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CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMPOS DE ANDRADE

JULIA DE MORAES NOGUEIRA

TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL: BASES NEUROBIOLÓGICAS E


COGNITIVAS DOS ESTADOS EMOCIONAIS E A INTERVENÇÃO CLÍNICA NA
ABORDAGEM DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

CURITIBA
2017
JULIA DE MORAES NOGUEIRA

TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL: BASES NEUROBIOLÓGICAS E


COGNITIVAS DOS ESTADOS EMOCIONAIS E A INTERVENÇÃO CLÍNICA NA
ABORDAGEM DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
curso de Graduação em Psicologia do Centro
Universitário Campos de Andrade, como requisito
parcial à obtenção de título de Bacharel em
Psicologia.
Orientador: Profº Me. Raul de Freitas Buchi

CURITIBA
2017
Aos cuja sina é se ensinar.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha mãe Ivete, que diante das dificuldades


cotidianas atentou-se em explicar a simplicidade das coisas, e mesmo dentro de
vendavais construiu em mim uma história que motivou o desenvolvimento deste
trabalho, o ingresso e conclusão no curso de Psicologia e a luta diária por aquilo que
acredito! Ainda considerando os laços sanguíneos, agradeço a Anne, minha alma
fora de mim, que se atenta no reconhecimento das relações e que se baseia na
sinceridade para a construção de toda nossa vida juntas e que dentro deste trabalho
teve o mesmo respeito para colaborar nas dificuldades e alegrias que surgiram no
decorrer do processo; ao meu pequeno irmão João Vinicius, pelo respeito nos
momentos que precisei de silêncio e pelos desenhos no quarto que tornaram meu
coração quentinho quando o nervosismo estava presente. Ao meu primo Eudes por
confiar e acreditar em mim. A todos da família Moraes, Nogueira e Crepaldi.
Saindo dos laços sanguíneos e submersa nos laços vindos das vivências
escolhidas para sentir, agradeço ao meu padrasto e companheiro de vida Carlos,
que sempre me acolheu e possibilitou mudanças conceituais negativas e mostrou
coisas novas que valem a pena e que dão sentido às pessoas e as coisas boas que
a vida oferece. Ao meu namorado Francisco, que enfrentou comigo desde o início as
mudanças proporcionadas e originadas na graduação; e que entendeu e entende
meus conflitos, sorrisos e lágrimas decorrentes das consequências e situações
geradas pelas minhas escolhas, quem me ensinou o significado real de lealdade
numa relação além do que é exigido socialmente, mas que dentro das nossas
limitações baseia sete anos de convivência e de sentimento que irá seguir conosco
pelo período da vida. E a todos da família Lima e Nascimento.
Ainda nas pessoas escolhidas para compartilhar a vida comigo, agradeço
aquele que não está mais ao meu lado em vida, mas que me direcionou para o
cumprimento das tarefas exigidas, inclusive essa formação. Reginaldo Adriano,
quando no espaço temporal não estamos, mas somos, a distância não existe.
A minha amiga Silvia que com conexão estabelecida desde o primeiro dia de
aula fez parte da construção e reconstrução da nossa formação e das nossas
características pessoais, a Moratto e Larissa que com toda delicadeza, simplicidade
e sorrisos, motivaram e inspiraram meus comportamentos livres que possibilitaram
alegrias e descontrações cotidianas; às minhas amigas Natacha, Kelly e Denise que,
cada uma com sua particularidade, me ensinaram a amar o que me move e me
contesta, me ensinaram a valorizar aquilo que temos de mais simples e básico e que
dá sentido aos nossos dias. A minha amiga Andriele, pela paciência e colaboração
durante o processo de construção deste trabalho e finalização da graduação.
Aos meus eternos amigos-irmãos Karen e Raphael, palavras não cabem diante
de tudo que vivemos e tudo que construímos juntos. Vocês são minha inspiração.
A todos os meus orientadores de estágios (Luzia, Wani, Raquel, Solange, Raul,
Ana e Tânia) e demais profissionais (Ricardo, Viviane, Suzane, Regina, João, Jorge,
Cláudio, Carolina, Karina, Gizeli, Douglas, Ivone, Simone, Simonne, Elisangela,
Izabel, Joani, Iracema, Adriana) que visaram tal processo como fundamental e me
proporcionaram momentos ricos em aprendizados.
Ao meu orientador, Ms. Raul de Freitas Buchi, que aceitou enfrentar mais esse
processo comigo e no decorrer da graduação teve a delicadeza de refletir sobre
todos os lados importantes dentro dos caminhos que enfrentamos com todos
aqueles escolhidos para fazer parte das nossas vidas. A peça fundamental: Raul,
este trabalho também é seu.
A coordenadora do curso Letícia, pelo amparo e dedicação para que essa
formação se tornasse real e possível: sempre carregarei seu esforço comigo.
A todos os professores parte da minha formação acadêmica.
Agradeço aos colegas de turma que dividiram comigo momentos desse longo
período.
Gratidão às pessoas parte desses cinco anos - motoristas de vans e demais
trabalhadores da instituição de ensino (cantineiros, bibliotecários, organizadores do
espaço e demais) - o cotidiano e os acessos básicos fundamentam e embasam um
processo maior, sem vocês minha rotina não seria possível.
Agradeço a Deus, sempre muito delicado comigo, que entre escolhas a
caminhos diferenciados e mudanças difíceis exigindo movimentação contrária,
sempre me garantiu conviver com os melhores companheiros deste processo que é
a vida.
Enfim, agradeço a todos que possibilitaram a construção desta fase e fizeram
deste um processo fundamental e único o qual contribui para minha formação
pessoal e profissional: que continuemos sendo realidade, crise e vendaval
transformador!
“Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos
por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse
tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos
sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia
e de noite. Não importa onde estejamos à sombra que corre atrás de nós tem
decididamente quatro patas.”. (CLARISSA PINKOLA ESTÉS)
RESUMO

A compreensão dos componentes que fundamentam, constroem e elaboram a


estruturação dos aspectos emocionais torna-se partícula fundamental para a
intervenção terapêutica do Psicólogo. A organicidade e envolvimento dos sistemas
neurobiológicos que processam a emoção conectam-se ao processamento cognitivo
de informação, percepção e processos atencionais; e de construção cultural e social
do ambiente o qual o indivíduo está inserido. Esse trabalho contempla itens da
abordagem Neuropsicológica e Clínica considerando a análise dos elementos
emocionais do indivíduo com direcionamento a reflexão de características
ambientais e sociais que se relacionam com as dimensões emocionais e a
intervenção psicológica. Trata-se de uma revisão bibliográfica utilizando métodos
qualitativos que analisa e descreve um conglomerado de informações relacionadas à
estruturação e processamento neurobiológicos e cognitivos dos estados emocionais;
além de tonalidades para a intervenção clínica de acordo com a abordagem
cognitivo-comportamental com foco na Terapia dos Esquemas Emocionais.
Palavras – Chave: estados emocionais, neuropsicologia, clínica, sistemas
neurobiológicos, terapia cognitivo-comportamental.
ABSTRACT

The understanding of the components that underlie, construct and elaborate the
structuring of emotional aspects becomes a fundamental particle for the therapeutic
intervention of the Psychologist. The organic nature and involvement of the
neurobiological systems that process emotion connect to the cognitive processing of
information, perception and attentional processes; and of cultural and social
construction of the environment to which the individual is inserted. This work
contemplates items of the Neuropsychological and Clinical approach considering the
analysis of emotional elements of the individual with direction to the reflection of
environmental and social characteristics that are related to the emotional dimensions
and the psychological intervention. This is a bibliographical review using qualitative
methods that analyzes and describes a conglomeration of information related to the
neurobiological and cognitive structuring and processing of emotional states; in
addition to tonalities for clinical intervention according to the cognitive-behavioral
approach with focus on Emotional Scheme Therapy.
Keywords: emotional states, neuropsychology, clinical, neurobiological systems,
cognitive - behavioral therapy.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – ELEMENTOS FUNCIONAIS E O CONTROLE DA HIPÓFISE PELO


HIPOTALAMO ........................................................................................................... 22
FIGURA 2 – SECREÇÕES HIPOTALAMICAS QUE LIBERAM OU INIBEM A
PRODUÇÃO DOS HORMONIOS DA HIPOFISE ANTERIOR ................................... 23
FIGURA 3 – CIRCUITO NEURAL PROPOSTO PARA A EMOÇÃO .......................... 26
FIGURA 4 – NODOS OU UNIDADES DENTRO DA REDE........................................ 31
FIGURA 5 – PESQUISAS EM PACIENTES DEPRIMIDOS ....................................... 33
FIGURA 6 – MODELO COGNITIVO .......................................................................... 40
FIGURA 7 – MODELO DOS ESQUEMAS EMOCIONAIS. ......................................... 49
FIGURA 8 – MODELO DE CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO ................................... 54
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 13

3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

3.1 GERAIS ........................................................................................................... 15

3.2 ESPECIFICOS ................................................................................................ 15

4. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 16

4.1 NEUROCIÊNCIA ............................................................................................. 16


4.1.1 ESTADOS EMOCIONAIS ......................................................................... 16
4.1.2 ESTRUTURAS SUBCORTICAIS NA REGULAÇÃO EMOCIONAL .......... 18
4.1.3 ENTRE AUTONÔMICO E ENDOCRINO: OS AJUSTES CORPORAIS ... 19
4.1.4 HIPOTALAMO NO CONTROLE DO SISTEMA ENDOCRINO ................. 21
4.1.5 ENTRE A REPRESENTAÇÃO CORTICAL E SUBCORTICAL DAS
EMOÇÕES: O ENCONTRO DA AMÍGDALA ......................................................... 24
4.1.6 O COMPLEXO BASOLATERAL ............................................................... 26

4.2 NEUROPSICOLOGIA ..................................................................................... 29


4.2.1 NEUROCIENCIA COGNITIVA E EMOÇÕES ........................................... 29
4.2.2 ESTADOS EMOCIONAIS E A ASSOCIAÇÃO PARA A COGNIÇÃO: A
RELAÇÃO COM A MEMÓRIA. .............................................................................. 33
4.2.3 PERCEPÇÃO, ATENÇÃO E O ESTADO EMOCIONAL ........................... 34
4.2.4 A COGNIÇÃO NOS TRANSTORNOS AFETIVOS ................................... 37

4.3 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ............................................... 39


4.3.1 A CLINICA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E O MODELO
COGNITIVO ........................................................................................................... 39
4.3.2 CRENÇAS ................................................................................................ 40
4.3.3 PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS ........................................................... 42
4.3.4 CONCEITUAÇÃO COGNITIVA ................................................................ 43
4.3.5 EMOÇÃO, A CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL E A TERAPIA
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL....................................................................... 44
4.3.6 TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL ................................................... 45
4.3.7 OBJETIVOS E MODELO DA TERAPIA FOCADA NO ESQUEMA
EMOCIONAL ......................................................................................................... 47
4.3.8 CARATER SOCIAL DA EMOÇÃO ............................................................ 50
4.3.9 INTERVENÇÃO NA TERAPIA COM FOCO NOS ESQUEMAS
EMOCIONAIS ........................................................................................................ 52

5. ANÁLISE ............................................................................................................ 59

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 62

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 65

8. ANEXOS............................................................................................................. 67

ANEXO A – ALGUMAS VIAS IMPLICADAS NO PROCESSAMENTO DAS


INFORMAÇÕES EMOCIONAIS ............................................................................... 68
11

1. INTRODUÇÃO

Apesar da influência dos estados emocionais em vários processos corporais,


ainda não há definição específica do termo. Sabe-se que o prazer, a alegria, a
euforia, a tristeza, o desânimo, a depressão, o medo, a ansiedade, a raiva, a
hostilidade e a calma, por exemplo, contribuem para a riqueza das relações
humanas e atribui às ações do indivíduo outras características que mediam a
conectividade entre o sentimento, o ambiente, a expressão e a comunicação
(KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997).
Devido às implicações que envolvem a regulação e desregulação dos estados
emocionais e as contribuições necessárias para o desenvolvimento do
conhecimento acerca do tema, algumas questões surgiram, como por exemplo:
quais são as partes do cérebro envolvidas na emoção? Como sentimos as emoções
conscientemente, há certamente um elemento cognitivo importante nas emoções,
portanto qual a área envolvida?
Esses questionamentos possibilitam e oportunizam respostas que explicam a
expressão emocional e a necessidade de comunicação entre individual e coletivo, a
ação do indivíduo diante do processamento cognitivo do material que envolve a
conexão com os estados emocionais e sinais fisiológicos decorrentes da
desregulação emocional.
Segundo Eysenck e Keane (1994), a maior parte da psicologia cognitiva
contemporânea foi embasada pela abordagem de processamento de informação
proposta por Broadbent (1958 apud EYSENCK, KEANE, 1994). Contudo, essa teoria
não se presta a um exame da relação entre cognição e emoção. Porém, passou a
ocorrer um aumento considerável no interesse dos psicólogos cognitivos pela área
da cognição e emoção. Essa mudança oportunizou vários estudos, sendo o mais
citado por esse autor as bases experimentais em pesquisas relacionadas a
alterações afetivas com base na desregulação do estado emocional que podem
gerar transtornos afetivos.
Outros questionamentos surgem dos estudos apresentados pelos psicólogos
cognitivos, com certa incongruência; visto que apesar de pouco saber com certeza
sobre o funcionamento do sistema cognitivo em pacientes com transtornos afetivos,
12

ainda assim a abordagem cognitiva é utilizada amplamente para o tratamento


desses pacientes (EYSENCK, KEANE, 1994).
Esta análise busca a compreensão dos aspectos que envolvem os sinais,
sintomas, processos, estruturas e demais características provenientes dos estados
emocionais e descreve maneiras para a atuação do terapeuta clínico, considerando
a relevância do elemento emoção para o desenvolvimento da neuropsicologia e da
terapia cognitivo-comportamental enquanto área de estudo da psicologia cognitiva.
13

