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Pg.9
Os prédios construídos para os indivíduos ou dos grupos nos dizem muito sobre suas vidas, de
suas profissões, da sua posição econômica, e da imagem do status social que eles desejavam
projetar. Na Sene Gâmbia e na Bissau, como em outros lugares da África Ocidental, o estilo
arquitetônico e a tecnologia construtiva responde as mudanças para as condições climáticas
locais e ambientais. A existência de elementos similares na arquitetura de dois grupos pode
consistir uma evidencia do contato ou do empréstimo; alternativamente, similaridades podem
refletir uma evolução independente de soluções paralelas no desenvolvimento das
edificações. A história não é sempre habilidosa em determinar quais destes processos
históricos foi empregados.
Edificações também tem uma história, ou antes de tudo, histórias, que são mais subjetivas. O
importante papel que a arquitetura desempenhou na construção de imagens de uma
determinada sociedade, que em parte, deriva do óbvio fato de que a arquitetura
frequentemente caracteriza a cultura material mais saliente. A maneira a qual os membros de
uma cultura veem e interpretam suas próprias edificações, que são vistas diferentemente
pelos que estão de fora, desempenham um significante papel em articular as imagens externas
destas sociedades. Consequentemente, um dado estilo arquitetônico pode ter múltiplas
histórias e vários significados. Cada uma destas histórias reflete atitudes discretas na direção
de uma cultura arquitetônica cujos membros construíram e viveram netas edificações.
Pg.9-10
Os prédios que constituem o foco deste estudo eram, com poucas exceções, construídos de
terra ou barro seco ao sol (taipa), geralmente com cobertura de sapé. Estas estruturas, é claro,
não existem mais. Muitas destas vilas também desapareceram ou mudaram de local. Alguma
delas sucumbiram pela guerra, outras por mudanças ao curso dos rios e ao lado dos canais,
nos quais eram construídos, ou o desaparecimento das rotas comerciais que lhe davam vida
econômica. Entretanto, algum dia, arqueólogos vão estudar os sítios em que estas vilas foram
formadas. Mas a arqueologia foi mal feita no sudeste da África. Apesar disto, a história da
arquitetura local antes de 1850 permanecera uma história sem os edifícios próprios.
Pg.10-11
A história da arquitetura pré-colonial é dado pela grande fata de representações visuais destas
estruturas desaparecidas. A reconstrução das formas casas da Sene Gâmbia, se é obrigado usar
principalmente fontes escritas. Estas descrições se encontram nas narrativas de viagem, uma
referencia direta nos registros portugueses do século XVI e XVVII, e dos ocasionais registros
missionários. Com a exceção dos autores cabo verdianos citados acima, estas fontes são quase
todas escritas por europeus. Quão confiáveis eles são? Descrições de viajantes de casas,
mesquitas e fortificações tendem a ser simples. Usualmente, os dados brutos das descrições
visuais podem ser separados por um viés etnográfico. O viés cultural que caracteriza muitas
das narrativas do século XVIII e XIX, não costumam levar a distorções significativas da forma
física das habitações dos líderes políticos locais, ou das estruturas defensivas, ou dos poucos
prédios monumentais que existiam na Sene Gâmbia.
Mesmo assim, as imagens da arquitetura da Sene Gâmbia do século XIX são muito raras. Ao
final do século XVII, Jean Barbot ilustrou fortes e outros prédios, mas Barbot ,não fez desenhos
de observação nesta parte da costa. Um pequeno número de mapas do século XVII e XVIII
incorpora imagens de casa sistematicamente e das paredes de vilas. Dois mapas em particular
(fig. 3.e 4,do capítulo 2) associados com a narrativa de viagem de Michael Jajolet de la Courbe
podem ter incluído imagens derivadas de observações próprias. Ainda aqui, também, as
imagens tendem a ser esquemáticas e genéricas.
