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IMPRIMI POTEST
‘Tuubaté, 25 do janciro do 1945
Pe, Jovephus Poggel 8. C. J.
Praepos. Prov. Bras, Merid.
NIWIL OBSTAT
Taubsté, 25 de janeiro de 1945
‘Pe. Prederico Bangder 8. 0. J.
IMPRIMATUR
‘Taubaté, 25 de janciro do 1945
D. Franciseo Borja do Amaral
Bispo Diocesano,
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ay
Parte I
Fundamento dogmitico e aplicacées praticas
INTRODUGAO
Deus eosfiow aos seus anjos o guardar-ts om todos
‘8 tous eaminhor”
(Salmo X0, 11)
E’ uma verdade de fé, diz 0 eximio tedloga
Francisco Suarez, que Deus, em sua inefivel pro-
vidéncia, confiou os homens, enquanto peregrinam
por éste mundo, & guarda dos Santos Anjos. E é
igualmente doutrina catéliea, que a cada homem,
desde 0 primeiro instante do seu nascimento, &
assinado umanjo em especial como seu particular
quardador. “Singulis hominibus ab ort nativita-
lis suae singulos angelos ad custodiam esse depu-
latos, assertio catholica est’. (1)
Este ensinamento ¢ fundado sdbre a autori-
dade da Sagrada Escritura e dos santos Padres.
Quanto a Escritura, um dos textos sobre que p
cipalmente se apdia, é 0 versiculo, que ha pouco
citamos do salmo nonagésimo: “Deus confiou aos
seus anjos o guardar-te em todos os teus caminhos.
(@) De Angelis, lib. VI, cap. XVIL, a, 68,
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6 P, AUGUSTO FERRETTI, s, J.
Angelis suis Deus mandavit dete, ut custodiantte
in omnibus viis tuis”.
E’ éste yersiculo rico de doutrina. Cada uma
de suas palavras merece ser meditada. E nés 0
faremos seguindo as pegadas do doutor melifluo,
S. Bernardo, que assimas vai comentando: “Quem
confiou? a quem? Quefoi confiado? a respeito de
quem? Ohquegrande reveréncia te ndo deve ins-
pirar umatal disposi¢do da Providéncia de Deus,
quanta devoeio infundir, quanta confianga tra-
zer! Reveréncia, pois assim o exige a presenca,
certa de fé, dos santos anjos; devocio emretérno
dos heneficios que te dispensam,e confianga pelo
fato de estares sob os cuidados de tais guardado-
res". (Sermo XII in ps. XC.)
. Capiruno T
A QUEM DEVEMOS A PROTEGAO DOS ANJOS
Indaguemos: 0 cnidado dado aos anjos, de
velar sdbre nés, por quem foi dado? Quis man-
davit? Somente por Aquéle de Quem sao os anjos
stiditos obedientes e zelosos ministros. Mas quem
6 aquéle, segue interrogando S. Bernardo, de quem
so stiditos os anjos? E de quem sio ministros?
Do Senhor, Deus Altissimo, Foi portanto Deus
que deu sos anjos a ordem de proteger-nos em
toda a nossa vida, E nesta ordem, como observa
© serafico doutor S. Boaventura, manifesta-se 0
seu poder supremo,a sua sublime sabedoria, a sua
paternal bondade.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 7
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08 SANTOS ANJOS DA GUARDA u
peculiares conforme a posi¢o que the di Deus na
Uistribuigdo dos cargos do seu reino celestial.
Interessa-nos, no momento, ssmente a tercei-
n hierarquia, pois a ela é¢ que estconfiada, con-
forme a doutrina do angélico S. Tomas, a prote-
gio e a guarda dos homens em particular e da
humana sociedade (8). Eis como vemisto discri-
nado pelo santo doutor: a guarda de cada ho-
‘memparticular & confiada ao siltimo dentre
vs coros angélicos — ao eOro dos Anjos; a guarda
sal da comunidade hamana ao pri-
meiro e6ro — o dos Principados, ou talvez dos
Arcanjos. (In I p, q. CXHL a 3).
Nao € que Deus assim haja feito por nao ser
eapaz de porsi s6 reger as stias criaturas... Tal
icontece com os soberanos € os chefes das nacdes
tas de nenhummodo com sér onipotente, onis-
ciente ¢ infinito em todos os seus atributos. As-
sim, entretanto, fle procede, porque os diversos
ueaus de séres por Ble criados trazem sempre éste
cunho de harmoniosa ‘correspondéncia entre si.
mem vista fins altissimos que a nossa mente
nao atinge. Mas ao par déstes fins altissimos pre-
ende Ble também, sem diivida, tornar mais suave
6 seu govérno e mais consentaneo & natureza hu-
mana. Cén_e terra assim — e 6 ésie um outro
yrande e belo motivo — formam umsé reino de
(8) Bde notar agai com Sunrex com quanta sabedoria Deus
roworva a ineumbéncia da guarda dos homens no <dro dos Anjos.
Texte e6ro, pelo fato de ser fnfime, 6 0 quo mais se aproxima
0 homem, e tem por isto imedista relagho com gle. E', por
iawguinte, segundo a Tispesigdo da divina Providéncia 0’ mais
fiteyundo A guarda de eada Homem em particular, Op. elt. 1
Vi, ¢. XVI, n. 6.
12 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
perfeitissima caridade, em que criaturas superio-
res e jd bem-aventuradas, como os anjos, prestam
direefo ¢ ajuda a criaturas inferiores e ainda pe-
yegrinas nesle mundo, prestando-thes estas em
troca a homenagemde umgrato amor e de uma
décil_ submissio (9).
Ah! verdadeiramente tudo fizeste com sabe-
doria (Salm. CHI. 24); omnia in sapientia fecisti.
— 0 que séo os anjos de nés
Os Anjos sio junto de nds exatamente aquilo
que os preceplores sio junto dos seus discipulos.
Os preceptores, como era de costume antiga-
mente, deviam transformar a crianca em um per
feito cidadio: para isto deviam dar-Ihe modos,
instrui-Ja, acompanhi-la em suas viagens, ampa-
ré-la, conforti-la,
Diante dos Anjos, Espiritos sapientissimos, so-
mosde fato criancas que devemos ainda formar-
nos nos bons modoscristaos, e que muito lemos
que aprender da doutrina divina que Jesus veio
ensinar aos homens.
Sioporisto éles, de fato, os nossos precepto-
res.
Assim os chama_a santa Igreja emseus hi:
nos, assim os santos Padres, quer gregos quer la-
tinos, o5 apelidam em suas admiraveis obras de
apologética ou de instrucéo catequética.
(0) “Somos com os Anjos, dit & Agortiuho, uma 96 cidade
ae Dene... de que wma parte, que somos és, poregrina por bats
niundo, © @ outra parte, que so precisamente os Anjos, esta
route’ a socorrer-nos”. —- De eivit, Dei, LX, ¢. 7.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 13
S. Gregério Taumaturgo,S, Basilio e S. Joo
Criséstimo, dizem que sio os “pedagogos e edu-
owlores das criangas S. Manasio chama-os for-
inalnente de preceptores dos homens ¢ S. Bernar-
dose compraz em cham-los de “os constantes se-
quidores de nossa alma”. No, pensar, portanto,
dénses grandes representantes da elogiiéncia sa-
jrada das primitivas igrejas, grega ¢ latina, sio
ow santos Anjos da Guarda os guias, os guardas,
oy lutores e a maior ajuda e mais constante valia
lox que demandam, neste mundo, a patria ce-
loutial.
“O' amor imenso e (odo inspirado na mais
pura caridade! exclama S. Bernardo: “O vere
mayna dilectio charitatis!” Que solicitude, a do
nosso Pai do Céu pelos filhos que erram neste
mundo Tonge da casa paterna! E’ bem, portanto,
(jue nos apropriemos das palavras do Arcanjo
Nafuel quando se manifeston a Tobias: “Bendizei
Deus do Céu, e dai-Lhegloria diante de todos
on viventes, pois quefez resplandescer sobre vés a
Wii miserieérdia”, (Tob. XIIL,6).
Admiracio, portanto, Iouvore béneao é 0 que
loves, earo jovem, a Deus, por tio maravilhosa
jnunifestacio do seu poder, de sua sabedoria, dé
Win paternal bondade, deputando para junto de ti
\ Coses prineipes de sua cérte, a essas criaturas de
muravilhoso poder e santidade, que so os anjos.
14 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
E reflete que isto é um dogma de fé: dia e
noite yela por ti, dia e noite junto de ti assiste
um anjo, maravilhoso do poder e santidade, pres-
tes a socorrer-te sempre que o invoques, pronto a
ajudar-te sempre que recorras 4 sua protecio.
Carireto IT
A NATUREZA ANGELICA
Gostarias de certo, caro jovem, de yer ao teu
Jado o teu anjo da guarda, Tudo darias para po-
der contempli-lo em sua celestial formosura, em
sua atitude de habitante da patria celeste, naquela
feicfio peculiar € cheia de majestade dos séres su-
periores,
Seisto, por ora, te ndio é dado, nada impede
que o contemples a luz dos ensinamentos da teo-
logia catdlica.
Que sao, pois, os santos Anjos? — Nao é fa-
cil responder. Mag sabemos decerto que — sao
purosespfritos — que sio sumamenteprivilegia-
dos dentre todos os séres criados — que tém tam-
bém uma histéria como a nossa.
Carireto HT
0 OBJETO DOS CUIDADOSDOS SANTOSANJOS.
E’ bem que reflitamos aqui: seré o homem
dligno objeto, da tao assidua solicitude désses no-
hilissimos espiritos?
E’certo, de £8, que somos objeto detal soli-
cilude: “Deus mandavit de te". Objeto, pois, dos
cus cuidados € 0 nosso corpo com todosos seus
sentidos e a nossa alma com as suas poténcias.
E por que? Porque Deus quer salvar-nos.
2 P, AUGUSTO FERRETTY,s. J.
1 — A nossa alma
Aproximemosa nossa alma do anjo: que dife-
renca enire uma ¢ outro? Apenas que a alma foi
criada para o corpo ¢ 0 anjo nao. Mas ela tio
preciosa como éle, debaixo do ponto de vista da
sua origem — criada & semelhanca de Deus e
do seu destino, a visio de Deus, tal como o anjo.