2. JUSTIFICATIVA

O tema deste trabalho foi escolhido tendo em vista a sua importância


reconhecida ao longo da graduação em Psicologia e conforme será apresentado ao
longo desta justificativa, a escassez de estudos relacionados ao tema juntamente
com a fundamentação teórica analisada que indica a relevância da análise de
estudos sobre a emoção para a intervenção psicológica, neste caso, nas áreas
especificas da neuropsicologia e psicologia clínica.
Na apresentação do estímulo, para que a reação afetiva ocorra, é necessário
processamento cognitivo? Essa pergunta elaborada por Eysenck e Keane (1994)
remete à uma das questões chave para a compreensão da relevância do estudo e
entendimento da relação entre o processamento cognitivo e as teorias sobre a
emoção.
Sobre isso, segundo Eysenck e Keane (1994, p. 409) alegaram que existem
desentendimentos sobre a resposta dessa pergunta. Zajonc (1980, 1984) examinou
e afirmou que a avaliação afetiva a um estímulo é um processo independente de
processos cognitivos. Nas afirmativas de Zajonc (1980) foi descrito um fenômeno
chamado de “mera exposição”. Este fenômeno surgiu com pesquisas de
apresentação de estímulos num nível subliminar (ex.: músicas) para os indivíduos.
Apesar da ausência de qualquer recordação, os indivíduos selecionaram, na sua
maioria, os estímulos antes apresentados. Portanto, segundo ele, existe uma
avaliação afetiva do estímulo, porém, sem processamento cognitivo.
Considerando a influência das regiões do cérebro envolvidas no
processamento da emoção, é de importância considerável que haja descrição,
análise e estudo acerca das representações da emoção no cérebro. Como a
experiência emocional é integrada com as funções do Sistema Nervoso Central e
Periférico, e toda a rede que os envolve, como a amígdala, o hipotálamo e o tronco
cerebral que organizam as execuções autonômicas e endócrinas (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997).
Além da relevância de todo esse constructo neuropsicológico, este trabalho
induz a reflexão sobre a atuação do psicólogo diante das descobertas e estudos
desenvolvidos e em desenvolvimento acerca dos estados emocionais e processos
cognitivos.
14

Apesar da terapia cognitivo-comportamental apresentar uma série de


possibilidades para a intervenção, essas intervenções possuem algumas
discrepâncias no que tange os estudos cognitivos sobre a emoção, já que este não
teve a atenção dos psicólogos desde o surgimento dos estudos sobre a cognição.
Portanto, há necessidade da união das análises neuropsicológicas e cognitivas que
direcionem ao aprimoramento da intervenção psicoterapêutica focada nos aspectos
emocionais considerando demais elementos cognitivos e neurológicos como
complementos que dimensionam e flexibilizam o entendimento sobre as estruturas
dos estados emocionais em sua totalidade.
No desenvolvimento deste trabalho houve a verificação da existência de
conceitos fundamentais para a amplificação dos estudos sobre o assunto. Conceitos
que envolvem a comunicação e suas bases neurobiológicas, a relação entre a
herança epigenética e os estados emocionais e as características comportamentais
oriundas dessa relação, além do aprofundamento através de pesquisas e estudos
sobre o comportamento afetivo e emocional enquanto objeto para a avaliação
neuropsicológica das Funções Executivas. Esses assuntos possuem importância
significativa e reconhecida, porém, numa possibilidade de contemplação em um
próximo trabalho a ser desenvolvido acerca do tema.
Tendo em vista os estudos e afirmativas de Eysenck e somando com os
aspectos emocionais neurofisiológicos que resultam em alterações corporais e
mentais, pode-se referenciar a importância do estudo na área, já que o respaldo
concreto na intervenção psicoterapêutica possibilita qualidade no processo e
adequação metodológica no contato com o paciente.
15

3. OBJETIVOS

3.1 GERAIS

O objetivo geral dessa pesquisa é a análise dos elementos emocionais do


indivíduo a partir de conceitos neurobiológicos, cognitivos, ambientais e sociais que
se relacionam com as dimensões emocionais na intervenção na clínica psicológica.

3.2 ESPECIFICOS

a) Descrever aspectos neurofisiológicos e cognitivos dos estados emocionais;


b) Pesquisar a relação entre os aspectos neurofisiológicos e cognitivos dos
estados emocionais;
c) Descrever as principais características, métodos e conceitos da Terapia
Cognitivo Comportamental;
d) Analisar intervenção clínica dos estados emocionais a partir da visão
abordagem cognitivo-comportamental.
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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 NEUROCIÊNCIA

4.1.1 ESTADOS EMOCIONAIS

O termo emoção é utilizado para definir os sentimentos e estados de humor do


indivíduo, na forma como são expressos no comportamento ou corpo. Sendo assim,
sugerindo que a emoção está associada à externalização de sentimentos, a
capacidade de expressão podendo visar objetivos específicos, muitas vezes, a
própria sobrevivência.

Apesar de as emoções variarem e implicarem muitos processos corporais,


até agora não há definição cientifica precisa do termo emoção. Na
linguagem coloquial, usamos o termo para nos referir aos nossos
sentimentos e humores e a maneira pela qual estes são expressos tanto em
nosso comportamento quanto nas respostas de nossos corpos. A emoção,
como a percepção e a ação, é controlada por circuitos neuronais distintos
dentro do cérebro. Muitas drogas que afetam a mente - desde as drogas
aditivas de rua aos agentes terapêuticos – exercem suas ações afetando
esses circuitos. (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 475)
Portanto, a definição de emoção é amplamente divulgada com relação ao sentir
e as sensações do organismo vivo; porém, sabendo das diferentes relações
estabelecidas entre estados emocionais e circuitos neurais, esse tema segue com
significados tácitos sem uma linha estabelecida como verdadeira e constituinte da
realidade de uma definição sobre a emoção.
Sobre a localização cerebral que envolve os estados emocionais e suas
alterações, Luria (1980 apud FREITAS) apresentou uma alternativa. Ele diferencia a
função como funcionamento de um tecido particular e a função como um sistema
funcional complexo, sendo que quando nos referimos aos processos mentais não é
possível considerar simples faculdades localizadas em áreas particulares e
concretas do cérebro, mas sim como sistemas funcionais complexos. A expressão
‘localização dinâmica, descrita por Vygotsky (1984 apud FREITAS, 2006), é mais
apropriada para esses processos mentais. Portanto, o mais importante é descobrir
quais grupos de zonas de trabalho do cérebro são responsáveis pela sua função,
desconsiderando então a ideia de localização para cada uma das atividades
cerebrais (FREITAS, 2006).
Para compreender como a emoção pode ser controlada por circuitos neurais
distintos, conforme citado acima, pode-se considerar que não se tratam de
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faculdades, mas de sistemas funcionais complexos, que não necessariamente estão


delimitados no cérebro, mas faz parte de um conjunto de estruturas cerebrais que
trabalham de modo articulado e integrado na organização de todo o sistema e que
embasam o comportamento ou ao menos interfere significativamente, fazendo deste
comportamento reflexo do estado emocional e seu funcionamento (FREITAS, 2006).
As alterações fisiológicas são explicadas pela participação e interação entre
elementos que embasam tanto o reconhecimento como o fundamento e
desenvolvimento da emoção. Segundo Kandel, Schwartz e Jessel (1997) há
envolvimento de pelo menos um elemento cognitivo importante, provavelmente
envolvendo o córtex cerebral, e também respostas autonômicas, endócrinas e
motoras esqueléticas que dependem de poções subcorticais do sistema nervoso,
como por exemplo, a amígdala, o hipotálamo e o tronco cerebral. As últimas
alterações citadas sugerem uma possível necessidade do corpo de ação e
comunicação do estado emocional entre os indivíduos.
A emoção como parte do processo de comunicação e aprendizagem está
presente em todas as sociedades e muitas vezes com interpretações específicas e
diferenciadas. Em alguns momentos a emoção foi considerada impedimento do
pensamento racional e contribuindo para a sobrevivência das espécies, sendo um
elemento que antecedia situações de perigo e risco, e em outros, levando em conta
também a intensidade e o estado da regulação emocional, foi considerada o próprio
elemento de risco e perigo, podendo gerar desconforto no indivíduo como veremos
ao longo do trabalho.

Para compreender uma emoção como medo, portanto, temos que entender
não apenas como a emoção é representada no córtex, mas também como
as estruturas subcorticais regulam as atividades autonômicas e endócrinas
que medeiam os componentes periféricos da emoção. (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 475)
O reconhecimento do evento produz uma experiência emocional consciente no
córtex cerebral que faz a mediação de sinais de saída para estruturas periféricas.
Segundo esse ponto de vista, o evento primeiramente é reconhecido como uma
situação de risco, e então há o ato cognitivo que gera respostas autonômicas.
Portanto, ocorre primeiro o reconhecimento de um evento gerador de
alterações fisiológicas e corporais, a partir disso, segundo a proposta do filósofo
William James e o psicólogo dinamarquês Karls Lange (KANDEL, SCHWARTZ,
JESSEL, 1997), a experiência consciente que chamamos de emoção ocorre, por
18

exemplo: ficamos tristes porque choramos; ou seja, o evento seguido da experiência


emocional.
Seguindo esse ponto de vista, as emoções ocorrem a partir de informações
provenientes da periferia. Levando em conta a vida cotidiana pode-se considerar a
participação de informações vindas do corpo para que ocorra a experiência
emocional, porém, se tal fato for cristalizado, as experiências emocionais que
ocorrem sem a presença de um evento específico serão desconsideradas, conforme
descrito a seguir:

Uma pessoa pode ter emoções, pensamentos e ações muito tempo depois
de uma ameaça ter cessado. Se o feedback fisiológico fosse o único fator
de controle, as emoções não deveriam durar mais que a alteração
fisiológica. (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 476)
É possível considerar tanto a influência de aspectos fisiológicos e corporais
como aspectos sociais e de vivência na experiência consciente da emoção, pois
segundo Kandel, Schwartz e Jessel (1997), pacientes que tiveram acidentalmente
sua medula espinhal seccionada sentem redução significativa da intensidade das
emoções; considerando a correlação com o nível medular, visto que quanto mais
alta a secção, mais reduzida a resposta emocional. As respostas emocionais estão
com conexão direta com aspectos fisiológicos, sendo que o aprendizado e o contato
com o ambiente podem ter efeitos/relação anulados ou reduzidos quando ocorre
uma lesão numa localização cerebral que envolve o processamento cognitivo das
emoções.
Ideias a partir da relação que resulta na experiência emocional tornam-se
grandes descobertas quando experiências cientificas passam a apresentar
resultados que não fundamentam uma definição de emoção, mas embasam sua
existência e sua relação com os comportamentos, estados corporais e cognitivos
considerando a interação entre fatores centrais e periféricos.

4.1.2 ESTRUTURAS SUBCORTICAIS NA REGULAÇÃO EMOCIONAL

Walter, Cannon e Philip Bard (apud KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997)


formularam uma teoria baseada num experimento com gatos, onde as estruturas
subcorticais possuem papel fundamental na mediação das emoções. Em
experimentos com gatos, as respostas emocionais foram perdidas quando removido
o hipotálamo. Esses achados levaram a sugestão de que o hipotálamo e o tálamo
possuem dupla função:
19

a) Fornecer comandos motores coordenados que regulam os sinais periféricos;


b) Fornecer ao córtex as informações para a percepção cognitiva das emoções.
A interação entre fatores centrais e periféricos foi inevitável diante dos estudos
subsequentes, visto que, considerar a ordem relacional dos sinais periféricos e em
seguida a regulação/desregulação emocional propiciou a abertura de novas lacunas
e o não preenchimento de outras. Mais tarde então, Antônio Damásio e Stanley
Schachter contribuíram para novas teorias acerca da emoção. Stanley (1960 apud
KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997), elaborou sobre a teoria de James-Lange,
onde enfatizou que o córtex constrói a emoção – a partir de sinais ambíguos que
recebe da periferia. Segundo essa teoria, o córtex produz uma resposta cognitiva a
informação periférica que se relaciona com as experiências sociais e expectativas do
indivíduo.
Antônio Damásio (apud KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997), em estudos
com pacientes com lesão da amígdala ou do córtex pré-frontal e na análise das
teorias de James-Lange e Stanley, passou a chamar essa nova ideia de hipótese do
marcador somático, onde ocorreu a complementação de que as mesmas respostas
autonômicas podem acompanhar diferentes emoções, e a emoção foi vista
basicamente como uma história que o cérebro conta para explicar as reações
corporais.
Considerando as vivências, expectativas e experiências como elementos que
compõem a estruturação das emoções no indivíduo abrimos uma lacuna
semelhante a do modelo dinamicista, que concebe os processos cognitivos em uma
dimensão interativa com o ambiente, enfocando as ações dos sistemas cognitivos
em seu contexto, num processo de adaptação ativa; e, portanto, adaptando o estado
emocional de acordo com as reações corporais e que envolvem também as
respostas sociais (BASTOS, ALVES, 2013).

4.1.3 ENTRE AUTONÔMICO E ENDOCRINO: OS AJUSTES CORPORAIS

De acordo com Kandel, Schwartz e Jessel (1997), uma característica


importante de todas as teorias da emoção é o envolvimento do sistema nervoso
autonômico e do sistema endócrino, sendo que o primeiro tem sua função baseada
nas alterações fisiológicas que acompanham os estados emocionais, como por
exemplo: a sudorese, a secura da boca, a tensão no estômago, a respiração rápida.
20

Ainda de acordo com esses autores (1997), o sistema motor autonômico possui
o controle do musculo liso, musculo cardíaco e das glândulas exócrinas; enquanto o
sistema motor somático controla o músculo esquelético. Entre esses sistemas há
uma semelhança: funcionam para realizar o ajuste do corpo. Portanto há variações
corporais, de acordo com as alterações do ambiente.
Essa relação e seus resultados parecem fundamentais na compreensão do
processo de desregulação e regulação emocional, tendo em vista que, com
exceções, geralmente as alterações corporais ocorrem assim que o indivíduo tem
contato com o objeto/evento/memória que inicia a experiência consciente que
chamamos de emoção.
O sistema nervoso autonômico tem três divisões principais: simpática,
parassimpática e entérica. Focaremos aqui apenas as duas primeiras divisões
(KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Em uma situação de perigo será ativada a
divisão simpática, que segundo Cannon (apud KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL
1997), governa a reação fight-or-flight (luta ou fuga). O indivíduo precisa reagir a
uma alteração do seu ambiente externo ou interno, por exemplo, para responder
rapidamente a situação de luta e então:

[...] O hipotálamo e o sistema nervoso simpático ativam uma saída simpática


aumentada para o coração e outras vísceras, a vasculatura periférica, e as
glândulas sudoríparas, bem como para os músculos piloeretores e oculares.
(KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 478)
Essas variações e reações corporais, aparentemente, estruturam um dos
aspectos corporais que podem servir como um elemento que embasa a ação
comportamental e as alterações fisiológicas (também controladas pelo sistema motor
autonômico), além das mencionadas como aspecto de necessidade para
superação/enfrentamento estratégico de defesa e sobrevivência.
Já a divisão parassimpática é responsável por rest and digest (repouso e
digestão), segundo Kandel, Schwartz e Jessel (1997), ou seja, reestabelece e
equilibra o estado de repouso controlando as modificações do estado fisiológico:
diminuição da pressão arterial, desaceleração dos batimentos cardíacos, entre
outros.
A saída do sistema nervoso autonômico é influenciada por muitas regiões do
cérebro, em particular pelo córtex cerebral, pela amígdala, e partes da formação
reticular (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997). A maioria dessas regiões
executam suas funções sobre o sistema nervoso autonômico através do hipotálamo.
21

O hipotálamo, nesse processo, reúne as informações a partir dessas regiões


em um efeito harmonioso que passa a ter uma resposta específica diante da
situação à qual o indivíduo está exposto, a ativação do sistema nervoso autonômico
– considerando suas divisões – inicia as mudanças comportamentais e inicia as
alternâncias características da ativação da desregulação do estado emocional. Ou
seja:

O hipotálamo atua sobre o sistema nervoso autonômico modulando os


circuitos reflexos viscerais que são basicamente organizados ao nível do
tronco cerebral. Isso é feito de duas maneiras. Primeiro, projeta-se para três
importantes regiões no tronco cerebral e na medula espinhal. Segundo, o
hipotálamo atua sobre o sistema endócrino para liberar hormônios que
influenciam a função autonômica. (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997,
p. 480)
O hipotálamo nos processos mostrados na citação acima se relaciona,
primeiramente, principalmente com o tronco cerebral, visto que ao projetar-se no
núcleo do trato solitário - que segundo Kandel, Schwartz e Jessel (1997), atua sobre
o núcleo do nervo vago e sobre outros neurônios parassimpáticos do tronco cerebral
- interfere no controle da temperatura corporal, a frequência cardíaca, a pressão
sanguínea e a respiração.