A mais acurada descrição da arquitetura doméstica do século XIX da Guiné Bissau e pode, de
fato, não vir da África, mas do Brasil. Durante e depois de sete anos residindo no Brasil (1637-
1644), o artista holandês Frans Post fez numerosas ilustrações e pinturas de casas coloniais
portuguesas. Fechado laços comerciais e uma atividade comercial escravista ligava os
mercadores brasileiros e luso africanos da Cosa da Guiné Superior. A ilustrações de Post (12-
14, capítulo 3) retratam algumas casas coloniais que aparecem incorporando elementos do
estilo português, um estilo ao gosto do que foi trazido ao novo mundo pelos comerciantes
luso-africanos e escravos. Até a mais significante das cenas de Post sobre a vida dos escravos,
retrata as habitações que foram claramente feitas pelos africanos, que pareciam refletir os
protótipos da África Ocidental. Estas pinturas mostram indiretamente mas evidenciam
detalhes visuais das formas arquitetônicas da África Ocidental do fim da metade do século
XVII.
Da segunda metade do século XIX, muitos visitantes franceses a Sene Gâmbia fizeram
desenhos da região, representando alguns edifícios. A grande extensão de representações são
aquelas feitas por Hyacinthe Hecquard, que foi quem viajou por Casamance em Futa Jalon em
1850-1851 e quem retratou feitorias de Ziguinchor e Carabane (fig. 18, capítulo; fig. 21,
capítulo 6). Trinta anos depois, a expedição de Bayol para o Rio Pongo de Juta Jalon era
abundantemente era ilustrada pelo artista chamado Noirot. Em ambos os casos, no entanto, o
principal registro visual de Futa Jalon, uma área que fica fora do foco do presente estudo.
Apenas ao final do período considerado no presente estudo, iniciado em 1889, quando o
sudeste da Sene Gâmbia foi documentada por fotografia.
Pg.11-12
As últimas duas décadas do século XIX constitui um divisor de águas na história do sudeste da
Sene Gâmbia. Em 1886, os franceses adquiriram a Casamance, e o posto administrativo de
Ziguinchor, de Portugal. Os luso-africanos que haviam habitado a região desde o século XVII,
perderam tanto sua autonomia política e os precedentes do seu papel econômico formal no
comércio. O estabelecimento da administração da colonização francesa marginalizou os
poucos restantes. Desenvolvido por um discurso de identidade cujos parâmetros foram
determinados pelos europeus, os “portugueses” foram efetivamente redefinidos sua antiga
identidade , que era uma vaga lembrança de sua reputação como mestre construtores. Ainda
até esta memória foi subsumida por um discurso etnocêntrico que depreciou a cultura africana
e essencialmente redefiniu as casas em estilo “português”, como os europeus inspiraram a
moradia.
Pg. 13
CAPÍTULO 01
Durante o fim do século XV e XVI Portugal estabeleceu comércio ao longo da Costa da Guiné
Superior, que era a parte da Costa Atlântica que se estendia de Senegal à Serra Leoa. A
ascendência portuguesa no comércio africano começou no século XV com á exploração
marítima. No início de 1600, entretanto, a união monárquica entre Portugal e Espanha
começou a minar a supremacia portuguesa. Este processo foi cumplice para a conquista do
nordeste brasileiro pelos Holandeses, no início de 1630, com o estabelecimento do posto
comercial em Goré Island fora da Costa Senegalesa, em 1621. Uma geração depois, os
franceses estabeleceram em St.Louis na boca do River Senegal em 1659,seguido pela captura
de Gorée em 1678 marcada pelo crescimento da presença comercial francesa. Os britânicos
começaram uma importante atuação ao mesmo tempo. O estabelecimento da guarnição
inglesa do forte James, no baixo do River Gâmbia, pouco depois da metade do século, marcou
o início da rivalidade comercial e militar entre os franceses e ingleses, que continuaria até os
fins das guerras napoleônicas em 1815.