E’ verdade que ha uma diferenga essencial en-
tre a alma e 0 anjo: o anjo é umsér completo em
si mesmo, e a alma nao. A alma foi criada para
0 corpo, diz relacio essencial para com o corpo
que informa, que anima, que yivifica. A alma
constitui, juntamente com o corpo, um nico sér,
que é0 homem, A alma, portanto, ndo é um sér
completo em si mesmo. E? como queparte de um
sér — ainda que parte precipua e que traz em si
a especificacio da natureza que ela integra,
O ponio de vista sobrenatural, entretanto, é
‘© que mais nos interessa aqui. Que diferenca ha,
pois, debaixo déste ponto de vista, entre o anjo e
‘© homem? A sua origem ¢ 0 seu fim, jA 0 disse-
mos, sio idénticos. Hi, entretanto, una diferenca
profunda, entre anjo prevaricador e o homem.
pecador. O anjoprevaricadoré castigado imedia-
tamente apés a preyaricacdo, e é desviado para
sempre do seu fim. Para éle nao ha mais perdido,
nem possibilidade de consegui-lo. Q homem pe-
cador é também castigado imediatamente apés 0
seu pecado, mas nao com umcastigo eterno. Nem
tio pouco foi desviado para sempre do seu fim.
Para éle hayeré ainda perdio. Umasé palavra,
dita de coragio, exprimindo a dor d’alma por ha-
0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 23
ver ofendido a Deus, pode reavid-lo. Quando Davi
yeconheceu 0 seu pecado disse somente esta pala-
peceavi, pequei. E, imediatamente, 0 pro-
feta: “e 0 Senhor tirou o teu pecado”. Estisper-
doado. Estis novamente a caminho do céu.
Certamente contribui para esta diferenca de
jratamento de Dens para comuns € outros a mes-
nia natureza do anjo e do homem. Mas, nao pode-
nuos menos deduzir dai a preciosidade da alma
humana, que Deus se empenha tanto em salvar.
Seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senor, fez-se nosso
resgate, E que resgate!... Que resgate pagou ao
Pai celeste para reaver-no:
Mas outras consideracdes ha mais consenté-
yeas ao assunto. A alma humana esta entregue &
yuarda de umprincipe da corte celeste. “Oh como
¢ grande a dignidade das almas, exclama S. Jerd-
nimo, confiadas, desde o primeiro instante do seu
nascimento, a um anjo, especialmente delegado
pura quardé-ta!” (In Matth.).
Como é grande a sua dignidade, e como é
yrande a sua preciosidade! Pela dignidade e posi-
cio da guarda se pode avaliar a preciosidade do
objeto guardado. Os chefes de govérno andamcer-
cados das mais allas patentes do seu exército, ¢ os
hancos usam de tédas as precauedes para ter em
seguranca as suas casas fortes, Por que? Porque
tum chefe de govérno é algo de precioso para uma
naeo, e os depdsitos dos bancos dio aos bancos
» valor que tém. Assim a nossa alma. Inimeras
slo as precaugdes que a Santa Igreja toma para
couserva-la em estado de graca e poder conduzi-
-ln ao én, imtimeras as ajudas que 0 préprio Cria-
dor Ihe concede.
oy P, AUGUSTO FERRETTI,s. J.
A ti, jovem cristo, a ti, congregado mariano,
cabe aproveitar dessas preeaugdes ¢ ajudar-te dés-
ses auxilios, No ignoras quanto é preciosa a tua
alma. Pois bem, se por ti s6 nio podes salva-la,
salvacla-as se quiseres aproveitar dos meios que
Deuste oferece paraisto. Dentre éstes, um dos mais
sélidos e proficuos é a devocao ao teu anjo da guar-
da, que sabes estar constantemente junto de ti. Que
faras para Ihe teres verdadeira deyocdo? E 0 que
te diremos em outra parte déste livrinho.
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0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 7
Avleis que o devemreger no o induzemfatalmen-
lctrilhar o eaminho que Ihe marcou a mao de
Nous, Deus Thas apresenta, fé-lo ciente delas pela
\wx intima da conseiéneia (Lei natural), e tam-
hin expressa exteriormente, pelo magisiério dos
hous enviados, dos seus representantes na terra (a
loi eserita).
O regime e 0 govérno dos anjos, sobre nés,
loin portanto que se conformar com a nossa natu-
tora de séres livres. Ble cooperam conosco, dito-
wus a mao, facilitando o eaminho, quando pelo
hom caminko é que queremos andar. Os anjos da
{\qurda so como executores da Divina Providén-
vin comrespeito aos homens, diz S. Tomas: Cus-
lodia Angeli est quaedam executio divinae Prov
ventiae, circa homines facta”. (I p. q. CX, a 6)
Nonde se segue que assim como a Divina Provi
di ia néo exclui o exereicio do livre arbitrio,
tiem nos necesita fisieamente a evitar 0 pecado,
ussim também nao é tal coisa que havemos de es-
yerar do ministério dos Anjos junto de nds.
E! portanto inescusivel desidia a de quem, sa-
hendo que vive constantemente lado a Jado com
\unt Anjo de Deus, vive e morre em pecado, O mes-
mo Anjo que Ihe devia ser auxilio, hiz, protecio,
orna-se-Ihe testemunha e acusador notribunal de
Deus.
Capiruro IV
© MANDATO QUE CUMPREM
De que se ocupamprecisamente junto de nés,
8 nossos Anjos da Guarda? Que fazem, em nos-
wfavor? — Ocupam-se naquilo de que Deus os
28 P, AUGUSTO FERRETTI, , J.
encarregou, cumprem com o mandato que Deus
Ihes deu. E que mandatofoi éste? “Quete guar-
dem em todos os teus caminhos: ut custodiantte
in omnibus viis tuis”. Que te guardem — nas jor-
nadas do ten espirito através dos perigos espiri-
tuais — nas jornadasdo teu corpoatravés dos pe-
rigos materiais — enfim em tudo, e sempre, por
toda a tua vida.
1 — Protecdo a alma
A alma, comoespirilual que ¢nto pode ser
atingida pelas desgracas ¢ acidentes materiais dé:
te mundo, O seu perigo 0 perigo moral do pe-
eado e, como consegiiéucia déste, a condenag
eterna,
Mas, ha real perigo de condenaymo-nos? E?
Jesus Cristo que o diz: “larga é a porta e espacosa
é a estrada que leva 4 perdicio, ¢ muitos siio os
que tomam por elas. Que apertada ¢ a porta que
Jeva A vida, que estreita a sua estrada, e como sio
poucos os que por elas trilham!” Ha, pois, real pe-
rigo de condenarmo-nos. Nao é pois de admirar
que em {io constante perigo de trilharmos o mau
caminho, nos tenha dado Deus Nosso Senhor um
anjo da sua cdrte celeste para proteger-nos, guiar-
nos, conduzit-nos!
Além disto pode ser que nao sejamos tio es-
pirituais que prefiramos a vida sobrenatural_ aos
prazeres do mundo, e que por outra parte nos falte
Animopara seguir pela estreita senda do céu. Por
outro lado a experiéneia dos esforcos passados, nos
pode desanimar. Sempre a entrar no bom cami-
nho, e sempre a déle ver-se afastado! Nao obstante,
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 29
de pé a sentenca do divino Mestre: s6 sera sal-
vo quem perseverar até o fim.
,Pois bem, para animar-nos no bom caminho,
para reconduzir-nos a Ele, quando transyiados, é
que nos deu Deus o santo Anjo da Guarda. Essas
consolagdes espirituais que sentes na pritica da
virlude, no exereicio da mortifieacao, na remincia
wos desejos da carne, quem é queie infunde? O
leu Anjo da Guarda, que assim te quer snimar a
prosseguires no bom caminho. E de quem é essa
voz que te chama quando transviado, que te repre-
onde no intimo do teu coragio, que te admoesta e
como que te conyida a tornar ao bom caminho?
Dolew Anjoda Guarda. Fis o que faz juntode tua
alma o tex Anjo da Guard;
E pode ser que perseveres no bom caminho
mas que sofras terriveis assaltos do deménio. O
dleménio, como diz 0 apéstolo S. Pedro, como um
lio a rugir ronda por perto, & procura de uma
presa para devorar. Far-lhe-i frente o teu Anjo
(la Guarda (desde que tu mesmo te nao entregues
ioinimigo), po-lo-4 emfuga, enché-lo-4 de temor
por sua virlude sobrenatural, livrar-te-i das suas
malhas, enfim ser o teu eseudo, o teu defensor,
©teu libertador.
Particularmente encantadoras, dentre os mais
comuns exempiares da arte erista, sf0 as imagens
los santos Anjos. Que beleza sobrenatural nao res-
numbra nessa pinturas, e como vém vivamente
expressos ai os trés oficios do santo Anjo da Guar-
— de guarda, arrimoe escudo, ou seja, de gui
protetor e defensor! E° guia, pois aponta para o
, e indica 0 caminho que para li nos leva; é
urrimo, pois di o apdio de seu potente braco 20
30 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
inexperiente infante que conduz; é defensor ¢ li-
bertador, pois com seu simples olhar fulmina ao
horrivel dragdo que a ameagi-los se lhes atraves-
sa no caminho, (16)
As oracdes da Igreja assinalam ésses mesmos
irés oficios dos Anjos. A oragio do Anjo da Guar-
da, que nos ensina o catecismo, é uma das mais
elas que compés a piedadecristi — toda repleta
de sentimentos de confianga, reconhecimento da
bondadede Deus ¢ humilde submissao. Confianea:
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador; re-
conhecimenio da bondade de Deus: j& que a ti
meconfion a piedade divina; humilde submissao
sempre me rege, guarda, governa e ilumina,
Amém. E ai eslio’ expressos, ao mesmo tempo, 08
trés oficios do Anjo da Guarda; é éle com efeito,
‘© zeloso guardador, que rege, que governa, que
ituinina,
E digamospor iltimo que, como verdadeiro
guarda, guia e apdio, os anjos de todos se dedica-
To e socorrer-te “tomando-te nos bragos”, como:
enérgica e belamente o exprimea S. Escritura, pa
ra quenao (e venhas a magoar nas pedras do ca~
minho: in manibus portabuntte, ne forte offendas
ad lapidem pedem tuum (ps. XC).