4.1.4 HIPOTALAMO NO CONTROLE DO SISTEMA ENDOCRINO

De acordo com Kandel, Scwartz, Jessel (1997) o controle do sistema endócrino


é feito diretamente e indiretamente com participação do hipotálamo na produção de
hormônios – reguladores de liberação ou inibição - e hipófise no armazenamento e
secreção. Sabemos que a porção posterior da glândula hipófise – considerando que
esta compreende duas divisões – possui sua função específica de armazenamento
dos hormônios produzidos pelo hipotálamo, e então desempenha atividade desde a
descarga de produtos endócrinos até a passagem para a circulação geral; realiza
também a secreção dos hormônios reguladores para a hipófise anterior que controla
o funcionamento de outras glândulas endócrinas.
22

FIGURA 1 – ELEMENTOS FUNCIONAIS E O CONTROLE DA HIPÓFISE PELO


HIPOTALAMO

Fonte: Kandel, Schwartz, Jessel, pág. 482, 1997.


Na imagem acima está exposta a localização anatômica dos elementos citados
anteriormente. A relação entre sistema endócrino, hipotálamo e hipófise e os
componentes que oportunizam a comunicação entre ambos e o armazenamento
hormonal desempenhado pela hipófise. Então a produção, conforme visto na figura,
é iniciada no hipotálamo e através das artérias hipofisárias o hormônio é direcionado
ao seu armazenamento ou secreção, tendo em vista que tal atividade também é
desempenhada pela hipófise com conexão com o sistema endócrino.
O conceito de neurossecreção foi desenvolvido pelos Scharrers (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997) e define que certos neurônios funcionam como
transdutores neuroendócrinos que podem transformar informações elétricas neurais
em informações hormonais.
A neurossecreção, a princípio, possui seu papel garantido e fundamental no
processo de compreensão da neurobiologia das emoções, visto que conexões,
como a conexão entre hipotálamo e glândula hipofisária (o sistema porta hipotálamo-
hipofisário) torna-se uma das bases estruturais que envolvem as alterações
emocionais que, seguindo a ideia do conceito de neurossecreção, realiza o processo
de transformação das classes distintas de neurônios neuroendócrinos.
23

Abaixo segue quadro que demonstra algumas substâncias liberadas pelo


hipotálamo e que passam pelo processo de neurossecreção realizado pela glândula-
hipofisária, estruturando as bases das alterações emocionais.

FIGURA 2 – SECREÇÕES HIPOTALAMICAS QUE LIBERAM OU INIBEM A


PRODUÇÃO DOS HORMONIOS DA HIPOFISE ANTERIOR

Fonte: Kandel, Schwartz, Jessel, pág. 485, 1997.

A compreensão da neurobiologia das emoções engloba a necessidade de


análise dos hormônios que realiza o processo de transformação das divisões de
neurônios neuroendócrinos. O hormônio tireotropina, por exemplo, é um hormônio
estimulante da tireoide; a disfunção de produção desse hormônio pode acarretar
alterações como: fadiga, diminuição do apetite, lentificação da fala, alterações
24

emocionais que indicam um estado deprimido. Porém, as alterações emocionais,


tendo em vista o envolvimento do hipotálamo nos estados emocionais e na produção
hormonal, podem também gerar alterações neurobiológicas na produção desse
hormônio; ou seja, o estresse, por exemplo, pode induzir uma diminuição de
produção hormonal que vai acarretar a mais ou demais alterações emocionais,
tornando-se assim um círculo vicioso.

Após esse arrazoado de informações acerca da participação do hipotálamo e


sua relação com demais áreas, núcleos e sistemas integrando diversos processos
que estruturam respostas ao estado emocional; compreende-se ainda que seguindo
Kandel, Schwartz, Jessel (1997) há manifestações dos estados emocionais
provocadas seletivamente pela estimulação do hipotálamo, ou seja, além de ser uma
região de comando motor para o sistema nervoso autonômico, ele integra um
conjunto de respostas autonômicas e somáticas.

4.1.5 ENTRE A REPRESENTAÇÃO CORTICAL E SUBCORTICAL DAS


EMOÇÕES: O ENCONTRO DA AMÍGDALA

Depois de fundamentar alguns processos de bases fisiológicas que, segundo


Kandel, Schwartz e Jessel (1997) antecedem a percepção da emoção; vamos iniciar
a análise acerca do que ocorre quando há a perturbação do estado de homeostasia
e o resultado a partir desse recurso.
As informações oriundas da atuação do hipotálamo sobre o tronco cerebral e o
sistema nervoso autonômico, se projetam para o córtex cerebral a partir dos órgãos
periféricos (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Em 1937, James Papez
(KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997), propôs que uma das camadas corticais das
emoções fosse um anel de córtex filogeneticamente primitivo em torno do tronco
cerebral, uma região então chamada de Lobo Límbico por Paul Broca, que segundo
Guerra (2008, pág. 55), passou a ser designado como “[...] um conjunto de
estruturas do Sistema Nervoso Central envolvidas com a regulação das emoções”.
Papez, após observações clínicas de pacientes com encefalite devido ao vírus
da raiva que apresentam alterações do estado emocional, propôs que o neocortex
influencie o hipotálamo através de conexões do giro cingulado para a formação
hipocâmpica. De acordo com essa ideia, a formação hipocâmpica processa
informações do giro cingulado e as projeta para os corpos mamilares do hipotálamo
por meio do fórnix (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Ainda segundo Kandel,
25

Schwartz e Jessel (1997), o hipotálamo fornece informações ao giro cingulado pelos


corpos mamilares para os núcleos talâmicos anteriores e dos núcleos talâmicos
anteriores para o giro cingulado.
Em 1939 Heinrich Klüver e Paul Bucy contribuíram para um avanço
extraordinário na busca pela representação cortical da emoção (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Num estudo em macacos, foi realizada a remoção
bilateral do lobo temporal (incluindo amígdala e formação hipocâmpica) e foram
observadas algumas alterações comportamentais, incluindo achatamento das
emoções e aumento do comportamento sexual, além de que tornaram-se altamente
orais e os que eram selvagens passaram a ser mansos.
Contudo:

Sob a influência das ideias de Papez, os componentes emocionais da


síndrome foram durante muitos anos atribuídos ao sistema límbico inteiro.
Apenas recentemente tornou-se claro que somente uma parte do sistema
límbico desempenha um papel na síndrome de Klüver Bucy ou na emoção
de modo geral. A estrutura central dos componentes emocionais da
síndrome de Klüver Bucy é a amígdala. (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL,
1997, p. 483)
As afirmativas de Papez, após a execução de seus estudos que colaboraram
no processo de reconhecimento de áreas corticais no envolvimento das alterações
dos estados emocionais e, portanto, em algumas síndromes, visto que antes era
considerado o envolvimento de todo o sistema límbico, passou a ser levada em
consideração somente uma parte do sistema – a amígdala – como a estrutura
central dos componentes emocionais. Lembrando que os efeitos da amígdala sobre
os estados emocionais são mediados através do hipotálamo e do sistema nervoso
autonômico, como vimos anteriormente.
A chave para a compreensão do papel da amígdala é a apreciação de suas
estruturas de entrada e de saída: os núcleos basolaterais e centrais. A amígdala é
composta por núcleos que se conectam ao hipotálamo, a formação hipocampal, ao
neocortex e ao tálamo (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Com base nas
informações citadas anteriormente há a compreensão da relação desde as reações
fisiológicas na alteração dos estados emocionais até as alterações comportamentais
e a ligação com aspectos externos.
Na figura 3 segue a representação dos circuitos neurais proposto para a
emoção:
26

FIGURA 3 – CIRCUITO NEURAL PROPOSTO PARA A EMOÇÃO

Fonte: Kandel, Schwartz, Jessel, pág. 485, 1997.

O circuito proposto originalmente por James Papez está indicado pelas linhas
espessas; conexões descritas mais recentemente aparecem representadas pelas
linhas delgadas. O circuito mais elaborado baseado na ideia inicial de Papez inclui
projeções conhecidas do hipocampo através do fórnix para regiões hipotalâmicas
(corpos mamilares e outras áreas hipotalâmicas) e do hipotálamo para o córtex pré-
frontal. A porção ventromedial do córtex pré-frontal, em particular, é importante para
a emoção. Uma via interconecta a amígdala ao hipotálamo e indiretamente ao córtex
pré-frontal. E então as conexões reciprocas entre a formação hipocâmpica e o córtex
de associação são indicadas (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997).

4.1.6 O COMPLEXO BASOLATERAL

Existem evidências de que através do complexo basolateral ocorra influxo


sensorial relacionado a estados emocionais aprendidos. Portanto, estímulos
operantes com aprendizado associado a dor, quando respondentes, podem gerar
dor a partir de sua emissão, visto que o processo de associação foi na presença de
27

estímulos aversivos, neste caso dor física, e o indivíduo torna-se condicionado,


devido o aprendizado e a evocação de memória, a sentir medo pela dor
anteriormente sentida. Neste caso ocorrem também respostas autonômicas. O
Anexo A deste trabalho demonstra:

O alvo da extensa entrada sensorial para a amígdala é o complexo


basolateral (os núcleos basolaterais). A entrada basolateral vem de duas
fontes: (1) os núcleos sensoriais do tálamo, e (2) as áreas sensoriais
primárias do córtex. Para muitos tipos de emoção, particularmente o medo,
a projeção do tálamo para a amígdala é especialmente importante, e as
informações mediadas por essa projeção atingem a amígdala mais
rapidamente que a entrada sensorial a partir do córtex. (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 485)
Ou seja, o processo iniciado pela ligação do tálamo atinge a amígdala mais
rapidamente do que se iniciado pelo córtex. Dentro desse processo também ocorre a
produção de respostas emocionais vindas da relação com o sistema autonômico,
mediadas pela conexão do núcleo central com o tronco cerebral. As vias do tálamo
em conexão com a amígdala, segundo Kandel, Schwartz e Jessel (1997) foram
implicadas na aprendizagem emocional. As informações auditivas e outras
sensoriais são transmitidas pelo córtex para a divisão medial do núcleo geniculado
medial no tálamo auditivo. Portanto, na imagem acima a representação engloba a
maioria dos aspectos que envolvem o processamento da emoção e as respostas
vindas desde aspectos sensoriais, comportamentais e de cognição, como também
respostas ambientais de aprendizagem e externalização de sinais fisiológicos da
desregulação emocional.
Lesões na amígdala ou infusão de drogas ansiolíticas bloqueiam respostas
aprendidas e respostas inatas aos estímulos que causam medo (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997). E a partir disso, é possível afirmar que a amígdala
não é importante apenas para o medo aprendido, mas também tem participação no
medo inato.
A amígdala é necessária para o condicionamento de um organismo ao
ambiente (ou contexto) no qual vive (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997).
Portanto, o contato com um ambiente biologicamente seguro ou um ambiente
perigoso é também mediado pela amígdala (particularmente sua porção basolateral),
visto que associa os estímulos de um lugar com sua recompensa, sendo assim
maximiza o contato com um ambiente e minimiza com outro através dos
comportamentos, da recompensa e do estado emocional resultado dessa vivência.
28

Dentro desse processo há os estímulos recompensadores que embasam a


sobrevivência e a motivação.
Nesse processo de descarga e saída da amígdala para outras regiões como a
hipotalâmica e do tronco cerebral, há também direta e indiretamente a projeção para
o núcleo paraventricular do hipotálamo, possibilitando a mediação de respostas
neuroendócrinas aos estímulos que causam medo e estresse (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997).