Pg.12-13
Emigrantes de Portugal (alguns eram judeus que procurara escapar das perseguições
religiosas), que eram chamados de lançados, se estabeleceram ao longo da costa, onde muitos
deles se casaram com as mulheres das comunidades locais. No final do fim do século XVII, os
descendentes destas uniões, os luso-africanos, ou “portugueses”, como eles se chamavam, nos
centros comerciais de Petite Côte em Senegal, no sul de Serra Leoa (fig. 1 e 2). Descendentes
de imigrantes portugueses, da Ilha de Cabo Verde, e na África Ocidental, os luso-africanos
desenvolveram uma cultura que era em si mesma um síntese de elementos africanos e
europeus. Ricas documentais históricas permitem um estudo de caso sobre as mudanças de
formas que os luso-africanos se identificaram ao longo dos três séculos. Muitos mercadores
“portugueses” do Cabo Verde, incluindo André Alvares de Almada (1590) e André Donelha
(1570-1625), escreveu acontecimento
Outra variante da casa “portuguesa” é detalhada por Thomas Astley, cuja descrição de
1745 deriva de Morre e Labat:
Suas casas não tem nada além do chão como piso que, no entanto, é elevado à 3 e dois pés,
para mantê-lo seco. Eles constroem por um longo tempo, dividindo-as em várias salas, de
pequenas janelas, por conta do calor. Eles sempre têm um alpendre aberto em todos os lados,
por lá recebem visitas, comem..., e tratam de negócios.
Pg.60
[O francês] têm duas ou três casas belas casas construídas com barro, como as casas
portuguesas, com paredes com 10 pés de altura, cobertos por palha, sendo suportado por
forquilhas resistentes e com um espaço deixado entre a parede o a cobertura para a passagem
do ar.
O espaço que Morre se refere é aquele deixado para entrada do ar noturno, que
circula para resfriar a habitação. Técnicas construtivas similares são usadas hoje em dia no
sudeste de Jolas (do qual, eram ancestrais do século XVI dos chamados Floups). A cobertura é
erguida por estacas que estão ancoradas no topo da parede de banco. A foto tirada em Buluf
(norte de Jola) comunidade de Elana, feita em 1955, mostra como o sistema era efetivo para
suspender a cobertura acima da estrutura de sua casa. Isto permite a circulação de ar no topo
da casa (fig. 7)
Pg.60-61
O estilo “português” não era monolítico; em vez disto, ela variou com o tempo, a
depender da localização geográfica. A grande diversidade de características associadas com as
casas em estilo “português” sugere que se faça um estudo histórico destes edifícios, levando
em conta a especificidade geográfica e o período em que foram construídos. Referências das
casas de estilo "português" em diferentes regiões, que não se apoiem por descrições
detalhadas ou por outras evidências, não se referem necessariamente a esse mesmo estilo
arquitetônico. Eram prédios similares que eram construídos em áreas geográficas distantes
umas das outras, mas apenas a existência de uma conexão histórica direta entre as duas
regiões, pode se estabelece uma probabilidade de que estas construções tenham de fato uma
relação entre si.
A história da maisons à la portugaise são mais complicadas pelo fato de que não haver
ilustrações detalhadas destas estruturas na África Ocidental, durante o século XVII, até o início
do XVIII, pelo que se sabe. Nenhum dos primeiros cronistas portugueses em Cabo Verde as
ilustraram em seus escritos. O primeiro viajante que as ilustrou em seus trabalhos, com
razoáveis e bons desenhos, foi Jean Barbot. Muitos destes desenhos descrevem a colonização
da costa. Alguns destes, embora não tenham desenhado com o olhar para o detalhe
arquitetônico, mostrou edifícios que podem ser de estilo “português”.
As ilustrações de Barbot de Rufisque, a presente Dakar (fig. 8) descrevem duas casas
retangulares próximas do centro da vila, que de outra forma, é composta de pequenas casas
redondas com tetos cônicos. Muitos luso-africanos ainda viviam em Rufisque, em 1681. As
duas estruturas retangulares contrastam com os outros edifícios na imagem, podendo
representar casas em estilo “português”. Eles estão lado a lado são as maiores estruturas
retratadas. Ultimamente, entretanto, no tratamento sumário de Barbot, não se mostra quais
materiais foram usados na construção, ou de fato, não há nenhum detalhamento.
Pg.62
Outras poucas fontes do século XVII contêm ilustrações. Este não é, entretanto,
claramente desenho de uma testemunha ocular que representa estas casas. Apesar das
ilustrações de Olfert Dapper serem frequentemente citadas como documentos históricos, ele
mesmo nunca visitou a África; poucas, se houverem, das ilustrações da primeira edição de
trabalhos de Dapper são baseados em desenhos de observação. Mesmo as representações dos
fortes costeiros feitos por Dapper são mais um reflexo de uma fantasia europeia, do que uma
realidade africana; eles carecem da precisão presente nos desenhos de Barbot. Similarmente,
as casas africanas de Dapper foram igualmente baseadas em modelos europeus. Estas
ilustrações não eram usualmente usadas por historiadores de arquitetura vernacular da África
Ocidental.
