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)Criios

O objetivo desta Coleção é o de oferecer ao leitor


- estudante ou profissional do Direito - a mais exata
e completa Doutrina, em cada um dos vários ramos
do conhecimento jurídico, apresentada de forma
sintética, em conceitos essenciais, com esquemas,
resumos e gráficos elucidativos e complementada
pela Jurisprudência mais recente e variada, além
de Bibliografia selecionada
Como diz o Autor, na sua apresentação, "sua
finalidade é a visão panorâmica do assunto, o que
só um resumo
pode oferecer - pois não sabe onde
está quem, fechado num apartamento, não viu,
antes, pelo menos de relance, o edifício todo".

Volumes já publicados:
1.
RESUM O DE DIREITO COMERC IAL (Empresarial
(Empresarial
(3 ed., 2008)
2. RESUMO DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS
(Civis, Em presariais,
presariais, C onsumidor (27
3. RESUMO DE DIREITO CIVIL ed., 2007)
(3 ed., 2007)
4. RESUMO DE PROCESSO CIVIL
(3 ed., 2008)
5. RESUMO DE DIREITO PENAL (Parte Geral)(27ed., 2007)
RESUMO DE PROCESSO PENAL (22
7. RESUMO DE DIREITO ADMINISTRATIVOed., 2007)
ADMINISTRATIVO (22
ed., 2008)
RESUMO DE DIREITO TRIBUTÁRIO (1
9. RESUMO DE DIREITO DO TRABALHO ' ed., 2007)
0. RESUMO DE DIREITO CONSTITUCIONAL (20 ed., 2008)
(1 ed., 2008)
1. RESUM O DE DIREITO PENAL (Parte Especial
2. DICIONÁRIO JURÍDICO (8 ed., 2008)
(2008)
COLEÇÃO RESUMOS
Resumo de Direito Comercial (Empresarial), 38' ed., Malheiro
Malheiros Editores,
Editores, 200 8.
MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜHRER
Resumo de Obrigações e Contratos (Civis, Empresariais, Consumidor),
27 ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2007
2 007
Resumo de Direito Civil, 36a ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Processo Civil, 34 ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Direito Penal (Parte Geral), 27' ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Direito Penal Especial), ed., Malheiros
Penal (Parte Especial), Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Processo Penal, 22a ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2007.
200 7.
Resumo de Direito Administrativo, 22 ed., Malheiros
Di reito Administrativo, Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Direito Tributário, 18' ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Direito do Trabalho, 20' ed., Malheiros Editores, 2008.
Resumo de Direito Constitucional, 13' ed., Malheiros Editores, 2008.
Di reito Constitucional,

RESUMO
Dicionário Jurídico, 2008.
Outras Obras de
MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜTIRER
Crimes Falimentares, Ed. RT, 1972.
Roteiro das Falências Concordatas, 18 ed., Ed. RT, 2002.
F alências e Concordatas,
Direi to Público e Privado, em co-autoria com Édis Milaré, 13' ed.,
Manual de Direito
DE DIREITO
COMERCIAL
Ed. RT, 2002.
Tradução de aforismos de vários pensadores
Revista dos Tribunais (período 1975/1976).
"O homicídio passional" (artigo), RT392/32.

(EMPRESARIAL)
"O elemento subjetivo nas infrações penais de mera conduta" (artigo), RT
452/292.
"Como aplicar as leis uniformes de Genebra" (artigo), RT 524/292.
"O elemento subjetivo no Anteprojeto do Código das Contravenções Penais
— Confronto com a legislação em vigor" (artigo), RT 4511501.
"Quadro Geral das Penas" (artigo), RT 611/309.
38e edição
Outras Obras de
MAXEMILIANO ROBERTO ERNESTO FÜHRER Atualizada
Inclusive pela Lei Complementar 123,
História do Direito Penal, Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2005
2 005
Tratado da Inimputabilidade no Direito Penal,Malheiros Editores, 2000. de 14.12.2006
(Estatuto
(Estatuto Nacional da Microempres
Dos Autores e da Empresa de Pequeno Porte)
Comentado, 2' ed., Malheiros Editores, 2008.
Código Penal Comentado,

PROTEJA S ANIMAIS. EL ES NÃO


N ÃO
FALAM MAS SENTEM E SOFREM
COMO VOCE.

(De uma mensagem da União MALHEIROS


Internacional Protetora dos Animais)
EVEEDITORES
COLEÇÃO RESUMOS
Resumo de Direito Comercial (Empresarial), 38' ed., Malheiro
Malheiros Editores,
Editores, 200 8.
MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜHRER
Resumo de Obrigações e Contratos (Civis, Empresariais, Consumidor),
27 ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2007
2 007
Resumo de Direito Civil, 36a ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Processo Civil, 34 ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Direito Penal (Parte Geral), 27' ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Direito Penal Especial), ed., Malheiros
Penal (Parte Especial), Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Processo Penal, 22a ed., Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2007.
200 7.
Resumo de Direito Administrativo, 22 ed., Malheiros
Di reito Administrativo, Malheiros Editores,
Editores, 2008
2 008
Resumo de Direito Tributário, 18' ed., Malheiros Editores, 2007.
Resumo de Direito do Trabalho, 20' ed., Malheiros Editores, 2008.
Resumo de Direito Constitucional, 13' ed., Malheiros Editores, 2008.
Di reito Constitucional,

RESUMO
Dicionário Jurídico, 2008.
Outras Obras de
MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜTIRER
Crimes Falimentares, Ed. RT, 1972.
Roteiro das Falências Concordatas, 18 ed., Ed. RT, 2002.
F alências e Concordatas,
Direi to Público e Privado, em co-autoria com Édis Milaré, 13' ed.,
Manual de Direito
DE DIREITO
COMERCIAL
Ed. RT, 2002.
Tradução de aforismos de vários pensadores
Revista dos Tribunais (período 1975/1976).
"O homicídio passional" (artigo), RT392/32.

(EMPRESARIAL)
"O elemento subjetivo nas infrações penais de mera conduta" (artigo), RT
452/292.
"Como aplicar as leis uniformes de Genebra" (artigo), RT 524/292.
"O elemento subjetivo no Anteprojeto do Código das Contravenções Penais
— Confronto com a legislação em vigor" (artigo), RT 4511501.
"Quadro Geral das Penas" (artigo), RT 611/309.
38e edição
Outras Obras de
MAXEMILIANO ROBERTO ERNESTO FÜHRER Atualizada
Inclusive pela Lei Complementar 123,
História do Direito Penal, Malheiros
Malheiros Editores,
Editores, 2005
2 005
Tratado da Inimputabilidade no Direito Penal,Malheiros Editores, 2000. de 14.12.2006
(Estatuto
(Estatuto Nacional da Microempres
Dos Autores e da Empresa de Pequeno Porte)
Comentado, 2' ed., Malheiros Editores, 2008.
Código Penal Comentado,

PROTEJA S ANIMAIS. EL ES NÃO


N ÃO
FALAM MAS SENTEM E SOFREM
COMO VOCE.

(De uma mensagem da União MALHEIROS


Internacional Protetora dos Animais)
EVEEDITORES
RESUMO DE DIREITO COMERCIAL
(Empresarial)

MAXIMLLIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜHRER

la edição, 1980 — 2 edição, 1982 — 3a edição, 1984 — edição, 1985


edição, 1987 — 6° edição, 1988 — 7° edição, 1989 — edição, NOTA DO AUTOR
1990 — 9° edição, 1990 — 10 edição, 1991 — lla edição, 1992 —
12a edição, P tiragem, 01.1993; tiragem, 09.1993 —13 edição, Este é um livro complementar, que não dispensa a leitura
1994 — 14 edição, 1995 — 15 edição, 01.1996 — 16 edição, dos mestres.
07.1996 17 edição, 01.1997 — 18 edição, 04.1997 —
19 edição, 07.1997 — 20° edição, 01.1998 — 21a edição, P tiragem
Sua finalidade é a visão panorâmica do assunto, o que só um
04.1998 — tiragem, 08.1998 — 22° edição, 01.1999 — resumo pode oferecer — pois não sabe onde está quem, fechado
23 edição, 09.1999 — 24 edição, 01.2000 — 25 edição, 08.2000 num apartamento, não viu, antes, pelo menos de relance, o edi-
— 26° edição, 01.2001 — 272 edição, 06.2001 — 28 edição, 01.2002 fício todo.
29 edição, 08.2002 — 30 edição, 01.2003 — 31 edição, 06.2003 —
32 edição, 01.2004 — 33 edição, 06.2004 — 34 edição, 02.2005 —
35 edição, 09.2005 — 36° edição, 02.2006 — 37 edição, 01.2007.

ISBN 978-85-7420-852-7

Direitos reservados desta edição por


MALHEIROS
MALHEIROS EDITORES
EDIT ORES LTDA.
LTD A.
Rua Paes de Araújo, 29 — conjunto 171
CEP 04531-940 — São Paulo — SP
Tel.: (11) 3078-7205 — Fax: (11) 3168-5495
URL: www.malheiroseditores.com.br
e-mail: malheiroseditores@terra.com.br

Capa: Cilo

Composição
Composição e editoração eletrônica:
Virtual Laser Editoração Eletrônica Ltda.
O espírito do comércio produz nos homens um acentua-
do sentido de justiça exata, oposto de um lado à rapinagem
e de outro à negligência dos próprios interesses.
O comércio afasta
afasta os preconceitos agressivos. Em toda
Impresso no Brasil parte, onde se estabeleceram costumes brandos, existe o comér-
Printed in Brasil cio, e onde se pratica o comércio, existem costumes brandos.
03.2008
ABREVIATURAS

CC Código Civil
CCom Código Comercial
CD Código de Defesa do Consumidor
Código Penal
CP Código da Propriedade Industrial
Decreto
Decreto-lei
JC Jurisprudência Catarinense
JD Jurisprudência e Doutrina
JM Jurisprudência Mineira
JSTJ Julgados do Superior Tribunal de Justiça
JSTJITRF Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e
Tribunais Regionais Federais-Lex
JTACSP Julgados dos Tribunais da Alçada Civil de São Paulo
JTJ Jurisprudência do Tribunal de Justiça (SP)
ei
L-JSTJ Lex-Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e
Tribunais Regionais Federais
LD ei Direito Autoral
LD Lei do Divórcio
LICC Lei de Introdução ao Código Civil
edida Provisória
PJ Paraná Judiciário
RD Revista de Direito M ercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro
RF Revista Forense
RJTJEG Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado da Guanabara
RJTJERJ — Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro
RJTJESP — Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo
RJTJMS Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul
RJTJRGS Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul
AGRADECIMENTO RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça
RT Revista dos Tribunais
Os Autores e a Editora agradecem os leitores que vêm colaborando RTJ Revista Trimestral de Jurisprudência
com críticas e sugestões para o aprimoramento contínuo desta obra. RTJE Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados
As mensagens podem ser transmitidas para RTJEP Revista do Tribunal de Justiça do Estado do Pará
RTRF-34 Reg. — Revista do Tribunal Regional Federal 3a Reg.
malhetroseditores@terra.com br ST Supremo Tribunal Federal
ou pelo fax: (11) 3168-5495 ST Superior Tribunal de Justiça
SUMÁRIO
CAPITULO I — PARTE GERAL
1. Esboço histórico 15
2. Conceito de comércio 16
3. Direito Comercial e Direito Empresarial 17
4. Natureza e características do comércio 17
5. Obrigações dos empresários 18
6. Livros mercantis 18
7. Prepostos do empresário 19
8. O estabelecimento
9. Perfis da empresa
10. O ponto comercial 21
11. Registros de interesse da empresa
Bibliografia 24

CAPÍTULO II PROPRIEDADE INDUSTRIAL


1. A propriedade intelectual 26
2. A propriedade industrial 27
3. Legislação aplicável 27
4. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (IN PI) 27
5. Patentes e registros 27
6. Invenção
7. Modelo de utilidade 30
8. Desenho industrial 30
9. Dúvidas na classificação das criações 31
10. design
11. know•how e o segredo de fábrica 33
12. Marcas
13. Cultivares 34
14. Crimes contra a propriedade industrial 35
Bibliografia 35

CAPÍTULO III SOCIEDADES EMPRESARIAS


PRIMEIRA PARTE — RESUMO
1. Introdução
2. Características gerais 37
3. Classificação das sociedades no Código Civil 37
10 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SUMÁRIO 11

4. O nome 39 9. O aval 87
5. Firma ou razão social 39 0. A apresentação aceite 87
6. Denominação social 40 protesto 88
7. Título de estabelecimento 40 2. A ação cambial 88
A proteção do nome empresarial 41 3. A anulação doa títulos de crédito 89
9. O empresário individual 41 4. A prescrição 89
0. Sociedade em nome coletivo 42 5. A letra de câmbio 90
Sociedade em comandita simples 43 6. A nota promissória 90
2. Sociedade de capital e indústria 43 7. O cheque 90
3. Sociedade em conta de participação 44 apresentação do cheque. A decadência 92
4. Sociedade limitada 45 9. A duplicata 93
5. Sociedade anônima ou companhia 20 O conhecimento de depósito e warrant 93
15.1 Características 47 21 Debêntures 94
15.2 Títulos emitidos pela sociedade anónima 49 22. conhecimento de transporte ou de frete 94
15.3 Os acionistas 52 23 Cédulas de crédito 94
15.4 Órgãos da sociedade anónima 53 24 Notas de crédito 96
16. Sociedade em comandita por ações 55 25 Letras imobiliárias 96
7. Sociedade em comum (irregular ou de fato) 57 26 Cédulas hipotecárias 97
Modificações na estrutura das sociedades 57 27 Certificados de depósito 97
9. Interligações das sociedades 58 28 Cédula de Produto Rural (CPR) 97
20 Microempresas e empresas de pequeno porte 58 29 Letra de Crédito Imobiliário 97
21 Quadro geral das sociedades empresariais 60 30 Cédula de Crédito Imobiliário 97
31 Cédula de Crédito Bancário 98
32 Títulos do agronegócio 98
SEGUNDA PARTE TEMAS VARIADOS
Sociedade de marido e mulher 61 SEGUNDA PARTE - TEMAS VARIADOS
2. sociedade de um sócio só 61
3. Penhora de cotas da sociedade, por dívida do sócio 1. investigação da causa debendi 99
62
4. Penhora de bens particulares do sócio de sociedade limitada 2. Defesa do avalista baseada na causa debendi 99
63
5. Mercado de capitais. Distribuição das ações e outros títulos 63
3. Título vinculado a contrato 10
6. Vocabulário das sociedades por ações do mercado de capitais 4. Obrigação cambial por procuração 10
7. Desconsideração da pessoa jurídica 5. Títulos "abstratos" e títulos "causais" 10
74
Bibliografia 6. Pagamento parcial 102
78
7. Pro solvendo e pro soluto 102
Cláusulas extravagantes 103
9. Duplicata simulada. Sustação de protesto e execução contra o
CAPÍTULO IV ÍTULOS DE CRÉDITO emitente-endossante 105
PRIMEIRA PARTE RESUMO Bibliografia 106
1. Definição de título de crédito 80
2. Títulos cambiais títulos cambiariforrnes 80
3. Características dos títulos de crédito 81 CAPÍTULO V DIREITO BANCÁRIO
4. O formalismo dos títulos de crédito 83 Características do Direito Bancário 107
5. Legislação aplicável 84 2. Organização bancária 107
6. Como aplicar a Lei Uniforme das Letras de Câmbio e Notas 3. Espécies de empresas bancárias 108
Promissórias 85 4. Sistema Financeiro Nacional 109
7. Pagamento dos títulos de crédito 86 5. Intervenção e liquidação extrajudicial 110
8. O endosso 86 6. Operações ou contratos bancários 13
14 .§•Nis ,I iiiti..111) COMERCIAL
SUMÁRIO 13

ee to ee 1•. illà at e.111Cári0 11 129


7. Inquérito judicial
r. .,1.. at" 114 129
.1.1 .1
8. A ordem das preferências
t, 15
B) Concordatas (D 7.661/45) 130

CAPÍTULO VI - FALÊNCIAS, CONCORDATAS 13


1. A concordata preventiva
E RECUPERAÇÕES 2. A concordata suspensiva 13

Introdução 116
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO 133
PRIMEIRA PARTE EI ATUAL (11.101/05)

A) Recuperação de empresas

1. bjetivo da lei 117


2. ecuperação judicial 117
2.1 Recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno
porte 118
3. ecuperação extrajudicial 119
4. articipantes, na recuperação judicial e na falência 119

B) Falência (L 11.101/05)

1. efinição de falência 120


2. ipóteses de decretação de falência 120
3. ndamento da falência 121
4. lassificação dos créditos 122
4.1 Créditos extraconcursais (art. 84) 122
4.2 Créditos concursais (art. 83, 1 a VIII) 122
5. réditos trabalhistas. Inconstitucionalidade de sua limitação 124
6. ontratos do falido 125
7. edido de restituição 125
8. ontinuação provisória das atividades 125
9. rimes concursais (arts. 16 8 a 1 78) 125
10 lei penal no tempo 126

SEGUNDA PARTE - LEI ANTERIOR (DL 7.661/45)


FALÊNCIA E CONCORDATAS 127

A) Falência (DL 7.661/45)

1. entença 127
2. ases da falência 127
3. síndico 128
4. brigações pessoais do falido 128
5. continuação do negócio 129
6. fase de liquidação 129
Capítulo

PARTE GERAL

1. Esboço histórico — 2. Conceito de comércio — 3. Direito


Comercial e Direito Empresarial — 4. Natureza e características
do comércio — 5. Obrigações dos empresários — 6. Livros mer-
cantis — 7. Prepostos do empresário — 8. O est abelecimento — 9.
Perfis da empresa. 10. O ponto comercial 11. Registros de in-
teresse da empresa.

1. Esboço histórico
Mesmo na Antigüidade, como não poderia deixar de ser, já
existiam institutos pertinentes ao Direito Comercial, como o
empréstimo a juros e os contratos de sociedade, de depósito e de
comissão no Código de Hammurabi, ou o empréstimo a risco
(nauticum foenus) na Grécia antiga, ou a avaria gr ossa da Le
Rhodia de jactu, dos romanos.
Como sistema, porém, a form ação e o florescimento do Di-
reito Comercial só ocorreram na IdaàZédia, a p artir do século
XII, através da s corpora ções de oficios, em que os mercadores
criaram e a plicaram um Direito próprio, muito mais dinâmico do
que o a ntigo Direito roma no-canônico.
A evolução do Direito Comercial deu-se em três fases. A pri-
meira fase, que va i do século XII até o século XVIII, correspond
ao períod subjetivo-corporativista, no qua l se entendeu o Direi-
to Comercial como sendo um Direito fechado e classista, pri-
vativo, em princípio, das pessoas matriculadas nas corporações
de mercadores.
Na ép oca, as pendéncias entre os mercadores eram decidi-
das dentro da classe, por cônsules eleitos, que decidiam sem
grandes formalidades (sine strepitu et figura iudicii), apenas de
acordo com usos e costumes, e sob os ditames da eqüidade (ex
bono et aequo).
16 ESUMO DE D IREITO COMERCIAL PARTE GERAL
A segunda fase, chamada de período objetivo, inicia-se com o De acordo com o insigne comercialista italiano Vidari: "Co-
liberalismo econômico e se consolida com o Código Comercial 'livrei() é o complexo de atos de intromissão entre o produtor e o
francês, de 1808, que teve a participação direta de Napoleão. Abo- unsumidor, que, exercidos habitualmente e com fins de lucros,
lidas as corporações e estabelecida a liberdade de trabalho e de co- I ealizam, promovem ou facilitam a circulação dos produtos da
mércio, passou o Direito Comercial a ser o Direito dos atos de co- natureza e da indústria, para tornar mais fácil e pronta a procu-
mércio, extensivo a todos que praticassem determinados atos pre- ra a oferta" (cf. Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, p.
vistos em lei, tanto no comércio e na indústria como em outras (), De Plácido e Silva, Noções Práticas de Direito Comercial, Fo
atividades econômicas, independentemente de classe. rense, Rio, 1965, p. 18; Gastão A. Macedo, Curso de Direito Co-
Durante a primeira fase, e com intensidade maior no início mercial, Freitas Bastos, Rio/SP, 1956 , p. 9).
da segunda, houve aspectos ecléticos, que combinavam o critério Destarte, três os elementos que caracterizam o comércio,
subjetivo com o objetivo. Às vezes, os tribunais corporativistas em sua acepção jurídica: mediação, fim lucrativo habitude (prá-
julgavam também causas referentes a pessoas que não eram co- ica habitual ou profissional).
merciantes, desde que o assunto fosse considerado de natureza
comercial. 3. Direito Comercial e Direito Empresarial
A terceira fase, marcada agora pelo Código Civil de 2002
(art. 966), corresponde ao Direito Empresarial (conceito subjeti- Com o advento do atual Código Civil, em 2002, o comércio
passou a representar apenas uma das várias atividades regula-
vo moderno), que engloba, além do comércio, qualquer atividade
econômica organizada, para a produção ou circulação de bens ou das por um Direito mais amplo, o Direito Empresarial, que
serviços, exceto a atividade intelestual, de natureza cientWca, li- abrange o exercício profissional de atividade econômica organi-
terária ou artística. Até mesmo estas últimas atividades serão zada para a produção ou a circulação de bens ou serviços (art.
empresariais, se organizadas em forma de empresa (art. 966, pa- 966). Tudo, naturalmente, a partir da vigência do Código Civil,
cm 11.1.2003
rágrafo único, do CC).
novo Código Civil revogou toda a Primeira Parte do Códi-
Período subjetivo•corporativista go Comercial, composta de 456 artigos. Com isso, o Código Co-
FASES DO Período objetivo dos atos de comércio
DIREITO mercial não mais regula as atividades comerciais terrestres, res-
COMERCIAL Período subjetivo moderno — Direito Empresaria tando apenas a sua Segunda Parte, referente a atividades marí-
(adotado pelo novo CC)
timas.'

2. Conceito de comércio 4. Natureza e características do comércio


Ato de comércio é a interposição habitual na troca, com o Possui o comércio algumas características que o distinguem
fim de lucro. de outras atividades:
`€) A palavra comércio tem tríplice significado: o significado vul-
gar, o econômico e o jurídico. No sentido vulgar, traduz o vocábulo 1. Mesmo as leis comerciais especiais ou avulsas, como, por exemplo a
certas relações entre as pessoas, como o comércio de idéias, de Lei de Recuperações e Falências, devem passar a aplicar-se, agora não apenas
simpatia, de amizade. aos comerciantes, mas a todos os empresários.
Como expressamente dispõe o art. 2.037 do CC, "salvo disposição em
No sentido econômico, comércio é o emprego da atividade contrário, aplicam-se aos empresários e sociedades empresárias as disposi-
humana destinada a colocar em circulação a riqueza produzida, ções de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes ou a so-
facilitando as trocas e aproximando o produtor do consumidor. ciedades comerciais, bem como a atividades mercantis". O art. 2.03 7, citado,
constitui o que se chama de norma de extensão, ou de reenvio, que numa só
Excluídos os dois extremos — produtor e consumidor —, co- disposição coordena e consolida toda uma matéria legal.
merciais, sob o prisma econômico, serão todos os atos com que O art. 1.044 CC corrobora esse entendimento, dispondo expressamente
se forma a corrente circulatória das riquezas. que a sociedade empresária dissolve-se também pela declaração de falência.
Sem distinção de a empresa dedicar-se ou não ao comércio.
18 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL PARTE GERAL

a) simplicidade — em regra, o comércio é menos forma- 1. Diário


lista;
2. Registro de Duplicatas, se h ouver vendas com
b) cosmopolitismo — o comércio tem traços acentuadamen- prazo superior a 30 dias
te internacionais; LIVROS COM UNS
OBRIGATÓRIOS 3. Registro de Compras— pode ser substituído pelo
c) onerosidade — não existe, em regra, ato mercantil gra- Registro de Entrada de M ercadorias
tuito; 4. Registro de Inventário

5. Obrigações dos empresários Entre os livros obrigatórios especiais, ou específicos de de-


terminadas empresas, contam-se, por exemplo, o Livro de En-
êm os comerciantes inúmeras obrigações, impostas por trada e Saída de Mercadorias, dos armazéns gerais, o Livro de
leis comerciais, leis tributárias, leis trabalhistas e leis admi- Balancetes Diários, das casas bancárias, o Livro de Registro de
nistrativas, tanto no âmbito federal como no estadual e no mu- Despachos Marítimos, dos corretores de navios, os livros previs-
nicipal. tos no art. 100 da Lei das S/A etc.
Entre as obrigações da legislação comercial contam-se as Entre os livros facultativos ou auxiliares estão os seguintes:
relativas à identificação através do nome comercial, ao registro Caixa, Razão, Contas Correntes, Borrador, Copiador de Cartas,
regular da firma individual ou do contrato ou estatuto social, à Copiador de Faturas etc.
abertura dos livros necessários e à sua escrituração uniforme e Devem os livros seguir formalidades extrínsecas, referentes
contínua, ao registro obrigatório de documentos, à conservação à autenticação dos mesmos, bem como formalidades intrínsecas,
em boa guarda de escrituração, correspondência e demais pa- referentes ao modo como devem ser escriturados.
péis pertencentes ao giro comercial, ao balanço anual do ativo e
O Decreto-lei 486, de 3.3.69, regulamentado pelo Decreto
passivo, à apresentação do mesmo à rubrica do juiz etc.
64.567, de 22.5.69, nos termos em que o qualifica, dispensa o pe-
queno comerciante da obrigação de manter e escriturar os livros
6. Livros mercantis adequados, bastando, em relação a ele,'"a conservação dos docu-
mentos e papéis relativos ao seu comércio (ver tb. DL 1.780, de
Dividem-se os livros mercantis em comuns e especiais, bem 10.4.80).
como em obrigatórios e facultativos ou auxiliares. Os comuns
são os referentes ao comércio em geral, e os especiais são os que 7. Prepostos do empresário
devem ser adotados só por certos tipos de empresas.
Entre os livros comuns, entende-se, unanimemente, que é Apontam os autores duas classes de pessoas que auxiliam a
obrigatório o Diário, ou o livro Balancetes Diá rios e Balanços atividade empresarial.
(art. 1.185 CC). E muitos julgados entendem que são também Na primeira classe estão os auxiliares subordinados ou
obrigatórios o Registro de Duplicatas, se houver vendas com pra- dependentes, como os comerciários, industriários, bancários etc.
zo superior a 30 dias, o Registro de Compras, que pode ser subs- Não são empresários, pois agem em nome e por conta de ou-
tituído pelo Registro de Entrada de Mercadorias, e o Registro de trem.
Inventário. Podem os livros ser substituídos por registros em fo- Na segunda classe encontram-se os auxiliares independen-
lhas soltas, por sistemas mecanizados ou por processos eletrôni- tes, como os corretores, leiloeiros, comissários, despachantes de
cos de computação de dados.
Em regra, para os fins da lei comercial, a jurisprudência 2. A L 9.317/96 (SIMPLES) dispensou a microempresa e a empresa de
não menciona como obrigatórios os demais livros fiscais e tra- pequeno porte da escrituração comercial, exigindo apenas Livro Caixa e Re-
balhistas. gistro de Inventário (art. 70).
PARTE GERAL
20 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL
9. Perfis da empresa
alfândega, empresários de transporte e de armazéns gerais e os
representantes ou agentes comerciais. São considerados comer- Segundo Alberto Asquini, apresenta a empresa nada me-
ciantes e se sujeitam às regras do Direito Comercial. nos de quatro perfis diferentes: o perfil subjetivo, em que a em-
presa se confunde com o próprio empresário, vez que somente
ele, e não ela, possui personalidade jurídica; o perfil objetivo,
8. O estabelecimento que corresponde ao fundo de comércio, ou seja, ao conjunto de
Estabelecimento é o conjunto de bens operados pelo empre- bens corpóreos e incorpóreos destinados ao exercício da empre-
sário. Tem a natureza jurídica de uma universalidade de fato, sa; o perfil corporativo ou instituci onal, que corresponde aos
sendo objeto e não sujeito de direitos. esforços conjuntos do empresário e de seus colaboradores; e o
Compõe-se o estabelecimento de coisas corpóreas e coisas perfil funcional, que corresponde à força vital da empresa, ou
incorpóreas. seja, à atividade organizadora e coordenadora do capital e do
trabalho.
Entre as corpóreas estão os balcões, as vitrinas, as máqui-
1. Perfil subjetivo:
nas, os imóveis, as instalações, as viaturas etc. empresa=empresário
Entre as incorpóreas estão o ponto, o nome, o título do esta- 2. Perfil objetivo:
belecimento, as marcas, as patentes, os sinais ou expressões de OS 4 PERFIS empresa=estabelecimento
propaganda, o know-how, o segredo de fábrica, os contratos, os DAEMPRESA Perfil institucional
créditos, a clientela ou freguesia e o aviamento (aviamento é empresário+colaboradores
capacidade de produzir lucros, atribuída ao estabelecimento e à 4. Perfil funcional:
empresa, em decorrência da organização). empresa=organização
Pode o empresário ter uma pluralidade de estabelecimen-
10. O ponto comercial
tos, surgindo então o estabelecimento principal e as suas sucur-
sais, filiais ou agências. Ponto é o lugar em que o comerciante se estabelece.
balcões Constitui um dos elementos incorpóreos do estabelecimento
vitrinas ou fundo de comércio. Alguns autores o consideram como sen-
máquinas do uma propriedade comercial, ou seja, um direito abstrato de
Bens imóveis
corpóreos instalações localização.
viaturas Nos termos da Lei 8.245, de 18.10.91 (Lei de Locação), o lo-
etc. catário comerciante ou industrial, bem como seu cessionário ou
ponto
sucessor, pode pedir judicialmente a renovação do contrato de
nome aluguel referente ao local onde se situa o seu fundo de comércio,
título do estabelecimento nas seguintes condições:
ESTABELECIMENTO marcas a) contrato anterior por escrito e por tempo determinado;
COMERCIAL patentes
sinais de propagand b) contrato anterior, ou soma do prazo de contratos ante-
expressões de propaganda riores, de cinco anos ininterruptos;
Bens
incorpóreos know how c) o locatário deve estar na exploração do seu comércio ou
segredo de fábrica indústria, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo ininterrupto de
contratos
créditos
três anos.