A partir da zona de entrada da amígdala no complexo basolateral, as


informações fluem para o núcleo central da amigdala, a principal saída da
amígdala. O núcleo central projeta-se para as regiões laterais hipotalâmicas
e do tronco cerebral que regulam as respostas autonômicas e os estímulos
emocionalmente carregados. (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p.
486)
Portanto, percebe-se a ligação de todas as áreas envolvidas na alteração
emocional e as reações e modificações decorrentes do processo de alternância do
estado emocional, sendo este estimulado por aspectos internos ou externos,
considerando o processo de aprendizagem, estímulos condicionados e não
condicionados (inatos).
“O Núcleo central também se projeta para as áreas corticais de associação,
especialmente o córtex orbitofrontal e o giro cingulado. Essa via é importante para a
percepção consciente da emoção” (KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, pág.
486). No processo de associação, contato com estímulos vindos do ambiente, o
processo de tomada de decisão e percepção de recompensa tornam-se possíveis,
ocorrendo a percepção consciente da emoção.
Conclui-se então:

As interações entre a amígdala, o hipotálamo, o tronco cerebral e o sistema


autonômico, por um lado, e da amigdala e os córtices frontal e límbico, por
outro lado, resultam nas experiências que descrevemos como emocionais.
(KANDEL, SCHWARTZ, JESSEL, 1997, p. 486)
Assim, entre estímulos nocivos e prazerosos, no primeiro momento, esses
estímulos fazem com que a amígdala desencadeie respostas autonômicas e
endócrinas integradas pelo hipotálamo e que alteram o estado interno (KANDEL,
SCHWARTZ, JESSEL, 1997). Essa alteração do estado interno prepara o indivíduo
para o ataque, a fuga, a experiência sexual ou demais comportamentos adaptativos.
Num segundo momento, com a interação do indivíduo com o ambiente ocorre à
ativação de outro mecanismo envolvendo o córtex.
29

4.2 NEUROPSICOLOGIA

A Neuropsicologia, conforme Hamdan, Pereira & Riechi (2011), é o estudo das


relações entre o cérebro e o comportamento, e engloba a área de atuação
profissional que pesquisa e investiga as alterações cognitivas e comportamentais
provenientes de lesões cerebrais. Segundo esses autores, a neuropsicologia realiza
a aplicação de conhecimentos em conformidade com demais áreas, como:
neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e neurofarmacologia considerando
ferramentas e disciplinas da prática do psicólogo, tais como: psicometria, psicologia
clínica, psicologia experimental, psicopatologia e psicologia cognitiva.
Alguns estudos e pesquisas propõem que o desenvolvimento das funções
executivas, designadas segundo Pereira e Hamdan (2009, pág. 386) como: “[...]
habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e
monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim”; demonstra
influências na regulação emocional, o que justificaria a criação de um modelo de
desenvolvimento emocional e cognitivo. (BLAIR, 2006 apud PEREIRA, HAMDAN,
2009) Portanto, em consonância com a pratica neuropsicológica, este capitulo
aborda aspectos da cognição e sua relação com os estados emocionais.

4.2.1 NEUROCIENCIA COGNITIVA E EMOÇÕES

A Neurociência cognitiva busca discutir como os processos cognitivos são


elaborados funcionalmente pelo cérebro humano, possibilitando a aprendizagem, a
linguagem e o comportamento. Busca a compreensão e estudo acerca dos
processos cognitivos que embasam o desenvolvimento humano e as facetas que
envolvem a sobrevivência e as relações. (BASTOS, ALVES, 2013)
De acordo com Eysenck e Keane (1994, p. 409) “se as reações afetivas a
todos os estímulos dependem do processamento cognitivo, deduz-se que as teorias
sobre a emoção deveriam ter um quê de cognição a respeito delas”. O não
esclarecimento dessa questão colaborou para que os psicólogos cognitivos
historicamente optassem para a manipulação dos estados emocionais e
motivacionais, e segundo os mesmos autores (1994), ainda no uso da terapia
cognitiva para pacientes com transtornos afetivos, pouco se sabe com certeza sobre
o funcionamento (ou mal funcionamento) do sistema cognitivo nestes pacientes.
Lazarus (1982) afirmou que algum processamento cognitivo é um pré-requisito
essencial de uma reação afetiva para que um estímulo aconteça. Segundo ele, a
30

avaliação cognitiva pode ser subdividida em três formas mais específicas de


avaliação:

Avaliação primária, em que uma situação ambiental é considerada como


sendo positiva, estressante ou irrelevante ao bem-estar; avaliação
secundária, em que é feita uma avaliação dos recursos com os quais um
indivíduo poderá depender para lidar com a situação e a reavaliação, em
que a situação estimulante e as estratégias para enfrentar essas situações
são monitorizadas, com as avaliações primárias e secundárias sendo
modificadas se for necessário. (EYSENCK. M, KEANE. M, 1994, p. 410)
Ou seja, nessas subdivisões há diversas considerações, como por exemplo:
em contato com aspectos ambientais estes estímulos são interpretados resultando
no sentir (ex.: estresse, ansiedade), a avaliação não é só para compreensão, mas
também de identificação do estímulo nas formas de interação, ferramentas para
intervenção (recursos) e o monitoramento das estratégias para o enfrentamento e
adaptação das avaliações anteriormente consideradas.
Para melhoria na análise e distinção de teorias, considerando a questão acerca
da funcionalidade da consciência no estado emocional, o processo de consciência
será tratado como:

Espaço interior dos seres humanos que emerge ações concebidas como
intencionalidade para a resolução dos problemas (espaço exterior) na
relação com os outros e com os objetos, relações essas geradoras,
inicialmente, de uma dinâmica interpsicológica e, posteriormente, de uma
dinâmica intrapsicológica, com o que se tem de conceber também o
aparecimento de novas formas de comunicação e aprendizagem.
(FREITAS, 2006, p. 95-96)
Portanto, informações com aspectos intencionais que conduzem as relações do
indivíduo com o meio externo (pessoas ou objetos), e que direcionam para uma
dinâmica de associação resultando, possivelmente, em novos métodos para o
aprendizado.
Lazarus (1982) propôs a partir de seus achados experimentais que uma
avaliação cognitiva precede qualquer reação afetiva, e não necessariamente envolve
um processo consciente. Portanto conforme analisado anteriormente, a avaliação
cognitiva está diretamente relacionada ao reconhecimento do estímulo,
interpretação, busca por recursos e capacidade adaptativa; porém, podem ocorrer
sem o processo de consciência, podendo ser a abertura para as considerações
relacionadas às reações fisiológicas e demais efeitos como, por exemplo, a
memória.
Freud (1915 apud EYSENCK, KEANE, 1994) questionou sobre aspectos
emocionais no processo de memória, sendo que segundo ele, alguns materiais
31

provocadores de ansiedade não têm acesso a consciência, denominando esse


funcionamento como processo de repressão, onde o indivíduo sente, mas não
acessa o material que apoia o sentir. Mas também é necessário considerar que
Freud utilizou o termo repressão com diferentes definições. Em uma delas, a
repressão foi considerada como a inibição de aspectos emocionais, sugerindo então
que as ideias poderiam ser conscientes.
Aconteceram algumas tentativas de tentar estudar a repressão num nível
experimental (EYSENCK, KEANE, 1994). Por exemplo, em alguns estudos foi criada
ansiedade e produzido o esquecimento (repressão), seguida da remoção da
ansiedade para que a informação reprimida ainda se mantivesse armazenada.
Porém, segundo Eysenck e Keane (1994), ainda não foi possível obter, sob
condições de laboratório, evidências convincentes sobre a repressão.
Gilligan e Bower (1984 apud EYSENCK, KEANE, 1994) propuseram a
afirmação mais abrangente de uma teoria de rede, e assim a descrição da teoria irá
se basear no relato deles. A teoria faz seis suposições teóricas:

(1) As emoções podem ser consideradas como unidades ou nodos em uma


rede semântica, tendo numerosas conexões com ideias relacionadas, com
sistemas fisiológicos, com eventos e com padrões musculares e de
expressão; (2) o material emocional é armazenado na rede semântica sob a
forma de proposições ou afirmações; (3) o pensamento ocorre pela ativação
de nodos dentro da rede semântica; (4) os nodos podem ser ativados ou por
estímulos internos ou por estímulos externos; (5) a partir de um nodo
ativado, a ativação espalha-se de modo seletivo a nodos relacionados; (6) a
consciência consiste de uma rede de nodos que está ativada acima de um
valor limiar. (EYSENCK, KEANE, 1994, p. 412)
Essa afirmativa sobre a teoria de rede está representada brevemente na
imagem a seguir:

FIGURA 4 – NODOS OU UNIDADES DENTRO DA REDE

Fonte: Eysenck, Keane, pág. 413, 1994.


32

Ou seja, os nodos (emoção), segundo essa teoria, são apresentados como


núcleos principais da rede que ativa a relação entre comportamento, emoção e
efeitos fisiológicos. Dentro desta mesma rede, os pensamentos e afirmações são
parte do processo de armazenamento e continuidade da execução do
funcionamento da rede do indivíduo. A ativação dos nodos se deve por fatores
externos ou internos e as emoções estão ligadas diretamente aos estímulos
externos e memórias.
A partir do estudo que deu origem a essa teoria, de acordo com Eysenck e
Keane (1994), surgiram algumas hipóteses, como por exemplo, que recordar
depende do estado de humor, ou seja, a memória de evocação é melhor quando o
estado de humor atual se assemelha humor no momento do aprendizado; outra
hipótese é a de que, os estados de humor do indivíduo influenciam nos
pensamentos, interpretações e associações. Informações com tons emocionais são
melhores aprendidas quando correspondem com o estado de humor de quem está
aprendendo e por fim surgiu a afirmativa que de acordo com a intensidade do humor
ocorre o aumento da ativação desses nodos associados dentro da rede.
Ainda sobre a intensidade do estado de humor, é possível que um humor triste
desencadeie a focalização de uma série de informações internas que se associam a
fadiga, perda e demais. Isso pode inibir estímulos que o indivíduo possa ter
associado ao estado de humor triste, porém, pode ocorrer que todos os estímulos
sejam inibidos de forma generalizada e não somente com a associação ao mal
estado de humor.
Quanto a testar a teoria de rede de Bower, um ponto difícil é ter certeza de
como os sujeitos estão no estado de humor adequado. (EYSENCK, KEANE, 1994)
Alguns experimentos foram feitos com palavras e associação, porém, as
respostas dos indivíduos podem sofrer influencias devido a crença destes nas
expectativas do aplicador: podem responder de acordo com o que acham que o
aplicador já espera.
Porém, Bower et al. (1981 apud EYSENCK, KEANE, 1994) utilizou a hipnose
em imagens autogeradas. Quando em estado hipnótico, os sujeitos pensaram em
imagens de uma experiência do passado. Os estados emocionais tiveram longa
duração. O ponto negativo dessa atividade é a não-susceptibilidade ou baixa de
alguns indivíduos no processo de hipnose, visto que generalizar a partir de um grupo
de pessoas seria inviável.
33

O estudo com pacientes maníaco-depressivos torna-se possível e interessante,


sabendo que os estados de humor ocorrem naturalmente e há muita variação. O
envolvimento da memória pode fazer parte do estudo com o humor do momento do
aprendizado ou com o humor oposto. Esses são dois motivos para levar o estudo
adiante.

4.2.2 ESTADOS EMOCIONAIS E A ASSOCIAÇÃO PARA A COGNIÇÃO: A


RELAÇÃO COM A MEMÓRIA.

Quanto à teoria de redes, existem, segundo Eysenck e Keane (1994), algumas


deficiências em alguns aspectos. Essa teoria supõe que processos implícitos
semelhantes estão em ação tanto no estado de humor feliz como triste. Porém,
existem sugestões de que isso só acontece no estado de humor feliz, visto que o
estado de humor feliz facilita o aprendizado do mesmo modo que inibe o
aprendizado e o recordar do material com afeto negativo. Contudo, no estado de
humor triste já foi encontrado que ele reduz o aprendizado e o recordar do material
positivo sem aumentar o aprendizado e o recordar do material com afeto negativo
(EYSENCK, KEANE, 1994). Conforme a imagem:

FIGURA 5 – PESQUISAS EM PACIENTES DEPRIMIDOS

Fonte: Elaborado pela autora.

A congruência do humor é demonstrada pelo achado de que o recordar é


melhor quando o valor afetivo do material a ser aprendido se assemelha ao estado
de humor do sujeito no momento do aprendizado (EYSENCK, KEANE, 1994). O
estado emocional no momento do processo de aprendizagem ou do contato com o
34

estimulo que inicia a aprendizagem em conexão com o mesmo estado emocional na


presença do mesmo estímulo estimula a recordação e evocação de memória.
Em estudos, os suicidas exigiram maior tempo para ter recordações pessoais
quando sugerida associação a palavras positivas, porém, se comparado os suicidas
por overdose e os suicidas por outros métodos de controle, ambos não
apresentaram diferença entre si no desempenho com palavras negativas
(EYSENCK, KEANE, 1994).
Portanto, o que pode acontecer é que:

Quando um humor triste ou negativo ativa associações negativas da forma


relativamente automática especificada por esses pesquisadores, mas que
são feitos esforços então para contra-atacar os efeitos negativos resultados
pela tentativa de ativamente enfocar associações positivas ou não-
congruentes. (EYSENCK. M, KEANE. M, 1994, p. 418)
Ou seja, o surgimento da não congruência do estado emocional no momento
do aprendizado e recordação está diretamente ligado com o funcionamento
automático de defesa e adaptação quando o efeito oriundo do afeto negativo está
relativamente intenso.

4.2.3 PERCEPÇÃO, ATENÇÃO E O ESTADO EMOCIONAL

Presume-se que um dos principais efeitos da ansiedade no funcionamento


cognitivo possui ligação os processos atencionais (EYSENCK, KEANE, 1994). No
curso do sentir a ansiedade, quando o indivíduo se sente vulnerável ele
possivelmente busca sinais de risco e perigo no ambiente.
Como visto anteriormente para que as alterações corporais ocorram existe,
possivelmente, uma necessidade de contato do indivíduo com um material que elicia
a resposta do comportamento e do sentir emocional, resultando no processo de
alteração emocional.
De acordo com a abordagem Luriana, o processo neural da linguagem ocorre
em três unidades funcionais que se inter-relacionam. Sendo a divisão realizada da
seguinte maneira: Unidade Funcional I, Unidade Funcional II e Unidade Funcional III
(BASTOS, ALVES, 2013).
A primeira unidade surge do mecanismo de atividade consciente que se inicia
na formação reticular do tronco encefálico, essa unidade funcional regula o estado
de consciência influenciando todos os processos cognitivos (BASTOS, ALVES,
2013).
35

