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Educar para o Despertar

Roberto Crema
Vice -reitor da UNIPAZ

Psicólogo e antropólogo

Como educar a dimensão noética? Com os caminhos


milenares de despertar, das tradições sapienciais, orientais
e ocidentais, naturalmente. Através das vias meditativas
das antigas escolas de sabedoria: a contemplação cristã,
sobretudo da via do hesicasmo; as diversas yogas do
hinduismo, a meditação budista; a yoga taoísta; a via dos
derviches, da escola sufi; a tecnologia do sagrado, das
artes xamanísticas; as artes marciais, que surgiram em
templos, como um caminho de autodomínio, para se vencer
o ego, a exemplo do aykido; a ciência profunda e curativa
da prece. São os caminhos do despertar que, na
metodologia da Unipaz, denominamos de holopráxis.

A dimensão noética solicita uma abertura para a pedagogia


contemplativa, da meditação, do despertar da plena
atenção, tão enaltecida pelos antigos e atuais mestres da
consciência. Todas as grandes tradições sapienciais são
dotadas de tecnologias de desenvolvimento da qualidade
noética, do despertar de uma escuta silenciosa, para abrir
seu coração para o novo. Trata-se de manter a coluna
ereta, aprender a manter quieto o corpo, a mente, a alma.

Por outro lado, a leitura dos textos sapienciais, as


escrituras sagradas das diversas tradições espirituais, pode
alimentar a consciência noética. Aldous Huxley se referiu a
eles como Filosofia Perene; Ken Wilber denominou-os de
Psicologia Perene. Prefiro o termo Terapia Perene, pois
indicam vias de transformação e de realização, muito além
de especulações teóricas. Afinal, de que fala o Antigo
Testamento senão de você? Assim como o Novo
Testamento, o Tao-Te-King, o Dhammapada, o Ramayana,
o Bhagavad-Gita, de que tratam senão de você?...
Trata-se de desenvolver uma inteligência simbólica que
habilite o educando a penetrar numa escuta que, do
conhecido aponta para o desconhecido. O corpo físico e o
psíquico são conformados de memórias, rastros do vivido
no lá-e-então, que impedem a escuta do sermão do aqui-e-
agora, a melodia das esferas, os sussurros do Instante.
Nesta dimensão silenciosa, podemos escutar as vozes dos
sábios, e também o vibrar de asas de arquétipos
angelicais...

Quando nos esvaziamos das linguagens do conhecido,


naturalmente acontece uma abertura para o Mistério do
mundo intermediário, entre a matéria e a Pura Luz, onde
habitam as supremas imagens estruturantes que se
comunicam pela Voz do Silêncio. A pedagogia apofática
conduz ao esvaziamento dos mecanismos viciados do
corpo, dos diálogos compulsivos da alma. Quando
esvaziamos a mente nossa taça de maravilhas e de deleite
transborda...

A Arte da Renovação

A mesmice dos trilhos acaba por enferrujar nossas relações, que se alimentam
de novidade, de criação. Penso no maior educador do Ocidente que, ao iniciar
o seu ensino público, realizou o milagre de transformar a água em vinho...
Para a festa não acabar, afirma Leonardo Boff. Transformar a água de um
cotidiano previsível e rotineiro no bom vinho de renovação e recriação
permanente... eis uma lição básica da pedagogia perene. Este milagre de
renovação emana da inteligência noética, trazendo encantamento e graça para
um existir mais pleno.

