OS PUROS DE

CORAÇÃO
Titulo do original em inglês: The Pure in Heart

WITNESS LEE

SUMÁRIO pg

1.Os puros de coração ........................................................................ 02

2.Remover tudo o que encobre a luz .................................................. 06

3.O primeiro passo depois da salvação: purificar-se do fermento ...... 11

4.Confessar os pecados e pedir iluminação ....................................... 16

5.Consagrar-nos ao Senhor ............................................................... 22

6.Lidar com a consciência .................................................................. 27

7.Viver segundo a consciência e viver perante Deus ......................... 33

8.Aos homens "isso" é impossível, mas para Deus tudo é possível.... 39

9.Poder tudo em Cristo ....................................................................... 44

10.A necessidade de lidar com certos itens no serviço a Deus ........... 49

PREFÁCIO

Este livro é uma coletânea de mensagens dadas pelo irmão Witness Lee, servo do
Senhor, em Taipé, Taiwan, em 1950. Contém dez mensagens que abordam a maneira
de uma pessoa salva progredir na vida [divina]: ser pura no coração, remover tudo o que
encobre a luz divina em seu interior, confessar os pecados, pedir a iluminação de Deus,
consagrar-se a Deus, lidar com a consciência, viver perante Deus e ter um serviço
adequado em Cristo. Essas mensagens estiveram ocultas por meio século; agora, que é
publicada, a abundância de vida nelas contida é uma vez mais liberada.
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CAPÍTULO UM
OS PUROS DE CORAÇÃO
Segunda Coríntios 3:16 diz: "Quando, porém,
algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe
é retirado". O véu está relacionado com o
coração. Alguém que busca o Senhor e quer
participar de Seu serviço deve trazer o
coração também. Infelizmente há um
problema: uma vez que uma pessoa vem, seu
coração vem e sua maneira de fazer as coisas
também vem. Devemos ver que Deus quer
somente nosso coração; as outras coisas
devem ser removidas e destruídas por Ele.
Todos os nossos pontos de vista e métodos
devem ser eliminados por Deus; Ele quer
somente nosso coração. Desde o princípio
Deus tem somente um propósito em Sua
obra, a saber, trabalhar-Se em nós. Por essa
razão, Ele deve ganhar nosso coração para
trabalhar-Se em nós.
O HOMEM É CONSTITUÍDO DE TRÊS PARTES:
ESPÍRITO, ALMA E CORPO
O homem é um vaso criado por Deus com o
propósito de contê-Lo. Usemos um copo
como exemplo. Um copo é um recipiente feito
para conter líquido. É inadequado usá-lo para
qualquer outra coisa. Da mesma forma, no
universo o homem é um vaso especial para
conter Deus. Se o homem não tem Deus
como conteúdo, não há sentido em sua
existência, pois foi criado especialmente para
ser usado por Deus. No entanto como Deus
pode ser colocado no homem? Provérbios
20:27 diz: "O espírito do homem é a lâmpada
do SENHOR, a qual esquadrinha todo o mais
íntimo do corpo". Isso indica que temos um
espírito em nós. Primeira Tessalonicenses 5:23
diz que nós, seres humanos, somos
constituídos de três partes: espírito, alma e
corpo. A parte exterior é o corpo e a parte
interior é o espírito. Entre o espírito e o corpo
fica a alma. A alma é nossa personalidade,
nosso ego, incluindo a mente, à vontade e a
emoção. Os sentimentos de alegria, raiva,
tristeza e prazer são as funções da alma que
pertencem à emoção. As escolhas e decisões
são as funções da alma que pertencem à
vontade. Os conceitos e pensamentos são as
funções da alma que pertencem à mente. A
alma é o verdadeiro" eu" que os psicólogos
chamam de ser metafísico algo que pode ser
sentido, mas não tocado.
Em muitos casos, certas coisas podem fazer
com que a alma de uma pessoa salva fique
cheia de dor e aflição, e ainda assim, em seu
ser interior, há uma alegria indizível. Isso prova
que além da alma em nosso ser, há um espírito
em nosso interior. Assim, às vezes, podemos
ficar tristes por causa da alma, mas a razão por
que podemos ficar alegres é que temos um
espírito. Quando nossa alma fica triste, o
Espírito Santo nos fortalece e dá alegria
interior. Visto que temos tanto a alma como o
espírito, temos dois sentimentos diferentes.
Isso também mostra que nós, seres humanos,
temos três partes: espírito, alma e corpo.
A LINHA DA VIDA DIVINA: DO CENTRO PARA A
CIRCUNFERÊNCIA
O propósito da obra de Deus é trabalhar-Se
em· nós e o principio de Sua obra é trabalhar
do centro para a circunferência. Por exemplo:
quando jogamos uma pedra na lagoa, formam-
se pequenas ondas na água que se espalham
a partir do centro, círculo após círculo. O
trabalhar de Deus em nós também é do centro
para a circunferência. O centro de nosso ser é
nosso espírito e a circunferência é nosso
corpo. O trabalhar de Deus em nós é
semelhante a colorir dentro de um círculo. Aos
poucos Ele acrescenta cor começando do
centro e espalhando-a até ficar tudo colorido.
Ele quer alcançar nosso corpo a partir de
nosso espírito.
Quando fomos salvos, usamos o espírito e o
corpo para receber o Senhor Jesus como
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Salvador, e o Espírito do Senhor entrou em
nosso espírito. Como resultado, temos Deus
no centro de nosso ser. Antes de receber o
Senhor, não temos Deus em nós; contudo, a
partir do momento em que O recebemos, o
Espírito Santo entra em nós, e passamos
Deus em nosso interior. Originalmente não
temos Deus em nosso espírito, alma e corpo,
mas quando nos arrependemos e recebemos
o Senhor Jesus como nosso Salvador, Deus
entra e obtemos a vida divina.
Toda vez que encontramos circunstâncias que
fazem nossa alma sofrer, ainda sentimos
regozijo e consolo interiormente, onde está o
Espírito Santo e a vida de Deus. A razão disso
é que o Espírito Santo em nosso espírito nos
dá consolo, sustento e suprimento. Porém
nesse ponto o Espírito Santo está apenas em
nosso espírito; ainda não entrou em nossa
alma. Desde o momento em que fomos salvos,
Deus começou a trabalhar em nós. Agora Ele
quer espalhar-Se do centro de nosso ser até a
circunferência, para que a mente, à vontade e a
emoção de nossa alma possuam o elemento
divino. Por fim, Ele quer encher todo o nosso
ser. Dessa forma, não teremos Deus somente
no espírito, mas O teremos em todas as partes
da alma. Nosso sentimento de alegria, raiva,
tristeza e prazer será saturado de Deus. Então
nosso ponto de vista será o ponto de vista
divino. Nosso sentimento de alegria, raiva,
tristeza e prazer será o mesmo de Deus. Como
isso é possível? É que Deus é expresso em nós.
Podemos comparar isso a um chumaço de
algodão que absorve tinta vermelha. A tinta satura
o algodão pouco a pouco até que, por fim, todo o
chumaço fique vermelho.
Hoje não importa quão espirituais sejamos, ainda
não somos espirituais por completo. Quando,
porém, a vida de Deus se espalhar de nosso
espírito para cada parte de nossa mente, emoção
e vontade, até atingir nosso corpo, fazendo com
que todo o nosso ser seja cheio da vida de Deus
e tornando nosso corpo glorioso, então seremos
totalmente espirituais. Mas isso só será
plenamente cumprido na vinda do Senhor Jesus.
Naquela ocasião nosso corpo será transfigurado.
Primeira Coríntios 15 diz que "é necessário que o
corruptível se revista da incorruptibilidade" (v. 53).
Não somente teremos Deus em nosso espírito e
alma, mas também em nosso corpo. Essa é a
linha da vida de Deus em nós.
O HOMEM DEVE COOPERAR COM DEUS E
PERMITIR QUE ELE TRABALHE
Deus quer trabalhar Sua vida em cada parte de
nossa alma, ou seja, em nossa mente, vontade e
emoção. Como Ele faz isso? O requisito básico do
trabalhar de Deus é que o homem coopere com
Ele; o homem deve permitir que Deus trabalhe.
Não é que Deus não trabalha, mas muitas
pessoas não permitem que Ele trabalhe. Quando
uma criança fica doente, não tem vontade de
tomar remédio. Quando a mãe a leva ao médico,
tanto o médico como a mãe esperam que ela
tome o medicamento, mas ela simplesmente não
quer. Do mesmo modo, não é que Deus não
queira ser formado em nós; nós é que resistimos
e não estamos dispostos.
Que fará Deus então? Os médicos e as mães
precisam saber que há três métodos para ajudar
as crianças a tomar remédio. Primeiro, podem
fazer um "truque": cobrir o medicamento com uma
camada de açúcar para a criança pensar que está
comendo doce; na verdade, está ingerindo o
medicamento. Segundo, podem alegrar a criança.
Quando ela ficar feliz e satisfeita, estará disposta
a tomar o remédio. Todos os médicos e
enfermeiros usam esse tipo de método para
"enganar" os pacientes, contudo sua intenção é
simplesmente ajudá-los a cooperar. Terceiro, se a
criança estiver relutante em tomar o remédio, os
médicos e enfermeiros aplicam-lhe uma injeção.
Essa é a maneira mais enérgica. Eles fazem isso
segurando suas mãos e pés, sem permitir que a
criança resista, e então injetam o medicamento
nela. Deus utiliza métodos semelhantes a esses
para preencher nossa parte mais interior. Alguns
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podem perguntar: "Acaso Deus usa truques dessa chorava e dizia que queria ser colocada no
forma?". Deus não usa truques. Ele é como os caixão junto com ela. Quando os irmãos viram a
médicos e enfermeiros que aparentemente situação, ficaram com o coração partido, sem
"enganam" os pacientes para fazê-los tomar o saber o que fazer. Alguns dias depois, no
remédio, mas na verdade o que querem é fazer entanto, essa irmã foi ver um irmão e disse: "Eu
com que cooperem. Com relação a Deus é a de fato agradeço a Deus. O modo como Ele me
mesma coisa; Ele quer que o homem coopere tratou é justo". Depois de dizer isso, ela
com Ele. começou a chorar. Se essas coisas não
tivessem acontecido, Deus não teria caminho
Havia um casal que foi estudar nos Estados para entrar em sua mente, vontade e emoção.
Unidos. Os dois eram incrédulos. A esposa era No entanto agora Deus pode encher todo o seu
filha de pastor. Ela tinha riqueza e posição, mas ser.
não tinha Deus, e sentia uma dor e um vazio
interior. Um dia Deus lhes concedeu uma boa VOLTAR O CORAÇÃO A DEUS PARA SER
PURO DE CORAÇÃO
criança. Eles gostavam muito dela e sabiam que
Se Deus quer trabalhar em nós, mas não
Deus a havia dado a eles. O casal disse: "Se
cooperamos, Ele usa algumas maneiras para
Deus não nos houvesse dado essa criança,
nos tornar dispostos a cooperar com Ele. Aqui
certamente não seríamos capazes de obtê-la por
vemos que, se queremos que Ele trabalhe em
nossa conta". No entanto eles somente receberam
nós, temos de cooperar com Ele; de outra
o presente, e não o Deus que lhes deu o
forma estamos a procura de problemas. Mas
presente. Eles gostavam da criança, mas não de
qual a maneira de cooperar com Deus?
Deus. Dois anos depois a criança morreu afogada
Primeiro, trata-se de nosso coração. Se
num rio. O casal ficou muito triste. Parecia que
queremos cooperar com Deus e permitir que
haviam perdido o céu e a terra. Foi nessa hora
Ele trabalhe em nós, primeiro precisamos voltar
que um cristão chegou até eles e disse: "No
o coração ao Senhor, pois os puros de coração
passado vocês somente queriam a criança que
verão a Deus. Um coração puro na Bíblia
Deus lhes havia dado, e não o próprio Deus.
refere-se principalmente a um coração que
Vocês tinham um filho, mas ele não lhes dava
deseja Deus. O próprio Deus é o objeto dos que
nenhum consolo". Depois que ouviram isso,
são puros de coração. Eles não querem
eles se ajoelharam na presença de Deus e
dinheiro, posição ou belas roupas e perfumes
confessaram seus pecados, dizendo: "ó Deus,
caros. Também não se atêm muito ao cônjuge
perdoa-nos, pois no passado ouvimos o
e aos filhos. Seu coração é exclusivo para
evangelho, mas não estávamos dispostos a Te
Deus. Mateus diz: "Bem.-aventurados os puros
receber". Dessa maneira, eles receberam o
de coração, porque verão a Deus" (5:8); e
Senhor, e Deus entrou neles. Deus sempre
Salmos diz: "Quem mais tenho eu no céu? Não
permite que coisas assim nos aconteçam para
há outro em quem eu me compraza na terra"
nos mostrar que precisam.os Dele. Havia uma
(73:25). Os puros de coração têm um coração
irmã em Xangai que era enfermeira. Ela se
tão puro que querem somente a Deus e nada
casou aos quarenta anos. Ela e o marido
mais.
tiveram um filho, a quem amavam muito mais
do que a Deus. A situação dessa irmã era como
Se os cristãos estiverem dispostos a permitir
um pedaço de madeira cheio de nó, que não se
que Deus trabalhe neles, a primeira coisa que
corta facilmente. Um dia seu filho morreu.
devem fazer é voltar-Lhe o coração. Deus não
Muitos irmãos foram ajudá-la. Quando a criança
tem caminho para trabalhar em muitas pessoas
estava para ser colocada no caixão, a mãe
porque o coração delas não está posto Nele.
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Não podemos dizer que não querem o Senhor;
elas O querem, mas também querem algo
além. As irmãs mais velhas desejam o Senhor,
mas muitas também desejam os filhos, e muitas
também desejam achar uma boa esposa para
os filhos. Muitos amam o Senhor, por um lado,
mas, por outro, amam o dinheiro e o respeito
dos santos. Eles vêm ao local de reuniões da
igreja para limpar as cadeiras, o que mostra
que realmente amam o Senhor; no entanto,
depois de limpá-las, se os irmãos responsáveis
não demonstram apreço por isso, eles ficam
incomodados. Então, se dissermos que não
amam o Senhor, fazemos injustiça com eles,
mas, se dissermos que O amam, fazemos
injustiça com o Senhor. O ser interior deles é
muito complicado, mas o amor deve ser muito
simples. Uma esposa deve amar o marido não
pelo dinheiro que ele lhe dá. Do mesmo modo,
os cristãos devem amar a Deus não porque Ele
lhes dá dinheiro. No entanto muitos O amam
como Aquele a quem podem recorrer quando
precisam pedir algo. Salmos 73:2 diz: "Quanto a
mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco
faltou para que se desviassem os meus passos".
Até mesmo o salmista disse que pouco faltou para
que se desviassem seus passos; qual é nossa
situação?
Às vezes podemos ficar perplexos e nos
perguntar por que os puros de coração nem
sempre são prósperos, enquanto os que não
amam o Senhor são tão prósperos. A resposta a
essas perguntas fica clara quando entram.os no
santuário de Deus (v. 17). As outras pessoas
somente ganham alegria e paz terrenas, mas os
puros de coração ganham o próprio Deus. Esse é
o bem do que tem coração puro. Temos de nos
lembrar de que a razão por que Deus não pode
trabalhar em nós é que nosso ser interior não está
limpo o bastante. É difícil Deus trabalhar em nós
se nosso coração não está puro. Uma vez que ele
não esteja adequado, nosso foco também fica
incorreto. É por isso que a Bíblia diz que, quando
o coração se volta ao Senhor, o véu é retirado (2
Co 3:16). Por essa razão, é difícil ver a obra de
Deus em muitos de Seus filhos. Todos os
problemas dependem de seu coração: se está no
dinheiro, nos filhos ou em Deus. Não há nenhum
proveito em julgar os outros nem em meramente
examinar as Escrituras. Somente há proveito para
nós se voltamos o coração ao Senhor. Alguns têm
metade do coração voltado a Deus e outros têm o
coração totalmente afastado Dele. Temos de nos
lembrar que quanto nosso coração é para Deus
determina quanto Deus irá trabalhar em nós. Que
todos sejamos puros de coração para com Ele!
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CAPÍTULO DOIS
REMOVER TUDO O QUE ENCOBRE A LUZ
Mateus 5:8 diz: "Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus". Segunda
Coríntios 3: 16 ainda diz: "Quando, porém, algum
deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado".
Esses dois versículos revelam que, para uma
pessoa ver Deus e receber Seu iluminar, o mais
importante é que já não esteja encoberta de
maneira alguma, ou seja, deve ter o véu retirado.
Os puros de coração verão a Deus porque não
estão encobertos por nada. Quando o véu é
colocado sobre o rosto de alguém, ele encobre os
olhos, mas, quando é retirado, a pessoa é capaz
de ver a luz.
REMOVER O VÉU PARA RECEBER LUZ
Ao remover tudo o que a encobre, a pessoa verá
a luz. Isso está baseado em 2 Coríntios 3: 16, que
revela que toda vez que os coríntios voltavam o
coração ao Senhor, o véu era retirado. Quando o
coração dos coríntios estava longe do Senhor, o
véu ainda ficava sobre seu coração. O coração
distante do Senhor era um véu. Toda vez que o
véu era retirado e o coração se voltava ao
Senhor, os coríntios recebiam o iluminar de Deus.
Portanto a razão por que o homem não recebe o
resplandecer de Deus não é que Deus não brilha,
mas que há um véu no homem. Se conseguir
resolver o problema do véu, ele verá a luz.
Mateus 5:8 diz que os puros de coração verão a
Deus, e 1 João 1:5 diz: "Deus é luz". Assim,
ninguém pode ver a Deus sem. ver a luz. Deus é
luz, e todo o que vê a luz está em Deus e
somente em Deus. Todavia a exigência de Deus é
que o homem seja puro de coração, o que
significa que tudo o que encobre o coração deve
ser retirado. Uma vez que o coração de uma
pessoa não seja puro e tenha mistura, essa
mistura se torna um véu. Somente os puros de
coração não têm véu nenhum; som.ente os que
não têm véu podem ver a luz.
Salmos 73: 1 diz: "Com efeito, Deus é bom para
com Israel, para com os de coração limpo" [o
vocábulo "limpo" também pode ser traduzido por
"puro"]. Essa é a gratidão do salmista. No
versículo 16 ele diz: "Em só refletir para
compreender isso, achei mui pesada tarefa para
mim". No entanto, ao entrar no santuário de Deus,
ele entendeu tudo (v. 17). Então no versículo 25 o
salmista declara: "Quem. mais tenho eu no céu?
Não há outro em quem eu me compraza na terra".
Isso é ser puro de coração. Quem é puro de
coração busca somente o Senhor no céu e deseja
apenas o Senhor na terra. Ser puro de coração é
viver na terra almejando som.ente a Deus e não
ter outro desejo além Dele. Quando nosso
coração é singelo e puro para com Deus, somos
os que não têm nenhum véu. Portanto a Bíblia nos
mostra que, para ver a luz, é necessário tirar o
véu.
REMOVER TUDO O QUE ENCOBRE A LUZ
Tudo no universo, com exceção do próprio Deus,
pode ser um véu para nós. Primeira João diz que
Deus é luz. Dessa forma, tudo o que não seja o
próprio Deus pode encobrir a luz de Deus em nós.
Com. exceção do próprio Deus, não há nada que
não seja um véu para a luz. Portanto precisamos
saber que, com exceção de Deus, tudo pode
tornar-se um véu para nós. Somente o próprio
Deus é luz, e somente luz não encobre luz.
Temos de nos lembrar que todas as outras
pessoas, questões e coisas além de Deus podem
encobrir a luz. Não devemos pensar que as coisas
boas não vão se tornar um véu para a luz. Na
verdade, o que impede que muitas pessoas vejam
a luz não são as coisas más, mas muitas coisas
boas.
Por exemplo, a busca da espiritualidade é algo
muito elevado. No entanto, mesmo isso pode
substituir Deus e se tornar um véu que impede a
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luz, fazendo com que o ser interior de uma pessoa
fique em trevas. Se estivermos dispostos a
acalmar nosso coração e ficar tranqüilos perante
Deus, logo nos daremos conta de que há muitas
coisas que nos encobrem, encobrem a luz e nos
impedem de ver o que é real. Quando uma
pessoa não é pura, embora ame o Senhor, seu
amor ainda é superficial. Ela ama o Senhor, mas
ao mesmo tempo ama também seu prestígio. Não
percebe que o amor por seu prestígio em vez do
amor pelo Senhor torna-se um véu, impedindo
que receba a luz.
Há um ditado: "O novato vê o exterior, o
experiente vê as profundezas". Um experiente
vendedor de tecido pode reconhecer se um tecido
é produto dos EUA ou do Japão simplesmente
tocando-o, sem sequer olhar para ele. O mesmo
ocorre com quem serve o Senhor; ele é
experiente em "tocar" os outros. Toda vez que
alguém vem até ele, sem o outro dizer nada, ele
reconhece sua procedência simplesmente ao
"tocá-lo".
O sentimento interior de um servo do Senhor é a
parte mais sensível para "tocar" os outros. A
ferramenta mais útil ao servir as pessoas é o
sentimento em nosso espírito. Quando
contatamos um irmão, podemos sentir que tipo de
pessoa ele é, mesmo sem ter conversado muito
com ele. Quando queremos falar-lhe algo,
primeiro temos de pesar, medir, se ele é capaz ou
não de receber nossa palavra. Se enquanto o
"pesam.os", sentimos que ele não será capaz de
receber o que temos a dizer, então é melhor
não dizer nada.
Às vezes as pessoas vêm até mim e me pedem
que lhes diga qual é seu problema, mas, por
respeito, não posso dizer-lhes. Não devemos
supor que os responsáveis pelas reuniões de
casa ou pequenos grupos sejam muito
avançados e estejam dispostos a largar tudo
pelo Senhor. Na verdade, uma vez que
toquemos sua respeitabilidade, talvez não
consigam superar. Certa vez um irmão veio
pedir-me que identificasse seu problema. Senti
que seu problema era que ele se prestigiava
muito, mas não podia dizer-lhe isso. Ele insistiu
várias vezes, então fiz um teste para saber se
ele podia receber uma palavra a esse respeito.
Eu lhe disse: "Seu problema é que você nunca
admite seu fracasso". Ele disse: "Como você
sabe?". Eu lhe disse que, embora o
conhecesse há muito tempo, nunca o ouvira
dizer: "Eu errei". Se alguém foi quebrantado e
disciplinado por Deus, deve estar disposto a
dizer: "Estou errado, por favor, me perdoe".
Mas aquele irmão respondeu: "Eu acho que
não". Ele não estava disposto a perder seu
prestígio. Esse é um exemplo de não conseguir
ver a luz.
Para poder ajudá-lo, mostrei-lhe um exemplo,
dizendo: "Um dia você começou a fazer algo
com sua esposa; era óbvio que não
conseguiria concluir, mas você insistia em fazê-
lo para que eu, sua esposa e outros
pudéssemos ver". Ele disse: "Você entendeu
tudo ao contrário. A situação não era essa".
Admiti que talvez não tivesse visto a situação
como era realmente. Portanto dois meses
depois, quando ele veio a mim novamente e
me pediu que identificasse seu problema, não
pude dizer-lhe nada. Alguns são capazes de
colocar o mundo inteiro de lado com exceção
de sua dignidade.
O maior problema entre os jovens é a
comparação. Se duas pessoas estiverem
trabalhando no mesmo lugar e uma for
elogiada, a outra ficará incomodada por dentro.
Esse sentimento encobre a luz. Quando outros
recebem elogio, temos certo sentimento;
quando nós recebemos elogio, temos outro
sentimento. Esses sentimentos são véus a
encobrir a luz e a fazer com que nosso coração
não seja puro. Que é um coração puro? Se
tenho coração puro, quando me disserem que
estou errado, não terei nenhum sentimento
especial; quando me disserem que estou certo,
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também não terei nenhum sentimento especial.
Quando me elogiarem, não terei nenhum
sentimento especial, e quando não me
elogiarem, também não terei nenhum
sentimento especial. Não desejo o elogio dos
outros; antes, desejo o próprio Deus. Se
quisermos muitas coisas e nossos desejos
forem muito complicados, então qualquer coisa,
mesmo nossa busca espiritual, pode tornar-se
algo que encobre a luz. Por exemplo, alguns
gostam muito de se gabar, então o gabar-se
torna-se um grande problema para eles. Sem
dúvida eles são muito amáveis e instruídos,
mas, porque não têm luz, simplesmente
gostam de se gabar. Em tudo o que fazem, têm
de se gabar um pouco. Isso é um véu para
eles. Se quisermos ver a luz, temos de remover
tudo o que nos encobre.
VOLTAR O CORAÇÃO AO SENHOR
Segunda Coríntios 3:12-18 é uma porção
maravilhosa do Novo Testamento. Por um lado,
diz que os filhos de Israel estão encobertos por
um véu; por outro, diz que, quando o coração
deles se volta ao Senhor, o véu é retirado.
Remover o véu não depende de outra coisa
senão de voltar o coração ao Senhor. Quando
o véu não é retirado, não há luz, mas, uma vez
que o coração se volta ao Senhor, o véu é
retirado. O véu refere-se a tudo o que
buscamos que não seja o Senhor. Quando
nosso coração se volta ao Senhor, o véu é
retirado. Todos os véus são provenientes de
nosso coração não estar centrado no Senhor.
Portanto o versículo 16 diz que, quando nosso
coração se volta ao Senhor, o véu é retirado.
Uma vez que nosso coração se volta ao Senhor e
O deseja de maneira pura e singela, tornamo-nos
puros de coração. Alguém puro de coração não
conhece nada; só o Senhor. Não deseja nada;
somente o Senhor. Alguém puro de coração não
cobiça nada no mundo nem no reino espiritual.
Ele pode dizer: "O Senhor, quem mais tenho eu no
céu além de Ti? Não há outro em quem eu me
compraza na terra". Seu coração é puro e não
está encoberto por nenhum véu. Além do mais,
quando os véus são retirados, a luz entra e a
pessoa logo passa a enxergar. Todos precisamos
perceber qual é nosso problema: é que nosso ser
interior não é puro e ainda temos muita mistura
em nós. Portanto nosso coração precisa voltar-se
ao Senhor.
Alguns talvez perguntem: Como saber se estamos
concentrados em algo que não seja o Senhor?
Como saber o que é isso? E como saber se
estamos concentrados no Senhor ou em algo
mais? Na verdade, todos já sabemos. Todos os
problemas dependem de estarmos ou não
dispostos a ser quebrantados e receber a
disciplina da cruz. No exemplo anterior, o irmão
discutiu comigo e tentou justificar-se. Não creio
que ele não tivesse por dentro nenhum
sentimento negativo enquanto discutia. Nem creio
que uma pessoa que gosta de se gabar não tenha
sentimento semelhante. Todos têm esse tipo de
sentimento, mas a questão é se estão dispostos
ou não a acatá-lo.
Segunda Coríntios 3:16 diz: "Quando, porém,
algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é
retirado". O versículo 17 diz: "Ora, o Senhor é o
Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, ai há
liberdade". Quando colocamos esses dois
versículos juntos, eles dizem: "Quando algum
deles se converte ao Senhor [...] e o Senhor é o
Espírito". Que significa isso? O apóstolo escreveu
esses versículos próximos um do outro porque
sabia que as pessoas perguntariam:
"Você quer que eu me volte ao Senhor, mas onde
Ele está?". O apóstolo respondeu a essa pergunta
indiretamente, dizendo que o Senhor é o Espírito.
Quando as pessoas nos perguntam como é
possível saber se voltaram o coração ao Senhor,
devemos devolver-lhes a pergunta e questionar
se têm ou não liberdade interior. Você acha que o
irmão argumentador que mencionei tinha
liberdade? Creio que quanto mais discutia
comigo, menos liberdade tinha interiormente.
Quanto mais ignorava o sentimento interior e
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refutava minhas palavras, mais o espírito nele
ficava preso. Por fim, ele não terá nenhuma luz.
Uma vez que uma pessoa que gosta muito de se
gabar começa a fazer isso, seu ser interior fica
sem liberdade porque o Senhor Espírito está
preso nela. Devemos perguntar-nos: preferimos
voltar-nos a nossa gabarolice ou ao Senhor, que
não tem liberdade em nós?
Com certeza alguém que ama o dinheiro ou os
filhos mais do que o Senhor tem algum
sentimento interior. Todos podem testificar que
há um sentimento particular em nós quando
amamos o dinheiro; sentimo-nos amarrados e
oprimidos por dentro. Então quando abrimos a
boca para orar, os outros sabem que há algo
errado conosco: o Senhor em nós não está livre;
está preso. Se ainda amamos o dinheiro ou os
nossos filhos mais do que o Senhor, como não
ter um sentimento de inquietação? No entanto,
se estivermos dispostos a nos voltar ao Senhor
que ficou preso em nós, logo teremos liberdade e