A Unidade funcional II engloba os lobos temporais, parietais, occipitais e suas


especificidades para habilidades auditivas, tátil-cinestésica e visuais,
compreendendo também, as áreas ou zonas primárias, secundárias e terciária ou
associativa destas habilidades (BASTOS, ALVES, 2013). Portanto, essa área,
segundo a abordagem Luriana, permite a organização da compreensão da
linguagem por meio das funções exercidas confluentes com à Área de Wernicke.
Essa afirmativa relaciona as funções intelectuais e a linguagem.
O último sistema funcional são os lobos frontais e a unidade funcional III é
influenciada pela maturação ao longo do desenvolvimento humano (BASTOS,
ALVES, 2013).
Seguindo as afirmativas de Luria (2013 apud BASTOS, ALVES, 2016) os lobos
frontais são os mais importantes e essenciais, visto que participam da formação das
intenções para a ação e possibilita a comparação dos resultados da ação com a
intenção original, estruturando a regulamentação consciente do comportamento e a
estável seletividade da atividade do homem dirigida por um objetivo.
Os conceitos de unidades funcionais dependem entre si, sendo que “embora
cada unidade tenha uma função singular e específica, a cognição depende de uma
colaboração íntima entre todas as três unidades”. (BASTOS, ALVES, 2013, p.45).
Portanto para que ocorra a interpretação dos materiais em contato que podem gerar
alterações nos estados emocionais, ocorre o processo de percepção emocional
considerando os circuitos neurais de compreensão e produção/expressão da fala e
linguagem do método de comunicação.
Já os processos atencionais são afetados pela associação e busca por perigo
no ambiente que geram, possivelmente, alterações nos estados emocionais
aumentando o nível de ansiedade. Se os pacientes ansiosos são mais sensíveis ao
perigo, então é possível que a atenção destes esteja direcionada aos estímulos
relacionados à ameaça, além disso, se tem muita sensibilidade em estímulos de
risco e perigo provavelmente esses pacientes também têm dificuldades em evitar
prestar atenção em estímulos irrelevantes à tarefa, sendo altamente distraíveis
(EYSENCK, KEANE, 1994).
Considerando que processos atencionais envolvem a capacidade sensorial do
indivíduo, ou seja, os órgãos dos sentidos; o olfato ligado à audição desencadeia
processos de atenção seletiva e comparativa. O odor entra diretamente no cérebro,
sem acessar o tálamo e por isso realiza associações fortes. Muitas mensagens são
36

emitidas ou recebidas mais rapidamente pelo cheiro do que pelas demais formas de
comunicação do indivíduo. Portanto a sensibilidade a estímulos do ambiente - com
atenção aos de risco - somado ao processamento agilizado de estímulos concebidos
por meio do olfato ligado a audição gerando associações significativas pode ser um
agravante na seletividade atencional como vulnerabilidade cognitiva (FREITAS, K,
N, 2006).
Foram realizadas algumas experiências com pacientes ansiosos, onde uma
série de palavras foram apresentadas visualmente ao mesmo tempo, e a palavra
mais acima tinha que ser lida em voz alta. Nos resultados foi possível observar que
os pacientes ansiosos reagem a uma situação potencialmente danosa, porém, não
reage aos seus aspectos benignos ou positivos (EYSENCK, KEANE, 1994).
Mathews e MacLeod (1986 apud EYSENCK, KEANE, 1994) conseguiram
evidências de que a tendenciosidade do processamento seletivo em pacientes
ocorria mesmo na ausência de consciência.
Considerando as características que envolvem os pacientes ansiosos, é
possível aferir uma série de comportamentos e reações aos estímulos do ambiente e
a possível interpretação de tais indivíduos diante das situações sociais. Estes, como
vimos, são possivelmente mais distraídos, possui dificuldades no desenvolvimento
de tarefas devido sua baixa capacidade atencional disponível além da sua provável
capacidade de seletividade atencional ser maior do que de pacientes sem o
diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizado, por exemplo.
Segundo Eysenck e Keane (1994), os pacientes ansiosos exibem então um
engajamento ativo com o ambiente, que pode resultar na dificuldade de
desempenho de tarefas devido o desvio da atenção para o rastreamento do meio
ambiente.
Já os pacientes depressivos em pesquisas e estudos não demonstraram uma
capacidade atencional inferior do que os indivíduos sem um diagnóstico de
depressão, além disso, sua seletividade atencional segundo Hemsley e Zawada
(1976 apud EYSENCK, KEANE, 1994) é inferior comparado aos demais.
Considerando a análise da atenção nos transtornos afetivos, nos pacientes
deprimidos parece que há um desligamento passivo do meio ambiente externo. O
motivo do enfraquecimento da ligação entre indivíduo depressivo e estímulos
ambientais pode envolver uma série de fatores. Beck e Clark (1988 apud EYSENCK,
KEANE, 1994) consideraram a existência de uma tríade cognitiva, sustentada pela
37

visão negativa do indivíduo em relação ao self, ao mundo e ao futuro (EYSENCK,


KEANE, 1994).

4.2.4 A COGNIÇÃO NOS TRANSTORNOS AFETIVOS

Existem algumas explicações para o mau funcionamento cognitivo de


pacientes com transtornos afetivos. A primeira delas é que o funcionamento
cognitivo anormal ocorre em consequência do estado de humor. E a segunda é que
diferenças cognitivas entre os pacientes e os controles normais refletem
características estáveis associadas a um fator de vulnerabilidade cognitiva.
Bradeley e Mathews descobriram que os pacientes deprimidos restabelecidos
assemelhavam-se aos controles normais, recordando mais itens de auto referência
positivos do que itens de auto referência negativos, porém, comparado aos controles
normais, os indivíduos restabelecidos recordavam um número muito menor de
adjetivos positivos (EYSENCK, KEANE, 1994). O recordar foi considerado um
aspecto decorrente do estado de humor, visto que nos pacientes depressivos há
recordações negativas baseadas, provavelmente, no estado de humor deprimido e
quando há a regulação emocional a vulnerabilidade cognitiva não surge na mesma
frequência.
De acordo com Beck (1976 apud EYSENCK, KEANE, 1994), os pacientes
deprimidos têm um esquema negativo sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o
futuro (EYSENCK, KEANE, 1994). Algumas perguntas surgiram a partir dessa teoria:
esse esquema de funcionamento reflete o estado de humor deprimido ou é um fator
de vulnerabilidade cognitiva?

Pacientes deprimidos não demostram qualquer distorção cognitiva após a


recuperação, os resultados deles, em todas as medidas, sendo equivalente
aos dos outros sujeitos, sejam os normais, sejam os restabelecidos. Sendo
assim as distorções cognitivas parecem ser específicas da fase de doença
na depressão e não de indivíduos com tendência a depressão.
(WILKINSON, BLACKBURN, 1981, p. 289-290 apud EYSENCK. M, KEANE.
M, 1994, p. 433)
Ou seja, o monitoramento dos resultados da pesquisa administrada por
Wilkinson e Blackburn (1981), indicaram que o esquema de funcionamento de
pacientes com depressão mantinha o estado emocional de acordo com tal
diagnóstico, sendo desconsiderado que o esquema de funcionamento disfuncional
ocorreria como sistema tendencioso para o desenvolvimento do transtorno.
Segundo Eysenck e Keane (1994), a tendenciosidade negativa da memória
implícita pode ser um fator de vulnerabilidade cognitiva, porém, ficou claro que os
38

aspectos observados nos resultados da pesquisa têm relação direta com a


ansiedade em que se encontravam tais pacientes, justificando a afirmativa de que os
efeitos da memória nos transtornos afetivos são inconclusivos (EYSENCK, KEANE,
1994).
Alguns achados contribuíram para a construção da ideia de que, a atenção
seletiva para estímulos ameaçadores estrutura um fator de vulnerabilidade cognitiva,
sendo que indivíduos que tem dificuldades em evitar estímulos ambientais
certamente estão predispostos a desenvolverem uma ansiedade clínica (EYSENCK,
KEANE, 1994).
Existem diferenças no desempenho cognitivo entre pacientes com transtornos
afetivos e os controles normais (EYSENCK, KEANE, 1994). Tal afirmativa foi
construída desconsiderando os fatores emocionais, mas há um crescente interesse
dos psicólogos cognitivos para o estudo em tal área, e então algumas questões
surgiram, como por exemplo: afeto requer cognição?
No nascimento, cada ser humano possui capacidades inatas para enviar
mensagens não verbais, que lhe são cruciais para satisfazer suas necessidades
básicas e afetivas, contudo, o estudo destes fatores sensoriais colabora na
construção da análise da relação dos estados emocionais e cognição. E para isso é
necessário avaliar alguns aspectos referentes à comunicação e linguagem dos
indivíduos, para que características sensoriais e o envio de interpretação e de
mensagens sejam englobadas na expressão emocional tanto na ação que envolve a
desregulação emocional (transtornos afetivos), como na que envolve a regulação
emocional, possibilitando uma melhor avaliação para intervenção e monitoramento
do processo de interiorização.
39

4.3 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

4.3.1 A CLINICA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E O MODELO COGNITIVO

As Terapias cognitivo-comportamentais podem ser classificadas em três


divisões principais: terapia de habilidades de enfrentamento; terapia de solução de
problemas; terapia de reestruturação (KNAPP, BECK, 2008).
Nas três divisões citadas, o trabalho realizado é de readaptação do sistema de
ação do sujeito, ou seja, uma série de comportamentos e/ou pensamentos
distorcidos são trabalhados e reformulados, especificamente ou não, para uma
adaptação e enfrentamento de situações causadoras de sofrimento e conflitos
emocionais.
As abordagens em TCC compartilham bases comuns, porém com diferenças
consideráveis em princípios e procedimentos (KNAPP, BECK, 2008), sendo possível
encontrar métodos diferenciados dentro da mesma abordagem, porém, com linhas
de ideias e estudos semelhantes.
Em meados de 1960 foi desenvolvido por Aaron Beck o termo ‘terapia
cognitiva’ (BECK, 2013). Os avanços que partiram dessa ideia foram alvos de
estudos para a terapia direcionada a diversos públicos, cujas necessidades
diferenciadas originaram diferentes formas de intervenção. Aaron Beck,
considerando essas variadas formas de terapia cognitivo-comportamental,
frequentemente incorporava todas dentro de uma estrutura cognitiva (BECK, 2013).
Vários psicólogos comportamentais começaram a se identificar como
“cognitivos comportamentais” pois pesquisas sobre o desenvolvimento da linguagem
suscitou uma série de questionamentos que apontaram para limitações da
abordagem comportamental (KNAPP, BECK, 2008).
A terapia cognitivo-comportamental possui princípios básicos (BECK, 2013), e
parte desses princípios é considerar a adaptação do processo terapêutico do
paciente, levando em conta suas especificidades como base da formulação do
projeto de intervenção do terapeuta. Segundo Beck (2013), está baseada no modelo
cognitivo, o qual parte da hipótese de que as emoções, os comportamentos e a
fisiologia de uma pessoa são influenciados pelas percepções que ela tem dos
eventos, seguindo a demonstração a seguir:
40

FIGURA 6 – MODELO COGNITIVO

Fonte: Beck, pág. 50, 2013.


Ao longo deste capítulo haverá considerações acerca das definições que
constroem a prática clínica do terapeuta cognitivo comportamental e a relação
destas com as emoções e os processos neuropsicológicos que possibilitam
intervenções específicas direcionadas aos aspectos emocionais.

4.3.2 CRENÇAS

4.3.2.1 Crenças Nucleares

As crianças, a partir do seu processo de aprendizagem, realizam interpretações


e constroem ideias sobre si, sobre as outras pessoas e sobre o mundo (BECK,
2013). Essas ideias formam suas crenças mais centrais ou crenças nucleares, que
segundo Beck A., (1987 apud BECK, J., 2013) são compreensões duradouras tão
fundamentais e profundas que geralmente não são articuladas mas sim
consideradas como verdades absolutas. Portanto no processo de construção das
crenças que direcionam as ações do indivíduo há o envolvimento de diversos
processos neuropsicológicos e sociais possibilitando o aprendizado, a reprodução e
execução de ações de forma disfuncional, problemática e/ou adaptativa. Seguindo a
formação dessas crenças, elas podem influenciar outras e então constituírem parte
de uma estrutura cognitiva duradoura ou esquema (KNAPP, BECK, 2008).
Conforme definido por Clark, Beck & Alford, esquemas são:

Estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de armazenamento


de características genéricas ou prototípicas de estímulos, ideias ou
experiências que são utilizadas para organizar novas informações de
maneira significativa, determinando como os fenômenos são percebidos e
conceitualizados. (KNAPP. P. BECK. A.)
A constituição do esquema considera indivíduos bem ajustados ou indivíduos
mal ajustados, podendo desenvolver ações realistas ou reações com visões
41

distorcidas da realidade que geram, possivelmente, um transtorno psicológico


(KNAPP, BECK, 2008).
Essas crenças podem ter ativação temporária, segundo Beck (2013), sendo
que, por exemplo, uma crença que embasa características de insegurança, pode
surgir no momento que o indivíduo seja direcionado a assumir uma nova tarefa que
acredita não ter capacidade intelectual ou física para sua execução; essa
incapacidade pode ser real ou não, mas de qualquer forma é a conclusão do
paciente.
Essa relação entre ambiente, evento e reação (emocional, comportamental ou
fisiológica) descreve uma série de caminhos que o indivíduo segue de forma
programada. Tal programação forma o esquema cognitivo (BECK, 2013).
No esquema cognitivo o paciente realiza, a partir de suas interpretações, a
seleção do que será interpretado por ele e como será seguindo suas crenças
nucleares (BECK, 2013). Essas interpretações são baseadas nas direções oriundas
da sua construção de esquema cognitivo contemplando suas crenças centrais e
subjacentes, conforme desenvolvido a seguir.
No capitulo anterior foi considerado que em pacientes ansiosos o processo
atencional é influenciado por questões neurobiológicas onde a ativação do sistema
autonômico na ansiedade acentuada, por exemplo, gera uma série de alterações
fisiológicas e, contudo a percepção e sentidos do indivíduo passam a sofrer
influências diretas; sendo que estímulos ambientais de risco são percebidos com
maior frequência do que os demais estímulos. Sendo assim, na estruturação do
esquema cognitivo e na fixação e desenvolvimento de crenças, experiências
sensoriais que são mediadas não só por aspectos sociais, mas também
neurofisiológicos, devem ser considerados, visto que colabora na fixação dos
moldes do esquema de percepção, atenção e comportamento do indivíduo .

4.3.2.2 Crenças intermediárias

Segundo Beck (2013, pág. 54) “as crenças nucleares influenciam o


desenvolvimento de uma classe intermediária de crenças, que são as atitudes,
regras e pressupostos”. Sendo assim as regras, atitudes e pressupostos estão entre
o que há de superficial e cotidiano, neste caso, os pensamentos automáticos
(apresentado a seguir) e as crenças nucleares, aquelas que são centrais.
42

Essas regras, atitudes e pressupostos são definidos como crenças


intermediárias ou subjacentes e influenciam na visão da situação, em como o
indivíduo pensa, sente e se comporta (BECK, 2013). Considerando que essas
crenças possuem relação direta com a interpretação do indivíduo das situações
vivenciadas; pode-se relacionar os aspectos sensoriais, de percepção, emoção e
comportamento como resultado do material filtrado pelo esquema cognitivo do
paciente de acordo com a comunicação parte de sua cultura e aprendizado
adquirido ao longo do seu desenvolvimento.
As pessoas buscam entender seu ambiente, elas precisam organizar suas
experiências para que possam estabelecer estratégias adaptativas (ROSEN, 1988
apud BECK, 2013). Essa compreensão do ambiente considera aspectos
relacionados a outras pessoas, a interação com estas e a predisposição genética. O
estabelecimento de crenças ocorre a partir do desenvolvimento inicial desses
processos citados, porém, uma ferramenta fundamental e positiva para o terapeuta
cognitivo-comportamental é a possibilidade de descredibilizar crenças disfuncionais,
ou seja, o que é disfuncional pode ser desaprendido, fazendo com que novas
estratégias adaptativas sejam incorporadas e fortalecidas gerando resultados
positivos para o paciente.
O desenvolvimento do processo de modificação das crenças nucleares
possibilita a constituição de novas interpretações dos eventos de forma mais
construtiva (BECK, 2013). Ao realizar os questionamentos a respeito das crenças do
paciente, é necessário considerar o vínculo terapêutico, visto que a aliança
terapêutica pode ser colocada em risco se a técnica não utilizada corretamente.