2— Protecdo ao corpo
‘Também 0 nosso corpo esta exposto a pe-
tiyos neste mundo e por isto também éle é objeto
\los cuidados dos santos Anjos da Guarda. Nao sb-
mente de luz das almas e sua guarda “illuminato-
vs animarum, castodes earum”, os apelidaram os
ilores eclesiasticos, mas também de zeladores
\los, nossos corpos e defensores dos nossos bens
“selatores corporum, defensores bonorum”. (17)
Sao freqiientes os passos da Sagrada Escritura
im que 08 anjos aparecem protegendovisivelmen-
Ww _vida,'os haveres ou a fama dos seus devotos.
Mas éste nao é 0 modo mais comumdeprote-
jer-nos. Igual protecao éles nos dispensamsem que
ne Hos mostrem aos olhos do corpo. E.é tao eficaz
« salutar quanto & que dispensayam fazendo-se
Visiveis e palpaveis. E’-lhes, pois aplicdvel a sen-
enea de Seneca, a saber, que faz parte do benefi-
vio, 0 oculto e 0 segrédo em que éle é feito.
Cheia, com efeito, esta a nossa vida désses
veultos favores. Quantas e quantas vézes, princi-
jalnente em nossa mais tenra idade, nao arrosta-
hes perigos de que ainda nao sabemos como sai-
mos ilesos! A quematribuir tio manifesta, ainda
que oculta proteedo? Aquele Anjo Anjo de Deus
{jue conosco esti para proteger-nos a alma e 0
worpo.
E,de certo que uma das grandes satisfacées que
loremos no eéu sera a de conhecer éste oculto e
tante amigo de t6da a nossa vida, assim como
ntimeros beneficios que nos fizeram, E como
(G7) Assim 0 autor dos sormées ad fratr. in er, sorm, 48.
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32 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
erescera entdo a nossa amizade para com éste bem-
-aventurado espirito! Que duleissima e eterna ami.
zade, sob os olhares do Pai Celeste, em companhia.
de todosos santos de Deus!
!
3 — Protegdo em ludo, e sempre, por téda a nossa
vida
y
O desabrochar de uma vida!... Grande mis-
tério, maravilhosa coisa!,.. Comecar a existir &
comegar a tomar parte nas lutas desta vide, é can
didatar-se a umtrono no céu, é expor-se ao perigo
das encruzilhadas que nos podem fazer transviar.
E 6 no coméco do caminhar que se escoihe ©
caminho a seguir. E’ claro que a crianca nao esta
emcondigées de poder escolhé-lo, Escolhem-nos
os pais — oh que grande responsabilidade! Os
pais sio os anjos visiveis da crianca. Os Anjos da’
Guarda sio 0s Anjos invisiveis, Ambos velam por’
esta tenra vidinha que comeca — e oxald saibam.
6s pais cooperar com o Santo Anjo de Deus!
Para éles nao hi essa inyersio de valores
muita vez adotada pelos pais, em que os interésses:
espirituais da crianea, que sio os de maiores con-
seqiiéncias para a vida e para a morte, sio pos-
postos aos interésses simplesmente materiais e na~
turais da vida.
Apenas ubre os olhos o pequenito & luz do
anundo, pde-se-Ihe a0 lado o amvivel protetor, a
cered-lo dos cuidados que inspirama sua fraqueza’
€ pequenez. Mas nfo se limita a proteger-the a)
vida do corpo, Ble sabe que hi uma vida infinita
mente mais valiosa: a vida sobrenatural, que &
participacao da mesma vida de Deus. Ble sabe que!
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 33
jancinha pode participar dessa yida, in-
wirporando-se pelo santo batismo, a Cristo, que de
\liveito a possui, Da sua parte faz 0 que lhe é possi-
Vel para que, aquiescendo a suas inspiragdes, le-
\ein-no Togo os seus pais & pia batismal.
Mas eis que ja desponta a luz da razio,E’ en
lin que se the apresenta 0 Anjo de Deus como guia
© jlustrador dessa mentezinha que entao comeca a
efletir, como orientador qdaquele coragiozinho
(we comeca a tomar consciéneia de que ama, A
wi) mente ha de procurar 0 Autor da Vida, eo seu
do ha de amé-lo comtédas as suas foreas. O
vuminho por onde leva 0 seu protegido é 0 cami
hho do bem, que é sempre ladeado pelas barreiras
dle uma edueacio de todo sdlidamente erista,
E para_as lutas do espirito, que com o uso da
‘ioj4 prineipiam, arma-o comas armas do eris~
lio, armas espirituais que Ihe sfo ministradas no
eramento da Confirmacao, Mas 0 mundo € se-
(lutor, e hoje como nos dias de Sodoma a carne
‘ompe o caminho do homem. ..
Um impulso natural no homem,radicado nas
jrofundezas do seu sér, ameaca o adolescente que
hinda ignora os recursos de vida, que em si possui,
e que pode deixar-se arrastar aovicio e & vida des-
regrada, Observando 0 Santo Anjotudo isto, e a
imperigo tao intimo éle opde um remédio igual-
iente intimo, que desea ao émago do coracio hu-
mano e ai ponha a virtude e a inclinacao a todo
hem. E éste remédio & a Eucaristia,
E. ao par da Eucaristia, esta a devogiu a Ma-
via Santissima. Inspirando-Ihe © amor de Maria,
» Santo Anjo Ihe inspira um remédio igualmente
lulimo e duravel, que the purifica os afetos, Ihe
34 P, AUGUSTO FERRETTY, 8. J.
transforma interior da alma em taberniculo de
Jesus.
‘Vem os trabalhos, os dissabores, as lutas pelo
pio quotidiano. E j4 um consélo o sabermos que
temos ao nosso lado um Anjo de Dens, e que éle
J4 possui, o que possuiremos depois dos trabalhos
da vida. Mas, alémdisto, que fortalezasde animo
nio inspiram aos homensde fé sincera os Santos
Anjos da Guarda! Que paz na velhice, que sere-
nidade na illima enfermidade, que conformidade
na morte!
E 6 éste 0 caminho por onde, desde a sua ju-
ventude, vai o Anjo da Guarda levando o seu pro-
tegido: Proverbium est: udolescens iuxta viam
suam, etiam cum senuerit, non recedet ab ea. 0
adolescente, ainda depois de velho, nao se afasta-
ra daquele caminho que tomouem sua juventude.
Felizes portanto, daqueles que desde a sua juven-
inde seguem pelo bom caminho,figis as inspira
goes do Santo Anjo da Guarda!
Elogiientemente S. Bernardo: solicitos tomam
parte emnossas alegrias, confortam-nos em nos-
sas penas, instruem-nos em nossa ignorancia, em
nossos riscos nos protegem, a tudo prévidos aten-
dem: sollicite congaudent, confortant, instruunt,
protegunt, providentque omnibus, omnes in omni-
bus. (18)
Felizes de nds se desta verdade nos soubésse-
mog persuadir! Que ventura {é-los ao nosso lado
nas viagens, como companheiro, na enfermidade
como médicos, como amigos na adversidade, como
sapientes conselhciros nas dividas e perplexid
(18) Ep. LXXVITE, ad Sugerium.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 35
lox, poderosa ajuda nas fadigas e desinimos da
vijvada que trilhamos, qualquer que seja ela!
Jovem cristo, jovem congregado, € a ti, so-
hvvtudo, que me dirijo. Invoca o teu Anjo da Guar-
lu was dificuldades dos teus estudos, ¢ aos demais
lilulos, seus para contigo, éle ajuntara mais éste
Aly celeste preceptor e mestre teu!
Mas nao é tudo. Nao ha durante o dia ocup
civ alguma, em que naonos assista 0 Santo Anjo
‘iy Guarda,’ Esta foi a ordem que éle recebeu de
Hieus: guardar-nos em todosos nossos eaminhos —
in omnibus viis, Neste mesmoinstante em que Iés,
joyem carissimo, contigo 0 Santo Anjo seinclina
wibre esta piedosa leitura, e te ajuda a torni-la
proveitosa para a tua vida pratica. E depois desta
leilura iras porventura reerear-te de alguma for-
jna: contigo estara o Santo Anjo. Contigo éle ira
ho teu colégio, contigo estara & mesa, ¢ velando o
few sono permanecera quando te deitares a dor-
mir. E. dormir: e despertarés manba se-
xuinte... E de joehos em terra, fards a tua ora~
‘i9. E quem a Tevara ao trono de Deus? O teu An-
j da Guarda, tal como foi visto por S. Jofo em
luna de suas visdes.
A oracio nos une a Deus, nos aleanga as gra
gas necessirias & nossa salvagio. Nao ha, por éste
tivo, ato Hosso em que mais se compraza o ca-
rilativo espirito celeste, Dizem-nos os santos que
quando rezamos nunca estamos 56s: assistem-nos
0s Anjos de Deus, rejubilantes sobremodo, na exul-
do de sua celeste alegria! Sendo assim, continua
nera_a alegria dos Anjos, se continua for a nossa
oracdo, conforme ao ensinamento de Cristo nosso
Kedentor: “& preciso sempre orar e nunca deixar
36 P, AUGUSTO FERRETTI, s. J.
de fazé-lo”, Na verdade nada mais desejam os
Santos Anjos, com tanta solicitude, do que trans-
formara nossa vida emumacontinua oracao. (19)
Carireto V
REVERENCIA DEVIDA AOS SANTOS ANJOS
Sao guia, ajuda, defesa nossa os nossos Anjos
da Guarda, Um tal fato, tio magnifico, tio certo,
tao fecundo para 2 nossa vida espiritual, é justo
que tenha a devida repercussio na nossa atitude
perante éles, e em geral na nossa conduta. Qual,
pois, deverd ser a nossa conduta perante os Santos
Anjos? S. Bernardo: devemos reverenciar-lhes a
presenca, corresponder comsincera devoeiio sua
benevolente dedicacdo, ¢ ter absolula confianca na
sua protecdo — “reverentia pro custodia, devolio
pro benevolentia, fiducia pro custodia”.
