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Receita de inclusão?

Ingredientes

• 30 a 40 crianças genéricas, isto é, sem rótulos, da mesma faixa etária, ambos


os sexos, com habilidades e competências heterogêneas;

• 1 a 2 crianças com rótulos catalogados na Classificação Internacional de


Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), na Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) ou qualquer outra
tabela não periódica;

• 1 pacote de apostilas ou livros didáticos pasteurizados (não use produtos in


natura que podem atacar os neurônios dos professores);

• 1 pacote de avaliações que sejam rigorosamente idênticas na forma e no


conteúdo;

• Giz a gosto.
Modo de preparo

1. Coloque tudo em um liquidificador da marca “Saladeaula” e bata em alta


velocidade por 200 dias letivos, até formar uma pasta completamente
homogênea;

2. Caso, durante o processamento, a massa forme grumos de personalidade,


brilhantismo ou atraso, encaminhe o ingrediente resistente para ser dissolvido
por um especialista;

3. Se, mesmo assim, ele não se adaptar à massa, descarte-o, culpando os


fornecedores (que atendem pelo nome de pai e mãe) por sua má qualidade ou
recomende que seja levado para um liquidificador especial (os melhores são os
importados da marca Segregator);

4. Ao final, coe toda a pasta em peneiras de provas locais, regionais, nacionais,


internacionais e aeroespaciais. Se você perceber que algum ingrediente corre o
risco de não passar na avaliação e prejudicar o bônus do cozinheiro, sugira que
ele fique doente no dia do exame;

5. Sirva acompanhado de reportagens laudatórias em revistas de educação e


inclusão.
Não existe receita para incluir

Não são poucas as tentativas de se criar uma receita básica de como incluir na
escola pessoas que sejam consideradas diferentes. Nenhuma das “fórmulas de
inclusão” que conheci até hoje funcionaram.

Todos querem saber qual é o maior empecilho para que a educação seja, de
fato, inclusiva (quando uso essa expressão estou sempre pensando na
educação de todos. Educação das pessoas com deficiência não tem nada de
inclusiva. Inclusão, ou é para todo mundo, ou não é). Não adianta dizer que
uma boa formação de professores seria o suficiente. A infraestrutura física das
escolas ajuda muito, mas também não resolve nada de forma isolada.
Pedagogia genial não funciona com professores medíocres. Projeto político-
pedagógico (PPP) exemplar não resolve questões sociológicas.

O maior problema da educação é a busca incessante da receita de bolo que


não falhe nunca. O bolo que atenda a todos gostos, sirva para educar todos de
forma homogênea e que, principalmente, não demande nem das famílias, nem
dos estudantes, nem dos professores, algum trabalho. Que não obrigue as
pessoas a pensar. Bolo de pacote, comprado no supermercado, em que basta
adicionar leite e bater no liquidificador.

Mas educação se faz com seres humanos. Alunos, famílias e professores. E


quando esse negócio chamado ser humano entra no processo, o bolo desanda.
Cada um deles é diferente de todos os outros. Cada um assa em uma
temperatura diferente. Cada um dá ponto em um momento diferente.
Adaptação à diversidade

Ao pensar a inclusão, o primeiro problema com o qual os educadores se


defrontam é o de definir o que é o “diferente”, uma vez que o termo depende da
comparação com o que são os “iguais”. A maior discussão gira em torno do
conceito da normalidade. Afinal de contas, o que exatamente significa ser
normal? Será que é normal ser diferente, ou é diferente ser normal? Será que o
Caetano Veloso estava certo ao afirmar que “de perto, ninguém é normal”?

A palavra “normal” vem do latim, norma, um esquadro usado por carpinteiros


para traçar ângulos retos. Em algumas línguas anglo-saxônicas, ela continua
tendo o sentido de “perpendicular”. No campo da conduta humana, trata-se da
diretriz de um comportamento socialmente estabelecido. Por isso, o adjetivo
refere-se a tudo que seja permitido ou proibido no mundo ético. Refere-se,
também, a tudo que no mundo da natureza ocorre, necessariamente, como
descrito em um enunciado físico. “Anormal” é a qualidade daquilo que se
mostra contrário às concepções admitidas em um dado momento histórico.

Quando olhamos para a questão da diferença, o uso da palavra “normal” tem


uma origem médica, baseada na ocorrência de determinadas patologias. Logo,
é uma visão estatística. Ora, uma distribuição normal é uma distribuição
contínua que pode variar de mais a menos infinito. Pensando estatisticamente,
não existe a anormalidade, o que existe são pontos mais próximos ou mais
distantes da média.

Leia também:
+ O fracasso escolar e rótulo dos alunos “ditos normais”

A primeira definição mostra que é a sociedade (no aspecto ético ou no aspecto


de teorização das leis físicas) que determina os limites da normalidade. Na
segunda, desaparece a exclusão, uma vez que todos são normais. Em uma
sociedade sem exclusões sabe-se, desde o princípio, que as pessoas que
participam têm diferenças cognitivas, afetivas e/ou sociais, de gênero, étnicas,
culturais etc. Por isso, para a inclusão, há que organizar a sociedade
pensando-se nessas diferenças e não em pessoas hipotéticas. Uma
organização cujo epicentro seja a diversidade e não a normalidade.

Viver na diversidade se baseia na adoção de um modelo de sociedade que


facilite a vida de todas pessoas. Se isso não é entendido, corre-se o risco de
confundir adaptação à diversidade, que supera a diferença, com adaptação à
desigualdade, que ressalta a diferença.
Todos aprendem

O segundo passo para uma inclusão escolar efetiva é acreditar que todos
podem aprender.

