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Sumário

Introdução......................................................................................................................1
1. Um breve histórico sobre a sexualidade e fases psicossexuais..............................4
2. Fases do desenvolvimento sexual (fases psicossexuais)........................................6
2.1. Período pré-genital, pré-fálico ou infantil............................................................8
2.2. Período intermediário.......................................................................................15
3. A sexualidade infantil e a psicanálise......................................................................26
4. Os transtornos de sexualidade...............................................................................30
4.1. Disfunção sexual não causada por transtorno ou doença orgânica (F52)......31
4.2. Transtornos de identidade sexual (F64)...........................................................33
4.3. Transtornos de preferência sexuais (F65)........................................................34
4.4. Tratamento........................................................................................................35
Bibliografia...................................................................................................................37
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SEXOLOGIA

Introdução

Raramente os filósofos trataram do sexo como componente do homem. Em o


Banquee, de Platão, ao falar da origem do sexo, Aristófanes expõe o mito dos
andróginos, dos quais, por meio de uma separação desejada por Zeus com fins
punitivos, ter-se-iam originados os dois sexos complementares, mas as
especulações platônicas não versam propriamente sobre o sexo, mas sobre o amor.
Na bíblia, Deus, de um só, fez toda a geração dos homens. Primeiro foi formado
Adão e depois Eva que caíram no pecado do fruto proibido.

Sexologia é o estudo da sexualidade, e sexualidade em termos práticos é


aquela que traz prazer às pessoas envolvidas, sem prejudicar ou molestar uma
delas. É mais fácil definir sexualidade anormal, que é o comportamento sexual
destrutivo para o próprio indivíduo ou para outros, ou está associado à sensação de
ansiedade, medo, culpa, ou é compulsivo (com - pulsões).

Em “As pulsões e suas vicissitudes” (1915), Freud define pulsão como um


conceito entre o mental e o psicológico, o representante psíquico dos estímulos
originados no organismo e que chegam à mente. Ele sempre se preocupou pois com
o estágio dos conhecimentos psicológicos a respeito das pulsões. Estas são
portanto forças incontroláveis que determinam as representações inconscientes. As
atividades pulsionais que anseiam pela exteriorização objetiva são na maior parte do
tempo deslocadas e explicadas, em nome de uma teoria pronta, verdade inscrita e
supostamente inquestionável sobre a natureza humana

A personalidade do indivíduo está intimamente relacionada à sua sexualidade.


Para Freud, todos os impulsos e atividades prazerosas são sexuais. Freud foi o
primeiro a descrever o impacto das experiências da infância sobre o caráter do
adulto, reconhecendo a atividade e o aprendizado sexual das crianças. A maior
causa dos conflitos conjugais está na relação sexual e na sexualidade, confirmando
as teorias de Freud sobre a origem das neuroses.

O comportamento sexual é muito variável de pessoa a pessoa, e é influenciado


por fatores biológicos, culturais e psicológicos. Participam, ainda, a percepção
individual de ser homem ou mulher, e experiências com o sexo ao longo de toda a
vida.

A palavra “sexual” tem despertado reações positivas em uns, e negativas em


outros, tendo um conceito mais amplo do que “genital” que designa genitália. O
“sexo” é a determinação de masculino - macho ou feminino - fêmea. Sexualidade e
erotismo têm a mesma significação, ou seja, designam a sexualidade psicofísica,
apoderando-se do corpo e da alma com a mesma impulsão.

Freud mostrou que a vida sexual começa logo após o nascimento e que
posteriormente na puberdade tem o objetivo à reprodução.
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Foram observados sinais de atividade corporal e sexual na infância e que estão


associados a fenômenos psíquicos, que são representados na vida erótica adulta,
tais como a fixação a objetos específicos, ciúmes, etc. A maturidade sexual se
desenvolve após a puberdade, sendo que na mulher até os trinta anos e no homem,
um pouco além.

Os caracteres sexuais primários dominantes são os órgãos genitais que são


definidos na fase fetal, onde no homem estão os testículos que produzem os
espermatozóides e na mulher são os ovários, localizados no útero e que produzem
os óvulos. Os caracteres secundários são o conjunto de fatores corporais e
psíquicos que diferem um homem de uma mulher, tais como o pênis, vagina, a pele,
pelos, força física, etc.

Na fisiologia sexual, temos as glândulas que fabricam substâncias com


diversos objetivos, tais como o crescimento, fortalecer a estrutura óssea, despertar o
apetite alimentício e sexual. As glândulas endócrinas não podem lançar suas
substâncias (hormônios) par fora do corpo, logo utilizam a corrente sangüínea sendo
transportadas para todo o organismo, exercendo controle de várias funções e
conseqüentemente, influência sobre o comportamento do indivíduo. As glândulas
supra-renais produzem o hormônio androgênio que na puberdade tem a produção
aumentada sendo responsável pelo crescimento dos pelos, pênis, testículos, barba,
etc. O timo é a glândula de controle pré-sexual, reguladora do início da sexualidade
no homem, devendo regredir e murchar para que se inicie a puberdade. A tireóide
garante o vigor ao instinto sexual e a hipófise na dinâmica corporal.

A identidade de gênero é o juízo que o indivíduo tem de sua masculinidade ou


feminilidade. A identidade sexual refere-se às características sexuais biológicas
(cromossomos, genitália externa, genitália interna, composição hormonal, gônadas e
características sexuais secundárias). No desenvolvimento normal formam um
padrão único, no qual a pessoa não tem dúvida de seu sexo e apresenta reações
biológicas adequadas.

Os órgãos genitais masculinos estão divididos em externos (pênis e bolsa


escrotal) e internos (testículos, epidídimo, canais deferentes, vesículas seminais,
próstata, canal ejaculatório, uretra e glândula de Cooper). Os órgãos genitais
femininos também estão divididos em externos (monte de Vênus, vulva, grandes
lábios, pequenos lábios, clitóris, glândulas de Bartholim, Hímen, complacente e
elástico, trilabiado, anular, septado, microperfurado, imperfurado e cartilaginoso) e
internos (uretra, vagina, útero, trompas de falópio e ovários).

A vida sexual inclui a função de obter prazer das zonas corporais que,
subseqüentemente, são postas a serviço da reprodução. Muitas vezes as duas
funções não coincidem completamente, pois existem pessoas que são atraídas por
indivíduos do mesmo sexo, desconsiderem o órgão sexual ou tem um interesse
muito precoce por seu órgão genital.

Os transtornos de preferência sexuais ou parafilias são pouco comuns, sendo


sempre motivo de debates e questionamentos médicos e filosóficos. Esses
transtornos ocupam uma posição clara no contínuo entre o normal e o anormal.
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Algumas pessoas são perfeitamente integradas às suas parafilias, fazendo


parte importante de sua identidade e modo de vida. Em alguns casos, as parafilias
podem acompanhar graves transtornos de personalidade ou psicoses.

Como relatamos acima, a palavra sexo tem vários significados: pode indicar o
gênero (masculino ou feminino), a atividade sexual e os órgãos genitais. Já o termo
sexualidade, tem uma designação mais complexa, pois abrange todos os
pensamentos, emoções e comportamentos relacionados ao sexo. Como sexo e
sexualidade envolvem estruturas físicas e psicológicas, e estas estão sujeitas a
alterações, a sexualidade dos indivíduos poderá ser comprometida. Estes
comprometimentos podem resultar em disfunções sexuais. As disfunções sexuais
definem-se como o não funcionamento ou o mau funcionamento da sexualidade de
homens e mulheres.

As disfunções sexuais masculinas são denominadas: disfunção erétil


(antigamente conhecida como impotência sexual); ejaculação precoce ou prematura
(falta do controle sobre a ejaculação) e ejaculação retardada (impossibilidade de
ejaculação intra-vaginal ou impossibilidade total de ejaculação).

As disfunções sexuais femininas são denominadas: inibição do desejo sexual;


anorgasmia (falta de orgasmo); dispareunia (dor durante a penetração) e vaginismo
(contração involuntária dos músculos da vagina que impedem a penetração). As
causas destas disfunções sexuais podem ser psicológicas, físicas ou mistas, porém
não podemos negar as influências sócio-culturais.

A terapia sexual visa o tratamento destas disfunções e deve ser apropriada às


suas causas. Ou seja, se a causa for psíquicas, o tratamento deverá ser feito com
psicólogos, psicanalistas, caso seja física o tratamento deverá ser feito com
médicos. Já nas causas mistas, é imprescindível o acompanhamento de ambos os
profissionais.

Atualmente existem profissionais especializados em sexologia, e como nova


área de atuação de psicólogos, psicanalistas, médicos e pesquisadores, surgiu em
função da necessidade de obtenção de maiores conhecimentos sobre temas
relevantes para a saúde dos seres humanos.
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1. Um breve histórico sobre a sexualidade e fases psicossexuais

Até o final do século passado havia a noção de que o sexo era um instinto que
despertava com a puberdade e tinha como objetivo a reprodução. O sexo era
entendido em termos da sexualidade genital do adulto. A sexualidade infantil era
negada ou considerada como anomalia.

No início do século, as postulações revolucionárias de Freud situam a


sexualidade na infância e no inconsciente, ampliando o conceito do termo “sexual”,
que deixa de ser sinônimo de “genital”. Essa visão ampliada foi exposta em 1905
nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. O termo “sexual”, aparece ligado a
um conjunto de atividades não restritas aos órgãos genitais, que começa na infância
e não na puberdade, e cuja finalidade é o prazer e não apenas a reprodução. Essas
postulações de Freud suscitaram naturalmente numerosas discussões que foram
permitindo uma visão nova sobre a sexualidade humana, que começou a ser vista
com menos preconceito.

O conceito de normalidade sexual tende a ser considerado como tudo o que é


praticado por adultos legalmente capazes, com o consentimento dos parceiros e que
não implique lesão física de nenhum dos participantes.

A excitação caracteriza-se essencialmente pela ereção do homem e a


lubrificação vaginal na mulher, que se verifica a partir de atividades ou pensamentos
estimulantes. O platô, é o estágio de grande excitação e tensão sexual que precede
imediatamente o orgasmo. A ereção é completada por vasocongestão do corpo
cavernoso do pênis, que aumenta de tamanho e de diâmetro. Nas mulheres há
ereção dos mamilos e do clitóris. Essas transformações são acompanhadas de
sensação de prazer. O orgasmo é a ejaculação com contrações do cordão
espermático, das vesículas seminais, da próstata e da uretra no homem, e
contrações vaginais e uterinas na mulher. A fase de resolução é a involução
gradativa da ereção, com a volta ao tamanho habitual do pênis e do clitóris em razão
da perda da vasocongestão; sensação de relaxamento e bem-estar dos parceiros.
Durante essa fase, os homens ficam refratários a novos orgasmos por período que
aumenta com a idade. As mulheres são capazes de outros orgasmos, logo em
seguida.

Freud (1905/1972) reconstruiu, a partir dos tratamentos de seus pacientes, das


observações diretas realizadas por pediatras e por ele próprio e as descrições
publicadas de quadros psicopatológicos e de povos primitivos, as diversas fases
pelas quais passaria o indivíduo, desde seu nascimento; elaborou a teoria da
progressão da libido, do estágio oral para o anal e para o genital com a conseqüente
reorganização seqüencial do impulso e da natureza do Id. Erikson (1976)
estabeleceu que o indivíduo passa da confiança para a autonomia e para a
atividade, através da reorganização seqüencial do Ego e das estruturas de caráter.
Spitz (1979) referiu-se aos princípios organizadores que levam a sucessivas
reestruturações dos precursores do Ego. Mahler (1993) concluiu que o indivíduo vai
do autismo normal para a simbiose normal e para a separação-individuação, noção
que depois abandonou face à observação empírica contraditória; haveria
reestruturação do Ego e do Id, mas nos termos da experiência e do eu-e-outro do
bebê.
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Klein (1974) descreve as posições esquizo-paranóide e depressiva, que levam


à reestruturação da experiência de eu e outro. Stern (1992) pensa que sua
abordagem se aproxima mais às duas últimas, já que a preocupação central é com a
experiência de eu-e-outro do bebê, diferindo, entretanto, quanto ao que se considera
ser a natureza dessa experiência: a ordem de seqüência do desenvolvimento do
senso de self, livre dos obstáculos e das confusões trazidas pelas questões do
desenvolvimento do Ego ou do Id.

