Sei sulla pagina 1di 4

Considerações sobre o narcisismo

Considerations on narcissism

Maria das Graças Araújo1

Palavras-chave
Narcisismo, desenvolvimento humano, amor, autoestima.

Resumo
A autora interroga o significado do narcisismo para remarcar sua importância na constitu-
ição e sobrevivência do sujeito, baseada em Freud e outros autores. Destaca a contribuição
de Freud para o estudo das relações e realizações humanas fundadas no narcisismo outrora
constituído na relação da criança com o seu corpo e no amor dos pais.

INTRODUÇÃO ma e, portanto, destinado à autopreservação


do sujeito e formação dos laços sociais. Esse
Desde as suas origens, a Psicanálise é acu- aspecto intrínseco à personalidade e, inclu-
sada de psicopatologizar a existência huma- sive, o seu caráter positivo, tem sido pouco
na. Entre os múltiplos fenômenos que com- explorado pela literatura especializada. Em
põem essa existência, talvez nenhum outro consonância com uma tradição psicanalítica
tenha adquirido um caráter tão negativo, tão fiel ao estudo dos quadros psicopatológicos,
patológico e indesejável quanto o narcisismo. o narcisismo tornou-se bastante conhecido
Ser narcisista significa estar no outro extre- em seu caráter patológico a partir dos es-
mo do ideal cristão de amor ao próximo, do tudos das estruturas psicológicas: neurose,
desprendimento e da humildade, em favor do perversão e psicose. No entanto, chamar a
amor a si mesmo. Daí porque o narcisismo atenção para o narcisismo como fenômeno
gera tanta repulsa. Ninguém quer ser quali- comum e indispensável a todos os sujeitos
ficado como narcisista. Narcisistas são os ou- é algo que deve ser buscado, na medida em
tros. A sociedade é narcisista, perversa. Mas, que as adaptações e realizações humanas só
afinal, se o narcisismo está em toda parte, por meio dele podem ser alcançadas.
qual a sua origem e o que significa?
O emprego do termo narcisismo vem da NARCISIMO: UMA QUESTÃO TEÓRICA
cultura grega e significa o amor do indiví-
duo por si mesmo. No final do século XIX, A procura de um entendimento sobre o
de acordo com Roudinesco e Plom (1998), o narcisismo remete, de início, à questão teó-
seu uso foi incorporado ao discurso científi- rica que envolve a sua delimitação conceitu-
co, mais precisamente à sexologia nascente, al. Dentre as publicações consultadas para a
para designar “uma perversão sexual carac- elaboração deste artigo, o texto escrito por
terizada pelo amor do sujeito por si mesmo” Silve Le Poulichet (1989) sobre o narcisismo
(p.530). Em 1914, o termo entra definitiva- para integrar as “Lições sobre os 7 Concei-
mente para o discurso psicanalítico, quando tos Cruciais da Psicanálise”, de Nasio (1989),
Freud (1914/1974) abre caminho para o en- apresenta-se como um esforço teórico-di-
tendimento do narcisismo como elemento dático de demonstrar sinteticamente o pen-
constitutivo do amor-próprio e da autoesti- samento de Freud e Lacan sobre o assunto,
1 Psicóloga, membro do Círculo Psicanalítico de Sergipe e da diretoria do Círculo Brasileiro de Psicanálise no
biênio 2008-2010. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe.

Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 34 – p. 79-82 – Dezembro. 2010 79


