
1 — Aparicdo de S. Miguel Arcanjo no
Monte Gargano.
Tanto na Sinagoga, dos Judeus, comonaIgreja
Catdlica é reconhecido S. Miguel Arcanjo como es-
pecial protetor e guarda, tal comose Ié no livro
oficial de oragdes dos sacerdotes — o breviario
(dia 8 de maio). Devemo-lo portanto, reconhecer,
como nosso insigne ¢ assiduo patrono.
Al Santa Igreja varias vézes o invoca, em suas
oracdes, durante o dia, E nés, comofilhos seus
120 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J,
déceis 20 ensinamento dos seus exemplos, igual
mente lhe devemos prestar cotidianamente um hue,
milde tributo de reveréncia, amor e confianga.
E durante o ano,so duasas festas em que
Igreja lhe presta a homenagem pomposa de suas
festas litirgicas. No dia oilo de maio, ela come-
moraa aparicao de S. Miguel Arcanjo sobre o mon-
te Gargano; e no dia vinte e nove de setembro faz
meméria do mesmo santo Arcanjo, “quando em
seu nomesobre ésie mesmo montefoi consagrada
uma igreja de tdsca fabrica, sim, mas ornada de
celestial yirtude”.
Ora,se ésse fato merecen umatao grande con-
sideracao por parte da Igreja, deve éle ser de im-
porténeia capital, e por isto o narraremos pormé-
norizadamente.
Vivia no século V na cidade de Siponto, ao
pé do monte Gargano, um pastor, que tinha preci=
samente o nome de Gargano, Era rico em
nhos e pastagens.
Ora, acontecen que umdia fugiu-the uma
suas reses, e indo-The o pastor no encalco, foi 41
‘contra-la no alto do dito monte, & entrada de
grula,
O animal era feroz, e por isto Gargano
solveu mati-lo, Tomou do arco, fez pontaria,
Ihe despediu umaflecha certeira. Mas esta, cot
se fosse agarrada no ar por uma mao invisis
voltou-se de siibito no espago e veio ferir 0
prio Gargano que a atirara.
Grande foi o espanto dos que o acompanhi
vam. Mas, no sabendo explicar 0 mistério e n
ousando aproximar-se da gruta, correram &
dade a informar o bispo do extraordinario aco
tecimento.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
122 P, AUGUSTO FERRET, s. J.

2— Os Anjos guardas dos templos



S. Nilo, o Grande, escritor dos feitos de S,
Joao Criséstomo e contemporineo seu, refere 0
seguinte fato, que transcrevemos quase que ni
integra.
‘0 admiravel e santo bispo Jofio Criséstomo,
luminar da Igreja bizantina, ou melhor, da Igre-
ja Universal, tinha, por tal forma agueados os
olhos do espirito, que via com freqiiéncia e em
diversas horas, cheia a sua igreja de anjos do céty
‘ocupados em guardi-la, principalmente durante 0
incruento sacrificio da Missa. Maravilhado diante
de tio consolador espeticulo, narrou-o refleto de
alegria, a alguns dos seus amigos intimos.
“Apenas comeca o sacerdote o sacrossanto
vito, dizia éle, logo baixam das alturas multiddes”
de espiritos bem-aventurados. Vestem céndidis=
sima roupagem e trazem os pés descalcos, Juni
do altar éles se dispdem emcireulo, e com gri
de yeneracao, sosségo e siléncio, assistem de fro
te inclinada ‘ao tremendo mistério. Chegado
momento da comunhao, cercam reyerentes o bi
po, os sacerdotes, os diiconos que distribuem
fiéis 0 precioso Corpo e Sangue do Salvador”.
Quis escreverestas coisas, ajunta S. Nilo,p:
que se yeja com que modeéstia e com que grant
reveréncia devemos estar nas igrejas, princi
mente quando sObre os altares se oferece a0
tissimo a Héstia pacifica de propiciagio — (J
II in epist. CCXCIV. ad Anastasium episc.).
Outro escritor da vida do mesmo santo, P:
ladio, conta que, condenado o santo doutor
exilio, nfo quis partir sem primeiro despedi
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 123
do anjo de sua igreja. “Aopartir de sua diocese,
diz éle, disse aos bispos que 0 acompanhayam:
vinde, rezemos, e despecamo-nos do anjo que pre-
side a igreja”. “E ajunta que com o seu bispo par-
tin o anjo daquela igreja, mal sofrendo a solidio
© 0 abandono da mesma: una cum co egressus est
Angelus Ecclesiae, solitudinem Ecclesiae non fe-
rens. (Bollandistas, 14 de IX).
3 — Os Anjos, guardas das comunidades
Os anjos, jé o dissemos na 1* parte, conforme
doutrinam os santos Padres, fundados’ na Escri-
lura, esto encarregados nao sémente da guarda
dos individuos mas também das cidades, dos rei-
nos e das demais comunidades outras que tais.
Por outra parte os santos, sempre obedientes
As inspiragdes de Deus, nutriam em geral espe-
cial devocio, primeiramente ao seu Anjo da Guar-
da particular, ¢ em segundo lugar a0 anjo da co-
munidade a que pertenciam.
Hlustraremos 0 que afirmamos, em primeiro
lugar, com o exemplo do B. Pedro Fabro, da Com-
panhia de Jesus, zeloso missionario em varios pai-
ses da Europa. Comose vé, grande era 0 campo
que se Ihe abria diante dos olhos. Mas nao desa-
nimava o santo, confiado na protecio dos Anjos,
invocando-os constantemente, para que tornassem
eficazes as suas palavras ¢ frutuosas as suas fa-
digas.
Certa feila, de cidade em cidade e de aldeia
em aldeia, chegou, depois de atravessar a Fran-
¢a, nas fronteiras da Espanha. Que grande campo
124 P. AUGUSTO FERRETTI, s. 1.
para seu zélo, mas que incapacidade a sua pi
promover a gloria divina! Tomado, entao, de fe
vor, pds-se de joelhos e implorou os anjos tu
Jares daquele liigar que Ihe fossempropicios.
resultado nao se fez esperar. Narra-o Boero
vida désse primeiro e definitive companheiro
S. Inacio.
Também S. Francisco de Sales, exortando
Filotéa, refere com as seguintes palavras a m
macoisa: “fazei com que vos sejam bem fami-
liares os santos anjos, lembrai-vos comfreqiténcia
de sua presenca e, de modo especial, amai ¢ obe
sequiai os anjos da diocese em que morais, os das
pessoas com que viveis ¢ mais que todos hone
rais o vosso Anjo da Guarda. Dirigi-vos a éle
com freqiiéneia, invocai-o de quando em quando,
e procurai merecer-Ihe a ajuda e 0 socorro
todos os yossos misteres quer espirituais quer t
porais”. E aduz o exemplo do B. Pedro Fabro:
“O grande Pedro Fabro, assim escreve
primeiro pregador, primeiro lente de Teologia
santa Companhia ‘do Nome de Jesus, e primed
companheiro doB. Inacio, seu fundador, voltanc
da Alemanha, onde levara a cabo grandes
presas para a gloria de Nosso Senhor, e passan
poresta Diocese, lugar de seu nascimento, et
tava, que ao percorrer muitos dos paises domint
dos pela heresia, havia recebido grandes favoi
consolacdes, por haver saudado em tddas as
réquias, logo que a elas chegava, os seus anj
lutelares. “Bstes, como sensivelmente conhece
Ihe haviam sido propicios j4 defendendo-o do 6
dos herejes, ja Ihe conduzindo muitas almas e
fornando déceis aos ensinamentos da eterna si
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 15
yacio. isto éle narrava com tanta energia que
uma nobre matrona, ainda jovemnessa €poca, 0
referia com grandissimo sentimento ainda ha qu
tro anos atras, ou seja, mais de sessenta anos apos
© fato” (Introd. & vida dev. p. II, cap. 16).
Igual era a devocio de S. Francisco Xavier
ra comos santos anjos emsuas empresas apos-
lélicas, S. Francisco, tal como o B. Pedro Fabro,
foi dos primeiros companheiros de S. Inacio, e
habiiou com Fabro um mesmo quarto, quando am-
bos estudantes em Paris, Teve a seu cargo, por
uma admiravel disposiczo da Divina Providéncia,
que ndo vemao caso mencionar, a evangelizagio
do extremo Oriente. Nesse trabatho, eram os
anjos os scus grandes auxiliares, como consta da
ta de seu préprio punho, que esereveu aos seus
ios de Goa, e de que transcrevemos o trecho
de que Deus me
conceda a graca da conversio déstes paises, po-
rém, em tudo desconfiado de mim mesmo, toda
minha confianca esti em Jesus Cristo, na S. S.
gem sua Mae, e em todos os nove coros dos
njos, dentre os quais escolhi como protetor 0
principe € campedo da Igreja militante, S. Mi
quel: © no pouco espero nesse arcanjo, a cuja
particular solicitude est entregue éste grande rei-
no Japio. Todos os dias me recomendo espe-
cialmente a éles, assim como a todos os outros
Anjos da Guarda dos japonéses, que gu como of'-
cio rogar a Deus pela sua salvacio”, (Bartoli
Dell’Asia, 1. 111).
126 P, AUGUSTO FERRETTI, S. J.
4 — Os Anjos, guardas da inocéncia
S. Policarpo nasceu cérea do ano 70 da ni
era, foi discipulo do apéstolo S. Joao, e por
foi sagrado bispo de Esmirna.
Ainda bemcriancinhafaltaram-the seus pais,
assimse viu a pobre crianga sem quem tom
a sett cargo a sua educagio.
Ora bem, sabia-o o seu santo Anjo da Guarda
emtal conjuntura e, com o prodigio que vamos
narrar, Ihe deu o de que necessitava,
Meraya na cidade de Esmirna uma piedosa
senhora, de nome Calista. Foi ela a escolhida
pelo santo Anjo. Apareceu-the e Ihe disse: “levan-
ta-te e vai A porta chamada de Bfeso, onde vers
entrar uma criancinha em companhia’ de dois hor
mens. Perguntar-lhes-As se querem vendero 1
pazito, e éles te dirdo que sim, Desembolsards,
tao a soma pedida, conduzirds A tua casa o ‘me
nino, € adotando-o por filho, o educaras com
ternal amor na piedade e santo temor de Deus.
Mais que depressa se dirigiu a boa matrona,
dita porta c, enconirando a Policarpo, levou-
para casa e ttatou de educdlo. Por sua parte
respondeu Policarpo a seus maternais cuidados,
com andar dos anos se tornou eminente em
piéneia virtude.
Ora, um dia — Policarpo ja era entao
mocinho — teye Calista que ausentar-se por al
tempo de Esmirna. Aopartir chamou o filho a
tivo e The confiou a guarda de tda a sua c:
tanto ela o estimava e tanto néle confiava!
© bomrapazinho, que prestara atentos o
dos a quanto the ensinara a sua protetora s6l
a caridade para com os pobres, apenas viu
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 127
sua’ maos to numerosos bens, comecou a distri-
buir pelos pobres tantas esmolas que em breve
acabaram-se o trigo e vinho e dleo, e quanto havia
emeasa para o sustento da fami
Ora os criados da casa viam tanta generosida-
de com maus olhos. Poristo, apenas de volta
Calista, foram-no acusar perante ela de prédigo
© esbanjador dos bens da casa. “Bsse moco, dis-
seram-Ihe éles, a que deixaste no govérno da casa
de preferéncia aos teus velhos servidores, acabou,
de tolo que é, comtudo o que havia!”
Ouvindoisto, Calista chamou Policarpo. Em
seguida, com ar carrancudo dirigiu-se & dispensa,
© ordenou que Ihe abrisse a porta. Queria, por
assimdizer, convencer ao delingitente do seu érro
no préprio local do delito.
0 pobre Policarpo nio proferiu palayra. Des-
eeu depressa A dispensa e ai prostrando-se por
terra, fez a Deus esta bela oracio: “0” Pai celes-
le, que por virlude do teu profeta Elias enchestes
© vaso de farinha e o odre de éleo da vitiva de Sa-
repla, mandai que 0 yosso anjo renove em meu
favor 0 mesmo milagre! Peco-o em nomedo vos
so diletissimo Filho Jesus Cristo”.
Foi ouvida esta oracdo. Agradou a Deus tan-
ta £é e simplicidade. Emuminstante encheram-se
‘os vasos de dleo e de vinho, € os sacos se enche-
vam de trigo,
Ora, sobreveio Calista, e vin que quanto Ihe
haviam ‘contado os seus criados tudo era falso.
Indignada ameagou-os com severos castigos, mas
interveiu Policarpo: “ndote irrites, disse-Ihe éle,
e nem castigues aos teus servos. Nao foi por mal
que o fiz, mas a verdade é que tudo eu havia dado
128 P, AUGUSTO TERRETTY,5. J.
zinhos que ms batiam & porta. Dé
do bendilo Seahor Jesus Cristo, s
cde mim para saciar os famintos, e a0 mes
mo tempo tudo le restituiu por ministério do sew
santo Anjo, para que possas continuar no teu san~
lo costume de dar esmolas”,
A lais palavras a piedosa Calista mal repri-
mia as ligrimas, maravilhada pelo quevia, e tGda
possuida de emocao, pois abrigaya em sua casa
um yerdadciro santo de Deus (Bolandistas, 26
de Jan.).