Todas as teorias psicanalíticas compartilham outra premissa: o


desenvolvimento progride de um estágio para o seguinte, sendo cada estágio não
apenas uma fase específica para o desenvolvimento do Ego ou do Id, mas também
específica para certas questões protoclínicas. As fases do desenvolvimento se
referem a um tipo específico de questão clínica que se verá desenvolvendo
patologias em etapas posteriores da vida (Stern, 1992). Dois autores citados por
Stern (1992), Peterfreund e Klein, criticam este ponto, afirmando que se trata de
uma teoria do desenvolvimento que, além de ser retrospectiva, ou seja, descreve por
uma reconstrução do passado a partir de estruturas mais evoluídas, traduz-se pela
morfologia da patologia.
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2. Fases do desenvolvimento sexual (fases psicossexuais)

Freud foi o primeiro a nos fornecer um quadro claro da grande importância que
tem, para nossa vida e desenvolvimento psíquicos e sexuais, a relação com outras
pessoas. A primeira delas é naturalmente, a relação da criança com os pais, relação
esta que, a princípio, na maior parte dos casos se restringe principalmente à mãe ou
à sua substituta. Um pouco mais tarde surge a relação com os irmãos, ou outros
companheiros próximos, e o pai.

Freud assinalou que as pessoas às quais a criança se apega em seus


primeiros anos ocupam uma posição central em sua vida psíquica que é singular no
que concerne a sua influência. Isto é exato, quer o apego da criança a essas
pessoas seja por laços de amor, de ódio, ou ambos, sendo o último caso o mais
comum.

Nos estágios iniciais da vida, a criança não percebe os objetos como tais e só
gradativamente, ao longo dos primeiros meses de seu desenvolvimento, aprende a
distinguir sua própria pessoa dos objetos. Também entre os objetos mais
importantes da infância, se incluem as várias partes do próprio corpo da criança, isto
é, seus dedos, artelhos e boca. Todos eles são importantes como fonte de
gratificação, razão pela qual admitimos que sejam altamente catexizados pela libido.
Para sermos mais precisos, deveríamos dizer que os representantes psíquicos
dessas partes do corpo da criança são altamente catexizados, já que não mais
acreditamos, que a libido seja como um hormônio que se pode transmitir a qualquer
parte do corpo e lá se fixar. A este estado de libido autodirigida Freud (1914)
denominou de narcisismo, segundo a lenda grega do jovem Narciso, que se
enamorou de si mesmo.

Os primeiro objetos da criança são chamados de objetos parciais. Com isto


significamos, por exemplo, que só depois de muito tempo a mãe existe para a
criança como um objeto total.

Antes disso, seu seio, ou a mamadeira, sua mão, seu rosto, etc., consistiam,
cada um, objetos separados na vida mental da criança, e pode bem ser que mesmo
aspectos diferentes do que fisicamente constitui um único objeto seja também, para
a criança, objetos distintos, e não unidos ou relacionados.

Só se desenvolve uma relação de objeto contínua na última parte do primeiro


ano de vida. Uma das características importantes dessas primeiras relações de
objeto é seu alto grau do que chamamos ambivalência. Quer dizer, sentimentos de
amor podem alternar em igual intensidade com sentimentos de ódio, segundo as
circunstâncias.

As primeiras fases das relações de objeto são comumente designadas como


relações de objeto pré-genitais, ou, às vezes, mais especificamente como relações
de objeto anais ou orais. O emprego habitual da palavra “pré-genital” neste sentido é
incorreto. O termo apropriado seria “pré-fálico”. De qualquer modo, na literatura
psicanalítica, as relações de objeto da criança denomina-se comumente, conforme a
zona erógena que, no momento, esteja desempenhando o papel mais importante na
vida libidinal da criança.
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As características da sexualidade infantil, polimorfa e perversa, Freud bem as


descreveu em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”. A sexualidade infantil
difere da do adulto em diversos aspectos. A diferença que mais impressiona situa-se
no fato da maior excitação não se localizar, necessariamente, nos genitais, mas no
fato de que os genitais, a bem dizer, desempenham a parte de “primus inter pares”
entre muitas zonas erógenas. Também diferem os objetivos: não levam,
necessariamente, ao contato sexual, mas alonga-se em atividades que vêm a
desempenhar papel, futuramente, no pré-prazer. A sexualidade infantil pode ser ato-
erótica, ou seja, tomar para objeto o próprio corpo ou partes deste. Os componentes
que se dirigem para os objetos portam traços arcaicos (objetivos de incorporação,
ambivalência). Quando um instinto parcial é bloqueado, reforçam-se,
correspondentemente, instintos parciais “colaterais”.

A criança pequena é uma criatura instintiva, cheia de impulsos sexual


perversos polimorfo, cheio de uma sexualidade total ainda indiferenciada, a qual
contém num só todos os instintos parciais.

Freud sugeriu que se distinguissem dois tipos de excitação : uma que é


evocada por estímulos externos, preceptivos, descontínuos; outra que resulta de
estímulos instintivos contínuos, dentro do organismo. A assertiva deve, contudo, ser
considerada com mais pormenores. Toda a percepção, todos os estímulos
sensoriais, quer se originem fora, quer se originem dentro do organismo, têm
“caráter provocativo”, isto é, provocam certo impulso à ação.

O papel excepcional que o deslocamento da energia dá aos instintos sexuais


foi o ponto de que Freud partiu na sua primeira classificação dos instintos, pelo fato
de haver notado que os neuróticos se sentiam mal porque reprimiam certas
experiências e porque estas experiências sempre representavam desejos sexuais.

As forças que combatiam os desejos sexuais eram a angustia, os sentimentos


de culpa, ou idéias éticos e estéticos da personalidade; forças estas contra-sexuais
que se podiam sumarizar como “instintos do ego”, vestem servirem a auto-
conservação.

Existe a formação de um conflito estrutural onde o ego rejeita, certas


exigências do id; e, com base no conceito de ser o ego uma camada superficial
diferenciada do id, já não se pode sustentar a esperança de que o ego abrigue,
inatamente, outros instintos que não estejam presentes no id. Ainda que as energias
instintivas sejam tratadas no ego de modo diverso do que o são no id, há de admitir-
se que o ego deriva a sua energia do id, não contendo, primariamente, outros tipos
de instintos.

Embora as fases estejam distintamente descritas, é um engano imaginar que


elas ocorram absolutamente isoladas, pois elas podem se sobrepor, ocorrerem
paralelamente ou coincidir, assim como jamais serão completadas superadas, sendo
observado na fase adulta, comportamento que comprova a existência das fases da
sexualidade infantil, o que na maioria dos casos ocorre nas neuroses.
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Pode-se dividir a sexualidade pré-adulta, de modo geral, em três períodos


principais: o período infantil, o período de latência e a puberdade.
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Hoje em dia se conhece muito bem o começo e o fim do período infantil, ao


passo que aquilo situado no meio ainda requer muita pesquisa; possivelmente neste
período intermediário, ocorrem variações acidentais mais importantes que as que se
dão nas fases inicial e terminal.

2.1. Período pré-genital, pré-fálico ou infantil

Freud denomina de pré-genitais devido às zonas genitais ainda não atingiram


seu papel predominante. Ao nascer o ser humano traz impulsos inconscientes em
busca do prazer. Os impulsos naturais (id), são manifestações de uma tendência
inata, cuja causa é a libido ou energia sexual.

2.1.1. Fase oral

É o estado oral (mas corretamente intestinal) de organização da libido. A


criança na fase fetal já desenvolve o instinto da sucção. O bebê, logo após seu
nascimento, acha prazer na sucção do seio materno e no vazio que sente quando
retira a boca do seio. Seu gozo é inconsciente, agarrando-se ao seio materno com
satisfação, olhando para os olhos da mãe durante este momento, tendo o fator
alimentar se estabelecido como desejo secundário. A criança chupa tudo o que
encontra, os dedos, lápis, só pelo prazer da sucção.

Freud mostrou que quando a sucção produz prazer, é combinada a fricção de


certas partes do corpo, como a orelha, umbigo ou os genitais externos, sendo estes
atos caracterizado como o movimento precursor que leva a criança a praticar a
masturbação. O fenômeno auto-erótico de chupar o polegar, mostra o prazer que se
obtém do seio ou da mamadeira não se baseia só na gratificação da fome, mas
também na estimulação da mucosa oral erógena; se não fosse assim, o infante
retiraria, desapontado o polegar, visto este não produzir leite. Aí, a excitação sexual
apoiou-se, originalmente, na necessidade de alimento; tal qual, a excitação sexual
primeira também se apoiou noutras funções fisiológicas, na respiração e sensações
cutâneas, nas sensações de defecar e urinar. Muitos fenômenos provenientes desta
fase são retidos no adulto como o beijo e muitos costumes alimentares. A “introjeção
oral” é, do mesmo passo o executivo da “identificação primária”. As idéias de que se
come um objeto ou de que por ele se é comido vêm a ser os modos pelos quais se
pensa, inconscientemente, em qualquer reunião objetal. A comunhão mágica que
consiste em “transformar-se na mesma substância”, ou comendo o mesmo alimento,
ou misturando os sangues respectivos, bem como a crença mágica de que nos
tornamos semelhantes ao objeto que comemos baseiam-se no mesmo fato.

Algumas manifestações de neuroses orais são: beber e comer em excesso,


problemas da linguagem e fala, agressão com palavras (correspondendo ao
morder), xingamentos, gozações, escrúpulos exagerados para não “incomodar”,
desejo inconsciente de se instalar e desalojar todas as pessoas, incapacidade de
aceitar favores e receber presentes. O afã de saber, o estudo de idiomas, o cantar, a
oratória, a declamação, são exemplos de sublimação das tendências orais.
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2.1.2. Fase anal

A análise das neuroses obsessivas permitiu a Freud inserir entre os períodos


oral e fálico outro nível organizacional da libido, a saber, o nível sádico-anal. Embora
o prazer anal se ache presente desde o início da vida, é no segundo ano que a zona
erógena-anal parece tornar-se o executivo principal de toda excitação, a qual, então
onde quer que se origine, tende a descarregar-se pela defecação.

É a fase em que a libido se concentra na região anal, que se torna uma área
carregada de emoção agradável, sendo que em primeiro lugar está a satisfação
física do “vazio” que sentimos após a saída das fezes, o esvaziar o intestino e em
seguida na satisfação mental que a criança sente na execução desta função para os
seus pais. Essa região compreende a junção da pela e a membrana mucosa anu-
retal. As junções de pele e mucosas do corpo são sensíveis e ao receberem suave
estimulação, produzem sentimentos de prazer.

O objetivo primário do erotismo anal, certamente, é o gozo de sensações


prazerosas na excreção. A estimulação da mucosa retal pode aumentar com a
retenção anal exemplificam bem as combinações de prazer erógeno e a segurança
contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à retenção e
à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de realizar
estimulação mais intensa da mucosa (além de sensação mais intensa pelo aumento
da tensão de retenção) é responsável pelo prazer tensional, que é maior no erotismo
anal do que em qualquer outro. Aqueles que, nas suas satisfações, procuram
prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente, eróticos
anais.

A recusa de uma criança em defecar, é um modo de desafiar a autoridade


parental e reafirmar que as fezes “são delas”, tendo um prazer adicional na
sensação em manter o reto cheio. Elas consideram que as fezes são parte
integrante de si mesma, com as quais presenteia os pais e os adultos que a
envolvem, sendo muito precioso pois é dado de dentro do seu próprio corpo, do seu
ser. O manuseio das fezes pela criança é proveniente desta fase, sendo reprovadas
pelos pais como algo nojento, sujo. Apesar deste valor (indesejado) que é
transmitido pelos pais para as crianças no seu consciente, para o inconsciente irá
uma mensagem de repressão devido ao valor atribuído as fezes pela criança.

Onde ocorreu a fixação anal (neurose anal) , mesmo que as próprias fezes não
possam ser acumuladas indefinidamente, o indivíduo acumulará o que de valor
puder adquirir, entesourando, sem contudo atingir o seu uso apropriado. Vejamos
alguns casos de neurose anal: o caso do avaro que junta dinheiro, o colecionador
que compra quadros valiosos, e não os exibe, e nem mesmo os olha; dos indivíduos
obsessivos, que insistem longo tempo e improdutivamente em tarefas não
completadas; pontualidade exagerada; tendência ao uso de roupa íntima suja; sede
de poder; prazer na descarga de uma linguagem chula.

