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Ciências Biológicas

F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do

Fundamentos de Geociência
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Fundamentos de Geociência
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.

Universidade Estadual do Ceará - Universidade Aberta do Brasil


Valberto Barbosa Porto

Geografia

12

História

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Ciências Biológicas

Fundamentos de Geociência

Valberto Barbosa Porto

Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12

História
2015

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material
poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Sistema de Bibliotecas
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Thelma Marylanda Silva de Melo – CRB-3 / 623
Bibliotecária
S231m Santiago, Genário Sobreira.
Matemática para ciências biológicas / Genário So-
breira Santiago, Rui Eduardo Brasileiro Paiva. 2. ed.
Reimpressão – Fortaleza : EdUECE, 2015.
125 p. ; il. (Ciências Biológicas)

ISBN:
1. Matemática. 2. Ciências biológicas. I. Paiva, Rui
Eduardo Brasileiro. II. Título.
CDD: 510

Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE


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Sumário
Apresentação......................................................................................................5
Parte 1 – As Origens ..........................................................................................7
Capítulo 1 – Origens do Universo e do Sistema Solar.................................9
1. O Universo...........................................................................................................9
1.1. Considerações preliminares......................................................................9
2. Sistema Solar....................................................................................................16
2.2. Os meteoritos............................................................................................17
Capítulo 2 – Origem e Estrutura da Terra.....................................................19
1. O Tempo Geológico..........................................................................................19
2. Estrutura da Terra.............................................................................................20
Parte 2 – Transformações Geocêntricas......................................................27
Capítulo 1 – O Ciclo das Rochas...................................................................31
1. Os Minerais........................................................................................................31
1.1. Propriedades físicas dos minerais..........................................................32
1.1.1. Estrutura.........................................................................................32
1.1.2. Clivagem.........................................................................................33
1.1.3. Dureza............................................................................................33
1.1.4. Peso específico..............................................................................34
1.2. Os principais minerais..............................................................................35
2. O Ciclo das Rochas..........................................................................................39
2.1. Rochas Ígneas...........................................................................................39
2.2. Rochas Metamórficas...............................................................................40
2.3. Intemperismo e Sedimentação.................................................................41
2.4. A Formação dos Solos..............................................................................41
2.5. Rochas Sedimentares...............................................................................42
2.6. Ação Geológica do Vento..........................................................................45
2.7. Recursos Hídricos e Ação Geológica da Água.......................................46
Capítulo 2 – A Tectônica de Placas................................................................56
1. O Dinamismo Planetário..................................................................................56
2. A Dança dos Continentes.................................................................................60
Parte 3 – Elementos de Cartografia...............................................................71
Capítulo 1 – Noções elementares de cartografia........................................73
1. Introdução..........................................................................................................73
2. Escala................................................................................................................74
3. Convenções Cartográficas...............................................................................74
Sobre o Autor....................................................................................................80
Apresentação
O presente livro, impresso para Educação a Distância em Ciências Biológi-
cas, tem, por objetivo, inserir os fundamentos de geociências no entendimento
dos fenômenos biológicos, estudando a Terra como planeta, bem como sua
origem e sua estrutura. Esse livro caracteriza o ciclo das rochas, a ação do
intemperismo para a formação de solos e os agentes erosivos que resultam
no transporte de sedimentos para ambientes geológicos de sedimentação,
formando as rochas sedimentares. Além disso, introduz o estudo da tectônica
de placas, para explicar os fenômenos de deriva dos continentes, ao longo
do tempo geológico, a fim de se compreender como os fenômenos naturais
influenciaram na formação e na extinção de nichos ecológicos, contribuintes
para a manifestação da atual diversidade de seres vivos. Esse material versa
ainda sobre elementos de cartografia, cuja finalidade é possibilitar o uso de
cartas topográficas e de mapas, como sistemas de referência para orientação
e posicionamento do biólogo no campo.
O autor
Capítulo
Parte 1
ProcedimentosAsdeOrigens
ensino
Capítulo 1
Origens do Universo
e do Sistema Solar
Objetivos
Professores!
l Explicar como se originou o universo e o sistema solar; Ides ensinar?
l Explicar como se originou a Terra; “aprendei a aprender”.

l Descrever a estrutura da Terra. O entendimento de


que a realidade pode
ser compreendida pela
“O planeta em que vivemos é formado pelo mesmo material que compõe os sequência de transformações
que se encadearam
demais corpos do Sistema Solar e tudo o mais que faz parte de nosso Uni-
com o surgimento do
verso. Assim, a origem da Terra está ligada intrinsecamente à formação do
Universo, organizando-
Sol, dos demais planetas do Sistema Solar e de todas as estrelas a partir de se em regularidades
nuvens de gás e poeira interestelar. Por isso, na investigação da origem e da sistêmicas de complexidade
evolução de nosso planeta, é necessário recorrer a uma análise do espaço crescente, motivadas
exterior mais longínquo e, ao mesmo tempo, às evidências que temos do pas- pelas transformações
energéticas, desde a
sado mais remoto. Com base nas informações decorrentes de diversos cam-
origem das grandezas
pos da Ciência (Física, Química, Astronomia, Astrofísica, Cosmoquímica),
escalares fundamentais,
bem como estudando a natureza do material terrestre (composição química, o tempo, o espaço, a
fases minerais etc.), já foram obtidas respostas para algumas importantes radiação e a matéria, explica
questões que dizem respeito à nossa existência” (TEIXEIRA et al., 2000, p. 2). os fenômenos naturais
que resultaram na atual
constituição da Terra?

1. O Universo Realidade Histórica


1.1. Considerações preliminares Começa-se a contar esta
realidade pela origem do
As observações mostram uma realidade contemporânea, a qual não surgiu de universo porque a ciência
uma forma extemporânea, e sim segue uma sequência de transformações que não tem meios para observar
realidades que precedam
se encadearam, organizando-se em regularidades sistêmicas, motivadas pelas
aquela origem.
transformações energéticas, desde a origem das grandezas escalares funda-
mentais, o tempo, o espaço, a radiação e a matéria. A Figura 1 permite-nos Filogenia
constatar o processo evolutivo, que expressa esta realidade histórica, inserindo História de ancestralidade
e descendência dos seres
os seres vivos no contexto natural.
vivos, AMORIM, 2002.
10
PORTO, V. B.

Figura 1 – Expressão da realidade histórica, por meio de diagrama.


Adaptado de Amorim (2002).

Assim sendo, cientificamente, a teoria que fundamenta os estudos so-


bre a origem do universo é a do Big Bang, com processos evolutivos explican-
do a sucessão de transformações resultantes em regularidades sistêmicas.

1.2. O Big Bang


O Big Bang, ou seja, a Grande Explosão foi a metáfora usada, que virou teo-
ria, para expressar o surgimento do universo. Ele teria sido o momento inicial
de expansão de uma singularidade indescritível, com energia e temperatura
infinitas, que concentraria tudo o que passaria a existir. Com a expansão, sur-
giu o espaço, e começou a ser contado o tempo. A Tabela 1 expressa esses
momentos iniciais explicitados na teoria do Big Bang.
Fundamentos de Geociência 11

Tabela 1 Fossilização
Processo de conservação,
Cronologia do Big Bang (TEIXEIRA et al., 2000) ao longo do tempo geológico,
Raio do dos seres que viveram
Tempo universo Temperatura (K) Eventos no passado, mediante
(metros) interrupção da cadeia
Zero (inicial) Zero Infinita Aparecimento do espaço, tempo e energia. alimentar, passando o fóssil
5,4 x 10 -44s 1,6 x 10-35 1032 Fim do periódo Planckiano. – forma de conservação da
10 s-43
3 x 10 -35
10 31
Separação da Gravidade. estrutura viva – da biosfera
para a litosfera (MENDES,
10 -35s 3 x 10 -27 1028 Separação das forças Nuclear-Forte e Elétrica-Fraca.
1988 e CARVALHO, 2004).
Separação das forças Nuclear-Fraca e
10 -33s - 10 -32s 3 x 10 -27 até 0,1 1027 até 1022
Eletromagnética.
10 -10s 0,3 1015 Fase inflacionária. Período Planckiano
10 s
-9
0,4 7,5 x 10 14
Estabilizam-se os quarks do tipo t (massa ~ 50 u). Observa-se que, até 5,4
7,5 x 1013 Estabilazam-se os quarks do tipo b (massa = 5 u). x 10-44s, passou-se o
10 s
-6
300 1,3 x 10 13
Estabilizam-se os quarks do tipo c (massa = 1,8 u). período Planckiano, cujos
acontecimentos a ciência não
tem condições de esclarer,
A Tabela 1 mostra que as grandezas tempo e espaço nasceram junto
no qual podem ter surgido,
com a grande explosão e que a energia era infinita sendo medida, por sua for- inclusive, universos paralelos.
ma de transição entre os corpos, o
calor, expresso por uma temperatura
infinita.
0
K
Medida da temperatura
A temperatura até 10-10s era de expressa na escala absoluta
10 K, expressando uma quantida-
15 0 Kelvin, que tem origem no
de de energia calorífica alta demais zero absoluto, valendo,
aproximadamente, – 2730C.
para a estabilidade da matéria. Tudo
era radiação.
A radiação predominou sobre a
matéria por mais de mil anos, como
nos mostra o Gráfico 1, porém, com o
decréscimo da temperatura e da den-
sidade de energia, a matéria come-
çou a predominar sobre a radiação,
Gráfico 1 - Relação de dominância entre num processo de formação denomi-
radiação e matéria (http: //astroweb.iag.
nado nucleogênese, com o apareci-
usp.br/~dalpino/aga215/notas/cosmol)
mento de prótons, nêutrons, núcleos
de Hidrogênio (H), elétrons, núcleos
de Hélio (He), e, depois, diminutas quantidades de Lítio (Li) e Berílio (Be).
O raio do universo era de 6,6 x 1018 Km, quando sua idade era de 8 x 105
anos, tornando-se, então, transparente à luz. A constituição do Universo era,
então, de 74% de H, 24% de He e diminutas quantidades de Li e Be. Naquela
mesma ocasião, surgiram os primeiros sistemas moleculares, formados por
moléculas de H2, como mostra a Tabela 2.
12
PORTO, V. B.

Tabela 2
Esclarece quanto à formação inicial da matéria

Radiação
Processo físico de
propagação e emissão de
energia.

Primeiros sistemas
atômicos
Os átomos de H, He e as
diminutas quantidades de
Li e Be só se completariam
decorridos 8 x 105 anos
do momento inicial, com a
captura dos seus elétrons
pelos núcleos já formados
anteriormente, caracterizando
a estabilização dos primeiros
sistemas atômicos, num
ambiente cuja temperatura
era de 3.0000K.

Partículas atômicas
Os átomos são formados por
prótons, nêutrons e elétrons,
Adaptado do arquivo Sem Autor, aga15Cosmologia2.pdf
cujas relações entre si podem
ser constatadas no quadro
abaixo: A constituição do Universo foi estável, em relação à diversidade de matéria,
Regiões Partículas Carga elétrica Massa durante algum tempo, já que, com o decréscimo da temperatura, a níveis abaixo
Tipo Valor de alguns milhões de graus, não houve mais condição de formação de matéria.
Núcleo Próton Pos +1 1
A matéria só continuou a se formar mais tarde, quando o universo se
Nêutron SC 0 1

Elétron Neg -1 1/1840


resfriou o bastante, permitindo que a matéria se condensasse em imensas
Fundamentos de Geociência 13

Formação das Estrelas


nuvens de gases, que evoluiriam para formar as estrelas, pela atração gra-
As estrelas se formaram
vitacional, concentrando a matéria em incontáveis pontos brilhantes, onde o pela contração da matéria
aquecimento do H, nos seus núcleos, provocaria a fusão nuclear. reunida em imensas nuvens
de gases, formando a
As estrelas se reuniram em galáxias há cerca de 1,3 x 1010 bilhões de
hierarquia do Universo,
anos, enquanto a Via Láctea, galáxia que contém o nosso sistema solar, for- que é reconhecida hoje
mou-se há 8 x 109 bilhões de anos. como galáxia, pertencendo
a aglomerados que,
O diagrama representado na Figura 2 representa os vários estágios de
por sua vez, formam
vida das estrelas. superaglomerados, os quais
se afastam entre si. Por isso,
diz-se que o Universo está
em expansão.

Fusão Nuclear
Nas estrelas, acontece o
processo de fusão nuclear.
Inicialmente, há fusão do
H, produzindo He, que vai
se concentrando no núcleo
estelar. Quando todo o
hidrogênio é consumido,
o Hélio que estava
concentrado no núcleo da
estrela passa, então, a se
fundir, produzindo outros
elementos químicos, entre
os quais está o carbono, que
é concentrado no núcleo da
estrela. O processo de fusão
espontânea continua até a
formação de ferro no núcleo
da estrela. A fusão nuclear
cessa quando toda a matéria
de número atômico inferior
ao ferro é fundida. Destarte, é
totalizada a concentração do
ferro no núcleo da estrela.

Cor e Tamanho das


Estrelas
A cor e o tamanho das
estrelas variam do azul para
o vermelho e do menor
para o maior tamanho, na
Figura 6 – Diagrama H-R (Hetrzsprung-Russel), no qual o tipo espectral (que de- medida em que os diversos
pende da cor e da temperatura da superfície) de muitas estrelas cujas elementos químicos vão
distâncias são conhecidas está representada em função da luminosida- sendo produzidos no seu
de (relativa ao Sol=1) (TEIXEIRA et al., 2000). interior.
14
PORTO, V. B.

Assim sendo, estrelas azuis e pequenas se encontram em estágios


iniciais de vida, apresentando baixa temperatura superficial, com o hidrogê-
nio concentrado no interior, iniciando o processo de fusão nuclear, quando a
temperatura da estrela atinge 107 0K. Estrelas, na metade da sua existência,
apresentam-se com uma coloração brilhante e amarelada, com uma diversa
abundância de elementos químicos, como é o caso do Sol. Veja a Tabela 3.

Partículas Alfa (α)


As partículas α são
núcleos do átomo de hélio,
constituídos de dois prótons e
de dois nêutrons.

Supergigante Vermelha
O carbono produzido
se concentra no núcleo,
aumentando ainda mais o
tamanho da estrela, é a fase
de supergigante vermelha.
Porém, quando acaba a fusão
do He, há nova contração
do núcleo e, se o tamanho
da estrela não for suficiente
para suportar novas fusões
nucleares, no caso, a fusão
dos átomos de C, então, ela
regride para anã branca.
Na fase de anã branca, ela
perderá sua energia restante,
transformando-se, ao longo
dos bilhões de anos que se
seguem, em anãs marrons
e em anãs negras. Isto,
provavelmente, acontecerá Tabela 3 – Abundância Solar dos elementos químicos. A abundância solar é tida como
com o Sol daqui a 5 bilhões um valor médio representativo da constituição química do Universo (TEI-
de anos, quando atingir XEIRA et al., 2000).
a fase de supergigante
vermelha, com o seu As estrelas caminham para a senilidade quando crescem e atingem
tamanho ultrapassando a
uma coloração vermelha. O crescimento se dá em consequência da queima
órbita de Marte.
do H2, concentrando He no interior do núcleo, que resulta numa expansão
acentuada da parte externa estelar, adquirindo a cor vermelha. É o estágio de
gigante vermelha da estrela. Há, então, nesta fase de existência da estrela,
nova contração do núcleo, que atinge a temperatura de 108 0K, iniciando-se
a fusão do He, com duração de vários milhões de anos, produzindo Carbono
(C), em consequência da fusão de 3 partículas α.
Fundamentos de Geociência 15

SUPERGIGANTE VERMELHA Nas supergigantes ver- Fertilização do universo


melhas que são, pelo menos, 8 Quando é lançado para
o espaço, essa grande
vezes maior que o Sol, o proces-
quantidade do material
so de fusão nuclear continua até acumulado na estrela, uma
a produção de Ferro (Fe), como quantidade expressiva de
mostra a Figura 3. nêutrons, é liberada pela
fissão, dos núcleos que os
Enquanto as fases de fu- contém. Tais nêutrons ligam-
são do H e He são muito lentas, se, de imediato, a outros
durando de bilhões a milhões de núcleos, dando origem a
anos, as fases subsequentes de processos rápidos e lentos
de formação de outros
fusão nuclear até a formação do
elementos químicos. Esta
Fe são sucessivamente muito é a forma como o Universo
Figura 3 – Fase de supergigante vermelha, com con-
mais rápidas. O Fe é formado é fertilizado em matéria,
centração gradativa dos vários elemen- em poucos segundos, quando o sendo produzidos todos
combustível nuclear é esgota- os elementos químicos
tos químicos até a produção do Fe.
naturais até o Urânio. Desta
Fonte: Sem autor http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/rgb/rgb_evol.htm. do, na parte central, já que, com
forma, o Sol foi formado, já
o Fe, não acontece o processo apresentando, no seu interior,
de fusão nuclear. pequenas quantidades de
De outra forma, em vez de expansão nuclear, o grande aumento de Urânio e de outros elementos
químicos. Veja a Tabela 3.
temperatura no núcleo provoca uma contração,
“e a estrela implode em frações de segundo,
comprimindo as partículas e formando uma
estrela de nêutrons com diâmetro da ordem de
apenas alguns quilômetros” (TEIXEIRA et al.,
2000, p. 8).
A temperatura aumenta muito mais, em
consequência da diminuição brusca de volume,
concentrando os resíduos dos gases não quei-
mados, da periferia para o centro, H, He, C, O
etc. A quantidade de energia acumulada é tão
grande, em tão pouco tempo (menos de 1s), que
acontece uma grande explosão, caracterizando
fase de supernova da estrela. Veja a Figura 4.

Figura 4 – Fase de supernova, produzindo, no cen-


tro, uma nebulosa em forma de ampulhe-
ta, mostrando, na periferia, os aneis de
gases resultantes da explosão. Fotogra-
fia tomada do telescópio Hubble.
16
PORTO, V. B.

Tipos de planetas 2. Sistema Solar


Os planetas podem ser
divididos em dois grupos: o 2.1. O começo
grupo dos planetas rochosos
ou telúricos, por terem O Sistema Solar começou a ser formado há cerca de 4,8 bilhões de anos, em
composição semelhante a da consequência da explosão de uma supernova. O Sol originou-se assim, como foi
Terra; e o grupo dos planetas afirmado no final do item precedente. Naquele acontecimento o Universo, mais
gasosos, por predominarem uma vez, foi fertilizado com matéria pulverizada, conforme mostrado na Figura 5.
gases na sua composição.
Observa-se, na Figura
10, que, entre os planetas
rochosos e os planetas
gasosos, situa-se o cinturão
de asteroides, um planeta
rochoso que não teria se
formado; contudo, é dos
dados coletados de material
proveniente deste sítio, os
meteoritos, que se pode
contar parte da história de
formação do Sistema Solar e,
particularmente, da Terra.
Figura 5 – Reprodução esquemática da explosão da supernova que teria originado o
Sistema Solar. Fonte: http://www.ccvalg.pt/astronomia/sistema_solar/intro-
ducao/nebulosa_solar.JPG.
Côndrulos
Os côndrulos são estruturas
globulares esféricas ou O Sol tornou-se a estrela central do sistema, enquanto a matéria pulve-
elipsoidais, cujo diâmetro rizada passou a orbitar em torno do Sol, formando os planetas, como se pode
varia entre 0,5 a 1 mm, ver na Figura 6.
sendo compostas de
minerais silicáticos,
predominantemente olivina,
piroxênios e plagioclásios,
tipos de minerais muito
abundantes no manto
terrestre.