5 —Os Anjos nos salvam dos perigos do corpo


An
0 exemplo que segue é tambémtirado da vi
de S. Policarpo, nao ja em sua adolescéncia, m:
em sua plena virilidade, quando ja cleito a sé
episcopal de Esmirna,
Foi em uma de suas viagens apostélicas. Vi
java por um deserto Iugar, e vindo a
que se acolher ao primeiro albergue qu n
trou. LA por alla madrugada, dormia o Sani
despreocupadamente quando ouve que alguém
chama: “Policarpo, Policarpo”. — Eo santo bi
po: “Quem me quer?...” — Ea voz prosseguil
“Levanla-te e foe depressa, pois dentro em pou
desabara éste albergue”.
Logo se pos de pé o santo, despertou oc
panheiro, que era um méco chamado Camér
© convidou a levantar-se incontinente. Mas 0
bre Camério, cansado e dominado pelo sono
disse: “Mas' meu santo pai, para que tanta pi
sa?... Mal entramos no primeiro sono! Se
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05 SANTOS ANJOS DA GUARDA 131
— 0 Anjo da Guarda nos protege contra os
perigos da alma
Mais importante ¢ a alma que o corpo. Mais
graves, porlanto, si0 os perigos daquela que os
déste, Livrando-nos os anjos dos perigos do cor-
po, nao podem deixar de nos prolegercontra os
da’ alma e de déles nos livrar,
Ora, os males da alma, que sio os pecados,
dependem emgeral da nossa vontade. Poristo o
trabalho do santo Anjo todointerior — sio mo-
Ses e inspiracdes que nos falam no intimo,
Ha casos, entretanto, em que sem culpa nossa
nos vemos de siibito no perigo. Entio ou o santo
anjo nos infunde a coragem e a forca necessarias
para sairmosilesos, ou entiio procura afastar-nos
déle de modo mais ou menos manifesto.
Na vida do Cardeal Garlos de Principi Odes-
calchi encontramos um belo exemplo disto. Car-
los Odescalchi nasceu em Roma a5 de marco de
1785, e morreu religioso jesuita, ai pela metade do
século passado, na cidade de Médena. Foi um
homem de eminentevirtude. De todo desapegado
dos bens déste mundo, renuneiou primeiramente
fas riquezas de sua prineipesca familia para fa-
zer-se eclesiistico, e depois ao esplendor da pin
pura cardinalicia, e & alla dignidade de Vigirio
Pontificio, para fazer-se pobre e escondido reli-
ioso de 5. Inacio de Loiola, O exemplo a que
nos referimos é 0 seguinte.
Dezessele anos apenas, era a idade que entaio
tinha Carlos, ¢ se achava ém Viena, de visita aos
principais e célebres monumentos dessa ento im-
132 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
perial cidade. Percorria, pois, museus e pinaco=
tecas & cata de instrucdo e das elevadas emocdes
que nos proporcionam as obras dearte, Foi pre-
cisamente numa dessas pinacotecas que se deu 0
que vamos narrando.
Estava para passar de um compartimento do
edificio a outro, quando se the apresenta um be-
issimo jovem e o detém, indicando-lhe a que tome
outra direcdo. Em seguida desapareceu,tal como
se se tivesse diluido no ar.
Deteve-se Carlos ¢ tornowatras, impressiona-
do com 0 que acabava de acontecer. Encontrou-se,
entio, com um dos guardas da pinacoteca e Ihe
perguntou se sabia que ¢ que se expunha emtal
sala que se achaya emtal parte do edificio... O
guarda respondeu que sim. As obras que ali se
achavam,eram grandemente obscenas.
Mais’ tarde contou aos seus intimos o horror
que entio sentira pelo perigo que correra e como
se lhe enchera 0 animo de reconhecimento pelo
santo Anjo da Guarda, que sob forma daquele
Jovem, dizia éle, Ihe havia aparecido, 7
Cresceu-the ainda mais, de entio em diante,
a devocao para com o seu celeste protetor. Mais
freqitentemente, de entio em diante, implorava a
sua ajuda, e sobretudo nas viagens the rogava
sesse protegé-lo e livra-lo de todo perigo de
€ do corpo.
7 —Indistria do Santo Anjo da Guarda para
conduzir & fé o seu cliente
Dentre os santos mais ilustres do terceiro
culo deve-se merecidamente reconhecer a Gi
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 133
rio dito 0 Taumaturgo, ou seja, operador de pro-
digios, primeiro bispo de Neo-Cesaréia, no Ponto.
Nascido de pais pagios, foi instruido na fé
por Origenes, juntamente com seu irmio Ateno-
doro. E foi precisamente em reconhecimentopela
instrugio recebida que o santo recitou 2 seu mes-
tre a conhecida e bela oracdo panegirica in Ori-
ginemoratio Prosphon, et partegyr. Nesta, larga-
mente fala do Santo Anjo de Deus destinado &
sua guarda, a cuja industria e cuidado atribui a
sua vinda a Cesaréia na Palestina, o ter ai en-
contrado Origenes, o ter sido por éle instruido
na fé ¢, finalmente, o té-la fervorosamente abra-
cado. Eis, traduzidos do grego, os passos que mais
dizem ao’ nosso intento:
“Remetendo ao divino Verbo o agradecer dig-
namente ao celeste Pai por sua inefivel provi-
déncia”, diz éle que do agradecimento a Origenes,
ae préprio, Gregério, se incumbia. E ainda nio
pago com ‘isto, “levantando-se aqueles sublimes
espiritos que, invisiveis, tém euidado dos homens”,
yolla-se ao mesmo tempoainda “a aquéle que em
forca de um soberano decreto tomou-me para
reger e educar desde crianca; a aquéle sagrado
anjo que, como diz o dileto servo de Deus, me
apascenta desde a minha juventude, qui pascit me
ab adolescentia mea”.
E, “quanto a nés (prossegue S. Gregorio),
além do comum Senhor e Governador de todos,
que & magniconsilii Angelus Anjo do Grande con-
selho, bem conhecemos e preconizamos ainda
BSTE OUTRO ESPECIAL PEDAGOGO NOSSO,
quem quer que seja éle a respeito de quem somos
nés verdadeiramente criangas e pequeninos. fsle,
134 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
sim, que sempre e em tudo se me tem mostrado
como meu bom nutricio ¢ tutor; titulo que de cer~
to nem a mim para comigo mesmo, nem a nenhum
dos meus parentes ou amigos pode competir, pois
todos somos cegos, nds outros, ainda em coisas
as mais dbvias e cotidianas, para escolher o que
a nés nos importa; mas compete, sim, Aquele s6-
bre-humano ministro, que quanto redunda em van-
tagem de nossa alma sabe prover. Ora, comotal,
até tem éle vindo nutrindo-me, educando, e como
que conduzindo pela mao. Mas o que vem cumu-
lar os seus favores é de certo o ter-me trazido a
travarrelacdes ¢ a tralar com tio digno persona-
gem (Origenes)...; coisa que, como penso, teve
éle em mira desde © coméco da minha vida e da
minha edueagio. Mas, longo seria relembrar 6
como péde éle trazer-me a éstes térmos” (Num. 4),
Eaqui, indicandovicissitudes varias de sua
vida, detém-se Gregério a narrar como, por dese
jo de sua mie vitiva, se aplicara aoestudo da rex
iGrica. “Sendo que (continua o santo) aquéle men
vigilantissimo ¢ diyino pedagogo e meu verdad
rolulor, sem que nisso pensassem os meus, e nem
mesmo eu desejasse, oportunamente interveiu”.
E como? Inspirando a.umseu mestre de line
gua latina, grande conhecedor, também do direi=
to, que induzisse 0 seu aluno a aprender déle as
leis romanas: ji que umatal disciplina dizia éle
the seria de grande ajuda na carreira do foro ow
em outra semelhante. Palavras que, ditas pelo
seu mestre com intengiio bem diversa, se torna
ram, como nota S. Gregério, um yerdadeiro va
ticinio, Com efeito, a cultura de tais leis pos
Gregorio e a seu irmao Atenodoro na necessidat
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136 P, AUGUSTO FERRETTI, 8, J.
nao nos ps em mos daquele que para nés fol
autor e fonte de tantos bens”.
Mais nao podia fazer 0 bom Anjo de Deu
“A tal homemmeconfiando, diz 0 santo doutor,
ja nada the restava a fazer: tinha cumprido com
Yédas as providéncias e cuidados possiveis”.
E assim,tendo sempre em mente tio insigne
favor, torna Gregério 20 seu Anjo da Guarda,
sauda-o no final do seudiscurso, e com sumo afe~
to o invoca “bondoso guia e fiel companheiro”.
8 — O santo Anjo da Guarda — protelor da
virgindade
Sfo as santas Virgens um dos mais belos or-
namentos da santa Igreja Catélica. Mas ainda
mais esplendidamentea adornamas Virgens que
0 mesmo tempo que so Virgens sio também mar=
tires.
Dentre estas, ha algumas de que todo dia se
faz mensio na santa Missa, a saber: santa Agata,
santa Luzia, santa Inés, e santa Cecilia.
Ora, percorrendo as atas de sua santa vida
martirio, vemos que quase (das atribuiam a ilie
hada candura de sua virgindade em meio aos pe
rigos da vida, a eficaz protecio do seu santo Anjo
da Guarda.
“Tenho comigo, dizia a santa virgenzinha In
© Anjo do Senhor, guarda do meu corpo”. — “
me condenares a0 fogo, assim respondeu S, Agali
20 juiz, os Anjos Ihe mitigarao os ardores com 0
suave orvalho do eéu (39)”.
(89) Léemse ostas palavras no Breviirio mas fstivi
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 137
Célebres sio também as palavras que ao es-
péso Valeriano,dirigin S. Cecilia, com éle despo-
sada. Referia-la-emos no decorrer da narrativa que
se segue, e que versa sdbre S. Cecilia, ja que na
exiguidade déste nosso pequenotrabalho nao cabe
falar de todas as santas Virgens.
Veio ao mundo Cecilia no seio de uma das mais
antiggs e ilustres familias romanas. Conta-se, por
exemplo, entre os seus antepassados Caia Ceci-
lia Tanaquilla que foi a mulher de Tarqitinio 0
Velho. E entre as honras que os seus antepassados
obtiveram, basta enumerar as do triunfo e do con-
sulado, varias vézes obtidas, quer sob a republica
quersob o regime mondrquico imperial,
Cresceu, pois, Cecilia, em meio as pompas e
as riquezas de ilustre casa. Masse fizera crista,
e vivia para a vida sobrenatural que recebera no
batismo, desprezando as miserdveis pompas desta
vida mortal. Era assidua na leitura do Sagrado
Eyangelho, que trazia sempre sdbre 0 coragao, e
os seus jejuns eram freqiientes. Além disto, ocul-
tava debaixo de suas ricas vestes a aspereza de
um penoso cilicio. (40).
Dela com verdade se podedizer que seu cora-
cdo era todo de Jesus. A Ble tinha escolhido por
seu celeste espéso, jurando-lhe perpétua virgin-
dade.

(40) Non diedus, non noctibvs, a coltogutis divivis et ora


Hionibur eessabat. Absconditum semper Beargelium Christi gere-
Dat (n pectore. Biduannis ao triduanais dciuntie orans... Caceilia
vero subtus add carsem cilioio nduta, desuper aura testis vest
dus tegebatur. Acta 8. Caccilie,
138 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
‘Mas pensavam de outra maneira os seus
Ora em suas relagdes se contava Valeriang,
jovem patricio entre os primeiros de Roma, mas
pagio. E os pais de Cecilia Iho destinaram por
‘espéso.
Ja despontayao dia da celebracio do enlace,ja
se ornamentavamosricos saldes de palacio, ja um
céro de profanos misicos fazia retumbar @® gale-
rias comduleissimas melodias.
Também Cecilia cantava. Nao, porém, ésses
cAnticos terrenos que enchiamo seu palicio, mas
simas celestes harmonias, e 08 angélicos louvo-
ves da mansao da Gléria: “que intacto, Senhory
se conserve 0 meu corpo, para que sobre mim nao
caia a confusio”(41).
Como de estilo, terminados os festejos com
que se celebraram as bodas, ficou sdsinha Cecilia
com Valeriano, e assim the falou: étimo e dileto
jovem, lenho umsegrédo a contar-te, e desejo que
me jures guardé-lo com inteira fidelidade. Jurou:
Valériano, e ela prosseguiu. Sabe, portanto,
tenho um Anjo de Deus comoai
éste Anjo de Deus vela com suma solicitude
guarda do meu corpo. Pois bem,se éle em ti di
cobrir amor profano, incontinente se enchera
santo zélo, ¢ com severos castigos te punira.
Mas se te vir amando-me com casto am¢
também a ti, pressuroso, éle receberi sob a
protegao”.