As crianças que foram obrigadas a defecar por meio de ordens, quando adultas
apresentam acentuada tendência a terem seus problemas solucionados por outras e
tendem a realização de várias atividades simultaneamente, que se manifesta numa
obsessão à leitura durante a defecação.
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A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos, a


que se alude na expressão usada para designar o nível de organização (sadismo
anal), são análogas à oralidade e sadismo: em parte, deve-se a influências
frustradoras e, em parte, ao caráter dos objetivos de incorporação. Acresçam-se,
contudo, dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a eliminação ser, objetivamente,
tão “destrutiva” quanto a incorporação; o objeto do primeiro ato sádico-anal são as
próprias fezes, cuja expulsão se percebe como uma espécie de ato sádico;
posteriormente, as pessoas são tratada como já o foram as fezes; em segundo
lugar, o fator de “poder social” que se envolve no controle dos esfíncteres;
exercitando-se no asseio, a criança encontra oportunidade efetiva para exprimir
oposição contra os adultos.

Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e do


outro lado, ambivalência e bissexualidade. O erotismo anal faz que a criança trate
um objeto, a saber, as fezes, de maneira contraditória: expele a matéria para fora do
corpo e a retém como se fosse um objeto amado; aí está a raiz fisiológica da
“ambivalência anal”. Por outro lado ainda, o reto é órgão oco excretório; órgão
excretório que é, pode expelir ativamente alguma coisa; órgão oco, pode ser
estimulado por um corpo estranho que penetre. As tendências masculinas derivam
da primeira faculdade; as tendências femininas, da segunda; temos aí a raiz
fisiológica da conexão existente entre erotismo anal e a “bissexualidade”.

Quando a criança tem uma educação de higiene pessoal prematura, o


indivíduo posteriormente quando adulto poderá ter um comportamento hostil e
rebelde.

Porém em seu aspecto formal apresenta-se asseado, obediente, passivo e


medroso. Quando a criança tem uma educação de higiene tardia, o indivíduo
tenderá a ser desasseado, desleixado e irresponsável. Quando tem uma educação
no momento adequado, o indivíduo terá inconscientemente um sentido normal do
poder, e conscientemente uma atitude adequada diante da sujeira e da limpeza.

Como sublimação das tendências da fase anal, ou seja, os desvio das pulsões
para fins aceitos pela cultura, temos as atividades de artes-plásticas, que são
transformações mais ostensivas do prazer infantil de brincar com as fezes.

2.1.3. Erotismo uretral

O aparecimento do erotismo uretral infantil liga-se tão intimamente ao erotismo


genital infantil que muito não se pode dizer a seu respeito antes de discutir a
genitalidade infantil. É freqüente, todavia aparecer em estádios ulteriores como
opoente pré-genital da sexualidade infantil genuína.

A criança erótico-uretral percebe, necessariamente, a diferença entre os sexos


com referência à micção; e, pois, é comum o erotismo uretral apresentar-se
combinado ao “complexo de castração”. Se bem que, certamente, o objetivo primário
do erotismo uretral seja o prazer da micção, há também um prazer secundário de
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retenção uretral, análogo ao prazer de retenção anal, como há conflitos


desenvolvendo-se a este respeito.
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É o que se vê mais freqüentemente nas meninas, provavelmente por motivos


anatômicos. Seja como for, não parece que se justifique a idéia suscitada por
Ferenczi no sentido de fazer o prazer da retenção sinônimo de prazer anal e o
prazer excretório sinônimo de prazer uretral.

Os objetivos originais do erotismo uretral são auto-eróticos, tal qual o são os de


erotismo anal; posteriormente, também o erotismo uretral pode voltar-se para os
objetos, o aparelho uretral transformando-se, então, em executivo de fantasias
sexualmente excitantes relacionadas com o ato de urinar em objetos, de ser urinado
por objetos; ou de fantasias em que menos se mostra a conexão com a micção.

É freqüente a criança molhar ativamente a calça ou a cama, por prazer auto-


erótico. Mais adiante, pode desenvolver-se a enurese como sintoma neurótico
involuntário, cuja natureza é a de equivalente inconsciente da masturbação. De
modo geral, o prazer de urinar tem caráter duplo: em ambos os sexos, podem ter
significação fálica e até sádica, a micção equivalendo a penetração ativa, com
fantasias de lesar ou destruir; ou se sente como “deixar escorrer”, como entrega
passiva e desistência do controle. O objetivo do fluxo passivo pode condensar-se
com outros objetivos passivos nos meninos; por exemplo, ser acariciado no pênis,
ou ser estimulado na raiz deste ou no períneo (na próstata). A parte fálica ativa do
erotismo uretral nos meninos não tarda a ser substituída pela genitalidade normal,
mas pode ocorrer que objetivos erótico-uretrais conflitem com a genitalidade,
condensados, muitas vezes, com objetivos anais; é certo que, às vezes, o erotismo
uretral masculino se associa a fantasias, a bem dizer, sádicas, conforme se vê na
análise de casos de ejaculação precoce severa.

Muitas vezes a idéia de “deixar escorrer” desloca-se, da urina para as lágrimas.


Nas mulheres, ocorrem dificuldades erótico-uretrais ulteriores, exprimindo, com a
maior freqüência, conflitos que giram em redor da “inveja do pênis”. Existe uma
conexão entre o erotismo uretral e o sentimento de vergonha.

2.1.4. Fase fálica

Ao concluir-se a sexualidade infantil, está realizada na concentração genital de


toda excitação sexual; o interesse pelos genitais e pela masturbação alcança
significação dominante; chega a aparecer uma espécie de orgasmo genital. Foi esta
fase que Freud chamou organização genital infantil, ou fase fálica.

É a fase precursora da forma final assumida pela vida sexual e que muito se
assemelha a ela, que se dá por volta do quarto ano de vida. Nesta fase a criança
descobre o prazer na região genital, seja pelo contato do vento, ou da mão de quem
realiza sua higiene, ainda que inconsciente. Assim, os garotos passam a pegar com
mais freqüência no o pênis e as garotas no clitóris, daí o termo “fálico”.

O ego da criança de três ou quatro anos é mais experiente, mais desenvolvido,


mais integrado e, conseqüentemente, diferente sob muitos aspectos, do ego da
criança de um ou dois anos.
14

Essas diferenças se evidenciam no aspecto do funcionamento do ego, isto é,


nas características das relações de objeto da criança que se relacionam ao ego.
Nessa idade a criança já não mais possui relações parciais de objeto, se seu
desenvolvimento foi normal. Assim, por exemplo, as diversas partes do corpo da
mãe, seus diferentes humores, e seus papéis contraditórios de mãe “boa” que
satisfaz os desejos da criança e de mãe “má” que os frustra, são todos reconhecidos
pela criança dessa idade como compondo um objeto único chamado mãe.

Não existem libidos orais, libido anal e libido genital específicas; existe apenas
uma libido, a qual se desloca de uma zona erógenas para outra. Nos casos, porém,
em que se desenvolveram certas fixações, operam forças que resistem a
deslocamento desta ordem, de modo que, por exemplo, as fixações pré-genitais dos
neuróticos obstam a concentração genital progressiva da excitação durante o ato
sexual.

O prazer se encontra basicamente nessas regiões, onde permanecerá, embora


haja na garota um deslocamento, diríamos parciais, para a vagina e na puberdade
para o clitóris-vaginal. Nenhuma catexia libidinal forte seja jamais completamente
abandonada. É possível, que grande parte da libido flua para outros objetos, porém,
pelo menos certa quantidade permanece ligada ao objeto de origem. É nesta fase
que desperta nas crianças de ambos os sexos o desejo de ver os genitais umas das
outras, bem como mostrar os seus, incluindo neste ato de curiosidade e
exibicionismo outras partes do corpo e também outras funções corporais.

A “masturbação”, ou seja, a estimulação dos genitais próprios para obtenção do


prazer sexual é normal na infância; nas condições culturais atuais, também é normal
na adolescência e até na idade adulta como substituto quando não se dispõe de
objeto sexual.

Se um indivíduo cujas atividades sexuais são bloqueadas por circunstâncias


exteriores se recusa a usar deste expediente, a análise sempre revela medo
inconsciente ou sentimento de culpa na raiz da inibição. Os pacientes que não se
masturbaram na adolescência também revelam haverem sido seus desejos sexuais
esmagados em alto grau pelo medo e por sentimentos de culpa, casos em que o
prognóstico é mau, resultando, em gera, de repressão especialmente profunda da
masturbação infantil.

A micção é também um componente da sexualidade infantil, denominado de


erotismo uretral. O garoto então é despertado em divertir-se no dimensionamento do
jato de urina, onde se encontra a raiz com a preocupação futura com a força, com a
competição, com o poder, com o desejo de ser maior, mais poderoso e mais
importante.

O fato de os adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta


facilidade e animação constitui, certamente, expressão dos seus próprios complexos
de castração, porque amedrontar os outros é meio ótimo de acalmar os próprios
temores, donde resulta que os complexos de castração vão passando de geração
em geração. Não sabemos de que forma eles se formaram originalmente, mas é
certo que o respectivo desenvolvimento tem história muito remota.
15

Uma pessoa neurótica de origem fálica, é ambiciosa e tem prazer à velocidade


(forma do prazer da penetração).

a) A angústia de castração nos meninos

O medo de alguma coisa acontecer a este órgão sensível e prezado chama-se


angústia de castração; medo a que se atribui papel tão significativo no
desenvolvimento total do menino e que representa resultado, não causa desta
valoração narcisística elevada. É só a alta catexia narcisística do pênis neste
período que explica a eficácia da angústia de castração; aos seus precursores nas
angústias orais, e anal pela perda do seio ou das fezes, falta à força dinâmica que
caracteriza a angústia de castração fálica.

A angústia de castração no menino do período fálico pode comparar-se ao


medo de ser comido do período oral, ou ao medo de ser despojado do conteúdo
corporal do período anal; é o medo retaliatório do período fálico, que representa o
clímax dos temores fantásticos de lesão corporal.

Em última análise, pode-se rastrear a idéia de castração no antigo reflexo


biológico da autotomia; menos profunda, porém mais certamente, baseia-se ela na
idéia retaliatória arcaica de talião: o próprio órgão que pecou tem de ser punido. Vê-
se, entretanto, que o ambiente das crianças lhes reforça idéias fantásticas de
punição, muitos adultos ainda ameaçando o menino de “cortar-lhe isto” quando o
surpreendem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros
castigos que se sugerem, a sério ou brincando, e a criança interpreta-os como
ameaças de castração. Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não
contêm qualquer ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo
menino que tenha a consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existem
realmente criaturas sem pênis: a observação dos genitais femininos. Há vezes em
que uma observação desta ordem empresta caráter sério a uma ameaça anterior a
que não se dera maior atenção; noutros casos, a realização da fase fálica basta, só
ela, para ativar ameaças passadas que não haviam feito impressão excessivamente
intensa durante os períodos pré-genitais.

Também varia a natureza do perigo que se acredita esteja ameaçando o pênis.


Há quem pense estar o pênis ameaçado por um inimigo masculino, ou seja, por um
instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo masculino, ou seja, por um
instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo feminino, isto é, instrumento que
envolve, isso conforme se apresente o pai ou a mãe como a pessoa que mais
ameaça; ou conforme as fantasias especiais que tem o menino no tocante ao
contato sexual.

Meninos ou pessoas com uma neurose com medo de castração podem


desenvolver fantasias de que o pênis lhe voasse do corpo, micróbios devorando o
pênis, sonhos com calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes,
decapitação. O medo preventivo da castração pode ser representado em um sonho
como uma lagartixa (perde o rabo e cresce novamente) ou quando um símbolo
peniano aparece mutilado.
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Há indivíduos com fixações orais que temem lhes seja o pênis arrancado a
mordidas, de onde resultam idéias confuso compostas de elemento tanto orais
quanto genitais. Existem homens que têm medo obsessivo consciente de terem o
pênis pequeno demais, cujo resultado foi alguma observação impressionante, na
infância, do tamanho do pênis de outrem, quando o deles era realmente pequeno.

Nos meninos, a “feminilidade” nem sempre significa: “Acho que já estou


castrado”, mas, pelo contrário, uma evolução para a feminilidade (que representa
desvio do uso ativo do pênis) muitas vezes se tenta como tranqüilização contra
castração futura possível: “Se proceder como se já não tivesse pênis, não o
cortarão”; ou até: “Se não há meio algum de evitar a castração, prefiro praticá-la
ativamente na previsão a pode acontecer; e, pelo menos terei a vantagem de ficar
nas boas graças de quem me ameaça...”.