Mais de setenta anos após a publicação póstuma dos textos ilustrados de Barbot,
publicada por Joseph Corry em seu Observation upon the Windward Coast of Africa (1807).
Este trabalho foi ilustrado com gravuras baseadas nos desenhos do próprio autor. Os desenhos
de Corry incluem vistas da ilha de Goreé, que foi recém fundada como colônia inglesa de Serra
Leoa (atualmente Freetown), e a Porto Praya, Santiago, na Ilha de Cabo Verde. Esta
panorâmica paisagem tem uma razoável precisão, ainda que falte algum detalhe
arquitetônico. Sua datação relativamente atrasada levanta outro problema: o estilo
arquitetônico em Goreé, Freetown e Santiago do século XIX provavelmente diverge do modelo
inicial da maisons à la portugaise.
Pg.62-63
O panorama de Santiago de Corry (fig. 9), o mais importante sobre a Ilha de Cabo
Verde, é significante pela descrição das casas. A cena inclui três prédios que estão perto da
enseada à direita do promontório e ao o meio da imagem. Esta retangular e singular estrutura
de casa térrea, tem uma cobertura baixa de quatro águas. Pequenas janelas das paredes
sugerem um primeiro piso com muitos quartos horizontalmente alinhados; isto é
remanescente da descrição das “cazas” luso-africanas em Gambia, feita por Astleys em 1745:
“Eles tinham edifícios muito longos, divididos internamente por muitos quartos, com pequenas
janelas, em decorrência do calor”. Mas na vista distante de Corry não fica claro se estas casas
têm varanda ou vestíbulos. Enquanto, de forma geral, se mostra consistente com as casas em
estilo “português”, a pequena escala as representações fornecem uma tentadora
generalização de uma estrutura esboçada.
Pg.63-64
Infelizmente, as imagens pré século XIX são tão raras das Ilhas, quanto são para o
continente. A ilustrações das narrativas de Joseph Corry estão entre as primeiras que existem.
Ilustrações da metade do século XIX têm sobrevivido. Estas imagens arquitetônicas posteriores
não consistem em uma evidência histórica do século XVII. Mesmo assim, estas ilustrações, que
são primeiramente da ilha de Santiago, fazem uma breve consideração descritiva, dado apenas
a sugerir como os prédios em Cabo Verde poderiam ter sido.
No século XVII a cidade de Ribeira Grande, a qual foi abandonada no século XIX,
continha expressivos prédios e mansões. Destas estruturas incluíam uma catedral
(remanescentes, dos quais ainda existe) e numerosas casas térreas. Algumas destas casas são
claramente visíveis em litografias da metade do século XIX de artistas anônimos. As casas são
retangulares e as fachadas são caiadas (ou barradas), e têm duas janelas pequenas, cada uma
de um lado da porta de entrada. Uma característica digna de nota é o telhado de quatro águas.
Entretanto, nem as varandas, nem os alpendres estão visíveis. Similarmente, mesmo as casas
rústicas, sem o telhado inclinado de quatro águas, aparecerem em litográficas da mesma série.
Algumas destas simples habitações podem ser encontradas até hoje, por exemplo na
comunidade de Calheta. Lá ,tanto a casa de duas ou de quatro águas podem ser vistas lado a
lado (fig. 10).
Se alguma destas simples habitações se aproximassem das construções de Santiago do
século XVII é incerto. É possível que este estilo de casa não se alterou muito ao longo do
século, ou duas vezes nas ilustrações após 1864. De outro maneira, como a ausência da
varanda ou do alpendre pode claramente indicar, as casas dessas ilhas não eram idênticas as
casas em estilo “português” Sene Gâmbia.