Precisamos atender ao telefone que toca (soa o toque de


um telefone, na platéia). O Instante sempre nos traz a sua
poesia e o seu clamor. É como um sintoma que pode ser
desvelado em sua condição de mensagem existencial. A
atual guerra no Iraque, por exemplo, pode ser lida como
um trágico sintoma, indicando uma enfermidade coletiva
que pode se fatal. Tudo o que sabemos é que, no embate
cego, entre terroristas e imperialistas, não haverá
vencedores. Pois se encontra em jogo uma mesma lógica,
da violência e do egocentrismo. Como afirma a sabedoria
Crística, uma casa dividida não subsiste... Como a nossa
crise global tem sido gerada pela idolatria do ego, somente
através de uma sabedoria transegóica, poderemos
transcendê-la. Eis um triste resumo de nossa enrascada
coletiva: uma maioria morre de fome e uma minoria morre
de medo dos que morrem de fome! Como nos curar desta
patologia da exclusão e da dominação?

Quando perguntaram ao Jean-Yves Leloup, logo após o 11


de Setembro de 2001, sobre a sua visão do terrorismo, ele
nos lembrou do mitologema de Caim e Abel. Como
afirmavam os antigos terapeutas de Alexandria, os
personagens das escrituras se referem a arquétipos que
existem em cada ser humano. A passagem bíblica sobre
estes dois irmãos, sementes de nossa família humana,
pode ser muito ilustrativa e significativa, quando não nos
falta a sabedoria hermenêutica.

Abel é o ser inocente, que se sente abençoado pela Fonte


da Vida. É um homem feliz que caminha docemente sobre a
terra, oferecendo o melhor do seu rebanho ao seu Deus do
Amor. Caim é um ser desgraçado, que não se sente aceito,
que não se sabe abençoado. É um homem que calcula, que
inveja, incapaz de admiração e de uma vinculação
inclusiva. Por não oferecer o seu melhor, ou seja, o Ser, ele
se sente inferior ao seu feliz e gentil irmão. Assim, nesta
intolerância invejosa do desamor, o primeiro crime, o
primeiro ato terrorístico é perpetrado, no seio de nossa
civilização judaico-cristã. Indicando que as pessoas
infelizes, os que não se sentem aceitos e abençoados,
podem se transformar em seres muito perigosos, em
gangues belicosas e destrutivas da paz comum.

Educar é Abençoar
Os agentes da paz são os seres humanos que se sentem
abençoados, aceitos pela Vida, herdeiros de uma felicidade
que advém da consciência de comunhão. Assim é que
necessitamos de uma pedagogia da benção, que emana da
consciência noética. Abençoar é dizer uma boa palavra ao
outro: Eu lhe reconheço. Você é um ser humano único,
dotado de um semblante. Nunca houve alguém como você.
Você é atravessado pelo Mistério do Amor, destinado a
trazer algo precioso que só você poderá ofertar à
humanidade. Pode ser algo muito simples; é o dom de sua
singularidade. Se a Vida lhe aceitou, quem sou eu para
compará-lo, para julgá-lo, para excluí-lo?... Eu lhe
abençôo, pois você é um ser humano! Vá à direção de
quem você é, vá para si mesmo, vá para Deus!

Este é o espaço para a nobre educação: facilitar a abertura


do templo da escuta — contemplação, abrir o templo da
observação, do testemunho lúcido, da vigília atenta. Antes
de falar de amor, temos de falar de escuta. Amar é oferecer
ao outro o que ele necessita. Não, necessariamente, o que
ele deseja – quando a misericórdia do Mistério quer nos
castigar, às vezes, ela atende os nossos desejos!... -, ou o
que nós desejamos dar-lhe. E como saber o que o outro
necessita senão por meio da escuta? Educar é, sobretudo,
facilitar que o educando, através de uma escuta aberta e
ampliada, possa chegar à sua própria palavra, lapidando a
sua condição de Autoria, de Sujeito da própria existência.

Pedagogia Perene
Eis a pedagogia para a excelência humana, praticada por Lao-Tsé, Buda, pelo poeta do
Sermão da Montanha, a pedagogia de Khrisnamurti e de todos os sábios da Grande
Vida. É a partir da dimensão noética que a existência terá um sentido, uma orientação.
Pois Nous é a dimensão do Sujeito, aquele que se sujeita. Sujeitar-se a quê?