seremos cheios de luz. Quais são as barreiras e
as coisas que buscamos que não são o Senhor?
Sem dúvida essas coisas nos deixam inquietos.
Quando nos sentimos inquietos ou
desconfortáveis a respeito de uma questão, isso
é uma barreira; é algo que buscamos que não é
o Senhor. Precisamos deixar o Senhor quebrar
essas coisas sem nenhuma objeção.
Quando vemos o zelo de alguns jovens, não
podemos negar que eles amam e buscam o
Senhor. No entanto ainda têm problemas
interiores. Embora cada um seja diferente, alguns
de seus problemas são bem parecidos. Ano
passado, quando não estavam dispostos a buscar
o Senhor e por Ele não tinham fervor, tinham um
problema especifico; este ano, em que estão
dispostos a buscar o Senhor e são fervorosos por
Ele, ainda têm o mesmo problema. Quando são
disciplinados num aspecto, têm esse problema
fundamental; quando são disciplinados noutro
aspecto, o problema ainda está lá. O problema é
que, toda vez que alguém acha uma falha no que
fazem, eles sempre arrumam uma desculpa.
Mesmo quando o erro é óbvio, eles ainda não
estão dispostos a admiti-lo. Eles não devem
esperar o Senhor mostrar-lhes o erro para depois
dizer: "Desculpe-me, eu errei". Na verdade, é raro
ouvir um jovem dizer isso. Quando alguém lhes
mostra o erro, eles não somente não estão
dispostos a admiti-lo, como também dão muitas
desculpas. Esse é um exemplo de que estão
encobertos, pois ficam relutantes em receber a luz
interior.
Se deixarmos de receber luz por muito tempo,
perderemos o sentimento interior e cairemos em
trevas. Quando outros apontam nossos erros,
devemos ser capazes de dizer: "Desculpe-me, a
culpa foi minha. Por favor, me perdoe". Se
fizermos isso, teremos clara compreensão da luz.
No entanto, quando outros acham defeito em
nós, podemos desculpar-nos, argumentando que
são erros inevitáveis. Além do mais, quando vêm
a nós novamente, podemos continuar a nos
defender. Isso indica que nosso ser interior está
completamente encoberto e em trevas. Quando
alguns discutem com o cônjuge em casa, têm um
sentimento de inquietação interior. Na verdade
todos têm esse sentimento, mas por fim, por
causa da constante prática de discussão, eles o
perdem. Portanto não devemos afirmar que
nossas atitudes são racionais.
Mesmo quando fazemos algo racional, não
devemos lutar por isso, porque até mesmo nossa
"racionalidade" tem um pouco de ego em si.
Desde que tenhamos luz e sentimento interior,
devemos aceitar o quebrantamento e a disciplina
que vêm com essa luz. Dessa forma, não
estaremos em trevas.
Precisamos arrepender-nos diante do Senhor por
nossa incapacidade de ver a luz. Na vida da igreja
lemos a Bíblia todos os dias, mas ainda assim
podemos não ter luz. Temos a Bíblia na mente,
mas não há nada de luz em nós. Também
servimos ao Senhor intensamente, mas não há luz
10
ou realidade em nosso serviço, e não sabemos
por que servimos. Não somente isso, enquanto
trabalhamos, nosso interior pode estar cheio de
confusão e trevas. Vivemos a assim chamada vida
espiritual dia a dia sem nenhuma visão espiritual
nova, e em nosso interior parece faltar algo.
Todos os dias levantamos cedo para ler a Bíblia.
Todo dia visitamos as pessoas e cuidamos delas,
e ainda assim não ter nenhuma nova visão ou
sentimento interior.
No entanto uma pessoa que vive na presença do
Senhor é renovada e brilha todos os dias. Toda
vez que ela vai ao Senhor, recebe luz. Essa não é
a luz que viu ontem, mas a nova luz que vê hoje.
Seu ser interior está sempre claro e certo da
direção de seu serviço e do mover do Espírito
Santo. Não somente sabe a direção do mover da
igreja, mas também conhece o propósito de Deus
para a igreja na terra. Seu sentimento interior é
sempre novo e claro. Esse tipo de pessoa sempre
aprende algo novo e recebe novo iluminar cada
dia. Quando as pessoas a contatam, embora
exteriormente não pareça muito carinhosa, seu
interior é fresco e novo, claro e transparente como
cristal. Alguns que são salvos, mesmo depois de
ter recebido a graça do Senhor, podem
comportar-se de modo grosseiro; o problema é
que seu coração não é totalmente puro para o
Senhor. Eles são muito complicados
interiormente, então, quando têm um sentimento,
não estão dispostos a acatá-lo. Todos temos o
sentimento em nós, no entanto nem sempre
estamos dispostos a receber o quebrantamento
que vem com ele. Essa má vontade é rejeição à
luz.
"ONDE ESTÁ O ESPÍRITO DO SENHOR, AÍ HÁ
LIBERDADE"
O homem não entra em trevas de uma vez;
pelo contrário, entra gradualmente. A direção
do sol é sempre da manhã para a tarde, da
tarde para o crepúsculo e do crepúsculo para o
anoitecer. O anoitecer, no entanto, ainda não é
o período mais escuro. Todos os homens que
entram em trevas, o fazem de modo gradual,
sem perceber o que acontece. É dessa forma
inconsciente que o homem é levado
gradativamente para algo que não é o Senhor.
Isso é resultado da falta de luz interior.
Portanto, se nos sentirmos inquietos ou
confusos em certa área, é hora de receber luz e
quebrantamento do Senhor. Se recebermos
constante quebrantamento diante do Senhor
dessa forma, a luz em nós brilhará mais e mais,
porque o véu em nós será removido pouco a
pouco.
Por exemplo, suponhamos que eu goste muito
de me justificar. Quando você me diz algo e
quero explicar-lhe a situação, meu ser interior
vai sentir-se desconfortável. Nesse momento,
devo logo aceitar esse sentimento, curvar a
cabeça e dizer ao Senhor: "ó Senhor, não vou
dizer nada; mesmo se me entenderem mal,
ainda não vou dizer nada". Não devemos
desobedecer ao resplandecer e ao sentimento
interior nem à visão interior. Uma vez que
tenhamos um sentimento do Senhor, devemos
submeter-nos a ele. Muitos podemos testificar
que sempre que paramos, logo há liberdade em
nosso espírito. Onde está o Espírito do Senhor,
aí há liberdade. Alguns sempre perguntam:
Como saber se nosso coração está voltado ao
Senhor? Sabemos isso quando nosso espírito
está livre. Quando discutimos com o cônjuge e
sentimos que nosso ser interior não está livre,
devemos imediatamente curvar a cabeça e
dizer ao Senhor: "ó Senhor, não vou discutir
mais". Logo que você pára, seu ser interior fica
livre, seu espírito é liberado e você é capaz de
louvar. Se agirmos assim cada manhã, nosso
viver diário será novo. Do contrário, se
continuarmos a discutir e a desobedecer ao
'sentimento, receio que o dia todo, de manhã à
noite, nosso ser interior ficará em confusão e
trevas, e nosso espírito não estará livre.
Quando nosso coração se volta ao Senhor, o
véu é retirado.
 CAPÍTULO TRÊS
O PRIMEIRO PASSO DEPOIS DA SALVAÇÃO: PURIFICAR-SE DO FERMENTO
Uma vez que alguém é salvo e se torna
cristão, deve conhecer os passos necessários
para progredir na vida cristã. A Bíblia nos diz
que depois de salvo, um cristão tem em si a
vida de Cristo. No entanto receber a vida do
Senhor é somente o começo, e não o fim. Ser
salvo e batizado e possuir a vida de Cristo é o
primeiro passo da salvação. Embora um novo
cristão tenha em si a vida divina, essa vida é
muito superficial; ele ainda não tem muito
progresso nela. Muitas pessoas foram salvas
há anos. Depois de tanto tempo já deveriam
ter um progresso significativo e profundo na
vida cristã, mas, visto que não receberam a
direção adequada e não possuem desejo
adequado de busca, não têm muito
crescimento em vida. Elas andam em circulas,
e sempre no mesmo caminho. Isso pode ser
comparado a alguém que anda pela cidade de
Taipé de manhã até a noite todos os dias por
cinco anos, mas nunca sai dos limites da
cidade, porque só anda em círculos o tempo
todo. Essa pessoa anda muito, mas nunca
avança; gasta muita energia, mas nunca
progride. Por que isso ocorre? É porque não
anda em linha reta, mas em círculos o tempo
todo. Em contrapartida, somente leva algumas
horas para viajar de trem de Taipé a
Kaohsiung porque o caminho é reto e direto o
tempo todo.
Muitos cristãos, contudo, não são assim.
Embora ouçam mensagens, leiam a Bíblia e
participem de reuniões o tempo todo, ainda não
progridem. Eles eram assim há cinco anos e
continuam iguais ainda hoje. Aparentam ter
pouco entendimento da doutrina, mas sobre a
vida do Senhor são ignorantes. Embora
possam entender Gênesis 1, Mateus 1, e
muitos ensinamentos da Bíblia, não entendem
o caminho do Senhor. Embora estudem a
Bíblia e participem de Cristo, estão alheios ao
caminho do Senhor. Ignoram totalmente o que
significa seguir o Senhor e tomar Seu caminho.
Progredir na vida cristã é semelhante a tomar
um trem de Taipé para Kaohsiung no sul.
Depois da primeira estação, Panchiao, e da
segunda estação, Taoyuan, por fim chega-se a
Kaohsiung. Todos os que têm avançado no
caminho do Senhor sabem que Seu caminho é
simplesmente dessa forma. O caminho do
Senhor é de "estação em estação", em vários
níveis e diferentes passos.
A primeira coisa que um salvo que deseja
tomar o caminho do Senhor deve fazer é
manter-se absolutamente puro, livre de toda
impureza. Podemos usar um exemplo. Quando
uma xícara é jogada na lata de lixo, e depois
recolhida, podemos usá-Ia de imediato? É claro
que não. Primeiro precisamos lavá-Ia e
desinfectá-Ia completamente, então poderemos
usá-Ia. Antes de lavá-Ia por completo,
certamente não poderemos usá-Ia. Se a xícara
não for lavada, não terá nenhuma função e não
poderá ser usada em nenhuma circunstância.
Da mesma maneira, somos como uma xícara;
se não estivermos dispostos a deixar o Senhor
nos limpar, Ele não poderá fazer nada conosco.
Se quisermos que o Senhor trabalhe em nós,
primeiro precisamos ser plenamente
purificados por Ele.
Agradecemos ao Senhor por ter nos salvado.
Antes de ser salvos, todos estávamos caídos
na lata de lixo do mundo. Na verdade comparar
o mundo a uma lata de lixo é superestimar seu
valor. Devemos dizer que o mundo é como
uma cova de adubo. Ele é mais fedorento do
que uma cova de adubo. Assim, antes de ser
salvo, todo o nosso ser estava contaminado e
cheio de "germes". Nenhum de nós era puro
nos pensamentos e emoções; éramos
totalmente impuros e malignos por dentro e por
fora. Porém o Senhor veio um dia; Seu
evangelho nos alcançou, Sua voz ecoou em
nosso coração, Seu Espírito compadeceu-se
de nós e fomos salvos. O Senhor nos resgatou
e nos separou do pecado e do mal. Embora
tenhamos sido salvos, nem todas as nossas
impurezas e "germes" foram plenamente
removidos. Eles ainda estão presentes em
nossa carne e conduta. Portanto o primeiro
12
passo a dar depois de salvos é permitir que
Deus nos purifique. Sem permitir que Ele nos
purifique, de modo algum começamos a andar
em Seu caminho. Além disso, se não
permitirmos que o Senhor nos lave, Ele não
terá caminho para trabalhar em nós.
Quer tenhamos sido salvos recentemente ou
há anos, temos de acatar essa palavra.
Embora o Senhor nos tenha "apanhado do lixo"
há muitos anos, até hoje não permitimos que
Ele faça uma obra de purificação de todos os
"germes" e impurezas que há em nós.
Podemos entender mais doutrinas, estar
familiarizados com mais mandamentos cristãos
e conhecer mais cristãos do que no passado,
porém ainda não demos um passo adiante. O
problema está aqui: permitimos que o Senhor
nos "apanhe do lixo", contudo nunca
permitimos que Ele nos torne puros e frescos.
Todas as impurezas e "germes" ainda estão em
nós. Então, para que trabalhe em nós, Ele tem de
esperar nosso consentimento. Quando Lhe
dermos nossa permissão, Ele fará a obra de
purificação em nós. Se estivermos indispostos ou
relutantes, Ele não terá caminho para nos
conduzir ou fazer essa obra em nós.
CELEBRAR A FESTA DA PÁSCOA E A FESTA
DOS PÃES ASMOS
Os filhos de Israel no Antigo Testamento tipificam
a nós, que fomos salvos pela graça. O fato de
celebrarem a Páscoa tipifica sermos salvos pela
graça. Eles foram salvos ao imolar um cordeiro e
aspergir seu sangue nas ombreiras e na verga da
porta. Hoje, quando recebemos o Senhor e
"colocamos Seu sangue sobre nós", o juízo e a ira
de Deus passam por cima de nós e somos salvos.
Logo após a Festa da Páscoa, os israelitas
guardavam outra festa, chamada dos Pães
Asmos. Não havia intervalo entre as duas. A
Festa dos Pães Asmos era logo após a da
Páscoa. Os filhos de Israel comiam a Páscoa na
noite do décimo quarto dia do primeiro mês do
ano. Nessa noite eles começavam celebrando a
Festa da Páscoa e na noite seguinte celebravam
a Festa dos Pães Asmos. O começo da Festa da
Páscoa pode também ser considerado o começo
da Festa dos Pães Asmos. Portanto, uma vez que
somos salvos e celebramos a Festa da Páscoa,
logo devemos celebrar também a Festa dos Pães
Asmos. Primeira Coríntios 5 diz: "Lançai fora o
velho fermento, para que sejais nova massa,
como sois, de fato, sem fermento" (v. 7a). Isso
quer dizer que uma vez salvos devemos lançar
fora o velho fermento. Que significa isso? Na
Bíblia o fermento representa a corrupção. A razão
pela qual a massa cresce é o fermento que há
nela. Há um elemento de corrupção no fermento
que leveda toda a massa em poucas horas. Então
o fermento na massa refere-se à corrupção.
Todos os seres humanos caídos têm uma vida
corrompida. Alguns podem perguntar: "Que você
quer dizer com 'vida corrompida'? Que é o
fermento em nosso viver?". Podemos usar um
jovem como exemplo. Todos conhecemos a
situação dos jovens. A mente de um adolescente
pode ser limpa e pura, mas quando ele entra no
segundo grau, talvez comece a ler romances.
Então esses livros começam a entrar nele como
fermento, até que um dia se torne azedo e fétido,
fazendo com que essa pessoa, que antes era
pura, aos poucos se corrompa.
Alguns dizem que os filmes são bons e podem ser
muito úteis se forem usados com propósitos
educativos. É verdade que em alguns aspectos os
filmes podem ser muito úteis, mas infelizmente
hoje em dia as pessoas fazem mau uso dos
filmes. Os pais sabem que o mercado está cheio
de filmes que não iluminam a mente dos jovens;
antes, estimulam neles a maldade. Muitas vezes,
embora o filme seja bom, surgem muitos
problemas devido ao ambiente inadequado em
que é assistido. Precisamos saber que os
cinemas são mais sujos do que os chiqueiros.
Alguns jovens me perguntam indignados:
"Também é errado assistir filmes sobre ciência ou
história?". Não há nada de errado em assistir
esses filmes, se são mostrados na escola, mas
não devemos ir ao cinema, porque esse ambiente
é sujo demais.
13
Também podemos ilustrar esse ponto usando um
calendário. Um calendário é bom e útil, mas
algumas pessoas gostam de imprimir neles figuras
impróprias. Que é isso? É fermento, que é
dispensado sutilmente ao homem e faz com que
muitos jovens azedem e cheirem mal. Os médicos
e os biólogos dizem que o mundo todo está cheio
de germes, ou seja, cheio de fermento. Esse é o
mundo da corrupção. Os pensamentos e ações de
muitas pessoas têm influência degradante. Só por
viver em um mundo corrompido, quer tenhamos
consciência disso quer não, continuamente
somos contaminados por coisas e germes
contaminadores. Quando fomos salvos, a ira de
Deus passou por cima de nós. Todavia ainda
estamos cheios de germes e corrupção. Como
o Senhor pode trabalhar em pessoas como
nós? Ele não pode. Se queremos que Ele
trabalhe em nós, primeiro precisamos permitir
que Ele nos purifique.
Depois que os filhos de Israel celebravam a
Festa da Páscoa, logo celebravam a Festa dos
Pães Asmos. Muitos cristãos celebram a
Páscoa, mas poucos guardam também a Festa
dos Pães Asmos. Certa vez fui convidado a
uma festa do amor. Ao entrar na casa, vi algo
que me deixou muito incomodado. Se você
sempre vive num ambiente de ar fresco, ao
entrar num ambiente com pouco ar fresco, logo
ficará incomodado. Seu sentimento será muito
sensível. Porém os que estão acostumados a
viver nesse tipo de ambiente não apenas não
percebem a falta de ar fresco, mas até mesmo
dizem que você é esquisito. Eu era convidado
naquele dia, então não achei conveniente dizer
algo. Todos sentamos ali cantando e louvando
a Deus, mas havia um calendário com uma foto
inadequada pendurado na parede. Isso é como
comer uma deliciosa refeição ao lado de um
monte de estrume; o gosto é nojento.
Muitos são de fato salvos, mas não estão
limpos do fermento. Se um pequeno e humilde
servo de Deus como eu se sentiu
desconfortável ao entrar naquela casa, como
poderia o próprio Deus sentir-se à vontade ali.
Vários outros cristãos também estavam ali, mas
nenhum deles teve qualquer sentimento.
Enquanto alguns na casa liam a Bíblia, havia
algo impuro pendurado na parede. Isso mostra
que essa família nunca lançou fora o fermento
nem trilhou seriamente o caminho de Deus.
Deus não tem caminho para fazer uma obra
mais profunda nesse tipo de pessoa.
Nós que fomos salvos precisamos ser sérios
em tomar esse caminho. Antes de ser salvos,
os jovens adoravam ler romances, mas depois
de salvos, todas essas coisas devem ser
queimadas ou jogadas fora. Eles nunca devem
dar esses livros aos colegas. Se os derem aos
colegas, não lhes farão um favor; antes, irão
prejudica-los. Em 1944 fui a Weihaiwe para
pregar o evangelho. A maioria da congregação
ali era de funcionários da alfândega. Quase
todas as esposas eram salvas, contudo a casa
delas era cheia de majong1 e jogos de mesa.
Depois de salvas, elas não tinham paz interior,
então vieram e me perguntaram: "Temos peças
de majong de boa qualidade, e todas custaram
caro. Que devemos fazer com elas?". Eu fiz
outra pergunta: "Por que vocês me
perguntam?". Elas responderam: "É que não
sentimos paz". Então eu lhes disse: "Se não
sentem paz, então por que ainda precisam
perguntar-me? Se sentem que algo cheira mal,
ainda perguntariam se devem comer aquilo ou
não? Se já sentiram o cheiro desagradável
desse jogo, não precisam perguntar se. devem
jogá-lo". Elas responderam: "Então é melhor dá-
las a alguém". Dar suas peças de majong a
alguém é pior do que ser bandido. O bandido
que rouba o dinheiro “das pessoas prejudica-as
por pouco tempo, mas dar seu jogo pode
arruinar a vida de alguém e prejudicar pessoas
por duas ou três gerações. Finalmente elas
voltaram e espalharam essa palavra entre si, e
reuniram todos os seus jogos. Então eu disse:
"Vocês devem queimar as peças como
testemunho ao Senhor". Então elas as
juntaram, empilharam e, enquanto liberávamos
uma mensagem dentro da casa, queimaram no
quintal todas as peças dos jogos de majong e
dominós chineses. Esse é um exemplo de
purificar-se do fermento.
14
Em 1938 fiquei hospedado com alguém em
Peiping (Beijing) que trabalhava no Hospital
União. Um dia ele me disse que queria saber se o
Senhor estava contente com o guarda-chuva de
seda que ele tinha na sala de estar. Eu era mais
novo do que ele, então respondi com muito
respeito: "Depois de ter gastado tanto dinheiro
para comprá-lo, por que o senhor agora acha que
ele não é bom!". Ele respondeu: "O guarda-chuva
em si não é o problema. O problema é que há um
dragão estampado. Você acha que algo com um
desenho de dragão deve ser guardado na casa de
um cristão!". Então eu lhe disse que desde o
primeiro dia em que entrei em sua casa, toda vez
que olhava para aqueles quatro dragões, ficava
muito incomodado por dentro. O sentimento desse
irmão foi resultado de ler o livro de Apocalipse.
Quando leu que o diabo é um dragão, ele se
perguntou: "Se eu pertenço ao Senhor, por que
ainda permito que algo de Satanás permaneça em
minha casa!". Satanás é muito enganoso. É por
essa razão que hoje as pessoas não somente têm
figuras de dragão, mas também usam enfeites de
dragão, fazem a dança do dragão e até vestem
roupas decoradas com dragões. Elas estão
completamente envolvidas com dragões.
Em 1936, quando eu estava em Tientsin, uma
irmã convidou alguns de nós para jantar. Seu
marido era um arquiteto muito famoso, e o teto de
sua sala de jantar era cheio de figuras de dragão.
O marido não estava em casa na ocasião do
jantar. Ela disse que toda vez que jantava naquela
sala, ficava incomodada. Perguntei o motivo, e ela
disse que era por causa dos dragões no teto.
Então perguntei por que ela não gostava de
dragões, se todos gostavam. Todos têm imagem
de dragão nas chaleiras ou nas roupas. Ela me
disse que, por ser filha de Deus, não deveria
permitir que essas coisas permanecessem em sua
casa, mas, como seu marido não estava disposto
a retirá-las, isso estava fora de seu controle. Eu a
consolei dizendo que se algo não depende de
nós, então não é problema nosso.
Uma vez salvos, devemos permitir que o Senhor
nos ilumine para que vejamos se há alguém que
ofendemos ou tratamos injustamente. Se tivermos
feito isso, deveremos lidar cabalmente com
qualquer problema que tivermos com essa
pessoa. Além disso, se obtivemos algo de forma
injusta, quer seja de alguém de casa ou do
trabalho, temos de lidar com essa questão de
modo cabal. Se estivermos dispostos a ir ao
Senhor para conferir como estamos,
descobriremos que todo nosso ser está cheio de
fermento. Certa vez, o doutor americano F. B.
Meyer foi à Inglaterra para pregar. Ele disse que
de forma alguma um cristão seria abençoado se
apenas ouvisse sermões dia após dia e não
estivesse disposto a ser disciplinado nem tivesse
sentimento nenhum ao roubar o dinheiro do
gerente ou gastar os fundos da empresa. Depois
daquele sermão, todos os papéis de saque
bancário das agências postais vizinhas acabaram
vendidos em poucas horas. Por que isso
aconteceu! Porque muitas pessoas, depois de ver
suas injustiças, foram adquirir boletos de saque
bancário para restituir o dinheiro que tinham
retirado. Naquela reunião o doutor Meyer usou um
jovem como exemplo. Ele disse: "Esse jovem
roubou três libras e dezoito xelins de seu patrão e
até agora não devolveu o dinheiro. Então ele
perguntou ao jovem: "Você tem paz interior!". Mais
tarde alguém convidou o doutor Meyer para uma
refeição. O jovem o esperava por ali e disse:
"Alguns anos atrás eu realmente roubei três libras
e dezoito xelins de meu patrão, e não tenho paz.
Comprei um cheque de três libras e dezoito xelins
e pus num envelope para devolver a ele. Diga-me,
por favor, estou fazendo a coisa certa!".
Certa vez Charles Spurgeon usou um exemplo em
sua pregação, dizendo: "Há um jovem aqui que
está usando um par de luvas que roubou, e deve
devolvê-Ias". Quando disse isso, foi sem nenhuma
intenção particular, mas depois de ter dito, um
jovem foi a ele e disse: 'as luvas que estou usando
foram realmente roubadas de meu patrão. Como
você sabia?". Spurgeon disse: "Eu não sabia de
nada. Quando eu falava, fui inspirado a dizer
isso". Muitos cristãos não têm nenhum problema
com a salvação, mas nunca lidaram com os bens
adquiridos de forma injusta. Se queremos seguir o
15
Senhor de maneira séria, devemos lidar com
todos os ídolos, as imagens dos ancestrais e as
coisas roubadas que temos em casa.
Muitos anos atrás em Kaifeng, província de
Honan, havia uma irmã que tinha uma imagem de
Jesus em casa. Ela se ajoelhava para adorar a
imagem todos os dias e, a cada refeição, ela
tomava uma porção da comida para oferecer à
imagem. Mais tarde, ficou possuída por demônios.
Uma irmã que a conhecia escreveu para mim e
disse: "Podemos adorar uma imagem de Jesus?
Por que essa irmã foi possuída por um demônio,
embora adorasse uma imagem de Jesus?". Eu
respondi que não devemos adorar nem mesmo
uma imagem de Jesus. Temos de usar nosso
espírito para adorar o próprio Jesus. O Evangelho
de João nos mostra que, quando adoramos o
Senhor em espírito e em verdade, Ele nos aceita.
Não devemos adorar nenhuma imagem, nem
mesmo a de Jesus, porque há demônios por trás
de todas elas, até' mesmo da imagem de Jesus.
Precisamos orar muito e nos voltar a Deus.
Precisamos deixar que Ele nos ilumine e nos
mostre se há algo em casa, em nosso ser ou a
nossa volta que Lhe desagrada. Por exemplo,
antes de alguns serem salvos, sua sogra lhes
causava grande sofrimento, e eles não gostavam
dela. Uma vez salvos, porém, essa antipatia deve
ser removida. A antipatia da sogra pela nora tem
de ser removida. Em suma, se não gostamos de
alguém ou guardamos ressentimento contra
alguém - quer seja família, amigos ou colegas -
devemos confessar e lidar completamente com
qualquer problema que haja entre nós. Dessa
maneira, mesmo se não pregarmos o evangelho,
essa pessoa será salva mediante nosso
procedimento.
Depois que uma irmã creu no Senhor, ficou muito
incomodada quando se lembrou de todas as
vezes que foi dura com a nora. Ela desejava que a
nora fosse salva, mas não tinha coragem de lhe
pregar o evangelho. Ela veio ver-me, e eu lhe
disse: "Você perseguiu sua nora antes de ser
salva e acha que agora ela vai ouvi-Ia? Você
precisa confessar isso a ela". Ela respondeu: "Eu
sou a sogra; como posso confessar isso a minha
nora?". Perguntei se ela queria o Senhor ou
preferia preservar sua dignidade, se ela queria
que a nora fosse salva ou fosse para o inferno?
Ela disse: "No passado eu a persegui; se eu
confessar a ela, e mais tarde ela me perseguir,
que vou fazer?". Eu disse que ela deveria confiar
que o Senhor lhe concederia graça nessa
questão. Alguns dias depois ela veio a mim e
disse: "Depois que confessei a minha nora, ela
chorou, e eu também chorei. Então nós duas nos
ajoelhamos para orar juntas, e ela foi salva". Você
vê isso? Às vezes podemos conduzir as pessoas
à salvação mesmo sem pregar o evangelho.
Podemos ser negligentes, mas nosso Deus nunca
é negligente. Não devemos ser descuidados ou
nos desculpar nessas questões; antes, devemos
remover todo o fermento. Dessa maneira um dia
todo o nosso ser será completamente purificado e
livre de toda impureza, por dentro e por fora. Além
disso, todas as coisas em nossa família também
serão limpas. Uma pessoa livre de impurezas é
material limpo na mão do Senhor.
16
CAPÍTULO QUATRO
CONFESSAR OS PECADOS E PEDIR ILUMINAÇÃO
LIDAR COM OS PECADOS INTERIORES E EXTERIORES
Depois de salva, se unia pessoa deseja
progredir na vida divina, deve cuidadosamente
lançar fora todo o fermento. Isso quer dizer que
deve lidar com toda situação inadequada aos
olhos do Senhor e todo assunto que Ele
condena. Todavia não deve somente lidar com
as coisas exteriores, mas confessar ao Senhor
todos os pecados, do mais profundo de seu
ser.
O homem sempre tem mais problemas
interiores do que exteriores. Ele pode ter
muitos problemas exteriores que são
reprováveis, mas os problemas interiores e o
mal interior os excedem em muito. Seus
problemas exteriores estão relacionados
somente com o comportamento, mas os
problemas interiores estão relacionados com a
mente, a opinião e ainda mais com o ego. É
possível uma pessoa estar errada
interiormente, mas não exteriormente. Isso
significa que pode estar cheia de pecados por
dentro, ainda que não se comporte de maneira
pecaminosa por fora. No homem há pecado,
iniqüidade e trevas, mas exteriormente pode
ser que essas coisas não sejam expressas de
modo algum. Portanto, se uma pessoa quer
crescer em vida depois de salva, deve lidar
com os pecados exteriores e com as coisas
impróprias, mas deve ir ao Senhor
continuamente para lidar com sua verdadeira
condição interior. Quando Deus lida conosco e
nos limpa, Seu foco está em nosso ser interior.
Uma pessoa pode parecer correta por fora, mas
por dentro pode estar errada e ser injusta. Nos
evangelhos o Senhor repreendeu os fariseus,
dizendo: "Sois semelhantes a sepulcros
caiados, que por fora se mostram belos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos
e de toda imundícia" (Mt 23:27). Isso significa
que algumas pessoas são como "sepulcros
caiados". Aparentam estar bem por fora, mas