4.3.3 PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS

Segundo Beck (2013), em situações especificas, considerando o constructo


social, o indivíduo realiza interpretações dos eventos vivenciados; essa percepção é
expressa pelos pensamentos automáticos. Portanto, as crenças influenciam os
pensamentos que influenciam as reações, sejam elas comportamentais ou
emocionais.
Ainda segundo a autora, quando estamos realizando uma atividade, temos
níveis de pensamento; o nível com pensamentos rápidos e avaliativos são
chamados de pensamentos automáticos e não são resultantes de deliberação e
raciocínio (BECK, 2013). Esses pensamentos são pensamentos mais superficiais
43

que surgem na execução da tarefa ou na interpretação e são construídos como


pensamentos ocultos; uma fala interior baseada nas crenças do indivíduo.
A forma como o indivíduo pensa tem ação direta na forma como ele se sente,
segundo Beck (2013), sendo que em determinada situação se o pensamento possui
um viés negativo (ex. não consigo realizar determinada tarefa, é muito difícil), a
tendência à reprodução do círculo negativo e estimulação de esquiva na ação diante
daquela situação aumenta. Se o indivíduo elabora seus pensamentos automáticos
de forma mais positiva, tende a enfrentar as circunstancias em que a desregulação
emocional é apresentada como estratégia problemática (ex. excesso de medo, raiva)
e partem para uma melhor compreensão do seu estado emocional (como se
sentem) e de como trabalhar o seu comportamento naquele ambiente e evento.
Pensamento, humor, comportamento, fisiologia e o ambiente podem afetar uns
aos outros (BECK, 2013). Portanto, segundo a autora, as situações que
desencadeiam a sequência de percepção das situações podem ser: eventos
específicos, fluxo de pensamentos, lembrança, imagem, comportamento,
experiência fisiológica e mental ou emoção. Com o foco no aspecto emocional como
fator desencadeante, o indivíduo pode perceber sua emoção e realizar uma série de
distorções acerca desta, ou pode não perceber a emoção, mas sentir alterações
fisiológicas provenientes de alterações cognitivas quando em um evento que gere
risco ou perigo; neste último caso, segundo Leahy (2016), a emoção pode não ser
identificada por uma série de dimensões especificas dos esquemas emocionais,
conforme será apresentado adiante.

4.3.4 CONCEITUAÇÃO COGNITIVA

Uma conceituação cognitiva dá o enquadramento para compreender o paciente


(BECK, 2013). Possibilita a formulação do caso e hipóteses de como o paciente
desenvolveu suas distorções cognitivas ou o transtorno psicológico.
De modo geral os pensamentos automáticos são trabalhados primeiramente,
antes do processo de intervenção nas crenças intermediárias e centrais do paciente
(BECK, 2013). Esse trabalho é realizado considerando a conexão entre
pensamentos automáticos, crenças e modelo cognitivo.
A conceituação cognitiva possibilita o paciente à tomada de decisão no
processo terapêutico e conhecimento e autonomia diante do seu esquema de
funcionamento que embasa suas experiências emocionais e comportamentais
44

(BECK, 2013). A coleta de dados é realizada por meio da construção entre paciente
e terapeuta, fazendo com que a reestruturação cognitiva seja parte de cada sessão
e adaptada de forma gradativa evitando problemas e colaborando para a construção
do vínculo terapêutico de confiança, além evitar exposição do paciente a frustração
demasiada de sentir se enquadrado e fruto de um padrão geral errôneo que fez
parte da sua vida até aquele momento.

4.3.5 EMOÇÃO, A CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL E A TERAPIA


COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Em uma perspectiva analítico-comportamental, emoções e sentimentos


costumam ser chamados, em conjunto, de “respostas emocionais” (DARWICH,
TOURINHO, 2005, apud BORGES, CASSAS, p. 178, 2012), e são relacionados a
componentes respondentes e operantes.
Skinner (1989-1981 apud BORGES, CASSAS, 2012) afirmou que relatos sobre
estados emocionais podem ser tão uteis quanto à descrição daquilo que as pessoas
fazem, na medida em que podem oferecer pistas sobre o ambiente presente e
passado do indivíduo.
De acordo com Goldiamond (1974; 1979 apud LAYNG, 2006, tradução nossa),
as emoções podem ser abordadas no contexto de uma análise de contingência, e
não como causas do comportamento ou eliciadoras do comportamento. Segundo
esse autor, as emoções servem para indicar as contingencias importantes que
possivelmente foram omitidas. As emoções, segundo essa visão, possuem conexão
com as contingencias antes mesmos delas serem controladoras; o que possibilita a
intervenção na análise de contingencias e na utilização das emoções para controlar
as que são importantes para o paciente. Esse processo resulta no controle das
emoções.
De acordo com Layng (2006, tradução nossa), as emoções são vistas como
eventos, como contingencias regentes e, portanto, nessa abordagem não são vistas
como causa de ação ou ação causa de emoção. Esses eventos privados, segundo
ele, são denominados emoção. Ainda segundo esse autor e linha teórica, quando a
emoção é expressa pelo indivíduo num contexto social (público) e faz parte de uma
classe de respostas e estímulos, passa a ser um comportamento emocional. O
evento privado possui sua importância na análise de contingências, considerações
45

acerca do ambiente, entre outras questões; enquanto o comportamento emocional


possui valia e possibilita análise dos reforçadores para aquele indivíduo.
Para a terapia cognitivo-comportamental, tendo em vista que os principais
objetivos do tratamento são os alívios dos sintomas e a remissão do transtorno, as
emoções são consideradas peças fundamentais nas distorções geradoras desses
problemas no paciente (BECK, 2013).
Nos modelos cognitivos tradicionais, a emoção precede, acompanha ou é uma
consequência do conteúdo cognitivo (BECK, EMERY & GREENBERG, 1995 apud
LEAHY, 2016). Portanto o modelo cognitivo que baseia um transtorno psicológico
especifico, como por exemplo, a depressão, tende a sugerir crenças especificas que
vão mediar as respostas emocionais. Aqui a emoção surge como uma ação a partir
da interpretação baseada no modelo cognitivo.
O modelo do esquema emocional amplia os modelos cognitivos para avaliação
das emoções; nele defende-se que “as emoções podem constituir objetos da
cognição; isto é, elas também podem ser encaradas como um conteúdo a ser
avaliado, controlado ou utilizado pelo indivíduo.” (LEAHY, 2002, 2003, 2009 apud
LEAHY, pág. 20, 2016). Sendo assim, o modelo do esquema emocional enfatiza os
transtornos da teoria da emoção e mente. A emoção como um componente
conectado as reações corporais, aos comportamentos e pensamentos disfuncionais
gerando uma postura problemática ou adaptativa do paciente.

4.3.6 TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL

O modelo proposto por Leahy (2016) amplia a compreensão de emoção,


propondo que aspectos essenciais do processo de experiência emocional incluem a
interpretação e avaliação das emoções por parte do indivíduo e também estratégias
de controle desses sentimentos.
Diferentemente da terapia focada no esquema desenvolvida por Young, Klosko
e Weishaar (2003 apud LEAHY, 2016), “a terapia focada no esquema emocional
foca nas crenças sobre as emoções e nas estratégias de controle emocional”.
(LEAHY, pág. 20, 2016). Portanto considerando o conglomerado parte do processo
terapêutico e da prática clínica, a terapia do esquema emocional participa
diretamente dos sistemas de crenças que envolvem a emoção, sugerindo a
participação desta nos demais circuitos parte do indivíduo e consequentemente da
terapia. Inicialmente o trabalho é realizado com foco na emoção e na distorção
46

desta, considerando as dimensões conforme veremos a seguir, e isso levará a


compreensão da estratégia problemática desempenhada pelo indivíduo no seu
contexto social (abordagem derivada do campo da cognição social) e no seu
processo de autoconhecimento e reestruturação cognitiva.
Semelhante ao modelo metacognitivo, o modelo do esquema emocional propõe
que os indivíduos têm experiências metaexperenciais de suas emoções (LEAHY,
2016). Esse modelo propõe a intervenção nas estratégias de controle de
pensamento ao invés de focar somente no conteúdo do pensamento.
Essa teoria segue a linha da terapia focada na emoção de Greenberg et al.,
(1997, GREENBERG, WATSON, 2005 apud LEAHY, 2016) possuindo ênfase na
experiência, expressão, avaliação das emoções primárias e secundárias, sendo a
visão de emoção associada a noção de valores e necessidades. Neste caso a
emoção pode contribuir no processo de reconhecimento, ocorrendo que a vivencia
do paciente não é vista como única e essa validação conduz a mudanças de
crenças, modificando a própria emoção e conduzindo por todas as dimensões que
podem colaborar para a busca de uma estratégia adaptativa.
Considerando que as emoções possuem relação direta com o material
aprendido pelo indivíduo, seja a memória, fantasia ou um estímulo ambiental, é
então nesse sistema de associação que o indivíduo organiza suas características
emocionais. Levando isso em conta, parte do trabalho da terapia do esquema
emocional é realizar a modificação da emoção quando em contato com o material
inicial. Os pensamentos, crenças e distorções a respeito da emoção são trabalhados
para que as emoções se tornem temporárias e façam parte de um circuito de
sobrevivência do indivíduo, considerando que constitui sua estrutura.
Além disso, há uma fixação coletiva de “perfeccionismo emocional” onde os
indivíduos acham que todas as suas emoções devem ser claras, estar em controle,
ser confortáveis e “boas”. Porém, segundo Leahy (2016), esse endossamento
engloba uma das ideias que possivelmente faz parte da elaboração da teoria da
mente, designado como “mente pura”. Os indivíduos que baseiam uma crença na
mente pura acreditam que não devem ter determinados comportamentos definidos
como antissociais ou baseados em pensamentos indesejáveis. Características
provenientes da teoria da “mente pura” pode ser um dos fatores que fortalece a
intolerância a sentimentos contraditórios, pode colaborar para o estabelecimento de
47

culpa e vergonha sobre pensamentos ou imagens; e a crença de que suas próprias


emoções são incompreensíveis (LEAHY, 2016).

4.3.7 OBJETIVOS E MODELO DA TERAPIA FOCADA NO ESQUEMA


EMOCIONAL

Esse modelo de terapia preconiza que os indivíduos possuem teorias implícitas


da emoção e sua regulação, considerando o arcabouço cultural e social presente no
contexto o qual está inserido (LEAHY, 2016). Portanto, de acordo com a construção
subjetiva e também coletiva de cada um, a terapia do esquema emocional sugere
que cada indivíduo constrói a forma como vive suas emoções de forma oculta
(interna) ou quando expressa no meio social/ coletivo (externa).
Neste modelo de terapia a ênfase está na clarificação e modificação da teoria
de cada paciente, usando avaliações cognitivas, socráticas, testes, experimentos
comportamentais e outras intervenções (LEAHY, 2016). O objetivo é trabalhar com
as distorções emocionais diretas e as distorções cognitivas que envolvem as
crenças indiretas e os pensamentos automáticos quando há uma desregulação
emocional ou uma alteração emocional simples.
O modelo focado o esquema emocional destaca os sete assuntos a seguir,
conforme descrito por Leahy (2016):
a) Emoções penosas e difíceis são universais;
b) Essas emoções foram desenvolvidas para nos alertar do perigo e nos
comunicar sobre as necessidades humanas;
c) Crenças subjacentes e estratégias (esquemas) sobre emoções determinam o
impacto de uma emoção na escalada ou manutenção desta e de outras
emoções;
d) Esquemas problemáticos incluem a catastrofização de uma emoção como
permanente e fora de controle, vergonhosa, única e que precisa ser mantida;
e) Estratégias de controle emocional como tentativas de suprimir, ignorar,
neutralizar ou eliminar emoções por meio do abuso de substancia e comer
compulsivo ajudam a confirmar crenças negativas das emoções como
experiências intoleráveis;
f) Expressão e validação são úteis desde que normalizem, universalizem,
melhorem a compreensão, diferenciem várias emoções, reduzam a culpa e a
48

vergonha e ajudem a aumentar crenças na tolerabilidade da experiência


emocional (LEAHY, 2006 apud LEAHY, 2016);
g) Aprender a reconhecer emoções penosas e a desenvolver tolerância a
frustração na terapia focada no esquema emocional pode ser compreendido
como parte de um modelo de empoderamento pessoal – ou seja, aumento de
estratégias adaptativas e a busca por um significado.
Cada um desses assuntos deve ser trabalhado individualmente com suas
características, métodos para compreensão e intervenção considerando suas
especificidades. Desde o reconhecimento de emoções como processos
fundamentais e dolorosos até o desenvolvimento de tolerância a frustração, existe a
intervenção com o trabalho da terapia focada no esquema emocional. Esse método
considera a variedade de possibilidades emocionais, segundo Leahy (2016), há a
consideração de todo o conjunto de aspectos emocionais para que o aprendizado e
construção faça parte de todas as experiências do indivíduo, de modo que não há
vínculo sem perda, esforço sem frustração e envolvimento sem a possibilidade de
desilusão. A terapia focada no esquema emocional possui como premissa o
reconhecimento de todos os aspectos emocionais e como objetivo a possibilidade de
experiência completa.
Antes da realização do estudo de formas de avaliação da entrevista e
monitoramento do processo terapêutico como um todo, demonstra-se através da
figura 7 um modelo do esquema emocional que norteia a prática clínica baseada em
tal esquema:
49

FIGURA 7 – MODELO DOS ESQUEMAS EMOCIONAIS

Fonte: Leahy, pág. 45, 2016.


