A partir da leitura do conto "Lumbiá", de Conceição Evaristo, comente: como é
possível trabalhar o tema "Infância perdida" em sala de aula?
Infância perdida tem-se em personagens clássicos da literatura brasileira. Do
Modernismo podemos resgatar o pequeno Carlos, de Menino de Engenho, que é forçado a perder a sua infância quando, órfão, passa a morar na fazenda do avô, exposto ao cotidiano mundo dos adultos. Antes disso, vale lembrar o menino Gaetaninho, de Brás, Bexiga e Barra Funda, que se torna vulnerável ao ficar exposto na rua sem o cuidado de algum adulto e, de forma parecida ao final de Lumbiá, morre atropelado. Além disso, como não o comparar com o Sem-Pernas, de Capitães da Areia, que na condição de crianças em situação de vulnerabilidade social ficam nas ruas de Salvador. Da literatura universal podemos chamar o filme Infância Roubada, que conta a história do destino das crianças salvadorenhas durante o período de Guerra Civil desse país. Essas obras, além de remeterem ao estudo da Literatura brasileira na disciplina de Língua Portuguesa, podem ser abordadas nas oficinas de Redação. Podemos partir de contando as histórias e realizando ligações entre as obras, ou mesmo escolher trechos para serem lidos em voz alta, ou escolher “Lumbiá”, da Conceição Evaristo para fazer uma roda de leitura em voz alta dentro do projeto de Leitura na Escola. Antes dessa leitura seria conveniente falar da escritora e frisar na importância do estudo dos textos de autoria feminina na luta contra o apagamento dessas vozes na literatura brasileira.
Os temas abordados na obra da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie já dariam para
desenvolver várias propostas de aula dentro da disciplina de Língua Portuguesa e Literatura (LPL), pois injustiça social, desigualdade de gênero, racismo, preconceito são assuntos que dialogam com a literatura brasileira. Para explorar, didaticamente, a narração em segunda pessoa do conto “No seu pescoço”, nas aulas de LPL, pode se propor aos alunos a análise de um trecho. A partir desse trecho provocar a identificação do narrador (tipo). Quando se trabalha tipos de discurso, sequências textuais e gêneros discursivos textuais, o estudo do narrador e o seu discurso, junto aos elementos estruturais dos gêneros da ordem do narrar, propõe a identificação do tipo de narrador (1ª ou 3ª pessoa, comumente). Além desse conteúdo, pode se propor os discursos direto, indireto e indireto livre e propor reflexões sobre esse aspecto. Por exemplo, quem desenrola o enredo no próximo trecho é o “você”. "No seu pescoço Você pensava que todo mundo nos Estados Unidos tinha um carro e uma arma; seus tios, tias e primos pensavam o mesmo. Logo depois de você ganhar a loteria do visto americano, eles lhe disseram: daqui a um mês, você vai ter um carro grande. Logo, uma casa grande. Mas não compre uma arma como aqueles americanos. Batalhões deles entraram no quarto em Lagos que você dividia com seus pais e três irmãos, apoiando-se nas paredes sem pintura porque não havia cadeiras para todos, para se despedir em voz alta e lhe dizer, em voz baixa, o que queriam que você lhes enviasse. Em comparação com o carro grande e a casa grande (e talvez com a arma), as coisas que desejavam eram simples — bolsas, sapatos, perfumes, roupas. Você disse tudo bem, sem problema. Seu tio que morava nos Estados Unidos, aquele cujo nome estava na ficha de todos os membros da família para a loteria do visto americano, disse que você podia ir morar com ele até se ajeitar. [...]"