não querem que os outros conheçam sua real
condição interior, e não permitiriam que vissem
a imundícia em seu interior. Grande parte do
procedimento do homem é condenável, mas
seu mal interior merece muito maior
condenação. A necessidade interior do homem
é muito maior do que a exterior. Muitas vezes,
depois que uma pessoa é salva, exteriormente
falando, ela é muito boa e quase irrepreensível,
mas, dois ou três anos mais tarde, ainda não há
muito progresso na vida interior. Isso é porque
seu problema não é exterior, mas interior. Seu
comportamento está correto, ainda que seu ser
interior esteja errado. A maior parte de nosso
comportamento ocorre diante dos homens, mas
nosso ser interior está diante de Deus. O
homem não deve somente confessar os
pecados exteriores perante Deus, mas, ainda
mais, deve confessar os pecados interiores.
Quando Deus brilha em nós, não o faz apenas
em nosso comportamento, mas em nosso ser.
SER ILUMINADO POR DEUS PARA
CONFESSAR OS PECADOS
Alguns foram salvos há muito tempo, ainda que
nunca tenham tido um momento de confissão
diante de Deus. Todos confessamos que o
Senhor Jesus é nosso Salvador, mas pode ser
que até hoje não tenhamos confessado nossos
pecados interiores perante Deus. Alguns podem
dizer que não se sentem pecadores. É claro,
essa palavra não é falsa; uma pessoa pode
estar cheia de pecados, mas não ter
consciência de que é pecadora. De acordo com
o fato, ela está cheia de pecados; mas de
acordo com o sentimento, não sente que seja
pecadora. Diante de Deus ela está cheia de
pecados, mas no sentimento próprio não há
nenhuma percepção de pecado.
Certo dia em Xangai, quando entrei no
escritório da igreja, todos riram de mim quando
17
me viram. Perguntei o que estava acontecendo.
Então um irmão me levou a um espelho e vi que
eu estava sujo, mas não sabia em que
momento havia me sujado e não tinha nenhum
sentimento sobre isso. Na verdade, eu me sujei,
mas de acordo com meu sentimento eu ainda
estava limpo. Muitos são assim diante de Deus,
estão cheios de sujeira, mas ainda sentem que
estão bem. O sentimento subjetivo está muito
além do fato. Há muitos exemplos sobre isso na
Bíblia. Antes de encontrar Deus, uma pessoa se
considera boa, mas, uma vez que toca em
Deus, logo percebe que está errada. Por que
isso ocorre? Porque Deus é luz, e Deus é como
um espelho. Todos os que vêem a luz
surpreendem-se com tantos pecados que têm
diante de Deus. A razão por que uma pessoa
não enxerga nada, nem o próprio nariz, também
está relacionada com a luz. Por exemplo, se
uma casa está escura e não há luz, mesmo que
esteja cheia de sujeira, ninguém vai perceber
isso. No entanto, quando um raio de luz entra
na casa, podemos vê-la claramente. Se a luz for
forte o bastante, veremos até mesmo a poeira.
As bactérias podem ser vistas claramente em
um microscópio; não podem deixar de ser
vistas. Muitos médicos dizem que debaixo de
uma luz bem forte e um poderoso microscópio,
tudo que uma pessoa vê parece sujo.
Todos são pecadores diante de Deus, mas nem
todos podem ver que são pecadores. No Antigo
Testamento, uma vez que uma pessoa ia a Deus,
logo sentia que era pecadora. Quando o profeta
Isaías foi iluminado, imediatamente percebeu que
era impuro. Quando os serafins no céu diziam:
"Santo, santo, santo", Isaías disse: ''Ai de mim!
Estou perdido! Porque sou homem de lábios
impuros, habito no meio de um povo de impuros
lábios" (Is 6:3, 5). Há pelo menos quatro coisas
impuras em nós: o lábio superior, o lábio inferior, a
língua e a garganta. Alguns talvez digam.: "Não é
verdade, meus lábios, minha língua e minha
garganta são puros". No entanto no dia em que
formos de fato iluminados por Deus, veremos que
não há nenhuma outra parte de nosso corpo que
peque mais do que os lábios.
Não importa quem seja a pessoa, uma vez que
Deus vai a ela, ela confessa os pecados. Até
mesmo duas horas não será tempo suficiente para
confessá-los todos. Mesmo que não saibamos
quantos pecados nossos lábios e língua
cometeram, sabemos que dissemos coisas que
não deveríamos ter dito e que nosso falar está
sempre misturado com maldade e malícia. Uma
vez que o lábio de uma pessoa seja limpo, ela
será uma pessoa limpa. Mesmo hoje, quais lábios
não pecaram desde a manhã até agora? Alguns
podem dizer que são justos e não têm pecados.
Contudo, quando alguém realmente tocar em
Deus, verá que não tem somente alguns pecados
individuais, mas pilhas e pilhas deles. Depois de
confessar alguns dos pecados, ele ainda terá mais
a confessar. Na verdade, sempre haverá mais a
confessar.
Um de meus contatos no evangelho me disse que,
antes de ser salvo, achava que era um perfeito
cavalheiro. Também admiti que seu
temperamento era de um cavalheiro justo. Certo
dia, porém, ele ficou doente e começou a sofrer
várias enfermidades: pressão alta, doença
cardíaca, doença pulmonar e assim por diante.
Ele ficou internado por muito tempo, pois não
havia se recuperado. Um dia ele ficou muito
desesperado e, enquanto estava deitado,
começou a considerar que tipo de pessoa ele era.
Quanto mais pensava sobre si, mais se achava
bom; quanto mais se avaliava, ainda achava que
era bom. Nesse momento, todavia, ele viu uma
Bíblia a seu lado. Naquele instante ele ainda não
havia crido em Jesus e desconhecia o significado
da salvação. Ele abriu a Bíblia, leu um pouco e de
repente descobriu que algo estava errado em seu
ser - algo que nunca tinha achado antes.
Percebeu que tinha um pensamento que não era
correto, e o confessou diante de Deus. Logo após
ter confessado esse pecado, veio um segundo
sentimento, fazendo com que ele confessasse um
segundo pecado. Então veio também um terceiro
sentimento, e ele confessou o terceiro, o quarto e
o quinto pecado. Ele confessou os pecados dessa
forma até que, por fim, perdeu a conta de quantos
pecados havia confessado. Depois de certo tempo
sentiu que, porque tinha muitos pecados, não
deveria confessá-los deitado na cama, então
18
levantou e se prostrou em frente à cama. Depois
que confessou mais pecados, ele tirou as mãos da
cama e se prostrou inteiramente no chão,
chorando e confessando ao mesmo tempo. Por
pelo menos três horas, ele sentiu que, quanto
mais confessava, mais tinha para confessar. Ele
antes não sentia que estava errado, mas naquele
dia seu sentimento foi totalmente diferente. No
começo sentia que só estava um pouco errado.
Mas após ter feito uma confissão, veio outro
pecado; após ter feito outra confissão, veio o
terceiro. Isso continuou até que ele se esqueceu
do tempo - por um lado confessando e por outro
chorando. Embora fosse um homem bem forte e
realizado em sua carreira, ele foi salvo! Sua
salvação não foi genérica ou vaga, mas nela ele
confessou todos os pecados. Lucas 5 registra a
história de Pedro. Originalmente Pedro não
percebia que era pecador, mas, quando o Senhor
resplandeceu sobre ele, ele logo disse: "Retira-te
de mim, Senhor, porque sou homem pecador" (v.
8). No Antigo Testamento Jó também era alguém
que não percebia seus pecados até que Deus
resplandeceu sobre ele. Seus três amigos lhe
disseram que ele devia ter pecado diante de
Deus, mas Jó não concordou e queria discutir com
Deus para ver onde estavam seus pecados (Jó 5-
6). Isso mostra que J ó estava em trevas; ele
nunca tinha tocado em Deus ou visto a luz. No
entanto, no final do livro de Jó, vemos que ele
encontrou Deus e lhe disse: "Eu te conhecia só de
ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso,
me abomino e me arrependo no pó e na cinza"
(42:5-6). Por que ele se arrependeu? Porque viu
sua impureza. Todos somos sujos e impuros
diante de Deus. Quem toca em Deus vê sua
imundície, e alguém que é iluminado por Deus
percebe sua impureza. Mas quem nunca tocou em
Deus ou viu a luz, embora seja imundo e sujo, não
tem nenhuma sensação de imundície. Toda vez
que uma pessoa tocar em Deus, verá que é cheia
de pecados e que é uma constituição de pecado.
Há mais de mil e quinhentos anos havia um
homem chamado Agostinho. Quando era jovem.,
ele tinha um viver libertino. Sua mãe amava o
Senhor ardentemente e sempre orava por seu
filho. Um dia Agostinho teve um sentimento e se
perguntou por que vivia libertinamente e não se
voltava a Deus. Naquele momento ele se
arrependeu. Para sua surpresa, naquele dia ele
descobriu que quanto mais confessava seus
pecados, mais pecados possuía. Parecia que
antes de começar a confessar não havia muito
pecado, mas quanto mais confessava, os pecados
se tornavam mais sérios e abundantes. Mais tarde
escreveu um livro chamado Confissões, no qual
descreve sua experiência de confissão. Ele
confessou seus pecados até o ponto de dizer algo
como: "Mesmo o lamento em minha confissão
precisa ser perdoado por Deus; mesmo as
lágrimas que derramo por causa de meus
pecados precisam. ser lavadas com o precioso
sangue". Você consegue imaginar até que ponto
essa pessoa confessou? Embora tivesse
confessado tudo, ainda sentia que até mesmo o
lamento em sua confissão precisava ser perdoado
pelo Senhor.
Uma pessoa que está diante de Deus e Nele toca
deve ver que é pecadora. Quanto mais confessa
os pecados, mais sente sua imundície; quanto
mais sente sua imundície, mais se achega a
Deus; e quanto mais se achega a Deus, mais se
dá conta de que é pecadora. Todos os salvos,
desde o momento em que Deus os conduz a
andar nesse caminho, têm de passar por essa
experiência. Desde que fomos salvos até hoje,
acaso já tivemos uma confissão cabal diante de
Deus? Essa pergunta é muito séria. Muitos não
têm nenhum problema com a salvação, mas é
questionável se já tiveram uma confissão cabal.
A primeira vez que confessei meus pecados
completamente depois que fui salvo não foi
somente por uma ou duas horas, mas por longo
tempo. Fui iluminado por Deus a tal ponto que
mesmo ficar sentado me fazia sentir-me culpado.
Parecia que se eu dissesse sim, eu pecava, e se
dissesse não, também pecava. Todos nascemos
impuros. Cada um de nossos pensamentos e
intenções é impuro. Quando um bebê nasce e
começa a produzir sons, sua boca é muito pura.
Pouco a pouco, porém, ao aprender a falar, ela
não é mais pura. Depois que entra na escola,
quando você lhe pergunta algo, ele desvia os
olhos. Então, quando ele fala, você sabe que seu
19
falar tem segundas intenções. Toda palavra falada
com segundas intenções é impura.
De 1931 até agora, tenho confessado meus
pecados quase todos os dias. Certa vez fiquei
bastante chateado com certa questão e fui
confessar diante de Deus. No final de meu
período de confissão vieram-me duas frases que
nunca ouvi antes. Como resposta orei: "ó Deus,
perante Ti não sou apenas imundo, sou
basicamente um monte de lixo. Não é somente
que eu era uma pessoa limpa que foi contaminada
e se tornou impura; não é só isso, Senhor; sou um
ser constituído de impureza. ó Deus, não sou
somente falso, mas todo o meu ser é constituído
de falsidade". Fui iluminado por Deus a ponto de
perceber que sou a constituição da impureza e da
falsidade. Foram essas duas frases que me
iluminaram. Não somos apenas pecadores, mas
somos a constituição do pecado. Quando Deus
nos ilumina, logo vemos nossa podridão e
maldade. Se não temos permitido que Deus nos
ilumine, não temos andado ou progredido nem
mesmo um passo diante Dele. Quando Deus quer
que andemos um passo adiante, primeiro deve
nos iluminar e limpar. Toda e qualquer pessoa que
não tenha sido totalmente iluminada, não importa
há quanto tempo seja salva, quanta doutrina
entenda ou quão profundamente conheça a Bíblia,
embora seja salva, nunca deu um passo no
caminho de Deus. O primeiro passo de Deus ao
nos iluminar é sempre nos limpar por completo.
AS CONDIÇÕES NAS QUAIS UMA PESSOA É
ILUMINADA
As pessoas podem estar em várias condições
quando são iluminadas por Deus. Algumas não
têm o coração atraído pelo Senhor depois de
salvas. Por isso, quando estão felizes, participam
das reuniões e oram; quando estão deprimidas,
não se reúnem nem oram. Muitas vezes, porém,
quando caminham na rua ou estudam, de repente
têm um sentimento de que devem ir a Deus e
orar. Uma vez que oram, logo sentem que são
pecadoras e, quanto mais confessam, mais
descobrem que estão cheias de pecado. Dessa
forma, são reavivadas pelo Senhor e muitos talvez
indaguem o que aconteceu com elas. Uma vez
iluminadas por dentro e despertadas pelo Senhor,
logo dão o primeiro passo: arrependem-se,
confessam o pecado, purificam-se e começam a
ler a Bíblia. Quanto mais lêem a Bíblia, mais ficam
cheias de luz. Como resultado, adoram pregar o
evangelho. N o começo pessoas assim não
tinham um coração voltado para Deus, mas foram
escolhidas e iluminadas por Ele.
Há outro tipo de pessoa, cuja condição interior fica
exposta quando ouve uma mensagem. Nesse
momento ela faz uma confissão cabal e fica cheia
de frescor. Outra pode ser atraída ao ouvir o
testemunho de alguém. Como resultado, ela vai a
Deus para pedir que Ele resplandeça. Por fim, ela
é iluminada por Deus e faz uma confissão cabal.
Outro tipo de pessoa, após ter comunhão com os
irmãos, sente que deve ir a Deus e ser iluminada
por Ele. Como resultado, também recebe o
resplandecer e assim confessa os pecados
cabalmente. Há ainda outro tipo de pessoa, que
tem o sentimento de que é pecadora quando está
numa reunião de oração, com um pequeno ou
grande número de pessoas. Quando obtém o
sentimento, ela confessa cabalmente e também
recebe o resplandecer. Outro tipo de pessoa pode
ouvir uma exortação e perceber que, para
progredir em vida, um cristão deve confessar
cabalmente os pecados. Como resultado, ela ora:
"á Deus, oro para que resplandeças em mim e
perdoes todos os meus pecados". Ela ora dessa
maneira um ou dois dias, e ao terceiro dia, Deus
de fato resplandece sobre ela. Por fim, há certo
tipo de pessoa que ora e Deus aos poucos lhe
mostra que ela é pecadora.
Determinação expressa nossa busca diante de
Deus. Assim, todos devemos voltar-nos a Deus e
Lhe dizer: "á Deus, preciso de Teu brilhar. Então
peço que resplandeças em mim e mostres meus
pecados. Sei que há um principio aqui: Se não
sou iluminado e meus pecados não são expostos,
não há como crescer em vida". A esse tipo de
oração Deus está bem disposto a responder e irá
responder prontamente.
Outra classe de pessoa pode ser iluminada
quando pede algo a Deus. Deus não lhe dá, mas
em vez disso lhe mostra que ela está errada. Essa
situação é comum entre as crianças. Uma criança
pode ir até o pai, estender as mãozinhas e dizer
20
de maneira animada: "Papai, me dá um doce".
Então o pai dirá: "Olhe suas mãos; elas estão
muito sujas. Vá lavá-las". Então a criança pode
lavar a mão e pedir um doce novamente. O pai
então pode tirar um espelho e pedir que ela olhe
seu rosto sujo, e a criança vai lavar o rosto. Após
lavar o rosto, ela pode pedir o doce de novo.
Então o pai vai mostrar-lhe que seu pescoço e
roupas estão sujos. Finalmente, após lavar o
pescoço e trocar de roupa, todo o seu ser fica
limpo. O mesmo acontece com as pessoas
quando vão orar a Deus; pedem a Ele isso e
aquilo. Deus não somente não responde, mas
também lhes mostra como estão impuras. Só
assim saberão o que é seguir a Deus, abandonar
o mundo e rejeitar o pecado. Só então elas terão
um começo na vida espiritual.
Se uma pessoa não tem a experiência de ser
iluminada, quando muito vai entender meras
doutrinas e nunca terá começado seu caminho
espiritual. Ela não terá nenhum ódio para com o
pecado nem terá sentimento algum para com a
imundície. Permanecerá desse modo até que
Deus resplandeça sobre ela e lhe mostre sua
condição pecaminosa, levando-a a confessar os
pecados. Esse sentimento para com a condição
pecaminosa sempre dura alguns anos, e não
alguns dias. Além disso, esse sentimento em
relação a sua corrupção, malignidade e
transgressão irá mantê-la na presença de Deus
para que Ele possa brilhar nela e limpá-la.
CONFISSÕES ESPECÍFICAS
Depois do período que inclui os anos de 1931 a
1935, toda vez que eu ia a Deus para pedir algo,
essa oração durava apenas dois minutos. Por
exemplo, quando eu orava: "á Deus, por favor,
resolve esse problema para mim.", essa oração
durava só meio minuto. Antes desse meio minuto,
no entanto, eu levava de vinte a trinta minutos
para confessar meus pecados. Quando eu via
como era pecador, antes de pedir ao Senhor que
resolvesse meu problema, confessava meus
pecados. Após vinte ou trinta minutos de
confissão, eu confessava cabalmente todos os
pecados em mim. Como resultado, tinha paz na
consciência e não havia barreira entre meu
espírito e Deus. Nesse momento eu poderia estar
quase face a face com. Ele, dizendo-Lhe com
facilidade e intrepidez: "ó Deus, estou limpo pelo
precioso sangue de Teu Filho. ó Deus, tenho um
problema, e peço que o resolva por mim". Deus,
então, logo responderia a esse tipo de oração.
Quando oramos, nem sempre temos clareza nem
sabemos a vontade de Deus. No entanto a chave
para conhecer Sua vontade é fazer um.a
confissão cabal dos pecados. Depois de fazer
isso, teremos clareza. Qualquer um que é
insensível a Deus também é insensível ao
pecado. Devemos tentar fazer um.a oração
simples. Quando estivermos em casa ou andando
na rua, devemos dizer: "ó Deus, que Tu brilhes
em. mim e exponhas todos os meus pecados".
Então um dia, a luz nos alcançará, e sentiremos
que estamos errados. Ninguém dirá que estamos
errados exteriormente, mas por dentro sentiremos
isso. Então iremos a Deus para confessar os
erros. Alguém que perceber que ofendeu seus
pais irá a Deus e dirá: "ó Deus, no passado ofendi
meus pais em. certa questão; por favor, perdoa-
me". Temos de confessar nossos erros
especificamente.
Se uma mulher cometeu vários erros e ofendeu o
marido, deve confessar os erros especificamente
diante de Deus, relatando as questões em que
ofendeu o marido ou os filhos. O mesmo ocorre
com o marido. Ele deve confessar cabalmente as
questões específicas em que ofendeu a esposa
ou a empresa. Além do mais, todas as nossas
intenções e pensamentos interiores devem ser
confessados um a um. Há uma irmã do ocidente
que sempre encoraja as pessoas a confessar os
pecados. Um dia ela ouviu alguém orar: "ó Deus,
tenho tantos pecados, por favor, perdoa-me".
Então ela disse: "Não jogue um grande feixe de
pecados sobre o Senhor Jesus. Você deve
desfazer o feixe e contar item por item". Esse feixe
inclui todas as coisas; você não pode dizer
somente a frase: "ó Senhor, sou um grande
pecador". Você precisa especificar item por item,
dizendo: "Senhor, ofendi meu irmão em
determinada questão. Senhor, ofendi meu marido
em certa ocasião e ofendi meu filho em
determinado momento". Desse modo veremos
que nossos pecados são excessivos, e estaremos
21
sob a luz. Hoje as pessoas vivem em trevas e não
têm percepção dos pecados; embora os
confessem todos os dias, ainda não têm nenhuma
percepção deles.
O CAMINHO DA VIDA COMEÇA COM A
CONFISSÃO
Aqui está o problema de muitos: Devido à falta de
luz, eles não têm sentimento nenhum. Muitas
pessoas chegam ao serviço às nove ou nove e
trinta da manhã, mesmo que a firma estipule
claramente que devem chegar às oito; até quando
assinam o ponto, elas indicam que chegaram na
hora. Certa vez um irmão me perguntou: "Que
devo fazer nessa situação?"- Eu lhe disse: "Se
sua empresa exige que você comece às oito e
você chegar às nove, deve anotar isso". Isso é ser
um cristão de verdade. A situação deplorável é
que muitos não têm esse sentimento. O motivo
pelo qual eles não têm nenhum sentimento é que
lhes falta luz. Não sabemos que o caminho da
vida começa com a confissão? Se decidirmos
fazer certa coisa e Deus então brilhar sobre nós,
não devemos fazê-la; antes, devemos confessar
nossos pecados. Após confessar, saberemos o
que é pecado.
Havia um empregado de uma escola primária que
sempre usava o papel timbrado e os envelopes da
escola. Isso não é correto. No entanto, se a escola
tiver um regulamento dizendo que todos os papéis
timbrados e envelopes também podem ser
utilizados para uso pessoal, então ele poderá usá-
los; mas, se não há tal regra, é incorreto usá-las.
Alguns professores de escola primária pegam giz
para seus filhos brincarem, sem ter nenhum
sentimento de pecado. Não podemos dizer que
esse tipo de pessoa não é salva, mas podemos
dizer que não tem o sentimento de pecado. Uma
pessoa que confessa seus pecados diante de
Deus não será descuidada de maneira alguma.
Antes de confessar, poderá ir à casa de outras
pessoas e ler o jornal ou abrir as cartas. Mas após
sua confissão, terá um sentimento de injustiça
quando fizer essas coisas. Isso não é apenas
questão de regulamento, mas de injustiça.
Quando tivermos esse tipo de sentimento,
saberemos qual é o caminho de Cristo. Se
queremos crescer em vida, temos de confessar
nossos pecados. O caminho da vida começa com
a confissão. Muitas pessoas ouviram várias
doutrinas, mas nunca deram um passo no
caminho da vida; portanto não tem a disciplina ou
a restrição do Espírito Santo. Embora não
cometam grandes erros, cometem muitos
errinhos. Devemos buscar o Senhor por Sua
misericórdia, buscar Seu resplandecer e confessar
a Ele, para que nossos pecados sejam perdoados.
22
CAPÍTULO CINCO
CONSAGRAR-NOS AO SENHOR
CONFESSAR OS PECADOS, LIDAR COM ELES E CONSAGRAR-SE A DEUS
Se um cristão quer crescer em vida, duas coisas
são essenciais: confessar cabalmente os pecados
ao Senhor e lidar com. eles. Uma terceira coisa
igualmente importante é a consagração; ele deve
consagrar-se por completo ao Senhor. Como
exigência básica, todo cristão deve consagrar-se
ao Senhor. Se, depois de salva, uma pessoa
deseja crescer em vida, deve confessar e lidar
com. os pecados. A confissão dos pecados tem
como foco o que está no interior, enquanto lidar
com os pecados tem como foco o que está no
exterior. Confessar os pecados é dizer a Deus a
condição de nosso coração e confessar-Lhe todos
os pecados percebidos interiormente. Lidar com
os pecados é algo relacionado com o
comportamento; envolve lidar por completo com
todas as coisas de nosso viver, do ambiente e do
lar que não agradam a Deus. Esse é um
procedimento que não se dá apenas diante de
Deus, mas também diante dos homens. A
confissão interior mais a lida exterior com os
pecados - os dois juntos - fazem parte de uma
experiência completa.
No entanto, se depois de salva, uma pessoa
apenas confessar os pecados diante de Deus e
lidar com os pecados diante dos homens, mas
não se consagrar a Deus, ainda não começou
a andar no cantinho da vida. Precisamos saber
que depois da salvação, o primeiro passo
sempre inclui a confissão de pecados, a lida
com, os pecados e a consagração ao Senhor.
Em nossa experiência, essas três coisas
podem aparecer numa seqüência diferente.
Alguns podem primeiro confessar os pecados e
então consagrar-se ao Senhor; outros podem
consagrar-se ao Senhor primeiro e então lidar
com os pecados. A ordem não importa. Depois
que uma pessoa é salva, o primeiro passo
sempre inclui essas três coisas: a confissão
cabal dos pecados diante de Deus, a lida
cuidadosa diante dos homens e a consagração
ao Senhor. Essas três coisas juntas formam
uma experiência completa.
Isso pode ser comparado com nosso desjejum.
Um café da manhã chinês completo é
composto de pão, mingau e pequenas porções
de comida. Não importa se comemos primeiro
o mingau, o pão ou as porções. Da mesma
forma, depois da salvação, a primeira
experiência do cristão deve incluir a confissão
interior dos pecados a Deus, a lida cabal com
os pecados diante dos homens e a
consagração absoluta ao Senhor. Essas três
coisas são igualmente necessárias, mas a
seqüência não importa tanto. Não importa se
outros nos encorajam a fazer essas coisas ou
não, porque todos os que são salvos e desejam
tomar o caminho do Senhor não podem evitá-
las. Todo cristão que não experimentou essas
questões nunca deu um passo na presença do
Senhor. Se alguns provaram somente a
primeira questão, apenas a segunda ou as
duas, mas não experimentaram a terceira,
ainda não deram um passo completo na
presença do Senhor. Precisamos pedir ao
Senhor que nos mostre onde realmente
estamos. Não importa se temos coração
absoluto para tomar o caminho do Senhor ou
apenas uma pequena determinação, devemos
perceber que não existe atalho no caminho
espiritual. Quando sai mos de casa, primeiro
devemos passar pela porta da frente antes de
chegar ao portão. Da mesma forma, há certas
seções no caminho do Senhor, e não podemos
pular nenhum passo. Podemos ouvir
mensagens e ler a Bíblia, mas, sem o desejo
de tomar o caminho do Senhor, as mensagens
não nos ajudarão e ler a Bíblia não será
proveitoso. As mensagens devem ser-nos de
muita ajuda e ler a Bíblia deve suprir-nos de
vida, mas se apenas entendermos o caminho
do Senhor e não tivermos coração desejoso,
nada nos será proveitoso. Não nos basta
23
entender o caminho do Senhor; devemos
também ter coração desejoso. Não somente
isso, não só devemos ter coração desejoso;
também devemos começar a trilhar o caminho
do Senhor. Se assim for, cada mensagem que
ouvirmos será proveitosa e cada versículo
bíblico que lermos nos dará suprimento. Que
cada um de nós tenha um coração desejoso e
ande no caminho do Senhor.
DEUS REQUER QUE O HOMEM CREIA NELE E
O AME
Assim, podemos ver que, além de confessar e
lidar com os pecados, é de grande importância
consagrar-nos ao Senhor. Há dois pontos
cruciais em toda a Bíblia. Primeiro Deus requer
que o homem creia Nele e, segundo, Deus
requer que o homem O ame. Nenhum líder
mundial requer que os homens creiam nele ou
o amem. Nem mesmo Maomé ou Confúcio
jamais pediram que alguém cresse neles ou os
amasse. Somente Jesus Cristo quer que o
homem creia Nele e O ame.
Desde a queda, a exigência de Deus para o
homem é primeiro a fé, e segundo, o amor.
Você sabe o que significa ser salvo? É voltar-se
a Deus, ou seja, crer Nele e ter com Ele
comunhão. Quando alguém não tem Deus,
está separado Dele; não importa se essa
separação é grande ou pequena, ele está
separado e alienado de Deus. Como somos
unidos a Deus e ligados a Ele? Isso acontece
pela fé. Quanto mais cremos, mais estamos
ligados a Deus; quanto mais cremos, mais somos
unidos a Ele e mais forte se torna nosso contato
com Ele. Muitos dizem que não há Deus, porque
usam o órgão errado para contatá-Lo. Por
exemplo, se usamos os ouvidos para ouvir as
cores, por certo não poderemos ouvir nada; se
usamos os olhos para ver o cheiro, é claro que
não veremos nada. Quanto mais cremos em
Deus, mais percebemos Sua existência; e quanto
mais cremos Nele, mais sentimos Sua presença.
O relacionamento que o homem tem com Deus é
pela fé.
Segundo, o relacionamento que o homem tem
com Deus é caracterizado pelo amor. É
maravilhoso que depois que o homem crê Nele, o
que Ele requer é amor. Todos os salvos, os que
crêem em Deus, têm um sentimento interior de
que Ele é amável. Se perguntarmos a um budista
se Buda é amável, ele dirá que nunca pensou a
esse respeito. Se perguntarmos a alguém que crê
no Senhor, não importando quanto amor ele
tenha, pelo menos tem o sentimento de amar o
Senhor; pelo menos tem um desejo no coração de
fazer algo pelo Senhor. Portanto, desde que uma
pessoa seja salva, mesmo sem alguém ensiná-la,
espontaneamente terá um sentimento interior de
que o Senhor é amável e de querer amá-Lo.
TODOS OS SALVOS SENTEM QUE O SENHOR
É AMÁVEL
Embora alguns salvos tenham forte sentimento de
que o Senhor é amável ou de que querem amar a
Deus, neles ainda há pouco amor pelo Senhor.
Certa vez fui visitar um irmão que adorava jogar