aviamento 3. A Le de Luvas (D 24 .150 /34), que antes tratava da matéria, foi


etc. revogada pela atual Lei de Locação.
22 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL PARTE GERAL
Preenchidas as c ondições acima, tem o locatário o direito de .1.. nei!istro de Empresas Mercantis — SINREM, composto pelo
pedir a renovação do a luguel, através de ação renovatória, e terá reviu to mento Nacional de Registro do Comércio — DNRC e pe-
preferência, em igualdade de condições, sobre eventual proposta 1,,,. o tas Comerciais (v. arts. 1.150 a 1.154 do CC).
de terceiro. A ação deve ser proposta n os primeiros seis meses Departamento Nacional de Registro do Comércio —
do último ano do contrato, nem antes, nem depois. Se faltar PN I, : integra o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turis-
mais de um ano, ou menos de seis meses, para o término do con- mo, e é o órgão central do SINREM . Tem função supervisora,
trato a renovar, a ação não será a dmitida. oi•[dadora, coordenadora e norma tiva, no plano técnico, e su-
Se não houver acordo qua nto ao novo va lor do aluguel, o juiz i i . t i vn no plano administrativo.
nomeará perito para a fixação do mesmo. Se não houver renova- As Juntas C omerciais são órgãos locais de execução e admi-
ção, por causa de uma p roposta melhor do que a fixada, terá o in- nistração dos serviços de registro, havendo uma Junta em ca da
quilino direito a uma indenização. unidade federativa, com sede na Ca pital.
O locador, por sua vez, tem o direito de promover a revisão Com o Sistema Nacional, cada empresa terá o seu Núm ero
do preço estipulado, decorridos três anos da data do contrato, do Identificação do Registro de Empresas — NIRE.
ou da da ta do último reajuste judicial ou amigável, ou da data
do início da renovação do contrato. Em ca so de locação mista, Departamento Nacional de
residencial e comercial, o assunto será regulado conforme a Registro do Comércio
área ou a finalida de predominante for de uso comercial ou resi- —DNRC: órgão central,
SISTEMA NACIONAL DE integrante do Ministério da
dencial. REGISTRO DE EMPRESAS Indústria, do Comércio e do
Se a ação renovatória não for proposta no prazo, pode o loca- MERCANTIS — SINREM Turismo
dor, findo o contrato, retoma r o imó vel, independentemente de Juntas Comerciais:
qualquer m otivo especial. A Lei de Locação manteve a denú ncia órgãos executores locais
vazia nas locações para fins comerciais e industriais.
O direito à renovação do contrato de aluguel estende-se Às Juntas Com erciais incumbe, portanto, efetuar o registro
também às locações celebrada s por sociedades civis com fim lu- público de empresas mercantis e atividades afins, conforme a de-
crativo, regularmente constituídas. nominação da L ei 8.934/94. A expressão "a tividades afins" abra n-
ge os agentes auxiliares do com ércio, como os leiloeiros, tradu-
11. Registros de interesse da empresa tores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e adminis-
tradores de armazéns gerais.
Assim como toda pessoa natura l deve ser registrada ao nas- Qu alquer pessoa tem o direito de consultar os assentam en-
cer, inscrevendo no Registro Civil todos os atos marcantes de tos das Junta s, sem necessidade de prova r interesse, e de obter
sua vida (casa mento, separação, óbito etc.), também ao em presá- as certidões que pedir.
rio se instituiu um registro público. O Registro do C omércio é, O registro compreende a m atrícula, o arquivam ento, a auten-
assim, um órgão de publicidade, habilitando qua lquer pessoa a ticação de escrituração e docum entos mercantis e o assentamento
conhecer tudo que diga respeito ao empresário. de usos e costumes comerciais, além de outras a tribuições.
Conqua nto obrigatório (CC, art. 967), tais são os efeitos ne- matrícula é o modo pelo qual se procede ao registro dos
gativos que a sua falta enseja, que nenhum empresário de bom auxiliares do comércio, como leiloeiros, tradutores públicos e in-
senso dele prescinde (CC, art. 1.151, § 3°). Os registros de inte
resse dos empresários se dividem em duas espécies: o Registro 4. Trapiche — armazém geral de menor porte, na área de importação e
do Comércio e o Registro da Propriedade Industrial. exportação.
5. Nos termos do art. 1.150 c/c o art. 966 do CC, cabe agora tamb ém às
/ — Registro do Comércio: A Lei 8.934, de 18 .11.94, regula- Juntas Comercia is o registro das empresas de prestação de serviço, uma vez
mentada pelo Decreto 1.800/96, estabeleceu o Sistema Nacional que se incluem no conceito de empresário.
24 ARTE GERAL

térpretes comerciais, trapicheiros e administradores de arma- Giuseppe Ferri. Manuale di Diritto Commerciale, UTET, Torino, 1977.
zéns gerais (art. 32, I, da L 8.934/94) João Augusto da Palma. No Código Civil e Comercial, LTr, SP, 2002.
arquivamento é o modo pelo qual se procede ao registro João Eunápio Borges. Curso de Direito Comercial Terrestre, Forense, Rio,
1975.
relativo à constituição, alteração, dissolução e extinção de fir-
mas mercantis individuais e sociedades mercantis (art. 32, II, da José Costa Loures e Taís Maria Loures Dolabela Guimarães. Novo Código
L 8.934/94). O arquivamento abrange também as cooperativas, Civil Comentado, Ed. Del Rey, Belo Horizonte, 2002.
embora estas não sejam entidades comerciais, mas civis. Luiz Antônio Soares Hentz. Direito de Empresa no Código Civil de 2002,
Ed
Juarez de Oliveira, SP, 2002.
As sociedades sem contrato social escrito (sociedades de
Oscar Barreto F ilho. Teoria do Estabelecimento Comercial, Max Limonad
fato) ou com contrato não registrado na Junta Comercial (so- SP, 1969.
ciedades irregulares) não têm direito de obter concordata pre-
Otto-Friedrich Frhr. V. Gamm. Handelsrecht, C. H. Beck, München, 1976.
ventiva ou suspensiva. E seus sócios respondem sempre, de
modo subsidiário e ilimitado, pelas dívidas sociais. Romano Cristiano. A Empresa Individual e a Personalidade Jurídica, Ed.
RT, SP, 1977.
nome comercial é automaticamente protegido com o re-
Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, Saraiva, SP, 1989
gistro da Junta, na área de sua jurisdição, não se permitindo ar-
quivamento de nome idêntico ou semelhante a outro já existen- Sílvio M arcondes. Problemas de Direito Mercantil, Max Limonad, SP, 1970.
te (princípio da anterioridade). A proteção pode ser estendida às Vittorio Salandra. Manuale di Diritto Commerciale, UPEB, Bologna, 1948.
demais Juntas, a requerimento do interessado. Waldemar Martins Ferreira. Instituições de D ireito Comercial, Max Limo-
Os contratos sociais das sociedades só podem ser registrados nad, SP, 19 55.
na Junta Comercial com o visto de advogado (art. 1°, § 2°, da L
8.906/94 — Estatuto da Advocacia).
II Registro da Propriedade Industrial: As invenções,
modelos de utilidade, desenhos industriais, marcas, patentes e
outros bens incorpóreos são tutelados por meio do chamado Re-
gistro da Propriedade Industrial, que será examinado em segui-
da, em capítulo à parte.

Bibliografia
A. Graziani e G. Minervini. Manuale di Dir itto Commerciale, Morano
Editore, Napoli, 197 4.
Anacleto de Oliveira Faria. Instituições de Direito, Ed. RT, SP, 1978.
Caramuru Afonso Francisco, Código Civil de 2002, o Que há de Novo?, Ed.
Juarez de Oliveira, SP, 200 2.
De Plácido e Silva. Noções Práticas de Direito Comercial, Ed. Guaíra,
Curitiba, 19 56.
Fábio Ulhoa Coelho. Manual de Direito Comercial, Saraiva, SP, 2002
Fran Martins Curso de Direito Comercial, Forense, Rio, 1977.
Gestão A. Macedo. Curso de Direito Comercial, Freitas Bastos, Rio/SP, 1956.
Georges Hubrecht. Notions Essentielles de Droit Commercial, Éditions
Sirey, Paris, 1977.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL

2. A propriedade industrial
Dá-se o nome de propriedade industrial à matéria que
abrange as invenções, os modelos de utilidade, os desenhos in-
dustriais, as marcas, as indicações de procedência (ou indicações
geográficas), as expressões ou sinais de propaganda e a repres-
são à concorrência desleal.
Capítulo II
Direito bras literárias, artísticas e
autoral ientíficas
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
invenções
PROPRIEDADE modelos de utilidade
propriedade intelectual — 2. A propriedade industria! — 3. INTELECTUAL desenhos industriais
1. Propriedade
Legislação aplicável — 4. O Instituto Nacional da Propriedade In- marcas
industrial
dustrial (INPI) — 5. Patentes e registros — 6. Invenção — 7. indicações geográficas
Modelo de utilidade — 8. Desenho industrial — 9. Dúvidas na expressões ou sinais de propaganda
classificação das criações — 10. O design — 11. O know-how e o repressão à concorrência desleal
segredo de fábrica — 12. Marcas — 13. Cultivares — 14. Crimes
contra a propriedade industrial.

Legislação aplicável
1. A propriedade intelectual
Dá-se o nome de propriedade intelectual aos produtos do A propriedade industrial regula-se pela Lei 9.279/96, com vi-
pensamento e do engenho humano. O tema divide-se em dois ra- gência a partir de 15.5.97. Alguns itens da lei entraram em vigor
mos: a propriedade industrial e a propriedade literá ria, artística na data da publicação (15.5.96), como os referentes a regras tran-
e científica, sendo que se tem preferido denominar a última sitórias de convalidação no Brasil de determinadas patentes
como direito autoral. conferidas no exterior.
Aos criadores de obras intelectuais assegura a lei direitos
pessoais e direitos materiais. 4. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
Entre os direitos pessoais estão o direito de paternidade ou O INPI é uma autarquia federal. Incumbe-lhe a execução
personalidade e o direito de nominação. O direito de paternidade das normas da propriedade industrial, como o processamento e o
ou personalidade é o direito natural que liga para sempre a obra exame dos pedidos de patente ou de registro.
ao seu criador. O direito de nominação é o direito que tem o cria- Revista da Propriedade Industrial é o órgão oficial para a
dor de dar o seu nome à obra. publicação dos requerimentos das partes e dos atos do INPI.
Entre os direitos materiais estão o direito de propriedade e o
direito de exploração, que constituem direitos reais e valem con- 5. Patentes e registros
tra todos (erga omnes), podendo ser objeto de licença, cessão,
compra e venda, usufruto, uso, penhor etc. As patentes referem-se às invenções e aos modelos de utili-
No direito autoral (ou propriedade literária, artística e cien- dade. O prazo de proteção da patente de invenção é de 20 anos,
tífica), o criador tem desde logo todos os direitos, pessoais e ma- da data do depósito, sendo prorrogado, se for o caso, para intei-
teriais, independentemente de registro. Na propriedade indus- rar, no mínimo, 10 anos, da data da concessão, ressalvada a hi-
trial, porém, os direitos materiais só passam a existir, em regra, pótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito
do pedido, por pendência judicial ou por motivo de força maior.
28 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ROPRIEDADE INDUSTRIAL
A certas patentes, em andamento no exterior, foi dado um A atividade inventiva corresponde à criatividade. Não basta
prazo, em caráter excepcional, para a sua convalidação no País, produzir coisa nova. É necessário também que essa coisa nova
pelo tempo restante de vigência que teriam no país de origem.' não seja apenas uma decorrência evidente do estado da técnica,
No m odelo de utilidade os prazos são de 15 anos da data do ao alcance de qualquer técnico da especialidade.
depósito, garantido o espaço mínimo de 7 anos da data da con- A "não evidência", ou a não decorrência evidente do estado
cessão da patente. da técnica, é avaliada, entre outros critérios, pela utilização de
Extinta a patente, pelo término de seu prazo de validade, ou técnicas radicalmente diferentes, pela ruptura de métodos tradi-
outro motivo elencado na lei, o seu objeto cai em dom ínio públi- cionais, pela vitória sobre um preconceito, pela dificuldade ven-
co (art. 78, parágrafo único). cida, pela engenhosidade, pelo resultado imprevisto, pela origi-
Mas se a extinção ocorrer por falta de pagamento da retri- nalidade etc.
buição devida ao INPI, poderá a patente ser restaurada, pelo Novidade
tempo faltante, se o titular assim o requerer em três meses da REQUISITOS D Industriabilidade
notificação da extinção (art. 87). Neste caso, o domínio público • INVENÇÃO
Atividade inventiva (criatividade)
fica sujeito a uma condição suspensiva, de ocorrer ou não o pedi-
do tempestivo de restauração da patente.
Os registros referem-se às marcas e aos desenhos indus- São patenteáveis os produtos novos e os processos novos,
triais. O prazo de proteção da marca é de 1 0 anos, da data do re- bem como a aplicação nova de processos conhecidos. Também
gistro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos. podem ser patenteadas as justaposições, meios ou ó rgãos conhe-
cidos, a simples mudança de forma, proporções, dimensões ou de
Nos desenhos industriais o prazo também é de 10 anos, da materiais, se disso resultar, no conjunto, um efeito técnico novo
data do depósito, prorrogável por 3 períodos sucessivos de 5 ou diferente.
anos cada. Agora podem também ser patenteados produtos alimentí-
cios, químicos e farmacêuticos.
6. Invenção
Os programas de c omputador são protegidos por lei especial,
A invenção consiste na criação de coisa nova, suscetível de Lei 9.609, de 19.2.98.
aplicação industrial. Seus requisitos são a n ovidade, a industria- Não são patenteáveis descobertas, teorias científicas, méto-
bilidade e a atividade inventiva. dos matemáticos, concepções abstratas, regras de jogo, técnicas
Considera-se novo o que não esteja compreendido no estado e métodos operatórios ou cirúrgicos, métodos terapêuticos ou de
da técnica. O .stado da técnica é tudo aquilo que já foi feito, usa- diagnóstico, o todo ou parte de seres vivos naturais, materiais
do ou divulgado, em qualquer ramo e em qualquer parte do mun- biológicos encontrados na natureza e outros itens arrolados no
do, antes da data do depósito do pedido de patente. A industria- art. 10 da Lei 9.279/96.
bilidade consiste na possibilidade de produçã o para o consumo. A descoberta, por mais importante que seja, não é paten-
teável, por não ser criação na acepção da lei, mas revelação de
1. O chamado pipeline. As patentes expedidas no exterior, referentes a produto ou lei científica já existente na natureza. Pode-se, con-
certos itens, como medicamentos e alimentos, antes não patenteáveis no Bra-
sil, podem ser reconhecidas no País, pelo tempo restante de validade que te- tudo, patentear algum processo para a utilização industrial da
riam no país de origem, até o limite de 20 anos, desde que haja requerimento coisa descoberta. Com o refere Jean-M ichel Wagret, a descoberta
nesse sentido dentro de um ano da publicação da lei (art. 230). da flora microbiana não podia ser patenteada, mas em compen-
A palavra inglesa pipeline quer dizer oleoduto, ao pé da letra, mas é sação Pasteur patenteou validamente a fabricação de vinagre
empregada, aqui, com o significado de extensão ou encompridamento, de
um ponto até outro. Extensão da validade de uma patente do exterior para por fermentação bacteriana de vinho, bem como a fabricação
dentro do território brasileiro, segundo os critérios estabelecidos nos arts. asséptica de cerveja (Brevets d'Invention et Propriété Indus-
30 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Exemplos de invenção: uma nova máquina para debulhar tas superiores por quatro bebês em posições distintas; nova or-
milho; um novo tipo de lubrificante; um novo aparelho econo- namentação aplicável a cabos de colheres, garfos e facas; um
mizador de gasolina; um novo carburante composto; um novo novo desenho de rótulo para caixas de brinquedos; um copo or-
processo para amaciar madeira; um novo processo para fabrica- namentado com desenhos gravados; um novo desenho de papéis
ção de alumínio etc. de embrulho para presentes; desenho de uma embalagem, com
dizeres e gravuras, etc.
7. Modelo de utilidade A seg unda modalidade de desenho industrial (que na lei an-
Considera-se modelo de utilidade a modificação de forma ou terior se chamava modelo industrial) é uma modificação de for-
disposição de objeto de uso prático já existente, ou parte deste, ma de objeto já existente, só para fins ornamentais. É um aper-
de que resulte uma melhoria funcional no seu uso ou em sua fa- feiçoamento plástico ornamental.
bricação. Exemplos de d esenho industrial da segunda modalidade (anti-
Em outras palavras, modelo de utilidade é um aperfeiçoa- go modelo industrial): um novo modelo de vestido; um novo mode-
mento utilitário de coisa já existente ou de sua fabricação. Seus lo de automóvel; 4 1 , 1 1 1 novo modelo de frasco para perfumes; uma
requisitos são a novidade de forma, de disposição ou de fab rica- nova caixa de pó-de-arroz; um novo conjunto de puxadores para
ção, a industriabilidade e a atividade inventiva. portas e gavetas; um novo modelo ornamental de garrafa ou va-
silhame, com hexágonos salientes entrelaçados; uma nova confi-
Exemplos de modelo de utilidade: um novo modelo de enfia- guração para biscoitos; um tipo de suporte ornamental para lâm-
dor de agulhas; um novo tipo de cabide de roupas; uma cadeira padas elétricas; um sabonete infantil com a forma de um grilo;
desmontável; um novo modelo de fossa séptica, com três câma- uma nova grade ou uma nova lanterna de automóvel etc.
ras de decantação; um novo modelo de brinco, facilmente adap-
tável à orelha; um novo gram po para cabelo; uma privada portá- O desenho industrial, nas suas duas modalidades, não é
til; um novo suporte para ferros elétricos, mantendo-os com sua mais objeto de patente, cabendo agora apenas o seu registro
superfície para cima, perfeitamente estabilizados, podendo tam- (arts. 109 e 236).
bém funcionar como um fogareiro elétrico; um novo tipo de
churrasqueira etc. Invenção coisa nova industrializável

Modelo de f
8. Desenho industrial utilidade
aperfeiçoamento utilitário

Nos termos da Lei 9.279/96, o desenho industrial passou a CRIAÇÕES


abranger dois tipos de criações, englobando não só o desenho in- Primeira modalidade: raços, cores ou figu-
dustrial propriamente dito, como, também, o que na lei anterior Desenho ras ornamentais
se chamava "modelo industrial". Existem agora, portanto, duas industrial Segunda modalidade: aperfeiçoamento
plástico ornamental (antigo modelo
modalidades de desenho industrial industrial)
A primeira modalidade, ou desenho industrial propriamente
dito, refere-se à combinação de traços, cores ou figuras, a serem 9. Dúvidas na classificação das criações
aplicados a um objeto de consumo, com resultado ornamental
característico.
Às vezes não é fácil determinar em que categoria deve ser
colocada uma criação. Em razão dessas possíveis dúvidas, permi-
Os requisitos do desenho industrial (nas duas modalidades) são te a lei que o INPI proc eda à adaptação do pedido, de acordo com
a novidade relativa, a industriabilidade e a atividade inventiva. a sua natureza correta, quando for o caso (art. 35, II).
xemplos de desenho industrial da primeira modalidade Patenteou-se, por exemplo, um novo desenho de rastro de
um novo estampado de tecidos; novo desenho original para cai- pneumático com o desenho industrial. Parece, porém, que a clas-
32 ESUMO DE D IREITO COMERCIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL
ração linear ou plana, nem ornamental, mas utilitária, para me- nais do setor chamam de "redesenho", e até mesmo um desenho
lhorar o agarramento do pneu ao solo. industrial, no sentido da Lei de Patentes, composto de traços ou
Paolo Greco refere a possibilidade da existência de desenhos formas plásticas ornamentais.
com função estritamente utilitária e não ornamental que tam-
bém deveriam ser protegidos, através de uma interpretação ex- 11 O "know-how" e o segredo de fábrica
tensiva, como um quadro com letras de várias cores, para aferir
mais rapidamente a visão ou para facilitar operações aritméticas Existem certas criações ou conhecimentos que permanecem
à margem da propriedade industrial, ou por não serem paten-
(Lezioni di Diritto Industriale, G. Giappichelli Editore, Torino,
teáveis, ou porque ao detentor não interessa a patente. Entre es-
1956, p. 259). tes estão o know-how e
Jean-Marc Mousseron define o know-how ou savoir-faire
10. O "design" como sendo "o conhecimento técnico não patenteado, transmis-
A expressão desenho industrial pode referir-se também a sível, mas não imediatamente acessível ao público" (apud Cha-
uma outra atividade humana, ligada à criatividade em geral na vanne e Burst Droit de la Propriété Industrielle, Dalloz, Paris,
indústria. 1976, p. 173).
O profissional do desenho industria (designer) não se limita O segredo de fábrica possui a mesm a natureza do know-how,
a criar traços ou formas o rnamentais, no sentido estrito que a lei ma tem sentido mais estrito, por se referir a um processo in-
dá ao desenho industrial. dustrial. Ambos são protegidos por meio de cláusulas contra-
Conform e ensina Gui Bonsiepe, "como disciplina que partici- tuais específicas, bem como por sanções penais e civis.
pa do desenvolvimento dos produtos, o Desenho Industrial ocu- O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transfe-
pa-se dos problemas de uso, da função (no sentido de funciona- rência de tecnologia, contratos de franquia e sim ilares para pro-
mento), da produção, do m ercado, da qualidade e da estética dos duzirem efeitos em relação a terceiros (art. 211).
produtos industriais" (Teoria y Práctica del D iseão Industrial, 12 Marcas
Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1978, p. 29).
A área do desenhista industrial é a forma, a função e o custo Marca um sinal distintivo capaz de diferenciar um produto
dos produtos, sem esquecer o aspecto visual. Para o desenho in- ou um serviço de outro. Seu requisito básico é a novidade, no
dustrial, ou design, o homen não é um consumidor, mas um sentido de originalidade e não colidência ou semelhança com
usuário. Daí também a sua preocupação com o ambiente e com a marcas anteriores.
ecologia. A m arca pode ser nominativa, se composta por palavras, ou
A teoria do desenho industrial condena a versão denomina- figurativa, se composta por símbolos, emblemas e figuras. E será
da "estilismo", ou stylling, que consiste em modificações superfi- mista se composta por palavras e figuras.
ciais do produto, para dar a ilusão de originalidade e aperfeiço a- marca de produto ou serviço é aplicada para individualizar
mento, aumentando eventualmente o valor de troca, mas não cada produto ou serviço. A marca de certificação é dada por cer-
valor de uso. Exceto, naturalmente, em certos ramos, em que o tos institutos para atestar determinada qualificação de produto
estilo é tudo, como no ramo da moda. ou serviço, como o selo INMETRO (do Instituto Nacional de
designer tanto pode projetar uma máquina agrícola como etrologia) ou o selo ISO.
desenhar um rótulo ou inventar uma nova aplicação para uma marca coletiva é a que pode ser usada pelos produtores ou
tinta fabricada por seu cliente. O seu trabalho consiste na elabo- prestadores de serviços ligados a determinada entidade, associa-
ração dos m ais variados projetos aplicados à produção moderna. ção ou cooperativa.
Portanto, do trabalho do designer pode eventualmente re- A proteção da marca opera-se pelo registro, válido por 10 anos,
34 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL

A proteção não é geral, mas limitada a classes, dentro das Os cultivares podem ser registrados no Registro Nacional
atividades efetivas dos requerentes. de C ultivares-RNC, junto ao M inistério da A gricultura, Pecuária
e Abastecimento (L 10.71 1/03, art. 10).
Marcas famosas, porém, nacional ou internacionalmente,
têm proteção especial na sua classe, mesmo sem registro (art.
126) (caso em que a lei as chama de "notoriamente conhecidas"). 14. Crimes contra a propriedade industrial
E têm p roteção em todas as classes, se houver registro (art. 125) A Lei 9.279/96 estabelece crimes contra as patentes, dese-
(caso em que a lei as chama de "marcas de alto renome"). nhos industriais, marcas, indicações geográficas e de concorrên-
Na essência, marca notoriamente conhecida e marca de alto cia desleal. Em regra, a ação penal é privada, só se procedendo
mediante queixa (arts. 183 e ss.).
rente, fica por conta de uma ou de outra situação administrativa,
perante o INPI. Bibliografia
A marca notoriamente conhecida é uma m arca famosa que Albert Chavanne e Jean-Jacques Burst. Droit de la Propriété Industrielle,
não tem registro, sendo protegida, mesmo assim, dentro da sua Dalloz, Paris, 197k
classe. A m arca de alto renome é uma marca famosa que tem re- Antônio Chaves. "Marca e nome comercial", parecer, RT 453/27.
gistro, sendo então protegida em todas as classes. Cesar Sepulveda. Sistema Mexicano de Propiedad Industrial, Impres. Mo-
As m arcas de serviço gozam tamb ém de proteção especial dernas S/A, 1955.
dentro de seu ramo de atividade, independentemente de registro Gert Selle. Die Geschichte des Design in Deutschland von 1870 bis heute, Du
(art. 126, § 1°). Mont Buchverlag, Kohi, 1978.
Gui Bonsiepe. Teoria y Práctica del Disefio Industrial, Editorial Gustavo Gili,
1978.
nominativa (palavras) Jean-Michel Wagret. Brevets dinvention et Propriété Industrielle, PUF, Pa-
ris, 1975.
figurativa (figuras, símbolos, emblemas)
João da Gama Cerqueira. Tratado da Propriedade Industrial,Forense, Rio,
mista (palavras e figuras)
1946.
de produto ou serviço
Joaquim Redig. Sobre Desenho Industrial, publicação da Escola Superior de
de certificação (INMETRO, ISO etc.) Desenho Industrial, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1977.
MARCAS coletiva (usada por mem bros de associações ou José Carlos Tinoco Soares. Código da Propriedade Industrial, Resenha Tri-
cooperativas) butária, SP, 1974; "Marca notória", artigo, RDM 10/157; "O direito de pror-
notoriamente conhecid (sem registro. Proteção na rogação do registro da marca", artigo, 465/32.
sua classe) Lucas Rocha Furtado.
de alto renome (têm registro. Proteção em todas a leiro, Brasília Jurídica, Brasília, DF, 1996.
classes) Newton Silveira. Curso de Propriedade Industrial,Ed. RT, SP, 1977; Pro-
priedade Intelectual e a Nova Lei de Propriedade Industrial,Saraiva, SP,
1996.
13. Cultivares P. R. Tavares Paes. Nova Lei da Propriedade Industrial, Ed. RT, SP, 1996.
Paolo Greco. Lezioni di Diritto Industriale, G. Giappichelli Editore, Torino,
A Lei 9.456/97 instituiu a proteção da propriedade intelec- 1956.
tual dos cultivares, em prazos de 1 5 a 18 anos. Pontes de Miranda. Tratado de Direito Privado,Ed. RT, SP, vs. XVI e XV II,
Cultivares são espécies novas de plantas, obtidas por pesqui- 1977.
sadores ou "melh oristas".
3. Sobre a ação penal nos crimes contra a propriedade imaterial, ver Re-
SOCIEDADES EMPRESARIAIS

2. Características gerais
O quadro abaixo resume as características gerais da socieda-
de empresarial.
I — Constitui-se por contrato, entre duas ou mais pessoas;
II — nasce com o registro do contrato ou estatuto no Registro
do Comércio, a cargo das Juntas Comerciais;
Capítulo III III — tem por nome uma firma (também chamada razão social)
ou uma denominação;
SOCIEDADES EMPRESARIAIS IV — extingue-se pela dissolução, por expirado o prazo de du-
ração ajustado, por iniciativa de sócios, por ato de autori-
dade etc.;
PRIMEIRA PARTE — RESUMO V — é uma pessoa (pessoa jurídica), com personalidade distin-
ta das pessaas dos sócios;
VI — tem vida, direitos, obrigações e patrimônio próprios;
1. Introdução — 2. Características gerais — 3. Classificação das
sociedades no Código Civil — 4. O nome — 5. Firma ou razão VII — é representada por quem o contrato ou estatuto desig-
social — 6. Denominação social — 7. Título de estabelecimento nar;
— 8. A proteção do nome empresarial — 9. O empresário indivi-
dual — 10. Sociedade em nome coletivo — 11. Sociedade em co- VIII — empresária é a sociedade e não os sócios;
mandita simples — 12. Sociedade de capital e indústria — 13. IX — o patrimônio é da sociedade e não dos sócios;
Sociedade em conta de participação — 14. Sociedade limitada —
15. Sociedade anónima ou companhia: 15.1 Características; 15.2 X — responde sempre ilimitadamente pelo seu passivo;
Títulos emitidos pela sociedade anônima; 15.3 Os acionistas; XI — pode modificar sua estrutura, por alteração no quadro so-
15.4 Órgãos da sociedade anónima — 16. Sociedade em coman- cial ou por mudança de tipo;
dita por ações — 17. Sociedade em comum (irregular ou de fa-
to) — 18. Modificações na estrutura das sociedades — 19. Inter- XII — a formação do nome da sociedade e a responsabilidade
ligações das sociedades — 20. Microempresas e empresas de pe- dos sócios variam conforme o tipo de sociedade;
queno porte — 21. Quadro geral das sociedades empresariais.
XIII — classifica-se em "sociedade de pessoas" quando os sócios
são escolhidos preponderantemente por suas qualidades
1. Introdução pessoais, ou "sociedade de capital" quando é indiferente a
pessoa do sócio, como na sociedade anônima;
A sociedade constitui-se através de um contrato entre
duas ou mais pessoas, que se obrigam a combinar esforços ou XIV — é nacional a sociedade organizada de conformidade com a
recursos para atingir fins comuns. O que mais diferencia as lei brasileira e que tenha no País a sede de sua adminis-
sociedades comerciais umas das outras é a forma de responsa- tração (art. 1.126 CC);
bilidade de seus sócios, pois, conforme o tipo de sociedade, XV — nas empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de
respondem eles ou não com os seus bens particulares pelas sons e imagens, só pode participar capital estrangeiro até o
obrigações sociais. limite de 30% (art. 222 da CF, na redação da Emenda Cons-
Outro ponto de distinção entre os diversos tipos de socieda- titucional n. 36, de 28.5.2002. V. L 10.610, de 20.12.2002).
des comerciais é a formação do nome. Por isso, com exceção da
sociedade anônima, que é mais complexa e exige maiores deta- 3. Classificação das sociedades no Código Civil
lhes, vamos concentrar nosso estudo nestas duas características
essenciais das sociedades: a responsabilidade dos sócios e a for- Nos termos do Código Civil, as sociedades dividem-se em so-
ciedades não-personificadas e sociedades personificadas.
38 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS

Sociedades não-personificadas são as que não têm persona-


lidade jurídica, a sociedade em comum e a sociedade em conta de sociedade em comum
Não personificadas irregular ou de fato)
participação. (sem personalidade
jurídica própria) sociedade em conta de participação
Sociedade em comum é sociedade irregular ou de fato, ou (sócio ocu lto, sócio ostensivo)
ainda em formação, não possuindo o registro competente. Os só-
cios, no caso, respondem solidária e ilimitadamente pelas obri-
sociedade simples
gações sociais (art. 990 CC). (atividade técnica ou profissional)
sociedade em conta de participação é a que possui um SOCIEDADES
sócio oculto, que não aparece perante terceiros, e um sócio soc. em nome coletivo
soc. em comandita
ostensivo, em nome do qual são realizadas todas as atividades Personificadas simples
(art. 991 CC). (com personalidade sociedade oc. limitada
jurídica própria) empresarial soc. anônima
Sociedades personificadas são as que adquirem personali- soc. em comandita
dade jurídica própria, distinta da dos sócios. Nesta categoria es- por ações (comércio,
indústria, serviços)
tão as sociedades simples, as cooperativas e as sociedades em-
presariais. cooperativa