Pg. 65
Para a parte continental da Sene Gâmbia, como para a Ilha de Cabo Verde, as
narrativas de viagens fornecem um pouco da preciosa documentação sobre a arquitetura luso-
africana antes do século XIX. De fato, o detalhe nos desenhos e nas aquarelas de Hyacinthe
Hecquard de 1850 (a maioria permanece inédita) estão entre as representações detalhadas
das habitações africanas. Para as primeiras imagens das maisons à la portugaise, é preciso
olhar para outra parte do império mercantil português. Existem ilustrações das casas em estilo
“português”, mas elas são do Brasil do século XVII.
A Costa da Guiné Superior era parte do primeiro sistema comercial global europeu,
uma rede mundial que ligava a África Ocidental à Europa, Ásia, e o Novo Mundo. No Brasil, no
início dos anos de 1540, os colonos portugueses se estabeleceram através de uma economia
agrária baseadas no trabalho escravo para produção de açúcar. No início do século XVII, este
sistema foi fortemente dependente da importação de trabalhadores escravos da África
Ocidental. O comércio escravo, foi formalmente estabelecido no Brasil em 1518, com a
concessão do primeiro assiento [contrato real] se garantiu não só uma nova oferta de mão-de-
obra, mas também um regular e direto contato entre o nordeste brasileiro e o Costa Superior
da Guiné, e da Ilha de Cabo Verde.
Pg.66-67
Frans Post é conhecido a princípio pela produção artística dos sete anos que esteve no
Brasil. Sua obra sobre o mundo colonial é fenomenal; inclui 800 desenhos com a descrição de
animais, plantas, fortificações, e casas. Enquanto no Brasil, Post pintou pelo menos sete
paisagens panorâmicas. Após o seu retorno à Holanda, pintou mais de 100 paisagens
adicionais. Poust era particularmente adepto a renderização de arquiteturas. De fato, eram
ocasionalmente especulações que Johan Maurits empregou especificamente para fazer
detalhamento em planta e de ilustrações de fortificações portuguesas, o que teria sido a
preocupação com a recém instalado governo holandês. O artista transmite a forma e descreve
claramente a localização dos fortes, das plantações, casas, engenhos de cana, e capelas, e
também as casinhas dos indígenas e dos escravos africanos. Sua atenção com o detalhe
arquitetônico é tão preciso, tanto dos materiais, quanto das técnicas construtivas, que estão
frequentemente evidentes.
Pg.67-68
No período de 1647 a 1669, Post fez mais de 100 pinturas que representam
cuidadosamente os estilos de construção no Brasil. Na criação destes trabalhos, como
Whitehead e Boeseman argumentam, ele deve ter confiado em esboços feitos no Brasil.
Mesmo que o prédio os prédios na paisagem de Post fossem ligeiramente retrabalhados a
partir dos desenhos originais (e, de fato, elas parecem ter recebido uma interpretação
romantizada com um verniz adicional, similar as representações de casas posteriores de
Hobbeman), mesmo assim, Post mantém uma atenção escrupulosa atenta ao detalhe
arquitetônico. Consequentemente, estes trabalhos finalizados são importantes documentos
para a história da arquitetura brasileira (e afro-brasileira).
Pg.68-69
O mapa foi o primeiro publicado por Johan Blaeu em 1646. Um ano depois, as placas
de cobre originais foram publicadas em Amsterdam por Caspar Barlaetus em seu Rerum per
Octennium in Brasilia. Em seus detalhes e precisões, as gravuras de Macgraf sugerem
fortemente e diretamente, como uma conexão com o trabalho de Post. Isto pode ser visto na
comparação das casas de fazenda. Os mapas incorporam as gravuras que retratam as casas de
fazenda por de trás das plantações de açúcar (fig. 11). A habitação retangular. No piso superior
existem aposentos levantados por pilares, acima do piso superior, e sem a presença de janelas.
A estrutura é convertida em uma cobertura baixa de quatro águas que se estende sobre uma
galeria semi-fechada. Este alpendre se estende por todo comprimento do piso superior. Este
prédio demonstra um clássico exemplo português na casa grande no Brasil. A representação é
muito similar às casas de fazenda de 1652 pintadas por Post, que está no Rijksmuseum. A
gravura de Marcgraf certamente quase se baseia na arquitetura ilustradas por Post, da qual, as
pinturas das casas de fazenda possuem similar atenção aos detalhes. E se as gravuras de
Marcgraf derivaram das arquiteturas ilustradas nos trabalhos de Post. O Mapa de Macgraf,
além disso, oferece a evidência que sugere a influência luso-africana na arquitetura vernacular,
da forma que as paisagens acabadas Post não.