baralho. Eu lhe perguntei: "Que você acha mais
amável: o Senhor ou o baralho?". Ele disse: "Por
fora sinto que o baralho é mais amável, mas no
fundo ainda sinto que o Senhor é mais amável".
Na realidade ele sabia que era bom amar o
Senhor, ainda que gostasse de jogar baralho. Os
dois competiam por ele - o Senhor competia
interiormente e o baralho, exteriormente. No
entanto, um dia, as cartas vão perder e o Senhor
terá a vitória. Mais cedo ou mais tarde o poder
dentro dele irá vencer o poder fora dele. U ma
pessoa que odeia o pecado não faz isso porque
tem medo dos pecados. Os cristãos odeiam os
pecados porque o Senhor é amável e eles têm em
si o amor do Senhor.
Todos os salvos sentem que o Senhor é amável.
Não é só questão de "saber", porque o saber é da
mente; antes, é questão de "sentir". Sentir é uma
percepção interior. Uma pessoa salva, não
somente sabe que o Senhor é amável, mas
também sente isso. Um cristão pode cometer um
grande pecado. Enquanto o comete, ele pode, por
um lado, desfrutar o prazer do pecado e, por
outro, ainda sentir que o Senhor é amável.
Portanto um cristão é quase sempre um paradoxo.
Por dentro quase todo cristão é diferente do que é
por fora e experimenta contradições entre o que é
no interior e o que é no exterior. É raro encontrar
24
um cristão cujo ser interior esteja em harmonia
com o ser exterior. Que é ter o ser interior em
harmonia com o ser exterior? É amar o Senhor
por dentro e por fora. A maioria dos cristãos ama
a si exteriormente, mas no fundo ainda ama o
Senhor. Alguns amam vestir-se exteriormente,
mas por dentro ainda amam o Senhor. Alguns
amam seu cônjuge exteriormente, mas por dentro
ainda amam o Senhor. Alguns amam seus filhos
exteriormente, mas no interior ainda amam o
Senhor. Todo cristão ama o Senhor em maior ou
menor grau. Por um lado, gostamos de coisas
carnais, como moda e vestuário; por outro,
sentimos que o Senhor é de fato amável.
Embora haja diferença de grau, todo cristão sente
que o Senhor é amável. Essa é a motivação da
consagração. U ma vez salvos, o Senhor atrai
nosso coração para Si várias vezes, de muitos
modos e por meio de diferentes ambientes e
métodos, para que digamos: "ó Senhor, Tu não
somente me amas, mas és de fato amável. Eu me
consagro totalmente a Ti". Todos os cristãos
têm de dar esse passo inicial, e ninguém pode
escapar disso. Quem nunca se deu ao Senhor
não tem como tomar Seu caminho.
A CONSAGRAÇÃO É O COMEÇO DE TODAS
AS EXPERIÊNCIAS
Depois de salva, se uma pessoa quer ter rica
experiência do Senhor, o primeiro passo é a
consagração. Se ela não se entregar ao
Senhor depois da salvação, não terá como
tomar Seu caminho. Para que nossas orações
sejam respondidas, a fé é de vital importância;
no entanto os que nunca se deram ao Senhor
não conseguem ter muita fé. Somente os que
se consagraram ao Senhor, de fato, têm fé
adequada. Depois que nos consagramos
absolutamente ao Senhor, a fé vem. A fé vem
pela consagração. Além do mais, se uma
pessoa deseja pertencer ao Senhor por
completo, deve consagrar-se plenamente a Ele.
Ninguém pode ser santo sem se consagrar ao
Senhor. Uma pessoa não terá caminho para
vencer se não se tiver consagrado a Ele. Além
disso, uma pessoa mal consegue ver a luz a
não ser que se consagre a Ele. A maneira
como andamos na presença de Deus depende
de nossa consagração. O coração do homem
sempre se volta para o mundo, mas somente
quando o homem se voltar a Deus, este irá
brilhar nele com Sua luz.
Suponhamos que haja uma luz atrás de mim.
Se não me virar, não receberei seu brilho,
porque ela brilha numa direção específica.
Quando o coração do homem está voltado às
coisas que não são Deus, é impossível Deus
brilhar nele. Alguns oram para que Deus brilhe
neles, mas ainda não receberam nenhuma luz.
Alguns até se perguntam por que outros a
recebem e eles não. É simplesmente porque
estão afastados de Deus. Quando se voltarem,
a luz divina terá caminho para brilhar neles.
"Quando, porém, algum deles se converte ao
Senhor, o véu lhe é retirado" (2 Co 3:16). Se
um cristão não tem luz em si, isso mostra que
por dentro ele ainda está um tanto quanto
afastado de Deus. Visto que está afastado de
Deus, ele precisa se voltar. Que é a
consagração? É voltar todo o nosso ser ao
Senhor. Quando nosso coração está no
mundo, espontaneamente estamos diante do
mundo; portanto precisamos voltar-nos. Toda
vez que nosso coração está diante do Senhor,
nosso ser interior logo é iluminado e sabemos
qual é e qual não é a vontade de Deus.
Além do mais, para ser espiritual, um cristão
também precisa consagrar-se. Podemos usar
uma ilustração: uma xícara pode ser colocada
do lado de fora por meio dia enquanto a chuva
está muito forte, mas não ficar cheia nem de
meia gota de água. Por que não? A razão é
que está de boca para baixo. Embora chova
bastante, a xícara não obtém nem uma gota.
Todos os filhos de Deus devem ser cheios do
Espírito Santo, e deve ser fácil para eles
receber o encher do Espírito. No entanto
alguns sempre pedem pelo encher do Espírito,
mas nunca o recebem. Qual a razão disso? Se
virarmos a xícara de boca para cima, ela logo
ficará cheia de água. Se não estivermos
dispostos a voltar o coração à presença de
Deus; pelo contrário, sempre o deixarmos de
"boca para baixo", virado para o mundo, será
impossível que sejamos cheios do Espírito
25
Santo. É impossível a uma pessoa cujo
coração esteja completamente no mundo ser
cheia do Espírito Santo e receber a graça de
Deus. No entanto, assim que voltar o coração a
Deus, ela logo ficará cheia do Espírito. Todos
os que são experimentados podem testificar
isso. Além do mais, uma pessoa deve
consagrar-se se quer ter comunhão com Deus
e desfrutar Sua presença o tempo todo.
Qualquer cristão que não seja consagrado não
pode ter comunhão com Deus nem Sua
presença. Podemos usar uma lâmpada como
ilustração. Se ela tem o fio rompido, a eletricidade
é cortada. Nesse caso, ter um fio rompido é o
mesmo que ter dois fios rompidos. Portanto, para
desfrutar a comunhão e a presença de Deus,
precisamos ser pessoas consagradas.
A GRAÇA E A BENÇÃO DE DEUS VÊM SOBRE
OS QUE SÃO CONSAGRADOS
Amar a Deus e crer Nele são igualmente
importantes. Devemos crer Nele e amá-Lo; então
Sua graça, bênção e presença virão sobre nós.
Para que esses três itens venham sobre nós,
temos de amá-Lo. É claro que quem não crê em
Deus não O ama; para amar, primeiro é preciso
crer. Se O amamos, voltamo-nos a Ele. Sempre
ouvimos dizer que temos de esperar por Deus; na
verdade, isso não está certo. Não somos nós que
esperamos por Deus, mas é Ele que espera por
nós. Deus espera que nos voltemos a Ele para
responder nossas orações e nos dar poder. Não
somos nós que esperamos por Deus, mas é Ele
que espera por nós. Como já ilustramos, a chuva
lá fora pode estar forte, mas, se a xícara está de
boca para baixo, como esperar que a água entre
nela? Se uma pessoa não estiver disposta a se
voltar a Deus, como a graça divina pode alcançá-
la? Deus sempre aguarda que nos voltemos da
terra para os céus. Assim, não é o homem que
espera a graça de Deus, mas é Deus quem
espera que o homem O receba como graça dia a
dia.
Aqui está o problema: Não é tão fácil o coração do
homem se voltar a Deus. Só quem foi tocado pelo
amor do Senhor pode receber a graça divina com
facilidade. Os que não têm fé a receberão
facilmente após se consagrarem ao Senhor. Os
que não têm santidade a receberão facilmente
após a consagração. Os que não têm luz a
receberão facilmente após a consagração. Os que
não têm a presença de Deus a terão após a
consagração. Os que não têm poder no viver
diário o terão após a consagração. Todas as
coisas dependem de termos ou não o coração
voltado ao Senhor. Se nosso coração está voltado
ao Senhor, então o próprio Senhor, Sua graça, luz
espiritual e riquezas espirituais serão derramados
em nós. Mas, se nosso coração não está voltado
ao Senhor, mesmo que Ele nos dê graça, não há
caminho para ela entrar em nós, assim como a
água da chuva não pode entrar na xícara.
Que é consagração? É se voltar a Deus.
Anteriormente, queríamos algo separado de Deus,
mas agora somos encorajados pelo amor do
Senhor que vem de dentro, voltamo-nos a Deus e
queremos somente o próprio Deus. Todo o que se
volta a Deus dessa maneira facilmente O toca e
recebe Sua graça. Se estivermos dispostos a nos
dar a Ele dessa forma, quando orarmos, nossa
oração se tornará muito especial; quando lermos a
Bíblia, ela se tornará cheia de luz para nós;
quando pregarmos o evangelho, nossa pregação
se tornará muito poderosa. Um cristão deve
consagrar-se totalmente ao Senhor pelo menos
uma vez, se não muitas. Então, se depois de um
tempo ele sente que sua consagração passada
não foi tão completa, deve consagrar-se
cabalmente uma segunda vez. Depois de mais
algum tempo ele pode até sentir que sua segunda
consagração não foi completa. Então deve
consagrar-se ao Senhor mais uma vez. Mesmo
depois de mais um tempo, ele pode de novo
consagrar-se absolutamente ao Senhor. Quanto
mais se consagra ao Senhor dessa maneira, mais
O toca e é ganho por Ele. Uma pessoa assim
andará no caminho do Senhor e crescerá em vida
todos os dias.
OBEDECER AO SENTIMENTO INTERIOR DE
FORMA ABSOLUTA APÓS A CONSAGRAÇÃO
Após a consagração ao Senhor, temos de seguir
Seu sentimento de forma absoluta. Depois de
consagrados ao Senhor, nosso ser interior é
iluminado. Como resultado, saberemos o que O
agrada e seguiremos o sentimento interior.
26
Romanos 12:1 diz que devemos apresentar nosso
corpo como sacrifício vivo a Deus. Se nos
apresentarmos a Deus desse modo, o resultado
será que conheceremos Sua vontade, que é
perfeita e agradável. Ele nos dirá o que O agrada
e também o que não O agrada. Quando Ele fizer
isso, teremos de obedecer a cada sentimento em
nós de forma absoluta. Se um cristão apenas
ouvir doutrinas e exortações sem praticar a
direção interior do Senhor nem andar em Seu
caminho, o ouvir não significará nada. A coisa
mais preciosa num cristão é que, após ter-se
consagrado ao Senhor, ele é capaz de perceber o
que Lhe agrada e o que não Lhe agrada, e é
capaz de viver de acordo com. esse sentimento.
Essa é a coisa mais preciosa na experiência
cristã.
Certa vez havia uma irmã muito elegante, que se
entregou ao Senhor e disse: "ó Senhor, de agora
em diante consagro-me a Ti. Não quero nada fora
de Ti; quer eu consiga viver dessa maneira ou
não, não me importo. Simplesmente me dou a Ti".
Dois ou três dias depois que orou, ela usou um
vestido muito chique na reunião. Ninguém lhe
havia dito que não deveria usá-lo e ela nunca lera
na Bíblia que não deveria usar um vestido assim.
No entanto, após sua consagração, quando tirou o
vestido do armário, em seu interior sentiu que não
deveria usá-lo. Ela não entendeu, e ficou ali
parada um pouco analisando se era ou não
pecado usar o vestido. Então ela tirou o vestido do
armário, e o sentimento de desconforto
permaneceu. Depois que o vestiu, sentiu-se muito
mais desconfortável. Então arrazoou consigo que,
quando participava da reunião de domingo, o
pregador nunca havia dito que ela não poderia
usar um vestido como aquele. Por fim, saiu de
casa com ele.
Após ter caminhado um pouco, ela teve um
sentimento de que deveria voltar para casa, mas
não entendeu por quê. Enquanto andava, seu ser
interior discutia com ela: "Você poderia usar esse
vestido no passado, mas hoje não. As outras
podem usá-lo, mas você não". Ela realmente não
tinha paz interior. Quando chegou à entrada do
local de reuniões, a vontade de ir para casa a
deixou muito desconfortável. Ela não tinha como
lidar com esse sentimento que a pressionava,
então, bem na hora em que passava pelo limiar do
local de reuniões, ela se retirou e voltou para
casa. Ao fazê-lo, estava plenamente liberada,
porque seu ser interior estava em harmonia com
seu homem exterior. Ao voltar para o local de
reuniões com outro vestido, a reunião aquele dia
foi-lhe desfrutável de forma inédita. Naquele dia
ela aprendeu a lição de que o homem pode, de
fato, viver diante de Deus e em comunhão com
Ele.
A distância que uma pessoa vai percorrer no caminho
do Senhor depende completamente de quanto ela vive
na presença de Deus. U ma vez que nosso coração se
volte a Deus, logo temos Seu sentimento e sabemos o
que é Dele e o que não é. Essa experiência é dada
somente aos que andam no caminho de Deus. Esse
viver não é de acordo com a vida humana natural, mas
de acordo com a vida interior.
Há uma irmã que certa vez foi comprar tecido. Na loja
ela viu um tecido de lã e quis comprá-lo, mas seu
interior lhe dizia que não o fizesse e, em vez disso,
enviasse o dinheiro a certo lugar para a obra do
Senhor. Após considerar por algum tempo, ela o
comprou. Ao voltar para casa, ela perdeu a paz por três
dias, após os quais compartilhou com um irmão sobre
isso. Ela lhe disse: "Comprei um tecido, mas, na
verdade, comprei um pecado". Aconteceu que aquele
irmão precisava de um tecido, então pediu que ela o
revendesse a ele. Essa irmã agora seguiu o sentimento
interior e ofertou o dinheiro da venda do tecido para a
obra do Senhor.
Temos de obedecer ao sentimento interior. De outra
forma, mais cedo ou mais tarde, teremos de confessar
o pecado da desobediência, assim como aquela irmã o
fez. Isso nos mostra que quem anda no caminho do
Senhor deve, no mínimo, cuidar de algumas questões:
confessar cabalmente os pecados diante de Deus, lidar
claramente com os pecados diante do mundo e
consagrar-se totalmente ao Senhor. Fazendo assim,
teremos a presença do Senhor interiormente e seremos
capazes de ter comunhão com Ele e ter Seu
sentimento. Uma vez que tenhamos o sentimento do
Senhor, teremos de obedecer a cada sentimento que
obtivermos Dele. Quanto mais obedecermos a esses
sentimentos, mais sensível se tornará nosso ser
interior. Que o Senhor tenha misericórdia de nós! Que
Ele nos salve de apenas ouvir doutrinas e nos faca
andar em Seu caminho com o coração voltado a Ele.
 CAPÍTULO SEIS
LIDAR COM A CONSCIÊNCIA
Atos 24:16 diz: "E, por isso, procuro sempre ter
uma consciência sem ofensa, tanto para com
Deus como para com os homens" (VRC).
Segunda Timóteo 1:3a também menciona: "Dou
graças a Deus, a quem, desde os meus
antepassados, sirvo com consciência pura". Atos
fala de uma "consciência sem ofensa" e 2 Timóteo
fala de uma "consciência pura". Além disso, 1
Timóteo 1:19 diz: "Mantendo fé e boa consciência,
porquanto alguns, tendo rejeitado a boa
consciência, vieram a naufragar na fé". O
versículo 2 do capítulo quatro menciona: "Pela
hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo
cauterizada a sua própria consciência". Efésios
4:19 também diz: "Os quais, havendo perdido todo
o sentimento [consciência], se entregaram à
dissolução, para, com avidez, cometerem toda
impureza". Esses versículos mostram a resultado da queda, quando o homem perdeu a
importância da consciência no viver de um cristão.
Um cristão que quer crescer em vida deve fazer
três coisas: 1) confessar os pecados na presença
de Deus de modo cabal; 2) lidar com os pecados
de forma rigorosa diante dos homens; e 3)
consagrar-se a Deus de maneira absoluta. Se os
santos estão dispostos a levar essas três coisas
diante do Senhor e praticá-las de maneira séria,
por certo terão progresso em vida. No entanto, se
tomarem essa palavra somente como doutrina,
não receberão muita ajuda dela. Essas palavras
são somente diretrizes; apenas quando os santos
andarem no caminho do Senhor de maneira séria
é que elas lhes serão proveitosas. A experiência
dessas três coisas - confessar os pecados a
Deus, confessar os erros aos homens e
consagrar-se absolutamente a Deus - pode variar
em seqüência. Elas são como um cordão de três
dobras, e ninguém que toma o caminho do Senhor
pode negligenciá-las.
Além do mais, depois de um cristão ter
confessado todos os pecados, lidado com eles de
forma rigorosa e se consagrado a Deus, ele
também tem de lidar com a consciência. Esse é
um caminho necessário que um cristão deve
tomar. Depois que confessamos nossos pecados
diante de Deus, lidamos com nossos pecados
diante dos homens e nos consagramos a Deus,
logo temos um profundo sentimento, que não é
apenas uma percepção na mente, mas um
sentimento nas profundezas de nosso ser de que
devemos lidar com nossa consciência e nela obter
paz. Portanto é de vital importância saber a
origem, a posição e a função da consciência.
A ORIGEM, A POSIÇÃO E A FUNÇÃO DA
CONSCIÊNCIA
Em palavras simples, a consciência vem de Deus.
Os que conhecem a Deus devem saber que antes
da queda, Adão vivia na presença de Deus e não
precisava da consciência. Por exemplo, debaixo
da luz do sol durante o dia, não há necessidade
de lâmpada ou qualquer outro tipo de luz.
Somente os que não estão diante do sol precisam
de luz. A necessidade da consciência surgiu como
presença de Deus. No principio o homem vivia na
presença de Deus, que pode ser comparado com
o sol. No principio o homem recebia a luz
diretamente da face de Deus. Embora a luz de
vela seja fraca, não é sem função; quando o sol
se põe, ela começa a funcionar. A mesma coisa
acontece com a função da consciência. Quando o
homem vivia na presença de Deus e tinha a luz
divina, a consciência não era usada e sua função
não era expressa, porque o homem não precisava
dela diante de Deus. Pela história da humanidade,
vemos que o homem caiu pouco depois que foi
criado. Ele caiu da luz para as trevas. Após a
queda houve uma distância, uma barreira, entre
Deus e o homem. Nesse momento a Bíblia nos
mostra claramente que Deus decidiu ativar a
função da consciência do homem. Isso pode ser
comparado com acender uma lâmpada quando
escurece. Temos de nos lembrar que a função da
consciência foi ativada após a queda do homem.
A posição da consciência é representar ou,
podemos dizer, substituir Deus no homem. Assim,
embora seja bom viver de acordo com a
consciência, não é a condição mais elevada. A
condição mais elevada é que o homem viva
diretamente na presença de Deus. Por que
precisamos de uma lâmpada? Precisamos de uma
lâmpada porque o céu é escuro. Por que
precisamos da consciência? Precisamos da
28
consciência porque o homem é caído. Desde que
o homem caiu e perdeu a presença de Deus, este
foi obrigado a usar a consciência como Seu
representante para iluminar o homem. A história
humana pode ser dividida em várias
dispensações. A primeira é chamada de
dispensação da inocência; foi o tempo em que o
homem recebia o governo direto de Deus. Após a
queda, iniciou-se a segunda dispensação, a da
consciência. Nesse momento o homem tinha em
si o pecado e a consciência. Embora o homem
tivesse caldo em trevas pecaminosas, Deus ainda
lhe preservou a consciência, uma lâmpada. A
consciência humana ainda era capaz de iluminar o
homem e manifestar sua função. Foi assim que a
consciência foi ativada.
A QUEDA DO HOMEM
A queda do homem não foi parcial, mas
completa e contínua. Ele não permaneceu sob
o governo da consciência, mas continuou a cair.
Como ele caiu ainda mais? Pela história da
humanidade, vemos que a queda do homem
para o pecado foi progressiva. Primeiro, ele caiu
para a consciência, que o iluminava e
governava. Mas ele não foi capaz de
permanecer firme sob o governo da
consciência, e caiu novamente. Depois do
primeiro passo da queda, o homem tinha a
consciência dentro de si que representava Deus
para governá-lo. Mesmo assim ele a ignorava
em tudo o que fazia, e caiu novamente. Nesse
tempo começou a dispensação da lei, e o
homem passou a ser penalizado caso
desobedecesse à lei dos povos. Nessa situação
ele havia cai do ao extremo.
O ser humano é muito estranho: quanto mais é
governado pelo homem, mais ele cai. Por
exemplo, uma pessoa que é sempre
supervisionada pelos pais fará coisas
impróprias quando os pais não estiverem
presentes. Um aluno também não cumprirá as
regras quando não estiver sujeito aos
regulamentos da escola. Se não houvesse
policiais num país ou numa sociedade, o país
todo seria cheio de crime. É por essa razão que
os ladrões e bandidos não temem nem os céus
nem a terra, mas temem as leis dos povos. Se
tiverem como escapar da lei, farão muitas
coisas más. Isso prova que o homem é
totalmente caído.
Não há como de fato categorizar o homem. Se
tivermos de fazer isso, podemos simplesmente
dividi-lo em três categorias. A primeira é a mais
elevada, mas poucos fazem parte dela. Essa
categoria de pessoas vive diretamente na
presença de Deus. Essas pessoas são cheias
de luz, como o resplandecer do sol. No entanto
o número de pessoas nessa categoria é muito
pequeno.
Os que fazem parte dela são cristãos muito
espirituais e santos. A segunda categoria
também é composta de cristãos e também
possui um número pequeno de pessoas. Ela
compreende os que vivem pela consciência e
possuem consciência muito aguçada. Os filhos
nessa categoria não precisam da supervisão
dos pais, os alunos não precisam dos
regulamentos da escola e as pessoas comuns
são obedientes à lei e não precisam ser
governadas por policiais. Esse grupo de
pessoas vive sob o governo da consciência.
Elas não precisam do governo do homem,
porque sua consciência as ilumina e as
governa. Não farão nada que sintam não ser
adequado.
Nenhuma lei pode governar o homem por
completo, mas o governo da consciência
excede muito o governo da lei. Essa é a
segunda categoria de pessoas - os que vivem
sob o governo da consciência.
A terceira categoria não é governada por Deus
nem pela consciência. As pessoas nessa
categoria não temem a lei dos povos ou os
regulamentos da família. São capazes de fazer
todo tipo de maldade.
Outra categoria de pessoas, entre a segunda e
a terceira, é composta dos que vivem de acordo
com a consciência e, ao mesmo tempo,
aprendem a viver na presença de Deus. Esses
são cristãos que avançam. Um cristão normal e
que avança não vive somente pela consciência,
mas também na presença de Deus.
29
Na queda, o homem caiu da presença de Deus
para a consciência, e da consciência para a lei.
Todos nós, em maior ou menor grau, temos
esse tipo de experiência. Quando éramos mais
novos, nossos pais diziam que não deveríamos
roubar nem um doce. Se desobedecêssemos,
nosso coração dispararia. Quando o fizéssemos
pela segunda vez, nosso coração já bateria
mais devagar. Na terceira vez, ele bateria bem
mais devagar. Então na quarta vez que
roubássemos um doce, nosso batimento
cardíaco seria normal, porque nossa
consciência já não teria mais sentimento. Na
quinta vez, não sentiríamos medo de nada,
senão ser pegos em flagrante pelos pais. Nesse
ponto parecia que roubar doce não era nada; a
única coisa que temiam.os era ser pegos pelos
pais. Do mesmo modo, na primeira vez em que
colamos na escola, nosso coração disparou; na
segunda vez, ele já bateu mais devagar; na
terceira vez, o batimento cardíaco estava mais
devagar ainda; na quarta vez, estava em ritmo
normal. Contanto que não fôssemos pegos
pelos professores, tudo estava bem. Que isso
ilustra? Isso ilustra como caímos de nossa
consciência para o governo humano.
Além do mais, com respeito a relações imorais
entre homens e mulheres acontece o mesmo. A
primeira vez que as pessoas fazem alguma
coisa imoral, têm algum sentimento na
consciência; na segunda vez, têm menos
sentimento; na terceira vez, têm bem menos
ainda; na quarta, não têm sentimento nenhum.
Na quinta vez, têm pouco receio; temem
somente as leis dos povos ou temem ser vistas
pelos homens. Isso é a queda do homem do
sentimento da consciência para o governo
humano. Os ladrões e os salteadores estão no
mundo todo; se não houvesse polícia ou
governo, o caos do mundo estaria além de
nossa imaginação.
A maioria das pessoas iníquas teme a punição
da lei dos povos. Nosso Senhor nos salva de
viver dessa maneira. Após a salvação, se ainda
fazemos coisas contrárias às regras de nossa
família, aos regulamentos da escola ou às leis
da sociedade, receio que não sejamos de fato
salvos, ou, se somos, não nos parecemos
cristãos. Deus nos salva do ponto mais baixo da
queda. Uma pessoa não salva faz uma bagunça
na família, na sociedade e na nação; essa é a
queda do homem. Alguém salvo não necessita
do controle dos pais em casa, porque já é um
filho obediente; não necessita da supervisão da
escola, porque já é um aluno que obedece às
regras; também não necessita do controle da
sociedade ou da nação, porque já é um bom
homem, um cidadão que obedece à lei. Ele
obedece à lei não porque a teme, mas porque
vive pela consciência.
Na queda, o homem caiu da face de Deus para
a consciência, e da consciência para o governo
humano. O governo humano é o ponto mais
baixo da queda do homem, o ponto em que a
salvação de Deus o alcança.
A SALVAÇÃO DE DEUS
O ponto mais baixo da queda é o homem ser
governado por outros. Se a mulher deve ser
governada pelo marido, o marido pela mulher, e
os filhos pelos pais, isso prova que eles caíram
ao máximo. Alguns trabalham numa
organização ou empresa que estipula que seus
empregados devem chegar ao serviço às oito
em ponto, mas todos os dias eles tentam
descobrir se, na manhã seguinte, o gerente vai
chegar ou não nesse horário. Se ele for chegar
às oito, eles também chegarão; no entanto, se o
gerente tiver de ir a outro lugar e só for chegar
às oito e trinta, eles também chegarão às oito e
trinta. Acaso um cristão deve fazer isso? Se há
alguns entre nós que o fazem, isso não significa
que não sejam salvos, mas pelo menos
podemos dizer que não vivem de acordo com a
consciência. Alguém salvo chega ao emprego
às oito quando seu gerente chega às oito, mas,
quando seu gerente não chega às oito, ele
ainda chega. Ele vive dessa forma porque Deus
já o salvou de viver pelo governo humano e fez
com que ele viva segundo a consciência. Muitas
pessoas são de fato salvas, mas infelizmente
muitas esposas cristãs ainda enganam o marido
e contam mentiras na frente dos filhos. Essa
não é a maneira, a conduta adequada de um
30
cristão. Se um cristão é completamente salvo,
deve ser salvo desse tipo de condição.
Dez anos atrás eu servia em certa cidade. Um
dia um irmão veio a mim e disse: "Tenho um
problema que não consigo resolver há dias. Por
favor, me ajude". Então lhe perguntei qual era o
problema, e ele respondeu: "Fui salvo há muito
tempo; mais tarde, porém, eu me desviei. Eu
não som.ente jogava cartas o tempo todo, mas
também. roubava energia da companhia
elétrica. Na época muitas pessoas faziam isso e
eu o fazia quase que todos os dias. Mas agora,
pela misericórdia de Deus, fui avivado e,
sempre que penso naqueles dias, fico muito
incomodado. Não sei o que fazer". Por favor,
note que antes ele não temia ninguém; não
temia o céu nem a terra, mas somente o
funcionário da companhia elétrica. Ele temia o
homem, mas não a consciência. Um dia, no
entanto, ele foi avivado a ponto de sentir que
sua consciência não estava em paz. Como
resultado, já não conseguia roubar energia e
sentia que deveria pagar por toda a energia
roubada no passado. Quando veio a mim,
estava nessa situação difícil. Eu lhe disse: "É
muito simples. Você só precisa estimar uma
quantia bruta de toda a energia que roubou no
passado e restituir à companhia elétrica". Ele
disse: "Isso é muito difícil. Primeiro, é difícil
calcular a quantia exata, e, segundo, não tenho
a cara nem a coragem. de fazer isso". Então eu
lhe disse: "Não é tão difícil. Primeiro você
calcula um valor aproximado e depois um pouco
mais; se sua consciência não o condenar, será