Sociedades simples são as dedicadas a atividades profissio-


nais ou técnicas, como sociedades de arquitetura ou sociedades
contábeis (art. 997 CC). Equivalem às sociedades civis do Código 4. O nome
anterior. Podem assumir forma empresarial (art. 983 CC).
A sociedade tem por nome uma firma (também chamada
Cooperativas são sociedades (ou associações) sem objetivo zão social) ou uma denominação social. É a lei, em cada caso, que
de lucro, constituídas em benefício dos associados, podendo determina quando devemos usar uma ou outra, conforme o qua-
operar em qualquer gênero de atividade. R egulam-se pela Lei dro abaixo.
5.764, de 16.12.71. São sempre consideradas como sociedades
simples, qualquer que seja seu objeto (art. 982, parágrafo úni- Só PODE USAR PODEM USAR TANTO Só PODEM USAR
co, CC). DENOMINAÇÃO DENOMINAÇÃO COMO RAZÃO SOCIAL
RAZÃO SOCIAL
Sociedades empresariais são as que exercem atividade econô- Soc. em nome coletivo
mica organizada, para a produção ou a circulação de bens ou de Sociedade anônima Sociedade limitada Soc. em comandita
serviços. Incluem a indústria, o comércio e o setor de prestação de simples
Soc. em comandita
serviços (art. 966 CC), podendo abranger também a atividade rural por ações
(art. 971 CC). Nesta classe estão a sociedade limitada, a sociedade
em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade
anônima ou companhia e a sociedade em comandita por ações. 5. Firma ou razão social
associações são pessoas jurídicas formadas pela união de A firma ou razão social deve ser formada por uma combina-
pessoas que se organizam para fins não econômicos, em ativida- ção dos nomes ou prenomes dos sócios. Pode ser formada pelos
40 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL
SOCIEDADES EMPRESARIAIS
as, se for omitido o nome de um ou m ais sócios, deve-se acres-
centar "& Cia.", por extenso ou abreviadamente. dades. É nome de coisa, e não de pessoa natural ou jurídica. Não
Digamos que José Pereira, M anuel Gonçalves e A bílio Pei- se confunde, portanto, o nome da sociedade com o título do esta-
xoto organizaram uma sociedade do tipo em que se deve empre- belecimento.
gar firma ou razão social. O nome da sociedade poderá, então, O título de estabelecimento pode também ser considerado
ser formado da seguinte maneira: como sendo um apelido ou cognome da empresa. Exemplos de tí-
tulo de estabelecimento: Livraria São Tomé, Esquina das Bati-
das, O Beco das Loucuras etc.
PEREIRA, GONÇALVES & PEIXOTO Microempresa (ME) e empresa de pequeno porte (EPP).
JOSÉ PEREIRA & CIA.
GONÇALVES, PEREIRA & CIA. microempresa acrescentará ao seu nome a ex pressão "M icroem-
A. PEIXOTO & CIA. presa", ou abreviadamente "M E", como, por exem plo, Livrari
etc. Cam ões Ltda. M E. E a empresa de pequeno porte acrescentará à
sua qualificação por extenso, ou abreviadamente "EPP", como,
Uma última observação: a firma ou razão social é não só o por exemplo, Tiábrica de Correntes Astro Ltda. EPP.' Ver, adian-
nome, mas também a assinatura da sociedade. Assim, o José P e- te, o item 20.
reira, sócio-gerente da empresa acima mencionada, ao emitir
um ch eque, lançará nele a assinatura coletiva (Gonçalves, Perei- 8. A proteção do nome empresarial
ra & Cia.) e não a sua assinatura individual.
A proteção ao nome comercial realiza-se no âmbito das Jun-
tas Comerciais e decorre automaticamente do arquivamento dos
6. Denominação social atos constitutivos de firma individual e de sociedades, ou de sua
alterações (art. 33 da L 8.934/94, que dispõe sobre o Registro Pú-
Na denominação social não se usam os nomes dos sócios, blico de Empresas Mercantis).
mas um a expressão qualquer, de fantasia, indicando facultativa-
mente o ramo de atividade, como, por exemplo, Tecelagem M oi- Não podem ser arquivados os atos de empresas com nome
nho Velho Ltda. idêntico ou semelhante a outra já existente (art. 35, V, da L
Poder-se-á usar até um nome próprio, de gente, sem que
8.934/94).
isso signifique, contudo, que exista no quadro social um sócio Na esfera penal, o nome comercial e o título de estabelecimen-
com esse nome. Ex.: Fiação A ugusto Ribeiro S/A. N este caso o to são protegidos pela Lei de Patentes (L 9.279/96, art. 195, V).
nome próprio representa apenas uma homenagem a um funda-
dor da empresa, ou a outra pessoa grada, equiparando-se ao no- 9. O empresário individual
me de fantasia.
Ao contrário da firma ou razão social, a denominação é só Embora estejamos tratando das sociedades, cabe a observa-
nome, não podendo ser usada como assinatura. ção de que o comerciante individual tem de usar necessariamen-
Assim, ao emitir um cheque, em nome da sociedade, o sócio- te firma ou razão individual, formada com o nome pessoal do ti-
gerente lançará a sua assinatura individual, como representante tular. O nome do empresário individual pode ser registrado com-
da sociedade. pleto ou abreviado, com o acréscimo, ou não, de alguma designa-

7. Titulo de estabelecimento 1. L 11.307/2006; LC 1 23, de 14.12.2006.


2. Ver tb. art. 5 , XXIX, da C F e arts. 927 e ss. do CC (responsabilidade civil).
O "título de estabelecimento" é o nome que se dá ao estabe-
42 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS

ção pessoal ou do gênero de atividade (art. 1.156 CC). A sua res- Daí surgiu a expressão "& Companhia" (do Latim et cum
ponsabilidade é sempre ilimitada, isto é, responde ele não só pagnis, ou seja, o pai de família e os seus, que comiam do mesmo
com os bens da empresa, mas também com todos os seus bens pão). E usavam uma assinatura só, coletiva e válida para todos
particulares. (um por todos, todos por um), sendo esta a origem da firma ou
razão social.
O empresário individual não constitui pessoa jurídica, não
havendo, portanto, separação entre o patrimônio pessoal do titu- Responsabilidade: ilimitada, de todos os sócios
lar e o patrimônio da empresa, ou entre dívidas pessoais e dívi- SOCIEDADE EM
das da empresa. NOME COLETIVO Nome: firma ou razão social (composta com o nome
Apenas para fins tributários, tem-se empregado a expressão pessoal de um ou mais sócios) (+ & Cia.)
"pessoa jurídica" (impropriamente) para designar a parte do
patrimônio individual aplicado na empresa. Mas, no caso de exe- 11 Sociedade em comandita simples
cução, serão penhorados todos os bens do titular, e não somente
os aplicados no seu comércio. Nesta soçàedade existem dois tipos de sócios. Os comandi-
tários ou capitalistas respondem apenas pela integralização das
FIRMA OU RAZÃO INDIVIDUAL = nome e assi- cotas subscritas, prestam só capital e não trabalho, e não têm
natura (formada com o nome do titular qualquer ingerência na administração da sociedade.
da empresa individual)
Exemplo: J. Pereira E os sócios comanditados (que melhor seriam chamados de
FIRMA OU RAZÃO SOCIAL = nome e assinatura "comandantes"), além de entrarem com capital e trabalho, assu-
(formada com os nomes dos sócios da sociedade) mem a direção da empresa e respondem de modo ilimitado pe-
O NOME Exemplo: Pereira, Gonçalves & Cia. rante terceiros.
COMERCIAL
DENOMINAÇÃO = só nome (formada por uma A firma ou razão social só poderá ser composta com os no-
expressão de fantasia) mes dos sócios solidários (comanditados). Se, por distração, o
Exemplo: Tecelagem Moinho Velho Ltda. nome de um sócio comanditário figurar na razão social, este se
TÍTULO DE ESTABELECIMENTO = apelido tornará, para todos os efeitos, um sócio comanditado. Referem
Exemplo: Esquina das Batidas os autores que a sociedade em comandita teve origem na comen-
da marítima, em que o proprietário de um navio se lançava em
negócios além-mares, aplicando capital de outrem.
10. Sociedade em nome coletivo
Ilimitada do sócio
Neste tipo de sociedade todos os sócios respondem ilimitada- Responsabilidade:. . comanditário
SOCIEDADE EM ilimitada do sócio
mente com os seus bens particulares pelas dívidas sociais. Se a comanditado
sociedade não saldar seus compromissos, os sócios poderão ser COMANDITA SIMPLES
chamados a fazê-lo. O nome só pode ter a forma de firma ou ra- Nome: Firma ou razão social (composta só com
_ os nomes dos sócios comanditados)
zão social.
É a primeira modalidade de sociedade conhecida, e costuma
ser chamada também de sociedade geral, sociedade solidária ili- 12 Sociedade de capital e indústria
mitada ou sociedade de responsabilidade ilimitada. Apareceu na A sociedade de capital e indústria não foi mencionada no Códi-
Idade Média e compunha-se a princípio dos membros de uma go Civil de 2002, deixando de existir, portanto, como tipo de socieda-
mesma família, que sentavam à mesma mesa e comiam do mes-
de. Nada impede, porém, que se adote a mesma estrutura interna,
44 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS
sociedade de capital e indústria era integrada pelo sócio
que entrava com o capital e respondia pelas obriga- S O C I ED A D E E M C O N T A Responsabilidade:
capitalista, xclusiva do sócio ostensivo
ções sociais. O sócio de indústria entrava apenas com o seu tra- DE PARTICIPAÇÃO
Nome: não tem
balho ou conhecimentos, e por nada respondia perante terceiros.

13. Sociedade em conta de participação


14. Sociedade limitada
A sociedade em co nta de participação, chamad a de "conta da
metade" no D ireito português, não é uma sociedade como as ou- Na sociedade limitada, cada cotista, ou sócio, entra com
tras, pois na verdade não passa de um contrato para uso interno uma parcela do capital social, ficando responsável diretamente
entre os sócios. Só existe entre os sócios e não aparece perante pela integralização da cota que subscreveu, e indi retamente ou
terceiros. Não tem nome nem capital. Não tem personalidade subsidiariamente pela integralização das cotas subscritas por
jurídica. Nem sede, nem estabelecimento. todos os outros sócios. Uma vez integralizadas as cotas de todos
Há um sócio ostensivo, em nome do qual são feitos os negó- os sócios, nerifium deles pode mais ser chamado para respon-
cios, e um sócio oculto ("participante", cf. arts. 991 e ss., C C) qu der com seus bens particulares pelas dívidas da sociedade. A
não aparece perante terceiros. responsabilidade, portanto, é limitada à integralização do capi-
O sr. A e o sr. B resolvem empreender uma série de negó- tal social.
cios em sociedade. Por motivos vários, porém, não lhes interes- Imaginemos um a sociedade limitada entre A e B, com um
sa constituir uma empresa comercial com nome próprio. As- capital de R$ 20 0.000,00, subscrevendo cada só cio uma cota de
sim, fazem entre si um contrato de sociedade em conta de par- 100 mil. O sócio A integraliza, isto é, entrega efetivamente os
ticipação, estabelecendo que os negócios serão todos feitos em 100 mil à sociedade. O sócio B, porém, embora tenha subscrito
nome de A, que é empresário, enquanto que não aparecerá também 10 0 mil, integraliza apenas 50 mil. Em caso de insolvên-
perante terceiros. cia da sociedade, B terá que responder com os seus bens particu-
É uma sociedade oculta, mas não irregular ou ilegal, pois é ad- lares por 50 mil. Mas se B não tiver bens, nem com o que pagar,
mitida pela lei. O sócio ostensivo terá que ser um empresá rio, que o sócio A terá que cobrir o débito, pois na limitada um sócio é fia-
responderá perante terceiros. Pode ser constituída para a realiza- dor do outro pela integralização das cotas.
ção de um negócio apenas, ou para toda uma série de negócios.
Com o observa Rubens R equião, "é curiosa a sociedade em
conta de participação. Ela não tem razão ou firma; não se reve-
la publicamente, em face de terceiros; não tem patrimônio, C O M E R C I A L D E B A M B U S Y LTDA.
pois os fundos do sócio oculto são entregues fiduciariamente ao CAPITAL 200 MIL
sócio ostensivo que os aplica como seus (...) é uma sociedade re-
gular, embora não possua personalidade jurídica" (Curso de Di-
reito Comercial).
cota ota
E, como ensina De Plácido e Silva, o "sócio ostensivo, isto é, do sócio o sócio O sócio B responde
aquele que contratar em seu nome individual, já por uma obriga- A por 50 mil, vez que
ção imposta ao comerciante, deve registrar, regularmente, em 10 100 não os integralizou.
valor integralizado: 100 50 Mas, se ele não os
sua escrita (livros comerciais) todas as operações referentes à par- tiver, A terá de cobrir
ticipação em que figure como contratante e responsável". valor a integralizar: 00 50 o débito, como fiador.
Noções Práticas de Direito Comercial, Ed. Guaíra, C uritiba, 8* ed., p. 197.
46 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL
CIEDADES EMPRESARIAIS
FÁBRICA DE LEQUES Z LTDA.
CAPITAL 200 MIL alterar cláusulas, modificar a administração, aumentar o capi-
tal, admitir novos sócios etc.'

sócio ócio enhum dos dois Responsabilidade: limitada à integralização do


sócios responde SOCIEDADE POR COTAS apital social
valor subscrito: 00 00 ais pelas dívidas DE RESPONSABILIDADE- irma ou razão social (+ Ltda.)
valor integralizado: 00 00 a sociedade, pois LIMITADA Nome:
ambos integraliza- denominação (+ Ltda.)
valor a integralizar: 00 00 am as suas cotas. 4E

Como ensina João Eunápio Borges, "se todas as cotas foram 15. Sociedade anônima ou companhia
integralizadas, isto é, liberadas, pouco importa que a sociedade,
falindo, dê integral prejuízo a seus credores. O sócio, como tal, 15.1 Carageristicas
não pode ser compelido a qualquer outra prestação suplementar" A sociedade anônima ou com panhia tem as seguintes carac-
(Curso de Direito Comercial Terrestre, Forense, Rio, 1975, p. 22). terísticas:
Uma ob servação: cada sócio ou cotista da limitada tem ape-
nas uma cota, que poderá ser maior ou menor. A praxe de se a) Grandes empreendimentos — por causa da sua estrutura
atribuir nos contratos sociais várias ou inúm eras cotas a cada só- pesada, a sociedade anônima destina-se apenas aos grandes em-
cio não é de boa técnica jurídica, embora isso não cause nenh um preendimentos.
inconveniente ou prejuízo. b) Mínimo dois acionistas — no direito anterior o mínimo
O nome da sociedade por cotas pode ser formado por firma era de sete acionistas. Caso curioso, e a estudar, é a subsidiária
ou razão social (Pereira, Gomes & Cia. Ltda.) ou por denomina- integral (art. 251 da atual L ei das S/A), que pode ter um acionista
ção (Padaria Y Z Ltda.), sendo que, neste último caso, a denomi- só, o que aparentemente conflita com o conceito tradicional de
nação deve indicar o ramo explorado (art. 1.158, § 2°, CC ). Em sociedade.
regra, é preferível usar denominação, pois esta é mais duradou- c) Influi na economia política — nas grandes sociedades
ra do que a razão social ou firma, que precisa ser alterada cada anônimas abertas nota-se uma profunda alteração na proprieda-
vez que sair um sócio cujo nom e nela figure. de privada. O acionista minoritário da grande S/A é proprietário
Indispensável é que, em todo caso, se acrescente sempre ao de uma parte da mesma, mas sobre ela tem um controle míni-
nome a palavra "Limitada", por extenso ou abreviadamente (Ltda.). mo. A administração de sua propriedade não lhe pertence. Neste
Se for omitida essa palavra, na razão social ou na denominação, terreno desaparece o antigo jus utendi, fruendi et abutendi do
serão havidos como ilimitadamente responsáveis os sócios-ge- antigo Direito Romano (direito de usar, gozar e abusar do seu do-
rentes e os que f izerem uso da firma social, criando-se, sem querer, mínio) e surg e o divórcio entre a propriedade e a administração
uma sociedade geral ou em nome coletivo. da coisa. Por outro lado, a expansão das S/A abertas contribui
A sociedade por cotas de responsabilidade limitada pode ser para a distribuição da renda.
alterada pelos sócios, deliberando-se pela maioria, baseada no
valor do capital, se o contrato não disser o contrário, podendo-se
6. Não pode, porém, a maioria transformar o objeto ou o tipo da socieda-
de (RT 695/98). Também não pode a maioria alterar o contrato se houver
5. Para as microempresas e empresas de pequeno porte, porém, é facul- cláusula restritiva (L 8.934/94, art. 35, VI). Na omissão do contrato, o sócio
tativa a indicação do objeto da sociedade (art. 72 da LC 123, de 14.12.2006, Es- pede ceder suas cotas, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independen-
tatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte). temente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de ti-
tulares de mais de um quarto do capital social (art. 1.057 CC).
48 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS

d) Impessoalidade — ao contrário dos outros tipos de socie- j) Responsahilidade dos acionistas — o sócio da S/A tem a
dade, visa-se na S/A apenas ao capital, sem maiores preocupa- designação própria de acionista. Sua responsabilidade, em prin-
ções com qualidades ou aptidões pessoais dos acionistas. cípio, é absolutamente limitada, restringindo-se à integralização
das ações por ele subscritas.
e) Divisão do capital em ações — o capital social é dividido
ou fracionado em pequenas partes rigorosamente iguais. Os acionistas controladores, porém, que são majoritários e
f) sempre empresarial — qualquer que seja seu objeto. que usam efetivamente seu poder, bem como os administrado-
res, poderão responder pessoalmente pelos danos causados por
g) Fechadas ou abertas — as sociedades anônimas são co- atos praticados com culpa ou dolo ou com abuso de poder (arts.
mo as esfihas dos árabes. Existem as "fechadas" e as "abertas". 117, 158, 159 e 165 da Lei das S/A).'
Nas abertas predominam a subscrição pública e a democratiza-
ção do capital. As abertas estão sob a fiscalização de um órgão go- a) grandes empreendimentos
vernamental chamado Comissão de Valores Mobiliários. As fe-
chadas, ao contrário, não lançam as suas ações ao público, e por b) mínimo dois acionistas
isso permite a lei que tenham uma contabilidade e uma adminis- c) influi na economia política
tração mais simples. d) impessoalidade
h) De capital determinado ou de capital autorizado — a S/A e) divisão do capital em ações
de capital determinado ou fixo constitui-se com o capital inteira- CARACTERÍSTICAS f) é sempre empresarial
mente subscrito. A de capital autorizado constitui-se com subs- DA S/A
g) fechadas ou abertas
crição inferior ao capital declarado nos estatutos, ficando, po-
rém, a Diretoria com poderes prévios para efetuar oportuna- h) de capital determinado ou de capital autorizado
mente novas realizações de capital, nos limites da autorização i) nome: denominação (+ S/A ou Cia.)
estatutária, sem necessidade de permissão da Assembléia Geral j) responsabilidade dos acionistas: limitada à
ou reforma dos estatutos. integralização das ações subscritas, mas os
acionistas controladores e os administradores
i) Nome — designa-se a sociedade anônima por uma de- respondem por abusos
nominação, juntando-se antes ou depois do nome escolhido a
expressão "Sociedade Anônima", por extenso ou abreviada-
mente (S/A), ou, ainda, antepondo-se a palavra "Companhia", 15.2 Títulos emitidos pela sociedade anônima
ou "Cia.". a) Ações — as ações da S/A são bens móveis e representam
Exemplo: uma parte do capital social, a qualidade de sócio, e são também
um título de crédito. Conforme a natureza dos direitos que con-
Sociedade Anônima Tecelagem São Paulo ferem, as ações podem ser ordinárias ou comuns, preferenciais e
SIA Tecelagem São Paulo de gozo ou fruição. E, quanto à forma, podem ser nominativas,
Tecelagem São Paulo Sociedade Anônima nominativas endossáveis, ao portador, escriturais e com ou sem
valor nominal.
Tecelagem São Paulo S/A
Ações ordinárias ou comuns são as que conferem os direitos
Companhia Tecelagem São Paulo
comuns de sócio, sem restrições ou privilégios.
Cia. Tecelagem São Paulo
Ações preferenciais são as que dão aos seus titulares algum
Pode-se porém empregar na denominação um nome pró- privilégio ou preferência, como, por exemplo, dividendos fixos
prio, do fundador ou de pessoa que se queira homenagear (Panifi-
cadora José Silva S/A). A denominação deve indicar os fins so- 7. Lei das S/A — L 6.404, de 15.12.76, com as alterações da L 9.457/97 e da
ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPR ESARIAIS
50

ou mínimos, ou prioridade no recebimento dos dividendos. O valor das ações. O valor das ações pode ser considerado
Contudo, em troca, tais ações podem ser privadas de alguns di- sob três aspectos. Temos primeiramente o valor nominal, esta-
reitos, como o de voto.' belecido pela S/A, sendo que a lei atual permite a emissão de
ações sem valor nominal. Temos também o valor de mercado,
Ações de gozo ou fruição. Às vezes, quando sobram lucros que é o alcançado na B olsa ou no B alcão. E ainda o aspecto do
em caixa, pode a direção da S/A, ao invés de distribuir dividen- valor patrimonial ou real, em que se calcula o acervo econômi-
dos, resolver amortizar um lote de ações, geralmente por sor- co global da companhia em relação ao número de ações emiti-
teio, pagando o valor nominal aos seus titulares. Em seguida das. Outro aspecto pode ser o valor econômico, que é a capaci-
permite-se que aqueles antigos titulares adquiram outras ações, dade da S/A de gerar lucro.
em substituição. Estas últimas são as de gozo ou fruição. Não re- b) Partes beneficiárias — são títulos negociáveis, sem valor
presentam o capital da empresa, e terão apenas os direitos que
nominal, e estranhos ao capital social. Dão direito de crédito
forem fixados nos estatutos ou na Assemb léia. eventual, consistente na participação dos lucros anuais, até o li-
Ações nominativas são aquelas em que se declara o nome de mite de 10% (art. 46).b
seu proprietário. São transferidas por termo lavrado no L ivro de c) Debêntittes — são títulos negociáveis que conferem di-
Registro de Aç ões N ominativas, recebendo o cessionário novas reito de crédito contra a sociedade, nas condições estabelecidas
ações, também com a indicação de seu nome. As ações de certas no certificado (art. 52).
empresas, como as jornalísticas e de radiodifusão, só podem ser
nominativas.' Com o ensina o mestre Rom ano C ristiano, "as partes bene-
ficiárias e as debêntures são títulos estranhos ao capital social;
Ações nominativas endossáveis trazem também o nome de seus titulares são credores da empresa. Só que o crédito relativo
seu proprietário. M as podem ser transferidas por simples endos- às partes beneficiárias é eventual: será pago nos exercícios em
so passado no verso ou no dorso da ação.' que houver lucros, se tal situação se verificar. Ao passo que o
Ações ao portador são as que não têm declarado no seu texto crédito relativo às debêntures não é eventual: no vencimento, a
o nome do seu titular. Sua transferência opera-se pela simples debênture deverá ser resgatada pela companhia" (Característi-
tradição manual. Na lei atual, as ações ao portador não dão direi- cas e Títulos da SIA, 1981, p. 102).
to a voto (art. 112 da Lei das S/A). Em resumo, quem tem uma ação é sócio-proprietário da
Ações escriturais são aquelas em que não há emissão de cer- companhia. Quem tem uma parte beneficiária é credor even-
tificado. São mantidas em conta de depósito, em nome de seus ti- tual, em relação aos lucros, se houver. E quem tem uma debên-
tulares, numa instituição financeira, autorizada pela Comissão ture é credor efetivo e incondicional.
de V alores M obiliários. d) Bônus de subscrição — são títulos negociáveis que confe-
Conversibilidade das ações. As ações podem ser convertidas rem direito de subscrever ações. P odem ser em itidos até o limite
de um tipo em outro, nos termos do estatuto, como, por exem- de aumen to do capital autorizado no estatuto (art. 168).b
plo, de ao portador em nominativas, ou de ordinárias em prefe- Os bônus de subscrição podem ter a finalidade de facilitar a
renciais, ou vice-versa (art. 22). venda de ações ou de debêntures, contribuindo, em todo caso,
para uma m elhor programação do aumento de capital (cf. Roma-
8. O número de ações preferenciais não pode ultrapassar 50% do total
no Cristiano, ob. cit., pp. 134 a 137).
das ações emitidas (art. 15, § 2°, da L 6.404/ 76, na redação da L 10.303, de
31.10.2001).
9. A partir da L 8.021/90, que alterou o art. 20 da Lei das S/A, não apena 10. As partes beneficiárias, as debêntures e os bônus de subscrição
as ações de certas empresas, mas todas as ações, de todas as companhias, de- devem ser nominativos (arte. 50, 63 e 78 da L 6.404/76, na redação da
L 9.457/97).
52 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS

ordinárias (direito de retirada ou de recesso), med iante o reembolso do valor


Quanto à preferenciais de suas ações, pelo valor patrimonial ou, conforme o caso, pelo va-
natureza de gozo ou fruição lor de mercado ou pelo valor econômico (arts. 45 e 137).
Acionista minoritário é aquele que não participa do controle
Ações nominativas"
nominativas endossáveis da companh ia, ou por desinteresse ou por insuficiência de votos.
TrruLos Quanto à ao portador O mestre Walciírio Bulgarelli define a minoria como sendo o
DA S/A forma escriturais acionista ou conjunto de acionistas que, na Assembléia Geral,
com valor nominal detém uma participação em capital inferior àquela de um grupo
_ sem valor nominal oposto (ob. cit., p. 24).
Partes beneficiárias
Debêntures Os meios genéricos de proteção da minoria encontram-se no
Bônus de subscrição elenco dos direitos essenciais de todos os acionistas, minoritá-
rios ou não, como o direito ao dividendo, à fiscalização dos ne-
gócios sociais, preferência na subscrição dos títulos da compa-
15.3 Os acionistas nhia, a faculdade de convocar a A ssembléia Geral quando os ad-
ministradores não o fizerem etc.
Acionista comum ou ordinário é o que tem direitos e deve- Como meios específicos de proteção aos minoritários podem
res comuns de todo acionista. Tem o dever de integralizar as ser apontados, por exemplo, os seguintes: a) direito de retirada
ações subscritas (art. 106), de votar no interesse da companhia ou de recesso (art. 137); b) direito de eleger um membro do Con-
(art. 115) etc. Tem direito a dividendos (participação proporcio- selho Fiscal (art. 161, § 4°, "a"); c) direito de convocar a Assem-
nal nos lucros), a bonificações (com base na reavaliação do ativo). bléia Geral (art. 123, parágrafo único, "c"); d) dividendo obrigató-
Tem também o direito de fiscalizar, de participar do acervo em rio (art. 202); e) voto múltiplo (art. 141); O direito de voto às
caso de liquidação, de ter preferência na subscrição dos títulos da ações preferenciais se a companhia não pagar dividendos por
sociedade etc. três exercícios consecutivos (art. 111, § 1° ) etc.
Acionista controlador é a pessoa física ou jurídica que detém Refere Waldírio Bulgarelli que entre as medidas tomadas
de modo permanente a maioria dos votos e o poder de eleger a pelos controladores em desfavor dos demais acionistas situam-
maioria dos administradores, e que use efetivamente esse poder se, principalmente, a não distribuição de lucros, a elevada remu-
(art. 116). Tem os mesmos direitos e deveres do acionista co- neração dos diretores, o aumento do capital por subscrição, a al-
mum. M as responde por abusos praticados (art. 117). teração estatutária e a dissolução, com especial destaque para a
venda do controle (ob. cit., p. 111 ).
Acionista dissidente é o que não concorda com certas delibe-
rações da maioria, como a criação ou a lteração de ações preferen- Acionista comum
ciais, a modificação do dividendo obrigatório, a cisão" ou fusão d ACIONISTAS
Acionista controlador
empresas etc. (art. 137). Tem o direito de se retirar da companhia Acionista dissidente
Acionista minoritário
11. A partir da 8.021/90, que alterou o art. 20 da Lei das S /A, todas as
ações devem ser nominativas. As companhias abertas não podem emitir par-
tes beneficiárias (art. 47, parágrafo único, da L 6.404/76, na redação da L 15.4 Órgãos da sociedade anônima
10.303/2001).
12. A cisão pura e simples não dá mais direito de retirada ou recesso. a) A Assembléia Geral
Esse direito, na cisão, só permanece no ca so de cisão de companhia a berta, em
que a sucessora, depois, não venha a ser também aberta (art. 223, §§ 3° e 4°, O poder supremo da companhia reside na Assembléia Geral,
que é a reunião dos acionistas, convocada e instalada de acordo
54 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS

com os estatutos. A Assembléia Geral tem poderes para resolver A Diretoria é composta por no mínimo dois membros, acio-
todos os negócios relativos ao objeto de exploração da sociedade e nistas ou não, eleitos e destituíveis pelo Conselho de Adminis-
para tomar as decisões que julgar convenientes à defesa e ao de- tração, ou, se este não existir, pela Assembléia Geral (art. 143).
senvolvimento de suas operações, respeitados os termos da lei. No silêncio do estatuto, e inexistindo deliberação do Conselho de
Existem vários tipos de Assembléias. A Assembléia Geral Administração, competirão a qualquer diretor a representação
Ordinária (AGO) instala-se regularmente nos quatro primeiros da companhia e a prática dos atos necessários ao seu funciona-
meses seguintes ao término do exercício social, para os assuntos mento regular (art. 144).'
de rotina, previstos no art. 132 da Lei das S/A, como tomar as
contas dos administradores, deliberar sobre a distribuição dos di- c) O Conselho Fiscal
videndos etc. É composto por no mínimo três e no máximo cinco pessoas,
A Assembléia Geral Extraordinária (AGE) pode instalar-se acionistas ou não, eleitas pela Assembléia Geral. Entre várias
em qualquer época, sempre que houver necessidade, geralmen- outras atribuições, compete-lhe principalmente a fiscalização dos
te para o debate e votação de assuntos não rotineiros, como, por atos dos 41ministradores (arts. 161 a 165). A existência do Con-
exemplo, a reforma do estatuto (art. 131). selho Fiscal é obrigatória. Mas o seu funcionamento pode ser
Além dessas, existem também as Assembléias Especiais, permanente ou apenas eventual, restrito aos exercícios em que
em que se reúnem apenas acionistas preferenciais, titulares de for instalado a pedido de acionistas (art. 161).
partes beneficiárias ou de debêntures, para o debate e votação
de assuntos específicos e privativos dessas classes (arts. 18, pará- Assembléia Geral Ordinária (AGO)
grafo único, 51, §§ 1° e 2°, 57, § 2°, 71, 136, § 1°, 174, § 3°, e 231).
Assembléia Geral Extraordinária (AGE)
Assembléia Geral Ordinária (A GO)
1. Assembléia - de acionistas preferenciais
Assembléia Geral Extraordinária (AGE) Assembléias de portadores de partes
Especiais eneficiárias
ÓRGÃOS de debenturistas
ASSEMBLÉIAS de acionistas preferenciais DA S/A
Assembléias de portadores de partes
Especiais - beneficiárias Conselho de Administração
de debenturistas 2. Administração
Diretoria