Safranov
Cientista russo que, em 1969,
propôs o modelo atualmente
reconhecido “como o que
melhor descreve a formação
do Sistema Solar e recebe
o nome de “modelo padrão”,
segundo Veiga (http://www.
on.br/site_edu_dist_2009/
site/modulos/modulo_1/7-
formacao-sistema/7-
formacao-sistema.html).
Fundamentos de Geociência 17

2.2. Os meteoritos Meteoritos Condríticos


Segundo Teixeira et al.
Os meteoritos são corpos que caem na Terra quando fogem da sua órbita. Ao
(2000), são considerados
serem atraídos pelo Sol, passam nas proximidades do nosso planeta. Muitos os corpos mais primitivos do
deles são volatizados pelo atrito antes de caírem, sendo destruídos. Os mete- Sistema Solar, diretamente
oros, conhecidos também como estrelas cadentes, são os rastros incandes- acessíveis para estudo
centes produzidos quando estes corpos entram na atmosfera terrestre. científico.
A interpretação de sua
Os meteoritos que são coletados revelam suas naturezas que podem origem é a de que eles
ser decifradas. analisemos a Tabela 4. são fragmentos de corpos
Tabela 4
parentais maiores, mais ou
menos homogêneos em
Classificação simplificada dos meteoritos (TEIXEIRA et al., 2000) composição, que existiam
como planetésimos na região
do espaço entre Marte e
Júpiter, que não chegaram
a sofrer diferenciação
química, permanecendo,
portanto, sem transformações
importantes em suas
estruturas internas.
A própria existência dos
côndrulos indica que
o material formou-se
durante o resfriamento e a
correspondente condensação
da nebulosa solar, portanto,
antes dos eventos principais
de acresção planetária.
Mais ainda, indica que
houve um estágio de alta
temperatura, seguramente
Analisando-se a Tabela 4, verifica-se que os meteoritos condríticos, acima de 1.700°C e
aqueles que possuem côndrulos, são os mais primitivos, com idade entre 4,5 provavelmente próximo de
2.000°C, pelo menos em toda
e 4,6 bilhões de anos, permitindo que se façam inferências sobre o modo
a parte interna do Sistema
como se formaram os planetas rochosos. Solar, incluindo o anel dos
Observem que, nestes corpos parentais, os quais foram formados du- asteroides.
rante o resfriamento, sendo seguido de condensação da nebulosa solar, resi- Considera-se que este
evento de alta temperatura,
de a chave para que se compreenda a constituição do nosso planeta, já que
ocorrido numa fase precoce
estes corpos revelam que os minerais são sistemas moleculares que foram da evolução dos sistemas
formados como resultado da pulverização do Universo com matéria conse- planetários, tenha sido o
quente da explosão da supernova que formou o Sol. responsável pela perda dos
elementos mais voláteis,
Meteoritos condríticos têm os interstícios dos côndrulos preenchidos
e principalmente H e He,
com materiais metálicos, particularmente, liga de ferro e níquel, conforme por parte do material que
mostra a Figura 7. viria, mais tarde, a constituir
Exceto pela inexistência de H, He e poucos outros elementos químicos, os planetas internos, seus
satélites e os asteroides.
entre os mais voláteis, os condritos são muito semelhantes, em composição
química, à nebulosa solar.
18
PORTO, V. B.

A Figura 8 mostra a evolução dos tipos de meteoritos, indicando que os


Meteoritos Condríticos
acondritos, siderólitos e sideritos foram formados por um processo de diferen-
Os condritos carbonáceos
do tipo C1 contêm minerais ciação dos meteoritos condríticos.
hidratados e compostos
orgânicos formados em
temperaturas relativamente
baixas, e não possuem
côndrulos. Além disso,
apresentam uma composição
química muito próxima
da abundância solar dos
elementos, à exceção
dos elementos gasosos
e dos compostos mais
voláteis. Assim, este tipo é
considerado o mais primitivo
e menos diferenciado dos
produtos condensados da
matéria planetária inicial.
Suas feições particulares Figura 8 – Esquema simplificado de origem dos corpos parentais dos meteoritos.
sugerem que seus corpos Grandes impactos no espaço causaram a fragmentação desses corpos
parentais foram menos parentais,originando diferentes tipos de meteoritos (TEIXEIRA et al., 2000).
aquecidos do que os que
deram origem aos demais
condritos e, portanto, Quando o corpo era pequeno e se fragmentava, produzia, então, os
estariam situados a maiores
meteoritos condríticos.
distâncias do Sol, na região
orbital entre Marte e Júpiter. A diferenciação resultou de um processo de acresção da matéria, que
se chocava, produzindo corpos cada vez maiores, com presença de materiais
radiativos, cujas desintegrações, aliadas à energia dos impactos, promoviam
acentuada elevação de temperatura, provocando a fusão do material, sepa-
rando as duas fases: silicática concentrada na periferia e a metálica concen-
trada no centro dos corpos em formação.
Estabeleceu-se, com grande precisão, a idade dos meteoritos diferen-
ciados, que gira em torno de 4,56 bilhões de anos, correspondendo à idade
da Terra, já que a estrutura da Terra é similar à dos meteoritos diferenciados,
modelo proposto por Safranov, que preconiza a acumulação nos 100 milhões
de anos precedentes, cerca de 97% a 98% de todo o material do nosso planeta.
Os 4,8 bilhões de anos estimados para o início da formação do sistema
solar, ou seja, para a explosão da supernova, foram calculados, decorrentes
das estimativas de decaimentos radiativos de certos materiais presentes na
supernova, que apontam para sproximadamente 200 milhões de anos, o tem-
po necessário para que a nucleossíntese dos elementos constituintes do Sol
e dos seus sistemas planetários se completasse.
Capítulo 2
Origem e Estrutura da Terra

“A maior parte dos conhecimentos que se tem sobre o interior da Terra pro-
vém de meios indiretos. Na realidade, dos 6.300 Km que separam a super- Professores!
fície terrestre do seu núcleo, conseguiu-se perfurar pouco mais que 0,1% Ides ensinar?
(cerca de 7 Km). As rochas mais profundas conhecidas provêm das erup- “aprendei a aprender”.
ções vulcânicas, sem que, no entanto, possa-se afirmar sua profundidade
exata” (POPP, 1998, p. 7). O processo evolutivo da
origem à atual constituição
da Terra deve ser explicitado
por uma teia de relações,
1. O Tempo Geológico levando-se em conta a
O estudo da Terra realizado com fundamentos nas Geociências enfoca pri- escala de ocorrência destes
fenômenos e a peculiar
mariamente aspectos geológicos, quando é apresentado o conjunto de fa- sucessão de transformações
tores físicos, químicos e biológicos, relacionados ao seu processo evolutivo, resultantes do acúmulo
envolvendo a estrutura – sua forma e composição interna e externa – e a sua energético inicial, dissipado
dinâmica de funcionamento. por estruturas em interação
que surgiram da explosão da
Entretanto, a compreensão da fenomenologia, que envolve o seu pro- supernova, que deu origem
cesso evolutivo, da origem à atual constituição da Terra, só se torna clara ao Sistema Solar.
quando se coloca a escala temporal diante da teia de relações resultantes das
sucessivas transformações, originando as regularidades, ou seja, as estruturas
Tempo Geológico
provenientes da dissipação energética acumulada na supernova que explodiu. O Tempo Geológico, idade da
Doravante, passaremos a denominar essa escala de Tempo Geológi- Terra, começa a ser contado
co, apresentando, de um lado, categorias hierarquizadas de classificação – o a 4,56 bilhões de anos atrás,
datação relativa estimada
éon, a era, o período, a época e a idade –, e, do outro, a denominação que pela datação absoluta
recebem ao longo do tempo, iniciando o nosso estudo geológico pela origem realizada nos meteoritos
do planeta Terra. Veja a Tabela 5. diferenciados que caem no
nosso planeta, vide capítulo
anterior.
20
PORTO, V. B.

Formação da Terra Tabela 5


Em primeiro lugar formaram- Tempo Geológico, segundo Gradstein e Ogg (1996) citado por Teixeira (2000)
se os planetesimais; depois
um corpo pastoso e muito
quente que se aproximaria
cada vez mais da estrutura
quase esférica da Terra
atual. Na medida em que
este corpo se diferenciava,
acumulava, no seu núcleo,
materiais metálicos mais
densos, como a liga de ferro
e níquel, que se supõe formar
aquela estrutura, e materiais
silicáticos cada vez menos
densos, na direção da sua
periferia.

Conforme Safranov apud Teixeira et al. (2000), o processo de acresção pla-


Diferença de Diâmetros netária durou 100 mihões de anos, acontecendo quando a temperatura baixou a ní-
É de 44 Km a diferença de
diâmetros entre os polos e o
veis que permitiu a crescente aglutinação da matéria, conforme mostra a Figura 8.
equador, correspondendo a
12.712 Km, diâmetro dos polos,
enquanto é de 12.756 Km o
diâmetro do equador.

Outros Dados
O perímetro da Terra é cerca
de 40.000 Km, para uma
superfície aproximada de 510
milhões de Km2, um volume
em torno de 1,08 bilhões
de Km3 e uma densidade
calculada em 5,52 g/cm3.

Figura 8 – Desenho esquemático, para esclarecer o modo como se formou a Terra.

2. Estrutura da Terra
A estrutura da Terra, analisada quanto à forma, apresenta-se como um esferoi-
de, cujo achatamento nos polos em relação à dilatação no equador é estimado
por uma pequena diferença nos cálculos dos respectivos diâmetros, de modo
Fundamentos de Geociência 21

que, para efeito de repre- Estudo dos Terremotos


sentação e cálculos apro- Analisando-se a Figura 9,
ximados pode-se consi- verifica-se que grande parte
dos dados são obtidos de
derá-la de forma esférica, forma indireta, recorrendo-se,
com diâmetro de 12.800 por exemplo, ao estudo dos
Km, correspondendo ao terremotos. Vejamos como
raio de 6.400 Km. Popp (1998) nos esclarece
este assunto:
Sabe-se que as ro- “As melhores informações
chas superficiais têm uma sobre o interior da Terra
densidade bem menor são fruto de estudos da
propagação das ondas
que 5,52g/cm3, sendo cal-
sísmicas originadas pelos
culada entre 2,7 a 3,0 g/ terremotos. Um terremoto
cm3, justificando um cres- transmite energia através
cente aumento da densi- da Terra na forma de ondas
dade, na medida em que que são sentidas como
Figura 9 – Estrutura interna da Terra, representada pelo se penetra da crosta para tremores, mesmo a uma
modelo clássico, em camadas concêntricas, o interior da Terra, culmi- distância considerável
da origem. As vibrações
obtido a partir das velocidades de ondas sís-
nando com a densidade da crosta são medidas
micas. As crostas e a zona de baixa veloci-
com sismógrafos. Em um
dade estão fora de escala (TEIXEIRA, 2000). do núcleo formado de liga terremoto, são produzidos
de ferro e níquel, que varia
três tipos de ondas sísmicas:
de 8,0 g/cm a 12,0 g/cm , respectivamente, do núcleo externo para o interno,
3 3
ondas primárias (P) – ondas
pode ser visto na Figura 9. longitudinais – ondas
Assim sendo, percorrendo-se a esfera terrestre, do centro para a superfí- secundárias (S) – ondas
transversais – e ondas longas
cie, Figura 9, temos um caroço central sólido de maior densidade, formando o ou de superfície (L)”.
núcleo interno, com 1.300 Km de raio, onde se propagam as ondas P e S, cir-
cundado por uma camada fluída, onde se propaga somente a onda P, que é o
núcleo externo, com 2.200 Km de espessura, menos
denso “por incorporar algum elemento de número atô-
mico baixo, cuja presença resulta na diminuição da
densidade” TEIXEIRA et al. (2000, p. 90), porém cons-
tituído da mesma liga de ferro e níquel, ambos os nú-
cleos, formam o ambiente interno denominado NIFE.
O NIFE é circundado pelo manto, veja o Gráfico 2.
Na superfície de contato do manto com o núcleo
verifica-se a descontinuidade de Gutenberg, onde:
a propagação da onda P muda de velocidade, dimi-
nuindo abruptamente quando ela penetra no núcleo
Gráfico 2 – Perfil de velocidades sísmicas (Vp e Vs) e
líquido; a onda S deixa de se propagar neste meio,
densidade (ρ) no interior da Terra (TEIXEI-
indicando sua fluidez; o valor da densidade aumenta RA, 2000).
subitamente, asseverando a mudança de constituição
pétrea para a metálica.
22
PORTO, V. B.

O manto pode ser distinguido por camadas concêntricas, começando


pelo manto interno, que apresenta a maior densidade, dentre as camadas que
formam o manto, com 4,7 g/cm3, evidenciada pela sua constituição litológica,
formada por sistemas moleculares à base de silicatos com sulfetos e óxidos,
estimando-se que sua forma seja similar a dos acondritos pétreos provenien-
tes do cinturão de asteroides. Veja a Tabela 6 a seguir.

Tabela 6

Características da estrutura interna da Terra (POPP, 1998)


Profundidade em km Denominação Constituição litologia Densidade Temp. aprox. (ºC)
Crosta Sedimento 2,7 600º
15 a 25 superior
LITOSFERA
granito (sial)
Crosta
30 a 50
inferior Basalto (sima) 2,95 1200º

1200 Manto superior Periodito (semelhante assiderito) 3,3 3400º


Camada intermediária 1Silicatos c/sulfetos c/óxidos
2900 4,7 4000º
(manto infrior) (similar, meteoritos)
Ferro metálico c/ Ni (similar,
6370 Núcleo (nífe) 12,2 4000º
sideritos)

O manto superior apresenta-se, na porção inferior, como uma composi-


ção litológica, que é formada à base de sistemas moleculares que constituem
o periodito, cuja densidade cai para 3,3g/cm3, chegando até o limite superior
da crosta inferior, composta de sistemas moleculares à base de silício e mag-
nésio, o SIMA, uma constituição litológica denominada basalto, que já consti-
tui a litosfera. Vaja a Tabela 6.
No manto superior, encontra-se uma camada de mais baixa velocidade
para a onda P, em relação às camadas que a cercam, vide Figura 9, indicando
que apresenta maior fluidez e menor densidade que as camadas limite, deno-
minando-se de astenosfera, com espessura ao redor de 100 Km, a qual é si-
tuada a pouco mais de 100 Km da superfície sobre os continentes e em torno
de 100 Km sobre os oceanos. Sobre a astenosfera, a litosfera desliza porque
é uma camada mais dura e rígida, sendo formada por placas tectônicas, os
“pedaços de litosfera que se movimentam sobre a astenosfera” Teixeira et al.
(2000, p. 50), como pode ser visto no Gráfico 3.
Verifica-se, ainda, uma grande diferença entre as velocidades das on-
das P no limite da crosta com o manto, caracterizando uma descontinuidade,
isto é, uma mudança brusca de composição litológica, que é a descontinuida-
de de Mohorovicic, denominada abreviadamente de Moho. Veja a Figura 10.
Fundamentos de Geociência 23

Mais Sobre Terremotos


Em um terremoto, são
produzidos três tipos de ondas
sísmicas:
(a) Ondas primárias (P)
- Ondas longitudinais,
de pequena amplitude,
semelhantes às ondas
sonoras. Quando estas ondas
passam de uma camada de
menor densidade para outra
Figura 10 – Estrutura da crosta terrestre, segundo Popp (1998). de maior densidade, sua
velocidade aumenta. Assim,
desde que a densidade
A crosta superior, como mostram as Figuras 9 e 10, tem uma espessura da Terra aumente com a
de 30 a 80 Km nos continentes, com uma composição litológica formada por profundidade, a velocidade
sistemas moleculares à base de silício e de alumínio, o SIAL, que constituem de propagação das ondas
é mais acentuada. Porém,
o granito, o qual é recoberto, em grande parte, por sedimentos consequentes
quando uma onda primária
do intemperismo, que ocorre na superfície crustal continental. Veja a Tabela penetra numa camada líquida,
6. A crosta oceânica, que é bem menos profunda, varia de 5 a 10 Km de es- sua velocidade diminui
pessura, apresentando composição litológica basáltica recoberta por uma fina abruptamente, e a onda sofre
camada de sedimentos, com cerca de 100 m de espessura. refração e reflexão. Esse
fenômeno resulta numa região
A superfície terrestre, com seus 510x106 Km2, é recoberta pela hidros- sobre a Terra em que não são
fera, constituindo os mares e os oceanos, com 361x106 Km2, recobertos por recebidas estas ondas (zona
água, enquanto os 149x106 Km2 são constituídos de terras emersas, caracte- de sombra); tal fato foi um
rizando o relevo atual. A Tabela 7 mostra a proporção entre áreas ocupadas dos fatores determinantes da
descoberta de que o núcleo
por mares e por terras imersas. da Terra está em estado de
fusão. As ondas P viajam em
Tabela 7 velocidades que variam entre
Proporção entre as áreas ocupadas pelos mares e as terras emersas 5,5 e 13,8 Km/s.
em relação à superfície total da Terra, segundo Popp (1998) (b) Ondas secundárias (S)
- Ondas transversais, de
Superfícies (em milhões de km2)
modo que cada partícula
Superfície total da Terra 510 100% vibra transversalmente à
propagação da onda. As ondas
Terras emersas 149 29,22% S não se propagam através de
Ocupada pelo mares 361 70,78% líquidos. Sua velocidade varia
de 3,2 a 7,3 Km/s.
(c) Ondas longas ou de
Concentraremos o nosso estudo na superfície terrestre, da qual somos superfície (L) - Oscilações ou
ondas de grande comprimento,
diretamente dependentes, embora devamos considerar que os fenômenos
que se propagam na crosta
provenientes da estrutura interna da Terra foram responsáveis por uma ca- da Terra somente quando as
deia de transformações que contribuíram para resultarem no atual relevo, por ondas P e S a atingem. São
meio de movimentos tectônicos, estudados pela tectônica de placas, teoria ondas lentas, com velocidade
que explica como os continentes se movimentaram ao longo do tempo pelo entre 4 a 4,4 Km/s, (POPP,
1998).
processo de Deriva Continental.
24
PORTO, V. B.