A intensidade da “angústia da castração” à valorização intensa do órgão


durante a fase fálica; valoração esta que faz o menino decidir (quando enfrenta a
questão: ou renuncio às minhas funções genitais, ou arrisco o meu pênis) em
benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “Para que serve um
órgão, quando me proíbem de usa-lo?” No período fálico, contudo os fatores
narcisísticos contrabalançam os sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o
objetivo principal.

Problemas desta ordem resultam de outra característica do estádio oral.


Segundo Freud, o menino desta idade ainda não toma posse de um pênis como
questão de determinação sexual; diferencia não em função de homem e mulher,
mas em função de portador de pênis e castrado.

Quando obrigado a aceitar a existência de pessoas sem pênis, fica presumindo


que elas um dia, tiveram o órgão, mas o perderam. Os analistas, que têm
confirmado os achados desta ordem, cogitam que este modo de pensar talvez
resulte de repressão anterior. Talvez que o menino tenha razão mais primária de
temer os genitais femininos do que o medo da castração (angústias orais de uma
vagina dentada [Otto Fenichel-72], significando temor retaliatório de impulsos
sádicos-orais); daí tentar negar-lhes a existência.

Recebi um e-mail de um colaborador questionando sobre o “mito da vagina


dentada”, que corrobora com o relatado acima (impulsos sádicos-orais) . O
interessante é que ele relata que há um ano e meio ou dois, vem sonhando que
“todos” os dentes da sua boca caíram, não havia a sensação de dor e que de fato
era até agradável senti-los soltos dentro da sua boca (sonho que pode representar a
angústia de castração). Entretanto para um diagnóstico preciso seria necessária a
realização de uma análise, que eu recomendo.

A idéia de que as meninas tiveram um pênis, mas de que este lhes foi cortado
representaria tentativa no sentido desta negação. Certo é que vem, ao mesmo
tempo, a angústia: “Isto pode acontecer também comigo”, com a vantagem, porém,
de que se nega a existência primária dos temidos genitais femininos. Não se tem a
impressão, contudo, de que os meninos se consolem, de qualquer modo, por saber
que certas criaturas tiveram o pênis cortado; pelo contrário, esta idéia afigura-se
muito assustadora.
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De mais a mais, parece natural que o menino presuma, enquanto não lhe
ensinam o contrário, que todas as pessoas sejam construídas tal qual ele o é, de
modo que esta presunção não se baseia, necessariamente, no medo; mas, sim, a
idéia de que a presunção é incorreta é que cria o medo.

b) A inveja do pênis nas meninas

O clitóris nas meninas, é a parte do aparelho genital que se apresenta mais rica
em sensações e que atrai e descarrega toda excitação sexual; é o ponto central de
práticas masturbatórias tanto quanto de interesse psíquico. Em segundo lugar,
significa que também a menina classifica as pessoas em “fálicas” e “castradas”; ou
seja, a menina tipicamente reage à noção de que existem criaturas com pênis tanto
com a atividade “Gostaria de ter isto” quanto com a idéia “Já tive isto, mas perdi”.

Mulheres portadoras de forte inveja do pênis têm revelado, à análise, haver


sofrido “fuga da feminilidade”, desenvolvendo certo medo da própria feminilidade e,
portanto, construído inveja reativa do pênis.

A análise de neuróticas obsessivas mostra, a princípio, uma quantidade de


impulsos anais e sádicos reprimidos; mais tarde, descobre-se que, em níveis mais
profundos, existem desejos genitais inconscientes, os quais foram rejeitados por
uma regressão a desejos sádicos-anais. Daí não dizermos que a índole reativa dos
desejos sádicos-anais contradiz a existência de um período sádico-anal original no
desenvolvimento libidinal da criança, mas que os desejos reativos seguiram vias
regressivas.

A menina tem o sentimento de que a posse do pênis traz vantagens erógenas


diretas no que diz respeito à masturbação e à micção. A posse de um pênis, aos
olhos da menina, faz o possuidor mais independente e menos sujeito a frustrações;
sentimento talvez resultante da concentração de todos os sentimentos sexuais no
clitóris, durante esta fase, o clitóris sendo “inferior” em comparação com o pênis.

2.2. Período intermediário

É o período onde a sexualidade infantil atinge o seu ponto culminante, seguida


de seu declínio.

2.2.1. Fase edipiana

É o estágio que vai por volta do 3º-4º ano até o 6º-7º ano de vida. É também, o
mais importante no desenvolvimento da personalidade. É nele que a criança
desenvolve um grande interesse pelo genitor do sexo oposto e conseqüentemente,
um forte sentimento de rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo, com o
desejo de deslocar este.
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Durante este tempo, a criança aprende que seus desejos sexuais são
proibidos, apresentando sentimentos de amor e ódio em relação ao genitor do
mesmo sexo. Isso leva a sentimentos de ansiedade e de culpa, bem como de medo,
de punição pelo crime.

Freud cedo descobriu em suas pacientes manifestações metódicas


inconscientes de fantasias de incesto com o genitor do sexo oposto, aliadas ao
ciúme e à raiva homicida contra o genitor do mesmo sexo, a que denominou de
Complexo de Édipo, por analogia com a lenda clássica grega do inocente príncipe
de Tebas, a quem o oráculo predisse que assassinaria o seu pai e casaria com sua
mãe. Abandonado por seu pai numa encosta, para morrer de frio e inanição, foi
encontrado e educado por forasteiros; retomando, sem nada saber, cumpre a
profecia. Matando o rei, liberta o reino da opressão de uma criatura selvagem e
terrível, casando a seguir com a rainha, que era a sua mãe. Por remorso pelo crime,
apesar das evidências mostrarem não ter ele responsabilidade pessoal, arrancou
seus próprios olhos e, uma vez mais, vagueia, cego e exilado, através do mundo.

Além de reconhecer que o complexo edipiano é universal, nossos


conhecimentos sobre os desejos edipianos expandiram-se durante as duas
primeiras décadas deste século, abrangendo o que, a princípio, era conhecido como
desejos edipianos inversos ou negativos, isto é, fantasias de incesto com o genitor
do mesmo sexo e desejos homicidas contra o do sexo oposto. Por sua vez, essa
constelação de fantasias e emoções foi, a princípio, considerada excepcional;
verificou-se que, ao contrário, era geral.

Quando estava redigindo e copilando esta pesquisa através de fragmentos de


livros e outros trabalhos, resolvi cortar o meu cabelo e de 2 dos meus 3 filhos.

A cabeleireira se queixou comigo que a filha dela estava chorando quando ela
saia de casa para trabalhar todos os dias. Ela achava estranha esta atitude, pois
desde os 3 anos ela não chorava, e agora com 7 estava tendo estas “crises”. Ela
estava determinada a levá-la em um psicólogo. Eu expliquei que estava estudando
este assunto e provavelmente ela estava na fase edipiana e buscava uma
aproximação dela por algum problema com o pai. Neste momento ela me revelou
que era separada e não tinha ninguém do sexo masculino próximo que ela pudesse
se relacionar. Essa é, pois, da maneira mais sumária, a explanação completa do que
compreendemos por complexo edipiano. É uma atitude dupla em relação aos dois
genitores; de um lado, o desejo de eliminar o pai odiado de forma ciumenta e até de
lhe tomar o lugar em uma relação sensual com a mãe; de outro lado, o desejo de
eliminar a mãe, também odiada com ciúmes, e de lhe tomar o lugar junto ao pai.

O fato isolado mais importante a se ter em mente a respeito do complexo


edipiano é a força e a intensidade dos sentimentos envolvidos. É um verdadeiro
caso de amor. Para muitas pessoas é o caso mais ardoroso de toda sua vida, mas é
de qualquer modo tão ardoroso quanto qualquer outro que o indivíduo possa vir a
experimentar. A intensidade da tempestade de paixões de amor e ódio
(ambigüidade), de desejo e ciúme, de fúria e medo que ruge dentro da criança (veja
o caso Hans de Freud).
20

a) A formação do superego

O superego corresponde, de modo geral, ao que comumente chamamos de


consciência e compreende as funções morais da personalidade, as quais incluem:

- A aprovação ou desaprovações de ações e desejos baseados na retidão.


- A auto-observação crítica.
- A autopunição
- A exigência de reparação ou arrependimento por haver agido mal
- Auto-elogio ou auto-estima como recompensa por pensamentos e ações
virtuosas ou recomendáveis.

Existem desejos inconscientes em cada indivíduo, que ele conscientemente


repudia e nega, pois existem muitas exigências morais e proibições mais numerosas
e rigorosas em cada um de nós . Logo, as funções do superego atuam no
inconsciente.

A intensidade do medo de castração torna-se tão intensa e intolerável, que a


criança é obrigada a render-se ante um rival muito poderoso e a desistir dos seus
desejos em relação ao genitor do sexo oposto, pelo que reprime os seus
sentimentos sexuais. Ao renunciar aos sentimentos agressivos em relação ao
genitor do mesmo sexo e sexuais em relação ao do sexo oposto, a criança identifica-
se com partes de cada genitor, tornando-as partes de si mesma, partes essas, que
vão formar o Superego da criança.

Com Superego, tem-se que é o que a criança internaliza, tomando de cada


genitor, desde que seja classificado como valor moral e como ideal.

Uma porção do Superego será à parte que estabelece o que seja certo ou
errado. A outra parte, que é o chamado Ego-ideal, é composta pelas características
elevadas que todos devem portar, para se tornarem dignos dos elogios e da
aprovação geral. O Superego é, principalmente uma parte inconsciente da psiquê

As exigências e proibições morais de pais, amas, governantas e professores


que podem atuar como substitutos dos pais, começam muito cedo a influenciar a
vida mental da criança. Sua influência torna-se certamente evidente ao fim do
primeiro ano de vida. As exigências morais desse período mais remoto são até
simples, se as julgarmos de acordo com nossos padrões adultos. Entre as mais
importantes incluem-se as que se relacionam aos hábitos de higiene. Ferenczi
referiu-se a esses precursores do superego como “moralidade do esfíncter”.

Na fase pré-edipiana, entretanto, a criança trata as exigências morais que se


lhe fazem como parte do seu ambiente. Se a mãe, ou algum outro árbitro moral, está
presente e a criança deseja agrada-la, evitará a transgressão. Se estiver sozinha, ou
zangada com a mãe, ela a desagradará ou procederá como bem entender, sendo
apenas dominada pelo medo da punição.

No decorrer da própria fase edipiana, as coisas começam a mudar a esse


respeito e, por volta dos cinco ou seis anos, a moralidade passa a ser uma questão
íntima.
21

É aí, que a criança começa a sentir pela primeira vez que os padrões morais e
a exigência de que o mau procedimento deve ser punido, suscitar o arrependimento
e corrigido, vêm de dentro de si própria e não de outra pessoa a quem deve
obedecer. Aos nove ou dez anos de idade, esse processo de internalização se torna
bastante estável para ser absolutamente permanente, mesmo que de maneira
normal, ainda esteja sujeito a ampliações e modificações durante toda a
adolescência e, talvez, até certo ponto, na idade adulta.

À medida que abandona e reprime ou de qualquer forma repudia os desejos


incestuosos e homicidas que constituem o complexo edipiano, as relações da
criança com os objetos desses desejos incestuosos e homicidas que constituem o
complexo edipiano, as relações da criança com os objetos desses desejos
transformam-se, em grande parte, em identificações com os mesmos. Em vez de
amar e odiar os pais, que segundo crê, se oporiam a esses desejos e os puniriam,
ela se torna igual a eles no repúdio a seus desejos. Assim o núcleo original das
proibições do superego é constituído pela exigência de que o indivíduo repudie os
desejos incestuosos e hostis que compunham o seu complexo edipiano.Além disso,
essa exigência persiste pela vida afora, de forma inconsciente, é claro, como a
essência do superego.

O superego, consiste originalmente nas imagens internalizadas dos aspectos


morais dos pais na fase fálica ou edipiana.O ego é capaz de participar do poder dos
pais ao se identificar com eles, mas, à custa, porém, de uma submissão aos
mesmos, mais ou menos permanentemente. Freud (1923) fez duas outras
observações referentes à formação dessas identificações. A primeira consiste em
que a criança suporta as proibições dos pais, em grande parte, como ordens ou
admoestações verbais. A segunda observação foi que, em grande parte, as imagens
dos pais introjetadas para formar o superego são as dos superegos dos pais.