3. Conselho Fiscal
b) A Administração
A administração da companhia compete, conforme dispuser
o estatuto, ao Conselho de Administração à Diretoria, sendo 16. Sociedade em comandita por ações
que nas companhias abertas e nas de capital autorizado é obriga-
tória a existência do Conselho de Administração (art. 138). As fe- Rege-se a comandita por ações pelas normas relativas às so-
chadas não precisam ter o Conselho de Administração. Esse ciedades anônimas, com algumas modificações (art. 28 0 da Lei
Conselho é que fixa a orientação geral dos negócios e, entre ou- das S/A) e pelos arts. 1.090 a 1.092 do CC.
tras atribuições, elege e destitui os diretores, fixando-lhes as
atribuições. É eleito e destituível pela Assembléia Geral e com- 13. De
56 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS

Na comandita por ações só acionistas podem ser diretores 17. Sociedade em comum (irregular ou de fato)
ou gerentes, os quais são nomeados no próprio estatuto. Somen-
te podem ser destituídos por uma maioria de 2/3, e respondem A sociedade em comum é uma sociedade irregular ou de fato
(art. 986 CC).
ilimitadamente com os seus bens particulares pelas obrigações
Sociedade irregular ou de fato é a que não possui contrato
sociais.
social, ou não tem o contrato registrado na Junta Comercial ou
Não se aplicam à comandita por ações as regras referentes no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, conforme seu objeto seja
ao Conselho de Administração, autorização estatutária de au- comercial ou civil. A falta ou a nulidade do contrato ou do regis-
mento de capital e emissão de bônus de subscrição (art. 284). tro acarreta para a sociedade, de qualquer tipo que seja, a conse-
A comandita por ações pode usar tanto denominação como qüência de ser considerada uma sociedade irregular ou de fato.
firma ou razão social, acrescentando-se sempre a expressão A sociedade de fato não tem sequer contrato escrito. A socie-
"Comandita por Ações". No caso de a comandita adotar firma ou dade irregular tem contrato escrito, mas não o registro do mes-
razão social, só poderão ser usados na formação do nome da so- mo na Junta Comercial.
ciedade os nomes dos sócios-diretores ou gerentes. Como bem salienta Gabriel Nettuzzi Perez, a sociedade irre-
O diretor da comandita por ações tem muito mais poder do gular ou de fato não tem responsabilidade jurídica plena, mas li-
que o diretor da S/A, vez que não pode ser destituído facilmente, mitada ou reduzida, constituindo-se, à semelhança da massa fali-
mas, em compensação, sua responsabilidade é infinitamente da ou da herança jacente, numa quase-pessoa jurídica ou numa
maior. Os sócios comanditados são os diretores ou gerentes e os pessoa jurídica imperfeita ("A pessoa jurídica e a quase-pesso
sócios comanditários são os demais acionistas. jurídica", artigo, Justitia 71/19).
A comandita parece uma espécie extinta ou em vias de ex- Nos termos do Código de Processo Civil (art. 12, VII), a so-
tinção. Houve época, porém, em que existiam muitas, falando-se ciedade irregular ou de fato possui capacidade processual, tanto
até numa "febre de comanditas" que houve na França no século ativa como passiva, sendo representada em juízo pela pessoa a
XIX. Todavia, certos princípios comanditários estão começando quem couber a administração dos seus bens (JTACSP 32/71, 34/
a se infiltrar sorrateiramente na sociedade anônima, indicando 120; RT 588/132).
um ressurgimento da comandita, pelo menos em espírito, com Em caso de falência, os sócios responderão de modo solidá-
as roupas da S/A. rio e ilimitado pelas dívidas sociais, à semelhança do que ocorre
A possibilidade de responsabilização civil por certos atos dos na sociedade em nome coletivo (art. 990 Código Civil). No Código
acionistas controladores e dos administradores da S/A não os Civil tem a denominação de "Sociedade em Comum" (art. 986).
iguala, ainda, mas aproxima-os, de certo modo, aos diretores e
SOCIEDADE Responsabilidade: ilimitada de
gerentes da comandita. todos os sócios
EM COMUM
ilimitada dos acionistas (IRREGULAR
diretores OU FATO) Nome: (prejudicado)
Responsa-
bilidade limitada dos demais 18. Modificações na estrutura das sociedades
acionistas
O assunto é regulado pela Lei das S/A e pelos arts. 1.113 a
SOCIEDADE EM firma ou razão social 1.122 do CC.
COMANDITA (+ "Comandita por Ações") Transformação: a sociedade passa de um tipo para outro,
POR AÇÕES
como, por exemplo, de S/A para Ltda., ou vice-versa.
Nome
Incorporação: uma ou mais sociedades são absorvidas por outra.
denominação Fusão: unem-se duas ou mais sociedades para formar uma
(+ "Comandita por Ações") terceira.
58 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS

Cisão: a sociedade transfere patrimônio para uma ou mais Enquadramento e nomenclatura. A microempresa (receita
sociedades. bruta anual até R$ 240.000,00) acrescentará ao seu nom e a ex-
pressão "Microempresa" ou abreviadamente "ME", como, por
19. Interligações das sociedades exemplo, Livraria Camões Ltda. ME. A empresa de pequeno porte
(receita bruta anual até R$ 2.400.000,00) acrescentará ao nome a
Sociedades coligadas: quando uma participa, com 10% ou sua qualificação por extenso, ou abreviadamente "EPP ", sendo
mais, do capital da outra, sem controlá-la (1.099 C C). nas duas espécies facultativa a inclusão do objeto da empresa.
Sociedade controladora: a titular de direitos de sócio que
lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deli- Apesar da diferença de enquadram ento e nomenclatura, não
há na lei nenhuma diferença de tratamento entre "ME" e "EPP".
res da sociedade controlada. A controladora tem as mesmas obri- O que se aplica a uma, aplica-se também outra.
gações que o acionista controlador (art. 246 combinado com os A opção pelo sistema da lei (SIM PLES) será feita na forma a
arts. 116 e 117 da Lei das S/A). ser estabelecida pelo Comitê Gestor (art. 16), sendo mantidas as
Sociedade de simples participação: quando uma participa do inscrições já zealizadas anteriormente (art. 16, § 4 ). Certas em-
capital da outra com menos de 1 0% do capital com direito a voto presas não podem ingressar no sistema, como as sociedades por
(art. 1.100 CC ). ações ou as que se d edicam a consultoria (arts. 3 , § , e 17).
Subsidiária integral: tem como único acionista uma outra O pequeno empresário. Há um a terceira figura, a do "peque-
sociedade, que deve ser brasileira (art. 251 da Lei das S /A). no empresário", que é um empresário individual, com receita
Grupo de sociedades: é constituído pela controladora e suas bruta anual até R$ 36.000,00. Tem tratamento favorecido quan-
controladas, combinando esforços ou recursos para em preendi- to ao sistema de contabilidade e escrituração de livros (LC 123/
mentos comuns. A controladora ou "de comando de grupo" deve 2006, art. 68; CC , arts. 970 e 1.179).
ser brasileira. Constitui-se por convenção aprovada pelas socie-
dades componentes. O grupo não tem nome, no sentido técnico Abrangência da LC 123/2006 ("ME", "EPP"). O Estatuto en-
do termo, pois não tem firma ou razão social, nem denomina- volve a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
ção social. Tem apenas uma "designação", na qual devem cons- instituindo regime especial de arrecadação tributária, com reco-
tar as palavras "Grupo de Sociedades" ou "Grupo" (art. 267 da lhimento de 8 impostos e contribuições mediante documento
Lei das S/A). O grupo não adquire personalidade jurídica. Mas único de arrecadação (IRPJ, IPI, CSLL, COFINS, PIS/Pasep,
pode ser representado perante terceiros por pessoa designada INSS sobre a folha, ICMS , ISS — art. 12, Regime Especial Unifi
na convenção. cado de Arrecadação de Tributos e Contribuições — SIM PLES
Nacional).
Consórcio: é o contrato pelo qual duas ou mais sociedades,
Abrange também:
conjunto determinado empreendimento. O consórcio não tem — preferência nas licitações públicas (art. 44);
personalidade jurídica e não induz solidariedade (arts. 278 e 27
da Lei das S /A). No Direito americano o consórcio tem o nome de acesso aos Juizados Especiais C íveis (art. 74);
joint-venture. — fiscalização tributária orientadora (dupla visita) (art. 55);
dispensa da publicação de atos societários (art. 71);
20. Microempresas e
empresas de pequeno porte — dispensa de algumas obrigações trabalhistas (art. 51);
estímulo ao crédito (art. 57).
Legislação ("M E" "EPP"). A matéria regula-se pela Lei Com-
plementar 123, de 14.12.2006 (Estatuto Nacional da Microempre- Órgãos reguladores. Nos aspectos tributários o sistema será
sa e da Empresa de Pequeno Porte), com alterações da Lei Com- gerido por um Comitê Gestor (regulamentado pelo D 6.038/2007)
60 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL

21. Quadro geral das sociedades empresariais SEGUNDA PARTE — TEMAS VARIADOS
1. Soe. em Responsabilidade: ilimitada, de todos os sócios
nome 1. Sociedade de marido e mulher — 2. A sociedade de um sócio
coletivo Nome: irma ou razão social (composta com o nome só — 3. Penhora de cotas da sociedade, por dívida do sócio — 4.
pessoal de um ou mais sócios, acrescentando-se Penhora de bens particulares do sóci o de sociedade limitada — 5.
"& C ia.", se omitido o nome de qualquer deles) Mercado de capitais. Distribuição das ações e outros títulos — 6. Vo-
cabulário das sociedades por ações e do mercado de capitais — 7.
limitada do sócio comanditário Desconsideração da pessoa jurídica.
2. Soc. em Re
comandita ilimitada do sócio comanditado
simples I. Sociedade de marido e mulher
Nome: firma ou razão social (composta só com os n omes
dos sócios comanditados) uitos julgados consideram nula a sociedade civil ou comer-
cial constituída apenas por duas pessoas que sejam marido e mu-
3. Soc. em Resp. exclusiva do sócio ostensivo lher, seja qual for o regime de b ens, especialmente se for o da co-
conta de nenhuma do sócio oculto (participante) munhão 418/213, 444/142, 468/69, 484/149; JTACSP 29,
participação 13/135, 28/115, 40/43, 40/170; RD 3/90; RJTJESP 21/190).
Nome: ão tem
imitada de todos os sócios à integralização
Segundo esses julgados, tal sociedade teria objetivos fraudu-
4. Soe. limitad Resp.: lentos, como a alteração do regime de bens, ou a limitação da
do capital social
responsabilidade no exercício de um comércio, que, no fundo, se-
Nome: irma ou razão social (mais Ltda.) ou ria individual.
denominação (mais Ltda.)
O C ódigo C ivil de 2002 abordou a questão, facultando aos
acionistas comuns: limitada à integralização cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
5. Soe. anôni-
ma ou de suas ações que não tenham casado no regime da comunhão universal de
Re acionistas controladores: idem, mas repondem
companhia P
por abusos
bens ou no da separação obrigatória (art. 977 CC ).
Hoje, a mulher casada não é mais relativamente incapaz,
Nome: denominação (mais S/A ou Cia.) não depende de autorização do marido para comerciar, e pode
ilimitada dos acionistas diretores
excluir a sua meação, ou comprometê-la definitivamente, asso-
6. Soe. em esp.
ciando-se ao marido. Além disso, como já decidiu o STF, a fraude
comandita limitada dos demais acionistas
por ações
não se presume (RTJ 68/247).'
Nome: irma ou razão social ou denominação (mais
"Comandita por Ações") 2. A sociedade de um sócio só
7. Soc. em Resp.: limitada de todos os sócios
comum
Como ensina Angelo Grisoli, existem sociedades originaria-
(irregular ou Nome: prejudicado) mente unipessoais e sociedades preordenadas ou reduzidas a um
de fato) sócio só (Las Sociedades con un Solo Socio, traduzido por Anto-
nio González Iborra, Editoriales de Derecho Reunidas, Madrid,
1976).
Entre nós, o fenômeno da sociedade de um sócio só pode
ocorrer de modo originário na subsidiária integral, e de modo de-
rivado na concentração posterior, acidental ou preordenada, de
1. Ver adiante a teoria da desconsideração da pessoa jurídica, em relação
62 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAI
todas as ações em poder de um só acionista, ou pela saída ou intermediária:
morte de sócios nos outros tipos de sociedade. A unipessoalidade as cotas podem ser penho radas se o contrato social
não proibir a cessão de co tas a terceiros (R 595/169, 719/275).
ocorre também em empresas públicas, com a forma de S/A, ten-
do como único acionista um órgão público. De acordo com a lei, cabe ao credor, na insuficiência de bens
Conforme dispõe o art. 206 da Lei das S/A, verificada em As-
do devedor, executar o que a este couber nos lucros da socieda-
sembléia Geral Ordinária a existência de apenas um único acio- de, ou na parte que lhe tocar na liquidação (art. 1.026 do C C), ou
o usufruto sobre o quinhão do sócio na empresa (art. 720 do
nista, pode a companhia prosseguir operando pelo prazo de um CPC).
ano, dissolvendo-se depois, se o mínimo de dois acionistas não
for reconstituído, ressalvada a hipótese da subsidiária integral. 4. Penhora de bens particulares do sócio
esmo a dissolução não extingue a personalidade jurídica da so- de sociedade limitada
ciedade, que continua a viver para se concluírem as negociações
pendentes e se proceder à liquidação das ultimadas (R 379/143). Em princípio, não podem ser penhorados os bens particula-
A unipessoalidade posterior ou derivada não é de compreen- res de sócio de sociedade limitada, por dívida da sociedade, uma
são muito dificil, pois encontraria seu fundamento na perm anên- vez integralizado o capital social.
cia da figura da pessoa jurídica da sociedade já existente, que não Os sócios-gerentes ou os que derem o nome à firma só pode-
se confunde com as pessoas dos sócios. rão ser responsabilizados se praticarem atos com excesso de
Dificil é explicar o enigma de uma sociedade unipessoal ori- mandato ou com violação do contrato ou da lei (art. 10 do D 3.708,
ginária, como pode ser a nossa subsidiária integral, ou a wholly de 10.1.1919) (ver tb. art. 158 da Lei das S/A — L 6.404/76).
owned subsidiary dos americanos. Contudo, em questões de Direito Tributário e de Direito
Talvez a eventual solução estaria numa das seguintes teses, Trabalhista, tem-se admitido a penhora de bens de sócio se a em-
que servem mais a título de indagação do que de ex plicação: presa foi desativada, sem encerramento regular (RT 572/240).
1) a subsidiária integral seria um estabelecimento com ercial Ultimamente a mesma tendência tem-se estendido também
pertencente à sociedade controladora, mas dotado de personali- à penhora de b ens de sócio por dívidas com erciais da sociedade,
dade jurídica própria; especialmente se houve dissolução ou encerramento irregular
(R 711/117, 713/177, 721/156, 723/348, 763/250, 769/252).
2) a sociedade anônima seria uma sociedade apenas nominal
ou virtual, de natureza jurídica institucional, com um ou mais
participantes; 5. Mercado de capitais.
3) na subsidiária integral a pluralidade de sócios estaria im- Distribuição das ações e outros títulos
plícita, em face da pluralidade existente na sociedade con-
troladora. A compra e venda de ações e de outros títulos, com oferta
pública, é disciplinada pelo Conselho Monetário Nacional e pelo
Banco Central do Brasil. O sistema de distribuição de títulos ou
3. Penhora de cotas da sociedade, por dívida do sócio valores mobiliários no mercado d e capitais é constituído das Bol-
Tema bastante controvertido é a possibilidade, ou não, de sas de V alores, das corretoras, das instituições financeiras auto-
penhora de cotas sociais, de sociedade limitada, por dívida parti- rizadas, das empresas que tenham por objeto a subscrição de tí-
tulos para revenda ou distribuição no mercado etc. (L 4.728, de
cular de sócio. Há três correntes a respeito. 14.7.65, que disciplina o mercado de capitais).
Primeira corrente: as cotas podem ser penhoradas, por se-
(R 699/206, 716/208). Segunda corren-
As Bolsas de Valores são associações civis, sem fim lucrati-
rem patrimônio do sócio vo, cuja finalidade é manter um espaço ou sistema adequado
te: as cotas não podem ser penhoradas, por integrarem o pa- para a compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mer-
584/218). Terceira corrente,
64 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS

certificado de ações é título definitivo representativo de los. A mudança da propriedade opera-se pela simples entrega dos títu-
ações. Em regra, esse título é múltiplo, representando uma sé- los ao novo proprietário.'
rie de ações, pois não seria prático emitir um certificado para Ação Cheia — Ação que ainda não recebeu ou exerceu direitos
cada ação. Antes do certificado, costuma-se emitir um papel cha- (div. e/ou bon. e/ou subsc.) concedidos pela empresa emissora.
mado cautela, que é um título provisório, representativo de Ação de Gozo ou Fruição — É emitida em substituição às
ações, sub stituível oportunamente pelo certificado. ações de capital que se amortizam.
Em anexo às cautelas ou certificados podem existir cupons, Ação Endossável — Ação que pode ser transferida mediante
que são destacados por ocasião do recebimento de dividendos ou simples endosso no verso da cautela ou certificado.'
outras vantagens. Ao se quitar a vantagem devida, destaca-se o Ação Escriturai — Ação em que não há emissão de título.
cupom respectivo. Ação Nominativa — Ação que identifica o nome de seu proprie-
tário (atualmente as ações só podem ser nom inativas — art. 20 da
6. Vocabulário das sociedades por ações Lei das S/A).
e do mercado de capitais
Ação Preferencial — Ação que dá a seu possuidor prioridade no
Como complemento ao estudo das sociedades por ações, pa- recebimento de dividendos e/ou, em caso de dissolução da empresa, no
rece interessante referir aqui algumas expressões usadas pelos reembolso do capital. Normalmente não tem direito a voto em As-
especialistas do m ercado de capitais, aproveitando a oportunida- sembléia.
de para rever palavras usadas nas sociedades por ações. Ação Vazia — Ação que já exerceu os direitos concedidos pela
uitos conceitos são do Dicionário do Mercado de Capitais e empresa emissora.
Bolsas de Valores, publicação oficial da Bolsa de Valores do Rio Acionista Sócio de uma S/A ou de uma Comandita por Ações;
de Janeiro, do livro O Jogo da Bolsa, de Alfredo da S ilva, e do ar- —titulardeações.
tigo "Economês não existe para humilhar ninguém", de Léo Acionista, Direitos do — Participação nos lucros (dividendos) e
Borges Ramos, publicado na revista Ele/Ela n. 112. no acervo da Cia. em caso de liquidaç ão; fiscalizar a gestão dos negócios
"Por que é que a Bolsa sobe? Por que é que ela baixa? Q uan- sociais; preferência na subscrição de títulos da S/A; d ireito de recesso ou
do dizem que a B olsa sobe, isso significa que as ações estão se va- de retirada; direito de receber informaçõ es, de assistir às Assemb léias
lorizando. Essa valorização é causada pela demanda maior de de- e de votar.
terminados papéis. Acionista, Deveres do — Integralizar as ações subscritas; votar
"M as qual é a causa dessa demanda no interesse da Cia.
"São as seguintes as principais causas dessas altas e baixas: Acionista Controlador — É o que detém de modo permanente a
"Boas notícias. Más notícias. Calamidades. O Governo. Divi- maioria dos votos e que usa efe tivamente o seu poder de eleger a m aio-
ria dos administradores.
dendos. Bonificações. Subscrições. E as ovelhas. Bem como in- AGE — "Assembléia Geral Extraordinária". É a reunião dos
fluências fabricadas, como as fofocas, as puxadas de preço e as jo-
acionistas, convocada e instalada na forma da lei e dos estatutos, a fim
gadas" (do livro O Jogo da Bolsa, de Alfredo da S ilva). de deliberar sobre qualquer matéria de interesse social.
Ágio — Percentagem paga acima do valor da ação.
AGO — "Assembléia G eral Ordinária". É a reunião dos acionis-
Ação — Título de propriedade, negociável, representativo de tas para a verificação dos resultados de um exercício, para a discussão e
uma fração do capital social de uma S/A. Confere a qualidade de sócio. votação dos relatórios de D iretoria e para a eleição do Conselho Fiscal.
É um título de crédito. Pode ser vendida, cedida, caucionada, dada em Alta — Tendência do mercado de ações em geral, ou de uma deter-
usufruto ou em alienação fiduciária. minada ação em que, pela predominância da procura, há elevação nos
Ação ao Portador — Ação que não identifica o nome do seu preços dos papéis.
ESUMO DE DIREITO COMERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS
66
Cautela — Título provisório, representativo de ações, que é
Amortização — Consiste na distribuição aos acionistas, a título
de antecipação e sem redução do capital social, de quantia que lhes po- posteriormente substituído pelo certificado de ações.
deria tocar em caso de liquidação da empresa. Certificado de Ações — Título definitivo, representativo de
Assembléia Geral — É a reunião dos acionistas para deliber so- ações.
bre os negócios sociais. Cisão — Operação pela qual a Cia. transfere parcelas do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades.
Comandita por Ações — Tipo de sociedade semelhante à S/A,
distinguindo-se, porém, pela formação do nome e pela responsabilidade
Ação de grande liquidez e procura no mercado de solidária dos diretores, que só podem ser acionistas.
Blue Chip
ações, por parte dos investidores, em geral de empresas tradicionais e Consórcio — Convenção contratual pela qual duas ou mais em-
de grande porte. presas unem seus esforços para executar determinado empreendimento.
Boleto — Docum ento no qual os operadores registram os negó- Conversão de Ações — Faculdade prevista no estatuto da S /A
cios de compra e venda de ações no recinto das Bolsas de Valores. de transformação de um tipo de ação em outro, como de ao portador a
Bolsa de Valores Local de encontro dos operadores das cor- nominativas, ou de ordinárias em preferenciais, e vice-versa.
retoras. Sociedade civil sem fins lucrativos. Corretor Autônomo — Pessoa física que atua por conta própria,
Bonificação — Ações distribuídas gratuitamente (filhotes) aos à base de comissão, agindo como intermediário entre o investidor e uma
acionistas, ou aumento do valor nominal das ações (carimbo), devido à distribuidora, corretora ou outra organização financeira.
reavaliação do ativo. Correção monetária do capital social. Corretoras — Só elas podem atuar nos pregões da Bolsa. Têm a
Bônus de S ubscrição — Título negociável emitido por uma em- função de comprar, vender, distribuir e administrar títulos, ações e ou-
presa dentro do limite de aumen to do capital autorizado nos estatutos tros papéis.
e que dá direito à subscrição de ações. Crack omento em que a cotação das ações atinge níveis ex-
Boom ase do mercado de ações em que o volume de transa- tremamente baixos.
ções ultrapassa, acentuadamente, os níveis médios em determinado Cupom — Ticket anexo a uma cautela, ou certificado destacável
período; as cotações atingem níveis extremamente altos. por ocasião de recebimento de dividendo ou bonificação, ou para o exer-
Bull Especulador que espera uma alta do mercado. cício de direito de subscrição.
CVM — "Comissão de Valores Mobiliários". Órgão federal res-
ponsável pela disciplina, fiscalização, emissão e distribuição de valores
mobiliários no mercado de capitais, pela organização e funcionamento
Calispa — Caixa de Liquidação de São P aulo. Sociedade anôni- das Bolsas de V alores, auditoria nas empresas abertas e serviços de
ma pertencente à Bolsa e às corretoras de valores. consultor e analista de valores mobiliários.
Capital Aberto, Sociedade de — S/A que tem as suas ações ne-
gociadas na Bolsa.
Capital Autorizado, Sociedade de — S/A cujo capital foi apro-
vado como meta futura pela Assembéia G eral. Debênture
Capital Fechado, Sociedade de — S/A com capital de proprie-
Título que representa um empréstimo contraído
po uma S/A mediante lançamento público ou particular, garantido
dade restrita. Empresa familiar. pelo ativo da sociedade e com preferência para o resgate.
Carimbo — Forma com que o mercado passou a denominar os Debênture Conversível em Ações — Debênture que pode ser
aumentos de capital, via aumento do valor nominal das ações.
convertida em ações, em épocas e condições predeterminadas,
Carteira de Ações — Conjunto de ações de propriedade de uma mediante aumento de capital social, por opção de seu portador.
pessoa física ou jurídica. Denominação Social — Uma das form as de nome das socieda-
Caução — Depósito de títulos ou valores efetuado junto ao credor
68 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS
Deságio — Diferença, para menos, entre o valor nominal e o preço Fusão — União de duas ou mais sociedades, para formar uma
de compra de um título de crédito. nova.
Direito de Recesso — O acionista dissidente da deliberação
que aprovar a incorporação da empresa em outra sociedade ou sua fu-
são tem direito de se retirar da empresa, mediante o reembolso do valor
de suas ações. Gap Representa um hiato nas cotações. Por exemplo: no caso
Direito de Retirada — O mesmo que direito de recesso. de alta, a mínima de um dia é maior que a máxima da véspera.
Direito de Subscrição — Direito que tem um acionista de subs- Grupo de Sociedades — Pode ser constituído pela controladora
crever novos títulos da S/A. e suas controladas. Não tem nome, apenas um a designação. Não tem
personalidade jurídica.
Disclosure — Ab ertura de informações, por parte da empresa,
aos acionistas
Distribuidora — Organização credenciada pelo Banco Central
para colocar títulos no mercado.
Holding — Empresa que detém o controle acionário de uma
Diversificação — A sabedoria de não jogar tudo numa só ação. empresa ou de um grupo de empresas subsidiárias. Sociedade con-
Dividendo — Importância paga aos acionistas, em dinheiro, em troladora.
proporção à quantidade de ações possuídas e com recursos oriundos dos
lucros gerados pela empresa em um determinado período. Pela Lei das
S/A, deverá ser distribuído um dividendo mínimo de 25% do lucro líqui-
do apurado em cada exercício social. Incorporação — Uma ou m ais sociedades são absorvidas por
outra.
Índice BOVESPA — Índice de lucratividade da B olsa de V alo-
res de São Paulo.
Embonecamento — Mau hábito de corretora, consistente em Insider — Investidor que tem acesso às informações de uma de-
comprar sempre caro e vender sempre barato as ações de seus clientes. terminada empresa, antes do conhecimento público.
Empresa Holding — ver Holding. Investidor Institucional — Instituição que dispõe de vultosos
Endosso — Assinatura do proprietário no verso de um título, recursos mantidos com certa estabilidade, destinados à reserva de ris-
para transferir a sua propriedade. co ou à renda patrimonial, e que investe esses recursos no mercado de
capitais.
Ex-Direitos — Negociações de uma ação após o exercício de um
direito.

Jogada — Manobra em Bolsa. Puxada de preços. Difusão de fofo-


cas, informações, boatos.
Filhote — B onificação. Ações distribuídas gratuitamente aos
acionistas, em decorrência de aumento de capital realizado com a incor-
poração de reservas.
Fundo Mútuo — Conjunto de recursos administrados por uma Lance — Preço oferecido em pregão por um lote de ações.
sociedade corretora ou banco de inv estimentos, que se aplica em uma car- Letra de Câmbio — Titulo de crédito correspondente a uma or-
teira diversificada de títulos, distribuindo o resultado aos quotistas. dem de pagamento à vista ou a prazo.
Fungibilidade — É a possibilidade de restituição de títulos cus- Letra Imobiliária Título emitido pelas sociedades de crédito
todiados, sem a identificação das numerações das cautelas deposita- imobiliário, destinado à captação de recursos para financiamento do
ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL SOCIEDADES EMPRESARIAIS
70

Limites de Alta e Baixa — Barreira de oscilação, de 10% a mais


e 10% a menos, do preço médio da ação, em relação à cotação do dia an- Obrigações do Acionista — Integralizar as ações subscritas;
terior. votar no interesse da Cia.
Limpeza de Ações — Apresentação das cautelas de ações nas ON — Ações ordinárias nominativas.
empresas para recebimento dos direitos vencidos: dividendos, bonifica-
OP — Ações ordinárias ao portador.
ções ou sub scrições
Open Market — Conjunto de operações realizadas com títulos
Liquidez — Propriedade de uma ação, pela qual ela é fácil de de emissão do Go verno, normalmente de curto prazo e utilizado como
vender. instrumento de política monetária. Através das operações de open
Lote — Quantidade de títulos propostos para negociação em pú- market, as autoridades monetárias podem manter o controle dos m eios
blico pregão. de pagamento do sistema econômico.
Outsider — Investidor que não tem acesso às informações de
uma empresa.
Ovelhas — Investidores leigos, que aplicam em ações na Bolsa
Mercado a Termo — É aquele cujas liquidações se processam sem nenhum plano, sistema ou prática. São influenciados por boatos,
após cinco dias do seu fechamento. fofocas, informações, agindo sempre com o os outros querem; são segui-
Mercado à Vista — É aquele cujas liquidações se processam até dores prontos para serem tosquiados.
cinco dias da data do fechamento de uma operação com ações. Overnight — Operação financeira, de um dia útil para outro,
Mercado de Balcão — ercado de títulos sem lugar físico para
com garantia de títulos públicos, a taxas de mercado.
o desenrolar das negociações. Os negócios são fechados via telefonemas
entre instituições financeiras. São negociadas ações de empresas não
registradas em Bolsas de V alores e outras espécies de títulos.
Mercado de Capitais — É o conjunto das operações financeiras PP — Ação preferencial ao portador.
de médio, longo e prazo indefinido, normalm ente efetuadas diretamen- Par — Valor de uma ação idêntico ao oficial ou nominal.
te entre poupadores e empresas, ou através de intermediários financei- Partes Beneficiárias — Títulos negociáveis, não integrantes do
ros não bancários, geralmente destinadas ao financiamento de investi- capital, sem valor nominal, emitidos a qualquer tempo pelas S /A.
mentos fixos. Prazo de Subscrição — Prazo estipulado por uma S/A para o
Mercado Fracionário — É a transação de quantidade de ações, exercício do direito de subscrição pelo acionista
em lotes de número irregular, geralmente abaixo de 100 ações. Pregão — "Recinto de Negociações das Bolsas de Valores". Local
Mercado Paralelo — Movimentação ilegal de numerário desti- mantido pelas Bolsas, adequado ao encontro de seus membros e à
nado a atender a quem não q uer ou não pode utilizar-se do mercado fi- realização, entre eles, de negociações de compra e venda de ações, em
nanceiro para obter crédito. mercado livre e aberto.
Mercado Primário — É a colocação, em mercado, de títulos Prospecto — Folheto contendo informações sobre a oferta ou
novos. lançamento de títulos de uma em presa. O prospecto deve conter infor-
mações com pletas sobre a situação e as perspectivas da empresa, bem
Mercado Secundário — Transferências de recursos e títulos como a natureza dos títulos oferecidos.
entre investidores.
Puxada de Preço — anipulação para fazer baixar ou subir de-
Mercado Touro — Al ta generalizad dos títulos. terminada cotação.
Mercado Urso — Estabilização ou queda geral dos títulos.