Aqui nos deparamos com o pressuposto antropológico mais


pleno, que integra corpo, alma, consciência e Essência. A
dimensão noética é a de um espelho que reflete alguma
coisa que está além da existência, o Sopro da Vida. Em
hebraico, Ruah; em grego, Pneuma; em latim, Espírito.
Enfim, a Fonte a partir da qual o reencantamento da
existência torna-se possível.

Prefiro denominar esta Chama da Essência de Vida.


Existência é o que passa; Vida é o que É, o que resta
quando já nada mais resta, o toque de eternidade na
finitude de nosso existir. Aqui, estamos diante do Absoluto,
que será sempre incapturável e inefável. Através da escuta
noética, entretanto, podemos transpirar esta realidade
essencial. Como afirmava Graf-Durckheim, saúde plena –
acrescentemos também, educação plena – é quando a
essência transparece na existência. É quando nos fazemos
congruentes: o que pensamos coincide com o que somos; o
que falamos coincide com o que pensamos; o que fazemos
coincide com o que falamos...

Não é possível educar para a Vida, sem o resgate da


autêntica espiritualidade. Para isto, temos que transgredir a
normose educacional em voga, rumo a uma
transdisciplinaridade, com a virtude da transculturalidade,
que possa nos abrir os horizontes do potencial da espécie
para o tema fundamental da transcendência, da
transparência, enfim, da transfiguração, apanágio de uma
educação centrada na consciência de inteireza. Quando a
ignorância existencial se desfaz, o Sol da essência, que
habita o relicário mais íntimo de nossas almas, poderá
transparecer, iluminando e aquecendo nossas trilhas
existenciais. O materialismo nos encerra num fanatismo da
encarnação, onde nos identificamos com o que estamos
sendo e tombamos ao lado do que realmente Somos.

Estas lições são experienciais. O Sagrado é uma


experiência, a partir da qual jorra os valores do respeito, da
bondade, da fraternidade, da inclusividade. Para
percorrermos a lição da sacralidade, necessitamos de todos
os nossos olhos. O olho físico percebe a realidade física. O
olho psíquico abrange o universo psíquico. O olho noético
acolhe o espaço do Silêncio e do Imaginal, transparecendo
a Essência. O Olho do Espírito penetra todos os olhares,
abrindo-nos para a Realidade Viva, para a Mansão do Amor.

Educar para a Vida


Uma pedagogia iniciática, portanto, é a que nos abre, a
partir da escuta e do olhar noético, para a dimensão da
Vida. Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida... Vim trazer
Vida e Vida em abundância... O Logos é a Vida de todo o
ser, a Vida é a luz dos homens...afirmava aquele arquétipo
de educador de excelência total, o Grande Pedagogo, a
quem Clemente de Alexandria dedicou um tratado de
pedagogia.

Se não educarmos para a condição do Sujeito, seguiremos


reduzindo tudo à condição objetal, na alienação imperialista
de um único estado de consciência, com a sua lógica
racional, empírica e materialista, elevada aos altares por
um paradigma esgotado e ultrapassado. Uma educação
integral é a que acolhe, de acordo com a física
contemporânea, todos os níveis de realidade, com as suas
lógicas próprias e complementares. O que percorremos são
um quatérnio de realidades: a somática, a psíquica, a
noética e a Essencial.

As duas últimas – noética-Espiritual – são as que suportam


a dimensão iniciática de uma autêntica educação, capaz de
educar para Ser, além de conhecer, fazer e conviver. Um
aspecto óbvio e aterrador da crise que testemunhamos é a
da perda da consciência do Sujeito. Os bárbaros da
modernidade são os humanos que não se sujeitam mais a
nada, a não ser aos valores do ter e do poder. Através de
uma educação integral, será possível a realização desta
grande utopia, que um lúcido documento recente, a Europa
de Consciências, ampliada por Leloup como a Internacional
de Consciências, conclama em um de seus artigos:
Submeter o econômico ao político e o político à sabedoria!