Os pais ao educar os filhos, tendem a discipliná-los tal qual o foram por seus
próprios pais durante a infância. Suas exigências morais, particulares, adquiridas na
infância, eles as aplicam aos filhos, cujos superegos, em conseqüência, refletem ou
se assemelham aos superegos dos pais. Esta característica tem uma conseqüência
social importante, como Freud (1923) salientou. Acarreta a perpetuação do código
moral de uma sociedade e é, em parte, responsável pelo conservadorismo e pela
relutância em mudar demonstradas pelas estruturas sociais.

As catexias instintivas são afastadas de seus objetos originais, sua procura


constante de outro objeto original leva à formação de uma identificação com o objeto
original dentro do próprio ego, a que, então, se unem as catexias. Assim, o que era
catexia do objeto passa a ser catexia narcísica. No caso que agora nos interessa,
naturalmente, as identificações que assim se formam dentro do ego compreendem a
parte determinada do ego que chamamos de superego. Assim, do ponto de vista do
id, o superego é o substituto e o herdeiro das relações de objeto edipianas. É por
esta razão que Freud o descreveu como tendo suas raízes profundas no id. Os
impulsos incestuosos ou homicidas da criança com os pais são reprimidos e
continuam a viver no id como desejos reprimidos, ainda dirigidos para os objetos
originais, porém impedidos de se expressar abertamente em atos ou pensamentos e
fantasias conscientes. No entanto, esses desejos edipianos reprimidos, com suas
catexias, não contribuem para a formação de superego.
22

A intensidade dos próprios impulsos hostis da criança para com seus pais,
durante a fase edipiana, é um dos fatores principais para determinar a severidade do
superego, e não o grau de hostilidade ou de severidade dos pais em relação à
criança, e podemos explicar isto da seguinte maneira. Quando os objetos edipianos
são abandonados e substituídos por identificações do superego, a energia do
impulso, que anteriormente catexizava esses objetos, fica, pelo menos em parte, à
disposição da porção do ego recentemente estabelecida, e que chamamos de
superego. Assim, a energia agressiva à disposição do superego deriva da energia
agressiva das catexias de objeto edipianas, e as duas são pelo menos
proporcionais, senão iguais em quantidade. Isto é quanto maior a quantidade de
energia agressiva das catexias de objeto edipianas, maior a quantidade da mesma
que ficará subseqüentemente à disposição do superego. Como conseqüência , a
criança pequena, cujas fantasias edipianas foram violentas, e destrutivas, terá
tendência a sentir maior sentimento de culpa que outra cujas fantasias tenham sido
menos destrutivas.

Uma das maneiras de formular os conflitos do período edipiano consiste em


afirmar que os impulsos do id associados aos objetos daquele período, isto é, os
pais, fazem crer à criança que a estão expondo ao perigo de uma lesão corporal. No
caso do menino, o medo será de perder o pênis, no caso da menina será qualquer
coisa análoga ao medo da lesão genital, ou uma sensação intensamente
desagradável de mortificação devida à falta do pênis, ou ambos. Em qualquer caso,
há, de um lado, um conflito entre as exigências das catexias de objeto, e, de outro,
das autocatexias ou catexias narcísicas. Por ser ilustrativo registraremos que o
problema se decide em favor das catexias narcísicas. As catexias de objeto,
perigosas, são reprimidas ou abandonadas, ou são dominadas ou repudiadas por
outros meios, enquanto as catexias narcísicas são mantidas essencialmente
intactas.

O componente narcísico da vida instintiva da criança é normalmente mais forte


que a parte que se refere às relações de objeto, embora estas sejam muito mais
fáceis de observar e conseqüentemente mais propícias a ocupar nossa atenção.

Na formação do superego são estabelecidas modificações, acréscimos e


alterações que resulta de uma identificação com um objeto de ambiente da criança
ou do adulto, com o aspecto moral desse objeto. Essas identificações são
especialmente comuns na pré-puberdade e na adolescência e modelam o superego
do indivíduo, visando à aceitação dos padrões morais e ideais dos grupos sociais
dos quais é membro. Podem até mesmo ocorrer modificações no superego durante
a vida adulta, como acontece, por exemplo, em conseqüência de uma conversão
religiosa. Entretanto, o núcleo original do superego que se formou durante a fase
edipiana continuará a ser sempre a parte mais firme e efetiva. Por conseguinte, as
proibições contra o incesto e o parricídio são as partes da moralidade da maioria das
pessoas mais completamente internalizadas, ou , inversamente, as que serão
menos provavelmente transgredidas. Outras proibições do superego são mais
passíveis de transgressão, desde que haja uma oportunidade particularmente
favorável, ou uma tentação especialmente forte.
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O Superego surge em conseqüência da introjeção das proibições e exortações


paternas na fase edipiana e, pelo resto da vida, sua essência inconsciente continua
sendo a proibição dos desejos sexuais e agressivos do complexo edipiano, apesar
dos numerosos acréscimos e alterações que sofre mais tarde, na infância, na
adolescência e mesmo na idade adulta.

b) A resolução do conflito edipiano

Tanto na resolução do conflito edipiano quanto na formação do Superego, no


menino, dá-se algo como se fora o seguinte quadro: não há como eu ter a minha
mãe só para mim, mas eu posso fazer com que uma parte dela (no caso os ideais,
as inclinações, os critérios de julgamento) se torne parte de mim; assim sendo, eu a
possuirei de um modo seguro.

Do meu pai, a quem amo e odeio (e por isso mesmo temo), não posso me
livrar, mas para que ele não mais me venha castrar, eu vou me tornar como ele
(adotando partes dos seus princípios morais e valores) e aí então ele gostará de
mim e não será mais perigoso para mim.

Nas meninas, a atração pelo pai é também denominada de edipiana para nós
freudianos (os junguianos dizem Complexo de Electra).

A resolução da situação é muito mais complexa para a menina do que para o


menino, pois este, a despeito de ter de desistir de sua ligação com a mãe,
normalmente, quando maduro, vem a contrair uma ligação com uma mãe substituta,
a esposa. Já a menina, que começa ligada à mãe, sente-se atraída pelo pai na fase
edipiana, odeia a mãe, que ter o pai só para si, mas acaba por desistir,
compensando-se com o propósito de vir a ter um homem seu.

Mas acontece que uma mulher sadia, não é capaz, como o homem, de
encontrar substituição para a ligação infantil, pelo que é levada a compensar-se se
propondo ela mesma a vir a ter um filho, tornar-se mãe e assim realizar uma
satisfatória relação mãe-filho.

c) Caso o conflito edipiano não seja satisfatoriamente resolvido o que pode


ocorrer

A excessiva identificação com o genitor do sexo oposto pode estar associada


ao desenvolvimento de características de inversão sexual no menino, ou mesmo nas
meninas.

O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade individual em


lidar com pessoas deste sexo em fase ulterior da vida.

Um estágio edipiano parcialmente solucionado pode resultar num superego mal


formado ou mesmo deficiente, o qual pode vir a ser determinante de alterações
sociopáticas do caráter e das neuroses.
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d) Causas de uma solução não-satisfatória do estágio edipiano

Acesso ao período edipiano com conflitos na fase oral, ou anal, ou fálica, que
são do período pré-edipiano, trazendo para período novo, alguém sem energia
suficiente para enfrentar as novas circunstâncias.

A ausência de um dos genitores (sem, também, haver um substituto à altura),


devido a divórcio ou qualquer outro tipo de separação.

Severa psicopatologia da parte de um dos genitores, dos tipos, por exemplo,


ser um deles excessivamente sedutor, ou cruel, ou ameaçador, ou daqueles que
vivem a rejeitar, ou inconsistente, ou inseguro, ou em constantes transformações, ou
frio etc.

Severos defeitos no Superego, como um pai efeminado, poderão vir a ser


determinantes de uma confusa identificação com tal genitor o que pode resultar
numa formação superegóica instável, inconsistente e não-razoável.

Ao fim do período Edipiano, instala-se o princípio do que Freud chamou de fase


genital, em que o interesse primário passa a ser a experiência genital, isto é, a
tendência em vir a unir os órgãos genitais com o sexo oposto: é a atração
direcionada à outra pessoa, um redirecionamento objetal, que significa a
ultrapassagem da fase auto-erótica, como até então o era na última fase, fálica.

2.2.2. Fase de latência

Esta é a fase que vai dos 6-12 até os 11-14 anos ou a puberdade. A
característica desta fase é a repressão das fantasias e das atividades sexuais, onde
os desejos e impulsos sexuais são recalcados no inconsciente.

As mães costumam relatar que a partir dos 7 anos, as crianças, especialmente


os meninos, ficam mais mansinhas. Na verdade o que ocorre é que as crianças,
acessam um período de quiescência sexual. Aqui surgem as forças anímicas, que
posteriormente surgirão como entraves à pulsão sexual, estreitando seu curso
semelhante a um dique (o asco, o sentimento de vergonha, as exigências dos ideais
estéticos e morais). Embora a educação tenha muita a ver com a construção desses
diques, tal desenvolvimento é organicamente condicionado e fixado pela
hereditariedade, podendo produzir-se, no momento oportuno, independente da ajuda
da educação. Esta fica inteiramente dentro do âmbito que lhe compete, ao limitar-se
a seguir o que foi organicamente prefixado e imprimi-lo de maneira um pouco mais
polida e profunda.

Na descrição clássica original de Freud, as manifestações sexuais são


quiescentes neste período; em particular, há uma profunda repressão da
masturbação, que permanece a grande tentação e problema da idade. Foi a
preocupação com a masturbação e outras manifestações libidinais diretas que levou
os antigos analistas a negligenciarem este período embora um fator adicional fosse
a virtual ausência de crianças como pacientes.
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O período de latência proporciona à criança o equipamento, em termos de


desenvolvimento do ego, que a prepare para o encontro com o incremento de
impulsos da puberdade. Conseqüentemente, ela é capaz de desviar a energia
instintiva para estruturas psíquicas diferenciadas e para atividades psicossociais, em
vez de ter de experimenta-la unicamente como um aumento da tensão sexual e
agressiva, a que podemos denominar sublimação.

A primeira parte da latência começa dos 7 aos 8 anos aproximadamente. É


caracterizada, segundo observações de Freud, pela passagem do complexo de
Édipo e a formação do superego. Aqui há um primeiro caso de amor com uma
criança da mesma idade ou próxima. É bastante intenso enquanto dura, depois é
abandonado, após um intervalo bastante curto. A consolidação do superego e o
fortalecimento dos mecanismos do ego continuam sendo interesses primordiais.

A segunda parte da latência vai dos 8 ao 11-14 anos. Caracteriza-se pela


busca de colegas e a formação de grupos, tanto para meninos quanto para meninas,
e por consideráveis mudanças endocrinológicas.

2.2.3. Fase de maturação psicossexual ou puberdade

Este período vai dos 12-15 até os 18 anos. Começa de forma súbita uma
atividade endocrinológica intensa no organismo, que vai resultar numa exacerbação
da libido. É a partir daí que o indivíduo retoma, de forma muita acelerada, as fases
do desenvolvimento sexual, já que vem de sair da quiescência que caracteriza o
Período de Latência que, na realidade, foi uma interrupção do desenvolvimento
sexual intenso experimentado durante os estágios pré-edipiano e edipiano.

Observa-se nesta fase uma tendência para uma reedição dos impulsos orais,
anais e fálicos e um misto de interesse sexual e de conflitos com os pais, como na
fase edipiana.

Do ponto de vista sexual, é a época mais importante da vida humana, entre o


nascimento e a morte, é justamente a da maturação sexual, sendo seu momento
marcante pela primeira eliminação de células germinativas: primeira polução entre
os garotos, e primeira ovulação ligada à menarca, entre as garotas. O que se dá,
justamente na puberdade.

A puberdade é uma revolução fisiológica, psíquica e sexual, que se processa


de dentro par fora do organismo. O que vemos aparecer, de repente, como
sexualidade psicológica, não é mais que a manifestação exterior duma atividade
maior das glândulas nos recessos mais íntimos do ser.