Nao podia resumir melhor o Santo doutor as
nossasobrig: para com os anjos de Deus. Que
saoéles, na yerdade? Em si mesmossao espirilos
nobilissimos; com relacio a Deus, sio supremos
ministros seus — e por isto Ihes devemos reverén-
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0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 37
‘in, Com relagio a nés mesmos, vimos que sio
Jioxsa guarda, nosso apdio, nosso escudo: e poristo
Iliws devemos devocdo e confianea,
‘Trés pequenos pardgrafos: continua presenca
ly Santo Anjo — reveréncia que de nds requer
‘sa presenga — modo pratico de jamais faltar-
lies a0 respeito,
Caviruco VI
O QUE SINGULARMENTE OFENDE 0S
SANTOS ANJOS
Nao ha pecado, evidentemente, que nfo ofen=
da os Anjos da nossa Guarda, Nao ha pecado,
portanto, que por nds nao deva ser evitado por
respeito A presenca do Santo Anjo de Deus. H,,
entretanto, alguns pecados que os ofendem mais
gravemente. E? mister aborrecé-los profundamen-
te e eviti-los com todo o cuidado para nao des-
gostar ao amiyel protetor nosso e zeloso gu:
de nossa alma.
E’ facil compreender que pecadossejaméstes,
se consideramos os Santos Anjos de Deus sob os
irés aspectos seguintes: com respeito a Deus, se
Criador e Senhor, com respeito a éles mesmos, €/
comrespeito a. nés, os homens.
Com respeito a Deus, sio ministros zelosis-
simos seus: espirito administradores... ‘Todo p
cado, portanto, que ofende diretamente a majes-
tade de Deus, éIhes igualmente profundament
injurioso e profundamente os ofende.
Com respeito a si mesmos sio purissimos es
piritos. Quer isto dizer que, no sendo, como os
homens, compostos de carne e espirito, sio de
todo isentos dos atos carnais e sensuais inerenti
& natureza humana. Todo ato sensual, portanto,
nfo permitido por Deus Nosso Senhor, todo ato
carnal nao dirigido pela razao, de todo repu,
a sua purissima e toda espiritual natureza.
Enfim com respeito aos homens sio os se
guardas e nada tém mais a peito do que a sua sal
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 43
vacio: “mist propter cos qui hereditatem capient
wulutis”. Ora, hi um pecado que se opde a essa
iissio dos Anjos: é 0 pecado de escdndalo, O
eseandaloso leva as almas A perdicaéo como os
os da Guarda salvagao. Eis, portanto, a ter~
‘a espécie de pecado que os Anjos grandemen-
lv abominam.
Cariruno VIL
0 AMOR QUE DEVEMOSA BSSES NOSSOS
CELESTES PROTETORES
Umamigo verdadeiro nio é somente aquéle que
nos néo ofende, E? sobretudo aquéle que com ami~
zade afetuosa paga a amizade que Ihe votamos.
Se quisermos viver da nossa fé e fazer do esplén-
dido dogma da guarda dos Santos Anjos um apoio
poderoso da nossa vida espiritual, ¢ indispensavel
pagar-Ihes com amor a amizade que éles nos de-
dicam,
Os trés pequenos paragrafos que seguem —
© amor que os Anjos nos tém; o que Ihe devemos;
ca sua’ alegria emse verem correspondidos — pre-
iendem ajudar-te, com 0 auxilio de Deus, a pagar
essa divida de amor.
1 — 0 amor que 0s Anjos nos tém
Ha duas espécies de amor. O amorde con-
cupiscéneia e 0 de benevoléncia, Pelo de con-
eupiseéneia procura, o que ama, nao o bem do
sér amado, mas o bem, a yantageme a ulilidade
propria, E pelo de benevoléncia inicamente o
hom, proveilo © vantagem de sér amado.
Ora, nem os Santos Anjos (como dizia Séneca
a respeito de Deus (de benef. IV, c. 9) precisam
dos nossos favores, nem nés Ihos’ podemos fazer.
“Nee ille collato eget, nec nos ei quidquam con-
Jerre possumus”.
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 53
Na yerdade, os Santos Anjos sfio bem-aven-
dos em Deus, no eéu: de que mais podempre-
cisar?_ que utilidade ou vantagem de nés, miseros
mortais, podem auferir? Portanto o seu amor para
nosco é um purissimo amor de benevoléncia, e
ids sOmente amor, de nossa parte, lhes podemos
lar
“Os Santos Anjos nos amam,diz S. Agostinho,
por trés motivos ou causas: por causa de Deus,
por nossa causa, e por causa de si préprios. Por
causa de Deus, porque Deus nos ama também, e
comtais extremos; por nossa causa, porque Thes
somos semelhantes na nalureza racional; por cau
a déles préprios, porque nos querem sentados na-
quueles tronos supernos dos Anjos que prevaricaram
(S. Ag. De dilig. Deo, cap. 3; S. Bernardo, Sermo
I, in festo S, Michaelis, n. 4).
A estas razées do sett amor, ainda outras Ihes
podemos juntar, Amam-nos, porque é grande a
ayersio que sentem pelos demédnios, capilais ini-
migos da natureza humana, Amam-nos porque nos
yéemto amados de Maria Santissima, queridissi-
ma Rainha sua. Amam-nos, porque intensamente
nos ama Jesus, nosso Redentor, e Rei dileto seu.
“Se 0 nosso Rei — assim faz Origenes falar os
Anjos — 0 Unigénito Filo do Padre, desceu do
céu e desceu revestido de um corpo humano, se
Ge de mortal carne se vestiu, levou a sua cruz €
morreu pelos homens; que mais esperamos nés,
nés, (Anjos seus), setis ministros, que faremos?
(Hom. I in Ezech,
Maravilhoso espeticulo aos olhos de quem sabe
contemplar! Trés fontes purissimas de amor, de
que prorrompe, intenso e veemente, o amor dos
Bd P, AUGUSTO FERRETTI, 8. 5.
Anjos para com os homens! E’ um amor nio de
merosdesejos, naode estéreis afetos, mas de obras,
mas constante, duradouro comoa vida, longo como
a eternidade!
Naoinsistiremos mais nos fatos que provam.
© amor dos Anjos para com os homens. Apenas
citaremos ainda uma profunda observacao de S.
‘Tomas, que se resume nisto: Tédas as obras sa-
lutares e meritérias que fazemos, sio outros tan-
los favores dos Santos Anjos, pois sem a sua ajuda
e cooperacéo ndo as lograriamos fazer. Mas ¢
as textuais palavras do santo e angélico douto
“o homem pode, por si mesmo, cair em pecado,
mas nao pode produzir obras meritérias, sem 0
auxilio divino, o qual lie é dado mediante 0 mi-
nistério dos Anjos. Eles, porlanto, concorrem para
iddas as nossas boas obras (I. p. g. CXIVa. 3).
2— A nossa divida de amor
umacoisa que a mesma natureza nos ensi
(lei natural) que aquéle que ama e faz bene-
jos a outros, deve encontrar, nestes tltimos,
amore reconhecimento, E quem transgride a tio
sagrado preceito, manifesta seu proprio coracao
vasio de afeicdes, “sine affectione”, como diz S.
Paulo (II, Tim.), E sem amor, tido como ingrato,
é de todos aborrecido. Nada, na verdade, mais
natural.
Mas 0 amor crisido, abrange no s6 os amigos
mas também os inimigos.
E se aos inimigos devemos amat, quanto mais
aos amigos!
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 55
Se aquéles, assim argumenta S, Agostinho,
(ue sao objeto das nossas obras de misericérdia
su de cujas obras nés préprios somos objeto, sio
vhamadosjustamente nossos préximos, é claro que
iio, preceito, que nos foi imposto, de amar o nosso
proximo,também estdo incluidos os Santos Anjos,
pois éles cotidianamente exercemjunto a nés inu-
eis atos de misericérdia” (De doctr. Christ.).
Ainda mais longe podemos ir, ¢ ajuntar que
éss¢ preceito compreende especialmente os Santos
Anjos, pois sio, depois da bendita Mae de Deus e
Mae nossa, Maria, os nossos mais assiduos e libe-
rais benfeitores.
Véem-se por vézes certos santos cultuados com
ma constante € nunca satisfeita devoeio, por cer-
los devotos, que se confessam objetos das mais
ussiduas ¢ estimayeis gracas e favores, Mas creio
(ue se pode afoitamente afirmar que nenhumsan-
10 do céu pode ter de nés ewidado mais assiduo
© operoso do que 0 que de nds tem aquéle Anjo
que foi destinado por Deus a ser junto de nés, em
toda a nossa vida, 0 nosso fiel guardador. E’justo
portant, que a nossa correspondéncia e amor, a
hossa devocdo é gratidao para com o Santo Anjo
(la Guarda nao seja em nada inferior & devocio
© amor para com qualquer outro dos santos de
Deus.
Mas sejamospriticos. A prova do amor sio
s obras. Ora, a epistola da festa dos Anjos da
(Guarda nos oferece um belo conselho: & preciso,
para corresponder a0 amor do bom Anjo de Deus,
ouvir a sua voz. Isto resumetudo, Mas eis a dita
lico: “Assim disse 0 Senhor Deus: Eis que en-
iarei o meu Anjo; éle te precedera ¢ te protegeré
56 P, AUGUSTO FERRETTI, . J.
no caminho e te introduzira no lugar que eu te
preparei, Respeita-o ¢ escuta a sua vor, e guarda-te
de 0 desprezar; porque éle nao te perdoaré quan-
do pecares, pois néle 0 meu nome (autoridade)
esta. Se esculas a sua voz e fazes o que te digo,
eu serei o inimigo dos teus inimigos e afligirei os
quete afligem, pois 0 meu Anjo caminhara adian-
te de ti",
Na verdade bem freqiientemente nos fala 0
Santo Anjo ao coracao. Entio é preciso ouvir a
sua voz.
Vivos raios de Inz, muitas vézes atravessam a
obscuridade das nossas faculdades mentais, e, de
siibito, se nos descobre ao conhecimento as ver-
dades elernas e o nada das coisas da terra: ¢ a
voz do Santo Anjo.
Outras vézes sio nodes interiores que nos
queremarrancar do pecado, afastar das suas oca-
sides, levar A prdtica do bem, a oragio, aos sa-
cramentos, 2 obediéncia, ao estudo —
tantas vozes do Anjo da Guarda. Oucamo-las, por-
que, como diz S. Ambrésio, as internas vozes dos
Anjos saooutrostantos convites e ordens de Deus,
de Quem sao éles obedientes ministros: “Angelo
rum verba mandaia sunt Dei” (De Virginit).