Como orientar o reino da matéria pelo reino da alma? Como


orientar o reino da alma pelo reino da consciência? Como
orientar o reino da consciência pelo Reino da Essência? Eis
as grandes questões, clamando no deserto da falta de
Escuta e de Sentido, diante dos verdadeiros educadores do
novo milênio.

Estamos presenciando a demolição de um sistema cuja


insustentabilidade muito se deve ao desprezo e repressão
dos domínios da alma, da consciência e do Espírito. Os
grandes teóricos da modernidade, não apenas se fizeram
cínicos perante os valores essenciais, como também
patologizaram a vivência numinosa do Sagrado. Para Marx,
tratava-se de um ópio alienante. Para Darwim, tudo se
derivava das leis do acaso e da necessidade, de uma
evolução cega e mecanicista. Para Freud, a questão
espiritual se reduzia a regressões neuróticas e psicóticas. O
Mistério foi jogado debaixo do tapete e, assim, o
desencantamento do mundo e da existência iniciou a sua
inexorável marcha.

A Chama do Sagrado
Como facilitar que o Sagrado novamente se manifeste e
seja honrado? Como introduzir a esfera da espiritualidade
em nossas escolas e academias? Não através das religiões
que, como sabemos, tem sido mais parte do problema do
que da solução... É necessário uma ética de respeito e de
fraternidade com relação a todas as religiões. A ênfase,
entretanto, precisa ser na espiritualidade transreligiosa.

Na origem de todas as religiões encontra-se a chama do


Sagrado, o movimento espiritual. Infelizmente, as
instituições podem se fechar nelas mesmas, perdendo a
conexão com a Fonte de onde se originaram, praticando um
certo monopólio da Verdade, fazendo da dimensão
espiritual um latifúndio. Como diz o poeta TT Catalão, Deus
é grátis; o guru cobra ingresso! Apenas faço um reparo:
trata-se do falso guru. Pois o verdadeiro é, na afirmação de
Graf-Durckheim, como uma boa bomba de gasolina onde
cada um se abastece para seguir o seu próprio caminho.
Assim como existe a máfia do crime e das armas de
destruição, é preciso denunciar uma outra máfia, que
explora a sede de infinito e do sagrado, através de uma
normose religiosa, que Trungpa denominava de
materialismo espiritual.

Espiritualidade é amor em movimento. É a prática


compassiva do serviço e da fraternidade. É uma consciência
de vinculação cósmica, como postulava Einstein e, mais
recentemente, Fritjof Capra. Portanto, falemos numa
religião do Amor, que é a única que liberta e não mata.
Como afirmava Exupéry, o amor é este mistério que apenas
temos quando e na medida mesmo em que o doamos...
Quando enfatizamos a espiritualidade transreligiosa,
estamos nos precavendo contra a intolerância e o
fanatismo. Trata-se, como afirma Leloup, de evoluir da
verdade que nós temos para a veracidade, a verdade que
nós somos. Evoluir do Deus que possuímos para a
divindadade que encarnamos. Isso pressupõe um caminho
de iniciação ao Ser, que conclama uma pedagogia iniciática,
que facilite o despertar para a Presença, através da
conquista do mundo interior, uma trilha que do ego
conduza ao Ser. Uma educação para a individuação, para a
realização do potencial de plenitude, nossa herança de Vida
plena. Assim, através da inteligência do Self, poderemos
orientar o ego para o Norte do Amor e do Serviço.

Não se trata de eliminar o ego; trata-se de abri-lo para os


horizontes da consciência, orientando o seu bom
enraizamento na matéria e na sociedade. Então, como
sonhava o Profeta, nossas bombas se transformarão em
arados, no Jardim do Encontro das bênçãos e dos olhares,
na cumplicidade das trilhas com coração, do existir
amoroso e solidário, reconciliado com o sabor da
Eternidade.