Os mesmos hormônios sexuais que formam o tipo sexual conduzem o corpo, a


alma e o sexo do estado infantil à maturidade e desta a velhice, efetuando, dessa
maneira, a lenta evolução e involução do organismo.
26

A puberdade é caracterizada por certos efeitos fisiológicos gerais: crescimento


rápido do corpo e fortificação, principalmente, do esqueleto; aparição de pelos,
sobretudo nas axilas e na região pubiana; e, de um modo geral, modificação da
fisiologia e dos hábitos. Durante a puberdade, o crescimento das garotas se dá mais
rápido, que o dos garotos, ao contrário do que se verifica nos períodos precedente e
subseqüente. As jovens de 15 anos são, em geral, maiores e mais pesadas que os
rapazes da mesma idade. Em compensação, seu crescimento pára aos 20 anos,
enquanto nos jovens continua até os 23.

Paralelamente ao desenvolvimento das diferenças de caracteres sexuais,


provocadas sobre a constituição física e pelo instinto sexual e pela vida psíquica, a
personalidade psicofísica sofre, durante a puberdade, modificações muito
importantes. A consciência do Eu, aumentada ou exagerada, contrasta
estranhamente com a diminuição da resistência física.

As modificações gerais, devidas à puberdade, constam desse conjunto


indefinível que constitui a beleza, que é a estética feminina.

Ao nascer, tudo é desproporção e fealdade. A cabeça é enorme e


desproporcionada no que se refere às outras partes do corpo procuram harmonizar-
se, estabelecendo as proporções físicas humanas.

A pele da mulher, na puberdade, é fina. Pode ter, no momento das regras, uma
coloração ligeiramente azulada, sobretudo nas morenas, mais notável em volta dos
olhos, onde forma um círculo negro escuro.

Alguns meses antes das primeiras regras, o púbis se cobre de pelos, cuja
coloração pode ser diferente da do cabelo. Depois do púbis, as axilas se cobrem por
sua vez de pelos; na maioria das ocasiões, já apareceram as regras quando se
manifesta o sistema capilar nessas regiões.

Todas as glândulas da pele: glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas, etc.,


se desenvolvem no momento de chegar a puberdade, produzindo, as primeiras, uma
secreção sebácea, e o odor genital. Conhecemos o papel que este odor
desempenha nos animais, ocasionando a procura dos sexos, isto é, o prazer sexual.

A época da transformação da criança em adolescente, varia segundo as


latitudes. Pede-se admitir nesse caso, a influência do sol sobre o processo sexual.
Nas regiões polares, a puberdade não se manifesta antes dos 18 anos de idade.
Durante a noite polar, que dura seis meses, as mulheres da Lapônia e da Groelândia
não menstruam. Já nas regiões quentes da África, a puberdade, muitas vezes, tem
início aos 8 e aos 10 anos de idade.

Não só as condições climáticas, mas as condições particulares de vida e a


própria alimentação, bem como o meio social (informações absorvidas), podem
precipitar ou retardar a puberdade.

As primeiras poluções e menstruações manifestam-se em geral, entre os 12 e


14 anos de idade.
27

Todavia, o limite é muito largo para ambos os sexos e, dessa forma, não se
deve considerar um fenômeno patológico a primeira eliminação de células
germinativas, aos 17 anos. Pode-se denominar precoces os fenômenos de
puberdade antes dos 10 anos, e retardados os que iniciam depois dos 18.

a) Polução (Emissão involuntária de esperma).

O esperma é um líquido opalino-grisáceo, semitransparente, que contém o


produto das glândulas seminais, isto é o espermatozóide. A composição deste
alcalóide consta de matéria albuminóide, que não contém as relações da albumina
nem da fibrina, mas o esperma-tinas. Esta é solúvel em água, sem que o calor a
coagule.
O esperma dessecado, quando em contato com a água, incha novamente. Processo
utilizado para reconhecimento médico legal das manchas encontradas em lençóis,
visto que, por esse processo, pode-se efetuar, no líquido obtido, o exame dos
espermatozóides, único meio, no momento, de esclarecer sua natureza.

Por esfriamento podem ser encontrados no esperma pequenos cristais em


forma de prismas, formados sucessivamente pro cristais de fosfato de magnésio,
fosfato de cal e de albumina.

b) Menstruação ou regras

É o sangue que as mulheres perdem, a partir da puberdade, que se dá a cada


mês lunar, isto é, de vinte e oito em vinte e oito dias, com maior ou menor
abundância, podendo chegar a trinta dias.

Entre os antigos hebreus, as mulheres eram, por lei, consideradas impuras


durante o período menstrual, e tudo que por elas fosse tocado, também. Assim, elas
praticamente ficavam isoladas do grupo por um período de sete dias, retornando a
sua vida normal, após um cerimonial de purificação. Dado estas práticas, ainda hoje
temos pessoas que semelhantemente agem, onde o contato sexual é proibido. Por
outro lado, muitas mulheres se excitam com o odor do sangue, achando o coito
nesse período muito prazeroso. Outras há que se sentem mais a vontade, no ato,
visto que o risco de uma gravidez indesejada é afastado nessa época.

Atualmente a maioria das mulheres atravessa seus ciclos menstruais de forma


quase imperceptível; realizam suas atividades normalmente. Apenas uma pequena
percentagem, devido à dismenorréia, mastodinia ou cólicas menstruais, não
consegue realizar seus afazeres cotidianos. Porém, por volta do décimo quarto dia
do ciclo menstrual, contado do início da menstruação, é impossível passar
despercebido. É o momento em que a mulher está com sua máxima carga
hormonal, e o desejo sexual está no ar, sentindo intenso desejo de fazer amor, e, na
maioria das vezes, não sabe como comunicar ao parceiro. Então sente-se irritada,
mal-humorada, sem saber precisar a causa. Na ausência de um parceiro fixo, é
comum a jovem adolescente relacionar-se sexualmente com um amigo ou
conhecido. E nesse período que a jovem, mesmo desejando conservar-se virgem,
perde a virgindade. É também aí que ocorre a gravidez indesejada.
28

2.2.4. Fase adolescência final e adulto jovem

Neste período, a partir dos 16-18 anos e pelo resto da vida, podem ser
observados os chamados pontos de fixação, que são correspondentes às fases não-
solucionada, ou pelo mesmos não satisfatoriamente solucionada, que determinam a
existência de uma indivíduo adulto, que passa um quadro de imaturidade em
algumas áreas do seu caráter, de sua identificação sexual, de seu equilíbrio afetivo,
suas tendências a regredir ante o stress, sua incapacidade de formar um
relacionamento estável, suas eleições sexuais e pelas evidentes indicações de
eclosão de um comportamento neurótico.

2.2.5. A sexualidade do idoso

O processo do envelhecimento é irreversível e contínuo, seus sintomas são


desenvolvimento e declínio. Tais processos encontram-se ligados ao longo da vida,
tendo em vista que constantemente estão se formando novas células, enquanto
outras são destruídas, algumas são de curta duração, como as que formam as
camadas mais externas da epiderme.

Como o envelhecimento é uma realidade, o importante é se preparar para um


envelhecimento com qualidade, ou seja, com saúde mental, física e emocional e
conseqüentemente uma vida sexual saudável.

Quanto a sexualidade, o que mais observamos, é um despreparo psicológico,


influenciado pela cultura, cheia de tabus. Se na adolescência temos muitos
preconceitos, imagine na chamada terceira idade. Não se admite ver uma pessoa
idosa namorando, e, na maioria dos casos, os próprios idosos não aceitam tal idéia.
Quantos são, que mesmo aos quarenta se expressam: “eu já estou velho para isso”.
Isto é um absurdo, pois está provado que o ser humano, tanto o homem quanto a
mulher, pode ter uma vida sexual ativa até o fim de suas vidas.
29

3. A sexualidade infantil e a psicanálise

Na experiência e na teoria psicanalíticas, “sexualidade” não designa apenas as


atividades e o prazer que dependem do funcionamento do aparelho genital, mas
toda uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância que
proporcionam um prazer irredutível à satisfação de uma necessidade fisiológica
fundamental (respiração, fome, função de excreção, etc.), e que se encontram a
título de componentes na chamada forma normal do amor sexual.

A psicanálise confere, como sabemos, grande importância à sexualidade no


desenvolvimento e na vida psíquica do ser humano. Mas não poderemos
compreender esta tese sem avaliarmos, ao mesmo tempo, a transformação por que
passou a noção de sexualidade. Não pretendemos aqui determinar qual a função da
sexualidade na apreensão psicanalítica do homem, mas apenas precisar, quanto à
sua extensão e compreensão, o uso que os psicanalistas fazem do conceito da
sexualidade.

Se partirmos da visão comum que define a sexualidade como instinto, isto é,


como um comportamento pré-formado, característico da espécie, como um objeto
(parceiro do sexo oposto) e uma meta (união dos órgãos genitais no coito)
relativamente fixos, perceberá que ela só muito imperfeitamente explica fatos
fornecidos tantos pela observação direta como pela análise.

Em extensão a existência e a freqüência das perversões sexuais, cujo


inventario fora realizado por alguns psicopatologistas do fim do século XIX (Krafft-
Ebing, Havelock Ellis), mostraram que existe grande variedade quanto à escolha de
objeto sexual e quanto ao modo de atividade utilizado para obter a satisfação.

Freud estabelece que existem numerosas transições entre a sexualidade


perversa e a chamada sexualidade normal: aparecimento de perversões temporárias
quando a satisfação habitual se torna impossível, presença – sob a forma de
atividades que preparam e acompanham o coito (prazer preliminar) – de
comportamentos encontrados nas perversões, seja como substitutos, seja como
condição indispensável da satisfação.

A psicanálise das neuroses mostra que os sintomas constituem realizações de


desejos sexuais que se efetuam sob forma deslocada, modificada por compromissos
com a defesa, etc. Por outro lado, são freqüentemente desejos sexuais perversos
que encontramos por detrás deste ou daquele sintoma.

Para Freud, é sobretudo a existência de uma sexualidade infantil, que atua


desde o princípio da vida, que vem ampliar o campo daquilo que os psicanalistas
chamam sexual. Ao falarmos de sexualidade infantil, não pretendemos reconhecer
apenas a existência de excitações ou de necessidades genitais precoces, mas
também de atividades aparentadas com as atividades perversas do adulto, na
medida em que põem em jogo zonas corporais (zonas erógenas) que não são
apenas a zonas genitais, e na medida em que buscam um prazer (sucção do
polegar, por exemplo). Neste sentido, os psicanalistas falam de sexualidade oral,
anal, etc.
30

Em compreensão esta maior extensão do campo da sexualidade levou


necessariamente Freud a procurar determinar os critérios daquilo que seria
especificamente sexual nestas diversas atividades. Uma vez estabelecido que o
sexual não é redutível ao genital (assim como o psiquismo não o é ao consciente), o
que autoriza o psicanalista a atribuir caráter sexual a processos onde o genital está
ausente? A questão se coloca essencialmente em relação à sexualidade infantil,
porque no caso das perversões do adulto a excitação genital está geralmente
presente.

O problema é francamente abordado por Freud, especialmente nos capítulos


XX e XXI das Conferências Introdutórias sobre Psicanálise –1915-17, onde coloca
para si mesmo a seguinte objeção: “Por que haveis de teimar em já chamar
sexualidade a estas manifestações da infância que sois os primeiros a considerar
indetermináveis e a partir das quais o sexual vai mais tarde constituir-se? Por que
não dizer simplesmente, contentando-vos apenas com a descrição fisiológica, que já
no lactente são observadas atividades”, como a sucção e a retenção dos
excrementos, que nos mostram que a criança visa prazer de órgão.

Embora deixando a questão em aberto, Freud responde apresentando o


argumento clínico segundo o qual a análise dos sintomas no adulto nos conduz a
estas atividades infantis geradoras de prazer, e isto por intermédio de um material
incontestavelmente sexual. Postular que as próprias atividades infantis são sexuais
supõe uma operação suplementar: para Freud, aquilo que se encontra no fim de um
desenvolvimento que podemos reconstituir passo a passo devia encontrar-se, pelo
menos em germe, desde o início. No entanto, ele reconhece por fim que “...não
estamos ainda de posse de um sinal universalmente reconhecido e que permita
afirmar com certeza a natureza sexual de um processo”.

Freud declara muitas vezes que tal critério deveria ser descoberto na ordem
bioquímica. Em psicanálise, tudo o que se pode postular é dada pela clínica, a qual,
porém, nos mostra a sua evolução e transformações.