o bastante. Segundo, embora seja vergonhoso
fazer isso, ao mesmo tempo, é algo glorioso, e
agrada a Deus alguém se arrepender do que
fez no passado".
O irmão pensou na minha palavra e achou
razoável. Então voltou e calculou a quantia,
assinou um cheque, escreveu uma carta
sincera e relatou à companhia elétrica toda a
história. Ele escreveu: "No passado roubei
energia de sua empresa, mas agora me tornei
cristão. Tenho um sentimento que me incomoda
a consciência dizendo que devo restituir-lhes ou
permanecerei sem paz". Pouco depois disso,
um irmão que é dono de uma loja de eletrônica
foi à companhia elétrica para falar com alguém
a respeito de certas coisas. O contador chefe o
viu e lhe disse: "Por favor, ajude-me a ver se
esse cheque que recebi é verdadeiro ou não.
Será que essa pessoa é doente mental? "O
irmão respondeu: "Eu conheço esse homem;
ele não é doente mental". Então o irmão
testemunhou ao contador o que acontecera e o
contador chefe ficou profundamente tocado ao
ouvi-lo.
Havia uma irmã que era muito descuidada. Em
1932, após ser avivada por Deus, ela logo
começou a viver por sua consciência. Pelo
sentimento da consciência, ela percebeu que,
alguns anos antes, cometera um ato
vergonhoso. Naquela época viajar de Nanking a
Xangai era muito conveniente, havia um trem
direto que ia e voltava entre as duas cidades.
Todavia esse trem exigia uma passagem. Essa
irmã havia estudado nos EUA e era professora
numa universidade. Também era alguém
responsável entre as alunas. Muitos que
trabalhavam na administração da via férrea a
conheciam, e a ajudaram a conseguir uma
carteirinha de empregado, que a permitia andar
de trem de graça. Mesmo uma pessoa formada
na faculdade, que estudou no exterior e era
professora universitária pôde fazer algo tão
mesquinho, e se comportar como ladrão e
cobiçar benefício tão pequeno. A maioria das
pessoas rebeldes e sem lei desobedecem
primeiro a Deus, então desconsideram a
consciência e, em terceiro lugar, infringem a lei.
Portanto, quando desprezam a lei, isso indica
que já desobedeceram a Deus e já
desconsideraram a consciência. Nesse estágio,
desde que não sejam punidas pela lei, elas
conseguem fazer tudo. Essa é a condição do
homem caído.
No entanto, depois que essa irmã foi salva, sua
consciência logo a iluminou e lhe deu um
sentimento de que fizera algo injusto e devia ao
governo por ter usado a carteirinha de
empregado. Ela ficou muito incomodada e foi
ter comunhão com os irmãos. Eles disseram
que ela deveria calcular o valor devido e
31
resolver isso com rigor. Ela disse que não seria
problema restituir o dinheiro, mas não sabia
como calcular o valor ou devolver o dinheiro.
Naquela época a renda da estrada de ferro
Nanking-Xangai ia para o tesouro nacional. À
luz disso, todos sugeriram que, calculada a
quantia, ela enviasse o valor diretamente ao
Ministério das Finanças, porque se o dinheiro
tivesse de ser transferido entre funcionários de
menor escalão, facilmente se perderia. Assim
ela escreveu uma carta ao ministro das finanças
e lhe enviou o valor. Mais tarde o jornal de
Nanking publicou a história.
LIDAR COM A CONSCIÊNCIA
Todo aquele que é salvo deve lidar com a
consciência. Se não o fizer, não terá paz. Se
não lidar com a consciência, não conseguirá
orar adequadamente. Se não lidar com a
consciência, a leitura da Bíblia será sem sabor
e a pregação do evangelho, ineficaz. Se não
lidar com a consciência, não conseguirá
prosseguir na jornada que está adiante. Todas
as pessoas salvas têm de passar pelo estágio
de lidar com a consciência se querem
prosseguir no caminho do Senhor. Nossa
consciência é como uma janela, e nosso ser é
como uma sala; a luz que a sala (nosso ser)
recebe deve passar pela janela (nossa
consciência). A principio, não há luz em nós,
somente trevas, mas nossa consciência é como
uma janela que permite que a luz entre.
Antes de ser salvos, nossa consciência é como
uma janela muito suja, manchada de massa de
vidro, pela qual nenhuma luz consegue
penetrar. Isso resulta na escuridão total em
nosso ser. Uma vez salvos, o Espírito Santo
entra em nós para nos iluminar, tornando nosso
ser interior cheio de luz. Nesse momento
sentimos que estamos errados. Então devemos
arrepender-nos e confessar os pecados diante
de Deus e lidar com os pecados diante dos
homens. Toda vez que confessamos ou lidamos
com o pecado, limpamos a janela antes coberta
de massa. A coisa maravilhosa é que, antes de
limpa-Ia, não sabemos quanto está suja; então,
quanto mais a limpamos, parece estar mais
suja. Um.a vez que a limpem.os, mesmo que de
leve, toda a sujeira oleosa é espalhada. Então,
quando a luz do sol brilhar sobre ela, parecerá
que está mais suja do que antes. No entanto,
no final, ela ficará limpa.
O mesmo acontece com nossa consciência.
Assim que fomos salvos, podemos ter pensado
que cometemos somente alguns errinhos diante
de Deus, mas depois que começamos a
confessá-los, logo vimos erros maiores. Por fim,
quanto mais lidarmos com os pecados, menos
pecados teremos. Isso é como limpar a janela:
quanto mais a limparmos, menos sujeira ela
terá. Como resultado desse processo, temos
paz interior e podemos espontânea e facilmente
orar a Deus. Quando a chuva joga lama numa
janela suja, quase não dá para ver nada de
dentro da casa; contudo, depois que a janela é
lavada, quando um pouquinho de lama cai nela,
é logo percebida. Muitos fizeram algo errado,
ainda que nunca percebam que estavam
errados. Isso prova que nunca lidaram com a
consciência.
A CONSCIÊNCIA E A FÉ CAMINHAM JUNTAS
Quem almeja prosseguir no caminho da vida
divina deve lidar com a consciência, porque a
consciência e a fé caminham juntas. Quando
oramos, precisamos ter fé. Oração sem fé é
igual a não orar. Deus somente ouve a oração
da fé; Ele não ouvirá nenhuma oração que não
proceda da fé. No entanto, uma vez que
tenhamos um problema na consciência, a fé se
vai; e, uma vez que haja um buraco na
consciência, a fé vaza. Ainda podemos orar e
clamar, mas, se não tivermos fé e nossa
consciência não tiver nenhum sentimento,
seremos como um pneu furado - quanto mais o
enchemos, mais ele vaza e fica murcho.
Primeira Timóteo 1:19 diz: "Mantendo fé e boa
consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado
a boa consciência, vieram a naufragar na fé". A
tendência da sociedade em direção à
corrupção é algo que não havia no principio. No
passado não era assim. Hoje mesmo os
círculos acadêmicos são cheios de mentira. Os
professores enganam os alunos, e os alunos
enganam os pais. Todo lugar está cheio de
mentiras. Isso ocorre especialmente entre os
32
jovens. Mesmo jovens cristãos contam
mentiras em casa e na escola. Acham que é
muito difícil não contá-las. É por essa razão
que não progridem na fé.
Se temos um sentimento assim que contamos
uma mentira, devemos lidar com ele com rigor
e não deixá-lo passar. Se contarmos uma
mentira a alguém e não tivermos paz na
consciência, temos de ir até a pessoa e logo
lidar com isso, dizendo: "Desculpe. O que
acabei de dizer é mentira; não é verdade".
Dessa forma nosso ser interior ficará cheio de
luz. Talvez fiquemos cheios de luz por três
dias. Então pode ser que nos deparemos com
outro incidente e contemos outra mentira.
Assim que isso ocorrer, devemos lidar com o
sentimento da consciência. Se não o fizermos,
depois de três ou quatro experiências como
essa, o sentimento na consciência pouco a
pouco se perderá. U ma vez perdido o
sentimento na consciência, não só contaremos
mais mentiras, como também faremos coisas
piores e naufragaremos na fé.
Portanto receio que a consciência de muitos
cristãos não resista à prova. Certa vez um
pregador me disse algo que viu ao visitar um
pastor. Quando se assentaram, o filho do
pastor veio e lhe disse que alguém procurava
por ele. Então o pastor disse ao filho na frente
do pregador: "Diga que não estou em casa".
Isso mostra como é fácil contar uma mentira,
porque isso "resolve" tudo. Porém, quando
contamos uma mentira, nossa consciência fica
com uma marca, como de ferro em brasa. Se
repetirmos isso, não teremos mais nenhum
sentimento na consciência; ela se tornará
amortecida. A consciência de muitas pessoas
não é vivificada, mas amortecida, porque
mentir tornou-se para elas um hábito. Um
cristão não conseguirá orar genuinamente após
ter contado uma mentira nem conseguirá orar
de fato após ter perdido a paciência. Alguns
dizem que conheceram cristãos que perderam
a paciência, mas conseguiram orar logo depois
disso. Há pessoas assim, mas Deus nunca
ouve as orações daqueles cuja consciência
está anestesiada. Se alguém não ouve a voz
da consciência, tampouco Deus ouvirá sua voz.
Os que não têm sentimento na consciência
certamente não têm fé nas orações. Deus não
ouve a oração de mentirosos. Uma vez que a
consciência de alguém fique corrompida,
vazando ou anestesiada, ele já não será capaz
de perceber o sentimento na consciência, e
Deus não ouvirá sua oração.
TER SEMPRE CONSCIÊNCIA PURA DIANTE DE
DEUS E DOS HOMENS
Em Atos 24:16 Paulo disse: "E, por isso,
procuro sempre ter uma consciência sem
ofensa, tanto para com Deus como para com
os homens" (VRC). "Consciência sem ofensa"
é consciência sem furos ou vazamentos. Se
confessarmos os pecados diante de Deus e
lidarmos com os pecados diante dos homens,
nosso ser interior será sem pecados e nossa
consciência será pura. Somente podemos
servir a Deus com consciência pura. Se
queremos que nosso serviço toque a Deus,
temos de servir com consciência pura. Se
nossa consciência não é pura, não somente
nossas orações não serão respondidas, mas
elas nunca tocarão a Deus. A consciência de
algumas pessoas é como um barco
naufragado. Embora alguns tenham
abandonado a consciência, os que são salvos
não devem fazer vista grossa a nenhum errinho
antes, devem lidar com eles por completo. Não
precisamos encorajar as pessoas a ser
empolgadas, porque empolgação às cegas não
tem nenhum proveito. Se queremos seguir a
Deus em vida para trilhar o caminho adiante de
nós, precisamos segui-Lo e seguir Seus
princípios. Se queremos servir a Deus e tocar
Nele, devem.os sempre ter Sua presença em nós,
ser cheios de luz e ter fé o tempo todo. Dessa
maneira, vida, revelação, luz e poder se tornarão
nossas experiências constantes. Desde que
lidemos cabalmente com a consciência
conseguiremos trilhar esse caminho de maneira
reta e adequada.
33
CAPÍTULO SETE
VIVER SEGUNDO A CONSCIÊNCIA E VIVER PERANTE DEUS
O HOMEM CAÍDO NÃO É GOVERNADO PELA CONSCIÊNCIA
Primeira Timóteo 1:5 diz: "Ora, o intuito da
presente admoestação visa ao amor que procede
de coração puro, e de consciência boa, e de fé
sem hipocrisia". O versículo 19 continua:
"Mantendo fé e boa consciência, porquanto
alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram.
a naufragar na fé". Segunda Timóteo 1:3 também
diz: "Dou graças a Deus, a quem, desde os meus
antepassados, sirvo com consciência pura".
Efésios 4:1-920 menciona: "Os quais, havendo
perdido todo o sentimento [consciência], se
entregaram à dissolução, para, com avidez,
cometerem toda impureza. Mas vós não
aprendestes assim a Cristo" (VRC). Todos esses
versículos mostram a importância da consciência.
Após a queda do homem, Deus ordenou que o
homem fosse governado por sua consciência.
Portanto, se estiver em condição normal, ele
cuidará do sentimento em sua consciência. No
entanto o homem caído não presta atenção ao
sentimento em sua consciência nem é governado
por ela; em vez disso, entrega-se à dissolução.
A GRAÇA DE DEUS FORTALECE O HOMEM
Depois que alguém é salvo, ele tem em si a
vida de Cristo. Se, porém, ele quer avançar
nessa vida, deve lidar com a consciência de
modo cabal. Se a consciência de um cristão
tem algum pecado, ele não é capaz de
progredir de forma alguma. Essas palavras
podem ser muito pesadas para alguns. Talvez
pensem que essas quatro questões - a
confissão cabal diante de Deus, a confissão
cuidadosa dos pecados diante dos homens, a
lida completa com a consciência e a
consagração absoluta a Deus - são difíceis
demais e parecem contradizer a palavra da
graça. Por um lado, é-nos dito que tudo
depende da graça de Deus e de Suas obras, e
não precisamos fazer nada; por outro, é-nos
dito que precisamos confessar cabalmente,
lidar com os pecados, consagrar-nos a Deus.
Parece que esses dois aspectos estão em
conflito entre si, fazendo com que o homem
não saiba o que fazer. A palavra da graça é
agradável aos ouvidos, cheia de suprimento e
muito tranqüilizadora, e a palavra sobre
disciplina parece ser muito pesada, quase
cruel, dura demais para o homem receber e
além do que ele pode fazer. Portanto o
homem está diante desse dilema.
Na verdade, a graça de Deus não enfraquece
o homem, mas o fortalece. O fato de um
cristão não confessar cabalmente os pecados
diante de Deus nem lidar por completo com os
pecados diante dos homens prova que lhe
falta graça. Um carro que não funciona, ou
está quebrado ou lhe falta gasolina. Quando
está em boa condição e tem gasolina
suficiente, por certo funcionará. Do mesmo
modo, se um cristão não confessar
cabalmente os pecados diante de Deus e não
lidar com os pecados diante dos homens, isso
prova que ele carece da graça. Se um cristão
não lidar com a consciência de modo cabal
nem se consagrar a Deus por completo, isso
também prova que ele carece da graça divina.
A exigência de Deus e Sua graça não se
confrontam; antes, se completam.
RECEBER A GRAÇA DE DEUS PARA CUMPRIR
SUA EXIGÊNCIA
Há muitas leis no mundo natural que têm dois
lados aparentemente contraditórios. Os que
estudaram física sabem que há duas forças
diferentes no universo: a força centrípeta e a
força centrífuga. A razão pela qual muitas
coisas não caem no chão é porque ambas, a
centrípeta e a centrífuga, funcionam em
conjunto. A lâmpada é outro exemplo. Para
iluminar, a lâmpada necessita de dois fios
elétricos; somente um fio não vai funcionar.
34
Outro exemplo é que no universo não há
somente a água da chuva, mas também há a
luz do sol. A água da chuva supre e a luz do
sol consome. Somente quando a luz do sol e a
água da chuva trabalham em conjunto é que
todas as coisas podem crescer. Se as plantas
receberem somente o iluminar do sol do
começo ao final do ano, e não receberem a
irrigação da chuva, não poderão crescer. De
modo oposto, se houver só o abastecimento
da água da chuva sem o brilho do sol, elas
não poderão crescer. Além do mais, também
sabemos que há noite e dia, para que todas as
coisas funcionem e repousem em ordem
perfeita. Do mesmo modo, o crescimento de
uma pessoa também depende de suprimento
e consumo. Os médicos nos encorajam a
comer e nos exercitar. Comer é para
suprimento e exercitar-nos é para o consumo.
A vida espiritual segue o mesmo principio. Se
um cristão apenas receber a graça e o amor
de Deus sem cumprir Sua exigência, por certo
não crescerá bem. Quanto mais ele receber a
graça de Deus e cumprir Sua exigência,
melhor e mais rápido crescerá. Um cristão
adequado deve, por um lado, receber a graça
e o amor de Deus e, por outro, cumprir a
exigência divina de forma estrita e absoluta.
Quando Deus lhe pede que lide com os
pecados, um cristão adequado o faz sem
reservas. Quando Deus lhe pede que confesse
os pecados, ele os confessa sem
arrazoamento. Quando lhe pede que se
consagre, ele o faz plenamente. Quando lhe
pede que lide com a consciência, ele o faz de
modo cabal. Um cristão adequado não é
descuidado nem faz as coisas de forma
incompleta; antes, lida completamente com a
consciência. Os que são experimentados
podem testificar que, quando alguém recebe
graça diante de Deus, por certo irá confessar e
lidar com os pecados, consagrar-se a Deus e
lidar com a consciência.
Quem confessa os pecados e lida com eles
consagra-se a Deus, e quem lida com a
consciência certamente recebe mais graça. Se
nos exercitarmos bastante, certamente
adoraremos comer e comeremos bem. Do
mesmo modo, quanto mais estritamente
cumprirmos a exigência de Deus, mais forte
será Sua graça em nós. Aparentemente os dois
são contraditórios entre si, mas na verdade se
completam. Sem a graça de Deus não temos
como cumprir todas essas exigências, e, se não
cumprirmos as exigências, não receberemos
mais graça. Espero que não entendamos mal
ou interpretemos mal essas palavras e
achemos que não há como cumpri-las. Pela
graça de Deus, somos capazes de cumprir a
exigência de Deus; pela graça de Deus, somos
capazes de lidar com todos os pecados.
EXPERIMENTAR A GRAÇA ESPECIAL DE
DEUS AO LIDAR COM OS PECADOS
Em minha vida cristã tive, certa vez, uma
experiência inesquecível relacionada com lidar
com os pecados, a qual testifica como a graça
de Deus é grande, porque foi ela que sustentou
todo meu ser interior. Somente quando lidei
com meus pecados, vi quão imensa é, de fato,
a graça de Deus. Por toda a vida não vou
esquecer essa experiência. Isso ocorreu seis ou
sete anos depois que fui salvo, e foi a primeira
vez que realmente lidei com meus pecados.
Naquele momento o Senhor trabalhou em mim
e me avivou, fazendo-me orar o tempo todo,
servir com zelo e ter um sentimento de lidar
cabalmente com todos os pecados. Um dia Ele
me iluminou e me fez lembrar-se de um
incidente ocorrido na juventude, quando eu
trabalhava para certa empresa. O prédio da
empresa havia pegado fogo e todos fizeram o
máximo para roubar as coisas da empresa. Eu
também peguei duas coisinhas. A primeira
coisa foi um lindo tinteiro de porcelana próprio
para caligrafia chinesa. Eu o coloquei no bolso
quando ajudava a empacotar as coisas da
empresa. O outro item foi uma escova de roupa,
um produto ocidental, que era muito bonita. Eu
coloquei o tinteiro em minha sala de estudos,
para que meus amigos ficassem admirados
quando o vissem. Além disso, era muito
conveniente usar a escova ocidental para
escovar as roupas quando ia vestir-me. Após
ser salvo, não notei nenhum problema de
imediato; somente tinha um pequeno
35
sentimento de que essas duas coisas eram de
origem duvidosa. Então, seis ou sete anos mais
tarde, a graça do Senhor me alcançou e percebi
que deveria lidar cabalmente com o pecado de
tê-las roubado. Não conseguia ler a Bíblia
enquanto olhava para o tinteiro. Além do mais,
as cerdas da escova se desgastaram depois de
seis ou sete anos de uso.
A necessidade de lidar com esses dois itens me
causou dois problemas. O primeiro era que o
filho de meu antigo chefe fora meu colega de
sala, e eu o conhecia muito bem. Como poderia
ir a ele e confessar? Achei isso muito difícil. O
outro problema era que as cerdas da escova já
haviam quase se acabado, então como poderia
devolvê-la? Por vários dias e noites eu mal
conseguia dormir, porque sentia que não poderia
ir até ele. Labutei por uma ou duas semanas e,
quanto mais labutava, mais difícil se tornava.
Então pedi a Deus que me desse coragem.
Naquela época meu chefe já havia falecido, então
pensei que deveria pagar pelos dois itens em vez
de devolvê-los. Depois que planejei tudo, fui à
casa de meu antigo colega num domingo à tarde.
Eu tinha tudo preparado. Era final de ano e ele
estava em casa. Quando me viu, disse: "Não o
vejo há muito tempo". Naquele momento fiquei
vermelho e lhe disse: "Eu vim pedir perdão. No
ano em que sua empresa pegou fogo, aproveitei a
situação e roubei esse tinteiro do escritório". Ele
disse: "Isso não é nada! Essa coisinha não
importa". Eu continuei: "E uma pequena escova
também! Mas ela já se desgastou, então quero
pagar essa quantia em dinheiro". Ele respondeu:
"Não se preocupe com isso! São só pequenos
objetos". Pedi que ele me entendesse. Vendo
como eu era sincero, ele não teve como me
rejeitar. Então perguntou: "Que tem na mão?".
Naquela época, o governo não permitia que o
povo imprimisse nenhum calendário que incluísse
o sistema solar ou lunar, mas havia uma
organização católica que publicava muitos
calendários assim. Essa organização era
estabelecida pelos ocidentais e o governo não
interferia em suas atividades. Todo ano essa
empresa mandava mais calendários para a
empresa em que eu trabalhava, e todos os
funcionários de posição comparativamente mais
alta recebiam um. Quando o filho de meu ex-
patrão me perguntou o que eu tinha na mão,
disse-lhe que tinha um calendário com os anos
solares e lunares. Então ele disse: "Isso é bom!
Dê-me o calendário e guarde o dinheiro. O
calendário será a reposição dos itens que você
roubou". Claro que, por um lado, eu estava feliz,
mas, por outro, triste.
Embora eu houvesse lidado com o pecado, ele
não quis aceitar o dinheiro e isso me preocupou.
No caminho de volta para casa, orei: "Senhor, o
que devo fazer com o dinheiro?". Então eu tive
uma idéia: "Eu deveria dá-lo a um mendigo, não
um mendigo comum, mas especial- alguém que
tivesse sido afligido pela guerra e andasse pelo
subúrbio". Quando cheguei à casa, já era noite.
Alguém bateu à porta, e fui atender. A pessoa
disse: "Senhor, por favor, tem misericórdia de
mim!". Olhei e vi que era um mendigo. Ele
continuou: "Não comi nada o dia todo". Logo pedi
que entrasse e lhe dei bolinhos chineses, água e
pequenas porções de comida. Depois que ele
terminou de comer, dei-lhe mais alguns bolinhos.
Ele disse envergonhado: "Você é um homem de
bom coração". Respondi: "Não, não sou bondoso.
Jesus preparou esse dinheiro para você. Tome".
Então o acompanhei e, quando chegamos a um
cruzamento, ele se prostrou diante de mim
sinceramente e partiu. No caminho de volta,
encontrei um irmão mais velho. Ele insistiu em me
dar um calendário. Quando cheguei à casa e o
olhei, vi que tinha os anos lunares e solares. Eu
disse ao Senhor: "Senhor, quão temível e
maravilhoso és! Preparaste o mendigo e o
calendário para mim. Realmente recebi graça
especial de Ti".
Ao lidar com os pecados, temos a presença do
Senhor e por isso O conhecemos mais. Lidar com
os pecados e com a consciência dessa maneira
não é algo da lei, mas da graça. Quanto mais
conhecemos e experimentamos a graça, mais
lidamos com os pecados; quanto mais recebemos
graça, mais crescemos. Espero que todos nos
tornemos cristãos maduros, e não cristãos "mal
passados". Isso não ocorre com base na lei, mas
pelo suprimento da graça. Quanto mais confissões
fizermos, mais santificados seremos.
36
SER SALVO PARA VIVER SEGUNDO A
CONSCIÊNCIA
No princípio o homem caiu da presença de Deus
para a consciência, e então da consciência para o
governo humano. Portanto há três coisas que o
governam: Deus, a consciência e o homem. Os
que vivem diante de Deus fazem parte da
categoria mais elevada de pessoas. Os que
vivem segundo a consciência não fazem parte
dessa primeira categoria, mas são pessoas
relativamente boas. Os que vivem sob o
governo humano fazem parte da categoria mais
baixa: não obedecem à consciência nem vivem
diante de Deus, mas se atrevem a fazer
qualquer coisa. Poucos vivem diante de Deus; a
maioria vive diante dos homens. O marido teme
ser surpreendido pela mulher, e a mulher, pelo
marido. Os filhos temem ser surpreendidos
pelos pais, e os pais, pelos filhos. Os médicos
temem ser surpreendidos pelas enfermeiras, e
as enfermeiras, pelos médicos. Todos temem
ser surpreendidos por outros. Quando ninguém
nos governa, podemos cometer todo tipo de
imoralidade. Os que temem somente o homem -
policia, juiz ou policial militar - são os mais
baixos e caídos. Temem apenas os olhos
humanos, e não o próprio Deus. Os cristãos
hoje vivem mais diante dos homens do que
perante a própria consciência. Os que vivem
diante de Deus são por Ele governados, os que
vivem pela consciência são por ela dirigidos e
os que vivem diante do homem pelo homem
são controlados. Essas três formas de viver -
perante Deus, segundo a consciência e diante
do homem - são chamadas respectivamente de
governo de Deus, autogoverno e governo
humano.
Quando fomos salvos, Deus nos resgatou de
viver sob o governo humano. Antes disso,
desde que outros - marido, mulher, professores
e supervisores - não nos vissem, faríamos todo
tipo de coisas impuras por interesse próprio.
Mas um dia o Senhor nos salvou do pecado e
do mal. Além disso, salvou-nos e livrou-nos de
viver apenas sob o governo humano. Como
filhos, já não violamos as regras da família e,
como pessoas comuns, certamente somos
obedientes a lei. Por que isso ocorre? É porque
somos salvos, e tudo o que nossa consciência
não nos permite fazer, por certo não o
queremos fazer. Se nossa experiência não é
essa, como podemos dizer que somos salvos?
Embora sejamos salvos, às vezes nos
comportamos como não salvos - os alunos
fazem coisas ilícitas pelas costas dos
professores e as mulheres ainda mentem para
os filhos e o marido. Um cristão que quer viver
diante de Deus deve experimentar a salvação
divina pelo menos a ponto de viver segundo a
consciência.
Esse caminho é muito básico. A queda do
homem para a posição de estar sujeito ao
governo da consciência é só a primeira
"parada". Depois disso, ele caiu ainda mais e
passou a estar sujeito ao governo humano.
Tudo o que a consciência proíbe, na verdade,
Deus proíbe, e tudo o que não agrada a
consciência não agrada a Deus. Tudo o que a
consciência condena, Deus condena, e tudo o
que é censurado por ela, na verdade, é
censurado por Deus. Depois que um cristão é
salvo, se não ouve a consciência nem cumpre
suas exigências, ele desobedece a Deus,
mente para Ele e não tem caminho para
receber a graça divina. Por amor aos novos
crentes, tenho de dizer que isso não significa
que a pessoa não seja salva. Certamente o é,
mas, por não ouvir a palavra de Deus, ela não
vence. Assim, devemos obedecer à consciência
com cuidado, a fim de lidar com todas as coisas
condenadas, censuradas e proibidas por ela.
Receio que muitos filhos de Deus entre nós
tenham a consciência cheia de impurezas e
vazamentos. Para alguns, ela pode ser como
um balde furado, que deixa vazar toda a água
posta nele. Embora tenhamos ouvido muitas
mensagens, quando passam por nós, elas se
esvaem. Parece que somos tocados e
iluminados quando lemos a Bíblia, mas todas
essas coisas vazam de nós e nos tornamos
como um carro sem combustível. Primeira
Timóteo 1:19 diz que, se rejeitamos a boa
consciência, naufragamos. Hoje muitos não
progridem na vida cristã porque não lidam
37
cabalmente com a consciência. Se não
prestarem atenção a esse ponto, não terão
como prosseguir. No entanto a coisa
maravilhosa é que sempre que lidamos com
nossa consciência, vamos a Deus. U ma vez
sob o governo de nossa consciência, somos
logo libertos de viver sob o governo humano e
vivemos diante de Deus.
VIVER DIANTE DE DEUS
Alguns podem perguntar: "Que significa viver
diante de Deus?" Viver diante de Deus significa
receber direção e governo diretamente Dele.
Certa vez conheci uma irmã muito madura no
Senhor. Ela morou em Nanking por quase trinta
anos. No final do ano lunar ela queria comprar
algo, não porque seguia o costume do mundo,
mas por necessidade. Calculou que precisaria
de cento e vinte yuan2 chineses. Visto que
servia o Senhor de tempo integral sem receber
nenhum salário, nem sempre tinha dinheiro em
mãos. Então orou: "ó Deus, sou Tua serva e
agora Te digo meu problema. Não quero ajuda
de homens, mas, se não me deres esses cento
e vinte yuan, isso Te envergonhará". Pouco
depois, um cooperador que morava algumas
províncias distante dali, de repente teve um
sentimento de que essa irmã idosa de Nanking
precisava de dinheiro. A quantia que lhe veio à
mente era exatamente cento e vinte yuan. Essa
é uma história real Ele percebeu que o ano