Uma ilustração do Mapa de Marcgraf descreve uma cena de rio, com uma plantação
como plano de fundo. Ao lado do moinho que fica uma pequena habitação com um telhado de
quatro águas, com beirais que se estendem abaixo da fachada e projetada afrente dela, para
criar um espaço protegido. Esta é uma estrutura humilde; e não é uma casa de fazenda. Na
forma a habitação é retangular, com janelas pequenas e com paredes renderizadas na gravura
como superfícies sombreadas, sugerindo que esse artista procurou representar a caiação.
Pg.69-70
Esta moradia nada comum, de longe, tanto nesta escala, como em sua simplicidade as
casas de dois andares (térrea) dos ricos luso-brasileiros agricultores de açúcar, incorporam
uma continuidade arquitetônica transatlântica. A descrição sugere uma distinção no estilo da
arquitetura doméstica, que se evolveu através da interação com os portugueses na África
Ocidental, e com os luso-africanos da Costa da Guiné Superior, igualmente se disseminou ao
Brasil português no primeiro terço do século XVII. Mas enquanto na África Ocidental as
maisons à la portugaise que eram associadas aos ricos comerciantes, em última análise, era
um símbolo de status social entre os portugueses e africanos do Brasil no século XVII, dos
membros menos ricos da comunidade luso-brasileira que habitavam edifícios que eram
construídos neste estilo.
O estilo poderia ser visto como trazido para o Novo Mundo pelos mercadores de
escravos luso-africanos, que desempenharam um importante papel para o início da
exportação de escravos para a Costa da Guiné Superior. Isto coincide com as casas que eram
construídas pelos imigrantes portugueses que haviam peregrinado pela África Ocidental.
(HIPÓTESE) Alternativamente, este estilo de arquitetura poderia ter sido criado
independentemente no Brasil, como produto da interação entre os imigrantes portugueses e
os escravos trazidos da costa da Guiné. As similaridades podem refletir uma interação entre os
mesmos dois grupos culturais que criaram os estilos de casas “portuguesas” no Brasil e na
África Ocidental, e em paralelo, responde a limitação dos meios materiais que as pessoas
tinham como desafio para desenvolver casas situadas em climas comparáveis. O resultado foi
a criação de um idioma que era muito próximo do estilo “português”, exceto pela cobertura
com telhas, presente nas ilustrações do século XVII do nordeste brasileiro, que poderiam ser
ilustrações das maisons à la portugaise da África Ocidental.
Não está claro quantos colonos portugueses no Brasil já haviam passado algum tempo
na Guiné Superior e na Ilha de Cabo Verde. Dez anos depois, da fundação da Bahia em 1549, a
Coroa Portuguesa autorizou diretamente o tráfico de escravos da África para o Brasil. Em 1570,
a rápida expansão das plantações de açúcar foi criada uma crescente demanda por
trabalhadores africanos. Durante o início do período a esmagadora maioria de cativos vinham
da Guiné Superior. Mercadores cabo verdianos e luso-africanos eram os que estavam
profundamente ligados ao comércio escravo. É provável que algum deles, eventualmente se
instalaram no Brasil, principalmente pela expansão das plantações agrícolas e do crescimento
do preço do açúcar, que trouxe rapidamente o crescimento da prosperidade dos portugueses
brasileiros, ao mesmo tempo que fome e seca afligiam a Ilha de Cabo Verde.
Pg.69-70
Pg.71-72
Uma das pinturas de Post, intitulada simplesmente Distant Landscape whit Church
Ruins, Chapel anda Farms (Wide Landscapes with Buildings, de acordo com Joaquim de Souza
Leão), mostra uma paisagem bifurcada na meia distância por um rio (fig. 12). Além da água, à
esquerda da figura há uma pequena vila. Os prédios são modestos, excetos pelas ruínas da
igreja de estuque. Ao lado da igreja fica uma pequena capela e, quatro ou cinco austeras casas
retangulares. Imediatamente a frente da capela, quase escondida pelas copas das árvores, está
uma estrutura quadrada que se assemelha a uma casa em estilo “português” das ilustrações
de Macgraf. As paredes rebocadas brilhando a luz do sol, sugerindo a caiação. Abaixo da
cobertura de sapé de quatro águas, com duas paredes voltadas para o espectador. Ambas
paredes são interrompidas por longas e retangulares paredes. Estas aberturas parecem ser
parte de uma galeria ou varanda. Os mesmos elementos arquitetônicos que dominam o piso
superior das casas de fazenda pintadas por Post aparecem aqui em uma escala muito reduzida.