Ha um caso, sobretudo, em que ¢ mister estar
hem atento a essa yor do Santo Anjo, ¢ bem dé-
cil as suas mogoes: é 0 caso do chamadoaoestado
sacerdotal ou simplesmente ao estado religioso.
Com efeito, pode o cristo ser chamado a dois
estados de perfeicio: ao sacerdotal, simplesmen-
te, ou seja ao estado de padre secular (que nio
pertence a nenhuma ordem ou congregacio reli-
oe
0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 37
iilosa), e a0 de religioso, nas congregacdes e ordens
religiosas,
‘Num como noutro o homem se consagra e
prende a Deus com vineulos especiais. No. pri-
mciro estado, além de fazer voto de castidade,
contrat o sacerdote a obrigacdo de trabalhar no
hem das almas, debaixo da obediéncia do bispo
le sua diocese.
No 2: estado, de religioso (que pode ser tam-
him sacerdotal, ou nao), abracam-se_plenamente
os trés grandes’ conselhos evangélicos, que sio a
vondigao do estado religioso, e a0 mesmo tempo
os eaminhos mais seguros para a perfeicio, Isto,
6, 0 religioso imola a Deus as proprias riquezas,
com 0 voto de pobreza; 0 préprio corpo, com o
volo de castidade; e a propria vontade com o
dle obediéncia.
Nao ha diivida que so grandes os sacrificios
que acompanham éstes dois estados, e especial-
inente o segundo. Mas aquéle que se vir chamado
por Deus Nosso Senhor, tenha por certo que a
ca do Senhor e a assisténcia do Santo Anjo
se unirgo para aplainar qualquer dificuldade, e
suavizar qualquersacrificio. Além disso se Deus
pede o sactificio & porque pode compensé-lo com
as_mil vézes mais preciosas: “todo aquéle
que deixar a sua casa, ou os irmaos, ou asirmas,
out 0 pai, ou a mae, ou a esposa ou os filhos,
suas terras, por causa do met. nome (por
ha causa), receberé o céntuplo (em recompen-
na), e possuira a vida eterna’. (S. Mat. XIX, 29)
Avalie-se agora se vale a pena fazer tal sacri-
ficio.
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3B P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
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0S SANTOS ANJOS DA GUARDA 61
Cavireco VII
AINDA A NOSSA DIVIDA DE AMOR
Duas partes compreende a nossa divida de
imor: amor de reconhecimento ¢ amor de repa-
magia.
Do amor de reconhecimento ja falamos no ca-
pitulo anterior, Resta-nos 0 amor de reparacio.
EY éle necessirio?
Basta fazer um exame de consciéncia servin-
dlo-nos da leitura que fizemos até aqui, Temos
sido para com o Santo Anjo da Guarda aquilo
que, deveriamos ser? Correspondemos, do modo
devido, ao beneficio da sua continua assisténcia?
‘Yemo-lo amado? Temo-lhe dadoalegria? ‘Temos
inerecidoos seus especiais euidados, ou, pelo con-
Inivio, temos desmerecido alé os seus enidados
juais comuns?....
Reparar é pagar ou restituir amor. Deviamos
‘mor aos Anjos e nao Tho pagamos no tempo opor-
luno; pagé-lo-emos agora pela reparacio.
Capacitar-te-és da necessidade desta restitui
(io pensando na nossa ma correspondéncia para
comog Santos Anjos, na sua paciéncia para co-
huseo, € em como Thes podemos pratieamente dar
wilisfacdo,
1
1 — A nossa md correspondéncia aos cuidados do
Anjo da Guarda
, P ‘
Um rapido olhar a nossa vida passada nos
1
conveneera de uma coisa: que os nossos pecados
62 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. 5.
foram {io numerokos que nos seria impossivel
conti-los. Mais ficil nos fora contar as estrélas
do céu,
Masvamos restringir 0 campo de visio do nos-
so passado. Assestemos os dculos de alcance de:
nossa _meméria para as fallas de omissio somen-
te. Aparecerio como enormes rombos no batel
do nosso viver, rombos tio numerosos que teriam
sido suficientes para nos fazer naufragar.
E, no cntretanto, houve alguém que previ 0
perigo e procurou eviti-lo, procurou advertir-nos,
procurot’ mesmo mover-nos da nossa inéreia com
fas suas mogoes interiores: foi 0 nosso bom Anjo
da Guarda. Nao lhe prestamos ouyides. Fizemos_
com éle © que nao fariamos com os nossos amigos,
quando, interessados pelo nosso bem. Porque a
éstes, pelo menos, damosouvidos, prestamos aten-
co As suas razdes, Mas para com o Santo Anjo,,
nemisto fizemos!
Ouiros rombos, ainda menores, yeremos ainda
so as imperfeicdes cometidas nas boas obras,
oracdo, assistéucia A Santa Missa, e outros deve
res piedosos. Ese tais imperfeicdes nao foras
simples resultado da fraqueza humana, mas mi
voniade, que ofensa para o Anjo da Guarda! Ni
verdade, {do grande ofensa & no fazer um favi
como fazé-lo de ma vontade.
Mas mais ha que ver nas faltas de comissi
pecados positivos, de pensamentos, palavras
obras, Que pesada carga para o nosso pobre bi
lel. Realmente, se nao socobrou foi s6 devido
misericordia de Deus, ¢ a nosso fiel guardador!
E os pecados de escindalo? Quantas vé
no fomos nds os eulpados dos pecados alheik
03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 63
\jliantas vézes naofizemos o bastante para causar
1 ruinespiritual do nosso préximo?
Como é grande, portanto, a nossa diyida de
wr reparador! Quanta alegria nao roubamos
iv quem justamente a merecia! E’ 0 caso de dizer
com o santo J6: peceavi et vere deliqui. Realmen-
wl. pequei, e muito pequei! Se o meu Anjo
(i Guarda fésse capaz de tristeza, eu Ihe teria
enchidode dor ¢ pranto os dias de sua missio jun-
{oa mim!
— O amorpaciente e benigno com que nos
folerou-o Santo Anjo da Guarda
“Pequei e muito pequei, e no recebi 0 que
merecia emcastigo: et uf eram dignus non recepi”.
Nem sequer nos faltou, depois de lantas faltas, a
imizade do Anjo da Guarda. No entanto, uma
ujiitia smente basta para separar velhos amigos,
converter em ddio a antiga amizade,
E isto por que? Porque a amizade humana
\ motivos humanos se fundamenta, e éstes sto
iustiveis, Nao assim a amizade que nos tém os
Anjos. Fundamenta-sé em motivos iespirituais,
{nis como o amor de Deus, de quem somosfilhos
ile adocdo, 0 preco de nossa alma, que foi o San-
sue de Cristo — ¢, éstes motivos sto constantes,
lnutiveis. Constante ¢, portanto, a amizade que
hos tém os Anjos, apesar das nossas culpas. Nao
Ini diivida que estas enfraquecem a sua amizade
pura conoseo, tanto mais quanto maior fora nossa
nilpabilidade, e menores as atenuantes da falta.
Entretanto é sempre verdade o que diz S. Pe-
ro Damiao: “Todos os dias ¢ de muitas manel-
64 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
ras que ofendemos aos nossos Anjos da Guarda,
4 ofensa acreseentamos muitas vézes a negtigéne
cia em arrepender-nos. les, porém, ainda qu
freqiientemente sofram de nés tantas injuirias, (
Jeram-nos, nio obstante, e de ndés se compade-
com (28).
Bemsabe o médico paciente tolerar as inj
ring do frenético que nao se quer deixar tratar,
a éle volta muitas vézes, apesar das afrontas, até
yé-lo de todo curado. Assim procede para cono:
co o santo Anjo da Guarda: assiste-nos, exort
nos, move-nos interiormente, e jamais se apa
do nosso lado, agenciando diante de Deus a ni
salvacio. "Oh prodigio de caridade, excla
o mesmo Pedro Damiao, prodigio de todo ina
dito entre os homens!...”
A garidade, diz 0 Apéstolo, & paciente, &
nigna: carilas patiens est, benigna est. Ora,
é na verdade a caridade do santo Anjo para
nosco, caridade paciente, caridade benigna: p
liens ‘est, berigna est; Tudo sofre, tudo suport
omnia suffert, omnia sustinet.
tac <= te
Sé, enfim, como Jesus, 0 grande amigo de to-
dos os que sofrem, de todos os enfermos,de todos
5 aflitos, levando-Ihes 0 teu consdlo, a tua ajuda,
Sé apéstolo, faze com que as tuas palavras ¢ os
leus exemplos s6 possam conduzir ao bem. Faze,
sobretudo, com que tenhas imitadores nesta sélida
devoedo aos Anjos, reparte com os leus irmaos em
isto o fruto que dela colhes. Assim, muitos, por
(uaindustria, prestarao aos santos Anjos a honra
que tu Lhe roubaste com as tuas ofensas. Oh, en-
\iofaras condigna reparacao, entio poderas estar
sequro de que vendo em ti o santo Anjo acdes tio
contrarias As que antes havias praticado, de todo
se esquecer do passado, tal como se nunca o pas-
nado houvesse existido (30).
Caviruto 1X
“SANTO ANJO DO SENHOR,
EU TENHO CONFIANCA EM Vos!”
0 yerdadeiro devoto do santo Anjo da Guarda
tem néle, naturalmente, a mesma confianca que a
criancinha, pequenina, tem em sta Mamie, Su-
pérfluo é estarmos a exortar a uma crianga a que:
tenha confianga em seus pais.
Da mesma forma, ao que cré na presenca do
seu Anjo, e sabe pela 18 que ésse espirito celestial
vela sobre as nossas almas com 0 afeto e solicitude:
de uma mie, supérfluo nos parece ainda exorti-lo
a essa confianca.
Ora’ quem confia se entrega, E’, pois, nosso
dever entregar-nos ao santo Anjo da Guarda e
confiar-nos & sua solicitude.