lunar se aproximava e, se enviasse o dinheiro a
ela, chegaria muito tarde; então enviou-lhe um
telegrama. Quando ela o recebeu, a quantia
era exatamente a mesma que havia pedido ao
Senhor. Isso não é questão de consciência,
mas de viver na presença de Deus.
A consciência lida com o certo e o errado. Ela
não é necessariamente o falar direto de Deus
conosco, mas é Seu falar indireto. Quando
essa irmã orou, como poderia um cooperador
que morava algumas províncias distante dali
saber que ela precisava de cento e vinte yuan?
Isso é resultado de viver diante de Deus e ter
comunhão com Ele. Esse cooperador lidava
cabalmente com a consciência e vivia na
presença de Deus. Quando estava em
comunhão com Deus, Deus falava com ele
diretamente e lhe dava direção. Precisamos ver
isto: alguém livre das regras do homem, que
vive segundo a consciência, tem comunhão
com Deus e vive diretamente em Sua
presença, de fato transcende o certo e o
errado. Se os outros viessem a ele para
apresentar um caso, ele não lidaria com isso só
com base no certo e no errado; antes, faria seu
juízo diante de Deus. Temos de saber que
muitos podem estar certos de acordo com o
certo e o errado, mas mesmo assim estão
errados diante de Deus. Para saber isso é
necessário o sentimento de nosso espírito.
Por exemplo, certo dia dois irmãos briguentos
vieram até mim. Se eu fosse alguém salvo
apenas a ponto de viver segundo a
consciência, falaria com eles segundo o
sentimento do certo e do errado em minha
consciência, dizendo: "Irmão Huang, você está
errado", ou: "Irmão Sun, você está errado".
Mas, se sou alguém que vive na presença de
Deus e estou aprendendo a conhecer a
consciência e a lidar com ela, eu me aprofundo
mais do que o sentimento nela e julgo segundo
meu espírito, vivendo absolutamente perante
Deus. Em termos de certo e errado, pode ser
que o irmão Huang estivesse errado, e o irmão
Sun, certo; no entanto, em termos de um
espírito adequado, pode ser que o irmão Huang
estivesse com a razão, porque seu espírito
diante de Deus estava certo. Alguém pode
estar errado em termos de certo e errado, n,as
seu espírito está certo diante de Deus. De
modo oposto, alguém pode estar certo em
termos de certo e errado, mas seu espírito está
errado perante Deus.
Você pode dizer que isso é muito complicado e
sê perguntar como uma pessoa pode estar
errada em relação a "certo e errado" e ainda
estar certa em relação ao espírito. Por
exemplo, sempre encontramos situações em
que marido e mulher discutem. Certo dia uma
irmã veio a mim e disse: "Irmão, quando meu
marido, seu irmão, fica feliz, ele levanta às três
da manhã para orar e ler a Bíblia. Depois que
fica cheio do Espírito Santo, sai para pregar o
evangelho. Faço comida para ele, mas ele não
38
come, porque diz que tem de jejuar e orar. Vê,
ele é seu irmão. Ele é exagerado. Você deve
lidar com ele". Todas as razões em todo o
universo parecem estar do lado das irmãs; elas
sempre estão certas. É verdade que o irmão
estava errado, mas a irmã foi indelicada. Em
termos de certo e errado, ela estava certa, mas
diante de Deus, estava errada. Embora tivesse
razão, visto que sua pessoa estava errada, ela
estava totalmente errada.
Certa vez outra irmã veio com o filho opor-se
ao marido. Vieram a mim e disseram: "Irmão
Lee, quando meu filho precisa comprar livros,
meu marido não me dá o dinheiro, e, quando
tenho de comprar comida, ele também não me
dá dinheiro. Tudo o que ele faz é pregar o
evangelho, e não se importa com mais nada.
Se acorda cedo ou tarde, tudo o que faz é
orar". Essa irmã veio exigir uma explicação, e
seu filho também perguntou: "Meu pai está
certo ao fazer isso? De fato já não
conseguimos agüentar". Eu não tinha nada a
dizer àquela irmã. Naquele instante, o irmão
chegou, e a irmã me disse: "Irmão Lee, agora
você mesmo pode perguntar-lhe se a situação
é assim ou não". O irmão simplesmente ficou
ali emudecido. Ele era interrogado como
criminoso. Sua esposa agia como se fosse
superior a um juiz, e o filho assistia. Tudo o que
pude fazer foi chorar com o irmão. Em termos
de "certo e errado", ela podia estar certa; mas
em termos da pessoa em si, o irmão é que
estava certo. Embora ela fosse salva, sua
carne era muito forte. O que ela disse estava
certo, mas sua pessoa estava errada.
Se queremos viver na presença de Deus,
devemos ser meticulosos ao lidar com os
pecados. Havia uma esposa muito gentil que,
certa vez, veio ver-me sem demonstrar que
estava brava. Disse que queria ter comunhão
comigo e falou que seu marido orava o tempo
todo e não voltava para casa antes da meia
noite. Enquanto me dizia isso, ela parecia muito
meiga e não demonstrava raiva nenhuma. Se
não tivéssemos aprendido a questão da
consciência, facilmente iríamos concordar com
o que ela dizia. Vendo sua boa atitude e modo
gentil, seria fácil pensar que ela era muito
instruída no Senhor, mas na verdade ela
acusava o marido. Os que têm alguma
instrução diante do Senhor sabem que o que
ouvem é apenas a superfície. Muitas vezes,
quando estamos diante de nossa consciência e
perante Deus, temos um sentimento mais
profundo do que o certo e o errado. Sempre
que a luz brilha, há o reinar de Deus e também
a vida divina. Se o homem não receber o
resplandecer divino para viver segundo a
consciência, será difícil aprender a conhecer a
vida. Além do mais, um dia todos teremos de
progredir além de viver pela consciência e dizer
a Deus: "O Deus, não quero só viver segundo a
consciência, quero viver diante de Ti".
39
CAPÍTULO OITO
AOS HOMENS "ISSO" É IMPOSSÍVEL,
MAS PARA DEUS TUDO É POSSÍVEL
DUAS PARÁBOLAS
Há duas parábolas em Mateus 21 e 22 que
ocupam lugar muito importante na Bíblia. O
capítulo vinte e um fala da obra na vinha e o vinte
e dois fala das bodas. A vinha é questão de obra
e a festa das bodas é questão de desfrute. A
primeira parábola diz respeito a Deus enviar Seus
servos à obra e a segunda diz respeito a Deus
chamar Seu povo para o desfrute. Enquanto a
obra exige que o homem pague um preço, o
desfrute é de graça. Temos de compreender bem
o princípio dessas parábolas. A primeira retrata
como Deus requer que o homem pague um preço,
labore. Ele exige que o homem dê fruto. Mas a
segunda nos diz que Deus quer que o homem
apenas desfrute. Assim o homem não precisa
pagar nenhum preço, porque todas as coisas já
estão prontas. Nessa parábola, se dissermos que
Deus exige algo do homem, é somente o desfrute
do que Ele preparou. Na primeira parábola, Deus
exige algo do homem e, na segunda, o homem
recebe tudo de Deus.
A que essas parábolas se referem? Todos os
leitores da Bíblia devem perceber que a primeira
refere-se à dispensação da lei e a segunda, à
dispensação da graça. Na dispensação da lei,
Deus lidou com o homem segundo a lei, exigindo
que ele fizesse tudo; na dispensação da graça
Deus lida com o homem por meio da graça,
desejando que o homem desfrute tudo o que Ele
realizou. Quando Deus lidou com o homem de
acordo com a lei, na dispensação da lei, houve
uma situação específica com resultado específico.
Na dispensação da graça, quando Deus lida com
o homem segundo a graça, há uma situação
diferente com resultado diferente.
A DISPENSAÇÃO DA LEI
Na dispensação da lei, Deus exigia do homem
labor, bom procedimento, pagar um preço e suor.
Quando o homem estava sujeito à lei do Antigo
Testamento, Deus nunca o supria; só fazia
exigências. Em Mateus 21 há uma vinha com
muito trabalho a ser feito, na qual o homem deve
labor ar. Essa vinha exigia que o homem
despendesse tempo e pagasse um preço. Mas
qual era o resultado? Era que o homem não dava
frutos a Deus - ele não realizava nada. Não é que
a lei estivesse errada, mas, devido à fraqueza e à
maldade do homem, ele não podia fazer nada
bom. Portanto o Senhor nos mostra nessa
parábola que, embora Deus pedisse várias vezes
ao homem que frutificasse, o Senhor nada
recebia. Isso indica que, sob a lei, se o homem
quer satisfazer as exigências divinas por seu
comportamento e justiça, os resultados são vãos e
vazios, porque ele não consegue satisfazê-las.
Essa parábola não diz que o homem deu pouco
fruto; diz que não deu fruto nenhum. Se tentar
cumprir a exigência de Deus sob a lei, o homem
fracassará em definitivo. Dessa forma, a primeira
parábola refere-se claramente à dispensação da
lei.
A DISPENSAÇÃO DA GRAÇA
A segunda parábola refere-se à dispensação da
graça. Essa dispensação não é comparada a uma
vinha, mas às bodas Precisam.os pagar algum
preço quando somos convidados às bodas?
Ninguém precisar pagar nenhum preço para
participar de um.a festa de casamento. Isso nos
mostra que na dispensação da graça, Deus lida
com o homem. de acordo com a graça. Tudo foi
preparado por Deus, e santos os convidados,
chamados simplesmente a desfrutar. Temos de
buscar Deus para que Ele nos mostre o princípio
da graça e vejamos que Ele já fez tudo e tudo está
pronto. Somos chamados simplesmente a
desfrutar e não precisamos pagar nada.
40
A DIFERENÇA ENTRE A LEI NO ANTIGO
TESTAMENTO E A GRAÇA NO NOVO
TESTAMENTO
A lei exige que trabalhemos e a graça exige que
recebamos. A lei é para que laboremos e a graça
é para que desfrutemos. Há duas figuras aqui:
uma é a da vinha, em que todos laboram, e a
outra é a das bodas, em que todos desfrutam. Na
dispensação da lei, era o homem quem
trabalhava, laborava e labutava. Na dispensação
da graça é Deus quem prepara todas as coisas e
deixa tudo pronto; o homem apenas precisa
desfrutar.
Qual o significado dessas duas parábolas? Já
sabemos que quem quer crescer em vida na
presença de Deus deve confessar os pecados e
lidar com os pecados e com a consciência. Mas
alguns podem dizer que essa palavra é elevada
demais e indagar se alguém consegue cumpri-ia.
Ou talvez perguntem: "Quem consegue lidar com
os pecados e com a consciência por completo?
No Novo Testamento Deus exige que lidemos
com os pecados e os confessemos, lidemos com
a consciência e nos consagremos a Ele de forma
cabal. Esses requisitos são da lei ou da graça?".
Lendo o Novo Testamento com cuidado, veremos
que há passagens claras que demonstram que
devemos confessar os pecados e lidar com a
consciência. Por exemplo, Mateus 5:26 diz: "Em
verdade te digo: De modo algum sairás dali,
enquanto não pagares o último centavo". Hebreus
9: 14 diz que devemos lidar com os pecados para
servir ao Deus vivo com consciência pura.
Exteriormente essas palavras parecem leis, mas
no Novo Testamento são, na verdade, graça.
Aqui está o problema. Não dissemos que a lei só
exige das pessoas e que a graça diz respeito ao
desfrute sem nenhuma exigência? Visto que
confessar os pecados, lidar com eles e lidar com a
consciência são obviamente exigências, como
podemos dizer que estão relacionadas com a
graça? Na superfície, parece que são exigências,
mas, na realidade, no Novo Testamento tudo é
graça, absolutamente graça. No Antigo
Testamento Deus fez muitas exigências ao
homem. Por exemplo, Deuteronômio 6:5 diz:
"Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua
força". O Novo Testamento também tem esse
mandamento e diz que devemos deixar todas as
coisas para amar o Senhor (Lc 10:27; Mt 19:29; Lc
14:26). Esses dois mandamentos - um no Antigo e
outro no Novo Testamento - parecem ser os
mesmos, mas na verdade não o são.
A LEI DO ANTIGO TESTAMENTO MOSTRA A
INCAPACIDADE DO HOMEM
Outro exemplo é que o Antigo Testamento ordena
que o homem honre pai e mãe (Êx 20:12) e o
Novo Testamento também ordena que o homem
honre pai e mãe (Ef 6:2-3). O Antigo Testamento
ordena que o homem seja santo (Lv 19:2) e Novo
Testamento também (1 Pe 1:16). Parece que o
Antigo e Novo Testamento dizem a mesma coisa,
e é difícil diferenciá-las. É verdade que os
mandamentos do Antigo e do Novo Testamento
procedem da boca de Deus, mas a santidade do
Antigo Testamento é totalmente diferente da do
Novo Testamento. Em poucas palavras, todos os
mandamentos do Antigo Testamento são para
provar a incapacidade e a impotência do homem.
Na época do Antigo Testamento Deus deu os
mandamentos e decretou a lei para que o homem
obedecesse e seguisse, mas ao fazê-lo Ele tinha
somente um propósito: mostrar que o homem é
incapaz e incompetente.
Acaso já consideramos por que Deus, no Antigo
Testamento, queria que o homem atuasse os pais,
fosse santo, O amasse e assim por diante? Afinal
Deus deu a lei para que o homem a violasse ou
guardasse? Todos os que conhecem a Bíblia
entendem que não há como o homem guardar a
lei de Deus. Sendo assim, por que Deus ainda a
decretou? Precisamos prestar atenção a essa
questão. Visto que o homem não se conhecia,
Deus lhe deu uma exigência muito severa para
que se conhecesse. Deus parecia dizer: "Você
está seriamente doente e precisa repousar, mas,
já que não está disposto, não tenho escolha a não
ser enviá-lo a trabalhar na vinha para que você
conheça sua verdadeira condição".
O problema é que até agora não nos
conhecemos. Deus, no entanto, nos conhece
plena e perfeitamente. O homem não tem como
41
agradar a Deus, e nenhum de seus bons
comportamentos pode satisfazer as exigências de
Deus ou ser aceitável a Ele. Mesmo assim, o
homem ainda pensa que é muito capaz e pode
tudo. É nessa situação que Deus lhe dá a lei e
exige que ele seja santo e O ame
incondicionalmente. Visto que o homem é incapaz
de cumprir a lei, sua incapacidade fica exposta.
Quando Deus deu a lei ao homem no Antigo
Testamento, não esperava que ele a guardasse
porque já sabia que não conseguiria. O único
propósito da lei é provar a incapacidade humana.
Todas as leis do Antigo Testamento são usadas
para mostrar a incapacidade e incompetência do
homem. Portanto, sempre que lemos um
mandamento ou uma lei, devemos prostrar-nos
diante de Deus e dizer: "ó Deus, não consigo
cumprir. Tu queres que eu Te ame de todo o
coração, de toda a alma, de toda a mente e de
toda a força, mas não consigo dar-Te nem uni
desses 'de todo', quanto mais quatro". Deus busca
esse tipo de percepção.
Lucas 10:27 diz: "Amarás o Senhor teu Deus de
todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a
tua força e de toda a tua mente; e ao teu próximo
como a ti mesmo". Na Bíblia a exigência para
amar tem dois lados: quatro "todo" em relação a
Deus - todo o coração, toda a alma, toda a força e
toda a mente - e um "como" em relação ao homem
- ao teu próximo como a ti mesmo. Se
perguntarmos a nós mesmos, temos algum
desses "todos"! Somos capazes de cumprir esse
"como"! De fato não temos nem metade desses
"todos". Quando estamos felizes, podemos amar a
Deus um pouco e, quando nosso próximo nos
agrada, podemos amá-la um pouco. Não
conseguimos amar nem os pais, quanto mais ao
próximo. Portanto Deus deu a lei do Antigo
Testamento para mostrar a incapacidade, a
impotência e a insuficiência do homem.
A LEI DO ANTIGO TESTAMENTO PROVA QUE
PARA O HOMEM É IMPOSSÍVEL,
MAS PARA DEUS TUDO É POSSÍVEL
Essa é a situação dos mandamentos do Antigo
Testamento, mas e o mandamento neotestamen-
tário! Os mandamentos e as leis do Novo
Testamento são diferentes dos do Antigo; são
para provar que Deus é capaz, para provar que
aos homens é impossível, mas para Deus tudo é
possível O Senhor disse aos discípulos em
Mateus 19:24: "É mais fácil passar um camelo
pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico
no reino de Deus". É difícil um camelo passar pelo
fundo da agulha. Ouvindo isso, os discípulos
ficaram atônitos e disseram: "Quem pode, então,
ser salvo!". Essa foi a conclusão dos discípulos,
mas o Senhor Jesus disse: "Isso é impossível
para os homens, mas para Deus tudo é possível"
(v. 26).
Isso é impossível para os homens refere-se à lei; para
Deus tudo é possível refere-se à graça. É
impossível para o homem cuidar da vinha, plantar
videiras e dar fruto para seu desfrute, mas para
Deus é possível preparar uma festa com rica
provisão de vinho para o desfrute do homem.
Tenhamos em mente que os mandamentos do
Antigo Testamento são para nos mostrar que para
os homens é impossível e os mandamentos do
Novo Testamento são para nos mostrar que para
Deus tudo é possível e tudo depende do próprio
Deus.
O Antigo Testamento é questão da lei, e não há
como o homem cumpri-Ia por si mesmo. O Novo
Testamento não é apenas questão da lei; antes,
ele abre o caminho para o homem receber a vida
divina, que é o próprio Cristo entrando no homem
e suprindo-o para satisfazer nele as exigências de
Deus. Entretanto no Novo Testamento Deus exige
do homem o quanto Ele mesmo supre; no Antigo
Testamento, porém, tudo o que Deus exigia do
homem apenas indicava quanto o homem era
incapaz. Na era do Novo Testamento sempre que
tocamos Deus e temos comunhão com Ele, todas
as nossas impossibilidades tornam-se possibili-
dades e todas as nossas incapacidades tornam-se
capacidades.
Há um trecho da Bíblia que registra o milagre do
Senhor Jesus ao alimentar os cinco mil (Mt 14:14-
21). Naquele dia, sem contar mulheres e crianças,
havia cerca de cinco mil homens. Os discípulos
disseram ao Senhor: "O lugar é deserto e a hora é
já avançada; despede as multidões para que, indo
42
às aldeias, comprem comida para si. Jesus,
porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-
lhes vós mesmos de comer" (vs. 15-16). Essa era
a ordem estrita do Senhor, mas os discípulos
disseram que não sabiam onde obter comida para
eles. Se a história terminasse aqui, a ordem do
Senhor seria a lei - o Antigo Testamento. Porém a
palavra do Senhor aqui não é o Antigo, mas o
Novo Testamento, não a lei, mas a graça. Para
ser mais específico, Sua palavra aqui não foi uma
ordem, mas uma indicação, mostrando ao homem
o caminho para receber mais da graça abundante
de Deus. Quando nós mesmos não temos nada
para comer, como alimentar outros? O Senhor
então lhes perguntou: "Quantos pães tendes?"
(Mc 6:38). Responderam: "Cinco, e dois peixes".
Então o Senhor tomou os cinco pães e os dois
peixes, abençoou-os e os deu aos discípulos, que
os deram. à multidão, e todos comeram e se
fartaram. Isso prova que, por trás da exigência do
Senhor Jesus, há grande provisão.
Depois que um.a pessoa é salva, ela tem de
confessar os pecados, lidar com os pecados e
com a consciência, e consagrar-se ao Senhor.
Nenhum.a dessas coisas pode ser feita por nós
mesmos. Todavia devem.os parar aqui? Se
pararmos aqui, todas essas questões serão leis
para nós. Não devemos parar por aqui; antes,
devemos levar nossas incapacidades e Ele e dizer: "ó Deus, não consigo cumpri-lo; eu o
impotências ao Senhor e dizer-Lhe: "ó Senhor, Tu
queres que eu lide com os pecados e com a
consciência, mas eu não consigo". Indo ao Senhor
dessa forma, veremos quanto o poder de Deus e
a graça abundante de Cristo conseguem fazer em
nós.
OS MANDAMENTOS NEOTESTAMENTÁRIOS
ABREM CAMINHO PARA A GRAÇA DE DEUS
O Antigo Testamento faz o homem ver sua
incapacidade e o Novo Testamento é o modo de
Deus abrir Sua graça ao homem. Ao perceber que
é pobre, o homem fica aberto para receber a
provisão da graça divina abundante. Em suma,
todo mandamento e exigência de Deus provam a
incapacidade e a impotência do homem. Toda vez
que levarmos esses mandamentos e exigências a
Deus, Ele logo abrirá caminho para nos transmitir
Seu suprirnento de modo contínuo.
Certa vez uma mulher sentiu que deveria
confessar algo ao marido. Isso lhe era muito difícil
porque estava acostumada a ser dominadora. Sua
vontade era muito forte e ela era muito orgulhosa.
Normalmente a mulher tente o marido, mas nesse
caso era o contrário. Um dia, porém, ela sentiu
que estava errada e deveria confessar ao marido.
Enquanto considerava em fazê-lo, encontrou
alguns problemas. Primeiro, não tinha muita força;
segundo, tinha receio de perder seu prestígio e,
terceiro, visto que no passado havia oprimido o
marido, temia que ele se voltasse contra ela e a
oprimisse. Nesse momento sentiu que não
poderia mais ser cristã. Sabia que ser cristã
significa ser iluminada pelo Senhor. Também
sabia que, depois de iluminada, teria de lidar com
todos os sentimentos de inquietação na
consciência; e se não lidasse, iria sentir-se muito
mais inquieta. Então decidiu: "Serei somente uma
cristã comum; serei só o que sou". Esse é um
cristão típico. Seu coração é muito sincero, suas
palavras são verdadeiras e ele se sente triste por
dentro.
Como podemos ajudar pessoas assim? Temos de
ensiná-las que todos os mandamentos
neotestamentários abrem caminho para a graça
de Deus. Toda vez que recebemos um
mandamento de Deus, devemos levá-lo de volta a
dou a Ti assim como os discípulos Te deram os
pães e os peixes. Sempre sou incapaz. Dou-Te
Teu mandamento e a mim mesmo. Senhor, faze o
que achares melhor. Não posso fazer
absolutamente nada". Os que praticarem ir ao
Senhor dessa forma serão abençoados e
receberão Sua provisão abundante. Isso pode ser
comparado com os discípulos levando os cinco
pães e dois peixes ao Senhor. Logo que fizeram
isso, as riquezas foram manifestas.
Não pensem que o milagre dos cinco pães e dois
peixes é o único. Toda vez que Deus nos leva a
obedecer a Seu mandamento é também um
milagre. Se Ele não fizer um milagre em nós, nada
poderemos fazer e nada teremos. Podemos estar
no fim, mas o Senhor ressuscita os mortos. Toda
vez que guardamos Seu mandamento, Ele por
certo faz grande milagre em nós.
43
Devemos sempre crer em Deus, porque Ele nunca
nos engana. Se sentimos que enganamos nosso
cônjuge, devemos confessar-lhe nossos pecados.
Se não conseguimos, temos de nos entregar ao
Senhor. Ele certamente cuidará do resultado. Não
precisamos ficar ansiosos ou duvidar de nada. A
graça do Senhor é maravilhosa! Não conseguimos
fazer muitas coisas, mas, depois que oramos,
consagramo-nos ao Senhor e nos colocamos em
Suas mãos cheias de graça, há muita força
indescritível que brota em. nós e nos encoraja a
confessar. Talvez nem profiramos nada, n1.as
vertemos lágrimas. À medida que isso acontece,
não nos sentimos nem um pouco envergonhados.
Somente sentimos que estamos cheios de Deus e
cheios de força. Talvez por essa razão a pessoa a
quem confessamos pode ser salva.
DESDE QUE ESTEJAMOS DISPOSTOS, DEUS
É CAPAZ
Todos os mandamentos neotestamentários são
iguais as leis do Antigo Testamento - são as
exigências de Deus para o homem, exigindo-lhe
que faça algo. Contudo a exigência de Deus no
Novo Testamento não é apenas para o homem
cumprir, mas para o próprio Deus cumprir. Como
podemos pedir a alguém com tuberculose que vá
a pé para Kaohsiung? Se ele quiser ir a
Kaohsiung, devemos deixá-lo ir de avião ou pelo
menos de trem. Não podemos permitir que gaste
energia. Muitos filhos de Deus não entendem que
os mandamentos do Novo Testamento e a graça
não se relacionam com nossa habilidade, mas
com nossa disposição. Se estivermos dispostos,
levaremos nossa incapacidade e impotência a
Deus. Desde que estejamos dispostos, Ele é
capaz. Quando nos colocarmos em Suas mãos,
haverá caminho para realizar "sinais e maravilhas"
em nós.
Se achamos pesado confessar os pecados, lidar
com os pecados e com a consciência, e
consagrar-nos ao Senhor, não devemos
desanimar. No Novo Testamento, desde que
estejamos dispostos a obedecer à exigência de
Deus e nos colocar em Sua mãos, Ele nos
capacita em meio a nossa incapacidade. Então
podemos ver a presença, a graça e a glória eterna
de Deus.
44
CAPÍTULO NOVE
PODER TUDO EM CRISTO
João 15:5 diz: "Eu sou a videira, vós os ramos.
Quem permanece em. Mim, e Eu nele, esse dá
muito fruto; porque sem Mim nada podeis
fazer". Filipenses 4:11-13 diz: "Digo isto, não
por causa da pobreza, porque aprendi a viver
contente em toda e qualquer situação. Tanto
sei estar humilhado como também ser honrado;
de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho
experiência, tanto de fartura como de fome;
assim de abundância como de escassez; tudo
posso naquele que me fortalece". O versículo
13 contém, a frase "tudo posso naquele que me
fortalece". Todos sabem que Aquele que me
fortalece refere-se a Cristo. Tudo podemos
Naquele que nos fortalece.
TODOS OS SALVOS TÊM NO CORAÇÃO O
DESEJO DE AGRADAR A DEUS
Todos os salvos têm o coração desejoso de
agradar a Deus. Esse coração é muito forte em
algumas pessoas, mas muito fraco em outras.
No entanto, se é fraco ou forte, todos os salvos
o têm, a menos que ninguém pense em Deus
ou O busque. Uma vez que uma pessoa
busque a Deus, espontaneamente tem desejo
de agradá-Lo. Isso é porque no universo Deus
deseja que o homem tenha o coração desejoso
de amá-Lo e buscá-Lo.
Todo o que conhece a Deus sabe que Ele tem
muita graça para o homem e muito trabalho
para fazer no homem. Mas, se o homem não
quer isso, Deus não tem caminho para fazer
nada. Assim dar o coração a Deus é abrir-Lhe
caminho para trabalhar. Se uma pessoa não
estiver disposta a dar o coração a Deus, este
não terá caminho de lhe dispensar graça ou
trabalhar nela. Isso pode ser ilustrado pelos
pais que querem fazer algo pelos filhos, mas
estes viram as costas e se afastam dos pais.
Como resultado, os pais nada podem fazer. Um
coração que ama a Deus é muito precioso para
Ele e é o que Ele valoriza. Deus deseja que o
homem O ame e O busque. Isso não significa
que Deus quer obter algo bom do homem, mas
que tem muitas coisas boas para o homem,
muita graça para lhe conceder e muito trabalho
para fazer nele. Se o homem não ama a Deus
e não se aproxima Dele, Ele não terá caminho
para fazer o que deseja, desse modo Deus
sempre deseja que o homem O ame e se
aproxime Dele.
Da mesma forma que os pais, Deus sempre
almeja que Seus filhos sejam como Ele.
Sempre que um coração se volta a Deus, Ele o
valoriza muito. Muitas vezes, porém, visto que
não desejamos valorizá-Lo tanto, Ele tem de
usar caminhos tortuosos para nos fazer voltar a
Ele. Toda vez que sentimos o amor de Deus e
a doçura de Seu amor em nós, nosso amor
para com Ele brota de forma espontânea, e
oramos: "O Deus, eu Te amo; meu coração é
Teu". Sentimos que Deus é muito amável e
precioso. Então oramos: "O Deus, Tu és
preciosíssimo; nada é mais precioso do que Tu.
Embora haja muitas coisas amáveis, quando
comparadas a Ti, Tu és o mais glorioso. O
Deus, não importa se consigo amar-Te; apenas
Te amo, e para sempre Te amarei".
DEUS REQUER QUE O HOMEM O AME DE
CORAÇÃO, MAS NÃO COM A PRÓPRIA FORÇA
O fato de que podemos fazer essa oração
prova que Deus já trabalhou em nós. Às vezes,
Ele usa o ambiente ao redor para nos forçar a
amá-Lo; essa é Sua obra. Outras vezes, Ele
nos atrai com Seu amor; essa também é Sua
obra. Ele faz essas coisas, porque quer que O
amemos. Deus não pode fazer muito em quem
nunca Lhe permitiu trabalhar e em quem não
sente que Ele é amável. Sempre que trabalha
numa pessoa, Deus primeiro a deixa perceber
que Ele é amável. Como resultado, o coração
dela é estimulado. Então ela O amará. Isso é
muito precioso.
Todavia, toda vez que alguém está disposto a
se levantar para amar a Deus, surge um
45
grande problema. Todos, sem exceção, têm
esse problema. Assim que alguém é
estimulado a amar a Deus, um problema logo
surge: ele se esforça para agradar a Deus. O
desejo de amar e agradar a Deus é muito
adequado e precioso, e é plenamente aceitável
a Deus. Mas essa pessoa amará a Deus com a
própria força e da própria maneira. Isso é o que
desagrada a Deus. Ele não quer nada que seja
de nossa força e rejeita tudo o que dela vem.
Por exemplo, posso pedir a um irmão que faça
algo comigo, mas não quero que use seu
esforço, porque isso será um grande problema.
Parece muito estranho pedir às pessoas que
nos ajudem, mas não que usem a própria força.