Eis nosso sonho, o sonho dos que viemos para este


congresso, que convoca nossas consciências e ações para a
tarefa de reencantar o mundo. Não é possível o
reencantamento do mundo sem a dimensão do numinoso,
da chama do Sagrado, que arde sem consumir a sarça de
nossas existências. Não chegaremos ao Sagrado a não ser
através da dimensão noética, do Portal da Consciência.
Porque tudo é sagrado, e o mais sagrado de tudo é o
Silêncio, este grande mestre que abre nossas janelas e
portas para o horizonte vasto da realização plena da Utopia
Humana.

Então, um dia poderemos dizer, como Confúcio: Aos 70


anos eu podia seguir as indicações do meu próprio coração,
pois o que eu desejava não mais excedia as fronteiras da
Justiça. Sem esquecer a afirmação dos antigos terapeutas,
segundo Leloup: Troca-se de roupa em dois minutos. Leva-
se uma existência inteira para trocar de coração... E esta é
a tarefa sagrada de uma nova educação: fazer florescer,
em abundância e beleza, o Jardim de Seres Humanos.

Participante 1: Roberto, eu também sofro de “entusiasmo” e quero te devolver


a pergunta: Como ser prudente e ousado ao mesmo tempo? Estou tentando:
faço pedagogia, e está difícil, entendeu?

Roberto Crema: Basta ser humano e poeta o bastante, para dizer com
Whitman: contradigo a mim mesmo, porque eu sou vasto...
Precisamos, de fato, de uma pedagogia que possa contemplar e reconciliar
todas as polaridades, que caracterizam o reino humano. Os antigos falavam de
quatro virtudes: saber, querer, ousar, calar. Podemos integrá-las com
as quatro funções psíquicas, pesquisadas por Jung, respectivamente: razão,
sensação, coração e intuição.

Uma nova educação precisa resgatar esse universo de


funções psíquicas, facilitando que cada aprendiz localize a
sua função dominante, desenvolvendo as que estão
atrofiadas, integrando-as e harmonizando-as. Vocês podem
observar que cada uma destas funções implica um
elemento: o ar, a terra a água e o fogo.

Podemos falar também, como desvelou a Lídia Rebouças,


dos quatro pilares de uma nova educação transdisciplinar,
respectivamente: educar para aprender; educar para fazer;
educar para conviver; educar para ser.

Então,chegamos na questão que, na minha escuta, você


nos coloca. Retomemos as quatro estratégias dos antigos,
que podem se conjugar todas com todas: saber ,querer,
ousar, calar. Integremos todos estes elementos no
esquema abaixo:

INTUIÇÃO
Fogo
Aprender a Ser
CALAR
RAZÃO CORAÇÃO
AR Água
Aprender a Aprender a
conhecer conviver
SABER OUSAR
SENSAÇÃO
Terra
Aprender a
fazer
QUERER

Cada momento histórico vai solicitar uma destas virtudes,


dominantemente, sendo que elas são complementares.
Parece-me óbvio que estamos num momento em que
precisamos ousar para não findar; esclarecer para não
esclerosar.

Não é tempo de calar; é tempo de ousadia. É preciso


querer ousar, saber ousar, ousar Ser... Se não for agora,
quando? Se não for aqui, onde? Se não for você, quem?...

Participante 2: Se há suicidas por causa das escolas, eles não seriam em muito
maior número sem elas? Os pais estão propondo algo diferente para as
escolas, nós que estamos aqui? E, se não houvesse todo o sistema do
paradigma cartesiano, nós estaríamos chegando onde estamos chegando?

Roberto Crema: Começo pela última pergunta, que é a mais evidente: estamos
aqui porque respeitamos muito Descartes e Newton; e queremos atualizar suas
abordagens.