Concluindo Sobre Por outro lado, a Biosfera, lugar do planeta que abriga os seres vivos foi
Terremotos responsável, também, por modelar parte da estrutura da Terra, particularmen-
Devido às diferentes
velocidades e aos diversos
te, sua estrutura externa.
percursos, os três tipos A atmosfera é a camada gasosa que recobre as terras emersas e co-
de ondas chegam a um bertas pelos mares, completando assim um quadro estrutural, que é sintetiza-
sismógrafo em tempos
distintos, e um simples
do na Tabela 8.
registro, além de fornecer a
localização exata do foco do Tabela 8
terremoto, fornece dados de Síntese dos aspectos mais relevantes que compõem
subsuperfície. a estrutura da Terra, segundo Popp (1998)
As velocidades mostram
Nome Caracteres químicos Caracteres físicos
pronunciadas mudanças
a certas profundidades no Atmosfera N2,O2,H2,O,CO2, gases inertes. Gasosa.
interior da Terra (Figura Biosfera H2O, substâmcias orgânicas e materiais esqueletais. Sólido, Líquido, muitas vezes coloidais.
14). As principais estão a Hidrosfera Água doce, salgada, neve e gelo. Líquido (em parte sólida).
profundidades de: (a) 10 Crosta Rochas normais de silicatos. Sólido.
a 15 Km, crosta; (b) 30 a
Material de silicatos (Mg, Fe)2, SiO4; alguns sulfetos
40 Km, descontinuidade Manto Sólido.
e óxidos de Fe.
de Mohorovicic; (c) 2.900
Parte exterior líquida e mais interna,
Km, descontinuidade de Núcleo Liga de ferro e níquel.
possivelmente, sólida.
Dahm ou Gutenberg. Estas
descontinuidades significam
que a Terra é constituída A superfície terrestre é formada por feições litológicas, cujas unidades
por uma série de capas constituintes são as rochas, formadas por um dinamismo cíclico, explicado
concêntricas de materiais pela tectônica de placas. As rochas, por sua vez, são constituídas por unida-
diferentes e em estados
des denominadas minerais, sistemas moleculares que se formaram e passa-
físicos distintos ao redor de
um núcleo (Figura 14). Cada ram a se transformar, a partir dos elementos químicos pulverizados pela su-
uma dessas capas tem uma pernova que originou o Sistema Solar e que deu origem a Terra, mercê desta
condutividade diferente. teia de relações, que se engendrou no seu processo evolutivo.
Como as velocidades
dependem das propriedades
e das densidades dos
materiais através dos quais
passam as ondas, as
mudanças de velocidades
Síntese do Capítulo
a diferentes profundidades
são atribuídas a diferentes A Parte I abordou o assunto “As Origens”, quando foi estudada, primeira-
composições e densidades e, mente, “A Origem do Universo, dando-se ênfase à Teoria do Big Bang, que
talvez, a diferentes estados, explica como surgiram as diversas grandezas fundamentais, entre as quais
sobretudo no núcleo, (POPP,
a matéria produzida nas estrelas, que está organizada em níveis hierarqui-
zados de sistemas (átomos, moléculas, substâncias) que formam uma teia
de relações, as quais expressam realidades produzidas por transformações,
processadas pela variação da energia resultante da interação entre os sis-
temas. A compreensão disto nos remete à escala de acontecimento do fe-
nômeno. A Origem do Sistema Solar foi resultado destas transformações,
a partir da explosão de uma supernova, que formou uma estrela central,
Fundamentos de Geociência 25

o Sol, e seus planetas, que se formaram pela condensação da matéria que Biosfera
orbitava em torno do disco central. O estudo dos meteoritos permite que se Formada por água,
compreenda a diferença entre os tipos de planetas, esclarecendo como se substâncias orgânicas,
materiais esqueletais e seres
formaram os planetas telúricos, ou seja, de estrutura rochosa como a Terra.
viventes harmonizados
Por fim, estudamos a Origem e Estrutura da Terra, explicada pelo processo de com fatores abióticos,
acresção planetária, resultando numa estrutura que concentra Níquel e Ferro como temperatura, clima,
no seu Núcleo, o NIFE, material de maior densidade na estrutura do planeta. composição atmosférica etc.
Modelou os diversos tipos de
A densidade decresce quando se caminha para a superfície, passando-se,
ecossistemas, que evoluíram
primeiro, pelo SIMA, material do manto formado à base de Silício e Magnésio, para abrigar uma diversidade
chegando-se ao manto superior e à crosta, formados pelo SIAL, onde predo- crescente de seres vivos,
mina o Silício e o Alumínio, sendo o sítio de localização das placas litosféricas, cuja história é contada pela
sua filogenia.
que compõem a superfície terrestre. A Biosfera, onde se localizam os seres vi-
Os fósseis, restos ou
vos, é composta de uma mistura de gases toda especial, a atmosfera, corpos vestígios dos seres viventes
d’água e solos próprios para formar os ecossistemas. do passado e incorporados
à litosfera são exemplos
concretos desta história
de ancestralidade e
descendência, podendo ser
Atividades de avaliação usados, indiretamente, para
estimar o tempo geológico,
por aparecerem em
1. Por que podemos nos considerar (os seres vivos) restos mortais de uma litologias específicas, como
estrela, ou dizendo de outra forma, poeira das estrelas? estudaremos oportunamente.
2. Como a meteorítica pode contribuir para estimar a idade do nosso planeta?
3. Qual a importância do estudo dos terremotos para que se decifre a estrutura
interna da Terra?
4. Quais as estruturas notáveis, quando se percorre o raio terrestre, da super-
fície para o interior da Terra?
5. DIÁRIO REFLEXIVO: Produza o seu diário reflexivo, a partir das discussões
realizadas no decorrer da disciplina, registrando os aspectos que lhe levem
a agir de forma crítica e reflexiva.
26
PORTO, V. B.

Livros
1. TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M.; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. Decifran-
do a Terra. São Paulo: Editora Oficina de Textos/USP, 2000. 557 p.
Compreender que a Terra tem uma história que deve ser decifrada é impres-
cindível para entender o que acontece no nosso planeta, no âmbito das Geo-
ciências. O presente livro é bastante citado nesta publicação, e ainda é didá-
tico e de leitura muito agradável, permitindo um aprofundamento adequado,
para os querem dedicar mais atenção ao estudo desta disciplina.
2. NOVELLO, M. O que é cosmologia? São Paulo: Editora Jorge Zahar,
2006. 176 p.
Mário Novello, um dos mais brilhantes cosmólogos contemporâneos, faz uma
extraordinária afirmação: a cosmologia, na realidade, deve refundar a física,
reexaminar os fundamentos sobre os quais ela repousa e se sustenta, forne-
cendo para todos nós um rico material de reflexões acerca do passado e do
futuro do conhecimento científico relativo do Universo.

Vídeos
•• http://www.roda_viva_com_mario_novello_320x240_15fps_130kbps_1h13
min.wmv
Mário Novello é físico e fundador do Instituto de Cosmologia. No vídeo discute
sobre a Teoria do BigBang, assegurando que não se trata de um conhecimen-
to acabado, mas, sim, em construção. Enfatiza que a problematização é uma
forma de avanço da Ciência, no sentido da construção do seu conhecimento.
Fundamentos de Geociência 27

Referências
AMORIM, D. S. Fundamentos de sistemática filogenética. Ribeirão Preto:
Holos Editora, 2002. 156 p.
CARVALHO, I. S. Paleontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Irterciência,
2004. v. 1, 861 p.
DAL PINO, E. M. G. Cosmologia AGA 215. São Paulo: Acrobat Distiller (Win-
dows), 2009. cap. 18. Disponível em: <http://astroweb.iag.usp.br/~dalpino/
AGA215/NOTAS/COSMOLOGIA-Bete.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2009.
EVOLUÇÃO de gigantes vermelhos. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/
oei/stars/rgb/rgb_evol.htm>. Acesso em: 27 dez. 2009.
MATÉRIA e radiação, uma breve história. Disponível em: <http://www.aga-
15cosmologia2.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2009.
MENDES, J. C. Paleontologia básica. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1988. 349 p.
POPP, J. H. Geologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Livros Técnicos e
Científicos, 1998. 376 p.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M.; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. Decifrando
a Terra. São Paulo: Editora Oficina de Textos/USP, 2000. 557 p.
TEORIA nebular de origem do sistema solar. Disponível em: <http://www.
ccvalg.pt/astronomia/sistema_solar/introducao/nebulosa_solar.JPG>. Aces-
so em: 15 set. 2009.
VEIGA, C. A Formação do sistema solar. Observatório Nacional/Minis-
tério da Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http://www.on.br/site_edu_
dist_2009/site/modulos/modulo_1/7-formacao-sistema/7-formacao-sistema.
html>. Acesso em: 27 dez. 2009.
Parte 21
Procedimentos
Transformações de ensino
Geocêntricas
Capítulo 2
O Ciclo das Rochas
Objetivo
l Reconhecer os minerais como unidades constituintes das rochas;
l Explicar como as rochas são formadas; Professores!
l Classificar as rochas; Ides ensinar?
“aprendei a aprender”.
l Identificar os produtos gerados do dinamismo planetário.
O relevo terrestre é explicado
pelo encadeamento das
“Para estudarmos o planeta Terra, é necessário, inicialmente, conhecer transformações que
as características dos materiais que o constituem, especialmente os mais modelaram as feições
superficiais do planeta, cujo
superficiais e com os quais temos maior contato. Na superfície terrestre,
ciclo das rochas faz parte
podem ser observados materiais inconsolidados (por exemplo, os solos dos deste processo evolutivo,
nossos jardins, as areias dos rios e das praias) e rochas consolidadas, am- tornando-se fundamental
bos constituídos por associações mais ou menos características de mine- o entendimento da
rais” (TEIXEIRA et al., 2000, p. 28). complexidade sistêmica, que
é fruto dessa teia de relações.

1. Os Minerais
O estudo da complexidade sistêmica envolvida na compreensão do atual rele-
vo terrestre, modelado por suas unidades constituintes, as rochas, deve partir
do nível de organização que caracteriza os minerais, considerando-os os sis-
temas moleculares que originaram a maior parte das rochas.
Daí, concentrando o nosso estudo nas rochas, examinar-se-á, primei-
ramente, o nível de organização que explicita a sua constituição, os minerais,
compreendidos como suas unidades constituintes.
A teia de relações estabelecida desde o início da formação dos mine-
rais permite que se reconheçam os níveis de organização que crescem de
complexidade de acordo com a escala em que são considerados, elementos
químicos, minerais, rochas, relevo.
Sabe-se que são considerados minerais os próprios elementos quí-
micos, sistemas atômicos que formam os sistemas moleculares denomina-
dos minerais, como é o caso do Ouro (Au), da Prata (Ag), do Diamante e do
Grafite, ambos formados de Carbono (C) etc. Outros minerais são sistemas
32
PORTO, V. B.

Formação dos Minerais moleculares com composição química definida, organizados na forma de cris-
Os minerais foram formados tais, oriundos “de misturas líquidas ou gasosas no interior da crosta terrestre,
a partir do processo de
acresção planetária, que principalmente junto de lavas vulcânicas ou próximo de zonas que sofreram
continha energia suficiente dobramentos ou falhamentos”, segundo Popp (1998). Os óxidos de silício são
para amalgamar a matéria os mais abundantes.
aglutinada da fertilização
proporcionada pela Os minerais, segundo LENZ (1998), são adequadamente compreendi-
supernova, a qual originou o dos se considerarmos suas características fundamentais: propriedades físi-
sistema solar como sistemas cas, ópticas e químicas, e os principais tipos.
moleculares inorgânicos,
que reuniam os elementos
químicos naturais, nas 1.1. Propriedades físicas dos minerais
estruturas denominadas 1.1.1. Estrutura
minerais, principalmente
os enumerados no quadro Quase todos os minerais ocorrem no estado cristalino, no qual os átomos
abaixo: ou agrupamentos de átomos são dispostos regularmente, segundo sistemas
fixos e constantes, ou seja, conservando-se invariáveis as distâncias entre os
átomos que se repetem, numa linha, assim como as distâncias entre as fileiras
de átomos ou entre os planos formados pelas fileiras paralelas e coplanares.
Assim, os átomos, no cristal de halita (sal de cozinha), são organizados de
modo tal que os iontes positivos de Na e os negativos de Cl se acham dispos-
tos em uma rede cúbica (Figura 11).

Proporcionalidade, expressa
em termos de percentuais,
dos elementos químicos
presentes na crosta terrestre,
evidenciando a abundância
do Oxigênio, que forma os
óxidos (POPP, 1998).

Figura 11: Estrutura do cloreto de sódio. À esquerda, observa-se a disposição cúbica


alternada dos iontes de cloro e sódio, e, à direita, a mesma configuração,
estando representados os diâmetros atômicos relativos aos dois iontes
(GILLULY et al. apud LENZ, 1998).

Também, para quase todos os outros minerais, conseguiu-se determi-


nar sua rede cristalina própria.
Outra propriedade fisica que é função da estrutura cristalina é a forma
do cristal. Dependendo das distâncias entre os átomos ou grupos de átomos
nas três direções do espaço e dos ângulos que estas direções fazem entre si,
os cristais são subdivididos em sete sistemas cristalinos: cúbico, tetragonal,
trigonal, hexagonal, rômbico, monoclínico e triclínico.
Fundamentos de Geociência 33

1.1.2. Clivagem
É a propriedade que tem uma substância cristalina em dividir-se em planos
paralelos. Ela se dá graças à estrutura íntima do respectivo mineral. Os pla-
nos de clivagem são sempre paralelos a uma face possível do cristal. Pode
ocorrer uma clivagem segundo uma ou mais direções. Assim, a mica possui
apenas uma direção, enquanto que a galena se cliva segundo três planos
perpendiculares entre si, formando cubos, qualquer que seja a forma do cristal
antes da sua ruptura. A fluorita cliva-se segundo quatro planos que formam
um sólido octaédrico. Quando os minerais apresentam uma única direção de
clivagem, costumam formar-se placas, fato observado no topázio, nas micas,
no talco etc.
Fala-se em clivagem excelente ou preeminente no caso da mica, gip-
sita etc. Neste caso, a clivagem realiza-se com tal facilidade que as lâminas
paralelas do mineral se destacam sob a pressão da unha ou da lâmina de um
canivete. A clivagem é perfeita quando realizada sob uma ligeira percussão de
um pequeno martelo, como no caso da galena, da calcita ou do feldspato. É
indistinta no caso da apatita, no qual é difícil distinguir-se a face onde se deu a
clivagem das regiões simplesmente fraturadas.
Um mineral sem clivagem apresenta fratura, que pode ser concoidal
(quartzo, vidro), terrosa (ocre), granular (magnetita) ou fibrosa (limonita).

1.1.3. Dureza
Exprime a resistência que um mineral oferece à penetração de uma ponta
aguda que tenta riscar o mineral. Esta ponta aguda poderá ou não riscar o
mineral. Riscando, o sulco produzido poderá ser profundo e bem nítido se o
mineral tiver baixa dureza. Se a dureza for pouco inferior à da ponta aguda, o
sulco será fino e pouco profundo. Esta ponta tanto pode ser de aço ou vidro
como pode ser de um outro mineral qualquer. Frequentemente se forma um
traço produzido pelo pó do próprio mineral, que funciona como ponta aguda,
podendo enganar o observador.
Para a comparação da dureza dos diferentes minerais, usa-se uma es-
cala relativa, segundo MOHS, na qual os intervalos não obedecem à propor-
cionalidade dos números, que simplesmente ordenam os minerais.
Assim, o mineral mais duro, o diamante (dureza 10), é, de fato, 140 ve-
zes mais duro que o coríndon (dureza 9). A escala de MOHS, muito usual na
prática, é a seguinte:
1 – Talco; 2 – Gipsita; 3 – Calcita; 4 – Fluorita; 5 – Apatita; 6 – Ortoclásio;
7 – Quartzo; 8 – Topázio; 9 – Corindon; 10 – Diamante.
34
PORTO, V. B.

A unha humana consegue riscar minerais de dureza 1 e 2; o aço comum


e o vidro riscam até 5. Minerais de 6 e 7 riscam e os de 8 a 10 cortam o vidro.
Diz-se que um mineral possui dureza 5 quando este risca um de dureza
4, mas deixa-se riscar por um de dureza 6.
Minerais da mesma dureza riscam-se mutuamente, mas de forma fraca.

1.1.4. Peso específico


É o número que indica quantas vezes um certo volume de mineral é mais
pesado do que um mesmo volume de água destilada à temperatura de 4°C.
Densidade é, assim, o peso expresso em gramas de l cm3 de mineral.
Vejamos a densidade de alguns minerais: halita, 2,2; quartzo, 2,65; cal-
cita, 2,75; galena, 7,5; ferro, 7,3-7,9; mercúrio, 13,6; e ouro, 19,4.
A maioria dos minerais formadores das rochas possui uma densidade
de 2,5 a 4,0; e os minerais de minérios, de 4 a 7,5.
A Figura 12 esclarece a relação existente entre a estrutura cristalina e
diversas propriedades físicas dos minerais, inclusive a forma apresentada pe-
los cristais, que é também governada pela distribuição espacial dos átomos.

Figura 12 – Estrutura cristalina do diamante e da grafita. Embora ambos possuam a


mesma composição química, as suas propriedades são completamen-
te diferentes, sendo, muitas delas, antagônicas. A explicação desse fato
acha-se patenteada na ilustração, seguinte: a forma dos cristais é diferente,
como consequência da diferente disposição dos átomos. A densidade do
diamante é maior, pelo menor espaçamento entre os átomos de carbono.
Este mesmo espaçamento resulta em maior coesão entre os átomos do
diamante, resultando maior dureza em relação à grafita. A clivagem ba-
sal da grafita provém do grande espaçamento entre os planos de átomos
agrupados paralelamente à face da base do prisma hexagonal (GILLULY
et al. apud LENZ, 1998).
Fundamentos de Geociência 35

1.2. Os principais minerais


Apresentaremos apenas uma pequena coletânea dos principais minerais,
dando destaque àqueles que formam as rochas mais comuns da crosta. A
seguir, descreveremos, brevemente, alguns minerais de importância econô-
mica, mas que não são formadores de rochas, apesar de serem relativamente
abundantes na litosfera.
Os mais frequentes constituintes das rochas ígneas e metamórficas são
os feldspatos, que compõem um importante grupo mineralógico que perfaz ao
redor de 60 % da totalidade dos minerais. A seguir, os anfibólios e piroxênios,
que perfazem 17%. O quartzo, 12%, e as micas, 4%. Os demais ocorrem em
quantidades subordinadas, na maioria dos casos. Devem ser citados, pela
sua importância petrográfica e ocasionalmente econômica, os seguintes mi-
nerais: apatita, olivina, magnetita, granada, turmalina, clorita, ilmenita, nefelina,
zirconita, monazita, e muitos outros, quase sempre em quantidades subordi-
nadas nas rochas ígneas formadoras da litosfera.
•• Feldspatos – Formam o grupo mais importante como constituintes das ro-
chas. São translúcidos ou opacos e podem apresentar cristais mistos de
três componentes: feldspato potássico, sódico e cálcico. Quanto ao sistema
de cristalização e quanto à sua clivagem, distinguem-se: ortoclásio (siste-
ma monoclínico, clivando em ângulo reto) e plagioclásio (sistema triclínico,
clivando em ângulo oblíquo). Macroscopicamente, são de difícil distinção.
a) Ortoclásio (do grego, orthós: reto, e klasis: quebra, ruptura)
K2O. Al2O3. 6SiO2: A cor pode ser branca, rósea ou amarelada, de brilho
vítreo, dureza 6, densidade 2,56, clivagem boa segundo 2 planos ortogo-
nais. O microclínio é um feldspato potássico triclínico. Ocorre em rochas
cristalinas, principalmente nas magmáticas de coloração clara, e tam-
bém em pegmatitos.
b) Plagioclásio (do grego, plagios: oblíquo)
Trata-se de um mineral de composição química variável, pelo fato de for-
mar cristais mistos de albita (Na2O. Al2O3. 6SiO2) e anortita (CaO. Al2O3.
2SiO2), que podem misturar-se em proporções variáveis. Trata-se de um
dos exemplos mais patentes de minerais isomorfos. Sua cor é branca,
amarela, cinza, ou, até mesmo, rósea. Translúcido a opaco, dureza 6,
densidade 2,6 a 2,75. Cliva-se segundo 2 planos oblíquos, mas quase
perpendiculares. Ocorre como componente principal nas rochas crista-
linas, tanto em rochas claras como escuras. Graças às suas direções
de clivagem, os feldspatos se apresentam nas rochas ígneas com as
superfícies brilhantes e planas, ao contrário do quartzo, que não possui
clivagem. É também um mineral duro, que se deixa riscar pelo quartzo,
mas que risca o vidro.
36
PORTO, V. B.