aeealty, Cantantibus orzanis, Cacia in corde suo sok


ecantabat, dieens: fiat cor meum et corpus mewn seme
WE won confundar, — Toid,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 139
Respondeu_Valeriano, sem ocultar a pertur-
bacio que theia nalma diante de tal declaragio:
“Se queres que endé crédito as tuas palavras, faze
que eu yeja ésse tal Anjo, E se néle eu reconhecer,
verdadeiramente, um Anjo de Deus Altissimo, farei
de boa vontade 0 que quer que éle se dignar indi-
car-me”.
“Yaleriano, replicou a piedosa donzela, se 0
que ajuizei merece em ti acolhida, se erés naquele
Deus iinico, que vivo e verdadero reina noalto
do céu, e se tu aceitas seres lavado naquela agua
que jorra da fonte da vida, poderds ver o Anjo
que Sob a sua proteczo me tem”.
Aceden o jovem as palavras de Cecilia e trans-
portou-se As calacumbas, onde encontrou o santo
bispo Urbano, (42), € Ihe deu a conhecer o fim de
sua vinda. Chorou o santo bispo de alegria, “Se-
nhor Jesus Cristo, exclamou em seguida, autor
de caslos pensamentos, recebe o fruto da divina
semente que por ti foi posto no coracHo de Ceci-
(42) Mais yerossini nos parceo a opiniio segundo a qual
fa santa virgem Cecilia padeceu 0 seu martirio nfo j4 to. governo
fe" Alexandre Severo, mas nos de M. Aurétio e Cémodn Tipe.
radores, ¢ que por Isto des Urbano, de que so faz mensio nas
‘Mas da Santa, aio teria Urbano Papa, mas win bispo
Idémtico nome, ‘arrancado talvex do sain sede episcopal pola, vio-
Tencia da porseguigio, © sefugiado cm Rome, O autor das Atas,
‘que eertamento esereveu depois do tereciro séeulo © provavelments
ji mos fins déste século e ecmegos do seguinte, lenda 0 name
Ge Urbano nas primitivas atar do martirio da santa, ajuntonThe,
por sua prépria conta, “quem Papam suum christian’ nominant™,
reo em que eafu devido A idoneidade do nome. De rosto, 0 meea
Teitura das Atas, © eapecisimente © interrogatério judicial, indie
muficiontemente © Grro do sew autor, Ver Tillemont, Hist,
'. UT; o Bolandista Solier, Acta Sanctorum, Mail; G, B.
e Rossi, Roma soterrinea, T, TT, Discorso prelimin, e. 2,
140 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
lia. 0" bom Pastor, Cecilia, tua serva, como indus
triosa ovelhinha, jh cumprin com a parte que
confiaste. E eis que éste seu esposo, que ela rece=
beu como umferoz ledo, transformou-o a tum
ovelhinha em meigo cordeirinho. Nao me teria, oh
no, n&o meteria éle procurado se ja o lume da
yossa fé lhe nao brilhasse na mente. Completa
agora a tua obra, 6 Senhor, e faze com que dé
ouvidos As vozes que Ihe bradam no intimo dalma,
que éle por Criador seu te confesse, e renuncie &s
loucas superstigdes do gentilismo.
Enquanto assim orava_o bispo, eis que se thes
junta um yenerando ancido, trajando vestes cin-
Widas como a neve, e empunhando umlivro todo
escrito em caracteres de ouro.
Era Paulo, o Apéstolo das gentes.
Yoltendo-se para Valeriano Ihe disse: “Lé
palavras déste livro e eré; assim merecerds con=
templar o Anjo de quem te falou a fidelissima
gem Cecilia”.
Tomou o livro Valeriano Ieu o. seguintepi
so: “Um s6 Senhor, uma s6 £6, um s6 batismo,
86 Deus ¢ Pai de todos, que esti acima de todos,¢
em tédas as coisas e em todos nés”. (43)
‘Terminando,disse-the Paulo: Grés que é
sim?
Respondeu-Ihe Valeriano: “Sim, nada ha
mais verdadeiro, nada que deva ser crido mais
amemente”, — Desaparecet entio 0 santo Apésto=
Jo, ¢ Valeriano recebeu o santo Batismo,
(43) Epes, TV, 6.
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 11
E yoltou para casa, Trajava cAndidas vestes,
simbolo do sacramento de regeneracio, que havia
reeebido. Ao entrar em casa vin Cecilia absorta
em oracdo. Junto dela estava 0 Anjo de Deus com
a face radiante de vivissimo esplendor ¢ as asas
cintilantes de cdndida luz, Em suas méos tinha
duas coroas tecidas com rosas e lirios, Uma, co-
locou-a sobre a fronte de Cecilia e a outra
sébre a de Valeriano, E assim Ihes falou: “Em
penhai-vos por conservar sempre conyosco estas
coroas que recebestes, Consegui-lo-eis pela pureza
de vossos coracées © com a santidade dos vos-
sos corpos. Trouxe-as dos amenos jardins do céu.
Jamais murcharaoestas flores, e sempre exalarao
suaye odor. Mas a niaguém jamais é dado vé-las
sem que primeiro tenha como yés merecido a
complacéncia do eéu”.
9 — Os santos Anjos ajuda e conférto dos Martires.
Sio ilustres testemunho, as atas dos santos
Martires, de quanto sejam éles poderosos e de
quanto se empenhem em nos valer com sua po-
derosa ajuda.
Eramos santos Anjos da Guarda que davam
aos santos Martires aquela valentia com que en-
frentavam os tiranos e superavam os tormentos in-
ventados para fazé-los fraquear.
Citemos, entre muitos, o exemplo de S. Vicen-
te, martir do século IV, grandemente celebrado
por Prudéncio, célebre poeta sacro, assim como
por santo Agostinho.
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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 13
icente, como se ja pertencesse aos coros Angél
cos se Ihes associou para cantar, antegozando o
céu, os louvores de Deus.
Naturalmente que nada disso passou desper-
cebido aos soldados que formavam a guarda do
circere. Puseram-se a espreitar pelas grades, e
ludoassistiram: viram a luz que enchia aquela es-
cura prisio, © ouviram os cnticos dos Anjos. So-
bretudo pasmaramdiante de Vicente que passeava,
embevecido e alheiado em Deus, sobre o chao co-
herto de frescas e cheirosas flores. E quando Vi-
cente, mais tarde, Ihes falou cheio de zélo do Se-
nhor 2 que servia, abracaram prontamente a £6.
Entreianto obstinava-se Daciano no seu sata-
nico propésito de teniar por todos os meios ¢ com
todos os tormentos a apostasia do herdico cristo.
Mandou, pois, que fosse tirado para fora do
careere e que Ihe dessem um leito de brandas pe-
nas. Aplicaram-the, a mais, remédios sdbre as cha-
gas e procuraram restituir-Ihes as forcas.
Souberam disto os cristios e de tédas as partes
acorrerama beijar aquelas chagas, e a recolher em
paninhos aquéle sangue que dera testemunho de
Cristo,
Mas 0 santo Martir, a que os lormentos nao ha-
viam dado a morte, apenas colocado sobre aquéle
macio Ieito, exalou o espirito e foi pelos anjos
leyado para'o céu.
© seu corpo, que por ordem de Daciano havia
sido lancado as'feras dos campos, foi igualmente
objeto de cuidado por parte dos Anjos. Enquanto
ndo Ihe deram os eristios honrosa sepultura, ficou
144 P, AUGUSTO FERRET, 8. J.
sob a guarda dos esquadrdes angélicos, que aindi
‘© honraram com seuscnticos e hinos. (44)
Duaslic6es a colher daqui: a da honra que s@_
deve prestar as reliquias dos santos, ea da guarda
que os anjos tém nao sé das nossas almas mas
também dos nossos corpos.
10 — As lagrimas dos penitentés so as delicias dos.
Santos Anjos.
Quase nfo ha passo, na vida dos santos mon=
ges e anacoretas do deserto, que floresceram no
e V século, em que nao se encontrem exemplos.
amorosa solicitude dos santos Anjos.
O exemplo quereferiremos tirado da vids
S. Paulo, cognominado 0 Simple »
Foiéle um dosprincipais discipulos do grant
S. Antio. E foi tio aproveitado que mereceu,
prémio de sua humildade e sincera ohediéncia,
entre outros grandes favores de Deus, 0 de ver
santo Anjo da Guarda ao lado de cada umdosfi
que entravam naigre}:
_ Umdia éle yiu entrar um homem de desta
do lugar, e sua comitiva. Eram os seus Anjos
aspecto alegre e festive. Um, porém, trazia a
teza estampada no rosto e de longe seguia o st
cliente, Via-se-lhe também ao lado 0 demdni
Ebrio de satanica alegria, travara fortemente
seu braco.
Comecou, entio o santo a derramar copiosas
lagrimas e a implorar com altos gemidos a di
misericérdia. E foi ouvido, *

(#4) Ruinart, Acta Martyrum,


0S SANTOS ANJOS DA GUARDA, 145
Ao sair a comitiva daigreja, viu-o santo festi-
‘vo ¢ todo alegre aquéle anjo que de longee tris-
temente, ao entrar, seguia o seu cliente. O demé-
nio, ao invés, o ia seguindo penosamente, a pade-
cer horriveis tormentos.
Aproximou-se-lhe Paulo cheio de alegria e ro-
you ao moco que quisesse explicar aquela marayi-
Ihosa mudanea.
“Muilos ¢ graves, disse o outro, so os pecados
que cometi. Mas ao entrar na igreja ressoaram-me
aos ouvidos esizs palavras de Isaias que o coro
cantava: “lavai-vos, purifieai-vos, tirai-me de-
pressa da vista os males dos vossos coracées, ces-
sai de pecar, aprendei a fazer o bem, e as vossas
almas se tornardo brancas como a neve”. Fui to-
cado da graca divina ao ouvir tais palavras. Come-
cei a bater nopeilo e a chorar de contricao, ¢ as
sim rezei: “Benigno Senhor meu, que viestes sal-
var os pecadores, fazei comigo o que pela boca do
profela Isaias me acabais de dizer. A Vés voltarei
arrependido dos meus pecados ¢ firmementeresol-
vido a_observar todos os vossos mandamen-
tos.” (45).
Os anjos, portanto, como diz S. Bernardo,
gaudent ad poenitentiam peccatoris”, isto 6, ale-
gram-se com a peniténcia dos pecadores, Quodsi
deliciae Angelorum lacrimas meae, quid deliciae?
Se delicias para os Anjos Ihes sio as minhas }i-
grimas, que Ihes sero as minhasdelicias?”
Quempodedizer que contentamento nao pro-
porcionam aos Anjos, as santas aspiracées e afo~
gueados afetos dos coracdes puros e fervorosos?.
(5) Vida de 8. Paulo o Simple, eserita por Ruffino, n, 18,
© fate que referimos uo texto est valgarizado por Cavalea, Vito
diverse, p. THI, V. 53.
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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA u7
{ Ue suas ingratidées. E para prova do que dizia a
camulou de favores. Ble, igualmente, eta quem a
ilirigia nas vias da santidade, a esclarecia nas dit-
vidas, defendia-a nas tentacdes, conforlava-a nas
angistias.
Um dia achaya-se a santa grandemente per-
| turbadae aflita em sua alma. Consolou-a o bon-
doso Anjo de sua guarda entoando-lhe a Ave Ma-
ria. Iniilil dizer que se fez sereno o céu de sua al-
4 ma’e fugiram as negras auvens de tristeza, Mas ndio
foi tudo, Inundou-a de oleyria aquelas eslestiais
modulacdes de miisica angélica, E de tal modofoi
possuida de céliea suayidade que desejou ver-se
Jogo desatada dos tacos do corpo para repousar
elernamente no seio de Deus e junto de sua Mae
henditissima. Por isto, perguntou-lhe por quanto
tempo ainda leria de ficar nesta terra de exilio
e neste vale de lagrimas. Respondeu-lhe 0 Anjo
que bem longe ainda estava o dia de sua morte.
Mas que aproveitasse de seus dias de vida terres-
le para semearboas obras, penhor de abundante
colheita no céu,
Para tal obler, comegot o santo Anjo a dirigi
-In emtodosos seus alos, emLddas as suas opera-
des, para que tédas fossemsantas.
Umaocasiio, ensinando-the a_assistir perfei-
tamente a santa Missa, disse-Ihe: “Enquanto tens
foreas para ficar de jocthos, sem genuflexério e
com as méos junias adpeito, sempre orards nesta
postura, E se alguma vez te sentires muito enfra-
quecida, poderas ajudar-te um pouco do apoio do
banco. No coméco do Sacrificio toma Agua benta,
e faze sobreti o sinal da Cruz. Reaviva, entio, a
tua fé, e eseuta com alengao a palavra de Deus que
148 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
7
se Ié durante a Missa. E se quiseres receber coti-
dianamenteo sacrossanto corpo do Filho de Deus,
nosso Criador e Senhor, sabe que plena licenca
Ble te concede. Se de tal forma assistires & santa

<———
Missa, experimentaras em ti um grande aumento
de fervor e faris rapidos progressos em todo ge-
nero de virtudes.

=
12 — Licdes de sublime santidade dadas pelo
Santo Anjo da Guarda,
4
Estas licdes de santidade so a continuaeio das
que Jemos nocapitulo precedente. Sao, portanto,
também, extraidas da vida da santa penitente,
Margarida de Cortona. i
“Mostra-me, disse umdia cla ao seu Anjo da
Guarda, mostra-me com que sinais podemos conhe-
cer os virtuosos e perfeitos amigos de Deus.” —
Respondeu-lhe o Anjo: “Os perfeitos amigos de
Deussao os que tém 0 corac&o inteiramente desa~
pegado das coisas criadas e 0 tém unido tinica-
mente a Deus, suspirando porPe,dia e noite, com
todo o impeto do seu coracao”,
— E quais sio, ajuntou a santa, as virtudes a
queIhe sio préprias?
A primeira, replicon 0 anjo, é uma profunda
humildade, & imitacZo e por amor daquele que se
hhumilhouaté A morte na Cruz, A segunda é uma
perfeitissima caridade. Isto pésto, amigo de Dens &
aquéle em que se cumpre a divina palavra, beati
mundo corde, bem-aventurados os puros de co
racio.
E’ amigo de Deus, continua ainda 0 Anjo,
aquéle que nega a si mesmo, ou melhor, que sé
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 149
mata a si mesmo por amordeCristo, nao, porém,
com punhais ou semelhantes instrumentos, mas
sim por meio da mortificacdo da prépria vontade,
e queesta pronto a sofrer qualquer pena e a mes~
ma morte, pelo nome deCristo, se tal coisa fésse
necessiria em defesa da fé catdlica. Mata-se, por
outro Jado, por amor de Cristo, aquéle que com a
peniténcia mortifica os seus sentidos.
E’ amigo de Deus aquéle que tem verdadeira-
mente compaixao e se apiada dos pobres e desva-
Tidos, aquéle que sempre fala a verdade, aquéle
cuja pureza de vida transparece na honestidade
absoluta dos seus costumes.
¥? amigo de Deus quem procura por amorde
Jesus Cristo ajudar os seus irmios em seus traba~
thos e sofrimentos, tomando-os a si, preferindo que
éle mesmo e set préximo sofra pemiria de
viveres, de vestes ¢ habitacio.
E’ enfim amigo de Deus aquéle que se entris-
tece ¢ se aflige com a desgraca alheia, seja embo-
ta o desgracado seu préprio inimigo; e que, sem
sombra de inveja, se alegra de coraciio com a sua
prosperidade”.
Belas palavras, sublime lieko. Mas nao passa,
quanto havemos referido, de umestreito tesumo
das provas de bondade do Anjo de santa Marga-
rida para com ela. Tio freqiientes eram as suas
aparicdes, to benignas as suas palavras, que che-
gou a duyidar a santa da autenticidade de tais
aparicdes. Nao seria, pensava ela, 0 proprio es-
Pirito das trevas transformado em Anjo de luz...
A mais, pecadora comose julgava, nao the parecia
possivel que Jesus, sua Mae Santissima e os seus
Anjos pudessem comunicar-se com ela tio intima-
mente.
TT
)
150 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
Incumbiu-se Jesus Cristo de Ihe tirar esta div
vida, que era como um espinho, que se The alte
yessava no coracio; “Como poderia_o dembnlu
disse-Ihe Jesus, infundir-te no coracéo tio
alegria, @e, que dela e para sempre esti privadi?
Nao tendo'em si essa alegria que tu experimeny
tas, tudo faz éle para ta poder roubar” (46).
Ah, que a muitos, entretanto, principalmepta
jovens ‘inexperientes, rouba o demonio, a pi
alegria do coracio! E como amarga entao o
se afastado alguém do servico de Deus!...
ra a sua divina Majestade conceder, a todos
les que em tal estado se encontram, a graca
dobrarem humildemente ao péso de tal soft
de vollarem ao caminho que leva a0 céu.
13 — Bondade usada pelos Anjos para com
‘almas inocentes
* bem claro que os Anjos no escapain,
regra geral, amamos de preferéneia e com mi
lermura ¢ espontaneidade aos que se nos seu
iham,
Uma criatura yerdadeiramente angélica,
dadeiro Anjo em carne mortal foi santa Rose
Lima, E, para gléria da nagio peruana, fol
a primeira flor de santidade que germinou em t
ras de América Meridional. 4
Era ainda crianca quando resolyeu constr
wma celazinha para recolher-se em oragao, pr
téncia e meditacao das coisas celestes. Ora, ui