Se alguém lhe pedir que o ajude a fazer algo,
mas não quiser que você use sua força, será
muito difícil para você. Será um problema para
você se ele quer seu coração, mas não sua
sabedoria nem sua maneira. Normalmente, se
alguém me pede que o ajude, eu o ajudo do
meu modo e de acordo com minha sabedoria e
força. Mas, se ele não quer minha força,
sabedoria ou maneira, por que quer minha
ajuda? Seria melhor não ajudá-lo. Usar nossa
força é um princípio humano. Porém não é a
maneira de Deus. Ele não quer que o homem use
sua força, maneira ou sabedoria; quer somente o
coração do homem.
ABANDONAR AS FORÇAS E OS MÉTODOS
PRÓPRIOS E DEIXAR TUDO COM ELE
Há uns quinze anos conheci um missionário
ocidental que compartilhou comigo seu
testemunho. Disse-me que, embora fosse salvo
quando jovem, não conhecia o Senhor muito bem.
Mesmo quando veio à China para a obra
missionária, ele ainda não O conhecia muito.
Usou o exemplo de dirigir um carro para mostrar
isso. Disse que, como não era bom motorista,
pediu que o Senhor o ajudasse. O Senhor era
como seu Instrutor. Toda vez que ele ficava
confuso, pedia conselhos ao Senhor. Quando não
tinha força, pedia que o Senhor o ajudasse. Essa
era sua situação passada. Mesmo assim, ele não
achava que o Senhor o tivesse ajudado muito.
Parecia que quanto mais pedia direção ao Senhor,
mais o Senhor recusava dar-lhe direção. Mais
tarde, ficou evidente que, embora seu amor pelo
Senhor fosse correto, ele não deveria usar seus
esforços ou métodos; antes, tinha de abandoná-
los todos. Ele sabia que era certo ter o coração
voltado para o Senhor e que, sem esse coração, o
Senhor não teria caminho para lhe conceder graça
ou trabalhar nele. Todavia ele percebeu que
deveria colocar seus métodos e forças de lado.
Disse que agora daria "o carro todo" ao Senhor,
inclusive os bancos e o volante. Quando o Senhor
dirigisse bem, ele O louvaria; quando o Senhor
dirigisse rápido, ele Lhe agradeceria. Ele entregou
toda a sua vida nas mãos do Senhor e iria
somente sentar do Seu lado e desfrutar. O Senhor
cuidaria de todos os problemas, e Dele viria toda a
força, enquanto ele iria somente apreciar a
paisagem e desfrutá-la.
Embora esse seja um exemplo simples, mostra o
problema de muitos. Ou não amamos a Deus ou,
uma vez que O amamos, usamos nossos esforços
e métodos para agradá-Lo. Como resultado,
desviamo-nos Dele. Querem.os amá-Lo e agradá-
Lo com nossa força, de acordo com nosso ponto
de vista e à nossa maneira; Deus, porém, não
quer nada disso. Desse modo, por fine, desviamo-
nos Dele. Muitas vezes, portanto, quando estamos
fracos, pedimos a Deus que nos fortaleça. Outras
vezes, quando falhamos, pedimos que nos faça
vencer e nos ajude a permanecer firmes. Orações
assim raramente são respondidas. Deus quase
nunca responde a orações para fortalecimento ou
para vencer. Por isso muitos podem duvidar de
Deus e perguntar: "Por que Deus não ouve minha
oração?". O problema é que, se é você que dirige
o carro e pede ao Senhor que seja seu Instrutor
ou Auxiliar, Ele nunca dará conselho ou ajuda. Há
um ditado muito verdadeiro: Se não permitirmos
que o Senhor trabalhe completamente, Ele não
trabalhará. Se usamos nossa maneira para
agradá-Lo, desviamo-nos Dele e talvez fiquemos
desencorajados. Muitas distrações e problemas
surgem disso, mas esse é também o momento
para receber graça. Por essa razão, Deus sempre
prepara o ambiente especifico para nos
enfraquecer e nos fazer sentir que não
conseguimos suportá-lo ou lidar com ele.
46
DEUS LEVANTA CIRCUNSTÂNCIAS PARA NOS
QUEBRANTAR
Se já amamos o Senhor, podemos pedir-Lhe que
nos ajude a melhorar a fim de agradá-Lo. Em
resposta Ele não só não nos ajuda, mas piora o
ambiente para nos suprimir e nos tornar incapazes
de fazer qualquer coisa. Num momento como
esse, muitos podem questionar por que é que
antes, quando não amavam a Deus, não tinham
problema algum e agora, que O amam, o
ambiente está mais difícil. É exatamente isso que
Deus faz. Visto que temos um coração para
amar o Senhor, Ele levanta circunstâncias para
quebrar nossos esforços e todos os nossos
métodos. Ele não quer nenhum de nossos
esforços ou maneiras, quer apenas nosso
coração.
Essa é a parte mais difícil do trabalhar de Deus
no homem. Muitas vezes, quando nosso
coração vem, nossa força também vem. Os dois
parecem inseparáveis. Mas Deus quer somente
o coração do homem, e não o esforço ou a
maneira humana. Esse problema é semelhante
ao de um médico que opera um paciente com
tumor. O tumor, que está ligado ao corpo do
paciente, tem de ser removido, mas o corpo
deve ser preservado. Quando não amamos a
Deus, nossa força não vem. Quando não O
amamos, o ambiente contrário também não se
levanta. Porém, uma vez que O amemos, nossa
força surge. Para aperfeiçoar nosso coração e
quebrar nossa força, Deus permite que
situações nos sobrevenham. Portanto muitos
ficam confusos, mas Deus nunca fica confuso.
Toda vez que trabalha em nós, Ele sempre nos
dá um sentimento interior pelo qual nos ordena
agradá-Lo. Todavia, embora nos dê esse
sentimento e nos ordene agradá-Lo, Ele não
quer que o façamos por nós mesmos. Quer que
o Senhor Jesus seja nossa força para agradá-
Lo. Por isso Deus piora nosso ambiente para
nos quebrar a fim de que não sejamos capazes
de confiar em nós.
Uma irmã, que não estava acostumada a se
submeter ao marido, um dia leu na Bíblia que a
mulher deve respeitar o marido e sujeitar-se a
ele. Em resposta, ela teve o desejo de fazer
isso, e tomou uma decisão diante de Deus,
dizendo: "ó Deus, doravante dá-me força para
respeitar meu marido e sujeitar-me a Ele". Sua
oração, por um lado, mostra seu desejo de
agradar a Deus, mas, por outro, mostra que ela
desejava usar seu esforço para se submeter ao
marido. Ela amava a Deus e queria agradá-Lo,
mas pretendia usar seu esforço para obedecer
ao marido e assim agradar a Deus, então orou
e pediu a ajuda de Deus. Que Deus fez? Oito
em dez vezes, Deus aumentou e piorou bem
mais o mau humor do marido. Todo dia ela
orava: "ó Deus, dá-me força para obedecer a
meu marido". Deus não apenas não lhe deu
força, mas permitiu que o mau humor do marido
piorasse. Isso a desencorajou, então ela orou
de novo diante de Deus: "ó Deus, no passado
quando não obedeci a Tua palavra, meu marido
era como um cordeiro. Agora que quero
agradar-Te, ele piorou. Gostaria de saber o
porquê disso". Por fim, ela não conseguia mais
orar. Que estava acontecendo? Temos de nos
lembrar que a obediência da mulher ao marido
depende de Deus. Além do mais, é também
Deus quem faz o marido ficar de mau humor.
Deus só faz isso porque quer que nossa força
entre em falência.
Conheci uma irmã que depois de salva cuidava
bem do marido em casa. Embora não
demonstrasse orgulho no rosto, ela expunha um
aroma de orgulho no falar. Um dia encontrou
um problema. Queria amar a Deus, então orou:
"ó Deus, de hoje em diante, quero agradar-Te
ao lidar com meu marido e filhos". Após fazer
essa oração, sua situação familiar ficou caótica,
o humor do marido piorou e os filhos ficaram
mais peraltas. Ela orou para ser uma mulher
submissa ao marido e boa mãe para os filhos a
fim de agradar a Deus, mas a situação familiar
ficou cada vez mais difícil. Ela quase não
conseguia suportar e não se sentia adequada
em casa. Então veio a mim e disse: "Irmão, que
está havendo? No passado quando eu era uma
irmã comum, minha situação familiar não era
tão ruim; pelo menos eu parecia uma boa
mulher diante de meu marido e uma boa mãe
diante dos filhos. Mas, desde o dia em que
decidi amar a Deus e agradá-Lo ao lidar com
47
meu marido e filhos, eles ficaram mais difíceis
de lidar. Eles não conseguem agüentar, nem
eu". Esse não é somente o problema de nossa
irmã, mas de muitos de nós.
Se amamos a Deus, é Ele quem faz, e, se tem.Os
confusão na família, também é Ele quem faz.
Todas essas coisas concorrem com o propósito
de pôr fim a nossa força. Quer sejamos humildes
ou bondosos, nossa humildade e bondade provêm
de nossa força. Se não formos quebrados, mesmo
sendo bons, tudo o que fizermos não será nada,
senão nossas obras, em vez de Deus fazendo em
nós e por meio de nós, ou de nós fazendo por
meio de Deus. As coisas que fazemos podem
estar certas, mas, se nosso ser estiver errado,
nossa força também estará. Portanto Deus
levanta o ambiente para nos quebrar e eliminar
nossa força. Se tentarmos agradar a Deus sem
estar de acordo com Sua maneira, Ele suscitará o
ambiente para eliminar nossa força e destruir
nossa maneira, para que reste apenas um
coração desejoso de agradá-Lo, e não nosso
esforço ou maneira. Quando somos levados a
esse ponto, tudo o que conseguimos fazer é
prostrar-nos diante Dele e dizer: "ó Deus, não
tenho nenhuma força para Te agradar. Ó Deus, é
impossível agradar-Te segundo minha força e
maneira. Ó Deus, o máximo que tenho é um
coração desejoso de Te amar e Te desejar".
SER LIVRE DO EGO E VIVER PARA CRISTO
Nesse momento, viveremos para Deus, e nessa
hora, Deus nos mostrará o fato glorioso de que
sem o Senhor nada podemos fazer. Sem o
Senhor tudo o que fizermos não poderá agradar a
Deus. Somente quando Ele se torna nossa força
somos capazes de agradar a Deus. Em João 15:5
o Senhor Jesus disse: "Porque sem Mim nada
podeis fazer". Por um lado, a Bíblia diz que tudo
podemos Naquele que nos fortalece (Fp 4:13); por
outro, diz que sem Cristo nada podemos fazer.
Isso significa que não só precisamos ser livres de
nós mesmos, mas também estar em Cristo. Em
outras palavras, Deus nos quebra para que não
confiemos em nós e sejamos livres do ego; Ele
também nos mostra que Cristo é nossa força e
nosso poder. É por meio desse processo que
nossa força entra em falência, e é também. por
meio dessa experiência que Deus nos mostra que
Cristo é nossa força e é vivo e poderoso em nós.
Por essa razão podemos testificar: "Já não sou eu
[...] mais Cristo" (Gl 2:20). Nesse momento,
louvam.os e agradecemos ao Senhor
interiormente e Lhe dizemos: "Senhor, Tu és
minha vida e poder". Colocamo-nos de lado e
dizem.os: "Senhor, temos Tua vida e poder em
nós. Já não usamos nossas forças e métodos".
Esse é o viver santo de um cristão, e é seu viver
vencedor. Não precisamos decidir ser submissos,
porque há um poder que nos capacita a sê-lo. Não
há necessidade de tomar uma decisão, porque o
poder, que é o próprio Senhor, vem de dentro.
Nessa hora percebemos que o que fazemos não é
apenas bom, mas é o próprio Senhor.
SEM CRISTO NADA PODEMOS FAZER
O poder de Deus é Cristo, mas em nossa
experiência são necessários vários passos para
Cristo expressar Seu poder em nós. O primeiro
passo é Ele atrair nosso coração para amá-Lo. O
segundo é que tentamos amá-Lo por nós
mesmos, mas falhamos e ficamos
desencorajados. Nesse momento Deus nos
mostra: não é nossa força, mas a de Cristo; não
somos nós, mas Cristo; não é nossa maneira, mas
a Dele; não é nossa sabedoria, mas a Dele. Deus
nos mostra que devemos deixar de lado os
esforços e os métodos próprios. Então, embora
não o façamos de modo intencional, colocamo-
nos de lado, porque tivemos tantos fracassos que
perdemos a autoconfiança. Enquanto outros
conseguem vencer, nós não; fracassamos o
tempo todo. Percebemos que pessoas como nós
não conseguem agradar a Deus. Nesse ponto
somos quebrados; somos completamente
quebrados. Vemos que já não somos nós, mas
Cristo. Apenas Nele é que tudo podemos.
Assine, de modo espontâneo o Senhor Jesus
se torna o poder em nós. Toda a santidade e a
vitória que tivermos virá desse processo de
quebrantamento.
Quando vejo alguém zeloso para o Senhor, que
quer fazer muitas coisas para Ele, sempre
tenho dois sentimentos distintos. Por um lado,
sinto que é sempre bom ter disposição de
servir o Senhor; por outro, tenho o sentimento
48
de que seu zelo não seja de muito proveito, e
ele está fadado ao fracasso. Não somente isso,
falhas e fracassos são bons para um cristão.
Havia um irmão cuja situação e oração eram
boas antes de ele se casar. Mas depois de
casado, ele não conseguia ler a Bíblia ou ter
comunhão adequada com Deus, porque tinha
um problema diante Dele. Ele não entendia o
porquê disso. Antes de se casar, não tinha
nenhum problema com o Senhor; uma vez
casado, não só não conseguia orar, mas
também ficou desencorajado. Se não fosse às
reuniões, seu ser interior discordava, mas, se
fosse, seu ser interior ficava desencorajado.
Ele sabia que devia amar o Senhor, mas não
conseguia. Ficou profundamente deprimido.
Quando vi essa situação, fiquei muito contente.
Ele me perguntou o que deveria fazer, e eu lhe
disse que não precisava fazer nada nem se
preocupar com nada. Isso não era nada mais
do que o Senhor a quebrantá-lo.
Sempre pensamos que somos capazes de
agradar ao Senhor com nossa força. Todavia o
esforço e os métodos humanos somente
representam o ego. Tentar agradar a Deus
dessa forma é por nossa força, e não pela vida
de Cristo; é por nossa maneira, e não pela
iluminação de Cristo. Nós é que somos
expressos, e não Cristo. Nós é que tentamos
agradar a Deus, e não Cristo. Dessa maneira, o
próprio Cristo não é expresso e não há como
ser expresso como nossa vida e poder. Temos
de saber que a vida cristã não é fazer o bem,
mas expressar Cristo. O propósito de Deus é
trabalhar Cristo em nós para que Ele seja
expresso de nós.
Toda vez que tomamos a decisão de agradar a
Deus, temos de perceber que o que vem a
seguir é sempre disciplina, fracassos e falência.
Essa falência não é física, mas ética. Não
conseguiremos resistir às provações. Deus
suscitará um ambiente para nos suprimir,
quebrar, fazer com que nos decepcionemos em
nós mesmos e nos consideremos nada. Nesse
momento veremos que não podemos agradar a
Deus com nossa força. O que O agrada é o
que Cristo faz por meio de nós; o que O agrada
é Cristo ganhar terreno em nós. Contudo, para
Cristo ganhar terreno em nós e ser expresso
em nós, temos de permitir que nossa força,
nossos métodos e nossa sabedoria sejam
quebradas por Deus.
NÃO MAIS EU, MAS CRISTO
A maioria das pessoas acha que o problema do
homem é o pecado, e que o pecado é o inimigo
de Deus. Na verdade, o problema do homem
não é o pecado, mas sua força e sua maneira.
Visto que o homem tem muita força, muitas
maneiras e muita sabedoria, Cristo não tem
terreno nele. Para que Cristo ganhe terreno no
homem, Deus tem de fazer uma coisa. Que
coisa é essa? Quebrar a força, os métodos, a
sabedoria e a determinação humana. Todas as
forças, métodos, sabedoria e determinações do
homem devem ser quebradas por Deus.
Nossa experiência nos diz que, quanto mais
nos esforçamos, mais quebrantamento há.
Quanto mais oramos para pedir que Deus
cumpra nosso desejo de agradá-Lo, mais Ele
nos quebra. Ele cria situações específicas que
não podemos suportar; por fim, todas as
nossas forças e métodos vão à bancarrota,
pois não suportamos o ambiente. Nossas
forças e nossos métodos entram em falência.
Então dizemos: "ó Deus, não consigo. Nada
tenho além de um coração que Te ama". Nesse
momento Ele nos mostra que o Senhor Jesus é
vivo em nós para ser nossa vida e nossa força.
Então nos prostramos e dizemos: "ó Deus, já
não sou eu, mas Cristo; já não são meus
métodos, mas Teu guiar; já não é minha
determinação, mas Teu brilhar". Como
resultado, somos capazes de agradar a Deus,
e Cristo é capaz de nos encher por dentro e ser
expresso por fora. Quem alcançou esse ponto
teve de passar por muitos sofrimentos e
quebrantamentos. Bem-aventurados os que
conseguem passar por tudo isso. Dessa forma
sabemos como Cristo pode ser o poder em
nós. Sem Ele nada podemos, mas Nele
podemos tudo.
 CAPÍTULO DEZ
A NECESSIDADE DE LIDAR
COM CERTOS ITENS NO SERVIÇO A DEUS DISCERNIR DESEJO,
INTENÇÃO E CAPACIDADE
Um servo de Deus deve discernir três coisas:
desejo, intenção e capacidade. Todos sabemos
que desejo é algo que se almeja. Para muitos,
intenção refere-se ao que se espera. E, claro,
capacidade, ou habilidade, refere-se à força
necessária para realizar algo. Quem serve ao
Senhor deve ser quebrantado nessas três
questões ou haverá lacuna em seu serviço.
O desejo de servir a Deus é indispensável a
todo o que serve. O que Deus mais valoriza no
homem é seu desejo de servi-Lo e seu desejo
por Ele. Deus criou o universo e todas as
coisas, mas Seu coração não está no solou nas
estrelas. Nem está nos anjos ou nas outras
coisas, pois nenhuma delas é para Deus. A
Bíblia nos diz que o homem é o centro do
universo (cf. Zc 12:1) e, sem ele, o propósito
divino não pode ser cumprido. Portanto,
embora Deus tenha criado todas as coisas,
Sua real preocupação e atenção estão apenas
no homem. A coisa mais difícil para Deus
ganhar no homem é o coração. Isso pode ser
comparado ao pai que ama o filho mais do que
qualquer coisa, mas não consegue ganhar seu
coração. Para cooperar com alguém, nosso
coração precisa estar aberto a ele. Deus tem
muito trabalho a realizar no universo, mas para
tanto deve ganhar a cooperação do homem.
Portanto, para fazer isso, Ele deve tocar o
coração humano.
DEUS DESEJA QUE O CORAÇÃO DO HOMEM
O AME
Como Deus toca o coração do homem? Que
métodos usa para comovê-lo? Ele usa Seu
amor para comover nosso coração. Que é o
amor? É o coração de Deus. O coração é
realmente especial. Quando falamos do
coração, em geral referimo-nos ao amor. O
coração não reage aos pensamentos ele deve
ser tocado pelo amor. Deus nos criou com um
coração para que sintamos esse amor. Por
exemplo, quando estamos com sede e alguém
nos dá água, nós bebemos. Mas, quando não
estamos com sede, não importa quanta água
nos dêem, não temos vontade de bebê-la. O
coração de Deus é como um copo d'água e
nosso coração é como a sede. Todos reagem
ao amor, porque no homem há um coração de
amor. Temos um corpo por fora e um espírito
por dentro, e entre os dois fica a alma, que
inclui a mente, a emoção e a vontade.
O coração de Deus deseja que o homem O
ame, mas o coração humano sempre ama
outra coisa além de Deus, algo que não deveria
amar. Não importa nossa idade - velho ou novo
- alguns amam a família; outros, os animais de
estimação; outros, os filmes; já outros amam
jogar majong; alguns amam sua reputação;
outros, a posição, o conhecimento e o dinheiro.
Parece que, sem amor, o homem não tem
sentido. O maravilhoso é que, uma vez que
tenha amor, o homem está disposto a fazer
qualquer coisa. Sem amor, no entanto, é difícil
ele até mesmo levantar o dedo. Não importa
quão sujo um filho esteja, a mãe está disposta
a cuidar dele, porque o ama. Uma empregada,
porém, pode não ser capaz de dar o mesmo
cuidado. Se lermos a Bíblia de maneira séria,
saberemos que a primeira exigência de Deus
para com o homem é o coração e a segunda, o
amor. Do início ao fim, Deus quer que o
homem seja por Ele e deseja que o homem O
ante de todo o coração.
O amor mais legítimo é o amor para com o
próprio Deus. Se temos qualquer outro amor no
coração, cedo ou tarde sofreremos dano.
Muitas pessoas que amam o dinheiro, por fim,
são picadas por ele. Muitos que amam os
outros são por eles traídos. A Bíblia nos diz que
somente os que amam a Deus de fato provam
Sua doçura. Salmos 43:4 diz: "Então, irei ao
altar de Deus, de Deus, que é a minha grande
alegria". Para aqueles cujo coração está
voltado a Deus, Ele é sua alegria. Alguns
amam tanto a Deus que só em ouvir Seu nome
50
sentem como se tivessem levado um choque
elétrico. Esse é o coração que Deus quer que
tenhamos para com Ele.
Entretanto, uma vez que voltemos o coração a
Deus e estejamos prontos para viver para Ele,
surge um problema. Se alguém tiver amor,
também terá opinião. Por exemplo: uma vez fui
a certo lugar onde os irmãos me amavam
muito. Quando comiam, gostavam de colocar
óleo de gergelim em todo prato ou tigela de
sopa. Assim, quanto mais óleo de gergelim
colocassem no prato de alguém, mais o
acolhiam. Eu, porém, não gostava de óleo de
gergelim toda vez que sentia seu cheiro, não
suportava. Mas naquela ocasião não tive
escolha a não ser comê-lo, porque nós que
trabalhamos para o Senhor temos de guardar
este princípio: aonde quer que formos,
devemos comer o que nos servem. Eles não só
colocaram óleo de gergelim em minha comida,
mas, não importava se eu ia dormir ou sair,
sempre havia um irmão comigo. Como
resultado, não consegui dormir direito nem me
aproximar de Deus. Eles de fato tinham muito
amor, mas esse amor era insuportável.
NEGAR O EGO
Esse exemplo nos mostra que, uma vez que o
coração de alguém ame a Deus, suas opiniões e
sugestões o seguem e, uma vez que estas
venham, Deus sofre. Por exemplo, se uma pessoa
o ama de acordo com à própria opinião e nunca
presta atenção a seus sentimentos, você apenas
sofre com esse amor. Pedro agiu assim em
Mateus 16. Seu amor pelo Senhor era correto,
mas sua boa intenção ao repreendê-Lo não. Seu
bom coração era correto, mas sua boa intenção
não. Deus quer o coração do homem, e não sua
opinião. Você ama seu marido? O segredo, então,
é fazer tudo não de acordo com sua intenção e
vontade, mas de acordo com a intenção e a
vontade dele. Se aqueles santos que me amavam
soubessem realmente o que é amor, teriam
perguntado se eu gostava de óleo de gergelim em
vez de insistir em colocá-lo em meu alimento. Em
Mateus 16 Pedro tinha boa intenção, mas o
Senhor disse: "Para trás de Mim, Satanás!" (v.
23). Hoje muitos amam o Senhor e são zelosos
por Ele, mas suas boas intenções nunca foram
quebrantadas. Eles expulsam demônios em nome
do Senhor, mas o Senhor não os aprova, porque o
fazem segundo suas intenções e preferências, e
não de acordo com as intenções e as preferências
do Senhor. Eles não cuidam da preferência de
Deus, mas da preferência dos homens.
Portanto o Senhor disse: "Se alguém quer vir após
Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e
siga-Me" (v. 24). Negar a si mesmo é negar o ego.
A função da cruz é mortificar o ego. Muitas vezes,
se não amamos muito o Senhor, não temos tantos
problemas, mas, quanto mais O amarmos, mais
sofrimentos teremos. Quando me serviram o óleo
de gergelim, eu me contive e não falei nada;
porém o fato de "darem óleo de gergelim" um dia
será quebrado por Deus. Eu sofri, não por causa
do amor deles, mas pela opinião deles.
Precisamos ver que a cruz vem para lidar com
nossas opiniões.
A vida e a obra de todo homem caído são sempre
conduzidas por seus pensamentos, e, se seu
pensamento é forte, torna-se sua opinião. Devido
à queda, a opinião do homem se tornou o fator
mais forte de direcionamento de sua vida e de
suas ações.
O coração do homem ama o Senhor, mas seu
modo de pensar nunca foi quebrado pelo Senhor.
Por essa razão, Deus sempre nos quebra. Alguns
estão dispostos a receber quebrantamentos já
outros fogem. ao sofrer um golpe. Por exemplo,
algumas irmãs realmente amam o Senhor e estão
dispostas a servir no local de reuniões. Mas, uma
vez que o coração desperte, a opinião também
surge. Um exemplo disso é limpar as cadeiras.
Mesmo nesse serviço duas pessoas terão
opiniões diferentes. Uma diz que quer limpar as
cadeiras com pano seco e a outra insiste em usar
pano úmido. Por fim, a que sugere usar o pano
seco dirá: "Tudo bem. Se você insiste que sua
opinião está certa, eu vou embora. Você pode
limpar as cadeiras sozinha". Essa irmã ama a
igreja? Claro que sim. Mas, se a ama, por que foi
embora? Ela foi porque a outra irmã não limpou as
cadeiras segundo a opinião dela. Opiniões podem
ser um problema mesmo na pregação do
evangelho. Todos os santos são zelosos e estão
51
dispostos a fazer parte da equipe do evangelho.
Um irmão, porém, diz que o tambor do evangelho
deve ser tocado a sua maneira e, se outros não
aceitarem sua opinião, ele não voltará mais.
Todos temos de aprender a lição de que em todo
serviço devemos levar o coração, mas não a
opinião.
O serviço da igreja não depende da realização de
tarefas, mas do aperfeiçoamento de quem serve.
O tempo é servo de Deus. Dessa forma, todos
devemos receber Sua disciplina enquanto
estamos no tempo a fim de ser o tipo de pessoa
que Ele deseja. Na pregação do evangelho e na
obra, tudo depende de quanta disciplina
recebemos. Podemos usar as irmãs que limpam
as cadeiras conto exemplo. A irmã que
coordena o serviço talvez não seja tão boa
quanto você, pois você é inteligente e capaz.
Sua opinião talvez seja muito boa, então, se as
irmãs não a ouvem, você não volta a servir. Se
é assim, você não só não sabe fazer as coisas,
mas também não sabe conduzir-se como ser
humano adequado. A lição da cruz é: embora
minha opinião esteja certa, não presto atenção
a ela; tudo o que sei é amar o Senhor. Quando
venho limpar as cadeiras, quero limpar todas
as minhas opiniões e disposição. Se em casa
você ama o marido e ele a ama a ponto de
permitir que você coloque as cadeiras de
cabeça para baixo, é muito difícil você ser
quebrantada. A maior função da cruz é quebrar
suas propostas, suas opiniões e seu ser.
No serviço sempre fazemos as coisas segundo
nossas opiniões. Além disso, quanto mais
amamos o Senhor, mais opiniões temos. A
carne está oculta no amor pelo Senhor. Como
sabemos disso? É porque a carne está oculta
nas opiniões, e as opiniões são, na verdade,
veneno recoberto de açúcar. Quando as
pessoas não aceitam nossas opiniões, nossa
carne logo se expressa. Se fazemos algo bem
feito, mas os outros insistem em dizer que não,
nossa carne logo se expressa em nosso mau
humor. Todos são iguais. Antes de pedirmos
ajuda a alguém, ele não tem opiniões; mas,
uma vez que lhe pedimos ajuda, todas as
opiniões virão com ele. Quando o amor vem, as
opiniões o seguem. Todavia, quando elas vêm,
Deus as quebranta. Algumas pessoas, devido
ao temor do quebrantamento do Senhor,
deixam de amar. Havia um irmão que amava o
Senhor e estava disposto a oferecer seu
dinheiro e esforços à igreja, mas os irmãos com
os quais se reunia não eram muito bons com
ele. Isso o desencorajou. Em termos de
serviço, pode ser que os irmãos não tenham
visto as coisas direito e talvez ele estivesse
certo; no entanto, em termos de sua pessoa,
era o Senhor que queria lidar com ele por meio
dos irmãos.
Quando lemos os evangelhos, vemos que
Pedro gostava muito de dar opinião e sempre
cometia erros. Em Mateus 17 o Senhor e os
discípulos foram a Cafarnaum. Enquanto o
Senhor estava na casa, os que cobravam o
imposto do templo vieram a Pedro e
perguntaram: "Não paga o vosso Mestre as
duas dracmas?". Pedro respondeu sem
hesitação: "Sim". Aqui vemos que ele deu sua
opinião e deixou sua posição. Ele deveria ter
voltado à casa e perguntado ao Senhor se Ele
pagava ou não o imposto. Ele não o fez; antes,
disse: "Sim". Então, ao entrar na casa, o
Senhor lhe perguntou: "De quem cobram os
reis da terra impostos ou tributo? dos seus
filhos ou dos estranhos?". Pedro respondeu:
"Dos estranhos". E o Senhor disse: "Logo,
estão isentos os filhos" (vs. 24-26) . Todavia,
para não causar tropeço, o Senhor pagou o
imposto. Quando Pedro disse: “sim,” o Senhor
disse “não”. Quando Pedro disse “não” o
Senhor disse: "Sim". O Senhor fez isso de
propósito para lidar com Pedro. Além disso,
como o imposto foi pago? A maneira foi que o
Senhor pediu a Pedro que fosse pescar. Isso
por certo o incomodou. O Senhor lhe disse que
pegasse o primeiro peixe que fisgasse, tirasse
um está ter de sua boca e o usasse para pagar
o imposto (v. 27). Isso é muito significativo. Se
eu fosse Pedro, ficaria perplexo. Por que o
Senhor o tratou dessa forma? Foi
principalmente para lidar com sua opinião,
porque Pedro sempre falava primeiro. Porém
em Atos vemos que Pedra já fora
transformado. Nesse tempo ele havia sido
52