•• Quartzo – SiO2: cor branca ou incolor, mas também em inúmeras outras


variedades, como roxo, amarelo, vermelho, preto etc. Brilho vítreo, transpa-
rente ou opaco. Dureza 7. Densidade 2,65, fratura concoide: Ocorre como
diversas variedades, sob diferentes nomes.
a) Cristal de rocha: incolor, transparente e bem cristalizado, usado na teleco-
municação; trata-se de um mineral bastante comum no Brasil;
b) Ametista: transparente, roxo; citrino: transparente, amarelo;
c) Quartzo róseo: translúcido, róseo;
d) Quartzo enfumaçado: transparente, cinza ou castanho;
e) Calcedônia: translúcida e fibrosa;
f) Ágata: é uma variedade de calcedônia bandeada.
O quartzo ocorre como mineral mais comum na superfície do globo terres-
tre, entre as rochas sedimentares, graças à sua alta resistência química
e física. Nas rochas graníticas, o quartzo é um mineral de fácil reconhe-
cimento, pois assemelha-se ao vidro quebrado. Como não tem clivagem,
quebra-se com uma superfície irregular, abaulada. Caracteriza-se também
pela sua dureza elevada (ver escala de MOHS). Ocorre também em rochas
metamórficas, magmáticas e em veeiros. É usado como matéria-prima no
fabrico de vidro, abrasivos, refratários etc.
•• Micas - Trata-se de um grupo de minerais caracterizados por uma ótima
clivagem laminar e boa elasticidade. Distinguem-se 2 variedades principais:
a) Muscovita – K2O. 3Al2O3. 6SiO2. 2H2O (mica branca): incolor, transparente,
também esverdeada ou amarelada, brilho vítreo, densidade 2,76 a 2,9. Cli-
vagem excelente segundo um plano, podendo apresentar-se sob a forma
de pacotinhos hexagonais, que facilmente se desfolham com a ponta de
uma agulha. Mineral comum em rochas graníticas, pegmatitos, micaxis-
tos, gnaisses e, muitas vezes, em sedimentos, pelo fato de ser um mineral
quimicamente estável. Placas maiores e límpidas são usadas na indústria
elétrica, como isolante.
b) Biotita – Mica preta – Silicato complexo, contendo K, Mg, Fe e Al. Cor pre-
ta ou preto-acastanhada, às vezes dourada, quando decomposta. Dureza
2,5 a 3, densidade 2,9 a 3,1. Clivagem excelente e formas similares à da
muscovita. Constituinte comum em granitos, micaxistos e gnaisses. Além
da clivagem perfeita, as micas se caracterizam pela dureza baixa, ao redor
de 2,5. Riscam-se com muita facilidade, com uma ponta de agulha de aço
ou com o vidro.
•• Clorita - Silicato de Fe, Mg e Al, de cor esverdeada, verde-escura ou ama-
relada. Dureza 2 a 2,5, densidade 2,6 a 2,8.Clivagem lamelar boa. Similar
às micas, mas não elástica. Ocorre principalmente em rochas metamórfi-
cas, como cloritaxistos e micaxistos.
Fundamentos de Geociência 37

•• Olivina - (Mg, Fe)2 Si04. Chamado também de peridoto. De cor verde até
verde escura, castanha ou opaca e de brilho vítreo. Dureza 6 a 7, densi-
dade 3,27 a 3,37, prismática ou granular. Clivagem imperfeita, sendo mais
comuns as superfícies irregulares quando fraturadas. É comum em rochas
magmáticas escuras e, às vezes, nas metamórficas.
•• Granada - É um grupo de minerais de composição variada, como a va-
riedade almandina, Fe3Al2 (SiO4)3. Outros tipos de granada podem tam-
bém conter Mg, Ca e Mn. A cor depende da composição: a almandina é
vermelho-castanha, a grossulária é branco-esverdeada, e a espessarti-
ta, vermelha a jacinto. Podem ser translúcidas, opacas, de brilho vítreo
e dureza 6,5 a 7,5. Densidade 3,15 a 4,3. Forma cristais bem perfeitos,
com tendência a superfícies arredondadas e massas granulares. Ocor-
rem principalmente em rochas metamórficas, sendo também comuns nas
rochas magmáticas claras.
•• Turmalina - É um mineral comum nas rochas ígneas quartzosas (granitos
e pegmatitos), bem como em muitas rochas metamórficas. É um silicato de
boro e alumínio, podendo conter Mg, Fe, Ca e F. Caracteriza-se pela sua
dureza elevada (risca o vidro), fratura concoidal e forma prismática alonga-
da. Sua seção transversal, muitas vezes, é triangular. A coloração é variável,
podendo ser preta, verde, vermelha ou azul. Distingue-se dos anfibólios ou
piroxênios pela ausência de clivagem e pela seção triangular ou hexagonal.
•• Calcita – CaCO3 – Cor branca, rósea, cinza, amarela, opaca, raramente
incolor (espato-de-islândia). Brilho vítreo, dureza 3, densidade 2,7. Ótima
clivagem segundo 3 planos, dando romboedros. Pode possuir aspecto ter-
roso ou apresenta-se como agregados cristalizados, ou ainda como cristais
isolados. Efervesce com HCl. Ocorre como um dos minerais mais comuns
em numerosos sedimentos, assim como em rochas metamórficas (trata-se
do mineral que forma os mármores), em veios e como produto de alteração
de diversos minerais. Importante matéria-prima para cimento, cal, fundente,
corretivo para a acidez do solo etc.
•• Dolomita - CaMg (CO3)2 - Cor branca, cinza-amarelada, brilho vítreo, dure-
za 3,5, densidade 2,85. Ótima clivagem segundo 3 planos, formando rombo-
edros. Distinguível da calcita pela pequena ou por nenhuma efervescência
com HCl a frio. Efervesce com HCl quente. Apresenta-se como agregados
terrosos e cristalinos. Ocorre em sedimentos, rochas metamórficas e veios.
Usada para fabricação de cal ou como corretivo da acidez do solo.
•• Gipsita – CaSO4. 2H2O – Cor branca, brilho vítreo ou sedoso, dureza 2,
densidade 2,3. Clivagem perfeita segundo 1 plano. Forma agregados fibro-
sos, laminares. Ocorre em sedimentos. É usada na fabricação do gesso e
é incorporada ao cimento na proporção de 2%.
38
PORTO, V. B.

•• Caulim – Al2O3. 2SiO2. 2H2O – Cor branca ou ligeiramente amarelada, du-


reza 2, densidade 2,6. Clivagem boa, escamoso, lamelar ou terroso. Ocorre
Nefelina como produto mais comum da decomposição dos feldspatos, em veios ou
Apresenta a fórmula em sedimentos. Usado como matéria-prima da porcelana.
NaAlSiO4, contendo também
sempre potássio na sua •• Magnetita – Fe3O4 (72% Fe) – Cor preta, brilho metálico, traço preto,
composição. Mineral incolor dureza 6, densidade 5,1, fortemente magnética, granular ou octaédrica.
ou leitoso, brilho vítreo, é Frequentemente alterada em hematita (martita). Ocorrência: acessório
muitas vezes, graxa, tem comum em rochas magmáticas básicas, podendo formar corpos volumo-
dureza de 5,5 a 6, fratura
concoidal, densidade 2,55 sos, jazidas, graças à concentração gravitativa após a segregação magmá-
a 2,65 e apresenta um tica. Pode ocorrer também nos itabiritos.
aspecto muito semelhante •• Hematita – (do grego, haima: sangue) Fe2O3 (70% Fe) - Cor preta e cinza-escura,
ao do quartzo. Distingue-se
pela sua dureza inferior à
brilho metálico, às vezes, brilhante (variedade especularita), traço vermelho san-
do quartzo e produz uma guíneo. Dureza 5,5 a 6,5. Densidade mais ou menos 5. Granular, compacta ou
geleia de sílica gelatinosa micácea. Ocorrência: forma os principais depósitos ferríferos brasileiros (itabirito),
em contato com HCl contendo até quase 70% Fe metálico. Ocorre também como pigmento vermelho
concentrado. A quente, num
pequeno tubo de vidro, a
comum nos sedimentos, solos etc. Altera-se facilmente para limonita. Trata-se do
reação é mais evidente. minério mais importante para a economia do Brasil.
Ocorre em sienitos e em •• Limonita – (do grego, leimon: prado) Fe2O3. nH2O (cerca de 60% Fe) – Cor
rochas ricas em sódio, porém
pobres em SiO2. Nunca
castanha a preta, brilho metálico ou submetálico, traço amarelo-castanho.
existe junto ao quartzo, pelo Dureza entre 5 e 5,5, densidade 4. Formas botrioidais, oolíticos terrosos ou
fato de reagir quimicamente de aspecto esponjoso. Ocorrência: proveniente da decomposição de hema-
com ele, formando a albita. tita, magnetita e outros minerais ferríferos. Forma frequentemente pigmen-
tos amarelos ou castanhos nos sedimentos e rochas em decomposição.
•• Pirita – (do grego, pyr: fogo) FeS2 (46,6% Fe e 53,4% S) – Cor amarelo-dourada,
traço preto, dureza 6 a 6,5, densidade 4,9 a 5,1. Cristaliza-se em cubos ou forma
massas granulares. Transforma-se facilmente em limonita. É um dos minerais
mais disseminados. Ocorre em diversas jazidas de minerais metálicos, em ro-
chas magmáticas metamórficas e sedimentares.
•• Calcopirita – (do grego, chalcós: cobre) CuFeS2 (35% Cu, 30% Fe e 35% S) -
Cor amarelo-dourada, brilho metálico, traço preto-esverdeado, dureza 3,5
a 4, densidade 4,2. Ocorre em massas compactas, muitas vezes, em filões,
sendo o principal minério de cobre. Transforma-se facilmente em calcosina
e em malaquita.
•• Galena – PbS (86,5% Pb, 13,5% S) – Cor branco-chumbo, brilho metálico,
traço cinza-preto, dureza 2,5, densidade 7,5. Ótima clivagem cúbica. Ocorre
sob a forma de massas granulares de cristais cúbicos agregados. Associa-
-se comumente à blenda. Trata-se do mais importante minério de chumbo.
•• Blenda ou Esfalerita – ZnS (67% Zn e 33% S) – Contém frequentemente
ferro. Cor castanha, amarela ou preto-aveludada. Brilho adamantino-resino-
Fundamentos de Geociência 39

so, traço amarelo-castanho, dureza 3,5 a 4, densidade 3,9 e 4,2, clivagem Importância dos minerais e
boa segundo 3 planos. Ocorre em filões com galena e pirita. É o mais im- das rochas
“A importância dos
portante minério de zinco. minerais e das rochas no
desenvolvimento tecnológico
2. O Ciclo das Rochas da humanidade cresceu
continuamente desde a
As rochas são aglomerados naturais, ou seja, produtos consolidados, resul- época da pedra lascada.
tantes da reunião de um ou mais minerais, sendo encontradas como unidades Entre outras coisas, a
sociedade tecnológica
constituintes da crosta terrestre, formando o seu relevo. não teria conseguido
Por outro lado, os fósseis são restos ou vestígios de seres vivos que chegar à Lua não fosse o
existiram no passado e que se encontram no interior das rochas. seu conhecimento sobre
as características e as
Segundo LENZ (1998, p. 40), “são elas, as rochas, juntamente com os propriedades dos minerais.
fósseis, os elementos que o geólogo usa para decifrar os fenômenos geológi- A dureza excepcional do
cos atuais e do passado. A Petrografia ou Petrologia, ramo de ciência geológica, diamante, por exemplo, foi
responsável pela fabricação
dedica-se ao estudo das rochas, da sua constituição, origem e classificação”. de peças mecânicas de
Distinguem-se, quanto ao seu processo de formação, três grandes gru- altíssima precisão que
pos de rochas, as magmáticas ou ígneas, as sedimentares e as metamórfi- auxiliaram a ida do homem à
Lua. Além dessas aplicações
cas, em contínuas transformações, o que constitui o ciclo das rochas, confor- muito especializadas, muita
me mostra a Figura 13. coisa que usamos no nosso
dia-a-dia vem do reino
2.1. Rochas Ígneas
Como se percebe na Figura 13, as rochas
ígneas se formam a partir do resfriamento
do magma, o qual pode ocorrer no interior
do globo, formando as rochas ígneas intrusi-
vas ou chegar à superfície da crosta, quan-
do o seu resfriamento produzirá as rochas
ígneas extrusivas.
Como principais tipos de rochas ígne-
as, o granito e o basalto se diferenciam pela
composição química, composição minera-
lógica e textura. Enquanto o granito é con-
siderado uma rocha ácida, por apresentar
um teor de SiO2 superior a 65%, o basalto Figura 13 – O ciclo das rochas segundo Teixeira et al. (2000).
é uma rocha básica, cujo teor de SiO2 varia
entre 52% e 45%.
O granito apresenta, como minerais essenciais, o ortoclásio, quartzo,
plagioclásio sódico e biotita, sendo uma rocha de coloração clara ou leucocrá-
tica, enquanto o basalto é constituído de plagioclásio cálcico e piroxênio (mag-
netita e ilmenita), sendo uma rocha de coloração escura ou melanocrática. Já
40
PORTO, V. B.

no granito os cristais são bem visíveis, apresentando uma textura equigranular


fanerítica, enquanto a textura do basalto é de granulação fina microcristalina,
afanítica, vítrea ou porfirítica.

O Quadro 1 apresenta os principais tipos de rochas ígneas. Principais rochas magmáticas segundo
Rochas Ígneas
As rochas ígneas são
a composição mineralógica, a textura e o teor em SiO2
também denominadas de Subácidas e neutras
Ácidas Básicas
rochas magmáticas, por se (sem quartzo) Ultrabásicas
(com quartzo) SiO2 entre
formarem em decorrência do SiO2 entre SiO2 < 45%
SiO2 > 65% 52% e 45%
65% e 52%
resfriamento do magma.
As rochas ígneas intrusivas Ortoclásio, quartzo, Ortoclásio, PLagioclásio
Olivina, piroxênio:
plagioclásio plagioclásio sódico, cálcico, piroxênio:
são também denominadas Mineral melanocráticas
sódico, biotita biptita (anfibólio ou (magnetita, ilmenita)
de rochas plutônicas, cujo essencial
piroxênio): leuco a
exemplo mais abundante é melanocráticas
leucocráticas mesocráticas) (melanocráticas)
o granito, que constitui 95%
Peridotito
deste tipo de rocha. Plutônica Granito
Sienito (leucocrático)
Gabro
Jacupiranguito
Entretanto, no caso do (textura equi- Pegmatito
Diorito (mesocrático) (rico em piroxênio
magma conseguir atingir granular Granodiorito (melanocrático)
e magnetita)
a superfície, passará a Sienito-Pórfiro
se denominar de rochas Hipabissal Diabasio (textura
(leucocrático)
vulcânicas, cujo exemplo (textura Granito-Pórfiro granular) ―
Diorito-Pórfiro
porfiroide) Tinguaíto
mais abundante é o basalto, (mesocrático)
que constitui 98% deste tipo Vulcânica Riólito Traquito (leucocrático)
de rocha. Basalto
(textura porfirí- Quartzo-Pórfiro Fonólito (mesocrático) ―
Vidro Basáltico
tica ou vítrea) Obsidiana Andesito (mesocrático)

2.2. Rochas Metamórficas


As transformações que as rochas magmáticas ou sedimentares podem sofrer,
por serem submetidas a novas condições de pressão, temperatura, volatização
ou grandes atritos, podem resultar nas rochas metamórficas, em consequência
da instabilização dos minerais presentes nas rochas originais. Veja a Figura 13.
A nova rocha poderá ou não apresentar nova composição mineral; en-
tretanto, a textura muda obrigatoriamente. Quando a temperatura ultrapassa
a faixa de 700-8000C, as rochas começam, então, a se fundir, produzindo
novamente o magma.
Os principais tipos de rochas metamórficas são o quartzito, o mármore,
o gnaisse e o migmatito.
O quartzito provém do metamorfismo do arenito, enquanto o mármore
provém do metamorfismo do calcário. O gnaisse contém, na sua constituição,
feldspato, quartzo, mica, anfibólio, granada etc, sendo muito parecido com o
granito, porém, apresentando textura macrocristalina diferente da do granito.
O migmatito nada mais é do que o gnaisse, apresentando faixas ígneas mais
recentes, que apresentam coloração mais clara.
Fundamentos de Geociência 41

2.3. Intemperismo e Sedimentação Perfil do Solo


Observa-se, na figura abaixo,
O processo de sedimentação começa com a produção dos sedimentos e tem, que a estruturação do perfil
como resultado, a formação de solos ou de rochas sedimentares. A produção do solo é vertical.

dos sedimentos, por sua vez, resulta da meteorização ou do intemperismo


das rochas, o que corresponde ao “conjunto de modificações de ordem física
(desagregação) e química (decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar
na superfície da Terra” (TEIXEIRA et al., 2000, p. 140). A ação geológica dos
ventos, do gelo e da água se faz sentir sobre a rocha desagregada ou decom-
posta, que é fruto do intemperismo.
O resultado do intemperismo, que é uma rocha alterada, pode se trans-
formar em solo, cobrindo a superfície intemperizada, ou pode sofrer erosão
(destruição do relevo por agentes erosivos – entre eles, vento, gelo e água,
Horizontes que compõem
segundo Guerra, 1989, p. 153), transporte, sedimentação, “os quais acabam o perfil do solo segundo
levando à denudação continental, com o consequente aplainamento do rele- Teixeira et al. (2000).
vo”, e, em outro local, a bacia de sedimentação, os sedimentos depositados
pelo processo de sedimentação virão a formar novos estratos sedimentares, Descrição dos horizontes:
- O: Horizonte rico em
os quais se consolidarão como rocha, fazendo parte do ciclo das rochas. restos orgânicos em vias de
decomposição.
- A: Horizonte escuro, com
2.4. Formação dos Solos
matéria mineral e orgânica e
Por sua vez, recorrendo-se ainda à Figura 13, verifica-se que a formação dos alta atividade biológica.
- E: Horizonte mais claro,
sedimentos começa com o intemperismo, quando ocorre a degradação da
marcado pela remoção de
rocha matriz. partículas argilosas, matéria
As rochas se desintegram pelo intemperismo físico e se decompõem e oxi-hidróxidos de ferro e de
alumínio.
pelo intemperismo químico, resultando no manto de intemperismo ou regolito.
- B: Horizonte de acumulação
Contudo, quando o regolito permanece nos locais onde foi produzido, de argila, matéria orgânica e
isto é, não sofreu erosão e consequente transporte, então, constituirá o solo. oxi-hidróxidos de ferro e de
alumínio.
Portanto, o intemperismo é o fenômeno responsável pela produção do - C: Horizonte de rocha
solo, alterando a forma física e a composição química das rochas que com- alterada.
põem a crosta terrestre continental. Reconhecemos ainda:
Solum = O + A + E + B;
A diversidade de solos é fator comum na superfície terrestre devido às Saprólito= C + rocha.
diferentes formas como acontece o intemperismo, gerando diferentes combi-
nações no seu processo de formação.
Assim sendo, torna-se necessário realizar uma adequada classificação
dos solos, a qual pode ser feita segundo diferentes critérios. Apresentaremos
o critério utilizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embra-
pa, apresentado na Tabela 9.
42
PORTO, V. B.