Ds vida dq santa, eserita por Pr. Glanta


sen co(4nt6)essy fe citada. pela Bolandistos,
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 15b
noite, quando orava no seu pequenino oratorio,
subitamente se viu_desamparada de forcas, €
como a‘desfalecer. Obrigada a deixar a cela, que
ficava no jardim, correu 2 casa para junto de
sua Mae. Vendo-a esta, assim palida e aflita, man-
dou a criada que fdsse imediatamente comprar
algum chocolate e que o preparasse para. Rosa.
Replicou, entretanto, Rosa que tal ordem nao
era necessiria, pois da casa de umatal Maria Usé-
tegui, das relacoes da familia, Ihe enviariam em
breveo alimenio que desejava. A mae julgou que
filha estivesse gracejando. “Nao vés, disse-lhe,
que ninguém em casa da Usitegui pode saber que
tens necessidadedetal alimento? Nao estavas em
lua celazinha do jardim?... Sé se de la tivesses
mandadoalguéma casa de nossa amiga... Mas...
quem li mandaste? Portanto,vai, disse ela a cria-
da, e cumpre com a ordem que te dei". — *Nao,
Mamie disse Rosa, rogo-lhe que espere ainda
uminstante. Nao demora a chegar 0 criado de
Maria Usategui com o meu chocolate”.
Nao eram acabadas estas palavras quando
chegou o criado,
Diante detal fato a mae saber de toda,
a verdade. Quem havia sido mandado & casa dos
Usategui?
Candidamente Rosa explicon: “é 0 men Anjo
da Guarda, Maezinha querida, que acaba de me
prestartal servico, Logo que me senti desfalecente
pedi ao meu santo Anjo que fésse a essa casa, €
Ja dissesse 0 que comigo se passava, ¢ de que es-
tava eu necessitada, Jamais deixa’ de conceder-
me o meu bom Anjo da Guarda o que quer que
the peca”.
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0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 153
clara e penetrante, assim como a herdica inte-
gridade da virtude da pureza, que Ihe perfuma a
personalidade, Ihe valeram 0 cognome de Angé-
Tico.
‘A sua mente, desde a mais terna idade preo-
‘cupou-se com os problemas da vida sobrenatural.
“Mamie, perguntava éle ainda criancinha, que é
Deus?...” — Mais tarde, compreendendo que Deus
€ o autor da vida, e que sd a vida divina é a
vida verdadeira, resolveu viver somente para esta
vida divina, que nos é dada no batismo, e que nos
faz filhos de Deus. Poristo, pensava emfazer-se
religioso e em entrar na ordem do glorioso pa-
triarca S. Domingos. Mas assim n&o pensayam os
pais. Tomas era uma inteligéncia brilhante, e
podia ser, no mundo, a grande gldria da casa dos
Aquinos.
Para dissuadir de uma vez seus pais, esea-
pou, certo dia, da vigilancia dos seus, ¢ vestiu 0
habito dos dominicanos.
Entretanto, foi malograda a fuga. Seguiram-
noosparentes, tiraram-io da paz do convento do-
minicano e 0 encerraram no castelo do monte S.
Giovanni, Deu-se aqui o fato de que nos ocupa-
mosneste exemplo. Para tenli-lo, e fazé-lo cair
em pecado, foi introduzida rio castelo uma mulher
ma, pelos préprios irmaos do santo. Sio assim os
maus: julgam que os bons sio bons porque nao
proyam o prazer enyenenado do pecado. Infeli
zes! Incapazes de se deixarematrair pelos prazeres
do espirito, julgam que todo oprazerda yida con-
siste nas sensualidades da carne!
Mas Tomas de Aquino viu o perigo e reco-
mendou-se fervorosamente a0 céu. Ainda afo-
gueado da oracdo levanta-se de siibito, toma de
um ticao em brasa e poe em fuga a impuaen|
amulher, Emseguida tracou como ticdo umaene
ha parede e diante dela se prostou em oragio),
Duas coisas pediu: uma, que Dens houvesse pety
bem receber os seus agradecimentos pela f
que recebera na tentacdo, e a segunda que
concedesse uma pureza angélica, com que jai
houvesse que lemer de Jutas futuras,
Diz-se que em sonhos, ou talyez em éxt
foi ouvida esta segunda parte de sua oracio,
se emsonhos ou em éxtase, o fato é que se 80
do_seu confessor, depois da morte do santo,
dois, anjos the apareceram ¢ Ihe disseram que @
mandados de Deus para Ihe outorgarem o
da perfeita virgindade, “de que, disseram, De
te faz agora graca irrevogavel”,
Depois de assim falarem jomaram os A
jos de um grosso eordio que cousigo travis
© com éle cingiram o santo tio fortemente,
altura dos rins, que éste reeobrou o uso dog
lidos. E de entio em diante, diz o mesmocon}
sor de Tomés, que jamais o santo sentiu em
carwe obsticulo algum para pritiea dav
Ajuntamos, para utilidade dos nossos jav
Jeitores, que ha uma irmandade, ou sodalicityi
tituido na Tgreja, em memoria désse singular
vilégio ontorgado a S. Tomas,
Chama-se ésse sodalicio Milicia Angélica,
tem por fim ajudar os fidis a conservar ob
cuperar 0 precioso dom da castidade: “quo
(48) Towon, Vda de, Toms deAquino. 1 cap. XIV
0s SANTOS ANJOS DA GUANDA 155
fratres castitatis donum, Deo dante, feticius
iueatur, aut consequantur amissum (49).
Assim fazendo, isto é procurando conservar-
se puros de coragio, conseguirdo os nossos jovens
Jeilores um certo triunfo em seus estudos. So-
bretudo os que desejam maiores conhecimentos
das coisas espirituais tém na pritica da virtude
angéliea um penhor de consegui-lo, pois é esta
aquela ciéneia de que fala S. Tiago “descendens
a Patre luminum’,isto & 0 Pai das luzes o con
cede aos puros de’ coracio. A perfeila observin-
cia da castidade é que em parte deve, sem ditvida,
© nosso santo, aquela agudeza intelectual com que
penetrava e resolvia as mais intrineadas questées
teologais, *
15 — Grandemente despraz, ao Santo Anjo da
Guarda, ainda a minima ofensa a Deus
Houye umasanta que, segundo se 1é em sua
vida, era assistida nifo somente de um anjo, como
‘© comumdos mortais, mas também de um ateanjo.
Via-o, a mais, santa Francisca Romana (as-
sim se chama essa santa), a seu lado, resplande-
cente como o sol e trajando uma yeste branes
como a neve,
E ao seu Anjo da Guardaela o via no somen-
te quando estava sdzinha ou em oracio, mas mes
mo em stias ocupacdes ou quando em companhir
deoutros (50).
(49) Denedivtus XTIL iu bulla Pretinnws, § 11L,
(60) Devs, qui beatam Franctacom fomutan tvan, inter eae
tera ‘pratiae tune’ dona, Fomillart Angeli consuctwdine deeoraets
ete Aesim 0 Orewa dn wana.
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0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 157
meufiel Anjo da Guarda, ¢ por éle era amuitas yo-
zes repreendida e corrigida. Certa vez, achei que
devia falar do matriménio de uma parente minha.
Fez-me entéo ver o Anjo da Guarda — queisso
era indigno de uma almareligiosa e, repreenden-
do-meseveramente, chegou até a dizer que se es-
conderia dos meus olhos se eu me metesse ainda
emtais intrigas... Nao sofria nem ainda a mi
nima falta de modéstia ou de respeito diante do
meu senhor soberano, na presenea de quem eu o
via prostrado porterra, querendo que eu fizesse
outro tanto. O que, o mais freqiientemente que
podia, também eu fazia”.
‘Ab, que diante de tais exemplos, deviamos
chorar amargamente os grandes pecados cometidos
na presenca do Santo Anjo, e propor firmemente,
com a ajuda de Deus, evitd-los para o futuro,
16 — Com que alegria vai o Santo Anjo da Guarda
contando 0s nossos passos
inyeja, diz. a definicio do catecismo, é uma
tristeza que se sente pelo bem alheio, E’, por-
tanto, pecaminosa,baixa, indigna. Da mesma for-
ma, é das almas bem formadas, das almas gene-
rosas e dos espiritos superiores o alegrar-se com
‘o bem do préximo. Os que amam o Reino de
Deus, sobretudo, alegram-se como seu progresso,
verifique-se éle onde quer que seja, e por meio
de quem quer que for.
Os Santos Anjos da Guarda nada _tém mais
a peito que o progresso do Reino de Deus, pois,
158 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
como diz S. Paulo “sdo todos enviados para au-
xilio daqueles que se destinam 4 heranca da sal-
vacdo” (Hebr. I, 14), Poristo, com alegria vai
contar{do as nossas vitérias e todos os passos que
damos na demanda do Santo Reino de Deus, que
€ 0 Cen,
Conta-se, a propésito, que viyia um monge do
deserto tio Tonge das fontes de agua potivel, que
longa caminhada tinha que fazer todos os dias
para fornecer do precioso liqiido a sua soliti-
tia morada. Cansado, entretanto, de fazer todo
dia 0 mesmo comprido caminho, pensou consigo
© que segue. “Ora, por que haverei eu de me dar
tanto trabalho para fornecer-me de Agua, se pos-
so fazer a minhacela 4 beira da fonte limpida?”
‘Assim pensaya com o seu cAntaro ao ombro a
caminhodacela, ¢ jé estaya a resolver-se & mu-
danga, quando ouviu alguém, atras déle, The ia
contando os pastos. Voltou-se, e yiu um Anjo,
ste Ihe contaya os passos, porque do nitmero de
passos dependia maior gléria no céu... Apren-
dew a licéo. E derrubou a cela no lugar onde até
entao vivia, para transporté-la para mais longe
ainda da fonte. E andou avisado (52).
Lembrem-se déste exemplo os nossos jovens
leitores. E’ longe a igreja, a escola, a congrega-
cio? Tanto melhor. Quantos mais passos, tanto
maior recompensa no céu e maior progresso na
virtude, tanto maior alegria do nosso santo e bom
Anjo da Guarda.
(G2) Cavatea, Volgarizzamento delle vite dei ss. Padri,
diverse, p. TET, esp. XLe
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160 P, AUGUSTO FERRETTI, 8.J.
Emtroca, protegiam-no 0s Anjos com solicita
caridade.
Um exemplo que 0 comprova:
Umatarde, saindo a procura de pio para uma
pobre familia, caiu, ao atravessar a via dell’Orso,
em uma profunda cova, ai aberta para a constra-
cio de um novo edifeio. Como de costume, ape-
nas se yiu vivo dentro daquela cova, chamou pelo
sen Anjo da Guarda,
E sentiu-se levar para fora da fossa, sio €
salvo, seguiu o seu caminhoe foi cumprir com a
hele obra de caridade que o fizera stir de ents
(63).
Também$. Jofo de Deus punha ao servico:
dos necessitados as suas forcas e haveres. Por
isto era, como S. Felipe Neri, grandemente favo~
recido dps Anjos,
Um dia, saindo de casa em busea de agua para
© seu hospital, — pois é le o fundador de uma
congregacdo religiosa para o servico dos enfermos
— aproveitaram os anjos a sua auséncia para The
poupar um grande trabalho. Varreramas salas
dos enfermos, arrumaram as camas, lavaram a
Jouea.
Grandemente surpreso ao voltar, perguntou S.
Joao aos doentes quem fora a boa ‘alma que to
perfeitamente Ihe poupara tanto trabalho. Ainda
mais admirados, disseram que nenhum déles ha-
via visto vivalma a trabalha no hospital, a nao
ser... 0 proprio Jodo! Dir-se-ia estarem portian-
do por causar cada qual maior espanto: Joo nos
doentes, e os doentes em Joao.
(65) Gallonlo, Vida de 8 Felipe, cap, XV e seg.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 161
Bem sabia S. Joo que a fonte onde fora era
Jonge, e tinha consciéncia de nao ter arrumado
© que quer que fdsse. Insistindo, entretanto, os
doentes, em sua afirmagio, concluiu que tudo isso
fora obra do Santo Anjo da Guarda que, disfar-
cando-se em sua propria pessoa, havia feito com
suas santas maos todo aquéle trabalho. Assim
falou entao: “Na verdade, irmaos meus, tem Deus
um grande amor para com os pobres, pois envia
os seus préprios Anjos a servi-los”.
Causou éste fato grande admiracio na cida-
de de Granada, que foi onde éle se deu, e muitos
por ésse motivo se foramoferecer ao santo para-o
servico daqueles mesmos pobres que haviam sido
servidos pelos Anjos.
De outra feita foi 0 pio que faltou_para os
pobres. Grandemente penalizado, ja nao sabia
que fazer 0 santo, quando Ihe apareceu 0 Anjo de
Deus com uma grande cesta cheia de pies e Ihe
disse: “Toma, irmao meu, e leva para os teus
pobres. Tragd-to dos mesmos armazens da divi-
na Providéncia". E desapareceu. Joao quantos
presenciaram 0 prodigio ficaram pasmados dian-
te de tanta dignacto de caridade e foram inun-
dados de consolacao (54).
Decerto admiras-te, jovem leitor. Lembra-te
que com isto Deus e seus Anjoste querem inculear
0 amordos pobres. Ama-os, pois representam a
pessoa do préprio Cristo. E, na medida do possi-
yel, ajuda-os, dedica-te a éles, como fazia 0 Santo
Tobias, e como aconselhava ao filho: “Faze es-
(54) Vida do Santo, escrita por Francisco de Castro, sa-
‘erdote e reitor do hospital de Granada, 12, «. 3.
162 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. 7.
mola daquilo que tens, ¢ jamais voltes as costas a
pobre algum; assim, também jamais a face do
Senhor se volverd de nés”, (
18 — Amorde Deus ¢ dos seus Anjos pela oragao
© exemplo que segue é tirado da vida deS.
Isidro, que foi um pobre agricultor das cercanias
de Madri, Mas era tao pobre que nemlerras
tinha para cultivar. Por isto, para sustento sew
e desuafilha, teve que trabalhar nas terras de
um cidadio de Madri, chamado Juan de Vergas.
Ora,Isidro se habituara a no pegar dos seus
instrumentos de trabalho sem primeiro dirigir a
Deusas suas oracdes. Para isso, levantava-se hem
cedo, e dirigia-se A igreja, principalmente & de
N. Senhora de Arocha, para ouvir a santa Missa
e praticar as suas devocdes,
E chegada a hora do trabalho, ia-se pontual-
mente para 0 campo.
‘Niio faltou, entretanto, quem o acusasse dé
faltar com o seu dever empregando-se a rezar em
vez de trabalhar. “E? um rezador, disseram ag
patrio de Isidro, e passa a manha a visitar igres
jas...
0 patrao, cheio de zélo, resolvewir ao prop
local do trabalho bem cedinho. Pensava que
sim nfo o encontraria, e teria bastas razées pi
castiga-lo com o merécido castigo. Levantou-st,
pois, bem cedinho, e foi ao campo. Mas la chi
gandoja 14 estava Isidro com os seus bois a dit
gir o arado, Ficou admirado,.. — Mas quem
Tiam os outros dois jovens dos outros arados?
Dirigiu-se depressa ao encontro dos trés, mas
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 103
encontrou Isidro. Os outros dois haviam desapa-
reeido. Interrogou-o sdbre os seus companheitos
de trabalho, mas Isidro Ihe respondeu: “Nunca
chamei ninguémpara me ajudar em meu servico,
a ndo ser 0 meu Deus, que sempre inyoco, e que
sempre prontamente me socorre”,
Maravilhado e compungido voltou Juan para
casa, contou o que vira aos seus, e ndo duvidou
em afirmar-lhes que o seu empregado era um
santo, e que os Anjos, emprémio de sua fé e sua
piedade, o vinham ajudar no fatigante trabalho do
campo (55).
19 — Os devotos da Virgem especialmente amados
dos Anjos
Raimundo Nonato, santo que floresceu no sé-
culo treze, assinalou-se, ao par de outras virtudes,
Por umalerna devocaopara com a Rainha do Céu.
‘Amaram-no por isto especialmente os Anjos, e Ihe
dispensaram extraordindrios favores.
Entretanto a piedade de Raimundo fez des-
confiar a0 pai que o filho pensava em fazer-se
religioso. Para demové-lo de tal propésito, resol-
yeu retiri-lo dos estudos que fazia e manda-lo
para uma sua herdade a cuidar de um pequeno
rebanho que14 possuit

com (G5) Bato fato Dominur


6 nntradabinas
no Brevidrio, no dia veste,
5 de malo,
estas palavras: Angelos candida duplt
@F Boum jugo aranies, mediumque inter ior Iaidorum conspexit..
— Bncostra'se mais pormenorizado a. vida de 8, Isidro eterita
bur Joie w Gideon, © que os Bolandistas transrevem no mer
164 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Ora, nas proximidades dos pastoreios em que
passaya os seus dias, havia uma igreja dedicada
a S. Nicolau bispo de Mira, e nessa igreja era ve-
nerada uma célebre imagem da Augusta Mae de
Deus. Era a consolacio de Raimundo. Para la
se dirigia ¢ com a Mae celeste se desafogava de
suas penas.
Um dia em que com maior fervor éle Lhe di-
rigia as suas oracées, ouvin da Virgem Santissi-
maas seguintes palavras: “Nao temas, Raimundo.
Trar-te-ei, doravante. debaixo da minha particular
protecio.” E quero que a mim, como & tua Mae
celeste, recorras confiante sempre que te vires
aflito”.
Depois de ouvir tais palayras nio tinha éni-
mo Raimundo de se apartar de perto de sua boa
Maezinha., Mas, e 0 rebanho? Quem o haveria
de guardar Disso se incumbiu o santo Anjo