Reajuste — Movimento de baixa, usualmente de curta duração,


Nível de Suporte — Cotação mínima provável de uma ação
72 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS
Recesso Ver D ireito de Recesso. Sócio Solidário — É o que responde com os seus bens particula-
Reembolso Pagamento acionistas dissidentes. res pelas dívidas da empresa, depois de executados os bens desta.
Repique Movimento de alta, usualmente de curta duração, Subscrição — Chamada de capital feita por uma empresa atra-
que ocorre durante o processo de baixa. vés do lançamento de novas ações.
Resgate — Consiste no pagamento do valor das ações, para Subsidiária Integral — S/A que tem como único acionista uma
retirá-las definitivamente de circulação, com redução ou não do capital sociedade b rasileira.
social. Se o capital for mantido, será atribuído novo valor nominal às Sustentador — É uma pessoa que deixa cair a cotação de
ações remanescentes. uma ação abaixo de certo nível, através de compras reiteradas.
Retirada — er Direito de Retirada, ou Direito de Recesso.

Take Over Bids — Oferta pública de aquisição de ações de uma


determinada Cia., para assumir o controle da mesma.
Sociedade Anônima — Empresa o capital dividido em Títulà de Renda Fixa — São aqueles em que se conhece anteci-
ações. A responsabilidade dos sócios ou acionistas limita-se inte- padamente a renda proporcionada.
gralização das ações subscritas. Mas acionistas controladores e
administradores poderão responder civilmente por abusos. Títulos de Renda Variável — São aqueles em que a lucrati-
vidade só é conhecida no resgate.
Sociedade Controlada — É aquela cuja maioria de ações com
voto encontra-se em poder de outra sociedade, denominada con- Transformação — A sociedade passa de um tipo para outro,
troladora. sem dissolução ou liquidação; por exemplo, S/A para Ltda.
vice-versa.
Sociedade Controladora — É a titular de direitos de sócio que
lhe assegurem, de modo perm anente, a preponderância nas delibera-
ções sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da socie-
dade controlada. Underwriters Instituições financeiras altamente especiali-
Sociedade de Capital Aberto — S/A que lança as suas ações ao zadas em operações de lançamento de ações no mercado primário.
público. Subscritores.
Sociedade de Capital A utorizado — S/A cujo capital foi apro- Underwriting É uma operação realizada por uma institui-
vado como meta futura pela Assembléia Geral. ção financeira mediante qual, sozinha ou organizada consórcio,
Sociedade de Capital Determinado — A que se constitui com o subscreve saldo emissão, para posterior revenda ao mercado.
capital inteiramente subscrito. Subscrição.
Sociedade de Capital Fechado — S/A que não lança as suas
ações ao público.
Sociedade de Economia Mista — Sociedade em que o Estado
participa como acionista majoritário, reservando para si o controle da Valor de Mercado — É o valor da ação alcançado na Bolsa ou no
mesma. Regula-se pela Lei das S/A. Tem Conselho de Administração Balcão.
obrigatório, e o Conselho Fiscal é de funcionamento permanente. ão Valor Nominal — É valor mencionado na carta de registro de
está sujeita a falência, mas os seus bens são penhoráveis e executáveis. uma emp resa e atribuído a uma aç ão representativa do capital. É im-
Sociedade em Comandita — er Comandita por Ações. presso no certificado de ações.
Sociedades Coligadas — Participação de um sociedade em ou- Valor Patrimonial ou Real — É o resultante da avaliação de
tra, com 10% ou mais, sem controlá-la. todo o acervo da empresa, dividido pelo número de ações existentes
Sociedades Nacionais — São as organizadas na conformidade Valorização — É aumento do valor da cotação a curto ou longo pra-
74 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS
7. Desconsideração da pessoa jurídica sociedade, desviando-a de suas finalidades normais, passando a usá-
a) Conceito la como instrumento para a prática de atos fraudulentos.

A sociedade, simples ou empresarial, tem individualidade Na maioria dos casos em que teoria fo aplicada, tanto no
própria, não se confundindo com as pessoas dos sócios. Brasil como no Estrangeiro, existia dentro da sociedade um
supersócio, detentor de 90% (ou até de 99% ) das quotas ou ações,
Essa regra, porém, é derrogada às vezes por um fenômeno a
distribuído o resto entre seus familiares, tratando-se então, na
que se tem dado o nome de desconsideração da pessoa jurídica. verdade, de sociedades fictícias, unipessoais ou imaginárias.
Pode-se conceituar a teoria da desconsideração como sendo
personalidade jurídica da so- Numa sociedade dessas, às vezes, o supersócio tem bens par-
um afastamento momentâneo
ticulares, mas a sociedade nada tem para oferecer à penhora.
ciedade, para destacar ou alcançar diretamente a pessoa do só-
cio, como se a sociedade não existisse, em relação a um ato con- Penhoram-se então os bens do sócio, desconsiderando-se a
creto e específico. existência da pessoa jurídica (nesse sentido: RT 568/108, 592/172,
Geralmente a desconsideração é aplicada para corrigir um 614/109, 631497, 713/138, 821/295).
ato, no qual a sociedade deixou de ser um sujeito, passando a Outras vezes, os únicos componentes da sociedade são mari-
mero objeto, manobrado pelo sócio para fins fraudulentos. do e mulher, sendo a pessoa jurídica pobre, as ricas as pessoas
Mas pode também a teoria ser aplicada diretamente pela lei, fisicas dos sócios. Penhoram-se então os bens dos sócios, para
ou por considerações outras, independentemente de qualquer pagamento de dívidas da sociedade (RT 418/213, 484/149;
abuso ou má-fé, e até de modo a favorecer o sócio, como veremos RJTJESP 85/97).
adiante. Houve o caso de um casal que, na iminência de sofrer uma
A aplicação teoria não suprime a sociedade, ne conside- execução por dívida particular, transferiu seus bens para
ra nula. Apenas, em casos especiais, declara-se ineficaz determi- sociedade, a título de aumento de capital, sociedade, essa, que ti-
nado ato, ou se regula a questão de modo diverso das regras habi- nha como únicos sócios o mesmo casal. Ora, se dentro e fora da
tuais, dando realce mais à pessoa do sócio do que à sociedade. pessoa jurídica as partes são as mesmas, deve-se aplicar des-
A teoria da desconsideração da pessoa jurídica surgiu pela consideração, como bem observou Rolf Serick.
primeira vez na jurisprudência da Inglaterra, mas cresceu e de- Mas, si só, não justifica a desconsideração o fato de se tra-
senvolveu-se nos Estados Unidos e de lá estendeu-se para outros ta sociedade de marido e mulher, ou de sociedade com prepon-
países. derância exagerada de uni sócio. O que realmente pode dar moti-
No Brasil, teoria foi introduzida por Rubens Requião, vo desconsideração é a configuração um abuso intolerável e
numa conferência proferida na Faculdade de Direito da Univer- chocante, praticado através da pessoa jurídica da sociedade.
sidade Federal do Paraná (RT 410/12). O abuso consiste no prejuízo de outrem, causado através
No Estrangeiro a teoria tem recebido o nome de disregard de manobras com sociedade, que passa a ser utilizada como
of legal entity (desconsideração de entidade legal), lifting the um outro eu, um alter ego do sócio, que nada mais visa do que a
corporate veil (levantamento do véu corporativo), durchgriff der seus interesses pessoais. Ou, nas palavras de Marçal Justen
juristischen Person (penetração através da pessoa jurídica), Filho, o abuso consiste na "utilização anormal e surpreenden-
superamento della personalità giuridica(Itália), ou teoria de la te da pessoa jurídica" (Desconsideração da Personalidade So-
penetración (Argentina). cietária no Direito Brasileiro, Ed. RT, SP, 1987, p. 129).

b) A desconsideração na jurisprudência 3. Ultimamente alguns acórdãos têm responsabilizado pessoalmente os


Na jurisprudência, a principal aplicação da teoria é a de tornar sócios, por dívidas de sociedade limitada, unicamente em razão de sua dissolu-
76 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL OCIEDADES EMPRESARIAIS

A desconsideraçã o pode ser aplicada em casos de fraude à lei Há um exemplo, porém, em que a teoria assume um aspecto
e ao contrato, ou de fraude contra credores e fraude à execução. francamente favorável ao sócio.
A teoria não se aplica somente no caso de dívidas em dinhei- É o caso da Súmula 486 do STF, que admite a retomada de
ro, podendo ser utilizada também com referência a qualquer ou- prédio para sociedade da qual o locador, ou seu cônjuge, seja só-
tra espécie de obrigação. cio, com participação predominante no capital social, ficando
Cita-se o caso de um comerciante individual que vende seu neutralizado com isso o princípio da distinção entre a sociedade e
estabelecimento, assumindo a obrigação de não se estabelecer os sócios.
novamente nas imediações. Em seguida, cria uma sociedade,
onde é majoritário, e volta ao comércio na região vedada, atra- e) A transferência de qualidades pessoais do sócio
para a sociedade
vés da sociedade.
A manobra deve ser neutralizada, com a aplicação da teoria da Às vezes algum a particularidade do só cio é transferida para
desconsideração, sendo a sociedade obrigada a cumprir a obrigação a sociedade, domo se esta lhe absorvesse as qualidades pessoais.
anterior, assumida individualmente pelo sócio preponderante.
Em caso de guerra, por exemplo, a aplicação de m edidas con-
tra súditos de país inimigo costuma levar em consideração mais
c) A desconsideração na lei a nacionalidade do sócio do que a da sociedade.
O C ódigo C ivil de 2002 define a desconsideração da pessoa
jurídica no seu art. 50: "Em caso de abuso da personalidade jurí- 1) Desconsideração e nulidade
dica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do A desconsideração tem índole diversa da nulidade. Na des-
inistério Público quando lhe couber intervir no processo, que consideração mantém-se íntegra e plenamente válida a socieda-
de, bem como , em regra, todos os atos por ela praticados.
estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios Apenas, ignora-se a existência da sociedade num determina-
da pessoa jurídica". do passo, regulando-se o ato de modo diverso do habitual, com
Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11.9.90, no vistas a um sócio por detrás da sociedade.
seu art. 28, adotou plenamente a teoria da desconsideração da A descon sideração, ao contrário da nulidade, não implica ne-
personalidade jurídica: "Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a cessariamente a invalidação de atos jurídicos.
personalidade da sociedade quando, em detrimento do consumi-
dor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, g) Desconsideração e responsabilidade estatutária do sócio
fato ou ato ilícito ou violaç ão dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando ho uver falência, Em cada tipo de sociedade há regras que regulam a respon-
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa ju- sabilidade do sócio pelas dívidas da sociedade. Há regras gerais e
rídica provocados por má administração". regras especiais.
A teoria da desconsideração foi também adotada pela L Entre as regras gerais está, por exemplo, a responsabilidade
9.605/98, referente ao meio ambiente. do sócio da sociedade limitada pela integralização do capital, ou o
pagamento das ações subscritas, na sociedade anônima.
d) A desconsideração a favor do sócio Como regra especial pode ser apontada, por exemplo, a
responsabilização do sócio-g erente na limitada, ou do acionista
Geralmente a desconsideração é aplicada para neutralizar
78 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL
SOCIEDADES EMPR ESARIAIS
Estas responsabilizações, porém, constantes das diversas leis Angelo Grisoli. Las Sociedades con un Solo Socio, Editoriales de Derecho
que regulam cada tipo de sociedade, não pertencem à teoria da Reunidas, traducido por Antonio González Iborra, Madrid, 1976.
desconsideração. A responsabilidade do sócio, aí, deriva dos pró- Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Dicionário do Mercado de Capitais.
prios estatutos sociais, ou seja, da consideração da sociedade, e Darcy Arruda Miranda Jr. Breves Comentários à Lei de Sociedades por Ações,
não da sua desconsideração. Saraiva, SP, 1977; "A sociedade entre cônjuges", artigo, RT 450/20.
Só se pode falar em desconsideração quando o sócio alcan- Fábio Konder Comparato. "Comentário sobre sociedade entre marido e mu-
çado independentemente do tipo e da estrutura da sociedade e de lher", artigo, RD 3/91; "Novas formas jurídicas de concentração empre-
suas regras particulares de responsabilização. sarial", artigo, RDM 5/133.
Fábio Ulhoa Coelho, Manual de Direito Comercial, Saraiva, SP, 2002.
afastamento momentâneo da Gabriel Nettuzzi Perez. "A pessoa jurídica e a quase-pessoa jurídica", artigo,
personalidade jurídica da Justitia 71/19.
Conceito sociedade, para destacar ou João Casilo. "Desconsideração da pessoa jurídica", artigo,
alcançar o sócio por detrás
RT 528/24.
Lé Borges Ramos. "Economês não existe para humilhar ninguém", Ele/Ela
dela
n. 112.
por causa de abuso da personalidade Marçal Justen Filho. Desconsideração da Personalidade Societária no Direi-
Casos de to Brasileiro, Ed. RT, SP, 1987.
aplicação em virtude de lei Romano Cristiano. Características e Títulos da SIA, Ed. RT, 1981; Órgãos da
por eqüidade Sociedade Anônima, Ed. RT, 1982.
Rubens Requião. "As tendências atuais da responsabilidade dos sócios nas so-
Aplicação sociedades que tenham supersócio ciedades comerciais", artigo, RT 511/11.
DESCONSIDERAÇÃO mais sociedade de marido e mulher Waldfrio Bulgarelli. Manual da Sociedade Anônima, Direito Comercial II,
DA PESSOA freqüente Atlas, SP, 1978; A Proteção às Minorias na Sociedade Anônima, Pioneira,
JURÍDICA SP, 1977.
disregard of legal entity
lifting the corporate veil
Nomes durchgrift der juristischen Person
no superamento della personalità
Estrangeiro giuridica
teoria de Ia penetración

neutralização de um ato
Efeitos regulamentação da questão de modo
diverso das regras habituais

Bibliografia
Alfredo da Silva. O Jogo da Bolsa, Techno Editora, 1972.
Alvaro Augusto Brandão Cavalcante. Das Sociedades Anônimas, sua Estru-
tura e Dinâmica, Freitas Bastos, Rio/SP, 1978.

4. Teoria da aparência: sobre essa teoria ver o Resumo de Obrigações e


TÍTULOS DE CRÉDITO

cambiariformes, na designação de Pontes de M iranda. As regras


da letra de câmbio e da nota promissória aplicam-se aos títulos
cambiariformes, em tudo que lhes for adequa do, inclusive a ação
de execução.
3. Características dos títulos de crédito
a) Documentalidade - o título de crédito é sempre um do-
Capitulo IV
cumento, necessário para o exercício do direito que representa.
b) Força executiva - o título de crédito tem força idêntica a
TÍTULOS DE CRÉDITO uma sentença judicial transitada em julgado, dando direito di-
retamente ao processo de execução.
c) Literalidade - o título de crédito vale pelo que nele está
PRIMEIRA PARTE - RESUMO
escrito, não se podendo alegar circunstância não escrita.
Como diz,Whitaker, a letra exprime fielmente quanto vale e
1. Definiçã o de título de crédito - 2. Títulos cambiais e títulos vale nominalmente quanto exprime (Letra de Câmbio, Saraiva,
cambiariformes - 3. Características dos títulos de crédito - 4. SP, 1942, p. 39).
O formalismo dos títulos de créd ito - 5. Legislação aplicável -
6. Como aplicar a Lei Uniforme das Letras de Câmbio e Notas Pro- d) Formalismo - o título de crédito é formal. Em princí-
missórias - 7 . Pagamento dos títulos de crédito - 8. O endosso pio, se faltar uma palavra que por lei nele deveria necessaria-
- 9. O aval - 10. A apresentação e o aceite - 11. O protesto - mente constar, o documento não valerá mais como título de
12. A ação cambial - 13. A anulação dos títulos de crédito - 14.
A prescrição - 15. A letra de câmbio - 16. A nota promissó-
crédito. Por exemplo, se não estiver escrita a expressão "Nota
ria - 17. O cheque - 18. A apresentação do cheque. A decadên- Promissória" no título, então o papel não vale como nota pro-
cia - 19. A duplicata - 20. O conhecimento de depósito e o missória.
warrant 1. D ebêntures - 22. O conhecimento de transporte e) Solidariedade - todas as obrigações constantes do título
ou de frete - 23. Cédulas de crédito - 24. Notas de crédito - 25.
Letras imobiliárias - 26. Cédulas hipotecárias - 27. Certifica- são solidárias. Cada um dos coobrigados (sacador, aceitante,
dos de depósito - 28. Cédula de Produto Rural (CPR). X - 29. Le- emitente, endossante ou avalista) pode ser chamado a responder
tra de Crédito Imobiliário - 30. Cédula de Crédito Imobiliário - pela totalidade da dívida.
31. Cédula de Crédito Bancário - 32. Títulos do agronegócio.
f) Autonomia - a autonomia é a desvinculação da causa do
título em relação a todos os coobrigados.
1. Definição de título de crédito g) Independência - a independência é uma extensão da
Título de crédito é um documento formal, com força ex ecuti- autonomia, significando a desvinculação entre os diversos coo-
va, representativo de dívida líquida e certa, de circulação desvin- brigados, um em relação ao outro. "C ada qual se obriga por si, e
culada do negócio que o originou. Na definição de Brunner, títu- responde pelo cumprimento da obrigação contraída" (Paulo M a-
lo de crédito é "o documen to de um direito privado que não se p o- ria de Lacerda, A Cambial no Direito Brasileiro, Ed. Leite Ribei-
de exercitar, se não se dispõe do título". E, para Vivante, "título ro & M aurillo, Rio, 1921, p. 371).
de crédito é um documento necessário para o exercício do direito h) Abstração - a abstração nada mais é do que mais um as-
literal e autônomo nele mencionado". pecto da autonomia. O próprio título também é desvinculado da
causa.
2. Títulos cambiais e títulos cambiariformes Poderíamos distinguir entre autonomia, independência e
As cambiais genuínas ou básicas são a letra de câmbio e a abstração, valendo-nos do seguinte esquema:
nota promissória. Todos os demais títulos de crédito, como o - desvinculação da causa em relação a todos coobrigados = autonomia;
cheque, a duplicata, o conhecimento de depósito, a cédula de cré- - desvinculação reciproca entre os diversos coobrigados = independência;
dito à exportação, e muitos outros, são apenas assemelhados ou III esvinculação da causa em relação ao próprio título = abstração.
ESUMO DE DIREITO COMERCIAL TITULOS DE CRÉDITO
82

A independência e a abstração constituem, portanto, uma CARACTERÍSTICAS DOS TITULOS DE CRÉDITO


mera extensão da autonomia. Onde não há autonomia, não há documentalidade formalismo independência
também independência, nem abstração. força executiva solidariedade abstração
literalidade autonomia circulação
Enquanto o título ainda estiver entre os participantes origi-
nários do negócio subjacente, a autonomia, a independência e a
abstração serão apenas relativas (juris tantum), admitindo, por 4. O formalismo dos títulos de crédito
isso, a discussão da causa do título e a comunicação das exceções. Com o vimos, os títulos de crédito são formais. No seu con-
Apó s o primeiro endosso, porém, e desde que dado a endos- texto devem constar os dados obrigatórios previstos em lei. De
satário de boa-fé, a autonomia, a independência e a abstração um modo geral, devem eles conter os seguintes elementos:
passam a ser efetivas e de caráter absoluto (juris et de jure), im- a) a denominação, conforme o caso, em vernáculo ou expres-
pedindo a discussão da causa. são equivalente na língua em que foram emitidos: "Letra" ou
A teoria dos títulos de crédito foi construída em função da "Letra de C âmbio", "N ota Promissória", "Ch eque", "Duplicata"
circulação e do endossatário de boa-fé. Na ausência deste e da- etc.;
quela, não se justifica nenhum rigor cambial. Como pontifica Sa- b) o mandato (na letra e no ch eque), ou a promessa (na pro-
raiva, só depois de adquirido em boa-fé por outrem passa o título
a ter valor definitivo e irretratável (A Cambial, Imprensa Oficial missória), pura e simples, de pagar uma quantia determinada,
de M inas, Belo Horizonte, 1918, § 14, p. 106). expressa em algarismos e/ou por extenso;
i) Circulação — característica básica dos títulos de crédito é c) o nome de quem deve pagar (sacado);
a sua circulação, vez que têm eles por fim facilitar as operações d) o número de um documento do devedor (RG, CGC ou
de crédito e a transmissão dos direitos neles incorporados. A CP F, título eleitoral ou carteira profissional);
transmissão dá-se regularmente pela tradição ou pelo endosso, a e) a indicação do lugar em que o pagamento se deve efetuar;
terceiro de boa-fé. f) época do pagamento; na omisão, o título passa a ser à
Deve -se salientar que a aplicação das regras camb iais pressu- vista (art. 889, § 19, CC);
põe não apenas a simples circulabilidade, mas a circulação efetiva. g) a indicação da data e do lugar em que o título é passado;
"Assim, quando o título de crédito, embora destinado à circulação,
permanece nas m ãos do portador originário, não encontram apli- h) o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser
cação os p rincípios dos títulos de crédito; o título, nessa hipótese, pago o título;
funciona como um título comum de legitimação, salvo os efeitos i) a assinatura de quem passa o título (sacador ou subscritor);
particulares que possam derivar de sua eventual qualidade de tí- j) o número de ordem, o número da fatura, o domicilio do
tulo executivo. Só a efetiva circulação acarreta o surgimento dos vendedor e do comprador, no caso das d uplicatas.
problemas característicos dos títulos de crédito e a aplicação das
normas com eles relacionadas" (Giuseppe Ferri, Manuale di Todavia, a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em
Diritto Commerciale, UTET, Torino, 1977, pp. 606 e 607).' branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da co-
brança ou do protesto (Súmula 387 do STF).
1. A L 8.021, de 12.4.90, proibiu a emissão de títulos ao portador ou nomi- Os títulos podem ser emitidos por computador (art. 889, § 3°,
nativos endossáveis (art. °, II): "Art. 2°. A partir da data de publicação desta CC).
Lei, fica vedada: (...) II — a emissão de títulos e a captação de depósitos ou
aplicações ao portador ou nominativos-endossáveis". Algu ns desses elementos ou requisitos supra são considera-
A finalidade da lei foi a de identificar os contribuintes, para fins fiscais, dos essenciais, como a denominação, a soma em dinheiro e o
conforme consta no seu preâmbulo, e não a de abolir os títulos de crédito ou
suprimir a sua circulação. mandato ou promessa de pagam ento. Outros são secundários ou
Por isso, parece que, para fins fiscais, a transmissão dos títulos de crédito de- supríveis, como a data do vencimento ou o lugar da emissão (cf.
verá operar-se agora somente por endosso em preto ou pleno, consignando-se arts. 2° e 76 da L ei Uniforme das Letras; art. 2° da L ei Uniforme
84 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO
do devedor) não afeta a validade ou a exeqüibilidade do título 6. Como aplicar a Lei Uniforme das Letras de Câmbio
(JTACSP 18/196). e Notas Promissórias

5. Legislação aplicável Em apenso ao Decreto 57.663, de 24.1.66, encontramos o


Anexo I e o Anexo II da Convenção sobre Letras e N otas Promis-
No que se refere às letras de câmbio e notas promissórias, sórias. O Anexo I é a pró pria Lei Uniforme e o A nexo II é a lista
vigora entre nós, como estatuto cambial básico, a Lei Uniforme articulada das reservas ou ressalvas, que modificam ou excluem
de Genebra, ou, m ais precisamente, a Lei U niforme das Letras e o disposto no Anexo . Em geral, as reservas são derrogatórias.
Promissórias. Mas na parte em que não foram derrogadas sub-
A primeira providência do intérprete é riscar os arts. 1, 4,
8, 11, 12, 14, 18, 21, 22 e 23 do A nexo II, porque essas reservas
creto 2.044, de 31.12.1908. não interessaram ao Brasil, como se vê no item 1° do Decreto
Na om issão da lei especial, aplica-se o CC com o fonte subsi- 57.663/66.
diária (art. 903, CC ).
A L ei Uniforme das Letras e Promissórias foi elaborada por A redação do item 1° do Decreto 57.663/66 é reconhecida
convenção internacional, em 1930, sendo depois aprovada pelo mente defeituosa. Onde se lê "com reservas aos artigos tais do
Decreto Legislativo 54, de 8.9.64, e promulgada pelo Decreto Anex o II", leia-se "com as reservas dos artigos tais do Anexo II".
57.663, de 24.1.66. A interpretação literal, sem a necessária correção, faria supor a
uanto ao cheque, porém, acontece o contrário. Agora o es- existência de reservas das reservas, o que é um contra-senso.
tatuto básico do cheque é a Lei 7.357, de 2.9.85, ficando a Lei O decreto promulgou portanto a Lei Uniforme (Anexo I),
Uniforme do Cheque como diploma subsidiário na parte não com as reservas dos arts. 2-3-5-6-7-9-10-13-15-16-17-19 e 20 do
derrogada pela lei nova. Anexo II . Das 23 reservas oferecidas, o Brasil adotou apenas 13.
Até essa data, ou seja, 2.9.85, vigorava entre nós, como lei O Anex o I deve ser conjugado com os artigos não riscados do
interna básica, a referida Lei Uniforme do Cheque, elaborada Anexo II. C ada vez que examinarmos um artigo da Lei U niforme
por convenção internacional, em 1931, aprovada depois pelo De- (Anexo I), teremos que verificar necessariamente se ele não foi
creto Legislativo 54 e promulgada pelo Decreto Executivo derrogado ou modificado por algum dos 13 artigos restantes do
57.595, de 7.1.66. Anexo II (lista das reservas).
Muitas vezes os tratados e convenções internacionais tra- Ao conjugar o Anexo I com o Anexo II, devemos seguir os se-
zem no seu contexto regras de Direito comum a serem aplicadas guintes princípios:
no território dos países signatários. Esses preceitos passam a ser
lei interna, no mesmo nível das leis ordinárias federais, depois . Se o Anexo II nada disser, valerá o que ficou dito no Ane-
que o tratado é aprovado e promulgado. xo I.
Como já se decidiu, "os tratados e convenções internacio- 2°. Havendo reserva derrogatória no Anexo II, cancela-se a
nais, uma vez referendados pelo Poder Legislativo e promulga- disposição do Anex o I, e se substitui a mesma pela norma co rres-
dos, incorporam-se ao Direito interno, com a mesma força das pondente da lei cambial brasileira (D 2.044) ou por outra lei in-
demais leis" (R 450/241; RTJ 58/70). terna pertinente.
Recapitulando, quanto às letras e promissórias vigora atual- 3°. M as, se, apesar da reserva, não houver lei brasileira pa-
mente a Lei Uniforme das Letras e Promissórias, com a subsis- ra a substituição, permanecerá válida a regra do A nexo I.
tência de algumas normas anteriores, como o Decreto 2.044, de Esses princípios simplificados e esquematizados baseiam-se
31.12.08, na parte não derrogada. nas teses vencedoras do mestre A ntônio M ercado Júnior. Obser-
Quanto ao cheque, porém, a Lei Uniforme do Cheque foi va Paulo R estiffe Netto, na sua valiosa obra: "firmou-se a juris-
substituída pela Lei 7.357, de 2.9.85, ficando da legislação unifor- prudência, a partir do STF, em consonância com o magistério do
86 ESUMO DE D IREITO COMERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO

443/225, 443/228, 443/253 e 443/332). É também a nossa posição, xado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma
já externada em artigos doutrinários (R Informa 61 e 71)" (Lei cessão ordinária de crédito, permitindo a mais ampla discussão
do Cheque, Ed. Revista dos Tribunais, SP, 1975, p. 18). da causa do título (art. 20 da Lei Uniforme das Letras), não per-
dendo, porém, o direito à ação executiva (JTACSP 23/148, 31/
Em síntese, o manuseio da Lei Uniforme obriga o interessa- 168, 33/65).
do a dar os seguintes passos: Não vale a cláusula proibitiva de endosso (art. 890, CC).
a) riscar do Anexo II as reservas não adotadas;
b) anotar ao lado de cada reserva restante a regra corres- 9. O aval
pondente da nossa lei cambial interna;
No aval, como ocorre na fiança, o avalista se obriga pelo
c) anotar ao lado de cada artigo do Anexo I a eventual reser- avalizado, assim como o fiador se obriga pelo afiançado, compro-
va existente no Anexo II; metendo-se a satisfazer a obrigação, no todo ou em parte, caso o
d) iniciar então o estudo da Lei Uniforme (Anexo I), verifi- devedor principal não a cumpra. O avalista que paga sub-roga-se
cando sempre as reservas do Anexo II e o reenvio às normas in- nos direitos derivados da propriedade do título.
ternas brasileiras. Existem, contudo, várias diferenças entre o aval e a fiança,
como por exemplo as seguintes:
7. Pagamento dos títulos de crédito a) na fiança necessária a formalização da obrigação do fia-
dor por escrito; no aval basta o lançamento da assinatura do
No pag amento de títulos de crédito, o devedor pode exigir do avalista no título;
credor, além da entrega título, quitação regular (art. 901, pa- a fiança é um contrato acessório; o aval é autônomo;
rágrafo único, CC).
c) na fiança a responsabilidade é subsidiária, salvo estipula-
pagamento parcial não pode ser recusado (art. 902, 10 ção em contrário; no aval a responsabilidade é sempre solidária;
devendo ser dada quitação em separado e outra próprio d) a fiança é dada para garantir contratos; o aval é dado para
902, § 2°, CC).
garantir títulos de crédito;
8. O endosso
e) fiança pode ser dada num documento em separado; o
aval só pode ser dado próprio título ou em folha anexa;
endosso é um forma de transmissão dos títulos de crédi- O a fiança é garantia pessoal (in personam); o aval, ao con-
to. O proprietário do título faz endosso lançando a sua assina- trário, garante diretamente título (in rem).
tura no verso ou no dorso do documento. No endosso em branco Não cabe aval parcial (art. 897, parágrafo único, CC). Pode o
ou incompleto, lança-se apenas assinatura, sem indicar a favor aval ser dado mesmo após o vencimento do título (art. 900 CC).
de quem se endossa. No endosso em preto ou pleno, escreve-se o
Tanto na fiança como no aval é sempre necessária a partici-
nome do beneficiário. pação de ambos os cônjuges, exceto no regime de separação ab-
endosso tem duplo efeito. Transmite a propriedade do tí- soluta (arts. 1.647, III, 1.649 CC).
tulo e gera uma nova garantia para ele, pois o endossante é co-
responsável pela solvabilidade do devedor do título, bem como 10. A apresentação e o aceite
dos endossantes anteriores. A apresentação é o ato de submeter uma ordem de paga-
Existe também o endosso impróprio, qu não transfere a mento ao reconhecimento do sacado. Pode significar também o
propriedade do título, como o endosso-procuração ou endosso ato de exigir o pagamento.
caução. O aceite é o reconhecimento da validade da ordem, mediante a
endosso posterior ao protesto por falta pagamento (en- assinatura do sacado, que passa então a ser o aceitante. A falta ou a
88 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO

Permite a lei que o aceite seja apenas parcial (art. 26 da L ei desde logo para o processo de execução, pois esses títulos têm
Uniforme das Letras). Neste caso, o título deve ser protestado, força idêntica a uma sentença judicial transitada em julgado.
A ação camb ial é direta quando proposta contra o devedor
da Lei Uniforme das L etras) principal e seus avalistas, e indireta, ou de regresso, quando pro-
posta contra os demais coobrigados e respectivos avalistas. Na
11 O protesto ação direta não há necessidade de protesto.
Responde pela dívida todo e qualquer coob rigado, indepen-
O protesto é a apresentação pública do título ao devedor, dentemente da ordem cronológica das assinaturas, por se tratar
para o aceite ou para o pagam ento. O título tem de ser protesta- de dívida solidária e autônoma. Na letra e na promissória são de-
do contra o sacado, ou contra o emitente da nota prom issória, no vidos juros legais, a partir do vencimento (art. 42, al. 2, da Lei
primeiro dia útil que se seguir ao da recusa ou ao do vencimento, Uniforme), e no cheque a partir da apresentação ao sacado (art.
se o portador não quiser perder o direito de regresso contra os 52, II, da L 7.357/85).
demais coobrigados (protesto necessário).' Perdido o direito de ação executiva, por decadência ou pres-
O protesto é tirado apenas contra o devedor principal ou origi- crição, pode ainda o portador mover ação ordinária de enriqueci-
nário, devendo dele ser avisados os outros coobrigados. Os títulos mento ilícito contra o sacador ou aceitante, para se ressarcir dos
não sujeitos a protesto necessário devem ser levados a protesto prejuízos efetivos, devendo, porém, demonstrar a origem ou a
especial, para fins falimentares. causa da obrigação (arts. 884 CC , 48 do D 2.044 e 61 da L 7.357/
Entende-se que o protesto cartorário não interrompe a p res- 85) (RT 468/182, 490/133, 507/238, 508/251).
crição, tendo tal poder apenas m edidas ou circunstâncias previs-
tas no art. 202 do C ódigo C ivil. O protesto indevido ou abusivo 13 A anulação dos títulos de crédito
pode ser sustado, através da medida cautelar de sustação de pro-
testo, com a caução ou depósito da quantia reclamada. Em caso de extravio ou destruição do título, poderá ser re-
Tem-se adm itido o cancelamento do protesto em três hipó- querida a sua nulidade, nos termos do art. 36 do D ecreto 2.044.
teses: a) por defeito do protesto, como a falta de intimação do de- esmo que não tenha havido extravio ou destruição, permi-
vedor ou irregularidade do edital; b) por defeito do título, reco- tem alguns julgados a anulação do título, a requerimento do inte-
nhecido por sentença, como no caso do cheque falso ou da dupli- ressado, nas hipóteses de erro, dolo, coação, simulação ou fraude
cata fria; c) pelo pagamento do título protestado, com a anuência (R 464/140, 475/125, 498/219; JTACSP 15/24, 25/91, 29/32).
do credor.' Outros julgados, porém, em respeito ao aspecto cambial,
A L ei 9.492, de 10.9.97, permite o cancelamento do protesto, permitem apenas a ação declaratória, para o fim de impedir o
pelo próprio cartório, com a entrega do título original, devida- protesto e declarar a inexistência da obrigação em relação ao au-
mente quitado, ou com a declaração de anuência de todos que tor, subsistindo as outras obrigações cambiais eventualmente
figurem no registro do protesto. existentes no título (RT 485/121).
14 A prescrição
12 ação cambial
A letra de câmbio, a nota prom issória e a duplicata prescre-
A ação c ambial é executiva. Nos títulos de crédito não há ne- vem contra o devedor principal em três anos da data do venci-
cessidade de um prévio processo de conhecimento, partindo-se mento. O cheque prescreve em seis meses, contados do termo do
prazo de apresentação (o prazo de apresentação do cheque é de
30 dias quando pagável na mesma praça em que foi emitido, e de
2. Quanto à duplicata, o prazo de protesto é de 30 dias, a partir do venci- 60 dias quando emitido numa praça para ser pago em outra) (ver
mento (L 5.474/68).
3. Para a microempresa e a empresa de pequeno porte basta o título ori- art. 70 da Lei Uniforme das Letras; arts. 52 e 53 da Lei Unifor-
90 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL
TÍTULOS DE CRÉDITO
e art. 33 da L 7.357/85). A prescrição pode ser interrompida nos dia da apresentação (art. 32 da L 7.35 7/85; art. 28 da Lei Unifor-
termos do art. 202 do Có digo Civil. Não interrompe a prescrição me do Cheque).
o protesto extrajudicial, efetuado pelo C artório de Protestos.'
O cheque pode ser nom inativo ou ao portador, podendo ser
transmitido por endosso.' Se o cheque indica a nota, fatura, con-
15 A letra de câmbio ta cambial, imposto lançado ou declarado a cujo pagamento se
A "letra", ou "letra de câmbio", é uma ordem de pag amento, destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso pela pessoa a
sacada por um credor contra o seu devedor, em favor de alguém, favor da qual foi emitido e a sua liquidação pelo banco sacado
que pode ser um terceiro ou o próprio sacador. Sacador é o que provam a extinção da obrigação indicada (art. 28, parágrafo úni-
emite a letra. Sacado é o devedor contra quem se emite a letra. co, da L 7.357/85).
Aceitante é o sacado que aceita a letra, nela apondo a sua assina- O sacado pode recusar-se a pa gar a ordem se houv er falta de
tura. Tomador é o beneficiário da ordem, que pode ser um ter- fundos do emitente, falsidade comprovada, ilegitimidade do por-
ceiro ou o próprio sacador. tador, ou outros motivos sérios, como rasuras ou falta de requi-
Endossante é o proprietário do título, que o transfere a al- sitos essenciais. O sacado não deve pagar o cheque após o prazo
guém, chamado endossatário. O portador de uma letra, adquiri- de prescrição (art. 35, parágrafo único, da L 7.357/85). Como vi-
da por endosso, pode haver dos endossantes anteriores ou do mos, o cheque prescreve em 6 meses depois de vencido o prazo
sacador o valor da letra, se o aceitante ou sacado não pagar (di- de apresentação, que é de 30 dias na mesm a praça e de 60 dias
reito de regresso). em praça diversa da emissão.
Havendo razões sérias para tanto, pode o emitente revogar o
cheque (art. 35) ou fazer sustar apenas o seu pagamento (art. 36). A
16 A nota promissória sustação tem efeito imediato, ao passo que a revogação só produz
A nota promissória é uma prom essa de pagamento, emitida efeito depois de expirado o prazo de apresentação. Mas a sustação
pelo próprio devedor. Aplicam-se à nota promissória todas as re- exclui a possibilidade da revogação e vice-versa (art. 36, § P).
gras cambiais já vistas. Além da nota promissória comum , existe Cheque cruzado é o que se apresenta atravessado, em seu
também a nota promissória rural (DL 167, de 14.2.67, art. 42). anverso, por cima de seu contexto, por duas linhas paralelas, ge-
ralmente oblíquas. O cruzamento restringe a circulação, pois,
uma vez efetuado, o cheque só poderá ser pago a um banco. O
17 O cheque cruzamento é especial quando tem escrito entre os dois traços o
O cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacada por nome do banco, caso em que só a este poderá ser pago.
uma pessoa contra um banco ou instituição financeira equipara- Cheque marcado é aquele em que o banco marca outra data
da. Regula-se o ch eque pela Lei 7 .357, de 2.9.85, e sub sidiaria- para o pagamento, se o portador concordar, embora haja fundos
mente pela Lei Uniforme do Cheque. Como bem ensina Fran do emitente. O banco escreverá no cheque: "B om para dia tal".
Martins, "a nova Lei do Cheque, 7.357, é na realidade uma con- Trata-se de assunto estranho ao instituto do cheque, referindo-
solidação dos princípios da Lei Uniforme sobre o Ch eque e das se mais a um contrato entre o portador e o banco sacado.
leis que anteriormente regularam esse título" (Títulos de Crédi- Cheque para ser creditado em conta é aquele em que se es-
to Forense, 1986, v. II, p. 12). creve transversalmente a expressão "Para ser creditado em con-
O cheque é pagável à vista, considerando-se como não escri-
Contudo, vem se firmando o entendimento de que cabe indenização
mento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no por dano moral se o cheque for apresentado antes da data estabelecida (RT
770/393, 788/388).
4. O título de crédito tem o prazo geral de prescrição de 3 anos, não ha- 6. Cheques acima de R$ 100,00 (cem reais) devem ser nominativos, L
vendo disposição em contrário de lei especial (art. 206, § 3° , VIII, C C). 9.069/95 (Plano Real). Na vigência da CPMF, só cabe um único endosso, nos
92 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO

ta". É cheque escriturai, apenas para ser contabilizado, e não em outra praça. A fa lta de apresentação do cheque dentro do pra-
para ser pago em dinheiro. zo não acarreta a decadência da ação de execuç ão contra o emi-
Cheque bancário (cheque de caixa, de tesouraria ou admi- tente e seus avalistas, mas apenas contra os endossantes e seus
nistrativo) é um cheque emitido por um banco, contra as suas avalistas (art. 47 da L 7.357/85).
próprias caixas, nas sedes, filiais ou agências, a pedido de al- Contudo, se o portador não apresentar o cheque em tempo
guém, a favor do solicitante ou de outrem. Não segue as regras hábil e não comprovar a falta de pagamento nesse período, perde-
do cheque ordinário. Tem natureza de nota promissória, como rá ele o direito de execução contra o emitente, se o mesmo tinha
promessa de pagamento do banco. Não admite contra-ordem, fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de
sendo proibida sua emissão ao portador. Regula-se pelo Decre- ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3°).
to 24.777, de 14.7.1934.
19 A duplicata
Cheque de viagem (traveller's check) é o que foi criado para
maior segurança dos viajantes. Contém duas assinaturas do Ao ex trair a fatura de venda, ou após esse ato, pode o vende-
emitente. Uma na parte superior do cheque e outra na inferior. dor sacar uma duplicata correspondente, para circular como tí-
A primeira é lançada no recebimento do talonário e a segunda no tulo de créditb. A duplicata deve ser apresentada ao devedor den-
ato da emissão. Sempre m ediante identificação e na presença de tro de 30 dias de sua emissão, e este deverá devolvê-la dentro de
um funcionário do banco. 10 dias, com a sua assinatura de aceite ou declaração escrita es-
Cheque especial ou garantido é o que pode ser emitido não só clarecendo por que não a aceita.'
sobre a provisão de fundos existentes em poder do sacado, mas A L ei das Duplicatas (L 5.474, de 18.7.68) permite que o cre-
também sobre um crédito especial, aberto ao emitente pelo ban- dor mova processo de execuç ão ou requeira a falência do devedor
co, para esta finalidade. A rigor, não oferece garantia maior do comerciante, mesmo que a duplicata não esteja aceita, ou que
que o cheq ue comum, pois o crédito especial pode ter sido excedi- não tenha sido devolvida, desde que protestada diretamente ou
do ou mesmo cancelado. por indicação, e acompanhada de documento hábil comprobató-
Cheque visado é aquele cuja quantia é desde logo transferiáa rio da entrega da mercadoria. P resume-se autorizado a aceitar a
para o banco, à disposição do portador legitimado, durante o pra- duplicata o empregado que o faz dentro do estabelecimento, em
zo de apresentação, deixando de figurar na conta corrente do razão dos negócios hab ituais (R 505/230, 511/86).
emitente. Se o cheque não for apresentado dentro do prazo de A duplicata paga, para segurança do devedor, deve ser reti-
apresentação, o banco devolverá a quantia reservada à conta do rada de circulação, com quitação no próprio título, para que o
emitente (art. 7° da L 7.357 /85). O cheque visado não pode se r ao mesmo não possa mais ser cobrado por algum endossatário de
portador. boa-fé.
Cheque desnaturado: freqüentemente as pessoas usam o Além da duplicata comum, existem também a duplicata de
cheque não como ordem de pagamento à vista, mas como se fos- prestação de serviços (L 5.474 , de 18.7.68, art. 20) e a duplicata
se uma promissória ou um título de garantia. Tem-se então o rural (DL 167 , de 14.2.67, art. 46).
cheque desnaturado, que é nulo, de acordo com alguns julgados, 20 O conhecimento de depósito
perdendo assim a sua força executiva (R 533/127, 549/200, 551/ e o "warrant"
227, 556/219, 559/132; JTACSP 42/13, 44/116, 47/54) (contra: RT
563/114, 563/144, 570/134, 579/202, 588/211, 589/120). Os armazéns gerais são empresas que têm por fim a guarda
e a conservação de mercadorias. Ao receber as mercadorias em
18. A apres entação do cheque. A decadência
7. O prazo para o protesto da duplicata é de 30 dias, a partir do vencimen-
to (L 5.474/68).
O cheque deve ser apresentado ao sacado no prazo de 30 dias A duplicata de serviços, acompanhada do comprovante de recebimento dos
se emitido na praça onde tiver de ser pago, ou de 60 dias quando serviços, é documento hábil para requerer execução ou falência (JTJ 186/59).
94 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL
TÍTULOS DE CRÉDITO
depósito, pode o armazém geral emitir um simples recibo, no ajustados, importando vencimento antecipado o descumprimen-
qual declara a natureza, quantidade, número e marca, bem to de qualquer de suas obrigações.
como o peso e a medida, se for o caso.
Mas o depositante pode, se quiser, solicitar a emissão de um As verba s do financiamento podem ser liberadas de imediato
título duplo: o conhecimento de depósito e o warrant. Esses dois ou em parcelas, sujeitas ou não a certas condições. O pagamento
títulos nascem juntos, como se fossem gêmeos, mas têm função da dívida, da mesma forma, pode ser de uma vez ou em presta-
ções, conforme o combinado, incluindo-se geralmente uma co-
e finalidades diversas. missão de fiscalização.
O conhecimento de depósito é o título representativo da
mercadoria depositada. Se endossado, transfere a propriedade Em face das suas várias cláusulas, orçamentos e condições,
das coisas depositadas. O warrant, por sua vez, é apenas um títu- a cédula de crédito, sob o aspecto m aterial, mais se parece com
lo pignoratício. Seu endosso investe o cessionário no direito de um longo contrato datilografado ou impresso do que propria-
penhor sobre as m ercadorias depositadas. mente com um título de crédito. Além disso, várias cláusulas do
pacto oferecem margem a discussões, como a forma de aplicação
do financiamento e a respectiva fiscalização. Tais problemas
21 Debêntures
transferem-se também ao eventual endossatário, por estar o tí-
As deb êntures são títulos de crédito emitidos por sociedade tulo expressamente vinculado a essas questões.
anônima ou sociedade em comandita por ações. Representam em-
préstimos públicos feitos por estas sociedades e gozam de privilé- Todos esses aspectos abalam naturalmente a literalidade do
gio geral em caso de falência. O debenturista não é só cio da socie- título, bem como a sua autonomia e a abstração. Po r isso, as cé
dade, mas um credor da mesma. dulas de crédito devem ser consideradas como sendo títulos de
crédito sui generis, que se afastam bastante dos padrões e dos re-
quisitos habituais dos títulos de crédito.
22 O conhecimento de transporte ou de frete
Cédula de Crédito Industrial regula-se pelo DL 413, de
O contrato de transporte refere-se ao envio de mercadorias 9.1.69. Pode ser garantida por penhor cedular, alienação fiduciá-
por terra, por água ou pelo ar. E o conhecimento de transporte ria ou hipoteca cedular. O texto legal dá uma relação dos bens que
ou de frete é o instrumento em que se firma o contrato de trans- podem ser oferecidos em garantia, como máquinas, matérias-
porte. É também um título cambiariforme, e como tal pode ser primas, veículos, títulos de crédito etc.
negociado ou endossado. Cédula de Crédito à Exportação regula-se pela Lei 6.313,
de 16.2.75. Tem os mesmos requisitos aplicáveis à cédula indus-
23 Cédulas de crédito trial acima citada.
Cédula de crédito é uma promessa de pagamento, emitida Cédula de Crédito Comercial aplica-se à área de comércio
pelo devedor, em razão de um financiamento dado pelo credor. e da prestação de serviços. Regula-se pela Lei 6.840, de 3.11.80.
Acom panha a promessa uma relação de bens oferecidos em ga- Segue também a mesma forma e os mesmos requisitos da Cédu-
rantia da dívida, na forma de penhor, hipoteca ou alienação la de Crédito Industrial.
fiduciária, constituída no próprio título ou em anexo. Para valer As Cédulas de Crédito Rural regulam-se pelo Decreto-lei 167,
contra terceiros deve o título ser registrado no Cartório de Re- de 14.2.67. Dividem-se em Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Ru-
gistro de Imóveis. ral Hipotecária e Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária. Podem
O emitente continua na posse dos bens onerados e fica ob ri- ser oferecidos em garantia os bens referidos no texto legal, como
gado a aplicar o financiamento nos fins, na forma e no prazo terras, veículos, carroças, canoas, máquinas, chocad eiras etc.
Os bens oferecidos em garantia, nas cédulas de crédito, são
8. A L 8.021/90 proibiu a emissão de títulos ao portador ou endossáveis, im- impenhoráveis (art. 57 do DL 413/69; art. 69 do DL 167, de 14.2.67).
pedindo assim a emissão de debêntures, salvo se forem criadas debêntures O processo de execução das cédulas de crédito segue ritos
96 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL TÍTULOS DE CRÉDITO

O C ódigo de Processo C ivil não revogou tais procedimentos espe- 26 Cédulas hipotecárias
ciais (cf. Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, p. 458; As cédulas hipotecárias foram instituídas para hipotecas ins-
Waldirio B ulgarelli Títulos de Crédito, p. 486) (ver tb. RT 525/ critas no Registro de Imóveis, como instrumento hábil para a re-
197, 566/211). presentação dos respectivos créditos hipotecários, nas operações
As cédulas de crédito prescrevem em três anos, vez que a compreendidas no Sistema Financeiro da Habitação (DL 70, de
elas se aplicam as regras aplicáveis à letra de câm bio, dispensa- 21.11.66).
do porém o protesto para assegurar o direito de regresso contra
endossantes e seus avalistas (art. 52 do DL 413/69; art. 60 do D
27 Certificados de depósito
167/67).
O certificado de depósito é um título de crédito, equiparado à
24 Notas de cr édito nota promissória, que pode ser emitido nos depósitos bancários a
prazo fixo (art. 30 da L 4.728, de 14.7.65). D epósito pecuniário,
Notas de crédito são títulos em tudo semelhantes às cédulas ou depósito, é a quantia entregue pelo cliente ao banco, para que
de crédito, apenas sem a oferta de bens em garantia. Nessa linha este lhe abra tim crédito correspondente.
temos, respectivamente, reguladas pela mesma sistemática e
pelas mesmas leis acima referidas, a Nota de Crédito Industrial,
a N ota de Crédito à Exportação, a Nota de C rédito C omercial e a 28 Cédula de Produto Rural (CPR)
Nota de C rédito Rural. A Cédula de Produto Rural é uma promessa de entrega de
produtos rurais, com ou sem garantia cedularmente constituída
Cédula de Crédito Industrial (com garantia de bens) (L 8.929, de 22.8.94 alterada pela L 11.076/2004).
Nota de Crédito Industrial (sem garantia de bens) Aplicam-se à CPR , no que forem cabíveis, as regras do Direi-
Cédula de Crédito à Exportação (com garantia de bens) to Camb ial, mas os endossos devem ser completos, ou em preto;
Nota de Crédito à Exportação (sem garantia de bens) os endossantes não respondem pela entrega do produto, mas,
Cédula de Crédito Comercial (com garantia de bens) tão-somente, pela existência da obrigação, e é dispensado o pro-
CÉDULAS E Nota de Crédito Comercia (sem garantia de bens) testo cambial para assegurar o direito de regresso contra avalis-
NOTAS DE tas (art. 10).
CRÉDITO Cédula R ural Pignoratícia
Cédula de Crédito Rural Cédula Rural Hipotecária A garantia cedular pode consistir em hipoteca, penhor ou
(com garantia) édula Rural Pignoratícia e alienação fiduciária.
Hipotecária
29 Letra de Crédito Imobiliário
Nota de Crédito Rural
(sem garantia) Pode ser em itida por bancos com erciais e similares, lastrea-
da por créditos imobiliários, garantida por hipoteca ou alienação
25 Letras imobiliárias fiduciária de imóveis. C onfere direito de crédito pelo valor nomi-
Letra imobiliária é uma promessa emitida por sociedade de nal, juros e, sendo estipulada, atualização monetária (L 10.931,
crédito imobiliário. Assemelha-se às debêntures. de 2.8.2004, arts. 12 a 17).
As letras imobiliárias emitidas por sociedades de crédito 30
imobiliário terão preferência sobre os bens do ativo da sociedade Cédula de Crédito Imobiliário
emitente em relação a quaisquer outros créditos contra a socie- Representa créditos imobiliários, podendo ou não ser garan-
dade, inclusive os de natureza fiscal ou parafiscal (art. 44, § 2 , da tida por direito real. Pode ser de valor integral ou fracionado
L 4.380/64). (L 10.931/2004, arts. 18 a 25).
98 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL

31 Cédula de Crédito Bancário SEGUNDA PARTE — TEMAS VARIADOS


Emitida por pessoa física ou jurídica, em favor de instituição
financeira ou similar, representando promessa de pagamen to. Dis-
pensa protesto para garantir cobrança contra endossantes, seus
1. A investigação da causa debendi 2. Defesa do avalista basea-
avalistas e terceiros garantidores (L 10.931/2004, arts. 26 a 45). da na causa debendi 3. Título vinculado a contrato — 4. Obri-
gação cambial por procuração — 5. Títulos "abstratos" e títulos
"causais" 6. Pagamento parcial — 7. Pro solvendo pro so-
2. Títulos do agronegócio luto 8. Cláusulas extravagantes — 9. Duplicata simulada. Sus-
A L ei 11.076, de 30 .12.2004, criou os seguintes títulos liga- tação de protesto e execução contra o emitente-endossante.
dos ao agronegócio:
a) Certificado de Depósito Agropecuário - CDA Warrant
Agropecuário - WA, que são títulos geminados, em tudo seme- 1. A investigação da "causa debendi"
lhantes ao C onhecimento de Depósito ou ao Warrant (art. 1");
b) Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio - O devedor, pode discutir a origem da dívida, ou a causa
CDCA, com caráter de promessa de pagamento, nos moldes da debendi, quando o título ainda se encontra em poder do bene-
Nota Promissória (art. 24); ficiário originário da transação, ou de terceiro de má-fé (RT 468/
c) Letra de Crédito do Agronegócio L C A , semelhante à Le- 186, 491/118, 534/185).
tra de Câmbio, mas de emissão exclusiva de instituições finan- Considera-se terceiro de má-fé o portador que conhecia o ne-
ceiras (art. 26); gócio subjacente, a quem o título foi transferido apenas para difi-
d) Certificado de Recebíveis do Agronegócio CRA, que é um cultar a defesa do devedor, ou, como diz a L ei Uniforme das Le-
título de crédito nominativo, de emissão ex clusiva das companhias tras, terceiro de má -fé é o portador que ao adquirir a letra proce-
securitizadoras de direitos creditórios do ag ronegócio (art. 36). deu conscientemente em detrimento do devedor (art. 17).
"O título de crédito, entre partes imediatas, não modifica,
não amplia, nem restringe os efeitos legais da dívida originária,
tudo continuando disciplinado pela relação contratual na qual o
título se inseriu" (João Eunápio Borges, Títulos de Crédito, Fo-
rense, Rio, 1977, p. 154).
"Entre as partes, obviamente, a causa dessa emissão ou
criação do título poderá ser invocada, processualmente, por via
do direito pessoal do réu contra o au tor" (Waldírio B ulgarelli, Tí
tulos de Crédito, Direito Comercial III, A tlas, 1979, p. 57).
No mesmo sentido: Saraiva, A Cambial, § 270, p. 700; Brás
Arruda, Decreto 2.044, v. I, p. 202; Alfredo Rocco, Studi di
Diritto v. 2, p. 107; Giuseppe Ferri, Manuale
Diritto Commerciale, pp. 606, 607 e 621.

2. Defesa do avalista baseada na "causa debendi"

Predomina quase que totalmente na doutrina e na jurispru-


dência o entendimento de que o avalista não pode opor ao credor
10 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO 01
a nulidade da obrigação do avalizado, por ser o aval uma obriga- Título vinculado a contrato
ção autônoma e independente. A própria Lei Uniforme das Le-
tras dispõe expressamente que a obrigação do avalista mantém- De acordo com a jurisprudência predominante, a cambial per-
se mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por de a autonomia e abstração quando a sua emissão e circulação es-
qualquer razão que não seja um vício de forma (art. 32, al. 2). tão vinculadas a um contrato, ficando então sujeita às cláusulas
contratuais a que se vinculou (R 495/170, 512/220, 526/221).
Contudo, parece errônea a aplicação indiscriminada do texto
A vinculação pode também ser oposta ao endossatário que
citado, pois há que distinguir se o título está ou não em poder de
estava ciente do vínculo por ocasião do endosso, atráves de dize-
endossatário de boa-fé. Se o título ainda não foi endossado, ou se
res expressos no próprio título ou por qualquer outra forma (R
estiver em poder de terceiro de má-fé, não existirá ainda autono-
304/746, 410/232, 497/124; RTJ 45/52, 73/635; Franceschini, Tí-
mia absoluta, mas apenas relativa ou juris tantum, podendo, tulos de Crédito, ementas 5.124 e 5.126).
portanto, o avalista discutir também a validade do negócio
subjacente. A subordinação da eficácia da ordem ou da promessa a ques-
tões extracambiais suprime o caráter cambial do documento (cf.
"Só a efetiva circulação acarreta o surgimento dos proble- Giuseppe Fe?ri, Manuale di Diritto Commerciale, UTET, Tori-
mas característicos dos títulos de crédito e a aplicação das nor- no, 1977, p. 641).
mas com eles relacionadas" (Giuseppe Ferri, Manuale di Diritto
Commerciale, UTET, Torino, 1977, p. 607). "A promessa abstra-
ta forma presunção juris da existência real de causa entre as 4. Obrigação cambial por procuração
partes que diretamente entraram no acordo. Constitui porém
A obrigação cambial (emissão, saque, aceite, endosso, aval)
presunção juris et de jure para as partes que não estiveram em
pode ser assumida através de mandatário com poderes especiais.
contato direto" (Saraiva, A Cambial, § 270).
O analfabeto não pode assumir obrigação cambial direta-
Ensina o grande Pontes de Miranda que não se deve colocar mente, mas somente através de procuração a terceiro, por ins-
o avalista em situação inferior à do avalizado (Tratado de Direito trumento público. Entendem os autores que o cego também só
Privado, Borsói, t. MV, 1961, § 3 .987 , 5, p. 38 5). Paulo J. d pode obrigar-se cambialmente por procuração, salvo se todo o
Silva Pinto também ensina que contra o portador de má-fé pode texto da cambial foi por ele escrito.
o avalista opor exceções causais e todas as defesas pessoais (Di-
O procurador fica obrigado pela letra se agir sem procura-
reito Cambiaria Forense, Rio, 1951, p. 485).
ção, ou com excesso de mandato (art. 892 CC). Fica também obri-
E Giuseppe Ferri observa que, de acordo com a doutrina do- gado se assinar sem ressalva expressa de que o faz em nome de
minante, chega-se ao absurdo de pagar o avalista ainda que não outrem (art. 663 CC).
obrigado o avalizado, podendo o primeiro reclamar do segundo a A jurisprudência anterior admitia muitas vezes como válida
soma paga, e este, por sua vez, podendo reclamar do portador a a procuração dada pelo devedor à empresa credora, ou a uma
soma paga indevidamente pelo avalista (Manuale di Diritto subsidiária desta, para a emissão oportuna de promissórias, em
Commerciale, UTET, Torino, 1977, p. 656). nome do devedor, nos termos do contrato (credor-mandatário),
Por isso, parecem mais adequadas, embora em minoria, as como ocorria de praxe nos cartões de crédito e nos cheques espe-
decisões que, no caso, acolhem a defesa do avalista. "Havendo ciais (R 503/201, 536/201, 543/159).
má-fé por parte do autor, e não tendo o título entrado em circula- Nos julgados mais recentes, porém, tal procedimento não
ção, o avalista pode opor, na própria ação executiva, defesa fun- vem sendo mais aceito, considerando-se que no caso há um des-
dada na falta de causa, porque, em tal conjuntura, não se pode virtuamento do mandato (RT 701/199, 716/278, 720/141).
negar ao coobrigado a exceção, forçando-o a demandar posterior- Nos termos da Súmula 60 do STJ, "é nula a obrigação cam-
102 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO 03