Fósseis Solo Cacterísticas


Os materiais resultantes
Solo pouco evoluído, com ausência de horizonte B. Predominam as características herdadas do
de atividades biológicas, Neossolo
material original.
ou seja, os fósseis podem
Solo com desenvolvimento restrito. Apresenta expansão e concentração pela presença de argilas
estar incluídos nas rochas Vertissolo
2:1 expansivas.
sedimentares.
Cambissolo Solo pouco desenvolvido, com horizonte B incipiente.
Solo com desenvolvimento médio e com atuação de processos de bissialitização, podendo ou não
Chernossolo
Sedimentologia apresentar acumulação de carbonato de cálcio.
Os sedimentos e as Solo com horizonte B de acumulação (B textural), formado por argila de atividade alta
Luvissolo
rochas sedimentares foram (bissialitização); horizonte superior lixiviado.
provavelmente os primeiros Alissolo Solo com horizonte B textural, com alto conteúdo de alumínio extraível; solo ácido.
a atraírem a atenção do Argissolo Solo bem evoluído, argiloso, apresentando mobilização de argila da parte mais superficial.
ser humano, quando ele se Solo bem evoluído (argila caulinítica - ôxi-hidróxidos), fortemente estruturado (estrutura em
conscientizou da existência Nitossolo
blocos), apresentando superfícies brilhantes (cerosidae).
de materiais geológicos
Latossolo Solo altamente evoluído, laterizado, rico em argilominerais 1:1 e oxidróxidos de ferro e alumínio.
de diferentes naturezas na
Solo evidenciando a atuação do processo de podzolização; forte eluviação de compostos
superfície terrestre. Desde Espodossolo
aluminosos, com ou sem ferro; presença de humus ácido.
então, os processos e
produtos sedimentares vêm Solo com forte perda de argila na parte superficial e concentração intensa de argila no horizonte
Planossolo
subsuperficial.
sendo pesquisados pela
sedimentologia, petrografia Plintossolo Solo com expressiva plinitização (segregação e concentração localizada de ferro).
e petrologia sedimentares, Solo hidormófico (saturado em água), rico em matéria orgânica, apresentando intensa redução
Gleissolo
além da estratigrafia. dos compostos de ferro.
Os conhecimentos de Organossolo Solo essecialmente orgânico; material ariginal constitui o próprio solo.
Sedimentologia, transcendem
os de interesses da ciência
pura, pois são essenciais à 2.5. Rochas Sedimentares
tecnologia de aproveitamento
Analisando-se as Figuras 10 e 13, compreende-se a razão pela qual as ro-
racional dos recursos naturais
da Terra, sejam combustíveis chas ígneas, embora correspondendo a 95% da composição, em volume, da
fósseis, minerais metálicos, crosta continental, cobrem apenas 25% da sua superfície, enquanto os 5%
não-metálicos e ambientes restantes em volume completam a cobertura dos 75% da área superficial, cor-
de sedimentação.
respondendo aos sedimentos, representando “uma delgada película externa
Portanto, os conhecimentos
de sedimentologia são desta casca” (LENZ, 1998). Veja a Figura 14, representada a seguir.
imprescindíveis a todos
os estudiosos de ciências
naturais: geologia, geografia
física (geomorfologia),
oceanografia geológica,
biologia (ecologia), geofísica,
geoquímica e pedologia,
bem como de algumas
ciências humanas, como a
arqueologia (geoarqueologia)
e a pré-história (SUGUIO,
2003).

Figura 14 – Constituição litológica da crosta terrestre continental, comparando o volu-


me com a sua área, segundo Lenz (1998).
Fundamentos de Geociência 43

A consolidação do sedimento forma as rochas sedimentares; portanto, Granulometria


as rochas sedimentares resultam “da destruição erosiva de qualquer tipo de Um depósito inconsolidado
composto por matacões,
rocha, material este que deverá ser transportado e posteriormente depositado calhaus, seixos e grânulos
ou precipitado em um dos muitos ambientes de sedimentação do globo ter- é chamado de cascalho.
restre” (LENZ, 1998, p. 46), consolidando-se em corpos mais compactos, as Existem os cascalhos de
rochas sedimentares. matacões, de calhaus
etc., conforme as
Os principais tipos de rochas sedimentares originam-se de sedimentos classes granulométricas
clásticos, de sedimentos químicos de sedimentos orgânicos, ou da combina- predominantes. As areias
ção entre eles. comportam uma subdivisão
em cinco categorias, desde
Os sedimentos clásticos ou mecânicos originam-se da fragmentação areias muito grossas a areias
de rochas preexistentes, cujo tamanho dos grãos ou partículas serve de base muito finas.
para as classificações. Assim, os macroclásticos incluem os psefitos ou sei- Em geral, os sedimentos
epiclásticos são classificados
xos, grãos maiores que os de areia, e os psamitos ou areias, grãos do tama- segundo a granulometria
nho da areia, enquanto os microclásticos caracterizam-se por apresentarem- predominante entre as
-se em grãos menores que a areia, sendo os pelitos ou lamas, entre as quais partículas clásticas em
se encontram a silte e a argila. cascalhos, areias, siltes e
argilas.
Esses três grupos de
O Quadro 2 apresenta as classificações mais difundidas dos sedimentos quanto à sua granulometria fragmentos definem a
Diâmetro (mm) Wentworth Diâmetro (mm) Atterberg subdivisão básica na
Matação > 256 200 classificação de sedimentos
Bloco 64 - 256 20 - 200 epiclásticos, conforme
se usem palavras de
Seixo 4 - 64 2 - 20
raízes latina ou grega,
Grânulo 2-4
respectivamente em: rochas
Areia grossa 1/4 - 2 0,2 - 2 rudáceas (ou psefíticas),
Areia fina 1/16 - 1/4 0,02 - 0,2 que são os Conglomerados,
Silte 1/256 - 1/16 0,002 - 0,02 rochas arenáceas (ou
Argila <1/256 0,002 psamíticas), que são os
arenitos, e rochas lutáceas
(ou pelíticas), que são os
Vejamos como Lenz (1998) se expressa a respeito da classificação das Argilitos, Siltitos ou Folhelhos
rochas sedimentares quanto à sua granulometria: (SUGUIO, 2003).

“Argilito, Argila, Folhelho - Possuem cor de cinza até preta, amarela, verde
ou avermelhada. Granulação finíssima, de poucos mícrons, por isto untuosa
ao tato. A presença da argila, seja como impureza num sedimento qualquer
(por exemplo, um arenito ligeiramente argiloso), seja no estado puro, faz com
que o sedimento produza o cheiro característico de moringa nova, quando
umedecido com um simples bafejar bem próximo à amostra. Quando endu-
recida, se formar estratos finos e paralelos esfolheáveis recebe o nome de
folhelho. O mineral principal de argila pertence ao grupo do caulim.
44
PORTO, V. B.

Erosão Pelo Vento Siltlto ou Silte - São de cor cinza, amarela, vermelha, de granulação de tal
Segundo Popp (1999), “a forma fina que, às vezes, podem-se perceber grãos individualizados com
erosão eólica processa-se auxílio de uma lupa de forte aumento. É ligeiramente áspero ao tato e bas-
por deflação e por corrosão.
tante áspero entre os dentes. Entre os pequenos grãos, costumam predo-
Deflação. Processo de
rebaixamento do terreno, minar os de quartzo.
removendo e transportando Arenito, Areia ou Arcózio - Podem ter diversas cores: as mais comuns são
partículas incoerentes
cinza, amarelo ou vermelho. Enquanto a areia é um sedimento clástico, não
encontradas na superfície.
Efeitos da deflação. Produz consolidado, formado mais comumente de grãos de tamanho que variam
a formação de grandes entre 0,2 a 2mm; o arenito é a rocha sedimentar proveniente da consolida-
depressões. Quando tais ção de areia por um cimento qualquer. Os grãos que formam os arenitos e
depressões atingem o nível as areias são geralmente de quartzo, podendo, contudo, ser de qualquer
do lençol subterrâneo, mineral, uma vez que tenham as dimensões do grão de areia. Ocorrem
formam-se os lagos.
comumente junto às areias, às vezes, em alta concentração, a monazita,
A deflação é o tipo de erosão
eólica mais importante devido ilmenita, zirconita e muitos outros minerais. Diversos adjetivos, como fluvial,
ao vulto de seus efeitos. marinho, desértico, e outros, explicam a sua origem.
Corrosão. É produzida pelo
Nos arenitos, observa-se, com frequência, uma nítida estratificação, cujas
impacto das partículas de
areia transportadas pelos causas são várias: mudança na granulação, na cor etc.
ventos contra a superfície das O arcózio é um arenito que possui, como constituinte, uma grande quanti-
rochas, polindo-as. O impacto
dade de feldspato.
dos grãos entre si, bem como
contra as rochas, produz o Conglomerado - Trata-se de uma rocha elástica formada de fragmentos
desgaste, resultando em um arredondados (seixos ou cascalhos, quando soltos, não cimentados) e de
alto grau de arredondamento
tamanho superior ao de um grão de areia (acima de 2 mm na classificação
e em uma superfície fosca
de WENTWORTH apud LENZ, 1998), reunidos por cimento. Há todas as
dos grãos, que caracteriza o
arenito de ambiente eólico. transições entre o conglomerado e a brecha.
Efeitos da corrosão: Brecha - Composta de fragmentos angulares maiores que 2 mm, cimenta-
São maiores em
dos por material da mesma natureza ou de natureza diversa. A sua origem
rochas sedimentares,
principalmente as é variável: 1) brecha sedimentar originada, por exemplo, de depósitos de
arenosas e argilosas. tálus; neste caso, a matriz geralmente não difere muito dos blocos inclusos;
Rochas heterogêneas ou 2) brecha de atrito, originada por esforços mecânicos, por exemplo, nos
irregularmente cimentadas falhamentos (brecha de falha). Nesta circunstância, a brecha se compõe de
sofrem erosão diferencial, material idêntico ao da rocha fraturada pelos esforços mencionados, sendo
o que dá origem a formas
este tipo de rocha colocado na categoria das metarmórficas.
muito curiosas. Quando
o vento tem uma direção Tilito - É uma espécie de conglomerado de alta importância pela sua ori-
predominante, formam-se gem glacial, ocorrendo com frequência no Sul do Brasil, a partir do Estado
sulcos orientados segundo
de São Paulo.
essa direção”.
Constitui-se de fragmentos de rochas diversas e de vários tamanhos, arre-
dondados ou angulosos, cimentados por material argiloso e arenoso. Como
principal característica, predomina o cimento em relação aos seixos. A cor
é cinzenta, até azulada, quando fresco, e amarelada, quando decomposto.
Fundamentos de Geociência 45

Os sedimentos químicos ou não clásticos resultam da precipitação de


solutos, por dois motivos: ou em consequência da diminuição da solubilidade
ou graças à evaporação da água. No caso da evaporação da água o sedi-
mento se denomina de evaporito. Entre os sedimentos químicos consequen-
tes da diminuição da solubilidade, os mais comumente encontrados são os
carbonatos, cuja precipitação ocorre por aumento de temperatura, acarretan-
do o desprendimento de gás carbônico, fator imprescindível para que os car-
bonatos se mantenham solubilizados. Origem Poligenética
Os sedimentos orgânicos são aqueles produzidos pela acumulação de Existem rochas sedimentares
de origem poligenética,
restos de organismos, tais como “restos de vegetais, conchas de animais, ex-
como o calcário e a marga, o
crementos de aves etc. que, por compactação, acabam gerando, respectiva- dolomito e o sílex. O calcário
mente, turfa, coquina e guano. São pseudorrochas porque as suas partículas tem uma composição
agregadas não são minerais” (TEIXEIRA et al., 2000). química à base de carbonato
de cálcio e, quando está
misturado à cerca de 50%
2.6. Ação Geológica do Vento de argila, recebe o nome
O vento é o ar em movimento, sendo causado por diferenças de temperatura de marga. O dolomito é o
carbonato de cálcio com
na superfície terrestre. Desta forma, numa região mais quente ocorre a expan- certa concentração de
são do ar, que fica mais leve e tende a subir. O ar frio tende a descer, já que, magnésio. O sílex é formado
estando o ar contraído pelo frio, ele fica mais pesado. à base de sílica, “quartzo
fibroso ou calcedônia”,
O vento, que resulta do deslocamento lateral de massa de ar, dá-se podendo ser de origem
de pontos de pressão mais alta, lugares mais frios, soprando para locais de química ou orgânica. No
pressão mais baixa, lugares mais quentes. “A velocidade e a força do vento caso da origem orgânica,
são proporcionais à distância e à diferença de pressão entre dois pontos. O “resulta da dissolução e
posterior precipitação da
vento ocorre em todos os climas, porém com intensidades diferentes” (POPP, sílica de restos de espículas
1999, p. 161). de esponja, ou de carapaças
O vento é capaz de transportar sedimentos, sendo este processo deno- de diatomáceas, ou ainda de
radiolários” (LENZ, 1998).
minado de erosão eólica. A quantidade de partículas transportadas pelo vento
é diretamente proporcional à sua força. O vento possui ainda poder destrutivo,
em consequência das partículas em suspensão transportadas, sendo este
poder diretamente proporcional à sua velocidade e à sua carga.
Segundo Beaufort (apud Lenz, 1998) o vento pode ser classificado de
acordo com a sua velocidade em 13 (treze) categorias, numeradas de 0 a 12,
que são reconhecidas pelo efeito que produz:

•• 0 - Calmaria: como característica, a fumaça sobe verticalmente.


Velocidade: menos de 1,5 Km/h.
•• 1 - Aragem leve: é perceptível apenas pelo desvio da fumaça.
Velocidade: 1,5 a 6,1 Km/h.
46
PORTO, V. B.

•• 2 - Brisa leve: movimenta as folhas e é levemente perceptível nas faces.


Velocidade: 6,1 a 11,1 Km/h.
•• 3 - Vento suave: movimenta pequenos galhos.
Velocidade: 11,1 a 17,2 Km/h.
•• 4 - Vento moderado: levanta poeira e movimenta galhos maiores.
Velocidade: 17,2 a 24,1 Km/h.
•• 5 - Vento médio: movimenta pequenas árvores;
Velocidade: 24,1 a 31,6 Km/h.
•• 6 - Vento forte: movimenta pequenas árvores; zune nos fios de telégrafo; o
guarda-chuva é mantido com dificuldade.
Velocidade: 31,6 a 38,5 Km/h.
•• 7 - Vento fortíssimo: movimenta grandes árvores, torna-se difícil andar
contra esse tipo de vento.
Velocidade: 38,5 a 46,4 Km/h.
•• 8 - Ventania forte: quebra galhos de árvores.
Velocidade: 46,4 a 55,4 Km/h.
•• 9 - Ventania fortíssima: produz leves danos às construções: arranca telhas
e chaminés de barro.
Velocidade: 55,4 a 64,8 Km/h.
•• 10 a 12 - Furacões: são ventos raros nos continentes, de efeito altamen-
te catastrófico: arrancam árvores, derrubam edifícios frágeis ou destelham,
por completo, todas as casas atingidas.
Velocidade: acima de 64,8 Km/h, podendo atingir mais de 150 Km/h.

2.7. Recursos Hídricos e Ação Geológica da Água


Sabe-se que a água é encontrada, na Terra, nos estados gasoso, líquido e só-
lido, conforme se pode observar na Figura 15, que representa o ciclo da água.
Fundamentos de Geociência 47

Figura 15 – Ciclo hidrológico, segundo Teixeira et al. (2000).

Na natureza, compreende-se o ciclo da água a partir da evaporação que


acontece nos mares, rios e lagos. Na atmosfera, o vapor d'água sobe, preci-
pitando-se quando atinge temperaturas mais baixas. Os ventos dispersam a
água atmosférica, promovendo uma distribuição das chuvas, de acordo com o
clima da região. A distribuição da água se faz conforme os dados da Tabela 10.

Tabela 9
Distribuição da água
Localização Volume de água (litros) % de água
Lagos de água doce 124,9 x 10 15
0,009
Água superficial Lagos salgados e mares interiores 104,1 x 1015 0,008
Média nos rios 11 x 1015
0,0001
Água vadosa 66,6 x 1015 0,005
Água Subsuperficial
Água subterrânea (até 800m de profundidade) 4.164 x 10 15
0,31
Água subterrânea profunda 4.164 x 1015 0,31
Sob o estado sólido (geleiras) 39.147 x 10 15
2,15
Outros Locais
Atmosfera 129,1 1015 0,001
Oceanos 1.319.945 x 1015 97,2

A água no estado líquido é encontrada, principalmente, nos oceanos,


que contêm 97,2% da água presente no globo terrestre, sendo o mais impor-
tante contribuinte para as chuvas no ciclo da água.
A água que é encontrada na superfície dos continentes no estado líqui-
do constitui os rios e os lagos e corresponde a 0,010% do volume de água do
globo terrestre. O maior volume desta água superficial é doce e compõe os
recursos hídricos utilizados como água potável, água para a agricultura, trans-
porte, indústria etc. Entretanto, as atividades humanas, que geram poluição,
estão comprometendo a qualidade desta água.
48
PORTO, V. B.

Água Juvenil Quanto à ação geológica da água de superfície, que se constitui no


O ciclo da água nos mostra principal modelador do relevo terrestre, ela começa, segundo Popp (1999, p.
que a água que circula na
Terra é sempre a mesma,
141), com as “águas das chuvas que correm pelas vertentes entre elevações,
“exceto por uma ínfima canalizam-se pelas irregularidades do terreno e unem-se, formando os peque-
parcela de água proveniente nos arroios”. Estes pequenos cursos d’água que fluem intermitentemente “vão
do interior da crosta, por removendo partículas de solos e de rocha, abrindo os sulcos até alcançarem
ocasião de atividades
vulcânicas (água juvenil)”,
a superfície do lençol freático da água subterrânea da qual recebem contribui-
que se incorpora a este ciclo, ção, transformando-se em rios permanentes”.
segundo Popp (1999, p.133). As principais ações geológicas das águas superficiais são: ação erosi-
Água Atmosférica
va, cachoeiras (vide p. 42), transporte de materiais e depósitos fluviais (vide
Na atmosfera, a água leitura complementar, p. 48), assim descritas por Popp (2000, p. 141 a 144).
corresponde a apenas
0,001% do total de “Ação erosiva - Nas vertentes mais íngremes, a velocidade das águas é
água presente na Terra, grande, formando sulcos e arrastando os resíduos resultantes. Parte das ro-
encontrando-se no estado chas é removida por dissolução. A velocidade das águas, em determinados
gasoso, e aquela água pontos, é suficiente para arrancar fragmentos de rochas do fundo e, como
que está pronta para se consequência, aprofundar o leito. Os fragmentos de rochas arrancados são
transformar em chuva ou
transportados pelas correntes, sofrem desgaste e atuam desgastando o leito
neve.
do rio. A corrosão produz poços pelos redemoinhos das correntes carrega-
das de seixos. Os seixos ou fragmentos descrevem movimentos de rotação
desgastando os poços, que, finalmente, interligam-se e aprofundam o rio.

Os rios transportam material de três formas: por solução, suspensão e ar-


rasto, ou ainda por rolamento e salto. O conjunto (arrasto total) depende da
velocidade e do volume do seu caudal.

A maioria dos rios possui três partes segundo a inclinação ou declividade:


o trecho da montanha ou fase juvenil do rio, o de maior pendente; o trecho
do vale ou de maturação; e o trecho da planície ou senil, onde a pendente
já próxima da foz é mínima. Neste ponto, ele está próximo ao seu perfil de
equilíbrio, ou seja, seu poder erosivo reduziu-se ao mínimo.