Vemos que a reflexão freudiana parece tropeçar numa dupla aporia referente,
por um lado, à essência da sexualidade (em que a última palavra é deixada a uma
hipotética definição bioquímica) e, por outro, à sua gênese, pois Freud contenta-se
em postular que a sexualidade existe virtualmente desde o início.

É no que se refere à sexualidade infantil que esta dificuldade é mais patente; é


aqui também que podemos encontrar indicações quanto à solução.

Já ao nível da descrição quase fisiológica do comportamento sexual infantil,


Freud mostrou que a pulsão sexual se destaca a partir do funcionamento dos
grandes aparelhos que garantem a conservação do organismo. Num primeiro tempo,
só poderíamos referenciá-la como um a mais de prazer fornecido à margem da
realização da função (prazer sentido com a sucção, além do saciar da fome). É num
segundo tempo que este prazer marginal será procurado por si mesmo, para além
de qualquer necessidade de alimentação, para além de qualquer prazer funcional,
sem objeto exterior e de forma puramente local ao nível de uma zona erógena.
31

Apoio, zona erógena, auto-erotismo são para Freud as três características,


estreitamente ligadas entre si, que definem a sexualidade infantil. Vemos que,
quando Freud procura determinar o momento de emergência da pulsão sexual, esta
surge quase como uma perversão do instinto, em que se perdem o objeto específico
e a finalidade orgânica.

Numa perspectiva temporal bastante diversa, Freud insistiu muitas vezes na


noção de a posteriori; novas experiências vão conferir a experiências precoces,
relativamente indeterminadas, uma significação que elas não possuíam na origem.
Poderemos dizer, em último caso, que as experiências infantis, a da sucção por
exemplo, começam não-sexuais e que o seu caráter sexual só lhes é atribuído
secundariamente, depois que aparece a atividade genital? Essa conclusão parece
infirmar, na medida em que sublinha a importância do que há de retroativo na
constituição da sexualidade, o que dizíamos acima da emergência desta, e a
“fortiori” a perspectiva genética segundo a qual o sexual já está implicitamente
presente desde a origem do desenvolvimento psicobiológico. Essa é justamente
uma das principais dificuldades da teoria freudiana na sexualidade; esta, na medida
em que não é um dispositivo inteiramente montado, mas se estabelece ao longo de
uma história individual que muda de aparelhos e de objetivos, não pode ser
entendida exclusivamente no plano de uma gênese biológica, mas, inversamente, os
fatos estabelecem que a sexualidade infantil não é uma ilusão retroativa.

Na nossa opinião, a solução para esta dificuldade poderia ser procurada na


noção de fantasias originárias (ou protofantasias), que de certa maneira vem
equilibrar a de a “posteriori”. Sabe-se que Freud designa assim, apelando para a
“explicação filogenética”, certas fantasias (cena originária, castração, sedução) que
podemos encontrar em cada sujeito e que informam a sexualidade humana. Esta,
portanto, não seria explicável apenas pela maturação endógena da pulsão:
constituir-se-ia no seio de estruturas intersubjetivas que preexistem à sua
emergência no indivíduo.

A fantasia de “cena originária” pode, no seu conteúdo, nas significações


corporais que nela estão presentes, referir-se preferencialmente a determinada fase
libidinal (sádico-anal), mas, na sua própria estrutura (representação e solução do
enigma da concepção), não se explica, para Freud, pela simples conjunção de
indícios fornecidos pela observação; constitui a variante de um “esquema” que “já
está lá” para o sujeito. A outro nível estrutural, poderíamos dizer o mesmo do
complexo de Édipo, definido como regendo a relação triangular entre a criança e os
pais.

Ora, é significativo que os psicanalistas que mais se dedicaram a descrever o


jogo fantasístico imanente à sexualidade infantil (escola kleiniana) nele tenham visto
em ação, muito precocemente, a estrutura edipiana.

A reserva de Freud quanto a uma concepção puramente genética e endógena


da sexualidade verifica-se igualmente no papel que continuou a atribuir à sedução,
uma vez reconhecida a existência de uma sexualidade infantil.
32

Simultaneamente ligada, pelo menos nas origens, a necessidades


tradicionalmente designadas como instintos, e independente deles, simultaneamente
endógena, na medida em que conhece uma linha de desenvolvimento e passa por
diversas etapas, e exógena, na medida em que irrompe no sujeito a partir do mundo
adulto (pois o sujeito tem que se situar de saída no universo fantasístico dos pais e
recebe deles, de forma mais ou menos velada, incitamentos sexuais), a sexualidade
infantil é difícil de aprender ainda pelo fato de não ser suscetível nem de uma
explicação redutora que faria dela um funcionamento fisiológico, nem de uma
interpretação “pelo alto”, que pretendesse que Freud descreve sob o nome de
sexualidade infantil os avatares da relação de amor. Quando Freud a encontra em
psicanálise é sempre sob a forma de desejo: este, ao contrário do amor, está em
estreita dependência de um suporte corporal determinado e, ao contrário da
necessidade, faz depender a satisfação de condições fantasísticas que determinam
estritamente a escolha de objeto e a articulação da atividade.
33

4. Os transtornos de sexualidade

Uma pessoa que tem transtornos da sexualidade, não completou o processo


evolutivo normal até o ajustamento adulto saudável. A permanência da ameaça
infantil inconsciente de castração pelo pai ou de separação da mãe oferece um
campo aberto para o desenvolvimento desses transtornos.

A tentativa de se associar fatores orgânicos ao comportamento sexual sempre


acaba caindo em generalizações que tornam a hipótese falha. Níveis hormonais
anormais, sinais neurológicos leves ou subclínicos, anormalidades cromossômicas e
alterações inespecíficas no eletroencefalograma parecem ocorrer em alguns casos.

Na realidade, a diferenciação entre a sexualidade normal e anormal é muito


tênue e sujeita a diversas influências. O comportamento sexual e as fantasias
individuais são muito íntimos e só raramente chegam ao conhecimento médico.
Ainda estamos distantes de detectar fatores psicológicos ou orgânicos claros para
afirmar serem eles os responsáveis por qualquer comportamento específico.

Apesar do consenso de que os transtornos de identidade sexual e de


preferência sexual não sejam raros e suas definições facilmente operacionalizadas,
são poucos os trabalhos epidemiológicos. Talvez porque o diagnóstico não seja
realizado, já que os examinadores freqüentemente não questionam os pacientes
sobre suas intimidades sexuais ou porque na maioria dos casos os sintomas são
ego-sintônicos e os pacientes não os apresentam como queixa ou, ainda, porque
são muitas vezes omitidos deliberadamente.

Mais de 50% dos transtornos de preferência sexuais se iniciam antes dos 18


anos de idade. No caso dos transtornos de identidade sexual, parece que raramente
se iniciam depois dos 21 anos de idade, sendo muitas vezes relatados em crianças
de três a cinco anos de idade.

A pedofilia é o transtorno de preferência sexual mais comum.


Aproximadamente 15% de todas as crianças já foram molestadas antes de atingir 18
anos. A violência à crianças é sempre considerada com a maior seriedade, e os
casos descobertos chegam sempre a público.

Os casos de sadomasoquismo são sempre sub-representados porque só


chegam às estatísticas os casos graves com conseqüências legais ou policiais.
Entre os pacientes com transtorno de preferência sexual que procuram tratamento,
quase 50% apresentam pedofilia, 25% queixam-se de exibicionismo e 12% de
voyeurismo.

A 10ª edição da Classificação dos Transtornos Mentais (CID10) da


Organização Mundial de Saúde (OMS) divide os transtornos sexuais em três grupos:
34

4.1. Disfunção sexual não causada por transtorno ou doença


orgânica (F52)

A resposta sexual é tão intrínseca da personalidade que se torna impossível


avaliar a importância relativa dos fatores psicológicos e orgânicos. Alguns tipos de
disfunção (perda do interesse sexual, por exemplo) acometem homens e mulheres,
embora as mulheres, mais freqüentes relatem falta de prazer ou interesse.

4.1.1. F 52.0 - Falta ou perda de desejo sexual

É o problema principal e não o secundário em relação a outras dificuldades,


tais como falha da ereção ou dispareunia. Embora não impossibilitando o prazer,
torna a iniciativa da atividade mais difícil. É um transtorno sexual hipoativo que se
expressa com frigidez. A disfunção do desejo pode ser:

Total: quando nunca, em momento algum, sentem prazer no coito. Não são
portadoras de libido.

Parcial: quando apenas algumas poucas vezes apresentam desejo sexual.


Normalmente tais mulheres dificilmente atingem o orgasmo.

Circunstancial: neste caso, a disfunção de desejo está ligada a determinadas


circunstâncias, a momentos, que podem ser ocasionado, pelo objeto sexual (um
parceiro inadequado sexualmente), pelo local (ninho de amor inadequado), trauma
ligado ao ato sexual (violência sexual, etc.), etc., permanecendo enquanto existir o
problema.

4.1.2. F 52.1 - Aversão sexual e ausência de prazer sexual


A possibilidade de relação sexual provoca fortes sentimentos negativos,
suficientes para que a relação seja evitada, ou para que as respostas sexuais
ocorram normalmente. O orgasmo pode ser alcançado, mas há uma falta de prazer
apropriado, ao que se denomina anedonia sexual.

4.1.3. F 52.2 - Falta de resposta genital

No homem é caracterizada pela disfunção na ereção no ato sexual, ocorrendo


quando a ereção surge normalmente em certas situações como a masturbação ou
com uma parceira diferente ou durante o sono; muito provavelmente, o fator
fundamental é psicológico. Em mulheres, o problema mais freqüente é o
ressecamento ou falha de lubrificação vaginal , sendo que os fatores importantes
podem ser psicogênicos ou infecções ou deficiências de estrogênio (freqüentemente
na menopausa).
35

4.1.4. F 52.3 - Disfunção orgástica

No orgasmo não ocorre ou se faz de modo muito retardado. Isso pode ser
situacional (ocorre sobretudo com determinados parceiros) ou é invariável quando
fatores de natureza física não podem ser excluídos. É mais comum em mulheres do
que em homens. As disfunções orgásticas ou anorgasmias são classificadas em:

Primária: quando a mulher nunca experimentou o orgasmo.

Secundária: neste caso, a mulher tornou-se anorgástica, após ter


experimentado o orgasmo.

Anorgasmia total: trata-se da popularmente conhecida frigidez, que é a


incapacidade de a mulher atingir o orgasmo em qualquer situação ou momento.

Anorgasmia parcial: denomina-se anorgasmia parcial a dificuldade que a


mulher tem em atingir o orgasmo, ou seja, é lenta em sua resposta orgástica.

Anorgasmia circunstancial: é o caso em que a mulher tem dificuldade de atingir


o orgasmo em determinadas circunstâncias, à semelhança da disfunção de desejo
circunstancial, já citada. Podemos ainda, aqui acrescentar: o sentimento de culpa,
onde muitas mulheres, por nutrirem tal sentimento ligado ao sexo, têm seus
pensamentos desviados do ato; narcisismo, quando a mulher é bela vive se
admirando, tão concentrada em sua beleza que não consegue se concentrar no ato
sexual, antes está preocupada em não desarrumar o cabelo, quebrar a unha, etc.

4.1.5. F 52.4 - Ejaculação precoce

Refere-se à incapacidade de controlar a ejaculação para que ambos os


parceiros possam ter orgasmo. Em muitos casos, a ejaculação pode ocorrer antes
mesmo do que em homens. Esta impossibilidade só se observa geralmente no caso
do coito, podendo ejacular normalmente pelo processo masturbatório. Podem ser
das seguintes origens:

Orgânica: diabetes, doença neurológica que interfira na sensibilidade do pênis,


doenças que causem baixa de androgênio, etc.

Psicológica: ocorre na maioria dos casos, sendo : a fixação à auto-ereção,


associada à masturbação na puberdade; fixação à fase fálica, associada à micção,
gerando um medo inconsciente de punição por ejacular; um mau relacionamento
conjugal; aversão inconsciente a ser pai, etc.

4.1.6. F 52.5 - Vaginismo não-orgânico

Surge quando há espasmos dos músculos que circundam a vagina, causando


oclusão da abertura vaginal. A penetração torna-se difícil e dolorosa ou mesmo
impossível, no vaginismo patogênico.
36

4.1.7. F 52.6 - Dispareunia não orgânica

Refere-se a dor durante a relação sexual, ocorrendo tanto em mulheres como


em homens. Essa categoria só deve ser usada quando não há outra disfunção
sexual (como vaginismo ou ressecamento vaginal).