50

Conforme a figura 7, o paciente realiza um circuito diante do contato/


experiência com suas emoções. Ele percebe as emoções, as interpreta de forma
problemática, sente-se envergonhado pela sua ansiedade e tristeza e acha que suas
emoções vão sair do controle e durar por tempo indeterminado; não normaliza essa
gama de emoções e, não as valida, de acordo com os outros e com suas
experiências sociais. Isso tudo pode gerar intolerância diante das emoções
contraditórias. Devido às interpretações problemáticas, ele tenta suprimir a emoção
de alguma forma, podendo recorrer a recursos como o uso de substâncias
psicoativas, ou qualquer outro comportamento que seja disfuncional, como por
exemplo, evitar pessoas e sentir se um incômodo. Esse exemplo é uma
simplificação do estilo problemático de resposta emocional a um evento (LEAHY,
2016).

4.3.8 CARATER SOCIAL DA EMOÇÃO

Planejando a compreensão das expressões emocionais como elementos


presentes no processo terapêutico, ocorrerá a fundamentação breve sobre algumas
reflexões importantes que, inicialmente, embasam a experiência humana e a
comunicação que a envolve.

4.3.8.1 Comunicação e Expressão

Wallon (1990 apud GALVÂO, 1995) considera o organismo como primeira


condição do pensamento, visto que toda função psíquica supõe um equipamento
orgânico. Segundo Wallon (1990 apud GALVÂO, 1995):

“O homem é determinado fisiológica e socialmente sujeito, portanto, a uma


dupla história, a de suas disposições internas e a das situações exteriores
que encontra ao longo de sua existência.” (WALLON apud GALVÃO, 1995,
pág. 29)
Seguindo essa ideia, há duas considerações importantes no desenvolvimento
do aprendizado do indivíduo. Considerando a forte base fisiológica em seus estudos,
Wallon (1986 apud PINTO, 1993) enfatiza o caráter das emoções como forma de
expressão afetiva e como agente de mediação intersubjetiva; segundo ele, todo o
contato social entre o indivíduo e seu meio é produzido e mediado por emoções.
Essas considerações levam a reflexão no que tange aos elementos relacionais que
envolvem as possíveis distorções cognitivas influenciando as crenças sobre as
emoções dos pacientes. A validação das emoções conforme veremos adiante,
embasam sua importância, visto que há aspectos sociais na construção da emoção.
51

Para que ocorra essa validação é necessário que haja o reconhecimento


simbólico das unidades sociais para que a comunicação coletiva baseada nas
expressões individuais, ocorram.
Anterior ao aspecto de vivencias sociais, de acordo com Edward Sapir (apud
VYGOTSKY, 1991), a experiência do indivíduo encontra-se em sua própria
consciência, ou seja, as experiências precisam ser simplificadas e também
generalizadas para que ocorra a tradução em símbolos. Segundo ele, essa
experiência do indivíduo é estritamente não comunicável e para possibilitar a
comunicação é necessário que ocorra a inclusão numa determinada categoria que
por contrato tácito a sociedade considera como uma unidade.
As formas mais elevadas da comunicação humana são possíveis porque o
pensamento do homem reflete uma realidade conceitualizada (VYGOTSKY, 1991).
A realidade compreendida e interpretada de acordo com o a rede de significados e
informações possibilitam a comunicação, a compreensão e a associação entre os
indivíduos.
De acordo com Pinto (1993), compreender o verdadeiro alcance do vínculo
exige recuperar o caráter social da emoção, que possibilita a decisão, mesmo que
de forma implícita e demonstra as alterações orgânicas advindas desse processo. A
construção dos aspectos sociais da emoção é importante no que se refere ao
aprendizado do indivíduo quando em contato com a sociedade, cultura e contexto.
Portanto, a emoção entra como elemento crucial, possibilitando interpretações
baseadas em experiências e então assim colaborando para que a terapia com foco
no esquema emocional tome sua direção de análise e intervenção nas estratégias
problemáticas ou adaptativas encontradas pelo paciente, visto as considerações
acerca do desenvolvimento infantil e aprendizado.

4.3.8.2 Expressão das Emoções

Os pacientes, segundo Leahy (2016), possuem diferenciadas formas para


expressar suas emoções; alguns são mais expressivos e outros não. Segundo ele:

“O terapeuta deve considerar a entonação vocal, expressão facial, contato


visual, postura corporal, hesitações ao falar, tentativas de evitar o choro ou
mudar de assunto ao discutir tópicos difíceis, gesticulação com as mãos,
movimentos corporais e outros sinais não verbais da emoção.” (LEAHY,
2016, pág. 70)
52

Portanto, é necessário verificar se há congruência entre a fala do paciente e as


expressões emitidas e executadas por ele. Devido essa prática clínica necessária é
que se faz de suma importância análises básicas acerca dos aspectos de expressão
do indivíduo.
A forma como o indivíduo se coloca no mundo é expressa através de diversas
maneiras. Dentro disso, podem ser consideradas a expressão verbal e a expressão
não verbal. Incorporado a complexidade desses temas, há o pensamento verbal,
que baseia o conhecimento da unidade de símbolos (VYGOTSKY, 1991). Segundo
esse autor, o significado que embasa o pensamento verbal, combinado aos estudos
da linguagem e da fala, direciona a uma definição de função da fala como processo
de comunicação.
A discrepância entre a comunicação verbal e não verbal está baseada na fala e
no pensamento, sendo que o primeiro está relacionado à externalização da unidade
e o segundo na internalização da unidade. Vygotsky (1991) realizou um estudo
diferenciado para a compreensão do pensamento e linguagem, este era baseado na
análise de unidades. Essas unidades se referiam ao produto de análise, sendo neste
caso produto ou material que gera a expressão emocional. Essa unidade deve ser
considerada como chave no processo de reorganização dos aspectos emocionais.

4.3.9 INTERVENÇÃO NA TERAPIA COM FOCO NOS ESQUEMAS EMOCIONAIS

Dando continuidade ao tema de socialização e expressão emocional, as


crenças “boas” e “más” fazem com que o indivíduo desenvolva estratégias
problemáticas ou adaptativas sobre suas emoções.
Na entrevista inicial, o clínico deve avaliar como o paciente respondeu as suas
emoções ao longo do seu desenvolvimento e quais estratégias de regulação ele
usou (LEAHY, 2016). Esse processo envolve todo o arcabouço teórico anteriormente
citado que contempla as definições e conceitos da terapia cognitivo-comportamental
(ex. pensamentos automáticos, crenças, modelo cognitivo); o terapeuta deve
elaborar a forma como o paciente construiu seu modelo de esquema emocional (ex.
figura 7). Para isso, o clínico deve estar atento a todas as relações presentes nas
experiências do indivíduo e as emoções que este experimenta e evita ou não e por
que.
53

4.3.9.1 Dimensões dos Esquemas emocionais

O terapeuta focado nos esquemas emocionais está interessado nas crenças do


paciente sobre suas emoções. Segundo Leahy (2016) essas crenças são dimensões
especificas dos esquemas emocionais. São elas:
a) Validação: capacidade das outras pessoas compreenderem e se importarem
com suas emoções (paciente);
b) Duração: crença na capacidade da emoção ter aspecto temporário;
c) Controle: crença na capacidade do indivíduo controlar aquela emoção;
d) Culpa/ Vergonha: pensamentos que geram sensação de culpa e vergonha por
envolver fantasias não aceitas em seu contexto social ou pelo próprio
indivíduo ;
e) Visão simplista das emoções: crença em emoções puras e absolutas, sem
contradições;
f) Expressão: dificuldade em expressar emoções;
g) Compreensibilidade: sentimentos que não fazem sentido para o paciente;
h) Valores: relação entre emoções e valores do indivíduo, compatibilidade;
i) Entorpecimento: o indivíduo tem sensação de indiferença diante de situações
que causa comoção em outras pessoas;
j) Consenso: crença de que suas emoções são únicas e estão presentes
somente em sua vida;
k) Racionalidade: crença de que deve ser mais racional do que emocional;
l) Aceitação: indivíduo não aceita seus sentimentos;
m) Ruminação: fixação em sentimentos negativos e demasiada preocupação
sobre suas emoções, crença num problema arraigado e que ninguém pode
ajudar;
n) Culpa: crença de que a culpa é de terceiros.
Além dessas 14 dimensões, existem as crenças que não são consideradas
nessa lista, porém, tem papel fundamental na avaliação terapêutica, como por
exemplo, a crença de urgência diante do aspecto emocional, fato que, segundo
Leahy (2016) pode gerar a impulsividade.
O desenvolvimento dessas crenças e dimensões envolvem questões
neurobiológicas, sendo muitas vezes a crença de descontrole emocional originada
de aspectos fisiológicos e sensoriais fortes, diante de um material (memória,
54

ambiente, fantasia) que fortalecem ou colabora no desenvolvimento da crença de


que, por exemplo, se desempenhar atividade que gera ansiedade o individuo
acredita que vai perder o controle, e então ele evita essa experiência. A percepção
também tem fundamental importância no desenvolvimento de crenças e nas
dimensões fixas, visto que a realidade e a distorção feita pelo paciente possui
influencia social, mas também possui ligação e influência direta com aspectos da
cognição, tanto para o surgimento de um transtorno como para a execução do
circuito que mantem o transtorno.

4.3.9.2 Modelos Adaptativos dos Esquemas Emocionais

O terapeuta irá desenvolver, considerando todos os aspectos cognitivos,


neurofisiológicos, de desenvolvimento e aprendizado: a conceitualização de caso do
paciente. Essa conceitualização é individual considerando as especificidades,
vivências e interpretações de cada um.
A seguir uma demonstração de um guia geral de conceitualização de caso,
segundo Leahy (2016):

FIGURA 8 – MODELO DE CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO

Fonte: Leahy, pág. 84, 2016


55

Portanto, a proposta é elaborar com o paciente a sua teoria das emoções e


regulação emocional, associar isso a história de socialização do paciente, aos
aspectos neurobiológicos e de cognição, que conforme o desenvolvimento deste
trabalho está em um plano considerado importante quando se trata de emoções.
Além disso, considerando essas características, elaborar o plano de tratamento do
paciente de acordo com os modelos cognitivos e de esquema emocional e
examinando o papel de cada crença disfuncional e adaptativa nas experiências
daquele indivíduo (LEAHY, 2016).
Há uma relação recíproca entre afeto e cognição, uma vez que o aumento da
distorção cognitiva e emocional pode resultar de um reforçando ao outro. Sendo
assim, as estratégias especificas que permeiam a metodologia da terapia do
esquema emocional, caminham com a metodologia fundamental e baseada na
terapia cognitivo-comportamental desenvolvida por Beck em 1960, que considera
aspectos da cognição em todo o processo, no reconhecimento das estratégias
problemáticas do paciente, na intervenção para solução de problemas e adaptação
do paciente, na avaliação dos aspectos dos transtornos psicológicos desenvolvidos
a partir da desregulação emocional e demais processos que envolvem a clínica
psicológica. (KNAPP, BECK, 2008). Esses fatores devem também englobar a
estrutura da conceituação do modelo cognitivo.

4.3.9.3 Emoções, valores e a clarificação de objetivos na terapia focada no


esquema emocional.

A importância dos valores em psicoterapia foi desenvolvida por Viktor Frankl


em 1963 (LEAHY, 2016). Ele desenvolveu uma nova forma de terapia denominada
logoterapia a qual foca no significado que o indivíduo dá em sua vida. Essa teoria já
possui novas considerações que refutaram a ideia de busca por significação da vida
considerando as vivências com o outro. Alguns filósofos, de acordo com Leahy
(2013), afirmaram que somente no leito de morte as pessoas podem saber se sua
vida foi feliz.
Frankl (2012), em seus atendimentos, abria alguns questionamentos básicos
para os pacientes. Esses questionamentos estavam submersos na reflexão sobre a
morte, ou seja, porque o paciente optou pela psicoterapia e não pelo suicídio?
Porque o paciente opta pela vida e não pela desistência? Quais os valores que
prendem o indivíduo a sobrevivência? A partir da resposta do paciente para essas
56

perguntas, ele iniciava a compreensão e delineava as linhas a seguir no processo


terapêutico.
Identificar e esclarecer significados e encontrar propósitos também são
elementos-chave da terapia focada no esquema emocional, pois reações
emocionais resultam dos valores essenciais para o indivíduo (LEAHY, 2013). O
material que envolve a reação fisiológica e neurobiológica da emoção envolve
estímulos, ambiente e construção; mas, além disso, os valores aprendidos e
construídos pelo indivíduo integram parte da mediação entre emoção,
comportamento e reações fisiológicas, visto que a interpretação possui um viés
negativo ou positivo a partir dos propósitos e valores daquele que lê o evento. A
busca do indivíduo estabelecida por meio de objetivos e com parâmetros que
direcionam a uma satisfação pessoal, baseia as emoções que ele sente diante
daquilo que experimenta.
Por isso valores, objetivos ou qualidades pessoais de caráter ou virtude possui
um papel importante dentro da terapia do esquema emocional, segundo Leahy
(2013), e se faz necessária à associação entre propósitos e as emoções do
paciente. A terapia focada no esquema emocional não visa somente livrar o
indivíduo de sentimentos desagradáveis, mas também contextualizar o conjunto de
emoções a eventos e significados mais amplos, resultando em estratégias
adaptativas que contemplem todas as emoções como fundamentais para uma vida
emocional completa.
O foco no esquema emocional surge com algumas diferenças dos modelos
tradicionais, visto que considera o sofrimento do paciente como um reconhecimento
e parte do trabalho com as dimensões específicas das distorções emocionais.
Segundo Leahy (2016), ajudar os pacientes a entender que não precisam “superar
isso” e “seguir em frente” é além de alívio, um trabalho de reconhecimento de uma
emoção temporária que agrega na sobrevivência e nas próximas experiências e
vivências emocionais: uma estratégia para o amadurecimento emocional.
Os valores, de modo geral, contribuem para a definição dos objetivos da
terapia e aceitação desse processo, tendo em vista que o alcance de metas
estabelecido pelo terapeuta cognitivo-comportamental, que também possibilita a
reestruturação cognitiva e a conceituação do caso, está baseado nos valores reais
do paciente, naquilo que o movimenta e motiva o desenvolvimento de novos
repertórios comportamentais e as alterações de crenças e pensamentos automáticos
57

que instituem o estabelecimento de estratégias adaptativas e o alcance de metas


proposto pela aliança terapêutica (BECK, 2013).
Portanto, conforme descrito por Leahy (2016):

Semelhante a TAC, que sugere que encontrar um propósito na vida é parte


essencial na terapia, a terapia focada no esquema emocional propõe que
devem ser clarificados não só os objetivos, mas também os pontos fortes do
caráter, das virtudes e os princípios éticos. (LEAHY. 2016. pág. 221)
Os valores e aquilo que é importante para o indivíduo pode ser utilizado como
ferramenta para o envolvimento do paciente no processo terapêutico e embasar as
estratégias de enfrentamento para as mudanças necessárias e descritas como
objetivos da terapia. Uma vida com significado, segundo essa teoria, engloba a
vivência de todos os estados emocionais e possibilita o amadurecimento emocional
e a conceituação cognitiva.