Nessa fase, o rio deposita grande parte do material transportado. Seu per-
curso torna-se, então, sinuoso, e aparecem praias de areia e pedregulhos
na parte interna da curva. As curvas tornam-se cada vez mais pronuncia-
das, e o desgaste lateral supera o vertical. As curvas podem estender-se
a ponto de se aproximarem umas das outras, e, finalmente, a parte que
separa as curvas pode desaparecer. Por vezes, o canal segue diretamente,
deixando, na lateral, um lago em forma de ferradura que se mantém pelas
chuvas ou secas. Tais segmentos chamam-se meandros. Nesta fase, tal
configuração decorre da grande deposição de fundo e da erosão que pas-
sou a ser lateral, sendo comuns meandros esculpidos em seus próprios
sedimentos. Os meandros podem constituir uma série de braços mortos
que, por ocasião das inundações, são preenchidos. Quando toda a planície
Fundamentos de Geociência 49

do rio é coberta temporariamente, ocorre a deposição de argila nesses me- Água Subterrânea
andros. Nesta fase, o rio atingiu sua senilidade. Os depósitos argilosos são É a parte da água das chuvas
comumente explorados para fins cerâmicos. que se infiltra no solo através
das aberturas, dos interstícios
Havendo um movimento que provoque emergência da região ou aumento e das fraturas das rochas,
de pluviosidade, o rio pode sofrer um rejuvenescimento e passar a erodir preenchendo todos os
mais intensamente. espaços vazios da superfície
a profundidades variáveis, o
Transporte de materiais - Como se vê em seguida, o transporte de mate- que corresponde a 0,63% do
riais é feito de três formas, a saber: por solução, por suspensão e por saltos. percentual de água da Terra.
Os principais modos
• Transporte por solução. A quantidade de sais, em solução, nos rios, depen- de ação geológica da
de de vários fatores, tais como chuva, constituição das rochas da área, dos água subterrânea são
tipos de solo e do volume de água. discriminados no quadro
abaixo, segundo Teixeira
• Geralmente, expressam, em seus constituintes, os elementos componen- (2000, p. 127):
tes das rochas. Anualmente, os rios levam, aos mares, quase 4 bilhões de
Processo Produto
toneladas de sais dissolvidos. Grande parte destes se precipita, formando
Pedogênese Formação dos
as rochas de origem química, e parte é aproveitada pelos seres vivos que
solos
também acabam por constituir rochas quando morrem. O Rio Amazonas,
Solifluxição Deslizamentos
em sua foz, lança, anualmente, 232 milhões de toneladas de material em Solopamento Boçorocas
solução (dados recalculados por Leinz, 1975).
Carstificação Relevo de
• Transporte por suspensão. Os rios transportam substâncias sólidas em sus-
cavernas
pensão e compostos como os hidróxidos de ferro, hidróxido de alumínio,
argilas, sílica e coloides orgânicos por suspensão coloidal. As partículas só-
Cachoeiras
lidas são transportadas conforme a velocidade do rio, que aumenta de acor- Quando um trecho de rocha
do com a pluviosidade, o gradiente e a largura. Quando as águas do rio não dura se segue a outro de
têm mais competência para transportar o material sólido, este se deposita rocha mais mole no curso de
em parte. Inicialmente, os mais grosseiros, passando pelos intermediários, um rio, esta última desgasta-
e, finalmente, os mais finos. As argilas e o material coloidal depositam-se se mais rapidamente e forma
um declive abrupto; são
após chegarem ao mar, geralmente distante da costa.
as cachoeiras. Cachoeiras
• Transporte por saltos. Os seixos e blocos que constituem a menor percen- podem originar-se ainda por
tagem da carga total rolam ou saltam com maior ou menor velocidade, de- falhas ou diques. As Quedas
do Iguaçu originaram-
pendendo da velocidade das águas, da declividade ou da irregularidade do
se, principalmente, por
terreno. Quando esse material se deposita, forma os leitos de cascalhos, falhamentos de grandes
geralmente alongados no sentido da corrente. Os seixos arredondados e rejeitos constatados no
achatados ficam dispostos com a parte plana, indicando a direção de mon- basalto mais a erosão
tante, e inclinados segundo a direção da corrente, imbricados como telhas diferencial nas várias
em um telhado”. sequências de derrames. O
desfiladeiro do Rio Tibagi,
O gelo se forma a partir da acumulação de neve, formando geleiras, que em sua nascente, no Paraná,
ocupam cerca de 1/10 da superfície terrestre, sendo que essa área superficial originou-se por linhas de
variou ao longo do tempo geológico, como oque ocorreu na última glaciação controle estrutural no arenito
do quaternário: a superfície ocupada pelo gelo era maior. Furnas.

Desta forma, no passado, a movimentação das geleira resultou em pro-


cessos erosivos, cuja história é difícil de contar porque não são conhecidos
50
PORTO, V. B.

todos os períodos de glaciações. Contudo, o princípio do atualismo, ao ser


aplicado ao estudo das geleiras atuais, “leva-nos à compreensão das ativi-
dades geológicas do passado”, sendo as geleiras “grandes massas de gelo
que se acumulam em regiões altas dos continentes em baixas latitudes, ou
nas regiões polares, e que apresentam evidências de deslocamento” (POPP,
1999, p. 170).
Na atualidade, o gelo cobre 1,5x107 Km2, tendendo a fluir segundo a
inclinação do terreno, tendo a gravidade como causa da sua movimentação.
Assim sendo, formam-se vários tipos de depósitos, que podem ser percebidos
num bloco diagrama, o qual representa o modelo do deslocamento de uma
geleira num vale. Analise a Figura 16.

Figura 16 – Geleira de vale, mostrando os vários tipos de depósitos (morenas) e suas


posições em relação às massas de gelo (POPP, 1999).

O processo de erosão glacial se dá com a geleira incorporando frag-


mentos rochosos à sua massa, que agem como verdadeiras ferramentas de
abrasão dos corpos rochosos, produzindo feições características da erosão
glacial, a qual se desenvolve nas seguintes etapas, segundo Popp (1999):

1. A neve cai sobre o manto de rocha desagregada, que é posteriormente


incorporada à geleira;
2. À medida que a geleira avança, ele arranca e incorpora mais fragmentos;
3. A geleira utiliza os fragmentos incorporados para raspar, separar, arrancar e
lixar rochas do fundo dos vales;
4. O vento deposita partículas finas que são incorporadas à geleira.
Nas geleiras de vales, o material das margens é arrancado pela geleira e
incorporado a sua superfície, na qual penetra posteriormente.
Fundamentos de Geociência 51

Texto Complementar
Texto 1: Propriedades Químicas dos Minerais
Os minerais podem consistir de apenas um elemento químico, como ouro, diamante,
grafita, enxofre etc., ou de vários, passando a ser compostos químicos, podendo ser
expressos na sua fórmula química.
Esta representa a relação numérica dos elementos do mineral, como, a pirita, FeS2 que
significa um átomo de ferro e dois átomos de enxofre, ou o quartzo, SiO2, com um de
silício e dois de oxigênio.
Existem certas relações entre a forma cristalina e a composição química, chamadas po-
limorfismo e isomorfismo.
Polimorfismo (do grego, poli: muito; e morphê; forma) é a propriedade do mineral de ser
polimorfo, isto é, quando diferentes minerais possuem a mesma composição química,
mas formas cristalinas diferentes, tendo, portanto, muitas outras propriedades físicas e
químicas diferentes também, porque elas dependem da forma cristalina do mineral.
O exemplo clássico é o do carbônio, que pode cristalizar-se sob a forma de diamante ou
de grafita. Ambos possuem propriedades físicas e químicas completamente diferentes.
Outro exemplo é o do carbonato de cálcio CaC03, que ocorre como calcita e aragonita.
Neste caso, as diferenças não são tão marcantes como no exemplo anterior.
De outro lado, fala-se em isomorfismo (isos, igual), quando vários minerais possuem
uma composição química diferente, mas análoga, cristalizando, todavia, na mesma (ou
similar) forma. A forma dos cristais apresenta ligeiras diferenças, porém a estrutura cris-
talina é da mesma natureza.
O grupo de minerais mais comuns no globo terrestre, os feldspatos, apresenta com-
postos isomorfos, quando se trata dos plagioclásios, minerais do grupo dos feldspatos.

Texto 2: Propriedades Ópticas


As principais propriedades ópticas são: brilho e cor.
- Brilho: É a capacidade de reflexão da luz incidente. Assim, no diamante, 17% da luz
incidente na perpendicular é refletida, e, no vidro, apenas 1,5 a 4%. O restante penetra
pelo vidro adentro, sendo esta a causa do menor brilho existente no vidro e do maior,
no diamante. Distingue-se brilho metálico, ocorrendo apenas nos minerais não-trans-
parentes opacos, como pirita, galenas e muitos outros. O brilho não-metálico é peculiar
aos minerais transparentes e translúcidos. Assim é que o diamante possui brilho ada-
mantino, o quartzo, brilho vítreo, o amianto, brilho sedoso, o âmbar, resinoso, citando
os mais importantes.
- Cor: A cor dos minerais é um caráter importante na sua determinação. A cor depende
da absorção seletiva da luz, restando uma fração transmitida e outra refletida. Assim,
por exemplo, um mineral que apresenta cor verde absorve todos os comprimentos de
onda do espectro com exceção daqueles que, associados, dão a sensação de verde.
WEGENER considera, como fundamentais, as seguintes cores dos minerais: branco, cin-
zento, preto, azul, verde, amarelo, vermelho e castanho. Deve-se assinalar, entretanto,
que ocorrem, nos minerais, várias tonalidades de cor, das quais são citadas as seguintes:
a) Entre as cores dos minerais metálicos citamos:
vermelho – ex.: cobre nativo.
amarelo – ex.: pirita, ouro, calcopirita.
branco-argêntico – ex.: prata nativa.
52
PORTO, V. B.

branco-acinzentado – ex.: galena, arsenopirita.


preto-acinzentado – ex.: cassiterita, hematita, esfalerita.
b) Entre as cores de minerais não-metálicos:
preto – ex.: biotita, hornblenda.
azul - ex.: lazulita.
azul-da-prússia - ex.: cianita.
verde-esmeralda - ex.: esmeralda.
amarelo-citrino - ex.: enxofre.
vermelho-escarlate - ex.: cinábrio.
vermelho-acastanhado - ex.: limonita.
acastanhado-avermelhado - ex.: zircão.

Texto 3: Mais Sobre a Cor


A cor dos minerais, especialmente dos que apresentam brilho metálico, deve ser sempre
observada na fratura fresca, pois, em geral, sua superfície, exposta ao ar, transforma-se,
formando-se películas de alteração, muitas vezes, com cores vivas de iridescência, como é
comum na calcopirita e em vários outros minerais.
Entre os minerais de brilho não-metálico, deve-se distinguir os idiocromáticos, isto é, de
cor própria, constante, que dependem da composição química, como o enxofre (amare-
lo), cinábrio (vermelho-escarlate), malaquita (verde), azurita (azul) etc., e os alocromáti-
cos, isto é, de cor variável com a composição química ou com a presença de impurezas.
São chamados acroicos os minerais incolores quando puros, podendo, entretanto, apre-
sentar colorações diversas, ou pelas variações de composição química ou pela presença
de impurezas diversas.
Como exemplos típicos citaremos:
•• Fluorita: incolor, amarela, rósea, verde ou violeta.
•• Turmalina: incolor (acroíta), rósea (rubelita), verde, azul e preta.
•• Berilo: Incolor, verde (esmeralda), azul-esverdeado ou azul (água-marinha), amarelo
(heliodoro) e róseo (morganita).
•• Quartzo: incolor (cristal de rocha), amarelo (q. citrino), róseo (q. róseo), verde (q.
prase), violeta (q. ametista) etc.

Texto 4: Piroxênios e Anfibólios


São minerais de aparência muito similar. São prismáticos ou granulares, de cor quase
preta, com clivagem segundo 2 planos, que são, entre si, quase perpendiculares nos
piroxênios e oblíquos nos anfibólios.
a) Piroxénios - Possuem uma composição variável. São silicatos de Mg, Ca e Fe, com ou
sem Al2O3 e Fe2O3. Conforme sua composição, designam-se as diversas variedades.
A cor é de preta a verde-escura, e o brilho, vítreo: Dureza 5 a 6, densidade 3,0 a 3,6.
Clivagem boa, formando prismas quase retangulares. Forma prisma de seção ortogo-
nal e agregados granulares nas rochas magmáticas, principalmente nas escuras. Um
dos piroxênios comuns é designado augita.
b) Anfibólios - São quimicamente muito parecidos com os piroxênios, mas possuem
(OH) na sua constituição. Sua cor é de verde-escura a preta e opaca. Dureza 5 a 6,
densidade 2,95 a 3,8. Clivagem boa segundo 2 planos, formando prismas de seção
rômbica. Ocorre em prismas, agulhas e agregados granulares, principalmente em ro-
chas metamórficas e magmáticas. O anfibólio mais comum é designado hornblenda.
Fundamentos de Geociência 53

Texto 5: Clima
Antes de analisarmos separadamente os fenômenos intempéricos, dediquemos algumas
linhas ao clima, por ser este o principal fator determinante do tipo de intemperismo.
Denomina-se tempo as condições temporárias de um local que se integram no tempo e
no espaço, para formar o clima de uma região.
A Climatologla estuda a temperatura, a umidade, o regime de ventos, a evaporação,
a insolação etc., fatores esses correlacionados com as atividades biológicas, e todos
esses estão ligados ao intemperismo. Tais fatores, por sua vez, dependem de outros,
além da latitude; como exemplo, devem ser citados a topografia da região, os ventos,
as correntes marítimas, as altitudes e a distribuição das águas nos dois hemisférios da
Terra. Este último fator, graças ao elevado calor específico da água, determina variações
de temperatura, que são muito maiores nos continentes do que nos mares, e, entre os
continentes, muito maiores nos situados no hemisfério setentrional (norte). Também a
secura do ar dos continentes determina mudanças mais bruscas na temperatura, em re-
lação às regiões marítimas, cuja atmosfera é, geralmente, de elevado grau de umidade.
A principal causa da variação de temperatura é a inclinação com que os raios solares
atingem a Terra. Assim, na região do equador, o dia dura cerca de 12 horas, havendo,
contudo, 2 máximos e 2 mínimos de insolação, que se verificam na ocasião do maior ou
menor afastamento angular do sol (LEINZ, 1998, p. 55 e 56).
Somente nos 2 dias do equinócio (do latim, noites iguais para toda a Terra), o Sol atinge
o zênite no equador. Nos dias 22 de junho e 22 de dezembro, o Sol atinge o zênite nos
trópicos de Câncer e Capricórnio, respectivamente. No verão, à medida que se apro-
xima dos polos, o dia vai se tornando cada vez mais longo. Dos trópicos ao respectivo
polo, a obliquidade dos raios solares aumenta progressivamente, diminuindo, assim,
a insolação, embora os dias sejam mais longos. Além da obliquidade, influi também a
maior espessura de atmosfera que os raios solares têm de atravessar nas regiões pola-
res, determinando maior difusão dos raios pelas partículas de poeira e vapor de água, e
também a maior reflexão, decorrente do ângulo de incidência dos raios com a camada
atmosférica. Estes fatores todos, quando somados, determinam a baixa temperatura
dos polos. Abaixo de 10°C constantes, não cresce mais árvore de espécie alguma, tor-
nando-se impossível o plantio de cereais. No entanto, um grande número de vegetais,
sobretudo de Coníferas, resiste a temperatura baixíssimas, diminuindo ao mínimo o seu
metabolismo, se, durante o período de verão, a temperatura ascender a mais de 10°C.
A topografia pode determinar modificações profundas no clima local. Uma corrente de
ar saturado de umidade vinda do oceano, ascendendo por uma barreira montanhosa,
resfria-se, pela expansão que se dá, graças à queda de pressão atmosférica. A diminui-
ção da temperatura faz com que se dê a precipitação local. Este fenômeno verifica-se na
Serra do Mar, que, em certos trechos, recebe quase 5 metros anuais de chuva.
Exemplo interessante é o da ilha do Havaí, onde a quantidade de chuva é de 1,30m a
2,50m por ano no lado que recebe os ventos, e de 13 a 25cm apenas, do lado oposto,
que é o lado noroeste. Muitos desertos têm a sua origem relacionada a esse fenômeno,
pois se localizam atrás de cadeias montanhosas que barram a umidade vinda do mar
(LEINZ, 1998, p. 56 e 57).
54
PORTO, V. B.

Texto 6: Depósitos Fluviais.


Os primeiros sedimentos a se depositarem são os seixos, os quais se acumulam no sopé
das montanhas (conhecidos por depósitos de piemonte ou leques aluviais, em virtude
do seu formato). São depósitos grosseiros, mal selecionados, com estratificação irregu-
lar. Os depósitos das planícies diferem dos primeiros por serem mais bem selecionados,
com estratificação melhor.Tendo em vista as peculiaridades deposicionais e erosivas nos
leitos dos rios, formam-se estruturas acanaladas ou de corte e preenchimento, estra-
tificação cruzada e outras estruturas típicas de ambiente fluvial. Muitas planícies de
inundação contêm meandros abandonados e lagos com depósitos de material argiloso
e matéria orgânica, estes últimos dando origem às turfeiras. Em alguns rios, são en-
contrados minerais de especial valor econômico, como ouro, diamante e cassiterita, os
quais são transportados e depositados com areias e seixos. O diamante é lavrado atu-
almente nas imediações de Diamantina, em áreas limitadas - Vale do Jequitinhonha e
Rio das Velhas. No Paraná, o diamante tem sido lavrado no Rio Tibagi, que os retira dos
sedimentos glaciais e fluvioglaciais do grupo Itararé. O ouro ainda é lavrado em muitos
depósitos de aluvião de vários rios do Brasil. A cassiterita é lavrada em Rondônia, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul.
Por sua vez, a ONU, através do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,
tem chamado a atenção para a poluição dos rios. No Brasil, são notórios os exemplos
de rios que abastecem direta ou indiretamente as principais cidades brasileiras - como
o Guaíba, em Porto Alegre; o Tietê, em São Paulo, o Iguaçu, em Curitiba, o Capibaribe
e o Beberibe, em Recife - e que estão sendo destruídos pela massa colossal de detritos,
esgotos e resíduos que são descarregados pelas indústrias sem observância das leis que
exigem tratamento prévio, segundo Popp (2000, p. 141 a 144).

Texto 7: Feições da Erosão Glacial


•• Circos glaciais. Nas porções mais altas dos vales glaciais, a ação do gelo de-
senvolve depressões semelhantes a anfiteatros. De início, as paredes são pro-
duzidas pelo gelo que adere à rocha, principalmente nas juntas e nas fraturas.
Durante o verão, quando o gelo desce, formam-se fendas vazias entre o gelo
e a parede do circo, as quais são preenchidas com neve no inverno seguinte.
Quando o gelo se move novamente, arranca mais rochas das paredes.
•• Vales em forma de U. Os vales ocupados pelo gelo vão adquirindo um fundo
plano por erosão, passando de forma primitiva em "V" para a forma em "U".
•• Rocha moutonnée. A ação da geleira sobre a superfície das rochas, princi-
palmente nas rochas mais duras, deixa-as lisas e, por vezes, estriadas, devi-
do aos seixos contidos no gelo. Essas rochas arredondadas parecem carnei-
ros deitados, daí seu nome. Da mesma forma, os seixos contidos na massa
de gelo ficam estriados e frequentemente planos em uma face, adquirindo a
forma de um ferro de passar.
•• Estrias glaciais. As estrias glaciais resultam, como já foi mencionado, da
ação dos fragmentos rochosos incorporados à geleira que atuam sobre a
superfície do terreno ou mesmo nas paredes dos vales.
Fundamentos de Geociência 55

•• Vales suspensos. Quando há confluência de duas geleiras de vale, aquela


que ocupa o vale principal aprofunda mais o terreno porque seu volume de
gelo é maior que o da tributária. Quando o gelo desaparece, o vale menor fica
suspenso com relação ao maior, isto é, muito mais elevado topograficamen-
te. Quando tais vales são ocupados por pequenos rios, formam-se quedas
d’água do vale suspenso para o principal.(POPP, 1999, p. 172 a 174).
Capítulo 2
A Tectônica de Placas
Segundo LENZ (1998, p. 376) “para se entenderem os eventos da cros-
ta terrestre, torna-se necessária a análise das forças eventuais possíveis.
As diferentes hipóteses geotectônicas procuram satisfazer as observações
efetuadas na superfície. Todas as hipóteses admitem, em comum, que as
forças geotectônicas sejam as causas reais, localizando-se no interior, ou
mesmo, abaixo da crosta terrestre propriamente dita” elucidadas, indireta-
mente, pelo estudo dos Terremotos e do Magnetismo.