E, para o Có digo de Defesa do C onsumidor, a cláusula que Nessa hipótese, as promissórias, como ressaltou, em voto, o
imponha tal procuração é nula (art. 51, VIII, do CDC). Min. Nélson Hungria, constituem simples "tentativa de paga-
mento", segundo a expressão incisiva de Staub. No segundo
5. Títulos "abstratos" e títulos "causais"
caso, são pagamento consumado (Questões de Direito Civil, p.
429), porque as cambiais, que não representam contrato, são en-
uitos autores classificam os títulos de crédito em "ab stra- tregues em solução da dívida" (RT 459/163).
tos" e "causais". Títulos abstratos seriam os que independem do
negócio subjacente, como a letra de câmbio e a nota promissória.
E títulos causais seriam os emitidos em razão de um determina- 8. Cláusulas extravagantes

do negócio, como a duplicata e o conhecimento de transporte. Cláusulas extravagantes são as não previstas na lei cambial,
Tal classificação, porém, é não só inadequada, mas também situadas geralmente fora do contexto, no verso ou no anverso do
responsável por mu itas confusões existentes em matéria de títu- título, inseridas pelas partes, preocupadas com algum detalhe do
los de crédito. negócio, esquecidas ou ignorantes do formalismo cambial.
No c ontexto, abstrato ou causal não é o título em si, ou a sua Às vezes tais cláusulas são indiferentes. Outras vezes, po-
emissão, mas apenas o momento da criação do mesmo, antes da rém, contradizem, condicionam e põem em dúvida algum requi-
entrega ao portador. Assim, mais correta e menos sujeita a con- sito cambial.
fusões seria a classificação em títulos de criação livre (letra, pro-
missória) e títulos de criação vinculada (duplicata, warrant), vez A simples existência desses escritos adicionais deveria anu-
que após a emissão e a circulação todos eles, em princípio, se tor- lar o título, pois a cambial só admite um único con texto, redigido
nam abstratos. de acordo com a lei, e formado por um corpo contínuo.
O rigor da formulação cambial, porém, não é atendido intei-
6. Pagamento parcial ramente nem pela doutrina, nem pela jurisprudência. E nem
pela própria lei, que, conforme o caso, às vezes prescreve a nuli-
Em caso de pagamento parcial, quem paga deve exigir dupla dade do título, e às vezes considera a cláusula simplesmente não
quitação, uma por recibo e outra no próprio título (art. 22, § 2°, escrita (D 2.044, art. 44, IV, e § 2°; Lei Uniforme das Letras,
do D 2.044/1908) e art. 902, § 2°, CC ). arts. 2° e 9°).
Todavia, é mister que se entenda esse dispositivo legal não Na verdade, poderíamos dizer que o contexto-padrão seria o
com um rigorismo absoluto, pois seria permitir o locupleta- núcleo necessário do título, e as cláusulas extravagantes seriam
mento ilícito em detrimento do devedor. Existindo prova plena contextos complementares, formando tudo a declaração cam-
dos pagamentos parciais, embora não anotados no título, essa bial, a ser examinada.
prova deve ser aceita.
O pagamento parcial não desnatura a cambiariedade do títu- A solução do prob lema das cláusulas extravagantes exige do
lo executivo, que, por isso, continua sendo exigível por execução intérprete uma penosa e tríplice distinção.
forçada, pelo saldo (RT 459/199, 489/156, 508/248). A primeira distinção é verificar se a cláusula extravagante
No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ain- atinge ou não um requisito essencial do título, como a soma de
da que parcial (art. 902, § P, C C). dinheiro e a promessa de pagamento, ou apenas um requisito se-
cundário ou suprível, como a data do vencimento e o lugar da
emissão (sobre os requisitos secundários ou supríveis, ver arts.
7. "Pro solvendo" e `gi ro soluto" 2° e 76 da L ei Uniforme das Letras).
"As promissórias podem ser emitidas pro solvendo e pro
soluto. No primeiro caso, lembra Orlando Gomes, o preço so-
A segunda distinção é verificar quem é o autor da cláusula
10 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ÍTULOS DE CRÉDITO 05
A terceira e mais dificil distinção é verificar se a cláusula está 9. Duplicata simulada. Sustação de protesto
ou não em conflito direto e inarredável com requisito essencial. e execução contra o emitente-endossante
Se a cláusula ex travagante atinge apenas um requisito secun-
dário, sobrevive a camb ial, e a cláusula considera-se não escrita. Tem-se tornado comum a emissão de duplicatas "frias", que
não correspondem a vend a efetiva de mercadoria, sacadas ape-
Se a cláusula extravagante foi inserida por outro que não o nas para a obtenção do desconto bancário, com o adiantamento
emitente, permanece também viva a cambial, e o seu sistema, do valor respectivo, ou de parcela desse valor, em favor do emi-
valendo a cláusula nos pontos em que não conflita com requisito tente-endossante. E tem -se tornado também comum a sustação
essencial. dos protestos de tais títulos contra os sacados, bem como as
Mas se a cláusula foi inserida pelo próprio emitente e confli- ações declaratórias de inexistência de obrigação entre sacador e
ta, de modo direto e inarredável, com um requisito essencial, sacado.
surge então a nulidade da própria cambial. Não há cambial. Diante disso, qual a situação do portador-endossatário? Po-
Entre as cláusulas que podem fulminar algum requisito es- derá ele executar o sacador-endossante, apesar de sustado o pro-
sencial do título estão as cláusulas condicionais. Como dizem testo e apesar denulidade da relação entre o sacador e o sacado?
Graziani e Minervini, "a obrigação cambiária não tolera condi-
ções" (Manuale di Diritto Commerciale, Morano Editore, Napoli, José Júlio Villela Leme, citando decisões de Paulo Restiffe
1974, p. 341). Ne tto e Oscarlino Mo eller, ensina que, "na realidade, o protes-
to não assegura o direito de regresso, apenas prova que o título
De acordo com os mestres, anulam o título as seguintes foi apresentado ao sacado. A apresentação dentro do prazo é
cláusulas: "pagarei a Fulano, tanto, se receber a mesma quantia que assegura o direito de regresso. A L ei 2.044, no art. 20, com
que Beltrano me deve" (M agarinos Torres, Nota Promissória, p. excelente técnica, deixou claro que a letra deve ser apresenta-
61); "pague nos termos da minha carta, ou do nosso contrato de da ao sacado ou aceitante para o pagam ento no prazo, sob pena
tal data" (Whitaker, Letra de Câmbio, p. 86); "pagará V, por esta, de perder o portador o direito de regresso. A falta de apresenta-
a F, se F antes assinar o contrato que está preparado entre nós ção é que ocasiona esta perda. (...) Por isso, o envio oportuno da
três" (Pontes de M iranda, Tratado de Direito Privado, t. )QQUN, duplicata a protesto garante o direito de executar o endossante
p. 176). e seus avalistas, quando o ato se consuma pelo obstáculo judi-
"A matéria pode ser resumida no seguinte: nula é a letra cial da sustação. E se é o envio (apresentação) a cartório que ga-
com restrição ou exclusão da capacidade do sacador; não escrita rante o direito de regresso, não há que se aguardar o resultado
é qualquer cláusula restringindo, ampliando ou excluindo a res- da ação ordinária declaratória ou anulatória do título, entre sa-
ponsabilidade de qualquer outra parte (credor ou devedor) na le- cado e emitente, para o início da execução" ("Execução contra
tra" (Brás Arruda, Decreto 2.044, v. II, p. 104. No mesm o senti- emitente nas sustações de protesto", O Estado de S. Paulo,
do: Lacerda, A Cambial no Direito Brasileiro, p. 32; Saraiva, A 26.4.81, p. 67).
Cambial, p. 552) (ver tb. RT 440/144; JTACSP 19/145).
No caso d as ações declaratórias de inexistência de obrigação
A cláusula estipulando pagamento em prestações anula a le- entre sacador e sacado, costumam as sentenças ressalvar os di-
tra, por atingir a soma em dinheiro, elemento essencial do título reitos do endossatário de boa-fé, liberando-o para a execução
(R 172/353).' contra o emitente-endossante. Firma-se o entendimento de que
"a autonomia das relações cambiárias permite que seja declara-
da a nulidade de uma delas (sacador-sacado) sem que o seja a da
1. Nos termos do art. 890 Código Civil: "Consideram-se não escritas no
título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabi- outra entre sacador e endossatário. Não se trata de uma só rela-
lidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de ter- ção jurídica, mas de duas autônomas, com vida e pressupostos
mos e formalidades prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua independentes" (R 563/134).
10 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL

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José A. Saraiva. A Cambial, Rodrigues Cia., Rio, 1912. O mestre Nélson Ab rão define o D ireito Bancário como "o
José Júlio Villela Leme. "Execução contra emitente nas sustações de protes- ramo do D ireito Comercial que regula as operações de banco e a
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gestões Literárias, SP, 1973. O Direito Bancário é um Direito profissional, voltado aos
Mauro Brandão Lopes. Natureza e Regime Legal do Ch eque "Bancário", Ed que de modo habitual praticam operações bancárias. Além da
RT, SP, 1978. profissionalidade, caracteriza-se também o Direito Bancário pela
Mauro Grinberg. "Cheque especial ou garantido", artigo, RT-Informa 204/9. sua tendência para a adoção de normas de ordempública e de
Octávio Médici. Letra de Câmbio e Nota Promissória, Jalovi, Bauru, 19 78.
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WaldirioBulgarelli. Títulos de Crédito, Direito Comercial III, Atlas, SP, 1979 As instituições financeiras privadas constituem-se sob a for-
"O cartão de crédito e suas projeções jurídicas", artigo, RF 253/143.
ma de sociedades anônimas (salvo as cooperativas de crédito), e
só podem funcionar m ediante prévia autorização do Banco C en-
tral do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem es-
trangeiras (L 4.595, de 31.12.64, arts. 18 e 25).
10 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL IREITO BANCÁRIO 09

A atividade financeira é privativa das instituições financei- Bancos de investimento. São instituções financeiras espe-
ras. Quaisquer pessoas físicas ou jurídicas que atuem como insti cializadas em financiamentos, mediante a aplicação de recursos
tuição financeira sem autorização legal ficam sujeitas a multas e próprios ou de terceiros.
detenção, de um a dois anos, ficando esta sujeitos, quando pes- Bancos agrícolas. São os que operam na área rural, conce-
soa jurídica, seus diretores administradores (L 4.595/64, art. 44, dendo crédito às atividades da lavoura e da pecuária, inclusive
). Competem ao Banco Central do Brasil a fiscalização perma- na aquisição de implementos agrícolas.
nente das instituições financeiras bem como a aplicação das pe- Bancos múltiplos. São os que se dedicam a mais de uma es-
nalidades. Competem-lhe ainda a intervenção e a liquidação pecialidade, como, por exemplo, depósitos e investimentos.
extrajudicial. Casas bancárias. São empresas bancárias de porte relativa-
Os diretores e gerentes das instituições financeiras respon- mente menor, com um leque também mais reduzido de serviços
dem solidariamente pelas obrigações assumidas pelas mesmas prestados.
durante sua gestão, até ue elas se cumpram. Cooperativas de crédito. São sociedades civis, organizada
As instituições financeiras, seus diretores, membros de con- para a concessão de empréstimos aos associados, a juros módicos.
selhos administrativos, fiscais semelhantes e gerentes estão Sujeitam-se ao controle do Conselho Nacional do Cooperativismo,
sujeitos às seguintes penalidades, sem prejuízo de outras ao Conselho Monetário Nacional e ao Banco Central do Brasil.
estabelecidas em lei: advertência, multa, suspensão do exercício Caixas econômicas. São instituições financeiras que têm por
de cargos, inabilitação temporária permanente para o exercí- finalidade principal a coleta e a aplicação da poupança popular.
cio de cargos, cassação autorização de funcionamento, deten-
ção e reclusão (L 4.595/64, art. 44).
Bancos de emissão
Bancos com erciais ou de depósit
3. Espécies de empresas bancárias Bancos hipotecários ou de crédito real
Bancos de crédito industrial
ESPÉCIES DE Bancos de investimento
As empresas bancárias podem ser assim classificadas: EMPRESAS - Bancos agrícolas
Bancos de emissão. São instituições autorizadas a emitir BANCÁRIAS Bancos múltiplos
moeda, chamando-se por isso "bancos dos bancos". Casas bancárias
Cooperativas de crédito
No Brasil, compete privativamente ao Banco Central do Caixas econômicas
Brasil emitir moeda-papel e moeda metálica, nas condições e
limites autorizados pelo C onselho M onetário N acional (art. 10, 1,
da L 4.595/64). 4. O Sistema Financeiro Naciona
Bancos comerciais ou de depósito. ão bancos comuns. O Sistema Financeiro Nacional é composto dos seguintes
Recebem depósitos, emprestam, fazem cobrança pagamentos, órgãos: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil,
alugam cofres, guardam valores, descontam títulos, transferem Banco do Brasil S/A, Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
dinheiro etc. nômico e Social e demais instituições financeiras públicas e pri-
Bancos hipotecários ou de crédito real. Sã os que se dedi- vadas (L 4.595/64).
cam, de modo exclusivo ou não, à concessão de empréstimo me- O Conselho Monetário Nacional, órgão de cúpula, formula
diante garantia de imóveis. política da moeda e do crédito, regulando disciplinando toda a
Bancos de crédito industrial. São os que têm por finalidade o atividade financeira do País. É integrado pelo Ministro da Fazen-
auxílio à indústria nacional, por meio de empréstimos longo da outras autoridades da área econômica.
prazo, garantidos geralmente por penhor industrial, hipoteca ou Banco Central do Brasil é uma autarquia federal, co
11 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL IREITO BANCÁRIO 11

normas do Conselho Monetário Nacional. Entre suas inúmeras cessita da autorização do B anco Central. D as decisões do inter-
atribuições, compete-lhe emitir moeda, controlar o crédito, fis- ventor cabe recurso, sem efeito suspensivo, ao Banco Central,
calizar as instituições financeiras etc. no prazo de 10 dias da respectiva ciência.
Banco do Brasil SIA é uma sociedade de economia mista, A intervenção produz, desde a decretação , os seguintes efei-
que atua como agente financeiro do Tesouro Nacional. Entre as tos: a) suspende a exigibilidade das obrigações vencidas; b) sus-
suas muitas atribuições, compete-lhe receber as importâncias pende a fluência do prazo das ob rigações não vencidas; c) blo-
provenientes da arrecadação de tributos, difundir e orientar o queia os depósitos existentes à data da decretação.
crédito, suplementando a ação bancária, etc. Cessa a intervenção se os negó cios da instituição financeira
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é voltarem ao norm al, se for decretada a liquidação extrajudicial,
uma em presa pública, cujo objetivo é o de ser o principal instru- ou se for decretada a falência.
mento de execução política de investimentos do Governo Fede-
ral (art. 23 da L 4.595/64; L 1.628, de 20.6.52). liquidação extrajudicial

Organização do Sistema Financeiro Nacional


Não tendo sido possível fazer com que a empresa voltasse à
normalidade, durante o período de intervenção, poderá o B anco
Conselho Monetário Nacional
Central decretar, em acréscimo, a liquidação extrajudicial da
Banco Central do Brasil
mesma, com efeitos semelhantes aos de uma falência. Aliás, a li-
quidação extrajudicial pode também ser decretada diretamente,
Banco do Brasil S/A sem se passar pela intervenção, dependendo da gravidade d os fa-
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social tos determinantes.
Outras instituições financeiras públicas A liquidação extrajudicial é executada por um liquidante,
Instituições financeiras privadas nomeado pelo Banco Central, com amplos poderes de adminis-
tração e liquidação. Pode o liquidante verificar e classificar os
créditos, nomear e demitir funcionários etc. De suas decisões
5. Intervenção
e liquidação extrajudicial
cabe recurso ao Banco Central, sem efeito suspensivo, dentro de
10 dias da respectiva ciência.
As instituições financeiras privadas e as públicas não fede- A decretação da liquidação extrajudicial produz de imediato
rais, assim como as cooperativas de crédito, estão sujeitas a in- vários efeitos, como a suspensão das ações e execuções indivi-
tervenção e a liquidação extrajudicial, em ambos os casos efetua- duais, o vencimento antecipado das dív idas, a não fluência de ju-
da e decretada pelo Banco C entral do Brasil (L 6.024, de 13.3.74). ros, enquanto não integralmente pago o principal, etc.'
Aplicam-se à liquidação extrajudicial as disposições da Lei
intervenção de Falências, no que for cabível, ficando o liquidante equiparado
Dar-se-á a intervenção se houver alguma anormalidade na ao síndico, e o Banco C entral equiparado ao juiz da falência.
instituição financeira, como prejuízos consideráveis decorrentes A liquidação extrajudicial cessa com a normalização da em-
de má administração, infrações reiteradas à legislação bancária, presa, com a transformação em liquidação ordinária, com a apro-
ou situação de falência. vação das contas finais do liquidante e baixa no registro púb lico
período de intervenção é de seis meses, prorrogável, no competente, ou com a decretação da falência. A falência da enti-
máximo, por mais seis meses. Ao decretar a intervenção, o Ban- dade será requerida pelo liquidante se o ativo for inferior a 50%
co Central nomeia um interventor. O interventor tem plenos po-
1. Na intervenção ou liquidação extrajudicial os créditos são atualizados
deres de gestão, salvo no que se refere à disposição ou oneraç ão pelos índices oficiais (art. 46 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó-
de bens e à admissão e demissão de pessoal, hipótese em que ne- rias; art. 33 do DL 2.284/86; art. 9° da L 8.177/91).
11 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL IREITO BANCÁRIO 13

dos créditos quirografários, ou quando houver indício de crime arresto, deve o Ministério Púb lico propor a ação de responsabi-
falimentar. lização (art. 46).
Outras empresas sujeitas a intervenção
A indisponibilidade de bens e liquidação extrajudicial
A intervenção, a liquidação ex trajudicial e a falência das ins-
tituições financeiras acarretam automaticamente a indisponibi- De modo sem elhante ao que ocorre com as instituições fi-
lidade de todos os bens de seus administradores, até a apuração nanceiras, há outras leis que também determinam a interven-
e liquidação final de suas responsabilidades. A medida alcança ção e a liquidação extrajudicial em certos tipos de empresas. A
todos os administradores que tenham estado no exercício das matéria não está sistematizada, não se podendo apresentar um
funções nos 12 m eses anteriores. esquema-padrão de processamento. Cada lei de intervenção deve
ser examinada em separado, com suas particularidades próprias.
Por proposta do Banco Central do Brasil, aprovada pelo Con-
selho M onetário Nacional, a indisponibilidade poderá ser esten- A intervenção e a liquidação extrajudicial aplicam-se às se-
dida aos bens de gerentes, conselheiros fiscais e aos de todos guintes empresas: instituições financeiras, cooperativas de cré-
aqueles que, até o limite da responsabilidade de cada um, te- dito, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, corretoras
nham concorrido, nos últimos 12 meses, para a decretação da in- de câmbio (L 6.024, de 13.3.74); companhias de seguro (DL 73, de
tervenção ou da liquidação extrajudicial. E tamb ém aos bens de 21.11.66); cooperativas (L 5.764, de 16.12.71); consórcios, fundos
pessoas que, nos últimos 12 m eses, os tenham, a qualquer título, mútuos e distribuição gratuita de prêmios (L 5.768, de 20.12.71).
adquirido de administradores da instituição, ou das pessoas an-
teriormente referidas, desde que haja seguros elementos de con 6. Operações
vicção de que se trata de simulada transferência, com o fim de ou contratos bancários
evitar os efeitos da lei (art. 36, § 2° , da L 6 .024/74).
Sob o aspecto econômico ou técnico, dá-se o nome de opera-
ção ao ato realizado pelo banco, na sua atividade profissional.
restrição à locomoção Sob o aspecto jurídico, porém, dá-se ao mesmo ato o nome de
Os abrangidos pela indisponibilidade de bens não podem au- contrato. As operações bancárias caracterizam-se pelo seu con-
sentar-se do foro da intervenção, da liquidação extrajudicial ou teúdo econômico e pela execução em série ou em massa.
da falência sem prévia e expressa autorização do Banco Central De acord o com a classificação tradicional, as operações ban-
do Brasil ou do juiz da falência (art. 37). cárias dividem-se em operações fundam entais, como o depósito,
o desconto, a conta corrente, o empréstimo, e operações acessó-
O inquérito administrativo rias, como a guarda de valores, caixa de segurança, cobranças
etc.
Nos casos de intervenção, liquidação extrajudicial ou falên-
cia de instituição financeira, será sempre realizado um inquérito [depósito
desconto
administrativo pelo Banco Central do Brasil. O objetivo do in- Fundamentais onta corrente
quérito é o esclarecimento das causas da queda da instituição, empréstimo
bem como a apuração da responsabilidade civil e criminal das etc.
OPERAÇÕES
pessoas envolvidas (art. 41). BANCÁRIAS
Se for o caso, cabe ao M inistério Público, ao receber os autos .[guarda de valores
do inquérito administrativo, requerer em 8 dias o arresto de Acessórias
caixa de segurança
bens das pessoas que não tinham sido atingidas pela indispo- cobrança
nibilidade automática (art. 45). Em 30 dias após a efetivação do etc.
11 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL IREITO BANCÁRIO 15

7. Características do contrato bancário As Comissões Parlamentares de Inquérito podem obter in-


formações e documentos sigilosos diretamente das instituições
Para que se considere um contrato como bancário é neces-
financeiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil ou da
sário que uma das partes seja um banco (aspecto subjetivo) e que
Comissão de Valores Mobiliários. Mas as solicitações devem ter
seu objetivo seja uma intermediação de crédito (aspecto objeti-
a aprovação prévia do Plenário da Câmara dos Deputados, do Se-
vo) (cf. Covello, ob. cit., p. 35). No contrato bancário, sujeitos são
nado Federal, ou do plenário de suas respectivas comissões par-
o banco e o cliente, e o objeto é o crédito.
lamentares de inquérito (LC 105, art 4°, §§ 1° e 2°).
Covello aponta ainda como características peculiares do con-
trato bancário a contabilização rigorosa, a realização em série, o O sigilo bancário pode ser quebrado nos ilícitos penais, espe-
dirigismo estatal das operações e o sigilo (ob. cit., pp. 44 a 51). cialmente em modalidades graves, arroladas no art. 1°, § 4°, da
(O estudo particularizado
parti cularizado dos contratos bancários,
bancários, como
como o LC 105, como, por exemplo, terrorismo, tráfico de entorpecentes
depósito, a conta corrente, o desconto, o cartão de crédito etc., ou crimes contra a ordem tributária, na fase do inquérito ou do
encontra-se desenvolvido no volume próprio: Resumo de Obriga- processo judicial. Presume-se que apenas mediante ordem judi-
Contratos, v. 2 desta Coleção.)
ções e Contratos, cial, uma vez que não há referência a outras autoridades.
Resta observjr, com o tempo, a evolução da jurisprudência
sobre o tema, diante das modificações introduzidas.
8. Sigilo bancário
As instituições financeiras devem manter sigilo nas suas ope-
Bibliografia
rações e serviços, uma vez que a Constituição Federal dispõe que
são invioláveis os dados pessoais e a intimidade (art. 5°, X e XII). Eli Rosendo. O que Todos Devem Saber sobre Bancos, Ediouro, 1980
Constitui crime a quebra do sigilo (LC 105, de 10.1.2001, art. Gilberto Nóbrega. Depósito Bancário, Ed. RT, 1966.
10).
10 ). O sigilo abrange a movimentaç
movimentação ão ativa e passiva do cor- Lauro Muniz Barreto. Direito Bancário, Universitária de Direito, 1975.
rentista/contribuinte, bem como os serviços a ele prestados (R Nélson Abrão. Direito Bancário, Ed. RT, 1996.
743/431). Sérgio Carlos Covello. Contratos Bancários, Saraiva, 1981; O Sigilo Bancá-
Na vigência da legislação anterior, centrada principalmente rio, Leud, SP, 199 1.
no revogado art. 38 da lei bancária e de mercado de capitais (L
4.595/64), predominou sempre o entendimento de que a quebra do
sigilo bancário somente seria possível mediante autorização pré-
via do Judiciário. Competência igual, embora não unânime na
doutrina, tinham, como ainda têm, as Comissões Parlamentares
de Inquérito.
Mas a citada Lei Complementar 105, de 10.1.2001, que dis-
põe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras, trou-
xe nova ordenação da matéria, com destaque nos pontos a seguir
abordados.
O Fisco, independentemente de autorização judicial, poderá
examinar dados das instituições financeiras, inclusive referen-
tes a contas de depósitos e aplicações financeiras, havendo pro- operações efetuadas pelos usuários de seus serviços, de valor superior a
cesso administrativo ou procedimento fiscal em curso (LC 105, R$ 5.000,00 (pessoas fisicas) e R$ 10.000,00 (pessoas jurídicas). Contudo, "a
art. 6°, e D regulamentar 3.724, ambos de 10.1.2001). prestação de informações sobre operações financeiras, na forma estabelecida
pela Secretaria da Receita Federal, em decorrência do disposto no § 2° do art.
11 da Lei n. 9.311, de 24 de outubro de 1996, por parte das instituições finan-
2. V. D 4.489, de 28.11.2002, DOU 29.11.2002, que determina às institui- ceiras, supre a exigência de que trata o Decreto n. 4.489, de 28 de novembro
ções financeiras o envio à R eceita Federal
F ederal de informações
informações contínuas sobre de 2002" (art. 1° do D 4.545, de 26.12.20 02).
FALÊNCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAÇÕES
RECUPERAÇÕES 17

RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

1. Objetivo da lei
O objetivo da lei é o de oferecer oportunidade para evitar a
decretação da falência e viabilizar a superação da crise econômi-
ca da empresa deve dora (art. 47). Para isso o legislador estabele-
estabele-
ceu um sistema articulado de recuperação judicial, recuperação
Capítulo VI extrajudicial e falência.
A em presa devedora, pela nova lei, tem as seguintes opções:
FALÊNCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAÇÕES
1) ingressar diretamente em juízo, requerendo a recuperação ju-
dicial, com o compromisso de apresentar, em 60 dias, um plano
de recuperação; 2) negociar primeiro com os credores, requeren-
Introdução do depois em juízo a homologação do acordo extrajudicial conse-
A Lei 11.101, de 9.2.2005, regula a recuperação de empresas guido; 3) tendo um credor lhe requerido a falência, pedir a recu-
e as falências, tendo entrado em vigor no dia 9.6.2005 (120 dias peração judicial, no prazo da defesa.
após a publicação). Os devedores em regime de concordata
concordata preventiva ou sus-
Vigência paralela da lei anterior. A nova lei será aplicada às pensiva podem também requerer recuperação judicial, extin-
falências decretadas após sua vigência. Mas as falências decreta- guindo-se a concordata (art. 192, §§ 2° e 3°).
das anteriormente continuarão a ser processadas pela lei ante- A lei destina-se ao empresário, ou sociedade empresarial,
rior (DL 7.661/45), até a sua conclusão, conforme determina o assim considerado quem exerce profissionalmente atividade eco-
art. 192 da lei atual. nômica organizada, para a produção ou a circulação de bens ou
Contudo, mesmo as falências que seguem o regime anterior de serviços. Não se considera empresário quem ex erce profissão
sofreram alterações, com referência à liquidação do ativo e à intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
concordata suspensiva. com o concu rso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercí-
cio da profissão constituir elemento de empresa (CC art. 966).
A liquidação do ativo, com a venda d os bens da massa inicia-
se agora logo após a arrecadação (L. 11.101, art. 192, § P), e a
concordata suspensiva foi abolida, prosseguindo apenas as que já 2. Recuperação judicial
tinham sido concedidas (L. 11.101 , art. 192). O devedor pode requerer recuperação judicial para restabe-
lecer a normalidade econômico-financeira da empresa (art. 47).
Preenchidos os requisitos legais, será deferido o processamento
do pedido (art. 52), sendo concedido ao requerente o prazo de 6
PRIMEIRA PARTE - LEI ATUAL (L. 11.101/05) dias para apresentar o plano de recuperação (art. 53).
A) Recuperação de empresas: I. Objetivo da lei - 2. Recuperação A sentença que defere o processamento do pedido suspende
judicial: 2.1 Recuperação judi cial de microempresas e empresas de
pequeno porte - 3. Recuperação extrajudicial - 4. Participantes, na
por até 180 dias o curso da prescrição e das ações e execuções
recuperação judicial e na falência - B) Falência (L 11.101/05): 1. contra o devedor (art. 6‘', § 4°).
Definição de falência - 2. Hipóteses de decretação de falência - 3.
Andamento
Andamento da falência - 4. Classificação
Classificação dos créditos: 4.1 Créditos
Qualquer credor pode oferecer objeção ao plano, no prazo de
extraconcursais
extraconcursais (art.
(art. 84); 4.2 Créditos concursais (art. 83, I a VIII) - 30 dias, da publicação do rol de credores (art. 55).
5. Créditos trabalhistas. Inconstitucionalidade
Inconstitucionalidade de sua limitação - Havendo oposição — basta a de um único credor — o juiz con-
6. Contratos do falido - 7. Pedido de restituição - 8. Continuação
provisória das atividades - 9. Crimes concursais (arts. 168 a 178) - voca a Assembléia-geral de credores. Na assembléia o voto de
cada credor será proporcional ao seu crédito (art. 38).
11 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ALÊNCIAS, CONCORDA TAS E RECUPERAÇÕES
RECUPERAÇÕES 19

Se a assem bléia rejeitar o plano, é decretada a falência (art. A assembléia-geral não é convocada para deliberar sobre o
56, § 4° ). Se aprovar o plano, será concedido o processamento da plano especial. M as poderá ser decretada a falência se for apre-
recuperação judicial (art. 58), podendo a assembléia indicar os sentada objeção de mais da metade dos créditos quirografários.
membros do Comitê de Credores (art. 56, § 2°).
Ao Comitê de Credores cabe acompanhar e fiscalizar a exe- 3. Rec uperação extrajudicial
cução do plano (art. 27, II, "a"), juntamente com o adm inistrador
judicial, bem como exam inar as contas deste (art. 27, I, "a"). Na recuperação ex trajudicial o devedor negocia diretamen-
Se não houver objeção de nenhum credor ao plano plano de recu- te com todos os credores, ou parte deles, para obter um acordo
peração apresentado, a Assembléia-geral não é convocada, ca- que torne possível a superação da crise econômica (arts. 161 a
167). Ficam excluídos os créditos tributários, trabalhistas e de
bendo ao juiz conceder a recuperação judicial, desde que atendi- acidentes do trabalho, os relativos à alienação fiduciária e outros
dos os requisitos legais, nomeando o administrador judicial. do art. 49, § 3°, bem como os referentes a contratos
contratos de câmbio
Concedida a recuperação, o devedor fica vinculado ao proce- para exportação nos termos do art. 86, II.
dimento por dois anos (art. 61), sendo decretada a falência no Obtido o acordo com o s credores, o plano é submetido ao Ju-
caso de descumprimento de obrigação assumida no plano (arts. diciário para litmologação.
73, IV, e 94, III). As obrigações cujo vencimento for além do pra-
zo de dois anos escapam ao procedimento, devendo o interessa- plano extrajudicial envolve apenas os credores que aderi-
do, no caso de descumprimento, promov er a execução ou reque- ram. M as obrigará todos os credores abrangidos,
abrangidos, se contar com a
rer a falência (art. 62). concordância de mais de 3/5 dos créditos de cada espécie (art.
163).
As empresas que, em lei anterior, eram
eram proibidas de reque-
rer concordata, estão também impedidas de requerer recupera- pedido de homologação será publicado no órgão oficial e
em jornal de grande circulação, no País ou nas localidades da
ção judicial ou extrajudicial (art. 198), salvo as empresas aéreas, sede e das filiais do devedor, com envio de cartas a todos os cre-
que foram excluídas da p roibição (art. 199). dores, podendo então ser impugnado no prazo de 30 dias da pu-
blicação.
2.1 Recuperação judicial de microempresas 'tendidos os requisitos legais, o juiz homologará o plano
e empresas de pequeno porte extrwdicial por sentença. No caso de indeferimento, por falta
Para estas empresas a lei oferece duas opções. Podem pedir de algum requisito, o devedor poderá voltar a negociar com os
a recuperação nos moldes do procedimento com um ou optar pela credores e apresentar novo pedido.
apresentação de plano especial (arts.(arts. 70 a 7 2). A opç ão deve ser
manifestada na inicial. 4. Participante s, na recuperação e na falência
plano especial abrange apenas os créditos quirografários. administrador judicial é nomeado pelo juiz, cabendo-lhe o
Salvo, como diz o art. 71, I, no que se refere a repasse de recur- exercício de funções específicas, de acompanham ento, execução
sos oficiais, certos créditos ligados à alienação fiduciária e ou- e fiscalização nas recuperações e n as falências (art. 22).
tros, citados
citados no art. 49, §§ 3 ° e 4°.
gestor judicial é pessoa indicada pela Assembléia-geral
plano especial deve ser apresentado
apresentado também no prazo de para assumir o gerenciamento da empresa em recuperação, no
60 dias da publicação do deferimento do processamento (art. 53). caso de afastamento de seus dirigentes, por incompatibilidade
Os débitos (só os quirografários), no plano especial, podem com as funções (art. 64, I a V ) ou por previsão no plano de recu-
ser divididos em até 36 parcelas mensais, com correção monetá- peração judicial (art. 64, V).
ria e juros de 12% ao ano, vencendo-se a primeira em 180 dias da A Assembléia-geral consiste na reunião de credores, convo-
data da distribuição do pedido de recuperação. cados para a deliberação de determinados assuntos, como apro-
12 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL ALÊNCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAÇÕES 21

var ou não o piano de recuperaç ão ou definir modalidades espe- d) Autofalência. O devedor requer em juízo a sua própria fa-
ciais de realização do ativo nas f alências (art. 35). lência (arts. 97, I, e 105).
O Comité de Credores é formado por pessoas que podem ser e) Não apresentação de plano de recuperação no prazo legal
indicadas pela Assembléia-geral, se esta decidir pela sua criação, (art. 73, II).
para acompanhar e fiscalizar a recuperação judicial ou a falência I) Descumprimento de plano de recuperação (arts. 73, IV, e
(arts. 26 e 27). 94, III, "g").