Não somos alternativistas, na UNIPAZ. Nossa proposta é


integrativa. Assim é que somos, às vezes, criticados por
dois blocos de extremistas: um é o dos cientificistas, que
dizem que nós somos muito poetas e delirantes. O outro é
o dos alternativistas, que dizem que nós somos muito
científicos, que consideramos demais o racionalismo
científico. Este fato interessante indica que estamos no
Caminho do Meio, evitando os extremos... Era o que eu
pretendia indicar quando afirmava do cuidado que
precisamos lograr para não jogarmos fora a criança, junto
com a água suja. Trata-se de manter o positivo do modelo
cartesiano-newtoniano, positivista, materialista, abrindo-
nos para um horizonte ampliado, facilitando a emergência
do novo. Nossa lógica é a da complementaridade e não a
da exclusão, naturalmente.
Agora, o que mais me dói: o suicídio infanto-juvenil. É
alarmante o índice crescente — nos Estados Unidos, onde
há estatísticas sobre isso, 40 crianças se suicidam
diariamente. Estamos diante, talvez, do sintoma mais
perverso da decadência de uma civilização insustentável,
da falência de uma ética, que é a violência contra a
infância. Terapeutas violam, sacerdotes violam, babás
espancam... Eu vi, com o coração partido, há duas ou três
noites; você também deve ter visto: uma mãe espancando
violentamente uma criança de quatro anos, sem saber que
estava sendo filmada.

As crianças são as guardiãs do templo. Quando violamos as


crianças, estamos realmente no fundo do poço. E quando
estamos no fundo do poço, podemos encontrar um solo
firme para nos lançarmos para o alto.

Há outras violações, além das físicas. Podemos violar as


crianças com um currículo rígido, exigindo de todas o
mesmo resultado. Você pode imaginar um horticultor
exigindo de uma alface e de um pepino o mesmo currículo?
Ou um jardineiro que exija de uma rosa e de um lírio o
mesmo perfume?

Você pode imaginar um jardineiro tão tolo a ponto de


querer que a biodiversidade de seu jardim apresente um
resultado padronizado? Nós estamos fazendo isso na
educação normótica.

Eu lhe agradeço por ter levantado essa questão, porque


tem uma nova educação surgindo, transcendendo este
contexto cruel e alienante que aponta para a perda da
alma, do coração e do espírito. Necessitamos do que o
Ubiratan D’Ambrosio denomina de ética da diversidade,
aliada a uma ética da não-separatividade. Eis um telefone
que toca [outro telefone acaba de soar na platéia]: trata-se
de escutar aquela voz única, singular, que quer falar
conosco, de um ser humano singular. Cada aprendiz
necessita de um currículo único e intransferível, dentro de
uma pedagogia centrada no aprendiz que vá além da cama
de Procusto, da mitologia grega. Procusto, um bandido
muito hospitaleiro, cortava ou esticava as pernas de seus
hóspedes, para que eles se adaptassem à sua cama...

Um currículo rígido e padronizado estupra a originalidade,


instaurando um regime de uniformidade escotomizante,
que reprime a diferença, suprimindo a beleza da
diversidade.

Educar para a Vocação


Você tem razão; os pais sofrem com os filhos e não há uma
solução fácil. Trata-se de conspirar, como estamos fazendo
neste congresso. Cada um a partir de sua própria vocação,
focada seja no individual, no social ou no ambiental. Um
aspecto fundamental da pedagogia iniciática é a
consideração vocacional. Confio que é possível transcender
o enfoque alienado da especialização, sem o retorno
simplista ao ideal generalista, através do conceito de
vocação, a voz mais íntima de nosso desejo mais profundo.

É o que traduzo afirmando que todos somos filhos e filhas


de uma promessa que nos fizemos. A mão do Mistério
confiou, a cada um de nós, talentos especiais. Cabe-nos
fazer render estes talentos, honrando a promessa do
singular vir-a-ser que se aninha no interior de nossas
moradas. Uma verdadeira escola é como um jardim
fecundo, onde cada aprendiz cresce na direção de sua
completude, com o florescimento singular de seus talentos.
A metáfora do jardineiro é a que melhor ilustra a tarefa de
um bom educador. Mais do que um bom conhecedor de
botânica, o jardineiro é aquele que as ama, de forma
respeitosa e incondicional.