Professores!
Ides ensinar? 1. O Dinamismo Planetário
“aprendei a aprender”.
“A Terra é um planeta dinâmico” (TEIXEIRA et al., 2000, p. 98). O estudo dos
No encadeamento das sismos e do paleomagnetismo revelam que o dinamismo planetário é compre-
transformações, que endido à luz de uma nova teoria, a teoria da Tectônica Global, ou dizendo de
modelaram as feições outra forma, da Tectônica de Placas, da qual se percebe a deriva dos conti-
superficiais do planeta, a
nentes ao longo do tempo geológico.
Tectônica de Placas, que
é responsável pela Deriva À luz desta teoria, a superfície terrestre é formada por placas tectônicas,
Continental, explica as que são movimentadas por deslocamentos ascendentes do magma, onde as
mudanças de posições
placas se formam. Contudo, como a superfície da Terra não está se expandin-
dos continentes ao longo
do tempo geológico e o do, nos sítios de convergência de placas tectônicas, as placas mais densas
processo de formação de estão afundando sob as menos densas.
novos oceanos.
A Figura 17 retrata o contorno das placas tectônicas baseado no estudo
dos sismos.
Fundamentos de Geociência 57

Figura 17 – Sismicidade mundial, revelando os mapas dos epicentros no período de


1964 a 1995, de sismos com magnitude maior ou igual a 5,0. Fonte: U. S.
Geological Survey (TEIXEIRA et al., 2000, p. 44).

O padrão de ocorrência linear de sismos mostra os locais de formação


das placas tectônicas, por efusão do magma, que empurra lateralmente as
placas recém-formadas, que se afastarão entre si. O padrão linear tem sua
origem numa área vulnerável à efusão de magma, que, ao ser ejetado, pro-
voca uma fragmentação superficial, dando oportunidade à penetração da
água, formando um oceano. No meio do oceano recém-formado, localiza-
-se um cinturão elevado, denominado de dorsal meso-oceânica, por onde o
magma eflui (Figura 18).

Figura 18 – Processo de formação de duas placas litosféricas e do consequente oceano,


por ruptura de placa continental (processo de rifteamento), a partir do surgimen-
to da dorsal meso-oceânica, por efusão de magma (TEIXEIRA et al., 2000).
58
PORTO, V. B.

Contudo, o padrão de dis-


tribuição de sismos, que aparece
do lado oposto ao padrão linear,
ou seja, aquele que configura
uma faixa que denota a conver-
gência de placas, com o afun-
damento da placa mais densa, a
qual, ao penetrar manto à dentro,
provocará sismos, com profundi-
dades que variam entre 0 e 675
Km, com influência numa área
superficial bem mais ampla do
que os sismos acontecidos nos
locais de formação das placas
Figura 19 – Choque de placas litosféricas com litosféricas. Veja a Figura 19.
mergulho da mais densa sob a me-
nos densa (TEIXEIRA et al., 2000). A Figura 20 mostra, em
detalhe, a placa sul americana,
evidenciando os padrões, em linha e em faixa, de manifestação dos sismos.
As placas sul-americana e africana são complementares, quando se compa-
ram às duas placas litosféricas, como num jogo de quebra-cabeça.
A observação dessa complementaridade permite que se façam inferên-
cias quanto à junção dos dois continentes, num passado remoto.

Figura 20 – Vista ampliada da placa sul-americana, demarcada na Figura 17


(TEIXEIRA et al., 2000).
Fundamentos de Geociência 59

Tal suposição é baseada na teoria da Deriva Continental, cujas raízes


remontam ao século XVII, quando, “em 1620, Francis Bacon, filósofo inglês,
O Livro
apontou o perfeito encaixe entre estas duas costas e levantou a hipótese, pela Em 1915, Wegener reuniu
primeira vez, historicamente registrada, de que estes continentes estiveram as evidências que encontrou
unidos no passado” (TEIXEIRA et al., 2000). para justificar a teoria da
Deriva Continental, o que,
O paleomagnetismo, por sua vez, retrata que as rochas compostas de para ele, já seriam provas
minerais ferromagnéticos, como a magnetita (Fe3O4) e a hematita (Fe2O3), convincentes, em um livro
conservam o magnetismo obtido no tempo de sua formação. denominado “A origem dos
Continentes e Oceanos”.
O magnetismo é gerado por um campo de forças que surge a partir do nú- Entretanto, ele não conseguiu
cleo externo da Terra, que é fluído e funciona como um “dínamo autossustentável” responder a questões
(TEIXEIRA et al., 2000, p. 79). fundamentais, como: Que
forças seriam capazes de
mover os imensos blocos
continentais?
Como uma crosta rígida
como a continental deslizaria
sobre uma outra crosta rígida
como a oceânica, sem que
fossem quebradas pelo
atrito? Infelizmente, naquela
época, as propriedades
plásticas da astenosfera não
eram ainda conhecidas, o
que impediu Wegener de
explicar sua teoria.
Em virtude destas
importantes objeções,
colocadas principalmente
pelos geofísicos, o livro de
Figura 21 – Movimento do fluído condutor do núcleo externo e geração do campo magnético Wegener não foi considerado
dipolar, indicado pelas linhas de força que emergem do polo sul e que se dirigem sério por grande parte do
para o polo norte. Este é o polo de atração magnética (TEIXEIRA et al., 2000). mundo científico.
Com a morte de Wegener,
em 1930, a Teoria da Deriva
O dínamo é movimentado por um sistema complexo de forças, entre as
Continental começou a ficar
quais estão as resultantes do resfriamento contínuo do núcleo externo, que libe- esquecida, não obstante
ram energia potencial, aliada ao movimento de rotação da Terra, que produz um ainda houvesse tentativas
tipo de força denominado força de Coriolis, conforme é apresentado na Figura 21. de alguns cientistas
em buscar provas, que
O que surpreendeu os estudiosos do assunto é que o magnetismo fóssil acabaram por descartar
revelado pelas rochas nem sempre apresenta a mesma polaridade determinada a ideia, uma vez que não
pelo campo atual, evidenciando, muitas vezes, uma polaridade inversa, induzin- conseguiam encontrar
uma explicação lógica e
do-os a concluir, que ao longo do tempo geológico, houve inversão de polaridade.
aceitável do mecanismo
Assim sendo, ora a atração magnética se deu através do polo norte, capaz de movimentar as
como no campo magnético atual, ora através do polo sul, caracterizando a imensas massas continentais
(TEIXEIRA et al., 2000).
inversão de polaridade. Veja a Figura 22.
60
PORTO, V. B.

Figura 22 – Escala de inversão de polaridade do campo magnético nos último 80 mi-


lhões de anos. Faixas escuras representam a polaridade normal, e faixas
claras, polaridade inversa. À direita, detalhe da coluna, ressaltando épo-
cas e eventos de polaridade ocorridos nos últimos 4,5 milhões de anos
com seus nomes especiais (TEIXEIRA et al., 2000).

Entretanto, o mais surpreendente foi o


padrão de magnetismo encontrado no assoa-
lho marinho, que comprova a sua expansão a
partir da cadeia meso-oceânica, já que “esse
padrão é formado por faixas de polaridades al-
ternadas e dispostas simetricamente em rela-
ção” àquela cadeia, proposta feita por “Vine e
Mathews em 1963”, ao observarem o padrão
zebrado daquele paleomagnetismo (TEIXEI-
RA et al., 2000). Veja a Figura 23.

2. A Dança dos Continentes


No caso de a Terra ter sido “fotografada
do espaço a cada século, desde a sua forma-
Figura 23 – Representação ção até hoje, e de estas fotos compuserem um
esquemática do filme, o que veríamos seria um planeta” inicial-
padrão “zebrado”, mente avermelhado, por possuir uma atmosfe-
simétrico à cadeia ra redutora, gradativamente passando a azul,
meso-oceânica, pelo incremento de oxigênio na atmosfera,
expressando a
que estaria “se contorcendo com os continen-
inversão de polari-
dade do assoalho tes ora colidindo, ora se afastando entre si”, re-
submarino (TEIXEI- velando uma verdadeira dança, num processo
Fundamentos de Geociência 61

denominado Deriva Continental (TEIXEIRA et al., 2000), explicado com base


na teoria da Tectônica de Placas.
A superfície terrestre, conforme a teoria da Tectônica de Placas, é for-
mada por uma dúzia de placas tectônicas que se movimentam com variadas
velocidades, as quais, embora sejam muito pequenas para que se perceba o
movimento no presente, faz com que as placas mudem de posição ao longo
do tempo geológico, justificando a teoria da deriva continental, Figura 24.

Pangea
Segundo Teixeira et al.
Figura 24 – Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números repre-
(2000), há aproximadamente
sentam as velocidades em cm/ano, e as setas, os sentidos dos movimen-
340 Ma (milhões de anos),
tos (TEIXEIRA et al., 2000).
todas as massas continentais
(que já estiveram juntas)
começaram novamente a
Portanto, a posição atual dos continentes, revelada pela Figura 29, nem se juntar, culminando há
sempre foi a mesma. Os dados oferecidos pela Geocronologia, pelo estudo cerca de 230 Ma com a
dos sismos, pelo paleomagnetismo, e consolidados pela teoria da Tectônica formação do supercontinente
de Placas, atestam “que a aglutinação e a fragmentação de massas conti- Pangea, circundado por um
único oceano denominado
nentais ocorreram diversas vezes no passado geológico e que o Pangea foi Pantalassa.
apenas a última importante aglutinação dos continentes”, (TEIXEIRA et al.,
2000, p. 98). Veja a Figura 25.
62
PORTO, V. B.

Figura 25 – Acima, temos o desenho do hipotético Pangea, super-


continente que existiu há cerca de 230 milhões de anos, com a parte
clara representando a área afetada pela glaciação. Abaixo, temos a
configuração atual dos continentes, que começaram a se separar
no início da era Mesozoica, demonstrando que o Pangeia é como
se fosse um quebra-cabeça, montado a partir das peças obtidas
do recorte desta figura. Observe que a evidência atual dos depó-
sitos glaciais do Permiano, parte clara da figura inferior, ajusta-se,
perfeitamente, na montagem da figura superior (LENZ, 1998).

Os atuais estudos revelam que, embora as primeiras


rochas, que foram reunidas em blocos continentais, tenham
se formado há 3,96 bilhões de anos, elas ocupavam uma área
bem menor que a atual.
Contudo, esta área foi crescendo gradativamente, sendo
que, “há 550 milhões de anos, cerca de 95% das áreas conti-
Figura 26 – Reconstituição das posições dos
continentes de 2,0 bilhões de anos nentais já estavam formadas” (TEIXEIRA et al., 2000), conforme
até 230 milhões de anos, quando nos mostra a Figura 26, que evidencia essa dança continental.
o supercontinente Pangeia estava A dança dos continentes prossegue. Há 200 Ma, o
formado, mostrando as diversas Pangea vem se fragmentando, e a América do Sul iniciou
aglutinações e fragmentações das
sua separação da África há 180 Ma (TEIXEIRA et al., 2000),
massas continentais (TEIXEIRA et
já que, quando estavam unidos, o continente formado pela
junção de ambos denominava-se Gondwana.
Fundamentos de Geociência 63

A Figura 27 retrata a posição dos continentes há 105 Ma, quando se ve- Dúvidas
rifica que os territórios da Austrália e da Antártida já se encontram separados e Uma das principais
objeções à Teoria da Deriva
que a Índia, que se encontrava na região sul do Gondwana, iniciou sua viagem Continental era que Wegener
com destino ao hemisfério norte, para se chocar com a Ásia, formando, assim, não conseguia explicar as
a Cordilheira do Himalaia, como produto desse encontro abrupto. forças que moveriam os
continentes.
Hoje sabemos qual o motor
que faz as placas tectônicas
se moverem, mas não
sabemos explicar exatamente
como os processos naturais
fazem este motor funcionar.
Entretanto, nós podemos
modelar as causas dos
movimentos e testar estes
modelos com base nas leis
naturais.
O que sabemos é que a
astenosfera e a litosfera estão
intrinsecamente relacionadas.
Se a astenosfera se mover, a
litosfera será movida também.
Sabemos ainda que a
litosfera possui uma energia
cinética cuja fonte é o fluxo
Figura 27 – Posição relativa dos continentes há 105 Milhões de anos, observando-se térmico interno da Terra,
uma grande semelhança com as formas continentais atuais, ressalvando- e que este calor chega
se as posições da Índia, Austrália e a largura do Oceano Atlântico (TEI- à superfície através das
correntes de convecção do
XEIRA et al., 2000).
manto superior.
O que não sabemos com
A atual configuração dos continentes é resultado desta dança dos con- certeza, e as dúvidas
tinentes, conforme está representado na Figura 28. persistem, é como as
convecções do manto iniciam
o movimento das placas
(TEIXEIRA et al., 2000).

Figura 28 – Atual configuração dos continentes, adaptado de Porto (BONILLA e


PORTO, 2001).
64
PORTO, V. B.

Sítio de ocorrência Diante do exposto, torna-se claro que regularidades, tais como o relevo
É em torno do limites das atual e a diversidade de seres que se implantou na contemporaneamente na
placas litosféricas que se
concentra a mais intensa
Biosfera, resultaram de fatores, entre os quais estão as transformações geo-
atividade geológica do cêntricas, que tiveram uma contribuição marcante.
planeta, como sismos, Essas transformações romperam, muitas vezes, o frágil equilíbrio bios-
orogênese etc.
Atividades geológicas
férico, levando os seres vivos a serem extintos em massa, nestes momentos
semelhantes também episódicos de liberação de grande quantidade de energia, resultando em ca-
ocorrem no interior das tastróficos acontecimentos, como ocorrência de grandes falhamentos com
placas, mas em menor rupturas litosféricas, ocasionando terremotos, erupções vulcânicas, formação
intensidade (TEIXEIRA et al.,
2000).
de oceanos, além de outras mudanças, como a inversão de polaridade mag-
nética, soerguimento de cordilheiras etc.
Quando a extinção ou simplesmente a morte levou os restos dos seres
vivos a se depositarem em ambientes sedimentares, ocorreu, então, o pro-
cesso de fossilização, conservando as formas vivas do passado, para serem
exibidas e estudadas, quando reveladas na atualidade dos acontecimentos,
ao serem encontradas na litosfera.
Entretanto, sabe-se que o mais comum é a não ocorrência do processo
de fossilização, já que, nos ambientes continentais soerguidos, a diversidade
biológica sobrepuja largamente os seres fossilizados de ambientes sedimen-
tares, e, mesmo nestes, deve haver a interrupção da cadeia alimentar, que re-
cicla a matéria biológica, transformando-a novamente em matéria inorgânica,
para que aconteça a fossilização.
Conclui-se que os Fundamentos de Geociências devem ser conheci-
dos pelo biólogo, para que ele possa contar a história de ancestralidade e
descendência dos seres vivos. Contudo, sabe-se que o estudo realizado nes-
te âmbito será sempre incompleto, já que, se compararmos a Filogenia a um
livro, faltarão muitas páginas, perdidas ao longo do tempo geológico.
Fundamentos de Geociência 65

Síntese do Capítulo
Esta Parte, ao abordar os temas sobre as Transformações Geocêntricas, procu-
rou dar uma noção sobre como está estruturada a Terra, quanto ao aspecto da
sua composição litológica. Enfatiza, ainda, como a dinâmica planetária modelou
a atual feição dos continentes, assunto abordado no tema Tectônica de Placas.

Atividades de avaliação
1. Descreva, sucintamente, os critérios de classificação dos minerais e espe-
cifique, respectivamente, suas importâncias para as Geociências.
2. Enumere os tipos de rocha e os descreva, conforme o ciclo das rochas.
3. Como são formados os solos?
4. Como se dá a ação geológica do vento, da água e do gelo?
5. Qual a importância dos estudos dos terremotos e do magnetismo para elu-
cidar a teoria da tectônica de placas?
6. Qual a relação entre a teoria da tectônica de placas e a Deriva Continental?
7. Construindo o meu portifólio: Continue fazendo o seu diário reflexivo, a partir
das discussões realizadas no decorrer da disciplina, registrando os aspectos
que levem-no a agir de forma crítica e reflexiva, continuando a construir o
seu portifólio, alimentando-o com os diários produzidos após cada Unidade.

Texto Complementar
Texto 1: Breve História
A teoria da Tectônica de Placas – que revolucionou as Geociências, assim como a
teoria da Origem das Espécies modificou as Biociências e as teorias da Relatividade e
da Gravitação Universal mudaram os conceitos da Física – nasceu quando surgiram os
primeiros mapas das linhas das costas atlânticas da América do Sul e da África.
Em 1620, Francis Bacon, filósofo inglês, apontou o perfeito encaixe entre estas duas
costas e levantou a hipótese, pela primeira vez, historicamente registrada, de que
estes continentes estiveram unidos no passado.
Nos séculos que se seguiram, esta ideia foi diversas vezes retomada, porém raramente
com argumentações científicas que lhe dessem suporte teórico.
A origem da teoria da Tectônica de Placas ocorreu no início do século XX, com as
ideias visionárias, e pouco convencionais para a época do cientista alemão Alfred We-
gener, que se dedicava a estudos meteorológicos, astronômicos, geofísicos e paleon-
66
PORTO, V. B.

tológicos, entre outros assuntos. Wegener passou grandes períodos de sua vida nas
regiões geladas da Groenlândia fazendo observações meteorológicas e misturando,
frequentemente, atividades de pesquisa com aventuras.
Entretanto, sua verdadeira paixão era a comprovação de uma ideia, baseada na ob-
servação de um mapa-múndi no qual as linhas de costa atlântica atuais da América
do Sul e da África se encaixariam como um quebra-cabeças gigante, de que todos os
continentes poderiam se aglutinar formando um único megacontinente.
Para explicar estas coincidências, Wegener imaginou que os continentes poderiam,
um dia, terem estado juntos, e posteriormente, teriam sido separados. Poucas ideias
no mundo científico foram tão fantásticas e revolucionárias como esta (TEIXEIRA et
al., 2000).

Texto 2: Comprovações
Wegener foi o primeiro a pesquisar seriamente a ideia da deriva continental e a in-
fluenciar outros pesquisadores. Para isto, procurou evidências que comprovassem
sua teoria, além da coincidência entre as linhas de costa atuais dos continentes. We-
gener enumerou algumas feições geomorfológicas, como a cadeia de montanhas da
Serra do Cabo na África do Sul, de direção leste-oeste, que seria a continuação da
Sierra de Ia Ventana, a qual ocorre com a mesma direção na Argentina, ou ainda um
planalto na Costa do Marfim, na África, que teria continuidade no Brasil. Entretanto,
as evidências mais impressionantes apresentadas pelo pesquisador foram:
Presença de fósseis de Glossopteris (tipo de gimnosperma primitiva) em regiões da
África e Brasil, cujas ocorrências se correlacionavam perfeitamente, ao se juntarem
os continentes.
Evidências de glaciação, há aproximadamente 300 Ma, na região Sudeste do Brasil,
Sul da África, Índia, Oeste da Austrália e Antártica. Estas evidências, que incluem a
presença de estrias indicativas das direções dos movimentos das antigas geleiras,
sugeririam que, naquela época, grandes porções da Terra, situadas no hemisfério
sul, estariam cobertas por camadas de gelo, como as que ocorrem hoje nas regiões
polares e, portanto, o planeta estaria submetido a um clima glacial. Caso isto fosse
verdade, como explicar a ausência de geleiras no hemisfério norte, ou a presença
de grandes florestas tropicais, que teriam dado origem naquela época aos grandes
depósitos de carvão? Este aparente paradoxo climático poderia ser facilmente ex-
plicado, como mostrado na Figura 25, se os continentes estivessem juntos há 300
Ma, pois, neste caso, a distribuição das geleiras estaria restrita a uma calota polar
no Sul do planeta, aproximadamente como é hoje (TEIXEIRA et al., 2000).