E’ o Santo Anjo o melhor guarda de nossa
alma — a confianga que néle devemos depositar
6 sem limites —comespecial confianca devemos
a éle recorrer em algumas ocasiées — eis o que
exporemos neste capitulo.
hias, meu ‘
Passados poucos dias chegou Sara com seus
servos e rebanhos. Nido eabem emdescricdes a
alegria, a exultacdo e giudio que nesses dias en-
sheram aquéle lar.
Mas aosdois Tobias, pai e filho, Thes parecia
que tinkam uma grande divida a saldar. Como
ugradecer e recompensar devidamente a Azaria pe-
los seus beneficios? “Que podemos dar a éste
santo homem que veio contigo?” perguntava_o
velho pai, “Que Ihe podemos dar_emproporcdo
dos seus beneficios?” replicava o filho. Por fim,
concordaram em the dar metadede tdas as rique-
zas que tinham trazido da Média.
Chamaram, entio, a Azaria, e, cominstancia,
Ihe faziam os seus oferecimentos. Mas o Santo
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03 SANTOS ANJOS DA GUARDA 101
“Nao temais, disse 0 Anjo. A paz seja con-
voseo.
nquanto estive em yossa_companhia, por
Vontade de Deus estive: bendizei-o, pois, e canta
vs seus Touvores.
“Parecia-vos que eu comia e bebia convosco:
mas eu me sirvo de um alimento invisivel e de
uma bebida que nao podeser vista pelos homens.
“Mas ja & tempo de tornar aquele que me
enyiou. Quanto a v6s, bendizei a Deus e narrai
todas as suas maravilhas”, Dito isto, desaparecen
dle diante dos seus olhos.
Por trés horas ficaram Tobias e seu pai pros-
(rados por terra bendizendo e louvando a Deus.
Depois levantando-se, a todos contavam os favo-
res que Deus Ihes havia feito. Ainda viveu 0 ve-
tho Tobias quarenta ¢ dois anos. E feliz em sua
velhice, partiu empaz para a outra vida, Antes de
morrer, chamou 0 filho e sete jovenzinhos, seus
netos, € assim Ihes falou: “Ouvi, filhinhos, a
éste velho pai.
Servi, com coracio sincero, ao Senhor nosso
Deus, e procurai fazer aquilo que Lhe agrada, Re-
comendai a vossos filhinhos que fagam obras de
justicn e esmolas, que se recordem de Deus, lou-
vando-o em todo tempo com coracao sincero ¢ com
{das as suas foreas”.
Depois the aconselhou sair de Ninive e trans-
portar-se para a Média,
Assim fizeram éles. Morlos pai e mie, Tobias,
comtodos os seus se passou a casa do sogro, em
Rages, onde prosperamente viveu anos longos ©
felizes,
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0 SANTOS ANJOS DA GUARDA 103
Deus os cercou de esplendor; ¢ tiveram grande
médo.
Porém 0 Anjo Ihes disse: nfo temais, por
que eis que yos anuncio uma grande alegria, que
lera todo o povo. E’ que hoje vos nasceu, na
cidade de Davi, o Salvador, que & Cristo, 0 Se~
nhor,
E éste é¢ o sinal com que o reconhecereis:
Achareis uma criancinha envolta em panos, e dei-
tadinha numa mangedoura,
E, sibitamente, apareceu com o Anjo uma
multidao da milicia celeste, louyando a Deus,
dizendo: “Gloria a Deus, nas alturas < paz na ter-
ra aos homens de boa vontade”.
Cariroco UI
EXEMPLOS TIRADOS DA HISTORIA
ECLESIASTICA
0 Cristianismo, no decorrer de sta histéria, fiel
& doutrina biblica e aos ensinamentos dos apésto-
Jos, tambémnos fornece belos ¢ numerosos exem=
plos de manifestagdes dos santos Anjos emfavor
dos homens.
Deixamosde lado a devogdo dos grandes eris-
tdos e dos santos em geral pelo Anjo da Guarda,
pois isto, de comum,se encontra em quase todas as
vidas edificantes que nos legaram os nossos ante
passados.
Quanto aos favores obtidos pelos santos dos
seus Atrjos, apenas mtencionaremos os principals.
Assim, foi um Anjo que livrou do cireere a S,
Felix de Nola, e 0 conduziu sio ¢ salvo ao santo.
bispo Maximo, Os Anjos confortam aos santos
fonio e Respicio em seus tormentos, quandoa él
condenados naperseguicao de Bitinia. O grandeSi
medo Estilita, que obedecendo a uma inspiraea
do alto, passava a sua vida de peniténcia no
de uma coluna, é assistido na Ultima lula, & hore
da morte, por um amabilissimo Anjo do Senho1
Segundo narra Joao, o didcono, um Anjo,
forma de peregrino, ajuntou-se aos doze pol
que S. Gregério Magno,fazia sentar & sua mesa
servia, quando ja eleito para a cadeira de S. Pe
E proprio S. Gregério nos conta em seus diailo,
numerosos exemplos de protecdo dispensada pel
Anjos em favor dos seus devotos. Um Anjo d
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 9
perta do sono aS. Raimundo de Penaforte e 0 con-
vida a rezar; serve de guia a S. Domingos e o re-
conduz ao conyento; indica 0 caminho a S, Feliz
Benicio e o reconforta abundantemente com um
maravilhosoalimento.
Na vida de S. Nicolau de Tolentino se narra
uma coisa maravilhosa, a saber: alguns meses an-
tes de sua morte ouvia tédas as manhds as melo-
dias celestiais dos Anjos, ¢ assim foi advertido de
sua morte proxima, E nos trinta e quatro anos de
enfermidade de S. Ludwina, bastas vézes Ihe apa-
receram os Anjos. Néo menos maravilhoso ¢ 0 que
se 1é nas revelacdes de grandes santos, tais como S.
Brigida ¢ S. Maria Madalena de Pazzi, a saber: que
os santos Anjos da Guarda nao somente nosassis-
temdurante a vida, mas também nos acompanham
ao tribunal de Deus, visitam-nos ¢ nos consolam
nas chamas do Purgatorio,
Entretanto, pelo interésse que despertame pe-
la autoridadehistérica dos autores que os narram,
os exémplos seguintes merecem ser para aqui
transladados comos seus pormenores.
1 — Aparicdo de S. Miguel Arcanjo no
Monte Gargano.
Tanto na Sinagoga, dos Judeus, comonaIgreja
Catdlica é reconhecido S. Miguel Arcanjo como es-
pecial protetor e guarda, tal comose Ié no livro
oficial de oragdes dos sacerdotes — o breviario
(dia 8 de maio). Devemo-lo portanto, reconhecer,
como nosso insigne ¢ assiduo patrono.
Al Santa Igreja varias vézes o invoca, em suas
oracdes, durante o dia, E nés, comofilhos seus
120 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J,
déceis 20 ensinamento dos seus exemplos, igual
mente lhe devemos prestar cotidianamente um hue,
milde tributo de reveréncia, amor e confianga.
E durante o ano,so duasas festas em que
Igreja lhe presta a homenagem pomposa de suas
festas litirgicas. No dia oilo de maio, ela come-
moraa aparicao de S. Miguel Arcanjo sobre o mon-
te Gargano; e no dia vinte e nove de setembro faz
meméria do mesmo santo Arcanjo, “quando em
seu nomesobre ésie mesmo montefoi consagrada
uma igreja de tdsca fabrica, sim, mas ornada de
celestial yirtude”.
Ora,se ésse fato merecen umatao grande con-
sideracao por parte da Igreja, deve éle ser de im-
porténeia capital, e por isto o narraremos pormé-
norizadamente.
Vivia no século V na cidade de Siponto, ao
pé do monte Gargano, um pastor, que tinha preci=
samente o nome de Gargano, Era rico em
nhos e pastagens.
Ora, acontecen que umdia fugiu-the uma
suas reses, e indo-The o pastor no encalco, foi 41
‘contra-la no alto do dito monte, & entrada de
grula,
O animal era feroz, e por isto Gargano
solveu mati-lo, Tomou do arco, fez pontaria,
Ihe despediu umaflecha certeira. Mas esta, cot
se fosse agarrada no ar por uma mao invisis
voltou-se de siibito no espago e veio ferir 0
prio Gargano que a atirara.
Grande foi o espanto dos que o acompanhi
vam. Mas, no sabendo explicar 0 mistério e n
ousando aproximar-se da gruta, correram &
dade a informar o bispo do extraordinario aco
tecimento.
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122 P, AUGUSTO FERRET, s. J.
<———
Missa, experimentaras em ti um grande aumento
de fervor e faris rapidos progressos em todo ge-
nero de virtudes.
=
12 — Licdes de sublime santidade dadas pelo
Santo Anjo da Guarda,
4
Estas licdes de santidade so a continuaeio das
que Jemos nocapitulo precedente. Sao, portanto,
também, extraidas da vida da santa penitente,
Margarida de Cortona. i
“Mostra-me, disse umdia cla ao seu Anjo da
Guarda, mostra-me com que sinais podemos conhe-
cer os virtuosos e perfeitos amigos de Deus.” —
Respondeu-lhe o Anjo: “Os perfeitos amigos de
Deussao os que tém 0 corac&o inteiramente desa~
pegado das coisas criadas e 0 tém unido tinica-
mente a Deus, suspirando porPe,dia e noite, com
todo o impeto do seu coracao”,
— E quais sio, ajuntou a santa, as virtudes a
queIhe sio préprias?
A primeira, replicon 0 anjo, é uma profunda
humildade, & imitacZo e por amor daquele que se
hhumilhouaté A morte na Cruz, A segunda é uma
perfeitissima caridade. Isto pésto, amigo de Dens &
aquéle em que se cumpre a divina palavra, beati
mundo corde, bem-aventurados os puros de co
racio.
E’ amigo de Deus, continua ainda 0 Anjo,
aquéle que nega a si mesmo, ou melhor, que sé
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 149
mata a si mesmo por amordeCristo, nao, porém,
com punhais ou semelhantes instrumentos, mas
sim por meio da mortificacdo da prépria vontade,
e queesta pronto a sofrer qualquer pena e a mes~
ma morte, pelo nome deCristo, se tal coisa fésse
necessiria em defesa da fé catdlica. Mata-se, por
outro Jado, por amor de Cristo, aquéle que com a
peniténcia mortifica os seus sentidos.