Em vez de representar uma versão reduzida da casa grande, no entanto, esta pequena
estrutura, suas paredes externas parcialmente abertas para a brisas do rio, podem refletir um
protótipo comum. Esta pequena habitação caiada retangular, muito parecido com as casas das
gravuras de Marcgraf, têm forma similar as formas da maisons à la portugaise da África
Ocidental.
Estes prédios se assentam em uma elevação, logo acima da margem do rio. Esta
varanda faceia a água, estando aberta para a brisa que sopraria de noite e de madrugada. A
localização e, a orientação maximizam o efeito de resfriamento do ambiente imediato. Na
África Ocidental, as fontes históricas raramente especificam a orientação das casas em estilo
“português”, mas elas eram invariavelmente próximas a fontes de água, mesmo que
primariamente fossem próximas de rotas comerciais (cf. Zingiuchor). Em Vintang, a maisons à
la portugaise eram construídas na encosta, observando o Riacho Vintang. No século XVII, o rei
Floup de Bolole construiu sua casa em estilo “português” próximo da corrente, em parte como
uma proposta puramente defensiva, mas também, concebivelmente, para receber as brisas
refrescantes.
No Brasil e na Sene Gâmbia, não teria demorado muito para que os portugueses
aprendessem as vantagens seleção longo do aprendizado, as vantagens da seleção de
localidades adjacentes a – se a topografia permitir, ou da vista – corpos d’água. Na Sene
Gâmbia, eles teriam isso de seus vizinhos. Atualmente, entre os Jolas de Casamance
(descendentes dos Floups), a palavra para anoitecer (geresse) deriva de “erus” [brisa], “o ar
refrescante das correntes que são resultantes das variações da temperatura diurna. Tal o
conhecimento local era muito difundido pelo dia, após a ventilação do teto ou, das condições
do ar”.
Casas elevadas com espaço de armazenamento no piso térreo e salas superiores eram
também características na Louisiana francesa e na colonial Carolina do Sul. Os modelos norte-
americanos, no entanto, datam do século XVIII. Estruturas elevadas começaram a ser comuns
na arquitetura colonial do século XIX, na África Ocidental. Quartos do segundo andar tinham
pouca humidade a era abertos para as brisas frescas. Mas nas últimas décadas do século, eles
eram encontrados pelas colônias francesas e apresentavam uma certa variação estilística, bem
como, nas possessões britânicas e germânicas.
Pg.73
Pg.73-74
Todas estas quatro nações Europeias eram ativamente engajadas no tráfico escravo
pelo Atlântico. Na África Ocidental, todos eles eram expostos a arquitetura africana e luso-
africana. (a experiência de Francis Moore na Gambia onde, em 1732, ele foi obrigado a
construir uma fábrica comercial em estilo “português”, é um caso à parte). É provável que a
similaridade entre as construções em estilo “português”, francesas, e inglesas crioulas do
Novo Mundo se deram pela combinação de fatores. Todos os colonizadores europeus
enfrentaram desafios semelhantes na construção de habitações adequadas ao clima tropical e
semitropical, todos eram familiarizados com as soluções destes problemas, que a pricípio
estavam articulados à África Ocidental, e todos dependiam muito dos escravos da África
Ocidental dado pelo trabalho braçal e pela perícia técnica em um ambiente tropical e
subtropical.