4.3.9.4 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO DE TRATAMENTO

Tendo em vista o caminho citado até aqui para a intervenção clínica, e com
base nos aspectos vistos como importantes na avaliação do paciente, seguimos com
a avaliação e monitoramento dos processos desenvolvidos com o paciente como
linha de trabalho, considerando as fases que constituem a terapia segundo Beck
(2013. pág. 355):
a) Primeira fase: Aliança terapêutica, identificação de objetivos, solução de
problemas, educação do paciente ao modelo cognitivo, identificação e
intervenção com pensamentos automáticos;
b) Segunda fase: O terapeuta continua trabalhando em direção a esses
objetivos, enfatiza a identificação, avaliação e modificação de crenças;
c) Fase final: A ênfase muda para a preparação para o término e prevenção
de recaída. O paciente já está mais ativo nessa fase.
A fase de avaliação e monitoramento constitui a terceira fase do processo
terapêutico, sendo que aqui, o paciente terá suas habilidades mais desenvolvidas
para refletir sobre seus pensamentos, crenças e comportamentos anteriormente
problemáticos e agora adaptativos (BECK. 2013). O monitoramento é realizado
durante a sessão e durante todo o processo terapêutico, e colabora no Feedback
para o terapeuta o que possibilita alterações e adaptações da terapia para aquele
paciente, além de oferecer comparativos que podem servir como pontos de
motivação para o paciente, entre outras contribuições.
58

O trabalho com a autonomia do paciente nessa fase se torna mais específico e


dentro do foco do terapeuta, visto que a prevenção de recaídas se embasa na
possibilidade e capacidade desenvolvida pelo paciente de lidar com suas disfunções
cognitivas e emocionais e manter seus objetivos focados nos seus valores
construídos, ajudando o a responder as suas crenças e pensamentos automáticos
de forma mais independente (BECK, 2013).
Ampliando a reflexão ao considerar o processo de interiorização citado por
Luria (apud GLOSSMAN, 2013), e seguindo a linha desse autor, um período de
treinamento é necessário para construir e manter o novo sistema funcional, mas no
fim do período é possível realizar um trabalho para que essa atividade continue
sendo desempenhada sem assistência externa (LURIA 1948 apud GLOSSMAN,
2013).
Esse processo possibilita a caminhada independente do paciente, fazendo com
que o plano terapêutico, conforme proposto pela terapia cognitivo-comportamental,
seja de fato um treinamento e depois de realizado ocorra a transformação de uma
atividade partilhada entre paciente e psicólogo, num comportamento próprio possível
de ser reproduzido em diferentes situações (LURIA, 1948 apud GLOSSMAN, 2013).
O processo de interiorização trás a margem a discussão sobre os princípios
fundamentais de desenvolvimento da mente na forma de reestruturação das funções
comprometidas.
Esse grupo de informações direciona a conexão entre o processo terapêutico,
de acordo com a prática clínica na terapia cognitivo-comportamental, e os processos
de reabilitação e mediação cognitiva no viés neuropsicológico, considerando a
cognição e a fisiologia.
59

5. ANÁLISE

Após a execução das atividades propostas como objetivos deste trabalho;


torna-se viável e primordial a análise dos dados e da correlação entre as
fundamentações acerca do tema e autores referenciados.
Inicialmente foram verificadas as estruturas neurológicas que realizam direta e
indiretamente o processamento dos fatores emocionais. Esse processamento
apresenta desde o embasamento inicial do surgimento da emoção até a produção
de respostas que surgem a partir da estruturação dos estados emocionais com os
diversos contatos e conexões originadas dessa atividade.
As relações entre as localizações dinâmicas cerebrais e o sistema cognitivo de
processamento emocional estão primordialmente associadas à necessidade de
cognição diante das informações expostas aos indivíduos e ao sentir proveniente do
comportamento respondente ou operante eliciado pelo ambiente, experiências,
cultura e demais fatores externos que possibilitam a aprendizagem.
Os resultados fisiológicos realizados pelo envolvimento do sistema autonômico
e endócrino podem influenciar uma série de seleções de estímulos ambientais que
somados geram outras influências no sistema de crenças e valores do indivíduo,
podendo ou não ser disfuncionais, mas que complementam um círculo não só de
aprendizado, como de repetição contínua e automática diante de eventos
específicos. A seleção de estímulos ambientais quando disfuncionais fortalecem o
esquema que sustenta as estratégias problemáticas do paciente e/ou o transtorno
psicológico.
Essa associação permite que sejam relacionados, no caso do paciente que
possui variação de humor tendo aumento da ansiedade, aspectos do ambiente o
qual está inserido, os valores aprendidos e a percepção na seleção dos estímulos,
que tendem a ser, neste caso, uma seleção de estímulos aversivos ou que indiquem
risco e perigo.
Conforme visto, Lazarus propôs que a avaliação cognitiva precede as
alterações emocionais. Seguindo a ideia de avaliação primária, onde é considerado
o ambiente e suas características significativas para o indivíduo, e a secundária,
onde é realizada a avaliação dos recursos de enfrentamento para o evento; pode-se
entender que há associação entre o aprendizado, à avaliação cognitiva e a
60

experiência emocional decorrente desses dois fatores. Essa experiência emocional


surge diretamente ligada à formação de regras, sendo que para que seja
incorporada ao esquema, é necessário que ocorra uma experiência individual e
subjetiva diante do evento.
O ambiente, o estado emocional, a aprendizagem e a seleção dos estímulos
dependem da associação dos estados emocionais no momento da aprendizagem
diante do evento vivenciado, ou seja, dos estímulos operantes. O complexo
basolateral pode ter ligação com o influxo sensorial relacionado a esses estados
emocionais aprendidos. Um estímulo operante associado a uma emoção pode
retornar a produzir a emoção somente com a apresentação do estimulo que passará
a ser respondente. Esse fator resulta do aprendizado e da evocação da memória;
respostas fisiológicas corporais são manifestadas também.
A possibilidade de avaliação cognitiva anterior à reação afetiva é mais uma das
possíveis reflexões relevantes para a intervenção na área clínica. Se há cognição
antes da reação, deve haver avaliação do terapeuta acerca desse elemento, visto
que, a expressão do indivíduo e a comunicação no processo terapêutico pode não
considerar aspectos cognitivos quando o retorno for realizado pelo paciente.
A percepção, atenção, memória e demais processamentos cognitivos surgem
como possíveis vulnerabilidades cognitivas nos estados emocionais, já que a
seletividade atencional excessiva diante dos elementos ambientais pode gerar
ansiedade demasiada; alterações na percepção que direcionem a incompreensões
podem gerar o fortalecimento de crenças disfuncionais e alterações emocionais ou
surgimento da invalidação emocional; e a memória, quando implícita, por exemplo,
surge como um fator de vulnerabilidade cognitiva diante da tendenciosidade
negativa, e apesar da importância desse fator para o estudo sobre as emoções e a
relação com a memória como vulnerabilidade cognitiva, ainda são estudos
inconclusivos.
Contudo considerar a cognição no processo de desregulação e possível
regulação emocional - sabendo que lesões neurológicas, conforme visto, também
podem afetar os estados emocionais já que influenciam na redução da resposta
emocional – é a ferramenta para a compreensão de mais elementos que englobam a
queixa do paciente possibilitando uma melhor formulação da conceituação que
direcione a reestruturação cognitiva.
61

Desde a associação entre a aprendizagem e memória dos aspectos


emocionais até a relação entre emoção e o surgimento de disfunções e possíveis
transtornos psicológicos, há o envolvimento das funções individuais e conjuntas das
áreas cerebrais, juntamente com o processamento cognitivo que possibilita a
compreensão, entendimento e contato com os resultados das experiências oriundas
dos aspectos biológicos e fisiológicos que possibilitam a intervenção que considera
valores, crenças, pensamentos e formas de expressão; como a junção de
estratégias elaboradas pelo indivíduo para a sua adaptação ao ambiente e a
sociedade a qual está inserida.
De modo geral, a terapia cognitivo-comportamental realiza suas atividades a
partir de pontos relevantes que levam em conta a formulação individual de
funcionamento a partir do contato entre paciente e ambiente. Essa característica
quando associada às considerações realizadas anteriormente nessa análise,
oportunizam uma amplitude das ferramentas para a colaboração no processo
terapêutico e também fundamentam uma possível execução neurobiológica e
cognitiva que precedem aspectos de construção esquemática problemática do
paciente.
62

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O embasamento teórico acerca dos estados emocionais no viés da


neurociência e neuropsicologia cognitiva embasa a atuação do psicólogo na
intervenção psicoterapêutica, visto que os sintomas apresentados pelo paciente
possuem complexidade no que diz respeito a sua origem e manutenção. Portanto,
conclui-se que as emoções podem se originar de fatores situacionais, respostas
comportamentais, interação cognitiva ou processos fisiológicos.
Como visto, as localizações cerebrais dos elementos responsáveis pelo
processamento da emoção são dinâmicas, ou seja, se inter-relacionam e constroem
o processo de modo organizado e com conexões múltiplas, não sendo especificada
uma área que é responsável por todo o processamento dos estados emocionais em
sua regulação e desregulação.
Considerando o modelo dinamicista, conforme descrito ao longo do trabalho,
há o envolvimento de diversas áreas cerebrais no processamento da emoção e nas
respostas emocionais do contato entre indivíduo e ambiente. O envolvimento da
amígdala como estrutura central dos componentes emocionais surge após o sistema
límbico ser considerado como responsável pelas funções em relação à emoção. Os
efeitos da amígdala são mediados pelo sistema nervoso autonômico e hipotálamo,
mantendo relação e centralidade nos aspectos de processamento, produção
hormonal e sinais fisiológicos. Além disso, as estruturas de entrada e saída da
amigdala, como os núcleos basolaterais e centrais, fundamentam os aspectos
sensoriais e de associação com o ambiente e as expectativas sociais.
Portanto, a associação e o processamento da emoção de modo geral,
dependem de uma série de grupos de trabalho que realizam as atividades de acordo
com o recebimento das informações, e a partir disso, o processamento cognitivo
realiza seu papel de interpretação e acesso a informação, colaborando na
construção da experiência individual diante daquele evento.
Essa amarração citada acima completa e organiza a compreensão sobre os
estados emocionais e influências e formação no indivíduo possibilitando a visão
sobre a conceituação e reestruturação cognitiva com embasamento nos aspectos
emocionais.
63

A relevância dos estados emocionais surge, conforme visto, já que embasa o


comportamento humano e é peça fundamental no processo de aprendizagem,
associação e construção da sensação de cada um.
A terapia dos esquemas emocionais tem como foco o trabalho psicoterapêutico
que induz o paciente, com uma orientação afunilada aos aspectos emocionais, a
reconhecer a si e ao ambiente e identificar as diversas emoções que são partes da
sua construção e da construção do ambiente e sociedade o qual faz parte.
As dimensões citadas ao longo do trabalho explicam as distorções cognitivas
acerca das emoções e esse modelo de terapia de esquema associa essas
distorções à queixa atual do paciente e/ou ao seu transtorno psicológico.
Todo processo cognitivo surge com relevância e papel único, de modo que é
parte de um todo; e neste caso, a emoção surge como parte do todo que dá sentido
as experiências e fixações de regras, crenças e pensamentos, seguindo a teoria
elaborada a partir da primeira experiência emocional. E, além de exigir o
processamento da informação, assume papel e direciona ao que diz respeito ao
aprendizado, condicionamento, expressões e comunicação; construindo, através o
seu método e organização subjetiva, um trabalho complexo de significado à
informação processada e interpretada, sentido pessoal às vivências e experiências
possibilitando a comunicação, expressão e abertura para a elaboração de
estratégias adaptativas visando à regulação emocional que considera todas as
emoções como parte importante e que integra a vida e o aprendizado humano.
Ao desenvolver este trabalho, foi identificada a necessidade de continuidade
nos estudos sobre a emoção no que se refere à relação do assunto com a genética
e epigenética humana, comunicação e expressão com suas bases neurobiológicas e
cognitivas.
Os estudos acerca da genética humana contemplam um direcionamento sobre
a herança genética e influência nas características que embasam o comportamento
entre as pessoas. Essa relação, dentro de toda sua complexidade, envolve
questionamentos acerca das influências emocionais e sensoriais dos indivíduos,
podendo ser a chave para a compreensão de mais aspectos relacionados à emoção
e a conexão entre a formação de esquemas e crenças individuais e subjetivas do
indivíduo considerando o meio qual está inserido e fatores neurofisiológicos e
cognitivos.
64

Quanto à comunicação e expressão, em dado momento de fundamentação e


estudo para o desdobramento deste trabalho, tornou-se ferramenta fundamental
para a análise demais fatores que integram a emoção, neurociência e cognição.
As distorções cognitivas, a formação sensorial e atencional dos aspectos
cognitivos de percepção e as dimensões emocionais construídas e parte do
indivíduo , possuem relação direta com a forma como este se coloca no espaço
coletivo, considerando sua expressividade para a comunicação, e, contudo
considerando que para que a comunicação ocorra num nível coletivo é necessário
que haja funcionalismo individual e oculto.
Considerações acerca da relação entre cognição, estruturas cerebrais e o
comportamento emocional e afetivo pode possibilitar abertura para estudos teóricos
e metodológicos que amplifiquem as avaliações neuropsicológicas das funções
executivas possibilitando outras investigações.
Portanto a continuidade de investigação acerca dos temas abordados e
identificados neste trabalho possibilitam o desenvolvimento e contribuição de
estudos sobre a construção esquemática, os estados emocionais, a prática clínica e
a neuropsicologia.
65

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e Linguagem. 3. ed. Massachusetts: Martins


Fontes, 1991. 274 p.
67

8. ANEXOS
68

ANEXO A – ALGUMAS VIAS IMPLICADAS NO PROCESSAMENTO DAS INFORMAÇÕES EMOCIONAIS

Fonte: Kandel, Schwartz, Jessel, 1997, pág. 486.

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