Considerações sobre o narcisismo

acompanhado de uma indicação bibliográfi- qual se encontra dito que eles “partem de
ca em ordem cronológica. uma base narcísica e procuram um rapaz
Em Roudinesco e Plom (1998), assim que se pareça com eles próprios e a quem
como em Laplanche e Pontalis (1988), são eles possam amar como eram amados por
apontadas algumas incoerências encontra- sua mãe” (FREUD, 1905/1972, p.145-146).
das no modelo conceitual de Freud e lacunas Quase que no mesmo período, por oca-
que se mantêm até hoje, mesmo consideran- sião dos ensaios sobre Leonardo da Vinci
do a valiosa contribuição de Lacan com o (1910/1970) e sobre Schereber (1911/1969),
aprofundamento do conceito de narcisismo Freud dá-se conta de que o narcisismo é um
com base na fase do espelho. Fachini (1996), estágio comum no desenvolvimento sexual
após leitura de Bleichmar (1987) e Grunberg humano. É em 1914, no entanto, que ele ar-
(1979), diz-se insatisfeito com o tratamento ticula o conceito psicanalítico do narcisismo
até então dado ao tema, procurando ele pró- na esteira do desenvolvimento infantil e dos
prio expor suas ideias a partir das relações investimentos libidinais.
entre o narcisismo e os objetivos da clínica Segundo Freud (1914/1974), os investi-
psicanalítica. Realmente, não há como negar mentos libidinais podem ser direcionados ao
que existe uma inconsistência teórica sobre o próprio ego ou aos objetos. Quando a libido é
narcisismo. No entanto, essa inconsistência investida no ego, diz-se libido do ego ou libi-
e dificuldades já eram previstas por Freud, do narcísica. Quando é investida nos objetos,
ao admitir que a existência de um estado de diz-se libido do objeto. Para ele, a fase da in-
narcisismo primário era um pressuposto te- fância que antecede a formação do ego é ca-
órico necessário à edificação do conceito de racterizada pela ausência de relações objetais.
narcisismo secundário, cuja lógica demons- Nessa fase, entendida como anobjetal, todo o
trou com base em inferências deduzidas das investimento libidinal do bebê é feito no seu
relações dos pais com suas crianças. próprio corpo, quando satisfaz suas pulsões
O ensaio de Freud “Sobre o Narcisimo: parciais por meio das zonas erógenas a elas
Uma Introdução”, publicado pela primeira correspondentes. A esse estado de satisfação
vez em 1914, é um estudo sobre a psicologia em si mesmo, Freud chamou de narcisismo
humana sem precedentes e emociona pela primário. O narcisismo primário, no entan-
percepção em profundidade da relação do to, só se mantém com o amor dos pais e é por
homem consigo mesmo e com os outros. É, ele potencializado através da “onipotência
pois, sobre ele, com o apoio dos autores já que se cria no encontro entre narcisismo nas-
citados, que foi escrito este texto, mais como cente do bebê e o narcisismo renascente dos
uma tentativa de remarcar sua importância pais” (POULICHET, 1992, p.42). Nesse senti-
na constituição da personalidade e sobrevi- do, Freud recorda como os pais depositam na
vência do indivíduo do que de tecer algum criança todos os seus sonhos de realizações,
entendimento novo. todas as suas fantasias de onipotência e per-
feição, chegando mesmo a ignorar “aquisi-
NARCISISMO: POR FREUD ções culturais que seu próprio narcisismo foi
forçado a respeitar, e a renovar em nome dela
Em 1910, Freud introduziu o termo nar- as reivindicações aos privilégios de há mui-
cisismo no discurso psicanalítico para se re- to por eles próprios abandonados” (FREUD,
ferir à escolha sexual dos invertidos, como 1914/1974, p.108). Assim, a depender do de-
eram chamados os homossexuais na época. sejo dos pais, a criança não experimentaria
Tratava-se, na verdade, de uma nota de ro- perdas e nem sofrimentos.
dapé acrescida naquele ano aos seus Três Esse estado paradisíaco de perfeição e
Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, na completude, entretanto, está fadado a ser in-

80 Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 34 – p. 79-82 – Dezembro. 2010


Considerações sobre o narcisismo

terrompido sob pena de a criança não ascen- prios e a mulher que cuida dele – e ao fazê-
der ao estatuto de sujeito. Com efeito, desde lo estamos postulando a existência de um
cedo, a criança está exposta às exigências do narcisismo primário em todos, o qual em
ambiente assim como os seus pais. Aos pou- alguns casos, pode manifestar-se de forma
cos, a criança irá se dar conta de que não é dominante em sua escolha objetal (FREUD,
tudo para a sua mãe, de que esta tem outros 1914/1974, p. 105).
interesses. Essa percepção da criança é, nas Dando continuidade aos seus argumen-
palavras de Poulichet (1992): “[...] a ferida tos, Freud escreve que as escolhas objetais
infligida ao narcisismo primário da crian- narcisistas manifestam-se predominante-
ça. A partir daí, o seu objetivo consistirá em mente nos homossexuais e em alguns tipos
fazer-se amar pelo outro, em agradá-lo para de mulher. O narcisismo de outra pessoa,
reconquistar seu amor; mas isso só pode ser diz ele, “exerce grande atração sobre aqueles
feito através de certas exigências do ideal do que renunciaram a uma parte do seu próprio
eu” (p.51). narcisismo” (1914/1974, p.106). Desse modo,
É dessa forma, pois, que a criança entra completa que, como nos homens predomi-
no segundo estágio de narcisismo, ao qual nam as escolhas do tipo objetal de ligação, es-
Freud denominou de narcisismo do ego ou taria explicado por que certas mulheres nar-
narcisismo secundário, porque foi retirado cisistas exercem tanta atração sobre eles.
dos objetos a partir dos processos de iden- Quanto às realizações pessoais, essas têm
tificação com as figuras parentais ou seus por base o ideal de ego que foi forjado a par-
representantes. tir das identificações parentais e que permi-
De modo geral, tanto os traços do nar- tiu o surgimento do narcisismo secundário
cisismo primário como os do narcisismo em substituição ao período do narcisismo
secundário irão constituir a personalidade primário, quando a criança era o seu pró-
e acompanhar o indivíduo durante toda a prio ideal. Daí em diante, o ego idealizado
sua existência. Foi a partir do olhar libidi- passará a ser objeto dos investimentos libi-
nizado da mãe que a criança reconheceu-se dinais que nortearão o desenvolvimento e
e se sentiu amada. Daí para a frente, todas fortalecimento do ego.
as suas escolhas objetais e realizações terão Paralela e intrinsecamente ligado à evo-
por base esse período em que foi possível o lução das escolhas objetais e das realizações,
desenvolvimento do amor por si mesma. outro aspecto da personalidade derivado do
Sobre as escolhas objetais, Freud (1914/ narcisismo é a autoestima. Para Freud, “tudo
1974) escreve que existem dois tipos de mo- o que uma pessoa possui ou realiza, todo re-
delos, o anaclítico e o narcisista. O primeiro manescente de sentimento prematuro de oni-
deles, também denominado de ligação, tem potência que sua experiência tenha confir-
a mãe como modelo, por ter sido esta, ou mado, ajuda-a a aumentar a sua auto-estima”
aqueles que a substituíram, o seu primeiro (1914/1974, p.115). Essa também é aumenta-
objeto de amor. Amor esse, ressalva, direta- da, segundo ele, quando se é amado. Mostra,
mente vinculado à satisfação de suas neces- assim, que a autoestima depende de três as-
sidades básicas. O outro modelo de escolha pectos. O primeiro deles é o resíduo mesmo
objetal, ao qual chamou de narcisista, toma do narcisismo infantil, o segundo decorre das
a si mesmo como objeto amoroso. Geral- realizações do ideal do ego que corroboram a
mente, essas duas modalidades de escolhas onipotência infantil, e o terceiro provém da
objetais estão presentes em todas as pessoas, satisfação da libido objetal, ou seja, de rela-
embora em graus diferenciados. ções amorosas satisfatórias.
Dizemos que um ser humano tem ori- Quando o indivíduo não consegue
ginalmente dois objetos sexuais – eles pró- realizar-se, tende a fazer grandes investi-

Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 34 – p. 79-82 – Dezembro. 2010 81


Considerações sobre o narcisismo

mentos naquilo “que possui a excelência que ____. [1905]. Três ensaios sobre a Teoria da
falta ao ego para torná-lo ideal” (FREUD, Sexualidade. In:____. Edição standard bra-
1914/1974, p.18). No neurótico, a sua cura, sileira das obras psicológicas completas. 1. ed.
a sua condição para a felicidade é encontrar Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago,
esse outro investido das “excelências que ele 1972. v. VII, p. 123-133.
não pode atingir” (p.119). ____. [1910]. Leonardo da Vinci e uma
Freud conclui o seu grande ensaio de 1914,
lembrança da sua infância. In:____. Edição
mostrando que, para além da importância do
standard brasileira das obras psicológicas
estudo do narcisismo e suas derivações para a
completas. 1. ed. Trad. Jayme Salomão. Rio
compreensão da psicologia individual, esse se
de Janeiro: Imago, 1970. v. XI, p. 53-59.
presta a grandes possibilidades de compreen-
são para a psicologia de grupo. Estava aberto, ____. [1911]. Notas psicanalíticas sobre um
assim, o caminho para o desvelamento das relato autobiográfico de um caso de para-
relações humanas. Pela primeira vez, o amor nóia. In:____. Edição standard brasileira das
deixava de ser objeto dos escritores e filósofos obras psicológicas completas. Trad. Jayme Sa-
para se inscrever no território da ciência pe- lomão. Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XII,
las portas da Psicanálise. p. 15-105.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabu-
lário de Psicanálise. 10. ed. Trad. Pedro Ta-
Keywords men. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
Narcissism, human development, love, self- LE POULICHET, S. O conceito de narcisis-
esteem. mo. In: NASIO, J. D. Lições sobre os 7 con-
ceitos cruciais da Psicanálise. Trad. Vera Ri-
Abstract beiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989, p.
The author questions the meaning of narcissism 47-73.
to point out its importance to the subject’s
constitution and survival, based on Freud ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário
and other authors. She highlights Freud’s de Psicanálise. Trad.Vera Ribeiro e Lucy Ma-
contribution to the study of the human galhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar: 1998.
relationships and achievements based on the
narcissism once constituted in the child’s relation Tramitação:
with his/her body and the parental love.
Recebido: 15.11.2010
Aprovado: 28.11.2010
Nome da autora: Maria das Graças Araújo
Referências Endereço: Praça Tobias Barreto 510,
sala 916
Bairro São José
FACHINI, N. Narcisismo e Clínica. Estudos CEP 49015-130. Aracaju-SE
de Psicanálise. Belo Horizonte, n. 19, p. 48- E-mail: gracinhaaraujo@globo.com
52, set. 1996.
FREUD, S. [1914]. Sobre o narcisismo: uma
introdução. In:____. Edição standard brasi-
leira das obras psicológicas completas. 1. ed.
Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago,
1974, v. XIV, p. 85-119.

82 Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 34 – p. 79-82 – Dezembro. 2010

Potrebbero piacerti anche