A arquitetura escrava foi claramente documentada por Frans Post. O trabalho anterior
na National Gallery de Praga,intitulado Paisagem Brasileira com Fazendas, Ruínas e Grupos
Figurativos, ele descreve um grupo de africanos; atrás deles, a uma meia distância , há três
pequenas habitações. A mais próxima delas era perto o suficiente para mostrar os detalhes
estruturais. O prédio é pequeno e retangular, com apenas um ou dois quartos, com um baixo
telhado vermelho. A frente desta cabana, parcialmente obscurecida por uma folhagem em
primeiro plano, consiste em uma parede caiada e uma entrada avarandada, ou vestíbulo,
estruturado por postes de madeira. A presença das figuras africanas indica claramente que
esta é uma habitação escrava. Esta pintura, com esta descrição etnográfica detalhada, sugere
que alguns escravos africanos no Brasil construíram casas similares, embora semelhantes a
maison à la portugaise.
Pg.74-75
Pg.75-76
Post em Brazilian Landscape with Huts and Casa Grande (1659) (fig. 14), qual é do
Carmeen Thussen-Bornemisza Collection em Madri, descreve a plantação com uma casa
grande no fundo, escravos dançando no primeiro plano e, em uma meia distância há cinco ou
seis casas de escravos. Estas habitações rusticas mostram uma variedade de formas, todas são
basicamente retangulares ou quadradas, apesar de um pouco irregulares no formato. O mais
próximo e o maior mostra traços do caiado; ela também tem um teto que fica na frente da
entrada. Esta varanda é sombreada por uma inclinação do telhado, que por sua vez é
suportada por quatro postes, reminiscência da varanda e das forquilhas descritas por Moore
na Gambia. Parcialmente escondido detrás desta casa de escravos, tem uma habitação com
um telhado de quatro águas cujo beiral se estende além das paredes externas, que formam
uma área de sombra, Este desenho é similar à forma da varanda ainda encontrado em algumas
habitações do século XX, entre a população de Jola e Majak em Casamance e Guinea-Bissau.
Isso também se assemelha as fachadas das casas em estilo português descrita no Marcgraf
Map.
Parenteticamente, a simples forma retangular com cobertura de quatro águas,
semelhante as casas de fazenda do século XIX e XX, de Santiago e da Ilha de Cabo Verde. Se
alguém assume que as casas cabo-verdianas do século XVII se assemelham mais a estas
estruturas mais recentes, então, as Ilhas podem ter desempenhado um papel no século XVII,
articulado a um estilo comum em ambos os lados do Atlântico. Mercadores cabo-verdianos
podem ter comprado suas construções no estilo do Novo Mundo.
Pg.76-77
Uma terceira paisagem, o qual Post pintou, no retorno para a Holanda descreve a
habitação escrava de modo semelhante às descrições da arquitetura Luso-africano, do XVII e
XVIII. Brazilian Landscape with Natives [sic.] on a Road Approaching a Village, datado de 1665,
descreve seis africanos no primeiro plano e, a sua direita, a casa de fazenda de dois andares e
uma capela. Mais abaixo na encosta, com vista para o corpo d´água, tem três estruturas
retangulares simples, com cobertura de sapê, e beirais suspensos e paredes rústicas que não
estão caiadas, onde fica aparente a feitura de barro seco. Um prédio tem um pequeno pórtico
preso a parede final. Estas estruturas humildes são construídas com materiais simples que são
claramente feitas por escravos, para o seu próprio uso. Essencialmente as casas da África
Ocidental foram transportadas para o novo mundo, estas habitações mostravam as
características da arquitetura em estilo português. Elas não eram, entretanto, caiadas.
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Qualquer prédio que sobreviveu na Sene Gâmbia, oferece uma concreta ilustração do
início das casas “portuguesas”? Nosso conhecimento do século XVI e XVII permanece geral e
um pouco conjectural. Mesmo as imagens brasileiras de Post constituem apenas evidências
indiretas do estilo “português” da África Ocidental. Os poucos prédios da era colonial que
aparecem refletem descrições e ilustrações anteriores, no entanto, existem em Casamance.
Pg.77-78
Estes prédios podiam ter sua arquitetura descendente do estilo “português”, sendo
diretamente modelados pelas casas anteriores. Mas além disso, é possível que este estilo
relativamente descomplicado, fosse independentemente reinventado no século XIX. Apesar de
não representar necessariamente uma continuidade de uma tradição arquitetônica, estas
casas ilustram formas físicas de pelo menos alguns de seus antecedentes do século XVIII.