Texto 3: Ressurgimento
No final dos anos 40 e na década seguinte, foi mapeado o fundo do Oceano Atlântico,
utilizando novos equipamentos e coletando amostras de rochas.
Estes trabalhos permitiram cartografar uma enorme cadeia de montanhas subma-
rinas, denominadas Dorsal ou Cadeia Meso-Oceânica, que constituíam um sistema
contínuo ao longo de toda a Terra, estendendo-se por 84.000 Km e apresentando
uma largura da ordem de 1.000 Km; no eixo destas montanhas, constatou-se a pre-
sença de vales de 1 a 3 Km, associado a um sistema de riftes, Figura 17, indicando
a presença de um regime tensional. Posteriormente, foi constatado que, ao longo
da cadeia meso-oceânica, o fluxo térmico era mais elevado que nas áreas contíguas
Fundamentos de Geociência 67

de crosta oceânica, e que esta era uma zona de forte atividade sísmica e vulcânica.
Esta cadeia de montanhas emerge na Islândia, onde seus habitantes levam uma vida
pacata, mas, frequentemente, afetada por sismos e vulcanismo. O mais importante,
porém, era que esta dorsal meso-oceânica dividia a crosta submarina em duas partes,
podendo representar, portanto, a ruptura ou a cicatriz produzida durante a separação
dos continentes. Se assim fosse, a teoria da Deriva Continental poderia ser aceita.
O estudo do magnetismo das rochas também contribuiu para uma melhor com-
preensão dos movimentos da crosta continental. Estudos de paleomagnetismo re-
velaram que as posições primitivas dos polos magnéticos da Terra tinham mudado
ao longo do tempo geológico em relação às posições atuais dos continentes. Como
era sabido que o eixo magnético da Terra coincidia com o seu eixo rotacional, os
dados paleomagnéticos poderiam indicar, em vez de mudanças do eixo magnético,
um movimento relativo entre os continentes. As novas informações provenientes
do estudo da crosta oceânica e de paleomagnetismo fizeram com que parte dos
geofísicos passassem a considerar uma deriva dos continentes mais seriamente
(TEIXEIRA et al., 2000).

Texto 4: Assoalho Marinho


Por outro lado, no final dos anos 50 e no início da década de 1960, o surgimento e o
aperfeiçoamento da geocronologia permitiu a obtenção de importantes informações
sobre a idade das rochas do fundo oceânico, onde novamente, ao contrário do que se
imaginava na época, a crosta oceânica não era composta pelas rochas mais antigas do
planeta, mas apresentava idades bastante jovens, não ultrapassando 200 milhões de
anos. Datações de rochas vulcânicas do Atlântico Sul efetuadas no Centro de Pesquisas
Geocronológicas da Universidade de São Paulo contribuíram para o estabelecimento
do padrão de idades da crosta oceânica, no qual faixas de rochas de mesma idade si-
tuam-se simetricamente dos dois lados da dorsal meso-oceânica, com as mais jovens
próximas da dorsal e as mais velhas ficando mais próximas dos continentes, conforme
ilustrado na Figura 23.
Na mesma época, estudos de magnetismo das rochas do fundo oceânico, realizados na
porção nordeste do Oceano Pacífico, mostraram anomalias magnéticas (desvios dos va-
lores do campo magnético em relação à média medida), que exibiam em mapa padrão
simétrico bandado, semelhante ao da figura 23, com as sucessivas bandas indicando
alternadamente anomalias positivas e negativas. Em 1963, F. J. Vine e D. H. Mathews,
ambos da Universidade de Cambridge, sugeriram que as bandas magnéticas observa-
das eram relacionadas a bandas magnetizadas de lavas vulcânicas do fundo oceânico,
geradas durante a expansão deste fundo e que guardavam o registro do campo magné-
tico terrestre na época de extrusão das lavas submarinas.
Esta interpretação trouxe subsídio a favor do conceito da expansão do assoalho oce-
ânico postulado por Harry Hess, da Universidade de Princeton (EUA), no inicio da
década de 1960. Neste contexto, surgiu a hipótese de expansão do fundo oceânico,
publicada, em 1962, no trabalho de Harry Hess, intitulado "History of the Ocean Ba-
sins" (TEIXEIRA et al., 2000).

Texto 5: Correntes De Convecção


Com base nos dados geológicos e geofísicos disponíveis, Hess propunha que as estru-
turas do fundo oceânico estariam relacionadas a processos de convecção no interior
da Terra.
Tais processos seriam originados pelo alto fluxo calorífico emanado na dorsal me-
so-oceânica, que provocaria a ascensão de material do manto, devido ao aumento
68
PORTO, V. B.

de temperatura que o tornaria menos denso, conforme ilustrado na figura abaixo,


na qual se encontra representada uma célula de convecção, segundo Teixeira et al.
(2000).

De acordo com o modelo de Hess,


este material, ao atingir a superfície,
movimentaria-se-ia lateralmente, e o
fundo oceânico se afastaria da dorsal.
A fenda existente na crista da dorsal
não continua a crescer porque o es-
paço deixado pelo material que saiu
para formar a nova crosta oceânica é
preenchido por novas lavas, que, ao
se solidificarem, formam um novo
fundo oceânico. A continuidade deste processo produziria, portanto, a expansão do
assoalho oceânico.
A Deriva Continental e a expansão do fundo dos oceanos seriam, assim, uma consequên-
cia das correntes de convecção. Os continentes viajariam como passageiros, fixos em uma
placa, como se estivessem em uma esteira rolante (TEIXEIRA et al., 2000).

Texto 6: Placas Tectônicas


Com a continuidade do processo de geração de crosta oceânica, em algum outro local,
deveria haver um consumo ou destruição desta crosta, caso contrário, a Terra expandiria.
A destruição da crosta oceânica mais antiga ocorreria nas chamadas Zonas de Subduc-
ção, que seriam locais onde a crosta oceânica mais densa mergulharia para o interior da
Terra até atingir condições de pressão e temperatura suficientes para sofrer fusão e ser
incorporada novamente ao manto.
Assim, o planeta Terra esta geologicamente dividido em domínios concêntricos maio-
res, sendo o externo constituído pela Litosfera. A parte superior da litosfera é chama-
da de crosta, e a parte inferior, mais interna, é composta por rochas do manto supe-
rior, sendo que uma das diferenças principais entre elas é sua composição química.
A crosta da Terra é constituída pela crosta continental, que inclui predominantemente
rochas de composição granítica, e pela crosta oceânica, que contém rochas basálticas.
As rochas crustais ocorrem sobre o manto superior.
A espessura média da crosta varia de 5 a 10 Km para a oceânica e entre 25 e 50 Km para
a continental, sendo que, sob as grandes cordilheiras, como os Himalaias, esta espessu-
ra pode atingir até 100 Km. Estas camadas de crosta, mais uma porção rígida do manto
superior sotoposta, constituem a litosfera.
A litosfera tem espessuras variadas, com uma média próxima a 100 Km. É comparti-
mentada por falhas e fraturas profundas em Placas Tectônicas. A distribuição geográ-
fica destas placas na Terra é ilustrada na Figura 24 (TEIXEIRA et al., 2000).
Fundamentos de Geociência 69

Livros:
1. LENZ, V.; AMARAL, S.A. Geologia geral. São Paulo: Editora Nacional,
1998. 399 p.
A presente publicação trata-se de um livro de texto, usado por cursos de
Ciências Biológicas, para introduzir seus alunos no estudo da Geologia. É
bastante usado nas referências desta obra, servindo para aprofundar, ade-
quadamente, os estudos referentes às Geociências.
2. POPP, J. H. Geologia geral. 5 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cien-
tíficos, 1998. 376 p.
Da mesma forma que a publicação anterior, é um livro muito próprio
para se aprofundar, adequadamente, nos estudos referentes às Geociências.

Sites:
•• http://www.brasilescola.com/geografia/tectonica-placas.htm
A Tectônica de placas é uma teoria originada a partir da deriva continen-
tal e da expansão dos fundos oceânicos.
Foi desenvolvida em 1960 e tornou-se a mais aceita entre geógrafos
e oceanógrafos.
De acordo com esta teoria, a litosfera se movimenta sobre a astenosfera.
A litosfera, por sua vez, é dividida por placas (denominadas placas tectôni-
cas), e estas deslizam por causa das correntes de convecção no interior da Terra.
Tais movimentações permitiram a formação dos continentes a partir do
Pangeia, continente que existiu há 200 milhões de anos, durante a era Mesozoica.
O presente site traz mais informações a respeito do assunto.
70
PORTO, V. B.

Referências
BONILLA, O. H.; PORTO, V. B. Vida e ambiente. Fortaleza: Edições Demócri-
to Rocha e Editora UECE, 2001. 111 p.
GUERRA, A. T. Dicionário geológico e geomorfológico. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Editora Fundação Brasileira de Geografia e Estatística – IBGE, 1989. 446 p.
LENZ, V.; AMARAL, S. A. Geologia geral. São Paulo: Editora Nacional, 1998. 399 p.
POPP, J. H. Geologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientí-
ficos, 1998. 376 p.
SUGUIO, K. Geologia sedimentar. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2003. 400 p.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M.; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. Decifrando
a Terra. São Paulo: Editora Oficina de Textos/USP, 2000. 557 p.
Parte 31
Procedimentos de ensino
Elementos de Cartografia
Capítulo 1
Noções elementares
de cartografia
Objetivo
Professores!
l Reconhecer símbolos e convenções cartográficas. Ides ensinar?
"aprendei a aprender".
O Mapeamento Topográfico congrega o conjunto de procedimentos que
Na pesquisa de campo,
têm por finalidade a representação do espaço territorial brasileiro, de forma torna-se vantajoso, para o
sistemática, por meio de séries de cartas gerais, contínuas, homogêneas e biólogo, saber ler uma carta
articuladas, elaboradas seletiva e progressivamente, em consonância com topográfica?
as prioridades conjunturais, nas escalas-padrão de 1: 1.000.000, 1: 250.000,
1: 100.000, 1: 50.000 e 1: 25.000. Entre outras finalidades, aplica-se ao uso
no posicionamento e na orientação geográfica (site http://www.ibge.gov.br/
home/geociencias/cartografia/).

1. Introdução
A Cartografia, segundo o Ministério da Defesa, 2002, consiste no estudo da
representação gráfica e simbólica do terreno expressa num documento de-
nominado carta topográfica, que deve refletir, com precisão, a fisiografia do
terreno, assim como todos os aspectos naturais ou artificiais que possam au-
xiliar na comparação entre o representado e a realidade levantada no estudo.
É óbvio que, como instrumento de uso, a carta topográfica é um do-
cumento limitado porque reflete a realidade da época do levantamento dos
dados que a compuseram. Sabe-se que a realidade está em constante
transformação, entretanto, o uso adequado da carta topográfica facilita so-
bremaneira a quem se desloca no terreno, como é o caso do biólogo em
suas pesquisas de campo.
A representação gráfica e simbólica do terreno expressa na carta topo-
gráfica é realizada de acordo com o previsto no Decreto-Lei n° 243, de 28 de
fevereiro de 1967, que estabelece as diretrizes e bases das atividades carto-
gráficas e correlatas executadas no Brasil.
São elementos fundamentais para a leitura e uso de cartas topográficas
a escala e as convenções cartográficas.
74
PORTO, V. B.

2. Escala
A escala permite que se reproduza a dimensão espacial real do terreno, na
dimensão espacial virtual da carta topográfica.
A escala é representada por uma fração adimensional, na qual a au-
sência de unidade é reflexo da simplificação que ocorre, em consequência de
numerador e denominador, não possuir a mesma unidade.
O numerador, na escala, frequentemente, é representado pela unidade
e traduz a distância virtual representada na carta, enquanto o denominador
representa a distância real no terreno.
Nas cartas topográficas, as escalas de uso mais comuns são 1:10.000,
1:25.000, 1:50.000 e 1:100.000, estando disponíveis em folhas de tamanho
padronizado.

3. Convenções Cartográficas
As cartas topográficas são quadriculadas, no sentido da parte inferior-superior da
folha (vertical), sentido esquerda-direita da folha (horizontal), apontando as qua-
drículas verticais para a direção Norte, a que denomina-se Norte de Quadrícula.
Nas quadrículas marginais, são registradas as distâncias, pelo sistema
de Projeção Universal Transversa de Mercator (sistema UTM), com origem
nas quilometragens do Equador e do Meridiano 450W de Greenwich, acresci-
dos, respectivamente, das constantes 10.000 Km e 500 Km.
O Norte de Quadrícula não coincide exatamente com o Norte Geográfi-
co ou Norte Verdadeiro, em decorrência da curvatura dos meridianos, estando
marcado por retículos perpendiculares localizados em posições equidistantes
da folha, com correspondentes marcas nas margens da carta, em que são re-
gistradas as Latitudes e as Longitudes, possibilitando, assim, a determinação
das coordenadas geográficas, Figura 29.
Fundamentos de Geociência 75

Aspectos relevantes
Lembre-se, quando for
ler uma carta topográfica,
que sempre quando for
possível e desde que tal
fato não sobrecarregue o
desenho final, os acidentes
constantes da carta devem
ser representados em escala,
de acordo com sua grandeza
real e as particularidades de
sua natureza.
Os formatos e as dimensões
das convenções simbólicas
devem ser representáveis
em escala ou na forma
de símbolos mínimos,
quando não for possível a
representação em escala.
Quando um acidente
for estreito, porém de
Figura 29 – Marcação de uma quadrícula, cujo Norte de Quadrícula é apontado para
comprimento compatível
cima, ladeada pelo retículo correspondente à direção Norte Verdadeiro, a
com a representação em
partir do qual se determinam coordenadas geográficas, estando o retículo escala, deverão ser usadas
apontado pela seta (IBGE, 1991). as prescrições do símbolo
mínimo, para representar
sua largura, sendo traçados
Nas margens superiores e inferiores das cartas topográficas, aparece em escala sua forma e seu
uma série de inscrições, denominadas inscrições marginais, que contêm os comprimento.
seguintes dados: Desta forma, as convenções
cartográficas procuram
•• Margem superior: órgão expedidor, localização e nomenclatura da folha; representar, da forma mais
•• Margem inferior: no centro – posição relativa da folha, e dados técnicos expressiva, os diversos
correspondentes a escalas em forma de fração e gráfica, distância das acidentes naturais e
artificiais que devam constar
curvas de nível, sistemas de coordenadas, órgão confeccionador da carta, das cartas topográficas,
entre outras informações. (MINISTÉRIO DA DEFESA,
Lateralmente se localizam as diversas legendas com a convenções 2002).

usadas nas cartas.


Na lateral direita, está a posição relativa das três direções Norte, com os
ângulos que permitem converter um no outro, correspondentes à convergên-
cia dos meridianos e à declinação magnética, Figura 30.
76
PORTO, V. B.

Figura 30 – Carta topográfica da região de Campinas – SP, escala 1: 50.000 (IBGE, 1991).

Síntese do Capítulo
A Cartografia é um campo do conhecimento de fundamental importância para
o biólogo, haja vista que, no trabalho de campo, atividade inerente à sua pro-
fissão, necessita-se deste conhecimento, para que se esteja adequadamente
orientado, realizando deslocamentos e posicionamentos de forma referencia-
da. Hoje em dia, o GPS, Sistema de Posicionamento Global, oferece grandes
facilidades para a orientação no campo, via satélite, devido aos seus moder-
nos aparelhos.
Fundamentos de Geociência 77

Atividades de avaliação
1. Calcule a distância real em metros correspondente a 8cm de distância
numa carta topográfica, cuja escala é 1:10.000.
Resposta:
Dados:
Distância na carta → d = 8cm
Escala → E = 1 ⁄ 10.000
Pede-se: Distância real → D = ?
Solução:
8cm / xcm = 1cm/10.000cm
x . 1 = 8 . 10.000
x = 80.000cm → x = 800m
Portanto, a distância real é de 800m.
2. Sabe-se que a distância real, que separa dois pontos no terreno é de 5Km.
Com qual distância estes pontos seriam representados numa carta topo-
gráfica, cuja escala é 1:50.000?
Resposta:
Dados:
Distância real
D = 5Km = 500.000cm
Escala → E = 1 ⁄ 50.000
Pede-se: Distância na carta → d = ?
Solução:
xcm / 500.000cm = 1cm/50.000cm
x . 50.000 = 500.000 . 1
x = 500.000 / 50.000 → x = 10cm
Portanto, a distância na carta é de 10cm.
3. Calcule a escala de uma carta topográfica, onde 4 cm de distância na carta
correspondem a 1 Km no terreno.
Resposta:
Dados:
Distância na carta → d = 4 cm
Distância real
D = 1 Km = 100.000 cm
78
PORTO, V. B.

Pede-se: Escala → E = ?
Solução:
4 cm / 100.000 cm = 1 / x
x . 4 = 100.000. 1
x = 100.000 / 4 → x = 25.000
Portanto, a escala é E = 1: 25.000.

Atividades de avaliação
1. Como se usa uma carta topográfica para posicionar-se e orientar-se?
2. Qual a importância do GPS para o biólogo?
3. Concluindo o meu portifólio: Faça o seu diário reflexivo, sobre o assunto
estudado, registre os aspectos que levem-no a agir de forma crítica e refle-
xiva. Conclua o seu portifólio, apresentando-o ao professor.

Texto Complementar

Uso do GPS
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é uma tecnologia norte-americana base-
ada em sistema de radionavegação que fornece um posicionamento confiável, assim
como navegação e datação para os usuários civis em uma base contínua no mundo
inteiro - livremente disponível para todos.
Para qualquer receptor GPS, o sistema fornecerá local e hora, a localização exata e
informações em tempo real para qualquer lugar do mundo.
O GPS é composto por três partes: os satélites que orbitam a Terra; o controle e as es-
tações de monitoramento em terra; e os receptores GPS de propriedade de usuários.
Os satélites GPS transmitem sinais a partir do espaço que são captados e identificados
por receptores GPS.
Cada receptor GPS fornece, então, uma melhor localização tridimensional (latitude,
longitude e altitude) mais o tempo.
Indivíduos podem adquirir aparelhos de GPS que estão disponíveis, por meio dos va-
rejistas comerciais.
Equipados com estes receptores GPS, os usuários podem localizar, com precisão,
onde estão, bem como se guiar facilmente para onde quer ir, seja andando, dirigindo,
voando ou navegando.
O GPS tornou-se importante para as atividades no campo, complementando a carta
topográfica na orientação no terreno, substituindo, com vantagens, a bússola, no pro-
cesso de orientação (http://www.gps.gov/).
Fundamentos de Geociência 79

Livros:
BARROS, G. L. M. Navegar é fácil. Rio de Janeiro: Editora Edições Maríti-
mas, 1993. 510 p.
w no uso de cartas topográficas.

Sites:
•• http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/
O presente site traz noções relevantes sobre cartografia, servindo de
base para o discente se aprofundar no assunto estudado.

Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Noções bási-
cas de cartografia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/
cartografia/manual_nocoes/representacao.html>. Acesso em: 06 jan. 2010.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Convenções cartográficas: normas para o em-
prego dos símbolos. 2. ed. Brasília: Exército Brasileiro, 2002. v. 1, 112 p. (Ma-
nual Técnico T 34-700).
MINISTÉRIO DA DEFESA. Convenções cartográficas: catálogo de símbolos.
2. ed. Brasília: Exército Brasileiro, 2002. v. 2, 72 p. (Manual Técnico T 34-700).
MINISTÉRIO DA ECONOMIA FAZENDA E PLANEJAMENTO. Região su-
deste do Brasil, carta topográfica de Campinas, folha sf.23.y.a.v-4. Brasí-
lia: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1991. 1 p.
NATIONAL SPACE, GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Sistema de po-
sicionamento global. Disponível em: <http://www.gps.gov/>. Acesso em: 06
jan. 2010.
80
PORTO, V. B.

Sobre o autor
Valberto Barbosa Porto: possui licenciatura plena e bacharelado em Ciên-
cias Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (1989/1990) e mestrado
em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (2000). Atualmente é
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará, atuando como regente
da disciplina Paleontologia Básica.
Ciências Biológicas

F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do

Fundamentos de Geociência
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Fundamentos de Geociência
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.

Universidade Estadual do Ceará - Universidade Aberta do Brasil


Valberto Barbosa Porto

Geografia

12

História

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia

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