E’ amigo de Deus aquéle que tem verdadeira-
mente compaixao e se apiada dos pobres e desva-
Tidos, aquéle que sempre fala a verdade, aquéle
cuja pureza de vida transparece na honestidade
absoluta dos seus costumes.
¥? amigo de Deus quem procura por amorde
Jesus Cristo ajudar os seus irmios em seus traba~
thos e sofrimentos, tomando-os a si, preferindo que
éle mesmo e set préximo sofra pemiria de
viveres, de vestes ¢ habitacio.
E’ enfim amigo de Deus aquéle que se entris-
tece ¢ se aflige com a desgraca alheia, seja embo-
ta o desgracado seu préprio inimigo; e que, sem
sombra de inveja, se alegra de coraciio com a sua
prosperidade”.
Belas palavras, sublime lieko. Mas nao passa,
quanto havemos referido, de umestreito tesumo
das provas de bondade do Anjo de santa Marga-
rida para com ela. Tio freqiientes eram as suas
aparicdes, to benignas as suas palavras, que che-
gou a duyidar a santa da autenticidade de tais
aparicdes. Nao seria, pensava ela, 0 proprio es-
Pirito das trevas transformado em Anjo de luz...
A mais, pecadora comose julgava, nao the parecia
possivel que Jesus, sua Mae Santissima e os seus
Anjos pudessem comunicar-se com ela tio intima-
mente.
TT
)
150 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
Incumbiu-se Jesus Cristo de Ihe tirar esta div
vida, que era como um espinho, que se The alte
yessava no coracio; “Como poderia_o dembnlu
disse-Ihe Jesus, infundir-te no coracéo tio
alegria, @e, que dela e para sempre esti privadi?
Nao tendo'em si essa alegria que tu experimeny
tas, tudo faz éle para ta poder roubar” (46).
Ah, que a muitos, entretanto, principalmepta
jovens ‘inexperientes, rouba o demonio, a pi
alegria do coracio! E como amarga entao o
se afastado alguém do servico de Deus!...
ra a sua divina Majestade conceder, a todos
les que em tal estado se encontram, a graca
dobrarem humildemente ao péso de tal soft
de vollarem ao caminho que leva a0 céu.
13 — Bondade usada pelos Anjos para com
‘almas inocentes
* bem claro que os Anjos no escapain,
regra geral, amamos de preferéneia e com mi
lermura ¢ espontaneidade aos que se nos seu
iham,
Uma criatura yerdadeiramente angélica,
dadeiro Anjo em carne mortal foi santa Rose
Lima, E, para gléria da nagio peruana, fol
a primeira flor de santidade que germinou em t
ras de América Meridional. 4
Era ainda crianca quando resolyeu constr
wma celazinha para recolher-se em oragao, pr
téncia e meditacao das coisas celestes. Ora, ui
=
da Guarda de Raimundo, E, por que? Para que
Raimundo pudesse prestar & Virgem o obséquio
de suas oragées, ¢ entreter-se com Ela em filiais
coléquios.
Comefeito, j4 nfo podendo um dia reprimir 0
afeto que o levava para perto de sua Mae do Céu,
resolveu se de caminho para a igreja — de
certo inspirado j4 pelo mesmo santo Anjo que,
assim, como que se oferecia a substitui-lo no pas :
toreio. Viu, pois, de stibito, a0 seu lado, 0 santo
Anjo da Guarda,’ Era amiyel e todo resplendente
de luz.
Reconheceu-o Raimundo ¢ the renden vivas
acées de-graca por tio assinalado favor,
Um favor que se recebe com reconhecimento
provoca a outro favor. Assim, ainda muitas ou-
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 165
tras vézes poude Raimundosatisfazer a sua devo-
¢o para com Maria Santissima, gragas aos cari-
fativos préstimos do seu Anjo da Guarda,
‘Tal prodigio tantas vézes repelido nio pod
passar despercebido, Muitos o testemunharam, i
elusive o pai de Raimundo, E diante de tal nao
hhouve quem duvidasse de que Deus destinava
Aquele jovempastor a grandes coisas. O pais de
Raimundo foi o primeiro a cooperar com a obra
de Deus. Tirou-o da guarda dos rebanhos e con-
sentiu que realizasse o que éle dizia ser 0 seu ar-
dente voto: “consagrar-se inteiramente a Nossa
Senhora”, para ser para sempre dela.
Para tal recebeu o habito de Nossa Senhora
das Mercés, e logo foi enviado para as distantes
terras da Costa da Barberia,
Sabe Deus que sofreu ai o seu servo pela sua
santa fé. Todo empregou-se no resgate dos eris-
tos prisioneiros e na conversio dos infigis da-
quelas paragens. Nao havia entio, como agora,
tantos meios de difundir noticias, Mas foram tais
as obras do grandesanto que, chegando aos ouvi
dos de S. S. 0 papa Gregorio IX, quis éste honrar
a ptirpura cardinalicia revestindo dela 0 santo hi
mem. Fé-lo, pois, cardeal da S, Igreja, com o ti-
tulo de S. Eustaquio.
Niio podem deixar de nos escapar & percepeao
todos os atos da vida sobrenatural deste grande
homem, Entretanto, umfato se deu nos iltimos
tempos da sua vida, que foi conhecido de muitos
como mais um sinal de predileedio por parte dos
santos Anjos, Foi a sua miraculosa comunhio,
recebida por mios dos Anjos, por no haver quem
166 P. AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
Iha pudesse administrar. A veracidade déste fato,
é alestada pelos padres Bolandistas nas suas vidas.
dos Santos, no dia 31 de agosto,
20 — Os sanlos Anjos amam asfamilias
verdadeiramente cristas.
S. Antonino, que foi elevado & sede episcopal
de Florenga no ano de 1413, passando um dia pela
pardquia de S. Ambrésio, ‘vin, sdbre uma pobre
casinha de uma pobre rua, um festivo céro de
Anjos. Sem trepidar, dirigiu-se A casa para ver
quem nela moraria. Entrow, ¢ viu uma pobre
vitiva com trés filhas que desealcas e mal vestidas
se uplicayam ao trabalho.
Vendotanto trabalho, e ao mesmo tempo tan-
ia pobreza, exortou-as a confianca em Deus, e lhes
prometeu’auxilio, De fato dew ordens para que
fossemsocorridas abundantemente, ¢ assim se fez.
Ora bem, passados tempos, passou o santo pe~
Ja mesmarua e pela mesmacasa. E que viu? Uma
miséria ainda maior: sobre a casa tripudiavam de-
moénios. Tomado de horror e dezélo, ainda desta
vex atravessou a soleira da porta confiante e li-
yremente, ¢ se vin no meio de suas ja, conhecidas
ovelhas, Pés-se a interroga-las, e descobriu que os
subsidios que éle ordenara que Ihes trouxessem,
Thes havia trazido uma abundancia a que n&o es-
tayamhabiluadas, e que, abandonandoo trabalho
a oracio, passavam o tempo emdivertimento €
passeios mundanos.
Da primeira yez que o santo la estivera, nada
dhes havia narrado do que vira sbre a sua casa.
Masdesta vez contou-lhes ambas as visdes. “Véde,
0§ SANTOS ANJOS DA GUARDA 167
disse-Ihes, quando em yossa casa reinaya o traba-
Tho e a oracao, nela se compraziam os santos An-
jos, qual se Ihes fora causa de contentamento 0
Yosso absoluto bem estar. Mas agora que com a
ociosidade ¢ a vaidade entrou nesta casa © abor-
recimento pela oracio, eis que nela se comprazem
no os anjos e sim os demonios". Continuou ain-
da a repreendé-las severa e paternalmente e aca-
bou exortando-as a que santificassem 0 domingo
com a oracdo, ¢ os demais dias da semana com 0
trabalho, E reduziu-lhes a mais estreita medida
as costumadas esmolas, (Bol. 2 de maio).
21 — Os santos Anjos ministrum a comunhdo a um
santo € jovem peregrino,
Estanislau Kostka viveu apenas 18 anos e foi
umgrande santo.
Tinha pouco mais de quinze anos quandose
dew 6 que vamos narrar.
Era polonés, mas cursava entéo as letras em
Viena, ¢ com o irmao Paulo, pouco escrupuloso em
religido, hospedara-se em casa de um senhor da
seila dos luteranos.
Nesta casa, objeto muitas vézes dos maustra~
tos do irmio, € cansado talvez por peniténcias ¢
vigilias, caiu emgravissima doenga, que em breve
© levou as portas da morte. Inocente como era,
nao eram “os médos da fria morte” que Ihe davam
cuidado, Era-o a iminéneia de uma morte sem vii-
tico, Morrer, sem poder dar umtltimo amplexo
no grande companheiro do nosso exilio, o divino
SenhorSacramentado! Pedi-lo a Paulo fora imatil.
Seria mais facil ao fanatico luterano, dono da
168 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
casa, permitir que entrasse o proprio deménio em
sua residéncia, do que Jesus sacramentado nas,
mios de um sacerdote catélico.
Que fazer entio? Estanislau yoltou-se para o
eéu. Recorreu a Santa Barbara de quem havia
lido que nao deixava morrer os seus devotos sem
c0,-e, foi onvido!
Umanoite, em que a violéncia do mal chega-
ra_ao auge, yeio a éle a santa acompanhada de
dois Anjos, um dos quais trazem suas mios a hés-
tia consagrada. A tal vista, mandow que o dio se
pusesse de joclhos, ¢ éle préprio, fazendo um su-
premoesforco, ajoelhou-se no leito, trés vézes di
se o “Domine non sum dignus”, abriu modest
mena boca e, recebendo a sagrada comunhao, to-
do se recolhen em longos e ferventes coléquios
com o seu Bom Jesus do Sacramento.
Nao morren, entretanto, desta enfermidade.
Mas nela recehera uma ordem que era_preciso
execular. Nossa Senhora !he havia aparecido com
© Menino Jesus e Ihe hayia dito que encontrasse
na “Companhia de sew Filho".
Paratal resolveufugir de Viena — pois todos
os de sua familia se opunham A execucdo de tal
designio. Trocou, pois as suas yestes de nobre
com um pobrezinho que encontrara naestrada, €
se pés a caminho de Augusta, donde foi a Dilin-
ga, ¢ finalmente a Roma,
Ora, durante tal_peregrinar, recebeu uma se-
gunda vez a comunhao das mios dos Anjos. Deu-
se isto numa aldeia por onde passara e onde vira
a porta aberta os fiis a orar. Pensando ser
uma igreja catélica, entrou, desejando receber a
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170 P, AUGUSTO FERRETTI, 8. J.