=
da Guarda de Raimundo, E, por que? Para que
Raimundo pudesse prestar & Virgem o obséquio
de suas oragées, ¢ entreter-se com Ela em filiais
coléquios.
Comefeito, j4 nfo podendo um dia reprimir 0
afeto que o levava para perto de sua Mae do Céu,
resolveu se de caminho para a igreja — de
certo inspirado j4 pelo mesmo santo Anjo que,
assim, como que se oferecia a substitui-lo no pas :
toreio. Viu, pois, de stibito, a0 seu lado, 0 santo
Anjo da Guarda,’ Era amiyel e todo resplendente
de luz.
Reconheceu-o Raimundo ¢ the renden vivas
acées de-graca por tio assinalado favor,
Um favor que se recebe com reconhecimento
provoca a outro favor. Assim, ainda muitas ou-
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 165
tras vézes poude Raimundosatisfazer a sua devo-
¢o para com Maria Santissima, gragas aos cari-
fativos préstimos do seu Anjo da Guarda,
‘Tal prodigio tantas vézes repelido nio pod
passar despercebido, Muitos o testemunharam, i
elusive o pai de Raimundo, E diante de tal nao
hhouve quem duvidasse de que Deus destinava
Aquele jovempastor a grandes coisas. O pais de
Raimundo foi o primeiro a cooperar com a obra
de Deus. Tirou-o da guarda dos rebanhos e con-
sentiu que realizasse o que éle dizia ser 0 seu ar-
dente voto: “consagrar-se inteiramente a Nossa
Senhora”, para ser para sempre dela.
Para tal recebeu o habito de Nossa Senhora
das Mercés, e logo foi enviado para as distantes
terras da Costa da Barberia,
Sabe Deus que sofreu ai o seu servo pela sua
santa fé. Todo empregou-se no resgate dos eris-
tos prisioneiros e na conversio dos infigis da-
quelas paragens. Nao havia entio, como agora,
tantos meios de difundir noticias, Mas foram tais
as obras do grandesanto que, chegando aos ouvi
dos de S. S. 0 papa Gregorio IX, quis éste honrar
a ptirpura cardinalicia revestindo dela 0 santo hi
mem. Fé-lo, pois, cardeal da S, Igreja, com o ti-
tulo de S. Eustaquio.
Niio podem deixar de nos escapar & percepeao
todos os atos da vida sobrenatural deste grande
homem, Entretanto, umfato se deu nos iltimos
tempos da sua vida, que foi conhecido de muitos
como mais um sinal de predileedio por parte dos
santos Anjos, Foi a sua miraculosa comunhio,
recebida por mios dos Anjos, por no haver quem
166 P. AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Iha pudesse administrar. A veracidade déste fato,
é alestada pelos padres Bolandistas nas suas vidas.
dos Santos, no dia 31 de agosto,
20 — Os sanlos Anjos amam asfamilias
verdadeiramente cristas.
S. Antonino, que foi elevado & sede episcopal
de Florenga no ano de 1413, passando um dia pela
pardquia de S. Ambrésio, ‘vin, sdbre uma pobre
casinha de uma pobre rua, um festivo céro de
Anjos. Sem trepidar, dirigiu-se A casa para ver
quem nela moraria. Entrow, ¢ viu uma pobre
vitiva com trés filhas que desealcas e mal vestidas
se uplicayam ao trabalho.
Vendotanto trabalho, e ao mesmo tempo tan-
ia pobreza, exortou-as a confianca em Deus, e lhes
prometeu’auxilio, De fato dew ordens para que
fossemsocorridas abundantemente, ¢ assim se fez.
Ora bem, passados tempos, passou o santo pe~
Ja mesmarua e pela mesmacasa. E que viu? Uma
miséria ainda maior: sobre a casa tripudiavam de-
moénios. Tomado de horror e dezélo, ainda desta
vex atravessou a soleira da porta confiante e li-
yremente, ¢ se vin no meio de suas ja, conhecidas
ovelhas, Pés-se a interroga-las, e descobriu que os
subsidios que éle ordenara que Ihes trouxessem,
Thes havia trazido uma abundancia a que n&o es-
tayamhabiluadas, e que, abandonandoo trabalho
a oracio, passavam o tempo emdivertimento €
passeios mundanos.
Da primeira yez que o santo la estivera, nada
dhes havia narrado do que vira sbre a sua casa.
Masdesta vez contou-lhes ambas as visdes. “Véde,
0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 167
disse-Ihes, quando em yossa casa reinaya o traba-
Tho e a oracao, nela se compraziam os santos An-
jos, qual se Ihes fora causa de contentamento 0
Yosso absoluto bem estar. Mas agora que com a
ociosidade ¢ a vaidade entrou nesta casa © abor-
recimento pela oracio, eis que nela se comprazem
no os anjos e sim os demonios". Continuou ain-
da a repreendé-las severa e paternalmente e aca-
bou exortando-as a que santificassem 0 domingo
com a oracdo, ¢ os demais dias da semana com 0
trabalho, E reduziu-lhes a mais estreita medida
as costumadas esmolas, (Bol. 2 de maio).
21 — Os santos Anjos ministrum a comunhdo a um
santo € jovem peregrino,
Estanislau Kostka viveu apenas 18 anos e foi
umgrande santo.
Tinha pouco mais de quinze anos quandose
dew 6 que vamos narrar.
Era polonés, mas cursava entéo as letras em
Viena, ¢ com o irmao Paulo, pouco escrupuloso em
religido, hospedara-se em casa de um senhor da
seila dos luteranos.
Nesta casa, objeto muitas vézes dos maustra~
tos do irmio, € cansado talvez por peniténcias ¢
vigilias, caiu emgravissima doenga, que em breve
© levou as portas da morte. Inocente como era,
nao eram “os médos da fria morte” que Ihe davam
cuidado, Era-o a iminéneia de uma morte sem vii-
tico, Morrer, sem poder dar umtltimo amplexo
no grande companheiro do nosso exilio, o divino
SenhorSacramentado! Pedi-lo a Paulo fora imatil.
Seria mais facil ao fanatico luterano, dono da
168 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
casa, permitir que entrasse o proprio deménio em
sua residéncia, do que Jesus sacramentado nas,
mios de um sacerdote catélico.
Que fazer entio? Estanislau yoltou-se para o
eéu. Recorreu a Santa Barbara de quem havia
lido que nao deixava morrer os seus devotos sem
c0,-e, foi onvido!
Umanoite, em que a violéncia do mal chega-
ra_ao auge, yeio a éle a santa acompanhada de
dois Anjos, um dos quais trazem suas mios a hés-
tia consagrada. A tal vista, mandow que o dio se
pusesse de joclhos, ¢ éle préprio, fazendo um su-
premoesforco, ajoelhou-se no leito, trés vézes di
se o “Domine non sum dignus”, abriu modest
mena boca e, recebendo a sagrada comunhao, to-
do se recolhen em longos e ferventes coléquios
com o seu Bom Jesus do Sacramento.
Nao morren, entretanto, desta enfermidade.
Mas nela recehera uma ordem que era_preciso
execular. Nossa Senhora !he havia aparecido com
© Menino Jesus e Ihe hayia dito que encontrasse
na “Companhia de sew Filho".
Paratal resolveufugir de Viena — pois todos
os de sua familia se opunham A execucdo de tal
designio. Trocou, pois as suas yestes de nobre
com um pobrezinho que encontrara naestrada, €
se pés a caminho de Augusta, donde foi a Dilin-
ga, ¢ finalmente a Roma,
Ora, durante tal_peregrinar, recebeu uma se-
gunda vez a comunhao das mios dos Anjos. Deu-
se isto numa aldeia por onde passara e onde vira
a porta aberta os fiis a orar. Pensando ser
uma igreja catélica, entrou, desejando receber a
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170 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
A tais palayras Gualberto, também éle ilumi-
nado por Deus, compreendeu que aquéle nao era
simplesmente im homem, mas o seu santo Anjo
da Guarda que visivelmente se The mostrava, para
assisli-lo, consold-lo e conduzir-lhe a alma ao Pa-
raiso (57).
Santa Margarida de Cortona, a santa peniten-
te de que falamos nos exemplos 11 e 12 também
eve, na hora de sua morte, a aparieio do Santo
Anjo da Guarda. © ocasifo désse aparecimento
foi a tentacho de desconfianea com que o demd-
nio procurava abaté-Ia nesse extremo momento da
vida.
Para conforté-la, pois, apareceu-the 0 Santo
Anjo visivelmente, Primeiramente se voltou para
‘@ deménio: “Que tens tu a fazer com esta alma,
The disse,"que 0 Senhor nosso colocara no céro,
Gos Serafins?” — Nao temas, disse em seguida a
Margarida, que eu, Guarda da tua alma, que &
templo do’ Senhor, sempreestou contigo.
igno de meméria é 0 que se conta de S.
Felipe Neri, Um dia, querendo moveralguns re-
igiosos, da Congregacto dos Clérigos Regulares
istro dos Enfermos, a que permanecessem
is ao seu santo instituto, contou-thes a seguinte
visio, com que o havia favorecido Deus Nosso
Senhor,
Enquanto, disse-lhes éle, dois dos nossos ir
méos assistiam alguns moribundos, vi que Ihes
estayam ao lado Anjos do Senhor, e ésses Anjos