disciplinado cabalmente e não tinha nenhuma amo" (Jo 21:16). Embora amasse o Senhor, ele
opinião. Quando os governantes entre o povo percebeu que seu falar nada significava. Então,
vieram e levaram Pedro e João, proibindo-os quando o Senhor lhe perguntou pela terceira vez:
de pregar em nome de Jesus, Pedra lhes disse "Simão, filho de João, tu Me amas?", Pedro se
entristeceu e disse: "Senhor, Tu sabes todas as
que, embora eles o tivessem proibido de falar,
coisas, Tu sabes que eu Te amo" (v. 17). Nesse
se Deus quisesse que ele falasse, ele teria de
ponto Pedro realmente perdera toda a sua
falar (At 4:18-20). Seu coração e pensamentos confiança. Ele não amava muito o Senhor, mas já
foram quebrantados por Deus. não confiava em si mesmo. Antes havia dito de
forma intrépida que não tropeçaria, mas tropeçou
No Antigo Testamento, o rei Davi sentiu que devia
três vezes num só dia. Naquele dia no mar de
preparar um santuário para Deus, visto que ele
Tiberíades, o fato de o Senhor lhe perguntar três
próprio morava numa casa de cedro. Portanto
vezes: "Tu me amas", realmente teve significado
colocou a arca de Deus sobre um carro de bois, tirou
especial. No dia em que negou o Senhor, Pedro se
da casa de Abinadabe, de Baalá de Judá, e a levou
aquecia no pátio do sumo sacerdote, mas nesse dia
à cidade de Davi. No caminho, quando passaram
o Senhor preparou o fogo para ele no mar de
pela eira de Nacom, os bois tropeçaram e a arca de
Tiberíades. Pedro antes pescava para se manter,
Deus começou a cair, então Uzá estendeu a mão e a
mas nesse dia o Senhor lhe deu peixe para comer.
segurou. Ao fazer ele isso, Deus o feriu. Depois que
Antes Pedro tinha de acender o fogo; agora o
Uzá morreu, Davi indagou se havia feito algo errado.
Senhor preparou o fogo para ele. Antes Pedro
Mais tarde, entendeu que isso aconteceu porque
precisava pescar para se sustentar; agora o Senhor
Deus não se agrada da força do homem. Como
assou um peixe para ele. No mar de Tiberíades o
resultado, na vez seguinte, Davi fez com que os
Senhor em pessoa tocou o coração de Pedro e, uma
sacerdotes levassem a arca de Jeová. Quando
vez que veio o amor do Senhor, todo o poder natural
tinham andado seis passos, Davi sacrificou bois e
de Pedro acabou.
carneiros cevados, cingiu-se com uma estola
sacerdotal e dançou com toda sua força diante do Quando, porém, Pedro viu que os seguia o discípulo
Senhor (2 Sm 6:1-15). Essa história nos mostra que o Senhor amava, que estivera reclinado sobre o
como Deus rejeita os pensamentos e a capacidade peito de Jesus, sua opinião surgiu de novo e ele
humana. perguntou: "E quanto a este?". (v. 21). Em resposta,
o Senhor lidou com ele mais uma vez, dizendo:"Se
SIMPLESMENTE AMAR AO SENHOR APÓS Eu quero que ele permaneça até que Eu venha, que
SER DISCIPLINADO te importa? Segue-Me tu" (v. 22). Antes de dizer
isso, o Senhor também havia dito a Pedro: "Quando
Na noite em que o Senhor disse aos discípulos que
eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas
todos tropeçariam por causa Dele, Pedro disse ao
por onde querias; quando, porém, fores velho,
Senhor: ''Ainda que todos venham a tropeçar por
estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te
Tua causa, eu jamais tropeçarei" (Mt 26:33). Logo
levará para onde não queres" (v. 18). O Senhor não
depois de dizer isso, Deus levantou um ambiente
queria que Pedro prestasse atenção a como estariam
especial para destruir seu orgulho. Quando o Senhor
as outras pessoas, mas apenas O seguisse. Esse foi o
foi levado preso, Pedro o seguiu de longe e, quando
último quebrantamento que Pedro teve. A carne e a
o Senhor foi cruelmente torturado pelo sumo
maneira de pensar de Pedro foram disciplinadas
sacerdote, Pedro se aquecia no pátio. Enquanto
cabalmente. Ele não tinha mais opiniões ou ego.
estava ali, uma criada lhe disse: "Tu também
Portanto, no dia de Pentecostes, Pedro não era o
estavas com Jesus, o galileu" (v. 69). Pedro logo
mesmo; era outra pessoa. Mesmo quando outros não
negou. Naquela noite cumpriu-se a palavra do
queriam que ele falasse, ele continuava a falar em
Senhor de que Pedro O negaria três vezes. Por meio
testemunho ao Senhor. Ele estava totalmente sem o
dessa experiência Pedro foi disciplinado e
ego. Por fim, a vontade de Deus quebrantou sua
angustiado ao máximo. Como resultado, mais tarde
vontade e a morte da cruz subjugou suas opiniões e
ele foi pescar.
forças. Dizem que, por fim, Pedro estava até mesmo
Depois que ressuscitou, o Senhor Se manifestou a disposto a ser crucificado pelo Senhor de cabeça para
Pedro no mar de Tiberíades e lhe disse: "Tu me baixo.
amas?". Dessa vez Pedro não respondeu direto: "Eu
Te amo", mas disse: "Sim, Senhor, Tu sabes que Te