A tais palayras Gualberto, também éle ilumi-
nado por Deus, compreendeu que aquéle nao era
simplesmente im homem, mas o seu santo Anjo
da Guarda que visivelmente se The mostrava, para
assisli-lo, consold-lo e conduzir-lhe a alma ao Pa-
raiso (57).
Santa Margarida de Cortona, a santa peniten-
te de que falamos nos exemplos 11 e 12 também
eve, na hora de sua morte, a aparieio do Santo
Anjo da Guarda. © ocasifo désse aparecimento
foi a tentacho de desconfianea com que o demd-
nio procurava abaté-Ia nesse extremo momento da
vida.
Para conforté-la, pois, apareceu-the 0 Santo
Anjo visivelmente, Primeiramente se voltou para
‘@ deménio: “Que tens tu a fazer com esta alma,
The disse,"que 0 Senhor nosso colocara no céro,
Gos Serafins?” — Nao temas, disse em seguida a
Margarida, que eu, Guarda da tua alma, que &
templo do’ Senhor, sempreestou contigo.
igno de meméria é 0 que se conta de S.
Felipe Neri, Um dia, querendo moveralguns re-
igiosos, da Congregacto dos Clérigos Regulares
istro dos Enfermos, a que permanecessem
is ao seu santo instituto, contou-thes a seguinte
visio, com que o havia favorecido Deus Nosso
Senhor,
Enquanto, disse-lhes éle, dois dos nossos ir
méos assistiam alguns moribundos, vi que Ihes
estayam ao lado Anjos do Senhor, e ésses Anjos
\
ANJOS DA GUARDA
Em trés classes se podem distribuir as pra-
ticas de devocio para com os Anjos: priticas co-
tidianas, praticas semanais e priticas anuais. —
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 4181
Apresentaremos aos nossos jovens as praticas de
cada uma dessas classes, procurando, na sua es-
colha, atender & condic&o daqueles a quem dedica-
mos a nossa obrinha,
1 — Rezar de manhd ¢ & noite 0 “Santo Anjo
do Senhor”,
Costumam os Congregados de Nossa Senhora
implorar-Ihe de manha e a noite a sua celeste pro-
teciio com a recitacdo de trés Ave Marias. E? um
costume verdadeiramente pio e salutar. Nunca se-
ra de mais louvé-lo inculeé-lo. (63).
Mas, dize-me, 6 filho meu, no te parece justo
que depois de ter invocado Aquela que qual Mae
te foi dada por Jesus na cruz, inyoques também
Aquéle que Jesus te deu por guarda desde o pri-
meiro instante da ua existéncia?
Nenhuma oracio me parece mais indicada pa-
ra isto que a que acima mencionamos, e que repro-
duzimos abaixo:
Anjo de Deus, que sois a minha guarda, ¢ a
quem fui confiado por celestial piedade, iluminai
=me, guardai-me, dirigi-me e governai-me, Amém.
E’ umacurta oracdo, mas rica de sentido e de
beleza, ¢ assaz querida dos Santos, S. Luis de Go
zaga, p. exemplo, assim se refere a esta oracio em
(68) Basa flor de inocéucia @ de purera, de que ji talamos
cima, ¢ que se chamou Estanislan Kostka, vivia em Roma 10
novicindo ‘de S. Audré, quando adotou o eguinte costume, de
niuitos depois Igualmente sotade: de mana, logo ao despertar,
© & noite antes do deitar, voltavase para a Busilien do 8. Marie
Mair e inclinando-se & boatissima Mae de Deus, pedialhe que o
abengoasse. — Ver Bartoli, Vida do Santo,
182 P, AUGUSTO FERRETTY, s. J.
um escrito do seu proprio punho: (65) “Recomen-
dar-te-as ao teu Anjo da Guarda trés vézes por
dia de modo especial. De manha com 0 “Anjo de
Deus”, & noite com a mesma oracao, assim como
também de dia, quando fores visitar os altares da
igreja”.
S. Luis é 0 teu especial patrono, pois o é da
juventude em geral. Deves, portanto, imita-lo, Re-
citaris, como éle, de manha e & noite a tua oracio
ao Anjo da Guarda. E, para imité-lo ainda me-
Thor, recita-a tambémtodas as vézes que fores &
igreja ou emvisita ao $.S. Sacramento, ou para
assistir a Missa, ou para confessar ou para comun-
gar. O bom Anjo se fara de rogado, e pronta-
mente te vird emaurxilio para te ajudar a eumprir
exatamente com ésses grandes atos de nossa santa
religiao.
Sabes, além disso, que ganhards 100 dias de
indulgéncia todas as vézes que, ao menos com co-
racio contrito disseres essa oracdo, conforme foi
concedido pelo sumo pontifice, o papa Pio VI, em
Breve do dia 2 de outubro de 1795. — E se todos
os dias a recitares, ganharas indulgéncia plendria
nodia da festa dos santos Anjos, a dois de outubro,
se também nesse dia a recitares ¢ fizeres visita a
(65) Ceparl, Vida de & Tuts, p. TL, ¢ 8 — O venerdvel
servo do Deus Jo:é Benedito Cottolengo, tio eoneeHio pela Pie-
‘cola Casa delle Divinn Providenza, por’ éle fandada em Turkm,
reeamendava grandemente aos seua’abrigados a devorso dos Sane
tos Anjos, Juatamente com outras pratiens, presereveu também
‘8 seguinte, que todos deviam ywestar mutes’ de deitar-se: ease
tris vezes © “Anjo de Deus que sois a minha guarda’, com 6
‘beagos em crus, para que o santo Anjo da Guarda les assistisse
durante a noite ¢ para yuo dopressa os fizesse levantar de mankii,
= Guastaidi, Vida do V. Cottolengo, 1. V, e. 13.
0s SANTOS ANJOS DA GUARDA 183
qualquer igreja ou piblico oratério, para rezar
pelas intengdes do sumo pontifice.
A mais, esta indulgéncia plenaria pode ser ga-
nha “In arficulo mortis” por quempara ela esteja
disposto e haja recitado a oracio com freqiiéncia
durante a vida,
Mais ginda. O santo padre Pio VII concedeu
tal indulgéncia, plenaria, a ser ganha mensalmen-
te, num dia & sua escolha, por quem a haja reci-
tado todos os dias e visitar a igreja e nela rezar
como se disse acima. (66).
2— A 2feira consagrada aos Santos Anjos.
Umaoutra pratica dos congregados de Maria
a de Ihe oferecer todos os sibados algumobsé-
quio especial. (67).
Outro tanto costumam fazer todas as segun-
das feiras os devotos dos Santos Anjos.
Emsua honra alguns ouyem devotamente a
Santa Missa, outros fazem uma obra de caridade
qualquer, outros alguma mortificacdo, ou ainda,
recomendam-se com mais fervorosas oracdes a0
seu poderoso amparo.
Poderas imitar aos que assim fazem, marean-
do, logo apés 0 “Anjo de Deus” da manha a es
(66)__V, Raceolta a orasiont © pio oper, eve. Roma, ~ edit
1808, p, 386.
(67) Para devogto
adssir umparaexempla, ,SS.FoRoVirgen,
Rerehmans,conocido
rela
fume jenr em todon ov aibados e nes igilias tuba
u e terna com a por cordo
das tetas
Marla’Snatissnea, "Copa, vida do santo P, Il, 20.
184 P, AUGUSTO FERRETTI,§. J.
pécie de obséquio a oferecer-Ihe: “hoje (assim po-
dereis dizer a vos mesmos) honrarei o meu bom
Anjo invocando-o 0 mais freqiientemente que pu-
der, sendo obediente aos meus pais, aplicando-me
ao estudo, — e assim por diante,
Também esta bela pratica esta apoiada nos
-exemplosdossantos e poréles ilustrada.
© B. Pedro Fabro, por exemplo, deixou-nos
em seu memorial ou diario espiritual 0 que se-
gue (2): “Téda segunda feira tenho por habito
fazer meméria dos Anjos bons, Mas assim como
€ bom ter devocao para com os Anjos bons e in-
Yoci-los, assim também ¢ proveitoso pedir nesse
dia o auxilio de Deus e dos mesmos Anjos contra
8 espirilos malignos, que por tantas formas ten-
tam enganar-nos ¢ perder-nos.”
Enfim é a nossa prépria maeespiritual, a san-
ta Tgreja, quem tal nos sugere, quando designa a
segunda feira para o culto dos Santos Anjos, po-
dendonese dia, os sacerdotes celebrar a sua Missa
€ rezar 0 seu Oficio.
Santos(7)Anjos,
0 P.Grasset
p. 4 devoe.traz22, tate— protesto no seu ainda
Tratadoa tra
dos
Outros aulores
em, Homesdamente’o p, Guilherme Nakateni no Cacleste Palme-
tum
08 SANTOS ANJOS DA GUARDA 191
4 — Oragao de S. Luis de Gonzaga.
0°Santos e puros Anjos, 6 vés verdadeiramen-
te bem-aventurados, que de continuo assistis na
divina presenea, e que com to grande juibilo es-
tais contemplandoa face daquele celeste Salomao,
por quem fostes cumulado detanta sabedoria,fei.
tos dignos de tanta gléria e ornados de tantas
prerrogativas: vés brilhantes estrélas, que com tal
felicidade_resplendeis nese bem-aventurado eéu
empireo,infundi eu vos peco, em minha alma, os
yossos bem-ayenturados influxos, conservai sem
macula a minha vida, firme a minha esperanca,
os meuscostumes sem culpa, inteiro o meu amor
para, com Deus e para com préximo,
Rogo-vos, Anjos bem-aventurados, que com
vossa ajuda vos digneis conduzir-me como pela
mao,pela estrada real da humildade, por que vs
primeiro caminhasles, para que depois desta vida
eu mereca ver juntamente convosco a bem-aventu-
rada face do Pai Eterno, e ser contado em vosso
nimero também, no lugar de uma daquelas es-
trélas, que por sua soberba cairam do céu. (72).