7) Vida do Santo, eserita pelo b, Audsé6, seu disespulo,


0s SANTOS ANJOS DA GUARDA it
thes sugeriam no ouyido as palayras que deviam
fazer repelir aos enfermos, a fim de prepard-los
a morrer santamente (59).
‘Ainda que os santos Anjos ndo se facam pre-
sentes de modo sensivel, é certo todavia que ja-
mais deixam de proteger e conforlar na lula ex-
tremaos seus clientes de toda a vida. Nem se po-
deria razoivelmente supor o contrario.
0 exemplo que segue mosira como entao pro-
curam os santos Anjos para os seus clientes a
assisténcia do sacerdote.
Houve em Roma, no ano de 1596, uma gran-
de mortalidade. Uma noile, cérca das vinie e
quatro horas, apresentou-se & casa dos Padres
Ministros dos Enfermos, de S. Camilo de Lellis,
um jovem de dulcissimo semblante, rogando ins-
lantemente féssem mandados dois religiosos a so-
correr um moribundo,
Mandaram-nos prontamente. Acompanhou-os
solicito qual guia, ésse mesmo jovem, mas desapa-
receu-lhes da vista quando chegaram & casa do
doente e Ihe abriram a porta,
Era,pois, o dito jovem, segundo se pode con-
jeturar,'0 Anjo da Guarda ‘do moribundo (60).
28 — A devoedo dos Santos Anjos instrumento de
apostolado nas excolas catélicas
“Hoje mais um anjo se foi juntar aos Anjos
do Paraiso...” Assim os irmaos de habito do P.
(69) Vida do santo, de Jerénime Bemaveo — Dolundistas
20 de maiv, — Nas Tigdes do Brevidrio, wo dia da festa de S
Camilo, diz-ce que mais vies teve 8, Felipe a dita visio.
(60) Vida de 8, Camilo de Lellis, pelo p, Cicatell.
172 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Fernando Jeantier, da Companhia de Jesus, the
anunciaram a passagem para a eternidade,
Nasceu o P, Jeantier em 1799, na aldeia de
Liesle, no longe de Besancon.
Durante o seu longo viver, de 79 anos, todo
se empenhara em cultivar em si mesmo e em ins-
tilar nos outros a deyocio aos santos Anjos.
Foi recompensado nesta vida, na hora da mor-
te. Morreu no dia da aparicdo de S. Miguel Ar-
canjo, ¢, nas oragdes da agonia, ao pronunciar o
sacerdote oficiante as palavras “em nome dos An-
jos e Arcanjos, em nome dos Tronos e das Do-
iminagées, em nome dos Principados e Potestades,
em nome dos Querubins ¢ Serafins", todo se lhe
filuminou o rosto num celeste sorriso. Nao pu-
deram os religiosos presentes, que lhe conheciam
a vida,rpler as Lagrimas.
A devociio avs santos Anjos, bebeu-a, por as-
simdizer, com0 leite materno. Ao acordar ensi-
nara-he a boa maezinha a dar os bons dias ao
bomAnjo da Guarda com a seguinte oracaozinha:
“Bom dia, meu bony Anjo; a Jesus, a Maria, a
José ¢ a Vés me recomendo; como me guardastes
nesta noite, guardai-me também neste
sua infancia foi indcente emtodo o rigor do
térmo. Comyinle anos entrou na Companhia de
Jesus, ¢ ai, por quarenta e cinco, se dedivou & for-
macao da juventude. Foi por isio justamente cha-
mado 0 apéstolo da juventude.
Ora bem, umdos principais instrumentos de.
que usava para conservar na inocéncia os jovens
€ fazé-los crescer na piedade foi precisamente a
devocdo para com os santos Anjos da Guarda.
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 173
Parainstila-la nos seus Animos aproveitava-se
das conversas, das exortacdes piblicas, do tribu-
nal da peniténcia.
E ainda nao contenle comisto, empregava na
propaganda da sua cara devocdo as Congregacées
Marianas de que foi diretor. Sob a sua perpétua
direeao estiveram as congregagdes dos Santos An-
jos dos colégios de varias cidades de dentro e de
fora da Franca. Exereeu ésse cargo em San-
PAcheul, Friburgo, Passagio, Turim, Bruxelas ¢
Vannes (61).
Numerosos capitulos de sua biografia desen-
yolveméste tinico argumento: as pias indistrias
de que se valia para infundir nos seus caros jo-
yens o amor dos Santos Anjos. Exporemos, por
brevidade, somente as principais,
Pode dizer-se que no havia festa ou pritic:
alguina de devocao, durante o ano, em que élenao
introduzisse oportunamente os santos Anjos da
Guarda. Motivo para isso eram asfestas de Na~
tal, de Pascoa, as novenase festas de N. Senhora,
‘0 més de Maio, os domingos de S. Luis. Mas de
tal modo agia que nio s6 no desviava o sentido
da festividade, mas até 0 corrohorava.
Iniitil dizer quanto n&o trabalhava e conse-
quia nas mesmas festividades dos bem-aventura-
dos Espiritos. Havia, dentre estas, uma de sua
invencao. Colocara-a, com delicada atengio pelos
Anjos servidores de Jesus, no inicio da Quaresma,
(Gi)eolics
Duss aiofraentatos
as Congregagdes que costumamn fandar-se naa
oles
‘Virgem, paracomo_preparagio por numerosa
on alunos mais paraadiantados, juventuder a
© a donpara santos da 84
Anjo@o
quase que
mais tenra idade, 5
2 zB
primeira, me
on afunoe
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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 175
Nao é facil imaginar quanto estimava oP.
Jeantier essa coroinha. Era-lhe cara como as pu-
s dos seus olhos. Concedia-a aos que julgava
dignos dela, e, no momento de a entregar, proferia
com grandeafeto as seguintes palayras: “Recebe,
meifilho esta coroa, simbolo do verdadeito con-
gregado. Ela seré a guarda do leu corpo e da tua
alma. Por seu meio, gracas intercessio dos teus
santos Anjos da Guarda, merecerés um dia con-
seguir a elerna felicidade do céu”. E, calorosamen-
te, recomendava a sua digtria recitacio, aconselha-
ya que a tivessem sempreconsigo, que dela se v
Jessem como de ajuda em todo perigo.
Quando se encontrava com algum dos seus
jovenzinhos: “vamos, dizia-lhes, arraneai da es-
pada, espada de S. Miguel”. E 0 compreendiam:
puxaramdo bdlso a coroa dos sdntos Anjos ¢ a
mostravam ao padre,
Admiravel o seu zélo durante a Missa que
celebrava para os Congregados. Rezado 0 Evan-
gelho, descia a percorrer os hancos. Todos de-
viam'ter em uma das mios 0 rosario de N. Se-
nhora, e na outra a Coroa dos Anjos. Nao adian-
tava esconder-se. Aos olhares do bom padre nada
escapava. Ai de quemnaoestivesse de armas em
punho! Fixava-se-lhe, severo, o olhar do P. Jean-
tier, numa muda mas eficaz repreensdo: que ver-
gonha! um soldado sem armas!
Nemtanto trabalho e zélo ficava sem abun-
dante ¢ precioso fruto, Detal forma tinha incul-
cado a devocio ao santo Anjo presente, que ja
se Ihes tornara um pensamento habitual.’ Nao se
encontravam com o padre e nao Ihe entravam no
quarto, quando o iam visitar, sem Ihe dizer: “Pa-
dre, saiido 0 bom Anjo de Vossa Reveréncia”. Es-
176 P, AUGUSTO FERRETTY, 8, J.
tas palavras, proferidas com sumo afeto por par-
te dos seus jovensdiscipulos, provocava no padre
afeto semelhante, “E eu, meu filho, satido tam-
bém o teu Anjo”. Esta saudagao Ihes valia, jun-
to do bom padre, 0 mesmo que, junto daqueles
a que se recomendam,vaiem os tilulos honorifi-
cos As pessoas humildes.
© seguinte fato vema propésito, e & bem ex-
pressivo. Certa feita levou o padre os seus con-
gregados de Friburgo a assistiremnao sei que peca
de teatro. A certo ponto do drama aparece um
trovador, que dirige 4 janela de um prisioneiro
as seguintes palavras de conforto: “Coragem, sim,
coragem. Aqui esto teus amigos de sempre”, —
Ao onvi-lo, voltaram-se ao P. Jeantier os Gon-
gregados e Ihe disseram: Aqui estio os nossos
amigos, os santos Anjos, a0 nosso lado, sempre!
— Tornouw-se célebre, entre éles, de entio em dian-
te, 0 estribilho, ou melhor, a parddia do estribi-
tho dotrovador,.. — E como o sabiam do agra-
do do bom padre, néo perdiam ocasiio aquéles
bons jovens de tho repetir ao ouvido. Alguns,
trinta’ anos depois, ginda lho repetiam em suas
cartas.
Fruto ainda mais precioso désse intimo sen-
timento da real presenca do Anjo da Guarda era
© horror, que nutriam, de toda palavra menos ho-
nesla, de téda conversa menos conveniente, numa
palayra, de todo e qualquer pecado. — “Se para
minha grande desgraca, disse uma vez aos com-
panheiros um aluno do colégio de Friburgo, ew
viesse a cair em culpa grave, nao permaneceria
nesse estado cinco minutos sequer. Iria logo ter
com o bom P.Jeantier para confessar-me. Pois
0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 177
assim que se pode viver em paz, disposto ao que
der e vier”.
Juntamente com o horror do pecado ‘inspira-
va-thes a devocio dos Anjos a pritica das obras
mais santas. Tornaram-se amigos da oracao, dos
santos sacramentos, da obediéncia, do. estudo, e
até da propria mortificacdo, na vitéria dos seus
caprichozinhos e paixdes a desabrochar.
Ha um capitulo da vida désse grande homem
em que se vé como foi proficua para a vida in-
teira essa suave devocdo aprendida, nos tempos de
escola, do seu inesquecivel diretor de congrega-
cdo. E? 0 capitulo: “O P. Jeantier e os seus an-
tigos alunos”. $6 um exemplo, entretanto, adu-
ziremos.
Umdésses felizes e piedosos jovensfoi, pois,
retirado do internato de Friburgo e adserito entre
9s alunos do Liceu de Lion, Era ésse jovem um
congregado dos mais fervorosos e dos mais devo-
tos dos santos Anjos. Imagine-se qual naofoi a
sua perplexidade ao entrar pela vez primeira no
dormitério comum do seu novo colégio, onde_os
atos de piedade eramde todo desconhecidos. Por
outra parte ndo achava que poderia deitar-se sem
se ajoelhar ao pé do leilo, examinar a consciéncia
e pedir a Deus perdao das faltas cometidas du-
rante o dia — tal como o aprendera de sua mie
e fora inculeado pelo seu diretor. A mais, como
poder conciliar o sono sem ler invocado a Mae
Santissima e o santo Anjo da Guarda?
Nao é que o impedisse o respeito humano,
oh, nao! Bem sabia o P. Jeantier combaté-lo ¢
fazé-lo vencer. O que o embaracava era o pensa~
mento de que iria expor tio helo ato de piedade
178 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
as risotas e zombarias dos colegas. Que fazer?
Resolyeu que na manha seguinte escreveria ao P.
Jeantier para déle receber directo. Entretanto
iio se entregou ao sono semprimeiro ter cum-
prido com suas deyogées e sem ter recitado a co-
roa dos santos Anjos.
Na manhi seguinte, pols, escreven ao padre.
E 0 fez emtio belus e comoventes {érmos que 0
P, Jeantier, apés ter respondido a consults, houve
por bem Ié-la aos seus congregados na primeira
exortacao.
Era esta, a mais, uma das muitas indistrias
usada por éle para o bemespiritual dos seus di-
rigidos. Nao hayia bom exexmplo, de que lives-
se conhecimento, que nao anotasse para a edifi-
cacaodos seus congregados.
E ds exemplos de protecdo especial usada pes
Jos santos Anjos para com osseus discipulos, ain:
da com maior cuidado era anotado e com maior
calor referido. Nao era para admirar que assu
exortagdes deixassem a todos viva e salutarme
impressionados ¢ como que pendentes dos
labios,
E’ com prazer quevferecemos aos nossos le
tores ‘0 seguinte trecho de uma de suas caloro
praticas exortagdes. "“Véde,pois, 6 filhos, qu
que tendes todos por companheiros! (e indica)
um qualquer para quem todos os olhares se
tavam). Perguntai-the a quem seja éle devedor
vida e saiide que goza. A coroa dos santos Anji
Ainda nao faz dois dias que, de Mans, para
para Vannes se dirigia, Mas uma coisa espanto
Ihe aconteceu em viagem. O trem em que
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180 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Ha pois, como em tddas as demais deyocdes,
duas maneiras de obsequiar os Anjos. A primeira
maneira é a do obséquio, por assim dizer, direto.
Consiste em Ihes fazer oracdes, cantar-lhes hinos,
meditar-lhes os beneficios, ler-lhes ou ouvir-lhes
os Iouvores, visitar-Ihes os altares, venerar-lhes as
imagens, consiste, enfim, na pratica de tedos os
'
atos que se dirigem imediatamente a prestar-Ihes
culto e yisam honrar-lhes a excelsitude, a santida-
de, a gloria,
A segunda maneira é a do obséquio indireto.
Consiste na recepedo dos sacramentos, na pralica
da caridade para com os pobres, em jejuns por seu
amor, e, para tudo compendiar em umasé pala-
yra, consiste em praticar a virtude com o fim de
thes agradar.
Ora, a devocdo que se define, segundo varios
autores, umor obsequiorum, abrange uma e outra
maneira de obséquios. Mas naose faz mister estar
a discorrer longamentesobre isso. .. Todo 0 nosso
livrinho a isto se dirige, e nao poucas vézes suge-
rimos modos praticos de obsequiar os Santos An-
jos. — Duas coisas, entretanto, parece-nos que ain-
da nos faltam. Iremo-las expondo nos deis capi-
tulos que seguem,
Caviruto 1
DEVOTAS PRATICAS EM HONRA DOS SANTOS

\
ANJOS DA GUARDA
Em trés classes se podem distribuir as pra-
ticas de devocio para com os Anjos: priticas co-
tidianas, praticas semanais e priticas anuais. —
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 4181
Apresentaremos aos nossos jovens as praticas de
cada uma dessas classes, procurando, na sua es-
colha, atender & condic&o daqueles a quem dedica-
mos a nossa obrinha,
1 — Rezar de manhd ¢ & noite 0 “Santo Anjo
do Senhor”,
Costumam os Congregados de Nossa Senhora
implorar-Ihe de manha e a noite a sua celeste pro-
teciio com a recitacdo de trés Ave Marias. E? um
costume verdadeiramente pio e salutar. Nunca se-
ra de mais louvé-lo inculeé-lo. (63).
Mas, dize-me, 6 filho meu, no te parece justo
que depois de ter invocado Aquela que qual Mae
te foi dada por Jesus na cruz, inyoques também
Aquéle que Jesus te deu por guarda desde o pri-
meiro instante da ua existéncia?
Nenhuma oracio me parece mais indicada pa-
ra isto que a que acima mencionamos, e que repro-
duzimos abaixo:
Anjo de Deus, que sois a minha guarda, ¢ a
quem fui confiado por celestial piedade, iluminai
=me, guardai-me, dirigi-me e governai-me, Amém.
E’ umacurta oracdo, mas rica de sentido e de
beleza, ¢ assaz querida dos Santos, S. Luis de Go
zaga, p. exemplo, assim se refere a esta oracio em
(68) Basa flor de inocéucia @ de purera, de que ji talamos
cima, ¢ que se chamou Estanislan Kostka, vivia em Roma 10
novicindo ‘de S. Audré, quando adotou o eguinte costume, de
niuitos depois Igualmente sotade: de mana, logo ao despertar,
© & noite antes do deitar, voltavase para a Busilien do 8. Marie
Mair e inclinando-se & boatissima Mae de Deus, pedialhe que o
abengoasse. — Ver Bartoli, Vida do Santo,
182 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
um escrito do seu proprio punho: (65) “Recomen-
dar-te-as ao teu Anjo da Guarda trés vézes por
dia de modo especial. De manha com 0 “Anjo de
Deus”, & noite com a mesma oracao, assim como
também de dia, quando fores visitar os altares da
igreja”.
S. Luis é 0 teu especial patrono, pois o é da
juventude em geral. Deves, portanto, imita-lo, Re-
citaris, como éle, de manha e & noite a tua oracio
ao Anjo da Guarda. E, para imité-lo ainda me-
Thor, recita-a tambémtodas as vézes que fores &
igreja ou emvisita ao $.S. Sacramento, ou para
assistir a Missa, ou para confessar ou para comun-
gar. O bom Anjo se fara de rogado, e pronta-
mente te vird emaurxilio para te ajudar a eumprir
exatamente com ésses grandes atos de nossa santa
religiao.
Sabes, além disso, que ganhards 100 dias de
indulgéncia todas as vézes que, ao menos com co-
racio contrito disseres essa oracdo, conforme foi
concedido pelo sumo pontifice, o papa Pio VI, em
Breve do dia 2 de outubro de 1795. — E se todos
os dias a recitares, ganharas indulgéncia plendria
nodia da festa dos santos Anjos, a dois de outubro,
se também nesse dia a recitares ¢ fizeres visita a
(65) Ceparl, Vida de & Tuts, p. TL, ¢ 8 — O venerdvel
servo do Deus Jo:é Benedito Cottolengo, tio eoneeHio pela Pie-
‘cola Casa delle Divinn Providenza, por’ éle fandada em Turkm,
reeamendava grandemente aos seua’abrigados a devorso dos Sane
tos Anjos, Juatamente com outras pratiens, presereveu também
‘8 seguinte, que todos deviam ywestar mutes’ de deitar-se: ease
tris vezes © “Anjo de Deus que sois a minha guarda’, com 6
‘beagos em crus, para que o santo Anjo da Guarda les assistisse
durante a noite ¢ para yuo dopressa os fizesse levantar de mankii,
= Guastaidi, Vida do V. Cottolengo, 1. V, e. 13.
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 183
qualquer igreja ou piblico oratério, para rezar
pelas intengdes do sumo pontifice.
A mais, esta indulgéncia plenaria pode ser ga-
nha “In arficulo mortis” por quempara ela esteja
disposto e haja recitado a oracio com freqiiéncia
durante a vida,
Mais ginda. O santo padre Pio VII concedeu
tal indulgéncia, plenaria, a ser ganha mensalmen-
te, num dia & sua escolha, por quem a haja reci-
tado todos os dias e visitar a igreja e nela rezar
como se disse acima. (66).
2— A 2feira consagrada aos Santos Anjos.
Umaoutra pratica dos congregados de Maria
a de Ihe oferecer todos os sibados algumobsé-
quio especial. (67).
Outro tanto costumam fazer todas as segun-
das feiras os devotos dos Santos Anjos.
Emsua honra alguns ouyem devotamente a
Santa Missa, outros fazem uma obra de caridade
qualquer, outros alguma mortificacdo, ou ainda,
recomendam-se com mais fervorosas oracdes a0
seu poderoso amparo.
Poderas imitar aos que assim fazem, marean-
do, logo apés 0 “Anjo de Deus” da manha a es
(66)__V, Raceolta a orasiont © pio oper, eve. Roma, ~ edit
1808, p, 386.
(67) Para devogto
adssir umparaexempla, ,SS.FoRoVirgen,
Rerehmans,conocido
rela
fume jenr em todon ov aibados e nes igilias tuba
u e terna com a por cordo
das tetas
Marla’Snatissnea, "Copa, vida do santo P, Il, 20.
184 P, AUGUSTO FERRETTI,§. J.
pécie de obséquio a oferecer-Ihe: “hoje (assim po-
dereis dizer a vos mesmos) honrarei o meu bom
Anjo invocando-o 0 mais freqiientemente que pu-
der, sendo obediente aos meus pais, aplicando-me
ao estudo, — e assim por diante,
Também esta bela pratica esta apoiada nos
-exemplosdossantos e poréles ilustrada.
© B. Pedro Fabro, por exemplo, deixou-nos
em seu memorial ou diario espiritual 0 que se-
gue (2): “Téda segunda feira tenho por habito
fazer meméria dos Anjos bons, Mas assim como
€ bom ter devocao para com os Anjos bons e in-
Yoci-los, assim também ¢ proveitoso pedir nesse
dia o auxilio de Deus e dos mesmos Anjos contra
8 espirilos malignos, que por tantas formas ten-
tam enganar-nos ¢ perder-nos.”
Enfim é a nossa prépria maeespiritual, a san-
ta Tgreja, quem tal nos sugere, quando designa a
segunda feira para o culto dos Santos Anjos, po-
dendonese dia, os sacerdotes celebrar a sua Missa
€ rezar 0 seu Oficio.