Há muito tempo, um educador, psicólogo e ativista norte-americano negro


chamado Kenneth Bancroft Clark já declarava que “crianças que são tratadas
como ineducáveis, quase que invariavelmente, tornam-se ineducáveis”. Na
época, ele se referia aos negros estadunidenses marginalizados, colocados em
classes especiais (sim, porque afinal, eles eram outra raça, com necessidades
específicas, padrões de aprendizagem próprios) e, a priori, definidos como
pessoas que não eram educáveis. Não tinham a mesma capacidade dos
brancos, eram mais intuitivos que racionais e, pior, estavam em um estágio
inferior de civilização.

Os negros eram considerados pessoas que só podiam aprender trabalhos


manuais e tarefas repetitivas. E diziam que eles não tinham capacidade de
abstração. Claro que, como não eram educados, continuavam sem educação.
Sem educação não tinham trabalho. Sem trabalho não tinham sequer
perspectiva de vida. E, assim, continuavam marginalizados. Clark foi o primeiro
professor negro do City College em Nova York, depois acabou sendo
convidado também para dar aulas em Columbia, Harvard e Berkeley. Nos seus
estudos, concluiu que a segregação provocava danos psicológicos às pessoas.
Suas pesquisas levaram à decisão da Suprema Corte Americana que baniu a
educação segregada.

Quando eu falo a respeito dos negros, as pessoas certamente concordam que


essa situação não era provocada pela cor da pele desses indivíduos, mas pela
sociedade que os cercava. Poderia falar também das mulheres, que foram
segregadas antes, e todos concordariam que o problema é da sociedade e da
cultura. Por que, então, quando falamos que “o ser deficiente” tem um
componente social e cultural que provoca essa situação em relação à
educação (ou seja, a tal da especialização), ficamos tão resistentes?

A pessoa com deficiência tem um componente biológico específico, mas


também as mulheres não têm componentes biológicos diferentes dos homens?
Vamos separar de novo a educação em classes por gênero? Por que a pessoa
com deficiência tem um laudo médico? Se o problema for de laudo médico,
também podemos fornecer a respeito dos negros (tem melanina em excesso).

O modelo “pseudoeducativo” que defende essa escola segregada é meramente


assistencial e caritativo. É um paradigma que define a deficiência das pessoas
como única causa de seus problemas de aprendizagem. Esse mesmo padrão
nunca busca uma possível causa na sociedade e na cultura. O modelo de
intervenção (sim, porque é uma intervenção e não uma estratégia pedagógica)
é individualizado e o currículo definido pelo déficit, ressaltando as
incapacidades e não nas possibilidades dos estudantes.

Esse é um problema ideológico, mais do que pedagógico, pois está focado na


homogeneidade e não na diversidade. Todos vão aprender matemática?
Duvido. Eu, até hoje, não consegui entender um monte de coisas que me
ensinaram e duvido que qualquer pessoa seja capaz de se declarar
conhecedor de todas as ciências, artes e ofícios. Matemática suficiente para
a autonomia de todos (seja com calculadora, computador ou soroban).
Algoritmos para alguns. Português, ciências, literatura, história para todos, e
que cada um vá adiante naquilo que gostar mais, mas que a nenhum seja
sonegada a oportunidade de conhecer tudo e de todas as formas.
O papel da escola para a inclusão

O terceiro passo para educação inclusiva é repensar o nosso modelo de


educação (não o modelo de educação para a diferença, mas para a
diversidade).

Quando vemos os educadores totalmente perdidos com a entrada de alunos


com as quais eles não fazem ideia de como lidar, de gente que sempre esteve
à margem da educação, percebo a escola não está sequer próxima das
mudanças que acontecem na sociedade. Howard Gardner – aquele que
mesmo das inteligências múltiplas – costuma dizer que nossas continuamos a
preparar crianças e jovens para viver no século XIX.

Leia também:
+ Inteligências múltiplas: como potencializá-las em sala de aula

A escola se enraizou em suas crenças e convicções e, tirando as inovações


tecnológicas, nunca conseguiu acompanhar o desenvolvimento da sociedade.
A escola continua tentando impedir o desenvolvimento de novas ideias e
soluções, até porque seu objetivo é enquadrar seus estudantes no status quo.
Por princípio, a escola é a principal inimiga de tudo que é moderno, criativo e
inovador.

Quando confrontados com a realidade social, a escola se confunde e adota a


postura de rejeitar não só as ideias diferentes como os alunos que colocam em
xeque a solidez de suas apostilas e rigidez de suas avaliações. Quando um
novo professor sai da faculdade e se defronta com a vida real, constata que
não foi preparado para a inclusão. E não foi mesmo. Seu erro é acreditar que a
preparação vai se dar nas mesmas instituições que não o prepararam de forma
adequada anteriormente.

Só no contato com a realidade é que o professor vai aprender a navegar pelo


espaço sem procurar o chão. E vai entender que seu espaço de trabalho não
carece de bolas de ferro amarradas nos pés.
Mudar a visão da homogeneidade para a diversidade, acreditar que todos
podem aprender e reconstruir a escola de forma que seja, de fato, para todos,
são os primeiros passos para a inclusão. Sem paradigmas, sem receitas e sem
esperar de seres humanos desiguais resultados homogêneos.

Fábio Adiron é membro da Comissão Executiva do Fórum Permanente de


Educação Inclusiva, coordenador do Centro de Estudos Multidisciplinar Pró
Inclusão, coordenador do grupo de estudos Projeto Roma Brasil e integrante
da Federação Brasileira de Associações de Síndrome de Down (FBASD) Site
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