4.1.8. F 52.7 - Impulso sexual excessivo

Não costuma ser queixa de pacientes, embora possa ocorrer em mulheres e


homens, sobretudo na adolescência e início da idade adulta. No homem é chamada
satiríase, e na mulher, ninfomania.Quando o impulso sexual é secundário a um
transtorno primário deve ser codificado.

4.2. Transtornos de identidade sexual (F64)

São relativamente raros, eles chamam a atenção devido às suas


características surpreendentes, bizarras e muitas vezes inadequadas.

4.2.1. F 64.0 - Transexualismo

É o desejo de viver e ser aceito como um membro do sexo oposto. Usualmente


acompanha-se por uma sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio
sexo anatômico. Muitas vezes, os pacientes recorrem a tratamentos hormonais e
cirurgias com o objetivo de tornar o corpo congruente com o sexo preferido.

4.2.2. F 64.1 - Transvestismo de duplo papel

Caracteriza-se pelo uso de roupas do sexo oposto durante um breve período


para desfrutar a experiência temporária de ser o sexo oposto. Não há desejo de
mudança de sexo ou busca de cirurgias ou hormônios.

4.2.3. F 64.2 - Transtorno de identidade sexual na infância

É o desejo persistente e invasivo da criança de ser do sexo oposto.


Acompanha-se de intensa rejeição pelo comportamento, atributos e/ou vestimentas
do sexo original. Em geral, começa nos anos pré-escolares. Ocorre mais em
meninos do que em meninas. Aproximadamente 70% desses indivíduos, quando
adultos, mantêm orientação homossexual.
37

4.3. Transtornos de preferência sexuais (F65)

Têm em comum algumas características: são fantasias sexuais persistentes,


repetitivas ou intrusivas; são, muitas vezes, ego-sintônicas, mas reconhecidas como
pouco usuais; a excitação sexual e o orgasmo são inteiramente dependentes destas
fantasias; há uma grande importância da fantasia na vida do paciente; nos casos
graves há outros diagnósticos psiquiátricos associados, como transtorno de
personalidade “borderline” ou psicoses.

4.3.1. F 65.0 - Fetichismo

È a presença de dependência de alguns objetos inanimados, em geral artigos


de vestuário e calçados, como estímulo para excitação e satisfação sexuais. O
fetichismo só deve ser diagnosticado quando é a fonte mais importante ou única de
excitação sexual.

4.3.2. F 65.1 - Transvestismo fetichista

É o uso de roupas do sexo oposto para obter excitação sexual. O


transvestismo fetichista se distingue do transvestismo transexual por sua associação
à excitação sexual, com forte desejo de tirar a roupa assim que o orgasmo acontece.

4.3.3. F 65.2 - Exibicionismo

É uma tendência recorrente ou persistente de expor a genitália a estranhos ou


a pessoas em lugares públicos, sem convite ou pretensão de um contato mais
íntimo. Há excitação quando da exposição, e o ato é comumente seguido de
masturbação.

4.3.4. F 65.3 - Voyeurismo

É o comportamento recorrente ou persistente de olhar pessoas envolvidas em


comportamentos sexuais ou íntimos, tais como despir-se, sem que a pessoa
observada tome conhecimento. Isso leva à excitação e masturbação.

4.3.5. F 65.4 - Pedofilia

É a preferência sexual por crianças, usualmente em idade pré-puberal ou no


início da puberdade. A pedofilia, apesar de sua freqüência elevada, raramente é
identificada em mulheres. Freud classificou a pedofilia como sendo a perversão dos
indivíduos “fracos e impotentes”. Estes sentem-se atraídos por crianças por serem
mais fracas e mais fáceis de conquistar quando outros objetos lhe são excluídos
pela angústia.
38

4.3.6. F 65.5 - Sadomasoquismo

É a preferência por atividade sexual que envolva servidão ou a inflição de dor


ou humilhação. Caso o indivíduo prefira ser objeto de tal estimulação, chamamos de
masoquismo; se é executor, chamamos de sadismo. Muitos indivíduos apresentam
as duas características.

4.3.7. F 65.6 - Transtornos múltiplos e outros transtornos

a) Necrofilia: é uma desordem sexual caracterizada pela necessidade de ato


sexual com cadáveres. Está ligada a um distúrbio mental normalmente hereditário.
Tem uma relação bem clara com o complexo de castração, onde a equação pode
ser definida da seguinte maneira, “transar com quem já morreu, não me traz o risco
de ser castrado.”. Os desajustes desta ordem têm um componente neurótico mas
também profundamente psicótico, onde em momentos de angústia há dissociação
da realidade e o instinto impele profundamente para a necessidade de satisfação
sexual com um corpo morto, que não lhe possa reagir.

B) Zoofilia: também conhecida como bestialidade, consiste na relação sexual


com animais. É um distúrbio sexual encontrado principalmente em pessoas
pervertidas com características de rudez, insensibilidade e grosseria, normalmente
mais presente no campo, entre lavradores. Devido a transtornos neuróticos, tal
pessoa vive um bloqueio afetivo para com o amor a um parceiro humano, onde a
idéia presente em nível consciente expressa a crença errada de que o animal é mais
adequado que o semelhante em termos sexuais.

C) Incesto: caracteriza pela prática sexual entre pessoas unidas por vínculo
familiar. É normalmente resultante da mudança de objeto no período de
desenvolvimento edipiano, onde ocorre um deslocamento parental, fazendo com que
a libido seja direcionada somente a certo membro da família, tendo mais freqüência
o caso entre irmãos, entre pais e filhos, e parentes próximos.

D) Gerontofilia: caracteriza-se pela preferência sexual por pessoas de idade


avançada. Boa parte destes pervertidos, foi criada por pessoas ou mesmos pais
idosos desde o nascimento, passando pelas fases do desenvolvimento psicossexual
na companhia destes, e pelo fato de sofreram alguma interferência, desenvolvendo
a regressão a um ponto onde houve a fixação da sua sexualidade.

4.4. Tratamento

Em geral, os transtornos de sexualidade estão associados a um prognóstico


desfavorável. Entretanto, alguns fatores podem melhorar o prognóstico, como a
motivação para a mudança. Entre os fatores que pioram o prognóstico incluímos:
idade de início precoce, freqüência elevada dos atos, ausência de culpa ou
vergonha e o uso associado de drogas.
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A motivação do indivíduo em buscar tratamento é o fator determinante para a


obtenção de resultados favoráveis. O tratamento dos transtornos sexuais deve levar
em consideração todos os fatores biológicos, psicológicos e sociais envolvidos na
sexualidade. Sabemos que muitos desses transtornos têm raiz em problemas
médicos subjacentes e que devem ser tratados. Muito freqüentemente são fatores
medicamentosos, tanto de ordem médica como psiquiátrica.

É importante acentuar que mesmo na prática da masturbação, que permite o


prazer do indivíduo com o próprio corpo, faz parte do impulso sexual ser voltado
dominantemente para a relação com outra pessoa de modo real ou imaginário. Esse
aspecto dá à vida sexual caráter peculiar. Na vida dos casais com ligação
duradoura, a satisfação sexual é fator preponderante de harmonia. A relação sexual
bem-sucedida (prazerosa) dá aos parceiros um sentimento de gratidão mútua que
ajuda a suportar os desgastes naturais da vida cotidiana. A insatisfação exacerba os
pequenos antagonismos. É importante, por isso mesmo, estimular a boa relação
entre os parceiros. Isso exige um diálogo franco sobre todos os aspectos da
sexualidade. O fato de ser adulto não indica que as pessoas estão em condições de
viver o sexo com liberdade. Pesa ainda sobre o sexo uma atitude preconceituosa
que impede que os parceiros possam dialogar livremente sobre desejos,
preferências e limites. A base desse diálogo deve ser o reconhecimento de que não
existe o amante ideal. A vida sexual é uma conquista permanente que vai permitindo
um conhecimento maior entre os parceiros. Os homens ainda têm dificuldades em
aceitar a iniciativa das mulheres. Isso se deve ao fato de nem sempre se achar
dispostos para o relacionamento sexual. As mulheres, que não têm impedimentos de
natureza fisiológica, por vezes forçam uma disposição que psicologicamente não
tem. Esses aspectos não são conversados entre os parceiros como deveriam.
Numerosos homens ainda se julgam insuficientes por se avaliarem portadores de
pênis pequeno. Na quase totalidades dos casos são atribuídas ao tamanho do pênis
outras insuficiências não anatômicas.

O homem é condenado à autenticidade sexual e não consegue muitos


orgasmos seguidos. As mulheres têm maior liberdade anatômica e fisiológica; são
capazes de orgasmos múltiplos e podem manter relação sexual fingindo um desejo
inexistente. Só a aceitação dos limites permite o diálogo franco e aberto. A vida
sexual é um aprendizado em que cada parceiro precisa escutar o desejo do outro.
Isso não é fácil. Desvios como a pedofilia, o fetichismo, a necrofilia, os estupros
mostram a dificuldade de respeitar o parceiro e a tendência freqüente de anulá-lo.

É importante ter presente os limites de ordem biológica. Numerosas doenças


de natureza médica estão envolvidas na disfunção da ereção. Doenças
cardiovasculares, como o aneurisma da aorta e a insuficiência cardíaca; distúrbios
urológicos, como o mal de Peyronie, hidrocele ou varicocele; genéticos, como a
síndrome de Klinefelter; distúrbios endócrinos, como os diabetes mellitus. Quando
essas e outras condições médicas estão envolvidas, cumpre tratá-las para evitar os
efeitos sobre a ereção e ejaculação.

Efeitos colaterais de várias substâncias, como os antidepressivos tricíclicos


(imipramina, clomipramina, etc.), o carbonato de lítio e as anfetaminas, também
podem dificultar a ereção, a ejaculação e o orgasmo.
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Outras drogas usadas de modo abusivo, tais como álcool, cocaína, heroína,
podem comprometer a ereção e a ejaculação. Antidepressivos, como imipramina,
clomipramina, nortriptilina, fluoxetina e sertralina, podem contribuir para a inibição do
orgasmo feminino. Quando o sintoma aparece simultaneamente com essas
medicações, importa avaliar a relação de custo e benefício das mesmas.

Apesar de difícil, o tratamento deve ser sempre multidisciplinar, com


acompanhamento médico (psiquiatra, ginecologista ou endocrinologista), psicólogos
de diferentes orientações e assistentes sociais.

Há relatos de tratamentos dos transtornos sexuais com métodos psicanalíticos,


comportamentais e outras técnicas diretivas. É sempre difícil acompanhar esses
casos. O que sabemos é que nenhuma dessas técnicas consegue ser eficiente em
todos eles. Isso deve levar a uma atitude humilde de abertura para outros tipos de
investigação. A psicanálise e as psicoterapias de orientação psicanalítica são a
abordagem mais comum desses problemas, apesar da escassez de estudos
controlados. Ajudam o paciente a entender a dinâmica psicológica dos eventos e
tentar reformula-las.

A terapia comportamental deve ser utilizada para corrigir padrões específicos


de desajustamento sexual. Estímulos aversivos desagradáveis são pareados com os
impulsos, que então tendem a diminuir. Técnicas cognitivas (autoconscientização,
auto-avaliação e auto-reafirmação) e de dessensibilização sistemática também
podem ser utilizadas. O uso de medicação fica restrito a sintomas ou síndromes
ansiosas ou depressivas associadas. A medicação deve ser utilizada por tempo
limitado e em indicações muito precisas, apenas como um coadjuvante às
psicoterapias.

Bibliografia
FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0
Volume VII - O quadro clínico, o primeiro sonho, o segundo sonho, posfácio.

PEREIRA, PAULO CUNHA, Sexologia Aplicada à Psicanálise. Isbn. RJ.2000

NUNES, PORTELLA, Psiquiatria e Saúde Mental, Atheneu, SP- 2000

BRENNER, CHARLES, Noções básicas de psicanálise, Imago Editora, RJ

BOYER, ORLANDO, Pequena Enciclopédia Bíblica – Ibad.SP.2000

LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise – Martins Fontes, SP-2000

NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000

FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses, Atheneu, SP-2000

INTERNET http://www.rio2001negocios.com.br/psicologiaesexologia/index.htm
Introdução à sexologia

http://www.freud.rg3.net/
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