— 0 dia dois de outubro, festa dos Santos i


Anjos da Guarda.
Fora da festa de S. Miguel Arcanjo, comum a.
todos os Anjos, nao celebrava a Igreja antigamen-
te nenhumafesta especial em honta do Santo Anjo
da Guarda.
Isto comecou a fazer-se mais tarde, e em al~
gumasigrejas particulares.
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 185
Bste piedoso costume, entretanto, dos fitis, foi
mais tarde aprovado por Paulo V, quando conce-
deu ao clero regular e secular a celebracio da
festa dos Anjos da Guarda no primeiro dia livre
depois de 29 de setembro(festa de S. Miguel), Em
seguida a sagrada Congregacao dos Ritos fixou-
-lhe um dia o dia dois do més de outubro e isto
a celebrar-se em tda a Igreja. Finalmente Lea
XIII elevou tal festa a rito duplo maior,
Ora, se em todos os dias do ano devemos ye~
nerar e honrar os santos Anjos, é justo o facamos
especialmente ao transcorrer a data da sua festa
oficial. Antes de mais nada é aconselhvel que nos
preparemos com uma novena, a comecar a 23 de
setembro.Nesta, duas coisas deves considerar prin-
cipalmente todos os dias: os beneficios que rece-
hemos dos Anjos e a gratidio que thes devemos.
Para isto, muitos sio os livros que tratam dos san-
tos Anjos. Nao se tendo outro 4 mio, a tal efeito
sio dirigidas as consideracdes da 1." parte desia
obrinha, devendo se Ihes seguir a leilura dos exem-
plos da If parte. Ajuntese a mais, a isso, os obsé-
quios jA indieados: oragdo,peniténeia, esmola,ete.
Tenha-se presente que dentre todos _os obs
quios o mais agradivel.Aos Anjos é o deumafer-
vorosa comunhio nodia de sua festa, se no puder
ser na novena. Também no primeiro domingo de-
pois da festa pode éste obséquio ser oferecido
20s Anjos — caso haja impedimento no dia da
festa.
Nesta novena, em que se recitardo oracdes
aprovadas pela autoridade eclesiistica, se podem
ganhartodos os dias 100 dias de indulgéncia, e in-
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0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 187
feo (69). Assimfazendo, mereceremos do santo
Anjo umaespecial ajuda no ultimo dia da nossa
vida.
Carireo ID
Devolas oracdes em honra dos santos
Anjos da Guarda.
oracdoja cilada “Anjo de Deus, que sois a
minha guarda...” merece mais que qualquer ou-
tra ser recomendada. Nao obstante, coisa util e
grata, de certo, aos meusleitores, sera conhecer as
principais oragdes em honra dos santos Anjos, pa-
ra reciti-las em suas festividade.
1 Oracéio de S. Anselmo, Arcebispo de
Cantudria wo Anjo da Guarda,
0Espirito angético, a cujos prévidos cuidados
entregou-me Deus Nosso Senhor, rogo-vos que
sempre queirais guardar-me e proteger-me, assis-
tir e defenderde todo assalto do demonio, quer eu
esteja acordado, quer dormindo. Oh sim, assisti-
me ‘noite e dia, a téda e a todo momento, séde
sempre ao meu lado onde quer que eu me ache.
Afastai para longe de mim tédasas tentacdes de
satanis, e, do misericordiosissimo Juiz e Senhor
Nosso, que vos constituin meu guarda e a vos me
confiou, obtende-me por yossa intercessiio a gra~
(69) _V. 8, Tomis Tp, q CRIT # 5 nd 8,"A% ensina, coma
outrina provivel, que a eelanga, enquanto 0 seo materno,
tem por Anjo da’ Guerda @ mesmo Anjo de sua mie, aduz
fag palavras de 8. Jerinimo jé por nés eitadas: “Magna digni-
fas sanimarun, ut wnaguacque habeat ab ortu nativitatia Ange
lum sibt deputatun’,
188 P, AUGUSTO FORRETTY, 8. J.
¢a, que de todo desmerecem os meusatos, de per-
manecer imune de t6da culpa em minha vida, E
se por infelicidade eu me encaminhasse para a es-
trada do vicio, fazei por reconduzir-me pela sen-
da da virtude ao meu divino Redentor, Quando me
virdes oprimido pelo péso das angistias, fazei-me
experimentar a ajuda de Deus Onipotente. Peco-
=vos também, que me descubrais, se isto podeser,
© térmo dos meus dias, e que nao permitais que a
minha alma, quando se desprender do corpo, seja
alerrorizada pelos espiritos malignos, ou venha a
ser objeto de escirneo para éles, ou déles seja pre~
sa desesperada. Nao, no me abandoneis jamais,
até que metenhais conduzido ao céu, para gozar
da yisla do meu Criador, e ser eternamente feliz
em companhia de todos os santos, Tal felicidade
meseja dado atingir, mediante a vossaassisténcia
€ 0s merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cris-
to. (70).
2— Oracao de S. Sofrénio, Patriarea
de Jerusalém
E’ a vossa benignidade que rogo e imploro, 6
bons e imaculados Anjos e Arcanjos. A yosso po-
der recorro, 6 intemeralos Espiritos! Oblende-me
que pura seja a minha vida, inabaliyel a minha
esperanca, ilibados os meus costumes, perfeito
livredetéda ofensa o meu amor para com Deus €
para com o préximo. Ah! tomai-me pela mao,
conduzi-me, guiai-me por aquéles caminhos que
so aceitos a Deus e salutares a mim.
(70) Oratio LXIT ai Augelam Custodem, Migne, Patrol,
tnt, tom, CLVIL, p. 967.
OS SANTOS ANJOS DA GUARDA 189
— Protesto de S. Carlos Borromen, ao santo Anjo
da Guarda, em preparaco para a morte,
Emnomeda Santissima Trindade, Padre, Fi-
lho ¢ Espirito Santo, eu, infeliz e miseravel peca-
dor, protesto em vossa presenca, 6 Anjo Santo de
Deus, que quero absolutamente morrer na Igreja
Catélica, Apostélica ¢ Romana, em que morreram
todosos santos, que até agora existiram, e fora da
qual nao ha salvacao. Assistine na hora da mor-
te e fazei-me vencer o demOnio, inimigo meu e
vos.
Protesto ainda, 6 santo Anjo, que estou sob a
‘vossa guarda e protecio: que quero partir desta
vida com grande confianca em yosso socorro, €
com firme esperanca na misericdrdia do meu Deus,
Desbaratai naquele wtimo momento os inimigos
da minha salvaeao, recebei a minha alma quando
ela se separar do men corpo, ¢ depois da minha
morte fazei que me seja propicio Jesus Cristo meu
Salvador.
Protesto igualmente, 6 santissimo_ protetor
meu, que com 0 mais vivo afeto desejo participar
dos merecimentos de Jesus Cristo Nosso Senhor,
e que espero obter a remissio dos meus pecados,
por virtude de sua morte e paixio. Detesto quanto
cometi de mal empensamentos, como emobras €
como em palavras. A todos os meus inimigos per-
déo, e quero morrer no amplexo da santa Cruz,
para mostrar que ponho téda a minha esperanca
na paixio do Salvador.
Protesto outrossim, 6 amigo meu fidelissimo,
que me abandono aos yossos cuidados ¢ afetuosa
190 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
caridade no grande passo da minha morte, e que,
embora seja verdade que desejo ir logo para o
eéu, estou entretanto pronto, para apagar com 0
sofrimento a enormidade dos meus pecados, estou
pronto,digo, para suportar qualquer género de cas-
tigo que a divina justica achar bem impor-me, ain-
da que fdssem as mais atrozes penas do Purgaté-
rio. Assim, também estou pronto para abandonar
8 meus parentes, os meus amigos, o meu mesmo.
corpo e tudo aquilo que tenho de mais caro, a fim
de mais depressa poder ir gozar de presenea do
meu Deus, ¢ de testificar-the o quanto me pesa de
o haver ofendido,
Protesto finalmente, 6 Anjo sapientissimo e
yigilantissimo guarda de minhalma, que vos cons-
titno procurador da minha tiltima vontade exe-
cutor déste men ato testamentario. Dizei a Jesus
meu Salvador, no momento da minha morte, 0
que eut talyez jA no poderei dizer, e & que creio
tudo aquilo que cré a Santa Tgreja, que detesto
os meus peeados, porque Ihe desagradam, que to-
dos os deposito no set misericordiosissimo Cora-
cio, e que de suainfinita bondade espero perddo
para éles: que de boa vontade morro porque as-
sim fle o quer, e abandono minha alma e minha
salvacio em suias maos: que o amo sobre todas
as criaturas e por t6da a eternidade o quero amar,
Amém, (71),

Santos(7)Anjos,
0 P.Grasset
p. 4 devoe.traz22, tate— protesto no seu ainda
Tratadoa tra
dos
Outros aulores
em, Homesdamente’o p, Guilherme Nakateni no Cacleste Palme-
tum
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 191
4 — Oragao de S. Luis de Gonzaga.
0°Santos e puros Anjos, 6 vés verdadeiramen-
te bem-aventurados, que de continuo assistis na
divina presenea, e que com to grande juibilo es-
tais contemplandoa face daquele celeste Salomao,
por quem fostes cumulado detanta sabedoria,fei.
tos dignos de tanta gléria e ornados de tantas
prerrogativas: vés brilhantes estrélas, que com tal
felicidade_resplendeis nese bem-aventurado eéu
empireo,infundi eu vos peco, em minha alma, os
yossos bem-ayenturados influxos, conservai sem
macula a minha vida, firme a minha esperanca,
os meuscostumes sem culpa, inteiro o meu amor
para, com Deus e para com préximo,
Rogo-vos, Anjos bem-aventurados, que com
vossa ajuda vos digneis conduzir-me como pela
mao,pela estrada real da humildade, por que vs
primeiro caminhasles, para que depois desta vida
eu mereca ver juntamente convosco a bem-aventu-
rada face do Pai Eterno, e ser contado em vosso
nimero também, no lugar de uma daquelas es-
trélas, que por sua soberba cairam do céu. (72).

(72) Moditagies ios sautos Anjos, @ particularmonte don


Anjos da Guarda, p. 7, pouto 4. Bata moditagio se acha entre
fas do p. Vieente Bruno; e 6 como teatifien op. Copari mm
vida de Tis (p. IL eap. VETI), t6da da eomposicio dv mos
mo 8, Luis, Noo foi sem particular intengio que o P. Vieonte
Hirano enearregou uo esto de compé-la, pols sabia a particular
Aovagéo que 8. Luis uutria para com os santos Anjos, de euja
‘eouduta era éle um émulo som igual.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
v
OS SANTOS ANJOS DA GDARDA tos
fraco confortai-me; sou pequenino, protege)-mes
sou um caminhanteextraviado, reconduziane
estrada real; sou preguicoso, excitai-me; soutr
do, estimulai-me a progredir no bem. E sobretuda
fazei que aquela extrema e perigosa Iuta, que eu
terei que sustentar com os deménios em minhn
morte, tenhatérmofeliz, para que, passando a ser
companheiro vosso no céu, possa cantar al
mente 0 hino davitéria: “laqueus contritus e
nos liberati sumus: rompeu-se-nos 0 laco livres
dali nos fomos” (74).
~ Oragao de S. Jodo Berchmans.
Anjo santo, amado de Deus, que por 4
disposicio tendo-me tomado sob a vossa bem-
-aventurada guarda desde o primeiroinstante da
minha vida, jamais cessais de defender-me, de
iluminar-me, de reger-me; venero-vos como pa-
droeiro, amo-vos como guarda, submeto-me 4 vos-
sa direcio, e todo me dou a vés para ser por vos
governado, Peco-vos portanto e yos suplico pelo
amor de Jesus Cristo, que por mais que eu tenha
sido ingrato para convosco € surdo a vossos a
sos, ndo me querais por isso abandonar; mas que
vos digneis reconduzir-me ao reto caminho, quan-
do transviado, ensinar-mena ignorancia, levantar-
-me quando caido, consolar-me quando aflito, sus-
tentar-me no perigo, até que me introduzais no

(74) Apud P, De ta Cerda, do excell, enel, Spiritunm, In


primis de Angeli Custoais ministerio, eap. ult. orat, 5.
194 P, AUGUSTO FERRETTI,8. J.
eéu a gozar convosco umaeterna felicidade, Assim
seja (75).

8 — Siplicas ao Santo Anjo da Guarda.


I — O° meu bom Anjo da Guarda,ajudai-me a
agradecer ao Allissimo, por se ter dignado de vos
destinar minha guarda, “Anjo de Deus...”
Il — O° Principeceleste, dignai-vos impetrar-
-me 0 perdio de todos os desgostos, que dei a vés
ea Deus, desprezando as vossas ameacas ¢ 0 yos-
sos conselhos. “Anjo de Deus
11 — 0” amavel protetor meu,imprimi em mi-
aha alma umprofundo respeito por vos, de modo
quejamais tenha o atrevimento de fazer coisa que
vos (esagrade, “Anjo de Deus.
IV — 0” piedoso médico de minhalma, ensi-
nai-me os remédios ¢ dai-me ajuda para curar-me
dos meus maushabilos e de tantas misérias que me
oprimem a alma. “Anjo de Deus”
V — 0° Guia fiel, impetrai-meforca para su=
perar todos os obstdculos que se encontram no ca-
minho da virlude, e para sofrer com verdadeira
paciéncia as tribulagées desta miserdvel vida, “An~
jo de Deus”,

(75) Cepari, Vida de S. J, Berchmaus, p. V. Op. Page


quale de Mattel no seu belo livziuho sébre w’devogio dos’ 8, 8
Anjos da Guarda também traz esta orasio,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 195
‘VI — 0’eficaz intercessor meu diante de Deus,
‘obtendo-me a graca de obedecer prontamente as
vossas santas inspiracdes, de conformar a minha
‘yontade em tudo e para sempre& santissima von-
tade de Deus. “Anjo de Deus”...
VII — 0° purissimo espirito todo aceso em
chamas de amor de Deus, impetrai-meéste fogo
divino, e juntamente uma yerdadeira devocio &
yossa augusta Rainha e minha boa Mae, Maria.
“Anjo de Deus”.
VIII — 0°inyencivel protetor meu, assisti-me
para corresponder dignamente ao vosso amor e
a0s vossos beneficios, e para empenhar-mecom 10-
das as minhas foreas a promover o vosso culto.
“Anjo de Deus”.
IX — 0° bem-aventurado Ministro do Altis
mo, obtende-me desua infinita misericérdia, que
eu chegue a preencher um dos lugares deixados
yazios no céu pelos Anjos rebeldes. “Anjo de
Deus”...