3. Andamento da falência
FALÊNCIA (L 11.101/05)
A falência pode ser requerida por um credor ou, na autofa-
lência, pelo próprio devedor.
1. D efinição de falência No caso de insolvência, o requerente deve instruir o pedido
A falência é um processo de ex ecução coletiva, em que todos com o título executivo protestado. São títulos executivos: o che-
os bens do falido são arrecadados para uma venda judicial força- que, a duplicata, a nota prom issória e outros, referidos nos arts.
da, com a distribuição proporcional do resultado entre todos os 584 e 585 do Có digo de Processo Civil.
credores, de acordo com um a classificação legal de créditos. Citado, o devedor tem o prazo de 10 dias para contestar ou
O instituto da falência abrange a atividade em presarial, con- depositar o valor exigido (art. 98). No mesmo prazo pode ele re-
siderando-se empresários ou sociedades empresárias os que querer recuperação judicial (art. 95), ficando neste caso sus-
exercem profissionalmente atividade econômica organizada penso o processo de falência.
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (CC art. A sentença que decreta a falência, entre outras medidas, no-
966). meia o administrador judicial (denominado síndico na lei ante-
rior), convoca, se for o caso, a Assemb léia-geral de Credores, fixa
2. Hipóteses de decretação de falência o prazo para habilitação de créditos, suspende ações e execuções
contra o falido (uma vez que o juízo da falência torna-se o juízo
A Lei 11.101 prevê as seguintes hipóteses de decretação de universal), permite ou não a continuação provisória das ativida-
falência. des do falido com o adm inistrador, fixa o prazo legal (período sus-
a) Impontualidade. Não pagamento no vencimento de obri- peito), etc. (art. 99).
gação líquida con stante de título executivo protestado. Nesta hi- Da sentença que decreta a falência cabe agravo (em 10 dias —
pótese — e só nesta — a dívida terá de ser superior a 40 (quarenta) art. 522 CPC ), e da sentença que decide pela improcedência do
salários mínimos na data do pedido de falência, podendo referir pedido cabe apelação (em 15 dias — art. 508 CPC)
se a um ou mais títulos, de um ou mais credores, reunidos em O administrador judicial arrecada e avalia todos os bens do fa-
litisconsórcio ativo (art. 94, I, e § 1°). lido, elabora o auto de arrecadação, verifica os créditos, a conduta
b) Execução frustrada. O devedor executado, não paga, não e a escrituração do falido, representa a massa falida, elabora o
deposita, nem nomeia b ens suficientes à penhora no prazo legal. Quadro-geral de Credores, preside as reuniões da Assembléia-ge-
Neste caso o título pode ser de qualquer quantia, não havendo o ral de Credores, tudo sob a orientação do juiz — e, se houver, as do
requisito da quantia mínima (art. 94, II). Comitê de C redores —, elabora relatórios e presta contas
c) Prática de ato de falência. Prática de certos atos suspeitos, Logo apó s o auto de arrecadação pode iniciar-se a venda dos
relacionados na lei, como liquidação precipitada, negócio simula- bens da m assa falida (caso o juiz não tenha deferido a continua-
do etc. Independe da existência de título vencido (art. 94, III). O ção provisória das atividades, do art. 99, XI). A alienação pode
credor, porém, deve demonstrar legítimo interesse, sob pena de abranger a empresa como um todo, ou parte dela, as máquinas,
122 ESUMO DE DIREITO COM ERCIAL FALÊNCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAÇÕES 23

A venda pode ser feita por leilão ou por propostas, ou por b) Créditos com garantia real, como no penhor ou na hipote-
pregão, sendo este uma m odalidade mista, de propostas seguidas ca, até o limite do valor do bem gravado.
por um leilão, do qual participam somente os que ofereceram as c) Créditos tributários (exceto mu ltas tributárias).
melhores propostas. d) Créditos com privilégio especial sobre determinados bens,
Enquanto não se decide sobre a venda dos bens arrecadados, como o direito de preferência sobre a coisa salvada por despesas
o administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contra- do salvamento, e outros, inclusive os previstos no art. 964 do C ó-
to referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir digo Civil.
renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê (art. e) Créditos com privilégio geral, como as debêntures e ou-
114). O juiz pode autorizar a locação ou arrendamento de bens, tros créditos previstos no art. 965 do Có digo Civil.
para evitar a sua deterioração (art. 192, § 5°, acrescentado pela f) Créditos quirografários (art. 83, VI). São os créditos comuns,
lei n. 11.127, de 28 .6.2005).
sem as garantias legais ou convencionais dos créditos acima men-
A conduta do falido é avaliada, especialmente nos relatórios cionados, como cheques, duplicatas, notas promissórias etc.
do administrador judicial, podendo instaurar-se procedimento
penal, por crime concursal. Passam tam bém para esta classe, dos quirografários, os sal-
dos dos créditos%trabalhistas acima de 150 salários mínimos, os
Verificados os créditos e elaborado o quadro-geral de credo- créditos trabalhistas cedidos a terceiros, os saldos dos créditos
res passa-se para o pagamento destes, na conformidade da or- não cobertos pelo produto da venda d os bens vinculados ao seu
dem legal das preferências. pagamento.
Pagos os credores, o saldo, se ho uver, será entregue ao fali- g) Créditos subquirografários-A (art. 83, VII). São pagos so-
do (art. 153). mente após satisfeitos os quirografários. Referem-se a multas
Apresentado o relatório final do administrador judicial, o contratuais e penas pecuniárias por infração de leis penais ou ad-
juiz encerra a falência por sentença (art. 156). ministrativas, inclusive multas tributárias.
h) Créditos subquirografários-B (art. 83, VIII). Pagos somen-
4. Classificação dos créditos te após satisfeitos os quirografários e os subquirografários-A
A ordem das preferências, entre as diversas classes de cre- São os créditos subordinados, assim previstos em lei ou em
dores, divide-se em d uas categorias: os créditos extraconcursais contrato, e ainda os créditos dos sócios e dos administradores
e os créditos concursais. sem vínculo empregatício.
Crédito subordinado em lei pode ser a responsabilidade por
4.1 Créditos extraconcursais (art. 84) evicção, prevista no art. 447 do Có digo C ivil. Subordinado em
contrato será a debênture sem garantia, com cláusula de subor-
São os relativos à administração da massa falida, e são pagos dinação aos credores quirografários, prevista no art. 58, § 4° , da
com precedência sobre todos os demais, como a remuneração do Lei 6.404176 (Lei das S/A.).
administrador, despesas com arrecadação, certas custas judi- De um modo geral, créditos subordinados são os que Caio
ciais, tributos de responsabilidade da m assa falida, salários a se- Mário da Silva Pereira (Instituições de Direito Civil) denomina
rem pagos pela massa etc. dependentes, acostados ou adjetos, em que o riginalmente há um
devedor efetivo e um devedor potencial. A segunda obrigação só
4.2 Créditos concursais (art. 83, I a VIII) é exigível no inadimplemento da primeira, como ocorre na fian-
a) Créditos trabalhistas (limitados a 150 salários mínimos ça ou na garantia hipotecária dada por terceiro.
por credor) e de acidentes do trabalho. Nos trabalhistas, o que Mas a subordinação pode também ser entendida como mera
exceder da quan tia limite passa para a classe dos créditos quiro- colocação em grau mais baixo, dentro de determinada escala,
124 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL FALÊNCIAS, CONCORDATA S E RECUPERAÇÕES 25

(se dela tiverem algo a receber) quando houver sobras, depois de Do mesmo defeito padece o rebaixamento para quirogra-
pagos todos os outros credores situados em escala superior na fário do crédito trabalhista cedido a terceiros (art. 83, § 4 °), sem,
ordem das preferências. N esse sentido, todos os créditos seriam por exemplo, o correspondente e igual rebaixamento do crédito
subordinados, exceto o colocado no topo da classificação. com garantia real cedido a terceiros.
Deve, portanto, ser desconsiderada, por ser inconstitucio-
CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS
nal, a limitação de 150 salários mínimos por credor, imposta uni-
lateralmente pelo art. 83, I, aos créditos trabalhistas, dentro de
1) Créditos extraconcursais (despesas e dívidas da massa) sua categoria na ordem de preferências.
2) Créditos trabalhistas, até 150 salários mínimos por credor (o que Da mesma forma, deve ser desconsiderado o rebaixamento
exceder é quirografário) e créditos acidentários (estes sem limites) para quirografário do crédito trabalhista cedido a terceiros. Se os
Créditos com garantia real (penhor, hipoteca etc.) até o limite do bem outros credores preferenciais podem ceder os seus créditos, sem
gravado (o que exceder é quirografário) rebaixá-los, o mesmo deve ocorrer com os créditos trabalhistas,
4) Créditos tributários exceto multas) mantendo-se a igualdade constitucional.
5) Créditos com privilégio especial sobre determinados bens (art. 964 CC)
6) Créditos com privilégio geral (art. 965 CC 6. Contratos do falido
7) Créditos quirografários (cheques, duplicatas, notas promissórias,
letras de câmbio, dívidas em geral) Os contratos bilaterais não são invalidados pela falência e
8) Créditos subquirografários-A podem ser executados pelo administrador judicial, se convenien-
te para a massa (art. 117).
9) Créditos subquirografários-B

7. Pedido de restituição
5. Créditos trabalhistas. Inconstitucionalidade
de sua limitação
Pode ser reclamada a restituição de coisas encontradas em
poder do falido que não lhe pertençam, como, por exemplo, uma
A limitação contida no art. 83, I (de 150 salários mínim os por máquina emprestada. E também das coisas vendidas a crédito e
credor) ofende frontalmente o art. 5°, caput, da C onstituição Fe- entregues ao falido nos 15 dias anteriores ao requerimento da fa-
deral, que declara a igualdade de todos perante a lei. lência (art. 85, e parágrafo único).
Se todos são iguais perante a lei, não se comp reende a razão A restituição é feita em dinheiro, pelo preço da avaliação, no
de se colocar o crédito trabalhista como único crédito, entre os caso de a coisa não mais existir, ou pelo preço da venda, se a coi-
sa já foi vendida (art. 86).
A igualdade perante a lei exigiria, por exemplo, que o crédi-
to com garantia real também fosse limitado até certa quantia, e 8. Continuação provisória das atividades
não até o limite do bem gravado, pois este pertence ao alvedrio
do credor, que pode exigir do devedor garantias reais no valor Na sentença declaratória da falência, poderá o juiz autorizar
que bem entender. Limite do bem gravado não é limite de quan- a continuação provisória das atividades do falido, com o adm inis-
tia a receber. trador judicial, havendo interesse para a massa, por período não
prolongado (art. 99, XI).
O crédito tributário, o crédito com privilégio especial ou ge-
ral, bem como todos com alguma primazia, teriam que ter, igual-
mente, um limite, passando o excedente também para quirogra- 9. Crimes concursais (arts. 168 a 178)
fário, para se ver estabelecida a igualdade exigida pelo texto São crimes referentes à falência e à recuperação judicial ou
12 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL

mentos ou de dados contábeis, a simulação de capital, ato frau- SEGUNDA PARTE — LEI ANTERIOR (DL 7.661/45)
dulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, a — FALÊNCIAS E CONCORDATAS
não escrituração ou alteração de documentos da escrituração
contábil, etc. A) Falência (DL 7.661/45): 1. Sentença - 2. Fases da falência - 3. O
Ab oliu-se o inquérito judicial. A notitia criminis pode advir síndico - 4. Obrigações pessoais do falido - 5. A continuação do ne-
de qualquer dado do processo, principalmente dos relatórios do gócio - 6. A fase de liquidação - 7. Inquérito judicial - 8. A ordem
das preferências - B) Concordatas (DL 7.661/45): 1. A concordat
administrador judicial. A ação penal é pública ou privada subsi- preventiva 2. A concordata suspensiva.
diária (art. 184), sendo condição objetiva de punibilidade a sen-
tença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou Como vimos, a lei anterior (DL 7.661/45) continuará a reger
homologa a ex trajudicial (art. 180). o andamento das falências decretadas antes da vigência da lei
A ação penal compete ao juiz criminal da jurisdição onde te- nova (L 11.101/05), bem como das concordatas que já haviam
nha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial sido deferidas, até a sua conclusão (como determina o art. 192 da
ou homologado o plano de recuperação extrajudicial (art. 183). lei atual).
Assim, por um.bom tempo ainda, aplicar-se-ão paralelamen-
10. A lei penal no tempo te as duas leis, a atual para os feitos novos, a an terior para os fei-
tos anteriores.
Os crimes falimentares da lei anterior (DL 7.661/45), bem
como os crimes concursais da lei atual (L 11.101/05) , sujeitam- Com duas alterações, porém, na lei anterior:
se ao princípio da retroatividade da lei mais benéfica, bem 1°) a venda dos bens da m assa pode iniciar-se logo após
como da irretroatividade da lei mais grave (CF, art. 5°, XL; CP, auto de arrecadação;
art. 2°). 2°) a concordata suspensiva não pode mais ser concedida
Se a nova lei não prevê m ais o crime, dá-se a abolição do cri- (mesmo nos procedimentos da lei anterior).
me (abolitio criminis). Se a lei nova for m ais favorável, esta será Pode ter ocorrido a hipótese de ajuizamento do ped ido de fa-
aplicada (retroatividade da lei mais benéfica). Se a pena da lei lência pela lei anterior e decretação já na vigência de lei atual.
nova for mais severa, prevalece a da lei anterior (ultratividade Neste caso, aplica-se a lei anterior na fase preliminar ou
da lei mais benéfica). Ou seja, no confronto entre lei nova e lei declaratória do feito (art. 192, caput), com a decretação e o pros-
anterior, vale sempre o dispositivo que for mais favorável ao seguimento nos termos da lei atual (arts. 99 e 192, § 4°).
réu.
O crime de gastos pessoais excessivos, por exemplo, previs- A) FALÊNCIA (D 7.661/45)
to no art. 186, I, do DL 7.661, de 1945, deve considerar-se aboli
do, face à inexistência de igual preceito na Lei 11.101, de 20 05. 1. Sentença
Vários autores entendem que o confronto temporal entre Na sentença declaratória da falência consigna-se o nome do
lei nova e lei anterior se estabelece desde logo, a partir da data devedor, a hora da declaração , o termo legal, a nomeação do sín-
da publicação, e não pela sua entrada em vigor, valendo, por- dico (o qual na lei de 2005 passou a denominar-se administrador
tanto, já no período de vacatio legis, se houver. Tal solução não judicial), bem como os demais requisitos do art. 14, parágrafo
se afigura correta, pois a lei só existe após a sua entrada em vi- único, do DL 7.661/45).
gor. C onsidere-se que há leis publicadas que nunca alcançaram
a sua vigência, não chegando a se tornar leis efetivas, como
ocorreu com o Código Penal de 1969 que, embora publicado, 2. Fases da falência
teve sua vigência adiada várias vezes, até ser, finalmente, re- fase preliminar vai do pedido inicial até a sentença que de-
12 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL FALÊNCIAS, CONCORDATAS RECUPERAÇÕES 29

a apuração dos débitos e dos créditos, bem como da conduta do Isso nos processos anteriores, regidos pelo DL 7.661/45, onde
falido. A fase de liquidação abrange a venda dos bens da massa, se aplica, e se continuará aplicando, somente prisão adm inistrati-
com a distribuição do resultado entre os credores relacionados
no quadro geral de credores, segundo uma ordem legal de prefe- a égide da L 11.101/05, em que o não cumprimento dos deveres
rências. mencionados, após intimação do juiz para o ato, implica crime de
Tais fases eram seqüenciais, seguindo-se uma à outra. Por desobediência (art. 104, parágrafo único).
mandamento da lei n. 11.101/05, porém, a fase de sindicância e a
fase de liquidação, mesmo nos processos anteriores em curso, 5. A continuação do negócio
passaram a ser simultâneas. A alienação dos bens pode iniciar-se No d ireito anterior podia ser autorizada a continuação do ne-
agora logo após o auto de arrecadação, independentemente da gócio (art. 74), com a administração de um gerente proposto pelo
formação do quadro geral de credores e da conclusão do inquéri- síndico e com transações só a dinh eiro, até o momento em que se
to judicial (art. 192, § 1°, salvo se o juiz tiver autori- facultava o pedido de concordata suspensiva (§ 7° art. 74). O ins-
zado a continuação provisória do negó cio (art. 99, XI). tituto, portanto, existia no interesse do falido, propiciando uma
juiz poderá autorizar a locação ou arrendamento de bens ponte até a concordata suspensiva, onde o falido, eventualmente,
poderia recuperar-se.
imóveis ou móveis a fim de evitar a sua deterioração, cujos re-
sultados reverterão em favor da massa (§ 5° do art. 192 da L Tal faculdade, porém, nesse sentido, foi cassada e agora,
11.101/05, acrescentado pela L 11.127, de 28 .6.2005). também nos processos anteriores, só existe a continuação provi-
sória das atividades do falido, no interesse da massa, sob a dire-
ção do adm inistrador judicial (art. 99, XI, L 11 .101/05), até a li-
3. síndico quidação, uma vez que a concordata suspensiva não pode mais
A nom eação do síndico deve recair entre os maiores credores, ser concedida (art. 192, § 1°, L 11.101/05).
domiciliados no foro da falência. Pode ser nomeado também um
estranho ao rol de credo res (síndico dativo) se três credores suces- 6. A fase de liquidação
sivamente nomeados nã o aceitarem o encargo (arts. 59 e ss.) Com o vimos, por determinação da lei nova, a venda dos bens
síndico é o administrador da massa falida, sob a direção do da massa pode iniciar-se logo após o auto de arrecadação, inde-
juiz, respondendo civil e criminalmente por seus atos. pendentemente da formação do quadro geral de credores e da
conclusão do inquérito judicial. Em conseqü ência, além da venda
Entre as inúmeras incumbências do síndico contam-se as se- por propostas ou por leilão, deve agora também ser admitida a
guintes: representar a massa falida, arrecadar os bens do falido, venda por p regão, prevista na lei atual.
prestar informações aos interessados, verificar os créditos, ela-
7. Inquérito judicial
a liquidação, vendendo os bens da massa, com a distribuição do
produto entre os credores habilitados. Destina-se o inquérito judicial à apuração de crimes falimen-
tares. Nos processos que correm sob a lei nova não há mais inqué-
rito judicial, podendo o procedimento penal lastrear-se em dados
4. Obrigações pessoais do falido diversos, principalmente nas informaçõ es e nos relatórios do ad-
art. 34 do DL 7.66 1/45 impõe várias obrigações pessoais ao ministrador judicial. Perm anece, porém, o inquérito judicial nos
feitos iniciados anteriormente, correndo em autos próprios.
falido, e aos diretores, administradores ou gerentes d a sociedade
falida, como prestar informações e não se ausentar do lugar da
falência sem autorização do juiz. O não cumprimento desses de- 8. A ordem das preferência
veres poderá sujeitá-los a prisão administrativa, para coagi-los No sistema anterior a ordem das preferências não estava re-
13 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL FALÊNCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAÇÕES 31

gistrando-se, amiúde, divergência doutrinária na classificação. sitos legais. O concordatário continuava ou voltava a exercer a
De qualquer forma, porém, a ordem prevalente anterior deve sua atividade normalmente, com restrições somente quanto à
ser mantida nos processos anteriores, uma vez que correm sob venda de imóveis e à venda ou transferência do estabelecimento
as determinaçõ es das leis anteriores. (arts. 149 e 167). Podiam, todavia, os credores opor-se ao pedido
É o seguinte o esquema da ordem das preferências no regi- de concordata, através de embargos, lastreados nos motivos re-
me do DL 7.661/45: lacionados no art. 143, como, por exemplo, sacrificio dos credo-
res maior do que a liquidação na falência.
Deve ser destacado que somente os credores quirografários
ORDEM DAS PREFERÊNCIAS NO DL 7.661/45 estão sujeitos aos efeitos da concordata. O s credores privilegia-
dos não são p or ela atingidos.
1) créditos trabalhistas Se o concordatário não cum prir a concordata, preventiva ou
2) créditos fiscais e parafiscais suspensiva, poderá o prejudicado ped ir a sua rescisão (art. 150,
encargos da massa (custas judiciais) DL 7.661/45). A rescisão da concordata preventiva acarreta a fa-
4) dívidas da massa (feitas pelo síndico) lência do devedor, e a da concordata suspensiva acarreta o pros-
5) créditos com direito real de garantia (penhor, hipoteca) seguimento da falência, que tinha sido apenas suspensa. Os cre-
6) créditos com privilégio especial sobre determinados bens (p. ex., dores posteriores à concordata não estão impedidos d e requerer
despesas do salvamento sobre a coisa salvada) a falência do concordatário (art. 154, DL 7.661/45).
7) créditos com privilégio geral (como debêntures)
8) créditos quirografários (cheques, notas promissórias, vales, letras
de câmbio etc.) 1. A concordata preventiva
Não existiam créditos subquirografários.
A concordata preventiva destinava-se a prevenir ou evitar a
falência. O devedor, ao requerer a concordata, poderia propor o
B) CONCORDATAS (DL 7.661/45) pagamento de 50% de seus débitos à vista, ou de 60% , 75%, 90%
ou 100%, se a prazo, respectivamente, em 6, 12, 18 ou 24 meses.
A Lei 11.101/05 aboliu as concordatas, estabelecendo, contu- O prazo começava a correr a partir do pedido.
do, que as concordatas já deferidas antes da vigência da lei nova
seguem seu curso normal, nos termos da lei anterior, até sua No despacho de processamento era nomeado um comissário
conclusão (art. 192). para fiscalizar as atividades do devedor.
Estabeleceu também que as empresas em regime de concor-
data, em dia com as obrigações respectivas, não ficam proibidas 2. A concordata suspensiva
de requerer recuperação judicial, extinguindo-se, neste caso, a
concordata. O pedido, porém, só poderá abranger a recuperação A concordata suspensiva destinava-se a suspender uma fa-
judicial padrão, ou comum, não sendo admitida, na hipótese, a lência já decretada. Num determinado momento do processo de
opção pelo plano especial das micro e pequenas empresas (art. falência (normalmente em 5 dias após o seg undo relatório do sín-
192, § 2°). dico), podia o falido que atendesse a certos requisitos, pedir
Na ocorrência de conversão de concordata em falência, apli- concordata suspensiva, propondo o pagamento das dívidas quiro-
car-se-á a lei nova (L 11.101/05, art. 192, § 4°). grafárias no montante de 35% à vista ou 50% num prazo de até 2
Ao contrário do que ocorre na recuperação judicial, a con- anos.
cessão de concordata não dependia da concordância ou da boa As concordatas suspensivas foram abolidas pela Lei 11.101/
vontade dos credores. O beneficio era concedido por sentença, 05, não podendo m ais ser concedidas, mesmo nos processos de
pelo juiz, ao seu pruden te critério, desde que presentes os requi- falência que ainda correm pela lei anterior. As concordatas já
132 ESUMO DE DIREITO COMERCIAL

deferidas, antes da lei nova, porém, continuarão em andamento


até sua conclusão.
É curioso observar que uma lei cujo propósito declarado foi o
de recuperar empresas, subtraiu a possibilidade da concordata
suspensiva, última oportunidade de recuperação.
A desistência da concordata suspensiva, já deferida antes da
lei nova, implica a volta ao status quo ante, ou seja, na volta ao ÍNDICE ALFAB ÉTICO-REMISSIVO
estado de falência, que só tinha sido suspenso.

Ação cambial, 88 Cédula de Produto Rural, 97


Aceite, 87 Cédulas de crédito, 94
Acionista único, 61 Cédulas hipotecárias, 97
Acionistas, 52 Cego, como pode assumir obrigação
Ações de sociedade anônima, 49 cambial, 101
Administração da soei Jade anônima, Certificado de Direitos do
54 Agronegócio, 9
Agronegócio, título do, 98 Certificado de Depósitos Creditórios
Analfabeto, como pode assumir obri- do Agronegócio, 98
gação cambial, 101 Certificados de Recebíveis do
Anulação de título de crédito, 89, 103 Agronegócio, 98
Apresentação de título de crédito, 87 Certificados de depósito, 97
Arquivamento, no Re gistro do o- Cheque, 90
mércio, 24 Cisão, 5
Assembléia Geral, 53 Cláusulas extravagantes, 103
Associações, 38 Coligadas, sociedades, 5
Aval, 87 Comandita por ações, sociedade em,
Avalista, defesa do, 99 55
Aviamento, 20 Comandita simples, sociedade em, 43
Comércio
conceito económico, 1
Banco
operações, 113 conceito jurídico, 17
organização, 107
natureza e características, 17
Comissões Parlamentares de Inqué-
Bens particulares de sócio,
rito e sigilo bancário, 115
penhorabilidade dos, 63
Companhia ou sociedade anônima,
Bônus de subscrição, 51
47
Conceito
Capital autorizado, S/A de, 48 de Direito Comercial e Direito
Capital determinado, S/A de, 48 Empresarial, 1
Capital e indústria, sociedade de, 43 de empresa, 20, 21
"Causa debendi", investigação da, 99 de empresário, 17, 18
Cédula de Crédito Bancário, 98 econômico de comércio, 16
Cédula de Crédito Imobiliário, 97 jurídico de comércio, 17
13 ESUM O DE DIREIT O C MER CIA NDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO 35

Concordata preventiva, 131 Empresário Liquidação extrajudicial, 110 "Pro soluto", 102
Concordata suspensiva, 131 individual, 41 Livros mercantis, 18 "Pro solvendo", 102
Concordatas, 130 obrigações, 18
Procuração
Conhecimento de depósito, 93 prepostos, 19
Marcas, 33 obrigação cambial assumida por, 101
Conhecimento de transporte ou de Empresas bancárias, espécies de,
Marido e mulher, sociedade de, 61, Propriedade comercial, 21
frete, 94
10
75
Empresário, conceito de, 17, 18 Propriedade industrial, 27, 35
Conselho de Administração, 54 Matricula de comerciante, 23
Endosso, 8 Propriedade intelectual, 26
Conselho Fiscal, 55 Mercado de capitais, 63
Estabelecimento, 20 Propriedade literária, artística e cien-
Consórcio, 58 icroempresa (ME), 41, 58 tífica, 26
Conta de participação, sociedade em, 44 inistério Público Federal
Falência Protesto, 88
Continuação do negócio, 129 sigilo bancário, 114
Continuação provisória das lei atual, 116
Modelo de utilidade, 30
atividades, 125 lei anterior, 127 Quase-pessoa jurídica, 58
Contrato, título vinculado a, 101 Firma ou razão social, 39 Quebra de sigilo bancário, 114
Contratos bancários, 113, 114 Fisco e sigilo bancário, 114 Nome coletivo, so4edade em, 42 Quinhão de sócio, usufruto, 63
Controladora, sociedade, 5 Fundo de comércio, 21 Nome empresarial, 24, 36, 39
Cooperativas, 3 Fusão, 57 Nota promissória, 90 Razãc social, 39
Cotas sociais, penhorabilidade das, 6 Notas de crédito, 96 Recuperação judicial, 117
Crimes concursais, 125, 126 Grupo de sociedades, 58 Recuperação extrajudicial, 11
Crimes contra a propriedade indus- Registro de comércio, 22
trial, 35
Obrigação cambial por procuração,
Incorporação, 57 101 Registros e patentes, 27
Crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional e sigilo bancário, 114 Indisponibilidade de bens, 112 Operações bancárias, 113 Renovação de aluguel, 21
Inquérito administrativo, 112 Organização bancária, 107
Cultivares, 34
Inquérito judicial, 129 Segredo de fábrica, 20, 33
Instituto Nacional da Propriedade Pagamento parcial de título de crédi- Sigilo bancário, 114
Debêntures, 51, 9 Industrial (INP I), 27 to, 102 Sistema Financeiro Nacional, 109
Denominação social, 40 Intervenção extrajudicial, 110
Partes beneficiárias, 51 e sigilo bancário, 114
Desconsideração da pessoa jurídica, 74 Invenção, 28
Participantes na falência e na recu- Sociedade
Desenho industrial, 30 peração judicial, 11
"Design", 32
anónima, 47
"Joint ventures", 58 Patentes registros, 27 controladora, 58
Direito Bancário, 107
Penhora de bens particulares, 63 de capital e indústria, 43
Direito Comercial Empresarial
"Know-how", 33 Penhorabilidade de cotas sociais 62 de marido e mulher, 61, 75
características, 17
Pequeno porte, empresa de, 41 de um sócio só, 61
conceito de, 16
Pessoa jurídica, desconsideração da, em comandita por ações, 55
fases do, 15 Lei Uniforme as Letras e Promissó-
74 em comandita simples, 4
Diretoria de S/A, 55 rias, 85
Lei Uniforme do cheque, 90 Pessoa jurídica, quase-, 57
Duplicata, 93 em comum (irregular ou de fato),
Letra de câmbio, 90 "Pipeline", 28
Duplicata simulada, 10 57
Letra de Crédito do Agronegócio, 98 Poi,:o comercial, 21 em conta de participação, 44
Empresa, conceito de, 20, 21 Letra de Crédito Imobiliário, 97 Preferências, ordem das, 132 em nome coletivo, 42
Empresa de pequeno porte (EPP), 41, Letras imobiliárias, 96 Prepostos do empresário, 19 limitada, 45
58 Limitada, sociedade, 45 Prescrição de títulos de crédito, 89 unipessoal, 64

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