O que eu pergunto, em algum momento, para os meus


filhos e para os que me procuram no consultório, para as
pessoas que se educam comigo é:

O que lhe faz arrepiar? O que lhe traz deslumbramento? O


que faz transbordar a taça do seu maior deleite?...

Aqui nos encontramos no coração do tema deste congresso.


Precisamos indagar aos nossos jovens pelo que lhes traz
encantamento, estimulando-os para a busca e conquista do
tesouro de suas vocações. Ir à direção daquilo que nossos
corações aspiram é penetrar na via vocacional, rumo à
realização da plenitude de uma promessa realizada. O
Mistério conspira a favor de quem se torna caçador de si
mesmo, na aventura do viver evolutivo. Os Portais se
abrem para aqueles que não abrem mão de suas tarefas
individuais intransferíveis... E isso passa por uma abertura
para o interior.

Quero concluir com uma estória do Mulla Nasrudin, notável


sábio sufi, que ensinava através do humor e do lúdico.
Mulla buscava a sua carteira de identidade perdida, debaixo
de um poste de luz, na rua. Logo, se aproxima um amigo
que começa a ajudá-lo nesta tarefa. Depois de muito tempo
de busca inútil, o amigo indaga ao Mulla:

- Afinal, onde você perdeu a sua identidade?


- Lá em casa, no meu quarto, respondeu Mulla.
- Então, porque estamos procurando aqui na rua, debaixo
desse poste?
- Porque aqui está mais claro, Mulla retruca.
- Você enlouqueceu, amigo. Você perdeu totalmente a
razão!
- E você?, responde Mulla, fitando o amigo nos olhos. –
Onde você está buscando a sua identidade? Na rua, no
botequim, no mercado, no shopping center, ou lá no quarto
escuro de sua casa, onde você a perdeu?...

Esta é uma pergunta que pode nos despertar, para a tarefa


de reinventar a educação. Onde estamos procurando
nossas identidades, o encantamento, a felicidade? Lá fora,
na selva iluminada do mundo, ou no cantinho escuro de
nossas almas, de nossas consciências, de nossos potenciais
esquecidos?...

É tempo de facilitar a emergência de uma nova escola, de


um novo aprender a aprender e, sobretudo, de aprender a
Ser. Uma escola que seja um jardim fecundo de vocações,
de seres humanos inteiros e plenos. Uma escola que
abençoe o milagre de ser humano, este sal da terra que dá
a cada coisa o gosto que cada coisa tem. Que honre a
vastidão humana, este espaço onde todos os Reinos podem
sentir o próprio gosto, aprender a se conhecer, a se
vincular, a amar e a servir. Que inspire o Aprendiz a buscar
realizar o caminho com coração, onde até sofrer vale a
pena, pois tudo é verdade e caminho...

Concluo lembrando que estamos aqui para nos abençoar


uns aos outros. Com uma benção verdadeira, creio que
podemos atravessar os desabamentos da demolição, rumo
à Chama do Ser, a nos aguardar no final da Sombra e de
todos os escombros.

O que lhes desejo não é uma existência tranqüila e


ajustada. Desejo-lhe muitos terremotos, bons combates,
muita indignação e ousadia, insônias, sintomas
abundantes... Mas que seus sintomas sejam justos, que
suas batalhas sejam dignas, que seus desesperos sejam
sóbrios. Que não lhes faltem encontros alquímicos, aonde
vamos temperando o aço do Ser. Que vocês possam
amarrar as carroças de suas existências às estrelas mais
altas de seus encantamentos, de seus arrepios, de seus
deslumbramentos. E que se tornem, no tempo justo, seres
humanos plenos e verdadeiros.

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