9 — Jaculatéria em honra de 8. Miguel


Arcanjo.
Sancte Michael Archangele, defende nos in
praelio, ut non pereamus in tremendo judicio. (76)

(70) Tndulgéneia de 100 dias. Rae. p. 883.


196 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
10 — Oragao em honra de S. Miguel Arcanjo com=
posta por S.S. 0 Papa Ledo XII, e por sua ordem
recitada depois da Missa.
Sancte Michael Archangele, defende nos in
praelio: contra nequitiam et insidias diaboli esto
praesidium. — Imperetilli Deus, supplices depre-
ccamur: tuque, Princeps Militiae caelestis, Satanam
aliosque spiritus malignos qui ad perditionem ani-
marum pervagantur in mundo, divina virtute in
infernum detrude.

11 — Hino enriquecido de indulgéncia, em honra


de S. Miguel Areanjo. (77).
Tesplendor et virtus Patris,
‘Te vita Jesu cordium,
Ab ore qui pendent tuo
Laudamus inter Angelos.
Tibi mille densa millium
Ducum corona militat:
Sed explicat victor Crueem
Michael Salutis signifer.
(77) Bio VIN, com rescrito da Congregagio dag Indule
‘ginelag, 6 do malo’ do 1817, coucedeu 200" dias de. indulgéncin
Tima
‘ontritover roeitarem
ao dia adevotamente
todos 08" fis 0 hinaquo_com 0 eoragio
Te splendor com aa0antifous
menog
a oragie
is, por todoom umhouramés,dep S.tiverem
Miguelrecttade,
Ateanjo;concadou
Aquclsindulged
que 040
plenéria, em um dia 2 escolha, contanto’ quo nesso dia, tendo
onfeseado.
‘ifie, Rac, ©p.comungado,
373, rexem’ polas intengies do” Sumo Poa)
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198 P, AUGUSTO FERRETTY, . J.
12 — Hino em honra dossantos Anjos da Guarda.
Custodes hominum psallimus Angelos,
Naturae fragili quos Pater addidit
Caelestis comites, insidiantibus
Ne sucumberethostibus.
Nam quod corruerit proditor angelus,
Concessis merito pulsus honoribus,
Ardens invidia pellere nititur
Quos caelo Deus advocat.
Hue custos igitur pervigil advola
Avertenspatria de tibi credita
‘Tam morbos animi, quam requiescere
Quidquid non sinit incolas.
Sanctaesit Triadi lauspia iugiter,
Cuius perpetuo numine machina
Triplex haec regitur, cujus in omnia
Regnatgloria saecula. Amen.
Antiph. — Sancti Angeli, custodes nostri, de-
fendite nos in praelio, ut non pereamusin tremen-
doiudicio.
‘V — Angelis suis Deus mandayit de te.
R — Ut custodiantte in omnibus viis tuis.
Oremus.
Deus quiineffabili providentia sanctos Ange-
Jos tuos ad nostram custodiam mittere digneris,
Jargire supplicibus tuis et eorum sempre protec-
tione defendi et aeterna societate gaudere, Amen.
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200 P. AUGUSTO FERRETTI, s. J.
Principais passos da Sagrada Escritu-
ra, e dos Padres e Doutores, citados neste
livro.
I— A Escritura. 1. Gen. 48,46 Angelus, qui
eruit me de cunctis malis, benedicat pueris istis. O
Anjo que meliyrou de todos os males, abengde a
éstes meninos.
2—Tob.V 21,27. Bene ambuletis et sit Deus in
itinere vestro, et Angelus ejus comitelur vobis-
cum... Credo quod Angelus Dei bonus comitetur
ci, et bene disponat omnia quae cirea eum gerun-
tur, ita ut eumgaudio revertatur ad nos, Ide e séde
felizes, séde convosco o Senhor na viagem e o seu
Anjo vos acompanhe... Creio que 0 bom Anjo de
Deus 0 acompanha prové a tudo aquilo que the
acontece, pata que volte a nés com alegria,
3. — Judith, XTI, 20. — Vivit autem ipse Do-
minus, quoniam custodivit me Angelus ejus, et hine
euntem et ibi commorantem et inde hue reverten-
tem. Pelo senhor o juro, o seu Anjo me guardou
quando daqui meparti, enquanto li permaneci, €
quandopara ci de novo voltei.
4, Ps, XC, 11 — Angelis suis mandavitde te ut
custodiant te in omnibus vis, tuis. O euidado de ti
éle 0 confiou aos seus Anjos, para que te guardem
em todosos teus caminhos.
5, — Math. XVII, 10 — Videte ne contemnatis
unumex his pusillis: dico enim vobis quia Ange-
fi eorum in caclis semper vident factem Patris
mei qui in caelis est, Guardai-vos de desprezar a”
algum déstes pequeninos. Pois faco-vos saber que
os seus Anjos no céu, véem perpéluamente a face
do meuPai, que esté nos céus.
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 201
6 — Hebr. I. 14 — Nonneomnes stunt adminis-
tratores spiritus, in ministerium missi propter €0s,
qui hereditatem capient salutis?
Nao so todos éles espiritos administradores,
que foram mandados ao ministério por causa da-
queles, que adquirirdo a heranca da salvacio?
7 — Atos — XII,15 — Atilli dixerunt ad eam
Insanis. Ila autem ‘affirmabat sic se habere. Ii
autem dicebant: Angelus ejus est. — Mas éles lhe
disseram: estis doida. Ela, porém, asseveraya que
assim era. E éles disseram: entio é 0 seu Anjo.
Il — Padres e Doutores.
1 —S, Hilario, in ps. 154, n. 147, — Sunt An-
geli parvulorumquotidie Deumvidentes. Hi igitur
spiritus ad salutem humani generis emissi sunt:
neque enim infirmitas nostra nisi datis ad custo
diam Angelis, tot tantisque spiritualiumcaclestium
requitits obsisteret. Opus ad id fuit naturae potio-
ris ausilio. — Os Anjos dos pequeninos yéem sem-
pre a Deus. ses espiritos, entretanto, foram
mandados para salvacao do género humano: ja
que a nossa fraqueza no poderia resistir a infer-
nal nequicia, sem que fésse confortada pela guar-
dae defesa dos Anjos. Foi imister a ajuda de uma
natureza mais poderosa.
2—S. Agostinho — de civit Dei 1. X . 7 —
Cum Angelis sumus una civitas Dei... cujus pars
in nobis peregrinatur, pars in illis opitulatur. For~
mamos com os Anjos uma tinica cidade de Deus. . .
de que uma parte, que somos nés, peregrina por
éste mundo, ¢ a outra, que sio os Anjos, esté
pronta a socorrer-nos.
202 P, AUGUSTO FERRETTI, 8, J.
3 —S.Agostino — de doutrina christiana, 1.
D. 30 — Si vel cui praebendum est, vel a quo
nobis praebendum est officium misericordiae, recte
prozimus dicitur, manifestum est hoc praecepto,
quo iubemur diligere proximum, etiam sanctos
Angelos contineri, a quibus tanta nobis impendun-
tur officia misericordiae.
Se aquéle junto de quem devemos exercer
obras de misericérdia, ou do qual as recebemos,
com razio se chamade préximo nosso, é claro que
no preceito a nds imposto de amaro préximoestio
ineluidos os Santos Anjos, dos quais todos os dias
recebemos tantos ¢ tao insignes alos de miseri-
cérdia.
4—S, Jeronimo, coment, in Math, 1. 111, XVII,
10 — Magna dignitas animarum, ut’ unaquaeque
habeat ab ortu nativitatis in custodiam sui Ange-
lum delegattim. Oh grande dignidade das almas,
quecada uma tenha, desde o primeiro instante do
seu nascimento, um Anjo delegado para guardi-la!
5 — S. Ambrosio, In ps, XXXVI, v. 12. —
Quando Angeli longe stant, qui ad adiumentum
sunt atributi? Sed non illi se separant, sed qué
urgetur tentationibus, putat eos longe abesse ete,
Como podemestar longe, enquanto nos foram da-
dos por Deus para ajudar-nos? files, nao, nao
se apartam, mas aquéle que assaltado pelas ten=
tagdes pensa que estéo longe.
6 — S.Basilio — Contra Eunon.1, TH, n, 1 —
Quod unicuique, fidelium adsit Angelus, velut pae~
dagogus quidam et pastor vitam dirigens, nemo
contradicet qui meminerit verborum Domini, qué
ail: non contemmalis unum ex his pusillis ete. Qi
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 20%
cada fiel seja assistido por um Anjo, como pe-
dagogo e pastor que Ihe reja a vida, ninguém o
podera negar, se se lembrar das palavras do Se-
nhor, que disse no desprezeis a um sequer dés-
tes pequeninos. .,
7 —S.Pedro Damiio. — Serm XLII deexalt.
Crucis. — Quotidie Angelos ad nostri custodiam
deputatos multipliciter offendimus, et offensam ne-
gligentia cumulatus, Ipst etiamsi a nobis frequen-
ter iniurias patiantur, sustinent tamen, et compa-
tiuntur peccantibus.
Todosos dias ofendemos de muitas maneiras
0s Anjos da nossa guarda, e as ofensas ajuntamos
a negligéncia em arrepender-nos: mas éles, se bem
que com freqiientes injirias por nds ultrajados,
todavia nos toleram e de nés se compadecem em.
nossas quedas,
8 — S. Beda, — de templo Salom. lib., cap.
XII — Angeli sie de animaramsanctarum in caelis
beatitudine congaudentes, ut vis quoque, quos in
terris adhue peregrinari conspiciunt, electis opem
ferre non desinant, donee et illos in coelestem pa-
triamintroducant. — Detal forma gozam os An-
jos da felicidade das almas santas no céu, que ja-
mais deixam de levar auxilio aqueles eleitos, que
gemainda a peregrinar na terra, enquanto os nao
introduzam, tambéma éles, na patria celeste.
9 — Origenes. In Num. Homil — XI Sic
enim dicebaturin Actis Apostolorum, quia Angelus
Petri esset qui pulsaret ad ostium. Similiter ergo
intelligitur esse et alius Pauli Angelus, sicut est
Petri, et alius alterius Apostoli, et singulorum per
ordinem. — Assim se I8 nos Atos dos Apéstolos que
204 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
era o Anjo de Pedro quebatera & porta, De modo
semelhante deve entender-se que outro 6 0 Anjo
de Paulo, como 0 é 0 de Pedro, e outro o de outro
apéstolo, e assim de cada um em seguida.
10 —S. Gregorio Taumaturgo — In Origi-
nem or. phrosphon. et paneg. — Nos praeter com-
munem Dominum et gubernatorem, qui etiam est
Magni Consilit Angelus, hune alium quoque co-
gnoscimus probe et praedicamus specialem paeda-
gogum nostrum, quicumque ipse sit, cuius respecte
pueri vere sumus et parvuli ele, — Quanto a nés,
além do comum Senhor e Governador de todos,
que também & 0 Anjo do Grande Conselho, bent
conhecemos e predicamos ainda éste outro espe-
cial pedagogo nosso, qualquer que seja éle, a res-
peito do qual somos nés criancas pequeninas.
11 — §, Bernardo — in ps. XC, sermo 12 —
Angelis suis mandavit de te. Mira dignatio et vere
magna dilectio charitatis. Quis enim? Quibus?
de quo? quid mandavit?...° Quantum tibi debet
hoc verbum inferre reverentiam, afferre devotio-
nem, conferre fiduciam! Reverentiam pro prae-
sentia, devolionem pro benevolentia, fiduciam pro
custodia. — Aos seus Anjos éle mandou etc. Oh
admirdvel dignacao, e dilecdo yerdadeiramente de
caridade! Pois, quem mandou a quem? a que
respeito? que mandou? Que grande reveréncia te
nao deve inspirar umatal ordem, quanta devocio
infundir-te, quanta confianga trazer-te! Reverén-
cia pela sua presenca, devocao, pela sua benevo-
Jéncia, e confianca pela guarda que exerce,
12 —S. Bernardo, in Cantic. serm. XXXIX n, 4
— Ne diveris in corde tuo: ubi sunt Angeli? quis
Os SANTOS ANJOS DA GUARDA 205
eos vidit? Vidit eos propheta Eliseus et fecit
orando ut videret Giezi. — Nao digas em teu co-
racio: onde estao os Anjos? Quemjamais os vin?
Viu-os o profeta Eliseu, e fez, com sua oracao, que
também Giezi os visse.
13 — S. Tomis,I p. q. CXII a 6. — Custodia
Angeliest quaedam exseculio divinae Providentiae
cirea homines facta, — A guarda dos Anjos é uma
certa execugio da Providéncia diyina a respeito
dos homens.
14 — S. Tomis, I. p. q. CXIM a 3 — Custodia
particularis secundum quod hominibus singulis sin
guli Angeli ad custodiam deputantur, pertinet ad
infimum ordinem Angelorum... Custodia huma-
nae multitudinis, pertinet ad ordinem Prineipa-
tuum vel forte ad Archangelos, qui dicuntur prin-
cipes Angelorum. — A guarda’ particular de cada
Anjo emespecial para cada homem individual-
mente considerado, incumbéncia da infima or-
dem (hierarquia) dos Anjos... A custédia de to-
dos os homens emconjunto é confiada & ordem
dos Principados, ou ainda, & dos Arcanjos, que
so os principes dos Anjos.
15 — S. Tomas, I p. q. XCIV a, 3, ad 3m, —
Homopotest per seipsum ruere in peccatum: sed
ad meritumproficere non prodest, nisi auxilio di-
vino, quod homini exhibetur mediante ministerio
Angelorum. Etideo ad omnia bona nostra coope-
rantur Angeli. — Pode o homem por si mesmo cair
no pecado, mas nfo pode produzir obras merité-
rias sem o divino auxilio, que Ihe ¢ dado median~
te o ministério dos Anjos. files, portanto, concor-
rem para tédas as nossas boas operacdes.
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